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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DA CAMPANHA - URCAMP
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E EXTENSÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E
MEIO AMBIENTE (GESTÃO AMBIENTAL)
SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM PEQUENAS
PROPRIEDADES NO MUNICÍPIO DE HULHA NEGRA
RODOLFO CÉSAR FORGIARINI PERSKE
BAGÉ/RS, 2004
UNIVERSIDADE DA REGIÃO DA CAMPANHA - URCAMP
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E EXTENSÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E
MEIO AMBIENTE (GESTÃO AMBIENTAL)
SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM PEQUENAS
PROPRIEDADES NO MUNICÍPIO DE HULHA NEGRA
Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação em
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Gestão
Ambiental) da Universidade da Região da Campanha,
para obtenção do título de Especialista em
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Gestão
Ambiental).
RODOLFO CÉSAR FORGIARINI PERSKE
ORIENTADOR PROF° DR. ADILSON LOPES LIMA
CO-ORIENTADOR PROF° M.SC. CLÁUDIO MARQUES RIBEIRO
BAGÉ/RS, NOVEMBRO DE 2004.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos
familiares, em especial a minha mãe
Eline Maria Forgiarini Perske pelo
estímulo, dedicação e acolhida.
A minha namorada Paula Beatriz
Zoppo Medran pela ajuda,
compreensão e carinho.
AGRADECIMENTOS
O autor expressa seus agradecimentos:
Aos colegas da Emater/RS.
Ao colega, professor e co-orientador Cláudio Marques Ribeiro pela dedicação, orientação e
sugestões sempre de forma prestiva e objetiva.
Ao professor e orientador Adilson Lima como orientador.
Aos colegas da especialização pela amizade e coleguismo.
Ao colega da Emater/RS, Engº Agrônomo Francisco Gonçalo, pelo auxílio nas informações.
Aos produtores rurais do município que contribuíram prestando informações.
Aos amigos que ajudaram e apoiaram.
A Universidade da Região da Campanha.
Aos professores do curso de Pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente (Gestão Ambiental).
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS .............................................................................................................. 6
LISTA DE FIGURA ................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8
2 METODOLOGIA .................................................................................................................. 10
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 11
3.1 Desenvolvimento rural sustentável ................................................................................. 11
3.2 Sustentabilidade .............................................................................................................. 14
3.3 Agroecossistema ............................................................................................................. 16
3.4 Agricultura familiar ......................................................................................................... 18
3.5 Assentamentos de reforma agrária .................................................................................. 20
3.6 Sistemas agroflorestais .................................................................................................... 23
3.6.1 Características dos Sistemas Agroflorestais ............................................................. 24
3.6.2 Vantagens dos Sistemas Agroflorestais .................................................................... 27
3.6.3 Desvantagens dos Sistemas Agroflorestais ............................................................... 30
3.6.4 Características das Espécies Florestais Desejáveis para o Sistema Agroflorestal .... 31
3.6.5 A Floresta e suas Interações com o Meio Ambiente................................................. 32
3.6.6 Alguns Exemplos de Sistemas Agroflorestais .......................................................... 33
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................................... 38
4.1 O Município de Hulha Negra .......................................................................................... 38
5
4.1.1 Solo ........................................................................................................................... 41
4.1.2 Relevo ....................................................................................................................... 42
4.1.3 Declividade ............................................................................................................... 42
4.1.4 Clima ......................................................................................................................... 43
4.1.5 Localização e Coordenadas Geográficas .................................................................. 43
4.1.6 Vegetação Original ................................................................................................... 44
4.1.7 Fauna Nativa ............................................................................................................. 44
4.1.8 Hidrografia ................................................................................................................ 44
4.1.9 Dados Econômicos ................................................................................................... 45
4.1.10 Distribuição Fundiária do município e principais produtos agropecuários ............ 45
4.2 Histórico de hulha negra ................................................................................................. 46
4.2.1 A Formação e a Origem da Agricultura Familiar da Hulha Negra ........................... 47
4.3 Agricultura familiar e o florestamento em Hulha Negra ................................................. 51
4.3.1 Objetivos do Projeto ................................................................................................. 51
4.3.2 Condições do Projeto ................................................................................................ 51
4.3.3 Locais de Implantação do Projeto ............................................................................. 58
4.3.4 Resultados Obtidos ................................................................................................... 58
4.3.5 Continuidade do Projeto ........................................................................................... 60
4.3.6 Avaliação dos Agricultores sobre o Projeto.............................................................. 60
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 64
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Nomes regionais, classificação e características dos solos do município de
Hulha Negra. .......................................................................................................... 41
Quadro 2 – Dados de temperatura média, umidade relativa do ar e precipitação
pluviométrica do período de 1956-1984. ............................................................... 43
Quadro 3 – Participação de cada setor no ICMS do município ............................................. 45
Quadro 4 – Número de propriedades por classe de área, área ocupada e percentuais do
município. .............................................................................................................. 45
Quadro 5 – Projetos de Assentamentos criados entre 1989 e 1990 em Hulha Negra ........... 49
Quadro 6 – Projetos de Assentamentos criados entre 2000 e 2002 em Hulha Negra ........... 50
Quadro 7 – Custo para formação de um hectare de acácia negra .......................................... 54
Quadro 8 – Estimativa de receita de um hectare de acácia negra .......................................... 54
Quadro 9 – Número de famílias nas diferentes localidades de Hulha Negra. ....................... 59
LISTA DE FIGURA
Figura 1 – Mapa do município de Hulha Negra em regiões ..................................................... 39
INTRODUÇÃO
O município de Hulha Negra está localizado na campanha gaúcha. Na região
predomina o campo nativo com solos rasos e topografia suavemente ondulada. As matas
nativas ocorrem quase que preponderantemente como matas ciliares e as exóticas, onde
predomina o eucalipto, se limitam a capões pequenos como abrigo para o gado e produção de
lenha. Historicamente, esta região se fundamentou em fazendas com grandes extensões de
terra usadas para a criação de gado de corte e ovinos e mais recentemente o plantio de arroz
nas várzeas.
A maior parte do município é composta pela agricultura familiar e pecuária familiar,
com grande número de projetos de assentamentos, limitando-se as áreas de pecuária de maior
porte ao norte do município.
Atualmente, os sistemas de produção que são desenvolvidos na região, estão com
dificuldades econômicas. Apesar disso, o sistema produtivo da pecuária de corte tem
contribuído para a manutenção do bioma local por suas características de pastejo do campo
nativo.
Na busca de novas alternativas para esta região, aparece a opção da diversificação. Na
análise das possibilidades deve-se levar em consideração a sua viabilidade ambiental, além
das questões econômicas e sociais, para que ocorra o desenvolvimento rural de uma maneira
sustentável, evitando que o agroecossistema diminua a sua capacidade produtiva ao longo do
tempo. Ou seja, o Desenvolvimento Rural Sustentável deve considerar a sustentabilidade do
agroecossistema local no presente e no futuro para que as futuras gerações tenham as mesmas
condições que as atuais.
Neste quadro e por existir um mercado potencial de madeira a ser suprido e a
possibilidade de atendê-lo com o plantio de árvores é que surgiu o interesse de estudar o
Sistema Agroflorestal. Assim este trabalho aponta um sistema de produção que consorcia
9
culturas agrícolas, animais e árvores em uma mesma área, como um sistema sustentável de
produção, chamado de Sistema Agroflorestal.
O presente trabalho apresenta na sua primeira parte uma série de conceitos que
permitem compreender melhor os aspectos teóricos sobre o tema. A seguir, apresenta-se uma
abordagem sobre o município de Hulha Negra, seu histórico e sua formação, suas regiões
homogêneas e suas características. Na seqüência se descreveu a experiência realizada através
do Programa Municipal de Florestamento com os agricultores onde se realizou os plantios
consorciados objeto deste trabalho denominado sistemas agroflorestais. Finalizando, o
trabalho apresenta as principais considerações obtidas com a pesquisa e os seus principais
resultados.
2 METODOLOGIA
Na pesquisa bibliográfica foram consultadas várias literaturas relativas ao assunto em
estudo, artigos publicados na internet e que possibilitaram que este trabalho tomasse forma
para ser fundamentado.
Segundo Marconi e Lakatos (1992), a pesquisa bibliográfica é o levantamento de toda
a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa
escrita. A sua finalidade é fazer com que o pesquisador entre em contato direto com todo o
material escrito sobre um determinado assunto, auxiliando o cientista na análise de suas
pesquisas ou na manipulação de suas informações. Ela pode ser considerada como o primeiro
passo de toda a pesquisa científica.
A pesquisa de campo foi realizada durante as visitas as propriedades rurais dos
produtores que integram o Programa Municipal de Florestamento. Estas visitas foram em
vários períodos para transmitir orientações técnicas, bem como para a elaboração de laudos.
Segundo Marconi e Lakatos (1992), a pesquisa de campo é uma forma de
levantamento de dados no próprio local onde ocorrem os fenômenos, através da observação
direta,entrevistas e medidas de opinião.
As entrevistas foram realizadas em outubro e novembro de 2004 com o objetivo de
colher informações específicas sobre o consórcio adotado por alguns produtores, os quais
tiveram a oportunidade de acompanharem o sistema durante todo o momento, podendo
contribuir com dados mais detalhados que os detectados pela visita do técnico na pesquisa de
campo.
Segundo Marconi e Lakatos (1985), a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a
fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional.
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Desenvolvimento rural sustentável
Segundo Vianna e Veronese apud Andrade et al. (2004), o Brasil, a partir da segunda
metade deste século, vem sofrendo grandes transformações em função do crescimento
demográfico e da modernização de suas bases de desenvolvimento. De um estágio econômico
onde predominava a exportação de produtos agrícolas, sem beneficiamento, passou ao estágio
de industrialização considerável, predominando produtos manufaturados em sua pauta de
exportação. Esse acelerado ritmo de industrialização concentrou a população em áreas
urbanas e passou a provocar profundos impactos no meio ambiente, tanto físicos como
econômicos e sociais.
A preservação do meio ambiente teve grande influência na década de 90, com as
empresas buscando soluções para alcançar o desenvolvimento sustentável e ao mesmo tempo
aumentar a lucratividade (Andrade et al., 2004).
É possível notar que a preocupação com a questão ambiental teve impulso por uma
necessidade detectada pelo próprio homem, conforme complementa Molina apud Guzmán,
(1997) que o desenvolvimento sustentável surge para encarar a crise ecológica e tornar
compatível os níveis de consumo que satisfazem as necessidades humanas dentro dos limites
ecologicamente possíveis.
Segundo Guzmán (1997), o conceito de desenvolvimento sustentável consiste
essencialmente em potencializar o desenvolvimento com o objetivo de satisfazer as
necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para
satisfazerem suas próprias necessidades, e não um crescimento econômico indiscriminado da
região, seja uma área rural, um município, um país ou o conjunto da biosfera.
12
Almeida (1997) afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável possui uma
série de concepções e visões do mundo, sendo que a maioria das pessoas que entram no
debate sobre o assunto são unânimes em concordar no avanço que o mesmo representa nas
concepções de desenvolvimento e nas abordagens relativas à preservação dos recursos
naturais.
Schmitt apud Almeida (1997), relata que este termo, desenvolvimento rural
sustentável, surgiu em função da insustentabilidade econômica, social e ambiental do padrão
de desenvolvimento das sociedades contemporâneas. Relaciona isto à compreensão da
finitude dos recursos naturais e a injustiça social provocada pelo modelo de desenvolvimento
atual na maioria dos países.
Almeida (1997) questionando a idéia de progresso e de desenvolvimento descreve que
pode-se enriquecer às custas de um trabalho longo e penoso, que polui, degrada e encurta a
expectativa de vida. Mas pode-se ganhar menos, vivendo-se melhor, com menos degradação
ambiental e melhor qualidade de vida. Concluí que as crises ambientais, econômicas e sociais
colocaram em cheque esta noção generalizadora e progressiva do progresso.
Altieri e Masera (1997) entendem que o primeiro passo para operacionalizar o
desenvolvimento rural sustentável é a criação de novos métodos e indicadores que avaliem os
projetos e tecnologias, funcionando como um filtro para selecionar os projetos alternativos
que devem ser reproduzidos em larga escala e que possuem uma enorme repercussão nas
áreas rurais.
Para que isso ocorra, é necessário um conjunto de indicadores socioeconômicos,
ecológicos e culturais para melhorar a avaliação da viabilidade, adaptabilidade, durabilidade e
sucesso de um projeto. Estes novos indicadores devem também permitir que os projetos em
desenvolvimento sejam comparados em termos de capacidade produtiva adquirida,
melhoramento na qualidade dos recursos locais, da preservação ambiental, da satisfação das
necessidades humanas, da distribuição dos benefícios e do aumento da autoconfiança regional
e local (Altieri e Masera, 1997).
Os autores concluem que os métodos atuais de avaliação (custo-benefício) dão total
ênfase a dimensão econômica não levando em consideração as mudanças ambientais
irreversíveis, como a perda de solo fértil ou dos recursos genéticos.
O desenvolvimento rural sustentável surge como uma possibilidade de estabelecer os
limites ecológicos na geração das necessidades humanas. Também procura trazer justiça
social, o que acarreta uma melhor auto-estima das pessoas. Os limites ecológicos que
necessitam serem estabelecidos visam preservar os recursos naturais para as futuras gerações
13
ao mesmo tempo em que mantém a sustentabilidade do meio ambiente, além de propiciar o
retorno econômico necessário à sobrevivência das pessoas. A distribuição eqüitativa da
riqueza propicia atingir o equilíbrio entre os fatores econômicos, sociais e ambientais
essenciais para o desenvolvimento sustentável.
A agricultura é uma importante atividade desenvolvida pelo homem no meio rural e
devido a sua crescente expansão em função do aumento populacional, possui grande
importância social e econômica, sendo fundamental estabelecer os conceitos de agricultura
sustentável e suas relações com o desenvolvimento rural sustentável mantendo e conservando
os recursos naturais.
Reijntjes et al. (1999), entende que agricultura sustentável é o manejo dos recursos
para a agricultura de modo a satisfazer as necessidades humanas em transformação e, ao
mesmo tempo, manter ou aprimorar a qualidade do meio ambiente conservando os recursos
naturais.
Em outras palavras, conforme afirma Gips (citado em Emater/RS, 1997), “a
agricultura é sustentável quando atende os requisitos de ser ecologicamente correta,
economicamente viável, socialmente justa, humana e adaptável. O que significa que além da
preocupação com a preservação dos agroecossistemas, importa a relação dos homens com o
meio ambiente e dos homens entre si”.
Segundo Silva (1997), a principal contribuição do movimento por uma agricultura
sustentável não está na criação de novas tecnologias ditas alternativas, mas na criação de uma
nova consciência social a respeito das relações homem-natureza; na produção de novos
valores filosóficos, morais e até religiosos e na gestão de novos conceitos jurídicos.
Kaimowitz (1997) entende que agricultura sustentável é aquela que permite alimentar
e vestir toda a população com um custo razoável, oferecendo um nível de vida aceitável para
os que dependem do setor e degrada pouco a base dos recursos naturais.
Segundo Gliessman (2000), a agricultura convencional não é sustentável porque as
suas práticas tendem a comprometer a produtividade futura em favor de alta produtividade no
presente. Os recursos agrícolas são explorados demais e degradados, os processos ecológicos
globais são alterados e as condições sociais que conduzem à conservação de recursos são
enfraquecidas e desmanteladas.
O uso de insumos alternativos que procuram não prejudicar o meio ambiente, a
utilização correta da tecnologia e a adoção de práticas de conservação do solo são
instrumentos importantes na agricultura sustentável reduzindo os efeitos da atividade humana
no agroecossistema e propiciando a sua sustentabilidade.
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A dita agricultura moderna baseada no uso intensivo de insumos, em alguns casos, não
tem contribuído para a sustentabilidade dos agroecossistemas. Um dos motivos que provoca a
insustentabilidade é a diminuição da produtividade ocasionada pela falta de manutenção da
base ecológica que o agroecossistema possuía quando inicialmente constituído. Já a
agricultura sustentável propõe o manejo do ambiente de forma a conservar a base dos recursos
naturais, procurando manter uma relação de harmonia do homem com a natureza ao mesmo
tempo em que se mantém economicamente viável no decorrer do tempo.
3.2 Sustentabilidade
O desenvolvimento rural deve necessariamente ser sustentável, Meyer et al. Apud
Altieri (2002) definem sustentabilidade como a capacidade para manter um nível de
produtividade através do tempo sem comprometer os componentes estruturais e funcionais do
agroecossistema. Uma característica importante da sustentabilidade é a capacidade do
agroecossistema de manter um rendimento que não decline ao longo do tempo, mesmo
submetido a variadas condições.
Segundo Gliessman (2000), a sustentabilidade é uma versão de produção sustentável
ou a condição de ser capaz de perpetuamente colher biomassa1 de um sistema, porque sua
capacidade de se renovar ou ser renovado não é comprometida.
A preservação da produtividade da terra agrícola, a longo prazo, requer a produção
sustentável de alimentos. A sustentabilidade pode ser alcançada através de práticas agrícolas,
que sejam orientadas pelo conhecimento em profundidade dos processos ecológicos que
ocorrem nas áreas produtivas e nos contextos mais amplos dos quais elas fazem parte. A partir
desta base, pode-se caminhar na direção das mudanças socioeconômicas que promovem a
sustentabilidade de todos os setores do sistema alimentar (Gliessman, 2000).
Segundo Kitamura (1994) na natureza a sustentabilidade ocorre espontaneamente,
quando o ecossistema atinge o estado maduro. Em ecossistemas que ocorre intervenção do
homem a sustentabilidade é conseguida através do manejo das condições artificializadas, onde
há uma recomposição da arquitetura do sistema e a introdução de matéria e energia que
mantém o estado de permanência no tempo.
Conway apud Kimatura (1994) relata que o desenvolvimento sustentável da
agricultura significa uma máxima produção conservando os recursos naturais e obedecendo
1 Biomassa: a massa de toda a matéria orgânica em um determinado sistema, em um dado momento no tempo.
15
aos aspectos de viabilidade econômica e de igualdade social na distribuição dos seus
benefícios e custos.
Segundo Reijntjes et al.(1999), na agricultura a palavra sustentabilidade se refere à
capacidade de manter a produtividade, ao mesmo tempo em que se mantém a base de
recursos. Reijntjes afirma que o Comitê de Aconselhamento Técnico do Grupo Consultivo de
Pesquisa Agrícola Internacional em 1988 conceitua agricultura sustentável através do manejo
bem sucedido dos recursos para a agricultura, de modo a satisfazer as necessidades humanas
em transformação, mantendo ou melhorando, ao mesmo tempo, a qualidade do ambiente e
conservando os recursos naturais. Gips apud Reijntjes et al., usa uma definição mais ampla e
afirma que a agricultura é sustentável quando, é:
Ecologicamente correta – o que significa que a qualidade dos recursos naturais é
mantida e a vitalidade do agroecossistema inteiro é melhorada, incluindo-se aí desde os seres
humanos, as lavouras e os animais até os microrganismos do solo.
Economicamente viável – a viabilidade econômica é medida também pela
conservação dos recursos e a minimização dos riscos, além do produto agrícola colhido. Isto
significa que os agricultores podem produzir para a sua auto-suficiência e/ou uma renda
suficiente e obterem uma renda para pagar o seu trabalho e cobrir os custos envolvidos.
Socialmente justa – significa que os recursos e o poder devem ser distribuídos para
assegurar que as necessidades básicas de todos os integrantes da sociedade sejam atendidas e
garantidas e que seja respeitado os direitos dos agricultores com relação ao uso da terra, o
acesso ao capital, assistência técnica e oportunidade de mercado. Todas as pessoas devem ter
a oportunidade de participar na tomada de decisões.
Humana – isto significa que todas as formas de vida (vegetal, animal e humana) são
respeitadas. Deve haver o reconhecimento que a dignidade é fundamental para todos os seres
humanos. As relações e instituições devem incorporar valores humanos básicos como
confiança, honestidade, auto-respeito, cooperação e compaixão. Desta forma, a integridade
cultural e espiritual da sociedade é preservada, cuidada e nutrida.
Adaptável – as comunidades rurais devem ser capazes de se adaptar as condições da
agricultura, que está em constante transformação: pelo crescimento populacional, mudanças
nas políticas governamentais, nas demandas de mercado, etc. Isso envolve novas tecnologias
apropriadas, bem como inovações sociais e culturais.
A sustentabilidade é a base para o desenvolvimento rural e para manutenção dos
agroecossistemas. Qualquer sistema de produção rural que não se preocupe com a
sustentabilidade do agroecossistema ao longo do tempo está condenado ao fracasso. Este é o
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motivo pelo qual muitas áreas férteis se transformaram em desertos ou inapropriadas para a
produção, tiveram diminuição da sua produtividade ou geraram desequilíbrios sociais,
econômicos e humanos.
3.3 Agroecossistema
Segundo Gliessman (2000) o conceito de agroecossistema é definido como o local de
produção agrícola. Para entender os agroecossistemas, primeiro deve ser entendido o
ecossistema natural, suas partes e as relações entre elas e o seu aspecto funcional.
Gliessman (2000), descreve um agroecossistema sustentável como o que mantém a
base de recursos da qual depende, conta com um uso mínimo de insumos artificiais vindos de
fora do sistema de produção agrícola, maneja pragas e doenças através de mecanismos
reguladores internos e é capaz de se recuperar de perturbações causadas pelo manejo e a
colheita.
Os agroecossistemas convencionais são geralmente mais produtivos, mas bem menos
diversos, do que os sistemas naturais. A chave para a sustentabilidade é encontrar um meio-
termo entre os dois sistemas, ou seja, um sistema que imite a estrutura e função do
ecossistema natural e, ainda assim, produza uma colheita para uso humano (Gliessman, 2000).
Altieri (2002) dá ênfase as interações entre pessoas, recursos de produção, de
alimentos dentro de uma propriedade ou de uma área específica. Os agroecossistemas são
sistemas abertos que recebem insumos do exterior, gerando como resultado produtos que
podem ser exportados para fora dos seus limites.
Os princípios básicos de um agroecossistema sustentável são a conservação dos
recursos renováveis, a adaptação da espécie cultivada ao ambiente e a manutenção de um
elevado e sustentável nível de produtividade. Desta forma, um ponto-chave no desenho de
agroecossistemas sustentáveis é a compreensão de que existem duas funções no ecossistema
que devem estar presentes na agricultura: a biodiversidade dos microrganismos, plantas e
animais e a ciclagem biológica de nutrientes da matéria orgânica (Altieri, 2002).
Os agroecossistemas naturais tendem à complexidade. Entretanto, na agricultura
moderna ela é inibida pelas monoculturas2 que se caracterizam por baixa diversidade
3 e baixo
nível de complexidade (Altieri, 2002).
2 Monoculturas: plantio homogêneo de uma mesma espécie, feito repetidamente em uma mesma área. 3 Diversidade: número ou variedade de espécies em um local, comunidade, ecossistema ou agroecossistema.
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A diversidade das espécies está relacionada com o ambiente físico. Um ambiente com
uma estrutura vertical mais complexa abriga, em geral, mais espécies que um outro com uma
estrutura mais simples. Assim, um sistema agroflorestal conterá mais espécies que um sistema
baseado em cultivo de cereais (Altieri, 2002).
Segundo Reijntjes et al. (1999) os agroecossistemas abrangem comunidades de plantas
e animais, bem como seus ambientes físicos e químicos, que foram modificados pelos
humanos para produzir comida, fibras, combustíveis e outros produtos para seu consumo e
para processamento. Há um reconhecimento dos agroecologistas que o consorciamento da
agrossilvicultura imita os processos ecológicos naturais e que a sustentabilidade de muitas
práticas locais deriva dos modelos ecológicos que elas seguem. Sistemas agrícolas que imitam
a natureza otimizam melhor a luz solar, os nutrientes do solo e a chuva. Os agroecologistas
definem agroecologia como o estudo holístico dos agroecossistemas abrangendo todos os
elementos humanos e ambientais, suas inter-relações e os processos nos quais estão
envolvidos como, por exemplo, simbiose4, competição, sucessão ecológica, etc.
Os agroecossistemas são complexos e a síntese para a sua sustentabilidade é o manejo
adequado de todos os seus componentes, seja o solo, a matéria orgânica, a água, a vegetação
espontânea e a introduzida, a micro e mesofauna, etc. Um dos motivos que tem levado a
insustentabilidade de alguns agroecossistemas que são manejados pelo homem é o manejo
inadequado. O primeiro passo para introduzir uma cultura exótica em um agroecossistema
seria um estudo para verificar da sua capacidade para suportar esta espécie e quais as
alterações que se fariam necessárias sem comprometer a sustentabilidade. Isto pode ser
chamado como vocação de uso do solo, procurando que a cultura introduzida possua uma boa
relação com o agroecossistema. De acordo com as características e exigências da cultura é
necessário saber quais as práticas serão necessárias para que se consiga manter a
sustentabilidade para as futuras gerações, como a conservação do solo, a adubação, etc. As
práticas de manejo se relacionam diretamente com os agricultores familiares e assentados,
pessoas que trabalham e retiram o seu sustento e de sua família do agroecossistema local. É
necessário que os produtores tenham a consciência que o solo é o seu patrimônio e de sua
família, e que dele depende o seu sustento, de sua família e das gerações futuras. O sistema
agroflorestal apresenta algumas características que procuram imitar o sistema natural, como a
diversidade de espécies com características diferentes por exemplo, o que possivelmente
4 Simbiose: uma relação entre organismos diferentes que vivem em contato direto.
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indique que este sistema possa ter maior sustentabilidade que o monocultivo, por aproveitar
melhor o solo, a luz e a água.
3.4 Agricultura familiar
Wanderley (1999), conceitua a agricultura familiar como aquela em que a família ao
mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção assume o trabalho no
estabelecimento produtivo.
Blum (1999) cita o seguinte:
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação – FAO – e o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra definem a agricultura
familiar com base em três características: a gerência da propriedade rural feita pela
família; o trabalho é desempenhado na sua maior parte pela família; os fatores de
produção pertencem à família (exceção, às vezes, à terra) e são passíveis de
sucessão em caso de falecimento ou aposentadoria do gerente.
Lodi apud Blum (1999) ressalta a identificação do sobrenome da família e a sucessão
através da hereditariedade.
Para se ter uma melhor definição, Blum (1999) recomenda que além da gerência ser
realizada pela família, da renda agrícola ser de no mínimo 80% retirada da unidade e a
contratação de trabalho assalariado permanente limitado a um funcionário, ou trabalho
temporário limitado a quatro empregados, a observação da extensão territorial, que segundo o
autor para o Brasil e para o Rio Grande do Sul não deveria ser maior que 100 hectares. Outro
aspecto importante que cita é o da família morar e viver na comunidade rural participando de
suas atividades socioeconômicas.
Blum (1999), quando se refere às propriedades rurais afirma que, os conceitos
recebem outras características devido às peculiaridades da agricultura. O Manual de Crédito
Rural descrito em Brasil (2004) conceitua agricultor familiar para fins de financiamento ao
Programa Nacional para Agricultura Familiar – Pronaf, com base nos seguintes itens:
- Sejam proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros ou concessionários
da reforma agrária.
- Residam na propriedade ou em local próximo.
- Detenham, sob qualquer forma, no máximo quatro módulos fiscais de terra,
quantificados conforme legislação em vigor.
- O trabalho familiar deve ser a base da exploração do estabelecimento.
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Blum (1999), define propriedade familiar como aquela em que o imóvel rural é direta
e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, absorvendo toda a força de trabalho e
garantindo a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para
cada região, tipo de exploração eventualmente contando com a ajuda de terceiros.
Siliprandi (1998) menciona que a partir de 1990 o termo agricultura familiar passou a
ser utilizado devido ao tipo de mão-de-obra utilizado no estabelecimento e não pela área
ocupada. Nesta mesma data, os movimentos sindicais se mobilizaram em um projeto de
valorização da agricultura familiar, onde foram apontadas as seguintes razões para esta
valorização:
- A agricultura familiar pode ocupar um contingente maior de mão-de-obra por
área contribuindo para a diminuição do desemprego;
- É uma forma mais racional de utilização dos solos, pela tradição em
diversidade, produzindo de forma mais eficiente e preservando o ambiente;
- Pode obter produtividades altas, se contar com apoio técnico, pesquisa e
recursos financeiros adequados;
- É uma forma mais democrática de distribuir os recursos sociais, tendo como
resultado a desconcentração da terra e do poder econômico, político e social;
- Ela estimula a iniciativa dos membros da família na organização de suas
vidas e de seu trabalho, em um amplo círculo de relações econômicas (bancos,
comércio, cooperativas, etc).
Segundo Brumer (1999), uma das alternativas existentes para a produção familiar em
pequenos e médios estabelecimentos no Rio Grande do Sul é a diversificação produtiva, tanto
no interior de cada estabelecimento agropecuário como entre unidades produtivas e entre
regiões. Aparentemente, essa diversificação pode contribuir para o emprego em tempo
integral de um número relativamente maior de membros da família, tendo em vista, que o
trabalho pode ser mais bem distribuído durante todo ano e a produção pode ser competitiva
em termos de mercado.
Devido ao peso que a produção familiar representa na agricultura, a torna hoje, um
setor único no capitalismo contemporâneo, não havendo atividade econômica em que o
trabalho e a gestão estruturem-se tão fortemente em torno de vínculos de parentesco e onde a
participação da mão-de-obra não contratada seja tão importante (Abramovay, 1992).
A agricultura familiar possui características peculiares, como a utilização da mão-de-
obra que é preponderantemente formada pelos membros da família. Também é um fato, que
vem a caracterizar a agricultura familiar a residência e participação econômica e social da
família na comunidade onde se localiza a propriedade. Alguma propriedade de pequeno porte
localizada em agroecossistemas frágil tem a sua situação complicada, às vezes,
20
principalmente em monocultivos. Alguns agricultores dizem que as lavouras de culturas
anuais, são bastante suscetíveis à estiagem e isto, se traduz em frustração dos produtores por
perderem o capital investido, se tornando um fator de insustentabilidade econômica e social.
Isto está indicando que uma das opções é a diversificação na pequena propriedade como uma
forma de utilizar a mão-de-obra disponível e usar o solo de acordo com sua aptidão e
capacidade de uso, diminuindo o impacto ao meio ambiente e o risco que apenas um produto
oferece pela estiagem ou preço de mercado. Nesse sentido o sistema agroflorestal se torna
uma possibilidade na pequena propriedade, por diversificar e minimizar os efeitos da
estiagem, consorciando árvores, cereais e animais.
3.5 Assentamentos de reforma agrária
Segundo Bavaresco (1999), os assentados rurais existentes atualmente tem sua origem
na luta de trabalhadores rurais pela posse da terra. Estes trabalhadores são filhos de pequenos
agricultores, arrendatários, posseiros, meeiros, atingidos por barragens, empregados rurais,
etc.
Conforme Leite (2000), são bastante diversificados os beneficiários diretos dos
assentamentos. Do ponto de vista da inserção no processo produtivo, encontram-se posseiros,
com longa história de ocupação da terra; filhos de produtores familiares pauperizados que,
frente às dificuldades financeiras para o acesso à terra, optaram pela ocupação como único
caminho possível para se perpetuarem na tradição de produtores independentes; parceiros em
busca de terra própria; pequenos produtores atingidos pela construção de hidrelétricas;
seringueiros que passaram a resistir ao desmatamento que ameaçava o seu modo de vida;
assalariados rurais, muitas vezes completamente integrados no mercado de trabalho;
populações de periferia urbana, com empregos estáveis ou não, eventualmente com remota
origem rural, mas que, havendo condições políticas favoráveis, se dispuseram à ocupação;
aposentados que viram na terra a possibilidade de um complemento de renda, etc.
O termo assentamento começou a ser usado a partir do final da década de 1950 e início
de 1960, quando algumas políticas começaram a ser implantadas em resposta às intensas
mobilizações sociais no campo, porém logo reprimidas pelo governo militar para ressurgirem
na segunda metade da década de 1970 (Bergamasco e Norder,1996, apud Bavaresco).
Araújo (2000) destaca que nos anos 90 a luta pela reforma agrária se recoloca num
ambiente distinto. Uma característica importante, nesse novo contexto, é que o emprego na
cidade começa a rarear (o que bloqueia a alternativa do êxodo rural). A reforma agrária
21
começa, então, a ser vista como a possibilidade de criar empregos (a custo menor que o
emprego urbano). O Brasil é um país singular, em meio à crise mundial do emprego: tem terra
disponível e pessoas dispostas a produzir na terra. Para os movimentos sociais, a viabilidade
do assentamento se torna crucial. Daí a busca de formação de cooperativas, de
desenvolvimento de agroindústrias, da busca de propostas de articulação entre a produção
familiar do assentamento e outros agentes econômicos.
Segundo Ranieri (2003), a concentração da posse da terra no Brasil tem suas origens
na época do descobrimento. A expressão reforma agrária é utilizada para representar idéias de
estímulo à produção agrícola, como assistência técnica, crédito agrícola, garantia de preços e
outras intervenções similares. Gomes da Silva, citado por Ranieri (2003) considerou reforma
agrária um processo amplo e imediato de redistribuição da propriedade da terra com vistas à
transformação econômica, social e política do meio rural, com reflexos no conjunto da
sociedade. Isso significa que o número de beneficiários do processo deve ser compatível com
o universo dos trabalhadores rurais sem ou com pouca terra, e deve realizar-se num período,
relativamente curto, de tal sorte que a atual geração seja alcançada.
Segundo Ranieri (2003), a reforma agrária é um termo utilizado para descrever uma
série de ações que têm como base a reordenação fundiária como mecanismo de acesso à terra
e aos meios de produção agrícola aos trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra. O seu
significado depende do ponto de vista que se tem em foco, o qual está relacionado ao grupo
de interesse representado. Um processo de reforma agrária amplo e rápido traria para o Brasil
impactos positivos nos setores social e político como também provocaria alterações
significativas na esfera do poder político. Os reflexos seriam sentidos não só no campo, mas
também nas grandes cidades, auxiliando no equacionamento do seu crescimento desordenado,
diminuindo a competição por empregos e aumentando a oferta de produtos agrícolas para a
população urbana.
Nas regiões de maior atividade de reforma agrária, as opiniões do governo,
trabalhadores rurais, movimentos sociais e dos pesquisadores são convergentes em indicar
que os reflexos sociais (melhora de qualidade de vida) e econômicos (maior atividade
econômica e maior retorno de benefícios para a comunidade regional) são positivos, gerando
um cenário diferenciado e otimista em relação à situação anterior à intervenção fundiária.
Essas perspectivas reforçam o potencial ainda latente da reforma agrária como sendo um meio
eficiente e sustentável de combater a pobreza, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores
rurais e da população urbana, gerando, também, desenvolvimento econômico e melhorando a
distribuição de renda numa escala ampla e realista (Ranieri, 2003).
22
O mesmo autor menciona que as maiores divergências entre as opiniões do governo,
trabalhadores rurais, movimentos sociais, meio acadêmico e da minoria que concentra a posse
da maior parte das terras produtivas do Brasil, referem-se à definição e pertinência da reforma
agrária no atual contexto histórico, político, social e econômico. Essa discordância básica tem
reflexos na maneira como cada segmento avalia os resultados.
Segundo Sparovek (2003), se reunirmos um grupo de cinco pessoas e passarmos um
dia em qualquer um dos Projetos de Assentamento que existem no Brasil teremos, ao final do
dia, cinco opiniões distintas, e, não raro, contraditórias e opostas. De maneira figurativa, a
paisagem é uma só, mas cada pessoa a retrata, fotografando-a de uma posição diferente.
Qualquer discussão sobre os motivos dessas diferenças que não considere a posição dos
fotógrafos será totalmente inútil.
Muitas famílias assentadas praticam a agricultura de subsistência, por possuírem uma
família numerosa e possuírem uma área relativa a um lote de terra de normalmente um
módulo rural. Nestas famílias o pouco excedente produzido, normalmente é vendido ou
trocado por outro produto que a família não produz em seu lote.
Reijntjes et al. (1999) afirma que a agricultura de subsistência e um sistema agrícola
no qual grande parte do produto final é consumido pelo produtor. A maioria dos sistemas de
subsistência envolve a produção de alguns animais ou plantas para venda, mas a relação entre
produção para subsistência e para venda pode variar muito de ano para ano.
A origem dos trabalhadores que reivindicam pela posse da terra através da reforma
agrária é amplamente diversificado. Inicialmente o objetivo da reforma agrário era
proporcionar estímulo a produção e transformação econômica, social e política do meio rural
obtendo-se reflexos nas cidades. Esta reivindicação é antiga, porém mais recentemente, a
reforma agrária tem sido vista, como uma possibilidade de criar empregos a um menor custo
do que nas cidades, evitando que estas pessoas ao permanecerem nos meios urbanos ajudem a
aumentar os problemas sociais e econômicos já existentes.
A reforma agrária atualmente é um assunto polêmico na sociedade, há correntes
defensoras e contrárias a sua efetivação. De um lado fazendeiros pressionados por grupos
sociais, invasões de seus estabelecimentos e vistorias do Incra e de outro lado grupos
organizados com objetivo específico de ampliar a reforma agrária da maneira que entendem
seja necessária para a sua concretização. Um sistema de produção que pode ser usado tanto na
agricultura familiar como por assentados de reforma agrária na produção de alimentos é o
sistema agroflorestal que propicia diversificação da produção e se aproxima dos conceitos de
sustentabilidade dos agroecossistemas. Pode ser uma importante ferramenta para o
23
desenvolvimento rural sustentável por propiciar alimentos, madeira e carne sem degradar o
meio ambiente em um processo de inclusão social.
3.6 Sistemas agroflorestais
Segundo Rockenbach e Anjos (1994) citando Backt, um sistema é um arranjo de
componentes físicos, unidos ou relacionados de tal maneira que funcionam como uma
unidade ou um todo.
Altieri e Farrell (2002) conceituam sistema agroflorestal como um “sistema
sustentável de manejo e uso da terra e de plantas que procura aumentar a produção de forma
contínua, combinando a produção de árvores (incluindo frutíferas e outras) com espécies
agrícolas e/ ou animais, simultaneamente ou seqüencialmente, na mesma área, utilizando
práticas de manejo que sejam compatíveis com a cultura da população local”. É um sistema
de baixo uso de insumos, pois otimiza os efeitos benéficos das interações entre árvores,
culturas agrícolas e animais com a finalidade de obter uma produção comparável à obtida nos
monocultivos, com os mesmos recursos.
Reijntjes et al. (1999) apresenta vários conceitos:
- Agrossilvicultura como o uso deliberado de espécies lenhosas perenes (árvores,
arbustos, palmeiras, bambu) que dividem uma mesma unidade de manejo com culturas
agrícolas, pastagens e/ou animais, seja em arranjos espaciais mistos, onde as espécies
aproveitam o mesmo lugar ao mesmo tempo, seja numa seqüência ao longo do tempo.
- Silvipecuária é um sistema agroflorestal no qual os animais se alimentam
diretamente de árvores ou arbustos forrageiros ou recebem forragens obtidas dessas espécies,
além de pastarem plantas de porte herbáceo.
- Sistema agroflorestal é um sistema de uso da terra no qual se combina o cultivo de
espécies agrícolas de porte herbáceo com o de espécies arbóreas ou arbustivas.
- Sistema agropastoril é um sistema de uso da terra no qual há uma combinação entre
agricultura e criação de animais em pastagens.
Medrado (2000) apresenta os seguintes conceitos: sistema silviagrícola como aquele
constituído de árvores e/ou arbustos mais culturas agrícolas; sistema silvipastoril aquele
constituído de árvores e/ou arbustos mais pastagem e/ou animais e sistema agrossilvipastoril
formado de árvores e/ou arbustos mais culturas agrícolas, mais pastagem e/ou animais.
24
Medrado (2000) afirma ainda que o sistema agroflorestal é considerado como um
sistema de uso da terra, caracterizado conforme a localidade e descrito de acordo com a sua
composição biológica e arranjo, nível técnico de manejo ou características socioeconômicas.
Lima (1993) afirma que o sistema agroflorestal é um termo novo usado para uma
prática bastante antiga de se cultivar e foi introduzido oficialmente no meio científico durante
o VIII Congresso Florestal Mundial na Indonésia em 1978. É uma modalidade de uso
integrado da terra para fins de produção florestal, agrícola e pecuária. É um sistema moderno
e adequado de produção florestal social e ecologicamente mais equilibrada. O aspecto
principal em um sistema agroflorestal é a presença do componente arbóreo para fins de
proteção, de produção ou ambos simultaneamente.
Ramos (1994) citando King, ao descrever um sistema agroflorestal usado na Ásia,
denominado Taungya estabele o cultivo de floresta com cultivos agrícolas simultaneamente,
podendo em alguns casos os cultivos agrícolas cobrirem os custos da floresta.
Um dos objetivos do sistema agroflorestal é fazer com que ele funcione como uma
unidade, imitando o sistema natural, para colher os benefícios presentes neste, principalmente
no aspecto ambiental. Torna-se um sistema que visa proporcionar sustentabilidade nos
agroecossistemas por requerer menos insumos, aproveitando os efeitos positivos que as
interações entre as diferentes espécies proporcionam. Desta forma, o sistema se torna mais
econômico, por diminuírem os custos, propiciando produções iguais ou superiores que os
monocultivos.
3.6.1 Características dos Sistemas Agroflorestais
De acordo com Altieri e Farrell (2002), os sistemas agroflorestais incorporam quatro
características: Estrutura, Sustentabilidade, Aumento da produtividade e Adaptabilidade
socioeconômica/cultural.
Estrutura: durante séculos, os agricultores têm suprimido suas necessidades básicas,
cultivando de forma conjunta, espécies anuais alimentícias, árvores e animais.
Sustentabilidade: o sistema agroflorestal otimiza os efeitos benéficos das interações
entre árvores, espécies anuais e animais. Usando as características ecológicas dos
ecossistemas5 naturais como modelo, espera-se que a produtividade em longo prazo possa ser
mantida sem degradar a terra.
5 Ecossistemas: um sistema funcional de relações complementares entre organismos vivos e seu ambiente, com
uma determinada área física.
25
Aumento da produtividade: estimulando as relações de complementação entre os
componentes produtivos, melhorando as condições de crescimento e o uso eficiente dos
recursos naturais (espaço, solo, água, luz) espera-se que a produção aumente no sistema
agroflorestal em relação aos sistemas convencionais de uso da terra.
Adaptabilidade socioeconômica/cultural: o potencial do sistema agroflorestal é
particularmente reconhecido pelos pequenos produtores em áreas marginais dos trópicos e
subtrópicos porque não possuem condições de adotar tecnologias caras, embora o sistema
possa ser aplicado em uma ampla faixa de tamanhos de propriedades e condições sócio-
econômicas.
As árvores afetam o ambiente de um sistema agroflorestal de várias maneiras. Os
efeitos variam conforme o tipo de sistema, dependendo de fatores como a altitude, chuvas
anuais, padrões de vento, geografia, tipo de solo e espécies de árvores (Gliessman, 2000).
O mesmo autor afirma que, à medida que o conhecimento dos processos ecológicos
sobre o sistema agroflorestal é aperfeiçoado pode-se ver que os componentes do sistema
tornam-se interdependentes. A cultura anual pode tornar-se dependente das árvores para
captar nutrientes em maiores profundidades e abrigar insetos benéficos. A cultura anual pode
deslocar as plantas invasoras que poderiam concorrer com as árvores. Os animais beneficiam-
se das plantas anuais e forrageiras, retornando os nutrientes no solo na forma de esterco e
urina. As interdependências ecológicas são parte do quadro, visto que os seres humanos
dependem das árvores para a obtenção de lenha, madeira para construção, forragem para
animais, frutas e nozes, temperos e medicamentos. Os desenhos no sistema agroflorestal
podem ser realizados de forma que desempenhem papéis importantes ecológica e
economicamente.
O arranjo espacial, ainda segundo Gliessman (2000) das árvores no sistema
agroflorestal dependerá das necessidades do produtor, da natureza do agroecossistema e das
condições ambientais e ecológicas locais. Quando o objetivo do produtor for atividades
silvopastoris uma bordadura de árvores ao redor da pastagem pode ser o melhor desenho. Se a
intenção é a produção de culturas e o vento é um problema, a solução é um sistema de quebra-
ventos. Quando o componente árvore é destinado a fornecer cobertura morta de folhas caídas
para favorecer a cultura anual, o sistema pode ser composto por fileiras de árvores entre faixas
usadas para a agricultura.
Segundo Couto (1990) o homem do campo, ao longo do tempo, sempre tem usado a
consorciação de culturas com uma maneira de minimizar os riscos de uma perda total de sua
produção. O aumento da produtividade, considerado como meta por muitos pode não ser o
26
beneficio mais importante proporcionado pela adoção de sistemas agroflorestais para a
maioria dos proprietários rurais. As pesquisas na área de sociologia revelam que o homem do
campo freqüentemente está interessado tanto na diversificação de culturas e redução de custos
quanto no aumento da produção.
Segundo Ribaski (2004), para que se tenha sucesso no sistema agroflorestal, precisa-se
considerar o espaçamento da espécie florestal. Nesses sistemas normalmente são usadas
menores densidades de plantio e diferentes arranjos espaciais das espécies florestais em
campo.
Plantios mais adensados resultam na produção de um elevado número de árvores com
pequenos diâmetros, as quais normalmente são utilizadas para fins menos nobres como lenha,
carvão, celulose, engradados e estacas para cercas. Espaçamentos amplos resultam em um
número menor de plantas por unidade de área, tornando mais fácil o acesso de máquinas para
o plantio e tratos culturais. Facilitam também a retirada da madeira e empregam menos mão-
de-obra, além de permitirem a produção de madeira de melhor valor comercial (postes, vigas,
esteios e serraria). Como desvantagens há maior necessidade de tratos culturais e menor
derrama natural.
Práticas de manejo em eucalipto, caracterizadas por espaçamentos iniciais largos,
desbastes precoces e pesados e podas altas, revelam-se superiores aos tradicionais, com a
produção de madeira de boa qualidade, com bons resultados econômicos. Além disso,
permitem a penetração de altos níveis de radiação no sub-bosque, o que, por sua vez, favorece
o desenvolvimento satisfatório de outras espécies, também com valor econômico associadas
(Ribaski, 2004).
As características principais dos sistemas agroflorestais se baseiam no cultivo
integrado de espécies anuais, árvores e animais. Estes sistemas procuram a sustentabilidade
tentando imitar os processos que ocorrem no ecossistema natural. Também visa aumentar a
produtividade pela complementação que uma espécie propicia a outra nas suas interações,
usando de forma eficiente os recursos naturais. É um sistema que se aplica a um amplo leque
de propriedades rurais. A distribuição ou desenho dos componentes depende do objetivo da
produção e das características da propriedade rural. O produtor por sua vez tem interesse em
diversificar e reduzir custos para obter aumento de produção. Para que o sistema funcione é
necessário aumentar o espaçamento da cultura florestal para permitir a entrada de luz que
favorece, desta forma, as culturas agrícolas e pastagens.
27
3.6.2 Vantagens dos Sistemas Agroflorestais
Segundo Gliessman (2000) no sistema agroflorestal se obtém maior diversidade de
produtos, diminui a necessidade dos insumos externos e reduz o impacto negativo das práticas
agrícolas ao ambiente. O sistema otimiza os efeitos benéficos da interação entre o
componente arbóreo, as culturas agrícolas e os animais e permitem explorar as vantagens da
diversidade e do processo de sucessão6 para obter alimentos e outros produtos agrícolas.
Vilcahuaman et al. (2002) afirmam que a maioria das pequenas e médias propriedades
possuem áreas inaproveitadas, declivosas e impróprias para o cultivo agrícola. Se constata
nestas áreas que os produtores rurais estão com dificuldade de sobrevivência no meio rural e
que o plantio florestal é uma alternativa de diversificação para agricultores familiares na
sustentabilidade destas propriedades.
Segundo Reijntjes et al. (1999) a integração de espécies lenhosas (árvores e arbustos)
com culturas agrícolas pode contribuir para viabilizar o sistema. Elas não só possuem
importância produtiva (produzem comida, forragens, combustível, fibras, madeira, remédios e
pesticidas) como também reprodutivas, de proteção e social. Os produtos das espécies
lenhosas podem ser usados para o consumo doméstico ou para ser vendido. Estas espécies
podem fornecer reservas de capital para épocas ou estações adversas e protegendo os solos e
as lavouras dos fluxos prejudiciais de radiação, vento ou água (criação de microclimas7 e
controle da erosão). Ao integrar espécies lenhosas em seus sistemas, os agricultores podem
diversificar a produção e distribuir a demanda da mão-de-obra ao longo do tempo, diminuindo
os riscos da atividade agrícola.
As espécies lenhosas melhoram a fertilidade do solo através da absorção de nutrientes
da área circundante e das camadas mais profundas do solo, fixando na sua biomassa perene e
na camada superior do solo - reciclagem de nutrientes, aumento do teor de matéria orgânica
na camada superior do solo, da interação com micorrizas e bactérias do solo - fixação de
nitrogênio e solubilização de fosfatos (Reijntjes et al., 1999).
Segundo Lima (1993), uma das funções que o sistema agroflorestal desempenha é a
proteção adequada do solo, embora possa haver concorrência das raízes das árvores por água
e nutrientes com as culturas agrícolas. O autor citando um experimento de Verinumbe e Okali
que cavaram uma trincheira entre as linhas de milho e teca com a finalidade de impedir o
crescimento das raízes das árvores, verificaram não haver diferenças na variação do conteúdo
6 Sucessão: o processo pelo qual uma comunidade cede lugar à outra. 7 Microclimas: as condições ambientais na vizinhança imediata de um organismo.
28
de nutrientes do solo entre as parcelas tratadas e a testemunha. Em outro experimento
realizado por Singh et al. citado por Lima, num sistema agroflorestal entre leucena e sorgo, os
pesquisadores colocaram um lençol plástico como barreira física para separar o perfil do solo
entre as culturas impedindo o crescimento do sistema radicular e observaram que as parcelas
assim tratadas não apresentaram redução na produtividade do sorgo.
Payne, citado por Lima (1993), apresenta as potencialidades do consórcio da floresta
com gado, citando a redução de custos de controle por matocompetição, a diversificação da
produção rural e da mão-de-obra e a possibilidade de se poder usar um gado mais refinado,
como resultado das melhores condições microclimáticas geradas pela presença da cobertura
florestal.
Segundo Gliessman (2000) as árvores, por penetrarem mais profundamente no solo do
que as culturas agrícolas, afetam as relações de estrutura do solo, umidade e ciclagem de
nutrientes. Na superfície influi na luminosidade, que por sua vez afeta a umidade e a
evapotranspiração. Folhas e ramos fornecem habitat8 a um grande grupo de animais. Folhas
caídas dão cobertura ao solo e tornam-se fonte de matéria orgânica. O sistema torna possível
uma população de pragas e predadores mais estável e diminui a dependência de insumos
externos.
Gliessman (2000) citando Nair e Farrel explica que, as árvores podem limitar a erosão
pelo vento e água, fornecer sombra e forragem aos animais, formar associações com
micorrizas9, moderar a temperatura do solo e reduzir a evapotranspiração
10. As leguminosas
podem contribuir com nitrogênio para o sistema, pela associação com bactérias fixadoras.
Gliessman (2000) cita um estudo de Farrell em Tlaxcala no México com as espécies
mais comumente associadas com áreas agrícolas, Prunus capuli e Juniperus deppeana. Farrell
estudou as condições existentes sob a copa, na zona de sombra, na zona afetada pelo sistema
radicular e zona fora da influência direta da árvore. Descobriu que as condições do solo
melhoram bastante pela presença das árvores. O conteúdo de carbono, nitrogênio e fósforo
são mais altos na zona de influência das árvores e também constatou um pH mais elevado,
mais umidade e temperatura mais baixa. Todos esses diminuem conforme aumenta a distância
das árvores. O milho plantado sob a copa produziu a metade do milho plantado fora desta
8 Habitat: o ambiente particular, caracterizado por um conjunto específico de condições ambientais, no qual
ocorre uma espécie. 9Micorrizas: ligações fúngicas simbiontes com raízes de plantas através das quais um fungo fornece água e
nutrientes a uma planta e ela fornece açucares aos fungos. 10 Evapotranspiração: todas as formas de evaporação líquida da superfície da terra, incluindo a evaporação de
massas de água e umidade do solo e a evaporação pela superfície das folhas, que ocorre como parte da
transpiração.
29
zona. Porém, nas áreas parcialmente sombreadas, dentro da zona de influência das raízes
produziu da mesma forma que o milho plantado fora da influência da árvore. Farrell concluiu
que a influência é decorrente da sombra e não pela competição por nutrientes. Através do
manejo adequado é possível maximizar os benefícios e reduzir os impactos negativos no
rendimento das culturas.
De acordo com Altieri e Farrell (2002) citando Wiersum, existem vantagens
ambientais e socioeconômicas dos sistemas agroflorestais em comparação as monoculturas
agrícolas ou florestais.
Vantagens ambientais
- Os diversos estratos da vegetação aproveitam melhor a radiação solar.
- Os diferentes tipos de sistemas radiculares fazem bom uso do solo e as
culturas anuais lucram com o enriquecimento da superfície promovida pela
ciclagem de nutrientes feita pelas árvores.
- Os animais aproveitam a produção primária não usada e ajudam na ciclagem
de nutrientes.
- As árvores exercem a função de proteção do solo, da hidrologia e das plantas
agrícolas.
Vantagens socioeconômicas
- A produção total por unidade de área pode ser aumentada. Embora a
produção individual possa ser menor que na monocultura, em alguns casos, a
produção da cultura principal pode ser maior.
- Os vários produtos do sistema podem servir de insumos na produção de
outros diminuindo os custos.
- Em relação à monocultura florestal, a introdução de culturas agrícolas,
aumenta a produção florestal e diminui os custos do manejo das árvores
(adubação e capina).
- Os produtos florestais podem ser obtidos na entressafra agrícola ou deixados
como reserva para ocasiões especiais, como a construção de uma casa por
exemplo.
Segundo Couto (1990), em sua forma ideal, os sistemas agroflorestais são mais
estáveis e capazes de manter a sua produtividade por um período mais longo de tempo que os
sistemas de monocultivo. A adoção de sistemas agroflorestais pode promover um fluxo de
30
caixa mais regular e mais estável para os proprietários rurais, principalmente para aqueles que
tem dificuldades de armazenamento e comercialização.
Segundo o autor as copas das árvores funcionam como protetores do solo à radiação
solar direta durante o dia e impede que ele perca energia à noite, diminuindo a amplitude de
variação da temperatura e umidade.
Existem evidências concretas de que o plantio consorciado de diferentes culturas
resulta num fator de segurança, em que a produção de uma delas pode compensar perdas
provocadas na outra por pragas e doenças (Harwood e Ruthemberg citados por Couto, 1990).
Existem várias vantagens relacionadas aos sistemas agroflorestais, e que se aplicam
algumas como mais importantes, outras menos, de acordo com o sistema adotado e o seu
manejo. Uma das vantagens evidentes é a diversificação de produtos, bem como a redução do
uso de insumos de fora do estabelecimento, isto gera um menor impacto das culturas agrícolas
no agroecossistema.
O sistema agroflorestal permite aproveitar áreas declivosas, inapropriadas para a
agricultura e pode possibilitar um fluxo estável na entrada de dinheiro.
No sistema as árvores auxiliam na ciclagem de nutrientes e incorporam matéria
orgânica ao solo, além da proteção à erosão pelas raízes e copas das árvores. A sombra e a
forragem proporcionada pelas árvores favorece o gado e diminui a amplitude térmica. As
árvores oferecem produção e reservas de capital para épocas adversas. O sistema possibilita
diminuir os riscos da monocultura.
3.6.3 Desvantagens dos Sistemas Agroflorestais
Segundo Gliessman (2000), entre os possíveis efeitos negativos se incluem as
interferências alelopáticas11
ou competitivas entre as árvores e outras culturas, favorecendo
doenças e pragas e danos à qualidade da produção pela queda de ramos e frutos. Esses podem
ser evitados ou diminuídos pelo manejo e escolha apropriada das espécies.
De acordo com Altieri e Farrell (2002) a escolha de espécies adequadas pode ser
limitada em solos de baixa fertilidade, embora muitas árvores se desenvolvam nestes solos, o
mesmo não ocorre com as culturas anuais. Existem leis que restringem o corte de algumas
espécies de arvores nativas.
11Alelopáticas: interação de interferência na qual uma planta libera um composto no ambiente que inibe ou
estimula o crescimento ou desenvolvimento de outras plantas.
31
Os possíveis efeitos negativos são a escolha das espécies incompatíveis entre si, ou
seja, as espécies anuais e arbóreas. Fato que pode ser contornado com melhor planejamento e
estudo.
3.6.4 Características das Espécies Florestais Desejáveis para o Sistema
Agroflorestal
Segundo Von Maydell citado por Lima (1993), as espécies florestais com atributos
indicados para o sistema agroflorestal são aquelas que apresentam múltiplas funções, ou seja,
espécies forrageiras, espécies fixadoras de nitrogênio, espécies com sistema radicular
profundo para diminuir a competição com as culturas agrícolas nas camadas mais superficiais,
espécies cuja serapilheira12
seja adequada para a proteção do solo, espécies que apresentem
alta capacidade de rebrota, com alta produção, que forneçam pouca sombra.
Anonymous citado por Lima (1993) descreve a espécie Acacia albida, a qual classifica
como sendo quase perfeita para o sistema agroflorestal. Durante a estação seca do ano, esta
espécie permanece com as folhas, perdendo-as na estação chuvosa. Logo esta espécie é
adequada para o consórcio com cultivos agrícolas e pastagens pois cria sombra na época em
que as culturas mais precisam de proteção e permite plena luminosidade na época em que há
disponibilidade de água no solo para o crescimento das culturas agrícolas. Outra característica
desta espécie é seu sistema radicular bastante profundo, reduzindo a competição por
nutrientes. Suas folhas e frutos são uma forragem de primeira qualidade, o que a torna
adequada para a utilização no sistema silvopastoril.
Cada espécie possui uma determinada área que necessita para realizar as suas
atividades vitais. A característica que deve possuir uma árvore para que seja desejável num
sistema agroflorestal está intimamente relacionado aos aspectos que favorecem o crescimento
e o desenvolvimento das culturas que estiverem consorciadas no sistema. Parece não existir
um modelo pronto, para cada situação é necessário testar os diversos consórcios para concluir
qual dá o melhor resultado.
12 Serapilheira: camada de folhas, raminhos, galhos, etc, misturada com a terra, que cobre o solo da mata.
32
3.6.5 A Floresta e suas Interações com o Meio Ambiente
No solo as árvores funcionam como protetoras, reduzem a velocidade do vento e o
impacto das gotas da chuva sobre a superfície do solo. O sistema radicular estabiliza o solo
em encostas íngremes (Altieri e Farrell, 2002).
As árvores reduzem as oscilações de temperatura, resultando em máximas mais baixas
e mínimas mais altas. A taxa de evaporação é menor e sob as árvores pode-se encontrar uma
maior umidade relativa (Altieri e Farrell, 2002).
De acordo com Seitz (1992), do ponto de vista do balanço energético, uma floresta é
altamente ineficiente quanto ao aproveitamento da energia solar. Do total de energia solar que
chega às copas, apenas 2% é aproveitado na produção de biomassa, perdendo-se a metade
disto nos processos de respiração. A evaporação da água, necessária para resfriar as folhas,
consome 43% da energia que chega, sendo mais 15% refletidos pelas folhas imediatamente
para o espaço. Os 40% restantes são devolvidos à atmosfera sob forma de irradiação de calor
da massa arbórea.
A relação da floresta com as chuvas e o escorrimento superficial da água também tem
sido interpretado erroneamente com freqüência. De fato, um hectare coberto de floresta libera
mais água para a atmosfera através da transpiração que um hectare de superfície de água, um
lago por exemplo. Mas a partir deste fato julgar que as florestas aumentam a precipitação em
dada região, carece de fundamentação científica (SEITZ, 1992).
Em determinadas circunstâncias, por exemplo na neblina, ocorre uma condensação de
água na superfície das folhas, que em excesso goteja no solo. Sob a copa das árvores há
portanto um acúmulo maior de água nestas condições. Mas por outro lado, uma chuva fina
que incide sobre as folhas, primeiramente molha estas, recobrindo-as com uma fina película
de água. O total de água assim retido nas folhas, pode atingir 30 a 40% da chuva que caiu
sobre as copas. Esta água interceptada retorna novamente à atmosfera através da evaporação
(SEITZ, 1992).
Somando-se à maior evaporação de água através da transpiração este efeito de
interceptação, a floresta de fato consome muito mais água que uma vegetação arbustiva ou
campestre. Mas os muitos obstáculos encontrados pela água não interceptada pelas folhas na
floresta, fazem que haja mais oportunidades de infiltração desta no solo. Assim, uma área
florestal reduz o escorrimento superficial da água. Parte desta água vai sendo então liberada
gradativamente, mantendo constante o fluxo de vertentes e nascentes (SEITZ, 1992).
33
Comparando-se uma bacia hidrográfica recoberta de florestas, com uma sem cobertura
vegetal, pode-se afirmar, que na bacia florestada, a produção total de água é menor, porém
com maior constância do que na bacia sem florestas. Outro efeito associado à água na floresta
é a redução da temperatura do ambiente através da evaporação. Após uma chuva, a água que
evapora absorve energia, causando uma sensível redução na temperatura (SEITZ, 1992).
Outra influência bastante significativa das florestas sobre o meio (solo) é exercida
através das raízes das arvores. A maior parte das raízes está concentrada nas camadas
superficiais do solo. Computando-se as raízes finas, aquelas, em cujas extremidades estão os
pêlos absorventes, responsáveis pela absorção de nutrientes, constata-se que de 90 a 95% da
biomassa de raízes se concentra nos primeiros 20 cm de solo. Esta rede de desagregação no
processo erosivo não pode, no entanto, impedir o deslocamento de grandes massas de solo.
Outro efeito das raízes, é uma gradual abertura de canais de aeração e infiltração no solo.
Como as raízes têm vida finita, mais cedo ou mais tarde acabam morrendo. São então
decompostas pelos fungos e bactérias, e o espaço anteriormente ocupado no solo, passa a estar
livre. Assim, naturalmente o solo vai sendo enriquecido com matéria orgânica e é reduzida
sua densidade (SEITZ, 1992).
3.6.6 Alguns Exemplos de Sistemas Agroflorestais
Gurgel Filho (1962) estudou no município de Santa Rita do Passa Quatro em São
Paulo o plantio consorciado de Eucalyptus alba com milho em uma, duas e três linhas de
milho plantadas na entre linha do eucalipto, além da testemunha com eucalipto solteiro. O
espaçamento adotado para o eucalipto foi de 3 metros entre linhas e 1,5 metros dentro da
linha. O tratamento que conjugou favoravelmente os aspectos biológicos e econômicos das
culturas florestal e agrícola foi obtido com o plantio de uma linha de milho plantada no meio
das fileiras de eucalipto, ou seja, distanciado deste a 1,5 metros.
Em Itararé, São Paulo, Schreiner e Balloni (1986) estudaram a rentabilidade do
consórcio de Eucalyptus grandis com feijão no ano de implantação da espécie florestal.
Foram semeadas quatro, cinco e seis linhas de feijão entre as linhas de eucalipto espaçado de
3 por 2 metros, correspondendo à população de 167 mil, 200 mil e 233 mil plantas de feijão
por hectare, respectivamente. Até 35 meses após o plantio, os consórcios, favoreceram
notavelmente o crescimento do eucalipto. A produção de feijão não foi influenciada pelas
densidades de plantio, porém se registrou melhor resultado com o tratamento com cinco
linhas correspondente a densidade populacional de 200 mil plantas por hectare. O feijão deve
34
ser plantado em espaçamento de 0,5 metros com dez plantas por metro linear. No plantio e
condução da cultura agrícola deve ser obedecida a mesma recomendação técnica do seu
plantio solteiro.
Stape e Martini citado por Medrado (2000) estudaram a associação do Eucalyptus
grandis com arroz, obtendo um aumento na produção volumétrica do eucalipto em 5%, aos 52
meses, comparativamente ao plantio solteiro.
Couto (1990) apresenta em seu artigo publicado no 6o Congresso Florestal Brasileiro,
alguns exemplos de sistemas agroflorestais estudados em várias regiões do Brasil por diversos
pesquisadores:
a) Couto em 1982 estudou o plantio de Eucalyptus grandis consorciado com soja
semeada em uma, duas, três, quatro e cinco linhas entre as plantas de eucalipto. O estudo
realizado em Bom Despacho, Minas Gerais, demonstrou que não houve prejuízo para o
crescimento da espécie florestal nem para a produção de soja, havendo, ainda, uma redução
do custo de manutenção da plantação florestal.
b) Moniz em 1987 estudou o plantio consorciado de Eucalyptus torelliana com milho
na região de Belo Oriente, Minas Gerais. Foram testados diferentes números de fileiras de
milho semeado entre as plantas de eucalipto, observando-se ser vantajoso o plantio de duas
fileiras de milho, as quais, além de não prejudicarem o crescimento do eucalipto, promoveram
uma redução de custos.
c) Couto et al. em 1988 introduziram bovinos já em idade de corte em uma área de
Eucalyptus urophylla em Dionísio, Minas Gerais. Os resultados indicaram que a introdução
do gado no eucalipto não promoveu compactação do solo, diminuiu os custos de exploração
florestal e reduziu o número de formigueiros.
d) O comportamento inicial de Eucalyptus citriodora submetido ao pastejo com
bovinos e ovinos, foi estudado por Almeida no Vale do Rio Doce em Minas Gerais no ano de
1990. Não houve efeitos negativos dos animais no desenvolvimento do eucalipto, ocorrendo
uma redução de custos de manutenção da floresta.
e) Santos estudou o comportamento de Eucalyptus cloeziana consorciado com
forrageiras na região do Cerrado em Montes Claros, Minas Gerais no ano de 1990. A
consorciação do eucalipto com o calopogônio e guandu favoreceu o desenvolvimento da
espécie florestal em termos de crescimento em altura e diâmetro.
f) Schreiner em 1983 estabeleceu um experimento de consorciação de Pinus taeda
com milho, em Ponta Grossa, Paraná, concluindo que a população de 50.000 plantas por
hectare, em consorciação com o Pinus taeda, foi o tratamento que apresentou os melhores
35
resultados. No mesmo ano na cidade de Imbituva no Paraná, também estudou a introdução de
bovinos em pastagens naturais em povoamentos de Pinus elliottii com três anos de idade,
revelando ser um sistema vantajoso.
g) Graça e Mendes em 1987 avaliaram economicamente três sistemas de
reflorestamento na região metropolitana de Curitiba, Paraná, consistindo de bracatinga
solteira; consorciada com milho e consorciada com milho e feijão, concluindo ser a bracatinga
consorciada com milho mais feijão o sistema mais rentável economicamente.
No Rio Grande do Sul, inúmeros consórcios têm sido relatados da acácia negra com
cultivos agrícolas no primeiro ano de plantio, principalmente na pequena propriedade, como
milho, mandioca, melancia e fumo, dependendo da região (Grigoletti et al., 2004).
Em áreas de maior declividade, pouco recomendável para o uso com cultivos
agrícolas, plantios de acácia negra tem sido usada em rotações com cultivos de batata,
principalmente. A acácia-negra se beneficia da adubação usada nos cultivos agrícolas e pode
atingir desenvolvimento esperado no sétimo ano em prazos menores, reduzindo o ciclo
(Grigoletti et al., 2004).
O consórcio com milho, mandioca e fumo é mais comum em áreas de revegetação
pelo fogo, em que o plantio da cultura agrícola é efetuado imediatamente após o fogo,
normalmente nos meses de agosto e setembro. No consórcio com melancia, também a acácia-
negra é plantada por mudas na mesma época do plantio da melancia. Em ambos os
consórcios, ele é efetuado apenas no primeiro ano. É comum também a ocupação das áreas de
plantio em larga escala com gado, no terceiro ano após o plantio da acácia-negra, para
aproveitamento principalmente das áreas ao longo das estradas e aceiros (Grigoletti et al.,
2004).
A acacicultura (cultivo da acácia negra) apresenta uma série de vantagens sócio-
econômicas. Atividade ligada principalmente aos pequenos e médios produtores, cuja mão-
de-obra é quase que exclusivamente familiar, o plantio da acácia negra beneficia hoje mais de
40 mil famílias na região sul do Brasil, que além de aproveitarem a casca e a madeira, podem,
no primeiro ano, plantar outras culturas e, a partir do segundo ano de implantação da floresta,
utilizar a área para pastoreio (SETA, 2004).
Por ser da família das leguminosas, essa árvore contribui para a fertilização do solo
(formando matéria orgânica e pela fixação de nitrogênio atmosférico), possui reduzido risco
de incêndio (pelo rápido processo de decomposição dos resíduos e não formação de manta), e
ainda permite a coexistência de outras espécies vegetais gramíneas, herbáceas e arbustivas,
favorecendo o estabelecimento de espécies da fauna silvestre, bem como a sobrevivência de
36
uma rica micro fauna. Com o crescimento das gramíneas no interior da floresta, torna-se
viável também o pastoreio de bovinos e ovinos. Os animais apreciam estes locais, em virtude
da diferença de aproximadamente 5° C em relação à temperatura ambiente. O clima torna-se
mais quente durante o inverno, e ameno na época de verão (SETA, 2004).
A baixa produtividade da pecuária na região noroeste do estado do Paraná, onde
ocorre um solo arenito, levou alguns pecuaristas, a buscarem o sistema silvipastoril através da
arborização dos pastos com grevílea (Grevillea robusta), plantada em renques, em
espaçamentos variados. Esta associação tem demonstrado benefícios quanto à melhoria do
microclima, do solo, do desempenho dos animais e da rentabilidade do sistema. Com a
utilização de espécies adequadas, a arborização das pastagens pode aumentar a produção e
qualidade das forragens e melhorar o desempenho dos animais em ganho de peso, lactação,
sanidade e procriação. Isto se deve à melhoria do microclima para animais e plantas
forrageiras, além da ciclagem de nutrientes pelas árvores (Baggio, 1998).
Castilhos et al. (2002) avaliaram o consórcio de um sistema silvipastoril com
gramíneas forrageiras perenes de estação quente em diferentes densidades arbóreas de acácia
negra com regimes de manejo com desbastes e de corte raso. As forrageiras testadas foram o
Panicum maximum, Brachiaria brizantha e Digitaria diversinervis. A pesquisa foi
desenvolvida na unidade da Fepagro em Tupaciretã em parceria com a empresa SETA S/A,
desde 1995.
Os resultados obtidos pelos pesquisadores, mostraram um ganho médio diário de peso
de 0,6 quilogramas por animal durante o inverno, época em que os animais perdem peso
quando em pastagem natural. Durante o verão, os animais apresentaram melhor desempenho
em pastagens com menor densidade arbórea, ou seja 1000 árvores por hectare no espaçamento
de 2x5 metros. A produção animal de 277kg de peso vivo por hectare, obtida em 160 dias de
pastejo, com Panicum maximum cv. Gatton, na densidade de 1000 árvores por hectare,
demonstra o potencial deste sistema. Outro dado constatado pelos pesquisadores foi a
produção de um volume de madeira de 154,2 m3/ha obtido aos seis anos de idade na
densidade de 1667 plantas por hectare o que é semelhante a um bosque comercial com sete
anos. A atividade florestal não apresenta retorno financeiro a curto prazo, deste modo, o
sistema silvipastoril pode ser uma alternativa de renda antecipada.
Existem portanto, vários exemplos de consórcios dos mais diferentes tipos em diversas
regiões. O importante é saber adaptar qual o sistema que apropria-se melhor para cada local,
através do planejamento e estudo adequado, procurando adequar o espaçamento e as espécies
até se obter resultados satisfatórios. Sabe-se que cada espécie necessita de uma determinada
37
área para estabelecer e processar o seu ciclo vital que se traduz na produção. No sistema deve-
se saber esta área para poder ordenar os espaçamentos e obter bons resultados.
Também é importante, que o produtor rural não perca de vista qual é o seu principal
objetivo, ou qual é o seu produto de maior importância. É oportuno que o produtor saiba com
clareza se as árvores plantadas terão função principal de proteção das culturas agrícolas e
pastagens ou também se elas terão funções produtivas de madeira para o mercado. Estas
informações são necessárias para que o produtor faça a opção pelo tipo de manejo mais
adequado ao sistema.
Afinal, verifica-se que os sistemas agroflorestais são aplicáveis, possuem vantagens
ambientais e econômicas, estão enquadrados tecnicamente como mais sustentáveis ao
agroecossistema do que os monocultivos, além dos benefícios que podem gerar.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 O Município de Hulha Negra
O município de Hulha Negra se encontra na Região da Campanha gaúcha, localizada
no sudoeste do Rio Grande do Sul (Gonçalves et al., 1988).
Historicamente ocupada pelas estâncias de criação extensiva de gado originadas das
doações de sesmarias à militares e pessoas de prestígio em troca da proteção da fronteira.
Como resultado desse processo de ocupação e desenvolvimento econômico, a Campanha
caracteriza-se até hoje pela concentração de renda e propriedade e também pela formação de
um pequeno número de aglomerados urbanos (Emater/RS, 2001).
A origem da população regional é composta por índios, portugueses, espanhóis e
africanos, que foram se miscigenando. Também vieram outros povos como gregos, ingleses e
belgas com intuito de explorar ouro (Emater/RS, 2001).
Pelo censo realizado no ano de 2000, o município tinha 5359 habitantes, sendo que
2416 pessoas habitavam a zona urbana e 2943 a zona rural, ou seja, aproximadamente 55%.
Em 2004 a população estimada para o município foi de 4330 habitantes, portanto, havendo
uma redução de 19,2% (IBGE, 2004).
O relevo da região vai desde o plano, propício ao cultivo de arroz irrigado, passando
por suave ondulado e ondulado, com solos de fertilidade considerada boa mas com limitações
físicas e do ponto de vista conservacionista (Emater/RS, 2001).
O setor industrial da região caracteriza-se por possuir pouca expressão e estar
decrescendo na participação do PIB industrial do Rio Grande do Sul (Emater/RS, 2001).
Em 2002 a Emater/RS realizou no município, em parceria com 16 entidades, um
trabalho denominado Leitura de Paisagem onde se obteve como documento um mapa do
39
município dividido em seis regiões distintas baseado nas características sociais, ambientais e
econômicas.
Figura 1 – Mapa do município de Hulha Negra em regiões
Fonte: Emater/RS – Hulha Negra
40
Uma grande parte da área está composta por assentamentos que se localizam na
metade sul do município, com apenas um assentamento localizado na metade norte. As
famílias que compõem os assentamentos são em sua maioria oriundas do norte do estado do
Rio Grande do Sul e possuem como característica o fato de terem passado um período no
acampamento, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
antes de irem para o assentamento. Os assentamentos estão localizados nas regiões 2 e 5 do
mapa, sendo que na região 2 se localizam os assentamentos mais novos, formados entre 2000
e 2002, e na região 5 os assentamentos mais antigos formados entre 1989 e 1991.
As propriedades predominantemente de pequeno porte chamadas de agricultura
familiar, que se caracterizam no mapa pelas regiões 3 e 6, se localizam no entorno da sede do
município em sua maior parte, havendo também áreas mescladas em meio aos assentamentos.
Nessas propriedades do entorno da cidade se caracterizam pela presença da etnia alemã e
nesta região uma área com problemas de degradação ambiental com a presença de locais sem
a camada fértil de solo e empobrecidos pela erosão e mal manejo.
As áreas de pecuária familiar, que representam a região 4, estão localizadas nos
extremos, uma no extremo norte do município e outra ao sul. Nestas áreas predomina o
homem campeiro que mora na propriedade, fato este que freqüentemente não ocorre com os
proprietários das áreas de pecuária de maior porte. O pecuarista familiar é um agricultor
familiar que se dedica à pecuária de corte, embora tenham as características da agricultura
familiar.
As propriedades de maior porte estão localizadas predominantemente no norte, com
áreas também no centro e no sul do município. Nestas áreas incide a criação de gado de corte
e de ovelhas e onde o relevo permite as lavouras de arroz irrigado. Corresponde a região 1 do
mapa.
Nas pequenas propriedades, tanto da chamada agricultura familiar como nos
assentamentos a principal atividade é a bovinocultura leiteira com presença de pastagens
cultivadas e do pastejo do campo nativo. Conforme aumenta a complexidade do sistema de
produção na busca da alimentação das vacas aparece o preparo de silagem e o uso de ração.
Nestas mesmas áreas em algumas propriedades ocorre o plantio de hortaliças para a produção
de sementes, normalmente associados a uma empresa beneficiadora. Também aparece o
plantio de hortaliças, tomate e cebola para a venda ao frigorífico Pampeano. Nestas
propriedades ocorre também o plantio de milho e sorgo, vinculados à alimentação animal ou
comercializados como grão.
41
Recentemente as áreas ao norte do município onde predomina o solo arenoso estão
sendo utilizadas para o plantio de soja e da fruticultura.
O ecossistema local característico é o campo, havendo na parte sul do município a
presença de matas nativas ciliares praticamente restritas ao longo de arroios e rios. Ao norte
do município as matas nativas também ocorrem associados aos campos limpos. Desta forma
há a necessidade de energia, madeira e quebra vento nas propriedades rurais.
4.1.1 Solo
Existem vários tipos de campos naturais no município, como campos limpos, ou
associados à mata sub arbustiva e que geralmente parecem estar relacionados com os
diferentes tipos de solos que ocorrem (Gonçalves et al., 1988).
A identificação dos solos do município de Hulha Negra, segundo os conceitos
adotados pela divisão de pesquisa Pedológica13
do Ministério da Agricultura no
“Levantamento de Reconhecimento dos Solos do estado do Rio Grande do Sul” são
apresentados na quadro 1 (Gonçalves et al., 1988; Rio Grande do Sul, 2001).
NOME
REGIONAL
CLASSIFICAÇÃO
Solos com horizonte B textural e argila de atividade alta (hidromórficos)
Hulha Negra Brunizem vértico e não vértico, relevo ondulado, substrato siltito.
Ponche Verde Brunizem hidromórfico vértico, textura argilosa, relevo suavemente
ondulado, substrato siltito.
Planossolo Planosol eutrófico, relevo plano, substrato sedimentos aluvionais recentes.
Solos pouco desenvolvidos e argila de atividade alta (não hidromórfico)
Aceguá Vertisolo, relevo ondulado, substrato argilito-siltito.
Solos com horizonte B textural e argila de atividade alta (não hidromórficos)
Bexigoso Brunizem raso, textura argilosa, relevo ondulado, substrato granito.
Seival Brunizem raso, textura argilosa, relevo ondulado, substrato andesito.
Solos com horizonte B textural e argila de atividade baixa (não hidromórficos)
Santa Tecla Laterítico bruno-avermelhado, textura argilosa, substrato arenito.
Quadro 1 – Nomes regionais, classificação e características dos solos do município de Hulha Negra.
Fonte: Embrapa Pecuária Sul - Bagé e Gabinete de Reforma Agrária e Cooperativismo (GRAC).
13 Pedológica: sinônimo de edafológica que é a ciência que estuda os solos.
42
Os solos argilosos de maior fertilidade são: Planossolo, Bexigoso, Hulha Negra,
Aceguá e Ponche Verde. Os solos de textura intermediária ou leve e de menor fertilidade são
Bexigoso e Santa Tecla.
4.1.2 Relevo
O relevo do município apresenta uma inclinação no sentido Norte-Sul. Caracteriza-se
por duas situações distintas, sendo parte localizada ao norte marcada por uma topografia
ondulada com a presença de cerros e formações rochosas, predominando o solo bexigoso
(substrato granito) e Santa Tecla; ao sul a presença de uma topografia mais plana com
ausência de rochas, solos hidromórficos, ponche verde e aceguá (substrato siltito). Altitude
mínima de 116m e máxima de 184m acima do nível do mar (Gonçalves et al., 1988; Rio
Grande do Sul, 2001).
A maior parte das áreas trabalhadas no programa de florestamento aonde também foi
adotado o sistema agroflorestal estão localizadas ao sul do município onde predomina uma
topografia suavemente ondulada e solo argiloso. Este tipo de solo é extremamente difícil de
ser trabalhado com máquinas agrícolas, pelas limitações físicas que possui, se tornando
bastante pegajoso quando úmido e muito duro quando seco, inclusive com extensas
rachaduras abertas no solo em períodos de estiagem.
4.1.3 Declividade
A declividade varia de 3 a 8%, chegando em alguns casos a 15%. Existem regiões
tipicamente planas, próximas à fronteira com o Uruguai, regiões tipicamente com coxilhas14
,
compreendendo matas ciliares nos rios e arroios e regiões de ocorrência de campos com
coxilhas moderadas. Em algumas regiões aparecem afloramentos de rocha em meio ao
campo nativo (Rio Grande do Sul, 2001).
As áreas em que aparecem o plantio dos bosques de árvores, predominantemente
foram áreas que haviam sido plantadas anteriormente com culturas agrícolas, principalmente
com milho, e apresentam uma declividade variável de 5 a 10%.
14Coxilhas: campina com pequenos e contínuas elevações, espécie de colina geralmente coberta de pastagem.
43
4.1.4 Clima
Segundo a classificação de Köppen, o clima predominante é do tipo subtropical
(mesotérmico), da classe Cfa, com chuvas regularmente distribuídas ao longo do ano e
deficiência hídrica periódica nos meses de dezembro e janeiro com uma precipitação média
anual de aproximadamente 1.300mm (Gonçalves et al., 1988).
Conforme balanço hídrico da região, no período de aproximadamente 20 de outubro
até 15 de março ocorre um déficit hídrico, pois a evapotranspiração é superior a precipitação
pluvial neste período (Rio Grande do Sul, 2001).
A temperatura média anual está em torno de 16,6° C. A média mais quente ocorre no
mês de janeiro e é de 24 ºC e a do mês mais frio ocorre em junho e é de 12,5 ºC. As
temperaturas extremas são – 4°C no mês mais frio e 41°C no mês mais quente. As geadas
ocorrem nos meses de junho a agosto com maior freqüência, podendo ocorrer geadas tardias
até novembro e, também, ocorrerem geadas em casos excepcionais em abril. A umidade
relativa do ar oscila entre 75 e 85 % (Gonçalves et al., 1988).
Dados Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Temp.
Med. (°C) 24.8 24.2 22.1 18.6 15.8 13.1 13.3 13.9 15.9 18.5 20.8 23.5
U. R. (%) 67 70 73 76 79 80 80 77 75 72 68 64
Prec.
(mm) 107.5 129.9 86.1 97.3 81.9 118.7 135.9 111.6 132.1 130.6 91.8 90.4
Quadro 2 - Dados de temperatura média, umidade relativa do ar e precipitação
pluviométrica do período de 1956-1984.
Fonte: Fepagro Campanha – Hulha Negra
Os ventos predominantes de setembro a abril são do Sudeste e de maio a agosto do
Nordeste (Emater/RS, 2001).
4.1.5 Localização e Coordenadas Geográficas
O município de Hulha Negra localiza-se na Região da Campanha do Rio Grande do
Sul, ocupa uma área de 835 Km2 e está situada entre os paralelos 31°15’ e 31°50’ de latitude
44
Sul e entre os meridianos 51°08’ e 53°45’ a oeste de Greenwich, sendo que o município
caracteriza-se pela sua maior extensão no sentido de norte a sul (Emater/RS, 2001).
4.1.6 Vegetação Original
A vegetação campestre é predominante no município, havendo a presença de matas de
galerias ao longo dos cursos de água. As gramíneas superam as outras famílias, tanto em
número, como em área de solo coberta por suas espécies. A maioria das forrageiras existentes
é gramínea de ciclo estival, primavera e verão, sendo que 40% da cobertura vegetal é formada
pela grama forquilha (Paspalum notatum) e pela grama tapete (Axonopus affinis). Outra
gramínea comum é o Pennisetum clandestinum. Na fração arbustiva ocorre a Baccharis spp,
Eupatorium spp. e a Aster sp. No estrato florestal ocorre branquilho – Sebastiania
commersoniana, guabiju - Myrcianthes pungens, pitangueira – Eugenia uniflora, coronilha –
Scutia buxifolia, molho – Schinus polygamus, aroeira piriquita – Schinus molle, sombra de
touro – Acathosyris spinenses, entre outras (Rio Grande do Sul, 2001; Gonçalves et al., 1988).
4.1.7 Fauna Nativa
Pelo levantamento efetuado pelo Gabinete de Reforma Agrária do Estado nos
assentamentos, as principais espécies da avifauna são: a perdiz, corvo, quero quero, cardeal,
canário-da-terra, dragão, joão de barro, anu branco, jacu e caturrita. Referente a mamíferos, a
equipe confirmou a presença de capivara, mão-pelada, graxains, zorrilho, tatu e preá. Entre os
répteis aparece a cruzeira e o lagarto (Rio Grande do Sul, 2001).
4.1.8 Hidrografia
O município é o berço da nascente de três rios: Negro, Jaguarão e Candiota. É cortado
pelo Rio Negro, cuja nascente está no próprio município, pelo Arroio dos Vimes que deságua
no Rio Jaguarão e Arroio Quebracho que deságua no Rio Negro. Ao norte é banhado pelos
Arroios do Banhado Grande e Arroio do Tigre (Emater/RS, 2001; Rio Grande do Sul, 2001).
45
4.1.9 Dados Econômicos
A economia do município baseia-se na agropecuária, destacando-se as culturas do
arroz irrigado, sorgo, milho, produção de sementes de hortaliças, pecuária de corte e leite. A
indústria de maior expressão econômica para o município é o Frigorífico Pampeano,
representado a maior parte da arrecadação municipal, exportando carne enlatada. A
COPCARNES é um matadouro de bovinos. Abate animais dos cooperados de Hulha Negra e
Candiota e de outros produtores não cooperados. Tem-se ainda a Monego, uma indústria
mineradora de calcário, com produção média de 80.000 t/ano (Emater/RS, 2001).
Segundo dados da Prefeitura Municipal de Hulha Negra (2002), a participação de cada
setor na arrecadação de ICMS do município é distribuído conforme o quadro abaixo.
Setor Participação
Industria, comércio e serviços 52,09%
Produção primária 41,44%
Transporte e comunicação 6,12%
Outras origens 0,35%
Quadro 3 – Participação de cada setor no ICMS do município
Fonte: Secretaria de Administração e Finanças – Prefeitura Municipal de Hulha Negra.
4.1.10 Distribuição Fundiária do município e principais produtos agropecuários
Segundo dados da Prefeitura Municipal de Hulha Negra do ano de 2004, existem 1634
propriedades rurais no município distribuídas em 83.532ha. A distribuição fundiária é
apresentada no quadro 4.
Área (ha) Propriedades % do município Área Ocupada % do
município
Menor que 25 1282 78,45 24.101,47 28,85
25 – 100 250 15,29 12.478,79 14,93
100 – 500 88 5,38 19617,38 23,48
Mais que 500 14 0,85 15775,42 18,88
Quadro 4 – Número de propriedades por classe de área, área ocupada e percentuais do município.
Fonte: Secretaria de Administração e Finanças – Prefeitura Municipal de Hulha Negra.
46
Os produtos agropecuários com maior participação na arrecadação em 2002, foram
bovinos e bufalinos com 59,70%, arroz com 12,40%, leite com 12,21%, ovinos com 2,65% e
lenha com 2,20% (Prefeitura Municipal de Hulha Negra, 2004).
Conforme pode-se observar no quadro acima, 28,85% das propriedades rurais são
menores que 25ha. Fazendo um confronto com o mapa das regiões de Hulha Negra, é possível
constatar que a maior parte delas encontra-se nas regiões 2 e 5, onde encontram-se os
assentamentos e uma menor parte na região 3 de agricultura familiar.
Nas áreas entre 25 e 100ha predomina agricultura familiar e pecuária familiar e entre
100 e 500ha além da pecuária familiar também aparece a pecuária tradicional extensiva.
As propriedades com mais de 500ha predominam na região 1 do mapa de Hulha Negra
e é onde se concentram as fazendas de criação de gado de corte.
O trabalho desenvolvido sobre os sistemas agroflorestais em Hulha Negra se
concentrou nas regiões 2, 3 e 5 do mapa.
4.2 Histórico de hulha negra
Segundo Kloppenburg (1974), antes da emancipação a condição de município, Hulha
Negra era o 2º Distrito de Bagé. A condição de distrito foi criada em 1897 com o nome de Rio
Negro. Em virtude da abundância do carvão de pedra nesta região e com as escavações de
hulha, que era muito negra, logo após a primeira grande guerra, um decreto lei de 1944
denominou o distrito de Hulha Negra. Há também outro motivo para esta mudança de nome,
que era evitar repetir o nome do município de Rio Negro do estado do Paraná. Em 1964
houve um movimento para emancipação dos distritos de Hulha Negra, Seival e Tupy Silveira,
que não obteve sucesso pois dois terços da arrecadação do município de Bagé estavam
concentrados nestes distritos.
Em 1992 ocorre outro processo de emancipação desta vez obtendo sucesso sendo o
primeiro Prefeito Municipal Marco Antonio Ballejo Canto.
Atualmente a maior parte da área do município está composta por projetos de
assentamentos, pela agricultura familiar e pecuária familiar, limitando-se as áreas de pecuária
de maior porte ao norte do município.
As pequenas propriedades rurais necessitam de madeira tanto para construções rurais,
como cercas, galpões, chiqueiros, etc, como também para lenha para a produção de energia, o
que muitas vezes se torna limitado por haver carência de árvores nas propriedades, já que a
47
mata nativa não é comum nesta região, ocorrendo normalmente ao longo de arroios e rios.
Além disso, as árvores podem servir de quebra vento e abrigo para os animais.
Assim, este trabalho procura trazer uma opção para estes agricultores e assentados
através do sistema agroflorestal, que além da diversificação de produtos, propicia obter
produtos que podem satisfazer esta necessidade.
4.2.1 A Formação e a Origem da Agricultura Familiar da Hulha Negra
4.2.1.1 Primeira Onda Migratória
Segundo Kloppenburg (1974) em 1925, vieram de Pelotas os primeiros colonizadores
alemães para se estabelecerem onde hoje é a Trigolândia. Há informações de que,
anteriormente, outros grupos de pequenos agricultores de Pelotas haviam migrado para Hulha
Negra, a maioria de origem francesa e das Ilhas Canárias, mas que não se consolidaram
enquanto etnia, religião ou mesmo enquanto organização econômica, como aqueles que deram
origem a Colônia Rio Negro, hoje conhecida por Trigolândia. O objetivo dos colonos alemães
era plantar trigo, sendo que primeiramente veio um grupo de treze famílias. Com o êxito
destes pioneiros e com a chegada de novos imigrantes da Alemanha após a Grande Guerra, a
nova colônia começou a aumentar a sua população. Entre 1929 e 1932 vieram novas famílias.
Inicialmente chamada de Colônia Rio Negro, em 1957, passou a denominar-se Trigolândia, já
que o trigo era a cultura básica da colônia. Esta comunidade foi o berço da cultura do trigo
mecanizado em larga escala. Pelo êxito da triticultura, em 1929, foi criada a Estação
Experimental Fitotécnica da Fronteira, a qual muito contribuiu na criação de variedades que
vieram melhorar a produtividade do trigo. Em 1931 e 1932 diminui um pouco o ímpeto pelo
trigo com o surgimento da cultura da linhaça. Em meados da década de 40 era tão grande a
produção que surgiu uma fábrica de óleo de linhaça, a qual pela concorrência pelotense
fechou no início da década de 50. A Cooperativa Agrícola Assis Brasil Ltda foi fundada em
1946 com 36 sócios, sendo que mais tarde passou para Tritícola. O objetivo da criação da
cooperativa, que veio a falir na década de 1970, era auxiliar na comercialização da produção
de trigo e tornar mais razoável a aquisição dos insumos necessários à agricultura. Entre os
motivos citados para o declínio da atividade tritícola está a falta de pesquisa, falta de união
entre os colonos (principalmente por motivos religiosos), incidência de azevém como
invasora, competindo com a cultura do trigo e a alta porcentagem cobrada pelos proprietários
das terras no arrendamento (25 a 30%). Por este percentual cobrado e a necessidade de pagar
48
o financiamento aos bancos, os produtores dificilmente usavam fertilizante nas lavouras
contribuindo para uma menor produtividade.
Este fato fez com que esta região tenha sido intensamente cultivada com trigo pelos
colonizadores alemães, onde grandes produções foram colhidas e grandes prejuízos ao solo
foram realizados por manejo inadequado do maquinário agrícola, da falta de práticas de
conservação do solo e de reposição de nutrientes ao solo pela adubação, tendo reflexos nas
atuais gerações, que dispõem de um solo pobre em fertilidade, em processo de erosão
contínua e com áreas perdidas, onde a camada fértil não existe mais e o agricultor está
descapitalizado para promover a sua recuperação.
Hulha Negra já foi a capital nacional do trigo, hoje é um dos maiores produtores de
sementes de hortaliças e possui uma bacia leiteira com alto pólo genético, principalmente da
raça holandesa.
4.2.1.2 Segunda Onda Migratória
Conforme a Revista Comemorativa da Colônia Salvador Jardim (1989), em 1963, o
então Presidente João Goulart, solicitou aos fazendeiros que cedessem 10% de suas terras
para a reforma agrária. O fazendeiro Nestor de Moura Jardim colocou a disposição 871ha, que
foram divididos em 23 lotes, vendidos pela quarta parte de seu preço com financiamento a
longo prazo pelo Banco do Brasil. A colônia passou a se chamar Colônia Salvador Jardim e as
23 famílias beneficiadas eram todas da Trigolândia. A área que foi disponibilizada para a
reforma agrária e formação da colônia fazia parte da Fazenda Coxilha Negra, sendo que o
restante da área continuou como fazenda até 1978, quando foi vendida para a implantação da
Colônia Nova Esperança. Inicialmente as atividades agrícolas eram o cultivo de trigo, milho e
feijão e posteriormente passou para a bovinocultura de leite, sendo em 1974 o ano a começar
a coleta de leite pela Cooperativa Agrícola Mista Aceguá Ltda (Camal). Mais tarde começou
o plantio de sorgo e arroz com bons resultados.
4.2.1.3 Terceira Onda Migratória
A Colônia Nova Esperança se formou em 1978 através da aquisição da Fazenda
Coxilha Negra de 2500ha, onde 120 famílias foram assentadas numa área adquirida pelo
Governo do Estado. Em decorrência de um conflito pela posse da terra entre posseiros e
49
índios, na reserva de Nonoai, no norte do Estado, as 120 famílias são incorporadas pelo
projeto da Cooperativa Agrícola Mista Aceguá Ltda (pertencentes aos alemães-russos
assentados na Colônia Nova, no município de Bagé) de aumentar a sua produção de leite. A
maior parte das famílias são originárias de Nonoai e uma menor parte, cerca de 20 famílias da
própria região. Inicialmente plantaram milho, soja, sorgo e feijão. A partir do momento em
que receberam as vacas de leite através do governo do estado, inicia a produção leiteira
(Emater/RS, 2003).
4.2.1.4. Quarta Onda Migratória
O município de Hulha Negra possui o maior número de famílias assentadas do estado
do Rio Grande do Sul. São aproximadamente 885 famílias que receberam lotes de terra em
planos de reforma agrária dos governos estadual e federal desde o ano de 1989 até 2002.
Algumas fazendas, onde predominava a criação de gado de corte extensiva, utilizando como
base o campo nativo característico do pampa gaúcho para alimentação do gado e mais
recentemente o plantio de arroz irrigado nas várzeas, foram divididas em pequenas
propriedades rurais com área média de 23ha constituindo novos núcleos de agricultura
familiar. Em 1989 começam a chegar os primeiros agricultores organizados em torno do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST). Entre 1989 e 1991, sob a forma de
compra de terras por parte do Governo do Estado com o Fundo de Terras (FUNTERRA),
passam a se constituir os assentamentos descritos no quadro abaixo, sendo que o
assentamento Jaguarão possui 116 famílias, porém somente 34 estão inseridas dentro do
município de Hulha Negra:
Assentamentos Número de Beneficiários Ano de Implantação
Boa Amizade 28 1989
Conquista da Fronteira 91 1989
Conquista do Arvoredo 16 1989
Jaguarão 34 1997
Missões Alto Uruguai 10 1990
Nasce uma Esperança 12 1990
Nova União I 28 1989
Nova União II 7 1989
Santa Elmira 54 1989
Santo Antônio 24 1991
Total 304
Quadro 5 – Projetos de Assentamentos criados entre 1989 e 1990 em Hulha Negra
Fonte: Emater/RS – Hulha Negra e Gabinete de Reforma Agrária e Cooperativismo (GRAC).
50
Do total, cerca de 581 famílias foram assentadas do ano de 2000 a 2002 e estão em
fase de adaptação a região e de implantação da infra-estrutura do lote, como a construção de
cercas, galpões e moradias. Estes assentamentos estão descritos no quadro abaixo.
Assentamentos Número de
Beneficiários
Ano de
Implantação
Abrindo Fronteiras 64 2000
Banhado Grande 26 2001
Bela Vista 5 2001
Chê Guevara 48 2000
Capivara 118 2001
Conquista do Futuro 33 2000
Estância Velha 30 2001
Meia Água 68 2001
Nova Geração 10 2000
Nova Querência 55 2000
Palmeiras 26 2001
Potiguara 6 2001
Sepé Tiarajú 45 2002
Sete Povos 7 2001
Tapete Verde 26 2001
Unidos Venceremos 14 2000
Total 581
Quadro 6 – Projetos de Assentamentos criados entre 2000 e 2002 em Hulha Negra
Fonte: Emater/RS – Hulha Negra, GRAC e Incra.
A maior parte das famílias provém de municípios localizados no Norte do estado do
Rio Grande do Sul, onde o clima, solo, vegetação, sistemas de produção, infra-estrutura rural,
estrutura fundiária, número e distância entre municípios são bem diferenciados da região da
Campanha. Fato este, que leva um grande número de famílias a desistirem do lote e
retornarem a sua região de origem. As famílias assentadas estão trabalhando em sua maior
parte com gado leiteiro como alternativa de renda, plantando milho para a alimentação de
galinhas, porcos e vacas de leite e o plantio de feijão, arroz, abóbora, batata para a
alimentação familiar. Este contexto, reforça a necessidade de alternativa, especialmente do
florestamento em uma parte do lote, visto que neste ecossistema há matas nativas muito
escassas e a real necessidade de madeira, seja como lenha, para construções rurais como
cercas, galpões e pocilgas. Por ser esse pampa uma região de ventos fortes e frios o plantio de
bosques de árvores em lugares estratégicos cumpre a função de quebra-vento para pomares,
hortas e construções rurais e servindo de abrigo aos animais tanto no rigor do inverno como
no do verão.
51
A mão-de-obra familiar é a base da sustentação dos assentados, pois estes se
caracterizam pela diversificação da produção em seus lotes. A cultura do milho é obrigatória,
pois é a base da alimentação das vacas de leite, dos porcos e aves, que ora são
comercializados, ora é o sustento alimentar da família. Dentro desta realidade, a mulher
cumpre uma tarefa muito importante na propriedade rural, cabendo a ela normalmente a
ordenha das vacas, o cuidado com a horta e quintal de frutas e o serviço doméstico,
contribuindo com o seu trabalho na lavoura nas épocas de maior demanda por mão-de-obra,
como no plantio, na capina e na colheita.
Outro fato de destaque, recentemente no público assentado é a presença de
trabalhadores vindos do meio urbano, alguns destes com alguma ligação a terra pelos pais e
outros sem qualquer vínculo procurando na reforma agrária um meio de inclusão social.
4.3 Agricultura familiar e o florestamento em Hulha Negra
Na Busca do Desenvolvimento Rural Sustentável no município de Hulha Negra, foi
criado o Programa Municipal de Florestamento, para estimular a implantação de sistemas
agroflorestais nas pequenas propriedades da agricultura familiar e dos assentamentos, que
visam proporcionar uma atividade agropecuária que indique melhor qualidade ambiental,
propicie renda, desenvolvimento social e sustentabilidade.
4.3.1 Objetivos do Projeto
Possibilitar aos agricultores familiares o florestamento para fins comerciais e de uso na
propriedade associando, quando possível, com culturas agrícolas no primeiro ano e com
pecuária a partir do segundo ano.
4.3.2 Condições do Projeto
Para atingir o objetivo a Emater/RS-Ascar elaborou um projeto de florestamento para
o município de Hulha Negra que foi apresentado ao Prefeito Municipal, ao Conselho
Municipal de Desenvolvimento Rural (COMDER) e a Câmara de Vereadores. Após ser
discutido e sofrer alterações e ajustes foi aprovado na Câmara de Vereadores sob a forma da
lei nº 686/2003.
52
De maio a julho de 2003 foi divulgado nos meios de comunicação e foram abertas as
inscrições aos interessados. Depois de terminadas as inscrições, foi realizada a seleção dos
agricultores de acordo com os critérios propostos no projeto juntamente com o COMDER.
Em julho a Emater/RS-Ascar organizou um seminário sobre florestamento com a participação
de 62 pessoas para o qual os inscritos foram convocados.
A Emater elaborou e executou o projeto para cada agricultor. Foram trabalhadas nove
localidades do município, formando-se doze grupos de agricultores. Os técnicos da equipe
municipal realizaram reuniões com cada grupo para explicar sobre o funcionamento do
programa e para passar orientações técnicas sobre o florestamento, controle de formigas,
espaçamento, época de plantio, preparo do solo, local do plantio, espaçamento, sistema
agrossilvopastoril, etc. Nestas reuniões foi distribuído a cada agricultor um folder sobre
florestamento elaborado pelo Escritório Municipal contendo orientações técnicas.
Primeiramente no mês de agosto foi distribuída a isca formicida a todos os agricultores para o
controle das formigas na área de plantio. Posteriormente, no mês de setembro, foram
entregues as mudas para o efetivo plantio e a partir de outubro foi entregue o fertilizante
somente aos agricultores que efetivamente plantaram as mudas e atingiram um índice de 70%
de sobrevivência.
4.3.2.1 Produtores
Os critérios colocados no projeto para selecionar os agricultores foram os seguintes:
- Ser agricultor familiar do município.
- Ter disponibilidade financeira para contrapartida em preparo do solo e formicida.
- Ter mão-de-obra disponível para plantio e tratos culturais (capina, roçada, combate a
formigas e replantio)
- Dispor de área protegida da entrada de animais
- Realizar o preparo do solo anterior ao recebimento das mudas
- Formar um grupo mínimo de cinco pessoas por localidade.
A formação de grupo é necessário para viabilizar o transporte dos insumos
(fertilizante, formicida) e mudas. Futuramente garante a negociação da madeira com empresas
florestais e também para facilitar o trabalho da Assistência Técnica.
53
4.3.2.2 Recursos
O projeto contemplou em 2003 recursos para o plantio de floresta para 77 agricultores.
Cada agricultor recebeu 2,5 kg de isca formicida, 2 sacos de fertilizante NPK fórmula 5 30 15
e 2400 mudas de acácia negra e/ou eucalipto da Prefeitura Municipal para o plantio de um
hectare em sua propriedade. Em parceria com a Tanac - empresa florestal de Montenegro/RS
– as mudas de acácia negra foram doadas à Prefeitura. Como contrapartida o agricultor entrou
com o preparo do solo e a mão-de-obra para o plantio e tratos culturais.
4.3.2.3 Subsídio
Para regulamentar o subsídio dos insumos e mudas aos agricultores pela Prefeitura
Municipal foram elaborados contratos solidários, onde o valor subsidiado do formicida, das
mudas de eucalipto e do fertilizante foi convertido em equivalência produto, através do preço
mínimo do milho. Como as mudas de acácia negra foram doadas pela Tanac a Prefeitura elas
não foram cobradas no contrato. Para eximir-se do pagamento do valor subsidiado pela
Prefeitura o agricultor deve apresentar para a assistência técnica no prazo de um ano após o
contrato uma floresta com índice de sobrevivência de 70% em relação à população inicial de
mudas. Para cada agricultor foi elaborado um projeto de florestamento e para verificar esse
índice foi elaborado um laudo.
4.3.2.4 Custos e Receitas
Como normalmente o produtor realiza o plantio de cultivos agrícolas nas entre linhas
da acácia e a Assistência Técnica tem incentivado este sistema agroflorestal, resulta um
hectare de acácia com custo zero ao produtor. Alguns produtores preparam o solo com junta
de bois o que diminui mais o custo, conforme pode ser constatado no quadro 7.
54
Item Quantidade Preço (R$) Valor (R$) Desembolso
Formicida 2,5 kg 8,30 20,75 Prefeitura
Mudas 2222 0,10 222,20 Tanac
Fertilizante 2 sc 47,50 95,00 Prefeitura
Preparo do solo 1ha 192,00 192,00 Produtor
Mão-de-obra 5 dias 15,00 75,00 Produtor
Assistência Técnica 3% 18,15 Emater
Total 623,10
Quadro 7 – Custo para formação de um hectare de acácia negra
Fonte: Emater/RS – Hulha Negra
A estimativa de receita da acácia negra, caso o agricultor comercialize a madeira
branca e a casca com as empresas florestais que utilizam essa matéria-prima é mostrado no
quadro 8. Essa expectativa é promissora visto que as empresas estão exportando pelo Porto
de Rio Grande. Considerando que o agricultor não disponha de mão-de-obra suficiente ou não
possua os equipamentos necessários ao corte e descasque da floresta, poderá vender o mato
em pé, ficando como receita o valor da madeira branca de R$7200,00.
Item Quantidade Preço Unitário Valor (R$)
Madeira branca (1a) 200 m 36,00 7200,00
Lenha 20 m 20,00 400,00
Casca 17 T 120,00 2040,00
Total 9640,00
Quadro 8 – Estimativa de receita de um hectare de acácia negra
Fonte: Emater/RS – Hulha Negra e Tanac – Montenegro/RS
4.3.2.5 Sistema de manejo
O Sistema de manejo recomendado é:
a) As espécies florestais indicadas foram a acácia negra (Acacia mearnsii) e o
eucalipto (Eucalyptus grandis) por serem de rápido crescimento, adaptadas ao clima e solo
local, pela possibilidade de venda ao mercado local, e por estarem em processo de fomento
por empresas florestais. Quanto à finalidade das espécies, pode-se citar o eucalipto para o uso
como moirões, esteios, lenha, celulose e papel, como melífera e abrigo para os animais. A
acácia negra para o uso como celulose, lenha, carvão e tanino – este último extraído da casca.
55
b) Quanto ao local e época de plantio foi recomendado que se evitassem as terras
úmidas e os bolsões de geadas, que se situam nas baixadas e o plantio se efetuasse no final do
inverno e na primavera.
c) Quanto ao preparo do solo foram feitas de duas formas, preparo na linha de plantio
e preparo convencional. O preparo na linha é composto por três operações: roçada,
subsolagem e gradagem, e é recomendado para os produtores que almejam apenas o plantio da
cultura florestal. O preparo convencional foi recomendado para os produtores que tencionam
no primeiro ano o plantio de cultivos agrícolas entre as linhas de mudas, como feijão e
melancia, por exemplo.
d) Os espaçamentos recomendados e as quantidades de mudas necessários para
formar uma boa floresta foram os seguintes:
Eucalipto: 3 x 2 m – 1667 mudas por hectare.
Acácia negra: 3 x 1,5 m – 2222 mudas por hectare.
e) quanto à adubação a recomendação técnica foi a utilização de um adubo com maior
quantidade de fósforo na fórmula npk, por ser o elemento que a planta mais necessita no seu
estágio inicial, sendo recomendada a fórmula 5-30-15. a dosagem indicada foi de 50 gramas
por planta.
f) Para o plantio foram passadas as seguintes informações:
- Molhar as mudas antes do plantio.
- Realizar o plantio em dias úmidos e nublados.
- Efetuar o replantio das mudas que morreram, trinta dias após o plantio.
- Evitar o contato direto das raízes com porções de adubo mal misturado, enterrando o
adubo um pouco afastado (10 a 15 cm).
- Firmar bem a terra ao redor da muda.
- Plantar a muda bem ao nível do chão, sem enterrar demais ou deixá-la destapada.
g) Para o controle das formigas com isca granulada, principal limitante no plantio de
árvores, foram feitas várias considerações e recomendações.
Referente a época do ano foi indicado que o controle seja realizado entre março e
setembro, antes da revoada. O método recomendado foi a aplicação de isca granulada, visto
que a formiga se orienta pelo cheiro e a isca corretamente aplicada possui grande eficiência.
Sobre a aplicação da isca foi instruído aos produtores que a melhor hora do dia para
a aplicação da isca é antes do meio-dia e após o sereno secar. Para aplicar a isca é necessário
56
que tenha no mínimo uma previsão de 2 dias de tempo seco, pois se chover a aplicação é
perdida.
Quanto à aplicação da isca foi recomendado a distribuição de doses da isca na área a
ser plantada da seguinte maneira:
As doses são colocadas em linhas espaçadas de 6 em 6 metros entre si, e nas linhas
propriamente ditas a cada 4 metros é colocada uma dose de isca que equivale a 6 gramas,
formando uma rede de doses na área a ser plantada. Cada dose correspondente a uma colher
de sopa e é suficiente para matar um formigueiro. Na periferia da área a ser plantada a
distância deve ser diminuída para 2 metros entre uma dose e outra. A isca é colocada
diretamente no solo e no mínimo 15 dias antes do preparo da terra. A isca não deve ser
colocada sobre o carreiro ou sobre o olheiro e sim ao lado do carreiro.
h) Após o plantio foi recomendado continuar o controle da formiga, sendo
necessários constantes observações no bosque para combater eventuais ataques. Como as
mudas devem estar sempre no limpo, foi ressaltada a necessidade das capinas e roçadas.
i) Referente aos consórcios agroflorestais foi instruído que no primeiro ano de
implantação de uma floresta, é possível plantar cultivos agrícolas aproveitando o espaço
ocioso entre as mudas de árvore, devido a que estas estão com reduzido tamanho. Este
consórcio além de melhor utilização de solo traz benefícios aos cultivos agrícolas e possibilita
uma receita que diminui os custos de implantação da floresta. O revolvimento do solo no
meio das linhas da cultura florestal lhe favorece e a adubação na cultura agrícola também é
favorável à cultura florestal. Outro fato que favorece para a formação da floresta são as
constantes visitas do agricultor na área o que possibilita controlar a formiga cortadeira quando
esta estiver atacando as mudas.
O consórcio com animais pode ser realizado à medida que as árvores vão crescendo,
inicialmente com animais de menor porte, como ovelhas e terneiros, e posteriormente
conforme ocorre o crescimento das árvores é possível introduzir animais de maior porte,
como novilhos e bois. A permanência dos animais na área é vantajoso ao sistema, além da
engorda dos animais, os mesmos mantém a área limpa da concorrência das invasoras com as
mudas de árvores, ademais diminui a incidência de formigas e introduz uma nova receita na
propriedade rural, visto ser atividade florestal de longo prazo. No caso da acácia negra, por
ser uma leguminosa, que incorpora nitrogênio ao solo favorece o desenvolvimento das
gramíneas que podem ser pastoreadas pelo gado. Outra vantagem deste consórcio se deve ao
fato da floresta minimizar os extremos climáticos de secas e geadas sobre a pastagem. À
medida que a floresta vai crescendo e fechando as copas, diminui a incidência de luz e
57
conseqüentemente a vegetação herbácea, o que ocasiona a diminuição da lotação de animais
nesta área. Isto ocorre a partir do quinto ano em florestas plantadas com espaçamento normal,
como por exemplo, 3 x 1,5 m. Neste espaçamento normalmente as culturas agrícolas
plantadas nas entrelinhas são a melancia, o milho, o feijão, o amendoim, etc, que
normalmente são cultivos plantados em pequena escala e que demandam mão-de-obra
familiar.
Aumentando-se o espaçamento entre as fileiras de árvores, como por exemplo, 8 x 1,5
m é possível o plantio de cultivos agrícolas até o segundo ou terceiro ano com a possibilidade
de colheita mecânica, neste contexto podendo ser utilizado em grandes áreas e com culturas
como a soja. Após a colheita agrícola é realizada a introdução de uma pastagem nas
entrelinhas para o pastoreio com gado, com a vantagem de que os animais podem ficar na área
até a época da colheita florestal.
Este sistema pode demonstrar sustentabilidade por utilizar mão-de-obra durante
praticamente todo o ano, por haver vários produtos na mesma área ou diversificação de
produtos. Pelo mesmo motivo o produtor reduz o risco de perdas por possíveis oscilações de
mercado nos preços dos produtos, bem como de condições climáticas desfavoráveis.
O produtor que opta pelo espaçamento de 2x3 metros ou 1,5x3 metros, normalmente
usado no florestamento, se restringe ao cultivo de grãos no primeiro ano e nos anos seguintes,
segundo, terceiro ou quarto ao uso de gado para pastoreio com menor lotação por unidade de
área, isto porque o sombreamento diminui a oferta de pasto. Neste caso, como o ciclo da
floresta, é geralmente de sete anos, o produtor deverá destinar uma fração de sua área para o
plantio de árvores e deixando outras áreas, para que possa retirar produção para a sua
manutenção até poder colher a madeira. Para adotar este sistema em toda a sua área, o
produtor deve plantar anualmente uma fração da sua propriedade, fazendo um bom
planejamento do estabelecimento rural.
Já no espaçamento de 8x1,5 ou 10x2 metros possibilita produzir na mesma área
madeira, grãos e animais, este último, pela introdução de pastagens, possibilitando ao
produtor na mesma área obter produção diversificada no período completo de
desenvolvimento da floresta, ou seja até o corte da madeira. Neste sistema, a cultura agrícola
é plantada nos dois primeiros anos, e pode ser colhida mecanicamente. A partir do terceiro
ano é introduzida uma pastagem para alimentação dos animais, sendo que estes permanecem
na área até o corte da madeira. Neste sistema, o produtor pode implantar em toda a sua
propriedade, visto que obterá receita anualmente, quer seja com grãos, carne ou madeira. Este
58
sistema tecnicamente manejado possibilita utilizar satisfatoriamente os efeitos benéficos das
interações entre espécies diferentes.
4.3.3 Locais de Implantação do Projeto
O presente trabalho foi desenvolvido em nove localidades do município:
Assentamento Conquista da Fronteira, Assentamento Capivara, Assentamento Palmeiras,
Assentamento Estância Velha, Assentamento Meia Água, Assentamento Nova Querência,
Colônia Salvador Jardim, Colônia Nova Esperança e Assentamento Abrindo Fronteiras.
As propriedades rurais localizadas nas comunidades citadas são em sua maioria
projetos de assentamentos com área média de 23ha e possuem em seus lotes o cultivo de
milho e feijão e criações de gado de leite, suínos e aves.
A presenças dos bosques de florestas em um hectare em cada lote ou propriedade
cumpre uma função muito importante na produção, pois serve de abrigo aos animais e como
quebra-vento para a moradia, horta e pomar. Também possibilita o uso como lenha, moirões e
esteios, além da possibilidade de venda da madeira na idade de corte. Outro aspecto
importante é a produção de subsistência que pode propiciar aos assentados pelo plantio de
culturas agrícolas nas entre linhas das mudas de árvores.
4.3.4 Resultados Obtidos
Em visitas aos beneficiários do programa, foi constatado que a maior parte dos
agricultores obteve êxito no plantio das mudas. A grande maioria utilizou o espaço ocioso
entre as mudas no primeiro ano para o plantio de culturas agrícolas, como o milho, feijão,
arroz sequeiro, melancia, batata doce, amendoim e abóbora. Existem plantios com maior
esmero dos agricultores em que a altura das acácias atingiu 4 a 5 m. Como as mudas de
acácia negra foram doadas pela Tanac, os agricultores foram motivados a optarem pela acácia
negra, resultando 69,5ha com esta espécie e 7,5ha de eucalipto, conforme consta no quadro 9.
Outra constatação é de que mesmo no período de seca, as mudas nos locais onde houve tratos
culturais continuavam a crescer. Também cabe destacar, que os agricultores bem sucedidos
foram os que participaram das reuniões onde foram passadas as orientações técnicas, fato este
que foi usado como requisito para participar do programa realizado neste ano. Foi elaborado
um folder contendo as principais informações sobre o florestamento usado nestas reuniões.
Foi constatado que 55 agricultores alcançaram o índice proposto de 70%.
59
Alguns municípios da região manifestaram interesse em realizar o projeto devido à
repercussão positiva do projeto.
Localidade Total de
famílias
Nº famílias
Acácia negra
Nº famílias
Eucalipto
Assentamento Abrindo Fronteiras 10 6 4
Assentamento Capivara 13 13 -
Assentamento Conquista da Fronteira 17 17 -
Assentamento Estância Velha 5 5 -
Assentamento Nova Querência 8 8 -
Assentamento Palmeiras 5 5 -
Assentamento Unidos Venceremos 6 6 -
Colônia Nova Esperança 7 7 -
Colônia Salvador Jardim 6 2,5 3,5
Total 77 69,5 7,5
Quadro 9 – Número de famílias nas diferentes localidades de Hulha Negra.
O maior número de famílias participantes do programa municipal de florestamento
pertence aos assentamentos da reforma agrária, este fato se deve, principalmente pela
organização existente referente aos grupos recentemente formados com o objetivo de
acessarem os recursos federais do Pronaf.
Apenas duas localidades plantaram eucalipto e acácia negra, sendo que as restantes
plantaram unicamente acácia. Os agricultores das localidades que plantaram eucalipto foram a
Colônia Salvador Jardim e o Assentamento Abrindo Fronteiras, sendo que nestes locais
alguns produtores plantaram 0,5ha com cada espécie. O quadro acima mostra que o número
de famílias beneficiadas com um hectare corresponde ao número de hectares plantado em
cada local.
A maior parte das famílias assentadas pertencem aos assentamentos novos,
implantados entre 1999 e 2002, e portanto com pouca infraestrutura em seus lotes, perfazendo
um total de 47 famílias.
Das 77 famílias do projeto, 13 são de locais onde residem agricultores familiares a
mais tempo e 17 famílias são do Assentamento Conquista da Fronteira implantado no ano de
1989.
60
4.3.5 Continuidade do Projeto
No Programa Municipal de Florestamento de 2004, houve 110 agricultores inscritos.
Um dos critérios acrescentados neste ano foi a obrigatoriedade de participar no curso de
florestamento realizado pelo Escritório Municipal da Emater. Após a seleção resultaram em
41 produtores selecionados. Como existe uma técnica em utilização desde 2003 e com bons
resultados, neste ano o índice exigido dos agricultores para eximir-se do pagamento do valor
dos insumos será de 80%. Pela parceria consolidada com a Tanac, através da doação das
mudas, o plantio foi feito com acácia negra.
Devido ao número de produtores envolvidos, surge a idéia de organizar uma
associação de plantadores de acácia com o objetivo de fazer volume de produção para
comercializar a madeira de forma conjunta com empresas consumidoras de madeira e casca, o
que possibilitará aos produtores conseguir melhor preço.
4.3.6 Avaliação dos Agricultores sobre o Projeto
Para entender melhor o nível de satisfação dos agricultores se realizou oito entrevistas
sem interesse de representação estatística, mas como forma de ouvir a opinião para realizar
modificações no projeto que está sendo utilizado neste trabalho.
Os agricultores que utilizaram o consórcio de cultivos agrícolas com acácia negra no
primeiro ano informaram que as espécies agrícolas usadas foram o milho, feijão, amendoim,
cebola, melancia, melão, milho pipoca, pepino, batata doce, vassoura de palha.
Referente ao questionamento das diferenças no crescimento das culturas agrícolas
plantadas no consórcio e fora dele (monocultivo), os agricultores citaram que o milho se
beneficiou, visto que, durante a seca o milho por estar mais protegido pelas acácias sofreu
menos. Outra constatação, já que os agricultores plantaram o milho no mesmo espaçamento
usado na lavoura convencional é que este reduziu o crescimento das árvores e as forçou a
crescerem em altura devido à competição por luz, o que fica evidenciado pelo relato de que
após o milho ter secado (palha) a reação das acácias ao crescimento ficou evidente.
Outra constatação referente ao consórcio de acácia negra com milho, relata que a
acácia plantada sem milho está com menor altura do que as árvores que foram consorciadas
com milho, porém, estas últimas são prejudicadas em tombamentos freqüentes pelo vento, por
61
haverem crescido muito em altura pela concorrência em luz com o milho e formado,
provavelmente, quantidade insuficiente de raízes para sustentação ao solo.
Nestes relatos pode-se concluir que o milho não é a cultura agrícola ideal para o
consórcio. Caso seja usado deve haver um estudo para identificar a população15
ideal de
plantas de milho por unidade de área.
De acordo com o estudo de Gurgel Filho (1962) citado anteriormente para o consórcio
de milho com eucalipto foi apontada apenas uma fileira de milho, enquanto os agricultores de
Hulha Negra utilizaram duas fileiras de milho, confirmando a recomendação.
Os agricultores citaram que as espécies que causam menor interferência nas árvores e
se desenvolvem bem são plantas rasteiras e baixas. Foram ainda unânimes, em citar o bom
desempenho do amendoim, do feijão, da melancia e do melão. No caso do feijão alguns
acreditam que esta cultura se beneficia da proteção que a acácia proporciona aos ventos frios
que sopram na região. Já a acácia se favorece das capinas promovidas pelo feijão. A batata
doce deve ser bem planejada evitando que ao arranca-las mexa com a terra onde estão as
raízes das árvores.
Os agricultores foram unânimes em afirmar que o valor gasto com o preparo do solo e
insumos para o plantio das árvores é conseguido com a receita promovida pelas culturas
agrícolas, segundo os quais ainda sobra dinheiro.
Onde as acácias estão com altura avantajada, de quatro a cinco metros, o pasto cresceu
e os terneiros estão pastando, fazendo agora o consórcio árvore mais animal. Os produtores
relatam que inicialmente os animais tendem a danificar as mudas, porém logo ao se
acostumarem isto não acontece mais.
Enfim, se torna evidente que a produção agrícola em meio às fileiras de mudas foi uma
das principais vantagens mencionadas pelos produtores, usando um espaço ocioso e
resultando um futuro bosque de árvores sem custo. Além do rápido crescimento das árvores
que já propiciam quebra vento e também abrigo aos animais, que em alguns casos, estão
pastoreando na área. Alguns produtores tiveram dificuldades com o ataque da lebre nas
mudas, porém sem maiores prejuízos, visto haverem rebrotado as mudas cortadas por este
animal. A falta de empenho de alguns produtores na condução e no manejo também é
ressaltado, o que pode ser contornado com seleção mais criteriosa.
15População: um grupo de indivíduos da mesma espécie que vive na mesma região geográfica.
5 CONCLUSÃO
A busca pelo Desenvolvimento Rural Sustentável deve ser preocupação de toda a
sociedade para que as futuras gerações tenham as mesmas oportunidades que as gerações
passadas e atuais possuem. Do contrário para poder manter a população humana, novas áreas
com recursos naturais finitos, como por exemplo a floresta amazônica, necessitarão serem
destruídos para a produção das necessidades humanas porque os agroecossistemas existentes
atualmente serão insuficientes.
A necessidade de plantio de árvores em maior intensidade é mais recente, quando
comparada com a agricultura, visto que, antigamente as florestas nativas eram abundantes e
sua exploração não era tão intensa, o que propiciava a satisfação das necessidades do homem.
Com o aumento da população e o esgotamento das matas nativas, aliado aos problemas
ambientais ocasionados, surge os plantios de florestas homogêneas, principalmente para fins
industriais, como a fabricação de celulose e papel, móveis, casas, energia, etc.
Aliar o plantio em uma mesma área de espécies diferentes parece ser o primeiro passo
para conciliar produção das necessidades humanas com a tentativa de imitar o ecossistema
natural, o que certamente, se corretamente manejado, tenderá a ser sustentável, primeiramente
por reduzir os impactos ambientais das monoculturas e, em segundo lugar propiciar
diversificação, reduzindo os riscos de instabilidade de preços de apenas um único produto.
Não é demais enfatizar que este sistema é considerado racional por utilizar melhor a terra,
pois procura os benefícios das interações entre as espécies, bem como, o melhor
aproveitamento do espaço físico.
Não é demais enfatizar que socialmente a agricultura familiar e os assentados da
reforma agrária cumprem papel importante fixando no campo uma considerável parcela da
população, produzindo alimentos, ocupação da mão-de-obra e diminuindo a população que
pleiteia emprego nas cidades. Também é importante dizer que os agricultores familiares e os
63
assentados por possuírem mão-de-obra disponível cumprem função importante na produção
agropecuária que exige intenso trabalho braçal. Como normalmente estas classes de
trabalhadores rurais dispõem de pouca quantidade de terra, a aplicação dos princípios da
sustentabilidade parece ser praticamente um requisito obrigatório, principalmente nos casos
de haverem muitas pessoas dependendo da produção de uma pequena área, o que pode levar
ao esgotamento dos recursos naturais e da capacidade produtiva.
Assim o sistema agroflorestal e a sua relação com a sustentabilidade parece estar
demonstrando a sua aplicabilidade nas propriedades rurais de agricultura familiar e
assentamentos da reforma agrária.
É importante ressaltar que a sustentabilidade deve ser medida no passar do tempo, de
nada adianta, um sistema de monocultura ser produtivo em determinadas épocas favoráveis,
seja pelo clima ou pelo valor econômico do produto, se em outras épocas se torna
desfavorável por não ser produtivo. Além disso, a diversidade diminui a incidência de perdas
por pragas e doenças diminuindo os gastos com insumos. Além dos benefícios
proporcionados pelas interações entre espécies e diversidade, o agricultor que quiser pode
usar sistemas agroflorestais mais complexos, onde o componente árvore pode ser usado não
somente para fornecer madeira, mas também forragem para os animais, como a leucena por
exemplo, ou adubação verde como a proporcionada pelo timbó, ou alimentos proporcionado
pela nogueira e erva-mate.
Um outro aspecto relativo ao componente árvore é a sua flexibilidade e versatilidade
quando destinado a produção de madeira, sendo possível flexibilizar o momento mais
adequado para a colheita, por se tratar de um material não perecível, e a possibilidade de
mudar o destino do produto, por exemplo, passando do objetivo de produzir madeira para
celulose para madeira para móveis, isto se tornando possível através da mudança do manejo
efetuado nas árvores plantadas.
Afinal o que se busca não é somente a sustentabilidade ambiental do meio rural, mas
também é necessário que a atividade rural seja sustentável econômica e socialmente. Para que
o homem do campo possa nele permanecer é necessário que o agroecossistema mantenha a
sua capacidade produtiva ao longo do tempo, para que o agricultor e sua família possam
continuar retirando o seu sustento da terra, evitando desta maneira, que tenham que abandonar
a atividade e engrossar as fileiras de desempregados no meio urbano.
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