Texto e ediçªo - Instituto...

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Texto e edição:Walderes BritoRevisão de português: Divina Maria de QueirozIlustrações:Wolney FernandesProjeto Gráfico: Rony RibeiroImpressão: CEBI-Centro de Estudos Bíblicos

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Apresentação

Foi-se o tempo em que a falta d�água era problema apenas de ser-tanejo. A cada dia vemos e ouvimos notícias de cidades, estados,regiões, países e continentes que estão passando apuro pela falta deágua. Diante deste fato, cada um toma uma atitude diferente: oscapitalistas se apressam em privatizar os mananciais, porque sóenxergam os lucros que terão quando tivermos que beber da águaque eles venderão; parte dos governos e da população continuapoluindo e desperdiçando água; algumas organizações do povo,por outro lado, assumem a bandeira da preservação das águas, dis-cutindo tecnologias e desenvolvendo uma nova mentalidade a res-peito das águas e da nossa relação com a natureza como um todo.

Esta cartilha faz parte da mobilização deste terceiro grupo. Elanasceu para convocar as comunidades a refletir sobre seus hábi-tos, ampliar seus conhecimentos e mudar suas atitudes em rela-ção às águas. E, repetimos, essa é uma discussão que diz respeitoa todos: do sertão ao litoral; de crianças a anciãos; dos morado-res do campo aos das cidades; de quem vive sob as secas do nor-deste, até quem convive com as enchentes dos igarapés.

É preciso tomar atitudes enquanto é tempo. Vamos sonhar e batalharpelo dia em que nenhuma pessoa, planta ou animal seja penalizadopela falta d�água. Quem não fizer nada nessa direção tem parte naculpa pela morte de rios, mares, pessoas e demais seres vivos. Decre-temos, então, uma lei simples e revolucionária: �É proibido morrer desede. E que, a partir de hoje, a ninguém falte água boa de beber�.

Anadete Gonçalves ReisCoordenadora Nacional do Programa de Convivência com o Semi-Árido

Edna Maria do NascimentoCoordenadora do Programa de Convivência com o Semi-árido

no Regional Nordeste II

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Índice

Recado aos animadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1º Encontro As águas doces da terra! . . . . . . . . . . . . . . . 12

2º Encontro Acabar com a seca ou conviver com ela? . . 20

3º Encontro Águas da vida e águas da morte . . . . . . . . 28

4º Encontro Água boa não é favor: é nosso direito! . . . 36

5º Encontro Aprendendo a cuidar de cisternas! . . . . . . . 44

6º Encontro Aprendendo a cuidar de poços, cacimbas,barreiros e açudes! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

Endereços da Cáritas Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

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Recado às(aos) animadoras(es)

Graças à grande acolhida da primeira edição do �Água debeber�, a Cáritas tem a alegria de apresentar para você e parasua comunidade essa nova versão do livro. Ela está mais bonita emelhor organizada, para atrair as pessoas e facilitar o uso domaterial pelas comunidades. Para que este subsídio seja melhoraproveitado, apresentamos algumas sugestões, em vista da orga-nização e dinamização dos encontros:

PreparaçãoImproviso é coisa de repentista e não de animador ou animadorade comunidade. O mais garantido é reunir a equipe que vai coor-denar o encontro, ler todo o roteiro, ver se alguém tem algumadúvida, preparar o material necessário e distribuir as funções.

AprofundamentoDepois de cada um dos roteiros de encontro deste livro, há umbox com reflexões para aprofundamento do tema em discussão.Esse box destina-se aos animadores(as) dos encontros. Ele querser um instrumento de apoio, ampliando o conhecimento sobre oassunto que está sendo discutido. Na medida do possível, aque-las informações devem ser levadas ao conhecimento do grupo,nos momentos de reflexão e esclarecimentos.

AmbientaçãoCada encontro destaca um aspecto diferente em relação ao temadas águas. É bom que o ambiente onde a comunidade vai se reu-nir esteja bem preparado para ajudar as pessoas a refletir melhorsobre o tema. Pobreza não é desculpa. É só ter criatividade: emqualquer lugar a gente encontra uma moringa, uma cabaça, umgalão, uma jarra ou outros objetos relacionados com a água. Ésó arrumá-los com criatividade.

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AnimaçãoNestes subsídios apresentamos uma sugestão de cantos, porémcada comunidade já tem as suas músicas preferidas. Então, aequipe de animação do encontro tem toda liberdade de substituiros cantos que não sejam conhecidos ou que, simplesmente, acomunidade não goste de cantar. O importante é fazer do encon-tro um momento gostoso, que anime cada pessoa a se engajarna luta pela preservação das águas.

AssessoriaToda comunidade tem sempre alguém que é mais entendidosobre a problemática das águas: professores, sindicalistas, agen-tes de pastoral, técnicos agrícolas etc. Mesmo que a pessoa nãofaça parte do grupo, é bom convidá-la a participar de algum dosencontros para ajudar a ampliar os nossos conhecimentos. Se nasua comunidade há várias pessoas disponíveis, pode-se organizara vinda delas em mais de um encontro.

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Esta cartilha traz roteiros para seis encontros, organizados com osseguintes objetivos:

1. As águas doces da terra!

2. Acabar com a secaou conviver com ela?

3. Águas da vidae águas da morte!

4. Água boa não é favor:é nosso direito!

5. Aprendendoa cuidar de cisternas!

6. Aprendendo a cuidarde poços, cacimbas,barreiros e açudes!

Ampliar os conhecimentos básicossobre o ciclo da água e as causasda crisemundial da água potável.

Desmitificar a compreensão so-bre a fatalidade da seca e intro-duzir o conceito de convivênciacom o semi-árido.

Sensibilizar e esclarecer sobreos riscos para a nossa saúdeoferecidos pelo consumo deágua contaminada.

Esclarecer que o acesso e amanutenção de água de quali-dade é um direito de todo cida-dão e um dever do Estado.

Sensibilizar para a importânciada água da cisterna e ampliaros conhecimentos para garan-tir um bom gerenciamento des-sa água.

Sensibilizar para a importânciade um bom gerenciamento daágua de poço, cacimba, barrei-ro e açude. Ampliar os conheci-mentos sobre como fazê-lo.

EENNCCOONNTTRROO OOBBJJEETTIIVVOO

1º encontro

As águas doces da terra!

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As águas doces da terra!

Acolhida

Animador(a) 1Sejamos todos bem-vindos e bem-vindas. Começamos, hoje,uma caminhada de reflexão a respeito da beleza, da importânciae também dos problemas das águas, em nossa região e em todoo mundo. O corpo do planeta Terra é formado por três partes deáguas e apenas uma parte de terra seca. O corpo de cada um denós tem essa mesma combinação: um quarto do nosso peso ésólido e três quartos é líquido, é água.

Animador(a) 2Somos um planeta de muitas águas. Somos criaturas de muitoslíquidos. Neste momento, vamos recordar as águas boas quepassaram nas nossas vidas e tomar consciência da água viva quecircula em nossos corpos. Num instante de silêncio, cada um ecada uma de nós vai colocar a mão sobre o seu próprio peito,sentir a pulsação e recordar a vida.

(Se possível, colocar uma música instrumentalou simplesmente ficar em silêncio.)

Fazer cartazes, tabelas e gráficos com os dados apresenta-dos nas �Águas de outras ciências� e outros dados que aequipe de coordenação consiga levantar; preparar oambiente com um vaso ou moringa com água, uma bacia euma Bíblia, colocados em lugar de destaque.

Materiais necessários

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Águas da ciência do povo

Animador(a) 1A criança cresce dentro de uma bolsa d�água na barriga da mãe;pode viver nos primeiros tempos apenas das águas que manamdos seios da sua mãe; é acolhida pela comunidade através daságuas do batismo; é abençoada e livrada do mau-olhado pelaságuas dos ramos das benzedeiras; quando adolescente, jovem eadulto faz folia, diverte-se e tira o pão das águas de cacimbas,barreiros, barragens, rios e mares...

Animador(a) 2Existe uma variedade enorme de formas da água fazer parte danossa vida. Cada um e cada uma de nós tem histórias bonitaspara contar a respeito do sentido e dos prazeres que a água nosdá. Vamos partilhar essa riqueza uns com os outros?

(Tempo para as pessoas falarem.)

Canto�Riacho do navio...�(nº 1, pág. 59 ou outra música que fale da água.)

Animador(a) 1Assim como a água pura nos dá saúde e alegria, a falta d�águaamarga a vida de todos nós. Águas escassas, águas barrentas,águas poluídas, águas salobras também estão presentes nas nos-sas vidas. Vamos contar uns para os outros as dificuldades que jápassamos na vida, por causa de água.

(Tempo para partilhar as dificuldades.)

Canto�Asa Branca"(nº 2, pág. 59 ou outra música que fale do tema da seca.)

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Águas de outras ciências

Animador(a) 2Infelizmente, o problema da escassez de água potável é uma rea-lidade não apenas para nós, mas para os 6 bilhões de habitantesdo planeta, sendo que, neste momento, mais de 1 bilhão e 300milhões de pessoas passam privações porque não têm água boapara beber e se higienizar. Nosso planeta é composto por muitaságuas. Entretanto, 97% de toda a água que existe na Terra estános oceanos.

Animador(a) 1Dos 3% de água doce que existe no mundo, 2% está em geleirase apenas 1% está em rios, lagos e no subsolo, disponível para onosso consumo. Quando se compara a outros países, a situaçãodo Brasil é muito boa. Fica em nosso território mais de 11% detoda a água doce do planeta.

Animador(a) 2Mas essa água doce não está distribuída igualmente em nossoterritório. A região Amazônica, por exemplo, concentra apenas 7em cada 100 brasileiros. Entretanto, de cada 100 litros de águadoce do Brasil, 70 litros estão na Amazônia. A situação do Nor-deste é bem diferente.

Animador(a) 1Os nordestinos são cerca de 30% dos brasileiros e, entretanto,dispõem de apenas 3% da água doce do Brasil. O problema maisgrave, porém, não é a maneira que a natureza distribuiu as águasem nossa terra. Grave mesmo é a forma como nós tratamos estaságuas. Segundo pesquisas da ONU, Organização das NaçõesUnidas, para cada 100 litros de água que nós usamos, 10 millitros de água se tornam poluídas.

(Tempo para apresentação de cartazes, gráficos e para comentáriose esclarecimentos sobre a realidade das águas do planeta.)

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Águas da Sagrada Escritura

Animador(a) 2A terra que Deus prometeu para os nossos pais e para as nossasmães na fé era uma região cercada por montanhas e desertos.Permanecia nessa terra apenas quem pudesse garantir a possedas fontes de água. Isso causava muitas disputas e, ao mesmotempo, obrigava as pessoas a serem muito criativas. Vamosabrir nossos ouvidos e corações para aprender com a sabedoriados antigos.

Canto de aclamaçãoDesça como a chuva/ a tua Palavrae se espalhe como orvalho/ como chuvisco na relva/como aguaceiro na grama./ Amém!(Ou outra aclamação conhecida.)

Leitor(a)Leitura do livro do Gênesis (26,15-25).(Ler na Bíblia). Palavra do Senhonhor!

Todos(as)Graças a Deus!

(O(a) leitor(a) coloca a Bíblia no local onde ela estava, pega opote e, com os braços erguidos, lentamente despeja a água nabacia, fazendo um barulho alto e criando um clima de meditação.Após um tempo de silêncio o(a) animador(a) dirige-se ao grupo.)

Animador(a) 1Vamos repetir aquela palavra ou frase do texto que mais tocou osnossos corações.

(Tempo para as pessoas falarem. Em seguida, canta-se mais umavez o canto de aclamação.)

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(Discutir essas ou outras idéias e tomar uma decisão.)

(Avisos, cumprimentos, confraternização.)

Evitar qualquer forma de desperdício de águas; não jogarplástico, vidro nem outros tipos de lixo na natureza, porqueeles acabam poluindo as fontes de água; fazer um mutirãopara limpar as cacimbas, barreiros, cisternas, caixas d�águaou qualquer outro tipo de reservatório.

Algumas possibilidades

Cavando nosso próprio poço

Animador(a) 2Cada pessoa é uma fonte de onde jorra a água da sabedoria. Etoda fonte precisa ser esgotada para que a água se renove.Vamos abrir os nossos corações e compartilhar a vida.

1) O que mais chamou a nossa atenção neste encontro?

2) A Bíblia conta que Isaac tirou os entulhos dos poços que o seupai havia cavado e cavou outros poços. E nós: temos contri-buído para melhorar ou para piorar a situação das águas?

3) Qual o principal problema das águas em nossa região?

(Tempo para partilha.)

Firmando compromissos

Animador(a) 1Conversar é bom, mas �saco vazio não se põe em pé�. Além deesclarecer as nossas consciências, é preciso mobilizar nossos bra-ços. O que podemos fazer, a partir de hoje, para prevenir ouenfrentar os problemas da escassez de água potável?

2º encontro

Acabar com a seca ou conviver com ela?

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Acabar com a secaou conviver com ela?

Cd ou k-7 com a música �A triste partida�, de Luiz Gonzaga;toca-fitas ou Cd player; pincéis e papel para fazer cartazes;um cajado (ou uma vara rústica), uma bacia de cerâmicacom água e uma Bíblia, colocados num lugar de destaque.

Materiais necessários

Acolhida

Animador(a) 1Bem-vindos e bem-vindas ao nosso segundo encontro de reflexãosobre as belezas das águas e as dificuldades decorrentes da suaescassez. Antes de dar continuidade às nossas reflexões, vamosrecordar os principais pontos do encontro passado. O que ficougravado em nossas memórias? Quais as atitudes que já foramcolocadas em prática?

(Tempo para as pessoas recordarem e partilharem.)

Animador(a) 2A região Nordeste do Brasil é caracterizada pelo clima semi-árido emarcada pelos ciclos das grandes estiagens. É comum os nordesti-nos marcarem o tempo pelo calendário das secas: �Fulano aindaestava nos cueiros na seca de 70�; �Quando Sicrana morreu eutrabalhava na frente de emergência de 83�... E, assim, por diante.Quem viveu na pele essa situação tem muitas histórias para contar.Quem teve a graça de não enfrentar nenhuma seca, seguramentetestemunhou o sofrimento dos seus irmãos e irmãs. Façamos uminstante de silêncio, trazendo ao coração todas essas lembranças.

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(Deixar um tempo de silêncio e, depois, colocar a música�A triste partida". Deixar tocar uns cinco minutos, baixaro som e provocar uma conversa.)

Animador(a) 1Muitas histórias de dor e tristeza vieram aos nossos corações, mis-turadas com outras histórias de solidariedade e resistência.Vamos partilhar nossas recordações?

(Tempo para as pessoas falarem.)

Canto�Só mandacaru, só mandacaru...�(Ou outra música que fale da resistência diante da seca.)

Águas da ciência do povo

Animador(a) 2Diante de uma situação de risco, só há duas alternativas: enfren-tar o perigo ou fugir dele. Assim agem as pessoas diante daescassez de águas. Alguns perdem as esperanças, abandonamtudo e vão tentar a sorte noutra região. Outros resistem o quantopodem, buscam todos os recursos e criam alternativas para convi-ver com a seca.

Animador(a) 1Cada um e cada uma de nós conhece muitas histórias de fugas emuitas histórias de resistências. Vamos, então, nos dividir em doisgrupos para fazer um levantamento da realidade. O primeiro gru-po reflete o seguinte: As pessoas que fugiram da seca foram paraque regiões? Para fazer o quê? O que aconteceu com elas? E osegundo grupo: O que fazem as pessoas para sobreviver emregiões com pouca água? Quais os recursos e tecnologias queestão sendo usados para conviver com a seca?

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(Tempo para os dois grupos conversarem e confeccionaremcartazes. Depois, faz-se um plenário, cada grupo apresenta asua reflexão, faz-se esclarecimentos e complementações.)

Águas de outras ciências

Animador(a) 2A escassez de água é um problema grave que só pode ser resolvidose conhecermos profundamente os fatores que compõem essa rea-lidade. O Nordeste seco, o sertão, possui uma área total de 700mil km2, onde vivem 23 milhões de brasileiros e brasileiras, entre osquais, quatro milhões de camponeses e camponesas sem terra. Nomundo há diversas outras regiões semi-áridas e desérticas, mas emnenhuma delas mora tanta gente quanto no Nordeste.

Animador(a) 1O clima nordestino é resultado de uma série de fenômenos quese repetem há milhares de anos e que os cientistas, aos poucos,começam a identificar. Quando os europeus invadiram nossasterras, 500 anos atrás, eles já perceberam, por exemplo, que aságuas do Oceano Pacífico ficam mais quentes em certas épocas,em decorrência de vulcões submarinos. Em 1584, os espanhóisbatizaram esse fenômeno com o nome de �El Niño�. Hoje, sabe-mos que há uma relação direta entre o El Niño e as secas doNordeste.

Animador(a) 2Soma-se a esse fenômeno outras características, como o fato deque 95% do solo do semi-árido nordestino se assente sobrerochas cristalinas que só detêm 2% das águas de chuvas comoreservas subterrâneas. As temperaturas médias da região sãobastante altas, cerca de 27 a 32 graus centígrados. Elas nãorepresentam impedimento para o desenvolvimento das popula-ções, rebanhos e agricultura, entretanto, provocam um rápido

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processo de evaporação das águas de rios, açudes e outrosreservatórios d�água.

Animador(a) 1Durante um ano, a evaporação pode atingir de 70 a 80% daságuas coletadas a partir das chuvas que caem no sertão, depen-dendo das características do reservatório. O Nordeste é abençoa-do por Deus com uma média de 2.800 a 3.500 horas de sol, acada ano. Os açudes, para terem vida longa, precisam ser profun-dos e compactos, pois a evaporação lhes rouba cerca de doismetros de água doce por ano. Quanto mais espalhado e maior foro reservatório, maior é a evaporação e mais água doce se perde.

Animador(a) 2A insolação muito embora cause o transtorno da evaporaçãotraz, por outro lado, o benefício de proporcionar até três safrasagrícolas por ano. Basta, para isso, que a região tenha águadoce, independente das chuvas. Pode ser água de açudes, retira-da do subsolo, dessalinizada ou transferida de outras bacias.Qualquer água doce serve para irrigação. Isso tudo faz a genteperceber que as características de uma região são um problemasomente até o dia em que a gente aprenda a tirar proveito delas.

(Tempo para apresentação de cartazes, gráficos e paracomentários e esclarecimentos sobre aspectos relacionadosao semi-árido.)

Águas da Sagrada Escritura

Animador(a) 1Quando os hebreus conseguiram fugir do Egito, passaram muitoaperto durante a longa caminhada pelo deserto. No Egito elestinham as águas abundantes do Rio Nilo. No deserto precisaramaprender um outro jeito de viver. Muitas vezes quiseram voltarpara a Casa da Escravidão. Mas conseguiram aprender que,

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quando o povo reclama e se organiza, até das pedras Deus fazbrotar água. Acolhamos essa Palavra.

Canto de aclamaçãoTeu sol não se apagará,tua lua não terá minguante,porque o Senhor será tua luz,ó povo que Deus conduz!(Ou outra aclamação conhecida.)

Leitor(a)Leitura do livro de Números (20,1-11).(Ler na Bíblia.)

(O(a) leitor(a) coloca a Bíblia no local onde ela estava, pegao cajado, toca com ele a água que está na vasilha de barro.Em seguida, encosta a ponta molhada do cajado sobre a testade cada uma das pessoas.)

Leitor(a)Irmãos e irmãs, essa é para nós Palavra do Senhor!

Todos(as)Graças a Deus!

(Após um tempo de silêncio, canta-se mais uma vez o canto deaclamação. Em seguida, o(a) animador(a) dirige-se ao grupo.)

Cavando nosso próprio poço

Animador(a) 2Velhas histórias têm a magia de cada vez trazerem um ensina-mento novo. Partilhemos nossos sentimentos e pensamentos dian-te de tudo o que vimos e ouvimos.

1) O que mais nos impressionou do que vivemos neste encontro?

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(Discutir essas ou outras idéias e tomar uma decisão.)

(Avisos, cumprimentos, confraternização.)

2) Qual a importância de conhecer profundamente as caracterís-ticas da região em que vivemos, a nossa �Terra Prometida�?

3) O povo que caminhava no deserto reclamou da sede, reuniu-se com suas lideranças, falou com o seu Deus e, juntos, tira-ram abundante água da rocha: que lição essa história trazpara nós?

(Tempo para partilha.)

Firmando compromissos

Animador(a) 1Para coroar essa caminhada, só falta tomarmos atitudes concre-tas, de compromisso com a transformação da nossa realidade.

Conversar com parentes, vizinhos e vizinhas, organizar pales-tras, programas de rádio e outras iniciativas, para compartilharcom outros o que aprendemos; procurar conhecer experiên-cias alternativas de convivência com o semi-árido; agir paradiminuir a evaporação das fontes que abastecem a região.

Algumas possibilidades

3º encontro

Águas da vida e águas da morte

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Águas da vida e águas da morte

Duas vasilhas de vidro ou plástico transparente, uma comágua limpa e a outra com líquido amarelo (representandourina) e outro material escuro (como fezes de animais); umcopo grande ou uma taça; pincéis e papel para cartazes.

Materiais necessários

Acolhida

Animador(a) 1Estamos iniciando nosso terceiro encontro. Sejam todos bem-vin-dos e bem-vindas. A cada encontro nossas mentes ficam maisesclarecidas e nossa comunidade mais preparada para cuidarda vida uns dos outros e da natureza. Hoje, continuaremos refle-tindo sobre as dificuldades de manter a vida com qualidade,diante da escassez de água. O mais triste é que, mesmo onde hápoucas águas, elas ainda são emporcalhadas, tornando-se umperigo para quem as consome.

Animador(a) 2Uma pesquisa divulgada recentemente pela Fundação Nacional deSaúde revelou que, no período de 1979 a 1995, a água contamina-da por falta de tratamento causou a morte de 342.732 criançascom menos de cinco anos no Brasil. Desse total, 40% eram criançasnordestinas. Cada um de nós conhece histórias, às vezes das nossaspróprias famílias, de casais que perderam muitos filhos pequenos,muitas vezes sem nem saber a causa da morte. Hoje ainda existem adengue, a cólera e uma série de doenças que se transmitem pelaágua.O que nós sabemos sobre o perigo das águas contaminadas?

(Tempo para as pessoas partilharem.)

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Águas da ciência do povo

Animador(a) 1Muitas vezes a pessoa sabe que a água não é própria para consu-mo, mas não tem acesso a outra fonte. O que é que vai fazer? Ojeito é beber água barrenta, às vezes meio salobra, freqüentemen-te a mesma água onde os animais bebem, se banham e fazemoutras necessidades. Para piorar, ainda tem gente que faz fossaperto de cisternas e poços. Outros deixam sujeira de chiqueiroescorrer para as valetas. Aí vem a chuva e carrega tudo para den-tro dos açudes de onde se tira água para beber e cozinhar...

Animador(a) 2Outras pessoas são mais cuidadosas. Conhecem direitinho ocaminho das águas e cuidam da limpeza de valetas e riachos,para que a água represada seja sempre sadia. Também há muitosjeitos apropriados de cuidar da água em cisternas e jarras, paraque, ao consumi-la, a gente mantenha a saúde: coar, ferver, fil-trar, colocar cloro... Cada um encontra a melhor maneira.

Animador(a) 1Vamos, agora, fazer um levantamento dos cuidados e dos descui-dos que as pessoas da nossa comunidade têm para com aságuas. O primeiro grupo vai observar como se cuida da limpezadas principais fontes de água e também os cuidados que temoscom a água em nossas casas. O segundo grupo vai observar ooposto: os descuidos que temos para com as fontes e tambémnas casas. Cada grupo faz um cartaz.

(Tempo para os grupos conversarem e fazerem os cartazes.)

Animador(a) 2Agora vamos escutar as descobertas dos dois grupos e, depois,fazer complementações do que não apareceu nos cartazes.

(Tempo para apresentações e complementações.)

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Canto�Último pau-de-arara...� (Ou outra música que fale da resistência.)

Águas de outras ciências

Animador(a) 1Diariamente são lançados 10 bilhões de litros de esgoto quepoluem rios, lagos, oceanos e áreas de mananciais. As atividadesagrícolas, industriais, mineradoras, os esgotos e a intolerânciadas pessoas são as principais fontes de poluição das águas. Des-de a antiguidade os seres humanos já lançavam os seus detritosna água, porém, esse procedimento não causava muitos proble-mas, pois os rios, oceanos e lagos têm o poder de autolimpeza.

Animador(a) 2Entretanto, depois da Revolução Industrial o volume de detritos des-pejados nas águas aumentou bruscamente, comprometendo acapacidade de purificação dos rios, oceanos e lagos. Entre as subs-tâncias despejadas pelas indústrias estão os derivados do petróleo,chumbo, mercúrio etc. As fezes e demais dejetos humanos, quandoerradamente conduzidos, também contaminam as águas. Na agri-cultura, os fertilizantes, pesticidas e herbicidas são arrastados paraos rios com as chuvas. O contato desses poluentes com o solo,além do mais, pode contaminar os lençóis freáticos.

Animador(a) 1Evidentemente, quem termina sendo mais prejudicadas são aspessoas mais pobres. Na última Pesquisa Nacional por Amostra-gem de Domicílios (PNAD), constatou-se que apenas 20 em cada100 casas da zona rural do Brasil têm acesso a água tratada.Olhando isoladamente para o sertão nordestino essa realidade éainda mais grave. Verminose, cólera, febre tifóide, disenteria... Amedicina sabe que uma infinidade de doenças é transmitida porvírus e bactérias presentes em águas que não são tratadas.

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Animador(a) 2Todo mundo sofre quando é obrigado a consumir água sem trata-mento adequado, mas as principais vítimas são as crianças. Mui-tas morrem e as outras têm o seu desenvolvimento prejudicado.Algumas vão carregar, para o resto da vida, fraqueza no corpo ena mente, tudo porque seus organismos tiveram que aprender aconviver com vírus, bactérias e parasitas engolidos junto com aágua de beber, cozinhar e se higienizar.

(Tempo para apresentação de cartazes, gráficos e para comentá-rios e esclarecimentos sobre as formas de contaminação daságuas e os riscos de consumir águas infectadas.)

Águas da Sagrada Escritura

Animador(a) 2Quando caminhava pelo deserto rumo à Terra Prometida, muitasvezes o povo teve sede e murmurou contra seus líderes. Na passa-gem das águas amargas, em Mara, Deus fez o povo ver que épreciso saber cuidar das águas e cumprir os mandamentos paraque as águas recuperem a sua doçura. Acolhamos essa Palavra.

Canto de aclamaçãoDesça como a chuva/ a tua Palavrae se espalhe como orvalho/ como chuvisco na relva/como aguaceiro na grama./ Amém!(Ou outra aclamação conhecida.)

Leitor(a)Leitura do livro do Êxodo (15,22-27).(Ler na Bíblia.)

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(O(a) leitor(a) coloca a Bíblia no local onde ela estava, pega avasilha com água limpa e a ergue como quem está agradecen-do a Deus. Depois despeja um pouco da água no copo outaça, bebe um pouco e, em silêncio, vai passando para quecada pessoa beba um gole d�água. Após todos(as) beberem,o(a) leitor(a) anuncia:)

Leitor(a)Irmãs e irmãos, agradeçamos a Deus porque esta é, para nós,Palavra do Senhor!

Todos(as)Graças a Deus!

Animador(a) 1Será que alguma palavra ou frase desse texto ficou em nossacabeça? Se alguém falar uma palavra, todos nós vamos repeti-lajuntos, fazendo um eco da Palavra.

(Tempo para as pessoas falarem. Em seguida, canta-se maisuma vez o canto de aclamação.)

Cavando nosso próprio poço

Animador(a) 2Muitas vezes nossa vida é um poço de amarguras. E Deus, atravésdos irmãos e das irmãs, faz o amargo se transformar em doce.Partilhemos essa sabedoria.

1) De tudo o que refletimos até agora, o que mais questionou onosso jeito de agir para com as águas e com a natureza emgeral?

2) No início, o povo estava com sede; no final está diante de 12fontes de água; no meio da história aparece a recomendaçãode guardar as leis de Deus: Por que será que uma sociedade

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que vive segundo a lei não sofre as enfermidades que caíramsobre os egípcios?

3) Quais são as coisas que fazem as águas do nosso país se tor-narem amargas?

4) E o que é necessário para que elas voltem a ser doces?

(Tempo para partilha.)

Firmando compromissos

Animador(a) 1Nem sempre temos a possibilidade de transformar o mundo. Massempre podemos dar alguns passos em vista desta transforma-ção. É por isso que precisamos tomar algumas decisões quesejam possíveis de ser vividas em nossa realidade.

Algumas possibilidades

Procurar saber exatamente qual é o destino do lixo produzi-do em nossa comunidade (observar, sobretudo, se fossas,esgotos, lixo... estão sendo jogados nas fontes e reservató-rios de águas; instruir o máximo de pessoas possível paramelhorar as condições das águas consumidas, através dafervura, da filtragem e de técnicas de tratamento d'água.

(Discutir essas ou outras idéias e tomar uma decisão.)

(Avisos, cumprimentos, confraternização.)

4º encontro

Água boa não é favor: é nosso direito!

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Água boa não é favor:é nosso direito!

Documentos pessoais (título, carteira de trabalho etc.), sepossível, um exemplar da Constituição do Brasil.

Materiais necessários

Acolhida

Animador(a) 1O quarto encontro é o meio do caminho, a encruzilhada destepercurso que estamos trilhando. Sejam todos bem-vindos e bem-vindas. Muita coisa boa tem ficado em nossas cabeças e muitasluzes nos ajudam a mudar de conduta em relação às águas e ànatureza como um todo. Mas será que a nossa mudança enquan-to pessoas e comunidades é suficiente para transformar o mundo?

Animador(a) 2Se a mudança não começar em nós, em nossas casas, em nossascomunidades, certamente não haverá transformação. Por outrolado, nós não vivemos isolados. É próprio do ser humano viver emsociedade, participando positiva ou negativamente da vida unsdos outros. É por isso que se diz que a pessoa humana é um �ani-mal político�, porque é na política que a gente luta pelos interessesda maioria. Mas política é um campo que gera muita paixão oumuito nojo. E nós: o que sentimos em relação à política?

(Tempo para as pessoas se expressarem.)

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Águas da ciência do povo

Animador(a) 1De fato, nossa gente tem motivos de sobra para rejeitar a política.É difícil ter um lugar onde não haja um coronel, um manda-chuvaque domina, corrompe e rouba nosso povo. Mas se a gente ficarde fora da política, aí é que tudo continua na mesma toada. E éexatamente isso que eles querem: que o povo não se organize enão reivindique seus direitos. Querem que morramos à mínguaou fiquemos dependendo dos seus favores.

Animador(a) 2A crueldade dessa gente é tanta que se chega a montar a cha-mada indústria da seca, para lucrar em cima dos cadáveres dequem morreu de sede. O nome pode não ser conhecido, mas arealidade está presente em cada recanto do Nordeste: Ou agente nunca ouviu falar de pessoas que se elegem graças aoscaminhões-pipas de água distribuídos como se fossem carida-de? Quem nunca escutou dizer que boa parte do dinheiro dosprojetos do governo vai parar nas contas secretas dos políticos edos empresários que lhes dão cobertura. A gente vê tudo isso.Mas não pode desanimar!

Canto�Animados pela fé e bem certos da vitória...�(Ou outra música que fale da luta do povo pelos seus direitos.)

Animador(a) 1Agora vamos parar um pouco e analisar o que acontece em nos-sa comunidade. Para isso vamos formar dois grupos. O primeirogrupo vai analisar como os políticos têm agido em relação aosprincipais problemas de nossa região: Quais as suas propostas?Quais as conquistas? Quais as melhorias que já chegaram?Enquanto isso, o outro grupo vai analisar como tem sido a atitudepolítica das pessoas dos nossos grupos e das comunidades danossa Igreja: Temos participado da discussão dos destinos da

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Águas de outras ciências

Animador(a) 2Fome, sede, violência, desemprego... Os problemas do nossopaís se sustentam num chão comum: a maioria da nossa gentenão tem conhecimento do que está acontecendo e não tem edu-cação para exigir seus direitos. Quando olhamos o problema daágua, por exemplo, temos 45% dos brasileiros que não têm aces-so a água tratada e quase 100 milhões de pessoas cujas casasnão têm esgoto sanitário. Embora seja do seu interesse, quasetoda essa gente jamais ouviu falar da lei 9.433, de 8/1/1997.

Animador(a) 1Embora esteja aprovada há tanto tempo, e diga tantas coisasbonitas, a lei que instituiu a �Política Nacional de Recursos Hídri-cos� e criou o �Sistema Nacional de Gerenciamento de RecursosHídricos� é um segredo para a maioria dos brasileiros. Ele não foicapaz de fazer quase nada para os quase 12 milhões de nordesti-nos atingidos pela seca. E vai continuar não servindo para nada,se a gente não se organizar para lutar.

Animador(a) 2Assim como a maioria das leis, a 9.433 pode ser de grande utili-dade para a nossa causa. Por isso precisamos conhecer os seusartigos e exigir que os nossos representantes cumpram pelomenos o que já está aprovado. Veja o que diz um trechinho da lei:�Artigo 1º - A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se

nossa região? Fiscalizamos as atividades dos políticos? Temos nosorganizado para fazer manifestações, protestos ou reivindicaçõesde alguma natureza?

(Tempo para os grupos refletirem. Em seguida, cada umapresenta as suas reflexões e o plenário faz ascomplementações.)

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nos seguintes fundamentos: I - a água é um bem de domíniopúblico; II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valoreconômico... VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descen-tralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuá-rios e das comunidades. Artigo 2º - São objetivos da PolíticaNacional de Recursos Hídricos: I - assegurar à atual e às futurasgerações a necessária disponibilidade de água, em padrões dequalidade adequados aos respectivos usos...� E por aí vai.

Animador(a) 1Apenas com esse trechinho da lei 9.433 poderíamos fazer umadezena de perguntas que ainda não têm respostas. Por exemplo:Se a água é um recurso natural limitado, por que as pessoas des-perdiçam água e o governo não faz nada? Se a gestão dos recur-sos hídricos deve contar com a participação dos usuários e dascomunidades, por que ninguém veio perguntar para nós comoresolver o problema da falta d�água? E por que não vieram per-guntar se concordamos com as construções de barragens? E porque não pedem a nossa opinião a respeito do destino dos esgotosdas nossas cidades?

(Tempo para apresentação de cartazes, gráficos e para comentá-rios e esclarecimentos a respeito da legislação e demais aspectospolíticos do problema da escassez de água.)

Águas da Sagrada Escritura

Animador(a) 2Todo mundo quer sair da escravidão, mas as vezes a gente nãoquer pagar o preço da liberdade. Custa tirar de dentro de nós osvelhos costumes. Moisés também passou por essa dificuldade.Ele que lutou tanto contra o faraó, lá no deserto estava agindocom se fosse um faraozinho. Mas Deus mandou seu recado atra-vés de Jetro.

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Cavando nosso próprio poço

Animador(a) 2Cada pessoa tem uma forma particular de compreender a vida.Quanto mais se compartilha, mais a gente enriquece como pes-soa e como grupo. Então, partilhemos.

1) Nosso jeito de agir com o povo está mais parecido com o jeitode Moisés ou com o de Jetro?

2) De que maneira precisamos agir para que o nosso grupo setorne um instrumento de capacitação política das pessoas?

Canto de aclamaçãoDesça como a chuva/ a tua Palavrae se espalhe como orvalho/ como chuvisco na relva/como aguaceiro na grama./ Amém!(Ou outra aclamação conhecida.)

Leitor(a)Leitura do livro do Êxodo (18,13-27).(Ler na Bíblia). Palavra do Senhor!

Todos(as)Graças a Deus!

(O(a) leitor(a) faz com que a Bíblia seja passada de mão em mão,depois a coloca no local onde ela estava. Então, o(a) animador(a)dirige-se ao grupo.)

Animador(a) 1Vamos repetir, como quem reza, aquela palavra ou frase do textoque mais tocou os nossos corações.

(Tempo para as pessoas falarem. Em seguida, canta-semais uma vez o canto de aclamação.)

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3) Como vamos nos organizar para exigir os direitos que temos eque estão sendo negados?

(Tempo para partilha.)

Firmando compromissos

Animador(a) 1Além de idéias claras, precisamos de novas atitudes. O que vamosfazer para romper o ciclo do descompromisso com a política?

Buscar formas de conhecer o que diz a lei a respeito daságuas e dos principais problemas da nossa comunidade;criar uma nova mentalidade nas pessoas que estão ao nos-so lado a respeito da política e dos nossos direitos comocidadãos e cidadãs; participar de conselhos e comissões dacriança e do adolescente, de saúde, segurança, educaçãoe outras.

Algumas possibilidades

(Discutir essas ou outras idéias e tomar uma decisão.)

(Avisos, cumprimentos, confraternização.)

5º encontro

Aprendendo a cuidar de cisternas!

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Acolhida

Animador(a) 1Sejamos todos bem-vindos e bem-vindas. Neste quinto encontro,começamos a reta final da nossa caminhada. Já refletimos sobreas características do semi-árido, entendemos a necessidade deaprender a conviver com a seca, soubemos do perigo de beberágua contaminada e tomamos consciência do direito que temosde receber água de boa qualidade. Agora chegou o momento deaprender a cuidar dos reservatórios de água das nossas casas eda nossa comunidade.

Animador(a) 2Hoje vamos conversar sobre o melhor jeito de cuidar das águasem cisternas. No próximo encontro, vamos compartilhar as técni-cas recomendadas para a conservação das águas de cacimba,poço, barreiros e açudes. Nestes dois encontros precisaremos demuita disposição e muita humildade. É verdade que já temos umjeito próprio de lidar com cisternas, cacimbas e barreiros. Vamosver se esse é o melhor jeito. Se aprendermos algo novo, vamosacolher esse ensinamento e tratar de colocá-lo em prática.

Aprendendo a cuidarde cisternas!

Um pires com sal, Bíblia colocada em lugar de destaque.

Materiais necessários

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Águas da ciência do povo

Animador(a) 1É difícil encontrar uma casa na zona rural do Nordeste que nãotenha uma bica de zinco ou de lata, pronta para aparar a águaque escorre pelo telhado na época das chuvas. Isso está mais doque certo. Cada gota de água é uma riqueza e não pode ser des-perdiçada. Que outras artimanhas o povo da nossa região usa,para guardar em casa as águas das chuvas? O que é que faze-mos para essa água não apodrecer?

(Tempo para as pessoas falarem.)

Animador(a) 2Jarra, pote, latão, barril, caixa d�água, cisterna... De acordo comsuas posses, cada família se arranja da melhor maneira possívelpara garantir que não falte água em casa. E cada família gastauma quantidade diferente de água para satisfazer suas necessida-des de alimentação e higiene. Alguns usam um tipo de água parabeber e cozinhar e outro tipo para as demais necessidades.Vamos tentar analisar os costumes da nossa comunidade: Deonde vem a nossa água de beber e cozinhar? E a água para lavarroupa e para outras necessidades? Mais ou menos quantos litrosde água a gente gasta por dia? Fazendo as contas, quanta águaa gente precisa por mês e por ano?

(Tempo para partilhar e tentar fazer os cálculos.)

Canto�Já faz três noites que pro norte relampeia...�(nº 3, pág. 60 ou outra música que fale das esperanças do povo.)

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Águas de outras ciências

Animador(a) 1O consumo de água em uma família de classe média nos EstadosUnidos chega a 2 mil litros por dia. Na África, esse consumo é deapenas 150 litros e milhões de famílias ainda precisam carregarágua por longas distâncias. Essa é também a situação de milha-res de nordestinos. Por isso é importante lutar para que cada casatenha a sua cisterna. Isso não resolve o problema, mas melhorabastante a situação. Mas quando a gente vai construir uma cister-na é preciso selecionar material de boa qualidade, prestandobastante atenção nos prazos de validade. A areia deverá ser gros-sa, sem sal e sem barro.

Animador(a) 2É fundamental aproveitar o serviço de um pedreiro experiente econstruir a cisterna distante de 10 a 15 metros de fossas, latrinas,currais, depósitos de lixo e árvores. De preferência, construir naparte baixa do terreno para facilitar a descida da água. Logo queestiver pronta, a cisterna deverá ser molhada durante 2 a 3 diaspara não rachar. Para manter a água limpa é importante tomartrês providências: manter a tampa da cisterna sempre fechada;colocar uma tela fina no cano de entrada da água e nos suspiros;e evitar misturar água da chuva com água de barreiro, rio oulagoa, para a água não estragar.

Animador(a) 1Ainda é preciso ter cuidado com a lata que tira a água: ela nãopode ser colocada no chão para não levar sujeira para dentro dacisterna. Para manter a cisterna limpa é importante deixá-la semprecom um pouco de água e pintá-la por fora com cal, para protegê-la de micróbios. Quando a água estiver acabando, deve-se lavarbem a cisterna, escovando com vassoura e sabão de barra. Depoisenxaguar bem e retirar toda a água usada nessa operação.

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Animador(a) 2Muita atenção com a água das primeiras chuvas: ela não deveentrar na cisterna. Telhado pega muita sujeira trazida pelo vento eé lugar de passagem de insetos e animais, principalmente gatos eratos. Só após duas ou três chuvas é que o telhado está limpo epode conduzir água para a cisterna. A água da cisterna é parauso humano, isto é, para as pessoas beberem, a mãe de famíliacozinhar e lavar a louça e todos da casa escovarem os dentes. Sea gente fizer outros usos, a água vai acabar logo e nos pioresmomentos da seca não vamos mais ter água boa para beber,cozinhar e escovar os dentes.

(Tempo para apresentação de cartazes, gráficos e para comentá-rios e esclarecimentos sobre as técnicas de construção e conserva-ção de águas em cisternas.)

Águas da Sagrada Escritura

Animador(a) 1A saúde das águas sempre foi fundamental na vida do povo deDeus, acostumado a viver numa região cercada de desertos ecom longas estiagens. Por isso, aquela gente guardou na memó-ria, com muito carinho, as histórias das pessoas que lhes ensina-ram a manter a saúde de suas águas. Uma dessas pessoas foi oprofeta Eliseu. Prestemos atenção na sua história.

Canto de aclamaçãoDesça como a chuva/ a tua Palavrae se espalhe como orvalho/ como chuvisco na relva/como aguaceiro na grama./ Amém!(Ou outra aclamação conhecida.)

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Leitor(a)Leitura do primeiro livro dos Reis (19,19-21) e segundo livro dosReis (2,19-22). (Ler na Bíblia). Palavra do Senhor!

Todos(as)Graças a Deus!

(O(a) leitor(a) coloca a Bíblia onde ela estava, pega o pirescom sal, ergue para o alto como quem pede uma bênção,pega uma pitada de sal e coloca na sua própria boca.Em seguida, em silêncio, leva o pires à frente de cada pessoa,para que todos repitam o mesmo gesto.)

Animador(a) 2Nossos corpos são como poços de água. Meditemos, em silên-cio, sobre os males e a esterilidade que o Senhor precisa curar emcada um e cada uma de nós.

(Tempo para meditação.)

Cavando nosso próprio poço

Animador(a) 1Deus é a fonte de toda bondade e, como Pai generoso, faz dedentro de nós brotar muitas coisas boas. Vamos compartilhar osdons que recebemos do Senhor.

1) O que mais chamou a nossa atenção neste encontro?

2) Eliseu escutou a reclamação do povo a respeito das águas eagiu para transformar essa realidade: como essa ação proféti-ca pode iluminar a nossa realidade?

3) De que modo vamos aproveitar os conhecimentos que adqui-rimos neste encontro para ajudar a transformar a realidade?

(Tempo para partilha.)

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Firmando compromissos

Animador(a) 2As boas idéias são como sementes que precisam ser lançadas naterra, regadas e cultivadas para, a seu tempo, crescerem, florireme frutificarem. Que compromisso vamos assumir, hoje?

Organizar campanhas e mutirões para construção de cister-nas em cada casa da comunidade que ainda não tem esserecurso; adaptar as cisternas existentes, segundo as normasque aprendemos, para que as nossas famílias tenham águaabundante e saudável; levar essas informações para as pes-soas que não estiveram presentes neste encontro.

Algumas possibilidades

(Discutir essas ou outras idéias e tomar uma decisão.)

(Avisos, cumprimentos, confraternização.)

6º encontro

Aprendendo a cuidar de poços, cacimbas,barreiros e açudes!

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Acolhida

Animador(a) 1Chegamos ao sexto e último encontro dessa jornada. Sejam todosbem-vindos. Essa caminhada, entretanto, está apenas começan-do. Lembremos que muitas pessoas ainda não tiveram acesso aosconhecimentos que recebemos. Nossa tarefa, agora, é levaradiante o que aprendemos, porque sozinhos não conseguiremostransformar a realidade da nossa região, do país e do mundo.

Animador(a) 2Fazer com que o mundo e a vida sejam melhores é a nossa tarefa.Cada gesto, cada atitude nossa tem como finalidade realizar essatransformação. Nesse espírito, vamos refletir sobre amelhor maneirade conservar as águas de cacimbas, poços, barreiros e açudes.Antes de mais nada, vamos olhar nossa realidade: Quantas cacim-bas, poços, barreiros e açudes existem em nossa comunidade?Onde eles estão localizados? Como fazemos para transportar essaágua para as casas? O que é feito para que a água dessas fontesseja sadia? Quem cuida da limpeza e da conservação delas?

Aprendendo a cuidar de poços,cacimbas, barreiros e açudes!

Fazer um mapa, um desenho simples no qual seja possívellocalizar as casas e as fontes de água da comunidade. Colo-car a Bíblia em lugar de destaque. Água barrenta, sementesde moringa, água tratada, pilão e todo o material necessá-rio para fazer a demonstração de limpeza de água turvaatravés do uso do leite de moringa.

Materiais necessários

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(Tempo para as pessoas partilharem, se possível, localizando numdesenho onde estão as fontes em relação às casas da comunidade.)

Águas da ciência do povo

Animador(a) 1Todo mundo sabe que o melhor é usar uma água cristalina e bemtratada. O problema é que água desse jeito só chega nas casasde alguns. Muitas famílias brasileiras são obrigadas a beber águabarrenta, coletada em açudes e poços, carregadas em latas egalões, às vezes coadas apenas num pano de saco. Nesse coa-dor ficam as folhas ou sujeiras graúdas, mas o que faz mal à saú-de são as sujeiras miúdas, que a gente não enxerga a olho nu.Não enxerga mas sente as conseqüências, através das doenças.

Animador(a) 2Para melhorar a situação, algumas comunidades têm o hábito defazer adjunte ou mutirão, na época da seca, para tirar toda alama do fundo dos barreiros, limpar as valetas que conduzem aságuas das chuvas e cercar os açudes para evitar que os animaisse banhem e urinem na água que, depois, será consumida pelaspessoas. Em alguns lugares as pessoas aprenderam a usar cinza,cal, gesso, sulfato de alumínio, cimento e outros produtos, paraclarear a água. Outras comunidades já utilizam semente demoringa para deixar a água cristalina e livre dos agentes trans-missores de muitas doenças. E nós: o que estamos fazendo paratratar da água de cacimbas, poços, açudes e barreiros?

(Tempo para as pessoas falarem.)

Canto�Quando chega o verão é um desassossego...�(Ou outra música que fale da sabedoria do povo, enfrentando asdificuldades da vida).

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Águas de outras ciências

Animador(a) 2Já conversamos sobre a importância de beber água tratada, comocondição de preservação da vida e da saúde. Também já partilha-mos nossos conhecimentos sobre a necessidade de evitar o des-perdício de água, seja pela evaporação de águas muito rasas, sejapelo desperdício na irrigação e no uso doméstico. Algumas dessasreflexões nos ajudam a tomar atitude imediata. Outras dependemde mudanças políticas a médio e longo prazo. Não vamos aban-donar as lutas políticas, mas precisamos fazer algo imediato, paraevitar que nossa gente continue morrendo à míngua.

Animador(a) 1Uma coisa relativamente simples e de grande resultado que estásendo feita por algumas comunidades é o uso da moringa no tra-tamento das águas de barreiros, açudes e poços. Essa árvore éoriginária da Índia, de uma região de clima quente, como o Nor-deste. Aqui no Brasil ela é conhecida como �lírio branco� ou�quiabo-de-três-quinas�. Trata-se de uma árvore pequena, de flo-res muito cheirosas, com alto valor nutritivo e que produz umasemente com poder de purificação de águas barrentas.

Animador(a) 2Dependendo de quanto a água seja turva, usa-se 1 a 3 sementesde moringa para limpar 1 litro de água. E conseguir as sementesnão é nada difícil: a árvore pode ser obtida pela semente, plantiode estaca ou mudas. Com um ano já se está produzindo e, se forpodada depois de cada safra, uma árvore chega a gerar 1.500 a24.000 sementes por ano. A semente de moringa junta as partí-culas sólidas que fazem a água ficar escura e leva essas partículaspara o fundo do recipiente, deixando a água limpa. Usando aquantidade certa, pode-se reduzir de 98% a 100% dos coliformesfecais da água turva.

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Águas da Sagrada Escritura

Animador(a) 2Tudo o que fazemos, mesmo limitado e provisório, vai caminhan-do na direção da nova sociedade. A certeza de que o dia da liber-tação definitiva vai chegar para todos é o que nos faz resistir nacaminhada. Esse mesmo sonho foi o que alimentou a caminhadado povo de Deus que lutou nos desertos da Palestina, muito antesde Jesus nascer. Acolhamos com alegria, o grande sonho de Deuse do povo, na profecia de Isaías.

Canto de aclamaçãoDesça como a chuva/ a tua Palavrae se espalhe como orvalho/ como chuvisco na relva/como aguaceiro na grama./ Amém!(Ou outra aclamação conhecida).

Animador(a) 1Para fazer o tratamento, retira-se a casca da semente, corta-ascom uma faca, pisa-as num pilão, até que elas virem pó. Depois,coloca-se o pó das sementes num vidro com tampa, acrescentauma colher de sopa de água limpa para cada semente pisada.Mexe-se fortemente a solução durante 5 minutos, até se obter umlíquido branco como leite. Esse leite de moringa deve ser coadopara, depois, ser usado na limpeza de outras águas. Coloca-seuma média de 1 litro de leite de moringa para cada lata de águaturva. Mexe-se essa água, com força, durante 1 minuto e mais 5minutos mexendo suavemente. Depois é só esperar o barroassentar no fundo da lata e tirar a água cuidando para não levan-tar a sujeira outra vez. A moringa ainda serve de alimento e é ricaem vitamina �A�.

(Fazer uma experiência de produção de leite e limpeza de um litrode água barrenta, usando leite de moringa.)

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Leitor(a)Leitura do livro do profeta Isaías (35,1-10). (Ler na Bíblia).Palavra do Senhor!

Todos(as)Graças a Deus!

(O(a) leitor(a) coloca a Bíblia sobre o peito e faz um instantede silêncio. Em seguida, ergue a Bíblia e repete uma palavraou frase do texto. Passa a Bíblia para a pessoa que está ao seulado e convida quem quiser a também repetir uma palavra forte.)

Canto�O sertão vai virar mar, lá no coração...�(Ou outra música que fale das esperanças do povo).

Cavando nosso próprio poço

Animador(a) 2Cada pessoa tem o dom de sonhar e de orientar a vida em vistada realização dos seus sonhos. Se sonhamos juntos, mais chan-ces temos de tornar os sonhos realidade.

1) Quais são as grandes lições que tiramos deste encontro dehoje e da caminhada que estamos terminando, através destesseis encontros?

2) Nestes encontros aprendemos como medir as chuvas, a formacorreta de construir cisternas, o uso da moringa na purificaçãodas águas e outras coisas. Que fazer para que estes conheci-mentos melhorem a vida de nossa comunidade?

3) Como podemos envolver outras pessoas na luta pela água far-ta e tratada para todos?

(Tempo para partilha.)

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Firmando compromissos

Animador(a) 1Mais uma vez, vamos selar esse nosso encontro tomando algu-mas decisões que garantam que as boas intenções vão se tornarrealidade. O que vamos fazer?

Procurar material para dar continuidade à reflexão sobre aqualidade das águas, de acordo com as maiores dificuldadesde nossa comunidade; ajudar outros grupos e comunidadesa viverem os encontros desse livreto, como forma de mobili-zar mais gente para essa luta; buscar a maneira de produzirleite de moringa para tratar das águas de nossa região.

Algumas possibilidades

(Discutir essas ou outras idéias e tomar uma decisão.)

(Avisos, cumprimentos, confraternização.)

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Endereços da Cáritas Brasileira

Se você se interessou pelo conteúdo desta cartilha e tem necessidadede obter maiores informações a respeito do Projeto de Convivênciacom o Semi-árido, entre em contato com o Secretariado Nacionalda Cáritas ou com o escritório regional mais próximo da sua região.

Cáritas Brasileira - Secretariado NacionalSDS, Bloco P, 36 - Edifício Venancio III - Salas 410/414CEP 70393-900Caixa Postal 08744CEP 70312-971BBrraassíílliiaa,, DDFFFFoonnee:: (61) 325-7473FFaaxx:: (61) [email protected]@caritasbrasileira.orgwww.caritasbrasileira.orgwww.cliquesemiarido.org.br

Regionais da Cáritas Brasileira que trabalhamcom o Programa de Convivência com o Semi-Árido

CB - Regional CearáRua Rufino de Alencar, 80 - CentroFFoorrttaalleezzaa,, CCEECEP 60060-620FFoonnee:: (85) 253-6998FFaaxx:: (85) [email protected]

CB - Regional NE IIRua Arnaldo Bastos, 25-A - MadalenaRReecciiffee,, PPEECEP 50610-130FFoonneess:: (81) 3227-5116 / 3227-2346FFaaxx:: (81) [email protected]

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CB - Regional NE IIILargo de Santana, 4Ed. Dois Irmãos, 2º andar, sala 201RRiioo VVeerrmmeellhhoo,, BBAACEP 40060-001FFoonneess:: (71) 334-2664 / [email protected]

CB - Regional MaranhãoRua Alecrim, 343 - CentroSSããoo LLuuííss,, MMAACEP 65010-040FFoonnee:: (98) 221-2216FFaaxx:: (98) [email protected]

CB - Regional Minas GeraisRua Fornaciari, 129CaiçaraBBeelloo HHoorriizzoonnttee,, MMGGCEP 30770-010FFoonneess:: (31) 3412-8743 / 3464-8023 / [email protected]

CB - Regional PiauíRua Desembargador Pires de Castro, 631Centro NorteTTeerreessiinnaa,, PPIICEP 64000-390FFoonnee:: (86) 226-4915FFaaxx:: (86) [email protected]

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Cantos

1) Riacho do NavioRiacho do Navio corre pro PajeúO Rio Pajeú vai despejar no São FranciscoE o Rio São Francisco vai bater no meio do mar. (bis)

Ah! Se eu fosse um peixe ao contrário do rio,Nadava contra as águas, e nesse desafio,Saía lá do mar pro Riacho do Navio.

Eu ia direitinho pro Riacho do NavioPra ver o meu benzinho fazer umas caçadas,Ver os �pegas� de boi, andar na vaqueijada.Dormir ao som do chocalho e acordar com a passarada.Sem rádio e sem notícia das terras civilizadas.

2) Asa brancaQuando olhei a terra ardendoQual fogueira de São JoãoEu perguntei a Deus do céuPor que tamanha judiação.

Que braseiro, que fornalhaNenhum pé de plantação,Por falta d�água perdi meu gadoMorreu de sede meu alazão.

Até mesmo a asa brancaBateu asa do sertão,Então eu disse adeus RosinhaGuarda contigo meu coração.

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Hoje longe, muitas léguasNuma triste solidãoEspero a chuva cair de novoPra mim voltar pro meu sertão.

Quando o verde dos teus olhosSe espalhar na plantaçãoEu te asseguro, não chores não, viuEu voltarei, viu, meu coração.

3) Já faz três noitesJá faz três noites que pro norte relampeiaA asa-branca, ouvindo o ronco do trovão,Já bateu asa e voltou para o sertão.Ai, ai, eu vou-me embora, vou cuidar da plantação.

A seca fez eu desertar da minha terra,Mas felizmente Deus agora se lembrouDe mandar chuva pra esse sertão sofredor,Sertão das �muié� séria e dos �home� trabalhador.

Rios correndo, cachoeiras tão zoando,Terra molhada, mato verde, que riqueza!A asa-branca à tarde canta, que beleza!Ai, ai, eu vou alegre, mais alegre a natureza.

Sentindo a chuva, eu me recordo de Rosinha,A linda flor do meu sertão pernambucano.E se a safra não atrapalhar meus planos,Vou falar com seu vigário, vou casar no fim do ano.