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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA
JENIFFER DE LÁ ROQUE ESQUERDOPRYSSYLLA RELLEN DA SILVA CORDOVIL
HISTÓRIA E MEMÓRIA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS: UM PASSADO QUE SE FAZ PRESENTE.
BELÉM-PARÁ2010
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA
JENIFFER DE LÁ ROQUE ESQUERDOPRYSSYLLA RELLEN DA SILVA CORDOVIL
HISTÓRIA E MEMÓRIA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS: UM PASSADO QUE SE FAZ PRESENTE.
Trabalho de conclusão de curso apresentado para a obtenção de Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, sob orientação do Profº. Doutorando Rui Júnior.
BELÉM-PARÁ2010
JENIFFER DE LÁ ROQUE ESQUERDOPRYSSYLLA RELLEN DA SILVA CORDOVIL
HISTÓRIA E MEMÓRIA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS:
Trabalho de conclusão de curso apresentado para a obtenção de Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, sob orientação do Profº. Doutorando Rui Júnior.
Data da defesa: ____/____/ 2010
Banca examinadora:
_______________________________Orientador Rui JúniorMestre em História Social da AmazôniaUniversidade Vale do Acaraú
_______________________________Profª MS. Edivânia AlvesUniversidade Vale do Acaraú
_______________________________Profª MS. Patrícia CavalcantiUniversidade Vale do Acaraú
BELÉM-PARÁ2010
Á Deus, por nos proporcionar mais uma realização em nossa vida.Á nossos familiares e amigos (que é difícil apontar cada um, mas todos sabem o grau de importância em nossa vida) que nos deram forças para que chegássemos até aqui.
Agradecemos á todos os professores da Universidade, pela contribuição que tiveram á nossa formação acadêmica.
Á ajuda dos professores da E.E.F.M Deodoro de Mendonça: Vera, Felipe e Rosângela, que nos auxiliaram durante todo o estágio.
Aos alunos do segundo ano da referida escola, que participaram com muito entusiasmo, contribuindo com muito carinho de nossa pesquisa de campo.
Não podemos deixar de lembrar da colaboração relevante que tiveram os membros da APL, pois foram muito receptivos, quando responderam às entrevistas e contribuíram sobremaneira para o sucesso de nosso trabalho.
“O passado só tem sentido se for um passado presente, um passado que ilumine a gente hoje para as ações futuras”.
Renato Borghi
“A poesia não oferece respostas ou soluções para os problemas da realidade; convida a refletir sobre nós mesmos, agindo no vácuo entre o que acontece e o que gostaríamos que acontecesse”.
Seamus Heaney
“Literatura é um fenômeno cultural e histórico e, portanto, passível de receber diferentes definições em diferentes épocas e por diferentes grupos sociais”.
Márcia Abreu
RESUMO
O presente trabalho aponta a Academia Paraense de Letras como um centro de memória da cidade de Belém na atualidade, pois no que concerne a disseminação da cultura em seus múltiplos sentidos esta se apresenta como fomentadora deste processo, pois abriga em seu seio memórias dos membros mais antigos ainda vivos desta instituição centenária nascida na Amazônia em maio de 1900, bem como suas atividades voltadas para a sociedade paraense, além de considerarmos suas produções literárias como fontes históricas. Nesse sentido, as reflexões de voltam para a História e memória desta instituição ao longo do tempo, sobretudo na cidade de Belém a partir do século XIX, tendo como foco as profundas transformações porque passou esta cidade no mundo das ideias, da cultura, da urbanização como também a formação de uma elite nacional, sinônimos de modernidade. E discutimos a ideia de que o distanciamento e desconhecimento de grande parte das pessoas de nossa sociedade á esta instituição se dá por sua impenetrabilidade histórica a esse espaço de cultura. Palavras-chave: História; Memória; Literatura; presente-passado-futuro; ensino.
ABSTRACT
The present work points the Academy Paraense de Letras as a center of memory of the city of Belém in the present time, therefore with respect to dissemination of the culture in its sensible multiples this if presents as fomentadora of this process, therefore it still shelters in its seio memories of the members oldest livings creature of this been born centennial institution in the Amazonians in May of 1900, as well as its activities directed toward the paraense society, beyond considering its literary productions as historical sources. In this direction, the reflections of come back toward History and memory of this institution throughout the time, over all in the city of Belém from century XIX, having as focus the deep transformations because it passed this city in the world of the ideas, the culture, the urbanization as well as the formation of the national elite, synonymous of modernity. E we argue the idea of that the distanciamento and unfamiliarity of great part of the people of our society to this institution if of the one for its historical impenetrability to this space of culture.
Word-key: History; Memory; Literature; gift-past-future; education.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................10
1. CAPÍTULO I - UM SUCINTO DIÁLOGO COM OS TEÓRICOS............................. 18
1.1 As Academias de Letras pelo mundo ................................................................................ 22
1.2 As Academias de Letras no Brasil ....................................................................................25
1.3 A Academia Paraense de Letras: um passado que se faz presente ....................................31
2. CAPÍULO II - LITERATURA: FONTE FECUNDA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA............................................................................................................................. 37
2.1 Analisando os dados coletados ......................................................................................... 39
2.2 Perfil dos alunos entrevistados .......................................................................................... 40
2.3 Análise das respostas dos alunos ...................................................................................... 41
2.4 Perfil e análise dos questionários dos professores entrevistados ...................................... 46
3. CAPÍTULO III- HISTÓRIA E LITERATURA: O ALUNO INTERPRETANDO A
HISTÓRIA A PARTIR DE TEXTOS LITERÁRIOS.........................................................50
3.1 Uma Proposta para desenvolver o ensino de História através da Literatura em sala de aula........................................................................................................................................... 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................58
ANEXOS ................................................................................................................................ 59
FONTES E
REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 60
INTRODUÇÃO
“[...] Esperamos continuar com a mudança de filosofia de nossas atividades, iniciada pelo nosso confrade Hilmo Moreira, durante os três mandatos exercidos na presidência, fazendo da mesma um centro de atividades culturais. Adaptar o seu desenvolvimento ao mundo contemporâneo, numa revolução que modificou os antigos padrões acadêmicos. Abrir-se as portas para todos os que interessam pelas artes literárias, deixando de lado o isolamento que fazia dos que não a conheciam e olhavam como um ambiente impenetrável [...].”1
Em maio de 2000, no teatro Margarida Schiwazzappa, do centro de cultura paraense,
em comemoração ao primeiro centenário da Academia Paraense de Letras (1900-2000) foi
feito o discurso acima pelo presidente eleito, Sr. Almir de Pereira Lima. Seu discurso nos
possibilita fazer uma viagem pela história e memória desta instituição centenária que muito se
modificou ao longo do tempo, para tanto nos propondo a sondar a memória de alguns de seus
membros que veem este espaço como “a prazerosa casa de meu reabastecimento cultural”2 e
também de uma parcela da sociedade que ainda veem este espaço como um “ambiente
impenetrável”. É neste sentido que nossa pesquisa nos permite dialogar com as lembranças e
experiências dessas pessoas, pois “a memória, onde cresce a história, que por sua vez a
alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro” (LE GOFF, 1990,
p.477).
A APL foi considerada por muitos o “órgão mais antigo da cultura Amazônica”.
Apesar de ser um órgão antigo, poucos são os que conhecem o interior desse ambiente bem
como suas atividades desenvolvidas na cidade de Belém, por isso a importância de mudança
de filosofia e de adaptação ao mundo contemporâneo presentes em seu discurso. Visto que
são homens e mulheres que compõem 40 cadeiras, divididas entre sócios efetivos e perpétuos
e que além de literatos muitas vezes exercem o papel de um historiador: analisam a sociedade
em que vivem e escrevem sobre ela recriando-as nas palavras. Pois:
“Não há artista completamente indiferente à realidade, pois, de alguma forma, todos participam dos problemas
1 LIMA, Almir de Pereira. Revista da Academia Paraense de Letras. Vol. 41. Belém-pará, 2002.
2 Pedro Roumié. Em resposta a entrevista feita pela revista cultura em maio de 2008, p. 28.
vividos pela sociedade, apesar das diferenças de interesses e de classe social. Assim, a obra literária é um objeto vivo, resultado das relações dinâmicas entre escritor, público e sociedade. E como outras obras de arte, ela não só nasce vinculada a certa realidade, mas, também pode intervir nessa realidade, auxiliando no processo de transformação social. Por vezes, a literatura assume formas de denúncia, de crítica á realidade circundante. Dizemos então, que se trata de uma literatura engajada, que serve a uma causa político-idelogica ou a uma luta social” (SILVA, 2009, p. 19)
Como artistas e homens de seu tempo, compreendem as mudanças ocorridas no
mundo e como elas modificaram os antigos padrões, sejam eles: políticos, econômicos,
culturais e sociais. Entre essas transformações está o livre acesso de todas as camadas sociais
a um espaço como uma Academia de Letras, até então pensada e freqüentada por uma elite.
Mas essa questão da impenetrabilidade da sociedade ou parte dela nesses espaços de
cultura não são questões contemporâneas mais advindas desde o inicio do processo de
reurbanização que atingiu a cidade de Belém, como também a entrada de “um novo ideário
positivo-evolucionista em que os modelos raciais de análise cumprem um papel fundamental”
no final do século XIX e inicio do XX, que de acordo com Maria de Nazaré Sarges:
“Assinalando a inserção do Brasil na era da modernidade, defronta-se com os componentes básicos desse processo, como a industrialização, a divisão técnica do trabalho, a urbanização, a formação de uma elite nacional, indicadores do progresso, elemento sintonizador da nossa sociedade com as modernas sociedades “civilizadas”.” (SARGES, 2000, p.15)
Em decorrência dessas questões a Academia Paraense de Letras era vista como um
espaço seletivo para essa elite, que acabavam por excluir uma parte significativa da sociedade
paraense. Essa nova onda de modernidade deixou bem clara os antagonismos existentes em
um país miscigenado como o nosso. Modernidade essa que “pode ser resumida assim:
tivemos um modernismo exuberante com uma modernização deficiente” (CANCLINI, 2003,
p.67) o que significa dizer que houve grandes desenvolvimentos científicos, artísticos e
urbanos, porém poucos tinham acesso aos mesmos. Para Renato Ortiz em seu livro Cultura e
Modernidade: a França no século XIX discute claramente como era vista essa modernidade
no século XIX e podemos a partir daí tentar compreender o que viria a ser esta tão sonhada
modernidade também em Belém do Pará, visto que esta cidade se modelou pelos hábitos
europeus, vivendo também sua Belle Èpoque, não perdendo de vista que um movimento
histórico não é monolítico, mas assume diversas formas de região para região. E é dessa
forma que o autor descreve essa modernidade:
“Afinal, este é o momento em que a França torna-se uma sociedade moderna. Período no qual se consolida uma imprensa de massa, uma literatura popular, e emerge uma cultura de entretenimento que se consubstancia no cinema, nos cafés-concertos, no show business (...). Outros temas surgem ainda neste final de século, “conforto”, “informação”, aos poucos eles se constituem em elementos- chaves da própria organização cultural e material da sociedade” (ORTIZ, 1998, p. 53).
A partir da definição de Ortiz, acima citado, essa modernidade tão almejada por
diversas sociedades que tinham a França como modelo de desenvolvimento, passam a adotar
esta ideologia da modernidade, tentando estabelecê-la a qualquer custo. Portanto essa questão
vai muito além ou muito aquém de meros conceitos, pois muitas sociedades viveram este
período áureo, mais ainda com muitas permanências anteriores, sobretudo no Brasil que
continuava com muitas amarras ao passado. Trazendo á tona mais contrastes do que
propriamente conforto e informação á sociedade deste período.
E para que se compreenda o discurso dessas instituições e seus objetivos necessitamos
recorrer à historiadora Lilia Schwarz em seu livro O Espetáculo das raças, onde aponta o
Brasil como “um grande laboratório racial” e como essas questões influenciaram os nossos
intelectuais entre eles: cientistas, juristas, médicos, literatos, naturalistas, políticos, etc., os
quais espalharam “pela sociedade brasileira noções de superioridade racial e o estigma do
pessimismo quanto ao futuro de uma nação mestiça” (SCHWARCZ, 1993, p, 18). E grande
parte das experiências deste laboratório foram organizadas e elaboradas nestas diversas
instituições de saber.
Por isso, pensar o processo de criação de uma Academia de Letras na cidade de
Belém, no final do século XIX e inicio do XX, pressupõe compreender a transformação pela
qual passava o mundo das ideias, da cultura, da urbanização como também a formação de
uma elite nacional, sinônimos de modernidade. Neste sentido, pensava-se que as Instituições
de caráter científico e literário:
“Cumpriria o papel que lhe fora reservado, assim como os demais institutos históricos: construir uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos de fundação, ordenar fatos buscando homogeneidades em personagens e eventos até então dispersos. Exemplos longínquos dos centros do Velho Mundo, no Brasil, os institutos se proporão a cumprir uma tarefa monumental: “Colligir, methodizar e guardar” (RIHGB, 1839/1) documentos, fatos e nomes para finalmente compor uma história nacional para este vasto país, carente de delimitações não só territoriais” (SCHWARCZ, 1993, p. 99)
Foram na essência destes institutos que a elite letrada produziu trabalhos, obras,
teorias que permeavam o mundo, o Brasil e conseqüentemente, Belém. Os escritos deste
período estavam impregnados destas teorias raciais que de acordo com Schwarcz “esses
cientistas viviam em suas instituições a certeza de estarem ditando os destinos da nação”
(SCHWARCZ, 1993, p. 22). Para tanto, embebidos por ideias estrangeiras esses cientistas
passam a adotar seus critérios de seleção, para que essa nação tivesse um bom destino
baseavam-se no evolucionismo social para tentar explicar o atraso brasileiro em relação ao
mundo. Deste modo, tomando como referência essas teorias disseminadas, sobretudo através
da literatura deste período que viam grande parte da sociedade como “classes perigosas”, que
nos remetem a pensar o porquê do distanciamento de grande parte dessa sociedade hoje a
esses espaços de cultura. Então o que vem a ser cultura? Para o historiador Peter Burke,
cultura:
“é um conceito com uma embaraçosa gama de definições. No século XIX, o termo era empregado genericamente como referencia às artes plásticas, literatura, filosofia, ciências naturais e música, prestando-se ainda a exprimir uma consciência cada vez maior das formas pelas quais as artes e as ciências são moldadas pelo meio social (Kroeber & Kluckhohn, 1952; Willians, 1958). Essa consciência crescente levou à ascensão de uma sociologia ou história social da cultura. Essa tendência demonstrou-se essencialmente marxista ou marxiana na forma de tratar a arte, a literatura e a música, entre outras manifestações, como um tipo de superestrutura, refletindo mudanças na “base” econômica e social” (BURKE, 2002, p. 16).
Como afirma o autor, essas manifestações culturais: arte, literatura e música eram
consideradas “um tipo de superestrutura”, que segundo a teoria de Marx seria: o Estado, a
Igreja e as forças armadas que em sua maioria freqüentavam essas manifestações culturais,
deixando conseqüentemente a “base” da pirâmide: o povo, á margem das transformações pela
qual passava esta cidade. As ideias que permeavam neste momento eram que sustentavam a
manutenção do Estado e sua ordem, criavam inúmeras leis e nestas grande parte da sociedade
não se beneficiavam ou não tinham direitos ou civilidade para adentrar nestas manifestações
culturais. Conseqüentemente se distanciavam cada vez mais destes espaços, pois não se
identificavam com os padrões pré- estabelecidos pelos mesmos, visto que “a identidade está
profundamente envolvida no processo de representação” segundo (HALL, 2001, p.71).
A criação desta Instituição não se deu aleatoriamente, pois em decorrência da
intensificação e valorização da extração da borracha na Amazônia dedicada ao mercado
externo, o número de imigrantes cresceu assustadoramente exigindo um maior investimento
em políticas publicas “(...) não somente a reordenação da cidade através de uma política de
saneamento e embelezamento, mas também a remodelação dos hábitos e costumes sociais”
(SARGES, 2000, p.16). Sobretudo um corpo de intelectuais para que se adequassem aos
padrões de uma cidade civilizada. William Gaia Farias chega a afirmar que:
“Nesse contexto, no final do século XIX e inicio do XX, a sociedade amazônica passou a sofrer intensamente as influencias européias provenientes principalmente, de Paris. O modelo de organização e civilização francês passou a ser adotado pelos governos e elites amazônicas que insistiram em copiar as elites dos grandes centros industriais. Costumes, modo de vida, valores, forma de vestir e de se apresentar em publico foram assimiladas dos países europeus. Com isso as elites amazônicas acreditavam estar alcançando a modernidade” (FARIAS 2007, p. 79).
Por isso, este trabalho se propõe a discutir a história e a memória dessa instituição
centenária, nascida na Amazônia neste período a fim de melhor entendermos o de sua
finalidade para a sociedade paraense na atualidade, tendo como foco a relação da instituição
com a sociedade no recorte temporal de 1999 a 2009, levando em consideração sua
contextualização histórica.
É, portanto, objetivo deste trabalho sondar a memória dos membros (acadêmicos)
desta instituição, e de algumas pessoas desta cidade, sobretudo os que transitam próximo a
ela. Para que possamos a partir destas memórias e opiniões entender como os acadêmicos
pensam hoje esse espaço e como a sociedade os vê. Visto que “a memória é um elemento
essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das
atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia” (LE
GOFF, 2003, p.469).
Apresentaremos ao mesmo tempo alguns projetos e concursos literários que
acontecem no decorrer do ano, como também algumas obras produzidas nesta instituição,
mostrando que é possível conhecer a história de uma sociedade através do estudo de sua
história local, sobretudo seus patrimônios, memórias e escritos. Pois “além da memória das
pessoas, escrita ou recuperada pela oralidade, existem os lugares da memória”, é o que nos
revela (BITTENCOURT, 2004, p. 169). E podemos apontar como um destes lugares de
memória - uma Academia de Letras, que abriga em seu cerne múltiplas histórias de homens e
mulheres que são frutos de seu tempo bem como seus escritos.
O que nos instigou a realizar esta pesquisa foi perceber que a Academia Paraense de
Letras, bem como seus projetos apesar de ter uma relevância social no sentido da preservação
da memória da instituição e de seus membros e da disseminação da cultura paraense hoje, não
se limitando a literatura, mas utilizando o seu espaço para a divulgação da mesma recorrendo
a outras expressões artísticas como: música, danças, teatro, entre outros. Uma grande parcela
da sociedade não a reconhece como tal, não se sentindo pertencente a esse espaço justamente
por ter sido estigmatizada historicamente como um espaço reservado á uma elite letrada.
Por isso percebemos através desta pesquisa que hoje a instituição tenta fazer um
trabalho muitas vezes árduo, para que uma parcela significativa da sociedade até então
excluída deste processo, tenha acesso e participação nela, e demonstra isso através de:
projetos, revistas, encontros, semanas culturais e concursos literários, tentam aproximar a
Academia da sociedade paraense, tanto na capital como no interior, é o “abrir-se as portas
para todos...” segundo seu discurso.
Diante da questão colocada, este trabalho remeteu a uma pesquisa documental
imprescindível para que se compreenda o processo de criação dessa Academia, mas a
ausência de arquivos organizados foi nosso primeiro obstáculo. No seu arquivo encontramos
apenas separatas de (concursos literários, discurso presidencial, a maior vitória da academia),
e convites, pois tudo o que se passou antes “se perdeu na voragem do tempo, nada ficou
registrado em ata o da sua inauguração” 3.
Contudo utilizaremos para analise além das citadas acima: notícias de jornais como: A
Folha do Norte (1900), A Província do Pará (1900 e 2000), O Liberal (2000), entre outros,
como também a própria Revista da Academia, onde se registra os acontecimentos da mesma
como: entrevistas com Acadêmicos, relatórios de suas atividades, poesias, contos, os
encontros ente a Academia e escolas, eventos culturais, entre outros, para que se compreenda
essa interação: Academia & sociedade.
3 FRANCO, Georgenor. História da Academia Paraense de Letras. 1979. Vol.2.
Os jornais pesquisados foram importantes, pois através de seus discursos forneceram a
visão que a imprensa tinha e tem sobre a APL. Apesar de um número reduzido de documentos
organizados na própria instituição, encontramos em outros centros de pesquisa as primeiras
revistas da APL publicadas em Belém. Localizamos nestes jornais uma pequena quantidade
de noticias sobre a APL, surge poucas vezes, em sua maioria quando o da comemoração de
seu aniversário.
A periodização definida como recorte temporal foi do ano de 1999 a 2009, pelo fato de
ser final do século XX e inicio do XXI (história do presente) e a partir daí analisar a
Academia Paraense de Letras como um Centro de Memórias, pois além de ser uma instituição
centenária continua com suas atividades ativas na sociedade através de seus membros
(acadêmicos) e memorialistas do passado como: Alonso Rocha, Pedro Roumié, Jurandyr
Bezerra, Hilmo Moreira, entre outros que guardam em sua memória e em suas obras
momentos de grandes emoções e melancolias vivenciadas neste espaço de cultura. O que nos
leva á compreender o porquê da denominação de “imortais”, salvo que muitos desses homens
de letras apesar de terem ido para uma outra dimensão que não esta, suas obras permanecem
vivas na memória destes que ainda estão entre nós e conseqüentemente repassadas á
sociedade.
Isto nos leva a estruturar este trabalho em três capítulos, sendo que o primeiro consiste
numa abordagem histórica das Academias de Letras ao longo do tempo, em momentos
diferentes, desde sua origem até os dias atuais, procurando oferecer conceitos, teorias e
trajetórias auxiliadas de fundamentação teóricas, envolvendo a história, memória, literatura,
ensino e presente-passado-futuro. Com o intuito de contribuir para a conservação da história e
memória da APL em Belém, baseado em fontes documentais, orais e pesquisa de campo.
O segundo capítulo, “Literatura: fonte fecunda para o ensino de História”, compõe-
se de uma discussão teórica sobre o ensino de história na sala de aula e análise dos
questionários respondidos por alunos e professores da Escola Estadual Deodoro de Mendonça
interpretando se a questão da interdisciplinaridade tem sido aplicada ou não no currículo
escolar nas instituições de ensino, no caso a utilização da literatura como fonte para o ensino
de história.
No terceiro e último capítulo, desenvolvemos um projeto de intervenção com o tema
“História e Literatura: o aluno interpretando a história a partir de obras literárias”
direcionados aos alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Deodoro de
Mendonça. Conforme averiguamos durante a pesquisa e aplicação deste projeto, estes
discentes demonstraram um diversificado interesse e algumas dificuldades na temática em
estudo. Essas análises nos levaram a hipótese de que no contexto atual, está havendo uma
ínfima utilização de diferentes fontes de informação dentro da sala de aula como requisito
presente nos currículos educacionais e os resultantes desta pesquisa poderão servir como
auxilio para futuras possibilidades de análises a partir deste campo.
Partindo desses pressupostos, procuramos fazer uso de obras literárias nos conteúdos
de história, possibilitando aos alunos um conhecimento mais rico e dinâmico, mostrando a
importância de valorizar a história e memória de obras e escritores, sobretudo os da sociedade
belenense, além de despertar a reflexão crítica dos mesmos acerca do assunto em questão.
CAPÍTULO I - UM SUCINTO DIÁLOGO COM OS TEÓRICOS
[...] Já foi sugerido que quando os historiadores começaram a fazer novos tipos de perguntas sobre o passado, para escolher novos objetos de pesquisa, tiveram de buscar novos tipos de fontes, para suplementar os documentos oficiais. (BURKE, 1992, p.25.).
Pensando na ideia, de se buscar novas fontes, evidenciadas por Burke, nos deteremos
em analisar uma das que hoje integram o repertório destas: a Literatura. Apesar é claro de que
esta já muito utilizada nos séculos anteriores, não deixa de ser hoje considerada por muitos,
como fonte histórica sem causar qualquer polêmica, refletindo como um espelho a imagem de
uma sociedade com seus conflitos, cotidiano, paixões e conquistas. Desse modo, para um dos
fundadores da Nova História, “a história é uma ciência, mas uma ciência que tem como uma
de suas características, o que pode significar sua fraqueza mas também sua virtude, ser
poética, pois não pode ser reduzida a abstrações, a leis, a estruturas”. 4
Procuramos focar nossa pesquisa na história e memória da Academia Paraense de
Letras em Belém do Pará e conseqüentemente em algumas obras produzidas em seu interior,
mostrando como estas contribuíram para um imaginário amazônico. Arriscamo-nos a entrar
nesta jornada, por hoje termos a oportunidade de utilizarmos desses recursos dentro dos novos
paradigmas historiográficos.
Essa nova maneira de entender a história é lançada ainda no século XIX na França,
pela Escola dos Annales, surgindo dessa maneira uma nova visão para se fazer história. A
proposta desta nova face da história é justamente substituir a história positivista baseada
apenas em documentos oficiais por novas possibilidades interpretativas através dos inúmeros
aspectos presentes em uma sociedade. Dessa forma a Nova Escola possui um papel
fundamental para essa nova história: “[...] ela afirma a fecundidade das múltiplas
contribuições, a pluralidade dos sistemas de explicação para além da unidade de
problemática. Ela pretende ser uma história escrita por homens livres ou em busca de
liberdade, a serviço dos homens em sociedade” (LE GOFF, 2005, p. 26).
Nesse sentido a História positivista antes focada em fatos isolados, sendo sua maior
preocupação uma história meramente narrativa dos fatos, dos feitos dos grandes homens,
datas e política, agora tem outras perspectivas historiográficas. O que anteriormente não era
considerado história, hoje toda ação humana passou a ser vista como história: o medo, o amor,
a loucura, a morte, a moda, entre outros, que nos levam a conceber o cotidiano não mais como
4 BLOCH, Marc. Apologia da História, ou, Ofício de historiador. 2001. Ed. Jorge Zahar. p. 19.
meros expectadores da história, mas agentes da mesma com uma pluralidade de ideias,
costumes, crenças e conceitos.
Para tanto a Escola dos Annales proposta pelos historiadores franceses Marc Bloch e
Lucien Febvre apontam novos rumos para a historiografia a partir de 1929, em suas
abordagens para o estudo da história, trouxeram contribuições que persistem até os nossos
dias e que tem a cada dia um número maior de adeptos. Uma destas contribuições foi propalar
a caráter da história como ciência, não mais uma ciência puramente passadista, fazem,
sobretudo um convite ao historiador “inspirar-se nos problemas colocados pelo tempo
presente, no qual ele vive, pensa e escreve [...]. O presente ajuda a pesquisa do passado e
permite valorizar uma história-problema e enriquecer o conhecimento do passado” (DOSSE,
2003, p. 100).
Esse é um dos pontos a serem explorados dentro da nossa pesquisa, mostrando uma
história-problema do presente que nos leva a abrir as cortinas do passado, com maiores
possibilidades de interpretação e sujeitos históricos nela presentes. Pois a história não tem um
único sentido, nem uma mesma interpretação, muito menos uma linearidade dos
acontecimentos, ela desenvolve seus próprios conceitos e fontes de trabalho, abandonando
nesse sentido modelos elitistas previamente construídos, como nos aponta Vainfas:
“Por outro lado, a compensar aquelas tendências um tanto empiricistas e negativas das mentalidades, buscou-se afirmá-la como a história a mais aberta possível à investigação dos fenômenos humanos no tempo, sem excluir a dimensão individual e mesmo irracional dos comportamentos sociais, e procurando resgatar os padrões menos cambiantes da vida cotidiana, mormente o universo de crenças ligadas ao nascimento, à morte, aos ritos de passagem, ao corpo, aos espaços e ao tempo. Vem daí a afirmação tantas vezes reiterada de que todo e qualquer documento se pode prestara uma pesquisa de mentalidades [...], pode também iluminar importantes aspectos dos modos de sentir e pensar da sociedade estudada” (VAINFAS apud FLAMARION, 1997. p. 110) 5
Tendo como base os enunciados de Vainfas, esta nova historia das mentalidades, que
tem adeptos desde 1960, lançam múltiplas possibilidades ao historiador como campos e fontes
de análises. Enfocam a partir deste momento uma outra dimensão da sociedade, os fenômenos
humanos, os modos de pensar e sentir do homem até então pouco abertos á investigações.
5 Foi consultado o Fascículo História e seus conceitos, organizado pela da UVA.
Essa nova maneira de se fazer história produziu em seu cerne, inúmeras polêmicas
pela ousadia de seus temas até então não muito comuns. Precisamos, porém, ter em mente que
a história das mentalidades não se limita apenas á esses novos fenômenos de investigação
propostos, pois, esses mesmos domínios são retomados por outros campos da história, em sua
maioria raramente relacionada a esta, como no caso da história política, econômica, cultural,
entre outros, fazendo com que a história ponha em risco sua própria legitimidade.
Em contra partida, surge uma nova história cultural que serve como refúgio para o
estudo do “mental”, pois legitima a historia das mentalidades, sem, contudo abrir mão da
história como disciplina ou ciência, buscando dessa forma corrigir as deficiências teóricas que
marcaram nos anos 70 a corrente das mentalidades. Proporcionando desse modo, uma
significativa abertura aos novos modos de se fazer história. “[...] o homem qualquer, diante
da aceleração da história, quer escapar da angústia de tornar-se órfão do passado, sem
raízes, onde os homens buscam apaixonadamente sua identidade [...] onde o homem
apavorado procura dominar uma história que parece lhe escapar [...].” (LE GOFF, 2005, p.
72).
A história do presente hoje tão discutida por historiadores e nos meios acadêmicos,
nos levam muitas vezes ao esquecimento e ruptura com o passado, deixando um vazio nas
raízes de nossa história e pensamentos, pois a partir do momento que se quer escapar do
passado e de suas raízes e explicar um determinado fato, ou acontecimento histórico a partir
do presente corremos o risco de deixarmos uma enorme lacuna no que diz respeito ao tempo e
espaço no qual de faz a história do homem. Por isso o passado é importante, sem ele
extinguimos a possibilidade de compreendermos o novo, e assim “o desconhecimento do
passado não permite uma boa compreensão e, portanto uma ação eficaz sobre o presente”
(DOSSE, 2003, p. 101). Dessa forma, é essencial para a pesquisa histórica de uma
determinada sociedade como a cidade de Belém, fazer uma relação entre a memória do
presente a do passado reavivando, assim, as recordações dos que passaram pela Academia
Paraense de Letras e os que a consideram hoje um centro de memórias e patrimônio histórico
desta cidade.
Neste sentido as sociedades contemporâneas vivem a perda da noção de tempo e que
os costumes mudam “pela aceleração dos processos globais, de forma que se sente que o
mundo é menor e as distancias mais curtas, que os eventos em um determinado lugar têm um
impacto imediato sobre pessoas e lugares situados a uma grande distancia” (HALL, 2001, p.
69). Vivemos um momento de grandes transformações com relação ao tempo e espaço, mas
que na verdade o espírito do homem bem como seus sentimentos e lembranças não as
acompanham no mesmo sentido, ao contrário, o homem desde seu nascimento é moldado
pelas forças coercitivas de sua sociedade que o molda pela ética e pelas ideias humanistas que
o fundamentam. Dessa forma, cada cultura tem uma noção de tempo e que “a maior parte das
sociedades considera o passado como modelo do presente, nesta devoção pelo passado há, no
entanto, fendas através dos quais se insinuam a inovação e a mudança” (LE GOFF, 1990,
p.214).
Nesse sentido, podemos assinalar essas inovações e mudanças na historiografia,
possibilitando maiores fendas para as experiências dos múltiplos sujeitos sociais, fazendo uma
viagem entre a pesquisa da história do cotidiano e entre o publico e o privado, o íntimo, o
mundo do trabalho, os sentimentos e anseios, mostrando através destas fendas espaços e
sujeitos silenciados pelo paradigma tradicional, como nos expõem Matos:
“As recentes preocupações da historiografia com a descoberta de ‘outras histórias’ vêm favorecendo os estudos que contemplam a abordagem do cotidiano. Por outro lado, esses trabalhos têm contribuído de modo significativo para a renovação temática e metodológica, ao redefinir e ampliar noções tradicionais e ao permitir o questionamento das polarizações em categorias abstratas e universais, abrindo possibilidades para a recuperação de experiência de outros setores sociais” (MATOS, 2002, p. 21).
Assim, como enfatiza Maria Izilda Matos, o cotidiano é essa “descoberta de outras
histórias”, que merecem olhares mais treinados e perceptíveis possibilitando múltiplas
abordagens, pois diferente do que muitos pensam o cotidiano não se limita a uma vida
enfadonha e repetitiva, quando na verdade vai muito além envolvendo todo um conjunto de
atitudes, costumes, política, desafios, trabalhos, amores, etc., tornando-se dessa forma um
campo de representações onde a “realidade” necessita ser interpretada pelo historiador.
Dessa forma, é de fundamental importância o estudo do cotidiano, pois, apesar de nos
sugerir uma variada possibilidade de interpretações é muito rico em detalhes para entender o
cotidiano de nossos antepassados, revelando dessa forma seu modo de vida em vários
aspectos. A partir da observação e análise de utensílios, móveis, roupas, fotografias, cartas,
bem como seus temores e anseios, é que podemos interpretar o cotidiano dos indivíduos de
uma sociedade. Por isso se torna imprescindível a acuidade de se trabalhar em cima da
História e memória do patrimônio local, o qual não se limita a um tema de pesquisa, mas a
analises historiográficas que envolvam os vários aspectos de uma sociedade: histórico,
cultural, social, político e econômico.
Convém-nos lembrar que a história e memória tem se destacado bastante na
historiografia atual, bem como o de sua utilização para o ensino, aproximando desta maneira
o cotidiano do aluno de suas experiências externas e memórias vividas. Pois segundo Le Goff
“a memória, onde cresce a história [...] procura salvar o passado para servir o presente e o
futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não
para a servidão dos homens” (LE GOFF, 1990, p. 477).
De fato, como enfatiza Le Goff a memória tem uma relação muito forte com a história
do cotidiano, devido sua preocupação com os detalhes da vida social, espacial e de todos os
aspectos que a compõem, bem como sentimentos e lembranças procurando dessa forma
salvaguardar o passado para que se compreenda o presente. Como também a História, que
tem seu papel fundamental para que se compreenda essa dialética, pois “a história é na
verdade o reino do inexato [...] a história quer ser objetiva e não pode sê-lo. [...] quer fazer
reviver e só pode reconstruir” (LE GOFF, 1990, p. 22). É baseado nessas discussões entre
história e memória que adentraremos na historicidade da Academia Paraense de Letras, esta
instituição centenária. Mas antes, apresentaremos com brevidade a história das Academias de
Letras ao longo do tempo, como se desenvolveram e qual seu papel na atualidade.
1.1 As Academias de Letras pelo mundo
A maioria das pessoas ainda não sabe exatamente, qual o papel das academias no
contexto literário /cultural, e para que se compreenda hoje o seu papel para a sociedade
necessitamos retornar um pouco no tempo e interpretar como se deu o processo de sua criação
e sua contribuição histórica para o mundo em que vivemos, visto que “a história da história
não se deve preocupar apenas com a produção histórica profissional, mas com todo um
conjunto de fenômenos que constituem a cultura histórica” (LE GOFF, 1990, p. 49)
respeitando evidentemente a especificidade de cada sociedade.
Afinal, o que são as Academias, quais as suas finalidades e seus préstimos ao longo do
tempo? Soares define as Academias da seguinte forma:
“São agremiações de caráter científico, artístico ou literário, podendo ter origem e manutenção institucional ou particular. São instituições ancestrais que se iniciaram ainda na Grécia Antiga, com Platão, nos jardins de
Academo (daí Academia), nos arredores de Atenas e durou do século IV ao I a.C., compreendendo vários períodos” (SOARES, 2001, p.1).
Segundo o autor são instituições ancestrais, advindas desde os tempos históricos mais
remotos e que por sua relevância histórica estão presentes até a contemporaneidade. A
existência desses espaços de cultura era essencial para os intelectuais de uma sociedade, visto
que participar dessas agremiações trazia certa “promoção social”, além de que “em muitas
sociedades relativamente antigas, um artista de certo tipo – de fato, muitas vezes um poeta -
era oficialmente reconhecido como parte da própria organização social central”
(WILLIAMS, 1992, p. 36). Isso nos explica as hierarquias de barões, condes, médicos e
juristas que compunham em sua maior parte o quadro social destas instituições.
Desde a época clássica a ideia de academia era entendida como “um local de encontro
de pessoas voltada para as artes liberais” (ORTIZ, 1998, p. 63), revela um certo grau de
particularização de profissões nestes espaços. E ainda no século XVII “a academia congrega
um conjunto de especialistas que agora detém o monopólio da formação e da seleção de
talentos. Ela possui ainda uma outra função, a de reconhecimento profissional; o artista,
para ser legitimado enquanto tal, deve pertencer a seus quadros”, é o que nos diz (ORTIZ,
1998, p. 63). Partindo desses pressupostos podemos entender que as pessoas que compunham
seus quadros monopolizavam-na, selecionando, excluindo e privilegiando certas classes
sociais de acordo com seus interesses, visto que na maioria das vezes essas instituições eram
mantidas por classes abastadas, deixando uma parcela significativa da população até então
analfabetas em sua grande parte, excluídas destes espaços de cultura. Cultura esta, que
segundo o dicionário Filosófico Abreviado, citado por Werneck Sodré, nos diz que é:
“O nível de desenvolvimento alcançado pela sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia, na moral, etc., e as instituições correspondentes. Entre os índices mais importantes do nível cultural, em determinada etapa histórica, é preciso notar o grau de utilização dos aperfeiçoamentos técnicos e dos desenvolvimentos científicos na produção social, o nível cultural e técnico dos produtores dos bens materiais, assim como o grau de difusão da instrução, da literatura e das artes entre a população” (SODRÉ, 2003, p. 104).
Partindo dessa definição de cultura, percebemos que esta e a academia estão
intimamente ligadas entre si, servindo como instrumento de difusão para “a população”, ou
parte dela. A presença dessas instituições em uma determinada sociedade apontava seu grau
de desenvolvimento cultural e técnico para si mesmo e para o restante do mundo,
demonstrando-os através das artes, literatura, teatro, filosofia, ciência, escultura, pintura e
arquitetura, mas para Werneck Sodré “nem a escultura ou a pintura, nem mesmo a
arquitetura apresentam trabalhos dignos de menção, tal como acontece no domínio das
letras” (SODRÉ, 2003, p. 20). As letras passam a ter uma importância muito grande para a
sociedade instruída, é nesse momento que a literatura passa a fazer parte do cotidiano das
pessoas, os livros ganham vida, cores, vitrines e espaços cada vez maiores. A escrita deixa de
ser uma influência política para se tornar, sobretudo ideológica a partir do século XIX e é por
isso que ela acaba realmente dominando e influenciando a vida e o modo de pensar das
pessoas, a partir deste momento com mais intensidade.
É perceptível que essas instituições tinham um caráter científico, literário, artístico e
fundamentalmente histórico, o que podemos afirmar que elas são um elo entre o passado e o
presente, que de acordo com Jacques Le Goff, os monumentos são “heranças do passado” e
como tal “pode evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos”
(LE GOFF, 1990. p. 535). Segundo o autor podemos recorrer a esse tipo de material (os
monumentos) para que possamos entender um pouco de sua história, pois ao analisarmos esse
tipo de instituição, bem como suas memórias e escritos chegamos ao começo de uma longa
jornada na história e de como elas se perpetuam até os nossos dias, com inúmeras mudanças,
é claro, mas são consideradas por muitos, como verdadeiras heranças do passado presentes
até hoje.
Como instituições ancestrais são realmente um “reservatório” no qual beberemos para
que compreendamos parte de nossa própria história, visto que foram nessas instituições onde
um “misto de cientistas e políticos, pesquisadores e literatos, acadêmicos e missionários,
esses intelectuais irão se mover nos incômodos limites que os modelos lhe deixaram(...)”
(SCHWARCZ, 1993, p. 18), discutindo e produzindo suas ideias no interior desses espaços,
como também disseminando essas mesmas idéias às demais instituições, tentando dessa forma
homogeneizar e manter essa “elite letrada” em âmbito mundial. É o que nos mostra José
Murilo de Carvalho quando discute a unificação da elite: uma Ilha de letrados em A
construção da ordem no período imperial no Brasil, para ele um:
“Elemento poderoso de unificação ideológica da política imperial foi a educação superior. E isto por três razões. Em primeiro lugar, porque quase toda a elite possuía estudos superiores, o que acontecia com pouca gente fora dela: a elite era uma ilha de letrados num mar de analfabetos. Em segundo lugar, porque a educação
superior se concentrava na formação jurídica e fornecia, em conseqüência, um núcleo homogêneo de conhecimentos e habilidades. Em terceiro lugar, porque se concentrava , até a independência, na Universidade de Coimbra e, após a independência, em quatro capitais provinciais, ou duas, se considerarmos apenas a formação jurídica” (CARVALHO, 1996, p. 97).
A partir das análises do autor, podemos chegar à hipótese de que a educação e acima
de tudo superior eram seletivas, reservadas para uma pequena elite que através destas
instituições tentava restringir o conhecimento para melhor manipular esse “mar de
analfabetos” da sociedade de então. E é justamente nestes espaços de conhecimento que as
letras vão servir como arma ideológica e política para fundamentar o poder político e
econômico dessa minoria letrada e rica. É o que ocorre, sobretudo no Brasil, a partir do século
XIX.
Por isso é importante fazermos uma viagem no tempo pelas Academias de Letras,
sobretudo no Brasil, para que possamos compreender o de sua criação para este país e
conseqüentemente em Belém.
1.2 As Academias de Letras no Brasil
Para que se compreenda o papel dessas instituições de produção científica e cultural no
Brasil e sua instalação é necessário analisarmos como elas se iniciaram, levando em
consideração que no período da criação desses institutos históricos, o Brasil passava por
inúmeras modificações e influências políticas, econômicas, sociais, intelectuais e, sobretudo
científicas, e como elas contribuíram para que se desenvolvessem no interior desses espaços
uma escrita oficial, visto que a montagem de uma rede de instituições educacionais
superiores no Brasil segundo alguns autores se dá a partir da vinda da Família Real, onde a
corte não trazia na mala apenas sua religião, mas também sua cultura e domínios
metropolitanos.
É o que nos mostra a historiadora Lilia Schwarcz em O espetáculo das raças, onde
discute a relação entre cientistas e instituições e como as questões raciais presentes em seus
discursos influenciaram a produção e disseminação da escrita dentro desses espaços de
cultura, a partir principalmente do século XIX, no Brasil, que segundo a autora:
“Data dessa época a instalação dos primeiros estabelecimentos de caráter cultural – como a Imprensa
Régia, a Biblioteca, o Real Horto e o Museu Real -, instituições que transformavam a colônia não apenas na sede provisória da monarquia portuguesa, como em um centro produtor de sua cultura e memória. Formava-se em paralelo uma ‘classe ilustrada nacional’, que paradoxalmente dependia das instituições criadas com o fim de garantir o melhor controle português. Profundamente vinculados aos modelos metropolitanos, os primeiros centros de saber enxergavam o Brasil ora como um espelho, ora como uma extensão dependente da corte portuguesa e a ela subserviente” (SCHWARCZ, 1993, p. 24).
A partir deste momento a colônia brasileira começa a se modificar com a vinda da
Família Real, percebe-se que a Corte não vinha somente á passeio mais para permanecer,
trazendo consigo toda sua força política, cultural e social. Como nos diz a autora, pretendiam
e fizeram da colônia brasileira “um centro produtor de sua cultura e memória”, conceitos
esses que serão fortemente disseminados principalmente no interior das instituições, por uma
classe ilustrada nacional, criadas pela própria coroa portuguesa para que se iniciasse no Brasil
“uma história institucional local” (SCHWARCZ, 1993, p. 23). A primeira destas instituições
foi a fundação do IHGB, em 1838 no Rio de Janeiro, para que começassem a escrever a
história oficial deste país. É o que nos mostra Lilia Schwarcz:
“Criado logo após a independência política do país, o estabelecimento carioca cumpria o papel que lhe fora reservado, assim como aos demais institutos históricos: construir uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos de fundação, ordenar fatos buscando homogeneidades em personagens e eventos até então dispersos. Exemplos longínquos dos centros do Velho Mundo, no Brasil, os institutos se proporão a cumprir uma tarefa monumental: ‘Colligir, methodizar e guardar’ (RIHGB, 1939/ I) documentos, fatos e nomes para finalmente compor uma história nacional para este vasto país, carente de delimitações não só territoriais” (SCHWARCZ, 1993, p. 99).
O fato de ter sido crido após a “independência política do Brasil”, nos leva a pensar o
quanto o país ainda era dependente e subordinado aos ditames portugueses mesmo após sua
suposta independência. Pois o objetivo da criação destes institutos era construir uma história
da nação, mas que nação? O Brasil já poderia ser qualificado desta maneira? Para Eric
Hobsbawm o conceito de Nação ultrapassa a noção de independência, pois nos revela que:
“(...) Assim considerada, a “nação” era o corpo de cidadãos cuja soberania coletiva os constituía como um Estado concebido como sua expressão política. Pois,
fosse o que fosse uma nação, ela sempre incluiria o elemento da cidadania e da escolha ou participação de massa” (HOBSBAWM, 1998, p. 28).
Com base nas ideias do autor, para que um país fosse considerado uma Nação,
deveria ter um elemento essencial: cidadania e participação de massa, e estes conceitos
estavam extremante distantes da história brasileira, visto que “isolada pelas dificuldades de
comunicação e meios de transporte, a maioria a população parecia mal informada e
indiferente aos acontecimentos” (COSTA, 1999, p. 28). Consentindo de certa forma que a
elite letrada fosse a porta-voz de suas ideologias mascarando neste sentido as contradições
desse sistema. Então a construção de uma história da nação seria sem dúvida a história de
Portugal, que a partir deste momento transplanta e dissemina sua cultura no Brasil como se
ambas fossem apenas uma através desses institutos.
Para tanto, a autora Maria Odila Leite salienta que a independência do Brasil tem
“certos traços específicos e peculiares [...], o principal dos quais é a continuidade do
processo de transição da colônia para o império” (DIAS, 2005, p. 3), e ainda que o processo
de independência não significou uma separação política da metrópole, uma unidade nacional,
nem ter sido marcada por um movimento revolucionário propriamente dito. O que a corte
pretendia era unificar a nação construindo um passado histórico, mas quem iria construir esta
historia no interior destes institutos eram grupos influentes, que participavam ativamente das
decisões econômicas e sociais da sociedade e que eram escolhidos para compor o quadro
destes institutos, o que Lilia Schwarcz compara com:
“Uma composição social semelhante ás das academias europeias, onde os sócios eram escolhidos antes de tudo por suas relações sociais (...). Assim, o que se pretende demonstrar é que esses intelectuais da ciência, a despeito de sua origem social, procuravam legitimar ou respaldar cientificamente suas posições nas instituições de saber de que participavam e por meio delas” (SCHWARCZ, 1993, p. 27, 99).
De acordo com as considerações da autora, podemos observar que além de serem
escolhidos por diversos interesses fariam dessas instituições uma escada para ascender
socialmente e balizar essas posições através de discursos e teorias cientificistas. Este período
sobretudo a partir dos anos 70, é visto por muitos historiadores dos tradicionais aos mais
críticos como uma década de inovações, o começo de uma nova era, que de acordo com Lilia
Schwarcz, é:
“A partir de 1870 que se introduzem no cenário brasileiro teorias de pensamento até então desconhecidas, como o positivismo, o evolucionismo, o darwinismo. No entanto, a entrada coletiva, simultânea e maciça dessas doutrinas acarretou, nas leituras mais contemporâneas sobre o período, uma percepção por demais unívoca e mesmo coincidente de todas essas tendências. Nos museus etnológicos, institutos históricos, escolas de direito e medicina, a discussão racial assumiu um papel central, sendo rica a analise de tais estabelecimentos, de onde partiram respostas alternativas apesar de contemporânea. A partir deles é possível rever os diferentes trajetos que uma mesma doutrina percorre” (SCHWARCZ, 1993, p. 43; 66).
É no interior destes institutos que se inicia a produção de uma historiografia brasileira,
que revelasse a identidade de um país agora independente. Nesses centros segundo Lilia
Schwarcz “o tema racial pareceu auxiliar na construção de uma história branca e europeia
para o Brasil” (Ibid p.136). Esses institutos se utilizavam de teorias raciais para legitimar
seus domínios, e o lema destes espaços era colletar para bem guardar. Guardar para bem
servir, uma herança essencialmente rankeana, onde os documentos históricos deveriam ser
oficiais e, sobretudo bem guardados. Através da publicação de Revistas do IHGB a partir de
1839, é que esses institutos difundem suas ideologias e sócios aos outros Estados brasileiros e
até mesmo fora deles. A historiadora Lilia Schwarcz ao analisar o conteúdo dessas revistas
chega a dividi-la em três partes distintas:
“A primeira compunha-se de artigos e documentos que versavam sobre questões relevantes ao instituto, interpretavam-se eventos históricos, textos sobre limites geográficos atentavam para os problemas territoriais; artigos referentes a etnografia indígena revelavam a influencia do movimento romântico no local. Da segunda parte constavam biografias de brasileiros ‘distintos por letras, armas e virtudes’. Essas pequenas biografias constituíam uma forma bem especifica de se fazer história, uma história pautada em nomes e personagens, e que se concentrava na elaboração de nobiliarquias e genealogias para elites agrárias sedentas de títulos que as aproximassem das antigas aristocracias europeias. Finalmente a terceira parte era formada por extratos das atas das sessões quinzenais que reproduzem o cotidiano do IHGB, com suas hierarquias internas, costumes e competências” (SCHWARCZ, 1993, p. 109-110).
Percebe-se desta maneira que, os que organizavam a revista utilizavam freqüentemente
documentos para balizar seus artigos que se tornavam muitas vezes tendenciosos, visto que
defendiam seus próprios interesses e, sobretudo a figura do Imperador, que cedia com
freqüência não somente espaço físico como também altas somas em dinheiro para manter o
Instituto, posteriormente reiteravam altos elogios à atuação e importância do IHGB. Muitos
foram os que se dispuseram á dar uma nova interpretação aos eventos históricos ocorridos,
perpetuando dessa forma na memória dos que liam: nomes e discursos ideológicos, e que
representavam muitas vezes classes distintas, e é onde se inicia um embate entre ciências
sociais e literatura, como discute Schwarcz:
“Também os romances naturalistas da época fariam larga utilização e divulgação dos modelos científicos deterministas. Essa é a época em que ‘a ciência serve de rotulo ao literato’ (Paes, 1986:9), o qual tomava mais e mais a exterioridade do pensamento cientifico a fim de garantir uma suposta ‘subjetividade literária’. Com efeito, a moda cientificista entra no país por meio da literatura e não da ciência mais diretamente. (...), com efeito, modelos e teoria ganharam larga divulgação por meio de heróis e enredos dessa literatura, que pareciam guardar mais respeito ás máximas cientificas evolutivas do que a imaginação do autor” (SCHWARCZ, 1993, p. 32).
É nesse contexto que emerge um grande contingente de obras literárias e históricas
fazendo alusão ou crítica a essa moda cientificista vindos da Europa e disseminada fortemente
através de produções escritas nessas instituições, mormente no Brasil que recebe inúmeros
viajantes estrangeiros a partir do século XVIII, que observam, registram e depois escrevem
sobre este vasto país. Passemos agora á analise de algumas obras que se destacaram nessa
produção historiográfica brasileira.
O famoso historiador Francisco Adolfo Varnhagem, considerado por muitos
estudiosos como o fundador da história positivista do Brasil. Para os autores Bourdé e Martim
citados por Silva, a maior utilidade da historiografia como disciplina é:
“Demonstrar, pela observação dos historiadores passados, que todo historiador sofre pressões ideológicas, políticas e institucionais, comete erros e tem preconceitos. Além disso, a única forma de um historiador ser objetivo e isento é conhecendo o trabalho e os erros dos que vieram antes. A historiografia seria a melhor vacina”. (SILVA, 2006, p. 189).
É partindo dessa visão citada acima por Silva, que devemos analisar a obra deste
cronista alemão em História Geral do Brasil: antes de sua separação e independência de
Portugal, em 1850, pois apesar de ter sido naturalizado no Brasil e possuindo o título de
Visconde em Porto Alegre, Varnhagem não demonstra qualquer sentimento nativista em sua
obra, faz apologia à Coroa portuguesa e aventurar-se a mostrar como a colonização e
conquistas portuguesas foram benéficas para os bárbaros que viviam no Brasil e incluía a
ideia de que para o progresso da sociedade brasileira era necessário a evolução social através
do branqueamento racial, defendendo dessa forma o discurso dos fundadores do IHGB como
também o interesse de seus sócios e presidentes. Embebido por ideais de eugenia e
darwinismo social, o autor escreve a história do Brasil com uma visão rankeana, positivista,
metódica e baseada em documentos, e é partindo dessa visão que analisa os sujeitos sociais do
período, sobretudo o índio, vendo-o como “bárbaro, vaidoso e independente, desconhecendo
os direitos da razão e a supremacia da consciência, nem sequer admitia a admoestação que
alguma vez, de parte de um outro colono e do próprio donatário, provinha de verdadeira
caridade evangélica” (VARNHAGEM, 1850, p. 30) 6. Deixando evidente nesta obra sua
ideologia, influencias e experiências vividas.
Entre outras obras produzidas nesta era da sciencia, está O Alienista de Machado de
Assis, onde dizia através de um de seus principais personagens “homem de ciência, é só de
ciência, nada o consterna fora da ciência” (IN: SCHWARCZ, 1993, p. 28). Como homem de
seu tempo o ilustre escritor Machado de Assis, considerado por alguns escritores como Sidney
Chalhoub e Roberto Schwarcz: um historiador. Servindo-se de seus diversos personagens
escreve e reescreve a história do Brasil no século XIX, analisa a sociedade e também a vive,
como um intelectual e escritor, valoriza a moda intelectual e científica sem, contudo
comprometer sua produção. Faz constante criticas sarcásticas, formaliza disputas a partir de
seus escritos, é o que nos mostra Chalhoub
“[...] a obra de Machado é interpretada como um comentário ‘estrutural’, por assim dizer, sobre a sociedade brasileira do século XIX o romancista expressa e analisa aspectos essenciais ao funcionamento e reprodução das estruturas de autoridade e exploração vigentes no período. Schwarcz procura mesmo explicar a trajetória da obra machadiana como um processo de experienciação e busca de um ‘dispositivo literário’ que capta e dramatiza a estrutura do país, transformada em regra de escrita” (CHALHOUB, 2003, P. 17)
Muitos outros escritores e obras se encaixaram neste perfil, os quais davam maior
importância às máximas cientificas, tendo o meio e raça como nortes para produzirem suas
obras e que hoje são considerados como precursores das Ciências Sociais no Brasil, como:
Silvio Romero, Euclides da Cunha e Nina Rodrigues. No entanto nos detemos a discutir
apenas estas acima, deixando indícios para futuras discussões e análises.
6 Foi consultado o fascículo Historiografia Brasileira da instituição UVA.
1.3 - A Academia de Paraense de Letras: um passado que se faz presente.
“A APL foi fundada a 3 de maio de 1900, em sessão solene no Teatro da Paz, presidida pelo governador Paes de Carvalho. Comemorava-se o IV centenário de descoberta do Brasil, que durante muito tempo foi festejado a 3 de maio e não a 22 de abril. No mesmo dia foi fundado o Instituto Histórico e Geográfico do Pará [...]” (Separata de Revista da APL, 1977-1978,p. 155).
A Academia Paraense de Letras nasceu em um momento em que as influências
culturais e sociais advindas da Europa, especialmente da França permeavam as ideias, o
comportamento (postura), e o cotidiano das pessoas da Amazônia, no final do século XIX e
inicio do XX. A ideia de se ter uma academia de letras nos moldes europeus daria á Belém
ares de modernidade para uma capital tão distantes dos grandes centros do país. Criada pelo
então Barão e historiador Domingos Antônio Raiol, é considerada a terceira mais antiga do
país antecedida apenas pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia Cearense, se
tornando a academia de letras um dos símbolos de civilidade, no sentido desta tão esperada
modernidade cujo conceito tem seu ápice neste momento e que era entendida como uma
ruptura com o passado, mudanças que iam se operando no presente, sobretudo nas esferas da
economia, da política e da cultura (SILVA, 2006, p. 298).
A fim de melhor compreendermos a maneira pela qual se deu a criação dessa
instituição necessitamos recorrer á historiadores que escreveram de maneira brilhante sobre
este período da história: a Belém do século XIX. Maria de Nazaré Sarges, por exemplo, em
sua famosa obra Belém: Riquezas produzindo a Belle-Époque (1870-1912) discute a
modernização na cidade de Belém a partir do apogeu da economia gomífera, Da seguinte
forma:
“A modernidade trouxe em seu bojo a ideia de uma sociedade baseada no mito da razão, na industrialização, da produção transformadora do conhecimento cientifico em tecnologia, no fortalecimento dos Estados nacionais, na internacionalização do mercado, na explosão demográfica, na criação de novos mecanismos de controle de poder e do acirramento da luta de classes, na massificação dos indivíduos e na destruição de antigos hábitos e ambientes” (SARGES, 2000, p. 21).
A autora nos revela traços que trarão novos ideários, hábitos e costumes para esta
sociedade, o mito da razão, por exemplo, daria ao homem um sentimento de liberdade diante
dos ditames da Igreja ainda tão fortes neste período, a industrialização daria uma superficial
esperança de dias melhores e menos contraditórios á população mais carente, o cientificismo
entra na moda: nas instituições, nas escolas, nas ruas e, sobretudo na historiografia brasileira,
os Estados se fortalecem trazendo mais autonomia aos mercados internos, como também um
expressivo número de imigrantes como mão-de-obra barata, resultando numa explosão
demográfica. Nesse momento as relações de poder tornam-se mais intensas levando á novos
mecanismos de controle de poder por parte dos grandes proprietários, sobretudo através da
escrita modificando dessa forma as relações sociais, hábitos e interesses.
A autora Maria Izilda Matos nos apresenta o pensamento dessa época a partir de suas
pesquisas, em relação às cidades:
“Procurava-se, assim, dar ao espaço uma qualidade universal e manipulável, através da “racionalidade e objetividade” da ciência, que passou a ter função-chave na sua luta contra o arcaico pela “ordem e progresso”, caminhava-se conjuntamente ao desejo latente e generalizado de “ser moderno”, em que a cidade aparecia como sinônimo de progresso em oposição ao campo.” (MATOS, 2002.p.33-34).
Partindo desses pressupostos podemos compreender neste momento a grande
importância das cidades, serão nela os embates da ciência, a disseminação da cultura a partir
da literatura, acreditava-se que só o fato de morar na cidade já trazia em si um status de uma
pessoa moderna. Para tanto a criação de uma instituição direcionada para a erudição e outras
formas de expressão, vem em um momento de afirmação da cidade como metrópole na
região, trazendo ordem e progresso deixando ares de modernidade. De acordo com o autor
William Gaia Farias que também analisa os ideais de civilização e modernidade em Belém
neste período, diz que:
“(...) as cidades amazônicas, sobretudo Belém e Manaus, passaram a estabelecer uma maior proximidade com as cidades europeias e com os Estados Unidos, grandes consumidores de goma elástica, uma vez que o mundo estava se modernizando de forma acelerada e propagando seus ideais modernos e civilizados para todo o planeta” (FARIAS 2007, p. 79).
Baseados na análise de Farias sabemos que a Amazônia neste período áureo da
borracha passou por inúmeras transformações não somente urbanas por causa da aproximação
com a Europa e Estados Unidos interessados neste produto. Com ideais eurocêntricos passam
a disseminar esses ideais de civilidade para o povo bárbaro que aqui viviam e é nesses
centros de cultura como a Academia de Letras que se estabelece uma classe de letrados
produzindo obras que definissem uma sociedade moderna de acordo com esse modelo
europeu o que trás consigo uma problemática de cultura e identidade nacional. Para isso era
necessário romper com os antigos padrões até então estabelecidos, é onde se faz
imprescindível a relação entre antigo e moderno, pois, o antigo representava o passado ou as
“origens caboclas” da capital, que nesse momento não era desejável ser valorizada, e o
moderno representava os hábitos e ideários europeus, advindos neste contexto. Maria Izilda
aponta a cidade como: “Cidade-Memória”, onde:
“Em seu processo de transformação, a cidade tanto pode ser registro como agente histórico. Nesse sentido, destaca-se a noção de territorialidade, identificando o espaço enquanto experiência individual e coletiva, onde a rua, a praça, a praia, o bairro, os percursos estão plenos de lembranças, experiências e memórias” (MATOS, 2002, p. 35).
É como se Matos dialogasse com Le Goff, pois para ele:
“O monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos. [...]. O monumento tem como características o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas (é um legado à memória coletiva) e o reenviar a testemunhos que só numa parcela mínima são testemunhos escritos.” ( LE GOFF, 1990, p.535).
É partindo dessas análises que apontamos a Academia Paraense de letras como um
registro histórico do passado, repleta de lembranças e memórias de homens que passaram por
este período áureo e deixaram seus registros escritos. Já que, é ao mesmo tempo um
monumento que abriga vários documentos, revistas, biblioteca que nos fazem recordar o
passado, como também suas obras literárias, que são seus atos escritos, repletos de
fragmentos que nos fazem melhor compreender as transformações por que passou esta cidade
em seus vários aspectos neste período da história. Daí a importância de se analisar a história e
a memória desta Academia de Letras, por ser uma instituição que pode ser compreendida
como um dos elementos do passado e por representar a memória tanto da cidade de Belém
quanto da memória da própria literatura paraense.
A Academia de Letras sendo uma instituição centenária e frente às mudanças e
transformações da sociedade paraense nos hábitos e costumes, pode ser apresentada como uma
memória esquecida pela cidade, afinal quem conhece as atividades da academia, por exemplo,
seus concursos literários ou em um sentido mais amplo, suas atividades voltadas para a
sociedade paraense? Podemos considerá-la assim pelos resultados da pesquisa em campo feita
em frente á mesma, a partir das respostas das 20 pessoas entrevistadas através de um
questionário composto por cindo perguntas relacionadas á Academia Paraense de Letras.
Quanto a resposta dada pelos entrevistados em: Você já ouviu falar desta instituição
em anúncios, jornais ou revistas? 75% (setenta e cinco) responderam que sim. Mas ao serem
perguntados se alguma vez já adentraram naquele espaço, as respostas se alteram
consideravelmente: 99,9%, responderam que não, nunca entraram neste espaço de cultura
desta capital paraense, mesmo morando, trabalhando e trafegando próximo deste patrimônio
histórico-cultural. Isso nos leva á hipótese de que essa questão da impenetrabilidade da
sociedade ou parte dela nesses espaços de cultura não são questões contemporâneas mais
advindas desde o inicio do processo de reurbanização que atingiu a cidade de Belém, como
também a entrada de “um novo ideário positivo-evolucionista em que os modelos raciais de
análise cumprem um papel fundamental” no final do século XIX e inicio do XX, onde a
Academia Paraense de Letras era vista como um espaço seletivo para essa elite, que acabavam
por excluir uma parte significativa da sociedade deste espaço de cultura.
O que segundo a pesquisa de campo nos revela que este pensamento perdura até o
presente século (XXI). Para uma melhor compreensão a próxima pergunta será visualizada no
gráfico abaixo:
GRÁFICO 1
VOCÊ ACHA QUE TODOS TÊM ACESSO A ESSA ACADEMIA?
23%
77%
SIMNÃO
FONTE: TRANSEUNTES QUE PASSARAM EM FRENTE Á ACADEMIA NO DIA DA PESQUISA.
A partir desses dados, nos propomos a esclarecer pontos da história dessa instituição
centenária que, por algum motivo, não conhecemos ou esquecemos, pois esta é uma das
funções sociais do historiador. Para tanto se faz necessário apresentar as atividades da
Academia Paraense de Letras bem como seus objetivos.
A APL tem como finalidade no tempo presente de concorrer para o desenvolvimento
cultural das várias manifestações da criação literária, cientifica e artística, como também
“discutir a literatura, analisar suas transformações, incentivar novos talentos - através dos
concursos anuais que promove [...]” (Província do Pará, 2000, p. 3). Entre suas importantes
atividades no seio da sociedade estão:
● A preservação e desenvolvimento da cultura;
● Realiza sessões solenes especiais, ordinárias e extraordinárias;
● visitas culturais a outros estados e ao interior do Pará;
● recebe visitantes e pesquisadores;
● promove anualmente uma Semana Cultural;
● Possui uma biblioteca “Acilino de Leão”, aberta a pesquisadores e estudantes, onde
possui um acervo de inúmeros volumes, entre estes está a publicação da obra “Introdução à
Literatura do Pará” e edita uma revista mensal denominada “Cultura”.
23%
77%
SIMNÃO
Enfim, por este e por muitos outros motivos esta instituição centenária da Amazônia é
considerada um centro de memória, primeiro porque abriga em seu seio, acadêmicos mais
antigos ainda vivos, como por exemplo, Jurandir Bezerra (cadeira n. 16 eleito em
05/05/1946); Ápio Campos (desde 1957); Jarbas Passarinho (eleito em 1961); Nazareno
Tourinho (desde 1969) e Alonso Rocha (eleito em 1963, atual Presidente da Academia). Este
último ao ser entrevistado trás em seus relatos histórias fascinantes e poemas indescritíveis de
seu cotidiano, família, amores do passado, pensamentos e recordações.
Em segundo lugar, porque possui uma biblioteca com um riquíssimo acervo, com
inúmeras obras de escritores paraenses e do exterior, revistas, jornais, atas, convites, livros que
remontam o passado de Belém, monografias, filmes, entre outros. Que através de seus
arquivos oferecem á sociedade paraense uma gama de possibilidades de pesquisa e cultura. Por
último, sua própria sede localizada desde 7 de setembro de 1976 à rua João Diogo n. 235.
Pode ser considerada pela sociedade paraense um patrimônio histórico e cultural, onde
funcionava anteriormente a Escola de Belas Artes do Pará e seu Conservatório de música e a
Sociedade Artística Internacional, e que segundo informações da própria academia “uma das
provas da antiguidade da construção original é o fato de em setembro de 1896 (113 anos) ter
servido para o velório do maestro Carlos Gomes, no governo de Lauro Sodré”.
Esse conjunto de informações faz desta Academia Paraense de Letras um centro de
memórias tanto de mortos quanto de vivos, ambos chamados de immortais. Eric Hobsbawm
afirma que “o passado é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um
componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana.”
(HOBSBAWM, 1998, p.22). Daí a importância de se analisar a história e a memória desta
Academia de Letras, por ser uma instituição que pode ser compreendida como um dos
elementos do passado e por representar a memória tanto da cidade de Belém quanto da
memória da própria literatura paraense. Por exemplo, ao ser questionado quanto a APL ser um
centro de memórias, o Sr. e presidente Alonso Rocha nos diz que “Ah, sim primeiro a
memória digamos (pausa)... dos livros, a memória das atas da Academia, memória da história
e a memória viva de cada membro enquanto está nesta terra [...]”.O que reafirma parte de
nossa discussão neste trabalho.
CAPÍTULO II – LITERATURA: FONTE FECUNDA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA.
Tratar da história como objeto e fonte de análise para entendermos o mundo e a
sociedade que conhecemos bem como discutir a história como disciplina, sobretudo no Brasil,
são algumas das abordagens que a autora Taís Nívea (2004) discute. Dessa forma “[...] o
próprio estatuto da História enquanto campo do conhecimento mudou com o tempo,
conforme suas relações com o debate científico de uma forma geral e com as ciências
humanas em particular” (FONSECA, 2004, p.21).
Como base na citação acima, a História (o tempo) não está presa em uma ampulheta,
muito menos limitada á um calendário ou nas horas marcadas por um relógio, mas é uma
ciência que não diferente das outras sofre um processo contínuo e mutável, que trás em seu
cerne permanências e rupturas nas diversas sociedades existentes. E se a História mudou com
o tempo conseqüentemente a maneira de ensiná-la também se transformou, sobretudo a partir
da nova história. O ensino de história ficou por muito tempo preso às amarras da história
narrativa, positivista, com inúmeras datas e nomes para serem decoradas pelos alunos. O que
trazia um enorme distanciamento entre o ensino e a prática, por isso a história como disciplina
tem cada vez mais desafios a serem propostos e colocados em prática na sala de aula, pois têm
acompanhado o processo histórico exigindo uma reflexão cada vez mais atual que de acordo
com Stela Pojuci, que discute como o professor deve acompanhar as mudanças
historiográficas com o passar do tempo, não se prendendo apenas em transmitir
conhecimentos, mas, sobretudo levar o aluno à reflexão, contextualização histórica,
comparações, críticas como questionamentos para que este venha compreender seu próprio
cotidiano.
Para muitos autores que discorrem sobre o ensino de história, cogitam na ideia de que
até o século XVIII, o ensino de história era fortemente influenciado pela Igreja, bem como por
seus dogmas e costumes, como também por relações de poder. O que Fonseca reforça dizendo
que “somente a partir do século XVIII é que a história começa adquirir contornos mais
preciosos, como saber objetivamente elaborado e teoricamente fundamentado” (FONSECA,
2004, p.21). Onde o modelo de sociedade seria guiado não mais, pelo pensamento teológico e
sim pela racionalidade do homem e não pela vontade de Deus, e o poder centralizado seria
extinto e viria um novo modelo, a sociedade teria liberdade de pensamento e de ação, essa
nova mentalidade, se perpetuaria do século XVIII até os dias atuais, ou seja, a sociedade
deixou de ser conservadora e tornou-se liberal, mais especificamente nos âmbitos político,
econômico e ideológico, e também posteriormente influenciando os costumes e a própria
cultura das nações que adotou essa nova ideologia em todo o mundo.
Essas mudanças, porém ocorreram muito lentamente, os livros didáticos continuavam
com conteúdos oficiais, paternalistas, onde o papel da mulher era silenciado, bem como das
crianças e idosos. Portanto, a autora Thaís Nívia Fonseca, deixa bem claro que podemos
considerar o seguinte em relação de como se desenvolveu o ensino de história pelo mundo,
até chegar ao Brasil, concluindo que: “A história do ensino de História é um campo complexo,
contém caminhos que se entrecortam, que se bifurcam, estando longe de circunscrever-se à
formalidade dos programas curriculares e dos livros escolares” (FONSECA, 2004. 28). Com
isso, podemos perceber que todo tipo de relação com a história, é possível, tanto no âmbito
científico, como em âmbito educacional, basta que haja um empenho maior de estudiosos,
pesquisadores e professores, para que novos caminhos sejam traçados e possamos enxergar
novos horizontes e tenhamos novas perspectivas tanto para a história quanto ciência, como
para o ensino dela em sala de aula, como uma disciplina indispensável no currículo escolar, e
não seja vista apenas, como uma disciplina “decorativa”, mas como disciplina que contribui
para a formação de um discente em formação mais consciente e crítico.
Quem nos ajuda a melhor compreender esse processo de renovação do ensino de
história são os autores José Alves de Freitas e Rafael Ruiz, onde discutem a transversalidade
e as novas formas de abordar o ensino de História. Os autores discorrem sobre a ideia de que
o mundo está em constante transformação, com estas vêm cobranças cada vez maiores sobre
os futuros cidadãos, pais, filhos, enfim para a sociedade em seu todo, dessa forma também se
espera mais do educador, mais criatividade, discussões e metas a serem alcançadas para que
“em sua tarefa de educar, não se esvazie, e com ela, sua própria profissão” (FREITAS. IN:
Karnal, 2007, p. 57). Sabemos que infinitas são as dificuldades que um educador encontra em
seu caminho para desenvolver uma aula de qualidade: as exaustivas cargas horárias, a
estrutura burocrática das escolas, o excesso de conteúdos a serem cumpridos, a pouca
disposição dos alunos e até mesmo as experiências que formaram tal educador. E uma
pergunta que nos deixa inquietos diante desta realidade é lançada por Freitas: Como superar
este problema?
Para os autores a resposta é plural, mas acreditam que a transversalidade é o melhor
caminho a ser tomado, onde esta “apresenta uma proposta que ultrapassa a fragmentação
dos conteúdos e disciplinas, prevendo um trabalho cujo conhecimento seja construído em
função dos temas e propostas apresentados” (FREITAS, IN: Karnal, 2007, p. 59). Entre estas
propostas podemos apontar História e Literatura, onde o aluno através de um texto literário,
um documento histórico pode interpretar a história de um período e de uma sociedade, com
suas lutas, medos, cotidiano e paixões, possibilitando dessa forma que o educando construa
seu próprio edifício da História, pois “ensinar a edificar o próprio ponto de vista histórico
significa ensinar a construir conceitos e aplicá-los diante das variadas situações e
problemas;[...]”segundo (RUIZ, IN: Karnal, 2007. p. 77-78). E é partindo desses
pressupostos que nos deteremos a partir de agora a analisar o ensino de história através dos
resultados coletados em nossa pesquisa de campo por meio de questionários previamente
elaborados.
2.1 - Analisando os dados coletados
A pesquisa de campo bem como as experiências vividas na Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Deodoro de Mendonça nos possibilitou inúmeras reflexões sobre a
rotina da sala de aula, a prática do ensino como também uma minuciosa observação na
estrutura física, humana e material da mesma.
Segundo nossas observações, percebemos que as condições físicas para o
desenvolvimento das atividades escolares são boas, a escola é ampla com extensas áreas
livres, as salas de aulas também possuem um espaço considerável, porém em condições
inadequadas de higiene, sobretudo os banheiros e bebedouros. Em relação aos recursos
materiais a escola possui alguns, mas não são suficientes, pois os que existem não suprem
todas as necessidades, por exemplo, os recursos pedagógicos utilizados pelos professores
precisam ser marcados com bastante antecedência para que se tenha acesso a esses meios. Os
recursos humanos também deixam a desejar como o corpo técnico e administrativo que até o
momento de nossa pesquisa estava incompleto e os poucos que contem sentem-se
sobrecarregados em muitas tarefas.
Percebemos que a maioria dos professores não utiliza outros tipos de metodologias
preferindo as aulas tradicionais – oral e expositiva. Poucos planejam suas aulas para o ano,
pois grande parte dos professores pelo fato da experiência ministram suas aulas quase sempre
da mesma forma, com provas escritas, exercícios e pesquisas.
Além do perfil descrito acima, nos foi necessário distribuir 20 questionários para os
alunos do 2º ano do ensino médio, e para professores dessa rede de ensino, contendo
perguntas objetivas e subjetivas relacionadas à temática em questão, para que levantássemos
uma hipótese de como vai o ensino de história a partir da proposta de transversalidade
discutida pelos autores anteriormente, sobretudo a relação entre a História e Literatura. Antes
de analisarmos as respostas dadas aos questionários, faremos primeiramente um perfil dos
alunos que o responderam e posteriormente a análise dos mesmos, faremos da mesma forma
para com os professores entrevistados.
2.2 – Perfil dos alunos entrevistados
Aplicamos os questionários entre os alunos do 2º ano do turno da tarde na escola
citada acima e os resultados dos questionários estão expostos e analisados em gráficos,
detalhando falas e opiniões de alunos e professores. Os questionários foram aplicados entre 20
(vinte) alunos, sendo que 14 (quatorze) de sexo feminino e 6 (seis) do sexo masculino com
faixa etária de 16 a 23 anos. Para uma melhor compreensão apresentaremos o gráfico abaixo
em percentual.
GRÁFICO 1
FONTE: ENTREVISTA REALIZADA COM ALUNOS DE 2º ANO DA ESCOLA ESTADUAL DEODORO DE MENDONÇA.
2.3 – Análise das respostas dos alunos
Partindo das análises da pergunta fechada sobre as aulas de história se o professor
utilizava a Literatura como recurso didático e que a mesma é uma fonte histórica, 90% dos
alunos responderam que o professor não ou nunca utilizou nas aulas tal fonte como recurso
didático na sala de aula.
13%
17%
25%13%
21%
13% 16 ANOS17 ANOS18 ANOS19 ANOS20 ANOS23 ANOS
A partir dessa alta porcentagem de respostas negativas, podemos perceber que os
professores não utilizam em suas aulas outros tipos de fontes e instrumentos que dinamizem
as aulas, isso nos leva a hipótese de que o ensino de história continua preso às amarras do
tradicionalismo e do distanciamento do conteúdo escolar com o cotidiano do discente. O que
em contra mão expressa por Cavalcanti “O professor deve permitir que o aluno exercite seu ofício
de escritor,oferecendo-lhe a possibilidade de enveredar por diversos caminhos até alcançar um texto
final, deve propor desafios cada vez maiores a seus alunos para que trabalhem a narrativa,
liberando a fluência e a criatividade, fazendo arte”(CAVALCANTI,1998, p. 28).
Para tanto, é fundamental que haja uma preocupação por parte dos educadores com
relação à transversalidade no ensino, a necessidade da renovação no ensino proposta por
alguns autores, desvencilhando-se da aula tradicional, livresca, expositiva, e abrindo
caminhos para que o discente trabalhe seu lado criativo e dinâmico. Entretanto, utilizar a
literatura para o ensino de história como planejamento pedagógico é uma maneira muito
interessante para se trabalhar em sala de aula, é importante que no ensino de história o aluno
conheça e aprenda que a história na verdade está viva no seio da sociedade, pois ao se
depararem com uma obra literária ou um poema compreenderem que o homem é um ser
social e para tanto pensa e escreve de acordo com sua época, costumes e temores,
identificando dessa forma as várias maneiras de se escrever à história de uma sociedade.
Em resposta à pergunta: Você gostaria de estudar história através de um poema ou
obra literária? Obtivemos respostas mais positiva, sendo que 10 (dez) alunos responderam que
sim, 7(sete) deles responderam talvez e apenas 3(três) alunos responderam que não. Essas
informações podem ser mais bem compreendidas no gráfico abaixo:
GRÁFICO 2
VOCÊ GOSTARIA DE ESTUDAR HISTÓRIA ATRAVÉS DE UM POEMA?
50%
35%
15%
SIMTALVAZNÃO
FONTE: ALUNOS DO 2º ANO DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA DEODORO DE MENDONÇA.
Os resultados obtidos no gráfico acima, nos levam a hipótese de que o educando está
aberto á novas possibilidades para aprender história através de outras fontes visto que em sua
maioria acham as aulas de história monótona pela ausência de dinamismo e criatividade, pois
grande parte dos professores utiliza a tradicional aula expositiva na qual a participação do
aluno é quase nula. Porque há muitas disparidades tanto regionais como de âmbito escolar, e
essas diferenças são explícitas, isso pode ser constatado analisando o ensino da disciplina na
escola particular e na pública, e incluem-se também as condições dos alunos para o estudo e as
instalações da própria escola, será que podemos dizer que essas particularidades não afetam o
aprendizado na sua totalidade e prejudiquem a vida escolar desse educando, que na maioria
das vezes, não tem nem uma condição de vida adequada e por isso, não consiga dar o máximo
de si, por estar preocupado com seu próprio cotidiano? Realmente, essa questão deveria ser
revista por nossos governantes e quem sabe, poderíamos no futuro nos orgulhar de nosso país,
dizendo que somos profissionais valorizados por nossa nação, formando cidadãos que
conheçam seus direitos e exerçam seus deveres.
Para uma melhor compreensão, a próxima pergunta será visualizada no gráfico abaixo:
GRÁFICO 3
VOCÊ ACHA QUE É POSSÍVEL ENTENDER A HISTÓRIA DE UMA SOCIEDADE
ATRAVÉS DE UMA OBRA LITERÁRIA?
50%
35%
15%
SIMTALVAZNÃO
98%
2%SIMNÃO
FONTE: ALUNOS DO 2º ANO DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA DEODORO DE MENDONÇA.
Tendo como base o gráfico acima, 98% (noventa e oito) dos 20 alunos entrevistados
responderam que sim, que é possível entender a história de uma sociedade através de uma
obra literária e a mesma porcentagem achou a ideia muito interessante, boa e ótima estudá-las
juntas, tornando as aulas mais dinâmicas, é o que confirmam alguns relatos abaixo:
Sim, pois as obras literárias revelam os acontecimentos históricos que demonstram momentos e fases que fazem parte do desenvolvimento da sociedade. (E.R. 20 anos)
Sim, porque a obra literária é mais fácil e interessante ao aprendizado. (M.R. 19 anos)
Sim, porque através da obra literária eles criticam a sociedade. (T.R. 16 anos)
Sim, porque você passa a ver a história de um outro ponto de vista. (N. F. 17 anos).
Sim, porque literatura e história tem aver um com o outro. (F. A. 18 anos).
Sim, porque ela irá falar de forma mais simples. (T. F. 18 anos)
Sim, porque todos esses textos são História ou verdade. (E. A. 17 anos)
Ao analisarmos as respostas acima, algumas falas nos chamaram a atenção pelo fato
de os alunos entrevistados perceberem que uma obra literária tem seu valor histórico, é o que
expressa o relato de E.R. que nos diz que “[...] as obras literárias revelam os acontecimentos
históricos que demonstram momentos e fases que fazem parte do desenvolvimento da
sociedade”. Isso nos leva e entender que a literatura é vista pelo aluno como registros de
98%
2%SIMNÃO
acontecimentos históricos, ou seja, das transformações pela qual passa a sociedade no seu
cotidiano. O que para M.R. “a obra literária é mais fácil e interessante ao aprendizado”
possibilitando ao professor que faça esse contato com fontes históricas no caso a literatura no
ensino de história tornando como na fala do aluno o aprendizado mais fácil e interessante,
revendo, portanto sua prática no ensino-aprendizagem.
Os relatos dos alunos acima citados revelam que há um interesse em estudar história
através de outros meios, pois muitos acham as aulas de história chatas pelo extenso conteúdo
bem como por suas longas explicações, dessa forma o diálogo e utilização de fontes escritas
podem intermediar o ensino-aprendizagem. Para T.R., por exemplo, acredita que [...] através
da obra literária eles (os autores) criticam a sociedade. É o que trata o autor Ítalo Meneghetti
em sua obra Literatura cidadã, onde discute a ideia de que “O enredo literário construiu
civilizações que marcaram a história e legaram aos dias de agora uma procura pela
linguagem em uma sociedade cingida pela comunicação apressada” (MENEGHETTI, 2010,
p.25). Dessa forma podemos possibilitar aos educandos uma forma diferente de conhecer a
História através da Literatura, compreendendo o contexto histórico onde está inserido,
desenvolvendo, sobretudo um pensamento crítico sobre cada obra levando-os a refletirem
sobre seu próprio cotidiano.
Dessa maneira, um dos papéis do professor é ir além de sua própria prática, buscar
uma forma de trazer os alunos pra si saindo das amarras da história positivista levando em
consideração que “o aluno deve aprender mais do que conteúdos e incorporar a reflexão
crítica e a aquisição de valores, por intermédio dos temas apresentados pelos professores,
para que sua compreensão da realidade seja mais abrangente e menos preconceituosa, como
no caso da discussão com base no tema proposto” (ALVES. In: Karnal, 2007, p.63).
Prosseguindo a linha de análise, 83% (oitenta e três) dos alunos relatam que gostariam
de estudar História e literatura juntas, pois dessa maneira fugiria um pouco do modo
tradicional e que até mesmo facilitaria na hora da aprendizagem. Já alguns apesar de nunca
terem estudado História a partir de outras fontes como a literatura, gostaram muito da ideia.
Em contrapartida temos aqueles que demonstraram um relativo desinteresse em estudar
história dessa forma preferindo segundo N.F “estudar de modo
tradicional”.Compreenderemos melhor essa visão através das respostas dos alunos abaixo:
Ainda não, mais acho excelente a ideia. (T.F. 18 anos)
É uma boa ideia, sempre é bom misturar matéria que tem a ver uma com a outra. (T.A. 16 anos)
Sim, já estudei e achei bastante interessante muito melhor estudar como poema do que na versão original. (M.R. 19 anos)
Sim, pois literatura e História sempre ligam e interligam, pois a História é inspiração da Literatura e a literatura é a narração da História. (E. R. 20 anos)
É uma ótima ideia, pois a história pode complementar a literatura e vice versa. (G.M. 18 anos)
Gostaria de estudar, pois talvez seria um ensino bem profundo na disciplina. Os alunos se interessassem mais nos estudos. (A.H. 20 anos)
Percebemos a partir desses relatos que muitos alunos acham interessante estudar a
história a partir da literatura, isso nos leva a pensar que o aluno está mais crítico tanto à
prática do professor bem como seus métodos utilizados em sala de aula. Conseguimos
observar também em suas respostas que grande parte deles estão abertos à novas
possibilidades para aprender História como está presente na fala de A.H “Gostaria de estudar,
pois talvez seria um ensino bem profundo na disciplina. Os alunos se interessasse mais nos
estudos”, o que nos leva a pensar que os alunos não se interessam tanto pelos estudos como
deveriam sobretudo na disciplina de história, justamente pela ausência da dinamização do
ensino e da aproximação com o cotidiano do aluno, por isso apontamos a literatura como
fonte de ensino e de criatividade para que este aluno tenha anseio de aprender e se identifique
neste processo como parte integrante dessa sociedade que é descrita e analisada por ambas as
disciplinas apenas escritas de maneiras diferentes.
Dessa forma, através dos registros escritos no caso a Literatura além de incentivar os
alunos á leitura, também estaremos contribuindo para a continuidade da palavra escrita, pois
para muitos autores como Ciro Flamarion, uma das suas maiores preocupações é se o registro
escrito e erudito da linguagem sobrevirá á este mundo invadido progressivamente por áudios-
visuais onde “a competição coma leitura e a escrita de novas tecnologias que garantem
acesso à informação sem a necessidade de ler, ou limitando muito a leitura” (CARDOSO,
2005, p. 96) acabe por comprometer a preservação da linguagem e da escrita no futuro.
2.4- Perfil e análise dos questionários dos professores entrevistados
Entrevistamos 5 professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Deodoro de Mendonça, sendo que 3(três) do sexo feminino e 2 (dois) do sexo masculino, com
faixa etária entre 35 a 59 anos, com 17 a 28 anos de docência, como mostram os gráficos
abaixo:
GRÁFICO 5
QUANTO AO TEMPO DE DOCÊNCIA DOS PROFESSORES ENTREVISTADOS
FONTE: ENTREVISTA REALIZADA COM OS PROFESSORES DA ESCOLA DEODORO DE MENDONÇA.
Além das informações acima citadas sobre os professores entrevistados coletamos
também dados referentes á metodologia utilizada por estes em sua prática na sala de aula
cotidianamente. O objetivo da investigação era saber se estes docentes dialogam com outras
disciplinas, sobretudo a literatura para o ensino de História, a partir da proposta lançada pela
Nova Escola. Obtivemos respostas variadas o que era de se esperar pelo fato de apresentarem
diferentes faixas etárias e tempo de docência, o que para a autora Stela Pojuci “[...] seu fazer
educacional é fruto de toda uma experiência histórica e cultural que não pode ser
negligenciada” (POJUCI, 2006, p. 259), o que de certa forma interfere ou auxilia em sua
prática.
Partindo dos relatos analisamos que, 95% dos entrevistados responderam que
empregam ou empregariam a Literatura para o ensino de história. Assim como reconhecem o
valor históricos de obras literárias, sobretudo relacionadas ao Renascimento e Grandes
29%
29%43%
16 ANOS26 ANOS28 ANOS
navegações, pois ajudam o aluno a compreender melhor a sociedade bem como suas
aventuras e registros através da literatura já tão presente nestes períodos históricos. Pois “o
documento histórico passou a ser instrumento para o professor porque ajudaria a tirar o
aluno da passividade e reduziria a distância de sua experiência e seu mundo de outros
mundos e outras experiências descritas no discurso didático” segundo (BITTENCOURT,
2004. p. 93).
Baseados nessa ideia de documento histórico perguntamos aos professores acima
citados: se consideravam uma obra literária como tal? Os dados coletados mostraram que os
entrevistados deram opiniões de formas diversificadas, como veremos abaixo:
Em parte, algumas obras são muito bem contextualizadas e feitas a partir de muitas pesquisas. (F.M. 35 anos)
Sim, a história não pode se dissociar das demais disciplinas pois todas elas são fontes históricas. (O.C. 59 anos)
Algumas sim. Depende do conteúdo tratado nas obras. (R.L. 41 anos)
Sim, porque o ato literário não acontece dissociado do conteúdo histórico, logo a obra literária corrobora e auxilia na compreensão do fato histórico. (V. C. 43 anos)
Sim, porque a história é uma ciência e necessita do auxilio de outras ciências para que possamos compreendê-la com maior eficácia. (F.R. 37 anos).
Ao analisarmos o posicionamento dos professores, deixaram transparecer que
consideram a literatura como documento histórico e que apesar de expressarem diferentes
opiniões concordam com a ideia da importância do dialogo da história com outras disciplinas,
como comprova o relato de F.R “a história é uma ciência e necessita do auxilio de outras
ciências para que possamos compreendê-la com maior eficácia”, dessa forma não
demonstram nenhuma aversão ao serem perguntados sobre o de sua utilização para o ensino
de história. Com uma visão analítica sobre suas respostas nos remetemos a questão da história
e memória dentro do campo interdisciplinar, se esta tem espaço nas discussões em sala e aula
e fora dela como aula-passeio para que o aluno tenha contato com o coletivo, com sua
sociedade, cultura e patrimônios históricos de sua cidade, levando-o a refletir sobre conceitos
e sua aplicabilidade em seu cotidiano. Para tanto perguntamos aos professores entrevistados
se consideravam um literato um memorialista do passado, como resultados obtivemos as
respostas abaixo:
Sim, através da Literatura é possível vislumbrar o passado, o presente e até mesmo o futuro; pois o pensamento humano e suas criações não tem limites. (V.C. 43 anos).
Acredito que neste caso não, apesar de trilhar caminhos muito próximos, adotam metodologias diferentes na produção de seus trabalhos. (F.M. 35 anos).
Sim, dentro do processo histórico tudo se relaciona ou poderá se relacionar , a história tem que ter como item principal a memória histórica. (O.C. 59 anos)
Alguns sim, por remeter a memória histórica. (R.L. 41 anos).
Sim, porque um literato escreve sobre o que vive e ve em seu tempo e escreve sobre isto deixando em nossa memória tempos e personagens diferentes. (F.R. 37 anos).
Em relação ás respostas acima, conseguimos perceber que os docentes entrevistados
apesar de muitos anos de experiência, têm acompanhado as mudanças na historiografia com o
passar do tempo o que para Stela Pojuci é fundamental, pois o professor de história necessita
acompanhar essas mudanças. Alguns como V.C que acreditam que “através da Literatura é
possível vislumbrar o passado, o presente e até mesmo o futuro” e que se apropria deste
recurso para dinamizar suas aulas, outros como F.M que apesar de dialogar em suas aulas com
a literatura não considera um literato como memorialista do passado visto que “apesar de
trilhar caminhos muito próximos, adotam metodologias diferentes na produção de seus
trabalhos”, podemos considerar desta forma que apesar de respostas divergentes, ambos
acreditam ser de fundamental importância a interação da História com outras disciplinas e que
um literato mesmo adotando metodologias diferentes não deixa de ser considerado como um
dos atores sociais que nos remetem á memória histórica de uma sociedade em um
determinado período histórico.
Através do diálogo com outras fontes de informação o professor não deve prender-se
em transmitir conhecimentos mas deve sobretudo levar o aluno à reflexão, contextualização
histórica, comparações, críticas como questionamentos para este venha a compreender seu
próprio cotidiano, dessa forma, estaremos ensinando não mais a história factual, descritiva e
progressista ainda tão forte no seio dos docentes, indo para além do livro didático, mostrando
as facetas da nova história hoje tão difundida nos meios acadêmicos, aproximando neste
sentido o conteúdo da sala de aula ao cotidiano do aluno.
Para isso, as experiências e memórias dos professores são de grande importância para
compreendermos o ensinar, pois cada professor longe de sua sala de aula, também é uma
pessoa como todas as outras, com: cultura, religião, infância, tristezas e alegrias, os quais para
Pojuci são relevantes na hora de ensinar, pois sem duvida esses aspectos interferem ou
facilitam em sua prática, visto que alguns como comprovam os relatos acima sentem-se
impregnados ao positivismo por terem experiências na infância e ao longo de sua vida com
estas correntes e que hoje tem dificuldades de desvincular-se destas, é o que relata a autora em
entrevistas a alguns professores em sua obra, os quais não conseguem acompanhar as
mudanças que ocorrem pois contentaram-se apenas com a graduação, ao contrário de outros
que participaram de eventos, fóruns, seminários, etc, e que portanto este segundo grupo teve
mais facilidade de compreender e adaptar-se as mudanças ocorridas na historiografia e no seu
ensino. Para tanto, compreendemos que é de grande relevância que como docentes estejamos
em constante processo de qualificação que nos habilitem á contextualizar os assuntos em sala
de aula, induzindo o aluno á refletir sua realidade e apontar: onde e por quê tal processo
ocorreu, sensibilizando-os como seres pensantes e sujeitos históricos no interior de sua
sociedade, como nos auxilia Rafael Ruiz quando diz que “trata-se portanto, de ensinar aos
alunos não a contemplar o ‘edifício da História’ como algo já pronto, mas de ensinar-lhes a
edificar o próprio edifício” (RUIZ, 2007, p. 77).
E uma das maneiras de levá-los a construir seus próprios conceitos desse edifício é
tecer uma abordagem comparativa a partir da Literatura, trabalhando através de um texto
literário, diferentes modelos históricos, é o que mostraremos neste próximo capítulo.
CAPÍTULO III - HISTÓRIA E LITERATURA: O ALUNO
INTERPRETANDO A HISTÓRIA A PARTIR DE TEXTOS
LITERÁRIOS
Com base nas observações e análises nas atividades realizadas em campo na Escola de
Ensino Fundamental e Médio Deodoro de Mendonça para que obtivéssemos os resultados
para este breve capitulo, apreendemos que os discentes possuem um médio interesse pelo
Ensino de História, havendo dessa forma um bom desenvolvimento no que se refere a
utilização da Literatura para o ensino de História, apesar da ausência ou pouca freqüência
desse tipo de metodologia em sala de aula, pelo fato de os professores ainda se encontrarem
freqüentemente “presos” aos livros didáticos, tornando na maioria das vezes uma aula igual e
fragmentada sem vida e brilho, portanto longe da realidade dos discentes.
Isso nos remete a repensar o ensino de história baseados nas análises de Conceição
Cabrini que considera o estudo e a reflexão a essência do trabalho de ensino/aprendizagem.
Dessa forma tudo o que fazemos em sala de aula depende como encaramos esse processo bem
como a concepção que temos do que é história, pois a partir dessas duas respostas
entenderemos os fundamentos do ensino de história e o de sua prática. Pois ao se limitar ao
ensino a partir de um livro didático estamos apresentando aos discentes um saber cristalizado,
pronto e acabado o que demonstra mais uma vez a enorme distancia entre os assuntos tratados
na sala de aula da realidade por eles vivida, o que dessa forma para Cabrini “[...] exclui a
realidade do aluno, que despreza qualquer experiência da história por eles vivida,
impossibilitando-o de chegar a uma interrogação sobre sua própria historicidade, [...], de
sua família, de sua classe, de seu país, de seu tempo” (CABRINI, 2004, p. 21), perpetuando
neste sentido a relação entre saber e poder, na qual o discente deve saber tudo o que lhe é
transmitido sem, no entanto poder questioná-lo, isso o impede de pensar além dos conteúdos
pré-determinados e selecionados.
Por isso, o ensino de história vem sendo objeto de questionamentos há alguns anos,
visto que para muitos escritores que debatem sobre essa questão acreditam que “o ensinar e
aprender não podem ser mais vistos como mera recepção e transmissão de saberes
especializados e específicos” (POJUCI, 2006, p.259), pois corremos o risco de continuarmos
reproduzindo em sala de aula ensinos positivistas, livresco e retórico como no século XIX.
Para romper com esta visão, temos a nova história hoje presente em vários campos do saber
científico tornou-se objeto de estudo nas Universidades, no diálogo entre os professores, nas
produções historiográficas, nos materiais didáticos e muito bem discutidos nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN’s) do que se espera atualmente para o saber e ensinar história.
Entre esses desafios esta uma inovação essencial proposta pelos Annales, segundo François
Dosse “o rompimento com a concepção puramente passadistas do discurso histórico, a
correlação passado e presente na construção de uma história que tenha por campo de estudo
não somente o passado, mas também a sociedade contemporânea” (DOSSE, 2003, p.99)
Dessa forma o autor chama a atenção aos objetivos do docente frente as mudanças na
prática do ensino de história pois, até então a concepção historiográfica era “pautada nos
grandes acontecimentos políticos, diplomáticos e religiosos do passado, que tinha como
fontes de estudo os documentos oficiais escritos e como sujeitos da história as grandes
personalidades políticas e religiosas e que concebia a história como uma evolução
progressista” (CUNHA E GOMES, 2009, p. 28). A escrita e o ensino de história a partir
dessas novas concepções advindas da França teriam novas perspectivas e discussões sendo
disseminadas nas instituições em nossa sociedade, ao mesmo tempo nos propõem a pensar a
multidisciplinaridade, ou seja, da importância do diálogo entre as várias áreas do
conhecimento humano para que se compreenda uma determinada sociedade e como também a
história vista de baixo, a história de pessoas comuns e seu cotidiano, assim como suas fontes.
Partindo desses pressupostos que deixamos os seguintes questionamentos: A
Literatura pode ser usada como fonte histórica? E como fazer o educando perceber esses
“rastros” de um período histórico inserido em uma obra literária? Nosso objetivo é mediar o
diálogo entre essas duas disciplinas, partindo do princípio que devemos respeitar o
conhecimento adquirido fora das escolas pelo educando, e como essas diferenças irão refletir
sobre a interpretação dos textos e poesias a que venha analisar, como disse Paulo Freire
“saberes socialmente construídos na prática comunitária” podem ser úteis no
desenvolvimento de qualquer projeto pedagógico aplicado em sala de aula.
Então não podemos rejeitar a Literatura como fonte, visto que é considerada por
alguns teóricos entre eles Roger Chartier que diz que “algumas obras literárias moldaram,
mais poderosamente que os historiadores, as representações coletivas do passado”. Como
também Antonio Celso Ferreira em seu texto A fonte fecunda, afirma que diferente de hoje a
Literatura nem sempre foi aceita como fonte histórica sem ocasionar polêmicas, discute
também com bastante clareza a sua utilização como fonte para o historiador lembrando que
“o papel do historiador é confrontá-las com outras fontes, ou seja, outros registros que
permitam a contextualização da obra para assim se aproximar dos múltiplos significados da
realidade histórica”(FERREIRA, 2009, p.77). Desta forma o professor tem que saber buscar
respostas dentro dessas fontes e não utilizá-la aleatoriamente sem levar em conta a realidade
em que está inserido.
Partindo desse ponto de vista sobre as novas metodologias, o docente deve (re) pensar
sua prática em sala de aula para que assim tenha bom êxito, percebemos, no entanto que estes
docentes tem capacitação, consciência dos desafios da nova escola, tem até mesmo desejo de
inovar suas aulas, mas findam por abrir mão destas metodologias e continuam nas aulas ditas
tradicionais por inúmeros fatores, entre estes está: as exaustivas cargas horárias, o grande
número de alunos em várias escolas, o desinteresse dos próprios alunos que se tornam alheios
muitas vezes á mudanças, á falta de incentivos econômicos do sistema escolar, enfim, são
infinitos os motivos que levam esses docentes á uma aula simples e monótona.
Portanto as experiências adquiridas no decorrer do estágio supervisionado na referida
escola foram de fundamental importância para um melhor conhecimento da realidade por que
passa atualmente o ensino de história bem como o de sua prática cotidiana. Podemos observar
que uma das dificuldades dos discentes é em relação á leitura e escrita, o que
conseqüentemente vem prejudicando um melhor desempenho no ensino de história e na
prática do professor. Observamos também que a forma de avaliar o discente se dá geralmente
através de trabalhos de pesquisa, questionários, provas escritas e filmes, mas em nenhum
momento vimos a inserção da literatura como fonte para análise em sala de aula mesmo que
em seus relatos a maioria dos docentes tenham dito que a utilizam-na vez ou outra.
Diante destas dificuldades detectadas pela observação emergiram inúmeras indagações
quanto ao ensino de história: será que o problema está na metodologia do professor? Ou quem
sabe está nos alunos que em meio a tanta tecnologia se limitam á leitura e a uma melhor
compreensão de sua realidade escolar? Ou ainda a falta de incentivos da escola, do governo
ou da cultura? Indagações estas que necessitam de respostas, mas sabemos que não há
respostas concretas para tais perguntas, visto que todos esses fatores acabam por contribuir
para essa apatia no ensino de história.
Contudo, essas questões delineadas acima apesar de nos deixarem no fundo com
algumas preocupações quanto ao ensino e sua prática atualmente, nos deram ainda mais
forças para aplicar o projeto de intervenção que tem como tema “História e Literatura: o
aluno interpretando a história a partir de textos literárias”, o qual tem como objetivo
possibilitar aos discentes uma forma diferente de conhecer a História através da Literatura,
compreendendo o contexto histórico onde estão inseridos, desenvolvendo, sobretudo um
pensamento crítico sobre cada obra e sua própria realidade. Sentimos a necessidade de
trabalhar esta temática pelo fato de sentirmos falta na sala de aula do diálogo da história com
outras disciplinas para que torne as aulas de história mais interessantes, dinâmicas e mais
próximas dos discentes, pois segundo os PCN’s, os discentes terão que estar aptos para
reconhecer que o conhecimento histórico é parte de um conhecimento interdisciplinar e saber
utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir
conhecimentos.
Desta maneira pretendemos auxiliá-los no desenvolvimento destas competências e
habilidades esperadas através do presente projeto, bem como produzirmos um material que
viesse contribuir e apoiar a metodologia do docente frente á essas competências. Neste
sentido, pensar este trabalho de intervenção não foi tão fácil devido o direcionamento do tema
em questão, pois assim como muitos alunos os professores demonstravam muitas vezes um
certo distanciamento e falta de habilidade em trabalhar em sala de aula com outros tipos de
fontes que não fosse o livro didático. Munindo e instigando tanto o docente como o discente
em relação a temática escolhida levando-os a conceberem um sentimento de reação diante do
descaso pelo qual passa o ensino/aprendizagem de história sobretudo a partir da relação entre
história e literatura, uma vez que o docente deve ir em busca de uma formação contínua para
que desenvolva aptidões e o desejo de aprender do seu aluno, pois de acordo com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação “o ensino deve ser ministrado com base nos seguintes
princípios: liberdade e aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a
arte e o saber” (artigo 3º inciso II, p. 5-9 Legislação). Valorizando neste sentido a liberdade
de ensinar e de aprender a partir de diferentes fontes.
3.2 - Proposta para desenvolver o ensino de História através da Literatura em sala de
aula.
Este projeto de intervenção foi iniciado como já mencionado na escola Deodoro de
Mendonça, com os alunos do 2º ano do ensino médio. Procuramos apontar a Literatura como
fonte histórica, desenvolver o senso crítico e interpretativo dos discentes em relação aos
textos históricos e literários, como também promover um maior incentivo à leitura da
literatura paraense, pois suas obras tratam sobre a identidade e cultura da sociedade local,
levando-os a conhecerem e se reconhecerem como sujeito integrante e transformador dessa
história. Levando-os a perceberem nas obras literárias fatos históricos de acordo com o
contexto em que o autor se insere e mostrar como um texto literário pode expressar o
pensamento de uma sociedade. Incentivá-los a utilizar métodos de análise e pesquisa
diferentes do habitual, com o intuito de realizar produções de textos de conteúdo histórico,
aprendendo assim a ler vários registros escritos como textos literários e livros. Para que
melhor se compreenda explicaremos esse processo em etapas.
Na primeira etapa, apresentamos o projeto fazendo uma breve interação com a turma
através de um momento de diálogo com a dinâmica: Apresente seu amigo do lado, cujo
objetivo era que pudéssemos nos conhecer previamente antes da aplicação do projeto. Em
seguida distribuímos um pequeno questionário (enquete), para sondar com que freqüência os
alunos lêem e se tinham o hábito da leitura, o que nos possibilitou perceber a ausência e o
ínfimo hábito da leitura e a dificuldade em interpretar determinados textos. Mesmo porque ler
e interpretar textos são também uma forma de se fazer história, pois, uma das habilidades
esperadas pelos PCN’s é justamente “utilizar métodos de pesquisa e de produção de textos de
conteúdo histórico, aprendendo a ler diferentes registros escritos, iconográficos, sonoros;
bem como o de “entender o texto literário da sua e de outras épocas também como reflexão
sobre a relação homem e cotidiano, possível de ser atualizada, recontextualizada ”( PCN,
2000, p. 41). Desenvolvendo neste sentido um meio de fazer com que este aluno além de ter
contato com textos escritos também tenha maior facilidade em interpretar o que foi escrito.
No entanto, na segunda etapa, dividimos os alunos em grupos e distribuímos alguns
textos literários pré-selecionados e personalizados para leitura e interpretação. Após a leitura e
interpretação dos textos cada grupo socializou sua interpretação e discutimos os principais
temas neles contidos. Relacionamos as obras com o contexto histórico em que foram escritos,
o que despertou o interesse e curiosidade dos alunos em conhecer mais textos literários e
relacioná-los a um fato histórico.
Na terceira etapa, para a coleta de resultados pedimos aos alunos que realizassem
uma produção textual, tentando relacionar o tema do texto literário com o seu cotidiano. Foi
um momento de descontração porque muitos conseguiram fazer a relação sem hesitar e ao
mesmo tempo percebemos que outros alunos apresentaram dificuldades em relacionar pela
falta da utilização destes meios nas aulas pelo professor, bem como pela dificuldade de
interpretação do mesmo.
Mas de forma geral obtivemos bons resultados porque os alunos que participaram do
desenvolvimento deste projeto demonstraram um grande interesse pela temática e
expressaram que gostariam de estudar história através da literatura com mais freqüência, o
que nos alegrou porque queríamos instigá-los a conhecer a história através de outras fontes
bem como ao docente da necessidade de inovar suas aulas, deixando-as mais livres para que o
aluno participe das aulas, expressando sua opinião, produzindo textos, escutando e
interpretando a letra de uma música, e etc., seja como for o aluno tem que “perceber
elementos de sua cultura presentes em obras literárias, levando a perceberem-se como parte
dessas obras”.
E para que se entenda melhor este projeto, bem como o de seus objetivos, justificativas
e métodos utilizados, torna-se necessário mostrar sua estrutura. É se apresenta a seguir.
JUSTIFICATIVA
Pretendemos realizar um projeto de intervenção com o tema: “História e Literatura: o
aluno interpretando a história a partir de textos literários”, na Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Deodoro de Mendonça, com os alunos do 2º ano do ensino médio, com
o objetivo de incentivá-los a utilizar métodos de análise e pesquisa diferentes do habitual, com
o intuito de realizar produções de textos de conteúdo histórico, aprendendo assim a ler vários
registros escritos, como as iconografias, poemas, entre outros.
A história diferente do que muitos pensam não é composta apenas por fatos do
passado mas sobretudo do presente, onde esta se encontra em constante mudança e é
necessário que o docente compreenda estas mudanças e as leve para a sala de aula fornecendo
instrumentos para que seus alunos possam compreendera a complexidade da história e a
dificuldade que temos em defini-la. Desde os iluministas até a Nova História, a definição da
História como ciência ou não é um dos problemas enfrentados até hoje visto que a própria
definição de ciência está em constante mutação. Nesse debate entre a cientificidade da história
estão inúmeros historiadores entre este Ciro Flamarion que defende a história como ciência,
em contrapartida temos o polêmico Hayden White, que adepto da Nova História Cultural
acredita ser a história um gênero literário. Por isso o estudo da história a partir da literatura
tem sido de grande importância para a história do cotidiano tanto da sociedade atual como as
sociedades que viveram antes de nós. “Para Paul Veyne, História não é uma ciência, não tem
método e não explica. [...] História é narrativa, só que com personagens reais. Mesmo que
baseado em fatos e documentos, não pode alcançar o realmente acontecido devido à natureza
parcial dos documentos e dos fatos”. (SILVA, 2006, p. 183).
É com base nestas discussões que nos propomos a lançar o desafio da transversalidade
no ensino de história, visto que muitos a consideram também uma narrativa com personagens
reais, e é dessa forma que queremos que os discentes a vejam, não mais como
acontecimentos e fatos do passado tão distantes de seu cotidiano, mas com um olhar mais
presente, personagens diferentes que compõem hoje essa história e que estão como nós,
presentes no seio da sociedade, onde vivem e escrevem sobre ela como homens e mulheres de
seu tempo e para compreende-las nos voltamos para seus escritos que nos levam a uma
viagem pela história através de poemas e narrativas.
Foi voltado para esses pontos que direcionamos o projeto de intervenção para dar um
apoio ao docente ao relacionar essa temática em suas aulas e fazer com que o aluno tenha
mais contato com outros tipos de fontes para que este se perceba nestas obras e as analise de
maneira critica refletindo sobre seu cotidiano.
OBJETIVOS
Gerais:
Possibilitar aos educandos uma forma diferente de conhecer a História através da
Literatura, compreendendo o contexto histórico onde estão inseridos, desenvolvendo,
sobretudo um pensamento crítico sobre cada obra e sua própria realidade.
Específicos:
Apontar a Literatura como fonte histórica.
Desenvolver o senso crítico e interpretativo dos educandos em relação aos textos
históricos e literários.
Incentivo a leitura de literatura paraense, pois suas obras tratam sobre a identidade
e cultura da sociedade local, levando-os a conhecerem e os reconhecerem como
escritores de nossa história.
Levá-los a perceber nas obras literárias fatos históricos de acordo com o contexto
em que o autor se insere e mostrar como um texto literário pode expressar o
pensamento de uma sociedade.
METODOLOGIA
Num primeiro momento se pretende fazer uma dinâmica denominada “apresente seu amigo
do lado” para a familiarização com os alunos antes da apresentação e desenvolvimento do
projeto e logo em seguida faremos uma enquete para sondar com que freqüência eles leem.
No segundo momento iremos dividir os alunos em grupos e distribuir os textos literários
personalizados para leitura e interpretação. Após a leitura e interpretação dos textos cada
grupo socializará a sua interpretação e discutir os principais temas neles contidos, como
também relacionar as obras com o contexto histórico em que foram escritos. No terceiro
momento, auxiliaremos na realização de uma produção textual, tentando relacionar o tema do
seu texto com o seu próprio cotidiano.
AVALIAÇÃO
Dar-se-á através de uma produção escrita onde o aluno a partir de um texto literário
fará uma análise comparativa com um assunto histórico e em seguida fará uma produção
escrita relacionando as informações obtidas ao seu cotidiano. Essa avaliação se fará dentro da
própria escola, e terá sua culminância na exposição oral de seu texto aos demais, o que
resultará no desempenho e dedicação de cada aluno.
RECURSOS DIDÁTICOS
Máquina digital, papel personalizado, papel branco, textos literários, livros de
História, quadro, pincel e cartolinas.
CRONOGRAMA
ETAPAS AGOSTO
2009
SETEMBRO
2009
OUTUBRO
2010
NOVEMBRO
2010
Apresentação da dupla e
sondagem da escola.x
Levantamento bibliográfico. x x
Preparação e estudo para a
apresentação do projeto.x x
Aplicação do Projeto x
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estamos extremamente felizes por temos realizado este passeio pela história e memória
da Academia Paraense de Letras em Belém do Pará. Durante este passeio percebemos que
apesar de ser uma instituição centenária no seio desta sociedade, são poucos que já
adrentaram em seus espaços e conhecem suas atividades desenvolvidas pela mesma, isso nos
leva a pensar o quanto desconhecemos nossa própria história, porém as memórias vivas estão
lá aguardando por nós para nos fazerem lembrar o quanto é importante preservá-las.
O presente estudo nos levou á um passeio pelo tempo, em sociedades diferentes a
adrentarmos as Academias de Letras, apresentadas no primeiro capitulo, onde através de um
apanhado histórico nos revelou quando e os motivos para qual foi criada, nos possibilitando a
oportunidade de estudar, analisar e visitar seu patrimônio histórico e cultural como proposta
para a prática educacional, reconhecendo dessa forma a relevância da mesma para que se
compreenda a história local, bem como ter acesso as obras produzidas em seu interior e
apontá-las com registros históricos de um período.
Foi neste sentido que o segundo capítulo trata sobre estas obras, no caso a Literatura
como fonte profunda e rica para o ensino de história, possibilitando aos docentes um olhar
mais dinâmico sobre sua prática, onde a maior preocupação tem sido em cumprir cargas
horárias sem, no entanto levar o aluno a refletir o porquê de estar estudando determinado
assunto e contrapô-lo com outras fontes, como um bom exemplo: a Literatura.
Para tanto, realizamos uma proposta de intervenção do diálogo entre História e
Literatura, proposta esta bem aceita pela maioria dos alunos e a inquietação de alguns
professores. Nossa intenção foi mostrar a importância da conversação e união entre as
ciências complementando uma á outra. O certo que esta tarefa não foi fácil e nem
esperávamos que fosse, pois acredito que mesmo as pessoas mais leigas de nossa sociedade
percebem a defasagem no ensino publico, são tantos problemas sociais e culturais que
permeiam esta sociedade que deságuam em um rio escuro, sujo e sem saídas. Talvez sejam
estes e muitos outros motivos aqui não contemplados que fazem com que o ensino caia na
mesmice e monotonia, de um lado os alunos que se acostumaram com freqüente ausência de
professores em seus quadros, pelo descaso dos governantes e aceitam de forma passiva e
natural em seu cotidiano, por outro temos docentes esgotados física e psicologicamente pelas
exaustivas aulas durante um dia,que não tem forças e muito menos incentivos para fazer de
uma aula a possibilidade de conscientização da realidade na qual se encontra este aluno,
talvez por que ele mesmo o professor tenha desistido de sua pratica e do sentido de ensinar.
ANEXOS
FONTES
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Revista cultura. Belém, maio de 2008. Ano 3- nº 2
Convites do concurso literário de 2006 e 2008 da APL.
Separata da Revista da Academia Paraense de Letras. Vols. XX e XXI. 2º semestre de 1977 e 1º semestre de 1978. Belém- Pará- Brasil.
Questionários de pesquisas elaborados pelas próprias acadêmicas para a pesquisa em campo.
Revista Pará +. Edição 38- Abril. Belém- Pará- Brasil. Ed. Círio.
Revista: Conhecimento prático de Literatura-Editora: Escala educacional-2010- por Ítalo Meneghetti.
Cadernos da TV escola- Livros etc...- Projeto acorda Brasil- MEC- Profª. Zélia Cavalcantti- 1998. Brasília- DF.
Jornais
A Folha do Norte, Belém. Microfilmagem. CENTUR (1900)
A Província do Pará, Belém. Jornais, CENTUR (1900 e 2000)
O Liberal, Belém. Jornais, CENTUR (2000).
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