Estereótipos no telejornalismo brasileiro: identificação e reforço
TELEJORNALISMO E AUDIÊNCIA SURDA: UM ESTUDO SOBRE … · Trabalho de Conclusão de Curso...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA | UFPB CENTRO DE COMUNICAÇÃO TURISMO E ARTES | CCTA
DEPARTAMENTO COMUNICAÇÃO Curso Comunicação Social - Habilitação Jornalismo
TELEJORNALISMO E AUDIÊNCIA SURDA: UM
ESTUDO SOBRE AS ESTRATÉGIAS DE ACESSIBILIDADE
NAS PRODUÇÕES DE TV EM JOÃO PESSOA/PARAÍBA
POLIANA MEDEIROS DE LEMOS
JOÃO PESSOA, PB
2015
POLIANA MEDEIROS DE LEMOS
TELEJORNALISMO E AUDIÊNCIA SURDA: UM
ESTUDO SOBRE AS ESTRATÉGIAS DE ACESSIBILIDADE
NAS PRODUÇÕES DE TV EM JOÃO PESSOA/PARAÍBA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Coordenação do Curso Comunicação Social,
Habilitação Jornalismo, da Universidade Federal da
Paraíba, em atendimento às exigências para
obtenção do Grau de Bacharel Comunicação Social.
Orientadora: Profª Drª Joana Belarmino
JOÃO PESSOA, PB
2015
POLIANA MEDEIROS DE LEMOS
TELEJORNALISMO E AUDIÊNCIA SURDA: UM
ESTUDO SOBRE AS ESTRATÉGIAS DE
ACESSIBILIDADE NAS PRODUÇÕES DE TV EM JOÃO
PESSOA/PARAÍBA
O presente trabalho foi submetido à avaliação
da banca examinadora, em cumprimento às
exigências da disciplina Projeto Experimental,
como requisito parcial para a obtenção do
Grau de Bacharel Comunicação Social,
Habilitação Jornalismo, na Universidade
Federal da Paraíba.
Aprovado em __/__/__
Banca examinadora
____________________________________
Professora Doutora Joana Belarmino
Orientadora – UFPB
____________________________________
Professora Doutora Glória Rabay
Examinadora – UFPB
____________________________________
Professora Doutora Zulmira Nóbrega
Examinadora – UFPB
À minha mãe. Por ter acreditado no meu sonho de ter
Um curso superior. E ao meu companheiro.
Por todo o incentivo dado durante esta pesquisa.
Dedico este trabalho à vocês que tornaram possível
essa vitória.
AGRADECIMENTOS
Fazer esta parte da pesquisa me fez relembrar muitos momentos da minha vida.
São tantas as pessoas a quem sou grata, que será impossível retribuir apenas com essas
palavras. Lembro-me das vezes que passava em frente à Universidade Federal da
Paraíba e dizia para mim mesma: “um dia eu vou estudar aí”. Por isso, inicio este
momento rendendo graças ao meu amado Jesus, por ter ouvido cada frase pronunciada
em meu coração e fez possível que este sonho hoje estivesse se realizando. Obrigada,
meu pai!
Em segundo lugar, agradeço a pessoa mais importante da minha vida, minha
mãe, Irene Angelina de Lemos. Mulher guerreira, que superou todas as barreiras para
criar seus filhos. Com toda a certeza, eu não teria chegado até aqui se não fosse por ela.
Dedico essa vitória à senhora, minha mãe, e fico extremamente realizada em poder
retribuir um pouco do que já fez por mim. Sei que por maiores que sejam as minhas
conquistas eu nunca poderei retribuir todo o seu sacrifício e seu amor, mas saiba que eu
vivo para um dia tentar chegar a ser metade da mulher que a senhora é. Obrigada por
tudo! Obrigada pela vida! Te amo imensamente!
Também não poderia deixar de agradecer aos meus irmãos, Luciano Lemos,
Fabiano Lemos, Claudiano Lemos e Adriano Lemos. Agradeço, por toda ajuda que me
deram, seja de forma direta ou indireta. Obrigada pelo apoio e incentivo. Vocês me
ensinaram a sempre lutar e nunca desistir mesmo diante de todas as dificuldades que já
passamos na vida. Agradeço ainda aos meus outros irmãos, José Idalino, Genildo dos
Santos e Maria José, essa vitória também é de vocês. Dedico também esta pesquisa aos
que já não estão mais entre nós, Antonio dos Santos, Tarciano Coelho e Henrique de
Andrade. Irmãos, onde vocês estiverem, sei que também presenciam este momento.
Agradeço ainda ao meu padastro, José Marinaldo da Silva, por todo o apoio dado
durante meus estudos.
Há quatro anos a minha vida tomou um rumo completamente diferente do que eu
havia planejado. Em 2011 conheci o homem que mudaria os meus planos. Através dele
eu descobri o que é o amor verdadeiro e hoje os meus dias se tornaram mais cheios de
alegria, e o meu coração é dominado por um sentimento que nunca pensei que alguém
fosse capaz de sentir. Dedico esta pesquisa e todo o esforço empregado nela, ao meu
companheiro de vida, Fabiano Medeiros. Sou grata a você por todas as vezes que me fez
enxergar que eu seria capaz, quando eu queria desistir. Obrigada por sempre me
acompanhar e me incentivar. Obrigada por sua paciência e compreensão. Obrigada por
me fazer acreditar que através do nosso trabalho e esforço podemos chegar a qualquer
lugar. Todas as minhas conquistas também são suas, meu amor! Juntos um dia ainda
alcançaremos muito mais.
Agradeço também a todos os outros familiares, pois não é possível citar o nome
de cada um aqui. Assim como também sou grata a família do meu esposo, em especial a
minha sogra, Dona Aderita de Medeiros, e as minhas cunhadas, Patrícia de Medeiros e
Fabiana de Medeiros. Obrigada por tudo!
Ao longo de nossas vidas muitas pessoas entram e saem dela, e na minha não
poderia ser diferente. Durante o curso de Comunicação conheci pessoas que hoje posso
chamar de amigos. E algumas outras que posso até chamar de irmãos. Agradeço
imensamente a Thais Vital, por toda a amizade e dedicação nesses quase cinco anos.
Obrigada por ter me deixado aprender com você e com seu exemplo de vida. Levarei
sua amizade para sempre. Agradeço também aos amigos, Carlos Antonio, Keicy Victor,
Priscila Vital, Kelly Patrícia, Jude Alves e Guilhardo Martins, pessoas por quem nutro
grande admiração e respeito. Com toda a certeza, vocês tornaram a minha jornada na
academia muito melhor.
Agradeço ainda ao Comitê de Inclusão e Acessibilidade da UFPB (CIA), por ter
me despertado o olhar para a inclusão, e por todo o conhecimento fornecido, e
experiências adquiridas. Gratidão também aos funcionários do Setor Braille da
Biblioteca Central da UFPB, Marília Mesquita, Josenildo Costa e Paulo da Silva
Chagas, por terem me acolhido tão bem durante o meu estágio no Comitê, assim como
também a professora Andreza Polia, Coordenadora do CIA.
Sou grata a maravilhosa equipe de Comunicação do Serviço Social do Comércio
da Paraíba, Dennise Vasconcelos, Diego Caiaffo e Dayana Valéria, por todo o
conhecimento fornecido durante o meu estágio na Assessoria, e ainda a minha grande
parceira de trabalho Paullini Rocha. Dedico este trabalho a vocês pelo grande incentivo
e por me ensinarem a ser uma profissional melhor.
Agradeço imensamente à minha orientadora, professora Joana Belarmino, por
toda a paciência e ensino que me dedicou, e por todo empenho que dedicou a essa
pesquisa. Obrigada por ter aceitado o desafio de realizar este trabalho junto comigo e
pelo resultado que obtivemos. Gratidão também aos professores que aceitaram compor a
banca examinadora, e por todas as contribuições feitas ao trabalho.
Aos surdos que aceitaram participar da pesquisa e as instituições que nos deram
autorização. Aos intérpretes que nos ajudaram, e em especial a Associação de Surdos de
João Pessoa, através dos professores de Libras, Elizangela de Lima e Enio Afonso.
Obrigada por toda a contribuição. Sem a ajuda de todos vocês não seria possível
desenvolver este trabalho.
Por fim, agradeço a todos que torceram por mim e que contribuíram com a
pesquisa de alguma forma.
“O que importa a surdez da orelha,
quando a mente ouve? A verdadeira
surdez, a incurável surdez, é a da mente.”
Ferdinand Berthier, surdo francês, 1845
RESUMO
A presente pesquisa se dedica a investigar os recursos de acessibilidade
utilizados nas emissoras de TVs de João Pessoa, na Paraíba, para tornar possível o
alcance das pessoas com deficiência auditiva a este meio de comunicação. O estudo
trata, principalmente, da Legenda Oculta e da Janela com Intérprete de Libras nos
telejornais locais, levantando a discussão que envolve a implementação e a eficácia
dessas ferramentas. Ao passo em que este tema é tratado, será investigado o
cumprimento das determinações estabelecidas pelo Ministério das Comunicações, no
tocante a acessibilidade nesse meio. A partir das entrevistas realizadas com os surdos, o
trabalho analisa a opinião destes telespectadores sobre o recurso, mostrando quais os
problemas que os mesmos enfrentam ao consumirem o produto jornalístico. Por fim,
ainda apresentar a forma de organização da comunidade surda na capital, além de expor
outras pesquisas que avaliam tais ferramentas e que serviram de base para a construção
deste trabalho.
Palavras-chave: telejornalismo; acessibilidade; libras; comunidade surda;
comunicação; legenda oculta; janela com intérprete de libras.
ABSTRATC
This research is dedicated to investigate the accessibility features used in televisions
stations in João Pessoa, Paraíba, to make possible the reach of people with hearing loss
to this medium. The study comes mainly from the Closed Caption and Window Pounds
interpreter in the local news programs, raising the discussion involving the
implementation and effectiveness of these tools. While on this subject is dealt with, it
will investigate compliance with the criteria established by the Ministry of
Communications regarding accessibility in the interim. From interviews with the deaf,
the paper analyzes the opinion of these viewers on appeal, showing what problems they
face by consuming the journalistic product. Finally, although the present form of
organization of the deaf community in the capital, in addition to exposing other research
evaluating such tools and that formed the basis for the construction of this work.
Keywords: Television Journalism; accessibility; pounds; deaf community;
communication; closed caption; window pounds interpreter.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Alfabeto manual em diferentes países................................................................... 27
Figura 2: Processo de legendagem no Brasil........................................................................ 34
Figura 3: Estenógrafo.............................................................................................................. 37
Figura 4: Janela com Intérprete de Libras ............................................................................ 40
Figura 5: Closed Caption no Jornal Hoje............................................................................... 41
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Perfil da Amostra..…………………………………………………………………. 53
Tabela 2: Perfil da Amostra............................................................................................ 53
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Hábitos de consumo.............................................................................................. 54
Gráfico2: Recurso de acessibilidade..................................................................................... 55
Gráfico 3: Mídias de preferência............................................................................................ 56
Gráfico 4: Telejornais de João Pessoa.................................................................................. 57
Gráfico 5: Emissora e Telejornal de João Pessoa............................................................... 59
Gráfico 6: Eficácia do recurso de acessibilidade................................................................. 60
Gráfico 7: Experiências com os recursos ............................................................................62
15
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 16
CAPÍTULO 1 - CONTEXTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.. 22
1.1 GRAUS DE SURDEZ.............................................................................................. 22
1.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA LÍNGUA DE SINAIS........................................... 24
1.3 LIBRAS.................................................................................................................... 27
1.3.1 Reconhecimento da língua..................................................................................... 29
CAPÍTULO 2 – LEGENDA OCULTA E ACESSIBILIDADE NA TV.................. 31
2.1 SURGIMENTO DAS LEGENDAS......................................................................... 31
2.2 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA LEGENDAGEM..................................... 32
2.3 LEGENDA ABERTA.............................................................................................. 33
2.4 LEGENDA FECHADA........................................................................................... 36
2.5 ACESSIBILIDADE NA TELEVISÃO PARA SURDOS....................................... 38
CAPÍTULO 3 – MAPEAMENTO DE CONSUMO PELA COMUNIDADE
SURDA: COMPROVANDO AS ESTRATÉGIAS DE ACESSIBILIDADE.......... 42
3.1 A COMUNIDADE SURDA DE JOÃO PESSOA/PARAÍBA................................ 42
3.1.1 A TV paraibana e a produção de conteúdo: comprovando as estratégias de
acessibilidade.................................................................................................................. 45
3.1.2 Estudos na área de Comunicação e audiovisual.................................................... 48
3.2 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.............................................................. 51
3.2.1 Hábitos de consumo............................................................................................... 54
3.2.2 Recurso de acessibilidade.......................................................................................55
3.2.3 Mídias de preferência............................................................................................ 56
3.2.4 Telejornalismo de João Pessoa.............................................................................. 57
3.2.5 Emissora e Telejornal de João Pessoa................................................................... 59
3.2.6 Existência das ferramentas de acessibilidade........................................................59
3.2.7 Eficácia do recurso de acessibilidade.................................................................... 60
3.2.8 Experiência com os recursos................................................................................. 62
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 64
5 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 67
6 ANEXOS......................................................................................................................70
16
INTRODUÇÃO
De acordo com o Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 5,1 % dos brasileiros possuem deficiência
auditiva. Esse percentual representa 9,7 milhões de pessoas, das quais 344,2 mil são
surdas totais. Os números do IBGE também dizem respeito às pessoas que possuem
uma perda de audição grave, (2 milhões), têm profunda dificuldade para ouvir, (1,7
milhões), e ainda apresentam certa dificuldade auditiva, (7,5 milhões)1.
Levando em consideração não apenas os números do IBGE, mas sim a
valorização da diversidade humana e em respeito a essa coletividade, o Estado e a
sociedade devem reconhecer a acessibilidade como um direito de toda e qualquer pessoa
com deficiência. Por isso, algumas medidas são necessárias para que estas pessoas se
sintam de fato parte de uma sociedade, que é diversa, mas, plural, na multiplicidade dos
seus indivíduos.
Partindo do princípio de proporcionar bem-estar, desenvolvimento e igualdade
social, várias estratégias de inclusão estão sendo criadas para um dia tentarmos chegar
ao acesso pleno. No entanto, é necessário estudar tais métodos e sua qualidade, para se
constatar de fato a acessibilidade.
No campo da comunicação algumas táticas também estão sendo implantadas ao
longo dos anos. A Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000 se refere às condições de
acessibilidade na comunicação, na qual seu artigo 17 explica sobre a legislação:
O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação
e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem
acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas
portadoras de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação,
para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao
trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer.
(BRASIL, 2000).
Um destes mecanismos para a acessibilidade dos surdos se dá através do
Intérprete de Libras, que tem a sua formação ressaltada no artigo 18 desta mesma Lei.
Outra possibilidade de acessibilidade também está estabelecida na Portaria no
310/2006
do Ministério das Comunicações, que determina a obrigatoriedade do uso da legenda
1Essas informações podem ser acessadas no site: <http://www.adap.org.br/site/index.php/artigos/20-
deficiencia-auditiva-atinge-9-7-milhoes-de-brasileiros> Acesso em: 24 de agosto de 2014, às 16-03.
17
oculta, conhecida também como Closed Caption, na programação televisiva, ao qual
serve para os surdos oralizados.
De acordo com a portaria, a implantação desse recurso seria feita de forma
gradativa. A proposição previa que no primeiro ano 10% da programação diária seria
legendada, e a cada ano 5 % seria acrescentado. O objetivo é chegar às 24 horas de
programação legendada até 2017.
O cumprimento dessa Portaria possibilita aos deficientes auditivos mais um
recurso de acessibilidade, o que já é um direito. De acordo com a Lei Complementar de
Natureza Civil n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000, acessibilidade é definida como:
Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e
autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das
edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação,
por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.
(BRASIL, 2000).
Vale lembrar que, acessibilidade, além de tudo, é o que torna realizável o
exercício da cidadania das pessoas com deficiência, e através dela também é possível
proporcionar qualidade de vida às pessoas. Por isso, ela está associada não só aos
processos tecnológicos e arquitetônicos, mas também ao desenvolvimento social.
O meu interesse pelo tema da acessibilidade surgiu em 2013 através de uma
experiência de estágio em um núcleo da Universidade Federal da Paraíba ligado à Pró-
Reitoria de Assistência e Promoção ao Estudante (Prape), o Comitê de Inclusão e
Acessibilidade (Cia), e posteriormente a participação no Grupo de Pesquisa em
Jornalismo, Mídia, Acessibilidade e Cidadania (Gjac) UFPB.2 Após me aproximar e
conviver com alunos, servidores e professores da UFPB com deficiência é que pude
observar e entender um pouco suas necessidades, e o quanto é importante avançar para
tornar o espaço acessível.
Apesar de todas as conquistas nessa área, comparado há anos atrás, ainda há
muito que progredir. A questão da inclusão está ligada aos direitos humanos e visa a
garantia de acesso a todos, seja na educação, cultura, lazer, entre outros, por isso é um
direito fundamental.
2O site do grupo pode ser consultado em < https://jornalismoecidadaniaufpb.wordpress.com/>Acesso em
12 de novembro de 2015, às 17h-22.
18
O uso de um Intérprete de Libras, ou do recurso da legenda oculta nas televisões,
são exemplos desses avanços, e um direito estabelecido por lei. Mas como saber se
essas instruções estão sendo aplicadas? Como saber se esse recurso é eficaz e se é
utilizado pelo público alvo?
A partir dos dados apresentados, e pensando no campo da comunicação, o
estudo vem mostrar e responder tais questionamentos sobre a acessibilidade nos
programas de telejornalismo em emissoras de TVs públicas e privadas de João Pessoa –
Paraíba seja pelo uso do Closed Caption, ou Intérprete de Libras. Além disso, o estudo
investiga os hábitos de consumo de pessoas surdas em tais programas. Tendo também
como foco ser um contributo para o debate acerca da acessibilidade no curso de
jornalismo e no seio da própria comunidade universitária, pois apesar da Portaria já ter
sido aprovada há nove anos, pouco se sabe sobre sua existência.
Este projeto tem como objetivo geral identificar as estratégias de acessibilidade
utilizadas nas emissoras de TVs de João Pessoa/Paraíba, durante a exibição dos seus
telejornais. Queremos entender quais recursos acessíveis as empresas de
telecomunicações estão empregando para atender as necessidades dessa parcela de seus
telespectadores.
A partir da observância desse fato o estudo visa avaliar a implementação do
Interprete de Libras e da Legenda Oculta (Closed Caption), nas televisões públicas e
privadas da capital. Para tanto, é necessário saber se o público em questão consome este
tipo de mídia, por isso, a pesquisa busca fazer um mapeamento dos hábitos televisivos
dos surdos e a partir desses resultados refletir sobre a qualidade de tais estratégias.
Por fim, o estudo monográfico busca trazer um contributo para o debate
acadêmico sobre a questão da acessibilidade na programação, tendo em vista a
importância de tal conhecimento para uma comunicação mais democrática, assim como
também, fortalecer as atividades de conhecimento do Grupo de Pesquisa em Jornalismo,
Mídia, Acessibilidade e Cidadania, do qual faço parte.
A pesquisa se estrutura em três partes. A primeira parte vem contextualizar
temas importantes para o estudo, iniciando com o conceito de surdez, para situar o leitor
acerca do nível de necessidade da pessoa com deficiência auditiva. O contexto histórico
sobre a Língua de Sinais, e consequentemente, a Língua Brasileira de Sinais (Libras),
19
assuntos que permeiam a discussão sobre a linguagem natural do surdo são trazidas no
estudo. No segundo momento é tratado o tema da legendagem, bastante importante para
este trabalho dada discussão que envolve este recurso como meio acessível. Outro tema
pertinente é a acessibilidade na televisão para os telespectadores surdos. O assunto vem
a tona na figura do Intérprete de Libras e do Closed Caption.
O terceiro capítulo tem início com uma abordagem sobre a organização dos
surdos em João Pessoa, e em seguida será apresentado um Mapeamento de consumo
de mídia pela comunidade surda, mostrando os dados colhidos perante a análise dos
questionários, além de estudos sobre acessibilidade no campo da comunicação, que
nortearam a pesquisa. Por fim, trataremos das Estratégias de Acessibilidade, onde
comprovaremos o uso dos recursos Legenda Oculta e Intérprete de Libras por parte das
emissoras públicas e privadas locais.
Para a realização do presente estudo foi utilizada a metodologia da pesquisa de
opinião, tendo em vista a intenção de avaliar os recursos acessíveis por parte dos
telespectadores surdos. A escolha deste método se deu devido a possibilidade de
investigar problemas que ocorrem em ambientes reais, e a expectativa de colher o maior
número de informações possíveis.
A pesquisa de opinião tem se mostrado instrumento tão valioso para a
sociedade contemporânea, que, muitas vezes, deixa de ser
compreendida como técnica de medição da opinião pública para tornar-
se a própria expressão desta. Sua aplicação extrapolou os limites do
campo político, no qual despontou com maior intensidade, e, hoje
tornou-se reconhecido método de investigação científica para a maioria
dos campos de conhecimento, inclusive para a Comunicação.
(NOVELLI, 2006, p. 164).
Além da amostra quantitativa, a pesquisa também é fundamentalmente de
natureza qualitativa, por buscar refletir sobre as condições de produção de conteúdos
televisivos para usuários surdos, procurando assim, caracterizar esses novos sujeitos
coletivos que fazem parte do universo da audiência como um todo.
O trabalho foi executado através de um questionário semi-estruturado em duas
instituições que prestam assessoria aos deficientes: Fundação Centro Integrado de
20
Apoio Portador de Deficiência (Funad)3 e na Associação de Deficientes e Familiares -
Asdef4.
O método foi escolhido devido a eficiência na comunicação, já que este tipo de
coleta permite a explicação das perguntas de maneira minuciosa, fato bastante
importante, tendo em vista a dificuldade de interpretação por parte dos respondentes.
Outro aspecto determinante para a escolha da técnica foi a oportunidade da pesquisa ser
realizada em menor tempo.
Como método quantitativo a pesquisa de opinião ou survery, como
também é conhecida, possibilita a coleta de vasta quantidade de dados
originados de grande número de entrevistados. Dentre seus aspectos
positivos, podem-se destacar a possibilidade de que a investigação do
problemaocorra em ambientes reais (...) a quase inexistência de
barreiras geográficas para a realização das entrevistas e o baixo custo
de aplicação ao se considerar a quantidade de informações recolhidas.
(NOVELLI, 2006, p. 154.)
Para esta monografia buscou-se entrevistar pessoas surdas ligadas a instituições,
tendo em vista a facilidade para coletar seus dados e a possibilidade de contar com a
ajuda de um Intérprete de Libras.
O estudo se estruturou da seguinte forma: para realizar o primeiro capítulo foi
realizada a revisão bibliográfica para conhecer a literatura relativa à surdez e a língua de
sinais, e pesquisa documental para conhecer o marco legal do estudo. Para a produção
do segundo capítulo também utilizamos a pesquisa bibliográfica acerca do surgimento
das legendas e da acessibilidade na televisão. Nesta etapa também foram verificados a
existência dos recursos de acessibilidade nos telejornais locais, através do
acompanhamento da programação. No capítulo da análise foi utilizada a metodologia da
pesquisa de opinião com aplicação de questionários, conforme o anexo um.
No tocante as entrevistas, apesar da Funad oferecer diversos serviços aos seus
usuários, a pesquisa buscou coletar dados das pessoas vinculadas a Coordenadoria de
Atendimento à Pessoa com Deficiência Auditiva – Codapa, que recebem aulas de libras
e frequentam uma escola de ensino regular, tendo em vista que o estudo visa analisar,
junto aos surdos a eficiência da Janela de Libras e da Legenda Oculta na televisão. O
3O site da fundação pode ser acessado através do endereço < http://www.funad.pb.gov.br/index.php>
Acesso em 13 de novembro de 2015, às 20-27. 4O site da instituição pode ser acessado através do endereço <http://asdef.org.br/> Acesso em 13 de
novembro de 2015, às 20-32.
21
setor realiza uma média de 48 atendimentos ao ano, mais ou menos quatro surdos ao
mês. Neste sentido, a própria instituição selecionou duas de suas alunas, que julgaram
ter maior capacidade para o desenvolvimento de tal atividade, tendo em vista o fato da
pouca familiaridade com a língua portuguesa e a falta de interpretação das perguntas por
parte de alguns surdos.
Na Associação de Deficientes e Familiares a média de atendimento, até o
período de realização do questionário foi de 28 usuários, mas a instituição estima que
este número ultrapasse os 80 ao ano. Nesse local foram selecionadas dez pessoas, diante
dos mesmos aspectos de compreensão do português e interpretação. Entretanto, apenas
seis se dispuseram a responder o questionário, pois os demais se recusaram por
vergonha, ou simplesmente disseram que não queriam, apesar de participarem do
momento de explicação das perguntas.
As pesquisas foram realizadas nos dias 9 e 17 de junho de 2015, na Funad e
Asdef, respectivamente, na cidade de João Pessoa/PB. Nos dois casos foi solicitada a
ajuda de um Intérprete de Libras. Na primeira fundação as entrevistas foram feitas
individualmente, e cada entrevista durou cerca de meia hora. Na segunda organização o
questionário foi aplicado com todo o grupo, e fez uso do recurso visual de um projetor
multimídia, para auxiliar o Intérprete na leitura das perguntas. O processo de execução
das pesquisas durou cerca de duas horas, devido ao debate que foi levantado, pelos
próprios surdos, em virtude do tema da pesquisa e de suas necessidades.
A pesquisa foi baseada num roteiro semi-estruturado, com questões abertas e
fechadas, divididas em: questionário sócio cultural, contendo cinco perguntas, e uma
pesquisa de audiência, com oito questionamentos. As principais dificuldades
encontradas neste percurso estão relacionadas ao agendamento das entrevistas, pois, nas
duas instituições, a presença dos deficientes auditivos não se dá de forma assídua, sendo
complexo conseguir reuni-los no mesmo dia, o que acarretou na diminuição do número
de respondentes.
22
CAPÍTULO 1 - CONTEXTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Começamos por entender o que é uma pessoa surda: surdez é a falta, ou a
diminuição da habilidade auditiva, ou seja, é um prejuízo na audição que pode ser
causado por vários fatores. Existem pessoas que já nasceram com esta deficiência
auditiva, e outras que por algum motivo a perderam após o nascimento.
Com isso, essa deficiência está classificada em diversos graus, que vão desde o
estado de surdez leve a perda total da audição, denominada surdez severa ou profunda –
conforme será melhor conceituada. Assim, podemos ter surdos oralizados, que utilizam
a língua materna oral para se comunicar, e surdos que se comunicam única e
exclusivamente através da Língua de Sinais (sua língua nativa).
Os problemas com a comunicação em decorrência dessa dificuldade podem se
apresentar em cada indivíduo de maneiras diferentes, o que vão definir quais são eles é
o grau de surdez apresentado em cada pessoa. “Dependendo do grau de perda de
audição, a criança poderá adquirir uma linguagem com apenas, alguns defeitos, uma
comunicação muito limitada, podendo, ainda, não chegar, naturalmente, à oralização, se
a surdez for mais grave.” (COUTO, 1985, p.11).
1.1 GRAUS DE SURDEZ
Na cartilha Como compreender o deficiente auditivo, Couto (1985, p. 12)
classifica os graus de surdez de acordo com a zona de percepção sonora da palavra.
Couto começa com a surdez leve que é aquele grau em que a pessoa não consegue
perceber todos os sons de uma palavra, onde não consegue ouvir a voz mais fraca e um
pouco distante. Esta perda de audição é situada entre 20 e 40 decibéis. As crianças que
apresentam esse grau de surdez têm dificuldades de atenção.
Procura olhar sempre para o rosto de quem lhe fala e costuma pedir
para repetir. Embora com essas dificuldades, a criança que nasce com
esse tipo de perda auditiva, consegue adquirir a linguagem
naturalmente, no ambiente em que vive. Pode chegar à escola e, até
mesmo concluir seus estudos, sem que percebam sua deficiência.
(COUTO, 1985, p. 12).
A surdez média é aquela que está entre 40 e 70 decibéis. Para se perceber a
palavra é necessário um tom de voz mais forte. Geralmente as crianças que possuem
23
este grau têm atraso linguístico e mudanças na articulação, podendo apresentar ainda
dificuldades de linguagem.
Tem mais facilidade de compreender os termos com significado mais
concreto, tendo dificuldade para os artigos, pronomes, conjunções e
mesmo as terminações que indicam os tempos, modos e pessoas dos
verbos, gênero e número dos substantivos e adjetivos, assim como
frases complexas. Sua compreensão se faz com o auxílio da percepção
visual. (COUTO, 1985, p. 12).
Há ainda a surdez severa e profunda, que causam maior dano para a aquisição da
linguagem. Na severa a perda de audição fica entre 70 e 90 decibéis, e a percepção
sonora fica apenas na captação de poucos ruídos, quando em ambiente familiar e
podendo perceber ainda uma voz muito forte, porém a criança pode chegar a possuir
uma determinada linguagem em seu ambiente.
No deficiente auditivo com surdez profunda, a perda de audição chega a 90
decibéis, ou mais. Sua gravidade impossibilita qualquer percepção sonora por voz
humana e impede a obtenção de uma linguagem natural. Como essas pessoas não
conseguem ouvir os sons emitidos por outras, ou os que ela mesma emite, não poderão
associar a fala e a audição, não possuindo assim a fala como meio de comunicação
natural.
A Língua de Sinais é considerada uma língua natural, pois sua obtenção por
parte da criança surda é feita de maneira espontânea, assim como acontece no caso dos
ouvintes com sua língua oral. “A língua de sinais é adquirida de forma fácil e rápida
pelo surdo, propiciando para ele a oportunidade de se comunicar, pensar e expressar
sentimentos.” (DIZEU; CAPORALI, 2004, p. 8).
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam a Língua de Sinais não é uma
língua universal. Assim como em outras linguagens, a língua dos surdos também se
diferencia de país para país, ou até mesmo de região para região, como explica Audrei
Gesser, no livro Libras que língua é essa? “Com a língua de sinais não é diferente: nos
Estados Unidos, os surdos “falam” a língua americana de sinais; na França, a língua
francesa de sinais: no Japão, a língua japonesa de sinais; no Brasil, a língua brasileira de
sinais, e assim por diante.” (2009, p. 11).
O que podemos considerar como universal é o impulso para a comunicação,
assim como o que os ouvintes sentem, pois a Língua de Sinais é uma língua natural
24
como qualquer outra. Em qualquer lugar haverá pessoas surdas interagindo, o que as vai
diferenciar é essencialmente o uso da imagem como forma de expressão.
A língua dos surdos não pode ser considerada universal, dado que não
funciona como um “decalque” ou “rótulo” que possa ser colocado e
utilizado por todos os surdos de todas as sociedades de maneira
uniforme e sem influencias de uso. Na pergunta sobre universalidade,
está também implícita uma tendência a simplificar uma forma
linguística, sugerindo que talvez para os surdos fosse mais fácil se
todos usassem uma língua única, uniforme. O paralelo é inevitável: e
no caso da nossa língua oral, essa perspectiva se mantém? Mesmo
que, do ponto de vista prático, tal uniformidade fosse desejável, seria
possível a existência, nos cincos continentes, de uma língua que, além
de única, permanecesse sempre a mesma? (GESSER, 2009, p. 12).
A Língua de Sinais como podemos observar é muito mais complexa do que se
imagina, e localizar sua origem não pode ser feito de maneira tão fácil tendo em vista a
faltade registros escritos e de espaço geográfico, já que suas comunidades são pequenas
e não estão situadas em determinada localidade.
Tentando relatar um pouco sobre a origem da Língua de Sinais, nos deparamos
com o histórico da educação dos surdos, e é impossível falar desse surgimento sem
tocarmos num ponto crucial para o seu desenvolvimento. Foi na busca pela melhoria na
educação das pessoas com deficiência auditiva que se deu o surgimento da Língua de
Sinais, portanto um fato está ligado ao outro.
1.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA LÍNGUA DE SINAIS
Tentando fazer um breve histórico sobre o surgimento da Língua de Sinais é
importante lembrar que se atualmente a falta de espaço e de uma legislação, e direitos
mais efetivos para a comunidade surda já desperta o interesse de muitos e inquieta
movimentos populares, na antiguidade o quadro social para essas pessoas era ainda mais
grave.
Sociedades como Esparta e Roma são citadas como as que na antiguidade
idolatravam e buscavam a perfeição física, excluindo qualquer indivíduo que não se
enquadrava neste padrão, chegando ao sacrifício daqueles que nasciam com algum tipo
de deficiência física ou mental:
25
Sabemos que, na Antiguidade, ocorria o sacrifício de surdos em
função do ideal grego de beleza e perfeição. Ademais, o nascimento
de uma pessoa narrada como "deficiente" era concebido como um
castigo dos deuses, o que justificava a sua eliminação. (CASARIN,
2008, p. 2).
Segundo Moura (2000, p. 16), esse argumento se dava em função de que “o
pensamento não podia se desenvolver sem linguagem e que esta não se desenvolvia sem
a fala. Desde que a fala não se desenvolvia sem a audição, quem não ouvia, não falava e
não pensava, não podendo receber ensinamentos e, portanto, aprender.”
Nas sociedades antigas, ou clássicas, os surdos já eram tratados como
“anormais”. A visão acerca desse grupo era tão negativa que eles eram considerados
como improdutivos, como que castigados pelos deuses, sendo inúteis, impossíveis de
serem educados. O processo de educação dos surdos e o surgimento da Língua de Sinais
só vieram a acontecer tempos depois.
Apenas no século XVI, o médico italiano Girolamo Cardano (1501-
1576) advoga a favor da capacidade de aprendizado dos sujeitos
surdos. Entretanto, o monge beneditino Pedro Ponce de Léon (1520 –
1584) é o primeiro professor de surdos de que se tem registro
histórico. (CASARIN, 2008, p. 2).
A primeira tentativa de educar os surdos surgiu somente no século XVI com o
monge beneditino Ponce de Leon (1520-1548). O espanhol é considerado o precursor de
educadores nessa área. Além de sua grande importância no tocante à educação de
surdos, ele também fundou, em seu monastério, uma escola de professores de surdos.
Leon alcançou com êxito o seu objetivo utilizando a metodologia da escrita, a repetição
de palavras faladas, a indicação de objetos e a datilologia, que é a representação manual
das letras do alfabeto.
Ponce de León viveu no monastério de San Salvador, em Oña, na
Espanha, onde se dedicou à instrução dos dois irmãos surdos de um
conde. Esta educação caracterizava-se, portanto, pelo regime de
preceptorado. Era, então, uma educação voltada para assegurar os
direitos dos descendentes da nobreza. (BOTELHO, 1998, p. 3 apud
CASARIN, 2008).
Com o passar do tempo a preocupação com a educação dos surdos foi ganhando
cada vez mais espaço, e com isso foram surgindo mais professores que desenvolveram
trabalhos educacionais em diversos lugares da Europa, como o também espanhol Juan
Pablo Bonet, um dos educadores a utilizar o mesmo método de ensino de Ponce de
26
Leon, mas com o diferencial de que Bonet acreditava ser necessário que os membros de
uma família com pessoa surda usassem o alfabeto manual - datilologia.
Mas a Língua de Sinais só ganhou notoriedade no século XVIII com o abade
francês Charles Michel de L’Epée. Por volta de 1760, acreditando que todos os surdos
deviam ter acesso à educação, L’Epée transformou sua própria casa em escola pública,
criando os “Sinais Metódicos” que consistia na combinação da Língua de Sinais com a
gramática sinalizada francesa. Ele utilizava a primeira letra de uma palavra para criar
seu respectivo sinal.
Na segunda metade do século XVIII, o abade de L'Epée (1712-1789)
inicia um trabalho pedagógico relacionado à surdez ao deparar-se
casualmente com duas irmãs surdas. Inicialmente, seu intuito era
apenas catequizador. No entanto, mais tarde, comovido com a situação
de pobreza dos surdos da capital francesa, funda em 1760 o
estabelecimento que viria a se tornar a primeira escola pública para
surdos no Ocidente: o Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris.
(CASARIN, 2008, p. 3).
Charles Michel de L’Epée foi muito importante para o avanço da Língua de
Sinais e por isso ele é considerado o criador e maior divulgador da linguagem. Além do
progresso que o abade trouxe, suas idéias foram bastante relevantes para a comunidade
surda, pois L’Epée acreditava que a língua natural dos surdos é a Língua de Sinais, e
que não adiantava ensiná-los a falar, mas ensiná-los a se comunicar através de sua
linguagem natural.
Além de fundador da primeira escola para surdos em Paris, L’Epée também
escreveu um dicionário, um livro sobre sua metodologia educacional, e uma gramática.
Suas contribuições o levaram a ser considerado por muitos como o “pai da Língua de
Sinais”. Vale salientar que, de acordo com a pesquisadora Carolina Hessel Silveira
(2005, p. 5) “não foi L’Epée quem inventou os sinais nem o alfabeto manual usados em
seu método. Ambos já existiam há muitos anos, porém não há registro exato.”
Como podemos observar Charles Michel de L’Epée é considerado o mais
significante educador de surdos de sua época, pois sua compreensão sobre estas pessoas
foi além de um processo educacional. De acordo com Casarin (2008, p. 3) “antes disso,
é considerado como um de seus grandes defensores, pois a língua de sinais era utilizada
pelos surdos desde a Antiguidade.”
27
O abade soube reconhecer a importância dos sinais, e mais ainda, o entendeu
como base essencial na comunicação da pessoa surda. Sua metodologia de ensino se
tornou tão respeitada que foi assumida pelo antigo Instituto de Surdos e Mudos, hoje
Instituto Nacional de Jovens Surdos, localizado em Paris.
1.3 LIBRAS
Mas e aqui no Brasil, como a Língua de Sinais chegou ao nosso país? Como se
deu o processo de educação para os surdos?
A palavra Libras é a forma abreviada para Língua Brasileira de Sinais. Como o
próprio nome diz, a Libras corresponde aos sinais usados pelos surdos do nosso país.
Essa língua só foi reconhecida a partir de 24 de abril de 2002 através da Lei Federal n°
10.436. “Art. 1° É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua
Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados.”
(BRASIL, 2002).
E assim como ocorre em cada parte do mundo, na nossa terra a Libras também
se diferencia de região para região, como acontece com a língua oral através do sotaque
dos seus habitantes. No caso da Língua de Sinais Brasileira isso acontece porque alguns
Estados receberam influência de outros países como Uruguai e Argentina.
Figura 1 – Alfabeto manual em diferentes países
LÍNGUA BRASILEIRA DE
SINAIS (LIBRAS)
LANGUE DES SIGNES
FRANÇAISE(LSF)
LENGUA DE SIGNOS
ESPAÑOLA
AMERICAN SIGN
LANGUAGE (ASL)
Fonte: http://www.editora-arara-azul.com.br/pdf/artigo19.pdf
28
É importante frisar que o alfabeto manual (também conhecido como
soletramento digital ou datilologia) não é uma língua, mas sim um recurso utilizado
para soletrar manualmente as palavras.
Lança-se mão desse recurso para soletrar nomes próprios de pessoas
ou lugares, siglas, e algum vocábulo não existente na língua de sinais
que ainda não tenha sinal. Além disso, os usuários de língua de sinais
fazem, em algumas situações, empréstimos da grafia da língua oral,
recorrendo à datilologia para realizar sinais de pontuação (tais como,
vírgulas, ponto final, ponto de interrogação, sinais matemáticos etc.)
que, na maioria das vezes, são desenhados no ar. O mesmo pode
ocorrer com preposições ou outras classes de palavras. (GESSER,
2009, p. 29).
A Língua de Sinais chegou ao Brasil em 1855 através de um professor francês,
que também era surdo, chamado Hernest Huet. De acordo com Ramos, foi o Imperador
D. Pedro II quem trouxe o professor ao Brasil.
Sabe-se que, realmente, houve empenho especial por parte de D.
Pedro II quanto à fundação de uma escola para surdos, mandando
inclusive trazer para o país em 1855 um professor surdo francês,
Ernest (ou Eduard) Huet, vindo do Instituto de Surdos-Mudos de
Paris, para que o trabalho com os surdos estivesse atualizado com as
novas metodologias educacionais. (RAMOS, 2009, p. 8).
Com o apoio do Imperador, que sancionou a Lei 839, em 26 de setembro de
1857, Huet fundou o então Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM), localizado no
Rio de Janeiro, que atualmente funciona como o Instituto Nacional de Educação de
Surdos (INES). O Instituto iniciou com uma proposta de desenvolvimento da fala e
reeducação, mas foi com essa iniciativa que tiveram início os primeiros trabalhos
educacionais voltados para os surdos, inserindo assim a Língua de Sinais no Brasil.
Durante muito tempo a educação dos surdos foi norteada pelo oralismo,
chegando, em algumas épocas, a ter puramente apenas essa abordagem pedagógica, mas
sendo os sinais uma língua natural, seu uso sempre permaneceu, mesmo que de maneira
ilegal, e as escondidas.
Como as raízes de Huet eram da França consequentemente a Libras sofreu essa
influência. Mas, apesar da ligação, não foram encontradas, através de análises
realizadas, referências entre os programas de ensino.
Observamos com essa trajetória que a educação dos surdos, e assim com ela a
sobrevivência da língua de sinais, passou por vários momentos marcantes, e mesmo
29
com os desenvolvimentos que o processo vinha adquirindo muitas foram as barreiras
encontradas até o seu reconhecimento. Contudo, não podemos encerrar este capítulo
sem antes citar uma das grandes reviravoltas na educação dos surdos: O Congresso de
Milão de 1880.
Nesta época a corrente oralista tinha ganhado grande força em oposição à língua
de sinais, e foi durante o Congresso Internacional de Milão, na Itália, que a os sinais
foram banidos. Buscando discutir o futuro da educação dos surdos os métodos de ensino
foram colocados em pauta, onde o oralismo teve sua superioridade comprovada e foi
oficializado. O que para Silveira (2005, p. 8) se deu por vários motivos, “dentre eles,
devido à ideia de que sem fala não existe pensamento, conceito este decorrente da
filosofia de Aristóteles.”5
Contudo os sinais não foram eliminados, estes passaram a ser usados de maneira
marginalizada, o que de acordo com Moura perdurou por cerca de cem anos.
Durante os cerca de cem anos de predominância do Oralismo (de 1880
a 1980), foram obtidos poucos resultados quanto ao desenvolvimento
da fala, do pensamento e da aprendizagem dos surdos. Além disso, a
surdez era vista apenas em termos clínicos, tendo-se como
preocupação o estudo da perda auditiva, o desenvolvimento da
oralidade, a articulação, etc. (Moura, 2000, p. 20).
O mais curioso nesse fato é que os professores surdos foram proibidos de votar,
e a decisão foi tomada apenas por professores ouvintes, marcando uma grande ruptura
na educação dos surdos. Tal acontecimento fez com que alguns países abandonassem de
vez o método da Língua de Sinais em sua educação, causando até o afastamento de
professores surdos de suas instituições.
1.3.1 Reconhecimento da Língua
Os estudos científicos acerca do reconhecimento linguístico dos sinais e sua
importância só vieram a acontecer por volta de 1957, através das pesquisas descritivas
5Aristóteles (384–322 a.C) foi um importante filósofo grego. Um dos pensadores com maior influência na
cultura ocidental. Foi aluno e discípulo do filósofo Platão. Elaborou um sistema filosófico no qual
abordou e pensou sobre praticamente todos os assuntos existentes, como a geometria, física, metafísica,
botânica, zoologia, astronomia, medicina, psicologia, ética, drama, poesia, retórica, matemática,
esobretudo lógica. Disponível em: <http://www.e-biografias.net/aristoteles/> Acesso em: 26 de novembro
de 2014.
30
do linguista William Stokoe - antes disto até mesmo os próprios sinalizadores não
reconheciam o sinal como uma língua verdadeira.
A partir dos estudos do linguista americano Willian Stokoe, o qual
desenvolveu pesquisas na década de 60 sobre a língua de sinais e a sua
importância, inicia-se um movimento gradual de reconhecimento da
surdez como diferença linguística e cultural, como contraponto à
concepção clínico-terapêutica que a nomeia como deficiência. Trata-
se da invenção cultural da surdez. (CASARIN, 2008, p. 17).
Abrindo um parêntese dentro deste contexto histórico sobre os estudos em torno
das Línguas de Sinais, o texto de Clélia Regina Ramos, Doutora em Semiologia, aponta
que outros estudos tão importantes quanto os de Stokoe já haviam sido desenvolvidos.
No texto Libras: A língua de Sinais dos Surdos Brasileiros, Ramos, baseada em
Ferreira Brito, explica que os primeiros estudos linguísticos acerca das Línguas de
Sinais correspondem à obra de Carrick Mallery sobre os estudos relacionados aos
indígenas das Américas e Austrália.
O pesquisador considerava a “Plains Sign Language – PSL/Língua de
Sinais das Planícies Norte-Americanas” uma espécie de pantomímica.
Apesar disso, porém, seu estudo torna-se importante para o avanço do
estudo linguístico das Línguas de Sinais por apresentar uma descrição
bastante completa da PSL, propiciando aos seus sucessores analisar
inúmeros aspectos da mesma. (RAMOS, 2009, p. 5).
Mas apesar de toda a importância desses estudos só a publicação de William
Stokoe, Language Structure: An outline of the Visual Communication Systems of the
American Deaf, datada de 1960, é tida como prova dos primeiros estudos científicos na
área. Stokoe também é responsável por colocar o estudo da Língua de Sinais na ciência
linguística através da publicação, em 1965, do A Dictionary of American Sign Language
(o primeiro dicionário de Língua de Sinais) em co-autoria com Dorothy Casterline e
Carl Cronoberg.
De acordo com Wilcox e Wilcox (2005, p. 18) “Na época, poucas pessoas
prestaram atenção. Embora a língua de sinais americana (ASL) fosse a língua de um
grande número de pessoas nos Estados Unidos, poucos ouvintes americanos sabiam que
ela existia.”
Seus estudos possibilitaram o deslocamento da perspectiva patológica da surdez,
direcionando - a para uma exploração cultural, dando uma nova percepção sobre a
comunidade surda e uma compreensão de sua cultura.
31
CAPÍTULO 2 – LEGENDA OCULTA E ACESSIBILIDADE NA TELEVISÃO
Denomina-se Legenda Oculta ou Closed Caption (CC) o sistema de transmissão
de legendas do que está sendo falado em uma produção audiovisual. Para um televisor
operar com esse sistema é necessário a existência desta função específica na televisão,
ou seja, nem todos os aparelhos de TVs operam de tal forma, a exemplo dos aparelhos
mais antigos.
O principal objetivo do Closed Caption é fornecer acessibilidade aos
espectadores surdos no acompanhamento da programação audiovisual. A legenda usada
como ferramenta acessível difere daquela utilizada para traduzir filmes em outros
idiomas. Questões técnicas e concepção de tradução, além de informações adicionais,
também diferenciam este recurso.
Além de auxiliar o deficiente auditivo, a legenda: ajuda pessoas idosas, pois
estas possuem perda natural da audição ao longo dos anos; é utilizada em locais
públicos onde não pode haver barulho, como salas de espera e consultórios, e também
em ambientes muito barulhentos, como bares e restaurantes.
2.1 SURGIMENTO DAS LEGENDAS
Para entender o surgimento da legenda, é importante saber que esse recurso
iniciou como um segmento da tradução de filmes ou programas de TV, sendo este início
dado juntamente com o surgimento do cinema. Porém, a escassez de registros dentro da
própria história da tradução dificulta o traçar desta linha do tempo, como aponta Nobre:
Porém, a bibliografia relacionada à história do cinema não diz
exatamente a importância do processo de legendar filmes e/ou o
processo de tradução envolvido. É visível esta constatação, uma vez
que a ciência da tradução, apesar de antiga, em questões de
documentação e registro é bastante recente. Nota-se esta escassez
dentro da própria história da tradução. Não existe registro de como ou
onde exatamente a legendagem toma proporções maiores, tornando-se
um dos ramos importantes da tradução técnica, abrindo espaço para
estudos e para o próprio mercado de trabalho para tradutores.
(NOBRE, 2012, p. 3).
Mas é possível encontrar tais informações pesquisando a história do cinema, da
TV e outras mídias.
32
Por mais marcante que tenha sido a introdução do som e da palavra no
mundo do cinema, a tradução dos diálogos do filme para uma outra
língua não ocupou o mesmo lugar de destaque, ou seja, não há
informações detalhadas sobre como se fazia a tradução de filmes nem
como se lidava com os possíveis problemas vindos com os registros
de outras culturas. Na literatura sobre a entrada da indústria
cinematográfica no Brasil, percebemos também as poucas referências
à problemática da tradução e, conseqüentemente, da tradução de
filmes. (MELLO, 2005, p.22 apud NOBRE 2012).
Portanto, a autora aponta o ano de 1895, em Paris, como a primeira exibição
pública de filmes, e com ela o surgimento da legendagem. Mas, de acordo com Nobre,
“o registro que se tem do primeiro filme com legendas da história docinema é de 26 de
janeiro de 1929, em Paris, onde o filme “The Jazz Singer” foi exibido com legendas em
francês”, (PARANAGUÁ, 1985, p. 4 apud 2012).
As pesquisas que envolvem a área de tradução por meio de legendas tiveram
início no Brasil no início dos anos 90. Um fato que chama bastante atenção é que no
Brasil quase todos estes estudos são realizados pela academia, enquanto que em outros
países as pesquisas ficam por conta de empresas e canais de televisão, que o fazem com
o intuito de divulgar sua programação para diferentes culturas. No caso brasileiro, as
pesquisas, em sua grande maioria, são desenvolvidas através de teses de mestrado e
doutorado, e os seus resultados ainda não chegaram aos profissionais da área.
2.2 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA LEGENDAGEM
A partir do panorama que traçamos sobre o surgimento da legenda, entendemos
que seu objetivo inicial não era o de fornecer a acessibilidade, mas que o Closed
Caption, legenda abordada nesta pesquisa tem sua origem derivada de um processo de
desenvolvimento industrial do mercado de tradução de filmes.
Com isso, entendemos que a utilização da legenda depende para qual meio de
comunicação, ou em que produto na comunicação, ela está inserida. A partir disto
perceberemos seus aspectos técnicos e processo de elaboração. Segundo Araújo:
33
A tradução por meio de legendas é a interpretação condensada ou não
das falas de um filme ou programa de televisão. É atualmente muito
utilizado no Brasil nos diferentes meios de comunicação. Antes da
popularização dos canais a cabo, esse método de tradução audiovisual
aparecia apenas nos cinemas e nos vídeos domésticos. Atualmente, as
legendas podem ser vistas também na televisão fechada, onde a
legendagem é mais comum do que a dublagem. (2006, p. 1).
As legendas podem ser classificadas segundo dois parâmetros: o linguístico e o
técnico. Onde o linguístico pode ser constituído de intralingual e interlingual. De acordo
com a autora “a intralingual é aquela na mesma língua do texto falado. É usada em
programas domésticos para os telespectadores com problemas auditivos, em programas
destinados a aprendizes de uma língua estrangeira”, (GOTTLIEB, 1998, p. 2 apud
ARAÚJO, 2006). A pesquisadora também observa que este tipo de legenda é usado nos
telejornais, quando o som de uma reportagem não está muito audível.
A interlingual é o tipo de legenda mais conhecida, aquela que estamos mais
habituados devido ao seu uso em cinemas, vídeos e televisões. “A legenda interlingual é
aquele tipo mais conhecido, ou seja, é a tradução, na língua de chegada, em forma de
código escrito, dos diálogos de um filme ou programa de TV em língua estrangeira”,
(ARAÚJO, 2006, p. 2).
Em se tratando dos aspectos técnicos, as legendas podem ser abertas ou
fechadas.
2.3 LEGENDA ABERTA
As legendas abertas são àquelas que independem de um codificador e são feitas
em estúdios, como explica Araújo:
A legenda ABERTA é aquela sobreposta à imagem antes da
transmissão ou exibição, ou seja, sempre aparece na tela e não
depende de um decodificador para ser acionada. Pode ser “virtual”, no
caso de transmissão por satélite, “queimada” a ácido (nos filmes em
película para exibição em cinema) ou gravada eletronicamente (nos
filmes para distribuição em vídeo). Pode ser de cor amarela ou branca,
podendo aparecer na tela centralizada e alinhada à esquerda ou direita.
(2006, p. 2).
O procedimento utilizado na execução desta legenda varia de acordo com o
padrão de cada estúdio, ou ate mesmo do meio em que será veiculada, e ainda da mídia.
Sendo este processo divido em três etapas, como explica Nobre, “a primeira etapa
consiste em uma primeira visualização do material, quando o tradutor tomará notas a
34
respeito do texto original, seguida da divisão do roteiro em unidades de tradução, de
forma a facilitar o trabalho do tradutor”, (2012 p. 7 apud Bergmann; Lisboa, 2008).
Após esse processo de tradução, as legendas partem para as duas outras etapas:
sincronização e edição. Nesta etapa podemos perceber que a tradução do material não é
realizada por apenas um profissional. Cada fase que envolve o processo da legendagem
é realizada por um profissional diferente, e muitas vezes o tradutor só tem contato com
este material uma única vez.
Como já podemos observar esse processo de legendagem não é operado por
apenas um profissional, com isso concluímos, mesmo que previamente, que a
possibilidade dos erros constatados durante a exibição da legenda, tenha início nestas
etapas.
A sincronização das legendas, nada mais é que a marcação do início e fim de
cada legenda. Tal atividade é realizada por um profissional que recebe o nome de
marcador. Por fim, a última etapa do trabalho é a revisão. O profissional que realiza esta
tarefa é chamado de revisor, ou editor. Após a análise do material as legendas são
gravadas nas fitas, ou em outros tipos de mídias.
Araújo utiliza o diagrama de Lina Alvarenga, dividido em duas etapas, para
exemplificar o processo de legendagem.
Figura 2 – Processo de Legendagem no Brasil
Tradução→ Marcação→ Revisão→ Gravação
↓ ↓ ↓ ↓ Legendista Marcador Revisor Legendador
Fontes: (ALVAREGA apud ARAÚJO, 2006, p. 03)
De acordo com Araújo 2006, Alvarenga denomina este processo como
Legendagem, e usa o termo Legendação para a tradução, pois segundo a autora, no
Brasil o tradutor não é responsável por todo o processo, como acontece na Europa. Vale
ressaltar que esses termos são usados apenas em trabalhos acadêmicos, no mercado o
profissional dessa área é chamado de “tradutor”, como explica Sabrina Martinez,
tradutora para legendas, em entrevista a revista do programa de pós-graduação em
estudos da tradução, In-Tradutores.
35
O objetivo é diferenciar as duas atividades e também valorizar o
trabalho do tradutor. Essa terminologia tem sido usada em trabalhos
acadêmicos, mas no mercado o termo "legendista" não pegou. Aliás,
nem "legendador". Chama-se o profissional simplesmente de
"tradutor". "Legendação" eu nunca ouvi, a não ser nos trabalhos
acadêmicos de Vera (Vera Lúcia Santiago Araújo) e Lina (Lina
Alvarenga). O processo técnico de gravação das legendas na fita ou de
exibição das legendas é chamado de "legendagem". (MATIELO;
COLLET, 2012, p. 3).
Além dos profissionais que realizam o processo de legendagem, algumas
empresas também utilizam softwares neste trabalho. De acordo com Araújo, 2006, p. 3,
o uso facultativo deste programa de computador acontece na fase da legendação.
A legendação de um filme pode ser feita com ou sem o auxílio de um
software específico. Todas as empresas legendadoras ou emissoras de
TV usam um softwareespecífico para legendagem nas fases de
marcação e gravação das legendas na sub-matriz do cliente, mas
apenas algumas permitem que seus tradutores o utilizem na fase de
legendação. O uso do programa facilita o trabalho de preparação das
legendas porque essa é uma das suas principais finalidades.
(ARAÚJO, 2006, p. 3).
Em alguns casos as empresas não fornecem ao profissional o software adequado,
ou o legendista não domina o programa, nessas situações a tarefa de legendação é
realizada por um editor de texto comum (o mais usual atualmente é o Word for
Windows). Nobre aponta que:
Quando a legendagem eletrônica era feita apenas com um gerador de
caracteres, pedia-se ao tradutor que fizesse suas legendas em letra de
forma em papel quadriculado ou datilografada. Para isso, o legendista
precisava fazer a marcação do tempo de fala mentalmente ou, de posse
do roteiro, marcar as pausas no texto escrito. (2012, p. 8 apud
SANTIAGO, 2002).
Voltando a todo o processo, e tentando dar uma simplificada, relembrando o
diagrama de Lima Alvarenga, citado por Araújo (2006) com as respectivas funções dos
profissionais, funciona da seguinte forma: Após a conclusão da legendação, a tradução
vai para o marcador. Depois de terminada a revisão, por fim, o legendador, grava as
legendas na fitas, ou material exibido. Assim, chega ao fim a produção da legenda
aberta.
36
Antes de encerrarmos este tópico, é importante falar das características que
envolvem a confecção das legendas abertas, para assim vermos suas diferenças com
respeito ao Closed Caption.
O número de linhas atende ao padrão internacional, que é: duas linhas de 2s, no
máximo. Para cada linha o número de caracteres vai depender do meio de veiculação,
como explica Araújo (2006, p. 4), “num filme de 35 mm (o mais usado na TV) o
máximo de caracteres por linha é entre 32 e 40, no de 16 mm o máximo fica entre 24 e
27.” Já Nobre diz que, “o manual da empresa de legendagem West End fornece outros
números para TV: 26 a 30 caracteres por linha. O mesmo manual aponta 36 a 44
espaços para o cinema, por ser a tela maior que a da TV, cabendo maior quantidade de
letras”, (2012 p. 8).
Com respeito ao tempo disponível para as legendas Araújo afirma que vai
depender de três fatores: “a quantidade de texto, a velocidade de leitura dos
telespectadores (normalmente entre 150 a 180 palavras por minuto) e os intervalos entre
uma legenda e outra (aproximadamente ½ segundo)”, (2006, p. 4).
2.4 LEGENDA FECHADA
As legendas fechadas também são denominadas de Closed Caption (CC) e nesta
pesquisa, ela esta diretamente ligada aos recursos de acessibilidade usados para atender
ao público surdo, como já falamos anteriormente.
Salvo os deficientes auditivos oralizados que precisam dela para o consumo da
mídia, o telespectador pode acioná-la, ou não, tudo vai depender de suas necessidades e
preferências. Sua aparição se dá através de um codificador inserido nos controles
remotos.
Essas legendas também possuem uma subclassificação. São elas do tipo rotativo
e também podem ser pop-on:
Pode ser do tipo rotativo, onde as linhas sobem da parte inferior da
tela, as palavras surgem da esquerda para a direita e são usadas em
programas ao vivo; pode também ser do tipo pop-on, onde as frases ou
sentenças surgem como um todo (e não palavra por palavra), ficando
temporariamente na tela. Este último tipo de legenda é usado em
programas pré-gravados e assemelha-se muito às legendas abertas.
(NOBRE, 2012, p.6 apud SANTIAGO 2002).
37
Diferentemente da aberta, o processo de confecção da legenda fechada é mais
simples, porém requer um extremo domínio de digitação por parte do profissional que
opera o aparelho. Outro aspecto que difere esses dois tipos de legendas é o número de
pessoas necessárias para sua confecção, pois no Closed Caption apenas um técnico é
encarregado da função de legendagem.
O nome dado ao profissional que realiza a legendagem também muda. Neste
caso é dada a denominação de “estenotipista” (em algumas pesquisas também pode ser
denominado de tradutor). Para a confecção da legenda fechada é utilizado um software
chamado estenografo computadorizado. Este aparelho é equipado com um teclado
especial, o estenótipo.
O estenógrafo é equipado com um teclado especial, o estenótipo
(stenotype). O aparelho tem 24 teclas que podem ser acionadas
simultaneamente, o que possibilita uma maior rapidez. Outro fator
preponderante para sua agilidade é o fato de as palavras serem
digitadas pelo som, ou seja, pela fonética aproximada e não pela
ortografia. Com apenaspoucos sons digitados, um programa de
computador faz a busca num dicionário e contraa palavra desejada.
(ARAÚJO, 2006, p. 5).
FIGURA 3 - Estenógrafo
Fonte:site igualmentediferentes.com
O estenotipista digita em média 160 palavras por minuto, mas em casos de
reportagens ao vivo, por exemplo, este número pode chegar 187, por isso se tem a
necessidade do profissional possuir habilidades com a digitação
Este tipo de legenda também está sujeita a erros que podem ser ocasionados pela
falta de aptidão do profissional, pela alta velocidade de digitação, ou mesmo pelo fato
da transcrição de texto ser de forma fonética simplificada. Muitas vezes quando o
computador não encontra a palavra falada ele acaba produzindo outra indesejada.
38
Segundo Nobre (2012, p. 7) “como o Closed Caption no Brasil é usado em TV
aberta, onde a língua falada nos programas é o português, o processo tradutório
envolvido é de caráter intralingual, pois a decodificação de fonemas é feita dentro da
própria língua.”
Como podemos perceber, a partir dessa investigação, a legenda oculta é derivada
de um processo de tradução de filmes, o qual se fez necessário inserir este recurso para
atender as pessoas com deficiência auditiva.
2.5 ACESSIBILIDADE NA TELEVISÃO PARA SURDOS
Na sociedade atual a palavra de ordem é globalização. Muitos aspectos fazem
parte dessa era global, entre eles a disseminação de conhecimento. Sendo assim, um dos
setores afetados por esse processo é a comunicação.
A internet é um dos lugares onde esta globalização é mais perceptível na
comunicação. Nela está contido um grande fluxo de informações, em que não existe
quase nenhuma barreira. Mas não é apenas na internet que o impacto desse processo é
percebido. É a partir deste fenômeno da globalização que Empresas de
Telecomunicações e outras mídias, fazem seu conteúdo chegar a vários países. Este
impacto contribui para que pessoas de todo o mundo tenham acesso a informação, o que
é um direito universal, como explica Siqueira e Silva.
Ter acesso à informação é um direito universal, é imprescindível à
inclusão de todos os indivíduos, pois esse direito é fundamental à vida
e cotidiano das pessoas. Aplica-se esse direito, inclusive aos
portadores de deficiência auditiva que, tanto quanto, um indivíduo
ouvinte necessita da informação televisiva e também de
entretenimento. (SIQUEIRA; SILVA, 2013, p. 3)
Apesar de todo o rompimento nas barreiras comunicacionais entre países e a
facilidade de acesso a informação, ainda existe no nosso país um grupo social
minoritário que enfrenta bastante dificuldade neste tipo de acesso. Os deficientes
auditivos são as pessoas que encontram grandes dificuldades para o acesso a uma
comunicação efetiva, tendo em vista sua privação sonora. “O desafio é conseguir
expressar na escrita aquilo que é falado, os sons locais (risos, telefone tocando) e de
efeito (como a música), além de outras complexidades, sem desvincular o texto à
imagem que é transmitida”, (FRANCO, 2006, p. 3).
39
Os surdos são sujeitos participantes de uma minoria que estão à margem da
sociedade e têm seus direitos vetados, o que, no contexto da comunicação, ter o direito à
informação indeferida implica diretamente na falta de conhecimento, possibilidades de
escolhas e interação.
A acessibilidade na TV permite ao sujeito surdo interagir em
sociedade e ter acesso a todos os conteúdos que a TV possa oferecer
como os gêneros esportivos, jornalísticos, de entretenimento, entre
outros. Assim, parte-se do princípio que os surdos têm os mesmos
direitos, como qualquer outra pessoa, ao acesso de informações (...).
(CREPALDI; MENDONÇA, 2014, p. 2).
Diante deste quadro a implantação de políticas públicas que atendam as
demandas destas pessoas tem tido relativos avanços ao longo do tempo. A
acessibilidade em suas variadas possibilidades é a garantia de qualidade de vida aos
deficientes, já que tais grupos foram excluídos, e muitos já tiveram seus valores e
características depreciados.
Durante o percurso desse trabalho tópicos como Libras e a Legenda Oculta, ou
Closed Caption, já foram dispostos como parte da pesquisa. São esses dois temas de
grande relevância para esta monografia, pois é através deles que se apresentam as
propostas de acessibilidade para surdos na Televisão Brasileira.
No passado os surdos acompanhavam a televisão apenas com a intenção de
observar as imagens, já que não conseguiam entender o que estava acontecendo nas
cenas. Atualmente estes casos ainda são recorrente devido aos problemas encontrados
com essas ferramentas.
Através da figura do Interprete de Libras, ou tradutor que encontramos o recurso
da Janela de Libras nas programações. Cunha explica que para esse recurso funcionar
“(...) é necessária a contratação de um tradutor de Libras, de preferência graduado e/ou
especializado, para que seja disponibilizada sua imagem no vídeo, além da edição dos
programas com a inserção da tela de tradução sobre o programa.” (2014, p. 94).
A Janela de Libras se caracteriza como um espaço na tela (geralmente
posicionado no canto inferior direito), determinado para o interprete realizar a tradução
em Línguas de Sinais, exibido juntamente com a programação.
40
Figura 4 – Janela com Intérprete de Libras
Fonte: site surdosol.com.br
A Janela com Intérprete de Libras é dificilmente encontrada na televisão, sua
ocorrência é mais frequente na propaganda eleitoral gratuita e de utilidade pública.
A legislação em vigor obriga somente os programas eleitorais,
partidários e ainda os pronunciamentos oficiais do governo,
campanhas e alertas preventivos a utilizarem a Janela de Libras. Para
os demais programas é opcional, podendo ser utilizado somente o
Closed Caption, como ocorre na maior parte da programação
televisiva brasileira. (CREPALDI; MENDONÇA, 2014, p. 8).
Para este tipo de recurso de acessibilidade ainda há muita resistência por parte das
emissoras de televisão, pois para elas a ferramenta ainda é bastante inviável devido ao custo
com a produção, estética, limitação técnica. Porém, nos poucos programas em que esta
ferramenta aparece alguns problemas já foram identificados, como corte inadequado da figura
do Intérprete de Libras, ou até mesmo o pouco domínio da linguagem por parte do profissional
tradutor.
O Closed Caption, também identificado pela sigla CC, é uma ferramenta que transcreve
todos os sons presentes em uma cena, através da transmissão de legendas. Televisores mais
modernos, fabricados a partir de 2001, são fabricados com este recurso, que pode ser ativado a
partir da tecla CC, ou no menu do controle remoto.
Crepaldi e Mendonça (2014, p. 8 apud MACHADO, 2011), definem este recurso
“como uma legenda que transcreve a fala e também os ruídos sonoros presentes em
produções audiovisuais, como músicas, risadas, passos, chuva, etc.”. A ferramenta de
acessibilidade surgiu nos televisores brasileiros em 1997, sendo a primeira transcrição
41
realizada durante o Jornal Nacional, telejornal da Rede Globo. Desde então seu uso é
mais presente em telejornais, programas de esporte, entretenimento e novelas.
Figura 5 – ClosedCaption no Jornal Hoje
Fonte: http://www.htforum.com
Essas são as duas ferramentas de acessibilidade disponibilizadas para os
deficientes auditivos na televisão. O uso desses recursos assegura o direito dessa parte
da população brasileira, além de promover a integração social.
42
CAPÍTULO 3 – MAPEAMENTO DE CONSUMO DE MÍDIA PELA
COMUNIDADE SURDA: COMPROVANDO AS ESTRATÉGIAS DE
ACESSIBILIDADE
3.1 A COMUNIDADE SURDA JOÃO PESSOA/PARAÍBA
Os dados do recenseamento realizado pelo IBGE em 2010 revelaram que a
cidade de João Pessoa tem uma população equivalente a 723.515 habitantes. Dos quais,
185.729 possuem algum tipo de deficiência, ou seja, 25,68% da população da capital.
Esse número bastante expressivo conforme argumenta Santiago:
Embora reconhecendo que possa haver incoerência no processo de
coleta de dados do Censo demográfico, especialmente na pouca
definição do que significa as deficiências, correndo o risco de que
limitações de toda ordem seja computado como deficiência, verifica-
se uma crescente com relação ao número apresentado em 2000, que
ficava perto dos 14%. (SANTIAGO, 2012, p.3).
No tocante a deficiência auditiva, o Censo Demográfico nos revela que 37.140
habitantes de João Pessoa são surdos, variando entre os graus de surdez: leve,
moderada, severa e profunda.
Pensando nesse número tão significativo, e sabendo que a sociedade ainda não
acolhe da maneira como deveria esses indivíduos, e por isso, muitos não se sentem parte
dela, a pesquisa também vem mostrar como está organizada a comunidade surda na
capital paraibana, pois este ponto também é um contributo para conhecermos nosso
objeto de estudo.
É comum confundirmos cultura surda e comunidade surda, mas é interessante
saber que apesar de uma estar ligada a outra, ou existir pela outra, elas são diferentes.
As comunidades surdas estão espalhadas por todo o Brasil, e com toda a certeza por
todo mundo, afinal existem pessoas surdas em todos os países. A aproximação dessas
pessoas faz com que elas adquiram e utilizem a linguagem de sinais, a Libras, e também
se identifiquem e entendam o mundo dos surdos, obtendo a cultura surda. Segundo
Karin Strobel:
43
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de
modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-os com
as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das
identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto
significa que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e os
hábitos de povo surdo. (STROBEL, 2008, p.24).
Já as comunidades surdas têm um contexto social mais abrangente, onde seus
integrantes compartilham interesses em comum, como explica a autora:
Então entendermos que a comunidade surda de fato não é só de
sujeitos surdos, há também sujeitos ouvintes – membros de família,
intérpretes, professores, amigos e outros – que participam e
compartilham os mesmos interesses em comum em uma determinada
localização. (STROBEL, 2008, p. 31).
Trazendo este contexto para a nossa realidade, um desses locais de
compartilhamento de interesses é a Associação de surdos de João Pessoa, localizada no
Bairro da Torre. A ASJP-PB foi fundada em 17 de julho 1988, e desde então tem sido
um lugar para acolher surdos de toda a capital que desejam se reunir para momentos de
lazer e interação.
De acordo com a pesquisadora Elizangela Ferreira da Silva, que possui um
estudo relativo a este grupo, fazer o levantamento sobre o histórico da Associação não é
muito fácil, dada a falta de registros documentais sobre ela. “Verificamos que não foram
feitos registros documentais sobre a associação e para compor estas informações foi
necessário realizarmos contato com alguns associados mais antigos da instituição”
(SILVA, 2014, p. 49), por isso para fazermos tal levantamento também foi preciso
recorrer aos membros da ASJP-PB.
O lugar foi fundado com a iniciativa de quatro amigos surdos. A partir daí, o
espaço foi sendo divulgado entre os surdos do bairro, e consequentemente da cidade de
João Pessoa, como explica Silva:
Desde a sua fundação, a ASJP-PB sempre foi mantida financeiramente
pelos associados e, de acordo com a elevação e ou oscilação dos
preços dos imóveis em João Pessoa-PB, a sede da ASJP-PB
enfrentava a necessidade de mudar de endereço, para conciliar o preço
do imóvel à realidade das contribuições de seus associados. (SILVA,
2014, p. 49).
44
Para entender um pouco mais sobre o funcionamento dessa organização,
conversamos com os Professores de Libras, Elizangela de Lima e Enio Afonso Ferreira,
ambos surdos e membros da ASJP-PB. Elizangela é surda oralizada, por isso realiza o
papel de intérprete sempre que a instituição necessita, já que, de acordo com os relatos
deles, o pouco recurso de que dispõem não é suficiente para pagar um profissional.
A falta de um intérprete é apenas um dos muitos problemas enfrentados pela
Associação. A instituição não conta com nenhuma ajuda financeira por parte do Estado,
e também não mantém parceria com nenhuma outra fundação para surdos, ou
deficientes. Sendo assim, ela é mantida através das doações dos membros.
A organização na ASJP-PB se constitui por um presidente, sócios e membros.
São estes associados que pagam as despesas da casa, mediante disponibilidade
financeira e interesse de cada um. O presidente fica a frente da instituição por quatro
anos, podendo ser reeleito por mais quatro.
Para a realização da eleição é lançado um edital, que é divulgado nas redes
sociais. A votação é realizada por todos os membros, e o candidato pode ser qualquer
pessoa surda que esteja em dia com suas obrigações de cidadão, e que tenha vinculo
com a comunidade surda. Vale lembrar que, na época desta entrevista, realizada em 18
de novembro de 2015, a Associação passava por mudança na presidência.
O papel da ASJP-PB é de grande importância para a sociabilidade dos surdos da
capital. A professora de Letras, Elizangela Lima, lembra que, além das atividades
interativas, em outra época a instituição também oferecia palestras educativas, mas
devido aos problemas financeiros, atualmente só é possível oferecer um pouco de lazer
e entretenimento por meio dos encontros que lá acontecem. Essa afirmação também é
comprovada no estudo realizado por Silveira.
Não obstante, as instalações das sedes da ASJP-PB ainda são precárias
e sua manutenção provém dos mínimos recursos adquiridos através de
pequenas doações dos seus membros. Assim, manter o funcionamento
da associação, mesmo da maneira em que se encontra, parte de um
esforço coletivo para preservar um local onde possam se identificar
enquanto grupo e estabelecer os vínculos duradouros que permita a
construção de uma sociabilidade. (SILVA, 2014, p.55).
45
Diante deste esboço, concluímos que a Associação é mais um local para reunir a
comunidade surda para sociabilidade. De acordo com Silva (2014, p. 54) “a Associação
de Surdos de João Pessoa-PB, conta atualmente com o registro de 241 associados que
participam esporadicamente das atividades desenvolvidas na sede”. Os encontros na
ASJP-PB são realizados aos sábados e toda quarta e sexta-feira, após uma partida de
futsal realizada no ginásio de uma escola próxima a instituição. Essas reuniões são
marcadas para conversar e jogar dominó.
Além da ASJP-PB, outro local bastante conhecido dos surdos de João Pessoa é o
Terminal de Integração do Varadouro, e o Shopping Tambiá. Elizangela Ferreira
explica que esses encontros acontecem sempre às quintas-feirase de maneira casual. “Os
surdos se reúnem nessas localidades, porque sabem que sempre vão existir outros
surdos naquele lugar para conversar”, ressaltou Elizangela.
Tomando como base estes exemplos, concluímos que os surdos de João Pessoa
estão organizados em uma comunidade surda. E que tal comunidade, assim como sua
cultura, está enraizada em diversos locais e áreas. Sabemos que a união de todos os
indivíduos interessados em erradicar o preconceito em torno dessas pessoas, e os que
trabalham para tornar a vida de cada um mais natural e independente possível, faz parte
desta comunidade.
3.1.1 A TV paraibana e a produção de conteúdo: comprovando as estratégias de
acessibilidade
Neste tópico descreveremos um processo de observação sobre a produção de TV
voltada para a pessoa surda em João Pessoa, na Paraíba. Ainda que esta observação não
tenha sido de maneira planejada seus resultados são de suma importância para
verificarmos a existência de estratégias de acessibilidade que atendam os deficientes
auditivos. Ainda neste tópico aproveitaremos para apresentar algumas pesquisas que
estão sendo realizadas no Brasil com respeito a acessibilidade no audiovisual.
Durante a primeira quinzena do mês de setembro foi feita uma observação, de
caráter exploratório, em sete telejornais: JPB 1° Edição, da TV Cabo Branco; Correio
Verdade, da TV Correio; Cidade em Ação, da TV Arapuã; Aqui na Clube, da TV
Clube; Caso de Polícia, da TV Tambaú; Agora é Lei, da TV Assembléia e Jornal da
46
Câmara da TV Câmara. Como já explicamos, esta observando é apenas um estudo
preliminar, com a intenção de nos familiarizarmos com os programas, e que em uma
pesquisa futura, devidamente planejada, esta investigação deve ser aprofundada para
melhor obtenção dos resultados.
Inicialmente o estudo tinha a intenção de observar duas emissoras de TVs, em
seus respectivos telejornais, uma pública e uma privada. Escolhemos para isso a TV
Cabo Branco e a TV Câmara. Como critério para esta seleção, escolhemos a primeira
emissora devido a sua audiência na cidade de João Pessoa, e a segunda por ser uma das
TVs públicas da Capital, que retrata as ações Câmara Municipal de João Pessoa
(CMJP).
A observação dessas duas empresas de comunicação nos despertou para buscar
conhecer, ou verificar, as ferramentas de acessibilidade das demais emissoras. Com
isso, comprovamos que os telejornais locais que fornecem a Legenda Oculta, ou Closed
Caption são: JPB 1° Edição, da TV Cabo Branco; Correio Verdade, da TV Correio e
Caso de Polícia, da TV Tambaú. Com respeito a Janela com Intérprete de Libras,
nenhuma das emissoras dispõem dessa ferramenta de acessibilidade.
Nos telejornais Cidade em Ação, da TV Arapuã; Aqui na Clube, da TV Clube;
Agora é Lei, da Assembléia Legislativa e o Jornal da Câmara, da TV Câmara, não
foram confirmadas nenhum recurso acessível.
No caso da TV Câmara e TV Assembléia, TVs públicas de João Pessoa,
integrantes de órgãos do Município e Estado, respectivamente, existe a participação de
um Intérprete de Libras durante suas Sessões Ordinárias, que são transmitidas em seus
canais. Devido a este fato, algumas pessoas acreditam, e nos informaram que a
programação desses veículos de comunicação possui este recurso, porém, durante a
nossa pesquisa, foi comprovada, através da observação e de informações obtidas via
telefone, a inexistência dos dois recursos, ou seja, além de não ter a Janela com
Intérprete de Libras, as TVs também não possuem a Legenda Oculta.
Analisando as legendas encontradas nas TVs locais, mesmo que de forma
superficial, foram constatados erros que já haviam sido citados pelos surdos durante a
aplicação do questionário sobre a Audiência de Programas Jornalísticos de Televisão,
que serão apontados no tópico seguinte. Salientamos que esta observação só foi
47
realizada após a aplicação do questionário, já que o objetivo desta parte da pesquisa era
a de legitimar, ou não, as observações apontadas por esses telespectadores.
Para tentar esclarecer os problemas encontrados com a legenda, e entender um
pouco mais sobre a constituição desse processo, procuramos um profissional da área do
Closed Caption. A conversa se deu de maneira informal, e foi realizada via facebook.
Ilberto Canuto trabalha há dois anos na tradução da legendas para surdos. Apesar
de encontrarmos em diversas pesquisas o termo legendador, ou legendista, para
denominar o profissional, ele explica que a nomenclatura correta é Operador técnico de
Closed Caption.
O Operador trabalha na TV Cabo Branco, uma das emissoras observadas por
este estudo, e conta que a legendagem é feita ao vivo e simultaneamente, através do
software X-on6. Desta forma o telejornal é ouvido, transmitido, legendado e colocado na
tela em tempo real.
Segundo Ilberto, todo o processo é feito através do reconhecimento de voz:
“todo operador de Closed Caption grava um perfil de voz, inclusive, esse perfil é
portátil, caso você faça CC em mais de um lugar. Esse perfil pode ser ensinado, ou seja,
você pode gravar palavras que ele não reconheça”, explica.
Como já foi citado em outro momento desta pesquisa, o profissional também
aponta a velocidade com o qual o processo precisa ser feito como um dos motivos de
erros nas legendas. Ele argumenta que:
O programa reconhece a voz de uma pessoa que já tem um perfil de
voz gravado no software, daí essa voz reconhecida é transformada em
texto dentro do próprio software, que não tem uma precisão de 100%,
daí esse texto ainda pode ser editado, bem rapidamente, antes de ir ao
ar. Por isso é que existe um atraso entre o ao vivo e o Closed Caption.
(informação escrita) 7.
Ilberto nos fala que atualmente o tempo disponibilizado pela matriz para a
transmissão legendada dos telejornais é de três horas, e devido a isso todos os
6X-oné umsoftware que faz oreconhecimento de voz em programas de televisão ao vivo e a transforma em
texto, colocado na tela, em tempo real, como legenda oculta – closedcaption on-line. Mais informações
no site:< http://www.faperj.br/?id=1822.2.0> Acesso em 21 de novembro às 22-52. 7Entrevista realizada em 09 de novembro de 2015, 23-53, via facebook, com o Operador Técnico de
ClosedCaption da Tv Cabo Branco, Ilberto Canuto.
48
programas jornalísticos já contam com o recurso. Quando questionado sobre a inserção
de um Intérprete de Libras como ferramenta de acessibilidade, o Operador informou que
a Tv Cabo Branco já possui um projeto, e que em breve o profissional será incluído na
programação.
3.1.2 Estudos na área de Comunicação e audiovisual
Problemas como atraso, erros na escrita, e, algumas vezes, legendas ilegíveis
foram encontradas durante a observação dos telejornais. No entanto, queremos ressaltar
que estas irregularidades não são encontradas apenas nas TVs locais. Pesquisas na área
da acessibilidade no campo da comunicação em outros Estados, que também serviram
de norte para esse estudo, também apontam tais imprecisões.
Em dois estudos realizados na Universidade Federal do Ceará foi testado o
modelo de legendagem que é oferecido pela Rede Globo. De acordo com Araújo (2008,
p. 2), os resultados apontaram que “as legendas densas e rápidas exibidas pela emissora
dificultaram a recepçãodos nove sujeitos participantes da pesquisa do Instituto Cearense
de Educaçãodos Surdos (ICES) de Fortaleza.”
De acordo com Araújo, foram realizados dois estudos de recepção, em que no
primeiro foi utilizada a legenda da emissora e o segundo foi composto pelas legendas
geradas pela equipe de pesquisadores, como explica a pesquisadora:
O estudo piloto constituiu-se em testes realizados com oito trechos de
diferentes programas da Globo. Cada trecho era exibido
separadamente e um questionário, contendo perguntas sobre imagem,
conteúdo e detalhes, era distribuído em seguida. Os resultados
revelaram que os surdos não conseguiram acompanhar nenhum dos
itens de programação da emissora. Esses dados sugeriram que uma
maior condensação dessas legendas era necessária para que os surdos
assistissem a programas legendados, harmonizando imagem, conteúdo
e legenda. (ARAÚJO, 2008, p. 2).
Já para as legendas da equipe, a autora esclarece:
49
No segundo estudo, novas legendas foram confeccionadas. Nas
legendas da Globo, ocorre uma quase transcrição, ou seja,
aproximadamente, 70% do que é dito é traduzido. Nas novas legendas,
esse nível de condensação foi maior, ou seja, semelhante a um dos
parâmetros utilizados para legendas preparadas para ouvintes
(tradução de, aproximadamente, 50% do que é dito). Apesar de terem
conseguido assistir aos programas desta vez, os surdos ainda
reclamaram muito da rapidez das legendas, sugerindo que estas
necessitariam de mais edição. (ARAÚJO, 2008, p.2).
Diante da problemática encontrada os pesquisadores realizaram uma terceira
pesquisa para tentar responder questões como: nível de condensação necessário das
legendas e modelo ideal de legendas para o surdo brasileiro. O resultado chegou ao que
seria o ideal de legendas para os surdos, levando em consideração aspectos como cor,
identificação do falante, efeitos sonoros e outros. Araújo aponta em que resultou este terceiro
estudo:
Para os nossos consultores surdos o melhor formato seria: 1) Cor –
legendas amarelas em fundo transparente; 2) Identificação do falante -
o falante deve ser identificado sempre que houver mudança de turno e
essa identificação deve vir entre colchetes; 3) Voz filtrada - voz em
off vinda da televisão, do telefone, do rádio, de alguém que não
aparece na tela deve vir em itálico; 4) Efeitos sonoros - sempre
traduzidos, mesmo que a ação seja visível na tela; 5) Linguagem - uso
da norma culta do português, visto que, como são adeptos do
bilingüismo, usam a LIBRAS para se comunicarem oralmente e o
português para se comunicarem por escrito, já que a LIBRAS não tem
uma forma escrita; 6) Música - somente a nota musical deve sinalizar
a música e os ritmos musicais não precisam ser descriminados, a não
ser que sejam a música tema do programa ou filme ou de algum
personagem. (Araújo, 2008, p. 17).
Vale lembrar que esta pesquisa também abordou apenas uma parcela da
população de surdos no Brasil, neste caso os deficientes auditivos do Ceará, porém para
se chegar a um resultado definitivo, tais estudos necessitariam ter um maior, rompendo
as barreiras estaduais.
Além de professora Dr. Vera Lúcia Santiago Araújo, que há vários anos
desenvolve estudos com as legendas para surdos, vários outros pesquisadores têm
tratado o tema das barreiras no meio audiovisual para deficientes. Nesse intuito citamos
também uma pesquisa realizada em 2014, na cidade de Cascavel, no Paraná, em que
foram propostas novas possibilidades de Closed Caption testadas sobre uma reportagem
50
do Jornal Nacional da Rede Globo. Crepaldi e Mendonça expõem como foram
realizados esses testes:
Foram produzidos três modelos de Closed Caption e aplicados sobre
uma reportagem exibida pelo Jornal Nacional da Rede Globo, com
duração de um minuto e trinta segundos aproximadamente.Em busca
de aprimorar o Closed Caption para solucionar os problemas
enfrentados pela maioria dos surdos no momento de assistir TV,
foram propostos três modelos de Legenda Oculta que podem
satisfazer os usuários dessa ferramenta de acessibilidade. Os modelos
foram apresentados aos estudantes da oitava série da Acas e, por meio
de dados quantitativos a partir de pesquisa realizada com este público-
alvo previamente selecionado, foi possível chegar a um modelo de
Closed Caption ideal para atender aos surdos. (CREPALDI;
MENDONÇA, 2014, p.10).
A partir dos resultados obtidos, constatou-se que o modelo de legenda mais aceito pelo
público é o que apresenta fonte em caixa alta, facilitando a visão dos surdos participantes.
Como os modelos exibiam outras variantes, como cores e tamanhos, os autores refletiram
sobre a possibilidade de um quarto modelo de legendas que abarcaria as melhores
características resultantes, para atender aos surdos de forma confortável.
Como podemos perceber, apesar de ainda serem poucas, já se desenvolvem
algumas pesquisas visando testar as ferramentas de acessibilidade na comunicação
audiovisual, porém devido ao pequeno, ou quase inexistente recurso da Janela com
Intérprete de Libras, os estudos são voltados para o Closed Caption. Este fato pode ser
atribuído a não obrigatoriedade do uso dessa ferramenta na televisão, sendo seu uso ainda
facultativo.
Porém, o Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (Lavid) do Centro de Informática
da Universidade Federal da Paraíba (CI/UFPB) vem pesquisando ferramentas que atendam as
normas de acessibilidade na programação veiculada em serviços de radiodifusão de sons e
imagens e de retransmissão de televisão para as pessoas com deficiência. Os pesquisadores
estão desenvolvendo um sistema de software que será capaz de traduzir, do português para
Libras, conteúdos disponíveis em sites da administração pública. O projeto intitulado Suíte
VLibras, teve sua primeira etapa concluída este ano. Sua obtenção por parte da pessoa surda
será feita a partir o download do aplicativo no computador, ou celular.
O projeto desenvolvido pela UFPB traz como uma segunda alternativa para este
recurso, que depende de um intérprete humano, o uso de um Avatar para fazer a tradução, já
que muitas empresas alegam ser o alto custo na contratação e produção do conteúdo o
51
impedimento para o uso da ferramenta. A proposta foi apresentada este ano ao Fórum do
Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD), e foi aprovada pelo Conselho
Deliberativo e agora segue para avaliação da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).
Segundo informações divulgadas no site do Fórum8, “o projeto, firmado entre o
Ministério do Planejamento e a universidade em 2014, prevê o desenvolvimento de um
dicionário com 10 mil sinais. Também deve ser criada uma ferramenta de tradução que possa
ser instalada em navegadores da Internet ou nos computadores de profissionais interessados
em fazer a tradução do português para Libras”.
Outro fator bastante interessante do projeto é a possibilidade de um surdo ou um
especialista em Libras poder prestar sua contribuição, por meio da sugestão de um sinal, ou
mesmo de uma nova regra. A partir da proposta o centro de controle faz a avaliação, e caso a
resposta seja positiva, ela é adicionada ao banco de dados.
3.2 APRESENTAÇAO DOS RESULTADOS
Durante o estudo foi produzida uma pesquisa semi-estruturada composta de:
questionário sócio cultural e audiência de programas jornalísticos de televisão. O
questionário foi aplicado na Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com
Deficiência (Funad) e na Associação de Deficientes e Familiares (Asdef), e contou com
o auxílio de dois Intérpretes de Libras, um em cada unidade, para a tradução das
questões, apresentação e objetivos do trabalho. Estas instituições são referencia no
atendimento às pessoas com deficiência e na formação social destes indivíduos.
Nosso intuito inicial era o decolher um maior número de dados, com uma
amostra mais significativa. Entretanto, passamos por dificuldades, tanto na abordagem
dos informantes como na disponibilidade para responderem o questionário. As
instituições também foram um pouco resistentes quanto a aceitação da realização da
pesquisa.
Na primeira instituição abordada, Funad, tivemos inicialmente um problema
com respeito ao agendamento da entrevista, pois a instituição entra de férias no mês de
novembro e só volta após o Carnaval. Diante disso, passamos cinco meses sem poder
8Informações disponíveis no site: <http://forumsbtvd.org.br/tv-digital-forum-sbtvd-aprova-proposta-para-
transmissao-de-libras-na-tv/> Acesso em: 21 de novembro, às 22-10.
52
realizar a pesquisa. Passadas as férias, retornamos à fundação e enfrentamos outros
problemas burocráticos quanto à autorização para cumprir o trabalho.
Mesmo diante dos argumentos com respeito a relevância da pesquisa, e sabendo
do elevado número de pessoas surdas que se encontram nesta instituição, a pesquisa só
obteve autorização para ser realizada com dois surdos. Adireção justificou tal atitude
alegando a falta de afinidade com a língua portuguesa e capacidade de interpretação por
parte dos surdos. Vale lembrar que durante a aplicação do questionárioum intérprete
estava presente nos auxiliando.
Na segunda instituição, Asdef, os problemas encontrados foram bem pequenos.
As maiores dificuldades eram a falta de interesse dos surdos do local. Inicialmente
também enfrentamos um problema com o agendamento, já que esta instituição também
passou pelo mesmo período de férias seguidas de algumas festividades. Mesmo assim, a
aceitação por parte da coordenação foi maior, além do interesse e contribuição.
Ao chegarmos à sala reservada para a aplicação do questionário dez surdos nos
aguardavam. Logo que começamos a apresentação e argumentação a acerca da
importância da pesquisa, foi levantado um debate sobre o tema da oralização. Apesar da
maioria dos surdos se mostrarem contrários ao uso da legenda oculta nas programações,
acreditando que o problema seria resolvido com a presença de um intérprete, há os que
aceitem a legenda e ainda afirmam que é dever do surdo aprender o português, e não a
Libras, e para entender melhor os textos.
Apesar do significante número de integrantes na sala, apenas seis se dispuseram
a responder apesquisa. Os quatros surdos alegaram estar sem vontade de participar, mas
permaneceram no local até o fim do trabalho.
Deixamos claro que, em ambas as instituições nossa intenção era a de coletar um
maior número de dados, mas pelos motivos já apresentados só foi possível colher os
dados com essa amostra. Lembramos ainda, a falta de um banco de dados sobre os graus
de surdez dos deficientes auditivos. Tanto a Funad quanto a Asdef alegaram não ter esse
levantamento, porque os surdos, na maioria das vezes, chegam a essas unidades sem os
laudos médicos. Somamos ainda a estes problemas, a greve da Universidade Federal da
Paraíba, que infelizmente acabou trazendo alguns prejuízos para o trabalho, tendo em
53
vista o distanciamento com as aulas e com a orientação, e a minha falta de experiência
enquanto pesquisadora.
Entendemos que os dados estatísticos seriam de suma importância para a
pesquisa, mas decidimos trabalhar com a amostra possível de oito entrevistados,
sabendo que os resultados apontam para a necessidade de uma pesquisa futura mais
aprofundada sobre o tema. Nas condições atuais o estudo é de na natureza
eminentemente exploratória, sem perder a sua característica de pesquisa qualitativa.
O questionário sócio cultural, aplicado por meio de cinco questões, teve o
objetivo de melhor avaliar o perfil da amostra, tendo como variáveis: sexo, faixa etária,
grau de surdez, forma de comunicação e escolaridade.A identificação dos respondentes
ficou a critério de cada um deles.
TABELA 1- PERFIL DA AMOSTRA
N° TOTAL
SEXO
FAIXA ETÁRIA
M
F
18 a 23
24 a 29
30 a 35
36 a 41
42 a 47
47 e mais
8
4
4
1
5
2
TABELA 2 - PERFIL DA AMOSTRA
*Na variável forma de comunicação o respondente faz uso dos três modos.
N°
TOTAL
GRAU DE SURDEZ
FORMA DE COMUNICAÇAO
ESCOLARIDADE
Leve
Médi
a
Severa
Profunda
Libras
Aparelho
Auditivo
Leitura
Labial
Português
Ensino
Fundamental
Ensino
Médio
Ensino Superior
Completo Incompleto
8
3
5
4
1*
1*
1*
3
1
5
2
54
3.2.1 Hábitos de consumo
Gráfico 1
Iniciamos o questionário sobre a Audiência de Programas Jornalísticos
apresentando uma pergunta mais abrangente sobre os hábitos de consumo dos surdos
respondentes. No geral, dos oito surdos entrevistados, seis têm o hábito de assistir
Telenovelas.
Outros conteúdos de consumo também foram citados, assim como alguns
deficientes auditivos também marcaram mais de uma alternativa. A opção Programas de
Auditório foi marcada por dois deles; um dos respondentes marcou Programas de Humor, e
mais um marcou Programas de Esporte
No tocante a Programas de Jornalismo, dos oitos surdos entrevistados, quatro
marcaram esta opção. O que aponta que, mesmo a maioria tendo a preferência por
telenovelas, eles também têm o hábito de consumir programas dos mais variados
conteúdos. Como mostrou o gráfico acima.
É importante frisar que numa amostra mais significativa os resultados poderiam ser
diferentes. Estes dados revelam que o interesse da pessoa surda está voltada para os diversos
temas da sociedade, buscando cada vez mais estarem informados sobre o que acontece no
mundo, e a televisão representa um importante papel, pois ainda causa grande efeito em
seus telespectadores, como aponta Crepaldi e Mendonça:
01 02
01
06
04
Na Televisão Brasileira quais os conteúdos de sua preferência
Esporte
Programas de Auditório
Humor
Telenovelas
Programas de Jornalismo
55
A TV faz parte do dia-a-dia da sociedade brasileira. Dessa forma, não se
pode negar o forte apelo que esse meio possui na sociedade. Ela veicula
suas mensagens por meio audiovisual, sendo um meio de comunicação
de fácil acesso, sem contar que veicula histórias, e a audiência apenas
acompanha a programação (CASHMORE, 1998 apud CREPALDI E
MENDONÇA, 2014, p. 5).
Diante disso, ratificamos a necessidade de se estabelecer recursos acessíveis aos
deficientes, ou de melhorar os que já existem, pois muitas vezes o que acontece é uma
preocupação por parte das empresas de comunicação com os valores gastos ao empregarem
tais ferramentas, quando o deveria prevalecer é o acesso das pessoas a informação.
3.2.2 Recurso de Acessibilidade
Gráfico 2
Com respeito ao recurso de acessibilidade que ajuda os deficientes auditivos no
consumo das mídias, dos oitos respondentes, seis afirmaram serem auxiliados pela Legenda
Oculta, ou Closed Caption. E apenas dois afirmaram que a assistência vem da Janela com
Intérprete de Libras.
Consideramos que o maior número de respondentes marcou esta opção, tendo em
vista esta ser a ferramenta mais encontrada atualmente nos programas televisivos, como já
06
02
0
No campo da comunicação qual o recurso de acessibilidade que
lhe auxilia no consumo de mídias?
Legenda Oculta
Janela com Intérprete de Libras
Leitura Labial
56
foi citado anteriormente neste trabalho. A Janela com o Intérprete de Libras, ainda não é
utilizada na televisão brasileira, e se tratando da capital paraibana ela ainda não é oferecida
nos programas citados no tópico anterior.
Apesar disso, entendemos que em algumas situações a tradução da programação
em Libras já acontece como nos casos dos programas eleitorais e nas Sessões Ordinárias da
Câmara Municipal de João Pessoa e da Assembléia Legislativa, que são transmitidas através
de suas respectivas TVs.
Salientamos ainda que, o auxilio por parte do Closed Caption também está ligada a
variável Escolaridade. Todos os oitos respondentes são alfabetizados, sendo um aluno do
ensino fundamental, cinco matriculados no ensino médio e dois cursando o ensino superior.
3.2.3 Mídias de preferência
Gráfico 3
No tocante as mídias preferidas pelos deficientes auditivos, entre os oito
entrevistados seis escolheram a televisão. Porém, entre estes respondentes, três marcaram a
opção internet, assim como também alguns deles optaram por mais de uma alternativa.
Atribuímos estes números ao fato de que a TV ainda é uma das mídias mais populares na
sociedade.
Mesmo diante de um grande meio de comunicação considerado o mais
democrático, que é a internet, a televisão ainda está inserida em grande parte das
0
06
05
0
Das mídias abaixo qual sua preferência?
Rádio
Televisao
Internet
Jornal Impresso
57
9Dados encontrados no site:< http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2014/03/segundo-
meio-de-comunicacao-mais-usado-e-internet-aponta-pesquisa.html> Acesso em: 20 de novembro de
2014, às 20-45.
residências, como aponta Crepaldi e Mendonça (2014, p. 6), “segundo dados do IBGE, a
TV está presente em 98% das residências brasileiras, ou seja, é um meio de comunicação
que se popularizou na sociedade e é fortemente utilizada, não apenas para fins comerciais,
mas também para informar e educar.”
Já a internet é o segundo meio de comunicação mais utilizado pelos brasileiros. De
acordo com a “Pesquisa Brasileira de Mídia 2014 – Hábitos de Consumo de Mídia pela
População Brasileira” realizada pelo Ibope, e encomendada pela Secretaria de Comunicação
Social da Presidência da República9.
Acreditamos que fatores como conteúdo disponibilizado através do recurso da
escrita contribui para o acesso dos surdos, além da facilidade de encontrar conteúdo
acessível por meio da Janela com Interprete de Libras. Também não podemos esquecer que
atualmente um dos grandes meios de conexão pelo surdo na internet são as redes sociais.
3.2.4 Telejornais de João Pessoa
Gráfico 4
A pergunta número quatro da Pesquisa sobre a Audiência de Programas
Jornalísticos de Televisão traz uma abordagem local. A partir dessa questão direcionamos o
foco da entrevista para o conteúdo transmitido nas TVs de João Pessoa.
07
01
Voce costuma assistir programas jornalísticos nas emissoras de
televisão de João Pessoa?
Sim
Não
58
10
Estes respondentes preferiram não se identificar. Entrevistas realizadasno dia 17 de junho de 2015 na
Associação de Deficientes e Familiares.
Dentre os oito respondentes, sete afirmaram que costumam assistir ao jornalismo
local. Apenas um surdo marcou a opção negativa. É importante esclarecer que nesta
pergunta, caso a resposta fosse negativa, pedia-se que o responde justificasse o motivo,
porém, deixamos os surdos a vontade quanto à escrita, ou não, dessa justificativa.
Alguns aproveitaram a oportunidade para expressar o que pensavam sobre o
assunto mesmo tendo marcado a questão como positiva. Tentando fazer uma transcrição de
suas respostas, é importante frisar que elas apresentam certa incoerência devido a
dificuldade na escrita da língua portuguesa. Os dois entrevistados que marcaram sim na
alternativa alegaram que:
Eu sempre assistia Tv Globo ta prontos canal sete JPB legenda muito
atrasada. (Informação escrita1).
Eu prefere a importante sobre intérprete mostra a notícia no jornalísticos
em libras com profissional. (Informação escrita2).
Já o surdo que marcou a alternativa como negativa justificou a atitude da seguinte
maneira:
Eu sinto muito mal como sou surdo não escuto Tv sem legenda é sem
intérprete. Também português muito ruim eu prefere de linguagem de
tradutor. (Informação verbal3)10
.
Tendo observado que seria difícil compreender o que eles escreveram, pedimos
ajuda ao interprete. O profissional esclareceu que nas três situações os surdos justificaram a
insatisfação com a legenda oculta, e que se pudessem optariam por um Intérprete de Libras.
A partir da análise dessa questão e das justificativas das mesmas, concluímos que
mesmo o deficiente auditivo fazendo uso da ferramenta de acessibilidade, Legenda Oculta,
o recurso gera bastante desagrado, e, no caso desses respondentes, a escolha seria pela
tradução do conteúdo em Libras. Lembramos ainda que, como este questionário foi aplicado
com um pequeno número de indivíduos, e que talvez com um maior percentual de
respondentes o resultado sofresse alteração.
59
3.2.5 Emissora e telejornal de João Pessoa
Gráfico 5
Nesta quinta questão os respondentes foram indagados com respeito a Emissora e
Telejornal que assistem com maior frequência em João Pessoa. Dos oito participantes, sete
deles marcaram a opção JPB 1° Edição, da TV Cabo Branco. Porém eles também marcaram
outras alternativas: três afirmaram assistir ao Correio Verdade, da TV Correio, e ao Cidade
em Ação, da TV Arapuã, e dois também marcaram o Caso de Polícia, da TV Tambaú.
Apenas um, dos oito surdos, disseram assistir ao Jornal Agora é Lei, da TV Assembléia,
uma das emissoras públicas de João Pessoa.
Observamos a partir das respostas que as emissoras de maior audiência entre os
surdos da capital são aquelas que possuem o recurso da legenda oculta, única ferramenta
acessível existente nos telejornais locais. Também verificamos que foram marcadas
alternativas de emissoras em que não há nenhum meio de acessibilidade, o que nos leva a
acreditar que mesmo não entendendo o que se passa no diálogo, a pessoa surda busca a
informação mesmo que de maneira apenas visual. Outra hipótese que não pode ser
descartada é o fato de essas pessoas recorrerem aos seus parentes ou amigos para ajudá-los
na compreensão de tais programas.
07
02
03
01
03
0
0
Qual emissora e telejornal você costuma assistir com maior
frequência em João Pessoa
JPB 1°Ediçao, da Tv Cabo Branco
Caso de Polícia, da Tv Tambú
Cidade em Açao, da Tv Arapua
Agora é Lei, da Tv Assembléia
Correio Verdade, da Tv Correio
Aqui na Clube, da Tv Clube
Jornal da Camara, da Tv Camara
60
3.2.6 Existência das ferramentas de acessibilidade
Neste tópico do questionário optamos por deixar a pergunta aberta, por isso não
construímos um gráfico sobre ela. A intenção era saber se esses jornais locais fazem uso de
algum recurso acessível, e, mediante a resposta, dar espaço ao surdo para expressar sua
opinião com respeito a ferramenta, como eles fizeram nas outras questões.
Diante da seguinte indagação: O telejornal local que você mais costuma assistir faz
uso da Legenda Oculta ou da Janela com Intérprete de Libras? Se sim, qual? Dos oito
respondentes, três apresentaram a resposta positiva, informando que a ferramenta usada é a
legenda oculta. Um entrevistado deixou a questão em branco e os demais se referiram ao
intérprete de Libras como um mau profissional, enquanto tradutor da língua de sinais, e
como a melhor opção para consumir os conteúdos televisivos.
Nesta questão pudemos observar que a mensagem com respeito ao que se pedia na
pergunta não chegou de maneira clara ao receptor. Mesmo com a explicação dada pelo
intérprete de Libras, é possível que a interpretação do tópico não tenha sido objetiva o
bastante. Também levamos em consideração que, o sujeito surdo, enquanto consumidor quis
mais uma vez demonstrar sua indignação com respeito a estas ferramentas.
3.2.7 Eficácia do recurso de acessibilidade
Gráfico 6
04
0
01
03
Você consegue acompanhar as notícias, e entender tudo o que
acontece no programa a partir desse recurso de acessibilidade?
Entende total
Entende razoável
Entende muito mal
Não entende
61
No tocante a eficácia do recurso de acessibilidade utilizado pelas emissoras locais,
dos oito entrevistados, quatro afirmaram que conseguem acompanhar as notícias e entender
tudo o que acontece de maneira total. Três participantes marcaram a opção Não Entende e
um marcou a alternativa Entende Muito Mal.
Observamos neste tópico que de uma maneira geral, os entrevistados ficaram
divididos entre a compreensão e a não compreensão das notícias apresentadas nos
programas a partir da ferramenta de acessibilidade. Como já foi exposto no tópico anterior,
acreditamos que, além dos recursos, os surdos também podem ser auxiliados por familiares
e amigos, porém nesta questão o que deve ser levado em consideração é a eficácia da
ferramenta acessível.
Diante disso, concluímos que tal recurso usado como meio acessível, ainda
enfrenta bastantes problemas no seu funcionamento, e requer aperfeiçoamentos, tendo em
vista a insatisfação dos surdos que responderam esta pesquisa. Esta comprovação já havia
sido feita através das pesquisas relacionadas ao Closed Caption na fundamentação teórica
deste estudo, e também através da conversa que tivemos com o profissional da área, citada
neste capítulo, porém é de grande relevância a opinião do deficiente auditivo enquanto
consumidor e objeto de estudo desta pesquisa.
Lembramos ainda que, este estudo não tem a intenção de defender, nem ser contra
o uso de nenhuma dessas ferramentas. Entendemos sua importância para dar voz e vez a
pessoa surda, e por isso temos como um dos nossos objetivos saber a opinião destes
indivíduos, para tentar contribuir com tal serviço. Também salientamos que, a apuração com
um maior número de respondentes poderiam nos levar a outros resultados.
62
3.2.8 Experiências com os recursos
Gráfico 7
O último tópico apresentado nesta pesquisa diz respeito às experiências dos surdos
durante a utilização dos recursos acessíveis disponíveis na Televisão. Diante das alternativas
apresentadas, dos oito entrevistados, quatro marcaram a opção “Pouco domínio da Língua
de Sinais pelo intérprete”. Nesta questão um dos respondentes também apresentou mais de
uma escolha, marcando as opções: corte inadequado da mão do intérprete na filmagem das
câmeras e Legenda atrasada. Três pessoas surdas também relataram o atraso nas legendas.
Apesar de nenhum respondente ter marcado a alternativa “Texto da legenda não
corresponde ao conteúdo falado” todas as outras foram apontadas enquanto problemática
nos recursos, sendo indicadas até mais de uma opção por surdo. A despeito dos telejornais
locais não disponibilizarem a Janela com Intérprete de Libras e mesmo assim esta
alternativa foi marcada em diversas situações, lembramos que estes momentos são vividos
pelas pessoas com deficiência auditiva em diversas programações, ou até mesmo emissora.
Por isso, todas as respostas são importantes para comprovação da pesquisa, pois na
medida em que temos o conhecimento sobre as dificuldades encontradas pelos surdos com
este recurso, nos preparamos para reparar futuros erros.
Os problemas relatados com as legendas são os mesmos já apresentados, ou seja,
servem para dar maior consistência ao que já foi abordado. Com respeito aos problemas
com a Janela com o Intérprete de Libras, tais resultados mostram a falta de preparação dos
02
03
04 0
04
0
Qual dessas situações você já viu assistindo televisão?
Corte inadequado da mao dointérprete na filmagem dacamera
Legenda atrasada
Pouco domínio da língua desinais pelo intérprete
Texto da legenda oculta nãocorresponde ao conteúdofalado
Legenda oculta ilegível
63
profissionais que fazem a tradução do conteúdo, já que os surdos alegaram este pouco
domínio. Outro problema apontado por um surdo sobre esta ferramenta retoma a abordagem
do referencial teórico deste estudo, em que os pesquisadores apontam problemas ao
tamanho da Janela. Sendo assim, concluímos que talvez para também não prejudicar a
estética da programação, muitas vezes ocorre o corte inadequado no enquadramento,
deixando de fora do campo de visão o maior instrumento de comunicação usado pelos
surdos, que é a mão.
Diante disso, o estudo veio ratificar diversas outras pesquisas sobre os recursos de
acessibilidade na programação da televisão, apresentados ao longo desta monografia, em
que foram mostrados problemas relativos as ferramentas acessíveis para os surdos.
Deixamos claro que, a intenção desta pesquisa era a de colher um maior número de dados,
mas devido asimpossibilidades já expostas aqui, acreditamos que essa amostra representa
um significativo percentual que servirá como base para uma investigação mais aprofundada.
Outro ponto observado desde a pesquisa bibliográfica é que o recurso de maior
predominância é o Closed Caption, ou Legenda Oculta, e pouco se tem investido, ou até
mesmo falado sobre o Tradutor de Libras nos meios de comunicação. Este aspecto é de
grande relevância e deve ter certa atenção considerada, dado o pequeno número de surdos
inseridos nas escolas do Estado, como aponta Santiago, “a deficiência auditiva ocupa o
terceiro lugar na quantidade de alunos atendidos, chegando a um total de 255 alunos, o que
significa um percentual de 16,59%. Ao analisar o quantitativo de alunos atendidos no AEE,
verificamos quedos 255, apenas 66 recebem atendimento”, (2012, p. 4).
Pensando nesta informação sobre o número de sujeitos surdos que estão inseridos
nas redes de ensino, podemos afirmar que nem todas as pessoas com deficiência auditiva
são alfabetizadas, portanto nem todas podem fazer uso da legenda oculta como recurso de
acessibilidade. Isto implica que, como a Libras é a língua natural desses indivíduos, esta
maneira de aprendizagem se dá de forma mais fácil, e por isso é necessário que também se
aplique capital nesta ferramenta, que além da acessibilidade, ainda ajuda a preservar a
cultura da comunidade surda. Mas é necessária uma maior investigação deste quadro para
que possamos contribuir com estas considerações e encontrarmos possíveis soluções para o
problema.
64
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo monográfico buscou investigar os recursos de acessibilidade
para deficientes auditivos nos programas de telejornalismo de João Pessoa, na Paraíba.
Tendo a comunicação um papel de extrema importância na vida de todas as pessoas, pois é
através dela que se partilham informações de todos os campos sociais, ela se torna essencial
para a sociabilidade dos seres.
Tendo em vista esta grande contribuição para as nossas vidas, é fundamental que
ela seja feita para todas as pessoas, e com isso se faz necessário a elaboração e construção
de estratégias de acessibilidade que proporcionem inclusão as pessoas com deficiência.
Transformando estes fatores em problemática de campo, e sabendo que a televisão ainda é o
veículo de comunicação mais acessível nas famílias brasileiras, percebemos que é
necessário um maior empenho por parte das empresas televisivas para tornar possível a
forma plena dessa acessibilidade, principalmente no que diz respeito ao telejornalismo, ao
passo que é atribuído a ele o papel de auxiliador e difusor de conhecimento.
A partir das análises feitas nos questionário sobre a Audiência de Pessoas Surdas
nos Programas de Telejornalismo da capital, chegamos a conclusão de que a atual
ferramenta mais presente nas emissoras de TVs é a Legenda Oculta. Porém, este recurso
ainda precisa passar por uma série de aperfeiçoamentos, e que a mesma, infelizmente, ainda
não satisfaz totalmente a pessoa surda na supressão de sua ânsia por informação. Mas apesar
dos problemas encontrados em seu funcionamento, é notável a sua relevância para a
acessibilidade dos deficientes auditivos.
Também concluímos que a Janela com Intérprete de Libras pouco tem sido
mencionada nas pesquisas sobre acessibilidade no audiovisual. Como já foi observado neste
trabalho, este fato pode estar atrelado a falta da ferramenta na televisão, o que tem relação
com a não obrigatoriedade do uso deste recurso. Esta problemática é um dos pontos que
mais me chamou a atenção durante a pesquisa, tendo em vista que esta estratégia seria a de
maior aceitação pela comunidade surda.
Esta declaração é baseada nos estudos sobre o contexto histórico da educação dos
surdos, quando durante anos estas pessoas foram impedidas de usar a sua língua natural (os
sinais), e obrigadas a aprender o português. Mesmo perante esta proibição, a língua de sinais
continuou existindo de maneira marginal. Trazendo este contexto para a atualidade, a falta
da Janela com Intérprete de Libras acaba mais vez impondo ao surdo o uso de uma
linguagem que não é sua de origem, e o mais agravante, submetendo-os a servir-se de algo
65
que poucos têm domínio, pois de acordo com os estudos da professora Sandra Santiago, o
número de surdos inseridos nas escolas ainda é muito pequeno.
Diante disso, e a partir da pesquisa de opinião apresentada aqui, se atesta a pouca
proficiência do surdo com relação ao português. Queremos esclarecer, porém que o
problema não está em aprender uma segunda linguagem, ou de se fazer uso do Closed
Caption como recurso de acessibilidade, o erro se encontra justamente em privar a pessoa
surda do seu direito de escolha do que melhor lhe atenderia, já que a Legenda Oculta acaba
só prestando auxilio aos surdos oralizados. Por isso, é importante que se estabeleça mais
pesquisas no campo da Janela com tradutor de Libras, como as que já são realizadas pelo
Núcleo Lavid UFPB.
O maior desafio enfrentado para realizar a pesquisa, foi a resistência das
instituições em permitir a aplicação do questionário, já que esta atitude implicou
diretamente na diminuição significativa do número de respondestes. Problemas como força
de vontade dos surdos, em responder as questões, e com isso ganhar a confiança dos
mesmos, também trouxe grande impacto nos resultados, pois a desconfiança dessas pessoas
com respeito aos ouvintes ainda é uma barreira que precisa ser quebrada.
Consideramos também que a minha falta de experiência como pesquisadora trouxe
prejuízos na elaboração dos métodos utilizados, porém acreditamos que está prática foi de
grande importância para a minha vida pessoal e acadêmica, pois este estudo ampliou meus
horizontes com respeito a acessibilidade, e as pesquisas, e me fez sair da zona de conforto
enquanto acadêmica, reascendendo a chama, antes morta, para ampliar este estudo, e com
isso contribuir ainda mais com sociedade, pois este sempre foi o meu anseio enquanto
estudante de comunicação.
Concluímos que esta pesquisa, apesar de ter sido realizada em caráter
eminentemente exploratório trouxe grandes contribuições para a área da comunicação e da
discussão da problemática na academia, sobretudo fortalecendo as atividades de
conhecimento do Grupo de Pesquisa em Jornalismo, Mídia, Acessibilidade e Cidadania
(GJAC), tendo em vista que a mesma servirá de base para futuros estudos mais
aprofundadas.
Diante disso, atestamos que os objetivos do estudo foram alcançados, pois
conseguimos identificar quais são as estratégias de acessibilidade utilizadas nas emissoras
de TVs de João Pessoa/Paraíba, durante a exibição dos seus telejornais, através da
observação de tais programas e da pesquisa de opinião, assim como também avaliamos o
66
papel do Intérprete de Libras e da Legenda Oculta como ferramenta de acessibilidade,
refletindo assim sobre a qualidade dessas estratégias. No mais, esperamos que este tema seja
ampliado, e que a acessibilidade na comunicação ainda seja pauta de várias outras
pesquisas.
67
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Especial – UFSM. Santa Maria – Rio Grande do Sul: Gráfica e Editora Pallotti, 2005.
SIQUEIRA, Ana Clara Baptistella. et al. Dar voz a quem não é ouvido: Barreiras
enfrentadas pelo surdo no acesso àinformação televisiva. In: CICLO DE DEBATES SOBRE
JORNALISMO, n 9, 2013. Curitiba.
SOFIATO, Cassia Geciauskas. Do desenho à litografia: A origem da Língua Brasileira de
Sinais. Instituto de Artes. Campinas, 2011.
WILCOX, Sherman; WILCOX, Phyllis Perrin. Aprender a ver: O ensino da Língua de
Sinais Americana como segunda língua. São Paulo: Editora Arara Azul, 2005.
70
6 ANEXOS
Presidência da República
Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI No 10.098, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000.
Regulamento
Regulamento
Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1o Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação.
Art. 2o Para os fins desta Lei são estabelecidas as seguintes definições:
I – acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida; (Vide Lei nº 13.146,
de 2015) (Vigência)
II – barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas, classificadas em:
a) barreiras arquitetônicas urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público;
b) barreiras arquitetônicas na edificação: as existentes no interior dos edifícios públicos e privados;
c) barreiras arquitetônicas nos transportes: as existentes nos meios de transportes;
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d) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa;
III – pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida: a que temporária ou permanentemente tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e de utilizá-lo;
IV – elemento da urbanização: qualquer componente das obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação, saneamento, encanamentos para esgotos, distribuição de energia elétrica, iluminação pública, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam as indicações do planejamento urbanístico;
V – mobiliário urbano: o conjunto de objetos existentes nas vias e espaços públicos, superpostos ou adicionados aos elementos da urbanização ou da edificação, de forma que sua modificação ou traslado não provoque alterações substanciais nestes elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e similares, cabines telefônicas, fontes públicas, lixeiras, toldos, marquises, quiosques e quaisquer outros de natureza análoga;
VI – ajuda técnica: qualquer elemento que facilite a autonomia pessoal ou possibilite o acesso e o uso de meio físico.
VII - a X - (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
CAPÍTULO II
DOS ELEMENTOS DA URBANIZAÇÃO
Art. 3o O planejamento e a urbanização das vias públicas, dos parques e dos demais espaços de uso público deverão ser concebidos e executados de forma a torná-los acessíveis para as pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Art. 4o As vias públicas, os parques e os demais espaços de uso público existentes, assim como as respectivas instalações de serviços e mobiliários urbanos deverão ser adaptados, obedecendo-se ordem de prioridade que vise à maior eficiência das modificações, no sentido de promover mais ampla acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Parágrafo único. Os parques de diversões, públicos e privados, devem adaptar, no mínimo, 5% (cinco por cento) de cada brinquedo e equipamento e identificá-lo para possibilitar sua utilização por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, tanto quanto tecnicamente possível. (Incluído pela Lei nº 11.982, de 2009)
Art. 5o O projeto e o traçado dos elementos de urbanização públicos e privados de uso comunitário, nestes compreendidos os itinerários e as passagens de pedestres, os percursos de entrada e de saída de veículos, as escadas e rampas, deverão observar os parâmetros estabelecidos pelas
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normas técnicas de acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
Art. 6o Os banheiros de uso público existentes ou a construir em parques, praças, jardins e espaços livres públicos deverão ser acessíveis e dispor, pelo menos, de um sanitário e um lavatório que atendam às especificações das normas técnicas da ABNT.
Art. 7o Em todas as áreas de estacionamento de veículos, localizadas em vias ou em espaços públicos, deverão ser reservadas vagas próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem pessoas portadoras de deficiência com dificuldade de locomoção.
Parágrafo único. As vagas a que se refere o caput deste artigo deverão ser em número equivalente a dois por cento do total, garantida, no mínimo, uma vaga, devidamente sinalizada e com as especificações técnicas de desenho e traçado de acordo com as normas técnicas vigentes.
CAPÍTULO III
DO DESENHO E DA LOCALIZAÇÃO DO MOBILIÁRIO URBANO
Art. 8o Os sinais de tráfego, semáforos, postes de iluminação ou quaisquer outros elementos verticais de sinalização que devam ser instalados em itinerário ou espaço de acesso para pedestres deverão ser dispostos de forma a não dificultar ou impedir a circulação, e de modo que possam ser utilizados com a máxima comodidade.
Art. 9o Os semáforos para pedestres instalados nas vias públicas deverão estar equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave, intermitente e sem estridência, ou com mecanismo alternativo, que sirva de guia ou orientação para a travessia de pessoas portadoras de deficiência visual, se a intensidade do fluxo de veículos e a periculosidade da via assim determinarem.
Parágrafo único. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Art. 10. Os elementos do mobiliário urbano deverão ser projetados e instalados em locais que permitam sejam eles utilizados pelas pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Art. 10-A. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
CAPÍTULO IV
DA ACESSIBILIDADE NOS EDIFÍCIOS PÚBLICOS OU DE USO COLETIVO
Art. 11. A construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso coletivo deverão ser executadas de modo que
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sejam ou se tornem acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Parágrafo único. Para os fins do disposto neste artigo, na construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso coletivo deverão ser observados, pelo menos, os seguintes requisitos de acessibilidade:
I – nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas a garagem e a estacionamento de uso público, deverão ser reservadas vagas próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem pessoas portadoras de deficiência com dificuldade de locomoção permanente;
II – pelo menos um dos acessos ao interior da edificação deverá estar livre de barreiras arquitetônicas e de obstáculos que impeçam ou dificultem a acessibilidade de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;
III – pelo menos um dos itinerários que comuniquem horizontal e verticalmente todas as dependências e serviços do edifício, entre si e com o exterior, deverá cumprir os requisitos de acessibilidade de que trata esta Lei; e
IV – os edifícios deverão dispor, pelo menos, de um banheiro acessível, distribuindo-se seus equipamentos e acessórios de maneira que possam ser utilizados por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Art. 12. Os locais de espetáculos, conferências, aulas e outros de natureza similar deverão dispor de espaços reservados para pessoas que utilizam cadeira de rodas, e de lugares específicos para pessoas com deficiência auditiva e visual, inclusive acompanhante, de acordo com a ABNT, de modo a facilitar-lhes as condições de acesso, circulação e comunicação.
Art. 12-A. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
CAPÍTULO V
DA ACESSIBILIDADE NOS EDIFÍCIOS DE USO PRIVADO
Art. 13. Os edifícios de uso privado em que seja obrigatória a instalação de elevadores deverão ser construídos atendendo aos seguintes requisitos mínimos de acessibilidade:
I – percurso acessível que una as unidades habitacionais com o exterior e com as dependências de uso comum;
II – percurso acessível que una a edificação à via pública, às edificações e aos serviços anexos de uso comum e aos edifícios vizinhos;
III – cabine do elevador e respectiva porta de entrada acessíveis para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
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Art. 14. Os edifícios a serem construídos com mais de um pavimento além do pavimento de acesso, à exceção das habitações unifamiliares, e que não estejam obrigados à instalação de elevador, deverão dispor de especificações técnicas e de projeto que facilitem a instalação de um elevador adaptado, devendo os demais elementos de uso comum destes edifícios atender aos requisitos de acessibilidade.
Art. 15. Caberá ao órgão federal responsável pela coordenação da política habitacional regulamentar a reserva de um percentual mínimo do total das habitações, conforme a característica da população local, para o atendimento da demanda de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
CAPÍTULO VI
DA ACESSIBILIDADE NOS VEÍCULOS DE TRANSPORTE COLETIVO
Art. 16. Os veículos de transporte coletivo deverão cumprir os requisitos de acessibilidade estabelecidos nas normas técnicas específicas.
CAPÍTULO VII
DA ACESSIBILIDADE NOS SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO E SINALIZAÇÃO
Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer.
Art. 18. O Poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. Regulamento
Art. 19. Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens adotarão plano de medidas técnicas com o objetivo de permitir o uso da linguagem de sinais ou outra subtitulação, para garantir o direito de acesso à informação às pessoas portadoras de deficiência auditiva, na forma e no prazo previstos em regulamento.
CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES SOBRE AJUDAS TÉCNICAS
Art. 20. O Poder Público promoverá a supressão de barreiras urbanísticas, arquitetônicas, de transporte e de comunicação, mediante ajudas técnicas.
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Art. 21. O Poder Público, por meio dos organismos de apoio à pesquisa e das agências de financiamento, fomentará programas destinados:
I – à promoção de pesquisas científicas voltadas ao tratamento e prevenção de deficiências;
II – ao desenvolvimento tecnológico orientado à produção de ajudas técnicas para as pessoas portadoras de deficiência;
III – à especialização de recursos humanos em acessibilidade.
CAPÍTULO IX
DAS MEDIDAS DE FOMENTO À ELIMINAÇÃO DE BARREIRAS
Art. 22. É instituído, no âmbito da Secretaria de Estado de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, o Programa Nacional de Acessibilidade, com dotação orçamentária específica, cuja execução será disciplinada em regulamento.
CAPÍTULO X
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 23. A Administração Pública federal direta e indireta destinará, anualmente, dotação orçamentária para as adaptações, eliminações e supressões de barreiras arquitetônicas existentes nos edifícios de uso público de sua propriedade e naqueles que estejam sob sua administração ou uso.
Parágrafo único. A implementação das adaptações, eliminações e supressões de barreiras arquitetônicas referidas no caput deste artigo deverá ser iniciada a partir do primeiro ano de vigência desta Lei.
Art. 24. O Poder Público promoverá campanhas informativas e educativas dirigidas à população em geral, com a finalidade de conscientizá-la e sensibilizá-la quanto à acessibilidade e à integração social da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Art. 25. As disposições desta Lei aplicam-se aos edifícios ou imóveis declarados bens de interesse cultural ou de valor histórico-artístico, desde que as modificações necessárias observem as normas específicas reguladoras destes bens.
Art. 26. As organizações representativas de pessoas portadoras de deficiência terão legitimidade para acompanhar o cumprimento dos requisitos de acessibilidade estabelecidos nesta Lei.
Art. 27. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
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Brasília, 19 de dezembro de 2000; 179o da Independência e 112o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO José Gregori
Este texto não substitui o publicado no DOU de 20.12.2000
*
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Portaria nº 310, de 27 de junho de 2006 Criado em Sexta, 20 Abril 2012 05:28|Última atualização em Segunda, 20 Maio 2013 16:35
Portaria que aprova a Norma nº 001/2006 - Recursos de acessibilidade, para pessoas com
deficiênca, na programação veiculada nos serviços de radiodifusão de sons e imagens e
de retransmissão de televisão.
O MINISTRO DE ESTADO DAS COMUNICAÇÕES, no uso das atribuições que lhe
confere o art. 87, parágrafo único, inciso II da Constituição, e
CONSIDERANDO os comentários recebidos em decorrência de consulta e audiência
pública realizada pela Portaria nº 476, de 1 de novembro de 2005, publicada no Diário
Oficial da União de 3 de novembro de 2005 e Portaria nº 1, de 4 de janeiro de 2006,
publicada no Diário Oficial de União de 4 de janeiro de 2006
CONSIDERANDO o disposto no art. 53 do Decreto nº 5296, de 2 de dezembro de 2004,
resolve:
Art. 1º Aprovar a Norma Complementar nº 01/2006 -Recursos de acessibilidade, para
pessoas com deficiência, na programação veiculada nos serviços de radiodifusão de sons
e imagens e de retransmissão de televisão.
Art. 2º Esta a Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
HÉLIO COSTA
NORMA COMPLEMENTAR No 01/2006
NORMA COMPLEMENTAR No 01/2006 – Recursos de acessibilidade, para pessoas com
deficiência, na programação veiculada nos serviços de radiodifusão de sons e imagens e
de retransmissão de televisão.
OBJETIVO
Esta Norma tem por objetivo complementar as disposições relativas ao serviço de
radiodifusão de sons e imagens e ao serviço de retransmissão de televisão, ancilar ao
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serviço de radiodifusão de sons e imagens, visando tornar a programação transmitida ou
retransmitida acessível para pessoas com deficiência, conforme disposto na Lei no 10.098,
de 19 de dezembro de 2000 e no Decreto no 5.296, de 2 de dezembro de 2004, alterado
pelo Decreto no 5.645, de 28 de dezembro de 2005.
REFERÊNCIAS BÁSICAS
2.1. Constituição Federal.
2.2. Lei no 4.117, de 27 de agosto de 1962, que institui o Código Brasileiro de
Telecomunicações.
2.3 Decreto-lei no 236, de 28 de fevereiro de 1967, que modifica e complementa a Lei no
4.117, de 1962.
2.4 Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as Normas de proteção.
2.5 Lei no 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às
pessoas que
especifica.
2.6 Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios
básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com
mobilidade reduzida.
2.7 Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS.
2.8 Decreto no 52.795, de 31 de outubro de 1963, que aprova o Regulamento dos
Serviços de Radiodifusão.
2.9 Decreto no 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamenta a Lei no 7.853, de 24
de outubro de 1989.
2.10 Decreto no 5.296, de 2 de dezembro de 2004, que regulamenta as Leis nos 10.048,
de 8 de novembro de 2000, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
2.11 Decreto no 5.371, de 17 de fevereiro de 2005, que aprova o Regulamento do Serviço
de Retransmissão de Televisão e do Serviço de Repetição de Televisão, ancilares ao
Serviço de Radiodifusão de Sons e Imagens.
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2.12 Decreto no 5.645, de 28 de dezembro de 2005, que altera o art. 53 do Decreto no
5.296, de 2004.
2.13 Instrução Normativa no 1, de 2 de dezembro de 2005, da Secretaria de Comunicação
Institucional da Secretaria Geral da Presidência da República, que regulamenta o art. 57
do Decreto no 5.296, de 2004.
2.14 Norma Brasileira ABNT NBR 15290:2005, que dispõe sobre Acessibilidade em
Comunicação na Televisão.
DEFINIÇÕES
Para os efeitos desta Norma, devem ser consideradas as seguintes definições:
3.1. Acessibilidade: é a condição para utilização, com segurança e autonomia, dos
serviços, dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa com
deficiência auditiva, visual ou intelectual.
3.2. Legenda Oculta: corresponde a transcrição, em língua portuguesa, dos diálogos,
efeitos sonoros, sons do ambiente e demais informações que não poderiam ser percebidos
ou compreendidos por pessoas com deficiência auditiva.
3.3. Áudio-descrição: corresponde a uma locução, em língua portuguesa, sobreposta ao
som original do programa, destinada a descrever imagens, sons, textos e demais
informações que não poderiam ser percebidos ou compreendidos por pessoas com
deficiência visual.
3.4. Dublagem: tradução de programa originalmente falado em língua estrangeira, com a
substituição da locução original por falas em língua portuguesa, sincronizadas no tempo,
entonação, movimento dos lábios dos personagens em cena, etc. (NBR 15290).
3.5. Campanhas institucionais – campanhas educativas e culturais destinadas à
divulgação dos direitos e deveres do cidadão.
3.6. Informativos de utilidade pública – qualquer informação que tenha a finalidade de
proteger a vida, a saúde, a segurança e a propriedade.
3.7. Janela de LIBRAS: espaço delimitado no vídeo onde as informações são interpretadas
na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
ABRANGÊNCIA
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4.1. Ficam sujeitas ao cumprimento do disposto nesta Norma as pessoas jurídicas que
detenham concessão ou permissão ou para explorar o serviço de radiodifusão de sons e
imagens e as pessoas jurídicas que detenham permissão ou autorização para explorar o
serviço de retransmissão de televisão, ancilar ao serviço de radiodifusão de sons e
imagens.
4.2. Inclui-se na obrigatoriedade de cumprimento do disposto nesta Norma as pessoas
jurídicas referidas no subitem 4.1. que transmitirem ou retransmitirem programação que,
mesmo tendo sido produzida em outros países, seja editada, traduzida ou sofra qualquer
adaptação considerada necessária para sua transmissão ou retransmissão com boa
qualidade de percepção e compreensão pelo público brasileiro.
RECURSOS DE ACESSIBILIDADE
5.1 A programação veiculada pelas estações transmissoras ou retransmissoras dos
serviços de radiodifusão de sons e imagens deverá conter:
a) Legenda Oculta, em língua Portuguesa, devendo ser transmitida através da linha 21 do
Intervalo de Apagamento Vertical (VBI);
b) Audiodescrição, em língua Portuguesa, devendo ser transmitida através do Programa
Secundário de Áudio (SAP), sempre que o programa for exclusivamente falado em
Português; e
c) Dublagem, em língua Portuguesa, dos programas veiculados em língua estrangeira, no
todo ou em parte, devendo ser transmitida através do Programa Secundário de
Áudio(SAP) juntamente com a audiodescrição definida na alínea b, de modo a permitir a
compreensão dos diálogos e conteúdos audiovisuais por pessoas com deficiência visual e
pessoas que não consigam ou não tenham fluência para leitura das legendas de tradução.
5.2 A programação de caráter oficial deverá ser veiculada pelas pessoas jurídicas que
detenham concessão para explorar o serviço de radiodifusão de sons e imagens e as
pessoas jurídicas que detenham permissão ou autorização para explorar ou executar o
serviço de retransmissão de televisão, ancilar ao serviço de radiodifusão de sons e
imagens, de acordo com a Instrução Normativa no 1, de 2 de dezembro de 2005, da
Secretaria Geral da Presidência da República.
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5.3 Os programas que compõem a propaganda político-partidária e eleitoral, bem assim
campanhas institucionais e informativos de utilidade pública veiculados pelas pessoas
jurídicas concessionárias do serviço de radiodifusão de sons e imagem, bem como as
pessoas jurídicas que possuem permissão ou autorização para executar o serviço de
retransmissão de televisão, deverão conter janela com intérprete de LIBRAS (Língua
Brasileira de Sinais), cuja produção e ou gravação ficarão ao encargo e sob a
responsabilidade dos Partidos Políticos e ou dos respectivos Órgãos de Governo aos
quais se vinculem os referidos programas, sem prejuízo do cumprimento do disposto no
subitem 5.1.
5.4 Sem prejuízo do cumprimento do disposto no subitem 5.1, o projeto de
desenvolvimento e implementação da televisão digital no Brasil deverá:
5.4.1 permitir o acionamento opcional da janela com intérprete de LIBRAS, para os
espectadores que necessitarem deste recurso, de modo a possibilitar sua veiculação em
toda a programação;
5.4.2. permitir a inserção de locução, em Português, destinada a possibilitar que pessoas
com deficiência visual e pessoas com deficiência intelectual selecionem as opções
desejadas em menus e demais recursos interativos, com autonomia.
CARACTERÍSTICAS
A produção e veiculação dos recursos de acessibilidade objeto desta Norma deverão ser
realizados com observância dos critérios e requisitos técnicos especificados na ABNT NBR
15290:2005 – Acessibilidade em Comunicação na Televisão, editada pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
PRAZOS
7.1. Os recursos de acessibilidade objeto desta Norma deverão ser veiculados na
programação exibida pelas pessoas jurídicas que detenham concessão para explorar o
serviço de radiodifusão de sons e imagens e pelas pessoas jurídicas que detenham
permissão ou autorização para explorar o serviço de retransmissão de televisão, ancilar ao
serviço de radiodifusão de sons e imagens, de acordo com o seguinte cronograma:
a) no mínimo, uma hora, na programação veiculada no horário compreendido entre 8 (oito)
e 14 (quatorze) horas, e uma hora na programação veiculada no horário compreendido
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entre 20 (vinte) e 2 (duas) horas, dentro do prazo de 24 (vinte e quatro)
meses, contado a partir da data de publicação desta Norma;
b) no mínimo, duas horas, na programação veiculada no horário compreendido entre 8
(oito) e 14 (quatorze) horas, e duas horas na programação veiculada no horário
compreendido entre 18 (dezoito) e 2 (duas) horas, dentro do prazo de 36 (trinta e seis)
meses, contado a partir da data de publicação desta Norma;
c) no mínimo, três horas, na programação veiculada no horário compreendido entre 8 (oito)
e 14 (quatorze) horas, e três horas na programação veiculada no horário compreendido
entre 18 (dezoito) e 2 (duas) horas, dentro do prazo de 48 (quarenta e oito)
meses, contado a partir da data de publicação desta Norma;
d) no mínimo, quatro horas, na programação veiculada no horário compreendido entre 8
(oito) e 14 (quatorze) horas, e quatro horas na programação veiculada no horário
compreendido entre 18 (dezoito) e 2 (duas) horas, dentro do prazo de 60 (sessenta)
meses, contado a partir da data de publicação desta Norma;
e) no mínimo, seis horas, na programação veiculada no horário compreendido entre 6
(seis) e 14 (quatorze) horas, e seis horas na programação veiculada no horário
compreendido entre 18 (dezoito) e 2 (duas) horas, dentro do prazo de 72 (setenta e dois)
meses, contado a partir da data de publicação desta Norma; e
f) no mínimo, dezesseis horas, na programação veiculada no horário compreendido entre 6
(seis) e 2 (duas) horas, dentro do prazo de 94 (noventa e quatro) meses, contado a partir
da data de publicação desta Norma.
g) no mínimo, vinte horas, na programação diária total, dentro do prazo de 106 (cento e
seis) meses, contado a partir da data de publicação desta Norma.
h) a totalidade da programação diária, dentro do prazo de 132 (cento e trinta e dois)
meses, contado a partir da data de publicação desta Norma.
EXCEÇÕES
8.1 Não se obriga aos dispositivos desta Norma: a veiculação inédita ou a reprise de
programas que tenham sido produzidos ou gravados antes da data de publicação desta
Norma Complementar sem os recursos de acessibilidade aqui previstos;
a veiculação, ao vivo, de competições esportivas realizadas em recintos com capacidade
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para acomodação de platéia inferior a 5000 (cinco mil) pessoas; programação de caráter
estritamente local com duração de até 30 (trinta) minutos.
EQUIPAMENTOS DE TRANSMISSÃO E/OU RETRANSMISSÃO
9.1 As estações transmissoras ou retransmissoras que não comportarem a Linha 21 do
Intervalo de Apagamento Vertical (VBI) e/ou o Programa Secundário de Áudio (SAP),
deverão ser adaptadas ou substituídas de acordo com o seguinte cronograma:
9.1.1 No prazo de 2 (dois) anos, contado a partir da publicação desta Norma, para as
estações transmissoras ou retransmissoras localizadas em cidades com população
superior a 1.000.000 (um milhão) de habitantes.
9.1.2 No prazo de 4 (quatro) anos, contado a partir da publicação desta Norma, para as
estações transmissoras ou retransmissoras localizadas em cidades com população
superior a 500.000 (quinhentos mil) habitantes.
9.1.3 No prazo de 6 (seis) anos, contado a partir da publicação desta Norma, para as
estações transmissoras ou retransmissoras localizadas em cidades com população
superior a 200.000 (duzentos mil) habitantes.
9.1.4 No prazo de 8 (oito) anos, contado a partir da publicação desta Norma, para as
estações transmissoras ou retransmissoras localizadas em em cidades com população
superior a 100.000 (cem mil) habitantes.
9.1.5 No prazo de 10 (dez) anos, contado a partir da publicação desta Norma, para as
estações transmissoras ou retransmissoras localizadas nas demais cidades do Brasil.
9.2 Nas localidades em que as estações transmissoras ou retransmissoras forem
substituídas para permitir a transmissão e/ou retransmissão em sistema digital, as novas
estações já devem comportar os recursos de acessibilidade definidos nesta Norma.
9.3 Cumpridas as disposições deste item, os prazos definidos no item 7 serão contados a
partir da data de expedição da licença de funcionamento do equipamento substituído,
exceto quando se tratar de veiculação de programas originados de outras geradoras e que
já contenham os recursos de acessibilidade objeto desta.
10. RESPONSABILIDADE
10.1 -As emissoras de radiodifusão de sons e imagens e as retransmissoras de televisão
são responsáveis pela produção e veiculação dos recursos de acessibilidade definidos no
subitem 5.1 em todos os programas dos quais sejam detentoras dos direitos autorais.
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10.2 – Cabe a cada pessoa jurídica detentora de concessão para executar o serviço de
Radiodifusão de Sons e Imagens e permissão ou autorização para executar o serviço de
retransmissão de televisão, a intransferível e exclusiva responsabilidade pela
implementação dos meios necessários para que a programação veiculada contenha os
recursos de acessibilidade previstos nesta Norma.
11. PENALIDADES
11.1 O descumprimento das disposições contidas nesta Norma sujeita as pessoas
jurídicas que detenham concessão ou autorização para explorar o serviço de radiodifusão
de sons e imagens e as pessoas jurídicas que detenham permissão ou autorização para
explorar o serviço de retransmissão de televisão, ancilar ao serviço de radiodifusão de
sons e imagens, às penalidades prescritas no Código Brasileiro de Telecomunicações.
11.2 -A pena será imposta de acordo com a infração cometida, considerados os seguintes
fatores:
a) gravidade da falta;
b) antecedentes da entidade faltosa; e
c) reincidência específica.
11.3 Antes de decidir pela aplicação de qualquer penalidade, o Ministério das
Comunicações notificará a interessada para exercer o direito de defesa, dentro do prazo
de 5 (cinco) dias, contado do recebimento da notificação.
11.4 A repetição da falta, no período decorrido entre o recebimento da notificação e a
tomada de decisão, será considerada como reincidência.
85
Presidência da República
Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002.
Regulamento Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira
de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.
Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de
assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.
Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e
do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.
Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.
Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e 114
o da República.
FERNANDOHENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 25.4.2002
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PESQUISA DE OPINIAO
Esta pesquisa faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da aluna Poliana
Medeiros de Lemos ([email protected]) estudante da Universidade
Federal da Paraíba, cursando Comunicação Social – Jornalismo com matrícula
11113986, sob orientação da Professora Doutora Joana Belarmino de Sousa
([email protected]). O objetivo da pesquisa é identificar hábitos de
consumo de pessoas surdas nos telejornais da Paraíba/João Pessoa, assim como as
estratégias de acessibilidade nestes programas, bem como os aspectos a serem
melhorados na acessibilidade. Os resultados obtidos serão anexados e apresentados
juntamente com o projeto final.
Assim, solicito que responda o questionário abaixo com sinceridade, considerando que
nenhum respondente precisa identificar-se, e que o preenchimento de TODAS as
questões é indispensável. CONTO COM SEU APOIO.
Desde já, muito obrigado por colaborar,
Poliana Lemos
QUESTIONÁRIO SOCIO CULTURAL
1. SEXO
( ) Feminino ( ) Masculino
2. FAIXA ETÁRIA
( ) De 18 a 23 anos ( ) De 36 a 41 anos
( ) De 24 a 29 anos ( ) De 42 a 47 anos
( ) De 30 a 35 anos ( ) Acima de 47 anos
3. GRAU DE SURDEZ
( ) Leve ( ) Média ( ) Profunda
4. MARQUE A ALTERNATIVA RELATIVA AO RECURSO DE
ACESSIBILIDADE MAIS ADEQUADO PARA VOCÊ ( ) Uso da LIBRAS
( ) Leitura Labial ( ) Uso de Aparelho Auditivo
( ) Uso de Língua Portuguesa
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5. GRAU DE ESCOLARIDADE OU FORMAÇÃO
( ) Ensino Fundamental ( ) Pós-Graduado (a)
( ) Ensino Médio ( ) Cursando Mestrado
( ) Superior Incompleto ( ) Mestrado Completo
( ) Superior Completo ( ) Cursando Doutorado
( ) Cursando Pós-Graduação ( ) Doutorado Completo
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PESQUISA SOBRE AUDIENCIA DE PROGRAMAS JORNALÍSTICOS
DE TELEVISIVÃO
1. Na Televisão Brasileira quais os conteúdos de sua preferência?
() Esporte ( ) Humor ( ) Telenovelas ( )
Programas de Auditório ( ) Programas de Jornalismo
2. No campo da comunicação qual o recurso de acessibilidade que lhe auxilia no
consumo de mídias?
( ) Legenda Oculta ( ) Janela com interprete de Libras ( ) Leitura Labial
3. Das mídias abaixo qual sua preferência? (
) Rádio( ) Televisão ( ) Internet ( ) Jornal Impresso
4. Você costuma assistir programas jornalísticos nas emissoras de televisão de João
Pessoa?
( ) Sim ( ) Não
Se sua resposta for NÃO, por favor, justifique o motivo.
5. Qual emissora e telejornal você costuma assistir com maior frequência nas
emissoras de televisão de João Pessoa?
( ) Jornal da Câmara, da TV Câmara ( ) Agora é Lei, da TV Assembléia
( ) JPB 1° Edição, da TV Cabo Branco ( ) Correio Verdade, da TV Correio
( ) Caso de Polícia, da TV Tambaú ( ) Aqui na Clube, da TV Clube
( ) Cidade em Ação, da TV Arapuã
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6. O telejornal local que você mais costuma assistir faz uso da Legenda Oculta ou
da Janela com interprete de Libras? Se sim, qual?
______________________________________________________________________
7. Você consegue acompanhar as notícias, e entender tudo o que acontece no
programa a partir desse recurso de acessibilidade?
( ) Entende total( ) Entende razoável ( ) Entende muito mal ( ) Não entende
8. Qual dessas situações você já viu assistindo televisão?
( ) Corte inadequado da mão do interprete na filmagem da câmera
( ) Legenda atrasada
( ) Pouco domínio da língua de sinais pelo interprete (
) Texto da legenda oculta não correspondente ao conteúdo falado (
)Legenda oculta ilegível