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DIT A DURA MILIT A R 31/MAR/2014 ÀS 18:10
10 razões para não ter saudade daditadura militar1. Tortura e ausência de direitos humanos
As torturas e assassinatos foram a marca mais violenta do período da ditadura. Pensar em
direitos humanos era apenas um sonho. Havia até um manual de como os militares deveriam
torturar para extrair confissões, com práticas como choques, afogamentos e sufocamentos.
Os direitos humanos não prosperavam, já que tudo ocorria nos porões das unidades do
Exército.
“As restrições às liberdades e à participação política reduziram a capacidade cidadã de
atuar na esfera pública e empobreceram a circulação de ideias no país”, diz o diretor-
executivo da Anistia Internacional Brasil, Atila Roque.
Sem os direitos humanos, as torturas contra os opositores ao regime prosperaram. Até hoje
a Comissão Nacional de Verdade busca dados e números exatos de vítimas do regime.
“Os agentes da ditadura perpetraram crimes contra a humanidade –tortura, estupro,
Tweetar 34 Compartilhar 0Redação PragmatismoEditor(a)
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COMENTÁRIOS4
assassinato, desaparecimento– que vitimaram opositores do regime e implantaram um
clima de terror que marcou profundamente a geração que viveu o período mais duro do
regime militar”, afirma.
Para Roque, o Brasil ainda convive com um legado de “violência e impunidade” deixado pela
militarização. “Isso persiste em algumas esferas do Estado, muito especialmente nos
campos da justiça e da segurança pública, onde tortura e execuções ainda fazem parte dos
problemas graves que enfrentamos”, complementa.
2. Censura e ataque à imprensa
Uma das marcas mais conhecidas da ditadura foi a censura. Ela atingiu a produção artística
e controlou com pulso firme a imprensa.
Os militares criaram o “Conselho Superior de Censura”, que fiscalizava e enviava ao Tribunal
da Censura os jornalistas e meios de comunicação que burlassem as regras. Os que não
seguissem as regras e ousassem fazer críticas ao país, sofriam retaliação –cunhou-se até o
slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o.”
Não são raras histórias de jornalistas que viveram problemas no período. “Numa visita do
presidente (Ernesto) Geisel a Alagoas, achamos de colocar as manchetes no jornalismo da
TV: ‘Geisel chega a Maceió; Ratos invadem a Pajuçara’. Telefonaram da polícia para o
Pedro Collor [então diretor do grupo] e ele nos chamou na sala dele e tivemos que engolir o
afastamento do jornalista Joaquim Alves, que havia feito a matéria dos ratos”, conta o
jornalista Iremar Marinho, citando que as redações eram visitadas quase que diariamente
por policiais federais.
Para cercear o direito dos jornalistas, foi criada, em 1967, a Lei de Imprensa. Ela previa
multas pesadas e até fechamento de veículos e prisão para os profissionais. A lei só foi
revogada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2009. Multiplicandopensamentos
309 milCurtir
3. Amazônia e índios sob risco
No governo militar, teve início um processo amplo de devastação da Amazônia. O general
Castelo Branco disse, certa vez, que era preciso “integrar para não entregar” a Amazônia. A
partir dali, começou o desmatamento e muitos dos que se opuseram morreram.
“Ribeirinhos, índios e quilombolas foram duramente reprimidos tanto ou mais que os
moradores das grandes cidades”, diz a jornalista paraense e pesquisadora do tema, Helena
Palmquist.
A ideia dos militares era que Amazônia era “terra sem homens”, e deveria ser ocupada por
“homens sem terra do Nordeste.” Obras como as usinas hidrelétricas de Tucuruí e Balbina
também não tiveram impactos ambientais ou sociais previamente analisados, nem houve
compensação aos moradores que deixaram as áreas alagadas. Até hoje, milhares que
saíram para dar lugar às usinas não foram indenizados.
A luta pela terra foi sangrenta. “Os Panarás, conhecidos como índios gigantes, perderam
dois terços de sua população com a construção da BR-163 –que liga Cuiabá a Santarém
(PA). Dois mil Waimiri-Atroaris, do Amazonas, foram assassinados e desaparecidos pelo
regime militar para as obras da BR-174. Nove aldeias desse povo desapareceram e há
relatos de que pelo menos uma foi bombardeada com gás letal por homens do Exército”,
afirma.
4. Baixa representação política e sindical
Um dos primeiros direitos outorgados aos militares na ditadura foi a possibilidade do
governo suspender os direitos políticos do cidadão. Em outubro de 1965, o Ato Institucional
número 2 acabou com o multipartidarismo e autorizou a existência de apenas dois: a Arena,
dos governistas, e o MDB, da oposição.
O problema é que existiam diversas siglas, que tiveram de ser aglutinadas em um único
309.040 já curtiram
O casamento de duasmulheres que seapaixonaram na prisão
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bloco, o que fragilizou a oposição. “Foi uma camisa-de-força que inibiu, proibiu e dificultou a
expressão político-partidária. A oposição ficou muito mal acomodada, e as forças tiveram
que conviver com grandes contradições”, diz o cientista político da Universidade Federal de
Pernambuco, Michael Zaidan.
As representações sindicais também foram duramente atingidas por serem controladas com
pulso forte pelo Ministério do Trabalho. Isso gerou um enfraquecimento dos sindicatos,
especialmente na primeira metade do período de repressão.
“Existiam as leis trabalhistas, mas para que elas sejam cumpridas, com os reajustes, é
absolutamente necessário que os sindicatos judicializem, intervenham para que os patrões
respeitem. Essas liberdades foram reprimidas à época. Os sindicatos eram compostos
mais por agentes do governo que trabalhadores”, lembra Zaidan.
5. Saúde pública fragilizada
Se a saúde pública hoje está longe do ideal, ela ainda era mais restrita no regime militar. O
Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável
pelo atendimento, com seus hospitais, mas era exclusivo aos trabalhadores formais.
“A imensa maioria da população não tinha acesso”, conta o cardiologista e sindicalista
Mário Fernando Lins, que atuou na época da ditadura. Surgiu então a prestação de serviço
pago, com hospitais e clínicas privadas.
“Somente após 1988 é que foi adotado o SUS (Sistema Único de Saúde), que hoje atende a
uma parcela de 80% da população”, diz Lins.
Em 1976, quase 98% das internações eram feitas em hospitais privados. Além disso, o
modelo hospitalar adotado fez com a que a assistência primária fosse relegada a um
segundo plano. Não existiam planos de saúde, e o saneamento básico chegava a poucas
localidades. “As doenças infectocontagiosas, como tuberculose, eram fonte de constante
preocupação dos médicos”, afirma Lins.
Segundo estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), “entre 1965/1970
reduz-se significativamente a velocidade da queda [da mortalidade infantil], refletindo, por
certo, a crise social econômica vivenciada pelo país”.
6. Linha dura na educação
A educação brasileira passou por mudanças intensas na ditadura. “O grande problema foi o
controle sobre informações e ideologia, com o engessamento do currículo e da pressão
sobre o cotidiano da sala de aula”, sintetiza o historiador e professor da Universidade
Federal de Alagoas, Luiz Sávio Almeida.
As disciplinas de filosofia e sociologia foram substituídas pela de OSPB (Organização
Social e Política Brasileira, caracterizada pela transmissão da ideologia do regime
autoritário, exaltando o nacionalismo e o civismo dos alunos e, segundo especialistas,
privilegiando o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise) e
Educação, Moral e Cívica. Ao mesmo tempo, com o baixo índice de investimento na escola
pública, as unidades privadas prosperaram.
Na área de alfabetização, a grande aposta era o Mobral (Movimento Brasileiro para
Alfabetização), uma resposta do regime militar ao método elaborado pelo educador Paulo
Freire, que ajudou a erradicar o analfabetismo no mundo na mesma época em que foi
considerado “subversivo” pelo governo e exilado. Segundo o estudo “Mapa do
Analfabetismo no Brasil”, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais),
do Ministério da Educação, o Mobral foi um “retumbante fracasso.”
Os problemas também chegaram às universidades, com o afastamento delas dos centros
urbanos e a introdução do sistema de crédito. “A intenção do regime era evitar aglomeração
perto do centro, enquanto o sistema de crédito foi criado para dispersar os alunos e não
criar grupos”, diz o historiador e vice-reitor do Fejal (Fundação Educacional Jayme de
Altavila), Douglas Apratto.
7. Corrupção e falta de transparência
No período da ditadura, era praticamente impossível imaginar a sociedade civil organizada
atuando para controlar gastos ou denunciando corrupção. Não havia conselhos
fiscalizatórios e, com a dissolução do Congresso Nacional, as contas públicas não eram
analisadas, nem havia publicidade dos gastos públicos, como é hoje obrigatório.
“O maior antídoto da corrupção é a transparência. Durante a ditadura, tivemos o oposto
disso. Os desvios foram muitos, mas acobertados pela força das baionetas”, afirma o juiz e
um dos autores da Lei da Ficha Limpa, Márlon Reis.
Reis afirma que, ao contrário dos anos de chumbo, hoje existem órgãos fiscalizatórios,
imprensa e oposição livres e maior publicidade dos casos. “Estamos muito melhor agora,
pois podemos reagir”, diz.
Outro ponto sempre questionado no período de ditadura foram os recursos investidos em
obras de grande porte, cujos gastos eram mantidos em sigilo.
“Obras faraônicas como Itaipu, Transamazônica e Ferrovia do Aço, por exemplo, foram
realizadas sem qualquer possibilidade de controle. Nunca saberemos o montante desviado”,
disse Reis. “Durante a ditadura, a corrupção não foi uma política de governo, mas de Estado,
uma vez que seu principal escopo foi a defesa de interesses econômicos de grupos
particulares.”
8. Nordeste mais pobre e migração
A consolidação do Nordeste como região mais pobre do país teve grande participação do
governo do militares. “Nenhuma região mudou tanto a economia como o Nordeste”, diz o
doutor em economia regional Cícero Péricles Carvalho, professor da Universidade Federal
de Alagoas.
Com as políticas adotadas, a região teve um crescimento da pobreza. “Terminada a
ditadura, o Nordeste mantinha os piores indicadores nacionais de índices de esperança de
vida ao nascer, mortalidade infantil e alfabetização. Entre 1970 e 1990, o número de pobres
no Nordeste aumentou de 19,4 milhões para 23,7 milhões, e sua participação no total de
pobres do país subiu de 43% para 53%”, afirma Péricles
O crescimento urbano registrado teve como efeito colateral a migração desregulada. “O
modelo urbano-industrial reduziu as atividades agropecuárias, que eram determinantes na
riqueza regional, com 41% do PIB, para apenas 14% do total em 1990″, diz Péricles.
Enquanto o campo era relegado, as atividades urbanas saltaram, na área industrial, de 12%
para 28% e, na área do comércio e serviços, de 47% para 58%.
“A migração gerou mais pobreza nas cidades, sem diminuir a miséria no campo. A
população do campo reduziu-se a um terço entre 1960 e 1990″, acrescenta Péricles.
9. Desigualdade: bolo cresceu, mas não foi dividido
“É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”. A frase do então ministro da Fazenda
Delfim Netto é, até hoje, uma das mais lembradas do regime militar. Mas o tempo mostrou
que o bolo cresceu, sim, ficou conhecido como “milagre brasileiro”, mas poucos comeram
fatias dele.
A distribuição de renda entre os estratos sociais ficou mais polarizada durante o regime: os
10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em
1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, decaíram para 12%
duas décadas depois.
Assim, na ditadura houve um aumento das desigualdades sociais. “Isso levou o país ao topo
desse ranking mundial”, diz o professor de Economia da Universidade Federal de Alagoas,
Cícero Péricles.
Entre 1968 e 1973, o Brasil cresceu acima de 10% ao ano. Mas, em contrapartida, o salário
mínimo –que vinha recuperando o poder de compra nos anos 1960– perdeu com o golpe.
“Em 1974, em pleno ‘milagre’, o poder de compra dele representava a metade do que era
em 1960″, acrescenta Péricles.
“As altas taxas de crescimento significavam mais oportunidades de lucros altos, renda e
crédito para consumo de bens duráveis; para os mais pobres, assalariados ou informais,
restava a manutenção de sua pobreza anterior”, explica o economista.
10. Precarização do trabalho
Apesar de viver o “milagre brasileiro”, a ditadura trouxe defasagem aos salários dos
trabalhadores. “Nossa última ditadura cívico-militar foi, em certo ponto, economicamente
exitosa porque permitiu a asfixia ao trabalho e, por consequência, a taxa salarial média”, diz
o doutor em ciências sociais e blogueiro Leonardo Sakamoto.
Na época da ditadura, a lei de greve, criada em 1964, sujeitava as paralisações de
trabalhadores à intervenção do Poder Executivo e do Ministério Público. “Ir à Justiça do
Trabalho para reclamar direitos era possível, mas pouco usual e os pedidos eram
minguados”, explica Sakamoto.
“Nada é tão atrativo ao capital do que a possibilidade de exercício de um poder monolítico,
sem questionamentos”, diz Sakamoto, que cita a asfixia dos sindicatos, a falta de liberdade
de imprensa e política foram “tão atraentes a investidores que isso transformou a ditadura
brasileira e o atual regime político e econômico chinês em registros históricos de como
crescimento econômico acelerado e a violência institucional podem caminhar lado a lado”.
Folhapress
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eu daquiPOSTADO EM 01/APR/2014 ÀS 16:00
Não vi diferença nenhuma da democracia que temos hoje.
Responder
GeovanePOSTADO EM 02/APR/2014 ÀS 10:39
Comer merda ou filé mignon pra ti dá no mesmo? Pelo teu comentário acredito
que sim.
Comentários
Responder
adrianoPOSTADO EM 02/APR/2014 ÀS 11:33
tb não vi diferença
Guilherme APOSTADO EM 20/APR/2014 ÀS 20:56
Claro que vocês não viram diferença. Em 30 anos de redemocratização, diferentemente
de outos países latino-americanos, nem sequer fechamos as feridas abertas das
lembranças maculadas por esse período nefasto. Imaginem vocês que nesse mesmo
tempo o Brasil, de tradicional e histórica leniência de seus políticos e seu povo, resolveria
questões tão profundas como a saúde, a redistribuição de renda, a educação e a melhor
qualidade da segurança pública!? Pelo contrário, quando o atraso não vem do próprio
governo, retrógada e troglodita é a imprensa (e por conseguinte a opinião pública, por ela
moldada) que difama, desqualifica e faz troça de boas medidas simples, que poderiam
também de maneira simples serem implementadas, mas têm sua aplicabilidade
extremamente complexificada e obstada por diversos setores (inflamados pelo discurso
retórico marrom da imprensa) da sociedade civil. Exemplos da ação obstativa da
imprensa, que consegue projetar interesses privados na própria sociedade, são a
tentativa de redistribuir renda através do IPTU como recentemente foi prejudicada em São
Paulo; a tentativa de sequer tapar buracos da historicamente defasada saúde nacional ao
garantir o acesso à saúde pública em rincões do país com a vinda de milhares de
médicos cubanos para trabalharem nestas localidades (expressamente negligenciadas e
evitadas pelos próprios profissionais brasileiros); a própria reforma agrária, que a última
vez que foi intentada resultou na extrema reação que deu origem a esse período que ora
discutimos nesta notícia; e exemplos do atraso, não da opinião pública manipulada, mas
do próprio governo, fantoche de interesses capitalistas, são colocar o exército em
patrulhamento nas comunidades; as tropas de choque que garantem reintegrações de
posse de caráter duvidoso (excluindo e condenando milhares em favor de um proprietário
que já não dá função nenhuma à sua propriedade, quiçá social) pelo Brasil todo,
eminentemente nos conhecidos episódios de Pinheirinho e em Brasília, nas cidades-
satélite; as polícias, responsáveis por diversos atos arbitrários todos os dias nas
Responder
periferias de grandes centros urbanos, com a conivência institucional e judiciária; a
submissão aos patrocínios e interesses de grandes capitalistas, como barões da mídia,
do setor agrícola, do setor petrolífero, das empreiteiras e incorporadoras etc. Por tudo
isso, não há mesmo muita diferença política e econômica. A única diferença é aquela
óbvia e já intrínseca à democracia: ao menos a liberdade (ainda que continue sofrendo
exceções, é expressamente garantida).
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Somente a cidadania plena conduz à democracia. Não há outra forma de ser cidadão que não sejaatravés da educação ideológica e política.
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TOPO DA PÁGINA
KEN ROBINSON
"A escola mata a criatividade"
Consultor de governos europeus, o professor inglês diz
que o sistema educacional inibe as habilidades pessoais.
E que nem todos precisam ir à universidade
Patrícia Diguê
A Semana > Entrevista | N° Edição: 2119 | 18.Jun.10 - 21:00 | Atualizado em 13.Mai.14 - 08:28
ISTOÉ - Independente
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GURU
Ele elaborou para o ex-primeiro-ministro inglês Tony Blair
relatórios de estratégias sobre criatividade e educação
O mundo se divide em duas categorias de pessoas: aquelas que dividem o mundo em duas
categorias e aquelas que não.” Arrancando gargalhadas do público de suas conferências, oespecialista em educação e criatividade britânico Ken Robinson, 50 anos, questiona por que a
maioria das pessoas passa a vida odiando o que faz, “apenas esperando pelo final de semana”,enquanto outras conseguem descobrir seu “elemento-chave”, termo criado por ele que significa
a junção do que se faz bem com o que se ama fazer. Robinson conclama o mundo para umarevolução na educação, criando nas escolas um ambiente propício para que os talentos
floresçam. Em sua opinião, aquele que não está preparado para errar jamais fará algo deoriginal.
"A maioria das pessoas leva a vida sem nenhum prazer no que faz.Apenas toca a vida, esperando pelo sábado e o domingo"
“O atual sistema educacional mata a criatividade”, afirma. “As escolas estão obcecadas em
colocar os alunos na universidade”, diz. Professor emérito da Universidade de Warwick, na
Inglaterra, Robinson foi consultor de governos europeus, asiáticos e americano. Na Grã-Bretanha, elaborou para o primeiro-ministro Tony Blair (1997-2007) relatórios de estratégias
sobre criatividade, cultura e educação e participou do processo de paz da Irlanda do Norte nos
anos 90. Alcançou o grande público com seus livros, que defendem a bandeira do talento e da
criatividade. Ele já publicou três best sellers traduzidos para mais de 15 idiomas, mas apenas oterceiro, o recém-lançado “O Elemento-Chave” (Ediouro), está disponível para os brasileiros.
Sua popularidade aumentou ainda mais depois que suas conferências foram colocadas no
prestigioso site TED, palco de palestras de grandes lideranças mundiais.
KEN ROBINSON -
Istoé -
"As crianças vivem em um mundo digitalizado e nossa educação é do século passado.
Falhamos em conectar os estudantes aos seus talentos"
O que significa elemento-chave?
KEN ROBINSON
É o que uma pessoa faz naturalmente bem, se divertindo e se sentindo confortável. Pode ser qualquer
coisa, como tocar guitarra ou ser bom em matemática. Mas encontrar seu elemento-chave não é
somente fazer algo muito bem, porque há muitas pessoas que são boas no que fazem. É também amar
o que se faz. Se você gosta daquilo que faz bem, efetivamente está em seu elemento. Mas a maioria
das pessoas não tem esse sentimento quando pensa no trabalho delas. Elas levam a vida sem nenhum
prazer no que fazem. Frequentemente, não estão fazendo a coisa certa – e não sabem qual é a coisa
certa. Então apenas tocam a vida, sem nenhum sentido.
KEN ROBINSON -
Istoé -
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Como fazer, então, para identificar o que você gosta realmente de fazer?
Uma das formas de perceber se você está em seu elemento é analisar, por exemplo,
seu senso de tempo. Se você faz alguma coisa de que gosta, uma hora pode passar em cinco minutos.
E o contrário também é verdadeiro. Se você faz alguma coisa de que não gosta, cinco minutos se
tornam uma hora e você passa a semana apenas esperando pelo sábado e o domingo. Além disso, se
a pessoa faz o que gosta, no fim de semana se sente fisicamente cansado, mas não espiritualmente.
Se perguntar por que essas pessoas não fariam outra coisa, não vão nem entender o que você quer
dizer, vão dizer que o que elas fazem na vida é o que amam fazer, não se imaginam fazendo outra
coisa e não querem mudar.
Mas há algum tipo de passo a passo?
A primeira lição é acreditar que todos nós temos talentos naturais e habilidades reais.
Mais do que isso, temos o direito de descobrir e explorar isso. É preciso ter fé em nós mesmos. Uma
recomendação é a pessoa gastar um tempo consigo mesma, para pensar o que ela realmente gosta de
fazer e o que teria prazer de fazer para a vida toda. Depois que descobrir, é preciso estar disposta a
arriscar, aproveitar e explorar essas oportunidades e talentos, tentando várias coisas diferentes, se
deixando sentir tolo às vezes, sabendo lidar com críticas e enfrentando os próprios medos.
Existe uma idade certa para isso?
A pessoa pode descobrir seu talento em qualquer idade. Conheço pessoas que
encontraram seu elemento-chave quando já não eram mais jovens. Semanas atrás, por exemplo,
estava conversando com uma senhora de 50 anos que disse que achava que era muito tarde para ela,
pois sua grande vontade era dançar balé. Eu disse que provavelmente era realmente tarde para ela ser
a dançarina principal do Ballet Bolshoi e perguntei qual era o aspecto do balé de que ela gostava,
porque se tivesse a ver com ser capaz de mover o corpo com a música, então por que não
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experimentava outros tipos de dança? Há muitos outros tipos de dança que ela poderia experimentar.
Outro exemplo é uma tataravó que conheço que resolveu estudar direito e acabou de terminar o
curso. Antes, ela não podia, estava criando uma família.
Garimpar seus talentos e habilidades é uma questão de sorte?
Geralmente, quem está em seu elemento diz isso: que teve muita sorte. Mas esses
“sortudos” tiveram atitudes diferentes na vida, em comparação aos insatisfeitos. Claro que os
primeiros tiveram oportunidades e circunstâncias para tirar proveito, mas ainda assim correram riscos
e desejaram tentar algo diferente. Estiveram abertos às oportunidades e enfrentaram a forte oposição
de parentes e amigos, que achavam que o que eles faziam não era usual. Souberam lidar com as
críticas.
As pessoas podem ter mais de um talento?
Sim, se elas se sentem igualmente propensas a fazer coisas diferentes, não há regras
para isso. Além do que, o elemento-chave pode mudar de tempos em tempos: num momento nos
sentimos bons em algo e depois em outra coisa. Isso tudo tem a ver com energia, nossas vidas não
passam de energia. Precisamos conectar nossas energias às nossas paixões e fazer coisas que
tenham significado e propósito. Isso não é novo, é encontrado fortemente em diversas tradições que
respeitam a parte espiritual e a energia.
Por que a maioria das pessoas acha que não tem talento?
A principal causa é a educação. Nosso sistema de educação formal tem 200 anos e
durante esse tempo falhamos em conectar os estudantes aos seus talentos. A escola mata a
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criatividade. Fazemos um uso pobre dos nossos talentos. O sistema é obcecado com as habilidades
acadêmicas, em levar os alunos para a faculdade. Nem todo mundo precisa ir para a universidade,
nem todo mundo precisa ir na mesma época da vida. Conversei com um rapaz que é bombeiro e ele
disse que sempre quis ser bombeiro, desde criança, mas não era levado a sério porque costumam
achar que todo garoto sonha em ser bombeiro. E ele ouvia de um professor que iria desperdiçar seu
talento. Mais tarde, ele salvou a vida deste professor. Ou seja, as comunidades dependem da
diversidade de talentos, não de uma só concepção.
O que há de errado com nosso sistema educacional?
Somos formados por um sistema educacional fast-food, em que tudo é padronizado,
industrializado. Temos de mudar isso para uma educação manufaturada, orgânica. E aprender que o
florescimento humano não é um processo linear e mecânico, mas orgânico. A educação precisa ser
customizada para diferentes circunstâncias e personalizada. É preciso criar um sistema em que as
pessoas busquem suas próprias respostas.
O sr. pode dar algum exemplo concreto?
As escolas gastam muito tempo com matemática, por exemplo, mas há muito pouco de
arte, que, para mim, é fundamental em nossas vidas. As artes visuais e a dança são expressões dos
sentimentos humanos, da nossa cultura, mas nas escolas são deixadas de lado, ou pior, até ignoradas.
As escolas são obcecadas com um tipo específico de talento e acabam ignorando os outros. Desde a
minha juventude, estive cercado de pessoas que me pareciam extremamente talentosas, divertidas e
interessantes, mas que estavam profundamente frustradas e pensavam que não tinham nenhum
talento, não acreditavam que poderiam conquistar algum respeito. Ao mesmo tempo, também conheci
outras que alcançaram muitas coisas. Sempre achei que a educação era a solução para isso.
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Como é possível mudar essa situação?
É preciso tornar a educação mais pessoal, em vez de linear. A vida não é linear.
Embora isso seja difícil, não há outra alternativa. Se quisermos encorajar as pessoas a pensar, temos
que encorajá-las a ser aventureiras e a não ter medo de cometer erros. Ao longo da vida, os indivíduos
vão se tornando mais conscientes e constrangidos e ficam com medo de cometer erros, porque
passam por situações em que dão respostas erradas, se sentem estúpidos e não gostam deste
sentimento. É preciso criar uma atmosfera, tanto na escola quanto no trabalho, em que não há
problema em estar errado.
O sr. é a favor de uma grande reforma escolar?
Muitos sistemas educacionais pelo mundo estão sendo reformados. Mas reformar é
inútil agora. Precisamos de uma revolução na educação, transformá-la em outra coisa. Inovar é difícil
porque é preciso lidar com coisas não óbvias, fora do senso comum. As crianças hoje, por exemplo,
vivem em um mundo digitalizado, enquanto nossa educação é do século passado. Eu sei que é um
trabalho árduo, que implica um grande esforço para ser revertido, mas no mundo inteiro há países que
estão tentando consertar isso com seriedade. Os pais também têm seu papel e eles devem começar
por dar o exemplo, ou seja, eles próprios aprendendo mais sobre seus talentos.
É possível recuperar a criatividade depois de ser educado dessa forma impessoal?
Sim. Primeiro você precisa entender o que é criatividade. As pessoas pensam que ser
criativo é fazer coisas especiais e que poucas pessoas são especiais. Ou, então, que pessoas criativas
são aquelas com espírito mais livre e um pouco loucas. Mas para ser criativo basta que você esteja
executando qualquer coisa, ninguém é criativo na esfera abstrata. E isso pode ser resgatado em
qualquer momento da vida.
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Para desenvolver os talentos é imprescindível um mentor?
Ter um mentor é sempre útil, alguém que o encoraje e veja talentos que nem mesmo
você sabe que tem. Pode ser os pais, um amigo, vizinho, parente. Ter alguém que o encoraje pode
fazer toda a diferença.
Como o sr. educou seus filhos?
Sempre tentei encorajá-los nas coisas em que eles demonstravam interesse. Minha
filha é professora de crianças em Los Angeles e meu filho é ator e agora está tentando se tornar
escritor. No final das contas, você não pode viver a vida deles por eles, mas apenas estimulá-los a
aproveitar as oportunidades.