Seminário Linguagem Figurada

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Capítulo XVII Camara Jr. J. M. Manual de Expressão Oral e Escrita 9ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1986 Matheus Joana D’arc

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Seminário produzido para a disciplina de Redação, Expressão Oral e Estilística. Profa. Dra. Maria Alice Descardeci. Acadêmicos: Joana D'arc Remígio e Matheus Mourão.

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A LINGUAGEM FIGURADA

Capítulo XVII

Camara Jr. J. M. Manual de Expressão Oral e Escrita

9ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1986

MatheusJoana D’arc

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Desde os primórdios o homem tem criado meios para se apropriar de signos, sinais, gestos, desenhos, letras e, por fim, a palavra oral e escrita na realização do processo de comunicação.

Ao aprimorar esses códigos, ou, a linguagem,o ser humano saiu da definição explícita, denotativa,para a implícita, conotativa.

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Exemplo:

Denotativa

Esse mel é uma delícia!

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Exemplo:

Conotativa

“Fonte de melNos olhos de gueixaKabuki, máscara

Choque entre o azulE o cacho de acáciasLuz das acáciasVocê é mãe do sol...”

(Você é Linda – Caetano Veloso)

http://br.youtube.com/watch?v=1L6QWrjsUkg

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Não se pode estudar o bom emprego das palavras sem levar em conta o desvio das suas significações,ou seja, a linguagem figurada, sendo inútil o rigor com as definições do dicionário.

Além disso, Mattoso considera ineficaz tentar deduzir esses significados em função do radical ou de termos cognatos (que tem a mesma raiz).

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Caracterização

É o desvio da significação própria da palavra.

Aparece em obras literárias, letras de música, em propagandas, etc.

É um fenômeno normal na comunicação lingüística.

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Caracterização

O alcance exato de uma palavra depende:

Da frase em que ela se acha;As palavras em torno delimitam o significado;Do contexto: o significado é completamente sugerido pelo teor geral do que se diz.

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Exemplo

Passadiça: passagem, calçada, passeio.Passadiça: passagem, calçada, passeio.

O oceano ruge ao vento a sua velha e inquieta canção passadiça. A saudade é imensa.

Ainda bem que os abraços e a Poesia bocejam o idioma dos afetos. O comentário parece uma bolacha doce bulindo no céu da boca.

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– Viste? Já vem o estro da linguagem figurada, enfiado que nem piolho em costura!

– Do livro EU MENINO GRANDE, 2006 / 2008.http://recantodasletras.uol.com.br/prosapoetica/1032187

Joaquim Moncks

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Exemplo

Estro: Inspiração; desejo irresistível; cio.Estro: Inspiração; desejo irresistível; cio.

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Figuras de Linguagem são:

recursos utilizados normalmente para tornar mais expressivos o que queremos dizer,

ou para ampliar o significado de uma palavra, suprir a falta de um termo adequado,criar significados diferentes.conseguir maior elegância ou ênfase na expressão.

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as figuras estruturam a própria linguagem,

potencializam o discurso,

carregam com expressividade a fala,

realçam o que Roman Jakobson denomina  “função poética da linguagem”, toda linguagem é poièsis, vale dizer, criação.

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Há um repertório infindo de figuras de linguagem,

com nomenclaturas diversas, heterogêneas e, até, contraditórias.

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A própria ambigüidade da classificação das figuras revela a natureza conotativa de todo discurso:

a denotação seria, então, uma utopia, na medida em que o poeta, por exemplo, almeja que a palavra seja a coisa, o ícone seja o real, o signo seja o ser. Para além da polissemia de todo enunciado, as figuras também se misturam, configurando um concerto significativo.

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“Na entrada da rinha, onde se havia concentrado metade do povoado, Prudencio Aguilar o esperava. Não teve tempo de defender-se. A lança de José Arcadio Buendía, atirada com a força de um touro e com a mesma mira certa com que o primeiro Aureliano Buendía exterminou os tigres da região, atravessou-lhe a garganta. Nessa noite, enquanto se velava o

cadáver, José Arcadio Buendía entrou no quarto quando a sua mulher estava vestindo as calças de castidade. Brandindo a lança diante dela, ordenou: tire isso. Úrsula não pôs em dúvida a decisão do marido. Você será o responsável pelo que acontecer, murmurou. José Arcadio Buendía cravou a lança no chão de terra. Se você tiver que parir iguanas, criaremos iguanas, disse. Mas não haverá mais mortos neste povoado por culpa sua. Era uma bela noite de junho, fresca e com lua, e estiveram acordados e brincando na cama até o amanhecer, indiferentes ao vento que passava pelo quarto, carregado com o pranto dos parentes de Prudencio Aguilar.”

(Cem Anos de Solidão – Gabriel García Màrquez)(Cem Anos de Solidão – Gabriel García Màrquez)

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Tipos

1) Emprego de uma palavra para designar um conceito com que o seu conceito próprio tem qualquer relação: Metonímia.

2) Emprego de uma palavra com a significação de outra sem que haja uma relação direta entre elas: Comparação e Metáfora.

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Metonímia

Do grego metonymía, "além do nome", "mudança de nome"):

Emprego de um termo por outro, com o qual estabelece uma constante e lógica de continuidade.

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Metonímia

a) o autor pela obra:

“Procurou no Aurélio o significado daquela palavra.”

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Metonímia

b) a parte pelo todo:

“ Nunca tive um teto próprio.”

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Metonímia

c) o efeito pela causa:

“ Conseguiu sucesso com determinação e suor.”

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Metonímia

d) o continente pelo conteúdo:

“Você já tomou dois copos, agora chega.”

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Metonímia

e) a marca pelo produto:

O Bento caiu como um touro No terreiro E o médico veio de Chevolé Trazendo um prognóstico E toda a minha infância nos olhos.

Oswald de Andrade. Poesias reunidas. São Paulo: Círculo do Livro, 1976. p. 113

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Metonímia

f) o concreto pelo abstrato:

“Trata-se de um papo-cabeça.”

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Metonímia

g) o lugar pelo produto típico daquele lugar:

“Quero tomar um porto na temperatura certa.”

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Metonímia

h) o singular pelo plural:

“O francês cultiva a arte culinária.”

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Metonímia

i) a matéria pelo objeto:

“Ao cair da tarde, o bronze soa lento e triste.”

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Comparação Nesse caso, há uma associação entre os termos, que fica explícita com o uso dos termos:

Como, tal qual, semelhante a , que nem, etc.

Meu coração tombou na vida tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador

Cecília Meireles

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Metáfora

"...a metáfora é o fenômeno da alma poética. É ainda um fenômeno da natureza, uma

projeção da natureza humana sobre a natureza universal."

Gaston Bachelard, A água e os sonhos.

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Metáfora

Do grego meta, "mudança", "alteração", + phora, "transporte"):

É uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece.

“Meu cartão de crédito é uma navalha.”

(Cazuza)

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A LINGUAGEM FIGURADA Metáfora

Umberto Eco, em Semiótica e filosofia da linguagem, refere-se às metáforas como sistema de relações entre dois ou três termos - que pode ser representado com notações semelhantes às que servem aos problemas matemáticos de relações e proporções.

Para entendê-las matematicamente temos que partir do seguinte fato: metáforas expressam significados ou funcionam quando destacam equivalências, pertinências, proximidades, contingências, enfim associações entre termos costumeiramente não associados. Essas associações podem ser óbvias ou insuspeitadas. Podem exigir, do entendimento, tanto um raciocínio simples quanto complexo ou mesmo refinado (ratio simples e ratio dificilis, segundo Eco).

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A LINGUAGEM FIGURADA Metáfora

Tais relações se estabelecem em FUNÇÃO de afinidades "des-cobertas", desnudadas, realçadas, evidenciadas, enfatizadas pela construção metafórica. Tanto para construir quanto para entender metáforas é necessário conhecer o universo semântico dos termos e o contexto de ocorrência da proposição.

Valores simbólicos, que se eqüivalem em dado contexto, tornam possível a relação metafórica entre termos de linguagem. Observe a analogia com a representação matemática baseada na lógica das razões e proporções:

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A LINGUAGEM FIGURADA Metáfora

em matemática a:b::c:d LENDO: a está para b assim como c esta para d, significando que o produto dos extremos (a x d) é IGUAL ao produto dos meios (c x d).

EM EXEMPLO NÚMERICO:2:3::12:18 Esta é uma relação de razão e proporção. São valores desiguais, porém, em estado de relação semelhante em natureza (RAZÃO) e proporção. DE FATO:2 x 18 = 3 x 12 = 36

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na metáfora TERMO 1 : TERMO 2 :: TERMO 3 : TERMO 4

NA FRASE: No deserto, o ouro negro jorrava em torrentes.

O exemplo mostra uma clara transferência de significados posto que a semântica dicionarial (o significado costumeiro) informa que ouro: 1º não é negro; 2º sendo sólido, não jorra, propriedade de líquido.

Percebe-se então OURO NEGRO é uma expressão que, no exemplo, está substituindo o substantivo concreto que constitui o sujeito. Considerando a qualidade usualmente mais associada ao ouro, temos: OURO : VALOR ECONÔMICO ou RIQUEZA EM MATÉRIA SÓLIDA :: QUALIDADE "NEGRO": RIQUEZA QUE "JORRA", LÍQUIDA

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A LINGUAGEM FIGURADA Metáfora

Como numa advinhação, brincadeira de crianças, a metáfora sugere a questão:

o termo metaforizado é uma matéria líquida e negra que possui a mesma qualidade de riqueza econômica que o ouro, ou seja, petróleo.

Ouro equivale a petróleo se considerado o aspecto do valor pecuniário das duas substâncias.

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Explicando a metáfora usando equação exponencialA fórmula básica da equação exponencial é:Xn = Y Agora, examinemos a metáfora em:Minha sogra tem uma língua afiada  Ora, ser afiada, cortante, não é atributo natural desse orgão chamado língua. No caso, a língua foi elevada à condição de afiada, à potência "afiada". Para entender a metáfora perguntamo-nos: que coisas são normalmente passíveis de serem consideradas afiadas ? Resposta: lâminas, tesouras, facas, espadas etc. Observemos que poderíamos resumir essas coisas todas no conceito de ARMA BRANCA, conforme o uso que delas se faz.

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Considerando todas essas informações a equação fica assim:

Sendo:

X = língua n= potência afiada

temos que:LÍNGUA afiada = Arma Mortal

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Importância da Metonímia

A Metonímia destaca o elemento que no momento, é essencial no conceito designado.

Ex.: Falar vela ou vapor ao invés de navio é frisar logo o tipo de embarcação.

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Importância da Metonímia

Outro exemplo dado pelo autor:

“Suor, sangue e lágrimas” (Winston Churchill) Em linguagem não-figurada:

“Esforços inauditos, inúmeras mortes e ferimentos, e dores sem conta.”

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Importância da Metáfora

Apesar de parecer ser uma prerrogativa da língua literária, o uso de metáforas é bem comum na conversação cotidiana.

O pensamento linguístico é de natureza imaginoso, ou seja, metafórico, como observa o filólogo alemão Karl Vossler, a própria ciência só se desvincula das metáforas, quando abandona a linguagem propriamente dita e se circunscreve à formulação matemática.

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Importância da Metáfora

É um meio valiosíssimo para agradar, convencer ou sugestionar.

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Uso da Comparação

Há casos que se torna mais aconselhável o uso da comparação:

Por senso estético ou por necessidade de maior clareza.

Para dar maior vigor à expressão, se faz sentir a conveniência de ampará-lo com um elemento B, mais nítido, mais concreto, mais impressionante.

Ex.: Seus lábios eram macios como pétalas de rosas.

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Uso da Comparação

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Linguagem Figurada Fossilizada

Se a linguagem figurada está no próprio cerne da expressão verbal, Mattoso defende que ela está latente ou em extinção.

“A linguagem é poesia fossilizada. Como as rochas sedimentárias consistem de massas infinitas de conchas de animálculos, a linguagem é feita de imagens ou tropos, que agora, no seu emprego secundário, deixaram há muito de nos sugerir a sua origem poética.”

Emerson – ensaísta norte-americano.

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Linguagem Figurada Fossilizada

3 importantes conseqüências práticas:

1) Não se pode pautar o significado de uma palavra pelo seu radical.

o sentido atual pode não corresponder ao o original, mas resultar de uma metáfora ou metonímia que não se tem mais idéia.

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Linguagem Figurada Fossilizada

3 importantes conseqüências práticas:

2) Se por outro lado, há uma metáfora meio-extinta, é preciso não esquecê-la na formulação verbal.

é o caso dos termos figurados aspecto, ângulo e ponto de vista.

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Linguagem Figurada Fossilizada

3 importantes conseqüências práticas:

3) por outro lado, a significação latente pode obter as suas vantagens, por um processo que Mattoso chama de econômico, sem a mudança da palavra usual. o uso da palavra hierós de um composto grego, onde o valor religioso já não existe mais.

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Emprego Vicioso da Metáfora

Para não cairmos no uso vicioso da metáfora, é preciso observar cinco princípios:

1) A metáfora tem que proceder da necessidade da ênfase e da clareza. 2) Não deve ser forçada e artificial – muito original ou fora do comum. 3) Não deve se desenvolver demais ou entrar em muitos detalhes. 4) Não acumular duas ou mais metáforas contraditórias na seqüência de um pensamento. 5) A metáfora deve ser integral e não coincidir em parte com a situação real.

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Uma lata existe para conter algo, Mas quando o poeta diz: lata Pode estar querendo dizer O incontível.

Uma meta existe para ser um alvo, Mas quando o poeta diz: meta Pode estar querendo dizer O inatingível

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Por isso não se meta a exigir do poeta Que determine o conteúdo em sua lata Na lata do poeta tudo-nada cabe,

Pois ao poeta cabe fazer Com que na lata venha caber O incabível

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Deixe a meta do poeta, não discuta, Deixe a sua meta fora da disputa

Meta dentro e fora, lata absoluta Deixe-a simplesmente Metáfora

(Gilberto Gil)