Tcc Completo Inês Costal Com Numeração
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAFACULDADE DE COMUNICAO
CURSO DE BACHARELADO EM COMUNICAOCOM HABILITAO EM JORNALISMO
INS CAROLINE MAGALHES COSTAL
JORNALISMO CIENTFICO: ANLISE DO CADERNOCINCIA&VIDADO JORNAL A TARDE
Salvador
2009
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INS CAROLINE MAGALHES COSTAL
JORNALISMO CIENTFICO: ANLISE DO CADERNOCINCIA&VIDADO JORNAL A TARDE
Monografia apresentada ao Curso de graduao em Comunicao Socialcom habilitao em Jornalismo, Faculdade de Comunicao, UniversidadeFederal da Bahia, como requisito para a obteno do grau de Bacharel emJornalismo.
Orientadora: Profa. Maria Lucineide Andrade Fontes
Salvador2009
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A
Rita Magalhes, me querida, sempre meu exemplo.
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AGRADECIMENTOS
A minha me, Rita Magalhes, pelo apoio e cuidado redobrados nessa etapa final.
A minha irm Vernica, pela pacincia e tolerncia na invaso do quarto nas madrugadas detrabalho.
A Jane, amiga querida, pelo apoio, estmulo e milhares de revises.
Aos amigos, em especial a panela Jorge, Ju e Jubs, pela torcida de sempre e companheirismo
durante a produo do trabalho.
A Malu Fontes, pelo acompanhamento e pelas correes durante a orientao, principalmenteas cosmticas.
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RESUMO
O exerccio do jornalismo cientfico tem sua prtica marcada por crticas coberturasuperficial da rea e a falta de especializao do jornalista. Atravs da anlise do cadernoCincia&Vidado jornal A Tarde foi verificado como esse cenrio se configura num produtoregional. O exame incluiu as edies de outubro de 2007 e fevereiro e maro de 2009 e acomparao do contedo publicado neste ltimo ms com as edies de outubro de 2007, msinaugural do caderno. Foram identificadas as estratgias utilizadas na apresentao docontedo do caderno, as temticas abordadas nos textos e foi traado um panorama da prticalocal de jornalismo cientfico.
Palavras chave:Jornalismo cientfico. Divulgao cientfica. Jornal A Tarde.
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SUMRIO
1. INTRODUO 7
1.1 DO JORNALISMO CIENTFICO 8
2 JORNALISMO E CINCIA 12
2.1 FORMAO PROFISSIONAL DO JORNALISTA 14
2.2 CIENTISTAS E A IMPRENSA 19
2.3 OS DESAFIOS DO JORNAL IMPRESSO NA SOCIEDADE MULTI-MIDITICA 21
3. O CADERNO CINCIA&VIDA 23
3.1 MAIS CINCIA NO GRUPO A TARDE 25
3.2 SOBRE O CONTEDO DO CADERNO 26
3.3 CADERNO CINCIA&VIDA: NMEROS E PARTICULARIDADES DOPERODO ANALISADO
28
3.4 ESTRATGIAS PARA MELHORAR A COMPREENSO DO LEITOR 31
4. ESTUDO DE CASO 33
4.1 CARACTERSTICAS APONTADAS NO CADERNO INAUGURAL 33
4.1.2 DESTAQUE S IMAGENS 37
4.2 COMPARAO ENTRE O PRIMEIRO MS E EDIES RECENTES DOCADERNO
39
4.2.1 SOBRE O CONTEDO 40
5. CONSIDERAES FINAIS 42
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 48
ANEXO A 52
ANEXO B 53
ANEXO C 54ANEXO D 55
ANEXO E 56
ANEXO F 57
ANEXO G 58
ANEXO H 59
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1. INTRODUO
Numa poca na qual a cincia e a tecnologia so temas presentes na opinio pblica,
cresce a procura por informaes nessa rea. O jornalismo cientfico se apresenta como local
de discusso pblica dos questionamentos e polmicas oriundos dos avanos da cincia.
Ainda assim, no panorama de crescente oferta de informao e investimento em cincia
faltam veculos que atendam a demanda pblica de notcias da rea. Neste trabalho, ser
examinado como este cenrio se configura como produto regional no jornal A Tarde. Sero
examinadas as edies dos meses de outubro de 2007, ms de inaugurao do caderno, e
fevereiro e maro de 2009.
O caderno Cincia&Vida veiculado aos domingos no jornal A Tarde atualmente o
nico caderno especializado em cincia dos jornais impressos dirios1 de Salvador. Ser
examinado como a cobertura local na rea realizada e como o contedo cientfico
apresentado ao leitor. Tal estudo justifica-se na medida em que o campo de jornalismo
cientfico est novamente em crescimento aps a reduo de pginas ou o cancelamento devrios cadernos sobre a rea nos grandes jornais impressos do pas. O caderno, por ser o nico
nessa rea, como j dito, ilustrativo para a construo de um panorama da divulgao
cientfica no jornalismo local.
A anlise de um caderno especfico de cincia permite uma avaliao mais profunda dos
valores/notcia utilizados nas pautas sobre o assunto. Sendo um caderno dirigido ao pblico
baiano, possvel analisar tambm a participao de produes cientficas e notcias locais no
contedo publicado. Como nico caderno da rea nos trs jornais impressos dirios de
Salvador, o Cincia&Vida ilustrativo do atual modo de fazer jornalismo cientfico na regio,
numa poca de crescimento da produo cientfica nacional2. o objetivo desse trabalho
verificar como e em qual cenrio de prtica de jornalismo cientfico local essa cobertura
realizada.
1A Tarde, Correio* e Tribuna da Bahia.2 O Brasil ocupa em o 13 lugar no ranking de artigos cientficos publicados em 2008, segundo estatsticarealizada pela empresa Thomson Reuters, que contabiliza anualmente os nmeros de trabalhos cientficospublicados em 200 pases.
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Na anlise foram examinadas cinco caractersticas da publicao, trs delas utilizadas
por Mnica Macedo e Wilson Bueno em artigo de anlise da divulgao da sade na imprensa
brasileira3: o foco geogrfico da notcia, os temas abordados nos textos e as fontes utilizadas.
As outras duas, o carter de atualidade dos fatos e a origem das matrias, foram acrescentadas
com o objetivo de verificar se os textos do Cincia&Vidaforam produzidos pela equipe local
do caderno ou por agncias de notcias e avaliar se esse contedo factual. Uma entrevista
com o editor do caderno, Cludio Bandeira, tambm foi utilizada como suporte para a anlise.
A entrevista incluiu questes sobre a criao do caderno, os temas abordados, os recursos
utilizados para facilitar a compreenso do leitor e as expectativas durante o lanamento da
publicao e atualmente, aps 20 meses de inaugurao do mesmo.
1.1 DO JORNALISMO CIENTFICO
Ainda que o jornalismo cientfico remonte ao surgimento da cincia moderna, as
publicaes especializadas, ainda hoje de renome na rea, foram criadas no sculo XIX. A
Scientific American (1845) e a Science (1880) nos Estados Unidos e a Nature (1869) na
Inglaterra. No Brasil, a presena da cincia nos meios de comunicao de massa cresceu nosculo XX. Fatos como a II Guerra Mundial e a criao de rgos de gesto da cincia no
pas, como o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), atual Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico, tornaram o tema pauta freqente na imprensa.
Foi a partir da dcada de 80, a reboque de uma tendncia internacional, que o
jornalismo cientfico brasileiro se expandiu, a exemplo da criao de vrias revistas
especializadas em cincia e tecnologia, como a Cincia Hoje, da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Cincia (SBPC); a Galileu, da Editora Globo; e a Superinteressante, da editora
Abril. A Cincia Hoje direcionada comunidade acadmica e tem seu contedo escrito
basicamente por pesquisadores, os jornalistas so somente colaboradores ou revisores, o
contrrio do que ocorre nas duas outras revistas. O contedo mais tcnico da publicao da
SBPC compartilhvel com cientistas, enquanto as outras publicaes citadas anteriormente,
dirigidas sociedade em geral, reproduzem textos que, mesmo baseados no discurso
3O artigo Divulgao de sade na imprensa brasileira: expectativas e aes concretas produzido por WilsonBueno, Mnica Macedo, Nicolau Maranini, Snia Camargo, Djalma Paz e Wilson Correa Fonseca analisa sete
jornais de abrangncia nacional e regional.
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cientfico, utilizam o discurso do cotidiano (Zamboni, 2001). Nesses casos, os conflitos entre
jornalistas e cientistas no campo da linguagem so intensos, uma vez que os primeiros
utilizam uma linguagem generalista, superficial e muitas vezes repleta de equvocos
(Kuscinsky, 2002).
A oferta de informao cientfica cresceu medida que os cientistas viram os meios de
comunicao como ferramentas de valorizao e aproximao da cincia com a sociedade. Os
avanos da cincia, e sua conseqente especializao, aumentam a necessidade de
informaes cientficas para o pblico. Na divulgao cientfica, o jornalista atua como
intermediador da relao entre o cientista e o pblico utilizando como base a linguagem
hermtica e de difcil compreenso da cincia.
Se a partir do incio do sculo XXI h um crescimento da demanda por informaes das
reas de cincia e tecnologia, h tambm, por outro lado, uma cobertura superficial dos temas
nos pases emergentes como o Brasil. Com exceo das revistas especializadas, a abordagem
em veculos de temas variados se restringe publicao de notcias com nfase no
imediatismo de resultados, noo oposta quela valorizada e efetivamente presente napesquisa cientfica.
A cobertura no crtica e no contextualizada do campo cientfico refora o conceito
deste como fonte miraculosa de soluo para vrios problemas da sociedade, incluindo aqui as
curas instantneas, atravs da exaltao de cada novo mtodo ou avano cientfico como o
definitivo fim de algumas enfermidades. A cincia concebida ainda como grande benemrita
e, portanto, desvinculada de questes como lucro, mercado e lobby. Na rea de sade, a
conseqncia dessa viso mais grave, uma vez que pode levar o pblico e o prprio
jornalista a se tornarem refns de indstrias farmacuticas e a ignorar a influncia da esfera
social nos problemas de sade, vide o pouco espao dados s pesquisas de longa durao na
rea. A sade se destaca como tema mais freqente da cobertura cientfica, geralmente pela
ligao mais fcil com o interesse pblico.
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Segundo Lilian Zamboni (2001), medida que aumenta a esfera de alcance de pblico,
a divulgao cientfica esbarra tambm no aumento da dificuldade de compreenso. Muitas
vezes, a linguagem utilizada para a divulgao de informaes na comunidade cientfica no
compartilhvel, portanto no compreendida quando usada na divulgao entre o pblico . A
atividade jornalstica h muito j utiliza discursos de especialidade como material de trabalho,
a exemplo das reas de economia e tecnologia. Nesses casos, o uso de informaes desses
campos j to rotineiro que se tornou natural pensar em jornalistas especializados em cada
um deles, e na presena desses temas diariamente nos meios de comunicao. No caso do
jornalismo cientfico, alm do hermetismo do discurso da rea, a dificuldade na conquista de
espao especfico para o assunto e a falta de uma cobertura ampla dificulta essa percepo.
A divulgao cientfica necessria e inclusive obrigao de pesquisadores e centros de
pesquisas no pas e tambm dos meios de comunicao. O jornalismo cientfico funciona
como a ferramenta de divulgao que mais aproxima a produo cientfica da populao. O
crescente investimento em cincia, principalmente pblico, ilustrativo do lugar de destaque
que a mesma ocupa nas decises que vo afetar diretamente a vida da populao. Justamente
por esse investimento ser em sua maioria pblico4, seus benefcios devem retornar para quem
paga esse custo, a sociedade.
Esse carter pblico faz da atividade de divulgar a cincia uma questo de democracia.
Nesse ponto, a comunicao em sade deve ser vista como uma categoria singular da
divulgao cientfica tendo em vista que a partilha de conhecimento sobre esse campo tem
como resultado a melhora da qualidade de vida, alm dos ideais que cercam o tema, como
preservao da vida e bem estar, estarem ao alcance de todos. Isto torna o desenvolvimentocientfico e as discusses em torno de suas conseqncias um tema de implicaes sociais,
polticas e financeiras, o que incita o debate pblico e faz com que o mesmo componha a
agenda dos meios de comunicao. A demanda de dados na rea de cincia funciona como
estimulante maior para a presena de contedo sobre o assunto nos jornais, principalmente
nos impressos, uma vez que o formato permite maior aprofundamento, alm da produo de
contedo especfico com os cadernos.
4Segundo dados do Ministrio de Cincia e Tecnologia, 52% do investimento em cincia e tecnologia no passo pblicos.
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Contudo, se por um lado, o impresso capaz de abarcar as explicaes e mincias to
necessrias para que o texto cientfico seja compreensvel para o pblico em geral, o formato
disputa espao com vrios outros meios. Com as novas tecnologias, cresce os locais para
publicizar a informao, principalmente na internet como os portais e blogs, ferramentas
muito utilizadas por institutos de pesquisa para divulgar suas produes. Para disputar o
leitor, o jornal impresso precisa oferecer a informao de forma atraente. Para isso, o
jornalista precisa apresentar o contedo hermtico e duro do discurso cientfico em algo mais
compreensvel para o leitor.
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2. JORNALISMO E CINCIA
O desenvolvimento cientfico, impulsionador de polmicas e debates na opiniopblica, tema cada vez mais presente nos jornais e demais meios de comunicao. Na
publicao de notcias nos jornais impressos, on-line e televisivos h uma supremacia do
agendamento de pesquisas cientficas de ponta, principalmente aquelas ligadas s reas de
sade e de novas tecnologias. O jornalismo cientfico, uma atividade relacionada divulgao
das reas cientfica e tecnolgica pelos meios de comunicao de massa, uma prtica em
expanso, ainda que no Brasil a mesma seja marcada por crticas.
O termo difuso cientfica engloba a disseminao e a divulgao cientficas, atividades
com pblicos diferentes. A disseminao cientfica a atividade de difuso da cincia
realizada intrapares, ou seja, a difuso de informaes de cincia e tecnologia entre
especialista de uma mesma rea ou de reas semelhantes (ZAMBONI, 2001). Lilian Zamboni
diferencia seu conceito da definio de Wilson Bueno ao incluir como disseminao apenas a
difuso para especialistas de uma mesma rea. O conceito do pesquisador comporta, alm da
divulgao intrapares, a difuso entre especialistas de reas de estudo diferentes denominadade disseminao extrapares. Para Zamboni este tipo de difuso est inclusa na divulgao
cientfica:
(...) vou empregar a expresso divulgao cientfica para todas as aesque digam respeito difuso de conhecimentos cientficos ou tcnicos,exceto aquelas que se do nos crculos estritos de rgidas especialidades,chamada por Bueno de disseminao intrapares (ZAMBONI, 2001, p. 48).
Divulgao cientfica qualquer atividade de difuso da cincia para o grande pblico.
O jornalismo cientfico ento uma modalidade de divulgao cientfica, a divulgao
realizada pelos meios de comunicao de massa de acordo com o modus operandi
jornalstico. Entre as temticas exploradas no jornalismo cientfico, a rea de sade tema
predominante nas pautas jornalsticas. O destaque dado ao campo no jornalismo, uma
realidade brasileira, acompanhado de problemas na cobertura. Como afirma Bueno,
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Podemos definir a prtica brasileira de comunicao para a sade a partir deuma srie de parmetros, como a descontextualizao, a centralizao dofoco na doena, a viso preconceituosa das terapias e medicinas alternativas,a ideologia da tecnificao, a legitimao do discurso da competncia e aespetacularizao da cobertura na rea mdica, entre outros (BUENO).
Inmeras novidades publicadas de forma desconexa e muitas vezes contraditrias.
Tcnicas novas e revolucionrias e receitas de vida saudvel nunca definidas so os exemplos
mais recorrentes. Essa uma realidade encontrada no s na cobertura da rea de sade, mas
no jornalismo cientfico de forma geral. O foco na doena e a culpabilidade sempre atribuda
aos microorganismos e gentica resultam no silncio em relao ao contexto de pssimas
condies de saneamento e ausncia de polticas pblicas na rea de sade, entre outrassituaes que influem no estado de sade. A publicao de informaes que privilegiem a
preveno, a educao para a sade e o debate sobre condies econmicas e scio-culturais
para uma melhor qualidade de vida rara e exceo no jornalismo cientfico (BUENO).
A idia de cincia como verdade fonte de uma viso tecnicista e da cobertura
espetacularizada da rea de sade, com foco em curas miraculosas e na soluo dos problemas
devido a procedimentos tecnolgicos e medicamentos inovadores. Os mdicos e especialistasaparecem como nica fonte credvel e legitima para falar da rea, o que exclui os saberes
populares e a medicina alternativa. Neste panorama, relaes de autoridade verticais entre
especialistas e meios de comunicao e mdicos e pacientes so apresentadas como realidade
nica no quadro de uma rea que em sua totalidade inclui contextos complexos de polticas
pblicas e biotica. Esta ltima o melhor exemplo de como a rea de sade deve ser
debatida em toda a sociedade, no s por uma categoria.
O jornalista como mediador da relao entre os cientistas e a sociedade precisa
aproximar os temas cientficos da realidade do leitor. Ao escrever sobre cincia e tecnologia,
o jornalista precisa apontar a relao que cada novo fato ou descoberta cientfica tem com a
vida particular do leitor. O jornalista precisa utilizar o discurso cientfico como base para a
construo do texto jornalstico, tornando-o mais compreensvel, sem deturpar o contedo.
Para isso, o uso de analogias, exemplos, imagens e infogrficos comum.
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Numa sociedade incrivelmente afetada pelos impactos da cincia e datecnologia e pelas decises polticas fundamentadas no conhecimento deespecialistas, a compreenso pblica dos fatos cientficos e tecnolgicosassume uma dimenso crucial, quer na esfera das decises comunitrias (...)quer na esfera das escolhas individuais, em que cada um desafiado aassumir sim ou no sobre, por exemplo: tomar anticoncepcionais, fazerreposio hormonal, fumar, evitar colesterol, praticar exerccios fsicos,tomar vitaminas (ZAMBONI, 2001, P. 143).
O jornalismo cientfico desponta como uma prtica relacionada no s a funo do
jornalismo de ser um canal entre o pblico e o mundo, mas tambm ao dever democrtico de
prestar contas de uma atividade financiada prioritariamente por dinheiro pblico.
2.1 FORMAO PROFISSIONAL DO JORNALISTA
Com uma demanda crescente por informaes e um mercado que volta a se abrir para a
atividade, a prtica de jornalismo cientfico fomenta a gerao de profissionais especializados
na rea, uma necessidade no atendida nas universidades. Entre as instituies de ensino
brasileiras, a Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo (ECA/USP) o
centro que possui tradio na disponibilizao de disciplinas que contemplam o jornalismo
cientfico. Alm da USP, nas universidades federais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul
os currculos dos cursos de jornalismo possuem disciplinas optativas e eletivas nas reas
cientfica, ambiental e de sade h pelo menos dez anos.
Na ps-graduao, a USP e a Universidade Metodista de So Paulo (Umesp) so
responsveis pela formao dos primeiros mestres e doutores no campo de comunicaocientfica. Alm destas, a Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Laboratrio de Estudos
Avanados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp)
dispem, respectivamente, de cursos de especializao, mestrado e ps-graduao lato sensu
no campo de divulgao cientfica. No Labjor/Unicamp, alm dos cursos, so produzidas
vrias publicaes, como as revistas ComCinciae Cincia e Culturae produtos televisivos
anteriormente veiculados no Canal Futura da Rede Globo, contedos criados em parceria
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com bolsistas do programa MdiaCincia5da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de
So Paulo (Fapesp).
Em Salvador, a Faculdade 2 de Julho ter no segundo semestre de 2009 a primeira
turma do curso de ps-graduao em Jornalismo Cientfico. Alm desta, o Instituto de Sade
Coletiva6da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) j ofereceu curso de especializao
em Comunicao e Sade, com vagas tambm para jornalistas. A oferta do curso no fixa na
unidade, depende da firmao de parcerias com outras instituies. Na Faculdade de
Comunicao da UFBA, o Programa Multidisciplinar de Ps-Graduao em Cultura e
Sociedade dispe de grupo de pesquisa em Cultura e Cincia.
Nos cursos de graduao em Jornalismo, entre as quatro faculdades pesquisadas, a
Faculdade de Comunicao da UFBA, a Faculdade 2 de Julho, a Faculdade Social da Bahia e
o Centro Universitrio Jorge Amado, as mais antigas a oferecer o curso em Salvador,
nenhuma tem em sua matriz curricular disciplinas direcionadas ao jornalismo cientfico. Alm
destas, na Faculdade Integrada da Bahia (FIB), o jornal laboratrio produzido por estudantes
do 5 semestre de jornalismo, o Infocincia, prioriza pautas da rea cientfica desde suacriao, em 2000.
Os centros de ensino de educao superior no acompanham a demanda de formao de
profissionais habilitados diante do contexto de multiplicao de informaes cientficas
disponveis. Quando o espao para a prtica do jornalismo cientfico disponibilizado, essa
cobertura, realizada por profissionais sem experincia com os temas cientficos, superficial e
permeada por uma srie de equvocos.
Entre os motivos para as falhas do jornalismo sobre cincia e tecnologia, a falta de
informao prvia dos jornalistas sobre os temas e a tenso entre esses profissionais e as
fontes despontam como os principais. O desconhecimento dos estudantes de jornalismo sobre
sade pblica, as implicaes de decises e investimentos governamentais em cincia e at
informaes sobre o funcionamento do prprio corpo humano geralmente permanece nos anos5Programa de incentivo ao jornalismo cientfico atravs do pagamento de bolsas de pesquisa lanado em 1999.6A unidade referncia como centro de pesquisa e de formao avanada na rea de sade.
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de graduao e acompanham os futuros profissionais responsveis pela produo de jornais,
revistas e demais publicaes que suprem a demanda diria de informaes por parte do
pblico. O resultado um conjunto de poucas matrias e reportagens sobre notcias cientficas
baseadas apenas na novidade do fato e que ignoram todo o contexto social e financeiro que
cerca a realidade dos centros de pesquisa de cincia.
Crticas falta de contextualizao do texto jornalstico so comuns e antigas, mas
como dito anteriormente, a lacuna ainda mais grave na cobertura de cincia e tecnologia,
especialmente na rea de sade, devido relao direta que os fatos na rea tm com a
qualidade de vida do leitor. Relaes como o lanamento de novos tratamentos e remdios
versus o custo benefcio para o sistema pblico de sade, os servios e produtos bancados
pelo governo e os critrios para que um remdio ou tcnica de tratamento faa parte da lista
de procedimentos subsidiados pelo estado, as novas descobertas sobre clulas-tronco e DNA e
todo o contexto e o tempo que envolve o processo que torna essas novidades a esperana de
cura para vrias doenas, entre outros casos.
Os riscos de uma viso superficial na cobertura do campo da sade e sobretudo dapesquisa em sade so apontados por Bueno, quando afirma que,
Sem esta pluralidade, a tendncia que a comunicao e o jornalismofocados na sade continuem priorizando a doena, contemplando-a demaneira reducionista como resultado do mau funcionamento de rgos e daao de microorganismos patognicos (BUENO, 2007).
A reproduo, muitas vezes integral, do discurso das fontes cientficas como nica
garantia de credibilidade no texto jornalstico cientfico outra conseqncia da no
explorao das contradies que envolvem a cincia, assim como ocorre em outros campos. A
produo no jornalismo cientfico de forma exclusivamente didtica aponta para a viso do
pblico como submisso e necessitado de tutela. Os cientistas aparecem tradicionalmente como
nica fonte com autoridade de fala, a quem no so feitos questionamentos. Para Fabola de
Oliveira7, autora do livroJornalismo Cientfico, a prtica um mau hbito.
7 Doutora em jornalismo cientfico pela Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo edocente e coordenadora do curso de jornalismo da Universidade do Vale do Paraba (Univap).
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Um vcio recorrente no jornalismo cientfico o oficialismo excessivo defontes de informaes, principalmente das entidades governamentais depesquisa, que predomina no cenrio cientfico brasileiro. Dirigentes deentidades de pesquisa, no nos esqueamos, tm cargos pblicos deconfiana, e portanto sua opinio condicionada ao posto que ocupam(OLIVEIRA, 2002, p. 49).
Pode-se dizer que h um desacerto entre o tempo do jornalista e o do cientista. Enquanto
o primeiro lida com prazos apertados, o segundo sabe bem o significado do termo longa
durao. O pouco contato de jornalistas com o ambiente cientfico dificulta que esse
profissional entenda que, para a cincia, a depender do caso, 10 anos pouco tempo. As
primeiras descobertas, mesmo que ainda falte um longo perodo para que possam ser postas
em prtica de forma eficaz, so muito importantes e merecem ateno, ao mesmo tempo em
que devem ser divulgadas de forma cuidadosa e at contida porque no podem ser
confundidas com curas milagrosas.
No caso dos remdios, por exemplo, o surgimento de uma nova medicao voltada para
o tratamento de uma doena ainda sem cura provoca, muitas vezes, a divulgao do
medicamento como a soluo mgica para a enfermidade, ainda que haja um longo processo apercorrer para que o mesmo se torne de fato comercializvel. Pesquisas de longa durao,
procedimentos que ainda no podem ser realizados em seres humanos e medicamentos ainda
sem o custo de produo eficiente para que possam ser confeccionados em larga escala so
situaes comuns na cincia, ignoradas ou distorcidas na cobertura jornalstica.
Para o jornalista, desconhecedor desse meio, notcia o fato fora do comum, o
extraordinrio, a novidade que precisa ser divulgada para o pblico, o acontecimento
importante para a conexo do pblico com o que est ocorrendo no campo cientfico. A
noticiabilidade de um acontecimento a aptido que o mesmo tem para ser uma notcia
(WOLF, 2003). Os critrios de noticiabilidade compem a srie de regras ou guias do fazer
jornalismo. Relativos ao contedo, produto, pblico ou concorrncia, os valores/notcia tm
um carter dinmico. Como afirma Mauro Wolf:
[os valores/notcia] mudam no tempo e, embora revelem uma fortehomogeneidade no interior da cultura profissional para l de divisesideolgicas, de gerao, de meio de expresso, etc -, no permanecem
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sempre os mesmos. Isso manifesta-se claramente na especializao temticaque, num determinado perodo histrico, os meios de comunicaoconferem a si prprios (WOLF, 2003, p.175).
Isso permite que novos temas, antes inexistentes para os meios de comunicao, se
tornem noticiveis, como a rea da cultura e dos espetculos que na maioria dos jornais possui
em espao especfico de publicao, mas antes no constitua notcia como ocorre atualmente.
Pode-se dizer que o desenvolvimento cientfico noticivel desde os primrdios dos jornais
impressos, mas com sua popularizao para alm dos centros de pesquisa e incluso em
outros campos tradicionalmente presentes no jornalismo, como a poltica e a economia, a
cincia um tema cuja cobertura necessita cada vez mais de um espao fixo nos meios de
comunicao.
No jornalismo cientfico, os princpios para a prtica da atividade jornalstica, como a
busca pela objetividade, a explorao do contraditrio, entre outros, valem da mesma forma
que em qualquer outra modalidade de jornalismo. O que a boa formao do jornalista na rea,
iniciada com disciplinas na graduao e ampliada com especializaes e ps-graduaes em
um posterior aprofundamento sobre o tema, permite a aplicao adequada desses critrios cobertura da cincia. No se est falando aqui de uma tarefa dirigida e possvel de ser
realizada apenas pelos profissionais que desejam direcionar seu trabalho exclusivamente para
o jornalismo cientfico, mas de jornalistas de forma geral, que trabalham com fatos marcantes
e importantes diariamente, dentre os quais a cincia e a tecnologia se destacam como tema
freqente e essencial no modelo de sociedade contempornea.
Esse modelo inclui a busca por tecnologias que prolonguem a vida, que tornem
habitveis locais despovoados, que expliquem a origem humana e que forneam dados que
evitem desastres e revertam erros provocados pela ao humana na natureza. Em uma
sociedade apegada a valores tradicionais, com crenas restritivas ao avano cientfico e, ao
mesmo tempo, em busca de tcnicas antienvelhecimento, de cura para doenas ainda
incurveis e de finais definitivos para as mazelas humanas, a divulgao da cincia uma
demanda incessante.
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2.2 CIENTISTAS E A IMPRENSA
Se os cursos de jornalismo no atendem a demanda de formao cientfica cobrada doprofissional, as grades curriculares cientficas, por sua vez, tambm no contemplam a
divulgao da cincia para a imprensa. A relao entre os jornalistas e as fontes cientficas
marcada por desentendimentos e incompreenses de natureza semntica, inerentes s
gramticas e lxicos de cada campo. Enquanto a formao deficiente do jornalista dificulta o
entendimento do discurso cientfico, o desconhecimento das rotinas produtivas e da natureza
do texto jornalstico por parte do pesquisador impede que a imprensa muitas vezes transmita a
informao de forma compreensvel.
Os cientistas no esto preparados para se relacionarem com os jornalistas, profissionais
importantes na divulgao cientfica para o pblico em geral. Usar o discurso hermtico da
cincia da sua forma original em uma entrevista cedida a um jornalista praticamente garantir
que o contedo ser publicado com equvocos. Por no saberem como se comunicar com a
imprensa e vice-versa, perdem a oportunidade de difundir o conhecimento cientfico pelo
canal mais acessvel sociedade, os meios de comunicao.
Como afirma Fabola Oliveira,
Enquanto o cientista produz trabalhos dirigidos para um grupo de leitores,especfico, restrito e especializado, o jornalista almeja atingir o grandepblico. A redao do texto cientfico segue normas rgidas de padronizao
e normatizao universais, alm de ser mais rida, desprovida de atrativos Aescrita jornalstica deve ser coloquial, amena, atraente, objetiva e simples(OLIVEIRA, 2002, p. 43).
No jornalismo, a simplificao da linguagem cientfica na construo do texto
necessria e no implica desqualificao do texto jornalstico cientfico. nessa
intermediao que as analogias, comparaes e exemplos so instrumentos importantes para a
compreensibilidade do texto. Para o cientista, habituado a escrever para seus pares, o uso
desses recursos pode parecer depreciador do contedo cientfico. Os pesquisadores, principais
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fontes no jornalismo de cincia, no costumam escrever para o pblico no especializado em
sua rea e, portanto, no compreendem prticas rotineiras no jornalismo.
Os jornalistas, por sua vez, com formao cada vez mais generalista, no conseguem
entender o discurso do cientista e acabam por, em sua tentativa de tornar o texto mais simples
e compreensvel para o leitor, distorcer o contedo cientfico. Na rea de sade o conflito
recorrente, como aponta Bernardo Kuscinsky:
Para os trabalhadores da rea de sade, os mdicos, enfermeiros e outros, alinguagem precisa e rigorosa constitutiva do modo de pensar; no
apenas uma maneira de falar, ela reflete uma maneira de pensar a sade(KUSCINSKY, 2002, p. 97).
O especialista, a autoridade mxima no assunto, entre outros termos que designam as
fontes especializadas em falar de determinado tema, muitas vezes provocam deslumbramento
e intimidao no jornalista. Quando o assunto cincia, a situao resulta no medo de fazer
perguntas e de admitir o desconhecimento da rea por parte do jornalista. O profissional ento
copia tudo que dito pela fonte sem sequer entender o que est escrevendo, o que torna a
compreenso do pblico ao ler o texto quase impossvel.
Os conseqentes equvocos oriundos dessa relao cheia de desencontros entre o
jornalista e a fonte cientfica provocam desconfiana entre as duas partes. Consequncia disso
so os pedidos freqentes de cientistas para lerem o texto, resultado da entrevista cedida por
ele, antes que o contedo seja publicado, prtica rejeitada no meio jornalstico e atitude vista
com maus olhos. Para o estabelecimento de uma boa relao entre esses dois profissionais
necessrio que o pesquisador esteja atento dimenso social de seu trabalho e do da imprensa
tambm.
O desafio para a difuso da cincia atravs do jornalismo a compreenso de jornalistas
e cientistas do papel de cada um na divulgao da cincia para o pblico. O prximo passo ,
para o jornalista, descobrir formas de atrair o leitor para a cobertura cientfica em um produto
impresso que concorre com outras publicaes similares, com ndices altos de analfabetismofuncional e com o poder multi-miditico da internet.
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2.3 OS DESAFIOS DO JORNAL IMPRESSO NA SOCIEDADE MULTI-MIDITICA
O mais antigo jornal baiano ainda atuante, o jornal A Tarde, tambm o jornal dirio demaior circulao no estado. O impresso, com tiragem mdia de 40 mil exemplares de segunda
sexta-feira e 90 mil aos domingos, faz parte de um grupo de comunicao que inclui agncia
de notcias, portal, rdio, grfica, alm do recente servio de assinatura por torpedo. Este
ltimo possibilita que o assinante receba o contedo de sua preferncia, so 15 editorias para
escolha, atravs de mensagens no celular de acordo com o canal assinado. A multiplicao de
servios oferecidos pelo grupo A Tarde acompanha uma corrente j iniciada em vrios grupos
de comunicao do pas.
Com o aumento do nmero de novas tecnologias na rea de telecomunicaes, muitos
representantes do setor privado de comunicao brasileiro tm investido na convergncia da
atuao de suas empresas, principalmente no campo da internet e da televiso. Nesse
panorama, o jornal impresso precisa competir com ferramentas cada vez mais multi-
miditicas. Imagens, animaes e recursos grficos so alguns dos instrumentos utilizados
com freqncia na rea da cincia na apresentao de matrias e reportagens.
Alm da concorrncia com outros formatos, cada vez mais populares, o jornal baiano
precisa competir com uma realidade da populao do estado. Dados da Sntese de Indicadores
Sociais 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) revelam que 35,6% da
populao baiana com quinze anos ou mais analfabeta funcional. Esse dado indica que
nmero de pessoas com menos de quatro anos de estudo na Bahia, segundo definio da
Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco), quase o
ndice de toda a regio Nordeste. Um contexto, que unido capacidade tecnolgica dos
demais meios de comunicao, torna a sustentao do impresso mais difcil.
A circulao dos jornais impressos brasileiros, contrariando profecias e a realidade de
vrios pases desenvolvidos, registrou crescimento.8 Junto com os jornais de outros pases
emergentes, a exemplo da ndia e da China, os jornais do Brasil cresceram em circulao. As8A circulao aumentou 8,1% no primeiro semestre de 2008, segundo o IVC Instituto Verificador deCirculao.
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expectativas contrrias a isso tm origem no pessimismo geral que previu o desaparecimento
dos jornais impressos com a popularizao da internet. No pas, o acesso internet tambm
tem crescido. Segundo pesquisa do Ibope de janeiro de 2009, h mais de 24 milhes de
internautas no Brasil. Estes dados confirmam que a difuso em larga escala da internet no
implica o fim dos jornais impressos, ao menos no Brasil, e que h provavelmente uma
interao entre os dois veculos no pas.
Para disputar o espao obtido entre os leitores com a internet, muitos jornais impressos
apostaram em mudanas grficas, com mais destaque para imagens, uso de cores e diminuio
do tamanho dos textos. O jornalismo de convergncia entre o impresso e a internet um dos
provveis motivos para a boa circulao de jornais no pas. O maior concorrente do jornal A
Tarde, o jornal Correio*9(antigo Correio da Bahia), foi reformulado, grfica e editorialmente,
em 2008. As mudanas incluram alterao no formato, de standard para berliner10; no
projeto grfico, com mais destaques para as imagens e no uso das cores; e mudanas nas
editorias, com reduo do espao disponibilizado para a cobertura poltica e maior destaque
para as reas de entretenimento, esportes e cultura.
O jornal A Tarde sofreu sua ltima mudana grfica em 2003 sob o comando de
Ricardo Noblat11. De l pra c, o grupo expandiu suas atividades e intensificou a produo de
material para o site, A Tarde On Line, reformulado em setembro de 2008. O impresso no
sofreu grandes alteraes. Nele h ao menos um caderno especial a cada dia da semana. O
Cincia&Vida, caderno especializado em cincia e tecnologia, comeou a ser publicado aos
domingos, com a primeira edio em 07 de outubro de 2007. O caderno, o nico investimento
local em jornalismo cientfico do tipo nos jornais dirios de Salvador, ilustrativo da
cobertura de cincia e tecnologia no estado.
9Jornal pertencente ao grupo Rede Bahia da famlia do falecido senador baiano Antnio Carlos Magalhes. Na
reformulao da publicao em 2008, o nome Correio da Bahiafoi reduzido para Correio*.10Formato de jornal com 470x315mm, pouco maior que o tablide, mas menor que o standard.11Jornalista brasileiro que j trabalhou nas redaes dos jornais Correio Braziliense, Jornal do Brasil e O Globo,entre outros. Chefiou a redao do jornal A Tarde em 2003 durante 11 meses e desde 2004 blogueiro.
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3. O CADERNO CINCIA&VIDA
O caderno de cincia do jornal A Tarde foi lanado em outubro de 2007 e at junho de2009 possui 91 edies, todas publicadas aos domingos. A publicao editada pelo jornalista
Cludio Bandeira a nica experincia de cobertura cientfica em editoria especfica nos
jornais dirios de Salvador. Contudo, essa no a primeira vez que a cincia recebe espao
reservado no A Tarde. Em agosto de 2005, o jornal iniciou a publicao da seo
Observatrio, s quintas-feiras, destinada divulgao cientfica. O espao tinha por objetivo
expandir os assuntos abordados numa outra seo tambm publicada na poca, s teras-
feiras, dedicada ao meio ambiente.
A seo semanal durou um ano e sete meses e pode-se dizer que foi precursora do
Cincia&Vida. Durante seu perodo de vigncia, oObservatrio foi o local de publicao das
pautas cientficas do jornal. Na seo, alm de reportagens, entrevistas e artigos, havia uma
seo de notas curtas, Conta Gotas, e um espao para a resposta de dvidas dos leitores,
Pergunte ao Observatrio. Aps a reforma do jornal A Tarde em 2006, este espao foi
extinguido e a seo, inicialmente publicada com duas pginas, foi reduzida para uma pgina.
A seo Observatrio parou de ser produzida sem maiores explicaes em maro de 2007.
Sete meses depois o caderno Cincia&Vidafoi lanado.
Uma demanda de pblico. Esse foi o motivo da criao do caderno, segundo seu
editor, Cludio Bandeira. A deciso do jornal de cancelar a seo Observatrioe investir no
caderno Cincia&Vidapartiu do interesse dos leitores, identificado atravs de pesquisas, emassuntos como qualidade de vida e meio ambiente. O interesse do brasileiro por cincia e
tecnologia j havia sido comprovado por uma pesquisa12 do Ministrio de Cincia e
Tecnologia (MCT) divulgada em abril de 2007. Segundo os dados publicados, 89% dos
entrevistados afirmaram que a sociedade deve ser ouvida nas questes relativas cincia e
81% julgam serem capazes de entender assuntos relacionados rea cientfica se esses forem
bem explicados.
12 A pesquisa, baseada em estudos anteriores j realizados em outros pases, foi realizada com mais de 2000brasileiros maiores de 16 anos.
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Bandeira afirma que a expectativa do jornal em relao ao caderno que o mesmo seja
um espao que atenda a procura do pblico por informaes da rea cientfica. esse tambm
o ponto principal nas reunies de pauta para a produo do mesmo. De acordo com o editor,
as sugestes de assuntos feitas pelos leitores para o caderno Cincia&Vida so geralmente
seguidas pela equipe de produo. a resposta do pblico que orienta o contedo que ser
publicado no caderno. Bandeira ressalta ainda que o retorno dos leitores crescente, o que,
para ele, a garantia do sucesso da publicao. O envio de opinies, observaes e sugestes
do pblico motivo de entusiasmo para a equipe chefiada por ele.
A equipe fixa do caderno pequena: alm do editor, que tambm escreve, Cludio
Bandeira, h mais uma reprter fixa, Fabiana Mascarenhas. Ambos j trabalhavam na seo
Observatrio e participaram de todo o processo de transformao da mesma em caderno.
Alm deles, h tambm a jornalista Marilena Neco, reprter responsvel pelas pautas
relacionadas rea de sade no Caderno 1 do jornal, que geralmente tambm produz textos
para o caderno Cincia&Vida.
Como principal motivo de criao do caderno e da produo de pautas, o retorno dos
leitores era a maior expectativa do jornal e de seu editor com o lanamento do caderno. Esta,
segundo o prprio, est sendo atendida. a participao de outro pblico que ainda difcil.
A relao com os plos de pesquisa locais definida por Bandeira como complicada. Tem
melhorado com o tempo e o editor demonstra otimismo quando questionado sobre o assunto,
mas revela que, de forma geral, as universidades pblicas e privadas no oferecem os meios
para a divulgao das pesquisas realizadas nelas.
Alm do retorno do leitor, a manuteno de sees fixas e a participao do ambiente
intra-acadmico tambm so expectativas apontadas pelo editor, estas ainda no alcanadas.
A consolidao do caderno como espao de divulgao cientfica seria um dos fatores para a
maior abertura do meio, principalmente acadmico, aos jornalistas. A difuso da importncia
da cultura cientfica e do papel dos meios de comunicao nesse processo, como principal
difusor da cincia para o pblico , outro elemento de facilitao da relao cientistas versus
jornalistas.
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Como aponta Lilian Zamboni,
...a percepo de que a popularizao da cincia poderia carrear certo tipode ganho e beneficio para a manuteno e o incremento da prpria atividadede pesquisa despertou a comunidade cientfica para exercer, ela mesma, aprtica da divulgao, a despeito de vigorar um certo descrdito no meioacadmico em relao a publicao, por cientistas, de material devulgarizao cientfica, vista por muitos de seus membros como umenviesamento da atividade cientfica (ZAMBONI, 2001, p. 144).
Bandeira afirma que a falta de disponibilizao de dados sobre as pesquisas produzidas
pela comunidade cientfica resulta na necessidade dos jornalistas buscarem notcias e fontes
sem qualquer quadro de informaes como base. Aps 20 meses de lanamento do caderno,
ele aponta que o contato com as universidades melhorou, principalmente graas
popularizao das assessorias de comunicao, tanto nas instituies quanto em estudos e
grupos acadmicos especficos.
3.1 MAIS CINCIA NO GRUPO A TARDE
Na busca da interao entre equipe de produo e pblico leitor, o espaoInteratividade
uma ferramenta importante. Na seo so publicadas enquetes sempre relacionadas aos
assuntos abordados nos textos do caderno. O espao comeou a ser publicado aps as
mudanas no portal A Tarde On Line, em setembro de 2008 e no tem periodicidade ou
espao reservado na diagramao do caderno. Segundo Bandeira, a participao do pblico
imensa. O editor afirma que o aproveitamento da ferramenta possibilita que a equipe do
caderno conhea a opinio do pblico e no seja a nica proponente de contedo para a
publicao.
A convergncia do contedo do jornal com a internet intensifica o fluxo de informaes
oriundas do pblico e permite uma interao da equipe do caderno com o leitor que no seria
possvel no impresso. Alm das enquetes, o blog Cincia e Vida outra ferramenta produzida
por Fabiana Mascarenhas e Cludio Bandeira. O blog, tambm lanado aps a reforma do
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portal e com contedo muitas vezes baseado nos assuntos publicados no caderno, amplia o
espao da equipe para a publicao dos textos relacionados rea cientfica.
Alm do blog, na emissora de rdioA Tarde FM tambm h espao para os assuntos do
caderno Cincia&Vida.Assim como ocorre com outras editorias ou cadernos do jornal, cujos
reprteres ou estagirios fazem comentrios sobre suas reas de trabalho na rdio, Fabiana
Mascarenhas aborda os temas da rea cientfica. O contedo dos comentrios da reprter
sempre postado no blog Cincia e Vida. Estes comentrios e novidades na rea da cincia
so os principais contedos disponibilizados no blog pela equipe do caderno.
3.2 SOBRE O CONTEDO DO CADERNO
Para examinar a publicao foram analisadas as edies do caderno Cincia&Vida dos
meses de fevereiro e maro de 2009. Os nove exemplares do caderno, publicados nos dias 1,
8, 15 e 22 de fevereiro e 1, 8, 15, 22 e 29 de maro de 2009, so representativos das demais
edies uma vez que foram produzidos pela equipe original do caderno e representam a
publicao tanto em um perodo marcado por festas populares e intensificao de aes e
pautas voltadas para o cuidado com a sade, caso de ms de fevereiro, perodo no qual ocorre
o carnaval, quanto em uma poca regular, sem grandes acontecimentos, caso do ms de
maro.
Em fevereiro e maro de 2009, todos os nove exemplares selecionados possuem quatro
pginas, formato padro do caderno desde dezembro de 2008. Apenas na ltima edio,publicada no dia 29 de maro, o caderno foi publicado com oito pginas. A mudana, segundo
Cludio Bandeira, ocorreu por uma necessidade de adequar o espao editorial e o publicitrio
na publicao. Nesse dia, vrios textos do caderno estavam relacionados aos acontecimentos
em torno do Ano Internacional da Astronomia decretado pela Unesco.
De um total de 51 matrias encontradas nas edies analisadas, 28 foram produzidas por
profissionais do jornal A Tarde, 18 so oriundas de agncias de notcias e cinco tiveram o
contedo escrito por agncias e modificado pela equipe do caderno. Dentre os textos
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assinados por agncias de notcias, 12 foram produzidos por agncias nacionais. No exame
das edies citadas anteriormente foi verificado que a equipe do caderno, formada por
Cludio Bandeira e Fabiana Mascarenhas, divide a autoria dos textos da publicao com a
reprter Marilena Neco e Cssia Candra e com os estagirios Joo Ea e Juracy dos Anjos.
Segundo Bandeira, estes ltimos no so preferencialmente selecionados para a produo de
pautas do caderno Cincia&Vida, ainda que tenham sido encontrados vrios textos deles na
publicao.
Criar e manter sees fixas no caderno tambm uma das ambies de Bandeira e
Mascarenhas, mas at o momento isso no foi possvel. Um espao que poderia ser
caracterizado como tal, a coluna Pergunte ao Pediatra, na qual o mdico especializado em
pediatria Augusto Sampaio escrevia textos, foi cancelada a partir da edio do dia 22 de
fevereiro. Os textos eram escritos em tom de conselhos bem-humorados para os pais, com uso
da 1 pessoa. No contedo, as crenas e mitos populares em relao ao cuidado da sade de
crianas eram refutados com ironia pelo mdico. Segundo Cludio Bandeira, a coluna foi
interrompida por problemas pessoais do mdico. O contedo no foi mais publicado a partir
do dia 1 de maro sem qualquer explicao ao pblico leitor.
Como substituio coluna Pergunte ao Pediatra, artigos de especialistas comearam a
ser publicados no caderno. O primeiro deles juntamente com a coluna, na ltima edio em
que esta foi publicada. Para a obteno dos textos dos artigos, geralmente a equipe do caderno
convida especialistas e sugere o tema. Nos dois meses analisados seis artigos foram
publicados, um em cada edio do caderno Cincia&Vida, com exceo do dia 08 de maro
de 2009. Foi verificado que cada artigo foi escrito por um profissional, e que apenas um deles baiano. Os demais especialistas que publicaram artigos no caderno no perodo analisado so,
em sua maioria, do estado de So Paulo. No contedo dos artigos, as temticas exploradas so
diversificadas, somente no foi encontrado texto na rea de cincias exatas. Nenhum deles
discute assuntos com o foco local, todos abordam grandes temas de forma generalista.
Apenas uma entrevista foi publicada em todas as edies analisadas. Esta foi utilizada
complemento a uma matria publicada na mesma pgina, ambas na rea de sade. A
entrevista foi mais um contedo que se uniu a srie de materiais focados na temtica infeco
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urinria publicados no dia 01 de fevereiro. O mdico, por atuar no Rio de Janeiro, respondeu
as perguntas por e-mail.
A seo Interatividade foi publicada em cinco exemplares13, com perguntas ou
respostas relacionadas aos temas abordados no caderno. A enquete fica disponvel na pgina
principal do site A Tarde On-line, com o ttulo do caderno ou editoria ao qual se refere. Foi
verificado que no houve compromisso em publicar o resultado de todas as enquetes
propostas no caderno, nas edies examinadas apenas duas delas tiveram suas respostas
publicadas em edies posteriores.
3.3 CADERNO CINCIA&VIDA: NMEROS E PARTICULARIDADES DO
PERODO ANALISADO
No mapeamento da publicao nos meses de fevereiro e maro de 2009, cinco grupos
de caractersticas foram examinados: a origem das matrias, ou seja, se os textos foram
produzidos pela equipe local ou por agncias; as temticas e as reas da cincia abordadas nos
textos; as declaraes de fontes utilizadas; o foco da abordagem nas matrias, se os fatos
apresentados pertenciam ao mbito local, nacional ou internacional; e o carter de atualidade
de cada texto. Identificar essas caractersticas permite que seja construdo um quadro analtico
do contedo produzido para o caderno Cincia&Vida e com ele ter um diagnstico da
cobertura cientfica realizada na publicao.
A anlise levou em conta todo o contedo do caderno, inclusive entrevistas, artigos etextos dos espaos Pergunte ao Pediatra e Interatividade, com exceo de notas curtas,
eventualmente presentes na publicao. A diviso do contedo publicado no caderno por
diferentes reas cientificas revelou que a grande maioria est relacionada as cincias da sade
(ver tabela 3.1). A maior disparidade verificada nas matrias locais, a distribuio nas reas
cientficas mais equilibrada nos demais itens.
13Dias 15 e 22 de fevereiro e dias 1, 15 e 22 de maro de 2009.
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Tabela 3.3 Diviso de contedo por reas cientficas
Cincias Agncia Agncia +Editoria
Artigo Entrevista Pergunteao Pediatra
Locais Total
Biolgicas 6 2 1 0 0 5 14Exatas 0 1 0 0 0 0 1Humanas 4 1 1 0 0 2 8Sociais 0 0 1 0 0 1 2da Terra 3 3 1 0 0 2 9da Sade 5 2 2 1 3 16 29Outros 0 0 0 0 0 1 1
Nessas grandes reas cientficas, alguns temas especficos ganharam destaque. Caso da
teoria evolucionista e do meio ambiente nas cincias biolgicas. O primeiro destes temas
justificado pela comemorao do bicentenrio de Darwin14, que motivou uma edio quase
que totalmente dedicada ao assunto (edio do dia 15 de fevereiro de 2009). O segundo
abordado em vrios pequenos textos sobre fatos pontuais. Nas cincias humanas, a
arqueologia e a psicologia foram os assuntos mais explorados, enquanto nas cincias da terra,
a astronomia foi o grande tpico discutido. Da mesma forma que o bicentenrio de Darwin, a
comemorao do Ano Internacional da Astronomia resultou numa edio com vrias matrias
sobre o assunto, no dia 29 de maro.
O mesmo no acontece com as cincias sociais e as cincias exatas. O campo das
cincias sociais foi abordado em apenas dois textos, um artigo e uma matria produzida pela
equipe local. As cincias exatas, por sua vez, tambm no foram muito exploradas no
caderno, h somente um texto produzido pela editoria juntamente com o contedo de agncias
de notcias. Alm do pouco espao disponibilizado para a discusso dessas reas da cincia, ouso do contedo de agncias exemplar do panorama de no produo de pautas locais
relacionadas s duas reas.
No extremo oposto, o contedo sobre sade absoluta maioria no conjunto de textos
analisados. A maior facilidade de relacionar a rea de sade ao interesse pblico e de,
consequentemente, publicar notcias desta j foi apontada anteriormente. As temticas
14Charles Darwin, bilogo famoso por propor a teoria da seleo natural para explicar a evoluo humana.
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nutrio, hipertenso e cirurgia plstica foram exploradas em ao menos trs textos cada uma,
todos produzidos pela equipe local.
Textos com o foco internacional foram maioria entre queles produzidos por agncias
de notcias, um resultado j esperado, h apenas dois destes com contedo local. Por sua vez,
a maior parte das matrias com abordagem nacional foi produzida pela equipe do caderno
Cincia&Vida. No exame geral de todos os textos publicados no caderno no perodo
analisado, produzidos por agncias, editoria em conjunto com agncias e pela equipe local, as
notcias com foco internacional estiveram mais presentes do que quelas com acontecimentos
de mbito nacional ou regional.
Para a verificao das declaraes de fontes utilizadas nos textos, foram examinadas
apenas as matrias assinadas pela equipe local. No contedo, 20 matrias continham apenas
declaraes de especialistas, e em metade delas apenas uma fonte era utilizada. Trs textos
no apresentaram declaraes e cinco apresentaram falas tanto de fontes especializadas
quanto de no especializadas. Em muitos casos, as fontes utilizadas na matria de capa do
caderno eram as mesmas apresentadas no texto da segunda pgina da publicao. Estes textosem geral apresentavam assuntos que continuavam a discusso da matria de abertura do
caderno. Ainda que mais da metade do contedo produzido pela equipe do jornal A Tarde
apresente uma abordagem local, a maior parte das fontes especialistas utilizadas nas
declaraes publicadas nos textos atua em outros estados e representante de associaes ou
sociedades das reas debatidas.
Sobre o uso de fontes na cobertura cientfica, Fabola Oliveira ressalta,
Um vcio recorrente no jornalismo cientfico o oficialismo excessivo dasfontes de informao, principalmente das entidades governamentais depesquisa, que predominam no cenrio cientfico brasileiro. Dirigentes deentidades de pesquisa, no nos esqueamos, tm cargos pblicos deconfiana, e portanto sua opinio condicionada ao posto que ocupam(OLIVEIRA, 2002, p. 49).
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A predominncia de uma s fonte nos textos jornalsticos contraria uma das diretrizes
da prtica da atividade, a explorao do contraditrio. No jornalismo cientfico, muitas vezes,
o uso de fontes ligadas a rgos governamentais uma ao que no pode ser evitada. Em
muitos casos, no h outro lado para ouvir. Ainda assim, fontes oriundas de organizaes no-
governamentais e de associaes cientficas cujo contato atualmente muito mais fcil com a
internet so possibilidades que precisam ser exploradas pelo jornalista (OLIVEIRA, 2002).
O carter de atualidade dos textos foi examinado a partir da verificao da notcia
discutida na matria ou usada como gancho para sua publicao. Nos 18 textos criados por
agncias, apenas dois no possuam nenhum fato novo que fundamentasse sua publicao.
Entre os artigos, trs se referiam a acontecimentos recentes e todos os textos assinados pela
editoria com contedo de agncias tambm estavam relacionados a notcias atuais. Nos textos
escritos pela equipe do caderno, a maior parte utilizava uma notcia atual como gancho para a
matria. Em geral, foram acontecimentos de grande repercusso, como o caso da brasileira
Paola Oliveira15 em um texto sobre lpus e a morte da modelo Mariana Bridi16 em uma
matria sobre infeco urinria. Entre queles que no apresentavam fatos novos, assuntos
ligados rea de nutrio e qualidade de vida foram os destaques. Cludio Bandeira apontou
que estes temas, sobre meios acessveis de se manter saudvel, utilizando uma boa
alimentao, so geralmente pedidos pelos leitores.
3.4 ESTRATGIAS PARA MELHORAR A COMPREENSO DO LEITOR
Recursos grficos e textuais so utilizados de forma recorrente no caderno
Cincia&Vida para ilustrar as matrias e facilitar a compreenso dos temas cientficos pelo
leitor. Os recursos mais presentes nas edies analisadas so os caracteres de destaque, como
aspas, asteriscos e nmeros, itens que ressaltam informaes importantes sobre o tema
abordado no texto. Tabelas e notas em destaque sobre estatsticas so outros elementos
trabalhados em boa parte do contedo publicado no caderno.
15 Advogada brasileira que mora na Sua e afirmou ter sofrido um ataque neonazista no pas. Aps examespericiais da polcia, a brasileira foi acusada de simular o ataque. A famlia afirmou que ela sofre de lpus, doenaque pode causar distrbios psicolgicos.16A morte da modelo foi causada por septicemia originada pela evoluo de uma infeco urinria.
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Os textos publicados no caderno Cincia&Vida quase sempre so acompanhados de
imagens, salvo raras excees. Muitas delas so oriundas de agncias ou so fotografias de
divulgao. Entre as matrias com o foco local, fotografias de entrevistados so as imagens
mais recorrentes. Segundo Bandeira, quando possvel, so utilizadas fotos diferenciadas
para ilustrar o tema, como cenas de exerccios, prticas de trabalhadores da rea de sade ou
montagens vrios elementos, a exemplo de alimentos quando o tema da matria nutrio.
Geralmente utilizadas para se referir a assuntos mais abstratos, as ilustraes no so
muito utilizadas no caderno. Apenas uma foi encontrada nas edies examinadas. O tema da
reportagem, uma pesquisa na rea de psicologia sobre a conexo entre o corpo e a mente na
qual foram utilizadas cenas erticas, foi representado pelo desenho de uma mulher sentada em
uma poltrona que pegava fogo e olhava para uma televiso tambm em chamas, numa
indicao das imagens veiculadas (ANEXO A). O tpico destacado na reportagem se referia
justamente a aparente desconexo entre corpo e mente femininos na resposta a estmulos
sexuais. A imagem faz uma aluso engraada ao tema abordado, ainda que a autora do texto
no utilize o humor em sua construo. A matria ocupa toda a pgina e junto s imagens,
declaraes de trs especialistas so destacadas por aspas.
O uso de infogrficos foi outro recurso encontrado nas edies selecionadas para a
anlise. Um deles, sobre doena renal, utilizou boa parte do espao da primeira pgina do
caderno e indicava os sintomas e fatores de risco para o problema de sade (ANEXO B). Em
outro, um mapa com a trajetria da expedio de Darwin, cada local visitado pelo pesquisador
estava marcado e era acompanhado de breves explicaes fornecidas pela fonte especialista
utilizada no texto, numeradas de acordo com a ordem do roteiro seguido pelo bilogo ingls(ANEXO C).
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4. ESTUDO DE CASO
Lanado em outubro de 2007, o caderno Cincia&Vida sofreu transformaes em seuformato ao longo dos 20 meses de publicao. O terceiro caderno dominical do jornal A
Tarde, ordem na qual a publicao disposta na organizao das edies do jornal nesse dia
da semana, foi reduzido de oito para quatro pginas em dezembro de 2008. A alterao
resultou em modificaes no contedo publicado no caderno, como a reduo do nmero de
entrevistas e ilustraes material geralmente presente nas primeiras edies da publicao.
Para verificar quais alteraes ocorreram no caderno Cincia&Vida ao longo do seu
perodo de publicao, o mesmo possui 91 edies, foi realizada uma comparao entre as
edies publicadas no ms de inaugurao do caderno, outubro de 2007, e as edies
publicadas em um ms atual, maro de 2009. O objetivo constatar quais as mudanas
sofridas pela publicao dominial, principalmente tendo em vista a reduo do nmero de
pginas. No total, 11 edies, quatro delas publicadas em 2007 (dias 07, 14, 21 e 28 de
outubro) e cinco publicadas em 2009 (dias 1, 08. 15, 22 e 29 de maro), foram examinadas.
4.1 CARACTERSTICAS APONTADAS NO CADERNO INAUGURAL
Entre o cancelamento da seo Observatrioe o lanamento do caderno Cincia&Vida,
sete meses transcorreram sem qualquer informao sobre as mudanas no contedo disponvel
no jornal A Tarde para o leitor. No dia 6 de outubro de 2007, vspera da estria do caderno,
um texto, acompanhado de chamada na 1 pgina do jornal (ANEXO D), chamava a atenopara as novidades do dia seguinte que incluam o novo caderno de domingo e o novo formato
de um caderno j publicado antes. Assinado por Cludio Bandeira, o editor do caderno
Cincia&Vida, e Sara Barnuevo, atual editora do caderno de Empregos&Negcios, o texto
expunha os novos canais de informaes sobre a rea cientfica e sobre o mercado de
trabalho, esta ltima com caderno reformulado. Ainda na sexta-feira, dia 05 de outubro, um
texto disponvel no siteA Tarde On-linee assinado por Bandeira tambm falava sobre a nova
publicao.
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Cincia ganha espao pioneiro em A Tarde. Esse foi o ttulo do texto de apresentao
do novo caderno publicado j em sua primeira edio, no dia 07 de outubro de 2007. O texto
fala sobre a expectativa de tornar a rea de cincia atrativa para o leitor, o foco da produo
de contedo sobre assuntos que promovam hbitos saudveis que contribuam para a
conservao ou melhora da sade do indivduo, assim como temas relacionados ao espao e
as pseudocincias, e destaca o carter educativo da difuso cientfica como forma de superar a
excluso social. De fato, h um desequilbrio entre os progressos cientfico e tecnolgico e a
educao cientfica do cidado.
Marcelo Sabbatini aponta que:
O chamado "analfabetismo cientfico" constitui um obstculo importantepara a compreenso pblica da cincia e da tecnologia e o seu conceitoantagnico, o de alfabetizao cientfica, foi utilizado como base para omodelo tradicional de comunicao pblica da cincia e da tecnologia. Estemodelo tradicional, tambm chamado de "modelo linear" ou "modelo dedficit" supe que a os distintos formatos da divulgao cientfica devempreencher uma lacuna de conhecimento, informando e ensinando aos no-especialistas, e que este novo entendimento levaria a uma maior valorizao
da cincia e da tecnologia (SABBATINI, 2004).
Nesta primeira edio, grandes matrias que se complementam sobre o mesmo tema,
uma entrevista de pgina inteira com o Pr-reitor de ps-graduao e pesquisa da UFBA, e
imagens e tabelas que ocupam quase metade das pginas so os pontos de maior destaque no
caderno Cincia&Vida. Foi percebido que mesmo essa sendo uma das ambies declaradas
pelo editor, Cludio Bandeira, a publicao no possui muitas sees. Uma delas o
Observatrio, a seo j publicada anteriormente em A Tarde e cancelada em maro de 2007,que retorna ao contedo do jornal como um dos elementos do novo caderno. Com cinco notas
curtas e uma imagem central sempre referente a primeira nota, geralmente relacionada rea
de entretenimento, a seo foi cancelada alguns meses depois.
Uma segunda seo intitulada Tese da Semana apresenta um estudo premiado do
Instituto de Sade Coletiva da UFBA. O espao que deveria ser fixo um dos elementos
destacados no texto de divulgao do novo caderno publicado no siteA Tarde On-line. Ainda
assim, aps aparecer nas trs primeiras edies do caderno, no fez parte do contedo da
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publicao no dia 28 de outubro, o ltimo domingo do ms inaugural analisado, nem das
edies mais recentes tambm examinadas.
Essas caractersticas se repetem nas demais edies deste primeiro ms. Na anlise dos
textos, entre os 29 publicados no ms inaugural do caderno, ressaltando novamente que foram
excludas da anlise as notas curtas, 24 so produzidos por profissionais do jornal A Tarde.
Apenas dois so assinados por agncias, ambas internacionais, e um texto foi publicado com
contedo de uma agncia de notcia modificado pela editoria. Dois outros textos encontrados
nas edies do ms de outubro de 2007 so artigos assinados por docentes, nenhum deles com
atuao na Bahia. Os textos no so identificados como artigos, so apenas assinados pelos
pesquisadores, estes identificados em notas de rodap. O ttulo Artigos uma informao
utilizada quando estes textos so publicados nas edies mais recentes do caderno.
Alm de Cludio Bandeira, Fabiana Mascarenhas e dos dois pesquisadores autores dos
artigos, dois outros profissionais do A Tarde assinam um texto cada nas edies analisadas,
Zezo Castro e Fbio Bittencourt. O segundo assina um texto curto sobre uma pesquisa local,
mas o primeiro o autor de uma reportagem que ocupa duas pginas centrais da edio do dia14 de outubro. O texto discute fenmenos ufolgicos na Chapada Diamantina17. Em relao
ao foco de abordagem, entre os 27 textos produzidos por agncias e pela equipe do caderno
Cincia&Vida, nove possuem uma abordagem local, enquanto 12 focam assuntos de
abrangncia nacional e cinco abordam temas com foco internacional.
Dentre as grandes reas cientficas, a rea de sade novamente foi a mais discutida. O
tema foi abordado em 12 textos. Na anlise, foi observado que nas edies dos dias 07, 21 e
28 de outubro de 2007, cada temtica discutida na rea de sade foi desdobrada em trs textos
publicados nas mesmas edies. As trs temticas relacionadas a alimentos e qualidade de
vida; sade da mulher e problemas no fgado foram matria de capa e assunto de mais dois
textos, todos na mesma edio. Nestes casos, o destaque dado aos temas fez com que os
exemplares do caderno se assemelhassem a um especial sobre o assunto abordado. Por sua
vez, as outras trs temticas da rea de sade, assistncia gestante, problemas de circulao
e cirurgia facial, foram abordadas em apenas um texto, estes quase sempre de pgina inteira.
17Regio de serras e cachoeiras localizada na regio da Bahia.
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Todas as demais grandes reas da cincia, biolgicas, exatas, humanas, sociais e da
terra, foram exploradas em ao menos dois textos publicados no perodo examinado cada uma,
com discusso de temticas variadas. Nesse 1 primeiro ms, foi verificado tambm o
predomnio de contedo produzido pela equipe do caderno Cincia&Vida, e no por agncias
de notcias. Em relao s declaraes utilizadas, o uso exclusivo de falas de fontes oficiais e
especialistas foi predominante nos textos. Em sua maioria, as declaraes de mais de um
entrevistado dessa categoria faziam parte do contedo de cada matria.
Trs textos utilizaram depoimentos de no especialistas. Em um deles, publicado naedio do dia 14 de outubro, a matria Alternativa investir nas cotas, diz pesquisador
assinada por Fabiana Mascarenhas apresenta um espao intitulado Fala povo. Com uma
pergunta sobre o tema discutido no texto e dados como o nmero de pessoas ouvidas sobre o
assunto, o espao parece inicialmente se tratar de uma nova seo. H destaque para dois
depoimentos tidos como principais e as fotografias dos respectivos entrevistados. Mesmo se
assemelhando a uma seo fixa, o espao de consulta da opinio popular no aparece
novamente nas demais edies analisadas.
A maior parte dos textos do ms inaugural do Cincia&Vida no estavam relacionados
a acontecimentos atuais. Apenas dez entre os 29 textos produzidos por agncias de notcias e
pela equipe local, alm dos artigos, se referiam a notcias recentes. Nenhum fato de
repercusso da poca foi usado como gancho para a explorao de um tema. A pequena
quantidade de textos com um carter de atualidade em relao ao total pode ser justificada
pelo desdobramento de temticas frias em duas ou mais matrias ocorrido em trs edies
do ms de outubro. Estas continham contedo semelhante a um especial sobre o tema
abordado, conforme j apontado anteriormente.
Em duas edies de outubro de 20007 dentre as quatro analisadas foram publicadas
entrevistas, uma em cada edio e ambas ocupando uma pgina inteira. A primeira, com
Herbert Conceio, ento pr-reitor de pesquisa e ps-graduao da UFBA, discute a
produo de pesquisa na universidade. A segunda, com o pneumologista Guilhardo Ribeiro,
aborda o crescimento do tabagismo entre os adolescentes de baixa renda. Ambas apresentam a
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mesma diagramao de impacto, foto grande do entrevistado disposta prximo ao centro da
pgina, declaraes fortes dos mesmos como ttulo e pequena biografia dos pesquisadores
destacada com asterisco. As entrevistas foram publicadas nas duas primeiras edies do
Cincia&Vida, dias 07 e 14 de outubro.
4.1.2 DESTAQUE S IMAGENS
Os recursos grficos j apontados na anlise do caderno nos meses de maro e fevereiro
de 2009 tambm esto presentes no primeiro ms de publicao. Asteriscos e aspas, os
caracteres de destaque, so utilizados em quase todas as matrias. Mas o uso das imagens o
que mais chama a ateno na diagramao no ms inaugural do caderno Cincia&Vida.
Tabelas, fotografias e ilustraes ganham destaque em todas as pginas da publicao.
Exceto raras excees, as matrias do caderno ocupam o espao de pelo menos metade
de uma pgina. Ainda assim, mesmo fotografias mais simples como a de entrevistados se
sobressaem em meio aos textos. Outros recursos de ilustrao, como tabelas com imagens e
textos, so geralmente dispostos no centro das pginas e utilizados como complemento do
contedo das matrias. No material relacionado rea de sade, o contedo dos textos e de
tabelas e notas construdo em forma de dicas ou conselhos, que visam preveno de
doenas ou a exposio de aes para a manuteno da qualidade de vida.
Pode se afirmar que tabelas e quadros informativos e fotografias de fontes utilizadas nas
matrias so o padro do que mostrado nas imagens utilizadas para ilustrar os textos docaderno. Um caso de exceo particularmente sensacionalista foi a imagem da menina
Eduarda Botari (ANEXO E), que com dois anos realizou cirurgia para a remoo de lbio
leporino. A matria Cirurgia facial avana com uso de biomaterial, assinada por Cludio
Bandeira, foi publicada na terceira edio do caderno Cincia&Vida. Ocupando boa parte do
espao destinado ao tema, duas fotos da criana so dispostas para mostrar o antes e o depois
da cirurgia. Na primeira delas, a criana est com o rosto deformado.
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Ainda que as fotografias exemplifiquem bem o bom resultado da cirurgia, a imagem da
garotinha ainda beb antes do procedimento cirrgico bastante chocante. A fotografia de
divulgao, segundo informao na legenda, tem tamanho mdio e foco no rosto da criana. A
imagem explora o tema de forma sensacionalista, ainda que o texto no possua contedo
nesse sentido. Na procura por elementos visuais de destaque, esse caso, o nico do tipo
encontrado nas anlises, incluindo a de edies recentes, exemplar da extrapolao no uso
de materiais que ilustrem o contedo textual e chamem a ateno do pblico.
Outra forma de usar imagens para atrair a ateno do leitor utilizar personagens
conhecidos. Na ltima matria da primeira edio do caderno Cincia&Vida, um texto sobre
varizes ilustrado por uma foto da atriz americana Marilyn Monroe (ANEXO F), que marcou
poca ao exibir as pernas em produes cinematogrficas. A imagem da atriz sorrindo numa
pose j clssica no cinema ocupa quase todo o comprimento da pgina. Fazer uso de imagens
de personalidades da indstria do entretenimento uma estratgia de conquista do leitor
tambm adotada em outros espaos. Na seo Observatrio, as notas curtas so
acompanhadas de uma imagem de destaque. Em duas edies, personagens conhecidos como
o Homem Aranha e o Gordo e o Magro18(Anexo G), ilustram a rea central da seo. Estas
imagens so utilizadas em textos curtos, construdos com linguagem leve, mas com dados e
fontes de notcias srias sobre a rea cientfica.
Alm das fotografias, ilustraes e desenhos so outros recursos utilizados nas quatro
edies analisadas. Mantendo a mesma apresentao dos demais elementos visuais, posio
de destaque na diagramao da pgina e tamanho entre mdio e grande, essas imagens
ilustraram temas na rea de sade, com retrataes do corpo humano, de clulas, da estruturado DNA, entre outras. Em apenas uma das edies, para ilustrar uma matria sobre a viso
masculina do estado da mulher durante a TPM, o desenho utilizou elementos humorsticos.
Na ilustrao, um rosto feminino expressando raiva e estresse continha, dentro da boca aberta,
a imagem de um homem correndo apavorado (ANEXO H).
18Respectivamente imagens dos personagens em filmes recentes e no seriado exibido nos anos 70 e 80.
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4.2 COMPARAO ENTRE O PRIMEIRO MS E EDIES RECENTES DO
CADERNO
Tempo, nimo e muitas expectativas. frente do projeto de criao do novo caderno,
um investimento do jornal em uma publicao mais ampla para a cobertura da rea cientfica,
a mesma equipe responsvel pelo contedo da seo Observatrio.A oferta inicial de muito
mais espao, oito pginas, resultou na extenso da fronteira dos assuntos de cincias
discutidos e no uso recorrente de recursos grficos com o intuito de atrair o leitor.
A expectativa em torno da primeira edio e o tempo de preparao desta, foram sete
meses entre o encerramento da seo Observatrioe a estria do caderno, podem ser vistos
como elementos incentivadores nicos para a equipe de produo do caderno Cincia&Vida e
para o prprio jornal. A anlise comparativa entre as edies publicadas no primeiro ms e
outras mais recentes permite avaliar o quanto desse entusiasmo e do investimento, da empresa
e dos responsveis pelo caderno, permanece. A comparao entre os cadernos publicados em
outubro de 2007 e maro de 2009 deve levar em conta a reduo de tamanho da publicao,
de oito para quatro pginas. A deciso, segundo Cludio Bandeira, foi totalmente comercial.A crise financeira levou o jornal A Tarde a diminuir a quantidade de pginas. De acordo com
o editor, todos os cadernos sofreram reduo.
O motivo da reduo de pginas apontado por Bandeira inocenta o desempenho do
caderno entre o pblico. O retorno dos leitores, segundo o editor, foi satisfatrio e crescente.
Com a alterao no formato causada pela crise do papel, o caderno tem sido publicado com
metade da quantidade de pginas inicialmente planejada, mas houve uma exceo no perodo
examinado. A ltima edio do de maro de 2009 foi, de forma inesperada, publicada com
oito pginas. Esse foi um acontecimento excepcional, motivado por demanda de espao
publicitrio no jornal. Nas edies seguintes o caderno Cincia&Vidavoltou a ser publicado
com quatro pginas.
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4.2.1 SOBRE O CONTEDO
Ainda que fosse preciso produzir mais contedo para preencher o caderno em seuprimeiro ms em relao s edies mais recentes, apenas trs textos assinados por agncias
foram utilizados, um deles modificado pela editoria do caderno. Nas edies de maro de
2009, de 31 textos examinados, 12 tm origem nas agncias de notcias e quatro foram
assinados pela editoria em conjunto com contedo de agncias. Em contrapartida, somente
quatro textos publicados em maro de 2009 no possuem o carter de atualidade. Esse nmero
cresce para 19 no primeiro ms do caderno.
Em ambos os meses comparados, a maioria dos textos foi construda com uma
abordagem local. Contudo, houve um acrscimo no nmero de textos com foco em notcias
nacionais e internacionais em 2009. O principal motivo foi o aumento de material produzido
por agncias publicado no caderno. Tambm nas edies mais recentes, na produo de
matrias locais, diferente do contedo publicado no ms inaugural do caderno, notcias de
grande repercusso foram utilizadas como gancho para a explorao de temas. 19
O corte no tamanho do caderno Cincia&Vidaimplicou na reduo de outros contedos
encontrados nos exemplares de outubro de 2007. As entrevistas, antes to destacadas pela
diagramao, no voltaram a aparecer no caderno. Sobre as sees fixas, apenas os artigos de
especialistas so contedo comum nos dois meses analisados, ainda que uma das cinco
edies recentes no apresente o material. Os recursos grficos, muito aproveitados no
primeiro ms, continuaram a fazer parte do contedo da diagramao do caderno. Caracteres
de destaque e quadros de notas foram encontrados em todas as edies atuais. As imagens
tambm so elementos muito utilizados nas pginas. Mesmo com o aumento do contedo de
agncias, fotografias feitas pela equipe do jornal como suporte das matrias continuam muito
usadas.
As mudanas observadas na anlise comparativa possibilitaram identificar duas
principais alteraes no contedo publicado no caderno Cincia&Vida, todas relacionadas e
19Casos j apontados no captulo anterior.
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talvez at conseqncias umas das outras. A primeira delas a reduo do material produzido
por profissionais do jornal A Tarde, principalmente dos membros responsveis pelo contedo
final da publicao, ou seja, menos Cludio Bandeira e menos Fabiana Mascarenhas. A
diminuio do nmero de pginas foi acompanhada da reduo de textos produzidos pelos
jornalistas. Do editor, antes mais presente nas assinaturas de autoria do contedo, foram
encontrados dois textos. Mascarenhas, cujas matrias eram responsveis pela maioria absoluta
do contedo do caderno em maro de 2007, nas edies atuais publica menos que as agncias
de notcias.
Alm da relao j apontada com as agncias, a situao descrita acima tambm est
vinculada aos novos suportes20 ligados ao caderno. O blog Cincia e Vida atualizado
frequentemente com contedos da rea no presentes no caderno. Alm dele, a rdio do grupo
tambm dispe de informaes, principalmente sobre sade, apresentadas por Fabiana
Mascarenhas, que indicada como colaboradora na relao da equipe da emissora de rdioA
Tarde FM. J a interao com o contedo oferecido no site, primordialmente as enquetes,
um elemento s encontrado no contedo recente, uma situao que se repete em todo caderno
ou editoria do jornal desde a reforma do siteA Tarde On-line.
20O grupo A Tarde, de forma semelhante a outras empresas de comunicao do pas, investiu na convergnciada rea de atuao da empresa.
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5. CONSIDERAES FINAIS
Uma iniciativa pioneira, e s por isso j representa um avano, mas que ainda precisa deajustes. O Cincia&Vida, nico caderno de cincia em todo o estado da Bahia, regio com
seis universidades pblicas21, resultado de um investimento local nico em divulgao
cientfica nos meios de comunicao de massa. Como primeira tentativa, comeou como um
produto com abordagem ampla na rea cientfica e com uma srie de recursos grficos para
atrair o leitor. Contudo, aps 20 meses, a produo da equipe local acompanhou o nmero de
pginas do caderno, foi reduzida.
As oito pginas iniciais, com contedo extenso e um forte suporte de imagens, sofreram
reduo por motivos unicamente econmicos. Segundo Cludio Bandeira, o editor do
caderno, as modificaes sofridas pela publicao atingiram todos os cadernos do jornal. O
editor afirma ainda que se o nmero de pginas do caderno dependesse apenas da equipe que
o produz, a publicao s expandiria porque contedo no falta. O entusiasmo da declarao,
presente em toda a entrevista com o jornalista, no condiz com o que foi verificado na anlise
do caderno.
Na comparao entre o ms de lanamento do caderno Cincia&Vida, outubro de 2007,
e um ms recente, maro de 2009, a presena de contedo produzido pela equipe do jornal A
Tarde foi muito menor no ms mais atual. Os dados analisados mostram que nos quatro
primeiros cadernos, cada um com oito pginas, os textos locais so o contedo quase
exclusivo das edies. Entretanto, o nmero de textos de agncias de notcias publicados
cresce de dois no ms inaugural da publicao para 12 em maro de 2009.
O resultado aponta vrios paradoxos na produo do caderno Cincia&Vida. O mais
patente o desacerto entre contedo e espao disponvel. Num caderno com oito pginas
sobre uma rea no muito explorada pelo jornalismo local, era de se esperar a utilizao do
contedo de agncias de notcias, inclusive para suprir uma demanda de informaes
21Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal do Recncavo Baiano, Universidade Estadual da Bahia,Universidade Estadual de Feira de Santana, Universidade Estadual de Santa Cruz e Universidade Estadual do Sulda Bahia.
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relacionadas a temas cujo contedo quase sempre oriundo de notcias internacionais, como
astronomia e arqueologia. Ao contrrio, nas primeiras edies do caderno os textos de
agncias quase no so utilizados.
O tempo de preparao para a produo da primeira edio da publicao deve, claro,
ser considerado, uma vez que permite um perodo de produo mais extenso do que o habitual
nas redaes. Ainda assim, o crescimento de dois s para 12 no nmero de textos de agncias
num caderno menor e, portanto, mais facilmente preenchido com contedo produzido pela
equipe local, o inverso do seguimento tido como natural para a publicao. O que nos leva a
considerar outra contradio, o contedo publicado e o aparente entusiasmo e a grande oferta
de material para ser publicado no caderno apontados pelo editor. Na entrevista, o mesmo foi
otimista em relao aos problemas enfrentados para dar continuidade ao caderno,
principalmente a um entrave j comum na rea: a relao com os cientistas.
Mesmo afirmando que h dificuldades na relao com os plos de pesquisa, Bandeira
garante que a situao aps mais de um ano de existncia da publicao melhor. De fato,
aps esse tempo de publicao do caderno, natural que a equipe local tenha estabelecidocontatos e relaes mais estreitas com a comunidade cientfica. Isso, contudo no implicou em
aumento da quantidade de contedo local no impresso, sequer em continuidade do que j era
publicado antes. No debate sobre o relacionamento entre jornalistas e pesquisadores, um
problema sempre abordado nas discusses sobre a cobertura cientfica, o aumento de
assessorias, o boom do jornalismo em cincia e a popularizao da internet so fatores
apontados como causas para a melhora da situao. Na Universidade Federal da Bahia,
contudo, o tempo teve efeito contrrio.
Cludio Bandeira, com toda a sua inicial viso positiva sobre o desenvolvimento do
caderno e o relacionamento com os pesquisadores, que revela um passado mais aberto da
universidade. O editor aponta que em seu incio de carreira havia uma agncia de notcias de
cincia na universidade formada por um convnio entre a UFBA e a Fundao de Apoio
Pesquisa e Extenso (FAPEX). A agncia reunia um grupo de alunos, que sob a
coordenao de um docente, era responsvel por procurar notcias e informaes sobre a
produo acadmica na instituio. O resultado era um boletim impresso que, segundo o
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editor, servia de base para grandes pautas nos jornais. Um catlogo anual de pesquisas em
andamento o outro recurso lembrado por Bandeira como uma iniciativa importante da
UFBA na divulgao cientfica.
Levantamentos como esses so a base para a criao de pautas cientficas nos jornais.
Sem isso, a atividade de divulgar a cincia se torna ainda mais complexa. A no continuidade
dessas ferramentas de divulgao significa uma lacuna que a universidade precisa corrigir,
principalmente a UFBA, a mais importante em investimento pblico. A falta de incentivo s
frentes de difuso da informao cientfica como estas implica a manuteno de um cenrio
de novidades latentes nas instituies de pesquisa, o que dificulta a descoberta de novos
assuntos que se tornam pautas nos jornais. Os centros de pesquisa precisam dar visib