Timóteo – Projeto Cidade Aberta - DescubraMinas · igual aquela frase de caminhão:...
Transcript of Timóteo – Projeto Cidade Aberta - DescubraMinas · igual aquela frase de caminhão:...
Timóteo – Projeto Cidade Aberta
Fernand Lodi*
Com a anuência da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Fernand Lodi e
a equipe do Departamento de Cultura do Município de Timóteo, com a relevante
colaboração do arquiteto André Assis (Secretaria de Planejamento e Urbanismo da
PMT) idealizaram o Projeto Cidade Aberta, tomando como ponto de partida o
quarteirão onde está sediado o Ginásio Iorque Martins e a Secretaria de Educação,
Cultura, Esporte e Lazer, apresentado e aprovado pelo Executivo.
Infelizmente a [população?] (parênteses do autor) não é interessada em arquitetura, pois uma cidade feia é uma cidade que atinge você e qualquer outro cidadão. Uma cidade mal planejada, desarmônica, cria desarmonia, da mesma forma que uma cidade harmônica cria um relacionamento feliz entre os seus moradores. Uma cidade feliz é uma cidade bem projetada, limpa, não é cidade de luxo, mas de capricho. É igual aquela frase de caminhão: ‘Arquitetura não é para o luxo. Arquitetura é qualidade, é saber viver’. Ser cidadão é ter autoestima, gostar de si mesmo e da sua cidade onde as pessoas estão vivendo em harmonia. Eu acho que é muito importante essa ideia (Gustavo Pena, 2009).
A globalização extinguiu os sistemas fechados, o que equivale dizer que cidades
também devem se modernizar e possibilitar livre acesso aos transeuntes, uma vez
que, numa visão sócio-cultural-ambiental-industrial contemporânea, as fronteiras
físicas já foram extintas, tendo em vista a era da informação disponível no mercado.
Timóteo é uma cidade fechada à exterioridade e possui duas entradas pela BR-381,
que não causam atrativos nem convidam à visitação como uma cidade hermética,
situada entre uma “muralha” industrial e o Parque Estadual do Rio Doce.
Timóteo, como cidade monoindustrial, traz imanente no imaginário coletivo a ideia de
ordenação, hierarquização, controle e de sistema fechado oriunda da empresa,
apreendido nas primeiras décadas de sua instalação, com reflexos até o momento na
arquitetura da cidade, isenta do lugar expressivo dos acontecimentos e das
manifestações populares, ocupado pela grande indústria, necessitando estabelecer
estratégias para revitalizar a cidade com gentilezas urbanas que propiciem sensações
de liberdade e interação na sua malha urbana, onde se enquadra a proposta e o
conceito de cidade aberta.
Por outro lado, quando se tolhe a liberdade dos cidadãos, impondo-lhe proibições,
surge a tentação pelas coisas proibidas. Como exemplo disso, pode-se citar a reação
do público quando o nu artístico foi introduzido nas exposições. Com a proibição e o
encobrimento, a reação foi outra pelo tolhimento da liberdade de apreciá-los. Podendo
apreciar livremente a nudez representada nos quadros, os espectadores não tiveram
em relação a ela interesses além do artístico.
Sob os parâmetros nos quais está calcada a administração Geraldo Hilário, ou seja, a
realização de projetos importantes e audaciosos “de sustentabilidade, elevação do IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano), turismo, conscientização ambiental,
qualificação urbana da Avenida Sanitária, requalificação do Ginásio Iorque Martins”,
propõe-se a restauração, a interação e a revitalização do Ginásio Macedo Soares, em
estilo modernista, construído pela indústria nos idos de 1940, atual Secretaria de
Educação, Cultura, Esporte e Lazer, patrimônio histórico da cidade. Isso será
executado em paralelo com a requalificação do Ginásio Iorque Martins, tratando a área
onde estão situados como referência urbana impactante na arquitetura da cidade,
tendo em vista sua relevância como eixo viário de acesso à cidade.
O projeto visa ainda se tornar referência para requalificação de inúmeras áreas,
prédios, praças, etc., na cidade, propiciando o conceito de cidade aberta.
Cidade Aberta
Considerando um exercício de experimentação, com base na pesquisa, na realidade e
no status quo da cidade, que não se altera desde administrações anteriores, propõe-
se analisar a antiga e especulada situação do Ginásio Iorque Martins como um projeto
para ilustrar um exercício livre de criação. Uma chance de se discutir e de se
experimentar proposições e investigações, onde a relevância está na criatividade e
nas estratégias para propiciar a interatividade e o vivenciar dos espaços públicos.
Para tanto, o Projeto Cidade Aberta se consolida nas proposições e nos parâmetros
da arquitetura contemporânea, tendo em vista o conceito de arquitetura, evento sob a
luz das teorias de Ignasi Solà Morales, coadunada com a ideia de cidade aberta.
Dessa forma, faz-se necessário corroborar sobre a visão de arquitetura monumento e
evento. A arquitetura monumento, a despeito de se pretender obra de arte, é
concebida segundo as tendências estilísticas do passado, como é o caso do Ginásio
Iorque Martins. Já uma arquitetura evento é pensada valendo-se de premissas da
atualidade, coadunadas com propostas contemporâneas. A arquitetura evento atesta a
capacidade inventiva do homem, de acordo com sua época, ou seja, é capaz de criar
o inusitado, assim como acontece no mundo das artes visuais. A designação evento é
da ordem das sensações hápticas: táctil-visual.
Essa arquitetura é idealizada de forma a permitir, vislumbrar um mundo de
multiplicidades e sair do senso comum, possibilitando o inusitado, a leveza, espaços
fluidos e dinâmicos, condizentes com os novos tempos (redes, fluxos, velocidade,
etc.). A arquitetura evento do espaço público da cidade deve proporcionar diálogo
constante entre si e com os habitantes. Ela deve servir para incorporar tanto as
pessoas como a cidade, o que não ocorre na arquitetura monumento, como é o caso
do Ginásio Iorque Martins, e muito menos com o edifício modernista, onde está
situada a Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer.
Tendo em vista propostas de requalificação do Ginásio Iorque Martins, incorporando
elementos ao prédio e no seu entorno que o qualifique como arquitetura evento pela
equipe da Secretaria de Planejamento e Urbanismo, propõe-se a revitalização do
antigo Ginásio General Macedo Soares, considerado Patrimônio Histórico da cidade
como edifício estilo modernista, atual Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e
Lazer e sua integração com o Ginásio Iorque Martins.
A proposta se processa na inter-relação do conceito “cidade aberta” com o projeto, o
desenho, e principalmente com a ponta de linha da administração Geraldo Hilário, que
é a requalificação urbana da cidade. Está embasada na interatividade através da
articulação dos percursos, isto é, de intercâmbios entre os espaços como corolário de
uma arquitetura contemporânea aberta à exterioridade, num diálogo permanente entre
os cidadãos/espectadores e a cidade.
Graças a sua localização privilegiada, no centro norte da cidade, lugar para onde tudo
e todos se convergem, e tendo em vista a geografia centro-radial da cidade, infere-se
que os dois prédios devem ser revitalizados como preservação do patrimônio histórico
e também como obra de arte contemporânea, com múltiplos usos e como referência
urbana aberta, relacionando-se com seu entorno, quais sejam: Praça 1º de Maio,
Secretaria de Educação, Fundação ArcelorMittal Acesita, Prédio Administrativo da
ArcelorMittal Inox Brasil, entre outros desdobramentos oriundos das propostas
urbanísticas da atual administração.
Portanto, propõe-se que a arquitetura do Ginásio Iorque Martins, interagindo com o
edifício modernista, constitua-se num quadrilátero interativo que proporcione um
vivenciar ativo, vislumbrando, a cada instante, sensações que se transformam, vibram,
enlaçam-se, propiciando a fruição dos cidadãos, como referência urbana coadunada
com o conceito atual sócio-político-artístico-cultural-educacional-ambiental e afinada
com as premissas da atual administração.
Estratégias do projeto
Dentro das premissas da arquitetura contemporânea, as cidades e seu patrimônio
histórico não só necessitam preservação como também propiciar visibilidade e se
transformar em espaços que potencializem a paisagem urbana da cidade. Dessa
forma, sugere-se aqui restaurar o prédio da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte
e Lazer, integrado ao ginásio coberto Iorque Martins, considerando os dois edifícios
como arquiteturas interativas, numa quadra aberta às exterioridades, dialogando com
os habitantes, o entorno, os transeuntes, propiciando sensações e vivências múltiplas.
Com a intenção de abrir a cidade aos cidadãos proporcionando ambientes de
recreação, descontração e uma estrutura funcional, o projeto apropria-se dos vazios
urbanos, como deve ser tratada uma cidade contemporânea, iniciando-se um estudo
arquitetônico preliminar.
O estudo preliminar pontual e estratégico no centro de Timóteo concentra-se na
quadra onde está situado o edifício histórico do antigo colégio Macedo Soares e,
posteriormente, Dom Bosco, que atualmente se tornou um edifício público, e o
polêmico edifício do Ginásio Iorque Martins.
Nesse exercício, foram a priori removidos os obstáculos entre a cidade e os dois
edifícios como gradil e muros, aprimorando vagas de estacionamento e fluxos de
usuários, potencializando o uso com equipamentos urbanos e de esporte, comércio,
turismo, educação e lazer, e consequentemente, ampliando a Praça 1º (Primeiro) de
Maio, de forma permeável na intervenção, integrada a uma quadra de grande
importância na cidade.
Entretanto, o local das arcaicas grades e muros dá lugar a paisagismo, iluminação,
escultura, fontes, playground, praça de exercícios, anfiteatro, rampas de skate e
patins; já o local dos tradicionais trailers de lanche será requalificado como uma
pequena Praça de Alimentação, integrada ao conjunto que se abre para a cidade junto
aos edifícios públicos, causando novas sensações e variadas formas de apropriação
espacial no cotidiano do cidadão.
A realização deste projeto implica propiciar um novo olhar para outras áreas da cidade
de igual relevância com as mesmas possibilidades de preservação do patrimônio
histórico e requalificação da paisagem urbana como um todo.
Ações de curto prazo
Retirada do gradil no entorno da Secretaria; retirada do muro no entorno do Ginásio;
remanejamento dos habitantes na área da Secretaria; remanejamento da piscina na
lateral do prédio; remanejamento da cobertura metálica da quadra na lateral da
Secretaria, tendo em vista ser desnecessária com a existência de um ginásio coberto
para multiusos ao lado e tendo possibilidade de utilização pelas escolas municipais,
pela Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, entre outras.
Ações de médio prazo
Idealizar e criar paisagismo coerente com a proposta de visibilidade e diálogo com os
transeuntes; possibilitar novos usos no entorno do ginásio coberto com mobiliário
urbano, um pequeno parque, pista de skate, teatro de arena e ainda espaço de
convivência para fruição e contemplação como extensão da Praça 1° de Maio;
instalação de uma fonte entre o Ginásio e a Secretaria como atração e também no
intuito de resguardar o patrimônio histórico, a Secretaria, como monumento
arquitetônico modernista na cidade; manter os dois carrinhos de sanduíches,
requalificando-os e remanejando-os, coadunados com a arquitetura do Ginásio;
reconstituir a simetria de um dos blocos, que constituem o edifício da Secretaria,
visando restaurar sua identidade modernista; inserir uma escultura urbana significativa
no cruzamento entre a Alameda 31 de Outubro e a Rua 21 de Abril; idealizar projeto
luminotécnico no entorno do quarteirão com ênfase em dois tipos de iluminação:
iluminação pontual e de área no entorno dos dois edifícios, destinada a potencializar
seu efeito monumental e resguardar a integridade física dos transeuntes e também
inibir o acesso indevido noturno aos prédios.
A proposta de extinção/remanejamento dos artefatos no entorno dos edifícios
proporcionará visibilidade e acessibilidade à exterioridade, de acordo com o conceito
de cidade aberta e interativa com os cidadãos, visitantes e transeuntes, que podem
ser reutilizados em setores que demandam maior segurança. Os equipamentos de
lazer como a piscina podem ser de grande utilidade numa escola municipal, bem como
a cobertura na lateral da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer. Quanto ao
uso residencial indevido no prédio, faz-se necessário agenciamento pela PMT com os
moradores para escolha de um local adequado e melhor ao modo de vida atual.
Outro aspecto de igual e até mesmo de maior relevo é que o projeto abarca uma
quadra que envolve o cruzamento de dois eixos viários de grande importância:
Alameda 31 de Outubro e a Rua 21 de Abril, que é um dos acessos à cidade pelo
trevo da BR-381, margeando a siderúrgica. Portanto, diante da relevância da quadra
como área privilegiada no centro norte da cidade, sugere-se perceber este projeto
como referência para ser adotada em outras áreas/setores da cidade.
Com esta proposta, objetiva-se causar grande impacto na arquitetura da cidade e dar
visibilidade aos anseios da administração Geraldo Hilário. E, para ampliar ainda mais a
percepção dos habitantes e de nossos visitantes no referido encontro das duas ruas,
sugere-se a inserção de uma escultura urbana e impactante como mais uma
referência urbana na entrada da cidade, agregada ao edifício da Secretaria. Uma
escultura urbana monumental entre a Alameda 31 de Outubro e a Rua 21 de Abril
valorizará o patrimônio histórico e proporcionará mais um fato urbano de igual
importância na malha urbana, como tem sido a escultura SINERGIA, fora da malha
urbana da cidade, mas utilizada como monumento ícone das administrações
anteriores e da própria siderúrgica nos cenários regional, estadual, nacional e
internacional.
Considerações
O projeto Cidade Aberta contempla um quarteirão de relevância na malha urbana de
Timóteo e está situado no centro norte da cidade entre as Ruas 21 de Abril, Alameda
31 de Outubro e Praça 1º de Maio, onde o cruzamento entre as duas primeiras é um
dos vértices de importância como referência urbana, uma vez que um dos principais
acessos à cidade se dá através da Rua 21 de Abril. Dessa forma, o projeto foipensado
para causar impacto nos visitantes, transeuntes e cidadãos que chegam e circulam
pela cidade.
*Fernand Lodi é artista plástico, pós-graduado em Arquitetura Contemporânea, administrador de
empresas e engenheiro metalúrgico e, pelo Unileste/MG, pesquisa e comenta sobre artes visuais como
editor do caderno Essencial Arte no Jornal Vale do Aço e servidor público no Departamento de Cultura da
PMT.
O projeto foi pensado e sugerido pela paixão do artista plástico pelas questões urbanas e, neste caso, na
cidade onde reside, objetivando tratar a cidade como obra de arte, ofertando gentileza urbana, ainda que
como servidor público na atual administração, atuando na Secretaria de Educação – Departamento de
Cultura.