Tcc II - 2014 Victor

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  • UNIVERSIDADE VILA VELHA

    CURSO DE ENGENHARIA METALRGICA E DE MATERIAIS

    VICTOR BATISTA FEREGHETTI

    AVALIAO DOS AOS PARA TRABALHO A QUENTE

    VILA VELHA 2014

  • ii

    VICTOR BATISTA FEREGHETTI

    AVALIAO DOS AOS PARA TRABALHO A QUENTE

    Monografia apresentada ao Curso de Engenharia

    Metalrgica e de Materiais da Universidade Vila

    Velha UVV, como requisito para obteno do grau

    de Bacharel em Engenharia Metalrgica e de

    Materiais.

    Orientador: Prof. M. Sc. Eduardo Alves Machado.

    VILA VELHA 2014

  • iii

    VICTOR BATISTA FEREGHETTI

    AVALIAO DOS AOS PARA TRABALHO A QUENTE

    Monografia apresentada ao Curso de Engenharia Metalrgica e de Materiais na Universidade Vila

    Velha, como requisito parcial para obteno do Grau de Bacharel em Engenharia Metalrgica e

    Materiais.

    Aprovado em ___ de ______ de 2014.

    COMISSO EXAMINADORA

    ____________________________________

    Prof. M. Sc. Eduardo Alves Machado

    Universidade Vila Velha

    Orientador

    ____________________________________

    Prof. M. Sc. Jlio Cezar Bellon

    Universidade Vila Velha

    ____________________________________

    Eng. Ricardo Jos Tauffer Barros

    ArcelorMittal Tubaro

  • iv

    DEDICATRIA

    Aos meus pais, minha irm e a todos

    que colaboraram direta ou

    indiretamente na elaborao deste

    trabalho.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo ao Senhor Deus por me permitir chegar at aqui, por ter iluminado meu

    caminho com sade e fora de esprito.

    Ao Prof. Eduardo Alves Machado pela orientao, dedicao, pacincia e

    compreenso das dificuldades que enfrentei durante a realizao deste trabalho.

    Aos meus familiares pela pacincia que tiveram comigo nos momentos crticos deste

    trabalho.

    Aos colegas e amigos que contriburam, direta ou indiretamente, para o

    aperfeioamento deste trabalho.

  • vi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 4.1 - Mudanas das curvas tenso-deformao de engenharia de ao doce

    com a temperatura. ................................................................................................... 17

    Figura 4.2 - Variao do mdulo de elasticidade com a temperatura. ...................... 18

    Figura 4.3 - Variao do limite de resistncia com a temperatura. ............................ 18

    Figura 4.4 - Variao do alongamento com a temperatura para o ao-carbono. ...... 19

    Figura 4.5 - Curva tpica de fluncia mostrando os trs estgios do processo. Curva

    A, ensaio de carga constante; curva B, ensaio de tenso constante. ....................... 21

    Figura 4.6 - Curva de fluncia, determinada em ensaio sob carga constante. .......... 22

    Figura 4.7 - Influncia da tenso e da temperatura T sobre o comportamento da

    fluncia. ..................................................................................................................... 23

    Figura 4.8 - Classificao dos diagramas de fase binrios de ferro: a) domnio- aberto;

    b) domnio- expandido; c) domnio- fechado; d) domnio- contrado. ................... 26

    Figura 4.9 - Poder estabilizador relativo dos elementos de liga: a) estabilizadores de

    ferrita; b) estabilizadores de austenita. ...................................................................... 27

    Figura 4.10 - Efeito de adies de liga no domnio da fase : (a) de Mn, (b), Mo (c) Cr;

    (d) Ti. ......................................................................................................................... 28

    Figura 4.11 - tomos de impurezas (a) Soluo Slida Substitucional e (b) Soluo

    Slida Intersticial. ...................................................................................................... 30

    Figura 4.12 - (a) Variao do limite de resistncia trao, (b) Variao do limite de

    escoamento, e (c) Variao da ductilidade (percentual de alongamento) em funo do

    teor de nquel para ligas cobre-nquel, mostrando o aumento da resistncia. .......... 31

    Figura 4.13 - Efeito da adio de elementos de liga na dureza da ferrita. ................ 32

    Figura 4.14 - Al (CFC) e AlCu2 (fase - ortorrmbica) ............................................. 33

    Figura 4.15 - Microestrutura de um ao SAE 1060 esferoidizado, evidenciando os

    precipitados incoerente de cementita (Fe3C). ........................................................... 34

    Figura 4.16 - Liga de alumnio 7150 (6,2%Zn, 2,3%Cu, 2,3%Mn, 2,3%Mg e 0,12%Zr)

    endurecida por precipitao coerente). ..................................................................... 35

    Figura 4.17 - Discordncia cortando uma partcula. .................................................. 35

    Figura 4.18 - Produtos da solubilidade de carbonetos e nitretos na austenita em funo

    da temperatura. ......................................................................................................... 36

  • vii

    Figura 4.19 - O movimento de uma discordncia medida que ela encontra um

    contorno de gro, ilustrando como um contorno atua como uma barreira ao caminhar

    da discordncia. ........................................................................................................ 38

    Figura 4.20 - Ilustrao esquemtica de mudanas microestruturais na laminao

    controlada. ................................................................................................................. 39

    Figura 4.21 - Linhas isotrmicas de solubilidade de carboneto de nibio, carboneto de

    titnio e nitreto de vandio em diferentes temperaturas. ........................................... 40

    Figura 4.22 - Influncia do trabalho a frio sobre o comportamento tenso-deformao

    para um ao com baixo teor de carbono. .................................................................. 41

    Figura 4.23 - Para o ao 1040, lato e cobre, (a) o aumento no limite de escoamento,

    (b) o aumento no limite de resistncia trao, e (c) reduo na ductilidade. .......... 42

    Figura 4.24 - Variao das propriedades com a quantidade de trabalho a frio. ........ 43

    Figura 4.25 Dureza de vrios produtos de transformao de aos. ....................... 45

    Figura 4.26 Diagrama tempo-temperatura-transformao mostrando os passos no

    processo de ausforming. ........................................................................................... 46

    Figura 4.27 Efeito da martensita revenida no ao. ................................................. 47

    Figura 6.1 Grfico ilustrando a passividade dos ao-cromo expostos durante 10 anos

    a uma atmosfera industrial. ....................................................................................... 51

    Figura 6.2 - Os resultados de medidas quantitativas de caractersticas microestruturais

    P92 aps diferentes tratamentos trmicos: 2h/970C + 2h/1070 C, 2h/1070C +

    2h/715 C, 2h1070C + 775 C (como recebido), 2h/1070C + 835C, 2h/1145C +

    2h/775 C e depois da exposio de fluncia a 600 C para 1500, 10000 e 33000 h.

    .................................................................................................................................. 54

    Figura 6.3 - Densidades deslocamento e larguras de sub gros para P92 aps ensaio

    de fluncia a 600 e 650C. ........................................................................................ 55

    Figura 6.4 - Taxa de fluncia secundria para P91, P92 e E911. ............................. 55

    Figura 6.5 - O efeito de molibdnio na tmpera dos aos com 0,1% em peso de C. 57

    Figura 6.6 - Medidas estatsticas das partculas M23C6 e MX formados em P92 (cabea

    e comprimentos medidos) aps a deformao de fluncia a 600C.......................... 58

  • viii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 4.1 - Efeitos dos elementos de liga nos aos. ............................................... 24

    Tabela 4.2 - Principais elementos de liga e seus efeitos. .......................................... 25

    Tabela 4.3 - Detalhes de aos de alto cromo, composies qumicas em peso %. .. 50

    Tabela 6.1 - Parmetros microestruturais quantitativos para P92 em diferentes

    condies de tratamento trmico e aps ensaio de fluncia. .................................... 52

    Tabela 6.2 - Densidade de deslocamento e tamanho mdio de sub gro de como

    recebeu P91, P92 e Aos E911. ............................................................................... 56

    Tabela 6.3 - Densidade de discordncias em aos P91, P92 e E911 fluncia testado

    a 600C. .................................................................................................................... 56

  • ix

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    Al Alumnio

    ASTM - American Society for Testing and Materials

    B Boro

    BH Bake Hardening

    C Carbono

    Cr Cromo

    Co Cobalto

    Cu Cobre

    Fe Ferro

    FeC Cementita

    H2S cido Sulfdrico

    IF Intersticial Free

    LE Limite de Escoamento

    LR Limite de Resistncia

    Mn Mangans

    Mo Molibdnio

    N Nitrognio

    Nb Nibio

    NBR Norma Brasileira

    Ni Nquel

    Si Silcio

    V Vandio

    V(CN) Carbonitreto de Vandio

    Ti Titnio

    TiN Nitreto de Titnio

    Ti(CN) - Carbonitreto de Titnio

    V Vandio

    W Tungstnio

    Zr Zircnio

    Austenita

    Ferrita

  • x

    RESUMO

    Neste projeto de concluso de curso estudou-se ligas apropriadas ao trabalho a

    quente quando submetidas ao esforo mecnico simultaneamente. Nessas condies

    as ligas ficam mais maleveis e escoam perdendo a resistncia mecnica que pode

    levar uma estrutura ao colapso. Em ligas metlicas quando expostas por muito tempo

    s altas temperaturas de trabalho, muitos fenmenos metalrgicos ocorrem que

    culminam na perda de resistncia mecnica, mas algumas ligas quando adequadas

    quimicamente apresentam uma resistncia satisfatria e estas ligas possuem

    elementos formadores de carbonetos como o Mo, W, Nb, Ti, Cr e C. Os elementos

    fortemente formadores de carbonetos melhoram a temperabilidade dos aos o que

    facilita obter uma microestrutura com martensita que dura e resistente

    mecanicamente e prprias para estruturas em fluncia. Foi identificado que as

    condies trmicas de trabalho destas ligas culminavam com o fenmeno de

    "endurecimento secundrio", o que melhora ainda mais a resistncia ao longo do

    tempo.

    Palavras-chave: Altas temperaturas. Ao. Fluncia. Resistncia mecnica.

  • xi

    ABSTRACT

    In this project course conclusion, we have studied the appropriate hot work when

    subjected to mechanical stress leagues simultaneously. Under these conditions the

    alloys are more malleable and seep losing mechanical strength which can lead to the

    collapse of a structure. In alloys when exposed for a long time at high working

    temperatures , many metallurgical phenomena occur which results in the loss of

    mechanical strength, but some alloys when present an appropriate chemical

    resistance and satisfactory these alloys have carbide forming elements such as Mo,

    W, Nb, Ti, Cr and C. The strong carbide forming elements to improve the hardenability

    of steels which facilitates obtaining a martensite microstructure with which is hard and

    mechanically resistant structures suitable for fluency. It was identified that the thermal

    working conditions these alloys culminated with the phenomenon of "secondary curing"

    which further improves the resistance over time.

    Keywords: High temperatures. Steel. Fluency. Mechanical strength.

  • 12

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. VI

    LISTA DE TABELAS .............................................................................................. VIII

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS ............................................................. IX

    RESUMO .................................................................................................................... X

    ABSTRACT ............................................................................................................... XI

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 13

    2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 15

    2.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 15

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ................................................................................ 15

    3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 16

    4 REVISO BIBLIOGRFICA .................................................................................. 17

    4.1 EFEITOS DA TEMPERATURA NOS AOS ........................................................ 17

    4.1 FENMENOS METALRGICOS NA FLUNCIA ................................................ 19

    4.1.1 Estudo do ensaio de fluncia ........................................................................ 20

    4.1.2 Influncia da temperatura e da tenso nos metais ...................................... 22

    4.2 EFEITOS DOS ELEMENTOS DE LIGA NOS AOS ............................................ 23

    4.3 MECANISMOS DE ENDURECIMENTO DE METAIS .......................................... 28

    4.3.1 Endurecimento por soluo slida ............................................................... 29

    4.3.2 Endurecimento por precipitao ou disperso de partculas .................... 32

    4.3.3 Endurecimento por contornos de gros ...................................................... 37

    4.3.4 Endurecimento por encruamento ................................................................. 40

    5 METODOLOGIA .................................................................................................... 49

    6 DISCUSSO DOS ESTUDOS DOS AOS PARA O CALOR .............................. 50

    7 CONCLUSO ........................................................................................................ 59

    REFERNCIAS ......................................................................................................... 61

  • 13

    1 INTRODUO

    O termo ao compreende um grupo de ligas que difere em sua composio qumica e

    tratamentos de fabricao de modo a obter uma variedade de propriedade mecnica

    que se adequa s diferentes aplicaes.

    Pela variedade de ligas que se pode ter, associado aos tratamentos trmicos que os

    processos produtivos permitem, pode-se obter desde aos extremamente macios

    como o grupo conhecido como IF (intersticial free), passando por aos dcteis que se

    enrijecem, do grupo conhecido como BH (bake hardening), aos grupos estruturais de

    mdia e alta resistncia, ligados que resultam tambm em adequada ductilidade para

    atender diferentes aplicaes. Sem falar nos aos austenticos com elevado

    mangans (ao Hadfield) que endurecem no trabalho a frio, aos da classe CORTEN

    com boa resistncia corroso atmosfrica, aos Inoxidveis e suas variaes para

    trabalho em ambientes agressivos quimicamente, alm dos aos modernos bainticos,

    bifsicos e aos TRIP (transformation induced platicity).

    Atualmente com o desenvolvimento econmico e os investimentos no parque

    industrial dos pases, temos visto que diferentes estruturas so construdas e que

    requerem o ao adequado para uma vida longa em servio.

    Caldeiras e grelhas utilizadas na pelotizao de minrios e no processo siderrgico

    de sinterizao, trocadores de calor, alm de vrios processos em refinarias e

    plataformas de petrleo, so exemplos de aplicaes que requerem um ao estrutural

    para o trabalho a quente.

    Sabe-se que os metais de maneira geral, tm sua propriedade mecnica enfraquecida

    quando a temperatura de servio se eleva. A dureza, limite de escoamento e

    resistncia caem deixando a estrutura vulnervel ao colapso. A este fenmeno,

    chama-se de fluncia e tem sido muito estudado.

    Os desenvolvimentos cientficos e tecnolgicos tm permitido maior domnio na

    elaborao de ligas que se adequam de maneira satisfatria ao trabalho em

  • 14

    temperaturas mais altas. Este projeto de estudo (TCC), foi feita uma reviso

    bibliogrfica sobre os aos adequados ao trabalho a quente.

  • 15

    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Realizar uma reviso bibliogrfica no mecanismo de fluncia e nos aos

    desenvolvidos no mercado para o trabalho em condies de temperaturas mais altas

    do que a ambiente.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    1- Compreender a tcnica de utilizar o ao adequado para cada temperatura de

    servio.

    2- Realizar um estudo que permita o aprofundamento cientfico estudado na

    universidade com as condies de oferta de aos no mercado para o trabalho a

    quente.

  • 16

    3 JUSTIFICATIVA

    Os aos passam por muitas modificaes ao passar do tempo relacionados a fatores

    como: temperatura, tenso, tempo entre outros. Para cada aplicabilidade e

    temperatura o ao se comporta de formas diferentes, devido a isso deve se analisar e

    planejar para saber o que pode ocorrer ao decorrer do tempo, quais ligas possuem

    maior benefcios e quais tratamentos trmicos deve-se aplicar em um determinado

    tipo de ao. Fazendo isto e conhecendo o que elevadas temperaturas resultam no

    ao, a sua durabilidade e qualidade ser bem maior, no acarretando prejuzos como

    a diminuio da dureza, limite de escoamento e resistncia mecnica no material

    exposto a temperaturas crticas, prevenindo defeitos e trocas em um curto perodo de

    tempo de utilizao do ao.

    Para que o ao possa apresentar uma boa qualidade deve-se atentar sobre a sua

    composio qumica utilizando elementos de liga que possam adquirir propriedades

    mecnicas favorveis a utilizao do ao em altas temperaturas aumentando assim

    sua dureza, diminuindo o tamanho de gros o qual aumenta sua resistncia,

    aumentando a fluncia do material, entre outros fatores.

  • 17

    4 REVISO BIBLIOGRFICA

    4.1 EFEITOS DA TEMPERATURA NOS AOS

    As aplicaes dos aos so muitas, e algumas delas so crticas pois envolvem

    condies com altas temperaturas que pode resultar em perda de propriedade

    mecnica e tambm perda metlica por corroso.

    Neste projeto foi revisado a bibliografia presente que aborda fatores a serem

    controlados para minimizar os problemas gerados pela alta temperatura.

    Via de regra os metais tornam-se dcteis quando expostos temperaturas elevadas,

    isso pode se ver no grfico da Figura 4.1 abaixo do comportamento de alguns

    parmetros mecnicos do ao obtidos no ensaio de trao.

    Figura 4.1 - Mudanas das curvas tenso-deformao de engenharia de ao doce com a temperatura.

    Fonte: Dieter (1981).

    H uma reduo no limite de resistncia, limite de escoamento, dureza e mdulo de

    elasticidade dos materiais, conforme Figura 4.2, expostos a temperaturas elevadas.

    Na Figura 4.3 abaixo, o ao-carbono nota-se que a temperatura e o limite de

    resistncia so diretamente proporcionais quando h um pequeno aumento da

    temperatura influenciando tambm num pequeno aumento de limite de resistncia

    mas logo aps h uma reduo drstica (TELLES, 2003).

  • 18

    Figura 4.2 - Variao do mdulo de elasticidade com a temperatura.

    Fonte: Telles (2003).

    Figura 4.3 - Variao do limite de resistncia com a temperatura.

    Fonte: Telles (2003).

    Atravs da Figura 4.4 a seguir, nota-se que por consequncia da reduo da

    resistncia mecnica h um aumento na ductilidade dos materiais causada pela

    elevao de temperatura.

  • 19

    Figura 4.4 - Variao do alongamento com a temperatura para o ao-carbono.

    Fonte: Telles (2003).

    A este fenmeno de perda de propriedade mecnica com a temperatura, chama-se

    fluncia, que limitam muito as aplicaes. Entretanto j existe muito conhecimento

    para aumentar a resistncia dos aos a estas condies.

    Os metais ao serem colocados em servio a temperaturas elevadas, que podem ser

    consideradas acima de temperaturas homlogas e expressada pela razo entre a

    temperatura de teste e o ponto de fuso na escala absoluta de temperatura (Kelvin) e

    sob cargas constantes sofre uma deformao conhecida como fluncia.

    Abordou-se nos pargrafos abaixo a explicao do fenmeno de fluncia e as

    contramedidas j conhecidas.

    4.1 FENMENOS METALRGICOS NA FLUNCIA

    Fluncia o estudo do comportamento dos metais em temperaturas altas. As variveis

    que influenciam este fenmeno so: tenso, deformao, tempo e temperatura, o que

    indica a sua relativa complexidade e a possibilidade de ser traado um grande nmero

    de curvas representativas do fenmeno. bastante visto em materiais que so

    expostos a temperaturas elevadas e carga constante se deformando como por

    exemplo rotores de turbinas em motores a jato e geradores a vapor (DIETER, 1981).

  • 20

    Fluncia definida como sendo a deformao permanente e dependente do

    tempo de materiais, quando estes so submetidos a uma carga ou tenso

    constante, a fluncia em geral um fenmeno indesejvel e, com frequncia,

    o fator de limitao na vida til de uma pea. Ela observada em todos os

    tipos de materiais; para os metais, ela se torna importante apenas a

    temperaturas superiores a aproximadamente 0,47} (7} = temperatura

    absoluta de fuso). (CALLISTER, 2002)

    A fluncia no material acontece aps um certo tempo em que o mesmo est sendo

    forado por uma carga ininterrupta sempre em altas temperaturas facilitando sua

    deformao plstica (CHIAVERINI, 2005).

    4.1.1 Estudo do ensaio de fluncia

    O mecanismo do ensaio de fluncia feito pela descrio de uma norma E139-69 da

    ASTM para encontrar a curva de fluncia. Atravs de uma trao em que a pea

    (corpo de prova) submetida sem variao de temperatura adquirida sua

    deformao ao longo de um certo perodo. Na Figura 4.5 a seguir verifica-se que no

    comeo h uma drstica deformao do material utilizado (0) porm no continua

    durante todo o tempo, diminuindo esta deformao e neste perodo encontrada a

    taxa mnima de fluncia at que aps mais um certo perodo esta deformao a qual

    conhecida como taxa de fluncia volta a crescer ocorrendo a fratura. A tenso e a

    temperatura possui uma forte influncia nos estgios do ensaio (DIETER, 1981).

  • 21

    Figura 4.5 - Curva tpica de fluncia mostrando os trs estgios do processo. Curva A, ensaio de carga constante; curva B, ensaio de tenso constante.

    Fonte: Dieter (1981).

    Na fluncia primria o material aumenta sua resistncia por consequncia de sua

    prpria deformao, na fluncia secundria por j ter sofrido uma certa deformao o

    material fica mais difcil de ocorrer deformao havendo uma certa recuperao do

    material e na fluncia terciria a taxa de deformao aumenta devido ao aumento da

    temperatura e tenses ocorrendo alteraes microestruturais como por exemplo, a

    separao do contorno de gro e a formao de trincas (DIETER, 1981).

    Complementanto Dieter (1981), a fluncia primria caracterizada por uma taxa de

    fluncia continuamente decrescente. A fluncia secundria, a taxa de fluncia se torna

    constante, ou seja, o grfico se torna linear e possui um tempo maior. J na fluncia

    terciria, existe uma acelerao da taxa de fluncia at sua fratura (CALLISTER,

    2002).

    Reforando a teoria de Dieter (1981) e Callister (2002), o ao se alonga em um

    determinado perodo sob carga ininterrupta e temperatura acima de 400C. O

    alongamento do ao ao ser submetido ao fenmeno de fluncia acontece em trs

    perodos como mostrado na Figura 4.6 abaixo. No primeiro (AB) h uma rpida

    deformao, no segundo (BC) o alongamento ainda aumenta porm com menos

    intensidade em um tempo maior comparado aos outros. No terceiro (CD) o

    alongamento aumenta novamente at a sua ruptura (CHIAVERINI, 2005).

  • 22

    Figura 4.6 - Curva de fluncia, determinada em ensaio sob carga constante.

    Fonte: Chiaverini (2005).

    4.1.2 Influncia da temperatura e da tenso nos metais

    Tanto a temperatura como a tenso aplicada influenciam as caractersticas da

    fluncia, como pode-se observar na Figura 4.7. Quando o ao submetido a uma

    temperatura abaixo da temperatura de fuso (0,47Tf), a qual uma temperatura

    homloga para os metais, no se leva em considerao o tempo, pois abaixo desta

    temperatura sua deformao continua inalterada. Aps o ao sofrer uma certa

    deformao inicial, apenas a temperatura e a tenso influencia aumentando a

    deformao por fluncia e reduzindo assim o tempo de vida til at sua fratura

    (CALLISTER, 2002).

  • 23

    Figura 4.7 - Influncia da tenso e da temperatura T sobre o comportamento da fluncia.

    Fonte: Callister (2002).

    Nos itens a seguir ir ser abordado os efeitos dos elementos de liga e os mecanismos

    adotados metalurgicamente para produzir aos de elevada resistncia mecnica.

    4.2 EFEITOS DOS ELEMENTOS DE LIGA NOS AOS

    Os aos quando submetidos a elevadas temperaturas sem a presena de elementos

    de liga no possvel adquirir propriedades mecnicas desejveis. Devido a isso h

    a necessidade de se adicionar elementos de liga para que os aos possam adquirir

    tais tipos de propriedades como:

    Aumentar a dureza e resistncia mecnica;

    Conferir resistncia uniforme atravs de toda a seco em peas de grandes

    dimenses;

    Diminuir o peso (como consequncia do aumento da resistncia);

    Conferir resistncia corroso;

    Aumentar resistncia ao calor;

    Aumentar a resistncia ao desgaste;

    Aumentar a capacidade de corte e

    Melhorar as propriedades eltricas e magnticas (CHIAVERINI, 2005).

  • 24

    Cada elemento de liga possui efeitos diferentes quando adicionados aos aos e para

    cada tipo de aplicabilidade necessita de um tipo de liga detalhado na Tabela 4.1.

    Tabela 4.1 - Efeitos dos elementos de liga nos aos.

    Fonte: Chiaverini (2005). Nota: Dados adaptados pelo autor.

    ElementoInfluncia sobre

    a ferrita

    Influncia sobre a

    austenita

    (Endurecibilidade)

    Principais funes

    No ferro gama No ferro alfaTendncia formadora

    de carbonetos

    Ao durante o

    revenido

    Cr12,8% (20% com

    0,5% C) Sem limites

    Endurece

    ligeiramente;

    aumenta a

    resistncia

    corroso

    Aumenta a

    endurecibilidade

    moderadamente

    Maior que o Mn, Menor

    que o W

    Moderada; Resiste

    diminuio de

    dureza

    1- Aumenta a resistncia

    corroso e oxidao

    2- Aumenta a endurecibilidade

    3- Melhora a resistncia a altas

    temperaturas

    4- Resiste ao desgaste (com

    alto C)

    Mn Sem limites 3%

    Endurece

    acentuadamente -

    reduz um tanto a

    plasticidade

    Aumenta e

    endurecibilidade

    moderadamente

    Maior que o Fe, Menor

    que o Cr

    Muito pequena nos

    teores normais

    1- Contrabalana a fragilidade

    devida ao S

    2- Aumenta a endurecibilidade

    economicamente

    Mo 3% (8% com

    0,3% C) 37,5%

    Produz o

    sistema

    endurecvel por

    precipitao nas

    ligas Fe-Mo

    Aumenta a

    endurecibilidade

    fortemente (Mo>Cr)

    Forte; maior que o Cr

    Ope-se

    diminuio de

    dureza criando a

    dureza secundria

    1- Eleva a temperatura de

    crescimento de gro da

    austenita

    2- Produz maior profundidade de

    endurecimento

    3- Contrabalana a tendncia

    fragilidade de revenido

    4- Eleva a dureza a quente, a

    resistncia a quente e a fluncia

    5- Melhora a resistncia

    corroso dos aos inoxidveis

    6- Forma partculas resistentes

    abraso

    Ti 0,75% (1% com

    0,20% C) 6%

    Produz sistema

    endurecvel por

    precipitao em

    ligas Ti-Fe com

    alto Ti

    Provavelmente

    aumenta muito a

    endurecibilidade no

    estado dissolvido.

    Os efeitos de

    carbonetos

    reduzem-na.

    A maior conhecida

    Carbonetos

    persistentes

    provavelmente no

    afetados. Algum

    endurecimento

    secundrio

    1- Reduz a dureza martenstica

    e a endurecibilidade em aos ao

    Cr de mdio Cr

    2- Impede a formao de

    austenita em aos de alto Cr

    W 6% (11% com

    0,25% C) 33%

    Idem em ligas W-

    Fe com alto W

    Aumenta a

    endurecibilidade

    fortemente em

    pequenos teores

    Forte

    Ope-se

    diminuio de

    dureza por

    endurecimento

    secundrio

    1- Forma partculas duras e

    resistentes ao desgaste em

    aos-ferramenta

    2- Promove dureza e resistncia

    a altas temperaturas

    V 1% (4% com

    0,20% C) Sem limites

    Endurece

    moderadamente

    por soluo

    slida

    Aumenta muito

    fortemente a

    endurecibilidade do

    estado dissolvido

    Muito forte

    (V

  • 25

    A Tabela 4.2 mostra o efeito de alguns elementos de liga na microestrutura dos aos.

    Tabela 4.2 - Principais elementos de liga e seus efeitos.

    Fonte: Metals Handbook (1983).

    Os elementos de liga tem influncia nas fases austentica e ferrtica, tanto expandindo

    o domnio formando austenita como contraindo o domnio formando ferrita. O

    nquel e o mangans em altas concentraes eliminam totalmente a fase- ccc, a qual

    substituda pela fase a temperatura ambiente ampliando-a como na Figura 4.8 (a).

    Com a adio de carbono e nitrognio h expanso do domnio , conforme Figura

    4.8 (b), permitindo a formao de uma soluo slida homognea (austenita),

    contendo 2,0 %p de carbono e 2,8 %p de nitrognio. O silcio, o alumnio, o berlio e

    o fsforo em conjunto com os elementos formadores de carbonetos, como o titnio, o

    vandio, o molibdnio e o cromo restringem a formao de ferro , originando uma

    ilha ilustrada na Figura 4.8 (c), formando ferro . O elemento boro em conjunto com

    os elementos tntalo, nibio e zircnio faz com que a ilha se contrai como na Figura

    4.8 (d) (HONEYCOMBE, 1984).

  • 26

    Figura 4.8 - Classificao dos diagramas de fase binrios de ferro: a) domnio- aberto; b) domnio- expandido; c) domnio- fechado; d) domnio- contrado.

    Fonte: Honeycombe (1984).

    Na Figura 4.9 a seguir, mostra o poder relativo dos elementos de liga (H) em que os

    estabilizadores de ferrita , como se ver na Figura 4.9 (a), so os elementos

    formadores de ferrita e os estabilizadores de austenita como na Figura 4.9 (b) so

    os elementos formadores de austenita.

  • 27

    Figura 4.9 - Poder estabilizador relativo dos elementos de liga: a) estabilizadores de ferrita; b) estabilizadores de austenita.

    Fonte: Maalekkian (2007).

    Os elementos de liga podem formar ou no carbonetos dependendo de sua

    solubilidade. O Ni, Si, Co, Al, Cu e N no so formadores de carbonetos no ao, devido

    a isso no altera as microestruturas formadas aps transformao, assim a cementita

    no substituda por carbonetos. J o Cr, Mn, Mo, W, V, Ti, Zr, e Nb h uma forte

    formao de carbonetos (MAALEKKIAN, 2007).

    Pode-se notar que o Ti por possuir uma Entalpia de formao (H) muito maior do

    que os elementos Cr e Mo que por sinal tambm so estabilizadores de ferrita ,

    conforme ilustra na Figura 4.9, alm de mudanas na temperatura e composio

    eutetide, apenas 1% em peso de Ti elimina a ilha , entretanto 20% em peso de Cr

    necessrio para chegar a este ponto e 7% em peso de Mo aproximadamente, j o

    Mn diminui a fase ferrita por ser estabilizador de austenita, conforme mostra a Figura

    4.10 (HONEYCOMBE, 1984).

  • 28

    Figura 4.10 - Efeito de adies de liga no domnio da fase : (a) de Mn, (b), Mo (c) Cr; (d) Ti.

    Fonte: Maalekkian (2007). Nota: Dados adaptados pelo autor.

    4.3 MECANISMOS DE ENDURECIMENTO DE METAIS

    Os metais respondem muito facilmente s alteraes em sua qumica ou aos

    tratamentos trmicos, que os fazem mudar seu comportamento mecnico, seja

    ganhando resistncia, ductilidade, tenacidade, entre outras propriedades.

    O aumento da resistncia mecnica baseia-se nos conhecimentos tradicionais

    cientficos, como:

    Endurecimento por soluo slida;

  • 29

    Endurecimento por precipitao ou disperso de partculas;

    Endurecimento por contornos de gro;

    Endurecimento por encruamento, entre outros.

    Nos itens a seguir ir ser abordado estes mecanismos importantes.

    4.3.1 Endurecimento por soluo slida

    Para aumentar a resistncia e endurecer metais, devem ser formadas ligas com

    tomos de impurezas para que entrem em soluo slida substitucional ou intersticial.

    Os tomos de soluto ocupam lugares da rede cristalina de um metal, os quais

    provocam distoro na rede e para diminuir a energia do material procuram lugares

    onde se acomodam mais facilmente que so junto s discordncias, com isso h

    dificuldades de movimentao das discordncias aumentando a resistncia no

    material.

    Os tomos de soluto ocupam parte da rede cristalina do tomo solvente que se

    diferenciam pelo tamanho. Quando os tamanhos dos tomos de soluto for maior ou

    semelhante do que do solvente, os tomos de soluto ocupam parte da rede cristalina

    do tomo solvente e exercer deformaes compressivas sobre a vizinhana, o qual

    chamada de soluo slida substitucional. Uma outra forma, a qual chama-se

    soluo slida intersticial, os tomos de impurezas (soluto) so bem menores que os

    tomos do metal base (solvente), ocupando assim as posies intersticiais na rede

    cristalina do solvente e exercer deformao de trao sobre a mesma. Os elementos

    que geralmente formam as solues slidas intersticiais so: carbono, nitrognio,

    oxignio, hidrognio e boro. As Figuras 4.11 (a) e 4.11 (b) abaixo mostram como so

    ocupados os vazios deixados pelos tomos (DIETER, 1981).

    Estes tomos de soluto tendem a se difundir e se agregar ao redor das discordncias

    de modo a diminuir a energia global de deformao, ou seja, anulando parte da

    deformao na rede no entorno de uma discordncia (CALLISTER, 2002).

  • 30

    Figura 4.11 - tomos de impurezas (a) Soluo Slida Substitucional e (b) Soluo Slida Intersticial.

    (a) (b)

    Fonte: Oliveira (2002).

    Os fatores que contribuem para o endurecimento por soluo slida so:

    Fator de tamanho relativo;

    Fator do mdulo relativo;

    Interao eltrica;

    Interao qumica;

    Interao configuracional.

    Para o aumento da resistncia e endurecimento de metais pode ser adquirido atravs

    de ligas com tomos de impurezas, estes tomos so mais duros e mais fortes

    comparados com as ligas compostas pelo mesmo metal como base. Ao aumentar a

    concentrao de impurezas, consequentemente o limite de resistncia trao e

    limite de escoamento aumentam conforme ilustram as Figuras 4.12 (a) e 4.12 (b) para

    o nquel no cobre. A Figura 4.12 (c) mostra a importncia da ductilidade em funo da

    concentrao de nquel (CALLISTER, 2002).

  • 31

    Figura 4.12 - (a) Variao do limite de resistncia trao, (b) Variao do limite de escoamento, e (c) Variao da ductilidade (percentual de alongamento) em funo do teor de nquel para ligas

    cobre-nquel, mostrando o aumento da resistncia.

    Fonte: Callister (2002).

    Os elementos que no formam carbonetos no ao como o nquel, silcio, cobalto e

    alumnio, ou seja, no se dissolvem no ao formando compostos qumicos com o ferro

    tem a possibilidade de estar presente no ao como soluo slida. O cobre e o

    nitrognio tambm so considerados no formadores de carbonetos porm o cobre

    se dissolve no ferro em at 1% em temperaturas consideradas normais, se o teor de

    cobre for maior que 7%, o cobre fica no estado livre como incluso metlica. O

    nitrognio tem uma solubilidade de at 0,015% na ferrita, quando ultrapassa este valor

    o nitrognio se encontra na microestrutura sob forma de nitretos com o ferro ou com

    outros elementos como: vandio, alumnio, titnio e cromo. J os elementos de liga

    que formam carbonetos estveis como o cromo, mangans, molibdnio, tungstnio,

    vandio, titnio, zircnio e nibio, podem ser encontrados no ao na forma de

    compostos qumicos de carbono e ferro ou estarem presentes como soluo slida.

    Isto depende da quantidade de carbono e de outros elementos de liga presentes. Se

  • 32

    um ao contm pouco carbono e uma grande quantidade de elementos de liga, o

    carbono formar carbonetos e os elementos de liga no sero totalmente consumidos

    formando soluo slida por estar em excesso (MAALEKIAN, 2007).

    Os elementos de liga que formam solues slidas na ferrita afetam a sua dureza

    provocada pela soluo slida substitucional conforme mostrado na Figura 4.13

    abaixo. O Si e Mn concede um efeito maior sobre a dureza da ferrita, enquanto Cr d

    menor aumento da dureza (MAALEKIAN, 2007).

    Figura 4.13 - Efeito da adio de elementos de liga na dureza da ferrita.

    Fonte: Maalekian (2007).

    4.3.2 Endurecimento por precipitao ou disperso de partculas

    Uma segunda fase com composio e caractersticas distintas so apresentadas no

    material acarretando distoro na rede, consequentemente dificultando as

    discordncias em se movimentarem atravs destas partculas (ex: carbonetos).

  • 33

    O endurecimento por precipitao ocorre quando partculas finamente dispersas de

    uma segunda fase precipitam no interior da matriz da fase principal, atravs de

    tratamentos trmicos de solubilizao, seguida de tmpera para saturar a soluo

    slida e o envelhecimento ou formao de precipitados os quais so duros e finos que

    dificultam o movimento de discordncias e aumentam a resistncia mecnica. H dois

    tipos de disperso de partculas:

    Disperso de partculas incoerentes: este tipo de disperso mais encontrado.

    Os precipitados ou fases incoerentes no apresentam uma ordenao entre os

    reticulados cristalinos do precipitado e matriz como pode-se observar na Figura 4.14

    e Figura 4.15 abaixo (MOREIRA, acesso em 14 nov. 2013).

    Figura 4.14 - Al (CFC) e AlCu2 (fase - ortorrmbica)

    Fonte: Moreira (acesso em 14 nov. 2013). Nota: Dados adaptados pelo autor.

  • 34

    Figura 4.15 - Microestrutura de um ao SAE 1060 esferoidizado, evidenciando os precipitados incoerente de cementita (Fe3C).

    Fonte: Moreira (acesso em 14 nov. 2013).

    Disperso de Partculas Coerentes: os precipitados coerentes apresentam a

    mesma estrutura cristalina da matriz. Os precipitados coerentes esquematizados na

    Figura 4.16 so mais endurecedores que precipitados incoerentes, pois so bem

    menores podendo se dispersar mais e assim restringindo o movimento de

    discordncias. Isto pode ocorrer por dois meios: uma discordncia pode cortar ou

    contornar uma partcula de segunda fase (Figura 4.17). Em ambos os casos, ocorre

    um aumento de resistncia ao deslizamento da discordncia, ou seja, um

    endurecimento do material (MOREIRA, acesso em 14 nov. 2013).

  • 35

    Figura 4.16 - Liga de alumnio 7150 (6,2%Zn, 2,3%Cu, 2,3%Mn, 2,3%Mg e 0,12%Zr) endurecida por precipitao coerente).

    Fonte: Moreira (acesso em 14 nov. 2013). Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Figura 4.17 - Discordncia cortando uma partcula.

    Fonte: Dieter (1981).

    A formao de uma segunda fase insolvel distribuda na matriz aumenta a resistncia

    mecnica devido ao endurecimento por disperso de partculas. Para o

    endurecimento por precipitao ocorrer necessrio que a segunda fase seja solvel

  • 36

    em temperaturas elevadas mas que diminua a sua solubilidade com o decrscimo da

    temperatura (DIETER, 1981).

    Na austenita possvel realizar a redistribuio da cementita ao aquecer o ao at a

    regio austentica para que ocorra a sua solubilizao, devido a solubilidade da

    austenita ser maior do que na ferrita. A Figura 4.18 abaixo, mostra os produtos de

    solubilidade de carbonetos e nitretos na austenita em funo da temperatura. Os

    carbonetos e nitretos de vandio, titnio e nibio so menos solveis na austenita do

    que a cementita. J os carbonetos de cromo, molibdnio e vandio so mais solveis

    na austenita do que os outros carbonetos, ou seja, para que estes carbonetos se

    precipitem deve-se adicionar uma quantidade maior do que 10%p, o qual uma

    quantidade bastante elevada, portanto estes carbonetos se precipitam em maiores

    quantidades na ferrita. O nibio e titnio em concentraes superiores a 0,25%p

    formam carbonetos de liga alm do necessrio, consequentemente o excesso de

    elemento metlico ficar em soluo slida tanto na ferrita como na austenita, portanto

    ao se dissolver na austenita estando em temperaturas elevadas de solubilizao h

    um efeito prejudicial nas estruturas dos materiais (HONEYCOMBE, 1984).

    Figura 4.18 - Produtos da solubilidade de carbonetos e nitretos na austenita em funo da

    temperatura.

    Fonte: Honeycombe (1984).

  • 37

    4.3.3 Endurecimento por contornos de gros

    O contorno de gro o limite entre dois gros vizinhos, que possuem orientaes

    cristalinas diferentes, devido a isto h distores na rede cristalina. Um material com

    granulometria mais refinada h menos movimentos de discordncias alm de elevada

    dureza por ter uma rea total de contornos de gros maior dificultando o

    escorregamento dos tomos e isso leva a uma resistncia mecnica e tenacidade

    elevada por restringir este movimento (MOREIRA, acesso em 14 nov. 2013).

    Complementando Moreira (acesso em 14 nov. 2013), os materiais metlicos

    apresentam correlao do limite de escoamento com o inverso do tamanho de gro

    como pode-se notar na equao de Hall-Petch abaixo (DIETER, 1981).

    Onde:

    y - limite de escoamento;

    d - tamanho mdio do gro;

    0 e ky - constantes particulares do material.

    A Figura 4.19 mostra que o tamanho ou dimetro mdio de gros podem possuir

    direes cristalogrficas diferentes e planos de escorregamentos no alinhados,

    formando uma barreira impedindo a passagem dos gros (CALLISTER, 2002).

  • 38

    Figura 4.19 - O movimento de uma discordncia medida que ela encontra um contorno de gro, ilustrando como um contorno atua como uma barreira ao caminhar da discordncia.

    Fonte: Callister (2002).

    Em contornos de gro de alto ngulo, se as discordncias no ultrapassarem o

    contorno de gro durante a deformao, podem gerar uma concentrao de tenso

    frente do plano de escorregamento em um gro, criando novas discordncias em um

    gro adjacente. Ao contrrio dos contornos de gro em alto ngulo os contornos de

    baixo ngulo no so eficazes em dificultar o movimento das discordncias, devido

    leve mudana na direo cristalogrfica atravs do contorno de gro. (CALLISTER,

    2002).

    O refino de gro no processo de laminao controlada proporciona aos aos melhores

    propriedades mecnicas, boa tenacidade e boa soldabilidade (NUNEZ, 2006).

    A Figura 4.20 mostra que o processo de laminao controlada possui trs etapas:

    regio de recristalizao, regio de no-recristalizao e laminao na regio bifsica

    (+) (NUNEZ, 2006).

  • 39

    Figura 4.20 - Ilustrao esquemtica de mudanas microestruturais na laminao controlada.

    Fonte: Nunez (2006).

    Elementos como nibio, vandio, titnio e alumnio so muito utilizados em laminao

    controlada para refino de gro sendo que o nibio o mais favorvel, sua solubilidade

    na austenita menor, favorecendo a formao de carbetos e nitretos, assim, um

    considervel refino de gro pode ser atingido. A Figura 4.21 apresenta um ao

    contendo cerca de 0,05 % em peso de Ti ou Nb e 0,2% em peso de C, o nibio e

    carbonetos de titnio no se dissolvem at que a temperatura ultrapasse 1200 C

    (MAALEKIAN, 2007).

  • 40

    Figura 4.21 - Linhas isotrmicas de solubilidade de carboneto de nibio, carboneto de titnio e nitreto de vandio em diferentes temperaturas.

    Fonte: Maalekian (2007).

    4.3.4 Endurecimento por encruamento

    O mecanismo de encruamento que pode ser chamado de endurecimento a frio ("cold

    hardening") pelo fato de o material ser deformado a uma temperatura abaixo da

    temperatura de fuso ou endurecimento por trabalho mecnico ("work hardening"),

    tem a finalidade de transformar um metal dctil mais resistente e com maior dureza

    quando o mesmo sofre uma deformao plstica, pois a sua resistncia a deformao

    aumenta. A Figura 4.22 abaixo mostra a influncia do trabalho a frio sobre o

    comportamento tenso-deformao de um ao (MOREIRA, acesso em 14 nov. 2013).

  • 41

    Figura 4.22 - Influncia do trabalho a frio sobre o comportamento tenso-deformao para um ao com baixo teor de carbono.

    Fonte: Callister (2002).

    Pode-se notar na Figura 4.23 (a) e 4.23 (b) que com o aumento do trabalho a frio

    aumenta-se tambm o limite de escoamento e limite de resistncia trao dos

    materiais, porm devido a este aumento acarreta prejuzo na ductilidade do material

    tornando-o mais resistente e frgil como pode-se observar na Figura 4.23 (c)

    (CALLISTER, 2002).

  • 42

    Figura 4.23 - Para o ao 1040, lato e cobre, (a) o aumento no limite de escoamento, (b) o aumento no limite de resistncia trao, e (c) reduo na ductilidade.

    Fonte: Callister (2002).

    Utiliza-se o encruamento para o endurecimento de ligas ou metais que no apreciam

    o tratamento trmico. H um grau de encruamento que pode ser visto pela inclinao

    da curva de escoamento. Com o aumento da temperatura durante a deformao pode

    diminuir a taxa de encruamento. Em ligas endurecidas por adio em soluo slida,

    a taxa de encruamento pode ser aumentada ou diminuda, em comparao com o

    metal no estado puro, mas o que se observa geralmente que as ligas apresentam

  • 43

    maior resistncia do que o metal puro sofrendo o mesmo trabalho frio (DIETER,

    1981).

    Atravs da Figura 4.24, pode-se observar a variao da resistncia e da ductilidade

    com o aumento da quantidade de trabalho frio. No trabalho a frio, uma ou duas

    dimenses so reduzidas devido ao aumento de outras, h elongao dos gros na

    direo de trabalho. Ao ocorrer grandes deformaes, os gros se reorganizam em

    uma orientao preferencial. Pode ocorrer uma pequena reduo na densidade, uma

    perda considervel de condutividade eltrica pelo aumento da quantidade de centros

    espalhadores, um pequeno aumento do coeficiente de expanso trmica ocorre

    tambm da reatividade qumica devido ao aumento da energia interna. Isso possibilita

    um decrscimo da resistncia corroso e pode causar trincas de corroso sob

    tenso no material (DIETER, 1981).

    Figura 4.24 - Variao das propriedades com a quantidade de trabalho a frio.

    Fonte: Dieter (1981).

    Altas taxas de encruamento acarretam vrias obstrues de discordncias deslizantes

    nos sistemas de deslizamento que se cortam. Isso pode ocorrer:

  • 44

    Mediante interaes dos campos de tenso das discordncias e que

    provocam discordncias bloqueadas;

    Mediante interpenetrao de um sistema de deslizamento por outro que

    originam a formao de degraus de discordncias.

    A multiplicao do nmero de discordncias durante a deformao de um metal reduz

    o caminho livre entre discordncias, reduzindo sua movimentao (DIETER, 1981).

    Pode-se atentar que este mecanismo no se aplica para aos que iro trabalhar a

    quente pois a temperatura pode promover um recozimento e reduzir a resistncia

    mecnica do ao como por exemplo a densidade de discordncias.

    Recozimento

    o tratamento trmico realizado com o fim de alcanar um ou vrios seguintes

    objetivos: remover tenses devidas ao tratamentos mecnico a frio ou a quente,

    diminuir a dureza para melhorar a usinabilidade do ao, alterar as propriedades

    mecnicas como resistncia, ductilidade, modificar os caractersticos eltricos e

    magnticos, ajustar o tamanho de gro, regularizar a textura bruta, remover gases,

    produzir uma microestrutura definida, eliminar enfim os efeitos de quaisquer

    tratamento trmicos ou mecnicos a que o ao tiver sido anteriormente submetido

    (CHIAVERINI, 2005).

    Tmpera

    Tem como objetivo obter estrutura martenstica para se obter aumento na dureza,

    aumento na resistncia trao e reduo na tenacidade. Aps austenitizao o ao

    resfriado rapidamente com velocidade maior ou igual a velocidade crtica de

    resfriamento. A tmpera gera tenses ento deve-se fazer revenido posteriormente.

    O nvel de resistncia alta da martensita favorecida pela reduzida espessura de

    maclas no interior das placas e tambm pela alta densidade de discordncias, ou seja,

  • 45

    a cada 1 centmetro quadrado possui 1011 a 1012 discordncias contidas em blocos

    que constroem barreiras para intervir o deslizamento. Uma outra caraterstica da

    martensita a quantidade de carbono mostrado na Figura 4.25 abaixo, que adquire

    uma elevada dureza com baixa concentrao em relao aos outros tipos de

    transformao (KELLY ; NUTTING, 1955 apud DIETER, 1981).

    Figura 4.25 Dureza de vrios produtos de transformao de aos.

    Fonte: Dieter (1981).

    Atravs de uma pesquisa desenvolvida, foi identificado que a martensita formada a

    partir da matriz austentica a qual tem um expressivo aumento de dureza. Para que

    acontea essa formao de martensita, a austenita precisa ser resfriada e deformada

    em um curto intervalo de tempo, normalmente por laminao, e temperada a

    temperaturas abaixo de Ms antes que seja transformada em perlita ou baianita para

  • 46

    que no torne o ao dctil por um processo chamado ausforming ilustrado na Figura

    4.26, aumentando assim a sua densidade de discordncia se tornando bem

    distribudas alm de aumentar o limite de escoamento (KELLY ; NUTTING, 1955 apud

    DIETER, 1981).

    Figura 4.26 Diagrama tempo-temperatura-transformao mostrando os passos no processo de ausforming.

    Fonte: Dieter (1981).

    Este mecanismo no se aplica eficientemente em aplicaes que envolvem elevadas

    temperaturas, pois o aquecimento funciona como o revenido da martensita que reduz

    a sua propriedade mecnica.

    Revenido da Martensita

    A martensita por se tratar de uma estrutura supersaturada em carbono deve-se passar

    por um tratamento trmico de revenido formando martensita revenida que nada mais

    do que ferrita + cementita (perlita) a qual tambm bem dura porm suas

    propriedades como a ductilidade e tenacidade so melhoradas, pois a ferrita

    bastante dctil e tenaz alm de aumentar o nmero de contornos e a cementita por

    apresentar partculas finas reforando os contornos da ferrita (barreiras de

  • 47

    discordncias), porm se aplicado por um perodo longo a elevadas temperaturas as

    partculas de cementita se coalescem reduzindo a dureza. Na Figura 4.27 abaixo

    mostra a relao do percentual de carbono e a dureza da martensita e perlita com

    uma dureza intermediria da martensita temperada devido a explicao acima

    (CANALE, acesso em 11 abr. 2014).

    Figura 4.27 Efeito da martensita revenida no ao.

    Fonte: Canale (acesso em 11 abr. 2014). Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Esferoidizao

    A esferoidizao origina uma forma globular ou esferoidal de carboneto no ao atravs

    de um aquecimento e resfriamento, tendo como finalidade melhorar a usinabilidade

    principalmente de aos com elevado teor de carbono.

    Algumas tcnicas de esferoidizar a estrutura so: aquecimento a uma temperatura

    logo acima da linha inferior de transformao, seguido de esfriamento lento;

    aquecimento por tempo prolongado a uma temperatura logo abaixo da linha inferior

    de zona crtica, o qual este tratamento tambm chamado de recozimento subcrtico

  • 48

    e aquecimento e resfriamento alternados entre temperaturas que esto logo acima e

    logo abaixo da linha de transformao inferior (CHIAVERINI, 2005).

    Os meios de endurecimento ou mudana de comportamento revisados acima, servem

    a entender como o metal tem sua propriedade alterada temperatura ambiente,

    entretanto quando adiciona-se a varivel temperatura, mais elevada do que a

    ambiente, mudanas so esperadas que aconteam e que podem tornar o

    comportamento do metal, ora resistente por exemplo, tornar-se dctil e malevel,

    perdendo suas propriedades originais.

  • 49

    5 METODOLOGIA

    Este trabalho de concluso de curso no teve ensaios mecnicos mas sim foi focado

    nos estudos recentes de aos desenvolvidos no mercado para o trabalho em

    situaes que envolvam temperaturas altas e tenso aplicada.

    Neste projeto foi feita uma reviso bibliogrfica extensa e foi analisado estudos de

    outros autores e retirou-se as concluses das composies qumicas e

    microestruturas mais adequadas para esta aplicao.

  • 50

    6 DISCUSSO DOS ESTUDOS DOS AOS PARA O CALOR

    Os autores Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003) estudaram aos em testes de

    fluncia, cujo objetivo foi analisar o comportamento de diferentes aos com suas

    composies qumicas diversas, avaliando o efeito dos elementos microligantes (Nb,

    V, Cr, Mo e W que so endurecedores formadores de carbonitretos alm de

    aumentarem a temperabilidade, o que facilita obter a martensita dura e resistente) e

    das condies de temperaturas do tratamento trmico de tmpera e revenido. Pode-

    se notar que os melhores aos tem mais Cr e W endurecedores que o caso do P92

    e E911.

    A composio qumica destes aos pode ser vista na Tabela 4.3.

    Tabela 4.3 - Detalhes de aos de alto cromo, composies qumicas em peso %.

    Fonte: Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003).

    Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Observa-se que os aos para o trabalho a quente possuem cromo adicionado

    intencionalmente devido conhecida propriedade de resistncia oxidao conferida

    por esse elemento como pode-se ver na Figura 6.1 abaixo.

  • 51

    Figura 6.1 Grfico ilustrando a passividade dos ao-cromo expostos durante 10 anos a uma atmosfera industrial.

    Fonte: Chiaverini (2005).

    Todos os aos estudados para o trabalho a quente foram tratados termicamente por

    tmpera e apresentaram uma microestrutura martenstica cuja resistncia mecnica

    foi elevada devido aos carbonetos precipitados que resultaram pela quantidade de

    microligantes presentes. Esta microestrutura martenstica importante para esta

    aplicao por tratar-se de aos estruturais.

    As condies de austenitizao empregadas neste estudo, foram detalhadas pois os

    pesquisadores observaram que a microestrutura e propriedade mecnica resultante

    variavam em funo das condies trmicas da tmpera e revenido.

    No tipo de ao P92, 3 condies de austenitizao foram empregadas, 970, 1070 e

    1145C, e os pesquisadores observaram algumas importantes caractersticas que

    podemos resumir abaixo:

    As condies trmicas usadas resultaram na martensita com alta densidade de

    discordncia, alm de ilhas isoladas de austenita retida;

  • 52

    Dentro das ripas de martensita foi observado precipitados de carbono do tipo

    M3C;

    As condies de revenido propiciaram a precipitao de carbonetos, nitretos e

    carbonitretos;

    Nos aos estudados observou-se que os carbonetos M23C6, continham Cr, Fe,

    Mo e W e precipitavam preferencialmente nos contornos dos gros austenticos

    prvios e nos limites das ripas de martensita.

    A Tabela 6.1 abaixo resume algumas condies. Chama ateno ao analisarmos as

    diferenas dos tratamentos ocorridos nas condies:

    1 - Austenitizado a 970C e revenido a 775C;

    2 - Austenitizado a 1070C e revenido a 775C e;

    3 - Austenitizado a 1145C e revenido a 775C.

    Tabela 6.1 - Parmetros microestruturais quantitativos para P92 em diferentes condies de tratamento trmico e aps ensaio de fluncia.

    Fonte: Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003).

    Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Observa-se que as larguras das ripas de martensita, chamada pelo autor de "sub-

    grain width", resultaram mais finas, 0,38 micrometro, para a temperatura de

    austenitizao a 970C e mais grossas com 0,58 micrometro para a mais alta condio

    de austenitizao (1145C). Estes pesquisadores concluram que a razo deste refino

  • 53

    das larguras das ripas de martensita deveu-se aos carbonetos do tipo M23C6 que se

    dissolveram em temperaturas mais altas de austenitizao permitindo o crescimento

    do gro austentico primrio e isso afetou a largura da martensita final. Importante

    salientar que a menor largura das ripas martensticas tem o mesmo efeito de

    endurecimento mecnico que os tamanhos de gro refinados que ocorrem por

    laminao controlada.

    Os aos adequados para o trabalho a quente devem ser aqueles que apresentam a

    maior resistncia ao "amolecimento", ou seja que resiste perda de resistncia

    mecnica, que resultado de mudanas microestruturais que podem ocorrer no ao,

    motivadas pela temperatura alta de servio. Exemplos do que pode ocorrer so:

    Coalescimento de precipitados;

    Precipitao de carbonetos reduzindo a saturao de carbono da martensita;

    Recuperao de defeitos como lacunas;

    Reduo da densidade de discordncias;

    Recristalizao e;

    Crescimento do gro.

    Com intuito de observar essas possveis mudanas motivadas pela temperatura, os

    pesquisadores observaram as alteraes geradas na microestrutura da martensita

    revenida quando exposta s temperaturas de 600 e 650 C.

    Em todos os casos estudados por Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003), observaram

    uma queda acentuada da densidade de discordncias que foram geradas pela

    transformao martenstica.

    Um resumo do investigado por estes autores pode ser visto na Figura 6.2 abaixo.

  • 54

    Figura 6.2 - Os resultados de medidas quantitativas de caractersticas microestruturais P92 aps diferentes tratamentos trmicos: 2h/970C + 2h/1070 C, 2h/1070C + 2h/715 C, 2h1070C + 775 C (como recebido), 2h/1070C + 835C, 2h/1145C + 2h/775 C e depois da exposio de fluncia a 600 C para 1500, 10000 e 33000 h.

    Fonte: Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003). Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Nesta Figura 6.2 vemos alm da queda da densidade de discordncias, h um

    aumento na largura das ripas de martensita, e um aumento do dimetro mdio dos

    carbonetos (coalescimento de precipitados) do tipo M23C6 e carbonetos, nitretos e

    carbonitretos do tipo M(C, N) exemplos de NbC, VC, VN, NbN. Numa anlise

    detalhada os autores verificaram os carbonetos do tipo M23C6 contm Cr, Fe, Mo e W.

    As alteraes apresentadas acima e que podem tambm ser vistas na Figura 6.3

    fazem com que os aos percam a sua propriedade mecnica e ganhem ductilidade

    deformando-se. Estes so efeitos indesejveis para a aplicao de ao que envolva

    calor. Entretanto, mesmo com a deformao gerada pela maior ductilidade, existem

    aos que tem melhor desempenho do que outros e este o ponto-chave desta

    aplicao.

  • 55

    Figura 6.3 - Densidades deslocamento e larguras de sub gros para P92 aps ensaio de fluncia a 600 e 650C.

    Fonte: Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003).

    Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003) avaliaram a taxa de deformao por fluncia

    (estgio secundrio) e sumarizou na Figura 6.4. Este grfico mostra que o ao P92

    tem melhor desempenho do que os demais em qualquer temperatura de trabalho (600

    ou 650C).

    Figura 6.4 - Taxa de fluncia secundria para P91, P92 e E911.

    Fonte: Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003).

    Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Os autores mostraram uma comparao entre os aos P91, P92 e E911, o P92 tem

    antes do ensaio de fluncia maior densidade de discordncias (Tabela 6.2) do que os

    demais, e ainda tem a largura das ripas refinadas. Depois do teste de Fluncia, a

    Tabela 6.3 mostra que os resultados indicam uma menor perda desta densidade de

    discordncias ao longo do tempo para o P92.

  • 56

    Tabela 6.2 - Densidade de deslocamento e tamanho mdio de sub gro de como recebeu P91, P92 e Aos E911.

    Fonte: Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003).

    Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Tabela 6.3 - Densidade de discordncias em aos P91, P92 e E911 fluncia testado a 600C.

    Nd no determinado

    Fonte: Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003). Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Essa maior resistncia perda de resistncia mecnica do ao P92, foi atribuda aos

    precipitados do tipo VN e Nb (C, N) que precipitam entre as ripas martensticas e

    atuam como obstculos ao movimento das discordncias durante a deformao

    ocorrida no ensaio de fluncia, alm disso os precipitados do tipo M23C6, retardam o

    crescimento das ripas martensticas e dos gros reforando a resistncia mecnica.

    A precipitao destes precipitados foi, durante o ensaio, induzida pela tenso aplicada

    e houve um crescimento mdio destes precipitados (coalescimento) ilustrado na

    Figura 6.6, este tipo de ocorrncia foi tambm relatado em aos ao cromo feita por

    Eggeler et al., 1987; Schaffernak et al., 1998 ; Httesrand & Andrn, 2001 apud Ennis

    e Czyrska-Filemonowicz, 2003.

    O endurecimento comentado no pargrafo anterior um fato conhecido

    cientificamente e mencionado no artigo de Maalekian (2007). Este fenmeno

    conhecido como "endurecimento secundrio" que algumas ligas temperadas

    apresentam quando tem a presena de elementos fortemente formadores de

    carbonetos (Mo, W, Nb, Ti, Cr) como estas mencionadas neste projeto de TCC, e so

    submetidas ao revenido em temperaturas da ordem de 500 a 600 C. Nesta condio

    trmica ocorre a precipitao de carbonetos que resultam num aumento de resistncia

  • 57

    mecnica fluncia. Um exemplo desta situao est na Figura 6.5 abaixo que

    demonstra o efeito do Mo.

    Figura 6.5 - O efeito de molibdnio na tmpera dos aos com 0,1% em peso de C.

    Fonte: Maalekkian (2007). Nota: Dados adaptados pelo autor

  • 58

    Figura 6.6 - Medidas estatsticas das partculas M23C6 e MX formados em P92 (cabea e

    comprimentos medidos) aps a deformao de fluncia a 600C.

    . Fonte: Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003).

    Nota: Dados adaptados pelo autor.

    Neste estudo os autores Ennis e Czyrska-Filemonowicz (2003) no identificaram pela

    composio qumica a razo pela qual o ao P92 melhor do que os demais aos.

    Alguma relao da qumica foi estudada por Mesquita e Barbosa (2005) que

    estudaram aos para o trabalho a quente e relataram que o teor de cromo alto gera

    carbonetos secundrios do tipo M7C3 que atrai o Mo em soluo slida e reduz a

    formao dos carbonetos de Mo do tipo M2C, esse fato piora a resistncia fluncia.

  • 59

    7 CONCLUSO

    Foi feita uma reviso bibliogrfica visando o estudo para aplicabilidade dos aos

    expostos a elevadas temperaturas de servio atravs do abrangente conhecimento

    sobre estes tipos de ao e tendo vrios autores como referncia.

    A maior resistncia ao trabalho a quente obtida quando ocorre a precipitao de

    carbonetos e nitretos finamente distribudos, do tipo VN e Nb (C, N) que dificultam a

    deformao gerada durante o trabalho a quente sob tenso.

    A presena de elementos fortemente formadores de carbonetos que tem baixa

    dissoluo em elevadas temperaturas, do tipo M23C6 com Mo, W e Cr geram gros

    austenticos primrios menores pois so obstculos ao crescimento do gro durante

    a austenitizao e como consequncia geram ripas martensticas mais finas e de

    maior resistncia mecnica deformao, mesmo em temperaturas elevadas de

    trabalho.

    A deformao que ocorre durante o trabalho a quente tem a sua resistncia

    aumentada devido precipitao induzida pela tenso x deformao do carboneto

    M23C6 com teores de Mo, W e Cr. Este fenmeno conhecido como "endurecimento

    secundrio" que ocorre no revenido de ligas com elevadas concentraes de

    elementos fortemente formadores de carbonetos.

    A falha de estruturas pelo trabalho a quente sob tenso ocorre devido reduo da

    densidade de discordncias geradas pela formao da martensita; pelo coalescimento

    dos precipitados; pelo aumento da largura das ripas de martensita que so obstculos

    ao deslizamento da deformao; pela recuperao e recristalizao da microestrutura

    e ainda pela corroso do metal-base que reduz a massa resistiva.

    Aos para esta aplicao estrutural em servios que envolvem temperaturas e

    esforos mecnicos, tem que possuir na sua qumica elementos forte formadores de

    carbonetos como o Mo e W por exemplo pois estes exercem um efeito endurecedor

    durante a deformao que ocorre na fluncia no ao, e ainda elementos formadores

  • 60

    de carbonitretos que aumentam a resistncia pelos precipitados finamente distribudos

    na martensita.

    O Cr essencial por 2 razes, melhora a temperabilidade dos aos e melhora

    significativamente a resistncia corroso a quente.

    Estes aos tambm devem ser bastante duros por serem de aplicao estrutural, e

    devem ter uma estrutura martenstica revenida que atende a esta condio de elevada

    resistncia mecnica.

  • 61

    REFERNCIAS

    CALLISTER, W. D. Cincia e engenharia de materiais: uma introduo. 5. ed. Rio

    de Janeiro: LTC, 2002. CANALE, L. Revenido. Disponvel em: . Acesso em: 11 abr. 2014. CHIAVERINI, V. Aos e ferros fundidos. 6. ed. So Paulo: ABM, 1988. DIETER, G. E. Metalurgia mecnica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1981. ENNIS, P. J. e CZYRSKA-FILEMONOWICZ, A. Recent advances in creep-resistant steels for power plant applications. Germany: Institute for Materials and

    Processes in Energy Systems, 2003. HONEYCOMBE, R. W. K. Aos microestrutura e propriedades. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1984.

    MAALEKIAN, Mehran. The Effects of Alloying Elements on Steels. Austria :

    Technische Universitt Graz, 2007. Disponvel em:

    . Acesso

    em: 15 set. 2013. MESQUITA, R. F. ; BARBOSA, C. A. Novo ao ferramenta de alta resistncia a quente. So Paulo: ABM, 2005. Disponvel em: . Acesso em: 10 fev. 2014. MOREIRA, M.F. Mecanismos de endurecimento de metais. Disponvel em: . Acesso em: 14 nov. 2013. NUNEZ, M. M. G. Avaliao do comportamento em corroso dos aos api 5lx70 e api 5lx80 em meio contendo CO2 por tcnicas de anlises superficiais e eletroqumicas. Rio de Janeiro: PUC-RIO, 2006. OLIVEIRA, A.S.D. Materiais I. Disponvel em: . Acesso em: 20 nov. 2013. TELLES, P. C. S. Materiais para equipamentos de processo. 6. ed. Rio de Janeiro: Intercincia, 2003.