SIGNIFICÂNCIA CULLTURAL E ATRIBUTOS PATRIMONIAIS: … · de Preservação 2 (ZEP 2) do bairro...
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SIGNIFICÂNCIA CULLTURAL E ATRIBUTOS PATRIMONIAIS: um estudo sobre o Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio no
bairro do Centro de Maceió, Alagoas
VIEIRA, PATRÍCIA S.; HIDAKA, LÚCIA T. F.
Universidade Federal de Alagoas. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Av. Lourival Melo Mota, S/N – Tabuleiro dos Martins, Maceió - AL [email protected]
Universidade Federal de Alagoas. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Av. Lourival Melo Mota, S/N – Tabuleiro dos Martins, Maceió - AL [email protected]
RESUMO
Este artigo tem como objetivo a análise do resultado das transformações físico-materiais ocorridas, ao longo do tempo, que afetam a conservação da Significância cultural do Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio. O caso em estudo localiza-se no Setor de Preservação Rigorosa 1, na Zona Especial de Preservação 2 (ZEP 2) do bairro centro de Maceió, Alagoas. Com desenho longo e tortuoso, a Rua do Comércio abriga uma grande quantidade de edificações históricas, sobrados de até três andares e casarios térreos dos séculos XIX e XX. Além disso, interliga duas importantes praças do bairro – a Dom Pedro II e Floriano Peixoto. Especificamente estuda-se a relação dos atributos materiais (físico-espaciais) e imateriais (usos e práticas sociais), por meio da análise morfológica e investigação documental referente ao surgimento e desenvolvimento, sob o ponto de vista de transformações do conjunto. A análise morfológica utiliza instrumentos que caracterizam e estudam as relações entre os elementos que constituem a forma urbana – rua, edificações, parcelamento, praça e mobiliário urbano – como maneira de possibilitar uma melhor apreensão do espaço, dessa forma conduzindo o olhar para a análise e a operacionalização da conservação da Significância Cultural. A metodologia estrutura-se em quatro etapas: 1) Análise documental – revisão teórica sobre o objeto empírico e conceito de Significância Cultural; 2) Análise morfológica para identificação dos atributos materiais e imateriais; 3) Identificação dos atributos patrimoniais para construção da Significância; 4) Verificação da interferência das transformações do espaço na percepção do legado patrimonial. A consolidação da etapa 3) se dá pelas seguintes atividades: a) levantamento in loco caracterizando a estrutura física (elementos morfológicos) e o uso (atividade praticada) das edificações históricas e dos elementos de entorno; b) avaliação comparativa da composição atual do espaço com momentos anteriores – subsidiada pela análise de registros e fotografias – de modo a possibilitar a percepção das mudanças ou permanências que interfiram no processo da Significância Cultural. No conjunto de estudo foram identificadas trinta e nove edificações históricas – duas delas sem devida identificação no plano diretor da cidade. Observou-se elevado grau de abandono e consequente descaracterização do conjunto: mudanças no revestimento e aberturas e a colocação de letreiros e marquises em suas fachadas; vegetação nos pavimentos superiores das edificações; interferência do equipamento urbano no impacto visual da rua. Destacou-se também a permanência da atividade comercial e do
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traçado no conjunto. Espera-se com a finalização deste estudo em andamento, reflexões e contribuições para o processo de conservação do patrimônio – que não se limita apenas à fachada ou a edificação; ou à manutenção de um valor em detrimento do outro. A comunicação dos valores patrimoniais com o sujeito pressupõe a manutenção de características espaciais, culturais e ambientais do conjunto para que sua singularidade se perpetue no tempo. Esta pesquisa faz parte de um projeto maior na ZEP 2 – zona composta de três setores: Setor de Preservação Rigorosa 1, Setor de Entorno Cultural 1 e Setor de Entorno Cultural 2 – contemplando estudos morfológicos e tipológicos em suas estruturas com a finalidade da identificação e análise dos atributos patrimoniais.
Palavras-chave: Significância Cultural; Análise morfológica; Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio em Maceió/ Alagoas.
Introdução
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Este trabalho faz parte de um projeto maior que vem sendo desenvolvido há dois anos por
graduandos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas
(UFAL) e integrantes do grupo de pesquisa NUPES - Núcleo de Estudos de Projetos
Especiais. O projeto intitula-se: “Significância, Integridade e Autenticidade do patrimônio
cultural: estudos morfológico e tipológico da Zona Especial de Preservação 2 – Centro (ZEP
2) em Maceió/AL”.
A ZEP 2 divide-se em três setores: Setor de Preservação Rigorosa 1, Setor de Entorno
Cultural 1 e Setor de Entorno Cultural 2. O artigo em questão procura investigar e analisar o
resultado das transformações físico-materiais ocorridas, ao longo do tempo, que afetam a
conservação da Significância cultural do Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio e seu
entorno imediato, localizado no Setor de Preservação Rigorosa 1.
O centro foi um dos primeiros bairros da cidade de Maceió. Teve seu desenvolvimento e
crescimento em função da atividade comercial suscitada pela atividade portuária realizada
no porto de Jaraguá, situado em suas proximidades. São os caminhos para o porto,
naturalmente desenhados pelos tropeiros e seus animais de carga, que dão origem ao
traçado da cidade.
Com desenho longo e tortuoso, a Rua do Comércio foi um dos primeiros caminhos traçados.
Desde sua formação, era a via pública mais utilizada do povoado, abrigava os principais
estabelecimentos. Até hoje o Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio permanece como
importante referência da cidade; caracterizando o bairro pela predominância das atividades
comerciais e por sua Significância enquanto atributo que comunica – em suas estruturas
morfológicas – valores patrimoniais.
A Significância Cultural é definida como valor patrimonial cultural e está presente no sítio –
em sua estrutura, ambiente, usos, associações. (ICOMOS, 2013). Para que seja possível a
análise e identificação dos atributos que constroem a Significância, deve-se procurar
compreender o objeto de investigação. Em razão disso, o estudo desenvolve-se segundo a
investigação documental e a análise morfológica dos elementos que constituem a forma
urbana do Conjunto em estudo.
A análise dos elementos e relações que conformam a estrutura urbana, realizado por meio
de estudos morfológicos, “não se trata apenas de fixar uma imagem num instante
determinado numa localização precisa, e sim compreender” (PANERAI, 2014, p.125), em
meio às modificações que afetam a cidade no tempo e no espaço, sua organização
elementar e, dessa maneira, contribuir para a preservação de seu legado patrimonial.
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Espera-se com a finalização deste estudo em andamento, reflexões e contribuições para o
processo de operacionalização da conservação do patrimônio.
Métodos e Técnicas
1. O estudo de caso
O estudo de caso – o Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio – está localizado no
bairro do Centro, Maceió/AL. O mesmo também é denominado Zona Especial de
Preservação 2 (ZEP 2) e subdivide-se, ainda, em três setores: Setor de Preservação
Rigorosa 1, Setor de Entorno Cultural 1 e Setor de Entorno Cultural 2. O conjunto em estudo
está situado no polígono rigoroso (SPR 1).
Mapa 1: Identificação do Setor de Preservação Rigorosa 1 da ZEP 2. Fonte: SEMPLA, 2007 (adaptado).
O centro é um dos bairros de origem da cidade. Expressa em sua constituição urbana
diversas fases de desenvolvimento da cidade de Maceió, demonstrando e caracterizando,
dessa forma, lógicas de ocupação do solo, de usos e de expansão do tecido.
Proveniente do crescimento de um povoado do século XVII “pelo engenho de açúcar que aí
existiu no local que está hoje ocupado pela praça D. Pedro II.” (COSTA, 1981, p.8), o
município de Maceió teve seu desenvolvimento e crescimento em função da atividade
comercial suscitada pela atividade portuária realizada no porto de Jaraguá. Em decorrência
desse desenvolvimento surge a necessidade de caminhos de ligação para transporte de
cargas e mercadorias para os engenhos de açúcar. E são esses caminhos para o porto,
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naturalmente desenhados pelos tropeiros e seus animais de carga, que dão origem ao
traçado da cidade.
“Comércio, rua principal da cidade, começa na Praça dos Martírios e termina na
Praça Pedro de Alcântara, em uma extensão de 770m e composta de mais de 400
prédios. Chamada de Comércio, porque nela estão os principais estabelecimentos
comerciais em grosso e retalho (...)”. (LIMA JUNIOR, 1976).
Com desenho longo e tortuoso, a Rua do Comércio foi um dos primeiros caminhos traçados.
Era a via pública mais utilizada pela sociedade na época; Considerada sinônimo de
modernidade – as intervenções realizadas nela e em seu entorno buscavam esse ideal. Um
exemplo constatado disso foi quando, em 1923, a lei municipal nº 167 proibiu a construção
de casas térreas nesta rua. A partir disso, denota-se que as edificações térreas eram vistas
como uma expressão de atraso e que a lei funcionou como uma intenção de se criar uma
imagem de desenvolvimento – uma maneira de se desvincular do passado colonial.
Figura 1: Rua do Comércio em meados do século XIX Fonte: Acervo digital do Museu de Imagem e Som de Alagoas.
Figura 2: Rua do Comércio, foto de 1906. Fonte: Arquivo Público de Alagoas (APA) apud COSTA, 1981.
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Seu conjunto arquitetônico compreende casas térreas e sobradaos, de até 03 (três)
andares, do final do século XIX – geminadas, alinhadas à rua, testada estreita e longo
comprimento; Com relação aos usos, desde sua formação, destaca-se a atividade
comercial; nos sobrados, os comerciantes exerciam sua atividade no pavimento térreo e
residiam nos pavimentos superiores.
Figura 3: Rua do Comércio, sobrados.
Fonte: Fototeca do Arquivo Público de Alagoas (APA) apud COSTA, 1981.
Figura 4: Rua do Comércio, sobrados e casas térreas. Fonte: Fototeca do Arquivo Público de Alagoas (APA) apud COSTA, 1981.
Como maneira de investigação da lógica formação da cidade de Maceió, e especificamente
da evolução morfológica, sob o ponto de vista das permanências e transformações, do
Conjunto da Rua do Comércio, é importante um estudo da primeira planta cadastral da
cidade:
A planta primitiva, que não só assinala a parte do burgo já habitada e menciona,
minuciosamente, todas as indicações necessárias a um estudo topográfico
completo, por largas ruas e avenidas, retificando os defeitos originários do
povoamento, para que a cidade crescesse linda e bem ordenada, a planta primitiva,
dizíamos, perdeu-se. (COSTA, 1981, p.29).
O levantamento da mesma aconteceu em 1820, no governo de Francisco de Mello e
Póvoas. No entanto, devido a seu desaparecimento, há acesso apenas à cópia feita pelo
engenheiro Carlos Mornay. É possível perceber a partir de comparações da planta com
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mapas ou fotografias atuais a permanência da configuração do traçado da Rua, bem como
do alinhamento de suas edificações à rua.
Mapa 2: Destaque da Rua do comércio na planta feita pelo engenheiro Carlos Mornay a partir da
planta primitiva de 1820. (adaptado).
Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL) apud BARROS, 1991.
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Mapa 3: Manutenção do traçado da Rua do Comércio. Fonte: Google Earth, 2015.
Até hoje o Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio permanece como importante
referência da cidade e sua origem. Foi escolhido para estudo, pois contem a mais antiga rua
e apresenta grande número de imóveis históricos (IH) – um patrimônio muitas vezes deixado
de lado no processo de conservação patrimonial. É caracterizado pela predominância das
atividades comerciais e por sua Significância enquanto atributo que comunica em suas
estruturas morfológicas – rua, lotes, edificações, usos, ambiente – valores próprios da
sociedade local construídos ao longo do tempo, bem como indícios materiais referente às
lógicas de crescimento da cidade de Maceió.
2. A leitura morfológica como ferramenta
Com o intuito de atingir o objetivo proposto, definiu-se como instrumento de estudo a análise
morfológica. Tal estudo constitui uma importante ferramenta para o entendimento da
conformação urbana, desde a sua origem até as transformações mais recentes.
A morfologia urbana trata da análise do meio físico da forma urbana e dos processos que o
formataram; a forma da cidade é estruturada por elementos físico-espaciais – ruas,
edificações, mobiliário urbano, praças, sítio físico – e pelos usos – atividades praticadas. A
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caracterização desses elementos e análise do resultado das suas relações permite a
identificação de atributos materiais e imateriais – fundamentais no processo de construção
da Significância Cultural de um sítio.
“A relação rua/parcelas é o fundamento para a existência do tecido urbano. À rua –
que conduz de um ponto a outro, de um bairro a outro ao mesmo tempo em que dá
acesso a outras ruas – estão associados lotes, de um lado e de outro. Essa relação
também estrutura a massa edificada. A parcela não é um terreno a ser ocupado de
qualquer maneira, mas uma unidade de solo urbano organizada a partir da rua. As
edificações podem estar no alinhamento do lote ou recuadas, podem ser geminadas
ou isoladas, altas ou baixas, mas têm sempre a rua como referência. (PANERAI,
2014, p.87-88).
Na análise do Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio, que se configura no nível da rua,
estuda-se a relação desta com os outros elementos morfológicos constituintes do conjunto –
principalmente as suas edificações; interpretando como uma relação dialética, em que o
edifício constrói o conjunto, e a forma do conjunto é condicionadora do lote edificado
(GARCIA LAMAS, 1993, p.86). Tal relação se concretiza diretamente na parede do espaço
urbano – a fachada.
“O parcelamento conserva a memória de estados anteriores do território, a marca de antigos
usos do solo e de determinados limites.” (PANERAI, 2014, p.89). Entende-se a cidade como
uma composição de diversas camadas de marcas históricas. Estas são materializadas nos
tipos edificados, padrões de uso e ocupações do lote, equipamentos urbanos, praças,
ambiência e traçado.
Partindo-se da compreensão do caráter dinâmico do espaço e, consequentemente, da
sobreposição ou ressignificação de códigos e valores urbanos ao longo do tempo, a
aplicação da morfologia urbana no campo da conservação busca identificar “um passado
que ainda experimentamos” (ROSSI, 2001, p.49) – a permanência de indícios materiais e
imateriais da cidade que expressam sua identidade.
3. Metodologia
A metodologia da pesquisa estrutura-se em quatro etapas: 1) Análise documental – revisão
teórica sobre o objeto empírico e conceito de Significância Cultural; 2) Análise morfológica
para identificação dos atributos materiais e imateriais; 3) Identificação dos atributos
patrimoniais para construção da Significância; 4) Verificação da interferência das
transformações do espaço na percepção do legado patrimonial.
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Na etapa 1, foi feita a revisão teórica sobre o bairro do centro em Maceió, onde o Conjunto
Arquitetônico da Rua do Comércio se encontra. A partir do estudo foi possível investigar
sobre sua origem, influência para o desenvolvimento da cidade, processos e intervenções
na forma. Para apreensão do conceito de Significância Cultural de um sítio, foram realizados
estudos sobre a conservação urbana a partir de leituras, fichamentos e discussões de
documentos doutrinários – as cartas patrimoniais – e artigos do Centro de Estudos
Avançados da Conservação Integrada (CECI), do qual a pesquisa conta como apoio
institucional.
Na etapa 2, leituras sobre a análise morfológica com a elaboração de um quadro de
conceitos dos elementos que compõem a forma urbana. É composto por duas colunas –
itens e definição. Para cada item foi feito sua definição por meio de citações diretas e
indiretas. A construção do quadro possibilitou um direcionamento na identificação dos
atributos patrimoniais.
ITENS DEFINIÇÃO
Tecido Urbano A imbricação do conjunto da rede de vias, dos
parcelamentos fundiários e das edificações. (PANERAI,
2014, p.78).
Sítio físico “(...) examina como o contexto de paisagem natural
participa ou se ausenta da configuração dos lugares;
abrange os elementos do meio físico, seja ele natural ou
construído por ações humanas, os quais são
observados como composições plásticas,
materializações climáticas e condicionantes da
percepção das formas (luzes e sombras).”
(KOHLSDORF, 1996, p.139).
Parcelamento "Se refere à maneira como o solo é dividido para vários
tipos de ocupação, sejam edifícios ou áreas abertas."
(KOHLSDORF, 1996, p.143). Tem como objetivo final o
melhor controle de uso e aproveitamento do solo.
Relações
intervolumétricas
Observa as relações laterais entre os volumes
edificados, ou seja, os afastamentos laterais das divisas
dos lotes. (KOHLSDORF, 1996, p.150).
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Relação edifício-lote Caracteriza o cenário do espaço urbano pois se refere à
"implantação do edifício no lote como transição entre
instâncias públicas e privadas." (KOHLSDORF, 1996,
p.151)
Fachadas São as paredes do espaço urbano, "extrapolando,
assim, seu papel como elemento tipológico das
edificações." (KOHLSDORF, 1996, p.153). Constituem a
relação do edifício com o espaço da cidade.
Rua As ruas, segundo Martin (1902, p. 185) são elementos
que surgem a partir do desenvolvimento das principais
vias de circulação.
Parcela fundiária Perfil de lote de cada edificação.
Praça “Hoje (...) é designado por praça qualquer espaço vazio
entre quatro ruas. Talvez esta circunstância seja
suficiente em termos de higiene ou de outras
considerações técnicas, mas, sob um ponto de vista
artístico, um terreno vazio não é uma praça. No rigor da
palavra, sob esse aspecto ainda falta muito no tangente
de ornamentação, significado e caráter (...) a condição
essencial é o fechamento do espaço”. (SITTE, 1992,
p.47)
Monumentos Elemento urbano singular constituído de significados
históricos, culturais e estéticos que pode identificar e
caracterizar uma determinada área. (GARCIA LAMAS,
1993, p.104).
Elementos de
informação
"Referem-se tanto a elementos de sinalização (como
placas de trânsito e nomenclatura de logradouros )
quanto a elementos de propaganda. Comparecem
incorporados às fachadas e participando, portanto, de
sua composição plástica ou como elementos
autônomos.” (KOHLSDORF, 1996, p. 161)
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Mobiliário urbano "Reserva-se esta expressão a elementos com
características de maior mobilidade e ainda menor
escala". (KOHLSDORF, 1996, p. 161)
Forma Compreende a configuração exterior do elemento ou
conjunto. (GARCIA LAMAS, 1993, p.41)
Uso Funções, atividades desenvolvidas e práticas sociais
(costumeiras e tradicionais) (ICOMOS, 2013) que
ocorrem ou dependem do elemento ou conjunto em
questão.
Crescimento Elemento que expõe as lógicas evolutivas e
estruturadoras da cidade, expondo seus "modos,
intensidades e direções; elementos geradores e
reguladores, limites e superação de limites, modificação
de estruturas, pontos de cristalização etc." (DEL RIO,
1990, p.83)
Ambiência Ambiente de entorno que faz parte ou contribui para a
significância cultural e identidade de um sítio. A
ambiência inclui a configuração visual do entorno
(estruturas, espaços, terra, água e céu); Inclui relações
históricas e contemporâneas, usos e praticas sociais do
entorno com o sítio. (ICOMOS, 2013).
Tabela 1: Definições. Fonte: autora, 2015.
Em seguida, com a ajuda do quadro acima, foi construído outro instrumento com
orientações sobre as possíveis formas de analisar cada item. O quadro é composto por três
colunas. A primeira se refere aos elementos/itens que serão analisados; a segunda se refere
aos atributos materiais de determinado elemento; e a terceira aos atributos imateriais. Na
coluna dos atributos materiais procura-se analisar a forma. A coluna dos atributos imateriais
se subdivide em outras três colunas: uso, ambiência e crescimento; se referem aos
aspectos imateriais dos elementos.
Vale ressaltar que a divisão dos atributos em imaterial e material se dá apenas para fins
analíticos, pois os valores patrimoniais de um sítio ou edificação são percebidos a partir da
junção dos dois atributos:
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“os elementos materiais evocam uma percepção do imaterial, como o degrau
desgastado pelo uso em uma igreja que remete à passagem de diversas gerações
por esse local, e os aspectos imateriais necessitam de uma base física para se
realizarem.” (ZANCHETI et al, 2008, p. 9).
Material Imaterial
Elementos/itens Forma Uso Ambiência Crescimento
Sítio físico
Desenhos (perspectivas, cortes), modelos (curvas de nível)
Listagem, espacialização e caracterização
Avaliação da interação
Tecido
Desenhos (planta baixa, mapas)
Mapeamento, espacialização e caracterização
Avaliação da interação
Avaliação das intensidades e direções
Parcelamento
Desenhos (planta baixa)
Mapeamento, espacialização e caracterização
Avaliação da interação
Avaliação das intensidades e direções
Relações Intervolumétricas
Desenhos (planta baixa, perspectiva)
Espacialização e caracterização
Avaliação da interação
Relação edifício lote
Desenhos (planta baixa, perspectiva)
Mapeamento, espacialização e caracterização
Avaliação da interação
Avaliação das intensidades e direções
Conjunto de fachadas
Desenhos (fachadas)
Espacialização e caracterização
Avaliação da interação
Rua
Desenhos (planta baixa, cortes)
Listagem, mapeamento, caracterização e espacialização
Avaliação da interação
Avaliação das intensidades e direções
Parcela fundiária
Desenhos (planta baixa)
Espacialização e caracterização
Avaliação da interação
Praça
Desenhos (perspectivas, planta baixa)
Listagem, mapeamento, caracterização e espacialização
Avaliação da interação
Avaliação das intensidades e direções
Monumentos
Desenhos (perspectivas, esboços)
Espacialização e caracterização
Avaliação da interação
Elementos de informação
Desenhos (perspectivas)
Espacialização e caracterização
Avaliação da interação
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Mobiliário urbano
Desenhos (perspectivas, cortes)
Espacialização e caracterização
Avaliação da interação
Tabela 2: Itens de análise. Fonte: autora, 2015.
A consolidação da etapa 3) se estrutura pelas seguintes atividades: a) levantamento in loco
caracterizando a estrutura física (elementos morfológicos) e o uso (atividade praticada) das
edificações históricas e dos elementos de entorno; b) avaliação comparativa da composição
atual do espaço com momentos anteriores – subsidiada pela análise de registros e
fotografias – de modo a possibilitar a percepção das mudanças ou permanências que
interfiram no processo da Significância Cultural.
A etapa 4, Verificação da interferência das transformações do espaço na percepção do
legado patrimonial, ainda encontra-se em andamento. Com os atributos patrimoniais do
Conjunto Arquitetônico em estudo identificados na etapa anterior, já se obteve alguns
resultados parciais com relação às interferências.
Resultados e Discussões
No Conjunto, foram identificadas 39 (trinta e nove) – sendo 38 (trinta e oito) imóveis
históricos e 1 (um) monumento – edificações de interesse histórico; 2 (duas) delas não
constavam no Plano Diretor (SEMPLA, 2006). A partir da leitura morfológica realizada até o
momento percebeu-se grande descaso com relação ao estado de conservação dos Imóveis
Históricos. Diferentemente dos IH, o único monumento presente – apresenta-se bem
conservado.
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Mapa 4: Rua do comércio – destaque das edificações históricas. Fonte: autora, 2015.
Com o intuito de documentar as edificações históricas do conjunto, foi elaborada uma ficha
de levantamento. A mesma contém a numeração da quadra e de cada lote – de acordo com
o mapa do SEMPLA; fotografia de identificação; e a caracterização de seus respectivos
estados de conservação e ambiência.
Nº IMAGEM ESTADO DE CONSERVAÇÃO E AMBIÊNCIA
18, 24 e 14
acervo pessoal
Conservação prejudicada;
Uso de beiral ou marquise;
Edificação com pátina ou vegetação;
Modificação na estrutura original;
Revestimento do pav. térreo com azulejos
ou emassado;
Esquadrias e folhas originais mantidas,
mas danificadas.
Permanece: alteração para uso comercial
Tabela 3: Síntese de organização da ficha. Fonte: autora, 2015.
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Após o levantamento, foi observada, no conjunto, gradual descaracterização; causada pelo
abandono e as transformações ocorridas nos imóveis, tanto em seu interior como exterior,
decorrentes da intensa atividade comercial, bem como da interferência do mobiliário urbano.
A fiação aparente em todo conjunto e a obstrução das fachadas dos IH, por meio da
colocação de letreiros e marquises, são um dos fatores de descaracterização.
Principalmente nos pavimentos superiores dos sobrados, foram muitas as fachadas que se
apresentavam deterioradas: esquadrias quebradas, vegetação, revestimentos sem
manutenção.
Figura 5: Fachada sendo preparada para colocação de letreiro. Fonte: Autora, 2015.
Figura 6: Péssimo estado de conservação do cenário urbano do Conjunto. Fonte: Google Street View, 2015.
Desde a origem do Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio, foi averiguada a
manutenção do tecido: traçado longo e tortuoso da rua; lotes de longo comprimento e
testadas estreitas; parcelamento alinhado às ruas; edificações geminadas.
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A permanência do comércio foi classificada como o atributo imaterial que caracteriza a
principal atividade desenvolvida no bairro desde a sua formação; e também como
prejudicial, sem a devida fiscalização, para o estado de conservação das edificações
históricas que comportam tal atividade.
Conclusão
Como uma relevante área no que se refere à implantação e desenvolvimento do núcleo
urbano de Maceió, o Conjunto Arquitetônico da Rua do Comércio está situado no Setor de
Preservação Rigorosa 1 da ZEP 2. Portanto, as edificações instituídas como patrimônio
cultural estão submetidas a um rígido controle de gestão, dessa forma, impedindo
intervenções ou não intervenções que possam provocar o perecimento ou interferências em
suas características originais, alterando a imagem original ou a ambiência. (PREFEITURA
MUNICIPAL DE MACEIÓ, Código de Urbanismo e Edificações de Maceió – Alagoas. Art. 49.
p.25).
A comunicação de um significado pressupõe uma relação sujeito/ambiente. Não depende
apenas da conservação de edificações isoladas, mas também da conservação da ambiência
que conforma a mesma no espaço – “toda totalidade é uma combinação de outras
totalidades menores, mas que, antes de ser uma simples soma, é uma síntese dela”
(KOHLSDORF, 1996, p.164); – da síntese e harmonia entre os valores incorporados em
cada relação e elementos morfológicos.
No estudo em questão observou-se uma falta de harmonia. Uma sobreposição ou obstrução
do valor de uso – atividade comercial – sobre valor arquitetônico das edificações históricas,
prejudicando, dessa forma, a apreensão da totalidade – síntese das características
espaciais, culturais e ambientais do conjunto. Este ponto deverá suscitar aprofundamento
das reflexões sobre o valor de uso frente ao valor estético para conservação da significância
do patrimônio cultural.
Por meio da leitura da forma urbana do Conjunto, embasadas pelas variáveis de análise
utilizadas e expostas na tabela de definição dos itens morfológicos – ao longo do que foi
analisado na pesquisa, até então – foi possível perceber algumas permanências
incorporadas nas formas e suas relações. Com relação às edificações e suas relações com
o espaço público da rua (relações intervolumétricas, edifício-lote, fachadas) destacam-se a
permanência, desde a formação da Rua do Comércio, da forma de ocupação do edificado:
lotes compridos, testadas estreitas, geminados e alinhados à rua.
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No decorrer da análise, percebeu-se, uma grande lacuna entre a teoria expressa no Plano
Diretor (SEMPLA, 2006) que propõe diretrizes e inúmeras medidas de gestão para
preservação do legado patrimonial, e a realidade, à medida que a imagem do descaso se
expressa predominantemente nas estruturas urbanas. As alterações nos IH – patrimônio
mais ameaçado do conjunto – em seus interiores e fachadas denunciam o elevado grau de
abandono e a falta de fiscalização do órgão público na área.
Com o objetivo de uma melhor compreensão do estudo de caso e contribuição para o
processo de operacionalização da conservação da Significância, pretende-se ampliar a
análise morfológica com base na escola Conzeniana. Em uma de suas linhas de
investigação propõe uma esquematização do tempo em períodos morfológicos, analisados
sob o ponto de vista de suas principais transformações e permanências em relação aos
elementos que conformam a forma urbana; a relação desses com o processo tipológico
(WHITEHAND, 2013, p.48).
A construção da Significância Cultural a partir da identificação dos atributos patrimoniais é
um processo fundamental e orientador para a gestão da conservação de um bem. Vale
ressaltar que a mesma é um processo mutável e construído socialmente, e por isso, de
tempos em tempos, deve ser constantemente revisada (ZANCHETI; HIDAKA, 2014, p.5). A
importância do conhecimento do estudo de caso em questão, o Conjunto da Rua do
Comércio, está na correlação da investigação de sua história e leitura da forma urbana – em
que são destacadas as questões referentes às permanências e transformações; dessa
maneira, possibilitando a avaliação e identificação dos valores, materiais e imateriais,
patrimoniais representantes da sociedade local.
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