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ANA SOFIA CORREIA DOS SANTOS

A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS: EXPIEIUÉNCMS EM COGNIÇÃO SOCIAL COM UMA METODOLOGIA DE TESTE-

llETESTE LONGHUDINAL

LISBOA

2001

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Dissertação de mestrado em Psicologia, Área de Psicologia Cognitiva, apresentada na

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa

A I N S ; C ^ I Í L I D B O S E S O È m i E Ó : ^

E X P E R Z É N Ê I ^

Orientador: Professor Leonel

Barcia-Marques

ANA SOFIA CORREIA DOS SANTOS

LISBOA

2001

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-mW^ãkSím

Ao longo da tese, onde se iè: 'ás", leia-se: "às".

Na página 2, onde se Iè: "O mesmo tipo de insuficiências, (...), já tinham sido notadas...", leia-se: "O mesmo tipo de insuficiências, (...), já tinha sido notado...".

Na página 5, onde se lé: "...os conceitos são utilizados para classificar novas entidade...", leia-se: "...os conceitos são utilizados para classificar novas entidades...".

Nas páginas 13-14, onde se Iè: "A palavra "come" (...). mas os esses traços...", teia-se: "A palavra "come" (...), mas esses traços...".

Na página 27, onde se Iè: "...que uma quantidade enorme de conceitos estão armazenados na memória...", leia-se: "...que uma quantidade enorme de conceitos está armazenada na memória...".

Na página 32, onde se iè: "...a natureza das pistas disponíveis no contexto são cnticas...", leia-se: "...a natureza das pistas disponíveis no contexto é crítica...".

Na página 34, onde se Iè: "Finalmente, (...) as teorias da categorizarão.", leia-se: "Finalmente, (...) as teorias da categorização.".

Na página 36, onde se lê: "Algumas instâncias...da categoria dos que outras.", leia-se: "Algumas instâncias...da categoria do que outras."

Na página 42, onde se Iè: "São vários os investigadores que propuseram...", leia-se: "Foram vários os investigadores que propuseram...".

Na página 43, onde se iè: "Apesar dos modelos (...), frequentemente, as pessoas adquirirem...", leia-se: "Apesar dos modelos (...), frequentemente, as pessoas adquirem..."; e, onde se Iè: "Agora, alguns modelos...quando ocorre a categorização ou os julgamentos...", leia-se: "Agora, alguns modelos...quando ocorrem a categorização ou os julgamentos...".

Na página 56, onde se Iè: "Alguns aspectos distinguem, (...) é necessário assumir que as pessoas codifiquem...", leia-se: "Alguns aspectos distinguem, (...) è necessário assumir que as pessoas codificam...".

Na página 59, onde se Iè: "Os resultados forma interpretados...", leia-se: "Os resultados foram interpretados...".

Na página 64, onde se lê: "Incluí, portanto, (...), e é assumido que tèm efeito apenas através de pistas periféricas...", leia-se: "Incluí, portanto, (...), e é assumido que tem efeito apenas através de pistas periféricas...".

Na página 67, onde se iè: "Esta hipótese é baseada (...), que sugerem que as representações das crenças sociais...", leia-se: "Esta hipótese é baseada (...), que sugerem que as representações das crenças individuais...".

Na página 69, onde se Iè: "Embora tivesse sido dada liberdade...qualquer tipo de características...", leia-se: "Embora tivesse sido dada liberdade...qualquer tipo de característica...".

Na página 70, onde se Iè as instruções: "Estamos interessados nas caracteristicas que as pessoas ut i l izam para desc rever m e m b r o s de vários gaipos . Vamos pensar no grupo de indivíduos que têm em c o m u m a prof i s são de médicos . Pedimos-i l ie que, aparlir d;i lista de traços de personal idade q u e lhe ap resen tamos , escolha aque les que caracter izam os médicos c o m o um todo. Escolha ap ro . \ imadamenie

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cinco caracter ís t icas da lista, para transmitir a sua impressão sobre os médicos e para os descrever de fomia adequada , e escreva-as nas lijiiias abaixo. Não exis tem respostas cer tas ou erradas, apenas es tamos interessados na sua op in ião pessoal ." , ieia-se: ' 'Es tamos interessados nas caracter ís t icas que as pessoas ut i l izam para descrever m e m b r o s de vários grupos. Vamos pensar no g rupo de indivíduos que têm em c o m u m a prof i ssão de médicos. Pedimos- lhe que lisle aqueles traços de personal idade , ad jec t ivos ou f rases curtas que usaria para caracterizar os médicos c o m o um todo. Assinale tantas caracter ís t icas quan tas achar necessár ias para transmitir a sua impressão sobre os médicos e para os descrever de fo rma adequada . N ã o exis tem respostas certas ou erradas. Es tamos interessados na sua opinião pessoal acerca dos médicos. '".

Na página 79, onde se iè: ".46", ieia-se: ".48".

Na página 82, onde se Iè: "Esta medida de positividade...e para os dois tipos de crenças avaliadas...", ieia-se: "Esta medida de positividade...e para os dois tipos de crenças avaliados...".

Na página 105, onde se lê: "Estes testes pretendiam medir, para cada condições de resposta,...", leia-se: "Estes testes pretendiam medir, para cada condição de resposta,...".

Na página 106, onde se Iè: "Consideraram-se periféricos os traços...que obtiveram avaliações acima da média...", leia-se: "Consideraram-se periféricos os traços...que obtiveram avaliações acima da mediana...".

Na página 117, a Tabela 7 passa-se a ler segundo as alterações introduzidas a sublinhado na seguinte tabela:

Tabela 7: Médias e valores de correlação para os grupos sociais

Grupos Número médio de Acordo intra sociais instâncias geradas sujeitos

• • ti-'':

Ciganos 4,83 4.77 .55

Homossexuais 4.37 4.38 .62

Emigrantes 4.34 4,37 .55 africanos

Na página 120, onde se Iè. na Tabela 9: 'T= -1,98; p=.052", leia-se: "T= 1,98; p=.052"; e onde se Iè: "Foi necessário (...) distinguir entre instâncias mais típicas e menor típicas.", leia-se: "Foi necessário (...) distinguir entre instâncias mais típicas e menos típicas."

Na página 125, onde se Iè: "Salientam-se...no estudo da categorizarão,...", ieia-se: "Salientam-se. .. no estudo da categorização,...

Na página 127, onde se Iè: "(.37)", leia-se: "(.34)".

Na página 146, não foi introduzida a seguinte referência:

McArdie, J.J. e Woodcock, R.W. (1997). Expanding test-retest designs to include developmental time-lag components. Psychological Methods, 4, 403-435.

Nos anexos referentes às tarefas de identificação de uma distr ibuição, não foi introduzido um exemplo da matriz de 25 distribuições utilizada, que é apresentado agora como anexo desta errata.

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N ã o sei até o n d e m e a c o m p a n h o u a sorte , mas ,

inequivocamente , ela estava presen te q u a n d o

encontrei o Paulo e a Liuba, a q u e m dedico este

trabalho.

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Agradecimentos

Ao Professor Leonel Garcia-Marques que tornou possível este trabalho, antes de

mais pelo desafio constante que me proporcionou, pela sua sábia orientação, pela

objectividade, clareza e discernimento com que organizou ideias que nascem e renascem,

desirmanadas, pelo seu rigor metodológico e pelas inúmeras sugestões teóricas e empíricas.

Ao Professor Danilo Silva que, mesmo antes do início da minha carreira académica,

foi capaz e quis facultar-me as oportunidades e liberdade necessárias para o meu

desenvolvimento científico.

Ao Coordenador e Professores do Mestrado em Psicologia, Área de Psicologia

Cognitiva, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de

Lisboa: Professor Carlos de Brito-Mendes, Professor José Morais. Professor Leonel Garcia-

Marques, Professor Simões da Fonseca e Professor Paulo Ventura.

Ao Professor José Manuel Palma-Oliveira pela aposta realizada em mim e pela sua

amizade.

Ao Professor Paulo Ventura pela sua imensa boa vontade e esforço em me facultar

os seus alunos como sujeitos.

Aos alunos do 1° ano do curso superior de Psicologia, da Faculdade de Psicologia e

de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, do ano lectivo de 1998/99, que

colaboraram enquanto sujeitos.

Aos colegas do Mestrado em Psicologia. Área de Psicologia Cognitiva, da Faculdade

de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, especialmente à

Margarida Garrido. Rita Jerónimo e Miguel Pimenta.

À minha família e amigos e em especial aos meus pais. à minha avó e à minha irmã.

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Resumo

As visões tradicionais sobre os estereótipos consideram-nos estruturas estáveis

armazenadas na memória e recuperadas intactas, enquanto as visões mais recentes

enfatizam a fluidez e flexibilidade dos estereótipos, propondo que estes são construídos com

base no conjunto de conhecimentos disponível num determinado momento. Contudo, pouca

ou nenhuma investigação foi feita para determinar quão estáveis podem ser estas estruturas

de conhecimento. Nas três experiências seguintes, é feita uma estimativa da estabilidade dos

estereótipos e das crenças individuais sobre grupos sociais. O método usado consistiu em

pedir aos sujeitos que desempenhassem as mesmas tarefas de recuperação em duas

sessões separadas por duas semanas. Em cada sessão da Experiência I, foi pedido aos

participantes que listassem atributos de grupos sociais com base nos seus estereótipos e

com base nas suas crenças pessoais. A correlação média entre os conteúdos produzidos nas

duas sessões foi .51, para os estereótipos, e .52, para as crenças individuais. Os resultados

são consistentes com a ideia de que a representação de uma determinada categoria social

varia substancialmente intra sujeito. Colocou-se também a hipótese que, porque se supunha

que os exemplares tivessem um maior efeito nas descrições baseadas em crenças

individuais, os estereótipos fossem mais estáveis do que as crenças individuais, e essa

hipótese foi infirmada. A Experiência II revelou resultados semelhantes, utilizando outros

grupos sociais. Na Experiência III, em vez de listar atributos, foi pedido aos sujeitos que

gerassem instâncias de grupos sociais. Semelhantemente, a correlação média entre as

instâncias geradas nas duas sessões foi apenas modesta, .57. Em conjunto, estes resultados

ilustram a instabilidade substancial das representações de categorias sociais intra

individualmente, o que sugere que as estruturas de conhecimento invariantes que muitos

investigadores procuram identificar são meras ficções. E que alguma estabilidade temporal

que se verificou nas representações de uma categoria ficou a dever-se aos atributos verbais

considerados mais centrais e ás instâncias consideradas mais típicas para a descrição da

mesma, e não aqueles atributos e instâncias periféricos. São discutidas implicações destes

resultados para as teorias sobre como são representados mentalmente os grupos sociais.

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Abstract

Traditional views regard stereotypes as stable structures that are retrieved from

memory intact, whereas more recent views contend that stereotypes are constructed at the

time that they are evoked and are thus relatively flexible. However, little or none research has

been done to determine how reliably such information can be retrieved from memory. In the

next three experiments, an estimate of reliability of stereotypes and personal beliefs about

social groups was made. The method used was to ask subjects to perform the same retrieval

task in each of two sessions separated by two weeks. In each session of Experiment I.

participants were asked to list characteristics of social groups based on their stereotypes and

based on their personal beliefs. The mean correlation between the contents of the two

sessions was found to be .51, for stereotypes, and .52, for personal beliefs. The results are

consistent with the idea that representation of a given social category varies substantially

within-subjects. It was also hypothesized that, because exemplars would have a stronger

effect In descriptions of personal beliefs, stereotypes would be more reliable than personal

beliefs, and this hipothesis was disconfirmed. Experiment II indicated similar results with

others social groups. In Experiment III, Instead of listing characteristics, the subjects were

asked to generate Instances of social groups. Similarly, the mean correlation between the

contents of the two recalls was found to be only modest, .57. Taken, thogether, these findings

illustrate substantial within-subject instability In social category representation. This suggest

that the invariant knowledge structures that many researchers attempt to Identify are merely

fictions. And that some stability found in social category representation was due to

characteristics and instances considered central to her description, and not to peripheral ones.

Implications of this findings for theories about how social groups are represented mentally are

discussed.

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 1

1.1 Visões sobre a categorização geral: Que estabilidade atribuem às representações mentais de categorias ^

1.1.1 A impor tância de categor izar 1.1.2 M o d e l o s de representações mentais de ca tegor ias 6 1.1.3 Cont ras te entre a visão absiraccionis ta e a visão exemplar is ta dos processos cogni t ivos i 1

1.2 A estabilidade modesta das representações de categorias gerais revelada pela visão empírica 15 1.2.1 Ava l iações s i s temát icas de ins tabi l idade das representações de categorias - revisão de es tudos 15 1.2.2 Impl icações da instabi l idade para a natureza dos concei tos 24

1.3 Visões sobre os estereótipos: Que estabilidade atribuem a estas estruturas de conhecimento social ^^

1.3.1 M o d e l o s de representações mentais de g rupos sociais ^^ 1.3.2 Expec ta t ivas de que os es tereót ipos não mudam mas pressupostos exempla r i s t a s de q u e são instáveis 47

1.4 Efeito de homogeneidade do out-group: Sua importância na reformulação do conceito de estereótipo ^^ 1.5 A trilogia de Princeton e a necessidade de uma metodologia apropriada ao estudo da estabilidade dos estereótipos: Sua importância na reformulação do conceito de estereótipo 58

1.6 A distinção entre estereótipos e crenças individuais

1.7 Objectivos ^^

2. EXPERIÊNCIA I ^^

2.1 Experiência I: Método ^ 2.1.1 Pré-teste ^ ^ 2.1.2 Par t ic ipantes e D e s e n h o exper imenta l ^ ' 2 .1.3 Mater ia l ^^ 2.1.4 P roced imen to 2.1.5 M e d i d a s dependen te s

2.2 Experiência I: Resultados e Discussão ^^

2.3 Experiência I: Conclusões ^^

3. EXPERIÊNCIA II ^^

3.1 Experiência II: Método ^^ 3.1.1 Par t ic ipantes e D e s e n h o exper imenta l 3.1.2 Mater ia l ^ ^ 3.1.3 P roced imen to ^ ^ 3.1.4 M e d i d a s dependen tes

3.2 Experiência II: Resultados e Discussão ^^

3.3 Experiência II: Conclusões

4. EXPERIÊNCIA III

4.1 Experiência III: Método 4.1.1 Par t ic ipantes e D e s e n h o exper imenta l ' ' ^ 4.1.2 Mater ia l ' 4 .1.3 P roced imen to ^ ' , 4.1.4 M e d i d a s dependen te s 116

4.2 Experiência III: Resultados e Discussão

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4.3 Experiência III: Conclusões 123

5. CONCLUSÕES GERAIS 125

5.1 Principais resultados das três experiências: uma síntese 126

5.2 Principais lições aprendidas e perspectivas futuras de investigação 137

6. REFERÊNCIAS 141

7. ANEXOS 150

ANEXO 1 - Instruções para a Experiência I 151

ANEXO 2 - Instruções para a Experiência II 162

ANEXO 3 - Instruções para a Experiência III 175

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1. Introdução |

Na tenta t iva de dar sentido aos outros, os indiv íduos cons t róem e usam regula rmente

representações ca tegór icas para s implif icar e dar fo rma ao processo de perceber pessoas .

Uma vez imp lemen tada , os indivíduos podem usar os con teúdos da estrutura de

conhec imen to (i.e. expec ta t ivas sobre traços e compor tamen tos ) para derivar aval iações e

impressões de um alvo, um processo que, f r equen temen te , dá or igem a j u lgamen tos

baseados em es te reó t ipos . De facto , notando a complex idade social do dia-a-dia . são

necessár ios m e c a n i s m o s cogni t ivos que prote jam os ind iv íduos da necess idade de l idar

com inf in i tos de ta lhes , sem perder demasiada in fo rmação . Os es tereót ipos podem ser esses

mecan i smos , por represen ta rem as caracter ís t icas supos tamente t íp icas dos grupos sociais .

Permi tem tratar ind iv íduos únicos como membros semelhantes de uma categoria , e assumir

a presença de qua l idades relevantes para a ca tegor ia sem ter que ver i f icar a sua exis tência .

A na tureza da representação mental dos es tereót ipos tem sido controversa . Os

modelos in ic ia is a s sumiam que estes eram estruturas cogni t ivas es táveis , representadas

abs t rac tamente , ou e squemas . De acordo com esta visão, os es te reó t ipos são es t ru turas

duradouras a r m a z e n a d a s na memória e recuperadas intactas para guiar o p rocessamento de

in fo rmação . Novos a lvos são categorizados com base na sua seme lhança com um esquema

par t icular . E a in fe rênc ia es tereot ípica acontece quando o ind iv íduo infere que cer tos

t raços, t endênc ias compor tamenta i s , e por aí adiante, que es tão con t idos no esquema, se

apl icam ao novo alvo. Contudo, apesar da sua p laus ib i l idade , estes pressupos tos são

discut íveis . De fac to , os es tereót ipos têm apresentado d i f i cu ldades na sua medição . Apesa r

de serem, t r ad ic iona lmente , cons iderados represen tações menta i s de grupos sociais

duradouras , a sua med ida e expressão estão minadas por um grande número de fac to res

sensíveis ao con tex to . De tal modo que não é claro se os es tereót ipos têm ou não

desvanec ido ao longo do tempo (Devine e El l iot , 1995) e se os es te reó t ipos covar iam ou

não com as c renças individuais (Devine, 1989). Por outro lado, es tudos ex is ten tes

(Bodenhausen , Schwarz , Bless e Wanke , 1995; Schwarz e Bless , 1992; Coats e Smi th ,

1999) m o s t r a m que as representações mentais de ca tegor ias socia is amplas e de subt ipos

podem ser a l te rados se um exemplar especí f ico (membro da ca tegor ia ou do subt ipo da

categoria) fo r ac t ivado .

C o m o é óbv io , estas evidências empír icas não são fáce is de expl icar dentro dos

l imites de e n q u a d r a m e n t o s segundo os quais , as es t ru turas de conhec imen to deve r i am

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

exibir um grau de cons tância surpreendente face ás m u d a n ç a s ambienta is , como sustentam

as visões mais t radic ionais . Apesar destes ind icadores suger i rem a ins tabi l idade das

es t ruturas de conhec imen to social, o fac to é que não se u t i l izaram, até agora , métodos

apropr iados para es tudar essa instabi l idade. O m e s m o tipo de insuf ic iênc ias , re la t ivamente

aos p ressupos tos de es tabi l idade das es t ruturas de c o n h e c i m e n t o geral , j á t inham sido

notadas pelos ps icó logos cogni t ivos in teressados no p rocesso de ca tegor ização geral.

Alguns des tes inves t igadores têm cons iderado es ta ques tão da es tab i l idade mais

expl ic i tamente , ap l i cando uma metodologia longi tudina l de tes te- re tes te apropr iada ao seu

es tudo (Barsa lou , 1987, 1989; Barsalou e Medin , 1986; Be l l ezza , 1984a, 1984b, 1984c).

E m termos gerais , estas inves t igações com es t ímulos não sociais têm demons t rado

conv incen temen te que as teorias que pos tu lam es t ru turas cogni t ivas representadas

abs t rac tamente não conseguem expl icar todos os dados ex is ten tes e que são necessár ias

teorias mais adequadas sobre a representação e uso de ca tegor ias . Por exemplo , no que

concerne à es tab i l idade das representações , foi d e m o n s t r a d o que se c o m p a r a r m o s os

mesmos ind iv íduos em duas ocasiões d i fe ren tes , eles ex ibem apenas uma prec i são modes ta

ao r ecupe ra rem exempla res de ca tegor ias c o m u n s (Bel lezza , 1984b), c lass i f ica rem

ins tâncias em te rmos dessas categorias (McCloskey e Gluksberg , 1978), fo rnecerem

def in ições de conce i tos comuns (Bel lezza , 1984a) ou ava l ia rem a t ip ica l idade das

ins tâncias re la t ivamente ás ca tegor ias de que p rovêm (Barsa lou , 1987, 1989; Barsa lou e

Medin , 1986). T a m b é m , outras inves t igações mos t ra ram que as ca tegor ias c o m u n s são

la rgamente sensíveis ao contexto , na medida em que o con tex to l inguís t ico imedia to

enviesa quer o j u l g a m e n t o de t ipical idade de uma ins tânc ia quer a rapidez com que pode

ser acedida (Roth e Shoben , 1983).

Ora, no tando que a ins tabi l idade das es t ru turas de conhec imen to , cons i s t en temen te

observada nestes es tudos sobre o processo de ca t egor i zação de ob jec tos não sociais

( B a r s a l q u , _ 1 9 8 7 ^ 1 9 8 9 ; Bar,salou_e Medin , 1986; ^Bellezza,- 1984ar4-984b, 1984.c . ;_Roth^

Shoben , 1983), representa um desaf io para as teorias sobre a sua suposta es tab i l idade , o

nosso ên fa se nesta d isser tação é na represen tação e uso de ca tegor ias sociais e no processo

de ca t egor i zação de es t ímulos sociais . Ou seja , é ten ta r saber se a na tureza e uso dos

es te reó t ipos têm semelhanças com o processo de ca t ego r i zação de ob jec tos não sociais .

Poder - se - ia a rgumenta r , por várias razões que adiante de senvo lvemos , que os es te reó t ipos

cul tura is têm uma natureza mais abstracta do que as ca tegor ias comuns . C o n t u d o , nos

es tudos sobre ca tegor ização de objec tos não sociais encon t r am-se g randes n íve is de

ins tab i l idade em categor ias comuns mas t a m b é m em ca tegor ias cons ide radas mais

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

abstractas, como adject ivos (Barsalou, 1982,1983,1985; Bellezza, 1984b). E esses efei tos

demonstram, na perspect iva de Barsalou, a natureza exemplar das categorias. De facto, se

interpretarmos esses resultados em termos de processos de recuperação de exemplares , de

informação episódica e de maior f luidez das categorias, podemos tentar antecipar as

implicações destas descobertas para a suposta estabil idade dos estereót ipos.

Assim, nesta dissertação vamos defender que, tal como as categorias de objectos não

sociais, os estereót ipos não são representações estáveis, monolí t icas; e que a aplicação de

uma metodologia de teste-reteste das concepções e descrições que os mesmos indivíduos

fazem das categorias sociais evidenciará apenas uma estabi l idade modesta , parale lamente

aos resultados obt idos com categorias não sociais.

Para alcançar estes object ivos esta introdução discutirá, pr imeiro, a natureza do

processo de categorização geral, as característ icas básicas dos principais modelos de

categorização geral e os seus pressupostos distintos sobre a es tabi l idade dos concei tos .

Depois, uma secção da dissertação apresentará o padrão t ípico de resul tados obtidos

por uma metodologia longitudinal de teste-reteste aplicada ao es tudo da estabi l idade das

representações mentais de categorias e discutirá o impacto desses resultados para os

modelos sobre o processo de categorização.

Na secção seguinte, part indo de diferentes modelos teóricos sobre estereótipos,

serão equacionados os pressupostos sobre a instabil idade mas também sobre a suposta

persistência destas estruturas de conhecimento social.

Outra secção apresentará o tópico relacionado do efei to de homogene idade do oui-

group como um efe i to razoavelmente bem documentado que revelou a sensibi l idade dos

indivíduos à in fo rmação sobre a variabil idade, conduziu à re formulação do concei to de

estereótipo e, tal como Já tinha acontecido na psicologia cognit iva, levou a ul t rapassar as

representações puramente abstractas das categorias.

Na secção seguinte, será revelada a necessidade de estudar empir icamente os

pressupostos de instabi l idade dos estereótipos através de uma metodologia apropriada não

utilizada até agora, tal como Já aconteceu nos estudos da psicologia cognit iva sobre a

instabil idade das representações de categorias gerais.

Nesta disser tação vamos defender ainda que a ins tabi l idade teste-reteste será

s igni f ica t ivamente diferente entre as descrições dos grupos sociais baseadas nas crenças

individuais e as descr ições baseadas nos estereótipos. Para a lcançar este object ivo será

incluída na disser tação uma secção que apresentará, sucintamente , os argumentos teóricos

e os estudos empír icos que sustentam a distinção conceptual entre es tereót ipos e crenças

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individuais . Es ta secção discut i rá também dois e n q u a d r a m e n t o s teór icos apropr iados para

pensar a ques t ão da maior ou menor instabi l idade t empora l das crenças ind iv idua is e dos

es tereót ipos , a v i são dual is ta de processamento e a v isão com pr inc íp ios ep isódicos .

Depois serão suc in tamente s is tematizados os p r inc ipa i s ob jec t ivos teór icos do

parad igma exper imenta l usado nas experiências rea l izadas e, f i na lmen te , serão re la tadas as

três exper iênc ias conceb idas para estudar a ins tabi l idade das represen tações menta is de

categor ias sociais .

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1.1 Visões sobre a categorização geral: Que estabilidade atribuem às representações mentais de categorias

A i m p o r t â n c i a do p e n s a m e n t o ca tegór ico no d ia -a -d ia p o d e r á j u s t i f i c a r os va r i ados

e s f o r ç o s t eó r icos e e m p í r i c o s para carac te r izar a sua e s t ru tu ra e para iden t i f i ca r os

p roces sos que a g e m sobre ele, dos quais se sa l i en tam duas g randes v isões d is t in tas : a

abs t r acc ion i s t a e a e x e m p i a r i s t a , de in teresse p a r t i c u l a r m e n t e p e l a s p rev i sões con t r a s t an t e s

que f a z e m q u a n t o à e s t a b i l i d a d e dos conce i tos .

As três s u b s e c ç õ e s segu in tes desenvo lvem es te e n c a d e a m e n t o de ideias .

1.1.1 A importância de categorizar

C o m o notou Al lpo r t (1954 , c i t ado por M a c r a e e B o d e n h a u s e n , 2000) , "A m e n t e

h u m a n a tem q u e p e n s a r com a a juda de c a t e g o r i a s . . . N ã o p o d e m o s ev i ta r esse p roces so .

V ive r o r d e n a d a m e n t e d e p e n d e d i sso . " (p.21).

De f ac to , s e m ca t ego r i a s a vida menta l ser ia caó t i ca . Se cada en t idade f o s s e

pe rceb ida c o m o ú n i c a se r í amos u l t r apassados pela e n o r m e d ive r s idade daqu i lo q u e

e x p e r i m e n t a m o s e i n c a p a z e s de l embrar mais do q u e uma f r a c ç ã o de u m minu to daqu i lo

que e n c o n t r a m o s . E se cada en t idade indiv idual necess i t a s se de u m n o m e dis t in to , a nossa

l i n g u a g e m ser ia m u i t o c o m p l e x a e a c o m u n i c a ç ã o v i r t u a l m e n t e imposs íve l (Smi th e M e d i n ,

1981).

F e l i z m e n t e , não p e r c e b e m o s , l e m b r a m o s e f a l a m o s sobre cada ob j ec to e

a c o n t e c i m e n t o c o m o ún ico , mas , em vez d isso , c o m o uma in s t ânc i a de uma c lasse ou

conce i to sob re o qua l j á t emos a lgum c o n h e c i m e n t o . Os c o n c e i t o s dão ass im e s t ab i l i dade

ao nosso m u n d o . C a p t a m a ide ia de que mui tos ob j ec to s e e v e n t o s são s eme lhan te s e m

aspec tos i m p o r t a n t e s e, por isso, pode- se pensa r ne les ou r eag i r a e les de f o r m a s q u e j á

c o n h e c e m o s .

Os c o n c e i t o s p e r m i t e m t a m b é m ir para a lém da i n f o r m a ç ã o dada ; se a t r i bu i rmos u m a

en t idade a u m a c l a s s e c o m base em atr ibutos pe rcep t íve i s , p o d e m o s in fe r i r a lguns dos seus

a t r ibutos i m p e r c e p t í v e i s .

A s s i m , os c o n c e i t o s são cr í t icos pa ra pe rcebe r , r e c o r d a r , f a l a r e pensa r sob re

ob j ec to s e e v e n t o s da rea l idade . Dizer que os c o n c e i t o s têm a f u n ç ã o de c a t e g o r i z a ç ã o é

cons ide ra r q u e os c o n c e i t o s são e s senc i a lmen te i n s t r u m e n t o s de r e c o n h e c i m e n t o de

padrões , o que s i g n i f i c a que os conce i tos são u s a d o s para c l a s s i f i c a r novas en t i dade e

de senha r i n f e r ê n c i a s sob re essas en t idades .

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Do m e s m o modo , a construção e ut i l ização de ca tegor ias de natureza social é um

requis i to fundamen ta l no processo de perceber pessoas . É através da act ivação e

implemen tação do pensamen to categórico que os ind iv íduos u l t rapassam com sucesso a

complex idade dos ambien tes sociais e l idam com a i n f o r m a ç ã o esperada , mas é também

at ravés-desse m e s m o pensamen to ca tegór ico que os ind iv íduos são sensíveis e são capazes

de l idar com i n f o r m a ç ã o inesperada. Af ina l , pode-se apenas ser su rpreendido por um

compor t amen to de uma pessoa se t ivermos expec ta t ivas prév ias sobre como o indivíduo se

deverá compor ta r . E ass im, de um modo ou de outro, o p e n s a m e n t o ca tegór ico fornece a

f lex ib i l idade que o processo de percepção de pessoas ex ige (Macrae e Bodenhausen , 2000).

1.1.2 Modelos de representações mentais de categorias

C o m o sa l ientado atrás, um dos pressupos tos bás icos da c iência cogni t iva é que as

pessoas têm extenso conhec imento sobre o que as rodeia . E quando re levante para uma

de te rminada s i tuação, o conhec imento da memór ia a longo prazo é u t i l izado para

compreende r o que se passa, para fazer predições sobre o que poderá vir a acontecer , para

guiar acções e es t ru turar outras operações cogni t ivas bás icas . Ora, dada a impor tânc ia do

conhec imen to no compor t amen to humano , mui tos inves t igadores despende ram bastante

e s fo rço para carac ter izar a sua estrutura e para iden t i f i ca r os p rocessos que agem sobre ele.

Nes te percurso , p ropuse ram uma variedade de es t ru turas de conhec imen to c o m o unidades

básicas do conhec imen to humano , inc lu indo de f in ições , p ro tó t ipos , exemplares , esquemas,

etc. Impl íc i to em mui tos destes t rabalhos é que as es t ru turas de conhec imen to são estáveis:

As es t ru turas de conhec imen to são a rmazenadas na m e m ó r i a a longo prazo c o m o conjuntos

de i n f o r m a ç ã o d iscre tos e re la t ivamente es táveis ; são recuperadas in tac tas quando

re levantes para o p rocessamen to corrente; d i fe ren tes m e m b r o s de uma popu lação usam as

mesmas es t ru turas bás icas ; e um dado indiv íduo usa as m e s m a s es t ru turas em vários

contex tos .

Alguns autores cons ideraram esta ques tão da es tab i l idade mais expl ic i tamente ,

de f endendo que qua lquer que seja a conc lusão a que c h e g u e m o s esta deve rá ter

impl icações impor tan tes para as teorias da cogn ição h u m a n a (Barsa lou e M e d i n , 1986;

Barsa lou , 1989).

Vár ias são as teorias sobre as represen tações de ca tegor ias que f o r a m sendo

propos tas ao longo do tempo. Alguns autores in t roduz i ram s i s t emat i camente a distinção*

entre as várias abordagens (Smith e Medin , 1981; Med in e Smi th , 1984).

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De acordo com a visão clássica, as ca tegor ias são de f in idas por propr iedades que,

em conjunto , são suf ic ien tes e, individualmente , são necessár ias para per tencer à ca tegor ia

(Armstrong, Gle i tman e Gle i tman, 1983; Osherson e Smith , 1981). Os teóricos da visão

clássica a s sumem, f r equen temente , que essas def in ições exis tem porque , como o mundo

objec t ivo con tém vár ios tipos de coisas que par t i lham propr iedades def in idoras , o

conhec imento h u m a n o passa a representar essas propr iedades .

Ass im, a represen tação de uma categoria na m e m ó r i a (o concei to) está bem

del imi tada. D i fe ren te s pessoas deverão ter o mesmo concei to , ou concei tos mui to

semelhantes , de uma ca tegor ia especí f ica , j á que todos têm razoável acesso à i n fo rmação

sobre o mundo ob jec t ivo . De acordo com esta visão, os conce i tos devem ser es tá t icos num

indivíduo, porque as propr iedades def in idoras de uma ca tegor ia ra ramente ou nunca

mudam (Smith e Med in , 1981; Medin e Smith, 1984; Barsa lou e Med in , 1986).

Já que apenas p ropr iedades def in idoras ocorrem nos concei tos , todas as inferências

que podem ser fe i tas sobre uma entidade, a partir da sua per tença a uma categor ia , são

precisas . In fe rênc ias imprecisas são impossíveis porque todas as propr iedades per tencem a

todos os exempla res . Contudo, uma série de i n fo rmação po tenc ia lmente impor tan te é

excluída. Por exemplo , porque há pássaros que não voam, segundo esta visão, essa

propr iedade não é incluída no concei to de pássaro. No entanto , se a lguma ent idade é

cons iderada um pássaro , há uma elevada probabi l idade que voe.

^ A teoria do protótipo representa um avanço em re lação à visão clássica, j á que

rejei ta a ideia de que as representações conceptuais são necessa r i amen te def in ições (Smith

e Medin , 1981). Pr imei ro , tem sido f r equen temente a r g u m e n t a d o que para mui tas

ca tegõr las nãô ex is tem def in ições (Wit tgenstein, 1953, c i tado por Barsa lou e Medin , 1986).

Segundo, m e s m o quando exis tem def inições , as represen tações das ca tegor ias inc luem mais

do que p ropr i edades necessár ias e suf icientes . Por isso, mui tos teór icos sugerem que as

pessoas r ep resen tam as categor ias com protót ipos , que con têm propr iedades carac ter í s t icas

dos membros da ca tegor ia (Rosch e Mervis, 1975, c i tado por Smith e Medin , 1981)._Assim,

de acordo com esta visão, a representação de uma ca tegor ia con t ém propr iedades com

elevada, embora não necessar iamente perfe i ta , p robab i l idade de ocor re rem nos seus

exemplares - v i são probabi l í s t ica das categorias . D e p e n d e n d o de quão carac ter í s t ica dos

membros da ca tegor ia é a propr iedade , torna-se central no pro tó t ipo da ca tegor ia .

Outro p res supos to bás ico da teoria protot íp ica é que as pessoas abs t raem

propr iedades carac ter í s t icas de uma categoria apart i r da sua exper iênc ia com as ins tâncias

da categor ia .

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Hart ley e H o m a (1981) , numa tarefa de c l a s s i f i cação de pinturas , revelam que a

precisão da c l a s s i f i cação de novos exemplares não é a f ec t ada pela duração do intervalo

entre o pe r íodo de aprend izagem prévia de pinturas e o de tes te de novas pinturas , embora

um e s q u e c i m e n t o s igni f ica t ivo ocorra para as p in turas aprendidas previamente . A

in te rpre tação da maior ia dos estudos abs t racc ionis tas é que, durante a aprendizagem, é

fo rmado um pro tó t ipo que é mais resis tente ao dec l ín io do que os exemplares

o r ig ina lmente aprendidos . E, portanto, embora as pessoas pos sam ter a lguma informação

sobre e x e m p l a r e s individuais , a evidência sugere que os e x e m p l a r e s são mais rapidamente

esquec idos do que a tendência central , e que a u m e n t a n d o o in tervalo de tempo, o

de sempenho passa a estar cada vez mais baseado na t endênc ia central (Posner e Keele,

1968). Posner e Keele (1968), ut i l izando um pa rad igma de abs t racção de esquema,

desenvo lve ram um con jun to de invest igações sobre a a p r e n d i z a g e m de e squemas . Nesses

es tudos , padrões , cada um consis t indo num con jun to de c o n f i g u r a ç õ e s a leatór ias de pontos,

f o rmavam as c lasses de eventos que ser iam cap tadas nos e squemas adquir idos pelos

suje i tos . Esses padrões eram construídos e sco lhendo uma conf igu ração de pontos

protot íp ica e depois o con jun to de conf igurações m e m b r o s de cada padrão era gerado

apl icando uma t r ans fo rmação estatíst ica aleatória ao pro tó t ipo . Out ros autores como Franks

e Brans fo rd (1971) desenvolveram inves t igações com um pa rad igma semelhan te ao de

Posner e Keele (1968) , contudo, a natureza dos mater ia is e s t ímu lo usados foi d i fe ren te pela

d i f i cu ldade de espec i f i ca r com precisão as descr ições es t ru tura i s para as represen tações do

protó t ipo e t r ans fo rmações a rmazenadas em memór ia , quando se ut i l izam conf igurações de

pontos a lea tór ios . Ass im, para faci l i tar o es tudo da na tureza das es t ru turas de memória

adquir idas , es tes autores usaram padrões de es t ímulos não a leatór ios - conf igurações

espacia is de fo rmas geométr icas bem es t ru turadas - e t r a n s f o r m a ç õ e s d iscre tas s is temáticas

f o rma apl icadas ás conf igurações de fo rmas - e s senc ia lmente , um padrão era caracter izado

por um grupo de t rans formações escolhido. S u m a r i a n d o o con jun to de resul tados

s i s t emat i camente encont rados por es tudos que usa ram o pa rad igma de abs t racção de

e squema ver i f i ca - se que: (a) A c lass i f icação dos p ro tó t ipos é mais es tável ao longo do

t empo do que a de exemplares apresentados an te r iormente , o que pode ser uma evidência

de que a r ep resen tação de tendência central de ca tegor ias ( esquemas ou protót ipos) é

abs t ra ída duran te a aprend izagem e que esta r epresen tação dec l ina mais devagar do que os

t raços dos exempla re s de t reino; (b) Os exemplares ant igos são me lho r c l a s s i f i cados do que

os novos , j á que é a semelhança do protót ipo empí r i co de r ivado da expe r i ênc ia com os

exempla res ant igos que é crucial e não a semelhança ao p ro tó t ipo em si (tal como a média

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de uma amos t ra está normalmente mais p róx ima da média das pon tuações da sua própr ia

amostra do que da méd ia das pontuações de outra amost ra da mesma população) ; (c) A

t rans fe rênc ia da c lass i f i cação apartir dos exempla res ant igos para novos padrões é me lhor

para os pro tó t ipos , in te rmédia para pequenas d is torções dos protót ipos e pior para grandes

dis torções dos protó t ipos , o que apoia que cada ca tegor ia é representada por um t ipo de

protót ipo, e há uma semelhança do resul tado com os efe i tos de t ip ical idade encon t r ados

com concei tos na tura is ; e (d) A t ransferência para novos padrões melhora com o aumen to

do tamanho da ca tegor ia , isto é, com o número de exempla res de t re ino da ca tegor ia , pois

quanto mais va r iedade de exemplares houver mais e f icaz se torna o processo de abs t racção

do protót ipo h ipoté t ico .

É c la ro que, apesar da plausibi l idade destas in terpre tações , podemos pensar que o

desempenho nestas tarefas de c lass i f icação atrás descr i tas não seria a fec tado se os

exemplares aprendidos previamente fossem se lec t ivamente esquec idos mas os aspec tos

crí t icos para a c lass i f i cação fossem ret idos; o que já se coaduna com os p ressupos tos da

^ visão exemplar das categorias. De facto, uma terceira fo rma como as pessoas p o d e m

representar as ca tegor ias é não com protót ipos mas com exempla res (Hintzrnan,_ 1986;

Jacoby e Brooks , 1984; Medin e Schaf fe r , 1978).

Vár ios mode los de exemplares têm exp l icado com sucesso os f e n ó m e n o s atrás

refer idos , que inves t igadores apresentaram prev iamente como evidência a f avor da

abs t racção de pro tó t ipos . Por exemplo , os me lhores desempenhos de c lass i f i cação que se

obtêm em re lação a protót ipos nunca apresentados na fase de treino, c o m p a r a t i v a m e n t e

com exempla res apresentados previamente , são bem previs tos por modelos de e x e m p l a r e s

puros (Medin e Scha f f e r , 1978). A ideia geral é que, embora não apresentados duran te o

treino, os p ro tó t ipos de categorias são f r equen temen te a l tamente semelhantes a numerosas

instâncias de t re ino da sua própria ca tegor ia e t endem a ser bas tante d i fe ren tes das

instâncias de t reino de categorias a l ternat ivas . Em contras te , qua lquer exempla r de t re ino

pode ser a l t amente semelhante apenas a si p rópr io . A redundânc ia em relação ao pro tó t ipo

dá-lhe f r e q u e n t e m e n t e vantagem em testes de c lass i f icação . Ass im, segundo esta v isão, em

vez de induzi r uma def in ição ou abstrair um pro tó t ipo para uma ca tegor ia , as pes soas

podem s imp le smen te armazenar memór ias de exempla res e spec í f i cos ou con jun tos de

exemplares para representar a categoria. Por exemplo , quando c lass i f icam um novo

es t ímulo, os ind iv íduos podem procurar na memór ia um exemplar ou exempla res mais

semelhantes ao es t ímulo e c lass i f icar os novos es t ímulos por analogia com a ca tegor ia

associada aos exempla re s recuperados . Aliás, como supor te desta ideia, Medin e S c h a f f e r

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(1978) cont ro laram a d is tânc ia de itens à tendência centra l de duas categorias e

nnanipularam a s eme lhança desses itens a exemplares conhec idos , demons t r ando que a

aprendizagem era de te rminada pela semelhança a e x e m p l a r e s conhec idos , e não pela

dis tância a tendências cent ra is . Resul ta desta visão que, as r ep resen tações das categorias

ref lec tem a exper iênc ia dos indivíduos . Na medida em que as pessoas exper imentam

di ferentes d is t r ibuições de exemplares para uma ca tegor ia , as suas represen tações da

mesma var iam.

Haverá a lgum papel para a visão clássica? Smith e Med in (1981) in t roduzi ram a

dis t inção entre "cerne" e "identificação" de um concei to . O "cerne" con t ém propr iedades

que revelam re lação com outros concei tos , enquan to a "identificação" contém

propr iedades que são usadas para categorizar objectos reais . A re levânc ia des ta dist inção

era que a "identificação" poder ia ter uma estrutura p ro to t íp ica , e o "cerne" estar em

con fo rmidade com a v isão c láss ica . Apesar destes autores te rem no tado esta poss ibi l idade,

não encont ra ram ev idênc ia que a suportasse . Arms t rong , G le i tman e Gle i tman (1983)

fo rneceram alguma evidênc ia . Es tes autores inves t igaram conce i to s que com cer teza teriam

um "cerne" c láss ico, número ímpar. A in tenção dos au tores era mos t ra r que m e s m o esses

concei tos t inham "procedimentos de identificação". C o m o prova, Arms t rong e

co laboradores (1983) demons t r a r am que os suje i tos ava l i avam as ins tânc ias desse concei to

como var iando em t ip ica l idade e ca tegor izavam ins tâncias t íp icas mais r ap idamen te do que

as at ípicas. Estes autores in terpre taram estes resul tados c o m o supor t ando a ideia de que um

"procedimento de identificação" pode coexis t i r com um "cerne" c láss ico . Na real idade,

pode-se pensar que esta visão consti tui uma tentat iva da teor ia c láss ica l idar com as

descober tas sobre a ins tab i l idade das representações . Para d e f e n d e r a ex is tênc ia de cernes

def in idores , a visão "cerne+identificação" expl ica os e fe i to s da exper iênc ia e con tex to em

termos de p roced imen tos de ident i f icação. Por e x e m p l o , esta v isão a s sume que as

propr iedades pro to t íp icas , cor re lac ionadas e os exemplares que as pessoas adqui rem apartir

da exper iênc ia res idem s implesmente nos p roced imentos de i den t i f i c ação em vez de nos

cernes. Seme lhan t emen te , esta visão argumenta que a i n s t ab i l i dade ao longo do tempo

entre populações , i nd iv íduos ou intra indivíduos resul ta em d i fe ren tes p roced imen tos de

ident i f icação . E o m e s m o argumento pode ser fe i to para con tex tos d i fe ren tes . Mais

importante , esta v i são de f ende que, enquanto os p roced imen tos de iden t i f i cação var iam, os

cernes de f in idores m a n t ê m - s e cons tantes quer entre quer in t ra ind iv íduos . Segue daqui que,

exis tem pacotes de i n f o r m a ç ã o está t icos associados ás ca t egor i a s e que são esses pacotes ,

que são as par tes mais impor tan tes das representações das ca t egor i a s (Barsa lou e Medin ,

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1986; Ba r sa lou , 1987) . Pa ra mais d i scussão sobre as d i f e r en t e s v i sões das r ep resen tações

de ca tegor ias ver S m i t h e Samue l son (1997) , Smi th e M e d i n (.1981) e Medin e Smi th

(1984) .

1.1.3 Contraste entre a visão abstraccionista e a visão exemplarista dos processos

cognitivos

Já que a v i são abs t racc ion is ta e a v i são e x e m p l a r são v isões r ivais , uma

c o m p a r a ç ã o des t a s duas perspec t ivas parece va le r a pena .

C l a s s i c a m e n t e , o p re s supos to pr incipal da v i são e x e m p l a r i s t a é q u e a r ep r e sen t ação

de um c o n c e i t o cons i s t e em desc r i ções s epa radas de a lguns dos seus exempla r e s , es ta

supos ição en t ra e m c o n f l i t o com um dos cr i tér ios para uma r ep re sen t ação sumár ia , ou se ja ,

que a r e p r e s e n t a ç ã o se ja tão abst racta quanto poss íve l . Es ta ques t ão é re levan te aqui .

E s p e c i f i c a m e n t e , p o r q u e as represen tações sumár ia s são a s s u m i d a s pela v i são

abs t r acc ion i s t a m a s n ã o pela v isão exempla r i s t a , as duas v i sões p o d e m ser d i s t ingu idas

com base na a b s t r a c ç ã o .

No c a s o da v i s ã o exempla r i s t a , d i f e ren tes c o n j u n t o s de a t r ibu tos de u m conce i to

c o r r e s p o n d e m a d i f e r e n t e s ins tânc ias a r m a z e n a d a s , e, po r t an to , são r ep re sen t ados

exp l i c i t amen te , no c a s o da teor ia abs t racc ion is ta os c o n j u n t o s de a t r ibu tos ex i s t em apenas

duran te a c a t e g o r i z a ç ã o e ass im são r ep re sen t ados apenas imp l i c i t amen te . Para Smi th e

Med in (1981) , es ta d i f e r e n ç a entre a d i s junção expl íc i ta e impl íc i ta t em imp l i cações para

as ex igênc i a s de a r m a z e n a m e n t o em ambas as v i sões .

T a m b é m , os m o d e l o s de exempla re s não c o n s i d e r a m que se ja s e m p r e r ecupe rada a

m e s m a r e p r e s e n t a ç ã o , d i f e r en t e s exempla re s são r e c u p e r a d o s e m d i f e r en t e s s i tuações . A

r e c u p e r a ç ã o to ta l ve r sus a r ecupe ração parc ia l é po i s ou t ra d i f e r e n ç a en t re os m o d e l o s de

exempla r e s e os m o d e l o s abs t racc ion is tas . Ser ia , c o n t u d o , útil para os m o d e l o s

abs t r acc ion i s t a s a s s u m i r que apenas a lgumas p r o p r i e d a d e s de u m a r e p r e s e n t a ç ã o sumár ia

são r e c u p e r a d a s n u m m o m e n t o . Permi t ia a es tes m o d e l o s l i da rem m e l h o r com a apa ren te

ins t ab i l idade de a lguns conce i to s e expl icar ce r tos e fe i tos do con tex to .

A inda , e n q u a n t o nos mode los de e x e m p l a r e s todas as r ep re sen t ações p o d e m ser

ins tânc ias e s p e c í f i c a s , f r e q u e n t e m e n t e , esse não é o caso c o m os m o d e l o s abs t racc ion i s t a s .

E uma p r o p r i e d a d e n u m a rep resen tação p robab i l í s t i ca t em que ter uma p robab i l i dade

subs tanc ia l de oco r r e r nas ins tânc ias do conce i to , e n q u a n t o , na v i são de exempla r e s , u m a

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

propr iedade pode fazer parte de uma representação se fo r caracter ís t ica de uma única

instância .

Esta breve carac te r ização das duas visões sugere j á quão dist intas são as suas

concepções da mente humana e os pr incípios básicos que adop tam.

Na verdade , a h ipótese de escassez de recursos cogni t ivos que a visão

abs t raccionis ta adopta como ponto de par t ida def ine , desde logo, a lgumas propr iedades que

o p rocessador de in fo rmação tem que ter para manter a e s t ab i l idade cogni t iva face a tão

grande var iab i l idade social .

De fac to , esta visão considera que a p reservação dos recursos cogni t ivos l imitados é

um dos ob jec t ivos pr imordia is do p rocessamento de i n f o r m a ç ã o e que a consequente e

necessár ia s impl i f i cação do es t ímulo é, em grande med ida , conseguida à custa da

capac idade mental de abs t racção, ou seja , de ir para a lém do que é e spec í f i co (Garcia-

Marques , 1998).

Ora isso tem como consequências que: O processador de i n f o r m a ç ã o tem que ser um

agente act ivo capaz de cons t ru i r cri térios adapta t ivos que lhe pe rmi t am ignorar , na fase de

cod i f i cação , as caracter ís t icas menos re levantes dos es t ímulos ; os deta lhes d isponíve is na

recuperação só podem provir das estruturas de conhec imen to genér icas , e não dos próprios

es t ímulos cod i f i cados ; o papel teórico a t r ibuído aos ep i sód ios e spec í f i cos e aos exemplares

nos processos cogni t ivos é mín imo ou, na melhor das h ipó teses , t ransi tór io (enquanto a

es t rutura de conhec imen to não abstraiu ainda os a t r ibutos cr í t icos apart ir de um conjunto

suf ic iente de episódios aprendidos) ; e os p rocessadores de i n f o r m a ç ã o são agentes

cogni t ivos es táveis la rgamente insensíveis ás in f luênc ias do con tex to .

Ao contrár io , a visão de exemplares fo rmula uma c o n c e p ç ã o mui to d i fe ren te da

mente humana . Esta concepção abandona o abs t r acc ion i smo cogni t ivo e dá maior

p r io r idade teór ica aos efe i tos do processamento de es t ímulos espec í f i cos em contextos

espec í f i cos usando p roced imentos cogni t ivos espec í f i cos . Nes ta concepção episódica , a

ca tegor ização , a «memória, o pensamento e a ap rend izagem de compe tênc ia s são vistos

como processos baseados em exemplares (Hin tzman, 1986; N o s o f s k y e Pa lmer i , 1997;

Smith e Medin , 1981) e não-anal í t icos (Jacoby e Brooks , 1984).

Is to s ign i f ica concre tamente que, nesta visão, a r ep resen tação cogni t iva de uma

categor ia não é reduzida ás caracter ís t icas modais das suas ins tânc ias (Rosch, 1978, ci tado

por Smith e Medin , 1981) .Mas é assumido que as pessoas u sam a covar iação dos atr ibutos

na ca tegor ização de ins tâncias (vão para além do conhec imen to moda l a t r ibuto-por-a t r ibuto

na ca tegor ização) e é atr ibuída pr ior idade teórica à var iab i l idade perceb ida dos exemplares .

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Nesta v isão, não se espera assim que as es t ru turas de conhec imento ex ibam uma

grande cons tânc ia em diferentes momentos , nos m e s m o s indivíduos ou entre ind iv íduos ,

mas é a s sumido que es tas sejam instáveis. A ins tab i l idade pode resultar da sens ib i l idade ao

contexto - d i f e ren tes pis tas em diferentes con tex tos recuperarem diferentes exempla res .

Pode t ambém resul tar dos mesmos indivíduos expe r imen ta rem diferentes exempla res ao

longo do t empo e de d i ferentes indivíduos expe r imen ta rem di ferentes exemplares .

Recen temen te , o apoio a esta concepção mais episódica dos processos cogni t ivos

surge com a r e fo rmu lação radical das visões c láss icas sobre a memór ia a longo prazo

desencadeada pelos avanços teóricos oferec idos pelo mode lo de ajustamento global e pelos

modelos de m e m ó r i a de recuperação compósi ta . Es tes modelos , ao postularem a memór ia a

longo p razo que pode ser sondada, em para le lo , sem gastos s igni f ica t ivos de recursos

cogni t ivos (assoc iados à recuperação extensiva) e ao permi t i rem que um sis tema cogni t ivo

se compor te como uma máquina de abst racção sem calcular qualquer abs t racção, de i tam

por terra o a rgumen to dos recursos l imitados que sustenta a visão abs t raccionis ta e que

deixa de se apl icar a estes modelos de memór ia de ajustamento global. Os mode los de

memór ia de ajustamento global são capazes de desempenhos re lac ionados com a

aprend izagem de ca tegor ias e replicar efe i tos c láss icos de protó t ipo (Posner e Keele , 1968;

Hart ley e H o m a , 1981) sem desenvolver representações abstractas . Alguns destes mode los

foram t ip icamente usados para explicar a ap rend izagem de categor ias (Hin tzman, 1986;

Kruschke , 1992) e o e fe i to da espec i f ic idade do contex to no s igni f icado de um conce i to

(Hin tzman, 1986). Por exemplo no Minerva II (Hin tzman , 1986), o ajustamento global

refere-se a uma respos ta de memória compós i ta fo rmada na recuperação - enquan to na

cod i f i cação cada ins tância é armazenada ind iv idua lmente sem cálculo de "abs t racção" .

Apesar d isso , o Mine rva II, numa tarefa de aprend izagem de categor ias , exibe uma resposta

mais in tensa ao i tem protot ípico que é a " m é d i a " dos i tens p rev iamente apresentados ,

mesmo que este pro tó t ipo nunca tenha sido vis to - e fe i to c láss ico do protót ipo (Posner e

Keele, 1968; Har t ley e Homa, 1981). Nout ro exemplo , o mode lo .Minerva II demons t ra um

efei to aná logo ao inves t igado por Roth e Shoben (1983) , o de que os concei tos não têm

representações uni tár ias . Manipulando o con tex to semânt ico , os indivíduos reordenam as

aval iações de t ip ica l idade dos membros da ca tegor ia . O mode lo Minerva II sugere que se

não há represen tan tes de concei tos f ixos em memór ia , mas apenas t raços de ep isódios em

que o nome do conce i to foi usado, então é compreens íve l que o s ign i f icado recuperado por

uma pa lavra se ja a l tamente dependente do contexto . A palavra ' ' come" pode ser

representada por um grande número de traços que podem ser ac t ivados em parale lo , mas os

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esses traços serão fo r t emen te act ivados em qualquer encon t ro com a pa lavra . Qualquer

subcon jun to part icular act ivo desses traços é uma amost ra env ie sada apart i r da população,

e o subcon jun to activo pode variar quer no tamanho quer no con t eúdo de uma ocas ião para

outra, dependendo do con tex to em que a palavra aparece (H in t zman , 1986).

Sem dúvida , um quadro fundamenta lmente d i fe ren te emerge se adop ta rmos uma

visão onde es t ruturas de conhec imen to genéricas baseadas em e x e m p l a r e s são sensíveis ao

contexto. Se a resposta des tas es t ruturas de conhec imento genér icas for o resul tado de um

processo de ajustamento global, a na tureza das pistas d i spon íve i s no con tex to será crítica

para essa resposta . Esta dependênc ia do contexto der iva da na tu reza compós i t a das pistas

de recuperação que ins t igam a memória a longo prazo. P is tas , enquan to objec t ivos de

recuperação, são e spon taneamen te integradas com a i n f o r m a ç ã o que está d isponível no

contexto imediato , f o r m a n d o pistas compósi tas que são c o m p a r a d a s com memórias

a rmazenadas para resul tar numa resposta (Garc ia -Marques , 1998) . Nes ta perspect iva , a

sensibi l idade ao con tex to torna-se teor icamente s ign i f i ca t iva e a var iab i l idade das

estruturas de conhec imen to uma consequência natural .

C o m o revemos na secção seguinte, com o de senvo lv imen to de métodos apropriados

para es tudar a ins tabi l idade das representações de ca tegor ias gerais , que conduzi ram à

conclusão que os concei tos são a l tamente instáveis, o e n q u a d r a m e n t o abs t racc ionis ta para

além de se ver conf ron tado com a poss ibi l idade de mode lo s ep i sód icos pode rem simular a

maior parte da evidência acumulada para a abs t racção, passou a ver-se conf ron tado

também com a sua incapac idade para explicar e acomodar s i gn i f i c a t i vamen te uma série de

evidências empír icas que não previa.

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1,2 A estabilidade modesta das representações de categorias gerais revelada pela visão empírica

S a b e m o s agora que as teor ias c láss icas sobre a o r g a n i z a ç ã o em memór i a do

c o n h e c i m e n t o c a t e g ó r i c o ou dos conce i tos são b a s e a d a s no p o s t u l a d o que o nosso s i s tema

cogn i t ivo c o n t é m u m a rede h ie rárquica de ca t ego r i a s a l t amen te e s t ru tu rada que pe rmi te ao

ind iv íduo i d e n t i f i c a r ob jec tos e, mais g loba lmen te , p rocessá - los , i n d e p e n d e n t e m e n t e do

con tex to em que o p r o c e s s a m e n t o tem lugar . Por d e f i n i ç ã o , essa r ede é par t i lhada por t odos

os ind iv íduos (é v i s ta c o m o universa l ) e é i n d e p e n d e n t e das c i r cuns tânc ias (é es tável num

ind iv íduo) . C o n t u d o , c o m o revemos nesta s ecção , es tes p r e s s u p o s t o s têm sido f o r t e m e n t e

q u e s t i o n a d o s pe la s descober tas de um c o n j u n t o imenso de inves t igação sobre

ca t ego r i zação . A p e s a r da grande va r i edade de ma te r i a i s e p r o c e d i m e n t o s expe r imen ta i s

usados , os r e s u l t a d o s sobre a ins tab i l idade das r ep re sen t ações t êm sido, c o m o ve remos ,

mui to c o n s i s t e n t e s e as suas impl icações , para a na tu reza dos conce i to s , vas tas .

As duas p r ó x i m a s subsecções serão d e d i c a d a s a cada u m des tes tóp icos , a saber :

rev i são dos e s t u d o s q u e aval iam a es tab i l idade dos conce i to s e seu impac to nas teor ias

sobre as r e p r e s e n t a ç õ e s menta i s de ca tegor ias .

1.2.1 Aval iações sistemáticas de instabilidade das representações de categorias -

revisão de estudos

I n v e s t i g a d o r e s descobr i r am que, na g e n e r a l i d a d e , as p is tas ma i s e f i cazes para acede r

a um t r aço de m e m ó r i a durante a r e c u p e r a ç ã o são aque las que f a z e m aumen ta r a

s e m e l h a n ç a en t re o c o n t e x t o da sua c o d i f i c a ç ã o e o da r e c u p e r a ç ã o (Tu lv ing e T h o m p s o n ,

1973). De a c o r d o c o m es te pr inc íp io de e s p e c i f i c i d a d e da c o d i f i c a ç ã o , as pa lavras s e r i am

r ecupe radas não pe lo acesso a uma rep resen tação ún ica , mas pela r ec r i ação das c o n d i ç õ e s

semân t i cas q u e e n v o l v e r a m a cod i f i cação in ic ia l . A s s i m , em vez de usa rem uma es t ru tu ra

de c o n h e c i m e n t o i n v a r i a n t e para represen ta r u m a pa l av ra duran te a c o m p r e e n s ã o de f r a s e s

d i f e ren tes , os i n d i v í d u o s pa recem cons t ru i r d i f e r en t e s r ep re sen tações , com as

r e p r e s e n t a ç õ e s e m d i f e r e n t e s f r a ses a f o c a r e m - s e e m pis tas d i f e ren te s . Es te é um dos

e fe i to s do c o n t e x t o c o m mais impac to na l i t e ra tu ra cogn i t i va . Ora o f ac to do con tex to ter

tanta i n f l u ê n c i a na m e m ó r i a sugere que u m a c o m p r e e n s ã o do c o n t e x t o é necessár ia pa ra

uma c o m p r e e n s ã o d o s p rocessos de m e m ó r i a (Garc i a M a r q u e s , T. 1998). E, de f ac to ,

apar t i r daqu i , a m a l e a b i l i d a d e contextua l dos p r o c e s s o s gera is pas sa a ser vis ta nos

f e n ó m e n o s de m e m ó r i a e o con tex to , quer s e m â n t i c o quer amb ien t a l , to rna-se u m a área

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legí t ima e impor tan te de es tudo e com impl icações p r o f u n d a s nas teorias sobre as

representações mentais de categor ias (para uma revisão do conce i to de "con tex to" ver

Garcia Marques , T. 1998; Davies , 1986).

Nesse processo de por à prova empír ica teor ias sobre as representações de

categor ias , o desenvolv imento de métodos apropr iados para es tudar a es tab i l idade que

exibem essas representações - como a metodologia de tes te- re tes te longi tudinal - foi

de te rminante para c lar i f icar mui tos mecan ismos subjacentes à capac idade representacional

d inâmica que os indivíduos parecem ter. De facto , usando múl t ip las ta refas exper imenta is e

as mais diversas manipu lações , teria sido quase imposs íve l obter ev idência empír ica

directa sobre a ins tabi l idade das estruturas de conhec imen to se não se t ivesse in t roduzido o

p roced imen to de comparar os mesmos indivíduos em duas ocas iões d i fe ren tes , ca lculando

o grau de corre lação entre as produções no momen to de teste e as p roduções no momento

de reteste . A maior ia dos es tudos que revemos a seguir pa r t i lham essa metodologia . Na sua

apresentação , são agrupados segundo a natureza da tarefa expe r imen ta l usada.

Estrutura gradativa

Embora o f enómeno da estrutura gradat iva tenha s ido um dos fac tores pr imordia is

responsáve is pela re je ição da visão cláss ica (Smith e Med in , 1981), Barsa lou (1987, 1989)

p reocupou-se , e spec i f i camente , com a relação entre a es t ru tura gradat iva e a es tabi l idade

dos concei tos .

A estrutura gradat iva de uma categor ia é s imp le smen te a o rdenação dos seus

exemplares do mais para o menos t ípico (Barsalou, 1987). Porque qua lquer tipo de

ca tegor ia observada até agora tem estrutura gradat iva, parece razoáve l assumir que esta é

uma propr iedade universal das categorias . Rosch e Merv i s (1975 , c i tado por Barsalou,

1987) descobr i ram estrutura gradat iva nas categor ias t a x o n ó m i c a s comuns , Armst rong ,

Gle i tman e Glei tman (1983) encont ra ram-na em categor ias fo rma i s , c o m o números ímpares

ou raiz quadrada, Barsalou (1983, 1985) encontrou es t ru tura g rada t iva em ca tegor ias que

não estão bem es tabelec idas na memór ia mas que fo ram cr iadas pa ra at ingir um object ivo,

como se jam as categor ias d i r ig idas para objec t ivos e as ca tegor i a s adhoc .

C o m o revêm Medin e Smith (1984) e Smith e Med in (1981) , a es t ru tura gradat iva

parece ser a variável mais impor tan te para predizer o d e s e m p e n h o numa var iedade de

tarefas de ca tegor ização. É central para prever o t empo que leva a c lass i f i ca r a lgo como

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membro de uma ca tegor ia , com os exempla res t ípicos a serem iden t i f i cados mais

rap idamente do que os exemplares at ípicos (McCloskey e Glucksberg , 1979, c i tado por

Barsalou, 1987), para prever a f requênc ia com que as pessoas geram membros da ca tegor ia ,

com os exempla res t ípicos, a serem gerados mais f r equen temen te do que os a t íp icos

(Barsalou, 1983, 1985). Muitas inves t igações demons t ra ram que a es t ru tura grada t iva de

uma categor ia é ins tável . Dependendo da população , do indivíduo, ou do con tex to , a

ordenação dos exempla res da categoria por t ip ica l idade pode var iar muito. A t ip ica l idade

de um exempla r aumenta com a sua semelhança à represen tação da categor ia ; m u d a n ç a s na

representação da ca tegor ia alteram as suas semelhanças aos exemplares (Barsa lou , 1985,

1987); e essas m u d a n ç a s na semelhança al teram a es t rutura gradat iva (Barsa lou , 1989).

Na maior ia dos es tudos sobre a estrutura gradat iva , os su je i tos receb iam nomes de

categorias segu idos de nomes de exemplares e j u l g a v a m quão t ípicos os exempla res e ram

da sua ca tegor ia . Em alguns estudos, os su je i tos o rdenavam os exemplares de mais para

menos t ípico; em out ros , os sujei tos aval iavam a t ip ical idade dos exempla res numa esca la

bipolar de 1 a 7.

In fe l i zmente , a maioria dos es tudos fei tos in ic ia lmente sobre o acordo nos

ju lgamen tos de t ip ica l idade usaram medidas que eram enviesadas pelo t amanho da amost ra

(Barsalou e Sewel l , 1984). Por exemplo , Armst rong , Gle i tman e Gle i tman (1983) re la ta ram

níveis de acordo entre su je i tos de .90 ou super iores , suger indo que as pessoas são quase

unânimes na sua pe rcepção da es t rutura protot ípica . No entanto , a medida que usa ram,

corre lação split-half, aumenta monoton icamente com o tamanho da amost ra e es t ima a

es tabi l idade das médias em vez do acordo entre su je i tos . Com suje i tos suf ic ien tes , p o d e m

ser obt idos acordos de .90 ou super iores , apesar do acordo médio entre pares de su je i tos

ser pequeno . Q u a n d o são usadas medidas não enviesadas , o acordo méd io entre su je i tos

para a t ip ica l idade s i tua-se normalmente , como vamos ver, entre .30 e .50 (Barsa lou ,

1983).

A es t ru tura gradat iva de uma categoria pode variar vas t amen te ao longo de

populações . Barsa lou e Sewel l (1984) cor re lac ionaram a es t rutura grada t iva méd ia de duas

populações d i fe ren tes , para as mesmas categorias , e observaram uma cor re lação total de .2,

indicando que estas duas populações t inham es t ruturas gradat ivas pouco re lac ionadas . Es te

nível ba ixo de acordo foi re la t ivamente pouco a fec tado por uma var iedade de

manipulações : O acordo foi l ige i ramente maior quando os su je i tos a s s u m i a m o pon to de

vista, cu l tu ra lmente par t i lhado, do amer icano méd io (.55) do que quando as sumiam o seu

própr io ponto de vista ( .46). Os su je i tos que ju lgavam 16 exempla res por ca tegor ia não

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m o s t r a v a m m e n o s aco rdo ( .45) do que os su je i tos que j u l g a v a m 8 e x e m p l a r e s por ca tegor ia

( .42) . O nível de aco rdo foi pouco a f e c t a d o pelo t ipo de c a t e g o r i a , com as ca tegor ias

t a x o n ó m i c a s c o m u n s a e v i d e n c i a r e m l ige i r amen te ma i s e s t a b i l i d a d e do que as ca tegor ias

d i r ig idas para o b j e c t i v o s ( B a r s a l o u , 1983 ,1985) .

Ba r sa lou , Sewel l e B a l l a t o (1986, c i t ado por B a r s a l o u , 1989) e x p l o r a r a m o grau em

que u m d a d o i nd iv íduo p r o d u z a m e s m a es t ru tura g r a d a t i v a p a r a uma ca tegor ia em

d i f e r en t e s m o m e n t o s , no m e s m o contex to . Para ava l i a r o a c o r d o , c o r r e l a c i o n a r a m as

es t ru tu ras g rada t ivas p r o d u z i d a s n u m a sessão e nou t ra s e s s ã o , s e m a n a s depo i s . A

co r r e l ação méd ia rondou os .8, i nd i cando que a es t ru tu ra g r a d a t i v a do su j e i t o n u m a sessão

c o n s e g u e exp l i ca r apenas 6 4 % da var iânc ia da ou t ra ses são . T a m b é m aqui , os n íve is de

aco rdo f o r a m r e l a t i v a m e n t e p o u c o a fec t ados pe los d i f e r e n t e s p o n t o s de v is ta que os

su j e i to s a s s u m i a m , pela p r e s e r v a ç ã o , ou não, da o r d e m e m q u e os e x e m p l a r e s eram

ap re sen t ados nas duas s e s sões , pe lo n ú m e r o de e x e m p l a r e s a p r e s e n t a d o s , e pe lo t ipo de

ca tegor ia . O aco rdo intra s u j e i t o es tava a l t amen te r e l a c i o n a d o c o m o a c o r d o en t re su je i tos ,

e x i b i n d o uma c o r r e l a ç ã o m é d i a de .75, suge r indo q u e os m e s m o s f ac to re s p o d e m ser

r e s p o n s á v e i s pe la i n s t ab i l i dade intra su je i to e en t re s u j e i t o s ( B a r s a l o u e co l aboradores ,

1986, c i t ado por B a r s a l o u , 1989). Es tes autores , a inda , a v a l i a r a m a e s t ab i l i dade dos

e x e m p l a r e s com vá r ios n íve i s de t ip ica l idade e m o s t r a r a m q u e os j u l g a m e n t o s para

e x e m p l a r e s em todos os n íve i s de t ip ica l idade m u d a m f r e q u e n t e m e n t e , m a s com os

j u l g a m e n t o s para e x e m p l a r e s m o d e r a d a m e n t e t íp icos a m u d a r m a i s \

Bar sa lou e Sewel l (1984) de scob r i r am que a e s t r u t u r a g r a d a t i v a t a m b é m varia com o

con tex to . I n d i v í d u o s que a d o p t a r a m d i fe ren tes p o n t o s de v i s t a g e r a r a m es t ru turas

g rada t ivas mu i to d i f e r e n t e s pa ra a m e s m a ca tegor ia . Po r e x e m p l o , q u a n d o os es tudan tes

a m e r i c a n o s j u l g a v a m a t ip ica l idade , do p o n t o de v is ta dos a m e r i c a n o s e dos ch ineses

g e r a v a m es t ru tu ras g rada t ivas que, em média , não e s t a v a m c o r r e l a c i o n a d a s . P o r q u e o

aco rdo en t re su j e i to s era c o m p a r á v e l para os d i f e r en t e s p o n t o s de v is ta , es tas m u d a n ç a s na

es t ru tu ra g rada t iva não r e f l e c t e m respos tas ao acaso . De m o d o s e m e l h a n t e , R o t h e Shoben

(1983) m o s t r a r a m q u e j u l g a r a t ip ica l idade e aceder a e x e m p l a r e s e m c o n t e x t o s l ingu í s t i cos

d i f e r en t e s t inha u m g rande i m p a c t o na es t ru tura g rada t iva .

' Este resultado complica, aliás, as visões unitárias da categorização, que assumem um único mecanismo subjacente à tipicalidade e à pertença à categoria, porque, para a tipicalidade, a estabilidade aumenta do exemplar moderadamente típico para o menos típico, e, para a pertença, a estabilidade diminui do exemplar moderadamente típico para o menos típico, atestando que, em alguma medida, diferentes mecanismos estão subjacentes a estas duas tarefas (McCloskey e Glucksberg, 1978).

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Ainda, Ross (1996) discute como a in teracção com instâncias pode afectar as

representações das categorias , espec i f icamente a fo rmação de ca tegor ias e a sua estrutura

gradativa, e as impl icações deste estudo para as teorias de c lass i f icação. As pessoas ,

f r equen temente , c l a s s i f i cam novas instâncias e depois in teragem com elas ou usam-nas .

Dois es tudos mos t r am que resolver uma equação depois de a c lass i f icar inf luencia

c lass i f icações pos te r io res doutras equações, e que as d i fe renças encontradas entre grupos

não se devem s implesmente ao facto do grupo que resolveu a equação ter aprendido mais.

Para Ross (1996) , es tes dados têm implicações para as teorias de c lass i f icação exis tentes ,

no sent ido de requere rem extensões das mesmas que inc luam os meios pelos quais a

in formação não c lass i f i cadora (as interacções com as ins tâncias para a lém da c lass i f icação)

afecta a c l a s s i f i cação .

Geração de propriedades

Poder -se- ia a rgumentar que a estrutura gradat iva é um modo re la t ivamente indirecto

de aval iar as representações das categorias. Ta lvez uma fo rma mais directa seja,

s implesmente , pedi r aos indivíduos que desc revam as representações das categor ias

enquanto p e n s a m sobre elas. É provável que, por es tarem a relatar os conteúdos da

memória de t raba lho , esta abordagem seja mais prec isa .

Para aval iar o acordo entre sujei tos, Barsa lou , Spindler , Sewel l , Ballato, e Gendel

(1987, c i tado por Barsa lou , 1989) calcularam a sobrepos ição média das propr iedades entre

todos os pares poss íve i s de sujei tos que gera ram propr iedades para a categoria . A

sobrepos ição foi med ida com a correlação de elemento comum, ou seja, o número de

propr iedades c o m u n s aos dois protocolos d iv id ido pela média geométr ica do total de

propr iedades em cada protocolo (Bellezza, 1984a, 1984b, 1984c). Em vários es tudos , os

protocolos de d i f e ren tes sujei tos exibiram uma sobrepos ição à vol ta dos .32, indicando que

apenas um terço da descr ição que um sujei to faz de uma categor ia se sobrepõe á descr ição

que o outro su je i to faz da mesma categoria.

Este nível ba ixo de acordo foi re la t ivamente pouco afec tado por uma var iedade de

manipulações : Não foi afectado por diferentes pon tos de vista assumidos ; a es tabi l idade

ta lvez tenha s ido marg ina lmente maior para ca tegor ias d i r ig idas para object ivos (.22) do

que para ca tegor ias taxonómicas comuns (.18); e os su je i tos que produzi ram ideais ( .22)

most ra ram mais es tab i l idade do que os suje i tos que p roduz i ram médias (.17). Os ideais

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

ta lvez se j am mais e s táve i s po rque es tão a s soc i ados a c o n h e c i m e n t o func iona l ,

r e l a t i vamen te es táve l , sobre as ca tegor ias , enquan to as m é d i a s t a lvez f l u t u e m de acordo

com a expe r i ênc i a r ecen te c o m e x e m p l a r e s (Barsa lou , 1989).

T a m b é m , os su j e i to s que p r o d u z i r a m d e f i n i ç õ e s ( .44) n ã o m o s t r a r a m m a i o r acordo

do que os su je i tos que p r o d u z i r a m pro tó t ipos ( .45) . E s p e c i f i c a m e n t e , es te p a d r ã o de

r e su l t ados não supor ta a v i são ''cerne+identificação" das c a t e g o r i a s , que p r o p õ e q u e as

r e p r e s e n t a ç õ e s de ca tegor i a s con t êm cernes d e f i n i d o r e s e p r o c e d i m e n t o s de i den t i f i c ação

b a s e a d o s na t ip i ca l idade (Arms t rong , Gle i tman e G l e i t m a n , 1983; Oshe r son e Smi th , 1981;

Smi th e M e d i n , 1981). De a c o r d o com esta v isão, os c e rnes d e f i n i d o r e s , que r e f l ec tem

inva r i an te s na tura i s e lóg icos , deve r i am ser ma i s e s t áve i s do q u e os p r o c e d i m e n t o s de

i den t i f i c ação , que r e f l e c t em a exper i ênc ia pessoa l . C o n t u d o , os su j e i to s q u e p r o d u z i r a m

d e f i n i ç õ e s não m o s t r a r a m mais e s t ab i l idade do que os que p r o d u z i r a m protó t ipos^ .

O aco rdo t a m b é m não variou en t re conce i t o s b e m d e f i n i d o s ( c o m cond ições

neces sá r i a s e su f i c i en te s ) , c o m o mamífero ou solteiro, e c o n c e i t o s fuzzy s em cond i ções

neces sá r i a s e su f i c i en tes , c o m o jogo e mobília.

Bel l ezza (1984b , 1984c) obse rvou t a m b é m a e s t a b i l i d a d e da g e r a ç ã o de

p r o p r i e d a d e s , tal c o m o a e s t ab i l idade da ge ração de e x e m p l a r e s (1984a) . C o i n c i d e n t e s com

os r e su l t ados de Barsa lou e co l abo rado re s (1987, c i t ado por B a r s a l o u , 1989) , os n íve i s de

aco rdo en t re su je i tos são ba ixos para ca tegor ias abs t r ac t a s ( .18) , c a t ego r i a s s u p e r o r d e n a d a s

( .20) , c a t ego r i a s de nível bá s i co ( .28), e desc r i ções de p e s s o a s f a m o s a s ( .21) .

Pa ra ava l ia r o a c o r d o in t ra su je i to em c o n t e x t o s igua i s , Bar sa lou e c o l a b o r a d o r e s

(1987 , c i t ado por B a r s a l o u , 1989) ca l cu la ram a s o b r e p o s i ç ã o en t re do i s p r o t o c o l o s do

m e s m o ind iv íduo p r o d u z i d o s no m e s m o con tex to e c o m p o u c a s s e m a n a s de d i s t ânc i a . Em

duas i nves t igações , e n c o n t r a r a m uma sob repos i ção m é d i a de .55, i n d i c a n d o que , para a

m e s m a ca tegor ia , apenas um pouco mai s de m e t a d e de u m p r o t o c o l o de u m s u j e i t o numa

sessão se sob repõe ao seu p ro toco lo na segunda sessão .

Tal c o m o no a c o r d o en t re su je i tos , es te b a i x o nível de a c o r d o foi p o u c o a f e c t a d o por

u m a va r i edade de m a n i p u l a ç õ e s : Não foi a f e c t a d o pe lo p o n t o de v is ta a s s u m i d o ; foi o

m e s m o q u a n d o os su j e i to s p r o d u z i r a m ideais ou m é d i a s , m a s fo i m a i o r pa ra ca tegor ias

d i r ig idas para ob j ec t i vos do q u e para ca tegor ias t a x o n ó m i c a s c o m u n s ; fo i o m e s m o para

^ Ora, se existem esses cernes definidores então deveria ser possível identificá-los. Mas. mesmo para categorias científicas, onde as definições deveriam ser bem conhecidas, é difi'cil descobrir definições. Por exemplo, é sabido que na biologia não existem definições clássicas para muitas espécies (Sober, 1984, citado por Barsalou e Medin, 1986). E mesmo que existam definições teóricas para certas categorias, não é claro que as pessoas as saibam e as usem.

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def in ições ( .66) e protót ipos (.67), o fe recendo ainda mais evidência contra a visão

"cerne+identificação".

Bel lezza (1984b, 1984c) pediu aos su je i tos que fo rnecessem def in ições de nomes ,

sendo que cada pessoa definiu cada nome duas vezes, com dois dias de intervalo. Se as

pessoas t ivessem cernes def in idores para as ca tegor ias , seria razoável que fos sem capazes

de aceder a e les quando lhes fosse pedido para def in i r as palavras que se r e fe rem a eles.

Surpreenden temente , este autor encontrou n íve is de acordo comparáve is aos já observados

por outros autores para categorias abstractas ( .43), superordenadas ( .46), de nível bás ico

(.54), descr ições de pessoas famosas ( .55) e descr ições de amigos pessoa is (.38),

con f i rmando uma substancial instabil idade. Para este autor, os resul tados mos t ram bem que

a recuperação de in fo rmação da memória semânt ica (onde reside o conhec imen to verbal

permanente sobre ob jec tos e o s ignif icado das palavras) é um processo probabi l í s t ico que

ocorre apenas com um nível de precisão modes to , o que sugere que a palavra não é uma

unidade de s ign i f i cado válida e que t ambém não é mais precisa a recuperação de

in fo rmação que diz respei to a referentes espec í f icos , pessoas espec í f icas . Mas a única

in terpre tação pode não ser só que há ins tabi l idade, é também possível que uma única

palavra não seja adequada como pista para recuperar in fo rmação ; ta lvez mais i n fo rmação

deva ser ad ic ionada à pista de recuperação para haver mais precisão; o contexto é muito

impor tante na compreensão e recuperação de i n fo rmação (Bel lezza, 1984b).

Pertença a categoria

Poder-se- ia a rgumentar que a ins tabi l idade na geração de p ropr iedades ref lec te

s implesmente uma amost ragem aleatória da in fo rmação cont ida em represen tações

invar iantes . Ta lvez as representações invar iantes se mani fes tem apenas em ta re fas mais

lógicas, como de te rminar a per tença à categoria ou pensar sobre ca tegor ias (Armst rong ,

Gle i tman e Gle i tman , 1983; Osherson e Smith, 1981, Smith e Medin , 1981). Ou seja , talvez

as pessoas não pos sam relatar d i rec tamente os cernes mas esses cernes apareçam

ind i rec tamente em ta re fas de per tença a categor ias . Se, por exemplo , as representações

invar iantes são usadas nos ju lgamen tos de per tença , então os j u l g a m e n t o s de per tença a

ca tegor ias deve r i am ser re la t ivamente estáveis . No entanto, M c C l o s k e y e Glucksberg

(1978) encon t ra ram um padrão de ins tabi l idade semelhan te ao que tem v indo a ser descr i to:

Di fe ren tes su je i tos reve la ram di fe renças substancia is na fo rma como a t r ibuem a per tença a

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

uma categoria específ ica; e os sujei tos mudaram f requen temente de ideia sobre se uma

entidade é membro de uma categoria ou não, em duas sessões com uma distância de um

mês. Portanto, também as representações usadas para ju lgamen tos de pertença a categorias

são instáveis.

E, obviamente , verdade que há certas categorias que têm def in ições claras (por

exemplo, solteiro) mas, em mui tos desses casos, as teorias intui t ivas^ integradas com os

conceitos podem relegar essas def in ições para um estatuto de auxil iares . Por exemplo , as

def inições podem ser importantes em domínios técnicos, onde a prec isão é fundamenta l , ou

em domínios onde fazer c lassif icações correctas traz mui tos ganhos. E, talvez, os

protótipos e exemplares , const rangidos pelas teorias intui t ivas, tenham um papel central

mesmo nessas categorias com def inições (Barsalou e Medin , 1986).

Apesar de toda a evidência descrita apontar para o fac to de os conceitos, na

general idade, não terem cernes definidores, podem t ip icamente ter cernes baseados na

experiência. Barsalou (1982) mostrou que certa in formação é au tomat icamente activada

sempre que a representação da categoria é acedida, independen temente do contexto. Ela

não tem, no entanto, um carácter definidor no sent ido em que não constitui propriedades

que são necessárias e suf ic ientes para definir um concei to , tal. como sustenta a visão

"cernem identificação ".

Os cernes baseados na experiência diferem dos cernes def in idores porque não são

def inições . É s implesmente informação que, na exper iênc ia de alguém, ocorre

f requentemente para uma categoria, de tal modo que se torna automát ica . A informação

pode também ser processada com frequência se for a l tamente re levante para a teoria

intuitiva que as pessoas têm sobre a categoria (Murphy e Medin , 1985).

Apenas os cernes baseados na experiência podem variar entre e intra indivíduos.

Pessoas com diferentes experiências podem f r equen temen te processar diferentes

propriedades para a mesma categoria, contudo, o acordo mode rado entre suje i tos pode ser

resul tado de informação parti lhada culturalmente (Barsalou, 1987). Também, assumindo

que, ao longo do tempo, a in formação que uma pessoa f r equen temen te processa para uma

categoria muda, não há razão para esperar que o cerne baseado na exper iência com a

categoria se mantenha estável. Essas mudanças podem ocorrer len tamente ou ser pequenas,

^ Teór i cos (Murphy e Med in , 1985) a rgumen tam que as teorias intui t ivas sob re o m u n d o têm um papel central no p roces samen to conceptual . As teorias intuit ivas podem ser vistas c o m o cons t ruc tos q u e as pessoas usam para explicara estrutura , a or igem e c o m p o r t a m e n t o de u m a categoria. E, neste sent ido, estas teor ias s e l ecc ionam, in terpre tam e o rgan izam as propr iedades no processo de fo rmar representações de ca tegor ias . N a m e d i d a e m que os indivíduos adqu i rem di ferentes teorias intui t ivas sobre o que os rodeia, podem desenvo lve r d i f e ren tes represen tações de categorias.

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

excepto quando exper iênc ia muito f requente com a categoria ocorre durante um per íodo

curto de t empo . Es tes efei tos da experiência e con tex to são expl icados pela visão

"cernemidentificação", in t roduzindo a noção de "procedimentos de identificação", j á

abordada an te r io rmente nesta dissertação, exac tamente para preservar a exis tência dos

"cernes" de f in idores . Os primeiros, permeáveis à exper iência , os segundos, constantes e

estáveis .

Na pe rspec t iva de Barsalou (1982), outra i n fo rmação faz parte da representação,

aquela que é r e l evan te para um contexto par t icular . Enquanto as propr iedades do cerne

fornecem ao ind iv íduo um meio de produzir expecta t ivas que são, p rovavelmente ,

verdadeiras apar t i r da sua experiência, as p ropr iedades dependentes do contexto fo rnecem

um meio de p roduz i r expectat ivas que são p rovave lmente verdadei ras no contexto

especí f ico .

Todos os resu l tados em conjunto , revistos anter iormente , i lustram, na perspect iva de

Barsalou (1982, 1987, 1989), a instabi l idade das representações das categor ias . Di fe ren tes

pessoas usam d i fe ren tes representações para uma ca tegor ia espec í f ica , e uma dada pessoa

não representa uma categor ia da mesma manei ra em di fe ren tes contextos . Em vez disso, as

representações de uma dada categoria variam subs tanc ia lmente entre suje i tos e nos mesmos

sujei tos , o que sugere que as estruturas de conhec imento es táveis que mui tos

inves t igadores t en ta ram identif icar são f icções . Mais , postular o uso desses cons t ructos

tende a obscurece r mui tos mecanismos impor tantes e fontes de in fo rmação subjacentes à

capac idade representac ional dinâmica que os ind iv íduos parecem ter (Barsa lou, 1987, 1989; Barsa lou e Med in , 1986).

Mas os resu l tados anteriores não i lus t ram só que os contextos al teram as

representações de categor ias existentes, ac t ivando d i ferentes propr iedades ou d i fe ren tes

instâncias do conce i to (Roth e Shoben, 1983; Barsa lou e Sewell , 1984; Barsa lou, 1982;

Wisn iewski , 1995), a exis tência de categorias adhoc ilustra que os contextos podem criar

representações de categor ias comple tamente novas (Barsalou, 1983). Ou seja , parece pois

que os su je i tos , sem se basearem em concei tos p rev iamente exis tentes , f o r m a m categor ias

novas e con tex tua lmen te coerentes, most rando as mesmas caracter ís t icas de desempenho

que nas ca tegor ias taxonómicas comuns (Barsa lou, 1983). Des te modo , o acto de

ca tegor ização não requer um concei to já representado .

Mais r ecen temen te , Yeh e Barsalou (1996) avançaram ainda mais na aval iação de

como a i n f o r m a ç ã o da si tuação é incorporada na aprend izagem e representação de

concei tos . Ao con t rá r io de muitos estudos sobre aprend izagem de concei tos , este es tudo

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

inc lu í i n f o r m a ç ã o da s i tuação duran te a a p r e n d i z a g e m de c o n c e i t o s e, ao con t rá r io de

mui tos e s tudos que e x a m i n a m a i n f luênc i a da s i tuação na m e m ó r i a ep i sód ica , es te es tudo

inves t iga c o m o as s i tuações a f e c t a m o p r o c e s s a m e n t o c o n c e p t u a l . Os r e su l t ados i lustram

que "os su je i tos v e r i f i c a m as p rop r i edades ap rend idas e t e s t adas nas m e s m a s s i tuações

s i g n i f i c a t i v a m e n t e ma i s dep res sa do que as t es tadas e m s i t uações d i f e ren tes . Ou seja , os

i nd iv íduos não p r o c e s s a m a p e n a s o conce i to , mas t a m b é m a s i t uação em que o conce i to

ocor re , a s soc i ando d i f e r en t e s p r o p r i e d a d e s de um c o n c e i t o c o m d i f e r en t e s s i tuações .

Mas para as s i tuações a f e c t a r e m o p r o c e s s a m e n t o c o n c e p t u a l , é c ruc ia l que as

p rop r i edades do conce i t o i n t e r a j a m s i g n i f i c a t i v a m e n t e c o m as s i t uações . Os su j e i to s podem

e l abo ra r essas r e l ações l endo f r a se s que e s p e c i f i c a m c o m o u m a p rop r i edade oco r r e numa

s i tuação , ou u s a n d o o seu c o n h e c i m e n t o p rév io sobre a s i t uação . Se a p r o p r i e d a d e ocorre

apenas c o n t i n g e n t e m e n t e com a s i tuação , s em re lação c o n c e p t u a l en t re as duas , a s i tuação

não a fec ta o m o d o c o m o os su je i tos ve r i f i cam as p r o p r i e d a d e s m a s apenas a r e c o r d a ç ã o das

p rop r i edades , c o m o f r e q u e n t e m e n t e d e m o n s t r a d o nos e s t u d o s s o b r e e fe i tos do con tex to

ambien ta l (Yeh e B a r s a l o u , 1996) .

1.2.2 Implicações da instabilidade para a natureza dos conceitos

U m a ques t ão que se co loca é c o m o in t e rp re t a r os r e su l t ados q u e mos t r am a

in s t ab i l i dade das r e p r e s e n t a ç õ e s e que imp l i cações t êm es t e s r e su l t ados para a na tu reza dos

conce i to s e pa ra as teor ias da ca t ego r i zação .

De fac to , a l g u m a s das ques tões cen t ra i s na c a t e g o r i z a ç ã o d i z e m re spe i to à es t ru tura

dos conce i to s e o c o n j u n t o de resu l tados rev i s to a n t e r i o r m e n t e co loca o b v i a m e n t e cer tos

p r o b l e m a s a a l g u m a s v i sões dos conce i tos . Senão v e j a m o s ,

• Por e x e m p l o , a v i são c láss ica não c o n s e g u e e x p l i c a r os e f e i t o s de t ip i ca l idade , j á

que os m e m b r o s de u m a ca tegor ia não têm t o d o s igua l e s t a tu to ; f a l h a em expl icar

a i n s t ab i l i dade dos j u l g a m e n t o s de pe r t ença a c a t e g o r i a s em d i f e r e n t e s ocas iões ,

j á que cons ide ra q u e os l imi tes das c a t e g o r i a s são c l a ros e b a s e a d o s em

p r o p r i e d a d e s d e f i n i d o r a s ; não c o n s e g u e e x p l i c a r o u s o de p r o p r i e d a d e s que não . i

são ve rdade i r a s pa ra todos os e x e m p l a r e s de u m a c a t e g o r i a pa ra de t e rmina r a I

pe r t ença à m e s m a , etc .

• C o n t r a r i a n d o a v i são de Rosch e M e r v i s ( 1 9 7 5 , c i t ado por B a r s a l o u , 1987) de

que as ca t ego r i a s t ê m or igem na es t ru tu ra c o r r e l a c i o n a d a do a m b i e n t e e que a

t i p i ca l idade dos e x e m p l a r e s r e f l ec t e o g rau e m q u e p o s s u e m o p a d r ã o de

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

cor re lações caracter ís t ico da sua categoria , as ca tegor ias d i r ig idas para

ob jec t ivos têm uma estrutura gradat iva que não ref lec te a es t ru tura

cor re lac ionada do ambiente e que evidencia a impor tânc ia de ideais na

o rgan ização das categorias .

Aliás, Barsa lou (1991) aborda d i rec tamente esta ques tão quando cons idera que as

categorias d i r ig idas para object ivos e as ca tegor ias taxonómicas comuns re f l ec tem duas

formas f u n d a m e n t a l m e n t e d i ferentes de adquir i r categorias , r espec t ivamente , a

aprendizagem de exempla res e a combinação conceptual .

Apesar dos dois t ipos de categorias possu í rem estruturas proto t íp icas , d i f e rem nos

de terminantes dessas estruturas . Seguindo o t raba lho de Rosch e Merv i s (1975, c i tado por

Barsalou, 1987), mui to invest igadores acredi taram que a semelhança à tendência central

consti tuía o pr incipal de terminante da t ip ical idade da categoria , onde a tendência central é

a média ou a moda das caracter ís t icas dos exemplares das categor ias . A p rox imidade à

tendência centra l é essenc ia lmente a visão protot íp ica que aparece na l i teratura sobre a

ca tegor ização nos ú l t imos 30 anos: quanto mais p róx imo o exempla r está da tendênc ia

central da ca tegor ia - o protót ipo - mais t ípico é. Vár ios inves t igadores mos t ra ram m e s m o

que a p rox imidade à tendência central de te rmina a estrutura pro to t íp ica das ca tegor ias

comuns e das ca tegor ias art i f iciais (Rosch e Merv is , 1975, c i tado por Barsa lou , 1987;

Smith e M e d i n , 1981). Na real idade, Rosch e Merv i s (1975, c i tado por Barsa lou , 1987)

vêm o papel da tendênc ia central na t ip ical idade de uma forma algo d i fe ren te . Argumen tam

que a seme lhança média de um exemplar aos out ros exemplares todos da categor ia é que

determina a sua t ip ical idade. Alguns modelos exempla res de ca tegor ização , desenvolv idos

pos te r io rmente , exp l icam a es t rutura protot ípica também deste modo (Brooks , 1987;

Hin tzman, 1986; Med in e Schaf fe r , 1978).

Con tudo , f requen temente , os ideais (caracter ís t icas que os exempla res d e v e m ter

para servir da me lhor fo rma um object ivo assoc iado com a ca tegor ia , por exemplo , um

ideal para a l imentos a comer numa dieta é zero calor ias) são centra is para a per tença à

categoria tal c o m o para a t ipical idade, c o m o acontece nas ca tegor ias d i r ig idas para

objec t ivos (Barsa lou , 1983, 1985). Os ideais d i fe rem da tendênc ia central porque

gera lmente não são as tendências centrais nas ca tegor ias e po rque não dependem

d i rec tamente dos exemplares que a pessoa exper imentou , mas são de te rminados

i ndependen temen te deles (Barsalou, 1985). Inclui r ideais nos pro tó t ipos ampl ia os

protót ipos de f o r m a não standard, porque os inves t igadores t ip icamente a s sumem que os

protót ipos apenas con têm informação de tendência central . De fac to , porque as teorias de

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

conhec imen to (como a teoria de protót ipo, exempla r e e squema) t endem a expl icar a

t ip ical idade apart i r da p rox imidade à tendência central ou apar t i r da semelhança média de

um exempla r aos outros exemplares da categoria , as represen tações que usam apenas

incluem tendência central e in fo rmação de f requênc ia (Barsa lou , 1985). Mas, se um factor

de termina uma es t ru tura protot ípica de uma ca tegor ia , en tão deve exist ir na representação

da categor ia . Consequen temen te , os ideais devem exis t i r nas representações de categorias

cu ja es t ru turas proto t íp icas predizem.

• As cons iderações anteriores i lustram bem que a es t rutura protot íp ica é um

f e n ó m e n o c o m p l e x o e dinâmico e que não há um ún ico de te rminante responsável

pela es t ru tura protot ípica de todas as ca tegor ias . T a m b é m , re la t ivamente a este

aspecto, a visão de Rosch e Mervis (1975 , c i t ado por Barsa lou, 1987) não

fornece exp l icações porque é que a es t ru tura p ro to t íp ica das ca tegor ias varia

tanto com o con tex to (Roth e Shoben, 1983; Barsa lou e Sewel l , 1984), sejam

elas ca tegor ias c o m u n s ou adhoc.

N u m cenár io em que, t rabalhos recentes p a r e c e m converg i r para a visão de que as

representações não devem ser vistas como es t ru turas invar ian tes mas como estruturas

d inâmicas que var iam ao longo dos contextos , a lgumas teor ias , que a seguir descrevemos ,

parecem ser capazes de acomodar estes resul tados empí r i cos e a r e fo rmulação necessária

da noção de concei to . Especia l ênfase será dado à teor ia de cons t rução de concei tos de

Barsa lou por ser uma propos ta que atribui s ign i f i cado teór ico expl íc i to à ins tabi l idade e à

sens ib i l idade contextua l , cons is ten temente reveladas emp i r i camen te ; que de ixam de ser

encaradas como um ar te fac to de medida ou uma ind icação de m u d a n ç a menta l p ro funda e

i r revogável .

A teoria de construção de conceitos de Barsalou U m a a l ternat iva p laus ível para a

ins tabi l idade das represen tações de uma categoria é p ropos ta por Barsa lou (1987 , 1989).

Cons idera que as pessoas têm a capacidade de cons t ru i r uma grande quan t idade de

conce i tos na memór ia de t raba lho e que, dependendo do con tex to , incorporam in formação

d i fe ren te , p rovenien te da memór ia a longo prazo, no conce i to que es tão a cons t ru i r para

uma ca tegor ia (Barsalou, 1987). Assim, de acordo com esta v isão, as pessoas possuem uma

grande quant idade de conhec imen to para uma ca tegor ia na m e m ó r i a a longo prazo. Muito

desse conhec imen to pode ser par t i lhado por uma popu lação , e o seu con teúdo pode

pe rmanece r re la t ivamente es tável ao longo do t empo nos ind iv íduos . Con tudo , apenas um

subcon jun to do conhec imen to total do indivíduo para u m a ca t egor i a está act ivo numa dada

ocas ião para representar a ca tegor ia na memór ia de t raba lho . E m b o r a na maior ia dos

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

subconjun tos para uma categoria possa exis t i r um cerne, a maior ia da in formação é

dependente do con tex to ou ref lecte exper iência recente (Barsalou, 1987, 1991). Porque os

contextos e a exper iênc ia recente raramente são os mesmos , ra ramente é act ivado, para

representar uma categoria , o mesmo subconjun to de in formação . Por esta razão, a

ins tabi l idade, em vez da invariância, caracter iza melhor as representações de uma

categoria .

Segu indo a terminologia de Barsalou (1987), o termo concei to refere-se apenas a

representações cons t ru ídas temporar iamente na memór ia de t rabalho, e não à in fo rmação

na memór ia a longo prazo. Portanto, um concei to é s implesmente uma concepção

especí f ica individual de uma categoria , numa ocas ião especí f ica . Não é def in idor mas

fornece ao ind iv íduo expecta t ivas úteis sobre a ca tegor ia baseadas na exper iência passada,

recente e no con tex to actual (Barsalou e Medin , 1986).

Isso expl icar ia uma série de dados discut idos anter iormente . Nomeadamente ,

Bel lezza (1984c) mostrou que as p ropos ições que compõem as def in ições que os

indivíduos f a z e m de uma palavra apenas se cor re lac ionam .48 em média com as

propos ições que c o m p õ e m as suas def in ições uma semana depois . Isto sugere, de facto, que

a i n fo rmação que um indivíduo incorpora num concei to pode variar subs tancia lmente de

ocasião para ocas ião . E que manipular exp l ic i t amente o contexto em que as pessoas

p roduzem de f in i ções (mudando o ponto de vista) resulta , p rovave lmente , ainda em mais

var iabi l idade. Expl ica , t ambém, os vários efe i tos de contexto discut idos na secção anterior.

Em di fe ren tes contex tos l inguíst icos e para d i ferentes pontos de vista, as pessoas

cons t róem conce i tos algo novos para categor ias fami l ia res que resul tam em estruturas

gradat ivas d i fe ren tes . Quando usam categor ias adhoc, cons t róem novos concei tos .

Ass im, a s sumindo que os concei tos são cons t ru ídos quando são necessár ios , não é

preciso assumir que uma quant idade enorme de concei tos estão a rmazenados na memór ia a

longo prazo para uma categoria part icular . A quant idade grande de concei tos associados a

uma categor ia re f lec te s implesmente um processo capaz de const rui r uma grande var iedade

de concei tos na m e m ó r i a de t rabalho, apartir de uma base de conhec imen to em cons tante

mudança na memór ia a longo prazo. Neste sent ido, a capac idade conceptual das pessoas é

a l tamente p rodut iva e dinâmica.

Nesta teor ia de const rução de concei tos de Barsalou (1987, 1991), a ins tabi l idade é

concebida c o m o re f lec t indo estruturas do conhec imen to na memór ia a longo prazo com

algumas p ropr iedades especí f icas e a operação s is temát ica de alguns mecan i smos básicos

de recuperação .

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Entre outras:

• O fac to de muitas das caracter ís t icas geradas para ca tegor ias não poderem ser atr ibuídas

apenas a um único domínio do conhecimento sugere que o conhec imento na memór ia a

longo prazo, apart i r do qual os concei tos são cons t ru ídos , é re la t ivamente

ind i fe renc iado ou contínuo, no sentido em que não está bem del imi tado.

• O conhec imento associado a uma categoria parece var iar , subs tanc ia lmente , na sua

acessibilidade. Uma fo rma de olhar para a acess ib i l idade é em termos da dist inção,

feita por Barsalou (1982), entre in fo rmação independen te do contexto e in formação

dependente do contexto . A primeira é au tomat i camen te act ivada sempre que um

concei to é cons t ru ído para u m a categoria. A segunda apenas vem à cabeça em contextos

re levantes , ou seja , esta in fo rmação é incorporada num concei to apenas quando

act ivada por pistas a l tamente associadas, ex is ten tes no contexto corrente . Essa

in fo rmação do contex to corrente pode também recupera r exempla res da ca tegor ia , quer

do passado recente quer do passado longínquo (Brooks , 1987; Jacoby e Brooks , 1984) e

não s ignif ica que os exemplares es te jam acess íveis ao consc ien te e se jam recuperados

expl ic i tamente . Esta d is t inção é, portanto, baseada na recuperação , no sen t ido em que a

i n fo rmação é c lass i f icada com base na sua acess ib i l idade e e spec i f i c idade da pista.

Adic iona lmente , ela é or togonal à dis t inção baseada no con teúdo entre in formação

genér ica e episódica . Uma propr iedade genérica ou um ep i sód io podem ser dependentes

ou independentes do contexto . Como só se tornam independen te s do con tex to depois de

terem sido incorporados mui tas vezes no concei to , aqui lo que é independen te do

contexto para um concei to pode variar bas tante quer entre ind iv íduos quer intra

indivíduos , como f u n ç ã o da sua exper iência com uma ca tegor ia .

A d i fe renc iação entre in formação dependente e i ndependen te do con tex to pode

a judar a expl icar a es tabi l idade, tal como a ins tabi l idade da es t ru tura gradat iva (Barsalou,

1987). Embora a es t rutura gradat iva possa var iar subs tanc ia lmente , a lgum acordo é

gera lmente obse rvado quer entre quer intra su je i to . Ind iv íduos da m e s m a população

apresentam corre lações uns com os outros à volta de .50, quando a s sumem os pontos de

vista de amigos ín t imos essa corre lação aumenta para .60, e entre s i tuações , os indivíduos

apresentam uma cor re lação com eles próprios de .80. U m a in te rpre tação poss íve l para esta

es tabi l idade é que re f lec te a presença da i n fo rmação i ndependen t e do con tex to , embora

isso ainda es te ja por most ra r empir icamente .

• Representações de exemplares e episódios na m e m ó r i a a longo p razo podem ser

in tegradas com o conhec imento genér ico que i lus t ram. A l g u m a s descober t a s recentes

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sugerem a presença desta organização. Ross (1984, ci tado por Barsalou, 1987) revela

que carac ter í s t icas espec í f icas de um episódio recentemente aprendido func ionam como

pistas para episódios aprendidos p rev iamente que par t i lham essas caracter ís t icas .

Kahneman e Mil ler (1986) revêm mui tos casos de tomada de decisão social em que

caracter ís t icas espec í f icas duma exper iênc ia actual f unc ionam como pistas para

episódios re lac ionados . Porque os episódios var iam muito entre indiv íduos , e intra

indivíduos ao longo do tempo, a i n fo rmação episódica fornece outra fonte de

ins tabi l idade no conhec imento usado para construir concei tos . C o m o revê Brooks

(1987), a cumulam-se as evidências da impor tância da var iação episódica numa

divers idade de tarefas de c lass i f icação e ident i f icação. Não se pode assumir que as

tarefas de ca tegor ização se baseiam apenas em conhec imento abst racto geral , de ixando

as in f luênc ias episódicas para tarefas pouco famil iares em que fa l tam abs t racções

re levantes . A l i teratura mostra que ep isódios espec í f icos anter iores podem afectar

tarefas a l tamente famil iares ; episódios processados anter iormente são um recurso para

lidar com mater ia l complexo e novo; ep isódios processados an te r iormente podem ter

um papel impor tan te em certas condições perceptuais , mesmo quando es tão d isponíveis

regras de fácil apl icação (Brooks, 1987). Também, Heit e Barsalou (1996) , encont ram

evidência para o pr incípio de instantiation (ou seja, para o fac to de in fo rmação

deta lhada sobre instâncias ou de in fo rmação idiossincrát ica ter in f luênc ia nos processos

de ca tegor ização) , supos tamente em contraste com a função de "economia cogni t iva"

das ca tegor ias proposta por vários autores. Estes autores não d e f e n d e m propr iamente

que o pr inc íp io da instantiation fornece uma expl icação completa da ca tegor ização mas

apresen tam resul tados que indicam que os su je i tos incorporam in fo rmação de ta lhada

sobre ins tânc ias da categoria nas suas representações das categor ias e que indicam que

o mode lo que cr iaram para s imular os ju lgamen tos de t ip ical idade tem menor

capac idade predi tora quando instâncias de baixa f requência são exclu ídas .

• E ainda, como evidenciado nos es tudos descri tos an te r iormente sobre es t rutura

gradat iva e geração de propr iedades , uma dada pessoa evidencia mudança substancial

no seu conce i to de uma categoria depois de uma semana ou mais , m e s m o quando as

condições exper imenta i s se mantêm constantes . Porque os contextos exper imenta i s nas

duas sessões são os mesmos, este decl ínio não ref lec te mudanças na in fo rmação

dependen te do contexto . Pode ref lect i r a informação dependente de um contexto recente

equiva len te a um efe i to de recência. Esta i n fo rmação dependente do con tex to recente

pode m e s m o ref lec t i r act ividade recente do s is tema cogni t ivo em geral . Esses efe i tos

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provêm das teorias segundo as quais é assumido que qua lquer evento per turba mais

conhec imento do que aquele a que di rec tamente se ap l ica , e ta lvez todo o conhecimento,

em memór ia (exemplo , modelos coneccionis tas , M c C l e l l a n d e Rumelhar t , 1985). Uma

nova exper iênc ia modi f i ca a memória como um todo, no sen t ido em que a adição de um

traço de memór ia pode al terar o compor tamento do s i s t ema (Hin tzman, 1986).

Assim, como v imos , questões fundamenta i s sobre a suf ic iência de recursos

conceptua is genera l izados e sem inf luências contex tua is f o r a m levantadas por Barsalou

(1987, 1990, 1991). Na sua visão, uma abordagem do c o n h e c i m e n t o que exclua informação

idioss incrát ica , i n fo rmação que co-ocorre, ou represen tações d inâmicas é inadequada e

mesmo os concei tos mais famil iares são, em a lgum grau , c r iados no momen to da sua

apl icação (Barsa lou , 1990; Heit e Barsalou, 1996).

Outras teorias podem também acomodar os resu l tados empí r icos sobre a

ins tabi l idade das represen tações mentais de categor ias , s enão ve jamos :

Teorias exemplaristas Medin e Schaf fe r (1978) p r o p u s e r a m que as pessoas usam

exemplares em vez de pro tó t ipos genéricos como base de c lass i f icação . Esta abordagem

pode po tenc ia lmente expl icar a instabi l idade. A ins tab i l idade entre indiv íduos pode

resultar de d i fe ren tes ind iv íduos exper imentarem d i f e r en t e s exempla res , e a instabi l idade

intra indiv íduos pode resul tar dos mesmos ind iv íduos expe r imen ta rem diferentes

exemplares ao longo do tempo. Efei tos do contexto p o d e m t a m b é m resultar de diferentes

pistas em di fe ren tes con tex tos recuperarem diferentes e x e m p l a r e s .

Traba lho re lac ionado sobre act ivação p recep t iva mos t ra que a capac idade das

pessoas para c lass i f icar es t ímulos é enviesada em re l ação a exemplares semelhantes

àqueles que fo ram recen temente encontrados (Jacoby e Brooks , 1984; Brooks , 1987).

Cons is ten te com a teoria de construção de conce i tos de Barsa lou (1987) e com os

resul tados de McCloskey e Glucksberg (1978), parece que a c lass i f i cação das pessoas é

instável e varia com a exper iênc ia recente.

É preciso, no entanto , dizer que os mode los e x e m p l a r e s que a s s u m e m que o

con jun to total de exemplares representa a ca tegor ia não m u d a m a represen tação da

categoria de ensa io para ensa io , excepto por adição de novos exempla res , o que não é

d i ferente de actual izar a abs t racção depois de cada n o v o exempla r (Barsa lou , 1990). Ou

seja , nesses modelos , cada exemplar subsequente tem pouco impac to na ca tegor ização,

dado o aumento do número de exemplares que i n f l u e n c i a m a ca tegor i zação (Medin e

Schaf fe r , 1978), to rnando as representações das ca t egor i a s tão es táve is quan to as dos

modelos abst raccionis tas . Há, contudo, modelos e x e m p l a r e s em que a memór ia dos

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exemplares pode ser act ivada em diferentes graus , p rovocando grandes mudanças

(Hintzman, 1986). E há modelos abstraccionis tas Cujas regras de aprendizagem opt imizam

o poder predi tor das pis tas , o que pode produzir grandes al terações depois de um evento

anormal (Barsa lou, 1990; Heit e Barsalou, 1996). Ou seja, os modelos abst raccionis tas

t ambém podem representar concei tos d inamicamente durante d i ferentes ca tegor izações e

ter capac idade de abst ra i r caracter ís t icas idiossincrát icas (McClel land e Rumelhar t , 1985).

Teoria da norma Kahneman e Miller (1986) escrevem um art igo que se foca no

acto de cons t rução de normas através das quais j u lgamos as nossas act ividades no

momento . P ropõem que a exper iência actual recruta episódios prévios a rmazenados em

memória que lhe são semelhantes . À medida que os episódios são recuperados são

compi lados numa norma que os sumaria . A exper iência actual é depois comparada com a

norma acabada de cons t ru i r na memória de t rabalho e. com base na sua semelhança , vários

tipos de in fe rênc ias e j u lgamen tos são feitos.

As normas são representações de conhec imento que func ionam como padrões de

act ivação t emporá r ios da memór ia e servem para interpretar a exper iência actual.

Kahneman e Mil ler (1986) desaf ia ram a concepção de normas como estruturas pré-

calculadas e suger i ram que as normas são const ru ídas on-line e num processo invert ido,

que é guiado pelas caracter ís t icas do es t ímulo que evoca e pelo con tex to momentâneo .

Neste sentido, esta perspec t iva assemelha-se a outras abordagens que enfa t izam o papel de

episódios e spec í f i cos e de exemplares na representação de categor ias (Barsalou, 1987;

Hintzman, 1986; Jacoby e Brooks , 1984; McCle l land e Rumelhar t , 1985, Medin e Schaf fe r ,

1978). Es tas p ropr iedades de cálculo on-line e esta sens ib i l idade ao contexto são comuns

nos modelos exempla res e coneccionis tas ou PDPs (Murdock , 1982; McCle l land e

Rumelhar t , 1985).

Modelos de processamento distribuído em paralelo (Coneccionismo) Mui tos

teóricos adop ta ram uma arqui tectura para a cognição fundamen ta lmen te d i ferente da

t rad ic iona lmente empregue pelos psicólogos cogni t ivos .

As abordagens t radicionais assumiam que a represen tação de uma ent idade

especí f ica exis t ia c o m o uma componen te invar iante na memór ia e que era recuperada de

um local e spec í f i co na memór ia quando necessár ia . As teorias PDP assumem que as

representações de uma ent idade espec í f ica exis tem como um es tado de ac t ivação espec í f ico

do sistema de memór ia total. Represen tações de d i fe ren tes en t idades cor respondem a

di ferentes es tados de ac t ivação no mesmo s is tema de memór ia (McCle l land e Rumelhar t ,

1985).

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Vários aspectos do contexto actual combinam-se para conduz i r o s is tema PDP a um

estado único, cada vez que um concei to é representado. C o n s e q u e n t e m e n t e , a instabilidade

dos concei tos é uma consequência natural desta a rqu i tec tu ra bás ica , o que a torna

consis tente com os dados empír icos sobre ins tabi l idade e necessár ia para dar conta da

grande f lex ib i l idade da cognição .

Outros mode los pa recem também apropr iados para expl icar a f lexibi l idade e

dependência do con tex to que parece caracter izar o uso h u m a n o dos concei tos . Part i lham o

facto de inc lu í rem uma componen te de ajustamento global na recuperação da memória,

para a qual a na tureza das pistas disponíveis no con tex to são cr í t icas para a resposta

(Humphreys , Bain e Pike, 1989; Hintzman, 1986; M c C l e l l a n d e Rumelhar t , 1985;

Murdock , 1982). A dependênc ia do contexto resulta da na tu reza compós i t a das pistas de

recuperação que sondam para le lamente os traços de m e m ó r i a a rmazenados como um todo

para obter uma resposta con t ínua indexada ao grau de f ami l i a r idade (coincidência) com

essas pis tas . Ou se ja , as pis tas (rótulos de grupos ou de ob jec tos de ati tude) são

e spon taneamente in tegradas com a in formação disponível no con tex to imedia to formando

pistas compós i tas . Nes te sent ido, os pressupostos que pa r t i l ham s ign i f i cam, em geral, que

um item não pode ser r ecuperado precisamente da m e s m a f o r m a c o m o foi a rmazenado . E é

melhor pensar numa represen tação como sendo recr iada , do que como sendo recuperada,

em função de objec t ivos , con tex to actual e exper iência recen te (Smi th e DeCos te r , 1998).

Estes mode los d i f e rem depois em relação a se os t raços de memór ia são

a rmazenados ind iv idua lmen te ou localmente (Hin tzman, 1986) ou sobrepos tos (Murdock,

1982), ou seja , se as exper iênc ias são combinadas na r e c u p e r a ç ã o - como no Minerva II -

ou na cod i f i cação . Pode-se , por exemplo, pensar que isso tem impl icações , no sent ido em

que um s is tema que espera até à altura da recuperação para c o m b i n a r exper iênc ias tem

mais f lex ib i l idade no modo como a combinação é fei ta ( H i n t z m a n , 1986). D i f e r e m também

noutros aspectos espec í f i cos como as operações m a t e m á t i c a s envo lv idas no ajustamento.

Humphreys , Pike, Bain e Tehan (1989) e Raa i jmake r s e Sh i f f r i n (1992) apresentam

revisões compara t ivas des tes modelos .

Alguns des tes mode los foram t ip icamente usados para expl icar a ap rend izagem de

categorias (Hin tzman , 1986; Kruschke, 1992) e o e fe i to da e spec i f i c idade do contex to no

s igni f icado de um conce i to (Hintzman, 1986).

C o m p a r a t i v a m e n t e com os modelos de p r o c e s s a m e n t o d i s t r ibu ído em parale lo , a

teoria de cons t rução de concei tos de Barsalou (1987) pa rece seguir a arqui tectura

t radicional ao assumir que apenas um subcon jun to de i n f o r m a ç ã o na m e m ó r i a a longo

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prazo está act iva na memór ia de trabalho para representar cada conceito. Contudo , na

perspect iva de McCle l l and e Rumelhar t (1986, c i tado por Barsalou, 1987), as teorias

t radicionais e as teor ias PDP não são mutuamente exc lus ivas - as pr imeiras poderão ser

descrições do c o m p o r t a m e n t o de nível de abs t racção super ior dos s is temas PDP.

Para conc lu i r , e a propósi to da compat ib i l idade dos vár ios modelos apresen tados

com os p re s supos tos da teoria de construção de concei tos de Barsa lou (1987, 1989, 1991),

um aspecto que é cons tan te nos estudos deste autor é que ele não está p ropr iamente a tentar

dist inguir en t re c lasses de modelos abstractos ou exempla res . Pelo contrár io , o seu

object ivo é s imp lesmen te avaliar a ins tabi l idade e sens ib i l idade ao con tex to das

representações menta i s de categorias , assumindo que estas propr iedades podem ser

implementadas de vár ias maneiras . Portanto, não está a tentar de terminar que um t ipo de

modelo pe rmi te implemen ta r melhor estas p ropr iedades do que outro.

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.3 Visões sobre os estereótipos: Que estabilidade atribuem a estas estruturas de conhecimento social

Até agora f a l á m o s da impor t ânc i a do p e n s a m e n t o c a t e g ó r i c o no d ia -a -d ia e dos

va r i ados e s f o r ç o s teór icos e emp í r i cos para ca r ac t e r i za r a sua e s t ru tu ra e iden t i f i ca r

p roces sos que a g e m sobre ele . C o n t r a s t á m o s d u a s v i sões da p s i co log ia cogni t iva

i n t e r e s sada no e s tudo da ca t ego r i zação - abs t r acc ion i s t a e e x e m p l a r i s t a - e d i s c u t i m o s a

sua a d e q u a b i l i d a d e empí r i ca para exp l ica r a i n s t ab i l i dade que e x i b e m as r ep re sen tações

men ta i s de ca t ego r i a s q u a n d o ap l icada uma m e t o d o l o g i a de t e s t e - re tes t e long i tud ina l .

F i n a l m e n t e , c o n s i d e r á m o s as i m p l i c a ç õ e s des tes r e s u l t a d o s pa ra a na tu reza dos conce i to s e

para as t eo r i a s da ca t ego r i za r ão . C o m o ve rem os , o p r o c e s s o de e v o l u ç ã o que os m o d e l o s de

r e p r e s e n t a ç õ e s men ta i s de g r u p o s soc ia is f o r a m t e n d o não é a lhe io aos d e s a f i o s que os

m o d e l o s de r e p r e s e n t a ç õ e s men ta i s das ca t egor i a s e m geral t i v e r a m que ir u l t r apas sando .

Ass im , e s t a s e c ç ã o p re t ende , p r ime i ro , ava l ia r o c o n h e c i m e n t o que se tem sobre a na tureza

dos e s t e r e ó t i p o s e n q u a n t o es t ru tu ras cogn i t ivas , apar t i r da i n v e s t i g a ç ã o e m ps ico log ia

social e, p a r t i c u l a r m e n t e , apar t i r de i nves t i gação gu iada po r u m a a b o r d a g e m sócio-

cogn i t i va a es te tóp ico . A seguir , p r e t ende sa l ien ta r os p r e s s u p o s t o s e x e m p l a r i s t a s de

i n s t ab i l i dade dos e s t e reó t ipos que con t r a r i am as e x p e c t a t i v a s de q u e es tas e s t ru tu ras de

c o n h e c i m e n t o socia l não m u d a m .

As duas s u b s e c ç õ e s segu in tes se rão ded icadas a cada u m des te s a spec tos .

1.3.1 Modelos de representações mentais de grupos sociais

N a p e r s p e c t i v a cogn i t iva , os e s t e r eó t ipos p o d e m ser c o n s i d e r a d o s c o m o es t ru tu ras

de c o n h e c i m e n t o abs t rac tas que l igam u m g rupo soc ia l a u m c o n j u n t o de t r aços ou

ca rac t e r í s t i c a s c o m p o r t a m e n t a i s . C o m o tal , f u n c i o n a m c o m o e x p e c t a t i v a s que gu i am o

p r o c e s s a m e n t o da i n f o r m a ç ã o sobre o g rupo c o m o u m todo e sob re m e m b r o s pa r t i cu la res

do g rupo ( H a m i l t o n e S h e r m a n , 1994). Pa ra a lém des t a s e x p e c t a t i v a s g e n e r a l i z a d a s , o

c o n h e c i m e n t o sobre m e m b r o s pa r t i cu la res do g r u p o (ou e x e m p l a r e s ) pode t a m b é m

i n f l u e n c i a r j u l g a m e n t o s sobre g rupos e seus m e m b r o s .

As e x p l i c a ç õ e s soc iocu l tu ra i s dos e s t e reó t ipos e n f a t i z a m o pape l d o s p r o c e s s o s de

a p r e n d i z a g e m socia l na f o r m a ç ã o e m a n u t e n ç ã o dos e s t e r e ó t i p o s . As n o s s a s c o n c e p ç õ e s de

vár ios g r u p o s soc ia i s t êm o r igem na in fânc ia , p o r i n f l u ê n c i a de a d u l t o s c o m que

c o n t a c t a m o s , e são p e r p e t u a d a s a t ravés de p e r c e p ç õ e s r e p e t i d a s de m e m b r o s de s se s g rupos

e m cer tos papé i s soc ia i s tal c o m o são a p r e s e n t a d o s n o s m e d i a . E m ad i ção a esses

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m e c a n i s m o s , a a b o r d a g e m cogni t iva dos e s t e reó t ipos focou a a tenção noutros m e c a n i s m o s

que p o d e m con t r ibu i r para a f o r m a ç ã o inicial de s i s t emas de c renças e s t e reo t ipados .

A r g u m e n t a m que os es te reó t ipos são b a s e a d o s na d i f e r enc i ação pe rceb ida en t re g rupos

socia is , e que a m b o s p rocessos de ca t ego r i zação e co r re l ações i lusór ias ' ' p o d e m con t r ibu i r

s i g n i f i c a t i v a m e n t e para essa d i f e renc iação . Es ta d i f e r enc i ação não cons t i tu i em si m e s m a

es te reo t ipa r mas f o r n e c e os a l icerces para o d e s e n v o l v i m e n t o dos es te reó t ipos . À med ida

q u e o ind iv íduo adqu i re c o n h e c i m e n t o e c renças sobre um grupo, e essas c renças p a s s a m a

es ta r a s soc iadas a esse g rupo , es tabe lece-se um es te reó t ipo desse grupo . Esse e s t e reó t ipo é

a r m a z e n a d o em m e m ó r i a como uma es t ru tura cogni t iva , e pode en tão i n f luenc i a r

pe r cepções e c o m p o r t a m e n t o s subsequen tes pa ra com o g rupo e os seus m e m b r o s . A pesa r

des tas a f i r m a ç õ e s p o d e r e m parecer in tu i t ivamen te óbv ias , m a s c a r a m um c o n j u n t o de

ques tões sob re a na tu reza dessas es t ru turas cogn i t ivas , conceb idas , ao longo dos anos ,

n u m a va r i edade de f o r m a s .

D u r a n t e mui tos anos os ps i có logos soc ia i s d e f i n i r a m s i m p l e s m e n t e os e s t e reó t ipos

c o m o s i s t emas de c r enças sobre grupos sociais , e d e d i c a r a m os seus e s f o r ç o s a i den t i f i ca r e

med i r os c o n t e ú d o s desses s i s temas de c renças . N o es tudo c láss ico de Katz e Bra ly (1933 ,

c i t ado por Pa rk , Judd e Ryan, 1991), f o r a m ca rac t e r i zados vár ios e s t e reó t ipos é tn icos

a t ravés da p r eva l ênc i a com que os su je i tos a t r ibu íam t raços par t i cu la res a cada grupo . C o m

a pe r spec t iva cogn i t iva , mais in te ressada nas ques tões p rocessua i s , os inves t igadores dos

e s t e reó t ipos c o m e ç a r a m a es tudar a o rgan ização des tas es t ru tu ras e o m o d o c o m o o

c o n h e c i m e n t o e as c renças sobre g rupos soc ia i s es tão a r m a z e n a d o s em m e m ó r i a e são

s u b s e q u e n t e m e n t e u t i l i zados (Park, Judd e R y a n , 1991).

Vár ia s a b o r d a g e n s sobre c o m o o c o n h e c i m e n t o acerca de g rupos e m e m b r o s de

g rupos es tá r e p r e s e n t a d o em m e m ó r i a e sobre c o m o esse c o n h e c i m e n t o é u sado na

e l abo ração de j u l g a m e n t o s , f o r a m pos t e r i o rmen te desenvo lv idas . A l g u m a s vêem os

e s t e reó t ipos c o m o c o n c e p ç õ e s gerais dos a t r ibu tos mais impor t an t e s do g rupo , e c o m o tal

es tão r e p r e s e n t a d o s em memór i a como abs t r acções b a s e a d a s em ap rend i zagens e

expe r i ênc i a s p rév ias . Outras abordagens va lo r i zam o pape l da i n f o r m a ç ã o sobre

e x e m p l a r e s , a t r i bu indo menos ou nenhum peso a conce i to s abs t rac tos . Para es tudar essas

r e p r e s e n t a ç õ e s os inves t igadores u sa ram m o d e l o s cogn i t ivos de ca t egor i zação e

j u l g a m e n t o , que e s t ão cen t rados nos p rocessos pe los quais o c o n h e c i m e n t o p rév io é u s a d o

para c a t ego r i za r e j u lga r ins tânc ias que p o d e m ou não ser m e m b r o s da ca tegor ia .

" A tendência para sobres t imar a f requência de ocorrências que são congruen tes c o m u m a expecta t iva prévia (Hamil ton e Rose , 1980, c i tado por Hamil ton e Sherman, 1994).

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Compreendendo esses p rocessos de categor ização social e j u l g a m e n t o no domínio do

estereót ipo podem aumentar o conhec imento sobre a na tureza des ta represen tação cognitiva

subjacente .

Def in i r os es tereót ipos ao nível representacional é crucial porque d i fe ren tes tipos de

representações têm d i fe ren tes impl icações para outras ques tões sobre os es tereót ipos. Ou

seja, conduzem a predições dist intas sobre a forma c o m o os es te reó t ipos são formados,

mant idos, apl icados, a l terados , sobre a sua f lexibi l idade e sobre o papel da categorização

na percepção social (Hil ton e VonHippel , 1996; Smith, 1992; Smi th , 1990).

Representações baseadas em abstracções

Os es tereót ipos fo ram t radic ionalmente conceb idos c o m o crenças gerais abstractas

sobre grupos sociais , com pouca ou nenhuma atenção dada ao papel do conhec imen to sobre

exemplares , ou membros individuais do grupo. Mode los in ic ia is a s sumiam, por tanto , que

estes eram representados abs t rac tamente como estruturas cogn i t ivas es táveis ou esquemas.

Acredi tava-se que esta representação sumária das ca rac te r í s t i cas médias re levantes de um

grupo social se ia desenvo lvendo à medida que ia sendo adqu i r ida i n fo rmação sobre esse

grupo. Múl t ip las fontes , inc lu indo experiência directa com os m e m b r o s do grupo e

in formação aprendida soc ia lmente através de famil iares , amigos e media , con t r ibu íam para

a fo rmação dessas represen tações abstractas estáveis . Nes ta v isão, os es te reó t ipos são,

portanto, protót ipos do grupo que estão a rmazenados em m e m ó r i a e são recuperados

intactos para guiar o p rocessamento de informação. Qua lque r p rocesso de j u lgamen to do

grupo tem que ser necessa r iamente precedido por uma ca t ego r i zação social . Ou seja , antes

do es tereót ipo do grupo poder ser act ivado e usado na p e r c e p ç ã o de outra pessoa , essa

pessoa alvo tem que ser ca tegor izada como membro do grupo . (Sherman , 1996).

De acordo com os mode los protot ípicos de ca t egor i zação social , as ca tegor ias não

têm traços caracter ís t icos def in idores ou critérios que d e t e r m i n e m se u m a pessoa é ou não

membro da categor ia . Em vez disso, as categorias são "fuzzy sets'\ cu jos m e m b r o s variam

no grau em que se a s semelham com a categoria. A l g u m a s ins tânc ias são melhores

exemplos da ca tegor ia dos que outras. Esta " seme lhança" é de t e rminada pela comparação

da instância com o protó t ipo da categoria , que resume as ca rac te r í s t i cas dos m e m b r o s da

categoria. Se as carac ter í s t icas do indivíduo fo rem s u f i c i e n t e m e n t e semelhantes ás

caracter ís t icas do protó t ipo do grupo (ou seja, se a s eme lhança exceder um l imiar ou se for

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maior em re lação ao pro tó t ipo desta categoria do que em re lação ao protót ipo de categor ias

compet i t ivas) , a pessoa será categorizada como m e m b r o desse grupo. Logo, a

ca tegor ização é probabi l í s t ica .

Em suma, mode lo s de representação baseados em abstracção postulam que os

es t ímulos são ca tegor izados por comparação com os protót ipos do grupo ou os

es tereót ipos. A ac t ivação do estereótipo permite ao ind iv íduo inferir as caracter ís t icas do

alvo através da pe r t ença ao grupo e pode enviesar o p rocessamento de in fo rmação

subsequente no sen t ido de conf i rmar o es tereót ipo.

C o m o revis to nas secções anteriores, houve um con jun to de evidências que

conduzi ram à r e fo rmu lação de modelos cogni t ivos gerais e à prevalência de visões

al ternat ivas ao abs t racc ion ismo na psicologia cogni t iva con temporânea (Garc ia -Marques ,

1998).

O m e s m o t ipo de inadequabi l idades fo ram de tec tadas também nos modelos da

cognição social baseados na abstracção. Não é de es t ranhar uma vez que o vocabulá r io

conceptual (de e squemas , exemplares , protót ipos, e outros) é la rgamente par t i lhado pelas

teorias desenvo lv idas em várias áreas das duas discipl inas (Smith e DeCoster , 1998)^.

Ass im, apesar dos modelos baseados em abs t racções terem sido muito in f luen tes ,

descober tas recentes , que mostram que o ju lgamen to humano é muito sensível ao contexto ,

ques t ionam e põem em causa a adequabi l idade de uma abordagem puramente esquemát ica

dos es tereót ipos . E de facto , apesar da sua prevalência , estes modelos encaram prob lemas

que l imi tam a sua capac idade de dar uma expl icação comple ta dos es tereót ipos (Hamil ton e

Sherman, 1994; Smi th e Zárate, 1992; Hilton e VonHippe l , 1996), senão ve jamos:

• Uma l imi tação dos modelos baseados em abs t racções é que uma representação

prototípica pura não pode representar atributos correlacionados dentro de uma

categoria. Contudo, as pessoas usam o conhec imen to sobre cor re lações de

a t r ibutos na categor ização (por exemplo : é mais provável que pássaros pequenos

can tem) , cons iderando mais fácil c lass i f icar novas instâncias que con tenham

essas cor re lações aprendidas do que ins tâncias que as v iolem. Na visão

pro to t íp ica , se o protótipo é o pássaro pequeno que canta, então prevê-se que

pássaros grandes que não cantam d i f i ram mais do protót ipo e, por isso, se jam

^ D e facto, q u a n d o o m o v i m e n l o da Cognição Social dos anos 7 0 e 80 t rouxe u m a forie tendência para u m a crescente integração teórica na Ps ico log ia Social, à medida que teorias sobre vários tópicos emerg iam c o m base n u m vocabu lá r io conceptual c o m u m , essa in tegração ultrapassou fronteiras da ps icologia social j á que esse vocabulár io era la rgamente par t i lhado c o m a Ps ico log ia Cogni t iva .

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mais di f íceis de c lass i f icar do que os pássaros que di ferem apenas numa

caracter ís t ica . E como refer imos atrás, a ev idênc ia é contrár ia a isto. Para os

modelos exemplares , que assumem que maior dens idade de exemplares é

encont rada nas regiões do espaço que r e f l ec t em a corre lação (pequeno e canta;

grande e não canta) , isso não consti tui p rob lema . Do mesmo modo, Linville,

F ischer e Yoon (1992, ci tado por Linvi l le e F i scher , 1993) mos t ram como os

modelos de exemplares conseguem expl icar a sens ib i l idade das pessoas para

cor re lações entre caracter ís t icas de m e m b r o s de in-groups e de owí-groups,

enquanto modelos abst raccionis tas não c o n s e g u e m . Para que um modelo

abs t raccionis tas consiga expl icar a sens ib i l idade a cor re lações entre

caracter ís t icas é necessár io assumir que as pessoas abs t raem ac t ivamente um

grande número de corre lações para além de i n f o r m a ç ã o de tendência central ,

var iabi l idade e outros parâmetros de d i s t r ibu ição de caracter ís t icas únicas . A

propósi to disto, Barsalou (1990) defende , con tudo , que não há razões para o

conhec imento abst racto não conter i n f o r m a ç ã o de co-ocorrênc ias . Vários

modelos abs t raem in fo rmação que co-ocorre nos exempla res (El io e Anderson,

1981; McClel land e Rumelhar t , 1985), apesar de serem cr i t icados por fazerem

exigências de a rmazenamento pouco razoáve is (Medin e Schaf fe r , 1978). No

entanto , segundo Barsalou (1990), essas cr í t icas sobre as ex igências de

a rmazenamento não fazem sent ido porque, entre out ros a rgumentos , as pessoas

a rmazenam apenas combinações de p ropr iedades que recebem atenção, que

encaixam em padrões s is temát icos de cor re lações ou que são re levantes para

teorias intui t ivas e é pouco provável que todas as combinações poss íve is de

propr iedades ocorram em todos os exemplares . Por ou t ro lado, nenhuma destas

cr í t icas se apl icam aos modelos de ajustamento global e aos mode los PDP, de

acordo com os seus pressupos tos atrás d iscut idos .

• De igual modo, os modelos abstraccionistas parecem pouco adequados para

explicar a sensibilidade dos indivíduos á informação sobre a variabilidade

dentro de grupos sociais. C o m o abordaremos na secção 1.4, a inves t igação sobre

a percepção da var iabi l idade do grupo foi e s t imulada pelo e fe i to de

homogene idade do out-group - a tendência das pessoas para pe rceber os out-

groups como mais homogéneos do que os g rupos a que pe r t encem - no sent ido

em que, apart ir daí, começou-se a considerar que , para a lém da i n fo rmação de

tendência central ou relat iva ás caracter ís t icas t íp icas do grupo, outros aspectos

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faz iam par te da representação do grupo, como a var iabi l idade percebida. Neste

contexto , e como discut i remos na secção seguinte , vár ios autores ques t ionaram a

adequab i l idade dos modelos teóricos abs t raccionis tas exis tentes para es tudar e

expl icar esse aspecto da representação dos grupos sociais e de fenderam a

necess idade de ul trapassar as representações proto t íp icas das categorias .

• Ainda , modelos abstraccionistas têm dificuldade em explicar o impacto que

exemplares específicos podem ter no processamento. Por exemplo , um modelo

de represen tações abstractas teria d i f icu ldade em expl icar o impacto e efe i to

du radouro de uma única experiência com uma instância especí f ica da categoria

(Smith e Zára te , 1990). Já que, na perspect iva des te modelo , os protót ipos (isto

é, o conhec imen to de nível de grupo) são tão es táve is que a exper iênc ia com

membros individuais do grupo não pode al terá- los muito , ou por mui to tempo.

Ass im, e fe i tos do contexto, da ac t ivação e da d i sponib i l idade são fáceis de

expl icar nos modelos exemplares , exac tamente porque o con jun to par t icular de

exempla res que são recuperados pode depender da act ivação temporár ia e de

fac tores contextuais , tanto quanto da ins tância espec í f ica que está a ser

p rocessada (Barsalou, 1987; Kahneman e Mil ler , 1986; Roth e Shoben, 1983;

Smith e Med in , 1981).

O es tudo de Lewicki (1986) é, f r equen temente , c i tado para most rar a impor tânc ia

de represen tações de exemplares nos j u lgamen tos sociais . Nesse es tudo, os

su je i tos t inham a expectat iva que um ind iv íduo desconhec ido com cabelo

compr ido seria pouco amigável s implesmente porque recuperavam, como base

para o ju lgamen to , um primeiro indiv íduo pouco amigável , que t inham

conhec ido prev iamente e que também tinha o cabe lo compr ido . No entanto , para

alguns autores , os sujei tos desta exper iência pod iam não possuir um es tereót ipo

re levante para o alvo em questão, e, neste sent ido, os resul tados podem não

const i tu i r tão forte evidência contra as represen tações de conhec imen to

abst ractas , como os estereótipos (Hamil ton e Sherman , 1994). Smith e Zárate

(1990) demons t ra ram que exemplares espec í f icos são ut i l izados como base para

a ca tegor ização quando o conhec imento abst racto se sustenta em poucas

ins tâncias e é mal def inido.

Outros es tudos mais recentes indicam que a expos ição a exemplares espec í f i cos

pode ter um grande impacto no modo como as pessoas pe rcebem grupos sociais

(Bodenhausen , Schwartz , Bless e Wanke , 1995; Schwar tz e Bless , 1992; Smith e

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Zárate , 1990,1992) . Por exemplo, B o d e n h a u s e n e colaboradores (1995)

descobr i ram, no seu estudo, que os par t ic ipantes a quem tinha sido apresentado

p rev iamente um exemplo de um a f r o - a m e r i c a n o popular e avaliado

f avorave lmen te cons ideravam que exist ia mais d i sc r iminação na sociedade

moderna , do que os part icipantes a quem não foi apresentado o exemplar

act ivado. O exemplar , neste caso. parece ter i n f luenc iado as visões dos

par t ic ipantes sobre toda a categoria social dos a f ro -amer icanos . Ou seja, a

ac t ivação de membros incongruentes do g rupo a fec ta os ju lgamen tos do grupo,

m e s m o de grupos estereot ipados para os quais a d isponib i l idade de um

j u l g a m e n t o do grupo pré-calculado é mais do que provável . N u m estudo

semelhante , conduz ido por Schwartz e B less (1992) , os ju lgamen tos dos

par t ic ipantes sobre os polí t icos em geral f o r a m in f luenc iados por políticos

espec í f i cos em quem os part icipantes se t inham de t ido a pensar , previamente .

Estes resul tados sugerem que a visão de um g rupo social pode var iar de uma

ocas ião para outra , dependendo dos exemplares e s p e c í f i c o s que vêem à cabeça.

Estes dois es tudos refer idos mostram que os e s t e reó t ipos de ca tegor ias sociais

amplas podem ser al terados através da ac t ivação de um exemplar específ ico

(membro da categor ia) (Coats e Smith, 1999). M a s para Sherman (1996) , estes

resul tados demons t ram apenas que, uma vez ac t ivados , os exemplares podem

inf luenc ia r os ju lgamen tos do grupo, mas não d e m o n s t r a m que esses exemplares

fo ram act ivados espontaneamente pelos ind iv íduos , quando pensavam sobre os

grupos sociais ; mais , os resul tados nada d izem sobre se os ind iv íduos também

possuem e apl icam estereót ipos abst ractos nos j u l g a m e n t o s , para além de

exempla res sal ientes . Coats e Smith (1999) d e m o n s t r a m o m e s m o tipo de

sens ib i l idade ao contexto, ao nível de subt ipos de ca tegor ias sociais . Mas aqui, a

sens ib i l idade ao contexto foi demons t rada p e d i n d o aos par t ic ipantes que

l i s tassem caracter ís t icas dos subtipos depois de t e rem s ido expos tos a um de dois

exempla res d i fe ren tes dos subtipos. Tal c o m o os au tores previam, as descrições

dos subt ipos d i fe r i ram s igni f ica t ivamente entre as cond ições de exemplares , de

um modo que ref lect ia a inf luência de carac te r í s t i cas par t icu lares dos

exemplares . Evidênc ia adicional fornecida por Smi th e Zára te (1990) demonstra

a impor tânc ia dos exemplares nos es te reót ipos . Nes t e es tudo, os par t ic ipantes

f o r a m tre inados para categorizar pessoas c o m base em descr ições escritas.

Depois de expos tos a uma série de treino, fo i - lhes ped ido que ca tegor izassem

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

novos casos . Os resultados demons t ram que os ju lgamentos tendem a ser

baseados na semelhança do alvo com exempla res especí f icos e não na sua

s e m e l h a n ç a com informação média t ípica do grupo. Todos estas ev idênc ias

supor tam a hipótese de que os exemplares f a z e m pelo menos parte da i n f o r m a ç ã o

que é usada para fazer ju lgamentos de ca tegor ia sociais .

Representações baseadas em exemplares

A maio r i a dos modelos baseados em exempla res , tal como vimos an te r iormente ,

foram desenvo lv idos para tentar explicar os p rocessos de ca tegor ização (Medin e Scha f f e r ,

1978; Jacoby e Brooks , 1984). De acordo com estes modelos , a ca tegor ização envo lve a

comparação do a lvo com a pertença à categoria do con jun to de exemplares recuperados , e

não com o p ro tó t ipo da categoria, e os exemplares ac t ivados não têm que per tencer todos ,

necessa r iamente , ás mesmas categorias sociais uns dos outros . Assume-se que os

exemplares r ecupe rados são aqueles mais semelhan tes ao alvo e que a sua recuperação e

uso podem ser, f requen temente , processos para le los e implíc i tos , não acess íve is à

consciência , e que não requerem recursos cogni t ivos s igni f ica t ivos (Smith, 1990; Brooks ,

1987). Al iás , es te const i tui o argumento que responde à observação fei ta pelos de fenso re s

dos modelos ba seados em abstracção, que, depois de um processamento ex tenso e

represen tação de numerosos membros do grupo, parecer ia mais e f ic iente sumar ia r o

conhec imen to sob a fo rma de caracter izações de nível de grupo - general izar .

Em mode lo s como o modelo de Medin e Schaf fe r (1978) a c l ass i f i cação é

de te rminada por todos os exemplares a rmazenados de cada categor ia ; cada um é ponde rado

de acordo com a sua semelhança com o alvo ou es t ímulo . Que efe i to tem cada exempla r

recuperado depende de como a atenção é d i r ig ida a uma ou a outra d imensão , o que

condic iona a s eme lhança percebida. A semelhança não pode, pois, ser cons iderada c o m o

uma propr iedade de um conjunto de es t ímulos que é, independente do contexto e f ixa . E m

vez disso, a s eme lhança depende da maneira como o indiv íduo processa e in terpre ta o

es t ímulo (Medin e Schaf fe r , 1978). Porque é que os indiv íduos tomam atenção a a lgumas

d imensões do es t ímulo e não a outras requer ent rar na rea l idade dos fac tores socia is ,

contextua is e de mot ivação , aspectos que têm sido inves t igados na ps icologia social e na

ps icologia cogn i t iva (Barsalou, 1987; Roth e Shoben , 1983). A atenção dos ind iv íduos ás

d imensões d e p e n d e da tarefa ou object ivos do indiv íduo, da exper iênc ia passada , da

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

re levância para o self , da f requênc ia de exposição, da d inâmica in-group / out-group, e do

contexto social .

Os modelos de memór ia coneccionis tas (McCle l land e Rumelha r t , 1985) e o modelo

de memór ia baseado em exemplares de Hintzman (1986) f o r n e c e m contr ibutos plausíveis

de como este p rocesso de recuperação baseado na s eme lhança pode func ionar e,

espec i f icamente , de como se geram expecta t ivas sobre a t r ibutos não observados no

exemplar actual , com base em propr iedades conhec idas de exemplares semelhantes

encont rados p rev iamente . Sob a fo rma de uma s imulação de computador , Smith (1988),

u t i l izando o modelo baseado apenas em exemplares de Hin tzman (1986) , r eproduz várias

evidências que mos t ram que a magni tude dos e fe i tos de ac t ivação não é apenas

de terminada pela semelhança do es t ímulo teste com o pro tó t ipo . Para a lém de out ras sobre

os efe i tos da ac t ivação social na acess ibi l idade da ca tegor ia , que , t rad ic iona lmente , são

vistas como evidências de que a memória incluí cons t ruc tos abs t rac tos .

São vários os inves t igadores que p ropuseram mode lo s de represen tação de

es tereót ipos que en fa t i zam o papel de exemplares no j u l g a m e n t o social (Linvi l le , Fisher e

Salovey, 1989; Park, Judd e Ryan , 1991; Smith e Zárate , 1990,1992) . Al iás , Smith e Zárate

(1990) exploraram a re levância dos exemplares em vár ias ques tões da cogn ição social

como os es tereót ipos , a acess ib i l idade das categorias , as co r re l ações i lusór ias , a percepção

de pessoas , etc., e, pos te r io rmente , cons t ru í ram um mode lo in tegrador de j u l g a m e n t o social

baseado em exemplares (Smith e Zárate, 1992). Nes t e mode lo , a r ecuperação de

exemplares é responsáve l pela ca tegor ização inicial do e s t ímu lo e por guiar os processos

de j u lgamen to subsequentes envo lvendo o alvo. Os es te reó t ipos são conceb idos como um

sumár io de exemplares , e não como conhec imento abs t rac to a r m a z e n a d o (Smi th , 1990).

Nes ta perspect iva , a v isão do grupo social pode, pois, var ia r de u m a ocas ião para outra,

dependendo dos exempla res que são acedidos. P re sumive lmen te , os m e s m o s exemplares

que são recuperados para a ca tegor ização são ut i l izados para f o r m a r o ' ' e s t e reó t ipo" do

grupo (Kahneman e Mil ler , 1986). Assim, as carac te r í s t icas desses exempla re s são

sumar iadas , c r iando um "es te reó t ipo" do grupo no qual o a lvo foi ca tegor izado , que actua

depois como uma expecta t iva que pode guiar processos s u b s e q u e n t e s . Para a lguns autores,

contudo , chamar a este sumár io do grupo, fei to á pos te r ior i , um es te reó t ipo é al terar o

s ign i f icado do termo, que sempre se referiu a uma fo rma de r ep re sen t ação genera l izada

(Hamil ton e Sherman, 1994). Para além disso, se os e x e m p l a r e s são recuperados e

sumar iados para fazer j u l g a m e n t o s de grupo, então não é c la ra a neces s idade de postular a

cr iação de um "es te reót ipo" . Na verdade, a pos ição de H a m i l t o n e She rman (1994) é

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tautológica po rque se a abstracção faz parte da natureza dos es tereót ipos então a questão da

natureza dos es te reó t ipos deixa de ser empír ica.

Apesar dos mode los exemplares mais ext remis tas , como o de Hintzman (1986),

sugerirem que a reacção aos es t ímulos é feita apenas com base nos exemplares act ivados

em maior ou menor grau, que a ca tegor ização em si m e s m o não ocorre e que não existe

conhec imento ca tegór ico , abstracto, f requen temente , as pessoas adquir i rem in formação

abstracta sobre um grupo por aprendizagem social , em vez de abstrair esse conhec imento

apartir da r ecupe ração de exemplares . Na real idade, as abst racções podem ser

representadas no Mine rva II (Hintzman, 1986), não têm é nenhum estatuto especial . No

mesmo sent ido, e c o m o resposta a esta questão, Smith e DeCos te r (2000) a f i rmam que os

modelos de exempla re s não prevêem necessar iamente que as pessoas não têm estereót ipos

sobre grupos que não encontraram pessoalmente . A aprend izagem social apart ir dos media

e dos outros pode permi t i r ao indivíduo construir representações menta is dos membros de

um grupo, p redominan temen te consistentes com os es tereót ipos cul turais . Agora , a lguns

modelos de exempla re s sugerem que essa in formação abstracta é s implesmente a rmazenada

e act ivada c o m o out ro exemplar quando ocorre a ca tegor ização ou os ju lgamen tos , ou seja ,

fornecem um m e c a n i s m o para representar carac ter izações abst ractas sob a fo rma de

exemplares (H in tzman , 1986; Linvil le , Fischer e Sa lovey, 1989; Smith e Zárate , 1990).

Para Hami l ton e Sherman (1994), esta concep tua l i zação obscurece a d is t inção entre

in fo rmação abst racta e específ ica; quando uma abs t racção é recuperada como é que se

determina se foi adquir ida e armazenada como uma ins tância espec í f ica ou é uma

genera l ização resul tan te de um processo de abst racção. Na verdade , tal como assinala

Barsalou (1990) , à med ida que as teorias baseadas em abs t racções e as teorias baseadas em

exemplares são mais p ro fundamente desenvolvidas , tendem a tornar-se indist intas umas

das outras . De tal m o d o que, representações exemplares e abst ractas p o d e m potenc ia lmente

representar a m e s m a informação. A in formação protot íp ica pode exist ir quer em

representações proto t íp icas de categorias quer em represen tações exemplares . E porque

apenas p o d e m o s observar representações através do p rocessamento , concluir que as

pessoas usam uma representação e não outra é dif íc i l , se não imposs íve l .

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Modelos mistos de representação

Os modelos mis tos de representação de grupos cons ide ram também que os

exemplares têm um papel impor tante no conhec imento ou es te reó t ipo de um grupo social

(Park, Judd e Ryan, 1991; Sherman, 1996; Garc ia -Marques e Mack ie , 1999). Vários foram

os autores que subsc reveram que as representações de ca tegor ias incluem ambas

in formações de exempla res e de protót ipo, ou de nível de grupo (Barsalou, 1990;

Nosofsky , Palmeri e McKin ley , 1994; Sherman, 1996; Ga rc i a -Marques e Mackie , 1999) e

vários fo ram os autores que, nos seus modelos sobre os p rocessos de ca tegor ização e

ju lgamen to social , i ncorpora ram informação abstracta sobre g rupos sociais e exemplares de

grupo espec í f icos (Elio e Anderson , 1981; Kahneman e Mi l le r , 1986). Os modelos mistos

de fendem que o conhec imen to sobre os grupos sociais é b a s e a d o quer em informação

abstracta quer em in fo rmação baseada em exemplares e que d i fe ren tes condições podem

conduzir a que o p rocessamen to seja mais sustentado por um t ipo de in fo rmação do que por

outro. Ass im, os mode los mistos também permitem cons ide ráve l f lu idez e ins tabi l idade na

conceptua l ização que o ind iv íduo tem de um grupo socia l .

Uma ques tão óbvia e importante é de terminar as cond i ções que conduzem a um

processamento baseado em exemplares ou baseado em abs t r acções (Park e Hast ie , 1987).

• Por exemplo , Garc ia -Marques e Mackie (1999) a s s u m e m que se a in fo rmação de

nível de grupo es t iver a l tamente disponível e f r e q u e n t e m e n t e ut i l izada, ela

sozinha pode ser usada no Julgamento do grupo . Nessas condições , o papel da

cr iação ou recuperação de exemplares é mín imo . N ã o é, contudo, a lheio a isto a

natureza do es t ímulo que actua como uma pista para recuperar i n fo rmação . Para

Smith (1992) , um rótulo verbal do grupo é mais provável que recupere

in fo rmação de nível de grupo e um exempla r e s p e c í f i c o é mais provável que

recupere outros exemplares . Isto porque um ró tu lo verbal do grupo está

semant i camente l igado a atr ibutos de nível de g rupo (pode ser v is to c o m o mais

semelhan te a i n fo rmação de nível de grupo) , e n q u a n t o um ind iv íduo espec í f ico

terá sempre t ambém atributos não e spec í f i cos do grupo . Desde os estudos

c láss icos de Katz e Braly (1933, citado por Smi th , 1992), e m a n t e n d o essa

tendência (Devine , 1989), a maioria dos inves t igadores fornece rótulos verbais

para aval iar os es tereót ipos . É possível que esses t eór icos aval iem es t ru turas de

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c o n h e c i m e n t o reais, mas que não se jam as acedidas pe los indivíduos no seu dia-

a-dia de encont ros com membros ind iv idua is da categor ia .

• T a m b é m , a ordem em que os ind iv íduos aprendem in formação abstracta e

exempla r sobre um grupo pode afec tar o p rocessamento subsequente dos

m e m b r o s do grupo. Assim, se os ind iv íduos possuem um estereót ipo prev iamente

f o r m a d o quando encontram os membros do grupo, o estereót ipo dirige o

p r o c e s s a m e n t o posterior. Contudo, quando os indiv íduos interagem com os

m e m b r o s de um grupo sobre os quais não possuem um estereót ipo, a recuperação

de exempla re s da categoria pode ter um papel par t icu la rmente importante no

p roces samen to subsequente (Smith e Zára te , 1990).

• Por ou t ro lado, as capacidades cogni t ivas a fec tam o processamento de

i n f o r m a ç ã o sobre membros de grupos . Q u a n d o Devine (1989) mostra que os

es te reó t ipos são automaticamente ac t ivados , contr ibui para a ideia de que o uso

de i n f o r m a ç ã o abstracta requer pouca capac idade , e que é mais provável que os

ind iv íduos se detenham sobre i n fo rmação abstracta em condições de capac idade

l imi tada (Hamilton e Sherman, 1994). Nesta perspect iva , o processo de

au toma t i zação partilha com a visão abs t racc ionis ta os ganhos em ef ic iênc ia

cogni t iva . A invariabil idade e a f r equen te assoc iação de um es t ímulo com uma

respos ta cogni t iva torna possível que, t ambém à custa de uma independência do

con tex to , esta última seja act ivada com pouco c o n s u m o de recursos cogni t ivos e

com pouca consciência da parte de su je i to (Bargh, 1994). Por exemplo , a

ac t ivação subl iminar do rótulo de um grupo es te reo t ipado induz a act ivação do

es t e reó t ipo correspondente (Dovidio, Evans e Tyler , 1986).

^ A l g u m a s evidências minam, contudo, a exp l i cação abs t raccionis ta atrás proposta .

Em tarefas ráp idas de c lass i f icação precept iva , respos tas cogni t ivas baseadas em

exemplares p o d e m também ser al tamente e f ic ien tes e c a l c u k d a s fora da consciência"^©

processador de in fo rmação social (Nosofsky e Pa lmer i , 1997) e a act ivação do r ó i ^ o _ ^

uma ca tegor ia não conduz^invaria-velmente-à. ac t ivação do es tereót ipo (Gilbert e Hixon ,

1991). Es tes _autores, que fazem--pr- imeiro-que _tudo uma dis t inção entre ac t ivação e

apl icação de es te reó t ipos , apresentam^ evidência que sugere que os es tereót ipos requerem a

atenção e o e s f o r ç o consciente para serem ac t ivados e por isso não são automát icos . Parece

que os e s t e reó t ipos requerem capacidade de a tenção , apesar da sua act ivação poder ser não

intencional^ A pessoa pode não estar consciente da manei ra como um evento ou es t ímulo é

in terpre tado ou ca tegor izado, como sugere Devine (1989) para os es tereót ipos , e essa

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consciência é um aspecto do au tomat i smo que é cr í t ico para o controlo intencional do

pensamento e compor t amen to (Bargh, 1994), mas a ac t ivação do es tereót ipo pode depender

da existência de r eçu j sps atent ivos, o que está re lac ionado com outra qua l idade do

au tomat i smo - a e f i c i ê n c ^ ^ ^ ^ g ^ , 1994). Esta na tureza condic ional da automat ismo

parece, de facto, ter a ver c o m , a observação de Bargh (1994) de que o au tomat i smo não

um const ructo unitário. Em vez disso, d i fe ren tes t ipos de au tomat i smo requerem diferentes

níveis de p rocessamento por parte do indivíduo. Parece p rováve l , pois, que a ac t ivação do

es tereót ipo este ja ao nível do automat ismo dependente de capac idades cogni t ivas , na

medida em que o indiv íduo não pode ter l imitações de recursos cogni t ivos para o

es tereót ipo ser act ivado automat icamente . Algumas rev isões de l i teratura (Bargh , 1994;

Hamil ton e Sherman, 1994) ques t ionam-se sobre se os par t i c ipan tes do es tudo de Gilbert e

Hixon (1991.).não exib iam act ivação de es tereót ipos na cond ição de sobrecarga cogni t iva

porque o es tereót ipo usado era re la t ivamente f raco, pa r t i cu la rmente quando comparado

com o estereót ipo de a f ro -amer icano - que a inves t igação de Dev ine (1989) suger ia como

sendo provave lmente ac t ivado automat icamente . Recen temen te , Spencer , W o l f e , Fong e

Dunn (1998, Exper iênc ia 2) usaram o estereót ipo de a f r o - a m e r i c a n o que, por ser mais

for te , fornecia um teste mais forte sobre se a ac t ivação de es tereót ipos vas tamente

adquir idos pode ser moderada . Um segundo ob jec t ivo foi examinar a ac t ivação do

es tereót ipo num contex to mais subtil do que o das exper iênc ias anter iores - um contexto

em que os par t ic ipantes não t inham consciência de que es tavam a ser expos tos a um

membro de um grupo es tereot ipado, já que a face de um a f r o - a m e r i c a n o era apresen tada de

fo rma subliminal (durante 17 mi l i segundos) e era seguida de um con jun to de rab i scos sem

sent ido que mascarava o es t ímulo . Spencer e co laboradores (1998) repl icam os resul tados

de Gilbert e Hixon (1991) de que par t ic ipantes com sobreca rga cogni t iva não revelam

evidência de ac t ivação de es tereót ipos , sus tentando que esta pode ser e spon tânea e não

c o n s c k j u e mas requer recursos atentivos suf ic ientes (na med ida em que se fossem

automát icos e inevi táveis face à exposição de pistas re levan tes para o es te reó t ipo então a

sua act ivação teria s ido evidente nos par t ic ipantes na cond ição de sobrecarga cogni t iva ; na

medida em que se a sua act ivação requisesse consc iênc ia en tão teria hav ido pouca ou

nenhuma act ivação do es tereót ipo. Estes autores d e m o n s t r a m t a m b é m que se os

par t ic ipantes t iverem acabado de receber uma aval iação nega t iva ameaçando a sua auto

imagem revelam ac t ivação do estereót ipo apesar da sobreca rga cogni t iva . Estes resul tados

sugerem que as mot ivações das pessoas podem afectar a ac t ivação de es te reó t ipos mesmo

quando a act ivação es tereot íp ica ocorre au tomat icamente e f o r n e c e m evidênc ia de um novo

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caminho para a ac t ivação automática dos es tereót ipos: es tereot ipar ao serviço de manter a

a u t o T m a g e m . O es tudo de Gilbert e Hixon (1991) revela ainda que, na condição de

sobrecarga cogn i t iva , os sujei tos não deixaram de fazer a ca tegor ização da pessoa alvo,

suger indo que a ca tegor ização pode ocorrer sem a ac t ivação do estereót ipo. Certo é que, os

estudos atrás r e fe r idos cr iam, sem dúvida, uma ponte entre os domínios da automat ização e

ca tegor ização .

D e t e n d o - s e exactamente na d inâmica cogni t iva subjacente á act ivação do

pensamento ca tegór i co e nas condições em que este é act ivado, Macrae e Bodenhausen

(2000), s u g e r e m que as categorias podem não ser todas iguais no seu potencial para a

act ivação e ap l icação , nem na fo rma como são apl icadas; e que a invest igação das

condições de ac t ivação do pensamento categór ico tem que ir para além do ênfase nas

variáveis m o d e r a d o r a s - como a capacidade de p rocessamen to e a mot ivação para e fec tuar

uma anál ise com es forço - para incluir uma série de condições informat ivas e de

mot ivação. Por exemplo , uma var iedade de es tados de mot ivação parecem importantes .

Mot ivação para a acuidade inibe o uso de es tereót ipos (Fiske, 1998, ci tado por Macrae e

Bodenhausen , 2000) . Por outro lado. a mot ivação para a p ro tecção do ego fornece uma

base para a c o m p a r a ç ã o social (Fein e Spencer , 1997, c i tado por Macrae e Bodenhausen ,

2000).

1.3.2 Expectativas de que os estereótipos não mudam mas pressupostos

exemplaristas de que são instáveis

As a b o r d a g e n s mais recentes enfa t izam cons i s t en temente a f lu idez dos es tereót ipos,

cont ra r iando a ideia prevalecente abstraccionis ta de que os es tereót ipos são representações

mentais e s táve i s e duradouras de grupos sociais.

Se é ve rdade que a estabi l idade é na tu ra lmente previs ta por certas perspect ivas

teóricas do p rocesso de categorização social , t ambém é verdade que um conjunto de

indicadores levar ia a prever uma maior f lu idez das es t ru turas de conhec imento social.

Por um lado, em nome da estabi l idade cogni t iva e da preservação de recursos

cogni t ivos l imi tados , o enquadramento abs t racc ionis ta concebe o processador de

in fo rmação social como ext remamente recept ivo à i n fo rmação que melhor encaixa ou

coincide c o m as suas estruturas de c o n h e c i m e n t o ^ O r a se ele f i l t ra radicalmente os

es t ímulos e usa vas tamente essas estruturas de conhec imen to para suplantar os dados que

despreza na cod i f i cação , então as opor tunidades para ser sensível ás inf luências do

contexto se rão escassas e a instabi l idade das es t ru turas reduzida .

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Para além disso, os es tereót ipos podem enviesar o p rocessamento de in fo rmação de

inúmeras formas que resul tam na sua au to-perpe tuação . C o m o menc ionámos anter iormente ,

os es tereót ipos func ionam c o m o expecta t ivas sobre grupos e os seus membros . A act ivação

de um estereót ipo pode afec tar todos os aspectos do p roces samen to de i n fo rmação social,

inc luindo a a tenção, a interpretação, a inferência , e a recuperação . Os es te reó t ipos podem

também inf luenciar o tipo de in formação que os ind iv íduos procuram sobre os alvos e

podem inf luenciar o compor tamento no sent ido conf i rma tó r io , c r iando h ipóteses auto-

conf i rmatór ias . Claramente , através destes vários processos , os es tereót ipos pa recem tender

a au to-perpe tuar -se (Smith e Mackie , 1995; Hamil ton e She rman , 1994).

Por outro lado, um conjunto de indicadores tem t raz ido à d iscussão este problema

proeminente da cognição social , que nos interessa pa r t i cu la rmente para o presente estudo:

a ins tabi l idade das es t ruturas de conhec imento social. Senão ve j amos ,

• Note-se , como f icou claro na subsecção atrás, que os pressupos tos exemplar i s tas

sustentam representações de categor ias socia is baseadas em exemplares

espec í f icos e cons ideram que os exemplares têm um papel impor tan te no

conhec imento de um grupo social e nos processos de j u l g a m e n t o socia l . Estes

pressupos tos admi tem, assim, cons iderável f lu idez e ins tabi l idade na

conceptua l ização que o indivíduo possui de um grupo social .

• Note-se , t ambém, que um con jun to de es tudos , rev is tos an te r io rmente nesta

secção, mos t ram, cons is ten temente , o impac to que exempla res espec í f i cos têm

no processamento e no modo como as pessoas pe rcebem grupos sociais . Ao

fazerem isso. sugerem que a visão de um grupo social pode var iar de uma

ocasião para outra, dependendo dos exemplares e spec í f i cos que vêm à cabeça , ou

seja, sugerem que as categorias sociais são sens íve is ao contex to .

• Note-se , ainda, que, apesar dos es tereót ipos serem t rad ic iona lmen te cons iderados

estruturas de conhec imento social duradouras e es táve is , a sua med ida e a sua

expressão estão minadas por um grande número de fac tores sens íve is ao

contexto. E esta labi l idade que os es te reó t ipos d e m o n s t r a m em labora tór io

cont inua a colocar à cognição social ques tões de f u n d o sobre a ve rdade destas

estruturas .

Várias teor ias abst raccionis tas fo ram desenvo lv idas para expl icar a var iab i l idade

intra su je i to na med ida e expressão dos es te reó t ipos e consegu i r am faze - lo com

algum sucesso (Devine , 1989; Petty e Cacc iopo , 1986; W e b e r e Crocker , 1983),

encarando essa sens ib i l idade ao contexto c o m o o resu l tado de represen tações

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

es táveis em conf l i to ou de processos mentais especia is que prevalecem sobre

outros , ou, ainda, o lhando para os es tereót ipos como es t ru turas hierárquicas que

evo luem através da experiência , como faz o mode lo de subtyping. Segundo este

modelo , embora possamos categor izar e descrever os out ros de acordo com o

es te reó t ipo genérico, desenvolvemos es tereót ipos d i fe renc iados de subgrupos

mais e spec í f i cos dessa categoria inclus iva e é através da c r iação de subt ipos que

os es te reó t ipos mudam. Pode haver mesmo casos em que subt ipos muito restr i tos

se de senvo lvem para representar instâncias que i n f i rmam o es tereót ipo. Mas

ass im, em vez de produzir mudança de es tereót ipo essas ins tâncias to rnam-se o

seu própr io grupo e não colocam qualquer desaf io à es t ru tura de crenças

preexis ten tes (Weber e Crocker , 1983; Hewstone , 1994). Smi th (1990) ques t iona ,

contudo , a necess idade de assumir que são fo rmados es tereót ipos ao nível dos

subt ipos . Duvida que os indivíduos a rmazenem es te reó t ipos dis t intos para todos

os subt ipos possíveis que possam ter desenvo lv ido e a rgumenta que mui tos

subt ipos podem ser específ icos do contexto e que mui tas carac ter izações dos

subt ipos são, provavelmente , calculadas , baseadas na recuperação de exempla res

no m o m e n t o em que os ju lgamentos são fei tos, um género de es tereót ipos adhoc.

Por exemplo , podemos fazer j u lgamen tos sobre grupos que não t ínhamos

p rev iamen te considerado como subgrupos s igni f ica t ivos e sobre os quais não

temos represen tação - ju lgamentos esses que são, necessa r iamente , baseados na

r ecupe ração de exemplares . Assim, parecer ia mais apropr iado adoptar uma visão

em que as es t ruturas de conhec imento genér icas são baseadas em exemplares e

sens íve is ao contexto e em que esta sens ib i l idade deixa de ser cons iderada um

ar te fac to de medida ou uma indicação de mudança mental p r o f u n d a e i r revogável

(Garc ia -Marques , 1998).

Ass im, parece exist ir a ideia, na l i teratura de ps icologia social , que os es tereót ipos

são es táveis e que vários mecanismos con t r ibuem para a sua pe rpe tuação . M e s m o a teoria

de subtyping, à qual se pode recorrer para expl icar a lab i l idade que os es tereót ipos

demons t r am em laboratór io , não é, na verdade, uma teoria de mudança dos es tereót ipos , j á

que não co loca qualquer desaf io à estrutura de crenças preexis ten tes . Contudo , esta

sensação de es tab i l idade que há em relação aos es tereót ipos t ambém acontece em relação a

ca tegor ias natura is e pode não ser mais do que uma i lusão, tal como o é para esses outros

concei tos de ob jec tos . De facto, Barsalou (1987) most ra que os concei tos são

aparen temente es táve is quando não usamos ins t rumentos de medida sensíveis o suf ic ien te

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

para detectar a var iabi l idade intra- individual com o tempo. Na ps icologia social , apesar das

sugest ivas fo rmulações teór icas e evidências empí r icas que já fo rnecem, os indicadores

atrás re fe r idos ainda não propõem uma metodologia sa t i s fa tór ia e adequada para medir a

ins tabi l idade dos es te reó t ipos e a natureza t ransi tór ia da sua mudança , que cons t i tuem um

desaf io impor tan te para as teorias sobre a sua suposta pers i s tênc ia e t ambém para as teorias

que descrevem a fo rma como mudam.

Conc lu indo este capí tulo , enfa t izamos que, embora a teoria do esquema tenha sido

muito inf luente , descober tas recentes acentuam que o j u l g a m e n t o humano pode ser muito

sensível ao contexto , desa f iando a p laus ib i l idade de uma expl icação puramente

esquemát ica dos es tereót ipos (Hamil ton e Sherman, 1994; Smith e Zárate, 1992; Hilton e

VonHippel , 1996). Vár ios invest igadores p ropuse ram mode los de represen tação dos

es tereót ipos que sa l ien tam o papel dos exemplares no j u l g a m e n t o social e expl icações mais

recentes enfa t i zam a f lu idez dos es tereót ipos, p ropondo que estes cons is tem em muitos

t ipos de conhec imen tos , e são const ruídos com base no con jun to de conhec imento

disponível num de te rminado momento (Smith e Zára te , 1992; Coats e Smith , 1999). Os

modelos mis tos , ao mante rem também o papel impor tan te dos exempla res no conhec imento

ou es tereót ipo de um grupo social (Park e co laboradores , 1991; Sherman , 1996), permitem

também cons iderável f lu idez e ins tabi l idade nas concep tua l i zações que os ind iv íduos têm

dos grupos sociais . Os modelos coneccionis tas f o r n e c e m t a m b é m uma implementação

directa para as ideias de f lexibi l idade e sens ib i l idade ao con tex to e de m u d a n ç a das

representações (Smith, 1996), encora jando a exp loração das suas potenc ia is ap l icações na

psicologia social (Smith e DeCoster , 1998).

Pode haver i n fo rmação central que é quase s empre re la tada , mas out ros aspectos

desse relato dependem do contex to envolvendo a r ecupe ração da i n f o r m a ç ã o re levante para

o grupo (Coats e Smith, 1999). Assim, os es tereót ipos não são conceb idos como estruturas

a rmazenadas na memór ia e recuperadas como un idades únicas , mas como concei tos

temporár ios que são f lex ive lmente cons t ru ídos on-line. Há , contudo , cer tas ca tegor ias

sociais que são vistas como representando divisões f u n d a m e n t a i s no mundo , baseadas no

que são perceb idas como p ro fundas e estáveis .

Co inc iden temen te , Wilson e Hodges (1992) , r e v ê m evidênc ia cons iderável

supor tando a h ipótese de que, t ambém, as at i tudes p o d e m ser cons t ruções temporár ias ,

nomeadamente , inves t igações most rando que as a t i tudes dos ind iv íduos var iam de acordo

com o con tex to e com o tipo de pensamen to em que e n g r e n a m . As at i tudes parecem,

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portanto, cons t ruções temporár ias apartir dos dados que es tão mais acessíveis no momento ,

e não en t idades es táveis e inalteráveis (Wilson e Hodges ,1992 ; Schwarz , 2000).

Na perspec t iva de Bodenhausen , Schwarz, Bless e W a n k e (1995) , as evidências que

se têm v indo a acumular sobre a sensibi l idade dos es tereót ipos e das ati tudes à act ivação

momentânea de exempla res representam um domínio par t i cu la rmente interessante para

investigar mode los de ju lgamento social baseados em exemplares , assim como a

abordagem das a t i tudes como construções temporár ias . E que talvez seja altura de

equacionar que a ps icologia das at i tudes é s implesmente a ps ico logia dos ju lgamentos

aval ia t ivos (Bodenhausen e colaboradores , 1995). Uma abordagem das atitudes como

ju lgamen tos , f ac i lmen te : explica o fenómeno que desaf ia o p ressupos to que as pessoas têm

ati tudes duradouras , prediz as condições em que os efe i tos do contexto são ou não

prováveis e e spec í f i ca a sua direcção e d imensão (Schwarz , 2000) .

C la ramen te , há mais trabalho a fazer sobre a ques tão da instabi l idade dos

es tereót ipos . Os modelos propostos, e as inves t igações que es t imularam, deixam ainda

questões f u n d a m e n t a i s por responder . Contudo, desa f i am a nossa manei ra tradicional de

pensar sobre a natureza dos estereót ipos e incent ivam a criar enquadramentos conceptuais

novos que p o d e m func ionar como catal isadores do progresso .

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1.4 Efeito de homogeneidade do out-group: Sua importância na reformulação do conceito de estereótipo

Esta secção pre tende apresentar o efe i to de homogene idade do out-group como algo

que levou à r e fo rmulação do concei to de es tereót ipo, na medida em que levou a pensar na

in fo rmação sobre a var iabi l idade do grupo e a perceber como os mode los teóricos

exis tentes e ram mui to pouco adequados para es tudar e expl icar esse aspecto da

represen tação dos grupos sociais. T a m b é m a ps ico log ia cogni t iva in teressada na

ca tegor ização já t inha visto que era necessár io u l t rapassar as representações proto t íp icas de

ca tegor ias naturais e ar t i f ic ia is e encontrar modelos que exp l icassem a sens ib i l idade dos

indiv íduos à i n fo rmação sobre a var iabi l idade.

Do m e s m o modo, parece agora necessár io que a abordagem sócio-cogni t iva ao

tópico das representações mentais das categorias socia is desenvo lva mode los teóricos e

métodos adequados para es tudar a suposta ins tabi l idade destas es t ru turas , j á notada pela

ps icologia cogni t iva , in teressada no processo de ca tegor ização geral , para as categorias

naturais e ar t i f ic ia is .

Os dois pa rág ra fos atrás abordam, desde logo, duas das razões que fundamen ta r i am,

na nossa opinião, a inc lusão da presente secção nesta d isser tação . Pr imeiro , há um visível

para le l i smo no modo como novos desenvolv imentos da ps ico log ia cogni t iva , na área da

ca tegor ização , incen t ivam a abordagem sóc io-cogni t iva a criar enquadramentos

conceptua is novos quer para expl icar a sensibi l idade dos ind iv íduos à var iab i l idade dentro

de grupos sociais quer para estudar a suposta ins tab i l idade das represen tações menta is de

ca tegor ias sociais . Segundo , o es t ímulo dado pelo e fe i to de homogene idade do out-group, a

seguir abordado, à inves t igação sobre a percepção da var iab i l idade do grupo vem

re fo rmula r a natureza das representações mentais de grupos sociais e co loca r novas

ques tões sobre o modo como in formação sobre m e m b r o s de grupos é processada ,

a rmazenada em memór ia e usada para fazer j u l g a m e n t o s sobre o grupo, a que a

inves t igação sobre a ins tabi l idade das representações menta i s dos es te reó t ipos não pode

f icar indiferente . Espec i f i camente , alguns modelos desenvo lv idos para expl icar os

mecan ismos subjacentes ás percepções de var iab i l idade do grupo e ao c h a m a d o efe i to de

homogene idade do out-group p ropõem um papel d i fe renc ia l da ac t ivação dos exemplares

nos ju lgamentos de var iabi l idade, dependendo do es ta tu to de per tença ao grupo {in-

group/out-group) (Park, Judd e Ryan, 1991), expl icações que têm impl íc i tos pressupos tos

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de maior ou menor ins tabi l idade das representações mentais de out-groups e de in-groups,

como seria aliás tes tado por Coats e Smith (1999).

Para além da in fo rmação de tendência central ou rela t iva ás caracter ís t icas t ípicas

do grupo, outros aspec tos fazem parte da representação do grupo, como a var iabi l idade

percebida . Con tudo , só recentemente os modelos cogni t ivos da ca tegor ização

u l t rapassaram as representações protot ípicas de categor ias naturais e ar t i f ic iais (Medin e

Schaf fe r , 1978; Smith e Medin, 1981). Como resul tado, apenas recen temente o tópico da

var iabi l idade de grupo percebida ganhou lugar na l i teratura da ps icologia social (Park,

Judd e Ryan, 1991). A partir daí, os mecanismos subjacentes à pe rcepção da var iabi l idade

do grupo têm sido centrais para compreender os es tereót ipos como representações menta is

dos grupos. E mode los que procuraram expl icar a sens ib i l idade dos indivíduos à

var iabi l idade dent ro dos grupos t iveram impl icações na natureza da representação dos

es tereót ipos .

A inves t igação sobre a percepção da var iabi l idade do grupo foi es t imulada pelo

efe i to de homogene idade do out-group vas tamente repl icado - a t endênc ia das pessoas para

perceber os out-groups como mais homogéneos do que os grupos a que per tencem.

Vár ios mode los ofe recem diferentes propostas sobre os mecan i smos subjacentes ás

percepções de var iab i l idade do grupo. Alguns a rgumentam que os es tereót ipos, como

representações de nível de grupo, não podem expl icar a sens ib i l idade dos indivíduos ao

grau de var iab i l idade entre os membros de um grupo. Nesses mode los a in fo rmação sobre a

var iabi l idade não é representada ao nível do grupo mas der ivada da recuperação de

exemplares quando espec i f i camente pedida. Por exemplo , de acordo com o modelo de

Linvi l le , F ischer e Salovey (1989), os ju lgamentos de var iab i l idade são cr iados

recuperando exempla res especí f icos do grupo e sumar iando as suas caracter ís t icas . O grau

de var iabi l idade perceb ida depende do número de membros conhec idos do grupo. Se se

recupera um grande número de exemplares , é provável que essas ins tâncias tenham maior

var iabi l idade do que quando é recuperado um pequeno número de exemplares . Uma

consequênc ia é que os grupos famil iares são percebidos c o m o mais var iáveis do que os

grupos pouco fami l ia res . Como conhecemos mais membros in-group do que out-group,

resulta uma maior var iabi l idade percebida in-group - o c h a m a d o e fe i to de homogene idade

do out-group. Pos te r io rmente , Linvil le e Fischer (1993) p r o p õ e m que as pessoas j u lgam a

var iabi l idade de um grupo, em relação a uma de te rminada d imensão/ t raço , c r iando

pr imei ro um c o n j u n t o de pistas cor respondendo a d i fe ren tes níveis do traço e usando

depois os d i fe ren tes graus de disponibi l idade de exempla res , que resu l tam dessas pis tas .

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para formar uma dis t r ibuição de exemplares . A h ipó tese de recuperação exaust iva de

exemplares de Garc ia -Marques e Mackie (1999) , enquadra - se nesta perspect iva mas

acrescenta a propos ta de um enviesamento conf i rma tó r io no processo de cr iação das pistas

de recuperação .

Smith e Zárate (1992) apontam uma represen tação c o m u m para o out-group e para o

in-group ( todos os grupos são representados por exempla res ) , qua l i f i cando que a atenção

diferencial e os processos de codi f icação al teram a r ep resen tação desses exemplares de tal

modo que os membros do out-group parecem mais seme lhan tes entre si. Isto porque os

seus atr ibutos individuais recebem menos a tenção e os a t r ibutos def in idores da categoria

mais a tenção.

Alguns autores a rgumentam, ainda, que a de f in i ção de es tereót ipo deve

s implesmente ser a largada para incluir a var iab i l idade tal c o m o incluí i n fo rmação de

tendência centra l . De fendem que a in formação sobre a var iab i l idade está a rmazenada ao

nível do grupo, a rgumentando que esta é abstraída, a rmazenada como parte do estereót ipo

do grupo e recuperada quando necessária (Park, Judd e Ryan, 1991; Park e Hast ie , 1987).

Park e co laboradores (1991) , apesar de sugerirem que os j u l g a m e n t o s sobre a var iabi l idade

do grupo são in ic ia lmente cr iados recuperando uma impres são geral abstra ída do grupo,

cons ideram que esta impressão inicial é, f r equen t emen te , ac tual izada através da

recuperação de instâncias do grupo. De acordo com este mode lo , ao fazer ju lgamentos

sobre o in-group, a impressão inicial func iona c o m o um ensa io e a r ecuperação de

instâncias é mui to provável . No entanto, para o out-group os ind iv íduos t endem a basear-se

mais na impressão geral e a não recuperar instâncias . Nes te sent ido , par te-se da hipótese

que os j u lgamen tos sobre o in-group se baseiam mais em exempla re s e que os ju lgamen tos

sobre o out-group se baseiam mais em representações abs t rac tas . Ass im, de acordo com

estes autores , o e fe i to de homogene idade do out-group resul ta de d i fe renças no t ipo de

in fo rmação usada para ju lgar a variabi l idade (dependendo do es ta tu to de per tença ao

grupo) , concre tamente , do apoio diferencial nos exempla res . Porque é prováve l que os

exemplares se jam, em parte, d iscrepantes da abs t racção , e spe ra - se que a inc lusão de

in fo rmação de exemplares aumente a percepção de va r iab i l idade para o in-group,

re la t ivamente sio-out-group.

Park e co laboradores (1991) p ropõem vár ias razões pe las quais os exemplares

podem ter um maior papel nos ju lgamentos de in-group do que nos j u l g a m e n t o s do out-

group. Pensa-se que isto pode ocorrer porque os ind iv íduos es tão mais envo lv idos no in-

group e mais mot ivados para fazer ju lgamentos acurados . E sendo ass im, é poss íve l que se

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use uma maior amost ra de exemplares quando e fazem es t imat ivas de variabi l idade de um

in-group do que de um out-group. É, também, mais provável que o auto-concei to venha à

cabeça como um exempla r quando se fazem ju lgamen tos sobre um in-group do que sobre

um out-group (Park e colaboradores , 1991), o que pode induzir a comparações entre o

au to-concei to e out ros membros do in-group, f o c a n d o a a tenção em exemplares do in-

group quer na cod i f i cação quer na recuperação (Hamil ton e Sherman, 1994). Por outro

lado, podemos estar expostos a diferentes t ipos de in fo rmação sobre in-groups e out-

groups. As impressões dos in-groups são, p rovave lmen te , mais baseadas em exemplos

compor t amen ta i s rea is tes temunhados enquanto o conhec imen to dos out-groups é

f r equen temen te fo rnec ido (por media e agentes que sociabi l izam) sob a fo rma de

descr ições gerais . É possível que tenhamos t ido menos exper iência com membros

individuais do out-group (Park e colaboradores , 1991), o que torna as impressões sobre

out-groups mais es tereot ipadas do que aquelas adquir idas por expos ição directa a

instâncias do grupo (Park e Hastie, 1987).

Embora tenha havido teor ização considerável sobre a impor tânc ia do es ta tuto de

per tença ao in-group/out-group no uso de exempla res ou abs t racções nos ju lgamentos de

grupos, tem havido pouca evidência directa até à data (Coats e Smith , 1999)^Há , contudo,

a lguma ev idênc ia suges t iva fornecida por Park e Judd (1990) . Es tes autores encon t ra ram

uma re lação pos i t iva entre membros do in-group r ecuperados e os ju lgamentos do in-group

mas nenhuma re lação entre os membros do out-group r ecuperados e os ju lgamen tos do out-

group. Es tes resu l tados fornecem algum suporte à h ipótese que a memór ia para membros

do grupo tem um papel mais forte nos j u lgamen tos de in-groups do que para os

j u lgamen tos dos out-groups. Baseado no raciocínio anter ior , que sugere que os exemplares

são ut i l izados mais p roeminentemente nos j u lgamen tos de in-groups do que nos

j u lgamen tos de out-groups. Coats e Smith (1999) p ropuseram que . cor responden temente ,

as impressões dos in-groups seriam mais fo r t emen te in f luenc iadas pela ac t ivação de

exemplares do que as impressões de out-groups. Os resul tados con f i rmam as h ipóteses

destes autores , no sent ido em que exemplares dos subt ipos mascu l inos t iveram um efe i to

mais for te nas descr ições dos par t ic ipantes mascul inos , e exemplares dos subt ipos

femin inos t iveram um efei to mais forte nas descr ições dos par t ic ipantes femininos . Esta

descober ta é impor tan te porque a hipótese de que os es tereót ipos de in-groups são,

compara t ivamen te com os estereót ipos de out -groups , mais baseados em exemplares t inha

até agora pouca ev idênc ia directa.

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Conclu indo , podemos fa lar de dois grandes mode los desenvolv idos para explicar o

efe i to de homogene idade do out-group: um mode lo baseado em exemplares , como o

proposto por Linvi l le e colaboradores (1989), e um mode lo baseado em abst racções , em

que um exemplo é o propos to por Park e Judd (1990) . A var iabi l idade percebida é

representada d i fe ren temente por estes dois t ipos de mode los . Nos modelos abstraccionistas ,

a represen tação da var iabi l idade percebida do grupo em cer tas d imensões crí t icas é feita

por abs t racções ca lculadas on-line, cons t i tu indo i n f o r m a ç ã o de nível de grupo. Ao fazer

j u lgamen tos sobre o grupo, esta in fo rmação de nível de g rupo é recuperada e usada e, em

algumas c i rcuns tâncias , ins tâncias de categor ias podem t ambém ser usadas . As diferenças

de var iabi l idade percebida em in-groups e out-groups podem der ivar das d i fe renças nos

processos de cod i f i cação associados aos dois t ipos de grupos e/ou d i fe renças nos processos

de recuperação . Os modelos de exemplares a rgumentam que a var iab i l idade é calculada

d i rec tamente apart ir do con jun to de exemplares da ca tegor ia a rmazenados . Os ju lgamentos

sobre a ca tegor ia são fei tos recuperando uma amost ra de exempla res e cons t ru indo a

d is t r ibuição dos mesmos em alguma d imensão cr í t ica , apart i r da qual uma medida de

dispersão percebida é ca lculada. Por exemplo , num mode lo c o m o o de Hin tzman (1986), o

j u lgamen to pode ser fei to ca lculando a força da ressonânc ia desencadeada pe lo valor do

atr ibuto em questão. A magni tude do eco será in f luenc iada pela var iab i l idade dos

exemplares a rmazenados . Para estes autores o nível de f ami l i a r idade com os in-groups e os

out-groups é uma expl icação fundamenta l para as d i f e renças de var iab i l idade percebida e

para o e fe i to de homogene idade do out-group observado.

Comparações dos modelos baseados em abs t racções e dos mode los de exemplares

most ram que ambos fo rnecem expl icação para muitas das descober tas re lac ionadas com o

efe i to de homogene idade do out-group. Alguns aspectos d i s t inguem, con tudo , estes dois

t ipos de abordagem: (1) S imulações com o modelo baseado em exempla res (Linvil le e

colaboradores , 1989) most raram que este consegue p roduz i r d i s t r ibu ições i rregulares

semelhantes ás produzidas pelos sujei tos enquanto o mode lo baseado em abs t racções de

propr iedades on-line para conseguir isso é necessár io assumir que as pessoas cod i f iquem

não apenas a média e a var iância para cada d is t r ibuição de carac ter í s t icas mas também

parâmet ros adic ionais da fo rma como a ass imetr ia ; parece improváve l que as pessoas

cons igam abstrair ac t ivamente tantas propr iedades para cada carac ter í s t ica de cada

categoria; (2) A capac idade de fo rmar abs t racções não d i s t ingue entre mode los on-line e

baseados em memór ia ; modelos com um mecan i smo de abs t racção pe rmi t em exp l ica r como

as pessoas f o r m a m estereót ipos de grupos mas modelos c o m o o de Hin tzman (1986) , que

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face a uma pista que consis te num rótulo de uma categor ia evoca um eco da memória

compósi ta co r re sponden te a um protót ipo de grupo perceb ido , possuem as propr iedades

necessár ias para abstra i r , a rmazenar e recuperar protót ipos de grupos . Contudo, não atribui

especial es ta tu to a esses protót ipos.

No entanto , cons iderave lmente mais vasto e fundamen ta l do que o efe i to de

homogene idade do out-group, atrás def in ido, é o modo como a in fo rmação sobre os

membros do grupo é processada , armazenada em memória , e usada para fazer j u lgamen tos

sobre o grupo. Ou se ja , leva-nos a pensar sobre a natureza das representações do grupo e

sobre o s ign i f i cado do te rmo estereót ipo.

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.5 A trilogia de Princeton e a necessidade de uma metodologia apropriada ao estudo da estabilidade dos estereótipos: Sua importância na reformulação do conceito de estereótipo

Ao cont rá r io do que acontece com as represen tações menta i s de ca tegor ias gerais,

não existe até agora um conjunto de aval iações s i s t emát icas da ins tabi l idade das

represen tações menta is de categorias sociais. Alguns es tudos , que a seguir revemos,

reve lam con tudo uma preocupação em avaliar o grau de es tab i l idade temporal dos

es tereót ipos . Es ta secção pre tende salientar , suc in tamente , que os métodos ut i l izados até

agora por esses es tudos in teressados em avaliar o grau de es tab i l idade ou mudança dos

es te reó t ipos , como a t r i logia de Princeton, não são apropr iados , porque não apl icam uma

metodolog ia de tes te-re tes te longitudinal , cu ja adequab i l idade aliás tem sido

cons i s t en temente comprovada nos estudos da ps ico log ia cogni t iva in teressados na

ins tabi l idade dos concei tos .

Duran te os ú l t imos 50 anos, mudanças d ramát icas no ambien te social e polí t ico

amer icano to rnaram a d iscr iminação racial ilegal e a m a n i f e s t a ç ã o do preconce i to racial um

tabu social . Nes te contexto , a vários invest igadores tem in te ressado saber se a mudança do

es te reó t ipo social ao nível individual tem acompanhado esta m u d a n ç a a nível macro . Estas

cons iderações são par t icu la rmente importantes para re lações in te r -grupais amigáveis , já

que a mudança de es tereót ipos é considerada um pré- requis i to da redução do preconcei to .

Ut i l izando a técnica clássica de aval iação de es te reó t ipos de Katz e Braly (1933,

c i tado por Devine e Ell iot , 1995), vários inves t igadores conc lu í r am que os es tereót ipos

raciais es tão a desaparecer gradua lmente ao longo dos anos. Dois es tudos (Gilbert , 1951,

c i tado por Devine e Ell iot , 1995; Karlin, C o f f m a n e Wal te r s , 1969, c i tado por Devine e

El l iot , 1995) que rep l icaram o procedimento de Katz e Bra ly , no sent ido de examinar o

grau de es tab i l idade dos es tereót ipos , fo ram denominados , j u n t a m e n t e com o es tudo de

Katz e Bra ly (1933, ci tado por Devine e Ell iot , 1995), a t r i logia de Pr ince ton , porque

aval ia ram os es tereót ipos de três gerações de es tudantes da Un ive r s idade de Pr ince ton .

No es tudo de Katz e Braly (1933, ci tado por Dev ine e El l iot , 1995), os sujei tos

r eceb iam uma lista de 84 adjec t ivos e e ram ins t ru ídos a ler a l is ta e esco lher os adjec t ivos

que lhes pa recessem típicos do grupo alvo. Os su je i tos e ram e n c o r a j a d o s a esco lher tantos

ad jec t ivos quantos fossem necessár ios para descrever o g rupo a lvo adequadamen te e a

acrescentar os seus própr ios adject ivos se necessár io . Era - lhes depois ped ido que

iden t i f i cassem as c inco palavras da lista que lhes pa rec i am mais t íp icas dos m e m b r o s do

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grupo alvo. O con teúdo do estereótipo de um grupo era def in ido como o con jun to de

adjec t ivos que os su je i tos atr ibuíram mais f r equen temente ao grupo.

Os dois ú l t imos es tudos da trilogia de Pr ince ton usam o mesmo procedimento e o

mesmo con jun to de adjec t ivos .

Os resu l tados dos estudos conduziram a a f i rmações de que os sujei tos , ao longo dos

anos, passam a se lecc ionar conjuntos de traços d i fe ren tes para representar o es tereót ipo de

negro, passam a most ra r menos consis tência nos ad jec t ivos escolhidos e os traços que

escolheram passam a não ter uma conotação tão negat iva. Os resul tados fo rma

in terpre tados c o m o ref lec t indo mudança nos es tereót ipos , no sentido das percepções dos

negros pelos amer icanos se terem tornado mais posi t ivas .

Con tudo , Dev ine e Elliot (1995) acredi tam que exis te a lguma ambiguidade naqui lo

que mudou exac t amen te ao longo do tempo. Estes autores encont raram a lgumas

ambigu idades metodo lóg icas nos estudos da tr i logia de Pr inceton que tornam ténues as

conclusões sobre a pers is tência ou a mudança dos es tereót ipos: Ambigu idade das

ins t ruções dadas ; nenhuma avaliação prévia do nível de preconcei to racial ; e o uso de uma

lista desac tua l izada de adjec t ivos .

Com a d is t inção conceptual entre crenças individuais sobre grupos sociais e

es tereót ipos sobre grupos sociais, introduzida por Devine (1989) , e que espec i f i ca remos na

próxima secção, é dif íc i l saber precisamente o que é que os su je i tos responderam no

es tudos da t r i logia de Princeton - o seu conhec imen to sobre os es tereót ipos ou as suas

crenças pessoais . Uma al ternativa igualmente plausível é que os es tereót ipos se tenham

mant ido es táve is ao longo dos anos (na consis tência e valência , não necessar iamente no

con teúdo espec í f i co ) , enquanto as crenças individuais tenham sofr ido uma revisão.

Devine e El l iot (1995) propõem um es tudo onde apl icam a dis t inção conceptual

entre es te reó t ipo e c rença individual aos estudos c láss icos da tri logia de Pr inceton, com o

intui to de reaval ia r os seus resultados. Só que agora ped i ram aos su je i tos quer as suas

crenças indiv iduais quer os seus estereót ipos, e compara ram o padrão de resul tados dos

es tudos de Pr ince ton com o padrão de resul tados obt ido por si. As ava l iações de

favorab i l idade dos es tudos anteriores revelavam uma clara tendência para se to rnarem mais

posi t ivas com o t empo. Interessantemente , o índice de favorabi l idade no estudo de Devine

e Ell iot (1995) enca ixa bem com a tendência observada nos es tudos anter iores , enquanto o

índice de favorab i l idade nos estereót ipos é semelhan te ao do es tudo inicial de Katz e Braly

(1933. c i tado por Dev ine e Ell iot , 1995).

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Na opinião destes autores, esses são indicadores de que os es tudos de Princeton

aval iaram não os es tereót ipos mas as crenças individuais dos es tudantes , que podem ou não

ser congruen tes com o estereót ipo. Estes dados con jugados sugerem, na opinião de Devine

e Ell iot (1995), a exis tência de um es tereót ipo con temporâneo de negro que é al tamente

cons is tente e negat ivo e uma revisão das crenças indiv iduais sobre este grupo, ao longo do

tempo, no sent ido de maior posi t iv idade.

Embora se jam poss íve is cons ideráveis teor izações sobre a ins tabi l idade das

representações mentais de grupos sociais apartir destes resul tados , estes es tudos não

cons t i tuem evidência directa sobre a sua natureza. Aval ia r essas representações menta is de

grupos sociais nos mesmos indivíduos, em dois momen tos d i fe ren tes , permit i r ia validar

empi r icamente a natureza instável destas es t ruturas de conhec imen to , t ra tando, portanto, a

sessão como uma variável intra sujei to, e ca lculando a sobrepos ição entre dois protocolos

do m e s m o sujei to, p roduzidos no mesmo contexto e com poucas semanas de dis tância .

Nesta disser tação vamos faze r uma tentat iva de desenvo lver e apl icar uma

metodologia sa t isfa tór ia para o estudo da ins tabi l idade nas es t ru turas de conhec imento

social.

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1.6 A distinção entre estereótipos e crenças individuais

Até agora nesta disser tação, compi lámos evidência empír ica acumulada que nos

permite prever , de fo rma fundamentada , que as representações sobre grupos sociais

mani fes tem o m e s m o grau de instabi l idade que ev idenc iam as categorias não sociais ,

apesar de, c o m o v imos na secção anterior, até ao momen to , não ter sido aplicada uma

metodologia apropr iada ao seu estudo. O nosso objec t ivo , contudo, é ir para além do teste

desta previsão.

A inc lusão desta secção sobre representações mentais de grupos sociais de natureza

conceptual dis t inta pre tende , exactamente , a judar a fundamen ta r teor icamente previsões

mais espec í f icas a testar .

Devine (1989) no seu modelo sobre processos au tomát icos e controlados no

preconcei to , a rgumenta que os es tereót ipos e as crenças indiv iduais são es t ruturas

cognit ivas dis t in tas do ponto de vista conceptual , e que cada es t rutura representa apenas

parte do conhec imen to de base total que o indiv íduo tem sobre um grupo social espec í f ico .

Devine sugere que um estereót ipo é um conjunto de assoc iações bem aprendidas que liga

um con jun to de caracter ís t icas a um rótulo de um grupo e que, através de um processo de

social ização, todos os indivíduos aprendem uma var iedade de es tereót ipos cul turais . Esta

autora, a rgumenta a inda que as crenças individuais são p ropos ições que são assumidas e

aceites como verdade i ras . Assim, embora , por exemplo , a maior ia dos amer icanos possua

conhec imento sobre o es tereót ipo de negro, apenas uma parte assume rea lmente o

es tereót ipo e acredi ta que é verdadeiro (Devine, 1989).

Devine (1989) , apresenta es tudos que supor tam esta d is t inção conceptual entre

es tereót ipos e c renças individuais . N u m pr imeiro es tudo, a autora (1989) fornece evidência

empír ica que ambos os grupos de sujei tos , com e levado e ba ixo preconcei to , possuem

conhec imento equ iva len te sobre o estereót ipo de negro. N u m a tarefa de resposta l ivre, os

indivíduos e ram ins t ru ídos a listar componentes do es tereót ipo de negro. Os suje i tos eram

informados que os inves t igadores não es tavam in teressados nas suas crenças pessoais sobre

os negros, mas no seu conhec imento sobre o es tereót ipo de negro. Comparações dos traços

gerados para ind iv íduos com elevado e ba ixo preconce i to não suger i ram d i fe renças

s ignif ica t ivas . Supor te indirecto para a suposição que indiv íduos com elevado e ba ixo

preconcei to p o s s u e m di fe ren tes crenças individuais sobre os negros foi obt ido num estudo

subsequente (Devine , 1989, estudo 3). Sob condições que en fa t i zavam o anonimato , os

sujei tos e ram ins t ru ídos a listar os seus pensamentos sobre os negros c o m o grupo social . A

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anál ise das respostas revelou di ferenças claras entre os su je i tos com e levado e baixo

preconcei to , no sent ido dos indivíduos com maior p reconce i to l is tarem mais traços

negat ivos do que os outros . Des te modo, o modelo de Devine (1989) enfa t iza uma dist inção

conceptual que é essencia l considerar na literatura sobre a ava l i ação de es tereót ipos .

Tal como desc revemos na secção anterior, Dev ine e El l iot (1995) , apl icando a

d is t inção conceptua l entre es tereót ipos e crenças ind iv idua is , in t roduzida por Devine

(1989), aos es tudos da tr i logia clássica de Princeton, r eava l i am a a legação que o

es tereót ipo de negro está a mudar no conteúdo, cons i s tênc ia e valência (Dovidio e

Gaer tner , 1986, c i tado por Dev ine e Ell iot , 1995).

As aval iações fei tas nos estudos da tri logia de Pr ince ton não d is t inguiam entre

es tereót ipos e c renças individuais , mas apenas ped iam aos su je i tos que se leccionassem

traços que pa recessem t ípicos dos negros. Esta a m b i g u i d a d e me todo lóg ica dos estudos

c láss icos que u t i l izavam listas de adject ivos , não permi t ia , na rea l idade , ret irar conclusões

claras sobre a mudança dos estereót ipos. Clar i f icando as ins t ruções fornec idas aos sujei tos

e apresen tando uma lista de t raços adjec t ivos actual izada, D e v i n e e Ell iot (1995) obtiveram

uma aval iação precisa das representações que os su je i tos têm dos negros como grupo

social, o que permit iu conclu i r que o es tereót ipo de negro se m a n t e v e estável ao longo dos

anos; em vez disso, as c renças individuais sobre os negros es tão a sof rer uma revisão. Ou

seja, comparando os dados dos estudos da trilogia de Pr ince ton c o m os dados do es tudo de

Devine e Ell iot (1995) , pode-se concluir que, f ru to de imprec i sões me todo lóg icas (como a

ambigu idade das ins t ruções dadas, a não aval iação do p r econce i t o e o uso de listas de

ad jec t ivos desac tua l izada) , os pr imeiros estudos med i r am, na rea l idade, as crenças

individuais dos su je i tos e não (como era t ip icamente a s sumido) o seu conhec imen to sobre

o es tereót ipo de negro.

O es tudo de Devine e Ell iot (1995) não só rep l ica os resu l tados dos es tudos de

Devine (1989) mas t ambém fornece a pr imeira ev idênc ia d i rec ta que supor ta o aspecto das

crenças indiv iduais do mode lo de Devine. Mais impor tan te , ava l i ando ambas as crenças

individuais e os es te reó t ipos no mesmo estudo, intra su je i to , pe rmi t e val idar empi r icamente

a d is t inção es te reó t ipo /c renças individuais .

Os dados anter iores sugerem uma considerável m u d a n ç a das c renças individuais e

uma maior es tab i l idade dos estereót ipos culturais ao l ongo do t empo . Pode-se argumentar

que um con jun to de fac tores podem contr ibuir para a ma io r pers i s tênc ia dos es tereót ipos e

maior ins tabi l idade das crenças individuais . Os es te reó t ipos m a n t ê m - s e p ro fundamen te

embut idos na nossa cul tura , as imagens es te reo t ipadas pe r s i s t em nos media ( televisão.

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jo rna is ) e os grupos sociais cont inuam a ser representados em papéis sociais t radic ionais . E

provável que se jam, f requentemente , fo rnec idos por inf luência social de agentes

soc ia l izadores e dos media sob a fo rma de descr ições gerais, e, por isso, t enham uma

natureza mais abstracta e sejam mais impermeáve i s ao contexto; ou seja, que a sua

fo rmação e manu tenção resulte de um processo de acul turação que cria, mais

p rovave lmen te , representações com in fo rmação de nível de grupo do que de nível

individual . As crenças individuais são, p rovave lmente , mais baseadas em exemplos

compor t amen ta i s reais tes temunhados , são adquir idas por contacto directo com ins tâncias

do grupo social , o que sugere que os exemplares são mais ex tensamente usados quando são

emi t idos j u l g a m e n t o s sobre grupos sociais baseados em crenças individuais e que estas são

mais pe rmeáve i s aos efe i tos contextuais . É, t ambém, mais provável que os ind iv íduos

es te jam mais envolv idos e mais mot ivados para fazer ju lgamentos precisos quando estes

são baseados nas suas crenças individuais , por serem mais re levantes pessoa lmente , o que

tem sido suger ido que conduz os indivíduos a basearem-se mais na recuperação de

instâncias do que em impressões gerais (Park e colaboradores , 1991). E é mais natural que,

quando os ind iv íduos estão a dar o seu ponto de vista, a t r ibuam mais peso à i n fo rmação

resul tante da sua exper iência directa com ins tâncias do grupo em contex tos recentes ,

max imizando assim a contr ibuição da sua exper iênc ia pessoal , do que ao conhec imen to

t ransmi t ido cu l tu ra lmente (Barsalou, 1989). Ass im, pode-se a rgumentar que as crenças

individuais se sus ten tam mais em exemplares , ou seja , a memór ia de membros do grupo

tem um papel mais determinante nos j u lgamen tos baseados em crenças individuais ; e que

os es te reó t ipos têm uma natureza re la t ivamente mais abstracta.

A ques tão da estabi l idade foi levantada em psicologia social nos domín ios das

ati tudes rac ia is , aí, os modelos dualistas tentam expl icações baseadas não em di fe renças de

represen tação mas em di ferenças de p rocessamento . De facto , dentro de uma visão dual is ta

de p rocessamen to , um enquadramento apropr iado para repensar a ques tão da maior ou

menor ins tab i l idade temporal das crenças indiv iduais e dos es te reó t ipos existe, ta lvez, na

inves t igação sobre persuasão na produção de novas ou na mudança de at i tudes. Quando

apl icados a grupos sociais , os conteúdos cogni t ivos das at i tudes são re fe r idos como

es tereót ipos . Aliás, Johnston e Coolen (1995) propuseram a adopção dessa perspect iva

dualista no es tudo dos estereót ipos e da sua mudança , inves t igando o conhec imen to dos

processos envo lv idos na modi f icação de es tereót ipos exis tentes . D e f e n d e m que a

inves t igação t radic ional sobre mudança de es tereót ipos devia es tender as suas

cons iderações , para além da in formação que in f i rma em si, a outras caracter ís t icas da

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si tuação de mudança do es tereót ipo, como pistas sobre as fontes de informação

(credibi l idade) , a qua l idade da mensagem, etc.

Na inves t igação actual , se, em vez de adop ta rmos pr incípios episódicos,

fundamen ta rmos as nossas predições numa abordagem dual i s ta de p rocessamen to teremos

que repensar a d i sc repânc ia que postulámos à part ida entre as crenças individuais e os

es tereót ipos de grupos socia is .

Alguns mode los têm s ido muito inf luentes na área da persuasão e mudança de

at i tudes, p ropondo dois processos que ref lect i r iam dois t ipos de p rocessamento de

in fo rmação essencia is nes ta área: s is temático ou centra l e heur ís t ico ou per i fér ico

(Chaiken, 1980, c i tado por Smith e DeCoster , 2000; Pet ty e Cac ioppo , 1981, ci tado por

Smith e DeCoster , 2000) . O processamento s is temático é ca rac te r i zado pela sensibi l idade à

qual idade e valência da mensagem, pela e laboração cogni t iva dos a rgumentos persuasivos;

cor responde a um processamen to mais p ro fundo da i n f o r m a ç ã o e requer mot ivação

(Johnston e Coolen , 1995; Smi th e DeCoster , 2000; Eag ly e Cha iken , 1993). As atitudes

que resul tam do p r o c e s s a m e n t o s is temático são mais pe rs i s ten tes no t empo e mais

resis tentes à con t rape r suasão (Eagly e Chaiken, 1993). No p roces samen to heurís t ico, a

in fo rmação disponível não é toda processada, os j u l g a m e n t o s são baseados em heuríst icas,

usando pistas d i sponíve is para formar um j u l g a m e n t o ráp ido . Incluí , por tan to , um

processamento superf ic ia l e um raciocínio atr ibutivo; inc lu í mecan i smos re lac ionados com

papéis e mot ivações socia is , tal como preservar re lações sociais e iden t idades pessoais

favoráveis , e é a s sumido que têm efei to apenas a t ravés de pis tas per i fé r icas (Eagly e

Chaiken, 1993). As a t i tudes const ruídas heur is t icamente são mais vu lneráve i s à mudança .

Vários es tudos sus ten tam os pressupostos gerais da abordagem do processamento

heur ís t ico /s i s temát ico no domín io da mudança de a t i tude e da in f luênc ia social (Eagly e

Chaiken, 1993, capí tu lo 7 para uma revisão).

Com base nas cons ide rações anteriores, pode-se a rgumen ta r que é mais provável que

os es tereót ipos t enham s ido construídos heur i s t icamente a t ravés de in f luênc ia social de

agentes socia l izadores , cu jos argumentos ins t igam a um processo de comparação

re la t ivamente superf ic ia l e onde func ionam como pistas heur í s t i cas , o pres t íg io do emissor ,

o fac to das mensagens usa rem dados estat íst icos, os consensos (as pessoas acredi tam

normalmente que o consenso ref lecte a real idade) .

Compara t ivamente , a re levância e envolv imento pessoa i s no contac to d i rec to com

indivíduos podem conduz i r a um processamento mais s i s t emát ico da i n fo rmação na

cons t rução de crenças ind iv idua i s sobre grupos sociais . E, nes te sent ido, seria de esperar

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uma inversão da p red ição sugerida anter iormente; ou seja , seria de esperar uma maior

ins tabi l idade dos es tereót ipos quando comparados com as c renças individuais , mais

resis tentes à m u d a n ç a .

E m b o r a se jam possíveis consideráveis teor izações sobre o uso de exemplares ou de

abst racções nos j u l g a m e n t o s de grupos sociais baseados em crenças individuais ou em

estereót ipos ou sobre o uso de um processamento mais s i s temát ico ou heuríst ico de

in fo rmação na cons t rução destas duas estruturas cogni t ivas , não há evidência directa sobre

a sua na tureza ou grau de estabi l idade.

Nes ta d i sser tação , apl icámos a dis t inção conceptual entre es tereót ipos e crenças

individuais , p ropos ta por Devine (1989), com o intui to de aval iar adequadamente várias

questões r e l ac ionadas com a estabi l idade e sens ib i l idade ao con tex to diferencial destas

duas es t ru turas cogni t ivas , ut i l izando uma metodologia de tes te- re tes te longi tudinal , até

agora não apl icada a esta área de estudo.

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.7 Objectivos

Pr imei ro , es tudos exis tentes (Bodenhausen e co laboradores , 1995; Schwarz e Bless,

1992; Coats e Smith, 1999) mostram que os es te reó t ipos de ca tegor ias sociais amplas e de

subt ipos p o d e m ser a l terados se um exemplar e spec í f i co ( m e m b r o da categoria ou do

subt ipo da ca tegor ia) for activado. Segundo , apesar dos es tereót ipos serem

t rad ic iona lmente cons ide rados representações menta i s de g rupos sociais duradouras e

estáveis , a sua medida e expressão estão minadas por um grande número de factores

sensíveis ao contexto . Terceiro , invest igações com ca tegor ias não sociais têm demonst rado ,

conv incen temente , que se compararmos os mesmos ind iv íduos em duas ocas iões d i ferentes

eles ev idenc iam apenas uma precisão modes ta ao f o r n e c e r e m def in ições de concei tos

comuns (Bel lezza , 1984a), recuperarem exemplares de ca tegor ias comuns (Bel lezza,

1984b), c l a s s i f i ca rem instâncias em termos dessas ca tegor i a s (McCloskey e Gluksberg ,

1978) ou ava l ia rem a t ip ical idade das instâncias r e l a t ivamen te ás ca tegor ias de que provêm

(Barsalou, 1987, 1989; Barsalou e Medin , 1986). P r e t e n d e m o s most rar o m e s m o tipo de

ins tabi l idade e de sens ib i l idade ao contexto nas ca tegor ias socia is que Barsalou revelou na

ca tegor ização de ob jec tos não sociais.

Ass im, com base nestas evidências , p r e t endemos , a t ravés de um c o n j u n t o de

exper iências , testar a nossa pr imeira predição, de que o tes te- re tes te das concepções e

descr ições que os m e s m o s indivíduos fazem das ca tegor ias socia is ev idenciará apenas uma

precisão modes ta , pa ra le lamente aos resul tados ob t idos com ca tegor ias não sociais .

Poder -se- ia a rgumentar que os es tereót ipos cu l tura i s são mais abst ractos do que as

ca tegor ias comuns e que, por isso, ser iam mais es táveis . Na verdade , porque o conteúdo

dos es te reó t ipos é f r equen temen te comunicado soc ia lmente , com as pessoas a ouv i r em que

os m e m b r o s de um grupo têm caracter ís t icas espec í f i cas , e essa i n fo rmação tem uma forma

cod i f icada l ingu i s t i camente e abstracta, e porque os es te reó t ipos são auto-perpetuadores®,

pode-se pensar que se jam mais estáveis . Contudo , nos es tudos sobre ca tegor i zação de

objec tos não sociais encon t ram-se grandes níveis de ins tab i l idade em ca tegor ias comuns

mas t ambém em ca tegor ias consideradas mais abs t rac tas , o que, na perspec t iva de

^ D e facto, os es tereót ipos p o d e m conduzi r a um env iesamen to no p r o c e s s a m e n t o de i n fo rmação numa série de formas au to-perpe tuadoras . Os es te reó t ipos podem enviesar a in terpre tação inicial da i n f o r m a ç ã o no sent ido conf i rma tó r io . As a t r ibuições fe i tas sobre c o m p o r t a m e n t o s consistentes e inconsis tentes t a m b é m s e r v e m para conf i rmar o es te reó t ipo . As cor re lações i lusórias en t re i n fo rmação estereotipada e a lvos in f lac iona a p reva lênc ia percebida de in fo rmação consis tente . S o b cond ições apropr iadas a in formação consis tente c o m os e s t e reó t ipos p o d e receber m a i s a t enção e ser melhor r ecordada d o que a i n fo rmação inconsistente. Os es te reó t ipos p o d e m licitar c o m p o r t a m e n t o s conf i rmatór ios , c r iando profec ias au to conf i rmatór ias . Globalmente , estes vários p rocessos d e m o n s t r a m q u e uma das f u n ç õ e s pr incipais dos es tereót ipos é a auto pe rpe tuação (para uma revisão, ver Smi th e M a c k i e , 1995; Hami l t on e She rman , 1994).

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^

Barsalou, demons t ra a natureza exemplar is ta das categorias em geral . Por isso, poder íamos

encontrar nos es te reó t ipos os mesmos níveis de ins tabi l idade.

C o m o segundo objec t ivo global destas exper iências , p re tendemos ainda testar a

hipótese que esta ins tabi l idade intra sujei to será mais e levada nas descr ições dos grupos

sociais baseadas nas crenças individuais do que nas descr ições baseadas nos es tereót ipos .

Esta h ipótese é baseada na dis t inção conceptual entre es tereót ipos e crenças individuais

(Devine e El l iot , 1995) e no raciocínio desenvolv ido anter iormente sobre a or igem e

natureza dis t in tas des tas duas estruturas cogni t ivas , que sugerem que as representações das

crenças socia is podem ser mais for temente const i tu ídas por exempla res espec í f icos do que

as represen tações dos estereót ipos. E que, por tanto , os exempla res podem ser usados mais

p roeminen temen te nos ju lgamentos baseados em crenças individuais do que naqueles

baseados em es te reó t ipos .

É de sa l ientar , contudo, dois aspectos:

• Na pe rspec t iva de Barsalou, em que as representações têm todas uma natureza

exempla r i s t a , não seria de esperar esta d i fe renc iação s igni f ica t iva nos níveis de

ins tab i l idade entre crenças individuais e es tereót ipos de grupos sociais.

• Se, em vez de adoptarmos pr incípios episódicos , f u n d a m e n t a r m o s as nossas

p red ições numa abordagem dualista do p rocessamento l igado aos es tereót ipos

(Johns ton e Coolen, 1995) teremos que repensar , tal como desenvo lvemos na

secção anter ior , a discrepância que pos tu lámos à par t ida entre as c renças

ind iv idua is e os estereótipos de grupos sociais , p revendo uma maior

ins tabi l idade dos estereót ipos quando comparados com as crenças individuais ,

mais res is tentes à mudança.

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2. Experiência I í

L _J

Dada a cons iderável evidência (descri ta an te r io rmente ) sobre a precisão modesta

que revelam as ca tegor ias não sociais, a pr imeira exper iênc ia foi desenhada para avaliar o

grau de prec isão com que a in formação sobre ca tegor ias socia is pode ser recuperada.

Adic iona lmente , com base nas d i ferenças entre es te reó t ipos cul tura is e crenças individuais

atrás d iscut idas , qu i semos comparar estas duas es t ru turas cogni t ivas e es t imar a sua

precisão. Para obter as representações mentais dos es te reó t ipos , ass im como das crenças

individuais , de grupos sociais , pedimos aos su je i tos para desempenharem as mesmas

tarefas em duas sessões separadas por 15 dias. Usámos vários medidas (descr i tas adiante)

que esperávamos se rem sensíveis a alguns parâmet ros das representações menta i s que os

indiv íduos têm sobre grupos sociais. A nossa h ipótese pr incipal era que o grau de precisão

intra su je i to para as ca tegor ias sociais fosse modes to , à s eme lhança do encon t rado para as

categorias não sociais . E que a instabi l idade que essa p rec i são modes ta re f lec te fosse maior

nas descr ições e j u lgamen tos baseados em crenças ind iv idua i s do que nas descr ições e

j u lgamen tos baseados nos es tereót ipos sociais.

Es t ávamos in teressados ainda em perceber que grau de sens ib i l idade à mudança

temporal man i f e s t avam as medidas de dispersão pe rceb ida e de j u lgamen to da tendência

central . A d ispersão percebida é um parâmetro essencia l do con teúdo das representações

dos grupos sociais , de tal modo que parece in f luenc ia r o grau em que i n fo rmação de nível

de grupo vs. i n fo rmação individual é usada para faze r j u l g a m e n t o s de um novo indivíduo

(Park e co laboradores , 1991); permite pensar na m u d a n ç a de es te reó t ipo de outra maneira ,

na medida em que esta, para além da mudança na t endênc ia central do grupo, pode ser

concebida em termos de mudança na var iabi l idade perceb ida (Park e co laboradores , 1991;

Garc ia -Marques e Mackie , 1999). Qual a pe rmeab i l idade ao contexto destes dois

parâmetros do con teúdo das representações mentais de g rupos socia is , será uma questão a

explorar nestes dados .

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

2,1 Experiência I: Método

2.1.1 Pré-teste

O objec t ivo inicial deste pré-teste era testar a e f icác ia das ins t ruções e do material

const ru ído, e spec i f i camen te da tarefa de geração de t raços propos ta , e a duração da

si tuação exper imenta l . À semelhança das experiências de Bel lezza (1984b, 1984c) uti l izou-

se um proced imen to aber to mas aqui para obter descr ições dos es te reó t ipos culturais e das

crenças indiv iduais dos grupos sociais. Neste tipo de tarefa , po rque as pessoas estão a

relatar os con teúdos da memór ia de t rabalho, a in fo rmação obt ida é mais f iável ; as pessoas

descrevem as represen tações das categorias à medida que pensam nelas (Barsalou, 1989).

Os par t ic ipantes fo ram 31 es tudantes da Univers idade de L i sboa que se ofereceram

volunta r iamente para o es tudo, a pedido do exper imentador . Era solici tado aos

par t ic ipantes que ten tassem fornecer descrições dos quatro grupos sociais^ apresentados

(médicos, seguranças de discoteca, programadores de compu tador e p rofessores de liceu).

Pre tendia-se incluir uma amostra variada de grupos sociais alvo. Para além de grupos

consensuais , e sco lhe ram-se grupos com que as pessoas t ivessem di fe ren tes graus de

fami l ia r idade . Os su je i tos eram instruídos a listar carac ter í s t icas , usando traços de

personal idade , ad j ec t ivos ou f rases curtas, que ut i l izar iam para desc rever membros t ípicos

de cada grupo. Pr imei ro , foi- lhes dito que fo rnecessem tantas caracter ís t icas quantas

fossem necessár ias para t ransmit i rem a impressão que as pessoas em geral têm de cada

grupo e para descrever cada grupo adequadamente . Embora t ivesse s ido dada l iberdade aos

sujei tos para fo rnece rem qualquer tipo de caracter ís t icas que lhes v iesse à cabeça, os traços

de persona l idade fo ram os mais f requentemente l is tados, com as caracter ís t icas f ís icas e

outras, como compor t amen tos e circunstâncias , a terem papéis secundár ios . Um exemplo

das ins t ruções dadas é o seguinte:

E s t a m o s in teressados nas característ icas que as pessoas e m geral u t i l izam para descrever m e m b r o s de vários grupos. V a m o s pensar no grupo de indivíduos que têm e m c o m u m a p ro f i s são de médicos . Pedimos- lhe q u e liste aqueles t raços de persona l idade , ad jec t ivos ou f rases cur tas que ache que as pessoas em gera! usar iam para carac ter izar os méd icos c o m o um todo. Ass ina le tantas característ icas quantas achar necessár ias pa ra t ransmit i r a impressão q u e as pessoas em geral têm dos médicos e para os desc rever de f o r m a adequada . N ã o ex i s tem respostas certas ou erradas. Es tamos interessados na sua op in ião sobre o que as pessoas ge ra lmen te pensam acerca dos médicos.

' Dois des tes g rupos sociais , os seguranças de discotecas e os p rog ramadores de c o m p u t a d o r , t êm sido vas tamente util izados, por Ga rc i a -Marques , em outros es tudos sobre estereót ipos (ver, por e x e m p l o , G a re i a -Marq u es e Mackie , 1999).

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Ins t ruções idênt icas foram dadas para obter a expressão das crenças individuais dos

par t ic ipantes em re lação a cada grupo, enfa t izando agora as suas opiniões pessoais:

E s t a m o s in te ressados nas característ icas que as pessoas ut i l izam para desc reve r m e m b r o s de vários g rupos . V a m o s pensar no grupo de indivíduos q u e têm em c o m u m a prof i ssão de médicos . Ped imos - lhe que, apartir da lista de traços de pe r sona l idade q u e lhe apresentamos, escolha aque les que caracter izam os médicos c o m o um lodo. Esco lha ap rox imadamen te c inco caracter ís t icas da lista, para transmitir a sua impre s são sobre os médicos e para os desc rever de f o r m a adequada , e escreva-as nas l inhas aba ixo . N ã o ex i s t em respostas cer tas ou er radas , apenas es tamos interessados na sua opinião pessoa l .

Primeiro , o pré- tes te revelou que a resposta ao c o n j u n t o de tarefas incluídas na

exper iência demorava cerca de uma hora e meia , em média , o que levou à exc lusão de um

grupo social com o ob jec t ivo de encurtar o t empo de respos ta . Segundo , apesar da tarefa de

geração de t raços, tal como foi concebida, permit i r l ic i tar a t r ibu ições mais espontâneas por

parte dos ind iv íduos , havia uma objecção. É poss íve l que vár ias descr ições fossem

coinc identes no s ign i f icado , mas que os su je i tos as expressassem com palavras

ob jec t ivamente d i fe ren tes , o que aumentou t r emendamen te o n ú m e r o de termos usados para

caracter izar os grupos sociais . De facto, apart ir das l is tas de caracter ís t icas obtidas,

encont rou-se um grande ni jmero de termos, u t i l izados por d i fe ren tes ou pelos mesmos

par t ic ipantes , que co inc id iam no s ignif icado e que te r iam, por tan to , de ser combinados ,

p roced imento que poder ia introduzir um elevado grau de sub jec t iv idade . Uma al ternativa

era, r ecuperando um procedimento de Katz e Braly (1933 , c i t ado por Dev ine e Elliot,

1995), cr iar uma lista de caracter ís t icas para apresentar aos su je i tos , com base na qual os

suje i tos fa r i am as suas escolhas . Por isso, a tarefa de respos ta l ivre ut i l izada neste pré-teste

acabou por servir para e laborar esta lista. Para cada g rupo socia l , fo ram inic ia lmente

mant idas as carac ter í s t icas mencionadas pelo menos por 4 par t ic ipantes , quer nas

descr ições baseadas em estereót ipos cul turais quer naque la s baseadas nas crenças

individuais . Baseados nesta lista inicial, as 9 carac ter í s t icas mais f r e q u e n t e m e n t e geradas

(quer nos es te reó t ipos sociais quer nas crenças ind iv idua is ) para cada grupo social foram

se lecc ionadas , exc lu indo aquelas cujos s ignif icados se s o b r e p o n h a m . Em todos os casos em

que foi poss ível , in t roduz i ram-se ainda os an tónimos das carac ter í s t icas j á inc lu ídas na

lista, to ta l izando 43 caracter ís t icas . Porque, nas suas desc r i ções l ivres , os sujei tos

ass inalaram, quase sempre , t raços de personal idade , a l ista c o m p o s t a incluiu apenas este

tipo de carac ter ís t icas .

Ainda de in te resse era o grau em que d i f e ren tes su je i tos ge ravam as mesmas

caracter ís t icas por ca tegor ia social. Para obter uma med ida do acordo entre su je i tos , os

sujei tos fo ram empare lhados aleator iamente. As p o n t u a ç õ e s que re f lec t i am o grau de

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

s o b r e p o s i ç ã o pa ra os do i s ind iv íduos de cada par f o r a m depo i s ca l cu ladas para cada grupo

social , e d e n t r o de s t e , para os es tereót ipos soc ia i s e para as c r enças ind iv idua is . C o m o

espe rado , o a c o r d o en t re su je i tos foi super ior para as d e s c r i ç õ e s baseadas em es t e reó t ipos

do que para a q u e l a s ba seadas nas c renças ind iv idua i s , apesa r dos n íve is de acordo m é d i o s

ent re pa re s de s u j e i t o s não terem u l t rapassado .23' (o que se deveu , p rovave lmen te , à

g rande q u a n t i d a d e e va r i edade de ca rac te r í s t i cas ge radas pe los ind iv íduos na t a re fa de

respos ta l iv re , de q u e f a l ámos an te r io rmente ) . Essa d i f e r e n ç a foi m e n o s acen tuada para o

g rupo de P r o f e s s o r e s de liceu do que para os res tan tes t rês g rupos , r azão por que , dada a

nece s s idade de e n c u r t a r o t empo de respos ta , es te foi o g rupo exc lu ído . U m a das

p r e o c u p a ç õ e s na s e l ecção dos grupos soc ia is foi e x a c t a m e n t e esco lher g rupos c o m

es t e r eó t ipos c u l t u r a i s consensua i s for tes m a s c o m os qua i s as pessoas m a n t i v e s s e m

con tac to d i r ec to c o m exempla re s e spec í f i cos , o que , se supunha , ter ia impac to nas c r enças

ind iv idua i s d e s e n v o l v i d a s .

2.1.2 Participantes e Desenho experimental

A r e c o l h a de dados da presen te expe r i ênc i a u t i l i zou um grupo d i f e r e n t e de

pa r t i c ipan t e s do u t i l i z ado no pré- tes te .

Os p a r t i c i p a n t e s fo ram 68 es tudan tes da U n i v e r s i d a d e de L i sboa que ace i t a r am

par t i c ipa r v o l u n t a r i a m e n t e no es tudo a ped ido do e x p e r i m e n t a d o r .

O d e s e n h o expe r imen ta l bás ico desta e x p e r i ê n c i a foi 2 o r d e n s de ap re sen tação das

c renças ( E s t e r e ó t i p o s - C r e n ç a s ind iv idua i s ou C r e n ç a s i nd iv idua i s -Es t e r eó t i pos ) x 2 ses sões

(Sessão 1 v e r s u s S e s s ã o 2) x 3 grupos socia is ( M é d i c o s ve r sus Segu ranças de d i sco teca

versus P r o g r a m a d o r e s de compu tador ) x 2 t ipos de c r enças (Es t e r eó t ipos versus C r e n ç a s

i nd iv idua i s ) . A p e n a s o fac tor o rdem de a p r e s e n t a ç ã o das c r enças era um fac to r en t re

su je i tos .

2.1.3 Material

T o d o s os i n d i v í d u o s r e sponde ram quer ás qua t ro t a r e fa s de ava l i ação de e s t e r eó t ipos

que r ás q u a t r o t a r e f a s de ava l iação de c renças i n d i v i d u a i s , pa ra cada u m dos três g rupos

soc ia i s i n c l u í d o s (méd icos , seguranças de d i s co t eca e p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r ) .

M e t a d e dos p a r t i c i p a n t e s comple tou a ava l i ação dos e s t e r eó t ipos p r ime i ro e depo i s a

ava l i ação das c r e n ç a s ind iv idua is , a outra m e t a d e c o m p l e t o u as t a r e f a s na o r d e m inversa .

Os s u j e i t o s f o r a m a l ea to r i amen te d i s t r ibu ídos po r u m a das duas o rdens . U m a m e d i d a de

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fami l ia r idade subject iva com cada grupo social foi adminis t rada no f im da sessão a todos

os par t ic ipantes .

As quatro tarefas que foram dis t r ibuídas pelos par t ic ipantes , quer na ava l iação dos

es tereót ipos sociais quer na aval iação das crenças indiv iduais sobre cada grupo social,

fo ram as seguintes:

Na avaliação do estereótipo. Em todas as tarefas de aval iação dos es tereót ipos , as

ins t ruções foram e laboradas com o intuito de e l iminar a ambigu idade que Dev ine e Elliot

(1995) demons t ra ram estar presente nas ins t ruções de Katz e Braly (1933, c i tado por

Devine e Ell iot , 1995). Af i rmava-se expl ic i tamente que es távamos in te ressados no

conhec imento que os par t ic ipantes t inham sobre o es te reó t ipo de um de t e rminado grupo

social , ou seja , na impressão que as pessoas em geral têm sobre esse grupo social .

• Geração de traços. Talvez até devido ao ob jec t ivo do t raba lho de Katz e Braly

(1933, ci tado por Devine e Ell iot , 1995), que es tavam in te ressados no grau de

acordo que os es tudantes de Princeton ev idenc iavam ao a t r ibu í rem traços a

vários grupos raciais , os es tereót ipos fo ram no rma lmen te ava l iados ao nível

consensual . Por isso, as es t ra tégias de medida dos es te reó t ipos e r am muitas

vezes baseadas na apresentação aos su je i tos de l istas de carac te r í s t icas . Nesta

exper iência , u t i l izou-se a tarefa c láss ica de Bra ly e Katz (1933, c i t ado por

Devine e El l iot , 1995) revista , no sent ido de e laborar ins t ruções que

es tabe lecessem c laramente a dis t inção entre es te reó t ipos sociais e crenças

individuais e no sent ido de apresentar uma lista ac tua l izada que incluísse

caracter ís t icas for temente suger idas , pela ta refa de respos ta l ivre u t i l i zada no

pré-teste, como fazendo parte do es tereót ipo social e das c renças individuais

con temporâneos de cada grupo social . Essas carac ter í s t icas f o r a m ordenadas

a lea tor iamente . As ins t ruções apresentadas nes ta ta refa f o r a m as seguin tes :

Estamos in teressados nas caracter ís t icas que as pessoas em geral u t i l izam para desc reve r m e m b r o s de vár ios grupos . V a m o s pensar no grupo de ind iv íduos que t êm e m c o m u m a prof i ssão de médicos . Pedimos- lhe que, apartir da lista de t raços de pe r sona l idade q u e lhe apresentamos , esco lha aque les que ache que as pessoas e m geral usa r i am para carac ter izar os médicos c o m o um todo. Escolha ap rox imadamen te c inco caracter ís t icas da lista, para transmitir a impressão que as pessoas em geral têm dos méd icos e para os desc reve r de fo rma adequada , e escreva-as nas l inhas abaixo. N ã o exis tem respos tas cer tas ou er radas . Es t amos in teressados na sua opinião sobre o que as pessoas ge r a lmen te p e n s a m ace rca dos médicos .

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^

• Es t imat iva da percentagem de membros da população com os traços. Depois dos

par t ic ipantes se lecc ionarem os traços de pe r sona l idade apart i r da lista

apresentada , fo i - lhes pedido que vol tassem ao iníc io e que, para cada

carac ter í s t ica , indicassem a percentagem do grupo a que a caracter ís t ica se

apl icava (0% a 100%). Ao obter uma descr ição dos es te reó t ipos sociais , tentou-

se levar em conta a noção de genera l ização que o ind iv íduo atribui ás

carac ter í s t icas que escolheu para def ini r os grupos espec í f i cos . Por isso, foi

incluída uma medida que determina a p reva lênc ia percebida de cada

carac ter í s t ica no grupo social . O anonimato e a necess idade de resposta s inceras

fo ram enfa t i zados ao longo destas tarefas .

• Ava l iação de d imensões mais f requentes dos grupos em escalas bipolares . Outra

es t ra tégia de medida dos estereót ipos e da sua m u d a n ç a t rad ic iona lmente usada

incluí as esca las de ad jec t ivos bipolares, que en fa t i zam d imensões par t iculares .

Nes ta exper iênc ia , foram avaliadas 13 d imensões , u t i l i zando escalas de aval iação

de 9 pontos , em que os pólos difer iam s ign i f i ca t ivamente em dese jabi l idade . As

13 d imensões escolhidas foram as cons ideradas c o m o as mais per t inentes para

os três g rupos sociais incluídos na exper iência , não só por serem as d imensões

usadas mais f r equen temen te para descrever os es te reó t ipos dos grupos sociais ,

por tan to mais sa turadas nos estereót ipos, mas t a m b é m por poderem representar

expec ta t ivas de traços desejáveis e indese jáve is para cada um dos grupos sociais .

• Iden t i f i cação de uma distr ibuição. Para aval iar os pa râme t ros de var iabi l idade

das represen tações mentais dos es tereót ipos dos g rupos sociais foi apresentada

aos par t ic ipantes uma matriz de 25 d i s t r ibu ições que combinava

s i s t emat i camente cinco níveis de tendência central e c inco níveis de d ispersão (a

tarefa da matr iz de distr ibuição). Outras inves t igações (Garc ia -Marques e

Mackie , 1999) já t inham provado que esta tarefa era f ac i lmen te compreend ida

pelos par t ic ipantes e não era difícil de comple tar . Foi ped ido aos par t ic ipantes

que se lecc ionassem a dis tr ibuição que cons ide ravam represen ta r melhor cada um

dos três g rupos sociais como um todo. Para cada grupo , as dis t r ibuições

apresen tadas em matriz diziam respei to à d i m e n s ã o mais consensua lmente

incluída na descr ição do estereótipo, como d o c u m e n t a d o no pré-teste (os

médicos f o r a m f requentemente vistos como in te l igen tes , os seguranças de

d isco teca c o m o ant ipát icos e os p rog ramadores de computador como

in te l igentes) . Espe rávamos que a matriz de d i s t r ibu ições fosse uma medida de

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d i spe r são , sens íve l ao acha tamen to r e l a t ivo da d i s t r i bu i ção , e de tendência

cen t ra l do e s t e r e ó t i p o e da sua m u d a n ç a .

Na avaliação das crenças individuais. As i n s t r u ç õ e s para ava l ia r as crenças

ind iv idua i s f o r a m e l a b o r a d a s para tornar c laro que e s t á v a m o s in t e re s sados nas crenças

ind iv idua i s dos s u j e i t o s sobre cada grupo socia l . Ou t r a vez a n o s s a p r e o c u p a ç ã o foi não

haver a m b i g u i d a d e sobre o q u e es tava a ser p e d i d o aos pa r t i c i pan t e s . As qua t ro tarefas

ap re sen t adas f o r a m aque l a s usadas na ava l i ação dos e s t e r e ó t i p o s soc ia is , acen tuando

apenas q u e agora e s t ava e m causa aqui lo que os p a r t i c i p a n t e s a c r e d i t a v a m pes soa lmen te

que c a r a c t e r i z a v a cada g rupo .

• J u l g a m e n t o de f ami l i a r idade com cada g rupo soc ia l . N o f ina l , foi p e d i d o aos

p a r t i c i p a n t e s que ind icas sem, numa esca la de a v a l i a ç ã o de 9 pon tos , o grau em

q u e s e n t i a m fami l i a r idade com cada g r u p o soc ia l ap re sen t ado . O grau de

f a m i l i a r i d a d e poder i a co r r e sponde r a uma m e d i d a do c o n t a c t o m í n i m o regular e

d i r ec to c o m m e m b r o s do grupo e, p o r q u e se s u p u n h a q u e a e x p e r i ê n c i a directa

c o m e x e m p l a r e s teria impac to nas c renças i n d i v i d u a i s , pode r - s e - i a e spe ra r maior

s e n s i b i l i d a d e ao con tex to nas p e r c e p ç õ e s p e s s o a i s dos g rupos ava l i ados como

ma i s f a m i l i a r e s e u m a acen tuação da d i f e r e n ç a , q u a n t o á e s t ab i l idade , entre

e s t e r e ó t i p o s soc ia is e c renças ind iv idua i s s o b r e e s s e s g r u p o s .

2.1.4 Procedimento

T o d o s os su j e i t o s f o r a m tes tados duas vezes e n q u a n t o g r u p o , c o m a s e g u n d a sessão

a decor re r c o m u m a d i s t ânc ia de 15 dias da p r ime i ra ses são . O p r o c e d i m e n t o fo i o m e s m o

nas duas s e s sões e f o r a m usadas as m e s m a s i n s t ruções . Foi d a d o aos pa r t i c ipan t e s um

cade rno c o m o ma te r i a l e as ins t ruções . As i n s t r u ç õ e s ge ra i s f o r a m c u i d a d o s a m e n t e

e l abo radas para m i n i m i z a r p r e o c u p a ç õ e s r e l ac ionadas c o m a c o n v e n i ê n c i a soc ia l ; todos os

pa r t i c ipan tes c o m p l e t a r a m quer as ava l iações dos e s t e r e ó t i p o s que r as a v a l i a ç õ e s das

c renças i n d i v i d u a i s sob cond ições de anon ima to . C o n t u d o , pa ra pode r i d e n t i f i c a r as

r e spos tas do m e s m o ind iv íduo ás duas sessões , p e d i u - s e a c a d a p a r t i c i p a n t e q u e ind icasse ,

no c a d e r n o de r e spos t a s , a sua data de an ive r sá r io e a da sua mãe , a s s e g u r a n d o o

anon ima to . Os t rês g r u p o s soc ia i s fo ram a p r e s e n t a d o s n u m só c a d e r n o , s e m p r e na m e s m a

ordem: m é d i c o s , s e g u r a n ç a s de d iscoteca e p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r . M e t a d e dos

pa r t i c ipan tes r e s p o n d e u ás t a re fas na seguin te o rdem : " g e r a ç ã o de t r a ç o s " e " e s t i m a t i v a da

p e r c e n t a g e m de m e m b r o s da p o p u l a ç ã o c o m os t r a ç o s " c o m b a s e no e s t e r eó t ipo socia l de

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^

médico e, a s egu i r , c o m base nas crenças ind iv idua i s sob re os méd icos ; "ava l i ação de

d imensões m a i s f r e q u e n t e s dos grupos em esca l a s b i p o l a r e s " com base no es t e reó t ipo

social de m é d i c o e, a seguir , com base nas c r enças i nd iv idua i s sobre os méd icos ;

" i den t i f i c ação de u m a d i s t r ibu ição" com base no e s t e r e ó t i p o socia l de méd ico e, a segu i r ,

com base nas c r e n ç a s ind iv idua is sobre os m é d i c o s . D e p o i s , r e sponde ram ás m e s m a s

ta refas pa ra os s e g u r a n ç a s de discotecas e para os p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r e

f i n a l m e n t e c o m p l e t a r a m a tarefa de " Ju lgamen to de f a m i l i a r i d a d e com cada g rupo soc ia l " .

Nas duas s e s s õ e s , as t a r e fa s e os g rupos sociais f o r a m a p r e s e n t a d o s exac tamen te na m e s m a

o rdem. A ou t r a m e t a d e dos par t ic ipantes c o m p l e t a r a m as t a r e fa s na o rdem inver sa ,

p r imei ro r e s p o n d e r a m à aval iação das c renças i nd iv idua i s e depo is à ava l iação dos

es te reó t ipos .

2.1.5 Medidas dependentes

As m e d i d a s d e p e n d e n t e s deste es tudo f o r a m :

a) O nível de acordo intra suje i to em re l ação aos t raços se lecc ionados , da l is ta

in ic ia l , na sessão 1 e na sessão 2, c a l c u l a d o a t ravés da cor re lação de e l e m e n t o

c o m u m (Be l l ezza , 1984a, 1984b, 1984c) .

b) O nível de acordo intra su je i to r e l a t i v a m e n t e ás e s t ima t ivas pe r cen tua i s

a t r i b u í d a s a cada t raço se lecc ionado e m a m b a s as sessões .

c) O nível de acordo ent re suje i tos r e l a t i v a m e n t e aos t raços esco lh idos da l is ta

in ic ia l , c a l cu l ado a t ravés de uma c o r r e l a ç ã o de e l e m e n t o c o m u m para cada par

de s u j e i t o s empare lhados a l ea to r i amente por ses são .

d) O nível de acordo intra suje i to r e l a t i v a m e n t e ás a v a l i a ç õ e s das d i m e n s õ e s ma i s

f r e q u e n t e s dos grupos (em escalas b i p o l a r e s de 9 p o n t o s ) p roduz idas na ses são

1 e na s e s são 2. e) A a v a l i a ç ã o da d ispersão pe rceb ida e da t endênc i a cen t ra l pe rceb ida apar t i r da

ma t r i z de d i s t r ibu ições . ^

f ) O nível de acordo intra su je i to r e l a t i v a m e n t e à d i s p e r s ã o pe rceb ida e à

t e n d ê n c i a cent ra l percebida .

N o t a : T o d a s as med idas dependen tes f o r a m c a l c u l a d a s po r g r u p o social e, den t ro de

cada g rupo , po r t ipo de c rença (es tereót ipo vs. c r ença i nd iv idua l ) , q u a n d o ass im o ex ig i am.

r r ' o : - , . X-. '

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.2 Experiência I: Resultados e Discussão

Anál i ses pre l iminares testaram efe i tos de o rdem das aval iações dos estereót ipos

sociais e das crenças individuais . Em a lgumas destas anál ises fo ram encont rados efe i tos de

ordem; assim, nem sempre os resul tados apresentados adiante puderam ser anal i sados sem

cons ideração da variável ordem.

Geração de traços e Estimativa da percentagem de membros da população com os traços

• N ú m e r o de atr ibutos

Foi e fec tuada uma anál ise de var iância a quatro fac tores sobre o número médio de

a t r ibutos gerados . Os fac tores fo ram a ordem das c renças (CRI-Es te reó t ipos vs.

Es te reó t ipos-CRI) , a sessão (sessão 1 vs. sessão 2), o grupo social (médicos , seguranças de

d iscoteca , p rogramadores de computador ) , e o t ipo de crença (es te reót ipos vs. crenças

individuais) . Apenas a ordem das crenças era um fac tor entre su je i tos . O número médio de

atr ibutos escolh idos para cada condição de resposta nas duas sessões é apresen tado na

Tabela 1 (ver coluna 1 e 2 da tabela) . Da anál ise de var iância emerge um efei to

s igni f ica t ivo da variável sessão (F ( l , 66 )=23 ,35 ; p=.000) , no sent ido em que foram

s i s temat icamente gerados mais atributos na sessão 1 (M=4,96) do que na sessão 2

(M=4,61) . Bel lezza (1984c) encontrou o m e s m o efe i to e avança com a exp l i cação que os

su je i tos , na sessão 2, podem não ter apenas tentado descrever os g rupos , mas podem

também ter tentado recordar as suas descr ições de há quinze dias . Es ta h ipó tese aponta

para o fac to de os sujei tos poderem ter gasto t empo a tentar lembrar as descr ições que

gera ram na sessão 1 sem terem conseguido, m e s m o es tando ins t ru ídos apenas para

descrever os grupos. Barsalou e colaboradores (1987, c i tado por Barsa lou , 1989) também

observou um decrésc imo do número de propr iedades da sessão 1 para a sessão 2. Estes

dados em con jun to poder iam conduzi r à in te rpre tação de que a ins tab i l idade intra sujei to

re f lec te esquec imento . Out ros resul tados a rgumentam, con tudo , contra es ta in terpre tação;

não é claro como é que o esquec imento poder ia melhorar o aco rdo entre su je i tos da sessão

1 para a sessão 2 (Bel lezza, 1984c; Barsalou e co laboradores , 1987, c i t ado por Barsalou,

1989). Uma in terpre tação al ternat iva é que os su je i tos c o n v i r j a m re la t ivamente a

i n fo rmação de cerne ao longo das sessões. Na sessão 1, os su je i tos p o d e m recuperar e

relatar in fo rmação algo i r re levante , no processo de descobr i r i n f o r m a ç ã o que percebam

como re levante . Esta exper iênc ia inicial pode levar os su je i tos a serem mais e f ic ien tes na

sessão 2, recuperando apenas in formação re levante . Na m e d i d a em que, in formação

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

re levante é p a r t i l h a d a en t re ind iv íduos e a i n f o r m a ç ã o i r r e l evan te não é, o acordo deverá

aumenta r ao l o n g o das duas sessões .

E n c o n t r a r a m - s e , na p resen te exper iênc ia , ou t ros e f e i t o s s i gn i f i ca t i vos adic ionais .

Foram g e r a d o s s i g n i f i c a t i v a m e n t e mais a t r ibutos ( F ( 2 , 1 3 2 ) = 1 0 , 6 2 ; p= .000) no grupo do

médicos ( M = 4 , 9 4 ) do que nos res tan tes grupos , ( M = 4 , 7 1 ) pa ra os s e g u r a n ç a s de d iscoteca

e (M=4 ,70) pa ra os p r o g r a m a d o r e s de compu tador . O g r u p o d o s m é d i c o s , c o m o ve remos

adiante , foi t a m b é m aque l e que os par t ic ipantes j u l g a r a m c o m o s i g n i f i c a t i v a m e n t e mais

fami l ia r , o que p o d e ind ica r que os ind iv íduos têm u m a g rande q u a n t i d a d e de i n f o r m a ç ã o

em m e m ó r i a sob re g r u p o s que conhecem melhor e, po r t an to , p o d e m p roduz i r mais a t r ibutos

quando p r o d u z e m d e s c r i ç õ e s dos mesmos .

Sa l ien ta -se , a inda , u m ou t ro e fe i to s ign i f ica t ivo , o do t ipo de c r ença . H o u v e uma d i f e rença

s i s temát ica no n ú m e r o méd io de t raços gerados q u a n d o c o n s i d e r á m o s o t ipo de crença que

es tava a ser a v a l i a d o (es te reó t ipos vs. c renças i nd iv idua i s ) , ( F ( l , 6 6 ) = 9 . 5 0 ; p=.003) . Os

su je i tos g e r a r a m u m n ú m e r o significativamente maior de traços durante a avaliação dos

estereótipos (M=4,86) do que durante a avaliação das crenças individuais (M=4.71), à

semelhança dos resultados de Devine e Elliot (1995).

T a b e l a 1: M é d i a s e v a l o r e s d e c o r r e l a ç ã o p a r a o s g r u p o s s o c i a i s n a s c o n d i ç õ e s e s t e r e ó t i p o s e c r e n ç a s

Grupos Número médio de Acordo intra Acordo entre

sociais Crenças traços qerados suieito suieitos

Sessão 1 • : Sessão'2. .

Individuais 5,04 4.71 .46 .28 Médicos

.37 Estereótipos 5,25 4,76 .49 .37

Seguranças de Individuais 4,84 4,41 .56 .33 discoteca

.48 Estereótipos 5,00 4,57 .55 .48

Programadores Individuais 4.72 4,53 .53 .39 de computador

4,68 .48 .34 Estereótipos 4,88 4,68 .48 .34

• A c o r d o in t ra su je i tos

Para d e t e r m i n a r o grau de sobrepos ição dos a t r ibu tos s e l e c c i o n a d o s da l ista por cada

su je i to d u r a n t e as s e s s õ e s foi usada a co r re lação de e l e m e n t o c o m u m (Bel lezza , 1984a,

1984b, 1984c) . P a r a ca lcu la r es te valor para cada g r u p o soc ia l , e den t ro de cada g rupo

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

social para cada tipo de crença (estereót ipos e c renças individuais) , por cada sujeito, o

número de atr ibutos comuns em ambas as sessões foi d iv id ido pela raiz quadrada do

produto entre o número total de atr ibutos escolh idos na sessão 1 e o número total de

a t r ibutos escolh idos na sessão 2 (a média geométr ica) . Esta medida de corre lação indica a

p roporção de sobrepos ição e varia entre valores de O e 1. Os níveis médios de acordo por

cada condição de resposta são também apresentados na Tabe la 1 (ver co luna 3 da tabela).

Os at r ibutos fo ram cons iderados os mesmos independen temen te dos erros de or tograf ia ou

de d i fe renças na forma s ingular vs. plural .

C o m o esperado, g lobalmente , os valores do acordo intra su je i to obt idos na tarefa de

geração de t raços para ca tegor ias sociais es tavam ao m e s m o nível dos valores obt idos por

autores que inves t igaram as categorias não sociais com o m e s m o parad igma experimental

(para uma revisão ver Barsalou e Medin , 1986; Barsa lou , 1987; Barsa lou , 1989). Indicam

que exis te uma correspondência moderada entre os a t r ibutos das ca tegor ias sociais

escolh idos nas duas sessões pelos mesmos suje i tos . As pon tuações médias de sobreposição

(ver Tabe la 1, coluna 3) var iaram entre .46 e .56, s ign i f i cando que o número de atributos

comuns produz idos por um m e s m o indiv íduos nas duas sessões não se a fas ta dos 50%.

Estes níveis médios de acordo não deixam dúvidas sobre a ins tabi l idade que as

represen tações de categorias sociais mani fes tam e acen tuando as semelhanças que a

natureza e uso dos es tereót ipos sociais e das crenças ind iv idua i s têm com o processo de

ca tegor ização de objec tos não sociais.

Uma análise de var iância a três fac tores (com o p r imei ro factor a ser a o rdem das

crenças , o segundo a ser o grupo social, e o terceiro a ser o t ipo de crença) most rou que, ao

contrár io do que prevíamos , não havia e fe i to s ign i f ica t ivo do t ipo de c rença aval iada, ou

seja, os es tereót ipos não revelaram mais es tabi l idade do que as crenças indiv iduais . No

entanto , a emergênc ia de um efei to de in teracção com a o rdem em que es tas c renças foram

aval iadas (F ( l , 66 )=3 ,90 ; p=.052) demons t rou que os es te reó t ipos só reve lam maior

es tab i l idade do que as crenças individuais quando são ava l iados em pr imei ro lugar,

r espec t ivamente (.57) e (.54). Quando as crenças ind iv idua i s são aval iadas pr imeiro , o

padrão inver te -se e estas revelam mais es tabi l idade ( .49) do que os es te reó t ipos (.44).

C o m o é visível no gráf ico 1, o acordo foi sempre maior para o t ipo de crença que se

avaliou em pr imei ro lugar.

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

0.60

0.58

0.56

0.54

0.52

0.50

0.48

0.46

0.44

0.42

ORÁF ICO 1

l n t « r 3 C ç ã o o r d e m x t i p o d e c r e n ç â

FC1.66>=3.00: p<.0526

C R I - e s t e r e ó t i p o e s t e r é o t i p o - C R I

- o - C R E N Ç A

i n d i v i d u a l

o - C R E N Ç A

es te re ó t i p o

O R D E M

De qua lquer modo , avaliar pr imeiro os es tereót ipos conduziu sempre a um acordo

maior quer para os es tereót ipos quer para as crenças individuais , do que avaliar p r imei ro as

crenças ind iv idua is . É possível pensar numa expl icação para este resul tado: A de que o

pr imeiro t ipo de crença avaliado afecta o segundo t ipo de crença, por isso quando os

es tereót ipos são aval iados pr imeiro as crenças individuais são mais es táveis e quando as

crenças ind iv idua is são avaliadas primeiro os es tereót ipos são menos es táveis .

Esta anál ise de variância evidenciou t ambém que o acordo intra su je i to varia

s ign i f i ca t ivamente c o m o grupo social (F(2 ,132)=4,60; p=.011) . Os níveis de acordo

variaram ent re .46 e .55, correspondendo o valor mais baixo e mais e levado ,

respec t ivamente , ao grupo dos médicos e dos seguranças de discoteca. C o n j u g a n d o es tes

resul tados com os resul tados dos ju lgamentos de fami l ia r idade em relação aos quais os três

grupos t a m b é m var ia ram s ignif icat ivamente (F(2 ,132)=41 ,75 ; p=.000) , ver i f ica-se que o

grupo mais fami l ia r , os médicos (M=6,33) , obteve o valor de precisão intra su je i to mais

baixo ( .46) e o menos famil iar , os seguranças de discoteca (M=3,85) , obteve o valor de

precisão intra su je i to mais e levado (.55). O m e s m o padrão de resul tados foi obt ido por

Bel lezza (1984b) . Ta lvez isto refl icta o facto dos suje i tos terem uma grande quant idade de

in fo rmação em memór ia sobre grupos que conhecem melhor . A grande var iedade de

exemplares d i f e ren tes que as pessoas conhecem e expe r imen tam, em grupos sociais com

que con tac tam mais , diminui a sua es tabi l idade (Barsa lou, 1991). T a m b é m , ta lvez os

suje i tos adqu i r i s sem mais faci lmente nova i n f o r m a ç ã o ou renovassem, mais

p rovave lmente , i n f o r m a ç ã o antiga em relação a estes grupos nos dias de in tervalo entre as

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

duas sessões. De qualquer modo, isso não teve, como se poder ia esperar , um maior impacto

nas crenças individuais desses grupos mais fami l ia res e uma acentuação da diferença,

quanto à es tabi l idade, entre es tereót ipos sociais e as c renças indiv iduais .

Para calcular o acordo intra suje i to re la t ivamente ás es t imat ivas percentuais

a t r ibuídas a cada t raço gerado nas duas sessões d iv id iu-se o número de est imativas

percentuais coincidentes em ambas as sessões pelo número total de traços sobrepostos nas

duas sessões . Uma anál ise de var iância a três fac tores (ordem das crenças x grupo social x

tipo de crença) evidenciou resul tados que vão de encon t ro ás nossas predições , na medida

em que o t ipo de crenças se revelou um factor s ign i f ica t ivo ( F ( l , 6 6 ) = 5 , 0 6 ; p=.027) . O

acordo intra sujei to , para as es t imat ivas percentuais de cada t raço, foi s igni f ica t ivamente

maior quando se avaliou os es tereót ipos sociais ( .37) do que quando se ava l ia ram as

crenças individuais (.27), reve lando a maior es tab i l idade que se esperava encont rar nas

pr imeiras representações compara t ivamente com as segundas . Contudo , este e fe i to tem que

ser qua l i f i cado pelo efe i to de in teracção s igni f ica t ivo que surgiu entre a var iável tipo de

crença e grupo social (F(2 ,132)=4,02; p=.02) . Na rea l idade , a in te racção f icou a dever-se

ao fac to da d i ferença entre es tereót ipos sociais e c renças ind iv idua i s ser bas tante mais

acentuada no grupo dos p rogramadores de computador do que nos outros dois grupos . Este

grupo, numa análise de contras tes , d is t inguiu-se s ign i f i ca t i vamen te dos res tantes dois

grupos ( F ( l , 6 6 ) = l l , 6 8 ; p=.001) .

• Acordo entre su je i tos

As medidas apresentadas até agora re f lec tem o grau em que uma pessoa especí f ica

escolhe os mesmos atr ibutos para uma categoria em duas sessões separadas por 15 dias.

T a m b é m com interesse, contudo , é o grau em que d i fe ren tes su je i tos e sco lhem os mesmos

atr ibutos para uma categor ia . Para de terminar o grau de acordo entre su je i tos , no que

respei ta ás várias condições de resposta , os sujei tos f o r a m e m p a r e l h a d o s a lea tor iamente e

uma cor re lação de e lemento comum foi ca lculada para cada par, e m cada condição . Para os

34 par t ic ipantes na condição ordem CRI-Es te reó t ipos , fo ram f o r m a d o s 17 pares apar t i r dos

dados da sessão 1 e 17 pares d i ferentes apart ir dos dados da sessão 2. O mesmo

proced imento foi usado para os 34 suje i tos na condição o rdem Es te reó t ipos -CRL Os níveis

médios de acordo entre su je i tos encont ram-se na Tabe la 1 (ver co luna 4 da tabela) .

Foi e fec tuada uma anál ise de variância a 4 fac to res ( o rdem das crenças , sessão,

grupo social e tipo de crença) . Apenas as variáveis g rupo socia l e t ipo de c rença eram

variáveis intra par de suje i tos . Uma fonte s igni f ica t iva de va r i ação foi o t ipo de crença

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

(F ( l ,64 )= 13,24; p= .000) . Como previsto ver i f i cou-se um consenso entre sujei tos

s ign i f ica t ivamente maior quanto aos es tereót ipos ( .40) do que quanto ás crenças

individuais ( .33) , por tan to os sujei tos descreveram os es te reó t ipos sociais de forma mais

semelhante do que as crenças individuais que têm sobre os g rupos . Uma interacção

s ignif icat iva en t re g rupo social x tipo de crença (F(2 ,128)=9 ,68 ; p= .000) revelou, contudo,

que o maior c o n s e n s o entre sujei tos sobre os es tereót ipos sociais só ocorreu nos médicos e

nos seguranças de d isco teca . Confo rme demonst rou a anál ise de cont ras tes (F( 1,64)=17,83;

p=.000), o g rupo de p rogramadores de computador d i s t inguiu-se s ign i f i ca t ivamente dos

restantes dois , r eve l ando um padrão inverso. Uma in te rpre tação poss íve l é a de que talvez

as pessoas não sa ibam bem ou não tenham bem conso l idado o es tereót ipo social de

programador de compu tado r ; concordante com esta in te rpre tação é o fac to de o valor

médio de acordo ent re sujei tos para o es tereót ipo social de p rog ramador de computador

(.34) ter sido o mais ba ixo dos três grupos es tudados .

Esta aná l i se de variância evidenciou, ainda, uma in te racção s igni f ica t iva entre as

variáveis o rdem das crenças x tipo de crença ( F ( l , 6 4 ) = 1 2 , 8 7 ; p= .000) . Como salienta o

Gráf ico 2, só q u a n d o se aval iaram primeiro os es te reó t ipos sociais se obteve, como

previsto, um maior consenso entre sujei tos para os es te reó t ipos do que para as crenças

individuais .

o RAF ICO 2

Interacção ordem x t ipo de crença

F(1.64)= 12.87; p<.0006

0 . 4 4

0 .42

0 ,40

2 0 . 3 8 •2L J 0 .36

I 0 .32 o ^ 0 .30

0.28

0 . 2 6 individuai estereótipo

-o- ORDEM CRI-estereótipo

o - ORDEM estere ótipo-CRI

CRENÇA

Este r e su l t ado pode indicar que, quando se aval ia p r ime i ro o es tereót ipo social, os

indivíduos c o m e ç a m por uma descr ição baseada no consenso pa r t i lhado socia lmente sobre

o grupo da qual t endem depois a distanciar-se, a d i s t ingui r - se , q u a n d o descrevem as suas

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

crenças indiv iduais , resu l tando num maior acordo ent re su je i tos no estereót ipo social . E é

poss íve l que, quando c o m e ç a m por descrever as suas c renças individuais , incorporem a

i n f o r m a ç ã o consensua l sobre o grupo nas suas p rópr ias c renças individuais , resul tando

depois numa menor d i f e renc iação destas em relação ao e s t e reó t ipo social e, por tanto , num

nível de acordo entre su je i tos semelhante para os dois t ipos de crenças . O natural é que

quando os ind iv íduos a s sumem pontos de vista mais pe r sona l i zados ha ja menos acordo

entre su je i tos . Apesar de Devine e Ell iot (1995) não te rem encont rado efe i tos da

man ipu lação da ordem em que os es tereót ipos e as c renças indiv iduais fo ram aval iados , os

resu l tados da presen te exper iência apontam para o f ac to de uma maior d i fe renc iação entre

estas represen tações de grupos sociais depender da o r d e m em que são aval iadas.

Avaliação de dimensões mais frequentes dos grupos em escalas bipolares

• Pos i t iv idade das representações de grupos socia is

A ava l iação das d imensões mais f requentes nos g rupos socia is permit iu ca lcular uma

med ida da pos i t iv idade média das representações de g rupos sociais . Esta med ida de

pos i t iv idade provou ser precisa no presente es tudo, para os vár ios grupos sociais e para os

dois t ipos de crenças aval iadas (Os valores do alfa de C r o n b a c h osc i la ram entre .65 e .87) e

foi obt ida ca lcu lando a média ar i tmética, por su je i to , das t reze d imensões aval iadas . Foi

e f ec tuada uma anál ise de var iância a quat ro fac tores , em que os fac tores fo ram a o rdem das

crenças x a sessão x o g rupo social x o tipo de c rença . Es ta anál ise revelou um efei to

pr incipal da var iável t ipo de crença , F ( l , 6 6 ) = 1 6 , 8 8 ; p= .000 , ind icando que, ao longo das

aval iações , as se lecções dos traços baseadas nos es t e reó t ipos sociais fo ram menos

favoráve i s (M=5,42) do que aquelas baseadas nas c renças ind iv idua is (M=5,65) . Este

resu l tado é concordan te com o obt ido por Devine e El l iot (1995) , sa l ien tando a maior

pos i t iv idade das represen tações das crenças ind iv idua is do que das r ep resen tações dos

es te reó t ipos sociais . Um efe i to de in teracção s ign i f i ca t ivo ent re g rupo social x t ipo de

crença (F(2 ,132)=17 ,10 ; p= .000) mostra, contudo, que essa d i f e rença de favorab i l idade

entre es te reó t ipos e c renças individuais foi p ra t i camen te inex is ten te para o g rupo dos

médicos , respec t ivamente , (M=6,19) e (M=6,15) .

Um efe i to de in te racção marg ina lmente s ign i f i ca t ivo en t re o rdem das c renças x tipo

de c renças foi t ambém obt ido (F ( l , 66 )=3 ,29 ; p= .074) . Pa receu haver uma t endênc ia para

uma maior d i f e rença entre a aval iação dos es te reó t ipos e a aval iação das crenças

indiv iduais , quando se ava l i a ram pr imei ro os es te reó t ipos do que quando se ava l ia ram

pr imei ro as c renças indiv iduais . Este resul tado sugere u m a in te rp re tação seme lhan te à

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

avançada an te r io rmente re la t ivamente ao grau de acordo entre suje i tos : uma maior

d i fe renc iação entre estas representações de grupos sociais parece depender da o rdem em

que são ava l iadas .

Sa l ien ta -se a inda que esta anál ise de var iância evidenciou t ambém que a

pos i t iv idade das aval iações variou s ign i f ica t ivamente com o grupo social

(F(2 ,132)=274 ,50 ; p=.000) . Os níveis médios de pos i t iv idade var iaram entre M = 4 , 5 3 e

M=6,17 . c o r r e s p o n d e n d o o valor mais baixo e mais e levado, respec t ivamente , ao grupo dos

seguranças de d iscoteca e ao grupo dos médicos . Anal i sando estes resul tados para le lamente

com os resu l tados dos ju lgamentos de fami l ia r idade em relação aos quais os três grupos

também var iam s ign i f ica t ivamente (F(2 ,132)=41,75; p=.000) , ver i f ica-se que o grupo mais

fami l iar , os méd icos (M=6,33) , obteve o valor de posi t iv idade mais e levado (M=6,17) e o

menos fami l ia r , os seguranças de discoteca (M=3,85) , obteve o valor de pos i t iv idade mais

baixo (M=4 ,53 ) .

• Cor re lações entre as aval iações produzidas na sessão 1 e na sessão 2, pelos

mesmos su je i tos

Aprove i t ando ainda as aval iações das d imensões mais f requen tes nos grupos sociais

e fec tuadas pe los mesmos sujei tos , na sessão 1 e na sessão 2, ca lculou-se , para cada

d imensão ava l iada , a corre lação entre a pr imei ra e a segunda produção . Para obter uma

medida da re lação entre as variáveis ut i l izou-se o coef ic ien te de cor re lação de Pearson.

Quer para as ava l iações das d imensões baseadas nos es tereót ipos sociais quer para aquelas

baseadas nas c renças individuais , os valores das corre lações fo ram, g loba lmente , mui to

var iados , osc i l ando entre .04 e .60; permi t indo contudo pensar que a p roporção de var iação

comum das ava l iações fei tas pelos mesmos suje i tos de uma sessão para a outra aponta para

uma prec i são modes ta . Estes resul tados são concordantes com a ins tabi l idade previs ta para

as r ep resen tações menta is de categorias sociais, j á que a tarefa de aval iação de t raços mais

f requen tes em escalas bipolares é uma segunda medida das represen tações de grupos .

Identificação de uma distribuição

Os resu l tados obt idos em outras inves t igações (Garc ia -Marques e Mack ie , 1999)

com a t a re fa de matr iz de dis t r ibuições como medida de d i spersão e de tendência central ,

que inclui a esco lha da dis t r ibuição que "melhor co inc ide" com a sua impressão do grupo

como um todo, fo ram par t icularmente sa t i s fa tór ios . Es te a r ranjo , apart i r do qual os

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

par t ic ipantes f azem a sua selecção, manipula i ndependen temen te a d ispersão e a tendência

central .

• Ava l iação da dispersão percebida na tarefa de mat r iz de dis t r ibuições

Uma anál ise de var iância a quatro factores (ordem das crenças x sessão x grupo

social X tipo de crença) desta medida de dispersão permit iu obter os resul tados descri tos a

seguir .

A anál ise de var iância evidenciou um efe i to pr incipal da var iável t ipo de crença

( F ( l , 6 6 ) = 1 4 , 6 3 ; p=.000) . A dis t r ibuição média escolh ida com base nas c renças individuais

foi s ign i f i ca t ivamente mais achatada (M=3,28) do que a escolh ida com base nos

es tereót ipos (M=3,03) . De facto , baseado no raciocínio, de senvo lv ido no capí tu lo anterior,

de que as represen tações das crenças individuais ser iam mais fo r t emen te cons t i tu ídas por

exemplares espec í f icos do que as representações dos es te reó t ipos , p redominan temen te

baseados em in fo rmação abstracta, poder-se- ia esperar que as represen tações das crenças

individuais fossem percebidas como mais var iáveis do que as represen tações dos

es tereót ipos . Ou seja, po rque é provável que os exempla res se jam, em par te , d iscrepantes

da abs t racção, poder-se- ia prever que a inc lusão de i n f o r m a ç ã o de exempla res conduzisse a

uma maior pe rcepção de var iabi l idade nas represen tações das c renças ind iv idua is do que

nas representações dos es tereót ipos . C o m o se pode obse rva r , os resu l tados fo rnecem,

exac tamente , suporte para esta ideia de que os ind iv íduos a d m i t e m mais var iab i l idade nas

crenças individuais do que nos es tereót ipos cul turais . O e fe i to de in te racção s igni f ica t ivo

entre grupo x tipo de crença (F(2 ,132)=4,20; p=.017) , c i r cunsc reve , con tudo , esse resul tado

a dois dos três grupos (os médicos e os seguranças de d i sco teca) , j á que o nível de

d ispersão admit ido nos p rogramadores de computador foi , como mos t ra o G r á f i c o 3,

sens ive lmente igual para as c renças individuais (M=3,29) e para os es te reó t ipos (M=3,28) .

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

3.8

3.5

3.4

3.3

3.2

3.1

3.0

2.8

2 . 8

2.7

2 . 8

2.5

GRAFICO 3

Interacção grupo x t i po d« crença

FC2.132)=4.20; p<.0170

individual estereótipo

-o- ORUPO médicos

o- GRUPO se g. discotecas

•ô. GRUPO prog.computado!

CRENÇA

Apart i r desta anál ise de var iância sal ienta-se, ainda, o g rupo social como uma fonte

de var iação s ign i f ica t iva ( F ( 2 , 1 3 2 ) = l l , 9 2 ; p=.000) , no sent ido em que o nível de d ispersão

admit ido na represen tação dos seguranças de discoteca foi s ign i f i ca t ivamente menor do que

nos res tantes dois grupos , médicos (M=3,32) e p rogramadores de computador (M=3,29) .

Talvez não alheio a isso é o fac to de, como vimos anter iormente , o g rupo dos seguranças

de discoteca ter sido ju lgado como menos famil iar , compara t ivamen te com os res tantes

dois grupos. E fec t ivamen te , para alguns autores, as pessoas j u l g a m a var iabi l idade de um

grupo re la t ivamente a uma dada d imensão cr iando pr imei ro um con jun to de pistas

co r respondendo a d i fe ren tes níveis da d imensão e depois usando os variados graus de

d i sponib i l idade de exemplares que resul tam dessas pistas para fo rmar uma dis t r ibuição de

exemplares (Linvi l le e colaboradores , 1989; Linvil le e Fischer , 1993). No modelo destes

autores, que pre tende fornecer uma expl icação para o e fe i to de homogene idade do out-

group, uma maior fami l ia r idade com exemplares do grupo conduz a uma maior

var iabi l idade perceb ida , porque a es t imat iva leva em conta um grande número de

exemplares (Linvi l le e colaboradores , 1989). Contudo, outros autores cons ideram que o

nível de f ami l i a r idade não é o único factor que inf luenc ia a var iab i l idade percebida (Park e

Judd, 1990; Park, Judd e Ryan, 1991).

F ina lmente , um efei to emergiu da variável sessão ( F ( l , 6 6 ) = 3 , 9 5 ; p=.05) . As

dis t r ibuições esco lh idas na sessão 2 foram marg ina lmente mais acha tadas (M=3,26) do que

as escolh idas na sessão 1 (M=3,04) .

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86 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

• Aval iação da tendência central na tarefa de matriz de distr ibuições

Para agregar s ignif icat ivamente os dados da tendência central ao longo dos grupos

sociais e assegurar a comparação entre grupos, foi necessár io inverter as pontuações das

respostas no grupo dos seguranças de discoteca. Pontuações mais elevadas indicam maior

estereotipical idade.

Uma análise de variância a quatro factores (ordem das crenças x sessão x grupo

social X tipo de crença) revelou um conjunto de e fe i tos que descrevemos adiante. Uma

fonte s ignif icat iva de variação foi o tipo de crença (F( 1,66)=5,11; p=.027). A distr ibuição

média escolhida foi menos estereotipada nas crenças individuais (M=4,02) do que nos

estereótipos sociais (M=4,21) , o que, de algum modo , seria previsível pois a nossa

suposição que o processo de construção dos es tereót ipos, compara t ivamente com o das

crenças individuais , depende menos da experiência directa com membros individuais torna

naturalmente as impressões baseadas em estereót ipos mais estereot ipadas do que as

baseadas em crenças individuais.

Uma interacção significativa entre as variáveis ordem das crenças x grupo social x

tipo de crença (F(2,132)=4,54; p=.012) permit iu-nos explorar melhor a sensibi l idade ao

contexto da estereot ipical idade.

t.7 ajB t-S

44

8 fl 4.1 4J0 0.9

Q.7

GRÁFICO 4

Interacção ord«rn x grupo x tipo de crença

F(2.132^4,54; p<.0123

t ;

/

r f

[

/ jO

" 'i j

/

J .. . [

.P.

indwidiBl mefoàliixi iidMidisl (ruewnipo indvidiol «sleiwkipa CRENÇA CRENÇA CRENÇA

GRÜPÔ:mãdb» âRüPO:> 4lhoaiaca» ÔRüPO: p'c isompilado'

-O- ORDEM

CRI-estereótipo

•o - ORDEM estereótípo-CRI

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

C o m o most ra o Grá f i co 4. exceptuando para o grupo dos seguranças de discoteca,

ver i f icaram-se m u d a n ç a s menores de es tereot ipical idade para os es tereót ipos sociais ,

qualquer que tenha s ido a ordem em que foram pedidos, do que para as crenças individuais ,

onde surgiram mudanças maiores de es tereot ipical idade dependendo da ordem em que estas

fo ram pedidas .

A anál ise de var iância revelou, ainda, que a in teracção das var iáveis sessão x grupo

social foi uma fonte de var iação s ignif icat iva (F (2 , l 32 )=7 ,82 ; p= .000) , no sent ido em que,

excepto para o g rupo dos médicos onde o padrão é inverso, as d is t r ibuições médias

escolhidas na sessão 1 fo ram mais es tereot ipadas do que as escolh idas na sessão 2.

P rocurámos t ambém, u t i l izando a corre lação de Pearson, aver iguar , quanto ao

parâmetro de d i spersão percebida e à tendência central , o nível de cor re lação entre as

dis t r ibuições esco lh idas na sessão 1 e na sessão 2, por grupo social e, dent ro de cada

grupo, por t ipo de c rença . Os resul tados são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2: Valores de correlação, entre a sessão 1 e a sessão 2, da dispersão percebida e da tendência central por grupo social e por tipo de crença

Grupos sociais

Valores das Crenças correlações entre a S1 e a S2

Dispéreâó: ij percábídi-

Médicos Individuais

Estereótipos

.33*

.20

.36*

.44*

Seguranças de Individuais discoteca

Estereótipos

. 5 r

.09

.34'

.39*

Programadores de computador

Individuais

Estereótipos

.20

.16

.45-

.28*

Apart i r da T a b e l a 2 podemos verif icar que, g lobalmente , o pa râmet ro de d ispersão

percebida das represen tações menta is de grupos sociais parece ter s ido mais sensível à

mudança do con tex to do que a medida de tendência centra l , cu jas escolhas das

dis t r ibuições na sessão 1 e na sessão 2 estão mais s ign i f i ca t ivamente cor re lac ionadas . Em

estudos in te ressados no impacto que in formação incongruen te com o es tereót ipo tem na

tendência central percebida e na var iabi l idade percebida , os resu l tados sa l ientam a

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^

sens ib i l idade espec í f ica deste úl t imo parâmet ro ao impac to de i n fo rmação desta natureza

(Garc ia -Marques e Mackie , 1999). Talvez , porque as mudanças na var iabi l idade percebida

permi tam uma revisão menos radical de um es tereót ipo , tais mudanças possam ser um

resul tado ainda mais f r equen te do que a revisão da tendênc ia central (Garc ia -Marques e

Mackie , 1999). Isto pode ser, no entanto, função da prec i são das medidas ut i l izadas . Se

es tamos a usar medidas d i ferentes pode acontecer que as med idas de tendência central

sejam mais robus tas do que as medidas de var iabi l idade percebida . A grande defesa aqui, é

que usámos a m e s m a medida - a matr iz de d is t r ibuições que incluí e aval ia estes dois

parâmet ros ao m e s m o tempo. Para além disso, como most ra a Tabe la 2, os pon tos de vista

individuais parecem ter p roduz ido medidas de d i spersão pe rceb ida mais cor re lac ionadas no

tempo do que seria de esperar , compara t ivamente com os pon tos de vis ta baseados nos

es tereót ipos cul tura is .

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2.3 Experiência I: Conciusões

Em suma, os resul tados desta pr imeira exper iênc ia supor tam, globalmente , a

hipótese pr incipal de que o acordo intra sujei to para as ca tegor ias sociais revela níveis de

precisão modes tos , equ iva len tes aos obt idos por outros autores em inves t igações sobre a

ins tabi l idade de ca tegor ias não sociais. Suporte para esta h ipó tese foi conseguido num

conjunto de med idas d i fe ren tes de representações menta is de g rupos sociais , como a ta refa

de "geração de t r aços" e a tarefa de "aval iação das d imensões mais f r equen tes nos grupos

em escalas b ipo la res" .

C o n s e g u i m o s t ambém obter evidências que permi tem a demons t r ação de f enómenos

básicos previs íve is , como se jam, que, compara t ivamente com as c renças individuais , os

es tereót ipos sociais são mais negat ivos , pelo menos em dois dos grupos ut i l izados; são

mais es te reo t ipados ; são percebidos como mais homogéneos ; e são descr i tos com maior

número de a t r ibutos .

Os resu l t ados não supor tam, contudo, a previsão de que , ao longo das sessões, os

pontos de vis ta ind iv idua is ir iam evidenciar s ign i f i ca t ivamente mais ins tabi l idade do que

os es tereót ipos socia is . Ao contrár io de Devine e Ell iot (1995) , os resu l tados da presente

exper iência apon tam para um efe i to s ignif ica t ivo de man ipu lação da ordem em que os

es tereót ipos e as c renças individuais são aval iados, mos t rando que o acordo intra su je i to é

sempre maior para o t ipo de crença que se avalia em p r ime i ro lugar . Ou seja, a maior

es tabi l idade dos es tereót ipos , comparados com as crenças ind iv idua is , parece depender

destes serem os p r ime i ros a ser aval iados. Outro con jun to de dados parece indicar que uma

maior d i f e renc iação entre estas representações de grupos sociais , t ambém no sent ido

previsto, depende da ordem em que estas são aval iadas , senão ve jamos : quando se

aval iaram pr imei ro os es tereót ipos sociais, obteve-se para es tas representações , e como

previsto, um maior consenso entre sujei tos e uma maior d i f e renc iação de posi t iv idade entre

estas represen tações e as crenças individuais .

Os dados pa recem, ainda, apontar para uma maior sens ib i l idade à mudança da

sessão 1 para a sessão 2 do parâmetro da d ispersão percebida do que da tendência central ,

cu jas escolhas das d is t r ibuições da matriz na sessão 1 e na sessão 2 es tão mais

s ign i f ica t ivamente cor re lac ionadas . Se bem que, compara t i vamen te com os pontos de vista

baseados nos es te reó t ipos cul turais , os pontos de vista ind iv idua i s pareçam produzi r

medidas de d i spe r são percebida mais corre lac ionadas no t empo do que seria de esperar .

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

C o m a lguma fac i l idade , poder-se- ia dizer que a l imi tação da Exper iênc ia I que

impor ta rea lçar res ide no fac to da grande ins tabi l idade encon t rada se poder dever ao uso de

grupos sociais com es tereót ipos cul turais f racos e pouco consensua i s . É natural que quando

os ind iv íduos não conhecem bem os es tereót ipos cul tura is de g rupos sociais ou quando

esses es te reó t ipos não estão bem def in idos e e s tabe lec idos cu l tura lmente , estas

represen tações menta is se jam menos estáveis no tempo. In teressa pois testar a ins tabi l idade

tempora l de represen tações mentais de grupos sociais a lvo de es te reó t ipos for tes , pela

cul tura por tuguesa . Por outro lado, o fac to dos resu l tados não supor ta rem a previsão de

que, ao longo das sessões , as crenças individuais ser iam s ign i f i ca t ivamen te mais instáveis

do que os es te reó t ipos sociais requer igua lmente uma esco lha mais cr i ter iosa de grupos

sociais , no sen t ido de se procurarem grupos em que as c renças ind iv idua is e os es tereót ipos

d iv i r j am max imamen te , num segundo teste empí r ico . Por f im, criar condições

exper imenta i s que fac i l i tem uma compreensão mais p rec i sa da na tureza da ins tabi l idade

tempora l man i f e s t ada parece ser t ambém desejável .

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

3. Experiência II

Elaborámos um segundo es tudo onde , com base nos resul tados da pr imeira

exper iência , i n t roduz imos algumas modi f icações que poder iam conduzi r a resul tados mais

claros, e spec i f i c amen te em relação ás d i fe renças entre representações menta is dos

estereót ipos e das c renças individuais sobre os grupos sociais, e que s imul taneamente

corr igissem l imi tações do primeiro estudo, que a seguir expl ic i tamos.

De acordo com o nosso enquadramento , a d i fe renc iação que se esperar ia obter , na

medida de ins tab i l idade intra sujei to , entre es tereót ipos sociais e crenças indiv iduais

resulta de d i f e renças no grau de abstracção destas duas representações menta is . Ora, o

fac to de não te rmos obt ido maior acordo intra su je i to nos es tereót ipos sociais do que nas

crenças ind iv idua is poder ia ser expl icado se os grupos ut i l izados na pr imei ra exper iênc ia

não fossem alvo de um estereót ipo per fe i tamente def in ido e par t i lhado cu l tu ra lmente . O

que traz, inev i t ave lmente , à discussão uma ques tão ainda mais per t inente , a de saber se a

ins tabi l idade re la t ivamente grande encontrada para os es tereót ipos , na Exper iênc ia I, não

se deveu ao uso de es tereót ipos f racos . Neste sent ido, e procurando u l t rapassar estas duas

l imitações da Exper iênc ia I, os grupos sociais inc lu ídos dever iam carac te r i s t i camente ter

um es tereót ipo cul tural for te , vas tamente par t i lhado e consensual , mas t ambém ser grupos

com quem as pessoas têm exper iências reais e directas . Nesta segunda exper iênc ia , a

escolha de novos g rupos sociais incidiu novamente em cri térios como, a poss ib i l idade do

rótulo do grupo ser en tendido pelas pessoas em geral , dos grupos se rem en tendidos como

dist intos e de fo rnecer descr ições acerca dos grupos. Mas procurou-se t a m b é m acentuar os

dois fac tores atrás indicados . Fez-se isso e legendo grupos que t ivessem um es tereót ipo

cultural nega t ivo fo r t emen te consensual na população , que fosse , de f o r m a clara, normat iva

ou soc ia lmente condenáve l . E que fossem grupos com os quais os su je i tos t ivessem a lgum

contacto d i rec to min imamen te regular com membros especí f icos . O pr imei ro ob jec t ivo era

saber se um grau de ins tabi l idade re la t ivamente grande cont inuava a surgir quando es tavam

em causa es te reó t ipos mui to fortes , consensua lmente conhec idos e par t i lhados . Por outro

lado, o in teresse de escolher estereót ipos consensua lmente negat ivos , que fossem

socia lmente condenáve i s foi o fac to de, nestes grupos , estas es t ruturas cogni t ivas poderem

ser mais d i sc repan tes em relação ás crenças individuais . Por exemplo , no grupo dos

seguranças de d iscotecas , os es tereót ipos e as c renças indiv iduais poder i am ser mui to

coincidentes ; por isso p rocurámos grupos em que fosse previs ível que estes dois t ipos de

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

est ruturas cogni t ivas se d i fe renc iassem claramente. Es tes fo ram os seguintes: os ciganos,

os homossexua is e os emigran tes afr icanos.

A nossa h ipótese pr incipal nesta experiência foi , outra vez , que as representações

dos grupos sociais reve lassem, para le lamente à pr imei ra exper iênc ia , um nível modes to de

prec isão intra su je i to . E que, por tanto , este segundo es tudo c o n d u z i d o pudesse determinar

se estes resul tados espec í f i cos eram general izáveis e, pa r t i cu la rmen te , general izáveis a

grupos sociais com es te reó t ipos mais fortes. Novamen te , e spe rávamos que um maior

acordo intra suje i to surgisse quando os sujei tos desc revessem os es tereót ipos do que

quando produz issem descr ições baseadas nos seus pon tos de vis ta indiv iduais . Para tentar

max imiza r a d i fe renc iação entre estes dois t ipos de represen tações , apresentámos,

c o n f o r m e suger iam os resu l tados obtidos na pr imeira exper iênc ia , o mater ia l a todos os

par t ic ipantes numa única ordem: estereót ipos - crenças ind iv idua is .

Ao m e s m o tempo, este estudo pretendia trazer a lguma luz para uma compreensão

mais precisa da na tureza espec í f ica das respostas dos pa r t i c ipan tes e da ins tabi l idade que

estas man i fe s t a ram ao longo das duas sessões separadas t empora lmen te , na primeira

exper iência . De fac to , vár ias expl icações al ternat ivas para es ta ins tab i l idade poder i am ser

suger idas . É d i fe ren te dizer que, de uma sessão para a out ra , a r epresen tação mental do

grupo social é t r ans fo rmada , é outra representação d i fe ren te , do que dizer que só parte da

represen tação é que foi ac t ivada em um momento , pe lo con tex to . P re tendendo só uma

inves t igação inicial des ta ques tão , começámos por ave r igua r quão centrais são, para a

impressão geral que o ind iv íduo tem sobre os g rupos , os t raços gerados para os

caracter izar . Co locava-se como questão, saber até que pon to o f ac to de serem cons iderados

mais ou menos centrais , mais ou menos apl icáveis , pode r i a es tar r e l ac ionado com a maior

ou menor es tabi l idade que man i fes t am de uma sessão para a out ra . E até que ponto estes

atr ibutos cabem na concepção de cerne conceptual de u m a ca tegor ia . C o m o revimos

anter iormente , a maior ia das teorias tem uma visão sobre os ce rnes conceptua is . Algumas

p ropõem que os cernes conceptuais das ca tegor ias são de f in i ções (Armst rong e

colaboradores , 1983; Osherson e Smith, 1981; Smith e M e d i n , 1981). Outras p ropõem que

os cernes conceptua is contêm teorias intui t ivas (Murphy e M e d i n , 1985). Barsa lou (1982,

1987, 1989) vê os cernes conceptuais d i fe ren temente , e n f a t i z a n d o aquelas propr iedades

mais f r equen temente centra is para o uso da categoria , s a l i en t ando a sua na tureza baseada

na exper iênc ia e in te rpre tando a lguma estabi l idade que os conce i to s m a n t ê m ao longo do

tempo como re f l ec t indo a p resença desse cerne. Por e x e m p l o , a t r ansmissão cul tural do

conhec imento envolve , em grande medida , es tabe lecer , pa ra ca tegor ias , cernes de

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^

in fo rmação que su rgem independentemente do contexto e que são par t i lhados pelos

membros de uma população . Como corroborado por evidência empír ica (Barsalou, 1982),

também, num ind iv íduo , os concei tos mantêm uma certa es tab i l idade ao longo do tempo,

pela presença de in fo rmação que, tendo sido incorporada em vários concei tos que a pessoa

constrói sobre uma categoria part icular , se torna central e ganha a lguma estabi l idade e

independência dos contextos . Nesta visão, o cerne conceptua l de uma categoria contém,

portanto, a lguma in fo rmação central para a descr ição da ca tegor ia , que é a l tamente

acessível e mais es tável (Barsalou. 1982). Baseados neste rac iocín io , seria mais previsível

que as ca rac te r í s t i cas consideradas mais centrais e mais impor tantes para a impressão geral

sobre o g rupo man i fe s t a s sem maior es tabi l idade ao longo das sessões , compara t ivamente

com as carac te r í s t icas ás quais o indivíduo t ivesse a t r ibuído menos impor tânc ia e

centra l idade. P o d e n d o signif icar que a lgumas destas caracter ís t icas ter iam um estatuto

equivalente ao de ce rne de informação, ou seja , i n fo rmação central e imprescindível para a

descrição da ca tegor ia , que é a l tamente acessível e estável ao longo do tempo. Interessante ,

ainda, seria pe rceber se, apesar da maior es tab i l idade esperada das caracter ís t icas centrais

re la t ivamente ás cons ideradas mais per i fér icas , o nível de precisão intra su je i to cont inuar ia

a ser modes to , m e s m o para as caracter ís t icas centra is para a impressão geral sobre o grupo.

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

3.1 Experiência //; Método

3.1.1 Participantes e Desenho experimental

Os pa r t i c ipan tes f o r a m 46 es tudan tes de p s i co log i a da U n i v e r s i d a d e de L i sboa que

pa r t i c ipa ram v o l u n t a r i a m e n t e no es tudo. Todos os i n d i v í d u o s r e s p o n d e r a m quer ás quatro

t a re fas de ava l i ação dos es te reó t ipos quer ás qua t ro t a r e f a s de ava l i ação das crenças

ind iv idua i s , pa ra os t rês g r u p o s socia is inc lu ídos . T o d o s os pa r t i c ipan te s comple t a r am

p r i m e i r o a ava l i ação dos es te reó t ipos soc ia is e depo i s a a v a l i a ç ã o das c r e n ç a s ind iv idua is ,

s e m p r e nes ta o r d e m . D e p o i s , foi ap l icada uma m e d i d a de f a m i l i a r i d a d e sub j ec t i va com

cada g rupo socia l . E no f im da sessão foi ped ido a t odos os su j e i t o s que ava l i a s sem, em

esca las b ipo la res , a impor t ânc i a e a cen t r a l idade dos t r aços ge rados an te r io rmente ,

p r ime i ro , pa ra os e s t e r eó t ipos socia is e, depois , para as c r e n ç a s p e s s o a i s do ind iv íduo .

O d e s e n h o e x p e r i m e n t a l desta exper iênc ia foi 2 s e s s õ e s ( S e s s ã o 1 ve r sus Sessão 2) x

3 g rupos soc ia i s ( C i g a n o s ve r sus H o m o s s e x u a i s ve r sus E m i g r a n t e s a f r i c a n o s ) x 2 t ipos de

c renças (Es te reó t ipos ve r sus Crenças ind iv idua i s ) . T o d o s os f a c t o r e s e r a m fac to re s intra

su je i to .

3.1.2 Material

A s s i m , es te s e g u n d o es tudo foi s eme lhan te ao p r i m e i r o , c o m a l g u m a s m o d i f i c a ç õ e s

c ruc ia i s . As qua t ro t a r e fa s d is t r ibuídas pe los p a r t i c i p a n t e s na a v a l i a ç ã o dos e s t e reó t ipos e

na ava l i ação das c r enças ind iv idua i s f o r a m as m e s m a s u s a d a s na p r ime i r a e x p e r i ê n c i a (para

ma i s de ta lhes , ver a s e c ç ã o 2 .1 .3 da Expe r i ênc i a I). M a n t e v e - s e o f o r m a t o e e x t e n s ã o das

in s t ruções , das t a r e fa s e da l is ta inicial de ca r ac t e r í s t i c a s , t e n d o - s e apenas a l t e rado os

n o m e s dos g rupos soc ia i s , adap tado , aos ac tuais g r u p o s , o c o n t e ú d o da l is ta in ic ia l de

t raços e as d i m e n s õ e s a ava l ia r nas esca las b ipo la res e na m a t r i z de d i s t r ibu ições .

As i n s t ruções gera i s , in t rodu tór ias da e x p e r i ê n c i a , f o r a m m o d i f i c a d a s no sen t ido de

ten tar m i n i m i z a r a inda ma i s as p r eocupações de c o n v e n i ê n c i a soc ia l dos su je i tos ,

s a lvagua rda r i n d i v í d u o s que apa ren temen te p e r c e b a m o p r o c e s s o de a t r ibu i r t raços

ca rac te r í s t i cos a g r u p o s soc ia is c o m o uma a c t i v i d a d e i n a c e i t á v e l ou censu ráve l e

descu lpab i l i za r ma i s os pa r t i c ipan tes por ace i t a rem r e s p o n d e r ( a i n d a ma i s pe r t i nen t e agora

que os g r u p o s soc ia i s u t i l i zados t inham es te reó t ipos n e g a t i v o s s o c i a l m e n t e condenáve i s ) .

As ins t ruções f o r a m as segu in tes :

Da sociedade actual fazem parte muitos grupos diferentes sobre os quais temos, em geral, algum conhecimento. De facto, a facilidade com que formamos impressões relativamente bem definidas acerca dos indivíduos e dos grupos sociais que nos rodeiam, simplifica

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extraordinariamente a nossa vida social. Essas impressões que temos acerca de um grupo são muitas vezes impressões genéricas que não se aplicam a cada um dos seus membros mas ap!icam-se a uma percentagem dos membros desse grupo. Por exemplo, quando dizemos que os programadores de computador são inteligentes não estamos a dizer que são todos inteligentes, mas estamos a dizer que há uma quantidade relevante de programadores de computador que são inteligentes. Estas impressões genéricas são, evidentemente, simplificações, não são julgamentos baseados em dados objectivos. E note-se que, mesmo quando se consideram existir diferenças entre os grupos, isso não significa estabelecer uma hierarquia entre os grupos, em que um é superior ao outro. Ou seja, não implica a discriminação de um grupo em relação ao outro. Nesta investigação ser-lhe-ão feitas várias perguntas sobre essas impressões em relação a alguns grupos sociais. É natural que não tenhamos todos ideias iguais acerca de todos eles. Não existem respostas certas ou erradas. Estamos interessados nas suas impressões pessoais, nas suas intuições, nas ideias que surjam à primeira vista e não tanto no que é de bom tom julgar-se, ou afirmar-se.

N o f ina l da se s são , foi in t roduz ida uma nova t a re fa que p a s s a m o s a desc rever .

• A v a l i a ç ã o da impor tânc ia e cen t ra l idade dos t raços em esca l a s b ipo la res . Pa ra

a l é m de p r e t e n d e r m o s e l ic i tar as ca rac te r í s t i cas que os i n d i v í d u o s a t r ibuem aos

m e m b r o s de u m grupo social , i n t e r e s sava -nos saber a i m p o r t â n c i a e c en t r a l i dade

que o i n d i v í d u o assoc iava ás mesmas . Por e x e m p l o , a ca rac te r í s t i ca rico pode ser

c o n s i d e r a d a nada cent ra l , m o d e r a d a m e n t e centra l ou mu i to cen t ra l , d e p e n d e n d o

do g r u p o a q u e m é d i r ig ida ou da pe r spec t iva q u e es tá a ser descr i t a ,

e s p e c i f i c a m e n t e o e s t e reó t ipo social ou o pon to de v is ta pes soa l sobre o g rupo

soc ia l . Por isso, com esta ta refa t e n t á m o s levar e m c o n t a a i m p o r t â n c i a e

c e n t r a l i d a d e que um indiv íduo inves t e nas ca r ac t e r í s t i c a s ao usá - l a s pa ra

d e s c r e v e r g rupos socia is pa r t i cu la res . N e s t a t a r e f a é p e d i d o aos su j e i to s q u e

o l h e m n o v a m e n t e para as ca rac te r í s t i cas que l i s t a ram (na t a r e f a de ge ração de

t r aços ) e pa ra as d imensões que a v a l i a r a m (na t a r e f a de ava l i ação de d i m e n s õ e s

ma i s f r e q u e n t e s dos grupos) , para cada g rupo , e que i n d i q u e m até que p o n t o cada

c a r a c t e r í s t i c a é impor tan te e é cent ra l pa ra a i m p r e s s ã o gera l de u m grupo . É

p e d i d o pa ra rea l izar esta t a re fa t an to para as ca rac t e r í s t i ca s q u e u s a r a m pa ra

d e s c r e v e r os es te reó t ipos sociais q u a n t o pa ra as ca r ac t e r í s t i c a s que d e s c r e v e m as

c r e n ç a s ind iv idua i s , nes ta m e s m a o r d e m . A ava l i ação de c a d a ca rac te r í s t i ca é

f e i t a e m do is t ipos de esca las b ipo la re s de 9 pon tos , u m a q u e osc i l a en t re +1

( N a d a cen t r a l ) e +9 (Mui to cen t ra l ) , e ou t ra q u e osc i l a en t re +1 (Nada

i m p o r t a n t e ) e +9 (Mui to impor t an te ) . Es t a s duas e sca las f o r a m in t roduz idas

c o m o duas m e d i d a s do m e s m o c o n s t r u c t o , c o m o dois ve í cu los pa ra med i r a

m e s m a co i s a e para aver iguar se e s t ão c o r r e l a c i o n a d a s . C a s o e s t e j a m

c o r r e l a c i o n a d a s podem ser c o m b i n a d a s na aná l i se dos r e su l t ados , se , por ou t ro

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

lado, a cor re lação entre elas for pequena é po rque os su je i tos dist inguem

ps ico log icamente estas duas d imensões e, nesse , caso os resul tados podem ser

e luc ida t ivos de como es tabelecem essa d is t inção.

3.1.3 Procedimento

Novamen te , todos os part icipantes foram tes tados duas vezes enquanto grupo, com

uma dis tância de 15 dias entre as duas sessões. O p r o c e d i m e n t o e as ins t ruções foram os

mesmos nas duas ocas iões de teste, à excepção da nova t a re fa incluída nesta experiência

( "Aval iação da impor tânc ia e central idade dos t raços em esca las b ipolares") , que foi

apl icada apenas no final da sessão 1. Para poss ib i l i ta r a iden t i f i cação das respostas do

mesmo suje i to ás duas sessões , foi pedido, outra vez, que ass ina lassem, no caderno de

resposta , a sua data de aniversár io e a da sua mãe . Os três grupos sociais foram

apresentados num só caderno de resposta , sempre c o m a seguin te ordem: ciganos,

homossexua i s e emigran tes afr icanos. As ta re fas f o r a m apresentadas a todos os

par t ic ipantes , sempre na m e s m a ordem: "geração de t r aços" e "es t imat iva da percentagem

de m e m b r o s da popu lação com os t raços" com base no e s t e reó t ipo social de c igano e, a

seguir , com base nas crenças individuais sobre os c iganos ; "ava l i ação de d imensões mais

f requen tes dos grupos em escalas b ipolares" com base no e s t e reó t ipo social de c igano e, a

seguir , com base nas c renças individuais sobre os c iganos ; " iden t i f i cação de uma

d is t r ibu ição" com base no es tereót ipo social de c igano e, a segui r , com base nas crenças

individuais sobre os c iganos . Depois , r e sponde ram ás m e s m a s ta refas para os

homossexua i s e para os emigrantes afr icanos. C o m p l e t a r a m a ta refa de " Ju lgamento de

fami l ia r idade com cada grupo social" e f ina lmente r e s p o n d e r a m à tarefa "ava l iação da

impor tânc ia e cent ra l idade dos traços em escalas b ipo la re s" , ava l iando os t raços uti l izados

an ter iormente para descrever os es tereót ipos sociais e, a seguir , os u t i l izados para

descrever as c renças indiv iduais , para os três g rupos . Nas duas sessões , as ta refas e os

grupos sociais f o r a m apresen tados exac tamente na m e s m a o r d e m .

3.1.4 Medidas dependentes

As medidas dependen tes deste es tudo foram:

a) O nível de acordo intra su je i to em re lação aos t raços se lecc ionados , da lista

inicial , na sessão 1 e na sessão 2, ca lcu lado a t ravés da cor re lação de elemento

c o m u m (Bel lezza , 1984a, 1984b, 1984c).

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b) O nível de acordo intra suje i to re la t ivamente ás es t imat ivas percentuais

a t r ibuídas a cada traço se leccionado em ambas as sessões .

c) O nível de acordo entre sujei tos re la t ivamente aos t raços escolhidos da lista

inicial , ca lcu lado através de uma cor re lação de e lemento c o m u m para cada par

de su je i tos empare lhados a leator iamente por sessão.

d) O nível de acordo intra sujei to re la t ivamente ás aval iações das d imensões mais

f r equen te s dos grupos (em escalas b ipolares de 9 pontos) produzidas na sessão

1 e na sessão 2.

e) A ava l iação da dispersão percebida e da tendênc ia central percebida apartir da

mat r iz de dis t r ibuições.

f ) O nível de acordo intra sujei to re la t ivamente à d i spersão percebida e à

t endênc ia central percebida .

g) A aval iação , em escalas bipolares , da impor tânc ia e da cent ra l idade dos t raços

esco lh idos da lista inicial , na sessão 1.

h) O nível de acordo intra sujei to em relação aos t raços se lecc ionados na sessão 1

e na sessão 2, considerados centra is , ca lcu lado a t ravés da corre lação de

e l emen to c o m u m (Bel lezza, 1984a, 1984b, 1984c).

i) O nível de acordo intra sujei to em relação aos t raços se lecc ionados na sessão 1

e na sessão 2, cons iderados per i fé r icos , ca lcu lado a t ravés da corre lação de

e l emen to c o m u m (Bel lezza, 1984a, 1984b, 1984c).

j ) O nível de acordo entre su je i tos re la t ivamente aos t raços escolh idos

cons ide rados centrais , ca lculado através de uma cor re lação de e lemento c o m u m

para cada par de sujei tos empare lhados a lea tor iamente por sessão.

k) O nível de acordo entre su je i tos re la t ivamente aos t raços escolhidos

cons ide rados per i fér icos , ca lculado através de uma cor re lação de e lemento

c o m u m para cada par de sujei tos empare lhados a lea tor iamente por sessão.

Nota : Todas as medidas dependentes fo ram calculadas por g rupo social e, dentro de

cada grupo, por t ipo de crença (estereót ipo vs. c rença indiv idual ) , quando assim o exig iam.

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98 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

3.2 Experiência II: Resultados e Discussão

Geração de traços e Estimativa da percentagem de membros da população com os traços

• N u m e r o de a t r ibutos

Rea l izou-se uma anál ise de variância a três f ac to res , todos eles intra su je i to . Os

factores fo ram: a sessão (sessão 1 vs. sessão 2), o g rupo social (ciganos, homossexuais ,

emigrantes a f r icanos) , e o t ipo de crença (es tereót ipos vs. c renças individuais) . Na Tabela

3 (ver coluna 1 e 2 da tabela) , são apresentados os va lores cor respondentes ao número

médio de a t r ibutos gerados em cada condição de respos ta . O ún ico efe i to que emergiu da

análise de var iância foi um efe i to s ignif ica t ivo da var iável sessão (F ( l , 45 )=7 ,62 ; p=.008) ,

indicando que fo ram gerados s igni f ica t ivamente mais a t r ibu tos na sessão 1 (M=4,93) do

que na sessão 2 (M=4,74) . Este efei to replica os resu l tados encon t rados na Exper iênc ia I

do presente es tudo e os resul tados coincidentes encon t rados por outros autores (Bel lezza,

1984c; Barsa lou e co laboradores , 1987, ci tado por Bar sa lou , 1989), suger indo, novamente ,

que uma expl icação poss íve l pode estar no aumento de e f i c i ênc i a dos su je i tos , da sessão 1

para a sessão 2, conve rg indo re la t ivamente a i n fo rmação de ce rne ao longo das sessões .

Tabela 3: Médias e valores de correlação para os grupos sociais nas condições estereótipos e crenças individuais

Grupos Número médio de Acordo intra Acordo entre sociais Crenças traços gerados suieitos sujeitos

^ SêssãO::-1 - • Sessão 2 t \ . A /

Individuais 4,89 4.76 .56 .28 Ciganos

estereótipos 5,20 4,85 .60 .42

Individuais 4,83 4,61 .56 .31 Homossexuais

estereótipos 4,78 4,72 .49 .29

Emigrantes Individuais 4.85 4.61 .50 .25 africanos

estereótipos 5,02 4.89 .48 .26

Encont rou-se , a inda , um outro efe i to marg ina lmen te s ign i f i ca t ivo , re la t ivamente à

variável t ipo de c rença (F ( l , 45 )=3 ,13 ; p=.083) . À s e m e l h a n ç a dos resu l tados da

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

Exper iência I e de Dev ine e Elliot (1995), houve uma tendência para gerar mais atr ibutos

nas descr ições dos es tereót ipos (M=4,90) do que nas descr ições dos pontos de vista

individuais (M)=4 ,75) sobre os grupos sociais.

• Acordo intra suje i tos

Calcu lou-se , novamente , a correlação de e lemento c o m u m (para mais deta lhes , ver a

secção 2.2 da Exper iênc ia 1), para determinar o grau em que os mesmos suje i tos

esco lheram os m e s m o s atr ibutos na sessão 1 e na sessão 2. para descrever as mesmas

categorias sociais . Os níveis médios de acordo por cada condição de resposta são

apresentados na Tabe la 3 (ver coluna 3 da tabela) .

C o m o prev is to , os níveis de acordo intra sujei to vol taram, como na Exper iênc ia I, a

expressar , g loba lmente , o nível modes to de precisão das represen tações menta is das

categorias socia is ao longo das sessões. As pontuações médias de sobrepos ição dos

atr ibutos esco lh idos var iaram entre .48 e .60, indicando que o número de propr iedades

comuns p roduz idas por um mesmo indivíduo nas duas sessões es teve p róx imo dos 50%.

U m a anál ise de variância a dois fac tores (grupo social x t ipo de crença) con f i rmou

novamente que, ao contrár io do que esperávamos , não há efe i to s ign i f ica t ivo do t ipo de

crença ava l iada ( F ( l , 4 4 ) = . 4 8 ; p=.488) , ev idenc iando que os pon tos de vista sociais não

reve laram mais es tab i l idade dos que os pontos de vista individuais . Supor t e para a ausência

de d i f e renc iação des tes dois t ipos de representações menta is , quan to ao acordo intra

sujei to , foi obt ido t ambém com a medida das es t imat ivas percen tua is a t r ibuídas a cada

t raço nas duas sessões . Seguindo o mesmo procedimento de cá lcu lo e fec tuado na

Exper iênc ia I, não se obteve, na anál ise de var iância a dois fac tores (g rupo social x t ipo de

crença) , qua lquer e fe i to s ignif icat ivo da variável tipo de crença ( F ( l , 3 6 ) = . 19; p=.66) .

A única fon te s ignif icat iva de var iação foi o grupo social . O acordo intra su je i to

variou s ign i f i ca t ivamente com o grupo (F(2 ,88)=3,93; p=.023) , com os níveis de acordo a

oscilar en t re .49 (nos emigrantes a f r icanos) e .58 (nos c iganos) . Coinc iden temente ,

anal i sando em c o n j u n t o os resul tados dos ju lgamen tos de f ami l i a r idade , em relação aos

quais os três grupos var iam s igni f ica t ivamente (F(2 ,90)=13,68; p= .000) , repl ica-se o

resul tado da exper iênc ia I e o obt ido por Bel lezza (1984b) . Ou seja , o g rupo ju lgado c o m o

mais fami l ia r , os emigrantes a f r icanos (M=5,10) , foi t ambém aque le que revelou menor

acordo intra su je i to ( .49). A mesma interpretação é apontada para exp l ica r o resul tado. Ou

seja , é poss íve l que o maior contacto com o grupo social conduza ao conhec imen to de uma

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100 A INSTABILIDADE DOS ESTERÓTIPOS

maior var iedade de exemplares diferentes desse grupo e que isso d iminua a es tabi l idade da

represen tação menta l do grupo social.

• Aco rdo entre suje i tos

Para ca lcular uma medida que ref lec t i sse o nível de acordo entre su je i tos nas várias

condições de respos ta , seguiu-se o procedimento adop tado na Exper iênc ia 1. Ass im, fez-se

o empa re lhamen to aleatór io dos sujei tos, fo rmando-se 24 pares com base nos dados da

sessão 1 e, t ambém, 24 pares apartir dos dados da sessão 2. O cá lcu lo da cor re lação de

e lemento c o m u m para cada par obedeceu aos mesmos passos e fec tuados na Exper iênc ia 1

(para mais deta lhes , ver secção 2.2 da Exper iência I). Os níveis médios de acordo entre

su je i tos são apresen tados na Tabela 3 (ver coluna 4 da tabela) .

Foi e fec tuada uma análise de variância a três fac tores . Os fac tores f o r a m a sessão x

o g rupo social x o t ipo de crença. Apenas as var iáveis g rupo social e t ipo de crença eram

var iáveis intra par de suje i tos . O tipo de c rença reve lou-se apenas uma fonte

marg ina lmente s igni f ica t iva de variação ( t (44)=3,37; p< .036 , uni la tera l ) , no sent ido em

que, só t endenc ia lmente , se verif ica, como esperado , um maior consenso entre sujei tos

quanto aos es tereót ipos sociais (.32) do que quanto ás c renças ind iv idua is ( .28). Qual i f ica

este resu l tado a lei tura da in teracção s ignif ica t iva que se ob tém entre as var iáveis grupo

social e t ipo de crença (F(2,88)=5,40; p=.006) . C o m o mos t ra o Grá f i co 5, há c laramente

maior consenso social sobre os es tereót ipos apenas no g rupo dos c iganos .

0RÁFIC0 5

Interacção grupo social x i i po de crença

F(:2.88>=5.«TO: p<.0061

estereótipos individuais

-o- GRUPO ciganos

o- GRUPO homossexuais

GRUPO emig.afrioanos

CRENÇA

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS 101

Avaliação de dimensões mais frequentes dos grupos em escalas bipolares

• Pos i t iv idade das representações de grupos sociais

A medida de pos i t iv idade calculada através da média ar i tmét ica das aval iações das

d imensões provou ser uma medida moderadamente precisa no presen te estudo; para os

vários grupos sociais e para os dois tipos de crenças aval iadas , os valores do alfa de

Cronbach osc i la ram ent re .54 e .72.

C o m esta med ida de pos i t iv idade média das representações dos grupos sociais , foi

real izada uma anál ise de variância a três factores (com o pr imei ro fac tor a ser a sessão, o

segundo a ser o g rupo social e o terceiro a ser o tipo de crença) . Es ta anál ise evidenciou

um efe i to pr incipal da variável t ipo de crença (F ( l , 45 )=173 ,03 ; p= .000) , repl icando um

resul tado já obt ido na Exper iência I e t ambém por Dev ine e El l io t (1995) . Ou seja,

novamente , os t raços se lecc ionados com base nos es tereót ipos cul tura is t raduziram a menor

posi t iv idade dos es tereót ipos cul turais (M=4,51) enquanto aqueles baseados nas crenças

individuais (M=5,34) ev idenc ia ram a maior posi t iv idade destas representações dos grupos.

Como most ra o Grá f i co 6, um efei to de interacção s igni f ica t ivo entre o grupo social x t ipo

de crença (F(2 ,90)=4 ,07 ; p=.02) salientou que, dependendo do grupo social , a

d i fe renc iação de pos i t iv idade entre as crenças individuais e es te reó t ipos é mais ou menos

acentuada. Por exemplo , a d i fe rença de posi t iv idade entre as representações mentais das

crenças indiv iduais e dos es tereót ipos é s ign i f ica t ivamente maior no grupo dos a f r icanos

compara t ivamente com o grupo dos homossexuais , onde essa d i f e rença é acentuadamente

menor.

5.85

5.55

5.25

4.05

4.65

4.35

4.05

Oráfico 6

Interacção Orupo x Crença

FC2.00)=4.07: p<.0203

D "

estereótipo indiv idual

-o - G R U P O Cigano

o- GRUPO Homossexuais

^ GRUPO Afr icanos

CRENÇA

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^

• Cor re lações entre as avaliações produzidas na sessão 1 e na sessão 2, pelos

m e s m o s ind iv íduos

Ut i l i zando o coef ic ien te de correlação de Pearson e a inda com as aval iações das

d imensões mais f r equen tes dos grupos sociais, e f ec tuadas pelos mesmos suje i tos , na sessão

1 e na sessão 2, ob teve-se os valores das corre lações . G loba lmen te , estes valores variaram

entre .0 e .79; apesar da proporção de variação c o m u m não ser mui to e levada é de salientar

que os valores de cor re lações mais e levados caíram nas ava l iações das d imensões do grupo

dos c iganos.

Identificação de uma distribuição

• Ava l i ação da d ispersão percebida na ta refa de mat r iz de dis t r ibuições

Par t indo das escolhas das dis t r ibuições fe i tas pe los indiv íduos apart ir das

matr izes foi poss íve l obter uma medida de dispersão. O cá lcu lo de uma anál ise de variância

a três fac to res (sessão x grupo social x tipo de c rença) ev idenc iou que o t ipo de crença é

uma fonte de var iação s ignif icat iva (F ( l , 45 )=52 ,94 ; p= .000) , rep l icando os resul tados

obt idos na Exper iênc ia I. Ass im, como previs to, a d i s t r ibu ição média escolh ida com base

nas crenças indiv iduais é s igni f ica t ivamente mais acha tada (M=2,79) do que a escolhida

com base nos es te reó t ipos (M=3,57) , o que s ign i f i ca que a represen tação das crenças

individuais é pe rceb ida como mais variável do que a r ep resen tação do es te reó t ipo cultural

de um grupo. Surgiu , t ambém, um efei to de in te racção ent re g rupo social x t ipo de crença

(F(2 ,90)=6,47; p= .002) , como mostra o Gráf ico 7. A i n specção do Gráf ico 7 sugere que,

enquanto que os grupos são percebidos como d i f e r e n c i a l m e n t e d ispersos em te rmos de

es tereót ipos , o cont rá r io se ver i f ica para as c renças ind iv idua i s . Ou seja , os níveis de

dispersão dos vár ios grupos variam mui to mais r e l a t ivamen te aos es tereót ipos sociais do

que ás c renças indiv iduais .

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A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^

ORÁFICD 7

Interacção grupo social xüpo d« crença

FC2.00)=6.47; p<.0024

estereotipo; individuais

-o- ORUPO ciganos

o- ORUPO horr^ossexuais

•o ORUPO emig.africanos

CRENÇA

• Ava l i ação da tendência central na tarefa de matr iz de dis t r ibuições

N o v a m e n t e , para agregar s igni f ica t ivamente os dados da tendênc ia central de modo

a que todos os g rupos permit issem interpre tações comparáve i s entre si, inver teu-se as

pontuações das respos tas em dois grupos, os c iganos e os emigrantes a f r icanos . Pon tuações

mais e levadas con t inuam a indicar maior es tereot ip ica l idade.

U m a anál ise de var iância a três factores (com o pr imei ro a ser a sessão, o segundo a

ser o g rupo social e o terceiro a ser o tipo de crença) revela , como fac tor s igni f ica t ivo , o

tipo de c rença ( F ( l , 4 5 ) = 3 5 , 0 1 ; p=.000). É repl icado o e fe i to encont rado na Exper iênc ia I,

em que os es te reó t ipos sociais são vis tos como representações dos grupos

s ign i f ica t ivamente mais es tereot ipadas (M=4.35) do que as crenças individuais (M=3,97) .

Como most ra o G r á f i c o 8, o efe i to de in teracção s ign i f ica t ivo entre grupo social x t ipo de

crença, c i rcunscreve , contudo, esse resul tado a dois dos três grupos sociais (os c iganos e os

af r icanos) , j á que o padrão de resultados inver te-se no grupo dos homossexua is , onde a

dis t r ibuição méd ia esco lh ida foi mais es tereot ipada nas crenças individuais (M=3,96) do

que nos es te reó t ipos (M=3,70) , a inda que a d i fe rença não seja mui to acentuada .

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104 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

5 . 0

4 . 8

4.e

4.4

4 .2

4 . 0

3 . 8

3 . 6

3 . 4

0 R A F I C 0 8

Interacção grupo social x t i po d€ crença

F ( 2 . 9 0 ^ i e . 5 0 : p < . 0 0 0 0

estereótipos individuais

CRENÇA

- o ORUPO ciganos

o- ORUPO

homossexuais

o- GRUPO emig.africanos

Aprovei tando ainda o parâmet ro de dispersão pe rceb ida e o j u lgamen to da tendência

central aval iados pelos m e s m o s suje i tos , ca lculou-se o nível de cor re lação entre as

d is t r ibuições escolhidas na sessão 1 e na sessão 2, por g rupo social e por t ipo de crença.

Para obter esta medida ut i l izou-se o coef ic ien te de co r re l ação de Pearson. Os resul tados

são apresentados na Tabe la 4.

Tabela 4: Valores de correlação, entre a sessão 1 e a sessão 2, da dispersão percebida e da tendência central

Grupos sociais Crenças

Valores das correlações entre a S1 e a S2

• 'r ' / / ' . Dispersão > percebida"

Tendência.; ^ central'-^

Ciganos Individuais

Estereótipos

.36*

.48*

.32*

.13

Homossexuais Individuais

Estereótipos

.42*

.37*

.47*

.56*

Emigrantes africanos

Individuais

Estereótipos

.35*

.41*

.45*

.11

Apart i r da tabela 4, podemos observar que, g loba lmen te , tanto para o pa râme t ro de

dispersão percebida quan to para a medida de t endênc ia central , as escolhas das

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2296 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

distribuições na sessão 1 e na sessão 2 estão s ignif icat ivamente correlacionadas. E que os

pontos de vista individuais , também na globalidade, parecem produzir medidas destes dois

parâmetros mais corre lacionadas no tempo do que seria de esperar, compara t ivamente com

os pontos de vista baseados nos estereótipos culturais.

Avaliação da importância e centralidade dos traços em escalas bipolares

• Teste de d i ferenças de médias, de central idade e importância (correlacionadas) ,

entre os t raços que se repetiram na sessão 1 e na sessão 2 e os que não se

repet i ram

Para c lar i f icar se são os traços a que os indivíduos atr ibuem maior central idade e

maior impor tância , para a impressão geral do grupo, que se mantêm mais estáveis ao longo

das sessões, e fec tuámos testes de diferenças de médias para amostras dependentes . Estes

testes pre tendiam medir , para cada condições de resposta, se exis t iam diferenças

signif icat ivas entre as avaliações médias de central idade e de importância dos traços

coincidentes na sessão 1 e na sessão 2 e as avaliações médias de central idade e de

importância dos t raços que não se repetiram na sessão 2. Para tal, foram calculadas

previamente as médias ari tméticas das avaliações de central idade para o conjunto de traços

coincidentes e para o conjunto de traços não coincidentes . O mesmo procedimento foi

aplicado, só que considerando, agora, as aval iações dos traços na escala de importância . Já

que estas duas escalas , de central idade e de importância , foram introduzidas como duas

medidas da mesma coisa, calculou-se o seu nível de correlação, por grupo social, por tipo

de crença e por coincidência ou não dos traços nas duas sessões. Para obter esta medida

uti l izou-se o coef ic ien te de correlação de Pearson. Os resul tados revelaram sempre

correlações s igni f ica t ivas , razão porque as duas escalas foram combinadas na análise dos

resultados. Parece pois que os indivíduos não dis t inguiram ps icologicamente estas duas

dimensões nas suas avaliações. Os resultados dos testes de d i fe renças de médias para

amostras dependentes , para todas as condições de resposta, são apresentados na Tabela 5,

adiante.

Apart ir da observação da Tabela 5, podemos constatar que, g lobalmente , a

central idade média atribuída aos traços foi s ignif ica t ivamente maior para aqueles que se

repetiram na sessão 1 e na sessão 2 do que aqueles que não se repet iram, o que parece

indicar, como previs to , uma estabil idade s ignif icat ivamente maior dos traços considerados

centrais para a impressão geral do grupo.

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106 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Tabela 5: Valores dos testes de diferenças de médias de centralidade e importância (correlacionadas) entre os traços coincidentes nas duas sessões e os traços não coincidentes

< >

^ " ^ Traços coincidentes 6,24 í Estereótipost . . ^ , T=2,02; p=.049*

^ < ^ ^ Traços não coincidentes ^ 5,44

^ ^ ! ^ Traçqs'còincidentes;/":;'. Í 5,92 v Crenças indtviduais K -r.v -í?:^ T=1,63; p=.110

^Traços nãó co"incidèrites% i 5,47 - ;

^ ^ ^ " Traços còincideht' 5GAy 5.75 - Estereótipos % p=.462

^ ^ - < , - ^ Traços nâp çòlncldentes; .. ^ ^ 5,46

Ciganos

Homossexuais r- ^ ' < í ^ ^ ' ^ Traços coincidentes . 6,03

- Crenças individuais ^ ^ ' > " T=:2,08; p=.042* ^ % ' ^ X / Traços não coincidentes 5,29

í . ' Jraços coincidentes 6,12 ^ ' . Estereótipos ^ ^ ^ ^ ' ' T= -.26; p=.79

^ . - -j- - - . Traços;nâo:coincidentes..ify -.-:i 6,20 y N v' j -N , ^ i i

Emig.Africanos - ^ . « , c ' ^ w < " Traços coincidentes lU 5,96

j Crenças individuaiSj ^ ' ^ ^ ^ ^ T= 2,12; p=.038* f. < I " , Traços não coincidentes ^ 5,11

< ^ t > ^ í

Salienta-se, contudo, que especif icamente em re lação ás avaliações das crenças

individuais no grupo dos ciganos, o valor do teste de d i fe rença de médias de central idade

entre traços coincidentes e traços não coincidentes saiu p re jud icado depois de combinada a

aval iação da central idade com a importância. Esta d i fe rença , embora no sentido previsto,

passa a não ser s ignif icat iva. Na real idade, esta foi a condição em que se obteve uma

correlação mais baixa, apesar de s ignif icat iva (.54), ent re as aval iações de central idade e as

de importância .

• Acordo intra sujei tos para os atr ibutos cons iderados centrais e para os

considerados per i fér icos

Calculou-se mais uma vez a correlação de e lemento comum (para mais detalhes, ver

a secção 2.2 da Experiência 1), agora, para determinar o grau em que os mesmos sujeitos

escolheram os mesmos atributos centrais, e os mesmos a t r ibutos per i fér icos para descrever

as mesmas categorias sociais, na sessão 1 e na sessão 2. Para dist inguir entre traços

centrais e per i fér icos calculou-se, para cada indivíduo, a med iana com base nas avaliações

de centra l idade efec tuadas na sessão 1. Cons ideraram-se per i fér icos os traços com

aval iações abaixo da mediana e centrais os traços que ob t iveram aval iações acima da média

( foram negl igenciados os traços que se sobreponham nas duas sessões e com avaliações

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107 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

c o r r e s p o n d e n t e s à m e d i a n a ) . Po rque a med iana d iv id iu o c o n j u n t o de t raços esco lh idos e m

duas me tades igua i s - t raços cent ra is e t raços pe r i f é r i cos - o n ú m e r o total de a t r ibutos

esco lh idos na ses são 1 e na sessão 2, para se rem u t i l i zados no cá l cu lo das cor re lações de

e l emen to c o m u m , f o r a m d iv id idos por dois. Os n íve i s méd ios de aco rdo por cada cond ição

de respos ta são a p r e s e n t a d o s na Tabe la 6, a segu i r (ver co luna 1 da tabe la ) .

U m a aná l i s e de var iânc ia a três f ac to res (g rupo socia l x t ipo de c rença x grau de

cen t ra l idade) m o s t r o u que , c o m o p rev imos , há u m e fe i t o s i gn i f i ca t i vo do grau de

cen t r a l idade a t r i b u í d o aos t raços ( F ( l , 3 4 ) = 4 , 2 3 ; p= .047) , e v i d e n c i a n d o que os t raços

cons ide rados cen t r a i s r eve l am u m a es t ab i l idade s i g n i f i c a t i v a m e n t e ma io r ( .36) do que os

t raços ava l i ados c o m o pe r i f é r i cos ( .28) . Sa l i en ta - se , con tudo , que , m e s m o nos t raços

cons ide rados cen t r a i s pa ra as desc r i ções dos g rupos , os n íve is de aco rdo intra su je i to são

mu i to m o d e s t o s , o q u e mos t ra que, ao cont rá r io do que se pode r i a pensa r , a in s t ab i l idade

das r e p r e s e n t a ç õ e s m e n t a i s das ca tegor ias soc ia i s m a n i f e s t a d a ao longo das sessões não se

f ica apenas a d e v e r à in s t ab i l idade dos a t r ibutos pe r i f é r i cos u t i l i zados pe los su je i tos pa ra

as ca rac te r iza r .

Tabela 6: Valores de correlação para os grupos sociais nas condições estereótipos e crenças individuais, para

Grupos sociais Crenças

Grau de centralidade dos

traços Acordo intra

suieitos Acordo entre

suieitos " - p - r

! ^ ^ r < ^

Ciganos Individuais

estereótipos

íPeriferiGOSi:

V Centrais.

Perifericos:

^.Xentrais

.30

,37

.27

.49

.15

.21

.22

.43

A- X < ^

" Periféricos ^ ^

Homossexuais Individuais

estereótipos

< ^Centrais^/

' P e ^ é n c è s ^ - / .

' . Centrais < 4 ^

.31

.27

.30

.38

.11

.34

.12

.36

. Perifencos i Individuais ^^ ^ ^ ^ ^

Emigrantes africanos

'^Centrais \

estereótipos ^ Periféncos

Centrais

.22

.34

.29

.28

.20

.25

.14

.37

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108 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

• Acordo entre su je i tos para os atr ibutos cons ide rados centrais e para os

cons iderados per i fé r icos

Para calcular uma medida que ref lec t i sse o nível de acordo entre suje i tos para os

t raços centrais e pe r i fé r icos seguiu-se o p roced imen to adop tado na Exper iência I. Assim,

fez-se o empare lhamen to a leatór io dos suje i tos , f o r m a n d o - s e 24 pares com base nos dados

da sessão 1 (as aval iações de centra l idade foram ped idas apenas na sessão 1). Antes de

e fec tuar o cálculo da cor re lação de e lemento c o m u m , foi necessár io d is t inguir entre os

t raços centra is e per i fé r icos . Para tal, calculou-se , para o c o n j u n t o dos su je i tos e para cada

traço, a média das aval iações de centra l idade atr ibuídas . C o m base nos valores médios de

cent ra l idade, foi ca lculada a mediana. O cálculo da cor re lação de e lemento c o m u m para

cada par de su je i tos obedeceu aos mesmos passos e f e c t u a d o s na Exper iênc ia I (para mais

detalhes , ver secção 2.2 da Exper iênc ia I ) .Novamente , po rque a mediana dividiu o con jun to

de t raços escolh idos em duas metades iguais - t raços cent ra is e traços pe r i f é r i cos - o

número total de a t r ibutos escolhidos pelo suje i to 1 e pe lo su je i to 2 de cada par, para serem

ut i l izados no cálculo das correlações de e lemento c o m u m , f o r a m divididos por dois . Os

níveis médios de acordo entre sujei tos são apresen tados na Tabe la 6 (ver co luna 2 da

tabela) .

Foi e fec tuada uma anál ise de var iância a três fac to res . Os fac tores f o r a m o grupo

social X o t ipo de crença x o grau de centra l idade. Todas as var iáve is e ram var iáve is intra

par de suje i tos . O grau de central idade a t r ibuído aos t raços revelou-se uma fonte

s ignif ica t iva de var iação (F ( l , 15 )=9 ,35 ; p=.008) , no sen t ido em que se ver i f ica , como

esperado, um maior consenso entre suje i tos quanto aos a t r ibu tos cons ide rados centra is

( .33) do que quanto aos a t r ibutos avaliados como pe r i f é r i cos ( .16), apesar dos níveis de

precisão, quer num tipo de at r ibutos quer noutro, serem mui to modes tos .

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2300 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

3.3 Experiência 11: Conclusões

Em suma, par te dos resul tados deste es tudo repl icam as ev idênc ias da Experiência 1.

Ass im, tal c o m o previsto, replica-se o efe i to já obt ido na Exper iênc ia I de que as

descrições de ca tegor ias sociais revelam níveis de ins tabi l idade semelhantes aos das

categorias não socia is , supor tando a ideia de que as percepções dos grupos sociais são

f lexíveis e sens íve is ao contexto , em vez de baseadas em ent idades es táveis recuperadas de

forma ina l te rada . Supor te para este efei to é obt ido através da medida de "geração de

t raços" e da med ida de "aval iação das d imensões mais f r equen tes nas escalas bipolares" .

Estes resul tados mos t r am, ainda, que o efe i to não é l imitado aos três grupos inicialmente

testados na Exper i ênc ia I, o que aumenta a genera l idade das nossas descober tas , nem fica a

dever-se à u t i l i zação de grupos sociais com estereót ipos cul tura is f racos . De facto, os

es tereót ipos cu l tu ra i s ut i l izados nesta experiência são for tes , o que permi te conclui r que a

instabi l idade não é f u n ç ã o da f raqueza dos es tereót ipos .

P roduz imos o m e s m o padrão de resul tados da Exper iênc ia I, u t i l izando o mesmo

paradigma com três novos grupos sociais, no que respei ta a uma série de fenómenos

básicos prev is íve i s . Ass im, conseguimos evidências de que, nes tes três grupos, os

es tereót ipos socia is cont inuam a ser percebidos como mais negat ivos ; cont inuam a ser

percebidos c o m o mais es tereot ipados, pelo menos em dois dos grupos ut i l izados; os

indivíduos c o n t i n u a m a admitir menos var iabi l idade nestes t ipos de representações mentais

dos grupos; e são tendenc ia lmente descri tos ut i l izando maior número de atr ibutos.

Os resu l t ados vol tam a fornecer a lguma evidência que desacred i ta a previsão inicial

sobre a maior p rec i são dos es tereót ipos, comparados com as c renças individuais . Suporte

para a ausênc ia de d i fe renc iação destes dois t ipos de represen tações menta is , quanto ao

acordo intra su je i to , foi obt ido quer com a medida de "geração de t raços" quer com a

medida das "es t ima t ivas percentuais atr ibuídas a cada t raço nas duas sessões" . Esta

hipótese co locada in ic ia lmente sobre a maior es tabi l idade dos es te reó t ipos re la t ivamente

ás crenças ind iv idua i s será mais p ro fundamen te reaval iada , tal c o m o a ausência de suporte

empír ico para a m e s m a , no capí tulo 5 desta disser tação, onde se apresen tam as conclusões

gerais. Ob teve- se , marg ina lmente , um maior consenso à vol ta dos atr ibutos dos

estereót ipos socia is , mas só no grupo dos c iganos .

Out ra par te dos resul tados desta segunda exper iênc ia apon tam para efe i tos que

parecem f ac i lmen te acomodáveis nas teorias que pos tu lam a exis tência de cernes

conceptuais nas ca tegor ias . Os atributos que não se sobrepõem nas duas sessões foram

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110 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

s i s temat icamente cons iderados menos centrais para as impres sões dos grupos, enquanto os

a t r ibutos que se repe tem foram considerados, pelos ind iv íduos , s igni f ica t ivamente mais

essencia is e de te rminantes . C o m estes dados p o d e m o s pensa r que, seja a natureza dos

cernes das ca tegor ias mais de carácter def in idor ( A r m s t r o n g e colaboradores , 1983) ou

mais baseado na exper iênc ia (Barsalou, 1982, 1989), a lguns destes atr ibutos que os

indiv íduos esco lheram para descrever grupos socia is p a r e c e m ter ganho um estatuto

equ iva len te ao de cernes de informação, na medida em que parecem in fo rmação central

(para a descr ição da categoria) , al tamente acessível e mais es tável (Barsalou, 1982). No

m e s m o sent ido, os níveis de acordo intra suje i tos e en t re su je i tos obt idos para os traços

aval iados como centrais e per i fér icos apontam para a m a i o r es tabi l idade temporal e para o

maior consenso entre suje i tos re la t ivamente aos t raços centra is para a descr ição da

impressão geral sobre o grupo, do que para os t raços per i fér icos . Contudo , sendo

s ign i f i ca t ivamente maiores , os níveis de precisão, quer intra su je i tos quer entre sujei tos ,

reve lados pelos t raços centrais são modestos . O que j á não sus tenta a apl icação da noção de

cerne conceptua l , p ropos ta por Armstrong e co laboradores (1983) , aos atr ibutos cent ra is , já

que esta v isão enfa t iza não só o carácter def in idor mas t a m b é m a grande es tab i l idade da

i n fo rmação com esse estatuto. Estes resul tados apon tam, assim, para o fac to da

ins tabi l idade das representações mentais de ca tegor ias socia is ser uma caracter ís t ica

in t r ínseca aos concei tos e ao seu processo de cons t rução , c o m o supõem a visão de Barsalou

(1987, 1989) e as perspect ivas exemplar is tas da ca t egor i zação . Já que, com indicadores

sobre a modes ta precisão temporal mesmo dos a t r ibutos cons ide rados centra is t emos que

deixar de supor que a instabi l idade mani fes tada pelas r ep resen tações de ca tegor ias sociais

p rovém apenas da var iabi l idade temporal de a t r ibutos menos essencia is , mais per i fé r icos

para a descr ição da categor ia ; o que, até aqui, era t a m b é m u m a pos ição defensáve l .

Tendo chegado à conc lusão que os atr ibutos verba is das ca tegor ias socia is não são

recuperados da memór ia de forma comple t amen te prec isa , uma das ques tões de

inves t igação que se coloca é a de saber se a i n f o r m a ç ã o sobre ins tâncias , que ac tua lmente

se cons idera incluída nas representações menta is dessas ca tegor ias , t a m b é m revela o

mesmo grau de ins tabi l idade. Ainda, a cur ios idade sobre a natureza da ins tabi l idade

temporal mani fes tada levou, na Exper iência II, a cr iar cond ições exper imen ta i s que

demons t ra ram a maior es tabi l idade dos atr ibutos ava l iados pe los ind iv íduos c o m o centrais

para as impressões dos grupos, do que dos atr ibutos pe r i f é r i cos . Do m e s m o m o d o . poder-

se-ia a rgumenta r que as instâncias mais estáveis , c o m p a r a t i v a m e n t e com as ins táveis ,

co r respondessem aquelas que os indivíduos j u l g a r i a m c o m o s ign i f i ca t ivamen te mais

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2302 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

t ípicas, de acordo até com estudos da ps icologia cogni t iva (Barsalou e Medin , 1986). Neste

sentido, uma terceira exper iência foi del ineada para responder a estas ques tões de

inves t igação.

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112 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

4. Experiência III

Até agora p re t endemos determinar com que grau de p rec i são pode ser recuperada

in formação da memór ia dos indivíduos re la t ivamente a ca tegor i a s sociais , u t i l izando um

método de geração de i n f o r m a ç ã o apart ir de uma lista de a t r ibu tos , outro de aval iação de

d imensões carac ter í s t icas em escalas bipolares e ou t ro de se lecção de dis t r ibuições

apresentadas em matr izes . Bas icamente , os su je i tos f o r n e c i a m respos tas a rótulos de

categorias sociais , e sc revendo traços de persona l idade carac te r í s t icos das categorias

apresentadas , ava l iando d imensões caracter ís t icas dessas ca tegor ias e, ainda, escolhendo

dis t r ibuições mais represen ta t ivas das mesmas. Duas s e m a n a s depois , e ram tes tados nas

mesmas ta refas e usando os mesmos rótulos. Nesta tercei ra exper iênc ia con t inuávamos

interessados em es tudar a prec isão com que in fo rmação re la t iva ás representações mentais

de categor ias socia is é recuperada , mas agora in t roduz indo um pa rad igma de geração de

exemplares . Subsc revendo o consenso con temporâneo de que as represen tações das

categorias t ambém inc luem informação de exempla res e spec í f i cos , pa receu-nos útil

aver iguar o seu cont r ibu to para a maior ou menor p rec i são das represen tações menta i s de

grupos sociais . Os resu l tados das duas exper iências an ter iores t inham ind icado que os

atr ibutos verbais das ca tegor ias sociais não eram recupe rados da memór ia de forma

comple tamente prec isa . U m grau de instabi l idade da r e c u p e r a ç ã o pode ser ve rdade para os

atr ibutos das ca tegor ias , mas será verdade para a r ecupe ração de ins tâncias das categorias

sociais? Esta ques tão foi aver iguada pedindo aos su je i tos que d e s e m p e n h a s s e m a mesma

tarefa de geração de ins tâncias em duas sessões, com um in te rva lo de 15 dias.

Bel lezza (1984a) , u t i l izando um paradigma seme lhan te , pediu aos su je i tos para

gerarem ins tâncias de ca tegor ias comuns em duas sessões sepa radas por uma semana , para

chegar a uma es t imat iva dessa precisão. Obteve uma cor re l ação média entre os conteúdos

das duas recordações de .69. Vários estudos sobre a e s tab i l idade da es t ru tura gradat iva

produzida pelo m e s m o ind iv íduo para a mesma ca tegor ia , m o s t r a r a m que estas estruturas

não re f lec tem es t ru turas invariantes subjacentes ás ca tegor ias , mas que os seus

determinantes p o d e m mudar com o contexto e que , por isso, a es t ru turação de uma

categoria é um processo a l tamente d inâmico e dependen te do con tex to (Barsa lou, 1985;

Barsalou e co laboradores , 1986, ci tado por Barsa lou , 1989). Es tes es tudos abordaram

também a ques tão de que exemplares "'dentro" de uma ca tegor ia são pr inc ipa lmente

responsáveis por m u d a n ç a s na estrutura gradat iva p roduz ida por um indiv íduo. Ao longo

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2304 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

de uma var iedade de condições , os exemplares moderadamen te t íp icos fo ram sempre os

mais instáveis , enquan to os exemplares t ípicos e atípicos f o r a m sempre mais es táveis ,

revelando, con tudo , uma ins tabi l idade substancial (Barsalou e Medin , 1986). Baseados

neste rac iocínio , e cons ide rando que a estrutura gradat iva é um predi tor impor tan te do

desempenho, en t re outras , em tarefas de produção de exempla res , a nossa h ipótese

principal era que o grau de precisão intra suje i to para os exempla res gerados fosse

modesto, à s eme lhança dos valores encontrados para as ca tegor ias não sociais . E, poder-se-

ia argumentar que os exemplares mais estáveis , compara t ivamen te com os ins táveis ,

cor respondessem aqueles ju lgados , pelos indivíduos, como s ign i f i ca t ivamente mais t ípicos.

Es t ávamos in te ressados ainda em replicar os níveis de ins tab i l idade intra suje i to ,

obtidos nas duas exper iênc ias anteriores, re la t ivamente ás ava l iações das d imensões mais

f requentes dos grupos sociais em escalas bipolares .

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114 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

4.1 Experiência III: Método

4.1.1 Participantes e Desenho experimentai

Os su j e i t o s f o r a m 65 es tudantes da U n i v e r s i d a d e de L i s b o a que pa r t i c ipa ram por um

b ó n u s parc ia l na sua nota na d isc ip l ina . T o d o s os p a r t i c i p a n t e s r e sponde ram ás quatro

t a r e fa s i n c l u í d a s na expe r i ênc i a (descr i tas ad ian te ) , p a r a os t rês g rupos socia is .

O d e s e n h o e x p e r i m e n t a l desta expe r i ênc i a foi 2 s e s s õ e s (Ses são 1 versus S e s s ã o 2) x

3 g r u p o s soc ia i s ( C i g a n o s versus H o m o s s e x u a i s v e r s u s E m i g r a n t e s a f r i canos ) . T o d o s os

f a c t o r e s e r a m f a c t o r e s in t ra su je i to .

4.1.2 Material

As in s t ruções gera is fo rma man t idas i dên t i ca s ás da Expe r i ênc i a II (para mais

de t a lhe s ver s e c ç ã o 3 .1 .2 da Exper iênc ia II). E os g r u p o s a p r e s e n t a d o s nes ta expe r i ênc ia

m a n t i v e r a m - s e os m e s m o s da Exper iênc ia II, ou s e j a , c i g a n o s , h o m o s s e x u a i s e emig ran t e s

a f r i c a n o s .

As qua t ro t a r e f a s da exper iênc ia f o r a m f o r n e c i d a s aos pa r t i c ipan te s na seguin te

o r d e m :

• G e r a ç ã o de ins tânc ias . In i c i a lmen te , foi p e d i d o aos p a r t i c i p a n t e s que

e l a b o r a s s e m desc r i ções dos a spec tos c a r a c t e r í s t i c o s de i n s t ânc i a s de uma

c a t e g o r i a soc ia l , sa l ien tando a i m p o r t â n c i a de d e s c r e v e r pe lo m e n o s c inco

i n d i v í d u o s d is t in tos . As ins t ruções a p r e s e n t a d a s f o r a m as segu in tes :

Nesta tarefa vamos pedir-lhe que construa pequenas descrições (de duas ou três frases) de indivíduos específicos que têm em comum serem ciganos. Os indivíduos que descrever podem corresponder a indivíduos que conhece quer íntima quer superficialmente ou até a indivíduos específicos que imagine a partir dos seus conhecimentos gerais acerca dos ciganos. Sabemos que é impossível fornecer um retrato completo de um indivíduo em duas ou três frases, mas uma breve descrição dos aspectos que considerar mais característicos do indivíduo específico em causa é o suficiente. Pedimos-Ihe ainda que numere cada uma das descrições para que saibamos que se tratam de diferentes indivíduos. Por favor, elabore pelo menos cinco descrições de cinco indivíduos diferentes. Pode elaborar mais se for capaz (ou menos de cinco se sentir que cinco é excessivamente difícil). Estamos interessados nas descrições que as pessoas fazem de indivíduos que têm em comum serem ciganos. Pode usar o reverso da página se necessitar. E por favor tente utilizar uma letra bem legível. Se tiver alguma dúvida, esclareça-a com a experimentadora.

• J u l g a m e n t o da f ami l i a r idade com as i n s t ânc i a s ge radas . D e p o i s d o s pa r t i c ipan te s

g e r a r e m as ins t ânc ias para o p r i m e i r o g r u p o soc ia l (os c i g a n o s ) , f o i - l h e s ped ido

que v o l t a s s e m ao iníc io e que, pa ra c a d a i n s t â n c i a , i n d i c a s s e m o grau de

f a m i l i a r i d a d e que sen t iam c o m cada e x e m p l o de c i g a n o desc r i to , n u m a esca la

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2306 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

bipolar de 9 pontos, que oscilava entre +1 (Muito pouco famil iar) e +9 (Mui to

fami l ia r ) . Es tava aqui em causa, não o papel da fami l ia r idade com a ca tegor ia

social , como foi explorado nas duas exper iências anteriores, mas o papel da

fami l ia r idade com exemplares espec í f icos , gerados para as categorias .

• Ju lgamento da t ipical idade das ins tâncias geradas. Para obter ju lgamentos da

t ip ical idade, pediu-se aos sujei tos que vol tassem novamente ao início da ta refa

de geração de instâncias e que, para cada instância produzida , aval iassem, agora ,

a sua t ip ical idade numa escala de aval iação bipolar , onde o ponto +1 foi ro tu lado

Atípico e o ponto +9 foi rotulado Típico. Os indivíduos t inham que indicar , para

cada ins tância , o número da escala que melhor t ransmit isse quão t ípico esta era

da sua categor ia . Outros autores (Barsa lou , 1985) houve que, para ava l ia rem a

t ip ical idade ut i l izaram inst ruções que ped iam para avaliar "quão bons exemplos

e ram da ca tegor ia" , por receio que o termo típico induzisse os suje i tos a usar , em

vez, a f r equênc ia com que viram a ins tância como membro da categoria .

• Aval iação de d imensões mais f r equen tes dos grupos em escalas b ipolares .

F ina lmente , foram apresentadas aos su je i tos as mesmas escalas de ad jec t ivos

b ipolares ut i l izadas na Exper iência II, contendo t a m b é m as 13 d imensões

cons ideradas como as mais per t inentes para os três grupos sociais incluídos nes ta

exper iência . Foi pedido aos sujei tos que respondessem, u t i l izando escalas de

aval iação de 9 pontos.

4.1.3 Procedimento

Todos os su je i tos foram testados duas vezes enquanto grupo , com a sessão 2 a

decorrer com um in tervalo de 15 dias da sessão 1. O p roced imen to foi o mesmo nas duas

sessões, t endo s ido ut i l izadas as mesmas ins t ruções . As ins t ruções e as quatro ta refas

fo ram apresentadas num único caderno. Repet iu-se o m e s m o p roced imen to de iden t i f icação

dos su je i tos , j á u t i l izado na Exper iência I e na Exper iênc ia II (ped indo que ind icassem a

sua data de aniversár io e a da sua mãe) . Os três grupos sociais f o r a m apresentados num só

caderno, sempre na mesma ordem: ciganos, homossexua i s e emigran tes af r icanos . Pr imei ro

responderam à ta refa de "geração de ins tâncias" para o grupo dos c iganos , depois à t a re fa

de " ju lgamen to de fami l ia r idade das instâncias geradas" , segu ida do " ju lgamento da

t ip ica l idade das ins tâncias geradas" e da "ava l iação das d imensões mais f requentes dos

grupos em escalas b ipolares" . Depois responderam ás mesmas t a re fas para o grupo dos

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116 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

homossexua is e para o g rupo dos emigrantes a f r icanos . Nas duas sessões, as tarefas e os

grupos sociais f o r a m apresen tados exac tamente na m e s m a o rdem.

4.1.4 Medidas dependentes

As medidas dependen tes deste es tudo foram:

a) O nível de acordo intra suje i to em relação ás ins tânc ias geradas, na sessão 1 e

na sessão 2, ca lculado através da cor re lação de e l emento c o m u m (Bellezza,

1984a, 1984b, 1984c).

b) As esca las b ipolares de ju lgamen to da f ami l i a r idade sent ida em relação ás

ins tâncias geradas .

c) As esca las b ipolares de ju lgamen to da t ip ica l idade a t r ibuída ás instâncias

geradas .

d) O nível de acordo intra suje i to re la t ivamente ás ava l iações das d imensões mais

f r equen tes dos grupos (em escalas b ipolares de 9 pon tos ) p roduz idas na sessão

1 e na sessão 2.

e) O nível de acordo intra su je i to em relação ás ins tânc ias geradas na sessão 1 e na

sessão 2 cons ideradas mais t ípicas, ca lcu lado a t ravés dá cor re lação de elemento

c o m u m (Bel lezza , 1984a, 1984b, 1984c).

f) O nível de acordo intra su je i to em relação ás ins tânc ias geradas na sessão 1 e na

sessão 2 cons ideradas menos t ípicas, ca lcu lado a t ravés da cor re lação de

e l emento c o m u m (Bellezza, 1984a, 1984b, 1984c).

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117 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

4.2 Experiência III: Resultados e Discussão

Geração de instâncias

• N ú m e r o de instâncias

Foi e f ec tuada uma análise de variância a dois fac tores para o número médio de

instâncias geradas . Os factores foram a sessão (sessão 1 vs. sessão 2), e o grupo social

(c iganos, homossexua i s e emigrantes afr icanos) . Ambos os fac tores e ram intra suje i to . O

número médio de ins tâncias geradas é apresentado na Tabe la 7 (ver co luna 1 e 2 da tabela) .

Da anál ise de var iância obteve-se um efe i to s ign i f ica t ivo da var iável grupo social

(F(2 ,128)=13 ,47 ; p=.000) , no sent ido em que, houve s i s temat icamente d i fe renças no

número de ins tânc ias geradas, dependendo do grupo social . Na real idade, esta d i fe rença

s igni f ica t iva f icou a dever-se , essencia lmente , ao grupo dos c iganos que, numa anál ise de

cont ras tes , se dis t inguiu s ignif ica t ivamente dos res tantes dois grupos ( F ( l , 6 4 ) = 1 7 , 6 9 ;

p=.000) , para os quais o número de instâncias geradas não difer iu s ign i f ica t ivamente

( F ( 1 . 6 4 ) = . 1 1 8 ; p = . 7 3 1 ) .

Tabela 7: Médias e valores de correlação para os grupos sociais

Grupos Número médio de Acordo intra sociais instâncias geradas sujeitos

Sessão 1 Sessão 2

Ciganos 4,83 4.37 .55

Homossexuais 4,34

Emigrantes africanos

4,38

4,77

4.37

.62

.55

• Acordo intra sujei tos

Para de te rminar o grau de acordo intra su je i to em relação ás instâncias geradas foi

usada a cor re lação de e lemento comum (Bel lezza, 1984a, 1984b, 1984c). Para calcular este

valor para cada grupo social, por sujei to, o número de ins tâncias comuns em ambas as

sessões foi d iv id ido pela raiz quadrada do p rodu to entre o número total de ins tânc ias

geradas na sessão 1 e o número total de ins tâncias geradas na sessão 2. O número de

ins tâncias comuns foi de terminado por aval iação de cada suje i to do seu própr io protocolo .

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118 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Assim, no final da sessão 2, facul tou-se a cada su je i to as descr ições das instâncias que

t inham gerado na sessão 1 e pediu-se que ass ina lassem aquelas que coinc id iam com as

geradas naquela sessão. Os níveis médios de acordo por cada condição de resposta são

t ambém apresentados na Tabela 7. (ver co luna 3 da tabela) .

C o m o previs to , g lobalmente , os níveis de acordo intra su je i to obt idos na ta refa de

geração de ins tâncias para categorias sociais es t iveram ao m e s m o nível daqueles obtidos

por Bel lezza (1984a) , que invest igou as ca tegor ias não sociais com o mesmo paradigma

exper imenta l . As pontuações médias de sobrepos ição de ins tânc ias var iaram entre .55 e

.62., r e f l ec t indo a precisão modesta com que são recuperadas as ins tâncias de categorias

sociais em memór ia .

Sal ienta-se , contudo, que, compara t ivamente com os níveis de acordo intra sujei to

obt idos na tarefa de geração de atr ibutos nas duas exper iênc ias anter iores , os níveis de

prec isão at ingidos na tarefa de geração de ins tâncias são mais e levados . Pode-se

a rgumenta r que este resul tado pode dever-se ao p roced imen to , menos objec t ivo , adoptado

para ca lcular o número de instâncias comuns nas duas sessões , na presen te exper iênc ia . Os

par t ic ipantes p o d e m ter t ido tendência para sobres t imar este valor , vis to que uma análise

superf ic ia l dos protocolos sugere, exac tamente , que uma desc r i ção de uma ins tância não

comple tamen te equiva lente (em termos dos e lementos inc lu ídos) à fei ta na sessão anterior

é mui tas vezes cons iderada uma descr ição comum a ambas as sessões .

• Ju lgamento da fami l ia r idade em relação ás ins tânc ias geradas

Ut i l izou-se os ju lgamentos de fami l ia r idade com as ins tânc ias geradas para

aver iguar se estes d i fe r iam s igni f ica t ivamente para as ins tânc ias que se mant ivessem

es táveis ao longo das sessões, quando comparadas com as que não se man t ivessem. Foram

e fec tuados testes de d i fe renças de médias para amost ras dependen te s , para cada condição

de resposta . Para tal, fo ram calculadas prev iamente as méd ias a r i tmét icas das ava l iações de

fami l ia r idade para o con jun to das instâncias co inc iden tes e para o c o n j u n t o das ins tâncias

não co inc identes . Os resul tados dos testes são apresen tados na Tabe la 8.

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2310 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Tabela 8: Valores dos testes de diferenças de médias de familiaridade entre as instâncias coincidentes nas

í ^ s ^ > Exemplares^ coincidentes

c a n o s I t ' ' C - ^ Exemplares não coincidentes

M=3,62

M=4,43

T= -2,52; p=.014

, Exemplares coincidentes ^ ^

^ Homosexua ls ^ ^ ^ l ^ ^ , í ^ Exemplares não coincidentes "

M=5.03

M=3,75

1=3,83; p=.000

Z.—% ^ ^ j ji ^ ^ ^ ^ \ ^ ' ^ "" Exemplares coincidentes

^ Emigrantes ^ . ' afncanos ^ ^ Exemplares não coinicidentes

M=5,64

M=4,80

T=2,51; p=.014

C o m o se pode constatar , excepto para o grupo dos c iganos , a fami l ia r idade média

atr ibuída foi s ign i f ica t ivamente maior para as instâncias que se repet i ram na sessão 1 e na

sessão 2, do que para as instâncias que não se repet i ram nas duas sessões.

A fami l ia r idade , tal como foi ut i l izada nesta exper iência , pode ser de f in ida c o m o a

es t imat iva subjec t iva , de a lguém, de quão f requen temente observou d i rec tamente , ou

conheceu pessoa lmente , uma ent idade ao longo de uma d ivers idade de contextos . E nesse

sentido, a fami l ia r idade é uma medida de f requênc ia independente de uma categor ia

part icular . Por isso, podia-se esperar que não fosse predi tora da p rodução de exempla res de

uma categor ia . E de facto, Barsa lou (1985) concluí nas suas inves t igações que a

fami l ia r idade não é um determinante da es t rutura gradat iva. Contudo , a ev idência obt ida

nesta exper iênc ia não suporta esta conclusão. De facto , o que se ver i f ica é que a var iável

" fami l i a r idade com as ins tâncias" está mais re lac ionada do que seria de esperar , pe los

es tudos de Barsa lou (1985), com a es tabi l idade das mesmas . In terpre tações a l ternat ivas

para este resul tado são fac i lmente encont radas como, por exemplo , o f ac to de ser provável

que se dê mais peso a um exemplar especí f ico da categor ia que se conheça melhor , ou com

o qual se contactou mais , recentemente ; pode-se colocar a ques tão de até que ponto isso

não o tornará mais acessível e não levará os su je i tos a cons iderá - lo mais impor tan te para

def in i r a ca tegor ia .

• Ju lgamento da t ipical idade das ins tâncias geradas

T a m b é m em relação ás aval iações da t ip ical idade das ins tâncias , p rocurou-se

aver iguar se estas d i fe r iam s igni f ica t ivamente entre as ins tânc ias que se man t ivessem

estáveis nas duas sessões e as que não se mant ivessem. Ca lcu lou-se novamente as médias

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120 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

a r i tmé t i cas dos j u l g a m e n t o s de t ip ica l idade para o c o n j u n t o das ins t ânc ias co inc iden tes e

para o c o n j u n t o das i n s t ânc i a s não co inc iden tes . E u t i l i z o u - s e tes tes de d i f e r e n ç a s de

méd ia s pa ra t e s t a r as d i f e r e n ç a s . Os resu l tados dos tes tes são a p r e s e n t a d o s na Tabe la 9, a

seguir .

Tabela 9: Valores dos testes de diferenças de médias de tipicalidade entre as instâncias coincidentes nas duas sessões e as instâncias não coincidentes

i

^ Ciganos

ií >

Exemplares coincidentes v ^ < i

• ' i' . ' v> . ' .• f

Exemplares não coincidentes l

M=6,32

M=5.51

T=-1,98; p=.052

i Exemplares coincidentes^ M=6,02

• ' — . ... v.- a.../- . ::.tí N ^ ^ { > ^

Homossexuais A ^ < i , -S

> ' " ' ' ' l T=4,47; p=.000 ^ í. ; Exemplares^não coindcientes - c? M=4.28

í l

^ > Y H ' '

! Emigrantes ^ afncanos^

Exemplares coincidentes

Exemplarei não coinicidentes:í- .Vi

M=6,37

M=5,94

T=1,17; p=.243

Pe lo m e n o s e m dois dos grupos , os r e su l t ados p a r e c e m a p o i a r a p r ev i s ão de que a

t i p i ca l idade das i n s t ânc i a s é uma boa pred i to ra da e s t a b i l i d a d e na p r o d u ç ã o de exempla res .

De f ac to , pa ra o g r u p o dos c iganos e pa ra o g r u p o dos h o m o s s e x u a i s , as ins tânc ias

r epe t idas nas duas ses sões f o r a m ju lgadas c o m o s i g n i f i c a t i v a m e n t e m a i s t íp icas do que as

ins tânc ias que não se r epe t i r am nas duas sessões .

• A c o r d o in t ra su j e i to s , por grau de t i p i ca l idade a t r i b u í d o aos e x e m p l a r e s

Para d e t e r m i n a r o grau de acordo intra su j e i t o s e m r e l a ç ã o ás i n s t ânc i a s geradas

cons ide radas ma i s t íp icas ou m e n o s t íp icas foi u s a d a a c o r r e l a ç ã o de e l e m e n t o c o m u m

(Be l l ezza , 1984a, 1984b, 1984c) . Foi necessá r io , p r i m e i r o , tal c o m o fo i f e i to e m re lação

aos t r aços cen t r a i s e p e r i f é r i c o s , d is t inguir ent re i n s t â n c i a s m a i s t í p i cas e m e n o r t ípicas .

Para cada su je i to , fo i c a l c u l a d a uma med iana , c o m b a s e na qua l as i n s t ânc i a s aval iadas

com va lores a b a i x o da m e d i a n a fo ram cons ide radas m e n o s t í p i ca s e as ava l i adas com

valores ac ima da m e d i a n a f o r a m cons ide radas ma i s t í p i cas (as i n s t â n c i a s sob repos t a s nas

duas ses sões e c u j o s va lo res ca í ram em c ima da m e d i a n a f o r a m n e g l i g e n c i a d a s para o

cá lcu lo do a c o r d o in t ra su j e i t o s ) . O p r o c e d i m e n t o de c á l c u l o da c o r r e l a ç ã o de e l emen to

c o m u m foi s e m e l h a n t e ao e f e c t u a d o para o a c o r d o in t r a s u j e i t o s em a d i s t i n ç ã o ent re

ins tânc ias t íp icas e a t íp icas (ver o início des ta m e s m a s e c ç ã o , 4 .2 ) , c o m a d i f e r e n ç a de que

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121 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

O n ú m e r o de i n s t ânc i a s ge radas na sessão 1 e na ses são 2 foi d iv id ido por dois . c o m o já

t inha a c o n t e c i d o na E x p e r i ê n c i a II para cá lcu los e q u i v a l e n t e s . Os n íve is méd ios de a c o r d o

para cada c o n d i ç ã o de r e spos t a são ap resen tados na T a b e l a 10, a segui r .

Tabela 10: Valores de correlação para os grupos sociais, por grau de tipicalidade atribuído aos exemplares gerados

Grupos sociais

Grau de tipicalidade das instâncias

Acordo intra sujeitos

Ciganos Instâncias perifencas-

Instâncias-centrais^^

.35

.44

Homossexuais Instâncias periféncas-;

:lnstâncias.cehtrais,.í:^v

.34

.50

i-Instâncias periféncas': Emigrantes africanos :4lnstâncias centrai.S;;0;.

.32

.47

C o m o ob t ido na Expe r i ênc i a II, e c o m o prev i s to , u m a aná l i se de var iânc ia a do i s

f ac to res ( g r u p o soc ia l x grau de t ip ica l idade das ins t ânc ias ) ev idenc iou um e f e i t o

s i gn i f i ca t i vo da va r i áve l grau de t ip ica l idade das i n s t ânc i a s ( F ( l , 3 7 ) = 1 3 , 5 8 ; p= .000) , no

sen t ido e m q u e as ins t ânc ias mais t ípicas, ma i s cen t ra i s pa ra a d e s c r i ç ã o da ca tegor ia soc ia l

r e v e l a r a m m a i o r a c o r d o intra su je i to ( .47) do q u e as ins t ânc ias m e n o s t íp icas , p o r t a n t o

mais p e r i f é r i c a s pa ra a desc r i ção do grupo soc ia l ( .34) . T a m b é m no m e s m o sen t ido do que

acon teceu na E x p e r i ê n c i a II, o nível de p rec i são t empora l ob t i do para es tas ins t ânc ias

c o n s i d e r a d a s cen t r a i s é modes to .

Avaliação de dimensões mais frequentes dos grupos em escalas bipolares

• C o r r e l a ç õ e s en t re as aval iações p r o d u z i d a s na sessão 1 e na sessão 2, pe los

m e s m o s i n d i v í d u o s

U t i l i z a n d o o coe f i c i en t e de cor re lação de P e a r s o n , c a l c u l o u - s e a p r o p o r ç ã o de

va r i ação c o m u m en t re as ava l iações das d i m e n s õ e s ma i s f r e q u e n t e s dos g rupos soc ia i s

e f e c t u a d a s na ses são 1 e as e f ec tuadas na ses são 2, pe los m e s m o s ind iv íduos . G l o b a l m e n t e ,

o b t i v e r a m - s e v a l o r e s mu i to var iados , que o s c i l a r a m en t re .14 e .75. Es tes resu l t ados são

c o n c o r d a n t e s c o m os ob t idos na Exper i ênc ia I e, f u n d a m e n t a l m e n t e , c o m os ob t idos na

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122 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Exper iênc ia 11, que incluiu os mesmos grupos sociais , pe rmi t i ndo rea f i rmar a instabil idade

previs ta para as representações mentais de categor ias socia is .

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2314 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

4.3 Experiência III: Conclusões

E m s u m a . e c o m o previs to , nesta expe r i ênc ia , vo l ta -se a rep l icar o e fe i to , j á ob t i do

nas duas e x p e r i ê n c i a s an ter iores , de q u e as desc r i ções de ca tegor ias socia is e v i d e n c i a m

níveis de i n s t ab i l i dade seme lhan te s aos das ca t egor i a s não socia is , mas agora u t i l i z ando u m

p a r a d i g m a d i f e r e n t e , o pa rad igma da ge ração de ins tânc ias . Supor t e pa ra es te e f e i t o fo i

t a m b é m c o n s e g u i d o a t ravés da m e d i d a de " a v a l i a ç ã o das d i m e n s õ e s ma i s f r e q u e n t e s nas

esca las b i p o l a r e s " , onde se produziu o m e s m o p a d r ã o de resu l tados da E x p e r i ê n c i a I e da

Expe r i ênc i a II.

T a m b é m c o m o previs to , c o n s e g u i m o s ob te r r esu l t ados que ind icam a var iáve l

" t i p i ca l idade das i n s t ânc i a s " c o m o uma b o a p red i to ra da p r o d u ç ã o de ins tânc ias . As

ins tânc ias q u e c o i n c i d i r a m nas duas sessões f o r a m , pe lo m e n o s e m dois dos g rupos ,

s i s t e m a t i c a m e n t e cons ide radas mais t íp icas do q u e as ins tânc ias que não c o i n c i d i r a m . Ou

se ja , pa r ece v e r i f i c a r - s e uma maior e s t ab i l idade das ins tânc ias que são c o n s i d e r a d a s ma i s

r ep resen ta t ivas das ca tegor ias sociais . Os va lo res do aco rdo intra su j e i to s pa ra i n s t ânc i a s

ava l i adas c o m o ma i s t íp icas e para ins tânc ias ava l i adas c o m o m e n o s t íp icas vão no m e s m o

sent ido , a p o n t a n d o para uma maior e s t ab i l idade das ins tânc ias cons ide radas m a i s t íp icas .

Rosch (1975 , c i t ado po r Smith e Med in , 1981) e Rosch e M e r v i s (1975 , c i t ado po r Smi th e

Med in , 1981) j á t i n h a m d e m o n s t r a d o q u e as ins tânc ias mais t íp icas t i n h a m mais

p r o b a b i l i d a d e de s e r e m recuperadas , j á que são ma i s s eme lhan t e s aos e x e m p l a r e s de u m

conce i to q u e e s t ão a rmazenados . Os t r aba lhos des tes au tores a p o n t a m pa ra u m t ipo

par t i cu la r de m o d e l o de ca tegor i zação que, pa ra a l ém de as sumi r desc r i ções de e x e m p l a r e s ,

cons ide ra as r e p r e s e n t a ç õ e s de ca tegor ias res t r i tas a exempla r e s q u e são t íp icos do

conce i to .

Pode r - s e - i a a té m e s m o a rgumen ta r que . a noção de ce rne concep tua l , q u e a v i s ã o

"cerne+identificação" (Arms t rong e c o l a b o r a d o r e s , 1983) p r o p õ e r e l a t i v a m e n t e aos

a t r ibutos das ca t ego r i a s , seria t a m b é m apl icável a e x e m p l a r e s e s p e c í f i c o s das ca t ego r i a s ,

no sen t ido e m que as ins tânc ias t íp icas c o r r e s p o n d e r i a m a i n f o r m a ç ã o cen t ra l pa ra a

desc r i ção da ca t ego r i a e depois ex is t i r iam ins t ânc i a s ma i s pe r i f é r i cas . E . nes te sen t ido , as

p r ime i ras s e r i am a l t amen te acess íve i s e e s t áve i s , i m p r e s c i n d í v e i s pa ra de f in i r a c a t e g o r i a

s empre que a sua r ep re sen t ação menta l e s t ivesse e m causa ; e as ú l t imas só se r i am ac t i vadas

o c a s i o n a l m e n t e . C o n t u d o , c o m o a per tença grupai nes te p a r a d i g m a e x p e r i m e n t a l de

ge ração de in s t ânc i a s não é d e f i n i d a po r a t r ibu tos de p e r s o n a l i d a d e e ou t ros , e s t e s

r esu l t ados e n q u a d r a m - s e me lhor na teor ia de B a r s a l o u (1982 . 1989), pa ra q u e m a na tu reza

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124 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

dos cernes tem um carác ter mais baseado na exper iência , do que na teor ia de Armstrong e

co laboradores (1983) , s egundo quem os cernes têm um carác te r de f in idor , no sent ido em

que são cons t i tu ídos por propr iedades necessár ias e su f ic ien tes para def in i r um conceito.

Na visão "cerne+identificação" (Armst rong e co laboradores , 1983), as propriedades I

protot ípicas e os exempla res que as pessoas adqu i rem re s idem s implesmente nos

"procedimentos de identificação", em vez de nos "cernes", e, por tan to , nunca chegar iam a

ser cent ra is para a ca tegor ia na acepção destes autores . Por outro lado ainda, é

de te rminante que, apesar das instâncias mais t ípicas r eve la ram mais es tab i l idade temporal

do que as ins tâncias menos t ípicas, os níveis de es tab i l idade des tas ins tâncias centrais

cont inue a ser mui to modes to , o que mais uma vez a rgumen ta para o f ac to de ser difícil

apl icar a noção de "cerne" def in idor (Armstrong e co l abo radores , 1983) ás instâncias

centrais , pois na concepção destes autores os "cernes" são a l t amen te es táveis .

Al iás , tal como reve lado neste estudo, e de acordo com a lguns autores , m e s m o as

instâncias t ípicas reve lam uma instabi l idade substancial (Be l lezza , 1984a; Barsa lou , 1985;

Barsa lou e Medin , 1986). Ass im, é provável , pois, que os n íve is modes tos de acordo intra

suje i to possam ser o resu l tado da variabi l idade da es t ru tura g rada t iva das ca tegor ias , j á que

os gradientes de t ip ica l idade não são f ixos ao longo do t e m p o e em di fe ren tes contextos.

Mas p o d e m ser t ambém resul tado da fo rma como até as ins tânc ias mais t ípicas são

a rmazenadas e recuperadas apart i r da memória .

Os dados desta exper iênc ia parecem, ainda, apontar para a var iável " fami l ia r idade

com as ins tânc ias" como es tando mais re lac ionada do que ser ia de esperar com a

es tabi l idade das mesmas ; j á que, pelo menos em dois dos g rupos , a fami l ia r idade foi

s ign i f i ca t ivamente maior para as instâncias coincidentes do que para as não coincidentes .

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125 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

S.Conclusões gerais

A impor tânc ia do pensamento ca tegór ico no dia-a-dia jus t i f i ca , com certeza, os

var iados e s fo rços teór icos e empír icos para caracter izar a sua es t rutura e para ident i f icar os

processos que agem sobre eles. Sa l ien tam-se duas visões da ps icologia cogni t iva

in teressada no es tudo da categorizarão, pelas previsões cont ras tantes que fazem quanto à

es tabi l idade dos concei tos , tópico de par t icular interesse nesta disser tação: A

abs t racc ionis ta e a exemplar is ta . No processo de pÔr à prova empír ica teorias sobre a

es tabi l idade das representações mentais de categor ias , o desenvo lv imento de métodos

apropr iados para es tudar a es tabi l idade que ex ibem essas representações - como a

metodolog ia de tes te-re tes te longi tudinal - foi de te rminante , p roduz indo resul tados cu jas

impl icações para a natureza dos concei tos e para as teorias da ca tegor ização são vastas.

O p rocesso de evolução que os modelos de representações menta is de grupos sociais

fo ram tendo não é alheio aos desaf ios que os modelos de representações mentais das

categor ias em geral t iveram que ir u l t rapassando. O m e s m o tipo de inadequabi l idades que

levou à r e f o r m u l a ç ã o de modelos cogni t ivos gerais e à prevalência de visões al ternat ivas

ao abs t racc ion i smo na psicologia cogni t iva con temporânea (Garc ia -Marques , 1998), fo ram

detec tados t a m b é m nos modelos de cognição social baseados na abst racção. As abordagens

mais recentes en fa t i zam, cons is tentemente , a fluidez e flexibilidade dos es tereót ipos ,

p ropondo que es tes são construídos com base no con jun to de conhec imentos d isponíveis

num d e t e r m i n a d o momento . Contudo, pouca ou nenhuma inves t igação foi fei ta para

de te rminar quão es táveis podem ser estas es t ru turas de conhec imento social .

Nes ta d i sser tação fizemos uma tentat iva de desenvolver e apl icar uma metodolog ia

adequada ao es tudo da instabi l idade de categor ias sociais - a metodolog ia de tes te-retes te

longi tudinal , vas ta e cons is tentemente tes tada na ps icologia cogni t iva in teressada na

ins tabi l idade dos concei tos . Nas três exper iências e fec tuadas foi fe i ta uma es t imat iva da

es tab i l idade dos es tereót ipos e das crenças individuais sobre grupos sociais .

Ass im, a secção final desta d isser tação cons is te em duas subsecções : a pr imei ra é

dedicada a u m a síntese dos principais resul tados obt idos ao longo das três exper iências e

procura aponta r os pr incipais erros e lacunas da presente inves t igação, a segunda pre tende

ser um r e sumo das principais l ições aprendidas apart i r destes es tudos , j un t amen te com as

perspec t ivas de fu tu ras invest igações.

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126 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

5.1 Principais resuitados das três experiências: uma síntese

As três exper iências produziram uma grande divers idade de resultados

correspondentes ás várias medidas dependentes usadas. As principais descobertas estão

sumariadas a seguir.

(ci) Efeito de instabilidade intra-individual de categorias sociais. O resul tado mais

óbvio destas experiências é a instabil idade intra-individual das representações mentais de

grupos sociais. De facto, os resultados das três exper iênc ias suportam globalmente a

hipótese de que o acordo intra sujeito para as categorias sociais revela níveis de precisão

modestos, equivalentes aos obtidos por outros autores em invest igações sobre a

instabil idade de categorias não sociais (para uma revisão ver Barsalou e Medin , 1986;

Barsalou, 1987, 1989).

Suporte para este efei to foi obtido com um parad igma de geração de traços, com um

paradigma de geração de instâncias e através de uma medida de "aval iação das dimensões

mais f requentes nas escalas bipolares".

Assim, estes resul tados permitem analisar a ex tensão do efe i to , quando demonst ram

que um grau de instabi l idade acontece tanto na recuperação dos atr ibutos verbais como na

recuperação de instâncias dessas categorias.

Os resul tados most ram também a generalidade das descober tas , j á que o efe i to não é

l imitado aos três grupos sociais inicialmente testados, mas surge t ambém nos três grupos

introduzidos nas Exper iências II e III. E mostram ainda que essa instabi l idade intra-

individual não se f ica a dever ao uso de estereótipos f r acos mas ocorre igualmente em

grupos com estereót ipos bastante bem definidos e re levantes socia lmente .

Parece pois que as representações mentais de grupos sociais são al tamente

permeáveis ao contexto em vez de entidades estáveis recuperadas de forma inal terada, à

semelhança da natureza do processo de categorização de ob jec tos não sociais. Este facto

deve ser levado em consideração nas conceptual izações sobre c o m o os grupos sociais estão

representados menta lmente .

Esta instabi l idade intra-individual poderia ref lect i r um erro de medida, ou seja, ser

devida, em parte, ao ins t rumento de medida em si e em par te ás condições que envolvem o

seu teste. Na real idade, se o erro de medida fosse responsáve l pelos níveis baixos de

estabil idade observada no conjunto das experiências que vários inves t igadores da

psicologia cognit iva e fec tuaram, então dever-se-ia sempre observar estes níveis baixos

independentemente de se pedir para os itens serem aval iados ou ordenados .

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127 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Contudo, Galambos e Rips (1982, ci tado por Barsalou, 1989) relataram um resul tado g

que inf i rma esta predição. Alguns dos seus sujei tos ordenaram acções de um script da

mais central para a menos central, onde a central idade das acções num script é análoga à

t ipical idade dos exemplares numa categoria. Outros sujei tos ordenaram essas mesmas

acções por posição ou ordem temporal , começando pela acção que ocorre primeiro no

script e conclu indo com a acção que ocorre no f im do mesmo. Os sujei tos que ordenaram

pela central idade exibiram um acordo entre sujei tos de .35, que é comparável ao acordo

entre suje i tos relatado anteriormente para a t ipicalidade (Barsalou e Sewell , 1985, ci tado

por Barsa lou, 1989). Ao contrário, os sujei tos que ordenaram de acordo com a posição

temporal exib i ram um acordo entre sujei tos de ,89, indicando que o baixo acordo para a

central idade não era devido a um erro de medida. Em vez disso, o baixo acordo para a

central idade parece ref lect i r menor estabil idade da informação que os sujei tos recuperaram

para fazer ju lgamentos . Mais, é al tamente plausível que Galambos e Rips (1982, ci tado por

Barsalou, 1989) t ivessem encontrado maior estabil idade intra sujei to para a pos ição

temporal do que para a central idade se t ivessem recolhido esses dados. Dada a

possibi l idade, muito provável , que os sujei tos revelassem acordo intra e entre suje i tos

quase perfe i to para algumas dimensões das categorias, pode-se esperar que o erro de

medida não seja exclusivamente responsável pela instabil idade dos ju lgamentos de

t ipical idade. Se assim fosse, não deveria haver uma dimensão para a qual os suje i tos

exibissem maior estabil idade. Além de que as diferenças de instabi l idade obtidas entre

grupos sociais não podem ser explicadas por l imitações do ins t rumento de medida. De

facto, os resul tados das Experiências II e III revelam, não só, um acordo entre suje i tos

(.33), para os atr ibutos considerados centrais, comparável ao relatado anter iormente por

Galambos e Rips (1982, citado por Barsalou, 1989), para os sujei tos que ordenaram pela

central idade, mas também, uma instabil idade temporal intra sujei to considerável para

atributos verbais considerados mais centrais (.36) e para instâncias consideradas mais

típicas ( .47), que é ainda maior para os traços avaliados como per i fér icos (.28) e para as

instâncias menos t ípicas (.37). Os resultados revelam, ainda, d i ferenças de instabi l idade

intra suje i to entre os grupos sociais testados que não podem ser re f lexo de um erro de

medida, que jus t i f icar ia níveis baixos de estabil idade independentemente de se pedir a

avaliação de um grupo social ou de outro. Por exemplo, para o estereótipo de cigano, o

« Conhecimento geral que possuímos sobre o que é esperado numa dada situa_ção cognitivamente repre^ntado num script. Os scripts dizem-nos que comportamentos são normais e esperados em dadas situações (Smith e Mackie, 1995)

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128 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

acordo intra suje i to para t raços centrais é de .49, enquan to para o es tereót ipo de emigrante

a f r icano o m e s m o acordo ronda os .28.

Torna-se pois mais plausível um enquadramento ba seado na recuperação , através de

mecan i smos bás icos como a acessibi l idade e as p is tas contex tua is , para explicar a

ins tabi l idade das represen tações do conhec imento , c o m o o p ropos to por Barsa lou (1987,

1989).

Crenças sociais percebidas como mais negativas, mais estereotipadas, mais

homogéneas e descritas por mais atributos do que as crenças individuais. Globalmente ,

conseguimos obter , nas Exper iências I e II, ev idências que pe rmi t em a demons t ração de

alguns f enómenos bás icos previsíveis .

Ass im, à semelhança dos resultados de Devine e El l iot (1995) , compara t ivamente

com as crenças individuais , os es tereót ipos sociais são descr i tos u t i l izando maior numero

de atr ibutos, e são perceb idos como mais negat ivos .

Também, baseado no raciocínio de que as r ep re sen tações das crenças individuais

seriam mais fo r t emente const i tu ídas por exemplares e spec í f i cos do que as representações

dos es tereót ipos , p redominan temen te baseadas em i n f o r m a ç ã o abstracta , esperava-se , tal

como se ver i f icou , que as representações das crenças ind iv idua i s fo s sem perceb idas como

mais var iáveis do que as representações dos es tereót ipos . De fac to , porque é prováve l que

os exemplares se jam, em parte, d iscrepantes da abs t r acção poder - se - ia esperar que a

inclusão de i n fo rmação sobre exemplares aumentasse a pe r cepção da var iab i l idade nas

representações das crenças individuais , compara t ivamen te com as r ep resen tações dos

es tereót ipos .

E ainda, de acordo com a nossa suposição de que o p rocesso de cons t rução dos

es tereót ipos, compara t ivamen te com o das c renças ind iv idua i s , depende menos da

exper iência directa com membros individuais , o b t i v e m o s impressões baseadas em

estereót ipos mais es te reo t ipadas do que as baseadas em c renças ind iv idua is .

Estes resul tados representam e enca ixam bem na d i s t inção conceptua l in t roduzida

por Devine (1989) entre as duas representações menta i s de g rupos sociais : as c renças

individuais e os es tereót ipos .

(C) Os atributos e instâncias coincidentes no teste-reteste são consistentemente

considerados mais centrais e mais típicos. Os resu l tados das Exper i ênc ia s II e III vão no

mesmo sent ido, na medida em que revelaram que os a t r ibu tos e as ins tâncias que não se

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129 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

sobrepõem nas duas sessões foram s is temat icamente cons iderados menos centrais e menos

t ípicos para as impressões dos grupos sociais , enquan to os atr ibutos e as instâncias que se

repetem f o r a m cons iderados s ign i f ica t ivamente mais essencia is , de te rminantes e t ípicos.

No m e s m o sent ido, o cálculo do acordo intra suje i tos para a t r ibutos mais centrais e

ins tâncias mais t íp icas e para atr ibutos mais per i fé r icos e ins tâncias menos t ípicas revelou

a maior es tab i l idade intra individual ao longo das sessões dos a t r ibutos centrais e das

ins tâncias mais t ípicas , apesar de mesmo estes reve laram uma ins tabi l idade substancial .

Os resu l tados quanto aos atr ibutos pa recem fac i lmente acomodáve i s ás teorias que

pos tu lam a ex is tênc ia de cernes conceptuais nas categor ias . Alguns dos atr ibutos que os

suje i tos e sco lhe ram para descrever grupos sociais pa recem ter ganho um esta tuto

semelhan te ao de ce rne de in formação , na med ida em que parecem in fo rmação central para

a descr ição da ca tegor ia , permanecendo a l tamente acessível e mais estável (Barsalou,

1982). Os resu l tados , pela instabi l idade cons iderável m e s m o dos atr ibutos centrais ,

parecem, no entanto , enquadrar-se melhor numa visão em que a na tureza dos cernes das

ca tegor ias se ja mais baseada na exper iência (Barsa lou, 1982, 1989) do que numa visão que

impr ima um carácter def in idor a esta noção (Armst rong e co laboradores , 1983).

Por outro lado, t ambém na visão de Barsa lou (1982, 1989), a t ransmissão cultural

do conhec imen to envolve , em grande medida , es tabelecer , para ca tegor ias , cernes de

in fo rmação que são par t i lhados pelos membros de uma população . O resul tado obt ido na

Exper iênc ia II, que revela um maior acordo entre su je i to para os a t r ibutos centrais do que

para os pe r i fé r i cos , parece também acomodável à teoria de Barsa lou (1982, 1989).

D o m e s m o modo, poder-se- ia começar por pensar que a teoria de

"cerne+identificação" relativa aos atr ibutos é apl icável a exempla res espec í f icos das

ca tegor ias , no sent ido em que as instâncias t ípicas cor responder iam a in fo rmação central

para a desc r ição da categoria e depois ex is t i r iam ins tâncias mais per i fér icas . Con tudo ,

como no caso da geração de exemplares a per tença grupai não é de f in ida por atr ibutos de

pe rsona l idade e out ros e como, mesmo para as ins tâncias t íp icas , a ins tabi l idade é

substancia l , es tes resul tados enquadram-se melhor na noção de cerne baseado na

exper iênc ia , in t roduz ida por Barsalou (1982, 1989), do que na noção de cerne com carác ter

def in idor p ropos ta por Armst rong e co laboradores (1983) .

Essenc ia l é que, apartir destes resu l tados , a ins tab i l idade intra individual das

represen tações menta i s de categorias socia is deixa de poder ser atr ibuível apenas a

a t r ibutos ou ins tâncias mais per i fér icos que va r iave lmente os ind iv íduos incluem nas suas

descr ições das ca tegor ias . E que uma visão que sus tente a ins tab i l idade intra individual

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130 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

como uma caracter ís t ica intr ínseca ao processo de cons t rução de concei tos de categorias

sociais permi te acomodar melhor os resul tados das três exper iênc ias atrás descr i tos .

Apesar disso, estes resul tados não de ixam de sa l ientar que ins tâncias espec í f icas de

um grupo, tanto quan to propr iedades ou atr ibutos, pa recem poder contr ibuir para alguma

es tabi l idade tempora l que man i fes t am as representações menta i s de grupos.

Claramente , a re levânc ia teórica destes resu l tados p r o v é m da poss ib i l idade de usá-

los para compreende r com maior precisão a na tureza espec í f i ca das respos tas dos

par t ic ipantes e da ins tab i l idade que estas revelam no tes te- re tes te .

Por exemplo , seria poss ível a rgumentar que es tes a t r ibutos e ins tâncias centra is para

a cons t rução dos concei tos , que se mantêm mais es táveis ao longo das duas sessões , cabem

na. noção de ' ' i n fo rmação independente do con tex to" p ropos ta por Barsa lou (1982) . Ou

seja, cor responder ia a cer to t ipo de in fo rmação que é au toma t i camen te ac t ivada sempre que

um concei to é cons t ru ído para a categoria , não é r ecuperada por pis tas contextuais

espec í f icas e ganhou esse es ta tu to pela exper iência indiv idual e/ou par t i lhada soc ia lmente .

E o fac to é que, aprovei tando a dist inção, in t roduz ida por Barsa lou (1982) , entre

t ipos de i n fo rmação incorporados nos concei tos de ca tegor ias com base na sua

acess ib i l idade e e spec i f i c idade da pista com que são recuperados ( " in fo rmação

independen te do con tex to" , " in formação dependen te do con tex to" e " in fo rmação

dependente do con tex to recen te" ) , outras questões para inves t igação da ins tab i l idade intra-

individual ganham in teresse .

Barsa lou cons idera que uma in terpre tação poss íve l para a lguma es tab i l idade que os

concei tos de uma ca tegor ia mantêm entre contextos e entre su je i tos é a p resença da

" i n fo rmação independen te do contexto" , embora i sso a inda es te ja por provar

empi r icamente . E in t roduz a noção de " in fo rmação dependen t e do con tex to recente"

quando há uma subs tancia l mudança do concei to de u m a ca tegor ia depois de uma semana

ou mais , mesmo que as cond ições exper imenta is se m a n t e n h a m cons tan tes , r e f l ec t indo a

in f luênc ia de eventos recentes e imedia tamente anter iores à cons t rução do conce i to (que

const i tui r ia um efe i to de recência) .

Por exemplo , embora a nossa inves t igação tenha s ido toda o r ien tada para testar o

fac to da d i fe rença de es tab i l idade prevista entre as c renças ind iv idua i s e os es te reó t ipos ser

garant ida por d i fe renças na natureza do conteúdo (mais ou m e n o s exempla r i s t a ) destas

es t ruturas , poder -se- ia pensa r que uma questão or togonal a esta poder i a prever a mesma

d i ferença de es tab i l idade entre as duas es t ruturas cogn i t ivas — e x a c t a m e n t e o peso re la t ivo

dado aos d i fe ren tes t ipos de in formação ( " i n f o r m a ç ã o i ndependen t e do contexto" ,

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2322 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

" informação dependente do contexto" e " informação dependente do contexto recente") ,

introduzidos por Barsalou (1982, 1989).

É verdade que a natureza distinta de conteúdo, que postulámos para as crenças

individuais (mais for temente consti tuídas por exemplares específ icos) e para os

estereótipos, fundamenta a previsão de que as primeiras manifes tem mais instabil idade do

que os segundos (podendo até os atributos gerados ser ou não coincidentes do ponto de

vista pessoal e do ponto de vista social, é a sua associação é que é necessar iamente

diferente) . Mas também é possível considerar que os diferentes t ipos de informação

( Informação independente do contexto, Informação dependente do contexto. In formação

dependente do contexto recente) propostos por Barsalou tenham pesos relativos diferentes

no processo de const rução de um conceito na memória de trabalho de um estereótipo ou de

uma crença individual e prever, por isso, a mesma diferença de estabil idade entre as

crenças individuais e os estereótipos. Especif icamente , os sujei tos , quando descrevem as

suas crenças individuais sobre um grupo social, podem dar mais peso à " in formação

dependente do contexto recente" para maximizar a contr ibuição da sua experiência pessoal

e, quando descrevem o seu conhecimento sobre os estereótipos relat ivos a esse grupo,

podem dar menos peso a essa mesma informação, para minimizar a inf luência da sua

experiência pessoal , e mais peso à informação part i lhada cul tura lmente sobre o grupo

social em causa.

Tal raciocínio fundamentar ia um outro teste empírico de uma predição segundo a

qual se esperaria uma diferença significativa na estabil idade das crenças individuais

compara t ivamente com os estereótipos, com base no peso relat ivo dado aos diferentes t ipos

de informação, no sentido, aliás, da previsão formulada na presente invest igação.

(d) Efeito do tipo de crença na estabilidade intra-individual. Os resultados das

Experiências I e II, onde se testou este efei to, desacredi tam consis tentemente a previsão

inicial sobre a maior estabil idade dos estereótipos sociais, compara t ivamente com a

evidenciada pelas crenças individuais.

Suporte para a ausência de diferenciação entre estes dois t ipos de representação

mental , quanto ao acordo intra sujei to, foi obtido quer com a medida de "geração de

t raços" quer com a medida das "estimativas percentuais atr ibuídas a cada traço nas duas

sessões".

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132 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Este const i tui o pr incipal malogro do con jun to de exper iênc ias e laboradas no âmbito

desta d isser tação e requer também, obviamente , a lgumas cons iderações metodológicas e

teóricas sobre si.

Duas fo rmulações teór icas foram propostas para f u n d a m e n t a r a previsão de que se

ver i f icar ia uma d i fe renc iação nos níveis de ins tabi l idade ent re crenças individuais e

es tereót ipos de grupos sociais .

Uma, sus ten tada em princípios episódicos que admi tem es t ru turas de conhec imento

genér icas baseadas em exemplares sensíveis ao con tex to e subsc revendo o consenso

con temporâneo de que as representações de ca tegor ias inc luem ambas , i n fo rmação de nível

de grupo e i n fo rmação de exemplares (Barsalou, 1990; El io e Anderson , 1981; Nosofsky,

Palmeri e McKin ley , 1994; Sherman, 1996), prevê maior es tab i l idade para os estereót ipos

re la t ivamente ás representações das crenças indiv iduais sobre g rupos sociais .

Outra, que adopta pr incípios dualistas de p r o c e s s a m e n t o sobre os es tereót ipos

(Johnston e Coolen, 1995) e supõe que p rocessamentos de i n f o r m a ç ã o d i fe ren tes est iveram

na or igem da cons t rução das crenças individuais e dos es te reó t ipos , p revê mais es tabi l idade

das crenças individuais quando comparadas com os es te reó t ipos .

De fac to , a pr imeira visão considera o con tex to crucial para a natureza das pistas

usadas quando são pedidas descrições de es t ruturas de conhec imen to genér icas (seja o

processo subjacente um de natureza não del ibera t iva e a l t amente e f ic ien te , p rocesso de

ajustamento global, ou um de natureza mais s i s temát ica e que requer recursos cogni t ivos

extensos) e assume que se uma representação for mais baseada em in fo rmação de nível de

grupo e se este tipo de i n fo rmação for al tamente acess ível ou mui to usado, a i n f o r m a ç ã o de

nível de grupo terá um papel preponderante na desc r ição e j u l g a m e n t o do g rupo social,

to rnando o papel da recuperação de exemplares menor .

Ora, de acordo com estes pressupostos e com base no rac iocín io desenvolv ido

anter iormente , na Secção 1.5 desta disser tação, sobre a o r igem e na tureza dis t in tas das

crenças individuais e dos es tereót ipos, que sugere que as represen tações das crenças

individuais podem ser mais for temente const i tu ídas por exempla re s espec í f i cos do que as

representações mentais dos es tereót ipos, seria previs ível maior ins tab i l idade das pr imeiras

do que das segundas .

Já a segunda visão cons idera que um p roces samen to mais s i s temát ico da in fo rmação

esteve subjacente à cons t rução das crenças indiv iduais sobre g rupos sociais e quando a

in formação é cu idadosamente atendida, c o m p r e e n d i d a e e laborada , t odo este

p rocessamento mais ex tens ivo inscreve as r ep resen tações na m e m ó r i a to rnando-as tão

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2324 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

f i rmemente f ixadas que pouco as pode afectar , seja novo mater ia l seja a passagem do

tempo. E que os es tereót ipos cons t ru ídos através de um processamen to heurís t ico são mais

suscept íveis à mudança . Esta v isão suportada por estes a rgumentos far ia , por isso, a

previsão inversa da v isão anterior.

Os dados das exper iências real izadas não permi tem conf i rmar nem uma nem outra

predição. Não se ve r i f i ca ram d i fe renças de es tabi l idade in t ra- indiv idual entre as c renças

individuais e os es tereót ipos . Algumas l imi tações metodológicas podem ter de t e rminado d i rec tamente estes

resul tados. Apesar dos p roced imentos de escolha dos grupos sociais te rem sido considerados e

revistos cu idadosamen te , ao longo das exper iências , uma das grandes d i f icu ldades sent idas

permaneceu a esco lha de grupos em que as crenças individuais e os es tereót ipos sociais se

d i fe renc iassem c laramente . T inham de ser grupos sociais com um es tereót ipo

carac ter i s t icamente def in ido e consensua lmente par t i lhado pela soc iedade e com os quais

os su je i tos t ivessem algum contacto directo min imamen te regular com membros

espec í f icos , j á que é natural que existam mais efe i tos contextua is quando as pessoas têm

mais contac to com e lementos especí f icos do grupo do que quando não têm e que, por tanto ,

o papel que se espera para os exemplares em ju lgamen tos ou descr ições baseados em

crenças indiv iduais /es te reót ipos se ja mais desproporc ionado .

À poster ior i , é de considerar que ta lvez tenhamos esco lh ido grupos sociais com os

quais as pessoas têm mui to pouco contacto e que, por isso, as descr ições dos indivíduos

baseadas nas c renças individuais se jam mais abstractas do que querer íamos .

Pode f u n d a m e n t a r este raciocínio o fac to de não se ter obt ido cons is tentemente , para

todos os grupos sociais , um consenso entre suje i tos s ign i f i ca t ivamente maior à volta dos

atr ibutos gerados com base nos es tereót ipos do que para os a t r ibutos gerados com base nas

crenças ind iv idua is . Ou seja, de cer teza que dever íamos ter ob t ido um acordo entre suje i tos

s ign i f i ca t ivamente maior nos estereót ipos do que nas c renças individuais . Sal ienta-se ,

contudo , que m e s m o nos grupos sociais em que esse e levado consenso entre suje i tos foi

obt ido para os es tereót ipos (compara t ivamente com as crenças individuais) , a previsão de

maior es tab i l idade int ra- individual para os es tereót ipos , re la t ivamente ás c renças

individuais , não se conf i rmou . Por outro lado, a medida de famil iar idade com cada grupo social ut i l izada talvez não

tenha f u n c i o n a d o c o m o uma verdadeira e boa medida do contac to que os sujei tos t inham

com e lementos espec í f i cos dos grupos . Rea lmente , a fami l ia r idade , tal como foi ut i l izada

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134 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

nas Exper iênc ias I e II, é susceptível de várias in te rpre tações . Poderá ser de f in ida como a

es t imat iva subjec t iva , de a lguém, da f requênc ia c o m que observou di rec tamente ou

conheceu pessoa lmen te ent idades específ icas de um grupo socia l , mas poderá ser também a

fami l ia r idade subjec t iva que o indivíduo sente com o grupo , que pode ser f ru to até de um

maior conhec imen to que adquiriu indirectamente sobre o grupo .

Esta f rag i l idade da medida não permitiu que ela dê-se , à poster ior i , in formação

válida sobre o grau de contac to dos suje i tos com os g rupos soc ia i s u t i l izados .

Cla ramente , dever ia ser concebida mais inves t igação para u l t rapassar estes

problemas, apesar de ser sempre possível que a razão para não termos obt ido o resultado

previsto seja a de que o grau de abstracção das r ep resen tações ( se rem baseadas numa maior

ou menor cont r ibu ição relat iva do conhecimento abs t rac to ou de exempla res ) não modera o

acordo in t ra- indiv idual , ou seja, não modera a sob repos i ção ent re as descr ições que um

sujei to faz de uma ca tegor ia social no momento de teste e no m o m e n t o de reteste .

Aver iguar se, em outras condições exper imenta i s , este resu l tado que não diferencia

a es tabi l idade das represen tações mentais das c renças ind iv idua i s e dos es te reó t ipos se

mantém ou não seria um bom teste à viabi l idade des ta p rev i são .

De fac to , a ins tabi l idade e sensibi l idade ao con tex to poder i a se demons t r ada noutras

condições exper imenta i s . Levando os par t ic ipantes a l is tar ca rac te r í s t i cas de g rupos sociais

depois de te rem sido expos tos a um de dois t ipos de i n f o r m a ç ã o : um exempla r do grupo ou

in fo rmação es ta t ís t ica sobre o grupo e esperando que as desc r i ções dos g rupos sociais

d i fer issem dependendo do tipo de in formação apresen tado .

Nes tas condições , seria esperado, contudo, que a i n f o r m a ç ã o do exempla r tivesse

um efe i to maior para os par t ic ipantes cu jas descr ições são ba seadas nas c renças individuais

do que para os par t ic ipantes cu jas descrições são baseadas nos es te reó t ipos , j á que as

crenças indiv iduais ser iam previs ive lmente mais sens íve is ao contac to d i rec to com

exemplares do que os es tereót ipos , que se baseiam ma i s f o r t e m e n t e numa impressão geral.

Por ou t ro lado, ser ia previsível que a i n fo rmação es ta t í s t ica - onde não há contacto

directo com um exempla r - t ivesse um maior e fe i to nos pa r t i c ipan tes que desc revessem o

grupo com base no conhec imen to que têm dos es te reó t ipos do que nos par t i c ipan tes cu jas

descrições, se baseassem nas suas crenças pessoais .

Estas pred ições sus tentam-se , obviamente , nos p re s supos tos de que o conhec imen to

que. os su je i tos têm sobre os es tereót ipos é fo rnec ido e mais suscept íve l à m u d a n ç a por

heurís t icas de in f luênc ia social , que normalmente a p r e s e n t a m a i n f o r m a ç ã o sob a f o rma de

descr ições gerais do grupo social , e de que as crenças ind iv idua i s são cons t ru ídas e mudam

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2326 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

com base no c o n t a d o directo, na experiência pessoal do indivíduo com instâncias

especí f icas do grupo social .

A magn i tude do efei to , dependendo do t ipo de crença (estereót ipo ou crença

individual) , a in f luênc ia de manipular a t ip ical idade dos exemplares ou manipular a

var iabi l idade da in fo rmação estat íst ica apresentada são todas ques tões po tenc ia lmente

interessantes a inves t igar com este paradigma exper imenta l . Por exemplo, inves t igação

recente tem fo rnec ido evidência sobre as condições em que a in fo rmação de exemplar

incongruente conduz à revisão de estereót ipos (para uma revisão ver Hamil ton e Sherman,

1994), ou desencade ia um processo cognit ivo de recuperação e geração de exemplares mais

del ibera t ivo e s i s temát ico (Garcia-Marques e Mackie , 1999).

É de sa l ientar , contudo, que na perspect iva de Barsalou nem seria de esperar esta

d i fe renc iação nos níveis de instabi l idade entre as c renças individuais e os es tereót ipos de

grupos sociais . Para este autor, a inf luência que a i n fo rmação de ta lhada sobre instâncias ou

a i n fo rmação id ioss incrá t ica tem sobre os processos de ca tegor ização pode não fornecer

uma expl icação comple ta da categor ização mas acumulam-se cada vez mais ev idências que

sugerem a p re sença de uma organização da memór ia a longo prazo onde i n fo rmação de

exemplares e ep i sód ios são integradas com o conhec imen to genér ico que i lustram. Na sua

visão, não se pode assumir que as tarefas de ca tegor ização se base iam apenas em

conhec imen to abst racto geral, deixando as inf luências ep i sód icas para ta refas pouco

fami l ia res em que fa l tam abstracções re levantes . Nes te sent ido, as representações têm

todas i n f o r m a ç ã o de exemplares armazenada que em qualquer m o m e n t o de j u lgamen to da

categor ia p o d e m inf luenc ia r e ser determinantes na cons t rução de concei tos da categor ia .

Para a lém disso , este autor admite que o conhec imen to abst racto talvez flutue com a

exper iênc ia recente com exemplares , que a p rodução de pro tó t ipos de uma categor ia ela

própr ia revela níveis importantes de ins tabi l idade in t ra- indiv idual ( .67) e que a

acess ib i l idade des ta in formação abstracta, a sua au tomat ização , resul ta da prát ica. Ora,

neste sent ido , depende di rec tamente de i n fo rmação episódica , é f u n ç ã o da f requênc ia e

recência dos ep isódios processados (Barsalou e co laboradores , 1993). E. por isso, não seria

de esperar n íveis de instabi l idade diferentes entre as c renças ind iv idua is e es tereót ipos .

Por outro lado, na perspect iva de Barsa lou , qualquer ca tegor ia é representada na

memór ia de t r aba lho por representações que inc luem a lguma in fo rmação de cerne (que

ocorre em todas as representações para a ca tegor ia) e por u m a grande quant idade de

in fo rmação dependen te do contexto ou que re f lec te a exper iênc ia recente . E porque os

contextos e a exper iênc ia recente raramente são os mesmos , o m e s m o subcon jun to de

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136 A INSTA BI LI DADE DOS ESTERÓTIPOS

i n fo rmação para uma categoria ra ramente é ac t ivado como sua representação. O

enquad ramen to baseado na recuperação propos to por Barsa lou para expl icar a ins tabi l idade

de qua lquer t ipo de categoria , apresenta uma f o r m u l a ç ã o espec í f ica de como a

acess ib i l idade e as pis tas contextuais se combinam para produzi r esse e fe i to (para uma

revisão ver Barsa lou , 1987, 1989; ver t ambém a subsecção 1.2.2 desta d isser tação) .

A verdade é que, na perspect iva de Barsa lou, m e s m o que a maior ia das pessoas

numa popu lação par t i lhem um certo tipo de conhec imen to bás ico sobre uma ca tegor ia (e

que, embora não provado empi r icamente , possa ter o es ta tu to de " in fo rmação independente

do con tex to" ) , como acontece nos estereót ipos, porque as pessoas de uma popu lação têm

d i fe ren tes exper iências com uma categor ia p o d e m desenvolver , em a lgum grau,

" i n f o r m a ç ã o independente do contex to" d i ferente , do m e s m o modo que nas crenças

individuais . Por isso, para qualquer categoria , a acess ib i l idade da maior par te da

i n fo rmação pode variar vas tamente num mesmo ind iv íduo com a exper iênc ia do dia-a-dia;

para a lém de exper imentar a categoria em di fe ren tes con tex tos poder , semelhan temente ,

tornar sal iente d i ferente in formação . E, nessa perspec t iva , os es te reó t ipos são tão

suscept íveis a essa inf luência quanto as crenças indiv iduais .

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2328 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

5.2 Principais iições aprendidas e perspectivas futuras de investigação Este con jun to de exper iências foi concebido com vários objec t ivos teóricos: (1)

desenvolver uma metodologia apropriada ao es tudo da ins tab i l idade intra- individual das

representações mentais de categorias sociais, com o intui to de inves t igar se, à semelhança

das categor ias não sociais , as representações de grupos sociais são t ambém ineren temente

plást icas e mutáve is ; (2) invest igar o contr ibuto de dois t ipos de in fo rmação , que se admite

que f azem par te das representações mentais de ca tegor ias sociais , para a sua maior ou

menor es tab i l idade in t ra- individual : para es tudar a prec isão com que in fo rmação de

atr ibutos verbais era recuperada usou-se um parad igma de geração de in fo rmação e para

avaliar a p rec i são da in fo rmação sobre instâncias u t i l izou-se um parad igma de geração de

ins tâncias ; (3) aver iguar se a ins tabi l idade in t ra- individual das representações mentais de

es tereót ipos é s ign i f ica t ivamente menor do que a ins tabi l idade in t ra- individual das crenças

pessoais .

Para estes propósi tos ut i l izou-se sempre uma metodolog ia longi tudinal de teste-

reteste de vár ias med idas expl íc i tas (atrás descr i tas) que e spe rávamos serem sensíveis a

a lguns pa râmet ros das representações mentais que os indiv íduos têm sobre grupos sociais .

Suc in tamente , o conjunto de exper iências apresenta três aspectos bás icos novos: (1)

a ins tabi l idade das representações mentais de grupos sociais , para a qual con t r ibuem quer

in fo rmação de at r ibutos verbais quer in formação sobre exempla res espec í f icos ; (2) a lguma

es tabi l idade tempora l que se ver i f ica , intra ind iv íduos e entre indivíduos , nas

represen tações de uma categoria f ica a dever-se aos a t r ibutos verba is cons iderados mais

centrais e ás ins tâncias consideradas mais t ípicas para a descr ição da mesma; (3) as

representações menta i s dos es tereót ipos e as represen tações mentais das crenças

individuais r eve lam níveis semelhantes de ins tabi l idade tempora l in t ra- individual .

U m a das qua l idades atract ivas deste con jun to de exper iênc ias é o fac to de ser

cumula t iva , cons t ru ído apartir de t rabalho teór ico e empí r ico desenvo lv ido em áreas

crucia is de inves t igação da ps icologia cognit iva sobre o p rocesso de ca tegor ização geral e

apart i r de ind icadores teóricos e empír icos de inves t igação em cognição social sobre

ca tegor ias sociais .

Uma das ques tões essenciais que levanta é, con tudo , sobre como compat ib i l izar a

visão que carac ter iza os es tereót ipos pela sua inércia , pela sua d i f i cu ldade em mudar , com

es ta visão aqui desenvolv ida , que aponta para a sua p las t ic idade e mutab i l idade intr ínseca.

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138 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Dado o seu papel de pro teger os indivíduos da necess idade de l idar com detalhes

inf ini tos , os es te reó t ipos são necessar iamente ca rac te r i zados pela inércia. Se nova

in formação desencadeasse uma mudança imediata e cons tan te nas representações mentais ,

os es tereót ipos se r iam inúteis . Portanto, estes ins t rumentos cogn i t ivos parecem importantes

para ident i f icar r egu la r idades e d i ferenças no ambiente social e para s impl i f icar a tarefa de

p rocessamento de i n f o r m a ç ã o num mundo de es t ímulos c o m p l e x o s (Hamil ton e Sherman,

1994; Garc i a -Marques e Mackie , 1999; Macrae e Bodenhausen , 2000) . Inúmeros exemplos

de como os es te reó t ipos exis tentes podem inf luenciar a f o rma c o m o é processada nova

in fo rmação sobre grupos ou membros de grupos, pod iam ser dados; e de como o

env iesamento resu l tan te serve para manter o es tado das coisas . É mais provável que o

indivíduo a tenda e note in fo rmação consis tente com o es te reó t ipo , que faça inferências

consis tentes com o es tereót ipo , que se lembre de i n f o r m a ç ã o cons i s t en te com o estereót ipo,

etc. M e c a n i s m o s que servem para manter as crenças es te reo t ipadas preexis ten tes , tornam a

mudança dif íc i l .

Mas m e s m o ass im, apesar da sua pers is tência , s abemos que os es te reó t ipos mudam.

Por exemplo , a inves t igação tem fornec ido ev idências sobre as condições em que a

i n fo rmação incongruen te conduz à mudança de es te reó t ipos (Hami l ton e Sherman, 1994;

Hewstone , 1994; Ga rc i a -Marques e Mackie , 1999).

Mais que isso, a inves t igação parece começar a reve lar a sua mutab i l idade como

uma carac ter í s t ica in t r ínseca e a sua sensibi l idade ao con t ex to como teor icamente

s igni f ica t iva , suge r indo as poss ibi l idades e capac idades de a ju s t amen to do nosso

pensamento ca tegór ico ao con tex to social imediato.

De fac to , se pensa r é para fazer , poder íamos espera r que os ind iv íduos a jus ta s sem o

seu pensamen to ca tegór ico , enquanto estratégia cogni t iva , ao con tex to social imediato .

Sem dúvida , ser ia conven ien te tratar os factos menta is c o m o se f o s s e m baseados em ideias

estáveis , parece , con tudo , que não há nada na evidência que r e s p o n d a nesse sent ido.

Se assim é, sob a perspect iva que subscreve o d i n a m i s m o das representações

mentais de ca tegor ias sociais , outras questões de i nves t igação c o m e ç a m a ganhar

per t inência . Por exemplo , até que ponto as mudanças de es te reó t ipos que consegu imos

obter em labora tór io , usando manipulações mais ou menos subt is , mais ou menos f racas ,

não f azem par te ou não ganham s igni f icado num f e n ó m e n o mais vas to que é o de que estas

estruturas menta i s supos t amen te duradouras são, na rea l idade , ins táve is e sens íve is ao

contexto. E, nes te sent ido, a sensação de es tabi l idade que há em re lação ás ca tegor ias

sociais e ás ca tegor ias naturais parece não ser mais do que u m a i lusão d ispos ta a persist i r

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139 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

se não usarmos ins t rumentos de medida sensíveis o suficiente para detectar a instabil idade

intra individual que ocorre com o tempo. Ainda, af lorar esta questão da instabil idade temporal das representações mentais de

categorias sociais , o ferece a oportunidade de estender o seu estudo a outras medidas e

fenómenos.

Claramente , torna-se pertinente estender o estudo da instabi l idade dos estereótipos

ás medidas impl íc i tas . Embora as medidas implíci tas, por exemplo na área das atitudes,

tenham sido desenvolvidas com o intuito de que fornecessem o acesso directo ás

verdadeiras at i tudes, ul t rapassando a sensibil idade ao contexto das medidas explícitas das

atitudes que levaram ao desenvolvimento da noção de ati tude como um constructo

temporário (Schwarz , 2000), experiências recentes (Glaser e Banaj i , in press, ci tado por

Schwarz, 2000) parecem sugerir que as medidas implíci tas, tal como as explícitas, podem

ser sujeitas aos efe i tos do contexto. E que a menor precisão com que recuperam as ati tudes

pode ser f ru to sim da instabil idade intrínseca das atitudes.

Interessante , será perceber se são obtidos os mesmos níveis de instabil idade intra-

individual dos estereót ipos quando usamos medidas implíci tas, ao invés de medidas

explícitas, numa metodologia de teste-reteste longitudinal .

Também, o e fe i to de correlação ilusória - a tendência para sobrest imar a f requência

de ocorrências que são congruentes com uma expectat iva prévia (Hamilton e Rose, 1980,

citado por Hamil ton e Sherman, 1994) - é visto como um enviesamento provocado pelos

estereótipos e que levaria à sua estabilidade. Do mesmo modo, seria interessante averiguar

os níveis de precisão de teste-reteste intra-individual destes enviesamentos feitos pelos

sujeitos, uma vez que se aceita vastamente que contr ibuem para manter a estabil idade dos

estereótipos.

F ina lmente , a aplicação de métodos de análise de equações estruturais com variáveis

latentes (McArdle e Woodcock , 1997) ao estudo da estabi l idade temporal dos estereótipos,

uti l izando dados sobre múltiplos grupos com diferentes intervalos de teste-reteste, pode

trazer inúmeros benef íc ios . Os desenhos que incluem componentes de "time-lag" têm sido

f requentemente usados em estudos longitudinais preocupados com os efei tos do

desenvolvimento , permit indo separar componentes ps icométr icos de interesse no

desenvolvimento , como a consistência interna, efe i tos da prát ica, estabil idade do factor ,

crescimento do factor , etc.

As inves t igações interessadas na estabi l idade de um atr ibuto psicológico ut i l izam

normalmente a correlação teste-reteste. Esta correlação pode ser informat iva mas muitas

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140 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

vezes c o n f u n d e concei tos de es tabi l idade dos traços com prec i são do teste, comprometendo

a u t i l idade de testes. Como demons t ram McArd le e W o o d c o c k (1997) , é possível melhorar

a u t i l idade de duas medidas no tempo se se considerar a var iação no in tervalo de tempo

entre testes e as questões re lacionadas com o in tervalo de t empo entre as medidas . Neste

modelo , o t empo entre o teste e o reteste não é o m e s m o para cada grupo es tudado; a

amost ra é d ividida em grupos com diferentes tempos de in te rva lo tes te-reteste .

Ass im, seria interessante, em es tudos fu turos sobre a es tabi l idade dos estereót ipos,

usar este t ipo de análise de equações es t ruturais num desenho ''time-lag" (McArdle e

W o o d c o c k , 1997), expandindo a metodologia de tes te- re tes te longi tudinal apl icada nesta

d isser tação , para a judar a dist inguir parâmetros re lac ionados com a precisão, es tabi l idade e

mudança .

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2332 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

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2340 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

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150 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Anexos

Anexo 1 - I n s t ruções pa ra a Expe r i ênc i a I ( e x e m p l o das i n s t r u ç õ e s para o

g rupo dos m é d i c o s , na o rdem Es te reó t ipos - C r e n ç a s i n d i v i d u a i s )

Anexo! - I n s t ruções pa ra a Expe r i ênc i a II ( e x e m p l o das i n s t r u ç õ e s pa ra o

g rupo dos c i g a n o s , na o rdem Es te reó t ipos - C r e n ç a s i nd iv idua i s )

Anexo 3 - I n s t ruções pa r a a Expe r i ênc i a III ( e x e m p l o das i n s t r u ç õ e s pa ra o

g rupo dos c iganos )

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151 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Anexo 1

1.1 Lista de atributos verbais utilizada na Experiência I

Negligente Exigente

Disponível Pacífico Minucioso Estudioso

Violento Competente

Extrovertido De trato difícil Distante Forte Viciado no trabalho Introvertido

Impessoal Paciente Estúpido Activo Tolerante Desonesto Sociável Preguiçoso

Pobre Inculto Honesto Simpático Inteligente Fraco Passivo Arrogante Humilde Feio Atraente Incompetente Trabalhador Humano

Chato Rico Culto Antipático Com prestígio Impaciente Divertido

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152 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.2 Instruções gerais

Da s o c i e d a d e ac tua l f a z e m par te mu i to s g r u p o s d i f e r e n t e s sob re os quais

t e m o s , em ge ra l , a l g u m c o n h e c i m e n t o . De f a c t o , a f a c i l i d a d e c o m que f o r m a m o s

i m p r e s s õ e s r e l a t i v a m e n t e b e m d e f i n i d a s ace rca dos i n d i v í d u o s e dos g r u p o s soc ia i s

que nos r o d e i a m , s i m p l i f i c a e x t r a o r d i n a r i a m e n t e a n o s s a v i d a soc i a l . E s s a s i m p r e s s õ e s

sob re os g r u p o s são , n o r m a l m e n t e , g e n é r i c a s , a p e s a r de s a b e r m o s que exis te

v a r i a b i l i d a d e nos m e m b r o s de um m e s m o g rupo . Ou s e j a , as p e s s o a s que p e r t e n c e m ao

m e s m o g r u p o d i f e r e m en t r e si mas t a m b é m p a r t i l h a m a s p e c t o s c o m u n s e por i s so as

i d e n t i f i c a m o s c o m o um g r u p o e t emos i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s a c e r c a de l a s .

N e s t a i n v e s t i g a ç ã o s e r - l he - ão f e i t a s vá r i a s p e r g u n t a s s o b r e e s s a s i m p r e s s õ e s

em r e l a ç ã o a a l g u n s g r u p o s soc ia i s . É na tu ra l que não t e n h a m o s t o d o s i d e i a s igua is

ace rca de t o d o s e les . N ã o e x i s t e m r e s p o s t a s ce r t a s ou e r r a d a s . O ma i s i m p o r t a n t e são

as suas i m p r e s s õ e s .

Muito obrigada pela colaboração.

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153 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1,3 Instruções para a tarefa de geração de traços baseada no estereótipo

E s t a m o s i n t e r e s s a d o s nas ca rac te r í s t i cas que as p e s s o a s em g e r a ! u t i l i zam

para d e s c r e v e r m e m b r o s de vár ios grupos . Vamos pensa r no g rupo de ind iv íduos que

têm em c o m u m a p r o f i s s ã o de médicos . P e d i m o s - l h e que , apa r t i r da l is ta de t raços de

p e r s o n a l i d a d e que lhe ap re sen t amos , e sco lha aque le s que ache que as p e s s o a s em

g e r a l u s a r i a m para ca rac t e r i za r os méd icos c o m o um todo . E s c o l h a a p r o x i m a d a m e n t e

c inco c a r a c t e r í s t i c a s da l is ta , para t ransmi t i r a i m p r e s s ã o que as p e s s o a s em g e r a l têm

dos m é d i c o s e pa ra os desc reve r de fo rma adequada , e e s c r e v a - a s nas l inhas aba ixo .

Não e x i s t e m r e s p o s t a s cer tas ou er radas . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua op in ião sobre o

que as p e s s o a s g e r a l m e n t e pensam acerca dos m é d i c o s .

Os m é d i c o s são

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154 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.4 Instruções para a tarefa de estimativa da percentagem de membros da população que possuem os traços gerados com base nos estereótipos

Por f a v o r , vo l te agora ao in íc io des ta s e c ç ã o e d e t e n h a - s e sobre cada uma das

c a r a c t e r í s t i c a s que as s ina lou . C o n t i n u a m o s i n t e r e s s a d o s na op in i ão q u e a s p e s s o a s em

g e r a l têm sobre os méd icos . O que agora lhe p e d i m o s é que , para cada uma das

c a r a c t e r í s t i c a s que ind icou an t e r i o rmen te , e s t i m e a p e r c e n t a g e m (de 1% a 100%) de

m e m b r o s da p o p u l a ç ã o total de méd icos com essa c a r a c t e r í s t i c a .

% de m e m b r o s da p o p u l a ç ã o de m é d i c o s

C a r a c t e r í s t i c a s com essas c a r a c t e r í s t i c a s

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2346 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.5 Instruções para a tarefa de geração de traços baseada nas crenças individuais

A b a n d o n e m o s agora a opin ião das pessoas em geral sobre os g r u p o s e

d e b r u c e m o - n o s sobre as s u a s o p i n i õ e s p e s s o a i s . Vamos vo l ta r aos méd icos e ped i r -

lhe que de sc r eva os m e m b r o s t íp icos des te g rupo . Esco lha , en tão , da l is ta de t r aços de

pe r sona l i dade que lhe ap re sen t amos , aqueles que ca r ac t e r i zam os m é d i c o s c o m o um

todo. Ind ique , nas l inhas aba ixo , a p r o x i m a d a m e n t e c inco ca rac t e r í s t i ca s da l i s ta para

t r ansmi t i r a s u a o p i n i ã o p e s s o a l sobre os méd icos e para os desc reve r de f o r m a

adequada . N ã o e x i s t e m respos tas cer tas ou e r radas . E s t a m o s i n t e r e s sados na sua

o p i n i ã o p e s s o a l .

Os m é d i c o s são:

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156 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.6 Instruções para a tarefa de estimativa da percentagem de membros da população que possuem os traços gerados com base nas crenças individuais

Vol t e agora ao in íc io desta secção e obse rve , n o v a m e n t e , as ca rac te r í s t i cas que

a s s ina lou . P e d i m o s - l h e para es t imar , na s u a o p i n i ã o , qual a p e r c e n t a g e m (de 1% a

100%) de m e m b r o s da p o p u l a ç ã o total de méd icos c o m cada u m a das ca rac te r í s t i cas .

Não e x i s t e m r e spos t a s cer tas ou er radas . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua o p i n i ã o pe s soa l .

% de membros da população de médicos

Características com essas características

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2348 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.7 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nos estereótipos

Vamos agora pedir-lhe que traduza as impressões genéricas que as pessoas em geral têm

acerca dos médicos. Para o efeito pedimos-lhe que preencha as escalas bipolares que se encontram

abaixo, de acordo com as impressões que as pessoas em geral têm dos médicos como um todo.

Por favor, faça um círculo à roda do número que melhor corresponde à impressão das

pessoas em geral sobre este grupo. Assim, se por exemplo, tem a opinião que as pessoas em geral

acham os médicos no seu conjunto mais inteligentes do que estúpidos deve usar um número entre 6

e 9, e se a sua opinião for o contrário deve usar um número de 1 a 4. O ponto 5 é o ponto que indica

a indiferença.

Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente

NãoPrestável 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Prestável

Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto

Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Caloroso

Inseguro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Seguro

Passivo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Activo

Antipático 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Simpático

Egoísta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Generoso

Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto

Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Especial

Injusto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Justo

Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico

Incompetente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Competente

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158 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.8 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nas crenças individuais

Há p o u c o p e d i m o s - l h e que t r aduz i s se as i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s que as pessoas

em gera l têm s o b r e os m é d i c o s . Agora p e d i m o s - l h e q u e t r a d u z a , nas m e s m a s esca las

b i p o l a r e s a p r e s e n t a d a s a n t e r i o r m e n t e , as suas impressões genéricas sobre os

m é d i c o s .

P r e e n c h a , e n t ã o , as e sca l a s q u e se e n c o n t r a m a b a i x o , de a c o r d o c o m as suas

i m p r e s s õ e s s o b r e e s t e g r u p o como um todo . E s t a m o s , p o r t a n t o , i n t e r e s s a d o s ago ra na

sua impressão pessoal.

Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente

NãoPrestável 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Prestável

Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto

Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Caloroso

Inseguro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Seguro

Passivo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Activo

Antipático 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Simpático

Egoísta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Generoso

Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto

Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Especial

Injusto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Justo

Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico

Incompetente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Competente

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2350 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.9 Instruções para a tarefa de identificação de uma distribuição baseada nos estereótipos

I m a g i n e m o s um con t ínuo de f in ido ao longo de u m a d i m e n s ã o E s t u p i d e z -

In te l igênc ia . Se p o s i c i o n a r m o s o con jun to dos m é d i c o s ao l ongo dessa d i m e n s ã o de

acordo com o grau de in te l igênc ia de cada um desses m é d i c o s f o r m a r e m o s uma

d i s t r ibu ição que se e spa lha ao longo dessa esca la . Agora v a m o s ped i r - l he que obse rve

com a tenção as vá r i a s d i s t r ibu ições que es tão na pág ina s egu in t e e que e sco lha aque la

que lhe pa reça ma i s p r o v a v e l m e n t e co r re sponde r à op in i ão que as p e s s o a s em geral

têm sobre a p o p u l a ç ã o de méd icos . Não ex i s t em re spos t a s ce r tas ou e r r adas , apenas

e s t amos i n t e r e s s a d o s na sua es t imat iva sobre a op in i ão das p e s s o a s em geral . P o r

f a v o r e x a m i n e t o d a s a s d i s t r i b u i ç õ e s a n t e s d e se d e c i d i r .

R e p a r e que a f o rma como a popu lação de m é d i c o s se p o s i c i o n a e se d i s t r ibu i

ao longo do c o n t í n u o é mui to d i fe ren te de d i s t r i b u i ç ã o para d i s t r i bu i ção . Mai s

c o n c r e t a m e n t e as vár ias d i s t r ibu ições va r i am na área da d i m e n s ã o E s t ú p i d o -

In te l igen te em que se pos i c ionam, no geral , os m é d i c o s . V a r i a m i g u a l m e n t e no grau de

concen t r ação ou de d i s p e r s ã o que ex ibem.

D e p o i s de e x a m i n a r cada uma das d i s t r i bu i ções , por f avor f aça u m c í r cu lo à

roda daque la que m e l h o r co r responder às i m p r e s s õ e s q u e as p e s s o a s e m g e r a l t ê m

sobre a p o p u l a ç ã o de m é d i c o s .

Se r - lhe -á a p r e s e n t a d a na página segu in te , para a p o p u l a ç ã o de m é d i c o s , u m a

matr iz de d i s t r i b u i ç õ e s que var iam na área da d i m e n s ã o E s t ú p i d o - I n t e l i g e n t e . S i£a

e x a c t a m e n t e o m e s m o p roced imen to , exp l i cado a n t e r i o r m e n t e , para r e s p o n d e r a es ta

matr iz de d i s t r i b u i ç õ e s que se encont ra na pág ina segu in t e .

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160 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

1.10 Instruções para a tarefa de identificação de uma distribuição baseada nas crenças individuais

Há p o u c o p e d i m o s - l h e que t r aduz i s se as i m p r e s s õ e s que as pessoas em geral

têm sob re os méd icos . Agora p r e t e n d e m o s que t r a d u z a , u t i l i zando as mesmas

d i s t r i b u i ç õ e s a p r e s e n t a d a s an t e r io rmen te , as s u a s i m p r e s s õ e s p e s s o a i s sobre os

m é d i c o s .

P e d i m o s - l h e , n o v a m e n t e , q u e e x a m i n e a s v á r i a s d i s t r i b u i ç õ e s q u e e s t ã o na

p á g i n a s e g u i n t e a n t e s de se d e c i d i r e que faça um c í r cu lo à roda daque la que melhor

c o r r e s p o n d e r às s u a s i m p r e s s õ e s sobre a p o p u l a ç ã o de m é d i c o s .

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1

A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ 61

1.11 Instruções para a tarefa de julgamento de familiaridade com as categorias

A ú l t i m a t a r e f a des ta i n v e s t i g a ç ã o c o n s i s t e s i m p l e s m e n t e na a v a l i a ç ã o n u m a

e sca l a b i p o l a r de 9 p o n t o s de cada um dos q u a t r o g r u p o s a p r e s e n t a d o s ao l o n g o da

i n v e s t i g a ç ã o : s e g u r a n ç a s de d i s c o t e c a s , p r o f e s s o r e s de l i ceu , m é d i c o s e p r o g r a m a d o r e s

de c o m p u t a d o r .

A e s c a l a , j á a n t e r i o r m e n t e u t i l i z ada , va r ia e n t r e M u i t o p o u c o f a m i l i a r (1) -

M u i t o f a m i l i a r (9) . P e d i m o s - l h e que ava l i e o grau de f a m i l i a r i d a d e que tem c o m c a d a

um dos g r u p o s a p r e s e n t a d o s . Por f a v o r , f a ç a um c í r c u l o à roda do n ú m e r o q u e m e l h o r

c o r r e s p o n d e ao seu grau de f a m i l i a r i d a d e c o m c a d a g r u p o .

G r u p o dos s e g u r a n ç a s de d i s c o t e c a s

Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar

Grupo dos médicos

Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar

Grupo dos programadores de computadores

Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar

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162 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Anexo 2

2.1 Lista de atributos verbais utiiizada na Experiência 11

Forte Honesto Rico Culto Conflituoso Atraente Trabalhador Triste Pacífico Frio Desonesto Ingénuo Feio Ganancioso Não respeitador Emotivo Exibicionista Empreendedor Vulgar Infiel Sensível Vaidoso Discreto Frágil Despretensioso Sem iniciativa Fiel Estúpido Alegre

Ignorante Insensível Pobre Supersticioso Delicado Desconfiado Generoso Reservado Sofisticado Sociável Respeitador Rude Preguiçoso Inteligente

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2354 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.2 Instruções gerais

Da s o c i e d a d e actual f a z e m parte mui tos g rupos d i f e r e n t e s sobre os qua is

temos , em gera l , a l g u m conhec imen to . De f ac to , a f a c i l i d a d e com que f o r m a m o s

impressões r e l a t i v a m e n t e bem de f in idas acerca dos i nd iv íduos e dos g rupos soc ia i s

que nos r o d e i a m , s i m p l i f i c a ex t r ao rd ina r i amen te a nossa vida soc ia l . Essas i m p r e s s õ e s

que t emos ace rca de um grupo são mui tas vezes i m p r e s s õ e s gené r i cas que não se

ap l icam a cada um dos seus membros mas a p l i c a m - s e a u m a p e r c e n t a g e m dos

m e m b r o s des se g r u p o . Por exemplo , q u a n d o d i z e m o s que os p r o g r a m a d o r e s de

c o m p u t a d o r são i n t e l i gen t e s não es t amos a d izer que são todos i n t e l i gen te s , mas

e s t amos a d ize r que há uma quan t idade r e l evan te de p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r

que são i n t e l i g e n t e s . Es tas impressões gené r i ca s são, e v i d e n t e m e n t e , s i m p l i f i c a ç õ e s ,

não são j u l g a m e n t o s baseados em dados ob j ec t i vos . E no te - se que , m e s m o q u a n d o se

cons ide ram ex i s t i r d i f e r e n ç a s ent re os g rupos , isso não s i gn i f i c a e s t a b e l e c e r u m a

h ie ra rqu ia en t re os g rupos , em que um é super io r ao ou t ro . Ou se ja , não imp l i ca a

d i s c r i m i n a ç ã o de um grupo em re lação ao out ro .

Nesta investigação ser-lhe-ão feitas várias perguntas sobre essas impressões em relação a

alguns grupos sociais. É natural que não tenhamos todos ideias iguais acerca de todos eles. Não

existem respostas certas ou erradas. Estamos interessados nas suas impressões pessoais, nas suas

intuições, nas ideias que surjam à primeira vista e não tanto no que é de bom tom julgar-se, ou

afirmar-se.

Muito obrigada pela colaboração.

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164 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.3 Instruções para a tarefa de geração de traços baseada no estereótipo

E s t a m o s i n t e r e s s a d o s nas ca rac te r í s t i cas que a s p e s s o a s em g e r a l u t i l izam

para d e s c r e v e r m e m b r o s de vár ios g rupos . Vamos p e n s a r no g rupo de ind iv íduos que

têm em c o m u m se rem c iganos . Ped imos - lhe que , apa r t i r da lista de t raços de

p e r s o n a l i d a d e que lhe ap re sen t amos , e sco lha a q u e l e s q u e ache que a s p e s s o a s em

g e r a l u s a r i a m para ca rac t e r i za r os c iganos como um todo . E s c o l h a a p r o x i m a d a m e n t e

c inco c a r a c t e r í s t i c a s da l i s ta , para t r ansmi t i r a i m p r e s s ã o que a s p e s s o a s e m g e r a l têm

dos c i g a n o s e pa ra os d e s c r e v e r de fo rma a d e q u a d a , e e s c r e v a - a s nas l inhas abaixo.

Não e x i s t e m r e spos t a s ce r tas ou erradas . Es t amos i n t e r e s s a d o s na sua op in i ão sobre o

que as p e s s o a s g e r a l m e n t e pensam acerca dos c iganos .

Os ciganos são

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165 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.4 Instruções para a tarefa de estimativa da percentagem de membros da população que possuem os traços gerados com base nos estereótipos

P o r f a v o r , vo l t e agora ao in í c io d e s t a s ecção e d e t e n h a - s e s o b r e c a d a u m a das

c a r a c t e r í s t i c a s que a s s ina lou . C o n t i n u a m o s i n t e r e s s a d o s na o p i n i ã o que as pessoas em

geral t êm s o b r e os c i g a n o s . O que agora lhe p e d i m o s é que , p a r a cada u m a das

c a r a c t e r í s t i c a s que i nd i cou a n t e r i o r m e n t e , e s t ime a p e r c e n t a g e m (de 1% a 100%) de

m e m b r o s da p o p u l a ç ã o to ta l de c i g a n o s c o m essa c a r a c t e r í s t i c a .

% de membros da população de ciganos

Características com essas características

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.5 Instruções para a tarefa de geração de traços baseada nas crenças individuais

A b a n d o n e m o s a g o r a a op in i ão das p e s s o a s e m ge ra l sob re os g rupos e

d e b r u c e m o - n o s s o b r e as s u a s o p i n i õ e s pes soa i s . V a m o s v o l t a r aos c i g a n o s e ped i r - lhe

que d e s c r e v a os m e m b r o s t íp icos des te g rupo . E s c o l h a , e n t ã o , da l i s ta de t r aços de

p e r s o n a l i d a d e que lhe a p r e s e n t a m o s , aque les que c a r a c t e r i z a m os c i g a n o s c o m o um

todo . I n d i q u e , nas l i n h a s a b a i x o , a p r o x i m a d a m e n t e c i n c o c a r a c t e r í s t i c a s da l i s ta para

t r an smi t i r a sua o p i n i ã o p e s s o a l sobre os c i g a n o s e p a r a os d e s c r e v e r de fo rma

a d e q u a d a . N ã o e x i s t e m r e s p o s t a s ce r t a s ou e r r a d a s . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua

o p i n i ã o p e s s o a l .

Os ciganos são:

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2 . 5 Instruções para a tarefa de estimativa da percentagem de membros da população que possuem os traços gerados com base nas crenças individuais

V o l t e a g o r a ao in íc io des ta s ecção e o b s e r v e , n o v a m e n t e , as c a r a c t e r í s t i c a s que

a s s ina lou . P e d i m o s - l h e para e s t imar , na sua o p i n i ã o , qua l a p e r c e n t a g e m (de 1% a

100%) de m e m b r o s da p o p u l a ç ã o total de c i g a n o s com c a d a u m a das c a r a c t e r í s t i c a s .

N ã o e x i s t e m r e s p o s t a s ce r t a s ou e r r adas . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua o p i n i ã o p e s s o a l .

% de membros da população de ciganos

Características com essas características

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.7 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nos estereótipos

Vamos agora pedir-lhe que traduza as impressões genéricas que as pessoas em geral têm

acerca dos ciganos. Para o efeito pedimos-lhe que preencha as escalas bipolares que se encontram

abaixo, de acordo com as impressões que as pessoas em geral têm dos ciganos como um todo.

Por favor, faça um círculo à roda do número que melhor corresponde à impressão das

pessoas em geral sobre este grupo. Assim, se por exemplo, tem a opinião que as pessoas em geral

acham os ciganos no seu conjunto mais inteligentes do que estúpidos deve usar um número entre 6 e

9, e se a sua opinião for o contrário deve usar um número de 1 a 4. O ponto 5 é o ponto que indica a

indiferença.

Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente

Insensível 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sensível

Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto

Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Emotivo

Exibicionista 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Discreto

Preguiçoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Trabalhador

Empreendedor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sem iniciativa

Rude 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Delicado

Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto

Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sofisticado

Frágil 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Forte

Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico

Reservado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sociável

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.8 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nas crenças individuais

Há p o u c o p e d i m o s - l h e que t r a d u z i s s e as i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s que as p e s s o a s

em gera l t êm s o b r e os c iganos . A g o r a p e d i m o s - l h e que t r a d u z a , nas m e s m a s e s c a l a s

b i p o l a r e s a p r e s e n t a d a s a n t e r i o r m e n t e , as s u a s i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s sob re os c i g a n o s .

Preencha, então, as escalas que se encontram abaixo, de acordo com as suas impressões

sobre este grupo como um todo. Estamos, portanto, interessados agora na sua impressão pessoal.

Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente

Insensível 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sensível

Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto

Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Emotivo

Exibicionista 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Discreto

Preguiçoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Trabalhador

Empreendedor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sem iniciativa

Rude 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Delicado

Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto

Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sofisticado

Frágil 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Forte

Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico

Reservado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sociável

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.9 Instruções para a tarefa de identificação de uma distribuição baseada nos estereótipos

I m a g i n e m o s um c o n t í n u o d e f i n i d o ao l ongo de u m a d i m e n s ã o D e s o n e s t i d a d e -

H o n e s t i d a d e . Se p o s i c i o n a r m o s o c o n j u n t o dos c i g a n o s ao l o n g o des sa d i m e n s ã o de

a c o r d o c o m o grau de h o n e s t i d a d e de cada um d e s s e s c i g a n o s f o r m a r e m o s uma

d i s t r i b u i ç ã o q u e se e s p a l h a ao l ongo des sa e sca la . A g o r a v a m o s p e d i r - l h e q u e obse rve

c o m a t e n ç ã o as vá r i a s d i s t r i b u i ç õ e s que es tão na p á g i n a s e g u i n t e e que e s c o l h a aquela

que lhe p a r e ç a m a i s p r o v a v e l m e n t e c o r r e s p o n d e r à o p i n i ã o q u e as p e s s o a s em geral

t êm sobre a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s . N ã o e x i s t e m r e s p o s t a s c e r t a s ou e r r a d a s , apenas

e s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua e s t i m a t i v a sobre a o p i n i ã o d a s p e s s o a s em ge ra l . Por

f a v o r e x a m i n e t o d a s as d i s t r i b u i ç õ e s ante s de se d e c i d i r .

R e p a r e que a f o r m a c o m o a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s se p o s i c i o n a e se d i s t r i bu i ao

l o n g o do c o n t í n u o é m u i t o d i f e r e n t e de d i s t r i b u i ç ã o p a r a d i s t r i b u i ç ã o . Ma i s

c o n c r e t a m e n t e as vá r i a s d i s t r i b u i ç õ e s va r i am na á rea da d i m e n s ã o D e s o n e s t o - H o n e s t o

em que se p o s i c i o n a m , no gera l , os c iganos . V a r i a m i g u a l m e n t e no grau de

c o n c e n t r a ç ã o ou de d i s p e r s ã o que e x i b e m .

D e p o i s de e x a m i n a r cada uma das d i s t r i b u i ç õ e s , por f a v o r f aca u m c í r c u l o à

roda daque l a q u e m e l h o r c o r r e s p o n d e r às i m p r e s s õ e s Que a s p e s s o a s em gera l têm

sob re a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s .

S e r - l h e - á a p r e s e n t a d a na p á g i n a s egu in t e , p a r a a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s , uma

ma t r i z de d i s t r i b u i ç õ e s q u e va r i am na área da d i m e n s ã o D e s o n e s t o - H o n e s t o . S iga

e x a c t a m e n t e o m e s m o p r o c e d i m e n t o , e x p l i c a d o a n t e r i o r m e n t e , pa ra r e s p o n d e r a esta

ma t r i z de d i s t r i b u i ç õ e s que se e n c o n t r a na p á g i n a s e g u i n t e .

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.10 Instruções para a tarefa de identificação de uma distribuição baseada nas crenças individuais

Há p o u c o p e d i m o s - l h e que t r a d u z i s s e as i m p r e s s õ e s que as p e s s o a s em gera l

t êm sobre os c i g a n o s . Agora p r e t e n d e m o s que t r a d u z a , u t i l i z a n d o as m e s m a s

d i s t r i b u i ç õ e s a p r e s e n t a d a s a n t e r i o r m e n t e , as suas i m p r e s s õ e s pes soa i s sobre os

c iganos .

P e d i m o s - l h e , n o v a m e n t e , que e x a m i n e as v á r i a s d i s t r i b u i ç õ e s que es tão na

pág ina s e g u i n t e a n t e s de se d e c i d i r e que f a ç a um c í r c u l o à roda d a q u e l a que m e l h o r

c o r r e s p o n d e r às s u a s i m p r e s s õ e s sobre a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s .

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^ A /JVSTA BILWADE DOS ESTERÓTJPOS

2.11 Instruções para a tarefa de julgamento de familiaridade com as categorias

A u l t i m a t a r e f a des t a i n v e s t i g a ç ã o c o n s i s t e s i m p l e s m e n t e na a v a l i a ç ã o numa

esca la b i p o l a r de 9 p o n t o s de cada um dos t rês g r u p o s a p r e s e n t a d o s ao l o n g o da

i n v e s t i g a ç ã o : c i g a n o s , h o m o s s e x u a i s e e m i g r a n t e s a f r i c a n o s .

A e sca l a , j á a n t e r i o r m e n t e u t i l i zada , va r i a e n t r e M u i t o p o u c o f a m i l i a r (1) -

M u i t o f a m i l i a r (9) . P e d i m o s - l h e que ava l i e o grau de f a m i l i a r i d a d e q u e t em c o m cada

um dos g r u p o s a p r e s e n t a d o s . Por f a v o r , f aça um c í r c u l o à r o d a do n ú m e r o que m e l h o r

c o r r e s p o n d e ao seu grau de f a m i l i a r i d a d e com c a d a g r u p o .

G r u p o dos c i g a n o s

Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar

G r u p o dos h o m o s s e x u a i s

Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar

Grupo dos emigrantes africanos

Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

2.12 Instruções para as tarefas de avaliação da centralidade e importância dos traços gerados

V o l t e a g o r a , por f a v o r , à S e c ç ã o A do g rupo dos c i g a n o s e, para cada traço ,

que e s c o l h e u pa ra d e s c r e v e r a i m p r e s s ã o que as p e s s o a s em gera l têm des te g rupo ,

ava l i e :

• A t é que pon to é centra l pa ra a i m p r e s s ã o geral que as p e s s o a s em geral

t êm dos c i g a n o s

Nada central 123456789 Muito central

• A t é que pon to é i m p o r t a n t e pa ra a i m p r e s s ã o gera l q u e as p e s s o a s em

geral t ê m dos c i g a n o s

Nada importante 1 2 3 4 5 6789 Muito importante

P o r t a n t o , ava l i e s e m p r e cada t r a ç o em r e l a ç ã o ás d u a s e s c a l a s

a p r e s e n t a d a s . P o d e e s c r e v e r a sua a v a l i a ç ã o à f r e n t e de c a d a um d o s t raços .

Na S e c ç ã o B do g rupo dos c i g a n o s , s iga o m e s m o p r o c e d i m e n t o an te r io r , mas

agora p a r a c a d a um dos t raços que e sco lheu para d e s c r e v e r a sua i m p r e s s ã o pes soa l

sob re e s t e g r u p o . Ou se ja , para cada t r aço e s c o l h i d o , ava l i e :

• A t é q u e p o n t o é centra l pa ra a sua i m p r e s s ã o ge ra l dos c i g a n o s

Nada central 123456789 Muito central

• A té que p o n t o é i m p o r t a n t e pa ra a sua i m p r e s s ã o ge ra l d o s c i g a n o s

Nada importante 1234567 89 Muito importante

M a n t e n h a o m e s m o p r o c e d i m e n t o para os t r aços ma i s f r e q u e n t e s que se

e n c o n t r a m na S e c ç ã o C do g r u p o dos c iganos . N ã o se e s q u e ç a de ava l i a r s e m p r e cada

t r aço em r e l a ç ã o ás duas e sca la s a p r e s e n t a d a s .

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

D e p o i s , s iga , pa ra o g rupo dos h o m o s s e x u a i s e dos e m i g r a n t e s a f r i c a n o s ,

e x a c t a m e n t e os m e s m o s pas sos que seguiu com o g r u p o dos c i g a n o s . V o l t e ás Secções

A, B e C d e s t e s do i s g rupos e p roceda , por f a v o r , da m e s m a m a n e i r a que p rocedeu

c o m o g r u p o dos c i g a n o s .

M u i t o o b r i g a d a p e l a sua c o l a b o r a ç ã o .

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

Anexo 3

3.1 Instruções gerais

Da s o c i e d a d e ac tual f a z e m par te m u i t o s g r u p o s d i f e r e n t e s sobre os qua i s

t e m o s , em ge ra l , a l g u m c o n h e c i m e n t o . De f a c t o , a f a c i l i d a d e c o m que f o r m a m o s

i m p r e s s õ e s r e l a t i v a m e n t e bem d e f i n i d a s ace rca dos i n d i v í d u o s e dos g rupos soc i a i s

q u e nos r o d e i a m , s i m p l i f i c a e x t r a o r d i n a r i a m e n t e a nos sa v ida soc i a l . Essas i m p r e s s õ e s

q u e t e m o s a c e r c a de um g rupo são mui tas vezes i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s que não se

a p l i c a m a c a d a um dos seus m e m b r o s mas a p l i c a m - s e a u m a p e r c e n t a g e m dos

m e m b r o s d e s s e g r u p o . Por e x e m p l o , q u a n d o d i z e m o s que os p r o g r a m a d o r e s de

c o m p u t a d o r são i n t e l i g e n t e s não e s t a m o s a d i ze r que são t o d o s i n t e l i gen t e s , mas

e s t a m o s a d i ze r que há u m a q u a n t i d a d e r e l e v a n t e de p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r

q u e são i n t e l i g e n t e s . Es t a s i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s são, e v i d e n t e m e n t e , s i m p l i f i c a ç õ e s ,

n ã o são j u l g a m e n t o s b a s e a d o s e m dados o b j e c t i v o s . E n o t e - s e que , m e s m o q u a n d o se

c o n s i d e r a m ex i s t i r d i f e r e n ç a s en t r e os g r u p o s , i sso n ã o s i g n i f i c a e s t a b e l e c e r u m a

h i e r a r q u i a e n t r e os g r u p o s , em q u e um é s u p e r i o r ao o u t r o . Ou se j a , não i m p l i c a a

d i s c r i m i n a ç ã o de u m g r u p o em r e l a ç ã o ao ou t ro .

N e s t a i n v e s t i g a ç ã o s e r - l he - ão f e i t a s vá r i a s p e r g u n t a s s o b r e essas i m p r e s s õ e s

e m r e l a ç ã o a a l g u n s g r u p o s soc ia i s . É na tu ra l que não t e n h a m o s todos ide ias i gua i s

ace rca de t o d o s e l e s . N ã o ex i s t em re spos t a s ce r t a s ou e r r a d a s . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s

nas suas i m p r e s s õ e s pe s soa i s , nas suas i n t u i ç õ e s , nas i d e i a s q u e s u r j a m à p r i m e i r a

v i s t a e n ã o t a n t o no q u e é de bom tom j u l g a r - s e , ou a f i r m a r - s e . >

M u i t o o b r i g a d a pe la c o l a b o r a ç ã o .

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

3.2 Instruções para a tarefa de geração de instâncias

N e s t a t a r e f a v a m o s p e d i r - l h e que c o n s t r u a p e q u e n a s d e s c r i ç õ e s (de duas ou

três f r a s e s ) de i n d i v í d u o s e s p e c í f i c o s que t êm em c o m u m se rem c i g a n o s . Os

i n d i v í d u o s que d e s c r e v e r p o d e m c o r r e s p o n d e r a i n d i v í d u o s que c o n h e c e q u e r ín t ima

quer s u p e r f i c i a l m e n t e ou até a i n d i v í d u o s e s p e c í f i c o s q u e i m a g i n e a pa r t i r dos seus

c o n h e c i m e n t o s g e r a i s ace rca dos c i g a n o s . S a b e m o s q u e é i m p o s s í v e l f o r n e c e r um

re t r a to c o m p l e t o de um i n d i v í d u o em duas ou t rês f r a s e s , m a s u m a b r e v e d e s c r i ç ã o dos

a s p e c t o s que c o n s i d e r a r ma i s c a r a c t e r í s t i c o s do i n d i v í d u o e s p e c í f i c o em c a u s a é o

s u f i c i e n t e . P e d i m o s - l h e a inda q u e n u m e r e cada u m a das d e s c r i ç õ e s para que s a i b a m o s

que se t r a t a m de d i f e r e n t e s i n d i v í d u o s . Por f a v o r , e l a b o r e pe lo m e n o s c inco

d e s c r i ç õ e s de c i n c o i n d i v í d u o s d i f e r e n t e s . P o d e e l a b o r a r m a i s se f o r c a p a z (ou

m e n o s de c i n c o se sen t i r que c inco é e x c e s s i v a m e n t e d i f í c i l ) . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s

nas d e s c r i ç õ e s q u e as p e s s o a s f a z e m de i n d i v í d u o s que têm e m c o m u m s e r e m c iganos .

Pode u sa r o r e v e r s o da p á g i n a se neces s i t a r . E p o r f a v o r t e n t e u t i l i za r u m a l e t r a bem

l eg íve l .

Se t ive r a l g u m a d ú v i d a , e s c l a r e ç a - a com a e x p e r i m e n t a d o r a .

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

3.3 Instruções para a tarefa de julgamento de familiaridade com as instâncias geradas

P o r f a v o r , v o l t e ao in í c io des t a s e c ç ã o e d e t e n h a - s e , a g o r a , s o b r e c a d a um dos

e x e m p l o s q u e d e s c r e v e u de c i g a n o s . V a m o s , ago ra , p e d i r - l h e que a s s i n a l e o grau de

f a m i l i a r i d a d e q u e t e m com c a d a um dos e x e m p l o s , ou se j a , o grau de c o n t a c t o p e s s o a l

que tem c o m cada e x e m p l o q u e d e s c r e v e u . Pa ra o e f e i t o p e d i m o s - l h e que p r e e n c h a a

e sca la b i p o l a r que e n c o n t r a a b a i x o , de a c o r d o com a f a m i l i a r i d a d e que tem c o m cada

e x e m p l o . P o r f a v o r , p r e e n c h a u m n ú m e r o de e s c a l a s c o r r e s p o n d e n t e ao n ú m e r o de

e x e m p l o s de c i g a n o s que t iver d e s c r i t o e faça u m c í r c u l o à r o d a d o n ú m e r o q u e

m e l h o r e x p r e s s a o s e u grau de f a m i l i a r i d a d e .

D e s c r i ç ã o n" E s c a l a de f a m i l i a r i d a d e

M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r

M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r

M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r

M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r

M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r

M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r

M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

3A instruções para a tarefa de julgamento de tipicalidade com as instâncias geradas

P o r f a v o r , v o l t e ao in í c io des ta s e c ç ã o ma i s u m a vez e d e t e n h a - s e , n o v a m e n t e ,

s o b r e os e x e m p l o s q u e de sc r eveu de c i g a n o s . E s t a t a r e f a c o n s i s t e , ou t r a vez , na

a v a l i a ç ã o , n u m a e s c a l a b i p o l a r de 9 p o n t o s , de c a d a e x e m p l o de c i g a n o que ind icou

a n t e r i o r m e n t e . O q u e lhe p e d i m o s ago ra é que a v a l i e q u ã o t í p i co é c a d a e x e m p l o

r e l a t i v a m e n t e à p o p u l a ç ã o de c iganos . P o r f a v o r , p r e e n c h a u m n ú m e r o de e sca las

c o r r e s p o n d e n t e ao n ú m e r o de e x e m p l o s de c i g a n o s q u e t i v e r d e s c r i t o e f a ç a um

c í r c u l o à r o d a do n ú m e r o que m e l h o r e x p r e s s a o s e u g r a u de t i p i c a l i d a d e .

D e s c r i ç ã o n E s c a l a de t i p i c a l i d a d e

A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o

A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o

A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o

A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o

A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o

A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o

A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o

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166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9

3 .5 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nos estereótipos

V a m o s agora ped i r - lhe que t raduza as suas i m p r e s s õ e s genér i cas acerca dos

c iganos . Para o e f e i t o p e d i m o s - l h e que p reencha as e sca las b i p o l a r e s que se encon t r am

aba ixo , de aco rdo c o m as suas impressões dos c iganos c o m o um todo.

Por f a v o r , f aça um c í rcu lo à roda do número que me lho r co r r e sponde à sua

i m p r e s s ã o sobre es te grupo . Ass im, se por exemplo , tem a op in i ão que os c iganos no

seu c o n j u n t o são ma i s in te l igen tes do que e s túp idos deve usar um número en t re 6 e 9,

e se a sua op in i ão fo r o con t r á r io deve usar um n ú m e r o de 1 a 4. O ponto 5 é o pon to

que ind ica a i n d i f e r e n ç a .

Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente

Insensível 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sensível

Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto

Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Emotivo

Exibicionista 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Discreto

Preguiçoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Trabalhador

Empreendedor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sem iniciativa

Rude 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Delicado

Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto

Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sofisticado

Frágil 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Forte

Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico

Reservado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sociável

Nota: No final da sessão 2, de releste, facultou-se a cada sujei to as descrições das

instâncias que tinham gerado na sessão 1 e pediu-se que assinafass.em^

coincidiam com as geradas naquela sessão, para calcular os níveis de acordo intra sujeito

com base nessas avaliações. ,

Page 192: SfíA/ ///S · pensas nro grup doe indivíduo qus têe m e m comum a profissã de médicoso Pedimos-ili. que aparli, ... Ciganos 4,8 4.7 .5375 Homossexuais 4.3 4.3 .6782 Emigrantes

Ciganos

Percen tagens de Cig ino»

2 3 4 5 8 7 9 10 11

Pefcer tagefw de a g a n o s

n 100

75

z c r 50

«RS !OSZ 2 5

1 1 7 atX} 5 1 1 0 0 0 0 0 -

74

•3W

S 3 4 5 5 4 3

— . 0 0 0 0

1 2 3 4 5 6 7 a 9 10 1-

Percentagens de O t ^ n o s

5 7

S N i . 0 0 0 0

1 2 3 4 5 7 Ô 9 1 0

Percen tagens a s Ciganos

92

2 1 t 0 0 0

2 3 4 5 8 7 8 9 10 I t

Porcentagens Oe Ciganos

1 0 0

75

50

25

O OMonrao

Percen iagens de Ciganos

7 'O 5 ' i g " ^ 5

2 3 4 5 a 7 a 9 1 0

•Percentagens de Ciganos

92

2 1 1

2 3 4 5 9 10 1 1 Ncnwio

Percentagens de Ciganos Percen tagens de Ciganos

1 0 0

75

50

25

O D*S(ineao

5 7

2 3 4 5 6 7 8 9 10

Percen tagens de Ciganos

9 2

0 0 0 1 2 1 1

5 a 7 8 9 10 11

Percentagens Oe Ciganos

0 0 0 3 4 5

I 2 3 4 5" 9 7

Percentagens de Cigarras

0 0 0 o

2 3 4 5 8 7 8 9 10

Percen tagens de Ciganos

0 0 0 0 1 1 2 2 I

1 2 3 4 5 8 7 8 9 10 11

Percentagens de O g a n o s

0 0 0 0

1 2 3 4 5 8 7

Percen tagens de C i ^ n o s

o i 0 0 0 0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

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P»reen(agens de Ciganos

0 0 0 0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Percentagens de Ciganos

18 20 18 o '3 ® —J^ 0 0 0 0 1 2 3 4 5 8 7 8 9 10 11

Percemagens de Clgínos

O Dmotimiq 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Percentagens de Ciganos

J 2 3 4 5 8 7 8 9 10 11

Percentagens de Ciganos

j i p g 1 2 3 4 5 6 7

Percentagens de Ciganos

Percentagens de Ciganos Percentagens de Ciganos

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Percentagens de C i ^ n o s

10 0 0 0 0

' 2 3 4 5 8 7 8 9 10 n

Percenlagerts de Ciganos