Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL)
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Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL)
Noemi Takiuchi & Juliana Perina Gândara
Descreve crianças que apresentavam problemas no desenvolvimento de linguagem sem associação a outras doenças conhecidas. Referência a boa compreensão e inteligência.
Gall
Utiliza o termo “Congenital aphasia” em uma publicação com estudo de casos. O termo foi adotado amplamente na literatura científica francesa e inglesa, no início do século XX.
Väisse
A equipe de pesquisadores em desenvolvimento infantil liderada por Gesell passou a utilizar o termo “Infantile aphasia”. No mesmo período, outros pesquisadores preferiram o termo “Afasia do desenvolvimento”.
Gesell e Amatruda
Histórico da terminologia em distúrbios de linguagem na infância
1832
1866+
1947
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“Dysphasia” passa a ser preferido pelos pesquisadores, uma vez que o prefixo a- em afasia implicaria em ausência de linguagem, ao passo que dis- implicaria em problemas com a linguagem.
Ajuriaguerra
A ausência de lesões neurológicas levou ao distanciamento no uso do termo disfasia, assim como a confusão ao usar o mesmo diagnóstico em crianças com alterações de linguagem pós AVC.
Landau e Kleffner
Uma pluralidade de termos pode ser encontrada na entre 1960 - 1980: fala infantil, afasóide, fala atrasada, linguagem desviante, distúrbio de linguagem, linguagem atrasada, prejuízo de linguagem…
Literatura
1960+
1960+
1960+
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Introduzem o termo “Specific language deficit”, porém posteriormente utilizam outras nomenclaturas, como language/learning-disabled ou language/learning-impaired.
Stark e Tallal
Introduz o termo “Specific Language Impairment (SLI)”, que passou a ser a nomenclatura mais utlizada pelos pesquisadores.
Leonard
Apresentam uma proposta de subtipos de distúrbios de linguagem, envolvendo também crianças com autismo. O modelo de classificação é descritivo, a partir de aspectos linguísticos delineando síndromes.
Rapin e Allen
1981
1981
1983
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Subtipos: verbal auditory agnosia, verbal dyspraxia, phonologic progr deficit syndrome, lexical-syntactic deficit syndrome, phonologic-syntactic progr deficit syndrome, semantic-pragmatic deficit syndrome.
Rapin e Allen
Os sistemas classificatórios não aderem ao termo SLI, com propostas descritivas por modalidade. No CID 10, os diagnósticos são transtorno expressivo de linguagem e transtorno receptivo de linguagem.
CID 10
O manual lançado pela American Psychiatric Association propõe uma divisão similar ao CID, com os quadros de transtorno expressivo de linguagem e transtorno misto expressivo-receptivo de linguagem.
DSM IV
1987
1993
1994
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Suas produções utilizam uma variedade de termos, como disfunção cerebral mínima, retardo de linguagem, distúrbios de linguagem, deficiência de linguagem, distúrbio do desenvolvimento da linguagem.
Spinelli e Tabith
Utiliza a nomenclatura “Alteração no Desenvolvimento da Linguagem” para descrever crianças sem outros quadros associados. Inicia a discussão retardo x distúrbio.
Befi-Lopes
Passa a utilizar e divulgar o termo “Distúrbio Específico de Linguagem (DEL)” em eventos e periódicos científicos, embora a consolidação do uso de DEL pelo grupo ocorra somente a partir de 2003.
LIF ADL
1990
1997
2000+
No Brasil
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INCLUSÃO
Desempenho
rebaixado
em linguagem
oral e em
discrepância
com o QI não
verbal
EXCLUSÃO
- Deficiência
auditiva;
- Lesão
neurológica;
- Deficiência
intectual;
- TGD; privação
Critérios para o diagnóstico de DEL
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Heterogeneidade
No DEL, os diversos subsistemas podem apresentar-se alterados, em diferentes combinações e intensidades. Na maioria dos casos, as crianças com DEL falham na aprendizagem da língua/linguagem de maneira geral, porém para certas crianças o domínio de alguns subsistemas podem representar desafios maiores.
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MUDANÇAS As dificuldades observadas no diagnóstico inicial podem se modificar ao longo do tempo, tanto em relação aos subsistemas da linguagem, como em relação à intensidade dessas dificuldades. Alterações em fonologia, por exemplo, podem ser identificadas somente após o aumento no vocabulário, e podem se intensificar na alfabetização.
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Subtipos de
DEL?
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Primeira infância Idade escolar Adolescência
Persistência das dificuldades
Estudos revelam que 50 a 90% das crianças diagnosticadas com DEL em idade pré-escolar continuam a apresentar dificuldades em linguagem na idade escolar, com impacto sobre o desempenho acadêmico e social. Pesquisas de follow-up encontraram ainda impactos significativos na idade adulta.
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66% - 5;3 anos* 8;3 anos** 15 – 16 anos***
*Bishop & Edmundson (1987) **Bishop & Adams (1990)
***Stothard, Snowling, Bishop, Chipcase & Kaplan (1998)
Estudo longitudinal DEL
< QI não verbal
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Estudos
Longitudinais
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Prevalência do DEL
Há variação devido a critérios diferentes estabelecidos para o diagnóstico, além do uso de testes com diferentes constructos. Não há pesquisas nacionais sobre a prevalência em crianças brasileiras.
7,4%
Crianças
Pré-
escolares
3:1
Meninos
15-20%
Crianças
em
Risco social
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7%
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Por quê?
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No artigo “A meme’s eye view of Speech-Language Pathology”, Kamhi discute por que o diagnóstico de SLI não se converte em um meme de sucesso.
Kamhi
O conhecimento acumulado pelas pesquisas desafia a manutenção do termo “specific”. Um número especial do periódico é lançado para discussão da terminologia à luz dos estudos recentes.
IJLCD
“Language disorder” substitui as categorias nosológicas de transtorno expressivo de linguagem e transtorno misto de linguagem da edição anterior (DSM-IVR). Cai o critério de discrepância cognitiva.
DSM-5
2004
2014
2015
O
Presente
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Desdobramentos
RALLI CATALISE TDL Brasil Campanha de conscientização Estudo Delphi Iniciativa brasileira
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RADLD
Campanha
Internacional
Questionamentos RALLI Debate
Specific Language Impairment (SLI) ≠ consenso Minoria das crianças com distúrbio de linguagem não
apresentam condições associadas... Critérios diagnósticos adequados?
Consenso
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Questionamentos (Ebbels, 2014)
Identificação e validade dos critérios de exclusão
• Papel do QI não-verbal no diagnóstico (necessidade de diferença entre QI verbal e não-verbal?)
• Diagnóstico diferencial
Terminologia usada no diagnóstico
• Acesso a serviços e adaptações adequadas
• Desenvolvimento da ciência
• Comunicação entre profissionais e família
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• há necessidade de rótulo?
• qual termo seria mais adequado?
• há consenso sobre o termo?
• que critérios diagnósticos devem ser considerados para que o termo consensual seja aplicado?
• que consequências o uso do termo consensual teria para a condução dos casos identificados?
Série de comentários de experts reconhecidos
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Projeto CATALISE:
•Tentativa de consenso
•57 experts em distúrbios de linguagem na infância de vários países (língua inglesa)
•Várias áreas de atuação: fonoaudiólogos, professores, psicólogos, médicos, e representantes de instituições que trabalham com as famílias de crianças com distúrbios de linguagem
•Dois estudos: critérios diagnósticos e terminologia
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1
2
3
Cada afirmação foi pontuada em relação à sua relevância e validade, de acordo com uma escala de sete pontos. Comentários livres podiam ser adicionados.
Conjunto de
afirmações
Síntese das
respostas
Nova rodada e
síntese final
Autores sintetizaram as respostas, combinando e modificando itens para melhorar o consenso (reduzir as discordâncias).
Comentários revisados foram pontuados, e as novas respostas foram novamente sintetizadas → comentários finais
Método Delphi Método de análise qualitativa, com possibilidade de condução
anônima online (realizado para cada estudo separadamente).
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Language disorder (Transtorno de linguagem)
- Alterações de linguagem severas que interferem na comunicação na rotina diária e/ou afeta o progresso acadêmico
- Alterações são persistentes (não é provável que se resolvam espontaneamente)
Developmental language disorder – DLD (Transtorno do desenvolvimento da linguagem – TDL)
- Alterações de linguagem não têm justificativa conhecida
- Podem co-ocorrer com outras condições
- Especificar áreas da linguagem afetadas
Consenso (Bishop et al., 2017)
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TDL Brasil Curso de Atualização em Distúrbio Específico de Linguagem
Consenso (Bishop et al., 2017)
Dificuldades de produção ou
compreensão de linguagem que afetam
a rotina diária
Não familiarizado com a língua local?
Competente em outra língua?
Sim
Características de prognóstico ruim?
Sim Não Não
Language disorder
Não
Transtorno de linguagem =
Características que determinam prognóstico ruim mudam com o tempo. Antes dos 3 anos: - Dificuldades de compreensão - Não combina palavras aos 24
meses - Não usa gestos para se
comunicar - Não imita movimentos
corporais - Atenção compartilhada e
responsividade social pobres - Histórico familiar de
alterações de linguagem e dificuldades acadêmicas
TDL Brasil Curso de Atualização em Distúrbio Específico de Linguagem
Dificuldades de produção ou
compreensão de linguagem que afetam
a rotina diária
Não familiarizado com a língua local?
Competente em outra língua?
Sim
Características de prognóstico ruim?
Sim Não Não
Language disorder
Não
Transtorno de linguagem =
Dificuldades de produção ou
compreensão de linguagem que afetam
a rotina diária
Não familiarizado com a língua local?
Competente em outra língua?
Sim
Características de prognóstico ruim?
Sim Não Não
Language disorder
Não
Transtorno de linguagem =
Aos 4 anos: - Quanto maior o número de
áreas afetadas, maior a probabilidade das alterações serem persistentes
A partir dos 5 anos: - Alterações que não se
resolveram até os 5 anos provavelmente são persistentes
- Prognóstico especialmente ruim quando há dificuldades receptivas (compreensão) e quando as habilidades não-verbais são relativamente pobres
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Consenso (Bishop et al., 2017)
Condição
biomédica
associada?
Sim
Não
Developmental
language
disorder
Transtorno de
linguagem
Transtorno de
linguagem
associado a X
= Transtorno do
desenvolvimento
da linguagem
Informações adicionais:
-Condições co-ocorrentes
-Fatores de risco
-Áreas da linguagem acometidas
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TDL
NÃO EXCLUEM TDL: -Histórico familiar -Sexo (masculino) -Condição sócio-econômica -Escolaridade dos pais -Abandono ou abuso -Problemas pré ou perinatais
Fatores de risco
NÃO EXCLUEM TDL: -Atenção (TDAH) -Motor (ex. Apraxia de fala, disartria) -Alfabetização -Fala -Comportamento adaptativo -Problemas emocionais/comportamentais -Processamento auditivo (DPAC)
Condições co-
ocorrentes
EXCLUEM TDL (exemplos): -Lesões cerebrais -Síndrome de Landau-Klefner -Algumas condições neurodegenerativas -Condições genéticas (ex. Sd. Down) -Paralisia cerebral -Perda auditiva sensório-neural -Transtorno do Espectro Autista (TEA) -Deficiência intelectual
Condições biomédicas
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Transtorno do desenvolvimento da
linguagem – TDL
- Alterações suficientemente severas e persistentes de linguagem (além dos 5 anos de idade), e que não têm condição biomédica associada.
- Não significa que a criança não pode desenvolver linguagem.
- Não implica discrepância entre habilidades verbais e não-verbais, portanto, crianças com QI não-verbal abaixo da média mas que não caracterizam deficiência intelectual podem ser diagnosticadas com TDL → diferente da definição de SLI/DEL.
- Manifestação heterogênea → sem identificação de “subtipos de TDL” → Áreas da linguagem afetadas devem ser descritas: fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e acesso lexical, uso da linguagem/pragmática, discurso, aprendizagem e memória verbal.
- Terminologia consistente com DSM-5 e CID-11.
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