Cartografia, projeção, solstício, equinócio e fusos horários
SOLSTÍCIO DE INVERNO: COMENTÁRIOS...
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SOLSTÍCIO DE INVERNO: COMENTÁRIOS GERAIS
Todas as vezes em que nos reunimos nos meses de
março, junho, setembro e dezembro, para comemorarmos
respectivamente o Equinócio de Outono, o Solstício de
Inverno, o Equinócio de Primavera e o Solstício de Verão,
saliento que a situação astronômica no hemisfério norte
(conhecido também como boreal ou setentrional, onde
existe, segundo dados obtidos da Internet, mais de 60% das
terras emersas e de 90% da população terrestre) é inversa;
em 21 de junho, por exemplo, na América do Norte, América
Central, Europa, Ásia e em partes da América do Sul e da
África nossos confrades comemoram o Solstício de Verão,
enquanto aqui, no hemisfério sul, denominado também
como austral ou meridional (que é composto principalmente
de água e da Antártida, maiores partes da América do Sul,
da Indonésia, países vizinhos e da Oceania, e parte da
África), nós comemoramos o Solstício de Inverno.1 Assim,
por causa dessa reiteração, é provável que algum Irmão a
1 Segundo o escritor maçônico belga Delsemme a constituição da Grande Loja de Londres, em 1717, ocorreu em data de festa solsticial (Cf. DELSEMME, Paul. Les écrivains francs-maçons de Belgique; préface de Raymond Trousson. Bruxelles: Bibliothèques de l'Université libre de Bruxelles, 2004, p. 27), sendo esse fato narrado também na “Pietre-Stones Review of freemasonry” (Cf. cronologia maçônica —2ª parte —1717/1812).
2
suponha supérflua porque, “afinal” — pensará ele —, “a
existência desses hemisférios — simbolizados em nossos
templos pelas Colunas do Norte e do Sul, entre as quais se
erige verticalmente o Eixo imaginário2, cruzado pela Grade
do Oriente, em cujo ápice fica o Trono de Salomão — é
ensinada, atualmente, nos cursos escolares”. “Demais” —
repensara ele com base nesta lição de astrologia — , “o Sol
não está em nenhum signo do Zodíaco, senão simplesmente
parece estar ao passar entre nossa pequena esfera — a
Terra — e as constelações, em qualquer estação ou tempo
determinado”.3
Pois bem, sem embargo dessas presuntivas e sábias
asserções, valho-me mais uma vez dessa repetição, na
esperança de que ela seja útil na interpretação de nossos
arcanos (ressaltando, por seu intermédio, minha condição
de aprendiz dos Mistérios Arcaicos), pois aquela divisão —
a exemplo dos pontos extremos daquele eixo, denominados
astronomicamente zénite e nadir — recorda-nos também o
aspecto dual da natureza: tudo em nosso Sistema Solar, e
2 Equivalente ao “equador solar” das teorias chinesas do Feng Shui.
3 Conforme a lição da fundadora da Sociedade Teosófica, a erudita Helena
Petrovna Blavatsky, o “Zodíaco móvel ou natural é uma série de constelações
que formam um cinturão de 47 graus de largura, localizado ao norte e ao sul do
plano da eclíptica. A precessão dos equinócios é causada pelo ‘movimento’ do
sol através do espaço, o qual faz que as constelações pareçam se mover para
frente contra a ordem dos signos à razão de 50 e 1/3 segundos por ano” (Cf.
“Glosario Teosófico”, verbete “zodíaco”, p. 1101-2. Disponível em:
<www.portadosol.org.br>).
3
de forma análoga no Universo, presuntivamente tudo,
submete-se ao princípio de polaridade que é representado,
em nossos templos, dentre outros símbolos, pelo Pavimento
Mosaico.4 Consequentemente, se não forem feitas as
adaptações necessárias ao estudo de nossas tradições —
ou seja, se as analisarmos sob uma forma fixa, como fossem
ajustáveis de per si às nossas situações astrais, sem
considerarmos as posições que a Terra ocupa ciclicamente
perante o Sol e as posições que esse astro ocupa
igualmente de forma cíclica perante as doze constelações
do zodíaco5 —, seus significados originais provavelmente se
perderiam (exceto, obviamente, para aqueles que já os
alcançaram), como sucederia, por exemplo, com a
modificação dos dados de uma equação no estudo da
química moderna (ciência ensinada e aplicada por meio de
símbolos), uma vez que o esquecimento ou a alteração
arbitrária do sistema da ciência sagrada implica sempre,
4 De acordo com esse princípio em tudo há dois polos ou aspectos opostos que
são, na realidade, simplesmente os dois extremos da mesma coisa, consistindo
a diferenciação em variação de graus, conforme se verifica do livro “O Caibalion”
(obra dedicada ao estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e da Grécia),
do qual se extrai esta observação: “O conhecimento do Princípio habilitará o
discípulo a mudar a sua própria Polaridade, assim como a dos outros, se ele
consagrar o tempo e o estudo necessário para obter o domínio da arte.”
5 Cujo polo norte é diferente do polo norte geográfico consoante demonstrou, dentre outros, William Eisen em “A Cabala Astrológica: a linguagem do número” (Tradução: Julia Vidili. São Paulo: Madras, 2006, p. 223).
4
para dizer o mínimo, a distorção dos ensinamentos legados
pelos nossos ancestrais.6
De fato, para comprovação da veracidade dessa
assertiva (refiro-me à importância da diferenciação das
polaridades no estudo da natureza baseado na razão e na
ciência), recordo que no século 18, quando se formalizou a
fase apenas especulativa da nossa sublime instituição — já
desenvolvida desde o século 17 na opinião de historiadores
mais recentes7, porque os mais antigos nos revelam, como
é o caso de Jean Louis Laurens em livro publicado em 1805,
não só a existência de lojas maçônicas “antes do 14º
século”, “na Alemanha, na Inglaterra, na Prússia e até na
França”, mas também de regulamentos gerais “redigidos em
1340”8 —, quando se formalizou a Franco-Maçonaria no
século 18, repito para efeito de clareza, nosso objetivo
exotérico se restringia, como Grande Loja, à realização de
6 Segundo os expositores do Caibalion o Princípio de Polaridade, que é o quarto
na ordem da apresentação, e os outros seis — que são, respectivamente, o
Princípio de Mentalismo (1), de Correspondência (2), de Vibração (3), de Ritmo
(5), de Causa e Efeito (6) e de Gênero (7) — constituem os denominados Sete
Princípios da Verdade.
7 “Mais recentes”, eu disse — e não "mais modernos” —, porque a magistral obra
de Joseph Gabriel Findel, History of Freemasonry from its rise down to the
present day (“História da maçonaria desde a sua origem até o dia presente”),
foi traduzida do alemão para o inglês em 1866.
8 LAURENS, J. L. Ensaios históricos e críticos sobre a maçonaria livre ...
Tradução: Augusto Diogo Tavares. Petrópolis: M. A. de Oliveira, 1899, p. 9, nota;
______. Essais historiques et critiques sur la franc-maçonnerie ... Seconde
édition. Paris: Chez Chomel,1806, p. 9, nota 1.
5
duas reuniões anuais, “em los dias de los solstícios de
verano y de invierno”, conforme esclarece Iván Herrera
Michel no livro “Historia de la masoneria”.9 Destaco,
também, que era ou ainda é justamente “no menor dia do
inverno” que os integrantes do verdadeiro Xamanismo (que
são descritos como adoradores do Espírito, isto é, como
aqueles que não têm altares nem ídolos) realizavam ou
ainda realizam seus ritos anualmente, consoante revelou a
erudita H. P. Blavatsky em sua preciosa obra intitulada “Isis
sem Véu”.10
Como corolário, essa divisão circular de 180 graus
gerada pela “linha do meio-dia” (conhecida também como
equador solar), que nos guia intuitivamente além da visão
cosmológica e aquém da visão infinitesimal, tem uma
importância incomensurável no exame de nossos arcanos
porque, segundo o relato de Heródoto (o sábio historiador
grego da antiguidade), no vestíbulo do templo de Vulcano,
no Egito Arcaico, por exemplo, na época do lendário
“Rampsinito” (que é apontado por especialistas como faraó
sucessor de “Proteu”), foram construídas duas estátuas de
vinte e cinco côvados de altura, uma ao norte e outra ao sul,
9 MICHEL, Iván Herrera. Historia de la masonería. Barranquilla (Columbia): Edição virtual, Janeiro de 2007, vol. I, p. 17. Disponível em: <pt.escribd.com>.
10 BLAVATSKY, Helena Petrovna. Isis sem Véu: uma chave-mestra para os
mistérios da ciência e da teologia antigas e modernas. Tradução: Mário Muniz Ferreira e Carlos Alberto Feltre. São Paulo: Pensamento, 1995, vol. IV, p. 235.
6
denominadas pelos egípcios, respectivamente, Verão e
Inverno11. E mais: conforme informou Daniel Rammé (o
festejado arquiteto e historiador francês do século 19), em
sua obra denominada “Teologia Cosmológica ou
Reconstrução da Antiga e Primitiva Lei”, “2700 antes da era
vulgar, a sombra do sol ao meio-dia foi medida nos dois
solstícios de Inverno e Verão, com um gnomo de oito pés”,
experiências que tiveram lugar em Honan (nome que
significa sul do Rio Amarelo, uma província da República
Popular da China12), fato que fora narrado originariamente
pelo insigne egiptólogo do século 19 Alexandre von
Humboldt em sua obra “Cosmos: ensaio de uma descrição
física do mundo”.13
Convém pontuar ainda, antes de meu retorno ao tema
central, que esse legado do Egito Arcaico tem, entre seus
significados espiritual e psicofísicos14, uma estreita conexão
com as projeções planas ou azimutais, estudadas
11 Cf. HERÓDOTO. História. Versão eBooksBrasil: 2006, item CXXI. Disponível em: <www.books.google.com.br.>
12 RAMÉE, Daniel. Théologie cosmogonique ou Reconstitution de l'ancienne
et primitive loi. Paris: Librairie D’Amyot, 1853, p. 28.
13 HUMBOLDT, Alexandre de. Cosmos: Essai d’une description physique du
monde. Tradução de: H. Faye. Paris: Gide et J. Baudry, 1860, tome troisiéme
(primière partie), p. 499-500; ______. Tradução de: CH. Galusky. Paris: Gide et
J. Baudry, 1855, tome deuxieme, p. 478; ______. Tradução de: CH. Galuskt.
Paris: Gide et J. Baudry, 1852, tome trosième (seconde partie), p. 499-500;
______. Tradução de: H. Faye. Paris: Gide et J. Baudry,1851, tome trosième
(primière partie), p. 499-500.
14 Nos quais os estudiosos incluem os dois hemisférios do cérebro.
7
modernamente no âmbito das ciências geodésicas15, e os
enigmáticos Disco de Festo (conhecido também como Disco
de Faisto ou Disco de Phaisto), Manuscrito de Voynich e os
alinhamentos e monumentos megalíticos espalhados em
torno de nosso planeta.16
Nesse ponto, abrindo um parêntese, ressalto que se
justifica a extensão do princípio de polaridade ao universo,
conforme a regra de analogia recomendada por Hermes
Trismegisto em sua conhecida “Tábua de Esmeralda”
(recomendação que é aplicável do átomo ao cosmos),
porquanto, consoante advertiu Jesus Iglesias Janeiro (o
insigne escritor e cabalista argentino), a Lua gira em torno
da Terra, a Terra ao redor do Sol17, o Sol em torno de um
centro comum aos componentes da nossa Galáxia ou Via
Láctea, e ela, nossa galáxia espiral, por sua vez, em torno
de outro centro (gravitacional) comum a muitas galáxias.18
Isso significa, em termos de nosso Sistema Solar, nas
15 Que englobam a Engenharia Cartográfica e de Agrimensura. 16 Dos quais se destacam, respectivamente, os de Carnac e Stonehenge.
17 Fato percebido anteriormente à era do cristianismo pelo astrônomo e
matemático grego Aristarco de Samos. Aliás, conforme informação de Daniel
Ramée, “Tales e Anaximandro, ambos de Mileto, conheciam a esfericidade da
Terra, e Anaximenes, também de Mileto, fazia percorrer os astros em torno dela”
(Cf. op. cit., p. 142). Esclareço, de acordo com informações obtidas por meio da
Internet, que Mileto é o nome de uma antiga cidade-estado grega no sul da Jônia,
localizada na costa ocidental da península da Anatólia (Ásia Menor), cuja região
é atualmente parte do território da Turquia.
18 JANEIRO, J. Iglesias. La Arcana de los Numeros. Buenos Aires: Editorial Kier, 1985, p. 121.
8
palavras de William Eisen, que, “(...) do mesmo modo como
o polo zodiacal gira em torno do polo norte geográfico a cada
24 horas, assim o polo geográfico gira em torno do polo
zodiacal a cada 26 mil anos”19 — eu diria, com apoio no
ensinamento de H. P. Blavatsky, em 25.868 anos.20
Observa-se, assim, que essa movimentação de
componentes cósmicos — cuja duração em nosso sistema
é denominada esotericamente Grande Ano, Grande Era ou
Ano do Sol, e astronomicamente, ano platônico, e
corresponde à circulação elipsoide do Sol pelas doze
constelações zodiacais — tem conexão com a forma pela
qual caminhamos em nosso Templo, os raios cintilantes, as
três viagens de iniciação, as purificações, a Escada de Jacó,
a construção e cobertura da Loja, ao local que não podemos
transpor e as linhas limítrofes, a orientação da Loja, as doze
19 EISEN, William. A Cabala da Astrologia: a linguagem do número. Tradução: Júlia Vidili. São Paulo: Madras, 2006, p. 253. 20 Théophile Moreaux (renomado astrônomo francês do século 19, conhecido
como abade Moreaux) limita esse período em 25.800 anos e afirma que a estrela
que recebia a qualificação de polar, na época da construção da Grande Pirâmide
egípcia, pertencia à constelação do Dragão (Cf. MOREAUX, Théophile. La
ciencia misteriosa de los faraones. Buenos Aires: Safian, 1956, pp. 20 e 51).
O insigne escritor norte-americano Albert Churchward, por sua vez, baseando-
se em sistema de cálculo extraído de ritual egípcio arcaico, assevera serem
necessários 25.827 anos na consumação de um Grande Ano (Cf.
CHURCHWARD, Albert. The Arcana of freemasonry. 5. ed. London: George
Allen & Unwin, 1915, p. 65; ______. The Signs and Symbols of Primordial
Man: the evolution of religious doctrines from the eschatology of the
ancient egyptians. London: Georg Allen, 1913, p. 15), enquanto Gérard
Encausse (“Papus”) quantifica esse espaço temporal em 25.765 anos (Cf.
Iniciación Astrológica. Tradução: Grupo Editorial. Barcelona: Humanitas, 1990,
p. 33).
9
colunas postas em torno do nosso Templo (seis no Norte,
seis no Sul), ao pórtico elevado por três degraus, as duas
colunas de bronze (erigidas uma em cada lado da entrada
do Templo), as três romãs abertas, ao tamanho dessas duas
colunas21, as três janelas da Loja, ao Pavimento Mosaico,
aos horários do início e término dos nossos trabalhos, as
Três Luzes da Loja, a Corda de Oitenta e Um Nós (cuja
divisão pela quantidade de viagens nos dá uma ideia
aproximada da duração de cada ronda), e, enfim, com todos
os símbolos maçônicos verdadeiros, ou seja, os que
compõem efetivamente a linguagem dos mistérios arcaicos
conhecida também como “alfabeto dos iniciados”. No
entanto, como a análise das correspondências não se inclui
no objeto deste trabalho (inclusive porque eu não disporia de
capacidade perceptiva para execução da tarefa), atenho-me
a lhes recomendar a leitura destes livros: “O Sistema Solar”,
do teosofista Arthur Edward Powell (cuja análise faz parte do
programa da denominada “Loja Esotérica Virtual”22), e “O
Sistema Planetário”, de Bovisio Santiago (o insigne escritor
ocultista italiano que se radicou, propagou seus
conhecimentos e desencarnou na Argentina no século 2023).
21 Que nos recorda o teorema de Pitágoras (Proposição 47 de Euclides, o matemático grego de Alexandria) e o Zodíaco móvel ou natural. 22 Disponível em: <www.levir.com.br/>. 23 SANTIAGO, Bovisio. El Sistema Planetário (Libro XVII). Disponível em:
<www.santiagobovisio.com.>
10
Com efeito; fiz essas alusões tão-somente para lhes
lembrar que os egípcios do período arcaico — isto é, os
ancestrais que nos legaram a Filosofia Esotérica ministrada
em nossos templos — utilizavam-se dos signos do zodíaco
para representar a marcha da natureza e de suas
operações, durante as revoluções do Sol e da Lua,
consoante nos disse, dentre outros, o famoso filósofo
platónico Lucius Apuleius no livro “O Asno de Ouro”.24
Charles François Dupuis (o célebre historiador francês), por
exemplo, pronunciando-se em igual sentido, assim se
expressou em seu “Compêndio da Origem de Todos os
Cultos”:
“No templo de Heliópolis ou cidade do Sol havia doze
colunas cheias de símbolos relativos aos doze signos e
os elementos.
As vastas massas de pedra consagradas ao astro do
dia eram de figura piramidal, a mais apta para
representar os raios do sol, e a forma em que se eleva
a chama.
A estátua de Apolo Agieo era uma coluna terminada em
ponta, e Apolo era o sol.
24 APPULEIO. O Burro de Ouro. Tradução portuguesa. Lisboa: Tipografia de José Baptista Morando, 1847, p. 444.
11
No Egito não se confiava aos artistas ordinários a
modelação das efígies e estátuas dos deuses. Os
sacerdotes faziam os desenhos determinando suas
formas por esferas, isto é, pela inspeção do céu e suas
imagens astronômicas. Por isso vemos que em todas
as religiões os números sete e doze, este que é dos
signos, e aquele o dos planetas, são números sagrados
que se reproduzem sob todas as formas. Tais são os
doze grandes deuses; os doze apóstolos; os doze filhos
de Jacob ou as doze tribos; os doze altares de Jano; os
doze trabalhos de Hércules ou o sol; os doze escudos
de Marte; os doze irmãos Arvales25; os doze deuses
Consentes26; os doze membros da luz; os doze
governadores no sistema maniqueu; os doze adityas
dos Hindus; os doze azos (?) dos Escandinavos; as
doze portas do Apocalipse; os doze bairros da cidade
ideada por Platão ...
O mesmo sucede com o número sete. Tal é o
candelabro de sete acendedores, que figurava o
sistema planetário no Templo de Jerusalém; os sete
recintos do templo; (...) os sete pisos da torre da
Babilônia; (...) os sete arcanjos dos Caldeus e Judeus;
25 Espécie de sacerdotes romanos (Cf. NASÃO, Publio Ovídio. Os Fastos.
Tradução: Antonio Feliciano de Castilho. Lisboa: Academia Real das Ciências, 1862, p. 532). 26 “Deuses maiores” (poderes naturais), na mitologia de Roma, que formavam o conselho supremo.
12
(...) os sete sacramentos dos cristãos, etc. A cada
página do livro astrológico e cabalístico, intitulado o
Apocalipse de João, estão os números doze e sete: o
primeiro está repetido quatorze vezes, e o segundo
vinte e quatro.
O número trezentos e sessenta, que é o dos dias do
ano, sem contar os epagómenos27, lembram também
os trezentos e sessenta deuses que admitia a teologia
de Orfeu; os trezentos e sessenta vasos de água do
Nilo, que despejavam os sacerdotes egípcios, um em
cada dia, em um tonel sagrado que havia na cidade de
Acanta; os trezentos e sessenta eons ou gênios dos
gnósticos; (...) os trezentos e sessenta gênios que
capturam a alma na hora da morte, segundo a doutrina
dos cristãos de São João; os trezentos e sessenta
templos situados na montanha de Louham (Lushan?)
na China;28 o muro de trezentos e sessenta estádios,
com que cercou Semíramis a cidade de Belo ou Sol, na
célebre Babilônia. Todos esses monumentos nos
retratam a mesma distribuição do mundo, e do círculo
dividido em graus que anda o sol. Finalmente também
27 Nome grego dos cinco dias que os egípcios acrescentaram para complementação do ano solar. 28 Acredito que houve equívoco na citação do nome da montanha chinesa em
que existem esses templos porque o correto é, ao que tudo indica, Montanha
Lushan, localizada no norte da província de Jiangxi e à margem sul do curso
médio do rio Yangtsé, que foi tombada como patrimônio mundial.
13
foram assuntos das divisões políticas e religiosas a
partição do Zodíaco em vinte e sete partes, que indicam
as estações, e em trinta e seis, que é a mesma que a
dos decanos”.29
Essas observações são dignas de reflexões, mas,
como salientei, tudo isso tem correlações e significados
esotéricos complexos que eu não teria atualmente
condições de analisar e desenvolver, principalmente, em um
trabalho com as características do presente; por se tratar de
matérias abstrusas elas devem ser versadas, a meu ver,
exclusivamente por aqueles que possuem um profundo
conhecimento da Arte Real. Para chegar-se a essa
conclusão é bastante observar que Jámblico (o famoso
filósofo platônico grego da antiguidade) nos revelou, em sua
obra “Sobre Os Mistérios Egípcios”, que por meio da
doutrina simbólica os egípcios demonstravam não só
aqueles fenômenos astronômicos, que constituíam uma
parte muito pequena do sistema hermético, mas também, e
principalmente, a unidade da Divindade.30
29 DUPUIS, Charles François. Compendio del origen de todos los cultos.
Tradução: D. Josef Marchena. Burdeos: Don Pedro Beaume, 1820, tomo I, p. 56-62. 30 Cf. JÂMBLICO. Sobre los mistérios egípcios. Tradução: Enrique Ángel Ramos Jurado. Madry: Gredos, 1997, pp. 197 e 207.
14
Isso não me impede, entretanto, de fazer um bosquejo
das ideias sublimes que nos foram legadas pelos nossos
ancestrais com fundamento na síntese de um Mestre da
Sabedoria Arcaica (refiro-me ao oriental Djual Khool [Djwhal
Khul], conhecido como “o tibetano”). Em suas palavras, que
me limitarei a lhes retransmitir, o espaço é considerado uma
entidade e a “abóbada celeste” — como poeticamente se a
denomina — é a aparência fenomênica dessa entidade.
Uma ideia vaga desse entendimento, que proporciona uma
analogia (embora falha pelas proporções), obtém-se da
consideração da família humana, o quarto reino da natureza,
como uma entidade-unidade que se expressa através das
inumeráveis e diversificadas formas de homem. Cada um de
nós, como indivíduos, participa da humanidade, não
obstante cada um viva sua própria vida, reaja às suas
próprias impressões, responda às influências e impactos
externos, e, por sua vez, imane influências, envie radiações
temperamentais e expresse alguma qualidade ou
qualidades, afetando assim, em certa medida, seu meio-
ambiente e àqueles com quem entra em contato. Ampliando-
se essa ideia ao sistema solar, verifica-se que essa entidade
fenomênica é em si mesma parte integrante de uma vida
bem maior, a qual se expressa por meio de sete sistemas
solares, dos quais o nosso — a Via Láctea — é um. Dessa
forma, a vida, as influências, as radiações e emanações
15
dessa entidade macrocósmica e o efeito que produzem
sobre nossa vida planetária, em os reinos da natureza e nas
civilizações humanas em desenvolvimento é que constituem
o objeto final do nosso aprendizado.31 Encerrando esse
resumo, destaco que esse assunto pode parecer
inadequado à nossa mente analítica, por expressar o objeto
da ciência antiga denominada por alguns estudiosos como
Astrologia Científica ou Astrologia Judiciária, porém é
inerente aos mistérios egípcios arcaicos.
Com efeito; segundo a narração do conhecidíssimo
filósofo e historiador grego Plutarco, em sua não menos
famosa obra intitulada “De Ísis e Osíris”, no Solstício de
Inverno os egípcios realizavam uma procissão e levavam
uma vaca, uma vaca sagrada, para dar sete voltas em torno
do templo do Sol e denominavam esse procedimento de
“Busca de Osíris” — ritual que se destinava à manifestação
do desejo da deusa por ver a água que o sol produzia e que
não existia em tempo de inverno32. Portanto, em razão do
nome atribuído a esse ritual, os atuais mestres maçons se
lembrarão, provavelmente, da busca que realizaram à
procura do Mestre Hiram Abiff, que, a exemplo de Osíris no
31 Cf. BAILEY, Alice Ann. Astrologia esotérica pelo mestre tibetano Djwhal Khul, p. 4. Disponível em: <www.formarse.com.ar.> 32 Ploutarchou peri Isidos kai Osiridos: Plutarchi de Iside et Osiride liber, p. 72. Disponível em: <http://books.google.com.br>; ______. De Isis y Osiris, p.
41. Disponível em: <http://pt.scribd.com>.
16
antigo Egito, foi assassinado por forças das trevas.33 Como
consequência, não terão dificuldade em concluir que a festa
do Solstício de Inverno naquela época era também
concernente à procura da Palavra Perdida, que representa,
na franco-maçonaria, nada mais, nada menos, que a
compreensão daquilo que permanece ininteligível e
incompreensível aos profanos e aos iniciados imperfeitos.
Nesse passo é conveniente salientar que aquela
declaração aparentemente confusa de Plutarco, relativa ao
desejo da deusa Isis (pretensão de natureza mística
semelhante à nossa de encontrar a Palavra Perdida),
corresponde também a um fato narrado por Heródoto (o
historiador e geógrafo grego da antiguidade), cuja
explicação ele legou à posteridade, referente ao regime
completamente diferenciado do Nilo comparativamente aos
outros rios do planeta, uma vez que começava a encher no
Solstício de Verão, retraía-se depois de cem dias, e
permanecia pouco volumoso, inclusive durante o inverno,
até o novo Solstício de Verão34 — situação que se modificou
33 Consulte-se, nesse sentido, LAVAGNINI, Aldo. Manual del Maestro, p. 18-9.
Digitalizado por: Biblioteca Upasika. Disponível em: <www.liberdade7.com.br.>
34 Fato narrado também pelo famoso escritor italiano de história da antiguidade Diodoro, originário da Sicília (conhecido igualmente como “Diodoro de Sicíia” ou “Diodoro Sículo” e como “historiador grego”), que salientou, em outra passagem, que o transbordamento começava “a partir do solstício de verão” e terminava “depois do equinócio de outono” (Cf. DIODORO DE SICILIA. Biblioteca histórica. Tradução: Francisco Parreu Alasà. Madri: Gredos, 2001, tomo I, pp. 216, 217 e 223; e ______. Histoire universelle. Tradução em Francês: Abade
17
provavelmente, a meu ver, com as construções das represas
de Assuã.35
Pois bem, retornando ao tema principal de meus
comentários — o que faço com uma preliminar
recomendação de leitura do livro de Joseph Paul Oswald
Wirt (o famoso ocultista suíço e escritor maçônico)
denominado “O Simbolismo Astrológico”36 —, lhes
repassarei agora os ensinamentos de Roso de Luna (o sábio
teosofista espanhol) sobre a divisão daquela movimentação
cósmica. Disse ele: “Mas a roda da Evolução, o incessante
Sopro Eterno que deste modo liberta todas suas inteligentes
energias empregadas na Manifestação, tem um ‘ponto de
inflexão em sua curva’, como diriam os matemáticos; tornar-
se o ponto a encarnar, ou seja, a manifestar-se em um novo
universo, como o Sol quando, passado o solstício de
inverno, começa desde aquele mesmo instante a grande
ascensão simbolizada no conceito abstrato de ‘Primavera’,
e dizemos ‘conceito abstrato’, porque dentro da eterna lei de
toda curva ascendente ‘primavera’ não é só, por assim dizer,
a primavera do ano, senão que podem determinar-se cem
outras analógicas ‘primaveras’: a do dia (ascensão vital do
Terrasson, da Academia francesa. Paris: [s.n.],1787, nova edição, primeiro volume, p. 76). 35 Conforme dados obtidos da Internet, duas foram as barragens construídas com objetivo de controlar as enchentes do rio Nilo: Assuã Baixa e Assuã Alta (concluída em 1970). 36 Disponível em: <www.liberdade7.com.br.>
18
meio-dia à meia-noite); a da lunação (desde a lua nova até
a lua cheia); a da vida (desde o nascimento até a idade
adulta)... Por isso os deuses de todas as Teogonias, como
pálidos reflexos que são da Ciência-Religião Primitiva da
Natureza, nascem sempre no solstício de inverno, ou seja,
começam desde o ponto mais baixo de cada ciclo, grande,
pequeno ou ínfimo, sua obra de construção ou organização
com os relativos e respectivos theoi ou ‘deuses’ na
interminável cadeia de suas organizações, desde o protilo
em íons e elétrons de diferente disposição ou número, a teor
da universal Alquimia, para construir o átomo, e passando
em seguida pela molécula simples de água, etc., à complexa
de ácidos, gases e sais, à complexíssima das moléculas
gigantes, como a das albuminas, até chegar triunfalmente ao
mundo ou cosmos da célula petrográfica, vegetal ou animal,
mundo ou harmonia que, por sua vez, não é senão o
elemento primordial das organizações vivas do vegetal, do
animal, do homem ou do astro...”.
“Essa é” — continuou ele —, “ao contrário da anterior,
a marcha de Shiva a Brahma; da desorganização à
organização; do Pralaya ao Manvántara; da Morte à Vida; do
Inverno ao Verão; do nascimento à virilidade; em uma
palavra: do Caos a Deus, ou, em termos também de filosofia
matemática da função eterna: C x T= K, em que, ao tomar T
valores infinitamente grandes, ele vai reduzindo o C (o Caos)
19
a valores infinitamente pequenos, até que, no limite, esse
último se reduza a zero, e a constante K do Cosmos se
identifique ou iguale com a Divindade ou Deus, ou seja, até
que essa chegue à apoteose de sua manifestação ou
Manvántara, como o Sol ao meio-dia, a lua em sua lua cheia,
a Vida em o verão, o Homem em sua virilidade, e tudo, tudo,
enfim, quando culmina... Esse é o momento supremo do
equilíbrio entre o crescimento universal do grande, pequeno
ou ínfimo; esse é Vichnú, o ‘Conservador de um dia’,
dominado no colo da serpente de Shecha, a eterna Serpente
dos Ciclos evolutivos de todo raio; a curva ou espiral sem
fim, o Grande Labirinto da Vida em que os números ou
unidades simples vão se integrando em unidades superiores
(dezena, centena, milhar...) sem limite conhecido! Por isso
Vichnú é Cosmos: a suprema harmonia daqueles dois
opostos evolutivos de Brahma e Shiva; por isso Vichnú
abstrato aparece na apoteose de todo o evolutivo ao
culminar em sua ascensão e iniciar sua descida, para novas
e intermináveis ascensões e descidas; por isso também
cuidaram de dizer Platão, David e Jesus, que ‘éramos
deuses, e o havíamos esquecido’! Deuses não somos só
nós, senão todos os seres, porque tudo quanto evoluciona
pelo Grande Alento é potencialmente divino, como eterna
20
Manifestação do sempre inesgotável e nunca plenamente
Manifestado!”37
Nesse mesmo sentido, mas com a projeção dessas
ideias diretamente sobre o “padroeiro” da nossa sublime
instituição, colhem-se estes apontamentos do livro
“Cosmogonia Maçônica: símbolo, rito, iniciação”, publicado
em 2007, na Argentina, sob o pseudônimo de “sete mestres
maçons”: “As duas festas mais importantes que se celebram
em nossa Ordem (e que por certo foram celebradas por
todos os povos), são as dos dois solstícios, de verão e de
inverno — eixo vertical da roda —, que correspondem
respectivamente ao sul e ao norte, ao meio-dia e a meia-
noite e aos signos zodiacais de Câncer e de Capricórnio.
Esses dois pontos do tempo eram chamados pelos gregos
‘porta dos homens’ e ‘porta dos deuses’, e a tradição hindu
os identificava como o pitr-loka e o deva-loka, e estão
relacionados com os dois perfis do Jano dos romanos e com
os dois Joãos (Batista e Evangelista) da tradição cristã. Se
diz que pela primeira das portas saem as almas dos não
iniciados que, depois da morte, haverão de retornar a outro
estado de manifestação; e pela segunda a dos que, graças
à morte e ao processo iniciáticos, hão conhecido os estados
37 LUNA, Roso de. Simbología Arcaica: comentários a “La Doctrina Secreta”,
de H. P. Blavatsky, fundadora de la sociedad teosófica. Madry: Pueyo, 1921, p.
87-8.
21
múltiplos do ser e as diversas dimensões do tempo e do
espaço, conseguindo desse modo realizar o retorno à
Unidade, onde se recupera a inamovibilidade da origem e se
obtém a Grande Luz oculta na não-manifestação. É esse o
sentido esotérico de que nossos trabalhos se realizam do
meio-dia à meia-noite; pois se é certo que para o profano a
maior luz surge ao meio-dia e em o solstício de Verão (o dia
mais longo do ano), o iniciado, pelo contrário, encontra a
Grande Luz no solstício de Inverno, pois em sua busca
interna se há dirigido até o conhecimento do Sol da Meia-
noite. E também é esse o sentido simbólico de que o Cristo
nasça justamente a zero hora e no solstício invernal de
Capricórnio, e que a partir desse nascimento o tempo
comece a contar de novo.”38
Esclareço-lhes que essa transformação do “deus”
romano de duas faces opostas (Jano, ou Janus em latim)
nos dois “santos” da religião cristã e sua posterior introdução
na Maçonaria como “patrono” são aludidas pelos ilustres
escritores Jean Palou e Albert G. Mackey nas obras,
respectivamente, “O Simbolismo Maçônico” e “Simbolismo
Franco-Maçônico”. O primeiro vincula as festas daí
38 Cosmogonia masónica: símbolo, rito, iniciación. Buenos Aires: Kier, 2007, p.
173-4. Disponível em: <www.books.google.com.br>
22
decorrentes aos artesões construtores da Idade Média39,
enquanto o segundo — em tom de explicação, mas sem
nada explicar realmente com clareza — acrescenta: “Se
supormos que o círculo representa o curso aparente do sol,
os paralelos indicarão os limites Sul e Norte da declinação
solar, quando esse astro chega aos pontos solsticiais de
Câncer e de Capricórnio. Os dias em que o sol chega a
esses pontos são 21 de junho e 22 de dezembro, os quais
explicarão facilmente que se hajam dedicado aos santos
Joãos, cujos aniversários a Igreja celebra nesses dias”.40
De minha parte e apenas para registrar a opinião deste
famoso estudioso e escritor francês do século 19 (porquanto
o culto à Divindade sob seu tríplice aspecto remonta,
induvidosamente, à era do Egito Arcaico), informo-lhes que
Emílio Burnouf, após asseverar na obra “A Ciência das
Religiões” que aquele rito anual “constitui o culto cristão por
excelência” e está também distribuído “de acordo com a
marcha do sol e da luz” (coincidindo o nascimento do Cristo
39 PALOU, Jean. El simbolismo masónico: las logias de San Juan, p. 5.
Disponível em: <www.pt.escribd.com.>
40 MACKEY, Albert Gallatin. El simbolismo francmasónico, p. 99-100.
Disponível em:<www.liberdade7.com.br.>
23
com o Solstício de Inverno e a festa do precursor com o
Solstício de Verão), advertiu que “as outras festas são
distribuídas metodicamente nas outras partes do ano, de
acordo com uma ordem que deve ser comparada com a de
cerimônias védicas”. Afirmou, ainda, ser muito provável que
o Natal e o São João hajam coincidido primitivamente com
os solstícios e situa esse fato, essa provável coincidência,
com base em cálculo astronômico em que considerou a
precessão equinocial em cinquenta segundos por ano, em
aproximadamente 7.000 (sete mil) anos.41
Nesse ponto, antes de fazer uma última observação
sobre nossa antiga tradição (e aproveitando o espaço para
enfatizar que a Maçonaria não surgiu com a moderna
formalização dos ritos, mas no instante em que a Sabedoria
Arcaica começou a ser transmitida por meio de símbolos e
alegorias), utilizo-me do glossário teosófico de H. P.
Blavatsky para lhes dizer o seguinte: 1º) na concepção dos
egípcios, Hórus (cuja imagem, em forma de um menino
recém-nascido, era retirada do santuário, no Solstício de
Inverno, para ser exposta à multidão local) representava não
41 BURNOUF, Émile. La Science des religions. Quatriéme édition revue et complétée. Paris: Libraire Ch. Delagrave, 1885, p. 181-2; _______. deuxiême édition. Paris: Maisonneuve et Cie., 1872, p. 284 (digitalizado pela Google). Disponível em: <www.books.google.com.br.>
24
só a abóbada celeste (oriunda da matriz do mundo), mas
também, cosmicamente, o Sol de inverno (substância de seu
pai, Osíris, de quem seria uma encarnação e com ele se
identificaria); 2º) a água era o primeiro princípio das coisas
(o fluído potencial contido no espaço infinito); e 3º) a vaca
era consagrada a Isis (a mãe universal, a natureza, a aurora
da criação védica). E mais: 4º) os planos espiritual, mental,
psíquico e físico da existência humana eram comparados —
na Alquimia arcaica — aos quatro elementos: fogo, ar, água
e terra, sendo cada um deles suscetível de uma tripla
constituição: fixa, variável e volátil.
Pois bem, chegado o momento da conclusão destes
comentários, reservei-o para lhes falar de uma possível
dúvida decorrente da adoção, pelos nossos ancestrais, do
Solstício de Inverno (que corresponde ao período de
chuvas), em lugar do Solstício de Verão (que corresponde
ao período de maior radiação solar42), como representação
do denominado Fogo Cósmico. Suponho-a existente,
porque, baseando-se no hierograma I.N.R.I., os mais
adiantados na Arte Real indagariam: não é o fogo que
renova a natureza inteira? Assim, para equacionamento e
42 Para aprofundamento da análise dessa matéria, sugiro-lhes a leitura do
capítulo XXXV do livro “Simbolos fundamentales de la Ciência Sagrada”, de
René Guénon, disponível em: <www.liberdade7.com.br.>
25
solução dessa questão me utilizarei da lição de Jean-Marie
Ragon Bettignies (o eminente escritor maçônico francês do
século 19), constante em seu “Curso Filosófico das
Iniciações” (aceitando-a momentaneamente, portanto, como
a melhor), assim expressada:
“Pode parecer paradoxal que o emblema do fogo
corresponda ao inverno em lugar do verão. Se homens
vulgares houvessem escrito esses emblemas, teria
ocorrido que, enganados pelo testemunho de seus
sentidos, fariam que o fogo coincidisse com a época do
ano em que o sol aquece mais intensamente a terra e,
seguindo o mesmo raciocínio, teriam feito que a terra
fria e inerte correspondesse com o inverno.
Mas esses quadros engenhosos foram elaborados por
sábios que não esqueceram que não deviam pintar o
que viam, senão o que era realmente. Vejamos como
raciocinaram para chegar a semelhante conclusão.
A época do ano com que deve se relacionar o elemento
terrestre é aquela em que a terra é coberta em todos os
lugares de flores e vegetação, devolvendo ao homem
os tesouros que lhe foram confiados.
Portanto, a terra deve corresponder à primavera.
26
No verão parece que o ar puro brilha de modo
extraordinário; o ar, rarefeito pelo calor, é mais vivo. Por
isso o ar corresponde ao estio.
O outono é a estação das chuvas, e deve caracterizar-
se por meio da água.
Enfim, no inverno — nesta estação em que o calor se
concentra e em que, enquanto a geada atapeta a
superfície da terra, a Natureza prepara as maravilhas
da primavera e os frutos do outono — é quando atua
com maior energia o fogo central (o fogo elementar ou
da Natureza); então é quando ele opera, apesar de
estar oculto, suas mais deslumbrantes maravilhas:
ignis ubique latet; então é quando queima a Natureza,
e a fecunda e realiza no universo inteiro esse
movimento que volta a nos trazer o sol e os dias
bonitos: naturam amplectitur omnem. O fogo oculto e
sempre ativo é o que produz e conserva todas as
coisas: cuncta parit, cuncta que alit. O fogo, alma da
Natureza cujas formas renova perpetuamente, é que
divide os elementos dos corpos ou reúne suas
moléculas dispersas: cuncta renovat, cuncta que dividit.
Esse elemento é o que, uma vez que há sido o princípio
de todos os seres, converte-se em causa ativa de sua
destruição e de sua agregação a outros mistos: cuncta
urit.
27
Os antigos acreditaram que esse elemento era tão ativo
que supuseram, primeiro, que era o primeiro agente da
Natureza, depois afirmaram que era o emblema da
Divindade e, por último, que era própria Divindade”.43
Em sendo essas as observações que eu pretendia lhes
apresentar sobre o Solstício de Inverno, e recordando aos
interessados a existência de um interessante trabalho sobre
os hemisférios norte e sul à luz do Feng Shui (“Fan Shuêi”)
chinês44, declaro o cumprimento de minha tarefa, agradeço
fraternalmente a atenção dispensada e afirmo que esses
comentários, mesmo que nada de novo lhes tenham
proporcionado, foram compilados com um propósito inverso.
Ayña (33º)
43 RAGON, Jean Marie. Curso Filosófico de las iniciaciones antiguas y
modernas, p. 180-1. Tradução: Salvador Valera. Disponível em:
<www.liberdade7.com.br.>
44 Disponível em: <www.fengshui.com.br.>