Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

130
ACEP – Associação para a Cooperação Entre os Povos FONG-STP – Federação das ONG em São Tomé e Príncipe SOCIEDADE CIVIL, COMUNICAÇÃO E ADVOCACIA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

description

Estudo realizado no âmbito do projecto Sociedade Civil pelo Desenvolvimento - Comunicação, Capacitação, Advocacia. Mais info em www.sociedadecivilstp.blogspot.pt

Transcript of Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

Page 1: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

1

ACEP – Associação para a Cooperação Entre os PovosFONG-STP – Federação das ONG em São Tomé e Príncipe

SOCIEDADE CIVIL, COMUNICAÇÃO E ADVOCACIA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

Page 2: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 3: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

SOCIEDADE CIVIL, COMUNICAÇÃO E ADVOCACIA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

Page 4: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

TÍTULOSociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

COORDENAÇÃO

Pedro Rosa Mendes

AUTORESAlexandro Cardoso, Ana Filipa Oliveira, Edson Moniz, Eduardo Elba, José Cardoso, Liadilma Alves, Liliana Azevedo, Olívio Diogo, Paula Medina Fernandes, Pedro Rosa Mendes

EDIÇÃOACEP e FONG-STP

CRIAÇÃO GRÁFICA E ILUSTRAÇÃOAna Grave

IMPRESSÃOGUIDE Artes Gráficas

DATAAbril 2014

ISBN978-989-8625-05-2

DEPÓSITO LEGAL378516/14

Esta publicação foi elaborada com o apoio da União Europeia e do Camões, I. P. O conteúdo do mesmo é da responsabilidade exclusiva da FONG-STP e da ACEP, e em nenhum caso pode considerar-se como reflectindo o ponto de vista dos financiadores.

Page 5: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

5

7 / LISTA DE SIGLAS

8 / LISTA DE AUTORES

11 / SUMÁRIO EXECUTIVO

19 / INTRODUÇÃO Pedro Rosa Mendes

29 / METODOLOGIA Pedro Rosa Mendes

31 / CONCEITOS-CHAVE Ana Filipa Oliveira

ÍNDICE

PARTE 1 35 / A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL

37 / AGENDA DE DESENVOLVIMENTO: MUITAS DIFICULDADES, GRANDES EXPECTATIVAS Eduardo Elba com Edson Moniz e Liadilma Alves

43 / MONITORIA E GOVERNAÇÃO: QUAL O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL Liliana Azevedo

47 / PANORAMA DA CORRUPÇÃO EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE Paula Medina Fernandes

59 / O EXEMPLO DO ARROZ QUE FAZ CAIR GOVERNOS FONG-STP

63 / PETRÓLEO, TRANSPARÊNCIA E DESENVOLVIMENTO José Cardoso e PedroRosa Mendes

Page 6: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

6

PARTE 2 75 / A FONG-STP E OS MEDIA

77 / UM DIAGNÓSTICO DOS MEDIA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE Pedro Rosa Mendes

83 / CONSTRUIR CIDADANIA COM OS MEDIA Alexandro Cardoso

85 / A CAPACIDADE DE INFLUÊNCIA DA FONG-STP Olívio Diogo

89 / A FONG COMO VEÍCULO DE NARRATIVAS HUMANAS Pedro Rosa Mendes

97 / UM OLHAR SOBRE A EVOLUÇÃO DA FONG Eduardo Elba

PARTE 3 1O1 / MEDIA, SOCIEDADE CIVIL E POLÍTICAS PÚBLICAS

1O3 / ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E INFLUÊNCIA NO ESPAÇO PÚBLICO E NA AGENDA POLÍTICA Pedro Rosa Mendes

PARTE 4 113 / RECOMENDAÇÕES

119 / DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA

119 / BIBLIOGRAFIA

123 / ANEXOS

Page 7: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

7

ACD Autoridade Conjunta de DesenvolvimentoACEP Associação para a Cooperação Entre os PovosAPD Ajuda Pública ao DesenvolvimentoAVP Association Volontaire de ProgrèsBAFD Banco Africano de Desenvolvimento BCST Banco Central de São Tomé e Príncipe CPP Contrato de Partilha de ProduçãoCFP Comissão de Fiscalização do Petróleo CIP-STP Centro de Integridade Pública de São Tomé e Príncipe ITIE Iniciativa de Transparência das Indústrias ExtractivasENRP Estratégia Nacional de Redução da Pobreza EUA Estados Unidos da América FED Federal Reserve Bank FIP Fórum Internacional das Plataformas das ONGFMI Fundo Monetário InternacionalFOB Free on BoardFONG-STP Federação das Organizações Não-Governamentais de São Tomé e PríncipeGGA Gabinete de Gestão de AjudaIDE Investimento Directo Estrangeiro IDH Índice de Desenvolvimento HumanoIOA Índice do Orçamento Aberto JICS Japanese International Cooperation System MARAPA Mar Ambiente e Pesca ArtesanalMLSTP/PSD Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social DemocrataNEPAD Nova Parceria para o Desenvolvimento da África

OCB Organizações Comunitárias de BaseOCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio OGE Orçamento Geral do EstadoONG Organizações Não-GovernamentaisONGIP Organizações Não Governamentais de Interesse Público OSC Organizações da Sociedade Civil PAM Programa Alimentar MundialPDDAA Pacto Nacional de São Tomé e Príncipe para o Programa Detalhado de Desenvolvimento da Agricultura em África PDSA Projecto Descentralizado de Segurança AlimentarPIB Produto Interno BrutoPNUD Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoREPONGAC Réseau des Plateformes Nationales des ONG de l’Afrique CentraleRNSTP Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe TIC Tecnologias de Informação e Comunicação TVS Televisão Santomense UCA Unidade de Coordenação da Ajuda UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância UE União Europeia ZEE Zona Económica ExclusivaZDC Zona de Desenvolvimento Conjunto

LISTA DE SIGLAS

Page 8: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

8

ALEXANDRO CARDOSOTécnico de Comunicação da FONG-STP. Natural de Nova-Linda, S. Tomé, trabalhou como Comer-cial na PT Comunicações (Portugal) e no Minis-tério da Agricultura, Pescas e Desenvolvimento Rural (São Tomé) como Assessor de Imprensa. É licenciado em Jornalismo e mestre em Política Cultural pela Universidade de Coimbra.

ANA FILIPA OLIVEIRALicenciada em Jornalismo e mestre em Ciência Política e Relações Internacionais, integra a equipa da ACEP em 2009, onde desenvolve projectos na área da comunicação e advocacy. Integra também o Grupo de Trabalho Aid Watch, da Plataforma Portuguesa das ONGD e colabora com o Centro de Estudos sobre África, Ásia e América Latina, do ISEG/ULisboa.

EDSON MONIZNatural de Neves, no distrito de Lembá, São Tomé, é licenciado em Ciências Empresariais e Organi-zacionais pela Escola de Negócios e Governação (ENG) da Universidade de Cabo Verde (UNICV). Desempenhou as funções de presidente do núcleo da associação académica de ENG, e dentre várias outras responsabilidades associativas e voluntárias foi coordenador da bolsa de voluntariado da UNICV. Trabalhou na empresa UNITEL-Tmais telecomu-nicações em Cabo Verde, e actualmente é assistente administrativo e financeiro da FONG-STP.

EDUARDO ELBAActualmente Secretário Permanente da FONG--STP. Natural de Fátima, São Tomé, foi professor de História em São Tomé e na Região Autónoma de Príncipe, trabalhou no Gabinete de Estudos e Planificação do Ministério do Equipamento Social e Ambiente, foi Secretário-Geral da Câmara de Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços, e integrou a Unidade Técnica de Gestão do Projecto “Apoio ao Desenvolvimento dos Sistemas Estatís-ticos dos PALOP”, financiado pela União Europeia. Licenciado em Gestão de Empresa pelo Instituto Superior Politécnico de São Tomé e Príncipe.

JOSÉ CARDOSOLicenciado em Estudos Europeus e pós-graduado em Estudos Africanos, é actualmente Secretário Permanente da Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas (ITIE) em São Tomé e Príncipe e consultor de comunicação. Foi acti-vista no Movimento Mundial para Democracia e membro fundador e do Conselho de Coordenação da Plataforma de Participação e Democracia e na campanha Publish What You Pay. Foi ainda laison officer da Saybolt Internacional BV, multinacional de Inspecção Petrolífera em São Tomé e Príncipe.

LISTA DE AUTORES

Page 9: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

9

LIADILMA ALVESNatural da Conceição, S. Tomé, trabalha como Assistente Técnica na FONG-STP. Exerceu o cargo de Secretária Executiva da Universidade Lusíada de S. Tomé e Príncipe e foi animadora rural na Associação Santomense de Micro Finanças e De-senvolvimento. Prestou serviço de consultoria na ONG Zatona-Adil. É licenciada em Direito pela Universidade Lusíada de S. Tomé e Príncipe.

LILIANA AZEVEDOMestre em Estudos Africanos pelo ISCTE-IUL (Lisboa), integra a equipa da ACEP em Janeiro de 2010, onde desempenha funções de gestão de projectos. É membro da Direcção da Plataforma Portuguesa das ONGD desde 2012.

OLÍVIO DIOGONatural de Almas, São Tomé, é professor na Es-cola de Formação de Professores. Licenciado em Sociologia pela Universidade de Beira Interior, foi consultor em vários projectos e formador nos domínios do desenvolvimento pessoal. Já trabalhou como Assistente de Programas na FONG-STP e foi quadro técnico do INPG (Instituto Nacional para Promoção da Igualdade e Equidade de Género).

PAULA MEDINA FERNANDESMestre em Gestão Pública pela Universidade de Aveiro, é actualmente Directora Administrativa e Financeira do Ministério do Turismo, Comércio e Indústria em São Tomé e Príncipe. De 2011 a Ja-neiro de 2014, ocupou o cargo de Chefe da Secção Administrativa e Relações Públicas da Direcção dos Impostos do Ministério de Plano e Finanças em São Tomé e Príncipe.

PEDRO ROSA MENDESInvestigador e consultor independente, é autor de uma extensa obra de ensaio, reportagem e ficção centrada nos temas de conflito e segurança, justiça e direitos humanos, desenvolvimento e cidadania, com ênfase nos contextos africano e lusófono. Publi-cou os romances Baía dos Tigres e Peregrinação de Enmanuel Jhesus, entre outros títulos em que o papel dos Media e da sociedade civil são temas de fundo, incluindo as reportagens ilustradas Ilhas de Fogo e Timor – Madre Cacau (ambos com o ilustrador Alain Corbel), projectos da iniciativa da ACEP.

Page 10: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 11: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

11

A articulação das questões de comunicação, governação e trans-parência é o eixo de uma estratégia que pretende dar à FONG-STP – Federação das Organizações não Governamentais de São Tomé e Príncipe a visibilidade e a capacidade de influência indispensáveis para transformar a plataforma num actor imprescindível do debate sobre as grandes opções para o país. Nesse sentido, a ACEP – Asso-ciação para a Cooperação Entre os Povos e a FONG-STP lançaram o projecto “Sociedade Civil pelo Desenvolvimento – Comunicação, Capacitação e Advocacia”. O presente estudo surge no âmbito deste projecto e no seguimento de várias actividades anteriores.

O estudo está organizado em três módulos temáticos. A Parte I é dedicada à relação da FONG-STP com a sociedade civil. A Parte II aborda a relação da FONG-STP com os Media. Na Parte III são fornecidos alguns instrumentos de comunicação pensados para uso das OSC para estratégias de comunicação e de influência no espaço público e na agenda política. O estudo inclui também, em abertura, um glossário de conceitos-base relacionados com os temas abordados e uma série de recomendações em conclusão. Em anexo, apresenta-se também alguns gráficos e elementos de apoio.

Abrindo o estudo, é apresentado um quadro do país em termos de desenvolvimento humano, o que equivale a dizer, das difíceis con-dições estruturais em que se opera a estratégia de afirmação insti-tucional da FONG-STP. O crescimento registado nos cinco últimos anos não foi suficiente para resolver os desafios sociais e do Desen-

SUMÁRIO EXECUTIVO

Page 12: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

12

volvimento em São Tomé e Príncipe. Há progressos substanciais, notáveis em certos domínios (ensino primário universal, redução da mortalidade infantil, melhoria da saúde materna, tratamento da Sida e do paludismo), mas outros grandes desafios estão igualmente por superar ao nível das condições de vida das famílias e do desenvolvi-mento social.

As probabilidades de o país realizar os Objectivos de Desenvol-vimento do Milénio (ODM) relativos à extrema pobreza, à igualdade entre os sexos e à instauração de parcerias para o Desenvolvimen-to são ainda muito pequenas. Alojamento condigno, acesso à água potável, tratamento de lixo, saneamento da água das chuvas e forne-cimento de energia eléctrica são outras áreas em que as populações registam um grande nível de carência e insatisfação.

As limitações situam-se também a nível da governação, caracte-rizada por uma opacidade da prática política e de distanciamento em relação à sociedade civil. O estudo analisa, a esse propósito, o caso do Fundo de Contrapartida criado pelo Japão no âmbito da ajuda alimentar, ou “Fundo do Arroz”. Exemplifica o défice de transparência na gestão de fundos importantes ligados à ajuda externa a São Tomé e Príncipe, que continuam fora do escrutínio da sociedade civil.

Neste quadro, qual o papel, as actividades e as estratégias das Organizações da Sociedade Civil (OSC) no que diz respeito à mo-nitoria de políticas públicas? E quais as suas capacidades actuais ou necessidades de reforço? Os actuais desafios no exercício da gover-nação exigem um cada vez maior envolvimento das OSC a todos os níveis, desde a concepção das políticas públicas até à fase de avaliação. Para tal, necessitam de recursos, humanos e financeiros. Sendo este um domínio de trabalho novo para a sociedade civil santomense, é premente o reforço de competências específicas – através de acções de formação, de disponibilização de informação adequada e em português, da criação de espaços de diálogo e de debate sobre opções políticas e de Desenvolvimento.

Page 13: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

13

Revela-se, como o estudo indica, necessário reforçar a capacidade institucional (capacidade de negociação, comunicação, mobilização de diversos actores e articulação com outros) bem como a capacidade financeira (infra-estruturas adequadas e recursos para cobrir as ne-cessidades operacionais inerentes às actividades de monitoria). Num contexto de parcos recursos, a colaboração e busca de complementa-ridades entre as OSC é essencial para conseguirem ganhar voz.

O estudo aborda também, entre sonho e realidade, os cenários potenciais de aumento súbito de receitas do Estado ou, pelo contrário, de abandono da opção petróleo. Ambos estão, de facto, no horizonte. A assinatura do primeiro contrato de exploração entre uma petrolífe-ra estrangeira e São Tomé e Príncipe, em 1997, fez surgir a expectativa de uma súbita multiplicação de recursos públicos e do arranque de um processo rápido de Desenvolvimento. Para um país fortemente endividado e dependente da ajuda externa, como São Tomé e Prín-cipe, esta promessa rapidamente se tornou em sonho, mas há hoje quem avise que esse sonho pode não passar de uma ilusão.

O primeiro contributo positivo da FONG-STP, e das OSC em geral, para uma abordagem madura do “dossier petróleo” é, precisa-mente, contribuir para que a discussão se faça “de pés na terra”. Há século e meio (ver cronologia em anexo) que se fala de petróleo no país mas ainda não se produziu um único barril. O início da produ-ção foi mesmo anunciado pelos responsáveis políticos santomenses para o ano de 2015.

É fundamental que a sociedade civil compreenda o “dossier petró-leo” e tenha efectiva capacidade técnica de propor e influenciar escolhas informadas. O dossier envolve matérias complexas que exigem um domínio de temas que vão da geologia à economia, do direito interna-cional às finanças públicas, entre outras. É essencial, por isso, a articula-ção da FONG-STP com o Comité Nacional da Iniciativa para a Trans-parência das Indústrias Extrativas (ITIE), cujo mandato passa, também, pela sensibilização e capacitação das OSC, incluindo os Media.

Page 14: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

14

O estudo explica em detalhe os procedimentos legais que rodeiam a exploração de recursos naturais, incluindo as regras da Conta-Pe-tróleo. Aborda também o funcionamento da ITIE e a importância da iniciativa para o futuro do país, insistindo em dois pontos cruciais do primeiro relatório de país-membro agendado para este ano. Uma das decisões importantes do Comité Nacional da ITIE diz respeito ao nível de agregação de dados, isto é, sobre a publicação de um relatório com dados agregados (fluxos de receitas que representam o total das empre-sas) ou desagregados (fluxos de receitas por empresa). Outro ponto que deve merecer a atenção da sociedade civil é o relativo aos pagamentos directos e transferências aos Governos locais, que também devem ser conciliados no Relatório ITIE para 2003-2013, os dez anos que balizam cronologicamente a actividade “petrolífera” em análise.

A Parte II inicia-se com um panorama dos Media – sobretudo públicos. As possibilidades de alargar o debate sobre questões de Desenvolvimento em São Tomé e Príncipe e a capacidade de influên-cia das OSC sobre as agendas pública e política estão directamente relacionadas com a situação estrutural da comunicação social no país. A fragilidade dos Media em São Tomé e Príncipe oferece múltiplos constrangimentos às OSC e alguns dos problemas intrínsecos do sector têm consequências nas hipóteses e formas de participação da socieda-de civil em questões de interesse público. O quadro actual, no entanto, oferece também espaços de intervenção e oportunidades às OSC.

Ao problema de escala do mercado e do público vem acrescen-tar-se o da fragmentação e divisão no seio das redacções dos órgãos de comunicação – e não apenas públicos. Neste sentido, as redacções e chefias dos Media estatais são permeáveis à bipolarização da vida política santomense, constituindo-se em dois blocos, ou duas “trin-cheiras”. Na percepção de vários elementos das OSC, esta fragmen-tação no seio das redacções é um espelho das principais linhas de fractura na política santomense e um reflexo da alternância no poder em ciclos políticos curtos e instáveis.

Page 15: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

15

O desafio passa, por isso, por estratégias de construção de cida-dania com os Media, acompanhando mudanças que se operam. As ONG santomenses estão numa fase de transição. Uma transição que as está a transportar de meros executores de projectos para agentes activos na construção de uma cidadania participativa. Esta mudança de posição e perspectivas está a ser acompanhada por uma relação cada vez mais estreita com os Media. Uma boa relação com os meios de comunicação social neste momento é fundamental para uma advocacia mais eficaz, promovendo o debate público sobre assun-tos de interesse comum. Contudo, para que a relação seja frutífera, necessariamente deve-se apostar na formação dos jornalistas para que estes se apropriem das dinâmicas das ONG para mudança de hábitos, comportamentos e mentalidades e para edificar, assim, os valores da cidadania.

Num outro capítulo, aborda-se a questão complementar de afir-mação institucional da FONG-STP e do seu espaço de participação política. A concepção neo-republicana de política defende, com efeito, a participação activa dos cidadãos para a transformação da sociedade. É neste modelo de participação, democracia, cidadania e política que se enquadra o objecto da Rede da Sociedade Civil sobre a Boa Gover-nação com o propósito de tentar intervir e influenciar as actividades políticas. A política nunca esteve tão presente nas nossas vidas como agora, mas também nunca esteve tão desacreditada nem tinha, como hoje, gerado tanta frustração nas consciências dos santomenses, subli-nha-se. A capacidade da FONG-STP de intervir na esfera pública não é, de forma alguma, um tema consensual ou fácil numa sociedade de democracia jovem, com baixo nível de literacia e a discussão é povoa-da de nuances que torna complexa a escolha de uma abordagem.

A FONG-STP deve, por isso, enveredar pela capacitação que lhe permita discutir tecnicamente as questões essenciais da gestão dos recursos naturais, por exemplo, e das finanças públicas. Deve, aplican-do esses novos recursos humanos, transformar as novas capacidades

Page 16: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

16

na análise de problemas da governação e da antecipação de constran-gimentos a uma agenda orientada pela justiça social. É previsível que os actores e as instituições do Estado reajam inicialmente mal a esta nova ambição da FONG-STP, que por isso terá sempre de pautar o seu projecto com uma atitude de contribuição positiva e não de opo-sição no sentido corrente. A FONG-STP não se opõe; propõe, discute, contribui.

Trata-se também, a outro nível, de encontrar pontos de contacto e abertura com os jornalistas, trazendo-os para a sensibilidade do tratamento de questões de Desenvolvimento. Não sendo iguais, e não sendo os mesmos, os valores do Jornalismo e do Desenvolvimen-to não são opostos nem são todos diferentes, nota este estudo. Nas muitas “cartas de princípios” do Jornalismo, sob diferentes formas, há pelo menos dois valores que estão sempre presentes: a verdade e o serviço à comunidade são sine qua non. O Jornalismo não existe sem isso. São, também, duas portas de contacto – e, portanto, de entrada também – para o mundo das OSC e de quem trabalha em questões de Desenvolvimento. O primeiro passo para um envolvimento dos jornalistas com temas típicos de uma agenda para o Desenvolvimento é, por isso, a descoberta de valores comuns - e não de objectivos, de métodos ou de meios.

O que faz sentido, conforme é defendido, é conseguir encontrar oportunidades de actuação independente e construtiva num quadro de proximidade com os centros do poder e de extrema pessoali-zação das relações institucionais. Não se trata de conivência nem de vassalagem; trata-se de acesso. Nota-se também que a iniciativa de “falar” com o poder, por outro lado, não pode ser feita com a crispação ou a desconfiança de quem atravessa uma trincheira. A sociedade civil santomense tem, assim, de aceitar o desafio de enve-redar por formas de participação que contribuam abertamente para a credibilização da política, devolvendo-lhe o sentido de serviço à comunidade que vem perdendo.

Page 17: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

17

Quanto às recomendações apresentadas neste estudo, articu-lam um triplo desafio para a FONG-STP e as OSC: comunicacional, político e institucional. Entre outras recomendações, salientam-se as seguintes:

/ Pensar os Media num sentido plural e abrangente, investindo em novos formatos;/ Adaptar os suportes e as mensagens à diversidade de públi- cos-alvo;/ Afirmar-se como “emissoras”, isto é, saber fazer-se ouvir para poder influenciar as agendas pública e política;/ Ganhar competências de monitoria e técnicas (p.ex. finanças públicas, gestão dos recursos naturais).

Page 18: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 19: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

19

A FONG-STP – Federação das ONG em São Tomé e Príncipe é uma plataforma representativa das ONG que actuam em São Tomé e Príncipe, criada em 2001, reconhecida pela sociedade civil, pelas au-toridades e parceiros de desenvolvimento. A quantidade e diversidade de organizações e associações existentes no seio desta plataforma ilus-tra o esforço de construção de uma sociedade democrática, participa-tiva e solidária e pode mesmo considerar-se um caminho positivo no contexto das muitas fragilidades do Estado e das instituições de uma jovem nação que, em 2015, completará 40 anos de independência.

Apesar do dinamismo dos seus membros e da importância do seu trabalho para o quotidiano de milhares de santomenses, num país onde metade da população vive abaixo do limiar da pobreza, a FONG-STP debate-se também com muitas fragilidades e constrangi-mentos.

Por um lado, a plataforma reflecte, naturalmente, as limitações persistentes de um país marcado cumulativamente pelas múltiplas heranças da era colonial (económicas, sociais, culturais), pela insulari-dade, a descontinuidade territorial e a reduzida dimensão geográfica e demográfica.

Por outro, o trabalho da FONG-STP confronta-se com uma arreigada cultura de poder caracterizada pelo centralismo do Estado, a opacidade das estruturas políticas e a desconfiança das instituições públicas à participação cidadã na gestão dos recursos e na definição das estratégias de Desenvolvimento.

/ 1 To et asperiae. Ut que cuptus et mod etur, saepudit voluptatent ad quae molor apis del iuudit voluptatent ad quae molor apis del iuntiur, con re etur.

INTRODUÇÃOPedro Rosa Mendes

Page 20: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

20

Pelo contrário, a sociedade civil santomense pode reivindicar justamente uma parte do crédito pela melhoria dos índices de desen-volvimento humano nos últimos anos – a outra parte é, precisamen-te, das instituições públicas e dos parceiros internacionais, de cujos projectos as Organizações da Sociedade Civil (OSC) foram largamen-te executoras até aqui. São Tomé e Príncipe está acima da média da África subsaariana no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), onde ocupava, em 2012, a 144ª posição entre 188 países. Grandes progressos foram conseguidos na educação e saúde. A mortalidade infantil foi substancialmente reduzida e a taxa de matrícula do ensino primário atingiu nesse ano 98 por cento das raparigas e 97 por cento dos rapazes. / 1

Em 2009, a FONG-STP, em parceria com a ACEP – Associação para a Cooperação Entre os Povos, encetou o projecto “Reforço da FONG-STP e de recursos de apoio às ONG”, desenvolvido com finan-ciamento da Cooperação Portuguesa. O projecto foi norteado pelo objectivo da consolidação institucional da FONG-STP, dotando-a de recursos e estruturas que lhe permitam concretizar as expectativas e responsabilidades inerentes à legitimidade que, sem dúvida, ganhou no seio da sociedade civil santomense.

Este trabalho permitiu consolidar áreas como: a capacitação das associadas da FONG-STP através de acções de formação em temas como associativismo e gestão, a comunicação - através da criação de um boletim informativo trimestral, de programas de rádio informati-vos, um melhor conhecimento das ONG em São Tomé e Príncipe e da sua intervenção, através de um estudo diagnóstico que foi publicado em Janeiro de 2011 / 2 . Uma segunda fase do projecto, iniciada em Janeiro de 2012, permitiu realizar nomeadamente ateliês e uma mesa redonda, lançando o debate sobre boa governação e transparência e abrindo caminho a uma nova fase da intervenção da FONG-STP.

A articulação das questões de comunicação, governação e trans-

/ 1 Cf. Africa 21, 18/09/2013, “Petróleo deverá financiar educação em São Tomé e Príncipe, defendem especialistas”, ww.africa21digital.com/comportamentos/ver/20034191-petroleo -deve-financiar-educa-cao-em-sao-tome-e- principe-defendem- especialistas cao-em- sao-tome-e-principe- defendem-especialistas

/ 1 Cf. Africa 21, 18/09/2013, “Petróleo deverá financiar edu- cação em São Tomé e Príncipe, defendem especialistas”, www.africa21digital.com/comportamentos/ver/20034191-petroleo- deve-financiar-educa cao-em-sao-tome-e--principe-defendem- especialistas

/ 2 Cravo Carolina, Londaitzbehere Laure, Diogo Olívio et Sousa Sónia, Estudo Diagnós-tico das ONG em São Tomé e Príncipe, ACEP, 2010, 55 p. Disponível em www.acep.pt/portals /0/Documentos/Livros/FONG_online_.pdf

Page 21: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

21

parência é, precisamente, o eixo de uma estratégia que pretende dar à FONG-STP a visibilidade e a capacidade de influência indispensáveis para transformar a plataforma num actor imprescindível do debate sobre as grandes opções para o país. Esta consolidação institucional permitirá tornar irreversível o ganho de importância que, inquestio-navelmente, foi conseguido pela FONG-STP ao longo da sua primeira década de existência. Nesse sentido, a ACEP e a FONG lançaram o projecto “Sociedade Civil pelo Desenvolvimento – Comunicação, Capacitação e Advocacia”, que visa criar espaços de debates e ins-trumentos de informação e sensibilização sobre temas relacionados com a boa governação e, por outro lado, reforçar as capacidades de monitoria de políticas públicas e advocacia da FONG-STP e dos seus membros. Existe, entre as associações e organizações que integram a Federação, a consciência de que o processo de afirmação institucio-nal da FONG-STP é ainda frágil e pode em certa medida estagnar se não for consolidado. De certa forma, a FONG-STP atravessa um momento crucial do seu crescimento que corresponde ao período que São Tomé e Príncipe atravessa como Estado e sociedade: um período--charneira em que há condições para amadurecimento institucional, mas também riscos de persistência de práticas e modelos que não aproveitam todo o potencial das oportunidades criadas.

Depois da abertura democrática com o multipartidarismo e da abertura económica com o abandono do modelo do Partido-Esta-do no início dos anos 90, o país está hoje numa fase crítica em que necessita de evoluir para um patamar mais exigente de participação cívica, de responsabilização dos governantes e da abertura do Estado à sociedade civil. Ao mesmo tempo, o desafio é também de formar e sensibilizar a própria sociedade civil para uma atitude proactiva e que privilegia a participação em detrimento de uma cultura de crítica gratuita, no conforto estéril do “treinador de bancada”.

Nesse sentido, é interessante acompanhar experiências recentes de trajectórias de pessoas ou grupos que, vindos da sociedade civil,

Page 22: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

22

se organizaram em projectos políticos e, através das eleições ou de nomeações, chegaram ao centro da arena política e da governação e analisar o seu percurso posterior.

A construção de processos de participação cívica faz-se, também, por um questionamento das OSC em relação aos seus próprios méto-dos e às suas limitações, sobretudo reflectindo sobre a persistência de uma atitude reactiva e uma resistência – apontada por muitos mem-bros da FONG-STP – a trabalho comunitário que não seja visto como actividade de rendimento. E não se compadece com um discurso – e muito menos com uma estratégia – de “nós contra eles” de hostiliza-ção, confrontação e diabolização dos “políticos”.

A FONG-STP terá de responder a este desafio de amadurecimen-to em qualquer dos cenários económicos extremos em que é equacio-nada a evolução do país no médio e longo prazos. No essencial, tais cenários, tão diferentes em termos de disponibilização de recursos, exigem a mesma agenda da sociedade civil no sentido de aprofun-damento de mecanismos de controlo e participação e de criação de capacidade humana e técnica para influenciar agendas públicas. Um dado curioso, neste aspecto, é dado pelo Índice do Orçamento Aberto (IOA): os países que registam menos transparência orçamental são os mais dependentes da ajuda internacional e os mais ricos em recursos naturais / 3 .

Um cenário, optimista, é o do arranque da produção de petróleo num futuro próximo, com a potencial afluência de riquezas que nunca antes estiveram disponíveis para o Estado realizar os seus objectivos, possibilitando também uma autonomia na escolha das prioridades que agora é balizada pelos doadores e credores internacionais.

O outro cenário, pessimista, é o fim precoce da “era do petróleo”, em que o prometido eldorado santomense deixará apenas uma heran-ça pesada de compromissos financeiros e orçamentais, contraídos na expectativa de ganhos que tardam em materializar-se.

Os desenvolvimentos mais recentes acentuam esta tendência

/ 3 Cf. Open Budget Survey 2012, Internatio-nal Budget Partnership p.20. Disponível em http://internationalbu-dget.org/wp-content/uploads/OBI2012-Re-port-English.pdf, e infografia disponível em http://interna-tionalbudget.org/wp-content/uploads/OBS2012-infographic.png. Consultados em 1 de Abril de 2014.

Page 23: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

23

preocupante, com o abandono do Bloco 1 da Zona de Desenvol-vimento Conjunto (ZDC) pela operadora francesa Total e, poucos meses depois, o anúncio da assinatura de uma linha de crédito com Angola para financiar o Orçamento Geral do Estado (OGE) de São Tomé e Príncipe, crédito esse garantido por receitas futuras da ex-ploração do petróleo com a Guiné Equatorial, segundo noticiado na comunicação social / 4 .

Para o conjunto de organizações e associações representadas na FONG-STP, não se trata de competição com o Estado nem de procura de protagonismo. A governação é competência dos representantes democraticamente eleitos, mas estes têm que reconhecer a necessi-dade – e a vantagem – de abrirem o debate de ideias à sociedade civil e de aprenderem conjuntamente uma cultura de responsabilização e prestação de contas (accountability), por maioria de razão em maté-rias de importância crucial como a gestão dos recursos naturais de São Tomé e Príncipe.

Prevista para 2014, a entrega do primeiro relatório de São Tomé e Príncipe na Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas (ITIE, na sigla em inglês) é um sinal encorajador de uma mudança no sentido de maior transparência e de informação sobre o dossier que, afinal, tem galvanizado o debate sobre opções estratégicas entre dirigentes e elites e as expectativas da sociedade – mas que também tem sido objecto de conflitualidade política.

No entanto, no seio dos órgãos de soberania os sinais importantes são ainda tímidos em relação ao compromisso de abertura da go-vernação à sociedade civil e a um paradigma de administração que sirva o bem comum e não apenas os interesses de grupos restritos. Isso mesmo é constatado pela pontuação de São Tomé e Príncipe no IOA de 2012: o resultado de 29 em 100 é um aumento significativo da avaliação anterior, referente a 2010, que registou um índice 0 (zero). Ou seja, é positivo também na medida em que sinaliza o abandono do fundo da tabela por São Tomé e Príncipe. Mas 29 em 100 é um resul-

/ 4 Cf. Téla Non, 13/12/2013, “OGE-2014 responde às necessi-dades de infra-estru-turação do país”, in Na Imprensa, Recolha de notícias sobre políticas públicas em São Tomé e Príncipe, Junho a Dezembro 2013, FON-G-STP. Disponível em http://sociedadecivilstp.blogspot.pt.

Page 24: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

24

tado que está abaixo do resultado médio de 43 dos 100 países inqui-ridos. Está igualmente abaixo dos resultados dos vizinhos regionais Gana, Libéria e Serra Leoa / 5 .

“Os resultados de São Tomé e Príncipe indicam que o Governo for-nece ao público informações mínimas sobre o orçamento do Governo nacional e sobre as actividades financeiras durante o ano orçamental. Isto constitui um desafio para os cidadãos em tornar o Governo res-ponsável pela sua gestão do dinheiro público”, constata o relatório IOA.

“O Governo de São Tomé e Príncipe tem potencial para expandir muito mais a transparência orçamental introduzindo várias medidas, algumas das quais poderão ser alcançadas muito rapidamente e quase a custo zero para o Governo”, sublinha também o IOA. Medidas ime-diatas sugeridas: produção e publicação de um Orçamento Cidadão, de uma Revisão Semestral, de um Relatório de Fim de Ano e de um Relatório de Auditoria, até agora inexistentes. O Orçamento Cidadão “é uma apresentação não técnica que permite a compreensão do pú-blico em geral sobre os planos do Governo para aumentar as receitas e gastar as verbas públicas, a fim de cumprir as metas das políticas” / 6 .

O acompanhamento da adesão de São Tomé e Príncipe à ITIE e da implementação da Comissão de Fiscalização do Petróleo (CFP, entidade administrativa independente, criada para fiscalizar e auditar actividades relacionadas com o petróleo) são duas das actividades de advocacia importantes a serem desenvolvidas no contexto do projecto “Sociedade Civil para o Desenvolvimento – Comunicação, Capacita-ção, Advocacia”, iniciado em 2013.

A representação da sociedade civil no Comité Nacional da ITIE oferece, neste aspecto, uma oportunidade maior para essa contri-buição e aprendizagem mútuas. Com efeito, dos dez elementos que integram o Comité, três são representantes de OSC e um é represen-tante dos Media, o que dá uma base bastante equilibrada na própria estrutura da ITIE para reflectir as ideias e as preocupações da socie-dade civil num sentido mais alargado.

/ 6 Idem.

/ 5 Cf. International Budget Partnership, Open Budget Index 2012. Disponível em http://international budget.org/what- we-do/open-budget- survey/country- info/?country=st. Consultado em 30 de Março de 2014.

Page 25: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

25

Fica claro, após o ainda curto caminho já percorrido no projecto “Sociedade Civil para o Desenvolvimento – Comunicação, Capa-citação, Advocacia”, que a qualidade da participação das OSC não depende apenas de uma maior transparência das instituições públicas. Participação exige formação e informação, sobretudo em matérias complexas como a gestão dos recursos naturais. A FONG-STP preten-de, por isso, apostar na criação de competências em matérias como a monitoria de finanças públicas, a luta anti-corrupção e a elaboração de relatórios de monitoria orçamental.

A falta de informação do público em geral é imensa, especialmen-te no caso das pessoas que vivem nos distritos. O conjunto de acti-vidades realizadas em parceria com a ACEP – de que este estudo faz parte – aponta para o aumento do nível de informação e o estímulo do debate público nomeadamente em torno da transparência orça-mental e da gestão dos recursos provenientes da indústria extractiva, relacionando-o com o Desenvolvimento do país e a utilização desses recursos em acções que visem o bem-estar da população e a redução da pobreza e das desigualdades.

Sabemos todos que os recursos naturais podem levar a um forte crescimento do PIB sem contudo se verificar uma diminuição da pobreza. Por outro lado, a exploração das indústrias extractivas, aliada a uma boa governação, pode gerar recursos que beneficiem as popula-ções mais pobres e levar a melhorias concretas na vida das pessoas. A importância da transparência e da prestação de contas resulta tam-bém do seu potencial para prevenir conflitos que podem eclodir num contexto de fragilidade que é o de São Tomé e Príncipe / 7 , e que pode ser agudizado pela existência do petróleo.

Ora, as questões relacionadas com boa governação apenas re-centemente começaram a ser tratadas por ONG santomenses / 8 e a articulação com o processo internacional da Eficácia do Desenvolvi-mento é incipiente. Torna-se por isso necessário contribuir para criar massa crítica nacional neste domínio e é extremamente pertinente

/ 7 “[T]he country is rated Fragile State as assessed using the Mul-tilateral Development Bank’s based mainly by economic vulnerability and insularity, and it re-mains highly vulnerable to unpredictable shocks, such as food shortages, climate change, and the impact of the recent global financial crisis. With limited progress in poverty reduc-tion, unemployment continues to be high, es-pecially among women and youth population, and gaps in terms of chronic malnutrition, infant mortality and secondary education are also high.” Cf. Banco Mundial, www.worl-dbank.org/en/country/saotome/overview. Consultado em 30 de Maço de 2014.

/ 8 Uma lacuna constatável nos re- sultados obtidos pelo Estudo Diagnóstico das ONG em São Tomé e Príncipe.

Page 26: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

26

um projecto que permita a articulação entre ONG, OSC, jornalistas e outros opinion makers – grupos-alvo do projecto – através de acções ao nível nacional bem como de intercâmbios com organizações e redes internacionais.

Um estudo encomendado pela International Alert em 2009 / 9

alerta para a falta de transparência do processo de determinação da utilização dos fundos dos bónus de assinatura dos processos de licenciamento do petróleo, para a necessidade do público em geral ter acesso a essa informação e para a ausência de medidas por parte da sociedade civil nesse sentido.

Outro problema é o deficiente diálogo social sobre políticas públi-cas, sendo as OSC na maior parte dos casos unicamente informadas e não envolvidas na definição das políticas e não sendo ouvida pelas instâncias de monitoria.

Por outro lado, a sociedade civil, ainda recente e frágil, carece de capacidades e recursos que lhe permitam não só ser um parceiro activo nos processos de monitoria mas capaz de criar os seus pró-prios mecanismos de monitoria da governação. Até recentemente, não existiam ONG vocacionadas para as áreas da boa governação e transparência, uma lacuna que a fundação do Centro de Integridade Pública de São Tomé e Príncipe (CIP-STP), membro da FONG-STP, vem colmatar.

De referir ainda o défice de oportunidades de formação e a difi-culdade de fácil acesso à informação, devido a uma deficiente ligação à internet, à escassez de documentação em língua portuguesa e ao não domínio por parte da maior parte dos santomenses de línguas como o francês e o inglês em temas especializados. As ONG nacionais estão, além disso, pouco em rede e articulam pouco o seu trabalho com ONG internacionais e/ou congéneres de outros países. Estas condi-ções resultam numa dificuldade em acompanhar os debates interna-cionais sobre estas matérias.

Advocacia, governação, transparência são, pois, vectores essenciais

/ 9 Cf. Murdock, Janet, Governação de Recursos Naturais em São Tomé e Príncipe: Um Estudo de Caso sobre a Supervisão e Transparência das Receitas Petrolíferas, International Alert, 2010. Disponível em http://h3006.cwd-web.com/node/11443

Page 27: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

27

de uma consolidação da FONG-STP como plataforma institucional e como fórum de discussão de opções importantes para o Desenvolvi-mento de São Tomé e Príncipe. São também áreas essenciais para que a principal federação das OSC santomenses possa servir o seu papel de catalisador de iniciativas que assegurem a gestão responsável e o exercício democrático participado por cidadãos informados.

Para alcançar esses objectivos, a FONG-STP necessita de inves-tir numa relação dinâmica com os seus vários públicos, no sentido comunicacional. Ou seja, de afirmar uma capacidade de produzir e analisar informação com a mesma eficácia com que, por exemplo, executa projectos ou capta financiamentos. Informação, entenda-se, não é apenas, nem sobretudo, notícia jornalística: é tudo aquilo que pode transmitir, para dentro e para fora da FONG-STP, o conjunto de valores, de saberes e de propostas que alicerçam a sua identidade no panorama santomense.

Na relação da FONG-STP com os Media, isso passa por uma aprendizagem mútua de como um valor essencial – o serviço do bem comum – pode ser afinal uma linguagem de colaboração posi-tiva, sem confundir agendas mas identificando. Na relação com os actores políticos, passa pela afirmação de que a prática governativa tem a ganhar em estar atenta à realidade do país, que a FONG-STP conhece de forma transversal. Se conseguir aprofundar estes dois vectores, a FONG-STP estará, também, a contribuir para uma relação mais aberta entre os Media e os seus interlocutores públicos, num duplo sentido. A nível de conteúdos, estará disponível mais e melhor informação relacionada com as realidades do desenvolvimento de São Tomé e Príncipe. A nível de processos, a produção de informação com rigor, transparência e pertinência será uma contribuição salutar e um exemplo para os outros actores em presença.

Esta aprendizagem exige, naturalmente, a busca de novas capaci-dades no seio da FONG-STP e dos seus membros, justificação princi-pal para a formação em Media e Políticas Públicas e para o estudo que

Page 28: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

28

agora apresentamos. Em complementaridade a este estudo, é editado também o Manual de Apoio à Formação realizada, a exemplo com o que vem sendo prática com as outras acções de formação.

São um início de reflexão, que a FONG-STP pretende aberta a toda a sociedade (não apenas “civil”), sobre a melhor forma de levar as agendas políticas a ser cada vez mais o reflexo de uma verdadeira agenda de Desenvolvimento.

Page 29: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

29

Este estudo é o resultado de um trabalho de equipa que teve como ponto de partida uma formação sobre Media, Sociedade e Políticas Públicas, realizada na segunda quinzena de Janeiro de 2014 na sede da FONG-STP, na cidade de São Tomé. A formação, participada por cerca de vinte representantes de organizações que são membros da FONG-STP, foi coordenada por um consultor internacional no âmbi-to do projecto “Sociedade Civil pelo Desenvolvimento – Comunica-ção, Capacitação, Advocacia”, numa parceria com a ACEP.

As discussões sobre as questões do Desenvolvimento em São Tomé e Príncipe, a análise de casos práticos saídos da realidade santo-mense e o debate em torno das estratégias de comunicação da socie-dade civil informam o estudo que agora se apresenta.

Este documento reflecte também as conclusões de uma discussão de grupo focal com elementos da Rede Temática sobre Boa Governa-ção – criada no âmbito do projecto – que precedeu a acção de forma-ção e se realizou também na sede da FONG-STP.

Em conjunto com a equipa permanente da FONG-STP e da ACEP, foram também identificadas várias pessoas para a realização de entrevistas individuais, tendo como critério o seu profundo conheci-mento do processo de crescimento da Federação e o facto de ocupa-rem, no passado ou na actualidade, responsabilidades de direcção nas organizações que integram a principal plataforma das ONG em São Tomé e Príncipe ou que com ela estão directamente envolvidos nas questões abordadas pelo estudo, como a transparência e a boa gover-

METODOLOGIAPedro Rosa Mendes

Page 30: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

30

nação. Outros entrevistados foram escolhidos pelas funções e expe-riência nos principais órgãos de comunicação social santomenses.

As pessoas entrevistadas individualmente foram as seguintes: Deodato Capela, fundador do CIP-STP; Dionísio Amado, dirigente da organização ZATONA-ADIL; Dulce Gomes, empresária, fundadora da Fundação Novo Futuro e ex-presidente da FONG-STP; Jorge Car-valho do Rio, actual presidente da FONG-STP e dirigente da organi-zação MARAPA; Maria Odete Aguiar, ex-presidente da FONG-STP; Olívio Diogo, sociólogo e membro da Rede da Sociedade Civil para Boa Governação; José Cardoso, Secretário do Comité Nacional da ITIE em São Tomé e Príncipe; Conceição Lima, jornalista e escritora; Juvenal Rodrigues, director da Radiotelevisão; e Teotónio Menezes, director da Rádio Nacional. Entrevistas foram também realizadas com a equipa do Secretariado permanente da FONG-STP, incluindo o Secretário Permanente, Eduardo Elba, e Alexandro Cardoso, técnico de comunicação, Edson Moniz, contabilista, e Liadilma Alves, assis-tente de projecto.

O estudo incorporou, por último, as informações recolhidas numa vasta análise de literatura sobre os temas abordados e que está reflec-tida no final do documento em bibliografia.

Page 31: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

31

‘ACCOUNTABILITY’Embora não tenha correspondência fiel em português, o conceito

pode ser traduzido pela expressão “prestação de contas”, que engloba uma dimensão de responsabilização pelas acções perante outros – seja a montante (a entidades financiadoras, por exemplo), seja a ju-sante (a organizações congéneres, comunidades locais, entre outros). A expressão “prestação de contas” corre, porém, o risco de transmitir uma versão desactualizada e redutora do conceito e das suas impli-cações, na medida em que é muitas vezes entendida de forma restrita como prestação de contas no domínio financeiro e de sentido unidi-reccional, de baixo para cima. Accountability engloba essas dimensões, mas extravasa-as, na medida em que se trata da responsabilização no contexto de uma acção ou programa de Desenvolvimento desde a sua concepção à avaliação final, procurando assim o envolvimento activo de todos os actores e uma partilha conjunta de responsabilidades.

‘ADVOCACY’Há diversas formas de definir e de exercer acções de advocacy (ou

“advocacia” em português, apesar da palavra em inglês estar incorpo-rada e ser amplamente utilizada na língua portuguesa). Em termos gerais, a advocacy refere-se a um conjunto de actividades delineadas para influenciar as políticas e as acções dos decisores políticos, numa perspectiva de mudança positiva e duradoura. Em última instância, a

CONCEITOS-CHAVEAna Filipa Oliveira

Page 32: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

32

advocacy tem também como objectivo fazer com que os processos de decisão política sejam mais inclusivos e participados e garantir que as políticas públicas que dizem respeito às comunidades mais vul-neráveis são efectivamente implementadas. O trabalho de advocacy realizado pelas Organizações da Sociedade Civil, por exemplo, parte da consciência de que o direito de participação activa no processo democrático de um país vão muito além do voto eleitoral e que é necessário um maior envolvimento no processo e no debate sobre a gestão das políticas públicas e das estratégias de Desenvolvimento.

AGENDA MEDIÁTICAEntende-se por agenda mediática a capacidade dos Media defi-

nirem os temas e assuntos que são tratados e discutidos pela opinião pública. Esta teoria parte do pressuposto de que os jornalistas actuam como gatekeepers (“porteiros”), ao seleccionaram aquilo que é ou não notícia e hierarquizando a informação. As agendas mediática, pública e política influenciam-se mutuamente, uma vez que os Media con-seguem, muitas vezes, colocar determinados assuntos na discussão pública e política, porém o sentido contrário de influência também se verifica.

AGENDA POLÍTICAUma agenda política é um conjunto de programas e de decisões

desenvolvidas pelo Governo de um país ou determinados grupos que detêm o poder. A expressão engloba tudo aquilo que constitui matéria de opção do Governo, ou seja, o que decidiu ou não fazer para solucio-nar determinada questão. Trata-se assim de todas as opções políticas que orientam as acções realizadas pelo Governo e pela administração pública, e que são de conhecimento público e consideradas úteis e necessárias pelos cidadãos em geral (que expressam a sua escolha, por exemplo, através do voto eleitoral).

Page 33: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

33

AGENDA PÚBLICAFaz parte da agenda pública os anseios, as opiniões e as acções dos

cidadãos e das Organizações da Sociedade Civil, enquanto parte inte-grante de uma sociedade. A agenda pública pode, por vezes, entrar em conflito com a agenda política, nomeadamente em ocasiões em que os cidadãos perspectivam outras opções que são contrários àquelas tomadas pelo Governo.

GOVERNAÇÃOA governação, nomeadamente a “boa governação”, está intima-

mente relacionada com o compromisso do Governo na gestão das políticas públicas e na promoção do Estado de Direito. Apesar de as múltiplas formas de definir o que é a boa governação, a mais consen-sual é a que recorre a mecanismos de promoção da transparência e da accountability, da participação dos cidadãos na vida democrática do país, da segurança e do respeito pelos direitos humanos, do Desenvol-vimento e do combate à corrupção.

ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC)As organizações da sociedade civil são entendidas enquanto

movimentos organizados de cidadãos no espaço social denominado terceiro sector, que se distingue, por um lado, do Estado e das insti-tuições políticas e, por outro, do sector empresarial. São organizações não estatais, sem fins lucrativos e canais privilegiados de solidarie-dade, de promoção dos direitos humanos e de voz dos grupos mais vulneráveis e marginalizados. Podem também constituir-se enquan-to actores políticos, levando a cabo um trabalho de pesquisa e de advocacy para monitorar e influenciar as políticas públicas. Pela sua natureza e objectivos, estes actores podem ser caracterizados como organizações não-governamentais, organizações comunitárias de base, organizações religiosas, sindicatos, associações de moradores,

Page 34: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

34

organizações de pesquisa e de determinados tipos de Media, organi-zações profissionais, entre muitas outras formas.

POLÍTICA PÚBLICAA expressão “política pública” diz respeito ao programa de acções

da iniciativa do Estado, em inúmeras áreas da vida em sociedade, como a educação, a saúde, o trabalho, a agricultura, o comércio, a indústria, entre outras dimensões. Em termos gerais, as políticas públicas dependem do envolvimento do Governo e da administração pública, e orientam não só o objectivo como o próprio processo de actuação em determinada área. As políticas públicas podem ser de-senvolvidas em parceria com organizações da sociedade civil ou com recurso ao sector privado.

TRANSPARÊNCIAA questão da transparência é central em qualquer processo de

monitoria. Sem acesso à informação, de forma clara e atempada, não é possível desenvolver correctamente estratégias de monitoria e de advocacy que permitam exercer influência e contribuir para a mudança das políticas públicas. A promoção da transparência pres-supõe a publicação de informação de forma proactiva (e não a sua disponibilização apenas por requerimento), abrangente, prospectiva e em circuito aberto à sociedade. É importante referir que o acesso à informação útil é um direito de qualquer cidadão e um pressuposto basilar do Estado.

Page 35: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

35

A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL

parte 1

Page 36: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 37: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

37 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

UM CONTEXTO SINGULAR E DIFÍCILSão Tomé e Príncipe, arquipélago constituído por duas ilhas prin-

cipais e ilhéus adjacentes, é um dos mais pequenos Estados do mundo e o segundo mais pequeno de África, depois das Ilhas Seicheles. Localiza-se ao largo do Golfo da Guiné, a cerca de 240 quilómetros da costa africana e é atravessado pela linha do Equador.

No ranking do Índice do Desenvolvimento Humano 2013 / 1O, São Tomé e Príncipe ficou na 144ª posição, entre 186 países, integrando assim a categoria de países de desenvolvimento humano baixo. No entanto, a localização geográfica vem conferindo ao país uma acrescida importância geoestratégica, tendo em conta os novos desafios que se colocam à sub-região. A sua Zona Económica Exclusiva abrange cerca de 160.000 Km² e confina com territórios ricos em hidrocarbonetos, e já em exploração comercial, de países como a Nigéria e a Guiné Equatorial.

O Produto Interno Bruto (PIB) é de cerca de 263 milhões de dó-lares norte-americanos, o que, em termos per capita, representa 1405 dólares / 11. Contudo, uma taxa de desemprego bastante alta, de 14 por cento / 12, somada à inflação, têm constituído factores de desequilíbrio e de deterioração do poder de compra das famílias e de consequente agravamento do índice da pobreza / 13, sendo que mais de metade da população vive em pobreza absoluta.

A taxa de crescimento médio do PIB, nos últimos 12 anos, é de aproximadamente 5 por cento, demonstrando uma evolução bas-tante volátil face à elevada abertura e exposição a choques externos.

AGENDA DE DESENVOLVIMENTO: MUITAS DIFICULDADES, GRANDES EXPECTATIVASEduardo Elba com Edson Moniz e Liadilma Alves

/ 1 To et asperiae. Ut que cuptus et mod etur, saepudit voluptatent ad quae molor apis del iuudit voluptatent ad quae molor apis del iuntiur, con re etur.

/ 1O Disponível em www.un.cv/files/HDR 2013%20Report%20Portuguese.pdf. Con- sultado a 1 de Abril de 2014.

/ 11 Cf. Instituto Nacio-nal de Estatística (INE) e Fundo Monetário Internacional (FMI)

/ 12 Cf. Recenseamento Geral da População e da Habitação 2012

/ 13 De acordo com o Inquérito ao Orça-mento Familiar reali-zado em 2010, cerca de 66,6% da população vive numa situação de pobreza absoluta.

Page 38: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

38

A economia apresenta um elevado nível de vulnerabilidade externa, resultado da conjugação de vários factores, tais como:

i. Dívida externa elevada (cerca 220 milhões de dólares, corres- pondentes a 77 por cento do PIB) considerada risco de sus- tentabilidade elevada;ii. Base de exportação bastante reduzida e concentrada num número muito restrito de produtos agrícolas, sendo que o cacau, o principal produto de exportação, tem vindo a dimi- nuir consideravelmente;iii. Dependência de Investimento Directo Estrangeiro (IDE), ajuda externa e empréstimos; iv. Elevado grau de abertura ao exterior, essencialmente devido à elevada taxa de importação;v. Desenvolvimento económico, político e social caracterizado por múltiplos constrangimentos e desafios.

OS GRANDES DESAFIOSEntre os factores que contribuíram para a explicação da desa-

celeração do crescimento económico no país, pode citar-se o atraso observado nos desembolsos da Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) e, mais ainda, a queda do IDE e das actividades do turismo provocados pela crise internacional.

De igual modo, a subida dos preços das importações do petróleo e dos produtos alimentares juntamente com importantes entradas de divisas provenientes da ajuda externa e as actividades de prospecção do petróleo contribuíram para amplificar o nível da inflação, estimada em 19,5 por cento no período de 2004 a 2008, com um pico de 26 por cento em 2008. Desde então, a taxa de inflação diminuiu, atingindo 10,4 por cento em 2012.

A repartição sectorial do PIB mostra que a economia nacional é impulsionada principalmente pelos seguintes sectores: comércio, hotéis e restauração, agricultura, exploração florestal, a pesca e a

Page 39: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

39 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

caça, transporte e armazenagem, comunicação, finanças, imobiliário, serviços às empresas e serviços das administrações públicas. O sector agrícola, que representa apenas 17 por cento do PIB, emprega mais de 60 por cento da população activa.

O país é também caracterizado pelas infra-estruturas deficientes, os serviços públicos de apoio ao Desenvolvimento são quase inexis-tentes e com um pequeno número de operadores, o que explica a sua fraca produtividade. Com uma agricultura de subsistência bastante frágil e pouco organizada, São Tomé e Príncipe deve necessariamente importar a maior parte dos bens para o consumo alimentar.

O aumento das receitas internas depara-se com três dificuldades principais: a omnipresença das actividades informais, a fuga ao fisco e a degradação das infra-estruturas, principalmente no domínio da energia caracterizada pelos aprovisionamentos irregulares. O imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas afecta apenas 20 empresas, entre os quais os bancos comerciais, a principal operadora das teleco-municações, os hotéis e alguns operadores de importação/exportação.

Os outros agentes (pequenas empresas de retalho, actividades ligadas ao transporte e aos serviços financeiros), que representam quase 65 por cento do PIB, provêm do sector informal ou beneficiam de isenções fiscais. A introdução, a partir de 2010, de um número de identificação fiscal único para cada particular e cada empresa deverá ter criado condições para a expansão gradual da base fiscal.

Os serviços públicos e o sector da construção imobiliária, impul-sionados pela construção de infra-estruturas turísticas e de habitações bem como pela manutenção das estradas, constituem, com as prin-cipais indústrias de transformação alimentar, uma das partes mais importantes do sector secundário. Quanto à indústria manufactureira, que assegura 7 por cento do PIB, sofre principalmente da pequenez do mercado interno, da falta de capital humano, do custo relativamen-te elevado da energia e da dependência em relação as matérias primas importadas. A fraqueza e a qualidade pouco competitiva da produção

Page 40: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

40

local provocam uma procura crescente dos habitantes pelos produtos estrangeiros menos caros e de melhor qualidade.

Quanto aos desafios ambientais, estão certamente ligados à pobreza nas zonas rurais. A desflorestação aumenta devido à transformação lo-cal das madeiras tropicais em carvão ou a sua venda para o estrangeiro, a falta de meios e de pessoal para preservar a fauna e a flora locais.

A PERSISTÊNCIA DA POBREZAO crescimento registado nestes cinco últimos anos não foi sufi-

ciente para resolver os desafios sociais e do Desenvolvimento. Se os progressos substanciais são notáveis em certos domínios (ensino pri-mário universal, redução da mortalidade infantil, melhoria da saúde materna, tratamento do VIH/Sida e do paludismo), outros grandes desafios estão igualmente por superar ao nível das condições de vida das famílias e do Desenvolvimento social.

As probabilidades de realizar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) relativos à extrema pobreza, à igualdade dos sexos e à instauração de parcerias para o Desenvolvimento são ainda muito pequenas. Alojamento condigno, acesso a água potável, tratamento de lixo, saneamento da água das chuvas e fornecimento de energia eléctrica são outras áreas em que as populações registam um grande nível de carência e insatisfação.

A baixa oferta e uma precariedade relativamente elevada do emprego são características estruturais da economia santomense. E, apesar de a taxa bruta de escolaridade no ensino primário ser de 136,1 por cento, 10,8 por cento de indivíduos de 5 ou mais anos de idade nunca foram à escola e 29,1 por cento dos jovens entre 15 e 24 anos não estão nem no sistema escolar nem no mercado de trabalho. Esses indicadores caracterizam a amplitude dos problemas do sistema educativo do país.

Assim, embora com alguns avanços registados, os indicadores so-ciais mantêm-se medíocres. O crescimento, pouco diversificado, não

Page 41: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

41 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

permite a criação de empregos para os pobres em geral, em particular para os jovens citadinos e as mulheres.

Em resposta a todos os desafios, no curto prazo, os desempenhos económicos do país dependerão da estabilidade política e dos esfor-ços que o Governo fizer para melhorar o modo de vida da população e assegurar uma gestão macroeconómica sólida. De igual modo, o Es-tado deverá comprometer-se em reforçar a colaboração com o sector privado para o encorajar a retomar os seus investimentos, investindo no Desenvolvimento agrícola de forma a aumentar a produtividade.

Outra medida estratégica é o desenvolvimento e alargamento das relações comerciais e diplomáticas com os parceiros emergentes (China, Angola, Nigéria, Índia, Brasil, etc.) para além dos seus parcei-ros tradicionais. Importantes esforços são necessários para permitir ao Estado definir uma estratégia pertinente para a mobilização de receitas internas mais significativas. O formidável potencial turístico e pedológico do arquipélago explicam todo o interesse manifestado pelas autoridades no sentido de muito brevemente fazer dele não so-mente um pólo turístico internacional mas também um grande porto de águas profundas.

A Boa Governação, Participação e Democracia, o Desenvolvimento Sustentável e a Luta contra a Pobreza, são eixos de actuação prioritários definidos pelo documento “Estratégia Nacional de Redução da Pobreza” (ENRP). Estão também reflectidos nas grandes linhas da cooperação bilateral. Outros eixos importantes a considerar são a coesão nacional e social e o Estado de Direito, com incidência particular no reforço da capacidade da justiça.

O PAPEL DA AJUDA PÚBLICA AO DESENVOLVIMENTOPortugal é o maior doador de São Tomé e Príncipe, no contexto

dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE). No entanto, os novos doadores têm tido um pa-

Page 42: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

42

pel cada vez mais importante no desenvolvimento económico e social do país, nomeadamente Taiwan (agricultura, água, infra-estruturas, formação profissional e saúde). Outros doadores bilaterais incluem a África do Sul (comércio e defesa), Angola (assuntos internos e defesa), Brasil (agricultura, educação, petróleo e saúde), Espanha (adminis-tração pública, agricultura e sociedade civil), EUA (forças armadas e saúde), França (agricultura, desenvolvimento rural e saneamento), Ja-pão (ambiente, ajuda alimentar, educação, infra-estruturas e saúde) e Nigéria (educação, defesa e petróleo). Índia, Guiné Equatorial e Líbia são outros doadores bilaterais a referir.

Os maiores doadores multilaterais são o Banco Mundial (BM) e a União Europeia (UE), esta última com o apoio às infra-estruturas de transportes. Outros doadores multilaterais incluem o Banco Africano de Desenvolvimento (BAfD) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A Ajuda ao Desenvolvimento tem-se concentrado nas acções relacionadas com a dívida, seguindo-se as infra-estruturas e serviços sociais, nomeadamente a educação, saúde e população.

O desafio de uma gestão transparente e coordenação eficiente da Ajuda ao Desenvolvimento mantém-se em São Tomé e Príncipe, nomeadamente através da criação e tentativa de operacionalização da Unidade de Coordenação da Ajuda (UCA), com o apoio do PNUD e de Portugal.

Page 43: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

43 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

Qual o papel, as actividades e as estratégias das OSC no que à mo-nitoria de políticas públicas diz respeito? E quais as suas capacidades actuais ou necessidades de reforço?

Os actuais desafios no exercício da governação exigem um cada vez maior envolvimento das OSC a todos os níveis, desde a concepção das políticas públicas até à fase de avaliação. Para tal, necessitam de recursos, humanos e financeiros. Sendo este um domínio de trabalho novo para a sociedade civil santomense, é premente o reforço de com-petências específicas – através de acções de formação, de disponibili-zação de informação adequada e em português, da criação de espaços de diálogo e de debate sobre opções políticas e de Desenvolvimento.

O Orçamento Geral do Estado (OGE), por exemplo, reflecte es-tratégias políticas e define as prioridades em termos de investimento público e Desenvolvimento do país. Importa à sociedade civil orga-nizada escrutinar a gestão das despesas públicas (saúde, educação, economia, administração, etc.) por forma a garantir que os Governos cumprem com as promessas feitas, mas também que os investimen-tos realizados são-no em prol da melhoria das condições de vida dos cidadãos. A sociedade civil – em particular OSC e Media – tem por isso um papel importante a desempenhar, desenvolvendo um conjun-to de actividades desde a análise orçamental e monitoria das despesas realizadas, ao questionar da pertinência de certas opções de investi-mento cujo impacto na luta contra a pobreza e Desenvolvimento do país poderá ser questionável.

MONITORIA E GOVERNAÇÃO: QUAL O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL?Liliana Azevedo

Page 44: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

44

As organizações da sociedade civil podem e devem desempenhar um papel no processo de monitoria da “coisa pública” de duas formas:

i. Através de acções de advocacia (advocacy) / 14 : antes e durante o processo de definição de uma política (aquando da discussão de um ante-projecto de lei, por exemplo) ou do OGE, isto é, no momento em que são discutidas as opções estratégicas. No caso do OGE, as OSC podem influenciar a definição de prioridades de investimento chamando a atenção para questões relacionadas com a luta contra a pobreza, promoção dos direitos, melhoria das condições de trabalho, entre outras. A influência pode ainda ter por objectivo que o OGE integre uma perspectiva de género (em que medida as opções orça-mentais têm impactos diferentes nas mulheres e nos homens?) ou de direitos das crianças (em que medida os recursos estão alocados a programas que beneficiam as crianças e em que medida esses progra-mas reflectem as necessidades das crianças?). Fazer advocacia requer competências específicas no domínio político que se pretende in-fluenciar: no caso concreto da monitoria de orçamentos, entre outras coisas, é essencial saber analisar movimentos orçamentais, verificar que as afectações são compatíveis com os compromissos e declarações políticas do Governo.

ii. Constituindo-se observador interveniente (watchdog): é o papel de quem observa a aplicação efectiva do orçamento ou de uma determinada política. No caso do OGE, as OSC verificam que as despesas públicas correspondem às afectações previstas e seguem as despesas ao nível dos programas e dos ministérios envolvidos. Ser ob-servador interveniente requer recolher, tratar e analisar a informação, bem como sintetizá-la de forma clara e divulgar os resultados, sendo desejável uma articulação com os Media de modo a ter poder de influência, quer junto da opinião pública quer dos decisores políticos. As OSC estão bem colocadas para desempenhar este papel, pelo seu conhecimento do terreno e pela sua proximidade com as populações mais vulneráveis.

/ 14 Cf. Capítulo Conceitos-chave

Page 45: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

45 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

Ambos os papéis implicam uma boa compreensão dos processos políticos e/ou orçamentais e uma boa capacidade comunicacional e de articulação com outros actores, como os Media, por exemplo. Com efeito, o trabalho de monitoria pode ganhar relevância se as OSC traba-lharem de forma articulada com os Media, pois estes podem contribuir para dar visibilidade às posições das OSC junto da opinião pública e desta forma criar pressão junto dos decisores políticos, no sentido da adopção de medidas e políticas públicas com impacto na melhoria do bem-estar da população em geral ou de grupos específicos.

A monitoria da prática de governação é um domínio novo de intervenção para as OSC santomenses, não havendo ainda uma estratégia comum. Também se compreende que não seja para elas uma prioridade claramente estabelecida, quando a maior parte das organizações se depara com a necessidade de resolver problemas mais prementes e essenciais para assegurar a sua sustentabilidade, condição prévia à participação das OSC no trabalho de monitoria. Contudo as OSC têm muito a ganhar na realização de um trabalho sério e credí-vel de monitoria de políticas públicas, constituindo-se assim como um parceiro efectivo no processo de construção das decisões.

Nesse sentido, importa criar condições favoráveis – que pas-sam nomeadamente pela disponibilização de informação acessível e atempada por parte das instituições públicas. Importa, por outro lado, as OSC investirem na capacitação dos seus recursos humanos de modo a aumentarem a sua massa crítica, isto é, a sua capacidade analítica (dispor de técnicos qualificados e em número suficiente, com conhecimentos adequados para fazer recolha, tratamento e análise de dados).

Revela-se ainda necessário reforçar a capacidade institucional (capacidade de negociação, comunicação, mobilização de diversos actores e articulação com outros) bem como a capacidade financeira (infra-estruturas adequadas e recursos para cobrir as necessidades operacionais inerentes às actividades de monitoria). Num contexto de

Page 46: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

46

parcos recursos, a colaboração e busca de complementaridades entre as OSC é essencial para conseguirem ganhar voz.

Os processos de monitoria são também a oportunidade para os poderes públicos terem um retorno por parte da sociedade civil sobre o impacto das políticas seguidas, constituindo-se como oportunidade para reajustar opções tomadas e adaptar as medidas implementadas. Este trabalho ganhará em legitimidade se as OSC conseguirem mobi-lizar a opinião pública e envolvê-la através de mecanismos de retorno de opinião (feedback) criando, por exemplo, espaços de informação e debate. Essa legitimidade passa também pela capacidade de penetrar a agenda mediática / 15 e envolver jornalistas e fazedores de opinião nestes debates.

Os mecanismos de monitoria das políticas públicas e de monito-ria orçamental de iniciativa das OSC contribuem para a qualidade da governação, na medida em que permitem um debate público sobre as opções de Desenvolvimento, bem como a apropriação destas questões por parte dos cidadãos.

/ 15 Cf. Capítulo Conceitos-chave

Page 47: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

47 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

Entre os grandes desafios com que deparamos em São Tomé e Príncipe está a luta contra a corrupção. Segundo Ian Senior (2006: 29) / 16 , para que se possa determinar o que é um caso ou uma situação de corrupção, existem cinco elementos que devem ser contemplados simultaneamente: “A corrupção ocorre quando o corrupto (1) dá secretamente (2) um bem material ou concede um favor a um tercei-ro, (pessoa ou empresa com certas responsabilidades nas transacções monetárias) para que estes possam influenciar (3) determinadas acções, que (4) beneficiam ao corrupto ou a um terceiro ou ainda aos dois, e para as quais o corrupto tem (5) autoridade”.

Note-se que a corrupção é um mal, com muitos sintomas, que pode ser observado nos actos e processos do Estado, mas também no sector privado. Mal que muitas vezes é conotado como: banho / 17 , amiguismo, facilidades, clientelismo / 18 , esquema / 19 , luvas / 2O , etc.

Tentaremos observar como o Governo, as diferentes instituições, a sociedade civil santomense têm lidado com a questão da corrup-ção; como tem sido feito o controlo por parte dos diferentes sectores da sociedade; o nível de independência e liberdade para denunciar e participar na luta contra a corrupção; em que medida o aparelho do Estado está equipado e preparado para enfrentar este fenómeno, bem como, que medidas poderão ser adoptadas para melhor afinar toda a máquina à disposição para o combate à corrupção.

Embora os sintomas não sejam explícitos isso não quer dizer que a questão não preocupe os governantes. Por exemplo em 1991, o pri-

PANORAMA DA CORRUPÇÃO EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE Paula Medina Fernandes

NOTA: Este artigo é uma adaptação da tese “Corrupção: definição, prevenção e combate - o caso de S. Tomé e Príncipe” para obtenção do grau de Mestre em Gestão Pública na Uni-versidade de Aveiro

/ 16 Senior, Ian (2006), Corruption- The World’s Big C , Editora Great Britain

/ 17 Banho é um fenó- meno que corrói gra-vemente a democracia e que tem ganho di-mensão em São Tomé e Príncipe. Muitos eleito-res não são movidos por convicção pessoal ou pela lealdade partidária, mas sim pelo dinheiro. Os partidos não se limi-tam a divulgar as suas ideias, a exibir os slogans e a fazer promessa, empenham-se também a distribuir dinheiro, à boca da urna, a fazer compra de consciências. O eleitor mesmo sabendo em quem votar, quer receber uma

Page 48: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

48

meiro Governo democraticamente eleito prometeu que iria publicar um Livro Branco que serviria para informar a sociedade sobre a má gestão, a desorganização generalizada do anterior Governo, tencio-nando, dessa forma, coibir acções do género no mandato do então Governo. Um livro nunca editado, apesar das promessas dos dois primeiros Chefes de Estado da era democrática.

Com ou sem o Livro Branco, certo é que o país deverá desencadear esforços no sentido de conhecer o nível de corrupção que o assola.

Em todo o caso, vale ressaltar que o país deverá estar consciente de quão ardilosa será esta tarefa. Pois medir a corrupção não é fácil. Não há dúvida que uma das dificuldades metodológicas mais importante que enfrenta a ciência social é a medição. Medir variáveis que tenham a ver com o ser humano é sempre complexo, principalmente quando se trata de opiniões ou comportamentos que quase sempre não são legítimos. Os actos tidos como corruptos, ao contrário de outros cri-mes em que as provas são mais evidentes ou inocultáveis, sobretudo porque pode haver alguém disposto a torná-lo público, pode-se assim dizer que é um crime dissimulado, em que tanto o corruptor como o corrupto actuam normalmente com todo o cuidado. Saber exacta-mente onde, como e em que nível há prevalência de actos corruptos no interior do aparelho de Estado, ou mesmo na sociedade em geral, é uma tarefa, decerto, impossível. Daí as dificuldades dos pesquisadores dessa área. Não havendo dados em quantidade necessária e fiáveis, leva a resultados inconclusivos baseados em explicações pouco segu-ras. No entanto, felizmente, apesar dos obstáculos, tem havido cada vez mais reflexões e trabalhos científicos sobre a corrupção. No caso de São Tomé e Príncipe, para além de todas as considerações acima, a condição de micro-Estado permite um sem número de situações nem sempre fáceis de gerir. Há condicionalismos de ordem econó-mica, psico-cultural, que muitas vezes têm a ver com o isolamento, que trazem consigo uma certa vulnerabilidade, perante o ambiente e o mundo externo. Não é por acaso que se utiliza constantemente no

/ 18 Essas três palavras estão de certa forma relacionadas. Em São Tomé e Príncipe a di- mensão do país deter-mina de certa forma para a elevada ocorrên-cia desses “fenómenos”. Permite uma terrível rede de dependências cruzada que com faz que as pessoas, elas todas, dependam umas das outras e devam favores umas às outras. Os laços de amizade, vizinhança, de parentesco, cruzam-se e fazem com que gran- de parte das vezes as pessoas não sigam os procedimentos e regras estabelecidas, ao contrá-rio, criam facilidades.

/ 19 Um plano, toda uma situação criada, montada, por um agente ou vários agentes para conseguir algum benefício em proveito próprio, ou a favor de uma terceira pessoa.

/ 2O Subornos, recom-pensas.

compensação para o fazer. O partido sabe que mesmo tratando-se de um militante seu, se não fizer o gesto, perde-o. Se não for feito à boca de urna, aumenta automa-ticamente a abstenção. E isso acontece porque ninguém quer fazer seja o que for, sem receber uma compensação, ain-da que mísera, porque são elevados os índices de pobreza, de frustra-ção, e de desilusão e, por sua vez, muito baixos de confiança e esperança.

Page 49: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

49 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

país a expressão “ S.T.P., Lda”, insinuando que a governação no país processa-se como se tratasse de uma empresa de capital limitado. Por outro lado, o S.T.P. é “visto” (por nacionais, até mesmo por alguns estrangeiros residentes) como: Somos Todos Primos ou Somos Todos Parentes, que embora seja uma forma divertida de se referir à sigla, descreve em grande medida a verdadeira condição das relações exis-tentes dentro do país. O parentesco que surge não só na sigla como na prática, promove grandes constrangimentos na gestão pública, pois fomenta o clientelismo, o nepotismo, o tráfico de influências, etc. O que leva a reconhecer que a combinação do parentesco presente no país, um nível elevado de pobreza, que se associa a um elevado grau de burocracia e ineficácia do aparelho do Estado concorrem para que não se tome as medidas necessárias mesmo quando a situação o exige. Quantas vezes os dirigentes não se encontram entre a espada e a pa-rede ao tomar uma decisão, uma vez que esta afectaria, condicionaria certos privilégios de amigos e/ou parentes? E essa questão estende-se do Executivo ao Legislativo, na medida que até mesmo ao legislar, muitas vezes depara-se com choques de interesses.

Embora a baixa condição socio-económica concorra para o favo-recimento da corrupção, como o caso da prática do suborno, sabemos que este fenómeno não é específico de países pobres, logo, embora a relação entre esse fenómeno e a pobreza se coloque em termos de si-tuação de precariedade ou privação, o certo é que a prática desse acto se deve também ao quadro de valores defendido pelo indivíduo e pela sociedade. Em São Tomé e Príncipe a assunção de cargo público de relevo pode resultar em uma melhoria significativa de condições de vida. Como o país possui uma economia muito frágil e vive, cons-tantemente, num clima de instabilidade política, as pessoas quando assumem cargos de direcção entram numa corrida desenfreada para conseguir em tempo recorde alguns privilégios, antes de haver uma outra queda do Governo, que acarreta, na maioria das vezes, a queda da grande parte de pessoas que ocupam cargos de chefia e de direcção.

Page 50: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

50

Esse cenário pode levar as pessoas a aceitarem certos subornos e aproveitar toda a sua influência de função para conseguir benefícios pessoais na tentativa de encontrar uma forma fácil de enriqueci-mento, tendo em conta que cessando as suas funções, certamente, as “oportunidades” deixarão de aparecer. Por vezes os detentores de cargos públicos monopolizam pessoalmente informações e contac-tos relevantes, visto que isso poderá facilitar a apropriação ilícita de “fundos”.

A realidade do país exige uma governação muito habilidosa. Mas sabe-se que governar é uma arte que poucos dominam. É um jogo de inteligência em que a conciliação de interesses é relevante em qual-quer sector, seja ele público ou privado. Sempre que esse critério for violado, surgirá uma reacção. O sucesso de um administrador depen-de de uma visão conjugada em que cada factor seja avaliado à luz da razão e de circunstâncias peculiares.

Não é por acaso, que tanto Maquiavel como Marx, profundos estudiosos das estruturas sociais e sensíveis conhecedores da natureza humana, abordaram a questão relacionada com os riscos que correm os governantes egoístas e inábeis.

O egoísmo dos governantes santomenses tem-nos levado a tirar o proveito até mesmo das ajudas externas (do Banco Mundial, da União Europeia, do Japão, etc.) que chegam ao país (uma ajuda da qual o país depende em grande medida), numa tentativa de acumularem riqueza e poderio político. Tudo isso concorre para o aumento da prática de corrupção no país.

Como se pode constatar com a exposição de Seibert (2001: 203-204) / 21 , “a disponibilidade de fundos externos e o estabelecimento de joint-ventures com capital estrangeiro, fizeram aumentar os níveis de corrupção e de outras mal versões. Vários políticos estiveram envol-vidos no escândalo da compra de casas pré-fabricadas, que adquiriu sérias proporções, embora não fosse um caso único. O facto deu-se em 1989. O Primeiro-Ministro e outros membros do Governo foram

/ 21 Seibert, Gerhard (2001), Camaradas, Clientes e Compadres: Colonialismo, Socialismo e Democratização em S. Tomé e Príncipe, Lisboa, Editora Vega

Page 51: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

51 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

subornados pela companhia italiana Technosystem de Cremona. A companhia vendeu ao país 120 casas e três clínicas prefabricadas financiadas por um empréstimo do Governo italiano no valor de 13,8 milhões de dólares, na altura, mais do que o dobro das receitas anuais de exportação do país. O verdadeiro valor da aquisição estava esti-mado em apenas cinco milhões de dólares”. Posteriormente o então Ministro dos Negócios Estrangeiros revelou de que modo foi feito o acordo: “Não sabíamos que teríamos de pagar. Quando nos foi feita a oferta, telefonámos ao Ministro da Economia da Guiné-Bissau, para obter pormenores porque eles haviam recebido idêntica oferta. E o ministro guineense disse: Não há problemas. Oficialmente o preço é muito superior ao valor real das casas, mas vocês não pagam nada. Assinam e um ano depois informam ao Governo italiano de que não podem pagar”.

Como consequência da transacção, o Fundo Monetário Inter-nacional (FMI) suspendeu todos os créditos a São Tomé e Príncipe, porque qualquer acordo que ultrapassasse os 500.000 dólares requeria prévia autorização daquela instituição. Em 1990, o Primeiro-Ministro viu-se obrigado a viajar para Washington para justificar as vantagens do dispendioso projecto.

Todo o cenário descrito demonstra uma elevada falta de contro-lo. Uma falta de controlo de verbas públicas que poderá estar ligada à inexistência, durante largos anos, de um Tribunal de Contas no país (pois esse órgão só foi instituído em 2003, com a Lei n.º 3/99, Lei Orgânica do Tribunal de Contas de São Tomé e Príncipe), e a desistência, nos primeiros anos pós-independência, de se prestar contas anualmente a um Tribunal Administrativo, o que propor-cionou o incumprimento da Lei sobre o Sistema de Administração Financeira do Estado, consequentemente, facilitou, a prática de corrupção. Nesse período, quando não existia o Tribunal de Con-tas, o controlo e as auditorias eram feitos ao nível do Ministério das Finanças, pela Inspecção-Geral das Finanças. Era um controlo

Page 52: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

52

bastante deficiente, tanto que as regras orçamentais foram repetida-mente violadas e muitas operações financeiras eram feitas à margem do Orçamento / 22 .

A falta de controlo está relacionada com a falta de autoridade do Estado que se tem verificado no país, que por sua vez, tem provocado o aceleramento da evasão fiscal, práticas de suborno e facilidades, contribuindo desta forma para o aumento da corrupção.

Verifica-se também a falta de controlo por parte dos cidadãos. Esses não têm sido nem vigilantes nem participativos. A sociedade civil não possui armas à altura para seguir, controlar e cobrar, porque até mesmo a comunicação social nem sempre tem desempenhado o seu papel de informador e formador, que seria de grande valia. Pois trata-se de uma sociedade onde um número considerável da popu-lação ainda precisa de ser instruída e capacitada para reivindicar e discutir os interesses da nação (está-se a referir a uma sociedade onde o número de analfabetos, em 2006, ainda atingia os 29,3% conforme os dados do Instituto Nacional de Estatística, embora tenha havido nos últimos anos avanços significativos). Caso contrário, persistirá o que se tem verificado, uma onda do comodismo e medo de marginali-zação, que dá origem a uma sociedade refém.

AUSÊNCIA DE ENQUADRAMENTO JURÍDICO SOBRE CORRUPÇÃOA ausência de sanções legais é um factor que tem favorecido a

corrupção. Dados relativamente ao crime de corrupção em São Tomé e Príncipe, nos últimos 38 anos (período pós-independência) no que toca a julgamentos e condenações são praticamente nulos, de acordo com informações obtidas junto ao Ministério Público.

No entanto, a comunicação social através da rádio, televisão, bem como dos jornais impressos pontualmente, falam dos alegados casos de corrupção, como tem sido com o caso de desvios de fundo no Gabinete de Gestão de Ajuda (GGA), que envolveu a figura da então Primeira-Ministra, além do Ministro de Comércio, directores e outros

/ 22 Essa prática era feita através do famoso saco azul, um bolo orçamen-tal sem discriminação exacta de despesas a serem afectadas. Um bolo ao qual as autorida-des recorriam à medida que surgisse qualquer eventualidade, seja ela de interesse público ou não.

Page 53: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

53 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

agentes públicos. Um caso que se foi arrastando ao longo de vários anos e com desfecho meio dúbio.

Embora as normas existentes no país prevejam um sistema judi-cial independente, os agentes judiciais convivem com intimidações e peso de influências que lhes dificultam o trabalho e de certa forma impede que os mesmos sejam imparciais.

A morosidade e precariedade do sistema judicial concorrem de igual modo, para que alegados casos de corrupção levados à justiça não conheçam um julgamento. Muitos foram os inquéritos parla-mentares de casos de corrupção que não culminaram em processos judiciais. Isso acontece, provavelmente, devido à falta de uma efectiva independência dos tribunais, que permite interferências de familia-res, de amigos, dos partidos, etc. Esses, normalmente, utilizam todo e qualquer tipo de influências para impedir o andamento do processo. Devemos relembrar a força da sigla S.T.P. – Somos Todos Parentes – que nessas alturas impõe sobremaneira, sejam laços parentescos, laços partidários, ou por se tratar da classe de elite (da pequena elite), sem-pre na defesa de interesses do grupo e com o pensamento: não deixar afundar para não nos afundarmos juntos.

A outra questão tem a ver com a ausência, durante largos anos, de normas que regulassem a criminalidade económica e o branquea-mento de capitais. Só em 2008, a Assembleia Nacional aprovou a Lei Contra o Branqueamento de Capitais, em 18 de Abril, e a Lei do Regi-me Jurídico Contra a Criminalidade Económica, em 29 de Janeiro.

A ausência ou inoperância de normas que regulam as elegibilida-des também tem contribuído para a proliferação da corrupção. Ao in-vés de se instituir mecanismos que coíbam o exercício das actividades políticas por aqueles que infringiram a lei (por exemplo, os políticos denunciados por crime de corrupção) e puni-los, ao contrário, muitas vezes esses políticos são promovidos a ocuparem cargos bens nume-rados dentro ou fora do país.

A ausência ou inoperância de normas que regulem o mercado

Page 54: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

54

financeiro, que promovam a concorrência e a atracção de investimen-tos também tem sido um terreno fértil para a corrupção. Por exemplo, as leis que compõem o pacote da Reforma Fiscal só foram aprovadas a partir de 2008, mas muitas delas já carecem de alterações de fundo.

O baixo nível do rendimento no país, que se traduz num baixo salário mínimo na função pública / 23 , concorre sobremaneira para que haja corrupção, uma vez que os funcionários públicos vêem-se forçados a buscar fontes alternativas de rendimento e, alguns buscam alternativas não propriamente lícitas, como troca de favores e/ou outras vantagens.

Também cabe falar da estrutura da máquina governativa que é ex-tremamente pesada e ainda por cima, conta com um elevado grau de burocracia e um baixo nível de eficiência e eficácia. Por outro lado, o Governo e as Câmaras não têm a sua missão devidamente definidas e tendem a chamar para si toda e qualquer atribuição, desde a organiza-ção de limpeza de rios, construção de latrinas, etc. A realidade brinda--nos com um Governo sem capacidade para impor a ordem, garantir a segurança de pessoas e bens, aplicar a lei e modernizar a economia do país, resultando num Estado Predador / 24 . O mesmo acontece ao nível dos outros Órgãos. No caso particular da Assembleia Nacional, há um elevado número dos deputados comparativamente aos outros países (se fizermos a relação dos deputados versus a dimensão do país e sua população).

Entretanto, é preciso que se diga que a estrutura da função pública tende a aumentar e não reduzir, isto porque muitos temem as conse-quências políticas que uma redução da máquina estatal e da burocra-cia podem trazer. Por outro lado, após cada período eleitoral, como forma de cumprir promessas feitas, são garantidos postos para alguns eleitores/militantes dos partidos.

Isso tudo concorre para que não haja a valorização e a promoção de competência, do profissionalismo e das normas deontológicas.

O projecto de Reforma Administrativa (1993-1997), financiado

/ 23 Actualmente o sa-lário mínimo praticado na função pública é de Dbs: 975.000,00, o que corresponde a € 39,80 (trinta e nove euros e oi-tenta cêntimos) e, como não existe norma que regule o salário mínimo no país, muitas vezes o salário praticado chega a ser mais baixo ainda noutros sectores.

/ 24 Está-se a referir a um Estado que se diz liberal, e pode-se dizer que seja apenas pela necessidade de designação formal ou de tipificação. Uma vez que na prática, não aderiu nem aos paradigmas do Estado liberal moderno, muito menos aos valores defendidos por ele. Conforme defende Va-rela (2007:3) “Vivemos num Estado Predador. Não é novidade para ninguém que uma parte não negligenciável dos recursos de todos nós é colocada ao serviço de interesses partidários e particulares. Não são raras as vezes em que o património público

Page 55: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

55 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

pelo PNUD e pelo Banco Mundial, criado para garantir a qualifi-cação adequada dos funcionários, o reforço da gestão dos recursos humanos, a reorganização da Administração Pública e a adopção de um estatuto da função pública, bem como a redução significativa da burocracia, teve resultado aquém do esperado/estabelecido, segundo a avaliação do próprio PNUD. Se este projecto resultasse e as medidas fossem postas em prática, não haveria brechas para apadrinhagem mas sim a promoção de competência e, por outro lado, a redução da estrutura do Estado. Talvez por isso o projecto se deparou com constantes adiamentos das suas variadas acções e entraves em vários níveis, tanto dos agentes como dos governantes públicos.

Por fim, parece-nos pertinente falar do segundo órgão de sobe-rania – a Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe – que tem a competência de fiscalizar a acção do Executivo e não o tem feito devidamente. A Assembleia Nacional é composta por 55 deputados, dos quais cerca de 70% não trabalham a tempo inteiro, de acordo com informação obtida junto ao Assessor de Imprensa desse Órgão. Na perspectiva de uma maior e melhor fiscalização da acção do Exe-cutivo pelos parlamentares, tem havido nos últimos tempos várias iniciativas visando a redução e profissionalização dos deputados, como, por exemplo, a jornada para a Reforma Parlamentar em 2001. O argumento que tem servido de base para se pensar na Reforma Par-lamentar tem sido de que a independência e a isenção dos deputados estariam sempre em causa a partir do momento em que continuassem a trabalhar nos organismos da administração central do Estado, es-tando hierarquicamente subordinados a diferentes Ministros e outros dirigentes. Tem-se indagado, como poderiam cumprir as suas tarefas, que é o controlo e fiscalização da actividade governativa do Estado, nesse cenário?

é pura e simplesmente apropriado por um “corajoso” detentor do poder ou até por um pacato funcionário pú-blico, farto de curvar-se e fazer a ponte”.

Page 56: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

56

MEDIDAS PREVENTIVAS PARA O COMBATE À CORRUPÇÃO EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPEUma vez detectadas as principais causas de corrupção no país

e tendo em conta o contexto social, cultural e económico, julgamos pertinente apresentarmos algumas medidas, tanto preventivas, como repressivas, capazes de reduzir a prática da corrupção, principalmente ao nível governamental.

/ Formar os servidores públicos, inclusive em questões ligadas ao decoro administrativo; / Aprovar um código de conduta cívica que ajude na moraliza- ção da sociedade em todos os sectores e níveis, através da educação (um projecto que vem sendo falado no país e possi- velmente, em breve, será remetido à Assembleia Nacional); / Dotar os órgãos de controlo de ferramentas e pessoal de alto nível e promover a integração e o desenvolvimento desses órgãos de forma contínua; / Avaliar os possíveis serviços que podem ser privatizados, reduzindo a intervenção do Estado, melhorando-se o seu papel de regulação, prevendo-se assim a redução do campo de incidência da corrupção pública; / Criar uma estrutura formada por entidades não-governa- mentais que possa analisar os casos de denúncia de corrup- ção quando o sistema judiciário se mostrar inoperante; / Adoptar medidas que inibam a eleição de dirigentes desones- tos, adoptando por exemplo, normas de elegibilidade; / Lançar e adoptar uma campanha de mobilização geral contra a corrupção.

De forma um pouco mais profunda e tentando preservar a lógica interna desta reflexão, julgamos pertinente apresentarmos e sugerir-mos medidas destinadas a contra-atacar o crescimento e a sofisticação da corrupção. Essas medidas deverão ser adoptadas dentro de um pla-

Page 57: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

57 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

no de combate permanente, vigoroso e amplo. Amplo no sentido de não ser algo apenas do Governo, mas sim do Estado e com alto grau de envolvimento da sociedade civil.

Concluindo, torna-se necessário apostar na mudança de valores, crenças, hábitos e práticas, através de um aprimorado processo de consciencialização e educação cívica. Deve-se ter presente que essa mudança de valor não é algo a ser imposta, pelo contrário, é neces-sário que a própria sociedade sinta a necessidade dessa mudança. O empurrão e contribuição de vários grupos organizados, como organi-zações não-governamentais, igrejas, pedagogos, críticos, intelectuais, professores e formadores de opinião pública, far-se-ão necessários.

E é nessa linha de raciocínio que julgamos que: / Não se pode ditar transparência na Administração Pública

sem combater a causa da falta de transparência;/ Não se pode apontar medidas políticas nas áreas educacio-

nais, económicas, judiciais, em termos de organização do Estado, para o combate à corrupção, etc., sem indicarmos medidas que anulem as causas impeditivas da tomada das decisões políticas.

É imperativo que se criem as bases em São Tomé e Príncipe, para que a sociedade possa vir a participar mais nas tomadas de decisão política, de modo a impedir que os políticos continuem a tomar de-cisões, tendo em conta os seus interesses, que, por azar, quase sempre não coincidem com os interesses do povo. No entanto, estes, os cida-dãos, aparentam nem saber quais são os seus próprios interesses.

Page 58: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 59: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

59

Um dos temas “quentes” do ano 2013 em São Tomé e Príncipe foi o alegado desvio, em 2011, de mais de meio milhão de euros do Fundo de Contrapartida criado pelo Japão no âmbito da ajuda alimentar / 25. O “Fundo do Arroz”, como é vulgarmente conhecido, é um assunto de importância vital para a vida da maior parte dos santomenses. É, apesar disso, um tema rodeado de constante desinformação e cujos contornos são pouco conhecidos do cidadão comum.

Exemplifica, nesse sentido, o défice de transparência na gestão de fundos impor-tantes ligados à ajuda externa a São Tomé e Príncipe, que continuam fora do escrutí-nio da sociedade civil. Costuma, ao mesmo tempo, ouvir-se em São Tomé e Príncipe que o arroz “faz cair” Governos. Vale a pena olhar para este tema e tentar clarificar alguma desinformação que tem complicado o debate

sobre uma questão de Desenvolvimento que toca o quotidiano de todos.

Os Governos de São Tomé e Príncipe e do Japão assinaram em 1999 uma Conven-ção de Ajuda Alimentar no âmbito da Ajuda Pública ao Desenvolvimento. Este acordo de cooperação económica tem sido renovado todos os anos desde então, com a excepção dos anos 2004, 2005 e 2006. Os dois países acordaram numa doação, cujo envelope em Yen japonês é acordado para cada ano.

O Governo do Japão designou o Sistema de Cooperação Internacional do Japão (JICS) como uma terceira parte independente para se ocupar do processo de aquisição e da compra do arroz a ser adquirido no Japão, Tailândia ou nos EUA. O Governo de São Tomé e Príncipe deve vender o produto aos comerciantes grossistas nacionais e constituir no Banco Central de São Tomé e Príncipe

O EXEMPLO DO ARROZ QUE FAZ CAIR GOVERNOSFONG-STP

/ 25 Cf. Téla Nón, 7 de Novembro de 2013, www.telanon.info.

Page 60: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

60

(BCSTP), para cada ano, um fundo onde é canalizada a totalidade da receita, designado Fundo de Contrapartida.

À luz do referido acordo, o Governo san-tomense está autorizado a depositar somente 2/3 do valor FOB da venda / 26, caso seja doa-do um terço às instituições sociais no país. Entretanto, cada doação feita às instituições sociais deve ser devidamente justificada. Os lucros da venda do arroz devem ser usados nos financiamentos dos projectos do sec-tor social, tal como acordado entre os dois países.

O Governo de São Tomé e Príncipe ven-de o produto ao maior número possível de comerciantes para evitar qualquer situação de monopólio. No passado, havia até cerca de seis comerciantes. Hoje, há mais de dez actores elegíveis.

A estrutura da cadeia do arroz é peculiar. O actor principal que abastece o mercado interno é o Governo de São Tomé e Príncipe. A doação japonesa fornece (importa) entre metade e dois terços do arroz consumido no mercado santomense. De acordo com a Direcção do Comércio, há cerca de 180 vendedores registados. Contudo, o número de vendedores informais é desconhecido.

O Governo garante ainda subsídios para o transporte de arroz e outros bens essenciais ao Príncipe.

Segundo alguns comerciantes inquiri-dos para o Estudo de Mercado realizado em 2011 para o Programa Alimentar Mundial (PAM), o arroz importado em São Tomé e Príncipe é um negócio de risco. O Governo usa a Ajuda Alimentar do Japão para estabili-zar a disponibilidade do arroz no mercado e consequentemente, o seu preço. Parece claro que o Governo usa o arroz como uma ala-vanca estratégica para alcançar a segurança alimentar; quando o arroz japonês acaba, o mercado sofre uma quebra de abastecimento que imediatamente se repercute no aumento do preço. Quando isto acontece, o mercado acompanha a especulação nos preços. Os actores privados que teriam a capacidade de importar, têm de ponderar antes de entrar neste negócio de alto risco por causa da reduzida margem do lucro depois do desal-fandegamento e devido à presença de um competidor embaraçoso que pode, de repen-te, inundar o mercado.

A intervenção do Governo visa estabe-lecer o preço. O nível dos preços que resulta da intervenção estatal permite a uma larga

/ 26 FOB - “Free On Board”, ou seja, o custo do produto sem incluir os custos de transporte e seguros (que é

designado por preço CIF - “Cost with Insurance and Freight”).

Page 61: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

61

parte da população, com limitado poder de compra, ter acesso a um abastecimento razoável de arroz. No entanto, de entre os que beneficiam desta estabilização, há grupos com maior poder de compra que não neces-sitam dessa ajuda. Eventualmente, também há grupos que permanecem fora do mercado por falta do poder de compra.

O nível actual do preço do arroz pode ter sido induzido, ou contribuiu para um efeito de substituição dos produtos locais por produtos importados, que no caso do arroz está de algum modo subsidiado, o que resulta numa mudança das preferências dos consu-midores.

Encontram-se actualmente em falta, nas contas de 2007 e 2008 do Fundo de Contra-partida, quase 40 mil milhões de dobras, ten-do em conta que a totalidade das receitas das vendas do arroz importado do Japão não foi depositada nem justificada. É da incumbên-cia da Direcção do Comércio, na qualidade de entidade responsável pela venda do arroz, regularizar a situação em causa.

Salienta-se ainda que a conta de 2009 tem um saldo deficitário de mais de seis mil milhões de dobras, montante que tam-

bém carece de justificação. De igual modo, não foram ainda restituídos mais de 12 mil milhões de dobras – retirados compulsiva-mente em 2011 pelo Tribunal da (na altura) conta de passagem de 2009 – e de quase 15 mil milhões – retirados da mesma conta para o aprovisionamento do mercado com arroz e açúcar.

O secretismo que tem rodeado a gestão do Fundo de Contrapartida e as dúvidas quanto à sua boa gestão e aplicação ilustra bem o leque de consequências de distorções aos princípios de transparência e boa gover-nação. Como foi amplamente noticiado, a suspensão temporária, pelo Japão, da ajuda alimentar a São Tomé e Príncipe ameaçou pôr em causa a realização das eleições em 2014, uma vez que o recenseamento e as eleições são financiados pelo Fundo de Con-trapartida. O “fundo do arroz” não é apenas uma questão de bem comer; é também uma questão de bem votar.

Page 62: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 63: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

63 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

DA EUFORIA AO REALISMOA assinatura do primeiro contrato de exploração entre uma pe-

trolífera estrangeira (a ERHC, em conjunto com a PFC) e São Tomé e Príncipe, em 1997, fez surgir a expectativa de uma súbita multipli-cação das receitas do Estado e do arranque de um processo rápido de Desenvolvimento. Para um país fortemente endividado e dependente da ajuda exterior, como São Tomé e Príncipe, esta promessa rapida-mente se tornou em sonho mas há hoje quem avise que esse sonho pode não passar de uma ilusão.

Na última década, quatro grandes companhias petrolíferas inter-nacionais desistiram sucessivamente dos seus direitos de exploração, alegando, no essencial, que as jazidas identificadas não justificam o investimento necessário para concretizar o seu potencial. A última foi a companhia francesa Total, que em Julho de 2013 confirmou o aban-dono do Bloco 1 da Zona de Desenvolvimento Conjunto (ZDC).

As OSC podem e devem ter um papel crucial no acompanhamen-to do “dossier petróleo”. Por um lado, como actores de monitorização e garantia de transparência. Por outro, como agentes de informação fiável sobre um assunto vital para o futuro dos santomenses, que tem sido rodeado de secretismo e frequente motivo de desinformação.

O petróleo é, efectivamente, um factor-chave para a evolução do país, haja ou não produção num futuro próximo. Havendo produção, São Tomé e Príncipe terá recursos para concretizar infraestruturas e assegurar investimentos em áreas como a educação, a saúde e a justiça

PETRÓLEO, TRANSPARÊNCIAE DESENVOLVIMENTOJosé Cardoso e Pedro Rosa Mendes

/ 1 To et asperiae. Ut que cuptus et mod etur, saepudit voluptatent ad quae molor apis del iuudit voluptatent ad quae molor apis del iuntiur, con re etur.

Page 64: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

64

A ZONA DE DESENVOLVIMENTO CONJUNTO STP/NIGÉRIA / 27

que, no quadro actual, estão bastante limitados à disponibilidade e às agendas dos doadores e das instituições internacionais. Ao mesmo tempo, são conhecidos os riscos associados a uma afluência súbita de receitas petrolíferas, desde a corrupção e inflação até à atrofia de outros sectores económicos, nomeadamente da agricultura.

No caso contrário, o de não chegar afinal a haver produção petrolífera, São Tomé e Príncipe terá, por maioria de razão, que alicerçar as suas políticas de Desenvolvimento em sectores onde os resultados podem ser menos imediatos mas onde podem ser também mais consistentes e sustentáveis, como a agricultura e as pescas. Será também das OSC que terá certamente de vir o apelo para a atenção a

/ 27 Fonte: www.anp-stp.gov.st/pt/sobre/jdz/. Consultado em 28 de Março de 2014.

Block No.

Block 1

Block 2

Block 3

Block 4

Block 5

Block 6

Block 7

Block 8

Block 9

Area (sq.kms)

704

692

666

857

1091

588

1286

822

1123

NIGERIA Port Harcourt

JOINT DEVELOPMENT ZONE Príncipe

Bioko

Malabo

ISOBO

ALBA

EQUATORIALGUINEA

CAMEROON

SÃO TOMÉ AND PRÍNCIPE

ZAFIRO

USAN

UKOT

AKPO

CHOTA

NGOLO

BOLJA

BILHAAGBAMI

IKIJASEKHI

NNWADORO

BOI

01 02

0804

07090603 05

O APPROXIMATE SCALE 1OO KM

Page 65: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

65 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

estes sectores, digamos, mais convencionais e que exigem estratégias políticas continuadas. À semelhança do que tem acontecido invaria-velmente em Países em Desenvolvimento ricos em recursos naturais, a distribuição da renda petrolífera é desequilibrada e toca pouco a maioria da população.

O primeiro contributo positivo da FONG-STP, e das OSC em geral, para uma abordagem madura do “dossier petróleo” é, preci-samente, contribuir para que a discussão se faça “de pés na terra”. Há século e meio (ver cronologia no final deste capítulo) que se fala de petróleo no país mas ainda não se produziu um único barril. O início da produção foi mesmo anunciado pelos responsáveis políticos santomenses para o ano de 2015, marco até simbólico por coincidir com os 40 anos da independência do país. Mas o abandono do Bloco 1 da ZDC pela Total veio suspender esse calendário optimista e adiar a esperança sine die.

Antes da Total, desde 2007, outras três grandes companhias inter-nacionais cederam sucessivamente os seus interesses no Bloco 1: as americanas Exxon e Chevron e a chinesa Sinopec. Em campo ficaram companhias sem estatura global, até então parceiras minoritária das majors, mas que não têm capacidade técnica nem financeira para, sozinhas, colocar o Bloco 1 em produção. Estão neste caso as compa-nhias nigerianas ERHC e DEER. Há, por isso, quem ponha em dúvida a capacidade de a ZDC encontrar novos operadores que substituam as quatro majors desistentes (Seibert, 2013: 2) / 28.

A deserção das majors da ZDC tem também consequências ne-gativas no interesse potencial pela Zona Económica Exclusiva (ZEE) de São Tomé e Príncipe – que não tem sido muito marcado. Assim, em 2010, a primeira ronda de concessões para a ZEE foi “um fracasso completo” (idem). Apenas apareceram propostas de seis companhias de média dimensão e nenhuma major participou.

Em Maio de 2011, uma concessão foi finalmente atribuída à com-panhia nigeriana Oranto Petroleum, para o Bloco 3 (a assinatura do

/ 28 Seibert Gerhard, “ São Tomé and Príncipe: The End of the Oil Dream? ”, IPRIS Viewpoints, no 134, Setembro 2013, pp. 1-3

Page 66: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

66

contrato em Outubro desse ano deu lugar ao pagamento de um bónus de 2 milhões de dólares). Os blocos 4 e 11 foram atribuídos à ERHC e os blocos 5 e 12 à Equator Exploration em 2010.

Instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) con-tinuam a publicar previsões verdadeiramente espectaculares para São Tomé e Príncipe, com base no anúncio de produção para 2015. No seu último relatório sobre o país, o FMI anunciou em Julho de 2013 que o crescimento do PIB seria de 5,5 por cento em 2014 para 38,7 por cento em 2015 – o maior salto no PIB em todo o mundo. Uma publicação es-pecializada americana anunciou também que São Tomé e Príncipe seria a economia com crescimento mais rápido entre 2013 e 2017.

As OSC, e a FONG-STP em particular, podem ter um papel importante de manter o debate em bases realistas, contrariando o discurso vitorioso que reduz a estratégia de Desenvolvimento à aber-tura da torneira do petróleo. O momento e o valor de futuros bónus de assinatura, bem como as potenciais receitas do petróleo, não são previsíveis, como apontam os especialistas.

Os riscos da exploração são vários. Por um lado, como tem acon-tecido até agora, “o petróleo pode não estar presente em quantidades comercialmente viáveis”. Até Abril de 2013, nenhuma das operadoras dos blocos da ZDC e ZEE declarou qualquer descoberta comercial. Por outro, “o interesse do investidor poderia mudar para outras alternativas fora de São Tomé e Príncipe” e as “royalties de extração podem não ser suficientes para suportar a posição fiscal do governo por muitos anos” (Pereira, 2013: 5) / 29.

O maior risco, no entanto, é o desfasamento entre a descoberta de campos viáveis e a eventual exploração. Há que considerar que, por regra, os acordos de produção de petróleo atribuem a maior parte das receitas às companhias petrolíferas durante os primeiros anos. Mesmo num cenário optimista de início de produção, podem passar muitos anos até a renda petrolífera recolhida pelo Estado atingir o nível da fartura anunciada.

Em 2013, houve licitação do Bloco 2 da ZEE à Sinoangol, uma

/ 29 Pereira Adelino Amado, Estudo do sector petrolífero de São Tomé e Príncipe - Quadro histó-rico e legal, ITIE, 2013

Page 67: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

67 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

empresa de interesses angolanos e chineses. O contrato com Estado santomense ficou celebrado em 4 de Outubro de 2013, tendo entrado em vigor a 22 de Janeiro de 2014. A empresa terá pago o valor de 5 milhões de dólares como bónus de assinatura. ZEE.

É importante recordar também que, mesmo sem haver ainda produção, tem havido receitas – e despesas. Apesar dos resultados frustrantes das prospecções na ZDC, a administração desta estrutura tem um orçamento anual de 12 milhões de dólares (um montante equivalente a cerca de dez por cento do OGE santomense), dos quais o Estado de São Tomé e Príncipe tem de assegurar 40 por cento.

A necessidade de maior transparência em torno do petróleo santomense é, desde já, exigida a nível das negociações de concessão, da assinatura ou rescisão de contratos, da aprovação ou verificação do quadro legislativo e, obviamente, do controlo democrático sobre o montante e o destino dos fundos que o Estado vem recebendo dos operadores envolvidos.

É fundamental que a sociedade civil compreenda o “dossier pe-tróleo” e tenha efectiva capacidade técnica de propor e influenciar es-colhas informadas. O dossier envolve matérias complexas que exigem um domínio de temas que vão da geologia à economia, do direito internacional às finanças públicas, entre outras. É essencial, por isso, um maior dinamismo da FONG-STP enquanto membro do Comité Nacional da Iniciativa para a Transparência das Indústrias Extrativas (ITIE), cujo mandato passa, também, pela sensibilização e capacitação das OSC, incluindo os Media.

A sociedade civil santomense tem, também, uma responsabilidade particular de estar à altura dos próprios critérios de transparência e responsabilização que, em princípio, exigirá cada vez mais às institui-ções públicas e ao sector petrolífero. Com efeito, vários têm sido os projectos que, durante a última década, beneficiaram directamente dos chamados pagamentos sociais como contrapartidas de concessões a operadores do off-shore santomense (ver Quadro 1).

Page 68: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

68

LISTA DE PROJECTOS SOCIAIS EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE 2OO3-2O12

BLOCO 1

 

 

 

 

 

 

BLOCO 2 

 

 

 

BLOCO 3 

 

 

 

BLOCO 4 

 

 

1

2

3

4

5

6

7

8

9

1O

11

12

13

14

15

16

17

18

19

2O

21

22

23

2OO5

2OO6

2OO7

2OO8

2OO9

2O1O

2O11

2O12

2OO6

2OO7

2OO8

2OO9

2O11

2OO6

2OO7

2OO8

2OO9

2O11

2OO6

2OO7

2OO8

2OO9

2O11

1OO.OOO

1OO.OOO

1OO.OOO

1OO.OOO

1OO.OOO

1OO.OOO

1OO.OOO

1OO.OOO

8O.OOO

8O.OOO

8O.OOO

8O.OOO

8O.OOO

8O.OOO

8O.OOO

8O.OOO

8O.OOO

8O.OOO

4OO.OOO

4OO.OOO

4OO.OOO

4OO.OOO

4OO.OOO

Concluído

Concluído Concluído

Em curso

Em curso

Em curso

Em curso

Não definido

Concluído

Concluído Concluído   Em curso

Concluído Concluído Concluído Concluído Concluído com 45.000 USD Concluído Concluído Concluído

Concluído

Em curso

BLOCOS S/N ANO PROJECTO SOCIAL MONTANTE USD DESCRIÇÃO OBSERVAÇÕES

Financiamento para estudantes de STP no Brasil

Escola de São João da Vargem

Financiamento para estudantes em Portugal e Marrocos Infantário na Vila de Bom-Bom 2008/2009/2010/2011

Infantário na Vila de Bom-Bom 2008/2009/2010/2011 Infantário na Vila de Bom-Bom 2008/2009/2010/2011

Infantário na Vila de Bom-Bom 2008/2009/2010/2011

Não definido

Escola Patrice Lumumba

Escola Patrice Lumumba São João dos Angolares Pavimentação de Ribeira Formiga e cons- trução de depósito de água no hospital Pagamento propinas Lusíadas/IUCAI

Escolas de Guadalupe e Neves

Escolas de Guadalupe e Neves Escola na Vila de Bom-Bom

Infantário do hospital velho no Príncipe

Infantário do hospital velho no Príncipe

Praia Gamboa, Praia Cruz e Praia Loxinga Praia Gamboa, Praia Cruz e Praia Loxinga

Ferry Boat de São Tomé e Príncipe

Ferry Boat de São Tomé e Príncipe Escola de São Joaquim no Príncipe

Projecto social redireccionado para bolsas de estudos

Construção e montagem de cozinha e cantinaProjecto social redireccionado para bolsas de estudos

Construção e equipamentos

Construção e equipamentos

Construção e equipamentos

Construção e equipamentos

Não definido

Fornecimento de alimentos para a cantina

Fornecimento de alimentos para a cantinaConstrução de um muro de vedação

Construção de estrada

Projecto social redireccionado para bolsas de estudos

Reabilitação do edifício e da cantinaReabilitação do edifício e da cantina

Reabilitação de escolas

Construção do hospital

Construção do hospital

Reabilitação da rede de água

Reabilitação da rede de água Barco para transporte entre São Tomé e o Príncipe

Barco para transporte entre São Tomé e o Príncipe

Construção da escola

Page 69: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

69 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

As OSC não estarão em condições de exigir transparência na gestão dos recursos petrolíferos se não aplicarem com rigor meca-nismos de accountability do quanto e como recebem e, talvez mais importante, da avaliação dos projectos em que os pagamentos sociais são aplicados. Uma gestão opaca e feita com critérios que não sejam os do bem comum colocará a sociedade civil no papel de cúmplice potencial de esbanjamento, desvio ou má gestão de recursos que, em última análise, são de todos e para o bem de todos.

Este risco aumentará na mesma proporção das receitas petrolí-feras. A FONG-STP tem, portanto, interesse em sensibilizar desde já os seus membros para uma estratégia – interna – que assegure que organizações e associações podem no futuro ser parceiros de desen-volvimento do sector petrolífero e não cúmplices de práticas alheias ao interesse público e à aplicação sustentável das riquezas do país.

AS RECEITAS E A CONTA PETRÓLEOA Constituição da República de 2003, no artigo 4º, reafirma o di-

reito de propriedade do Estado sobre os recursos naturais, incluindo o petrolífero. Segundo a alínea 2 do mesmo artigo, “o Estado santomen-se exerce a sua soberania sobre todo o território nacional, o subsolo do espaço terrestre, o fundo e o subsolo do território aquático for-mado pelo mar territorial e as águas arquipelágicas, bem como sobre os recursos naturais vivos e não vivos que se encontram em todos os espaços supramencionados e os existentes nas águas suprajacentes imediatas às costas, fora do mar territorial, na extensão que fixa a lei, em conformidade com o Direito Internacional.”

Neste sentido, as companhias petrolíferas não poderão ser pro-prietárias dos recursos petrolíferos, embora sejam pagas pelos seus serviços e reembolsados pelos seus investimentos com o petróleo extraído na base de um CPP.

A República Democrática de São Tomé e Príncipe auferiu um total de USD 81.800.000 (oitenta e um milhões e oitocentos mil

Page 70: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

70

dólares norte-americanos) a título de receitas petrolíferas-bónus de assinatura no período de 2003 a Setembro de 2012, provenien-tes da ZEE e da ZDC. Sucessivas fracções desse montante foram desembolsadas para sucessivos OGE a partir do banco de depósito dos Estados Unidos da América, o Federal Reserve Bank (FED), em conformidade com as Leis do Petróleo de São Tomé e Príncipe / 3O. No que diz respeito às receitas provenientes de operações petrolí-feras na ZDC, as transferências para o FED chegam através de dois bancos nigerianos.

Em conformidade com a Lei-Quadro das Receitas Petrolíferas (Lei n.º8/2004, de 30 de Dezembro) / 31, os desembolsos necessitam de inscrição prévia do montante no Orçamento Geral do Estado e de quatro assinaturas: as do Presidente da República, do Primeiro-Minis-tro, do director do Tesouro e Património e do director das Operações Exteriores do Banco Central de São Tomé e Príncipe.

A utilização anual no Orçamento de Estado tem sido de 20 por cento do saldo líquido da conta no FED, um limite legal imposto à movimentação da Conta Nacional de Petróleo. Do saldo líquido no FED, sete por cento são reservados anualmente a despesas públicas da Região Autónoma do Príncipe e dez por cento são reservados à participação do Estado no orçamento das autarquias locais.

Um outro procedimento obrigatório é a inscrição ou previsão do montante no OGE anual ou no orçamento rectificativo do OGE no decurso do ano fiscal, caso as previsões de receitas não se verifiquem ou os donativos externos previstos não se concretizem.

Cabe ao Banco Central de São Tomé e Príncipe indicar ao Gover-no as suas contas junto dos seus correspondentes onde todas as recei-tas provenientes de operações petrolíferas deverão ser depositadas.

“São Tomé e Príncipe tem outorgado – e em várias ocasiões, de-pois emendado – direitos para exploração e desenvolvimento de vá-rias empresas desde 1997. As emendas aconteceram depois de críticas de importantes interessados nacionais e internacionais sobre possíveis

/ 3O Cf. Lei-Quadro das Receitas Petrolíferas; Lei Orgânica da Comissão de Fiscalização do Petróleo e Lei sobre o Gabinete de Registo e Informação Pública.

/ 31 Cf. www.anp-stp.gov.st/pt/wp-content/uploads/2009/11/ Lei-quadro-das- receitas.pdf

Page 71: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

71 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

perdas económicas e financeiras consequência dos termos acordados. Embora as emendas geralmente resultem em melhores termos, em vários casos os desequilíbrios da distribuição de rendas nunca foram revertidos a favor de São Tomé e Príncipe” (Pereira, 2013: 4).

ITIE: OS CAMINHOS DA TRANSPARÊNCIAA ITIE é uma iniciativa voluntária, apoiada por uma coligação

de empresas, Governos, investidores e Organizações da Sociedade Civil, cujo principal objectivo é promover a publicação das receitas do Estado resultantes dos pagamentos provenientes das empresas das indústrias extractivas (petróleo, gás natural e minerais).

A publicação destes relatórios tem como finalidade promover a transparência das receitas que os Governos recebem dessas empresas, contribuindo, em última análise, para o Desenvolvimento e bem-estar das populações de países detentores de recursos naturais extractivos.

O primeiro critério da ITIE exige a publicação regular de todos os pagamentos materiais das empresas extractivas ao Governo, “bem como a publicação de todas as receitas recebidas pelo Governo, provenientes destas indústrias, pois o fluxo de receitas é um critério material. Isto deve-se ao facto de a sua omissão ou declaração errónea poder afectar materialmente o Relatório Final da ITIE” (Pereira, 2013: 8).

No caso de São Tomé e Príncipe, estes fluxos de receitas resu-mem-se aos bónus de assinaturas e pagamentos de licenças de locação da geografia dos blocos (uma vez que não há extracção), provenientes de um universo de 14 empresas / 32.

São Tomé e Príncipe endossou os princípios da ITIE em Junho de 2004 e tornou-se país candidato em 2008, apesar de ainda não ser considerado um país produtor de petróleo. É, aliás, o único país não produtor envolvido na Iniciativa. Não obstante, o Governo santomen-se estabeleceu o Comité Nacional da ITIE composto por represen-tantes do Governo, da Indústria Petrolífera e da Sociedade Civil, para gerir o processo ITIE em São Tomé e Príncipe.

/ 32 As empresas con-sideradas na ITIE/STP são para a ZDC: A. & Hartman; ADAX EER; Amber Production; ANADARKO; Conoil; Dana Gás; Daugote/EER; DNO / EER; ICC / OEOC; Foby Enginee-ring; Ophir; SINOPEC/ERHC/ADDAX; Total; para a ZEE: Equatorial Oil; Oranto; Sinoangol.

Page 72: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

72

Em Abril de 2010, São Tomé e Príncipe solicitou ao Conselho de Administração da ITIE a suspensão voluntária da Iniciativa, com o objectivo de sanar as dificuldades e os impedimentos à sua imple-mentação. No entanto, o Conselho decidiu pelo afastamento de São Tomé e Príncipe da lista de países candidatos.

O Conselho concluiu que o atraso na implementação se devia sobretudo a circunstâncias relacionadas com a gestão conjunta com a Nigéria da ZDC, tendo, no entanto, considerado a possibilidade de São Tomé e Príncipe voltar a candidatar-se quando as circunstâncias para uma implementação rápida forem mais favoráveis e um maior compromisso pudesse ser manifestado e assumido pelo país.

Este compromisso devia ser demonstrado de forma clara e fun-damentado com uma descrição clara da identificação das anteriores barreiras à implementação eficaz da ITIE e acções concretas da sua superação.

Em Agosto de 2011, o Governo expressou a intenção de solicitar a recandidatura de São Tomé e Príncipe à ITIE. Em Dezembro do mesmo ano, foi reconstituído o Comité Nacional da ITIE – São Tomé e Príncipe, assim como o Comité tripartido da ZDC, Subcomité Nigé-ria-São Tomé e Príncipe, o que permitiu iniciar os trabalhos relacio-nados com a preparação do Relatório da ITIE na ZDC e na ZEE.

Em Outubro de 2012, após o cumprimento dos requisitos ne-cessários, São Tomé e Príncipe foi aceite, na Reunião do Conselho de Administração da ITIE em Lusaca, Zâmbia, como país candidato. Enquanto país candidato, São Tomé e Príncipe está vinculado ao cumprimento das regras e dos padrões da ITIE, tendo, entre as de-mais obrigações decorrentes deste estatuto, o prazo de publicação do primeiro relatório em 26 de Outubro de 2014 e o início do processo de validação para ser considerado país cumpridor marcado para 1 de Outubro de 2015. Igualmente, São Tomé e Príncipe deverá publicar o relatório anual das actividades do Comité Nacional em 1 de Julho do corrente ano.

Page 73: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

73 A FONG-STP E A SOCIEDADE CIVIL / parte 1

Para o efeito, existe um plano de trabalho que foi elaborado e aprovado pelo Comité Nacional, o qual congrega todas as acções a se-rem desenvolvidas, bem como os responsáveis e parceiros de Desen-volvimento de cada uma delas, assim como o orçamento a elas afecto.

Os órgãos e estruturas de funcionamento da Iniciativa são: o Comité Nacional, presidido pelo Ministro do Plano e Finanças, e o Secretariado Permanente. Existe também o Subcomité Nigéria–São Tomé e Príncipe, composto por membros de ambos os países e repre-sentantes das empresas e da Autoridade Conjunta Nigéria–São Tomé e Príncipe. O funcionamento destes órgãos é regido por um regula-mento interno aprovado pelo Comité Nacional.

As regras da ITIE indicam que o período de tempo que o Rela-tório deve cobrir não pode ser superior ao ano anterior ao último ano fiscal completo. No caso de São Tomé e Príncipe, o Secretariado Internacional da ITIE definiu os últimos dez anos como o período de pagamento de bónus, pelo que o primeiro Relatório deveria cobrir o período de 2003 a 2013.

Uma das decisões importantes do Comité Nacional da ITIE diz respeito ao nível de agregação de dados, isto é, sobre a publicação de um relatório com dados agregados (fluxos de receitas que repre-sentam o total das empresas) ou desagregados (fluxos de receitas por empresa). O comité deve debater sobre as vantagens e as des-vantagens da desagregação. “No caso de São Tomé e Príncipe fica claro que com poucos pagamentos e poucas empresas envolvidas, a sociedade civil deveria escolher o relatório com dados desagrega-dos” (Pereira, 2013: 39).

Outro ponto importante do primeiro Relatório que deve mere-cer a atenção da sociedade civil é o relativo aos pagamentos directos e transferências aos Governos locais. Estes pagamentos incluem royalties específicas e transferências importantes do Estado aos Governos locais, que também devem ser conciliadas no Relatório ITIE para 2003-2013.

Page 74: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

74

Abordou-se anteriormente a questão dos pagamentos em espé-cie e pagamentos sociais. O Comité Nacional deve estabelecer um mecanismo para incorporar esses fluxos de benefícios nos processos do Relatório da ITIE com o objectivo de alcançar um nível de trans-parência proporcional a outros pagamentos e fluxos de renda.

O trabalho do Comité Nacional em 2014-2015 orienta-se pelo objectivo central de promover uma gestão transparente e efectiva do sector petrolífero como forma de se criar um clima adequado de in-vestimentos capaz de atrair o interesse de empresas competentes para o desenvolvimento do sector e reforçar as capacidades de supervisão dos contratos vigentes. É importante que as OSC aproveitem da me-lhor forma as iniciativas previstas no plano de trabalho da ITIE–São Tomé e Príncipe e lancem os alicerces para processos participativos de controlo dos recursos do país que, se tiverem sucesso, produzirão reflexos na consolidação de uma cultura de transparência na própria sociedade civil santomense.

Page 75: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

75

A FONG-STP E OS MEDIA

parte 2

Page 76: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 77: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

77 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

RÁDIO E TELEVISÃO PÚBLICAS As possibilidades de alargar o debate sobre questões de Desen-

volvimento em São Tomé e Príncipe e a capacidade de influência das OSC sobre as agendas pública e política estão directamente relaciona-das com a situação estrutural da comunicação social no país. A fragi-lidade dos Media em São Tomé e Príncipe oferece múltiplos constran-gimentos às OSC e alguns dos problemas intrínsecos do sector têm consequências nas hipóteses e formas de participação da sociedade civil em questões de interesse público. O quadro actual, no entanto, oferece também espaços de intervenção e oportunidades às OSC. Este capítulo analisa a articulação de constrangimentos e de possibilidades através de um diagnóstico dos Media.

O primeiro elemento a ter em conta sobre o panorama dos Media santomenses é a sua exiguidade. São Tomé e Príncipe é um micro–Es-tado, com uma população equivalente à de uma pequena cidade euro-peia, e isso reflecte-se – também – na comunicação social. O mercado publicitário é muito restrito e o universo de leitores duplamente limitado pelo analfabetismo e pelos níveis de pobreza da população. Este contexto diminui drasticamente duas potenciais fontes de finan-ciamento de uma imprensa independente.

Outras fontes alternativas de financiamento do serviço público foram travadas pela impopularidade política, como aconteceu com uma proposta de taxa radiofónica, que chegou ao Parlamento mas que o XIV Governo deixou cair da agenda.

UM DIAGNÓSTICO DOS MEDIA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPEPedro Rosa Mendes

Page 78: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

78

Há também “uma ideia errada do que é o próprio serviço público, começando nas instituições do Estado”, refere o director da Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe (RNSTP), Teotónio Menezes. “O espaço de antena não é cobrado pela Rádio, mesmo quando são lidas duas ou três páginas de anúncios num boletim”. Uma solução referi-da mas ainda não aplicada, e que depende da aprovação da tutela, é a criação de um orçamento de divulgação e comunicação, pago com parâmetros diferentes dos usados para a divulgação de informação oficial por telefone ou Internet.

Ao problema de escala do mercado e do público vem acrescentar-se um outro, de fragmentação e divisão no seio das redacções dos órgãos de comunicação – e não apenas públicos. Neste sentido, as redacções e chefias dos Media estatais são permeáveis à bipolarização da vida polí-tica santomense, constituindo-se em dois blocos, ou duas “trincheiras” como é referido por vezes, cuja gestão é uma das preocupações quoti-dianas das administrações e direcções. Na percepção de vários elemen-tos das OSC, esta fragmentação no seio das redacções é um espelho das principais linhas de fractura na política santomense e um reflexo da alternância no poder em ciclos políticos curtos e instáveis.

A fragilidade económica dos Media – incluindo da comunicação social pública – encontra eco interno nas dificuldades financeiras de muitos jornalistas. Esta realidade deixa os profissionais da comuni-cação social expostos a uma dupla influência, directa e indirecta, de grupos ou interesses que dispõem de meios para limitar opiniões e construir alianças e fidelidades alheias aos padrões de uma imprensa independente.

A um outro nível, esta situação expõe os jornalistas santomenses a um risco permanente e real de serem, como se diz na gíria, “lesiona-dos”. É relativamente fácil isolar um jornalista do seu meio profissio-nal e social, desertificando as suas relações com os colegas e as fontes, limitando o seu acesso à informação e fazendo até “pagar” na vida pessoal o preço da independência – do desalinhamento – profissional.

Page 79: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

79 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

No meio social santomense, este tipo de “lesão” é relativamente fácil de operar e tem-se revelado uma forma eficaz de interesses po-líticos e económicos manterem um controlo efectivo sobre os Media, uma vez que há uma ameaça implícita de bloqueio à informação reconhecida, por exemplo, pelos responsáveis dos Media públicos.

Juvenal Rodrigues, director da TVS, identifica “um problema sério, um vício derivado de um conjunto de factores, que inclui as formas de trabalhar e uma falta de recursos materiais”. O director da televisão pública acrescenta que “os Media não têm a sua própria agenda”, o que os limita a “correr sempre atrás do que as instituições e organizações fizerem. Corre-se atrás da cobertura e mesmo essa cobertura não é feita da forma mais correcta”.

A televisão pública trabalha apenas com três câmaras, o que tem como consequência que uma equipa de reportagem não pode estar muito tempo no terreno. “Vai ouvir-se o que se diz num atelier, por exemplo, mas não se vai ver o exemplo concreto em causa. Cobre-se o atelier mas não se liga ao assunto. Falta o pulsar da vida” na infor-mação produzida.

A pauperização de meios é também notória na Rádio Nacional, que até recentemente dispunha apenas de um computador e que ope-ra apenas com um estúdio. Até ao final de 2013, a Rádio tinha apenas uma viatura para toda a instituição. As próprias instalações carecem de reabilitação urgente, não apenas para os serviços técnicos e redac-ção mas também para salvar o velho arquivo analógico, onde centenas de bobines correm o risco de se degradarem irremediavelmente.

“A imagem da Rádio não é a que nós queríamos e a Rádio não é a que o público quer”, resume o director. Não existem noticiários de hora a hora e a emissão ao longo das 24 horas do dia, por exemplo, foi recentemente retomada. A escassez de meios é conjugada, na Rádio Nacional, com excesso de pessoas. “Temos gente a mais” e a necessitar de formação profissional, que a direcção da RNSTP tem repetidamen-te solicitado a diferentes doadores e parceiros.

Page 80: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

80

Uma recente listagem de programas na Rádio Nacional indicou que apenas 25 a 30 por cento são produzidos efectivamente na casa. O resto são emissões da responsabilidade externa, gravados normalmen-te no estúdio da Rádio mas feitos por instituições e organizações tão diversas como a FONG-STP, os Médicos do Mundo, o Ministério da Agricultura e várias igrejas. Abordaremos mais à frente o lado posi-tivo desta situação: a realidade é que a RNSTP possibilita espaços de antena às OSC santomenses que são excepcionais noutros contextos.

Um outro nível de constrangimento à actividade dos Media identificado por responsáveis da rádio e televisão públicas é a falta de especialização temática dos jornalistas, o que impede uma “cobertura de sequência”. Um reflexo concreto no acompanhamento das questões de Desenvolvimento é que as recomendações produzidas em inúme-ros encontros, conferências ou ateliers são noticiadas mas não verifi-cadas posteriormente.

Este nível de condições é um obstáculo à cobertura de “boas práticas” no universo das OSC que, desse modo, não passam para o grande público. “Queremos trazer para a programação o que está a fazer-se de positivo”, diz o responsável da TVS, mas os impedimentos são vários, incluindo a “má percepção dos Media nas instituições em geral. Isso afecta o relacionamento dos Media com as OSC”. Isso não afecta, porém, o “bom relacionamento das OSC com a televisão, numa relação pacífica”.

Um quadro deste tipo poderá ser alterado a partir de uma colabo-ração mais estreita entre Media e OSC, diz o mesmo responsável, que tem ele próprio uma carreira de jornalista em São Tomé e Príncipe e de correspondente internacional. “É preciso que, ao nível dos respon-sáveis intermédios ou da tutela, haja alguém que faça a ponte e que sirva como ponto focal para a troca de informações”.

Não apenas a troca de informação, mas também o acesso, é uma questão colocada do lado dos jornalistas, que se interrogam sobre a capacidade de as OSC terem mais acesso do que os Media a dossiers

Page 81: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

81 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

estruturantes para o país – como a central hidroeléctrica ou o por-to de águas profundas – sobre os quais pouco ou nada é veiculado. No caso afirmativo – o que não tem acontecido –, as OSC poderiam afirmar-se como fontes importantes dos Media, garantindo acesso a informações eventualmente sonegadas pelas instituições e os respon-sáveis políticos.

Por enquanto, a realidade é que as OSC “têm um acesso muito limitado à informação e têm, por isso, um interesse reduzido para os Media como fonte”, constata um responsável editorial.

Este ponto ilustra a forma como uma mudança na qualidade da relação entre os Media e as OSC pode(rá) de imediato produzir um efeito positivo tanto na relação das OSC com o poder político como com a margem de manobra dos Media perante as instituições e os centros de poder. As influências mútuas dentro deste triângulo de re-lações, sem excluir outros públicos e outros actores, deve ser tida em consideração quando se equaciona a evolução das OSC na sociedade santomense.

“O que funciona aqui é a relação pessoal de confiança”, acrescen-ta o director da TVS. Outra constatação: “Tudo aqui é politizado. O acesso à informação é concentrado no ministro e nos dirigentes dos partidos políticos e nem sempre há a ousadia necessária para quebrar essa limitação. Com raras excepções, fica-se por um low-profile dos Media santomenses”.

Um exemplo é a dificuldade de ter comentadores idóneos e inde-pendentes para comentar temas quentes da actualidade, por exemplo de economia. Por regra, as pessoas habilitadas para um nível aceitável de comentário estão enquadradas na hierarquia da função pública e, por isso, limitadas na escolha e no tipo de intervenção. Há, por isso, pouca amplitude na análise de temas importantes, nomeadamente os que integram a agenda das OSC. Mesmo as universidades não têm quadros autónomos que alimentem a reflexão pública, queixam-se os responsáveis dos Media estatais.

Page 82: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

82

Outra dificuldade dos Media santomenses que se reflecte no tratamento de temas propostos pela sociedade civil é a relativa rigidez de abordagem e a repetição de formas convencionais de tratamento de informação. Por exemplo, os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio são considerados por vários responsáveis editoriais “muito apelativos”, mas estes mesmos jornalistas admitem que é difícil tratar em concreto um tema importante como o sucesso da extensão da educação básica a todas as crianças.

Os constrangimentos dos Media estatais e as dificuldades da sua recepção no interior de São Tomé e do Príncipe podem vir a ser em parte colmatados pelas rádios comunitárias. Existem actualmente cinco destas rádios no país, mas apenas uma está a emitir / 33 ; uma está inoperante / 34 e três estão por inaugurar (no Príncipe, Guadalupe e Santa Catarina). De referir ainda que está em fase de instalação, no quadro do projecto “Sociedade Civil pelo Desenvolvimento – Co-municação, Capacitação, Advocacia” uma rádio comunitária na zona sul, em Porto Alegre. Uma questão legal por resolver é a ligação de algumas rádios comunitárias às Câmaras Municipais, apesar de a Lei de Imprensa interditar as rádios aos municípios.

/ 33 Rádio Comunitária de Neves

/ 34 Rádio Comunitária de Angolares

Page 83: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

83 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

As ONG santomenses estão numa fase de transição. Uma transição que as está a transportar de meras executoras de projectos para agentes activos na construção de uma cidadania participativa. Esta mudança de posição e perspectivas está a ser acompanhada por uma relação cada vez mais estreita com os Media. Uma boa relação com os meios de comunicação social neste momento é fundamental para uma advocacia mais eficaz, promovendo o debate público sobre assuntos de interesse comum. Contudo, para que a relação seja frutífera, necessariamente se deve apostar na formação dos jornalistas para que estes se apropriem das dinâmicas das ONG para mudança de hábitos, comportamentos e mentalidades e para edificar, assim, os valores da cidadania.

Os meios de comunicação social públicos servem para o poder fazer propaganda das suas acções e é para aí que estão viradas as aten-ções dos jornalistas. Muitas vezes as acções da sociedade civil passam despercebidas porque os Media estão mais virados para a divulgação das acções do poder e dos partidos políticos.

Ainda não há um verdadeiro comprometimento dos jornalistas com a causa pública ou com as verdadeiras aspirações da sociedade civil. Em parte, isso é justificado pela falta de liberdade profissional, pelo défice de formação dos fazedores de comunicação e a própria falta de condições técnicas e materiais com que os meios de comuni-cação se deparam.

As ONG em São Tomé e Príncipe têm conseguido, ao longo do tempo, maior visibilidade nos meios de comunicação, embora essa vi-

CONSTRUIR CIDADANIA COM OS MEDIAAlexandro Cardoso

Page 84: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

84

sibilidade ainda não tenha atingido o patamar desejado. Essa visibili-dade acontece com mais frequência na Televisão santomense e depois nas rádios. Na imprensa escrita, é muito diminuta. As maiores ONG, pelas suas acções, são as que marcam mais a agenda dos Media.

A FONG-STP tem priorizado a relação com a rádio e televisão estatais pelo facto de serem mais penetrantes e terem maior audiência.

O relacionamento entre a FONG-STP e os Media é saudável, mas com alguns defeitos. Pouca aposta na formação e na especializa-ção dos jornalistas dificulta a identificação de acções desenvolvidas pela sociedade civil e a sua colocação nas suas agendas. As relações pessoais com jornalistas facilitam, em todo o caso, o acesso às agendas dos Media por parte da sociedade civil.

Page 85: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

85 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

A concepção neo-republicana de política defende a participação activa dos cidadãos para a transformação da sociedade. É neste mode-lo de participação, democracia, cidadania e política que se enquadra o objecto da Rede da Sociedade Civil para Boa Governação com o propósito de tentar intervir e influenciar as actividades políticas. A política nunca esteve tão presente nas nossas vidas como agora mas também nunca esteve tão desacreditada nem gerou, como hoje, tanta frustração nas consciências dos santomenses.

Um dos eixos de discussão e de intervenção da Rede da Sociedade Civil para Boa Governação é, naturalmente, a capacidade da FONG--STP de intervir na esfera pública. Este não é, de forma alguma, um tema consensual ou fácil numa sociedade de democracia jovem, com baixo nível de literacia e a discussão é povoada de nuances que torna complexa a escolha de uma abordagem.

A questão de partida é uma análise do lugar da FONG-STP junto das ONG nela integradas e perante o poder político instituído no país. Perante as características da FONG-STP, necessário se torna promover uma campanha de maior reconhecimento público da organização, esta-belecer rupturas e dinamizar uma transformação interna da sua estru-tura. Por outro lado, é preciso perceber que práticas, discursos e agendas devem orientar o trabalho da FONG-STP e como elas devem articular--se com o chamado ciclo político instituído e os seus programas.

A maneira de agir da FONG-STP deve contar com um conjunto de novos instrumentos e de oportunidades sem receio dos

A CAPACIDADE DE INFLUÊNCIA DA FONG-STPOlívio Diogo

Page 86: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

86

constrangimentos políticos e das suas abordagens. Privilegiando a velocidade galopante da globalização, ancorada nas novas tecnologias de informação e comunicação como a Internet, os telemóveis e meios de comunicação de massa, etc.

Assim, a FONG-STP deve ter definido os diferentes elementos, incluindo: os actores, agendas e discursos, práticas de acção, campos de acção, organização interna e parceria com outras sociedades como elementos-chave de actuação.

Não se pode esperar que a FONG-STP tenha sucesso total nas suas primeiras tentativas de intervenção. Há, no entanto, toda uma conjugação das oportunidades políticas, associada ao reconhecimento das ONG como parceiros fundamentais para as acções das Nações Unidas e outros parceiros internacionais e bilaterais no país que re-presenta, no meu entender, uma vitória e uma grande conquista para as aspirações da FONG-STP.

De tudo isso, a FONG-STP deve instaurar-se como o terceiro pilar da sociedade e da política, ao lado do Mercado e do Estado, isto é, o emergir de uma comunidade com actores activos e interventivos que exige, em pé de igualdade, participar na definição do passado, do presente e do futuro do país.

Este caminho da FONG-STP na busca de nova cidadania como forma de promover a boa governação e a transparência poderá ajudar a desvelar formas de gestão de bens pouco transparentes por estarem demasiado camuflados. É também a via de crescimento natural da própria plataforma, que, se não for trilhado, poderá deixar a FONG- -STP num impasse institucional, isto é, como conjunto de organiza-ções com capacidade de execução de projectos definidos por agendas de terceiros (Estado ou doadores) mas sem o sinal de maioridade inerente à participação na definição de quais os projectos, para que objectivos, devem ser privilegiados.

Este amadurecimento corresponde à evolução da FONG-STP desde a sua criação. Podemos analisar três grandes períodos da

Page 87: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

87 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

Federação: a década inicial, até 2009, caracterizada pela execução de projectos a partir da FONG-STP pelos seus membros, sem ganhos de visibilidade para a própria FONG-STP; uma segunda fase marcada por um trabalho de crescimento institucional e de reconhecimento da FONG-STP nos Media e nos meios políticos, incluindo nos órgãos de soberania; e a fase actual, em que a FONG-STP ainda não trans-formou a visibilidade mediática e a coerência do trabalho feito em ganhos de influência das agendas públicas.

Para evitar o bloqueio ou a estagnação nesta última fase, a FONG- -STP deve enveredar pela capacitação que lhe permita discutir tecni-camente as questões essenciais da gestão dos recursos naturais, por exemplo, e das finanças públicas. Deve, aplicando esses novos recursos humanos, transformar as novas capacidades na análise de problemas da governação e da antecipação de constrangimentos a uma agenda orientada pela justiça social.

Um exemplo de uma oportunidade para reclamar e testar este novo papel da FONG-STP teria sido o da reforma do Sistema Judicial. Como sabemos, houve uma proposta do Governo que foi rejeitada pelos magistrados. A sociedade civil perdeu, talvez, uma oportunidade de servir de fórum de debate e de terreno para a emergência de propostas concretas e que integrassem ideais vindas claramente das OSC e não dos dois grupos afinal em confronto. A FONG-STP poderia ter sido, porventura, o catalisador dessa discus-são e o promotor da reforma.

Em conclusão, pode referir-se que as críticas serão muitas, bem como a negação deste fenómeno emergente e tentativas de o contra-riar por diversas formas. Parece-me importante elencar uma delas: a que se prende com a possível conotação da FONG-STP como um grupo na simples busca de poder convencional ou como parte dos partidos políticos da oposição.

É previsível que os actores e as instituições do Estado reajam ini-cialmente mal a esta nova ambição da FONG-STP, que por isso terá

Page 88: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

88

sempre de pautar o seu projecto com uma atitude de contribuição positiva e não de oposição no sentido corrente. A FONG-STP não se opõe; propõe, discute, contribui.

Mesmo com o risco dos mal-entendidos, a FONG-STP necessita de imprimir uma dinâmica de não-retorno no lugar que conquistou entre os actores de Desenvolvimento do país. O risco de não o fazer é o de cair no esquecimento e na invisibilidade, ou seja, a prazo, da irrelevância. O crescimento como plataforma de influência deve, aliás, fazer-se numa lógica nova de abertura a outras forças da sociedade santomense, onde estão as parcerias naturais da FONG-STP, de que são exemplo as igrejas, fundações e associações de base profissional que têm, hoje, o seu próprio poder de intervenção.

Considero, por isso, de grande potencial esta nova forma de inter-vir nas acções governativas com primazia para o valor fundamental das parcerias e redes para atingir o sucesso no objectivo comum de melhor desenhar e concretizar políticas de Desenvolvimento em São Tomé e Príncipe. Este é o momento para aproveitar o trabalho feito pela FONG-STP como plataforma de acção e de debate livre, colo-cando a fasquia na contribuição directa para escolher que políticas públicas vão definir o futuro do país.

Há instrumentos para isso que estão ao alcance da FONG-STP e da Rede da Sociedade Civil para Boa Governação, incluindo as acções mediáticas ligadas a questões de actualidade, a tomadas de posição informada, a valorização externa dos conhecimentos no universo dos membros da plataforma, as petições e as reuniões com comissões parlamentares. Não é uma luta, já, por mais recursos humanos (embora eles continuem a ser necessários, como referi-mos), nem por competência técnica. É, sobretudo, uma exigência de espaço e de dignidade institucional.

Page 89: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

89 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

A questão fundamental do Jornalismo é a mesma que a do Desen-volvimento: agarrar o pulso de uma dignidade individual através de uma história de interesse comum. Que não haja equívoco: os dois cam-pos têm códigos e programas próprios e confundir agendas não é bom nem sai bem. Porém, as duas áreas são – ou deviam ser – essencial-mente guiadas por valores. Sem serem um sacerdócio, implicam uma entrega pessoal. Não constituindo uma fé, exigem uma deontologia.

Não sendo iguais, e não sendo os mesmos, os valores do Jorna-lismo e do Desenvolvimento não são opostos nem são todos diferen-tes. Nas muitas “cartas de princípios” do Jornalismo, sob diferentes formas, há pelo menos dois valores que estão sempre presentes: a verdade e o serviço à comunidade são sine qua non. O Jornalismo não existe sem isso. São, também, duas portas de contacto – e, portanto, de entrada também – para o mundo das OSC e de quem trabalha em questões de Desenvolvimento.

O primeiro passo para um envolvimento dos jornalistas com temas típicos de uma Agenda para o Desenvolvimento é, por isso, a descoberta de valores comuns – e não de objectivos, de métodos ou de meios. Um bom profissional de comunicação não gosta de ser evangelizado e reage mal a catecismos, mesmo os bem-intencionados. Procura, contudo, aprender e compreender sempre mais e melhor e agradece a quem o ajude nessa metodologia de curiosidade.

É a este nível que a FONG-STP deve situar o desafio que se apresenta ao seu crescimento como actor interveniente no debate e

A FONG-STP COMO VEÍCULO DE NARRATIVAS HUMANASPedro Rosa Mendes

Page 90: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

90

na construção do futuro de São Tomé e Príncipe. As organizações membros da FONG-STP já provaram deter as capacidades ao nível da execução de projectos, mesmo aqueles que foram definidos por outrem (doadores ou instituições públicas). Estão hoje em condições de afirmar que têm uma palavra a dizer sobre a escolha desses pro-jectos e, talvez mais importante, de participar na discussão do que vai ser feito por outros, pelo menos em termos de priorizar objectivos, definir estratégias e avaliar resultados.

O primeiro passo tem de ser dado pela própria FONG-STP e, aliás, já começou. A Federação dispõe hoje de uma série de condições estruturais e institucionais que possibilitam uma presença e visibilida-de inexistentes há poucos anos. A sede própria e o Centro de Recur-sos deram um impulso físico, directo, à possibilidade de sinergias e de contactos a nível interno, importantes para catalisar e dar uma unidade orgânica à variedade sectorial e à dispersão geográfica dos seus membros.

A produção de diversos instrumentos de comunicação veio acrescentar indispensáveis utensílios de contacto, de informação e de advocacia à infra-estrutura. A FONG-STP começa a ter uma voz – na Rádio Nacional, nas redes sociais, no seu Boletim. Precisa, como nota a ex-presidente, Maria Odete Aguiar, “de aprender uma linguagem comum” em torno de conceitos como agendas públicas e agendas políticas e as novas questões de boa governação, de transparência e de participação cidadã no escrutínio do poder.

No seio da FONG-STP existe, com efeito, um consenso sobre a ainda escassa capacidade de influência da plataforma junto dos actores políticos, das elites santomenses em geral e dos meios de comunicação, que “não compreendem”, “não têm interesse nenhum” nas questões de Desenvolvimento ou, pior, “apenas se preocupam com a agenda dos governantes”, como é possível ouvir a membros da plataforma. Como agir para ganhar esse espaço de influência participativa na agenda nacional? No passado, a questão prendia-se

Page 91: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

91 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

sobretudo com a capacidade de gestão ou de organização e com a aquisição de competência técnica. Desta vez, a FONG-STP tem um desafio comunicacional.

Uma premissa de acção que ajudará a definir a estratégia de afir-mação da FONG-STP é, em palavras cruas, aceitar desde o início que as boas intenções não funcionam por si. Ou seja, a sustentabilidade das acções de Desenvolvimento não depende apenas de condições in-trínsecas e dos nobres objectivos por que são norteadas mas também do seu conhecimento por outros actores sociais.

Informação, neste sentido, não é protagonismo, ou seja, não é mera divulgação; é participação e troca. Dito ainda de outro modo, a informação não é um fim em si, mas um meio, uma oportunidade de diálogo de que resultará algo mais tangível. Esta ideia é bastante simples mas a comunidade humanitária internacional e, em geral, a da Cooperação para o Desenvolvimento demorou cerca de duas dé-cadas a compreendê-la. As boas intenções têm o direito, mas também o dever, de combater as hipóteses de serem condenadas à irrelevância. “São Tomé e Príncipe tem a complexidade resultante da sua peque-nez”, nas palavras do actual presidente da organização ZATONA- -ADIL, Cândido Rodrigues. A exiguidade e insularidade do território e a escala demográfica criaram uma intrincada rede de relações de parentesco, de amizade e de conhecimento, que supõe ou possibilita também uma rede de entreajudas, de favores, de dependências e de receios. Esta é uma condição estrutural do país e não vai mudar.

O que faz sentido, sem dúvida, é conseguir encontrar oportu-nidades de actuação independentes e construtivas neste quadro de proximidade com os centros do poder e de extrema pessoalização das relações institucionais. Também aqui, não se trata de conivência nem de vassalagem, trata-se de acesso. A FONG-STP, e as OSC em geral, dispõem em São Tomé e Príncipe de um conhecimento directo, pessoal, dos titulares públicos, desde os mais altos magistrados da Nação até aos escalões intermédios dos Ministérios, das Comissões

Page 92: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

92

Parlamentares e dos organismos públicos. Este nível de acesso imedia-to deve ser bem usado e, sobretudo, não deve ser olhado de esguelha: as OSC em muitos países não sonham sequer com estas condições e a sua interlocução com os actores públicos é feita num quadro de enorme distância.

A iniciativa de “falar” com o poder, por outro lado, não pode ser feita com a crispação ou a desconfiança de quem atravessa uma trin-cheira. Ouvindo membros das OSC santomenses falar dos desafios e possibilidades do relacionamento com os titulares públicos, detecta-se uma contradição recorrente: por um lado, “tudo é política em São Tomé e Príncipe e toda a sociedade está partidarizada”; por outro, o “político” é alguém outro, espécie de estrangeiro interior, de quem se espera indiferença ou oposição.

Este quadro mental e de discurso, a persistir, é uma garantia prévia de fracasso de qualquer esforço da FONG-STP no sentido de construir o seu lugar de actor de políticas públicas. A sociedade civil santomense tem, assim, de aceitar o desafio de enveredar por formas de participação que contribuam abertamente para a credibilização da política, devol-vendo-lhe o sentido de serviço à comunidade que vem perdendo. Aos “políticos” interessa perceber que têm tudo a ganhar com esta agenda, sendo que a continuação do distanciamento entre elites e sociedade criará, a prazo, clivagens e conflitos potencialmente perigosos.

Existem, também neste ponto, oportunidades que podem ser exploradas com clareza de discurso. A sociedade civil santomense tem hoje como interlocutores no poder, em responsabilidades e funções de Estado, pessoas que fizeram o seu percurso no associativismo ou que chegaram à governação impulsionados por movimentos cívi-cos que ganharam eleições. A monitoria do comportamento destes novos actores é, aliás, uma obrigação da FONG-STP, com um valor pedagógico externo e interno que não deve ser desprezado, no que pode ensinar sobre novas formas (mais inclusivas?, mais justas?, mais transparentes?) de participação democrática no país.

Page 93: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

93 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

Uma outra premissa, esta de natureza técnica, é que as estraté-gias de comunicação da FONG-STP não podem ser reduzidas à sua relação com jornalistas. Dito de outro modo, nem toda a comunica-ção é jornalismo e nem toda a informação é – ou merece – notícia. A FONG-STP atingiu, na última década, uma corpulência institucional (quase uma centena de organizações) que lhe possibilitam articular públicos internos e externos. O equilíbrio e a dinâmica entre uns e outros resultará em ganhos duradouros de participação e em avanços irreversíveis do lugar da FONG-STP tanto como interlocutor privile-giado da sociedade civil como da sociedade “política”.

Dois casos, em momentos diferentes, ilustram o potencial de uma boa gestão da informação – da sua produção, da sua colocação e da sua utilização. A análise do processo de advocacia que precedeu a Lei das ONG de São Tomé e Príncipe – realizada com um grupo de elementos da FONG-STP este ano / 35 – permitiu identificar que o sucesso da iniciativa dependeu, num momento crucial, de factores que correspondem a variantes de uma estratégia comunicacional. Isso incluiu a escolha do público-alvo (uma comissão parlamentar) e a compreensão fina de quando era necessário agir na informação de massa ou, pelo contrário, de quando era obrigatório circunscrever a informação.

A outra situação, mais recente, foi o caso Agripalma, de cujos contornos se recorda o essencial: no final de 2013, um movimento cívico reagiu ao abate abusivo de uma extensa área florestal em torno de Alto Douro, no Sul de São Tomé, por uma companhia estrangeira, mas num empreendimento participado pelo Estado (que entregou terras com dono em concessão). O desfecho do caso, como é sabido, não foi ditado pelos centros de poder tradicionais mas por uma acção da sociedade civil – incluindo de forma relevante vários membros da FONG-STP.

O caso Agripalma foi desencadeado por informação nas redes sociais, informação essa que tinha a credibilidade da competência

/ 35 Formação “Media, Sociedade e Políticas Públicas” realizada por FONG-STP e ACEP, Janeiro de 2014, São Tomé.

Page 94: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

94

técnico-profissional do seu emissor em matéria de gestão florestal, ecologia e ambiente. Foi, depois, como bem descreveu o presidente da FONG-STP, Jorge Carvalho do Rio, avantajada “por uma coincidência de interesses entre grupos sociais diferentes e que normalmente não comunicam entre si, incluindo agricultores locais e gente importante da cidade cujos terrenos tinham sido desbravados pela Agripalma”. Importante foi, também, a conjugação da informação do terreno com o quadro legal subjacente – e o contexto do abuso da desmatação – fornecido sem apelo por alguns dos juristas mais conhecidos do país.

Todos estes elementos correspondem a uma cadeia de comunica-ção eficaz, tão mais espantosa quanto o resultado produzido não teve, na origem, um plano prévio. Ilustra, também por isso, o potencial que existe quando, na perspectiva da FONG-STP, uma boa causa é bem servida pela aliança correcta de públicos e pelo uso certeiro de recur-sos humanos e de capacidades que já existem no seio da plataforma.

Regressando ao binómio do início deste capítulo, a ponte entre Jornalismo e Desenvolvimento pode fazer-se, como nos casos aqui analisados, através de uma presença narrativa das realidades huma-nas no espaço público. A FONG-STP aumentará a sua capacidade de intervenção se, olhando para dentro – para o universo social, eco-nómico e cultural que a plataforma tem no seu seio – conseguir dar expressão a realidades que são tão persistentes quanto continuam invisíveis.

No caso dos Media tradicionais, terão a beneficiar se partilharem desse amadurecimento. Caso contrário, tornar-se-ão, a prazo, irrele-vantes, numa paisagem mediática onde as plataformas digitais e as rádios comunitárias serão os meios privilegiados de interacção da sociedade civil santomense.

Em conclusão, o posicionamento político – sem aspas, sem complexos e sem receio – da FONG-STP passa por uma afirmação comunicacional que reclama uma experiência democrática vivida a partir da realidade do país e não a partir das suas potencialidades. As

Page 95: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

95 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

potencialidades apenas são concretizáveis agindo com persistência sobre a realidade, sobre o dia-a-dia – um facto que a política tradi-cional muitas vezes gosta de esquecer. É significativo, mesmo que seja irónico, que uma das lições mais significativas de democracia parti-cipativa em São Tomé e Príncipe tenha surgido nos campos buldori-zados de Alto Douro e Vanhá: no país do petróleo adiado, foi preciso perder as árvores para ver a floresta.

Page 96: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 97: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

97 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

É cada vez mais notório o contributo das OSC no processo de De-senvolvimento do país, na redução da pobreza e no combate à exclusão social. É relativamente complexo medir esses contributos.

Em São Tomé e Príncipe, as acções das OSC remontam ao período anterior à independência mas foi a partir de 1990 que se registou uma explosão das ONG, com novas áreas de abordagem. De facto, com a democratização da vida política, criaram-se condições institucionais e legais para o surgimento de diversas organizações ao nível do chamado terceiro sector.

Em 2001, é criada a Federação das Organizações Não Governa-mentais de São Tomé e Príncipe (FONG-STP), organização sem fins lucrativos que alberga ONG que actuam em São Tomé e Príncipe e visa promover uma maior cooperação e coordenação entre as ONG nacionais, ONG estrangeiras, Governo, doadores e outras instituições envolvidas nos processos de Desenvolvimento do país. Tem ainda por objectivo promover o fortalecimento das ONG nacionais e facilitar a sua sustentabilidade a longo prazo.

Em 2006, a FONG-STP elaborou e aprovou o seu primeiro Plano Estratégico, para o período 2006/2011, que veio a ser implementado, embora não tenha sido objecto de uma avaliação final.

Um estudo diagnóstico realizado em 2010, pela FONG-STP e pela ACEP / 36 , apontava para a existência de 72 organizações activas das 98 filiadas na Federação. Neste momento, o número de organizações activas subiu para 82, contando-se com cerca de uma vintena delas considera-

UM OLHAR SOBRE A EVOLUÇÃO DA FONG-STPEduardo Elba

/ 36 Cravo Carolina, Londaitzbehere Laure, Diogo Olívio e Sousa Sónia, Estudo Diagnós-tico das ONG em São Tomé e Príncipe, Lisboa, ACEP, 2010, 55 p.

Page 98: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

98

das de “ONG-chapéu”, que se profissionalizaram em diferentes áreas. Em 2010/11, a FONG-STP lançou o seu primeiro Boletim Informa-

tivo, com edição trimestral, e iniciou uma parceria com a Rádio Nacio-nal inaugurando assim um programa radiofónico regular, espaço que permitiu às OSC darem visibilidade ao seu trabalho.

ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL E LEGALO quadro institucional das OSC, nomeadamente das ONG, tem

um momento marcante na publicação da Lei das ONG. A FONG-STP elaborou em 2004 um anteprojecto de lei das ONG, visando o enqua-dramento jurídico das ONG no que concerne a sua constituição e fun-cionamento, bem como o estabelecimento de regras que determinam as condições para o reconhecimento das Organizações Não Governamen-tais de Interesse Público (ONGIP).

Em 2011, o anteprojecto teve um salto qualitativo em termos da sua actualização tendo tido um grande apoio da UNICEF e a colabo-ração de uma então voluntária da Association Volontaire de Progrès (AVP), como assistente técnica da Federação, Laure Londaitzbehere. A lei foi finalmente aprovada pela Assembleia Nacional, promulgada pelo Presidente da República a 11 de Julho de 2012 e publicada em Diário da República a 12 de Setembro (Lei 08/2012).

A FONG-STP, enquanto plataforma representativa das ONG, cons-truiu, em parceria com a ACEP, uma sede própria no Bairro da Quinta de Santo António, na cidade de São Tomé, conferindo à instituição e às ONG que representa uma melhor visibilidade física e melhores condi-ções de trabalho. As instalações dispõem de um Centro de Recursos de apoio às ONG filiadas com acesso à Internet (banda larga). Apoiaram a construção dessas instalações três instituições, começando pela Coo-peração Portuguesa, com o financiamento principal, a que se juntaram co-financiamentos da Embaixada de França em São Tomé e Príncipe e da União Europeia, através do Projecto Descentralizado de Segurança Alimentar (PDSA).

Page 99: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

99 A FONG-STP E A OS MEDIA / parte 2

Em 2012, a FONG-STP aderiu ao Fórum Internacional das Plata- formas das ONG (FIP) com sede em Bruxelas (Bélgica) e, em 2014, integrou a Rede das Plataformas Nacionais das ONG da África Central (REPONGAC), baseada em Kinshasa (Congo Democrático).

Ainda em 2013, o XV Governo atribuiu à FONG-STP o Diploma de Mérito pela sua valiosa contribuição no combate à pobreza através da redução para metade, até 2015, do número de pessoas que sofrem de subnutrição em São Tomé e Príncipe, meta relacionada com o Desen-volvimento agrícola e rural do país.

Em 2013, a FONG-STP rubricou, por parte da sociedade civil, conjuntamente com a Federação Nacional de Pequenos Agricultores (FENAPA), o Pacto Nacional de São Tomé e Príncipe para o Programa Detalhado de Desenvolvimento da Agricultura em África (PDDAA), da iniciativa da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD), também assinado pelo Governo e os parceiros de cooperação.

Page 100: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 101: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

101

MEDIA, SOCIEDADE CIVIL E POLÍTICAS PÚBLICAS

parte 3

Page 102: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 103: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

103 MEDIA, SOCIEDADE CIVIL E POLÍTICAS PÚBLICAS / parte 3

Comunicar é essencial em Desenvolvimento, seja para informar, fundamentar ou acompanhar políticas públicas, seja para melhor garantir a transparência da governação e a qualidade da participação cívica e democrática. Para as OSC, a comunicação surge constante-mente sob a forma de recomendações, de advocacia, de consultas, de mediação, de propostas, de divulgação, educação e outras actividades comuns em torno de programas de Desenvolvimento. A questão é, muitas vezes, a de como obter os melhores resultados, tanto em termos de compreensão dessas actividades como da multiplicação do seu impacto através de uma comunicação adequada. Uma boa comu-nicação, com efeito, deve fazer parte integrante de um projecto e ser considerada de pleno direito entre os seus objectivos e as suas condi-cionantes – e não apenas como algo lateral ou de menor importância.

Este capítulo destina-se a fornecer algumas ferramentas práti-cas para uma estratégia de comunicação do ponto de vista das OSC. Está organizado em três temas genéricos: planificar a comunicação; comunicação e públicos; e metodologias de influência. As ferramentas sugeridas neste capítulo integram um conjunto de materiais usado numa formação sobre “Media, Sociedade Civil e Políticas Públicas” realizada na sede da FONG-STP em Janeiro de 2014. O ponto de par-tida é uma questão simples: porquê comunicar, afinal?

PLANIFICAR A COMUNICAÇÃOUm erro comum em muitas estratégias de comunicação, e não

MEDIA, SOCIEDADE CIVIL E POLÍTICAS PÚBLICASPedro Rosa Mendes

Page 104: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

104

apenas entre as OSC, é reduzir e identificar comunicação com visibi-lidade na comunicação social, digamos, com a obtenção de tempo de antena (ou de cobertura) para uma organização ou para um projec-to. Pelo contrário, a imprensa (em sentido genérico) não é sempre o melhor veículo da visão e dos objectivos de uma organização nem o melhor aliado das suas aspirações.

Uma estratégia de comunicação bem-sucedida deve evitar a procura de visibilidade como fim em si mesmo e evitar confundir a realização dos objectivos da organização com, por exemplo, o número de artigos ou o tempo de rádio ou televisão que a ela foram dedica-dos. Pelo contrário, uma comunicação bem feita leva a uma melhor compreensão da agenda de uma organização e da sua importância para a comunidade, o que se traduzirá certamente em ganhos – tam-bém – de visibilidade e de importância pública.

Em consequência, é necessário que as OSC pensem os Media num sentido plural e abrangente, incluindo a produção e difusão independente da sua própria informação em novos formatos como as redes sociais, os blogues, as páginas na Internet, o mailing e os bole-tins digitais (e a articulação de todos estes formatos de forma que uns potenciem os outros).

Ao colocar a questão de porquê comunicar, cada organização deve compreender também a questão que lhe está implícita, ou seja, quais são os riscos de não o fazer? De facto, outro erro comum é acredi-tar que os valores intrínsecos da Agenda para o Desenvolvimento, partilhados pelas OSC, são por si suficientes para um reconhecimento público e merecedores de atenção política. Na realidade, as coisas não funcionam dessa forma mecânica. Uma organização sem estratégia de comunicação corre, por isso, um grande risco de irrelevância. Dito de outra forma, o fracasso comunicacional pode implicar, a prazo, um fracasso dos objectivos considerados nucleares de uma organização ou projecto. Dito ainda de outra maneira, os objectivos comunicacio-nais não se confundem com os objectivos organizacionais ou progra-

Page 105: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

105 MEDIA, SOCIEDADE CIVIL E POLÍTICAS PÚBLICAS / parte 3

máticos, mas são essenciais para atingir estes últimos. Uma estratégia de comunicação permite, por outro lado, uma optimização dos recur-sos financeiros e humanos disponíveis, que são limitados.

Uma estratégia de comunicação tem como alicerce três elementos de base:

/ Definir o parâmetro do êxito/concretização;/ Conhecer o contexto interno e externo;/ Fazer chegar a mensagem certa ao destinatário certo, muitas vezes.Este último ponto sublinha a necessidade de escolher um leque

bastante reduzido de mensagens (duas, três no máximo) para concen-trar nelas o esforço de comunicação da organização, sem dispersão de conteúdos, de objectivos e, inerente a isso, sem dispersão de recursos. Em resumo: contenção e força.

O que é, então, um plano de comunicação? Em termos simples, é uma declaração escrita que inclui a clarificação de objectivos, dos recursos disponíveis, da calendarização para a implementação, com base numa análise de contexto e estabelecendo a medida a partir da qual se irão aferir (avaliar) os resultados.

Outro ponto importante é a diversidade do público das OSC. Os Media (no sentido de órgãos de comunicação social, ou mais generica-mente de “imprensa”) são apenas um dos públicos, ou destinatários. Há outros, entre os quais podemos incluir as empresas, as comunidades, o Governo e outras instituições públicas, os doadores, entre outros.

A diversidade de públicos permite compreender, ao mesmo tempo, os ganhos de uma boa estratégia de comunicação, ao nível do impacto comunicacional, pois a comunicação:

/ fortalece a reputação da OSC: relações públicas;/ realça o perfil da OSC: relações comunitárias;/ melhora a relação com os Media: relações mediáticas;/ aumenta a importância junto do Governo: relações governamentais;

Page 106: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

106

/ influencia os técnicos: relações internas;/ aumenta a capacidade de atracção de apoios e fundos: relações com doadores;/ potencia o patrocínio e financiamento por empresas: relações empresariais;/ fortalece a direcção: relações direcção-técnicos;/ amplifica a visibilidade de programas e iniciativas: relações de serviço.Um plano de comunicação deve também ser entendido como

algo orgânico, um documento vivo resultante de um processo evo-lutivo, adaptado e actualizado periodicamente tendo em atenção os seguintes parâmetros:

i. Objectivos: / da organização; / de comunicação; / análise de contexto; / análise de ambiente externo;ii. Públicos e mensagens;iii. Estratégias e tácticas;iv. Avaliação de ideias para implementação, calendarização e agendamento;v. Implementação e avaliação.Embora se confunda muitas vezes os conceitos de intenção, objec-

tivo, estratégia e táctica, identificando-os como sinónimos ou equiva-lentes, em termos de planeamento de projecto é necessário distingui--los como diferentes níveis de concretização de uma visão essencial que orienta e justifica a própria existência da organização. Assim, a visão que inspira uma organização implica a ideia de concretizar algumas intenções essenciais a longo prazo, ao longo de uma sucessão coerente de passos concretos que podem ser aferidos e medidos. Cada um desses passos tenta alcançar alguns objectivos, através de aborda-

Page 107: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

107 MEDIA, SOCIEDADE CIVIL E POLÍTICAS PÚBLICAS / parte 3

gens específicas – as estratégias –, servidas por sua vez por uma série variável e adaptável de mecanismos e instrumentos – as tácticas.

Quanto à análise de contexto, permite aferir a situação da organi-zação, incluindo a sua história, os serviços que tem prestado à comu-nidade, os seus beneficiários, as funções que tem assegurado e a sua concorrência; os desafios e potencialidades da comunicação interna, em termos de acesso a audiências várias, a eficácia de campanhas de informação anteriores, as competências identificadas, as possibilida-des de divulgação, etc.; um mapeamento da paisagem mediática exter-na (Media, políticas na área em que actua a organização ou em que se desenvolve o seu programa, diferentes públicos); e uma análise tão completa quanto possível de possíveis aliados e de potenciais concor-rentes ou adversários.

Qual é a mensagem correcta? É possível indicar algumas regras para qualquer tipo de mensagem, procurando torná-la mais eficaz. As mensagens escolhidas no plano de comunicação devem:

/ Ser simples e claras;/ Ser breves; / Ser credíveis;/ Ser arrebatadoras;/ Acentuar elementos positivos e conquistas anteriores;/ Credibilizar a mensagem com elementos de prova;/ Procurar o “slogan”, a frase que fica;/ Pensar em títulos;/ Ter um conteúdo funcional;/ Ter um conteúdo emocional;/ Ser emitidas pelo mensageiro certo (o mensageiro é tão importante como a mensagem);/ Ser veiculadas pelos canais de informação certos: públicos diferentes consomem informação por meios diferentes (TV, rádio, imprensa; blogues, Internet; newsletter, boletins; publi- cações académicas, relatórios especializados, etc.).

Page 108: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

108

A mensagem pode e deve ser uma forma narrativa de enquadrar uma experiência humana. Em geral, as pessoas são receptivas a men-sagens que carregam um elemento de esperança, de possibilidade e de optimismo. São esses os elementos essenciais do Desenvolvimento: a possibilidade de cada um poder escolher o seu futuro.

COMUNICAÇÃO E PÚBLICOSUm princípio essencial da boa comunicação é a clareza de inten-

ções. As mensagens devem ser desenhadas segundo o(s) objectivo(s) que pretendem servir, por exemplo:

/ Informar a audiência (dar a conhecer algo novo pela primeira vez);/ Aumentar o seu conhecimento (sobre um assunto ou problemática);/ Influenciar (por ex. atitudes); ou/ Mudar (por ex. comportamentos).Da intenção, por sua vez, depende a orientação da pesquisa e da

informação.Da mesma forma, a transparência de conteúdo é outro princípio

fundamental. A informação deve conter, logo no início, elementos cla-ros e simples sobre o nível do conteúdo, a autoria, o(s) destinatário(s) e o objectivo. É importante, sobretudo tendo em conta a diversidade potencial de audiências para um mesmo tipo de mensagem, que o re-ceptor tenha uma indicação dos níveis de conhecimento implícito, da origem/autoria da mensagem, o que indica o tipo de experiências tra-tadas na informação, e de qual a motivação principal do documento. Será com base nesta introdução que o destinatário decide continuar a ler/ver/ouvir a mensagem, abandoná-la ou transmitir a informação a outra pessoa.

Comunicar não é apenas transmitir. É também uma aprendiza-gem que funciona nos dois sentidos: o plano de comunicação impli-ca por isso o estudo prévio da audiência, pensando em indivíduos

Page 109: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

109 MEDIA, SOCIEDADE CIVIL E POLÍTICAS PÚBLICAS / parte 3

concretos e no que eles sabem ou ignoram do tema que interessa à organização. Uma forma de abordar este ponto é pensar o que é que ele/a sabe sobre o assunto, o que podemos contar-lhe de novo e qual o seu canal preferencial de acesso à informação?

Comunicar supõe compreender as necessidades da informação. O tipo de informação de diferentes audiências depende de diversos factores, por exemplo das actividades em que estão envolvidas, da in-tenção que rege essas actividades e do nível de conhecimento prévio.

A compreensão faz-se também em relação às expectativas. Existe com efeito um padrão de expectativas dos interlocutores, que pro-curam factos e provas, abordagens inovadoras testadas com sucesso noutros sítios/países/contextos para velhos problemas e informação reflectindo realidades locais e de referência prática.

Algumas sugestões para melhor abordar a(s) audiência(s):/ Segmentar a(s) audiência(s);/ Desenhar fluxos de informação adaptáveis ao longo do tempo, consoante a evolução das necessidades;/ Compreender a vantagem de responder à necessidade implícita ou latente (o que nós pensamos que as pessoas querem) e à necessidade expressa ou verbalizada (o que as pessoas dizem querer);/ Assegurar mecanismos de “escuta” das necessidades latentes.É importante, ao mesmo tempo, levar em consideração os diferen-

tes filtros da informação e a sua influência determinante no resultado da comunicação. Diversos filtros determinam a relação da audiência com a informação que lhe é dirigida:

/ Visibilidade e acessibilidade;/ Credibilidade (reputação da organização);/ Fiabilidade (rigor e objectividade dos dados);/ Integridade (a fonte foi usada antes?);/ Confiança;/ Oportunidade (resposta no momento certo);

Page 110: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

110

/ Interactividade da fonte (feedback possível?);/ Autoria (o anonimato gera desconfiança);/ Linguagem (comum ou técnica; atenção ao nível prévio de entendimento/ preparação dos interlocutores).

METODOLOGIA DE INFLUÊNCIAA possibilidade de as OSC influenciarem as agendas políticas e

de marcarem a agenda pública depende tanto de se fazerem ouvir – como emissoras – como de se tornarem imprescindíveis – no sentido de se afirmarem como fontes. É necessário analisar a importância relativa que diferentes públicos poderão dar a informação diversa de uma determinada organização. Nesse sentido, é importante elaborar um mapa de audiências-alvo, que pode incluir:

/ Media;/ Opinião pública;/ Parlamentares, políticos, dirigentes;/ Líderes de opinião;/ Doadores e organizações internacionais;/ Parceiros e instituições;/ Académicos;/ Agentes económicos.Alguns especialistas organizam a segmentação dos públicos das

OSC seguindo um critério funcional (na perspectiva da contribuição que as OSC podem recolher de diferentes círculos):

/ Os construtores Especialistas técnicos Instituições associadas Líderes de equipa Gestores de projecto/ Os compradores Partidos políticos

Page 111: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

111 MEDIA, SOCIEDADE CIVIL E POLÍTICAS PÚBLICAS / parte 3

Cidadãos Comunidades (religiosas, solidárias, etc.) Redes temáticas/ Os influenciadores Líderes comunitários Figuras carismáticas Comentadores, fazedores de opinião Intelectuais/ Os financiadores Multilaterais (UE, UA, etc.) Bilaterais PNUD UNICEF Fundações …A comunicação supõe ainda uma consideração de diversos

formatos e técnicas. Como foi dito, é arriscado – e pode revelar-se frustrante – canalizar para os Media tradicionais e generalistas uma estratégia de comunicação das OSC. Por um lado, cria uma depen-dência da própria agenda dos mass media, que pode estar mais orien-tada pela agenda dos titulares do poder do que pelos temas que fazem a agenda da sociedade civil em geral. A sensibilidade da imprensa para os temas do Desenvolvimento, por outro lado, não pode ser um dado adquirido para as OSC. Daí que seja vantajoso investir também em meios e canais próprios e em estratégias de comunicação que sejam, literalmente, criadoras de actualidade (no sentido jornalístico da palavra).

É conveniente, por isso, orientar o plano de comunicação não apenas por uma lógica de formatos mas sobretudo de perspectivar, antecipar e criar oportunidades comunicacionais. A paleta é grande:

/ Press release;/ Internet (blogue, site, redes sociais);

Page 112: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

112

/ Eventos, parcerias, sponsoring, etc.;/ Seminários e simpósios;/ Conferências: oportunidades de tribuna, etc.;/ Boletim;/ Discursos;/ Inquéritos;/ Alertas;/ Artigo de opinião;/ Artigos de fundo;/ Coligações, alianças, plataformas;/ Manifestações.

Vale a pena repetir, em conclusão, a ideia-base deste capítulo: co-municar não é falar para dentro da audiência já conquistada mas, pelo contrário, levar outros públicos a compreender a importância do que fazemos e a razão por que o fazemos. Essa compreensão é uma apren-dizagem, na medida em que implica uma interacção. Ganhar margem de influência não passa necessariamente por ganhar tempo de antena mas por ganhar espaço de intervenção e de troca. Comunicar é sem-pre uma rua de dois sentidos. Um bom plano de comunicação pode evitar a repetição da mensagem errada, ou para o alvo errado.

Page 113: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

113

RECOMENDAÇÕESparte 4

Page 114: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 115: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

115 RECOMENDAÇÕES / parte 4

São vários os desafios que se colocam às Organizações da Socie-dade Civil santomenses e designadamente à FONG-STP. Destacamos entre outros:

DESAFIO COMUNICACIONAL / Desenhar uma estratégia de comunicação coerente com os objectivos da organização que se traduza em relevância social e política, para além da visibilidade mediática (a comunica- ção não deve ser reduzida à relação com jornalistas, ou seja, ao tempo de antena ou de cobertura), uma estratégia baseada numa análise de contexto, com objectivos, recursos e calenda- rização claros e realistas. / Pensar os Media num sentido plural e abrangente, investindo em novos formatos (como as redes sociais e os blogues, por exemplo) e articular todos os formatos de forma que uns potenciem os outros./ Adaptar os suportes e as mensagens à diversidade de públi- cos-alvo: comunicação social, Governo, parlamentares, insti- tuições públicas, doadores, OSC, comunidades, fundações, etc./ Afirmar-se como fonte credível de informação, potenciando a utilização de recursos humanos e competências técnicas já existentes no universo dos membros e funcionando como plataforma de troca de conhecimento entre os públicos inter- nos e externos da FONG-STP.

RECOMENDAÇÕES

Page 116: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

116

/ Criar oportunidades comunicacionais, apostando em meca- nismos próprios e independentes de produção e difusão de informação, aproveitando nomeadamente as potencialidades das TIC, nomeadamente através um incremento qualitativo da presença na Internet.

DESAFIO POLÍTICO (AFIRMAÇÃO NO ESPAÇO POLÍTICO)/ Afirmar-se como “emissoras”, isto é, saber fazer-se ouvir para

poder influenciar as agendas pública e política, e serem reco- nhecidas como actores políticos e actores relevantes no De- senvolvimento do país.

/ Criar oportunidades de diálogo com outros actores em torno de preocupações e valores comuns, criando/reforçando par- cerias e redes como forma de aumentar a (ainda escassa) capacidade de influência junto dos actores políticos.

/ Encontrar oportunidades de actuação independentes e construtivas que lhes permita ganhar espaço de influência na agenda pública e na definição de políticas públicas.

/ Tirar partido das condições de proximidade na interlocução com os actores públicos, num contexto de proximidade com os centros do poder e de extrema pessoalização das relações institucionais.

/ Envolver fazedores de opiniões (jornalistas) e decisores (parla- mentares) com os temas da Agenda para o Desenvolvimento.

/ Ganhar competências de monitoria e técnicas (p.ex. finanças públicas, gestão dos recursos naturais) que lhes permitam acompanhar e discutir as questões essenciais e crescer como actores intervenientes e relevantes no debate e construção do futuro de São Tomé e Príncipe.

/ Construir um discurso e uma imagem de solidez e realismo no espaço público, alicerçado nas condições objectivas do

Page 117: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

117 RECOMENDAÇÕES / parte 4

país e dos seus recursos, em contraponto a um discurso de facilitismo e de promessas contrário ao amadurecimento da participação cívica em questões cruciais para as gerações futuras.

/ Procurar novas instâncias de participação democrática no seio da sociedade civil com impacto na cultura cidadã dos vários sectores da população abrangido pela FONG-STP, o que se traduziria indirectamente em ganhos de legitimidade na interlocução com os poderes instituídos.

DESAFIO INSTITUCIONAL / Optimizar os recursos financeiros e humanos disponíveis./ Consolidar e aprofundar a produção de diversos instrumentos

de comunicação, indispensáveis utensílios de contacto, infor- mação e advocacia.

/ Transformar a visibilidade mediática e a coerência do trabalho feito em ganhos de influência das agendas públicas.

/ Criar espaços de oportunidades, servindo de fórum de debate e de terreno para a emergência de propostas concretas e que integrem ideais vindas claramente das OSC.

/ Afirmar, aperfeiçoar e divulgar mecanismos e padrões de transparência, integridade e responsabilização no seio da FONG-STP que sirvam de modelo e inspiração a novas for- mas e exigências de exercício do poder político e, em geral, de serviço público.

Page 118: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 119: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

119

Lei da Imprensa (Lei n.º 2/93, de 8 de Abril)

Lei-Quadro das Receitas Petrolíferas (Lei n.º 8/2004, de 30 de Setembro) Disponível em www.anp-stp.gov.st/pt/wp-content/uploads/2009/11/Lei-quadro-das-receitas.pdf

Lei Orgânica da Comissão de Fisca-lização do Petróleo (Lei n.º 11/2006 de 29 de Dezembro) Disponível em www.juristep.com/legis/Comissao_fiscalizacao.pdf

Lei sobre o Gabinete de Registo e Informação Pública (Lei n.º11/2007, de 18 de Abril) Disponível em www.juristep.com/legis/Gabinete.registo.pdf

Lei das ONG (Lei n.º8/2012)

Inquérito ao Orçamento Familiar 2010

Segunda Estratégia Nacional de Redução da Pobreza (2012 - 2016)

Ades Alberto F et Tella Rafael Di, “ National champions and corrup-tion: some unpleasant interven-tionist arithmetic. ”, The Economic Journal (New York), vol. 107, no 443, 1997, pp. 1023-1042.

Ades Alberto et Tella Rafael Di, “ Rents, competition, and corrup-tion ”, American economic review, vol. 894, 1999, pp. 982-993.

Aristotle et Barker Ernest, The Poli-tics of Aristotle, Oxford, Clarendon Press, 1946.

Banfield Edward C, “ Corruption as a Feature of Governmental Organi-zation ”, J LAW ECON The Journal of Law and Economics, vol. 18, no 3, 1975.

Batra Raveendra N et Gama Mauro, A nova prosperidade: a revolução que acabará com a corrupção, a pobreza e o caos econômico, Rio de Janeiro, Campus/Elsevier, 2007, 273 p.

Blanchet Alain, Gotman, Anne et Singly François de, L’enquête et ses méthodes l’entretien, Paris, Nathan, 1992.

Bock Gisela, Skinner Quentin, Viroli Maurizio et European Culture Re-search Centre (eds.), Machiavelli and republicanism, Cambridge [England]; New York, Cambridge University Press, 1990, 316 p.

Bourdieu Pierre, Le sens pratique, Paris, Editions de Minuit, 1980, 475 p.

Capela Deodato, “ Da Sustentabilida-de, do Turismo e a Fuga do Príncipe da Ilha. ”, Téla Nón, 2013.

Cavalcanti Luiz Otávio, Como a cor-rupção abalou o governo Lula: por que o presidente perdeu a razão e o poder, Rio de Janeiro, Ediouro, 2005, 87 p.

Cervini Raúl, “ Análise Criminológi-ca do Fenômeno do Delito Orga-nizado ”, Ciência e Política, Rio de Janeiro: Forense, 1992, pp. 489-515.

Cobb Roger W et Elder Charles D, Participation in American politics; the dynamics of agenda-building, Boston, Allyn and Bacon, 1972.

Colloque interdisciplinaire sur les droits de l’homme Borghi, Marco et Meyer-Bisch Patrice (eds.), La corruption: l’envers des droits de l’homme : actes du IXe Colloque interdisciplinaire sur les droits de l’homme, Fribourg, Ed. universitaires Fribourg Suisse, 1995, 400 p.

Cravo Carolina, Londaitzbehere Laure, Diogo Olívio et Sousa Sónia, Estudo Diagnóstico das ONG em São Tomé e Príncipe, Lisboa, ACEP, 2010, 55 p.

Edwards Michael, Civil society, Malden, MA, Polity Press, 2004.

DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA

BIBLIOGRAFIA

Page 120: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

120

Elba Eduardo, Lima Conceição, Me-nezes Aires Bruzaca de et Proença Fátima, A Sociedade Civil e as Políti-cas Públicas em São Tomé e Príncipe, Lisboa, ACEP, 2012, 82 p.

Elliott Kimberly Ann, A corrupção e a economia global, Brasilia, Edito-ra Universidade de Brasilia, 2002, 353 p.

Elliott Kimberly Ann et Institute for International Economics (U.S.), Corruption and the global economy, Washington, DC, Institute for Inter-national Economics, 1997, 244 p.

Fazzio Júnior Waldo, Corrupção no poder público: peculato, concussão, corrupção passiva e prevaricação, São Paulo, Editora Atlas, 2002, 246 p.

Feldens Luciano, Tutela penal de in-teresses difusos e crimes do colarinho branco: por uma relegitimação da atuação do Ministério Público : uma investigação à luz dos valores consti-tucionais, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2002, 272 p.

Gallet Dominique, São Tomé et Principe: Les îles du milieu du monde, Paris, Karthala, 2001, 202 p.

Garcia Emerson et Alves Rogério Pacheco, Improbidade administra-tiva, Rio de Janeiro, Editora Lumen Juris, 2002, 861 p.

Gill John et Johnson Phil, Research methods for managers, London, P. Chapman, 1991.

Jalali Carlos, “ Os desafios da boa governação ”, in Portugal e África: Melhor Cooperação, Melhor Desen-volvimento, Lisboa, ACEP, 2012, pp. 85-90.

Jasmin M.G., “ Interesse Bem Com-preendido e Virtude em Democracia na América ”, in N. Bignotto (ed.), Pensar a República, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2007,.

Kauark Fabiana da Silva, Manhães Fernanda Castro et Medeiros Carlos Henriques, Metodologia da Pesquisa: Um Guia Prático, Bahia, Via Littera-rum Editora, 2010, 89 p.

Klitgaard Robert, A Corrupção sob controle, Rio de Janeiro, J. Zahar, 1994.

Kovach Bill et Rosenstiel Tom, The elements of journalism: what news-people should know and the public should expect, New York, Three Rivers Press, 2007, 268 p.

Lautier Bruno, Miras Claude de et Morice Alain, L’Etat et l’informel, Paris, L’Harmattan, 1991, 211 p.

Martins Joel et Bicudo Maria Apa-recida Viggiani, A pesquisa quali-tativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos, São Paulo (SP), Ed. Moraes : EDUC, 1989.

Mata Inocência, A suave pátria: reflexões político-culturais sobre a sociedade São-Tomense, Lisboa, Edições Colibri, 2004, 146 p.

Mattar Fauze Najib, Pesquisa de marketing, São Paulo, Atlas, 1996.

Mény Yves, La corruption de la Répu-blique, Paris, Fayard, 1992, 351 p.

Moreno Ocampo Luis Gabriel et Mi-chele Roberto de, En defensa propia: cómo salir de la corrupción, Buenos Aires, Editorial Sudamericana, 1993.

Morgan Gareth, Beyond method: strategies for social research, Beverly Hills, Calif., Sage Publications, 1983.

Murdock Janet, Governação de Recursos Naturais em São Tomé e Príncipe: Um Estudo de Caso sobre a Supervisão e Transparência das Receitas Petrolíferas, International Alert, 2009.

Olivier de Sardan Jean-Pierre, Con-cepts et conceptions songhay-zarma: histoire, culture, société, Paris, Nubia, 1982, 447 p.

Parkin Frank, The social analysis of class structure, London, 1974.

Pereira Adelino Amado, Estudo do sector petrolífero de São Tomé e Príncipe - Quadro histórico e legal, ITIE, 2013.

Seibert Gerhard, “ São Tomé and Príncipe: The End of the Oil

Page 121: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

121

Dream? ”, IPRIS Viewpoints, no 134, Setembro 2013, pp. 1-3.

Seibert Gerhard, Comrades, clients and cousins: colonialism, socialism and democratization in Sao Tome and Principe, Leiden, Brill, 2006.

Seibert Gerhard, Camaradas, clientes, e compadres: colonialismo, socialismo, e democratização em São Tomé e Príncipe, Lisboa, Vega Editora, 2001.

Senior Ian, Corruption- The World’s Big C , Editora Great Britain, 2006

Silva Edna Lúcia da et Menezes Este-ra Muszkat, Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação, 4a éd., Florianópolis, IFSIC, 2005, 138 p.

Stella Damiano, São Tomé & Príncipe - Market and Food Security Profile, September 2011, PAM - Programa Alimentar Mundial.

Stukart Herbert Lowe, Ética e corrup-ção, São Paulo, Nobel, 2003, 132 p.

Vatter Miguel E, Between form and event: Machiavelli’s theory of poli-tical freedom, Dordrecht; Boston, MA, Kluwer Academic Publishers, 2000, 353 p.

Vernant Jean-Pierre, As origens do pensamento grego, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000, 104 p.

Vine Victor T Le, Political corruption: the Ghana case, Stanford, Calif., Hoo-ver Institution Press, 1975, 169 p.

Zilveti Fernando Aurelio, Lo-pes Sílvia, Ferreira Filho Manoel Gonçalves, Moraes Alexandre de, Lazzarini Alvaro, Vasconcelos Caio Tácito, Souza Junior Cezar Salda-nha, Lembo Cláudio, Ramos Dircêo Torrecillas, Ramos Elival da Silva, Brindeiro Geraldo, Mendes Gilmar Ferreira, Martins Ives Gandra da Sil-va, Baracho José Alfredo de Oliveira, Mezzetti Luca, Caggiano Mônica Hermann Salém, Jobim Nelson, Me-dauar Odete, Brossard Paulo, Horta Raul Machado, Rosas Roberto et Barros Sérgio Resende de, O regime democrático e a questão da corrupção política, São Paulo, Atlas, 2004.

Page 122: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe
Page 123: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

123

ANEXOS

CRONOLOGIA DO PETRÓLEO EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

1856 / Vestígios superficiais da existência do petróleo (Uba Budo e Morro Peixe). Um almirante americano escreve ao Governador da Colónia, Adriano Maria Passalaqua, solici-tando autorização para pesquisar e avaliar o potencial de hidrocarbonetos nas ilhas.

1876 / O 1º Governador do Banco Nacio-nal Ultramarino dirige uma carta ao Minis-tro e Secretário dos Negócios da Marinha e Ultramar propondo uma prospecção de petróleo na Ilha de São Tomé, com base nos mesmos vestígios.

1928 / O Governador Sebastião José Bar-bosa decreta a proibição de toda a actividade de pesquisa petrolífera nas ilhas.

1969 / Contrato com a empresa anglo- -americana Ball&Collins.

1972 / O Governo Colonial concedeu au-torização especial à companhia Texas Pacific para executar dois furos de pesquisa em Uba Budo e Pinheira.

1974 / O contrato com a Ball & Collins é abandonado em virtude do quadro político que culminou com a independência do país em 12 de Julho de 1975.

1982 / Após a independência, as autorida-des nacionais retomam o processo com a Ball & Collins, além de receberem nesse período propostas de outras empresas, incluindo Amoco, Braspetro, Premiere e Consolidate.

1989 / É assinado um acordo de conces-são com a empresa Island Oil Corporation, do empresário Christian Hellinger; realiza-se alguma actividade de perfuração em terra (Morro Peixe e Uba Budo), sem suporte de qualquer informação sísmica; o contrato expira em 1995 sem resultados positivos.

Page 124: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

124

1997 / A ERHC, empresa americana, conjuntamente com a empresa sul-africana Procura Financial Consultant (PFC) subme-tem uma proposta de exploração petrolífera ao Governo, da qual resulta a assinatura, a 27 de Maio de um Memorando de Acordo: São Tomé e Príncipe entra na “era do petróleo”.

1998 / O Governo, representado pela STPETRO (Sociedade Nacional de Petróleos de São Tomé e Príncipe, S.A., constituída entre o Governo e a ERHC/PFC), assina em Outubro com a Mobil (hoje ExxonMobil) um Acordo de Assistência Técnica.

1999 / Aquisição dos primeiros dados sísmicos 2D na Zona Económica Exclusi-va (ZEE) pela Mobil, através da empresa sísmica Schumberger, nos meses de Fevereiro e Março; em Março, a Assembleia Nacional estabelece as fronteiras marítimas do país e uma ZEE de 200 milhas; em Maio, São Tomé

e Príncipe apresentou um pedido de delimi-tação marítima na Convenção de Limites da Plataforma Continental da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e na Comissão do Golfo da Guiné para o reco-nhecimento de suas fronteiras marítimas.

2OO1 / São Tomé e Príncipe e a Nigé-ria assinam o Tratado Sobre a Exploração Conjunta dos Recursos Petrolíferos e Ou-tros, Existentes na Zona Conjunta dos dois Estados (ZDC), através da Autoridade de Desenvolvimento Conjunto (ADC),com sede em Abuja (Nigéria).

2OOO / Em Fevereiro, a ExxonMobil, em cumprimento das obrigações derivadas do acordo de assistência técnica, apresenta oficialmente o relatório técnico completo da ZEE ao Governo santomense.

2OOO / A 23 de Setembro entra em vigor a Lei-Quadro da Actividade Petrolífera, para

Page 125: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

125

a ZEE, a primeira lei reguladora do sector (foi posteriormente revogada).

2OO4 / Em Abril, a pequena companhia Environmental Remediation Holding Corpo-ration (“ERHC”) exerce o seu direito prefe-rencial na aquisição de 30 por cento do Bloco 2, 20 por cento do Bloco 3, 25 por cento do Bloco 4, e 15 por cento do Bloco 6, dos quais, diferentemente da ExxonMobil, fica isenta de pagar um bónus de assinatura. A ERHC também decide adquirir 15 por cento e 20 por cento dos Blocos 5 e 9, respectivamente, pelos quais são pagos bónus de assinatura.

2OO4 / São promulgados dois decretos--lei que institucionalizam o Conselho Nacio-nal do Petróleo (Decreto-Lei nº 3/2004) e a Agência Nacional do Petróleo de São Tomé e Príncipe (Decreto-Lei nº 5/2004). Em 30 de Dezembro, a Assembleia Nacional apro-va e promulga a Lei – Quadro das Receitas

Petrolíferas (Lei nº 8/2004). O CNP é o órgão competente para a definição das políticas nacionais de energia. A ANP é um organismo público dotado de meios e recursos suficien-tes para a gestão e controlo de todo o pro-cesso de pesquisa, exploração e produção do petróleo e gás.

2OO4 e 2OO5 / A JDA realiza duas rondas de licitação para nove blocos, de que resultou a adjudicação de seis blocos.

2OO5 / Em Dezembro, a Procuradoria--geral da República conclui que a segunda ronda “sofreu sérias deficiências processuais e manipulação política, incluindo a concessão de participações para muitas empresas não--qualificadas ou com qualificações inferiores em termos técnicos e financeiros / 37

”.2OO6 / A 26 de Maio, a Chevron anuncia

a descoberta de hidrocarbonetos no poço de exploração Obo-1 no Bloco 1 da ZDC, loca-

/ 37 Relatório de Investigação e Avaliação do Segundo Leilão da Zona de Desenvolvimento Conjunto, Procuradoria-Geral da República, São

Tomé e Príncipe 2005. Disponível em www.juristep.com/relatorios/PGR.pdf. Consultado em 28 de Março de 2014.

Page 126: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

126

lizado a cerca de 300 quilómetros a norte da cidade de São Tomé e a cerca de 200 quiló-metros da cidade de Port Harcourt, Nigéria.

2OO7 / A 11 de Setembro é promul-gada a Lei-base de Segurança Marítima e de Prevenção contra a Poluição do Mar (Lei nº 13/2007).

2OO9 / A 31 de Dezembro são promul-gadas a Lei de Tributação do Petróleo (Lei nº 15/2009) e a Lei-Quadro das Operações Petrolíferas (Lei nº 16/2009). A primeira debruça-se sobre o regime fiscal do sector petrolífero e a segunda estabelece as regras de acesso, execução e realização de operações petrolíferas em todo o território nacional. A 30 de Dezembro é também promulgado o Decreto-lei nº 57/2009 que delimita os blocos da ZEE.

2O11 / Primeira ronda de licenciamento para a ZEE.

2O14 / Apresentação do primeiro Relató-rio ITIE/STP.

Page 127: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

127

ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA (ZEE, CINZENTO CLARO) E ZONA DE DESENVOLVIMENTO CONJUNTO (ZDC, CINZENTO ESCURO).

NIGERIA

SÃO TOMÉ AND PRÍNCIPE

JOINT DEVELOPMENT ZONE

Page 128: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

128

BLOCOS E CONTRATOS NA ZEE / 38/ 38 PEREIRA, 2013.

BLOCO ZONA ÁREA (KM) PART (%) OPERADORA FUROSCONSÓRCIO / EMPRESAS

2

3

4

5

11

12

A

A

A

A

B

B

4.969

4.228

5.8O9

2.844

8.941

7.O32

9O/1O

9O/1O

85/15

85/15

ORANTO

EEL

Sinoangol STP Bloco 2 Ltd / ANP STP

Oranto Petroleum / ANP STP

ERHC / ANP STP

Equator Exploration LLTD / ANP STP

ERHC / ANP STP

Equator Exploration LTD / ANP STP

Page 129: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

BLOCOS E CONTRATOS NA ZEE / 38

Page 130: Sociedade Civil, Comunicação e Advocacia em São Tomé e Príncipe

132

CO-FINANCIAMENTO:FINANCIAMENTO: