TELMO KEIM

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O seu www.guiarioclaro.com.br de bolso! ano 2 número 19 - maio 2009 © 1997-2009 www.guiarioclaro.com.br - 15.000 exemplares - distribuição gratuita

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O seu www.guiarioclaro.com.br de bolso!

ano 2 número 19 - maio 2009

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Drops é a versão de bolso do Guia Rio Claro Internet

Editor-executivo: Carlos Marques

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Editor: Marcelo Lapola

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Direção de Arte: Charles Rubin

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Tecnologia da Informação: Elton Hilsdorf Neves

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Redação: Daniel Marcolino, Gilson Santulo,

Lilian Cruz e Rafael Moraes [email protected]

Criação: Leonardo Hutter e Silvia Helena

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Atendimento: Silvana Santos

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Impressão: Gráfica Mundo www.graficamundo.com.br

Tiragem: 15.000 exemplares

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comerciais do Guia Rio Claro Internet, bancas centrais, estabelecimentos comerciais e

prestadores de serviço.

Manhã do dia 20 de março, uma sexta-feira, cidade de Nova York. Cinco alunos de Adminis-tração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Eaesp) estão no alto do famoso palanque da Bolsa de Valores, prestes a tocar o sino que marca o início do pregão. Entre eles está Bruna Gallo Casanova, estudante do oitavo semestre da FGV e ex-aluna do Colégio Koelle.

“A emoção de estar ali foi tanta que come-cei a chorar”, conta a jovem, com 23 anos e uma promissora carreira em curso no setor de private banking do Banco Santander. O motivo para estar ali, comandando a abertura do pre-gão da Bolsa de Nova York, foi a comemoração da vitória da sua equipe na etapa das Américas do 3º Desafio Anual Global de Pesquisa em In-vestimento, organizado pelo Chartered Finan-cial Analyst Institute (CFA).

O evento internacional envolveu equipes de 280 das mais prestigiadas faculdades de ad-ministração do mundo e a competição contou com três etapas. Bruna e a equipe coordenada pelo professor César Nazareno Caselani ven-ceram a etapa brasileira e se credenciaram a participar da etapa das Américas, conquistan-do também o primeiro lugar, na frente de tra-dicionais instituições como a Texas University (2º) e a Boston University (3º), EUA. “Foi por esta vitória que ganhamos a oportunidade de abrir o pregão da Bolsa em Nova York. Depois disso disputamos a etapa mundial, em Londres. Fica-mos em segundo lugar, com Cingapura em pri-meiro lugar. Foi um resultado surpreendente”, conta Bruna, que desde os nove anos estudou no Colégio Koelle.

Cada equipe tinha como missão fazer análi-se completa de uma determinada empresa e a MRVE3 foi a escolhida pela equipe da FGV. Em

Ex-aluna do Koelle vence desafio global

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seguida, o objetivo era calcular se o preço da ação na bolsa de valores era abaixo ou acima do preço alvo calculado pela equipe. “Se fosse acima, deveríamos convencer a banca avalia-dora a investir na empresa. Se fosse abaixo, deveríamos explicar quais os fundamentos e o porque as ações se comportavam daquela ma-neira. No nosso caso, a MRVE3 estava cotada a R$10,02 em 4 de março de 2009 e nós da equi-pe encontramos um preço alvo de R$16,61, por isso a nossa recomendação era de compra para esta ação. Acertamos!”, conta Bruna.

E as conquistas não pararam por aí. Por con-ta da vitória de sua equipe, Bruna, até então estagiária do banco Santander, foi efetivada no cargo. Integraram a equipe da FGV os alunos: Bruno Stembaum, Debora Radomysler, Rafael Nucci Furlan e Thomas Peters Humpert. Dire-tores e professores do Colégio Koelle parabeni-zam Bruna pela conquista.

Bruna Gallo Casanova e o Charging Bull, em Wall Street (NY)

Informe

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Entrevista

Entrevista ...........................8 a 15Especial Música ......................16

Cérebro Eletrônico ................18A Banda ......................................20A música e o tempo ............24

Zeca Baleiro ...................28 a 32Tecnologia ......................48 a 54Esportes ......................................56Turismo .................................... 60

Gastronomia ......................... 62Contraponto.............................66

Editorial

Giovanna Giorgetti e Fred Martins

Foto: Telmo Keim

Capa

Estava à toa na vida...À toa muita gente ainda consegue ficar, porém nos falta

banda. Músicas proliferam por toda parte e invadem os ouvidos, mesmo sem serem solicitadas. Duvida? Observe a quantidade de automóveis com som nas alturas. Se não bastasse a falta de educação, jingles e autofalantes insis-tem em anunciar o que não se precisa.

Foi-se o tempo da música em praça pública. Aliás, foi-se a praça pública. Em troca, assistimos o tempo do ouvido público, isto é, do nosso ouvido feito “penico”. Ensurde-cedor tornou-se o mundo e, quase surdos, caminhamos entre ruídos.

Mas a música resiste, assim como a harmonia e as lembranças que elas nos causam. Quem não tem as suas preferidas ou, ao ouvir uma melodia, explode a saudade, alegria... Eis o encanto que provocam aqueles que sobre-vivem de fazer a “faxina em nossas cabeças” com acordes que movem o tempo e silenciam palavras.

Em meio a tantos ruídos, fomos conversar com pessoas que sobrevivem de intercalar o silêncio. Num dos palcos, conversamos com André Abujamra para entender o seu infinito sem começo e a simplicidade das suas letras. Bem humorado, Abu mostrou porque desafia o complicado em busca de coisas elementares ao desrespeitar regras musi-cais. Em outro, encontramos Zeca Baleiro e suas baladas onde as melodias misturam ritmos e influências de um Brasil extemporâneo, algo entre o passado perdido e o fu-turo imprevisto.

No coreto, a banda ainda resiste e ganha o público jo-vem. Um esforço dos que veem redenção e prazer no ato de fazer música. Para os que preferem o clássico silêncio da pausa, as orquestras são como medida para as com-posições. Na balada, conversamos com um DJ, que faz da música uma dança coletivo-solitária.

Ousamos uma releitura dos anos 60 ao colocar na estra-da o espírito que percorreu uma geração ao som de Dylan e Stones. Na câmera, um gaúcho de Porto Alegre que tam-bém vê ‘cavalos encilhados’ e não espera, faz a hora.

Coloque sua música preferida para tocar e boa leitura!

Carlos Marques

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Entrevista

O infinito nunca acaba porqu e nunca começou– Puxa meu! Isso é um minuto? Eu tô ‘ferrado’!

Vou ter que atrasar o show duas horas! Olha quanta pergunta!

– Depois do show acho que é melhor...– Pode ser depois?– Claro. Mas, você vai estar disposto, bem-

humorado? –

Disposto não. Bem-humorado, sempre!– Melhor, vamos começar agora.– Vamos lá então. – Já está gravando?– Faz tempo...– Seus ...! Vocês vão botar todas essas

coisas que falei, né?

Entrevista: Marcelo Lapola, Carlos Marques | Fotos: C. Marques

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O infinito nunca acaba porqu e nunca começouCantor, compositor, multi-instrumentalis-

ta, ator, diretor, produtor, arranjador, ninja, cossaco, cangaceiro-samurai-sumô. André Abujamra é um mundo de coisas, é tudo, menos acomodado em sua arte, antes mes-mo dos seis anos de idade, quando ouviu do pai: “Filho, a vida é sua, estrague-a como quiser”. E André tem “estragado-a” com mui-ta propriedade.

Músico desde o nascimento, tornou-se conhecido quando montou a mega big-band Karnak e mostrou modos de se fazer música sem rótulos, escolas e muito menos encaixes pre-estabelecidos pelo mercado. Antes do Karnak, já desconstruia acordes com a banda Os Mulheres Negras.

Ele é capaz, por exemplo, de misturar for-ró com segmentos eruditos, música búlgara e ska com a naturalidade de quem descasca

uma banana. Fugindo a definições, André busca sua arte do nada, como ele mesmo diz, “transformando sem se transformar. Deixando a essência no lugar”, como diz nos versos de Retransformafrikando. Vive em intensas e constantes provocações, sem que isso pareça um trocadilho com o programa que seu pai, Antônio Abujamra, conduz na TV Cultura. “Meu pai e o Tom Zé não são seres humanos. São entidades, são pais-orixás para mim”.

O encontro de André ‘Abu’ com a equi-pe da Drops aconteceu no Sesi Rio Claro, antes e depois do show que fez com a per-cussionista Melina Mulazani e o violonista João Egashira, mas poderia ser em qualquer outro lugar. Em São Paulo, no Zimbábue, em Curitiba, no Morro do Borel, Nova York, Bei-jing, ou até mesmo na casa do chapéu.

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Entrevista

Como você se define? Ou já deixou essas coisas de definição pra lá? Sou um menestrel, um contador de histórias em poesias, um cara que quer passar alegria para as pessoas. Me considero um contador de histórias high-tech, digamos assim, um homem-show, um folder man. As pessoas falam ‘ah, o André Abujamra faz um montão de coisas porque ele quer se exibir’. Não é isso. Na verdade, tenho quatro casamentos, dois deles com pensão para pagar e vivo de arte. Então, faço tudo que pintar mesmo. (risos)

O quê você quer passar com sua arte?Quero passar amor para as pessoas. As pessoas têm muitos preconceitos com a alegria também. Fiz uma música com o Zeca Baleiro para o meu disco novo onde falamos que é mais fácil ser triste que alegre: ‘coitadinho, está triste, vem cá, tenho um ombro para você chorar.’ Agora, se você está alegre, você não vai precisar de ombro. Está triste, toma esse remédio...’ entendeu? Hoje, é mais fácil ser triste que alegre. Tento falar para as pessoas que não é por aí.

Vivemos um tempo onde ser afetivo é parecer ‘babaca’?Sim, quando, na verdade, deveria ser o contrário. Exemplo: a criança que chora no berço e as pessoas falam ‘ah ..., deixa ela chorar que é bom’. Deixa o caramba! Vai lá, pega o neném, abraça e beija muito, dê amor. Lembre-se que ele vai ter a vida chata dos adultos pela frente.

De onde vem essa simplicidade que você coloca nas letras das suas músicas?Quando acabou Os Mulheres Negras, em 1988, 1989, comecei a montar o Karnak e descobri em minha poesia a procura pela essência das coisas. Quer coisa mais linda, mais maravilhosa que uma colher? Ninguém vai reinventar uma colher. Se você for falar sobre uma colher, o que falar? Uma colher é uma colher e ponto. Não tem como ressignificar. Sou um pouco criança na poesia. Na música, não, já sou um velhinho de trezentos anos, mas na poesia eu ainda estou começando, por isso vou à essência das coisas. Vejo que a simplicidade nas letras em uma música latente, mais sofisticada, mais forte, dá um contraste bom. “Alma não tem cor” e acabou, não é preciso escrever mais nada. É essa a letra e ponto. E muita gente acha que essa música é do Zeca (Baleiro)! (risos)

E quando foi que descobriu a música?Sou músico desde que nasci, aos dois anos de idade mexia no piano. Então, os paradigmas da música eu quebro mesmo. Eu desrespeito a música. Tenho música na veia, fiz faculdade de música, escrevo arranjos, faço música como um enxadrista constrói seu jogo ao ver o ponto futuro. A música se confunde com a minha vida. Há algum tempo, fiz um teste de audiometria, estava preocupado porque sempre toco com som alto e sem protetor. O médico me chamou: “André, você tem ouvido de recém-nascido”. Pôxa, e olha que sou rock and roll pra ‘caramba’, já toquei com uns ‘puta’ punk, sem protetor, sem nada! (risos). Perguntei para

“Esses paradigmas da música eu quebro mesmo. Eu desrespeito

a música. ”

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Entrevista

o médico o porquê de ter a audição tão boa assim e ele me falou que é o mesmo que pedir a um maratonista que corra cinco quilômetros para fazer teste do coração. Vai estar tudo normalzinho, o coração dele nem vai se alterar. Assim é com o ouvido, a gente o deixa treinado.

Você sempre rejeitou o rótulo World Music. Como entende essa obsessão em se rotular, essa necessidade de classificar tudo?Tem uma música minha que se chama “O Nome das Coisas”, no Karnak, que fala sobre isso. Sempre procurei fugir de rótulos. Primeiro, montei uma banda de dois, depois montei uma banda de doze, agora estou com esse show com violão acústico e percussão. Gosto de desestruturar minha cabeça, minha maneira de fazer música para também ‘desestruturar’ a cabeça das pessoas.

É um eterno começo?Claro. Um exemplo é o cara casado a vinte, trinta anos cheio de amantes. O que ele mais quer fazer é sair do casamento e não consegue. Eu não, saio de tudo com facilidade.

De que modo seu pai influenciou sua trajetória? Ou ela ficou a cargo do acaso?Ele é responsável por eu ser uma pessoa tão livre assim.

Pesa ser filho do Antônio Abujamra?Pelo contrário, é muito legal! Primeiro porque meu pai não é músico, ele não sabe cantar nem o “parabéns a você” (risos). Meu pai acha que a música é uma arte duvidosa. Sou filho de um monstro. Um monstro sagrado. Meu pai e o Tom Zé não são seres humanos, são entidades. São “pais-orixás” para mim. Meu pai chegou um dia, quando eu tinha cinco anos de idade, olhou bem nos meus olhos e disse: “Filho, a vida é sua. Estrague-a como quiser”. Quer coisa mais linda que isso? Olha que liberdade! Meu pai é dez vezes mais louco que eu. Muitos amigos de escola queriam ir para a música também, mas os pais barravam porque não dava dinheiro. Eu não, sempre cresci com liberdade para fazer o que quisesse. Por isso, devo tudo a ele.

Há diferenças entre você e seu pai na forma

como lidam com o criativo e o artístico?Meu pai é um artista diferente de mim nesse aspecto. Nós temos genes artísticos diferentes. Posso explicar. Ele é um artista reciclador, ele é capaz de pegar um Shakespeare, um Hamlet, por exemplo, e fazer a peça só com anões no palco, só com negros, como já fez. O escritório dele tem uma quantidade absurda de livros, é incrível. Desde pequeno ele me falava: “Você não lê nada moleque!”. Fiquei mais velho e descobri que sou um outro tipo de artista. Sou um criador a partir do nada, do zero. Parece impossível isso hoje em dia porque todo mundo já fez ‘tudo’. Ainda assim, sempre busco o nada.

Você tenta se desvencilhar das influências...Eu brigo com elas, busco o nada. Há influências, é claro, mas sempre há também essa busca pelo nada para, a partir dele, criar minha música.

Sempre busca a desconstrução?Sempre. Mas na síntese, na simplicidade. É a pergunta que vocês me fizeram. A maçã é uma maçã, a colher é uma colher. Tem uma música que fiz para o Itamar Assumpção onde digo: ‘Complicado é ser simples/É simples ser complicado’. Ou seja, é muito complicado você ser simples. É difícil você dizer algo que atinja o coração das pessoas diretamente.

Fale sobre papel que o Candomblé tem na sua vida?Meu orixá é Obaluaê, o orixá das chagas, das doenças e da transformação. Isso significa que aprendi com ele várias coisas. Uma delas é que a gente não muda, a gente se modifica. Só mudamos quando morremos. Outra coisa que aprendi é que o filho de Obaluaê é um tipo de pessoa que vive na estabilidade pela instabilidade. Quando descobri que era filho deste orixá, entendi porque faço tanta coisa. Descobri porque sou ator aqui, faço banda ali. Se não fizer várias coisas vou sofrer muito. Engraçado, todas as vezes em que eu falei que ia fazer só uma coisa, sempre me dei mal. Por causa deste Orixá, tenho de viver na transformação, e isso é lindo.

E como foi que você entrou para o

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“ Eu gosto sempre de desestruturar minha cabeça, minha maneira de fazer a música para também desestruturar a

cabeça das pessoas. ”

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Candomblé, como o descobriu?Na minha família todo mundo é ateu. Meu pai, minha mãe, meu irmão. Mas, como minha vida sempre foi ligada à música, foi por meio da música que tive ligação com o espiritual. A música sempre me remeteu a ter alguma religião. Passei por quase todas e cheguei no Candomblé por causa da Física.

Candomblé por causa da Física? Como?Calma, eu explico (risos). Bem, na faculdade de música estudei física acústica. Por exemplo, a nota ‘lá’ corresponde a uma vibração de 440 hertz. Existem notas que o ouvido humano não consegue escutar, como aqueles apitos para cachorros. Só o cachorro escuta, nós não. Tem sons graves que também a gente não escuta, porque há uma vibração muito lenta ou muito rápida. As cores também são vibrações diferentes de luz. Tem cores que não conseguimos enxergar. O ser humano, assim como tudo que nos rodeia, também é feito de átomos e partículas, que também tem suas vibrações. Daí pensei: ‘pôxa, se tem som que a gente não escuta, porque a vibração é muito rápida ou muito lenta, também deve ter gente que não conseguimos ver, porque também somos feitos de vibrações’. Foi assim. Cheguei no espiritismo por causa da Física e da música. Não foi por causa dos tambores africanos, que também amo. Foi pela percepção de como as coisas funcionam.

André, o quê anda ouvindo?Então, é uma coisa tão louca isso. Trabalho tanto com música, faço tanta, que não escuto.

Não dá tempo?Não é isso. Quando saio com minha mulher para ir a um restaurante que tem música, por exemplo, sofro. Ou mesmo quando estou andando de carro, se colocam alguma coisa para tocar, também sofro. Música é uma coisa muito séria para mim. Não consigo ouvir. Eu analiso música. No cinema também, é um sofrimento. Quando ouço algo, prefiro músicas exóticas, música árabe, dos Bálcãs. Não consigo

pura e simplesmente ouvir por ouvir ou ir a um show e curtir.

Você já disse em entrevistas que, dos diretores de cinema com quem trabalhou para fazer as trilhas sonoras, o mais difícil foi Hector Babenco, no filme Carandiru. Sua criatividade rende mais na crítica ou no elogio?Rendo mais no elogio, mas aprendi uma coisa no cinema e com o Babenco, principalmente. Sou um cacique. Durante o ensaio deu para vocês perceberem que sou um cacique? Mando

“Quando eu tinha cinco anos, meu pai chegou para mim, olhou bem nos

meus olhos e disse: ´Filho, a vida é sua. Estrague-a como quiser! ”

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Entrevista

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mesmo (risos). Como sou assim, descobri que para ser um bom cacique é preciso também saber ser dirigido. Você tem que aprender a obedecer e a ir pela cabeça do diretor. Aprendi isso há pouco tempo. E olha que já fiz quarenta longas-metragens. É coisa pra caramba! O Hector, apesar de ter sido muito duro, me fez aprender de fato o que é trabalhar para alguém. Porque um diretor de cinema tem de ser muito flexível no sentido de escolher várias pessoas talentosas e fazê-las trabalhar em prol do filme.

O Tom Zé, na entrevista que deu à Drops, disse que é muito exigente com o que cria. Você também é assim com as suas músicas?Não sou exigente assim. Sou mais intuitivo. Bateu, vai! E tomara que eu erre. Adoro errar. Até entendo o que o Tom Zé diz, mas não sou exigente com arte porque faço muito, gosto de fazer e gosto de errar. Picasso falava ‘primeiro faço, depois procuro’. Em arte, se você for procurar coisas que fez sem pensar, sempre descobre o que aquilo quer dizer. Sempre. Tenho pré-intuição antes de fazer as coisas. Aqui mesmo, havia percebido que esse show ia ser

muito bom antes mesmo de ensaiar. É óbvio que gosto de ensaiar, mas fico brincando com os músicos, provocando, para deixar o jogo de xadrez acontecer na hora.

E a política, ela o provoca para fazer alguma coisa na sua música?Desde criança meu pai falava assim: ‘Se você não faz política ou não aceita fazer política, você aceita a política que fazem com você”. Nunca engajei minha arte com política, nunca fiz show para protestar e nem nunca vou fazer. A visão geral que tenho é que o Brasil está uma ‘bosta’ há muito tempo. Estou injuriado, bem triste com o Lula. Gostava muito dele e ele não fez nada daquilo que eu imaginava.

O que sempre te perguntam e não aguenta mais responder? Todo mundo pergunta (imitando um tom solene): ‘Quando você faz a trilha de um filme, você faz as músicas antes de ver o filme ou vê o filme antes de fazer as músicas?

Como você gostaria de responder?Vai tomar... (gargalhadas)

Acesse o www.guiarioclaro.com.br/entrevistas e confira a íntegra desta entrevista

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Música

A vida e suas trilhas“Sem música a vida seria um erro.” - F. Nietzsche

Para ouvir, para apreciar, para amar. Para comer, para ser,

para vender. Na poltrona do cinema antes do filme começar. No elevador, nos carros, em casa para relaxar. Nos fones de ouvido pelo celular.

A música está em tudo. Até mesmo onde não se ouve. Afinal quem nunca acordou com uma música tocando insistentemente na cabeça?

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer dizia que a música é a maior das artes. Para ele, todas as formas de arte desejam um dia se tornar música. No assobio de quem passa pela rua ou em sua forma virtual, etérea e digital a habitar os Ipods e

Mp3 players, a música é parte da vida. Um óbvio alimento para a alma. Para cada época, uma ou mais trilhas sonoras se fazem presentes. Marcadores de um tempo que não volta mais, mas que pode ser

revisitado ao se apertar o ‘Play ’.Amadores e profissionais, amantes e tais. Brega, sofisticada, “fácil, extremamente fácil/pra você e eu e todo mundo”, não importa. A música é uma moldura que preenche e embeleza os dias mais

comuns ou as ocasiões mais especiais.

Neste mês, a Drops fala sobre a música e sobre seus trabalhadores, nos diversos níveis, desde os consagrados, como Zeca Baleiro e André Abujamra aos que fazem dela

um meio de sobrevivência do corpo e da alma.Para ler e ouvir!

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Música

Normalmente vão de 128 a 140 batidas por minuto e a resposta do corpo é automá-tica. Os pés, incorrigíveis, movimentam-se inicialmente tímidos. Depois a vibração per-meia todo o corpo, ossos e medulas. Provoca um acesso espontâneo de gestos que que-rem tão somente acompanhar o ritmo.

Nos campos abertos de um sítio inte-riorano, em tendas fechadas nas grandes metrópoles, nas esquinas transversais ou em night clubs. A música eletrônica pode estar em qualquer lugar. Esfuziante, absor-vente, hipnótica: a batida tem o poder de transportar o público para lugares desco-nhecidos, zonas de descontração e prazer onde o tempo cronológico não determina o fim da festa.

No descompasso das tensões e inquie-tudes da vida moderna, Tom Hopkins fez da música eletrônica sua profissão. O DJ se apresenta em eventos por todo o país e no exterior, além de tocar em programas de te-levisão e criar remixagens para cantores dos mais variados gêneros musicais. Em 2008, recebeu o título de melhor DJ de dance mu-sic do Brasil.

O som eletrônico, de acordo com Ho-pkins, resulta das múltiplas possibilidades de combinações e experimentações. “A mú-sica está sempre a nossa volta, em qualquer momento, em qualquer parte – basta saber identificá-la. Costumo dizer que ela move o ser humano”, revela o DJ que recentemente integrou a trilha sonora da novela Caminho das Índias, com o single Destiny.

Afetação ou não, nas últimas décadas a mistura eletrônica explodiu em diversos subgêneros como o minimal techno, dub step e electrohouse. Ganhou mais adep-tos e passou a ser cultuada entre jovens de todo mundo. “Pego o que há de melhor no mercado para basear minhas criações. Tenho um estilo semelhante ao dance mu-sic, o que causa uma aceitação imediata”, acrescenta.

O sucesso de um DJ está intimamente ligado a sua capacidade de sentir o públi-co para o qual se apresenta. “Cada lugar tem uma vibe diferente e exige uma abor-dagem específica. Não é fácil chegar em uma balada pela primeira vez e fazer toda galera dançar. O bom DJ não precisa ser

Mais informações sobre Tom Hopkins acesse www.guiarioclaro.com.br

Cérebro eletrônicoTexto: Daniel Marcolino | Fotos: Gilberto Junior

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Makston MotobeMais conhecido como Tom Hopkins, começou sua carreira de DJ no Japão, em 1986.

De volta ao Brasil, começou sua vida noturna como discípulo do DJ Délcio (Foca). Hopkins, junto

com outros DJ´s paulistas e cariocas, foi um dos precursores da música eletrônica no país.

Atualmente, Hopkins é DJ oficial do programa Super Pop (Rede TV!) apresentado por Luciana Gimenez. Também faz diversas apresentações em boates e night clubs por todo Brasil e exterior.

músico, mas tem que saber improvisar com criatividade. A arte está na batida”, defende Hopkins.

Paganismo, hedonismo, pioneirismo ou paroxismo musical? Muitos “ismos” ainda cercam a música eletrônica. Contudo, em resposta às ferrenhas críticas do mercado da ‘arte’, enquanto falam e pensam, os DJ´s tocam, pessoas dançam e a vibe se supera.

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Música

Cantando coisas de amorTexto: Gilson Santulo - Fotos: Telmo Keim e C. Marques

Uma mágica especial, inexplicável, se es-tabelece quando uma banda começa a to-car. Uma antiga tradição musical que resis-te ao tempo em cidades brasileiras, muitas delas em cuja origem está a ferrovia, como Araraquara, Jundiaí, Americana, Rio Cla-ro. Cidades que tinham o hábito de reunir pessoas em volta de um coreto para ouvir, brincar e deixar a alegria passar o dia.

Quem caminha pela ‘Cidade Nova’, próxi-mo à Estação, nas noites de quintas e sex-tas-feiras sente esta magia sendo carinho-samente reconstruída. Em um dos antigos armazéns da Rede Ferroviária, na Rua 1-B, a Banda da União dos Artistas Ferroviários executa seus ensaios e o som que preenche os espaços vem dos trompetes, tubas, pra-tos, clarinetes, flautas, todos sob a marca-ção soberana da caixa.

Músicos de todas as idades se reúnem semana a semana para ensaiar as apresen-tações da Banda. Idosos e jovens, novatos e experientes. Simpáticos e de bem com a vida, tem-se a impressão de que eles se di-vertem com a música.

O desejo de tocar um instrumento e fa-zer parte dessa magia parece ter resistido heroicamente ao tempo. No início de suas atividades, em agosto de 1886, eram pouco mais de 20 integrantes. Hoje, a formação da Banda conta com 45 músicos.

Durante os ensaios, persiste no ar o gla-mour testemunhado pelos moradores de Rio Claro à época da fundação da banda, formada exclusivamente por funcionários da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, uma das mais antigas ainda em atividade no País. No próximo agosto, a Banda dos Ferroviários comemorará 113 anos e ainda cumpre o papel de integrar pessoas e pro-mover a alegria.

Quem cresce próximo a uma banda pa-rece estar destinado a receber o gosto pela música como legado. Como exemplo, o ma-estro Jorge Geraldo, 25 anos, filho do saxo-fonista da Banda, Vanderlei Geraldo, 60. O jovem regente comanda os ensaios e apre-

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Música

Acesse www.guiarioclaro.com.br e veja mais fotos antigas da Banda dos Artistas Ferroviários

A música no tempoO maestro Jorge Geraldo estuda na Es-

cola de Música da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e comanda os acordes da banda nas solenidades e apresentações da Banda no Coreto do Jardim Público Central nas manhãs do segundo sábado de cada mês.

Em seus 113 anos, foi escola para mui-tos músicos, e continua com essa missão de formar novos amantes da música. “Quem quiser aprender a tocar um instrumento pode nos procurar que terá aulas gratuitas com músicos que tocam o escolhido pelo aluno e, se quiser, pode vir a fazer parte da Banda”, ressalta o maestro.

Na memória de muitos, a poesia da ban-da, da praça, do coreto resiste ao tempo. Ainda hoje, mesmo para quem não está à toa na vida, há sempre um tempinho para ver e ouvir uma ‘banda passar, cantando coisas de amor’. Quem sabe, até tocar.

sentações, com seus cabelos longos, barba e um semblante de permanente otimismo.

Idas e vindas, compasso a compasso, e o ouvido do maestro permanece atento aos intrumentos e seus timbres. Sopro a sopro, tônica a tônica. Durante o ensaio, a paciên-cia e a harmonia surgem como uma dádiva da música. Para quem ouve, impossível não se animar também.

Sopro feminino

Os espaços, que eram exclusivos de músicos, de alguns anos para cá passaram a ser ocupados pelas mulheres. A atual formação da Banda dos Ferroviários conta com quatro integrantes que constituem um novo sopro na tradição da banda.

No trombone de vara, Aline dos Santos Chagas; no sax-alto, Juliana Helena Armelin; no sax-tenor, Dafine Cristina Speretta; e na marcação da percussão, Renata Giaretta.

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Bach é hermético, matemático. Mozart é divino, porém impessoal. Chopin é profun-do e amolece os ossos com sua intimidade. Beethoven é uma tempestade humana em busca de liberdade. Debussy é a pureza so-nora do rebento das águas. Richard Strauss é o amante insuperável, de coração esgar-çado. Wagner? Wagner é pioneiro de si mesmo e atinge o ‘eu’ de todos com o dardo certeiro de uma única nota.

A música clássica está para o homem as-sim como o homem está para a vida: em transcendência. Composições tão antigas e, no entanto, tão atuais, muitas obras atra-vessam os séculos e retratam os múltiplos sentimentos inerentes a todo ser que nasce humano. Hoje, em meio a tantos avanços

e mudanças, a música clássica sobrevive e pode ser ouvida como a cem, duzentos, tre-zentos anos.

Em Rio Claro, duas orquestras, Sinfônica e Filarmônica, são responsáveis por mante-rem acesa essa chama. Graças a uma dissi-dência entre os integrantes da mais antiga, a Sinfônica, a cidade ganhou, em 1995, a Filarmônica. Ambas reconhecidas e com elevado número de apresentações anuais. Com o apoio da prefeitura, da iniciativa pri-vada e da comunidade, as orquestras reali-zam diversos concertos a preços acessíveis.

“Quando uma orquestra inicia a execução de uma obra-prima, no palco, ao vivo, tenho a sensação de que estamos expressando algo que, embora não palpável, transforma

Música que resiste ao tempoTexto: Daniel Marcolino

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Autoconhecimento

Leandro Gomes Ricardo, 18 anos, é um dos alunos da Sinfônica. Ingressou no curso de violão erudito em março e já demonstra afinidade com o instrumento. “As aulas são bem dinâmicas e demonstrativas. Escolhi estudar música clássica porque este conhecimento é fundamental para quem pretende se profissionalizar”, acredita Ricardo.

Para ele, música é bem mais do que cultura, é autoconhecimento. “A escola é importante para mim porque de outra forma eu não poderia aprender o gênero erudito. Acho que, para os jovens, a música auxilia no amadurecimento, no crescimento pessoal. Música aponta respostas”.

Acesse www.guiarioclaro.com.br e saiba mais sobre as duas orquestras

intensamente quem nos ouve e a nós mes-mos, os músicos”, revela o Maestro Sérgio Assumpção, da Sinfônica. Com 25 anos de existência e sede própria, a Orquestra in-veste na formação de alunos por meio da Escola de Música “Fábio Marasca”.

Com propósito semelhante, a Orquestra Filarmônica também desenvolve trabalho pedagógico musical. Regularmente, aulas gratuitas são ministradas em escolas públi-cas e entidades tais como o Colégio Chan-celler Raul Fernandes, Centro Social Jardim Guanabara e a Guarda Mirim. “O objetivo da Filarmônica é promover a música, seja ela popular ou erudita, em todas as camadas da sociedade”, ressalta o presidente William Nagib Filho.

Música, este conjunto sonoro harmôni-co e uniforme, se faz presente na maioria dos povos. O gênero clássico, porém, ultra-passa as barreiras da palavra. A cada nova execução, o som se envereda por diferentes campos sensitivos. “É como tentar construir

uma intangível catedral sonora”, explica Assumpção. E, para chegar ao ponto alto desta catedral, as possibilidades são in-cessantes. Chegam a evocar reinos inco-municáveis e insondáveis do espírito. E, porque não, da existência?

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‘Trocaria tudo para ser comediante’Entrevista: Marcelo Lapola | Fotos: C. Marques

Um sírio–moleque-maranhense, escara-funchado na microtonalidade do canto do repente misturado ao canto árabe-brega-bossa-cubano, assim do nada, junta tudo feito dente de serpente e vira um cantor que, aos 43 anos completados em abril, vê-se no auge de sua criatividade como com-positor. Tanto que o que era para ser um CD acabou virando dois, de tantas músicas que tinha à mão.

“Podem entrar”, diz a assessora. Depois daquela porta está Zeca Baleiro, minutos depois de um show solo de quase duas horas com suas melhores canções e alguns pedidos da plateia devidamente atendidos.

Atrás do palco, agora é José Ribamar Coelho Santos quem está ali, pronto para conversar com a Drops. Uma fila forma-se do lado de fora do camarim, mas ele não parece apressado. “Avisa que eu vou aten-der todo mundo, pede apenas para espera-rem um pouquinho”.

Lá pelo meio da entrevista vai abrir sua mala de roupas e sacar uma blusa. “Tá mui-to frio aqui, vou acabar ficando rouco”.

No interior do camarim, vê-se que seu ‘ódio por Coca-Cola Light’ não é só da mú-sica para fora. Acompanhado de sua produ-tora, empresária e manager Rossana Decel-so, encontramos o sorridente Zeca sentado de costas para o espelho, servindo-se de uma garrafa do “líquido negro do capita-lismo” em sua versão clássica, com açúcar. “Tomo cinco ou seis salinas feito fosse cho-colate/Engulo até gasolina, mas detesto Coca-Light”, diz a música no CD O Coração do Homem Bomba, volume 2.

Momentos antes da entrevista, Zeca des-fiou suas melhores canções de um reper-

tório de nove CD’s autorais. Brincou muito com o público, com uma verve de humoris-ta nato. E olha que ele tocou tudo na noite do dia 21 de março, no Teatro Municipal Lulu Benecase, em Americana. Tudo, menos “Lenha”. Não por nada, mas é que ao final, quando parecia que ia se preparando para cantar o hit tantas vezes executado, a pla-teia rompia o silêncio com aplausos.

Música

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Nem pela pança de Sancho, o fiel escu-deiro, ou mil Jacksons do Pandeiro. Alguém acode porque este aí consegue pegar no ar o ronco mouco da formiga preta! Franzino, de olhos magros, mas obeso de criatividade, consegue enxergar Meca no fogo da vela.Acende o candeeiro e vem assuntar. Que agora é Zeca Baleiro quem vai falar!

Fale um pouco do novo CD, que são dois na verdade. A idéia do título O Coração do Homem Bomba surgiu como? O título é uma metáfora provocadora do homem contemporâneo, um homem sempre à beira da explosão. Mas por trás da aparente brincadeira, há críticas ao consumo desvairado, à publicidade e à falta de valores do nosso tempo.

Você tem vários formatos de shows, além do solo e com a banda completa?Tenho uns quatro ou cinco formatos de show - solo, em duo, trio, com banda de sete

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integrantes. Toco de janeiro a janeiro e tenho um público cativo, grande, embora não tão numeroso quanto o de uma dupla sertaneja (risos), mas nem sempre posso levar o show completo, com luz e toda equipe técnica. Então, temos que criar possibilidades, alternativas. Por isso os vários formatos. Gosto de todos os formatos, são níveis diferentes de intimidade com o público. No solo, a gente para, brinca, conta histórias para a plateia, o público interage, é bem gostoso. Com a banda, tem o lance todo da agitação, da energia.

Você gosta de fazer shows?Adoro. Mas com a idade chegando, a tendência é diminuir. Também gosto de coisas como futebol, cinema, namorar, brincar com meus filhos.

A decadência do modelo tradicional das gravadoras e os downloads gratuitos e clandestinos têm obrigado os artistas a fazerem mais shows do que gostariam? Não necessariamente, porque a demanda de shows não é do artista, mas do público. Sempre fiz muitos shows. Além de ser a maior e mais constante fonte de renda do músico, é uma forma de estar sempre em movimento, em contato com o público, vendo in loco a resposta ao seu trabalho e não se encastelar numa redoma de vidro.

O lado bom da Internet é a música chegar a lugares nunca antes imaginados possibilitando assim uma maior proximidade do artista com seu público?Não é tão simples assim. Só chega se seu nome for de algum modo conhecido, propagado. Não é qualquer um que lança disco na internet e alcança um grande público. Vez ou outra acontece um fenômeno, como a Malu Magalhães, mas é raro. De todo modo, a rede propicia mais liberdade criativa.

Em suas canções há críticas à publicidade e ao consumismo. “Piercing” talvez seja uma das mais emblemáticas. “Babylon” também. Agora temos “Odeio Coca-light”, “Vai de Madureira”. A publicidade e o consumo estão entre as causas dos nossos males? Quê

acha do capitalismo?O quê posso achar do capitalismo? Nada, apenas vivê-lo de uma forma crítica, questionadora. Não posso dizer que sou socialista só porque tenho anseios de igualdade social. A nossa sociedade é capitalista e eu também. Mas acho que pode haver um capitalismo mais humano e menos selvagem. Ou, talvez, eu seja um romântico tolo, não sei.

De que modo o cotidiano influencia você e como isso se transforma em música?Toda minha música vem do cotidiano – do que leio nos jornais e revistas, do que vejo na tv, do que ouço nos cafés e padarias, nas conversas de bar, é daí que tiro a matéria-prima das composições.

Tem momentos para compor? Já escreveu alguma coisa e depois de um tempo leu, ou ouviu, e pensou: “Caramba! Fui eu que fiz? Mas isso está muito bom!”? Hoje componho a qualquer hora e em qualquer lugar. Antes não, precisava de uma certa calma e silêncio. Já me orgulhei várias vezes de coisas que fiz, da mesma forma como já ouvi coisas no rádio e pensei: “puxa, fui eu quem fez essa m...?”. (gargalhada)

Criação e angústia andam lado a lado? Talvez, não saberia afirmar com certeza. Acho que cada artista tem o seu próprio processo criativo, suas particularidades na hora de criar.

Para quem e porque compõe e canta? O que tem ouvido e tem gostado e o que não?Antes de tudo, componho pra mim mesmo, depois para os outros. Quem mais me provoca? Eu mesmo (risos). Tenho ouvido os clássicos, sempre. Não gosto do que ouço no rádio.

“ Não posso dizer que sou socialista só porque tenho anseios de igualdade

social. Acho que pode haver um capitalismo mais humano e menos

selvagem. Ou, talvez, eu seja um romântico tolo, não sei. ”

Música

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Além de músico o que mais gostaria de ser?Cozinheiro. Cozinho menos do que gostaria, não me sobra tempo. Para cozinhar é preciso de tempo e um pouco de paz e isso não tenho há muito (em tom de brincadeira). São os encargos da vida de artista mesmo.

Por falar nisso, e o livro de culinária?É um projeto que uma hora vai sair (risos). Agora fui convidado pelo pessoal da revista Prazeres da Mesa para fazer algumas colaborações com receitas e artigos. As pessoas me convidam porque sabem que gosto mesmo.

Sua interação com a plateia é grande, com brincadeiras de lado a lado, quase como num show de humor. O que te irrita no público?Essa interação é muito boa, eu adoro porque também me divirto muito durante a apresentação. Quase nada me irrita numa plateia, a não ser coisas paralelas, pessoas conversando, a pessoa falando ao celular. Se alguém liga o celular para que outra pessoa ouça o show, eu até perdôo. Mas pessoas que distraiam, que dispersam a atenção acabam por desrespeitar o trabalho do artista.

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Você tem um viés de humorista, tipo stand up comedy solo latente em suas letras e mais ainda nos comentários durante o show. Já pensou em partir para esse ramo?Sou um humorista frustrado. Trocaria tudo para ser um comediante. (risos). É sério isso.

O quê é que te perguntam em toda entrevista e você não aguenta mais?Puts! Sempre me perguntam ‘por quê Zeca Baleiro?’.

Por quê Zeca Baleiro?Até colocamos isso no site, foi uma ideia da Rossana. Pede para seus leitores entrarem lá (www.zecabaleiro.com.br). ‘Por onde anda Stephen Fry?’ (título de seu primeiro CD). Essa é outra pergunta também. Vou colocar uma blusa que aqui está meio frio. (Zeca vai até sua mala e apanha um casaco). Hoje mesmo uma menina da TV local me disse “Zeca, eu sei que você já tá de saco cheio, mas eu vou ter que te perguntar: Por quê Zeca Baleiro?” É normal também, e o engraçado é que sempre eu respondo numa boa (risos).

Percebemos que o público universitário o ama de paixão. Quando senta para compor, você faz suas músicas pensando em um público em especial? Funciona de fato para o artista pensar em um público-alvo?Não faço isso. Óbvio que quando você entra no ramo profissionalmente algumas coisas mudam. Sempre procuro compor desinteressadamente. Por outro lado, se o disco já está fechado conceitualmente, não tem como eu encaixar uma ou outra canção de fora daquele contexto. Acontece também de eu querer fazer uma música com um apelo mais popular, uma versão que acredito irá emplacar nas rádios, mas isso

não é frequente. Não é uma obsessão compor pensando no público que me ouve.

A política o provoca a ponto de dar inspiração para as composições?Sim, provoca demais. Neste último trabalho tem umas três músicas com um viés político-social. Mas também não vou fazer disso uma bandeira, virar um Geraldo Vandré.

Freud dizia ‘podemos reagir a um insulto, mas somos indefesos a um elogio’, Como lida com a tietagem e com a crítica?Tento lidar naturalmente, tanto com os elogios como com os insultos (risos). Você tem que ter sensatez para não se abater com as críticas, nem se deslumbrar com as adulações.

Acesse www.guiarioclaro.com.br/entrevistas e veja mais fotos do show de Zeca Baleiro em Americana

“ Quase nada me irrita na plateia, a não ser coisas paralelas,

pessoas conversando, a pessoa falando ao celular. ”

Música

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Carnaval 2009

Like a rolling stone

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Juventude

O ReverendoEntrevista: Marcelo Lapola

Fotos: Gilberto Junior

Juventude

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Este ensaio fotográfico nasceu da vontade de realizar, de clicar a luz e os desejos que se escondem em cada um de nós.

Feitos os cliques, o acaso proporcionou o encontro e se encarregou da publicação.

Modelos: Giovanna Giorgetti e Fred MartinsFotógrafo: Telmo KeimEdição: Carlos MarquesRealização: enfase - comunicação

Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas para viver, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem coisas corriqueiras, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas.Jack Kerouac (1922-1969)

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Com 3,7 metros de comprimento, esse pequenino oferece lugar para quatro pas-sageiros e um design quase inalterado des-de seu lançamento, em 1959. Com essas proporções, ele se encaixa perfeitamente na categoria de carros compactos. Um modelo aparentemente modesto, mas cheio de re-quinte e tecnologia.

Ele obteve a segunda colocação no prê-mio “Car of the Century” (Carro do século), realizado em 1999 pela Global Automotive Elections Foundation. Dentre 26 competi-dores, ficou atrás apenas do Ford T, modelo comercializado de 1908 a 1927.

Fabricado pela British Motor Corporation, entre 1959 e 2000 teve cinco milhões de uni-

dades fabricadas. Ícone no Reino Unido, já foi ‘estrela’ em diversas produções cinema-tográficas. O personagem Mister Bean des-filava com um em seus filmes e a produção Uma saída de Mestre, de 2003, com Mark Wahlberg e Charlize Theron, traz cenas com três desses automóveis em ação.

Se com essas descrições você ainda não decifrou de que carro se trata, não se pre-ocupe, o MINI Cooper acaba de chegar ao Brasil e em breve você o avistará nas ruas da cidade. Importado pela BMW, o com-pacto promete cair no gosto dos brasileiros, mesmo que seja apenas dos “abastados”, pois o modelo mais simples não sai da loja por menos de R$ 92 mil.

Compacto para gente grande

Texto: Rafael Moraes Fotos: Divulgação BMW

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No Velho MundoCom seu sucesso no velho continente, o MINI Cooper avançou em direção

a novos mercados a partir do lançamento da segunda geração, em 2006. O compacto ganhou diversas atualizações, mas mantém seus detalhes icônicos no design como os faróis, o teto contrastante, o centro das rodas, os faróis de luz traseiros e o velocímetro central ainda são a essência do inglês.

Em abril de 2007, o milionésimo MINI desta nova geração saiu da linha de pro-dução e graças ao seu tamanho diminuto e ao conceito de “go kart feeling” (algo como: dirija como se estivesse em um kart) essa marca pôde ser alcançada.

O carro surpreende também por sua veia esportiva. No Brasil são comerciali-zados três modelos, o MINI Cooper e os esportivos MINI Cooper S e MINI Cooper S Clubman, a perua da marca.

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Para saber mais sobre o MINI Cooper e onde encontrá-lo, acesse www.guiarioclaro.com.br/veiculos

Na terra dos compactosPor aqui, os carros compactos não são

novidade, a categoria predomina na frota nacional. Essa gama de veículos representa 68% da frota brasileira, de acordo com Es-tudo da Frota Circulante Brasileira, realiza-do pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).

Em 2007, o total de veículos que circu-lavam pelo Brasil era de 25.806.813, con-tabilizando automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Portanto, mesmo clas-sificado como compacto premium, ou seja, de luxo, o MINI se sentirá em casa ao trafe-gar pelas ruas do país.

O nome do carro se grafa MINI, em mai-úsculas, para diferenciar a primeira da se-gunda geração.

MotorizaçãoO modelo MINI Cooper apresenta um

motor a gasolina de 1,6 litro de quatro cilindros. A velocidade máxima é de 201 km/h e a aceleração de zero a 100 km/h ocorre em nove segundos. O modelo ofere-ce câmbio manual ou automático.

Já o MINI Cooper S introduz a mecânica turbo na família, com potência de 175 hp e aceleração de zero a 100 km/h em apenas sete segundos, atinge a velocidade máxi-ma de 225 Km/h. Este modelo só vem com câmbio automático.

As especificações do Cooper S valem para o Cooper S Clubman, que tem três portas e 3,95 metros de comprimento, oferece lugar para 5 passageiros, um a mais do que as outras versões, além de desempenhar uma velocidade máxima de 219 Km/h.

A chegada do compacto Premium da BMW ao país em abril, vem a tempo de co-memorar os 50 anos do MINI e representa o lançamento oficial da marca britânica em terras tupiniquins. Inicialmente, os mode-los somente poderão ser encontrados em São Paulo e Curitiba.

Tecnologia

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Lançada no Brasil em dezembro de 2007, a TV digital ainda não é uma rea-lidade para a maioria dos brasileiros. Mesmo presente em 16 cidades, essa nova tecnologia atinge 640 mil usuários, num universo potencial de 40 milhões de telespectadores, segundo informa-ções do Fórum do Sistema Brasileiro da TV Digital Terrestre (SBTVD).

Para poder usufruir 100% da verda-deira TV digital é necessário, além do conversor, que pode ser encontrado por R$ 300,00, uma televisão com suporte à alta definição, que não sai por menos de R$ 1.500,00.

Uma das vantagens do sistema di-gital adotado pelo Brasil é a isenção de custos para a captação do sinal em aparelhos móveis e portáteis. Graças a isso, uma das opções para o sinal digital é o celular ou os smartphones. Alguns aparelhos vendidos no país já dispõem

do chip conversor de sinal, mas ainda são de alto custo, já que os mais baratos não saem por menos de R$ 800,00.

Embora este seja um dos fatores que ainda impede o uso desta tecnologia em massa, com o olho num futuro próximo, algumas emissoras de TV e operadoras de telefonia móvel depositam suas esperanças no mercado de celulares, smartphones e portáteis.

Sinal digital, uma questão de tempo

A Rede Globo é uma das emissoras que investe nesta nova tecnologia. Até o final do ano, a emissora pretende oferecer o sinal digital em 30 cidades e regiões metropolitanas, o equivalente a 60% dos domicílios brasileiros, de acor-do com informações da Central Globo de Comunicação (CGCom).

O dia em que a TV abandonou a salaTexto: Rafael Moraes | Fotos: Divulgação

Tecnologia

A última coisa que o aparelho na mão de Harol-do lembrava era um celular. Naquele momento, seu objetivo era de sintonizar aquele pequeno aparelho, mas as imagens apareciam com a mesma facilidade que desapareciam.

Após insistir por um minuto, a sintonia finalmen-te veio. A qualidade da imagem era incrível. Quan-do indagado sobre que invenção mirabolante era aquela, Haroldo virou os olhos com o desdém que lhe era característico e disparou com a maior cara de pau: “Seu celular não pega TV digital?”.

Na palma da mãoBlack Berry 9000 Bold

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Tecnologia

O engenheiro de projetos de sistema digi-tal da EPTV Campinas, Giulio Breviglieri, ex-plica como ocorre o processo de transmissão digital: “É necessário que um projeto seja fei-to, seguido da discussão das especificações e compra dos equipamentos, para que junto ao Ministério das Comunicações ocorra a li-beração de um canal e a transmissão digital aconteça”.

Breviglieri afirma ainda que já existe um projeto para a EPTV São Carlos, responsável pela geração de sinal para a região de Rio Claro e Araras, e que esse projeto será dis-cutido e idealizado no decorrer do ano de 2009 para que, em meados de 2010, o sinal digital esteja disponível na região.

Por que digital?Algumas vantagens da TV digital em re-

lação ao atual sistema analógico de trans-missão são as possibilidades da multipro-gramação, assim como a interatividade e informações adicionais sobre a programa-ção, resumos de capítulos anteriores e notas sobre o time que está jogando. A transmis-são é feita via UHF (Frequência ultra-alta), a mesma do sinal analógico.

Outra grande vantagem do sinal digital

é a resolução de imagem, que no sistema de alta definição chega a 1920x1080 pixels, muito superior à resolução analógica de 480x360 pixels, o que a torna 10 vezes mais nítida. A qualidade de som também aumen-ta, pois o sistema dispõe de seis canais de som Dolby Digital 5.1, padrão utilizado em equipamentos de som e home theathers.

De acordo com informações do Ministé-rio das Comunicações, o Brasil desenvolveu o sistema Ginga (um middleware, programa de computador que faz a mediação entre outros softwares, como, por exemplo, aplica-tivos baseados na linguagem de programa-ção JAVA) e implementou o uso do MPEG-4 (padrão de compressão de arquivos), o que torna o sistema brasileiro um dos mais mo-dernos do mundo.

Samsung V820L

Aparelhos

Alguns modelos dos principais fabricantes de smartphones que podem ser encontrados no Brasil:• Samsung V820L• Semp Toshiba CTV 41-8• HP IPAQ HW6945 e IPAQ 616• Nokia N80, N81,N95 e N95 8G• Blackberry Bold 9000, 9500, Cube 8310,

Cube 8300, Cube 8900 e 8700 G

Onde chega o sinal

Cidades brasileiras que contam com o sinal: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Goiânia, Porto Alegre, Curitiba, Campinas, Cuiabá, Salvador, Florianópolis, Vitória, Uberlândia, São José do Rio Preto, Teresina, Santos e Brasília.No estado de São Paulo, os canais disponíveis com sinal digital: Globo, Record, SBT, Rede TV, Gazeta, Band, MTV. Cultura e Mix TV estão em fase experimental.

Acesse o www.guiarioclaro.com.br/tecnologia para saber mais sobre a transmissão digital

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Esportes

“Vi o mar na minha frente e fiquei louco. Entrei na água de sapato e tudo para ver se era salgada mesmo. Era!” Pelé descreve de maneira simples e espirituosa a emoção de seu primeiro encontro com o mar, no início da década de 50, ao chegar ao time do Santos para jogar. Cada um a seu modo, as pessoas se impressionam quando se deparam com a largueza e vastidão das águas que separam

mundos e culturas, definem e delimitam a geografia. A fundo, mar também é trabalho, escritório e casa. Sim, casa – e não

só de animais. Há quem prefira a com-

A dura vida de um surfista profissional...Texto: Daniel Marcolino | Fotos: Divulgação

panhia das ondas a estar em terra firme. Eis o prólogo de vida do surfista catarinense Guga, Gustavo Arruda, que há mais de 20 anos pratica o surf. Guga é bi-campeão Ca-tarinense de Surf Profissional, 95 e 99, e Sul Brasileiro de Surf Profissional, em 94. Tam-bém ficou no Top 16 Brasil de surfistas por sete anos consecutivos.

“O surf tem o que outras modalidades esportivas não têm: arte e estilo vida. Os jovens, por exemplo, vestem surfwear”, des-taca Guga, que também atua como shape designer (produtor de pranchas), treinador de atletas e surf repórter. Em Florianópolis, onde nasceu, a prática do surf ocorre de forma natural desde cedo. Trata-se da maior vitrine de surfistas brasileiros para o merca-

do profissional.Embora o mercado do Surf seja

concorrido e seletivo, existem diversas opções de traba-lho para amantes do es-

porte: Surf Competição, so-mente para praticantes; Free

Surf, produção de fotos para pa-trocinadores e mídia; Surf Repórter,

responsável por coberturas, vídeos e pre-visões de ondas, entre outras. Por ser uma atividade de alcance mundial, é necessário domínio de idiomas, sobretudo o inglês, in-dispensável em competições internacionais.

Entretanto, a maioria dos surfistas ade-re à prática por prazer e diversão. “Surfar

Acesse o www.guiarioclaro.com.br/esportes para saber mais sobre surf 56

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Uma onda históricaO surf, segundo a lenda, surgiu no Havaí, e foi introduzido pelo rei polinésio Tahíto. Os primeiros surfistas foram descobertos pelo navegador James Cook. Tratava-se de canibais da ilha Chuka-chuka, que produziam pranchas de madeira para deslizarem nas ondas.

Cook aprendeu a surfar e gostou da ‘brincadeira’; mas não conseguiu novos adeptos para a atividade. Por mais de cem anos as igrejas protestantes desestimularam a prática do surf. Somente nos Jogos Olímpicos de 1912, quando o nadador havaiano Duke Kahanamoku – ganhador do ouro olímpico – assumiu ser um surfista que o esporte começou se popularizar em todo mundo.

O surf tornou-se um estilo de vida em meados da década de 50 e virou febre nos jovens da costa oeste dos EUA, especialmente da Califórnia. Nos anos 70 e 80, surgiram os primeiros campeonatos profissionais, que hoje pagam prêmios milionários aos vencedores. O atual campeão mundial é o americano Kelly Slater, com nove títulos. O brasileiro de maior destaque no cenário mundial do surf é o também catarinense Neco Padaratz.

é entrar em total harmonia com o meio-am-biente, com a onda do mar e, fundamental-mente, consigo mesmo. É um momento de pura concentração, de liberação de pensa-mentos e de meditação”, revela Guga, que enaltece o surf como um esporte que, além de corpo, desenvolve também o espírito.

Para além da aparente tranquilidade e des-prendimento do surfista, o esporte possui ca-racterísticas que o diferencia das tradicionais formas de ganhar a vida: une lazer e profis-são em uma espécie de terapia holística com a própria natureza.

Em constante busca pela onda perfeita, o surfista acaba por encontrar equilíbrio e au-toconfiança, elementos que serão decisivos em sua jornada quando, novamente, estiver em terra firme.

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Turismo

Aventura, esoterismo, cultura, história. Tudo isto em um ambiente cercado por pa-redões, pela fauna e flora de um local que remete a tempos primitivos. Com uma far-mácia a céu aberto, cheia de ervas em ex-tinção e flores perfumadas, a atmosfera da Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, é de uma natureza ainda ‘virgem’. A 70 quilô-metros de Cuiabá, ela é uma das principais referências em ecoturismo no País.

Logo na entrada principal, pela Rodovia Estadual Emanuel Pinheiro, os paredões de arenito saltam aos olhos antecipando o que vem pela frente. Rapel, canoagem, cachoei-ras, grutas, trilhas, monumentos históricos, sítios arqueológicos, desenhos rupestres, lobos-guarás, veados-campeiros, entre ou-tros atrativos: eis o que vem pela frente.

Chapada dos Guimarães situa-se no ponto equidistante entre os oceanos Atlântico e Pa-cífico. A presença de um forte campo eletro-magnético transformou o lugar em ponto de encontro para pessoas que buscam energi-zação, além de esotéricos de todo mundo. À procura de descanso e tranquilidade, a con-sultora Laisa Cambaúva resolveu partir rumo a Chapada. “Nunca imaginei que pudesse viver uma experiência tão rica”, ressalta.

De acordo com Laisa, engana-se quem pensa que turismo é sinônimo de praia, sol e água-de-coco. “O Brasil é imenso e tem muito a oferecer. Com a vida agitada dos grandes centros, acredito que cada vez mais as pessoas irão procurar destinos que lhes proporcionem repouso, lazer e contato inte-rior”, revela.

Chapada de tantas veredasTexto: Daniel Marcolino | Fotos: Divulgação e acervo Secretaria de Turismo da cidade

Flores perfumadas e ervas medicinais são constantes na paisagem da Chapada, muitas ainda poucos estudadas

Com 86 metros de queda, pode ser vista através de mirantes e trilhas. O visitante consegue fotografar a queda da cachoeira sob diversos ângulos

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Chapada de tantas veredasTexto: Daniel Marcolino | Fotos: Divulgação e acervo Secretaria de Turismo da cidade

Acesse o www.guiarioclaro.com.br/turismo para saber mais sobre pousadas e hotéis na Chapada dos Guimarães e ver mais fotos. Confira também uma entrevista com Laisa Cambaúva sobre a viagem

Para Laisa, o ponto alto da viagem à Cha-pada dos Guimarães foi a vista da Cidade de Pedra. “Ver o pôr-do-sol daquele ponto é impagável. Os animais ficam pastando no Cerrado em contraste com o horizonte; as Araras-vermelhas começam a retornar para seus ninhos. Me senti pequena, porém, par-te integrante de tudo aquilo”, relata.

Para os que desejam semelhante contato

com as belezas do lugar, a cidade está aber-ta à visitações sete dias por semana, sempre das 8h às 17h. Hotéis, pousadas e restau-rantes recebem turistas de dentro e fora do país, todas as épocas do ano. Na realidade, as pessoas é que são visitadas e, de alguma forma, tocadas. A natureza, na Chapada, se mostra sempre implacável: nela e através dela, tudo se transforma.

Localizado no alto da Chapada do Guimarães, é um mirante natural, formado por paredes de arenito. Devido à grande altitude, o local é propício ao silêncio,

que ressoa no ar. … onde nasce o riacho Paciência

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Gastronomia

Ingredientes simples, provenientes da terra, integram uma das culinárias mais tra-dicionais do Brasil. O frango com quiabo e a sopa de couve, assim como o feijão tropeiro e a vaca atolada fazem da culinária mineira um sabor tipicamente brasileiro. A suntu-osidade não se encontra na apresentação, mas no sabor, no aroma e principalmente, na simplicidade de seu preparo.

Às 7 horas o movimento na cozinha já é intenso e o ato de cozinhar não está rela-cionado apenas a olhar panelas. É preciso cortar, picar, lavar, escolher, cozer, fritar, re-fogar, assar e empanar. Eis a complexidade de se trabalhar em um restaurante.

O torresmo, o frango frito, a farofa ser-

vida no pilão, ou mesmo um ovo frito po-dem parecer triviais à primeira vista, mas não se engane, existe um universo imerso nessas iguarias, uma cultura proveniente do coração do Brasil, da culinária mineira e de seus segredos.

Uma família paulista administra o res-taurante. Na cozinha pai e mãe ajudam no preparo. No salão, que lembra muito um rancho de sítio, Tiago Pires de Moraes e sua irmã Virginia acertam detalhes antes de co-meçarem a acender o fogão à lenha. São 10 horas e a mesa de pratos frios está posta, o leve cheiro de fumaça que emana da le-nha a crepitar provoca o cérebro e anuncia o banquete.

Ouro de MinasTexto: Rafael Moraes | Fotos: C. Marques

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Acesse www.guiarioclaro.com.br/gastronomia e confira a receita de um verdadeiro banquete mineiro

Banana e mandioca frita, couve refogada, feijoada e uma cachaça para abrir o apeti-te. Tudo começou com as viagens de Tiago, vendedor por profissão. Foi por meio de suas andanças que nasceu o amor pela cozinha de Minas e seus sabores. Daí, até abrir a pró-pria cozinha para disseminar sua paixão, foi questão de tempo.

As carnes, dois ou três tipos de feijão, acompanhamentos, arroz, ovos, batatas, bi-fes e bistecas garantem seu lugar ao fogo. Às 11 horas um mosaico de cores surge sobre o fogão e espalha aromas por todos os lados, provoca os sentidos e as texturas saltam aos olhos como se ganhassem vida.

Figura imponente à esquerda do salão, o fogão a lenha atribui charme à cena, mas não é apenas decorativo, a comida sempre se mantém aquecida graças às labaredas que dançam e pulam na base da construção de tijolos, entre metal e fumaça.

As cadeiras singelas revelam sua origem mineira e fornecem conforto, assim como as mesas paranaenses, altivas e balancea-das. O relógio marca 11h30, é hora de abrir o portão e esperar pelos clientes. O cheiro invade as cercanias e como num devaneio, fisga os desavisados convidando-os a en-trar e se deliciar.

As panelas de ferro e de barro são artifí-

cios obrigatórios em qualquer cozinha mi-neira, o sabor agregado por essas vasilhas confere uma impressão que deixa na boca a satisfação e um gostinho de quero mais.

A afinidade com a comida que a cozi-nha mineira oferece pode ser percebida na hora de se servir. O prato é feito junto ao fogão, onde panelas fumegantes e porções generosas fazem desse momento parte in-tegrante da ceia generosa.

Doce de leite, doce de abóbora, arroz doce e doce de laranja. A singeleza também é característica inseparável das sobremesas mineiras. Frutas cozidas em calda de açúcar mostram como preservar o sabor e tornar aprazível a degustação é uma necessidade gastronômica.

O velho ditado popular, “A hora da refei-ção é sagrada”, se faz verdade incontestável quando a refeição enche os olhos, dá água na boca e extasia o olfato. O interior de Mi-nas também existe em Rio Claro.

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Arroz, feijão e...vinho!Enogastronomia

por Hugo Baungartner e Marcelo Picka

Sempre imaginamos, experimentamos e sugerimos a combinação mais indicada possível entre um prato e um vinho, inde-pendente do tipo de alimento utilizado. Hoje porém entraremos em um assunto muito delicado e igualmente prazeroso.

Quando falamos em harmonização e em vinho, pensamos quase sempre em alta gastronomia, chefs premiados, vinhos top e ingredientes caros. Permitimos-nos, portan-to, lançar um desafio. É possível harmonizar pratos tradicionais e simples, muito consu-midos no dia-a-dia com vinhos de qualquer parte do mundo?

Elegemos alguns clássicos como o filet a parmegiana, prato encontrado em todos os

restaurantes, do mais simples ao mais sofisticado. A bela fu-são entre a carne coberta com molho de tomate e queijo, o ar-roz e a batata frita fazem desse prato um dos mais consumidos em todo o Brasil. Unir esse gos-

to nacional ao vinho se torna possível desde que a bebida tenha taninos macios. A suges-tão fica a cargo da uva Merlot.

Com strogonoff de carne ou mesmo de frango, também muito consumido no dia-a-dia e que também casa perfeitamente com o arroz e a batata frita, sugere-se, apesar da harmonização ser muito difícil, um Chardon-nay com madeira, ou seja, mais untuosos. Mas um vinho branco com carne vermelha? Neste caso o que mais influencia na harmo-nização é o molho à base de creme de leite.

A macarronada de domingo também merece destaque, afinal, quem não aprecia um belo espaguete a bolonhesa preparado em casa? Este pode ser considerado o prato mais caseiro de todos e a harmonização pode ser facilmente realizada com os populares Chiantis, os quais são baseados na uva San-giovese, típica da Toscana. Já para os molhos brancos, à base de bechamel, sugere-se mais uma vez os Chardonnays com madeira.

Como escrito no último artigo, o churrasco se torna um caso simples de

resolver, com bons Mal-becs argentinos ou Ca-bernet Sauvignons do Novo Mundo.

O caso mais com-

Arroz, feijão e... vinho!

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Arroz, feijão e...vinho!plicado é o prato mais brasileiro de todos: a feijoada! Embora difícil de dispensar a caipiri-nha e a cerveja, por incrível que pareça, existe possibilidade dos amantes do vinho busca-rem a harmonização com esse prato rústico criado pelos escravos. Um prato feito com feijão preto e tantas carnes de porco diferen-tes, acompanhado com arroz, farofa, couve, vinagrete e banana frita será que harmoniza com algum tipo de vinho? Existem duas cor-rentes claras. Uma refere-se a harmonização regional, ou seja, prato de determinada região harmoniza com um vinho da mesma região. Muito bem, falando de feijoada prontamente lembramos do Cassoulet também feito com feijão, só que branco, e carnes diversas. Uma uva que é da mesma região, a do Madiran, é a Tannat. Portanto, temos a primeira possi-bilidade. A segunda, refere-se ao casamento com espumantes tintos. O mesmo com suas bolhinhas, ou também conhecidas como perlages, limpam a gordura da feijoada, me-lhorando o prato.

Embora tenhamos certa dificuldade de vi-sualizar alguns dos pratos acima com bons exemplares de vinho, o gosto do consumidor deve estar acima de qualquer crença ou cos-tume. Como sabemos, a arte de harmonizar vinhos e comidas nos revela surpresas a cada dia e o desafio em buscar a combinação mais próxima da perfeição para o nosso paladar também faz com que as opiniões e sugestões sejam múltiplas para a harmonização de cer-tos pratos. Cada um tem o seu paladar e sabe qual o vinho lhe agrada mais com determi-nada comida.

Não existe fronteira e nem paradigmas para esse tema, só precisamos de tempo para explorar todas as possibilidades!

Muito arroz, feijão e saúde!

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Contraponto

por Ivan Capelatto

Duas personalidades se autorizam, desde o fim do século 20 e neste início do século 21, a mostrar o mosaico de sentidos a que as sociedades se encontram. Gilles Lipo-vetsky, filósofo, discursando e escrevendo sobre o que denomina a “Era do Vazio”, e Charles Melman, psicanalista, insistindo no que chama de a “Era do Gozo”.

Estes dois pensadores nos trazem a leitu-ra desta nova realidade, vista e revista todo o tempo, desta busca desenfreada do prazer a “qualquer custo”, dessa vida que ganha o sabor do hedonismo imediato e da indife-rença ao outro.

A atual situação sócio-econômica mun-dial traz ao psiquismo uma “descrença” fundamental no futuro, e o sujeito humano se torna refém dessa queda no vazio da an-gústia e na busca do gozo constante como saída mágica desse sofrimento.

E, dentro deste panorama, como fica a cabeça de nossos adolescentes?

Temos, no comportamento, nos atos e na manifestação interna – psíquica – de nossos adolescentes uma perda fundamental, que é a perda do senso crítico, da ética das relações interpessoais e a perda da crença na unidade afetiva da família. É urgente a necessidade do ressurgimento do cuidador – aquele que CUIDA-DA-DOR – na figura de pais cons-cientes, professores-educadores conscientes, pessoas ligadas ao poder político, religioso, presidentes de clubes, e outros ainda com um pouco de lucidez funcionando.

Sem o CUIDADOR, o adolescente entra em um processo de “desafetivar” sua vida e suas relações. Inicia o processo interno de indiferença afetiva, que é o não se importar mais com o sofrimento alheio.

Temos, assim, como chamava Freud, o re-torno do reprimido, que vai marcar o reapa-recimento do pensamento e do ato perverso em grande escala. Pensando nas palavras e nas reflexões de Winnicott, psicanalista in-glês, quando um sujeito é suficientemente lúcido para cuidar do outro, esse cuidado – holding – gera autoestima em quem é cuida-do, diminui as garras da angústia, do vazio, e pode gerar também um prazer em cuidar.

O desejo de cuidar é a marca do lúcido, daquele que sente o outro e sente pelo ou-tro, como nos falava Imannuel Lèvinas, filó-sofo contemporâneo falecido em 1995.

O medo de investir amor, tempo e pre-sença no outro assusta muito, pois estamos pensando, nesta sociedade anestesiada, que esse tempo investido é visto como um tem-po “roubado”.

O CUIDADOR é “filho” da lucidez, da consciência crítica que um ser pode ter ao se defrontar com uma sociedade adoecida e anestesiada de sentido.

Hoje, nesta anestesia oceânica, a inveja e a raiva de perceber o outro bem, vencendo, crescendo, feliz, impede a admiração e o aplauso ao outro, e um sentimento destru-tivo aparece nos não-lúcidos.

Quanto suficientemente lúcidos somos?

Sociedade anestesiada

Ivan Roberto Capelatto é psicólogo clínico, psicoterapeu-ta, professor universitário e autor da obra “Diálogos sobre Afetividade – o Nosso lugar de cuidar”

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