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TEOLOGIA DO PACTO - Parte 2 - Aliança da criação Postado por Davi e Tais Andrade às 06:15 Por Davi Helon de Andrade A palavra “aliança” não aparece no relato da criação. Isto é, para muitos, prova de que não é legítimo falar de uma aliança de Deus com o homem estabelecida no momento da criação. Contudo, deve-se levar em conta os seguintes fatos: O. Palmer Robertson argumenta, em seu livro Cristo Dos Pactos, que a palavra berith (pacto) também não aparece em 2 Sm 7 ou 1 Cr 17, onde Deus confirma a sua aliança com Davi. Isto não significa que esses textos não falam de uma aliança de Deus com Davi, pois, tanto 2 Sm 23.5 como Salmo 89.3 falam de uma aliança de Deus com Davi. Gerard Van Groningen argumenta, em seu livro Criação e Consumação, que o termo “Trindade” também não aparece na Escritura, embora seja ensinado por muitas referências às três pessoas. Em Gênesis 3 o Pacto da Redenção/Graça foi incorporado ao Pacto da Criação; contudo, o termo berith não aparece no capítulo 3 de Gênesis. Nem por isso, argumenta Van Groningen, muitos teólogos deixam de sustentar o Pacto da Redenção/Graça.[1] Além disso, deve-se olhar para três passagens das Escrituras que dão suporte à doutrina do Pacto da Criação. As passagens são: Gênesis 6.18, Jeremias 33.20,21,25,26 e Oséias 6.7. Vejamos o que os textos dizem: Gênesis 6.18 é a primeira evidência para se confirmar a aliança da criação. O texto da versão portuguesa Revista e Atualizada diz: "Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos,"

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TEOLOGIA DO PACTO - Parte 2 - Aliança da criaçãoPostado por Davi e Tais Andrade às 06:15

         Por Davi Helon de Andrade         

              A palavra “aliança” não aparece no relato da criação. Isto é, para muitos, prova de que não é legítimo falar de uma aliança de Deus com o homem estabelecida no momento da criação.

Contudo, deve-se levar em conta os seguintes fatos:O. Palmer Robertson argumenta, em seu livro Cristo Dos Pactos, que a

palavra berith (pacto) também não aparece em 2 Sm 7 ou 1 Cr 17, onde Deus confirma a sua aliança com Davi. Isto não significa que esses textos não falam de uma aliança de Deus com Davi, pois, tanto 2 Sm 23.5 como Salmo 89.3 falam de uma aliança de Deus com Davi.

Gerard Van Groningen argumenta, em seu livro Criação e Consumação, que o termo “Trindade” também não aparece na Escritura, embora seja ensinado por muitas referências às três pessoas. Em Gênesis 3 o Pacto da Redenção/Graça foi incorporado ao Pacto da Criação; contudo, o termo berith não aparece no capítulo 3 de Gênesis. Nem por isso, argumenta Van Groningen, muitos teólogos deixam de sustentar o Pacto da Redenção/Graça.[1]

 Além disso, deve-se olhar para três passagens das Escrituras que dão suporte à doutrina do Pacto da Criação. As passagens são: Gênesis 6.18, Jeremias 33.20,21,25,26 e  Oséias 6.7.

            Vejamos o que os textos dizem:

Gênesis 6.18 é a primeira evidência para se confirmar a aliança da criação. 

O texto da versão portuguesa Revista e Atualizada diz:

"Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos,"

O verbo traduzido como "estabelecerei," no hebraico é  ~wq kun, e pode ser traduzido como "continuar" ou "confirmar," Podemos ver exemplos como:

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"habita nela, e serei contigo e te abençoarei; porque a ti e a tua descendência darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a Abraão, teu pai." Gênesis 26.3

“então, confirmarei o trono de teu reino sobre Israel para sempre, como falei acerca de Davi, teu pai, dizendo: Não te faltará sucessor sobre o trono de Israel”. I Reis 9.5

O texto também poderia ser traduzido da seguinte maneira:

“Contigo, porém, confirmarei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos" (Gn 6.18).

“Eis que confirmo a minha aliança convosco, e com a vossa descendência, e com todos os seres viventes que estão convosco: tanto as aves, os animais domésticos e os animais selváticos que saíram da arca como todos os animais da terra.Confirmarei minha aliança convosco: não será mais destruída toda carne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra” (Gn 9.9-11).

Dessa forma, Deus estaria confirmando ou continuando uma aliança com Noé, uma aliança anteriormente estabelecida, esta só podendo ser a aliança ou pacto da criação.

Jeremias 33.20-21, 25-26 faz uma segunda referência a uma aliança com o dia e aliança com a noite:“Assim diz o SENHOR: Se puderdes  invalidar a minha aliança com o dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem noite a seu tempo, poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo, para que não tenha filho que reine no seu trono; como também com os levitas sacerdotes, meus ministros...Assim diz o SENHOR: Se a minha aliança com o dia e com a noite não permanecer, e eu não mantiver as leis fixas dos céus e da terra, também rejeitarei a descendência de Jacó e de Davi, meu servo, de modo que não tome da sua descendência quem domine sobre a descendência de Abraão, Isaque e Jacó; porque lhes restaurarei a sorte e deles me apiedarei”.

Aparece a expressão "a minha aliança com o dia e com a noite." Jeremias pode estar se referindo nesses versos: à criação ou ao pacto com Noé, onde Deus promete manter a ordem fixa das estações, dia e noite (Gn 8.22).

Porém, o texto paralelo de Jeremias 31.35-36 confirma a primeira opção (criação) como melhor

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“Assim diz o SENHOR, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas; SENHOR dos Exércitos é o seu nome. Se falharem estas leis fixas diante de mim, diz o SENHOR, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre”.

Assim, Jeremias estaria, ao falar do pacto com a casa de Israel e com Davi, refletindo o fundamento do pacto de Deus com a criação. Da mesma forma que o pacto estabelecido por Deus com a criação, "a aliança com o dia e com a noite," não pode ser invalidada, o pacto com Davi tem que ser e será mantido.

Oséias 6.7 é um terceiro texto que nos mostra Adão inserido em uma aliança que ele transgrediu no Éden.

            “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim”. Oséias 6.7

            Alguns tentam mostrar que a tradução correta seria “em Adão”. Mas a preposição proíbe essa tradução. Outros propõem a tradução “como homens”, mas não há plural no original. A tradução, “como Adão”, é a melhor.

            Vemos também em Romanos 5.12-21 que Paulo considera Adão e Cristo como cabeças de um povo que eles representam, algo que seria inteiramente coerente com a ideia de Adão estar em uma aliança antes da queda.

Como então entendermos esta aliança?           

O Teologo Palmer Robertson a chama de aliança da criação, podendo ser discutido em termos do seu aspecto geral e do seu aspecto focal.

No aspecto geral da Aliança da criação relaciona-se com as responsabilidades mais amplas do homem para com seu Criador. No Aspecto focal da aliança da criação relaciona-se com a responsabilidade mais especifica do homem decorrente do momento especial da prova ou teste instituído por Deus.

            Aspecto focal

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            Na criação, Deus comprometeu a humanidade consigo mesmo numa aliança de vida e morte.

A Confissão de fé de Westminster deu o nome para este pacto de Pacto das obras.

            “O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal”. VII  II

A arvore do conhecimento do bem e do mal exerceu um papel-chave nesse procedimento de teste: a obediência significava vida e a desobediência significava morte.

            “E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Gn 2.16,17

            Vemos de maneira clara neste texto o conceito de aliança.

1. As partes envolvidas: Deus e Adão.2. Promessa da aliança: Vida Eterna.3. Condição da aliança: Obediência implícita e perfeita.4. Castigo anunciado: Morte física, espiritual e eterna.5. Sacramento: Arvore da vida: Participando daquela árvore, Adão e Eva estariam participando da promessa da vida eterna que Deus daria. O fruto em si não possuía propriedades mágicas, mas era um sinal exterior pelo qual Deus garantia que a realidade interior ocorria Gn 3.22.

Aspecto geral

            Deus construiu um mundo de modo que esse único portador da imagem tivesse responsabilidades consoantes à sua dignidade pessoal como homem.

1          O Mandato Espiritual

“E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não

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comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Gênesis 2.16,17

“Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”. Gênesis 2.1-3

Aqui somos introduzidos ao conceito de relação entre o homem e Deus por meio de um pacto. Deus é visto como sendo o Soberano que exige do homem uma observância das estipulações pactuais. Vejamos o que está envolvido neste mandado espiritual:1. A comunicação: Adão falava com Deus (Gn 3.8-10). Havia uma comunicação entre a criatura com o Criador. A própria ordem de Deus para não comer da árvore aponta para esta comunicação.2. A Obediência a uma ordem: Em Gênesis 2.16 tem a expressão “deu esta ordem” exige de Adão uma obediência e uma conformidade para com a Lei de Deus expressa no pacto. O pacto envolvia vida e morte. O certamente “morrerás” no versículo seguinte indica que a vida e morte se relacionavam com o pacto. Por isso, exigia-se da parte que estava pactuando com Deus (no caso Adão) uma obediência inteira, exata e perpetua.  3. Adoração: O mandado espiritual envolve a questão da adoração oferecida ao criador. No inicio de tudo já podemos dizer isso. Em Gênesis 2.1-3 indica que Deus cria o sábado para ser o dia de adoração, este sábado é um memorial da criação de Deus. O sábado é instituído como dia de culto onde Adão e sua família deveria se deleitar.

Com respeito ao sábado Gerhard Von Rad diz:            Ainda que provisório e não plenamente consciente para o homem, o repouso é um bem salutar de que Israel participará um dia quando chegar o momento oportuno. Seria errado pensar que esse repouso com que Deus encerra a criação seja uma espécie de abandono do mundo como se voltasse as suas costas para ele, quando é precisamente o contrario, é o modo de Deus vir ao encontro de sua criatura no mistério da graça[2].

2          O mandato social“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e

mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos,

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enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” Gênesis 1.27,28

A fecundidade e capacidade de multiplicação, duas bênçãos descritas nesse verso, eram também ordens diretas do Criador para aqueles que foram feitos à sua imagem e semelhança.

Todo o contexto do capítulo dois (2.4-25), uma explicação do ocorrido no sexto dia do relato da criação, nos ensina que o homem e a mulher foram criados por Deus para o auxilio mútuo, tendo sido a mulher criada a partir do homem. A narrativa diz que Adão reconheceu a mulher como tendo sido feita da sua essência (“osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2.23), e o autor da narrativa comenta que, por essa razão,

“deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” Gênesis 2.24

Assim como o mandado espiritual, o mandado social deveria ser um desenvolvimento da aliança entre o homem e a mulher, um relacionamento a ser cultivado por ambos no contexto do casamento. Assim, num relacionamento íntimo com o Criador, o homem e a mulher desenvolveriam o mandado social. Assim entenderam os teólogos de Westminster:O matrimônio foi ordenado para o mútuo auxílio de marido e mulher, para a propagação da raça humana por uma sucessão legítima e da Igreja por uma semente santa, e para impedir a impureza (CFW 24.2).

3          O mandato, cultural,

Pode ser visto nos seguintes textos:“... tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26).

“... enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” (Gn 1.28).“Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” (Gn 2.15).

Segundo esses três textos, o homem criado por Deus tem em suas mãos as funções de domínio, sujeição e cultivo (Ver Salmo 8). No contexto da criação, isso implicaria em muito trabalho, nas mais diversas áreas. Ele deveria tomar tempo para cultivar o solo, exercer o domínio e, consequentemente, gozar e desfrutar do trabalho de suas mãos,12 tudo isso em um ambiente de plena harmonia. Fazendo assim, também estaria obedecendo ao Criador que o havia criado e equipado para tais

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coisas. Portanto, o mandado cultural envolve as áreas do trabalho, política, ensino, tecnologia, lazer, etc. O ser humano criado à imagem e semelhança de Deus deveria, em um certo sentido, desenvolver a criação perfeita, representar o Criador e fazer cumprir a sua soberana vontade. Assim, o seu papel de vice-gerência seria cumprido sob as estipulações de vida e amor do pacto da criação.

No entanto, essa harmonia perfeita era dependente do comportamento do homem diante das estipulações do pacto, e ele deve conduzir o mundo em sua consagração de todas as coisas para a Glória de Deus. (Gn 2.3).

            Porém o primeiro homem fracassou no teste e em seu fracasso ele perdeu a vida

Oséias 6.7 nos mostra que Adão transgrediu a aliança no Éden.

            “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim”. Oséias 6.7

            Vemos também em Romanos 5.12-21 que Paulo considera Adão e Cristo como cabeças de um povo que eles representam, algo que seria inteiramente coerente com a ideia de Adão estar em uma aliança antes da queda.                       Porém, uma pergunta deve ser feita com relação à aliança da criação no seu aspecto focal, também conhecida como aliança das obras.

Ela ainda esta em vigor? Podemos dizer que sim.            Paulo deixa claro que a obediência perfeita às leis de Deus, caso fosse possível, conduzia a vida, vejamos:

            “E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte”. Rm 7.10            “Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá por ela”. Rm 10.5            “Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá”. Gl 3.12                       A aliança das obras ainda esta vigorando em cada ser humano separado de Cristo.           

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“o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Rm 6.23

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 Até o próximo post

[1] GRONINGEN. Gerard Van, Criação e Consumação, São Paulo, Cultura Cristã, V.1, p. 89.[2] RAD, Gerhard Von. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: ASTE. 1973, p. 155.