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GIOVANNI BADINE PIZZIGHINI
AS RELAÇÕES BRASIL-CORÉIA DO SUL E O INVESTIMENTO DIRETO
EXTERNO
MARÍLIA
2012
GIOVANNI BADINE PIZZIGHINI
AS RELAÇÕES BRASIL-CORÉIA DO SUL E O INVESTIMENTO DIRETO
EXTERNO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao
Conselho de Curso de Relações Internacionais da
Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade
Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília, para a
obtenção do título de Bacharel em Relações
Internacionais.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Cordeiro Pires
MARÍLIA
2012
GIOVANNI BADINE PIZZIGHINI
AS RELAÇÕES BRASIL-CORÉIA DO SUL E O INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO
Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título Bacharel em Relações
Internacionais, da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista –
UNESP – Campus de Marília.
BANCA EXAMINADORA
Orientador: ______________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Cordeiro Pires, UNESP - Marília
2º Examinador: ___________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Luiz Corsi, UNESP - Marília
3º Examinador: ___________________________________________________
Prof. Dr. José Marangoni Camargo, UNESP - Marília
Marília, 28 de novembro de 2012
E de repente, você se vê no
final de mais uma etapa na
sua vida. Essa é pra vocês,
família, amigos, mãe.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de ressaltar aqui que os agradecimentos que vou fazer tem
uma importância enorme para demonstrar toda a minha gratidão pelas pessoas que
conviveram comigo uma vida, um período, um espaço de tempo sequer, que tornaram meus
sonhos realidade, que fizeram com que eu me tornasse mais humano, mais filho, mais amigo,
mais irmão e que consequentemente, alterando o rumo dos acontecimentos, criaram
oportunidades para que eu pudesse escrever este trabalho, mas palavras nunca serão o
bastante para expressar o quanto eu valorizo cada uma delas de forma a representarem tudo na
minha vida hoje.
Pela UNESP e pela Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, que me deram a
oportunidade de me tornar um ser humano mais letrado e mais intelectual. Graças a muito
suor e dedicação, fui aceito em uma das melhores universidades do país e pude compreender
melhor a razão de um espaço onde as pessoas se tornam melhores, mais inteligentes, mais
capazes e mais responsáveis. Por todos os momentos, de raiva, de angústia, de decepção,
reclamando das condições da faculdade, resistindo aos impasses de revoluções “furadas”, por
viver no ambiente “unespiano” que me trouxeram risos em uma experiência que guardarei
para o resto da vida, e por proporcionar um dos momentos mais marcantes na minha vida que
foi minha ida a Coréia do Sul, proporcionando a coragem de iniciar este trabalho.
Pela Coréia do Sul, que de tão maravilhosa, deu-me o desejo de mostrar minha
emoção e minha felicidade por ter me acolhido com tanto carinho, por ter me mostrado o
Oriente, por ter me apresentado várias pessoas de vários lugares do mundo, por ter me
colocado frente a situações inusitadas, por ter aberto seu conservadorismo para o Brasil e
despertado o sorriso em cada rosto coreano, cujo contato foi fantástico. Pelos lindos
momentos, Daehanminguk, Gamsahabnida!
Pelo meu professor orientador, Marcos Cordeiro Pires, que com toda a paciência e
compaixão, mostrou-me “o caminho da luz” e sugeriu o tema voltado para investimento direto
externo. Apesar de ser corinthiano, é uma pessoa fabulosa, inteligente, conhecedora de
grandes assuntos e um ótimo profissional.
Pelos meus preciosos amigos, que sem eles, não poderia prosseguir em quase nadado
qual passei, pois sempre foram fundamentais para minha vida social, e me deram alegrias
inimagináveis, que fizeram com que eu tivesse força para passar dificuldades e conseguir
seguir em frente. Dentre eles, meus breves amigos de classe, que apesar de todas as
desavenças, tornaram-me uma pessoa mais flexível e mais consciente. Um tempo precioso
como quatro anos serão guardados para sempre. Aos meus eternos e fraternos amigos, Lucas
Jordani, o “macarrão”, que sempre foi leal, paciente, companheiro, e nunca mudou sua
postura comigo por mais que os tempos mudassem, sempre foi a mesma pessoa e nunca
julgou meu caráter; ao Felipe Mikami, por estar sempre ao meu lado, pelas conversas, pelas
reclamações, pelas palhaçadas e pelos bons e eternos momentos juntos, que durarão para
sempre tenho certeza; à Sarah Barrera, que muitas vezes brigou comigo, mas sempre foi
amiga de verdade, nunca deixou de apontar meus defeitos para que eu melhorasse e sempre se
importou comigo por mais que eu ficasse zangado com ela; ao Luiz Henrique Tobler, que
mostrou a mim o que é amizade de verdade e que soube superar dificuldades como ninguém,
e me perdoou por várias “mancadas” nessa vida, mas sempre se julgou meu amigo. Aos meus
verdadeiros e longos amigos, irmãos de coração, um grandíssimo obrigado.
À minha família, meu pai Claudio, meus irmãos de sangue Felipe e Michel, meus avós
Claudio, Maria Aparecida, minha vovó no céu Najme, meus tios, primos italianos e libaneses,
pelo amor e carinho, pela compaixão de meus erros e pela força que me deram durante meu
período acadêmico.
Agora, duas pessoas especiais, as quais não teria escrito nada disso, pois não teria
entrado na faculdade e não teria escrito este trabalho, afinal, eu não seria ninguém sem elas.
À minha tia Simone Pizzighini. Por todo o apoio e pensamento positivo, que me
impulsionou, mesmo de longe, sempre contando as horas para o meu sucesso, sempre ligando,
perguntando como andavam as coisas, pela preocupação nas horas difíceis, pelo coração
enorme, pela falta de preguiça, pelas ideias aguçadas, dos trejeitos ríspidos e muitas vezes
duros, mas que fomentaram cada parte da minha jornada estudantil e por confiar em mim em
toda e qualquer ocasião. Mala, te amo demais!
E logicamente, a minha linda e amada mamãe Rosângela Badine. Por toda minha
história, minha vida, minhas atitudes, minha sabedoria, minhas escolhas, meus erros, meus
acertos e por todo o resto. Minha mãe foi e continua sendo tudo na minha vida, e
especialmente agora neste momento de conclusão da etapa mais importante da minha vida,
que eu percebo que sem minha mãe, mantendo todas as suas atitudes complicadas e
impulsivas, não conseguiria nada. O apoio necessário, em todas as maneiras imagináveis,
minha mãe forneceu com carinho, amor, e superando diversas dificuldades para que um dia,
eu me tornasse o melhor ser humano do mundo. Estou caminhando para isso, e graças
minha mãe, tenho certeza que me tornarei o melhor filho! Mãe, te amo muito e essa é pra
você!
Esta longa dedicatória foi o mínimo necessário para demostrar o que todos esses
quatro longos, e, ao mesmo tempo, curtos anos foram uma parte crucial de um todo que ainda
está por vir. O conjunto de todos os “fatores” citados acima me proporcionou um grande
avanço na minha vida e logicamente, deveria ser anunciada e exaltada neste trabalho pela
importância que têm na minha vida, pois este trabalho também foi concretizado por eles. Aos
grandes de minha vida, não só um obrigado, mas um muitíssimo obrigado!
Os capitais necessários aos investimentos provieram basicamente de
poupança interna e de empréstimos internacionais cuja captação era
orientada pelo governo que detinha o controle do sistema bancário e
orientava os empréstimos. A participação do investimento direto
estrangeiro – IDE - foi mínima: a entrada de IDE era rigidamente
controlada pelo governo, havendo setores da economia em que eles
eram totalmente proibidos (BRASIL, [20--], p. 19).
No Brasil, a “força” do Estado foi bastante efetiva na arbitragem dos
conflitos entre capital e trabalho em favor do primeiro. No entanto,
apesar dos longos períodos ditatoriais, o Estado brasileiro não
conseguiu arbitrar os diferentes interesses intraburguesia. Todas as
tentativas de implementar determinada orientação de
desenvolvimento, a exemplo do Plano de Metas ou do II PND, apesar
de terem sido levadas adiante, só o foram às custas do
comprometimento da capacidade financeira do Estado. No Brasil o
privado nunca assumiu riscos, jamais teve seu desempenho cobrado,
e, sobretudo, jamais permitiu que o árbitro do Estado comprometesse
sua capacidade de acumulação. Quaisquer tentativas de introduzir
novos planos ou revisar velhas políticas só foram adiante na medida
em que não atrapalhavam velhos interesses (NERY, 2007, p. 10).
RESUMO
Através da importância da Ásia no contexto global atualmente, este trabalho busca a
compreensão de fatores que a levaram ao desenvolvimento econômico, como a formação de
blocos econômicos para a dinamização das relações políticas e econômicas, tanto no âmbito
regional e internacional, com o avanço para novos continentes. A partir disso,
demonstraremos a evolução específica da Coréia do Sul, consequência de um
desenvolvimento tecnológico rápido, em sua chegada a América Latina, e principalmente, no
Brasil, destacando a diplomacia e as imigrações, até o crescente desenvolvimento econômico,
culminando nos investimentos diretos externos a partir da década de 90.
Palavras-Chave: Ásia. Coréia do Sul. Brasil. Economia. Investimento direto externo.
ABSTRACT
Throughout the importance of Asia in the global context today, this work seeks to understand
the factors that led it to economic development, such as the formation of economic blocs until
the boosting economic and political relations, both at the regional and international
environments, with advance to new continents. From this, we demonstrate the specific
evolution of South Korea, a consequence of rapid technological development, upon his arrival
in Latin America, especially in Brazil, emphasizing diplomacy and immigration, to the
increasing economic development, culminating in the foreign direct investments from the
beginning of the 90’s.
Key-words: Asia. South Korea. Brazil. Economy. Foreign direct investment.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12
2 O INÍCIO DAS INTEGRAÇÕES REGIONAIS NA ÁSIA ............................................ 15
2.1 Os blocos regionais asiáticos ......................................................................................... 18
2.1.1 ASEAN ........................................................................................................... 20
2.1.2 APEC .............................................................................................................. 25
2.1.3 TPP ................................................................................................................. 27
2.1.4 Aliança do Pacífico ......................................................................................... 29
2.2 As Relações da Ásia e a América Latina ....................................................................... 31
2.3 A Ásia e o Brasil ............................................................................................................ 35
3 AS RELAÇÕES BRASIL-CORÉIA: DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS AO
INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO ............................................................................ 40
3.1 As Relações Diplomáticas e a Imigração ...................................................................... 41
3.1.1. A Imigração Coreana ..................................................................................... 42
3.2 As Primeiras relações de comércio Brasil-Coréia ......................................................... 45
3.2.1. O Desenvolvimento Coreano ......................................................................... 46
3.2.2. O Comércio com o Brasil .............................................................................. 51
3.3 O investimento direto externo coreano no Brasil .......................................................... 54
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 66
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 69
12
1 INTRODUÇÃO
O Brasil teve no curso de sua história diversos fatores, que através dos séculos
mudaram a trama das relações internacionais de sua nação, fazendo com que seu cenário
interno modificasse gradativamente e apresentasse novas vertentes para o futuro e para o seu
desenvolvimento. A relação entre os Estados, sejam eles próximos ou longínquos, tem estado
presente nas relações políticas e econômicas mundiais, de forma a abastecer uma discussão
em torno do rumo do Brasil frente a tantos turnos de acontecimentos. A globalização
caracteriza um importante fator relacionado às mudanças constantes, e que hoje, é analisada
de forma variada e não uniforme.
Nesta mesma perspectiva, a Globalização que aproxima os territórios e modifica o
tempo e os espaços fizeram com que o Brasil chegasse às mais diversas formas de
relacionamento com o contexto global. Sua dinâmica não se tornou única e exclusiva na
América e outros mercados foram levados em consideração. Com a crescente aparição da
Ásia na economia mundial, notou-se que a diversificação dos países na busca de novos
parceiros se tornou comum, e a intensificação dessas relações caracteriza as mudanças e
transformações por qual passam países que já desenvolveram de forma parcial e países com
um desenvolvimento emergente, nestes exemplos, Coréia do Sul e Brasil, respectivamente.
A Coréia do Sul, pelo desenvolvimento rápido na segunda metade do século XX,
chegando à um dinamismo econômico de produção tecnológica elevada, e um governo capaz
de orientar e gerenciar o país, adotando metas construtivistas de dentro para fora, tornou
possível sua chegada à América do Sul e especialmente no Brasil. O Brasil, em seu gradativo
e lento desenvolvimento, durante a década de 80, pode colocar-se em uma posição de
interesse para os outros países, onde investimentos vieram a ser colocados para o mercado
brasileiro, e claro, gerando lucro para os investidores externos.
Por isso, o tema dos investimentos da Coréia do Sul no Brasil foi adotado neste
trabalho. A crescente asiática, em particular coreana, chama atenção por ter uma progressão
constante e rápida, chegando cada vez mais forte no mercado brasileiro, de forma a instalarem
indústrias poderosas e ainda mais na chegada de imigrantes coreanos que podem contribuir
para o desenvolvimento brasileiro, assim com foi em seu país de origem. Além disso, a
simpatia que temos pelo país asiático motivou a formulação deste trabalho, por experiências
pessoais relevantes que trouxeram grande conteúdo profissional e pessoal. Através disso, o
respeito e a simpatia pela cultura coreana foi um grande fator para a escolha do país neste
13
trabalho. Mesmo nos fatores econômicos e culturais, a Coréia do Sul é um dos grandes
representantes da nova Ásia desenvolvimentista e economicamente integrada no sistema
capitalista mundial.
O objetivo proposto em nosso trabalho é de analisar as relações políticas dos países
asiáticos no contexto doméstico, conquistando espaço no cenário político-econômico mundial,
e assim, buscando novos parceiros para participar da expansão ocorrida nas décadas finais do
século XX. E por essas relações que foram capazes de consolidar as relações bilaterais de
confiabilidade e cooperação entre os países da América e da Ásia. Neste caso, será possível
exemplificar o fato através de Coréia do Sul e Brasil, que possuem um peculiar crescimento
no comércio exterior e nas relações políticas, culminando na entrada do capital direto coreano
no Brasil.
Por isso, este trabalho terá início destacando a formação dos blocos econômicos
asiáticos, sendo uma estratégia conjunta de desenvolvimento e assistência entre os países
asiáticos que vinham se apresentando com força no cenário internacional e tornaram-se
grande possibilidade de oportunidades criadas a partir das políticas resultantes destes acordos
e debates dentro dos blocos econômicos. Com isso, veremos que com esses blocos
estabelecidos e criando sustentabilidade para novos acordos que analisaremos a chegada dos
países destes mesmos blocos em outras partes do mundo, neste trabalho, na América Latina e
Brasil. A partir disso, veremos como foi possível também a formação de blocos sul-
americanos e americanos voltados para as novas oportunidades na Ásia, assim tentando
fortalecerem seu mercado e seus interesses nacionais no âmbito político.
Após a contextualização desses blocos no planejamento de novas parcerias, iremos
focar na aproximação da Coréia do Sul no Brasil, e deixando claro que ambos já possuíam um
comércio, mesmo que pequeno, e a partir das movimentações criadas nos blocos asiáticos,
foram possíveis novas formas de relacionamento entre Brasil e Coréia do Sul passando para o
investimento direto externo. Procuraremos também focar no início dessa relação bilateral, a
partir da ratificação da diplomacia entre os dois países assim como os fatores que levaram os
coreanos a deixarem seu território para imigrar para o Brasil. Juntamente com este dado,
proporcionaremos a visão de como o Estado coreano agiu após a Guerra da Coréia que foi de
1951 à 1953, acontecimento este que fez que a história da Coréia do Sul mudasse
drasticamente, tornando-se o polo industrial e tecnológico que é hoje. No fator
desenvolvimentista da ascensão coreana, iremos dar ênfase ao papel da educação, através das
políticas governamentais capazes de fomentar a capacitação da mão-de-obra para renovação
14
da indústria doméstica. Assim poderemos constatar que, a Coréia do Sul tendo capacidade
econômica para mobilizar seu capital, encontra no Brasil, no começo da década de 90 um bom
avanço para seus investimentos, onde serão mostrados quantitativos de quais foram os
motivos que levaram a Coréia do Sul a se estabelecer de fato no Brasil.
O trabalho a ser realizado demonstrará não só como todos os acontecimentos foram
realizados, mas também as razões pelas quais esta relação ainda resiste e tem por meta a sua
intensificação. Através de bibliografia acadêmica de vários estudiosos do caso, além de dados
governamentais brasileiros e coreanos, será possível a colocação de ideias que
proporcionaram um esclarecimento sobre o assunto, que hoje é parco e visa também a
prospecção de uma forte e dinâmica relação entre dois países tão distintos.
15
2 O INÍCIO DAS INTEGRAÇÕES REGIONAIS NA ÁSIA
A Ásia, hoje, pode ser vista como o centro das atenções. Depois de um período
turbulento de guerras e revoluções, a Ásia, principalmente o Leste Asiático1, começava a ser
um exemplo de desenvolvimento, como explica Drysdale (2005):
While obstacles remain in terms of human resource development, infrastructure, and
governance, East Asia’s share of world output had risen substantially over the past
two decades, overtaking the US and capturing a large size of world exports,
matching that of North America.
O sucesso da economia asiática teve como causa as transformações a partir dos anos
80, que mudaram drasticamente os contornos da economia na presente década. De um modo
geral, diversos fatores proporcionaram o sucesso da Ásia e a partir dessa evolução, fizeram
com que o eixo econômico mundial se voltasse muito mais para o lado do Pacífico do que
para o Atlântico, mudando assim o rumo dos acontecimentos em torno do capital mundial.
Inicialmente, as principais características que proporcionaram as transformações da
Ásia para uma região de atenção derivam das transições, ou consequências da crise energética
dentro da década de 702. Com baixas taxas de juros e com uma competição acirrada, os atores
multinacionais, assim como os Estados nacionais, tiveram que buscar alternativas para saírem
da estagnação econômica que rondava o período. Os custos de produção aumentavam e a
lucratividade do sistema se tornava baixa. As flutuações de câmbio e as incertezas dos
mercados internacionais demandaram outra forma de aplicação de capital, proporcionando
assim, as primeiras modificações que vieram a impulsionar a importância da Ásia para a
economia vigente.
Focando a partir da ideia de Pires (2008, p. 4), uma das principais estratégias que
fizeram com que a Ásia desse seus primeiros passos ao destaque regional foi a “terceirização”
da produção. A produção foi segmentada, a partir de um gerenciamento organizacional
dependente de outras indústrias paralelamente às suas, dinamizando o processo, e assim
mudando seu método de produção fordista e passando para o método “just-in-time”3. Estas
estratégias, adotadas principalmente por multinacionais americanas, japonesas e europeias,
dentro deste período, disseminaram uma nova forma de produção, fadada a alavancar o
1 Neste trabalho, referir-se-á aos Países do Sudeste Asiático e do Nordeste Asiático, em especial o Japão, a
2 Especificamente, nas crises do Petróleo de 1973 e 1979.
3 O método “Just-in-time” foi implementado como principal pilar do “toyotismo”, sistema de produção da
Toyota Motors, logo após a segunda guerra mundial. Este método busca produzir somente o que o mercado demandar, sem a necessidade de estoque e produção prévia de mercadorias.
16
comércio regional, e depois, internacional. Outro fator relatado por Pires foi a deslocalização,
que consistia em multinacionais que mudavam o local de suas atividades industriais para
países ou, nesse contexto, mercados periféricos com fatores produtivos de custo reduzido,
como matérias-primas, carga tributária, incentivos fiscais e principalmente, mão-de-obra.
No caso do Japão, principal fomentador da região às buscas de vantagens produtivas
em meio às crises, após o chamado “Milagre Econômico Japonês4” na década de 60, aliado às
políticas governamentais de incentivos ao capital externo, deslocou sua indústria para países
como Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas, combinando fatores de substituição de
importação e promoção das exportações, aproveitando a valorização do iene decorrente do
Acordo Plaza em 1985. Juntamente com o superávit dos EUA, o Japão começa a expansão
dos investimentos na região, ao lado de um amplo financiamento externo, que permitiu à
várias economias asiáticas o crescimento e financiar seu déficit comercial com o Japão,
concentrado em políticas de bens de capital (MEDEIROS, 1997, p. 1). Como consequência,
surgiu o termo “Tigres Asiáticos5” (Coréia do Sul, China-Taipei, Cingapura e Hong Kong),
para caracterizar a agressividade do crescimento de países que sofreram à chegada de novas
empresas em suas economias, após as estratégias citadas.
Um grande destaque deve ser dado também à China Continental, que através das
mesmas medidas suplantadas, emergia rapidamente no contexto regional, e mundial. A partir
de 1978, de suas políticas de modernização, a China ganha destaque entre um dos grandes
hospedeiros dessa gama de investimentos externos e deslocamento industrial. A estratégia
chinesa, no entanto, era mais abrangente, pois tinha por objetivo a constituição de uma
economia moderna que pudesse, em médio e longo prazo, recolocar o país entre as potências
mundiais (PIRES, 2008, p.5).
Exponencialmente, a Ásia ganhava um notório prestígio no comércio internacional,
acumulando cada vez mais capital por parte de investimentos diretos e indiretos, além de
aumentar de forma surpreendente suas exportações, conseguindo se aproximar dos EUA no
espaço dentre os grandes exportadores do mercado internacional.
Dessa forma, podemos dizer que o conjunto de países que formam o Leste Asiático
está hoje na superfície de um mundo extremamente competitivo e multipolar, em que, depois
4 Há controvérsias no debate sobre o termo milagre econômico do Japão, já que muitos estudiosos acreditam
que a recuperação do Japão já era esperada devido às relações com os EUA e por já ter um parque industrial que, mesmo depois de ser destruído pela guerra, permanecia à espera de ser recuperado e acionado novamente. Já outros dizem que existiu o milagre pelo tempo de recuperação de um país que participou ativamente dentro de uma guerra que devastou o país, e pelas políticas ditas como “ultra efetivas” do governo japonês afim de reestabelecer sua economia, visando o domínio do mercado mundial. 5 Termo usado para definir os países asiáticos de rápida industrialização, durante o período de 1960 a 1990.
17
do colapso da União Soviética em 1991, teve como seus atores principais o Japão, os Estados
Unidos e a UE6.
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo esperava a reconstrução de seus países
onde a economia foi completamente fragmentada pelos horrores da Guerra. O caminho
cursado pelos países vencedores levou a reforma e reconstrução aos perdedores. Assim,
emergiam as integrações mundiais. “The aftermath of World War II hastened global economic
integration, as the subsequent period of peace and reconstruction made it possible to increase
economic activities” (MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 4).
Assim começavam o desenvolvimento de integração na Ásia, e conforme marca Urata
(2007, p. 30-31), um interesse em alianças de integração econômicas e políticas.
Multilateral trade negotiations under the General Agreement on Tariffs and Trade
(GATT7) further quickened globalization, followed by the liberalization of trade and
investments, improvements in infrastructure, and technological developments, which
created a more conductive climate for foreign trade.
Também reforça Medalla e Balboa (2010, p. 6), afirmando que com esse
desenvolvimento, houve um aumento de interesse em um regionalismo, em que países
considerados parceiros comerciais se juntaram e formaram Blocos Econômicos. A importante
agregação dos países visando o desenvolvimento surge como uma alternativa de superar os
desastres causados pela guerra, e também para uma evolução econômica a fim de galgar o
espaço dentre os países que polarizavam o contexto global daquele momento: EUA e URSS,
também como o conflito de forças não declarado que levou à corrida armamentista e técnico-
científica conhecida como Guerra Fria.
Ressalta Oliveira (2002, p. 115):
A primeira iniciativa asiática concreta de desenvolvimento de um esquema regional
de cooperação ou de integração, no plano econômico, surgiu em 1965, com a
formalização da proposta apresentada pelo professor japonês Kiyoshi Kojima de
criação de uma área de livre-comércio (Pafta – Pacific Asian Free Trade).
Esta primeira tentativa de consolidação de uma integração entre os países asiáticos
mostrou a afirmação do Japão em liderar os blocos econômicos da região, por ser o país até
então mais industrializado, e ter uma maior posição política voltada para o capitalismo,
6 Em 1991, a UE ainda possui o nome de Comunidade Econômica Europeia, tornando-se UE somente em 1993,
com o Tratado de Maastricht. 7 O GATT teve seu nascimento em 1947 e se tornou, posteriormente, na OMC em 1994.
18
resultado da intervenção americana no pós-guerra, a fim de distanciar o país do socialismo
soviético.
Entretanto, a motivação para essa primeira tentativa veio com o medo de que, com a
formação de outros blocos regionais iriam minguar ou enfraquecer o comércio mundial, como
cita Arndt (1990, p. 563):
A motivação original foi a preocupação japonesa de que a formação e que a
formação do Mercado Comum Europeu e os esquemas de livre-comércio na
América Latina e em outros lugares estavam sinalizando para uma ruptura da
economia mundial para blocos regionais.
.
A proposta de Kojima não foi concretamente concluída, porém, iniciou-se o
pensamento e estudo de unidades nacionais que, com ajuda mútua, buscariam o
desenvolvimento. Essa mesma proposta também determinou as possibilidades de cooperação
entre os países, ao invés de uma clara área de livre-comércio ou união de mercados. Foram
realizadas de coordenações políticas e convenções8 buscando a resolução e concretização de
blocos econômicos asiáticos. A partir de então, será retratada aqui a consolidação destes
blocos dentro da Ásia, e posteriormente, a relação destes blocos com a América Latina e
finalmente com o Brasil, que implicará em tratar as relações especificamente da Coréia do Sul
com o Brasil, e a evolução comercial que ambos tiveram, a partir deste início de integração
regional.
2.1 Os Blocos Regionais Asiáticos
Os dados descritos acima formam o contexto em que os países asiáticos buscaram para
fortalecer suas economias. De fato, mudanças ocorreram para que suas economias e políticas
evoluíssem, trazendo para a Ásia9 uma nova maneira de crescimento, impulsionando-a à um
novo desenvolvimento, tornando-se um continente de visibilidade e ter ganhado mais peso na
economia capitalista mundial, para que dessa forma, houvessem transformações necessárias
para que viesse a ser o grande polo industrial e tecnológico que é hoje.
8 Dentre as conferências, estavam a Pacific Trade and Development Conference (Paftad); Pacific Basin Economic
Council (PBEC) e Pacific Economic Cooperation Conference (PECC). 9 Refere-se aqui como Ásia, os países do Leste Asiático (com exceção da Rússia) e do Sudeste Asiático
19
Primeiramente, Drysdale (2005) descreve os período, ou “ondas”, de comércio e
industrialização que surgiram para a eclosão e intensificação dos movimentos de integração e
consolidação dos importantes blocos regionais asiáticos:
The growth and deepening integration of the East Asian region has been shaped by
three huge waves of trade and industrial transformation. The first wave occurred
with the rise of Japan and its emergence as a major industrial power. The second
wave was led by the newly industrializing economies (NIEs) of Northeast and
Southeast Asia in the late 1970s and 1980s. The third wave was characterized by the
rise of the PRC. These three major periods restructured the economic architecture of
East Asia, making it an economic powerhouse and cornering almost a quarter of
world output.
Concordando com a afirmação de Drysdale, o Japão aparece por volta da década de 70
como um importante ator, ascendendo na Ásia após o “Milagre”, que supera a fase do pós-
Segunda Guerra Mundial para desenvolver-se na indústria de tecnologia de ponta. Já os
chamados NIEs10
, formados por Taiwan, Cingapura, Hong Kong11
e Coréia do Sul, que na
época se industrializavam rapidamente, desempenharam um papel predominante nos blocos
regionais; e a China continental (RPC), que hoje é o principal regente do desenvolvimento
regional asiático e posteriormente, passou a fazer parte dos movimentos regionais.
Seguindo com o raciocínio, estas ondas propuseram as condições necessárias para a
evolução dos blocos regionais asiáticos, algumas anteriores à formação de certos blocos,
outras posteriores ou concomitantes à suas consolidações, como é o caso da ASEAN e suas
derivações, que serão retratadas mais à frente neste trabalho.
Medalla e Balboa (2010, p. 10), complementando a lógica de Drysdale, fornecem
também alguns fatores que impulsionaram a esquematização de blocos regionais:
Analysts agree that the development of the East Asian regionalism is propelled by
three forces: 1) Market-driven economic integration, 2) negotiated trade
liberalization initiatives, and 3) the regional financial cooperation initiatives
following the Asian crisis.
Estes fatores apresentados acima são os propulsores do regionalismo asiático,
direcionando-os ao sucesso da Ásia nos dias atuais. Singularmente, cada um dessas “forças”
podem ser observadas através de aspectos que reiteram e complementam a passagem dos
autores:
10
Sigla em inglês para Newly Industrialized Economies. 11
Por convenção neste trabalho, serão adotados China-Taipei e China-Hong Kong como simplesmente Taiwan e Hong Kong, respectivamente.
20
1) Uma integração voltada para o mercado
The Market-driven forces of cross-border trade, FDI, and finance pushed the initial
phase of economic integration in East Asia. The simultaneous expansion and
reinforcement between trade and FDI, otherwise known as the trade-FDI nexus
(URATA 2001, KAWAI 2005), was largely determined by the establishment of
regional production networks and supply chains by Multinational Corporations
(MCNs) This phenomenon became known as “Factory Asia”(SOESASTRO, 2006).
(MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 10)
2) Iniciativas de Liberalização Econômica
The industrial and trade transformation of East Asia over the last half-century has
been driven by policy initiatives and Market forces that opened up trade and
investments in the East Asian countries. This created the opportunity to dynamically
link the East Asian economies to the international production chain and also
provided an environment conductive for sustained FDI flow. (MEDALLA;
BALBOA, 2010, p. 9).
Esta fase de liberalização apresentou-se principalmente dentro os anos 80 e 90,
liberalizando seu comércio internacional e abrindo suas portas para investimentos diretos
externos, também, desregulando suas atividades domésticas.
3) As iniciativas de Cooperação financeira após a Crise de 1997.
Following the Crisis, interests in financial cooperation intensified. Efforts towards
increased risk management made East Asia the first region to actively pursue
measures to establish regional monetary and financial cooperation. The regional
economies embarked on several initiatives to strengthen the regional financial
architecture, consisting of regional economic surveillance, liquidity support facility,
and the development of the Asian bond Market. (KAWAI, 2007).
De acordo com os fatores apresentados acima, o regionalismo na Ásia se deu de fato
por volta de 1965, com o já mencionado idealismo de Kojima, porém surgiu o primeiro bloco
consolidado somente em 1967 com a ASEAN.
2.1.1 ASEAN
Apresentadas dentro deste capítulo, as razões pelas quais se deram o início da
articulação e afirmação dos blocos já foram bem definidas, retratando o contexto pós-guerra e
o modelo de outros blocos que surgiam na época, foram capazes de influenciar o mundo e a
Ásia de uma forma particular, em desenvolver cooperações capazes de fomentar o
crescimento econômico mútuo.
21
A ASEAN12
, “criada com o intuito e objetivo de promover o crescimento econômico,
também tinha a missão de evitar o avanço do comunismo” (OLIVEIRA, 2002, p. 116).
Portanto, a formação deste bloco também manteve seu viés político apesar de tudo, que
claramente, justifica-se pelo período vivenciado por todos os países que entrariam para o
bloco, sob os auspícios e interesses dos EUA contra as políticas soviéticas em plena Guerra
Fria. Não somente por este motivo, mas também a expectativa de criação pelo Japão de um
bloco, ou Comunidade do Pacífico, que visava o crescimento econômico, porém teriam que
ser superadas as diversidades culturais. Contudo, foi no Sudeste da Ásia que se formou o
primeiro grupo voltado para tal fim, como diz Oliveira (2002, p. 116) em “[...] detectam-se
diferentes propostas voltadas para o campo da segurança no Sudeste Asiático, desde o final da
Segunda Guerra Mundial, culminando com a estruturação da Asean, em 1967”.
Inicialmente, voltada para a contenção do comunismo, a ASEAN foi muito mais uma
organização política que econômica. Durante seus primeiros 20 anos de existência, os
objetivos políticos predominaram em contrapartida aos econômicos. Porém, mudanças
ocorreram até o final dos anos 90, e começo dos anos 2000, como diz Oliveira (2002, p. 116),
através de Gutierrez (1993):
Concisamente, Gutierrez (1993) aponta que a Asean apresenta três fases desde sua
criação, sendo a primeira correspondente ao processo de manutenção da segurança
regional (...); a segunda fase, com maior ênfase nos anos 80, abrange o período em
que o Sudeste Asiático se insere no processo de desenvolvimento econômico
asiático (...); a terceira fase, já no pós Guerra Fria, representa um novo
direcionamento de seus objetivos.
Posteriormente, a ASEAN buscou a implementação de um Acordo de Livre-Comércio
ou FTA13
, que foi projetada em 1992, primariamente com os seguintes objetivos:
1) Aumentar a vantagem competitiva da ASEAN como base de produção no
mercado mundial através da eliminação, no âmbito da ASEAN, de tarifas e barreiras
não tarifárias.
2) Atrair mais Investimento Direto Externo para a ASEAN.
Também conhecido na vertente internacional como AFTA (ASEAN Free Trade
Agreement), é considerada como “a peça chave da política de integração da ASEAN e
12
A Asean formou-se com os seguintes países: Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã. 13
Free Trade Agreement, ou Área de Livre Comércio.
22
providenciando o ímpeto para explorar cooperações sub-regionais” (MEDALLA; BALBOA,
2010, p. 10).
Contudo, a criação da ASEAN não obteve somente caráter regional, mas propiciou aos
outros Estados da Ásia-Pacífico certa participação, constituindo o ARF14
(ASEAN Regional
Forum). Institucionalizado em 1993, “teve como característica seu caráter intergovernamental
para a discussão de questões políticas e de segurança” (OLIVEIRA, 2002, p. 116).
Outras propostas foram criadas conjuntamente com a ASEAN, ao adicionar países
para Fóruns de cooperação, principalmente com a crise de 199715
, em que o foco foi dado à
parte financeira. Dentre elas, uma atenção maior para a ASEAN+3, que terá a participação
dos competitivos e industrializados países do Leste Asiático, no caso, Coréia do Sul, Japão e
China para o fortalecimento do bloco e como reguladores financeiros, que proporcionará uma
visão de como a força desta cooperação trouxe uma nova frente de ações para a ASEAN de
forma a estabilizar-se internamente e na manutenção do foco do bloco nas políticas adotadas.
Como aponta Medalla e Balboa (2010, p.17):
Several regional surveillance measures were launched in East Asia following the
financial crisis. The most prominent, to date, is the ASEAN+3 Economic Review
and Policy Dialogue (ERPD) process, which was launched in May 2000. The
ASEAN+3 ERPD aims to prevent another financial crisis by creating channels for
information sharing, assessment of economic conditions and policies, and potential
for collaboration on financial, monetary, and fiscal issues of common interest.
Identificamos assim, a importância posta no período pela agregação de novos países
para a cooperação regional da ASEAN, que manteve seu papel como ouvinte e formulador de
ideias para que uma nova crise não viesse gerar situações prejudiciais aos países, como foi a
de 1997. Com a tabela abaixo, podemos ter uma noção de como foi o papel da ASEAN e da
ASEAN+3 na assistência mútua entre os países da Ásia para um fortalecimento da economia
no período anterior aos anos 90 e posterior a crise, comparados com os outros países em
termos de Comércio Inter-regional por Agrupamento Geográfico.
14
O ARF, em 1993,teve como participantes os membros da ASEAN, seus sete maiores parceiros comerciais (Estados Unidos, União Europeia, Japão, Canadá, Coréia do Sul, Austrália, e Nova Zelândia), dois convidados (China e Rússia) e três observadores (Vietnã, Laos [que hoje já fazem parte da ASEAN] e Papua-Nova Guiné). 15
A crise asiática de 1997 teve como causa vários fatores, dentre eles alta valorização de ativos na bolsa de valores, descontrole nas taxas de câmbio, falta de prudência e controle do sistema financeiro, disposição de dados e transparência para soluções de desavenças financeiras dentre outras. Esta crise começou a ter sua recuperação por volta do ano 2000, e apesar de todos os países asiáticos terem sido afetados pela crise, dentro os mais afetados estavam Coréia do Sul, Indonésia e Tailândia. (Fonte: FMI, 2012)
23
Tabela 1- Comércio Intra-regional das Regiões da Ásia e Pacífico por Agrupamento GeográficoI.
1980 1985 1990 1995 2000 2003 2006
ASEAN 17.9 20.3 18.8 24.0 24.7 26.6 27.2
ASEAN+3 37.3 39.0 38.3
ASEAN+3,
Hong Kong e
Taiwan
52.1 55.4 54.5
UE 34.1 37.1 43.1 51.9 52.1 55.4 54.5
NAFTA 33.8 38.7 37.9 43.1 48.8 47.4 44.3
MERCOSUL 11.1 7.2 10.9 19.2 20.7 14.7 15.7
COMUNIDADE
ANDINA 3.3 5.4 12.4 10.8 10.8 10.1
Fonte: UNECLAC (2008, apud MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 7, adaptado pelo autor).
Nota: I - O balanço de comércio internacional é definido como a porcentagem de comércio intra-regional
correspondente ao total de comércio pela região em questão, baseado em dado de exportação. É calculada a
seguir: Xii/{(Xiw + Xwi)/2}, onde Xii refere-se às exportações da região i dentro da própria região, Xiw
representa as exportações da região com o mundo, e Xwi representa as exportações do mundo para a região i.
Uma porcentagem maior indica um maior nível de dependência dentro do comercio intra-regional.
Outra tabela também pode exemplificar o papel da ASEAN (não foram fornecidos
dados da ASEAN+3) em termos de taxa de crescimento comparado no comércio internacional
e se estabeleceu como o segundo bloco econômico mais forte desde 2000. Deste modo, a
consolidação das economias da Ásia e do Pacífico através deste bloco e um enorme fator de
fortalecimento da região, e posteriormente a busca de novos mercados e de investimento
direto externo.
24
Tabela 2 - Crescimento no Comércio Internacional
Média Anual da Taxa de Crescimento
de Importações de Mercadorias
Média Anual da Taxa de Crescimento
de Exportações de Mercadorias
% Anual
1990-1995 1995-2000 2000-2006 1990-1995 1995-2000 2000-2006
ASEAN 15.6 0.6 10.1 16.2 5.5 10.1
ECOa 5.1 18.4 7.2 18.0
SAARCb 9.1 5.3 20.5 11.4 6.7 15.9
América
Latina e
Caribe
12.8 8.4 8.3 11.6 9.2 11.1
África 1.0 13.3 6.5 10.2
Europa 4.4 3.1 11.6 6.1 2.1 11.4
América do
Norte
8.1 9.9 7.2 8.3 6.4 5.1
MUNDO 7.0 4.7 10.9 7.7 4.3 10.9
Fonte: UNESCAP (2008, apud MEDALLA; BALBOA, 2010, p. 9, adaptado pelo autor).
Notas: a - A Economic Cooperation Organization (Organização de Cooperação Econômica) é uma organização
intergovernamental regional estabelecida em 1985 pelo Irã, Paquistão e Turquia com o propósito de promover a
cooperação econômica, técnica e cultural dos países membros. Os atuais membros são Afeganistão, Azerbaijão,
Irã, Cazaquistão, Quirguistão, Paquistão, Tajiquistão, Turquia, Turcomenistão e Uzbequistão.
b - A South Asian Association for Regional Cooperation (Associação Sul Asiática para a Cooperação Regional)
tem como princípios a junção de trabalhadores para o crescimento econômico e desenvolvimento social. Tem
como membros desde 1985: Bangladesh, Butão, Índia, Nepal, Paquistão e Sri Lanka.
Conclui-se que a ASEAN e ASEAN+3 não só tiveram uma grande importância para a
aproximação dos países asiáticos e para a procura de novos mercados no âmbito internacional,
mas também trouxeram um olhar diferente do mundo para com a Ásia, fazendo com que essa
25
se transformasse em um polo industrial e atraísse investimentos externos, como explica
Medalla e Balboa (2010, p. 9):
The industrial and trade transformation of East Asia over the last half-century has
been driven by policy initiatives and market forces that opened up trade and
investments in East Asian countries. This created the opportunity to dynamically
link the East Asian economies to the international production chain and also
provided an environment conductive for sustained FDI flow.
Feita esta descrição da ASEAN, passemos agora a discutir uma nova instituição que
abrange os países da Ásia, a Asia-Pacific Economic Cooperation (APEC).
2.1.2 APEC
Com um propósito parecido da ASEAN, a APEC, fundada em 1989 com 12 membros
(Austrália, Canadá, Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul, Nova Zelândia, e outros 6
membros da ASEAN – Indonésia, Malásia, Tailândia, Filipinas, Brunei e Cingapura)16
,
cresceu com um caráter econômico e como um fórum de informal em resposta ao
regionalismo econômico e suas questões (OLIVEIRA, 2002, p. 116). Até os dias de hoje, a
APEC possui intuitos que variam de país para país e de conferências que podem não abranger
todos os países membros da associação. Em uma primeira visão, no inicio de sua vida, a
APEC apresentava a uma questão relacionada à presença dos Estados Unidos, em que explica
Oliveira (2002, p. 117):
A primeira questão seria quanto a participação dos Estados Unidos, de uma forma
genérica percebida como fator de estabilidade para a segurança regional e de
instabilidade especificamente para o comércio e para outras áreas correlacionadas, a
partir de suas constantes críticas quanto às condições sociais dos trabalhadores e aos
direitos humanos e pressões sobre direitos humanos intelectuais
.
Várias discussões foram postas em relação a posição contra ou à favor dos Estados
Unidos como membro, por motivos como o protecionismo norte-americano em relação aos
países do Pacífico e o medo do monopólio das ações juntamente com o Japão das atividades
do organismo. Porém, por outro lado, havia ainda o medo do monopólio isolado do Japão
dentro da APEC.
Mesmo com este empecilho no caminho, os Estados Unidos conseguiram sua
participação devido às suas pressões e ao pedido japonês de sua inclusão (OLIVEIRA, 2002,
p. 117).
16
Atualmente, a APEC conta com 21 membros. Dentre os citados acima, também incluem Chile, China, México, Papua-Nova Guiné, Peru, Rússia, Taiwan, Vietnã e Hong Kong.
26
Desde sua constituição, seus principais objetivos foram reduzir as barreiras tarifárias,
aproximar as políticas econômicas dos países membros e acelerar a cooperação entre os
membros através de investimentos e livre-comércio. Contudo, este interesse de
desenvolvimento possuía um caráter deliberadamente vago. Podia-se visualizar a APEC
como o resultado de um processo de interação das perspectivas americanas e asiáticas do
Pacífico, dentro do contencioso econômico-comercial entre o Japão (compreendendo a
economia asiática) e os Estados Unidos (OLIVEIRA, 2002, p.117).
Com o passar do tempo, novas propostas foram sendo feitas, como na reunião em
Seattle em 1993, nos Estados Unidos, onde se discutiram a possibilidade de liberalização
comercial (no tocante também ao investimento) como peça chave dos objetivos da APEC. Foi
proposto também que a APEC acelerasse a cooperação econômica para uma futura área de
livre-comércio. Assim, em 1994, foi dada sequencia a esse objetivo com a Reunião de Bogor,
que estabelecia esta área de livre-comércio, com um cronograma de adaptação até de 2010
para os países desenvolvidos e até 2020 para os em desenvolvimento (o programa foi
descartado em 1995, em uma reunião na cidade de Osaka, mas de acordo com o website da
APEC de 2012, o programa ainda está em estudo, em uma de suas páginas, ainda cita:
“Investigating the prospects of and options for a Free Trade Area of the Asia-Pacific”).
Mesmo com a não existência de uma área de livre-comércio na APEC, as barreiras
foram diminuídas de 70% a 5,5%; mesmo não tendo uma área de livre-comércio
institucionalizada, hoje a APEC possui mais de 30 Acordos de Livre-Comércio bilaterais.
Além disso, o comércio intra-APEC totalizou no ano de 2007, 8.44 trilhões de dólares e o
comércio com o resto do mundo aumentou de U$3 trilhões em 1989 para U$ 15 trilhões, uma
média de aumento de 8.3% por ano. O comércio do mundo em termos gerais aumentou 7.6%
no mesmo período17
.
A APEC também possui, hoje, uma lista de vários assuntos tratados em seus Fóruns,
como energia, agricultura, saúde, educação, meio ambiente, terrorismo, segurança nacional,
turismo, transporte, dentre outros.
Assim sendo, mesmo com uma aproximação não consolidada entre os países
membros, os efeitos dos debates e acordos econômicos feitos até então retratam as
características de um bloco econômico (antes, essa terminologia não poderia ser feita, ou
então, poder-se-ia usar a expressão ‘associação de países’) que hoje aproveitam dessa situação
de globalização econômica para alcançarem cada vez mais espaço no comércio internacional,
17
http://apec.org/About-Us/About-APEC/Achievements-and-Benefits.aspx
27
de forma a alargar sua gama de parceiros econômicos internacionais, não se limitando apenas
aos países membros de blocos em comum: “APEC provided the venue for East Asian
countries to engage North America, South America and Oceania in economic dialogue and to
create a venue to discuss issues vital to economic development in the region (MEDALLA e
BALBOA, 2010, p. 10)”.
A seguir, descreveremos a outra iniciativa de integração criada na região da Ásia-
Pacífico, a Parceria Trans-Pacífico, ou TPP, no seu acrônimo em inglês·.
2.1.3 TPP
Outra estratégia de formação conjunta para fins comuns foi a TPP, a Trans-Pacific
Strategic Economic Partnership, ou somente Trans-Pacific Partnership. As iniciativas
germinaram a partir de reuniões em 2003 por Cingapura, Nova Zelândia e Chile, que
procuravam uma liberalização comercial para a região da Ásia-Pacífico. Em 2005, Brunei
começa a fazer parte das discussões. Já em 2006, a aliança é definitivamente consolidada, em
torno do objetivo de formar acordos de livre-comércio entre os países membros. Os EUA, o
Peru e o Vietnã se comprometem depois à também participar do conjunto. As primeiras
negociações de fato ocorram em Melbourne, na Austrália, durante o mês de Março de 2010.
Os temas debatidos incluíam mercadorias, agricultura, telecomunicações, serviços, barreiras
alfandegárias, meio-ambiente, dentre outros. As discussões, como podem ser vistas, são
próximas ou muito similares aos outros blocos econômicos com fins devidamente parecidos,
em busca de uma aproximação com países a fim do desenvolvimento mútuo. Porém um fator
importante neste bloco, ou grupo, especificamente, e a influência dos EUA diretamente nas
ações do grupo.
Os EUA, dentro do TPP trouxe novamente a questão da influência de um país com
poder econômico e politico dentro de um certo grupo de países que visa a notoriedade de seus
mercados e o avanços nas suas políticas internacionais. Dentro do TPP, além dos EUA, o
Japão e a China, poderiam ser vistos como possíveis parceiros, mas dentro de outros blocos,
Japão e China já possuem uma colocação de respeito e já se inserem com certa influência e
prioridade. Aliás, a TPP, diferentemente da ASEAN ou ASEAN+6 (também conhecida como
EAS, East Asia Summit), possui, juntamente com a ideia da APEC, um contexto mais próximo
do Pacífico, e consequentemente, da América.
Portanto, a presença dos EUA é um questionamento sempre levantado quando a
proposta envolve países do Ocidente. De certo modo, os EUA conseguem assumir um papel
28
importante dentro deste grupo, especialmente por já possuir acordos de livre-comércio com
países membros do TPP. E, de acordo com Fergusson e Vaughn (2010, p. 2), os EUA
pretenderia negociar seus acordos bilaterais de livre-comércio com países os quais não possui
ainda, como Nova Zelândia, Brunei e Vietnã.
A questão do Vietnã, dentro do TPP, é um tanto quanto complicada, pois adquire a
contestação legal devido à crítica feita por outros países de suas normas em relação aos
direitos trabalhistas, proteção de propriedade intelectual e corrupção. A integração do Vietnã
dentro do TPP foi vetada pelos EUA em Março de 2009. Para os EUA, de acordo com seus
interesses no grupo, dificultaria a proposta de um acordo de livre-comércio, principalmente
também da oposição de empresas têxteis e vestuário ao regime vietnamita de produção, que
envolve falsificação e problemas de cunho trabalhista. O Vietnã, por ser o país menos
desenvolvido do grupo, adquire certa dependência política dos EUA, já que por parte dos
outros membros, o EUA tem total apoio e sua manutenção nas negociações é imprescindível
para os objetivos do TPP.
De forma individual, cada país declarou ser à favor da inclusão dos EUA no TPP.
Nova Zelândia sempre buscou um acordo de livre-comércio com os norte-americanos e
visava, através do acordo, avançar o status do país no cenário. Mesmo que nas primeiras
rodadas de negociação, o Ministro do Comércio neozelandês Tim Groser especulou que os
EUA usaria o TPP como “primeiro veículo para inclusão dos EUA no jogo de integração da
Ásia-Pacífico” (FERGUSSON; VAUGHN, 2010, p. 2). Essa afirmação prova-se parcialmente
errônea, verificando a presença dos EUA já dentro das negociações da APEC, mesmo que
indiretamente.
Para a Cingapura, Chile e Austrália, a presença dos EUA é necessária para a
manutenção do bloco, e também revelaram seu desejo de que os EUA iriam agir como uma
“catálise” para uma posterior expansão do TPP. A integração de outros países no TPP
atrairiam maiores oportunidades de comércio, além de assegurar certa força para os países
membros dentro dos outros debates nos demais blocos econômicos.
Na visão dos EUA, a já explicada intenção de adquirir acordos de livre-comércio com
países membros que ainda não o possuem, ainda existem outros interesses voltados para as
discussões do TPP. A participação no grupo traria a aproximação de outros países
interessados em suas políticas econômicas. Dessa forma, os EUA conseguiriam arquitetar as
normas do comércio internacional regional a partir das suas, trabalhadas em seus acordos de
livre-comércio. E para os norte-americanos, essa estratégia é de fundamental importância para
29
a manutenção de sua presença na Ásia. O medo da perda dos mercados asiáticos traria
consequências graves para a sua economia no momento, já que a globalização econômica
tornou países da Ásia como China e Japão influentes na região, e, ainda com uma política
forte, os EUA resistem em abrir mão dos contatos adquiridos dentro dos blocos regionais,
como APEC e a própria TPP. Como não têm força coerciva em blocos como ASEAN,
ASEAN+3 e EAS, os EUA buscam se fortalecer através de países como menos força política
e econômica, dentro de grupos regionais mais fracos.
Concluindo a ideia:
The United States remains a leading trade partner for nearly all Asian states. Despite
this, the relative importance of the United States as a trading partner for many Asian
states is declining. There is fear among the U.S. policy and trade analysis that the
United States runs the risk of being marginalized if it does not respond to the
proliferation of trade agreements that have emerged in Asia in recent years. By
engaging TPP, the United States may be seeking to change this dynamic, both by
seeking to join this new trading bloc and by shaping it to be consistent with already-
existing comprehensive U.S. FTAs. (FERGUSSON; VAUGHN, 2010, p. 2).
Encerramos esta seção com a descrição da mais recente iniciativa de integração na
bacia do Pacífico, desta vez organizada na sua costa latino-americana, a Aliança do Pacífico.
2.1.4 Aliança do Pacífico
Mesmo com um foco indireto na Ásia, a Aliança do Pacífico, integrada por Chile,
Colômbia, México e Peru, em junho de 2012, aparece como mais um bloco capaz de
direcionar um consenso conjunto para o desenvolvimento. Discutida primeiramente no ano de
2011, entre os mesmos atores, porém com membros observadores (Costa Rica e Panamá), a
Aliança do Pacífico visa mais uma integração econômica do que uma concorrente disputa
com os blocos asiáticos. A formação de mais um bloco na América Latina nos leva a
desconfiança em relação da efetividade dos outros já estabelecidos. Mesmo possuindo
membros com políticas muito diferentes entre si, este bloco busca um foco também
desenvolvimentista, porém mais voltado para a América Latina com um olhar para a Ásia-
Pacífico, por isso sua adequação neste trabalho.
O foco no estabelecimento de um bloco capaz de voltar seus interesses para o
comércio exterior, principalmente no mercado asiático, tornam os desafios da América Latina
em estabelecer-se como um ator importante no cenário mundial cada vez mais desafiadores.
Pela análise feita pelo investigador Carlos Malamud, investigador do Instituto Real Elcano,
30
existem certas dificuldades evidenciadas no cerne da Aliança que devam ser levadas em
consideração.
Segundo Malamud, há dois grandes problemas na criação da Aliança do
Pacífico que podem comprometer a existência e a eficácia do tratado. O primeiro deles seria
uma clara definição do que é que se pretende integrar dentro do bloco, ou de como integrar, já
tendo uma clara expressão de quem seriam os “articulados”. Seria a América Latina, a
América do Sul ou o continente americano? A iniciativa de uma expansão com Costa Rica e
Panamá para um acordo de livre-comércio, as relações com a China e outros países do
continente asiático, e também uma aproximação com o MERCOSUL deixam uma dúvida de
qual seria o direcionamento das políticas contidas na Aliança do Pacífico. Talvez, todas elas
em conjunto seriam um bom pretexto para as mais diversas relações internacionais, capaz de
adquirirem uma visibilidade maior nos contextos comercial e político, mas poderiam causar
perda de foco e uma lentidão na proposição de planos de ação nas mesas de debates e na
explanação das intenções para os mais diversos parceiros.
Uma segunda dificuldade evidenciada pelo autor seria, com a criação da Aliança, o
que seriam feitas, ou como seriam colocadas as alianças ou blocos já existentes. Contendo
países já inseridos em outros (dentre eles UNASUL18
, Pacto Andino e APEC) sejam eles
econômicos, políticos, ou simplesmente fóruns de debate, poderiam causar uma
descoordenação de suas estratégias, afinal, outros blocos formados na América do Sul ou
América Latina possuem diretrizes similares, e seriam fusionadas ou colocadas em segundo
plano?
Por Malamud, esses problemas são a prova de que o conjunto da América Latina como
um todo tem estado em crise. O investigador procura destacar o estado da integração na
América Latina para uma prospecção da mesma em torno das aglomerações entre países,
como foi feita na Aliança do Pacífico. Os acordos feitos entre os países teriam que estar em
torno de um objetivo comum para que alcancem o esperado, porém a situação dentro do
continente americano é outra. No início, os acordos eram feitos com um foco comercial e
econômico. Nas últimas décadas, pode-se ver uma busca no também no entorno político. E
este contorno, segundo o autor, não tem avançado muito, devido à fragmentação que vive a
América Latina e seu impacto sobre as relações inter-regionais (MALAMUD, 2011, p. 2).
Alguns fatores colocados por Malamud realçam essa fragmentação: (1) o desequilíbrio
causado pelo Brasil. O país se coloca entre o mais avançado e mais economicamente
18
A UNASUL foi um organismo composto pelos 12 países da América do Sul, em março de 2011. Seu propósito é de construir um espaço de articulação no âmbito cultural, social, econômico, político entre seus povos.
31
desenvolvido na América Latina, em que a Aliança do Pacífico pode encontrar dificuldades
em aproximar o bloco do MERCOSUL, devido à complicada relação entre México e Brasil.
(2) A incorporação de Cuba aos organismos sul-americanos, posto a inflexibilidade política
do país para aproximação de um consenso. (3) As integrações latino-americanas demonstram
certa despreocupação com o mundo externo e com a globalização. Essa despreocupação pode
ser dada historicamente pela criação da ALBA (Aliança Bolivariana das Américas),
estruturada em contrapartida a incorporação dos países latino-americanos à ALCA.
Apesar desta fragmentação proposta por Malamud ser evidente, a Aliança do Pacífico,
assim como a TPP, visam uma abertura maior de sua visão de mundo, não só se abrindo
internamente, com membros de outros blocos em busca de um ideal conjunto, mas também
pretendendo relações cada vez mais próximas com a Ásia.
La Alianza no olvida la política pero rescata la economía y el comercio como
esenciales para la integración, como muestra su apuesta por el libre comercio y por
vincularse a otras zonas con regímenes similares. Esta postura ha supuesto la
oposición de los países del ALBA, más explícita en algunos casos que en otros. La
división ya era perceptible en los intentos previos de constituir un área regional
volcada al Pacífico. (MALAMUD, 2011, p. 3).
Sua diferença também está no enfrentamento à globalização. A proposta de alcance ao
Pacífico, já declarada por Malamud, auspicia uma busca de novos mercados e novas relações
para o fortalecimento da América Latina na Ásia. A análise proposta pelo investigador do
Instituto Real Elcano, coloca o ponto da China no papel de um bloco originariamente Latino-
americano. A China ganhou parte do mercado no continente e aproximasse de forma cada vez
mais incisiva. A preocupação dos países da Aliança do Pacífico se volta para a diversificação
de mercados.
Há um certo risco na concentração das exportações para a China, e claro, o inverso
também é possível. O monopólio chinês é um fator extremamente importante no que tange às
relações dos membros do bloco com a Ásia, assim sendo, suas políticas terão de ser muito
bem colocadas a fim de não ficarem dependentes das políticas chinesas. Daí a importância de
que a Aliança negocie em conjunto, ou em bloco, com seus interlocutores orientais
(MALAMUD, 2011, p. 4).
2.2 As Relações da Ásia e a América Latina
Dentro do contexto abordado acima, o foco da Ásia não se delimitou ao regional, e
devidos fatores que serão explanados aqui posteriormente, pode encontrar-se com novas
32
formas de diálogo e novos atores-parceiros que vieram a abarcar um novo rumo e uma nova
história político-econômica da Ásia. De uma forma precisa, o membro do Instituto de
Relações Exteriores e Segurança Nacional da Coréia do Sul, Lee Jae-Seung (2001, p. 49-50)
justifica bem as ações asiáticas tomadas:
A inter-regionalização é um fenômeno razoavelmente novo, comparado com outras
formas de relações internacionais. Surgiu como uma rede regional complementar
preenchendo o hiato entre a globalização e a regionalização. Funciona como uma
rede de segurança garantindo uma liberalização contínua no âmbito global, sem com
isso perder-se a coerência regional. A inter-regionalização baseia-se tanto na
globalização como na regionalização e sua importância consiste no fato de servir
como ponte entre as duas tendências aparentemente incompatíveis.
Apesar destas aproximações entre Ásia e América Latina terem sido feitas a partir da
formação dos blocos econômicos já esclarecidos19
, de uma forma superficial e sem decisões
concretas, o que se dará nesse tópico serão os acordos inter-regionais, que farão com que
novas alianças e tratados sejam concretizados a fim de estabelecer uma dinâmica saudável
entre os países do oriente e ocidente.
Inicialmente, o que se nota no começo das analises feitas entre estas aproximações são
que começaram por um interesse político. A “sombra” norte-americana sobre os países do
Leste Asiático colocaram em questão a objetividade e eficácia dos blocos formados e qual era
o nível de interdependência econômica e política na qual estes países asiáticos estavam
imersos. A aposta de um entrave norte-americano para a aproximação asiática deu-se por
colocar os países em uma situação de busca por uma nova estratégia, visando uma
“independência” maior dos EUA.
Um fator que impulsionou mudanças na colaboração América Latina e Ásia foi a crise
de 1997, que acreditou-se não desempenhar um papel mais atuante no redirecionamento da
crise e que a estabilidade regional, econômica e estratégica depende ainda dependia ainda de
inciativas e políticas de atores regionais (OLIVEIRA, 2001, pg. 29).
Outro fator político que influenciou muito as ações asiáticas visando a América Latina
foi a percepção de que a ALCA20
seria um projeto a consolidar-se nas Américas, e
consequentemente, afetar ou diminuir as possibilidades de inserção da Ásia no espaço latino-
americano, principalmente (OLIVEIRA, 2001, pg. 29). Por isso, os processos de aproximação
19
Como no caso da APEC, porém pouco foi feito de fato para que houvesse um dinamismo econômico maior entre os países da América Latina com a Ásia, por exemplo, em que se situam Chile, Peru e México. 20
O Acordo de Livre-Comércio das Américas foi primeiramente proposto em Dezembro de 1994 na Cúpula de Miami, que visava formar uma área de livre-comércio entre os 33 países membro da Cúpula até o ano de 2005, ano em que a ALCA iria se oficializar. O Acordo não foi institucionalizado e permanece parado desde 2005.
33
tem um caráter de desenvolvimento de um inter-regionalismo com identidade e planos
asiáticos, diferentemente dentro da APEC, com a força de influência dos Estados Unidos.
O início da aproximação concreta entre a América Latina e Ásia é explicado por
Oliveira (2001, p. 39):
Da mesma forma que a ASEM, o recente processo de aproximação entre Ásia e
América Latina vai ter como ponto inicial uma proposta de Cingapura e vai englobar
os países membros da ASEAN mais o Japão, China e Coréia do Sul. Como proposta
básica, trata-se de uma iniciativa com vistas a institucionalizar uma aproximação
política de alto nível e implementar programas e planos que ampliem os laços
econômicos, políticos e culturais entre as duas regiões.
Esta proposta se dá por ter, na época, uma resposta necessária aos regionalismos que
aconteciam, à uma tendência de aprofundamentos inter-regionais, como no caso da
aproximação EUA e UE. Como já foi citado acima, a estratégia da Ásia também pairava no
que tange a influência dos Estados Unidos nos outros continentes. A ASEM (Asian-Europe
Meeting), como foi citada por Oliveira, foi uma dessas tentativas de ligação entre Ásia e UE,
feita pelo Primeiro Ministro de Cingapura, Goh Chok Tong, em 1994, em visita à Paris, de
forma a estreitar os laços políticos, econômicos e culturais entre as duas partes. Assim, os
membros da ASEM (que basicamente constituíam-se pelos membros da ASEAN) lançaram o
objetivo de regular a influência dos Estados Unidos na região e relativizar a importância dos
EUA para a UE, que de fato, dificultaria o avanço da economia asiática dentro do continente,
barrando a evolução e o dinamismo da economia emergente que começava a ser durante a
década de 90.
Tomando com exemplo a ASEM, o Leste Asiático também propunha uma forma de
aproximação institucionalizada entre América Latina e Ásia:
Assim, na Primeira Reunião de Chanceleres, em março de 2001, definiu-se que o
Fórum de Cooperação América Latina – Ásia Leste “se insere no contexto da
globalização e do adensamento das relações entre as diferentes regiões do mundo e
tem por objetivo preencher lacunas no relacionamento entre as duas regiões. O
propósito principal deste mecanismo de cooperação e diálogo multidisciplinar inter-
regional é o de fomentar o diálogo político, entendimento e cooperação21
”
(OLIVEIRA, 2001, pg. 40).
21
FUJITA, E. “Fórum de Cooperação América Latina-Ásia do Leste. Primeira Reunião de Chanceleres ( Santiago – Março de 2001). Carta Internacional, IX (98): 3, Abril 2001.
34
Com esse intuito, nasceu a FOCALAL22
(Fórum de Cooperação América Latina –
Ásia do Leste), que, com uma prerrogativa similar à da ASEM, procurou ampliar e aprofundar
os laços econômicos, políticos e culturais entre as duas regiões. Demonstrou não só um
interesse asiático pelo espaço latino-americano, mas também a disposição de diferentes
Estados, como Japão, China e Coréia do Sul em participar deste processo (OLIVEIRA, 2001,
pg. 40). Entretanto, a importância destes últimos para a perpetuação e evolução dos Fóruns é
indispensável, pois, como atualmente são a alavanca impulsionadora da economia asiática.
Ainda como diz Oliveira, “(...) tanto para a Europa quanto para a América Latina, só a foi
ASEAN, sem Japão, Coréia do Sul e China, não despertaria o interesse que se tem para o
ASEAN+3” (OLIVEIRA, 2001, pg. 40).
Em um contexto mais restrito, a aproximação entre a Ásia e o MERCOSUL23
foi vista
como um ponto fonte nessas relações Ásia e América Latina no começo dos anos 2000, pois
com o não mais que relativo sucesso do bloco, poderia ser visto como uma próspera aliança
extra-hemisférica, trabalhando-se com perspectivas de que a América Latina poderia se
constituir num parceiro importante para os projetos asiáticos, em se tendo um papel
predominante no sistema internacional (OLIVEIRA, 2001, pg. 42).
A instituição do MERCOSUL introduziu mudanças profundas no padrão de
relacionamento internacional no âmbito sub-regional e atraiu a atenção da Ásia pelos mesmos
motivos explicados anteriormente, de se ter uma busca por novas alianças que
proporcionariam um espaço diferente de tratar os mais diversos assuntos da pauta das relações
internacionais, sem os anseios particulares dos Estados Unidos:
Dessa forma, a aproximação Ásia Leste-América Latina tende a ser um canal de
reforço mútuo dos interesses de ambos os parceiros. Para a Ásia, representa um
esforço para não ficar de fora do Mercosul ou da América Latina, principalmente se
o processo da ALCA avançar. E, para a América Latina, além de reforçar sua
capacidade de negociação nas propostas da ALCA, representa também a
possibilidade de um maior acesso ao mercado e aos investimentos asiáticos
(OLIVEIRA, 2001, pg. 46).
Assim, o interesse de Estados em blocos como o MERCOSUL e suas políticas
desenvolvimentistas, tanto quanto suas políticas econômicas, fazem com que haja um avanço
22
O FOCALAL teve sua primeira reunião em 1999, em Cingapura. Em Março de 2001, teve sua primeira reunião com Ministros das Relações Exteriores dos países envolvidos. 23
Fundado em 1991, tendo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai como membros iniciais, hoje, conta ainda com a participação da Venezuela.
35
nas parcerias governamentais entre estes Estados, e novas formas de cooperação sejam
iniciadas, ou então, aprimoradas24
, justificadas por Lee (2001, p. 49) no seguinte:
No âmbito da competição global, contudo, tornou-se mais difícil sustentar
estratégias puramente nacionais. Os arranjos multilaterais tampouco se mostraram
eficazes na construção de uma ordem mundial estável. Uma série de relações
bilaterais e de integrações regionais emergiram em consequência.
Cabe salientar que o MERCOSUL coloca desafios para a integração da Ásia com a
América Latina. Os dois países mais industrializados do bloco, Brasil e Argentina, buscam
definir acordos comerciais que não prejudiquem sua capacidade de produção industrial frente
a concorrentes mais bem posicionados do outro lado do Pacífico. A seguir, discutiremos
especificamente o papel do Brasil e sua relação com a Ásia-Pacífico.
2.3 A Ásia e o Brasil
Durante, e após todo o período de aproximações feitas desde o nascimento da ASEAN,
um dos principais e mais consolidados blocos econômicos da Ásia em contato com a América
Latina, até o FOCALAL, percebe-se que os laços vão se aproximando ainda mais, e nota-se
também o interesse particular entre o Brasil e a Ásia. Desta forma, Oliveira (2001, p. 40)
considera que a iniciativa de aproximação entre as duas regiões, através da Focalal, gerou a
ampliação das potencialidades brasileiras. E também destaca:
[...] o presente interesse mútuo, além da busca das complementaridades óbvias em
termos de comércio e alianças políticas tanto nos planos bilaterais quanto nos
multilaterais, demonstra a vontade política de estreitamento de relações em função
da necessidade de estabelecimento de parcerias, de um lado, no processo de
distribuição de poder internacional e, de outro, na disputa pela garantia de acesso à
mercados.
O Brasil delega a região asiática um espaço especial visando o investimento e o acesso
às tecnologias de ponta. Por outro lado, a Ásia desperta também seu interesse no Brasil pela
sua produção de insumos básicos e produtos alimentícios, e também pela alta quantidade de
matéria-prima existente, que contribui como o principal fator do comércio internacional do
país.
Analisaremos nesta parte do trabalho, como se iniciaram, partir da aproximação dos
blocos, os acordos bilaterais entre os países asiáticos e o Brasil. De certa forma, perceberemos
24
Será exemplificado pelos próximos capítulos deste trabalho, no caso do Brasil com a Coréia do Sul.
36
que o regionalismo asiático contribuiu para que as relações Ásia-Brasil pudessem se fortalecer
e evidenciar os acordos e políticas econômicas voltadas para a ampliação de mercados.
Porém, certas relações bilaterais já existiam muito antes de começarem a formar os blocos e
fóruns para melhorias no quesito político-econômico entre os países latino-americanos (nesse
contexto, o Brasil) e os países asiáticos. Ao longo da consolidação dos acordos, as relações
bilaterais também se consolidavam e fortaleciam-se, e gradativamente, ambas progrediam
juntas para a afirmação das políticas entre as nações.
No início dessas relações bilaterais, o relacionamento do Brasil com a região asiática
permanecia unicamente voltado para o Japão25
, que desde o Tratado de Amizade, Comércio e
Navegação de 1895, que permitiram aos japoneses um trabalho em regime de servidão por
contrato, que os obrigava a trabalhar nas lavouras cafeeiras, depois de sua primeira expedição
de imigrantes em 1908. Não prolongaremos detalhes desse período, focando no período em
que começam as políticas regionalistas por volta dos anos 70. Segundo Oliveira (1999, p. 92),
houveram dois fluxos principais comerciais que alavancaram essa aproximação Japão-Brasil,
agora já na categoria de parceiros econômicos internacionais. O primeiro se apresenta na
segunda metade da década de 50, consolidando uma infraestrutura comercial, a cargo das
trading companies japonesas. O investimento se das primeiras fábricas que instalavam-se no
Brasil eram do ramo têxtil e de comercialização. O segundo fluxo, dado nos anos 70, coincide
com o milagre econômico brasileiro, e a chegada do Japão como potência, e tendo como
consequência, a valorização do iene. Assim indicava-se uma convergência de interesses tanto
do Japão como do Brasil, assim como uma busca à estabilidade política e econômica.
Muito próximo à este período, temos o Brasil reatando suas relações diplomáticas com
a China, em 1974, desde a sua “separação” em 1949, após a vitória de Mao Tse-Tung na
revolução comunista da China. Assim sendo, de acordo com Oliveira (2001), o Brasil
diversificava suas parcerias internacionais, buscando uma inserção mais competitiva. Isso
serviu para reafirmar a credibilidade e legitimidade da ação brasileira em busca de novas
alianças para o comércio e desenvolvimento interno e externo. Porém, somente na década de
90 que se acelera o desenvolvimento comercial entre os dois países, na área da cooperação
técnico-científica, com o projeto de produzir satélites de sensoriamento remoto em 1999. Na
área política, “a China utiliza-se de seu assento permanente no Conselho de Segurança para se
aproximar dos países em desenvolvimento e nesse sentido acena com a possibilidade de
25
De maior importância histórica, pois o Brasil já possuía alguns contatos com a China e Hong Kong neste período, mas, igualmente tratado no texto, levaremos em conta as aproximações da segunda metade do século XX, em que se consolidou o comércio internacional na era da globalização.
37
apoiar o interesse brasileiro em aceder ao Conselho de Segurança” (OLIVEIRA, 2001, p.
120). O Brasil, da mesma forma, determina seu posicionamento por regras justas de comércio,
defendendo o sistema multilateral de comércio e à favor da entrada da China na OMC.
De certa forma, por volta da segunda metade da década de 90, além da aproximação
com uma China em estado de ascensão econômica, houve a crise de 1997, que como já foi
dito, impulsionou as parcerias entre a Ásia e a América Latina. Oliveira (2001) aponta que
pelo desenvolvimento econômico acelerado e por estar integrado através da Asean, o Sudeste
Asiático foi visualizado como um potencial parceiro político e econômico, depois do
estabelecimento do Mercosul. A visita do Secretário-Geral da Asean ao Brasil, em 1997,
foram discutidas várias alternativas de aproximação entre Mercosul e Asean. E neste ponto, o
Brasil, como país mais forte dentre os membros do Mercosul, teve sua participação dentro
dessa aproximação potencializada, mesmo não sendo de interesse mútuo uma área de livre-
comércio entre os dois blocos, como segue:
Mesmo assim, houve um crescente aumento no intercâmbio comercial entre Brasil e
a Asean, demonstrando a potencialidade de maior estreitamento. No caso da Asean,
assim como a China, chama igualmente a atenção à existência de imensas
possibilidades quanto à prestação de serviços no desenvolvimento de infraestrutura
em especial no campo energético e de transportes (OLIVEIRA, 2001, p. 120).
Portanto, existe a prova de que a atratividade que possuía o Brasil, pela abertura de
mercado e estabilidade financeira, e por outro lado, a ampliação de seu mercado regional com
o MERCOSUL, percebia-se um crescente interesse do Sudeste Asiático pelo Brasil. Como
explica Oliveira, “Esse interesse não é só econômico-comercial, mas igualmente político-
estratégico em função da disputa por poder e por mercados que se processa na OMC e em
outros fóruns multilaterais” (OLIVEIRA, 2001, p. 120). A diversificação de parceiros
comerciais também resultava na teoria de que o Japão não representava o único mercado
asiático para os produtos brasileiros.
No entanto, a Asean constituía uma força de aproximação necessariamente com os
três líderes do Nordeste asiático - Japão, Coréia do Sul e China – constituindo a Asean+3,
refletindo uma tendência à cooperação regional e principalmente, a resistência permanente
dessa cooperação entre Asean-Brasil, pois, devidos aos laços bilaterais já existente em anos de
história dos países envolvidos, foi possível usar dessa crescente aproximação algo que
garantisse credibilidade e interesses mútuos.
38
Por fim, a história econômica de Brasil-Coréia do Sul iniciava-se antes mesmo dos
fóruns Asean+3, tendo uma dinâmica também atrelada ao bloco do Sudeste Asiático, no que
tange ao fato da aproximação econômica e política em períodos que ambos cresciam de forma
significativa no comércio internacional, e verificaram entre si grandes probabilidades de
ganho na extensão das trocas externas. Justificando nas palavras de Oliveira: “a Coréia do Sul
e o Sudeste asiático, pelos respectivos processos de desenvolvimento econômico acelerado,
passaram igualmente a ser visualizados como possíveis parceiros políticos e econômicos”
(OLIVEIRA, 2001, p. 120).
O espaço ganho pela Coréia do Sul dentro do Sudeste Asiático começa no início da
década de 90, após o seu desenvolvimento rápido nas décadas anteriores26
. Empresas como
LG, Samsung, Hyundai, Kia e Daewoo aparecem fortemente para ganhar mercados não só no
âmbito regional, mas também ganharam projeção internacional. Com essa ampliação no
relacionamento com a Ásia, pode, com a proposta das cooperações inter-regionais, buscar
novos mercados para investimentos diretos direcionados ao setor eletrônico e automobilístico.
Dessa forma, o Brasil foi um alvo dessa política expansionista do capital sul-coreano, de
forma a conquistar, rapidamente, o mercado de industrializados no país:
A crescente participação coreana no comércio brasileiro parece ter sido reforçada
pelo fato de os conglomerados coreanos (chaebol27
) mostrarem-se mais agressivos
na conquista de mercados seja na América Latina, seja no Brasil, procurando
suplantar o papel desempenhado pelo Japão. Sua ação parece estar orientada pelo
objetivo de formação de redes de distribuição, criando possibilidades de
investimentos diretos como base para um integração produtiva em setores de
manufaturados (OLIVEIRA, 2001, p. 120).
A partir deste período, o Brasil e a Coréia do Sul apresentarão uma parceria cada vez
mais acentuada durante sua história. O Brasil, principalmente, terá a oportunidade de
desenvolver condições favoráveis para um comércio externo que trará mudanças
significativas para a indústria doméstica e para as políticas econômicas do Brasil.
Pode-se constatar, portanto, que o crescimento do regionalismo fez com que novas
possibilidades de alianças fossem abertas, de forma a formarem blocos regionais, alcançando
não somente as nações próximas, mas mesmo países distantes para a abertura de mercados
importantes para ambos os lados. Fatores como a crise de 1997 impulsionaram cada vez mais
26
Fato a ser tratado detalhadamente no próximo capítulo deste trabalho. 27
Chaebol é o termo coreano que define um conglomerado de empresas em torno de uma empresa-mãe, normalmente controladas familiares, iniciado no começo da década de 60.
39
essas alianças, e mesmo a Coréia do Sul ter entrado com força no mercado brasileiro nos anos
90, este momento serviu com motor de propulsão para uma das alianças mais benéficas para o
mercado brasileiro. Com o desenvolvimento entre as relações Brasil-Coréia do Sul, podem ser
analisados aspectos culturais, políticos e principalmente econômicos, os quais são o objetivo
deste trabalho. Logo, o papel sul-coreano será analisado dentro deste trabalho, desde suas
características históricas no Brasil, ao longo de toda sua progressão a partir da abertura
econômica e financeira dos anos 90 e do momento de globalização do capital, justificando a
entrada do capital sul-coreano no Brasil.
40
3 AS RELAÇÕES BRASIL-CORÉIA: DAS RELAÇÕES
DIPLOMÁTICAS AO INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO
Nesta terceira seção, será discutido o início das relações entre a República do Brasil e
a República da Coréia do Sul, desde sua diplomacia até o momento em que ocorre a
aproximação econômica e o dinamismo de seu comércio. Na seção passada, foi dado um
apanhado sobre as relações interestatais e a formação de blocos e alianças em torno de um
desenvolvimento comum, começando pelo plano regional até a chegada destes grupos à
outros continentes, e por conta deste intercâmbio, aparecem novas formações políticas e
econômicas em torno da aproximação da crescente região asiáticas para a América,
especialmente a América Latina, contexto o qual é direcionado este trabalho.
A importância de verificar a formação destes blocos é exemplificada no fato da
abertura política e econômica no decorrer das décadas passadas (dentro da seção passada, a
partir do pós-guerra). E na seguinte análise, verifica-se a aproximação dos países presentes
nos blocos com os países do outro extremo do Pacífico, no caso a América Latina, e o Brasil
em especial. Deve-se notar também que, dentro deste trabalho, haverá a descrição do início
das relações entre Coréia28
e Brasil através da sua diplomacia, que começam antes do período
de formação dos blocos regionais. Mas vale destacar a importância do fortalecimento
posterior das políticas da Coréia por conta destes blocos, que chegariam à América Latina por
interesses políticos e econômicos, aproximando assim gradativamente o país com o Brasil, e
posteriormente, a formação de alianças e tratados entre os dois países por conta de seu
comércio internacional.
Através desta informação, poderemos dentro deste capítulo iniciar o caminho histórico
que traçou a Coréia, a partir da sua divisão em 1948 com a Coréia do Norte, a guerra entre as
duas Coréias, e depois, o papel da imigração dos coreanos para o mundo, o começo da
diplomacia com o Brasil, e logo a imigração dentro do país. Após o levantamento dessas
informações, teremos a análise do início da cultura coreana dentro do Brasil, sua demografia e
seu desenvolvimento econômico, chegando finalmente à relação de confiança entre as duas
nações, culminando com os investimentos diretos da Coréia no Brasil.
Este movimento de aproximação continua até os dias de hoje, mas em nosso trabalho,
será adotado principalmente o interim entre as décadas de 90 até o ano próximo a 2010. A
28
A partir de adiante, a Coréia do Sul será denominada, por convenção, somente de Coréia. No caso de comparações com a Coréia do Norte, essa será simplesmente caracterizada por “Coréia do Norte”.
41
importância do papel dos blocos regionais esta diretamente interligada ao processo de
amadurecimento das relações Coréia-Brasil, a partir de possibilidades de negociação e
debates, que pela APEC, a Coréia pode definir um avanço para terras Latino-americanas,
através de visitas de seus presidentes durante as décadas de 80 e 90, e também pelos planos de
cooperação que visava a Coréia para o Brasil, já que mostrava um desenvolvimento e
crescimento muito superiores ao deste último.
Por fim, mostraremos como está o progresso dos investimentos no Brasil a partir da
Coréia e quais são os dados que poderão confirmar que essa relação tem um futuro mais
progressivo e de caráter cooperativo, para ambos os lados. Apesar de a China ter ocupado a
agenda comercial do Brasil como país número um, a pequena e avançada Coréia vai
conquistando cada vez mais espaço no comércio internacional, e também com o crescente
número de empresas dentro do país, galgando um pedaço ainda maior do bolo econômico
brasileiro.
3.1 As Relações Diplomáticas e a Imigração
A diplomacia coreana com o Brasil tem início no ano de 1959. Porém, anterior ao
acontecimento, há um contexto importante pela qual se deu o início desta relação diplomática.
Após a derrota da Rússia pelo Japão em 1905, o território da Coréia (nesta época,
unificado) se tornou protetorado do Japão até o ano de 1910, em que foi assinado o Tratado de
Anexação Coréia-Japão. A dominação tornava o território uma mera colônia de exploração
japonesa. Até o final da Segunda Guerra Mundial, a dominação perpetuou-se até que o Japão
perde a guerra e são “criados” dois territórios, ou zonas de influência: o norte sob influência
soviética e o sul sob influência norte-americana. Assim, o Brasil reconheceu o sul da Coréia,
sendo o oitavo país a fazê-lo. Porém, ambas as “Coreias” clamavam o domínio interino da
península coreana, culminando na Guerra da Coréia, que dura três anos. Este conflito foi mais
um dos primeiros conflitos de influência indireta das duas potências da Guerra Fria, os EUA e
a União Soviética. Após o conflito bélico, as duas Coreias ficam legitimamente separadas, a
do sul capitalista sob influência dos EUA, e a do norte comunista, com o apoio dos soviéticos.
O Brasil, juntamente com os demais países latino americanos, apoiava a causa sul-coreana,
através do seu comportamento cooperativo com os EUA. E assim, em 1959, o Brasil ratifica
suas relações diplomáticas com a Coréia do Sul.
Cria-se, então, a primeira embaixada da Coréia no Brasil, em 1962, no Rio de Janeiro.
Já em 1965, a primeira embaixada brasileira é criada também em Seul, posteriormente, a
42
embaixada carioca passa para a recém-inaugurada capital de Brasília. Outros países latinos
americanos também voltam suas atenções para a Coréia e estabelecem suas embaixadas no
país, assim como recebem a diplomacia coreana em seus Estados. A partir do início das
relações diplomáticas, começam as ondas de imigração de coreanos no Brasil.
3.1.1. A Imigração Coreana
Antes mesmo da imigração coreana começar no Brasil, vários outros países receberam
o povo coreano. As razões, naquele período histórico, para que houvesse um considerável
movimento migratório a partir da península coreana, foram justamente às ocupações e
guerras, tanto pela China, Japão e Rússia, que disputaram o território e conflitaram dentre
dele, que desesperaram coreanos a fugirem do massacre dos exércitos estrangeiros e
principalmente da violência física, e muitas vezes sexual dos dominadores. Porém, os
coreanos não dotavam de riqueza suficiente para fugir para outros continentes, e acabaram por
migrar para os países dos próprios agentes belicosos em seu país. Após todo o período de
dominação, com a ocupação norte-americana no pós-segunda guerra, houve imigração para os
EUA e Canadá, que buscaram não somente a paz para suas famílias, mas também melhores
condições de vida, em detrimento da pobreza que vivia o país. Por este segundo motivo,
acabaram também migrando para países como Austrália, Novos Zelândia e Europa, já na
década de 70.
No Brasil, a imigração coreana inicia-se oficialmente em Fevereiro de 1963, quando o
primeiro grupo de 103 coreanos desembarca na cidade de Santos. Os motivos pela qual
despertou a vontade da emigração neste período para o Brasil foi o golpe de Estado pelo
general Park Chung Hee, apesar do descontentamento já existente nos governos anteriores de
Syngman Rhee (48-60) e Yun Po Sun (60-61). Com isso, o governo brasileiro já se preparava
para a imigração coreana com o estabelecimento, em 1961, de uma associação de emigração,
que visava auxiliar os imigrantes na sua chegada ao país. Nesta época, o governo coreano
estimulava a emigração no país para o controle de natalidade, através da política de reduzir a
população e diminuir o impacto do pós-guerra nas escolas e mais tarde no mercado de
trabalho (MASIERO, 1999). A partir disso, o constante crescimento da população migrante
coreana no Brasil fez com que o governo brasileiro passasse a restringir estes movimentos,
causando um movimento clandestino para dentro. Muitos coreanos chegaram por países
vizinhos como Panamá, Bolívia e Paraguai, para depois se realocarem em países como Brasil
43
e Argentina. Porém, mesmo com os problemas encontrados com a imigração clandestina, o
Brasil proporcionou uma Anistia no ano de 1969, garantindo à mais de 1000 coreanos a
legalidade.
Muitos destes coreanos que entravam no Brasil, ilegalmente ou legalmente, eram
designados as lavouras, assim como na imigração japonesa no começo do século XX,
estabelecido por um acordo entre Brasil e Japão. Porém a maioria dos coreanos abandonava
sua rotina rural e migravam para as cidades. Isso porque em sua cultura, pouco plantavam em
latifúndios, já que o país é pequeno e se especializava em outro tipo de cultura produtiva,
como a produção têxtil, e microculturas como a do arroz, além do fato de os coreanos
buscarem áreas onde existissem escolas, hospitais, dentre outras recursos. Através deste fato,
contrário a política acordada entre brasileiros e coreanos, nas cidades, desenvolveram-se
como pequenos varejistas, principalmente, na indústria de confecções e de tecidos. Assim, na
região do Bom retiro, em São Paulo, onde 90% da população coreana permanecia, formou-se
uma gama de pequenas indústrias de tecidos controlados por expatriados vindos da Coréia, e
dominando uma área do varejo que antes era comandada por imigrantes judeus e árabes.
Muitas vezes, conseguiram o monopólio por formarem pequenos grupos de coreanos que se
ajudavam entre si dentro do mercado de confecções. Porém, muitos destes coreanos correram
grande risco por conta da sua ilegalidade, até chegarem ao domínio da indústria, trabalhavam
sem qualquer descanso, com medo de serem deportados.
A partir daí, a indústria de confecções foi sendo desenvolvidas pelos imigrantes até se
estabelecerem por completo. Porém as indústrias de tecidos perderam força pelos imigrantes
coreanos, e devido o processo de liberalização das importações, especialmente pela China,
muitos coreanos se voltaram para outras atividades econômicas como turismo, lojas de
conveniência (que inclusive começaram a trazer produtos de seu próprio país para os
compatriotas), restaurantes, entre outros (GUIMARÃES, 2006, p. 9). Um árduo período os
levou a passar fome e medo para poderem usufruir de uma vida no mínimo decente dentro da
sociedade na megalópole urbana. Mas como todo processo de imigração, a adaptação a
cultura do país foi um grande desafio. O Brasil é constituído por uma cultura completamente
heterogênea, de civilizações vindas da Europa, África e Oriente Médio. Ao contrário da
população coreana, que é extremamente homogênea e conservadora. Em uma cidade como
São Paulo, o cosmopolitismo moderno veio se chocar com um método de vida e hábitos
urbanos diferentes da capital coreana, Seul, que é muito mais antiga que São Paulo e por isso,
tem seus costumes e modo de vida distintos. Portanto, o inevitável choque cultural e o
44
processo de adaptação fez com que a comunidade coreana em São Paulo se fechasse em torno
de sua população. Isso causou diferentes problemas tanto para as famílias coreanas quanto
para as brasileira que desfrutavam do mesmo espaço urbano. Pelo lado brasileiro, a população
os via como meros “forasteiros”, com hábitos sujos e estranhos. Pelos coreanos, o brasileiro
era um ser rude e preguiçoso, e, portanto, as famílias não deveriam se misturar, fortalecendo o
conservadorismo já existente dentro da cultura coreana. Esta visão fechada foi se degradando
com o tempo, assim que os coreanos mais jovens começavam a frequentar escolas, parques e
clubes com jovens paulistanos, havendo uma mudança gradativa da visão de uma cultura pela
outra.
Conseguindo um espaço mais aberto na comunidade, os coreanos sonhavam com uma
vida otimizada dentro do Brasil. Devido à evolução cultural feita por cerca de vinte anos, os
imigrantes, muitos já legalizados pelas anistias, começavam a pensar de uma maneira mais
financeira e empreendedora. Muitos dos que vieram tiveram suporte de igrejas Católicas e
Protestantes. Esse auxilio, muitas vezes financeiro, vieram a fomentar o sonho de coreanos de
ter o próprio negócio (como o fizeram com as indústrias de tecido) e se dedicarem cada vez
mais à profissões liberais, e que exigissem um certo estudo, já que seus filhos já permaneciam
escolarizados, como cita Guimarães (2006, p. 9):
According to the Brazilian Association of Koreans, the number of small business
establishments, stores, specialized in Korean products and food stuff, as well as
Korean restaurants have increased about 30% in the last five years. There are also
several tea houses, money exchange establishments, kindergardens for Korean
children, beauty shops, etc. One finds also all sorts of imported stuff such as
computers, cameras, and other types of up-to-date electronics imported from Korea.
Hoje, a situação mudou, assim como o próprio país no continente asiático também se
tornava um dos atores mais importantes na ascensão do continente, com seu crescimento
estrondoso nos últimos trinta anos após as primeiras imigrações coreanas para o Brasil. Cada
vez mais, a população coreana, que hoje soma mais de 50.000, vem trazendo benefícios para o
comércio, e claro para o desenvolvimento da cidade de São Paulo29
. Ainda sobraram
resquícios de uma cultura conservadora e inflexível de seus nativos (novamente, a imigração
coreana é muitíssimo recente), como as questões do casamento com brasileiros, certas áreas
29
De uma forma geral, o contexto se refere à São Paulo pelo fato de deter 90% da população coreana. Outros Estados também receberam, em menor parte, famílias coreanas como Rio de Janeiro e Paraná, e outras cidades no interior de São Paulo, mas nesta análise, serão desconsiderados.
45
da cidade onde acham que podem estar correndo risco, e até contato com japoneses, pela
rivalidade histórica.
Toda a mudança, porém, trouxe uma nova esperança para o desenvolvimento cultural
coreano proporcionado pela ampla variedade de recursos e oportunidades que o Brasil
proporcionou e ainda proporciona a capacidade de aprendizado e disciplina de trabalho por
parte dos coreanos e a receptividade brasileira, que vem mudando com o intercâmbio de
informações e a mescla cultural cosmopolita que vive São Paulo nos dias de hoje. Inclusive,
hoje, a cidade de São Paulo recebe mais um onda, dessa vez menor, de imigrantes coreanos:
os vindos para trabalhar nas empresas coreanas, espalhadas pelo brasil. Grandes empresas
como Hyundai, LG, Samsung e Kia, já estabelecidas de certa forma no mercado brasileiro,
tem trazido executivos, assessores e representantes da Coréia para desenvolverem a cultura de
trabalho dentro da empresa, e também evoluir com novos projetos, já dedicados dentro do
próprio país de origem. Mais adiante, veremos como o comércio se articulou durante os anos
de imigração coreana no Brasil para que houvessem as transformações no âmbito comercial,
demográfico, cultural dentro do território e o quais foram as relações que vieram estabelecê-
las.
2.2 As Primeiras relações de comércio Brasil-Coréia
Com a oficialização das relações diplomáticas e o período de imigração já
consolidado, trazendo as questões da comunidade coreana no Brasil, sua cultura e sua
adaptação, apresenta-se a questão do comércio entre os dois países. Já foi dito neste trabalho
sobre o pequeno avanço que a imigração coreana no Brasil trouxe para o comércio brasileiro,
de certa forma indireta, através de produtos manufaturados nas pequenas vendas de suas
comunidades. Porém, o comércio intercontinental, que fez parte do governo dos dois países
durante a segunda metade do século XX, e foi contabilizada na história do comércio bilateral
Brasil-Coréia teve papel fundamental para a progressão deste intercâmbio. De uma forma
geral, o comércio entre ambos foi quase que mínimo nas primeiras décadas após o acordo
diplomático, contudo, foi crescendo a partir da década de 80, conforme ambos passavam por
ajustes e transformações em suas economias domésticas e vivenciando crises e problemas de
cunho político, desenvolveram-se de formas diferentes, mas não cessaram suas trocas
comerciais. A partir deste ponto, será analisada de forma breve a evolução do comércio
coreano de forma a explicar como foi sua rápida expansão conhecida como o “Milagre do Rio
46
Han30
”, a seguir ressaltando o histórico do seu comércio com o Brasil após a ratificação
diplomática até o início dos anos 90, em que foi iniciado o processo de investimentos externos
maciços, sendo esta uma abordagem mais detalhada.
2.2.1 O Desenvolvimento Coreano
Neste ponto em específico, o trabalho abarcará o os fatores que impulsionaram a
Coréia para o desenvolvimento capaz de superar as barreias continentais e entrar para a lista
dos países com maior crescimento relativo do mundo. Dessa forma, estaremos enfatizando o
trabalho das políticas do governo coreano em relação à capacitação de pessoal capaz de
aprimorar a indústria e tornar expressiva a evolução da Coréia no que tange à tecnologia de
ponta. Nota-se que, à principio, o fator educação neste trabalho não deve ser superestimado.
Simplesmente, adotamos um viés educacional para explicar como ocorreu o avanço da
indústria em cerca de 20 anos, capazes de alterar consideravelmente o rumo da indústria na
Coréia do Sul.
Logicamente, há fatores como leis trabalhistas, políticas de financiamento (internas e
externas), a reforma agrária, e o papel de instituições privadas que fizeram parte do progresso
e do desenvolvimento da Coréia neste sentido. Porém, pela complexidade destes fatores, e
pela relevância dentro do ponto a ser tratado, que é a indústria em si, será dado mais foco à
questão educacional, que está diretamente relacionada às políticas governamentais, mas não
será desconsiderada alguns destes fatores que também alteraram a dinâmica do progresso
tecnológico e científico da Coréia. Alguns fatores históricos também serão destacados para
que haja compreensão plena do assunto.
A Coréia, após a guerra que separou os dois territórios, a do Norte e a do Sul, era um
país extremamente pobre, dotado de quase nenhuma indústria e uma taxa de analfabetismo de
70% e de um PIB per capita de apenas U$100 (BRASIL, [20--], p. 18). Foi feita uma reforma
agrária e educacional que, proporcionou ao país um avanço laboral e tecnológico que
alcançou proporções reais de competição na Ásia e tornaram a Coréia do Sul um dos agentes
mais surpreendentes dos últimos tempos.
A questão educacional foi vista como o principal passo da Coréia para o
desenvolvimento econômico. Depois do final da guerra, a política governamental coreana
focou no desenvolvimento da indústria pesada e na capacitação tecnológica, levando assim à
30
O Rio Han é rio que corta a cidade de Seul.
47
substituição de importações. Só que para isso, o governo tivera que estimular a capacitação da
população para que pudessem ter o mínimo de mão-de-obra para que a indústria pudesse
deslanchar. As políticas educacionais começaram ainda no ano 1945, com o Comitê Nacional
de Planejamento Educacional, composto por educadores coreanos e oficiais do governo
americano, com o objetivo de estabelecer um novo sistema (LEE, 2006, apud MICHELLON;
MILTONS, 2008, p.8). O plano de universalizar o ensino básico e formal foi interrompido
pela Guerra em 1951, que trouxe imensos danos e prejuízos à tentativa do governo de
Syngman Rhee31
de propagar o estudo no país. Os esforços não cessaram após a guerra:
Com a assinatura do armistício que finalizou a guerra, a reabilitação do sistema
educacional exigiu mais do que a triplicação dos gastos públicos com educação, que
passaram de 4,2% do orçamento anual do governo em 1954 para 14,9% em 1959. A
maior parte foi alocada para a educação primária, representando de 69 a 80% do total
entre 1948 e 1959, e atingindo um pico de 81% em 1960. Em 1979, esse montante
cairia para 54% (KIM, 2001, apud MICHELLON e MILTONS, 2008, p. 10).
Abaixo, um gráfico que mostra avanço da educação na Coréia, tratando do número de
alunos imersos no programa de universalização.
Gráfico 3 – Expansão do número de alunos, Coréia do Sul, 1945-2002.
31
Syngman Rhee foi o presidente da Coréia do Sul, assumindo em 1948, quem iniciou as políticas de educação universal nas Coreias. Foi reeleito em 1952, 56 e 60, e já em 1961, sofreu um golpe de Estado por Park Chung Hee.
0
1
2
3
4
5
6
7
1945 1960 1970 1980 1990 2000 2001 2002
Elementar Médio Médio Superior Superior
Núm
ero d
e al
unos
[mil
hões
]
48
Fonte: MOEHRD (2007 citado por MICHELLONS; MILTONS, 2008, p. 7).
Nota: o ensino médio superior inclui educação acadêmica e vocacional.
O gráfico representa o aumento de alunos no ensino coreano. Esse contingente jovem
foi capaz de aprimorar a técnica para a reconstrução e desenvolvimento do país, apesar de
muitos coreanos preferissem o ensino superior acadêmico, por contar com uma carreira de
prestígio, conferindo-lhes a possiblidade de mobilidade social.
Com esse investimento feito pelo governo, mantido também por outros mandatos, foi
crucial para o desenvolvimento do projeto de adequação da indústria sul-coreana para o
mercado mundial. Seguindo na trajetória dos estímulos governamentais para o
desenvolvimento da Coréia, no início dos anos sessenta foi lançado um programa de
desenvolvimento baseado em planos quinquenais, com forte liderança governamental
(BRASIL, [20--], p. 19). De acordo com Nery (2007, p.3), o Estado era responsável pela
concessão de licenças e subsídios, definindo quem produzia o que e quanto e até mesmo a
estruturação patrimonial das empresas. Ainda, uma ideia complementar:
Os capitais necessários aos investimentos provieram basicamente de poupança
interna e de empréstimos internacionais cuja captação era orientada pelo governo
que detinha o controle do sistema bancário e orientava os empréstimos. A
participação do investimento direto estrangeiro – IDE - foi mínima: a entrada de
IDE era rigidamente controlada pelo governo, havendo setores da economia em que
eles eram totalmente proibidos (BRASIL, [20--], p. 19).
Dessa maneira, entendemos que com a fiscalização e controle intensos do governo
sobre a produção e ao investimento foi fator determinante para que o capital permanecesse em
torno de evolução e desenvolvimento técnico dentro do país. Nos dois primeiros planos
quinquenais (1962 e 71), a Coréia dedicou-se a produzir a partir da indústria leve, com
intensiva mão-de-obra, como tecelagem, calçados, etc. (BRASIL, [20--], p 19). O terceiro e o
quarto planos (o terceiro passou pela crise do choque do petróleo) foram indicados à produção
de indústria pesada, já como a indústria naval, aço, indústria química, transporte e
infraestrutura.
O sucesso da estratégia governamental também pode ser dado pelo apoio do Estado às
empresas privadas coreanas. Grandes empresas coreanas que nasceram e cresceram nessa
época de progresso econômico, a partir dos anos 60.
49
Os Chaebols (Hangul32재벌), grandes conglomerados de indústrias nos ramos mais
diversificados, possuíram um caráter único, e desempenharam um papel relevante no processo
de amadurecimento da economia coreana. Por Masiero (2003, p. 19), entendemos que os
Chaebols nada mais eram que grupos de empresas agrupadas e coordenadas por uma holding,
e que na maioria das vezes, eram controladas por uma família. Por isso, possuíam sempre uma
liderança paternalista dentro das empresas, e muitas das vezes, dependiam do capital externo
para ter seu crescimento voltado para as exportações. Embora existisse este fato, o governo
mantinha o pulso firme com as decisões dos investimentos feitos por vias externas, regulando
o que deveria ser feito a partir do montante adquirido e que fosse aplicado para dentro. Afinal,
o foco do governo era desenvolver através da indústria doméstica para assim, efetuar suas
exportações. O foco do desenvolvimento era a exportação para conseguir dólares necessários
à importação de tecnologia, máquinas e equipamentos (BRASIL, [20--], p. 19).
Um forte protecionismo foi estabelecido para manter as exportações crescendo, e para
isso, foi necessário que se mantivesse também o câmbio desvalorizado, de forma a competir
com a concorrência externa. No período entre 1982 e 1987, o foco do quinto plano quinquenal
foi a mudança da indústria pesada, que já tinha elevado o grau de desenvolvimento da Coréia,
para a produção microeletrônica, a ciência da informação. Em 1988 entra em vigor o sexto
plano, que adiciona novos materiais, biotecnologia, e indústria aeronáutica às prioridades
(BRASIL, [20--], p. 19). Foi no começo dessa década, que a ascensão da Coréia do Sul
começa a aparecer do forma substancial, onde a variação do PIB do país começa a dar sinais
de crescimento, como mostra o gráfico abaixo:
32
Nome do alfabeto tradicional coreano, desenvolvido pelo rei Sejeong, da dinastia Joseon, por volta do século XV.
50
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1960 1970 1980 1990 2000 2007
Coréia do Sul
PIB
Gráfico 4 – Crescimento do PIB da Coréia do Sul
Fonte: BRASIL, [20--], p. 18.
.
Foi traçando essa linha gráfica que podemos ver a ascendência do PIB coreano, a
partir da década de 70, e mais notadamente, depois da década de 80, porém se ausenta os
certos períodos de crise, como em 1979 e 1997, apresentando somente o fato de que o PIB
sul-coreano teve um crescimento exponencial. Foi assim, que juntamente com Taiwan, Hong
Kong e Cingapura, que a Coréia do Sul passa a ser denominado um “Tigre Asiático”.
Pouquíssimo do crescimento protagonizado pela Coréia deve-se aos países estrangeiros
(apesar de que a influência dos EUA na região foi considerável em termos militares e de
reconstrução no pós-guerra da Coréia) como já foi colocado acima, devido ao controle rígido
do governo sobre as finanças do Estado e dos fundos de investimento centralizados em bancos
comerciais também de sua propriedade. Mesmo assim, grande parte do sucesso das
exportações foram devidas aos agentes importadores, principalmente os países vizinhos como
China e Japão, e também os EUA no continente Americano. O papel do Brasil neste quesito
permaneceu discreto, porém o aumento das transações comerciais entre Brasil e Coréia, aos
poucos, viabilizou uma nova política bilateral que trouxe os países mais perto, em termos
econômicos e também políticos.
U$
Milh
ões
51
2.2.2 O Comércio com o Brasil
O início das relações comerciais entre os dois países começam pouco antes da
consolidação de suas relações diplomáticas, no final da década de 50, em que começa de
forma fraca, somente com uma parca exportação de café e produtos químicos. Já em 1963, em
que ambos assinam um acordo comercial em maio deste mesmo ano, não contribui muito para
a melhora do comércio, já que nele os dois países não estabeleceram nenhum relacionamento
especial, e que somente se esforçariam para o incremento do comercio bilateral e que não
tratariam os produtos oriundos dos dois países de maneira diferenciada aos oriundos de
terceiros países (MASIERO, 2000). Durante o período entre os anos 60 e 70, as trocas pouco
aumentam e passaram a ser contabilizado o arroz, produtos têxteis e farmacêuticos por parte
do Brasil, e a exportação de alga e produtos químicos orgânicos por parte da Coréia. Como já
foi explicado, muitos produtos foram trazidos informalmente por conta das imigrações
coreanas no Brasil. Nos anos 70, de acordo com o Korean Statistical Study (1995 apud
MASIERO, 2000), houve um crescimento significativo, atingindo a cifra de U$ 25 milhões
nas exportações coreanas para o Brasil, e U$ 30 milhões das exportações brasileiras para
Coréia. Ainda no final da década de 70, a Coréia do Sul ampliou suas importações para o
Brasil, sendo elas o farelo de soja, suco de laranja, aço e ferro e semimanufaturados de ferro
fundido (MASIERO, 2000). Já as importações dos produtos coreanos para o Brasil
caracterizavam-se por pneus, aço, ferro, produtos têxteis e relógios de pulso, este último
chegando a cerca de 70% das exportações coreanas para o país. O autor ainda destaca que dos
insignificantes percentuais de produtos importados do Brasil sobre o volume total de
importações da década de 60 (0,08% em 1962), a Coréia do Sul chega, ao final da década de
70, demonstrando um expressivo crescimento (0,30% em 1979) (MASIERO, 2000).
Esse baixo nível de trocas comerciais foram ainda comprometidos pela crise de 79,
com o choque do petróleo e o crescimento da dívida com o aumento dos juros internacionais.
O baixo proveito do intercâmbio comercial entre os dois países desestimulava o comércio
Coréia-Brasil no período. Isso se deveu também a grande disparidade de desenvolvimento
que passavam ambos os países. De formas muito diferentes, Brasil e Coréia do Sul
permaneciam no cenário comercial internacional. A Coréia, evoluindo rapidamente,
expandindo o parque tecnológico com infraestrutura providenciada pelos planos quinquenais
do governo e fornecendo grande gama de produtos para os vizinhos asiáticos e para os norte-
americanos. Já o Brasil, com fraco investimento nas áreas industriais continuava focando o
principal de suas exportações em matérias-primas. O papel do Estado era desencorajador e
52
desfavorável para o progresso tecnológico industrial, assim como não existiu nenhuma
política educacional a fim de formar mão-de-obra capaz de construir um legado industrial
como o sul-coreano. Muito deste papel estatal é contestado:
No Brasil, a “força” do Estado foi bastante efetiva na arbitragem dos conflitos entre
capital e trabalho em favor do primeiro. No entanto, apesar dos longos períodos
ditatoriais, o Estado brasileiro não conseguiu arbitrar os diferentes interesses
intraburguesia. Todas as tentativas de implementar determinada orientação de
desenvolvimento, a exemplo do Plano de Metas ou do II PND, apesar de terem sido
levadas adiante, só o foram às custas do comprometimento da capacidade financeira
do Estado. No Brasil o privado nunca assumiu riscos, jamais teve seu desempenho
cobrado, e, sobretudo, jamais permitiu que o árbitro do Estado comprometesse sua
capacidade de acumulação. Quaisquer tentativas de introduzir novos planos ou
revisar velhas políticas só foram adiante na medida em que não atrapalhavam velhos
interesses (NERY, 2007, p. 10).
Este excerto é fundamental e muito claro para se compreender os fatores que
dificultaram o avanço do comércio entre Brasil e Coréia dentro dos período em que a Coréia
crescia de forma estrondosa e o Brasil ficava para trás na sua burocracia histórica, nas
políticas liberais classistas e a falta de investimento para a mudança. A ideia ainda é concluída
por Masiero, destacando a diferenciação dos produtos das trocas comerciais entre os dois
países:
A maioria dos produtos brasileiros exportados para a Coréia do Sul, principalmente
matérias-primas e produtos industriais semimanufaturados era destinada a utilização
industrial. Já a maior parte das exportações coreanas para o Brasil caracterizava-se por
bens de consumo como os anteriormente citados, relógios de pulso, pneus, câmaras e
materiais têxteis. Esta diferenciada pauta comercial reflete diferentes estágios de
desenvolvimento econômico dos dois países ao longo de seus processos de
industrialização. Reflete, também, políticas comerciais, que enquanto na Coréia do Sul
privilegiam a produção, no Brasil, ao contrário, dão prioridade ao consumo
(MASIERO, 2000).
Embora este notório fato ter dificultado as exportações durante este período de gradual
desenvolvimento econômico, as trocas não cessaram, mas ainda enfrentaram o problema, no
final da década de 70 para o início da década de 80, da crise do petróleo. Juntamente com
esta, veio a crise da dívida33
que fez com que o Brasil tivesse dificuldades com o
financiamento, e juntamente com ele a capacidade de intervenção e de investimento do Estado
(NERY, 2007, p. 14). Mesmo assim, as exportações continuaram crescendo pelo fato da
33
A crise da dívida externa afetou grande parte dos países latino-americanos, provocando falta de liquidez no comércio, tendo consequências para os países que comercializavam importavam e exportavam para estes países.
53
Coréia ter aplicado vários ajustes para a contenção pós-crise do petróleo, e uma rápida
intervenção estatal garantiu que as importações continuassem fluindo e também a atração de
capital estrangeiro por conta do colapso financeiro na América Latina.
As exportações brasileiras, segundo Masiero, ultrapassaram 1% de todas as
importações coreanas. A Coréia buscou diversificar os recursos naturais importados e
programou políticas agressivas de exportação no sentido de gerar divisas para o pagamento
dos seus credores internacionais. Por exemplo, México e Equador passaram a fornecer
petróleo e o Brasil ampliou o fornecimento de recursos naturais metálicos (MASIERO, 2000).
Ferro e aço foram importantes para o comércio Brasil-Coréia para suprir as necessidades da
política coreana de diversificação. Porém, outros produtos ainda eram comercializados da
mesma forma que anteriormente, como farelo de soja, álcool etílico e açúcar. De acordo com
Masiero, ferro, aço e hematita foram responsáveis por mais de 50% das exportações
brasileiras para a Coréia ao longo de toda a década. Nos anos de 1986 e 88, este percentual
subiu para 75%, anos que a o país apresentou crescimento econômico de mais de 12%. Esse
elevado crescimento econômico contribuiu para consolidar a Coréia do Sul como sendo o
terceiro maior parceiro comercial do Brasil, na Ásia. Japão e China eram os dois maiores
(MASIERO, 2000).
Esse crescimento nas relações comerciais entre Brasil e Coréia perpetuou-se de forma
considerável até o final da década de 80. Já no início da década de 90, a Coréia passa a China
e torna-se o segundo maior parceiro comercial. O primeiro parceiro comercial asiático
continuava sendo o Japão, que durante toda a história, foi o principal país a se relacionar com
o Brasil, desde o começo do século XX. Depois da evolução japonesa, em que sua indústria
participou do mercado internacional como um dos principais exportadores de produtos
industrializados, e de tecnologia de ponta, 5% das importações eram provenientes do Japão,
comparados aos 2% da China e 0,06% da Coréia (MASIERO, 2000).
Com isso, as exportações e importações brasileiras para a Coréia do Sul cresceram não
só em volume como também em termos relativos em relação ao principal parceiro comercial
na Ásia, o Japão (MASIERO, 200). E sendo assim, segundo Masiero, o governo Collor reduz
de forma considerável as tarifas alfandegárias como uma das medidas de seu plano de reforma
econômica. Dessa forma, atraíram novos investimentos para o Brasil, inclusive no que tange
ao dinamismo coreano dentro do país:
[...] e na década de 90 que os investimentos diretos sul-coreanos, quer na
formação de joint-ventures com empresas brasileiras, na expansão ou criação
54
de escritórios para a prospecção de oportunidades comerciais ou ainda no
estabelecimento de unidades industriais tem início (MASIERO, 2000).
É a partir do começo dos anos 90 que faremos uma análise detalhada da ação coreana
e seus investimentos dentro do Brasil, correndo os fatos e causas que fizeram com que as
empresas coreanas, principalmente dos Chaebol entrassem maciçamente no mercado
brasileiro de forma a ganhar cada vez mais espaço.
2.3 O investimento direto externo coreano no Brasil
Os investimentos diretos da Coréia no Brasil é o ponto crucial deste trabalho, pelo fato
de que todas as políticas desenvolvidas entre os dois países durante toda a sua história
diplomática culminaram em uma série de benefícios que alteraram parte da economia dos dois
países e que este acontecimento perpetua-se até os dias de hoje. Desde as políticas mercantis
regionais através dos blocos asiáticos até a chegada à América no Sul e no Brasil. A
importância da presença coreana no Brasil será retratada a frente com dados a partir dos
investimentos diretos e das prospecções ainda vindouras do comércio bilateral entre eles, com
suas características positivas e as razões pelas quais a Coréia insiste no mercado brasileiro.
Os Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE), de acordo com a embaixada da Coréia
no Brasil (2012), são definidos pela aquisição, por parte estrangeira, de mais de 10% das
quotas com direito a voto de uma companhia nacional ou o exercício de uma influência real
na gestão de uma companhia local provendo um empréstimo financeiro a longo-prazo com
vencimento acima dos cinco anos. A definição da Embaixada não engloba as possibilidades
de fusões e aquisições, que também são parte deste tipo de investimento, porém é suficiente
para explicar o fator Coréia do Sul, que se deu justamente dentro do Brasil. Assim sendo, este
dado técnico é parte do que acontece nos acordos entre empresas coreanas no Brasil e
principalmente investidores no mercado de ações que visam empresas brasileiras e seu
desenvolvimento e lucro. Além disso, pode-se considerar os investimentos feitos através de
políticas governamentais, no caso das importações anteriores aos IDEs, que fazem parte de
uma conjuntura capaz de alavancar a presença da Coréia em setores primordiais da economia
brasileira. Assim, fatores históricos foram propulsores do aumento do capital coreano no
Brasil.
Durante o início da década de 90, o cenário mundial foi inundado por capitais
externos, como segue:
55
É também no início da década de 90 que os países da América Latina,
principalmente, passam a adotar o receituário liberalizante do Fundo
Monetário Internacional e do Banco Mundial – taxa cambial única e fixa,
moeda conversível, corte nos gastos públicos, privatizações e contenção
salarial. O forte ingresso de capitais externos permitiu o congelamento ou a
estabilização das taxas nominais de câmbio, levando a uma forte deterioração
da balança comercial e a um retrocesso de parcela considerável na indústria
nacional (COSTA, 2007, p. 23-24).
Esse excerto é fundamental para a compreensão de como os capitais sul-coreanos
chegaram ao Brasil e como esse fato foi capaz de facilitar a chegada dos investimentos
externos, que no período, eram de fato muito bem recebidos pelas políticas brasileiras. No
plano real, por exemplo, em 1994, houve um aumento estrutural das importações, pela taxa de
câmbio valorizada, que resultou na necessidade de financiamento externo, tornando a
economia brasileira mais dependente do capital estrangeiro. A Coréia do Sul, apesar de ter
adotado políticas diferentes no começo dos anos 90, motivou-se à busca de mercados
emergentes.
A Coréia também se deixou contagiar pela euforia em relação aos mercados
emergentes, permitindo que seus bancos e empresas engajassem nas
facilidades do financiamento abundante e barato e relaxassem em matéria de
eficiência e gestão. Neste período, os Chaebols aceleraram a sua
internacionalização, investindo pesado na fixação de suas marcas, com vistas
a penetrar nos países desenvolvidos (COSTA, 2007, p. 24).
Apesar da proposta coreana de entrar em países desenvolvidos, essa onda de
investimentos ocorreu também no Brasil e foi fortemente estimulado no mercado doméstico,
que, de acordo com Masiero (2000), é nessa década que a Coréia do Sul decide estabelecer-se
no Brasil através da formação de joint-ventures com empresas brasileiras, expansão e criação
de escritórios para prospecção de oportunidades comerciais e estabelecimento de unidades
industriais. Com o fomento governamental, pela abertura do governo Collor de Mello, a
atração do capital externo, seja por meio de importações ou de investimentos diretos fez com
que a Coreia do Sul desenvolvesse o crescimento econômico que vinha acumulado dentro do
país. Por exemplo, em 1992, foram rubricados o Tratado de Extradição e o Acordo para a
Promoção e Proteção Mútua de Investimentos entre o Brasil e a Coréia (MASIERO, 2000).
Estes acordos encorajavam os investidores e empresas a fixarem atenções nos mercados um
do outro de acordo com a legislação de cada país. E ainda complementa:
56
Além disso, cada país, de acordo com sua legislação, deve propiciar as
autorizações necessárias para que os investimentos sejam realizados e
permitir contratos de manufatura e assistência técnica, comercial,
administrativa e financeira. Deve, ainda, disponibilizar autorizações
requeridas para as atividades de consultores e especialistas contratados pelos
investidores (MASIERO, 2000).
Os esforços funcionaram, e empresas coreanas começaram a trabalhar diretamente no
mercado brasileiro. Importações foram contabilizadas no começo da década de grandes
empresas de automóveis como Hyundai, KIA e Ssangyong. Outras como Daewoo e Asia
Motors, iniciaram a comercialização de peças para automóveis, sustentando o mercado de
veículos coreanos no Brasil. Em 1993, o item material de transporte já alcançava 10% das
importações totais do Brasil, provenientes da Coréia (MASIERO, 2000). Na área de
automóveis, foram cerca de 1,2 bilhão de dólares em 1996 em importações, segundo o Kotra
(Korea Trade Promotion Cooperation), que desde 1967 mantinha um escritório em São Paulo
para promover esforços de aproximação e intercâmbio comercial e investimentos entre os dois
países. Ainda sim, além da importação de automóveis, Masiero constata na indústria de
transformação o lucro coreano dentro do mercado brasileiro.
Os investimentos e reinvestimentos coreanos no Brasil direcionados para a
indústria de transformação – material elétrico, eletrônico, comunicação,
químico e de serviços – consultoria e administração de bens foram da ordem
de U$ 1,159 milhão nos anos de 1991 a 1993. Esse valor foi de U$3,16
milhões em 1994 e em 1995 atingiu U$ 4,38 milhões. De acordo com o
Censo de Capitais do Banco Central do Brasil, o estoque de capital coreano
no Brasil em 1995 era de U$ 3,8 milhões. Os fluxos de investimentos foram
crescentes nos anos subsequentes na ordem de U$63,3 milhões em 1996 e
U$91,3 milhões em 1997 (MASIERO, 2000).
Estes dados são importantes para verificar os setores onde a Coréia verificava ser mais
rentável dentro do Brasil, na medida em que ganhava cada vez mais espaço dentro os
concorrentes, e o crescimento alto em um período de curto prazo, no caso, cerca de quatro
anos, de 1993 à 1997. Abaixo, a tabela mostra no ano de 1995 quais foram os setores em que
a Coréia do Sul concentrava seu capital, através de valores por paridade.
57
Tabela 3 – Investimentos e Reinvestimentos da Coréia do Sul no Brasil (1995)34
em US$ mil
Ramo de
Atividade
Valores por Paridade
I II III
Invest. Reinv. Total Invest. Reinv. Total Invest. Reinv. Total
Ind. Trans.35 505 0 505 495 0 495 809 0 809
Material
Eletrônico,
Elétrico e de
comunicação.
163 0 163 153 0 153 193 0 193
Química 251 0 251 251 0 251 289 0 289
Fósforos de
segurança, tintas,
vernizes e lacas
151 0 151 151 0 151 151 0 151
Produtos
Químicos
Básicos
100 0 100 100 0 100 138 0 138
Produtos
alimentares 90 0 90 90 0 90 326 0 326
Produtos
alimentares
diversos
90 0 90 90 0 90 326 0 326
Outros serviços 2.457 6 2.463 2.457 6 2.464 2.586 6 2.592
Comércio em
geral, importação
e exportação
1.728 6 1.734 1.728 6 1.735 1.784 6 1.790
Cons. reps.,
participações e
adm.de bens
728 0 728 728 0 728 802 0 802
Outras atividades 858 0 858 858 0 858 984 0 984
TOTAL 3.822 6 3.828 3.811 6 3.818 4.380 6 4.387
Fonte: Banco Central do Brasil (2012)
34
Notas: I – Paridades Históricas II – Paridades da Data-Base III – Paridades Históricas atualizadas pelo IPC dos EUA 35
Indústria de Transformação é o tipo de indústria que modifica a matéria-prima para um produto final.
58
Essa tabela nos dá uma noção da quantidade de investimento inicialmente aplicado da
Coréia do Sul no Brasil. Podemos ver que setores nos quais a Coréia tinha certo avanço
tecnológico como de eletrônicos e industrial fizeram presente no processo de lucro dos
investidores coreanos, foram constatados um fluxo de US$ 3,8 milhões.
Esses investimentos, embora pouco expressivos se considerados o estoque total de
investimentos diretos estrangeiros em 1995 de U$42.530 bilhões ou o fluxo de
U$7.665 bilhões em 1996 e U$15.311 bilhões em 1997 tem contribuído para a
expansão da indústria brasileira. Os setores receptores desses investimentos, o
automobilístico, o eletroeletrônico e o de informática consolidam o processo de
inserção das empresas coreanas no mercado brasileiro. Esse processo, via de regra,
teve início com a exportação de produtos coreanos para o Brasil, a abertura de
escritórios comerciais, o desenvolvimento de canais de distribuição e redes de
assistência técnica e finalmente a produção da montagem local (MASIERO, 2000).
Nesse raciocínio de Masiero, podemos constatar exatamente o que aconteceu com o
mercado de investimentos coreano no Brasil, de forma a representar o processo histórico no
início dos anos 90, e as consequências da entrada mínima de capital até chegar ao
estabelecimento físico das empresas no território nacional.
O aumento gradativo dos investimentos impulsionaram exponencialmente as relações
diplomáticas Brasil-Coréia e, no cenário internacional, contribuíram para uma relação
continua de confiabilidade e cooperação. As perspectivas dessa relação tiveram influência das
reuniões dos blocos regionais, já expressados neste trabalho, como por exemplo na APEC em
1994, na proposta do presidente vigente Kim Young Sam, que incentivava as empresas
coreanas a se instalarem nos mercados do cone sul ou ampliarem sua presença comercial via
maior intercâmbio exportador e importador (MASIERO, 2000). Por isso, em sua visita no ano
de 1996, abordou o aumento nas trocas comerciais, que chegavam a três bilhões de dólares,
além do grande número de imigrantes e empresas coreanas, fortalecendo assim as relações
bilaterais.
Com a crise asiática a partir de 1997, a Coréia do Sul sofreu uma severa contração dos
créditos externos, havendo a transferência de capitais para os bancos domésticos, o que
determinou uma forte erosão das reservas do Banco Central, obrigando o país a recorrer ao
FMI (COSTA, 2007, p. 24). Mesmo com estes empecilhos, o país agiu com reformas no
sistema financeiro, na estrutura das grandes empresas, nas regras trabalhistas e sobre o
controle de investimentos estrangeiros, não permitindo que sua economia e seu sistema
empresarial fossem debilitados estruturalmente (COSTA, 2007, p. 24). Os investimentos
59
continuaram a fluir, com esforços e cooperações que foram feitam para manter o
relacionamento econômico entre Brasil e Coréia de certa forma saudável, a fim de superar a
crise, e atravessar as dificuldades presentes.
Com o aumento de infraestrutura no Brasil, houve o estimulo necessário para que
empresas do ramo de engenharia e construção buscassem participar das obras e ocupassem
um lugar no mercado brasileiro. Empresas como Hyundai e Sankyong aumentaram sua
participação nestes projetos como executores diretos, em parcerias com empresas brasileiras
ou como fornecedores de equipamentos e materiais (MASIERO, 2000). A instalação de
fábricas da Samsung na zona franca de Manaus, os grupos Daewoo e LG no Estado de São
Paulo e também da fábrica da Hyundai em Anápolis/GO foram exemplos de empreitadas de
empresas coreanas no mercado nacional brasileiro. A busca de incentivos fiscais e outros
benefícios, oferecidos pelos governos de países considerados emergentes perece ser fator
determinante na instalação de novas plantas coreanas em solo latino americano ou brasileiro
(MASIERO, 2000). Novas plantas e fábricas já estão sendo construídas e cada vez mais que
empresas coreanas conseguem o sucesso e lucro, criar-se-á uma tendência que aproximaria
mais empresas coreanas no Brasil, aumentando a quantidade de IDE no Brasil, justificando as
ações praticadas por essa aproximação como exemplifica o gráfico abaixo.
60
Gráfico 5 - IDE Sul-Coreano no Brasil
Fonte: Banco Central do Brasil (2012, elaborado pelo autor).
Esse gráfico mostra de uma forma geral e simples os investimentos feitos no período
de 20 anos da Coréia no Brasil. Percebe-se de forma clara a baixa dos investimentos
ocasionados pela crise asiática de 1997. Os investimentos voltaram a crescer em 2004 e daí
para frente, oscilou até 2010, aonde chegou a um patamar excelente de investimentos. No ano
de 2008, percebe-se um aumento substancial em detrimento ao ano de 2009, causada pela
crise. Em 2008, através de uma tabela, conseguimos notar os setores que receberam mais
investimentos da Coréia do Sul no Brasil, fato esse que não mudou até o ano de 2010.
Tabela 5 – Composição do investimento coreano no Brasil, por Setor - 2008.
Setor Percentagem (%) Valor em US$ mil
Agricultura, silvicultura e pesca 0,0 0
Mineração 33,0 331.020
Manufaturas 57,9 580.055
Serviços bancários e seguros 4,6 45.770
0
200
400
600
800
1000
1200
19
90
19
91
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
U$
Milh
õe
s
61
Vendas a varejo e atacado 3,2 31.960
Comunicações 0,4 4.137
Outros36
0,9 9.372
Total 100 1.002.314
Fonte: The Export-Import Bank of Korea, Foreign Investments Statistics, apud BRASIL, [20--], p. 47.
Nota: Extraído de “Como exportar. Coréia do Sul”- Brazil Trade Net37
.
Segundo BRASIL ([20--], p. 47), o padrão de alocação dos investimentos diretos
coreanos difere da maioria dos países desenvolvidos, em que está fortemente concentrado em
setores primários e secundários. Ainda sobre este dado, cerca de 38% do total dos
investimentos no ano de 2006 esteve voltado para a construção e serviços.
O foco dos investimentos coreanos no Brasil traz à tona a análise a nível mundial,
necessário para a comparação das políticas existentes entre os investimentos previstos para o
Brasil e para outros países no plano internacional. O próximo gráfico mostra a alocação dos
investimentos em outros países, por setor, em um período de dez anos até 2008, ano da crise
mundial.
Gráfico 6 – Alocação de IDE Coreano por setor no Mundo (em US$ milhões)
Fonte: BRASIL, [20--], p. 45.
36
Inclui construção civil, transporte e armazenagem, propriedades e serviços comerciais, hotéis e restaurantes. 37
http://www.braziltradenet.gov.br/ARQUIVOS/Publicacoes/ComoExportar/CEXCoreiadoSul.pdf
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
9.000
10.000
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Serviços
Manufaturas
Outros
62
Fica evidente que o local dos investimentos pretendidos pela Coréia do Sul, não só no
Brasil, fica por conta do setor de serviços. No ano de 1998, vemos a prioridade dada ao setor
de manufaturas, que tem um decaimento a partir de 1999, volta a ser valorizado em 2004, mas
acaba sendo ultrapassado pelo setor de serviços. O aprimoramento das empresas coreanas
dentre desse setor é o principal fator pela qual é investido nos outros países. Estes setores são
geralmente o de reparos (produção de peças e componentes e assistência técnica
especializada), comércio exterior (consultoria, seguros e afins), hotéis, restaurantes, setor
imobiliário, logística e comunicação. Juntamente com o progresso e o desenvolvimento do
setor de manufaturas, outros setores aumentaram sua especialização e sua capacidade técnica,
e agora, são dados destaque através de investimentos feitos em outros países.
Com estas informações, podemos notar uma diferente pauta de investimentos no
Brasil, onde o setor mais concentrado é o de mineração e manufaturas. Através de dados do
Banco Central do ano de 2007, podemos notar uma distribuição majoritariamente focada nas
atividades de extração de petróleo e gás natural, fabricação de aparelhos de recepção,
reprodução, gravação e amplificação de áudio e vídeo, e fabricação de periféricos para
equipamentos de informática, com cerca de US$ 108,75 milhões, US$ 80,53 milhões e US$
37 milhões, respectivamente para as áreas econômicas, num total de cerca de 265,13 milhões
de dólares investidos. Já no ano de 2008, o valor do setor de extração de petróleo e gás natural
subiu para US$ 112,52 milhões38
dentro de uma soma de investimentos de US$ 130,28
milhões.
Por essas informações, constatamos o volume considerável de investimentos feitos nos
anos de 2007 e 2008 em específicas atividades econômicas, e também ressalta a capacidade
coreana de investir fora de seu país. De acordo com BRASIL ([20--], p. 45), enquanto a
Coréia mostra-se um grande exportador de capitais para o Brasil, o inverso não é verdadeiro:
os investimentos são praticamente nulos. Apesar do atrativo que o Brasil representa o mundo
em termos de capacidade de IDE, distancia-se da capacidade coreana de investir. Ambos
fazem papeis opostos, em que o Brasil é mais receptivo aos IDEs e a Coréia é um grande
investidor, mas ainda não recebe muitos investimentos. Parte dessa cultura volta-se
novamente para o papel dos Chaebols e evidencia o papel das empresas na contabilidade dos
investimentos relativamente ao PIB. Segundo BRASIL ([20--], p. 46), o valor das grandes
empresas brasileiras relativos ao PIB é de pouco mais de 22% com cerca de 350 empresas
(dados de 2008). Já o valor da Coréia do Sul é ligeiramente superior, quase 23% para 217
38
Os dados a respeito de atividades de fabricação de equipamentos de informática e aparelhos para áudio e vídeo não aparecem nos dados do Banco Central para o ano de 2008.
63
empresas, o que leva a crer que na Coréia do Sul a concentração da atividade econômica em
poucas empresas é consideravelmente maior do que no Brasil em virtude do papel
proeminente dos conglomerados coreanos.
A Coréia do Sul, sendo um grande exportador de capitais, ainda investe pouco no
Brasil se comparado aos outros países. Na tabela abaixo, há o dado sobre os países onde se
concentram uma maior quantidade de investimentos da Coréia do Sul durante os períodos de
2003 à 2006.
Tabela 6 – Escoamento do IDE coreano, 2003-06.
2003 2004 2005 2006
Total de
escoamento em
US$ milhões39
3.514,3 5.964,7 5.302,7 9.942,4
Escoamento
por Destino40
China 37,1 38,4 46,0 30,9
EUA 28,7 22,4 21,4 21,4
União Europeia 4,5 11,2 -0,8 9,4
Hong Kong,
China
2,5 3,3 5,0 7,3
Cingapura 6,7 2,8 2,0 3,0
Japão 1,4 4,8 1,9 1,9
Indonésia 2,2 0,9 1,3 1,2
Brasil 0,2 0,3 2,7 1,1
Fonte: Extraído de “Trade Policy Review: Republic of Korea” - OMC (2009, apud BRASIL, [20--], p.
46).
De acordo com a tabela, podemos enxergar com clareza que o Brasil não é uma
prioridade nos investimentos coreanos. Apesar de ter crescido consideravelmente nos últimos
anos (apesar do abalo da crise de 2008), o Brasil fica atrás ainda de países menores e com
menor poder econômico como Cingapura e Indonésia. Esse fato faz parte de uma ordem de
39
Em US$ milhões 40
Porcentagem do total
64
prioridades estabelecida pela política coreana na inserção ou controle de mercados e cadeias
produtivas: 1) entorno às suas fronteiras e fronteiras da ASEAN; 2) NAFTA; 3) União
Europeia e países europeus não membros; 4) Índia e Sul asiático; 5) Oriente Médio, Ásia
Central e o Norte da África; 6) MERCOSUL; 7) Sul da África; 8) Oceania e restante da Ásia,
América Latina, Caribe e África (BRASIL, [20--], p. 88).
Essa sequência de prioridades segue os fatores de proximidade física, histórico
econômico, e principalmente a vinculação de economias com quem possua acordos de livre-
comércio e acordos de promoção e proteção de investimentos. Além de seus principais
parceiros comerciais, sendo eles China, Japão e EUA, necessariamente nesta ordem, a Coréia
busca formas de aproximação e acordos de livre comércio com os países que ainda não possua
como Índia, Austrália, Nova Zelândia, União Europeia41
e países latino-americanos como
Peru e Colômbia.
Com o fortalecimento das relações com os países da ASEAN, a Coréia mantém sua
estratégia focada em países do bloco e sua expansão e diversificação, porém, a busca de novas
oportunidades no mercado latino-americano se faz presente, desde o início dos investimentos
diretos no ano de 1980 com grandes empresas chegando ao Brasil como POSCO42
e
Samsung.
Até 2006, essas foram as empresas coreanas estabelecidas de fato no Brasil (com
exceção de bancos e seguradoras): Hanjin Senato Lines do Brasil Ltda., Posco do Brasil Ltda.,
Daewoo do Brasil Imp. E Exp. Ltda., LG do Brasil Ltda., Samsung do Brasil Ltda., Hyosung
do Brasil Ltda., Hankook Tire do Brasil Comercial Ltda., Daewoo Eletronics do Brasil Imp. E
Exp. Ltda., Medison do Brasil Ltda., Yudo Brasil Ltda., Kumho Tire do Brasil Com. Ltda.,
SK do Brasil Ltda., GSA Co. Ltda., Jebon do Brasil Intermediações de Negócios Ltda., Cheil
Communications do Brasil S/C Ltda., DAT São Paulo Comercio Eletrônico Ltda., Simple
Line Brasil, Dabo Material Handling, Equipments Brasil S.A., Samsung Eletrônica da
Amazônia Ltda., LG Eletronics de São Paulo Ltda., Companhia Coreana-Brasileira de
Pelotização (Kobrasco), LG Eletronics da Amazônia Ltda., SET do Brasil Ltda., Samsung
SDI Brasil Ltda., Dong Yang Creditech do Brasil Ltda., Pantech Brasil Ltda., D.M. Dong
Bang do Brasil Ltda. (BRASIL, [20--], p. 92-93). Essas empresas foram responsáveis pela
dinamização das relações econômicas entre Brasil e Coréia do Sul, de maneira a espelhar o
sucesso para outras que ainda não se faziam presentes no país.
41
A União Europeia é o quarto maior parceiro econômico da Coréia do Sul. 42
Empresa do ramo de materiais e construção
65
O Brasil ainda manteve-se atrás de países como Panamá e México, no ano de 2008,
mas com o crescimento brasileiro a partir de 2010 e a expansão da Coréia do Sul pode trazer
ainda mais benefícios para ambos e aumentar cada vez mais os laços.
Dentre os países emergentes de grande população, o Brasil mostra-se particularmente
atrativo para o investimento direto estrangeiro por várias razões: sustentabilidade de
longo prazo das condicionantes de crescimento econômico (estabilidade política e
social, instituições de governo e empresariais sólidas, e em acelerado processo de
aprimoramento, expansão demográfica em nível ótimo, etc.) mercado sem
peculiaridades culturais muito acentuadas (como é o caso da China, Índia, Indonésia,
etc.) inexistência de redes negociais fechadas, crescente incorporação de tecnologias
inovadoras aos processos produtivos, etc. (BRASIL, [20--], p. 90).
Estes são alguns dos fatores que proporcionaram às empresas coreanas um bom
ambiente para a aproximação, consolidação e estabelecimento de seus negócios no Brasil.
Com uma corrente crescente de novas tecnologias e novos fomentos a partir de
implementação de projetos governamentais, a Coréia do Sul ainda têm um vasto caminho para
galgar dentro do país. De acordo com BRASIL ([20--], p. 94), o tamanho da economia
coreana ainda não alcançou o limite esperado, devido o potencial aumento do seu PIB, e o
crescimento ainda constante mesmo em período de recesso econômico. BRASIL ([20--], p.
94) ainda conclui que há um relativo subaproveitamento das potencialidades de negócios
entre dois países. Ainda com fatores que prejudicariam o sucesso dos negócios coreanos no
Brasil, como as distâncias geográficas, culturais, administrativas, políticas, econômicas,
ambos se sofisticam e aumentam sua participação no mercado mundial, verificando uma
necessária cooperação e um aproveitamento otimizado sobre a imensa gama de oportunidades
que existem entre os dois países, principalmente dentro do Brasil.
66
Considerações Finais
Após o desenvolvimento do trabalho, pudemos constatar as mudanças ocorridas no
cenário mundial dentro do período abordado, analisar os fatores que propiciaram uma
aproximação política e econômica e as diretrizes tomadas por Brasil e Coréia para a
manutenção dos fomentos econômicos, que no caso aparecem em nosso trabalho pelos
investimentos diretos externos.
Inicialmente, foram destrinchados os passos iniciais da Ásia dentro do mundo
capitalista a fim de notar como foi possível os países daquela região estabelecerem-se de tal
forma a se tornarem alvo de grandes investimentos e tomarem um lugar importante nas
decisões econômicas mundiais, e possuírem um forte dinamismo capaz de preocupar países
ocidentais desenvolvidos como os EUA e da União Europeia. Parte desse desenvolvimento
pode ser intensificada por consequência dos blocos econômicos formados após a Segunda
Guerra, e, notadamente, cruciais para o enriquecimento das relações políticas e econômicas
entre os países asiáticos, capazes de estabelecer grandes planos para a região e sua economia.
A Ásia, dentro de blocos econômicos importantes como ASEAN e APEC, pode usar
em parte de uma estratégia política que teve por base a aproximação e a cooperação mútua
para o desenvolvimento. Com uma plataforma política e econômica bem consolidada no
âmbito regional, os países puderam dinamizar seus objetivos e buscarem por novos mercados,
na Europa, Oriente Médio e principalmente na América. Dentro do continente americano,
percebeu-se também um esforço de aproximação entre os países locais para participarem de
negociações e discussões sobre assuntos de comum pertinência, que viriam a interessar Ásia e
América. A TPP e Aliança do Pacífico são exemplos de blocos formados para uma ajuda
mútua em busca de novas oportunidades políticas, econômicas e culturais com metas voltadas
também para as questões da ascendente Ásia. Esses debates dentro e fora dos blocos
econômicos criaram um ambiente propício e confortável para o desenvolvimento de acordos
bilaterais entre países dos blocos de ambos os continentes, não somente para os que já
possuíam certa proximidade, mas para os países que possuíam um histórico comercial e
diplomático um tanto quanto irrisório e pouco dinâmico. De acordo com esta última definição,
colocamos o exemplo de Brasil e Coréia, que possuíam relações diplomáticas, uma pauta de
comércio externo pequena e pouca confiabilidade para investimentos. Vimos que a partir da
década de 90 o comércio intensificou-se por consequência de fatores como a abertura
econômica de ambos e esforços em termos de políticas econômicas determinantes para a
intensificação das relações Brasil-Coréia do Sul.
67
A história entre Brasil e Coréia é mais antiga que os blocos econômicos que os
fortaleceram, porem, como já foi dito no trabalho, é extremamente importante que se
reconheça que a intensificação das relações através dos blocos econômicos asiáticos e as
relações bilaterais entre os dois países aconteceram concomitantemente, em um fluxo
diretamente proporcional. Só foi possível a entrada de capital de fato da Coréia para o Brasil
graças aos trabalhos políticos organizados pelos blocos, que trouxeram aos países asiáticos
segurança e o interesse de se investir na América, especificamente, neste caso, no Brasil. A
confiança trazida pelos blocos, obviamente junto com o desenvolvimento econômico dos dois
países firmaram as direções que se transformaram nos investimentos diretos coreanos no
Brasil.
O desenvolvimento coreano, como abordado neste trabalho, foi muito diferente do
desenvolvimento brasileiro. O enfoque dado neste trabalho pode demonstrar que o papel da
educação na Coréia e com a capacitação e especialização de sua mão-de-obra tornaram a
Coréia do Sul um polo tecnológico, que veio a se espalhar rapidamente pelo mundo após a
década de 80, e especialmente na década de 90. A chegada de empresas coreanas ao Brasil,
logo após essa abertura econômica, proporcionou ainda mais um ambiente rentável e
progressista da indústria coreana, bem como a aceleração da economia brasileira. Os
investimentos cresceram, durante maior parte do tempo (com exceção da queda no período de
crise asiática em 1997) e tornaram o Brasil um notório alvo para o capital coreano, em um
efeito exponencial, em que cada vez mais empresas chegavam ao Brasil, outras percebiam que
podiam fazer o mesmo. Esclarecemos também que apesar dessa expansão das relações Brasil-
Coréia, ainda o investimento é pouco devido às grandes oportunidades que possui o Brasil.
Mesmo com certos impedimentos como a distância física e cultural, a complementariedade
entre ambos pode ser potencializada de forma a chegar próximo das relações entre Brasil-
China, por exemplo.
Com ambos em constante desenvolvimento, um leque de oportunidades se abre de
forma aproximar cada vez mais as economias. A Coréia possui um papel proeminente em
setores da indústria que requerem um alto valor agregado em volumes de insumos e bens de
capital, como as indústrias naval e automobilística, assim como as indústrias de tecnologia da
informação e comunicação, as chamadas TICs. Nestes mesmos setores, em que grandes
empresas dos Chaebols já ocupam lugar de destaque na indústria brasileira, ainda buscam
uma maior chance de expansão, conseguindo aumentar substancialmente a quantidade de
investimentos coreanos no Brasil, concluindo que por mais que os mesmos ainda sejam
68
pequenos, podem crescer nas áreas onde o Brasil tem debilidades, podendo assim estreitar
ainda mais as relações com a Coréia do Sul.
Juntamente com isso, pode-se haver uma abertura cultural maior no Brasil através da
chegada de mais expatriados coreanos, vindos à trabalho pelas empresas. Os costumes
extremamente distintos entre brasileiros e coreanos podem despertar ainda mais a curiosidade
de trocar informações e nesta adaptação, surge também uma gama de necessidades que traz
inúmeros benefícios econômicos e sociais.
Para os próximos anos, é esperado que as relações entre Brasil e Coréia se
intensifiquem, assim como os investimentos. Uma prospecção do mercado brasileiro para os
coreanos pode estar no setor de serviços, ligados à tecnologia da informação, biotecnologia e
outras áreas que envolvam o arcabouço tecnocientífico especializado pelos coreanos. Com
isso, traz ao Brasil grandes chances de avançar na tecnologia de ponta e deixar para traz a
ineficiência que possui o país em certas áreas, como logística e transportes.
Assim sendo, durante todo o processo de desenvolvimento coreano no Brasil, pode-se
também esperar um possível aumento do potencial brasileiro dentro da Coréia do Sul. Com as
relações se consolidando para uma colaboração excelente, nada impede que o Brasil também
busque um espaço de respeito dentro do território sul-coreano e que através dessas relações,
prova-se que o fortalecimento entre potenciais países traz avanço não só no circuito bilateral,
mas também em toda uma rede de países globalizados.
69
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