Sereia Câmara Vieira 2011 a Trajetoria Competitiva e a i 7985

27
138 Internext Revista Eletrônica de Negócios Internacionais da ESPM v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865 _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetória competitiva e a internacionalização da empresa Perdigão. Internext Revista Eletrônica de Negócios Internacionais da ESPM, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011. A TRAJETÓRIA COMPETITIVA E A INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA PERDIGÃO Vanderlei José Sereia i Marcia Regina Gabardo da Camara ii Saulo Fabiano Amâncio Vieira iii RESUMO A economia mundial vem exigindo novas configurações de empresas globais para sustentação de suas posições de resultados e na remuneração de seus ativos. A empresa Perdigão procurou direcionar os seus esforços conforme orientação do mercado e responder aos novos estímulos com a adequação de sua estrutura à grande competitividade dos mercados internacional. O objetivo deste trabalho é analisar o processo evolucionário da empresa Perdigão S/A e a formação da Brasil Foods, resultado da fusão com a Sadia S/A, a trajetória da empresa, inserida em um cenário competitivo caracterizado por obstáculos de entrada no mercado internacional, protegido por barreiras tarifárias e sanitárias. As ações da empresa resultaram na ampliação do faturamento e na abertura de novos mercados no exterior. A marca, a criação de novos produtos, a eficiência operacional e a agressividade comercial foram responsáveis pela ampliação das vendas e das receitas líquidas no período 2004 a 2009. Palavras-chave: Carnes, Exportações, Perdigão, Brasil Foods, Alimentos Processados. ______________________________________ i Universidade Estadual de Londrina (UEL); Professor da UEL; Doutorando em Administração na UNINOVE; [email protected]; Rodovia Celso Garcia Cid, KM 379, Cidade Universitária, Londrina, PR. ii Universidade Estadual de Londrina (UEL); Professora da UEL; Doutora em Economia pela Universidade de São Pulo (USP); [email protected]; Rodovia Celso Garcia Cid, KM 379, Cidade Universitária, Londrina, PR. ii Universidade Estadual de Londrina (UEL); Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da UEL; Doutor em Adminisração pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE); [email protected]; Rodovia Celso Garcia Cid, KM 379, Cidade Universitária, Londrina, PR.

description

Veja como trilhar um caminho de sucesso.

Transcript of Sereia Câmara Vieira 2011 a Trajetoria Competitiva e a i 7985

  • 138 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    A TRAJETRIA COMPETITIVA E A INTERNACIONALIZAO DA

    EMPRESA PERDIGO

    Vanderlei Jos Sereia

    i

    Marcia Regina Gabardo da Camara ii

    Saulo Fabiano Amncio Vieira iii

    RESUMO

    A economia mundial vem exigindo novas configuraes de empresas globais para sustentao de suas posies de resultados e na remunerao de seus ativos. A empresa Perdigo procurou direcionar os seus esforos conforme orientao do mercado e responder aos novos estmulos com a adequao de sua estrutura grande competitividade dos mercados internacional. O objetivo deste trabalho analisar o processo evolucionrio da empresa Perdigo S/A e a formao da Brasil Foods, resultado da fuso com a Sadia S/A, a trajetria da empresa, inserida em um cenrio competitivo caracterizado por obstculos de entrada no mercado internacional, protegido por barreiras tarifrias e sanitrias. As aes da empresa resultaram na ampliao do faturamento e na abertura de novos mercados no exterior. A marca, a criao de novos produtos, a eficincia operacional e a agressividade comercial foram responsveis pela ampliao das vendas e das receitas lquidas no perodo 2004 a 2009.

    Palavras-chave: Carnes, Exportaes, Perdigo, Brasil Foods, Alimentos Processados.

    ______________________________________

    i Universidade Estadual de Londrina (UEL); Professor da UEL; Doutorando em Administrao na

    UNINOVE; [email protected]; Rodovia Celso Garcia Cid, KM 379, Cidade Universitria, Londrina, PR.

    ii Universidade Estadual de Londrina (UEL); Professora da UEL; Doutora em Economia pela

    Universidade de So Pulo (USP); [email protected]; Rodovia Celso Garcia Cid, KM 379,

    Cidade Universitria, Londrina, PR.

    ii Universidade Estadual de Londrina (UEL); Professor do Programa de Ps-Graduao em

    Administrao da UEL; Doutor em Adminisrao pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE);

    [email protected]; Rodovia Celso Garcia Cid, KM 379, Cidade Universitria, Londrina, PR.

  • 139 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    1 INTRODUO

    O objetivo do artigo analisar a dinmica competitiva luz da teoria do

    investimento direto estrangeiro (IDE) e das fuses e aquisies (F&As) e discutir a

    trajetria e o posicionamento da empresa Perdigo em face das transformaes setoriais

    brasileiras e mundiais.

    A Perdigo uma grande indstria de alimentos no Brasil, lder no mercado

    nacional de processamento de carnes e derivados, principalmente de frangos, sunos,

    bovinos, perus e outras aves. Ao longo de sua histria, diversificou suas atividades

    incluindo outras linhas de produtos, como massas, leite e seus derivados. A empresa

    destaca-se na economia brasileira por se tratar de uma empresa com grande gerao de

    empregos e divisas com suas exportaes, alm de promover o desenvolvimento de um

    grande e moderno parque industrial nas reas de fronteira do pas, permitindo a

    realizao de pesquisas que levam ao desenvolvimento de novos produtos para os

    mercados consumidores e produtores. Essa mesma dinmica permitiu sua insero no

    mercado externo e uma trajetria diferenciada de internacionalizao.

    O problema de pesquisa que o artigo procura responder envolve a superao dos

    limites impostos pela economia brasileira e pela crescente globalizao produtiva e

    financeira a partir do incio dos anos 90, fatores que levaram a empresa Perdigo a

    selecionar estratgias de crescimento e internacionalizao que permitiram incrementar

    as taxas de crescimento. Justifica-se o estudo da Perdigo pelo fato de a empresa ter

    superado desafios na produo, exportao e competio nos mercado internacional,

    alm de representar um caso bem sucedido de internacionalizao da indstria brasileira

    de carne (STAL; SEREIA; SILVA, 2010).

    A metodologia para desenvolvimento deste artigo envolve a realizao de um

    estudo de caso (YIN, 2005), com coleta de dados baseada em pesquisa documental e

    bibliogrfica. Os dados levantados foram extrados de relatrios publicados pela da

    empresa, bem como informaes provenientes de peridicos especializados.

    O trabalho est estruturado em quatro partes, excluindo-se a introduo. A

    primeira seo analisa as teorias de IDE e fuses e aquisies para compreender e

    analisar o contexto da internacionalizao da empresa. A segunda discute a histria da

    Perdigo. A terceira analisa o seu processo de internacionalizao, bem como seu o

  • 140 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    aproveitamento de oportunidades locais e internacionais, luz das teorias analisadas. A

    ltima parte deste trabalho apresenta as notas conclusivas.

    2 REVISO DA LITERATURA

    Com a crescente globalizao produtiva e financeira observada no sculo XX, o

    conceito de competitividade adquiriu novos contornos. At o sculo XIX, vigorava a

    concepo de concorrncia via preo que permitia, s naes com menores custos, a

    possibilidade de auferir lucros ao diminuir seu preo e capturar uma parcela da curva de

    oferta, dada uma demanda inelstica. No sculo XX, passou a predominar a

    concorrncia extrapreo e a prtica de concorrncia via preo, como analisada por

    Kupfer (1992), no se manteve, pois podia conduzir a uma guerra de preos, eliminando

    os lucros e levando os mercados ao colapso.

    As formas que podem gerar competitividade ultrapassam os mecanismos

    tradicionais induzidos via preos. Isso permite o surgimento e a disseminao de

    inovaes que moldem novos mecanismos qualitativos associados diferenciao e de

    natureza schumpeteriana. Schumpeter (1982) utilizou a denominao de processo de

    criao destruidora (destruio criadora) que gera novos processos e produtos, criando

    mercados novos que permitem, s empresas bem sucedidas, ampliar o poder de mercado.

    Se a diferenciao um dos fatores de crescimento das firmas, no perodo recente a

    questo deu origem a um campo do conhecimento econmico e administrativo que se

    pode denominar de Novas Teorias da Firma, em oposio vertente neoclssica, de

    inspirao marshalliana, que analisava exclusivamente as empresas em mercados

    competitivos puros e as empresas monopolistas problema inicialmente analisado por

    Sraffa (POSSAS, 1982). Uma das abordagens que procura explicar os determinantes do

    crescimento da firma a penrosiana. A teoria do crescimento da firma, segundo Penrose

    (1968) procura analisar a dinmica da mudana e as oportunidades produtivas da firma.

    Essas oportunidades podem ser exploradas por meio de recursos especficos empresa,

    com condio de geradores de vantagem competitiva sustentvel posteriormente

    caracterizados por Barney (1991) como valiosos, raros e difceis de imitar.

    A firma empreendedora est constantemente investindo voluntariamente parte de

    seus recursos na investigao de novas possibilidades para expanso. Por meio dessa

    diferenciao, entende-se por que os recursos humanos tm um papel fundamental no

  • 141 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    crescimento da firma, pois determinam que novas oportunidades produtivas sejam

    visualizadas no mercado e decidem onde, quanto e como sero investidos os recursos

    financeiros da firma.

    Uma instituio , no todo, o produto natural das presses e das necessidades

    sociais, um organismo adaptvel e receptivo (SELZNICK, 1972). Entender a

    organizao como uma instituio admitir que sua estrutura seja influenciada pela

    histria e pelo meio social onde se desenvolveu prope-se, assim, um tipo

    compreenso que perpassa a anlise detalhada da estrutura administrativa.

    A histria da firma importante para descrever sua trajetria de crescimento,

    considerado um processo evolucionrio baseado na expanso do estoque de

    conhecimentos. Essa acumulao de conhecimento permite a utilizao mais eficiente

    dos recursos disponveis dentro da firma, possibilitando o aproveitamento de novas

    oportunidades at ento inacessveis. Segundo Penrose (1968), o crescimento da firma

    depende dos servios empreendedores de que dispem devido necessidade de criao

    de demanda alm da oferecida naturalmente pelo mercado. Isso se manifesta, entre

    outras formas, no processo de diversificao das empresas, que buscam ampliar seus

    mercados por meio do desenvolvimento de novos produtos ou servios que utilizem

    bases tecnolgicas distintas.

    A trajetria do crescimento da firma depende da qualidade dos servios

    empreendedores, empregados na anlise da dinmica de mudana das oportunidades

    produtivas da firma. Caso essa anlise para determinar a alocao dos recursos da

    organizao no seja realizada num processo deliberado, cuidadoso, com uma forte

    coordenao do topo, podero ocorrer investimentos nas oportunidades produtivas

    menos apropriadas para o futuro da empresa. Essa situao fica mais grave medida que

    a organizao cresce, pois aumentam as chances de conflitos de prioridades na alocao

    de recursos.

    Os traos relacionados ao crescimento da firma atuariam de maneiras diferentes

    sobre as duas condies necessrias autoperpetuao da firma, segundo Fleck (2001).

    Existem traos que exercem influncia direta no crescimento contnuo e outros que

    influenciam a existncia continuada. O crescimento contnuo exige que os traos

    organizacionais associados aos desafios de ordem externa (empreendedorismo,

  • 142 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    motivaes para o crescimento e gerenciamento de mudanas) apresentem configuraes

    que indiquem para o polo de autoperpetuao.

    Todos os traos de crescimento associados aos desafios internos (organizao,

    alocao de recursos, resoluo de problemas e desenvolvimento da hierarquia

    gerencial) e o trao de gerenciamento de mudanas devem apresentar configuraes que

    orientem para o polo de autoperpetuao. Ao apresentar consistncia nos modos de

    resposta associados a esse polo para os desafios gerenciais resultantes do processo de

    crescimento, a organizao estar estimulando as capacidades de crescimento contnuo e

    de existncia continuadas (FLECK, 2001).

    A estratgia competitiva deve surgir da compreenso das regras da concorrncia

    que determina a atratividade de uma determinada indstria. Porter (1989) isolou os

    grupos de ameaas ao lucro de uma firma em um ramo de atividade: ameaa de

    rivalidade entre empresas, ameaa da barreira entrada, ameaa dos substitutos, ameaa

    dos fornecedores e ameaa dos compradores.

    Todas essas ameaas agem para reduzir os rendimentos das firmas (concorrncia,

    entrada, substitutos e compradores) ou aumentar os custos econmicos de uma firma

    (fornecedores), at que a firma obtenha desempenhos considerados apenas normais.

    Desse modo, aes consistentes das firmas para reduzir a ameaa de entrada deveriam

    aumentar as barreiras de entrada da indstria. As firmas podem implementar barreiras

    entrada em seu mercado de atuao: (1) utilizando economias de escala, (2)

    diferenciando seus produtos, (3) explorando vantagens de custos independentemente das

    economias de escala, (4) implementando estratgias planejadas de retaliao ou (5)

    encorajando o governo a impor barreiras entrada. A discusso da competitividade no

    se limita a fatores relacionados tecnologia e localizao, mas tambm s influncias

    do mercado. Com a globalizao, as decises se orientam para o setor externo, pois o

    preo determinado a partir dessas relaes e do padro concorrencial dos produtos das

    naes.

    A competitividade de uma empresa que atua no sistema agroindustrial se

    relaciona a capacidade de gerir o processo de desenvolvimento tecnolgico em cada um

    de seus elos. Dessa forma, a inovao tecnolgica em produtos e processos pode ser

    responsvel pela obteno e manuteno da competitividade na empresa e pela

  • 143 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    agregao de valor (FARINA; ZYLBERSZTAJN, 1992; FARINA, 1999; SOUZA,

    1999; WAACK, 2000).

    O investimento externo direto (IED) uma modalidade de investimento

    estrangeiro de longo prazo. As empresas podem participar no capital ou na captao e

    transferncia de emprstimos intercompanhias (crditos entre matrizes e subsidirias).

    O investimento direto requer que o valor do investimento supere 10% ou mais das aes

    ordinrias ou do direito a voto em uma companhia. Tal investimento tem como objetivo

    capturar ou ampliar a parcela de mercado, recuperar custos fixos associados a mudanas

    tecnolgicas e participar do processo de abertura de oligoplios nacionais (AOUN;

    VERDI; SATO, 2008). A participao no capital inclui a entrada de recursos na forma de

    bens, moeda e converses externas em investimento estrangeiro direto, como a

    aquisio, a subscrio e o aumento de capital, total ou parcial do capital social de

    empresas residentes.

    O IED pode influenciar o desempenho macroeconmico dos pases receptores do

    capital estrangeiro direto, afetando a gerao de emprego, o aumento da produtividade,

    as transferncias de competncias e de tecnologia, incrementando as exportaes e,

    finalmente, contribuindo para o desenvolvimento econmico de longo prazo dos pases

    em desenvolvimento. O IDE pode ser classificado como capital prprio, reinvestimento

    dos lucros e da prestao de longo prazo e de curto prazo na forma de emprstimos

    intraempresa (entre matriz e filial das empresas) (OCDE, 2008; 2003).

    Segundo Krugman e Obstfeld (2010), o IED envolve o fluxo internacional de capitais,

    pois a firma de um determinado pas cria ou expande uma filial em outro. Mas o

    investimento diferenciado porque a matriz exerce controle sobre a filial, tornando-a

    parte da sua estrutura organizacional.

    A localizao da produo associa-se aos recursos, pois a escolha do que

    produzir envolve a disponibilidade e/ou a abundncia de recursos e o acesso a menores

    preos, o custo de transporte e as barreiras ao comrcio, por exemplo. A questo da

    internalizao, segundo Krugman e Obstfeld (2010), envolve (i) a transferncia de

    tecnologia venda ou licena , podendo estar incorporada ao conhecimento de um

    determinado grupo de indivduos ou protegida por direitos de propriedade sobre a

    tecnologia ou o conhecimento, e (ii) a integrao vertical, que reduz problemas de

    preos e coordenao entre empresas envolvidas na produo de insumos, bens

  • 144 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    intermedirios e bens finais. Para os autores, o investimento internacional e o comrcio

    internacional no so dominados por empresas multinacionais (EMNs), porm elas

    desempenham papel importante.

    Os fluxos de capitais so importantes para as economias, uma vez que permitem,

    dentre muitas funes, que o nvel de investimento nacional ultrapasse o nvel de

    poupana do pas, possibilitando maior crescimento da economia (LIPSEY, 2001; 1999).

    Lipsey (2002) analisou os impactos do IED nos pases hospedeiros e concluiu que as

    EMNs apresentam uma produtividade superior de empresas locais. O IED no pas

    hospedeiro estimula positivamente as exportaes, principalmente de bens de maior

    intensidade tecnolgica, substituindo a exportao de insumos por bens manufaturados

    acabados.

    Para Franco (2004), h dois aspectos a serem destacados: (i) o IDE no envolve

    amortizao, como no caso do emprstimo; (ii) e o IDE afeta a economia de um pas

    indiretamente, proporcionando aumento nos fluxos de comrcio importaes e

    exportaes, desenvolvimento em infraestrutura, incremento da produtividade geral e da

    competitividade sistmica, gerando divisas que permitem o envio de dividendos. Logo, a

    internacionalizao no permitiria vulnerabilidades. Entretanto, o IED pode contribuir

    para a transferncia de tecnologia e a criao de capacidade produtiva adicional.

    Os principais indutores do IED so: (i) altas taxas de lucro nos mercados em

    crescimento, (ii) financiamento a taxas de juros relativamente reduzidas no pas de

    origem, (iii) eliminao de barreiras comerciais (substituio de importaes) e (iv)

    garantia de acesso privilegiado a fontes de matrias-primas. Os fatores que limitam o

    investimento do capital so: (i) diferenas de preferncias dos consumidores, (ii)

    condies operacionais, (iii) requisitos legais e fornecimento de insumos para a matriz,

    (iv) custo de transporte, (v) barreiras comerciais, (vi) tamanho do mercado, (vii)

    vantagens comparativas e (viii)condicionantes macroeconmicos (PEZZI; RAGUSE,

    2009).

    Segundo Dunning (1988), a entrada do IED envolve vantagens de propriedade,

    localizao e determinantes de internalizao do investimento. As empresas apresentam

    vantagens especficas tais como propriedade de tecnologia, posse de um ativo

    intangvel nico ou complementaridade desses ativos, criao de novas tecnologias ,

    que podem melhorar a qualidade dos produtos. Habilidades especficas, como (i)

  • 145 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    capacidade organizacional dos seus gestores e reputao internacional risco e (ii)

    incerteza dessas transaes comerciais entre vrios pases, so fatores favorveis

    escolha de internalizao. A vantagem relacionada localizao refere-se existncia de

    recursos especficos do pas receptor, como recursos naturais, qualidade e preos dos

    insumos (inclusive mo de obra, infraestrutura e P&D proporcionada pelo pas receptor

    do capital e pelo custo de transporte), alm de proximidade com o mercado consumidor,

    polticas comerciais (subsdios ou barreiras tarifrias) e polticas industriais,

    tecnolgicas e sociais, entre outros.

    As empresas podem internalizar as externalidades, a fim de minimizar as falhas

    de mercado, proteger os direitos de propriedade, o controle da oferta e da demanda do

    bem produzido, bem como manipular os preos predatrios. Alm disso, h reduo das

    incertezas e dos custos das transaes, entre outras vantagens da internalizao, quando

    se observa a integrao vertical. Mattos, Cassuce e Campos (2007) afirmam que a firma

    estrangeira tem vantagens sobre as empresas concorrentes domsticas, por conta da

    propriedade privilegiada, mas somente utilizada quando mais vantajoso internaliz-la

    do que vend-la. A abordagem de Dunning (1988) destaca quatro elementos que

    favorecem o investimento da firma no exterior: busca de recursos, busca de mercados,

    busca de eficincia e busca de ativos estratgicos.

    H uma diferena entre o fluxo de volume do IED para pases desenvolvidos e

    pases em desenvolvimento. Nos pases em desenvolvimento, o objetivo do IED seria o

    de ativos estratgicos (em que o IDE representado por uma operao de fuso e

    aquisio) e de eficincia horizontal, enquanto em pases desenvolvidos haveria procura

    por mercados, recursos ou eficincia horizontal. Segundo Lipsey (1998), os efeitos do

    IED e da internacionalizao so mais importantes no mundo desenvolvido. Seu efeito

    tem sido crescente entre 1970 e 2000, e as multinacionais costumam apresentar

    produtividade superior das firmas locais.

    Para determinao da entrada do capital no pas em forma de IED, so

    considerados os indicadores relacionados a produto interno bruto, inflao, taxa de juros,

    taxa de cmbio, risco-pas, dvida externa, divida interna e gastos pblicos (LIPSEY,

    2000, 2002).

    A firma tambm pode crescer via Fuses e Aquisies (F&As), pois elas

    ampliam a competitividade no mercado internacional, incrementam o porte da empresa,

  • 146 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    proporcionando economias de escala, melhores condies para captao de recursos

    externos, maior rede de agentes no exterior e menores custos mdios, quando os ativos e

    aes so complementares.

    Para Hitt, Ireland e Hoskisson (2002), as razes estratgicas das F&A envolvem

    (i) obteno de maior poder de mercado, (ii) superao de barreiras entrada, (iii) custo

    de desenvolvimento de novos produtos, (iv) maior velocidade de entrada nos mercados,

    (v) menor risco, (vi) maior diversificao, e (vii) remodelao do escopo competitivo da

    firma, ou seja, reduo da concorrncia.

    A dinmica de fluxos de IDE e crescente nmero de F&As est relacionada com

    o processo de globalizao, e nesse contexto que a anlise do caso Perdigo se

    insere. Para Aoun, Verdi e Sato (2008), trs fatores aceleraram as mudanas nas formas

    de internacionalizao e conduziram globalizao: novas tecnologias,

    desregulamentao financeira e novas formas organizacionais baseadas em redes. A

    maior difuso das novas tecnologias de informao e comunicao (TICS), a

    desregulamentao e a abertura dos mercados sustentam o desenvolvimento das novas

    formas organizacionais e de internacionalizao dos grupos econmicos, verificando-se

    intensificao das relaes intercompanhias.

    3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    A presente pesquisa pode ser caracterizada como de natureza qualitativa e

    descritiva, sendo desenvolvida via estudo de caso nico (YIN, 2005). Conforme postula

    Godoy (1995), a escolha da abordagem qualitativa torna-se mais apropriada em funo

    da natureza do problema que se quer estudar e das questes que orientam a investigao,

    ou seja, adqua-se ao objetivo da pesquisa que analisar a dinmica competitiva luz da

    teoria do investimento direto estrangeiro (IDE) e das fuses e aquisies (F&As) e

    discutir a trajetria e o posicionamento da empresa Perdigo em face das transformaes

    setoriais brasileiras e mundiais.

    No que tange ao fato de a pesquisa ser um estudo de caso descritivo, Trivios

    (1995) o define como aquele em que o pesquisador pretende conhecer uma comunidade,

    seus traos caractersticos, seus valores etc. descritiva, pois pretende expor as

    caractersticas de como se d a dinmica competitiva da organizao investigada.

  • 147 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    Quanto ao processo de coleta de dados, para a realizao de um estudo de caso

    utilizou-se de fontes pblicas e privadas, sobre a produo, exportaes e resultados

    financeiros da empresa. Assim, no presente estudo, a pesquisa foi baseada em pesquisa

    documental e bibliogrfica. Os dados levantados foram extrados de relatrios

    publicados pela da empresa, bem como informaes provenientes de peridicos

    especializados.

    Para estabelecimento de validade do constructo e confiabilidade do estudo de

    caso apresentado, os dados foram tratados e comparados, devido utilizao de vrias

    fontes de coleta de dados, de forma a produzir uma triangulao dos dados, fundamento

    lgico para se utilizar vrias fontes de evidncias (YIN, 2005, p. 120). A anlise das

    informaes coletadas foi basicamente de carter qualitativo, comparando /

    confrontando a documentao levantada sobre os principais indicadores de resultados,

    produtos ofertados, estratgias competitivas e o ranqueamento da empresa em relao

    receita lquida (MYER; COSTA, 2009).

    4 PERDIGO AGROINDUSTRIAL S/A: PROCESSO DE EXPANSO E

    CRESCIMENTO

    Fundada em 1934, a Perdigo Agroindustrial S.A. iniciou as atividades

    industriais com um abatedouro de sunos em 1939 e evoluiu nas dcadas seguintes, por

    meio de aquisies nas reas de sunos e aves, at se tornar uma das lderes do setor

    agroindustrial do pas. Juntamente com a Sadia e demais empresas do segmento,

    promoveu uma grande transformao do setor avcola e da suinocultura brasileira

    (RELATRIO, 2008).

    Em 1993, prestes a completar 60 anos, a empresa encontrava-se em dificuldades

    financeiras. Naquele ano, Eggon Joo da Silva, da WEG, acionista minoritrio, assumiu

    a presidncia executiva e, em 1994, um grupo de fundos de penso conquistou o

    controle da empresa.

    O novo modelo de gesto introduzido trouxe importantes mudanas em sua

    administrao, que se refletem nos resultados da companhia e em sua atuao no

    mercado de capitais. Essas mudanas permitiram que a empresa pudesse disputar o

    mercado interno e o externo, em igualdade de condies com sua maior concorrente, a

    Sadia (LUDKEVITCH, 2005). Ao deixar de ser uma empresa familiar e profissionalizar

  • 148 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    sua gesto, a empresa retomou o caminho do crescimento, da inovao e da disputa pelo

    mercado nacional e pelas exportaes.

    Com inovaes tecnolgicas e melhoria na organizao do trabalho, introduzidas

    pelas empresas do setor, a produo avcola passou de uma atividade artesanal para um

    dos setores de ponta em tecnologia e produo em nvel nacional. As empresas tornam-

    se grandes conglomerados industriais exportadores. Em 1970, a produo avcola

    atingiu o patamar de 217 mil toneladas, o preo do quilo de carne de frango no varejo

    chegou a uma mdia de US$ 4,05 e o consumo por habitante/ano era de 2,3 quilos

    (DALLA COSTA, 2007).

    No ano de 2004, a produo brasileira alcanou 8,4 milhes de toneladas, das

    quais seis milhes para o mercado interno, o que corresponde a 33,5 quilos por

    habitante/ano, o preo mdio do quilo no varejo permaneceu abaixo de um dlar, e o

    Brasil tornou-se o maior exportador mundial do produto, superando os Estados Unidos

    (RELATRIO, 2008).

    Aquisies estratgicas colaboraram para o crescimento e a diversificao da

    empresa. Em 2000, comprou 51% da rea de carnes da Batvia, estreando no segmento

    de perus. Em 2001, adquiriu o controle da empresa. Em 2006, comprou 51% da rea de

    lcteos da Batvia. No ano seguinte, comprou os 49% restantes, que pertenciam a

    cooperativas paranaenses. No final de 2007, comprou a empresa holandesa Plusfood, o

    que marcou o incio de sua internacionalizao e a entrada no segmento de bovinos

    (RELATRIO, 2008).

    Segundo Dalla Costa e Souza Santos (2009) houve trs tentativas de associao

    entre as empresas. As conversas iniciaram-se em 1999 e no avanaram; em 2002, houve

    a criao da Brazilian Foods (BRF). Verificando-se sucesso parcial, a estratgia focou as

    exportaes para a Europa e a sia. Aps um ano e meio, a unio comercial foi desfeita.

    A terceira tentativa foi traumtica e ocorreu em 2006, pois envolveu tentativa de compra

    hostil da empresa Perdigo pela Sadia, cuja capacidade de alavancagem financeira era

    elevada.

    Em 2008, as exportaes cresceram 58,1% em receita e 34,8% em volume. Ao

    final de 2008, a empresa Perdigo produzia mais de 2500 itens, com foco na criao,

    produo e abate de aves, sunos e bovinos, alm da industrializao e venda de

    alimentos processados, massas, vegetais congelados e derivados de soja

  • 149 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    (www.perdigao.com.br). A gesto profissionalizada desenvolveu inovaes tcnicas,

    novas estratgias de produo e distribuio e logstica atualizada, que levaram a

    empresa a retomar seu espao no mercado nacional e nas exportaes. Os novos

    acionistas adotaram uma poltica permanente de investimentos, aumentando a

    capacidade instalada e o desenvolvimento de novos produtos, o que fez crescer o

    nmero de funcionrios, o faturamento e a ocupao do territrio nacional, tanto com

    uma ampla rede distribuidora quanto com novos parques industriais (DALLA COSTA,

    2007).

    5 A TRAJETRIA DE INTERNACIONALIZAO DA EMPRESA PERDIGO:

    ANLISE E DISCUSSO DE RESULTADOS

    Em 2000, foi aberto o primeiro escritrio no exterior, na Inglaterra. Dois anos

    depois, esse escritrio foi transformado em unidade de negcios, para coordenar as

    unidades de Itlia e Holanda, abertas em 2001. A empresa tambm promoveu a abertura

    de escritrios comerciais nos Emirados rabes, na Rssia e na ustria, Cingapura e

    Japo (RELATRIO, 2008). Em 2001, ocorreu o lanamento da marca mundial

    PERDIX, utilizada na comercializao de produtos processados.

    Em 2007, adquiriu a Plusfood, aps 15 meses de negociaes. Com cerca de 400

    funcionrios, a empresa tem unidades industriais na Holanda, no Reino Unido e na

    Romnia, com um mix de mais de 400 produtos, principalmente congelados

    hambrgueres, empanados e grelhados, entre outros itens , que so comercializados em

    vrios pases europeus, gerando uma receita anual aproximada de 75 milhes de euros.

    Entre os principais mercados atendidos esto Itlia, Alemanha, Frana, Espanha, Blgica

    e Luxemburgo, alm da Holanda e Inglaterra. A Plusfood forte especialmente no

    segmento de empresas de servios alimentcios (food service), mas tambm atua no

    varejo, sendo os dois canais fundamentais para abrir terreno e criar novas oportunidades

    para a Perdigo no continente europeu (PERDIGO HOJE, 2008). Outro aspecto

    importante da aquisio da Plusfood a presena de seu centro de P&D, responsvel

    pelo desenvolvimento de vrios produtos que so sucesso no mercado europeu, como o

    Speedy Pollo, tira de frango empanada que se tornou lder de vendas entre o pblico

    jovem italiano e poder ser testado no Brasil.

  • 150 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    A Perdigo possui ainda uma unidade industrial na Argentina, que pertencia

    empresa Eleva. Essa empresa tem importante fatia do mercado de carnes de frango e

    suna, alm de tambm trabalhar no segmento de lcteos.

    A Tabela 1 apresenta a evoluo dos resultados referentes aos principais

    indicadores da empresa Perdigo.

    R$ milhes 2008 2007 2006 2005 2004

    Receita bruta 13.161 7.789 6.106 5.873 5.567

    Mercado Interno 8.104 4.589 3.644 3.036 2.840

    Mercado Externo 5.057 3.199 2.461 2.837 2.727

    Receita lquida 11.393 6.633 5.210 5.145 4.883

    Lucro Bruto 2.759 1.873 1.344 1.459 1.351

    Tabela 1: Principais indicadores da Perdigo Fonte: Relatrio Anual 2008.

    O desempenho em 2008 foi excepcional em relao a 2007, com aumento de 69% no

    faturamento total, enquanto o faturamento do mercado interno e externo evoluiu em

    76,5% e 58%, respectivamente. Entre 2006 e 2007, foi de 27,5%, mas entre 2004 e

    2006, a mdia anual de crescimento foi de apenas 5%.

    5.1 A criao da Brasil Foods

    At 1994, Sadia e Perdigo possuam caractersticas muito semelhantes, em

    termos de origem, localizao, estratgias de crescimento, movimentos de diversificao

    e internacionalizao. Naquela poca, ambas as empresas passaram por um perodo de

    crise, com queda nas vendas e na receita. A partir da, as empresas tomaram caminhos

    distintos, em termos de estruturao interna e modelo de gesto (LUDKEVITCH, 2005).

    Enquanto a Sadia no fez emisso de aes nos ltimos 10 anos, a Perdigo, de

    capital pulverizado, fez isso duas vezes nesse perodo. Seu valor na Bolsa aumentou 132

    vezes nos ltimos 20 anos, enquanto o da Sadia cresceu apenas seis vezes (MEYER;

    COSTA, 2009). Em 2009, foi divulgada ao mercado a fuso entre Sadia e Perdigo,

    originando a empresa Brasil Foods (BRF) (FOLHA ONLINE, 2009).

  • 151 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    A denominao foi criada em 2001, quando ambas lanaram a BRF International

    Foods (ou BRF Trading Company S.A.), com capital dividido em partes iguais. Tratava-

    se de uma joint-venture voltada para a exportao de carne suna, de frango, produtos

    industrializados de carnes e alimentos prontos e semiprontos das duas empresas, para

    pases emergentes da Europa Oriental, da ex-Unio Sovitica, da frica do Sul, alm

    pases como Egito, Angola, Cuba, Repblica Dominicana, Ir, Jordnia e Iraque, onde

    elas no concorriam efetivamente (FRIAS; BARBIERI, 2009). A nova empresa deveria

    ter porte e capacidade para competir com as maiores companhias mundiais do setor de

    alimentos, aumentando o poder de negociao e unificando os sistemas de distribuio e

    transporte de mercadorias, de modo a economizar custos com navios e aluguel de

    contineres. No mercado brasileiro, entretanto, Sadia e Perdigo continuariam como

    concorrentes.

    A BRF tambm planejava desenvolver marcas prprias e novos produtos, de

    acordo com a demanda e peculiaridades de cada pas. Porm, a parceria foi desfeita no

    ano seguinte por incompatibilidade total entre as equipes (MEYER; COSTA, 2009). A

    Perdigo assumiu o controle, e a empresa passou a se chamar BFF (Brazilian Fine

    Foods).

    A BRF nasceu com faturamento bruto de R$ 25 bilhes, o que a torna uma das

    maiores empresas de alimentos do pas, bem como a maior exportadora mundial de

    produtos de carne processada. Seus produtos, separadamente, estavam presentes em

    mais de 100 pases (MEYER; COSTA, 2009).

    A Tabela 2 apresenta a classificao mundial de empresas de protena animal,

    considerando a receita lquida de 2008.

    Classificao Empresa Receita lquida 2008

    (US$ bilhes)

    1 JBS + BERTIN + PILGRIMS (Brasil) 28,7

    2 TYSON FOODS (EUA) 28,1

    3 VION (Holanda) 12,7

    4 NATIONAL BEEF (EUA) 12,5

    5 BRASIL FOODS (Brasil) 12,1

  • 152 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    6 Nippon Meat Packers (Japo) 10,5

    7 Danish Crown (Dinamarca) 9,5

    8 Hormel Foods (EUA) 6,8

    Tabela 2: Ranking das empresas de protena animal Fonte: www.jbs.com.br/ir/index.html; Ribeiro e Todeschini (2009).

    Apesar desses nmeros grandiosos, a compra pela Perdigo foi sada para os

    problemas financeiros da Sadia, dada a sua possvel insolvncia, com endividamento

    que chegou a R$ 8,5 bilhes, em dezembro de 2008, aps as perdas de aproximadamente

    R$ 2,5 bilhes com derivativos cambiais. A empresa utilizou esses derivativos como

    estratgia de hedge (termo tcnico dado poltica de proteo financeira) para garantir a

    reduo de riscos, pois sua operao dependente de moeda estrangeira, sensvel s

    variaes de cmbio. Porm, como os contratos de derivativos da Sadia eram indexados

    com a taxa de cmbio futura, o aumento na cotao do dlar provocou a enorme perda

    (RIBEIRO, FERREIRA; MATSUMOTO, 2009). A Tabela 3 apresenta resumidamente o

    desempenho individual das companhias Sadia e Perdigo.

    Itens Sadia Perdigo

    Receita lquida 10,7 bilhes 11,4 bilhes

    Lucro/Prejuzo - 2,5 bilhes 54 milhes

    Ebitda 1,2 bilhes 1,2 bilho

    Exportao 5,6 bilhes 5,1 bilhes

    Funcionrios 60.580 59.008

    Ano de fundao 1944, em Concrdia (SC) 1934, em Videira (SC)

    Tabela 3: Principais indicadores das empresas Sadia e Perdigo (R$ de 2008) Fonte: Frias, 2009.

    Vale ainda destacar que a Sadia possua mais de 60 mil funcionrios, portflio de

    mais de 700 itens e 125 mil clientes, enquanto a Perdigo contava com 59 mil

    funcionrios, portflio superior a 2.500 produtos e mais de 100 mil clientes.

    Aproximadamente 45% das vendas da BRF sero para o mercado externo e 55% para o

    mercado local (FRIAS, 2009).

  • 153 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    A BRF vai concentrar suas foras no exterior, j que o mercado brasileiro

    est consolidado. Antes da unio e dos problemas financeiros da Sadia, esta pensava em

    abrir uma fbrica nos Emirados rabes, em 2008, e, em 2009, uma planta em outro pas

    da sia, talvez na China. Com a progresso de sua crise interna, cancelou a parceria na

    fbrica russa (inaugurada em dezembro de 2007) e os demais projetos de expanso

    (ARAGO, 2009). Os planos de vender ativos estratgicos, como a fbrica da Sadia na

    Rssia sero reavaliados, assim como dever ser retomado o projeto de construo de

    uma nova fbrica nos Emirados rabes (ARAGO, 2009). As vendas para o exterior

    correspondem a 46% do faturamento da Sadia e 39% da Perdigo. Juntas, essa

    participao deve aumentar, aliando o custo mais baixo de produo da carne brasileira

    aos ganhos de sinergia. No exterior, dever ser enfatizada a marca Sadia, muito forte em

    mercados como Rssia e Oriente Mdio.

    As grandes concorrentes so as empresas americanas Tyson Foods, Kraft e

    General Mills, devido grande produtividade (por causa do milho) e ao enorme mercado

    consumidor. O custo mais elevado da mo de obra compensado pelo acesso

    privilegiado a muitos pases e pelo forte poder de barganha. Apesar da forte

    concorrncia no mercado de produtos industrializados e pratos semipreparados, a unio

    entre as duas companhias fortalece a participao no mercado e preserva as vantagens de

    ser lder no mercado, permitindo BRF, a ampliao e a criao de novas famlias de

    produtos, conforme mostrado na Tabela 4.

    Produtos Perdigo Sadia Brasil Foods

    Carnes refrigeradas 25 28 53

    Carnes congeladas 34 36 70

    Massas 38 50 88

    Pizzas semiprontas 34 33 67

    Margarina 18 30 48

    Tabela 4: Participao percentual de mercado no Brasil Fonte: Souza, 2009.

    O relatrio do banco Morgan Stanley (2009) estimou em R$ 3,7 bilhes os

    ganhos com essa unio. Alm da sinergia em corte de custos e ganho de escala,

    principalmente nas operaes de logstica e transporte, as empresas possuem

  • 154 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    caractersticas que se complementam. A Sadia tem grande experincia em

    desenvolvimento de produtos e de marcas, o que lhe permite cobrar at 15% a mais que

    os concorrentes. Tambm possui um sistema espetacular de distribuio, capaz de

    atender a mais de 300 mil pontos de venda em todo o Brasil. J a Perdigo possui

    eficincia operacional e agressividade comercial. Nos ltimos cinco anos, apresentou

    crescimento mdio de 25%, ultrapassando a Sadia em faturamento em 2008, mesmo

    com preos menores (MEYER; COSTA, 2009). As companhias possuem afinidades de

    que se complementam, proporcionando forte sinergia para se transformar em uma slida

    empresa, a busca de ampliao e consolidao nos mercados externos, uma vez que o

    mercado interno est consolidado, como o apresentado no Quadro 1.

    SADIA PERDIGO

    A marca tem mais fora junto aos

    consumidores, permitindo cobrar preos

    15% maiores.

    Possui um portflio de produtos mais

    diversificado, sobretudo no setor de

    laticnios. Isso lhe permite menor exposio

    a crises em determinados mercados.

    No exterior, pouco dependente dos

    mercados europeu e asitico, justamente

    os que mais sofreram com a crise.

    Possui uma estrutura de custos mais enxuta.

    As fbricas so prximas dos produtores de

    gros, uma de suas principais matrias-

    primas.

    Quadro 1: Pontos fortes de cada empresa Fonte: Meyer e Costa, 2009.

    O acordo bsico prev uma troca de aes entre as duas empresas, na qual a

    Perdigo ficaria com 68% do capital total, e a Sadia, com 32%, alm de trs lugares no

    Conselho de Administrao da nova empresa. O capital seria pulverizado no Novo

    Mercado da Bolsa de Valores de So Paulo, mas alguns grupos teriam destaque. A Previ,

    fundo de penso do Banco do Brasil, que possua 14,16% do capital da Perdigo e

    7,33% da Sadia, ficou com 12% das aes da nova empresa. As famlias Fontana e

    Furlan, controladoras da Sadia com 23% do capital, ficaram com cerca de 10%

    (RIBEIRO; BARBOSA; FRIEDLANDER, 2009).

  • 155 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    Em julho de 2009, foi feita oferta pblica de aes, que levantou R$ 5,3 bilhes.

    Mais de 80% desse valor ser utilizado para reduzir a dvida conjunta superior a R$ 10

    bilhes. O BNDES apoiou a negociao e adquiriu aes da nova empresa estava

    disposto a pagar at R$ 1,5 bilho, mas, como a procura pelos investidores foi forte,

    gastou R$ 400 milhes e ficou com 3% da companhia (LIMA, 2009).

    Sadia e Perdigo j haviam tentado se unir em outras quatro ocasies, desde a

    dcada de 90, mas as discusses sobre quem comandaria a empresa dificultavam as

    negociaes. Porm, com as enormes perdas da Sadia em 2008, provocadas por uma

    operao com derivativos cambiais, a forma como ocorreu formao da BRF pareceu

    ser a soluo mais adequada. O valor de mercado da empresa Sadia atingiu R$ 8,5

    bilhes em meados de 2008, caindo para R$ 2,7 bilhes no incio de 2009 (MEYER;

    COSTA, 2009).

    A tradicional estratgia de exportao e as vantagens comparativas brasileiras

    foram transformadas em vantagem competitiva pela companhia Perdigo. A

    competitividade nos mercados internos e externos foi sustentada pela capacidade de

    gesto dos recursos internos a busca de inovaes em produtos e processos, combinados

    com a evoluo da gentica de aves (frango e perus), tecnolgica das mquinas,

    equipamentos e insumos.

    As estratgias de exportao e abertura de escritrios comerciais no exterior

    foram suportadas pela estrutura consolidada da companhia no mercado brasileiro e

    garantiram a conquista de fatia considervel dos mercados da Europa, da Rssia e do

    Oriente Mdio.

    Do ponto de vista da teoria da internacionalizao, do paradigma ecltico de

    Dunning (1988) e dos investimentos externos diretos (IED) de Krugman e Obstfeld

    (2010), a localizao de escritrios comerciais e a aquisio da unidade Plusfood foram

    fundamentais ao posicionamento da marca e ao aumento de participao no exterior. As

    vantagens de propriedade relacionadas abundncia de recursos naturais brasileiros,

    adaptao de produtos s exigncias dos mercados, eficincia na produo e

    facilidade de recursos financeiros possibilitaram a rpida expanso da estrutura

    produtiva da companhia para atender ao crescimento da demanda.

    Conforme Ross, Westerfield e Jaffe (2002), a fuso/aquisio (AF) uma das

    formas para aquisio de uma empresa. Visando a ampliar a capacidade competitiva

  • 156 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    internacional, a companhia Perdigo fundiu-se com a concorrente Sadia, criando a nova

    companhia Brasil Foods (BRF). Com a nova companhia, a capacidade de oferta foi

    ampliada, aumentou a vantagem na competio por recursos e proporcionou maior

    presena no exterior. A formao da BRF gerou sinergia com base nas vantagens

    complementares dos ativos das duas companhias, como a capacidade de mercado da

    Sadia pela valorizao da marca, o que permite cobrar at 15% a mais no preo do

    produto e pouca dependncia dos mercados europeus e asiticos. Da Perdigo, veio a

    eficincia operacional constituda por um portflio diversificado de produtos e uma

    ajustada estrutura de custo.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    A Companhia Perdigo at recentemente foi uma empresa que, seguindo a

    tradio de seus fundadores, sempre buscou fazer de seu negcio a fonte de resultados

    para garantir o crescimento sustentado em estratgias que levassem a ampliao dos

    mercados pela diversificao de seus produtos e a consolidao de um portflio

    suficiente para garantir o crescimento da empresa.

    De incio, o foco da empresa foi o posicionamento no mercado interno,

    espalhando sua representao pelo territrio nacional e, posteriormente, levando at as

    regies mais distantes e prsperas, como o centro oeste e o meio norte brasileiro.

    marcante a implantao, por parte da empresa, de um parque industrial moderno para dar

    cabo transformao das produes locais e servir aos mercados de consumo maiores e

    mais distantes, como o do Rio de Janeiro e de So Paulo, entre outras capitais e no

    exterior.

    O grande potencial regional se transformou em grandes centros de produo e

    transformao das produes locais, potencializados pelas modernas indstrias que

    acreditaram no potencial de negcios existente na regio Centro-Sul do Brasil. A

    capacidade e a especializao desses empreendimentos reforaram os negcios no

    mercado interno e abriram, para a empresa, oportunidades de fortalecer-se em mercados

    fora do pas.

    O mercado mundial de alimentos e carnes processadas encontra-se em expanso

    sustentada pela ampliao dos mercados domsticos que esto recuperando a renda da

    populao nativa. A limitada oferta de alimentos como fontes de protenas, representadas

  • 157 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    pelas carnes in natura e processada, promoveram aumentos de preo no mercado

    internacional. Adicionalmente, as reas potenciais a produo de alimentos tm grandes

    limitaes relacionadas sua incorporao ao processo produtivo agroalimentar, como a

    inaptido para produo, ou seja, a insuficincia de tcnicas apropriadas para a

    explorao econmica dos recursos de produo.

    O desenvolvimento tecnolgico ocorrido nas regies produtoras no est sendo

    suficiente para responder a demanda nos padres requerida pelos mercados. A busca

    pelo desenvolvimento de tecnologias e inovaes de produtos o grande desafio das

    companhias que investem em P&D. Elas dedicam-se a abreviar o tempo e preservar as

    qualidades e as vantagens de preos requeridas pelos mercados consumidores.

    Aproveitando as oportunidades do mercado nacional e internacional, a Perdigo

    apresentou crescimento nas quantidades vendidas e nas receitas de 2008, apesar da crise

    financeira que se aprofundou no ltimo trimestre de 2008 e se estendeu para 2009. O

    sucesso do resultado financeiro foi garantido por vrias estratgias direcionadas a cada

    situao de mercado, como a compra de unidades de distribuio no mercado russo e

    ingls e a ampliao de novos mercados no Oriente Mdio e abertura de representao

    da Perdigo no mercado chins.

    A crise financeira mundial afetou os resultados financeiros da empresa, mas o

    efeito no atingiu o patrimnio da empresa, uma vez que todos os seus recursos, tanto de

    capital como humano foram preservados, o que impulsionou a aproximao entre

    Perdigo e sua concorrente Sadia. A partir de 19 de maio de 2009, aps vrias tentativas

    de negociao, as concorrentes Perdigo e Sadia passaram a constituir uma nica

    empresa pela fuso de capitais para formar a grande Companhia Internacional Brasil

    Foods, que, ao nascer, assumiu a grande responsabilidade de ser a quinta maior

    companhia do gnero de alimentos e carnes processadas do mundo. A companhia Brasil

    Foods foi estruturada para competir em um cenrio de recuperao e crescimento da

    economia mundial, iniciado no final de 2009.

    A Brasil Foods tem forte tendncia em concentrar suas vendas ao mercado

    externo, uma vez que a companhia possui uma linha diversificada de produtos, alm de a

    marca Sadia ser muito forte na Rssia e no Oriente Mdio. A sinergia resultante da

    juno das empresas Perdigo e Sadia resultar em ganhos de eficincia no

    desenvolvimento de produtos, de marcas, operacional e agressividade comercial.

  • 158 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    REFERNCIAS

    AOUN, S.; VERDI, A. R.; SATO, G. S. Dinmica das fuses e aquisies no

    investimento direto estrangeiro: especificidade da indstria de alimentos e bebidas no

    Brasil, 1996-2006. Informaes Econmicas, So Paulo, v. 38, n. 3, pp.67-76, mar.

    2008.

    ARAGO, M. Prioridade crescer no mercado internacional. O Estado de So Paulo,

    Caderno Economia & Negcios, p. B8-B10, 18 mai. 2009.

    BARNEY, J. B. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of

    Management, v. 17, n. 1, pp. 99-120, 1991.

    DALLA COSTA, A. J. Gesto dos herdeiros ou de profissionais nas empresas

    familiares: o caso da Perdigo. Rio de Janeiro. Revista de Economia Contempornea,

    v.11, n.2, pp.197-225, mai./ago. 2007.

    DALLA COSTA, A.J.; SOUZA-SANTOS, E.R. Brasil Foods: a fuso entre Perdigo e

    Sadia. Economia e Tecnologia, v.5, n. 17, pp.171-82, 2009.

    DUNNING, J. H. The eclectic paradigm of international production: a restatement and

    some possible extensions. Journal of International Business Studies. v. 19, pp. 1-31,

    mar. 1988.

    FARINA, E. M. M. Q. Competitividade e coordenao dos sistemas agroindustriais.

    Gesto & Produo, v.6, n.3, pp. 147-61, dez. 1999.

    FARINA, E. M. M. Q.; ZYLBERSZTAJN, Dcio. Organizao das cadeias

    agroindustriais de alimentos. In: Encontro Nacional De Economia, 20, 1992, Campos

    de Jordo. Anais... So Paulo: 1992. pp. 189-207.

  • 159 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    FLECK, D. L. The dynamic of corporate growth, 2001, 358 f. Tese (Degree of Doctor

    in Philosophy). Faculty of Graduate Studies and Reserch, Mc Gill University,

    Montreal. 2001.

    FOLHA ONLINE. CADE espera julgar fuso Sadia-Perdigo at o final deste ano.

    Disponvel em: .

    Acesso em: 15 set. 2009.

    FRANCO, G. H. B. Investimento Direto Estrangeiro (IDE) no Brasil: passivo

    externo ou ativo estratgico? 2004. Disponvel em: . Acesso em: 8 mar. 2010.

    FRIAS, M. C. Unio Sadia-Perdigo criar Brasil Foods. Folha de So Paulo, Caderno

    Dinheiro, p. B3, 15 mai. 2009.

    FRIAS, M. C.; BARBIERI, C. Nova Sadia-Perdigo evocar brasilidade. Folha de

    So Paulo, Caderno Dinheiro, p. B7, 16 mai. 2009.

    GIORDANO, S. R.; LAZZARINI, S. G. Estudo de caso Perdigo: tecnologia e

    reformulao de negcios. So Paulo, PENSA/USP, 1985.

    GODOY, A. S. Introduo pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de

    Administrao de Empresas, Rio de Janeiro, v. 35, n. 2, pp. 57-63, mar./abr. 1995.

    HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administrao estratgica.

    Cengage Learning, 2002.

    KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: Teoria e Poltica. So

    Paulo: Prentice Hall, 2010.

    KUPFER, D. Padres de concorrncia e competitividade. Rio de Janeiro, 1992.

  • 160 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    LIMA, S. Em 18 meses, BNDES gasta R$ 5 bi para criar "gigantes". Folha de So

    Paulo, Caderno Dinheiro, 4 out. 2009.

    LIPSEY, R.E. Internationalized Production in Developed and Developing Countries

    and in Industry Sectors, NBER Working Paper, n. 6405, feb. 1998.

    _______, The Role of FDI in International Capital Flows, in FELDSTEIN, M. (ed.),

    International Capital Flows, Chicago, pp.307-362, 1999.

    _______, Interpreting Developed Countries' Foreign Direct Investment. NBER

    Working Paper, n. w7810, 2000.

    ______ ,Foreign Direct Investment and the operations of multinational firms: concepts,

    history, and data. NBER Working Paper, n. 8665, 2001.

    ______ Home and host country effects of FDI. NBER Working Paper, n. 9293, 2002.

    LUDKEVITCH, I. F. Trajetrias de crescimento dos grupos Sadia e Perdigo: um

    estudo comparativo. 2005, 241f. Dissertao (Mestrado em Administrao). Rio de

    Janeiro, Instituto COPPEAD de Administrao/UFRJ, 2005.

    MATTOS, L. B.; CASSUCE, F. C. C.; CAMPOS, A.C. Determinantes dos

    Investimentos Diretos Estrangeiros no Brasil, 1980-2004. Revista de Economia

    Contempornea, v. 11, pp. 39-60, 2007.

    MEYER, C; COSTA, M. Felizes para sempre? Revista EXAME, 3, n. 944, pp. 19-29,

    jun. 2009.

    NOVAS Fronteiras. Revista Perdigo Hoje, n 69, fev./mar. 2008.

    OCDE-MANUAL DE OSLO. Proposta de diretrizes para coleta e interpretao de

    dados sobre inovao tecnolgica. FINEP: traduo portugus, 2005.

  • 161 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    ______.Glossary of Statistical Terms. 2003.

    ______. OECD Benchmark Definition of Foreign Direct Investment. Fourth Ed.,

    2008.

    PENROSE, E. T. The growth of the firm - A case study: The Hercules Powder

    Company. Business History Review, v. 34, pp. 01-23, 1968.

    PERDIGO. Relatrio Anual de Sustentabilidade 2008. Disponvel em:

    . Acesso em: 21 jan. 2010.

    PERDIGO e Sadia criam empresa exportadora para atuar no mercado Internacional.

    Disponvel em: http://www.bovespa.com.br/empresas/divext/dfp/01629-

    2/pdf/perdig_comunica25042001b.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2010.

    PEZZI, J.; TRICHES, D. As empresas transnacionais e os investimentos estrangeiros

    diretos: uma anlise comparativa entre os pases selecionados a partir dos anos 1990.

    Perspectiva Econmica v. 5, n. 1, pp.24-48, jan./jun. 2009.

    PORTER, M. Competio: Estratgias Competitivas Essenciais. Rio de Janeiro:

    Elsevier, 1999.

    POSSAS, M. Estruturas de mercado em oligoplio. So Paulo: Hucitec, 1982.

    ______. Vantagem Competitiva: criando sustentabilidade em desempenho

    superior. So Paulo: Campus, 1989.

    RIBEIRO, M.; BARBOSA, M.; FRIEDLANDER, D. Sadia e Perdigo fecham acordo.

    O Estado de So Paulo, Caderno Empresas & Negcios, p. B17, 14 mai. 2009.

    RIBEIRO, K. C. S.; FERREIRA, L. G.; MATSUMOTO, G. U. Brasil Foods:

    oportunidade ou necessidade? So Paulo, XII SEMEAD, 2009.

  • 162 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    SOUZA, V. O impacto de uma eventual fuso entre Sadia e Perdigo. Portal Exame, 12

    maio 2009. Disponvel em: . Acessado em: 23

    fev. 2010.

    SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econmico. So Paulo: Nova

    Cultural, 1982.

    ROSS, S.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administrao Financeira. 2. ed. So

    Paulo: Atlas, 2007.

    SOUZA, J. P de. As estratgias Competitivas da Indstria Brasileira de Carnes: A

    tica do distribuidor. 42 p. Tese (Doutorado) Universidade Federal de Santa

    Catarina, Florianpolis, 1999.

    STAL, E.; SEREIA, V. J.; SILVA, R. S. Estratgias de Internacionalizao do Setor

    Agroindustrial Brasileiro de Carnes: Exportao ou Investimento Direto no Exterior?

    Future Studies Research Journal: Trends and Strategies, v. 2, n. 2, 2010.

    TRIVIOS, A. N. S. Introduo pesquisa em cincias sociais: a pesquisa qualitativa

    em educao: o positivismo, a fenomenologia, o marxismo. So Paulo: Atlas, 1995.

    TUSHMAN, M. L.; ANDERSON, P. Technological Discontinuities and Organizational

    Environments. Administrative Science Quarterly, v. 31, n. 3, pp. 439-465, 1986.

    WAACK, R. S. Gerenciamento de tecnologia e inovao de sistemas agroindustriais. In:

    Economia e gesto de negcios agroalimentares: indstria de alimentos, indstria de

    insumos, produo agropecuria, distribuio. (Org.) Zilbersztajn, D.; Fava Neves, M.

    So Paulo: Poneira, 2000. pp. 323-47.

    YIN, K. R. Estudo de caso: planejamento e mtodos. (Trad.) GRASSI, D. 3. ed. Porto

    Alegre: Bookman, 2005.

  • 163 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    Submisso: 01/02/12 Aceitao: 30/05/12

  • 164 Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM

    v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011 ISSN 1890-4865

    _____________________________________________________________________________ SEREIA, V. J.; CAMARA, M. R. G.; VIEIRA, S. F. A. A trajetria competitiva e a internacionalizao

    da empresa Perdigo. Internext Revista Eletrnica de Negcios Internacionais da ESPM, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 138-164, jul./dez. 2011.

    TRAJECTORY AND A COMPETITIVE COMPANY INTERNACIONALIZATION PERDIGO

    ABSTRACT

    The world economy has required new configurations of global companies to support their positions and result in earnings of its assets. The company Perdigo sought to direct their efforts as market orientation and respond to new stimuli with the adequacy of its structure to the highly competitive international markets. The aim of this study is to analyze the evolutionary process of the company Perdigo S/A Brazil until the formation of Foods, a result of the merger with Sadia S/A, the companys track record, set in a competitive environment characterized by barriers to market entry international, protected by tariff barriers and sanitary. The companys shares resulted in increased sales and opening new markets abroad. The brand, creating new products, operational efficiency and commercial aggressiveness have been responsible for expanding sales and net revenues in the period 2004-2009.

    Keywords: Meat Exports Perdigo, Brazil Foods, Processed Foods.