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Tarô, vidência ou interpretação? Apresentação de Constantino K. Riemma 1º Simpósio de Tarô de São Paulo www.clubedotaro.com.br março.07

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Tarô,

vidência ou

interpretação?

Apresentação de

Constantino K. Riemma

1º Simpósio de Tarô de São Paulo

www.clubedotaro.com.br

março.07

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Quais dons?

Antes de discutir o ponto central – a dança

entre a vidência e o trabalho intelectual –

podemos lembrar de alguns outros nomes

de dons humanos envolvidos na utilização

do tarô:

– experiência,

– conhecimento, estudo,

– criatividade, expressão artística,

– sensibilidade, sensitividade,

– intuição, paranormalidade, mediunidade...

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Quais jogos do tarô?

E não podemos esquecer das inúmeras utilizações

práticas das cartas nos últimos séculos:

– jogos e diversões, passatempos,

– artes, montagens, espetáculos de mágica

– carteado para apostas em dinheiro,

– “up-grade” do ler a sorte pelas mãos,

– cartomancia, magia operativa,

– aconselhamento, terapia,

– livro esotérico, mutus liber...

O assunto se mostra extenso, mas podemos ensaiar

um vôo rápido por algumas situações típicas, a título

de aquecimento e para constatar que vidência é tema

parcial no mundo das cartas...

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Mágicos e castelos de cartas

Dons exigidos:

– habilidade manual, criatividade,

– gosto pelo teatral, pela exibição, pela encenação

surpreendente,

– representar novos papéis, ser o centro de atenções,

– o blefe faz parte da arte,

– dar asas à imaginação

– (quase sem qualquer “contra-indicação”!)...

J.B-Siméon Chardin (Paris, 1699-1779)

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Passatempos (“solitaire”)

Envolve

– exercitar o pensar, a inteligência,

– desafiar a si mesmo, superar barreiras

e dificuldades,

– lazer sem depender de parceiros,

– reforço ao isolamento...

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Jogos de baralho, como lazer em grupo

Como nos esportes de

empenho físico, pressupõem:

– satisfação psicológica e

social por competir e

vencer,

– formação de parcerias,

apoio mútuo,

sociabilidade, aplicação de

estratégias e inventividade,

– capacidade de esconder e

de lidar com as emoções,

– o faz-de-conta e o blefe

– adoção eventual de “os fins

justificam os meios”...

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Jogos a dinheiro

Intensificam certos traços dos jogos de lazer e se

aproximam do jogos do poder:

– excitação, prestígio psicológico e social pelos ganhos

materiais obtidos na “gerra” contra os concorrentes,

– inteligência, estratégia, esperteza, o blefe como norma,

– muitas vezes, um vale-tudo em que o importante é ganhar,

sejam quais forem os meios...

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Ler a sorte, num cenário popular

Aqui também diferentes dons se misturam:

– vidência, paranormalidade, sensitividade,

– encantamento pelo destino, pelo mundo invisível,

– exercício do poder divinatório e mágico (real ou não),

– performance, dom de ser convincente, exercer autoridade

e obter prestígio, com ou sem blefe,

– meio para ganhar a vida, seja de modo ético ou não...

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Cartomancia, num cenário mais reservado

Seus atributos são paralelos aos do “ler a sorte”

– aplicação de dons de vidência,

– gosto pelo jogo de acertar o futuro, exercício do

poder divinatório (real ou não),

– vestir-se de modo inusitado para representar

papéis de mago, de ocultista, bruxo e até blefar,

– meio para ganhar a vida, com ou sem ética...

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Aconselhamento e terapia

Herança dos antigos atributos do poder

religioso-sacerdotal:

– promover a tomada de consciência,

– indicar ou realizar os caminhos da cura,

– descobrir as dinâmicas pessoais,

psicológicas, familiares e sociais,

– gosto pelo exercício do papel de orientador,

sábio, velho mestre,

– obter remuneração,

– riscos de presunção, magister dixit e blefes...

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Esoterismo e ocultismo

Pretende alcançar oitavas superiores às dos

cartomantes e às dos terapeutas, dispensa a vidência

mas envolve, no fundo, os mesmos desafios humanos:

– promover a tomada de consciência espiritual, cósmica,

– descobrir os caminhos da cura e regeneração da alma,

– gosto pelo exercício de papéis sacerdotais de

• orientador, sábio, mestre,

• presidir rituais na condição de mago, esconjurador,

acionador de processos astrais,

• teatralização, uso de trajes e adornos inusitados,

objetos mágicos,

• obter remuneração material ou outra,

• riscos de exacerbação do ego, blefes e enganos fatais...

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Um cenário em aberto

Neste vôo panorâmico pelos atributos humanos

envolvidos nos usos particulares do baralho, foram

cometidos alguns deslizes intencionais:

– não foi feita uma distinção qualitativa entre as

diferentes modalidades de uso do baralho,

• nem do grau de conhecimento e do nível ético dos

usuários;

– não se levou em conta a fragmentação do tarô

• em arcanos, baralho “comum”, lenormand-cigano;

– e as afirmações foram apenas lançadas, sem

fundamentação.

Não vamos nos deter neste cenário em aberto, por não

ser o objetivo central desta exposição, mas fica o convite

aos participantes do Simpósio para encaminharem seus

comentários e observações ao Clube do Tarô.

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O aprendizado x vidência

Há uma antítese coletiva na relação com tarô, que se

torna clara nas aulas destinadas aos iniciantes.

– De um lado, há o reconhecimento de uma linguagem

simbólica que pode ser estudada e compreendida

– e, de outro, revela-se um obscuro temor, de estar

tocando em searas dúbias, coisas de bruxas(os), que

envolvem manipulações perigosas da alma humana.

• É freqüente os iniciantes manifestarem preocupação

com a gravidade do que irão dizer numa futura

leitura de cartas, mesmo quando a pessoa se mostra

comunicativa e dá habitualmente palpites para todos

os que se encontram ao seu redor!

Podemos ler esse fato como um indício da ambigüidade

dos condicionamentos culturais (egrégoras, arquétipos),

– mas também como uma possível mobilização de

seriedade suscitada pelas cartas!

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Pitonisa e sacerdote

Essa dicotomia entre o estudo metódico dos símbolos e

a revelação do oculto por vias psíquicas, inconscientes,

não constitui uma conseqüência da vida moderna.

– Basta lembrar o Oráculo de Delfos (1100 a.C):

• a captação ficava a cargo das pitonisas, em transe,

• enquanto que a tradução das mensagens constituía

atributo dos sacerdotes.

Esse exemplo pode ser entendido como uma indicação

de que, na função oracular, a vidência deve submeter-

se à qualificação do conhecimento e da experiência.

Os tarólogos e cartomantes modernos tentam reunir as

duas funções, mas a gradação e combinação entre

intuição psíquica e o saber consolidado pela

experiência são, na prática, extremamente variados.

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Uma tentativa de situar o dom

Para tentarmos entender o dom intuitivo

que se encontra fortemente associado ao

uso do baralho, em particular no campo

da cartomancia, algumas idéias podem

servir de apoio:

– a Lei de Três,

– a Quadruplicidade

• os elementos e os temperamentos.

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Lei de Três e os níveis do ser

Na visão ocidental, cristã, o homem é constituído de

– espírito (nível superior) meta dos sábios, dos

sacerdotes e buscadores, dos religiosos em geral,

– corpo (nível material), o assunto implacável e em

nossas vidas,

– alma (nível intermediário) mundo do psicológico, do

emocional, dos desejos e anseios;

• retratada nas artes, nos espetáculos coletivos,

• e estudada pela psicologia e pela astrologia.

Tudo indica que quando falamos de dons, como

vidência, mediunidade, sensitividade, estamos na

maior parte das vezes focando esse nível do meio.

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A tríade humana: espírito, corpo e alma

Corpo e Espírito: dois círculos que não

ultrapassam o centro do outro.

– A Alma – área de intersecção entre os

dois círculos (mandorla) – representa o

nível intermediário do Homem,

– ou seja, não é em si nem o puro Espírito

nem a base orgânica, que temos em

comum com os demais seres vivos;

– constitui o espaço de entrelaçamento

das duas naturezas: a celeste e a

terrestre.

O trigrama (I Ching) fala de um outro ângulo

desse mesmo princípio: o Homem, linha média,

cumpre a função de unir o Céu e a Terra.

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A quadruplicidade e os tipos

Um importante fator de diferenciação entre os

seres é dado, em grande parte, pela distribuição

desigual dos atributos essenciais ou tipos:

Elemento

Naipe

Temperamento Nome moderno

para o tipo

fogo

paus

colérico intuição

(inspiração)

terra ouros melancólico sensação

ar espadas sanguíneo pensamento

água copas fleumático sentimento

Algum desses tipos teria prevalência sobre os

demais quanto à intuição, sensitividade, vidência?

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Modalidades de intuição?

Se admitirmos a quadruplicidade de canais ou veículos

para a captação da realidade sutil podemos afirmar que

cada tipo ou temperamento tem sua especialidade

intuitiva

– paus, fogo: inspiração, revelação, arrebatamento,

• estímulo para colocar em ação e superar;

– ouros, terra: convicção confirmada pela sensação, pelo

grau de substancialidade, do sentir no corpo

• estímulo à persistência e a concretização;

– espadas, ar: lampejo, insight, revelação pelas palavras

e idéias;

• estímulo para conhecer e prever;

– copas, água: visões, sentimentos, pressentimentos;

• estímulos para o acolhimento e a doação.

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Intuição e elaboração do conhecimento

O interesse pela pelo tema da intuição/conhecimento

depara-se com duas frentes de estudo:

– compreender melhor as características de cada tipo

isoladamente e o efeito de suas combinações;

– descobrir os caminhos para educar, desenvolver,

integrar esses diferentes dons que, por

permanecerem num estado apenas potencial,

infantil, são quase sempre negados, desconsiderados.

A plena superação da aparente dicotomia entre

intuição e compreensão não se faz de modo súbito

– passa necessariamente pelo intercâmbio entre os

que buscam na mesma direção,

– e a persistência no tempo tem seu papel a cumprir.

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Finalmente, a evidência

Na verdade, não precisamos criar sistemas ou inventar

máquinas sofisticadas para harmonizar os diferentes

conhecimentos.

– A Idade de Ferro não dispõe de recursos para tanto.

– A nossa possível salvação depende do encontro de

legados da Idade de Ouro – como é o caso das

linguagens simbólicas – que nos estimulam a decifrar

seus ensinamentos.

O Tarô, muitos sentem assim, faz parte dessa corrente

de transmissão que ainda resiste, em certa medida, à

corrosão dos tempos sombrios.

– Seria um dos Mutus Liber ao nosso alcance, com

símbolos que nos alimentam com impressões sutis,

indispensáveis para dar um norte à aspiração de busca

daquilo que se encontra além da nossa visão imediata.

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Clube do Tarô

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1º Simpósio de Tarô de São Paulo

31.março.2007