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SEMIÓTICA E METALINGUAGEM: Uma análise da construção de sentidos
metalinguísticos na apresentação da obra “Eu me chamo Antônio”, de Pedro Gabriel
Rhadly Edy Silva [email protected]
Wellington Neves Vieira [email protected]
RESUMO
O presente estudo concentra-se na área da Literatura e da Semiótica e tem o
objetivo de analisar como os signos se organizam para construção de sentidos
metalinguísticos na apresentação da obra “Eu me chamo Antônio” de Pedro
Gabriel. A pesquisa quanto à metodologia trata-se de uma análise semiótica,
explicativa, bibliográfica e qualitativa e foi baseado em estudos de Peirce (2017),
Pignatari (2004), Campos (2006), dentre outros teóricos e artigos acadêmicos.
Explora-se o conceito de semiótica, se atendo aos estudos peircianos e suas
teorias sobre as relações do signo, também se discute acerca da metalinguagem
literária. Analisa-se, por fim, a construção metalinguística por meio do uso de
diferentes signos linguísticos e visuais na seção introdutória da obra. Ao final
deste trabalho foi possível compreender que o autor reflete e descreve por meio
de signos visuais e verbais o processo criativo num contexto universal e
particular, utilizando-se desta forma da função metalinguística do ato
comunicativo para explicar ao receptor a proposta da obra, bem como sua
concepção de criação poética.
Palavras-chaves: Semiótica e Literatura. Metalinguagem Literária. Pedro
Gabriel.
SEMIOTICS AND METALINGUISTIC: An analysis of the construction
of metalinguistic meanings in the presentation of the work “eu me chamo
Antônio”, by Pedro Gabriel
ABSTRACT
This research focuses on the field of Literature and Semiotics, aiming to analyze
how the symbols are organized to build metalinguistic meanings in the
presentation of the work “Eu me chamo Antônio”, by Pedro Gabriel. The
methodology is based on a semiotic, explicative, bibliographical and qualitative
analysis under the guidance of Peirce (2017), Pignatari (2004), Campos (2006),
among other authors and their scientific articles. We explore the concept of
semiotic based on Peirce’s studies and theories about the relations with symbols,
as well as discuss the literary metalinguistic. Finally, it is analyzed the
metalinguistic construction through different linguistic and visual symbols in the
introductory section of the work. At the end of this research, it was possible to
understand that the author reflects and describes, through visual and verbal
symbols, the creative process in the universal and private context, making use of
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da obra “Eu me chamo Antônio”, de Pedro Gabriel
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the metalinguistic function of the communicative act to explain to the receptor
the proposal of the work, as well as the conception of poetical creation.
Keywords: Semiotic and literature. Literary metalinguistic. Pedro Gabriel.
1 INTRODUÇÃO
A arte literária é uma das mais complexas formas de manifestação da linguagem, pois busca
refletir não somente a sociedade e as relações interpessoais, mas também reflete sobre si mesma,
e insere nesta reflexão as diferentes transformações sob as quais se desenvolve. Essa reflexão e
crítica sobre o próprio fazer literário presente na literatura é denominada metalinguagem, a
linguagem que fala da própria linguagem, característica abrangente principalmente na
Literatura moderna e pós-moderna.
A partir da leitura da obra “Eu me chamo Antônio”, pode-se observar que sua seção introdutória
consiste em uma representação do próprio ato de criação do poeta, o que culminou no
questionamento sobre como os diversos signos empregados pelo autor se organizam na
construção destes sentidos metalinguísticos. Buscando, então, verificar esse fenômeno
linguístico, o presente estudo tem por base teórica os estudos peicianos acerca da teoria dos
signos, bem como a reunião de alguns estudos sobre a metalinguagem literária.
A semiótica contribui como ferramenta de análise do signo em seus diferentes níveis e relações,
em todas as suas manifestações, sendo relevante para a análise literária, pois possibilita
desvendar as conexões, propriedades e representações possíveis nos arranjos semióticos
construídos. Este estudo objetiva, portanto, analisar como os signos se organizam para
construção de sentidos metalinguísticos na apresentação da obra “Eu me chamo Antônio” de
Pedro Gabriel.
Para alcançar este objetivo foi utilizado o método analítico semiótico peirciano, observando o
signo e suas relações triádicas em níveis de primeiridade, secundidade e terceiridade. Nos
procedimentos metodológicos foram utilizados ainda o bibliográfico, por meio do qual serviram
de referencial teórico estudos de autores como Peirce (2017), Pignatari (2004) e Campos
(2006), entre outras publicações e artigos acadêmicos, tratando-se está de uma pesquisa
qualitativa, uma vez que os fenômenos são observados em níveis semânticos e contextuais.
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Tendo em vista os objetivos propostos, este trabalho foi dividido em três tópicos, nos quais o
primeiro expõe em síntese as teorias de peircianas acerca dos signos, suas relações e sua
aplicação na análise literária; o segundo aborda os conceitos de estudiosos acerca da
metalinguagem literária e sua função reveladora do ato criativo; e o terceiro tópico apresenta
uma análise semiótica dos signos linguísticos verbais e visuais que compões a parte introdutória
do livro “Eu me chamo Antônio”, verificando assim seu caráter metalinguístico.
Pode-se compreender ao final deste estudo, que os signos empregados, bem como a forma como
estão dispostos, suas relações internas e externas, suas representações imediatas e dinâmicas
interferem diretamente no sentido metalinguístico pretendido pelo autor. Verificou-se que a
seção analisada consiste numa representação por meio de signos visuais e verbais do ato criativo
literário em uma perspectiva universal e particular que revelam a criação artística aproximando
o leitor do criador, isto é, do poeta.
2 SEMIÓTICA PEIRCIANA E ANÁLISE LITERÁRIA
Tudo contém uma informação que quando repassada, somada ou compartilhada resulta numa
nova forma ou estrutura. Isto é, todo universo está em constante comunicação, numa rede de
informações em fluxo constante. Estas amplas e complexas teias de linguagens são compostas
por signos linguísticos. Os signos são as menores partículas que constituem os fenômenos de
linguagem, portanto, “A Semiótica, ou Teoria Geral dos Signos, é uma indagação sobre a
natureza dos signos e suas relações, entendendo-se por signo tudo aquilo que represente ou
substitua alguma coisa, em certa medida e para certos efeitos.” (PIGNATARI, 2004, p. 21).
Peirce (2017), em sua base fenomenológica, concebe o signo numa relação triádica, na qual os
fenômenos cognitivos se relacionam sobre três aspectos em síntese, a partir dos quais outras
redes de tricotomias são possíveis: primeiridade, secundidade e terceiridade. A primeiridade
corresponde à originalidade e espontaneidade, a secundidade à ocorrência concreta dos fatos,
sua materialidade, e a terceiridade a relação de continuidade e crescimento possíveis pela
assimilação do novo.
A primeiridade do signo consiste no signo em si mesmo, o representante, a secundidade
corresponde ao objeto ao qual o signo representa ou pretende representar, e a terceiridade ao
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interpretante, isto é, uma mente existente ou potencial no qual a representação é efetuada,
gerada, assimilada. Assim, o signo é parte de um signo maior, uma vez que “o significado de
um signo é sempre outro signo [...]; portanto, o significado é um processo significante que se
desenvolve por relações triádicas – e o interpretante é o signo-resultado contínuo que resulta
desse processo.” (PIGNATARI, 2004, p. 49).
O signo mantém uma relação com o objeto e o interpretante, e estes possuem relações entre si,
esta é a estrutura primária, básica deste processo de significação. O interpretante é a maneira
como a mente concebe esta informação, criando outros signos para compreender o primeiro, e
assim sucessivamente, em um processo contínuo de crescimento ou semiose.
Segundo Peirce (2017), os signos podem apresentar-se à consciência como: signo em si mesmo,
que pode ser qualissigno, quando se trata de uma qualidade pura, sinssigno quando essa
qualidade ocorre em um fenômeno particular, e legissigno, quando sua ocorrência repetida gera
uma lei, uma convenção; signo em relação ao objeto, que pode ser ícone, quando representa o
objeto por aspectos de semelhanças, índice quando representa por uma ligação física, aponta o
objeto e símbolo quando representa o objeto por meio de uma convenção generalizada.
Em relação ao interpretante, Peirce (2017) afirma que o signo pode ser rema que são hipóteses
de uma qualidade possível, dicente, que são as possíveis relações signo-objeto processadas pelo
interpretante, e argumento, trata-se das inferências possíveis ao raciocínio por meio das
assimilações que este faz dentro de seu próprio contexto e experiência. De forma que as relações
dos signos, a forma como se apresentam e como representam determinado objeto afetam
diretamente os significados que deles podem ser inferidos.
Partindo desse pressuposto, “A teoria semiótica nos permite penetrar no próprio movimento
interno das mensagens, no modo como elas são engendradas, nos procedimentos e recursos nela
utilizados. Permite-nos também captar seus vetores de referencialidade não apenas a um
contexto mais imediato, como também a um contexto estendido” (FERNANDES, 2011, p. 168).
Sendo demasiado importante para os estudos literários, pois permite uma interpretação para
além das linhas convencionais, inferindo sentidos e ideologias empregadas na construção
literária de acordo com os fatores externos e internos que a competem.
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As criações literárias pós-modernas estão inseridas num processo de inovação na estrutura e no
uso dos códigos, com enlaces cada vez mais intrínsecos, alterando suas significações nas tramas
sígnicas, no espaço e no tempo, aumentando assim a iconicidade característica do fazer literário.
“A multiplicação e a multiplicidade de códigos e linguagens cria uma nova consciência de
linguagem, obrigando a contínuos cortejos entre eles, a contínuas operações intersemióticas e,
portanto, a uma visada metalinguística, mesmo no ato criativo.” (PIGNATARI, 2004, p. 100).
Estes efeitos possíveis são determinados, segundo Eco (2000), pelas possibilidades de
assimilação e inferência provenientes de um sistema de convenções ao qual estão sujeitos o
signo, o objeto e a mente que os interpreta. Se um determinado grupo passa a usar um signo
como representação de algo, e esse fenômeno passa a ser repetido por todos, o significado vai
sendo generalizado, o que permite a mesma interpretação e viabiliza a comunicação. Assim,
todas as relações de significação são determinadas pelas convenções culturais, como ocorre,
por exemplo, em uma língua cujas variações dialetais possuem significados para aqueles que
as usam, mas podem não fazer sentido, ou ter um sentido diferente para os que não as conhecem.
Eco (2000) afirma ainda que para estabelecer significado a um código é preciso empregar outros
códigos e assim sucessivamente, num processo de semiose infinita, como quando se usam
palavras para explicar o significado de outras palavras, de uma expressão, ou mesmo de um
som, buscando aproximar-se do contexto de significação da mente interpretante a fim de que
se alcance um entendimento. Estão envolvidos nesse processo de aproximação os sentidos de
inferência que a mente interpretante pode produzir.
Para análise a qual esta pesquisa se propõe, a semiótica fornece ferramentas analíticas
pertinentes, uma vez que estuda os signos em si mesmos e como estes estão organizados,
selecionados e distribuídos para que as assimilações semânticas pretendidas pelo emissor sejam
apreendidas pelo receptor, neste caso, a forma como o escritor seleciona os códigos e compõe
a obra estilisticamente interfere diretamente na interpretação do leitor.
Visando uma melhor compreensão acerca do objetivo proposto, o próximo tópico aborda a
concepção de metalinguagem e como esta se apresenta dentro da linguagem literária como
elemento autoexplicativo e referencial.
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3METALINGUAGEM LITERÁRIA
Não se pode conceber Literatura sem que lhe estejam incorporadas a crítica e a reflexão, sendo,
pois, a própria linguagem literária a expressão crítica e reflexiva do pensamento ideológico da
sociedade que ela reflete e busca representar. Campos (2006) defende que “Crítica é
metalinguagem” (p. 11), isto é, que a crítica é a própria linguagem refletindo sobre si mesma,
uma vez que o objeto dessa “metalinguagem é a obra de arte, sistema de signos dotado de
coerência estrutural e originalidade.” (p.11)
Compreende-se desta reflexão que a metalinguagem é uma análise do próprio sistema de signos
por meio de outros signos que buscam descrever o processo de criação, ou seja, o arranjo de
signos esquematizados para elucidar determinados sentidos, e que a obra de arte literária é
composta por signos específicos carregados de uma semântica específica a qual se pretende
desnudar quando se faz uma análise crítica. De forma que a própria criação literária é composta
semântica e estilisticamente como um sistema de códigos a ser desvendado pelo leitor.
Assim, a metalinguagem literária consiste numa reflexão crítica sobre a própria criação literária,
o ato criativo. Isto é, o escritor “ao refletir sobre a linguagem, desnuda para o leitor seu processo
de escrita, compartilhando com ele a gênese criativa.” (TAVARES, 2010, p. 101) aproximando
dessa forma o leitor da obra em si, do escritor e do próprio fazer literário. Há, segundo Tavares
(2010), um processo de dessacralização e sacralização do ato criativo, no primeiro o escritor
revela, desnuda, aproxima, no segundo, engrandece, exalta, instiga.
“A metalinguagem é, nesse caso, instrumento de “indicação” e “revelação” ao mesmo tempo,
uma vez que, apontando para a essência da palavra, dirige o olhar do leitor para a grandeza do
que deseja apreender, num movimento de sacralização da linguagem.” (TAVARES, 2010, p.
102). Ao revelar o modo como cria, o escritor exalta sua criação, uma vez que a linguagem
literária é carregada de sentidos particulares para cada código empregado em situações
singulares como é o caso da poesia, que não carece de objetividade, mas extrapola a
subjetividade do signo.
Assim sendo, “A metalinguagem é a ponte que leva à identidade do espírito criador e do
crítico.” (MÜLLER JR, 1996, p. 14), pois por meio desta o artista revela suas características
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próprias de produção, bem como as ideologias, reflexões e pensamentos que pretende elucidar.
Há ainda, a possibilidade de exposição das acepções sobre a arte, a criação, os signos
empregados e seus objetos preteridos, de forma que esta forma de linguagem permite a criação
explicar-se a si mesma, seu processo formador, sua estrutura, sua história.
Na obra analisada o autor Pedro Gabriel apropria-se de diversos signos para compor a semântica
de sua mensagem, consistindo a função metalinguística não apenas nas palavras, mas em
imagens, traços, cores, junção e justaposição de códigos que se unem para representar seus
objetos. Pretende-se, portanto, verificar como estes signos se organizam para compor a função
metalinguística dentro das primeiras páginas da obra essencialmente estética.
Para tanto, apresenta-se no próximo tópico uma análise por meio do método analítico da
semiótica peirciana, observando os signos e suas relações em si mesmo, com seu objeto e
possíveis interpretantes, para assim apreender os sentidos metalinguísticos que denotam na capa
e as primeiras páginas da obra “Eu me chamo Antônio”, as quais apresentam e introduzem o
livro fundamentalmente poético.
4 ANÁLISE SEMIÓTICA DOS SENTIDOS METALINGUÍSTICOS NA
APRESENTAÇÃO DA OBRA “EU ME CHAMO ANTÔNIO”
Na Literatura, os signos são organizados de maneiras peculiares, de forma a gerar significados
e inferências além das convencionais, sendo muitas vezes sobrepostos e ajustados de forma
diversificada, inovando e multiplicando os sentidos semânticos comuns. De forma que as
relações dos signos, a forma como se apresentam e como representam determinado objeto
afetam diretamente os significados que deles podem ser inferidos. Assim sendo, pretende-se
neste tópico analisar como os signos se organizam para a composição de sentidos
metalinguísticos na apresentação da obra, a qual tem por objeto a ser representado a criação e
o ato criativo.
A análise será feita a partir da capa, observando os elementos verbais e visuais que a constitui
e como a organização espacial e estrutural destes signos copelem para produção de sentidos
metalinguísticos. A mesma análise será realizada nas páginas de apresentação e introdução da
obra, visto que estas possuem significados semióticos pertinentes ao estudo proposto,
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denotando ao que pretende a obra em si, isto é, apresenta por meio de signos específicos a
proposta do livro.
As qualidades, isto é, os qualissignos que compõem a capa do livro, Fig. 1, em sua condição de
primeiridade são suas características primeiras, as impressões e sensações. A superfície da capa
é lisa com dobramentos para a parte interna na qual se expõem as informações referentes ao
autor. Possui o fundo preto, com letras manuscritas com uma caligrafia imprecisa, justapostas,
na cor branca, a princípio tem-se a impressão de que as letras estão soltas, porém, com um olhar
mais atento percebe-se que elas formam palavras aglomeradas, sem linearidade, o que dificulta
a separação em grupos que facilitem a leitura de cada uma delas.
Na parte frontal do livro, centralizado, com mais proximidade da parte superior, há uma forma
geométrica que se aproxima de um hexágono, porém possui sete lados de tamanhos diferentes,
na cor branca, com um contorno impreciso na cor preta. Dentro desta forma, está escrito o título
do livro “Eu me chamo Antônio”, na cor preta, com uma caligrafia pouco regular, letras
maiúsculas e minúsculas misturadas, sem alinhamento, de forma que as letras passam uma por
cima das outras, algumas se unem.
Figura 1 – Capa do Livro “Eu me chamo Antônio”
Fonte: GABRIEL (2013, capa)
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Estes qualissignos que compõem a capa do livro, na forma como são apresentados, formam
sinsignos, pois representam por meio desse evento em particular. Isto é, funcionam como ícones
que representam o objeto por meio de semelhanças somente porque estão em conjunto, neste
lugar, a capa, para este fim. O contraste em preto e branco remete a simplicidade de criação do
autor que usa apenas o papel branco e caneta para escrever seus poemas nos guardanapos; as
palavras embaralhadas, sem espaço de definição entre elas assemelham-se ao estado com que
as palavras, as sensações e sentimentos encontram-se na mente do poeta antes de serem
expelidas para o papel em branco, o fundo preto e as palavras em branco representam o
clareamento das ideias quando traduzidas em palavras, de modo que algumas palavras possíveis
de serem identificadas na capa fazem parte dos poemas que integram a obra, porém elas
encontram-se misturadas, ainda em processo de seleção.
A forma geométrica contornada por uma espessa e um pouco imprecisa borda preta representa
um guardanapo dobrado, cujo nome da obra e, ao mesmo tempo, o personagem dela, são
apresentados. A linha espessa define uma limitação, uma separação das palavras dentro do
guardanapo das de fora; o fundo branco representa o clareamento, ou seja, a identidade da obra,
do personagem, que, por ter o mesmo nome, representa indexicamente o próprio autor. Esta
limitação do eu, o uso do nome próprio, representam a busca pelo auto reconhecimento
característico das obras literárias contemporâneas, o estabelecimento de fronteiras que define o
ser, si mesmo, da complexidade de informações a sua volta.
Contudo, este auto reconhecimento aparece de maneira frágil, em um guardanapo, retratando
desta forma as incertezas deste indivíduo que precisa se auto afirmar. Autoafirmação que é
exprimida no título da obra “Eu me chamo...”, ou seja, eu me reconheço, eu existo e me distingo
dos demais pelas características que me personificam. “... Antônio”, nome próprio, mas que é
comum dentre os nomes de pessoas. Antônio é usado na obra não apenas como índice que
referencia o personagem ou o poeta, mas com sentido simbólico que representa todos os
Antônios, isto é, representa a identidade de toda e qualquer pessoa comum.
O nome Antônio funciona na obra como sinsigno, pois sua ocorrência é singular, ou seja, a
significação desta palavra neste uso particular para identificar o personagem da obra, bem como
para simbolizar a identidade de cada indivíduo da coletividade é diferente do seu uso comum,
quando funciona como legissigno, trata-se, portanto de um sinsigno-simbólico.
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Ao abrir o livro, o leitor depara-se com uma página amarelo-mostarda, Fig. 2, com as palavras
na mesma fonte cursiva da capa, sendo esta em marca d’água, numa tonalidade um pouco mais
escura que o amarelo do plano de fundo, as palavras estão dispostas sobre o mesmo arranjo
confuso da capa, porém não são as mesmas.
Na parte superior, centralizado, em dimensões menores que na capa, encontra-se a forma
geométrica imprecisa, branca com contorno preto, no entanto, a parte interior ao contorno trata-
se do recorte de uma fotografia em que o fundo branco apresenta a imagem de uma textura,
com aspecto de um papel frágil, amassado, nele está escrito manualmente, na cor preta, o título
da obra, de forma semelhante a sua apresentação na capa.
Figura 2 – Folha de Rosto do Livro
Fonte: GABRIEL (2013, p. 01)
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Estas qualidades representam iconicamente o princípio do ato criativo, o “dar à luz”, isto é,
levar para a luz, para fora algo que estava no escuro, no interior, por meio do contraste da cor
amarela sucedendo o preto e branco da capa. A cor amarela pode ser analisada em sua relação
com o objeto que denota como um símbolo, ou seja, uma convenção que a afirmou como uma
qualidade de cor que simboliza a luz.
Fundindo-se ao amarelo da página, quase sem distinção de cores, apenas por uma leve alteração
na tonalidade, aparecem as palavras, o instrumento de criação do poeta, por meio das quais as
ideias são manifestadas, representadas deste modo como parte integrante da luz, do veículo de
propagação da claridade. Este evento particular de união da cor amarela às palavras para
representar iconicamente uma metalinguagem da criação poética pode ser analisado como um
sinsigno-icônico, uma vez que os signos são arranjados desta forma peculiar para construir um
significado específico.
Complementando a metalinguagem expressa nas primeiras folhas da obra, ainda na folha de
rosto aparece o ícone que representa o guardanapo dobrado, neste caso, um recorte fotográfico
de um guardanapo com as palavras que compõem o título grafado manualmente, delimitado
pelas bordas pretas. Trata-se de uma réplica do guardanapo original rabiscado pelo autor, um
sinsigno, composto por outros signos, qualissignos: as palavras grafadas neste estilo, cor e
organização, e o guardanapo dobrado desta forma em particular; para significar iconicamente
as criações do poeta, uma assinatura, que passa a ser um legissigno, ter seu sentido de assinatura
firmado, a partir de suas réplicas, ou seja, sua ocorrência repetida nas poesias publicadas nas
redes sociais, nos livros, nas revistas.
A assinatura ou marca que identifica as criações do autor também tem valor de índice na medida
em que aponta para o mesmo, pois a ocorrência deste signo direciona o pensamento ao autor, à
obra, às suas criações. Sua ocorrência nesta página em particular tem valor metalinguístico na
medida em que este se insere na organização sígnica que representa o ato criativo, ou seja, no
meio da página amarela que simboliza a luz encontra-se o título da obra, que por sua vez
representa a obra como um todo que vem a ser exposto nas páginas sequentes.
Nas páginas seguintes à folha de rosto, Fig. 3, há um fundo amarelo com as palavras no mesmo
formato e tipografia que na capa e folha de rosto, no entanto, as palavras são maiores e grafadas
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em branco, representando assim o ato criativo do poeta, as palavras que antes se encontravam
no escuro surgem na claridade. A cor amarela é intensa, o que provoca sensações a quem
observa, chamando atenção para si, mas também preparando o sentido perceptivo para o porvir.
As palavras pela superfície da folha fazem parte dos poemas que compõem a obra: encantado,
barulho, liberdade, pecar, sobras, parto, canto. No entanto, não são enquadradas totalmente na
imagem, ficando algumas incompletas e incompreensíveis à leitura, assemelhando-se assim a
um recorte de algo maior do que a página pode conter. Representam deste modo, as ideias,
sentimentos, sensações, emoções, a totalidade da poesia que existe no poeta, no universo, que
não podem ser contidos no papel, nas palavras.
Figura 3 – Representação do Processo Criativo
Fonte: GABRIEL (2013, p. 02, 03)
Após esta apresentação da proposta criativa do livro, as páginas quatro e cinco são usadas para
apresentação do autor, Fig. 4. Quanto à composição por qualissignos, o fundo das páginas é
todo preenchido com a foto de um objeto de couro semelhante a uma carteira ou bolsa na cor
marron, dando aspecto de união às páginas. No centro, onde as páginas se unem, fica o fecho
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do objeto, que aparenta estar entreaberto, abaixo e sobre a parte superior do bolso deste objeto
estão canetas de diferentes cores e formatos.
Na página quatro, na parte superior à esquerda está impresso o nome do escritor “Pedro
Gabriel”, na cor amarela, fonte não serifada, ocupando sete centímetros na horizontal. Na
página cinco, no canto inferior direito, na saída do campo de visão, sobrepondo as canetas estão
o pedaço de papel um pouco amassado e sujo, com o mesmo formato e o título do livro
manuscrito na cor preta. O diferencial está na ausência da borda preta, o que revela a aparência
dobrada que dá a forma particular replicada do pedaço de papel.
Quanto a sua relação com o objeto que representa, os signos funcionam como ícones
imagéticos, cujos elementos da fotografia mantêm relação de semelhança com uma bolsa
entreaberta na qual se guardam canetas, como ícones, na medida em que apontam para a
profissão de escritor fazendo referência por meio do instrumento usado para escrever: as
canetas. Esta referência é complementada pelo nome próprio do autor impresso no canto
superior esquerdo e a marca da criação deste escritor em particular, funcionando assim como
sinsignos idexicais, pois representam, pela ocorrência singular nas quais estão arranjados,
criador, criação e criatura.
Figura 4 – Apresentação do Autor: criador, criação e criatura
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Fonte: GABRIEL (2013, p. 04, 05)
O nome do autor em amarelo, cor que simboliza a luz, que por sua vez representa a criação,
posto na primeira linha de visão do leitor, o canto de entrada da página, com letras grafadas em
uma fonte não serifada, dando ênfase a cada letra e cada palavra, destacando a individualidade
deste nome próprio, ele, o criador, sujeito determinado, sugere que a criatura, a poesia, vem à
luz por meio deste ser “iluminado”, mediado pelo processo criativo representado pelas canetas
sobre o utensílio no qual se guarda o material usado no ofício posicionados na parte central da
página, no caminho para o elemento final da construção semântica, a obra.
O título da obra, parte que representa o todo, encontra-se no canto inferior da página, linha de
saída que convida o leitor à próxima página, a conhecer esta criação. Portanto, a distribuição
espacial dos elementos que compõem a sentença influência nos sentidos possíveis, sendo o
processo de semiose fundamental para sua composição.
No que remete-se ao interpretante, pode-se inferir que o uso destes signos para representar estes
objetos funcionam como argumentos na medida em que propõem à mente que os interpreta
associar os possíveis significados que os signos coordenados em uma mesma sentença podem
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sugerir. O mesmo pode ser constatado na estruturação da obra, cuja estética influencia
diretamente na construção semântica, como podemos exemplificar nas análises sequentes.
Figura 5 – Início do Enredo: apresentação do personagem-narrador
Fonte: GABRIEL (2013, p. 06, 07).
O enredo inicia-se nas páginas seis e sete, Fig. 5, com a apresentação do narrador personagem.
A composição sígnica se apresenta em sua primeiridade com a imagem de uma textura branca,
com possíveis relevos traçando linhas verticais e horizontais, formando pequenos quadrados
nos quais a impressão de relevo sugere pequenos círculos, funcionando como ícone de um
guardanapo sobre outros que compõem o fundo da página à esquerda. Sobre este fundo surgem
alguns traços na cor preta no canto superior esquerdo do papel, início da linha de visão do leitor
e um pouco mais abaixo, ocupando o centro das páginas, aparece parte de uma caneta preta sem
bocal, cujo bico aponta para a parte escrita do papel.
Os traços rabiscados não representam numa primeira impressão, posto que não são fiéis ao
formato convencional dos sinais gráficos que representam os fonemas da língua portuguesa, de
forma que estes qualissignos funcionam como ícones de um guardanapo de papel rabiscado por
uma caneta preta. Os sentidos pretendidos pelo compositor desta organização sígnica só serão
alcançados quando estes signos são relacionados, por exemplo, com os signos da página
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da obra “Eu me chamo Antônio”, de Pedro Gabriel
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complementar, à direita. Esta segunda página é ocupada com letras, palavras, frases, signos
simbólicos, grafadas em fonte não serifada, o que propõem individualidade e atenção a cada
uma das palavras.
As palavras, de acordo com Peirce (2017), são símbolos por excelência, pois nada representam
sem as leis gerais que as condicionam a representar, não possuem semelhanças com os objetos
que denotam e sua única referência a estes objetos é imposta por generalização. As palavras
fazem parte de um processo de semiose cujos signos são usados para explicar outros signos,
isto é, a grafia das palavras representam os sons, que por sua vez representam os sentimentos,
as ações e as coisas, quando estruturados em determinados conjuntos que possibilitam a
expressão de um grupo de sons particular formam sinsignos, estes foram formalizados pelo uso
a representarem o que representam para seu interpretante, desde que faça parte ou aproxime-se
de sua realidade.
Sendo assim, a primeira frase da narrativa: “Eu me chamo Antônio e sou o personagem de um
romance que está sendo escrito, vivido.” (GABRIEL, 2013, p. 07), quando analisada em sua
relação com a imagem da página anterior funciona como signo indexical, apontando para a
escrita incompleta do nome Antônio, ou seja, o processo de construção deste nome, deste
personagem. Estes códigos analisados enquanto construção semiótica, na qual um signo se une
a outro para então comungar novos sentidos, expressam o processo de construção do
personagem Antônio, bem como o processo de edificação da identidade do sujeito.
O uso do pronome pessoal “eu” acompanhado da conjugação verbal em primeira pessoa
mantém relação direta de similaridade com a escrita manual do nome próprio: a ação é praticada
pelo próprio sujeito que a sofre indicando desta forma como a identidade é concebida pelo
indivíduo como algo interior a ele próprio, não exterior. Na obra, a identidade é construída pelo
próprio sujeito na medida em que este se desenvolve, pelas experiências vividas, o
amadurecimento e crescimento pessoal que elas proporcionam.
Antônio é o personagem, sujeito determinado, de um romance em processo, suscetível a erros,
dificuldades, recomeços, como o rascunho de uma obra que ainda não está acabada, concluída.
Os rabiscos nos guardanapos reforçam a ideia de rascunho, a imprecisão no traço, a forma
despretensiosa de ser algo que ainda não é dão ênfase ao fato de tudo acontecer no tempo
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presente, aqui e agora, sem esboços anteriores, sem ensaios que fortifiquem a precisão na
escrita, que afirmem a completude do sujeito, da identidade, da obra. Antônio se apresenta como
personagem, isto é, sujeito passivo, parte da criação, criatura, não criador, estando ele propenso
a forças independentes de si. Ele é, ao mesmo tempo, autor e receptor das ações, ao mesmo
tempo em que pratica, aprende com elas, emprega-as em seu desenvolvimento.
A descrição do ambiente é composta essencialmente pelo signo verbal, prescindindo a aplicação
de outros códigos, o que difere do restante da obra que é constituída, como mencionado
anteriormente, de múltiplos códigos. Este emprego do código linguístico neste trecho em
particular é intencional. A descrição do ambiente de criação de Antônio, narrador personagem
que se identifica como poeta despretensioso, é um botequim tradicional, isto é, comum,
corriqueiro, semelhante a outros botequins que existem por aí.
É um botequim, sim. Tradicional. Com direito a balcão confuso, contas e mais contas penduradas,
balas com validade quase vencida, charutos importados, promoções-relâmpago: pague um, leve
dois; lave três, pegue dois, o fiel café de todo santo dia, a demoníaca chopeira a todo vapor, a chapa
quente, a bandeja de frios, o cardápio de couro na mesa, o canário em coro na gaiola e centenas de
palitos aflitos que esperam seu último destino.
É assim, nesse botequim,
Sem pretensão alguma de ser poesia
Que nasceu a minha poesia. (GABRIEL, 2013, p. 07)
Gabriel (2013) descreve o ambiente como um espaço comum, representando qualquer
botequim, assim como Antônio é uma pessoa comum, representando uma coletividade. Para
esse efeito o autor se utiliza de recursos gramaticais e estilísticos que corroboram na
intencionalidade das possíveis interpretações, como o uso do artigo indefinido na apresentação
do local, um botequim, como qualquer outro e a colocação frasal da qualificação do botequim
no uso do adjetivo tradicional como único elemento da oração, enfatizando desta forma a
popularidade do espaço, a simplicidade, a rotina.
Características que vêm a serem reforçadas na próxima sentença, quando se descreve possíveis
componentes deste lugar por meio de substantivos acompanhados de adjetivos ou locuções
adjetivas, pequenas frases descritivas organizadas em enumerações sequentes num longo
período composto, exaltando a pressa rotineira do ambiente confuso e conturbado do bar. Por
fim, trata-se de um ambiente tradicional, pouco tradicional para a criação literária, não há,
portanto, a pretensão de ser uma poesia habitual, conceituada pela tradição, mas a poesia
particular do eu-lírico.
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O uso da linguagem verbal para descrever o ambiente de criação do personagem funciona como
uma metalinguagem: o escritor usa da linguagem clássica para referir-se ao clássico, para
afirmar que não pretende seguir a forma poética consagrada, mas apropriar-se de um estilo
particular que não impede de classificar como poesia. Por fim, o eu-lírico despede-se do estilo
verbal clássico ao fim da página, brindando sua liberdade através do emprego da onomatopeia,
recurso linguístico para representar o barulho de taças.
Constata-se, portanto, a partir da análise realizada, que o autor apropria-se dos signos e os reúne
de forma peculiar para representar e apresentar a sua obra, sua criação, descrevendo a princípio
por meio de signos visuais o processo criativo num contexto universal, depois o concebe de
modo particular, ao apresentar seu alter ego, o personagem poeta, e a que ele se propõe,
utilizando-se desta forma da função metalinguística do ato comunicativo para explicar ao
receptor a proposta da obra, bem como sua concepção de criação poética.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A semiótica é uma significativa ferramenta de análise que possibilita adentrar nas propriedades
dos signos, desvelando-os e revelando seus mais variados sentidos, sejam estes explícitos ou
mesmo obnubilados, sejam gerados por convenções pelo uso replicado em determinados
grupos, ou em um contexto particular de empregabilidade e interpretação. De forma que, a partir
da análise semiótica dos signos que compõem as primeiras páginas do livro “Eu me chamo
Antônio”, pode-se verificar que o objeto principal a ser apresentado nesta seção é o ato criativo,
tratando-se, portanto, de uma construção metalinguística.
Esta construção pode ser verificada na medida em que se analisa a dinâmica de disposição e
aplicação de cores, pelos sentidos convencionais a elas ligados, sobrepondo-se seus significados
simbólicos e indexicais, bem como na união de umas às outras, complementando e modificando
seus sentidos semânticos. Verifica-se também o uso de imagens como índices que apontam a
criação poética, e a utilização da linguagem verbal, por meio da qual o autor expõe crítica e
reflexão acerca de sua própria criação, sendo esse reapresentado pelo personagem poeta.
Ao expor nesta seção de abertura de sua obra os traços característicos de sua criação, o autor
poeta revela alguns aspectos particulares de sua identidade, bem como da identidade de sua
própria criação através dos mesmos elementos que compõe os poemas: os rabiscos, os
guardanapos, as palavras, as imagens, o jogo de cores. São os códigos que referenciam o próprio
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código, e eles mesmos se explicam e se revelam. Signos empregados para significar o próprio
signo como objeto e representante, num processo metalinguístico de semiose contínua.
REFERÊNCIAS
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2 reimpressão. 2006.
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FERNANDES, José David Campos. Introdução à Semiótica. Linguagens: usos e reflexões,
v. 8, p. 1-185. 2011.
GABRIEL, Pedro. Eu me chamo Antônio/ texto e ilustração Pedro Gabriel. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2013.
MÜLLER JR, Adalberto. A metalinguagem na poesia brasileira contemporânea. Revista
Cerrados, v. 5, n. 5, 1996.
PEIRCE, Charles Sanders, 1839-1914. Semiótica/ Charles Sanders Peirce; [tradução José
Teixeira Coelho Neto] São Paulo: Perspectiva, 2017.
PIGNATARI, Décio. Semiótica & literatura. Ateliê Editorial, 2004.
TAVARES, Cristiane Fernandes. Metalinguagem: a palavra consagrada na poesia de Adélia
Prado. Olho d'água, v. 2, n. 1, 2011.