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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE SAÚDE
FERNANDO MEIRINHO DOMENE
Tratamentos para pacientes com COVID-19, uma revisão rápida
de revisões sistemáticas.
SÃO PAULO
2021
FERNANDO MEIRINHO DOMENE
Tratamentos para pacientes com Covid-19, uma revisão rápida de
revisões sistemáticas.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Saúde, para obtenção do título de Especialista em Saúde Coletiva. Orientadoras: Tereza Setsuko Toma e Maritsa Carla de Bortoli
SÃO PAULO
2021
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca do Instituto de Saúde - IS
Domene, Fernando Meirinho Tratamentos para pacientes com covid-19, uma revisão rápida de revisões sistemáticas – São Paulo, 2021. 129 f. Orientador (a): Tereza Setsuko Toma Co-orientador (a): Maritsa Carla de Bortoli Monografia (Especialização) – Instituto de Saúde – Secretaria de Estado da Saúde – Curso de Especialização em Saúde Coletiva
1. Infecções por coronavírus 2. Covid-19 3. Tratamento farmacológico 4. Revisão rápida I. Toma, Tereza Setsuko. II. Bortoli, Maritsa Carla de.
CDD: 613
Dedico este trabalho aos meus familiares e principalmente aos meus pais, Lina e Beto, por
todo carinho e força que me dão. Obrigado por ficarem ao meu lado e sempre me apoiarem
nas decisões que tomei ao longo da vida. Amo vocês.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que eu
chegasse até aqui e concluísse esta parte da jornada.
Aos meus pais que sempre me apoiaram. Aos familiares, amigos e amigas que
estiveram sempre ao meu lado. Aos meus irmãos, Thiago e Henrique, meu sobrinho, Pedro, e
minha cunhada (irmã), Aline, pelo carinho que demonstram e pela alegria compartilhada. A
todas as pessoas que no começo dessa jornada me apoiaram a voltar aos estudos e concluir o
ensino médio, em uma época em que eu não via sentido nisso. Às minhas amigas
farmacêuticas, Cath e Luani, pela ajuda em questões que às vezes fugiam ao meu
conhecimento, e pela leitura e sugestões que fizeram quando da elaboração deste trabalho.
Às Professoras Orientadoras Tereza e Maritsa, e à amiga de trabalho Jéssica pela
paciência com uma pessoa propensa a área de humanas. Por toda ajuda, leitura atenta e
dedicada, e as sugestões que fizeram neste trabalho. Pelos aprendizados e trocas que tive com
as três e que fizeram deste trabalho possível. Sou grato por isso e pelo relacionamento de
amizade que construímos em nosso grupo.
Ao Dr. José Ruben de Alcântara Bonfim, pela elaboração de uma lista preliminar de
fármacos e outros tratamentos para COVID-19.
Ao Instituto de Saúde - IS, pela possibilidade deste trabalho, aos funcionários que se
dedicam para que tudo aconteça, à Valéria e às pessoas de Franco da Rocha que nos ajudaram
tanto.
“Uma longa viagem começa com um único passo.”
Lao Tsé
Meirinho Domene Fernando.Tratamentos para pacientes com COVID-19, uma revisão rápida de revisões sistemáticas. [monografia]. São Paulo: Instituto de Saúde, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo; 2021.
RESUMO
Introdução: A pandemia de COVID-19 é uma emergência em saúde que requer agilidade na
produção de conhecimentos e na busca de tratamentos eficazes e seguros. Ainda não há
tratamentos específicos para a doença, sendo o manejo direcionado ao controle dos sintomas.
Objetivo: Descrever as evidências sobre eficácia e segurança dos tratamentos estudados para
o manejo clínico de pacientes com COVID-19. Metodologia: Realizou-se uma revisão rápida,
com busca de artigos na plataforma de pesquisa global da Organização Mundial da Saúde, no
dia 29 de outubro de 2020, que é específica para COVID-19, sendo regularmente atualizada.
Foram selecionadas revisões sistemáticas (RS), publicadas em inglês, português ou espanhol.
Resultados: As 56 RS incluídas apresentam estudos primários sobre os seguintes tipos de
tratamento para COVID-19: antivirais, antibióticos, antimaláricos, corticosteróides,
imunoterapias, oxigenação por membrana extracorpórea e medicina tradicional chinesa. Os
resultados da terapia com antivirais foram incertos e inconclusivos, exceto o remdesivir, que
mostrou reduzir a mortalidade e melhorar os sintomas, embora com evidência de baixa
confiança. Tratamentos com antibióticos não apresentaram benefícios ou danos significativos.
Os antimaláricos hidroxicloroquina e cloroquina não mostraram benefícios e podem estar
associados a eventos adversos graves. Os resultados de tratamentos com corticosteróides
mostraram-se contraditórios, entretanto um ensaio clínico randomizado com amostra robusta
apresentou resultados positivos em relação à redução da mortalidade, da necessidade de
ventilação mecânica e do tempo para a resolução dos sintomas. É incerto se as imunoterapias
apresentam benefícios ou danos, no entanto, uma revisão de fevereiro de 2021 informa que o
tocilizumabe provavelmente reduz a mortalidade e a necessidade de ventilação. A oxigenação
por membrana extracorpórea apresentou resultados inconclusivos. Os estudos sobre medicina
tradicional chinesa mostraram resultados promissores. Conclusão: Diversos tipos de
tratamentos não específicos para a COVID-19 têm sido experimentados e, até o momento,
nenhum deles apresentou resultados incontestáveis sobre benefícios. Verifica-se que a
comunidade científica continua analisando formas de controlar a doença, exigindo um
acompanhamento dessas produções, que podem modificar os conhecimentos atuais.
Palavras-chave: Infecção por Coronavírus 2019-nCoV, COVID-19, Tratamento
farmacológico, Revisão rápida.
Meirinho Domene Fernando. Treatments for patients with COVID-19, a rapid review of
systematic reviews. [monography]. São Paulo: Instituto de Saúde, Secretaria de Estado da
Saúde de São Paulo; 2021.
ABSTRACT
Introduction: The COVID-19 pandemic is a health emergency that requires agility in the
production of knowledge and the search for effective and safe treatments. There are still no
specific treatments for the disease, and management is aimed at controlling symptoms.
Objective: To describe the evidence on the efficacy and safety of the treatments studied for
the clinical management of patients with COVID-19. Methodology: A rapid review was
carried out, searching for articles on the global research platform of the World Health
Organization, on October 29, 2020, which is specific to COVID-19, being regularly updated.
Systematic reviews, published in English, Portuguese or Spanish, were selected. Results: The
56 systematic reviews included present primary studies on the following types of treatment
for COVID-19: antivirals, antibiotics, antimalarials, corticosteroids, immunotherapies,
extracorporeal membrane oxygenation and traditional Chinese medicine. The results of
antiviral therapy were uncertain and inconclusive, except remdesivir, which has been shown
to reduce mortality and improve symptoms, although with evidence of low confidence.
Antibiotic treatments showed no significant benefit or harm. The antimalarials,
hydroxychloroquine and chloroquine, have shown no benefits and may be associated with
serious adverse events. The results of treatments with corticosteroids were contradictory,
however a randomized clinical trial with a robust sample showed positive results in terms of
reducing mortality, the need for mechanical ventilation and the time to resolve symptoms. It is
uncertain whether immunotherapies have benefits or harms, however, an updated review in
February 2021 reports that tocilizumab probably reduces mortality and the need for
ventilation. Oxygenation by extracorporeal membrane showed inconclusive results. Studies of
traditional Chinese medicine have shown promising results. Conclusion: Several types of
treatment that are not specific to COVID-19 have been tried and, to date, none of them has
shown unquestionable results on benefits. It appears that the scientific community continues
to analyze ways to control the disease, requiring monitoring of these productions, which can
modify current knowledge.
Keywords: Coronavirus Infection 2019-nCoV, COVID-19, Drug Therapy, Rapid review.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 9
1.1 A doença e sua manifestação clínica 10
1.2 Tratamentos 12
2 JUSTIFICATIVA 14
3 OBJETIVOS 15
3.1 Geral 15
3.2 Específicos 15
4 METODOLOGIA 16
4.1 Estratégia de buscas 16
4.2 Critérios de elegibilidade 17
4.3 Processo de seleção das revisões sistemáticas 17
4.5 Análise dos dados 18
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 19
5.1 Características das revisões sistemáticas 19
5.2 Antivirais 20
5.3 Antibióticos 23
5.4 Antimaláricos 24
5.5 Corticosteróides 26
5.6 Imunoterapias 28
5.7 Oxigenação por membrana extracorporal 33
5.8 Medicina Tradicional Chinesa 34
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35
7 REFERÊNCIAS 38
8 ANEXOS 50
9
1 INTRODUÇÃO
A COVID-19 é uma doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, observada
inicialmente na China no fim de 2019, e declarada como pandemia pela Organização Mundial
de Saúde (OMS), em 11 de março de 2020. A situação é de emergência, pelo alto grau de
transmissibilidade do vírus que se espalhou rapidamente pelo mundo, demandando de
autoridades e agências de saúde ações rápidas para se assegurar tratamentos eficazes, seguros
e de qualidade, incluindo o uso off label de medicamentos, ou seja uso de fármacos que não
possuam indicação de uso para tratar a doença. Nessa situação, a incorporação de novos
tratamentos e/ou o uso de medicamentos off label deve vir acompanhada de uma vigilância
que possibilite a análise de sua eficácia e de seus riscos (OPAS, 2020a; OMS, 2020a).
Atualmente, não há medicamentos específicos para o tratamento da infecção causada
pelo SARS-CoV-2, mas apenas alguns utilizados no manejo dos quadros clínicos presentes
em pacientes com COVID-19 que buscam aliviar os sintomas. Desse modo, é fundamental
analisar as evidências de eficácia e segurança desses medicamentos para mantê-los no
protocolo de manejo dos sintomas. A OMS é um dos órgãos que coordena esforços avaliando
a eficácia e os riscos de medicamentos novos e outros já disponíveis para o tratamento de
pacientes com COVID-19 (OPAS, 2020b).
O contexto pandêmico criou a necessidade de geração de evidências a curto prazo,
levando muitos pesquisadores a estudar o mesmo tema. Após três meses da primeira
publicação de um artigo sobre a COVID-19, foram indexados aproximadamente sete mil
artigos na PubMed, em um dos maiores crescimentos de literatura científica registrados.
Atualizar ou incluir a utilização de medicamentos em função das novas evidências disponíveis
é estratégia essencial para se atuar na crise. A utilização de métodos meta-investigativos
baseados em revisões sistemáticas é uma ferramenta de estudo que possibilita o levantamento
e a avaliação dos estudos relevantes e de qualidade sobre o tema (OPAS, 2020a).
Apesar disso, a situação é controversa, com a produção científica em massa sobre
COVID-19, ao mesmo tempo em que são disseminadas inúmeras informações não confiáveis
10
e de baixa qualidade sobre tratamentos medicamentosos. Por esse motivo é substancial
levantar todas as evidências disponíveis, sejam evidências científicas, informações de
organismos internacionais e de autoridades reguladoras mundiais, ou resultados de ensaios
clínicos sobre a eficácia de medicamentos, para apoiar a tomada de decisão (OPAS, 2020a,c).
1.1 A doença e sua manifestação clínica
Os coronavírus são vírus de RNA altamente diversos e são divididos em quatro
gêneros: alfa, beta, gama e delta, podendo causar doenças leves a graves em humanos, como
pneumonia e influenza. No começo da década de 2000 , surgiram dois coronavírus zoonóticos
que causam doenças graves em humanos: o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave
(SARS-CoV) e o coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV). Em
janeiro de 2020, foi identificado um novo coronavírus responsável por alguns casos de
síndrome respiratória aguda grave em pessoas de Wuhan, na China (OPAS, 2020d)
O SARS-CoV-2 é um vírus de origem zoonótica, do gênero betacoronavírus, causador
da doença infectocontagiosa COVID-19. Ele compartilha características com outros vírus do
mesmo gênero, MERS-CoV e o SARS- CoV, que causam síndromes respiratórias agudas em
seres humanos. Pires Brito et al. (2020) apresentam as características virais dos coronavírus:
Os CoV são vírus de RNA fita simples com sentido positivo, não segmentados e com um envelope protéico, constituído principalmente pela proteína E. Suas partículas apresentam conformação espacial arredondadas ou ovais, normalmente polimórficas, com um diâmetro que varia entre 60 e 140 nm. Evidencia-se, através da microscopia eletrônica, a presença de grandes projeções em sua superfície, semelhantes à uma coroa, daí a origem do seu nome, corona (coroa). Tais estruturas representam as grandes glicoproteínas das espículas de superfície, denominadas proteínas S. Além dessas proteínas, outras que são bastante características aos CoV são a proteína do nucleocapsídeo (proteína N), a proteína hemaglutinina esterase (HE) que medeia o processo de ligação viral e a proteína M que garante a manutenção da forma do envelope(…) Todos os três apresentam semelhanças filogenéticas e compartilham a capacidade de codificar proteínas não estruturais como a protease 3 do tipo quimiotripsina (3CLpro), a protease do tipo papaína (PLpro), helicase e a RNA polimerase dependente de RNA (RdRp). Todas essas proteínas não estruturais são enzimas imprescindíveis para a replicação viral e altamente conservadas entre os CoV de importância médica. Além destas, a proteína estrutural S também possui papel preponderante, pois é através dela que o SARS-CoV-2 interage com o receptor específico da membrana celular do hospedeiro, permitindo a entrada do vírus no citosol da célula. (p. 56)
Segundo os autores, a transmissão de um coronavírus para o homem pode
proporcionar mutações que acarretam no desenvolvimento de cepas patogênicas. A hipótese
mais provável é que o novo coronavírus foi transmitido de morcegos para os humanos. Uma
11
hipótese também especulada é a de que ele foi transmitido de morcegos para pangolins, e
destes para os humanos (PIRES BRITO et al., 2020).
O vírus SARS-CoV-2 infecta as vias aéreas afetando principalmente as células
epiteliais e endoteliais, causando uma descamação de pneumócitos, presença de membrana
hialina, formação e inflamação intersticial com infiltração de linfócitos. Mendes et al. (2020)
ressaltam:
Nas formas graves de COVID-19, a cascata inflamatória resultante pode levar a uma “tempestade
de citocinas”, como foi observado em estudos recentes - os quais mostram a elevação dos níveis
séricos de citocinas. Tal evento inclui aumento de IL-2, IL-7, IL-10, fator estimulador de colônias
de granulócitos (G-CSF), proteína quimiotática de monócitos (MCP) e TNF-α 6, uma citocina que
tem função de promover a resposta imune e a inflamatória através do recrutamento de neutrófilos e
monócitos para o local da infecção. A partir disso, acredita-se que a tempestade de citocinas
possua notável importância na progressão da SARS na COVID-19. A SARS provoca exsudação de
líquido, rico em células e proteínas plasmáticas, ocasionando aumento na permeabilidade entre os
alvéolos e os capilares que os recobrem. Esse processo induz à resposta inflamatória local com a
presença de leucócitos, plaquetas e fibrina – a qual contribui para a formação de membrana hialina
e subsequente fibrose alveolar. Então, a SARS resulta de intensa resposta inflamatória aguda nos
alvéolos, impedindo a troca gasosa fisiológica de oxigênio e gás carbônico. Nesta situação,
ocorrem os sintomas característicos: intensa dispneia e baixa saturação de O² sanguíneo. A partir
do desenvolvimento e da progressão da disfunção respiratória, há como consequência insuficiência
cardíaca das câmaras direitas do coração, entidade conhecida como “cor pulmonale”. Tal fato
ocorre devido à sobrecarga cardíaca, retratada como diminuição da capacidade de funcionamento
adequado do coração direito por hipertensão pulmonar, a qual é ocasionada por fibrose do
parênquima. (p. 42)
A forma de transmissão mais comum é de pessoa para pessoa. Porém, a transmissão
indireta por superfícies contaminadas também ajuda na disseminação do vírus, sendo que ele
pode permanecer infeccioso por até 72 horas em alguns ambientes. O SARS-CoV-2 se
propaga rapidamente entre seres humanos, apesar de ser menos letal que os outros
coronavírus do gênero, se espalhando pelo mundo em pouco tempo (PIRES BRITO et al.,
2020). Segundo Pires Brito et al.:
A China foi o primeiro país a reportar a doença e, até o dia 21 de abril de 2020, 213 países,
territórios ou áreas relataram casos da COVID-19, correspondendo a um total de 2.397.216 casos
confirmados. No Brasil, o registro do primeiro caso ocorreu em 26 de fevereiro de 2020 no estado
de São Paulo. ( p. 55)
12
O site informativo da Organização Mundial da Saúde, atualizado em 14 de fevereiro
de 2021, registrou 108.153.741 de casos confirmados no mundo todo, sendo 9.765.455 no
Brasil (OMS, 2021).
Pires Brito et al. (2020) descrevem a ação do vírus SARS-CoV-2:
O processo de entrada do vírus na célula do hospedeiro envolve a interação entre a proteína S e o
receptor de superfície celular, conhecido como enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), a
qual está presente, principalmente, nas células do trato respiratório inferior de humanos. Uma vez
dentro da célula hospedeira, inicia-se o processo de replicação viral que culmina com a formação
de novas partículas, liberação por brotamento e consequente destruição da célula hospedeira. (p.
57)
O vírus permanece incubado em média por sete dias, sendo que já houve relatos de até
vinte um dias de incubação. Passado este período, as pessoas podem não manifestar sintomas,
ou manifestar um quadro clínico da doença que varia de leve a grave. O quadro clínico leve é
o mais comum e pessoas assintomáticas ou que apresentam sintomas pouco específicos
podem ser grandes disseminadores da doença. Por isso, são importantes as medidas de
prevenção, como o distanciamento social, a higienização constante e o uso de máscaras
(PIRES BRITO, 2020). A doença se manifesta em sua forma grave através da pneumonia,
“caracterizada principalmente por febre, tosse seca, dispneia e infiltrados bilaterais nos
exames de imagem do tórax” (Andrade et al., 2020, p. 3518).
1.2 Tratamentos
A autorização de tratamentos para indicações não aprovadas por um órgão regulador
nacional de medicamentos é considerado uso off label. Os médicos estão utilizando esses
tratamentos para manejar os sintomas de pacientes com COVID-19 (OMS, 2020b). Diversos
estudos clínicos estão sendo conduzidos e uma grande quantidade de dados sobre tratamentos
potenciais estão sendo gerados. Isso vem acompanhado do desafio de interpretar e descrever
essas novas informações para que os prescritores possam tomar as decisões de qual
medicamento usar com o mínimo de dano possível (OPAS, 2021a). A Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2021a) ressalta:
Uma vez que muitos médicos estão usando atualmente tratamentos que dependem de isenções de
uso compassivo ou indicações off-label para tratar pacientes com COVID-19, é crucial que eles
13
tenham acesso às evidências de pesquisa mais atualizadas para informar suas decisões de
tratamento. (p. 1)
Não há terapia específica e eficaz para a COVID-19, sendo que o tratamento baseia-se
no controle de sintomas e na oferta de medidas de suporte (PIRES BRITO et al., 2020). A
OPAS (2020b) apresenta uma lista de medicamentos essenciais para o manejo de pacientes
críticos que ingressam em unidade de terapia intensiva (UTI). Recomendam administração de
oxigênio como uma das principais medidas de suporte, analgésicos para o controle da febre e
de analgesias, e sedativos benzodiazepínicos e/ou não benzodiazepínicos e opióides como
sedativos e relaxante muscular. O uso de corticosteróides em doses baixas é recomendado
para pacientes críticos que necessitam de ventilação mecânica. Alguns outros medicamentos
são indicados em casos condicionantes, como os antibióticos e anticoagulantes em casos de
infecção bacteriana e tromboembolismo, respectivamente. Essa lista ressalta que os
medicamentos são para o manejo dos quadros clínicos, e não específicos para o tratamento da
infecção causada por SARS-CoV-2. Em uma revisão recentemente atualizada, a OPAS
(2021a) destaca que mais de 200 opções terapêuticas ou combinações estão sendo
investigadas em mais de 1.700 estudos clínicos.
Além do tratamento farmacológico, outras terapias vêm sendo testadas como as
oxigenoterapias, entre elas a oxigenação por membrana extracorpórea, e a medicina
tradicional chinesa, que consta no protocolo de tratamento de pacientes com COVID-19 na
China.
O vírus SARS-CoV-2 é resistente ao ambiente externo e se propaga rapidamente
infectando muitas pessoas e causando uma sobrecarga nos sistemas de saúde, por
consequência dos casos mais graves que apresentam uma internação prolongada, em média de
14 a 21 dias (PIRES BRITO). Em uma situação em que não há medicação que age
diretamente na doença, em que as vacinas ainda não são produzidas em escala e quantidade
necessárias, tratamentos eficazes e seguros para manejar os sintomas poderiam diminuir o
tempo de internação e melhorar os outros indicadores relacionados, como por exemplo, a
mortalidade.
14
2 JUSTIFICATIVA
O vírus SARS-CoV-2 tem alta taxa de transmissão e se espalhou rapidamente pelo
mundo. Diversas pessoas já foram infectadas e outras tantas perderam a vida para a doença. A
pandemia é uma situação de crise sanitária, social, econômica, humanitária, que requer ação
rápida, mas embasada em evidências científicas. Por esse motivo, justifica-se a realização
desse trabalho, que procura trazer evidências sobre eficácia e segurança de tratamentos para
pessoas com COVID-19.
15
3 OBJETIVOS
3.1 Geral
Levantar as principais evidências disponíveis sobre os tratamentos farmacológicos e
não farmacológicos para a COVID-19.
3.2 Específicos
● Descrever os tratamentos disponíveis, agrupando-os segundo tipo.
● Descrever os tratamentos farmacológicos conforme a classe farmacológica;
● Descrever os principais achados sobre a eficácia dos tratamentos, classificando-os
quanto à "favoráveis", “indiferentes”, “não favoráveis” ou “incertos”;
● Apresentar os resultados de estudos sobre eventos adversos desses tratamentos.
16
4 METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido como uma revisão rápida, que consiste na adaptação
de algumas etapas recomendadas para a elaboração de revisões sistemáticas, com o intuito de
produzir uma síntese das melhores evidências disponíveis em um tempo hábil para atender a
demandas específicas (THOMAS et al., 2013). Como atalho nessa revisão rápida não foi
realizada a análise metodológica das revisões sistemáticas incluídas. A revisão buscou
responder à pergunta: “Quais são as evidências sobre eficácia e segurança dos tratamentos
utilizados para pacientes com COVID-19?”. No dia 27 de outubro, submeteu-se um protocolo
na plataforma International prospective register of systematic reviews (PROSPERO), que foi
registrado1 no dia 10 de novembro de 2020, sob o número de registro CRD42020216703.
Algumas alterações ao protocolo foram realizadas e relatadas. O relato desta revisão seguiu a
lista de verificação PRISMA (MOHER et al., 2015), e não apresenta recomendações.
4.1 Estratégia de buscas
A busca de artigos foi feita por quatro pesquisadores (FMD, JLS, MCB, TST), no dia
29 de outubro de 2020, utilizando-se a plataforma de pesquisa global da Organização Mundial
de Saúde2 que reúne a literatura sobre descobertas e conhecimentos científicos relacionados à
COVID-19. Novos estudos são incluídos regularmente na plataforma com base em pesquisas
manuais, artigos científicos referidos por especialistas e levantamento em bases de dados
bibliográficos. Ela foi construída pela Biblioteca Regional de Medicina (BIREME), Centro
Especializado da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e parte do Regional Office’s
Department of Evidence and Intelligence for Action in Health (Departamento de Provas e
Inteligência para Ação em Saúde do Escritório Regional), e inclui publicações das seguintes
bases de dados: MEDLINE, WHO COVID, ELSEVIER, medRxiv, bioRxiv, SSRN, Lanzhou
University/CNKI, ChemRxiv, LILACS (Americas), WPRIM (Western Pacific), ProQuest
Central, CAplus, SciFinder, ArXiv, PubMed, Other Preprints, F1000Research, Embase,
PREPRINT-SCIELO, Biomed Central, PsyArXiv, Web of Science.
1 https://www.crd.york.ac.uk/prospero/display_record.php?ID=CRD42020216703 2 https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/global-research-on-novel-coronavirus-2019-ncov
17
Tendo em vista que a plataforma reúne exclusivamente informações sobre COVID-19,
optou-se apenas pela utilização dos filtros disponíveis sem a inserção de descritores no campo
de busca. Foram utilizados os filtros: revisões sistemáticas, em tipos de estudo; e inglês,
português e espanhol, em idioma.
4.2 Critérios de elegibilidade
Foram incluídas revisões sistemáticas (RS) que apresentavam resultados de pesquisas
sobre tratamentos farmacológicos e não farmacológicos para pacientes infectados com
SARS-CoV-2 - com diagnóstico confirmado por testes e/ou critérios clínicos - comparados
com outros tratamentos, tratamento padrão (TP) ou placebo, incluindo desfechos de
mortalidade, tempo de internação hospitalar, tempo de permanência na unidade de terapia
intensiva (UTI), gravidade da condição, duração dos sintomas, e eventos adversos (EAs).
Excluíram-se artigos escritos em outras línguas que não o inglês, português e espanhol,
protocolos, estudos em andamento, revisões de literatura, estudos primários, estudos apenas
com animais ou in vitro, apenas com outras doenças que não a COVID-19, e que não
apresentavam os desfechos de interesse.
4.3 Processo de seleção das revisões sistemáticas
A seleção dos artigos foi realizada pela leitura de títulos e resumos, por três
pesquisadores (FMD, JLS, MCB), de forma independente, e as discordâncias foram sanadas
por consenso. Utilizou-se o programa on-line de gerenciamento de referências Rayyan QCRI
(OUZZANI et al, 2016) para a seleção, e o resultado foi exportado para uma planilha do
Excel.
A leitura completa de cada artigo foi feita por um pesquisador (FMD ou JLS). As
divergências e dúvidas foram resolvidas por um terceiro pesquisador que revisou a
elegibilidade dos artigos (MCB).
Utilizaram-se como critérios de inclusão: revisões sistemáticas, pacientes infectados
com SARS-CoV-2, tratamentos para COVID-19 comparados ou não com outros tratamentos,
com cuidado padrão e/ou placebo. Foram utilizados como critérios de exclusão: revisões
sistemáticas cujos resultados eram sobre a falta de estudos primários elegíveis, protocolos de
estudo, revisões de literatura, estudos com animais ou in vitro, estudos sobre pacientes com
18
outras doenças e não infectados com SARS-CoV-2, ou que não apresentaram tratamentos para
COVID-19.
4.4 Extração de dados e avaliação da qualidade da evidência
A extração dos dados foi realizada por um pesquisador (FMD ou JLS), e checada por
outra pesquisadora (MCB ou TST). As seguintes informações foram extraídas para a planilha
Excel: título; autor; dia, mês e ano da publicação ou aceite; objetivo; países dos estudos
primários incluídos nas revisões sistemáticas; números e desenhos de estudos incluídos e total
de participantes; características dos grupos intervenção e controle: tamanho da amostra, idade,
gênero, doenças pré-existentes/comorbidades, estado socioeconômico, quadro clínico e tipo
de serviço; intervenção e controle com dados sobre: medicamento, forma farmacêutica, forma
de administração, tempo de administração, momento de administração e tempo de
seguimento; eficácia/efetividade; segurança/eventos adversos; lacunas de evidências; vieses;
conflito de interesses e financiamento. As informações: dia e mês, países dos estudos
primários, total de participantes, vieses e financiamento, foram adicionadas após o registro do
protocolo.
Como um atalho nessa revisão rápida, não foi realizada a análise da qualidade
metodológica das revisões sistemáticas.
4.5 Análise dos dados
A síntese dos dados é apresentada de forma narrativa, informando os resultados de
efeito das metanálises incluídas, bem como as medidas de análise como risco relativo, razão
de chances, diferença média, intervalo de confiança.
19
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em 29 de outubro de 2020, a base de dados da OMS continha 115.893 estudos sobre
COVID-19. Utilizando-se os filtros: revisão sistemática, espanhol, inglês e português, foram
recuperados 562 artigos, sendo 16 duplicados. Após a análise de títulos e resumos, restaram
77 para leitura de texto na íntegra. Destes, 21 foram excluídos (Anexo 1), restando 56 para
extração de dados. A Figura 1 apresenta o fluxograma com as etapas de seleção e
elegibilidade.
As principais características das revisões sistemáticas incluídas estão presentes no
Anexo 2 (autor; data do aceite/publicação; número dos estudos primários incluídos; países
onde o estudo primário foi realizado; tratamento do grupo intervenção; tratamento do grupo
controle; quantidade total de participantes e, em cada grupo; favorável ao tratamento do grupo
intervenção; indiferente; favorável ao tratamento do grupo controle; eventos adversos).
Figura 1: fluxograma com as etapas de seleção e elegibilidade
5.1 Características das revisões sistemáticas
20
Os tratamentos relatados nos estudos primários e analisados nas revisões sistemáticas
são variados, e incluem tratamentos farmacológicos e não farmacológicos: medicamentos
antivirais (n = 18), antimaláricos (n = 24), corticosteróides (n = 15), antibióticos (n = 2),
imunoterapia (n = 20), oxigenação por membrana corporal e/ou nasal (n = 1), e Medicina
Tradicional Chinesa (n = 4). Esses tratamentos foram administrados em comparação com
tratamento padrão (suporte de oxigênio, ventilação mecânica, etc.), com outros tipos de
tratamentos farmacológicos, ou sem um grupo comparador.
Como até o momento não há tratamentos específicos para a COVID-19, a maioria
dos tratamentos informados pelas RS selecionadas foi ou está sendo utilizada no manejo dos
sintomas de pessoas infectadas com o vírus SARS-CoV-2. Esta revisão rápida apresenta
alguns tratamentos que foram testados a fim de se observar a eficácia e segurança em alguns
desfechos como a mortalidade, tempo de internação hospitalar, tempo de permanência na
unidade de terapia intensiva (UTI), gravidade da condição, duração dos sintomas, e eventos
adversos (EAs), em pacientes com COVID-19.
5.2 Antivirais
Dezoito revisões sistemáticas incluídas nessa revisão rápida apresentam dados de
tratamentos com antivirais: lopinavir, ritonavir, arbidol, umifenovir, remdesivir, oseltamivir,
favipiravir, darunavir, ganciclovir, ribavirina, baloxavir marboxil, novaferon. O tratamento
com lopinavir/ritonavir (LPV/r) foi o mais citado entre os antivirais (n=15), seguido de
remdesivir (n=9), umifenovir e arbídol (n=7).
5.2.1 Lopinavir/ritonavir (LPV/r)
Sete RS apresentaram dados favoráveis para o uso de LPV/r, combinado ou não a
outro tratamento, em pacientes com COVID-19 (VERDUGO-PAIVA et al., 2000; YAO et
al., 2000; ZHONG et al., 2020; LIU W., et al., 2020; MISRA et al., 2020; TALAIE et al.,
2020; PEI et al., 2020). Os desfechos favoráveis foram: diminuição da mortalidade, do risco
de insuficiência respiratória, do risco de ventilação mecânica, tempo de hospitalização, tempo
de permanência na UTI, tempo de recuperação clínica, aumento na melhora clínica e melhora
na tomografia computadorizada (TC) do tórax. Oito RS (HUSSAIN et al., 2020; ZHANG et
al., 2020; LIMA et al., 2020; FAJGENBAUM et al., 2020; CHANDRASEKAR et al., 2020;
MISRA et al., 2020; TALAIE et al., 2020; PEI et al., 2020) não apresentaram diferenças
21
significativas na mortalidade, na eliminação viral, na recuperação clínica entre o tratamento
com LPV/r e os comparadores. Lima et al. (2020) observaram que a melhora clínica não se
deu devido ao tratamento com LPV/r, mas aos cuidados de suporte. Quatro RS (HUSSAIN et
al., 2020; LIMA et al., 2020; LIU W., et al., 2020; SUBRAMANIAN et al., 2020) revelaram
dados incertos sobre a eficácia de LPV/r sozinho ou em combinação com outras medicações.
Sete RS (VERDUGO-PAIVA et al., 2020; YAO et al., 2000; HUSSAIN et al., 2020; ZHONG
et al., 2020; JUUL et al., 2020; LIU W., et al., 2020; MISRA et al., 2020) apresentaram dados
de EAs para LPV/r, como sintomas gastrintestinais, diarréia, náusea, astenia, dor abdominal,
vômitos, dores de cabeça, erupções cutâneas e função hepática anormais.
5.2.2 Remdesivir
Cinco RS (DAVIES et al., 2020; LIMA et al., 2020; SIEMIENIUK et al., 2020;
JUUL et al., 2020; MISRA et al., 2020) apresentaram resultados favoráveis para mortalidade,
resolução dos sintomas e, principalmente, melhora clínica à intervenção com remdesivir. Seis
RS (DAVIES et al., 2020; SIEMIENIUK et al., 2020; JUUL et al., 2020; CHANDRASEKAR
et al., 2020; MISRA et al., 2020; TALAIE et al., 2020) mostraram resultados que não diferem
comparado a outras intervenções na mortalidade, tempo de hospitalização, melhora clínica,
necessidade de ventilação mecânica. Siemieniuk et al. (2020) e Subramanian et al. (2020)
mostraram dados inconclusivos para o tratamento com remdesivir. E cinco RS
(FREDIANSYAH et al., 2020; DAVIES et al., 2020; SIEMIENIUK et al., 2020; JUUL et al.,
2020; MISRA et al., 2020) apresentaram EAs com o uso dessa medicação em pacientes com
COVID-19, como diarréia, náusea, parada cardíaca, disfunção de múltiplos órgãos, choque
séptico, lesão renal aguda e hipotensão.
5.2.3 Umifenovir e arbidol
O tratamento com umifenovir e arbidol apresentou dados favoráveis em três revisões
sistemáticas (HUANG et al., 2020; LIU W., et al., 2020; FAJGENBAUM et al., 2020) com
aumento da taxa negativa de PCR no 14º dia após o início do tratamento e diminuição da
mortalidade. Quatro RS (HUANG et al., 2020; FAJGENBAUM et al., 2020; MISRA et al.,
2020; SUBRAMANIAN et al., 2020) mostraram resultados indiferentes no tratamento com
umifenovir e arbidol com relação ao aumento da taxa negativa de PCR no 7º dia após o início
do tratamento, recuperação clínica e cura virológica. Fajgenbaum et al. (2020) apresentaram
resultados favoráveis ao tratamento com favipiravir em comparação ao umifenovir com
22
relação à melhora clínica. Liu W., et al. (2020) apresentaram resultados incertos sobre a
eliminação viral com umifenovir, e três RS (HUANG et al., 2020; LIU W., et al., 2020;
MISRA et al., 2020) incluíram dados mostrando nenhum EAs nos pacientes tratados com o
uso da medicação.
5.2.4 Favipiravir, baloxavir marboxil, oseltamivir e ganciclovir
Liu W., et al. (2020) mostraram resultados favoráveis ao tratamento de favipiravir
em comparação com umifenovir e LPV/r, na recuperação clínica e na depuração viral no 7º
dia após o início da medicação, respectivamente.
O tratamento com baloxavir marboxil foi analisado em uma RS (TALAIE et al.,
2020) sem diferença significativa entre os grupos em relação à demanda de ventilação
mecânica.
Kriz et al. (2020) descrevem resultados pouco promissores em estudos que testaram
o oseltamivir em SARS-CoV. No estudo de Pei et al. (2020) oseltamivir e ganciclovir podem
estar associados a um benefício de sobrevivência em pacientes com COVID-19. E uma RS
(FAJGENBAUM et al., 2020) mostrou que o oseltamivir foi associado a um tempo médio
mais longo de resposta clinicamente significativa.
Conforme os resultados acima apresentados, os antivirais parecem não melhorar
significativamente a taxa de mortalidade e a recuperação clínica em pacientes com
COVID-19. É incerto se eles podem afetar a necessidade de ventilação mecânica e o tempo de
hospitalização.
O tratamento com LPV/r apresentou resultados in vitro contra o SARS-CoV e em
animais contra o MERS-CoV. Estudos anteriores com os vírus SARS e MERS levantaram a
hipótese de que a associação LPV/r pode apresentar bons resultados clínicos em pacientes
com essas doenças (ANDRADE et al., 2020). Outros estudos que analisaram o LPV/r,
mostram resultado incerto ou ineficaz. A eficácia foi apresentada como incerta em uma
publicação da First Medicine and Global Clinical Partners (KRIZ et al., 2020) e também na
revisão rápida, conduzida pela OPAS (2021a), de janeiro de 2021, indicando que LPV/r não
reduz a mortalidade [RR 1,02 (IC 95% 0,92 a 1,22); RD 0,3% (IC 95% -1,3%), com
confiança moderada], não reduz a necessidade de ventilação mecânica invasiva [RR 1,07 (IC
95% 0,98-1,17); RD 1,2% (IC 95% -0,3% a 2,9%), alta confiança], não melhora os sintomas
23
[RR 1,03 (IC 95% 0,92 a 1,15); RD 1,8% (IC 95% -4,8% a 9%), confiança moderada] e pode
não aumentar o risco de EAs graves [RR 0,6 (IC 95% 0,37 a 0,98); RD -4,1% (IC 95% -6,5%
a -0,2%), baixa confiança].
Estudos in vitro e com primatas demonstraram resultados promissores com o uso de
remdesivir. Ele foi um dos primeiros antivirais a ser testado em ECRs (Al-ABDOUH et al.,
2021). Kriz et. al. (2020) apresentaram que o uso de remdesivir em pacientes com COVID-19
grave pode resultar em melhora clínica. A revisão da OPAS (2021a) indicou que o remdesivir
pode reduzir levemente a mortalidade [RR 0,94 (IC 95% 0,82-1,08); RD -1% (IC 95% -2,9%
a 1,3%), baixa confiança], pode reduzir a necessidade de ventilação mecânica invasiva [RR
0,65 (IC 95% 0,39-1,11); RD -6% (IC 95% -10,6% a 1,9%), baixa confiança], pode melhorar
o tempo de resolução dos sintomas [RR 1,17 (IC 95% 1,03-1,33); RD 10,3% (IC 95%
1,8%-20%), baixa confiança] e pode não aumentar significativamente o risco de EAs graves
[RR 0,8 (IC 95% 0,48-1,33); RD -2% (IC 95% -5,3% a 3,4%), baixa confiança]. Estas
metanálises incluem o estudo SOLIDARITY, que foi um grande ECR com 2.734 participantes
no grupo remdesivir e 2.708 no TP. Al-Abdouh et al. (2021) sugerem que o tratamento com
remdesivir em pacientes moderados ou graves aumentou as taxas de recuperação e a alta
hospitalar, mas não apresentou diferença significativa na melhora clínica e na mortalidade.
A revisão rápida da OPAS analisou cinco ECRs com umifenovir e classificou como
incerto se o tratamento pode causar benefícios e/ou danos às pessoas com COVID-19.
Avaliando dez ECRs, a OPAS sugeriu que o favipiravir pode melhorar o tempo de resolução
dos sintomas, mas parece incerto que ele pode afetar a mortalidade ou a necessidade de
ventilação mecânica em pacientes infectados com o SARS-Cov-2. A revisão rápida
apresentou como incerto o tratamento com baloxavir, sendo que analisaram somente um ECR
com alto risco de viés e limitações (OPAS, 2021a).
5.3 Antibióticos
Os antibióticos foram avaliados em duas RS (TALAIE et al., 2020; PEI et al., 2020).
Ambas demonstraram que os antibióticos - sem especificar quais - não afetaram
significativamente a mortalidade em pacientes com COVID-19, como mostrou a metanálise
de Pei et al. (2020) (OR, 1,13; IC 95%, 0,67-1,89; P = 0,64; I² = 0%).
24
A esse respeito, a revisão rápida da OPAS (2021a), relata que a azitromicina
provavelmente não reduz a mortalidade RR [1,01 (IC 95% 0,92 a 1,1); RD 0,2% (IC 95%
-1,3% a 1,6%), confiança moderada]. Não houve resultados favoráveis referentes ao uso do
tratamento ou de comparadores, nem dados de EAs com uso específico de antibiótico. Luo et
al. (2021) publicaram recentemente uma revisão sobre a qualidade e a consistência de
protocolos para tratamento da COVID-19. Eles apresentaram que nenhum protocolo
recomenda antibióticos como tratamento ou profilaxia para COVID-19. Esse tratamento é
condicionalmente recomendado quando há suspeita de superinfecção bacteriana nos
pacientes.
5.4 Antimaláricos
Vinte e quatro revisões sistemáticas apresentaram tratamento com os antimaláricos
cloroquina (CQ) e hidroxicloroquina (HCQ). O tratamento com HCQ foi o mais usado e está
presente em todos os vinte e quatro estudos. A maioria das revisões apresentou dados do
tratamento com HCQ combinado ao antibiótico azitromicina. A CQ apareceu em sete estudos.
5.4.1 Hidroxicloroquina
Treze RS (CHOWDHURY et al., 2020; DAS et al., 2020; SINGH et al., 2020a;
RODRIGO et al., 2020; KASHOUR et al., 2020; ELSAWAH et al., 2020; PRODROMOS et
al., 2020; SARMA et al., 2020; ZHONG et al., 2020; SIEMIENIUK et al., 2020; LIU W., et
al., 2020; SUBRAMANIAN et al., 2020; TALAIE et al., 2020) apresentaram dados sobre
efeitos favoráveis utilizando tratamento de HCQ, com ou sem azitromicina, entre eles:
prevenção da progressão radiológica, maior cura virológica, menor tempo para recuperação
clínica, eliminação viral, conversão negativa de PCR e melhora dos sintomas. Dezessete RS
(CHOWDHURY et al., 2020; DAS et al., 2020; RODRIGO et al., 2020; PATEL et al., 2020;
FIOLET et al., 2020; KASHOUR et al., 2020; ELSAWAH et al., 2020; PATHAK et al.,
2020; CORTEGIANI et al., 2020a; SARMA et al., 2020; ZHONG et al., 2020; SIEMIENIUK
et al., 2020; JUUL et al., 2020; LIU W., et al., 2020; CHANDRASEKAR et al., 2020;
TALAIE et al., 2020; PUTMAN et al., 2020) apresentaram resultados indiferentes para
mortalidade, taxa de conversão negativa, tempo de eliminação viral, tempo de internação,
tempo de resolução de sintomas, necessidade de ventilação mecânica, admissão na UTI, risco
de hospitalização e agravamento da doença, quando comparado o tratamento com HCQ à
outros tratamentos. Nove RS (DAS et al., 2020; PATEL et al., 2020; FIOLET et al., 2020;
25
KASHOUR et al., 2020; ELSAWAH et al., 2020; CHEN et al., 2020; CORTEGIANI et al.,
2020a; CHANDRASEKAR et al., 2020; MISRA et al., 2020) apresentaram dados favoráveis
ao grupo controle em relação à cura virológica, depuração viral, recuperação clínica e
mortalidade. O desfecho mortalidade foi relacionado negativamente à combinação HCQ com
azitromicina, presente em 4 RS (PATEL et al., 2020; FIOLET et al., 2020; KASHOUR et al.,
2020; MISRA et al., 2020). Oito RS (DAS et al., 2020; RODRIGO et al., 2020; SARMA et
al., 2020; FAJGENBAUM et al., 2020; MISRA et al., 2020; TALAIE et al., 2020; PUTMAN
et al., 2020; RAZMI et al., 2020) mostraram dados inconclusivos sobre tratamento com HCQ.
Dezesseis RS incluíram descrição dos EAs relacionados ao tratamento (CHOWDHURY et
al., 2020; DAS et al., 2020; KASHOUR et al., 2020; ELSAWAH et al., 2020; PRODROMOS
et al., 2020; PATHAK et al., 2020; CHEN et al., 2020; CORTEGIANI et al., 2020a; SARMA
et al., 2020; ZHONG et al., 2020; SIEMIENIUK et al., 2020; JUUL et al., 2020; LIU W., et
al., 2020; CHANDRASEKAR et al., 2020; MISRA et al., 2020; RAZMI et al., 2020),
incluindo sintomas leves como náuseas, vômitos e indicadores de função hepáticas anormais
transitórias, distensão abdominal, diminuição do apetite, sintomas dermatológicos, visão
turva, anemia, hipoglicemia, cefaléia, e sintomas graves como embolia pulmonar, infecção da
corrente sanguínea, prolongamento do QT, bloqueio atrioventricular de primeiro grau,
arritmias malignas, parada cardíaca e morte.
5.4.2 Cloroquina
Três RS (CHOWDHURY et al., 2020; SINGH et al., 2020a; KASHOUR et al.,
2020) apresentaram resultados favoráveis ao tratamento com CQ, com desfechos de redução
na duração dos sintomas, melhora radiológica e menor tempo para eliminação viral. Quatro
RS (CHOWDHURY et al., 2020; RODRIGO et al., 2020; KASHOUR et al., 2020;
CORTEGIANI et al., 2020a) mostraram que o tratamento não apresenta diferença
significativa para eliminação virológica, resultados negativos de PCR - quando comparado
com LPV/r - e para mortalidade. Rodrigo et al. (2020) apresentaram resultado de mortalidade
menor no grupo controle; o grupo intervenção que recebeu altas doses de CQ teve
mortalidade maior que o controle que recebeu doses menores do mesmo fármaco. Duas RS
(PUTMAN et al., 2020; RAZMI et al., 2020) mostraram resultados incertos com o uso de CQ
em pacientes com COVID-19, apresentando resultados conflitantes para mortalidade e
eliminação viral. Três estudos (KASHOUR et al., 2020; CORTEGIANI et al., 2020a; RAZMI
26
et al., 2020) apresentaram dados sobre EAs com a medicação, com possibilidade de aumento
da mortalidade.
Em estudos in vitro, cloroquina e a hidroxicloroquina tiveram bons resultados
inibindo as infecções dos 3 coronavírus - MERS-CoV, SARS-CoV e SARS-CoV-2. Nesses
estudos, HCQ demonstrou inibir a replicação do vírus SARS-CoV-2 (ANDRADE et al.,
2020). Porém, os antimaláricos parecem estar associados à EAs graves quando usados em
pacientes com COVID-19. Seis RS (RODRIGO et al., 2020; PATEL et al., 2020; FIOLET et
al., 2020; KASHOUR et al., 2020; CHANDRASEKAR et al., 2020, MISRA et al., 2020)
apresentaram maior mortalidade com o uso dessas medicações.
Kriz et. al. (2020) relataram evidências de que CQ e HCQ não são eficazes para o
tratamento da COVID-19 e também que a profilaxia com HCQ demonstrou não proporcionar
nenhum benefício. Segundo a revisão da OPAS (2021a), esses tratamentos parecem não
reduzir a mortalidade, nem apresentam melhora significativa no tempo de resolução dos
sintomas, e podem estar associados a um pequeno aumento de EAs graves. Quanto ao uso
profilático da HCQ, ela parece não reduzir significativamente o risco de infecção.
5.5 Corticosteróides
Dados com tratamentos com corticosteróides foram apresentados em 15 estudos.
Cinco (YANG et al., 2020; ZHANG et al., 2020; CHANDRASEKAR et al., 2020; MISRA et
al., 2020; RAZMI et al., 2020) apresentaram os resultados não especificando o tipo de
corticosteróide usado. A metilprednisolona e a dexametasona foram os fármacos mais comuns
presentes nas RS (SARKAR et al., 2020a; TLAYJEH et al., 2020; LI H., et al., 2020; HASAN
et al., 2020; SINGH et al., 2020b; SIEMIENIUK et al., 2020; JULL et al., 2020;
SUBRAMANIAN et al., 2020; TALAIE et al., 2020; PEI et al., 2020; PUTMAN et al., 2020)
A prednisona aparece na revisão de Tlayjeh et al. (2020), a hidrocortisona e a prednisolona na
de Li H, et al. (2020) e a hidrocortisona na de Subramanian et al. (2020).
Cinco RS (TLAYJEH et al., 2020; HASAN et al., 2020; SINGH et al., 2020b;
SIEMIENIUK et al., 2020; JUUL et al., 2020) apresentaram resultados favoráveis ao
tratamento com corticosteróides em comparação ao tratamento padrão, apesar de nenhuma
das cinco RS terem descrito o TP, dentre eles o desfecho composto de redução da
mortalidade, de admissão na UTI e de necessidade de ventilação mecânica, e de internação
27
hospitalar. Quatro (TLAYJEH et al., 2020; CHANDRASEKAR et al., 2020; MISRA et al.,
2020; PEI et al., 2020) mostraram dados que não apresentam associação entre o tratamento e
mortalidade, necessidade de ventilação mecânica e recuperação clínica. O tratamento
comparador - não especificado nas RS - apareceu como favorável em quatro estudos
(SARKAR et al., 2020a; TLAYJEH et al., 2020; ZHANG et al., 2020; PEI et al., 2020) em
que a mortalidade, tempo de internação, e a síndrome respiratória foram menores no grupo
controle, além da taxa de eliminação viral que foi maior neste grupo. Resultados incertos
foram apresentados em sete revisões com desfechos na mortalidade utilizando-se
metilprednisolona (SARKAR et al., 2020a), ou sem especificar o corticóide utilizado (LI, H.,
et al., 2020; PUTMAN et al., 2020; RAZMI et al., 2020); observando a redução dos sintomas
sem especificar o fármaco usado (SUBRAMANIAN et al., 2020); ou apresentando estudos
primários com resultados conflitantes entre benefícios e danos sem especificar o
corticosteróide (SINGH et al., 2020b; YANG et al., 2020 ). Três estudos (SINGH et al.,
2020b; ZHANG et al., 2020; JUUL et al., 2020) apresentaram EAs, como hiperglicemia,
diabetes induzida por corticóide, e apenas um estudo especificou que tais efeitos ocorreram a
partir do uso da dexametasona (JULL et al., 2020).
O tratamento com corticosteróides de algumas RS apresentou resultados conflitantes
para mortalidade, redução no tempo de internação e eliminação viral. Cinco RS (TLAYJEH et
al., 2020; HASAN et al., 2020; SINGH et al., 2020b; SIEMIENIUK et al., 2020; JUUL et al.,
2020) apresentaram resultados favoráveis ao tratamento com corticosteróides na redução da
mortalidade, quatro (TLAYJEH et al., 2020; CHANDRASEKAR et al., 2020; MISRA et al.,
2020; PEI et al., 2020) apresentaram resultados indiferentes para esse desfecho, duas
apresentaram mortalidade maior no grupo tratado com corticosteróide (SARKAR et al.,
2020a; PEI et al., 2020), e quatro revisões (SARKAR et al., 2020a; LI, H., et al., 2020;
PUTMAN et al., 2020; RAZMI et al., 2020) trazem resultados incertos. Duas revisões
(SINGH et al., 2020b; SIEMIENIUK et al., 2020) analisaram que o tempo de internação foi
menor no grupo tratado com corticosteróide, enquanto uma (SARKAR et al., 2020a;)
apresentou tempo de internação menor no grupo controle. Dois estudos (SARKAR et al.,
2020a; TLAYJEH et al., 2020) mostraram que o tempo de eliminação viral foi maior no
grupo que recebeu corticosteróide, enquanto outras duas revisões (PUTMAN et al., 2020;
RAZMI et al., 2020) trouxeram resultados incertos para esse desfecho. Kriz et. al. (2020)
apresentou um ECR com 2.104 pacientes em que a dexametasona (6 mg por via oral ou
intravenosa) reduziu a mortalidade. Mostraram outros dois estudos que apresentam resultados
28
que sugerem que o uso da metilprednisolona melhora os resultados clínicos e previne a piora
das funções respiratórias.
Segundo Andrade et al. (2020, p. 3538) o uso de corticosteróides para pneumonias
virais apresentou efeitos inconclusivos. Eles destacaram que a OMS recomendava que os
corticosteróides só poderiam ser indicados quando ocorresse choque séptico, exacerbação da
asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica. Porém, após a conclusão de ECRs - entre eles o
RECOVERY com 2.104 pacientes no grupo dexametasona e 4.321 no TP - comparando
corticosteróides (dexametasona, metilprednisolona ou hidrocortisona) com TP ou outros
tratamentos, a revisão rápida da OPAS (2021a) sugere que os corticosteróides provavelmente
reduzem a mortalidade [RR 0,89 (IC 95% 0,78-1,02); RD -1,8% (IC 95% -3,5% a 0,3%),
confiança moderada], possivelmente reduzem a necessidade de ventilação mecânica invasiva
[RR 0,84 (IC 95% 0,67-1,04); RD -2,8% (IC 95% -5,7% a 0,7%), confiança moderada] e
podem melhorar o tempo até a resolução dos sintomas [RR 1,32 (IC 95% 1-1,75); RD 19,4%
(IC 95%, 0% a 45,4%), baixa confiança]. Não observaram diferenças nos estudos utilizando
dexametasona, metilprednisolona ou hidrocortisona para esses desfechos.
Uma revisão recente apresentou nove diretrizes clínicas desenvolvidas na China (n =
3), Espanha (n = 1), Polônia (n = 1), Coreia do Sul (n = 1), Estados Unidos da América (n =
1) e em painéis internacionais (n = 2), que recomendam o uso de corticóides em condições
específicas, como para pacientes gravemente enfermos com COVID-19 (LUO et al., 2021).
5.6 Imunoterapias
Vinte revisões sistemáticas apresentaram resultados sobre imunoterapias: terapia de
plasma convalescente (PC), imunoglobulina intravenosa (IMIV), interferon alfa/beta (IFN
𝝰/𝝱), terapia de purificação de sangue (PS), terapia de células tronco mesenquimais do cordão
umbilical (CTM) e os anticorpos tocilizumabe (TCZ), siltuximabe, anakinra, baricitinib.
5.6.1 Tocilizumabe
O tocilizumabe é um anticorpo que tem sido testado em pacientes graves que
apresentam lesões pulmonares. Estudos observacionais mostraram resultados promissores na
melhoria de resultados clínicos de pacientes com COVID-19 (KRIZ et al., 2020). Ele foi a
imunoterapia com mais dados presentes nos estudos. Onze RS (POZO et al., 2020;
ANTWI-AMOABENG et al., 2020; AZIZ et al., 2020; CORTEGIANI et al., 2020b;
29
MANSOURABADI et al., 2020; AMINJAFARI et al., 2020; FAJGENBAUM et al., 2020;
MISRA et al., 2020; SUBRAMANIAN et al., 2020; TALAIE et al., 2020; RAZMI et al.,
2020) apresentaram resultados favoráveis à intervenção com TCZ, com desfechos para
recuperação clínica, diminuição da mortalidade, redução na taxa de ventilação mecânica em
casos graves e melhora dos sintomas. Seis RS (AZIZ et al., 2020; CORTEGIANI et al.,
2020b; LAN et al., 2020; CHANDRASEKAR et al., 2020; MISRA et al., 2020; TALAIE et
al., 2020) mostraram que TCZ não apresentou diferença significativa na necessidade de
ventilação mecânica, taxa de admissão na UTI, mortalidade e na recuperação clínica.
Mansourabadi et al. (2020) apresentaram um estudo primário com resultados desfavoráveis ao
tratamento com TCZ que indicou agravamento da doença após a intervenção. Cinco RS
(POZO et al., 2020; CORTEGIANI et al., 2020b; ALZGHARI et al., 2020; LAN et al., 2020;
PUTMAN et al., 2020) apresentaram dados incertos e conflitantes entre os estudos primários
nos desfechos de melhora e taxa de mortalidade. Dados sobre EAs são apresentados em oito
RS (POZO et al., 2020; ANTWI-AMOABENG et al., 2020; AZIZ et al., 2020;
CORTEGIANI et al., 2020b; ALZGHARI et al., 2020; MANSOURABADI et al., 2020; LAN
et al., 2020; RAZMI et al., 2020), incluindo hipertrigliceridemia, prolongamento do intervalo
QT, alterações de enzimas hepáticas, aumento de infecções secundárias, efeitos hepatotóxicos
e anafilaxia.
A revisão rápida da OPAS (2021a) apresenta resultados de 9 ECRs com 2.324
pacientes com COVID-19 severa, mostrando que o tratamento com tocilizumabe, em
comparação com TP ou outros tratamentos, não reduz a mortalidade [RR 1,01 (IC 95%
0,77-1,32); RD 0,2% (IC 95% -3,7% a 5,1%), baixa confiança], mas pode reduzir a
necessidade de ventilação mecânica [RR 0,77 (IC 95% 0,67-0,89); RD -4% (IC 95% -5,7% a
-1,9%), confiança moderada].
5.6.2 Anakinra
Três RS (TALAIE et al., 2020; PUTMAN et al., 2020; RAZMI et al., 2020)
apresentaram resultados favoráveis ao tratamento com anakinra, com diminuição da
mortalidade e de necessidade de ventilação mecânica. Não houve dados de EAs para esta
intervenção.
A esse respeito, Kriz et al. (2020) apresentam que a anakinra pode ajudar a reduzir a
mortalidade, por inibir a inflamação sistêmica. A revisão rápida da OPAS (2021a) analisou
30
um ECR com pacientes COVID-19 de leve a moderada, comparando 59 deles tratados com
anakinra com 55 tratados com TP (sem especificar qual). O resultado foi que a anakinra pode
não melhorar o tempo de resolução dos sintomas e é incerto se ela afeta a mortalidade, a
necessidade de ventilação mecânica ou aumenta os EAs graves. As evidências foram
consideradas de baixa certeza e ressaltam que mais pesquisas são necessárias.
5.6.3 Baricitinib
Apenas Putman et al. (2020) trazem dados sobre o uso de baricitinib. Eles mostram
que não há diferença significativa em relação aos pacientes transferidos à UTI com o uso da
medicação.
Um relatório sugeriu resultados promissores com o tratamento com baricitinib,
porém ele reconheceu a limitação devido ao pequeno tamanho da amostra e ao desenho do
estudo que não era randomizado (KRIZ et al., 2020). Os resultados de um ECR com 1.033
pacientes moderados a graves mostrou que a combinação baricitinib e remdesivir, comparada
a remdesivir combinado a placebo, pode reduzir a mortalidade, a necessidade de ventilação
mecânica e o tempo para resolução dos sintomas. Devido a baixa confiança das evidências,
recomendam mais pesquisas para confirmar ou descartar os achados (OPAS, 2021a).
5.6.4 Siltuximabe
A intervenção com siltuximabe apresentou desfecho de melhora dos sintomas em
AminJafari et al. (2020). Enquanto Razmi et al. (2020) trazem resultados incertos em que um
estudo primário apresentou resultados conflitantes na melhora clínica de 21 pacientes que
receberam esse fármaco. A revisão de Cantini et al. (2020), publicada em dezembro de 2020,
apresentou um estudo aberto, em que 30 pacientes com pneumonia COVID-19 moderada
receberam siltuximabe e 30 do grupo controle foram tratados com TP (sem especificar qual).
O risco de mortalidade em 30 dias foi significativamente menor no grupo siltuximabe (HR
0,462 (IC 95% 0,221- 0,965; p: 0,0399). Todavia, eles afirmaram que devido à falta de mais
estudos e também ao pequeno tamanho da amostra os resultados com esse tratamento foram
inconclusivos.
5.6.5 Plasma convalescente
A terapia de plasma convalescente (PC) é apresentada com resultados favoráveis em
oito RS (SARKAR et al., 2020b; VALK et al., 2020; RAJENDRAN et al., 2020;
31
MANSOURABADI et al., 2020; AMINJAFARI et al., 2020; SUBRAMANIAN et al., 2020;
TALAIE et al., 2020; RAZMI et al., 2020): diminuição da mortalidade, eliminação viral,
melhora clínica, resolução das lesões pulmonares, aumento de anticorpos e melhora dos
sintomas. Juul et al. (2020) e Talaie et al. (2020) mostraram que a terapia com PC não
apresentou diferença significativa na taxa de mortalidade. Nenhum dos estudos trouxe
resultados desfavoráveis a essa intervenção. E Valk et al. (2020) apresentaram resultados
incertos nos desfechos de alta hospitalar, mortalidade e melhoria dos sintomas. Três RS
(SARKAR et al., 2020b; VALK et al., 2020; RAJENDRAN et al., 2020) apresentaram
informações sobre EAs, como sobrecarga circulatória associada à transfusão, reações
alérgicas graves, erupções cutâneas, mancha vermelha facial evanescente, choque anafilático
grave.
Nas duas últimas décadas, a terapia de plasma convalescente foi usada com sucesso
no tratamento da SARS e da MERS (WANG et al., 2021). No entanto, estes autores
apresentam em seu trabalho resultados de metanálise de ECRs que mostram que não houve
diferença estaticamente significativa entre o grupo tratado com PC e o grupo controle em
relação a redução da mortalidade em pacientes com COVID-19 (OR 0,79, IC 95% 0,52-1,19,
I² = 28%) e melhora dos sintomas clínicos (OR 1,21, IC 95% 0,68-2,16; I² = 0%). Porém,
apresentam alguns ensaios não controlados e série de casos que apresentam resultados
favoráveis de redução da mortalidade, melhora dos sintomas clínicos e eliminação viral em
pacientes com COVID-19 tratados com PC dentro de dez dias da doença.
A revisão rápida da OPAS (2021a) apresenta resultados semelhantes na análise de
dez ECRs, entre eles o RECOVERY com 10.460 pacientes: PC provavelmente não reduz a
mortalidade [RR 1,02 (IC 95% 0,93-1,11); RD 0,3% (IC 95% -1,1% a 1,8%), confiança
moderada] é incerto se ele reduz a ventilação mecânica invasiva [RR 0,78 (IC 95%
0,51-1,17); RD -3,8% (IC 95% -8,5% a 2,9%); muito baixa confiança] e é incerto se o PC
afeta a resolução ou melhora dos sintomas [RR 1,03 (IC 95% 0,89 a 1,2); RD 1,8% (95% CI
-6,7% a 12,1%); confiança muito baixa].
5.6.6 Interferons
A intervenção com interferons (IFN 𝝰/𝝱) foi apresentada em quatro RS
(MANSOURABADI et al., 2020; YU et al., 2020; LIU W., et al., 2020; FAJGENBAUM et
al., 2020) com dados favoráveis a este tratamento nos desfechos de diminuição da carga viral,
32
menor tempo para PCR negativo, redução da hospitalização e melhora dos sintomas. Liu W.,
et al. (2020) mostraram informações sobre EAs nessa intervenção. Os estudos não
apresentaram dados desfavoráveis, indiferentes e incertos para o tratamento com IFN 𝝰/𝝱.
A revisão rápida da OPAS (2021a), relata que em cinco ECRs que incluíram 4.487
pacientes, em que se comparou o tratamento com interferon 𝝱-1a a tratamento padrão ou
outros tratamentos, a metanálise indicou que a medicação possivelmente não reduz a
mortalidade [RR 1.04 (IC 95% 0.88-1.23); RD 0.6% (IC 95% -1.9% a 3.7%), confiança
moderada], não reduz a necessidade de ventilação mecânica invasiva [RR 0.98 (IC 95%
0.83-1.16); RD -0.3% (IC 95% -2.9% a 2.8%), confiança moderada], e é incerto se interferon
𝝱-1a afeta a resolução dos sintomas [HR 1,1 (IC 95% 0,64-1,87); RD 6% (IC 95% -21,8% a
52,7%), muito baixa confiança]. Em relação ao interferon beta-1b e ao interferon alfa-2b esta
revisão rápida apresentou como incerteza os benefícios e danos potenciais desses tratamentos,
recomendando a necessidade de mais pesquisas.
5.6.7 Imunoglobulina intravenosa
Duas revisões (MANSOURABADI et al., 2020; AMINJAFARI et al., 2020)
apresentaram resultados favoráveis para imunoglobulina intravenosa (IMIV) nos desfechos de
diminuição da mortalidade e de necessidade de ventilação mecânica, e melhora dos sintomas.
Talaie et al. (2020) e Pei et al. (2020) demonstraram que a intervenção não apresentou
diferença significativa na diminuição da mortalidade. E Razmi et al. (2020) mostraram
resultados incertos com informações favoráveis, indiferentes e de eficácia incerta na
recuperação de pacientes graves em que foi administrada a IMIV. Nenhum dado desfavorável
ou de EAs foi apresentado nas revisões. Parece incerto se o tratamento com imunoglobulina
intravenosa pode reduzir a mortalidade e auxiliar na recuperação clínica dos pacientes.
Esses resultados estão de acordo com a análise de três ECRs apresentadas pela
revisão rápida da OPAS (2021a), que apresenta a IMIV como tratamento incerto em relação a
potenciais benefícios e danos aos pacientes com COVID-19. Ressaltam que mais estudos são
necessários para avaliar essa opção terapêutica.
Luo et al. (2021) apresentaram seis protocolos e ressaltaram que maioria deles não
preconiza o uso de imunoglobulinas, porém, recomendam que o tratamento pode ser usado
para aumentar os níveis de imunoglobulina em pacientes em estado crítico ou idosos com
COVID-19.
33
5.6.8 Células tronco mesenquimais e purificação do sangue
As RS de Mansourabadi et al. (2020) e Razmi et al. (2020) apresentaram apenas
dados favoráveis com a utilização da terapia de células tronco mesenquimais do cordão
umbilical (CTM). Diminuição no tempo para PCR negativo, da necessidade de ventilação
mecânica, da taxa de mortalidade e melhora dos sintomas clínicos e da função pulmonar são
os desfechos mostrados.
Numa análise de séries e relatos de casos de pacientes tratados com CTM,
Mahendiratta et al. (2021) sugerem que o tratamento apresentou capacidade de reduzir a
inflamação sistêmica e proteger contra o vírus SARS-CoV-2. A OPAS (2021a), em sua
revisão rápida, analisou três ECRs que utilizaram o transplante de células-tronco
mesenquimais e apresentou como incerto os benefícios e danos dessa intervenção. Os dois
estudos ressaltam que mais pesquisas são necessárias para se ter uma melhor dimensão da
eficácia e segurança deste tratamento.
A terapia de purificação de sangue (PS) foi apresentada apenas na revisão de Razmi
et al. (2020) e com dados favoráveis para os desfechos de melhora clínica e das inflamações.
5.7 Oxigenação por membrana extracorporal
A RS de Haiduc et al. (2020) apresenta resultados inconclusivos para o tratamento
com oxigenação por membrana extracorpórea (OME) veno-venosa (VV) ou veno-arterial
(VA) comparando-a à ventilação mecânica convencional, uma vez que os estudos primários
demonstraram dados favoráveis, dados desfavoráveis e dados de incerteza de eficácia
utilizando OME em pacientes com COVID-19. A revisão apresenta dados sobre EAs, sendo
os mais significativos a hemorragia e a distensão do ventrículo esquerdo e consequente
aumento da pós-carga, na oxigenação por membrana extracorpórea veno-arterial.
Apesar de apenas uma revisão ter abordado esse tratamento, uma revisão recente
sobre a qualidade e a consistência de protocolos para tratamento da COVID-19 inclui a
oxigenação por membrana extracorporal como um tratamento recomendado em sete guias de
prática clínica, sendo dois de painéis internacionais, dois na China, um na Alemanha, um no
Canadá e um sem especificar o país. No entanto, um protocolo mexicano presente nessa
revisão não recomenda o uso de OME, pois recentes relatórios revelaram aumento da
mortalidade em pacientes com COVID-19 utilizando esse tratamento (LUO et al., 2021).
34
5.8 Medicina Tradicional Chinesa
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é avaliada em quatro RS (XIONG et al.,
2020; FAN et al., 2020; LIU M., et al., 2020; LUO et al., 2020). Xiong et. al. (2020), em que
a fitoterapia é uma de suas vertentes e é utilizada nos quatro estudos incluídos. Ela é composta
por ervas naturais e produtos processados originados de fontes botânicas, minerais, animais,
químicas e biológicas. Todas as RS avaliaram a intervenção com MTC junto ao tratamento
padrão (antivirais, antibióticos, corticosteróides e/ou interferon) comparando-a ao grupo
controle de tratamento padrão, ou tratamento apenas com MTC.
As quatro RS apresentaram dados favoráveis à intervenção combinada com
tratamento padrão (antivirais, antibacterianos, antimaláricos, antiasmáticos, antinflamatórios,
imunomoduladores, oxigênio, terapia de suporte): melhora na eficácia clínica geral, melhora
na tomografia computadorizada (TC) do pulmão, redução no tempo de internação hospitalar,
melhora na pontuação total dos sintomas, melhora na taxa de conversão negativa do PCR, e
menor taxa de agravamento dos pacientes com COVID-19. Uma RS (LIU M., et al., 2020)
mostrou que a MTC combinada ao TP é mais eficaz que ela sozinha. Uma (XIONG et al.,
2020) não mostrou diferença significativa entre os grupos para os desfechos de mortalidade,
na variação de casos críticos a leves, na redução da febre, no tempo para desaparecimento da
tosse, no número de leucócitos e no nível de linfócitos. Liu M., et al. (2020) apresentaram
resultados incertos sobre o tratamento quando MTC é utilizada em combinação com arbidol.
A combinação foi apresentada como eficaz, mas podendo aumentar a taxa de função hepática
anormal. As quatro RS apresentaram dados sobre EAs, que se apresentaram principalmente
como com sintomas gastrintestinais e alterações de função hepática.
Na China a MTC foi incluída no protocolo de tratamento da Covid-19. Um recente
estudo apresentou resultados de dois estudos in vitro em que a MTC inibiu a replicação do
SARS-CoV-2, de um estudo retrospectivo com redução da mortalidade em pacientes com
COVID-19 que receberam esse tratamento, quatro ECRs, um estudo experimental e uma série
de casos em que a MTC combinada ao TP (não especificado) aumentou a taxa de recuperação
dos sintomas, a taxa de cura e encurtou o curso da doença (LI & XU, 2021).
35
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa revisão rápida incluiu 56 revisões sistemáticas sobre diversos tipos de
tratamentos para COVID-19. A ausência de um tratamento específico para a COVID-19,
demandou da comunidade científica um grande esforço para buscar terapias eficazes, e com
poucos eventos adversos.
A maioria das revisões sistemáticas incluídas são voltadas ao tratamento
farmacológico para a COVID-19, sendo que apenas cinco delas apresentaram resultados com
terapias não farmacológicas, como a medicina tradicional chinesa e a oxigenação por
membrana extracorporal. Independente de ser farmacológico ou não o tratamento, a
comparação entre os resultados e mesmo seu agrupamento para uma apresentação narrativa,
representam um grande desafio tendo em vista a variação nos protocolos de intervenção,
controle e nos desfechos analisados. No entanto, é possível observar que muitas revisões
buscaram apresentar desfechos relacionados à redução da mortalidade, dos sintomas e da
evolução para as formas graves da doença, avaliação do tempo de internação hospitalar, do
tempo de permanência na UTI, da gravidade da condição, duração dos sintomas, da
necessidade de ventilação mecânica invasiva, e eventos adversos.
Os resultados das revisões sistemáticas para cada um dos tratamentos identificados
na elaboração desta revisão rápida, são, em grande maioria, inconclusivos, e a escolha de
qualquer tratamento deve ser realizada com cautela, observando-se sua eficácia e também os
riscos que apresenta.
Dentre os antivirais, a associação de LPV/r não apresentou resultados unânimes, com
a maioria dos dados relatando efeitos incertos ou indiferentes, o que corrobora com a
indicação não favorável ao seu uso pela OPAS (2021a). Remdesevir apresenta resultados
promissores, levando à recomendação favorável para seu uso pela revisão da OPAS (2021a),
apesar de alguns estudos demonstrarem que seu uso é indiferente em relação ao controle.
Umiferovir com ou sem associação apresenta resultados incertos. Apesar de alguns resultados
promissores para alguns desfechos, o uso de favipiravir também é considerado como incerto.
Outros antivirais como baloxavir e oseltamivir foram analisados em poucos estudos.
36
Os antibióticos, inclusive a azitromicina, apresentaram resultados incertos para os
desfechos estudados.
Os resultados desta revisão rápida mostram que a maioria dos estudos apresentou
resultados incertos, não favoráveis, especialmente a hidroxicloroquina, ou indiferentes em
relação ao controle, além de muitos relatos sobre efeitos adversos. O uso dos antimaláricos,
cloroquina e hidroxicloroquina, não é recomendado pela OMS/OPAS.
As RS incluídas nesta revisão rápida apresentaram dados variáveis sobre os
resultados do uso de corticosteróides para o tratamento da COVID-19, entre favoráveis,
indiferentes em relação aos controles e não favoráveis. No entanto, a recomendação atual da
OMS/OPAS mostra-se favorável ao uso dos corticosteróides para tratamento da COVID-19,
após a divulgação dos resultados de um megatrial, em que são apresentados resultados
positivos para desfechos de mortalidade, necessidade de ventilação mecânica e tempo para
resolução dos sintomas.
Os resultados dessa revisão rápida ressaltam que é incerto se as imunoterapias
apresentam benefícios ou danos para pacientes com COVID-19. A maioria dos estudos
incluídos apresentaram amostras pequenas, e muitos sem um grupo comparador. Porém, a
revisão da OPAS (2001b), atualizada em 17 de fevereiro, indica que o tocilizumabe
provavelmente reduz a mortalidade e a necessidade de ventilação.
Poucas RS incluídas apresentaram resultados sobre as técnicas da medicina
tradicional chinesa, em especial seu braço fitoterápico, para tratamento da COVID-19,
mostrando resultados promissores.
A terapia de oxigenação por membrana extracorpórea apresentou resultados
inconclusivos quando comparada à ventilação mecânica convencional, apesar de estudada em
apenas uma revisão sistemática, tem sido frequentemente incluída em guias clínicos para o
tratamento da doença. Todavia, um protocolo clínico não recomenda esse tratamento
relatando aumento da mortalidade em pacientes com COVID-19.
É importante ressaltar que esta revisão rápida tem limitações, e os resultados aqui
apresentados devem ser interpretados com cautela, considerando que se trata de uma doença
muito recente e de grande interesse da comunidade científica.
37
Uma grande limitação, diz respeito à busca de estudos que foi realizada apenas uma
vez, no dia 29 de outubro de 2020. Um novo acesso à mesma plataforma de estudos, realizada
em 17 de fevereiro de 2021, identificou 204.981 estudos, sendo 1.322 revisões sistemáticas,
ou seja, mais do que o dobro do número de revisões encontradas em outubro. Isso reflete a
incrível capacidade da comunidade científica em se mobilizar para realizar estudos e produzir
evidências para apresentar resultados, em curto espaço de tempo, sobre um tema
extremamente relevante como a COVID-19. Outra limitação importante é a falta de avaliação
da qualidade metodológica das revisões sistemáticas incluídas, que foi um dos atalhos
escolhidos para a realização dessa revisão rápida, o que indica que os resultados devem ser
interpretados com cautela.
Além disso, criou-se uma nova categoria de estudos, que possui a capacidade de se
manter atualizada constantemente, quase em tempo real, que são as revisões sistemáticas
vivas. Nesse sentido, os resultados desta revisão rápida devem ser considerados em face ao
rápido surgimento de novos estudos que podem modificar as conclusões acerca da eficácia e
segurança de várias intervenções aqui analisadas. É importante ressaltar que esta revisão
rápida incluiu apenas revisões sistemáticas, por isso alguns tratamentos que têm sido motivo
de polêmica, como a ivermectina, não foram identificados.
Estas considerações remetem à necessidade de escolher fontes confiáveis de
informações sobre COVID-19 e acompanhar sistematicamente as contribuições de novos
estudos que venham a ser realizados.
38
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128