Tarô - Dicionário Dos Símbolos

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TARÔ (Extraído do Dicionário dos Símbolos – Mitos, Sonhos, Costumes, Gestos, Formas, Figuras, Cores, Números, de Jean Chevalier e Alain Gheebrant) Jogo de cartas, sem dúvida dos mais antigos, o Tarô mostra-nos um mundo de símbolos. Não se pode duvidar do seu ensinamento esotérico, transmitido mais ou menos secretamente ao longo dos séculos. O problema das suas origens é muito difícil, se não mesmo impossível de resolver. Desde Court de Gébelin que no séc. XVIII, se apaixonou pela sua interpretação, foram propostas as mais diversas teorias. Quer tenha vindo da China, da Índia, do Egipto, quer seja obra do próprio Tot-Hermes Trismegisto, dos Boêmios, dos alquimistas, dos cabalistas ou de um homem o mais sábio dos sábios, o Tarô apresenta, com efeito, uma iconografia claramente medieval com uma mistura de símbolos cristãos. As cores e os números Sob a sua forma mais tradicional, a do Tarô de Marselha (a única a que se referem as nossas descrições pormenorizadas), o jogo é composto por setenta e oito cartas: cinqüenta e seis arcanos menores, vinte e dois arcanos maiores. Estes números merecem uma observação. Reparemos, em primeiro lugar, que o número vinte e dois é o número das letras hebraicas que, segundo a Cabala, apresentam o Universo. Este número, no tarô, é formado por vinte e um arcanos numerados e pelo Louco: o número vinte e um, isto é, três vezes sete, é o número da perfeição humana enquanto três vezes sete (Recordemos que o arcano com o nº 21 representa o Mundo). O Louco que se lhe segue é, diria um sábio africano, a palavra dada a esta perfeição, a sua animação. Dos cinqüenta e seis arcanos menores retenhamos sobretudo que eles formam quarto grupos, poder-se-ia dizer que formam também quatro colunas de catorze cartas, que correspondem aos quatro naipes dos jogos de cartas, derivadas do Tarô. Mas é preciso sobretudo sublinhar que setenta e oito, soma de todo o jogo do Tarô, é também a soma e, portanto, segundo a linguagem dos esotéricos que inventaram o Tarô, o significado secreto dos doze primeiros números. Secretamente, este Livro que se apresenta como um jogo contém a substância adicionada ao número que estrutura o universo e o pensamento. Todas as cartas são vivamente coloridas. Antes de vermos os seus significados particulares, lembremos em poucas linhas a simbologia das cores dominantes do Tarô: rosa ocre (carne), azul, vermelho e amarelo. O rosa ocre indica sempre o que é humano ou o que está ligado à humanidade (rostos, corpos, construções). O azul, cor noturna, passiva, lunar, é a cor do segredo, do sentimento, da alma, dos valores femininos por excelência. O vermelho é a cor masculina, da força interior, da energia potencial, das manifestações do animus, do sangue e do Espírito. O amarelo, porfim, em toda a sua ambivalência, é ao mesmo tempo a cor da terra e do Sol, da riqueza do mel e das colheitas, da luz intelectual na sua pureza de ouro inalterável. (Para a aplicação pormenorizada desta 1

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TARÔ

(Extraído do Dicionário dos Símbolos – Mitos, Sonhos, Costumes, Gestos, Formas, Figuras, Cores, Números, de Jean Chevalier e Alain Gheebrant)

Jogo de cartas, sem dúvida dos mais antigos, o Tarô mostra-nos um mundo de símbolos. Não se pode duvidar do seu ensinamento esotérico, transmitido mais ou menos secretamente ao longo dos séculos. O problema das suas origens é muito difícil, se não mesmo impossível de resolver. Desde Court de Gébelin que no séc. XVIII, se apaixonou pela sua interpretação, foram propostas as mais diversas teorias. Quer tenha vindo da China, da Índia, do Egipto, quer seja obra do próprio Tot-Hermes Trismegisto, dos Boêmios, dos alquimistas, dos cabalistas ou de um homem o mais sábio dos sábios, o Tarô apresenta, com efeito, uma iconografia claramente medieval com uma mistura de símbolos cristãos.

As cores e os númerosSob a sua forma mais tradicional, a do Tarô de Marselha (a única a que se referem as

nossas descrições pormenorizadas), o jogo é composto por setenta e oito cartas: cinqüenta e seis arcanos menores, vinte e dois arcanos maiores. Estes números merecem uma observação. Reparemos, em primeiro lugar, que o número vinte e dois é o número das letras hebraicas que, segundo a Cabala, apresentam o Universo. Este número, no tarô, é formado por vinte e um arcanos numerados e pelo Louco: o número vinte e um, isto é, três vezes sete, é o número da perfeição humana enquanto três vezes sete (Recordemos que o arcano com o nº 21 representa o Mundo). O Louco que se lhe segue é, diria um sábio africano, a palavra dada a esta perfeição, a sua animação. Dos cinqüenta e seis arcanos menores retenhamos sobretudo que eles formam quarto grupos, poder-se-ia dizer que formam também quatro colunas de catorze cartas, que correspondem aos quatro naipes dos jogos de cartas, derivadas do Tarô. Mas é preciso sobretudo sublinhar que setenta e oito, soma de todo o jogo do Tarô, é também a soma e, portanto, segundo a linguagem dos esotéricos que inventaram o Tarô, o significado secreto dos doze primeiros números. Secretamente, este Livro que se apresenta como um jogo contém a substância adicionada ao número que estrutura o universo e o pensamento.

Todas as cartas são vivamente coloridas. Antes de vermos os seus significados particulares, lembremos em poucas linhas a simbologia das cores dominantes do Tarô: rosa ocre (carne), azul, vermelho e amarelo. O rosa ocre indica sempre o que é humano ou o que está ligado à humanidade (rostos, corpos, construções). O azul, cor noturna, passiva, lunar, é a cor do segredo, do sentimento, da alma, dos valores femininos por excelência. O vermelho é a cor masculina, da força interior, da energia potencial, das manifestações do animus, do sangue e do Espírito. O amarelo, porfim, em toda a sua ambivalência, é ao mesmo tempo a cor da terra e do Sol, da riqueza do mel e das colheitas, da luz intelectual na sua pureza de ouro inalterável. (Para a aplicação pormenorizada desta simbologia, ver, no respectivo nome, o estudo de cada um dos arcanos maiores).

Os arcanos menoresOs arcanos menores são constituídos por quatro séries, Paus, Copas, Espadas, Ouros,

com catorze cartas cada uma: Rei, Dama, Cavaleiro, Valete e dez cartas numerais do ás ao dez. (Nos jogos de cartas normais, o Cavaleiro desapareceu, os paus transformaram-se em Trevos, as Copas em Corações, as Espadas em Piques, os Ouros em Losangos). Estas quatro séries simbolizam os quarto elementos ou os quarto componentes fundamentais da vida.

O Pau é o Fogo da ação, o ponto de partida necessário de toda a evolução; mas é também a varinha mágica, o cetro da dominação viril, o Pai.

A Copa é a Água fecundante do céu, o que liga a criatura ao divino, a vida psíquica; mas também a taça adivinhatória, a receptividade feminina, a Mãe.

A Espada é o Ar, espírito que penetra na matéria e lhe dá forma formando esse composto que é o homem; é também o gládio do evocador, a arma que desenha uma cruz e lembra assim a união fecunda dos dois princípios, masculino e feminino; o gládio simboliza, além disso, uma ação penetrante como a do Verbo ou do Filho. Pode ser interessante comparar com a afirmação de Jung: as espadas estão ligadas simbolicamente à penetração do intelecto e à morte.

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O Ouro, por fim, é a Terra: Descida sob a terra pela qual começa toda a iniciação (importância da caverna) e que dá ao homem o apoio do mundo no qual está colocado; ou o disco pentacular, sinal do apoio da vontade, matéria condensadora de ação espiritual, síntese que leva o ternário à unidade, Trindade ou Tri-unidad.

Poder-se-ia fazer um estudo pormenorizado do simbolismo destas cinqüenta e seis cartas, mas isso levar-nos-ia muito longe. Digamos simplesmente que elas estão estreitamente ligadas aos arcanos maiores; voltamos a encontrá-las no primeiro deles, o Saltimbanco, o qual, tem nas mãos o Pau que garante o seu poder sobre a terra do Ouro e sobre ele próprio, enquanto a Copa, e a Espada (reduzida às dimensões de um punhal) que simbolizam as duas vias do homem para a procura da iniciação, pelo coração e pelo espírito, estão sobre a mesa.

Os arcanos maiores: caminhos iniciáticos.Os arcanos maiores já são, por si mesmos, caminhos iniciáticos, cujas etapas foram

interpretadas de inúmeras maneiras. Apresentam-se como a quinta-essência do hermetismo, como os Altos graus acima da massa anônima. São estudados em pormenor nos artigos com o nome de cada carta:

- I. O Saltimbanco. – II. A papisa. – III. A Imperatriz. – IV. O Imperador. – V. O Papa. – VI. O Amoroso. – VII. O Carro. – VIII. A Justiça. – IX. O Eremita. – X. A Roda da Fortuna. – XI. A Força. – XII. O Dependurado. – XIII. Arcano sem nome (A Morte). – XIIII. A Temperança. – XV. O Diabo. – XVI. A Casa de Deus. – XVII. A Estrela. – XVIII. A Lua. – XIX. O Sol. – XX. O Julgamento. – XXI. O Mundo. – e, sem número, o Louco.

Os ternários e os septenários.Se pusermos de lado o Louco, que não pertence ao grupo numerado, contamos com vinte

e um arcanos que se repartem, quer em sete ternários, quer em três septenários. Em cada ternário, o primeiro termo é, por excelência, ativo; o segundo é intermediário, mas passivo em relação ao anterior, enquanto o terceiro é estritamente passivo. O primeiro corresponde ao espírito, o segundo à alma, e o terceiro ao corpo. Assim agrupam-se: O Saltimbanco (I), a Papisa (II) e a Imperatriz (III); a seguir, o Imperador (IV), o Papa (V) e o Amoroso (VI); o Carro (VII), a Justiça (VIII) e o Eremita (IX), etc. Esta mesma distinção, espírito, alma e corpo, encontra-se também nas relações dos três septenários: do Saltimbanco (I) ao Carro (VII), os valores do espírito; da Justiça (VIII) á Temperança (XIIII), os da alma; e , do Diabo (XV) ao Mundo (XXI), os do corpo.

Uma mesma carta poderá, portanto, ser interpretada como espírito e alma, ou como alma e corpo, conforme o seu lugar no conjunto escolhido e de acordo com os níveis de análise; por exemplo, a Imperatriz é corpo no primeiro conjunto ternário, mas é espírito no primeiro conjunto septenário; as relações mudam no interior dos diferentes conjuntos. Todas as chaves de interpretação abrem para diferentes aspectos de uma mesma carta; nenhuma delas possui um sentido absoluto e definitivo. É sempre um sistema móvel de relações que exige a maior flexibilidade que exige a maior flexibilidade de interpretação.

No interior de cada septenário, os três primeiros arcanos opõem-se aos tês seguintes, e o sétimo traz o todo à unidade; o que destaca o valor do significado sintetizante do Carro (VII), da Temperança (XIIII) e do Mundo (XXI); domínio da vontade no mundo do espírito (VII), do equilíbrio no da alma (XIIII), do eterno movimento no mundo do corpo (XXI).

O antropomorfismo do Tarô.Tarô alquímico, tarô mágico ou mesmo maçônico, todas as chaves de interpretação foram

tentadas, desde que se tenha encontrado um ou dois sinais simbólicos que se possam ligar a esta ou àquela doutrina. Mas o Tarô continua, acima de tudo, antropomórfico, e as figuras que o compõem têm um significado psicológico e cósmico; dizem respeito ao homem em si mesmo e no mundo, mesmo quando não nos mostrem personagens humanas, com a Roda da Fortuna (X) e a Lua (XVIII), em que os animais não são mais do que caricaturas do homem.

Para estudarmos agora o simbolismo do Tarô sob este aspecto, é preciso dispor os arcanos, quer em forma de roda, o que situa o Louco entre o Saltimbanco e o Mundo, quer em duas filas, a primeira de I a XI, e a segunda, no sentido inverso, de XII ao Louco.

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Aparece então claramente que o eixo vertical do Tarô une os arcanos VI e XVII, o Amoroso e a Estrela, sendo o primeiro a afetividade e o segundo a esperança, como se estes dois valores fossem o pivô em torno do qual gravitam todos os outros.

Uma via de evolução em direção à sabedoria.Só perante o mundo, o homem procura o caminho da sabedoria na aquisição de um duplo

domínio: o do mundo exterior e do seu universo interior. Este domínio procede duma iniciação progressiva que, por sua vez, distingue duas vias, dois modos ou duas fases principais, de perdominância ativa ou passiva, solar ou lunar.

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A primeira baseia-se na exaltação do princípio da iniciativa individual, sobre a razão e a vontade. Convém ao sábio que permanece sempre na plena posse de si mesmo e só conta com os recursos da sua própria personalidade, sem esperar qualquer socorro das influências exteriores. A segunda é totalmente distinta, pois toma uma posição exatamente contrária à primeira. Longe de desenvolver o que tem dentro de si e de dar segundo toda a expansão das suas energias íntimas, trata-se para o místico de se pôr em estado de receber em toda a medida de uma recetividade especialmente cultivada. Assim, o racional e o místico, como o masculino e o feminino, opõem-se e completam-se dois a dois. A Força (XI) e o Dependurado (XII), por exemplo, são apenas dois aspectos dum mesmo símbolo: força exterior do arcano XI, força totalmente interiorizada e espiritualizada do Dependurado (XII). Neste sentido, também o Saltimbanco (I) à procura de iniciação se choca, primeiramente com a Papisa (II), detentora dos segredos do mundo: para ler no seu livro, é preciso a inteligência da Imperatriz (III) e do Imperador (IV). Com o Papa (V), a iniciação torna-se efetiva: o homem conseguirá elevar-se através das provas dos outros arcanos, a primeira das quais será a tensão do Amoroso (VI), centro da primeira fileira de cartas, pois sem impulso afetivo nada é posível. Após essa escolha que o compromete, o senhor do Carro (VII) arrisca-se a abusar do seu poder e de se orgulhar da sua força; a Justiça (VIII) lembrar-lhe-á a lei do indispensável equilíbrio, e, forte com o seu ideal, ele vai partir como um Eremita (IX), através do mundo; mas, na medida em que o Eremita procura a verdade, julga e põe em movimento a Roda da Fortuna (X) que dá o que ele deve receber, segundo o seu estado interior, e o seu próprio desejo de evolução. Só a Força (XI) pode deter a Roda da Fortuna (X). No fim desta primeira via, o iniciado encontrou o que procurava; a Força (XI) usa o mesmo chapéu que o Saltimbanco (I): a lemniscata do signo infinito.

A fase místicaCom o Dependurado (XII), início da segunda fila, o iniciado entra num mundo invertido,

onde os meios materiais se tornam ineficazes: é a via mística e passiva. O arcano sem nome do nº XIII indica-nos que a morte, cuja foice vermelha, cor de sangue e de fogo, corta e queima ilusões, longe de ser um fim, é um começo. Mas, nesta via nova que nos é prometida, não se deve forçar as etapas: as exigências da Temperança (XIV) são as mesmas que as do Eremita (IX); é só depois de ter tomado consciência dos limites e de ter adquirido o equilíbrio interior que o homem poderá enfrentar o Diabo (XV), símbolo da mais grave das tentações, aquele que nos promete poderes ocultos tão grandes como os claros poderes de Deus, mas que tecem ligações igualmente grandes com o poder diabólico. Infelizmente, as construções do orgulho humano são votadas à queda, e eis a Torre fulminada da Casa de Deus (XVI). Doravante, já só resta ao homem a Estrela de Vênus (XVII), Estrela dupla de esperança e de amor, centro da segunda fila das cartas e base do eixo vertical do Tarô. Como a Lua (XVIII) acompanha a Estrela no céu físico, ela segue-se-lhe no mundo simbólico do Tarô, portadora dos valores do passado, rica de todo o inconsciente, domínio do imaginário onde se recargam os devaneios. Sem a aliança da Estrela e da Lua, não poderíamos enfrentar a luz e o fogo do Sol (XIX), arcano da iluminação total, sob o qual, pela primeira vez, o homem não está só. Daí para a frente, ele pode ser julgado na sua totalidade, em si mesmo e nas suas obras. O seu filho, aos olhos do anjo do Julgamento (XX), simbolizará a testemunha. Ele atingiu o cume da iniciação, e o Mundo (XXI) só existe como uma síntese daquilo que ele obteve. Ele conseguui operar a transmutação do mundo objetivo em valor psíquico, isto é, em linguagem alquímica, que, partindo com o Saltimbanco da matéria prima, vai chegar ao ouro.

Assim, enquanto a primeira via da iniciação conduzia à Força (XI), apanágio do Saltimbanco que realizou o seu programa, a segunda via, a da mística, parte do Dependurado (XII) e conduz ao LOUCO, cuja passividade adquire aqui um caráter sublime. Ele é aquele que, depois de ter obtido deste mundo tudo o que ele pode dar, reconhece que não possui nada de valioso e regressa, por conseguinte, ao desconhecido, ao não conhecível que precede a nossa vida e se segue a ela. Perante este duplo impasse, nós só podemos continuar a procurar, mas tendo por fim admitido na nossa inteligência e aceitado nos sofrimentos da nossa carne, que há entre Deus e nós uma diferença de natureza; a única relação possível com ele reside na esperança, no abandono e no amor. É esta a última lição do Tarô concebido como um caminho iniciático.

Os arquétipos no Tarô

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Mas as duas vias que destinguimos prestam-se ainda a outras interpretações. Jung vê neles dois aspectos da luta do homem contra os outros e contra si mesmo; a via solar da extroversão e da ação, da reflexão prática e teórica de motivações racionais; e a via lunar de introversão, da contemplação e da intuição, onde as motivações são de ordem sensível, imaginativa e global. Observemos também que vemos aparecer no Tarô vários arquétipos essenciais: A Mãe (Papisa, Imperatriz, Julgamento), o cavalo (Carro), o homem velho (Imperador, Papa, Eremita, Julgamento), a roda (Roda da Fortuna), a Morte, o Diabo, a casa ou a torre (Casa de Deus, Lua), a ave (Estrela, Mundo), a Virgem, a fonte, a estrela (Estrela), a Lua, o Sol, os Gêmeos (Diabo, Sol), a águia (Amoroso, Temperança, Diabo, Julgamento, Mundo), a chama (Casa de Deus)…

Qualquer que seja o valor de todos estes pontos de vista, nós não devemos esquecer que o tarô não se submete inteiramente a nenhuma tentativa de sistematização: permanece sempre nele algo que nos escapa. O seu aspecto divinatório não é o menos difícil de ser apreendido. Nós não o consideramos aqui, pois as combinações são infinitas e as interpretações, mesmo que se apoiem em símbolos que tentamos esclarecer, exigem uma educação da imaginação que só se adquire por uma longa prática e uma grande reserva de julgamento.

ARCANOS MAIORES

Louco, O (Zero, Vinte e dois, no Tarô)

De todas as imagens do jogo de Tarô, eis a mais misteriosa, a mais fascinate, portanto, e a mais inquietante. Contrariamente aos outros arcanos maiores, numerados de um (Saltimbanco) a vinte e um (O Mundo), o Louco não tem número. Coloca-se portanto, fora do jogo, isto é, fora da cidade dos homens, fora de portas. Caminha, apoiado num bastão de ouro, com um boné na cabeça, da mesma cor; as calças estão rasgadas e, sem que ele pareça preocupar-se, um cão, atrás dele, agarra o tecido, deixando mostrar a carne nua. É um louco, concluirá o observador, abrigado atrás das seteiras da cidade. É um Mestre, murmurará o filósofo hermético, notando que o bastão, em cuja a ponta ele leva a trouxa, sobre o ombro, é branco, da cor do segredo, cor da

iniciação, e que os seus pés calçados de vermelho se apoiam firmemente sobre um chão bem real, e não sobre um suporte imaginário. A sua sacola está vazia, mas é cor-de-rosa, como a sua coxa e como o cão que tenta agarrá-lo: símbolos de natureza animal, e de posses, com as quais não se preocupa. Por outro lado, o ouro do conhecimento e das verdades transcendentais é a cor do bastão em que ele se apoia, da terra sobre a qual caminha, dos seus ombros e do seu cabelo. E sobre tudo, ele caminha, eis o importante, não vagueia errante, ele avança.

Certos autores dão a esta carta do tarô o número zero, outros o número vinte e dois. Dado que o vinte e um forma um ciclo completo, que pode querer dizer vinte e dois, senão o regresso ao zero, semelhante a um taxímetro? Zero ou vinte e dois, o Louco, segundo a simbologia dos números, quer dizer o limite da palavra, o para além da soma que não é outra coisa senão o vazio, a presença superada que se torna ausência, o saber último que se torna ignorância, disponibilidade: a cultura, aquilo que resta depois de se ter esquecido tudo o que se aprendeu, diz-se. O Louco não é nada, mas a vacuidade do fana dos sufis, uma vez que nenhum haver será mais necessário, tornando-se a consciência do ser, a consciência do mundo, da totalidade humana e material, da qual ele se desligou para avançar mais à frente. Se ele é o vazio, é aquele que separa o ciclo completo do ciclo que vai começar. O onze e os seus múltiplos são sóis avançados, observa Chaboche. Assim acontece com O Louco, carta zero ou vinte e dois, ele caminha à frente, com uma evidência solar, sobre as terras virgens do conhecimento, para além da cidade dos homens.

Saltimbanco (I) (ou O Mago)

Por um estranho paradoxo, trata-se de um prestidigitador, um ilusionista, um criador de um mundo ilusório através de gestos e palavras, que abre o jogo das vinte e duas cartas maiores do Tarô. As suas vestes com vermelho e o azul perfeitamente alternadas, estão seguras à cintura por um cinto amarelo,

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formando a parte intermediária; uma meia azul cobre na perna esquerda, o pé está calçado de vermelho; a perna direita é vermelha, o pé está calçado de azul; os pés estão postos em forma de esquadro. A mão que segura uma varinha e sai da manga azul está levantada em direção ao céu, o que simboliza a evolução necessária da matéria, ao passo que a mão que tem uma moeda e sai da manga vermelha se dirige para baixo: é o Espírito que penetra na matéria. Todas as aparências sublinham a divisão de um ser, igualmente produto de dois princípios opostos, e a dominação da sua dualidade pelo equilíbrio e supremacia do Espírito. O chapéu do Saltimbanco, de fundo amarelo, com abas verdes e fímbrias vermelhas, faz lembrar a forma do sinal algébrico do infinito: o seu chapéu coroa simbolicamente tudo o que o Saltimbanco pode representar: a lemniscata de fimbria vermelha faz-nos lembrar o último triunfo do espírito na Unidade.

O Saltimbanco está junto da mesa, cor de carne (o que realça o seu caráter humano), da qual apenas vemos três pernas que poderiam estar marcadas pelos signos do enxofre, sal e mercúrio, pois são os três pilares do mundo objetivo. Sobre esta mesa estão espalhados vários objectos que correspondem às quatro séries dos arcanos menores: ouros, copas, espadas e paus, e indicam a ligação que une as setenta e oito cartas do Tarô.

Sendo o que abre e orienta o jogo, o Saltimbanco não será realmente senão um ilusionista que se burla de nós, ou esconderá, sob os seus cabelos brancos que terminam em caracóis dourados, como se estivesse fora do tempo, a profunda sabedoria do Mago e o conhecimento dos segredos essenciais? Ele designa, geralmente, o consulente, e tanto pode indicar a vontade, a habilidade e a iniciativa pessoais como a impostura e a mentira. Encontra-se aqui também a ambivalência, o alto e o baixo de quase todos os símbolos.

O seu lugar no jogo, mesmo o seu simbolismo convida-nos a ir para além das aparências: o número Um é o da causa primeira e se, no plano psicológico ou divinatório, o Saltimbanco designa o consulente, no plano do Espírito, manifesta o mistério da Unidade.

Simbolizando ao mesmo tempo os três mundos – Deus, pelo sinal de Infinito, o homem e a diversidade do Universo -, o Saltimbanco é, em tudo, o ponto de partida, com todas as riquezas ambivalentes dadas à criatura para que realize o seu destino.

Papisa (II)

Segundo arcano maior do Tarô, a Papisa, por oposição ao Saltimbanco, que está de pé, é uma mulher sentada, imóvel e misteriosa. Esconde sob o seu manto azul, de colarinho e fecho amarelos, o seu longo vestido vermellho sobre o qual se cruzam dois cordões amarelos; símbolo da força do Espírito que ainda não quer manifestar-se para o exterior. Tem na cabeça a tiara pontifícia, de três coroas, a última das quais ultrapassa um pouco o quadro da carta vêr arcano XXI, o Mundo). Um véu branco cai sobre os ombros e a cabeça destaca-se sobre uma tapeçaria cor de carne, que é também a cor das mãos, a manga visível do vestido e o livro que ela mantém aberto diante de si. Este véu branco faz pensar em Ísis e na inscrição que Pultraco diz ter gravada na sua estátua em

Saís: Eu sou tudo o que foi, tudo o que é e tudo o que será, e meu véu, nunca nenhum mortal o levantou. Às vezes chamada Porta do Santuário oculto, a Papisa tem o Livro dos livros, o do Dies irae no qual tudo está contido e pelo qual o Mundo será julgado. Ela é também comparada a Juno que representa a sabedoria, a riqueza; a estabilidade, a reserva; a inércia necessária ou prejudicial.

Pouco importa saber se existiu ou não uma Papisa na Idade Média. Aqui simboliza a Mulher, sacerdotisa ou mesmo a deusa, que detém, sem o querer mostrar, todos os segredos do mundo. Ela não é ainda a manifestação da deusa-mãe. Por detrás da cortina das aparências, ela cobre a força (vermelho) com um monte azul (como a Imperatriz, a Justiça, e o Eremita), ela é a que espera: lei moral… sacerdócio… Saber oposto ao Poder, contradição interior da dualidade,

eterna antítese da Existência e da Essência.

Imperatriz (III)

Depois do Saltimbanco, que manifesta a diversidade do mundo na sua unidade, e a Papisa, que nos convida a desvendar os segredos, a Imperatriz,

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terceira carta do Tarô, simboliza a inteligência soberana que o poder dá, a força motriz pela qual vive tudo aquilo que vive, a Vênus uraniana dos Gregos.

Sentada num trono cor de carne, de cara virada para nós e de cabelos brancos, veste uma túnica azul sobre um vestido vermelho, como se tivesse necessidade de se envolver de azul para melhor captar as forças ocultas e como se toda a sua actividade passional e ardente, que se encontra no vermelho do fundo da sua coroa, tivesse de ser sublimado. Com a mão direita aperta contra ela um escudo cor de carne sobre o qual se destaca uma águia amarela como o seu cinto, o seu colar, o seu diadema de pontas, que faz lembrar o Zodíaco, e o seu ceptro. Esta cor amarela simboliza as forças espirituais que ordenam o mundo sobre o qual ela reina. O ceptro é ancimado pelo globo e pela cruz, signo alquímico do antimónio, que significa a alma intelectual, a influência ascensional ou espiritualizante, o espírito separando-se da matéria, a evolução, a redenção.

A imperatriz já foi comparada a Ísis ou á Mãe Cósmica. Ela representa a fecundidade universal (ENEL); a acção sentimental evidente ou oculta (J.R. Bost); a compreensão e a falta de refinamento (O. Wirth).

Assim, todos os aspectos da Imperatriz sublinham a sua força resplandescente. Mas é uma figura ambígua, cujo poder pode tanto perverter-se em sedução vaidosa como elevar-se ao mais alto da mais sublime idealização. Simboliza todas as riquezas da feminilidade – ideal, doçura, persuasão –, mas também toda a labilidade. Os seus meios de acção não se dirigem directamente ao espírito, mas sim á afectividade: têm mais de encanto do que razão. A propósito dela, poder-se-ia recordar a frase a frase de Ernest Hello: É preciso olhar sempre para a cabeça para estarmos seguros de não acertarmos mais a baixo do coração.

Imperador (IV)

Quarto arcano do Tarô, a carta do Imperador simboliza, concretamente, o que ela representa: o império, a dominação, o governo, o poder, o êxito, a hegemonia, a supremacia da inteligência na ordem temporal e material.

Com o ceptro na mão, sentado num trono cor de carne, o Imperador está vestido com a túnica e meias-calças azuis; mas usa, sobre a túnica, uma jaqueta vermelha, e tem os pés, a barba e os cabelos brancos. Corresponde estreitamente à carta anterior, a da Imperatriz, e tem, tal como ela, um escudo com uma águia desenhada, mas desta vez, a águia está na parte inferior da carta, pegada ao trono, cabeça e asas viradas no sentido contrário do da águia da imperatriz, para garantir o equilíbrio das forças pela oposição dos contrários.

O Imperador é a primeira personagem do Tarô com uma veste vermelha sobre azul (ver o Papa, a Força e o Louco). Para ele, a ação é o objectivo da inteligência e a Sabedoria não serviria para nada se não se aliasse à Força: pela sua união, a sua energia penetra no interior deste mundo, do qual ele é o soberano indiscutido. Um outro símbolo desta concentração está na posição das pernas, cruzadas, para se defender das más influências e, ao mesmo tempo, para reter as forças favoráveis. Este quarto arcano maior, chamado também Pedra cúbica, representa o governo, a protecção, o trabalho construtivo e inteligente, a solidez, o conselho, a tradição, a autoridade ou, no sentido desfavorável, a oposição tenaz, o preconceito hostil, a tirania, o absolutismo. Corresponde à quarta casa do horóscopo. Os triângulos que ele tem sobre a cabeça simbolizam as dimensões do espaço, isto é, a soberania universal. A cor vermelha dominante evoca o fogo, a actividade transformante e vitoriosa (André Virel).

No plano psicológico, o Imperador convida-nos a tomar posse de nós mesmos, a ordenar tudo no sentido da vontade de poder. Com uma das mãos segura o ceptro, a outra fecha-se sobre o cinto: afirma, assim, a sua autoridade e mostra-se pronto a defendê-la. Numa palavra, ele é o Demiurgo, aquele que constrói tanto o homem como o mundo.

Papa (V)

O Papa, quinto arcano maior do Tarô, está separado da Papisa(II) pela Imperatriz (III) e pelo Imperador (IV). A Papisa e a Imperatriz, potências femininas, estão vestidas de azul sobre vermelho; o Papa, assim como o Imperador, têm o vermelho sobre o azul e cobre com uma capa vermelha

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bordejada de amarelo a sua roupa azul. As mangas são brancas, pois os seus braços permanecem puros; a mão esquerda, com uma luva amarela como uma cruz, segura a haste duma cruz papal de três braços, que simboliza o poder criador através dos três mundos: divino, psíquico, físico. Deste ternário gera-se aqui um septanário formado pelas terminações arredondadas dos braços transversais e do topo da cruz. Ora, sete é o número da harmonia, e também das causas segundas que regem o mundo; estas causas correspondem às influências planetárias ou às sete notas da escala. O Papa está sentado entre duas colunas azuis, que evocam as do templo de Salomão; a mão direita abençoa os dois personagens tonsurados, que estão em baixo a cada um dos lados da carta. Um deles, vestido de vermelho, tem uma estola amarela e a mão esquerda está levantada, ao passo que o outro, coberto com um manto amarelo de capuz vermelho com um chapéu azul, está com a mão direita num gesto que é exactamente o contrário. Um é activo, o outro é passivo, entregue há humildade que o faz receber do alto a doutrina tradicional e dogmática, ao passo que o primeiro se esforça por espalhá-la. Por isso, na sequência do Imperador, que afirma simplesmente a sua força activa, o Papa, por sua vez, comunica o seu saber. Ele não tem necessidade do livro, que está aberto sobre os joelhos da Papisa; símbolo daquele que sabe, ele transmite o mseu conhecimento; arcano número cinco do Tarô, ele leva o número do homem, considerado como mediador entre Deus e o Universo. Da sua posição superior, ele diz aos discípulos: Ide e ensinai a todas as nações. O Papa, ou O Mestre dos Arcanos, é muitas vezes substituído no Tarô belga por Baco. Representa a causa que conduz o homem pelo caminho do progresso predestinado (Enel); o dever, a moralidade e a consciência (O. Wirth); o poder moral e a responsabilidade conferidos ao homem (Fr. Rolt-Wheeler).

Com ele termina o primeiro grupo dos arcanos do Tarô, o que coloca o sujeito (O Saltimbanco) face ao objecto múltiplo dos conhecimentos, simbolizados pelos quatro poderes investidos de funções quer leigas, quer religiosas. Depois deles, o homem deverá fazer uma primeira opção pessoal: a do Amoroso.

Amoroso (VI)

Sexto arcano maior do Tarô, o Amoroso simboliza essencialmente a dificuldade de escolha que enfrenta o adolescente quando chega á encruzilhada da puberdade. O seu caminho até ali era um, mas eis que esse caminho se separa em dois: direita e esquerda. Qual escolher? É o Y pitagórico. O número seis, que lhe está associado, sublinha em primeiro lugar o aspecto sexual deste símbolo: o senário, diz Clemente de Alexandria, é um número sexual, e por esta razão atrai o casamento. A escolha implica antagonismos e o desejo de os ultrapassar pela união.

Um jovem está no centro desta lâmina, vestido com uma túnica ás risca verticais azuis, vermelhas e amarelas. Duas mulheres emolduram-no: à sua

esquerda, uma mulher loura, com um vestido azul e uma capa também azul com as orlas vermelhas, dirige a mão esquerda para o peito do rapaz, ao passo que a palma da outra mão está voltada para baixo. À direita do Amoroso, uma mulher vestida de vermelho com grandes manchas azuis, cabelos azuis sob uma espécie de toucado ou coroa amarela, põe a mão esquerda no ombro direito do jovem e tem a outra aberta voltada para o chão. A primeira destas mulheres é sedutora; a segunda, de nariz comprido, tem um ar severo e envelhecido. No entanto, é para esta que o Amoroso olha. Por cima dele está um anjo ou um Eros-Cupido de asas azuis no centro de um círculo solar de raios azuis, amarelos e vermelhos; segura um arco e uma flecha branca que aponta para o jovem.

Todos os comentadores do Tarô recordam aqui a parábula de Hércules na encruzilhada, tendo de escolher entre o Vício e a Virtude, ou a tradição órfica e pitagórica do caminho seguido pela alma depois da morte, no momento em que, numa bifurcação, ela tem de escolher entre o caminho da esquerda, que na realidade conduz aos Infernos, e o da direita, que leva aos Campos dos Bem-Aventurados. Só um dos caminhos conduz á felicidade real; cabe-nos a nós saber escolhê-lo. A flecha, símbolo dinâmico e decisivo, vector de sol e de luz intelectual que ajuda a resolver os problemas de ambivalência, está para guiar o Amoroso ou ditar-lhe a sua escolha. Neste caso pretende separá-lo das seduções ilusórias.

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Mas esta lâmina simboliza também os valores afectivos e a projecção da dupla imagem que o homem tem da mulher; Vénus Urânia ou Vénus das encruzilhadas, anjo ou demónio, inspiradora de amor carnal ou platónico, não cessa de se revestir de múltiplas formas diante das quais o homem hesita, porque, no fundo, não se conhece a si próprio: quer o homem esconda um conflito inexprimido, quer ele esteja hesitante diante os termos de um conflito cuja expressão começa a nascer, resta-lhe em primeiro lugar proceder à tomada de consciência perfeita dos elementos que o dilaceram, e em seguida da sua objectivação, isto é, o acesso a uma posição que o torna independente em relação a eles. Só então é possível uma síntese construtiva; tal é a dialéctica fundamental de qualquer progresso da consciência. E esta, é também, poderíamos acrescentar, uma das lições simbólicas dada pelo Amoroso, este Eu afectivo diante do qual se vêm colocar e resolver as nossas escolhas.

Carro (VII)

Reencontramos neste Carro, sétimo arcano do Tarô, o Amoroso da sexta carta, um pouco mais velho e coroado de ouro, para atestar que dominou as suas ambivalências e que, por isso, conquistou a unidade propícia a todo o homem que resolveu os seus conflitos. Sobre os seus ombros, dois lados de rosto (projecção desdobrada) testemunham oposições por ele ultrapassadas. E é por tê-las ultrapassado que ele se encontra no Carro, isto é, avança. Tem um cetro na mão e está debaixo de um baldaquino cor de carne, sustentado por quatro colunas, duas azuis e duas vermelhas, que se erguem nos quatro cantos da carroça. Usa um saiote vermelho, separado por um cinto amarelo de uma couraça azul, que tem uma manga amarela e outra vermelha, e sobre a qual um

tríplice esquadro sublinha o trabalho de construção que deve ser levado a cabo nos três mundos (natural, humano e divino). Os cavalos que puxam o carro não têm rédeas visíveis; olham na mesma direcção, mas um é azul, e o outro é vermelho, mas parecem puxar cada um para o seu lado, ambos com a perna exterior levantada. Entre eles, as iniciais S.M., que tanto podem significar Sua Majestade, como, segundo a interpretação alquímica, Enxofre (lat,: Sulfure) e Mercúrio, elementos de base da Grande Obra. Os comentadores viram nisto a lenda de Alexandre, que desejava ver, de pé sobre um carro puxado pelos ares por duas aves gigantes ou dois grifos, se os céus e a terra se tocavam; ou então, o carro de fogo do profeta Elias. Alguns viram nesta carta o êxito, o sucesso, o triunfo, a superioridade, a diplomacia aplicada (O. Wirth); os exames de peritos, a necessidade de ser esclarecido (Th. Tereschenko); ou as concessões prejudiciais, os escândalos (J.R.. Bost).

No plano psicológico, a sétima carta é a do homem que dominou as oposições e unificou as tendências contrárias pelo efeito da sua vontadade. Encontramo-nos aqui no domínio da acção pessoal, situada no espaço e no tempo. A fatalidade foi ultrapassada; o homem escolheu, assumiu e é senhor vitorioso que avança, talvez esquecendo-se de que, se se desviar do Papa (4), corre o risco de ir parar à Roda da Fortuna (10), da qual as rodas que se vêem de perfil nesta carta podem ser uma prefiguração.

Justiça (VIII)

O oitavo arcano maior do Tarô abre o segundo setenário, aquele que diz respeito à Alma, assim colocada entre o Espírito (Cartas 1 a 7) e o Corpo (cartas 15 a 21).

A Justiça, com o barrete judiciário amarelo na cabeça, sobre a qual se inscreve um signo solar, está sentada sobre um trono, também ele amarelo, como o colar que ela usa, como o gládio que tem na mão direita, como a sua manga esquerda, a balança e o solo. Ela usa um manto azul sobre uma túnica vermelha (como a Papisa e o Eremita); mas, desta vez, as três cores (amarelo, azul, vermelho) repartem-se quase em pé de igualdade; a ciência oculta da Papisa em azul, divulgada pelo Papa de manto vermelho, chega ao triunfo do

ouro, cor solar. A espada e a balança são os atributos tradicionais da Justiça: a balança, parecida com aquela que a simples pena de Maat bastava para equilibrar no tribunal de Osíris, está aqui perfeitamente imóvel. A espada, direita e implacável, como o fiel da balança servirá para punir os

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maus. Já se observou, a este propósito, que a espada e a balança são também os símbolos das duas maneiras pelas quais, segundo Aristóteles, se pode ver a Justiça. A espada representa a sua força distributiva (Justitia suum cuique tribuit); a balança, a sua missão de equilíbrio (social).

A Justiça ou Témis ou a Balança representa a vida eterna (E. Levi); o equilíbrio das forças desencadeadas, as correntes antagonistas, o resultado dos actos, o direito e o haver (th. Tereschenco); a lei, a disciplina, a adaptação às necessidades da economia (O. Wirth).

Esta Justiça, cujo número símbólico é precisamente o oito, é a nossa consciência no sentido mais elevado. Para aqueles que usaram mal os seus poderes, só existe o rigor da espada e da condenação; para os verdadeiros iniciados, a balança mantém o equilíbrio entre o Papa (V) e a Força (XI), esse eqilíbrio rigoroso que é a lei da organização do caos no mundo e em nós mesmos.

Eremita (IX)

O Amoroso da sexta carta do Tarô, convertido em condutor triunfal do Carro, choca com a Justiça, que lhe recorda que a própria lei do mundo é o equilíbrio rigoroso, que não deve ser perturbado. Então, para resolver esta nova ambivalência, ele escolhe a via que o Eremita, nono arcano maior do Tarô, lhe propõe. Este velho sábio, um tanto curvado, apoia-se num bastão que simboliza ao mesmo tempo a sua longa peregrinação e a sua arma contra a injustiça ou o erro que encontra. Um longo manto azul, de forro amarelo, um capuz vermelho com um pompom amarelo na ponta, cobre a sua túnica vermelha que tem uma larga manga branca. Com a mão direita à altura do seu rosto, segura, pegando numa argola branca, uma lanterna de seis lados, dos quais apenas três são

visíveis: dois amarelos e um vermelho. Esta lanterna, claro está, faz pensar na de Diógenes, a procurar em pleno meio-dia um homem nas ruas de Atenas e apenas encontrava doidos. Mas a lanterna simboliza também, como a lâmpada de Hermes Trismegisto, a luz velada da sabedoria, a luz que o Eremita cobre com o seu manto a zul de iniciado. A iluminação deve permanecer interior e é inútil cegar ou deslumbrar aquele a quem ela não é destinada. A vida do Sábio é a da prudência e o Eremita, mestre secreto, trabalha no invisível para condicionar o futuro em gestação. Desligado do mundo das paixões, ele é o filósofo hermético por excelência e a forma como o seu nome é escrito, em francês, com H, sublinha de forma indiscutível as suas ligações simbólicas com Hermes, senhor todo-poderoso dos puros iniciados.

Roda da Fortuna (X)

Se o Eremita do Tarô indica ao homem a vida da procura solitária, a Roda da Fortuna, décimo arcano maior, lança-nos de novo no mundo das vicissitudes. Fazendo apelo a uma imagem bem conhecida da Antiguidade e da idade Média, ela mostra-nos uma roda cor de carne, suspensa no ar por um aparelho de madeira amarela, e sobre a qual se agarram dois animais estranhos, enquanto que uma esfinge azul, coroada de ouro com asas vermelhas, segurando uma espada branca, está sentada sobre um pedestral estreito, colocado, por sua vez, sobre a parte superior da roda. Essa roda tem seis raios, azuis na parte que toca o cubo vermelho, brancos perto da jante; é uma manivela branca, cor do indiferenciado, o que a faz girar. À Esquerda da roda, está agarrado um macaco,

de cabeça para baixo, com metade do corpo escondido por uma espécie de saia rígida de três panos cortados: um azul entre dois vermelhos. À direita, está um cão amarelo, cuja coleira prende também as orelhas, vestido com uma jaqueta azul de cauda vermelha e que parece subir na direcção da esfinge diabólica e passível. Vimos nestes dois animais, Hermanubis, o génio do bem e Tífon, o génio do mal. O que quer que eles sejam, o significado desta carta está relacionado com o da roda em todas as tradições. Representa as alternâncias do destino, a boa sorte ou má sorte, as flutuações, a ascenção e os riscos da queda.

Símbolo solar, é a roda dos nascimentos e das mortes sucessivas através do cosmos; e, no plano humano, a instabilidade permanente e o eterno retorno. A vida humana gira instável como os raios de uma roda de carroça, dizia Anacreonte. E este movimento que ás vezes eleva e ás vezes baixa, é o próprio movimento da Justiça (carta 8, que quer manter o equílibrio sobre

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todos os planos e não hesita em temperer pela destruição e pela morte o triunfo das relizações criadoras, como sublinha ainda o número deste décimo arcano, entre a Carroça (7) e a Morte (13).

Podemos ver também nestes seres de figuras animais, que giram em volta da roda das existências, a lei dos renascimentos que se impõe, em muitas tradições, àqueles que não dominam os seus desejos carnais. Ver-se-á também na subida e na descida uma lei de alternância, ou de compensação, tirada da história humana, social ou pessoal, onde se sucedem continuamente sucesso e desgraça, nascimentos e mortes. De um ponto de vista mais interior, a roda da fortuna é menos a imagem do acaso que a da justiça imanente.

Força (XI)

A décima primeira carta do Tarô, escreve Van Rijnberk, simboliza a Força deVontade dirigida para a realização de valores morais. A vontade pode aperfeioar-se em diferentes direcções. No Saltimbanco a força concentra-se para obter o equilíbrio interior; no Vencedor que conduz o Carro, a força irradia, domina, projecta-se no astral; no Eremita, ela aspira a arrebatamentos místicos… Na décima primeira carta, a força é aplicada à purificação moral, base e apoio de todo o arrebatamento místico, oculto e mágico. A Força do Tarô é o símbolo da Pureza moral, da Inocência perfeita: <Innocentia inviolata>, que encontra precisamente nesse estado as energias para o combate.

Para resolver as ambivalências da Roda da Fortuna e mostrar-nos que podemos dominar todas as situações, é uma jovem loira que nos dá o exemplo: tendo na cabeça um chapéu em forma de 8 deitado azul e branco, bordado de amarelo, e que faz lembrar o do Saltimbanco, mantém abertas, com as duas mãos cor de carne, as fauces de um leão amarelo visto de perfil. Sobre o seu vestido azul, enterlaçado e com mangas amarelas, cai a aba comprida de um manto vermelho. Inverte, assim, as cores da Justiça, com a qual se parece, e repete as do Imperador e do Papa: o vermelho da acção e do poder recobrindo a luz interior do azul. Porém a Força de que se trata aqui nada tem de físico; a jovem segura as fauces abertas do leão usando apenas as pontas dos dedos; ela não evoca Sansão, nem David, nem Hércules; é o exercício de um poder feminino, muito mais irresistível na sua suavidade e subtileza do que todas as explosões de cólera e força bruta. Matar o leão não serviria para nada; o que é preciso é utilizar a sua força e energia, pois o iniciado não despreza nada do que é inferior; ele encara como sagrados até os instintos menos nobres, pois eles são o etimulante necessário de toda a acção… O que é vil não deve ser destruído, mas sim enobrecido por transmutação, tal como o chumbo que é preciso saber elevar à dignidade de ouro. Este simbolismo é claro no plano psicológico, no qual a nossa vontade deve domar e utilizar as forças do inconsciente para realizar o melhor de nós mesmos.

A Força, ou o Leão domado por uma Virgem, representa a força moral, a bravura que domina a adversidade, a liberdade de acção, a confiança em si mesmo (Th. Tereschenko); a submissão das paixões, o êxito (O. WIRTH).

A oposição entre o leão, imagem da força bruta, e a virgem, imgem da força espiritual, transforma-se numa vitória do espírito sobre a matéria e significa, não a destruição, mas sim a sublimação dos instintos.

E se nos lembrarmos que o número onze é fundamental em iniciação, ao mesmo tempo porque é formado a partir do 3 e do 8 (que correspondem á Imperatriz e à Justiça) e porque, em redução teosófica, iguala o 2, não nos surpreenderemos por encontrar a Papisa (2) sob a Força. Por isso, sabendo que, para obter a origem e a derivacão de uma carta, é preciso ter em conta a terceira anterior e a terceira posterior, nós encontramos a Força provindo da Justiça (carta 8) e conduzindo á Temperança (14); o que sublinha a ligação destas três virtudes cardeais. Porém, em todo o Tarô, a Força é a única carta que não tem uma complementar: nenhum número de qualquer outra, acrescentado ao seu dá 22. Não será isto proventura um sinal de que, na batalha

a travar connosco próprios nós estamos sempre sós, e devemos redobrar as energias para podermos prosseguir caminho?

Dependurado (XII)

Tendo a sua origem e derivação no Eremita (carta IX) e no Diabo (carta XV), que equivalem às duas mulheres do Amoroso (carta VI) no plano espiritual,

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o décimo segundo arcano maior do Tarô, cujo complementar é a Roda da Fortuna, apresenta-nos um Dependurado, cujo rosto se parece muito com o do Saltimbanco.

Um jovem está suspenso por um pé de um patíbulo verde-escuro, seguro em duas árvores amarelas, cada uma com seis cicatrizes vermelhas que correspondem a outros tantos ramos cortados, árvores plantadas em dois montículos verdes, nos quais cresce uma outra planta de quatro folhas. Os cabelos e os chinelos do Dependurado são azuis, bem como a parte de cima da sua roupa de meias mangas vermelhas, de abas amarelas, umas e outras marcadas por um crescente horizontal, abotoada por nove botões (seis abaixo da cintura, três acima), botões brancos, como o coralismo, a cintura e a parte da roupa onde estão cosidos.

O dependurado tem as mãos atrás das costas ao nível da cintura e a perna direita está dobrada por de trás à altura do joelho. O Dependurado ou O Sacrifício ou A Vítima representa: a expiação sofrida ou querida, a renúncia (M. Poinsot); o pagamento de dívidas, a punição, o ódio da mutilação e a traição (Fr. Rolt-Wheeler); a escravidão psíquica e o despertar libetador, as correntes de qualquer espécie, os pensamentos culposos, os remorsos, o desejo de libertar-se de um jugo (th. Terestchenco); o desinteresse, o esquecimento de si mesmo, o apostolado, a filantropia, as boas decisões não executadas, as promessas não cumpridas, o amor não partilhado (O. Wirth). Num Tarô francês do princípio do séc. XVIII, esta carta não se chama O Dependurado, mas sim A Prudência, que é um conselho a dar perante o conjunto de significados deste arcano. A ele corresponde a décima segunda casa do horóscopo na Astrologia. À primeira vista, esta carta é a da derrota e da impotência total. Entretanto, os braços e as pernas do Dependorado desenham uma espécie de cruz sobre um triângulo, signo alquímico da realização da Grande Obra. Temos que dizer que é preciso, mais uma vez, ir para além das aparências. O Dependurado não será, em primeiro lugar, vítima de uma servidão mágica? A corda, cujas extremidades podem fazer lembrar umas asas pequeninas, na realidade não passa pelo pé e até nos leva a interrogar-nos como é que ela realmente o segura. É que o dependurado simboliza aqui todo o homem que, absorvido por uma paixão, sujeito de corpo e alma à tirania de uma ideia ou de um sentimento, não tem a consciência da sua escravidão.

Todo o ser humano dominado por um hábito mental está relacionado com a carta do Dependurado, diz Van Rijnberk, que acrescenta: da mesma forma, todo o homem dominado por um preconceito moral, contra ou sobre o que quer que seja, pertence à categoria das pessoas não-livres, ligadas de cabeça para baixo à plataforma dos seus preconceitos.

Mas o símbolo do Dependurado desemboca também noutro plano. A sua inactividade aparente e a sua posição indicam uma submissão absoluta que promete e assegura um maior poder oculto ou espiritual: a regeneração ctoniana. O Dependurado renunciou á exaltação das suas próprias energias, afasta-se para melhor receber as influências cósmicas e, sobretudo a sua cabeça, entre os dois montículos, parece penetrar no solo, onde roçam os seus cabelos azuis, cor dos poderes ocultos. Imaginamos aqui Anteu, o Gigante que readquiria as forças sempre que tocava no chão; na posição dos ioguis, erguidos sobre a cabeça e os antebraços apoiados no chão, para conseguirem uma maior concentração intelectual através da regeneração e circulação das forças de baixo para cima entre o ceu e a terra. O Dependurado assinala bem o fim de um ciclo, o homem invertendo-se para meter a cabeça na terra, poder-se-ia dizer, para restituir o ser pensante à terra de que foi feito. O Dependurado é o arcano da restituição final. Mas esta restituição é a condição da regeneração.

Símbolo de purificação pela inversão da ordem terrestre, o Dependurado é, pois, o Místico por excelência e é neste sentido que Wirth vê neste décimo segundo arcano maior aquele que abre a série da iniciação passiva, por oposição aos doze primeiros, que são os da iniciação activa, baseada na cultura e no desenvolvimento das energias que o indivíduo extrai de si mesmo.

Arcano sem nome (XIII) (ou a Morte)

O simbolismo geral da morte aparece também no décimo terceiro arcano maior do Tarô, que não tem nome, como se o seu número tivesse um sentido suficiente por si mesmo, ou como se os autores desta carta tivessem medo de lhe dar nome. Com efeito, o número 13, cujo significado maléfico, constante na Idade Média cristã, aparece já na Antiguidade, simboliza o curso cíclico da actividade humana… a passagem a um outro estado e, por conseguinte, a morte.

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A Morte ou A Ceifeira exprime a evolução importante, o luto, a transformação dos seres e das coisas, a mudança, a fatalidade inelutável e, segundo O. Wirth, a desilusão, o desprendimento, o estoicicismo, ou o desencorajamento e o pessimismo. Jean Vassel constata (em Études Traditionnelles., n.º 278, Setembro de 1949, p. 282) que A Morte constitui uma censura na série de imagens do Tarô, e que a seguir vêm os arcanos mais elevados, de forma que se pode fazer uma correspondiência entre os 12 primeiros e os pequenos mistérios, e entre os seguintes e os grandes mistérios, porque é manifesto que as cartas que vêm depois dela têm carácter mais celeste do que aquelas que a precedem. Tal como o Saltimbanco, a morte corresponde, na astrologia, à primeira casa do horóscopo.

O esqueleto armado com uma gadanha desenhado nesta carta é suficientemente eloquente para não haver necessidade de ser comentado. Todo cor de carne, e não ouro, com um pé enterrado, segura com a mão esquerda uma gadanha de cabo amarelo e lâmina vermelha, cor de fogo e de sangue. Será para nos advertir de que a morte de que se trata não é a primeira morte individual, mas sim a destuição que ameaça a nossa existência espiritual se a Iniciação não a salvar da aniquilação?

O solo é negro; plantas azuis e amarelas crescem nele; sob o pé do esqueleto, uma cabeça de mulher; ao lado da ponta da lâmina, uma cabeça de homem coroado; três mãos, um pé, dois ossos estão espalhados por ali. As cabeças conservam a sua expressão, como se ainda estivessem vivas. A da direita tem uma coroa real, símbolo da realeza da inteligência e da vontade a que ninguém abdica ao morrer. Os traços do rosto da esquerda nada perderam ainda do seu encanto feminino, porque as afeições não morrem e a alma ama no além-túmulo. As mãos que surgem da terra, prontas para a acção, anunciam que a Obra não será interrompida e os pés… oferecem-se para fazer avançar as ideias em marcha… nada cessa, tudo continua!

É que a Morte tem muitos significados. Libertadora das penas e preocupações, a morte não é um fim em si; ela abre o acesso ao reino do espírito, à vida verdadeira: mors janua vitae (a morte porta da Vida). No sentido esotérico, a morte simboliza a mudança profunda que o homem sofre devida à Iniciação.

O profano deve morrer para renascer para a vida superior conferida pela iniciação. Se não morrer para o seu estado de imperfeição, impede para si próprio todo o progresso iniciático. Da mesma forma, na alquimia, o sujeito que dará a matéria da pedra filosofal, encerrado num recipiente fechado e privado de qualquer contacto exterior, deve morrer e apodrecer. Assim, a décima terceira carta do Tarô simboliza a morte no seu sentido iniciático de renovação e de renascimento. Depois do Dependurado místico, totalmente oferecido e abandonado, que retomava as forças ao contacto com a Terra, a Morte recorda-nos que é preciso ir mais longe e que ela é a própria condição do progresso e da vida.

Temperança (XIV)

A temperança significa o domínio do desejo, a moderação, o comedimento: esta moderação que, cromaticamente, é dada pela cor violeta. Feita da junção do vermelho e o azul, que predominam na carta do Tarô, ela é também o casamento do activo e do passivo, que simbolizam o mistério da criação, invisível e secreto.

Com o décimo quarto arcano maior do Tarô, cuja origem é a Força (XI) e o complemento é a Justiça (VIII), estamos na presença da quarta virtude cardeal. Há várias interpretações. A temperança, ou as Duas Urnas ou o Génio solar, exprime a involução (Enel); a retribuição (Jolivet-Castelot); o freio, a aparagem (M. Poinsot); a organização oportuna ou não (J.R. Bost); a acção, o esforço, a

utilização das oportunidades, a direcção, os processos desfavoráveis, a hostilidade das forças tradicionais (Fr. Holt-Wheeler); a serenidade, o carácter de acomodação, a filosofia prática, a submissão que se sabe dobrar ás circunstâncias ou á indiferença, a falta de personalidade, a tendência a deixar-se levar pela corrente das coisas e a submissão à moda e aos preconceitos (O. Wirth).

Mais é importante observar atentamente a carta. É uma mulher de cabelos azuis, vestida com uma longa saia metade azul, metade vermelha. Tem na mão esquerda um pote azul: verte o seu líquido branco no pote vermelho que segura mais abaixo com a mão direita. Somos tentados a vêr neste gesto uma alusão à destilação, à purificação, à evolução da matéria, pois esta carta é

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geralmente considerada como o símbolo da alquimia. O sujeito, morto e purificado, como nos recordou o décimo terceiro arcano é submetido à ablução, e ela fá-lo passar do negro ao cinzento e, por fim, ao branco, que marca o êxito da primeira grande parte da Grande Obra. É a entrada do espírito na matéria, o símbolo de todas as transfusões espirituais. O gênio alado realiza e encarna no plano material as obras da Justiça, mas não cria nada por si mesmo. A Temperança contente-se em passar, de um recipiente para outro, um líquido ondulante que permanece o mesmo, sem que já mais se perca uma gota. Só o vaso muda de forma e de cor. Não será, como observámos a propósito da serpente, o simbolo do dogma da Reencarnação ou da transmigração das almas? Basta recordar que em grego clássico o acto de deitar de um vaso para o outro era tido como sinónimo de metempsicose. Assim, entre a Morte (XIII) e o Diabo (XV), a Temperança alada faz-nos lembrar a grande lei da eterna circulação dos fluídos da vida, no plano cósmico, e, no plano psicológico, a necessidade do difícil equilíbrio interior que devemos manter entre os dois pólos do nosso ser, feito metade vermelho e metade azul, metade terra e metade céu. Se o líquido que cai de um vaso para outro tem ondulações que nada têm a ver com as leis físicas, é porque a serpente é aqui, mais uma vez, o símbolo da passagem indefinidamente recomeçada, de um mundo para o outro.

Diabo (XV)

O mito do Diabo é próximo dos mitos do Dragão da serpente, do guardião do limiar (monstro) e do simbolismo de encerramento, de linha limite. Ultrapassar essa linha é ser maldito ou sagrado, vítima do diabo ou eleito de Deus. É a queda ou a ascensão. À ideia de Deus está associada uma idéia de abertura do centro fechado, de graça, de luz, de revelação.

O Diabo simboliza todas as forças que perturbam, ensombram, enfraquecem a consciência e a fazem virar-se para o determinado e para o ambivalente: centro de noite, por oposição a deus, centro de luz. Um arde no mundo subterrâneo, o outro brilha no céu.

O Diabo é símbolo do Malvado. Quer ele se vista de Senhor muito bem quer faça caretas nos capitéis das catedrais, tenha uma cabeça de bode ou de camelo, pés fendidos, chifres, o corpo coberto de pêlos, pouco importa a figura, (nunca lhe faltam disfarces), ele é sempre o Tentador e o Carrasco. A sua redução a uma forma de animal manifesta simbolicamente a queda do espírito. Todo o papel do diabo é o de despojar o homem da graça de Deus, para o submeter ao seu próprio domínio. É o anjo caído e asas cerceadas, que pretende detruir as asas de todo o criador. É a síntese das forças desintegradoras da personalidade. O papel de Cristo, pelo contrário, é o de arrancar o género humano ao seu poder do diabo pelo mistério da cruz. A cruz de Cristo liberta os homens, isto é, volta a pôr nas suas mãos, com a graça de Deus, a livre disposição de si próprios, de que uma tirania diabólica os tinha privado.

Enquanto divisor, o diabo cumpre uma função que é exactamente a antítese da do símbolo, que é a de reunir.

Entre a Temperança e a Casa de Deus, o décimo quinto arcano maior do Tarô convida a reflectir sobre o Diabo. Exprime a combinação das forças e dos quatro elementos da natureza (água, terra, ar, fogo) no meio da qual se desenrola a existência do homem; o desejo de satisfazer as suas paixões seja a que preço for, a inquietação, a excitação exagerada, a utilização de meios ilícitos, a fraqueza que dá origem a influências deploráveis (O. Wirth).

Erguido seminu, sobre uma bola cor de carne com a metade inferior enterrada num pedestal ou numa bigorna vermelha com seis camadas sobrepostas, o Diabo, cujo hermafroditismo é profusamente sublinhado, tem asas azuis semelhantes ás de um morcego;umas calças azuis estão presas ao corpo por um cinto vermelho cruzado por baixo do umbigo; os pés e as mãos são providos de unhas como as patas de um macaco. A mão direita está levantada; a esquerda, virada para o chão, segura pela lâmina uma espada desembainhada e nua sem punho nem protecção. Na cabeça, um estranho toucado amarelo é feito de crescentes lunares afrontados e de uma cornadura de cervo de cino pontas. Ao pedestral estão presos, com uma corda que passa através de uma argola segura ao mesmo e atada ao pescoço deles, dois diabretes simétricos, inteiramente nus, um macho e o outro fêmea (a menos que sejam também eles andróginos), cada um deles provido de uma longa cauda que toca no chão, os pés com garras, as mãos escondidas detrás das costas, a cabeça coberta com um gorro vermelho de onde

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partem dois chifres de veado pretos e duas faúlhas ou dois chifres. O chão é amarelo com riscos pretos na parte superior, mas, sob os pés dos dois diabretes, o chão é preto como o chão por onde passa a foice da Morte (arcano XIII).

Tudo aqui evoca o domínio do inferno, onde o homem e o animal já não são diferentes. O Diabo reina sobre as forças ocultas e a sua paródia de Deus, o macaco de Deus, lá está para avisar dos perigos que corre aquele que pretende utilizar essas forças por sua conta e desviando-se do seu fim.

Aquele que aspira ao saber oculto, ao Poder oculto, deve manter-se em equilíbrio como o Saltimbanco, ou manter neutralizadas as tendências opostas ao Abismo, como o herói no seu carro, adquirir a paz interior como o eremita, ou distribuir, como vencedor altruísta dos seus próprios desejos, como o Dependurado, os benefícios da ciência; de outra forma cairá vítima das correntes fluidas desregradas que ele próprio evocou, mas não é capaz de dominar. Perante o oculto, é preciso conseguir dominar, ou então resignar-se a servir. Vencedor ou vencido, não se trata de igual para igual com as Forças do Nada. Mas estas forças são indispensáveis ao equilíbrio da própria natureza: só Lúcifer, portador da luz, poderia tornar-se Príncipe das Trevas; e quando as cartas do Tarô são dispostas em duas filas, o oitavo arcano domina o décimo quinto, número ímpar e triangular, agente dinâmico e criador, para lembrar que também o Diabo está sujeito à lei universal da Justiça.

No plano psicológico, o Diabo mostra a escravidão que aguarda aquele que se mantém cegamente sujeito ao instinto, mas ao mesmo tempo sublinha a importância fundamental da líbido, sem a qual não existe crescimento humano e, para poder superar a queda da Casa de Deus (16ª carta), é preciso ser-se capaz de assumir estas forças temíveis de uma forma dinâmica.

Casa de Deus (XVI) (ou A Torre)

Este décimo sexto arcano maior do Tarô representa uma torre cor de carne, cujo cimo, arrancado por um raio, se inclina para a esquerda, enquanto duas pessoas de braços estendidos se precipitam no chão, uma de cada lado da torre; trinta e sete esféroides, treze dos quais são vermelhos, treze são brancos e onze são azuis, enchem o céu em torno do majestoso leque do raio dourado com linguetas vermelhas, como que para sublinhar o esplendor.

À primeira leitura, esta carta representa um castigo divino uraniano a fulminar um edifício que não passa de uma construção do próprio homem, como o demonstra a sua cor; com a restrição significativa de o corpo da torre se manter intacto, enquanto apenas oscila a coroa humana com as quatro ameias

douradas com a qual se quis concluir a obra. Pensamos então no célebre Napoleão, arrancando a coroa das mãos do Papa para se consagrar a si próprio imperador: este gesto prometeico atrai a cólera dos deuses, Waterloo e Sedan já estão presentes no dois de Dezembro. Será esta a imagem que faz com que André Virel diga que a Casa de Deus é uma espécie de complemento negro do Imperador? O simbolismo do números parece confirmá-lo, pois se o Imperador é Quatro, número terrestre por excelência, o dezesseis, quadrado de quatro, exprime o poder total, o desenvolvimento completo e dinâmico, tal como demonstra, já o dissemos, a suástica, a cruz com braços três vezes dobrados que multiplica quatro vezes quatro: sabemos a que dinâmicas de poder ela esteve associada, de Carlos Magno a Hitler, quer quando se torna, no sentido directo, benéfico, quer quando se torna, no sentido inverso, maléfico.

Porém, como acabamos de ver com a suástica, o número dezasseis não é estático, mas sim dinâmico; não representa apenas o abismo que Jacob Boehme opôs ao Nirvana, mas uma recondução cíclica, evidente no desenho da suástica, que assinala uma rotação; nada é definitivo, entre o alto e o baixo não há uma separação, mas sim um perpétuo ir e vir; aliás, os dois construtores derrotados pela catástrofe não aterram incólumes? Quer dizer que eles poderão, que eles retomarão a sua obra, pois uma torre sem topo, uma vida não coroada não está concluída, não está completa. O símbolo da Casa de Deus torna-se, então, positivo; torna-se, de acordo com as palavras de F. X. Chaboche, a expressão de uma mutação inesperada, de uma crise salutar, ou ainda, como sugere Virel, a tomada de consciência verdadeira, a queda do raio sobre o coroamento do edifício, fazendo lembrar o golpe de machado de Vulcano na fronte de Júpiter, sem o qual Minerva, encrnação da razão, não teria visto a luz do dia. A Casa de Deus simboliza a estocada certeira do destino, cuja brutalidade, à medida das ambições em que acerta,

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pode apenas abrir para elas o único caminho que os deuses lhe autorizam, caminho mais espiritual do que material.

Se esta reprimenda não for entendida nem aceite na plenitude do seu sentido, os obreiros do edifício humano serão condenados a tentar perpetuamente coroar o que não pode ser coroado, para todas as vezes rolarem no abismo e recomeçarem o seu esforço: a Casa de Deus remete, então, para o mito de Sísifo.

Estrela (XVII)

Da estrela retemos sobre tudo a sua qualidade de luminária, de fonte de luz. As estrelas representadas na abóbada de um templo ou de uma igreja especificam o seu significado celeste. O seu carácter celeste faz delas também símbolos do espírito e, em particular, do conflito entre as forças espirituais, ou de luz, e as forças materiais, das trevas. Atravessam a escuridão e são também como faróis projectados na noite do inconsciente.

Porém, depois do Diabo, centro da noite, e da casa de Deus, explosão da contradição, a Estrela, décimo sétimo arcano maior do Tarô é um centro de luz.

Uma jovem mulher nua, de cabelos azuis que caem encaracolados sobre os ombros e o joelho esquerdo no chão, segura em cada mão um jarro vermelho

cujo conteúdo, azul, ela deita numa espécie de lago, também ele azul. Do chão amarelo e ondulado brotam uma planta de três folhas e dois arbustos verdes num fundo formado pelo céu; o da esquerda é o mais importante: um pássaro preto, símbolo da alma imortal, acaba de pousar nele. No céu, seis estrelas, uma sobre a outra em dois grupos de três, de tamanhos e cores diferentes (duas amarelas de sete pontas, duas azuis e duas vermelhas de oito pontas) estão colocadas de forma simétrica em volta de uma sétima estrela, no topo da carta, muito maior, que tem um aspecto de ser composta por duas estrelas sobrepostas de oito pontas, uma amarela e uma vermelha, e que são, segundo alguns comentadores, a natureza humana e a natureza divina. Mesmo por cima da cabeça da jovem, que sem dúvida personifica Eva ou a humanidade, brilha uma estrela amarela de oito pontas. Este conjunto de sete estrelas, agrupadas em torno de uma estrela maior, evoca a constelação das Pléiades. Faz lembrar também, o oitavo arcano, o da Justiça, enquanto inteligência coordenadora das acções e reacções naturais. Pela primeira vez, os astros aparecem no Tarô, e as duas cartas seguintes serão a Lua e o Sol. Até aqui, o homem estava encerrado no seu universo; agora, passa a fazer parte da vida cósmica e abandona-se às influências celestes que devem conduzi-lo à iluminação mística (vêr cartas 18 a 21). Esta jovem rapariga nua está num estado de perfeita receptividade e não guarda pra si o quer que seja daquilo que recebeu. A água que sai dos seus jarros, serpenteando como a da Temperança, é azul como os seus cabelos e vai juntar-se, sem realmente se misturar com ela, a uma água igualmente azul, ou regar a terra árida. Não será isto fazer com que os elementos materiais, que a água e a terra são, participem do carácter celeste? Inter-comunicação de mundos diferentes, alma que une o espírito à matéria, passagem á evolução orientada… o arcano XVII apresenta um simbolismo de criação, de nascimento, de mutação. A iamgem da água a cair de um jarro faz lembrar que o nascimento, nos sonhos e nos mitos, se associa a imagens de água ou se exprime através delas… A estrela é o mundo em formação, o centro original de um universo).

Estreitamente ligada ao céu de que ela depende, a Estrela evoca também os mistérios do sono e da noite; para brilhar com o seu resplendor pessoal, o homem deve situar-se nos grandes ritmos cósmicos e ficar em harmonia com eles.

Este arcano, com a sua flora e as suas águas, as suas duas bilhas a deitarem água, as suas estrelas de sete e oito pontas, simboliza a criação, de modo nenhum concluída e perfeita, mas em vias de realização; indica um movimento de formação do mundo ou de si mesmo, um regresso ás fontes aquáticas e luminosas, aos centros de energia terrestres e celestes. Simboliza

a inspiração que vem materializar, isto é, traduzir, os desejos até então inexprimíveis do artista.

Lua (XVIII)

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É em correlação com o simbolismo do Sol que se manifesta o simbolismo da Lua. Os seus dois caracteres mais fundamentais derivam, dum lado, de a Lua ser privada de luz própria e ser apenas um reflexo do Sol; por outro lado, de a Lua atravessar fases diferentes e mudar de forma. É por isso que ela simboliza a dependência e o princípio feminino (salvo excepção), bem como a periodicidade e a renovação. Sob este duplo aspecto, ela é o símbolo de transformação e de crescimento (crescente da Lua).

A Lua é símbolo dos ritmos biológicos: Astro que cresce, diminui e desaparece, cuja vida está submetida à lei universal do devir, do nascimento e da morte… a Lua conhece uma história patética, tal como a do homem… mas a sua morte nunca é definitiva… Este eterno retorno às formas iniciais, esta periodicidade sem fim fazem com que a Lua seja por excelência o astro dos dois ritmos da vida… Ela controla todos os planos cósmicos regidos pela lei do devir cíclico: águas, chuva, vegetação, fertilidade…

A Lua simboliza também o tempo que passa, o tempo vivo, de que ela é a medida, pelas suas fases sucessivas e regulares. A Lua é o instrumento de medida universal… O mesmo simbolismo liga entre eles a Lua, as Águas, a chuva, a fecundidade das mulheres, a dos animais, a vegetação, o destino do homem depois da morte e as cerimónias de iniciação. As sínteses mentais tornadas possíveis pela revelação do ritmo lunar põem em correspondência e unificam realidades heterogéneas; as suas simetrias de estruturas ou as suas analogias de funcionamento não poderiam ter sido descobertas se o homem a lei de variação periódica do astro.

A Lua é também o primeiro morto. Durante três noites, em cada mês lunar, ela está como morta, desapareceu… Depois reaparece e cresce em brilho. Da mesma forma, considera-se que os mortos adquirem uma nova modalidade de existência. A Lua é para o homem o símbolo desta passagem da vida à morte e da morte à vida; ela é até considerada, por muitos povos, como o lugar desta passagem, a exemplo dos lugares subterrâneos. É por isso que numerosas divindades lunares são ao mesmo tempo ctonianas e funerárias: Men, Perséfone, provavelmente Hermes… A viagem à Lua ou até mesmo a vida imortal na Lua, depois da morte terrestre, são reservadas segundo certas crenças, aos privilegiados: soberanos, herois, iniciados, mágicos, todo o capítulo sobre a Lua e a mística lunar).

A Lua é símbolo de conhecimento indirecto, discursivo, progressivo, frio. A Lua, astro das noites, evoca metaforicamente a beleza, e também a luz na imensidade tenebrosa. Mas não sendo esta luz mais que um reflexo da luz do Sol, a Lua é apenas o símbolo do conhecimento por reflexo, isto é, do conhecimento teórico, concepltual, racional; é nesse ponto que é ligada ao simbolismo da coruja. É também por isso que a Lua é yin relativamente ao Sol, que é yang; é passiva, receptiva. É la é a água relativamente ao fogo solar, o frio em relação ao calor; o norte e o Inverno simbólicos opostos ao sul e ao Verão.

Fonte de inúmeros mitos, lendas e cultos dando às deusas a sua imagem (Ísis, Istar, Ártemis ou Diana, Hécate…) a Lua é um símbolo cósmico estendido a todas as épocas, desde os tempos imemoriais até aos nossos dias, generalizado a todos os horizontes.

Através da mitologia, do folclores, dos contos populares e da poesia, este símbolo diz respeito à divindade da mulher e ao poder fecundante da vida, encarnados nas divindades da fecundidade vegetal e animal, fundidas no culto da Grande Mãe (Mater magna). Esta corrente eterna e universal prolonga-se através do simbolismo astrológico, que associa ao astro das noites a impregnação da influência maternal sobre o indivíduo enquanto mãe-alimento, mãe-calor, mãe-carinho, mãe-universo afectivo.

A Lua fala da parte da alma animal, representada nessa região em que domina a vida infantil, arcaica, vegetativa, artística e anímica da psique. A zona lunar da personalidade é esta zona nocturna, inconsciente, crepuscular dos nossos tropismos das nossas pulsões instintivas, é a parte do primitivo que dorme em nós, vivaz ainda no sono, nos sonhos, nas fantasias, na imaginação, e que modela a nossa sensibilidade profunda. É a sensibilidade do ser íntimo entregue ao encantamento silencioso do seu jardim secreto da impalpável canção da alma, refugiado no paraíso da sua infância, voltado sobre si mesmo, encolhido num sono da vida senão entregue à embriagez do instinto, abandonado ao transe de um arrepio vital, que arrebata a sua alma caprichosa, vagabunda, boémia, fantasiosa, quimérica, ao sabor da aventura…

Mas o inconsciente e o sonho fazem parte da vida noturna. O complexo simbólico lunar e inconsciente associa à noite os elementos água e terra, com as qualidades de frio e de humidade, em oposição ao simbolismo solar e consciente, o qual associa ao dia os elementos ar e fogo, e as qualidades de calor e secura.

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A vida noturna, o sonho, o inconsciente, a Lua, são outros tantos termos que têm parentesco com o domínio misterioso e duplo; é impressionante, neste sentido, ver associada à Lua, numa Lenda buriata, a bela metáfora de lança do eco.

Segundo a interpretação de Paul Diel, a Lua e a noite simbolizam a imaginação malsã, vinda do subconsciente: a imaginação exaltada e repressora. Esta simbolização aplica-se, em numerosas culturas, a toda uma série de heróis ou de divindades, que são lunares, nocturnas, inacabadas, maléficas.

A Lua - ou O Crepúsculo – 18º arcano maior do Tarô, segundo certos intérpretes, exprimiria o enterro do espírito na matéria (Enel); a neurastenia, a tristeza, a solidão, as doenças (G. Muchery); o fanatismo, a falsidade, a falsa segurança, as aparências enganadoras, o falso caminho, o roubo cometido por próximos ou por servidores, as promessas sem valor (Th. Tereschenko); o trabalho, a conquista penosa do verdadeiro, a instrução pela dor ou pelas ilusões, as decepções, as armadilhas, a chantagem e os extravios (O. Wirth). Este arcano completa os significados de O amoroso e, como esta carta, corresponde em astrologia à sexta casa do horóscopo. Acrescentemos que a Lua de um Tarô francês de começos do século XVIII, citado por Gérard van Rijnbeck, não ilumina os dois cães que latem, como nos baralhos vulgares, mas uma vaca, uma cegonha e uma ovelha; o que se pode pôr em paralelo com a atribuição tradicional dos animais domésticos da sexta casa do horóscopo.

Convém, entretanto, examinar esta carta de mais perto: a Lua aparece-nos dividida em três planos. Do disco lunar azul, sobre o qual se desenha um perfil num crescente, partem vinte e nove raios: sete azuis, sete brancos, e, mais pequenos, quinze vermelhos. Entre o céu e a terra, oito gotas azuis, seis vermelhas e cinco amarelas têm o ar de ser aspiradas pela lua.

O solo amarelo, é acidentado e tem apenas duaspequenas plantas de três folhas, enquanto que, no fundo da paisagem, à direita e à esquerda, se erguem duas torres com ameias de lados cortados, que parecem estar uma a céu aberto, a outra coberta. No centro da paisagem, dois cães cor de carne (ou um lobo e um cão) estão frente a frente, de goela aberta, parecendo uivar, e podemos perguntar se o da direita não toma uma das gotas azuis.

Enfim, no terço inferior da carta, ao meio de um espelho de água azul, raiada de preto, avança um enorme caranguejo visto de costas, igualmente azul.

Estes três planos bem distintos são os dos astros, da terra e das águas. A Lua que os rege não ilumina senão pelo reflexo e aspira para si todas as emanações deste mundo, quer elas tenham a cor do espírito e do sangue, da alma e do seu poder oculto, ou do ouro triunfante da matéria. Os dois cães Cérebros, guardiães e psicopompos, latem para a Lua e lembram-nos que, em toda a mitologia grega, foram animais consagrados a Ártemis, caçadora lunar, e a Hécate, tão poderosa no Céu como nos Infernos, como sugerem as duas torres, limites dos dois mundos opostos. O próprio caranguejo foi muitas vezes associado à Lua pela marcha de trás para a frente parecida com a daquele astro. Mas a Lua sempre foi tida como mentirosa e não nos devemos guiar por essas aparências de ordem cósmica, pois esta carta tem um significado mais profundo e de ordem psíquica. A Lua, diz Plutarco, é a morada dos homens bons depois da sua morte. Eles têm aí uma vida que não é nem divina, nem bem-aventurada, mas contudo, isenta de preocupação, até à segunda morte, Pois o homem tem de morrer duas vezes. Assim, a Lua é a morada dos humanos entre a desencarnação e a segunda morte, que será o prelúdio do novo nascimento.

As almas, sob a forma de gotas, de três cores diferentes correspondendo talvez aos três graus de espiritualização, sobem então para a Lua e, se os cães procuram assustá-las, é para as impedir de ultrapassar os limites proibidos onde a imaginação se perderia. O mundo dos reflexos e das aparências não é o da relidade. O caranguejo só está presente nas águas azuis inundadas de claridade lunar. Como o escaravelho egípcio, devora o que é transitório e participa na regeneração moral.

Na via da iluminação mística, aonde nos conduziu o décimo sétimo arcano (A Estrela), a Lua ilumina o caminho, sempre perigoso, da imaginação e da magia, enquanto o Sol (XIX) abre a via real da iluminação e da objectividade.

Sol (XIX)

Depois do mundo da Lua, no qual a luz não é senão um reflexo, eis o Sol, centro desta luz, décimo nono arcano maior do Tarô e um dos mais enigmáticos.

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Exprime a felicidade daquele que sabe estar de acordo com a natureza (Enel); a união sincera, a alegria, a família unida (Th. Tereschenko); a concórdia, a clareza de juízo e de expressão, o talento literário ou artístico, a felicidade conjugal, a fraternidade ou o deslumbramento, a vaidade, a pose, o cabotinismo, a fachada simuladora e os adornos prestigiosos (O. Wirth).

Ao lermos estas diferentes interpretações, interrogamo-nos se o Sol do Tarô não significa demasiadas coisas para que exprima ao menos uma. Tentemos, no entanto, olhar com mais atenção. Na carta predomina o amarelo, a cor solar por excelência, que simboliza ao mesmo tempo as perfeições intelectuais, a riqueza do metal e das colheitas, bem como a grande obra alquímica. O disco solar é personificado por um rosto de frente, donde partem setenta e cinco raios: cinquenta e nove são simples traços negros, oito têm a forma de um triângulo alongado, de lados rígidos (quatro amarelos, dois verdes e dois vermelhos) e alternam com outros oito de lados ondulantes (três vermelhos, dois brancos e três azuis) sublinhando assim a dupla acção calorífica e luminosa da irradiação solar.

Pode-se dizer que só os raios vermelhos, cor do espírito todo poderoso, participam desta dupla ação. Treze gotas com a ponta para cima, dispostas de forma simétrica (cinco azuis, três brancas, três amarelas e duas vermelhas) caem do Sol em direcção à Terra: o Sol espalha com profusão a sua energia fecundante, ao passo que a Lua atrai para si as emanações telúricas, e podemos imaginar aqui a chuva de ouro em que Zeus se metamorfoseia para seduzir Danae, num sentido simbólico análogo.

No solo sem vegetação estão dois gêmeos cor de carne, de cabeça destapada, um colar em volta do pescoço, tocando-se com uma das mãos. Fazem lembrar as duas personagens presas ao pedestal do Diabo do arcano XV, mas enquanto estas estavam nuas com um toucado diabólico, os gémeos solares têm uma tanga azul, como se, na luz, já tivessem tomado consciência da sua difernça. Pretendeu-se ver num deles o espírito, elemento solar, positivo e masculino e no outro a alma, elemento lunar, negativo e feminino da entidade humana ou os dois princípios opostos e complementares do activo e do passivo.

Seja como for, como gêmeos estão carregados de um poder particular relacionada com o Sol que distingue os seres e as coisas e as desdobra dando-lhes uma sombra… são a própria imagem da analogia, da fraternidade, da síntese. São, como Adão e Eva, e os heróis-gémeos ancestrais míticos de tantos povos, a expressão desta espécie de partenogénese do andrógino inicial, que marca o ponto de partida da aventura humana, sob o Sol.

De pé, eles estão de costas para um muro, feito de cinco filas de pedras, amarelo como o sol, mas cujo rebordo superior, ao nível da cintura dos dois jovens, é vermelho. O muro marca o limite do seu domínio: A elite que os filhos do sol representam só pode confraternizar ao abrigo de um recinto em alvenaria, diz Oswald Wirth, ao pass que, para D. Carton, o muro de pedra representa a pedra filosofal… o hieróglifo da verdade, do absoluto e do infinito.

Este muro, no qual o rebordo vermelho coloca a marca do espírito, vai até meia altura dos gémeos, como se o homem, que já foi precipitado de uma torre muito mais alta, adquirisse a medida exacta de si próprio e das suas possibilidades. Pois o Sol mostra-nos, afinal, depois de todas as ilusões, a realidade, a verdade de nós mesmos e do mundo. Depois de ter recebido a iluminação, tanto material como espiritual, poderemos enfrentar o Julgamento, vigésimo arcano maior. O Sol aguça a consciência dos limites, é a luz do conhecimento e a fonte de energia.

Julgamento (XX)

O Julgamento, a Ressureição, ou o Despertar dos Mortos, o 20º arcano maior do Tarô, exprime a inspiração, o sopro redentor (O. Wirth); a mudança de situação e de apreciação, as questões jurídicas (R. Bost); o perdão, a redenção ou rectificação de um erro, a reabilitação, a cura, o desencalhar de um negócio (Th. Terestchenko).

Entre o Sol e o Mundo, que parecem ser cartas triunfantes, o 20º arcano maior do Tarô, o Julgamento, conduz-nos a ideias de morte. Um anjo aureolado de branco, rodeado por um círculo de nuvens azuis de onde partem em alternância dez raios vermelhos e dez amarelos, tem na mão direita uma trompeta e, na esquerda, uma espécie de estandarte de fundo branco coberto

por uma cruz amarela. A sua trompeta parece quase tocar o cimo de uma montanha ou de uma sepultura, igualmente amarela e árida.

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Na parte de baixo da carta, um personagem nu,visto de costas, parece sair de uma tina verde (ou de um sepulcro verde, cor da ressurreição) diante da qual se encontram igualmente nus, cor de carne, de mãos juntas e viradas para ele, uma mulher e um homem mais velhos. Talvez, a Mãe e o Velho Homem, no sentido de Jung.

Trombeta do juízo final, ressureição dos corpos, isso parece evidente. No entanto, esta interpretação pode ser aprofundada. As asas e as mãos do anjo são cor de carne, como também eram as da Temperança; não quererá dizer que ele é feito da mesma matéria que os homens, que ele é seu irmão e que cada um dos homens pode adquirir também as asas da espiritualidade, desde que saiba conservar a medida e o equilíbrio na sua ascenção espiritual? As mangas são vermelhas, pois está sempre em acção, mas os seus cabelos, que têm cor do ouro das verdades imutáveis, conferem-lhe um simbolismo solar. Está encerrado num círculo de nuvens azuis, cor lunar das forças ocultas e das verdades da alma, de onde partem raios vermelhos e amarelos do espírito e da acção, para indicar que não há nem verdadeira acção, nem verdadeira compreensão, se não procederem das forças da alma, onde se misturam intuição e afectividade, ou talvez também para significar que a inteligência humana não pode ir para lá destas espirais e que há sempre um círculo que não podemos transpor. Diante deste anjo, anunciador do julgamento, que separa sem apelo a boa semente das ervas daninhas, os homens apresentam-se nus, à saída do túmulo que eram seus corpos, tendo-se despojado de todos os atributos do mundo para só olharem para os cabelos azuis, cor da alma, que também já eram os do Dependurado, da Temperança, e da Estrela, três cartas de valor iniciático particularmente marcante, que simbolizam mortes e renascimentos. Para se poder renascer para a verdadeira vida, é preciso ter ouvido o chamamento da trompeta de ouro por onde passa a voz de Deus. É o filho, aqui, que sem ter renegado as lições do passado, simbolizado pelos seus pais, atingiu o mais alto grau de iniciação: a sua cabeleira, em vez de cair sobre os seus ombros, tem a forma de coroa e só ele está virado para o anjo.

Assim, última etapa antes da visão do Mundo, o Julgamento simboliza o apelo vitorioso do Espírito, princípio unificador que penetra e sublima a matéria.

Mundo (XXI)

O Mundo do Tarô, ou Coroa dos Magos, exprime a recompensa, o coroamento da obra, a conclusão dos esforços, a elevação, o êxito, a iluminação, o reconhecimento público e os acontecimentosbenéficos imprevistos. Gérard van Rijnberk identifica o Mundo com a Roda da Fortuna (10.º arcano), pois nalguns jogos a mulher encontra-se, não numa grinalda, mas de pé sobre um globo, e a teoria das relações entre o Tarô e as casas do horóscopo encontra nessa aproximação um argumento novo.

Última carta do Tarô, o Mundo, vigésimo primeiro arcano maior, simboliza o desabrochar da evolução, pois a construção do Tarô por ternários e setenários dá ao mesmo número 21 um valor de síntese suprema: corresponde ao conjunto

do que é manifestado, portanto, ao Mundo, resultado da ação criadora permanente.Uma jovem nua, cor de carne, um véu deitado sobre o ombro esquerdo, descendo até ao

sexo, que oculta, uma varinha em cada mão (o Saltimbanco tinha na mão esquerda, para recolher os fluídos vitais), está de pé e de frente: o pé direito repousa sobre uma faixa estreita de solo amarelo, a perna esquerda está dobrada por detrás do joelho direito (ver o Imperador e o Dependurado, numa posição equivalente, que marcam o desejo de concentrar as forças). Ela está no centro da grinalda oval, sucessivamente azul, vermelha e amarela, feita de folhas alongadas com nervuras negras. Um nó cruzado vermelho passa nas duas extremidades. Nos ângulos inferiores da carta, um cavalo cor de carne e um leão de ouro; nos ângulos superiores, uma águia e um anjo: símbolos dos quatro Envangelistas, diz-se normalmente, esquecendo-se que, segundo a visão de Ezequiel, é um boi e não um cavalo (que corresponderá mais tarde a São Lucas). Melhor, sem dúvida, será ver nesta carta os quatro símbolos dos quatro elementos, sendo o cavalo a terra, o leão o fogo, a águia o ar, e o anjo, que parece transportar nuvens, a água fecundante; símbolos também das quatro direcções da bússula e da harmonia cósmica: a águia, símbolo do Oriente, da manhã, do equinócio da Primavera; o leão, símbolo do meio-dia e do solstício do Verão; o boi (aqui, o cavalo), simbolo da tarde, do Ocidente e do equinócio do Outono; o homem (aqui, o anjo), simbolo da noite, do Norte e do solstício do Inverno.

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No plano psicológico pode também esboçar-se uma interpretação: o cavalo é inteiramente cor de carne e é o único a não ter auréola;dado que, no Tarô, esta cor significa o que é humano, parce claro que matéria e carne, sem a auréola da sublimação, são aqui o símbolo do homem, enquanto base e ponto de partida de toda a evolução espiritual. O leão é amarelo, cor solar, mas tem uma auréola cor de carne; estamos ainda no mundo composto de matéria e espírito, na parte de baixo da carta; portanto, o humano domina o animal e a matéria está já em vias de espiritualização. A águia que está no ângulo superior direito, é amarelo dourado como o leão, mas tem duas asas azuis que nos fazem lembrar as do Cupido da carta VI (o Amoroso) e as do Diabo (XV), asas de forças obscuras da alma que podem ser sublimadas ou dirigidas num sentido maléfico, conforme o uso que fizermos do nosso incosciente ou da nossa intuição. Aqui, a sua auréola vermelha ilumina-nos, pois ela simboliza o espírito que domina os instintos. Por último, o anjo, vestido de azul e branco, com asas vermelhas como a sua auréola, que ultrapassa claramente a moldura da carta: simboliza o Espírito, o valor supremo que deve ser motor de toda a acção e o termo final de toda a evolução. Encontramos de novo este vermelho na base, no centro e no topo da grinalda, pois, na sua unidade, o Espírito é ao mesmo tempo o ponto de partida o centro e a conclusão. A personagem central não tem auréola, mas a grinalda que o cerca e na qual se apoia com a mão esquerda tem a forma duma amêndoa: é a mandorla, símbolo da união do céu e da terra, que também envolve quer a Virgem ou Cristo, quer as divindades hindus. Esta mulher não está imóvel: o véu sobre os seus ombros parece estar a ser levantado pelo vento e a sua posição de equilíbrio sobre um pé sugere o movimento gerador das coisas… O Mundo é um turbilhão, uma dança perpétua em que nada pára.

Assim, o vigésimo primeiro arcano simboliza ao mesmo tempo a totalidade do mundo e do homem; o mundo incessantemente criado pelo movimento harmonioso que mantém os elementos em equilíbrio e o homem na sua ascensão espiritual. O mundo assim representado é o símbolo das estruturas eqilibradoras, ou melhor ainda, segundo uma expressãode Gilbert Durand, uma estrutura de antagonismo equilibrado.

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