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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
SILVIA KARLA DA SILVA ROSA PELAES
A IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS ESTUDANTES
AMAPAENSES: FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO NA ESCOLA
MACAPÁ2011
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SILVIA KARLA DA SILVA ROSA PELAES
A IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS ESTUDANTES
AMAPAENSES: FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO NA ESCOLA
Monografia apresentada como Trabalhode Conclusão de Curso à Universidadedo Estado do Amapá, como requisitofinal para obtenção do grau deLicenciado em Pedagogia.
Orientador: Prof or Msc. Claudio AfonsoSoares.
MACAPÁ2011
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FOLHA DE APROVAÇÃO
SILVIA KARLA DA SILVA ROSA PELAES
A IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS ESTUDANTES AMAPAENSES: FATORESDE RISCO E PREVENÇÃO NA ESCOLA
Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso à Universidade do
Estado do Amapá, como requisito final para obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia.
BANCA AVALIADORA
.............................................................................................
Profº. Mestre Claudio Afonso Soares- UEAPOrientador
..............................................................................................
Profª Esp. Terezinha de Jesus Brito - UEAPAvaliadora
..............................................................................................
Profª. Esp. Neiva Lana de Almeida Guimarães - UEAPAvaliadora
Nota:_________ Data:__________
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A minha família e a todos que
compartilharam desse sonho.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, o qual nos fez resistir às dificuldades que se apresentaram no
decorrer dessa caminhada e ter nos dado força e amparo, por essa luz divina que iluminou
nossos caminhos para a conclusão de mais uma fase de nossas vidas.
À Universidade do Estado do Amapá-UEAP, pela muitas possibilidades de
crescimento profissional e pessoal por ela concedidas, como instituição séria e empenhada
pelo bem maior de seus acadêmicos.
Ao meu orientador, professor Mestre Cláudio Afonso Soares pelo encorajamento, pela
orientação paciente e pontual e pelas cobranças tirando sempre o melhor de mim para um
trabalho de melhor qualidade.
À minha querida mãe Maria Amélia Rosa da Silva, em memória, que me encheu de
amor e carinho, nunca desistindo de dar seu melhor para meus irmãos e eu e por seu exemplo
deixou marcado em nossas vidas um modelo de vida de perseverança, superação e amor à
família.
Ao meu pai Antonio dos Santos Rosa, que sempre me encorajou pela admiração aos
filhos, à vida e ao trabalho.
Ao meu esposo, Juranildo Pelaes, meu grande companheiro nas alegrias, tristeza e
desafios durante todo o período desta pesquisa.
Ao meu filho querido Jômerson Pelaes, pela compreensão e apoio, mesmo quando eu
me mostrava ausente durante nossas programações em família.
Às amigas Angela Silva e Tereza Carmelo pelo companheirismo agradável durante as
coletas de dados no Hospital de Emergência de Macapá e POLITEC-AP.
Às professoras Dra. Silvia Gomes e Msc. Bianca Diniz pela empatia e disposição
magnífica em me ajudar a desatar os nós pelo caminho, sempre encontrando tempo para tirar
minhas dúvidas quanto ao rigor da Metodologia científica.
Ao professor Dr. Makilin Baptista pelo interesse pessoal, pelas dicas e conselhos que
com sua vasta experiência na área contribuiu de maneira significativa para a realização deste
estudo.
À professora Dra. Ane Braga e ao professor Esp. Frederico pela atitude humana de
realizar o tratamento estatístico.
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Aos queridos professores que tive contato durante todos os oito semestres do Curso
que compartilharam conosco seus conhecimentos e experiências, empenhando-se em oferecer
uma educação de excelência.
Aos colegas de turma e a todos que presenciaram e apoiaram essa jornada, com
companheirismo e respeito, contribuindo para a conquista de mais um sonho em nossas vidas.
Sinto estar entrando em uma nova fase de minha vida e devo tudo a vocês e ao Dono
da Vida. A todos minha eterna gratidão!
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Quién tiene un porqué para
vivir, encontrará casi siempre elcómo. Nietzsche
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RESUMO
Vários estudos nacionais e internacionais referem que o suicídio é um fenômeno complexo euniversal, que atinge todas as culturas, classes sociais e idades e possui uma etiologiamultifatorial, englobando fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais. A
presente pesquisa de natureza quali-quantitativa teve por objetivo identificar fatores de risco eações positivas de caráter preventivo em relação ao ideário suicida entre os jovens de 15 a 25anos em Macapá, bem como à sensibilização de profissionais da educação e gestores públicos
para a problemática do fenômeno neste município. Foram participantes 164 alunos de escolas públicas do Ensino Médio. A amostra foi composta por conglomerado, sendo (66,46%) dogênero feminino e (33,53%) do masculino, com faixa etária variando de 15 a 25 anos. Quanto
ao ano de escolaridade, participaram alunos do 1º (25,60%) 2º (61,58%), e 3º (12,80%) anoescolar, distribuídos entre os períodos matutino, vespertino e noturno. Para a coleta de dadosfoi utilizado como instrumento um questionário de identificação auto-explicável com
perguntas de cunho fechado e semi-aberto, que foi aplicado na própria sala de aula dos alunosno horário regular das aulas. Foram encontradas associações significativas de ideação suicidacom os seguintes fatores biopsicossociais: gênero, idade, estado civil, número de filhos, raça,atividade remunerada, com quem mora atualmente, renda familiar, consumo de bebida efrequência desse hábito, ingestão de bebidas alcoólicas a ponto de ficar bêbado, consumo de
bebida e problemas de relacionamento social, experimentação inicial de drogas, amigos usamdrogas, consumo de drogas nos últimos doze meses, rendimento escolar, percepção detratamento amigável por parte dos colegas da escola, discriminação recebida no ambienteescolar, envolvimento em brigas com contato físico na escola, sofrimento de agressão físicaou verbal por colegas da escola, sentir-se só, preocupado e ansioso a ponto de não poderdormir á noite, pensar num método suicida, auto-imagem como pessoa fechada e arredia,auto-imagem de pessoa angustiada e deprimida e a não solicitação de apoio profissional.
Palavras-chave: Ideário suicida. Jovens estudantes. Fatores de risco. Prevenção escolar.
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ABSTRACT
Several national and international studies indicate that suicide is a complex and universal phenomenon that affects all cultures, social classes and ages and has a multifactorial etiology,encompassing biological, psychological, social, cultural and environmental. This researchqualitative and quantitative in nature aimed at identifying risk factors and positive preventiveactions in relation to suicidal ideas among young people 15 to 25 years in Macapá, as well asraising awareness of education professionals and public administrators to problematic
phenomenon in this county. The participants were 164 students from public schools in theschool. The sample was composed of conglomerate, of which (66.46%) and females (33.53%)were male, with ages ranging from 15 to 25 years. As the school year, students participated inthe 1st (25.60%) 2 (61.58%), and 3 (12.80%) school year, divided between the periods,
morning, afternoon and evening. For the data collection instrument was used as aquestionnaire to identify self-explanatory with questions of nature closed and semi-open,which was applied in their own classroom of students in the regular schedule of classes.Significant associations were found for suicide ideation with the following psychosocialfactors, gender, age, marital status, number of children, race, paid work, with whom she nowlives, family income, consumption and frequency of drinking habits, intake of alcoholic
beverages point of getting drunk, beverage consumption and problems in social relatedness,initial experimentation of drugs, friends use drugs, use of drugs in the last twelve months,school performance, perception of friendly treatment by fellow students, receiveddiscrimination in the school environment , getting in fights with physical contact in school,suffering from physical or verbal aggression by fellow students, feel lonely, worried and
anxious about not being able to sleep at night thinking of a suicide method, self-image as a person and closed aloof, self-image of himself anxious and depressed and did not request professional support.
Keywords: Ideals suicide. Young students. Risk factors. Preventing school.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Suicídios registrados na POLITEC-AP comparativo entre município/métodousado, Amapá – Período: 2006 a 2008 ................................................................. 24
Tabela 2 - Demonstrativos das morbidades por causas externas segundo a intencionalidadeatestada no Boletim de Produtividade Ambulatorial/BPA, Amapá – Período: 2006a 2008 .................................................................................................................. 26
Tabela 3 - Comparativo entre bairros mais representados pelo grupo “S” e bairros commaiores taxas de suicídio em Macapá - Período 2006-2008 ................................ 55
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Fases envolvidas no comportamento suicida............................................................ 22Figura 2: Pareamento da variável "Série" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já
pensou em cometer suicídio?"................................................................................. 51
Figura 3: Pareamento da variável "Turno" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"................................................................................. 52
Figura 4: Pareamento da variável "Bairro" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"............................................................................... 54
Figura 5: Pareamento da variável "Gênero" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"............................................................................... 56
Figura 6: Pareamento da variável "Idade" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"................................................................................ 58
Figura 7: Pareamento da variável "Estado civil" entre os grupos S e N em relação à pergunta"Já pensou em cometer suicídio?".......................................................................... 59
Figura 8: Pareamento da variável "Número de filhos" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"........................................................... 60
Figura 9: Pareamento da variável "Raça" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"............................................................................... 62
Figura 10: Pareamento da variável "Trabalho (atividade) exercida" entre os grupos S e N em
relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"............................................ 64Figura 11: Pareamento da variável "Estrutura familiar" entre os grupos S e N em relação à
pergunta "Já pensou em cometer suicídio?".......................................................... 65
Figura 12: Pareamento da variável "Renda familiar" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"......................................................... 67
Figura 13: Pareamento da variável "Consumo de bebida e frequência deste hábito" entre osgrupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"................ 69
Figura 14: Pareamento da variável "Ingestão de bebidas alcoólicas a ponto de ficar bêbado"entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"..... 70
Figura 15: Pareamento da variável "Ingestão de bebidas alcoólicas e problemas derelacionamento social" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou emcometer suicídio?"....................................................................................... 71
Figura 16: Pareamento da variável "Experimentação inicial de drogas" entre os grupos S e Nem relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"........................................ 73
Figura 17: Pareamento da variável "Amigos usam drogas" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"......................................................... 74
Figura 18: Pareamento da variável "Consumo de drogas durante os últimos doze meses" entreos grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?".... 75
Figura 19: Pareamento da variável "Rendimento escolar" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?".......................................................... 77
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BPA – Boletim de Produtividade AmbulatorialGSHS/OMS – Global School-Based Student Health Survey da Organização Mundial da
Saúde
HE/AP – Hospital de Emergências do Amapá
IDB/SUS – Indicadores de Dados Básicos do Sistema Único de Saúde
MS – Ministério da Saúde
MANOVA – Análise de Variância Multivariada
NIMH/EUA – Instituto nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos da AméricaOMS – Organização Mundial da Saúde
POLITEC/AP – Polícia Técnica Científica do Amapá
PROPEXP – Pró-reitoria de Extensão e Pesquisas
SUS – Sistema Único de Saúde
SUPRE-MISS – Estudos de intervenção sobre o comportamento suicida em múltiplos locais
(sigla em inglês)
SPSS – Statistical Package for Social SciencesTME – Taxa de Mortalidade por causas Externas
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UEAP – Universidade do Estado do Amapá
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 16
1 SUICÍDIO: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS, DEFINIÇÕES E DADOS
EPIDEMIOLÓGICOS NO BRASIL E NO AMAPÁ....................................................... 19
1.1 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS................................................................................ 19
1.2 DEFINIÇÕES................................................................................................................... 21
1.3 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS NO BRASIL E NO AMAPÁ....................................... 23
2 SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA: FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO........... 27
2.1 FATORES DE RISCO..................................................................................................... 27
2.2 PREVENÇÃO.................................................................................................................. 30
3 ESTUDOS NACIONAIS SOBRE IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS............... 34
4 METODOLOGIA.............................................................................................................. 42
4.1 OBJETIVOS.................................................................................................................... 42
4.1.1 Geral............................................................................................................................ 42
4.1.2 Específicos................................................................................................................... 42
4.2 TIPOS DE PESQUISA.................................................................................................... 42
4.3 PARTICIPANTES........................................................................................................... 43
4.4 INSTRUMENTOS........................................................................................................... 434.5 PROCEDIMENTO.......................................................................................................... 44
4.5.1 Levantamento de dados quantitativos no Hospital de Emergências –
Macapá/AP............................................................................................................................ 44
4.5.2 Pesquisa documental na Polícia Técnico-Científica/ POLITEC-AP..................... 45
4.5.3 Coleta de dados nas Escolas de Ensino Médio em Macapá..................................... 46
4.6 LOCAL DA PESQUISA.................................................................................................. 47
4.7 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS............................................................. 48
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5 RESULTADOS E ANÁLISES.......................................................................................... 50
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 101
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 104
APÊNDICES.........................................................................................................................108
ANEXOS............................................................................................................................... 112
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INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde- OMS informa que em 2001 aconteceram 850.000
suicídios no mundo, o que implica na ocorrência de um suicídio a cada 40 segundos (OMS,
2001). Assim, com base no ritmo de crescimento dos números, projeta-se que em 2020 serão
mais de 1,5 milhão de casos.
Semelhantemente, o Sistema Único de Saúde- SUS (2008) ressalta que a taxa de
óbitos por suicídio no Brasil em 2006 foi de 4,6 por 100 mil habitantes. Enquanto que, em
Macapá, no mesmo ano, a taxa de suicídio foi de 4,9 por 100 mil habitantes, de acordo com
dados da Taxa de Mortalidade por Causas Externas – TME referente a 2006 (DATASUS,
2008). Dados desta magnitude demonstram que o suicídio tornou-se um problema de saúde
pública, não apenas devido às estatísticas, mas também pelos danos sociais causados a todos
os envolvidos.
Em geral, o comportamento suicida é caracterizado pela literatura como se
apresentando num continuum que vai desde a ideação suicida (incluindo pensamentos de
autodestruição), passando pelo planejamento (escolha do método, data da morte) até as
tentativas de suicídio em si, que podem resultar ou não em óbito prematuro. Por isso, não setrata de um fenômeno de fácil interpretação, tendo em vista sua natureza multifacetada.
Em termos conceituais, para muitos especialistas, o fenômeno é motivado
predominantemente pela mente doente da vítima, ou seja, seria um distúrbio potencialmente
clínico, que comprometeria a estrutura mental do individuo. Para outras correntes, o ato de
tirar a própria vida esconde em si motivos muito além do desequilíbrio químico cerebral.
Envolve uma conjuntura de fatores internos e externos à vítima que cumprem o papel de
indutores e/ou agravantes para o atentado contra sua própria vida. Na perspectiva de Émile Durkheim (2005, p.13), o suicídio é definido como: “todo
caso de morte que resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo realizado
pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado”, isto é, todo ato
revestido de intencionalidade para autodestruição configura um “ato positivo” para o suicídio
e toda exposição desnecessária ao perigo de morte, incluindo a recusa de um tratamento
médico ou determinados estilos de vida estariam enquadrados no que Durkheim chamou de
“ato negativo”.
Já na visão de Corrêa e Barreiro (2006) a intencionalidade é o que define se o ato é
suicida ou não e em parte esta intenção é apresentada pela escolha do método, isto é, o uso de
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um método que o indivíduo acredita resultar em morte acusa a intencionalidade do ato, se a
morte ou outro objetivo qualquer.
Segundo a OMS (2000), os fatores de risco ao suicídio são vários, dentre os quais se
podem citar: funcionamento familiar perturbado; experiências emocionais difíceis, incluindo
perda recente ou acontecimento, traumático; ter vivenciado um suicídio na família ou em seu
círculo de amizades; identificação com o morto, tê-lo como modelo; dificuldade de
identificação sexual, homossexualidade; comportamento desviante, delinqüência, prostituição,
consumo de drogas, álcool, medicamentos; fugas; deslocamentos repetidos em família ou
centro de acolhimento, uma ou várias tentativas anteriores de suicídio.
Neste ponto, convém ressaltar que, atribuir de imediato ao suicídio o conceito de
atentado voluntário contra a vida, em certo sentido é considerada uma atitude precipitada, pois
o que as pesquisas mostram é que, do ponto de vista da vítima, o suicídio é tido como uma
solução plausível para a situação-problema na qual a pessoa se encontra. Com isso, o que se
rotula de atentado “voluntário” contra a vida, na verdade foi uma escolha circunstancial, isto
é, em outra circunstância a idéia de tirar a própria vida, talvez nem fosse cogitada.
Especialmente entre os jovens, os fatores de risco mostram-se de caráter sobrepostos e
cumulativos que remontam à infância. Por isso, muitos evitam tratar desse assunto, julgando
ser restrito aos profissionais de psiquiatria. No entanto, visto tratar-se de um fenômenodecorrente de diversas dimensões, muito pode ser feito para preveni-lo em todos os ambientes
associados aos jovens.
Dados estatísticos sobre suicídios no Amapá, no período de 2006 a 2008, demonstram
que a maioria das vítimas estava em idade escolar, o que significa que este fenômeno
preocupante tem merecido maior atenção por parte dos profissionais da educação, porque o
espaço escolar pode ser aliado na prevenção e combate ao comportamento suicida,
especialmente por se tratar de um espaço de relações que exerce grande influência na vida dos jovens.
Isto posto, percebe-se a profundeza da complexidade da temática e a riqueza de
perspectivas em que se pode abordar sobre o comportamento suicida. Devido a isso, a escolha
do foco deste estudo dá ênfase na ideação suicida como fase inicial da evolução mórbida.
Assim, este estudo abordará o ponto de vista de diversos autores sobre o fenômeno do
suicídio com ênfase na ideação suicida, como fase inicial de uma evolução mórbida que
culmina na morte por autodestruição.
Considerando o exposto, no capítulo I são abordadas as considerações históricas,
assim como definições básicas elucidantes e dados epidemiológicos no Brasil, com ênfase em
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dados sobre suicídios completos no Amapá coletados em documentos de domínio público na
Polícia Técnica e Científica do Amapá- POLITEC-AP e a cerca da temática e dados sobre
tentativas de suicídios em Macapá coletados nos arquivos estatísticos do Hospital de
Emergência do Amapá. No capítulo II são apresentados sobre o fenômeno do suicídio na fase
geracional da adolescência, incluindo fatores de risco e prevenção. No capítulo III são
abordados estudos nacionais sobre ideação suicida entre jovens. A metodologia apresentada
no capítulo IV esmiúça a cerca do tipo de estudo, método de procedimento, local de pesquisa,
sujeitos, coleta de dados e tratamento estatístico. Já no capítulo V são considerados os
resultados e análise, enquanto que no capítulo VI são esboçadas as considerações finais e
finalmente as referências utilizadas são apresentadas no capítulo VII.
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CAPÍTULO 1 SUICÍDIO: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS; DEFINIÇÕES E
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS NO BRASIL E NO AMAPÁ
1.1 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
Levantamentos bibliográficos revelam que os povos antigos não faziam referência ao
uso do verbete suicídio, mas tratavam a morte por autoflagelo como Kekousios thanatos
(gregos) e mors voluntarae (romanos), ambos significando morte voluntária (CORRÊA;
BARRERO, 2006). De acordo com os autores, a palavra suicídio foi usada pela primeira vez
por Sir Thomas Browne, em 1643, em seu livro Religio Medici. De acordo com José Outeiral
(2008 apud ALVES, 2010, p.2) o que diferencia um caso do outro são os métodos utilizados
para finalizar o ato. O autor sustenta que suicídio é uma atitude autônoma englobando uma
série de ações em que “a pessoa atenta conscientemente contar si própria, mas os modos de se
fazer isso variam de acordo com culturas, países, sociedades, gênero, classes sociais”.
Diante disso, sabe-se que o comportamento suicida em todas as suas nuances sempre
fez parte da intricada dinâmica da existência humana, o que mudou foi o modo como ofenômeno é encarado a depender do período histórico ou da cultura no qual se apresenta.
Correa e Barrero (2006, p.31) citam dois exemplos interessantes. Um deles ocorria no antigo
Egito. Com a morte de um faraó ou o dono de escravos, seus servos “deixavam -se morrer
junto ao cadáver de seu amo”. É o chamado, por Durkheim, suicídio altruísta, conforme
abordaremos mais adiante. Outro caso é o vivido pelos idosos da ilha grega de Ceos. Ali os
habitantes que atingissem os 60 anos providenciavam meios para morrer por envenenamento
a fim de pouparem os meios de subsistência para os mais jovens. Na esteira desta concepção, há os casos de suicídio no Japão, onde o fenômeno é
encarado como escolha voluntária, um meio de aliviar a dor insuportável da perda da honra,
confirmando o ponto de vista de alguns autores que defendem o suicídio como morte
voluntária ligada a um ato de autonomia e não como crime ou ato de loucura (FAIRBAIRN,
1999, apud ALVES, 2010).
Ainda nessa mesma linha de pensamento em Roma, o escritor Sêneca expressa bem o
ponto de vista de seus conterrâneos quando afirma: “Viver não é um bem, se não se vive bem.
Para isso o homem vive o melhor que puder e não o mais que puder” (CORRÊA; BARRERO,
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2006, p.32), demonstrando uma postura de aceitação pela escolha de morte voluntária,
porque, segundo ele, a vida só vale à pena se for bem vivida.
Séculos mais tarde, a literatura demonstra uma mudança de perspectiva sobre o
assunto, pois após o início do imperialismo católico que a visão do ocidente sobre o suicídio
mudou de heroísmo e escolha voluntária para ato condenável, chagando a tornar-se um tabu.
No IV século da Era Comum, Santo Agostinho em sua obra Cidade de Deus, rechaça o ato
suicida igualando-o à covardia e à incapacidade de resolver seus próprios assuntos de modo
racional. No século XIV, na Inglaterra, os suicidas estavam sujeitos às penalidades da lei,
visto que poderiam ter seus bens confiscados caso optassem pela morte voluntária. Com o
passar dos anos e a chegada do Iluminismo, no século XVII, o ponto de vista mudou e passou
a encarar o ato suicida com um olhar mais tolerante e flexível, chegando ao ponto de em 1918
o Papa Bento XV, já admitindo a possibilidade de insanidade mental em alguns suicidas,
permitir os procedimentos de um enterro cristão, caso o suicida tenha expressado
arrependimento antes da morte (CORRÊA; BARRERO, 2006).
Mais recentemente, a literatura aponta para o psiquiatra francês Jean-Étiene
Dominique Esquirol, no século 19, como sendo o primeiro a defender o suicídio como doença
mental (op cit, 2006). Anos mais tarde, ainda no século 19, o sociólogo francês Émile
Durkheim em sua obra Le Suicide, argumenta que a predisposição para auto-destruição “éresultado de uma sociedade que perdeu seus valores tradicionais, seus objetivos, sua
identidade” (CHRISTANTE, 2010, p. 32).
Nesse sentido, historicamente percebe-se que o suicídio já foi interpretado pelo senso
comum como um desvio de comportamento, uma ofensa contra Deus, do ponto de vista
religioso, negando-se ao suicida um enterro com as formalidades cristãs. Atualmente, o
fenômeno é tido predominantemente como resultado de uma doença mental, visto que em
90% dos casos está ligado aos transtornos mentais e em outros casos como um ato de supremaliberdade (OMS, 2000; SOUZA, MINAYO e MALAQUIAS, 2002).
Nessa perspectiva, ver-se que na atual configuração social o suicídio pode ser
compreendido por meio de dois pontos de vista. O primeiro que esclarece o suicídio como ato
humanamente legítimo e o segundo que se opõe ao comportamento suicida, postura esta que
se reflete em desde não querer comentar o assunto até a inclinação empática de querer
entender para estender ajuda. De qualquer forma, este apanhado geral do suicídio no decorrer
da história deixa subtendido que os assuntos humanos estão muito ligados às circunstâncias
culturais, biológicas, sociais, psicológicas, psiquiátricas, religiosas, econômicas dentre outras.
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O suicídio como demonstração da intrincada natureza humano demanda diferentes
frentes de pesquisas, a fim de entendê-lo melhor em todas as suas nuances. Algumas dessas
concepções a partir da visão de diferentes autores, bem como da Organização Mundial da
Saúde serão discutidas a seguir.
1.2 DEFINIÇÕES
De acordo com a OMS (2001, p.66), considera como suicídio apenas as mortes
causadas por "... ato deliberado, iniciado e levado a cabo por uma pessoa com pleno
conhecimento ou expectativa de um resultado fatal", isto é, aqueles casos que envolvem a
intencionalidade focada exclusivamente para a autodestruição.
Já o sociólogo francês Émile Durkheim (2005, p.13) define como suicídio “todo caso
de morte que resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo realizado pela
própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado”. Quando Durkheim inclui
à pré-disposição do suicida os atos “negativos“, ele estende o conceito de suicídio à toda
exposição desnecessária ao perigo de morte, incluindo a recusa de um tratamento médico oudeterminados estilos de vida.
Werlang e Botega (2006) compartilham de certa forma com o conceito expandido de
Durkheim ao defenderem que o suicida não age de modo aleatório, sem finalidade. O desejo
final deste é encontrar alívio imediato de suas dores psíquicas, alívio de seus conflitos, fruto
de profunda desesperança que o instiga à atitude ambivalente de tudo ou nada. Nesta
conjuntura de emoções, os autores defendem que, neste momento, é o grau de letalidade (alto,
médio ou baixo) que define se a morte se caracteriza como suicídio ou não. Em todos os trêsníveis, a letalidade inclui a contribuição da vítima para o desfecho fatal.
No caso da letalidade alta, o indivíduo desempenhou um papel consciente direto em
sua própria morte”, já na letalidade média a vítima desempenhou um papel importante em
efetuar ou apressar sua própria morte”, e finalmente na letalidade baixa a ação suicida
envolveu “um papel pequeno, mas não insignificante em efetuar ou apressar sua morte”.
Por outro lado, Smith (2007, p.73) citando Cassorla defende não haver uma causa
específica para o suicídio. Trata-se de “um evento que ocorre como resultado de uma série de
fatores que se acumulam na biografia do indivíduo que pensa em morrer, tenta se matar e se
mata.” Por isso, a necessidade de uma análise que englobe os diversos aspectos da vida
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cotidiana do indivíduo, visto que muitos dados relevantes vêm à tona quando se avaliam
aspectos ontogenéticos, pois o que é suportável para um indivíduo, pode não o ser para outro.
Sendo assim, em termos conceituais o comportamento suicida caracteriza-se com uma
série de etapas sucessivas que aumentam em grau e intensidade num continuum que inicia
com pensamentos mórbidos e culmina no suicídio completo. Não existe um consenso quanto
à subdivisão da evolução mórbida, mas em geral ela é subdividida em três categorias
principais: ideação, tentativa e suicídio completo. Ampliado um pouco mais o conceito de
ideação suicida Werlang, Borges e Fensterseifer (2005, p.1) defendem que ideação suicida
seria o início do comportamento suicida, incluindo nesta os “pensamentos, ideias,
planejamento e desejo de se matar”, culminando no “suicídio consumado, com a tentativa de
suicídio entre eles”.
Na concepção de Aerts, Baggio e Palazzo (2009) o comportamento suicida inicia em
ideias suicidas, avançando para o planejamento suicida que culmina na tentativa, que poderá
ser bem sucedida ou não. Além disso, o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) dos
Estados Unidos identificou estes níveis de gravidade progressiva como sendo ideação suicida
pensamento, motivação, tentativa de suicídio e suicídio conforme ilustra a Fig. 1 (CORRÊA;
BARRERO, 2006).
Fonte: Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (apud CORRÊA eBARRERO, 2006, p. 32)
Figura1: Fases envolvidas no comportamento suicida.
Ideação suicida:Pensamento motiva ão
Tentativa de suicídio
Suicídio completo
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Nesse sentido, observa-se que, apesar das pequenas divergências aparentes, fica claro
que o pensamento suicida é apenas o início de uma postura de autodestruição e seus indícios
não devem ser tratados com descaso, visto configurar um problema de saúde pública
conforme demonstram os dados estatísticos apresentados pela OMS para os casos de suicídio
no Brasil, bem como o Ministério da Saúde- MS ao referenciar os dados de suicídio no
Amapá, que serão melhor detalhados a seguir.
1.3 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS NO BRASIL E NO AMAPÁ
O suicídio configura-se como um importante problema de saúde pública, estando entre
as dez principais causas de óbitos em todas as idades na população mundial. (OMS, 2001
apud AERTS, BAGGIO e PALLAZZO, 2009) Segundo a OMS (2000) a média mundial que
sucumbe à autodestruição é de cerca de um milhão de pessoas, sendo que a faixa etária dos
suicidas, historicamente comum entre os idosos, tem crescido entre pessoas de 15 a 34 anos,
apresentando-se entre as cinco maiores causas de óbitos entre a população de 15 a 19 anos no
mundo. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde - MS (2008) foram identificados
8.506 mortes por suicídio no ano de 2006, isto é, 6,7% do montante de morte naquele ano, o
equivalente a mais de 23 óbitos por suicídio por dia. Por isso, a Portaria nº 1.876 DE 14 DE
AGOSTO DE 2006, que institui as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio do MS,
(2006), considera o fenômeno do suicídio como um grave problema de saúde pública, que
afeta toda a sociedade brasileira. Tal documento enfatiza ainda, que o grupo de maior risco
são os jovens propriamente ditos e os jovens adultos, na faixa etária de 15 a 25 anos.O SUS (2008), também informa que o Brasil apresenta taxas de suicídio relativamente
baixas (4,6 por 100 mil habitantes em 2006) se comparado com países como a Lituânia e a
Rússia que alcançam uma taxa excessiva com cerca de 40 suicídios anuais por 100 mil
habitantes. Neste ponto, o Brasil ocupa a 73ª posição no ranking mundial em relação ao
número de suicídios/população total e 60ª quando se trata de suicídios/população jovem. No
entanto, em números absolutos, o Brasil fica entre os 10 primeiros países onde mais ocorrem
suicídios (VALENCIA et al., 2009). Além disso, as mortes por autodestruição no Brasil,
ultrapassam por exemplo “as mortes por tuberculose e quase tanto quanto [...] a infecção por
HIV/Aids” (MINISTÉRIO DA SAÚDE , 2010).
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De acordo como o SUS (2008) a taxa de óbitos por suicídio no Brasil em 2006 foi de
4,6 por 100 mil habitantes. Enquanto que em Macapá, no mesmo ano, a taxa de suicídio foi de
4,9 por 100 mil habitantes, de acordo com dados da Taxa de Mortalidade por Causas Externas
– TME referente a 2006.
Isso posto demonstra que no contexto amapaense, os casos de suicídios de jovens
seguem a linha da problemática mundial. Analisando esse fato, Santos (2006), destacando
dados estatísticos elevados, afirma que “O Estado do Amapá encontra-se em quarto lugar na
taxa de suicídio nacional”. Uma comparação entre Indicadores e Dados Básicos (IDB, 2008) e
dados estatísticos do SUS (2008) ambos referente ao ano de 2006 demonstram que o estado
do Amapá apresenta uma taxa de suicídio (4,9 / 100 mil habitantes) superior à taxa nacional
(4,6 / 100 mil habitantes).
No Amapá, segundo dados estatísticos de domínio público da POLITEC-AP referente
ao período de 2006 a 2008 ocorreram 80 casos de suicídios em todo o Estado, sendo que
destes, 63 casos (78,75%) ocorreram em Macapá conforme segue demonstrado na Tabela - 1.
Tabela 1 - Suicídios registrados na POLITEC-APcomparativo entre município/método usado, Amapá – Período: 2006 a 2008
Método usado
2006 2007 2008
MacapáOutromun.
MacapáOutromun.
MacapáOutromun.
Enforcamento 13 4 14 6 21 5
Envenenamento 2 1 3 0 3 0
Queda de Nível 1 0 - - - -
Tiro 2 0 2 0 2 1
Total por ano 18 5 19 6 26 6
Fonte: Arquivos da Polícia Técnico-Científica – AP
Percebe-se então que de acordo com registros públicos da POLITEC-AP para 2006
referente aos suicídios em Macapá, em 2006, 45% das vítimas estavam na faixa etária de 15 a
29 anos.
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De acordo como SUS (2008) a taxa de óbitos por suicídio no Brasil em 2006 foi de 4,6
por 100 mil habitantes. Enquanto que, em Macapá, no mesmo ano, a taxa de suicídio foi de
4,9 por 100 mil habitantes, de acordo com dados da Taxa de Mortalidade por Causas Externas
– TME referente a 2006. Estes dados cumprem o papel de alarmar a sociedade para um
fenômeno que, de acordo com Ministério da Saúde (MS, 2006) é um problema de saúde
pública e não apenas uma situação particular da vítima.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o comportamento suicida engloba desde as ideias
de autodestruição, passando pelas tentativas de suicídio, resultando ou não em óbito
prematuro. Brent e Kolko (apud. GASPARI, 2002), citando defende que o suicídio completo
é considerado como ato final de uma série de tentativas em quantidade que pode variar de 1 a
mais de 20. O mesmo autor citando MORGAN (1990) também afirma que o risco de novas
tentativas de suicídio no ano seguinte à última tentativa de suicídio é de 15 % a 25 %.
No que tange às tentativas de suicídio no contexto macapaense, o quadro não é menos
preocupante, que o quadro dos suicídios completos. De acordo com os Boletins de
Produtividade Ambulatorial fornecidos pelo Hospital de Emergência de Macapá, no período
de 2006 a 2008, foram registrados 361 casos morbidades por causas externas, somente neste
município, incluindo intencionais ou não intencionais. Destas, 73 casos de morbidades são de
intencionalidades ligadas à autodestruição, isto é, tentativas de suicídio confirmadas,conforme ilustra a Tabela - 2 abaixo.
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Tabela 2- Demonstrativos das morbidades por causas externassegundo a intencionalidade atestada no Boletim deProdutividade Ambulatorial/BPA, Amapá – Período:2006 a 2008
Morbidade quanto àintencionalidade
MunicípioNúmero de casos
por anoTotal
decasos2006 2007 2008
intencionalidade nãodeterminada no BPA
MCP 95 115 78 288
OUTROS 4 5 110
intencionalidadeligada à
autodestruição(TENTATIVAS DE
SUICÍDIO)
MCP 26 23 24 73
OUTROS 2 0 0 1
Fonte: Arquivo Médico e Estatístico do Hospital de Emergência de Macapá-AP
Comparando os casos de suicídios completos com as tentativas de suicídio ocorridos
em Macapá, quanto ao sexo, os dados demonstram que os suicídios completos são mais
freqüentes no sexo masculino, visto que dos 63 óbitos registrados (2006-2008), 51 eram
homens e apenas 12 mulheres, isto é mais de 80% dos casos. Em contrapartida os casos de
tentativas de autodestruição são predominantemente cometidos por mulheres. Quanto à faixa
etária prevalecente nos óbitos por suicídio em Macapá fica em torno de 15 a 29 anos (50,79%
dos casos entre 2006-2008). Estes dados em si, corroboram para provocar preocupação emtodos os envolvidos com a proteção à vida dos jovens, visto estarem sendo os maiores
vitimados neste assunto.
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CAPÍTULO 2 SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA: FATORES DE RISCO E
PREVENÇÃO
Erikson (1968), em sua obra Identidade, juventude e crise, defendeu que a
adolescência é o ápice do processo de obtenção da identidade, o qual se inicia nas etapas
anteriores da infância. Para o autor, desde que nasce o ser humano passa por diversas etapas,
em cada uma das quais um tipo específico de conflito e uma crise nova vão ocorrer.
Assim, tornam-se comuns nesta fase da vida conflitos, decorrentes da transição e
transformações próprios da juventude. O mesmo autor também defende serem comuns na
adolescência às ideias de autodestruição, e as atribui ao ápice de construção do indivíduo,
época de muitos conflitos e incertezas, que remontam a fases anteriores, desde a infância. É
nesta fase de transição e amadurecimento que muitos jovens desenvolvem comportamento
suicida que se apresenta em três etapas de morbidade crescente: a ideação suicida, o
planejamento suicida, incluindo a provável escolha de um método e finalmente a tentativa de
suicídio, que poderá levar ou não ao desfecho (AERTS; BAGGIO; PALAZZO, 2009).
2.1 FATORES DE RISCO
Fatores ou situações de risco são variáveis de natureza demográfica, sociológica,
familiares, biológica, econômica, psicológica, psiquiátrica, religiosa, dentre outros (OMS
2000; RESMINI, 2004) Estes não são estanques, mas em muitos casos estas dimensões
apresentam-se de forma sobreposta e cumulativa no comportamento suicida, aumentandoainda mais o desafio da prevenção. Além disso, não se sabe ao certo quais as combinações
entre os fatores de risco individuais que culminarão numa circunstância desencadeante da
ideação suicida (tido como início do comportamento suicida) (WERLANG; BORGES;
FENSTERSEIFER, 2005).
Independente da região na qual ocorra, o comportamento suicida em si é um objeto de
pesquisa complexo, por se tratar de um atentado direto contra o bem considerado mais
precioso: a vida, e por envolver a convergência de inúmeros fatores de ordem psicológica,
econômica, social, médica, religiosa, dentre outros. Pesquisas comprovam que a intenção
suicida é agravada pela existência de um ou mais destes fatores de risco, que podem ser
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classificados, segundo Resmini (2004, p.45) como “fatores fixos e fatores potencialmente
modificáveis”. Os fatores fixos incluem: sexo, idade, orientação sexual, tentativa prévia de
suicídio. Enquanto que, nos potencialmente modificáveis estão inclusos: ansiedade, doenças
físicas, acesso aos métodos, situação empregatícia.
Pessoas expostas aos mesmos fatores de risco formam grupos de risco, como por
exemplo: os jovens, os idosos, os usuários de psicoativos, os acometidos de transtornos
mentais, etc. E apesar de pertencer ao mesmo grupo de risco, não se pode esperar um
desdobramento do comportamento suicida de um indivíduo para outro, porque a evolução
mórbida está muito ligada à ontogênese de cada pessoa. Aquilo que é natural e suportável
para um, pode não o ser para outro. Esta natureza multifacetada do comportamento suicida é
que o torna ainda mais intrigante e desafiador.
Alguns fatores de risco são bem conhecidos e citados em literaturas afins conforme
segue:
- Fatores econômicos: A busca pela auto-suficiência leva o jovem a alargar seus contatos
sociais, englobando outros grupos que não a sua família. Isso o leva muitas vezes à
insegurança e a uma transferência da necessidade de apoio e aprovação da família para seu
novo grupo social.
- Fatores sóciofamiliares: contexto familiar conturbado, marcado por constantes brigas edesentendimentos, onde os filhos não compartilham seus problemas e dificuldades em casa
por desacreditarem da resposta dos pais ou temerem represálias após exporem seus assuntos
íntimos, provoca um distanciamento entre as gerações, o que se manifesta no adolescente por
meio de um sentimento profundo de solidão e de incompreensão.
Esta falta de coesão no relacionamento familiar é tida como um fator de risco não
apenas estressor como também precipitante ao suicídio entre jovens em todo o mundo, visto
que o jovem busca na família sua referência emocional e um ponto de equilíbrio para oenfrentamento das intempéries da vida (ALVES; BAPTISTA; SANTOS, 2008).
A falta de apoio e aprovação nos grupos sociais às quais o jovem pertence gera um
efeito dominó, no caso, o aspecto afetivo do adolescente. Precisamente, ele tende a ficar
dependente de relações extra-familiares para obter suporte. Segundo a opinião de Resmini
(2004, p. 56), “Ao se alcançar por inteiro, por exemplo, numa relação amorosa, a outr a pessoa
passa a ser vista como tendo o poder único de gerar estabilidade na sua vida”. Então, caso
ocorra uma ruptura também nesta relação afetiva, muitos jovens passam a enxergar no
suicídio uma saída confortadora. Nestes casos, os conflitos da juventude apresentam-se como
combustível para o comportamento suicida.
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- Fatores ligados à escola: o espaço escolar oferece a facilidade de observação dos
comportamentos dos jovens em decorrência do razoável período de tempo diário que passam
no convívio social neste ambiente. A escola “não testa apenas o conhecimento, mas também a
capacidade de tolerar frustrações e de conviver num sistema de regras comuns e diferentes
daquelas da família” (RESMINI, 2004). Circunstâncias envolvendo as vivências no ambiente
escolar podem fornecer indícios de um jovem desenvolvendo ideação suicida. Discriminação
no ambiente escolar, baixo rendimento expressivo em escolares comumente medianos, uso ou
parceria com usuários de drogas e álcool são alguns dos fatores apontados por Resmini (2004)
como próprios do contexto escolar. É importante lembrar que o perigo é quando os fatores de
risco em geral se apresentarem sobrepostos. No caso do baixo rendimento o mesmo autor
estabelece uma diferenciação entre o mau rendimento escolar crônico e o mau rendimento
escolar eventual.
O primeiro, diz respeito ao resultado acadêmico habitualmente ruim, enquanto que no
último, o aluno tem um desempenho escolar razoável, mas eventualmente, apresenta um
resultado à baixo do esperado. Ele também ressalta que, é o baixo rendimento crônico que
denota preocupação, visto está relacionado à baixa alto-estima e dificuldades de concentração,
além da falta de interesse nas atividades habituais, próprio de jovens que desenvolvem
pensamentos suicidas. Um detalhe importante sobre desempenho escolar é retratado nodocumento Prevenção do Suicídio: Manual para Professores e Educadores, da OMS (2000,
p.17) quando afirma que uma sequência de baixo rendimento súbito injustificado em escolares
que habitualmente têm bom desempenho escolar, conjugado a outros comportamentos que
expressem “sofrimento mental e social” pode ser encarado pelos educadores como indício de
jovem em conflito e com ideação suicida.
Além disso, no ambiente escolar às vezes ocorre discriminação dos escolares por parte
dos pares, por sua orientação sexual por exemplo. A deficiência das redes sociaisespecialmente para quem ainda está em fase de autoafirmação e amadurecimento da
identidade pode provocar sofrimento psíquico que serve de combustível para ideação suicida.
A socialização com os pares, na fase de construção de identidade é necessária e saudável para
o amadurecimento social (CORRÊA; BARRERO, 2006). Esse convívio fortalece o
sentimento de pertencimento social, tido como um dos maiores antídotos contra o pensamento
suicida (DURKHEIM, 2005).
Além desses citados por categorias, a OMS (2000) ressalta que também existem outros
que merecem destaque devido sua relevância na identificação de jovens suicidas como por
exemplo, experiências emocionais difíceis, incluindo perda recente ou acontecimento,
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traumático; ter vivenciado um suicídio na família ou em seu círculo de amizades;
identificação com o morto, tê-lo como modelo; dificuldade de identificação sexual,
homossexualidade; comportamento desviante, delinqüência, prostituição, consumo de drogas,
álcool, medicamentos; fugas; deslocamentos repetidos em família ou centro de acolhimento,
uma ou várias tentativas anteriores de suicídio.
2.2 PREVENÇÃO
Apesar dos casos de suicídio em sua maioria estar ligados a alguma morbidade mental,
estes não são de preocupação apenas de profissionais da saúde, mas de toda a comunidade,
visto ter atingido o patamar de problema de saúde pública, tanto por ter atingido taxas
alarmantes em todo mundo como por envolver prejuízos sociais (CORRÊA; BARRERO,
2006 ).
Diversos estudos defendem que a morte por autodestruição é plenamente prevenível,
apesar de não se tratar de tarefa fácil devido às causas multidimensionais envolvidas no ato.
Além disso, conforme já mencionado no capítulo 2 deste estudo, muitos dos fatores de risco pertencem à categoria de fatores potencialmente “modificáveis” e mesmo os chamados fatores
“ fixos” em muitos casos são circunstanciais (como idade, anomia em razão de guerra civil).
Com isso infere-se a importância de duas medidas de natureza profilática: os fatores
protetivos e os programas preventivos.
Como fatores protetivos estão relacionados, o bom relacionamento e apoio recíproco
com membros da família, também alguns cognitivos e de personalidade como, bom
relaciomento interpessoal, autoconfiança, ter mente aberta para o novo, inclinação de procurarajuda/conselho mesmo para assuntos considerados pequenos (Ex: atividades escolares) e
acima de tudo autoestima e resiliência (WERLANG; BORGES; FENSTERSEIFER, 2005;
OMS, 2000).
Neste sentido, Baptista (2004) e Teixeira (2004) destacam a importância do suporte
social e familiar na prevenção de uma evolução suicida, visto que os vínculos familiares e
sociais estão diretamente ligados ao desenvolvimento, manutenção e melhora de pacientes
com transtornos afetivos e estes por sua vez representam perigo crescente às tentativas de
suicídio. O relacionamento familiar saudável também é tido como facilitador de inter-relações
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futuras que dêem continuidade ao sentimento de pertença social tão necessário como fator
protetivo
Isto posto, convém destacar que Rede Social é diferente de Coesão Social. Rede Social
diz respeito ao número de grupos sociais cujo jovem faz parte ou pertence, enquanto que
Coesão Social se refere ao quanto esta Rede Social é coesa, unida em prol de algo. O jovem
pode pertencer a vários grupos sociais formando uma grande teia de Rede Social e, no entanto
sentir-se só, caso suas inter-relações nos grupos não forem consistentes, ele pode ter muitos
amigos, mas não poder contar realmente com nenhum deles em um momento de aflição ou
conflito, comum da fase geracional à qual atravessa. Assim, como fator protetivo Baptista
(2005) destaca a Coesão Social como suporte emocional de grande valia para o jovem com ou
sem ideação suicida.
É importante que a família supra a necessidade de suporte social dos jovens, como
núcleo social ligado à formação do indivíduo, o que independe de sua estrutura. Baptista
(2005, p.11) salienta que “o suporte social, mas especificamente o suporte familiar, pode ser
considerado um dos mais relevantes dos amortecedores do efeito de diversos estressores na
vida das pessoas, tornando-o fundamental nos estudos de resiliência psicológica”. No entanto,
o mesmo autor ressalta que suporte familiar não tem relação direta com estrutura familiar,
isto é, independentemente da estrutura ser tradicional (pai, mãe, filhos) ou ser uma estruturaalternativa, o importante é que a carência de suporte afetivo seja suprida, com apoio, amor e
acolhimento. Enfim, os fatores protetivos incluem o desenvolvimento de:
uma série completa de atividades, abrangendo desde a provisão das melhorescondições possíveis para congregar nossas crianças e jovens através de umtratamento efetivo dos distúrbios mentais até um controle ambiental dos fatores derisco. (OMS, 2000, p.3).
Analisando a acepção acima percebe-se que a sensibilização de específicos grupos
sociais e profissionais, bem como a veiculação de informação adequada a cerca do suicídio,
também são de grande ajuda no combate e prevenção do fenômeno.
Como parte dos programas preventivos contra o comportamento suicida, a OMS
lançou em 1999 o Estudo de Intervenção sobre o Comportamento Suicida em Múltiplos
Locais, na sigla em inglês (SUPRE-MISS) isto é, uma série de esforços conjuntos incluindo a
elaboração e publicação de documentos informativos para alcançar pessoas e grupos distintos,
incluindo “profissionais de saúde, educadores, agentes sociais, governantes, legisladores,
comunicadores sociais, forças da lei, famílias e comunidades.” (op cit , p.3). Segundo Luiz
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Alberto Hetem (2010), Barrero, Nicolato e Corrêa (2006) a identificação precoce e correto
encaminhamento de casos de transtornos mentais, são de grande valia como medida
profilática visto que 90% dos casos de comportamento suicida, desde a ideação, a tentativa até
o suicídio consumado, estão ligados a esta morbidade.
Reconhecendo que os profissionais de educação podem exercer uma força positiva na
prevenção da morte prematura na população jovem, a OMS lançou em 2000 o documento
“Prevenção do suicídio: manual para professores e educadores” que visa à melhor preparação
destes profissionais na identificação e manejo de jovens que esbocem comportamento suicida.
Sobre isso, Corrêa e Barrero (2006, p.106) comentam:
A promoção de saúde para prevenir o comportamento suicida nos adolescentes deveincluir não apenas os profissionais de saúde mental, mas também outras pessoas quese relacionam a maior parte do tempo com eles, como familiares, os professores eos próprios adolescentes. (o grifo é nosso)
Assim, ver-se que a escola é reconhecidamente um espaço privilegiado para se
trabalhar a formação de valores, hábitos e posturas diante das vivências, próprias da existência
humana em sociedade, com a intenção de reforçar as políticas preventivas contra o suicídio.
Também faz parte dos Programas Preventivos da OMS a publicação do documento
Prevenção do suicídio: um manual para conselheiros (OMS, 2006, p.21), ressaltando que:
Os professores passam muito tempo com [...] adolescentes e, geralmente sãotambém boas fontes de informação sobre questões de saúde mental relativa aosestudantes. Além disso, quando adequadamente treinados, os funcionários da escola
podem identificar fatores de risco entre os alunos.
Isto significa que, o espaço escolar pode e deve ser aliado na prevenção e combate ao
comportamento suicida, especialmente por se tratar de um espaço de relações que exerce
grande influência na vida dos jovens. O mesmo documento também destaca que muitosfatores de risco podem ser minimizados por meio de um controle ambiental.
Portanto, a importância da escola como espaço de prevenção é destacada pelo fato dos
dados estatísticos revelarem a crescente tendência de jovens na faixa etária de 15 a 25 anos
estarem entre as maiores vítimas do suicídio. Logo, muito pode ser feito por estes jovens no
âmbito escolar a começar pelo desenvolvimento de discussões no contexto escolar sobre a
temática, visando quebrar o tabu cultural que envolve o tema suicídio. Também podem ser
desenvolvidos projetos de treinamento de educadores e profissionais em geral da educação
que lidem diariamente com os jovens na escola, a fim de treiná-los para identificar nos jovens
comportamentos associados a uma evolução mórbida, com o intuito de conduzí-lo à
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avaliações com especialistas na área. Esta atitude de identificação e direcionamento para um
especialista é muito importante, visto que 90% dos casos de suicídio estão ligados aos
transtornos mentais e destes 10% se referem a casos de algum tipo de depressão, o que
reafirma a importância de um profissional da saúde mental no âmbito escolar (SERFATY,
1998; OMS 2000)
Somando-se a isso, mostram-se necessárias as práticas preventivas nas vivências da
escola, incluindo a criação e o fortalecimento de diversos tipos de redes sociais, a fim de
prover aos jovens a convivência sadia com seus pares, tida como um dos maiores antídotos
contra o comportamento suicida já desde a ideação.
Assim, observando-se que o comportamento mórbido tem se manifestado de forma
crescente entre os jovens ainda em idade escolar, urge a necessidade de se voltar um olhar
mais atento para esta comunidade por parte de todos os interessados na saúde destes que são
vítimas em potencial da ideação suicida. Buscando ampliar a discussão a sessão a seguir
tratará de estudos nacionais sobre a ideação suicida entre jovens.
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CAPÍTULO 3 ESTUDOS NACIONAIS SOBRE IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS
Em todo o mundo, o fenômeno do suicídio entre os jovens, com sua natureza
multifacetada, demanda diversas frentes de pesquisas no mundo todo buscando conhecer para
compreendê-lo melhor. Neste respeito, os estudos sobre ideação suicida, tida como fase inicial
do comportamento mórbido mostram-se relevante devido sua capacidade preditiva na
avaliação dos riscos ao comportamento suicida entre os jovens.
Gaspari (2002) em seu estudo sobre suicídio pesquisou sobre a relevância da rede
social como preditora de comportamento suicida e protetora da saúde mental do indivíduo,
buscando comparar a Rede de Apoio Social de pacientes que tentaram suicídio e que foram
atendidos no pronto-socorro do Hospital das Clínicas da Unicamp, com a rede de apoio social
de acompanhantes de outros pacientes pareados por sexo e faixa etária. O tamanho dessa
amostra foi de 29 indivíduos (14 homens e 15 mulheres) em cada grupo, perfazendo um total
de 58.
Os instrumentos selecionados para esse estudo foram: Questionário de Tentativa de
Suicídio para Pronto-Socorro – TS-PS, abrangendo informações sócio-demográficas e
clínicas, e um questionário similar adaptado para os indivíduos do grupo controle; SSQ – Questionário de Rede de Apoio Social; GAS - Escala de Avaliação Global do Funcionamento
Psicossocial-Adulto; GARF - Escala de Avaliação Global do relacionamento Social e
Familiar (Global Assessment of Relational Functionig – DSM IV,1995); EAS/BB (Escala de
Apoio Social de BILLEBRAHE ET AL., 1993).
Os resultados demonstram que no grupo de Tentativas de Suicídio (T.S.) 10 (34,5%)
eram oficialmente casados contra 15 (51,7%) no grupo controle. Além disso, para o grupo TS,
em média, 1 indivíduo compunha a rede de apoio social dos respondentes, e no grupo SE, amédia foi de aproximadamente 3 indivíduos, o que permitiu à autora afirmar que a Rede de
Apoio Social dos indivíduos que tentam suicídio é mais escassa que a dos indivíduos do
grupo controle. Dado corroborado pela diferença no grau de satisfação com a rede de apoio
social entre os dois grupos estudados, visto que a rede social do grupo que tentou suicídio, de
acordo com a pesquisa, foi menos favorável que a do grupo controle. As escalas GAS e
GARF também apontaram para um baixo desempenho no relacionamento social e familiar
dos membros do grupo que tentaram suicídio em comparação com os que não o tentaram.
Werlang, Borges e Fensterseifer (2005), em seu estudo quantitativo do tipo transversal
sobre fatores de risco e protetivos ao suicídio, objetivaram identificar fatores de risco e de
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proteção para a presença de ideação suicida da população geral. A amostra foi composta de
526 adolescentes, entre 15 e 19 anos, de escolas públicas e privadas da cidade brasileira de
Porto Alegre. Os instrumentos utilizados foram o Inventário de Depressão de Beck (BDI), a
Escala de ideação Suicida de Beck (BSI) e uma ficha de dados pessoais para identificação de
dados sócio-demográficos, incluindo idade do adolescente, estado civil, nível de escolaridade,
existência de repetência de anos escolares, com quem ele reside, se os pais são vivos, se são
separados, se o jovem trabalha e em que atividade, se tem alguma doença física ou
psicológica, se faz uso de algum medicamento, se fez ou faz tratamento psicológico e,
finalmente, se conhece alguém que tenha tentado o suicídio ou consumado.
O s resultados indicaram que dos 526 jovens pesquisados, 188 (35,7%) apresentam
ideação suicida. Das 295 mulheres da amostra, 127 (67,6%) apresentam ideação suicida,
assim como 61 (32,4%) dos 231 homens. Dos adolescentes estudados, 513 residem com a
família, e destes, 35,5% apresenta ideação suicida. Já os que moram sozinhos ou sem
qualquer familiar, 46,2% apresenta ideação suicida. No estudo, também ficou demonstrado
que dentre os adolescentes com repetência escolar, a maioria (62,9%) não apresenta
pontuação para ideação suicida na BSI. Em relação a exercer alguma atividade, além de
estudar, encontra-se que a maioria (62,3%) dos adolescentes que trabalha não apresenta
ideação suicida. Também há presença de ideação suicida em 70,6% dos adolescentes do presente estudo, que julgam ter alguma doença psicológica, considerando principalmente que
o que prevaleceu foi a referência à depressão. A presença de depressão aparece, então, como a
variável de maior valor preditivo de ideação suicida.
A partir de outro prisma, Ficher e Vansan (2008) realizaram uma pesquisa que teve
por objetivo analisar, comparativamente, a distribuição temporal de todos os casos de
pacientes adolescentes, com idade entre 10 e 24 anos, atendidos no setor de urgências
psiquiátricas de um grande hospital geral universitário, após tentativas de suicídio e uso/abusode substâncias psicoativas, durante o período de 1988 a 2004 em Ribeirão Preto- São Paulo.
Estudou-se, especificamente, os casos de tentativas de suicídio, considerando sua distribuição
quanto à idade, sexo e método utilizado. Como metodologia optou-se por uma investigação
levando em conta um levantamento retrospectivo de todos os casos de pacientes adolescentes
atendidos no setor de urgências psiquiátricas do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, no período de 1988 a 2004, após
tentativas de suicídio e uso/abuso de substâncias psicoativas, e de dez histórias clínicas
obtidas por meio de entrevistas realizadas com pacientes adolescentes, selecionados ao acaso,
atendidos no setor por tentativas de suicídio. Os resultados demonstram que há uma forte
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correlação positiva entre os números de casos anualmente atendidos por tentativas de suicídio
e os devidos ao uso/abuso de substâncias psicoativas, tanto para os adolescentes do sexo
masculino, quanto para os do sexo feminino sendo que as tentativas de suicídio foram
significativamente mais frequentes no sexo feminino. O resultado das entrevistas revelam que
a maioria desses adolescentes era proveniente de lares desestruturados, predominantemente
por separação dos pais, e que a tentativa ocorreu com mais freqüência após discussão com
pessoas significativas do núcleo sócio-familiar, demonstrando que os atritos psicoafetivos de
natureza sóciofamiliares ocupam uma posição expressiva como fator precipitante ao ato
suicida.
Já os estudos Suicidio em la adolescência, de Serfaty (1998) faz um rico levantamento
bibliográfico a cerca da temática, destacando que os jovens que avançam no comportamento
suicida em geral, anunciam de forma velada seu intento, para um amigo ou familiar pouco
tempo antes da tentativa, como que solicitando uma oportunidade de ser salvo O pedido de
ajuda pode vir em forma de algo escrito como uma poesia, cartas, relatos cujo conteúdo tem
relação direta ou indireta com a morte. A autora destaca como fatores de risco ao suicídio:
consumo de álcool, a influência do meio ambiente, no caso de comportamento suicida, abuso
de psicoativos por pessoas próximas ao jovem, incluindo amigos e familiares. Além disso, a
existência de um ambiente vivências hostis, com tensão ou violência torna-se um fator derisco na adolescência. Outros sintomas de probabilidade de suicídios incluem: a presença de
ideias de suicídio, a depressão, a insônia e a redução da sociabilidade.
Quanto às medidas preventivas mais eficazes, os estudos da autora revelam que as
ações de prevenção e informação sobre a evolução mórbida devam ser disseminadas
especialmente em ambiente escolar, a fim de propiciar aos jovens a possibilidade de
esclarecimento, estímulo da autoestima e a tomada de decisão por parte dos adolescentes por
meio da técnica de antecipação. Além disso, o espaço escolar oferece a oportunidade dedetectar e entrevistar as crianças e jovens que tenham reduzido bruscamente seu rendimento
ou passem a manifestar alterações de conduta ou comecem a faltar às aulas com muita
frequência. Tais informações mostram-se relevantes no treinamento dos profissionais de
educação visando à prevenção ao comportamento suicida.
De modo semelhante, Borges, Werlang e Copatti (2008) buscaram identificar a
presença de ideação suicida e sua possível associação com a intensidade de depressão entre
adolescentes na faixa-etária entre 13 e 17 anos, na cidade de Erichim, em Porto Alegre. Foram
utilizados como instrumentos de coleta de dados uma Ficha com dados sócio-demográficos, a
Escala de ideação Suicida de BECK (BSI) e o Inventário de Depressão de BECK (BDI). A
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aplicação dos instrumentos foi coletiva com duração média de 30 minutos. A amostra foi
composta por 204 adolescentes, sendo 123 mulheres (60,3%) e 81 homens (39,7%),
devidamente matriculados em séries que iam da 7ª série do Ensino Fundamental ao 3° anos do
Ensino Médio em instituições públicas.
Os resultados demonstraram que dos 204 adolescentes pesquisados, 65 (31,9%)
apresentaram ideação suicida. Destes 49 (75,4%) eram mulheres e 21 (32,3%) tinham 16
anos. Também se constatou que depressão leve, moderada e grave estão associadas à ideação
suicida em nível estatisticamente significativo.
Neste respeito, Aerts, Baggio e Pallazzo (2009), buscando investigar a prevalência de
planejamento suicida e fatores associados entre adolescentes escolares, realizaram uma
pesquisa do tipo transversal com 1.170 estudantes na idade entre 12 e 18 anos, regularmente
matriculados na 7ª série do Ensino Fundamental, da rede pública de ensino de um município
de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Os instrumentos utilizados foram três questionários auto-
aplicáveis: um contendo 46 indagações a cerca de uso de álcool, drogas, violência,
sentimentos de solidão e tristeza, relacionamento familiar, planejamento suicida,
comportamento na escola e com amigos, padronizado pela Organização Mundial da Saúde,
um segundo questionário elaborado especialmente para o estudo que forneceu dados a
respeito de sexo e a inserção sócio-econômica, baseada na proposta da Associação Brasileirade Pesquisa (ABEP) e o terceiro instrumento de coleta, o Body Shape Questionanaire
utilizado para avaliar a preocupação com a imagem pessoal. Os dados foram coletados por
uma equipe de acadêmicos previamente capacitados.
Os resultados apontam para uma prevalência em planejamento suicida em 6,3% na
amostra estudada. A análise multivariada utilizando a regressão de Cox mostrou que o
planejamento suicida é mais prevalecente em meninas e jovens que referem problemas na
relação com os pais. O uso de drogas pelos amigos e pequeno número de amigos próximosaumentaram em, respectivamente, 90% e 66% o planejamento suicida. Aqueles agredidos por
colegas, os que referiram sentirem-se sozinhos e tristes apresentaram duas a três vezes mais
prevalência de planejamento suicida. As variáveis: ocorrência de injúrias, participação em
brigas, sentimento de discriminação e medo de ir à escola por insegurança também tiveram
associação significativa ao desfecho. Na análise univariada, as variáveis beber/ficar
embriagado, sentimento de solidão, dificuldade para dormir, sentimento de tristeza e imagem
corporal, também apresentaram associação estatisticamente significativa com o planejamento
suicida. Assim, relações familiares adversas, contatos agressivos com colegas e sintomas
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depressivos aumentam a prevalência de planejamento suicida, necessitando de ações
preventivas na escola, incluindo a família.
Ainda sobre a fase inicial do comportamento suicida, Borges e Werlang (2006)
desenvolveram um estudo de natureza quantitativa do tipo transversal, no qual buscaram
identificar a presença de ideação suicida na população em geral, caracterizando os jovens com
ideação quanto à intensidade de depressão/desesperança, também, qual a relação entre a
ideação e a depressão/desesperança e quais das variáveis encontradas as que mais se associam
à ideação suicida entre jovens. O estudo foi realizado com uma amostra de 526 adolescentes
matriculados em instituições públicas e privadas de Porto Alegre, com idades entre 15 e 19
anos de ambos os sexos.
Como instrumento utilizou-se uma ficha contendo indagações a cerca de dados sócio-
demográficos, também a Escala de Ideação Suicida de BECK, Inventário de Ideação de
BECK e Escala de Desesperança de BECK. Os dados revelaram que na amostra estudada,
36% dos jovens apresentaram ideação suicida. Destes 36% apresentaram sintomas de
depressão e 28% de desesperança (moderada e/ou grave). As variáveis mais associadas à
ideação suicida foram: sexo feminino, tentativa de suicídio de amigo, depressão e
desesperança.
Já os estudos de Araújo, Coutinho e Saraiva (s/ano) objetivaram investigar a problemática da ideação suicida em adolescentes do ensino médio inseridos no contexto
público na cidade de João Pessoa-PB. O universo amostral foi composto de 90 adolescentes
(57,7% do sexo feminino e 42,2% do masculino) com idades entre 14 e 22 anos, com maior
frequência de 17 a 19 anos de idade. A maioria dos participantes era solteiro (93,3 %),
moravam com os pais (74,4 %), não trabalhava (75,5 %). Os instrumentos de coleta utilizados
foram o Teste de Associação de Palavras, o inventário de Ideação Suicida (BSI) com 21 itens
indagatórios e um questionário sóciodemográfico. Os instrumentos foram aplicados em salade aula e mais tarde houve uma comparação entre os grupos que fizeram referência a ideação
suicida com o grupo de pares que não o fez. Os resultados demonstraram que 22,2% dos
adolescentes que apresentaram ideação se autorepresentaram como pessoas sozinhas,
associando a ideação a sentimentos de desesperança e solidão, ao mesmo tempo em que
expressaram um pedido de ajuda frente ao seu sofrimento. Um fator relevante foi o resultado
de que o grupo que apresenta ideação suicida composto ainda dos adolescentes na faixa etária
entre 14 e 16 anos, que se autorepresentaram como indivíduos sozinhos, se diferenciando do
grupo sem ideação.
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Na esteira do estudo acima, Araújo, Vieira e Coutinho (2010) desenvolveram uma
pesquisa visando apreender as representações sociais da ideação suicida elaboradas por
adolescentes do ensino médio, bem como investigar a presença deste fenômeno nesta
população, visto ser a ideação suicida tem um importante valor preditivo para o ato suicida.
Participaram do estudo 90 estudantes do ensino médio, de uma escola da rede pública de
ensino do município de João Pessoa-PB, os quais responderam ao Teste de Associação de
Palavras, ao Inventário de Ideação Suicida de Beck e a um questionário sociodemográfico. Os
pesquisadores decidiram por agrupar os respondentes em dois grupos (respondentes com e
sem ideação suicida) e realizar a análise tomando como ponto de partida a comparação entre
estes dois grupos. Os resultados apontam para um índice de 22,2% de adolescentes com
ideação suicida, havendo significativas diferenciações entre as representações elaboradas
pelos grupos com e sem ideação suicida. Os adolescentes que apresentaram ideação se
autorrepresentaram como pessoas sozinhas, associando a ideação a sentimentos de
desesperança e solidão, ao mesmo tempo em que expressaram um pedido de ajuda diante de
seu sofrimento.
Souza, Ores e Oliveira et al. (2010) desenvolveram um estudo transversal sobre
ideação suicida objetivando avaliar sua prevalência, bem como seus fatores associados numa
população jovem. O instrumento utilizado foi um questionário autoaplicável. O universoamostral foi composto por 953 jovens, com idade entre 15 a 18 anos na cidade de Pelotas-RS.
Os resultados revelaram que a prevalência suicida foi de 7,7% e que a ideação suicida está
predominantemente associada ao sexo feminino. Destacam-se como fatores
significativamente associados com o desfecho o sedentarismo, o uso de drogas no último mês,
bem como ter tomado um porre no mesmo período e ter se envolvido em duas ou mais brigas
com agressão nos últimos 12 meses. Os participantes considerados sedentários apresentaram
risco 71% maior para ideação suicida do que os demais jovens. Já os adolescentes querelataram uso de álcool e ter tomado porre no último mês apresentaram risco cinco vezes
maior de ideação suicida do que os não referiram tal comportamento Da mesma forma, o uso
de drogas apresentou-se como variável significativamente associada ao desfecho estudado e
ter se envolvido em duas ou mais brigas com agressão apresentou risco acrescido para ideação
suicida
Isto posto, ressalta-se a relevância de estudos relacionados à ideação suicida tendo em
vista seu papel preditivo na avaliação do risco ao suicídio, ajudando a traçar um perfil dos
jovens suicidas na fase inicial.
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Como foi visto nos resultados das pesquisas supra citadas, o comportamento suicida,
desde sua fase inicial, é muitas vezes mascarado por atitudes tidas como agressivas e
desviantes ou os jovens suicidas demonstram atitudes apáticas com reflexos nas vivências na
escola, como baixo rendimento escolar, faltas constantes e desinteresse injustificado. Também
é observado em jovens em risco um comportamento que demonstra sofrimento psíquico,
como conflitos emocionais de natureza insuportável para a vítima, muitas vezes advindas de
casos de brigas, injúrias, discriminação, ou fortes desavenças no núcleo sócio-familiar que
acarreta ao adolescente um transtorno emocional insuportável que o precipita a atentar contra
sua vida.
Também ficou evidente nos estudos que, esta atitude ambivalente, em alguns casos são
potencializados pelo uso de substâncias psicoativas lícitas e não lícitas, como álcool e drogas
ou mesmo apenas pela convivência com usuários. Isto destaca a importância do controle dos
fatores ambientais que segundo as pesquisas exercem um papel de extressores (aqueles que já
ocorrem por determinado tempo na vivência do jovem) ou como precipitante (aqueles que
ocorrem momentos antes da tentativa), o que reforça a concepção de que o comportamento
suicida é plenamente prevenível, visto que muitos fatores de risco são de natureza
modificável.
Hildebrandt, Zart e Leite (2011) desenvolveram uma pesquisa descritiva que visavaconhecer e analisar as razões que levaram adolescentes a tentar suicídio e os métodos por eles
utilizados para concretizar este evento. A coleta de dados foi realizada em instituição
hospitalar localizada em um município do Rio Grande do Sul, e para tal foi utilizado a
entrevista semiestruturada. As questões que nortearam a entrevista foram: O que levou você a
tentar o suicídio? Como você tentou o suicídio? Além disso, questionou-se sobre dados de
identificação. Os sujeitos de pesquisa foram três indivíduos que tentaram o suicídio, com
idade entre 13 e 18 anos.A análise dos dados revela que os conflitos familiares representaram a principal causa
das tentativas de suicídio entre os participantes estudados, devido relatos de vida familiar
conflituosa e desavenças familiares que desencadearam um estado mental de desequilíbrio,
insegurança e angústia que levaram os jovens pesquisados a atentarem contra suas vidas. As
autoras ressaltam a atitude ambivalente dos jovens diante de conflitos, desejando resolver seus
problemas com soluções de caráter tudo ou nada, atitudes próprias de jovens em fase de
construção de identidade. Além disso, os depoimentos permitem identificar a percepção de
tristeza e insegurança, provenientes de uma situação de desamparo e desesperança e são
comumente mascaradas por rebeldia e impulsividade na busca desastrosa de atenção e
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carinho. Destaca-se que os relatos demonstram o desejo simultâneo de vida e morte dos
adolescentes que apresentam-se em conflitos mental causado por dor psíquica devido seus
problemas vivenciados.
Outro aspecto importante apresentado neste estudo diz respeito ao uso de psicoativos
por parte dos jovens suicidas. As autoras relatam que o abuso de psicoativos é apresentado
como o segundo diagnóstico mais frequentes entre pessoas que tentam e cometem suicídio.
Por isso, as medidas de prevenção do uso de substâncias psicoativas se fazem necessárias para
os casos de comportamento suicida. A sessão a seguir tratará da medotologia adotada na
pesquisa.
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CAPÍTULO 4 METODOLOGIA
4.1 OBJETIVOS
4.1.1 Geral
Identificar fatores de risco e ações positivas de caráter preventivo em relação ao
ideário suicida entre os jovens de 15 a 25 anos em Macapá, por meio de levantamento de
dados entre escolares do Ensino Médio, visando à sensibilização de profissionais da educação
e gestores públicos para a problemática do fenômeno neste município.
4.1.2 Específicos:
- Comparar um grupo de jovens que referem ter concebido pensamento suicida nos
últimos doze meses com um grupo de pares que não o conceberam, pareando aspectos
demográficos, sócio-econômicos e psicológicos;
- Levantar dados à cerca das iniciativas educacionais, que direta ou indiretamente,
surtem efeitos profiláticos em relação ao comportamento suicida entre os jovens escolares em
Macapá.
4.2 TIPOS DE PESQUISA
O estudo foi de caráter descritivo, do tipo quanti-qualitativo visto que incluem tanto
perguntas objetivas como também indagações que valorizam as vivências e percepção da
realidade no âmbito escolar do sujeito pesquisado. De acordo com Terence e Filho (2006) as
pesquisas qualitativas são aquelas que se ocupam em compreender as intenções e os
significados dos atos humanos, enquanto que a quantitativa ocupa-se em entender a realidade
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de modo objetivo, estabelecendo a relação de causa/efeito. Neste caso, este estudo envolve o
levantamento e análise de dados na sua maioria objetivos, mas visto que os fatores de risco
em última instância são de natureza ontogênica. Assim, como já foi dito anteriormente, a
pesquisa também levou em conta a maneira como o indivíduo percebe sua realidade escolar.
4.3 PARTICIPANTES
Foram participantes 164 alunos de escolas públicas do Ensino Médio na cidade de
Macapá. A amostra foi composta por conglomerado, sendo (66,46%) do gênero feminino e
(33,53%) do masculino. Os participantes tinham idades variando de 15 a 25 anos. Quanto ao
ano de escolaridade, participaram alunos do 1º (25,60%) 2º (61,58%), e 3º (12,80%) ano do
Ensino Médio, distribuídos entre os períodos, matutino, vespertino e noturno.
4.4 INSTRUMENTOS
A coleta de dados foi do tipo transversal, visto ter sido realizada em um único
momento, retratando de modo pontual o estado de espírito e a realidade do sujeito da
pesquisa. Para o estudo foi utilizado um instrumento de coleta denominado de Questionário
de Identificação (apêndice A), auto-explicável, aplicado aos alunos em sala de aula. As
questões são do tipo fechado e semi-aberto, conforme segue:
- Questões de 1 a 12: contendo indagações de natureza demográfica e sócio-econômica;- Questões de 13 a 19: referem-se a comportamentos relacionados ao consumo de
álcool e drogas;- Questões de 20 a 25: indagam sobre algumas vivências próprias do contexto
pesquisado, como: rendimento escolar e convívio com colegas;
- Questões de 26 a 30: referem-se à auto-imagem do respondente e seu estado
emocional, incluindo sentimentos de tristeza, solidão e pensamentos suicidas;
- Questões de 31 a 36: indagam sobre percepção dos jovens em relação a fatores
protetivos como realidade em sua escola.
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O referido Questionário de Identificação retrata bem o caráter dedutivo deste estudo,
pois em sua elaboração foram levadas em conta as conclusões de