Território Quilombola em Foco
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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº1089
Outubro/2013
São Raimundo
Nonato
TERRITÓRIO QUILOMBOLA EM FOCO:
Movimento cultural Capoeira de Quilombo festeja os valores socioculturais
Quilombola no Semiárido Piauiense.
A comunidade quilombola Lagoa da
Firmeza, município de São Raimundo Nonato é
um dos referenciais da atuação do movimento
Cultural Capoeira de Quilombo.
O Movimento cultural Capoeira de
Quilombo desenvolve um trabalho sociocultural
com a finalidade de reconhecer e fortalecer as
culturas de matrizes Afropindoramicas no
território Lagoas, o segundo maior território Quilombola do país. Com atividades de
expressão corporal, o molejo e mandinga da Capoeira e rodas de conversa, o grupo
fomenta o fortalecimento das expressões, identidades culturais e política do quilombo, e
formação cidadã de direito junto às crianças, jovens e adolescentes do Território
Quilombola Lagoas.
O Assessor técnico da área pela parceria Dom Helder Câmara e um dos
idealizadores do movimento cultural capoeira de Quilombo Valdir de Souza, conhecido na
comunidade como mestre Kina, conta como surgiu a iniciativa:
“Em 2011 iniciamos o trabalho de assessoria técnica na comunidade, através da
Cáritas Diocesana em parceria com o projeto Dom Helder Câmara, nesse período
identificamos o grande potencial cultural dessa comunidade, e foi, então que sentimos a
necessidade de realizar um trabalho com a juventude. A comunidade Lagoa da firmeza é o
referencial, porém conseguimos abarcar os jovens das demais comunidades do entorno.
No ano de 2012colocamos o projeto em prática.
As atividades são realizadas no turno da noite,
em contra turno escolar.Durante o dia as
crianças, jovens e adolescentes freqüentam a
escola e a noite participam das atividades de
capoeira e rodas de conversa. 50% do tempo da
aula é expressão corporal, com ginga, jogo e
mandinga e os outros 50% fazemos a roda de
conversa, com troca de experiências, formação,
informação e debate. Nosso contexto passa
pela história da transcendência que é o
fortalecimento das religiões de matrizes
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí
africanas dentro do território. A capoeira de
Quilombo não abre mão disso,sabemos que é
importantíssimo fortalecer a transcendência
dentro dos quilombos, outro passo importante é
discutir a relação de gênero, o quilombo precisa
reviver seus valores de gênero que foi perdido no
massacre ocorrido durante toda sua história.
Nós, agentes Cáritas, realizamos o trabalho de
assessoria técnica durante o dia,e
permanecemos na comunidade até a noite para
realizarmos esse trabalho sociocultural.”
Valdir Souza (Kina) fala também da festa
cultural KIZOMBA que é a culminância desse trabalho:
“AKIZOMBA- o termo em Orubá significa festa da consciência, no contexto da
comunidade quilombola Lagoa da Firmeza, é a “festa da juventude consciente”, por ser um
espaço em que a juventude festeja seus valores. O evento é realizado anualmente na
comunidade com a participação das crianças, jovens, adolescentes e comunidade em
geral. Festejamos os valores sociais e culturais desse povo, e dentre as atividades tem a
mandingagem - que é o ritual com formação e mudança de cordas na capoeira, é o
momento em que as crianças, jovens e adolescentes reconhecem que evoluíram no
processo de compromisso do ser social, e do ser cultural.nesse dia também são realizadas
palestras e debates sobre as raízes culturais do Quilombo, das manifestações culturais, e
assim também o evento KIZOMBA é momento de revitalizar, resignificar, salvaguardar e
difundir os valores dos grupos que estão dentro da comunidade do quilombo como: o
reisado, rodas de são Gonçalo e expressões religiosas. O que se percebe é que mais forte
que expressão corporal é a expressão política do quilombo, pois não estamos vivenciando
apenas em expressão de corpo e sim de uma expressão política e social do território
Afropindorâmico. identificamos nesse território um laço muito forte com a relação
indígena que é o povo Pindorâmico e precisamos cada vez mais fortalecer esta etnia.
Dentro dessa perspectiva, a Cáritas Diocesana é a parceira que nos dar condições de
vivenciar a proposta com o apoio Projeto Dom Helder Câmara. Outra parceria importante é
a própria comunidade que nos apóia, nos recebe em suas casas, nos alimenta com
informações, com histórias, enfim, a vida social da comunidade é atribuída nesses
espaços. A troca é muito boa, atribuímos a consolidação e continuidade desse trabalho a
parceria da Cáritas Diocesana e convênios”. E é nesse clima de contentamento que Valdir
Souza (KINA) conclui a entrevista dizendo que o alvo é a soberania daquele povo.
Realização Apoio