Saiba + - Edição de novembro de 2015

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Desde 2006 16 de novembro de 2015 Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas Macc completa 50 anos com desafio de ampliar público Torcidas universitárias buscam apoio financeiro externo Pág. 11 Museu, embora reformado e na região central de Campinas, tem apenas cerca de 2 mil visitas/mês Pág.8 Vereador propõe cerveja em copos plásticos nos estádios Projeto de Lei, apre- sentado pelo vereador Luiz Henrique Cirilo (PSDB) na Câmara Muni- cipal de Campinas, prevê que bares e lanchonetes dentro dos estádios pode- rão comercializar cerveja até 30 minutos antes do início dos jogos, durante os intervalos e até meia- Alta do preço da gasolina provoca mudança de hábito Entre setembro e ou- tubro, a alta nas bombas chegou a 6% para a ga- solina, o que significou mais de 20 centavos por litro, e 4% no diesel, ou 15 centavos no total. Em Campinas, o pre- ço do combustível chega a ser de R$ 3,49 o litro. Nesse contexto, dar ca- -hora após o término das partidas. No Brasil, Ri- beirão Preto (SP), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS) são algumas das cidades que já auto- rizaram a venda durante partidas de futebol. Ain- da assim o assunto segue como polêmica entre os especialistas. Pág. 11 Foto: Luane Casagrande Foto: Camila Casteleti rona, caminhar, andar de bicicleta ou usar o trans- porte público são algumas das opções cada vez mais frequentes, principalmen- te entre os jovens. Espe- cialista acredita que um dos grandes problemas é a resistência do brasileiro em utilizar o transporte pú- blico do país. Pág. 9 Compras em lojas virtuais e-commerce da China crescem nas classes A e B Pág. 9 Grupos protestam contra mudança no ensino público no Estado de São Paulo Pág. 5 PL 6583/2013 causa polêmica ao estabelecer Estatuto da Família no Brasil Pág. 12 Cientista político Valeriano Costa avalia momento político e econômico CRISE Pág. 3 Foto: Arquivo Pessoal

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Desde 2006 16 de novembro de 2015 Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas

Macc completa 50 anos com desafi o de ampliar público

Torcidas universitárias buscam apoio fi nanceiro externo Pág. 11

Museu, embora reformado e na região central de Campinas, tem apenas cerca de 2 mil visitas/mês Pág.8

Vereador propõe cerveja em copos plásticos nos estádios

Projeto de Lei, apre-sentado pelo vereador Luiz Henrique Cirilo (PSDB) na Câmara Muni-cipal de Campinas, prevê que bares e lanchonetes dentro dos estádios pode-rão comercializar cerveja até 30 minutos antes do início dos jogos, durante os intervalos e até meia-

Alta do preço da gasolina provoca mudança de hábito

Entre setembro e ou-tubro, a alta nas bombas chegou a 6% para a ga-solina, o que significou mais de 20 centavos por litro, e 4% no diesel, ou 15 centavos no total.

Em Campinas, o pre-ço do combustível chega a ser de R$ 3,49 o litro. Nesse contexto, dar ca-

-hora após o término das partidas. No Brasil, Ri-beirão Preto (SP), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS) são algumas das cidades que já auto-rizaram a venda durante partidas de futebol. Ain-da assim o assunto segue como polêmica entre os especialistas. Pág. 11

Foto: Luane Casagrande

Foto: Camila Casteleti

rona, caminhar, andar de bicicleta ou usar o trans-porte público são algumas das opções cada vez mais frequentes, principalmen-te entre os jovens. Espe-cialista acredita que um dos grandes problemas é a resistência do brasileiro em utilizar o transporte pú-blico do país. Pág. 9

Compras em lojas virtuais e-commerce da China crescem nas classes A e BPág. 9

Grupos protestam contra mudança no ensino público no Estado de São PauloPág. 5

PL 6583/2013 causa polêmica ao estabelecer Estatuto da Família no BrasilPág. 12

Cientista político Valeriano Costa avalia momento

político e econômico

CRISE

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Página 2 16 de novembro de 2015

MINÉYA FANTIM E CAROLINE FRANÇAEDITORAS

RÁPIDAS

Revista Kyrial tem edição no dia 26/11

CARTA AO LEITOR A turma 44 do pe-ríodo noturno, da Faculdade

de Jornalismo da PUC-Campinas, apresenta sua 2ª edição do Jornal Saiba+, que, mais uma vez, traz os mais diver-sos assuntos de interes-se, principalmente, para o público jovem.

Temos uma repor-tagem sobre o fi nan-ciamento de torcidas universitárias, como a Brigada Puccamp e a Agante Rojo, da Facul-dade Cásper Líbero. Ain-da no âmbito do esporte, você vai conhecer o Pro-jeto de Lei do vereador campineiro Luiz Henri-que Cirilo (PSDB), que autoriza a venda de cer-vejas em copos plásticos em bares e lanchonetes dentro dos estádios.

ExpedienteJornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi; Diretora--Adjunta: Cláudia de Cillo; Diretor da Faculdade: Lin-dolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Impressão: Gráfi ca e Editora Z

Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375).

Edição: Minéya Fantim e Caroline França

Diagramação: Lucas Moron e Henrique Hein

Por Pedro Siqueira

CRÔNICA

Do pouco que sei e de tudo o que aprendi

PEDRO SIQUEIRA

Sei poucas coisas. Qualquer pessoa nascida e criada mais ou menos nas

mesmas condições que eu também saberia.

Sei que tudo o que sei é o que me foi permitido saber. Soube, ainda pequeno, que não era bom em futebol, do mesmo jeito que meus amigos eram, quando notei que não conseguia marcar nenhum gol, apesar do meu esforço. Soube até de que altura eu conseguia alcançar um objeto sem precisar de ajuda e quem eu tinha chances de derrotar numa queda-de-braço, considerando o conhecimento que tenho do meu corpo e do corpo de outras pessoas.

Soube, um pouco tarde, que meu corpo delimita muitas de minhas experiências. Se não todas. Assim, também como a minha identidade.

Sei que sou homem. E, que como homem, reproduzo atitudes machistas, mesmo sem querer. Sei também que não posso ser indulgente com o machismo, essa demência tanto cognitiva quanto afetiva. Sei que é errado relativizar tais atitudes, porque esse é um dos muitos mecanismos internos de perpetuação do machismo. Sei que não adianta nós, homens, dizermos que somos pró-feminismo se

Foto: Divulgação

não olhamos para dentro de casa, para nossas mães e esposas, com sua dupla jornada de trabalho; se não conseguimos desvendar por que nossos ídolos e heróis são todos homens e notar a quantidade de mulheres silenciadas por trás de cada um desses personagens. É preciso identifi car e desnaturalizar até mesmo essas ações mais rasteiras do machismo.

Sei que sou homem e branco. Sei que os negros não têm o mesmo controle sobre o destino dos seus corpos que nós, brancos, temos. Seus corpos podem ser requisitados pela polícia a qualquer momento, sem motivo algum. Corpos que, por uma escala historicamente construída e por um sistema perverso de valoração da vida, passaram a justifi car a violência pela qual padecem. Penso na solidão das mulheres negras e não consigo alcançá-la, pois, mais que tudo, sei que sou humano e, como tal, a empatia, em algum momento, falha.

Sei que sou homem, branco e homossexual. E, apesar de ter minhas agruras, eu ainda tenho mais visibilidade do que outros que fazem parte do mesmo grupo. Ninguém fala sobre as lésbicas, ninguém fala sobre os negros gays e os afeminados. Então, eu também sei que, mesmo

Outro destaque da edição é o Museu de Arte Contemporânea de Campinas que, nes-te ano, completa 50 anos. Conheça ainda histórias de pessoas que não se encaixam na defi nição de família do Estatuto da Família, aprovado em setembro na Câmara dos Deputa-dos. Quando o assunto é internet, o destaque da edição fi ca com uma reportagem sobre pes-soas que já sofreram linchamento virtual.

Não deixe de ler também a discussão sobre a descriminali-zação das drogas no Brasil, a mudança de ciclos nas Escolas Es-taduais e muito mais!

Boa leitura!

A próxima edição da revista Kyrial, produto universitário dos alunos da Faculdade de Letras, será lançada no dia 26 de novembro. A revista, que esse ano chega à sua 8ª edição, tem como objetivo abrir espaço para que escritores e desenhistas tenham seus trabalhos publicados e conhecidos. A seleção das obras foi feita por uma comissão de alunos veteranos. Nessa edição, foram selecionados cerca de 22 autores, entre alunos e não alunos, que colaboraram com contos, crônicas, poemas e desenhos inéditos. O lançamento será no campus I da PUC-Campinas, às 19h30, na sala 900, junto com a divulgação dos vencedores do 5º Concurso Literário da Faculdade de Letras. A revista estará à venda no dia do evento e custará R$ 5.

Alunos do terceiro ano da Faculdade de Artes Visuais têm suas esculturas expostas na Galeria da Academia Campinense de Letras (ACL). A exposição intitulada “Du Barro” pode ser visitada desde o dia 4 de novembro e termina em 1º de dezembro. O horário de visitação é das 8h às 16h. São cerca de 40 esculturas, feitas pelos alunos da professora Ana Bittar. O objetivo da exposição é provocar refl exão sobre a forma com que os rostos envelhecem e como o tempo corre pelas linhas das faces. A entrada é gratuita. A ACL fi ca na Rua Marechal Deodoro, centro de Campinas.

um grupo oprimido se faz opressor. Ninguém fala de lesbofobia. Prefere-se “homofobia”. Por quê? Ninguém pensa num gay negro e pobre. A imagem, que sei é de um homem bem-sucedido, com valores estéticos eurocêntricos, mas que, também sei, não pode, ou não deveria, ser afeminado.

Sei que, quando estou na rua, meu corpo vira objeto de leitura. Esses dias, uma pessoa me perguntou, enquanto me servia um cachorro-quente, se eu estudava. Disse que sim, jornalismo. Ela me disse: “Você tem cara de médico!”. Fiquei pensando em quais conceitos ela se apoiava para poder afi rmar isso. Com certeza, não se referia às minhas qualidades mentais ou intelectuais. Os poucos minutos de conversa que tive com ela não puderam pôr esses meus aspectos à prova. Sei que, se estivesse ali um negro, uma mulher lésbica, ela também faria a leitura do corpo. Mas as conclusões, provavelmente, seriam bem distintas. Um erro inaudito.

Sei também, por fi m, por essas e outras, que não existe, então, coisas como “heterofobia”, “racismo inverso”, “cristofobia” e “misandria”, termos criados por quem nada ou muito pouco sabe do que eu, desde cedo, sei.

Exposição dos alunos de Artes do 3º ano de Artes Visuais da Puc-Campinas

A mostra fotográfi ca “Machu Picchu – A Cidade Perdida dos Incas”, com 18 imagens dos fotógrafos Martín Chambi e Teo Allaín Chambi, está aberta para visitação desde o dia 5 de novembro, no campus I da PUC-Campinas, e vai até 4 de dezembro. A exposição foi organizada pelo Consulado Geral do Peru em São Paulo. Dentre as fotografi as, o Santuário de Machu Picchu, umas das maiores realizações arquitetônicas e artísticas da humanidade, foi retratado durante o amanhecer e o anoitecer. A mostra fi ca na sala 10, do prédio H13.

Campus I da PUC recebe mostra de fotos

Alunos de Artes Visuais expõem na ACL

Opinião

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“Crise é mais política que econômica”De acordo com o professor Valeriano Costa, da Unicamp, impeachment, no entanto, não resolve

16 de novembro de 2015

Samuel de Oliveira

O Brasil vive um ano de crise política, mais do que econômica. Essa é a opinião do cientista polí-tico e professor do Institu-to de Filosofi a e Ciências Humanas da Universida-de Estadual de Campinas (IFCH-Unicamp) Valeria-no Costa. Para ele, a crise política é que paralisa a economia no País.

Ao contrário do discur-so popular, Costa não acre-dita na necessidade e na legalidade de um impeach-ment. Segundo ele, Dilma cometeu erros, mas todos os antecessores também o fi zeram. O cientista acre-dita ainda que a discussão sobre o assunto pode pre-judicar o andamento da economia em 2016. “A mi-nha expectativa é de que, enquanto não passar essa possibilidade do impea-chment, Dilma e o gover-no vão fi car prisioneiros dessa armadilha política”, afi rma. Confi ra a seguir a entrevista que Costa con-cedeu ao Saiba+.

Como avaliar este mo-mento que vive o Brasil? A chamada crise é políti-ca, econômica ou social?

Ela é basicamente uma crise política. Existe tam-bém uma desordem eco-

nômica, mas não é uma crise e, sim, um ajuste fi s-cal, que todos os governos praticamente fazem. Esse ajuste é um ajuste duro, mas não é mais duro do que o Lula fez em 2003. Do ponto de vista econô-mico, há ainda um aperto, uma situação bem difícil, mas não diria que é uma crise econômica. É um momento de difi culdade. Agora, do ponto de vista político, nós temos mesmo uma crise, que é atenuan-te, e nós não sabemos até aonde ela vai, mas ela está paralisando a economia.

Numa escala de come-ço, meio e fi m, essa crise está onde?

Eu tenho a impressão de que ela está na metade. Já passou a primeira fase, que foi a fase de contestação da oposição da eleição da Dil-ma, agora eles já se con-formaram que a eleição foi legítima, e que ela ganhou; agora a segunda fase é das propostas de impeachment. Eu acho ainda que há ape-nas mais uma proposta que seria viável, o impeach-ment em relação às pedala-das fi scais. A gente precisa primeiro passar por essa fase, que seria o pico da crise, a rotação dos pedi-dos de impeachment. Tudo para o futuro vai depender

agora das votações dos pe-didos de impeachment.

A oposição, por meio até de Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, entre-gou um novo pedido de impeachment de Dilma à Câmara baseado nas pedaladas. O presiden-te da Câmara, Eduar-do Cunha (PMDB-RJ), ameaça deferir. A tônica do momento é esse jogo de interesses?

Tem muitos jogos de in-teresses. O jogo mais ime-diato é esse: o destino do Cunha, que está superquei-mado no ponto de vista da opinião pública e, claro, da própria justiça. Ele é uma fi gura que tem um tempo limitado de vida [política]. A aposta da oposição é uti-lizá-lo até o fi m. É como contratar um pistoleiro para matar alguém: você sabe que não é correto, mas ele vai executar um crime que, para gente, é bom. Essa fase é perigosa, por-que ela pode dar certo e, se der certo, com o impeach-ment fundamentado, isso vai gerar consequências gravíssimas nos próximos anos, levando até um con-fronto, uma crise social.

Com todos os escândalos comprovados na Petro-brás, a presidente Dilma

afi rmar na Finlândia que “o seu governo não está envolvido em corrupção” é uma blasfêmia?

Tecnicamente não. Ela demitiu os envolvidos em corrupção no início do governo dela. Eles foram contratados pelo outro governo, então, tecnica-mente, ela tem razão em dizer que não nomeou estes que estão sendo jul-gados e presos. Contudo, no ponto de vista que esse governo, na verdade, é uma continuidade do que vinha com o Lula, então fi ca difícil dizer que o grupo político com o qual a Dilma está não foi en-volvido em corrupção.

A oposição tem ata-ques fundados ou só re-pressão sem projetos e ideias claras?

As duas coisas. A opo-sição tem sim algumas observações fundadas, mas o que não há são ele-mentos para o impeach-ment. A minha impressão é de que o impeachment exige uma vinculação di-reta a crimes muito espe-cífi cos, que a presidente não cometeu. Na minha visão, o impeachment não é o fi m do governo. É a cassação da pessoa (presidente), quando há um grande consenso na

sociedade e provas mais que evidentes, o que ain-da não temos.

Temos hoje, então, uma polarização?

Muito grande. Nunca ti-vemos uma polarização tão forte desde 1964. Naquele ano por menos que isso, visto hoje, fi camos na di-tadura que durou 20 anos. Se for derrubar um presi-dente porque errou a polí-tica econômica do país, aí acabou o Brasil, pois todos os governantes anteriores cometeram erros.

Qual é a expectativa po-lítica do senhor para o ano de 2016?

Certamente vai ser um ano difícil, como deveria ter sido 2015, só que o ajuste não foi feito neste ano por-que o governo entrou numa crise política. Se tivéssemos feito o ajuste fi scal, 2016 se-ria um ano aparentemente de recuperação. A minha ex-pectativa é de que, enquanto não passar essa possibilida-de do impeachment, Dilma e o governo vão fi car prisio-neiros dessa armadilha polí-tica. Vejo que, ano que vem, enquanto não passar a ideia do impeachment, a gente vai viver um ano mais ou menos parecido com esse. Um ano muito difícil, de desgaste político e econômico.

Professor Valeriano Costa do Instituto de Filoso� a e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH-Unicamp) durante palestra no Centro de Convivência

Foto: Antoninho Perri - A

scom - U

nicamp

Política

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Ana Beatriz Alencar

Está em pauta no Su-premo Tribunal Federal (STF) a descriminaliza-ção do porte de drogas para uso próprio. O jul-gamento considera rever o cenário em que o Brasil se encontra em relação ao assunto e, caso a decisão venha a ser em prol da descriminalização, a lei também vai prever e dife-renciar quem é trafi cante e quem é usuário.

Após o relator do caso Gilmar Mendes se posicio-nar a favor, o ministro do STF Luiz Edson Fachin solicitou, pela primeira vez, vista do processo para que conseguisse analisar melhor o cenário. Segun-do o relator, a lei que pro-íbe o porte de drogas para consumo (Lei 11.343/06) contraria a Constituição, pois o simples fato de usar substâncias como maco-nha, não colocaria em ris-co a vida de terceiros. Para Mendes, proibir o uso inva-de a privacidade do usuário, além de não garantir nenhu-ma proteção da saúde coleti-va e a segurança pública.

Apesar da posição de Mendes, mais uma inter-rupção do julgamento foi feita em setembro, quando o ministro Teori Zavascki pediu vista do processo de-vido a divergências de opi-niões que guiariam as de-cisões fi nais sobre o tema. Enquanto o relator defen-de a descriminalização do porte de todas as drogas ilícitas, os ministros Luís Roberto Barroso e Luiz Edson Fachinalegam são a favor somente da descrimi-nalização da maconha.

DefesaDentre os que apoiam a

descriminalização, está o cientista social Denis Ro-berto da Silva Petuco, de 44 anos. “A justifi cativa de minha posição é dupla, como pesquisador e como pessoa que viveu na pele a criminalização. Crimi-nalizar produz estigma e preconceito, além de fa-zer com que os usuários, com medo de contato com as instituições do Estado, mantenham distância dos serviços de saúde e demais políticas públicas.” Petuco

conta que teve problemas com drogas entre os 18 e 28 anos, quando precisou de ajuda profi ssional para conseguir sair da situação.

Por ter vivenciado o combate ao uso das dro-gas por grande parte de sua vida, nos últimos anos ele se dedica à formação de trabalhadores de saúde, educação e assistência so-cial para o trabalho junto a pessoas dependentes de ál-cool e outras drogas. Para Petuco, a pressão causada pelo Direito Penal expõe o usuário ao risco de ser tra-tado como criminoso e au-menta as difi culdades em falar abertamente sobre o problema para que busque ajuda. “A criminalização é uma péssima maneira de se lidar com o problema. É preciso acelerar a produção e a articulação de serviços e políticas públicas capa-zes de acolher usuários de drogas em suas demandas. É preciso que essa rede de serviços seja voltada às ne-cessidades dos usuários de

drogas e não aos desejos da família, da sociedade, das religiões”, declara.

De acordo com a Pla-taforma Brasileira de Po-lítica de Drogas, rede de organizações não gover-namentais (ONGs) que se propõe a promover políti-cas de apoio a usuários, ga-rantindo a eles a liberdade e a autonomia, em nenhum dos países da América do Sul que descriminalizaram o uso próprio de drogas houve aumento drástico do consumo. No Chile e Ar-gentina, o consumo de ma-conha e cocaína teve queda entre adultos ao passo que, na Colômbia, houve cres-cimento de 1% do consu-mo da maconha. Como ex-posto no gráfi co acima, na América do Sul, apenas o Brasil, Suriname e as Guia-nas julgam o consumo pró-prio de drogas como crime.

Por outro lado, Petu-co acredita que, além da descriminalização, seja necessário “construir uma política pública capaz de

acolher e ajudar as pessoas ameaçadas de morte”. De acordo com ele, a questão só poderá ser resolvida com o fi m do tráfi co, que dependeria da descrimina-lização. “Mas, enquanto o fi m da proibição não vem, políticas e ações como as propugnadas pelo Progra-ma de Proteção à Criança e ao Adolescente Amea-çados de Morte, poderiam ajudar, e muito. É urgente que se potencialize tais políticas, que já existem, mas que são ainda muito frágeis.” O cientista social se refere ao programa cria-do em 2003 pelo Gover-no Federal, que tem como propósito proteger a vida da criança e do adolescente ameaçados, com enfoque na proteção integral e na convi-vência familiar.

ContraDo outro lado estão os

que são contrários e que afi rmam que a legalização das drogas aos usuários afeta a liberdade de tercei-

ros pois, devido às altera-ções temperamentais que as drogas ilícitas causam, as consequências, muitas vezes, atingem os familia-res de forma agressiva ou até mesmo irreversível.

A Associação Brasilei-ra de Psiquiatria é contra a descriminalização. Em nota, assinada pela asses-sora de imprensa Beatriz Cardoso, o órgão afi rma que “a descriminalização facilitaria a circulação das drogas hoje ilícitas e o aumento desse consumo principalmente entre os jo-vens. O aumento do consu-mo levaria ao aumento da oferta, que seria feita pelos trafi cantes, portanto, além de aumentar o número de dependentes, iria se inten-sifi car o tráfi co. Todos os países que passaram por grandes epidemias de uso de drogas e que rigorosa-mente diminuíram a ofer-ta de drogas nas ruas hoje têm grande diminuição no número de dependentes e de presídios.”

Arte: A

na Beatriz Alencar

STF julga descriminalização das drogasAnálise foi suspensa com 3 votos a favor da legalização, mas ainda faltam outros 8 ministros

Relaçãodos

Países

Fonte: Folha de SP

Fonte: Relatório Mundial sobre Drogas da Unodc

Legislação 16 de novembro de 2015

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Bárbara Martins

São cada vez mais fre-quentes os casos de lincha-mento virtual, a nova forma de justiça popular nas redes sociais. Xingamentos, hu-milhações e até processos têm sido comuns quando existe algum tipo de diver-gência nas redes. Segundo informações coletadas do site Safernet (organização não governamental respon-sável pela defesa e prote-ção dos internautas), em 10 anos de atividade, foram re-cebidas mais de 3,6 milhões de denúncias anônimas.

A estudante J.F., de 21 anos, já sofreu por conta de publicações em redes so-

ciais. Em uma das discus-sões nas quais se envolveu, criticava os rodeios devi-do ao sofrimento a que os animais que participam do evento são submetidos. Por causa disso, recebeu recha-ças até de pessoas próximas. Agora, a estudante prefe-re pensar duas vezes antes de postar opiniões polêmi-cas. “Continuo expondo o que penso, mas confesso que faço um fi ltro, não por medo, mas por preguiça de discutir”, explica.

Muitas vezes, quem ex-põe o outro não tem conhe-cimento do próprio ato e das consequências que podem ser causadas. C. K., de 30 anos, tinha um canal no You-

tube, no qual compartilhava vídeos amadores com a co-bertura de jogos de futebol. Num desses vídeos, usou sem autorização o trecho da fala de um locutor de uma rádio local, contestando a opinião do comentarista. O uso do áudio sem a devi-da permissão deu margem para que o locutor entrasse com uma ação. “Se eu não tivesse pegado o áudio dele e tivesse só dado uma sim-ples resposta, seria só a mi-nha opinião. O problema foi ter utilizado o áudio dele”, explica. Por causa do vídeo feito por C.K., o locutor re-cebeu ameaças da torcida rival. Após negociações, os dois fi zeram um acordo,

o vídeo foi excluído e uma retratação do locutor foi amigavelmente veiculada no canal do Youtube de C.K. O comentarista desistiu de prosseguir com a ação.

É possível recorrer à da-nos causados por conta de divergências na rede que acabam se transformando em algo mais grave. Se-gundo o advogado crimi-nalista cível Luiz Augusto Arruda Brasil, quem sofre ou sofreu linchamento vir-tual deve comprovar o fato e recorrer a um boletim de ocorrência para legitimar o dano causado. Segun-do o advogado, se houver consequências pessoais ou profi ssionais, é possível

solicitar uma indenização. Ainda de acordo Arruda

Brasil, há milhares de casos de pessoas que sofreram linchamento virtual e que conseguiram liminares na Justiça para que o material fosse retirado da rede, sob pena de multas diárias. Por fi m, ele aconselha que os internautas sejam discretos ao expressar opiniões que podem gerar confusões. “De igual forma, também devemos nos prevenir para não compartilhar com es-ses modelos de exageros e linchamentos virtuais, que nada mais é do que propa-gar os abusos e as violações à honra e à imagem das pes-soas”, conclui o advogado.

Gustavo Porto

O Estado de São Paulo, a partir do próximo ano, sofrerá uma mudança no ensino público. Isso por-que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) aprovou a divisão dos colégios es-taduais com o objetivo de oferecer classes com apenas um dos três ciclos por esco-la: Fundamental I (1º ao 5º ano), Fundamental II (6º ao 9º ano) e Ensino Médio. Com a mudança, Campinas terá de se readaptar ao novo método, já que 43% das es-colas do estado vão operar em ciclo único, afetando os 311 mil alunos de escolas estaduais da cidade.

Essa decisão, tomada pelo governador, se dá após uma pesquisa realizada pela Fundação Seade - órgão res-ponsável por análises socio-econômicas de São Paulo – mostrando que, de 1998 a 2015, o ensino estadual per-deu cerca de 2 milhões de alunos. Isso gera uma quan-tidade alta de salas e escolas com espaços obsoletos.

A decisão pela separa-ção dos ciclos, segundo a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, ser-ve para acabar com esse espaço vago em algumas escolas e qualifi car o ensi-no e o ambiente encontra-do nas salas de aula, já que assim fi ca mais fácil focar

em ações específi cas para determinada faixa etária. Além disso, existe a expec-tativa de que os alunos ele-vem em 10% o rendimento dentro da sala de aula.

Por outro lado, o fato de os estudantes terem que mudar de escola gera um certo desconforto. Isso por-que alguns alegam que não há outra unidade de ensino perto de casa. Entretanto, a Secretaria de Educação ale-ga que vai respeitar o limite de 1,5km de distância entre uma escola e outra, para não causar transtornos.

Para a professora Vera Lucia Rodrigues, a mudan-ça de ciclos no ensino pú-blico não deve alterar mui-

ta coisa. Ela acredita que a valorização do profi ssional do ensino deve ser levada em conta, e não apenas a separação dos alunos de ciclos de uma escola para outra. “Eu não acho que, com a mudança no ensino, a qualidade do estudo vai melhorar. Os professores se dedicam bastante, mas, com essa mudança, terão que trabalhar em quatro, cinco escolas para conse-guir dar conta. Muitos vão perder o trabalho atual. E vão fazer como? Acredito que, se o professor fosse mais valorizado e tivesse melhores condições para trabalhar, o Brasil teria um ensino público melhor.”

Através de nota, a Faculdade de Educação da Unicamp disse que o fechamento de algumas escolas vai contribuir para a demissão de vá-rios professores e fun-cionários, além de preci-sar deslocar centenas de alunos para escolas dis-tantes. Além disso, a FE Unicamp ainda afirma que o Governo não fez nenhum estudo que com-prove que, realocando os alunos para escolas com menos ciclos, irá elevar a qualidade do ensino.

ProtestosEm Campinas, alunos e professores vêm se or-

ganizando para protestar contra a mudança no en-sino público. Somente no mês de outubro, quatro protestos foram realiza-dos para tentar chamar a atenção contra o novo método. Em outras cida-des do interior que tam-bém sofrerão com as al-terações, manifestações também ocorreram.

Em Cosmópolis, por exemplo, cerca de 200 pessoas se concentraram em frente à Escola Esta-dual Alberto Fierz para reclamar da alteração. Já em Hortolândia a mani-festação ocorreu próximo à Escola Estadual Raquel Sales Melhado.

Órgão registra cerca de 3,6 milhões de crimes virtuaisRedes sociais são cada vez mais utilizadas para prática do linchamento virtual: divergência e preconceitos

Comunidade protesta contra o fechamento das escolas em todo o Estado de São Paulo durante o governo de Geraldo Alckmin

Foto: Gustavo Porto

311 mil alunos vão mudar de escolaGoverno Alckmin decide fechar escolas e reorganizar rede em ciclos; protestos foram organizados

Cidade 16 de novembro de 2015

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Agressões a minorias batem recordeNúmero de denúncias à Secretaria de Direitos Humanos atingiu 66,5 mil até agosto deste ano

Jacqueline Souza

Dados divulgados pela Secretaria de Direitos Hu-manos da Presidência da República indicam que, até agosto deste ano, fo-ram registradas 66.518 denúncias de violação dos direitos humanos no Bra-sil. A maioria dos casos re-fere-se a agressões – físicas ou verbais – a grupos como quilombolas, indígenas, ci-ganos, sem-terra, sem-teto, religiosos, lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.

Todas essas queixas foram realizadas pelos indivíduos por meio do Disque-Denúncia 100. A maioria dos casos refere--se, segundo a Secretaria, a associação dessas pes-soas a estereótipos. É o que aconteceu, em julho deste ano, em Campinas, quando uma empresa de recursos humanos foi de-nunciada por ter publicado em seu site um anúncio de vaga para garçom na qual exigia candidatos “ma-gros” e “heterossexuais”.

DenúnciasAs denúncias contra a em-presa foram feitas em co-missões administrativas inseridas na Lei Estadual 10.9/2001 e na Municipal 9.809/1998, que pune, ad-

ministrativamente, esta-belecimentos comerciais que praticarem quaisquer discriminações. Segundo Ademir José da Silva, Presidente da Comissão de Igualdade Racial e Assun-tos Antidiscriminatórios da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Campi-nas, existem duas formas de reparação de discri-minação: cível e penal. A primeira diz respeito à violação do direito e cau-sar dano ao outro mesmo que seja moral. A segun-da diz respeito à garantia de igualdade prevista na Constituição e pode levar a uma reparação por da-nos morais.

HomofobiaSilva ressalta ainda que, embora os dados sobre denúncias sejam bastante altos, muitas pessoas he-sitam em registrá-las. Para o ator Guilherme Olivei-ra, de 20 anos, também estudante de História, a denúncia não faz sentido. Ele reclama que, por vá-rias vezes, já foi chamado de gay, mas nunca fez de-núncia. “Isso já se tornou natural para mim. Não me importo mais”, conta.

A estudante de Jorna-lismo Gabriela Pasquoto Massaro, de 20 anos, pas-

sou por várias situações delicadas quando resolveu cortar o cabelo no estilo conhecido como ‘’Joãozi-nho’’. Segundo ela, mui-tas pessoas começaram a ter dúvidas sobre sua sexualidade e até alguns amigos também se afasta-ram. No emprego, ela se deparou com o comentá-rio de um colega de tra-balho insinuando que ela não gostasse de homens.

Intolerância religiosaAssim como Gabriela, a estudante de Fotogra-fi a Beatriz Rosário, há um ano e meio, recebe comentários indagando se ela tem câncer, se faz ‘’macumba’’ ou até mes-mo se gosta de homens. Isso se deve ao fato dela ter raspado a cabeça. So-bre a situação, ela conta que deixou de lado as es-peculações e “passou por cima disso”. “Claro que terão as opiniões negati-vas e positivas e em meio a tudo que já vi e venho vivenciando não pos-so me deixar abater. Em meio a isso, decidi criar a página ‘Coisas de uma Careca’ no Facebook, em que incentivo as pessoas a aceitarem a situação de quem é careca, por opção ou não”, disse.

De acordo com o psi-cólogo clinico, terapeuta cognitivo e hipnoterapeu-ta Mauricio Fabbri, além do estereótipo de gênero, o mais comum é o estere-ótipo de beleza. O padrão de beleza exigida pela sociedade, principalmen-te por conta da mídia, faz com que a mulher, que não se adeque ao padrão, seja julgada e rotulada pela população.

PadrõesCasos como esses são co-muns principalmente se o indivíduo não está dentro do padrão estabelecido ou até mesmo quando está dentro, como o caso da estudante de Pedagogia e monitora infantil Alessan-dra de Lara Pedroso. Ao se candidatar para uma vaga de faxineira, segundo ela, a recrutadora começou a explicar as tarefas e fez perguntas relacionadas a características físicas. De acordo com Alessandra, a maioria das candidatas era branca e conseguiu o emprego sem nenhum empecilho. Ao perguntar se já poderia começar, percebeu que havia sido avaliada pela sua caracte-rística racial e intelectual. “Ela fi cou muito incomo-dada com minha aparên-

cia. Na hora de passar os afazeres, falou que não podia faltar, tinha que ter compromisso, ter certeza do ia fazer, não abandonar o trabalho”, afi rma.

De acordo com Fabbri, os estereótipos podem le-var ao preconceito a partir de três elementos: o cog-nitivo, o afetivo e o com-portamental. O cognitivo está relacionado com o processo de aquisição de conhecimento que envol-ve fatores como: o pen-samento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc. A afetivi-dade é a capacidade in-dividual de experimentar o conjunto de fenôme-nos afetivos (tendências, emoções, paixões, sen-timentos), tendo um pa-pel crucial no processo de aprendizagem do ser humano, porque está pre-sente em todas as áreas da vida. E o comportamen-tal envolve tanto o cogni-tivo quanto a afetividade pois é através deles que a atitude do indivíduo é realizada. O preconceito é como uma atitude ne-gativa que um indivíduo está predisposto a sentir, pensar e conduzir-se em relação a determinado grupo de uma forma ne-gativa previsível.

Arte: Jacqueline Souza

Social

Fonte: SEPPIR

16 de novembro de 2015

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16 de novembro de 2015Página 7

Ao todo, mais de 17 mil trabalhadores da categoria em Campinas não possuem benefi cios, como o FGTS

Trabalho

Matheus Martinelli

Em Campinas e região, dos 28 mil trabalhadores do-mésticos, pelo menos 17 mil não têm registro em carteira, indica um levantamento do Sindicato dos Trabalhado-res Domésticos de Campi-nas e Região. A partir de 8 de agosto, passou a vigorar a lei 12.964, sancionada em abril pela presidente Dilma Roussef, que prevê prazo de 120 dias para que os contra-tantes regularizem a situação dos seus empregados. Os empregadores poderão ser multados em pelo menos R$ 724,00.

Segundo Maria Regina Teodoro, coordenadora de imprensa do Sindicato, al-guns empregadores tentam mudar a forma de contrata-ção para fugir das leis traba-lhistas. “A Justiça garante o registro e os devidos direitos do trabalhador doméstico que trabalha três vezes por semana. Para evitar pagar todos os direitos, os empre-gadores pedem pela jornada de trabalho de apenas duas vezes, pagando como diaris-ta”, explica.

Maria Regina indica, ain-da, essa prática como a prin-cipal causa de denúncias no Sindicato e recomenda que os trabalhadores vítimas de irregularidades denunciem a situação por telefone ou pessoalmente.

Com a aprovação da nova

lei, Sheila Fagundes Cou-tinho Cezário, de 35 anos, que já trabalhou sem regis-tro, atualmente trabalha com carteira assinada. “É uma estabilidade maior no empre-go, diferente da diarista, por exemplo”, relata.

Sueli Santos Medeiros, 53 anos, já foi registrada e hoje não é mais, por escolha própria. Passou a trabalhar como diarista, sem registro. “Com a nova lei, compensa muito mais ser diarista, tan-to fi nanceiramente quanto em relação à jornada de tra-balho”, conta. Com registro, trabalha três vezes por se-mana, ganhando um salário mínimo. Como diarista, pode trabalhar quantos dias quiser e colocar seu próprio preço na faxina. Paga contribuição à previdência à parte para po-der aposentar depois.

PatrõesCarmem Ferreira, de 56 anos, já teve quatro empregadas domésticas e conta que, com a nova lei, não vê problemas na regulamentação de suas empregadas.

“Isso foi algo que sempre fi z para dar uma segurança a mais para elas. Não achei que fi cou mais caro o paga-mento, só achei mais compli-cado todo o processo”, expli-ca a psicóloga, em relação à obrigatoriedade do cadastro dos empregados no site do eSocial, da Receita Federal, necessário para que o patrão

60,7% das domésticas não têm registro

FGTS obrigatório

Passou a vigorar desde o dia 1º de outubro a obrigação dos empregadores de pagar ao trabalhador doméstico o Fundo de Garantia do Tem-po de Serviço (FGTS), além de outros direitos. Até então, esse benefício era opcional. Depois de passar dois anos sendo discutida no Congres-so, ela regulamenta a emen-da constitucional e amplia os direitos das empregadas do-mésticas, lei conhecida como PEC das Domésticas.

Com a entrada em vigor desses direitos, o empregador terá, obrigatoriamente, que

Estreou no fi nal de agosto, em todo o Brasil, o fi lme “Que Horas Ela Volta?” (dirigido por Anna Muylaert, 110 minutos), que conta a história de uma empregada doméstica e sua relação com a família para a qual trabalha. A história é fi ctícia, porém comum a boa parte dos 7,2 mi-lhões de trabalhadores domésticos brasileiros, número que posiciona o país no topo do ranking mundial, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Durante o fi lme, percebemos uma naturalização do comportamento da empregada doméstica Val (Regina Casé) em relação aos patrões. Ninguém lhe disse ou ensinou quem podia entrar na sala, dormir no quarto de hóspedes, qual é a mesa a ser usada pelos empregados e qual o pote de sorvete a ser consumido pelos funcionários. Mas ela fi ca perplexa quando a fi lha, que chega do Nordeste para prestar vestibular, acomoda-se na casa dos patrões e passa a ter hábitos que, até então, eram exclusivos dos donos da casa. Val defende que conhecer o lugar e os hábitos a serem praticados pelos empregados são informações que já se nasce sabendo.

A naturalidade dessa relação pode ser explicada pelo trabalho doméstico ser um sobrevivente do patriarcalismo, período em que os escravos obedeciam a um só “senhor de terras”. Talvez por isso, lugar de patrão e lugar de empregado estão, até hoje, bem delimitados. Não é à toa que, nas plantas dos imóveis, o aposento pequeno – como é mostrado, inclusive, no fi lme - normalmente fi ca perto da área de serviço e ainda ganha a referência de “quartinho da empregada”.

A discussão sobre a discriminação social e os preconceitos que permeiam nossa sociedade está presente durante todo o fi lme. Nele, o “por quê?” é o principal questionamento, levantado a todo momento. A presença de Jéssica, vista pelos patrões e a própria mãe, como folgada, foi feita de maneira proposital pela diretora e roteirista Anna Muylaert. O incômodo que sentimos com tal comportamento é signifi cativo e refl ete algo que está implícito e enraizado em nossa cultura.

Benefício deixa de ser opcional muita discussão

Sheila Fagundes Coutinho Cezário: com carteira, garantias, como FGTS e salário-desemprego, são maiores

cadastrar seus empregados no site do eSocial. O primeiro pagamento nesse novo mode-lo, referente a outubro, deverá ser feito até 7 de novembro.

Divulgação

emita uma guia do pagamen-to que irá incluir todos os en-cargos, como INSS e FGTS.

Outra difi culdade é a fal-

ta de conhecimento técnico e jurídico das famílias para aplicar as determinações da lei, fazer os cálculos de

horas-extra e adicional no-turno. Vários escritórios de contabilidade passaram a oferecer o serviço.

Opinião // Crítica

Foto: Matheus M

artinelli

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Página 8 Cultura

Museu de Campinas completa 50 anosAinda desconhecido pela maioria dos campineiros, espaço artístico da cidade sofre com falta de verbas

Luane Casagrande

Escondido no edifício anexo ao Palácio dos Je-quitibás, sede da Prefeitu-ra, o Museu de Arte Con-temporânea de Campinas (Macc) José Pancetti com-pleta, em 2015, 50 anos de fundação, mas continua desconhecido pela maio-ria dos campineiros: a vi-sitação média por mês é de apenas 2 mil pessoas, menos do que a média de alunos que visita a Biblio-teca do Campus I da PUC--Campinas.

Fundado em 1965 pelo Grupo Vanguarda, o mu-seu ocupou, inicialmente, o antigo prédio da CPFL, na Avenida da Saudade, até 1976, quando foi inau-gurada a sede atual. O es-paço recebe exposições re-gularmente, que fi cam em cartaz entre 30 e 40 dias. Só em 2015, já passaram pelo Macc 14 exposições.

Desde o nome de José Pancetti (1902-1958), artista campineiro de re-nome nacional, até as ex-posições, o Macc dá mais atenção aos artistas da região, devido ao seu fun-cionamento à base de edi-tais. Pelo menos dois por ano são abertos: o Fundo de Investimento à Cultu-ra (FIC), em que o artista tem de ser residente em Campinas, e o de agen-damento de exposições temporárias, que, por ser divulgado apenas no mu-nícipio, também atrai mais artistas da cidade e região. Entre os grandes nomes que tiveram suas obras expostas estão Tomie Oh-take (1913-2015), Salva-dor Dali (1904-1989) e Lasar Segall (1891-1957). Além das exposições tem-porárias, o Macc tem um acervo de 680 obras entre esculturas, pinturas, obje-tos e instalações artísticas, frutos, principalmente, de doações dos artistas e dos Salões de Arte Contempo-rânea realizados no museu entre 1965 e 1977, com mais duas edições nos anos 1980.

Falta de verbaPara a pesquisadora da área de cultura Márcia Rosa da Pontifícia Univer-sidade Católica de Campi-

nas (PUC-Campinas), o problema do Macc é co-mum aos outros museus de Campinas, a falta de verba. Muitos estão aban-donados, não têm infraes-trutura ou espaço. Apesar de o Macc ser bem locali-zado e ter uma boa estru-tura predial, não tem verba sufi ciente para trazer no-mes que atraiam público. Segundo ela, “a gestão pú-blica não tem interesse em incentivar os museus”.

Segundo o artista e pes-quisador Paulo Cheida Sans, o Macc é o espaço expositivo mais impor-tante de Campinas, por estar bem mantido e expor com assiduidade e qua-lidade. Porém, “o Macc, assim como tudo que se trata de cultura no Brasil, tem problemas, quando as prefeituras não colocam a cultura como elemento importante para o direcio-namento de verba, fazen-do com que as exposições

nem sempre acontecem com tanta periodicidade e qualidade”. Para o artista, a questão envolve apoio cultural, que vai desde a contratação de pessoal, para instruir sobre as ex-posições e manter o acer-vo, até a climatização.

Para Cheida Sans, o período de maior impor-tância do museu foi na década de 1980, devi-do aos últimos Salões de Arte Contemporânea, que contribuíram para o acer-vo do Macc, eventos que não resistiram muito. No entanto, o artista mantém uma perspectiva positiva e afi rma que, com a ges-tão atual da Secretaria de Cultura, a área de artes está bem encaminhada, retomando diversas ações positivas, sendo um dos focos o Macc.

TecnologiaO coordenador do museu há 10 anos, Fernando de

Bittencourt, reconhece que ainda há muito a ser melhorado, principalmen-te no campo da inserção da tecnologia no museu, desde a catalogação e do-cumentação até as pró-prias obras de arte.

“O museu é um lugar em transformação cons-tante, não só um espaço para visitação, mas um espaço para pesquisa, para educação. Então, acredito que o Macc tenha um fu-turo brilhante pela frente”, explica. Futuro, que, como o coordenador completa, “depende do poder públi-co, por ser um museu mu-nicipal”.

Para esse futuro, proje-tos de melhoria estão em andamento, para uma re-forma da área expositiva, um mobiliário novo, além de uma reforma na parte elétrica e uma nova cata-logação do acervo.

Atualmente, até 15 de novembro, está em ex-

posição Bernardo Caro, Kalendoscópio – Censu-ra e Liberdade, atibaiano, morto em 2007, que fez parte do movimento ar-tístico que impulsionou a criação do museu em 1965. A exposição propõe um breve panorama da produção do artista, com gravuras, aquarelas, óle-os, desenhos, instalações, maquetes e vídeos. Em seguida, entram em ex-posição parte do acervo e do fotógrafo campineiro, Martinho Caires.

Numa ação de atrair mais público e inspirado em diversas instituições culturais do país, o Macc ampliou seu horário de vi-sitação nas quintas-feiras até as 22h, buscando con-templar os frequentadores dos bares e restaurantes do bairro Cambuí, além dos estudantes e dos morado-res do entorno do museu. Uma vez por mês, os jar-dins do museu receberão também apresentações culturais e Food trucks.

Serviço

ENDEREÇO:Rua Benjamin Cons-

tant, nº 1633 – Centro, Campinas/SP

TELEFONES:(19) 3236-4716 (19) 2116-0346

HORÁRIOS:De terça-feira a sábado: das 10h00 às 18h00

Quinta-feira: das 10h00 às 22h00

Domingos e Feriados: das 11h00 às 15h00 Fechado às segundas-

-feiras.

Obra “O Cavalinho de pau”, de Caro, faz parte de exposição em cartaz; artista é um dos mais importantes da história do museu

Exposição de Bernardo Caro é atrações do Macc, que, embora reformado recentemente, ainda não tem inovações tecnológicas

Obra Miguel de Cervantes: La Pedra

Foto: Luane Casagrande

Foto: Luane Casagrande

Foto: Luane Casagrande

16 de novembro de 2015

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16 de novembro de 2015Página 9

Classes A e B são 78% do e-commerceDos 20 sites mais usados para compras, 12 são chineses de acordo com pesquisa; Estados Unidos fi cam em 2°

Economia

Bárbara Alves

Internautas da classe A e B são os que mais frequen-tam sites de compra online estrangeiros. Segundo pes-quisa da empresa Nielsen, eles compõem 78% da parti-cipação nas compras e esco-lhem sites chineses. O mes-mo levantamento indica que a expectativa é de que, no fi nal deste ano, esses dados aumentem. Entre os princi-pais motivos para compras em sites internacionais es-tão os preços mais baixos e a busca por produtos não disponíveis em lojas brasi-leiras. Moda, perfumaria e acessórios estão no topo das procuras.

Dos 20 sites mais usados, ainda segundo a pesqui-sa, 12 são chineses, sendo o AliExpress, o principal. Outros bastante acessados são o eBay e o Amazon, dos Estados Unidos. O es-tudante Breno Scarano, de 19 anos, conta que prefere usar o site chinês por conta dos baixos preços e a varie-dade. “Mesmo sabendo que

Imagens João C

rumo

a compra é um tiro no escu-ro, já que você não tem ideia da qualidade e durabilidade do produto, vale a pena ar-riscar”, diz. Os problemas que o estudante já enfrentou não impediram de realizar novas compras. “Uma vez o item demorou além do que o esperado e eu entrei com um ressarcimento. Em outra

ocasião, o pedido que fi z foi taxado pela Receita Federal, mas sempre gostei da sensa-ção de receber o produto. É como se estivesse ganhando um presente”, conta.

Mas nem todos têm a mesma sorte. A dona de casa Vanusa Silva, de 47 anos, conta que, após problemas com seu primeiro pedido no

AliExpress, deixou de aces-sar o site. “As roupas demo-raram muito para chegar, cerca de 60 dias. A qualida-de do produto era péssima e a maioria delas não me ser-viu”, explica.

De acordo com o admi-nistrador de comércio onli-ne Marlon Pitoli, que estu-dou as compras pela internet em sua pós-graduação, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o principal atrativo desses si-tes é a comodidade. “Com os avanços populacionais, principalmente nas regiões metropolitanas, o tempo vem se tornando escasso no cotidiano”, explica. Outro fator importante é a abran-gência territorial. “Além dis-so, os clientes têm a opção de comparar preços, prazo de entrega, forma de paga-mento e determinar em qual loja realizarão o pedido”.

Pitoli afi rma que isso não está interferindo no comér-cio das lojas brasileiras. “O mercado internacional vem ganhando participação não somente no Brasil, mas em

todos os continentes. Nin-guém compra determinado produto em um site interna-cional com prazo de entrega maior que as lojas do pró-prio país sem ter nenhuma vantagem, seja ela fi nancei-ra ou de qualidade.”

Segundo o economista Izaias Borges, os preços dos sites chineses são baixos devido à grande escala de produção do país. “A China tem uma escala de produção muito maior que a brasilei-ra. Além do mercado deles, como vão exportar para o mundo inteiro, acabam pro-duzindo muito, e isso reduz o custo”. Além disso, o cus-to da mão de obra da China é menor que a do Brasil. “Os operários têm um salário monetário baixo, sendo as-sim, o custo da mão de obra será menor. Eles trabalham em condições de escravi-dão, com jornadas longas”, explica. Outro fator que in-� uencia nos preços, segundo ele, é o câmbio sempre � xo para favorecer a exportação da China para o resto do mundo.

Alto preço da gasolina muda hábitos entre jovens João Crumo

No fi nal do mês de se-tembro e no início do mês de outubro, motoristas de todo o Brasil foram surpre-endidos quando, de um dia para o outro, o preço do litro dos combustíveis aumentou.

Em média, o valor sofreu um crescimento de 6% para a gasolina, o que signifi cou mais de 20 centavos por li-tro, e 4% no diesel, ou 15 centavos. A autorização da Petrobrás não se relaciona-va com o etanol, mas ele também foi reajustado pe-los donos de postos. Nesse caso, também foi aplicado o reajuste de 6%, equivalente a 10 centavos.

Em Campinas, o preço da gasolina chega a ser R$ R$ 3,49 o litro. Com isso, os motoristas têm buscado al-ternativas para driblar o pre-ço alto e manter as contas em dia. Dar carona, não usar o carro para fazer tarefas próximas, usar uma bicicle-ta, andar, e até mesmo usar o transporte público são al-

Com combustível acima de R$ 3,40, cresce a procura por caronas e uso de transporte coletivogumas alternativas viáveis. Guilherme Pires, estudante de Economia na Universi-dade Estadual de Campinas (Unicamp), mudou seu meio de transporte. Agora, ele vai para a faculdade de ônibus e deixa o carro na garagem, só o usando quando necessário. “Eu sou de Americana, mas estudo na Unicamp. Então, venho todo dia. Desde o iní-cio desse mês de outubro, tenho vindo de ônibus. E, quando venho de carro, pelo menos na vinda, ofereço ca-rona. Tem vez que eu consi-go encher o carro com cinco pessoas e cobro em torno de R$ 10 de cada. Quando ve-nho sozinho, pesa no orça-mento, porque gasto muita gasolina. De ônibus, já deu para economizar bem nesse pouco tempo. ”

Redução nas vendasOs postos de gasolina tam-bém já sentiram redução nas vendas.

Gugliardo Ardito Jr. é proprietário de um posto em Americana há quase

30 anos. “Nesse primeiro mês do aumento, nosso fa-turamento caiu quase 25%. Além das pessoas não es-tarem mais abastecendo na mesma frequência de antes, têm economizado mesmo. Aquelas que têm carro fl ex vêm preferindo abastecer com álcool do que com a gasolina, porque é mais rentável. Nesse período, os jovens vêm deixando de abastecer, pois muitos não conseguem manter o carro em dia. Eu tenho o posto há quase 30 anos e essa é a pior

crise que eu tenho passado”, diz.

StatusDe acordo com o economis-ta Ricardo Garcia, o brasi-leiro sofre com o preço pela resistência em usar o trans-porte público. “Esse é um problema. Quem tem carro acha que está numa posição social muito acima dos ou-tros e, por isso, dar carona, andar de ônibus, metrô ou qualquer outro meio públi-co é visto como um declínio pela sociedade. Temos que

aprender que, às vezes, uma atitude simples vale mais do que esbanjar dinheiro por aí. Por isso, num futuro não muito distante, quem não conseguir ‘trocar a chave’ vai sofrer as consequências dessa crise que ainda está no início”, explica.

Mesmo com o preço alto, existem pessoas que pouco se veem afetadas. É o caso do estudante Rafael Rocha, que não fez nada em relação à mudança de seus hábitos. “Eu não ligo muito para esse aumento. Tudo o que eu preciso fazer, tenho que fazer de carro. Moro longe de tudo. Da minha casa até a faculdade são quase 30 quilômetros. Para ver minha namorada, é a metade disso. Então, eu não consigo ir de bicicleta para esses lugares. Mas, quando é alguma coisa mais perto, eu não uso car-ro, nunca usei. Em média, por mês, eu tenho gastado R$ 550,00 com gasolina. Se eu abastecer com álcool, o valor fi nal cai pra R$ 300,00.”

Breno Scarano e sua amostra de produtos comprados no exterior: preço é a facilidade

Posto em Americana: última alteração no preço da gasolina foi em setembro

Foto: Bárbara Alves

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Jovens têm pouco controle sobre fi nançasPesquisa mostra que faixa etária entre 16 e 24 anos demonstra educação fi nanceira ruim e a situação só piorou

16 de novembro de 2015

Clara Rios

Segundo uma pesqui-sa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pú-blica (Ibope), os jovens são os que menos têm controle sobre o que ganham e o que gastam. A faixa etária de 16 a 24 anos foi a que mais teve queda no índice de educação fi nanceira (Indef) do País em 2014.

O índice varia de 0 a 10 e é calculado a partir de três pilares: conhecimento, ati-tude e comportamento dos brasileiros em relação a fi -nanças. A nota do grupo de 16 a 17 anos passou de 5,9 para 5,5, o que está abaixo da média brasileira, que foi 6. A faixa de 18 a 24 tam-bém piorou, de 5,9 para 5,8. Em relação às outras faixas etárias, os jovens foram maioria nas afi rmações que diziam respeito à compra imediata e compulsiva, à falta de habilidade em ad-ministrar os próprios bens

e à preferência por compras parceladas.

Roberta Denadai, de 22 anos, se encaixa nesses pa-drões. A universitária, que trabalha e estuda em Campi-nas, afi rma que não é consu-mista, mas garante que festas e bares são responsáveis por deixar o orçamento apertado no fi m do mês. “Eu não sou daquelas que sai comprando roupas e sapatos sem parar. Mas eu saio muito. Conhe-ço lugares diferentes, vou a shows e eventos sem parar. Mesmo sem ter dinheiro, eu dou um jeito, mas não consi-go fi car sem ir”, conta.

De acordo com ela, o problema é desorganiza-ção. “Eu não me organizo em nada. Aí acabo gastan-do mais do que posso. Eu não penso em não gastar, eu sempre acho que posso e que depois eu darei um jeito. No meu primeiro emprego, eu ainda tentava ser econô-mica, mas, do segundo em diante, não consegui guar-

dar dinheiro. Conforme o salário aumentou, as possi-bilidades aumentaram tam-bém”, brinca.

Já a professora de inglês Mirella Morello, de 24 anos, afi rma que já tentou usar até aplicativo de celular para controlar o orçamento, mas as refeições fora de casa e o salário baixo não ajudaram. “Eu almoço fora todos os dias, porque trabalho em outra cidade. Acho que, se eu ganhasse mais, consegui-

ria poupar, porque vivo em uma rotina e é muito difícil sair dela.”

Ainda assim, a profes-sora acredita que parte do descontrole fi nanceiro é fruto de desorganização. “Eu acho que não consigo poupar porque, depois que pago minhas contas fi xas, eu não olho mais para o meu saldo. Daí, acabo fi cando no vermelho por falta de fi sca-lização. Eu acho que faltou educação fi nanceira quando

eu era criança. Para o economista Mário

Guerreio, que presta serviço de consultoria fi nanceira, a difi culdade dos jovens brasi-leiros em administrar o pró-prio dinheiro é cultural. “O brasileiro não tem o hábito de planejamento. Alguns têm poupança, mas poucos têm investimento. Isso é ge-ral, mas o jovem tem uma tendência ao imediatismo, a gastar mais. ”

Por conta disso, ele indi-ca a velha e boa planilha de gastos mensais. Ela pode ser feita no programa Excel ou até em um papel. “Mais im-portante do que quanto você ganha, é quanto você gasta. A pessoa mesmo pode fazer a planilha. É ideal que se faça semanalmente a conta de todas as receitas e gas-tos, porque os pequenos não aparecem. Aí, no fi nal da semana, a pessoa tem uma ideia do que está gastando. Assim, consegue organizar o consumo. ”

Dívida no cartão é a maior já registrada no BrasilSegundo Banco Central, falta de pagamento acumula R$ 30 bi; outros R$ 33 bi já foram refi nanciados

Foto: Clara R

ios

Henrique Hein

O número de pessoas que apresentou algum défi cit no sistema rotativo de seus cartões atingiu um patamar jamais visto no Brasil. O somatório do saldo devedor dessa modalidade de crédito ultrapassou a barreira dos R$ 30 bilhões. Ao todo, o refi nanciamento da dívida chega aos R$ 33,122 bilhões e se tornou a maior série ne-gativa da história já registra-da pelo Banco Central.

O executivo de mercado fi nanceiro e professor de economia da Faculdades de Campinas (Faccamp) Carlos Rafael Longo Souza explica que o grande problema do endividamento pessoal é a forma com que as pessoas organizam as contas.

“Muitas pessoas têm di-fi culdade de entender que, quando compram qualquer coisa no cartão, estão gas-tando o dinheiro que vão ga-nhar depois. Como é difícil imaginar o que compraram no decorrer do mês, o con-trole do cliente acaba sendo apenas na cabeça. Muitas

pessoas só descobrem que atingiram o seu limite quan-do tentam comprar algo e a transação não é autorizada.”

A professora de Muay Thai Mônica Rocha viveu na pele a situação evidencia-da pelo economista. Hoje, reestabilizada, ela relata que precisou chegar ao ponto de destruir o seu cartão para não aumentar gastos.

“Eu estourei o limite do meu cartão e a conta virou uma bola de neve. Acabei quitando depois a dívida e quebrei o cartão para não usar mais. Foi uma situação meio constrangedora. Hoje eu não trabalho mais com cartão”, conta. Para quitar a dívida, ela renegociou com o banco.

NegativadosDe acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), 56,5 milhões de brasileiros estão com o CPF negativa-do.

A praticidade de se ter um cartão atrai. Apesar dis-so, o professor da Faccamp faz um alerta importante: pagara a conta inteira. “Se-

gundo o Banco Central, a taxa de juros, absurdamen-te alta e não encontrada em nenhum outro país, cobra-da para esse tipo de crédito está em 372% ao ano. Se o cliente devia R$1.000,00 no começo do ano, terá um saldo depois de 12 meses de R$4.720,00 aproximada-mente. Apenas em juros se-riam cobrados R$3.720,00. Quando o cliente percebe o buraco onde se meteu já é tarde.”

Sem cartãoPara evitar mais gastos e também com medo da insta-bilidade, muita gente, mes-mo sem ter dívidas altas, já opta por não ter cartão de crédito. Caroline Perea é consultora de moda. Ela não possui nenhum tipo cartão de crédito e não pretende aderir à ferramenta. Para ela, o cartão é um objeto se-dutor, que passa a sensação de um poder enganoso. “Eu acho que o cartão nos dá um poder de compra que muitas vezes a gente não tem. Já vi a minha família ter dívi-das por cartão e fi car com o

nome sujo. Prefi ro não ter para não passar por isso.”

A jovem de 19 anos ainda diz sempre ter o seu dinheiro na mão para evitar se preo-cupar com o fechamento das contas todos os meses. “Se

Economia

eu tenho o dinheiro eu com-pro; se eu posso, eu compro. Se eu não posso, paciência. Espero. Deixo quieto, por-que oportunidades não vão faltar”, fi naliza. rindo a con-sultora.

Universitária Roberta Denadai utiliza dinheiro para pagar compras em lanchonetes

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Page 11: Saiba + - Edição de novembro de 2015

Projeto prevê volta da cerveja a estádioEstabelecimentos poderão vender bebida no horário de intervalo e 30 minutos antes e depois dos jogos

Ana Ardito

O debate sobre bebidas alcoólicas dentro dos está-dios voltou à tona. O projeto de lei do vereador Luiz Hen-rique Cirilo (PSDB) no mês passado apresenta diretrizes para as vendas em bares e lanchonete nos estádios. Esses estabelecimentos po-derão vender exclusivamen-te cervejas até 30 minutos antes do início dos jogos, durante os intervalos e até meia-hora após o término das partidas.

O projeto pretende abrir uma brecha em leis ante-riores, que proibiam. Em função de brigas entre as torcidas do São Paulo e do Palmeiras, em 1993, uma lei estadual excluía totalmente as bebidas alcóolicas.

Segundo o advogado es-pecialista em Direito Des-portivo João Felipe Artiolli, a Copa do Mundo no Brasil fez com que o tema retor-nasse à discussão, uma vez que era autorizada a venda

Torcedores da Ponte Preta consomem cerveja fora do estádio Moíses Lucarelli antes de início de jogo: lei pode facilitar consumo

Página 11 Esporte 16 de novembro de 2015

Foto: Allan C

ontro

de cervejas: “Com certe-za, isso fez o debate ganhar corpo, pois já existia e vinha sendo debatido em diversos estados. A venda de bebidas é fonte de renda para os clu-bes e inexiste uma pesquisa que aponte que elas indu-zam à violência”, afi rma.

Há 20 anos, quando era liberada a venda em garra-

fas de vidro, o representante comercial José Ângelo San-tarosa era frequentador as-síduo de partidas de futebol e presenciou brigas. Zelão, como gosta de ser chama-do, foi vítima e levou uma garrafada que lhe rendeu pontos no braço. “A cerve-ja nunca foi o problema. O problema, de fato, era como

ela era vendida. Hoje tudo é vendido em copo plástico, então não há mal algum” diz. O projeto de lei prevê a venda apenas em copos plásticos, como foi feito du-rante os jogos da Copa.

Muitos torcedores bebem fora estádio antes da partida. É o caso do estudante de engenharia Mateus Alves,

que não vê a venda de cer-veja como uma chance de aumentar a violência. “Se tivesse bebida, o estádio ia encher muito mais.”

Vendedor ambulante há 25 anos, Romildo da Silva afi rma que, independente da venda ou não da bebida, caso a pessoa queira exage-rar, ela conseguirá. “Eu já vi de tudo. Se tiver que beber, vai beber fora ou dentro do estádio. Quem procura vio-lência já vem com a ideia planejada”.

Já o Policial Militar Cris-tiano Rodrigues é contra. “Eu trabalho como policial há cinco anos e já vi muita briga em estádio sem cerve-ja. Imagine quando for libe-rado”, opina.

Para Artioli, a liberação deve vir acompanhada de uma melhoria na segurança.

O projeto de lei deve ser votado ainda em 2015. Ci-dades como Ribeirão Preto (SP), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS) já autori-zaram a venda.

Torcidas organizadas enfrentam falta de fi nanciamentoUniversitários realizam eventos e bancam do próprio bolso custos para participar de torneios e competições

Verena Foltran

Elas são responsáveis por embalar os atletas des-de amistosos até competi-ções ofi ciais com seus hi-nos e também garantir um espetáculo nas arquiban-cadas onde quer que este-jam. É assim que as torci-das organizadas crescem e conquistam seu espaço no cenário universitário. Mas o que as diferencia de um grupo de alunos comuns que se reúnem para apoiar os colegas?

A principal diferença é o investimento fi nanceiro e os sacrifícios diários que os integrantes fazem. En-tretanto, o apoio tem um obstáculo muito comum no ambiente boêmio: a falta de fi nanciamento externo.

Por tradição, os gastos das torcidas organizada são custeados pelos mem-bros. No entanto, festas e a confecção de materiais para venda, como camise-tas, têm sido uma alternati-va fi nanceira.

Uma das mais recen-tes e já maiores torcidas

de alunos da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campi-nas), a Brigada Puccamp, que apóia a Atlética de Co-municação e Artes, é um exemplo de crescimento fi nanceiro autônomo em pouco tempo. Fundada em 2014, a torcida que, inicial-mente, contava com dez membros, hoje já possui o dobro, sendo a maior parte

de ex-alunos, responsáveis tanto pela criação de músi-cas quanto pela confecção de bandeiras, pirotecnia e sinalizadores.

Prazer“Nós fazemos porque gos-tamos. Mas, no fi nal das contas, o que parece pouco é bem pesado. Antigamen-te, não gastávamos muito, mas, neste ano, por exem-

plo, antes do Juca (Jogos Universitários de Comu-nicação e Artes), gastamos cerca de R$ 1.400,00 com os materiais para torcer”, explica o estudante de Re-lações Públicas João Pedro Garrio, da Brigada.

ArrecadaçãoSegundo Garrio, o que an-tes saía dos bolsos dos alu-nos mais integrados com a

Atlética, hoje já consegue ser pago de outras formas. A principal delas é a cria-ção de eventos nas pro-ximidades da faculdade. “Em dias que conseguimos movimento, arrecadamos até R$ 1.800,00.”

Torcidas maioresEm torcidas maiores, as complicações fi nanceiras tendem a ser proporcio-nais. Fundada em 2008, a Aguante Rojo, da Facul-dade Cásper Líbero, é uma das maiores torcidas orga-nizadas, com 70 membros ofi ciais.

O ex-aluno Lucas Ze-gaib, formado em Rádio e TV pela universidade, ex-plica que, muitas vezes, o dinheiro vem dos próprios “aguantinos”. “Para os tor-cedores ofi ciais, inscritos na torcida e com participa-ção efetiva, normalmente vendemos as fardas. Apro-veitamos muito o dia do trote para vender bebidas a preços mais baixos. O lu-cro chega a R$ 2.000,00”, comenta.

Torcidas organizada de alunos da PUC comemorando realização de mais uma festa para arrecadar fundos para eventos

Foto: Ana A

rdito

Page 12: Saiba + - Edição de novembro de 2015

Página 12 Comportamento

Defi nição de família causa polêmicaProjeto de lei 6583/2013, aprovado recentemente, não considera novas confi gurações sociais e gera revolta

16 de novembro 2015

Giovanna Santos

A Câmara dos Deputa-dos aprovou, no dia 24 de setembro, o projeto de lei 6583/2013 relatado pelo deputado federal Diego Garcia (PHS-PR), que cau-sou polêmica por defender a criação de um Estatuto da Família, em que a defi -nição se restringe à união entre homem e mulher, por casamento ou união está-vel, e seus fi lhos. Também está incluído no conceito a situação em que apenas o pai ou a mãe é o responsá-vel pela criança ou adoles-cente.

A defi nição, assim, ex-clui outros núcleos já con-solidados como famílias, como é o caso de avós que criam netos, tios responsá-veis legais pelos sobrinhos ou até mesmo irmãos mais velhos com a guarda dos mais novos.

O texto que defi ne famí-lia é de autoria do deputado Anderson Ferreira (PF-PE) e dispõe sobre direitos e di-retrizes das políticas públi-cas em áreas como saúde, segurança e educação.

A votação, presidida por Eduardo Cunha (PMDB--RJ), aprovou o projeto por 17 votos a 5. A regra agora é que o projeto siga para o Senado sem necessidade de ser votado pelo plenário da Câmara. Deputados po-dem, no entanto, apresen-tar recursos para solicitar o pleito. A deputada Érika Kokay (PT-DF) já adiantou que pretende recorrer.

A advogada Ester San-tos estudou o projeto e ex-plicou as mudanças que a aprovação causaria no âm-bito social. “O projeto ex-cluiria grupos familiares de políticas públicas defi nidas por ele. Por exemplo, as instituições cederiam pro-fi ssionais como psicólogos e assistentes sociais, espe-cializados em família, mas não abrangeriam as forma-ções familiares que, segun-do o Estatuto, não se encai-xam na nova defi nição.”

O projeto assegura também a prioridade na tramitação dos processos judiciais, em qualquer ins-tância, quando constatado “risco à preservação e so-brevivência da entidade familiar”. Diante disso, a

Arte: G

iovanna Santos

advogada questiona: “Ou seja: só quem se enquadra na defi nição de ‘família’ do projeto é que tem priorida-de? Cadê o princípio da igualdade assegurado pela Constituição Federal?”.

Além disso, consta no site da Câmara que a lei incluiria no currículo obrigatório dos Ensinos Fundamental e Médio a disciplina “Educação para família”, a ser detalhada de acordo com as característi-cas regionais e locais. De-terminaria, ainda, a cele-bração do Dia Nacional de Valorização da Família, a ser comemorado no dia 21 de outubro, por todas as es-colas públicas e privadas.

CasosCriado junto com o ir-

mão mais velho pelos avós desde o nascimento, o co-merciante Gustavo Ismael, de 21 anos, teme que as mudanças propostas pelo

projeto difi cultem a vida de crianças que crescem em núcleos familiares di-ferentes dos estipulados no projeto.

“Quando eu era peque-no, no colégio, sofri um pouco com a diferenciação dos amigos por ser criado pelos avós. Hoje em dia, as pessoas estão mais libe-rais, compreensivas... Mas se isso [a lei] acontecesse, acredito que voltaria o pre-conceito.”

A avó de Gustavo, An-tônia Ismael, conta que houve difi culdades em criar os meninos, mas que não há diferenças entre o fi lho biológico e aqueles que ela criou como fi lhos. “Tive quatro fi lhas e um fi -lho. Depois, acabei criando mais dois, que são como fi lhos, e aprendi que era outro tempo, outra cultura, mas a criação, o respeito e a educação foi passada da mesma forma.”

Para Ester, apesar de aprovado por uma diferen-ça signifi cativa na câmara dos deputados, o projeto não deve passar no Senado. “O próprio STF [Supremo Tribunal Federal], e algu-mas leis como “Maria da Penha”, por exemplo, tra-zem proteção às famílias, sem entrar nessa defi nição do Projeto 6583/2013. E uma lei não pode sobrepor outra”, explica.

A carioca Maria Clara Maia, de 23 anos, foi criada pela avó e pelo tio. A mãe, grávida aos 20 anos, tinha como prioridade “curtir a vida”, enquanto o pai não queria a responsabilidade. “Enquanto minha avó cui-dava de mim, eles saíam para festas, bares e bala-das. Meu pai batia muito na minha mãe, também. Mas mesmo quando eles se separaram, eu continuei morando com minha avó”, conta.

Para a futura professo-ra, a avó recém-falecida e o tio é tudo que ela conhe-ce como família. Crescer com os pais é uma situação hipotética que não teria um fi nal feliz. “Eu teria cresci-do num meio em que mi-nha mãe apanhava do meu pai, ia para o baile ‘funk’, não tinha responsabilidade para cuidar de uma recém--nascida. Eu imagino que, hoje, eu teria uma índole diferente, não de um jeito bom.”

Em 2007, a mãe de Ma-ria Clara faleceu, e o pai entrou na justiça com pe-dido de guarda da menina, que na época completava 15 anos. “Eu escolhi, dian-te de um juiz, fi car com minha avó. Era uma esco-lha óbvia, porque foi sem-pre ela que me deu apoio e amor. Foi quem me deu educação. Ela era minha família.”

Novos tipos de crime podem ser

criados

Outro projeto de lei que tem causado polêmi-ca entre os brasileiros é o 5.069/2013. De autoria de Eduardo Cunha (PMDB/RJ), Isaias Silvestre (PSB/MG) e João Dado (PDT/SP), o texto pretende tipi-fi car como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo, como a pílula do dia seguinte, além de pre-ver penas específi cas para quem induz a gestante à prática de aborto. Mulhe-res de cidades de todo o país, como Campinas, São Paulo e Porto Alegre, orga-nizaram por meio da rede social Facebook, atos de protesto contra o Projeto de Eduardo Cunha. Os even-tos já contam com 700, 8.6 mil e 20 mil pessoas con-fi rmadas, respectivamente.

O projeto, já aprovado pela Comissão de Cons-tituição e Justiça e de Ci-dadania da Câmara dos Deputados, prevê que uma vítima de abuso sexual ou estupro terá que realizar um boletim de ocorrência e fazer um exame de corpo de delito para, só então, ser atendida em uma unidade de saúde.