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ANÁLISE DE INGREDIENTES E PROCESSO DE PRODUÇÃO DE SABÃO A PARTIR DO ÓLEO DE COZINHA USADO Tássia Regina Santos Vitori 1 Rodrigo Itaboray Frade 2 RESUMO A fabricação de sabão caseiro oferece uma alternativa para a reutilização do óleo de cozinha usado e evita uma possível contaminação do meio ambiente. Além do óleo, outros ingredientes são usados para que ocorra o processo de saponificação. A base ou álcali mais utilizado nesse processo é a soda cáustica (NaOH), uma substância tóxica que interfere no pH dos sabões fabricados. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo investigar os possíveis riscos oriundos da utilização e fabricação de sabões caseiros. Foram fabricados sabões a partir de receitas de cunho popular, obtidas através da internet e por indicações orais, sendo estes analisado em relação à sua consistência, aparência e valores de pH. Dentre os quatro sabões fabricados, apenas dois apresentaram boa consistência e aparência. Somente um sabão apresentou pH próximo à neutralidade. A neutralidade não oferece riscos no contato do sabão com a pele humana, diferente de sabões com caráter acido e básico. Palavras chave: Óleo de cozinha usado; sabões caseiros; soda cáustica. INTRODUÇÃO A limpeza é um ato que demanda certo esforço físico e disciplina. O ato de limpar não significa a eliminação de todos os germes, mas um ambiente limpo é sinônimo de ambiente saudável, o que assegura uma sensação prazerosa de bem estar (SMALLIN, 2006). De acordo com a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) (2003) saneantes são todas as substâncias ou preparações destinadas à higienização, sendo os sabões e detergentes os mais utilizados no nosso dia a dia. Sabe-se que hoje a fabricação do sabão caseiro é uma medida sustentável, pois segundo Alberici e Pontes (2004), procura minimizar o descarte do óleo e gordura animal comestível no meio ambiente. Porém, algumas das substâncias usadas na fabricação caseira do sabão são consideradas nocivas, devido à ação 1 Graduanda em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Educação Tecnológica pelo CEFETMG. Docente do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. E-mail: [email protected]

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Saponificação

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  • ANLISE DE INGREDIENTES E PROCESSO DE PRODUO DE SABO A PARTIR DO LEO DE COZINHA USADO

    Tssia Regina Santos Vitori 1 Rodrigo Itaboray Frade 2

    RESUMO

    A fabricao de sabo caseiro oferece uma alternativa para a reutilizao do leo de

    cozinha usado e evita uma possvel contaminao do meio ambiente. Alm do leo,

    outros ingredientes so usados para que ocorra o processo de saponificao. A

    base ou lcali mais utilizado nesse processo a soda custica (NaOH), uma

    substncia txica que interfere no pH dos sabes fabricados. Dessa forma, o

    presente trabalho tem como objetivo investigar os possveis riscos oriundos da

    utilizao e fabricao de sabes caseiros. Foram fabricados sabes a partir de

    receitas de cunho popular, obtidas atravs da internet e por indicaes orais, sendo

    estes analisado em relao sua consistncia, aparncia e valores de pH. Dentre

    os quatro sabes fabricados, apenas dois apresentaram boa consistncia e

    aparncia. Somente um sabo apresentou pH prximo neutralidade. A

    neutralidade no oferece riscos no contato do sabo com a pele humana, diferente

    de sabes com carter acido e bsico.

    Palavras chave: leo de cozinha usado; sabes caseiros; soda custica. INTRODUO

    A limpeza um ato que demanda certo esforo fsico e disciplina. O ato de

    limpar no significa a eliminao de todos os germes, mas um ambiente limpo

    sinnimo de ambiente saudvel, o que assegura uma sensao prazerosa de bem

    estar (SMALLIN, 2006).

    De acordo com a ANVISA (Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria) (2003)

    saneantes so todas as substncias ou preparaes destinadas higienizao,

    sendo os sabes e detergentes os mais utilizados no nosso dia a dia.

    Sabe-se que hoje a fabricao do sabo caseiro uma medida sustentvel,

    pois segundo Alberici e Pontes (2004), procura minimizar o descarte do leo e

    gordura animal comestvel no meio ambiente. Porm, algumas das substncias

    usadas na fabricao caseira do sabo so consideradas nocivas, devido ao

    1 Graduanda em Cincias Biolgicas pelo Centro Universitrio Metodista Izabela Hendrix. E-mail:

    [email protected]. 2 Mestre em Educao Tecnolgica pelo CEFETMG. Docente do Centro Universitrio Metodista

    Izabela Hendrix. E-mail: [email protected]

  • txica de seus compostos, que podem vir a agredir o meio ambiente e a sade

    humana (NEVES, GUEDES; SANTOS, 2010).

    Outro dado relevante diz respeito ao potencial de hidrognio (pH) dos sabes

    caseiros. Este potencial varia de acordo com o modelo fabricado e o uso repetido de

    determinados tipos sabes como agente de limpeza para a higiene pessoal, pode vir

    a causar danos pele do corpo (KORTING, BRAUNFALCO, 1996 apud

    VOLOCHTCHUK et.al, 2000).

    Dessa forma, este trabalho prope realizar uma investigao da ao

    toxicolgica das substncias envolvidas na produo do sabo artesanal, afim de

    que a populao geral tenha conhecimento sobre os possveis impactos oriundos da

    utilizao negligente dos produtos contidos no sabo, assim como do prprio sabo

    como produto final, que possam vir a oferecer riscos sade humana.

    PRODUO DO SABO

    Histria

    A histria do sabo bem antiga e de acordo com Reis (2009), uma lenda

    Romana roga que possivelmente o produto originou-se com a mistura de dois

    ingredientes: a cinza vegetal que rica em carbonato de potssio e o sebo animal.

    O sebo era obtido atravs da cremao dos corpos como sacrifcio feito no

    Monte Sapo. Quando chovia, o sebo juntamente com as cinzas era carregado para

    as margens do rio Tibre. As mulheres que ali se encontravam para lavar suas roupas

    observaram que aquela mistura ajudava na remoo da sujidade empregando

    menor esforo fsico. O sabo ainda no era utilizado para a limpeza corporal.

    No final do Imprio Romano o uso do sabo foi divulgado por recomendao

    mdica como agente de higiene benfico para a pele. Dentre as ruinas da cidade de

    Pompia foi encontrada uma fbrica onde eram produzidas barras de sabo.

    Aps o declnio do Imprio Romano o uso do sabo j estava bem difundido,

    no entanto em determinadas pocas no decorrer da historia da civilizao o uso do

    sabo declinou, principalmente na Idade Mdia e no Renascimento, quando o banho

    no era considerado um hbito popular.

    Apesar de no ser usado em banhos, o sabo continuou sendo til na

    lavagem de roupas. Somente no sculo XVIII o sabo voltou a ser utilizado como

    agente de limpeza pessoal. Ao longo desses anos as receitas de sabo foram se

  • aperfeioando, introduzindo novos tipos de leos, corantes e aromatizantes (REIS,

    2009).

    Processo de fabricao e propriedades do sabo

    Todo sabo produzido atravs de uma reao qumica. Esta reao

    denominada de saponificao. A reao ocorre pela mistura de um cido graxo

    presente em leos e gorduras com uma base de forte aquecimento (hidrxido ou

    carbonato de sdio) na presena de gua (ALLINGER, 1976).

    Embora o sabo seja biodegradvel, ou seja, o produto na natureza sofre a

    ao de decomposio por microrganismos, dependendo do meio a degradabilidade

    de suas molculas pode variar (NETO; DEL PINO, 1997). Segundo Allinger (1976)

    sabes que contm cadeia de cido graxo com 12 ou mais carbonos so ineficientes

    em gua dura. A gua dura apresenta em sua composio o clcio e magnsio que

    diminuem o poder tensoativo do sabo (NETO; DEL PINO, 1997).

    Os leos e as gorduras so ingredientes essenciais para a fabricao de

    sabes. Estruturalmente so constitudos por um ou mais grupos carboxilas

    acompanhados de cadeias de carbono longas. Os leos possuem mais ligaes

    insaturadas ao longo de sua cadeia, por isso seu ponto de fuso e ebulio menor,

    ficando lquido em temperatura ambiente (aproximadamente 25 C). J as gorduras

    so geralmente slidas em temperatura ambiente e seu ponto de fuso e ebulio

    so maiores comparadas com os leos. O tamanho da cadeia carbnica, a posio

    e a quantidade de ligaes insaturadas interferem no ponto de fuso dos leos e

    gorduras (NETO; DEL PINO, 1997).

    De acordo com Mercadante et al (2009) os tipos de sabes fabricados variam

    de acordo com a propriedade de seus componentes. Os leos e as gorduras por

    possurem propriedades diferentes, fabricam sabes diferentes. O leo ajuda a

    aumentar a espuma e a suavidade. Em contra partida, a gordura responsvel por

    proporcionar dureza ao sabo (QUADRO 1).

    Neves, Guedes e Santos (2010) alertam sobre o descarte do leo em locais

    inapropriados tais como em ralos de pias, caixa de esgoto, terrenos baldios e

    quintais. Este ato agride o meio ambiente, pois pode poluir lenis freticos,

    nascentes e crregos, vindo a alcanar rios e represas.

  • Como a densidade do leo menor do que a da gua, ele cria uma camada

    na superfcie encobrindo a fauna e flora aqutica e impedindo a entrada de luz e

    oxignio (NETO; DEL PINO, 1997).

    QUADRO 1 Influncia do tipo de gordura ou leo e a propriedade final do sabo.

    GORDURAS E LEOS

    PROPRIEDADES DO SABO

    Espuma Ao de limpeza

    Ao sobre a

    pele Saponificao Dureza

    Banha

    Razoavelmente lenta, duradoura e espessa.

    Boa Muito moderada

    Razoavelmente fcil

    Duro

    Sebo

    Razoavelmente lenta, duradoura e espessa.

    Boa Muito moderada

    Razoavelmente fcil

    Muito duro

    Canola Oleosas, pequena e duradoura.

    Regular Moderada Razoavelmente fcil

    Macio

    Soja Oleosa, abundante e duradoura.

    Regular Moderada Razoavelmente fcil

    Macio

    Oliva Gordurosa, pequena e resistente.

    Regular para boa

    Muito moderada

    Razoavelmente fcil

    Muito macio

    Mamona Espessa e duradoura

    Regular Moderada Muito fcil Macio

    Fonte: MERCADANTE et al, 2009, p 2-3.

    Outro fato relacionado ao descarte do leo usado que o leo pode formar

    com o passar do tempo uma crosta nas paredes dos canos junto com a sujidade. O

    uso da soda custica como agente desentupidor pode agravar o problema. Assim

    como o leo a soda pode atingir rios e estaes de tratamento prejudicando a fauna

    e a flora local (NEVES; GUEDES; SANTOS, 2010).

    Utilizao da Soda custica

    De acordo com Ucko (1992) a soda custica (NaOH) um lcali, tambm

    chamado de base. Tem carter forte, ou seja, tem uma grande tendncia em receber

    prtons. A soda dissolve quase que completamente em gua e lcool liberando uma

  • grande quantidade de ons OH- que se dissociam facilmente em soluo, alm de

    reagir com gorduras e leos atuando como agente de limpeza.

    A soda castica a substncia mais utilizada para a fabricao do sabo

    artesanal (RITTNER, 1995 apud ZANIN et al, 2001). Pode ser encontrada na forma

    slida como escamas, barras, lentilhas cilindros, p e na forma lquida

    (TRIKEM,2002 apud FREITAS, 2006).

    Por se tratar de um produto txico seu uso deve ser feito de forma cuidadosa.

    De acordo com Zanasi Jr (2010) acidentes domsticos envolvendo agentes qumicos

    correspondem a 30% dos casos, sendo a soda custica a principal agente citado na

    maioria dos casos.

    As queimaduras por lcalis, segundo Zanasi Jr (2010) penetram mais

    profundamente na pele quando comparadas as queimaduras trmicas ou

    ocasionadas por cidos. O mecanismo de leso tissular pelos lcalis causa

    desidratao intensa, saponificao da gordura corporal responsvel pelo

    isolamento trmico e a inativao das protenas enzimticas, que paralelamente

    formam ligaes com o lcali comprometendo grande extenso de leso tecidual.

    O vapor dessas substncias em contato com os olhos promovem a mesma

    reao de saponificao ocorridas nos demais tecidos do corpo, podendo levar a

    necrose do endotlio corneanos, glaucoma secundrio bem como a destruio da

    episclera, da ris e do corpo ciliar levando a cegueira (NOIA; ARAUJO; MORAES,

    2000).

    A fim de garantir uma maior segurana a ANVISA (1999) estipula que

    produtos de reserva alcalina ou cida que contenha pH menor do que 2 e maior do

    que 11,5 devem possuir embalagens plsticas rgidas resistentes a rupturas e

    tampas de dupla segurana prova de abertura por crianas. As embalagens

    devem vir acompanhadas por um acessrio ou aplicador que evite o contato do

    produto direto com o manuseador, no rtulo deve conter o smbolo de corrosivo, com

    palavras de destaque em negrito escritas em maisculo. O corpo da embalagem

    deve conter indicaes de perigo. As embalagens tambm devem ter advertncias

    sobre os possveis riscos sade, instrues de uso, data da fabricao e

    vencimento, telefones de emergncia e informaes de primeiros socorros.

    Potencial hidrogeninico (pH)

  • O smbolo pH deriva do alemo potenz hydrogen ou potncia de hidrognio

    (RAVEN et al, 2001).

    Ucko (1992) relata que o pH expressa a medida de ons H3O em uma

    soluo. Os valores variam dentro de uma escala usual de 0 a 14, sendo 7 o ponto

    mdio da escala. Em pH 7, a concentrao de ons livres H+ e OH- exatamente a

    mesma, indicando que o pH da soluo neutra (RAVEN et al, 2001). A acidez e a

    basicidade ou alcalinidade de uma soluo dependem da concentrao de ons H+

    liberados pelo cido e de OH- liberado pelas bases na gua. Quando as

    concentraes destes ons no forem iguais, a soluo tender a ser bsica ou

    cida (UCKO, 1992).

    Normalmente o sal produzido pela reao de saponificao possui

    caracterstica bsica, pois derivado entre a reao de um base forte (NaOH) e um

    cido fraco (cido graxo). Os sabes alcalinos removem melhor a sujidade do que

    os neutros, devido s interaes com as molculas de sujeira. Porm a alcalinidade

    excessiva pode deixar o sabo imprprio para utilizao, tornando sua ao custica

    (NETO; DEL PINO, 1997).

    O pH alcalino dos sabes o responsvel em grande parte pelo potencial

    desidratante e irritante na pele humana (VOLOCHTCHUK et. al, 2000). De acordo

    com a resoluo da ANVISA (1978) sabes em barra devem possuir valores de pH

    menores que 11,5.

    O pH normal da pele modifica desde a poca do nascimento, quando

    neutro, at a fase adulta, variando de 3 a 5 prevalecendo valores maiores nas axilas,

    regio genitoanal e interdigital. O uso de um sabo convencional torna a pele do

    corpo mais alcalina, enquanto o de um sabo cido pode diminuir o pH cutneo

    (KORTING, BRAUNFALCO, 1996 apud VOLOCHTCHUK et. al, 2000). O uso

    constante de sabes alcalinos pode interferir na fisiologia do pH cutneo causando

    desidratao seguida de rachaduras, e irritao. O sabo com pH levemente cido

    causa menos interferncia cutnea pois seus valores assemelham com o pH da pele

    de um adulto. J os sabes neutros podem ser usados para banho, pois no tem

    ao sobre a pele (cf. VOLOCHTCHUK et. al, 2000).

    ndice de saponificao

    Para criar um sabo caseiro que no oferea riscos a sade humana e tenha

    uma qualidade satisfatria so necessrios que sejam levados em conta alguns

  • critrios. O ndice de saponificao um deles. Esse ndice mostra a quantidade

    necessria de soda que deve ser usada para reagir com os diferentes tipos de leos

    e gorduras (MERCADANTE et al, 2009). Veja na TAB. 1:

    TABELA 1 ndice de saponificao de diferentes leos e gorduras

    Materiais graxos Fator de multiplicao para

    calcular a soda

    leo de mamona (rcino) 0,129

    leo de milho 0,137

    leo de oliva 0,1353

    leo de soja 0,136

    Sebo de bovino 0,14

    Sebo de ovelha 0,139

    Fonte: MERCADANTE et al, 2009, p 5-6.

    MATERIAIS E MTODOS

    Para a produo do trabalho foram realizadas pesquisas em artigos,

    apostilas, sites, livros e revistas de cunho cientfico. Tambm foram consultados

    resultados de pesquisas j realizadas pelo projeto extenso Laboratrio de Oficinas,

    iniciativa do curso de Cincias Biolgicas do Centro Universitrio Metodista Izabela

    Hendrix, projeto este que pesquisa e produz sabo a partir do leo de cozinha

    usado. Foram selecionadas quatro receitas de sabo caseiro em feitos em barra

    fabricados de diferentes formas e com diferentes concentraes e propores de

    leos, lcool, gua e soda custica.

    TABELA 2 Receitas de sabes fabricadas a base de leo usado

    RECEITA Ingredientes (ml) (g) RECEITA Ingredientes (ml) (g)

    A1

    gua potvel 20 -

    C3

    gua potvel 150 - Soda custica lquida

    50 - Soda custica slida

    - 50

    leo 200 - leo 200 - lcool 20 - Acar - 10 - - - Fub - 10

    B2

    gua potvel 200 -

    D4

    gua potvel - 18,2 Soda custica slida

    72 - Soda custica slida

    - 27,2

    leo 200 - leo - 200

    Fonte: CMRR, 2012 GOUVEIA et al, 2010 SILVA, 2012 4MERCADANTE et al

  • Todas as receitas foram feitas com leo de cozinha usado. O leo foi

    previamente filtrado com uma peneira fina para retirar as impurezas. Os ingredientes

    de cada uma das receitas foram colocados em bqueres separados para a medio

    e pesagem. A pesagem dos ingredientes slidos foi feita em balana de preciso.

    Todos os procedimentos para a fabricao do sabo foram realizados no laboratrio

    do Instituto Metodista Izabela Hendrix situado na cidade de Belo Horizonte (MG). Os

    sabes foram fabricados todos no mesmo dia em temperatura ambiente (25C).

    Para a reao de saponificao os ingredientes foram colocados seguindo

    passo a passo o modo de preparo das receitas. As receitas A, B e D foram feitas em

    garrafas pets de 500 ml. A receita C foi feita em um vasilhame de plstico.

    Na receita A o leo foi despejado primeiramente na garrafa pet seguido pela

    adio da soda caustica com a gua potvel a temperatura ambiente. Logo aps o

    lcool foi adicionado. O pet foi tampado e agitado por 10 minutos at a massa

    aquecer e adquirir uma consistncia pastosa.

    O mesmo procedimento foi seguido na receita B, com exceo da adio do

    lcool.

    Na receita C a gua foi adicionada em um bquer contendo soda custica em

    escamas para dissoluo. A soluo foi transferida para um vasilhame de plstico

    onde foi acrescentado o leo, a acar e o fub. Devido quantidade de

    ingredientes slidos, a receita foi feita em um recipiente aberto. Os ingredientes

    foram misturados com uma colher de madeira por 20 minutos e o vasilhame foi

    tampado.

    Na receita D a gua morna foi colocada dentro de um bquer com a soda em

    escamas. Aps a soda dissolver por completo, a soluo foi transferida para um pet

    com a quantidade necessria de leo. O pet foi agitado por 10 minutos.

    As receitas foram deixadas no laboratrio por 10 dias para secagem e

    compactao do sabo. Transcorridos os 10 dias, os pets e o vasilhame foram

    abertos e uma pequena parte dos sabes foi retirada. As pequenas partes dos

    sabes foram submetidas anlise de pH utilizando uma soluo 1% p/p, conforme

    orientaes da ANVISA (1978). O instrumento usado foi o pHmetro da marca

    Analion, modelo PM 608, calibrado no dia da aferio. Foram feitas duas aferies

    com cada parte do sabo.

  • RESULTADOS

    Atravs da comparao dos resultados obtidos pode ser observada a

    consistncia dos sabes fabricados e os valores do pH.

    O sabo A apresentou na primeira aferio pH 11,3 e na segunda pH 11,2. O

    sabo B apresentou pH 11,6 na primeira aferio e na segunda pH 11,5. O sabo C

    no apresentou diferena de valores, indicando pH 11,4 nas duas aferies. O

    mesmo ocorreu com os valores do sabo D que apresentou pH de 9,7. Essas

    informaes esto indicadas na TAB. 3.

    TABELA 3 Valores do pH dos sabes produzidos

    Sabo pH da medio 1 pH da medio 2

    A 11,3 11,2

    B 11,6 11,5

    C 11,4 11,4

    D 9,7 9,7

    Os sabes A e D obtiveram uma consistncia semelhante a sabonetes

    comerciais. O sabo B ficou com pouca firmeza e mostrou-se quebradio ao toque.

    O sabo C apresentou consistncia muito rgida e alta oleosidade, demonstrando

    que a reao de saponificao no ocorreu por completo. O sabo A alm da boa

    consistncia, tambm apresentou maior transparncia. As fig. 1 e 2 mostram os

    sabes confeccionados.

  • Figura 1- Sabes C, D, A e B (nessa ordem, da esquerda para a direita).

    Figura 2 Pedaos dos sabes A, B, C e D (nessa ordem, da esquerda para

    a direita) fora de seus recipientes.

    DISCUSSO DOS RESULTADOS

    Levando em considerao todos os valores obtidos e as caractersticas

    observadas, o sabo A o mais indicado para uso domstico. Sua consistncia

    firme e o pH varia entre 11,2 e 11,3, o que confirma o carter bsico ou alcalino.

    Segundo Neto e Del Pino (1997) sabes que apresentam esta caracterstica tem

    maior ao de limpeza em relao a sabes cidos ou de carter neutro. Porm o

    contato constante desse tipo de sabo pode alterar o pH fisiolgico da pele que

    levemente cido. A alcalinidade excessiva causa desidratao e rachaduras (cf.

    VOLOCHTCHUK et al, 2000). Durante o processo de agitao da mistura do sabo

    A tambm pode ser observado que a massa compactou mais rpido, e aps a

    secagem apresentou maior transparncia.

    As massas dos sabes B e C no alcanaram uma consistncia satisfatria, e

    sua utilizao ficou invivel. O sabo C apresentou pH 11,4 confirmando o carter

    bsico e ao de limpeza semelhante ao exercida pelo sabo A.

  • Na primeira aferio o sabo B apresentou pH 11,5. Na segunda aferio o

    pH foi de 11,6 considerando o inapropriado para uso e comercializao do produto.

    Sabes em barra devem conter pH com valores menores do que 11,5 (ANVISA,

    1978).

    O sabo D apresentou boa consistncia e aparncia e possui indicao para

    uso domstico. Devido ao de seu pH 9,7 a sua ao de limpeza menor que a do

    sabo A de carter alcalino. O sabo D alcanou o valor de pH mais prximo da

    neutralidade. Na neutralidade a quantidade de ons H+ e OH- a mesma (RAVEN et

    al, 2001). Devido a esta caracterstica, no contato com a pele a ao agressiva do

    sabo ser menor, pois sabes neutros no interferem no pH fisiolgico da pele. (cf.

    VOLOCHTCHUK et al, 2000).

    Nenhum dos sabes fabricados apresentou pH levemente cido ou de carter

    cido. A explicao se d pela reao da soda custica com o leo de cozinha. A

    soda uma base de carter forte e em soluo tem tendncia a receber prtons.

    Como o cido graxo, representado pelo leo considerado um cido fraco, ele

    perde seus prtons (H+) para a soda (UCKO, 1992). importante lembrar que no

    foram adicionadas quaisquer tipo de soluo com carter cido para diminuir ou

    alterar o pH dos sabes. Todos os passos foram seguidos conforme o estipulado

    pelas receitas.

    CONSIDERAES FINAIS

    Buscou-se neste trabalho, de forma terica e prtica, analisar os ingredientes

    envolvidos na produo e utilizao do sabo caseiro feito a partir do leo de

    cozinha usado. A soda custica, presente na totalidade das receitas obtidas nesta

    investigao, se mostrou como ingrediente de maior periculosidade em seu

    manuseio, devido a sua toxidez e o modo inadequado de manuse-la. Alm disso, a

    soda lquida no solta vapor, o que torna seu uso menos perigoso comparada com a

    soda slida. No contato direto com pele a soda pode provocar queimaduras graves,

    e mesmo seus gases podem causar danos aos olhos e vias areas.

    Em relao aos sabes produzidos, trs deles apresentaram pH bem prximo

    do valor limite definido pela ANVISA (11,5), o que os tornam menos recomendados

    para o uso devido a agressividade causada pele. Ao produzir o sabo

    considerando o tipo de leo/gordura e o respectivo ndice de saponificao,

  • demonstrado na receita D, obteve-se um sabo de boa aparncia e consistncia

    alm de um pH distante do limite superior indicado para esse produto.

    Dentre as 4 receitas o sabo A foi indicado como o melhor sabo para

    limpeza geral, levando em conta suas caractersticas. Embora o sabo D no seja

    indicado para uma remoo mais efetiva da sujidade, ele o menos agressivo a

    pele.

    Estes dados destacam os riscos de se utilizar receitas populares para a

    produo do sabo a partir do leo de cozinha usado. Pesquisas sobre a eficincia

    de limpeza ou mesmo buscando-se um pH mais prximo do neutro

    complementariam as concluses deste trabalho, contribuindo para que cada vez

    mais pessoas possam fabricar e utilizar o seu prprio sabo de forma segura.

    Os resultados desta investigao sero encaminhados ao projeto Laboratrio

    de Oficinas, para que seu grupo de trabalho possa avanar em suas pesquisas em

    produo de sabo a partir do leo de cozinha usado.

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