Surpresa! O que você faz não é estratégia
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Surpresa! O que você faz não é estratégia
Paulo Floriano (texto publicado no site da revista Widei)
Tenho visto nos últimos tempos um crescimento do uso do termo “estratégia” para designar o trabalho de muita gente. Estratégia de mídias sociais, estratégia de internet (ou “webstrategy”), estratégia digital, estratégia de UX, ou simplesmente estratégia. Este termo com certeza traz muito mais peso para um determinado trabalho. Se é estratégico, foi mais profundo, custou mais, trouxe mais resultados. O termo “estratégia” parece dar um upgrade no nosso trabalho; nos faz sentirmos mais importantes, mais bem pagos. Mais especiais perante o mercado. Mas será que estamos usando este termo da forma correta? Ou o estamos usando apenas para inflar os nossos egos (e tentar inflar nossos bolsos)?
Nesses anos de mercado de internet já vi muita gente falando que está atuando na estratégia de um determinado projeto ou produto. Desses, poucos – muito poucos mesmo – realmente o estavam fazendo.
Como eu sei disso? Bom, pra começar, minha formação original é em administração. E daí, certo? Se a academia não me ensinou ao menos o que é estratégia ou como fazer, pelo menos me ensinou a conseguir enxergar quando algo não é. E olha, é difícil ouvir alguém falando que o que está fazendo é estratégia. Assim como dói aos designers quando alguém se diz “design”, ou que faz “designer”. Além disso, tenho trabalhado ao longo dos anos em projetos focados em entender o contexto organizacional e de mercado e apresentar soluções que fossem realmente alinhadas com os objetivos de negócio. Aprendi, na prática, o que é trabalhar com estratégia.
Para alguns profissionais de arquitetura de informação, UX e afins, tudo o que não é elaborar protótipos, wireframes e fluxos é estratégia. Ou seja, pra esses, elaborar relatórios de pesquisa, personas, roadmaps, e outros documentos desse tipo é participar da estratégia de um produto. Eis a realidade: não é.
Você só define a estratégia de alguma coisa quando participa de sua concepção. Entende o negócio, as
diretrizes da organização, o mercado, os clientes, a cultura da empresa e seus limitantes. E a partir disso, cria o delineamento de um produto a partir de objetivos específicos, a partir de um budget específico e com propostas de valor bem definidas para grupos de usuários específicos – tudo isso mensurável no mundo real. Tem muito a ver com projetar uma visão de futuro para algo – um produto, uma empresa, uma área, etc.
Se você já recebe esta parte do trabalho pronta, você não está fazendo estratégia. O que vem depois é a parte mais tática do trabalho: detalhar as features, as métricas associadas, as interações, etc. E o restante do processo é a operacionalização do que foi definido.
Vale a pena explicar: não estou desmerecendo o trabalho que vem depois da estratégia, muito longe disso. Nem sempre conseguimos participar do processo de definição da estratégia de alguma coisa, e às vezes entrar focado em um projeto, só pra fazer uma validação com usuários ou para elaborar um protótipo, já é legal o suficiente. Ninguém deve ter vergonha de “sujar as mãos”, muito pelo contrário.
Além disso, a minha opinião é de que ainda existe muito preconceito de profissionais de UX, arquitetura de informação e internet em geral em relação à temas relacionados a negócios e gestão. Como as disciplinas de UX, AI, etc. são uma derivação natural de áreas como design, biblioteconomia, etc., existe uma certa desconexão entre estes temas e gestão/administração.
Em determinados momentos, vejo que a estratégia organizacional e a experiência do usuário são questões opostas – ou se tem um, ou se tem o outro. Nesse caso, as organizações estão sempre querendo “coagir” os usuários, persuadi-‐los a fazer coisas que eles não querem.
É uma grande pena, pois sempre estamos falando em como vender design, fazer com que os níveis mais altos
da empresa entendam o valor da usabilidade, da experiência do usuário, entre outras coisas. Na verdade, nós só conseguiremos fazer isso quando conseguirmos falar a linguagem de negócios. Pra mim, a questão é simples: melhora na experiência = melhora nos resultados. Estratégia e experiência são temas totalmente interdependentes.
Pra saber um pouco mais sobre estratégia: acesse essa lista de livros focados no tema, que criei no uxzeitgeist: http://rosenfeldmedia.com/uxzeitgeist/lists/prfloriano/hardcore-‐business-‐books
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i http://www.revistawide.com.br/index.php/surpresa-‐o-‐que-‐voce-‐faz-‐nao-‐e-‐estrategia/