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1 - Carl Whitaker - Dançando com a Família Principais conceitos Objetivos da terapia Papel do terapeuta Intervenções e técnicas Iniciando com a família: aliando-se, redefinindo e expandindo o sintoma Ansiedade inicial Primeiros momentos: processo intenso, encoberto e bilateral de expectativas, oportunidade para uma conexão pessoal. Jogo interativo processo em movimento aprendendo a dançar Asserção x agressão “Me torno mesquinho” – fantasias de cura da família batalha pela iniciativa Aliar-se e individualizar-se mover-se para dentro e fora Em busca do pai Construção da história. O terapeuta sugere uma ótica diferente (redefinição). Ponto de partida: o pai (crença do progenitor periférico). Estrutura trigeracional: mitos, morte, divórcio, doença etc. Alterando as perspectivas: criando um ambiente interacional Metáforas “provocativas” (antepassados do pai aspectos atuais do casal). “eles têm em si mesmos a capacidade de lutar e de crescer”. “a verdadeira questão torna-se a da coragem, tanto deles quanto minha. Estamos dispostos a arriscar velejar em águas inexploradas?”. Terapia familiar simbólico-experiencial Terapia simbólica é similar à infra-estrutura urbana. Risco para o terapeuta: transformar-se em projeto de paternidade simbólica. Desafio para o terapeuta: manter-se em metaposição em relação à família. Expansão do significado da experiência e ampliação de horizontes. Uso do self do terapeuta. Filtramos nossas experiências através de pressupostos. O sentido e impacto da realidade externa são determinados pela realidade interna. •Expansão da compreensão familiar sobre o sintoma através da extensão do passado e futuro. •Confundir para desprogramar desestabilizar. •Confusão desaprendizagem nova aprendizagem / mudança / progresso. •Abalar, surpreender para quebrar o estado hipnótico da família de origem. •Fazer uso das características universais compartilhadas pelas famílias. •Busca do crescimento, não de alterações de comportamento.

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- Carl Whitaker -

Dançandocom a Família

Principaisconceitos

Objetivosda terapia

Papel do terapeuta

Intervençõese técnicas

Iniciando com a família: aliando-se, redefinindo e expandindo o sintoma

Ansiedade inicial

• Primeiros momentos: processo intenso, encoberto e bilateral de

expectativas, oportunidade para uma conexão pessoal.

• Jogo interativo � processo em movimento � aprendendo a dançar

• Asserção x agressão

• “Me torno mesquinho” – fantasias de cura da família � batalha pela

iniciativa

• Aliar-se e individualizar-se � mover-se para dentro e fora

Em busca do pai

• Construção da história.

• O terapeuta sugere uma ótica diferente (redefinição).

• Ponto de partida: o pai (crença do progenitor periférico).

• Estrutura trigeracional: mitos, morte, divórcio, doença etc.

Alterando as perspectivas: criando um ambiente interacional

• Metáforas “provocativas” (antepassados do pai aspectos atuais do casal).

• “eles têm em si mesmos a capacidade de lutar e de crescer”.

• “a verdadeira questão torna-se a da coragem, tanto deles quanto minha.

Estamos dispostos a arriscar velejar em águas inexploradas?”.

Terapia familiar simbólico-experiencial

• Terapia simbólica é similar à infra-estrutura urbana.

• Risco para o terapeuta: transformar-se em projeto de paternidade

simbólica.

• Desafio para o terapeuta: manter-se em metaposição em relação à família.

• Expansão do significado da experiência e ampliação de horizontes.

• Uso do self do terapeuta.

• Filtramos nossas experiências através de pressupostos. O sentido e

impacto da realidade externa são determinados pela realidade interna.

•Expansão da compreensão familiar sobre o sintoma através da extensão do

passado e futuro.

•Confundir para desprogramar � desestabilizar.

•Confusão � desaprendizagem � nova aprendizagem / mudança / progresso.

•Abalar, surpreender para quebrar o estado hipnótico da família de origem.

•Fazer uso das características universais compartilhadas pelas famílias.

•Busca do crescimento, não de alterações de comportamento.

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•“Semeando o inconsciente”: a colheita é deles, não é necessário convence-

los, o que impede a “resistência”.

•Insight e compreensão são resultado da experiência, não precursores dela.

•Crescimento: tolerância aumentada para o absurdo da vida; estado

equilibrado entre pertencimento e individuação.

• Intuição

• Técnicas e teorias são secundárias à pessoa do terapeuta

• Desestabilização gera crescimento

• Batalha pela iniciativa

• A família tem em si mesma a capacidade para lutar e crescer

• Realidade externa / realidade interna

• Pertencimento / individuação

• A responsabilidade é da família

Conceitos principais

• Facilitar a individuação e senso de pertencimento

• Ampliação da experiência

• Encorajar membros a serem eles mesmos e expressar livremente seus pensamentos e sentimentos

• Espontaneidade e criatividade

• descongelar

Objetivos da Terapia

• Criar confusão

• “Treinar” como sair da confusão

• Envolver-se

• Ajudar o membro e a família no aqui e

agora

Papel do Terapeuta

• Co-terapia

• Uso do self

• Envolvimento

• Movimento dentro para fora

• Redefinição do sintoma como tentativa de crescimento

• Idéias espontâneas

• Mudança de papéis

• Criatividade

• Livre expressão dos sentimentos

• “provocação”

Intervenções e TécnicasO processo de terapia familiar gira em torno de pessoas e relacionamentos, não de técnicas de intervenção ou abstrações teóricas.

Embora a compaixão seja essencial, o terapeuta profissional não pode esperar ser útil, ou mesmo sobreviver, se for demasiadamente tragado pelo altruísmo.

Eu considero um guia básico para meu papel profissional o de maximizar o crescimento de todos os envolvidos no processo terapêutico, inclusive o meu próprio. Talvez antes de tudo, o meu próprio.

As famílias não são frágeis. Elas são fortes e flexíveis.

Textos selecionados

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A primeira suposição a aferrar-se é a sua visão básica das pessoas. (...) após mais de 40 anos nesta atividade maluca, eu finalmente dei-me conta de que não acredito nas pessoas.

Não há tal coisa como o indivíduo. Nós somos apenas fragmentos de famílias flutuando, tentando viver a vida. Toda a vida e toda a patologia são interpessoais.

Quando uma família se aproxima de um terapeuta, todos os membros querem ver sua visão pessoal validada.

Embora este seja o seu desejo, não é o que eles precisam. O que eles precisam é de uma experiência que os liberará das perspectivas bloqueadas que eles desenvolveram. Eles precisam de uma oportunidade para ver suas famílias a partir de uma ótica mais complicada.

Para livrarem-se das dicotomias distorcidas dos bons x maus às quais regrediram. Com efeito, eles precisam ter sua comodidade perturbada. Eles precisam estar livres para desenvolver o tipo de ansiedade necessária para alimentá-Ios num esforço de crescimento massivo.

Eu cheguei a pensar nisto como um tipo de fertilizante de amplo espectro. Pode não cheirar bem, mas é necessário para estimular crescimento. Pergunte a qualquer fazendeiro.

É um negócio ardiloso, porém, é meu dever pressionar, mas não é o meu trabalho ou o meu direito dizer-Ihes como crescer. Tentar vender-Ihes meu modelo de vida iria meramente solapar seus recursos e suas capacidades. Eles precisam descobrir sua própria fórmula e não tentar imitar a minha. Toda esta coisa de "ajudar" a eles é realmente aterrorizante. É aviltante tentar "ajudá-Ios", porque isto sugere que minha forma de vida é superior à deles. Dados os muitos terapeutas que conheci, inclusive eu mesmo, não vejo nenhuma evidência para esta pressuposição. De forma suscinta: "Ajudar não ajuda".

Outra forma de colocar isto é que as famílias não crescem devido a algo que o terapeuta tenha feito com eles. O verdadeiro crescimento é algo que o terapeuta e a família fazem um com o outro. Não é a família ou o terapeuta; é a família e o terapeuta que compõem o veículo do crescimento.

O que torna isto uma noção estranha é que implica em que "nós" não somos em nada diferentes "deles". Que somos mais similares do que diferentes das famílias que tratamos. Se isto é verdade, o que temos para oferecer? Como operamos quando somos despidos da casaca de guru ou do manto do sábio? O papel de perito ou de guru tem uma certa atração, porque nos ilude com o sentimento de que somos especiais. Que temos a sabedoria ou a inteligência para deixá-los conhecer algo mais sobre a vida. Isto é muito sedutor, mas fatal. Afinal de contas, as chances são de que você morra também. Eu estou rondando a noção de que eu não sobreviverei para sempre.

A parte realmente traiçoeira disto tudo é que, mesmo que sejamos capazes de captar um relance de nossa fragilidade e nossa humanidade, as famílias que nos vêem podem estar determinadas a ver-nos como oniscientes. Torna-se, então, nossa responsabilidade esvaziar esta ilusão. Nós devemos deixá-los saber que nós não podemos lhes mostrar o caminho. Que, para que eles cheguem em qualquer lugar, terão que sujar as próprias mãos. Minha forma favorita de fazer isto é a de revelar fragmentos de minha própria humanidade. E encorajá-los a reconhecer um pouco das minhas limitações. Uma resposta freqüente a um pedido de dizer-lhes o que fazer com as próprias vidas é: "Eu não saberia agora o que dizer sobre sua situação. Eu já tenho muitos problemas apenas cuidando de minha própria vida. Mas eu ficarei feliz de ser de alguma utilidade, enquanto vocês lutam com sua própria vida".

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Sua disposição de trazer mais e mais de si mesmo para as sessões é o ingrediente catalítico que pode desencadear a experiência de crescimento da família. É um aprendizado magnífico quando uma família pode finalmente aceitar que seus cuidados podem ser, ao mesmo tempo, firmes e gentis. E é ainda mais profundo quando eles se dão conta de que apesar de sua preocupação com eles, você cuida ainda mais de si mesmo. Embora possa advir como um choque para os vestígios da ilusão do "guru", é também um alívio. Alivia-os da necessidade de ficarem preocupados em tomar conta de você. Uma vez liberados deste fardo não explicitado, a família pode enfocar suas próprias necessidades.

A confrontação pessoal, evidentemente, é o outro lado dos cuidados pessoais. Você é capaz de amar apenas na medida em que estálivre para odiar. Como Winnicott (1949) uma vez disse: "Se você não foi odiado por seu terapeuta, você foi roubado". A confrontação pessoal é uma experiência de valor. É um evento que vivifica todos nós. Eu quero que eles tenham que “me” enfrentar. Isto provoca o fluxo sangüíneo. É a experiência que é importante, não o resultado. Como acontece no casamento, uma relação que tenha uma subestrutura de companheirismo pode ser enriquecida e desenvolvida pela confrontação. Uma vez que não tenha este alicerce, ela desabará. Talvez seja mesmo mais fácil na arena terapêutica do que na conjugal. Como terapeuta, meu investimentoestá em tornar-me envolvido em uma experiência real com a família, e não em tentar mudá-los. A confrontação é mais uma questão de compartilhar uma perspectiva, e não uma manipulação. Meus esforços são de ser honesto com eles, deixando-os livres para decidir o que fazer.

Aproximadamente na metade da entrevista inicial com uma família, a sessão chegou a um beco sem saída. Como eles pararam, eu me encontrei pensando sobre um problema que eu tinha tido com um barco à vela. O seguinte diálogo ocorreu:

Pai: Bom, sobre o que devemos falar? Você é o especialista aqui.

Terapeuta: Engraçado que você pergunte. Eu estava sentado aqui,

pensando sobre um problema que eu estou tendo com meu barco. A

corrente está quebrada e eu não fui capaz de consertá-la.

(pausa)

Mãe: Você está aborrecido também? Durante os últimos dez

minutos, eu estava morrendo de tédio e me perguntando do que nós

estávamos nos escondendo.

O mais louco de tudo é que eu mesmo não me dera conta de que estava aborrecido. Quando a mãe nomeou isto, eu percebi que ela estava certa. Minha honestidade automática nesta situação levou a família de volta àquestão de assumir a responsabilidade. Demoveu-os da fantasia de dependência de que eu tinha que ensiná-los.

Outras das minhas crenças é que quando atendo uma família, quaisquer idéias, pensamentos ou associações que irrompem na minha consciência pertencem a eles, tanto quanto a mim. Éa combinação do meta-ambiente família terapeuta que dáorigem a estas noções ou imagens. Como tal, parece apropriado compartilhá-las com a família. É claro, minha consciência destas associações está conectada ao quanto conheço sobre mim mesmo. A quão livre eu estou para entrar em sintonia com meus próprios processos interiores.

Uma das áreas mais problemáticas para os terapeutas é a de discernir qual é a sua responsabilidade para com a família com que estão trabalhando. Esta é uma área enganadora devido às suposições implícitas, não verbalizadas, que os subjazem às posições adotadas.

Quanto mais o terapeuta sente necessidade de assumir responsabilidades por um cliente, menos ele acredita na capacidade deste cliente ser uma pessoa competente. Devemos evitar convencer as pessoas que elas são ineptas. Por exemplo, eu tenhohá muito resistido à idéia de chamar o professor de uma criança para discutir seu problema de comportamento. A razão básica para isto éque eu não desejo reforçar a idéia de que os pais são obtusos. São eles que precisam falar com o professor, e não eu. Eles conhecemmelhor a criança do que eu jamais conhecerei. Eles amam a criança mais do que eu jamais poderia.

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A outra área da minha responsabilidade está em um domínio mais técnico ou teórico. Dados os meus preconceitos particulares e crenças sobre as pessoas e sobre o que o crescimento acarreta, eu devo fazer algumas decisões profissionais. Neste ponto de vista de minha carreira, eu viso mais um ponto ótimo de crescimento, em vez de um crescimento marginal. Eu, por-tanto, tomo como minha responsabilidade reunir condições que favoreçam a mudança. Eu quero criar condições que ampliem as possibilidades de crescimento real. Alívio temporário ou alterações menores, que não serão de impacto real, são de pequeno interesse.

Eu passei a pensar no papel de terapeuta como sendo uma espécie de posição parental. Talvez mais como uma função pseudoparental, porque eu nunca estou tão investido a ponto de estar ali como no mundo real. Eu não me disponho realmente a levá-los para casa comigo, quando eles precisam de um lugar para ficar. Eu estive bastante envolvido na criação de meus próprios filhos e não estou mais disponível para outro tanto. Meu envolvimento é mais no domínio de uma figura parental simbólica.

Estou me oferecendo para envolver-me, mas eu retenho a opção de decidir que quero sair. Não é um compromisso para toda a vida. Por último, há uma troca de dinheiro. Isto torna claro que nosso arranjo não é de altruísmo desmedido.

A partir deste modelo básico, é fácil evitar a tentação de ser colocado concretamente no papel de esposo, amante ou irmão.É necessário ficar claro que eu pertenço a uma geração diferente. Que eu estou operando em um meta-nível com relação à sua vida. Quando sinto-me coagido a preencher um papel diferente, eu, rapidamente, movimento-me para expor e contaminar essa situação.

Durante uma sessão recente, com um casal, em impasse, esta questão emergiu.

Esposa : Bem, doutor, o que você acha? Você ouviu todos os

nossos problemas e sabe como eu sou infeliz. Você deve ter

trabalhado com outros casais em situação semelhante. Você

pensa que seria melhor divorciar-me dele?

Terapeuta: Bem, eu não saberia responder. Eu realmente

não estou disponível. Estou casado há 47 anos e não estou

disposto a deixar minha mulher por você. Eu também não

acredito em poligamia.

Minha resposta tem a intenção tanto de expor a intenção manipulativa oculta como de sublinhar o absurdo de pedir a alguém para dirigir a sua vi-da.

A idéia básica de aliança também merece ser examinada mais de perto ao trabalhar com famílias. Embora ser capaz de empatia e de oferecer apoio a um indivíduo atormentado seja um tópico mais ou menos tranqüilo, isto é, muito mais complicado com uma família. Qualquer comentário que você faz é ouvido e filtrado por vários ouvidos. Um movimento para ser empático com a esposa pode ser ouvido pelo marido como você estar se deixando enganar ao acreditar no lado da história que ela conta, Deixar um pai saber que é difícil criar os filhos é encarado por estes como você estando do lado do inimigo. Os exemplos deste tipo de desentendimento seletivo estão por toda parte.

A solução é deixá-los saber que você toma a unidade familiar como ponto enfocado. Que você não tem nenhum interesse em se alinhar a favor ou contra qualquer membro individual ou subgrupo. Que você está empurrando toda a família a crescer.

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Uma das razões básicas pelas quais somos contratados como terapeutas é para sermos honestos. Ninguém realmente necessita de apoio falso. Ser uma prostituta psicológica pode oferecer algum nível de conforto corrompi-do, mas não é este o ponto.

Parte do papel, então, é o de estabelecer um enquadre em que você desenvolva a liberdade de ser direto com eles, sem se tomar judicativo. Quando você confronta a família, você o faz a partir de um sentido de sua própria honestidade, não com a intenção de levá-los a concordar com você. Dizer "não penso que você está sendo honesto" é muito diferente de dizer "você é mentiroso". Eu não estou acusando ou tentando impor algo, estou apenas compartilhando minha impressão.

O assunto da confidencialidade é outro componente desta estrutura de papéis. Acredito que não pode haver confidencialidade entre os membros de uma família. Meu papel é o de facilitar sua luta para crescer. Ser um repositório de segredos e ser seduzido a entrar em alianças encobertas não cumpre este papel.

Há um custo, porém, em tomar tal posição. Você tem que ser capaz de tolerar a idéia de que os membros da família possam decidir não veicular informação "crucial". Eles podem preferir ser enganosos do que levar esta informação ao conhecimento público da família. Encontrar-se apenas com a família pode, é claro, minimizar as oportunidades para tais manobras. Mas o assunto seguidamente emerge de formas diferentes. Telefonemas, cartas ou encontros não programados são familiares a todos terapeutas.

A linha de base funciona mais ou menos da seguinte forma. Não há in-formação tão valiosa que me convença a entrar em um acordo conspiratório de um membro da família contra o outro.

Estar disponível para tal tipo de manobra política pode efetivamente invalidar você como pessoa potencial-mente útil. Por exemplo, se você concorda em falar confidencialmente com o marido e este lhe conta que estáenvolvido num caso amoroso, o que você faz quando encontra com o casal? Se você conta para a mulher, você trai sua confiança, Se você permanece com o acordo de confidencialidade com o marido, você está subrepticiamenteconspirando com ele contra ela. Quando ela, então, diz que sente que o marido já não a ama, o que fazer? A opção de furtivamente revelar a presença de um "segredo", sem identificar seu conteúdo, parece-me muito enganosa para ser de real valor.

A verdadeira questão aqui são as guias que você escolheu para operar. Quando eu recebo um telefonema, carta, etc., é minha política levar o fato no próximo encontro, à completa revelação. Isto clareia o ambiente e nos mantém no caminho certo.

Evidentemente também me libera de estar amarrado e preocupado em manter um segredo. Uma das minhas caricaturas favoritas mostra um terapeuta sentado em uma cadeira, amarrado. O cliente está dizendo: "Doutor, estou sofrendo tanto. Por que você não me ajuda?". Embora isto possa ser inevitável de tempos em tempos, ao menos não vamos fornecer a corda.

Minha visão das famílias é que os membros estão profundamente inter-conectados. Eu tenho muito pouca confiança em que idéias ou informações possam levar ao crescimento. Para que mudanças reais ocorram, a família precisa engajar uns aos outros emocionalmente. Eles precisam de experiências reais, não de insights intelectuais. Meu estilo éo de enfatizar experiências emocionais, e não aprendizados educacionais.

O objetivo da terapia é ajudar as famílias a alcançar níveis mais adaptativos e satisfatórios da vida. A mera remissão de sintomas não é suficiente. Eu vejo a remissão dos sintomas como um efeito colateral de uma terapia produtiva, não como seu objetivo. De fato, pode ser que viver sem sintomas seja apenas uma ilusão destrutiva. Um objetivo mais realista e apreciável seria o de desenvolver a liberdade para ter bodes expiatórios rotativos na vida familiar. Todos os membros da família poderiam, então, beneficiar-se da experiência de jogar em todas as posições.

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Quando você atende ao telefonema e é convidado para sair por um perfeito - ou não tão perfeito - estranho, uma complicada seqüência de investigações e testes tipicamente tem início. Além de descobrir como seu nome e número de telefone foram revelados, você de imediato levanta tópicos como a familiaridade mútua, sobreposição de interesses e planos específicos para o encontro. Se este devesse se dar à moda antiga, a mulher convidada para sair iria cuidadosamente avaliar o proponente e suas intenções. Se sua proposta incluísse um encontro tardio, num lugar retirado, ela poderia contrapor sua própria sugestão. Talvez sua oferta poderia ser um almoço com três de suas melhores amigas, no local mais público da cidade. Ele estará livre para aceitar ou recusar. De qualquer forma, ela pensará que agiu com sabedoria.

Quando procurado inicialmente por uma família, o terapeuta está num dilema similar. Você aceita sem questionar a proposta que estão lhe fazendo? Você engaja-se em um processo de troca para estar certo de que a relação se inicia em termos aceitáveis? Estou convicto de que o terapeuta deve sempre iniciar pela identificação da proposta da família, e, então, fazer qualquer contraproposta que julgue necessário para dar início ao processo.

De fato, eu penso que é tipicamente aconselhável fazer algum tipo de contraproposta logo de princípio. Você precisa se proteger de ser cooptado pela família. Embora não seja preciso ditar rigidamente uma série impossível de condições, você deve tomar uma posição clara. Um processo político bi-direcional se segue. Este contato telefônico para o estabelecimento da consulta inicial dá o tom do que se segue. Esta batalha inicial échamada de Batalha pela Estrutura.

O ponto-chave aqui é o terapeuta encarar a necessidade de agir com integridade pessoal e profissional. Você deve agir segundo o que você acre-dita. Traições não ajudam ninguém. A Batalha pela Estrutura é, realmente, você defrontar-se consigo mesmo e apresentar isto para eles. Não é uma técnica ou jogo de poder. É o estabelecimento das condições mínimas necessárias antes de iniciar.

A Batalha pela Estrutura é o período inicial de luta política com a família. Eu preciso estabelecer o que Bowen chamaria uma "posição de eu" com relação à família. Quando eles começam a ouvir e absorver as condições e limitações que estou apresentando, sua resposta automática é a de começar a colocar em conjunto sua própria "posição de nós".

Ao fixar estas condições, quero engajar a família num processo interacional que leve a um intercâmbio experiencial. Para que o processo terapêutico tenha impacto, em vez de ser meramente educacional ou social, ele deve consistir de experiências reais e não meramente de vôos intelectuais. Embora a educação possa parecer útil, ela tipicamente leva apenas a uma forma mais sofisticada de explicar a vida, e não de vivê-Ia.

Outro componente crucial neste processo é a capacidade do terapeuta de levar seriamente em conta as suas próprias necessidades. Tornar-se um mártir profissional, sacrificando-se pela família, não é um modelo apropriado. Desistir ou comprometer suas próprias crenças, padrões e necessidades leva apenas ao desgaste do terapeuta. Estou convencido de que o desgaste é o efeito colateral de nossa própria luta, fracassada pela integridade, e não uma função de nossa luta com os membros da família. A decisão de tentar tornar-se aquilo que eles desejam é culpa do terapeuta.

Meu comentário padrão para as famílias, "eu não estou aqui por vocês, estou aqui pelo que eu posso obter da situação", éuma forma de dizer que eu não sou alugável como uma prostituta profissional. Deixa-os saber que eu permanecerei o centro de minha pr6pria vida. Que eles não se preocupem em proteger-me. Novamente a preocupação real com o outro requer distância preocupação consigo e a capacidade de ficar pessoalmente envolvido. A não ser que o seu motivo central seja seu próprio crescimento, isto degenera em um "ajudar". Uma vez que isto ocorra, está tudo perdido. Eles tornam-se ineptos, e você, impotente.

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A aliança é o processo de desenvolvimento suficiente de uma conexão para, ao menos, sentir que vale a pena prosseguir. Embora nós, freqüentemente, pensemos nisto como algo que o terapeuta faz a uma família, eu passei a vê-la como algo que fazemos com uma família. Isto é, nós nos engajamos em um tipo de experiência mútua.

Outro fator é a aliança automática que emerge de um referencial comum, de experiências similares ou perspectivas compartilhadas. Este tipo de essência compartilhada conota uma capacidade aumentada de empatia. Nós não somos dependentes apenas de palavras para veicular a profundidade de nossas experiências. Evidentemente este nível de conexão também carrega embutido em si o dilema dos pontos cegos e da superidentificação. Eu "sei" o que ele quer dizer, quando um pai fazendeiro fala sobre sentir-se isolado, ou amar as vacas. Infelizmente, eu posso não ter a menor noção de que haja algo problemático com isto. Mas, ao menos, eu posso ingressar aí.

Com este tipo tão comum de família, eu devo também trabalhar para descobrir maneiras de pular fora dela e ganhar alguma distância. Eu podia brincar com alguma coisa de forma ausente, tomar páginas e páginas de notas para ficar visualmente distraído, ou trabalhar com um co-terapeuta a fim de ter um "nós" a quem pertencer.

No início, meu esforço é o de estabelecer uma metaposiçãocom relação à família. Eu desejo que eles entendam mais sobre o que eles podem esperar de mim e o que eu posso esperar deles. Isto não é concebido como um relacionamento entre iguais. Eu quero que seja entendido que, no meu papel de terapeuta, eu sou membro de uma geração mais velha.

As famílias tipicamente vem à terapia com um membro familiar, em particular, manifestando um sintoma que deixa a família preocupada. A minha opinião é que isto deve ser visto como o bilhete de entrada. Nunca acredite que este éo único, ou se quer o mais importante problema da família. Meu objetivo é, tão rapidamente quanto possível, expandir o quadro de quais são os problemas e por que eles estão ali.

É como o início de um jogo de pôquer. É importante que todos fiquem atentos. Algumas famílias fazem isto com relativa facilidade, enquanto outras são muito mais resistentes. As famílias resistentes, na verdade, estão mais é com medo, e é freqüentemente estimulante desafiá-Ias a este respeito.

Além de meramente ampliar a constelação sintomática, eu também luto para alterar sua perspectiva para um ponto de vista interpessoal. Quando a recusa de Sarah em ir à escola éligada à sua função de protetora da mãe, o quadro muda. Passa a enfocar o assunto familiar e não uma mania ou patologia individual. Ao envolver o pai na alimentação excessiva da mãe, eu torno isto uma função da relação, e não uma indicação da falta de força de vontade.

Outro aspecto deste trabalho centra-se na capacidade do terapeuta de ser "mesquinho". Neste contexto, "mesquinho" representa tanto uma disposição de ser honesto em minhas reações a eles, como uma recusa a abandonar minha posição e ser artificialmente maternal. Éminha responsabilidade ajudá-Ios a olharem-se a si mesmos de forma mais corajosa. Encobrir preocupações ou ignorar áreas problemáticas, é algo sem valor para todos. Eles, podem obter isto em casa.

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Quando você combateu com êxito na Batalha pela Estrutura e foi capaz de estabelecer sua metaposição e condições para a terapia, o processo se altera. Agora que a família, num certo sentido, capitulou a suas exigências, o risco éque eles se acovardem e passem a bola para você. A próxima fase, então, é levá-Ios a assumir a responsabilidade pelo que acontece na terapia.

Com a continuação do crescimento familiar, eles usam cada vez mais os seus próprios recursos. Eles desenvolvem a confiança para rejeitar o meu modo de pensar e começam a acreditar mais profundamente nos seus. Eles me vêem cada vez mais humano, com as fraquezas agora incluídas. E estão livres para importunar-me a respeito de meus erros e idéias absurdas. Com efeito, eles começam a me ver como pessoa, e não como um papel. Eles tornam-se seus próprios terapeutas, assumindo a responsabilidade por sua própria vida.

Os impasses são inevitáveis! Os períodos em que você se sente bloqueado e não sabe que caminho tomar são parte do processo.