Tese corrigida completo p pdf - uenf.br · espécies de Leishmania mexicana (Ueda-Nakamura et al .,...
Transcript of Tese corrigida completo p pdf - uenf.br · espécies de Leishmania mexicana (Ueda-Nakamura et al .,...
Costa, C.F.
1
1. INTRODUÇÃO
Os parasitas do gênero Leishmania são protozoários flagelados, pertencentes ao
filo Sarcomastigophora, ordem Kinetoplastida e família Trypanosomatidae.
Diversas manifestações clínicas são observadas em infecções causadas por
diferentes espécies de Leishmania, variando desde lesões cutâneas localizadas e/ou
difusas, lesões muco-cutâneas, até lesões viscerais, que são potencialmente fatais.
Estima-se que cerca de 12 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas
por diferentes espécies de Leishmania, sendo aproximadamente 2 milhões de casos
relatados anualmente.
O gênero Leishmania possui dois hospedeiros em seu ciclo de vida: um
hospedeiro invertebrado, que é o hospedeiro intermediário, e um hospedeiro
vertebrado, o hospedeiro definitivo. A transmissão dos protozoários para o
hospedeiro vertebrado ocorre pela picada de fêmeas de insetos dos gêneros
Phlebotomus (encontrados em países do chamado “Velho Mundo”) ou Lutzomyia
(encontrados em países do “Novo Mundo”). A figura 1 apresenta, de forma resumida,
o ciclo de vida de Leishmania.
Costa, C.F.
2
Figura 1 – Ciclo de vida de Leishmania sp. Modificado de Burchmore & Barret, 2001.
No ciclo biológico de Leishmania, destacam-se duas formas infectivas: as formas
promastigotas e as amastigotas. As formas promastigotas são encontradas inicialmente
aderidas ao intestino médio do inseto vetor, migrando para o aparelho bucal no
momento da diferenciação da forma procíclica para a metacíclica – metaciclogênese
(Muskus & Marín-Villa, 2002). As amastigotas são formas intracelulares fagocitadas por
macrófagos ou outras células do Sistema Mononuclear Fagocitário quando entram em
contato com o hospedeiro vertebrado ou no momento em que são liberadas de
macrófagos do hospedeiro durante a infecção.
Ambas as formas são capazes de infectar macrófagos, desde que sejam fagocitadas
quando interagem com o hospedeiro vertebrado. Promastigotas de Leishmania entram
em contato com o hospedeiro vertebrado no momento do repasto sangüíneo do inseto
vetor. As formas amastigotas podem ser fagocitadas novamente no organismo do
hospedeiro vertebrado já infectado, quando rompem a célula hospedeira e são liberadas.
Costa, C.F.
3
Assim, entram em contato com outros macrófagos e são fagocitadas, reiniciando a
infecção (revisado em Vannier-Santos, 2002).
Em cultura, as formas promastigotas são cultivadas extracelularmente, e demoram
um tempo estimado em 7 dias para completar seu ciclo de vida. Após o terceiro dia, as
formas promastigotas encontram-se em fase exponencial de crescimento, e a partir do
quinto dia, entram em fase estacionária. Nesse tempo, estão aptas a infectar
macrófagos, pois estão individualizadas e assim promovem uma infecção bem
estabelecida in vitro (Bates, 1994).
As formas amastigotas podem ser retiradas de lesões presentes em animais
experimentais ou serem cultivadas como culturas axênicas, desde que estejam em
condições apropriadas (pH 5,5 e temperatura de 37°C) (Al-Bashir & Rassam, 1992). Em
ambos os casos, são capazes de infectar e estabelecer uma infecção bem sucedida em
culturas de macrófagos in vitro embora precisem de um tempo maior para estabelecer a
infecção (Callahan et al., 1997). A habilidade em cultivar amastigotas axênicos in vitro
tem sido importante para o teste da atividade de novas drogas no tratamento da forma
clinicamente relevante de Leishmania (Callahan et al., 1997).
1.1. Biologia Celular de Leishmania sp.
As formas promastigotas são alongadas, medindo de 5 a 20 x 1 a 4µm de
comprimento; as amastigotas são arredondadas e medem entre 2 e 4µm de diâmetro. O
formato celular é determinado por um arranjo de microtúbulos subpeliculares, dispostos
abaixo da membrana plasmática, de forma longitudinal ao corpo do parasita. O flagelo
está inserido na bolsa flagelar, e obedece à configuração 9+2, ou seja, consiste de nove
pares de microtúbulos na periferia, circundando um par de microtúbulos centrais
(revisado em Vannier-Santos, 2002) (figuras 2 e 3).
Costa, C.F.
4
Figura 2 – Microscopia Eletrônica de Transmissão das formas promastigota (esquerda) e amastigota (direita) de Leishmania sp. As principais organelas podem ser observadas, tais como (N) – núcleo, (K) – cinetoplasto, (P) – bolsa flagelar, (F) – flagelo e (M) – megassomos (em amastigotas). Retirado de Vannier-Santos, 2002.
Figura 3 - Esquema mostrando as formas promastigotas e amastigotas de Leishmania spp. e ilustrando as
organelas e estruturas presentes no parasito. Besteiro et al., 2007.
Costa, C.F.
5
A região da bolsa flagelar é o local onde ocorre todo o transporte de vesículas em
ambas as formas do parasita (Webster & Russell, 1993). As vesículas secretoras não
apresentam um conteúdo denso, sendo por isso difícil distingui-las das vesículas
endocíticas, que se formam na região flagelar e estão envolvidas na aquisição de
importantes macromoléculas ou complexos macromoleculares, tais como LDL (revisado
em De Souza, 2006).
Além das organelas presentes em todas as células eucarióticas convencionais,
os protozoários do gênero Leishmania possuem ainda algumas organelas
características, como megassomos, acidocalcissomos, glicossomos e cinetoplasto.
Os megassomos são organelas grandes quando vistas através de Microscopia
Eletrônica de Transmissão, semelhantes a um lisossomo, cujo principal conteúdo
consiste de proteinases de cisteína. Estas organelas foram primeiramente descritas em
espécies de Leishmania mexicana (Ueda-Nakamura et al., 2007), e sua principal função
está relacionada com a acumulação e possível degradação de macromoléculas
endocitadas (revisado em Vannier-Santos, 2002). Os megassomos parecem estar
envolvidos também no processo de interação parasita-célula hospedeira, de
diferenciação e sobrevivência intracelular do parasita, devido às proteinases presentes
nestas organelas e ainda na acumulação e degradação de macromoléculas em
Leishmania (Ueda-Nakamura et al., 2002). A inibição de proteinases de cisteína é capaz
de prejudicar o desenvolvimento de amastigotas no interior de macrófagos, fazendo
desta organela um possível alvo para o desenvolvimento de quimioterápicos (Frame et
al., 2000).
Os acidocalcissomos são organelas com a capacidade de acumular grande
quantidade de íons cálcio, mas também outros íons, como magnésio e zinco, além de
conterem enzimas pirofosfatase e polifosfatase (Do Campo & Moreno, 2001). Estas
organelas são facilmente visualizadas através de Microscopia Eletrônica de
Transmissão, sendo semelhantes a vacúolos parcialmente vazios.
Os acidocalcissomos foram durante algum tempo confundidos com lisossomos, e
sabe-se que possuem esse aspecto por causa da aparente elétron-densidade. Eles
estão envolvidos na resposta a várias formas de estresse, como mudanças no pH e
Costa, C.F.
6
pressão osmótica, as quais os parasitas sofrem durante sua interação com a célula
hospedeira (Rao & Kornberg, 1996; Kornberg et al., 1999; Ruiz et al., 2001). Os níveis
desta organela são baixos na forma promastigota procíclica. Entretanto, no momento da
diferenciação das formas promastigotas procíclicas em metacíclicas – metaciclogênese
– os níveis desta organela aumentam, tornando-se semelhantes àqueles verificados na
forma amastigota, o que evidencia a importância desta organela na infectividade do
parasita (Zhang et al., 2005).
Os glicossomos consistem de peroxissomos modificados, com a capacidade de
compartimentalizar algumas vias metabólicas, como a via glicolítica, promovendo assim
a geração de ATP. Além da via glicolítica, outras vias metabólicas, como a β-oxidação
de ácidos graxos, a biossíntese de pirimidina e o metabolismo de purinas podem
acontecer nesta organela. A quantidade e o conteúdo enzimático desta organela variam
de acordo com a forma infectiva e a espécie de tripanossomatídeo em questão. A
compartimentalização das vias metabólicas nesta organela parece ser muito importante
nos tripanossomatídeos por permitir a regulação do processo, capacitando à célula a
enfrentar períodos curtos de anaerobiose (Michels et al., 2006).
Leishmania, da mesma forma que outros tripanossomatídeos, possuem uma
mitocôndria única e ramificada, que se estende por todo o corpo celular e tem um
grande conteúdo de material genético localizado em uma região específica da organela,
o cinetoplasto. O cinetoplasto fica em uma região vizinha ao corpo basal do flagelo, e é
responsável pela síntese e armazenamento de uma molécula de DNA menor
(minicírculo) e outra maior (maxicírculo), ambos presentes na mitocôndria (Simpson,
1986). Este DNA é codificado pela enzima topoisomerase II durante o processo de
replicação do DNA. Esta mesma enzima é ainda importante para os demais
tripanossomatídeos nos processos de transcrição, recombinação, condensação da
cromatina e segregação cromossômica (Wang, 2002).
O DNA minicírculo é responsável por codificar pequenas seqüências-molde, que
coordenam a síntese de RNA do cinetoplasto. Existem ainda muitos DNA minicírculos
que são intermediários no processo de replicação (revisado em Vannier-Santos, 2002).
O DNA maxicírculo se assemelha ao DNA mitocondrial eucariótico por codificar
RNA ribossomal e algumas proteínas, principalmente aquelas envolvidas na transdução
Costa, C.F.
7
de energia, tais como subunidades de citocromo c e NADH desidrogenase (Shapiro &
Englund, 1995).
1.2. Interação Leishmania x Macrófago
1.2.1. Célula hospedeira
Os macrófagos fazem parte do Sistema Mononuclear Fagocítico, sendo
consideradas “células fagocitárias profissionais”. Outros tipos celulares pertencentes a
este grupo são células dendríticas e neutrófilos.
As funções dos macrófagos são relacionadas à destruição de células senescentes, e
também a destruição de patógenos, como alguns protozoários (revisado em Tauber,
2003).
As infecções só ocorrem quando um determinado patógeno tem a capacidade de
resistir aos mecanismos de destruição apresentados pelos macrófagos (Tauber, 2003).
Sendo assim, conseguem sobreviver no citoplasma da célula, livres ou inseridos em um
vacúolo (revisado em Furth, 1972).
1.2.2. Invasão e formação do vacúolo parasitóforo
Patógenos em geral possuem diversas estratégias de invasão ao meio intracelular.
Eles devem alcançar o citoplasma de uma determinada célula-alvo – no caso, os
macrófagos – de modo a garantir sua sobrevivência e proliferação neste ambiente. Para
tanto, diferentes patógenos utilizam diferentes estratégias para o sucesso na invasão
(revisado em Gruenberg & van der Goot, 2006).
A fagocitose é utilizada por muitos patógenos como mecanismo de entrada em
hospedeiros vertebrados. Entretanto, a entrada na célula hospedeira por meio de
fagocitose oferece o risco da degradação pelos mecanismos de defesa desempenhados
por macrófagos ou outras células fagocíticas envolvidas. Assim, para que a entrada e
estabelecimento desses patógenos sejam bem sucedidos, eles precisam desenvolver
mecanismos eficientes de sobrevivência às condições hostis do meio intracelular, a fim
Costa, C.F.
8
de garantir a sobrevivência. Nesse sentido, protozoários do gênero Leishmania são bem
adaptados à entrada na célula hospedeira através da fagocitose por macrófagos, pois
conseguem entrar e se estabelecer no ambiente intracelular, evitando a destruição,
dessa forma multiplicando no interior do fagossomo.
A interação entre o parasita e a célula hospedeira, seja o macrófago ou a célula
epitelial do intestino médio do inseto, é muito importante para o sucesso do
estabelecimento do mesmo no interior do hospedeiro. Nesse sentido, entender os
processos de invasão e evasão do parasita à célula hospedeira, bem como as
alterações pelas quais o protozoário passa durante o tempo de interação com os seus
hospedeiros e as moléculas da superfície do parasita envolvidas neste processo, é de
grande relevância (Mello, 1997) (figura 4).
Figura 4 – Entrada e estabelecimento de Leishmania sp no interior do macrófago hospedeiro,
formação do vacúolo e conversão das formas promastigotas em amastigotas. Modificado de Nyalwhide et
al., 2003.
Costa, C.F.
9
No momento da interação entre as formas promastigotas de Leishmania e os
macrófagos, ocorrem modificações nos domínios de membrana da célula hospedeira
(revisado em Gruenberg & van der Goot, 2006). Dentre as moléculas presentes na
membrana de Leishmania, duas proteínas são muito importantes para o sucesso da
invasão do parasita e seu estabelecimento no interior do vacúolo: uma glicoproteína
(gp63) e a molécula de lipofosfoglicana (LPG) (revisado em Denkers & Butcher, 2005).
Estas moléculas interagem com receptores do complemento – CR1 e CR3 – presentes
na membrana dos macrófagos.
A molécula de gp63 é uma das mais abundantes encontradas na superfície das
formas promastigotas, sendo distribuída por todo o corpo celular destas (Bogdan &
Röllinghoff, 1999). Esta glicoproteína é uma metaloprotease dependente de zinco, com
uma ampla variedade de substratos, e forma domínios de membrana nas formas
promastigotas, em regiões de contato com a célula hospedeira. Assim, gp63 está
envolvida na infectividade do parasita e na forma como este vai se ligar à membrana da
célula hospedeira (Mosser & Rosenthal, 1993).
No momento da diferenciação das formas promastigotas em amastigotas, a
quantidade de gp63 na superfície da célula diminui, evidenciando sua função no
processo de entrada do parasita na célula hospedeira e também na sobrevivência da
forma amastigota e modulação da resposta imune do hospedeiro (revisado em Olivier et
al., 2005).
Igualmente importante para o estabelecimento das formas promastigotas no interior
da célula hospedeira e diferenciação na forma amastigota é a molécula de LPG. A
molécula de LPG é formada por unidades repetidas de um dissacarídeo e um fosfato,
que são ligados à membrana através de uma âncora de glicosilfosfatidilinositol (GPI),
sendo ainda a molécula mais abundante presente na superfície da membrana de
promastigotas, e afeta uma série de mecanismos desempenhados pela célula
hospedeira, como a degradação do conteúdo interno do vacúolo formado, talvez pelo
atraso no processo de fusão lisossomal (revisado em Gruenberg & van der Goot, 2006).
A estrutura da molécula de LPG é variável, dependente da espécie de Leishmania e
também da forma infectiva em que o parasita se encontra (revisado em Olivier et al.,
2005).
Costa, C.F.
10
Durante a transição entre as formas infectivas, o número de unidades repetidas de
LPG na membrana dobra na transição da forma promastigota procíclica para a
metacíclica, provavelmente devido à importância da molécula na virulência e, dessa
forma, permitindo que a forma metacíclica se desprenda do aparelho bucal do inseto e
entre em contato com o organismo vertebrado (revisado em Lodge & Descoteaux, 2005).
A presença de LPG na membrana de promastigotas é um fator determinante para o
atraso na fusão de lisossomos ao vacúolo contendo o parasita, pois a molécula é
transportada para a membrana vacuolar, o que impede a fusão de lisossomos
(Nyalwhide et al., 2003). Isso pode ser evidenciado pela abundância de LPG na
membrana de promastigotas, formando um glicocálix que protege a célula, reduzindo
progressivamente sua expressão na diferenciação em amastigotas (Bogdan &
Röllinghoff, 1999). Em contrapartida, o número de moléculas de LPG volta a cair no
processo de diferenciação da forma metacíclica em amastigotas, permitindo a fusão do
vacúolo parasitóforo com lisossomos (revisado em Lodge & Descoteaux, 2005).
Alguns estudos anteriores sugerem que, em algumas espécies de Leishmania, a
formação do vacúolo parasitóforo seja dependente de um rearranjo do citoesqueleto da
célula hospedeira. Moléculas de F-actina são acumuladas ao redor da membrana do
vacúolo em formação no momento da invasão à célula hospedeira. Assim, o
citoesqueleto formado por F-actina contribui não só para a formação do vacúolo, mas
forma uma barreira que impede a fusão do vacúolo parasitóforo com lisossomos em
espécies de L. donovani (Holm et al., 2001). Porém, esse rearranjo do citoesqueleto não
é uma característica presente em todas as espécies de Leishmania. Como observado
em outros estudos, o vacúolo contendo L. amazonensis não depende da acumulação de
F-actina para sua formação (Courret et al., 2002).
No momento da invasão do parasita à célula hospedeira, o vacúolo formado é
derivado da maturação e fusão com organelas da via endocítica da célula e torna-se
acidificado aproximadamente 30 minutos após sua formação. Este meio adverso é
superado pelo parasita através da ação de uma ATPase translocadora de prótons
presente na membrana, mantendo o pH neutro no interior do parasito (Glaser et al.,
1992).
Costa, C.F.
11
Algumas espécies de Leishmania têm a capacidade de evitar a fusão do vacúolo com
lisossomos da célula hospedeira até que se diferenciem na forma amastigota, como L.
donovani. Porém, outras espécies, como L. amazonensis, são capazes de resistir ao
ambiente ácido do vacúolo parasitóforo mesmo antes da diferenciação em amastigotas,
permitindo a fusão de lisossomos mesmo antes da completa diferenciação das formas
promastigotas em amastigotas. Ao mesmo tempo, o vacúolo que abriga L. amazonensis
tem como característica ser um vacúolo grande, comum a outras amastigotas (Courret et
al., 2002). As formas amastigotas de todas as espécies do gênero Leishmania são
metabolicamente ativas em pH ácido, por isso, mesmo após a fusão com lisossomos,
elas conseguem sobreviver e se dividir no ambiente acidificado do fagolisossomo
formado (revisado em Leirião et al., 2004).
1.2.3. Estabelecimento do parasita no ambiente intracelular
O vacúolo parasitóforo, como já referido, possui um pH ácido, em torno de 4,7 a 5,2.
Entretanto, as formas amastigotas conseguem sobreviver e ainda manter o pH no meio
intracelular em torno de 7,0. Isso é devido à presença de um gradiente de prótons na
membrana do parasita, cuja manutenção é essencial para a sobrevivência deste
(Burchmore & Barret, 2001).
Após a completa diferenciação das formas promastigotas em amastigotas e seu
estabelecimento em um pH ácido, os parasitas são capazes de se dividir no interior do
vacúolo e ainda proliferar, estabelecendo a infecção no hospedeiro vertebrado (figura
5).
Costa, C.F.
12
Figura 5 – Estabelecimento das formas amastigotas no interior do vacúolo, com subseqüente divisão
celular e liberação do parasita, estabelecendo a infecção no hospedeiro vertebrado. Modificado de
Vannier-Santos, 2002.
A entrada bem sucedida do parasita no meio intracelular é de suma importância para
que todos os eventos acima observados ocorram. Para tal, o parasita deve desenvolver
estratégias de escape dos mecanismos microbicidas apresentados por macrófagos.
Deve ainda se adaptar a um vacúolo que atenda às suas necessidades nutricionais, ao
mesmo tempo fornecendo proteção à degradação.
Já no início do processo de entrada e estabelecimento do parasita no ambiente
intracelular, a molécula de gp63 tem importância na proteção das formas amastigotas à
degradação. Esta molécula é capaz de converter o componente C3b do sistema
complemento em uma forma inativa, C3bi. Assim, as formas promastigotas conseguem
escapar da opsonização pelo complemento, evitando a degradação mediada por esta
via (revisado em Olivier et al., 2005).
No interior do macrófago, as formas amastigotas de Leishmania conseguem inibir as
funções dos macrófagos, como os processos de produção de radicais livres,
Costa, C.F.
13
apresentação de antígenos e produção de citocinas, decorrentes da ativação da
expressão de moléculas imunossupressoras pelos parasitas, como metabólitos de ácido
araquidônico, e citocinas como IL-10 e TGF-β (revisado em Olivier et al., 2005). O
processo de ativação da expressão de moléculas imunossupressoras é provavelmente
devido à interação entre o macrófago e fosfatidilserina exposta na membrana das formas
amastigotas (Freitas Balanco et al., 2001), processo conhecido por “mimetismo
apoptótico” e relatado em trabalhos anteriores (Freitas Balanco et al., 2001; Wanderley
et al., 2005). A inibição dos mecanismos de defesa de macrófagos infectados por
Leishmania está representada na figura 6.
Figura 6 – Inibição dos mecanismos de defesa de macrófagos durante a interação com Leishmania.
Modificado de Olivier et al. , 2005.
Costa, C.F.
14
Duas moléculas microbicidas produzidas por macrófagos são muito importantes para
a degradação de patógenos no meio intracelular: óxido nítrico (ON) e espécies reativas
de oxigênio (ROI) (Liew et al., 1990; Murray, 1982). ON é produzido através da atividade
da enzima óxido nítrico sintase (iNOS), e a atividade desta enzima parece ser inibida
pela presença de LPG na superfície de Leishmania em resposta à produção de INF-γ
pelos macrófagos infectados (Proudfoot et al., 1995; Proudfoot et al., 1996). A inibição
na produção de ON ainda deve ser um resultado da produção de algumas citocinas,
como interleucina-10 (IL-10) e TGF-β, e da inativação de algumas vias de sinalização,
como JAK/STAT, ativação de fosfatases de fosfotirosina e produção de ceramidas.
A produção de ROI também parece ser inibida por LPG e gp63 (Sorensen et al.,
1994; Descoteaux & Turco, 1999), mas parece ter menos importância na eliminação do
parasita do ambiente intracelular (Murray & Nathan, 1999).
A apresentação de antígenos pelo macrófago infectado também fica comprometida,
já que Leishmania consegue diminuir a capacidade de apresentação de antígenos a
outros componentes do sistema imune, o que parece estar relacionado com a
infectividade do parasita (Reiner et al., 1987). Esta inibição da apresentação de
antígenos parece também estar relacionada à inibição da expressão gênica de MHC de
classe II em L. donovani (De Almeida et al., 2003), ou por interferir no reconhecimento
de antígenos pelas moléculas de MHC de classe II, ou ainda através da endocitose
destas moléculas ou os próprios antígenos, inserindo-os no fagolisossomo, como é o
caso de L. amazonensis (De Souza Leão et al, 1995; Kima et al., 1997).
Leishmania ainda é capaz de prevenir a ativação de uma resposta imune efetiva
através da inibição na produção de citocinas, principalmente àquelas envolvidas na
resposta inflamatória (IL-1 e TNF-α) ou a ativação de linfócitos T (IL-12). Isso representa
um mecanismo de sobrevivência pelo qual os parasitas são capazes de inibir qualquer
reação inflamatória (revisado em Olivier et al., 2005).
O vacúolo que abriga L. amazonensis é um vacúolo largo, que pode conter várias
amastigotas. A formação de um vacúolo com essas características é possibilitada pela
secreção, pelo parasita, de uma molécula proteofosfoglicana (aPPG) não filamentosa no
meio extracelular, o que provavelmente contribui para o alargamento do vacúolo
parasitóforo. Acredita-se que esta proteína seja semelhante a LPG, compartilhando com
Costa, C.F.
15
esta alguns carboidratos. Assim, a molécula de aPPG contribui para a formação de
vacúolos largos (revisado em Vannier-Santos, 2002).
1.2.4. Aquisição de nutrientes no interior do vacúolo
As células eucarióticas em geral adquirem nutrientes por duas vias: através da
endocitose de macromoléculas, mediada por receptores presentes na membrana da
célula e através de transporte ativo de solutos de baixo peso molecular. No caso de
Leishmania, o sistema endocítico da célula hospedeira é subvertido, de modo que os
nutrientes produzidos e adquiridos pela célula são levados para o vacúolo parasitóforo
pelas duas vias citadas (revisado em Burchmore & Barret, 2001) (figura 7).
Figura 7 – Modelo para a aquisição de nutrientes em amastigotas de Leishmania no interior do
vacúolo parasitóforo. Modificado de Burchmore & Barret, 2001.
O ambiente ácido no interior do vacúolo parasitóforo, assim como a disponibilidade
de oxigênio e dióxido de carbono no interior do vacúolo, parecem ser muito importantes
para a eficiente aquisição de nutrientes pelo parasita. A acidificação do vacúolo
parasitóforo ocorre através do processo de fusão de endossomos e posteriormente de
Costa, C.F.
16
lisossomos com este. O ambiente ácido formado é altamente hidrolítico, devido à
presença de enzimas hidrolases e proteases, sendo muito favorável à degradação de
macromoléculas. Assim, são produzidos nutrientes de baixo peso molecular. A
acidificação do vacúolo pode ser acelerada pela secreção de proteinases de cisteína
pelo parasita, dessa forma acelerando também a aquisição de nutrientes. Assim, as
amastigotas otimizam a utilização de ácidos graxos e aminoácidos como fontes de
carbono (Hart e Coombs, 1982).
Os nutrientes presentes no vacúolo parasitóforo são então disponibilizados às formas
amastigotas de Leishmania aí inseridas. O pH interno do parasita é neutro, como já
referido anteriormente, e isso é possível pela presença de ATPases presentes na
membrana. Porém, a membrana externa do parasita é adaptada a resistir às condições
ácidas impostas a ela no vacúolo parasitóforo. Ao mesmo tempo, esta membrana possui
receptores e canais que permitem a entrada de nutrientes além de transportadores de
membrana do tipo simporte, para a aquisição de macromoléculas (McConville et al.,
2007). Desse modo, várias moléculas de aminoácidos e nucleosídeos hidrolisadas no
vacúolo parasitóforo são transportadas para o interior das amastigotas, que adquirem os
nutrientes necessários ao seu estabelecimento no meio intracelular (Burchmore &
Barret, 2001).
O vacúolo parasitóforo parece ser um ambiente pobre em hexoses, como a glicose
(McConville et al., 2007; Opperdoes & Coombs, 2007). Assim, os parasitas dependem
de vias metabólicas que permitem a produção de glicose a partir de outras fontes de
carbono, como a gliconeogênese. Quando a gliconeogênese não é suficiente para suprir
as necessidades de glicose do parasita, a via das pentoses fosfato é ativada, além da
produção intracelular de mananas, principais reservas energéticas em curto prazo
destes parasitas (Sernee et al., 2006).
A aquisição de nutrientes pelas amastigotas presentes no vacúolo parasitóforo é
também devido à presença de moléculas tanto do vacúolo quanto de endossomos e
lisossomos que se fundem a ele no momento de sua maturação (Burchmore & Barret,
2001).
Costa, C.F.
17
Uma importante fonte nutricional para Leishmania é a transferrina. Esta molécula é
transportada do vacúolo parasitóforo para o interior do parasita, sendo degradada e
assim constituindo uma fonte de ferro (Borges et al., 1998).
Outra molécula importante, não só na aquisição de nutrientes, mas na virulência do
parasita, é a tripanotiona. Esta molécula é produzida em amastigotas virulentos e está
envolvida em numerosas atividades metabólicas desempenhadas pelo parasita, sendo
ainda uma componente chave nas defesas oxidativas de Leishmania. A biossíntese
desta molécula é dependente de fontes exógenas de arginina e ornitina, moléculas
igualmente importantes na síntese protéica das formas amastigotas (Roberts et al.,
2004). A diminuição dos níveis de arginina e ornitina do hospedeiro parece ainda inibir o
desenvolvimento das amastigotas e ainda torná-las vulneráveis ao stress oxidativo
(Schaible & Kaufmann, 2005; Roberts et al., 2004).
A aquisição de purinas pelo parasita a partir do lúmen do vacúolo parasitóforo é
também muito importante para o desenvolvimento e sobrevivência das formas
amastigotas. As purinas são essenciais para o desenvolvimento do parasita na ausência
de síntese de novo por este (McConville et al., 2007).
Como a integridade da membrana plasmática do parasita é muito importante para o
estabelecimento e aquisição de nutrientes pelo parasita, drogas que desestabilizam a
superfície da membrana plasmática, suas funções e integridade, podem ser
considerados bons quimioterápicos para o tratamento de leishmanioses (Burchmore &
Barret, 2001).
1.3. Drogas utilizadas no tratamento das leishmanioses
Para o tratamento das leishmanioses, faz-se o uso de antimoniais pentavalentes,
inicialmente, e de Pentamidina e Anfotericina B, além de drogas alternativas, se os
pacientes não respondem ao tratamento com os primeiros.
Entretanto, tem sido verificado que as drogas utilizadas no tratamento das
leishmanioses são muito tóxicas, apesar de utilizadas com freqüência (Iwn et al., 1994).
A toxicidade decorrente do uso dessas drogas deve-se ao fato de que todas as drogas
utilizadas interferem na atividade da enzima superóxido dismutase (SOD), gerando um
Costa, C.F.
18
stress oxidativo no parasita. Da mesma maneira que estas drogas interferem na
atividade enzimática do parasita, agem também na atividade enzimática da célula
hospedeira, causando os efeitos tóxicos observados no hospedeiro em conseqüência do
uso prolongado das referidas drogas. Ainda, o aparecimento de cepas resistentes às
drogas utilizadas no tratamento das leishmanioses tem se tornado freqüente (Sereno et
al., 2001; Al-Mohammed et al., 2005).
As drogas tradicionalmente utilizadas no tratamento das leishmanioses são os
antimoniais pentavalentes (SbV), como Glucantime e Meglumine. Recentes estudos
sugerem que o mecanismo de ação dos SbV esteja relacionado ao comprometimento do
potencial redox de grupamentos tiol da célula, induzindo o efluxo de grupamentos tióis
celulares, e ainda inibindo a enzima tripanotiona redutase (Wyllie et al., 2004).
Provavelmente, para serem ativos, os antimoniais pentavalentes devem ser convertidos
a uma forma trivalente (Ouellette et al., 2004).
Recentes estudos têm demonstrado que tanto SbIII quanto SbV medeiam a
fragmentação do DNA em Leishmania, sugerindo que antimoniais conduzem os
parasitos a um processo de morte celular com características semelhantes ao processo
de apoptose (Lee et al., 2002; Sudhandiram & Shaha, 2003).
Devido a sua grande utilização, tem sido observada aquisição de resistência por
parte do parasita aos SbV. Um dos mecanismos mais aceitos de aquisição de
resistência seria a perda da capacidade de reduzir SbV a SbIII, como tem sido
observado em experimentos realizados utilizando amastigotas axênicos de Leishmania
donovani (Shaked-Mishan et al., 2001). Outro possível mecanismo pelo qual Leishmania
adquire resistência aos antimoniais pentavalentes seria pela expressão genética, sendo
o gene expresso capaz de conduzir à aquisição de resistência por um mecanismo até o
momento desconhecido (Haimeur & Ouellette, 1998).
Devido à aquisição de resistência e das limitações observadas no tratamento com os
antimoniais pentavalentes, a Pentamidina tem sido utilizada como droga de segunda
linha no tratamento de leishmanioses viscerais, quando este é refratário ao tratamento
com os antimoniais pentavalentes (Sundar, 2001).
Um possível mecanismo de ação dessa droga é a sua acumulação na mitocôndria
(Basselin et al., 2002). Segundo alguns estudos, a Pentamidina tem a capacidade de
Costa, C.F.
19
aumentar significativamente a eficácia de inibidores do complexo II da cadeia
transportadora de elétrons mitocondrial (Mehta & Saha, 2004).
A droga mais utilizada no tratamento das leishmanioses, quando o tratamento com os
antimoniais pentavalentes e a pentamidina não é eficaz, é a Anfotericina B (AmB). A
AMB é um poderoso antifúngico, utilizado no tratamento de infecções fúngicas
sistêmicas. Sua eficácia como agente antifúngico se deve à presença de ergosterol na
membrana plasmática da maioria dos fungos parasitas, alvo preferencial da AmB. Como
os fungos, Leishmania também possui ergosteróis semelhantes ao ergostano em sua
membrana plasmática, sendo este seu principal esterol de membrana (revisado em
Ouellette et al., 2004), e este fato pode explicar a eficácia da AmB contra Leishmania.
Apesar de sua reconhecida eficácia, o uso de AMB está relacionado ao surgimento
de efeitos tóxicos decorrentes do tratamento, além da aquisição de resistência por parte
do parasita após o tratamento prolongado com a droga, como foi observado em estudos
recentes (Al-Mohammed et al., 2005).
Nesse sentido, outros compostos têm sido analisados na tentativa de se
identificar novos quimioterápicos eficientes no tratamento das leishmanioses. Os
compostos mais utilizados são aqueles à base de extratos vegetais (Chen et al., 1993;
Fournet et al., 1993; Fournet et al., 1996; Grandic et al., 2004; Ayres et al., 2007).
Entretanto, poucos estudos verificam a atividade de compostos sintéticos na
sobrevivência extracelular e intracelular de Leishmania.
Nosso grupo tem utilizado compostos sintéticos no tratamento de células infectadas
com protozoários parasitas intracelulares. Alguns desses compostos com reconhecida
atividade na interrupção do ciclo celular na fase de replicação do DNA já têm sido
utilizados no tratamento de culturas de células infectadas com Toxoplasma gondii,
mostrando-se eficientes na eliminação do parasita do meio intracelular.
Costa, C.F.
20
1.4. Drogas antiproliferativas – tiosemicarbazonas
1.4.1. Mecanismo de ação
As tiosemicarbazonas fazem parte de uma classe de compostos com alta afinidade
de ligação a metais (Casas et al., 2000). Estes compostos possuem diversas atividades
farmacológicas, além de eficácia reconhecida como agentes antimalarial e antiviral
(Ferrari et al., 2002). A atividade quimioterápica das tiosemicarbazonas foi inicialmente
verificada contra o vírus vaccinia (Hutchinson et al., 1985).
O alvo celular das tiosemicarbazonas é a síntese da molécula de DNA, pois impede a
incorporação da timidina à molécula. Dessa forma, as tiosemicarbazonas interferem na
atividade da enzima ribonucleotídeo redutase (RR) (Cabantchik et al., 1999; Rubin et al.,
1993), desempenhando uma forte correlação entre a atividade da enzima e a proporção
da replicação da molécula de DNA (Elford et al., 1970; Weber, 1983).
A enzima RR é composta por duas subunidades: M1 e M2, ambas sendo muito
importantes para a atividade catalítica. O centro catalítico da subunidade M2 contém um
radical tirosil livre, que é estabilizado por um radical não-heme contendo ferro (Thelander
et al., 1985). Assim, a enzima é dependente de íons ferro para sua atividade. Entretanto,
as tiosemicarbazonas têm afinidade para o íon, dessa forma impedindo sua ligação às
subunidades catalíticas da enzima e bloqueando a síntese da molécula de DNA.
Nesse sentido, estudos realizados utilizando como modelo o Plasmodium falciparum
revelaram que a enzima RR catalisa a etapa limitante de síntese de DNA. Daí, a
utilização de um composto com alta afinidade de ligação para o ferro, importante para o
crescimento destes parasitas impediria o desenvolvimento dos mesmos; por isso, esses
compostos puderam ser considerados importantes agentes no tratamento da malária a
partir de então (Cabantchik et al., 1999; Richardson, 1999).
1.4.2. Hidroxiuréia
A Hidroxiuréia (HU) é uma tiosemicarbazona que vem sendo utilizada no
tratamento de diferentes tipos de câncer nos últimos anos, como o de mama, de colo no
Costa, C.F.
21
útero e outros, tendo assim grande aplicabilidade clínica (Gwilt & Tracewell, 1998).
Porém, a HU tem uma baixa afinidade pela enzima, uma vida média curta no homem
(Gwilt & Tracewell, 1998), e uma das limitações da utilização da HU como um
quimioterápico é o desenvolvimento de resistência, que ocorre por muitos mecanismos
diferentes, envolvendo mudanças tanto quantitativas quanto qualitativas na RR
(Donehower, 1996) (figura 8).
Figura 8: Fórmula estrutural da Hidroxiuréia. Retirado de Tenório et al., 2005.
Melo e Beiral (2003) realizou estudos utilizando HU para tratamento de células
infectadas com parasitas intracelulares como Toxoplasma gondii, Leishmania
amazonensis e Trypanosoma cruzi. Estes estudos demonstraram que, na presença de
4mM de HU, os referidos parasitas são eliminados do meio intracelular, sem danos
aparentes à célula hospedeira (Melo & Beiral, 2003). Estudos iniciais utilizando células
infectadas com T. gondii demonstraram que na presença de 4mM de HU, observa-se um
decréscimo na infecção após 5 horas de tratamento. Após 48 horas de tratamento,
observa-se um efeito ainda mais drástico, com a maioria dos parasitas intracelulares
destruídos (Melo et al., 2000). O efeito da droga sobre os outros parasitas (L.
amazonensis e T. cruzi) foi semelhante àquele decorrente do tratamento do T. gondii
com a HU. Após 48 horas de tratamento com a HU, o número de células infectadas e
parasitas intracelulares diminuiu drasticamente na cultura (Melo & Beiral, 2003), sendo
que a HU não causou nenhum efeito na morfologia da célula hospedeira (Melo et al.,
2000; Melo & Beiral, 2003).
Costa, C.F.
22
1.4.3. Tiosemicarbazonas e derivados tiazolidinônicos
Além da HU, outras tiosemicarbazonas têm sido utilizadas contra protozoários,
como Plasmodium falciparum, Trichomonas vaginalis, Trypanosoma cruzi e outros
parasitas (Bharti et al., 2002; Bharti, et al., 2003; Walcourt et al., 2004). Elas são, como a
HU, inibidoras reconhecidas da enzima RR, porém são aproximadamente 1000 vezes
mais potentes que a HU (Liu et al., 1992).
Esses compostos foram sintetizados no departamento de Antibióticos e no
Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco, e
gentilmente cedidos ao nosso laboratório, para posterior análise da atividade contra
protozoários parasitas. Eles são obtidos através da condensação equimolar em meio
alcoólico sob refluxo de tiosemicarbazidas, que podem ser adquiridas comercialmente
ou através de síntese química, com derivados carbonilados, como aldeídos e cetonas,
recebendo a denominação da classe após o nome do respectivo aldeído ou cetona
condensado (Bharti et al., 2002). Quantidades catalíticas de ácido são utilizadas na
síntese destes compostos (Akinchan et al., 2002; Easmon et al., 1992). No presente
trabalho, o ácido tioglicólico foi utilizado para a produção das tiosemicarbazonas (figura
9).
Figura 9 – Reação de síntese das tiosemicarbazonas. Retirado de Pessanha, 2006.
Os derivados tiazolidinônicos são compostos derivados carbonilados de
tiazolidinas e tiosemicarbazonas. Estes compostos possuem como as
tiosemicarbazonas, atividades antiprotozoários (Alves et al., 1993), antibacteriana
(Gürsoy et al, 1997; Khawass et al., 1989), fungicidas (Liu et al., 2000), entre outras,
Costa, C.F.
23
sendo por isso também muito importante na indústria farmacêutica. Apesar da pouca
utilização destes compostos contra protozoários parasitas, estudos utilizando outros
patógenos demonstram potencial atividade dos derivados tiazolidinônicos contra estes
parasitas (Khawass et al., 1989; Küçükgüzel et al., 2002).
A síntese dos derivados tiazolidinônicos se dá a partir da reação de ciclização
entre as tiosemicarbazonas e anidrido maléico em solução contendo tolueno seco ou
benzeno sob refluxo (Brown, 1961). A estrutura química destes compostos é formada
por um anel contendo cinco membros, sendo dois heteroátomos: um enxofre e um
nitrogênio, além de um grupo carbonila na posição 4. A estrutura do anel formador do
núcleo tiazolidinona está representada na figura 9. Os derivados tiazolidinônicos
utilizados no presente trabalho contêm um grupo hidrazona na posição 2 (fig. 10).
No presente trabalho, ainda, foi utilizado o grupo nitro (NO2) como substituinte nas
posições orto, meta ou para do anel aromático, substituindo o radical R1, devido aos
maiores valores de redução observados nestes grupos em observações prévias. A fim
de aumentar o espectro de moléculas formadas, o radical R2 foi substituído por grupos
H ou CH3, ou ainda CH2CH3 ou C6CH5 (fig. 11).
Figura 10 – Anel formador do núcleo tiazolidinona. Retirado de Pessanha, 2006.
Figura 11 – Estrutura geral dos derivados tiazolidinônicos. Retirado de Pessanha, 2006.
Costa, C.F.
24
De acordo com a análise desta, observa-se a seguinte denominação:
nomenclatura de número 2 para as tiosemicarbazonas e 3 para os derivados
tiazolidinônicos. Além disso, as tiosemicarbazonas e derivados tiazolidinônicos foram
divididos em 4 grupos de 3 compostos para cada série, devido à presença de diferentes
radicais, basicamente, ou pela presença de diferentes radicais substituintes de R2 ou
pela diferença na posição do grupo nitro em R1. Essas diferenças observadas na
posição dos radicais, bem como na inserção de diferentes radicais em R2 contribui para
a alteração na potencialidade dos compostos (fig. 12).
Figura 12 – Radicais formadores das tiosemicarbazonas (2) e derivados tiazolidinônicos (3). Retirado de
Tenório et al, 2005.
Nosso grupo tem recentemente utilizado esses compostos também contra
Toxoplasma gondii (Melo et al., 2000; Tenório et al., 2005). Esta série de compostos tem
sido testada, e os compostos são sintetizados com modificações no anel heterocíclico.
Isso tem sido feito baseado na observação prévia de que algumas modificações nas
moléculas de tiosemicarbazonas levam a uma perda substancial da atividade
quimioterápica (Hutchinson, 1985). A atividade pode aumentar ou diminuir, dependendo
do complexo formado entre o metal e as tiosemicarbazonas (Ferrari et al., 2002).
Resultados preliminares demonstraram que células infectadas com Toxoplasma
gondii tratadas com tiosemicarbazonas apresentaram algumas alterações, decorrentes
das modificações realizadas nas moléculas. Estas foram capazes de causar alguns
efeitos que refletiram nas diferentes atividades desses compostos sobre o parasito
intracelular e algumas vezes também na célula hospedeira (Melo et al., 2003). Na
presença de derivados de tiosemicarbazonas foi constatada uma drástica redução nas
Costa, C.F.
25
células infectadas com o parasita. Após 24 horas de tratamento, os parasitas
apresentaram-se destruídos no interior do vacúolo.
Ainda foram realizados outros estudos utilizando as tiosemicarbazonas e seus
derivados tiazolidinônicos apresentados na tabela 1. Células infectadas com T. gondii
foram incubadas in vitro com as tiosemicarbazonas (classe 2) e seus derivados
tiazolidinônicos (classe 3) na concentração de 1mM, ou com Hidroxiuréia na
concentração de 4mM. Os resultados deste estudo mostraram que na presença dos
referidos compostos, observou-se uma drástica redução no número de células
infectadas, devido à eliminação do parasita do meio intracelular após o tratamento com
os compostos. Além disso, as células hospedeiras não apresentaram alterações
morfológicas após o tratamento e continuaram seu desenvolvimento normalmente após
a retirada de qualquer dos compostos do meio.
Entretanto, todos os compostos utilizados mostraram menor toxicidade que HU, e
foram também mais eficientes na eliminação do parasita do meio intracelular. Porém, as
tiosemicarbazonas não apresentaram o mesmo padrão de eliminação do parasita, como
foi observado para os derivados tiazolidinônicos, mostrando diferenças na eficiência em
eliminar os parasitas intracelulares dependendo das modificações observadas na
molécula, enquanto os derivados tiazolidinônicos apresentaram o mesmo padrão de
eliminação do parasita, apesar das modificações feitas nas moléculas (Tenório et al.,
2005).
Costa, C.F.
26
2. OBJETIVOS
• Geral
Verificar os efeitos morfológicos e ultraestruturais decorrentes do tratamento com as
tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos utilizados no presente trabalho,
bem como sua eficácia na progressiva eliminação das formas intracelulares de L.
amazonensis do vacúolo parasitóforo.
• Específicos
� Quantificar o número de promastigotas de L. amazonensis em cultura após o
tratamento com tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos;
� Descrever as alterações morfológicas produzidas pelo tratamento com os
compostos testados;
� Analisar se há redução no número médio de amastigotas intracelulares após o
tratamento com algum dos compostos utilizados, bem como se há redução no
número de células infectadas;
� Caracterizar as alterações morfológicas nas células hospedeiras infectadas por L.
amazonensis;
� Caracterizar as alterações morfológicas nas formas amastigotas após o
tratamento com as tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos;
� Descrever a ultraestrutura de promastigotas e amastigotas de L. amazonensis
após o tratamento com os compostos utilizados.
Costa, C.F.
27
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Cultura de L. amazonensis
As formas promastigotas de L. amazonensis da cepa Josefa foram mantidas em
meio de cultura, observadas e quantificadas diariamente com o objetivo de se montar
uma curva de crescimento. As formas promastigotas foram mantidas em Meio Warren’s,
suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB), por cinco dias. Ao final desse tempo,
quando as formas promastigotas atingiam o fim da fase exponencial de crescimento, as
culturas foram submetidas a um novo repique, ou seja, 1ml do meio contendo
promastigotas de L. amazonensis foi transferido para um meio fresco, garantindo dessa
forma a manutenção da cultura in vitro de promastigotas.
3.2. Obtenção de macrófagos peritoneais
Camundongos suíços adultos foram mortos em câmara contendo CO2. Então, foi
realizado um lavado peritoneal com 5ml de Hank’s a temperatura de 4°C, a fim de retirar
os macrófagos presentes no peritônio do camundongo. Os macrófagos foram
submetidos à contagem em câmara de Neubauer, e um número médio de 105
macrófagos foi obtido.
A seguir, foram adicionadas ao fundo dos poços de uma placa de 24 poços estéril
lamínulas estéreis, acrescentando em seguida 0,5ml de solução Hank’s à temperatura
de 4°C e então, com uma pipeta Pasteur, as lamínulas foram submersas no fundo dos
poços. O volume de solução de Hank’s contendo os macrófagos foi previamente
calculado, através da contagem em câmara de Neubauer, e em seguida o volume
necessário da solução foi adicionado a cada poço da placa. A placa foi mantida em
estufa a 37°C, em uma atmosfera contendo 5% de CO2. Após 1h, a solução de Hank’s
foi retirada e substituída por meio DMEM, contendo 10% de SFB.
Costa, C.F.
28
3.3. Interação Macrófago x L. amazonensis
Após 24h de estabelecimento da cultura de macrófagos, foi realizada contagem do
número de macrófagos por poço, que deve ser em torno de 105 células por poço.
Promastigotas de L. amazonensis foram centrifugadas por 10min a 1200 RPM. O
pellet obtido foi ressuspenso em 1ml de PBS, e uma alíquota de 10µl da solução de
promastigotas foi retirada e diluída em líquido de contagem (90µl), para posterior
contagem em câmara de Neubauer.
Após a contagem do número de parasitos presentes em 1ml de meio DMEM, foram
realizados os cálculos necessários para a obtenção do número de parasitos adicionados
em cada poço da placa, para uma interação de 10 parasitos para cada célula. Dessa
forma foi obtido o volume de tampão que continha os protozoários, sendo este
adicionado a cada poço da placa.
Após 1h de incubação dos parasitos na placa, esta foi lavada com PBS a
temperatura de 37°C, para retirada das promastigotas que não foram fagocitadas. Após
a lavagem, foi adicionado 1ml por poço de meio DMEM contendo 10% de SFB. A placa
contendo os macrófagos infectados com L. amazonensis foi mantida em estufa 37°C
com 5% de CO2 por 72h.
3.4. Preparação das Tiosemicarbazonas e derivados tiazolidinônicos para
incubação de L. amazonensis
Os 20 compostos que foram utilizados neste trabalho (tabela 1) foram gentilmente
cedidos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Para o tratamento das culturas de promastigotas, os compostos foram diluídos em
40µl de DMSO e em seguida em 10ml de meio Warren’s com 10% de SFB, obtendo-se
assim uma solução estoque de 10mM. A solução estoque preparada foi então diluída em
diferentes volumes de meio Warren’s, produzindo dessa forma as soluções finais de
0,1mM, 1mM e 5mM, com 5ml cada uma.
As formas promastigotas de L. amazonensis foram centrifugadas por 10 min, a
1200 RPM. O pellet obtido deste procedimento foi ressuspenso em meio fresco (cultura
Costa, C.F.
29
controle) ou em meio contendo uma das tiosemicarbazonas de classe 2 ou 3 utilizadas
no presente trabalho, em diferentes concentrações.
Para o tratamento das culturas de macrófagos infectadas com L. amazonensis, os
compostos foram diluídos em 100µl de DMSO e agitados por 10 min para dissolução do
pó. Foi preparada uma solução estoque (10mM) diluindo-se o DMSO contendo o
composto em 20ml de meio DMEM sem SFB, e desta solução foram preparadas as
demais soluções de uso, com diferentes concentrações, contendo cada uma um volume
final de 10ml.
Após a preparação da solução de uso, o meio de cultura da placa foi trocado,
sendo adicionado meio DMEM com 10% de SFB sem qualquer uma das drogas nos
poços reservados para controle, e meio DMEM com 10% de SFB contendo uma das
drogas nos poços destinados ao tratamento. A cultura foi mantida em estufa a 37°C com
5% de CO2, por 24h.
Os novos derivados tiosemicarbazonas utilizados no presente trabalho estão
representados na tabela a seguir:
Tabela 1: Moléculas dos compostos tiosemicarbazonas (classe 2) e seus derivados
tiazolidinônicos (classe 3).
Composto R1 R2 Fórmula Estrutural
2b (RP-7) -H p-NO2
2d (RP-34) -CH3 m-NO2
2e (RP-12) -CH3 p-NO2
2f (RP-30) -CH2CH3 o-NO2
Costa, C.F.
30
2g (RP-38) -CH2CH3 m-NO2
2h (RP-18) -CH2CH3 p-NO2
2i (RP-26) C6H5 o-NO2
2j (RP-36) -C6H5 m-NO2
3b (RP-8) -H p-NO2
3d (RP-35) -CH3 m-NO2
3e (RP-13) -CH3 p-NO2
3f (RP-31) -CH2CH3 o-NO2
3g (RP-39) -CH2CH3 m-NO2
Costa, C.F.
31
3h (RP-19) -CH2CH3 p-NO2
3i (RP-27) -C6H5 o-NO2
3j (RP-37) -C6H5 m-NO2
3.5. Análise quantitativa das culturas tratadas com as tiosemicarbazonas e
derivados tiazolidinônicos
Durante seis dias de incubação com as tiosemicarbazonas, as promastigotas
foram submetidas à contagem, a cada 24h.
Uma alíquota de 10µl contendo promastigotas de L. amazonensis, tratadas ou
não com uma das tiosemicarbazonas, foi retirada das culturas e diluídas em 90µl de
líquido de contagem (26% de formol + 74% de PBS). Esta solução de contagem foi
colocada em câmara de Neubauer e submetida à contagem em Microscópio Óptico de
Contraste de Fase. Os valores relativos às contagens foram anotados e uma média do
número de promastigotas na cultura foi obtida, ao final de seis dias, referente a cada dia
de experiência. Dessa forma, ao final de seis dias de experiência, os valores médios de
promastigotas na cultura foram analisados em um gráfico, para a observação da curva
de crescimento de promastigotas, tanto as submetidas a tratamento com alguma das
tiosemicarbazonas quanto às culturas controle.
Costa, C.F.
32
3.6. Processamento para microscopia óptica das formas promastigotas
Nos dias 1°, 3° e 7° de tratamento com as tiosemicarbazonas, promastigotas de L.
amazonensis tratados e não tratados com as drogas foram fixados com solução de
formaldeído (4% de formaldeído a 10% + PBS + 5% de Sacarose). A seguir, as células
fixadas foram lavadas em PBS à temperatura ambiente duas vezes, e em seguida uma
alíquota da solução de promastigotas tratadas e não tratadas foi retirada e colocada
sobre lâmina histológica, realizando assim um esfregaço celular. As lâminas contendo as
células foram colocadas em placa aquecedora para a aderência das células à lâmina.
Após esse processo, as células aderidas às lâminas foram coradas com solução de
Giemsa (azul de metileno), por 15min. As lâminas coradas foram lavadas em água
destilada e, após secas ao ar, uma lamínula foi aderida com Bálsamo do Canadá ao
esfregaço celular.
Foram obtidas imagens das promastigotas devidamente fixadas e coradas para
análise morfológica das mesmas, através do Software Analysis (Software Imaging
System).
3.7. Processamento para microscopia óptica de macrófagos infectados com
L. amazonensis
A cultura de macrófagos infectada com amastigotas de L.amazonensis tratada por
24h com as tiosemicarbazonas foi lavada em PBS a temperatura ambiente para a
retirada do meio de cultura e células debris. Então, a cultura foi fixada em solução Bouin
(114ml de ácido pícrico, 38ml de formol, 19ml de ácido acético – este adicionado no
momento da utilização) por 5 min. Após o tempo de fixação, as células foram lavadas
três vezes em PBS a temperatura ambiente para a retirada completa do fixador. Em
seguida, foi adicionada em cada poço da placa solução de Giemsa (solução de azul de
metileno diluída em água destilada) previamente preparada, a uma proporção de 1:10
em água destilada. Então, a placa foi mantida a temperatura ambiente por 2h e em
seguida lavada em água destilada.
Costa, C.F.
33
As lamínulas foram desidratadas em concentrações decrescentes de acetona e
crescentes de xilol, como se segue:
1° - acetona pura;
2° - acetona pura;
3° - acetona 90% + xilol 10%;
4° - acetona 70% + xilol 30%;
5° - acetona 30% + xilol 70%;
6° - xilol puro.
Após a desidratação, as lamínulas foram montadas em lâminas histológicas,
aderidas com bálsamo do Canadá, e devidamente identificadas.
Foi realizada a contagem do número de células infectadas e parasitas intracelulares
tanto nas lamínulas contendo células tratadas quanto naquelas referentes ao controle
(não tratadas). Também foi contado o número de vacúolos contendo parasitas
destruídos nas lamínulas contendo células tratadas com os compostos para análise
quantitativa.
Foram feitas imagens referentes às culturas tratadas e não tratadas, para análise das
alterações morfológicas das células e dos parasitos intracelulares, através do Software
Analysis.
3.8. Processamento para microscopia eletrônica de transmissão
As promastigotas de L. amazonensis incubadas com a tiosemicarbazona 2g e o
derivado tiazolidinônico 3g foram lavadas com PBS, pH 7,2 e as culturas de macrófagos
infectados com L. amazonensis e incubadas com a tiosemicarbazona 2g por 12 e 24
horas foram lavadas com PBS, pH 7,2.
A fixação foi realizada utilizando-se 2% de glutaraldeído e 2% de formaldeído em
tampão cacodilato de sódio a 0,1M, pH 7,2, cloreto de cálcio 5mM e sacarose a 5% por
1h. Após esse procedimento as células foram lavadas em uma solução de tampão
cacodilato de sódio 0,1M, pH 7,2 e sacarose 5%. Então, essa solução foi centrifugada a
2000 RPM, por 10min. O pellet formado foi pós-fixado em uma solução de tetróxido de
ósmio 2% (SIGMA), em tampão cacodilato e ferrocianeto de potássio a 0,8% (SIGMA)
Costa, C.F.
34
por 1h em temperatura ambiente, protegido da luz. As células pós-fixadas foram
centrifugadas a 2000 RPM por 10min e lavadas com uma solução de tampão cacodilato
0,1M e sacarose 5%. Subseqüentemente, foi realizada desidratação em uma série
crescente de acetona na seguinte ordem:
1° - Acetona 30% por 10min;
2° - Acetona 50% por 10min;
3° - Acetona 70% por 10min;
4° - Acetona 90% por 10min;
5° - Acetona 100% por 10min (duas vezes).
Após a desidratação, as células foram incubadas em uma solução de resina
epon-acetona 100% na proporção 1:1 “overnight”, a temperatura ambiente.
Posteriormente, a solução epon-acetona foi substituída por epon puro e incubada por 6h
a temperatura ambiente. O material foi então incluído em Epon e polimerizado em estufa
a 60°C durante 48h. Os blocos foram cortados no Reichert Ultratrin – Leica – para
formar pirâmides truncadas onde se encontra o material. Cortes ultrafinos foram obtidos
no ultramicrótomo Reichert Ultracut – Leica – e coletados em grades de cobre. Acetato
de uranila (5% por 20min) e citrato de chumbo (5min) foram utilizados na contrastação
dos cortes. O material foi observado no microscópio eletrônico de transmissão Zeiss EM
900, operando a 80 kV.
Costa, C.F.
35
4. RESULTADOS
4.1. Efeitos citotóxicos de diferentes concentrações das tiosemicarbazonas e
derivados tiazolidinônicos no desenvolvimento de promastigotas de Leishmania
amazonensis
4.1.1. Análise quantitativa
Culturas de promastigotas de Leishmania amazonensis foram tratadas por 6 dias
com as concentrações de 0,1mM, 1mM e 10mM de 4 compostos, sendo 2 derivados
tiosemicarbazonas (2g e 2j) e 2 derivados tiazolidinônicos (3g e 3j). Durante o
tratamento, promastigotas foram contadas em câmara de Neubauer.
A concentração de 0,1mM não apresentou nenhuma redução significativa no
número de promastigotas em cultura (figura 13). No tratamento com a concentração de
1mM, a redução do número de promastigotas foi mais acentuada (figura 13). A partir do
terceiro dia de tratamento, todos os compostos analisados foram capazes de conter o
crescimento das formas promastigotas nas culturas tratadas. Porém, os compostos
tiosemicarbazonas (2g e 2j) foram mais efetivos, conseguindo reduzir o crescimento das
culturas em tempos menores (figuras 13a e c), quando comparados aos resultados
observados após o tratamento com os derivados tiazolidinônicos 3g e 3j (figuras 13b e
d, respectivamente).
O tratamento com a concentração de 10mM foi o mais efetivo em reduzir o
número de promastigotas na cultura. A partir do terceiro dia de tratamento, nenhuma
forma promastigota viável foi observada (figura 13). Sendo assim, esta concentração foi
capaz de impedir o desenvolvimento em cultura das formas promastigotas, levando-as a
morte já no terceiro dia de tratamento.
Dentre as concentrações testadas, a de 1mM foi escolhida para dar continuidade
aos testes com todos os demais compostos durante um único tempo de incubação (6
dias de tratamento). Esta foi escolhida porque, apesar de menos tóxica para as
promastigotas que a concentração de 10mM, foi também capaz de reduzir a taxa de
crescimento das promastigotas a partir do terceiro dia de tratamento.
Costa, C.F.
36
Figura 13 – Gráficos representativos do número de promastigotas na cultura após otratamento com diferentes concentrações de tiosemicarbazonas e seus derivadostiazolidinônicos (A), número de promastigotas após o tratamento com o composto 2g;(B), número de promastigotas após o tratamento com o composto 3g; (C) número depromastigotas após o tratamento com o composto 2j; (D) número de promastigotasapós o tratamento com o composto 3j.
Promastigotas de L. amazonensis tratados com o composto 3g - citotoxicidade
0
5
10
15
20
25
0 1 2 3 4 5 6 Tempo (dias)
Núm
ero
de p
rom
astig
otas
na
cul
tura
(10
6 /ml)
Controle 0,1mM 1mM 10mM
Promastigotas de L. amazonensis tratados com o composto 2g - citotoxicidade
0
10
20
30
40
0 1 2 3 4 5 6 Tempo (dias)
Núm
ero
de p
rom
astig
otas
na
cul
tura
(10
6 /ml)
Controle 0,1mM 1mM 10mM
Promastigotas de L. amazonensis tratados com o composto 3j - citotoxicidade
0
5
10
15
20
25
30
0 1 2 3 4 5 6 Tempo (dias)
Núm
ero
de p
rom
astig
otas
na
cul
tura
(10
6 /ml)
Controle 0,1mM 1mM 10mM
Promastigotas de L. amazonensis tratados com o composto 2j - citotoxicidade
0
10
20
30
40
0 1 2 3 4 5 6 Tempo (dias)
Núm
ero
de p
rom
astig
otas
na
cul
tura
(10
6/m
l)
Controle 0,1mM 1mM 10mM
A B
C D
Costa, C.F.
37
No decorrer do tratamento, foi observada uma redução do número de parasitas ao
longo do tempo nas culturas tratadas com quaisquer dos compostos, como observado
através da análise dos gráficos 1 e 2, que mostram, respectivamente, promastigotas de
Leishmania amazonensis tratados com os compostos tiosemicarbazonas (gráfico 1) e
derivados tiazolidinônicos (gráfico 2).
De acordo com a análise dos gráficos, verifica-se que, ao longo do tratamento
com os compostos, tanto as tiosemicarbazonas (gráfico 1) quanto os derivados
tiazolidinônicos (gráfico 2) foram capazes de parar a multiplicação do parasita em
cultura em comparação à cultura não tratada (linha pontilhada), e ainda reduzir seu
número após o terceiro dia de tratamento. Entretanto, os compostos se comportaram de
modos diferentes, dependendo do radical apresentado.
Após o tratamento com o composto 2h, foi possível observar que não houve uma
redução significativa no número de promastigotas (gráfico 1). Da mesma forma, as
promastigotas tratadas com os compostos 2g e 2j apresentaram uma redução no
numero de promastigotas na cultura após o tratamento de 85% e 71%, respectivamente.
Para o composto 2g, esta redução é observada já no segundo dia de tratamento. Já o
tratamento com o composto 2j mostrou que a taxa de crescimento começa a declinar a
partir do terceiro dia de tratamento, reduzindo-se o número de promastigotas em cultura
a partir do quarto dia de tratamento (gráfico 1).
Após o tratamento das formas promastigotas com os derivados tiazolidinônicos,
observa-se um comportamento bastante diferenciado dependendo do composto
analisado. Alguns compostos, como o composto 3d, não impediram a multiplicação das
promastigotas até o quinto dia de tratamento (gráfico 2). Entretanto, compostos como o
3b, 3e e o 3g, reduziram a taxa de crescimento em 72%, 77% e 72%, respectivamente
(gráfico 2).
Costa, C.F.
38
Gráficos 1 e 2 – Promastigotas de L. amazonensis tratados com astiosemicarbazonas (classe 2) e derivados tiazolidinônicos durante 6dias, mostrando a interrupção da multiplicação do parasita ao longo dotempo de tratamento com os compostos referidos.
Promastigotas de L. amazonensis tratados com os compostos tiosemicarbazonas (Classe 2)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0 1 2 3 4 5 6 Tempo (dias)
Núm
ero
méd
io d
e pr
omas
tigot
as
na c
ultu
ra (
106 /
ml)
Controle 2b 2d 2e 2f
2g 2h 2i 2j
Promastigotas de L. amazonensis tratados com os derivados tiazolidinônicos (Classe 3)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0 1 2 3 4 5 6 Tempo (dias)
Núm
ero
méd
io d
e pr
omas
tigot
as n
a cu
ltura
(10
6/m
l)
Controle 3b 3d 3e 3f3g 3h 3i 3j
1
2
Costa, C.F.
39
Conforme observado através da análise dos gráficos acima, foi verificado que os
compostos analisados foram capazes de inibir o ciclo celular do parasita. Entretanto,
cada um dos compostos apresentou tempos diferentes de ação após o tratamento, onde
se observa que alguns compostos inibiram o crescimento das formas promastigotas em
um tempo mais reduzido, sendo que outros demoraram um tempo maior para
demonstrarem atividade inibidora do ciclo celular do parasita. Esta diferença
apresentada na atividade dos compostos pode estar relacionada às modificações dos
radicais realizadas na estrutura química das moléculas (tabelas 1 e 2).
Através da análise da tabela 2, observa-se que a maioria dos compostos que se
mostrou mais eficiente em reduzir o número de promastigotas na cultura apresentou o
radical 2 na posição orto. Pode-se, então, inferir que moléculas com esta conformação
possivelmente possuem atividade mais intensa na interrupção da multiplicação das
promastigotas em cultura que as demais moléculas, onde se observa o radical 2 em
outras posições (para ou meta).
A posição do radical 1 provavelmente não foi determinante para o aumento ou
diminuição da atividade dos compostos, embora a presença do radical –CH2CH3 tenha
sido observada em dois dos compostos com maior atividade na redução do número de
promastigotas na cultura (2g e 3g). Por isso, pode-se inferir que em moléculas onde há
presença tanto do radical 2 na posição orto quanto da presença de um radical –CH2CH3
possa ser um fator importante no aumento da atividade destes compostos com relação à
sua eficácia em reduzir a multiplicação do parasita em cultura (tabela 2).
Costa, C.F.
41
4.1.2. Análise morfológica
As formas promastigotas tratadas com as diferentes concentrações dos
compostos foi retirada nos dias 1, 3 e 6 de tratamento para posterior análise através da
técnica de microscopia óptica de campo claro. Análises morfológicas foram feitas através
da obtenção de imagens de culturas de promastigotas tratadas com dois compostos,
sendo um derivado tiosemicarbazona (2g) e seu derivado tiazolidinônico (3g).
As culturas de promastigotas, antes dos tratamentos, apresentavam-se com
morfologia normal, sendo as células alongadas, flagelo longo, materiais citoplasmáticos
organizados (figura 14a).
Após o tratamento com 0,1mM do derivado tiosemicarbazona, não foram
observadas alterações morfológicas em nenhum dos tempos de tratamento (figuras 14-
A2, B2 e C2). Portanto, como observado na figura 1, esta concentração não causou
efeitos na morfologia dos parasitas (figuras 14-A2, B2 e C2, setas brancas).
No primeiro dia de tratamento com 1mM do composto, nenhuma alteração
morfológica foi observada (figura 14-A3, setas brancas). Porém, a partir do terceiro dia
de tratamento, algumas alterações morfológicas começam a ser observadas, como
retração do material citoplasmático (figura 14-B3, setas pretas), provavelmente devido
à incapacidade que algumas células apresentaram de se dividir após o tratamento com
os compostos. Outras células, entretanto, mantiveram sua morfologia normal, pois
aparentemente estavam em uma fase diferente no ciclo celular em comparação àquelas
que sofreram alterações (figura 14-B3, setas brancas). No sexto dia de tratamento, um
número maior de células apresentava morfologia alterada, com o conteúdo
citoplasmático retraído (figura 14-C3, setas pretas).
Já o tratamento com 10mM demonstrou as alterações mais drásticas na
morfologia das promastigotas. No primeiro dia, não foi possível observar nenhuma
alteração morfológica (figura 14-A4, setas brancas), mas já no terceiro dia, foram
observadas alterações morfológicas como retração do conteúdo citoplasmático (figura
14-B4, setas pretas). Essas alterações se mantiveram no sexto dia de tratamento, onde
se observam alterações ainda mais drásticas, que indicam divisão anormal das células,
como a presença de três núcleos em uma mesma célula, sugerindo que os compostos
Costa, C.F.
42
foram capazes de interromper o ciclo celular e assim conduzirem ao processo de
destruição dos parasitas, o que se observa através das alterações morfológicas
produzidas no decorrer do tempo de tratamento (figura 14-C4, setas pretas).
Costa, C.F.
46
O tratamento com diferentes concentrações do derivado tiazolidinônico também
produziu alterações morfológicas semelhantes àquelas observadas em decorrência do
tratamento com o derivado tiosemicarbazona utilizado. Antes do tratamento, as células
mostravam morfologia normal, com corpo celular alongado, flagelo longo partindo da
bolsa flagelar e citoplasma organizado (figura 15-A1), o que se manteve até o final do
experimento (figura 15-B1 e C1).
Durante o tratamento com a concentração de 0,1mM, não se observou nenhuma
alteração morfológica na cultura, mesmo após 6 dias de tratamento (figura 15-C2). Isso
comprova o que também foi observado para o derivado tiosemicarbazona, ou seja, que
esta concentração não é efetiva para produzir os efeitos morfológicos visíveis no
tratamento com concentrações maiores.
Já no tratamento com a concentração de 1mM, observa-se que as alterações
morfológicas são dependentes do tempo de exposição ao composto (figura 15-A3, B3 e
C3). No primeiro dia de tratamento, não se observa nenhuma alteração morfológica
(figura 15g, setas brancas).
No terceiro dia de tratamento, algumas células com citoplasma retraído e
conteúdo citoplasmático desorganizado são observadas (figura 15b, setas pretas),
embora algumas células com morfologia normal ainda possam ser observadas (figura
15b, setas brancas). Este resultado parece confirmar o observado para o tratamento
com o derivado tiosemicarbazona, ou seja, que as promastigotas não estão no mesmo
período do ciclo celular, fazendo com que estas respondam de forma diferente ao
tratamento neste período. No sexto dia de tratamento, o número de células que
continham alterações morfológicas foi ainda maior (figura 15c). Porém, as alterações
observadas foram da mesma natureza daquelas observadas no terceiro dia de
tratamento, verificando-se retração citoplasmática e desorganização do material nuclear
(figura 15c, setas pretas). Nesse tempo, algumas células destruídas também são
observadas.
O tratamento com 10mM do composto, como esperado, foi o que demonstrou ser
mais efetivo em produzir os efeitos observados na morfologia das promastigotas
observados após o tratamento (figura 15-A4, B4 e C4). Como nos demais tratamentos,
o primeiro dia não apresentou nenhuma alteração morfológica significativa na cultura
Costa, C.F.
47
(figura 15j). Entretanto, a partir do terceiro dia de tratamento, aparecem algumas
alterações morfológicas, como arredondamento do corpo celular e desorganização do
citoplasma e do núcleo (figura 15B4, seta preta). Essas alterações foram observadas
em todas as células observadas após o tratamento com essa concentração e pelo
referido tempo, mostrando que, diferente do que se observa no tratamento com a
concentração de 1mM, onde ainda se observam algumas células viáveis no terceiro dia
de tratamento, a concentração de 10mM foi capaz de causar as mesmas alterações na
maioria das células da cultura (figura 15B4). No sétimo dia de tratamento, as mesmas
alterações ainda eram observadas, como retração e desorganização citoplasmática
(figura 15C4, setas pretas). Foram também observados também alguns restos
celulares (figura 15C4, setas pretas), sugerindo que, neste tempo de tratamento, na
concentração de 10mM, as células podem estar sendo destruídas por causa da alta
concentração do composto, resultado diferente do observado para o tratamento com a
concentração de 1mM, onde apenas algumas células sem alterações morfológicas foram
observadas.
Costa, C.F.
51
Como citado anteriormente, a concentração de 1mM foi escolhida para dar
continuidade aos ensaios, pois foi capaz, assim como a concentração de 10mM, de
causar danos as promastigotas já a partir do terceiro dia de tratamento. Dessa forma, as
tiosemicarbazonas e derivados foram a partir daí testadas por 6 dias, na concentração
de 1mM, a fim de realizarmos uma análise comparativa dos efeitos dos diferentes
compostos nas promastigotas nesta concentração e tempo de tratamento.
No primeiro dia de tratamento com os compostos tiosemicarbazonas, observa-se a
forma promastigota apresentando morfologia normal, mesmo após o tratamento com o
composto 2g (figuras 16a e b). As células permaneceram alongadas, apresentando
flagelo longo inserido na região da bolsa flagelar (figura 16).
No terceiro dia de tratamento com o composto 2g, entretanto, algumas alterações
morfológicas foram observadas. As formas promastigotas, que antes se apresentavam
alongadas e com flagelo longo, começaram a perder as características originais,
mostrando morfologia arredondada provavelmente devido à diminuição do conteúdo
citoplasmático (figura 16d, seta preta). Além da redução do citoplasma, as
promastigotas apresentaram encurtamento do flagelo ou ainda ausência deste (figura
16d, seta preta). Quando se observa a cultura controle no terceiro dia de tratamento,
verifica-se a ausência de qualquer alteração na forma promastigota, esta mantendo as
características típicas da forma infectiva em questão (figura 16c, setas brancas).
No sexto dia de tratamento, as alterações morfológicas foram ainda mais
pronunciadas. Foram observadas células arredondadas, com conteúdo citoplasmático
reduzido, da mesma forma que aquelas observadas no terceiro dia de tratamento. Além
disso, foi observada ausência de flagelo em algumas destas células morfologicamente
alteradas (figura 16f, seta preta). Foram ainda observados restos celulares nas culturas
tratadas (figura 16f, estrelas). As culturas não tratadas, em contrapartida, não sofreram
qualquer alteração morfológica em seis dias de incubação (figura 16e).
Costa, C.F.
53
A morfologia de promastigotas tratadas com 1mM dos derivados tiazolidinônicos
também foram analisadas. No primeiro dia de tratamento, as culturas tratadas
apresentaram-se sem qualquer alteração morfológica. As formas promastigotas
mantiveram sua morfologia inalterada, alongada e com flagelo de aspecto normal (figura
17b, setas brancas), comparada com a cultura não tratada (figura 17a).
No terceiro dia de tratamento alguns efeitos morfológicos começam a ser
observados. As culturas tratadas apresentaram formas promastigotas com morfologia
alterada. Após o terceiro dia de tratamento com o composto derivado tiazolidinônico 3g,
foram observadas células arredondadas, sendo que estas apresentaram ainda núcleo
condensado em relação as promastigotas com morfologia normal (figura 17d, seta
preta).
Em relação ao tratamento com a tiosemicarbazona 2g, as alterações morfológicas
decorrentes do tratamento com o derivado tiazolidinônico 3g apareceram mais
lentamente. No terceiro dia de tratamento com o composto 2g (figura 16d), o número de
células com morfologia alterada foi aparentemente maior do que o número de células
alteradas após o terceiro dia de tratamento com o derivado tiazolidinônico 3g (figura
17d). Dessa forma, o derivado tiosemicarbazona 2g se mostrou mais efetivo em um
tempo menor de tratamento que o derivado tiazolidinônico 3g.
No sexto dia de tratamento, as alterações morfológicas foram mais drásticas. Em
comparação à cultura controle (figura 17e), no sexto dia de tratamento com o composto
3g, as formas promastigotas se mostraram arredondadas, com citoplasma reduzido, e
algumas células ainda apresentaram citoplasma contendo muitos vacúolos (figura 17f,
setas pretas). Entretanto, apesar das alterações observadas, algumas promastigotas
não perderam o flagelo, que se manteve longo (figura 17f, seta pontilhada).
Além das alterações já verificadas, foi observado ainda um número anormal de
núcleos e cinetoplastos em algumas células. Formas promastigotas grandes, contendo
dois núcleos e três cinetoplastos foram encontradas após o sexto dia de tratamento com
o derivado tiazolidinônico 3g (figura 17f, seta cinza). Essa alteração pode ser devido à
incapacidade das promastigotas, após esse tempo de tratamento, de completar o
processo de divisão celular, impedindo a citocinese e ficando a célula com número
anormal de organelas.
Costa, C.F.
55
4.1.3. Aspectos ultraestruturais
Para observar a ultraestrutura de promastigotas de L. amazonensis tratadas com
os derivados tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos, foi utilizada
microscopia eletrônica de transmissão. As culturas contendo promastigotas foram
submetidas ao tratamento com 1mM dos derivados tiosemicarbazonas ou seus
derivados tiazolidinônicos por 5 dias.
As formas promastigotas não tratadas apresentaram aspecto normal (figura 18a),
tendo seu formato alongado mantido. As organelas celulares apresentavam-se com
aparência normal, o núcleo apresentando cromatina descondensada (figura 18a - N),
bem como cinetoplasto único na célula e com aspecto normal, localizado na região
posterior da célula (figura 18a – C) e presença de acidocalcissomo (figura 18a – A).
Após o tratamento com o derivado tiosemicarbazona 2g, algumas alterações
drásticas foram observadas (figura 18b). O núcleo apresentava-se desorganizado e
continha cromatina condensada após o tratamento (figura 18b, setas pretas) Não foi
possível observar o cinetoplasto (figura 18b). As promastigotas ainda apresentaram
desorganização do sistema endomembranar, mostrando algumas invaginações nas
membranas internas, além da presença de inúmeros vacúolos citoplasmáticos (figura
18b, setas cinzas). A promastigota não apresentava mais seu formato normal,
mostrando retração no citoplasma e arredondamento celular, e intenso processo de
destruição celular pode ser observado após o tratamento (figura 18b).
O mesmo foi observado em decorrência do tratamento com o derivado
tiazolidinônico 3g (figura 18c). Cromatina nuclear condensada (figura 18c, setas
pretas), cinetoplasto apresentando padrão de divisão anormal, sendo observados dois
cinetoplastos na promastigota (figura 18c – C) e vacuolização citoplasmática (figura
18c, cabeça de seta) foram vistas após o tratamento. As alterações observadas
sugerem que as promastigotas, após o tratamento, entram em processo de morte celular
programada, devido à incapacidade de completar a divisão celular. Observa-se ainda
que o derivado tiosemicarbazona foi mais efetivo no processo de destruição das formas
promastigotas após o tratamento que o derivado tiazolidinônico (figuras 18b e c).
Costa, C.F.
57
4.2. Efeito citotóxico de diferentes concentrações das tiosemicarbazonas e
derivados tiazolidinônicos no desenvolvimento intracelular de Leishmania
amazonensis
4.2.1. Análise quantitativa
Culturas de macrófagos infectadas com L. amazonensis foram testadas nas
concentrações de 0,1mM, 1mM, 5mM e 10mM por 24 horas. Os compostos 2b e 3b
foram escolhidos para a análise comparativa, já que os demais compostos apresentam
atividades semelhantes aos utilizados.
Foram analisados após os tratamentos, além do número de células infectadas, o
número médio de células na cultura, o número de parasitas intracelulares e ainda os
números de vacúolos contendo parasitas destruídos.
Após 24 horas de tratamento com as diferentes concentrações do composto 2b,
observou-se uma redução progressiva do número de células infectadas na cultura, à
medida que se aumenta a concentração do composto utilizado (figura 19a). A
concentração de 0,1mM não foi suficiente para reduzir o número de células infectadas,
mostrando que esta não é eficaz em eliminar o parasita do meio intracelular. A partir da
concentração de 1mM, observa-se uma redução em aproximadamente 70% do número
de células infectadas na cultura. Essa redução foi ainda maior quando foi utilizada a
concentração de 5mM, onde se observa uma redução em aproximadamente 85% e na
utilização da concentração de 10mM, não se observam mais células infectadas (figura
19a).
A redução do número de células infectadas veio acompanhada da redução do
número de células na cultura (figura 19b). Enquanto o tratamento com as
concentrações de 0,1 e 1mM não reduziu o número de células, mostrando que essas
concentrações não causaram efeitos citotóxicos nos macrófagos, a partir do tratamento
das culturas com a concentração de 5mM, verifica-se uma redução de 17% no número
de macrófagos na cultura. Esse número reduziu-se ainda mais após o tratamento com
10mM do composto (33%) (figura 19b).
Houve ainda redução do número de parasitas intracelulares após o tratamento
com as diferentes concentrações do composto, devido não só a eliminação do parasita
Costa, C.F.
58
do meio intracelular após o tratamento, mas também devido à redução do número de
células na cultura (figura 19c). Este número se reduz em 83% aproximadamente, após
o tratamento com a concentração de 1mM, 86% em decorrência do tratamento com
5mM, até a completa eliminação dos parasitas do meio intracelular após o tratamento
com 10mM do composto.
Ao mesmo tempo, é observado um aumento no número de vacúolos contendo
parasitas destruídos a partir do tratamento com a concentração de 1mM do derivado
tiosemicarbazona 2b (figura 19d). Entretanto, estes não foram observados quando a
cultura foi tratada com 0,1mM do composto, já que esta concentração não foi efetiva em
permitir a eliminação do parasita do meio intracelular. O número de vacúolos contendo
parasitas destruídos diminui após a utilização das concentrações de 5mM e 10mM
(figura 19d), provavelmente devido à redução do número de células na cultura.
Costa, C.F.
60
Para o derivado tiazolidinônico testado (3b), os resultados obtidos foram
semelhantes. O composto, da mesma forma que para o derivado tiosemicarbazona, foi
testado pelo tempo de 24 horas nas mesmas concentrações e analisados os mesmos
parâmetros.
A porcentagem de células infectadas na cultura reduziu com o aumento da
concentração de composto utilizada (figura 20a). Enquanto a concentração de 0,1mM
não foi capaz de reduzir o número de células infectadas na cultura, sendo comparável à
cultura controle, a partir da utilização da concentração de 1mM, observa-se uma redução
de 70% do número de células infectadas na cultura, aproximadamente. Com o aumento
da concentração de composto, esse número reduziu-se ainda mais, sendo a
concentração de 5mM capaz de reduzir em aproximadamente 75% a porcentagem de
células infectadas na cultura. Entretanto, diferente do que foi observada para o derivado
tiosemicarbazona 2b, a utilização de 10mM do derivado tiazolidinônico 3b não foi capaz
de eliminar completamente as células infectadas da cultura, sendo a redução deste
número em aproximadamente 80% após o tratamento (figura 20a).
Os efeitos citotóxicos para as células hospedeiras, entretanto, foram observados
com o aumento da concentração do composto utilizado. Através da análise da figura
20b, observa-se que o número de células na cultura se reduz à medida que a
concentração do composto é aumentada. Enquanto na cultura controle e nos
tratamentos com 0,1 e 1mM de composto esse número não se reduz, a partir da
utilização das concentrações de 5 e 10mM do composto, ocorre redução de 17% e 33%,
respectivamente, no número de células na cultura (figura 20b). Isso acontece devido à
eliminação progressiva das células da cultura em decorrência do aumento da
concentração do composto, mostrando que as concentrações mais altas foram tóxicas
para a célula hospedeira.
O número de parasitas intracelulares ao longo do tratamento também se reduziu,
e esta redução foi maior quanto maior fosse a concentração do composto utilizada
(figura 20c). Após o tratamento com 0,1mM do composto, não ocorre redução do
número de parasitas intracelulares, confirmando as observações prévias de que esta
concentração não foi efetiva na eliminação do parasita do interior da célula. A partir do
tratamento com a concentração de 1mM, observa-se redução do número de parasitas
Costa, C.F.
61
intracelulares em aproximadamente 66%, mostrando que a partir desta concentração os
parasitas começam a ser eliminados do meio intracelular. Esta redução foi maior após a
utilização das concentrações de 5mM (83%) e 10mM (86%) (figura 20c). Porém, não se
pode afirmar que a redução do número de parasitas intracelulares decorrentes da
utilização das duas últimas concentrações foi devido à eliminação do parasita do meio
intracelular, pois o número de células na cultura após o tratamento com estas
concentrações também se reduziu (figura 20b). Por isso, esta redução pode também
estar relacionada com a diminuição do número de células hospedeiras na cultura, devido
a efeitos citotóxicos decorrentes da utilização de concentrações mais altas.
Da mesma forma, foi analisado o número de vacúolos contendo parasitas
destruídos (figura 20d). Após o tratamento com 0,1mM, não foi observado número
significante de vacúolos com parasitas destruídos, mostrando mais uma vez que esta
concentração não foi efetiva em causar os danos aos parasitas intracelulares
observados com a utilização de concentrações maiores. Este número começa a subir
após o tratamento com a concentração de 1mM, mas reduz após o tratamento com as
concentrações de 5 e 10mM do composto (figura 20d). Esta redução é provavelmente
devido à eliminação das células hospedeiras, já que após o tratamento com essas
concentrações foi observada a redução do número destas na cultura.
Costa, C.F.
63
Devido a aparente ineficiência da concentração de 0,1mM e aos efeitos
citotóxicos observados na célula hospedeira após o tratamento com 5mM e 10mM dos
compostos, a concentração de 1mM foi selecionada para dar continuidade aos testes.
Todos os compostos tiosemicarbazonas e seus derivados foram, a partir de então,
utilizados na concentração de 1mM, por 24h em culturas de macrófagos infectados com
L. amazonensis, a fim de realizarmos uma análise comparativa do efeito das drogas.
De acordo com as análises quantitativas, ocorreu uma redução no número de
células infectadas na cultura após o tratamento com quaisquer dos compostos testados.
Através da análise da tabela 3, pode-se observar que houve uma redução em
aproximadamente 70% do número de células infectadas após o tratamento com os
compostos. Porém, essa redução no número de células infectadas mais uma vez foi
mais ou menos efetiva dependendo do composto testado, de modo que alguns
compostos puderam ser destacados devido à sua maior atividade (tabela 3).
Dentre as tiosemicarbazonas, pode-se destacar os compostos 2e, 2f e 2j como os
mais eficazes na eliminação do parasita do meio intracelular (tabela 3). Após o
tratamento com estes compostos, o número de células infectadas reduziu-se em
aproximadamente 80% e o número de parasitas intracelulares reduziu-se em
aproximadamente 83%, enquanto os demais compostos reduziram em
aproximadamente 75% o número de parasitas intracelulares.
O número de vacúolos parasitóforos, entretanto, não foi muito diferente nos
tratamentos com os diferentes compostos analisados. De acordo com a análise da
tabela 3, verifica-se que os compostos analisados apresentaram todos eles números
relativamente similares de vacúolos contendo parasitas destruídos. Assim, verifica-se
que os compostos apresentaram a capacidade de permitir a eliminação do parasita da
célula hospedeira através do processo de destruição pela própria célula.
Os derivados tiazolidinônicos também foram eficazes em reduzir tanto o número
de células não infectadas após o tratamento quanto o número de parasitas
intracelulares, como pode ser visto através da análise da tabela 3. Vale destacar ainda
que alguns compostos, porém, podem ser destacados como mais efetivos no tempo e
concentração analisados. Os compostos 3e, 3g e 3i foram os que conseguiram uma
maior redução do número de células infectadas, bem como o número de parasitas
Costa, C.F.
64
intracelulares quando comparados com os demais compostos. Eles foram eficazes em
promover uma redução em aproximadamente 75% o número de células infectadas,
enquanto os demais compostos reduziram em 70% o número de células infectadas na
cultura. (tabela 3). O número de parasitas intracelulares reduziu-se em 75%,
aproximadamente, após o tratamento com os derivados tiazolidinônicos (tabela 3). O
aumento observado no número de vacúolos contendo parasitas destruídos, porém, deve
estar relacionado com o aumento da capacidade do composto em permitir a progressiva
eliminação do parasita do meio intracelular, da mesma forma que analisado para as
tiosemicarbazonas.
Costa, C.F.
65
Tabela 3 – Porcentagem de células infectadas e não infectadas com L. amazonensis, número de parasitas intracelulares e vacúolos contendo parasitas alterados antes e após o tratamento com as tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos. Macrófago + L. amazonensis tratados com tiosemicarbazonas e derivados tiazolidinônicos
Compos R1 R2 Células não infectadas Células infectadas Parasitas intracelulares Vacúolos contendo tos Controle Tratado Controle Tratado Controle Tratado parasitas alterados
2b H m-NO2 32 ± 3 76 ± 4 68 ± 3 23 ± 4 486 ± 58 125 ± 33 35 ± 5 3b H m-NO2 30 ± 6 79 ± 4 69 ± 6 20 ± 4 558 ± 116 147 ± 52 31 ± 2
2d CH3 o-NO2 39 ± 2 60 ± 2 79 ± 2 21 ± 2 410 ± 68 104 ± 21 35 ± 3
3d CH3 o-NO2 26 ± 2 72 ± 5 72 ± 2 21 ± 4 484 ± 216 125 ± 96 23 ± 3
2e CH3 m-NO2 31 ± 7 88 ± 2 69 ± 4 12 ± 2 682 ± 33 95 ± 39 27 ± 4
3e CH3 m-NO2 25 ± 7 75 ± 6 71 ± 7 19 ± 6 524 ± 108 119 ± 20 45 ± 3 2f CH3 p-NO2 36 ± 4 88 ± 3 64 ± 4 11 ± 3 505 ± 143 54 ± 17 34 ± 4
3f CH3 p-NO2 33 ± 6 76 ± 6 67 ± 6 23 ± 6 521 ± 252 311 ± 84 35 ± 8
2g CH2CH3 o-NO2 31 ± 3 82 ± 3 68 ± 3 17 ± 3 521 ± 52 135 ± 24 23 ± 1
3g CH2CH3 o-NO2 31 ± 3 82 ± 5 68 ± 3 17 ± 5 525 ± 52 136 ± 35 20 ± 2
2h CH2CH3 m-NO2 36 ± 6 77 ± 9 64 ± 6 23 ± 9 521 ± 118 135 ± 74 29 ± 4
3h CH2CH3 m-NO2 36 ± 6 78 ± 6 64 ± 6 22 ± 5 535 ± 118 139 ± 30 23 ± 3
2i CH2CH3 p-NO2 31 ± 4 75 ± 2 68 ± 4 25 ± 2 543 ± 33 141 ± 59 29 ± 4
3i CH2CH3 p-NO2 33 ± 6 78 ± 6 67 ± 6 19 ± 6 527 ± 283 137 ± 123 43 ± 4
2j C6H5 o-NO2 39 ± 2 60 ± 2 80 ± 2 20 ± 2 410 ± 68 103 ± 15 37 ± 3
3j C6H5 o-NO2 33 ± 3 72 ± 4 72 ± 3 21 ± 4 484 ± 216 125 ± 36 41 ± 4
Costa, C.F.
66
4.2.2. Análise morfológica
As culturas de macrófagos infectadas com L. amazonensis e tratadas com as
diferentes concentrações do derivado tiosemicarbazona 2b foram analisadas através de
microscopia óptica de campo claro, e foram obtidas imagens referentes aos tratamentos.
A análise da cultura tratada com a concentração de 0,1mM do composto 2b não
revelou alterações morfológicas significativas na cultura após 24 horas de tratamento.
Da mesma forma que a cultura controle (figura 21a e b), as células tratadas por 24
horas com 0,1mM do composto 2b se apresentavam íntegras, sem alterações no núcleo
e com citoplasma bem aderido e espalhado sobre o substrato, infectados por
amastigotas também com morfologia inalterada, com formato arredondado, sem flagelo
aparente e sem alterações no núcleo ou em outras organelas, como o cinetoplasto
(figura 21c).
Quando foram analisadas as culturas de macrófagos infectados com amastigotas
de L. amazonensis tratadas com 1mM do derivado tiosemicarbazona 2b, algumas
alterações puderam ser observadas (figura 21d). Alguns parasitas com alterações
morfológicas, como material citoplasmático reduzido, foram observados (figura 21d,
setas pretas) e algumas células não infectadas também foram observadas após o
tratamento (figura 21d, setas pontilhadas). Apesar das alterações nos parasitas, as
células mantiveram sua morfologia inalterada (figura 21d). Assim, observa-se que,
nesta concentração, ocorre uma redução no número de células infectadas, além das
alterações observadas na morfologia dos parasitas intracelulares (figura 21d, setas
pretas), sendo esta concentração eficiente em reduzir a infecção sem alterar a
morfologia da célula hospedeira.
As concentrações de 5mM e 10mM apresentaram resultados bastante
significativos com relação à eliminação do parasita, reduzindo ou até mesmo eliminando
as formas amastigotas do meio intracelular (figura 21c e d). Entretanto, através da
análise da morfologia das culturas tratadas por 24 horas com as concentrações acima
referidas, foram observadas alterações morfológicas na célula hospedeira decorrentes
do tratamento com estas concentrações (figura 21e e f). Após o tratamento com 5mM
do derivado tiosemicarbazona 2b, as células apresentavam-se com seu conteúdo
Costa, C.F.
67
citoplasmático bastante reduzido (figura 21e, estrela). Apesar disso, foi observada
significativa redução no número de parasitas no meio intracelular (figura 21e, seta
pontilhada).
Após o tratamento com 10mM do composto 2b, as células apresentaram
alterações morfológicas ainda mais acentuadas (figura 21f). Apesar de não terem sido
observadas células infectadas na cultura tratada com esta concentração (figura 21f,
seta pontilhada), os macrófagos apresentaram-se com o citoplasma retraído (figura
21f, estrelas). A redução do material citoplasmático decorrente do tratamento com esta
concentração foi mais acentuada em comparação com aquela observada para a
concentração de 5mM.
Costa, C.F.
69
A análise morfológica do tratamento com diferentes concentrações do derivado
tiazolidinônico 3b mostrou o mesmo padrão de alterações morfológicas verificadas após
o tratamento com o derivado tiosemicarbazona 2b.
O tratamento com 0,1mM do composto 3b não apresentou nenhuma alteração
significativa na morfologia dos parasitas intracelulares ou dos macrófagos (figura 22c),
tendo a cultura mantido aspecto semelhante àquele observado na cultura controle
(figura 22a e b), onde as células se mantiveram espalhadas e aderidas ao substrato,
com núcleo e citoplasma íntegros. Os parasitas intracelulares, da mesma forma, se
mantiveram sem alterações morfológicas, apresentando-se com sua morfologia
arredondada, com núcleo visível e sem flagelo aparente (figura 22c). Dessa forma, esta
concentração não foi considerada efetiva na eliminação do parasita do meio intracelular,
como observado anteriormente em decorrência do tratamento da tiosemicarbazona 2b
(figura 21c).
Após o tratamento com 1mM do composto 3b, entretanto, algumas alterações nos
parasitas intracelulares foram observadas. Vacúolos contendo parasitas destruídos ou
com certo grau de desorganização e redução do volume citoplasmático foram
observados (figura 22d, setas pretas), bem como uma redução do número de parasitas
inseridos no vacúolo parasitóforo (figura 22d, asterisco).
Após o tratamento com 5mM do composto 3b, ainda foram observados alguns
parasitas no interior de vacúolos presentes nos macrófagos. Entretanto, estes parasitas
estavam visivelmente destruídos no interior do vacúolo (figura 22e, setas pretas). Os
macrófagos que continham os vacúolos contendo parasitas destruídos não
apresentaram alterações morfológicas. Porém, outros macrófagos presentes na mesma
cultura tratada com a concentração (5mM) apresentaram-se com o conteúdo
citoplasmático bastante reduzido, ou seja, causando efeitos citotóxicos na célula
hospedeira (figura 22e, estrelas).
A concentração de 10mM, quando utilizada no tratamento por 24 horas das
culturas, foi ainda mais citotóxica. Após o tratamento com esta concentração, não foram
observadas células infectadas, tampouco vacúolos contendo parasitas destruídos no
interior de macrófagos, mas as células hospedeiras apresentaram-se bastante alteradas
morfologicamente (figura 22f). Os macrófagos, após o tratamento com a concentração
Costa, C.F.
70
referida, mostraram conteúdo citoplasmático totalmente retraído, além de apresentarem
formato bastante arredondado, o que contrasta com a morfologia normal deste tipo
celular (figura 22f, estrelas).
Devido à ineficiência da concentração de 0,1mM em conduzir à eliminação do
parasita do meio intracelular e aos efeitos citotóxicos observados após o tratamento com
as concentrações de 5mM e 10mM, a concentração obtida como a ideal para dar
continuidade aos testes e avaliar os diferentes efeitos apresentados por cada composto
em 24h de tratamento foi a de 1mM. Nesta concentração, observou-se redução no
número de parasitas intracelulares e um número significativo de vacúolos contendo
parasitas alterados, sem haver redução no número de macrófagos e alterações
morfológicas nestas células, demonstrando que a esta concentração os compostos não
foram tóxicos para a célula hospedeira (figuras 21d e 22d).
Costa, C.F.
72
Após 24 horas de tratamento, as culturas tratadas com 1mM das tiosemicarbazonas
2e, 2f e 2j, aquelas que demonstraram atividade mais significativa quando analisadas
quantitativamente, foram analisadas também morfologicamente (Figura 23).
A análise da morfologia das culturas de macrófagos infectados e tratados com 1mM
dos compostos utilizados mostrou que houve uma redução no número de células
infectadas após o tratamento em comparação à cultura controle. Após o tratamento com
os compostos, foram observadas alterações morfológicas nos parasitas intracelulares
para todos os compostos verificados (figura 23b-d, setas pretas), em comparação com
a cultura que não recebeu nenhum tratamento, onde os parasitas mostraram-se com sua
morfologia normal, arredondado, com núcleo justaposto ao cinetoplasto (figura 23a).
Os vacúolos parasitóforos também foram analisados morfologicamente. Em todos os
tratamentos com os derivados tiosemicarbazonas analisados (2e, 2f e 2j), observa-se
um número significativo de parasitas inseridos no vacúolo aparentemente destruídos
(figura 23b-d, setas pretas), ao contrário do que é observado na cultura onde não
houve a utilização de quaisquer dos compostos (figura 23a), o que sugere que estes
compostos foram capazes de permitir a progressiva eliminação do parasita do meio
intracelular pela célula hospedeira através da reativação dos mecanismos microbicidas.
Ainda, foi verificado um grande número de células não infectadas após o tratamento com
os compostos (23b-d, setas pontilhadas). Contudo, nenhuma alteração morfológica na
célula hospedeira foi observada.
Costa, C.F.
74
As culturas tratadas por 24 horas com os derivados tiazolidinônicos foram também
analisadas morfologicamente. Foram analisadas as culturas tratadas com os compostos
3e, 3g e 3i, que foram mais eficazes na redução do número de células infectadas (tabela
3).
A figura 24 mostra a redução no número de células infectadas na cultura após o
tratamento por 24 horas com os compostos citados anteriormente. Observa-se, no meio
intracelular, parasitas alterados morfologicamente (figura 24b-d, setas pretas). Estes
parasitas provavelmente perderam a capacidade de se dividir no meio intracelular após
o tratamento com os compostos e foram destruídos pela célula hospedeira, da mesma
forma que observado após o tratamento com as tiosemicarbazonas (figura 23b-d, setas
pretas). A cultura que não recebeu tratamento apresentou parasitas inseridos no
vacúolo parasitóforo com sua morfologia normal, dividindo-se normalmente (figura 23a,
VP). Da mesma forma que o observado para as tiosemicarbazonas, também foram
observadas células não infectadas na cultura após o tratamento, confirmando a redução
da infecção observada nas análises quantitativas (figura 24b-d, setas pontilhadas).
Isso provavelmente se deve à eliminação do parasita do meio intracelular pela célula
hospedeira após o tratamento ter inibido a divisão do parasita.
Costa, C.F.
76
4.2.3. Aspectos ultraestruturais
Para análise ultraestrutural de macrófagos infectados com 1mM da tiosemicarbazona
2g por 12h e 24h, foi utilizada microscopia eletrônica de transmissão.
As culturas de macrófagos que não foram submetidas a nenhum tratamento,
mantidas também por 12h e 24h, apresentavam-se com aspecto normal (figuras 25a e
26a), tendo a célula hospedeira núcleo com cromatina descondensada (figura 25a e 26a
– N), e o parasita inserido em um vacúolo grande, onde as formas amastigotas são
capazes de se dividir (figura 25a e 26a, setas pontilhadas). Da mesma forma, as
formas amastigotas apresentavam formato arredondado, ou seja, sem qualquer
alteração em sua forma, e algumas organelas puderam ser visualizadas, como núcleo
(figuras 25a e 26a – N) e acidocalcissomos (figuras 25a e 26a – A).
Após o tratamento com o derivado tiosemicarbazona por 12h, apesar de a célula
hospedeira não ter sofrido nenhuma alteração morfológica, as formas amastigotas
apresentavam-se em processo de destruição no interior do vacúolo (figuras 25b e c).
Foi possível observar, após o tratamento, algumas organelas, como cinetoplasto (figura
25b – C). Porém, as amastigotas apresentaram ainda intensa vacuolização
citoplasmática (figura 25b – cabeça de seta) e perda do formato celular, o que indica
que o processo de destruição do parasita no vacúolo leve a um processo de morte
celular programada. Foram observadas também condensação da cromatina nuclear
(figura 25c – setas pretas) e desorganização do sistema endomembranar (figura 25c –
setas cinzas). Essas alterações observadas se devem provavelmente à incapacidade
de dar continuidade ao processo de divisão celular após o tratamento e à recuperação
dos mecanismos microbicidas da célula hospedeira. O vacúolo, porém, não sofreu
nenhuma modificação nesse tempo de tratamento (figura 25b, setas pontilhadas).
Após o tratamento com o composto 2g por 24h, observa-se destruição total dos
parasitas no interior do vacúolo (figura 26b e c). Restos de membranas e citoesqueleto
podem ser observados após esse tempo de tratamento com o referido composto (figura
26b e c, setas cinzas). Além disso, também podem ser observados fragmentos
nucleares no interior do vacúolo (figura 26c, setas pretas). Não são observadas
alterações na célula hospedeira (figura 26), esta apresentando todas as organelas
Costa, C.F.
77
observáveis em uma célula eucariótica convencional, como complexo de Golgi (figura
26c – CG), mitocôndrias dispostas principalmente ao redor do vacúolo parasitóforo
(figura 26c – M) e núcleo com cromatina descondensada (figura 26c – N). O vacúolo
parasitóforo, entretanto, começa a apresentar algumas alterações, como a presença de
descontinuidade da membrana em sua posição em relação ao parasita (figura 26c,
setas pontilhadas).
Essas alterações sugerem que um tempo curto de incubação com o composto 2g é
suficiente para causar as alterações observadas, como a condensação da cromatina,
vacuolização citoplasmática e danos ao cinetoplasto. Em 24h de incubação com o
referido composto estas alterações se mostram ainda mais drásticas, dessa forma
levando o parasita à completa destruição no interior do vacúolo. Isso mostra que as
formas amastigotas não conseguem completar o processo de divisão celular após o
tratamento, mesmo em um tempo curto como o tempo de 12h, e assim sofrem o
processo de degradação devido à recuperação dos mecanismos microbicidas dos
macrófagos. A atividade antiproliferativa das tiosemicarbazonas ainda pode estar
conduzindo a um processo de morte celular programada semelhante a apoptose nos
parasitas intracelulares.
Costa, C.F.
80
5. DISCUSSÃO
No presente trabalho, promastigotas de Leishmania amazonensis foram tratados
com a concentração de 1mM dos derivados tiosemicarbazonas e seus derivados
tiazolidinônicos por 6 dias, tempo necessário para que as formas promastigotas
atingissem a fase exponencial (3° dia) e em seguida a fase estacionária (5° dia) de
crescimento em cultura. Em decorrência do tratamento, foi observada redução no
número de promastigotas já no 3° dia de tratamento, sendo esse número mantido ou
reduzido no último dia de tratamento.
De acordo com a observação do mecanismo de ação das tiosemicarbazonas e seus
derivados tiazolidinônicos, sua atividade está relacionada à ligação a enzimas que
utilizam metais para sua atividade, como a ribonucleotideo redutase (Finch et al., 1999).
Como esta enzima está relacionada com a replicação do DNA e conseqüente passagem
da fase G1 para a fase S do ciclo celular (Thelander & Reichard, 1979; Cory & Sato,
1983), pode-se inferir que a interrupção do crescimento das formas promastigotas em
cultura ao longo do tempo de tratamento, bem como a redução do número de
promastigotas na cultura está relacionada com a atividade dos compostos na enzima
ribonucleotideo redutase. Entretanto, o alvo específico na célula que foi afetado pelos
compostos não pode ser definido com precisão. Estudos posteriores voltados para a
determinação dos alvos na célula que estão sendo afetados pelos compostos ainda
precisam ser realizados.
As análises da ultraestrutura das formas promastigotas tratadas com derivados
tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos revelam que após o quinto dia de
tratamento, as formas promastigotas tratadas com qualquer um dos compostos
apresentam alterações como cromatina condensada, divisão anormal de núcleo e
cinetoplasto, retração e vacuolização citoplasmática. Segundo Lee e colaboradores
(2002), algumas alterações relacionadas à morte celular programada podem ser
observadas em culturas de promastigotas de L. amazonensis no final da fase
estacionária, como condensação da cromatina, presença de mais de um núcleo ou
cinetoplasto e retração do material citoplasmático. Porém, este tipo de morte celular não
pode ser considerado apoptose, já que L. amazonensis é um organismo unicelular.
Costa, C.F.
81
As mesmas alterações foram observadas no presente trabalho, sugerindo que um
processo de morte celular esteja acontecendo durante o tratamento com as
tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos, conduzindo-os a um processo de
morte celular programada.
5.1. Interação Macrófago/Leishmania amazonensis
Para se estabelecer no interior da célula hospedeira, Leishmania amazonensis
emprega uma série de mecanismos capazes de burlar o sistema microbicida dos
macrófagos, de forma a inativá-lo e permitir sua sobrevivência e assim dar continuidade
à infecção no hospedeiro vertebrado (revisado em Bogdan & Rollinghoff, 1999).
Leishmania amazonensis é capaz de sobreviver ao ambiente ácido do vacúolo
parasitóforo formado, já que não impede a fusão com lisossomos da célula ao vacúolo, e
ainda aproveita o ambiente ácido formado em benefício próprio, otimizando a aquisição
de nutrientes ali presentes (Burchmore & Barret, 2001). É possível, para o parasita,
resistir ao ambiente ácido do vacúolo devido a presença, em sua membrana, de
ATPases, que bombeiam prótons para o exterior, mantendo um pH neutro no interior do
parasita, apesar do ambiente ácido encontrado no lúmen do vacúolo parasitóforo
(Burchmore & Barret, 2001).
Sendo assim, o vacúolo parasitóforo pode ser considerado uma barreira para a
utilização de drogas contra o parasita, bem como à sua eliminação do ambiente
intracelular, pois além de ser uma barreira à penetração das drogas, as formas
amastigotas que ali estão permitem o efluxo das drogas de seu interior, por causa da
presença de ATPases em sua membrana.
O principal alvo do presente trabalho é justamente o vacúolo parasitóforo, pois as
tiosemicarbazonas e seus derivados foram utilizados com o intuito de se estudar e
verificar o desenvolvimento intracelular do parasita após o tratamento. Ademais, o alvo
para desenvolvimento de quimioterápicos no tratamento de leishmanioses é a forma
amastigota, presente no interior do vacúolo.
Macrófagos infectados com L. amazonensis foram tratados por 24 horas com os
compostos tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos. Antes do tratamento
Costa, C.F.
82
com todos os compostos testados, alguns deles foram testados em diferentes
concentrações, para o estabelecimento de uma concentração ideal para a continuação
dos testes, concentração esta que deveria permitir alterações no parasita intracelular
sem causar danos à célula hospedeira.
Após o estabelecimento da concentração ideal (sendo esta concentração 1mM),
foram analisados aspectos morfológicos e dados quantitativos do tratamento com os
referidos compostos. Foi observada, em decorrência do tratamento com todos os
compostos, uma redução não só no número de células infectadas, mas também no
número de parasitas intracelulares. Porém, essa redução foi dependente do composto
testado, já que alguns compostos mostraram-se mais efetivos que outros.
Segundo Hutchinson (1985), modificações feitas nas moléculas de
tiosemicarbazonas levam a perda substancial da atividade quimioterápica destes
compostos. Isso confirma os dados apresentados, pois de acordo com as mudanças
apresentadas nos radicais das moléculas, o efeito antiproliferativo destas foi alterado,
sendo mais ou menos efetivas dependendo da mudança do radical. Da masma forma,
as tiosemicarbazonas apresentaram-se mais eficientes na eliminação do parasita do
meio intracelular que seus derivados tiazolidinônicos.
Através da análise morfológica do tratamento com os compostos, pode ser
observado que existem parasitas intracelulares com aspecto alterado quando
comparado às culturas controle. Isso sugere que, após o tratamento com os compostos,
as células foram capazes de reativar seus mecanismos microbicidas, já que as
tiosemicarbazonas e derivados tiazolidinônicos agem em enzimas relacionadas com a
interrupção do ciclo celular. Alguns parasitas mantiveram sua morfologia inalterada
mesmo após o tratamento. Isso sugere que nem todos os parasitas estavam na mesma
fase do ciclo celular no momento do tratamento, ou seja, a cultura de promastigotas
utilizadas para a infecção de macrófagos era assincrônica. Assim, as formas
amastigotas que se apresentavam em interfase sofreram mais os efeitos da droga,
provavelmente pela interrupção da replicação do DNA.
O aumento do número de vacúolos contendo parasitas destruídos ainda foi
verificado. Isso confirma as observações anteriores de que, após o tratamento com os
compostos, os parasitas intracelulares interrompem seu desenvolvimento e a célula é
Costa, C.F.
83
capaz de reativar seus mecanismos celulares, conduzindo à eliminação do parasita.
Entretanto, estudos posteriores devem ser realizados no sentido de verificar se, após a
remoção das drogas da cultura, os parasitas que não apresentaram alterações
morfológicas são capazes de voltar a se multiplicar e restabelecer a infecção.
Como já referido, as tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos têm sua
atividade relacionada à ligação a enzimas que utilizam metais para a sua atividade,
como a enzima ribonucleotídeo redutase (Finch et al., 1999). Por isso, tem sido sugerido
que o principal alvo celular desses compostos seja o ciclo celular, impedindo replicação
do DNA através da inativação da enzima.
A análise da ultraestrutura das culturas de macrófagos infectados com L.
amazonensis e tratados com as tiosemicarbazonas mostrou que, após 12 horas de
tratamento com os compostos, as amastigotas começam a sofrer alterações drásticas,
como vacuolização citoplasmática, condensação da cromatina e divisão anormal de
algumas organelas, como o cinetoplasto, levando o parasita à destruição. Estas
alterações foram ainda mais pronunciadas após 24h de incubação com o derivado
tiosemicarbazona, levando o parasita à completa destruição no interior do vacúolo.
Podem ser observados fragmentos nucleares em algumas amastigotas após o
tratamento, o que sugere uma divisão anormal desta organela durante o tratamento.
Segundo Lee e colaboradores, protozoários parasitas passam por um processo
de morte celular programada semelhante a apoptose no final da fase estacionária ou
quando sofrem a ação de alguma droga antiproliferativa. Após o tratamento com um dos
derivados tiosemicarbazonas por 12 horas, algumas alterações características de
células apoptóticas foram observadas, e estas foram ainda mais drásticas após 24 horas
de incubação com o derivado tiosemicarbazona testado. Isto sugere que, após 12 horas
de incubação com o referido composto, um processo de morte celular programada
semelhante a apoptose pode estar ocorrendo devido ao tratamento com drogas
antiproliferativas, e este processo continua após 24h de incubação, sendo capaz de
conduzir a completa destruição dos parasitas intracelulares.
Como referido, o macrófago é um tipo celular capaz de fagocitar e destruir
grandes partículas que entram em contato com o organismo, incluindo patógenos
(Alberts et al., 2002). Entretanto, Leishmania tem a capacidade de burlar o sistema
Costa, C.F.
84
imune, inativando os mecanismos de defesa dos macrófagos (revisado em Bogdan &
Rollinghoff, 1999). Com a utilização de drogas que de alguma forma são capazes de
interromper o processo de divisão celular dos parasitas presentes no interior do vacúolo,
estes se tornam incapazes de estabelecer a infecção no meio intracelular. Assim, os
macrófagos são capazes de recuperar seus mecanismos microbicidas e destruir os
parasitas contidos no interior do vacúolo.
Entretanto, estudos mais detalhados, utilizando marcadores apropriados para
diferentes alvos celulares, principalmente aqueles envolvidos no ciclo celular, devem ser
realizados para a determinação exata do alvo celular onde os compostos podem estar
agindo, de modo a impedir o desenvolvimento dos parasitas intracelulares, contribuindo
assim para sua eliminação.
Diante dos resultados apresentados, pode-se verificar que os compostos de
tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos foram capazes de causar
alterações morfológicas nas formas amastigotas presentes no interior de vacúolo
parasitóforo, provavelmente devido à interrupção do desenvolvimento e multiplicação
intracelular destes parasitas. Este efeito pôde ser confirmado através da análise da
redução do número de células infectadas e parasitas intracelulares, estas células
inclusive contendo vacúolos com parasitas destruídos em seu interior.
Os parasitas provavelmente são incapazes de recuperar sua capacidade de
desenvolvimento e multiplicação, devido às drásticas alterações sofridas. Entretanto,
outros estudos devem ser realizados a fim de verificar a capacidade de reativação do
desenvolvimento e multiplicação intracelular destes parasitas. Estes efeitos estão
possivelmente relacionados à inativação da enzima ribonucleotideo redutase, porém
estudos posteriores devem ser conduzidos para a confirmação dessas constatações.
Costa, C.F.
85
6. CONCLUSÕES
• O tratamento com diferentes concentrações dos derivados tiosemicarbazonas e
seus derivados tiazolidinônicos demonstraram redução do número de
promastigotas na cultura ao longo de tratamento a partir da concentração de
1mM, sendo a concentração de 10mM capaz de eliminar as promastigotas já no
terceiro dia de tratamento;
• Os compostos tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos foram
capazes reduzir o número de promastigotas de L. amazonensis in vitro após um
tempo de tratamento de 6 dias com 1mM de composto. Essa redução foi
observada a partir do terceiro dia de tratamento. Porém, foi mais ou menos
significativa dependendo do radical presente em cada composto testado;
• As alterações morfológicas decorrentes do tratamento com concentrações
crescentes das tiosemicarbazonas e seus derivados tiazolidinônicos foram
pronunciadas após o terceiro dia de tratamento, sendo mais drásticas quanto
maior fosse a concentração utilizada dos compostos e o tempo de tratamento,
caracterizando-se por alterações no material citoplasmático (retração e
desorganização);
• A observação da ultraestrutura de promastigotas de L. amazonensis após o
tratamento com 1mM dos derivados tiosemicarbazonas e derivados
tiazolidinônicos por 5 dias mostrou alterações morfológicas como condensação da
cromatina nuclear, divisão anormal do cinetoplasto, retração e vacuolização do
citoplasma, o que pode ser um indício de morte celular programada, devido à
incapacidade de completar o processo de divisão celular após o tratamento com
os compostos;
• Através de análise de culturas de macrófagos infectadas com L. amazonensis
tratadas por 24 horas com diferentes concentrações dos compostos foi possível
identificar a concentração de 1mM como a concentração capaz de causar
redução do número de parasitas no meio intracelular sem, contudo, reduzir o
número de macrófagos na cultura. Porém, concentrações maiores reduziram o
número de células hospedeiras, além do número de parasitas intracelulares;
Costa, C.F.
86
• As culturas de macrófagos infectados com L. amazonensis tratados por 24 horas
com 1mM dos compostos apresentaram uma redução de aproximadamente 75%
do número de células infectadas em cultura, e igual redução no número de
parasitas intracelulares, além de uma quantidade significativa de vacúolos
contendo parasitas alterados após o tratamento. Mais uma vez, estes números
foram maiores ou menores dependendo do composto analisado;
• Foi possível verificar que os parasitas intracelulares sofriam danos morfológicos
na concentração de 1mM, sem, no entanto alterar a morfologia da célula
hospedeira. Todavia, concentrações mais altas causaram danos aos macrófagos;
• As culturas de macrófagos infectados com L. amazonensis tratados com os
derivados tiosemicarbazonas por 12h e 24h sofreram um processo de destruição
dependente do tempo, onde a completa destruição dos parasitas no interior do
vacúolo, bem como a presença de fragmentos nucleares, é observada após 24h
de tratamento, sugerindo que após o tratamento com a tiosemicarbazona, houve
interrupção no processo de divisão celular do parasita, levando-o a um processo
de morte celular programada semelhante a apoptose e assim o macrófago
consegue recuperar seus mecanismos microbicidas e destruí-los no interior do
vacúolo.
Costa, C.F.
87
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AKINCHAN, N.T., DROZDZEWSKI, P.M. & HOLZER, W. Synthesis and spectroscopic
studies on zinc (II) and mercury (II) complexes of isatin-3-thiosemicarbazone. J Mol
Struct 2002; 641:17-22.
AL-BASHIR, N. & RASSAM, M. Axenic cultivation of amastigotes of Leishmania
donovani and Leishmania major and their infectivity. Ann Trop Med Parasitol 1992;
86: 487-502.
ALBERTS, B., JOHNSON, A., LEWIS, J., RAFF, M., ROBERTS, K. & WALTER, P.
(2002). Células auxiliares e ativação de linfócitos. Pp.1414-1415 in: Biologia
Molecular da Célula. Ed. Artmed, São Paulo, Brasil.
AL-MOHAMMED, H.I., CHANCE, M.L. & BATES, P.A. Production and characterization
of stable Amphotericin B-resistant amastigotes and promastigotes of Leishmania
mexicana. Antimicrobial Agents and Chemotherapy 2005; 49(8): 3274-3280.
ALVES, A.J., LEITE, A.C.L., SANTANA, D.P., BELTRÃO, T.M. & COELHO, M.R.D.
Synthesis of some 4-oxo-∆2-thiazolin-2-ylhydrazones as potential antiprotozoal
agents. IL Farmaco 1993; 48(8): 1167-1171.
AYRES, D.C., MARCUCCI, M.C. & GIORGIO, S. Effects of Brazilian propolis on
Leishmania amazonensis. Mem Inst Oswaldo Cruz, 2007; 102(2): 215-220.
BASSELIN, M., DENISE, H., COOMBS, G.H. & BARRETT, M.P. Resistance to
pentamidine in Leishmania mexicana involves exclusion of the drug from the
mitochondrion. Antimicrob Agents Chemother 2002; 46: 3731-3738.
Costa, C.F.
88
BASSELIN, M. & GERO, M.R. Alteractions in membrane fluidity, lipid metabolism
mitochondria activity and lipophosphoglycan expression in pentamidine resistant
Leishmania. Parasitol Res 1998; 84: 78-83.
BATES, P. The developmental biology of Leishmania promastigotes. Exp Parasitol
1994; 79: 215-218.
BECKLOFF, G.L., LERNER, H.J., FROST, D., RUSSO-ALESI, F.M. & GITOMER, S.
Hydroxyurea (NSC-32065) in bilogic fluids: dose-concentration relationship. Cancer
Chemother Rep 1965; 48: 57-58.
BHARTI, N., SHAILENDRA, SHARMA, S., NAQVI, F. & AZAM, A. New palladium (II)
complexes of 5-nitrothiosephene-2-carboxaldehyde thiosemicarbazones derivates.
Bioorg Med Chem Letters 2003; 12: 3475-3478.
BHARTI, N., HUSAIN, K., GARZA, M.T.G., CRUZ-VEGA, D.E., CASTRO-GARZA, J.,
MATA-CARDENAS, B.D., NAQVI, F. & AZAM, A. Synthesis and in vitro antiprotozoal
activity of 5-nitrothiosephene-2-carboxaldehyde thiosemicarbazones: synthesis,
spectral studies and in vitro anti-amoebic activity. Biorg Med Chem 2002; 11: 2923-
2929.
BESTEIRO, S., WILLIAMS, R.A.M., COOMBS, G.H. & MOTTRAN, J.C. Protein
turnover and differentiation in Leishmania. Int J Parasitol (Accepted Manuscript),
2007; 1-36.
BOGDAN C, RÖLLINGHOFF M. How do protozoan parasites survive inside
macrophages? Parasitol Today. 1999 Jan;15(1):22-8. Review.
BORGES, V.M., VANNIER-SANTOS, M.A., DE SOUZA, W. Subverted transferring
trafficking in Leishmania-infected macrophages. Parasitol Res 1998; 84:811-822.
Costa, C.F.
89
BRAY, P.G., BARRETT, M.P., WARD, S.A. & DE KONNING, H.P. Pentamidine uptake
and resistance in pathogenic protozoa: Past, present and future. TRENDS Parasitol
2003; 19: 232-239.
BROCHU, C., WANG, J. ROY, G., MESSIER, N., WANG, X.Y., SARAVIA, N.G. &
OUELLETTE, M. Antimony uptake systems in the protozoan parasite Leishmania
and accumulation differences in antimony-resistant parasites. Antimicrob Agents
Chemother 2003; 47: 3073-3079.
BROWN, F.C. 4-thiazolidinones. Chem Revs 1961; 61: 463-521.
BURCHMORE, R.J. AND M.P. BARRETT. Life in vacuoles – nutrient acquisition by
Leishmania amastigotes. Int J Parasitol 2001; 12:1311-1320.
CABANTCHIK, Z.I., MOODY-HAUPT, S. & GORDEUK, V.R. Iron chelators as anti-
infectives; malaria as a paradigm. FEMS Immunol Med Microbiol 1999; 26, 289-298.
CALLAHAN, H.L., PORTAL, A.C., DEVEREAUX, R., GROGL, M. An axenic amastigote
system for drug screening. Antimic Ag Chem 1997; 41(4): 818-822.
CARRIO, J. & PORTUS, M. In vitro susceptibility to pentavalent antimony in
Leishmania infantum strains is not modified during in vitro or in vivo passages but
is modified after host treatment with meglumine antimoniate. BMC Pharmacol 2
(2002) 11 Epub 2002 May 02.
CASAS, J.S., GARCIA-TASENDE, M.S. & SORDO, J. Main group metal complexes of
semicarbazones and thiosemicarbazones. A structural review. Coord Chem rev. 2000;
209, 197-261.
CHEN, M., CHRISTENSEN, S.B., BLOM, J., LEMMICH, E., NADELMANN, L., FICH, K.,
THEANDER, T.G. & KHARASMI, A. Licochalcone A, a novel antiparasitic agent with
Costa, C.F.
90
potent activity against human pathogenic protozoan species of Leishmania.
Antimicrob Agents Chemother 1993; 37: 2550-2556.
CORY, J.G. & SATO, A. Regulation of ribonucleotídeo reductase in mammalian
cells. Mol Cell Biochem, 1983; 53: 257-266.
COURRET, N., FRÉHEL, C., GOUHIER, N., POUCHELET, M., PRINA, E., ROUX, P. &
ANTOINE, J.A. Biogenesis of Leishmania-harbouring parasitophorous vacuoles
following phagocytosis of the metacyclic promastigote or amastigote stages ot the
parasites. J Cell Sci, 2002; 115, 2303-2316.
CROFT, S.L. & COOMBS, G.H. Leishmaniasis – Current chemotherapy and recent
advances in the search for novel drugs. TRENDS Parasitol 2003; 11: 502-508.
DAS, A., DASGUPTA, A., SENGUPTA, T. & MAJUMDER, H.K. Topoisomerases of
kinetoplastid parasites as potential chemotherapeutic targets. TRENDS Parasitol
20(8): 381-387.
DENKERS EY, BUTCHER BA. Sabotage and exploitation in macrophages
parasitized by intracellular protozoans. Trends Parasitol. 2005 Jan;21(1):35-41.
Review.
DESCOTEAUX, A. & TURCO, S.J. Glycoconjugates in Leishmania infectivity.
Biochim Biophis Acta 1999; 1455: 341-352.
DE ALMEIDA, M.C., CARDOSO, S.A. & BARRAL-NETTO, M. Leishmania (Leishmana)
chagasi infection alters the expression of cell adhesion and costimulatory
molecules on human monocyte and macrophage. Int J Parasitol 2003; 33: 153-162.
DE SOUZA, W. Secretory organelles of pathogenic protozoa. Anais da Academia
Brasileira de Ciências, 2006; 78(2): 271-291.
Costa, C.F.
91
DE SOUZA LEAO, S., LANG, T., PRINA, E., HELLIO, R. & ANTOINE, J.C. Intracellular
Leishmania amazonensis amastigotes internalize and degrade MHC class II
molecules of their host cells. J Cell Sci 1995; 108:3219-3231.
DO CAMPO, R. & MORENO, S.N. The acidocalcisome. Mol Biochem Parasitol 2001;
114, 151-159.
DONEHOWER, R.C. (1996). Hydroxyurea. Pp. 253-260 in Cancer Chemotherapy and
Biotherapy (B.A. Chabner and C.L. Longo, eds.) Lippincott-Raven, Philadelphia.
EASMON, J., HEINISCH, G., HOLZER, W. & ROSENWIRTH, B. Novel
thiosemicarbazones derived from formyl and acyldiazines: synthesis, effects on
cell proliferation and synergism with antiviral agents. J Biol Chem 1992; 35: 3288-
3296.
ELFORD, H.L., FREESE, M., PASSAMANI, E. & MORRIS, H.P. Ribonucleotide
reductase and cell proliferation 1. Variations of ribonucleotide reductase activity
with tumor grown in a series of rats hepatomas. J Biol Chem 1970; 245:5228-5233.
FERRARI, M.B., BISCEGLIE, F., PELOSI, G., SASSI, M., TARASCONI, P., CORNIA, M.,
CAPACCHI, S., ALBERTINI, R. & PINELLI, S. Synthesis, characterization and X-
raystructures of new antiproliferative and proapoptotic natural aldehyde
thiosemicarbazone and their nickel(II) and copper(II) complexes. J Inorg Biochem
2002; 90, 113-126.
FINCH, A.R., LIU, M., CORY, A.H., CORY, J.G. & SARTORELLE, A.C. Triapine (3-
aminopyrine-2-carboxaldehyde; 3-AP): an inhibitor of ribonucleotídeo reductase
with antineoplastic activity. Adv Enzyme Regul 1999; 39: 3-12.
Costa, C.F.
92
FOURNET, A., FERREIRA, M.H., ARIAS, A.R., ORTIZ, S.T., FUENTES, S.,
NAKAYAMA, H., SCHININI, A. & HOCQUEMILLER, R. In vitro efficacy of oral
intralesional administration of 2-substituted quinolines in experimental treatment
New World cutaneous leishmaniasis caused by Leishmania amazonensis.
Antimicrob Agents Chemother 1996; 40: 2447-2451.
FOURNET, A., BARRIOS, A.A., MUÑOZ, V., HOCQUEMILLER, R., CAVÉ, A. &
BRUNETON, J. 2-Substituted quilone alkaloids as potential antileishmanial drugs.
Antimicrob Agents Chemother 1993; 37: 859-863.
FRAME MJ, MOTTRAM JC, & COOMBS GH. Analysis of the roles of cysteine
proteinases of Leishmania mexicana in the host-parasite interaction. Parasitology.
2000 Oct;121 ( Pt 4):367-77.
FREITAS BALANCO, J.M., MOREIRA, M.E.C., BONOMO, A., BOZZA, P.T.,
AMARANTE-MENDES, G., PIRMEZ, C. & BARCINSKI, M.A. Apoptotic mimicry by na
obligate intracellular parasite downregulates macrophage microbicidal activity. Cur
Biol 2001; 11: 1870-1873.
GLASER, T.A., UTZ, G.A. & MUKKADA, A.J. The plasma membrane electrical
gradient (membrane potential) in Leishmania donovani promastigotes and
amastigotes. Mol Biochem Parasitol. 1992; 51, 9-15.
GRANDIC, S.R.L., FOURNEAU, C., LAURENS, A., BORIES, C., HOCQUEMILLER, R. &
LOISEAU, P.M. In vitro antileishmanial activity of acetogenins from Annonaceae.
Biomed Pharmacother 2004; 58: 388-392.
GRANT , K.M., DUNION, M.H., YARDLEY, V., SKALTSOUNIS, A.L., MARKO, D.,
EISEBRAND, G., CROFT, S.L., MEIJER, L., MOTTRAN, J. Inhibitors of Leishmania
mexicana CRK3 cyclin-dependent kinase: chemical library screen and
antileishmanial ativity. Antimicrob Agents Chemother 2004; 48: 3033-3042.
Costa, C.F.
93
GRUENBERG, J. & VAN DER GOOT, F.G. Mechanisms of pathogen entry through
the endossomal compartments. Nat Rev Mol Cell Biol 2006; 7:495-504.
GWILT, P.R. & TRACEWELL, W.G. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of
hydroxyurea. Clin Pharmacokinet 1998; 34, 347-358.
GÜRSOY, A., TERZIOGLU, N. & ÖTUK, G. Synthesis of some new hydrazide-
hidrazones, thiosemicarbazides and thiazolidinones as possible antimicrobials.
Eur J Med Chem 1997; 32: 753-757.
HAIMEUR A. & OUELLETTE, M. Gene amplification in Leishmania tarentolae
selected for resistance to sodium stibogluconate (in process citation). Antimicrob
Agents Cemother 1998; 42: 1689-1694.
HART, D.T. & COOMBS, G.H. Leishmania mexicana: energy metabolism of
amastigotes and promastigotes. Exp Parasitol 1982; 54:397-409.
HOLM, A., TEJLE, K., MAGNUSSON, K.E., DESCOTEAUX, A., & RASMUSSON, B.
Leishmania donovani promastigotes lipophosphoglycan causes periphagosomal
actin accumulation: correlation with impairment translocation of PKCa and
defective phagosome maturation. Cell Microbiol 2001 (3); 439-447.
HUTCHINSON, D.W. Metal chelators as potential antiviral agents. Antiviral Res 1985;
5, 193-205.
IWN, M.M., JACKSON, J.E. & SCHUSTER, B.G. Medicinal plants in the fight against
leishmaniasis. Parasitol Today 1994; 10: 65-68.
Costa, C.F.
94
KELLY, J.X., IGNATUSHCHENKO, M.V., BOUWER, H.G., PEYTON, D.H., HINRICHS,
D.J., WINTER, R.W., RISCOE, M. Antileishmanial drug development: exploitation of
parasite heme dependency. Mol Biochem Parasitol, 2003; 126: 43-49.
KHAWASS, S.M.E., KHALIL, M.A. & CHAABAN, I. Synthesis of some thiazoline and
thiazolidinone derivates of 1,4-benzoquinone as potential antimicrobial agents. IL
Farmaco 1989; 44(4) 415-421.
KNOCHKAERT, M., GREENGARD, P., MEIJER, L. Pharmacological inhibitors of
cyclin-dependent kinases. TRENDS Pharm Sci 2002; 23: 417-425.
KIMA, P.E., SOONG, L., CHICHARRO, C., RUDDLE, N.H. & McMAHON-PRATT, D.
Leishmania-infected macrophages sequester endogenously synthesized parasite
antigens from presentation to CD4+ T cells. Eur J Immunol 1997; 26:3163-3169.
KORNBERG A, RAO NN & AULT-RICHÉ D. Inorganic polyphosphate: a molecule of
many functions. Annu Rev Biochem. 1999; 68:89-125.
KRAKOFF, I.H. Clinical and pharmacologic effects of hydroxyurea. Antineoplastic
and Immunosupressive Agents pp 789-792. Part 2 (Sartorelli A.C. & Johns, D.E., eds.)
Springer-Verlag, New York.
KÜÇÜKGÜZEL, S.G., ORUÇ, E.E., ROLLAS, S., SAHIN, F. & ÖZBEK, A. Synthesis,
characterization and biological activity of novel 4-thiazolidinones, 1,3,4-
oxadializones and some related compounds. Eur J Med Chem 2002; 37:197-206.
LEE, N., BERTHOLET, S., DEBRABANT, A., MULLER, J., DUNCAN, R, & NAKHASI,
H.L. Programmed cell death in the unicellular protozoan parasite Leishmania. Cell
Death Differ 2002; 9: 53-64.
Costa, C.F.
95
LEIRIÃO, P., RODRIGUES, C.D., ALBUQUERQUE, S.S. & MOTA, M.M. Survival of
protozoan parasites in host cells. EMBO Rep 2004; 5(12): 1142-1147.
LIEW, F.Y., MILLOT, S., PARKINSON, C., PALMER, R.M. & MONCADA, S.
Macrophage killing of Leishmania parasite in vivo is mediated by nitric oxide from
L-arginine. J Immunol 1990; 144:4794-4797.
LIU, H.L., LI, Z. & ANTHONSEN, T. Synthesis and fungicidal activity of 2-imino-3-(4-
arylthiazol-2-yl)-thiazolidin-4-ones and their 5-aryllidene derivates. Molecules 2000;
5:1055-1061.
LIU, M.C., LIN, T.S. & SARTORELLI, A.C. Synthesis and antitumor activity evaluation
of amino derivates of pyridine-2-carboxaldehyde thiosemicarbazone. J Med Chem
1992; 35, 3672-3677.
LODGE, R. & DESCOTEAUX, A. (2005). Modulation of phagolisosome biogenesis by
the lipophosphoglycan of Leishmania. Clin Immunol 114, 256-265.
McCONVILLE, M.J., DE SOUZA, D., SAUNDERS, E., LIKIC, V.A. & NADERER, T.
Living in a phagolysosome; metabolism of Leishmania amastigotes. TRENDS
Parasitol 2007; 23(8): 368-375.
MEHTA, A. & SAHA, C. Apoptotic death in Leishmania donovani promastigotes in
response to respiratory chain inhibition: complex II inhibition results in increased
pentamidine cytotoxicity. J Biol Chem 2002; 279: 11798-11813.
MELLO, M.D. (1997). Interação Leishmania major com macrófagos: a participação
do Lipofosfoglicano (LPG). Monografia apresentada ao Centro de Biociências e
Biotecnologia. Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil.
Costa, C.F.
96
MELO, E.J.T. & BEIRAL, H.J.V. Effect of hydroxyurea on the intracellular
multiplication of Toxoplasma gondii, Leishmania amazonensis and Trypanosoma
cruzi. Braz J Med Biol Res 2003; 36, 65-69.
MELO, E.J.T., MAYERHOFFER, R. O. & DE SOUZA, W. Hydroxyurea inhibits
intracellular Toxoplasma gondii multiplication. FEMS Microbiol Lett 2000; 185, 79-82.
MICHELS PA, BRINGAUD F, HERMAN M, HANNAERT V. Metabolic functions of
glycosomes in trypanosomatids. Biochim Biophys Acta. 2006 Dec;1763(12):1463-77.
MOSSER DM, ROSENTHAL LA. Leishmania-macrophage interactions: multiple
receptors, multiple ligands and diverse cellular responses. Semin Cell Biol. 1993
Oct;4(5):315-22. Review.
MOORE, E.C., & HURLBERT, R.B. The inhibition of ribonucleoside diphosphate by
hidroxyurea, guanazole and pyrazoloimidazole (IMPY). Inhibitors of Ribonucleoside
Diphosphate Reductase Activity pp165-201 (Cory, D.G. & Cory, eds.) Pergamon Press,
Oxford.
MOORE, E.C., ZEDECK, M.S., AGRAWAL., K.C. & SARTORELLI, A.C. (1970).
Inhibition of ribonucleoside diphosphate reductase by 1-Formylisoquinoline
thiosemicarbazones and related compounds. Biochemistry vol.9, n°23.
MURRAY, H.W. & NATHAN, C.F. Macrophage microbicidal mechanisms in vivo:
reactive nitrogen versus oxygen intermediates in the killing of intracellular visceral
Leishmania donovani. J Exp Med 1999; 189:741-746.
MURRAY, H.W. Cell-mediated immune response in experimental visceral
leishmaniasis II. Oxygen-dependent killing of intracellular Leishmania donovani
amastigotes. J Immunol, 1982; 129:351-357.
Costa, C.F.
97
MUSKUS CE, MARÍN VILLA M. Metacyclogenesis: a basic process in the biology of
Leishmania. Biomedica. 2002 Jun;22(2):167-77. Review. Spanish.
NAULA, C., PARSONS, M. & MOTTRAN, J.C. Protein kinases as drug targets in
trypanosomes and Leishmania. Biochim Biofis Acta, 2005; 1754: 151-159.
NYALWIDHE J, MAIER UG, LINGELBACH K. Intracellular parasitism: cell biological
adaptations of parasitic protozoa to a life inside cells. Zoology (Jena).
2003;106(4):341-8.
OLIVIER, M., GREGORY, D.J. & FORGET, G. Subversion mechanisms by which
Leishmania parasites can escape the host immune response: a signaling point of
view. Clin Microbiol Rev. 2005 Apr;18(2):293-305. Review.
OPPERDOES, F. & COOMBS, G.H. Metabolism of Leishmania; proven and
predicted. TRENDS Parasitol 2007; 23: 149-158.
OUELLETTE, M., DRUMMELSMITH, J. & PAPADOPOULOU, B. Leishmaniasis: drugs
in the clinic, resistance and new developments. Drug Resist Update 2004; 7: 257-
266.
PESSANHA, C.S. (2006). Efeito in vitro de tiosemicarbazonas e seus derivados
tiazolidinônicos sobre o desenvolvimento intracelular do Toxoplasma gondii.
Dissertação apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia. Campos dos
Goytacazes, RJ, Brasil.
PROUDFOOT, L., NICOLAEV, A.V., FENG, G.J., WEI, W.Q., FERGUSON, M.A.,
BRIMACOMBE, J.S. & LIEW, F.Y. Regulation of the expression of nitric oxide
synthase and leishmanicidal activity by glycoconjugates of Leishmania
lipophosphoglycan in murine macrophages. Proc Natl Acad Sci USA1996; 93:10984-
10989.
Costa, C.F.
98
PROUDFOOT, L., O’DONNELL, C.A. & LIEW, F.Y. Glycoinositolphospholipids of
Leishmania major inhibit nitric oxide synthesis and reduce leishmanicidal activity
in murine macrophages. Eur J Immunol 1995; 25: 745-750.
RAO NN & KORNBERG A. Inorganic polyphosphate regulates responses of
Escherichia coli to nutritional stringencies, environmental stresses and survival in
the stationary phase. Prog Mol Subcell Biol. 1999;23:183-95. Review.
REINER, N.E., NG, W. & McMASTER, W.R. Parasite-acessory cell-interactions in
murine leishmaniasis. 2. Leishmania donovani suppresses macrophage
expression of class I and class II major histocompatibility complex gene products.
J Immunol 1987; 138:1926-1932.
RICHARDSON, D.R. Therapeutic potential of iron chelators. Exp Opin Invest Drugs,
1999; 8, 2141-2158.
ROSENTHAL, E. & MARTY, P. Recent understanding in the treatment of visceral
leishmaniasis. J Postgrad Med 2003; 49: 61-68.
RUBIN, H., SALEM, J.S., LI, L.S., YANG, F.D., MAMA, S., WANG, Z.M., FISHER, A.,
HAMANN, C.S. & COOPERMAN, B.S. Cloning, sequence determination and
regulation of the ribonucleotide reductase subunits from Plasmodium falciparum:
a target for anti-malarial therapy. Proc Natl Acad Sci USA, 1993; 90, 9280-9284.
RUIZ FA, RODRIGUES CO, DOCAMPO R. Rapid changes in polyphosphate content
within acidocalcisomes in response to cell growth, differentiation, and
environmental stress in Trypanosoma cruzi. J Biol Chem. 2001 Jul 13;276(28):26114-
21.
SCHAIBLE, U.E. & KAUFMANN, S.H. A nutritive view on the host-pathogen
interplay. TRENDS Microbiol 2005; 13(8): 373-380.
Costa, C.F.
99
SEN, N., DAS, B.B., BANGULY, A., MUKHERJEE, T., TRIPATHI, G.,
BANDYOPADHYAY, S., RAKSHIT, S., SEN, T., & MAJIMDER, H.K. Camptothecin
induced mitochondrial dysfunction leading to programmed cell death in unicellular
hemoflagellate Leishmania donovani. Cell Death Differentiation 2004; 11: 924-936.
SERENO, D., GUILVARD, E., MAQUAIRE, S., CAVALEYRA, M., HOLZMULLER, P.,
OUAISSI, A. & LEMESRE, J.L. Experimental studies on the evaluation of antimony-
resistant phenotype during the in vitro life of Leishmania infantum: implications for
the spread of chemoresistance in endemic areas. Acta Tropica 2001; 80: 195-205.
SERNEE, N.F., RALTON, J.E., DINEV, Z., KHAIRALLAH, G.N., O’HAIR, R.A.,
WILLIAMS, S.J. & McCONVILLE, M.J. Leishmania ββββ-1,2-mannan is assembled on a
mannose-cyclic phosphate primer. Proc Natl Acad Sci USA 2006; 103:9458-9463.
SHAKED-MISHAN, P., ULRICH, N., EPHROS, M. & ZILBERSTEIN, D. Novel
intracellular SbV reducing activity correlates with antimony susceptibility in
Leishmania donovani. J Biol Chem 2001; 276: 3971-3976.
SHAPIRO TA, ENGLUND PT. The structure and replication of kinetoplast DNA. Annu
Rev Microbiol. 1995;49:117-43.
SIMPSON, L. Kinetoplast DNA in tripanosomid flagellates. Int Rev Cytol 1986; 99:
119-207.
SORENSEN, A.L., HEY, A.S. & KHARAZMI, A. Leishmania major surface gp63
interferes with the function of human monocytes and neutrophils in vitro. APMIS
1994; 102:14395-14399.
SUDHANDIRAN, G., SHAHA, C. Antimonial-induced increase in intracellular
Ca2+through non-selectivecation channels in the host and the parasite is
Costa, C.F.
100
responsible for apoptosis of intracellular Leishmania donovani amastigotes. J Biol
Chem 2003; 278: 25120-25132.
SUNDAR, S. Drug resistance in Indian visceral leishmaniasis. Trop Med Int Health
2002; 6: 849, 854.
TAUBER, A.I. Metchnikoff and the phagocytosis theory. Nature Reviews 2003; 4,
897-901.
TENÓRIO, R.P., CARVALHO, C.S., PESSANHA, C.S., LIMA, J.G., FARIA, A.R., ALVES,
A.J., MELO, E.J.T. & GÓES, A.J.S. Synthesis of thiosemicarbazone and 4-
thiazolidinone derivates and their in vitro anti-Toxoplasma gondii activity. Bioorg
Med Chem Letters 2005; 15, 2575-2578.
THELANDER, L. & REICHARD, P. Reduction of ribonucleotides. Annu Rev Biochem
1979; 48: 133-158.
THELANDER, M., GRASLUND, A. & THELANDER, L. Subunit M2 of mammalian
ribonucleotide reductase. J Biol Chem, 1985; 260, 2737-2741.
UEDA-NAKAMURA, T., ATTIAS, M. & DE SOUZA, W. Comparative analysis of
megasomes in members of the Leishmania mexicana complex. Res Microbiol. 2007
Jun;158(5):456-62. Epub 2007 Apr 7.
UEDA-NAKAMURA, T., DACONCEIÇÃO ROCHA SAMPAIO, M., CUNHA-E-SILVA, N.L.,
TRAUB-CSEKO, Y.M. & DE SOUZA, W. Expression and processing of megasome
cysteine proteinases during Leishmania amazonensis differentiation. Parasitol Res.
2002 Apr;88(4):332-337.
URBINA, J.A. Mechanisms of action of lysophospholipid analogues against
trypanosomatid parasites. Trans Royal Soc Med Hyg 2006; 100: 9-16.
Costa, C.F.
101
VANNIER-SANTOS, M.A., MARTINY, A. & DE SOUZA, W. Cell biology of Leishmania
spp.: invading and evading. Current Pharmaceutical Design 2002; 8, 297-318.
WALCOURT, A., LOYEVSKY, M., LOVEJOY, D.B., GORDEUK, V.R. & RICHARDSON,
D.R. Novel aroylhydrazone and thiosemicarbazone with anti-malarial activity
against chloroquine-resistant and –sensitive parasites. Int J Biochem Cell Biol 2004;
36, 401-407.
WANDERLEY, J.L.M., BENJAMIN, A., REAL, F., BONOMO, A., MOREIRA, M.E.C. &
BARCINSKI, M.A. Apoptotic mimicry: an altruistic behavior in host/Leishmania
interplay. Braz J Med Biol Res 2005; 38:807-812.
WANG, J.C. Cellular roles of DNA topoisomerases: a molecular perspective. Nature
Review. Mol and Cell Biol 2002; 3: 430-440.
WEBER, G. Biochemical strategy of cancer cells and the design of chemotherapy.
Cancer Res. 1983; 43: 3466-3492.
WEBSTER, P & RUSSEL, DG. The flagellar pocket of trypanosomatids. Parasitol
Today. 1993; Jun;9(6):201-6.
WYLLIE, S., CUNNINGHAM, M.L., FAIRLAMB, A.H. Dual action of antimonial drugs
on thiol redox metabolism in the human pathogen Leishmania donovani. J Biol
Chem 2004; 279 (38): 39925-39932.
ZHANG K, HSU FF, SCOTT DA, DOCAMPO R, TURK J & BEVERLEY SM. Leishmania
salvage and remodelling of host sphingolipids in amastigote survival and
acidocalcisome biogenesis. Mol Microbiol. 2005 Mar;55(5):1566-78.