Roteiro Hugo Moss

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Por Hugo Moss Uma crítica geral que surgiu durante o workshop Laboratório Sundance de 1996 foi a falta de uniformidade na formatação. Somente dois dos oito roteiros poderiam ser considerados aceitáveis para os padrões norte-americanos. Se nos Estados Unidos a atenção dada à formatação é exagerada, aqui no Brasil reina uma atitude de "cada um por si". De certa forma a padronização de roteiros restringe o escritor, primeiro porque este tem que aprender novas regras, e também porque a formatação padrão para roteiros de especulação - o chamado Master Scenes - priva o escritor de alguns recursos (como, por exemplo, ângulos de câmera, cortes de cenas etc). Porém as vantagens compensam em dobro estas pequenas desvantagens: são pouquíssimas regras o leitor começa ler o roteiro num campo visual que lhe é familiar, e não se dispersa levando de 5 a 10 páginas para se acostumar com um novo estilo individual. é a única maneira de facilmente se ter uma idéia do tamanho do filme (uma página em Master Scenes corresponde, em média, a 1 minuto de filme), que é fundamental tanto para o leitor quanto para o escritor terem uma idéia do ritmo. a adesão a essas regras força o roteirista a dedicar- se à trama do filme. Considerações sobre o ponto de vista da câmera e cortes de cena, quando não são absolutamente indispensáveis para a narrativa, só servem para distrair o autor da principal função dele: contar uma história. ajuda a evitar um outro erro comum nos roteiros apresentados para o Sundance: o de incluir fatos invisíveis nos textos de descrição. Por exemplo: "Um carro desce uma estrada em direção ao Rio de Janeiro. Dentro, um grupo de músicos, cujo cantor é um homem escuro com cabelos curtos, como um punk do Terceiro Mundo. É Jorge Salgado que está chegando ao Rio para fazer dois shows gratuitos na praia de Ipanema." 1

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Roteiro Hugo Moss

Transcript of Roteiro Hugo Moss

  • Por Hugo Moss

    Uma crtica geral que surgiu durante o workshop Laboratrio Sundance de 1996 foi a falta de uniformidade na formatao. Somente dois dos oito roteiros poderiam ser considerados aceitveis para os padres norte-americanos. Se nos Estados Unidos a ateno dada formatao exagerada, aqui no Brasil reina uma atitude de "cada um por si". De certa forma a padronizao de roteiros restringe o escritor, primeiro porque este tem que aprender novas regras, e tambm porque a formatao padro para roteiros de especulao - o chamado Master Scenes - priva o escritor de alguns recursos (como, por exemplo, ngulos de cmera, cortes de cenas etc). Porm as vantagens compensam em dobro estas pequenas desvantagens:

    so pouqussimas regras o leitor comea ler o roteiro num campo visual que lhe

    familiar, e no se dispersa levando de 5 a 10 pginas para se acostumar com um novo estilo individual.

    a nica maneira de facilmente se ter uma idia do tamanho do filme (uma pgina em Master Scenes corresponde, em mdia, a 1 minuto de filme), que fundamental tanto para o leitor quanto para o escritor terem uma idia do ritmo.

    a adeso a essas regras fora o roteirista a dedicar-se trama do filme. Consideraes sobre o ponto de vista da cmera e cortes de cena, quando no so absolutamente indispensveis para a narrativa, s servem para distrair o autor da principal funo dele: contar uma histria.

    ajuda a evitar um outro erro comum nos roteiros apresentados para o Sundance: o de incluir fatos invisveis nos textos de descrio. Por exemplo:

    "Um carro desce uma estrada em direo ao Rio de Janeiro. Dentro, um grupo de msicos, cujo cantor um homem escuro com cabelos curtos, como um punk do Terceiro Mundo. Jorge Salgado que est chegando ao Rio para fazer dois shows gratuitos na praia de Ipanema."

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  • Dificilmente o espectador, s vendo um carro andando numa estrada, vai conseguir capturar a descrio e o comentrio da segunda frase, ou a informao da terceira. Escrever em Master Scenes fora o autor a procurar maneiras de mostrar estas informaes, se que so fundamentais para a histria - e se no forem, de descart-las.

    O pior furo deste tipo que encontrei at agora foi a seguinte frase, que vem de um roteiro que traduzi recentemente (mudei o nome da personagem):

    "Geraldo bota o chapu, faz um movimento imperceptvel com a cabea e sai..."

    Se, um dia, algum leitor reconhecer o filme atravs deste movimento imperceptvel, favor entrar em contato comigo que eu pago o almoo.

    Seguindo a sugesto de um dos convidados para o Sundance, apresento ento um pequeno guia sobre Master Scenes.

    Uma maneira de se assegurar de que voc no precisa pensar na formatao o tempo inteiro, e de se liberar para se concentrar na parte exclusivamente criativa, criar tabs, macros e templates para tomar conta dessa tarefa.

    Existem tambm vrios programas no mercado para ajudar voc a trabalhar no seu roteiro (meu favorito o Movie Magic Screenwriter). H ainda templates como The Screenwriter's Toolkit1, Screenplay Styler2 ou Digiscript3, todos para MS Word. Na minha opinio, o nico que chega pelo menos perto dos ps de um programa dedicado, se chama ScreenPro (maiores informaes no site do seu criador Jack Passarella)4.

    1 Disponvel em http://www.datahighways.co.uk/dhl/toolkit.htm 2 Disponvel em http://filmmaker.com/downloads.html 3 Disponvel em http://www.digiscript.co.uk/ 4 Disponvel em http://mywebpages.comcast.net/jpassarella/screenpro/

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  • Fonte Courier 12 point. No MS Word esta fonte se chama Courier New. Nunca se usa itlicos. Nunca se usa negrito. Tamanho do Papel Carta (27.94cm x 21.59cm)

    Numerao Em cima, direita, geralmente seguida por um ponto. Margens

    Vertical Em cima 2,5cm Em baixo 2,5cm-3cm

    Ao/Cabealhos Esquerda 3,5cm Direita 3,5-4cm Nomes/Dilogos Centralizado Instrues para o ator 7cm da esquerda

    1. Capa 3/8 da pgina, centralizado (ver exemplo na pg.9):

    2. A primeira pgina Voc deve comear a primeira pgina do seu roteiro da seguinte maneira:

    D cinco Enters e na sexta linha, centralizado na pgina, entre aspas e em maisculas, escreva "O TTULO" do seu filme.

    Mais dois Enters e escreva o primeiro cabealho.

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  • Por exemplo:

    "DENISE PRA DE FUMAR"

    INT. CASA DE DENISE - DIA

    --------------------------------------------------

    3. Os Elementos do Roteiro Cabealhos

    Em ingls, sluglines ou scene headers. So escritos em maisculas e do trs informaes: (1) Onde; (2) precisamente onde, e (3) quando. (2) e (3) so separados por um espao, um tracinho, e outro espao.

    (1) pode ser INT. (interior) ou EXT. (exterior); (2) uma identificao curta do lugar; e (3) pode ser DIA ou NOITE.

    Por exemplo:

    INT. CASA DE DENISE - DIA

    permitido usar mais de um sujeito.

    Por exemplo:

    EXT. CASA DE DENISE - TERRAO - DIA - FINAL DA TARDE

    ou:

    EXT. CASA DE DENISE/TERRAO - DIA - FINAL DA TARDE

    Um novo cabealho necessrio cada vez que muda o lugar, e/ou muda o tempo. Porm no precisamos de um cabealho completo cada vez que uma personagem entra e sai, por exemplo, da sala para a cozinha. Neste caso, usual escrever somente o nome da dependncia para qual a personagem vai.

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  • Por exemplo:

    Denise se levanta do sof e vai para a cozinha.

    COZINHA

    Denise abre a geladeira e pega uma cerveja.

    ou:

    Denise se levanta do sof e vai para a...

    COZINHA, onde abre a geladeira e pega uma cerveja.

    ATENO:

    Se Denise sai do INT. SALA para EXT. TERRAO, usamos um novo cabealho completo porque muda de lugar INT. para EXT.

    Se cortamos a cena para trs horas depois, e Denise continua na sala assistindo TV, usamos um novo cabealho porque mudou o tempo.

    Outro elemento do cabealho a numerao. Para roteiros de especulao, no so indispensveis, mas se voc gostaria de numerar as suas cenas, os nmeros so colocados na margem esquerda, cerca de 2 cm do cabealho.

    Ateno: colocar nmeros de cenas deve ser a ltima coisa que voc faz, antes de imprimir o seu roteiro! Voc corre o risco de renumer-las incessantemente, at a verso final.

    Ao A parte visual do roteiro, onde se relata o que se passa na tela. Descries das personagens, o que eles esto fazendo, os lugares, e tudo que os espectadores vo conseguir e precisar capturar visualmente. E nada mais!

    Tente recriar a experincia de assistir sua cena tendo apenas as informaes que o espectador ter, observando detalhes sobre as pessoas e lugares na mesma ordem em que a platia ver no cinema.

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  • Alguns elementos da ao costumam ser escritos em maisculas:

    PERSONAGENS com falas, na primeira vez em que aparecem no roteiro, ou na primeira vez em que aparecem em cada cena.

    As palavras ENTRA e SAI (de cena). SONS que precisam ser artificialmente criados ou

    enfatizados, como um telefone tocando, tiros, vento soprando, etc... No preciso destacar em maisculas os rudos que acontecem em cena, como personagens quebrando pratos, batendo portas, ou algo parecido.

    Objetos importantes. Por exemplo:

    --------------------------------------

    INT. CASA DE DENISE - SALA - DIA

    A pequena sala tem uma varanda mnima com janelas abertas. De fora surge o barulho de TRNSITO da rua. Numa mesa de jantar de vidro, na mesa de centro e em todos os lugares da sala esto espalhados cinzeiros cheios, garrafas vazias e restos de comida.

    DENISE DE CARVALHO, uma mulher morena de 34 anos, com cabelos grandes meio cados em cima do rosto, aparece no corredor. Ela est acordando e usa uma camisa gigante. Denise ENTRA na sala e, cobrindo os olhos para no ver a luz e a baguna, procura com uma mo um MAO DE CIGARROS na mesa.

    DENISE Meus Deus! Tenho que parar com isto!

    Ela encontra o mao, tira um cigarro e volta correndo pelo corredor para o...

    QUARTO, onde ela acende o cigarro e deita na cama fumando e tentando no acordar muito.

    (...)

    -------------------------------------------

    Mantenha os pargrafos pequenos. Conte a sua histria visualmente, com o mnimo de dados para manter o seu leitor interessado e informado.

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  • Nomes

    O nome da personagem para introduzir dilogo, sempre em maisculas. Podem ser seguidos por:

    (V.O.), voice over, quando escutamos a voz de uma personagem que no est na cena. Pode ser um narrador, uma gravao na secretria eletrnica, ou algum no outro lado do telefone, etc.

    (O.S.), off screen, quando o ator est na cena mas no est visvel no momento.

    (cont.) ou (contd), quando a mesma personagem continuando a sua fala interrompida por uma ao. Isto tambm pode ser feito como uma instruo para o ator (ver prximo item): (continuando).

    Por exemplo:

    ------------------------------------------

    (...)

    Ela encontra o mao, tira um cigarro e volta correndo pelo corredor para o...

    QUARTO, onde ela acende o cigarro e deita na cama fumando e tentando no acordar muito. De repente o telefone TOCA na sala. Denise no se mexe.

    Pausa.

    O telefone continua TOCANDO. Denise se levanta e SAI do quarto.

    DENISE (O.S.) Al?

    SHEILA (V.O.) J sei. Te acordei.

    DENISE (O.S.) Quase, quase.

    Denise volta para o quarto, carregando um TELEFONE SEM FIO.

    DENISE (cont.) Mas eu j tinha levantado.

    (MAIS)

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  • DENISE (cont.) Como voc est?

    ------------------------------------------

    Instrues para o ator Escritas em parnteses numa linha entre o nome da personagem e o dilogo. Devem ser usadas muito, muito pouco, por dois motivos principais. Primeiro, nenhum ator gosta de ser insistentemente instrudo sobre como deve dizer suas falas. Em segundo lugar, se voc v que precisa de muitas instrues como (gritando), (chorando), (para o garom), etc., provavelmente um sinal de que o dilogo no suficientemente ntida em geral. quase sempre possvel evitar o uso destas instrues, limitando-os aos poucos momentos em que o tom ou o sentido da fala seria realmente ambguo.

    Dilogo Se uma fala quebrada por uma diviso de pgina, escreve-se (MAIS) centralizado numa linha em baixo do dilogo no final da pgina anterior, e inicia-se a outra com o nome seguido por (cont.). (outra coisa que no deve fazer at a hora de imprimir)!

    Espaamento Espao simples para: nomes/instrues para o ator/dilogo; ao;

    Espao duplo entre: cabealho e ao; ao e nomes; dilogo e ao; FADE IN e o primeiro cabealho; a ltima linha e FADE OUT

    Espao triplo entre: ao ou dilogo e cabealho.

    Depois de terminar, a ltima pgina: Depois da ltima linha do roteiro, dois Enters e FIM, centralizado na pgina.

    Veja a seguir como ficou o exemplo (ignore o nmero da pgina relativo a este manual, logo abaixo):

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  • DENISE PRA DE FUMAR

    Um Roteiro

    de

    O Seu Nome

    Copyright 199X by Seu Nome Todos os direitos reservados

    Endereo, telefone e e-mail (seu)

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  • 1.

    DENISE PRA DE FUMAR

    FADE IN:

    INT. CASA DE DENISE -SALA -DIA

    A pequena sala tem uma varanda mnima com janelas abertas. De fora surge o barulho de TRNSITO da rua. Numa mesa de jantar de vidro, na mesa de centro e em todos os lugares da sala esto espalhados cinzeiros cheios, garrafas vazias e restos de comida.

    DENISE DE CARVALHO, uma mulher morena de 34 anos, com cabelos grandes meio cados em cima do rosto, aparece no corredor. Ela est acordando e usa uma camisa gigante. Denise ENTRA na sala e, cobrindo os olhos para no ver a luz e a baguna, procura com uma mo um mao de cigarros na mesa.

    DENISE Meus Deus! Tenho que parar com

    isto!

    Ela encontra o mao, tira um cigarro e volta correndo pelo corredor para o...

    QUARTO, onde ela acende o cigarro e deita na cama fumando e olhando para o teto. De repente o telefone TOCA na sala. Denise no se mexe.

    Pausa.

    O telefone continua TOCANDO. Denise se levanta e SAI do quarto.

    DENISE (O.S.) Al?

    SHEILA (V.O.) J sei. Te acordei.

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  • ngulos de cmera, cortes de cena e outras instrues tcnicas quase certamente sero mudados completamente pelo

    diretor, cmera e editor, durante o longo processo de produo.

    Mas quando sua indicao, no roteiro, absolutamente indispensvel? Afinal, estamos escrevendo roteiros de cinema, e s vezes precisamos - ou queremos - dirigir um pouco o nosso filme. Vamos discutir alguns dos elementos que se pode precisar com mais frequncia:

    Transies So indicaes sobre como cortar de uma cena para outra. A justificao sempre direita, com uma linha entre a ltima linha da cena anterior, e o cabealho da cena seguinte:

    CORTA PARA:

    a transio standard, portanto um pouco suprflua - pelo menos na minha opinio.

    FUSO PARA:

    Para cortar lentamente de uma cena para outra.

    MATCH CUT:

    Quando cortamos, por exemplo, de uma aliana na vitrine de um joalheiro, para ela sendo colocado na mo de uma noiva na igreja.

    Planos Em ingls, camera shots. quando pulamos fora da cena por um momento para ver uma coisa importante destacada. Na maioria dos planos, os termos tcnicos so mantidos em ingls.

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  • As primeiras duas, POV e INSERT, sempre terminam em VOLTA CENA, ou ento no cabealho novo da prxima cena.

    POV

    Ponto de vista (Point Of View). Voc pode precisar mostrar o que uma personagem est vendo. Isto feito assim:

    O barulho de uma PORTA BATENDO embaixo alerta Guilherme. Ele vai at a porta.

    POV DE GUILHERME

    Atravs da porta entreaberta, ele v policiais subindo a escada.

    VOLTA CENA

    Guilherme tranca a porta, e rapidamente fecha o cofre.

    (...)

    INSERT

    Uma rpida insero de um detalhe. Por exemplo:

    INSERT - RODA DO CARRO

    o ltimo parafuso solta e cai na estrada.

    VOLTA CENA

    Outros indicadores: Indicadores de COMPOSIO: PLANO (Plano inicial de uma cena), CONTRAPLANO (Plano contrrio ao plano inicial, sugerindo integrao ou dilogo entre os dois planos da cena), PLANO GERAL (plano onde toda a cena a ser usada vista), PLANO AMERICANO (plano vindo do Western americano: Sugere um plano visto a partir dos joelhos do personagem, ou a partir do seu coldre, se preferir), PLANO MDIO (plano que enquadra a partir da metade do personagem), CLOSE (ou CLOSE UP, examina de perto o detalhe de uma personagem ou objeto),PLANO DETALHE (pouco usado, mas tenta diferenciar-se do Close por evidenciar detalhes da cena importantes na trama, por exemplo) e POV (ponto de vista, cmera subjetiva).

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  • Indicadores de COMPOSIO EM CAMADAS: Usa-se para evitar o uso de close e plano para definir diversos planos em um nico, separados pela profundidade de campo. So eles, tendo como base um nico plano com trs pessoas: PRIMEIRSSIMO PLANO (detalhe do primeiro plano ou algo que aparece depois da composio dos planos frente cmera), 1 PLANO (personagem logo frente da cmera), 2 PLANO (segundo personagem, ao fundo), 3 PLANO (terceiro personagem, logo atrs do segundo), etc. Indicadores de MOVIMENTO: NGULO ABRE (Ou ZOOM OUT, Cmera afasta da cena), NGULO FECHA (Ou ZOOM IN, Cmera entra da cena), NGULO SOBE (Cmera sobe para revelar algo que no est no plano inicial), NGULO DESCE (Cmera desce para revelar algo que no est no plano inicial), PANORMICA (Cmera passeia pelo cenrio em torno do prprio eixo) e TRAVELLING (cmera passeia pela cena fazendo uso de um trilho).

    MONTAGEM e SRIE DE PLANOS Tambm costumam ser interpretadas como a mesma ao - embora no sejam. A diferena que MONTAGEM incorpora muito mais informao na tela, simultaneamente. usada para mostrar uma srie de eventos como, por exemplo:

    MONTAGEM A) Manifestaes estudantis na Cinelndia B) A Passeata dos Cem Mil C) Militares tomando o poder

    J SRIE DE PLANOS so mini-cenas compondo uma sequncia:

    SRIE DE PLANOS A) Guilherme pula do carro. B) Ele cai por um barranco. C) O carro perde controle, batendo numa rvore e EXPLODINDO. D) Guilherme levanta devagar, apoiando-se Em uma rocha e olhando a fumaa subindo do carro em chamas.

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  • Instrues para cmera s vezes pode ser muito importante indicar como a cmera deve agir. Lembro de uma cena num programa de comdia inglesa, anos atrs, que serve como excelente exemplo. Dois amigos estavam conversando atravs de uma grade. Um deles usava uniforme, camisa azul, o outro, de casaco, aparentemente vindo da rua. Ele trazia um bolo e notcias sobre vrios amigos e membros da famlia do outro. Pelo contexto, e comentrios como "eu no agento mais ficar aqui", imaginamos que se tratava de um prisioneiro recebendo uma visita de um amigo. Mas no final da cena, de repente, algum atrs do amigo reclamou, em off, "ei, vai ficar a o dia inteiro?!" A cmera abriu para revelar uma imensa fila numa agncia de correios.

    Neste caso instrues para cmera seriam fundamentais para a narrativa. So feitas em maisculas. O final da cena seria escrita assim:

    HOMEM (O.S.) Ei, vai ficar a o dia inteiro?!.

    O Amigo se vira, enquanto o NGULO ABRE PARA REVELAR uma imensa fila de pessoas, a maioria carregando cartas e embrulhos, e todos olhando impacientemente. A decorao da sala e os posters nas paredes mostram que se trata de uma agncia de correios.

    (...)

    Outras instrues para cmera podem incluir, CMERA SEGUE, AJUSTE, ZOOM, ENCONTRA, etc.

    INTERCUT e Dilogo simultneo Duas outras tcnicas de que se pode precisar bastante surgem quando precisa cortar entre duas cenas ou planos, ou quando duas personagens falam simultaneamente.

    Para cortar, por exemplo, entre duas pessoas falando no telefone, se usa INTERCUT - antes ou depois da segunda fala - assim:

    Roberto atende.

    ROBERTO Al?

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  • INTERCUT CONVERSA TELEFNICA

    MRCIA Oi, amor, sou eu.

    claro que INTERCUT pode ser usado em outras situaes tambm.

    Dilogo simultneo funciona assim:

    BRUNO GERALDA O que que voc est

    fazendo aqui?! Porque voc no est

    Em casa?!

    Uma palavra final Como j mencionei, as polmicas e argumentos sobre formatao que surgem nos Estados Unidos so interminveis. Estas regras apresentadas aqui no pretendem ser definitivas, e muito menos a nica verdade - que no existe.

    Escritores sempre vo ter suas preferncias e pequenas variaes particulares.

    O que pretendo fazer aqui mostrar como escrever o seu roteiro para que ele seja imediatamente reconhecvel como roteiro.

    Que, sendo um roteiro de cinema, seja escrito e lido na maneira mais visual possvel.

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  • Costumo observar pequenos erros ou detalhes suprfluos nos roteiros que leio ou traduzo, que poderiam ser facilmente evitados com um pouco de ateno. Alguns j foram mencionados neste guia, mas merecem destaque por serem muito comuns.

    Isto muito pessoal, e foge um pouco das regras de formatao. Voc vai achar alguns desses erros triviais demais para merecer ateno. Outros nem vai acreditar que roteiristas cometem. Mas cometem, sim, e muito!

    -----------------------------------------------

    1) Use o mesmo nome das personagens e dos lugares em cabealhos, durante o roteiro inteiro. No comear, no meio do roteiro, a chamar KUBITSCHEK de PRESIDENTE ou JK, e nunca trocar, por exemplo, CABANA por CHAL, se for o mesmo lugar. Especialmente importante para quem est escrevendo a quatro, seis ou oito (!) mos.

    2) Corte a palavra "vemos". Em vez de "Vemos um casal andando...", escrever "Um casal est andando...".

    Evitar tambm a palavra "cmera", no sentido de: "A cmera mostra prateleiras de livros antigos, cheios de poeira, que vo do cho ao teto." Escrever simplesmente "Prateleiras de livros antigos, cheios de poeira, vo do cho ao teto."

    3) No repita, na descrio, informao que j est no cabealho. Por exemplo, se estamos no "INT. COZINHA - DIA", no escrever durante a cena: "Joo ENTRA na cozinha e bate a porta". Escrever "Joo ENTRA e bate a porta".

    4) Sempre use um novo cabealho quando mudar de lugar (INT. para EXT. ou vice versa). Vejo muitos cabealhos assim: INT./EXT. CASA - DIA.

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  • 5) Sempre use um novo cabealho quando mudar de tempo. Muitos roteiristas colocam a frase: "Passagem de tempo", onde definitivamente se precisaria de um novo cabealho como:

    INT. PALCIO/SALA DE ESTAR - NOITE - MAIS TARDE

    6) Nunca escreva: "Sandra senta na mesa e comenta". Mas: "Sandra senta na mesa," e em seguida a fala dela. Por outro lado, e por incrvel que parea, j encontrei a expresso "Rubens no responde" seguida por uma fala da mesma personagem, respondendo.

    7) Use instrues para o ator com muita pouca freqncia. No posso enfatizar isto o bastante. Como j mencionado, se o dilogo estiver suficientemente claro, estas instrues so desnecessrias. Quando um homem quebra um vaso precioso, no preciso indicar atriz como falar "Seu idiota!"

    A no ser, talvez, que este homem seja o seu amante, ela no se importe absolutamente com o vaso do marido, e esteja falando numa voz sedutora.

    Ento, as instrues para o ator so usadas para evitar ambigidades no dilogo; quando a personagem comea a falar com outra pessoa -(para Martina); ou quando faz pequenos movimentos importantes, como (apontando o revlver), ou (escondendo a jia), e voc no quer interromper o ritmo da fala com ao.

    8) Evite excessivos olhares. Do tipo "Jaime olha para Marisa"; "Katia olha para a sua me", etc., especialmente quando s existem duas pessoas na cena, e que quase certo que esto se olhando de vez em quando. Isto pertence ao reino exclusivo de novelas de televiso, onde a narrativa inteira est limitada a olhares, tapas e beijos.

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  • Resumo dos tipos de indicao para usar em templates

    Indicadores de AMBIENTE: INT. EXT. - DIA - TARDE - NOITE - MADRUGADA - MAIS TARDE

    Indicadores de COMPOSIO:

    PLANO CONTRAPLANO PLANO GERAL PLANO AMERICANO PLANO MDIO CLOSE UPPLANO DETALHE (CLOSE SHOT) POV

    Indicadores de COMPOSIO EM CAMADAS:

    PRIMEIRSSIMO PLANO 1 PLANO 2 PLANO 3 PLANO

    Indicadores de MOVIMENTO: NGULO ABRE (ZOOM OUT) NGULO FECHA (ZOOM IN) NGULO SOBE

    NGULO DESCE PANORMICA TRAVELLING

    Indicadores de NARRATIVA: (Cont.): (O.S.): (V.O.):

    Indicadores de MONTAGEM:

    FADE IN: FADE OUT: CORTA PARA: FUSO PARA: INSERT: VOLTA CENA - PLANO COMPOSTO - FIM

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