1.1. Anatomia, gametogénese e regulação do sistema reprodutor humano
SISTEMA REPRODUTOR HUMANO – CONHECIMENTOS … · ocorre a reprodução humana e os aspectos que...
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SISTEMA REPRODUTOR HUMANO – CONHECIMENTOS ESCOLARES, SEXUALIDADE E O COTIDIANO DOS ALUNOS1
Nádia Cristina Holtz Damo2 Carlos Eduardo Bittencourt Stange3
RESUMO
Tendo em vista que a sexualidade envolve muitos aspectos da vida humana, é preciso estar sempre abertos e atentos às diversas opiniões e interpretações sobre o tema. A preocupação escolar com a orientação sexual dos estudantes deve ser pensada e trabalhada na escola, pois se sabe que muitas vezes os jovens não possuem informações suficientes sobre sexualidade, os pais não conseguem orientar os filhos e a escola nem sempre consegue conscientizar os jovens da importância dos cuidados e da valorização do seu corpo. Assim, o objetivo deste trabalho, é demonstrar que os conhecimentos adquiridos na escola, através das aulas de reprodução e sexualidade, podem contribuir para que os estudantes percebam a importância de conhecer o próprio corpo, adotando hábitos e atitudes saudáveis de qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação ao seu desenvolvimento físico e emocional. Para a obtenção dos resultados, trabalhou-se com pré-teste e pós-teste, técnicas de conversação professor-aluno, técnica da modelagem, do “bebê-ovo”, jogos educativos e filmes. O resultado do estudo demonstra que orientações adequadas sobre reprodução e sexualidade humana contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento de nossos jovens com informações corretas e responsabilidade de ações.
Palavras-chave: Reprodução humana. Sexualidade. Adolescência. Valores. Responsabilidade.
ABSTRACT
Given that sexuality involves many aspects of human life, we must always be open and attentive to different opinions and interpretations on the theme. Schools' concern with the students' sexual orientation should be considered and acted on in school as it is known that young people often lack sufficient information about sexuality, due to parents being enable to guide their children and schools not educating young people about the importance of care and respect for their bodies. The objective of this study is to explore what the students have learned in school through classes on sexuality
1 Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE - da Secretaria de Estado da Educação – SEED, Superintendência da Educação - SUED – Curitiba – Paraná. Dez 2009.2 Formada em Ciências com Habilitação em Matemática pela FUNESP (Fundação de Ensino Superior de Pato Branco), professora do Colégio Estadual Carlos Gomes – Ensino Fundamental e Médio.3 Professor Orientador do Departamento de Biologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste- UNICENTRO, Guarapuava – Paraná, Mestre em Educação, Metodologia de Ensino Superior.
1
and reproduction and how this can aid the students in understanding the importance of knowing one's own body, adopting healthy habits and attitudes towards quality of life and acting responsibly in relation to their physical and emotional development. Various techniques were utilized to obtain the results such as pre-test and post-test techniques, teacher-student conversation, technical modeling, “egg baby”, educational games and movies. Study results show that the accurate information given by the teachers on human reproduction and sexuality greatly improve the students accountability for their actions thus significantly contributing to the development of our young people. Keywords: Human Reproduction. Sexuality. Adolescence. Values. Responsibility.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem por objetivo apresentar o desenvolvimento das atividades
realizadas durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), 2ª turma,
2008, sendo que a intervenção didática ocorreu no município de Pato Branco,
situado no sudoeste do Estado do Paraná, no Colégio Estadual Carlos Gomes,
Ensino Fundamental e Médio, com as 7ª séries A e D, totalizando 65 alunos, sendo
a 7ª A, a turma da intervenção, e a 7ª D, a turma de controle, com o tema
“Contribuições para o Ensino de Ciências na Educação Básica do Ensino
Fundamental”, sobre o conteúdo estruturante “Sistemas Biológicos”, com destaque
para o conteúdo específico “Sistema Reprodutor Humano”, objetivando responder à
seguinte pergunta central: “Quais conteúdos e qual metodologia de abordagem
poderiam vir a contribuir de modo significativo frente a esta condição de
responsabilidade social da escola”?
Devido ao grande interesse dos alunos frente ao conteúdo específico
trabalhado: “Sistema Reprodutor Humano”, dando ênfase à Sexualidade Humana,
torna-se importante conhecer metodologias pelas quais sua aprendizagem ocorra de
forma “significativa”, nas quais não estejamos presos apenas a regras e conceitos
científicos, tornando o seu enfoque uma responsabilidade social da escola, já que
esta envolve valores, sentimentos e emoções.
Tendo em vista que na maioria das turmas temos educandos curiosos quanto
às questões referentes à sexualidade e na procura de informações, muitas vezes
adquirindo-as de maneira distorcida, procurou-se desenvolver uma pesquisa que
2
ajudasse a encontrar maneiras ou metodologias de trabalhar o tema que realmente
despertam o interesse dos jovens e proporcionem conhecimentos significativos para
o seu desenvolvimento como ser humano.
Várias dificuldades com base no contexto sócio-cultural dos sujeitos
envolvidos constituem-se em barreiras para que a sexualidade seja abordada na
escola, dentre as quais, aspectos relativos a posicionamentos familiares, religiosos,
falta de conhecimento específico e constrangimento em abordar o tema, o que
impossibilita discussões amplas sobre os conteúdos que devem considerar a
formação de identidades sexuais.
Os professores, apesar de perceberem a necessidade de adotar uma maior
abertura para tratar das questões relativas à sexualidade na escola, continuam sem
subsídios adequados para trabalhar essas questões; assim, acabam por relegá-la a
um enfoque biologizante com a função de preservar o educador frente aos alunos. A
contribuição de Louro (1988, p.41) reforça o que temos dito até então:
“... a sexualidade que é geralmente apresentada na escola está em estreita articulação com a família e a reprodução. O casamento constitui a moldura social adequada para seu ‘pleno exercício’ e os filhos, a consequência ou a benção desse ato. Dentro desse quadro, as práticas sexuais não são reprodutivas ou não são consideradas, deixando de ser observadas, ou são cercadas de receios e medos. A associação da sexualidade ao prazer e ao desejo é deslocada em favor da prevenção dos perigos e das doenças.”
A sexualidade está relacionada ao período da adolescência que se
caracteriza por mudanças, não só no corpo, mas também no emocional, nas
relações familiares e na vida social. Ao tratar sexualidade com o adolescente,
precisamos entender que ele faz parte de uma família, um meio sócio-econômico e
cultural, que ele está na fase do pensamento mágico, da onipotência, da
impulsividade e da reivindicação. Manter um relacionamento afetivo, facilitar o
diálogo e desenvolver o conhecimento não é tarefa fácil em se tratando de
adolescentes, mas o professor precisa ter claro que não pode reproduzir
conhecimentos ancestrais, precisa valorizar a existência dos conhecimentos prévios
dos alunos frente ao tema, bem como a influência da escola nesta aprendizagem, já
que é na escola que o adolescente passa grande parte do seu tempo e esta auxilia
no desenvolvimento de sua identidade.
3
2. DESENVOLVIMENTO
Essa pesquisa foi realizada para descobrir metodologias diferenciadas de
trabalhar ou abordar o assunto “Sistema Reprodutor Humano” e “Sexualidade” entre
os adolescentes, visto que todos os anos, mesmo trabalhando esse conteúdo de
maneira “tradicional”, observa-se muito interesse pelo assunto, muitas dúvidas
relacionadas a sexo e sexualidade e a ocorrência de muitas adolescentes grávidas
no Colégio, que atende a uma demanda educacional de oito bairros que surgiram e
cresceram sem planejamento urbano e, portanto, sem uma infraestrutura básica
necessária para atender dignamente essa população. Muitas dessas jovens grávidas
acabam abandonando a escola para cuidar das crianças e outras deixam seus filhos
aos cuidados das mães ou avós.
Tornar as aulas mais interessantes para os alunos exige do professor um
maior preparo e planejamento de suas aulas, utilizando recursos didáticos diversos e
atividades práticas que tornem o assunto mais atrativo e aproxime professor-aluno,
favorecendo troca de conhecimentos, esclarecimento de dúvidas e proporcionando
aos jovens uma efetiva aprendizagem que poderá ser refletida no seu dia-a-dia, na
compreensão do funcionamento do seu corpo e na valorização do ser humano.
O trabalho foi desenvolvido com alunos de 7ª série do Ensino Fundamental do
Colégio Estadual Carlos Gomes de Pato Branco, sendo que, na turma A, foi
trabalhado a implementação do projeto, utilizando-se a Unidade Didática produzida
sobre “Sistema Reprodutor Humano” e “Sexualidade” e formas diferentes de
abordagem do conteúdo, aplicando-se pré-teste e pós-teste. Na turma D, chamada
de turma de controle, foi aplicado o pré-teste, depois se trabalhou o conteúdo de
forma tradicional e, na sequência, o pós-teste, para comparar resultados de
aprendizagem.
Fazer uma pesquisa sobre “Sistema Reprodutor Humano” e “Sexualidade”
trabalhar a intervenção com os alunos, analisar e comparar os resultados visa
colaborar de alguma forma, com os educadores ou as pessoas em geral que
precisam tratar desse assunto tão polêmico com os jovens, tentando melhorar ou
modificar o desenvolvimento dos adolescentes de classe média baixa, que na
maioria das vezes, tem na escola, a única fonte de informação correta sobre como
4
ocorre a reprodução humana e os aspectos que envolvem a sexualidade do ser
humano.
2.1 O ENSINO DE CIÊNCIAS E A FORMAÇÃO DE CONCEITOS SIGNIFICATIVOS
Sabe-se que o aprendizado dos estudantes começa muito antes do contato
com a escola. Por isso é importante que os professores conheçam a realidade dos
alunos com quem estão trabalhando, para que possam desenvolver atividades que
estejam de acordo com o interesse dos estudantes.
O fator isolado mais importante para a aprendizagem significativa é o
conhecimento prévio, a experiência prévia, ou a percepção prévia, e o aprendiz deve
manifestar uma predisposição para relacionar de maneira não arbitrária e não-literal
o novo conhecimento com o conhecimento prévio. A formação de conceitos
significativos pelos estudantes é fundamental para a aprendizagem ocorra de forma
natural, mas efetiva. A construção de conceitos pelo estudante, não difere do
desenvolvimento de conceitos não sistematizados que traz de sua vida cotidiana.
Para VYGOTSKY (1991ª, p.71), um conceito é:
[...] mais do que a soma de certas conexões associativas formadas pela memória, é
mais do que um simples hábito mental; é um ato real e complexo de pensamento que
não pode ser ensinado por meio de treinamento, só podendo ser realizado quando o
próprio desenvolvimento mental da criança já tiver atingido o nível necessário.
O ensino de Ciências visa desenvolver habilidades, referentes a observações
e vivência de cada aluno, por isso torna-se necessário levar em consideração todo o
seu cotidiano, sendo fundamental não uma transmissão destes conhecimentos, mas
sim uma relação de “parceria” onde a vivência de cada um levará à formação e
melhor entendimento a respeito do que está sendo trabalhado, possibilitando a
comprovação do que consideramos senso comum. Dessa forma, o ensino de
Ciências deixa de ser encarado como mera transmissão de conceitos científicos,
para ser compreendido como processo de formação de conceitos científicos,
5
possibilitando a superação de concepções alternativas dos estudantes e o
enriquecimento de sua cultura científica (Lopes, 1999).
O educando traz consigo, como já dissemos, uma carga de conhecimentos
adquiridos em sua vida cotidiana e estes devem ser explorados antes mesmo do
início da aplicação dos conteúdos como forma de sondagem e, a partir destes
conhecimentos prévios, fazer a coligação com os conteúdos disciplinares. Na
disciplina de Ciências isto se torna mais efetivo ainda por ser uma disciplina em que
o aluno está inteiramente em contato com os fenômenos físicos e químicos dos
conteúdos em seu dia-a-dia, seja na saúde ou na anatomia e fisiologia humana.
Dessa forma, o aluno sente-se estimulado na aprendizagem, pois são do seu
interesse o conhecimento e explicações de situações cotidianas.
A realidade da maioria de nossas escolas ainda continua dominada por uma
concepção tradicional, na qual se transmite uma grande quantidade de informações,
muitas vezes seguindo apenas o livro didático. Não estamos preparados para as
diferenças individuais, sonhamos com classes homogêneas e atribuímos os
problemas a fatores externos: família, imaturidade do aluno, distúrbios de
aprendizagem. Para que ocorra a aprendizagem significativa precisamos formular
problemas desafiantes, noções de conceitos, relações, provocando modificação de
comportamentos, que os alunos sejam capazes de veicular os conceitos aprendidos
para desenvolver novas formas de interpretar a realidade, questionando, propondo
soluções, fazendo leituras reflexivas. Faz-se necessário que do discurso se passe à
ação, é preciso mais que novas metodologias, recursos didáticos e tecnologia
avançada. Os alunos precisam ter a oportunidade de interagir com situações que
exijam envolvimento, pois como dizia Freire (2003, p.28) o nosso conhecimento tem
historicidade:
“... ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se dispõe a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que seja tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não existente.”
Os conceitos de aprendizagem e linguagem também devem fazer parte do
nosso estudo porque estão relacionados com a realidade de nossos jovens em sala
de aula e na vida. A linguagem oferece os conceitos e as formas de organização do
real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. A
6
compreensão das relações entre pensamento e linguagem é essencial para a
compreensão do funcionamento psicológico do ser humano.
De certa forma o estudante pode, também, aprender conteúdos científicos
escolares sem atribuir-lhes significados. Isto acontece, por exemplo, quando
aprende exclusivamente pelo processo de memorização, ou seja, faz uso dos
conceitos sem entender o que está dizendo ou fazendo.
A teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (1982) propõe que os
conhecimentos prévios dos alunos sejam valorizados, para que possam construir
estruturas mentais utilizando, como meio, mapas conceituais que permitem
descobrir e redescobrir outros conhecimentos, caracterizando assim, uma
aprendizagem prazerosa e eficaz. Para haver aprendizagem significativa são
necessárias duas condições: o aluno precisa ter disposição para aprender e o
conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente significativo. Com
esse duplo marco de referência, as proposições de Ausubel (1982) partem da
consideração de que os indivíduos apresentam uma organização cognitiva interna
baseada em conhecimentos de caráter conceitual, sendo que a sua complexidade
depende muito mais das relações que esses conceitos estabelecem entre si do que
do número de conceitos presentes.
A aprendizagem significativa tem vantagens notáveis, tanto do ponto de vista
do enriquecimento da estrutura cognitiva do aluno como do ponto de vista da
lembrança posterior e da utilização para experimentar novas aprendizagens, fatores
que a delimitam como sendo a aprendizagem mais adequada para ser promovida
entre os alunos.
Na sua teoria, Ausubel (1982) apresenta uma aprendizagem que tenha como
ambiente uma comunicação eficaz, respeite e conduza o aluno a imaginar-se como
parte integrante desse novo conhecimento através de elos, de termos familiares a
eles. Assim, a construção de significados pelo estudante é o resultado de uma
complexa rede de interações composta por, no mínimo, três elementos: o estudante,
os conteúdos científicos escolares e o professor como mediador do processo de
ensino-aprendizagem.
A aprendizagem significativa processa-se quando o material novo, ideias e
informações que apresentam uma estrutura lógica interagem com conceitos
relevantes e inclusivos, claros e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo por eles
assimilados, contribuindo para sua diferenciação, elaboração e estabilidade. Essa
7
interação constitui, segundo Ausubel (1968, pp. 37 – 39), “... uma experiência
consciente, claramente articulada e precisamente diferenciada, que emerge quando
sinais, símbolos, conceitos e proposições potencialmente significativos são
relacionados à estrutura cognitiva e nela incorporados”.
2.3 A IMPORTÂNCIA DA REPRODUÇÃO E SEXUALIDADE NA VIDA DOS
ADOLESCENTES
No desenvolvimento do projeto sobre “Sistema Reprodutor Humano” e
“Sexualidade”, procurou-se trabalhar com os adolescentes de maneira a relacionar o
conhecimento prévio que possuem com o conhecimento científico que precisam
adquirir na escola como tentativa de minimizar os problemas enfrentados por nossos
jovens quando iniciam a sua vida sexual sem informações adequadas sobre vários
aspectos do desenvolvimento do seu corpo e da sua sexualidade.
A escola precisa preparar o aluno para viver em uma sociedade caracterizada
pela mudança, cada vez mais rápida de conceitos e valores e para isso os
professores têm que estar pesquisando e aperfeiçoando seus conhecimentos
científicos e suas metodologias de trabalho.
Quando trabalhamos com o conteúdo “Sistema Reprodutor Humano”, e
tratamos o tema “sexualidade” na 7ª série, percebemos que nossos alunos
demonstram um grande interesse por esse assunto, principalmente no que se refere
à sexualidade e nas mudanças que estão ocorrendo em seu corpo nessa fase da
vida do que, propriamente, no conteúdo de fisiologia humana. E, como professores
de Ciências, nos detemos a conceitos, normas e regras que de certa forma não
atingem o interesse real dos jovens em relação à reprodução.
Desse modo, ao vincular a sexualidade a um enfoque simplesmente biológico,
a escola acaba negando que fatores psicológicos, sociais, históricos e culturais
apresentem forte influência sobre ela e também as formas como os sujeitos dela se
apropriam.
A sexualidade humana tem sido tema de discussão ao longo dos séculos,
principalmente devido às doenças advindas do contato sexual e a posicionamentos
divergentes quanto à abordagem do assunto, gerando uma série de concepções,
8
comportamentos, preconceitos e estereótipos, por isso, oportuno se faz o
apontamento de Louro (2000, p.86):
“... a sexualidade, não há como negar, é mais do que uma questão pessoal e privada, ela se constitui num campo político, discutido e disputado. Na atribuição do que é certo ou errado, normal ou patológico, aceitável ou inadmissível está implícito em amplo exercício de poder que, socialmente, discrimina, separa e classifica.”
Nesse sentido, a noção de sexualidade entrelaça elementos da história dos
indivíduos e dos grupos sociais, envolvendo valores construídos socialmente, com
reflexos tanto no cotidiano quanto também na escola. Frente a todas essas questões
sobre reprodução e sexualidade, faz-se necessário pesquisar metodologias
facilitadoras de se trabalhar esse assunto, com enfoque em aprendizagem
significativa do conteúdo, associada à responsabilidade social da escola em sua
ação educativa.
O trabalho foi desenvolvido de forma a motivar os alunos ao estudo da
reprodução humana e a compreensão da sexualidade que envolve o ser humano e
enfocando, de forma clara, aspectos conceituais como: a existência de relações
entre o ciclo de vida humana e os processos de formação de óvulos e
espermatozóides; os processos de crescimento e amadurecimento sexual de
meninos e meninas que apresentam ritmos diferentes, assim como aqueles de
pessoas do mesmo sexo; as relações entre a capacidade reprodutiva dos seres
humanos e a sua estrutura anatomofisiológica; a necessidade de manter atitudes de
prevenção das DST ao longo de toda a vida; as especificidades do conjunto de
órgãos do sistema reprodutor masculino e feminino que podem ser entendidas,
compreendendo que esses órgãos são formados ao longo de todo o período de
desenvolvimento do ser, graças à ação de um conjunto de hormônios, que são
diferentes para meninos e meninas, influenciados por um ambiente social que
contribui para a definição de comportamentos.
As dificuldades relacionadas a questões comportamentais expressam-se na
forma de inibição em discutir questões de natureza íntima como a sexualidade em
sala de aula, mas este tema deve ser relacionado com o conteúdo científico, para
que o jovem possa lidar de forma natural com os aspectos do próprio corpo,
evitando problemas como gravidez indesejada e doenças sexualmente
transmissíveis.
9
O interesse sobre reprodução e sexualidade no contexto escolar reforça a
característica multidimensional do processo ensino-aprendizagem, mostrando que o
desenvolvimento cognitivo do indivíduo é estreitamente relacionado e, portanto,
influenciado por seu desenvolvimento pessoal e social, no qual a sexualidade e a
afetividade têm papéis fundamentais.
A sexualidade é uma das dimensões fundamentais da condição humana, que
se desenvolve e se apresenta sempre influenciada por sentimentos e valores.
Inerente à vida do ser humano, ela se manifesta desde o nascimento e se constrói
ao longo de toda a existência, sendo, portanto, a discussão sobre sexualidade com
adolescentes tão emocionante quanto a fase da vida em que eles se encontram,
pois como afirma PINTO (1997, p.43):
“A adolescência é a fase de transição e a idade adulta, marcada por transformações
anatômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais. É nesse período que ocorre o
encontro de um núcleo de permanência e de estabilidade em si mesmo, denominado
identidade, e sua busca por parte dos jovens pode produzir uma série de
manifestações inquietantes, entre elas aquelas relacionadas ao exercício da
sexualidade “(PINTO, 1997, p.43).
Sabe-se que na adolescência tudo é vivido intensamente, o adolescente varia
constantemente suas opiniões, ideias, comportamentos e humor. Tudo isso leva ao
amadurecimento, que é o objetivo desta fase marcada por duas aquisições
importantes: a capacidade reprodutiva e a identidade pessoal, onde, a busca e a
construção de uma nova identidade é o foco central.
A adolescência tem um aspecto biológico e universal, caracterizado por
modificações visíveis, como o aparecimento de pelos pubianos e axilares, o
aumento da força muscular, a distribuição da gordura, a mudança na voz, o
desenvolvimento da mama, a menarca, a primeira ejaculação e a masturbação.
Todos esses elementos exteriorizam as mudanças internas sofridas pelos
adolescentes e produzem seus reflexos sobre a vida afetiva e emocional dos
mesmos. As mudanças biológicas trazem conflitos e a necessidade de adaptação
que deve ser interna e externa.
Além do processo de mudanças e transformações, a adolescência
caracteriza-se pela tendência grupal, atitude social reivindicatória, constantes
10
flutuações do humor e estado de ânimo, comportamento impulsivo e desafio à
autoridade dos pais.
Segundo Frison (2002), ao longo da vida o ser humano interage com a sua
família que é seu primeiro grupo social, posteriormente passa para o convívio na
escola, sendo que o papel desta passa a ser fundamental na medida em que grande
parte do tempo do jovem é vivida dentro dos “muros da educação”, mas ambas,
família e escola, são determinantes na construção de sua identidade.
Os jovens precisam de autodisciplina para enfrentar o mundo atual, mas
também necessitam de autoconfiança, independência e adaptabilidade, bem como
um espaço para tratar questões referentes à sexualidade, valores, sentimentos e
emoções, sendo que, muitas vezes, a escola é o principal espaço de educação
sexual para eles. Contudo, a escola nem sempre tem trabalhado esse assunto de
forma adequada, pois ao invés de informar e educar, acaba por transmitir conteúdos
de forma preconceituosa. Nessa perspectiva, FRISON (2002, p.208) comenta que a
escola se omite em relação à educação sexual:
(...) a omissão da escola nos assuntos relacionados a sexo e sexualidade é muito
grande. Nela ocorrem fatos que demonstram ansiedade, curiosidade, angústia dos
jovens sobre sexualidade, por exemplo, piadas, risos, desenhos provocativos,
bilhetes, recados apelativos aos banheiros, leituras misteriosas e revistas
pornográficas. Frente a isso os professores ficam impactados sem saber o que fazer
e o que dizer. O mais comum é estabelecer regras e medidas muito fortes para que
os alunos passem a “respeitar” o ambiente escolar.
FRISON (2002) ainda argumenta que a escola faz parte da vida do jovem, e
que esta não pode se omitir e ficar alheia ao que acontece com os adolescentes. É
necessário que a mesma oriente os jovens em relação à sexualidade como algo
normal, sem constrangimento, suprindo as necessidades da família, pois de acordo
com Pinto (1997, p.43) “para ensinar adolescentes é necessário que haja a
‘subjetivação do conhecimento’, ou seja, a transformação do conhecimento em caso
pessoal, a vinculação entre o conteúdo proposto e a vida cotidiana do jovem.”
É importante associar o desenvolvimento da sexualidade ao crescimento do
indivíduo em direção à sua identidade adulta, inserção na estrutura social,
determinação de sua auto-estima e relações afetivas. Contudo, as mudanças no
comportamento dos adolescentes em relação à sexualidade e ao desenvolvimento
11
do seu corpo exigem atenção cuidadosa por parte dos pais e professores, devido às
repercussões que incluem as vulnerabilidades relacionadas à saúde reprodutiva,
desse modo as intervenções realizadas na escola devem levar em consideração os
contextos familiar e social nos quais o jovem está inserido, a fim de compreender
crenças e valores que permeiam sua vivência.
Nos dias atuais, pode se observar que a mídia exerce uma influência muito
grande sobre os adolescentes e, muitas vezes, a escola e a família se sentem
desestruturadas para trabalhar questões referentes à sexualidade, deixando muitas
vezes o adolescente se apropriar de informações distorcidas, as quais contribuem
para que as dúvidas se tornem mais complexas.
Apesar de alguns professores julgarem que a discussão sobre reprodução e
sexualidade está se tornando uma coisa normal, muitos jovens ainda sentem
vergonha e medo de discutir esse assunto, por isso, entender e discutir os
questionamentos e reflexões dos adolescentes é fundamental para o
amadurecimento e desenvolvimento de atitudes responsáveis. O desafio está, acima
de tudo, no reconhecimento de um saber primitivo que está oculto por detrás dessa
função tão vital de nossa vida: uma sabedoria da natureza que determina para onde
e como nossa espécie vai prosseguir no futuro.
12
3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante a implementação do projeto “Sistema Reprodutor Humano e
Sexualidade” foram desenvolvidas várias atividades com os alunos: aplicação de
pré-teste e pós-teste sobre o assunto a ser trabalhado, dinâmica de perguntas sobre
dúvidas e curiosidades dos alunos, leitura de textos relacionados ao conteúdo
utilizando-se a Unidade Didática produzida durante o 2° período do PDE, confecção
dos modelos anatômicos do aparelho reprodutor masculino e feminino, técnica do
“bebê-ovo”, filmes e slides sobre reprodução e sexualidade no ser humano.
3.1. Atividade 1
No início do desenvolvimento do projeto “Sistema Reprodutor Humano e
Sexualidade”, foi aplicado aos alunos das duas turmas envolvidas, a turma da
implementação e a turma controle, totalizando 61 alunos, um pré-teste com o
objetivo de analisar os conhecimentos prévios que possuíam sobre o referido
assunto. Posteriormente, essas mesmas questões foram aplicadas como pós-teste,
para comparar as respostas. As questões do pré-teste foram as seguintes:
1- Quais são as principais diferenças físicas entre o corpo do homem e da
mulher?
2- Quais são as modificações que ocorrem com o corpo na adolescência? O
que provoca essas mudanças?
3- O que você entende por sexualidade no ser humano?
4- Você sabe em que idade ocorre o amadurecimento dos órgãos sexuais?
5- Você sabe como evitar uma gravidez?
6- Quais são as consequências de uma gravidez na adolescência?
7- Você sabe o que são métodos anticoncepcionais? Para que eles servem?
8- Você sabe quando se inicia a formação de um novo ser? Como se chama
esse processo?
9- Você sabia que relações sexuais podem transmitir doenças? Como elas se
chamam? O que podemos fazer para nos prevenir contra essas doenças?
10- A AIDS é uma DST. Você sabe como se previne o seu contágio? Existe
cura para essa doença?
13
As respostas, de acordo com a idade, a maturidade e os conhecimentos
prévios dos alunos em relação ao conteúdo estão representadas nas tabelas a
seguir:
ANÁLISE DO PRÉ-TESTE
QUESTÕES RESPOSTAS ESPERADAS TURMA A
TURMA B
01 Altura, forma do corpo, cabelo, pênis, vagina,seios, pelos, barba.
22 20
02 Crescimento do pênis, dos seios, pelos, forma do corpo, menstruação.
19 14
03 Na adolescência aumenta o interesse pelo sexo oposto e ocorrem mudanças no corpo.
05 04
04 Na adolescência, a partir de onze ou doze anos de idade. 27 18
05 Usando camisinha ou a mulher tomando comprimidos. Para não ter filhos ainda muito jovens.
21 21
06 Deixar de estudar, de passear, de namorar, aumentar a responsabilidade.
20 18
07 Poucos sabem. Para não engravidar. 16 14
08 Quando a mulher engravida, com a união de óvulo com um espermatozóide. Gravidez.
18 15
09 Sim. DST. Usar camisinha. 21 18
10 Usando camisinha. Não. 16 15
Tabela01. Referente ao resultado do Pré-teste aplicado nas turmas A e B, sendo A turma de implementação e B turma de controle.
3.2. Atividade 2
Na sequência, foi aplicada a técnica de perguntas relacionadas a dúvidas e
curiosidades que os alunos possuem sobre reprodução e sexualidade. As perguntas
foram feitas individualmente e entregues ao professor, sendo que, durante todo o
desenvolvimento do projeto “Sistema Reprodutor Humano e Sexualidade”, estas
questões foram respondidas de forma coletiva e, às vezes, individualmente.
Algumas dúvidas mais frequentes dos alunos:
“Por que as mulheres menstruam”?
“Por que homens e mulheres possuem diferenças em seu corpo?”
“Com que idade os homens podem ser pais”?
“O que faz o pênis levantar”?
“Como a mulher engravida”?
“Por onde nasce o bebê”?
14
“Pode-se pegar DST com sexo sem camisinha”?
“O que é câncer de próstata”?
“Por que os testículos doem quando se bate neles”?
“A mulher engravida quando está menstruada”?
“O que é menopausa”?
“Como se formam os gêmeos”?
“Como se faz aborto”?
“O que é puberdade”?
“Em que idade começa a produção de espermatozóides”?
“Por que se forma leite no seio das mulheres quando tem filho”?
“O que acontece se a camisinha furar durante a relação sexual”?
“Por que algumas meninas se desenvolvem e menstruam antes e outras
demoram mais”?
“Com sexo oral, pode-se engravidar ou pegar AIDS”?
“Pode-se engravidar na primeira relação sexual”?
Percebe-se, pelas questões levantadas pelos alunos, que as informações que
recebem em casa ou através de outros meios, são muitas vezes confusas e
distorcem a realidade e a seriedade com que esse assunto precisa ser tratado. Em
geral, eles possuem poucos conhecimentos científicos sobre o corpo humano,
reprodução e sexualidade, mas fizeram os questionamentos sem restrições ou
preconceitos.
Muitas vezes nós, professores, acreditamos que vivendo num mundo
moderno, com acesso a informações, os jovens possuem conhecimentos sobre seu
corpo e as relações que envolvem sua sexualidade, mas a maioria dos alunos com
os quais trabalhamos, são “alheios” a essas informações corretas, com muitas
dúvidas, anseios e questões a serem esclarecidas, e aí entra o papel do professor
de saber trabalhar com esses jovens de maneira com que eles as adquiram de
forma significativa para a sua vida e para o seu desenvolvimento como ser humano.
3.3. Atividade 3
Para trabalhar a parte teórica do assunto “Sistema Reprodutor Humano e
Sexualidade”, foi utilizada a Unidade Didática produzida, textos informativos, e
15
cartazes que permitem uma melhor visualização da anatomia do sistema reprodutor
masculino e feminino.
Durante toda a exposição oral do conteúdo os alunos demonstraram muito
interesse e curiosidade, questionando sempre aquilo que não conseguiam entender;
isso nos leva a perceber a importância de valorizar os seus conhecimentos prévios e
de também proporcionar o conhecimento científico do conteúdo, despertando o
interesse e possibilitando a consequente aprendizagem de um assunto do nosso
dia-a-dia, sendo fundamental ter clareza sobre o mesmo e ainda ter segurança
quando trabalhado em uma série em que os alunos têm tantas dúvidas, porque
infelizmente, alguns pais não conseguem tratar da sexualidade abertamente com
seus filhos e eles acabam buscando essas informações com pessoas
despreparadas, como os amigos, em vez de buscá-las na escola.
3.4. Atividade 4
Para uma melhor compreensão da anatomia dos órgãos reprodutores
femininos e masculinos, de como ocorre a fertilização do ovócito e da formação de
gêmeos monozigóticos ou dizigóticos, foi proposto aos alunos, como atividade
prática, a confecção de modelos utilizando-se massa de modelar. A turma foi
separada em grupos de cinco integrantes para preparar as massas, confeccionar os
modelos que foram colocados em cima de isopor e preparar a exposição oral de
acordo com o item a ser trabalhado pelo grupo.
Os alunos se envolveram de forma impressionante na realização dessa
atividade, desde a preparação das massas para modelagem, na produção dos
modelos anatômicos dos órgãos reprodutores e durante a apresentação oral dos
trabalhos, interagindo também quando os outros grupos se apresentavam. Alguns
alunos mais tímidos sentiram um pouco de vergonha e dificuldade de falar aos
colegas e professor sobre o corpo, mas na atividade prática, eles se envolveram de
forma mais efetiva, deixando a parte oral para os colegas mais “desinibidos”.
Durante a exposição oral dos trabalhos, percebe-se que os alunos
assimilaram o conteúdo, a maioria perdeu a inibição de falar sobre o seu corpo e
conseguiram expor aos colegas como foi o trabalho de preparação dos modelos, o
que aprenderam através dessa atividade de forma natural, sem malícias ou
preconceitos.
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3.5. Atividade 5
Dinâmica sobre gravidez na adolescência
Depois de trabalhar toda a parte da anatomia e fisiologia do sistema
reprodutor humano, as próximas atividades deram ênfase à adolescência e a
questão da sexualidade, assunto que desperta o interesse dos jovens tentando
responder uma questão importante: ”Por que na adolescência existem tantas
dúvidas e dificuldades em entender ou aceitar as mudanças que ocorrem no corpo e
na mente nessa fase tão importante da vida”?
Na adolescência alguns hormônios sexuais provocam mudanças físicas e
psicológicas, fazendo com que mudem os interesses e a atração pelo sexo oposto
se revela de forma mais significativa. Nessa fase surge, muitas vezes, um problema
muito sério em nosso país: a gravidez indesejada na adolescência, que era muito
pouco comentada na época em que nossos avós eram adolescentes. Sexo era
praticamente só após o casamento. Hoje muitas pessoas pensam e agem de forma
diferente, e se há décadas atrás, engravidar aos 14, 15 ou 16 anos não era
considerado um problema, pois o casamento e a maternidade eram as atividades
valorizadas para a mulher; hoje se espera que elas tenham uma profissão, que
trabalhem fora, que tenham uma vida sexual prazerosa, que planejem se querem ou
não ter filhos e quando tê-los. Certamente, uma gravidez não planejada altera o
curso da vida dos jovens nela envolvidos, sendo outro fator preocupante os riscos
que pode trazer à saúde da adolescente e de seu bebê.
Na sequência do desenvolvimento do projeto “Sistema Reprodutor Humano e
Sexualidade” foi proposta, aos alunos, a técnica do “bebê-ovo”, com o objetivo de
despertar a consciência da responsabilidade que envolve ter um filho.
Antes de iniciar a dinâmica retirada do Manual do Multiplicador: adolescente,
2003, deve-se ter trabalhado com os alunos questões relacionadas com a
maternidade/paternidade precoce e com a responsabilidade de suas ações.
É preciso ter uma sala (de aula), um ovo cru de galinha por aluno e canetas
hidrográficas. O tempo necessário é de 15 minutos em sala de aula e 5 a 7 dias no
cotidiano.
O que fazer:
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1. Marcar os ovos previamente: uma cor para o sexo feminino e outra para o
sexo masculino.
2. Distribuir um ovo por participante e explicar que ele simboliza um recém-
nascido que será cuidado pelo garoto (pai) ou pela garota (mãe).
3. Estimular os alunos a personalizarem seu bebê pintando um rosto,
fazendo-lhe um ninho.
4. Estabelecer seu compromisso de levar seu “bebe-ovo” a todos os lugares a
que forem pelo prazo de tempo estipulado pelo professor.
5. Solicitá-los a trazer os “bebês” no dia determinado.
6. Anotar os depoimentos e as histórias ocorridas com o “bebê” e com o
participante.
Pontos para discussão:
- Como o “bebê-ovo” interferiu na vida dos alunos?
- Quais sentimentos surgiram?
- Quais dificuldades surgiram durante o processo?
- Como foram interpretadas as quebras dos ovos?
- Por que há pessoas sem filhos?
- Algum “bebê-ovo” foi sequestrado? Como evitar o sequestro?
- Quais aprendizados resultaram dessa dinâmica?
Resultado esperado: Vivência do sentimento de responsabilidade que envolve
a maternidade e a paternidade precoce e o cuidado com os filhos.
Os alunos se envolveram de maneira satisfatória na realização dessa
atividade. Alguns meninos, no início, resistiram a cuidar do “bebê-ovo”, não foram
forçados pelo professor e, naturalmente, resolveram participar da atividade. A
maioria dos alunos, principalmente as meninas, demonstrou um grande interesse e
responsabilidade no preparo do “ninho” e no cuidado com o seu “bebê” durante os
sete dias em que a técnica foi realizada.
No dia marcado pelo professor, eles trouxeram para a escola o seu “bebê”,
apresentaram para os colegas e relataram as suas experiências durante esse
período. Alguns ovos foram quebrados durante o processo e isso foi relatado por
aqueles que não trouxeram o “bebê-ovo” no dia marcado. Os alunos fizeram
relatórios escritos dessa atividade, os quais foram entregues ao professor para
análise.
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Algumas meninas cuidaram e enfeitaram tanto o seu “bebê” que não queriam
se “desfazer” dele, e aí entra o papel do professor de sensibilizá-los de que é
apenas uma técnica, mas que o objetivo é a compreensão da importância da vida
humana, da responsabilidade de ter um filho na adolescência, época que deve ser
aproveitada para estudar, namorar e fazer descobertas, sempre consciente dos seus
atos e atitudes.
Depois do projeto sobre “Sistema Reprodutor Humano” e “Sexualidade” ter
sido concluído, aplicou-se aos alunos as questões do pós-teste, observando-se uma
evolução nas respostas dos alunos em relação ao conteúdo trabalhado, com
significativa aprendizagem na turma A, que foi a turma da implementação do projeto,
sendo que na turma B, o conteúdo trabalhou-se o conteúdo de forma mais
tradicional, sem atividades práticas.
ANÁLISE DO PÓS-TESTE .
QUESTÃO RESPOSTAS ESPERADAS TURMA A
TURMA B
01 Órgãos sexuais masculinos e femininos, mudanças físicas visíveis no corpo.
25 17
02 Que citem as principais modificações físicas entre o corpo dos meninos e meninas. Ação dos hormônios sexuais.
27 22
03 Que compreendam a importância do funcionamento do corpo. 17 12
04 Que ocorre na puberdade e na adolescência. 29 17
05 Que a compreensão que para evitar gravidez é necessário a utilização de algum método anticoncepcional.
27 21
06 Renúncia a coisas importantes da idade, responsabilidade, compromisso.
27 20
07 Conhecer os principais métodos anticoncepcionais e como cada um age no organismo.
25 17
08 Com a união do óvulo e o espermatozóide no período da ovulação. Fecundação.
20 15
09DST. Conhecer as principais DST e a forma de prevenção.
27 22
10 Compreender que a AIDS é uma DST, como ocorre o contágio, sua prevenção e tratamento.
27 23
Tabela 2. Resultado do pós-teste aplicado às turmas A e B, sendo A turma de implementação e B turma de controle.
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4. CONCLUSÃO
A implementação da proposta pedagógica sobre o tema “Sistema Reprodutor
Humano e Sexualidade” foi realizada no Colégio Estadual Carlos Gomes de Pato
Branco, com a 7ª série do Ensino Fundamental e ocorreu de forma tranquila e
satisfatória, sendo que observou-se um crescimento na aprendizagem desse
conteúdo por parte dos alunos, que demonstraram muito interesse durante todo o
desenvolvimento do trabalho, envolveram-se nas atividades propostas com
entusiasmo, sem preconceitos ou restrições ao assunto, ficando mais amigos do
professor, talvez porque tenha sido estabelecida uma relação de confiança durante o
trabalho.
Sabe-se que a educação sexual é responsabilidade essencialmente dos pais
que têm o direito e o dever da formação moral dos seus filhos e, secundariamente,
de entidades como as escolas. É comum que a família e a escola, responsáveis pela
educação de crianças e jovens, algumas vezes sintam-se amedrontadas ou
inseguras em abordar o tema ou reconhecer a sexualidade de seus filhos ou alunos,
pois vários são os tabus que permeiam o tema. É responsabilidade de todos
promover a saúde e o bem-estar de crianças e adolescentes, através de
informações concisas e corretas das dúvidas que fazem parte do universo jovem,
bem como tornar o assunto liberto de preconceitos e malícias que derivam de
informações errôneas.
O sexo e sexualidade fazem parte da vida das pessoas e é por isso que a
escola deve ajudar a construir nos jovens uma visão sem preconceitos, pois é um
tema que envolve sentimentos e desejos e, portanto, não deve ser abordado
somente com explicações sobre o funcionamento do aparelho reprodutor, por isso,
deve-se ir além do diálogo sobre sexo, que normalmente se restringe aos métodos
contraceptivos e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis ou de
gravidez não planejada. Sabe-se que a puberdade traz mudanças no corpo, nos
sentimentos e no comportamento das pessoas. Felizmente, é também uma fase em
que os jovens são capazes de compreender que seus atos podem ter
consequências positivas ou negativas para a saúde e para o seu corpo; é o
momento de decisões importantes e conscientes, sendo fundamental que tenham
acesso à informação e ao saber científico em relação ao assunto Sistema
Reprodutor Humano e sexualidade.
20
Percebe-se que as aulas sobre sexualidade são marcantes para os jovens,
pois nelas aprendem a conhecer seus desejos, necessidades e afetos, sendo a
postura do educador muito importante ao tratar o assunto, devendo estar sempre
atento a qualquer dúvida que o aluno tiver, por mais simples que pareça, é relevante
e pertinente; ouvir mais do que falar vai estimular o debate, sendo que, jogos,
dinâmicas e discussões em pequenos grupos favorecem a participação dos alunos
mais tímidos. Também devemos tratar o assunto com naturalidade, de maneira
apropriada, racional, carinhosa e saber compreender nossos adolescentes num
momento em que tudo é duvidoso para eles. A escola, querendo ou não, depara-se
com situações nas quais é chamada a intervir. Seja no cotidiano da sala de aula
quando proíbe ou permite certas manifestações e não permite outra, está
transmitindo certos valores mais ou menos rígidos, que dependem da visão de
mundo dos profissionais que nela atuam no momento.
Não cabe ao professor apenas repassar a informação, visto que ela pode ser
obtida em qualquer lugar, como televisão, internet, revistas e colegas; precisamos
ter ferramentas e desenvolver mecanismos de fixação, de compreensão dessa
informação em conhecimento. Os mecanismos de consolidação podem ser
baseados em recursos tecnológicos, mas no caso do assunto “sexualidade”, não
deve estar restrito apenas à condição de anatomia e fisiologia, depende muito da
interação professor-aluno, do elo de confiança e respeito desenvolvido ao longo do
trabalho.
Durante todo o desenvolvimento do projeto sobre “Sistema Reprodutor
Humano e Sexualidade”, com os alunos da 7ª série, percebemos que o interesse
deles pelo assunto é muito grande sendo que a participação nas atividades ocorreu
de forma satisfatória e acreditamos que esse tipo de trabalho sobre orientação
sexual pode contribuir para a formação e bem estar dos jovens na vivência de sua
sexualidade atual e futura.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUSUBEL, David Paul. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Editora Moraes, 1982.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 27ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2003.
FRISON, L. M. B. Desafios da orientação sexual no contexto escolar. Ciências e Letras, Porto Alegre, 2002.
LOPES, A. C. Conhecimento escolar: ciência e cotidiano. Rio de Janeiro: UERJ, 1999.
LOURO, Guacira Lopes. Segredos e mentiras do currículo – sexualidade e gênero nas práticas escolares. A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis: Editora Vozes, 1988.
LOURO, Guacira Lopes. Sexualidade: lições de casa. In: MEYER, D.E.E. (org.). Saúde e sexualidade na escola. 2ª ed. Porto Alegre: Editora Mediação, 2000.
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MELLO, Romário de Araújo. Embriologia Comparada e Humana. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 1989.
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VYGOTSKY, Liev. Semiovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
SEED, Secretaria do Estado e da Educação. Diretrizes Curriculares de Ciências para o Ensino Fundamental, 2008.
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