Trovadorismo - professora Vivian Trombini
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Trovadorismo
Profª Vivian Trombini
Contexto Histórico Idade Média Início – conquista do Império Romano do Ocidente – ano de 476Final – queda do Império Romano do Oriente – 1753
Cristianismo
Europa cristã - substituído o modo de produção feudal pelas atividades mercantis. Funda-se o Mercantilismo.
TeocentrismoDificuldade de acesso à culturaFeudalismo
TeocentrismoReligião – escrita e leitura –
mosteiros e abadiasLatim como língua literáriaFeudalismo - vassalagem
População não – alfabetizada
Teocentrismo Quanto ao contexto cultural e artístico,
podemos afirmar que toda a Idade Média foi fortemente influenciada pela Igreja, a qual detinha o poder político e econômico, mantendo-se acima até de toda a nobreza feudal. Nesse ínterim, figurava uma visão de mundo baseada tão somente no teocentrismo, cuja ideologia afirmava que Deus era o centro de todas as coisas. Assim, o homem mantinha-se totalmente crédulo e religioso, cujos posicionamentos estavam sempre à mercê da vontade divina, assim como todos os fenômenos naturais.
Trovadorismo•Trovadorismo entre os anos de 1189 e 1385.• Primeira fase da história portuguesa - de Portugal como reino independente. •É o período literário que reúne basicamente os poemas feitos pelos trovadores para serem cantados em feiras, festas e nos castelos durante os últimos séculos da Idade Média. •É contemporâneo às lutas pela independência e ao surgimento do Estado português.
Projeto literárioLiteratura oral para entreter homens e mulheres da
nobrezaRedefinição do papel dos cavaleiros nas cortes –
cortesia – amor cortêsCriação de estruturas literárias equivalentes às da
relação de vassalagemSociedade: subserviência total a Deus (teocentrismo)Literatura: submissão do trovador à dama (poesia)
ou do cavaleiro à donzela (novelas de cavalaria)Jogo amoroso – amor cortês – disputas com regras
para conquista das damas
Regras da conduta amorosaVassalagem – trovador expressaria
elogios e súplicas a uma mulher da nobreza, casada.
Mulher – SenhoraHomem – vassalo, servo.Idealização amorosaCoita de amor - sofrimento amoroso
Linguagem da vassalagem amorosaGalego - portuguêsMetros regulares e rimasNão revelar o nome da dama –
propor adivinhar identificaçãoMESURA – mérito, valor da damaCORTEZIA / PREZ - do trovadorGALARDAM – prêmio pela
vassalagem amorosa
Cancioneiros Chegaram até nós três coletâneas de poesias: o Cancioneiro da Vaticana, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Ajuda, todos eles contendo composições que vão do século XII ao século XIV. Os trovadores mais famosos foram o rei Afonso X de Castela e o rei D. Dinis de Portugal.
As cantigas trovadorescas Todos os textos poéticos desta primeira época medieval eram acompanhados por música e normalmente cantados em coro, daí serem chamados de cantigas. Assim, trovador era o poeta, quase sempre um nobre, que compunha sem preocupações financeiras como é o caso do rei D. Dinis. Depois o jogral, segrel ou menestrel que exercia sua profissão de castelo em castelo, entretendo a alta nobreza. Além de cantar poesias escritas pelos trovadores, alguns desses artistas chegavam a compor. Também havia a soldadeira, ou jogralesa, dançarina que cantava e tocava castanholas ou pandeiro.
Canção da Ribeirinha (Guarvaia)
A primeira manifestação documentada da literatura portuguesa data de 1189: a Canção da Ribeirinha, escrita por Paio Soares de Taveirós. Assim, do final do século XII até o início do século XVI ocorrem, em Portugal, manifestações literárias presas, com maior ou menor intensidade, à modelos medievais.
Em Galaico Português
No mundo no me sei parelha*,mentre me for’ como me vai, ca ja moiro por vós – e ai mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi en saia! Mao dia me levantei, que vos enton non vi fea! E, mia senhor, des aquel di’, ai! me foi a mi muin mal, e vós, filha de don Paai Moniz, e ben vos semelha d’aver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d’alfaia nunca de vós ouve nem ei valia d’~u correa.
Transcrição em Português ModernoNo mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a minha vida continuar como vaiporque morro por vós, e ai
minha senhora de pele alva e faces rosadas,quereis que vos descreva ( retrate )
quando vos eu vi sem manto ( saia: roupa íntima )Maldito dia! Me levantei
que não vos vi feia! ( a viu mais bela )E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
tudo me foi muito mal,e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos parecede ter eu por vós guarvaia ( roupa luxuosa )
pois eu, minha senhora, como mimo ( prova de amor)de vós nunca recebi
Dois grandes grupos de cantigas
As cantigas líricas
cantigas de amor e cantigas de amigo
As cantigas satíricas
cantigas de escárnio e cantigas de maldizer
Características
Cantiga de amor autoria masculina
sentimento masculino origem: provençal
ambiente retratado: palaciano o homem presta vassalagem amorosa
a mulher é um ser idealizado, superior
Uma palavrinha sobre as cantigas de amorNas cantigas de amor, em cenário real, na postura do homem diante da mulher, há a vassalagem feudal, ou seja, os papéis são trocados e o homem apaixonado jura solenemente “servir” à mulher amada, que se elevava, desse modo, à condição de “senhor”. Observemos este fato nos versos: E que queria eu melhorDe ser seu vassaloE ela minha senhor? Portanto, a mulher é vista de modo idealizado, e a ela é dedicado um amor sublimado, igualmente idealizado, pois como a dama é inatingível, só resta ao trovador sofrer por ela.
Cantiga de amor Quer’eu em maneira de proença! fazer agora um cantar d’amor e querrei muit’i loar mia senhor a que prez nem fremosura nom fal, nem bondade; e mais vos direi ém: tanto a fez Deus comprida de bem que mais que todas las do mundo val. Ca mia senhor quizo Deus fazer tal, quando a faz, que a fez sabedord e todo bem e de mui gram valor, e com tod’est[o] é mui comunal ali u deve; er deu-lhi bom sém, e desi nom lhi fez pouco de bem quando nom quis lh’outra foss’igual D. Dinis
Cantiga de amigo autoria masculina
sentimento feminino origem: galego-portuguesa
ambiente retratado: rural (popular) a mulher sofre pelo amigo (namorado,
amante) a mulher é um ser real e concreto
Características
Detalhes sobre as cantigas de amigoAs cantigas de amigo refletem o PATRIARCALISMO. A mulher sofre a ausência do amigo (amante) que foi ao “fossado” (Guerra Santa). A angustia consiste em não saber qual o destino do amigo, se voltará ou se a trocará por outra. O ambiente dessas canções é rural, onde a mulher é camponesa.
Cantiga de amigo Ai flores, ai flores do verde pinhose sabedes novas do meu amigo,ai deus, e u é?Ai flores, ai flores do verde ramo,se sabedes novas do meu amado,ai deus, e u é?Se sabedes novas do meu amigo,aquele que mentiu do que pôs comigo,ai deus, e u é?Se sabedes novas do meu amado,aquele que mentiu do que me há juradoai deus, e u é?(...)
D. Dinis
As cantigas satíricas
As cantigas satíricas dirigiam seu foco para as relações sociais, ou seja, os costumes; notadamente do clero e dos vilões, a covardia; a decadência da nobreza e o adultério feminino.As cantigas satíricas apresentam interesse sobretudo histórico. São verdadeiros documentos da vida social, principalmente da corte. Fazem ecoar as reações públicas a certos fatos políticos: revelam detalhes da vida íntima da aristocracia, dos trovados e dos jograis, trazendo até nós os mexericos e os vícios ocultos da fidalguia medieval portuguesa.
As cantigas de escárnio eram sátiras indiretas, que exploravam palavras e construções ambíguas, expressões irônicas. Rebuscadas de uma linguagem conotativa, não indicavam o nome da pessoa satirizada.
Cantigas de escárnio
Ai, dona fea, foste-vos queixarque vos nunca louv[o] em meu cantar;mais ora quero fazer um cantarem que vos loarei toda via;e vedes como vos quero loar:dona fea, velha e sandia!...
João Garcia de Guilhade
Cantiga de maldizer Já as cantigas de maldizer eram sátiras diretas, com citação nominal da pessoa ironizada. Envolvidas por uma linguagem chula, destacavam-se palavrões, geralmente envoltos por um tom de obscenidade, fazendo referência a situações relacionadas a adultério, prostituição, imoralidade dos padres, entre outros aspectos.
Roi queimado morreu con amorEm seus cantares por Sancta Mariapor ua dona que gran bem queriae por se meter por mais trovadorporque lhela non quis [o] benfazerfez-sel en seus cantares morrermas ressurgiu depois ao tercer dia!...
Pero Garcia Burgalês
Documentos Históricos As canções medievais são registro de uma realidade,
portanto, além de arte são documentos de uma sociedade que se iniciou há quase mil anos.
Dessa maneira, a poesia satírica galego-portuguesa oferece-nos um precioso testemunho sobre a Idade Média portuguesa, uma vez que informa sobre os fatos históricos e sociais mais relevantes. Deixou também, como herança das cantigas de escárnio, a tradição de praguejar, zombar, etc. que é bem presente na sociedade de hoje. Para finalizar deixamos os versos de Fernando Pessoa: Cantigas de portuguesesSão como barcos no mar –Vão de uma alma para outraCom riscos de naufragar.