ROMANTISMO BRASILEIRO POESIA PROF. PATI. OBRA MARCO NO BRASIL: SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES...

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ROMANTISMO BRASILEIRO POESIA PROF. PATI

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ROMANTISMO BRASILEIRO

POESIA

PROF. PATI

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OBRA MARCO NO BRASIL:

SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES

Gonçalves de Magalhães

1836

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Contexto histórico - Mundo

Revolução Francesa 1789 – absolutismo entra em crise cedendo lugar ao liberalismo (crença voltada para o individualismo)

Revolução Industrial – especialização da mão de obra

Devido a isso – formação da sociedade burguesa

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O progresso político, econômico e social da burguesia prepara terreno para fenômeno social baseado na liberdade de criação e expressão

Supremacia do indivíduo

Não há a necessidade de seguir padrões pré-estabelecidos.

Ruptura com padrões clássicos

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Contexto Histórico - Brasil

1808 - chegada ao Brasil de D. João VI e da família Real1808/1821 - abertura dos portos às nações amigas; instalações de bibliotecas e escolas de nível superior; início da atividade editorial.1822 - Proclamação da Independência. Daí nasce o desejo de uma literatura autenticamente brasileira.

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Características(comum as três fases da poesia)

exaltação do “eu” – subjetivismo;

a expressão dos estados da alma, das paixões e emoções - sentimentalismo;

religiosidade;

apóiam-se em valores nacionais e populares;

desejo de liberdade, de igualdade e de reformas sociais;

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valorização da Natureza, que é vista como exemplo de manifestação do poder de Deus e como refúgio acolhedor para o homem;

evasão - fuga da realidade através da arte (evasão na morte, na infância ou em um passado histórico);

liberdade de criação.

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1ª GERAÇÃO

Nacionalista ou indianista

Os escritores desta fase valorizaram muito os temas nacionais, fatos históricos e a vida do índio, que era apresentado como " bom selvagem" e, portanto, o símbolo cultural do Brasil.

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Autores e obras

Gonçalves de Magalhães:A obra poética de Magalhães possui mais valor histórico que literário.

Embora, voltado para a poesia religiosa, como deixa transparecer em Suspiros poéticos e saudades, cultivou a poesia indianista de caráter nacionalista, como o poema épico A Confederação dos Tamoios

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Adeus Europa

Adeus, oh terras da Europa!Adeus, França, adeus, Paris!Volto a ver terras da Pátria,Vou morrer no meu país.

Qual ave errante, sem ninho,Oculto peregrinando,Visitei vossas cidades,Sempre na Pátria pensando.

De saudade consumido,Dos velhos pais tão distante,Gotas de fel azedavamO meu mais suave instante.(...)Adeus, oh terras da Europa!Adeus, França, adeus, Paris!Volto a ver terras da Pátria,Vou morrer no meu país.

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Gonçalves Dias

É considerado o responsável pela consolidação do Romantismo no Brasil, tratando em suas poesia do indianismo, da natureza da pátria, da religiosidade, do sentimentalismo.

Poesia Lírica: com profundos traços de subjetivismo, marcados por dor e sofrimento.

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Ainda Uma Vez Adeus                       I

Enfim te vejo! - enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te,

Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado,

Houveram-me acabrunhado A não lembrar-me de ti!

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                     XVII Adeus qu'eu parto, senhora; Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo, Ter sepultura entre os meus; Negou-me nesta hora extrema, Por extrema despedida, Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus!                       XVIII Lerás porém algum dia Meus versos d'alma arrancados, D'amargo pranto banhados, Com sangue escritos; - e então Confio que te comovas, Que a minha dor te apiade Que chores, não de saudade, Nem de amor, - de compaixão.

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Poesia nacionalista: sua poesia ora exalta a pátria distante, ora idealiza a figura do índio. As chamadas poesias saudosistas são marcadas pelo exílio e pela saudade da pátria distante, finalizando numa exaltação da natureza brasileira.

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CANÇÃO DO EXÍLIO"Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossas flores têm mais vida,Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.(...)Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá;Sem que desfrute os primoresQue não encontro por cá;Sem que ainda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabiá."

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Poesia indianista:É no indianismo que Gonçalves Dias atinge o máximo de sua arte, sendo considerado o maior poeta indianista de nossa literatura.

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No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos — cobertos de flores,

Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,

Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão.

São rudos, severos, sedentos de glória, Já prélios incitam, já cantam vitória, Já meigos atendem à voz do cantor:

São todos Timbiras, guerreiros valentes! Seu nome lá voa na boca das gentes,

Condão de prodígios, de glória e terror! As tribos vizinhas, sem forças, sem brio, As armas quebrando, lançando-as ao rio, O incenso aspiraram dos seus maracás:

Medrosos das guerras que os fortes acendem, Custosos tributos ignavos lá rendem, Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

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"Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte; Pois choraste, meu filho não és! Possas tu, descendente maldito De uma tribo de nobres guerreiros, Implorando cruéis forasteiros, Seres presa de vis Aimorés.

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2ª GERAÇÃO

conhecida como Mal do século, Byroniana ou fase ultra-romântica. Os escritores desta época retratavam os temas amorosos levados ao extremo e as poesias são marcadas por um profundo pessimismo, valorização da morte, tristeza e uma visão decadente da vida e da sociedade. Muitos escritores deste período morreram ainda jovens.

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Álvares de Azevedo

Foi responsável pelos contornos definitivos do mal–do–século em nossa literatura, produzindo uma obra influenciada por Lord Byron.Suas poesias falam de morte e de amor, este sempre idealizado, irreal e impregnado de imagens de donzelas ingênuas, mulheres misteriosas, mas nunca se materializam.

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Se eu morresse amanhã Se eu morresse amanhã, viria ao menos

Fechar meus olhos minha triste irmã;Minha mãe de saudades morreria

Se eu morresse amanhã! 

Quanta glória pressinto em meu futuro!Que aurora de porvir e que manhã!Eu perdera chorando essas coroas

Se eu morresse amanhã! 

Que sol! que céu azul! que doce n'alvaAcorda a natureza mais louçã!

Não me batera tanto amor no peitoSe eu morresse amanhã!

 Mas essa dor da vida que devoraA ânsia de glória, o dolorido afã...

A dor no peito emudecera ao menosSe eu morresse amanhã!

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O lenço dela

Quando a primeira vez, da minha terraDeixei as noites de amoroso encanto,

A minha doce amante suspirandoVolveu-me os olhos úmidos de pranto.

 Um romance cantou de despedida,Mas a saudade amortecia o canto!

Lágrimas enxugou nos olhos belos...E deu-me o lenço que molhava o pranto.

 Quantos anos contudo já passaram!Não olvido porém amor tão santo!

Guardo ainda num cofre perfumadoO lenço dela que molhava o pranto...

 Nunca mais a encontrei na minha vida,Eu contudo, meu Deus, amava-a tanto!

Oh! quando eu morra estendam no meu rostoO lenço que eu banhei também de pranto!

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Pálida à luz 

 Pálida à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada,

Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia!

 

Era a virgem do mar, na escuma fria Pela maré das águas embalada!

Era um anjo entre nuvens d'alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia!

 

Era mais bela! o seio palpitando Negros olhos as pálpebras abrindo Formas nuas no leito resvalando

 

Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti - as noites eu velei chorando,

Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo! 

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Casimiro de Abreu

Sua poesia é caracterizada por temas já gastos, ritmo fácil, rima pobre e repetitiva, linguagem simples e emprego abusivo de pleonasmos. Entretanto, justamente pelas características apontadas, é um dos mais populares poetas da literatura brasileira.

Poeta da saudade.

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Meus Oito Anos Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!  

Como são belos os dias Do despontar da existência! — Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é — lago sereno, O céu — um manto azulado, O mundo — um sonho dourado, A vida — um hino d'amor!

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Junqueira Freire

Sua única obra de poesias, as "Inspirações do Claustro (1855), tem grande valor de testemunho das experiências interiores passadas pelo autor em sua breve vida: o desgosto na casa dos pais as ilusões sobre a vocação monástica as dúvidas e desesperos nos dois anos em que permaneceu na Ordem.

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Inspirações do claustro (trechos) Aqui – já era noite... eu reclinei-meNas moles formas do virgíneo seio:Aqui – sobre ela eu meditei amores

Em doce devaneio.

Aqui – inda era noite... eu tive uns sonhos De monstruosa, de infernal luxúria:

Aqui – prostrei-me a lhe beijar os rastros Em amorosa fúria.

...

Aqui – era manhã... via-a sentadaSobre o sofá – voluptuosa um pouco:

Aqui – prostrei-me a lhe beijar os rastrosAlucinado e louco.

...

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Fagundes Varela

Sua poesia marca a transição entre a geração ultra-romântica de Álvares de Azevedo e a geração condoreira de Castro Alves, passando por vários temas comuns do Romantismo vigente. Canta a natureza e suas belezas, essa exaltação muitas vezes entra em conflito com o inconformismo e a inadequação à sociedade, o que o leva a escrever sobre os problemas sociais, aproximando-o da poesia condoreira da terceira e última geração romântica.

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Cântico do Calvário –“Em memória de meu filho morto a 11 de dezembro de

1863".Eras na vida a pomba predileta

Que sobre um mar de angústias conduziaO ramo da esperança. - Eras a estrela

Que entre as névoas do inverno cintilavaApontando o caminho ao pegureiro.Eras a messe de um dourado estio.Eras o idílio de um amor sublime.

Eras a glória, a inspiração, a pátria,O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,

Pomba, - varou-te a flecha do destino!Astro - engoliu-te o temporal do norte!Teto - caíste - Crença, já não vives!

Correi, Correi, oh! lágrimas saudosas,Legado acerbo da ventura extinta

Dúbios archotes que a tremer clareiam A lousa fria de um sonhar que é morto!

(...)

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3ª GERAÇÃO

Conhecida como geração condoreira, poesia social ou hugoana. Textos marcados por crítica social.

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Castro Alves

Sua poesia divide-se em poesia lírico - amorosa, na qual evolui de um campo de idealização para a concretização das virgens sonhadas pelos românticos; e poesia social, na qual apresenta a realidade brasileira, dando enfoque a luta abolicionista.

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O navio NegreiroTragédia no mar

1ºStamos em pleno mar... Doudo no

espaçoBrinca o luar – doirada borboleta –

E as vagas após ele correm... cansamComo a turba de infantes inquieta

Stamos em pleno mar... Do firmamentoOs astros saltam como espumas de

ouro...O mar em troca acende ardentiasConstelações do líquido tesouro...

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4ºEra um sonho dantesco... O tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho,Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros...estalar de açoite...Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças cujas bocas pretas Rega o sangue das mães;

Outras, moças... mas nuas, espantadas,No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs.E ri-se a orquestra, irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpenteFaz doudas espirais...

Se o velho arqueja ... se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...Presa nos elos de uma só cadeia,A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

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São os filhos do desertoOnde a terra esposa a luz.

Onde voa em campo aberto A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados,Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão...Homens simples, fortes, bravos...

Hoje míseros escravosSem ar, sem luz, sem razão...

Ontem plena liberdadeA vontade por poder...

Hoje... cúm’lo de maldadeNem são livres p’ra... morrer...Prende-os a mesma corrente_ Férrea lúgubre serpente_Nas roscas da escravidãoE assim roubados à morte,

Dança a lúgubre coorteAo som do açoite... Irrisão!...

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5ºSenhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós senhor Deus!Se é loucura ... se é verdade

Tanto horror perante os céus...Ó mar! por que não apagasCo’a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?...Astros! noite! tempestades!

Varrei os mares, tufão!...Quem são estes desgraçados,Que não encontram em vós,Mais que o rir calmo da turbaQue excita a fúria do algoz?

Quem são?... Se a estrela se cala,Se a vaga à pressa resvalaComo um cúmplice fugaz,Perante a noite confusa...

Musa libérrima, audaz!

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Castro AlvesA vez primeira que eu fitei Teresa,

Como as plantas que arrastaa correnteza,

A valsa nos levou nos girosseus...

E amamos juntos... E depoisna sala

"Adeus" eu disse-lhea tremer co'a fala...

E ela, corando, murmurou-me: "adeus."Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...

E da alcova saía um cavaleiroInda beijando uma mulher sem véus...

Era eu... Era a pálida Teresa!"Adeus" lhe disse conservando-a presa...E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"

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Passaram tempos... sec'los de delírioPrazeres divinais... gozos do Empíreo...

... Mas um dia volvi aos lares meus.Partindo eu disse — "Voltarei!... descansa!...

Ela, chorando mais que uma criança,Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

Quando voltei... era o palácio em festa!...E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta

Preenchiam de amor o azul dos céus.Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!

Foi a última vez que eu vi Teresa!...E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"