SEMINARIO 2012 ARCADISMO

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UNIESP – FACULDADE DIADEMA LETRAS Disciplina: Literatura Brasileira Profª Elizabeth Franke ARCADISMO NO BRASIL AUTORE E OBRAS Rosana

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UNIESP – FACULDADE DIADEMA

LETRAS

Disciplina: Literatura Brasileira

Profª Elizabeth Franke

ARCADISMO NO BRASIL

AUTORE E OBRAS

Rosana

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INTRODUÇÃO

Com a descoberta do ouro em Minas Gerais (final do séc. XVII), o

centro econômico da colônia deslocou-se do Nordeste para o Sudeste. Assim,

no apogeu da produção aurífera, entre 1740 e 1760, essa região tornou-se

também o centro político e cultural, destacando-se as cidades de Vila Rica

(atual Ouro Preto) e Rio de Janeiro, tornando-se pólos de produção e

irradiação de idéias.

Uma pequena burguesia letrada – juristas formados em Coimbra,

padres, comerciantes, militares – fazia ecoar na colônia as ideias do Iluminismo

francês. Embora não chegue a constituir um grupo nos moldes das Arcádias

européias, constituem a primeira geração arcádia brasileira.

Nesta colônia portuguesa, as ideias iluministas vieram ao

encontro dos sentimentos e anseios nativistas, com maior repercussão em Vila

Rica.

Foi na década de 1760, com o declínio extração do ouro que já

existia um embasamento ideológico para orientar a insatisfação contra os

pesados tributos cobrados pela Metrópole. E é nesse ambiente de crise e

efervescência de idéias que surgiu o Neoclassismo – também chamado escola

mineira, graças à origem de alguns de seus principais poetas.

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JOSÉ BASÍLIO DA GAMA

 (São José do Rio das Mortes, 8 de abril de 1741 - Lisboa, 31 de julho de 1795) .

Nasceu no então arraial de São José do Rio das Mortes, depois São José d'El Rei, hoje cidade de Tiradentes, em Minas Gerais. O seu pai foi Manuel da Costa Vila-Boas, capitão-mor do Novo Descobrimento, e uma neta do oficial militar Leonel da Gama Belles.

Em 1757, já órfão de pai, começou a frequentar o Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro. Quando, dois anos depois, em 1759, Gomes Freire de Andrade, 1.º Conde de Bobadela, ordenou fechar o colégio, como parte da campanha de perseguição movida pela Coroa de Portugal contra a Companhia de Jesus, o jovem Basílio manteve-se fiel à sua vocação e seguiu para Roma, à procura do apoio da Igreja para a sua fé.

Entre os anos de 1760 e 1766 foi admitido, graças ao poeta Michel Giuseppe Morei na Arcádia Romana, com o pseudônimo de "Termindo Sipilio". O fato de um poeta da Colônia ter sido admitido em uma agremiação tão importante quanto a Arcádia Romana pressupõe que, quase certamente, ele teria sido recomendado pelo clero jesuítico português.

No decorrer de 1768 está de novo no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, mas retorna à Europa, dirigindo-se para Coimbra. Nesta ocasião foi detido em Lisboa, acusado de simpatia para com os jesuítas. Em troca da liberdade, prometeu às autoridades ir viver em Angola. Logo em seguida, buscando evitar o degredo, capitulou diante do poder exercido pelo futuro Marquês de Pombal, responsável direto pela perseguição aos jesuítas.

Basílio escreveu então um epitalâmio, dedicado à filha do Marquês, exaltando-o, vindo a cair, em 1769, nas graças deste. No mesmo ano foi publicado o poema épico "O Uruguai", dedicado a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão de Pombal, onde se percebe o intuito de agradar o homem forte de Portugal daquele tempo. Além dos guerreiros portugueses, os Guaranis são tratados de maneira positiva pelo autor, cabendo unicamente aos jesuítas o papel de vilões, por serem contrários à política pombalina, retratados como interessados em ludibriar os indígenas.

Por essa época estreita-se a sua ligação com Pombal, de forma que se torna oficial administrativo e secretário deste. Com a queda política de seu protetor, Basílio passou a sofrer perseguições políticas, sendo obrigado a se deslocar da Corte para a Colônia do Brasil e vice-versa, como forma de se livrar de arbitrariedades cometidas contra si.

Num período em que estava em Lisboa veio a falecer, em 31 de julho de 1795, tendo sido sepultado na Igreja da Boa Hora.

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OBRAS

Epitalâmio às núpcias da Sra. D. Maria Amália (1769) O Uruguai  (1769)

A declamação trágica (1772), poema dedicado às belas artes

Os Campos Elíseos (1776)

Relação abreviada da República e Lenitivo da saudade (1788)

Quitúbia (1791)

Caramuru (1781)

O URUGUAI

AO ILUSTRÍSSIMO E EXCELENTÍSSIMO SENHOR CONDE DE OEIRAS

SONÊTO

Ergue de jaspe um globo alvo e rotundo,

E em cima a estátua de um Herói perfeito;

Mas não lhe lavres nome em campo estreito,

Que o seu nome enche a terra e o mar profundo.

Mostra no jaspe, artífice facundo,

Em muda história tanto ilustre feito,

Paz, Justiça, Abundância e firme peito,

Isto nos basta a nós e ao nosso mundo.

Do livro: BASÍLIO DA GAMA. O Uruguai.

.

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Inácio José de Alvarenga Peixoto (Braga) foi filho de Simão Alvarenga Braga

e Maria A. Braga. Desposou a poetisa Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira,

com quem teve quatro filhos: Maria Efigênia, José, Miguel e João de Alvarenga

Braga.

Estudou no Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro, chamado Humberto de

Souza Mello. Tendo se transferido para Portugal, onde obteve o Bacharelato com

louvor em Direito na Universidade de Coimbra. Lá conheceu o poeta Basílio da

Gama, de quem se tornou amigo.

No Reino exerceu o cargo de juiz  na vila de Sintra. De volta ao Brasil, o

de senador  pela cidade de São João del Rei, na capitania de Minas Gerais. Aí

também exerceu o cargo de ouvidor da comarca de Rio das Mortes. Frequentava a

então Vila Rica. Deixou a magistratura, ocupando-se da lavoura e mineração na

região.

Foi amigo dos poderosos da época e partilhava com os demais intelectuais de

seu tempo ideias libertárias advindas do Iluminismo. Entre essas personalidades

destacam-se os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga (seu

parente), o padre José da Silva Oliveira Rolim, o militar Joaquim José da Silva

Xavier (o "Tiradentes"), e Joaquim Silvério dos Reis, que delataria os conjurados.

Pressionado por dívidas e impostos em atraso, acabou por se envolver

na Inconfidência Mineira. Denunciado, detido, julgado e condenado, foi deportado

para Angola, onde veio a falecer.

A sua diminuta obra inscreve-se entre a dos poetas do Arcadismo, e foi

recolhida por Rodrigues Lapa. Apresenta alguns dos sonetos mais bem acabados

do   Arcadismo no Brasil . A temática amorosa foi uma das vertentes da sua poesia,

em que também se observa uma postura crítica quanto à sociedade da época.

OBRAS:

A Dona Bárbara Heliodora, poesia

A Maria Ifigênia, poesia

Canto Genetlíaco , poesia, 1793

Estela e Nize, poesia

Eu Não Lastimo o Próximo Perigo, poesia

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Eu Vi a Linda Jônia, poesia

Sonho Poético, poesia

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Existem mais seis escritos de natureza religiosa sendo que dois ele escreveu a D,João, Bispo de Leiria uma pastoral e uma dissertação, esta segunda publicada nos volumes da Academia Litúrgica (1758) ainda desse tempo são os textos *Dissertatio histórico – critica:De his quae Aeram Hispaniensem concernut e *Dissertatio: As Eliberitanam Synodum aliquod Hispaniensem Concilium antecesserit? Ambos publicados na Academia Litúrgica.

CARAMURU

Poema épico Constituído por 6.672 versos decassílabos ao longo de dez cantos, caramuru influenciado pelo modelo camoniano formado por oitavas rimadas e incluindo informação erudita sobre a flora e fauna brasileiras e os índios do país, caramuru é um tributo a sua terra natal. Caramuru nome de um peixe que foi dado a Diogo Álvares por ter escapado a nado de um naufrágio nas costa da baía.

CANTO I

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VI

Príncipe do Brasil, futuro dono,

Á mãe da Pátria, que administra o mando,

Ponde, excelso Senhor, aos pés do trono

As desgraças do povo miserando:

Para Tanta esperança é o justo abono

Vosso titulo e nome, que invocando,

Chamará,como a outro o egípcio povo,

D. José Salvador de um mundo novo.

VII

Nem podereis temer que ao santo intento

Não se nutram heróis no luso povo,

Que o antigo Portugal vos apresento

No Brasil renascido, como em novo.

Vereis do domador do índico assento

Nas guerras do Brasil alto renovo,

E que os seguem nas bélicas idéias

Os Vieiras, Barretos e os Correias.

VIII

Daí, portanto, senhor, potente impulso,

Com que possa entoar sonoro o metro,

Da basílica gente o invicto pulso,

Que aumenta tanto império ao vosso cetro:

E enquanto o povo do Brasil convulso

Em nova lira canto, em pletro,

Fazei que fidelíssimo se veja

O vosso trono em propagar-se a igreja.

IX

Da nova Lusitânia o vasto espaço

Ia a povoar Diogo, a quem bisonho

Chama o Brasil, temendo o forte braço,

Horrível filho do trovão medonho:

Quando do abismo por cortar-lhe o passo

Essa fúria saiu, como suponho,

A quem do Inferno o Paganismo aluno,

Dando o império das águas, fez Netuno.

X

O grão tridente, com que o mar comove,

Cravou dos Órgãos na montanha horrenda

E na escura caverna, adonde Jove

(outro espírito) espalha a luz tremenda,

Relâmpagos mil faz, coriscos chove;

Bate-se o vento em hórrida contenda,

Arde o céu, zune o ar, treme a montanha

XI

O filho do trovão, que em baixel ia

Por passadas tormentas, ruinoso,

Vê que do grosso mar na travessia

Se sorve o lenho pelo pego undoso;

Bem que, constante, a morte não temia,

Invoca no perigo o Céu piedoso,

Ao ver que a fúria horrível da procela

Rompe a nau, quebra o leme e arranca a vela.

XII

Lança-se ao fundo o ignívomo instrumento,

Todo o peso se alija; o passageiro,

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Para nadar no túmido elemento,

A tabua abraça, que encontrou primeiro:

Quem se arroja no mar temendo o vento,

Qual se fia a um batel, quem a um madeiro,

Até que sofre a penha, que o embaraça,

A quilha bate e a nau se despedaça.

XIIISete somente do batel perdido

Vêm à praia cruel, lutando a nado;

Oferece-lhe um socorro fementido

Bárbara multidão, que acolhe ao brado:

E ao ver na praia o benfeitor fingindo,

Rende lhes a mãos o naufrágio enganado:

Tristes! que a ver algum qual fim o espera

Com quanta sede a morte não bebera!

XIV

Já estava em terra o infausto naufragante,

Rodeado da turba americana;

Vêem-se com pasmo ao porem-se diante,

E uns aos outros não crêem da espécie humana,

Os cabelos, a cor, barba e semblante

Faziam crer àquela gente insana

Que alguma espécie de animal seria,

Desses que no seu seio mar trazia.

XV

Algum chegando aos míseros, que à areia

O mar arroja extintos, nota o vulto;

Ora o tenta despir e ora receia

Não seja astúcia, com que o assalte oculto.

Outros, do jacaré tomando a idéia ,

Temem que acorde com violento insulto,

Ou que o sono fingindo os arrebate

R entre as presas cruéis no fundo os mate.

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SILVA ALVARENGA

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Inácio Silva Alvarenga, nasceu em Vila Rica rio de Janeiro 1749, filho do de um mulato e de mãe desconhecida. Ainda adolescente foi para o Rio de Janeiro estudar, segui para universidade de Coimbra, onde obteve bacharelato em Direito canônico, aos 27 anos de idade. Em Portugal tornou-se amigo de alguns patrícios inclusive de Alvarenga Peixoto e Basílio da Gama.

Silva Alvarenga foi um dos mais fecundos e melhores poetas da plêiade mineira. Era seguramente homem de boas letras, além do engenho poético, talento real, espírito e bom gosto pouco vulgar No tempo. Conhece a literaturas modernas mais ilustres, inclusive inglesas. Tem conhecimento das ciências matemáticas, físicas e naturais. No seu poema As artes, as figuras, ou se lhe refere com apropriadas alegorias ou pertinentes alusões.

Em 1774 publica em Coimbra, o poema herói-cômico O Desertor, metendo a bulha o escolasticismo coimbrão, pouco antes desbancado pelas reformas pombalinas, e celebrando estas reformas. Em 1775 engressou com um soneto de e uma Ode, o mesmo inspirou-lhe ainda a epístola Alexandrinos de treze silabas “Ao sempre Augusto e fidelíssimo rei de Portugal o Senhor D. José I no dia da colocação de sua real estátua equestre“.

Dois anos depois vinha Lume o “templo de Netuno”, poemeto de sete paginas em tercetos e quartetos, muito bem metrificados, com ao mesmo tempo em que celebra a aclamação da Rainha D. Maria I.

Em 1777 Silva Alvarenga volta ao Brasil, e fundou junto com outros doutos uma sociedade cientifica, apoiado pelo Rei Luis de Vasconcelos e Sousa, por ele foi nomeado professor régio de aula retórica e poética (1782), que em 1786 passa a ser chamada sociedade Literária. A esta atividade literária junta a Silva Alvarenga a profissão de advogado.

Com a mudança do vice-rei liberal pelo Conde de Rezende, foi detido em 1794, após ter sido interrogado ficou mais de dois anos preso nas masmorras da fortaleza de Santo Antonio, foi restituído sem julgamento à liberdade. Considerado um dos mais modernos dos poetas do grupo, menos influenciado pelos vícios da época e preconceitos da escola. A de mais vulto , o poema madrigalesco “Glaura” poemas erótico que o coloca entre os principais poetas da época. ). Com a fundação de O Patriota, tornou-se um dos primeiros jornalistas brasileiros. Faleceu em 1° de novembro, no Rio, solteiro, sem deixar descendentes. Outras publicações importantes foram Desertor das Letras (1774 ), A gruta americana (1779) e o poema Às artes (1788) e a segunda edição de Glaura: Poemas eróticos (1801) na Oficina Nunesiana, Lisboa.

MADRIGAL

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ISuave fonte pura,

Que desces murmurando sobre a areia,Eu sei que a linda Glaura se recreia

Vendo em ti dos seus olhos a ternura;Ela já te procura;

Ah! como vem formosa e sem desgosto!Não lhe pintes o rosto:

Pinta-lhe, ó clara fonte, por piedade,Meu terno amor, minha infeliz saudade.

XVNo ramo da mangueira venturosa

Triste emblema de amor gravei um dia,E às Dríades saudoso oferecia

Os brandos lírios, e a purpúrea rosa.Então Glaura mimosa

Chega do verde tronco ao doce abrigo...Encontra-se comigo...

Perturbada suspira, e cobre o rosto.Entre esperança e gosto

Deixo lírios, e rosas... deito tudo;Mas ela foge (Ó Céus!) e eu fico mudo.

XXIVNão desprezes, ó Glaura, entre estas

flores,Com que os prados matiza a bela Flora,

O Jambo, que os AmoresColheram ao surgir a branca aurora.

A Dríade suspira, geme e choraAflita e desgraçada.

Ela foi despojada... os ais lhe escuto...

Verás neste tributo,Que por sorte feliz nasceu primeiro,

Ou fruto que roubou da rosa o cheiro,Ou rosa transformada em doce fruto.

À LUAComo vens tão vagarosa,Oh formosa e branca lua!Vem co'a tua luz serena

Minha pena consolar!Geme, oh! céus, mangueira antiga,

Ao mover-se o rouco vento,E renova o meu tormentoQue me obriga a suspirar!

Entre pálidos desmaiosMe achará teu rosto lindoQue se eleva refletindo

Puros raios sobre o mar.

Madrigal III [Voai, suspiros tristes;]Voai, suspiros tristes;

Dizei à bela Glaura o que eu padeço,Dizei o que em mim vistes,

Que choro, que me abraso, que esmoreço.Levai em roxas flores convertidos

Lagrimosos gemidos que me ouvistes:Voai, suspiros tristes;Levai minha saudade;

E, se amor ou piedade vos mereço,Dizei à bela Glaura o que eu padeço.

O Amante Satisfeito - Rondó XXVI

Canto alegre nesta gruta,E me escuta o vale e o monte:

Se na fonte Glaura vejo,Não desejo mais prazer.

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Este rio sossegado,Que das margens se enamora,Vê co'as lágrimas da AuroraBosque e prado florescer.

Puro Zéfiro amorosoAbre as asas lisonjeiras,E entre as folhas das mangueirasVai saudoso adormecer.

Canto alegre nesta gruta,E me escuta o vale e o monte:Se na fonte Glaura vejo,Não desejo mais prazer.

Novos sons o Fauno ouvindoDestro move o pé felpudo:Cauteloso, agreste e mudoVem saindo por me ver.

Quanto vale uma capelaDe jasmins, lírios e rosas,

Que co'as Dríades mimosasGlaura bela foi colher!

Canto alegre nesta gruta,E me escuta o vale e o monte.Se na fonte Glaura vejo,Não desejo mais prazer.

Receou tristes agoirosA inocência abandonada;E aqui veio retiradaSeus tesoiros esconder.

O mortal, que em si não cabe,Busque a paz de clima em clima;Que os seus dons no campo estima,Quem os sabe conhecer.

Canto alegre nesta gruta,E me escuta o vale e o monte:Se na fonte Glaura vejo,Não desejo mais prazer

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_Ant%C3%B4nio_Gonzaga

Tomás Antônio Gonzaga

Nasceu na cidade do Porto (Portugal) a 11 de agosto de1744. Filho de pai brasileiro, João Bernardo Gonzaga, e mãe portuguesa de descendência inglesa, D. Tomásia Isabel Clarque. Ficou órfão de mãe antes de 1 ano de idade. Veio para o Brasil com seu pai , em 1751, já com sete anos. Instalaram-se à princípio em Pernambuco e em seguida mudaram-se para Bahia.

Sua educação, no começo, foi entregue à seu tio e, depois, continuou seus estudos em Colégio Jesuíta até os 15 anos. Mas, em 1759, com a reforma feita pelo Marques de Pombal, primeiro ministro em Portugal (1750 – 1777) que visava a recuperação da economia portuguesa e a exploração das riquezas das colônias, os Colégios Jesuítas foram fechados e seus padres foram presos, mortos ou degredados.

Voltou à Portugal com 16 anos para concluir seus estudos e dois anos depois matriculou-se na Universidade de Coimbra, no curso de Direito, um dos poucos da época, e assim seguiria os passos de seu pai, que era Desembargador na cidade do Porto e homem de confiança do Marques de Pombal. Em 1768 já era formado Bacharel em Leis e, com a intenção se tornar magistrado, defendeu a tese do Tratado de Direito Natural onde defendia o ponto de vista tomista (referente a São Tomás de Aquino) o qual dizia que o destino do homem é guiado por Deus, mas ele tem o livre arbítrio pra decidir entre o bem e o mal.

Em 1778 foi nomeado Juiz de Fora* na cidade de Beja, com exercício até 1781. Quando voltou ao Brasil e no ano seguinte foi nomeado Ouvidor de Defuntos e Ausentes** da comarca de Vila Rica, onde a população andava muito descontente com impostos atrasados e muitos estavam falindo. Foi neste clima de revolta, que Tomás Antônio Gonzaga reencontra seu colega de academia Alvarenga Peixoto e através dele é apresentado a Cláudio Manoel da Costa, que se tornaria seu grande amigo e mentor, o qual o fez ingressar na intelectualidade da época. O grupo formado por Gonzaga, Cláudio, Silva Alvarenga, Padre Toledo, Manoel Rodrigues da Costa, Alvarenga Peixoto e outros, se reuniam na casa de um ou na casa de outro para trocar idéias, declamar poemas ou quem sabe conspirar ou tramar para a revolução.

*O juiz de fora parte (ou simplesmente juiz de fora) era um magistrado nomeado pelo Rei de Portugal para atuar em conselho onde era necessária a intervenção de um juiz isento e imparcial, que normalmente seria de fora da localidade. Em muitíssimas ocasiões, os juízes de fora assumiam também papel político, sendo indicados para presidir câmaras municipais como uma forma de controle do poder central na vida municipal. Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Juiz_de_fora;**A partir de 1548 estruturou-se, em suas linhas básicas, a administração judicial na Colônia Brasileira. Já, neste momento, uma série de funcionários exerciam suas funções de auxiliares da Justiça, como Escrivães (para escrever os autos dos processos), Tabeliães (para garantir a validade dos documentos) e Meirinhos (para fazer diligências e prender os suspeitos). Em 1580 São acrescidas as seguintes atribuições ao cargo de MEIRINHO: fazer execuções, penhoras e demais diligências necessárias à arrecadação da fazenda dos defuntos, caso o provedor dos Defuntos e Ausentes assim o determine.Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/setembro/dia-do-oficial-de-justica.php#ixzz1zewqrnLe

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Em 1783, toma posse da Capitania de Minas Gerais, o governador Luís Cunha de Meneses, conhecido por seus atos corruptos, nepotismo, abusos de poder, falta de conhecimento e tantos outros erros administrativos, jurídicos e morais. Sua conduta foi relatada quando Gonzaga escreveu uma obra satírica em versos: Cartas chilenas, que circularam sob forma manuscrita em Vila Rica, onde o governador era tratado como "Fanfarrão Minésio”, general no governo do "Chile" (a cidade de Vila Rica)

Nesta época, Gonzaga era membro do conselho de autoridades de Vila Rica e relacionava-se com pessoas muito influentes. Começou então a frequentar a casa de Bernardo da Silva Ferrão, advogado muito conceituado e lá conheceu sua sobrinha, a adolescente de apenas dezesseis anos Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, que se tornaria sua musa Marília em seus poemas. Foi amor à primeira vista e correspondido. A família a principio foi contra, pela diferença de idade (ele estava com 38 anos) e, principalmente pela diferença de fortuna.

Marília e Dirceu (Publicado em "O Amor Infeliz de Marília e Dirceu")

Dois anos se passaram nessa tentativa de conquista. Os tios de Dorotéia não viam em Tomás um homem capaz de fazê-la feliz. Lembravam-se de que o cargo de ouvidor era temporário e que, depois de findar o período legal, ele pudesse levar embora a sobrinha querida.

A resistência de Dorotéia foi, talvez, a causa de tantos e belos poemas. Os amores difíceis são os mais fortes inspiradores dos poetas. E todos os cantos que pertencem a esta fase melancólica e incerta, que precedeu o noivado oficial em 1786, demonstraram as torturas íntimas do poeta.

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Ele receava que o próprio tempo lhe arrebatasse a amada; receava a velhice. O tempo avançava e chegara, enfim, o ano de 1788, e com ele o término de sua investidura no cargo de ouvidor e a chegada a Vila Rica de Pedro José de Araújo Saldanha, para substituí-lo. Um decreto real nomeou-o desembargador da Bahia. Gonzaga apressou-se em obter licença régia para seu casamento com Dorotéia e enfim ficaram noivos e se casariam dois depois. 

Gonzaga era forte opositor a Cunha de Menezes e as desavenças entre eles eram de conhecimento da Rainha D. Maria I e de seus assessores. Esses conflitos cresceram até 1788, quando houve a Viradeira* em Portugal e o Visconde de Barbacena, o Sr. Afonso Furtado de Castro do Rio de Mendonça foi nomeado governador da Capitania de Minas Gerais. Neste mesmo período, a corrupção dos governantes e os boatos sobre a derrama**, foram provocando uma insatisfação muito grande no povo e, principalmente nos membros da elite brasileira (intelectuais, fazendeiros, militares e donos de minas), que queriam pagar menos impostos e ter mais participação na vida política do país e, influenciados pela idéias de liberdade que vinham da Independência dos Estados Unidos (1777), a Revolução Francesa e o iluminismo europeu, começaram a se reunir para buscar uma solução definitiva para o problema: a conquista da Independência do Brasil.

Os inconfidentes haviam marcado o dia do movimento para uma data em que a derrama seria executada. Desta forma, poderiam contar com o apoio de parte da população que estaria revoltada. Porém, um dos inconfidentes, Joaquim Silvério dos Reis, delatou o movimento para as autoridades portuguesas, em troca do perdão de suas dívidas com a coroa.

Por seu papel na Inconfidência Mineira, Tomás Antônio Gonzaga  é acusado de conspiração e infidelidade ao rei, é preso em 1789, cumprindo sua pena de três anos na Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, tendo seus bens confiscados. Foi, portanto, separado de sua amada, Maria Dorotéia, mas, agarra-se ao amor de Marília para sobreviver. Dedica-se a escrever as Liras, que supunha estarem sendo entregues às mãos de Marília.

Gonzaga sofreu longos e penosos interrogatórios, mas, em todos eles, negou, veementemente, a sua participação no levante de Minas. Temia envolver, inutilmente, seus amigos e expor sua querida Marília aos perigos da devassa. Tiradentes, questionado sobre a atuação de Gonzaga, também negou que esse tivesse qualquer envolvimento na Conjuração Mineira. Enquanto isso, na masmorra, Gonzaga desculpava o silêncio da sua amada, adivinhando os obstáculos impostos pela família dela. Marília, no entanto, julgando-se esquecida passou a esquivar-se dos contatos sociais, a falar pouco e a cuidar dos sobrinhos. 

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* Viradeira é designação que se dá ao período que se iniciou a 13 de Março de 1777 com a nomeação por D. Maria I de novos Secretários de Estado, em

substituição do marquês de Pombal. Neste período deu-se uma progressiva quebra do controlo estatal sobre muitas das áreas económicas, com a extinção

de alguns dos monopólios mercantis estabelecidos por Pombal, e permitiu-se uma retoma da influência da Igreja e da alta nobreza sobre o Estado. Muitos

dos presos políticos foram libertados e muitos nobres foram reabilitados, incluindo alguns a título póstumo

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Viradeira

** Correspondia a uma taxa cobrada dos "homens-bons" (brancos e ricos) e que foi fixada em 100 arrobas anuais (1 arroba equivale a aproximadamente

15 quilogramas), ou seja, 1500 quilos. Como não raramente, o quinto não era pago integralmente e os valores não pagos eram acumulativos, era preciso

intensificar a cobrança, confiscando-se bens e objetos d'ouro. Essa prática de cobranças de valores para atingir a meta estipulada pela  Coroa, era chamada

de derrama.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Derrama

Permaneceu em reclusão por três anos, durante os quais, teria escrito a maior parte das liras atribuídas a ele, pois não há registros de assinatura em qualquer uma de suas poesias. No dia 17 de abril de 1792, os presos foram retirados das masmorras e conduzidos até a sala da capela da Cadeia Pública. Diante do oratório, os velhos amigos se encontravam, depois de tanto tempo, para ouvir a leitura da sentença, que, tudo indicava, os levaria à forca. Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, foi condenado à forca. Os demais inconfidentes seriam enviados às regiões insalubres da África. Tomás Antônio Gonzaga seria transferido para Moçambique, onde viveria exilado por dez anos. Sua pena é comutada em degredo, a pedido pessoal de Marília à rainha de Portugal e o poeta é enviado à costa oriental da África. No mesmo ano é lançada em Lisboa a primeira parte de Marília de Dirceu, com 33 liras.

Pouco tempo depois de sua chegada a Moçambique, Gonzaga foi acometido por uma grave enfermidade. Foi transportado para a casa do negociante português e traficante de escravos Alexandre Roberto Mascarenhas, onde poderia receber melhor tratamento e Juliana de Sousa Mascarenhas, filha do comerciante, dedicou seus cuidados à Gonzaga. Diante de tantas adversidades, entregou-se a uma profunda tristeza. O poeta emudeceu.

Em 1793 casou-se com Juliana ("pessoa de muitos dotes e poucas letras"),com quem teve dois filhos: Ana Mascarenhas Gonzaga, filha de dona Juliana anterior ao seu casamento com Tomás Antônio Gonzaga, a quem este lhe seu nome, e Alexandre Mascarenhas Gonzaga, vivendo depois disso, durante quinze anos, rico e considerado. O ex-ouvidor permaneceu ao lado da jovem Juliana até os fins de seus dias, sem escrever uma só linha de seus versos.

Em 1799, é publicada a segunda parte de Marília de Dirceu, com mais 65 liras. No desterro, ocupou os cargos de procurador da Coroa e Fazenda, e o de juiz de Alfândega de Moçambique (cargo que exercia quando morreu). Gonzaga foi muito admirado por poetas românticos como Casimiro de Abreu e Castro Alves.

Morreu em 9 de abril de 1812 acometido por uma grave doença e foi sepultado na Sé da Ilha de Moçambique, sendo seus ossos transportados, em 1835, para a Igreja de Cabaceira Grande, ainda na África e, em 1940, trazidos para o Brasil. Tomás Antônio Gonzaga foi escolhido como patrono da cadeira de nº 37 da Academia Brasileira de Letras ,em 1896, por José Júlio da Silva Ramo, um de seus fundadores.

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Marília de Dirceu

Seu nome verdadeiro era Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão. Uma moça de 16 anos quando Gonzaga veio de Portugal para Vila Rica a fim de assumir o cargo de ouvidor, no fim de 1782 e ela se tornaria sua musa Marília em seus poemas. No século XVIII, não era costume as moças e mulheres de famílias distintas saírem desacompanhadas. Por isso, é bem provável que o quase quarentão Gonzaga tenha conhecido e ganhado intimidade com Maria Dorotéia enquanto frequentava a casa do seu tio, Bernardo da Silva Ferrão, chefe de considerada família da capital de Minas Gerais. O convidado se enamorou da sobrinha do seu amigo advogado. Uma moça belíssima, pelo retrato que dela fez o poeta

http://www.espelhopoetico.pro.br/reflexos/marilia_dirceu.htm

As liras a sua pastora idealizada refletem a trajetória do poeta, na qual a prisão atua como um divisor de águas (a segunda parte do livro é contada dentro da prisão). Antes do encarceramento, num tom de fidelidade, canta a satisfação do amante, que, valorizando o momento presente, busca a simplicidade do refúgio na natureza suave a agradável, que ora é européia e ora mineira. Depois da reclusão, num tom trágico de desalento, canta o infortúnio, a injustiça, o destino e a eterna consolação no amor da figura de Marília. Gonzaga segue o descrito nas regras para a confecção que louvam os encantos da vida rural, imitando-os, nas utilizações de eu-líricos que se aproximem as figuras de pastores, caçadores e vaqueiros.

  Maria Dorotéia nasceu em Vila Rica. Foi batizada com o mesmo nome de sua mãe. Seu pai, Baltazar João Mayrink, era capitão do Regimento de Cavalaria Regular. Órfãos de mãe ainda crianças, Maria Dorotéia e os irmãos ficaram aos cuidados do tio e de tias.

Uma moça muito jovem, seduzida por um forasteiro português com poemas de amor numa terra onde brotava o mais puro ouro, no Brasil do século XVIII. Uma semana antes do casamento, a rainha mandou prender o poeta e seus companheiros que lutavam pela liberdade. Quando os inconfidentes foram denunciados e presos em maio de 1789, Maria Dorotéia tinha 21 anos, e o namoro com Tomás já devia ter cerca de seis.  Ele

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passou ainda três anos preso no Rio de Janeiro, aguardando julgamento antes de ser deportado. Durante esse período, escreveu na masmorra a segunda parte dos poemas dedicados à musa Marília.

Durante sua vida longa, Maria Dorotéia ocupou-se de assuntos da casa, obrigações religiosas, demandas da família, realização de testamentos e inventários, bordados, trabalhos domésticos e toda sorte de atividades atribuídas às mulheres. Sobreviveu a vários parentes e entes queridos, como seu pai, o tio e as tias que a criaram. Mesmo sendo a mais velha, foi a última dentre seus irmãos a falecer.

Maria Dorotéia morreu aos 85 anos, no dia 10 de fevereiro de 1853. Morava na casa herdada do tio. Em seu testamento, deixou algumas missas encomendadas para sua alma e um último pedido: ser sepultada na Igreja de São Francisco de Assis. O pedido não foi atendido, pois foi sepultada na Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

Em Marília de Dirceu, há a refinada simplicidade neoclássica: uma dicção aparentemente direta e espontânea, cheia de imagens graciosas e de alegorias mitológicas; um ritmo agradável, suavizado pelos versos curtos.

Trecho transcrito da primeira parte da obra Marília de Dirceu, antes da sua prisão:

Lira II

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Pintam, Marília, os PoetasA um menino vendado,Com uma aljava de setas,Arco empunhado na mão;Ligeiras asas nos ombros,O tenro corpo despido,E de Amor, ou de CupidoSão os nomes, que lhe dão.

Porém eu, Marília, nego,Que assim seja Amor; pois eleNem é moço, nem é cego,Nem setas, nem asas tem.Ora pois, eu vou formar-lheUm retrato mais perfeito,Que ele já feriu meu peito;Por isso o conheço bem.

Os seus compridos cabelos,Que sobre as costas ondeiam,São que os de Apolo mais belos;Mas de loura cor não são.Têm a cor da negra noite;E com o branco do rostoFazem, Marília, um compostoDa mais formosa união.

Tem redonda, e lisa testa,Arqueadas sobrancelhas;A voz meiga, a vista honesta,E seus olhos são uns sóis.Aqui vence Amor ao Céu,Que no dia luminosoO Céu tem um Sol formoso,E o travesso Amor tem dois.

Na sua face mimosa,Marília, estão misturadasPurpúreas folhas de rosa,Brancas folhas de jasmim.

Dos rubins mais preciososOs seus beiços são formados;Os seus dentes delicadosSão pedaços de marfim.

Mal vi seu rosto perfeitoDei logo um suspiro, e eleConheceu haver-me feitoEstrago no coração.Punha em mim os olhos, quandoEntendia eu não olhava:Vendo o que via, baixavaA modesta vista ao chão.

Chamei-lhe um dia formoso:Ele, ouvindo os seus louvores,Com um gesto desdenhosoSe sorriu, e não falou.Pintei-lhe outra vez o estado,Em que estava esta alma posta;Não me deu também resposta,Constrangeu-se, e suspirou.

Conheço os sinais, e logoAnimado de esperança,Busco dar um desafogoAo cansado coração.Pego em teus dedos nevados,E querendo dar-lhe um beijo,Cobriu-se todo de pejo,E fugiu-me com a mão.

Tu, Marília, agora vendoDe Amor o lindo retrato,Contigo estarás dizendo,Que é este o retrato teu.Sim, Marília, a cópia é tua,Que Cupido é Deus suposto:Se há Cupido, é só teu rosto,Que ele foi quem me venceu.

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A primeira parte de suas liras contém os poemas escritos na época anterior à prisão de Gonzaga. Nela predominam as composições convencionais: o pastor Dirceu celebra a beleza de Marília. Em algumas liras, entretanto, as convenções mal disfarçam a confissão amorosa do amor: a ansiedade de um quarentão apaixonado por uma adolescente; a necessidade de mostrar que não é um qualquer e que merece sua amada; os projetos de uma sossegada vida futura, rodeado de filhos e bem cuidado por suas mulher. 

Trecho selecionado da segunda parte de Marília de Dirceu, após a prisão de Gonzaga, período anterior ao seu exílio:

Lira XX

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Se me viras com teus olhosNesta masmorra metido,De mil idéias funestas,E cuidados combatido,Qual seria, ó minha Bela,Qual seria o teu pesar?

À força da dor cedera,E nem estaria vivo,Se o menino Deus vendado,Extremoso, e compassivo,Com o nome de MaríliaNão me viesse animar.

Deixo a cama ao romper d’alva;O meio-dia tem dado,E o cabelo ainda flutuaPelas costas desgrenhado.Não tenho valor, não tenho,Nem para de mim cuidar.

Diz-me Cupido: "E Marília"Não estima este cabelo?"Se o deixas perder de todo,"Não se há de enfadar ao vê-lo?"Suspiro, pego no pente,Vou logo o cabelo atar.

Vem um tabuleiro entrandoDe vários manjares cheio;Põe-se na mesa a toalha,E eu pensativo passeio:De todo o comer esfria,Sem nele poder tocar.

"Eu entendo que a matar-te,"Diz amor, te tens proposto;"Fazes bem: terá Marília"Desgosto sobre desgosto."Qual enfermo c’o remédio,Me aflijo, mas vou jantar.

Chegam as horas, Marília,Em que o Sol já se tem posto;Vem-me à memória que nelasVi à janela teu rosto:Reclino na mão a face,E entro de novo a chorar.

Diz-me Cupido: "Já basta,"Já basta, Dirceu, de pranto;"Em obséquio de Marília"Vai tecer teu doce canto."Pendem as fontes dos olhos,

Mas em sempre vou cantar.

Vem o Forçado acender-meA velha, suja candeia;Fica, Marília, a masmorraInda mais triste, e mais feia.Nem mais canto, nem mais possoUma só palavra dar.

Diz-me Cupido: "São horas"De escrever-se o que está feito."Do azeite, e da fumaçaUma nova tinta ajeito;Tomo o pau, que pena finge,Vou as Liras copiar.

Sem que chegue o leve sono,Canta o Galo a vez terceira;Eu digo a Amor, que ficoSem deitar-me a noite inteira;Faço mimos, e promessasPara ele me acompanhar.

Ele diz, que em dormir cuide,Que hei de ver Marília em sonho,Não respondo uma palavra,A dura cama componho,Apago a triste candeia,E vou-me logo deitar.

Como pode a tais cuidadosResistir, ó minha Bela,Quem não tem de Amor a graça;Se eu, que vivo à sombra dela,Inda vivo desta sorte,Sempre triste a suspirar?

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A segunda parte de suas liras foi escrita na prisão da ilha das Cobras. Os poemas exprimem a solidão de Dirceu, saudoso de Marília. Nesta segunda parte, encontramos a melhor poesia de Gonzaga. As convenções, embora ainda presentes, não sustentam o equilíbrio neoclássico. O tom confessional e o pessimismo prenunciam uma atmosfera romântica. Há o emprego do verbo no passado: o poeta vive de lembranças e recordações passadas.

  Alguns historiadores citam uma terceira parte de Marília de Dirceu, que seria uma coletânea de textos. Envolve 8 liras que não figuraram nas partes anteriores da obra, e textos que teriam sido escritos antes do envolvimento amoroso com Maria Dorotéia.

Cartas Chilenas

As Cartas Chilenas são 13 cartas escritas por Critrilo (pseudônimo do autor que por muito tempo ficou obscuro) relatando a administração cruel do governador Luís Cunha Meneses no governo a cidade de Vila Rica. Elas são sempre dirigidas a "Doroteu", ninguém mais do que Cláudio Manuel da Costa. As Cartas Chilenas é um poema satírico de Tomás Antonio Gonzaga, agrupados em ''cartas'' que Critilo, escrevendo de Santiago do Chile, remete a Doroteu, na Espanha, criticando o governo de Fanfarrão Minésio. 

Os versos trazem personagens e acontecimentos de um governo repugnante por sua corrupção e maldade. A sátira é uma voz da sociedade das Minas Gerais do final do século XVIII.

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CLÁUDIO MANUEL DA COSTA

http://www.brasilescola.com/literatura/claudio-manuel-costa.htm

Cláudio Manuel da Costa nasceu em 5 de Junho de 1729 na zona rural de Ribeirão do Carmo, hoje Mariana, em Minas Gerais. Filho de João Gonçalves da Costa, ligado à mineração, e Teresa Ribeira de Alvarenga, natural de Minas Gerais. De família rica, estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro. Em 1749, aos vinte anos de idade, embarcou para Portugal, matriculando-se na Universidade de Coimbra, onde obteve o Bacharelato em Cânones (o curso passou a ser chamado Bacharel em Direito após 1836).

Em Portugal teve contato com as renovações da cultura e ideias iluministas empreendidas pelo Marquês de Pombal, E foi quando publicou, em folhetins, pelo menos três poemas, Munúsculo Métrico, Labirinto de Amor e o Epicédio consagrado à memória de Frei Gaspar da Encarnação. Nesses livros, aparecem as marcas poéticas do Barroco, seiscentista é evidente, características daquele estilo.

Em 1753 formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Entre 1753 e 1754, retornou ao Brasil, dedicando-se à advocacia em Vila Rica (atual Ouro Preto). Jurista culto e renomado à época, ali exerceu o cargo de procurador da Coroa, desembargador, e, por duas vezes, o de secretário do Governo. Por incumbência da Câmara de Ouro Preto elaborou a "Carta Topográfica de Vila Rica e seu termo" (1758).

Vila Rica era então a capital da Província, importante setor de mineração do século XVIII e centro de intensa vida intelectual. Cláudio Manuel da Costa, inspirado pelo aspecto renovador do Arcadismo, implantado com a fundação da Arcádia Lusitana em 1756, fundou uma Arcádia chamada “Colônia Ultramarina”, cuja instalação teria sido em 4 de setembro de 1768, com outra sessão em 5 de dezembro, na qual fez representar o drama musicado O Parnaso Obsequioso. Foi buscar nas origens do Arcadismo vigente muitos elementos típicos, tais como o bucolismo, os pastores e as ninfas. Adotou o nome arcádico de Glauceste Satúrnio. Embora não chegue a constituir um grupo nos moldes das arcádias européias, constituem a primeira geração literária brasileira. A publicação em 1768 das Obras Poéticas, composta, principalmente, de éclogas e sonetos, e constitui o marco inicial do lirismo arcádico no Brasil.

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Em 1773, escreveu seu poema mais eloquente “Vila Rica”, o qual foi publicado em 1839, ou seja, após sua morte. Nesse poema há exaltação dos feitos dos bandeirantes, fundadores de diversas cidades da região mineira, além de narrar a história da atual Ouro Preto. É a descrição da epopéia dos bandeirantes paulistas no desbravamento dos sertões e suas lutas com os emboabas indígenas, até a fundação da cidade de Vila Rica.

O poema é importante porque, apesar de fiel aos princípios do Arcadismo, destaca-se pela temática brasileira, conferindo a Cláudio Manuel da Costa o título maior de fundar uma literatura que significasse a incorporação do Brasil à cultura do Ocidente.

A partir de 1782 ligou-se de estreita amizade com Tomás Antonio Gonzaga, e por certo exerceu influência literária sobre ele, ao menos como estímulo. Nas Cartas Chilenas, cuja autoria chegou a ser atribuída por alguns críticos a Cláudio Manuel da Costa, viu-se depois que, Cláudio possivelmente tenha auxiliado o amigo.

Na década de 80, fez parte da Câmara de Vila Rica como juiz ordinário. Era homem de prol, com bens de fortuna, senhor de três fazendas, mas tornou-se conhecido também por sua participação na Inconfidência Mineira, movimento pela independência do Brasil, que ocorreu em 1789 em Vila Rica. Os poetas Tomás Antônio Gonzaga, Inácio José de Alvarenga Peixoto, seus companheiros em Coimbra e Joaquim José da Silva Xavier, Joaquim Silvério dos Reis, entre outros, preparavam uma revolta para estabelecer um governo independente de Portugal. Traídos por Joaquim Silvério dos Reis, os conspiradores foram presos.

Cláudio Manuel da Costa foi levado para prisão, no dia 25 de maio de 1789. Preso, foi interrogado uma só vez pelos juízes da Alçada, em 2 de julho do mesmo ano. As circunstâncias a cerca de sua morte são incertas até hoje. Sua morte está cercada de detalhes obscuros. Há mais de duzentos anos que o assunto suscita debates e há argumentos de peso tanto a favor como contra a tese do suicídio.

Quem acredita na tese do assassinato se baseia em um argumento principal: o próprio laudo pericial que concluiu pelo suicídio. Pelo laudo, o indigitado poeta teria se enforcado usando os cadarços do calção, amarrados numa prateleira, contra a qual ele teria apertado o laço, forçando com um braço e um joelho. Muitos acreditam ser impossível alguém conseguir se enforcar em tais circunstâncias. Há ainda quem acredite que o próprio governador, Visconde de Barbacena, esteve envolvido na conspiração e Cláudio teria sido eliminado por estar disposto a revelar isso. Na tarde do mesmo dia em que o advogado foi preso, são assassinados no sítio da Vargem a sua filha, o genro e outros familiares, bem como alguns escravos e roubados todos os seus bens. Se a morte do alferes (Tiradentes) não causaria embaraços em Lisboa a de Cláudio e da sua família poderia causar, daí a necessidade da farsa ser montada.

Os partidários da crença de que Cláudio Manuel da Costa tenha se suicidado se baseiam no fato de que ele estava profundamente deprimido

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na véspera da sua morte, e, aterrorizado com o interrogatório, onde comprometeu os amigos e, por certo desesperado em consequência, suicidou-se e foi encontrado morto no dia 4 de julho, aos 60 anos de idade, no cubículo da Casa dos Contos, onde estava encarcerado.

Dez dias depois da sua morte, a população de Paris tomava a fortaleza da Bastilha, marcando o início do fim da dinastia dos gloriosos Luíses de França. Começava a tomar corpo então, um projeto político, sonhado pelo próprio Cláudio Manuel da Costa para seu país. Demoraria, no entanto, mais trinta anos para que o Brasil se tornasse liberto de Portugal. Cem anos a mais seriam necessários para a realização da segunda parte do sonho, a implantação do regime republicano no Brasil.

Patrono da cadeira número 8 da ABL (Academia Brasileira de Letras) e escolhido por Alberto de Oliveira, Cláudio Manuel da Costa é considerado um dos maiores poetas brasileiros do período colonial, Cláudio Manuel da Costa foi um poeta de técnica apurada, um escritor que procurou equilibrar a sua forte vocação barroca ao estilo neoclássico.

OBRAS

Glauceste Saturnino (ou Glauceste Satúrnio), pseudônimo do autor, faz parte da transição do Barroco para o Arcadismo. Seus sonetos herdaram a tradição de Camões.

Culto Métrico, 1749. Munúsculo Métrico,1751.

Epicédio, 1753.

Obras (sonetos, epicédios, romances, éclogas, epístolas, liras), 1768.

O Parnaso Obsequioso, 1768

Vila Rica, 1773.

Poesias Manuscritas, 1779.

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Epicédio - A morte de Salício - Epicédio II (trecho)

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(...)

Espírito imortal, tu que rasgandoEssa esfera de luzes, vais pisando Do fresco Elísio a região bendita, Se nesses campos, onde a glória habita, Centro do gosto, do prazer estância, Entrada se permite à mortal ânsia De uma dor, de um suspiro descontente, Se lá relíquia alguma se consente Desta cansada, humana desventura, Não te ofendas, que a vítima tão pura, Que em meus ternos soluços te ofereço, Busque seguir?te, por lograr o preço Daquela fé, que há muito consagrada 

Nas aras da amizade foi jurada.Bem sabes, que o suavíssimo perfume,Que arder pode do amor no casto lume,Os suores não são deste terreno,Que odorífero sempre, e sempre ameno,Em coalhadas porções Chipre desata: Mais que os tesouros, que feliz recataA arábica região, amor estima Os incensos, que a fé, que a dor anima,Abrasados no fogo da lembrança.Esta pois a discreta segurança,Com que chega meu peito saudoso,A acompanhar teu passo venturoso (...)

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Sonetos I

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Para cantar de Amor tenros cuidados,Tomo entre vós, ó montes, o instrumento,Ouvi pois o meu fúnebre lamento;Se é que de compaixão sois animados:

Já vós vistes que aos ecos magoadosDo Trácio Orfeu parava o mesmo vento;Da lira de Anfião ao doce acentoSe viram os rochedos abalados.

Bem sei, que de outros Gênios o destino,Para cingir de Apolo a verde rama,Lhes influiu na lira estro divino;

O canto, pois, que a minha voz derrama,Porque ao menos o entoa um Peregrino,Se faz digno entre vós também de fama.

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Sonetos II

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Leia a posteridade, ó pátrio Rio,Em meus versos teu nome celebrado;Por que vejas uma hora despertadoO sono vil do esquecimento frio:

Não vês nas tuas margens o sombrio,Fresco assento de um álamo copado;Não vês ninfa cantar, pastar o gadoNa tarde clara do calmoso estio.

Turvo banhando as pálidas areias Nas porções do riquíssimo tesouro O vasto campo da ambição recreias.

Que de seus raios o planeta louro Enriquecendo o influxo em tuas veias,Quanto em chamas fecunda, brota em ouro

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Trecho do poema Vila Rica, Canto VII 

O conceito, que pede a autoridade, Necessária se faz uma igualdade De razão e discurso; quem duvida, Que de um cego furor corre impelida A fanática idéia desta gente? Que a todos falta um condutor prudente Que os dirija ao acerto? Quem ignora Que um monstruoso corpo se devora A si mesmo, e converte em seu estrago O que pensa e medita? Ao brando afago Talvez venha ceder: e quando abuse Da brandura, e obstinados se recuse A render ao meu Rei toda a obediência, Então porei em prática a violência; Farei que as armas e o valor contestem O bárbaro atentado; e que detestem A preço do seu sangue a torpe idéia

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Referências:

CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar, Português Linguagem: Volume 1. 7 ed. reformada – São Paulo: Saraiva, 2010. AMARAL, Emília [et al]. Novas Palavras: Português, Volume Único. 2 ed – São Paulo: FTD, 2003 FARACO, Carlos Emílio e MOURA, Francisco Marto. Português: Série Novo Ensino Médio – Volume Único. 1 ed – São Paulo: Ática, 2003 GONZAGA, Tomás Antônio. Seleção de textos, notas, estudo biográfico, histórico e crítico. São Paulo: Abril, 1980 DURÃO, José de santa Rita. Caramuru: poema épico do descobrimento da Bahia. 2ª edição, São Paulo: Martins Fontes, 2005. Maia, João Rodrigues. Português: volume único. 2ª edição, São Paulo: Ática, 2005 DA SILVA, Mário Camarinha. Nossos Clássicos: Basílio da Gama: O Uruguai. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora,1964. http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/TomasAntonioGonzaga/cartaschilenas.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_Ant%C3%B4nio_Gonzaga http://pt.wikipedia.org/wiki/Juiz_de_fora http://www.espelhopoetico.pro.br/reflexos/marilia_dirceu.htm http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/setembro/dia-do-oficial-de-justica.php#ixzz1zewqrnLe http://pt.wikipedia.org/wiki/Derrama http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/TomasAntonioGonzaga/mariliadedirceu.htm http://www.casadobruxo.com.br/poesia/t/tomazbio.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Viradeira http://www.brasilescola.com/literatura/santa-rita-durao.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Rita_Dur%C3%A3o http://www.infopedia.pt/$frei-jose-de-santa-rita-durao http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_In%C3%A1cio_da_Silva_Alvarenga http://www.brasilescola.com/biografia/manuel-inacio-da-silva-alvarenga.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/In%C3%A1cio_Jos%C3%A9_de_Alvarenga_PeixotoAcesso em 04 de jul de 2012 http://pt.wikipedia.org/wiki/Bas%C3%ADlio_da_Gama Acesso em 04 de jul de 2012 http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/ArcadisPreromant/SILVA_ALVARENGA.htm