TEMAS DE PSICOLOGIA SOCIAL -...

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Braghirolli, Elaine Maria Temas de psicologia social / Elaine Maria Braghirolli, Siloé Pereira, Luiz Antônio Rizzon. - Petrópolis, RJ : Vozes, 1994. I~BN 85.326.1224-5 1 - Comportamento humano. 2 - Psicologia social. I - Pereira, Siloé. n- Rizzon, Luiz Antônio. III. - Título. 94.1461 CDD-302 Índices para catálogo sistemático: 1. Psicologia social 302 I jr e Maria Braghiroll i Silo é Pereira Luiz Antônio Rizzo TEMAS DE PSICOLOGIA SOCIAL Ilustrações de: Rita Brugger 7 a Edição A EDITORA Y V Z r Ir I 11: : '()() ,

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Braghirolli, Elaine Maria

Temas de psicologia social / Elaine Maria Braghirolli, Siloé Pereira, LuizAntônio Rizzon. - Petrópolis, RJ : Vozes, 1994.

I~BN 85.326.1224-5

1 - Comportamento humano. 2 - Psicologia social. I - Pereira, Siloé.n - Rizzon, Luiz Antônio. III. - Título.

94.1461 CDD-302

Índices para catálogo sistemático:

1. Psicologia social 302

I jr e Maria Braghiroll iSiloé Pereira

Luiz Antônio Rizzo

TEMAS DEPSICOLOGIA SOCIAL

Ilustrações de: Rita Brugger

7a Edição

A EDITORAY V Z

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Merton (1957)responde (apud Deutsch e Krauss, 1974,p. 183):"1. Quanto maior for o poder dos grupos de não-pertinência para

outorgar prestígio ao individuo (em comparação com o poder de seusgrupos de pertínêncía). maior será a probabilidade de que os escolha

~omo marco de referência.2. Quanto menos central for a localização do indivíduo nos seus

grupos de pertinência, maior será a probabilidade que escolha um grupode não-pertinência como marco de referência.

~ 3. Os sistemas sociais que têm uma alta taxa de mobilidade(mudança de status social) promovem a adoção de grupos de não-per-tinência como grupos de referência. Há adoção de atitudes antes denova mudança. Para a mudança de status é necessária a 'socializaçãoprévia'.

'\ 4. As características da personalidade individual também devemdesempenhar uma função na escolha do grupo de referência (são poucosos estudos a respeito)".

Alguns grupos de referência influem sobre um indivíduo somenteem um contexto muito limitado, enquanto que. outros exercem umainfluência mais profunda (nem sempre um associado de um sindicato otoma como marco de referência para suas opiniões sobre problemaseconômicos, por exemplo).

O tipo de influência pode ser mais específico que geral. É provávelque uma pessoa empregue diferentes grupos de referência em diferentesmomentos e que o grupo empregado em qualquer momento dependade fatores complexos.

9. PAPÉIS SOCIAIS

9.1. Conceitos preliminares

9.1.1. Introdução

Os conceitos, princípios e conclusões que serão examin doa l( li 11derivam principalmente da chamada Teoria do Rol (Pap 1), ujon \1\1.(cedentes'encontram-se na Psicologia e na Sociologi .

Trata-se de uma área ainda não tot lmcnte sist m tlz(1CI1, <l11( \,( 111recebido contribuições de muitos campo d tnv st1 . I 1i I fll 1III

citar os trabalhos de Thibaut e Kelloy d Ilorn n 111,1 1 1111 I

importantes.

111

Apesar de já se ter feito menção, muitas vezes, ao conceít (I(

"papel" nos itens anteriores, agora ele será examinado com mais v 1I I

dada sua importância para a compreensão do comportamento hum 111.

Para isso, é necessário iniciar com o exame de outros cone lt I

relacionados, como o de "posição" e "status".

9.1.2. Posição

Entende-se por "posição" a localização de uma pessoa no grupoorganização. Uma "localização" é definida pelos direitos e obrigaçque regulam a interação do indivíduo que a ocupa com os demais,outras posições.

No grupo familiar, por exemplo, costumeiramente há difer nt 11posições: a de pai, de mãe, de filho, e pode haver outras. Em nOdIJ1sociedade, a posição de pai implica determinadas obrigações para 111

os filhos, como a de garantir-Ihes á'alimentação, moradia, proteção, 1,(.Também implica certos direitos, como o de ser obedecido e resp ít do,Por sua vez, a posição de filho confere o direito de ser prot I 0,alimentado, etc., e o dever de obedecer e respeitar.

As posições se delimitam, pois, pelas diferenças de dever I (

direitos existentes entre elas, diferenças que são reconhecidas e ac tOIl

pela sociedade, que fazem parte da sua cultura e que não nec 11 \

mente estão registradas, explicitadas em qualquer documento.Este conjunto de direitos e deveres que caracteriza uma po I' )

varia, naturalmente, de cultura para cultura. A pesquisa PROJ VII:M(Pisano et al., 1992)mostrou claramente, por exemplo, que n ,,,ILIII 1dos descendentes de imigrantes italianos da região norde t ti li!!Grande do Sul são muito diferentes as tarefas consideradas c1 uu 111 11

para o homem e a mulher, cabendo a ele (e não a ela) II( I (11 I I

imobiliários da família, e a ela (e não a ele), lavar e passar rOIIJ} I

Numa empresa, por exemplo, diferem as posições d x '1I\,lvll

dministrador daquela do funcionário operário. Oprimeiro d v r IlIOVI I

r cursos p ra o funcionamento da empresa e terá o direito d Jl L I

hor rio fixod trabalho. O segundo deverá bater ponto e ree b r 11(I!lO1\\ 1\ 1 « t têneia médica.

'rodo nó ocupamos, simultaneamente. muitas posíçõ . Â nu IIIICl L IIlIl ,\1I1I 1 ulnor pode ser mãe, operária de uma fábnc .rn 11\1111)

uo (;1111 ( cll !11tH M tr S d seola de seus filhos, ete.

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qu a maioria dos estudiosos coloc .Status se refere, em geral. à importância relativa de dj[ rentes

posições e pessoas para o grupo ou organização. Esse valor diferenciadovai refletir-se também sobre os direitos e deveres. Assim, por exemplo,atribui-se, costumeiramente, maior status ao diretor de uma empresa doque ao chefe de departamento e entende-se que o diretor deveráconhecer mais a respeito do funcionamento global da empresa e queassumirá maior parcela de responsabilidades sobre ela. O mesmo diretor,por outro lado, poderá cumprir horários menos rígidos de trabalho,ganhar um salário maior, ter um escritório mais espaçoso que o chefede departamento.

Nesse exemplo, o status está relacionado a posições hierarquica-mente estabelecidas e, por isso, chama-se status formal, existindoindependentemente das pessoas que ocupam as posições.

O status não-formal é aquele que distingue pessoas que ocupam amesma posição e que não pode ser enunciado de forma explícita. Numaempresa, por exemplo, dois chefes de departamento podem ter statusdiferentes, sendo atribuída maior importância a um deles pela maiorcompetência percebida. O empregado mais experiente de um setor podegozar de maior status, entre seus companheiros, do que os outros.

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exemplos: os galões e medalhas mil1t r, nóis d gr u. 111 11l1/l,

Numa empresa, os escritórios mais e çosos. equipados com .' 1\

dicionado, e as maiores escrivaninhas são destinados aos posto m Iltlimportantes e se constituem, assim, em símbolos de status.

Em civilizações primitivas, um símbolo de status poderia ser, t lv z,o tamanho do cocar do chefe indígena, ou de sua moradia.

Apesar de "posição" e status serem conceitos bastante relacion O,pode-se distingui-los lembrando que posição é a localização d llU)elemento do grupo em relação aos demais e que status se ref rimportância de uma posição em relação às outras.

9.2. Conceito de papel social

Considera-se que o conceito de papel (ou "rol") está no pont ltarticulação entre a Psicologia e a Sociologia, sendo bastante util1z dopelas duas áreas do conhecimento.

Papel designa o modelo de comportamento que caracteriza o lu 1Ido indivíduo no grupo ou organização. Em outras palavras, entend .por papel o comportamento que se espera de quem ocupa uma d t rminada posição com determinado status.

Assim, por exemplo, esperam-se certos comportamentos de um r> I:que sustente os filhos, que proveja sua alimentação e educação, L,conjunto destes comportamentos constitui o papel de um pai na n lI/lisociedade. Em outra sociedade, com outra cultura, os comportam 1\ 0/1

esperados podem ser muito diferentes.Deutsch e Krauss (1974, p. 165) indicam o uso do termo "pap 1"1>11 I

três sentidos distintos: (1) o sistema de expectativas que exist I\()

mundo social que rodeia o ocupante de uma posição, expectativas \lIreferentes ao seu comportamento em relação aos ocupantes das OULf 1posições (papel prescrito); (2) expectativas que o ocupante de um Iposição percebe como aplicáveis ao seu próprio comportamento ointeratuar com os ocupantes de outras posições (papel subjetivo); ( )comportamentos manifestos dos ocupantes de uma posição qu ninteratua com ocupantes de outras posições (papel desempenhado).

Estas três maneiras de entender o conceito de papel partem ltperspectivas distintas, mas se referem ao mesmo fenômeno.

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t m ntos. h v ndo, nt"prescrito" .

Da mesma forma, o comportamento real das pessoas tende acorresponder ao que crêem que se espera delas (ver item "Efeito dasexpectativas", capo 2º), fazendo coincidir os papéis "desempenhado" e"subjetivo".

É verdade que eventualmente pode haver grandes discrepânciasentre estes diferentes "papéis". Por exemplo, é possível que um recrutase engane a respeito do grau de familiaridade com que pode dirigir-seao general (e que pague caro por isso...).

O termo "papel", entretanto, é usado com maior freqüência paradenotar como se espera que deva se comportar o ocupante de umaposição frente às pessoas com as quais seus direitos e obrigações o põemem contato, sentido que corresponde ao de papel prescrito. Esseconceito de papel se refere ao conjunto de componentes prescritosculturalmente para a interação da pessoa que o desempenha com osdemais.

Alguns autores, entretanto, utilizam os termos valores "uníversalís-tas" e "particularistas" para indicar uma distinção possível. Um diretorde empresa, por exemplo, tem seu papel mais ou menos bem-definido,de forma geral. Esperam-se dele determinados comportamentos, emfunção de sua posição e status, em relação aos seus empregados, chefesde departamento, clientes, fornecedores, etc.

Se, no entanto, um desses empregados for seu amigo de infância, épossível que, em relação a ele, existam comportamentos esperadosdiferentes, já que a relação, neste caso, está governada por aspectospessoais.

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9.4. Conflitos de papéis

Cada um de nós desempenha, como já se viu, vanos papéisdecorrentes das muitas posições que ocupa. Cada papel exige de nócertos comportamentos. É possível que apareçam, assim, algumasvezes, incompatibilidades entre as exigências de diferentes papéis. É °.que se chama de conflito de papéis. As incompatibilidades podem sedar por diferentes razões. Algumas são listadas a seguir.

Há papéis que exigem dispêndio de algo (como tempo, dinheiro ouenergia) que não existe em quantidade suficiente para dois ou ma~spapéis. Um ator de teatro numa carreira política certamente se venafrente a um conflito entre estes dois papéis.

9.3. Desvios de papel

Numa determinada cultura, os papéis estão relativamente bem-es-truturados, isto é, esperam-se determinados comportamentos do ocu-pante de uma posição. Apesar disso, há uma margem mais ou menos"elástica" para os desvios. Espera-se, por exemplo, que um professorexplique a matéria para seus alunos, planeje suas aulas, realize avalia-ções, entre outros. No entanto, ele pode explicar a matéria através deaulas expositivas, estudo dirigido, organizando seminários, ou outros.Não há norma fixa de como ele deva fazer isso, apesar de se considerar

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experiência de laboratório que preei nvolver.Dois papéis também podem se mostrar conflitivospela lealdade ou

compromisso que a pessoa tem com grupos ou associações distintas. Ofuncionário da administração, que também é aluno de uma universidade,pode sentir-se conflituado durante uma manifestação dos estudantescontra a administração.

Papéis diferentes também podem exigirposturas opostas. A esposa,que sente a pressão social e a do marido para a submissão e obediência,deve ser autoritária e empreendedora na gerência de sua empresa.

Muitas outras razões podem determinar o conflito entre papéisdiferentes, conflito que pode variar quanto à intensidade.

Dependendo do rigor com que são definidos os comportamentosadequados ao papel, da importância dos mesmos, etc., pode se dar umconflito pouco intenso ou muito intenso, causando inclusive perturba-ções emocionais na pessoa.

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9.5. Papel e percepção social

A questão da percepção de pessoas enquanto desempenham seuspapéis é bastante estudada em Psicologia Social, por se constituir numproblema central da percepção de acontecimentos sociais.

As organizações e os grupos sociais podem ser analisados atravésdos papéis que contêm, papéis que, por sua vez, são desempenhadospor indivíduos que podem ser trocados. Em outras palavras, os papéisexistem independentemente dos indivíduos.

É claro que as diferenças individuais de personalidade imprimemdiferenças no desempenho dos papéis, mas a estrutura geral do papel éa mesma.

Nós todos aprendemos a julgar a adequação dos componentes daspessoas aos papéis. Tanto é que freqüentemente se escutam coisascomo: "ele não está cumprindo seu papel de pai", ou "ela assumiu opapel de chefe".

Aprendemos também a identificar os efeitos do desempenho pro-longado de um papel nas características de personalidade de umapessoa, mesmo quando ela não está desempenhando aquele papel. Porexemplo, uma professora aposentada pode revelar a profissão de suavida no seu comportamento, dando muitas "explicações".

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9.6. Papel social e personalidade

O desempenho de papéis se relaciona às características de perso-nalidade de, pelo menos, duas maneiras distintas.

Levando em conta que personalidade é "o conjunto total de carac-terísticas próprias do indivíduo que, integradas, estabelecem a formpela qual ele reage costumeiramente ao meio" (Pisani et al., 1991, p.165), pode-se entender que estas características, além de fazer quepessoa desempenhe seu papel de forma própria e única (dentro d"margem" permitida de desvios). também vão influenciar na escolha dopapel a ser desempenhado. Com suas exigências típicas, um papel podsatisfazer mais do que outros às necessidades individuais. É possível,por exemplo, que a necessidade de expressão da agressividade encontruma saída socialmente aceita na escolha da profissão de policial e qua necessidade de afiliação e prestígio motivem a opção pela carreira densino.

Por outro lado, como já se mencionou, os componentes e os valoraprendidos no desempenho prolongado de um papel podem vir a sconstituir num traço de personalidade.

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9.7. Importância do estudo sobre papéis sociais

De tudo o que foi visto, pode-se concluir a respeito da importânciao estudo do tema para a Psicologia.

Em primeiro lugar, sendo a Psicologia a ciência que pretendeonhecer, prever e, quem sabe um dia, controlar o comportamento, a

compreensão das exigências do papel pode auxiliar a explicar o com-ortamento das pessoas que o desempenham, tendo em vista, além de

tudo, a tendência humana de corresponder às expectativas dos outros.Ainda mais, papéis que foram desempenhados por longos períodos

da vida deixam sua "marca" na personalidade, característica que per-manece mesmo depois do papel já ter sido abandonado.

Num aspecto mais amplo, o fato das pessoas conhecerem oscomponentes comportamentais esperados no papel em que atuam e deconhecerem, também, o que se espera dos demais papéis com os quaisinteratuam, ajuda a orientar adequadamente o comportamento emrelação aos outros e a criar certa segurança e estabilidade no mundodas relações interpessoais.

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IV 1111.11 dll' I \11I\11 111 11I I, 1111 111 11 I 1111 111111111 11111111\1 I)

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10. J. d

10.1. Introdu o"Um dos fatos mais pressionantes e universais sobre grupos e que

eles têm quase sempre um líder". É com esta frase que Freedman,Carlsmith e Sears (1973,p. 142)começam a tratar o tema "liderança".

É realmente impressionante esse fato, verdadeiro para grupos hu-manos e grupos animais. Talvez por ser tão corriqueiro é que não seperceba de imediato a sua importância.

Será necessária a existência de um líder para que exista um grupo?Ou para que ele seja eficiente? A liderança é um atributo inat?? Ou ~eráadquirido? No caso, como alguém se torna líder? Em que consiste. afmal,a liderança?

Na tentativa de responder estas questões e obter compreensão sobreo tema, será examinada a literatura a respeito.

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