SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei...

86
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ BENONI SIDINEI BRIZOLLA SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE ITAJAÍ-SC 2011

Transcript of SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei...

Page 1: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

BENONI SIDINEI BRIZOLLA

SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA

E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

ITAJAÍ-SC

2011

Page 2: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

BENONI SIDINEI BRIZOLLA

SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA

E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Dissertação apresentada à Universidade do Vale do

Itajaí (Univali) como requisito para obtenção do grau

de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho – Área de

concentração Saúde da Família.

Orientadora: Profª Drª. Elisete Navas Sanches Próspero

ITAJAÍ-SC

2011

Page 3: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

BENONI SIDINEI BRIZOLLA

SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA

E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em Saúde e Gestão

no Trabalho – Ênfase na Saúde da Família e aprovada pelo Mestrado em Saúde e Gestão no

Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde.

Área de Concentração: Saúde Coletiva

Itajaí, 07 de março de 2012.

Profª. Drª. Elisete Navas Sanches Próspero Univali – Universidade do Vale do Itajaí

Orientadora

Profª. Drª. Luciane Peter Grillo Univali – Universidade do Vale do Itajaí

Membro Interno

Profª. Drª. Silvana Nair Leite Universidade Federal de Santa Catarina

Membro Externo

Page 4: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

AGRADECIMENTOS

A Deus, luz e espírito supremo, princípio de todas as coisas, pela sua proteção e

auxílio.

À amiga, companheira e grande amor da minha vida, Janaína Nicola Costa Brizolla,

por acreditar no meu potencial e compartilhar as alegrias, ausências, distância e tudo mais...

Às minhas filhas Bárbara e Caiala, por entenderem e tolerarem os dias longe de casa e

por me incentivarem sempre. Amo vocês!

À minha família: mãe, pai (em memória), irmãos, sogro, sogra, sobrinho, tias,

cunhadas e cunhados, pela força. Sem vocês teria sido muito difícil!

À professora e amiga Elisete Navas Sanches Próspero, “maestra” e guia intelectual,

por incentivar e me fazer adentrar no mundo da pesquisa quantitativa! É pela educação,

dedicação, paciência, instrução, carinho e confiança em mim depositada que a admiro desde

os tempos de graduação. Muitíssimo obrigado!

Aos amigos da VII turma de Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho. Foram muitas

risadas, carinhos e trabalhos.

Page 5: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS DE SAÚDE

BRIZOLLA, Benoni Sidinei

PRÓSPERO, Elisete Navas Sanches – Orientadora

RESUMO

Este estudo teve como objetivo verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da utilização dos serviços de saúde dos homens no município de Balneário Piçarras (SC) por meio de um inquérito de base populacional. Realizou-se estudo transversal com amostra de 523 homens, que foi determinada considerando a população de homens com idade igual ou superior a 20 anos, assumindo-se um erro amostral máximo de 5% e grau de confiança de 95%. Foram realizadas entrevistas domiciliares para obtenção de dados relativos a aspectos socioeconômicos e demográficos e condições referidas de saúde. Quanto às doenças crônicas não transmissíveis, observou-se 8,0% de homens portadores de diabetes mellitus, 32,0% de hipertensão arterial, 8,6% de problemas cardíacos e 1,2% de câncer. Em relação aos fatores de proteção, verificou-se prevalência de 57,0% de homens que referiram a não ingestão de no mínimo cinco porções de frutas e verduras diariamente e 63,0% que não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas moderadas/intensas diariamente. O principal fator de risco apresentado foi de homens que apresentaram obesidade/sobrepeso em 37% dos casos. Ressalta-se a pouca procura pelos serviços de saúde, verificada em 72,4% da amostra. No entanto, quando necessitaram, 79,0% dos entrevistados se dirigiram para a unidade básica de saúde. O profissional mais procurado na ocorrência de problemas de saúde foi o médico, em 76,7% dos casos. Nesse município também foi evidenciado o crescimento da morbidade por doenças crônicas que influenciam na habilidade relativa das atividades habituais, levando à diminuição da qualidade de vida e ao aumento dos custos da assistência à saúde.

Palavras-chave: Saúde do homem; Acesso aos serviços de saúde; Inquérito epidemiológico.

Page 6: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

MEN'S HEALTH: MORBIDITY, LIFESTYLE AND USE OF THE HEALTH

SERVICES: A POPULATION-BASED SURVEY

BRIZOLLA, Benoni Sidinei

PRÓSPERO, Elisete Navas Sanches – Coordinator

ABSTRACT

OBJECTIVE: This study aimed to determine the prevalence of morbidity, lifestyle and use of the health services among men in the city of Piçarras, through a population-based survey carried out in 2010. METHODS: a cross-section population-based sample of 523 men was determined, considering the population of men aged 20 years or over, assuming a maximum sampling error of 5% and a confidence level of 95%. Household interviews were conducted to obtain data on socioeconomic and demographic aspects and reported health conditions. Results: In relation to chronic non-transmissible diseases, it was observed that 8.0% (95% CI 5.4 to 9.9) of the men had diabetes mellitus, 32.0% (95% CI 27.8 to 35.7) had high blood pressure, 8.6% (95% CI 6.2 to 11.0) had heart problems, and 1.2% (95% CI 0.2 to 2.1) had cancer. In terms of protective factors, we found a prevalence of 57.0% (95% CI 53.1 to 61.6) of men who reported not eating at least five servings of fruits and vegetables a day, and 63.0% (95% 64.3 to 72.2) who did not do at least 30 minutes of moderate to intense physical activity a day. The main risk factor among the men was obesity/excess weight, in 37% of cases. Also emphasized is the fact that men do not seek out the health services, as seen in 72.4% (95% CI 68.4 to 76.4). However, when necessary, 79.0% (95% CI 75.5 to 82.5) did seek the services of a Basic Health Unit. The most sought-after professional when health problems occurred was a doctor, in 76.7% of cases. In the municipality in question, there was also evidence of increased morbidity from chronic diseases that affect the ability to perform usual activities, leading to a decrease in quality of life and increased costs of health care.

Keywords: Men's health; Access to health services; Epidemiological survey.

Page 7: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACS – Agente Comunitário de Saúde

ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Conep – Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

DCNT – doença crônica não transmissível

ESF – Estratégia de Saúde da Família

EUA – Estados Unidos da América

Fapesc – Fundação de Apoio à Pesquisa Científica do Estado de Santa Catarina

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IMC – Índice de Massa Corporal

Inca – Instituto Nacional do Câncer

Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ISA-SP – Inquérito Multicêntrico de Saúde no Estado de São Paulo

MS – Ministério da Saúde

NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família

NOAS – Norma Operacional de Assistência à Saúde

NOB – Norma Operacional Básica de Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde

PET-Saúde – Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde

PIB – Produto Interno Bruto

Pibic – Programa de Incentivo à Iniciação Científica

PNAB – Política Nacional de Atenção Básica

PNAISH – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem

Promed – Programa de Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cursos de Medicina

Pró-Saúde – Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde

RCQ – Razão Cintura Quadril

SAS – Secretaria de Atenção à Saúde

SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica

SUS – Sistema Único de Saúde

UBS – Unidade Básica de Saúde

Univali – Universidade do Vale do Itajaí

Vigitel - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico

Page 8: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para diabetes mellitus,

hipertensão arterial, doenças do coração e câncer................................................................................34

Tabela 2 – Características sociodemográficas da amostra...................................................................35

Tabela 3 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de proteção.....36

Tabela 4 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de risco...........36

Tabela 5 – Distribuição da amostra segundo as variáveis: procura por serviços de saúde nos 15 dias

anteriores à entrevista, serviço de saúde que procura e profissional que procura quando está com

problemas de saúde.................................................................................................................................37

Page 9: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................9

2 OBJETIVOS DA PESQUISA.............................................................................................14

2.1 Objetivo geral....................................................................................................................14

2.2 Objetivos específicos.........................................................................................................14

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .....................................................................................15

3.1Gênero e morbidade...........................................................................................................15

3.2 O homem e a utilização dos serviços de saúde................................................................19

3.3 Doenças crônicas não transmissíveis e inquéritos de saúde de base populacional......22

4 MÉTODO ............................................................................................................................28

4.1 Desenho do estudo.............................................................................................................28

4.2 Local da pesquisa .............................................................................................................28

4.3 População do estudo..........................................................................................................29

4.4 Amostra..............................................................................................................................29

4.5 Sensibilização para a pesquisa.........................................................................................29

4.6 Coleta de dados..................................................................................................................29

4.6.1 Instrumento de coleta de dados........................................................................................30

4.7 Variáveis do estudo...........................................................................................................31

4.8 Processamento e análise dos dados..................................................................................33

4.9 Aspectos éticos...................................................................................................................33

5 APRESENTAÇAO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..............................................34

5.1 Dados obtidos no estudo...................................................................................................34

5.2 Discussão dos resultados...................................................................................................38

5.3 Artigo para publicação na revista Ciência & Saúde Coletiva......................................43

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................71

REFERÊNCIAS.......................................................................................................73

APÊNDICE A..........................................................................................................................79

APÊNDICE B..........................................................................................................85

Page 10: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

9

1 INTRODUÇÃO

Para se discutir a atenção que vem sendo dada aos homens no campo da saúde, faz-se

necessário examinar os estudos que consideram a diversidade e a multiplicidade de formas de

se vivenciar a masculinidade, em contraposição ao modelo hegemônico construído

socialmente (SIMIÃO, 2010).

Com base em diferenças anatômicas e biológicas entre homens e mulheres, as

sociedades humanas costumam dividir sua população em dois grupos distintos: masculino e

feminino. Essa divisão se fundamenta “em uma série de pressupostos (derivados da cultura

em que ocorrem) sobre os diferentes atributos, crenças e comportamentos característicos dos

indivíduos em cada uma das categorias” (HELMAN, 2007, p. 146).

A sociedade é que impõe à mulher e ao homem certos comportamentos e determinadas

normas diferentes, incluindo um entendimento dos diferentes papéis e expectativas dos

gêneros dentro das comunidades. “Não existe um homem natural nem uma mulher natural, o

ser humano nasce sexualmente neutro, a sociedade é que constrói os papéis masculinos ou

femininos. ‘Gêneros’ são papéis socialmente construídos” (CRUZ, 2007).

Perante a lei, entende-se por identidade de gênero a expressão pela qual a pessoa se

identifica, independente de seu sexo biológico ou daquele que se encontra em seu registro de

nascimento. Já as concepções de masculino e feminino, “nas quais todos os seres humanos

são classificados, formam, em cada cultura, um sistema de gênero, sistema simbólico ou

sistema de significados que relaciona o tipo de sexo a conteúdos culturais de acordo com

valores e hierarquias sociais” (LAURETIS, 1994, p. 211).

Ao abordar a relação ideologia-gênero, a autora enfatiza que, “se o sistema sexo-

gênero é um conjunto de relações sociais que se mantém por meio da existência social, então

o gênero é efetivamente uma instância primordial da ideologia” (LAURETIS, 1994, p. 216).

Gênero é a construção cultural coletiva dos atributos da masculinidade e feminilidade. Esse conceito foi proposto para distinguir-se do conceito de sexo, que define as características biológicas de cada indivíduo. Para tornar-se homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo que chamamos de socialização de

gênero, baseado nas expectativas que a cultura tem em relação a cada sexo. Dessa forma, a identidade sexual é algo construído, que transcende o biológico. O sistema de gênero ordena a vida nas sociedades [...] distinguem-se os papéis do homem e da mulher na família, na divisão do trabalho, na oferta de bens e serviços e até na instituição e aplicação das normas legais (BRASIL, 2001, p. 14).

Vários estudos sobre gênero, como os de Marques e Amâncio (2004), Villela (2005),

Gomes, Nascimento e Araújo (2007) e Maciel (2009), demonstram que os homens assumem o

Page 11: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

10

papel de provedor, enfatizando o trabalho em detrimento da sua saúde, enquanto as mulheres,

mais preocupadas com o cuidado familiar, têm maior intimidade com e procuram mais os

serviços de saúde.

A divisão do mundo social nas categorias “masculino e feminino” significa que

meninos e meninas são socializados de modos diferentes. São educados para ter expectativas

diversas com relação à vida e para desenvolver a emoção e o intelecto de formas distintas,

além de estarem sujeitos, na vida diária, a diferentes normas de comportamentos, seja por

contribuição da biologia, seja pela cultura, que contribui com um conjunto de diretrizes

explícitas e implícitas que são adquiridas na primeira infância e ditam ao indivíduo como ele

deve perceber, pensar, sentir e agir como membro masculino ou feminino de uma sociedade

(HELMAN, 2007).

DeSouza, Baldwin e Rosa (2000, p. 490), citando Barker e Loewenstein (1997),

destacam que no Brasil, “mesmo considerando um aspeto chave de ser homem ‘pôr-se ativo

sexualmente’, associam ‘sustentar-se a si mesmo e a sua família’ como uma parte importante

de ser homem”. O homem é visto como o representante legal, o provedor, aquele que sustenta

a família.

Embora historicamente o papel de provedor esteja associado ao homem, quase metade

dos lares está sendo mantido pelas mulheres (BAPTISTA, 2010). Isso é consequência, em

grande medida, de transformações sociais que incluem a inserção da mulher no mercado de

trabalho e mudanças nas diferentes atribuições de cada membro da família contemporânea

(MACIEL, 2009).

Esse contexto social reflete inevitavelmente na saúde do homem. É o que revelam

estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde (MS), como o crescente aumento das causas

de mortalidade e, consequentemente, redução da expectativa de vida da população brasileira

masculina. Os indicadores de saúde demonstram que, a cada três mortes de pessoas adultas,

duas são de homens. Em cada grupo de cinco pessoas que morrem entre 20 e 30 anos, quatro

são homens. Em média, os homens vivem sete anos a menos que as mulheres (BRASIL,

2009a).

Schraiber, Gomes e Couto (2005) comentam que as investigações latino-americanas e

brasileiras sobre homens e saúde surgiram no final dos anos 1980 e seguem a tendência dos

estudos produzidos na Europa e nos Estados Unidos. Citam a pesquisa de Laurenti (1998)

sobre o perfil epidemiológico da saúde masculina na região das Américas, que destaca “um

diferencial entre os sexos, especialmente quanto a uma maior mortalidade masculina em todas

as idades, além da sobremortalidade neste sexo para a quase totalidade das causas”. O mesmo

Page 12: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

11

estudo aponta “predomínio do adoecimento feminino, constatado por indicadores de

morbidade, medidos pelas demandas dos serviços e inquéritos populacionais” (SCHRAIBER;

GOMES; COUTO, 2005, p. 9).

Nos últimos anos, países desenvolvidos e em desenvolvimento estão experimentando

um crescimento da mortalidade por doenças crônicas que influenciam na habilidade relativa

das atividades habituais, levando à diminuição da qualidade de vida e do aumento dos custos

da assistência à saúde (SOUZA et al., 2008; BRASIL, 2004).

Reunindo dados de estudos desenvolvidos por diversos autores, Souza et al. (2008)

acentuam que a ocorrência de fatores de risco associados a problemas de saúde varia segundo

sexo e situação social. Obesidade, sedentarismo, estresse, depressão, consequências de

gestações repetidas e pressões ligadas aos papéis sociais são os fatores que aumentam os

riscos de doenças em mulheres. Entre os homens, comportamentos de risco — excesso de

consumo de álcool, tabagismo, maior exposição a situações de violência, acidentes e riscos

ocupacionais — são mais frequentes e colaboram com o aumento de riscos de problemas de

saúde em longo prazo. “A presença desses e de outros fatores de riscos está associada ao

desempenho dos papéis sociais dos indivíduos, o que afeta diretamente tanto a qualidade de

vida quanto a percepção do estado de saúde” (SOUZA et al. 2008, p. 742).

Segundo Pinheiro et al. (2002), estudos norte-americanos revelam que os homens

sofrem mais de doenças crônicas fatais e referem mais restrições de atividades e incapacidade

de longa duração devido a problemas crônicos de saúde. As mulheres apresentam mais

frequentemente doenças agudas, transitórias e crônicas não fatais que, de modo geral,

apresentam baixa letalidade, causam incapacidade em muitos casos e geram grande volume de

demanda aos serviços públicos.

Na maioria das vezes, os homens recorrem aos serviços de saúde apenas quando a

doença está mais avançada. Assim, em vez de serem atendidos no posto de saúde, perto de sua

casa, eles precisam procurar um especialista, o que gera maior custo para o SUS e, sobretudo,

sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família (BRASIL, 2009a).

Uma das causas de morte que afeta mais homens que mulheres se associada com a

violência — problema que está afetando gravemente a humanidade. Segundo Fernandes

(2005), a violência está entre as principais causas de mortes de pessoas entre 15 e 44 anos. “O

uso intencional de força física e ou abuso de poder, contra outra pessoa, grupo ou comunidade

trazem impacto e conseqüências danosas para a humanidade” (BRASIL, 2003, p. 9). Para

Maciel (2009), essa situação demanda, dos profissionais e gestores de saúde, iniciativas para a

inclusão do homem nas ações de assistência e políticas públicas de saúde, partindo da

Page 13: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

12

compreensão de suas concepções acerca da atenção à sua saúde.

Foi considerando esse contexto que a Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) do

Ministério da Saúde (MS), responsável pela organização e elaboração de planos e políticas

públicas nacionais voltadas para a promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros,

elaborou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), com seus

princípios e diretrizes, reforçando a necessidade de uma atenção maior para alcançar bons

níveis de saúde para esta população (BRASIL, 2009a).

Nessa lógica, além de implantar o PNAISH, torna-se necessário que os profissionais

de saúde passem a incorporar métodos eficazes para trabalhar a saúde do homem nas rotinas

dos serviços de saúde. Apesar do tempo de criação dessa política pública, trata-se de um

universo novo para todos os envolvidos no processo, pensando-se no âmbito do Sistema

Único de Saúde (SUS), desde a porta de entrada do sistema — atenção primária —, até os

níveis de maior complexidade.

Maciel (2009, p. 23) enfatiza que “pela primeira vez, ao longo da história das políticas

de saúde, o homem ganha um espaço próprio e tem seus agravos reconhecidos como

problemas de saúde pública”. É importante destacar que o Brasil se tornou “o segundo país da

América que tem um setor para a saúde do homem; até então apenas o Canadá tinha esse

departamento” (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009, p. 662).

Schraiber, Gomes e Couto (2005), citando Keijzer (2003), informam que na América

Latina há uma quantidade crescente de programas que se voltam para a experiência de

homens em relação à sexualidade, reprodução, paternidade, violência ou a própria saúde. Os

autores acrescentam que Keijzer considera que a inclusão da temática “‘homens e saúde’

poderá ter como resultado a participação dos homens no alcance dos objetivos programáticos

dessas organizações, deslocando-se da visão tradicional do homem apenas como parte dos

problemas para concebê-lo também como parte da solução” (SCHRAIBER; GOMES;

COUTO, 2005, p. 9).

Com o objetivo de verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da

utilização dos serviços de saúde da população masculina do município de Balneário Piçarras

(SC), desenvolveu-se estudo transversal, utilizando inquérito de base populacional. Esta

pesquisa foi realizada por pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e

financiada com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Contou com bolsas de iniciação científica do Programa de Incentivo à Iniciação Científica

(Pibic) e apoio da administração municipal e do poder legislativo de Balneário Piçarras.

Page 14: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

13

Acredita-se que os inquéritos de base populacional são meios apropriados para a

obtenção dos novos indicadores necessários para o monitoramento do estado de saúde e do

desempenho dos sistemas de saúde, tendo como eixo a questão da equidade. Na área da saúde,

esses inquéritos foram elaborados e estão sendo empregados em países desenvolvidos desde o

final da década de 1950 (BERNARDI, 2008). Esses estudos devem dispor de dados

representativos do que ocorre na comunidade, em tempo oportuno, para serem utilizados em

planejamento, implementação e avaliação de intervenções de saúde (CAMPOS et al., 2006).

Page 15: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

14

2 OBJETIVOS DA PESQUISA

2.1 Objetivo geral

Verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da utilização dos serviços de

saúde por homens no município de Balneário Piçarras (SC), por meio de inquérito de base

populacional.

2.2 Objetivos específicos

• Verificar as características sociodemográficas: naturalidade, escolaridade, situação de

trabalho, religião, situação conjugal, raça, idade e renda per capita.

• Verificar a prevalência do estilo de vida: sedentarismo, tabagismo, hábitos alimentares,

obesidade e alcoolismo.

• Verificar a prevalência da morbidade referida para doenças crônicas não transmissíveis

(DCNT): hipertensão arterial, doenças cardíacas, diabetes mellitus e câncer de próstata.

• Verificar a prevalência da utilização dos serviços de saúde: acesso aos serviços de saúde,

realização de exames preventivos, serviços de saúde que utiliza e qual profissional da área de

saúde que procura.

Page 16: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

15

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta seção reúne formulações teóricas selecionadas a partir de pesquisa bibliográfica

que incluiu consulta a livros e revistas especializadas, artigos científicos e outras publicações

que abordam os temas de interesse deste estudo. Inicia com informações acerca de gênero e

morbidade e segue com abordagem sobre o homem e o acesso aos serviços de saúde, doenças

crônicas não transmissíveis e inquéritos de saúde de base populacional.

3.1 Gênero e morbidade

Estudos norte-americanos sobre homens e saúde tiveram início em 1970, sendo um

marco inicial as análises críticas ao modelo biomédico (GOMES; NASCIMENTO, 2006).

Para Sabo (2000), citado por Schraiber, Gomes e Couto (2005, p. 8), o trabalho de

investigação sobre a saúde dos homens nessa década foi “apenas exploratório, tangenciado

pela teoria e política feministas e organizava-se conceitualmente em torno da premissa de que

a masculinidade tradicional produzia déficit de saúde”. Nos anos 1980 essa “perspectiva

avança de forma mais consistente, observando-se, inclusive, uma mudança de terminologia:

de estudos dos homens para estudos de masculinidades” (SCHRAIBER; GOMES; COUTO,

2005, p. 8).

Os anos 90 consolidam as noções de poder, desigualdade e iniqüidade de gênero na maioria dos estudos sobre homens e saúde, articulando-as a outras, tais como raça/cor, etnia, orientação sexual, classe, geração, religião etc., a fim de se entender os processos de saúde e doença dos diferentes segmentos de homens. [...] Destaque-se que nos últimos anos, os referenciais conceituais de Connell (1995) e Kimmel (1992; 1997) vêm fundamentando análises de pesquisadores interessados nos processos de morbi-mortalidade em populações masculinas, tais como os [de] autores que defendem que a masculinidade hegemônica gera comportamentos danosos à saúde, fazendo emergir fatores de risco importantes para o adoecimento (SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005, p. 9).

Percebe-se que gênero foi um conceito “construído socialmente, buscando

compreender as relações estabelecidas entre os homens e as mulheres, os papéis que cada um

assume na sociedade e as relações de poder estabelecidas entre eles” (MELO; SANTOS;

COSTA, 2011, p. 4). Para Saffioti (1992, p. 10), “não basta que um dos gêneros conheça e

pratique atribuições que lhes são conferidas pela sociedade, é imprescindível que cada gênero

conheça as responsabilidades do outro gênero”, porque, “do lugar que é atribuído socialmente

Page 17: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

16

a cada um, dependerá a forma como se terá acesso à própria sobrevivência como sexo, classe

e raça, sendo que esta relação com a realidade comporta uma visão particular da mesma”

(CARLOTO, 2001, p. 2002).

O “quem somos” vai se constituindo através das relações com os outros, com o mundo dado, objetivo. Cada indivíduo encarna as relações sociais, configurando uma identidade pessoal, uma história de vida e um projeto de vida. Neste processo, o fato de se pertencer a um gênero ou outro, ser menino ou menina também conformam as referências iniciais no mundo. Neste processo, o fato de se pertencer a um gênero ou outro, ser menino ou menina também conforma as referências iniciais no mundo. [...] existe, portanto, uma expectativa de que as pessoas devem agir de acordo com suas predicações e ser tratadas como tal (CARLOTO, 2001, p. 204).

A autora continua argumentando que, de certa forma,

re-atualizamos, através de ritos sociais, uma identidade pressuposta, que assim é vista como algo dado. Com isso retira-se o caráter de historicidade da mesma, aproximando-se mais da noção de um mito que prescreve as condutas corretas, re-produzindo o social (CARLOTO, 2001, p. 204).

West e Fensternmaker (1997, p. 60) afirmam que “nenhuma pessoa pode conhecer

gênero sem simultaneamente conhecer raça e classe”, o modo de ser e de estar no mundo

advindo das relações de poder.

Homens e mulheres certamente não são construídos apenas através de mecanismos de repressão ou censura, eles e elas fazem também, através de práticas e relações que instituem gestos, modos de ser e de estar no mundo, formas de falar e de agir, condutas e posturas apropriadas (e usualmente, diversas). Os gêneros se produzem, portanto, nas e pelas relações de poder (LOURO, 1997, p. 41).

Para Saffioti (1992, p. 210), “a construção dos gêneros se dá através da dinâmica das

relações sociais. Os seres humanos só se constroem como tal em relação com os outros”. A

autora considera que não se trata de perceber apenas corpos que entram em relação com outro.

Enfatiza que “é a totalidade formada pelo corpo, pelo intelecto, pela emoção, pelo caráter do

Eu, que entra em relação com o outro. Cada ser humano é a história de suas relações sociais,

perpassadas por antagonismos e contradições de gênero, classe, raça/etnia” (SAFFIOTI, 1992,

p. 210).

Podemos dizer que “a categoria gênero incorpora atributos e funções — socialmente

construídos — que configuram diferenças e inter-relações entre os sexos, que vão além do

biológico” (FERNANDES, 2009, p. 706). Assim, acrescenta a autora, “ser homem ou ser

Page 18: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

17

mulher implica a incorporação desses atributos e funções, como forma de representar-se,

valorizar-se e atuar numa determinada cultura”.

Para Oliveira (2002, p. 68), “tanto as crenças quanto os padrões de comportamento dos

indivíduos fazem parte [de um] sistema de atenção à saúde e são, em grande parte, derivados

de regras culturais”.

Gomes e Nascimento (2006) destacam que, a partir da década de 1990, os debates

sobre o tema saúde do homem começaram a focalizar a ressignificação do masculino para

buscar-se uma saúde mais integral do homem. Nesse contexto, os autores fazem referência a

publicações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que passaram a considerar as

especificidades da saúde masculina ou o seu comprometimento em diferentes fases da vida.

Deve ser de entendimento de todos que os obstáculos e as resistências associadas à

saúde do homem, numa dimensão relacional de gênero, vêm das diferenças de papéis por

gênero, impostas e presentes no imaginário social (GOMES; NASCIMENTO: ARAÚJO,

2007). Isso faz com que se entendam os cuidados como próprios do âmbito feminino, faltando

a percepção de que, “quando influenciado por ideologias hegemônicas de gênero, o homem

pode colocar em risco tanto a saúde da mulher quanto a sua própria” (GOMES;

SCHRAIBER; COUTO, 2005, p. 4).

Os estudos de gênero apontam que é mais difícil “construir” um homem do que uma mulher pelas vicissitudes por que passa o gênero masculino para a construção de sua identidade e subjetividade, desde a concepção até a vida adulta viril. Os perigos começam desde a constituição biológica, perpassando a existência física, psicológica e sociocultural masculina (BRAZ, 2005, p. 100).

Segundo Dutra (2002), citado por Braz (2005, p. 100), “a masculinidade começa a ser

percebida como culturalmente construída, variando segundo as sociedades ou, no âmbito de

uma mesma sociedade, segundo diferentes períodos históricos”. Braz (2005, p. 101) afirma

que “esta constante questão de gênero que perpassa a conduta e os hábitos masculinos produz

não somente modos de vida, como também modos de adoecer e morrer”.

De acordo com Pinheiro et al. (2002), as diferenças de gênero no risco de adoecer variam de acordo com o estilo de vida (fumo, álcool, estresse, trabalho), fatores genéticos ou hormonais, como também com a biologia (maior vulnerabilidade masculina, mesmo na fase intra-uterina). Poucos estudos apontam para a forma como é estruturada a subjetividade masculina e sua possível relação com a morbi-mortalidade (BRAZ, 2005, p. 99).

No “Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de

Page 19: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

18

doenças e agravos não transmissíveis”, o Ministério da Saúde enfatiza que “a doença e a

saúde formam um processo dinâmico que reflete a ligação estrutural entre o corpo e a

sociedade, os quais são cruciais para se estudar a percepção do estado de saúde”. Acrescenta

que “as desigualdades sociais também podem ser verificadas por meio de avaliação dos

indicadores de saúde de determinada população, sendo que, em geral, os mais utilizados são

os relativos à mortalidade e a morbidade referida” (BRASIL, 2004, p. 159).

Medidas de mortalidade e morbidade referida e a restrição de atividades rotineiras são importantes indicadores das condições de saúde quando a população é homogênea. Neste sentido, esses indicadores são largamente utilizados para estudar demanda por serviços de saúde, avaliar as condições de saúde populacionais, avaliar as políticas de saúde e auxiliar na formulação de novas propostas de saúde pública, para que sejam melhoradas as condições de vida da população (BRASIL, 2004, p. 159).

Há que se considerar, como ressaltam Schraiber, Gomes e Couto (2005), que a

influência da socialização de gênero nos processos de morbidade relativos ao ambiente de

trabalho evidencia como o trabalho, tão importante na constituição da identidade masculina,

ou mesmo sua falta (o desemprego/a não-ocupação), tem consequências para o adoecimento e

o cuidado com a saúde. Os autores destacam o estresse ocupacional (especialmente

relacionado à competência e possibilidades de conseguir avanço na carreira), os riscos de

desempenho de tarefas perigosas, o não acatamento de normas de segurança no uso de

equipamentos e em certas atividades no trabalho, todos eles desempenhos ou comportamentos

bastante convergentes com os padrões constituintes do perfil masculino de morbi-mortalidade.

Em termos de perda de trabalho ou dificuldade de recolocação, há os comportamentos associados ao uso abusivo de álcool. A falta de trabalho (e impossibilidade de prover materialmente a família) é aspecto importante relacionado aos riscos de saúde dos homens. Por outro lado, quando se trata de cuidado com a saúde, o trabalho tem sido considerado como obstáculo para o acesso aos serviços de saúde ou a continuidade de tratamentos já estabelecidos. Falta de tempo, impossibilidade de deixar as atividades, ou medo de que a revelação do problema de saúde e a ausência para tratamento médico possam prejudicá-los, resultando em perda do posto de trabalho, são as preocupações em homens que adoecem no trabalho, por doenças ocupacionais ou não (SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005, p. 10-11).

As doenças ocupacionais constituem um grave problema de saúde pública em todo o

mundo. Os trabalhadores estão expostos aos riscos gerais e específicos relacionados às suas

atividades laborais, que são agravados pela falta ou inadequação de recursos materiais que

colaboram para as condições inseguras no trabalho. O desconhecimento em relação ao

Page 20: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

19

processo de trabalho e sua correlação com o processo saúde/doença, associado à falta de

informações sobre os riscos ocupacionais, deixa os profissionais mais susceptíveis aos

agravos à saúde decorrentes dos riscos ocupacionais (CAVALCANTE et al., 2006).

Nesse contexto, há que se considerar ainda que o homem assumiu diante da sociedade

o papel de “chefe de família”, de “macho”, e passa a maioria do tempo tentando provar para

os outros e para si mesmo que isso é verdadeiro; age conforme esse rótulo, que apresenta

muitos aspectos negativos, com ideias preconcebidas e sem fundamento. Com a agitação do

dia a dia, trabalho aumentando, cansaço acumulando, os compromissos se multiplicando,

aparece o resultado: a cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens; eles vivem,

em média, sete anos menos que as mulheres e têm mais doenças do coração, câncer, diabetes,

colesterol e pressão arterial elevada (BRASIL, 2009a).

Além das óbvias diferenças anatômicas e fisiológicas que caracterizam homens e mulheres, cada qual a seu tempo e modo, vivem experiências específicas, privadas e não compartilhada pelo sexo oposto. [...] Essa diversidade biológica e social é traduzida em coeficientes de incidência, prevalência ou mortalidade por causas específicas significantemente diferentes (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 1999, p. 112).

Nas sociedades em desenvolvimento, como o Brasil, onde a esperança de vida se

encontra em processo de aumento gradativo e constante, a mortalidade masculina está

aumentando e se distanciando da mortalidade feminina. Os anos potenciais de vida perdidos

são muito maiores para os homens do que para as mulheres. Os óbitos que levam a uma

enorme perda de potencial produtivo masculino ocorrem, em sua maioria, por causas

evitáveis, o que evidencia uma necessidade de estudos e intervenções para que essas

diferenças sejam minimizadas (SILVA et al., 2008).

3.2 O homem e o acesso aos serviços de saúde

Em 1977, na 30ª Assembleia Mundial de Saúde, foi lançado o movimento “Saúde para

todos no ano 2000”, sustentado na proposta de reestruturação da saúde pública. A expressão

saúde para todos se afirmou num compromisso entre os países das Nações Unidas durante a

Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada na cidade de Alma-

Ata (antiga União Soviética) em 1978 (BRASIL, 2000).

A 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa

(Canadá) em novembro de 1986, resultou na elaboração de um documento, a Carta de Ottawa,

Page 21: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

20

que enfatiza os seguintes pré-requisitos essenciais para a saúde: paz, educação, habitação,

poder aquisitivo, ecossistema estável, conservação dos recursos naturais e equidade. “A idéia

é a que a saúde é uma produção social, portanto é preciso construir ambientes saudáveis que

possibilitem que escolhas saudáveis sejam também as mais fáceis e de que há que se

promover saúde em todos os níveis do sistema” (SAUPE; WENDHAUSEN, 2006, p. 110).

No Brasil, nesse mesmo ano, foi publicado o relatório da 8ª Conferência Nacional de

Saúde, no qual se considera a saúde como “a resultante das condições de alimentação,

habitação, educação, renda, meio-ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,

acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde” (BRASIL, 1986, p. 04). A partir dessa

definição e graças aos novos rumos das políticas de saúde nos anos 1990, incentivados pelo

movimento de Reforma Sanitária, construiu-se o Sistema Único de Saúde, regulamentado

pelas leis orgânicas de saúde na mesma década (SECRETARIA DE ESTADO DE

SAÚDE/SC, 2002).

As ações do SUS são desenvolvidas de acordo com as diretrizes previstas no Art. 198

da Constituição Federal (BRASIL, 1988), pautando-se nos princípios de universalidade de

acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de atenção, integralidade de assistência,

equidade e participação da comunidade como corresponsável no processo saúde/doença. Cabe

ressaltar que o artigo 226 da Constituição Federal determina que “o Estado assegurará a

assistência à família, na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para

coibir a violência no âmbito de suas relações” (BRASIL, 1988).

O acesso aos serviços de saúde no Brasil começou a ser regulamentado por meio da

Portaria nº 648/GM, de 28 de março de 2006, que aprova a Política Nacional de Atenção

Básica (PNAB), enfatizando que essa atenção envolve o “exercício de práticas gerenciais e

sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipes dirigidas a

populações de territórios bem delimitados” (BRASIL, 2006). Orienta-se pelos princípios da

universalidade, acessibilidade e coordenação do cuidado, vínculo e continuidade,

integralidade, responsabilização, humanização, equidade e participação social.

O acesso à saúde, além da proporcionalidade entre serviços e usuários, implica uma

relação dinâmica entre as necessidades, aspirações e cultura da população, a demanda de

serviços e os recursos disponíveis para satisfazê-las. A Organização Mundial da Saúde

recomenda que a definição de “acessível” seja adaptada à realidade de cada região. Isso

significa pensar as necessidades da população não apenas em relação aos recursos

institucionais existentes, mas também como se apresentam as comunidades em relação à

localização para ter melhor acesso aos serviços de saúde (FRANÇOIS, 2008).

Page 22: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

21

A atenção básica constitui o primeiro nível de atenção à saúde, de acordo com o

modelo adotado pelo SUS. Engloba o conjunto de ações de caráter individual ou coletivo que

envolve a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o diagnóstico, o tratamento e a

reabilitação dos pacientes. Nesse nível de atenção à saúde, o atendimento ao usuário deve

seguir uma cadeia progressiva, garantindo o acesso aos cuidados e as tecnologias necessárias

e adequadas à prevenção e ao enfrentamento das doenças para prolongamento da vida

(BRASIL, 2005).

Essa atenção constitui o ponto de aproximação preferencial dos usuários com o SUS e

seu primeiro contato é realizado pelas especialidades básicas da saúde, que são: clínica

médica, pediatria, obstetrícia, ginecologia, inclusive as emergência nesta área (BRASIL,

2005). Não basta aguardar que os pacientes se interessem mais pela sua saúde e procurem

serviços específicos. É preciso que os profissionais da área promovam uma atenção mais

local, dividida por áreas de atuação dentro da comunidade, o que justifica a criação do

programa Estratégia Saúde da Família (ESF).

Nessa perspectiva, a Política Nacional de Atenção Básica visa atender o usuário,

considerando os condicionantes de saúde. Assim, a atenção à saúde pauta-se na integralidade

da assistência, nas condições socioeconômicas do usuário, suas potencialidades e

incapacidades de viver saudável e também no serviço de referência e contrarreferência para a

promoção e prevenção da saúde, tratamento de doenças e reabilitação (BRASIL, 2006).

A Saúde da Família é a estratégia para a organização da atenção básica do SUS.

Propõe a reorganização das práticas de saúde que leve em conta a necessidade de adequar as

ações e serviços à realidade da população em cada unidade territorial, definida em função das

características sociais, epidemiológicas e sanitárias. Busca uma prática que garanta a

promoção à saúde, a continuidade do cuidado, a integralidade da atenção, a prevenção e, em

especial, a responsabilização pela saúde da população, com ações permanentes de vigilância

em saúde (BRASIL, 2007). Substitui as práticas convencionais, eminentemente curativas e

emergenciais por atuação centrada nos princípios da vigilância em saúde (RUBIO, 2005) e,

quando bem estruturada, tem capacidade de resolver até 85% dos problemas de saúde da

comunidade assistida.

Uma unidade de saúde atende uma região geográfica bem delimitada, com uma

população definida por uma área de abrangência conhecida como território, que é a base do

trabalho das equipes da ESF para a prática da vigilância em saúde. Cabe salientar que a

territorialização é um dos princípios da atenção básica. O propósito fundamental desse

processo de saúde integral é permitir que se elejam prioridades para o enfrentamento dos

Page 23: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

22

problemas identificados nos territórios de atuação, o que refletirá na definição de ações mais

adequadas, contribuindo para o planejamento e a programação local. Para isso é necessário o

reconhecimento e mapeamento do território, segundo as lógicas das relações entre ambiente,

condições de vida, saúde e acesso às ações e serviços de saúde. Isso implica um processo de

coleta e sistematização de dados demográficos, socioeconômicos, político-culturais,

epidemiológicos e sanitários que, posteriormente, devem ser interpretados e atualizados

periodicamente pela equipe de saúde (BRASIL, 2007).

No entanto, para se pensar em uma assistência integral, com base na determinação

social do processo saúde/doença, é necessário fundamentar as ações centradas no usuário,

modificando a finalidade do processo de trabalho do modelo médico-curativo, que passa então

a ser a produção do cuidado e a autonomização do sujeito orientada pelos princípios da

integralidade e interdisciplinaridade, trabalho em equipe, humanização dos serviços e criação

de vínculos entre usuário, profissional e equipes de saúde (MEHRHY et al., 2006).

Esse entendimento nos remete a duas questões de fundamental importância. A primeira é a da prevenção propriamente dita, a qual não se faz sem educação. Sendo assim, para assistir a saúde do homem de maneira adequada, é preciso estar em contato com ele, fornecendo-lhe informações, para que possa ter uma qualidade melhor de vida e menor risco de adoecimento. O segundo fator é que a prevenção tem resultados no presente, mas seus benefícios são ainda maiores no longo prazo. Essa concepção aponta para a necessidade de cuidar da saúde do homem hoje, para que tenhamos amanhã idosos saudáveis e com melhor qualidade de vida (MACIEL, 2009, p. 17).

3.3 Doenças crônicas não transmissíveis e inquéritos de saúde de base populacional

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são causadas por comportamentos de

risco modificáveis, como estilo de vida, e não modificáveis, como sexo, idade, e herança

genética (BRASIL, 2009b).

Em 1999, estima-se que essas doenças causaram aproximadamente 60% dos óbitos em

todo o mundo e as previsões da OMS para 2020, com referência a países em desenvolvimento

ou recentemente industrializados, são de que haverá aumento de cerca de 50% nos óbitos por

essas causas (CAMPOS et al., 2006).

É nesse cenário que ganha destaque a epidemiologia, área do conhecimento que

agrega saberes de outras ciências, como a história, a estatística, a sociologia e a biologia, para

a compreensão do processo saúde/doença na comunidade. Através do método epidemiológico

se analisam a distribuição, os fatores determinantes, a prevalência, a incidência e a

Page 24: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

23

probabilidade de ocorrência desse processo (RUBIO, 2005).

A epidemiologia assumiu cada vez mais o positivismo na área das ciências naturais através do modelo da biologia, pois se a fisiopatologia se ocupa dos processos patológicos do organismo, a epidemiologia aborda mais os processos nas sociedades definindo-se essencialmente pelo caráter social (MEDRONHO, 2009, p. 07).

A ocorrência de agravos à saúde é um fenômeno que suscita grande interesse na

identificação de seus fatores ou mecanismos causais, o que contribui para o desenvolvimento

de ações de prevenção, controle e tratamento. Nesse sentido, as ciências biológicas

tradicionais, como anatomia, fisiologia, citologia, bacteriologia, virologia e histologia,

têm sido a base para a prática da medicina moderna. O conhecimento da doença nos níveis tecidual e celular, ou seja, a plausibilidade biológica pode facilitar o trabalho de inferência causal e a epidemiologia abre caminhos para hipóteses de plausibilidade biológica e vice-versa; ela relaciona a distribuição de doenças com as características das pessoas, adoecimento, fatores de incidência, prevalência meio ambiente e agravos à saúde (MEDRONHO, 2009, p. 153).

Mundialmente, os primeiros indicadores de saúde eram constituídos por medidas de

mortalidade, obtidas a partir de estatísticas de registros civil, referentes a grupos

populacionais e utilizadas tradicionalmente há mais de um século.

Ao longo dos últimos 50 anos, o foco de interesse em torno do desenvolvimento de

indicadores de saúde se deslocou progressivamente da mortalidade para a morbidade,

destacando-se a prevenção e o retardamento do adoecimento, para que as pessoas

desempenham suas atividades e desenvolvam seus papéis sociais, satisfazendo seu próprio

estado de saúde e de qualidade de vida (MEDRONHO, 2009).

O desenvolvimento de políticas de promoção da saúde requer avaliações confiáveis da

magnitude da morbimortalidade de doenças e dos eventos relacionados à saúde, assim como

informações do custo/efetividade de intervenções e de estratégias. Todos esses pontos são

críticos quando se trabalha com doenças não infecciosas, em sua maioria de evolução crônica

(CAMPOS et al., 2006).

Doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, hipercolesterolemia,

tabagismo, alcoolismo, obesidade e inúmeras doenças associadas a esses fatores, constituem

problemas relevantes em saúde pública em todo o globo. Estudo efetuado por Vartiainem et

al. (1995), citados por Campos et al. (2006), apontou que somente o tabagismo, a hipertensão

e a hipercolesterolemia explicam aproximadamente dois terços a três quartos das doenças

Page 25: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

24

cardíacas e acidentes vasculares cerebrais.

A vigilância de fatores de risco, até recentemente, era utilizada somente em países

desenvolvidos; no entanto, por iniciativa da OMS, temos assistido a uma expansão no uso

desse instrumento, de forma que permita a comparabilidade de dados entre diferentes países,

mas resultados ainda se mostram frágeis nos países em desenvolvimento (OMS, 2003).

A vigilância desempenhou importante papel nos Estados Unidos da América (EUA)

para a identificação da obesidade como uma prioridade em saúde pública nesse país,

permitindo documentar a epidemia e mensurar a efetividade de intervenções (STURM, 2003

apud CAMPOS et al., 2006).

O princípio básico da vigilância é o de que deve ser delineada e implementada para

oferecer, às autoridades sanitárias, informações válidas no momento oportuno e ao menor

custo possível (CAMPOS et al., 2006).

A vigilância em saúde necessita ser planejada e adequada ao nível de complexidade e

grau de desenvolvimento tecnológico dos sistemas de saúde nos quais será implantada. Para

Teutsch e Churchil (2000), citados por Campos et al. (2006), ao planejarmos desenvolver

sistemas de vigilância para específicos agravos à saúde é importante considerarmos os

seguintes objetivos:

� Identificar novas doenças ou eventos adversos à saúde.

� Detectar epidemias e documentar a disseminação de doenças.

� Estimar a magnitude da morbidade e mortalidade causadas por determinados

agravos.

� Identificar grupos e fatores de risco envolvendo a ocorrência de doenças, assim

como resíduos de fontes de infecção e de suscetíveis.

� Recomendar, com bases objetivas e científicas, as medidas necessárias para

prevenir ou controlar a ocorrência de específicos agravos à saúde.

� Avaliar o impacto de medidas de intervenções e a adequação das táticas e

estratégias aplicadas.

� Revisar práticas antigas e atuais de sistemas de vigilância com o objetivo de propor

novos instrumentos metodológicos.

O objetivo da vigilância em saúde não abrange somente a coleta de dados sobre

específicos eventos adversos à saúde e sua transformação em informações úteis, mas a

responsabilidade de analisar essa informação à luz do conhecimento científico e elaborar as

bases técnicas que subsidiarão os serviços de saúde na elaboração e implementação de

intervenções efetivas e eficientes como instrumento de saúde pública (CAMPOS et al., 2006).

Page 26: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

25

Esse é um processo que nunca está pronto e que configura distintas realidades de

saúde em diferentes regiões, a partir das quais devem ser planejados e organizados os serviços

desse setor, a fim de atender as necessidades da população em suas múltiplas dimensões e

peculiaridades (RUBIO, 2005).

É importante lembrar que a implantação do SUS iniciou com a promulgação das leis

8.080/90 e 8.142/90 (Leis Orgânicas da Saúde), que se pautaram na determinação

constitucional de que é dever do Estado desenvolver políticas sociais e econômicas que visem

à redução do risco de doenças e de outros agravos, garantindo o acesso universal e igualitário

às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1988). No

entanto, uma vez definidas em lei as diretrizes gerais do sistema,

era necessário transformá-las em práticas concretas nos estabelecimentos de saúde estatais e conveniados, hospitalares e da Atenção Básica. Era necessário debruçar-se sobre a gestão do SUS e confrontar-se com as práticas dominantes. [...] percebeu-se que a tão sonhada presença do Estado era insuficiente para alterar significativamente o padrão de funcionamento de hospitais e unidades básicas de saúde (CUNHA, 2004, p. 31).

Essa regulamentação do SUS também se dá através das Normas Operacionais Básicas

(NOB) do Ministério da Saúde que, articuladas às Leis Orgânicas da Saúde, definem

precisamente o que é obrigação de cada esfera de governo, garantindo a implementação de

políticas sociais e econômicas, a integralidade, a redução do risco de doenças e de outros

agravos, acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde (BRASIL, 2007).

Os vários avanços alcançados no setor da saúde, após a implantação do SUS e a ampliação

do acesso aos serviços de atenção básica, reforçam a atribuição de prioridades, enfatizando a

importância da prevenção, promoção e recuperação da saúde, bem como o acesso universal —

princípio segundo o qual qualquer cidadão brasileiro tem o direito de acessar serviços de saúde

com qualidade e integralidade da assistência —, ordenando o cuidado com a saúde nos níveis de

atenção básica, de média e de alta complexidade. Os serviços de saúde precisam estar

organizados em níveis de complexidade crescente, com tecnologia adequada para cada nível,

potencializando a resolutividade (DUNCAN; SCHMIDT; GIULIANI, 2004).

A garantia de acesso da população às unidades básicas de saúde (UBS) mais próximas

de suas casas, melhor infraestrutura, acolhimento qualificado, criação de novas políticas e

programas de saúde, acesso à assistência especializada, recursos humanos treinados e

qualificados são fundamentais para uma melhor resolutividade de problema de saúde, tendo

como pontos de referência os perfis demográfico e epidemiológico apresentados em cada

Page 27: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

26

região.

Segundo o Ministério da Saúde (2007), é sua função disponibilizar condições para a

proteção e recuperação da saúde da população, reduzindo as enfermidades e controlando as

doenças endêmicas e parasitárias, melhorando a vigilância à saúde, proporcionando mais

qualidade de vida ao brasileiro.

Ressalta-se que um dos princípios do SUS é a descentralização, entendida como a

redistribuição das responsabilidades às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de

governo,

a partir da ideia de que quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. [...] Deverá haver uma profunda redefinição das atribuições dos vários níveis de governo, com um nítido reforço do poder municipal sobre a saúde — é o que se chama municipalização da saúde. Aos municípios cabe, portanto, a maior responsabilidade na implementação das ações de saúde diretamente voltados para os seus cidadãos (BRASIL, 1990, p. 5).

Para que isso ocorra, o planejamento regional é uma exigência formal e deverá

expressar as responsabilidades dos gestores com a saúde da população do território. O

conjunto de objetivos e ações que contribuirão para a garantia do acesso e da integralidade da

atenção deve ser regido pelas prioridades e responsabilidades definidas regionalmente e

refletidas no plano de saúde de cada município e do estado, através de dados referentes aos

serviços de saúde prestados a essa população. Uma das atribuições das três esferas

governamentais (federal, estadual e municipal) é gerir os sistemas de informação

epidemiológica e sanitária e assegurar a divulgação de informações e análises (BRASIL,

2006).

Para atualizar essas informações no banco de dados referentes aos serviços de saúde,

muitos municípios, assim como o Ministério da Saúde, estão utilizando os inquéritos de base

populacional — metodologia que vem sendo empregada em países desenvolvidos desde o

final da década de 1950 e que, segundo Barros et al. (2008), permite obter novos indicadores

necessários para o monitoramento do estado de saúde e do desempenho dos sistemas de

saúde, tendo como eixo a questão da equidade.

Os inquéritos populacionais servem como documentos de informação importantes para

conhecimento da situação e do acesso aos serviços de saúde de determinada população e são

instrumentos utilizados para formular e avaliar políticas públicas de saúde (VIACAVA, 2002;

VASCONCELOS et al., 2003).

Viacava (2002) afirma que os inquéritos de saúde cobrem um variado repertório sobre

Page 28: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

27

as medidas de saúde e o uso de serviços nessa área, sendo possível, com eles, gerar

informações de saúde na visão do usuário dos serviços. Na medida em que este

autorreferencia sua condição de saúde e revela sua percepção sobre o acesso aos serviços de

saúde, contribui para planejar ações e políticas públicas nesse setor.

Page 29: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

28

4 MÉTODO

Esta seção se ocupa de descrever o percurso metodológico deste estudo, incluindo

informações sobre o tipo de pesquisa, local onde foi desenvolvida, população e amostra. São

apresentados as variáveis do estudo e os procedimentos de coleta, processamento e análise

dos dados, bem como os aspectos éticos envolvidos nesta investigação.

4.1 Desenho do estudo

O inquérito domiciliar realizado no município de Balneário Piçarras (SC) é um

estudo seccional de base populacional, caracterizado pela observação direta de determinada

população, que comumente está relacionada com critérios geográficos, políticos e

administrativos que a limitam em termos espaciais (MEDRONHO, 2009). As unidades de

observação de um estudo seccional costumam ser selecionadas aleatoriamente, isto é, por

algum método orientado apenas pelo acaso. É a estratégia de estudo epidemiológico que se

caracteriza pela observação direta de determinada quantidade planejada de indivíduos em uma

única oportunidade.

4.2 Local da pesquisa

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o município de

Balneário Piçarras possui uma população de 13.827 habitantes e uma área territorial de 86

Km². Está localizado no litoral norte de Santa Catarina e integra a Região da Foz do Rio

Itajaí, formada por onze municípios (Figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização de Balneário Piçarras (SC)

Fonte: Amfri (2012)

Page 30: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

29

A principal atividade econômica do município é o turismo, embora a pesca e a

agricultura sejam importantes para a economia local. O Produto Interno Bruto (PIB) per

capita é de 10.733 reais anuais. O sistema de saúde busca atender às diretrizes da Norma

Operacional Básica de Saúde (NOB/96) e da Norma Operacional de Atenção à Saúde

(NOAS/01), realizando atendimento em atenção primária em saúde, priorizando prevenção e

promoção da saúde. Conta com uma rede de seis unidades de saúde da família, um programa

de agentes comunitários de saúde, tendo uma cobertura de 100% da população, uma

policlínica e um laboratório.

4.3 População do estudo

A população pesquisada foi representada por 4.755 indivíduos do sexo masculino com

idade igual ou superior a 20 anos no momento da pesquisa, residentes no município de

Balneário Piçarras (SC). A escolha da faixa etária foi baseada na divisão dos grupos etários do

Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), de modo a excluir os menores de 20 anos.

4.4 Amostra

A amostra do estudo foi constituída de 523 homens, assim distribuídos por faixa

etária: 129 homens de 20 a 39 anos; 100 homens de 40 a 49 anos; 108 homens de 50 a 59

anos e 186 homens de 60 anos ou mais. Essa distribuição garantiu aos estimadores dos

parâmetros estudados um erro máximo de 5% com um grau de confiança de 95%.

4.5 Sensibilização para a pesquisa

Inicialmente foram realizadas reuniões com a administração municipal e

representantes da Secretaria Municipal de Saúde, para obter apoio do poder executivo para

realização do estudo. Em seguida foi promovida reunião com os envolvidos na pesquisa para

iniciar o treinamento da coleta de dados, com o objetivo de garantir a fidedignidade dos

dados.

4.6 Coleta de dados

As informações foram coletadas em um período de 24 mese e obtidas por meio de

Page 31: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

30

entrevistas domiciliares, com aplicação de formulários respondidos diretamente pelos homens

sorteados na Ficha A do SIAB, garantindo-se assim a aleatoriedade dos dados e,

consequentemente, maior confiabilidade das informações.

As entrevistas foram realizadas por 31 entrevistadores, entre agentes comunitários de

saúde (funcionários da Prefeitura de Balneário Piçarras), pesquisadores e bolsistas da Univali.

Foram formadas cinco equipes de coleta de dados, cada uma fazendo as entrevistas na sua

respectiva microárea (bairro) de atuação, conforme a territorialização estabelecida pelo

Programa de Saúde da Família.

Esses profissionais foram treinados por pesquisadores da Univali e gestores do

município, que deram ênfase à precisão das anotações. No decorrer do período de coleta

foram realizadas entrevistas de controle e confirmação dos dados pelos pesquisadores em

cada uma das áreas do município e novas reuniões com os entrevistadores para avaliação e

esclarecimento de dúvidas.

4.6.1 Instrumento de coleta de dados

O formulário utilizado para coleta de dados foi organizado em temáticas, com

questões fechadas, baseando-se em instrumentos já utilizados em outros estudos. A primeira

parte do questionário abordou os dados do entrevistador, constituindo um instrumento de

controle para a realização das visitas domiciliares.

A segunda parte se ocupou de dados sobre estado de saúde/morbidade referida,

conforme Cesar et al. (2005): doenças crônicas não transmissíveis que apresentou ou

apresenta nos últimos doze meses. Para esta pergunta, estabeleceu-se uma lista de 24 doenças

perguntadas ao entrevistado e um espaço para descrição de outras doenças que o acometeram

no período pregresso de um ano, a contar da data da realização da entrevista.

Para a análise dos dados, categorizaram-se as seguintes morbidades: diabetes mellitus,

hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, neoplasias. As variáveis para esses problemas

foram sim e não.

Na terceira parte constaram dados de identificação do domicílio e do entrevistado, que

originaram informações gerais sobre idade, renda familiar per capita, escolaridade, religião,

raça e situação de trabalho, de modo a estabelecer as condições sociodemográficas do

indivíduo. Essas temáticas foram elaboradas utilizando-se como base os questionários

aplicados no “Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de

doenças e agravos não transmissíveis”, realizado pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto

Page 32: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

31

Nacional do Câncer (Inca) (BRASIL, 2004) e no “Inquérito multicêntrico de saúde no estado

de São Paulo – ISA/SP” (CESAR et al., 2005).

Outra temática abordada foi o estilo de vida. Essa abordagem se justifica pela

relevância dessa dimensão para o aparecimento das DCNT. Foram formuladas questões

referentes a alimentação, sedentarismo, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e índice de

massa corporal (IMC). As questões foram elaboradas utilizando-se como referencial o

pentáculo do bem-estar (NAHAS, 2001) — instrumento validado que permite ao entrevistado

fazer uma análise do seu estilo de vida —; a tabela proposta pela OMS para o peso

recomendável; a aplicação do questionário CAGE para avaliação do alcoolismo e as questões

sobre tabagismo baseadas no ISA/SP. Para análise da morbidade referida e utilização dos

serviços de saúde, última temática do questionário, foram abordadas questões baseadas no

ISA/SP.

Os critérios de inclusão neste trabalho foram: ser homem, aceitar participar da

pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B); ter 20 anos

completos ou mais no dia da entrevista. Os critérios de exclusão foram: homens que não

aceitaram participar da pesquisa; que foram incapazes de responder ao questionário por

problemas mentais, déficits cognitivos, entre outros fatores limitantes. Não foi permitido ao

cuidador ou qualquer pessoa próxima responder ao questionário.

4.7 Variáveis do estudo

Dados de identificação:

– Endereço: local onde o entrevistado reside.

– Área e microárea: identificação da equipe de saúde da família à qual o entrevistado pertence

e qual é seu agente comunitário de saúde.

DCNT: diabetes, hipertensão arterial, doença do coração, neoplasias e outros.

Características sociodemográficas do indivíduo:

– Categorização da idade: 20 a 39 anos; 40 a 49 anos; 50 a 59 anos; 60 anos e mais.

– Sexo:

– Religião: autorreferida pelo entrevistado (categorização: católica, evangélica, outras).

– Raça: autorreferida pelo entrevistado (categorização: branca, negra, parda).

– Naturalidade: local de nascimento do indivíduo entrevistado. Seguiu-se a seguinte

Page 33: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

32

categorização: nascidos no município de Balneário Piçarras, nascidos no estado de Santa

Catarina, nascidos em outros estados ou outro país.

– Situação conjugal: foram considerados os indivíduos que possuem vínculo com

companheira e os que não possuem vínculo com companheira.

– Escolaridade: anos completos de frequência à escola (categorização: analfabeto, de 1 a 4

anos, 5 anos ou mais).

– Situação de trabalho: os indivíduos foram considerados em atividade remunerada e sem

atividade remunerada.

– Renda familiar em salários mínimos: esta categorização seguiu o salário mínimo específico

na época da pesquisa (R$ 510,00): menor que 01 salário mínimo, de 01 a 02 salários mínimos

e 03 ou mais salários mínimos.

Estilo de vida segundo Nahas (2001):

– Nutrição, atividade física e sedentarismo: utilizou-se a seguinte escala: 1. Não e às vezes; 2.

Quase sempre e sempre. Partindo desta categorização, foi utilizada a escala utilizada por

Ponte et al. (2005): 1 e 2 = escore negativo, 3 e 4 = escore positivo. As questões acerca desses

itens foram: Sua alimentação diária inclui ao menos 5 porções de frutas e verduras? Você

evita ingerir alimentos gordurosos (carnes gordas, frituras) e doces? Você faz 4 a 5 refeições

variadas ao dia, incluindo café da manhã completo? Você realiza ao menos 30 minutos de

atividades físicas moderadas/intensas, de forma contínua ou acumulada, 5 ou mais dias na

semana? Ao menos duas vezes por semana você realiza exercícios que envolvam força e

alongamento muscular? No seu dia-a-dia, você caminha ou pedala como meio de transporte?

– Altura e peso autorreferido: foram utilizados estes dados para calcular o IMC. A

categorização usada foi a proposta pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008):

IMC CLASSIFICAÇÃO < 22 kg/m² Baixo Peso > 22 e < 27 kg/m² Eutrófico > 27 kg/m² Sobrepeso – O questionário CAGE foi composto por quatro perguntas diluídas no instrumento de coleta

de dados: O senhor tem o hábito de ingerir bebida alcoólica? Alguma vez o senhor sentiu que

deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber? As pessoas o aborrecem porque

criticam seu modo de beber? O senhor se sente chateado consigo mesmo pela maneira como

costuma tomar bebida alcoólica? O senhor costuma beber pela manhã para diminuir o

nervosismo ou ressaca? Foi considerado positivo para dependência alcoólica quando duas ou

Page 34: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

33

mais perguntas tiveram resposta afirmativa, excetuando-se a primeira questão.

– Tabagismo: foram consideradas as variáveis sim para os indivíduos que referiram o hábito

de fumar no momento da pesquisa, não para os não fumantes, e ex-fumantes.

Utilização dos serviços de saúde segundo Cesar et al. (2005):

– Serviço de saúde que procura quando está apresentando problemas de saúde.

Categorizaram-se os seguintes serviços: hospital, clínica ou consultório privado, unidade

básica de saúde, farmácia, outros (benzedeira, igreja, pastoral da saúde). A variável foi sim e

não.

– Procura por serviços de prevenção à saúde. Categorizaram-se os seguintes serviços: exames

preventivos (PSA, Papanicolaou, mamografia), vacinação, exames de rotina (glicemia de

jejum, colesterol, triglicerídeos, EQU, hematócrito). A variável foi sim e não.

– Profissional que o entrevistado procura quando está apresentando algum problema de saúde.

Categorizaram-se os seguintes profissionais: médico, enfermeiro/técnico de enfermagem,

agente comunitário de saúde, dentista, outros profissionais. A variável foi sim e não.

4.8 Processamento e análise dos dados

Os dados foram codificados diretamente nos questionários e digitados no software

Excell para posteriormente serem transportados ao EPIINFO 6.0. A digitação foi realizada

simultaneamente por dois bolsistas, formando dois bancos de dados idênticos que foram

conferidos pelo pesquisador para garantir ausência de erros de digitação. A partir dessa etapa

foram realizadas as análises univariadas e construídos intervalos de confiança ao nível de 95%

das proporções encontradas.

4.9 Aspectos éticos

Os procedimentos do estudo se desenvolveram de forma a proteger a privacidade dos

indivíduos, garantindo a participação anônima e voluntária. Um consentimento informado,

assinado pelo respondente, foi uma exigência para a participação no estudo. Os critérios

definidos pelo Comitê de Ética da Univali e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

(Conep) foram seguidos. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com

Seres Humanos no Parecer nº 337/09.

Page 35: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

34

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados deste estudo são apresentados nesta seção de duas formas:

primeiramente os dados são descritos em texto e sintetizados em tabelas para em seguida se

realizar a discussão desses achados. Depois são reunidos em artigo elaborado para publicação

na revista Ciência & Saúde Coletiva.

5.1 Dados obtidos no estudo

Neste estudo, 8,0% (IC 95% 5,4 – 9,9) dos 523 homens entrevistados referiram portar

diabetes mellitus; 32,0% (IC 95% 27,8 – 35,7) hipertensão arterial; 8,6% (IC 95% 6,2 – 11,0)

alguma doença do coração; 1,2% (0,2 – 2,1) algum tipo de câncer e 16,3% (11,7 – 17,9)

outras patologias não relacionadas às DCNT (Tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para diabetes mellitus, hipertensão arterial, doenças do coração e câncer DCNT referida Total

n= 523 % IC

95%

Diabetes mellitus Sim 40 8,0 (5,4 – 9,9)

Não 483 92,0 (90,1 – 94,6)

Hipertensão arterial

Sim 166 32,0 (27,8 – 35,7)

Não 357 68,0 (64,3 – 72,2)

Doença do coração

Sim 45 8,6 (6,2 – 11,0)

Não 478 91,4 (89,0 – 93,8)

Câncer

Sim 06 1,2 (0,2 – 2,1)

Não 517 98,8 (97,9 –99,8)

Outros

Sim 76 16,3 (11,7 – 17,9)

Não 438 83,7 (82,1 – 88,3)

Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

No que se refere às características sociodemográficas (Tabela 02), verificou-se

prevalência de 35,5% (IC95% 33,4 – 37,6) de homens acima de 60 anos, seguida de 24,7%

(IC95% 22,8 – 26,6) de 20 a 39 anos; predomínio de católicos 74,5 % (IC 95%71,0 –79,0);

oriundos de municípios de Santa Catarina 75,3% (IC95% 73,4 – 77,2); casados 76,9%

Page 36: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

35

(IC95%75,1 - 78,7); com escolaridade de 0 a 3 anos de estudo 45,7% (IC95% 41,0 – 50,0) e

24,8% (IC 95% 21,0 – 28,0) de 4 a 7 anos, totalizando 70,5% dos homens com escolaridade

restrita ao primeiro grau.

Quanto à situação de trabalho, 55,2% (IC95% 51,0 – 60,0) exerciam alguma atividade

remunerada e 41,5% (IC95% 37,0 – 46,0) apresentavam outra condição, como aposentados ou

pensionistas. Com relação à renda, 32,0% (IC95% 28,0 – 36,0) dos entrevistados indicaram

uma faixa entre 03 e 04 salários mínimos e 25,7% (IC95%22,0 – 30,0) menos de um salário

mínimo.

Tabela 2 – Características sociodemográficas da amostra Características sociodemográficas

Total n= 523

% IC

95%

Idade categorizada 20 – 39 anos 129 24,7 (22,8 – 26,6)

40 – 49 anos 100 19,2 (17,5 – 20,9)

50 – 59 anos 108 20,6 (18,8 – 22,4)

> de 60 anos 186 35,5 (33,4 – 37,6)

Religião

Católica

390

74,5

(71,0 –79,0)

Evangélica 39 7,4 (5,0 – 10,0)

Outras* 91 17,3 (14,0 – 21,0)

Naturalidade

Piçarras

122

23,3

(21,5 – 25,1)

Estado de Santa Catarina 394 75,3 (73,4 – 77,2)

Outros estados 07 1,3 (0,8 - 1,8)

Situação conjugal

Solteiro 116 22,2 (20,4 – 24,0)

Casado 402 76,9 (75,1 - 78,7)

Viúvo/Separado 05 0,9 (0,5 – 1,3)

Escolaridade

0 – 03 anos 235 45,7 (41,0 – 50,0)

04 – 07 anos 127 24,8 (21,0 – 28,0)

08 – 11 anos 73 14,2 (11,0 – 17,0)

> de 12 anos 79 15,3 (12,0 – 18,0)

Situação de trabalho

Atividade remunerada 289 55,2 (51,0 – 60,0)

Desempregado

Outros*

17

217

3,3

41,5

(2,0 – 5,0)

(37,0 – 46,0)

Renda familiar per capita

< = 01 salário mínimo 123 25,7 (22,0 – 30,0)

01 – 02 salários mínimos 89 18,6 (15,0 – 22,0)

03 - 04 salários mínimos 153 32,0 (28,0 – 36,0)

> 05 salários mínimos 113 23,4 (20,0 – 27,0)

Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

Page 37: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

36

Quanto aos fatores de proteção (Tabela 3), observou-se prevalência de 57,0% (IC 95%

53,1 – 61,6) de homens que referiram a não ingestão de no mínimo cinco porções de frutas e

verduras diariamente; 63,0% (IC95% 64,3 – 72,2) não realizavam ao menos 30 minutos de

atividade físicas moderadas/intensas diariamente; 76,0% (IC95% 72,7 – 80,0) não realizavam

alongamento; 55,0% (IC95% 51,2 – 59,8) de homens que caminhavam ou pedalavam como

meio de transporte.

Tabela 3 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de proteção Fatores de proteção Total

n= 523 % IC

95% Consumo de frutas e verduras Sim 221 43,0 (38,4 – 46,9)

Não 297 57,0 (53,1 – 61,6)

Atividade física

Sim

192

37,0

(27,8 – 35,7)

Não 323 63,0 (64,3 – 72,2)

Alongamento

Sim

122

24,0

(20,0 – 27,3)

Não 394 76,0 (72,7 – 80,0)

Caminhada/pedaladas

Sim

Não

288

235

55,0

45,0

(51,2 – 59,8)

Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

No que tange aos fatores de risco, verificou-se alta prevalência de homens que

referiram não ingerir bebidas alcoólicas 98,0% (IC 95% 96,4 – 99,0); 63,0% (IC 95% 64,3 –

72,2) de homens que não apresentaram obesidade/sobrepeso e 76,0% (IC 95% 72,7 – 80,0)

que não fumavam (Tabela 4).

Tabela 4 – Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de risco Fatores de risco Total

n= 523 % IC

95%

Álcool

Sim 12 2 (1,0 – 3,6)

Não 505 98 (96,4 – 99,0)

Obesidade/sobrepeso

Sim

192

37,0

(27,8 – 35,7)

Não 323 63,0 (64,3 – 72,2)

Fumo

Sim

122

24,0

(20,0 – 27,3)

Não 394 76,0 (72,7 – 80,0) ____________________________________________________________________________________________

Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

Page 38: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

37

No que se refere à utilização dos serviços de saúde, 72,4% (IC95% 68,4 – 76,4) não os

procuravam. No entanto, quando necessitaram dos serviços de saúde, 79,0% (IC95% 75,5 –

82,5) procuraram a unidade básica de saúde. O profissional mais procurado na ocorrência de

problemas de saúde foi o médico em 76,7% dos casos, seguido pelo enfermeiro (23,5%), o

ACS como terceira opção (18,2%), e o dentista (8,1%) — este último foi o profissional menos

procurado (Tabela 5).

Tabela 5 – Distribuição da amostra segundo as variáveis: procura por serviços de saúde nos 15 dias anteriores à entrevista, serviço de saúde que procura e profissional que procura quando está com problemas de saúde Utilização dos serviços de saúde

Total n= 523

% IC

95%

Utiliza serviços de saúde Sim 135 27,6 (23,6 – 31,6)

Não 354 72,4 (68,4 – 76,4)

Serviço que procura

Hospital

Sim 14 2,7 (13,0 – 41,0)

Não 509 97,3 (95,9 – 98,7)

Unidade básica de saúde

Sim 413 79,0 (75,5 – 82,5)

Não 110 21,0 (17,5 – 24,5)

Pastoral

Sim 60 11,5 (8,7 – 14,2)

Não 463 88,5 (85,8 – 91,3)

Outros

Sim 59 11,3 (8,6 – 14,0)

Não 464 88,7 (86,0 – 91,4)

Profissional de saúde que procura

Médico

Sim 401 76,7 (73,0 – 80,3)

Não 122 23,3 (19,7 – 27,0)

Enfermeiro

Sim 123 23,5 (19,9 –27,2)

Não 400 76,5 (72,8 – 80,1)

Técnico de enfermagem

Sim 91 17,4 (14,2 – 20,6)

Não 432 82,6 (79,4 – 85,8)

Dentista

Sim 42 8.1 (5,7 – 10,4)

Não 481 91,9 (89,6 – 94,3)

Agente de saúde

Sim 95 18,2 (14,9 – 21,5)

Não 428 81,8 (78,5 – 85,1) Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

Page 39: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

38

5.2 Discussão dos resultados

Sabe-se que a utilização da morbidade referida tem limitação, pois pode estar, na

realidade, medindo a distribuição do acesso ao serviço na população e não a correta

distribuição da doença. Entretanto, estudo de validação realizado nos Estados Unidos,

utilizando o registro médico dos pacientes como padrão-ouro, revelou moderada sensibilidade

(73%) e especificidade (80%), sugerindo que a morbidade referida de DCNT pode ser um

instrumento útil para estimativas deste agravo na população (BRASIL, 2004; OPAS, 2003).

Idealmente, a determinação da prevalência do diabetes na população deveria ter como

parâmetro a medida de glicemia em jejum ou a prova de tolerância à glicose. Entretanto,

dados os altos custos e a complexidade de inquéritos com medidas laboratoriais, a vigilância

pode utilizar-se da morbidade referida, ou seja, do relato do diagnóstico médico ao paciente

diabético (BRASIL, 2004).

O diabetes tipo 2 é responsável por cerca de 90% dos casos da doença, sendo uma das

dez principais causas de morte no mundo. Ao contrário do que vem ocorrendo com a

hipertensão arterial e as doenças cardiovasculares, sua incidência está aumentando,

principalmente nos países em desenvolvimento, como consequência das mudanças nos

padrões nutricionais, que levam, especialmente, ao aumento da prevalência do sobrepeso e da

obesidade (OPAS, 2003; LESSA, 2004).

A pesquisa de “Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por

inquérito telefônico” de 2010 (Vigitel, 2010), desenvolvida a partir de dados referidos,

revelou frequência de adultos que referem diagnóstico médico prévio de diabetes entre 3,9%

em Boa Vista e 8,7% no Rio de Janeiro. No sexo masculino, as maiores frequências foram

observadas em Goiânia (7,7%), Aracaju (7,0%) e Maceió (6,3%), e as menores em Manaus

(3,1%), Boa Vista (3,5%) e Palmas (3,7%). Portanto, a prevalência de diabetes no município

estudado (8,0%) ficou entre as maiores observadas no país.

A hipertensão arterial em Balneário Piçarras teve prevalência de 32,0%, mostrando-se

superior aos resultados encontrados em estudos nacionais e de outros países da América

Latina, sendo que as maiores frequências no sexo masculino foram observadas no Distrito

Federal (28,8%), Belo Horizonte (25,1%) e Recife (23,6%), e as menores em Palmas (14,3%)

e Boa Vista (14,6%) (BRASIL, 2011).

A hipertensão afeta grande parcela da população brasileira — cerca de 30 milhões de

pessoas. Inicialmente a doença não apresenta sintomas e, quando eles aparecem, a doença já

está em estágio avançado. Segundo o Ministério da Saúde, o índice de pessoas hipertensas

Page 40: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

39

subiu de 21,5% em 2006 para 24,4% em 2009, devido aos males da vida moderna, como

sedentarismo, má alimentação com ingestão de muita comida industrializada e abuso do sal

(BRASIL, 2010a; BRASIL, 2010b).

A prevalência total das doenças isquêmicas do coração variou de 2,9% a 6,7% no

estudo do Inca (BRASIL, 2004). Em Balneário Piçarras foi de 8,6%, também maior quando

comparada às das capitais, o que demonstra a necessidade de maior atenção dos serviços

públicos no que se refere aos fatores de risco para todas as DCNT.

A mudança no perfil epidemiológico brasileiro nas últimas décadas acarretou

ampliação da expectativa de vida e, consequentemente, aumento da mortalidade por DCNT.

Também as chances de desenvolver o câncer aumentaram, considerando que, quanto mais

idosa for a pessoa, mais as experiências potencialmente carcinogênicas vão se acumulando e

favorecendo o aparecimento da disfunção celular e multiplicação atípica (HALLAL;

GOTLIEB; LATORRE, 2001).

Estudo utilizando o Sistema e Informações sobre Mortalidade e o Sistema de

Informações Hospitalares, entre os anos de 2002 e 2004, descreve que os óbitos por

neoplasias chegaram a 405.415, sendo que, destes, 52,13% ocorreram na região Sudeste e

20,96% na região Sul e em menor escala nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. No

gênero masculino, o câncer de traqueia, brônquios e pulmão apresentaram maior mortalidade,

seguidos do câncer de próstata (BOING; VARGAS; BOING, 2007).

No município de Balneário Piçarras, o câncer referido apresentou uma prevalência de

1,2%. Este dado também é superior ao do estudo multicêntrico em São Paulo (CESAR et al.,

2005), no qual a frequência de morbidade referida para o câncer foi de 0,5%.

É importante considerar que as frequências estimadas com base na informação dos

entrevistados estão fortemente influenciadas pela cobertura da assistência à saúde existente no

município estudado, superestimando a prevalência quando comparada a outros estudos. De

qualquer modo, são informações úteis para os gestores programarem ações de combate aos

fatores de risco por meio de um modelo de atenção à saúde que incorpore definitivamente

ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis

que atinge todos os públicos (BRASIL, 2006).

No que diz respeito ao gênero masculino, Silvério (2010) aponta algumas

características que precisam ser consideradas no momento de estabelecer estratégias para

atender as necessidades desse segmento que, por motivos culturais, precisam ser

contempladas, levando em conta algumas singularidades. A resistência em cuidar de sua

própria saúde é observada frequentemente. Esse comportamento pode estar relacionado à

Page 41: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

40

criação na infância e ao meio cultural que orientam os homens, tornando-os reféns de seus

próprios preconceitos. O modelo de masculinidade ainda está calcado em um ser viril,

dominante, caracterizado por comportamentos opostos aos praticados pelas mulheres.

Um conjunto de fatores responde pela maioria das complicações e mortes por DCNT.

Dentre eles, destacam-se os de natureza socioeconômica, o tabagismo, o consumo excessivo

de bebidas alcoólicas, a obesidade, as dislipidemias (determinadas principalmente pelo

consumo excessivo de gorduras saturadas de origem animal), a ingestão insuficiente de frutas,

legumes e verduras e o sedentarismo (BRASIL, 2009a).

No que se refere às características sociodemográficas, verificou-se, em Balneário

Piçarras, alta prevalência de homens acima de 60 anos, católicos, oriundos de municípios de

Santa Catarina, casados, com escolaridade restrita ao primeiro grau, exercendo alguma

atividade remunerada ou aposentados com baixa renda.

Esses resultados podem ser justificados pelo fato de o município estar localizado na

região litorânea do estado de Santa Catarina, onde muitas pessoas decidem residir, após serem

beneficiadas com a aposentadoria, na expectativa de melhor qualidade de vida com a redução

do estresse comum em regiões mais industrializadas. Isso pode explicar a procedência de

74,5% dos entrevistados naturais de outras cidades. Dados do IBGE (2010) demonstram que a

população de Balneário Piçarras apresentou um aumento de 36,1% desde o censo

demográfico anterior, realizado em 2000. O crescimento populacional tem apresentado, nos

últimos nove anos, uma taxa média de 3,5% ao ano.

Apesar de a OMS definir a população idosa como aquela a partir dos 60 anos de idade,

é difícil caracterizar uma pessoa como idosa, utilizando como único critério a idade, uma vez

que nesse segmento estão incluídos indivíduos com marcantes diferenças sociodemográficas.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), verifica-se um rápido

envelhecimento populacional nos países em desenvolvimento, o que acarreta alto impacto nas

políticas sociais destinadas aos idosos, uma vez que o bem-estar deve ser avaliado a partir de

uma perspectiva multidimensional que capta os itens básicos de sobrevivência, renda e

consumo, sendo as pensões relacionadas à renda essenciais para o bem-estar, a subsistência e

a inclusão econômica das pessoas idosas (IPEA, 2011).

Evidenciou-se alta prevalência de homens na faixa etária de 20 a 39 anos que também

necessitam de políticas específicas nas áreas de saúde, educação, ambiental e econômica,

porque os comportamentos e os estilos de vida individuais dessa parcela da população, assim

como seus cuidados de saúde, irão determinar futuras transformações no processo

saúde/doença, bem como transições demográficas e epidemiológicas do envelhecimento

Page 42: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

41

populacional.

Quanto ao predomínio da baixa escolaridade, pode ser justificada pelo fato de que, em

um passado recente, o acesso às instituições de ensino era dificultado pela distância da escola,

principalmente em cidades pequenas. Outro aspecto a ser considerado é que muitas vezes os

homens precisam optar entre os estudos e o trabalho, priorizando a necessidade de contribuir

no orçamento familiar. Quando casados, identificam-se prioritariamente como chefes de

família, assumindo a responsabilidade de exercer atividade remunerada.

Os fatores de proteção para DCNT avaliados foram a ingestão de porções de frutas e

verduras diariamente, a realização de atividades físicas moderadas/intensas, alongamento e

caminhadas ou pedaladas como meio de transporte. Segundo Lucchese e Castro (2010a), o

homem primitivo, para garantir sua sobrevivência, necessitava caminhar, correr, saltar e pular,

mas com o surgimento da civilização e o controle da energia elétrica, hidráulica e mecânica, o

homem passou a diminuir esses esforços, sendo a atividade física dispensável e eletiva.

Nesse contexto, o sedentarismo se tornou responsável por cerca de um terço das

mortes por doença coronariana, câncer de cólon e diabetes. Pode também estar associado à

baixa imunidade, ao comprometimento de diversos sistemas, ao aumento da prevalência de

obesidade, a lesões na coluna, infecções, osteoporose, hipertensão, diabetes, aumento do

colesterol e até à morte do indivíduo. O resultado encontrado de 63,0% de entrevistados não

realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas moderadas/intensas diariamente é

preocupante.

Contudo, verificou-se que 55,0% dos homens caminhavam ou pedalavam como meio

de transporte. Esse comportamento — muito comum em municípios pequenos, nos quais as

pessoas utilizam a bicicleta para a realização de atividades que exigem locomoção — pode ser

incentivado com políticas públicas que promovam esse hábito e tornem essa prática mais

segura, como, por exemplo, a construção de ciclovias.

Também preocupante é a não ingestão diária de cinco porções de frutas e verduras,

observada em 57,0% da amostra. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS,

2003), é recomendável um consumo diário de pelo menos cinco porções de frutas, verduras e

legumes, em torno de 400 gramas por dia. Esses alimentos contêm baixo teor calórico e

ajudam a manter um peso corporal saudável, reduzindo o risco de câncer e outras doenças

crônicas como a obesidade.

Estudo de Eyken e Moraes (2009) evidenciou que os homens apresentavam pelo

menos um dos fatores de risco (sobrepeso/obesidade, atividade física irregular/sedentarismo,

tabagismo, hipertensão arterial, diabetes). Estes autores afirmam que os homens sofrem

Page 43: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

42

influência cultural através de hábitos vivenciados diariamente entre seus amigos e familiares,

não se preocupando em realizar ações de vigilância das doenças referentes a fatores de riscos

inevitáveis e sua situação nutricional.

Quanto aos fatores de risco, os resultados apontaram alta prevalência de homens que

referiram não ingerir bebidas alcoólicas (98,0%) e 76,0% que não fumavam. De modo geral

são resultados muito positivos, pois o consumo de álcool é responsável por um conjunto de

problemas de saúde, como síndromes amnésica, demencial, alucinatória, delirante, de humor,

distúrbios de ansiedade, sexuais, do sono e distúrbios inespecíficos, e por fim o delirium

tremens, que pode levar à morte (PAINEIRAS, 2005).

Com base em dados da OMS, Bertolazzi (2010) informa que os homens iniciam

precocemente o consumo de álcool e por esse motivo tendem a beber mais e a ter mais

prejuízos em relação à saúde do que as mulheres. Acentua que a prevalência de dependentes

de álcool também é maior para o sexo masculino: 19,5% dos homens e 6,9% das mulheres

apresentam dependência. Diferentemente, nosso estudo aponta resultados bastante

animadores.

O mesmo acontece com relação ao tabagismo — considerado pela OMS a principal

causa de morte evitável em todo o mundo. Os homens também consomem cigarros com maior

frequência que as mulheres, o que acarreta maior vulnerabilidade às doenças cardiovasculares,

pulmonares, bucais e diferentes tipos de câncer. Pesquisas comprovam que aproximadamente

47% da população masculina e 12% da feminina fumam no mundo (BERTOLAZZI, 2010).

O sobrepeso e a obesidade também são fatores bastante preocupantes e atingiram 37%

dos homens entrevistados no município de Balneário Piçarras. Lucchese e Castro (2010b)

afirmam que no adulto a obesidade ou sobrepeso e colesterol elevado são fatores de risco

modificáveis para a hipertensão arterial. Os autores acentuam que a cada quilograma que a

pessoa perde, a pressão abaixa pelo menos um mmhg.

Nesse cenário epidemiológico das doenças crônicas não transmissíveis, destaca-se a

obesidade por ser simultaneamente uma doença e um fator de risco para outras doenças desse

grupo, pois o excesso de peso é a segunda causa evitável de câncer de esôfago, pâncreas, colo

retal, mama, endométrio, rim e vesícula, também representando risco para doenças

cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e diabetes tipo 2 (INCA, 2008). Para

reverter esse quadro, a atividade física, a reeducação alimentar e o acompanhamento

nutricional são essenciais.

No que se refere à utilização dos serviços de saúde, 72,4% dos homens entrevistados

indicaram não procurar os serviços de saúde. No entanto, quando necessitaram desses

Page 44: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

43

serviços, 79,0% se dirigiram à unidade básica de saúde. O profissional de saúde mais

procurado foi o médico em 76,7% dos casos, seguido pelo enfermeiro (23,5%), o ACS como

terceira opção (18,2%) e o dentista em 8,1% dos casos. Este último é o profissional menos

procurado.

Estudo realizado por Maciel (2009) revelou que os homens admitem a necessidade da

procura pelos serviços de saúde, mas declaram que não o fazem. O autor salienta que a cultura

de gênero assimilada pela população coloca o homem em situação de risco, na medida em que

o afasta dos serviços de prevenção de agravos e promoção à saúde.

Os dados obtidos em Balneário Piçarras também revelaram que a unidade básica de

saúde, em 79,0% dos casos, é a referência na atenção primária, funcionando como a porta de

entrada dos serviços de saúde. Ressalta-se a inexistência de um hospital no município, porém,

o transporte para deslocamento até um serviço hospitalar está à disposição dos usuários

quando necessário.

Contudo, o modelo biomédico tradicional, centrado no médico, é o norteador do

serviço também nesse município, uma vez que 76,7% dos participantes da pesquisa

procuraram esse profissional quando apresentaram problemas de saúde. É importante ressaltar

que o Ministério da Saúde preconiza um primeiro contato principalmente com os ACS, que

são os profissionais que estão mais integrados e que têm maior aproximação com a

comunidade.

Cabe descrever a capacidade de recursos humanos na área de saúde de Balneário

Piçarras. O município conta com 27 médicos, sendo que 21 deles atendem pelo SUS,

totalizando 1,8 médico/1.000 habitantes. Existem também 13 enfermeiros, o que significa 0,9

enfermeiro/1.000 habitantes, e 21 cirurgiões dentistas (de 1,4 dentista/1.000 habitantes)

vinculados ao SUS. Na Estratégia Saúde da Família, seis médicos atendem as seis equipes

existentes. A cidade possui também um programa de agentes comunitários de saúde, com uma

cobertura de 100% da população (DATASUS, 2010).

Publicação na revista Ciência & Saúde Coletiva

A seguir é apresentado artigo produzido a partir deste estudo e já formatado de acordo

com as normas determinadas pela revista Ciência & Saúde Coletiva.

Page 45: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

44

SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS DE SAÚDE

Benoni Sidinei Brizolla

Elisete Navas Sanches Próspero

RESUMO

Este estudo teve como objetivo verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da

utilização dos serviços de saúde por homens no município de Balneário Piçarras (SC), por

meio de um inquérito de base populacional. Desenvolveu-se estudo transversal com amostra

de 523 indivíduos, assumindo-se um erro amostral máximo de 5% e nível de confiança de

95%. Foram realizadas entrevistas domiciliares para obtenção de dados socioeconômicos,

demográficos e sobre as condições referidas de saúde. Quanto às doenças crônicas não

transmissíveis, observou-se 8,0% de homens portadores de diabetes mellitus; 32,0% de

hipertensão arterial; 8,6% de problemas cardíacos e 1,2% de câncer. Com relação aos fatores

de proteção, verificou-se que 57,0% referiram a não ingestão de no mínimo cinco porções de

frutas e verduras diariamente e 63,0% não realizavam ao menos 30 minutos de atividade

físicas moderadas/intensas diariamente. O principal fator de risco apresentado foi

obesidade/sobrepeso em 37,0% dos casos. Ressalta-se também a pouca procura pelos serviços

de saúde em 72,4% da amostra. O profissional mais procurado na ocorrência de problemas de

saúde foi o médico em 76,7% dos casos. Também foi evidenciado o crescimento da

morbidade por doenças crônicas que levam à diminuição da qualidade de vida e ao aumento

dos custos da assistência à saúde.

Palavras-chave: Saúde do homem, Acesso aos serviços de saúde, Inquérito epidemiológico.

Page 46: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

45

MEN'S HEALTH: MORBIDITY, LIFESTYLE AND UTILIZATION TO HEALTH SERVICES A

POPULATION-BASED SURVEY

ABSTRACT

This study aimed to determine the prevalence of morbidity, lifestyle and utilization to health

services for men in the city of Piçarras, 2010, through a population-based survey.

METHODS: cross-sectional population-based sample of 523 men was estimated the

population of men> 20 years, ensuring the estimators of the parameters studied to a maximum

error of 5% with a confidence level of 95%, household interviews were conducted to obtain

socioeconomic, demographic, health conditions listed. Results: In relation to NCDs was

observed 8.0% (95% CI 5.4 to 9.9) for men with diabetes mellitus, 32.0% (95% CI 27.8 to

35.7) Hypertension blood, 8.6% (95% CI 6.2 to 11.0) of heart problems, and 1.2% (95% CI

0.2 to 2.1) cancer. As for protective factors found a prevalence of 57.0% (95% CI 53.1 to

61.6) of men who reported not eating at least 05 servings of fruits and vegetables daily, 63.0%

(95% 64.3 to 72.2) do not achieve at least 30 minutes of moderate physical activity / intense

daily. The main risk factor was made of men who are obese / overweight by 37%. It also

stresses the lack of demand for health services in 72.4% (95% CI 68.4 to 76.4). However,

when looking for 79.0% (95% CI 75.5 to 82.5) seeking the Basic Health Professionals in the

most sought-occurrence of health problems is the physician in 76.7% of cases. This

municipality is also clear growth of morbidity from chronic diseases that affect the relative

skill of usual activities, leading to decreased quality of life and increased costs of health care.

Keywords: Men's health, Access to health services, Epidemiological survey.

Page 47: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

46

INTRODUÇÃO

Para se discutir a atenção que vem sendo dada aos homens no campo da saúde, faz-se

necessário examinar os estudos que consideram a diversidade e a multiplicidade de formas de

se vivenciar a masculinidade, em contraposição ao modelo hegemônico construído

socialmente1.

Com base em diferenças anatômicas e biológicas entre homens e mulheres, as

sociedades humanas costumam dividir sua população em dois grupos distintos: masculino e

feminino. Essa divisão se fundamenta em uma série de pressupostos (derivados da cultura em

que ocorrem) sobre os diferentes atributos, crenças e comportamentos característicos dos

indivíduos em cada uma das categorias2.

A sociedade é que impõe à mulher e ao homem certos comportamentos e certas

normas diferentes, incluindo um entendimento dos diferentes papéis e expectativas dos

gêneros dentro das comunidades. Para Cruz3, não existe um homem natural nem uma mulher

natural, o ser humano nasce sexualmente neutro, a sociedade é que constrói os papéis

masculinos ou femininos. ‘Gêneros’ são papéis socialmente construídos.

De acordo com a Política nacional de atenção integral à saúde do homem, gênero é

a construção cultural coletiva dos atributos da masculinidade e feminilidade. Para tornar-se

homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo chamado socialização de gênero,

baseado nas expectativas que a cultura tem em relação a cada sexo. Dessa forma, a identidade

sexual é algo construído, que transcende o biológico. O sistema de gênero ordena a vida nas

sociedades, distinguindo os papéis do homem e da mulher na família, na divisão do trabalho,

na oferta de bens e serviços e até na instituição e aplicação das normas legais4.

Vários estudos sobre gênero, como os de Marques e Amâncio5, Villela6, Gomes,

Nascimento e Araújo7 e Maciel8, demonstram que os homens assumem o papel de provedor,

Page 48: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

47

enfatizando o trabalho em detrimento da sua saúde, enquanto as mulheres, mais preocupadas

com o cuidado familiar, têm maior familiaridade com e procuram mais os serviços de saúde.

A divisão do mundo social nas categorias “masculino e feminino” significa que

meninos e meninas são socializados de modos diferentes. São educados para ter expectativas

diversas com relação à vida e para desenvolver a emoção e o intelecto de formas distintas,

além de estarem sujeitos, na vida diária, a diferentes normas de comportamentos, seja por

contribuição da biologia, seja pela cultura, que contribui com um conjunto de diretrizes

explícitas e implícitas que são adquiridas na primeira infância e ditam ao indivíduo como ele

deve perceber, pensar, sentir e agir como membro masculino ou feminino de uma sociedade2.

Esse contexto social reflete inevitavelmente na saúde do homem. É o que revelam

estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde, como o crescente aumento das causas de

mortalidade e, consequentemente, redução da expectativa de vida da população brasileira

masculina. Os indicadores de saúde demonstram que, a cada três mortes de pessoas adultas,

duas são de homens. Em cada grupo de cinco pessoas que morrem entre 20 a 30 anos, quatro

são homens. Em média, os homens vivem sete anos a menos que as mulheres9.

Schraiber et al10 comentam que as investigações latino-americanas e brasileiras sobre

homens e saúde surgiram no final dos anos 1980 e seguem a tendência dos estudos

produzidos na Europa e nos Estados Unidos. Citam pesquisa sobre o perfil epidemiológico da

saúde masculina na região das Américas que destaca um diferencial entre os sexos,

especialmente quanto a uma maior mortalidade masculina em todas as idades, além da

sobremortalidade neste sexo para a quase totalidade das causas. O mesmo estudo aponta

predomínio do adoecimento feminino, constatado por indicadores de morbidade, medidos

pelas demandas dos serviços e inquéritos populacionais10.

Nos últimos anos, países desenvolvidos e em desenvolvimento estão experimentando

um crescimento da mortalidade por doenças crônicas que influenciam na habilidade relativa

Page 49: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

48

das atividades habituais, levando à diminuição da qualidade de vida e ao aumento dos custos

da assistência à saúde11,12.

Souza et al11 acentuam que a ocorrência de fatores de risco associados a problemas de

saúde varia segundo sexo e situação social. Obesidade, sedentarismo, depressão, estresse, e

pressões ligadas aos papéis sociais são fatores que aumentam os riscos de doenças em

mulheres. Entre os homens, excesso de consumo de álcool, tabagismo, maior exposição a

situações de violência, acidentes e riscos ocupacionais são mais frequentes e colaboram com

aumento de riscos de problemas de saúde em longo prazo. A presença desses e de outros

fatores de riscos está associada ao desempenho dos papéis sociais dos indivíduos, o que afeta

diretamente tanto a qualidade de vida quanto a percepção do estado de saúde11.

Segundo Pinheiro et al13, estudos norte-americanos revelam que os homens sofrem de

mais doenças crônicas fatais e referem mais restrições de atividades e incapacidade de longa

duração devido a problemas crônicos de saúde.

Na maioria das vezes, os homens recorrem aos serviços de saúde apenas quando a

doença está mais avançada. Assim, em vez de serem atendidos no posto de saúde, perto de sua

casa, eles precisam procurar um especialista, o que gera maior custo para o SUS e, sobretudo,

sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família9.

Para Maciel8, essa situação demanda, dos profissionais e gestores de saúde, iniciativas

para a inclusão do homem nas ações de assistência e políticas públicas de saúde, partindo da

compreensão de suas concepções acerca da atenção à sua saúde.

Foi considerando esse contexto que a Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da

Saúde, responsável pela organização e elaboração de planos e políticas públicas nacionais

voltadas para a promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros, elaborou a Política

nacional de atenção integral à saúde do homem, com seus princípios e diretrizes, reforçando

a necessidade de uma atenção maior para alcançar bons níveis de saúde para esta população9.

Page 50: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

49

Nessa lógica, além de implantar tal política, torna-se necessário que os profissionais de

saúde passem a incorporar métodos eficazes para trabalhar a saúde do homem nas rotinas dos

serviços de saúde. Apesar do tempo de criação dessa política pública, trata-se de um universo

novo para todos os envolvidos no processo, pensando-se no âmbito do Sistema Único de

Saúde (SUS), desde a porta de entrada do sistema — atenção primária —, até os níveis de

maior complexidade.

Maciel8 enfatiza que pela primeira vez, ao longo da história das políticas de saúde, o

homem ganha um espaço próprio e tem seus agravos reconhecidos como problemas de saúde

pública. É importante destacar que o Brasil se tornou o segundo país da América que tem um

setor para a saúde do homem; até então apenas o Canadá tinha esse departamento14.

Schraiber et al10, citando Keijzer (2003), informam que na América Latina há uma

quantidade crescente de programas que se voltam para a experiência de homens em relação à

sexualidade, reprodução, paternidade, violência ou a própria saúde. Acrescentam que esse

autor considera que a inclusão da temática ‘homens e saúde’ poderá ter como resultado a

participação dos homens no alcance dos objetivos programáticos dessas organizações,

deslocando-se da visão tradicional do homem apenas como parte dos problemas para

concebê-lo também como parte da solução10.

Para a obtenção dos novos indicadores necessários para o monitoramento do estado de

saúde e desempenho dos sistemas de saúde, tendo como eixo a questão da equidade, são

utilizados os inquéritos de base populacional. Na área da saúde, esses inquéritos foram

elaborados e estão sendo empregados em países desenvolvidos desde o final da década de

195015. São estudos que devem dispor de dados representativos do que ocorre na comunidade,

em tempo oportuno, para serem utilizados em planejamento, implementação e avaliação de

intervenções de saúde16.

Com o objetivo de verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da

Page 51: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

50

utilização dos serviços de saúde da população masculina do município de Balneário Piçarras

(SC), desenvolveu-se estudo transversal, utilizando o inquérito de base populacional. Esta

pesquisa foi realizada por pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e

financiada com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Contou com bolsas de iniciação científica do Programa de Incentivo à Iniciação Científica

(Pibic) e apoio da administração municipal e do poder legislativo do Balneário Piçarras.

MÉTODO

O inquérito domiciliar realizado em Balneário Piçarras é um estudo seccional de base

populacional. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)17, o município

tem uma população de 13.827 habitantes e uma área territorial de 86 Km². Sua principal

atividade econômica é o turismo, embora a pesca e a agricultura sejam importantes para a

economia do município. O PIB per capita é de 10.733 reais anuais.

O sistema de saúde local busca atender às diretrizes da Norma Operacional Básica de

Saúde (NOB/96) e da Norma Operacional de Atenção à Saúde (NOAS/01), realizando

atendimento em atenção primária em saúde, priorizando prevenção e promoção da saúde.

Conta com uma rede de seis unidades de saúde da família, um programa de agentes

comunitários de saúde, tendo uma cobertura de 100% da população, uma policlínica e um

laboratório.

A população pesquisada foi representada por 4.755 indivíduos do sexo masculino com

idade igual ou superior a 20 anos no momento da pesquisa, residentes no município. A

amostra foi constituída de 523 homens assim distribuídos por faixa etária: 129 homens de 20

a 39 anos; 100 homens de 40 a 49 anos; 108 homens de 50 a 59 anos e 186 homens de 60

Page 52: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

51

anos ou mais. Essa distribuição garantiu aos estimadores dos parâmetros estudados um erro

máximo de 5% com um grau de confiança de 95%.

Os critérios de inclusão neste trabalho foram: ser homem, aceitar participar da

pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; ter 20 anos completos ou

mais no dia da entrevista. Os critérios de exclusão foram: homens que não aceitaram

participar da pesquisa; que foram incapazes de responder ao questionário por problemas

mentais, déficits cognitivos, entre outros. Não foi permitido ao cuidador ou qualquer pessoa

próxima responder ao questionário.

As informações foram coletadas em um período de 24 meses e obtidas por meio de

entrevistas domiciliares, com aplicação de formulários respondidos diretamente pelos homens

sorteados na Ficha A do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), garantindo-se

assim a aleatoriedade dos dados e, consequentemente, maior confiabilidade das informações.

As entrevistas foram realizadas por 31 entrevistadores, entre agentes comunitários de

saúde (funcionários da Prefeitura de Balneário Piçarras), pesquisadores e bolsistas da Univali.

Foram formadas cinco equipes de coleta de dados, cada uma fazendo as entrevistas na sua

respectiva microárea (bairro) de atuação, conforme a territorialização estabelecida pelo

Programa de Saúde da Família.

Esses profissionais foram treinados por pesquisadores da Univali e gestores do

município, que deram ênfase à precisão das anotações. No decorrer do período de coleta

foram realizadas entrevistas de controle e confirmação dos dados pelos pesquisadores em

cada uma das áreas do município e novas reuniões com os entrevistadores para avaliação e

esclarecimento de dúvidas.

O formulário utilizado para coleta de dados foi organizado em temáticas, utilizando-se

questões já validadas no Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade

referida de doenças e agravos não transmissíveis, realizado pelo Ministério da Saúde e pelo

Page 53: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

52

Instituto Nacional de Câncer (Inca)12, no Inquérito multicêntrico de saúde no Estado de São

Paulo (ISA/SP)18 e no pentáculo do bem-estar19. Para o cálculo do índice de massa corporal

(IMC) foi utilizada a tabela proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o peso

recomendável e o ISA/SP.

Os dados foram codificados diretamente nos questionários e digitados no software

Excell, para posteriormente serem transportados ao EPIINFO 6.0. A digitação foi realizada

simultaneamente por dois bolsistas, formando dois bancos de dados idênticos, que foram

conferidos pelo pesquisador para garantir ausência de erros de digitação. A partir dessa etapa

foram realizadas as análises univariadas e construídos intervalos de confiança ao nível de 95%

das proporções encontradas.

Os procedimentos do estudo se desenvolveram de forma a proteger a privacidade dos

indivíduos, garantindo a participação anônima e voluntária. Um consentimento informado,

assinado pelo respondente, foi uma exigência para a participação no estudo. Os critérios

definidos pelo Comitê de Ética da Univali e pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa

(Conep) foram seguidos. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com

Seres Humanos no Parecer nº 337/09.

RESULTADOS

Neste estudo, 8,0% dos 523 homens entrevistados referiram portar diabetes mellitus;

32,0% hipertensão arterial; 8,6% alguma doença do coração; 1,2% algum tipo de câncer e

16,3% outras patologias não relacionadas às DCNT (Tabela 1).

Page 54: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

53

Tabela 1. Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para diabetes mellitus, hipertensão arterial, doenças do coração e câncer DCNT referida Total

n= 523 % IC

95%

Diabetes mellitus Sim 40 8,0 (5,4 – 9,9)

Não 483 92,0 (90,1 – 94,6)

Hipertensão arterial

Sim 166 32,0 (27,8 – 35,7)

Não 357 68,0 (64,3 – 72,2)

Doença do coração

Sim 45 8,6 (6,2 – 11,0)

Não 478 91,4 (89,0 – 93,8)

Câncer

Sim 06 1,2 (0,2 – 2,1)

Não 517 98,8 (97,9 –99,8)

Outros

Sim 76 16,3 (11,7 – 17,9)

Não 438 83,7 (82,1 – 88,3)

Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

Quanto às características sociodemográficas (Tabela 2), verificou-se prevalência de

35,5% de homens acima de 60 anos, seguida de 24,7% de 20 a 39 anos; predomínio de

católicos 74,5%); oriundos de municípios de Santa Catarina 75,3%; casados 76,9%; com

escolaridade de 0 a 3 anos de estudo 45,7% e 24,8% de 4 a 7 anos, totalizando 70,5% dos

homens com escolaridade restrita ao primeiro grau.

No que se refere à situação de trabalho, 55,2% exerciam alguma atividade remunerada

e 41,5% apresentavam outra condição, como aposentados ou pensionistas. Com relação à

renda, 32,0% indicaram uma faixa entre 03 e 04 salários mínimos e 25,7% menos de um

salário mínimo.

Page 55: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

54

Tabela 2. Características sociodemográficas da amostra Características sociodemográficas

Total n= 523

% IC

95%

Idade categorizada 20 – 39 anos 129 24,7 (22,8 – 26,6)

40 – 49 anos 100 19,2 (17,5 – 20,9)

50 – 59 anos 108 20,6 (18,8 – 22,4)

> de 60 anos 186 35,5 (33,4 – 37,6)

Religião Católica

390

74,5

(71,0 –79,0)

Evangélica 39 7,4 (5,0 – 10,0)

Outras* 91 17,3 (14,0 – 21,0)

Naturalidade Piçarras

122

23,3

(21,5 – 25,1)

Estado de Santa Catarina 394 75,3 (73,4 – 77,2)

Outros estados 07 1,3 (0,8 - 1,8)

Situação conjugal

Solteiro 116 22,2 (20,4 – 24,0)

Casado 402 76,9 (75,1 - 78,7)

Viúvo/Separado 05 0,9 (0,5 – 1,3)

Escolaridade

0 – 03anos 235 45,7 (41,0 – 50,0)

04 – 07anos 127 24,8 (21,0 – 28,0)

08 – 11anos 73 14,2 (11,0 – 17,0)

> de 12anos 79 15,3 (12,0 – 18,0)

Situação de trabalho

Atividade remunerada 289 55,2 (51,0 – 60,0)

Desempregado

Outros*

17

217

3,3

41,5

(2,0 – 5,0)

(37,0 – 46,0)

Renda familiar per capita

< = 01 salário mínimo 123 25,7 (22,0 – 30,0)

01 - 02 salários mínimos 89 18,6 (15,0 – 22,0)

03 - 04 salários mínimos 153 32,0 (28,0 – 36,0)

> 05 salários mínimos 113 23,4 (20,0 – 27,0)

Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

Quanto aos fatores de proteção (Tabela 3), observou-se prevalência de 57,0% de

homens que referiram a não ingestão de no mínimo cinco porções de frutas e verduras

diariamente; 63,0% não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas

moderadas/intensas diariamente; 76,0% não realizavam alongamento; 55,0% de homens que

caminhavam ou pedalavam como meio de transporte.

Page 56: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

55

Tabela 3. Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de proteção Fatores de proteção Total

n= 523 % IC

95% Consumo de frutas e verduras Sim 221 43,0 (38,4 – 46,9)

Não 297 57,0 (53,1 – 61,6)

Atividade física Sim

192

37,0

(27,8 – 35,7)

Não 323 63,0 (64,3 – 72,2)

Alongamento Sim

122

24,0

(20,0 – 27,3)

Não 394 76,0 (72,7 – 80,0)

Caminhada/pedaladas

Sim

Não

288

235

55,0

45,0

(51,2 – 59,8)

Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

No que tange aos fatores de risco, verificou-se alta prevalência de homens que

referiram não ingerir bebidas alcoólicas (98,0%); 63,0% de homens que não apresentaram

obesidade/sobrepeso e 76,0% que não fumavam (Tabela 4).

Tabela 4. Distribuição da amostra segundo as variáveis autorreferidas para fatores de risco Fatores de Risco Total

n= 523 % IC

95%

Álcool Sim 12 2 (1,0 – 3,6)

Não 505 98 (96,4 – 99,0)

Obesidade/sobrepeso Sim

192

37,0

(27,8 – 35,7)

Não 323 63,0 (64,3 – 72,2)

Fumo Sim

122

24,0

(20,0 – 27,3)

Não 394 76,0 (72,7 – 80,0)

Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

No que se refere à utilização dos serviços de saúde, 72,4% não os procuravam. No

entanto, quando necessitaram desses serviços, 79,0% se dirigiram à unidade básica de saúde.

O profissional mais procurado na ocorrência de problemas de saúde foi o médico em 76,7%

Page 57: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

56

dos casos, seguido pelo enfermeiro (23,5%), o ACS como terceira opção (18,2%), e o dentista

(8,1%) — este último foi o profissional menos procurado (Tabela 5).

Tabela 5. Distribuição da amostra segundo as variáveis: procura por serviços de saúde nos 15 dias anteriores à entrevista, serviço de saúde que procura e profissional que procura quando está com problemas de saúde Utilização dos serviços de saúde

Total n= 523

% IC

95%

Utiliza serviços de saúde Sim 135 27,6 (23,6 – 31,6)

Não 354 72,4 (68,4 – 76,4)

Serviço que procura

Hospital

Sim 14 2,7 (13,0 – 41,0)

Não 509 97,3 (95,9 – 98,7)

Unidade básica de saúde

Sim 413 79,0 (75,5 – 82,5)

Não 110 21,0 (17,5 – 24,5)

Pastoral

Sim 60 11,5 (8,7 – 14,2)

Não 463 88,5 (85,8 – 91,3)

Outros

Sim 59 11,3 (8,6 – 14,0)

Não 464 88,7 (86,0 – 91,4)

Profissional de saúde que procura

Médico

Sim 401 76,7 (73,0 – 80,3)

Não 122 23,3 (19,7 – 27,0)

Enfermeiro

Sim 123 23,5 (19,9 –27,2)

Não 400 76,5 (72,8 – 80,1)

Técnico de enfermagem

Sim 91 17,4 (14,2 – 20,6)

Não 432 82,6 (79,4 – 85,8)

Dentista

Sim 42 8.1 (5,7 – 10,4)

Não 481 91,9 (89,6 – 94,3)

Agente de saúde

Sim 95 18,2 (14,9 – 21,5)

Não 428 81,8 (78,5 – 85,1)

Fonte: Inquérito Domiciliar, 2010, Município de Balneário Piçarras – SC

DISCUSSÃO

Sabe-se que a utilização da morbidade referida tem limitação, pois pode estar, na

Page 58: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

57

realidade, medindo a distribuição do acesso ao serviço na população e não a correta

distribuição da doença. Entretanto, estudo de validação realizado nos Estados Unidos,

utilizando o registro médico dos pacientes como padrão-ouro, revelou moderada sensibilidade

(73%) e especificidade (80%), sugerindo que a morbidade referida de DCNT pode ser um

instrumento útil para estimativas deste agravo na população12,20.

Idealmente, a determinação da prevalência do diabetes na população deveria ter como

parâmetro a medida de glicemia em jejum ou a prova de tolerância à glicose. Entretanto,

dados os altos custos e a complexidade de inquéritos com medidas laboratoriais, a vigilância

pode utilizar-se da morbidade referida, ou seja, do relato do diagnóstico médico ao paciente

diabético12.

O diabetes tipo 2 é responsável por cerca de 90% dos casos da doença, sendo uma das

dez principais causas de morte no mundo. Ao contrário do que vem ocorrendo com a

hipertensão arterial e as doenças cardiovasculares, sua incidência está aumentando,

principalmente nos países em desenvolvimento, como consequência das mudanças nos

padrões nutricionais, que levam, especialmente, ao aumento da prevalência do sobrepeso e da

obesidade20,21.

A pesquisa de Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por

inquérito telefônico (Vigitel) de 2010, desenvolvida a partir de dados referidos, revelou

frequência de adultos que referem diagnóstico médico prévio de diabetes entre 3,9% em Boa

Vista e 8,7% no Rio de Janeiro. No sexo masculino, as maiores frequências foram observadas

em Goiânia (7,7%), Aracaju (7,0%) e Maceió (6,3%), e as menores em Manaus (3,1%), Boa

Vista (3,5%) e Palmas (3,7%)22. Portanto, a prevalência de diabetes no município estudado

(8,0%) ficou entre as maiores observadas no país.

A hipertensão arterial em Balneário Piçarras teve prevalência de 32,0%, mostrando-se

superior aos resultados encontrados em estudos nacionais e de outros países da América

Page 59: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

58

Latina, sendo que as maiores frequências no sexo masculino foram observadas no Distrito

Federal (28,8%), Belo Horizonte (25,1%), e Recife (23,6%), e as menores em Palmas (14,3%)

e Boa Vista (14,6%)22.

A hipertensão afeta grande parcela da população brasileira — cerca de 30 milhões de

pessoas. Inicialmente a doença não apresenta sintomas e, quando eles aparecem, a doença já

está em estágio avançado. Segundo o Ministério da Saúde, o índice de pessoas hipertensas

subiu de 21,5% em 2006 para 24,4% em 2009, devido aos males da vida moderna, como

sedentarismo, má alimentação com ingestão de muita comida industrializada e abuso do

sal23,24.

A prevalência total das doenças isquêmicas do coração variou de 2,9% a 6,7% no

estudo do Inca12. Em Balneário Piçarras foi de 8,6%, também maior quando comparada às das

capitais, o que demonstra a necessidade de maior atenção dos serviços públicos no que se

refere aos fatores de risco para todas as DCNT.

A mudança no perfil epidemiológico brasileiro nas últimas décadas acarretou

ampliação da expectativa de vida e, consequentemente, aumento da mortalidade por DCNT.

Também as chances de desenvolver o câncer aumentaram, considerando que, quanto mais

idosa for a pessoa, mais as experiências potencialmente carcinogênicas vão se acumulando e

favorecendo o aparecimento da disfunção celular e multiplicação atípica25.

Estudo utilizando o Sistema e Informações sobre Mortalidade e o Sistema de

Informações Hospitalares, entre os anos de 2002 e 2004, descreve que os óbitos por

neoplasias chegaram a 405.415, sendo que, destes, 52,13% ocorreram na região Sudeste e

20,96% na região Sul e em menor escala nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. No

gênero masculino, o câncer de traqueia, brônquios e pulmão apresentaram maior mortalidade,

seguidos do câncer de próstata26.

No município de Balneário Piçarras, o câncer referido apresentou uma prevalência de

Page 60: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

59

1,2%. Este dado também é superior ao do estudo multicêntrico em São Paulo18, no qual a

frequência de morbidade referida para o câncer foi de 0,5%.

É importante considerar que as frequências estimadas com base na informação dos

entrevistados estão fortemente influenciadas pela cobertura da assistência à saúde existente no

município estudado, superestimando a prevalência quando comparada a outros estudos. De

qualquer modo, são informações úteis para os gestores programarem ações de combate aos

fatores de risco por meio de um modelo de atenção à saúde que incorpore definitivamente

ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis

que atinge todos os públicos27.

No que diz respeito ao gênero masculino, Silvério28 aponta algumas características que

precisam ser consideradas no momento de estabelecer estratégias para atender as necessidades

desse segmento que, por motivos culturais, precisam ser contempladas, levando em conta

algumas singularidades. A resistência em cuidar de sua própria saúde é observada

frequentemente. Esse comportamento pode estar relacionado à criação na infância e ao meio

cultural que orientam os homens, tornando-os reféns de seus próprios preconceitos. O modelo

de masculinidade ainda está calcado em um ser viril, dominante, caracterizado por

comportamentos opostos aos praticados pelas mulheres.

Um conjunto de fatores responde pela maioria das complicações e mortes por DCNT.

Dentre eles, destacam-se os de natureza socioeconômica, o tabagismo, o consumo excessivo

de bebidas alcoólicas, a obesidade, as dislipidemias (determinadas principalmente pelo

consumo excessivo de gorduras saturadas de origem animal), a ingestão insuficiente de frutas,

legumes e verduras e o sedentarismo9.

No que se refere às características sociodemográficas, verificou-se, em Balneário

Piçarras, alta prevalência de homens acima de 60 anos, católicos, oriundos de municípios de

Santa Catarina, casados, com escolaridade restrita ao primeiro grau, exercendo alguma

Page 61: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

60

atividade remunerada ou aposentados com baixa renda.

Esses resultados podem ser justificados pelo fato de o município estar localizado na

região litorânea do estado de Santa Catarina, onde muitas pessoas decidem residir, após serem

beneficiadas com a aposentadoria, na expectativa de melhor qualidade de vida com a redução

do estresse comum em regiões mais industrializadas. Isso pode explicar a procedência de

74,5% dos entrevistados naturais de outras cidades. Dados do IBGE17 demonstram que a

população de Balneário Piçarras apresentou um aumento de 36,1% desde o censo

demográfico anterior, realizado em 2000. O crescimento populacional tem apresentado, nos

últimos nove anos, uma taxa média de 3,5% ao ano.

Apesar de a OMS definir a população idosa como aquela a partir dos 60 anos de idade,

é difícil caracterizar uma pessoa como idosa, utilizando como único critério a idade, uma vez

que nesse segmento estão incluídos indivíduos com marcantes diferenças sociodemográficas.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)29, verifica-se um rápido

envelhecimento populacional nos países em desenvolvimento, o que acarreta alto impacto nas

políticas sociais destinadas aos idosos, uma vez que o bem-estar deve ser avaliado a partir de

uma perspectiva multidimensional que capta os itens básicos de sobrevivência, renda e

consumo, sendo as pensões relacionadas à renda essenciais para o bem-estar, a subsistência e

a inclusão econômica das pessoas idosas.

Evidenciou-se alta prevalência de homens na faixa etária de 20 a 39 anos que também

necessitam de políticas específicas nas áreas de saúde, educação, ambiental e econômica,

porque os comportamentos e os estilos de vida individuais dessa parcela da população, assim

como seus cuidados de saúde, irão determinar futuras transformações no processo

saúde/doença, bem como transições demográficas e epidemiológicas do envelhecimento

populacional.

Quanto ao predomínio da baixa escolaridade, pode ser justificada pelo fato de que, em

Page 62: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

61

um passado recente, o acesso às instituições de ensino era dificultado pela distância da escola,

principalmente em cidades pequenas. Outro aspecto a ser considerado é que muitas vezes os

homens precisam optar entre os estudos e o trabalho, priorizando a necessidade de contribuir

no orçamento familiar. Quando casados, identificam-se prioritariamente como chefes de

família, assumindo a responsabilidade de exercer atividade remunerada.

Os fatores de proteção para DCNT avaliados foram a ingestão de porções de frutas e

verduras diariamente, a realização de atividades físicas moderadas/intensas, alongamento e

caminhadas ou pedaladas como meio de transporte. Segundo Lucchese e Castro30, o homem

primitivo, para garantir sua sobrevivência, necessitava caminhar, correr, saltar e pular, mas

com o surgimento da civilização e o controle da energia elétrica, hidráulica e mecânica, o

homem passou a diminuir esses esforços, sendo a atividade física dispensável e eletiva.

Nesse contexto, o sedentarismo se tornou responsável por cerca de um terço das

mortes por doença coronariana, câncer de cólon e diabetes. Pode também estar associado à

baixa imunidade, ao comprometimento de diversos sistemas, ao aumento da prevalência de

obesidade, a lesões na coluna, infecções, osteoporose, hipertensão, diabetes, aumento do

colesterol e até à morte do indivíduo. O resultado encontrado de 63,0% de entrevistados que

não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas moderadas/intensas diariamente é

preocupante.

Contudo, verificou-se que 55,0% dos homens caminhavam ou pedalavam como meio

de transporte. Esse comportamento — muito comum em municípios pequenos, nos quais as

pessoas utilizam a bicicleta para a realização de atividades que exigem locomoção — pode ser

incentivado com políticas públicas que promovam esse hábito e tornem essa prática mais

segura, como, por exemplo, a construção de ciclovias.

Também preocupante é a não ingestão diária de cinco porções de frutas e verduras,

observada em 57,0% da amostra. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde20, é

Page 63: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

62

recomendável um consumo diário de pelo menos cinco porções de frutas, verduras e legumes,

em torno de 400 gramas por dia. Esses alimentos contêm baixo teor calórico e ajudam a

manter um peso corporal saudável, reduzindo o risco de câncer e outras doenças crônicas

como a obesidade.

Estudo de Eyken e Moraes31 evidenciou que os homens apresentavam pelo menos um

dos fatores de risco (sobrepeso/obesidade, atividade física irregular/sedentarismo, tabagismo,

hipertensão arterial, diabetes). Estes autores afirmam que os homens sofrem influência

cultural através de hábitos vivenciados diariamente entre seus amigos e familiares, não se

preocupando em realizar ações de vigilância das doenças referentes a fatores de riscos

inevitáveis e sua situação nutricional.

Quanto aos fatores de risco, os resultados apontaram alta prevalência de homens que

referiram não ingerir bebidas alcoólicas (98,0%) e 76,0% que não fumavam. De modo geral

são resultados muito positivos, pois o consumo de álcool é responsável por um conjunto de

problemas de saúde, como síndromes amnésica, demencial, alucinatória, delirante, de humor,

distúrbios de ansiedade, sexuais, do sono e distúrbios inespecíficos, e por fim o delirium

tremens, que pode levar à morte32.

Com base em dados da OMS, Bertolazzi33 informa que os homens iniciam

precocemente o consumo de álcool e por esse motivo tendem a beber mais e a ter mais

prejuízos em relação à saúde do que as mulheres. Acentua que a prevalência de dependentes

de álcool também é maior para o sexo masculino: 19,5% dos homens e 6,9% das mulheres

apresentam dependência. Diferentemente, nosso estudo aponta resultados bastante

animadores.

O mesmo acontece com relação ao tabagismo — considerado pela OMS a principal

causa de morte evitável em todo o mundo. Os homens também consomem cigarros com maior

frequência que as mulheres, o que acarreta maior vulnerabilidade às doenças cardiovasculares,

Page 64: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

63

pulmonares, bucais e diferentes tipos de câncer. Pesquisas comprovam que aproximadamente

47% da população masculina e 12% da feminina fumam no mundo33.

O sobrepeso e a obesidade também são fatores bastante preocupantes e atingiram 37%

dos homens entrevistados no município de Balneário Piçarras. Lucchese e Castro34 afirmam

que no adulto a obesidade ou sobrepeso e colesterol elevado são fatores de risco modificáveis

para a hipertensão arterial. Os autores acentuam que a cada quilograma que a pessoa perde, a

pressão abaixa pelo menos um mmhg.

Nesse cenário epidemiológico das doenças crônicas não transmissíveis, destaca-se a

obesidade por ser simultaneamente uma doença e um fator de risco para outras doenças desse

grupo, pois o excesso de peso é a segunda causa evitável de câncer de esôfago, pâncreas, colo

retal, mama, endométrio, rim e vesícula, também representando risco para doenças

cardiovasculares, hipertensão, diabetes tipo 2 e acidente vascular cerebral35. Para reverter esse

quadro, a atividade física, a reeducação alimentar e o acompanhamento nutricional são

essenciais.

No que se refere à utilização dos serviços de saúde 72,4% dos homens entrevistados

não procuravam os serviços de saúde. No entanto, quando necessitaram desses serviços,

79,0% se dirigiram à unidade básica de saúde. O profissional de saúde mais procurado foi o

médico em 76,7% dos casos, seguido pelo enfermeiro (23,5%), o ACS como terceira opção

(18,2%) e o dentista em 8,1% dos casos. Este último foi o profissional menos procurado.

Estudo realizado por Maciel8 revelou que os homens admitem a necessidade da

procura pelos serviços de saúde, mas declaram que não o fazem. O autor afirma que a cultura

de gênero assimilada pela população coloca o homem em situação de risco, na medida em que

o afasta dos serviços de prevenção de agravos e promoção à saúde.

Os dados obtidos em Balneário Piçarras também revelaram que a unidade básica de

saúde, em 79,0% dos casos, é a referência na atenção primária, funcionando como a porta de

Page 65: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

64

entrada dos serviços de saúde. Ressalta-se a inexistência de um hospital no município, porém,

o transporte para deslocamento até um serviço hospitalar está à disposição dos usuários

quando necessário.

Contudo, o modelo biomédico tradicional, centrado no médico, é o norteador do

serviço também nesse município, uma vez que 76,7% dos participantes da pesquisa

procuraram esse profissional quando apresentaram problemas de saúde. É importante ressaltar

que o Ministério da Saúde preconiza um primeiro contato principalmente com os ACS, que

são os profissionais que estão mais integrados e que têm maior aproximação com a

comunidade.

Cabe descrever a capacidade de recursos humanos na área de saúde de Balneário

Piçarras. O município conta com 27 médicos, sendo que 21 deles atendem pelo SUS,

totalizando 1,8 médico/1.000 habitantes. Existem também 13 enfermeiros, o que significa 0,9

enfermeiro/1.000 habitantes, e 21 cirurgiões dentistas (de 1,4 dentista/1.000 habitantes)

vinculados ao SUS. Na Estratégia Saúde da Família, seis médicos atendem as seis equipes

existentes. A cidade possui também um programa de agentes comunitários de saúde, com uma

cobertura de 100% da população36.

Page 66: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

65

CONCLUSÃO

A partir dos resultados sobre a saúde do homem residente em Balneário Piçarras é

possível afirmar que as prevalências de diabetes (8,0%,), de hipertensão arterial (32,0%), das

doenças isquêmicas do coração (8,6%) e de câncer (1,2%) são superiores aos achados dos

estudos nacionais e de outros países da América Latina.

No que se refere às características sociodemográficas, verificou-se alta prevalência de

homens acima de 60 anos, católicos, oriundos de municípios de Santa Catarina, casados, com

escolaridade restrita ao primeiro grau, exercendo alguma atividade remunerada ou

aposentados, com baixa renda.

Quanto aos fatores de proteção para DCNT, o resultado encontrado de 63,0% de

entrevistados que não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas

moderadas/intensas diariamente é preocupante. Contudo, verificou-se que 55,0% dos homens

caminhavam ou pedalavam como meio de transporte, sendo esse comportamento muito

comum em municípios pequenos, onde as pessoas utilizam a bicicleta para a realização de

atividades que exigem locomoção. Também preocupante foi a não ingestão de cinco porções

de frutas e verduras observada em 57,0% dos homens.

Em relação aos fatores de risco, resultados positivos foram observados nos hábitos de

fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Observou-se alta prevalência de homens que referiram não

ingerir bebidas alcoólicas (98,0%) e não fumar (76,0%). No entanto, o sobrepeso e a

obesidade são fatores bastante preocupantes e atingiram 37% dos homens entrevistados no

município de Balneário Piçarras.

Quanto à utilização dos serviços de saúde, 72,4% não procuravam os serviços de

saúde. No entanto, quando necessitaram desses serviços, 79,0% se dirigiram para a unidade

básica de saúde. O profissional de saúde mais procurado foi o médico em 76,7% dos casos,

Page 67: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

66

seguido pelo enfermeiro (23,5%), o agente comunitário da saúde (ACS) como terceira opção

(18,2%) e o dentista em 8,1% dos casos. Este último foi o profissional menos procurado. Os

dados revelam que, no município, a unidade básica de saúde, em 79,0% dos casos, é a

referência na atenção primária como a porta de entrada dos serviços de saúde. Contudo, o

modelo médico centrado também é o norteador do serviço neste município, uma vez que

76,7% procuraram este profissional quando apresentaram problemas de saúde.

A realização deste estudo permitiu desenvolver um olhar crítico em relação aos

resultados encontrados e, portanto, oferece informações úteis para os gestores programarem

ações de combate aos fatores de risco por meio de um modelo de atenção à saúde que

incorpore definitivamente ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças

crônicas não transmissíveis, voltadas para a saúde do homem, considerando as singularidades

inerentes a este gênero.

Diante das reflexões acerca dos resultados, considera-se que é preciso implementar e

divulgar as políticas públicas de saúde, dentre elas a ESF, o Programa de incentivo às

mudanças curriculares dos cursos de medicina (Promed), Programa nacional de

reorientação da formação profissional em saúde (Pró-Saúde), Programa de educação pelo

trabalho para a saúde (PET-Saúde) e Núcleo de apoio à saúde da família (NASF) com o

apoio matricial e a Política nacional da saúde do homem.

Nesse sentido, é fundamental que os profissionais atuantes nos serviços de saúde

trabalhem de forma interdisciplinar, na busca de integralidade, equidade e resolubilidade no

atendimento dos homens, desenvolvendo uma relação de reciprocidade e confiança com os

usuários e as comunidades. Assim se construirão pontes e não muros entre os homens e os

serviços de saúde.

Page 68: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

67

REFERÊNCIAS

1. Simião FCN. Ele só chega nas últimas, quando não tem mais jeito: atenção à sexualidade e

à saúde reprodutiva dos homens nos discursos de profissionais do Programa Saúde da

Família em Recife 2010 [dissertação]. Recife (PE): Universidade Federal de Pernambuco;

2010.

2. Helman CG. Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artmed; 2007.

3. Cruz LCL. Gênero: o que é isso? Rio de Janeiro: Pró-vida de Anápolis; 2007 [acessado

2010 abr 14]. Disponível em: http://www.providaanapolis.org.br/genero.htm

4. Brasil. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço.

Brasília: Ministério da Saúde; 2001.

5. Marques AM, Amâncio L. Homens de classe: masculinidades e posições sociais. In: Anais

do VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais; 2004; Coimbra [acessado 2009

nov 22]. Disponível em: www.ces.uc.pt/.../pdfs/AntonioManuelMarques_LigiaAmancio.pdf

6. Villela W. Gênero, saúde dos homens e masculinidades. Cien. Saude Colet 2005; 10(1):47-

58.

7. Gomes R, Nascimento EF, Araújo, FC. Por que os homens buscam menos os serviços de

saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com

ensino superior. Cad Saude Publica 2007; 23(3):565-574.

8. Maciel PSO. O homem na estratégia de saúde da família [dissertação]. Natal (RN):

Universidade Federal do Rio Grande do Norte; 2009.

9. Brasil. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde do homem:

princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.

10. Schraiber LB, Gomes R, Couto MT. Homens na pauta da saúde coletiva. Cien Saude

Colet 2005; 10(1):7-17.

Page 69: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

68

11. Souza MC, Otero UB, Almeida LM, Turci SRB, Figueiredo VC, Lozana JA. Auto-

avaliação de saúde e limitações físicas. Rev Saude Publica, 2008;42(4):741-749.

12. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Inquérito domiciliar sobre

comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis:

Brasil, 15 capitais e Distrito Federal, 2002-2003. Rio de Janeiro: Inca; 2004.

13. Pinheiro RS, Viacava F, Travassos C, Brito AS. Gênero, morbidade, acesso e utilização de

serviços de saúde no Brasil. Cienc Saude Colet 2002; 7(4):687-707.

14. Carrara S, Russo Já, Faro L. A política de atenção à saúde do homem no Brasil: os

paradoxos da medicalização do corpo masculino. Physis 2009;19(3):659-78.

15. Bernardi KS. Diferenças de gênero relacionadas ao estilo de vida, estado de saúde e

utilização dos serviços de saúde: um inquérito de base populacional [dissertação]. Itajaí (SC):

Universidade do Vale do Itajaí; 2008.

16. Campos GWS, Minayo MCS, Akerman M, Drumond JRM, Carvalho YMS. Tratado de

saúde coletiva. São Paulo: Hucitec/Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz; 2006.

17. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php acesso em: 11/06/2010.

18. César CLG, Barros MBA, Alves MCGP, Carandina L, Goldbaum M. Saúde e condição de

vida em São Paulo: inquérito multicêntrico de saúde no Estado de São Paulo (ISA-SP). São

Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2005.

19. Nahas MV. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um

estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf; 2001.

20. Organização Pan-Americana da Saúde. Doenças crônico-degenerativas e obesidade:

estratégia mundial sobre alimentação saudável, atividade física e saúde. Brasília: OPAS;

2003.

Page 70: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

69

21. Lessa I. Doenças crônicas não-transmissíveis no Brasil: um desafio para a complexa

tarefa da vigilância. Cienc Saude Colet 2004; 9(4):931-943.

22. Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2010: vigilância de fatores de risco e proteção

para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.

23. Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2009: vigilância de fatores de risco e proteção

para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.

24. Brasil. Ministério da Saúde. Hipertensão avança e atinge 24,4% dos brasileiros

[acessado 2010 out 22]. Disponível em:

http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default

25. Hallal ALC, Gotlieb SLD, Latorre MRDO. Evolução da mortalidade por neoplasias

malignas no Rio Grande do Sul, 1979-1995. Rev Bras Epidemiol 2001;4(3):168-177.

26. Boing A F, Vargas SAL, Boing AC. A carga das neoplasias no Brasil: mortalidade e

morbidade hospitalar entre 2002-2004. Rev Assoc Med Bras 2007; 53(4):317-322.

27. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 648, de 28 de março de 2006. Aprova a

política nacional de atenção básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a

organização da atenção básica para o programa saúde da família e o programa agentes

comunitários de saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.

28. Silvério RFL. A hemofilia e as masculinidades [monografia]. Curitiba (PR): Universidade

Federal do Paraná; 2010.

29. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Estudo relaciona bem-estar e envelhecimento

em países: pesquisa comparativa do Brasil e da África do Sul revela que situação tem

melhorado ao longo do tempo [acessado 2011 mar 22]. Disponível em:

http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=7747&catid

=10&Itemid=9

Page 71: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

70

30. Lucchese F, Castro CN. Desembarcando o sedentarismo. Porto Alegre: L&PM Pocket;

2010.

31. Eyken EBBD, Moraes CL. Prevalências de fatores de risco para doenças cardiovasculares

entre homens de uma população urbana do Sudeste do Brasil. Cad Saude Publica 2009;

5(1):111-123.

32. Paineiras LL. Narrativas sobre a estimulação precoce evidenciando as particularidades

de crianças portadoras de síndrome alcoólica fetal [dissertação] Rio de Janeiro (RJ): Instituto

Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz; 2005.

33. Bertolazzi C. A saúde do homem: como fugir de uma péssima estatística [acessado 2010

jun 8]. Disponível em: http://www.itu.com.br/conteudo/detalhe.asp?cod_conteudo=22304

34. Lucchese F, Castro CN. Desembarcando a hipertensão. Porto Alegre: L&PM Pocket;

2010.

35. Instituto Nacional de Câncer. Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma

proposta de integração ensino-serviço. Rio de Janeiro: Inca; 2008.

36. Datasus [acessado 2010 dez 20]. Disponível em: http://cnes.datasus.gov.br

Page 72: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

71

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados sobre a saúde do homem residente em Balneário Piçarras é

possível afirmar que as prevalências de diabetes (8,0%,), de hipertensão arterial (32,0%), das

doenças isquêmicas do coração (8,6%) e de câncer (1,2%) são superiores aos achados dos

estudos nacionais e de outros países da América Latina.

No que se refere às características sociodemográficas, verificou-se alta prevalência de

homens acima de 60 anos, católicos, oriundos de municípios de Santa Catarina, casados, com

escolaridade restrita ao primeiro grau, exercendo alguma atividade remunerada ou

aposentados, com baixa renda.

Quanto aos fatores de proteção para DCNT, o resultado encontrado de 63,0% de

entrevistados que não realizavam ao menos 30 minutos de atividade físicas

moderadas/intensas diariamente é preocupante. Contudo, verificou-se que 55,0% dos homens

caminhavam ou pedalavam como meio de transporte, sendo esse comportamento muito

comum em municípios pequenos, onde as pessoas utilizam a bicicleta para a realização de

atividades que exigem locomoção. Também preocupante foi a não ingestão de cinco porções

de frutas e verduras observada em 57,0% dos homens.

Em relação aos fatores de risco, resultados positivos foram observados nos hábitos de

fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Observou-se alta prevalência de homens que referiram não

ingerir bebidas alcoólicas (98,0%) e não fumar (76,0%). No entanto, o sobrepeso e a

obesidade são fatores bastante preocupantes e atingiram 37% dos homens entrevistados no

município de Balneário Piçarras.

Quanto à utilização dos serviços de saúde, 72,4% não procuravam os serviços de

saúde. No entanto, quando necessitaram desses serviços, 79,0% se dirigiram para a unidade

básica de saúde. O profissional de saúde mais procurado foi o médico em 76,7% dos casos,

seguido pelo enfermeiro (23,5%), o agente comunitário da saúde (ACS) como terceira opção

(18,2%) e o dentista em 8,1% dos casos. Este último foi o profissional menos procurado. Os

dados revelam que, no município, a unidade básica de saúde, em 79,0% dos casos, é a

referência na atenção primária como a porta de entrada dos serviços de saúde. Contudo, o

modelo médico centrado também é o norteador do serviço neste município, uma vez que

76,7% procuraram este profissional quando apresentaram problemas de saúde.

A realização deste estudo permitiu desenvolver um olhar crítico em relação aos

resultados encontrados e, portanto, oferece informações úteis para os gestores programarem

ações de combate aos fatores de risco por meio de um modelo de atenção à saúde que

Page 73: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

72

incorpore definitivamente ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças

crônicas não transmissíveis, voltadas para a saúde do homem, considerando as singularidades

inerentes a este gênero.

Diante das reflexões acerca dos resultados, considera-se que é preciso implementar e

divulgar as políticas públicas de saúde, dentre elas a ESF, o Programa de Incentivo às

Mudanças Curriculares dos Cursos de Medicina (Promed), Programa Nacional de

Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), Programa de Educação pelo

Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) e Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) com o

apoio matricial e a Política nacional da saúde do homem.

Evidencia-se a importância de desenvolver estratégias de prevenção mais efetivas e

seguras, com ênfase na educação em saúde, alimentação e qualidade de vida, com programas

voltados ao controle do tabagismo, do sedentarismo e do uso de álcool e outras drogas.

Nesse sentido, é fundamental que os profissionais atuantes nos serviços de saúde

trabalhem de forma interdisciplinar, na busca de integralidade, equidade e resolubilidade no

atendimento dos homens, desenvolvendo uma relação de reciprocidade e confiança com os

usuários e as comunidades. Assim se construirão pontes e não muros entre os homens e os

serviços de saúde.

Page 74: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

73

REFERÊNCIAS

AMFRI - Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí. Municípios. Disponível em: <http://www.amfri.org.br/municipios/index.php>. Acesso em: 12 fev. 2012.

BAPTISTA, C. C. T. A saúde do homem [2010]. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/>. Acesso em: 14 jan. 2012.

BARROS, M. B. A.; CÉSAR, C. L. G.; CARANDINA L.; GOLDBAUM, M. As dimensões da saúde: inquérito populacional em Campinas - SP. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Editores, 2008.

BERNARDI, K. S. Diferenças de gênero relacionadas ao estilo de vida, estado de saúde e utilização dos serviços de saúde: um inquérito de base populacional. 2008. 77 p. Dissertação (Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho) – Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2008.

BERTOLAZZI, C. A saúde do homem: como fugir de uma péssima estatística [8 jun. 2010] Disponível em: <http://www.itu.com.br/conteudo/detalhe.asp?cod_conteudo=22304>. Acesso em: 15 jun. 2011.

BOING, A. F.; VARGAS, S. A. L.; BOING, A. C. A carga das neoplasias no Brasil: mortalidade e morbidade hospitalar entre 2002-2004. Rev. Assoc. Med. Bras., v. 53, n. 4, p. 317-322, 2007.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Hipertensão avança e atinge 24,4% dos brasileiros. Brasil, 2010b. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=11290>. Acesso em: 22 out. 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis: Brasil, 15 capitais e Distrito Federal, 2002-2003. Rio de Janeiro: Inca, 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde do homem: princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2009a.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 648, de 28 de março de 2006. Aprova a política nacional de atenção básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da atenção básica para o programa saúde da família (PSF) e o programa agentes comunitários de saúde (PACS). Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Protocolos do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – Sisvan na assistência à saúde. Brasília : Ministério da Saúde, 2008.

Page 75: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

74

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. O trabalho do agente comunitário de saúde. 3 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2000.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço Brasília: Ministério da Saúde, 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Saúde Brasil 2008: 20 anos de Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2009b.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. ABC do SUS: doutrinas e princípios. Brasília: Ministério da Saúde, 1990.

BRASIL. Ministério da Saúde. Vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. (Cadernos de Atenção Básica n° 21).

BRASIL. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2009: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2010a.

BRASIL. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2010: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.

BRASIL. Relatório Final da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Brasília, 1986. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/8_CNS_Relatorio%20Final.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2010.

BRASIL. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Programa de prevenção, assistência e combate à violência contra a mulher – Plano Nacional: diálogos sobre violência doméstica e de gênero: construindo políticas públicas. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2003.

BRAZ, M. A construção da subjetividade masculina e seu impacto sobre a saúde do homem: reflexão bioética sobre justiça distributiva. Ciência & Saúde Coletiva, v. 10, n. 1, p. 97-104, jan./mar. 2005.

CAMPOS, G. W. S.; MINAYO, M. C. S.; AKERMAN, M.; DRUMOND, J. R. M.; CARVALHO Y. M. S. Tratado de saúde coletiva. São Paulo: Hucitec/Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz, 2006.

CARLOTO, C. M. O conceito de gênero e sua importância para a análise das relações sociais. Serviço Social em Revista, Londrina, v. 3, n. 2, p. 201-213, jan./jun. 2001. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v3n2_genero.htm>. Acesso em: 14 abr. 2010.

CARRARA, S.; RUSSO, J. A.; FARO, L. A política de atenção à saúde do homem no Brasil: os paradoxos da medicalização do corpo masculino. Physis, v. 19, n. 3, p. 659-678, 2009.

CAVALCANTE, C. A. A.; ENDERS, B. C.; MENEZES, R. M. P.; MEDEIROS, S. M. Riscos ocupacionais do trabalho em enfermagem. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 5, n. 1, p. 88-97, jan./abr. 2006.

Page 76: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

75

CÉSAR, C. L. G.; BARROS, M. B. A.; ALVES, M. C. G. P.; CARANDINA, L.; GOLDBAUM, M. Saúde e condição de vida em São Paulo: inquérito multicêntrico de saúde no Estado de São Paulo - ISA-SP. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP, 2005.

CRUZ, L. C. L. Gênero: o que é isso? Rio de Janeiro: Pró-vida de Anápolis; 2007. Disponível em: <http://www.providaanapolis.org.br/genero.htm>. Acesso em: 14 abr. 2010.

CUNHA, G. T. A construção da clínica ampliada na atenção básica. 2004. 182 p. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP: 2004.

DATASUS. Disponível em: <http://cnes.datasus.gov.br>. Acesso em: 20 dez. 2010.

DESOUZA, E.; BALDWIN, J. R.; ROSA, F. H. A construção social dos papéis sexuais femininos. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 13, n. 3, p.485-496, 2000.

DUNCAN, B. B.; SCHMIDT, M. H.; GIULIANI, E. R. J. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidência. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

EYKEN, E. B. B. D.; MORAES, C. L. Prevalências de fatores de risco para doenças cardiovasculares entre homens de uma população urbana do Sudeste do Brasil. Cad. Saúde Pública, v. 25, n. 1, p. 111-123, 2009.

FERNANDES, R. C. (Org.). Brasil: as armas e as vítimas. Rio de. Janeiro: Editora 7 Letras, 2005.

FERNANDES, M. G. M. Papéis sociais de gênero na velhice: o olhar de si e do outro. Rev. Bras. Enferm., v. 62, n. 5, p. 705-710, 2009.

FRANÇOIS. A. A curva e o caminho: acesso à saúde no Brasil. São Paulo: Image Mágica, 2008.

GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F. A produção do conhecimento da saúde pública sobre a relação homem saúde: uma revisão bibliográfica. Cad. Saúde Pública, v. 22, n. 5, p. 901-911, 2006.

GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F.; ARAÚJO, F. C Carvalho de. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cad. Saúde Pública, v. 23, n. 3, p. 565-574, 2007.

HALLAL, A. L. C.; GOTLIEB, S. L. D.; LATORRE, M. R. D. O. Evolução da mortalidade por neoplasias malignas no Rio Grande do Sul, 1979-1995. Rev. Bras. Epidemiol., v. 4, n. 3, p. 168-177, 2001.

HELMAN, C. G. Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artmed, 2007.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php>. Acesso em: 11 jun. 2010.

INCA - Instituto Nacional de Câncer. Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensino-serviço. 3. ed. atual. amp. Rio de Janeiro: Inca, 2008.

Page 77: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

76

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Estudo relaciona bem-estar e envelhecimento em países: pesquisa comparativa do Brasil e da África do Sul revela que situação tem melhorado ao longo do tempo [22 mar. 2011]. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/index>. Acesso em: 10 maio 2011.

LAURETIS, T. A tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. p. 206-242.

LESSA, I. Doenças crônicas não-transmissíveis no Brasil: um desafio para a complexa tarefa da vigilância. Ciênc. Saúde Coletiva, v. 9, n. 4, p. 931-943, 2004.

LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.

LUCCHESE, F.; CASTRO, C. N. Desembarcando o sedentarismo. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2010a.

LUCCHESE, F.; CASTRO, C. N. Desembarcando a hipertensão. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2010b.

MACIEL. P. S. O. O homem na estratégia de saúde da família. 2009. 80f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, 2009.

MARQUES, A. M.; AMÂNCIO, L. Homens de classe: masculinidades e posições sociais. VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra, set. 2004. Disponível em: <www.ces.uc.pt/.../pdfs/AntonioManuelMarques_LigiaAmancio.pdf>. Acesso em: 22/11/2009.

MEDRONHO, R. A. (Org.). Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2009.

MEHRY, E. E.; MAGALHÃES JÚNIOR, H. M.; RIMOLI, J.; FRANCO, T. B.; BUENO, W. S. O trabalho em saúde: olhando e experenciando o SUS no cotidiano. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

MELO, P. R. O.; SANTOS, Y. C. S.; COSTA, A. S. A questão de gênero nas políticas públicas: uma análise das mulheres agricultoras no município de Lagoa Seca – PB. III Seminário Nacional Gênero e Práticas Culturais: olhares diversos sobre a diferença, João Pessoa (PB), out. 2011. Disponível em: <http://www.itaporanga.net/genero/3/05/04.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2011.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças na saúde suplementar: manual técnico. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: ANS, 2007.

NAHAS, M. K. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2001.

OLIVEIRA, F. A. Anthropology in healthcare services: integrality, culture and communication. Interface - Comunic, Saúde, Educ, v. 6, n. 10, p. 63-74, 2002.

Page 78: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

77

OMS – Organização Mundial da Saúde. Vigilância de fatores de risco: doenças não transmissíveis entre adolescentes: a experiência da cidade do Rio de Janeiro. Brasil: OMS, 2003.

OPAS- Organização Pan-Americana da Saúde. Doenças crônico-degenerativas e obesidade: estratégia mundial sobre alimentação saudável, atividade física e saúde. Brasília: OPAS, 2003.

PAINEIRAS, L. L. Narrativas sobre a estimulação precoce evidenciando as particularidades de crianças portadoras de síndrome alcoólica fetal. 2005. 142 p. Dissertação (Mestrado em Saúde da Criança) – Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2005.

PINHEIRO, R. S.; VIACAVA. F.; TRAVASSOS, C.; BRITO, A. S. Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, v. 7, n. 4, p. 687-707, 2002.

ROUQUAYROL, M. Z; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 1999.

RUBIO LIVRARIA E EDITORA. Perguntas e respostas comentadas de enfermagem. Rio de Janeiro: Rubio, 2005.

SAFFIOTI, H. I. B. Rearticulando gênero e classe social. In: COSTA, A. O.; BRUSCHINI, C. (orgs.). Uma questão de gênero. São Paulo; Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos e Fundação Carlos Chagas, 1992. p. 183-215.

SAUPE, R.; WENDHAUSEN, A. L. P. Modelo matricial para construção de conhecimento no mestrado profissional em saúde. R B P G, v. 3, n. 5, p. 107-116, jun. 2006.

SCHRAIBER, L. B.; GOMES, R.; COUTO, M. T. Homens e saúde na pauta de Saúde Coletiva. Ciência & Saúde Coletiva, v. 10, n. 1, p. 7-17, 2005.

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE – SC. Sistema Único de Saúde: legislação básica. Florianópolis: Secretaria de Estado da Saúde, 2002.

SILVA, J. K. O.; SILVA, O. M. P.; REZENDE, R.; SANTER, T. Perfil epidemiológico da mortalidade masculina no estado de Santa Catarina. Cad. Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, p. 115-126, 2008.

SILVÉRIO, R. F. L. A hemofilia e as masculinidades. Monografia (Bacharelado em Ciências Sociais) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010.

SIMIÃO, F. C. N. Ele só chega nas últimas, quando não tem mais jeito: atenção à sexualidade e à saúde reprodutiva dos homens nos discursos de profissionais do Programa Saúde da Família em Recife. 2010. 151 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.

SOUZA, M. C.; OTERO, U. B.; ALMEIDA, L. M.; TURCI, S. R. B.; FIGUEIREIDO, V. C.; LOZANA, J. A. Auto-avaliação de saúde e limitações físicas decorrentes de problemas de saúde. Rev. Saúde Pública, v. 42, n. 4, p. 741-749, 2008.

Page 79: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

78

VASCONCELLOS, A. M. M. et al. Gestão de sistemas de saúde. Rio de Janeiro: UERJ, Instituto de Medicina Social, 2003.

VIACAVA, F. Informações em saúde: a importância dos inquéritos populacionais. Ciên. Saúde Coletiva, v. 7, n. 4, p. 607-621, 2002.

VILLELA, W. Gênero, saúde dos homens e masculinidades. Ciên. Saúde Coletiva, v. 10, n. 1, p.18-34, 2005.

WEST, C.; FENSTERNMAKER, S. Doing difference. In: M. R. Walsh (org.). Women, men and gender: ongoing debates. New Haven: Yale University Press, 1997. p. 58-72.

Page 80: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

79

APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS SAÚDE DO HOMEM: ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE, ESTILO DE VIDA: UM INQUÉRITO DE BASE POPULACIONAL Nome do Entrevistador: ________________________________________________________ Nome do supervisor: Data da visita: ______________ Horário da visita: ___________________________________ Tipo de entrevista: 1. ( ) Realizada 2. ( ) Fechada 3. ( ) Recusa

� Dados de Identificação do domicílio: 1. Endereço:____________________________________________________________________ 2. Área: _______________________________________________________________________ 3. Microárea: ___________________________________________________________________ 4. Família:______________________________________________________________________ 5. Quantas pessoas residem neste domicílio: 5 a. Total: ______________________________________________________________________ 5b. Quantas pessoas com 18 anos de idade ou mais: ___________________________________ 6. Relação dos moradores: Nome do Familiar Condição na Família

II. Características sociodemográficas do indivíduo 07. Nome do entrevistado: ________________________________________________________ 08. Data de nascimento: __________________________________________________________ 09. Idade: ______________________________________________________________________ 10. Sexo: ______________________________________________________________________ 11. Religião: ____________________________________________________________________ 12. Etnia / Raça:_________________________________________________________________ 13. Naturalidade: ________________________________________________________________ 14. Situação conjugal: 1. ( ) solteiro

2. ( ) casado 3. ( ) relação estável

4. ( ) viúvo 5. ( ) separado

Page 81: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

80

15. Quantos anos frequentou a escola: _______________________________________________ 16. Situação de trabalho: 1. ( ) em atividade

2. ( ) desempregado 3. ( ) pensionista / aposentado / estudante / outros_______________________________

17. Ocupação principal: ___________________________________________________________ Somente para os entrevistados que estão em atividade

18. Qual é a renda familiar:

1. ( ) < 01 salário mínimo 2. ( ) 01 salário a 02 salários mínimos 3. ( ) 02 a 03 salários mínimos 4. ( ) > 04 salários mínimos

• Estilo de Vida 19. Sua alimentação diária inclui ao menos 5 porções de frutas e verduras: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 20. O senhor tem o hábito de ingerir bebidas alcoólicas: 1. ( ) sim

2. ( ) não

21. Você evita ingerir alimentos gordurosos (carnes gordas, frituras) e doces: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 22. Você faz 4 a 5 refeições variadas ao dia, incluindo café da manhã completo: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 23. Alguma vez o senhor sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber? Somente para quem respondeu sim na pergunta 20 1. ( ) sim

2. ( ) não 24. Você realiza ao menos 30 minutos de atividades físicas moderadas/intensas, de forma contínua ou acumulada, 5 ou mais dias na semana: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre

Page 82: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

81

4. ( ) sempre 25. Ao menos duas vezes por semana você realiza exercícios que envolvam força e alongamento muscular: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 26. As pessoas o aborrecem porque criticam seu modo de beber? Somente para quem respondeu sim na pergunta 20

1. ( ) sim 2. ( ) não

27. No seu dia-a-dia, você caminha ou pedala como meio de transporte: 1. ( ) não 2. ( ) às vezes 3. ( ) quase sempre 4. ( ) sempre 28. Qual a sua altura atual: ________________________________________________________ 29. Qual o seu peso atual: _________________________________________________________

30. Cálculo do IMC: 1 ( ) <18,5 Kg/m²;

2 ( ) 18,5 à 24.9 Kg/m² 3 ( ) 25 à 29.9 Kg/m² 4 ( ) 30 à 39.9 Kg/m² 5 ( ) >40 Kg/m²

31. O senhor se sente chateado consigo mesmo pela maneira como costuma tomar bebida alcoólica? Somente para quem respondeu sim na pergunta 20 32. O senhor é fumante: 1. ( ) sim 2. ( ) não - vá para a questão nº 36 3. ( ) ex-fumante vá para a questão nº 35 33. Há quanto tempo é tabagista: ___________________________________________________

Somente para quem é fumante

33. Com que idade iniciou o hábito de fumar: __________________________________________

Somente para quem é fumante 34. Quantos cigarros fuma por dia: __________________________________________________

Somente para quem é fumante 35. Se for ex-fumante, há quanto tempo parou de fumar: _________________________________

Page 83: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

82

36. O senhor costuma beber pela manhã para diminuir o nervosismo ou ressaca: Somente para quem respondeu sim na pergunta 20

( ) sim ( ) não

• Estado de Saúde / Morbidade Referida

37. O senhor está apresentando, ou apresentou algum problema de saúde nos últimos 15 dias? 1. ( ) sim 2. ( ) não vá para a questão nº 39 38. Qual(is) o(s) problema(s) de saúde: __________________________________________________ 39. Das doenças a seguir, qual (is) o senhor apresenta ou apresentou nos últimos 12 meses? 1. ( ) Enxaqueca / dor de cabeça 2. ( ) Alergia 3. ( ) Hipertensão - pressão alta

4. ( ) Depressão/ ansiedade / problemas emocionais 5. ( ) Doença da Coluna / costas 6. ( ) Doença digestiva crônica - úlcera

7. ( ) Artrite / reumatismo / artrose 8. ( ) Doença do coração 9. ( ) Doença da pele 10. ( ) Diabetes – açúcar no sangue

11. ( ) Doença crônica do pulmão – asma, bronquite, enfisema

12. ( ) Osteoporose 13. ( ) Anemia 14. ( ) Doença Renal Crônica 15. ( ) Acidente Vascular Cerebral – derrame

16. ( ) Infarto Agudo do Miocárdio – infarto

17. ( ) Epilepsia – ataque

18. ( ) Câncer – tumor maligno

19. ( ) Tuberculose 20. ( ) Hanseníase 21. ( ) Intoxicação por agrotóxicos 22. ( ) Verminose - lombriga, solitária, outros

23. ( ) Acidente por animais peçonhentos 24. ( ) Outras. Especificar: ___________________________________________________ 40. Se for diabético ou hipertenso, quais os cuidados que utiliza para controlar a doença? 1. ( ) dieta - nutricionista

2. ( ) medicação de rotina 3. ( ) regime

4. ( ) atividade física 5. ( ) nenhum cuidado

6. ( ) outro. Especificar: _____________________________________________________ 41. Nos últimos 15 dias, procurou o serviço de saúde: 1. ( ) sim. 2. ( ) não - vá para a questão nº 43 42. Se a resposta for positiva, qual foi o motivo: ________________________________________

Page 84: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

83

43. Quando está com problemas de saúde, o senhor procura qual serviço de saúde: 1. ( ) Hospital

2. ( ) Posto de Saúde 3. ( ) Benzedeira 4. ( ) Pastoral da Saúde 5. ( ) Outros. Especificar: ____________________________________________________

44. Quando o senhor não está doente, procura os serviços de saúde para:

1. ( ) Exames Preventivos - PSA

2. ( ) Vacinação 3. ( ) Exames de Rotina – colesterol, triglicerídeos, hemograma, EQU, EPF

4. ( ) Não procura os serviços de saúde 45. Qual profissional o senhor procura quando está apresentando algum problema de saúde: 1. ( ) Médico 2. ( ) Enfermeiro 3. ( ) Técnico de Enfermagem 4. ( ) Dentista 5. ( ) Psicólogo 6. ( ) Fonoaudiólogo 7. ( ) Agente Comunitário de Saúde 8. ( ) Outro profissional. Especificar: ___________________________________________

• Acessibilidade 46. Que meio de transporte o senhor utiliza para chegar a Unidade de Saúde mais próxima:

1. ( ) A pé 2. ( ) Ônibus 3. ( ) Tração Animal 4. ( ) Bicicleta 5. ( ) Automóvel 6. ( ) Outros________________________________________________________________

47. Tempo gasto neste trajeto:

1. ( ) Até 30 min. 2. ( ) De 30 min - 1 hora 3. ( ) 1 hora a 1 hora e 30 min. 4. ( ) 1 hora e 30 até 2 horas 5. ( ) 2 horas até 2 horas e 30 min. 6. () mais de 2 horas e 30 min.

48. Por quem o senhor foi atendido (primeiro contato) na Unidade de Saúde:

1. ( ) Recepção 2. ( ) ACS 3. ( ) Técnico de enfermagem 4. ( ) Enfermeiro 5. ( ) Porteiro 6. ( ) Outros________________________________________________________________

49. Como foi recebido ao chegar à unidade:

Page 85: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

84

1. ( ) Ótimo 2. ( ) Bom 3. ( ) Regular 4. ( ) Ruim

50. Houve agendamento prévio para este atendimento:

( ) Sim ( ) Não

Se caso afirmativo, foi feito:

1. ( ) Por telefone 2. ( ) ACS 3. ( ) Pessoalmente 4. ( ) Outros________________________________________________________________

51. Faltou o trabalho para conseguir este atendimento:

1. ( ) Sim 2. ( ) Não

Em caso afirmativo quantas vezes:________________________________________________ 52. O pessoal da unidade de saúde explicou o que fazer (deu orientações) em cada setor por onde passou:

1. ( ) Sim em todos os setores 2. ( ) Sim em alguns setores

3. ( ) Não em nenhum dos setores 53. O motivo que o levou a unidade de saúde foi resolvido:

1. ( ) Sim 2. ( ) Não 3. ( ) Parcialmente

Se parcialmente por quê?________________________________________________________

Page 86: SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Benoni Sidinei Brizolla.pdf · SAÚDE DO HOMEM: MORBIDADE, ESTILO DE VIDA E UTILIZAÇÃO DOS

85

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado de forma alguma.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: SAÚDE DO HOMEM: ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE, ESTILO DE VIDA: UM INQUÉRITO DE BASE POPULACIONAL Pesquisadora responsável: Elisete Navas Sanches Próspero Telefones para contato: (47) 9981-1025 / (47) 3341-7932 Pesquisador participante: Benoni Sidinei Brizolla Telefones para contato: (47) 3908-5860 / (47) 9948-1838

Esta pesquisa pretende verificar a prevalência da morbidade, do estilo de vida e da utilização dos serviços de saúde por homens no município de Balneário Piçarras (SC). Para participar desta pesquisa, o senhor responderá a uma entrevista, sendo que as informações coletadas serão utilizadas única e exclusivamente com interesse científico. Será assegurado o sigilo quanto à sua identidade, bem como o direito de desistência sob qualquer situação ou no momento que lhe convier ou achar necessário. Qualquer dúvida relacionada com a pesquisa pode ser esclarecida com o pesquisador ou com a professora responsável em qualquer momento da pesquisa, inclusive após sua publicação.

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO Eu, _____________________________________, RG_____________, CPF ____________ abaixo- assinado, concordo em participar deste estudo. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data: ______________________________________________________ Nome: ___________________________________________________________ Assinatura do sujeito ou responsável: __________________________________ Telefone para contato: _______________________________________________ Balneário Piçarras (SC), 2010.