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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” TÍTULO: A PRÁTICA EDUCATIVA DE JESUS, O MESTRE DE NAZARÉ. AUTOR: ANDREIA CIPITELLI CHAVES PRATA PROFESSOR ORIENTADOR: FABIANE DATA DA ENTREGA: 27 DE SETEMBRO DE 2003.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”

TÍTULO: A PRÁTICA EDUCATIVA DE JESUS, O MESTRE DE NAZARÉ.

AUTOR: ANDREIA CIPITELLI CHAVES PRATA PROFESSOR ORIENTADOR: FABIANE DATA DA ENTREGA: 27 DE SETEMBRO DE 2003.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A PRÁTICA EDUCATIVA DE JESUS,

O MESTRE DE NAZARÉ

OBJETIVOS:

Ressaltar, no modo com Jesus ensinava,

a preocupação com o homem que

necessita produzir continuamente e

efetivamente sua própria existência.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter sonhado comigo e

por seu imenso amor dotou-me de

livre arbítrio para que minhas

escolhas possam ser sempre

possibilidades de crescimento.

Ao Padre Antônio José por sua

disponibilidade e orientação

Teológica sem a qual seria

impossível concluir este trabalho.

À professora Fabiane por sua

ousadia em permitir trabalhar num

tema delicado pois está entre o limite

do cientifico e o religioso.

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DEDICATÓRIA

Aos meus filhos Pedro e Thiago e ao

meu marido por sua colaboração e

ajuda fundamental para prosseguir

com o trabalho. Também a minha

mãe que por causa de sua doação

possibilitou-me alcançar-nos mais

essa vitória.

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RESUMO

Este trabalho pretende investigar a Pedagogia do mestre de

Nazaré e as contribuições, que nós professores, poderemos aprender

com a forma que ele conduzia seus ensinamentos.

Ele viveu há mais de dois mil anos e marcou a História da

humanidade. Nos interessa abordar apenas suas contribuições como um

excepcional professor que deixou sua doutrina para ser aprendida

durante muitos séculos.

Ao comparar a maneira como Jesus ensinava com as tese de

Piaget e Vygotsky, pretendemos mostrar que Jesus já praticava as

inovações trazidas por esses grandes pensadores para a prática

pedagógica atual.

Jesus foi mestre em sua época e sua maneira de ensinar era

inovadora para os moldes daquele tempo e talvez até do nosso. Ele era

comprometido com seus discípulos, desejava ensinar e tinha paixão em

fazê-lo.

Cultivava uma harmonia afetiva com o que fazia. Era um

especialista na arte de pensar, na arte de expor suas idéias e não de

impor, na arte fazer despertar no outro a sede do saber e na arte de

estimular a inteligência daqueles que estavam ao seu redor fazendo-lhes

perguntas desafiadoras e intrigantes.

Era alegre, sociável, lúcido, coerente, estável, seguro, brando

e tranqüilo, mas nunca passivo. Tinha plena consciência dos objetivos

que desejava alcançar. Não se dirigia às massas, mas às pessoas

individualmente levando em consideração que cada ser humano encerra

em si um mundo inteiro. Características essenciais a um bom professor.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho monográfico esta

essencialmente alicerçado em pesquisas bibliográficas

O tema deste trabalho refere-se a práticas educativas

realizados por Jesus, figura a ser considerada no mínimo como histórica

nada melhor do que procurar em obras bibliográficas.

O problema nos remete a investigar a relação entre o que ele

praticava há vinte séculos atrás e o que os profissionais de educação

podem aprender com este mestre que deixou valiosos ensinamentos que

marcaram não uma religião, mas dividiu a história da humanidade.

Foi utilizado material já elaborado de teóricos da Educação,

Teólogos e exegetas. Para facilitar a identificação das relações entre o

modo como Jesus ensinava a prática educacional de nossos educadores.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

CAPÍTULO I 3

OS SABERES PRESENTES NA PRÁTICA EDUCATIVA DE

JESUS 3

CAPÍTULO II 10

A TEORIA PSICOGENETICA DE PIAGET E A PRÁTICA

EDUCATIVA DE JESUS 10

CAPÍTULO III 18

O SOCIO-INTERACIONISMO DE VYGOTSKY E O MESTRE DE

NAZARÉ 18

CAPÍTULO IV 25

O MODO COMO JESUS ENSINAVA 25

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

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INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho refere-se à Pedagogia do mestre de

Nazaré. O que isso tem de importante para os professores; o que o

mestre de Nazaré fez para que seus ensinamentos perdurassem por mais

de vinte séculos; e nós, apesar deste exemplo, continuamos lamentando

que falamos, falamos e nossos alunos têm dificuldades de aprender.

Onde estamos falhando? O que está faltando?

Jesus foi mestre em sua época e sua maneira de ensinar era

inovadora para os moldes daquele tempo e talvez até do nosso.

Não se deixava circunscrever no modelo do mestre judeu,

ensinava com autoridade que sobrepujava a do protótipo da sabedoria.

Desejava ensinar e tinha paixão em fazê-lo, falava às pessoas

para comprometê-las num projeto e por isso as constringia a tomar uma

decisão que modificaria radicalmente sua existência.

Mantinha uma sintonia afetiva com o que fazia, era

comprometido com seus discípulos e desejava que acontecesse uma

transformação em suas vidas.

Destacaremos apenas dois dos grandes teóricos que

contribuíram com teorias educacionais voltadas para uma educação onde

o aluno é tratado como fim principal do processo e por isso é ativo,

dotado de ampla capacidade cognoscitiva e de interação com o que lhe é

apresentado.

Abordaremos de forma bastante compactada as principais

teses de Piaget e Vygotsky por serem pensadores com obra escrita

datada do século XX o que significa que seus estudos de teorias

inovadoras para a educação aconteceram há pelo menos 1900 anos

após o período em que Jesus ensinava.

Embora esse trabalho dê maior destaque aos teóricos acima

mencionados não deixará de citar outros nomes importantes para a

educação.

.

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Uma das metas deste trabalho é ressaltar no modo de Jesus

ensinar a presença da preocupação com o homem que, necessita

produzir continuamente sua própria existência. Preocupação que

verificamos na obra de Piaget que incansavelmente apregoava que “na

realidade a educação constitui um todo indissociável.”

Outro objetivo é destacar que observando o modo como

Jesus ensinava poderemos destacar pontos de vital importância para a

formação qualitativa do profissional da educação que deve incidir com sua

retidão ética centralizada no valor do homem, no compromisso real e

concreto com o outro, no criar possibilidades para proporcionar ao

educando sua própria produção ou sua construção.

A esse respeito Piaget diz que o educador é indispensável,

pois ele terá a atribuição de criar situações e armar os dispositivos

capazes de suscitar problemas úteis ao educando. Vygotsky vai dizer

que o professor será o mediador entre o educando e o objeto a ser

conhecido, sua prática implica numa ação partilhada, já que é através dos

outros que as relações entre sujeito e objeto de conhecimento são

estabelecidas.

Procuraremos destacar atitudes empregadas por Jesus como

as de instigar nos seus discípulos a dúvida para chegar a um novo

conhecimento através de confronto do antigo saber com o novo saber

apresentado; pesquisas que naquela época não eram acadêmicas, mas

de vida; e, de forma bastante relevante, a forma como ele tratava o ser

humano revestindo-o da importância que merece ter.

Enfatizaremos a forma como Jesus ensinava,suas atitudes e

os métodos que utilizava. Sempre que possível ressaltaremos que, hoje,

são consideradas metodologias modernas e eficazes como pretendemos

ressaltar ao compará-lo a moderna teoria psicogenética de Piaget e teoria

sócio-interacionista de Vygotsky.

Enfim queremos destacar a maneira como Jesus se

posicionava diante daqueles que o procuravam para serem instruídos por

ele. Este material proporcionará um excelente parâmetro para a prática

educativa atual.

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CAPÍTULO I

OS SABERES PRESENTES NA PRÁTICA

EDUCATIVA DE JESUS

Neste trabalho, gostaríamos de analisar as teorias

produzidas na, e principalmente, para a educação e compará-las com a

prática de ensino utilizada por Jesus, o mestre de Nazaré, há mais de

dois mil anos atrás.

Nossa principal fonte de informações está na Bíblia.

Delimitamos aos quatros evangelhos que foram escritos por

Mateus, Marcos, Lucas e João e retratam a história de Jesus.

Lucas e Marcos não pertenciam aos doze discípulos e para

que tivessem condições de escrever sobre Jesus eles tiveram que fazer

uma pesquisa, uma investigação junto a pessoas que conviveram de

forma mais próxima dele.

Segundo Dom Estevão Bettencourt1, hoje há mais de cinco

mil manuscritos do Novo testamento, o que o torna o mais bem

documentado dos escritos antigos.

Muitas cópias pertencem a uma data próxima dos originais.

Há aproximadamente 75 fragmentos datados desde 135 d.c. até o

século VIII. Todos esses dados, acrescidos ao trabalho intelectual

produzido pelos estudiosos da paleografia, arqueologia e crítica textual,

nos asseguram um texto bíblico fidedigno do Novo Testamento.

Neste capítulo pretendemos destacar os saberes

concernentes à prática educativa de Jesus e como elas são

importantes para a prática de todo professor.

1 Pe. Estevão Tavares Bettencourt O.S.B. Teólogo, Monge Beneditino. Criador da escola Matter eclesea e Luz e vida cursos destinados ao aprofundamento da doutrina Católica ,e também é responsável pela Faculdade de Ciências Religiosas da Arquidiocese do Rio de Janeiro

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Jesus era um especialista na arte de pensar, era sensível,

tolerante, sabia despertar a sede do conhecimento das pessoas,

possuía um discurso eloqüente e envolvente, adorava contar histórias e

olhava para todos com amor.

Era seguro, sabia exatamente onde queria chegar; gostava

de estar com seus discípulos e tinha grande facilidade em fazer amigos.

Não discriminava ninguém. Estava junto aos pobres, aos

leprosos, às prostitutas, mas também, aos ricos como os fariseus, os

doutores da lei.

Sobre as características encontradas na prática de ensino

de Jesus procuraremos discorrer sobre sua fundamental importância

para a prática dos docentes. Esse trabalho não pretende ter uma

visão religiosa, mas não temos como negar a eficácia dos

ensinamentos de Jesus, pois já perduram por vinte séculos.

Criava oportunidades de aprendizagens ativas, de tal modo

que seus interlocutores desenvolvessem suas capacidades

cognoscitivas assim como suas convicções afetivas, sociais e políticas.

Jesus não se dirigia às massas, a multidão anônima, mas às

pessoas uma por uma. Cada homem, na verdade, encerra em si um

mundo inteiro, infinitamente precioso aos seus olhos. Eis aí um dos

objetivos deste trabalho, ressaltarem em seu modo de ensinar, a

preocupação com o homem que necessita produzir continuamente sua

própria existência. Preocupação que verificamos na obra de Piaget

que incansavelmente apregoava que “na realidade a educação constitui

um todo indissociável”. Dentre várias outras concepções que defendia

por uma educação global, efetiva e desafiadora.

Muitas das teorias utilizadas em nossos tempos, já se

encontravam presente na maneira como Jesus conduzia o ensinamento

de seus discípulos que eram pessoas simples e alguns até mesmo

rudes.

Numa instituição escolar o professor tem um papel

fundamental, porém se faz mister que este profissional assuma a

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responsabilidade sobre a aprendizagem, pois se ela não ocorreu é por

que houve uma falha no processo.

Grandes teóricos da Educação como Pedro Demo e Saviani

sinalizam para um dos grande problema da aula é que sua ‘prontidão’,

ou seja, ela já vem pensada, sendo assim, evita pensar. Desta forma a

autonomia, que é primordial em termos educacionais e de cidadania,

fica comprometida por inteira.

Diz Paulo Freire que o bom professor é aquele que

influencia o aluno de tal maneira que o aluno não se deixe influenciar.

Piaget dizia que sempre que tiramos uma dúvida do aluno,

nós impedimos que ele aprenda. A dúvida é absolutamente essencial

para o aluno aprender. Ele tem de saber que erra e que do erro vem à

mudança.

Essas duas características almejadas pelas teorias

educacionais contemporâneas já estavam presentes no modo como

esse excepcional mestre ensinava há vinte séculos atrás.

Sua prática continha também à característica ressaltada por

Piaget sobre a importância do professor ser um desafiador. Jesus

quase sempre respondia as perguntas com outra pergunta ou com

parábolas que levariam seus interlocutores a reagirem diante da nova

situação de aprendizado.

Qualquer professor deseja que seus educandos se tornem

sábios, criativos, tolerantes e inteligentes. Antes de Cristo, a bela

Academia de Platão tinha essas exigências.

As teorias educacionais e psicopegagógicas de hoje têm um

nível de exigência bem menor que esses, pois não incluem a conquista da

tolerância e da sabedoria em suas metas.

Na obra de muitos educadores, dentre eles podemos

ressaltar Piaget e Vygotsky, há sempre critica sobre a forma de que em

nossas escolas nos sentamos enfileirados, somos bons quando não

temos fala ou concordamos instantaneamente com o que nos é oferecido.

Se não aprendemos, ainda assim, somos detentores dessa culpa. Somos

considerados como mais um que se conseguir terminar a educação

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fundamental será privilegiado. O conhecimento que recebemos tem

pouca ou nenhuma relação com nossa história, no máximo tem relação

com a nossa profissão.

O psicólogo Augusto Jorge Cury define a escola de Cristo

como a Escola da Existência. Nela todos os eventos têm relação direta

com nossa história e temos de aprender a difícil arte de dialogar2.

O professor deve encorajar o aluno a pensar por si mesmo ao

iniciar um diálogo. Interrogá-lo sobre suas idéias, propor-lhe outras idéias

e levá-lo assim a escolher entre alternativas, objetivando transformá-lo em

um aluno atuante na aprendizagem abandonando a condição de mero

espectador.

Poderemos co-relacionar ‘dialogicidade’3 empregada por

Jesus em sua prática de ensino ao que diz a Filosofia da educação sobre

a concepção de ensinar e aprender de um existencialista. Ele dava voz e

vez a seus interlocutores, ouvindo suas preocupações, inquietações,

medos.

Recorreremos à teoria do “diálogo” de Martin Buber4, onde

num diálogo cada pessoa deverá permanecer como sujeito para a outra e

jamais tornar o ato do diálogo numa manipulação ou imposição verbal, em

que uma pessoa se sobrepõe a outra, convertendo esta última num objeto

de sua vontade, expressa em fala.

Novamente podemos constatar que a prática de ensino

baseada no diálogo utilizada por Jesus é considerada importante e eficaz

para a aprendizagem do aluno em nossos dias e muitas vezes é tida

como inovação por que nós educadores não observamos o exemplo de

metodologia de ensino deixado por Jesus apesar de não ter sido

intencional.

2 Mt 7,1-3 : “Não julgueis e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida que tiverdes medido, também vós sereis medidos. Por que olhas a palha que está no olho de teu irmão e não vês a trave que está no teu olho? 3 Terminologia empregada por Paulo Freire que diz respeito a importância da educação baseada no diálogo constante entre professor e aluno. 4 A Filosofia de Buber é eminentemente personalista, constitui uma Filosofia de relações humanas. Na obra In and Thou, Scribner’s Nova York, 1958, p.64 diz que “O que nos ensina a expressão do Tu não é o instinto de originação, mas o instinto de comunhão”.

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A capacidade de dialogar é outra característica fundamental

que um bom mestre deve cultivar Jesus possuía e colocava em prática.

Ele rompia com a impessoalidade e a frieza do conhecimento. O que

ensinava tinha vida5 e se fundia com a sua própria história. Tratava cada

um como um ser singular. Seus ensinamentos eram muito mais difíceis

do que a Matemática, Física, Química, Literatura, pois envolviam questões

existenciais, ansiedades, cooperação social, envolviam os pensamentos

mesclados com emoções.

A Filosofia existencialista diz que a educação também deve

proporcionar um insight das experiências em que o homem adquire plena

consciência da condição, experiências tais como o sofrimento, o conflito, a

culpa e a morte.(Kneller, 1984, p.94)

A respeito de como Jesus ensinava seus discípulos a lidarem

com essas experiências podemos consultar a passagem bíblica onde

narra o temor que tomou conta daqueles pescadores diante de uma

grande tempestade que chegou no mar em que eles navegavam. Jesus

dormia com tranqüilidade apesar de não ser pescador. Quando foi

despertado censurou o medo e a ansiedade deles.

Jesus queria que seus discípulos sábios para superar as

dificuldades da vida. Cury relata que:

Todos elogiam a primavera e esperam

ansiosamente por ela, pois pensam que as flores surgem nessa

época do ano. Na realidade, as flores surgem no inverno,

ainda que clandestinamente, e se manifestam na primavera. A

escassez hídrica, o frio, a baixa luminosidade, pertinentes ao

inverno, castigam as plantas, levando-as a produzir

metabolicamente as flores que desabrocharão na primavera.

As flores contêm as sementes, e as sementes expressam uma

tentativa de continuação do ciclo da vida das plantas diante das

intempéries que atravessaram no inverno. O caos do inverno é

responsável pelas flores da primavera.(Cury,1999, p.148)

Como um bom mestre, Jesus não oferecia a seus discípulos

respostas prontas, ao contrário procurava levá-los a desenvolver a arte de

pensar através da arte de perguntar. 5 João 6, 68

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O professor deve ter segurança na argumentação e quando

acontecer discordância, não nutrir intolerância diante daquele que

discordou e sim tratá-lo como sujeito desse diálogo tendo opiniões e

argumentos para serem apreciados.

As tendências pedagógicas abordadas neste trabalho

comungam da mesma conduta adotada por Jesus, ou seja, fazer do

educando um sujeito de sua aprendizagem.

Nós professores precisamos aprender que a nossa grande

tarefa não é transferir, depositar, doar ao outro, tornando o aluno como

paciente de seu pensar. Pelo contrário devemos ter uma prática de

inteligir, desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica,

produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Devemos

adotar uma prática dialógica conforme a prática de Jesus nos ensina.

A pedagogia da Autonomia nos aponta que saber que ensinar

é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria

produção ou a sua construção.

Em seu trabalho Paulo Freire escreve que o professor quando

entra em sala de aula precisa estar aberto para a indagação, à

curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições. Também o

professor deverá ser crítico e inquiridor para ter alunos críticos e

questionadores. Deverá ser principalmente inquieto em face de sua

tarefa de ensinar e não a de transferir conhecimento.

Jesus valorizava o homem ao máximo, por isso nunca desistia

de ninguém, por mais que o frustrassem. Pedro, seu discípulo mais

íntimo negou-o por três vezes6 e mesmo assim Jesus olhou-o com amor.

Cury escreve sobre esse tema em seu livro7 dizendo que:

O amor do mestre de Nazaré pelos seus

discípulos é a mais bela e ilógica poesia existencial já

vivida por um homem. Pedro podia excluir Jesus de sua

história, mas Jesus jamais o abandonaria, pois o

considerava insubstituível. Nunca alguém amou e se

6 Lucas 22,57 7 Cury, Augusto. 2000. O mestre da sensibilidade.

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dedicou tanto a pessoas que frustraram e lhe deram tão

pouco retorno. (Cury, 2000, p.128)

Quantas vezes nós professores temos vontade de abandonar

nossa prática porque os alunos, segundo nossos critérios, não têm

interesse, ou são indisciplinados, ou agressivos, ou ainda muitas vezes

chegamos a rotula-los como aqueles que não aprendem. Quantos

poderão aprender observando o comportamento do mestre de Nazaré.

Na época em que Jesus viveu, a discriminação e a

estratificação social faziam parte da rotina social. Uma situação não muito

diferente da que encontramos hoje em nossa sociedade.

Apesar de viver num regime antidemocrático, sem nenhuma

liberdade de expressão, ele não se deteve em falar. Era um pregador da

liberdade, porém está vinculada à responsabilidade.

Nós, educadores, devemos ter como meta à rejeição mais

profunda a qualquer forma de discriminação. Paulo Freire diz que a

prática preconceituosa seja de raça, de classe, de gênero ofende a

substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia8.

Segundo Freire, o respeito à autonomia e à dignidade de cada

um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder

uns aos outros.

A prática de ensino de Jesus pretende levar seus discípulos a

aprender a construir uma liberdade com consciência, a aprender a

proteger a emoção e a desenvolver a capacidade de ver o mundo também

com olhos dos outros são funções importantes para serem desenvolvidas

no educando.

8 Freire, Paulo. 1996. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.

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CAPITULO II

A TEORIA PSICOGENÉTICA DE PIAGET E A

PRÁTICA EDUCATIVA DE JESUS

Jean Piaget é suíço nascido na cidade de Neuchâtel. Aos

vinte e dois anos era doutor em Biologia. Intelectualmente ávido,

escreveu cerca de setenta livros e trezentos artigos sobre Psicologia,

Pedagogia e Filosofia. Certa vez perguntou-lhe por que escrevia tanto,

respondeu: “É porque não tenho de ler Piaget”.

As pesquisas de Piaget e o seu interesse pelas estruturas

mentais, com a conseqüente contribuição de uma teoria que procura

elucidar os caminhos do pensamento desde a sua gênese, coloca à

disposição de nós educadores, um conhecimento acerca do

desenvolvimento mental da criança que tem sido utilizado sob diversos

ângulos.

Como biólogo afirmava que “A vida é, em essência, auto-

regulação”. Definiu o conhecimento como uma atividade estruturadora

sobre os objetos, aos quais transforma pelos significados que lhes atribui.

Defendia que desenvolvemos a inteligência para manter um equilíbrio

dinâmico com o meio ambiente. Quando o equilíbrio se rompe, o

indivíduo age sobre o que o afetou buscando se reequilibrar. Para Piaget,

isso é feito por adaptação e por organização9.

A adaptação tem duas formas básicas: a assimilação e a

acomodação10; em ambas pode-se reconhecer a correspondência prática

daquilo que será mais tarde a dedução e a experiência: a atividade da

mente e a pressão da realidade; como afirmava Piaget. Na assimilação, o

indivíduo usa as estruturas psíquicas que já possui. Na acomodação, são

novas estruturas criadas para dar conta do aprendizado.

9 Piaget, J. 1961. La Formacion Del símbolo en el niño. 10 Piaget, J. 1978. La equilibración de las estructuras cognitivas.

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Já na organização articula esses processos com as estruturas

existentes e reorganiza todo o conjunto.

Nas parábolas que Jesus contava, podemos correlacionar

essa teoria de Piaget .

Em seu livro Anderson11 diz que a parábola funciona como

uma longa comparação que se torna conto com especial coerência,

unidade e tem uma força própria, oferecendo assim um ensinamento

único e preciso. A história inventada permite que se interprete de modo

fácil e unívoco a situação real a que se refere: entre os dois níveis,

invenção e realidade, põem-se analogias precisas e seguras que

permitem compreensão imediata. O indivíduo utiliza-se dos processos de

assimilação e acomodação para interagir e refletir sobre o que é instigado

no contexto da história contada.

Uma preocupação central de Piaget era a questão da gênese

do pensamento. E é em função dela que questiona se a escola

tradicional estaria conseguindo formar, com êxito, indivíduos com um

raciocínio ativo autônomo.

Jesus utilizava-se da pergunta para estimular seus alunos a

pensarem e se tornarem engenheiros de idéias. Às vezes, Ele

perguntava mais do que respondia. Em diversas ocasiões respondia as

perguntas, não fornecendo uma resposta pronta e acabada, mas

formulava novas perguntas12 . Sabia que a arte da pergunta gerava a arte

da dúvida e que a dúvida rompia o cárcere intelectual, abrindo os

horizontes do pensamento.

Piaget sempre criticou severamente a escola tradicional e

defendia práticas baseadas em jogos, pesquisas e trabalhos em grupos.

O estímulo que se dá á habilidade da pergunta e a habilidade

da dúvida é tão escasso em nossas escolas que é incapaz de instigar a

arte de pensar. O prazer que deriva do saber está sendo esmagado,

minimizado e, porque não pensar que, massacrado. A resposta já vem

11 Anderson, Ana Flora. 1989. Parábolas: a palavra que liberta. 12 Lc 20,2 – 4 – “e lhes disseram: _ Com que autoridade fazes isso? Quem te deu essa autoridade? Respondeu-lhes: _ Eu também vos farei uma pergunta para que me respondais: O batismo de João vinha de Deus ou dos homens?

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pronta e acabada, destruindo assim a possibilidade da pergunta, retraindo

a dúvida, esgotando a curiosidade e a criatividade.

A dúvida nos provoca e estimula, mexe com os mecanismos

de adaptação e de acomodação. A dúvida vai dimensionar o tamanho da

resposta e por isso é importante que o mestre fique atento para poder agir

como um problematizador, oferecendo sempre desafios que levem seus

alunos a estarem submersos nesse processo de desequilíbrio e

reestruturação para estarem progredindo nos caminhos do saber.

Faz-se mister a um bom professor estimular seus alunos a

desenvolverem-se na arte de pensar, mas isso só acontecerá quando os

alunos aprenderem a perguntar e a duvidar. A esse respeito Piaget diz

que “é evidente que o educador continua indispensável para criar

situações e armar os dispositivos iniciais capazes de suscitar problemas

úteis à criança. E para organizar, em seguida, contra-exemplos que

levem à reflexão e obriguem ao controle das soluções apressadas”.

Jesus, em sua época, era um notável perguntador. Era um

mestre que estimulava os que o procuravam a estarem duvidando de seus

dogmas e certezas mais intrínsecos desenvolvendo neles novas

possibilidades de pensar. Podemos observar várias situações que estão

relatadas nos evangelhos (são como uma biografia de Jesus) onde ele

respondia as perguntas formulando novas perguntas. Segundo Cury, seu

procedimento intelectual supera com vantagens as técnicas propostas por

muitas teorias educacionais.

De acordo com Ely Eser em seu livro13, podemos concluir que

dentre as teorias que estão voltadas a favorecer uma educação para

alunos sujeitos de sua história, Jesus já as aplicava em sua forma de

ensinar, pois, se preocupava com o seu discípulo por inteiro, não o

tratando como quem nada sabe, mesmo para ele que disse que é o bom

pastor14.

13 A prática pedagógica de Jesus: fundamentos de uma Filosofia educacional. 14 Jô 10,14 – Eu sou o bom pastor: conheço minhas ovelhas e elas me conhecem,

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Para ele todos tinham grande valor, principalmente os

excluídos da sociedade, que em sua época, eram representados por

mulheres15, crianças16 e leprosos17 entre outros.

Não deixava de olhar para ninguém, nada passava

desapercebido por seu olhar, sempre atento para proporcionar momentos

de aprendizagens.

Após um longo período de caminhada com seus discípulos

onde eles haviam ouvido o mestre ensinar e testemunharem fatos

extraordinários, Jesus perguntou-lhes: ‘Que diz o povo que eu sou?’18

Embora ele soubesse o que o povo falava a seu respeito, perguntava a

seus discípulos para estimula-los a pensarem sobre o que era dito e o que

eles achavam, pois tinham um contato mais próximo com o mestre de

Nazaré.

No episódio da mulher adúltera ele a questiona: “Mulher, onde

estão teus acusadores?” Ele sabia que não restava mais nenhum

acusador, pois ficaram transtornados com a colocação de Jesus para que

ficassem apenas os que atendessem a condição primeira, para poder

acusar a mulher adúltera, àqueles que não possuíssem faltas. Desta

forma ambos, a mulher e seus acusadores, teriam que se interiorizar e

refletir sobre suas histórias respectivamente. Observemos que a mais de

dois mil anos atrás já tínhamos um grande exemplo de educar para

construir, valorizar, transformar o antigo em algo novo, significante, que

está a serviço do ser humano e não o oposto que torna o ser prisioneiro

de conhecimentos produzidos, de tradições, de pensar conforme já foi

pensado.

Outro trecho dos escritos de Piaget diz que: “o que se deseja é

que o professor deixe de ser apenas um conferencista e que estimule a

pesquisa e o esforço, ao invés de se contentar com a transmissão de

15 Jô 4,9 – A samaritana lhe responde: Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a uma mulher samaritana? 16 Mc 10,14-16 - Deixai que as crianças se aproximem de mim; não as impeçais, porque o reino de Deus pertence aos que são como elas. 17 Mc 1,40.41- Aproximou-se um leproso e suplica-lhe: Se quiseres podes curar-me. Ele se compadeceu, estendeu a mão, nele tocou e lhe disse: Quero, fica curado. 18 Marcos 8,27

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soluções já prontas”.Podemos constatar essa mesma atitude de Jesus

quando pergunta ao cego Bartimeu “Que queres que te faça?”19 Ele já

sabia que Bartimeu desejava ser curado mas desejava que ele pensasse

sobre o seu estado e pede-lhe que tome uma atitude: “Ânimo! Levanta-te”

fazendo assim que tivesse uma participação ativa, como sujeito que

interage diante do conhecimento.

Também o esforço de Bartimeu foi primordial para alcançar o

seu desejo de cura e foi por Jesus valorizado que quis a sua participação

ativa.

Para evitar respostas prontas e estimular seus interlocutores a

estarem pensando e se internalizando Jesus propunha parábolas para

mexer com as certezas das pessoas e forçá-las a repensarem o que já

receberam como verdades imutáveis. Um bom exemplo temos na

parábola do semeador relatada no evangelho de Marcos capítulo quatro

versículos um até nove.

Em outra ocasião começou a ensinar

junto ao lago. Reuniu-se junto a ele tal multidão, que teve de

subir numa barca que estava na água; sentou-se, ao passo que

a multidão estava na terra, junto ao lago.

Ensinava-lhes muita coisa com parábolas, e lhes

dizia instruindo-os:

Atenção! Um semeador saiu para semear. Ao

semear, algumas sementes caíram junto ao caminho; vieram os

pássaros e as carregaram; outras caíram em terreno

pedregoso, com pouca terra; faltando-lhes profundidade, brotou

logo; mas, ao sair o Sol, se abrasaram e, como não tinham

raízes, secaram. Outras caíram entre espinheiros: os

espinheiros cresceram e as sufocaram, e não deram fruto.

Outras caíram em terra fértil e deram fruto, brotaram,

cresceram e produziram umas trinta, outras sessenta, outras

cem. E acrescentou: Quem tiver ouvidos, ouça.

Nessa parábola Jesus utiliza dados do cotidiano para levar

seus interlocutores a refletir sobre uma nova situação. Ele proporciona

19 Marcos 10,46-52

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meios para repensar, confrontar novas informações e agir diante das

situações problemas que lhes são apresentadas. A atividade da

inteligência requer estímulos recíprocos que levem ao exercício do

espírito crítico .

Diz Piaget : “O objetivo da educação intelectual não é saber

repetir ou conservar verdades acabadas, pois uma verdade que é

reproduzida não passa de uma semiverdade, mas sim, aprender por si

próprio a conquista do verdadeiro, correndo o risco de depender tempo

nisso e de passar por todos os rodeios que uma atividade real pressupõe.”

Jesus objetivava transformar o homem, expandir a sua

inteligência e modificar a sua maneira de pensar20. Ele se colocava como

messias, o mestre que abre as janelas da mente e conduz o homem a

pensar em outras possibilidades21. Segundo Cury “sua metodologia era

suas próprias palavras, seus gestos e seus pensamentos. Sua Pedagogia

era sua história e a maneira como abria as janelas da inteligência de seus

discípulos”.

Para Maria A. Brunero22, as exigências dos ensinamentos de

Jesus não implicavam em aceitação cega. De maneira contrária, obriga a

repensar cada ato, cada atitude, partindo dos valores aceitos e

assumidos, das normas propostas, das circunstâncias e, em geral, de

todo o enfoque da vida moral.

Piaget criticava o professor que assumia a postura de

soberano detentor da verdade intelectual e moral.

O padre Aleksander Mien23 relata que Jesus, já em sua época,

se misturava aos seus alunos, entrava na história deles. Não havia um

distanciamento entre eles e por causa dessa convivência com

proximidade, ele os conquistava e conhecia as angustias e necessidades

de cada um24.

20 Mt 5, 1 – 11 - Sermão da montanha 21 Mt 23,8 – Não vos façais chamar de mestres, pois um só é o vosso mestre, ao passo que todos vós sois irmãos. 22 Brunero, Maria Alice. Atitudes de Jesus: leitura ética do novo testamento. 23 Biblicista de renome e homem de vasta cultura. 24 Jô 14,27 – “Eu vos deixo a paz, eu vos deixo a minha paz. Não vo-la dou como a do mundo. Não vos perturbeis nem vos acovardeis”.

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Segundo o psicólogo Augusto Cury, Jesus aproveitava cada

oportunidade, cada momento, cada erro25 e dificuldade deles para

conduzi-los a se repensar e reorganizar suas histórias.

Via os erros não como objeto de punição, de exclusão26, mas

como uma grande oportunidade de transformação e de crescimento

interior.

Certo dia Jesus encontrou, na beira de um poço, uma mulher

samaritana e iniciou com ela um diálogo demonstrando assim que ela era

um ser humano digno de todo respeito. Ela era excluída da sociedade por

ser mulher vivendo em uma sociedade marcada pelo machismo, seu povo

era desprezados pelos judeus que consideravam os samaritanos impuros

por não considerarem Jerusalém como centro de adoração a Deus, e

tinha uma vida íntima marcada por ter conhecido vários parceiros

diferentes.

Quando Jesus apareceu àquela samaritana, ela sabia da

discriminação por parte do povo judeu e pensava que ele sendo um judeu

puro, a rejeitaria, não lhe dirigindo nenhuma palavra nem ao menos de

reprovação. Ela ficou tomada de admiração quando ele começou a

dialogar longamente com ela e não entendia como ele rompia com uma

discriminação tão profundamente enraizada. Jesus, porém foi acolhedor e

elegante, rompendo assim com o preconceito racial e moral, tratando-a

como um ser humano acima de sua raça e de seus erros.27

Piaget destacava que um dos maiores problemas educacionais

é fazer um professor se posicionar continuamente como aluno. Jesus

conseguia fazer isso com maestria, como no exemplo da samaritana.

Comumente colocava-se lado a lado com os que o ouviam, era eloqüente,

cativante, instigante e principalmente dava voz aos que estavam ao seu

redor. Rubio afirma que: ”Jesus Cristo, com a existência de um homem

encantador como humano, que foi”28.

25 Mc 2, 17 – Não vim para os justos mas para os pecadores. 26 Jô 6,37 – Aqueles que meu Pai me confiou virão a mim, e aquele que vier a mim, não o rejeitarei. 27 Jô 4,1-29 28 Rubio, Alfonso Garcia. 1994. O encontro com Jesus Cristo vivo.

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Em Piaget encontramos que: “os sistemas lógicos ou as

formas superiores do pensamento derivam de abstrações reflexivas sobre

os aspectos mais formais dos esquemas de ação. Em geral, os

mecanismos de equilibração dos quais qualquer processo de reflexão faz

parte orientam a construção da lógica natural ‘de dentro para fora’”

(Piaget, 1965)

Baseados nos escritos de Bruno Forte29 podemos assegurar

que Jesus prioriza a ação reflexiva, conduzia seus discípulos a pensar

antes de reagir. Desejava que o homem não fosse um repetidor de regras

de comportamento, mas que fossem capazes de reescrever suas histórias

com liberdade e consciência, que não tivessem medo de revisar seus

dogmas e seus conflitos diante da vida conforme em Lucas capítulo seis,

versículos quarenta e um até quarenta e cinco.

Por que reparas no cisco do olho do teu

irmão, e não reparas na viga que tens no teu olho?

Como podes dizer ao teu irmão: Irmão deixa-me tirar o

cisco do teu olho, quando não vês a viga do teu?

Hipócritas! Tira primeiro a viga de teu olho, e

depois poderás distinguir para tirar o cisco do olho de teu

irmão.

Não há arvore sadia que de fruto podre, nem

arvore sadia que de fruto podre. Pelos frutos conhecereis

a arvore. Não se colhe figos das sarças nem colhem

uvas dos espinheiros.

O homem bom tira coisas boas de seu bom

tesouro interior, o mau tira o mal de seu mau tesouro. A

boca fala do que está cheio o coração.

29 Forte, Bruno. 1985. Jesus de Nazaré

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CAPÍTULO III

O SOCIO–INTERACIONISMO DE VYGOTSKY

E O MESTRE DE NAZARÉ

3.1 - Breve histórico

Vygotsky viveu apenas 37 anos e o que mais impressiona em

sua obra é sua contemporaneidade. Seus escritos, elaborados há

aproximadamente sessenta anos, ainda hoje têm o efeito do impacto, da

ousadia, da fidelidade à investigação acerca de pontos obscuros polêmico

no campo científico.

Estudou Direito e Literatura, na Universidade de Moscou,época

em que começou sua pesquisa literária mais sistemática. No mesmo

período participava também na Universidade Popular de Shanyavskil, de

cursos de História e Filosofia.

Seu percurso acadêmico foi marcado pela interdisciplinidade já

que transitou por diversos assuntos, desde artes, literatura, lingüística,

antropologia, cultura, ciências sociais, psicologia, filosofia e,

posteriormente, até Medicina. O mesmo ocorreu com sua atuação

profissional, que foi eclética e intensa e esteve sempre associada ao

trabalho intelectual.

Começou sua carreira aos 21 anos, após a Revolução Russa

de 1917. Em Gomel, no período de 1917 a 1923, além de escrever

críticas literárias30, lecionou e proferiu palestras sobre temas ligados a

literatura, ciências e psicologia em várias instituições. Já nesta época

preocupava-se também com questões ligadas à pedagogia. Em 1922

publicou um estudo sobre os métodos de ensino da literatura nas escolas

30 Vygotsky se interessava pela estética, particularmente pelo significado histórico e psicológico da obra de arte de um modo geral. Buscava a interpretação dessas obras a partir da teoria das emoções de Spinoza (Bronckart, 1985, p.7).

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secundárias. Nessa fase, dirigia a seção de teatro do departamento de

Educação de Gomel. Na mesma cidade fundou ainda uma editora, uma

revista literária e um laboratório de psicologia no Instituto de Treinamento

de professores, local onde ministrava cursos de psicologia31.

Seu projeto de trabalho consistia na tentativa de estudar os

processos de transformação do desenvolvimento humano. Deteve-se no

estudo dos mecanismos psicológicos mais sofisticados – as chamadas

funções psicológicas superiores, típicos da espécie humana: o controle

consciente do comportamento, atenção e lembrança voluntária,

memorização ativa, pensamento abstrato, raciocínio dedutivo, capacidade

de planejamento etc.

Utilizando-se das premissas do método dialético, procurou

identificar as mudanças qualitativas do comportamento que ocorrem ao

longo do desenvolvimento humano e sua relação com o contexto social.

No final da década de 20 e início da década de 30 fez importantes

reflexões sobre a questão da educação e de seu papel no

desenvolvimento humano.

3.2 - A correlação entre as idéias centrais de Vygotsky e as de

Jesus

Um dos pontos centrais da teoria de Vygotsky é que as

funções superiores são de origem sócio-cultural e emergem de processos

psicológicos elementares, de origem biológica32. Ou seja, a complexidade

da estrutura humana deriva do processo de desenvolvimento

profundamente enraizado nas relações entre história individual e social.

Para Cury, Jesus ensinava a todos e em qualquer lugar.

Considerando a todos que o procuravam como seres dotados de história

31 Este histórico foi retirado do livro: Vygotsky – Uma perspectiva histórico cultural da educação (Rego, 1995,p.22) 32 Vide deste autor A formação social da mente.

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de vida, de formas de elaborar pensamentos e também, de idéias pré-

concebidas pela sociedade as quais estavam inseridos. Em face disso,

Ele reorganizou o processo de construção das relações interpessoais

entre seus discípulos tornando-as fundamentadas em solidariedade,

diálogo e amor ao próximo33.

O mestre de Nazaré promovia a inclusão do sujeito no

processo de aprendizagem integrando-o e comprometendo-o com o que

lhe era apresentado34.

Padre Aleksander Mien demonstra em seu trabalho35 que

Jesus tinha plena consciência da angústia social e do autoritarismo

político que as pessoas de sua época viviam, mas sabia que a maior

dificuldade que essas pessoas passavam era a que estava em seu

íntimo36 e desejava incentivar condições de reescreverem suas histórias

com liberdade e consciência para que desse modo possam modificar as

relações sociais.

Outra co-relação entre esses mestres está marcada no fato em

que Vygotsky dizia que o processo de ensino-aprendizagem inclui sempre

aquele que aprende, aquele que ensina e a relação entre essas pessoas.

Teresa Cristina Rego diz em seu trabalho37 que para Vygotsky

desenvolvimento e aprendizagem são processos intimamente

relacionados, imersos em um contexto cultural que lhe fornece a ‘matéria

– prima’ do funcionamento psicológico; o individuo tem seu processo de

desenvolvimento por mecanismos de aprendizagem acionados

externamente. É um processo global de relação interpessoal.

33 Lucas 6,48- Parece-se com alguém que ia construir uma casa: cavou, afundou e colocou um alicerce sobre a rocha. Veio uma enchente, a torrente se chocou contra a casa, mas não pode sacudi-la, porque estava bem construída. 34 Marcos 1,17 – Vinde comigo e vos farei pescadores de homens. 35 O Padre. Aleksandr Mien escreveu uma obra sobre a vida de Jesus que seria levada a milhares de cidadãos da antiga União Soviética. Esta obra circulava clandestinamente devido a proibição imposta pelo regime político. 36 Marcos 7,20 - O que sai do homem é o que contamina o homem. 37 Doutora em Psicologia da Educação da USP.

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Nos evangelhos é relatado que por mais de três anos os

apóstolos e discípulos mais íntimos de Jesus ouviram seus ensinamentos

ao seguí-lo em seus deslocamentos38.

Baseado nos escritos de Echegaray39 podemos dizer que os

discursos proferidos por Jesus eram habitualmente constituídos por ditos

sapienciais, parábolas, narrações cheias de metáforas e de contemplação

da natureza40 e das pessoas. Neles Jesus se expressava com uma

linguagem incisiva, que não se abria a adjetivações redundantes. Eram

discursos que objetivavam atingir diretamente ao coração das pessoas

que queria envolver em uma relação consigo, para que vivessem uma

nova vida.

Consideremos alguns aspectos do sermão da montanha que

encontramos no evangelho de Mateus capítulo cinco versículos um até

doze;

Vendo Jesus aquela multidão, subiu a um monte e, tendo-

se sentado, aproximaram-se dele os seus discípulos. E ele abrindo a

boca, os ensinava, dizendo:

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o

reino dos céus.

Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque

serão saciados.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão

misericórdia.

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a

Deus.

Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados

filhos de Deus.

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da

justiça, porque deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados sois quando vos injuriarem e vos

perseguirem,e mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de

mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a recompensa nos céus,

pois assim perseguiram os profetas, que existiram antes de vós.

38 Marcos 1,38 – Vamos a outros lugares e às aldeias vizinhas, para pregar também por lá, pois é para isso que vim. 39 Echegaray, Hugo, 1991. A prática de Jesus 40 Mateus 6,28 – Considerai como crescem os lírios do campo.

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Segundo César41, no sermão da montanha Jesus abrange

todos os aspectos da vida em seu estruturado e complexo dia-a-dia

utilizando uma sucessão de ordens, sentenças e de exortações.

Mostrando que ele compreendia que a aprendizagem ocorre quando o

sujeito está imerso no contexto de interação social com os materiais

fornecidos pela cultura que fornece aos indivíduos os sistemas simbólicos

de representação e suas significações, que se convertem em

instrumentos aptos para representar a realidade.

Ele tinha consciência das conseqüências de suas palavras e

das metas que queria atingir. Sabia que a internalização/transformação é

uma pedra angular para instigar a inteligência de seus alunos. Podemos

constatar outro ponto de intercessão entre o modo como Jesus ensinava

e as teorias vygotskyanas.

Rubio42 diz em seu livro que Jesus era um mestre cativante.

Muitos corriam para ouvi-lo, para serem ensinados por ele. As multidões

o seguiam por lugares inóspitos, desérticos, onde corriam o risco até de

morrerem de fome43, mas ele instigava em seus íntimos algo que

ultrapassava a fome física.

Cury afirma em sua obra44 a respeito de Jesus que ele

apreciava provocar a inteligência das pessoas e indicar o radicalismo

delas, surpreendê-las e estimular nelas a arte de pensar.

Na obra de padre Aleksandr Mien45, por originar-se de um

contexto de repressão gerado pelo regime soviético, ressalta que nas

bem-aventuranças Jesus ressalta a atitude de construção de atitudes

pacíficas, numa sociedade que vivia a repressão sócio-cultural, pois sabia

que o homem interagindo dialeticamente com o meio, conforme vai

41 Cesa, Ely Eser. 1991. A prática pedagógica de Jesus 42 Rubio, Afonso Garcia, 1994. O encontro com Jesus Cristo vivo 43 Mt - 14,15 ; 15,32 e Mc - 8,1-9 44 Augusto Cury, Coleção Análise da inteligência de Cristo. 45 Padre Aleksandr Mien, filho de pais judeus sem fé. A mãe, atraída pelo cristianismo, fez-se batizar junto com o filho. Tornou-se biblicista de renome e homem de cultura vastíssima, redigiu, a partir da década de 60, uma obra em diversos volumes sobre a história das religiões, preparou um monumental dicionário bíblico e escreveu vários livros divulgando as Sagradas Escrituras, a Igreja e a liturgia ortodoxa.

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transformando o meio para atender suas necessidades estará

transformando a si mesmo.

Também em comum com a tese de Vygotsky, ambos

entendiam que o homem modifica a ambiente através de seu próprio

comportamento, e essa mesma modificação vai influenciar seu

comportamento futuro.

Luria diz que: “as funções psicológicas superiores do ser

humano surgem da interação física do Homo Sapiens, com os fatores

culturais, que evoluíram através das dezenas de milhares de anos de

história humana” (Luria, 1992, p.60).

Jesus diz que “nem só de pão vive o homem, mas de toda

palavra que provem da boca de Deus” proferindo que o homem não é feito

só do que é necessário para sua própria subsistência, mas precisa investir

em sabedoria, em capacidade de gerar pensamentos. Livres de idéias

pré-concebidas, sem nossa participação. Construir uma postura de quem

avança para interagir e transformar, sempre que necessário, o meio em

que está imerso.

Vygotsky defende a tese da mediação presente em toda

atividade humana que não é direta, porém mediadas por meios, que se

constituem nas ferramentas auxiliares da atividade humana. Portanto,

construir conhecimentos implica numa ação partilhada, já que é através

dos outros que as relações entre sujeito e objeto de conhecimento são

estabelecidas.

Para Cury Jesus interagia com todos que o procuravam. Tinha

coragem e ousadia para dizer palavras incomuns46 objetivando

transformar o homem, expandir a sua inteligência e modificar a sua

maneira de pensar47.

Foi assim que aconteceu no seu encontro com a mulher

samaritana no poço; com Pedro que largou suas redes para segui-lo e

passou a ser pescador de homens e a pedra sobre a qual foi edificada a

Igreja de Cristo; com Zaqueu, o cobrador de impostos, que após conhecer

46 Lucas 21,33 - Céus e terras passarão, mas as minhas palavras não passarão. 47 Mateus 5,1-11

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o mestre de Nazaré decidiu restituir aos que tivesse defraudado e muitos

outros que tiveram suas vidas transformadas depois de interagirem com

esse mestre.

Há mais de 2000 anos, Jesus já tratava seus interlocutores

como sujeitos ativos e interativos no processo do conhecimento, uma vez

que não os considerava como pessoas que recebiam passivamente as

informações do exterior.

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CAPITULO IV

O MODO COMO JESUS ENSINAVA

Jesus abalou os pilares de sustentação da História da

humanidade; foi o marco, o divisor, o ponto referencial, através de sua

própria história. Seu viver e seus pensamentos atravessaram gerações.

Suas palavras permanecem vivas até hoje, mexendo com milhões de

pessoas no mundo inteiro e de todos os níveis sociais, culturais

econômicos.

A maior fonte de informação que temos a seu respeito está

contida na Bíblia. A respeito de sua vida pública encontramos maior

número de informações nos quatro evangelhos. Apesar de não atender

as características de uma obra bibliográfica poderíamos, mesmo que

precariamente, chamar de biografia de Jesus os evangelhos escritos por

Mateus, Marcos, Lucas e João.

Não freqüentou as escolas rabínicas ou dos grandes mestres

da época, mas, assim mesmo, era reconhecido como rabi pelos doutores

da lei conforme no evangelho de Marcos capitulo 6 versículos 2 e 3.48

Ele não anulava a arte de pensar; pelo contrário, era um

mestre excepcional nessa arte. Jesus não falava sobre uma fé sem

inteligência conforme vemos Lucas capítulo 24 versículos 39 e 4049.

Para Ele, primeiro deveria se exercer a capacidade de pensar e refletir

antes de crer, depois vinha o crer sem duvidar.

Se estudarmos, com os exegetas, os quatro evangelhos e

investigarmos a maneira como Cristo reagia e expressava seus

pensamentos, constataremos que pensar com liberdade e consciência era

uma obra-prima para ele.

48 Mc 6,2.3 : “Quando chegou o dia de sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos o ouviram, e tomados de admiração, diziam: ‘Donde lhe vem isso? Que sabedoria é essa que lhe foi dada, e como se operam por suas mãos tão grandes milagres?” 49 Lc 24,39.40 : “Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho”

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A Bíblia nos relata várias ocasiões onde Jesus ensinava nas

sinagogas, ao ar livre sobre montanhas, montes, nas praças das aldeias,

nos átrios e pórticos do templo50.

Ensinar, instruir por meio da palavra era prioridade em seu

ministério51.

Jesus tinha plena consciência do que fazia. Tinha metas e

prioridades bem estabelecidas52. Era seguro e determinado, ao mesmo

tempo flexível, extremamente atencioso e educado. Tinha grande

paciência para educar, porém não era um mestre passivo, mas sim um

problematizador53. Despertava a sede de conhecimento em seus

discípulos54. Informava pouco, mas educava muito. Era econômico no

falar, dizendo muito com poucas palavras, as quais eram confirmadas

com seus atos. Sua palavra era uma palavra-ação.

O padre Aleksander Mien destaca, em seu livro ‘O MESTRE

DE NAZARÉ’, que as pregações de Jesus reportavam-se às formas

tradicionais da poesia bíblica e recorria a figuras de retórica dos escribas.

Usa aforismos, lançava mão de perguntas eloqüentes e não desprezava o

emprego de argumentações lógicas 55. Esse mestre respeitava

profundamente o outro, ao seu olhar não escapavam sequer os menores

detalhes da vida de todos os dias56.

50 Mc 1,21 : “Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga, e pôs-se a ensinar.” 51 Mc 1,38: “Vamos a outros lugares e às aldeias vizinhas, para pregar também por lá”. 52 Lc 18,31 : “Em seguida, Jesus tomou à parte os doze e disse-lhes: ‘Eis que sub’imos a Jerusalém. Tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do homem será cumprido” 53 Jô 3,3.4 : “Jesus lhe respondeu: em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não poderá ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe?” 54 Jô 1,39 : “Disse Jesus: vinde e vede”. 55 Mc 7,14-16 : “Ouvi-me todos, e entendei. Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa manchar; mas, o que sai do homem, isso é que mancha o homem. A bom entendedor meia palavra basta.” 56 Lc 8,43-46 : “Uma mulher que padecia dum fluxo de sangue havia doze anos, e tinha gastado com médicos todos os seus bens, sem que nenhum a pudesse curar, aproximou-se dele por detrás e tocou-lhe a orla de seu manto; e no mesmo instante lhe parou o fluxo de sangue. Jesus perguntou: quem foi que me tocou? Pedro e os que estavam com ele disseram: mestre, a multidão te aperta de todos os lados...”

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Utilizava-se, também, de imagens conceituais as quais fazem

intuir ao que se que chegar, mas não define o que é falado como quando

diz que a ovelha reconhece e segue a voz do bom pastor.

O mestre de Nazaré utilizava, freqüentemente, como formas

de ensinamento:

*sentenças proverbiais – como exemplo temos o sermão da

montanha registrado em Matheus, capítulo cinco, versículos um até doze

e Lucas, capítulo seis, versículos vinte até quarenta e nove;

*semelhanças – como exemplo apresentamos o trecho de

Matheus (Mt 13,45-46): “O reino dos céus é ainda semelhante a um

negociante que procura pérolas preciosas. Encontrando uma de grande

valor, vai, vende tudo o que possui, e a compra”,

*debates relativos ao texto da Escritura

*argumentações

*parábolas – os evangelhos relatam várias.

Jesus era o mestre do diálogo e um excelente contador de

histórias, por isso as parábolas são seu principal método de ensino. Seu

discurso era coerente, coeso, instigante e impressionante.

De acordo com os trabalhos de Anderson57, Cury58 e

Echegaray59, as parábolas utilizadas por Jesus introduzem seus ouvintes

numa situação nova e inesperada, para fazê-lo participar de uma

perspectiva diferente e colocá-lo em condições de emitir uma opinião e

fazer uma escolha. Desta forma quem conta a história e quem ouve tem a

possibilidade de ficarem em uma posição crítica: a perspectiva e a

posição de quem conta a parábola são uma provocação urgente e

indeclinável para quem escuta e este tem uma nova possibilidade de

compreensão da realidade.

Baseado no trabalho de Cantarela60 podemos entender que as

parábolas funcionavam como uma longa comparação que se torna um

57 Parábolas: a palavra que liberta. SP.s.n, 1989 58 Coleção A inteligência de Cristo: O mestre dos mestres. SP. Academia de Inteligência. 1999. 59 A prática de Jesus, Petrópolis, vozes, 1991. 60 Cantarela, Antonio Geraldo. Parábolas: uma pulga atrás da orelha. SP. Paulinas, 1982.

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conto com especial coerência e unidade. Tem força própria e oferece um

ensinamento único e preciso.

Mostra ainda que a parábola tinha, de certo modo, a função de

provar a disponibilidade de quem ouvia para se abrir à mensagem de

Cristo.

Ana Flora Anderson diz que nas parábolas continham

diferentes estímulos. Muitas vezes revestidos de total simplicidade,

retirados da natureza ou da vida cotidiana do povo de Israel. Não

somente a dimensão espacial, mas também a temporal era levada em

consideração devido ao típico realismo e esperança do modo de ser e de

agir de Jesus. A autora cita esta parábola como exemplo61:

Propôs-lhe outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante

a um homem que semeou boa semente no campo. E enquanto os homens

dormiam veio o inimigo, e semeou cizânia no meio do trigo, e foi-se.

E tendo crescido a erva e dado fruto, apareceu também à cizânia. E

chegando os servos do pai de família, disseram: senhor, porventura não

semeaste tu boa semente em teu campo? Donde veio, pois, a cizânia?

E ele disse-lhes: algum homem inimigo fez isto. E os servos

disseram-lhe: Queres que arranquemos?

E respondeu-lhes: Não, para que talvez não suceda que, arrancando

a cizânia, arranqueis juntamente com ela a trigo. Deixai crescer uma e outra até

a ceifa, e no tempo da ceifa direi aos segadores: colhei primeiramente a cizânia,

e atai-a em molhos para a queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro.

Há, enfim nas parábolas, uma mensagem que jamais se deve

esquecer: as escolhas e as obras realizadas na história passarão sempre

por um juízo62.

Sean Freyne63 diz que as parábolas, por vezes, continham o

gênero literário da alegoria, em que as palavras, ao lado de seu

significado explícito, têm outro, velado, mas facilmente perceptível por

61 Mateus 13, 24-30. 62 Mateus 13, 47s. 63 Sean Freyne. A Galileia, Jesus e os evangelhos: enfoques literários e investigações históricas

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quem às ouve. É assim na parábola do semeador, cujo significado é

oferecido pelo próprio Jesus, ao narrá-la com elementos alegóricos.

Padre Aleksandr Mien diz que as parábolas eram conhecidas

em Israel desde a Antiguidade, mas Jesus fez delas o meio por excelência

de transmissão da sua doutrina. Ele não se dirigia só ao intelecto de

quem o escutava, mas queria tocar todo o ser do homem. Traçando

quadros conhecidos da natureza e da vida cotidiana, Cristo conduzia os

ouvintes a tirarem por si mesmo as conclusões necessárias sobre aquilo

que ele contava. Histórias deste gênero penetravam no âmago da alma e

eram muito mais eficazes do que qualquer raciocínio abstrato. (Mien, p.76,

1998)

Echegaray afirma que a prática histórica de Jesus tem seu

fundamento pedagógico na própria prática que está profundamente

comprometida com uma ação transformadora da realidade.

A Pedagogia que brota da prática de Jesus faz dos resultados

concretos o critério fundamental da verdade. O critério para a felicidade

humana, aquela que constrói sua casa sobre a rocha, é praticar a palavra

de Jesus64 pois seu ensinamento exige, em primeira instância, uma

prática que seja anúncio das bem – aventuranças do Reino e que se

organiza dentro de sua lógica.

Segundo Cury, Jesus não pretendia reformar o homem, mas

produzir uma transformação no seu interior, reorganizar sua forma de

pensar e viver emoções. Ele almejava um novo homem. Um ser solidário

tolerante, que superava as ditaduras da inteligência, que se vacina contra

a paranóia do individualismo, que aprende a cooperar mutuamente, que

aprende a se conhecer, que considera a dor do outro, que aprende a

perdoa-lo, que se interioriza, que se repensa, que se coloca como

aprendiz diante da vida, que desenvolve a arte de pensar, que expande a

arte de ouvir, que refina a arte da contemplação do belo.

64 Mt 7,24-27 : “Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. Mas aquele que ouve minhas palavras e não as põe em prática, é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa, e ela caiu, e grande foi sua ruína.”

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4.1 – A INTERVENÇÃO DESAFIADORA DE JESUS,

NUNCA COERCITIVA.

Jesus era simples, sem formalidades, acessível, e, por isso

envolvia as pessoas em todos os ambientes por onde passava. Tinha um

talento excepcional em construir relações sociais saudáveis. Era uma

pessoa atraente e utilizava-se disso para fazer dos homens, seus amigos.

Isso era possível, principalmente, por suas características de

sociabilidade, amabilidade e de sua inteligência intrigante.

Tamanhos atributos são incompatíveis com uma postura

coercitiva, autoritária, ditatorial ou qualquer atitude que não viabilize o

diálogo, o respeito, o engrandecimento e o amor; era nítido o amor que

esse mestre nutria por todos os que dele se aproximavam.

Gostaríamos de relatar uma linda parábola contada por Jesus

para levar aquelas pessoas rudes, algumas incultas, outras

preconceituosas, a refletirem sobre a solidariedade, a interação com o

meio em que vivemos, além de várias questões de formação integral da

pessoa. Um dos pontos mais difíceis de ser alcançado por nós

educadores.

A parábola do bom samaritano encontra-se no evangelho de

Lucas, capítulo 10 versículos 25 até 37 e diz assim:

E eis que se levantou um certo doutor da Lei,

e lhe disse para o tentar: Mestre, que devo fazer para

possuir a vida eterna? Jesus disse-lhe: o que é que está

escrito na Lei? Como lês tu? Ele, respondendo, disse:

Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e

com toda a tua alma e com todas as tuas forças, e com

todo teu entendimento, e o teu próximo como a ti mesmo.

E Jesus disse-lhe: respondeste bem; faze isto, e viverás

eternamente. Mas ele querendo justificar-se a si mesmo,

disse a Jesus: E quem é meu próximo? E Jesus,

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retomando a palavra disse: Um homem descia de

Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões, que

o despojaram do que levava; e, tendo-lhe, feito feridas

retiraram-se, deixando-o meio morto.

Ora aconteceu que passava pelo mesmo caminho

um sacerdote, o qual, quando o viu, passou de largo.

Igualmente um levita, chegando perto daquele lugar, e ,

vendo-o, passou a diante. Mas um samaritano, que ia a

seu caminho, chegou perto dele; e, quando o viu, moveu-

se de compaixão. E, aproximando-se, ligou-lhe a ferida,

lançando-lhe azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu

jumento, levou-o a uma estalagem, e teve cuidado dele.

E no dia seguinte tirou dois denários, e deu-os ao

estalajadeiro, e disse-lhe: tem cuidado dele; e quanto

gastares a mais, eu te restituirei na volta.

Qual destes três te parece que foi o próximo

daquele que caiu nas mãos dos ladrões? E ele

respondeu: o que usou com ele de misericórdia. Então

Jesus disse-lhe: Vai, e faze tu o mesmo.

Primeiramente podemos ressalta, logo no início desta linda

história, que Jesus foi inquirido e que não se sentiu ameaçado, ou

importunado, ou julgou que a pergunta era insignificante, inadequada. Ao

contrário ele sabia que a dúvida era um excelente meio para levar ao

conhecimento e a arte de pensar com liberdade.

Ele muitas vezes perguntava mais do que respondia e em

muitas ocasiões ele respondia as perguntas não com respostas já prontas

e acabadas, mas, com outra pergunta para estimular a arte de pensar.

Hoje com grande tristeza podemos observar muitos

profissionais de educação dando preferência a conteúdos prontos e não

aceitando a intervenção do educando, tratando-o como um depósito de

informações65.

65 Paulo Freire em sal Pedagogia do oprimido classifica esta forma de ensinar com educação bancária onde os alunos são tratados unicamente como depósito de informações.

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As teorias educacionais tratadas nesse trabalho são unânimes

em dizer que o educando precisa ser estimulado a buscar, pesquisar,

perguntar, interagir e construir o conhecimento mediante ao que lhe é

apresentado.

Podemos constatar que Jesus era o mestre do diálogo. Tinha

sempre uma linda história para contar e assim levar seus interlocutores a

refletir sobre os conceitos que traziam em seu íntimo ou para ajudar-lhes

a construir um novo saber. Queria que eles fossem capazes de pensar e

agir mediante uma ação reflexiva e não apenas repetitiva de leis que

estão ou são exteriores aos homens66.

O mestre autoritário dificulta e, até mesmo, impede o exercício

da curiosidade do educando. A liberdade de se expressar fica

comprometida. O mestre do diálogo estimulava a pergunta, a reflexão

crítica sobre a própria pergunta67, o que se pretende com esta ou com

aquela pergunta em lugar da passividade em face de explicações

discursivas, sua fala era um desafio, levando-os a atuar, conhecer e re-

conhecerem-se.

Jesus, com grande facilidade conseguia se colocar no mesmo

patamar de seus interlocutores. Ele recriminava qualquer tipo de

discriminação, dava a todos a mesma dignidade. Não considerava

ninguém indigno e desclassificado por qualquer situação68; prática que de

forma alguma condiz com coerção. Certa vez Ele disse que todo aquele

que viesse até Ele não seria lançado fora, não importava a sua história ou

os seus erros69 . Via os erros como uma possibilidade de transformação e

não como objeto de punição.

66 Mateus 12,10-12 – E eis que apareceu um homem, que tinha seca uma das mãos; e eles para o acusar, interrogaram-no dizendo: é certo curar no sábado? E ele disse-lhes: Que homem haverá entre vós que tendo uma ovelha, se esta cair no dia de sábado numa cova, não a tome, e não a tire de lá? Ora quanto mais vale um homem do que uma ovelha? 67 Mateus 20,21- 22 – E Ele disse: Que queres? Ela respondeu: Ordena que estes meus dois filhos sentem no teu reino, um à tua direita e outro à tua esquerda. E Jesus respondeu: Não sabeis o que pedi. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber? 68 Mateus 26,6-10 – E, estando Jesus em Betania, em casa de Simão o leproso, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, contendo um bálsamo precioso, e o derramou sobre a cabeça dele, estando à mesa. E vendo isso, os discípulos, indignaram-se dizendo: Para que foi este disperdício? Mas Jesus sabendo disso disse-lhes: Por que molesta essa mulher? Ela fez-me verdadeiramente uma boa obra. 69 João 6,37

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Sua preferência para cuidar e incluir os excluídos socialmente

(mulheres, crianças, leprosos, deficientes físicos, pobres, samaritanos,

prostitutas, cobradores de impostos entre outros) representa com bastante

veemência o retrato de sua elevada humanidade; traço preponderante

para um bom mestre.

Sua metodologia demonstra que o entendimento implica,

necessariamente, comunicabilidade, “conhecereis a verdade e a verdade

vos libertará”.

Exercia a prática de inteligir, desafiar seus discípulos com

quem se comunica e a quem comunica, almejando produzir a

compreensão do que vem sendo comunicado.

Jesus nos ensina que devemos ouvir com atenção a todos que

nos procuram assim como ele fez, por exemplo, nesta parábola do

semeador onde os fariseus desejavam inquiri-lo e tenta-lo. Mesmo diante

desta situação Jesus ouviu-os, foi amoroso com eles e zeloso com o

processo de ensino-aprendizagem, apresentando-lhes uma agradável e

instigante história para que eles pudessem agir concretamente para a

apropriação do objeto de conhecimento que Jesus lhes apresentava.

Outro ponto de destaque na pedagogia de Jesus é a coragem

que tinha de expressar seus pensamentos: “Eu, porém, vos digo: Amai os

vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem... Se amardes os que

vos amam, que recompensa tendes? 70”. Mostrando-nos que devemos

colocar em prática um tipo de educação que provoca criticidade e

consciência do educando e assumir que isto vai gerar enfrentamento com

o poder dominante e sua ideologia porém Jesus já fez isso há pouco mais

de 2000 anos atrás desafiando uma cultura de olho por olho e ensinando

uma liberdade solidificada na fraternidade, igualdade, na misericórdia e

no amor. Valores que mesmo para hoje, época de informatização e todo

tipo de avanços tecnológicos são bastante difíceis de serem

internalizados. Mais uma intervenção desafiadora de Jesus.

Outra característica que não condiz com coerção era o fato de

Jesus ser um mestre gentil e tolerante, não passivo, não conivente com o

70 Mateus 5,44

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intolerável, mas de forma ímpar sabia conviver com o diferente, respeitava

o ser humano, Amou a quem não o amava e se doou para quem o

aborrecia.

O evangelho de Lucas71 nos conta que certa vez uma mulher,

desprezada socialmente e reprovada moralmente, adentrou a casa onde

Jesus estava e banhou-lhe os pés com suas lágrimas, pois Ele já havia

passado por ela e transformado a sua vida. O fariseu, que gostava de

julgar embora seu julgamento fosse superficial e incapaz de compreender

a reflexão de vida que acontecia naquele choro, reprovou a atitude

compassiva de Jesus diante daquela mulher desprezada por sua

imoralidade. Jesus ficou tão comovido diante do aprendizado daquela

mulher que não indagou sobre seus erros. Apenas compreendeu e tratou-

a gentilmente não importando se o fariseu iria menosprezá-lo. Mas

também não perde a oportunidade de fazer com que ele refletisse que

pelo fato daquela mulher ter feito uma profunda revisão em sua vida, ela

havia aprendido a amar mais do que ele, que se considerava justo.

Nos relatos bíblicos não aparece na maneira de Jesus ensinar

qualquer atitude de coação aos que dele se aproximavam. Ao contrário

ele dá opções: “O que queres que eu faça”; “também vós quereis ir

embora?”; “considerai como crescem os lírios do campo”. O mestre de

Nazaré era um especialista em construir relações sociais saudáveis. Ele

atraia os homens para si e os transformava em seus amigos íntimos pelas

ricas características de sua personalidade como a amabilidade,

sociabilidade e inteligência instigante.

71 Lucas 7,37-50 – E eis que uma mulher, que era pecadora na cidade, quando soube que Jesus estava a mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro cheio de bálsamo; e estando a seus pés por detrás dele, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas, e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, e os beijava, e os ungia com o bálsamo. Ora, vendo isto, o fariseu que o tinha convidado disse consigo: Se esse fosse profeta, com certeza saberia quem e qual é a mulher que o toca , e que é pecadora. Então, respondendo Jesus disse-lhe:Um credor tinha dois devedores: um devia-lhe $500 e o outro $50. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a dívida. Qual deles pois, mais o amará? Respondeu o fariseu: creio que aquele a quem perdoou mais. E Jesus disse-lhe: julgaste bem. E voltando-se para a mulher, disse ao fariseu: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, não me deste água para os pés, e esta com suas lágrimas banhou os meus pés e enxugou-os com seus cabelos. Não me deste o ósculo (da paz) e esta desde que entrou, não cessou de beijar meus pés. Não ungiu com bálsamo os meus pés. Pelo que te digo: São-lhes perdoados muitos pecados porque muito amou. Mas ao que menos se perdoa, menos se ama.

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Jesus sabia escutar. Ato que requer compreender o outro

dentro do contexto histórico no qual esta inserido; inclui respeitar as

fragilidades, envolve perceber seus sentimentos mais profundos,

abrange a captar os pensamentos não expressos pelas palavras. Saber

ouvir é uma das mais ricas funções da inteligência.

A enorme quantidade de conhecimentos que é oferecida ao

aluno não tem como preocupação (na escola) lhe proporcionar a

possibilidade de exercitar o seu raciocínio. Pouco importando se, alguns

anos depois, ele de nada ou pouco se lembre.

Conforme é relatado nos evangelhos Ele nunca impôs nada

aos que o acompanhavam72. Apresentava-lhes um questionamento,

instigava-lhes a posicionarem-se diante de situações concretas,

familiares do cotidiano do povo e da época 73. Valorizava a construção do

conhecimento através de ação integrada entre o sujeito e os objetos de

conhecimento.

Jesus tinha plena consciência do que fazia. Tinha metas e

prioridades bem estabelecidas74. Era seguro e determinado, ao mesmo

tempo flexível, extremamente atencioso e educado. Tinha grande

paciência para educar, porém não era um mestre passivo, mas sim um

problematizador75. Despertava a sede de conhecimento em seus

discípulos76. Informava pouco, mas educava muito. Era econômico no

falar, dizendo muito com poucas palavras, as quais eram confirmadas

com seus atos. Sua palavra era uma palavra-ação.

72 Lucas 6,67 73 Mateus 5,13 Vós sois o sal da terra. E, se o sal perder a sua força, com que será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens. 74 Lc 18,31 : “Em seguida, Jesus tomou à parte os doze e disse-lhes: ‘Eis que sub’imos a Jerusalém. Tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do homem será cumprido” 75 Jô 3,3.4 : “Jesus lhe respondeu: em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não poderá ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe?” 76 Jô 1,39 : “Disse Jesus: vinde e vede”.

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CONCLUSÃO

Este trabalho objetivou conhecer a prática de ensino de

Jesus para ajudar na orientação da prática dos professores.

Destacamos as qualidades apontadas primeiramente pelos

evangelhistas e depois tomamos as destacadas por Teólogos, psicólogos,

leigos que são responsáveis por seu excepcional desempenho como

mestre.

Seus ensinamentos eram muito mais difíceis do que Seus

ensinamentos eram muito mais difíceis do que as disciplina constantes

em nossa grade curricular. Seus ensinamentos apontam-nos para o

resgate da educação como um todo que não deve e não pode estar

desligado da realidade dos alunos

Possibilitar aos alunos um aprendizado pautado no diálogo;

na troca; na cooperação; na solidariedade; na valorização da vida; na

superação de obstáculos; na desmistificação do erro como ponto

final,imutável e desastroso; são práticas almejadas por todo educador que

crê em sua prática. Jesus deixou-nos esse tesouro para aprendermos

com ele e dele.

Ao estudarmos sua prática observamos que é possível fazer

de nossos alunos homens capazes de reescreverem suas histórias e não

meros repetidores de regras de comportamento,

Muitos autores descrevem Jesus como um mestre alegre e

cativante. Muitos corriam para ouvi-lo, para serem ensinados por ele. As

multidões chegavam a segui-lo por lugares inóspitos,. Esta é uma

característica importante para um professor.

Estudando e entendendo a relação que este grande mestre

mantinha com seus discípulos poderemos aprender como cativar nossos

alunos, devolver-lhes o prazer da descoberta, do saber com sabor.

Sua prática de ensino nos demonstra outras características

essenciais ao bom educador que são a determinação, a flexibilidade, a

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atenção destinada aos seus discípulos, a paciência que é bastante

diferente da passividade.

A prática de ensinar de Jesus enfatiza, através de suas

atitudes concretas, que ensinar exige coerência entre o falar e o agir,

exige respeito ao que o aluno já traz em si de conhecimento; exige

exemplificação; exige reflexão crítica sobre sua prática pedagógica.

Exige aceitação do novo e rejeição a qualquer tipo de

discriminação.

Exige humildade, tolerância, disponibilidade, envolvimento

com o outro, respeito à autonomia do educando e disponibilidade para o

diálogo.

Ensinar exige comprometimento e compreender que a

educação é uma forma de intervenção no mundo

Jesus quando estava com seus discípulos, ensinou-lhes a

superar o medo, as dores, a investir em sabedoria, a desenvolverem a

arte de pensar. Hoje nós educadores podemos, também, aprender com

ele a transformar nossa prática de ensino e certamente estará mais

próximo o dia em que teremos uma educação como pr´tica da liberdade

de pensar e de agir com responsabilidade.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 1

CAPÍTULO I 3

OS SABERES PRESENTES NA PRÁTICA EDUCATIVA DE

JESUS 3

CAPÍTULO II 10

A TEORIA PSICOGENETICA DE PIAGET E A PRÁTICA

EDUCATIVA DE JESUS 10

CAPÍTULO III 18

O SOCIO-INTERACIONISMO DE VYGOTSKY E O MESTRE DE

NAZARÉ 18

3.1 – Breve histórico 18

3.2 – A correlação das idéias de Vygotsky e as de Jesus 19

CAPÍTULO IV 25

O MODO COMO JESUS ENSINAVA 25

4.1 – A intervenção desafiadora nunca coercitiva 30

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Tema do trabalho monográfico: A prática educativa de Jesus, o mestre de

Nazaré

Avaliado por:_______________________________ Grau:____________

Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2003.