Robert E. Vardeman - God of War I.pdf

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  • Ficha Tcnica

    Copyright Matthew Stover e Robert E. Vardeman

    Todos os direitos reservados.

    Traduo para a lngua portuguesa 2012 by Texto Editores Ltda.

    Ttulo original: God of War

    Diretor editorial: Pascoal Soto

    Editora: Tain Bispo

    Coordenao editorial externa: Tas Gasparetti

    Traduo: Flvia Gasi

    Preparao de texto: Eduardo Hiroshi Kobayashi

    Reviso: Alexander Barutti Azevedo Siqueira

    Reviso da traduo: Carolina Costa

    Diagramao: A2

    Adaptao da capa original: Gabriel Calou

    God of War uma obra de fico. Nomes, lugares e ocorrncias so produtos da imaginao dos autores e usados de forma ficcional.

    God of War uma marca registrada da Sony Computer Entertainment America LLC. Copyright 2005-2010 da Sony Computer Entertainment America LLC. Playstation e ologo da famlia PS so marcas registradas da Sony Computer Entertainment Inc. Todos os direitos reservados.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Vardeman, Robert E.

    God of War / Robert E. Vardeman e Matthew Stover ; traduo Flvia Gasi.

    -- So Paulo : Leya, 2012.

    Ttulo original: God of War

    ISBN 9788580446753

    1. Fico norte-americana I. Stover, Matthew. II. Ttulo.

    12-12870 CDD-813

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Fico : Literatura norte-americana 813

    2012

    Texto Editores Ltda.

    [Uma editora do Grupo LeYa]

    Rua Desembargador Paulo Passalqua, 86

    01248-010 Pacaembu So Paulo SP

    www.leya.com.br

  • Para Scott e Jen

  • MReconhecimentos

    uitas pessoas trabalharam rdua e longamente neste livro. William Weissbaum, da Sony, nos proveude solues precisas para problemas narrativos, bem como de conselhos astutos durante todo oprocesso. O conhecimento de games e a sagacidade de Marianne Krawczyk foram muito apreciados.Tricia Pasternak foi a melhor editora de todos os tempos. Raven Van Helsing nos ajudou de maneiraque nem imaginvamos, com o YouTube. Por ltimo, obrigado ao meu agente, Howard Morhaim, e aomeu intrpido coautor, Matthew Stover, por me dar a chance de ajudar em um projeto to grandioso.

    Robert E. Vardeman

  • Prlogo

    borda de um penhasco sem nome, ele pe-se de p: uma esttua de mrmore travertino, plida comoas nuvens do cu. Ele v que no h cores na vida, nem nos cortes escarlates das suas tatuagens, nemnos retalhos apodrecidos de seus pulsos, onde as correntes rasgaram sua carne. Seus olhos so pretoscomo a tempestade agitada que marca o Egeu abaixo, que termina com a espuma que se aferventa nasrochas acidentadas.

    Cinzas, somente cinzas, desespero, e o chicotear da chuva invernal: essas so suas recompensas pordez anos de servio aos deuses. Cinzas e putrefao e decadncia, uma morte solitria e fria.

    Seu nico sonho agora o esquecimento.

    Ele j foi chamado de Fantasma de Esparta. Ele j foi chamado de Punho de Ares e de Campeo deAtena. Ele foi chamado de guerreiro. Um assassino. Um monstro.

    Ele foi todas essas coisas. E nenhuma delas.

    Seu nome Kratos, e ele sabe quem so os verdadeiros monstros.

    Seus braos pendem, suas vastas linhas de msculos fortes e entrelaados so inteis agora. Suasmos trazem calos endurecidos no somente pela espada e pela lana espartanas, mas pelas Lminasdo Caos, pelo Tridente de Poseidon e mesmo pelo lendrio Relmpago de Zeus. Essas mos tiraramincontveis vidas, mas agora elas no tm armas para empunhar. Essas mos no mais se fechariam oucerrariam em punhos. Tudo o que podem sentir o gotejar de sangue e pus de seus pulsos dilacerados.

    Seus punhos e antebraos so os verdadeiros smbolos de seu servio aos deuses. A maltrapilha edescascada carne tremula ao vento cruel, tornando-se enegrecida de podrido; at os ossos padecempelas cicatrizes deixadas pelas correntes que uma vez fundiram-se ali: as correntes das Lminas doCaos. Essas amarras j no existiam mais, arrancadas pelo mesmo deus que se imps sobre ele.Aquelas correntes uniam as lminas a ele, e ele s lminas; aquelas amarras eram os vnculos que oalgemavam a servio dos deuses.

    Mas o trabalho havia acabado. As correntes se foram, e as lminas com elas.

    Agora ele no tinha nada. No era nada. De tudo o que no o abandonara, ele se livrou.

    Sem amigos ele temido e odiado pelo mundo conhecido, e nenhuma criatura viva pode olh-locom amor ou mesmo com alguma fagulha de afeio. Sem inimigos ele no tinha mais nenhum vivopara matar. Sem famlia...

    E esse, mesmo agora, um lugar no seu corao que ele no se atreve a espiar.

    E, finalmente, o ltimo refgio dos perdidos e solitrios, os deuses...

    Os deuses fizeram um escrnio de sua vida. Tomaram-no, moldaram-no, transformaram-no em um

  • homem que no suportava mais ser. Agora, no final, ele no consegue nem se enfurecer.

    Os deuses do Olimpo me abandonaram.

    Ele pisa nos ltimos centmetros do penhasco, suas sandlias raspam no cascalho da beiradaquebradia. Trezentos metros abaixo, trapos sujos de nuvens giravam e tranavam uma malha denvoa entre ele e as pedras pontiagudas banhadas pelo mar Egeu. Uma malha? Ele sacode a cabea.

    Uma malha? Antes uma mortalha.

    Ele fez mais do que qualquer mortal poderia ter feito. Ele completou proezas que nem mesmo osdeuses poderiam igualar. Mas nada apagava a sua dor. O passado do qual ele no pudera escapar traziaa agonia e a loucura como seus nicos companheiros.

    Agora no h esperana.

    No h esperana neste mundo mas no prximo, dentro das bordas do poderoso Estige, que fazfronteira com o Hades, onde corre o rio Lete. Um esboo da gua negra que, dizem, apaga a memriade uma existncia que deixou uma sombra para trs, e o esprito vagueia para sempre, sem nome, semcasa...

    Sem passado.

    Esse sonho o impulsiona a tomar um final e fatal passo, que o empurra para o meio das nuvens quedespedaam-se em volta dele, enquanto ele cai. As rochas carcomidas pelo mar se materializam,ganhando solidez e tamanho, e correndo para esmagar sua vida.

    O impacto engole tudo o que ele foi, tudo o que ele , tudo o que ele fez e tudo o que foi feito a ele,em uma exploso estilhaada de noite.

    * * *

    A DEUSA ATENA se postou em armadura completa defronte a seu espelho de bronze polido, encaixouuma flecha em seu arco e retesou a corda vagarosamente. Ela olhou todos os seus movimentos noespelho, para verificar sua postura. Atena ergueu seu cotovelo direito levemente. Qualquer desvio nongulo faria a flecha ser disparada erroneamente. Ela buscava perfeio em todas as coisas, comoconvinha deusa guerreira. Ela segurou a corda e tensionou-a, sentindo os msculos nos seus braos eombros se distenderem. A sensao a perpassou e a tornou consciente no somente dela mesma, masde tudo o que a circundava. Uma meia-volta, observada no espelho, uma pequena correo em suapostura, e ela mirou a flecha atravs de sua cmara em uma tapearia enorme que mostrava a Quedade Troia. A flecha deslizou dos seus dedos e voou direta e certeira para afundar-se na figuraentrelaada de Pris.

    Que heri cheio de falhas, meditou. Ela no havia feito uma escolha to pobre. Ela arriscou muitoporque o destino do Olimpo suspendeu-se de seu equilbrio, quando seu irmo Ares ficou fora decontrole. Ser que Kratos experienciou um momento de hesitao pouco antes de a flecha voar de seuarco? Dvida? Segurana? Atipicamente, ela sentiu uma estocada de pnico. Ser que todas as suas

  • maquinaes serviram para nada, arrancando os servios de Kratos das mos de Ares para si, em umardil engenhoso?

    Um pequeno sopro de ar a fez girar vertiginosamente, outra flecha ajustada ao arco, e entoenrijeceu-se at que o arco dourado gemesse com a tenso. Ela ponderou suas aes, depoislentamente relaxou sua trao na corda, a flecha dispersou-se.

    Espreguiando-se seminu em seu sof, de uma nuvem de vinho tinto, sem a menor expresso devergonha, estava um jovem de beleza atordoante. Seu sorriso charmoso e malicioso no titubeava porter uma flecha apontada sua testa.

    timo v-la ele disse. Celebrando a sua vitria, no ? Voc sabe o que faz esta ocasiorealmente especial? Derramar essa sua virgindade perptua. No parea to solene. No seja tosolene. Vamos explorar esse territrio, sem travas. Sou um explorador versado e posso lhe mostrar ocaminho por rumos no familiares.

    Hermes ela disse entre dentes. No o adverti sobre me espionar em minha cmara?

    Estou certo que sim o Mensageiro dos Deuses disse indolentemente. Ele esfregou suas costasdespidas no sof, remexendo-se sinuosamente, com prazer.

    Ah, maravilhoso. Estava com uma coceira. Na verdade, querida irm, h outra coceira, uma comque voc pode me ajudar, o que justo, j que voc sua inspirao.

    Sou? O rosto de Atena poderia ser esculpido em mrmore. Devo co-lo com a minha espada?

    O arco em seu punho desapareceu, substitudo por uma espada afiada.

    Hermes deixou seu peso recair sobre o sof. Ele entrelaou seus dedos por trs de sua cabea e faloucom emoo para os cus do Olimpo:

    Para sempre fitando aquilo que no posso tocar suspirou. Tais cruis destinos deveriam serreservados somente para os mortais.

    Atena aprendeu com sculos de experincia que Hermes era to intoxicado com seu prprio charmeque, quando comeava a flertar, a nica maneira de evit-lo era mudar o rumo da conversa. Ela usousua espada para apontar para as sandlias dele.

    Voc est usando suas asas. Esta uma mensagem oficial?

    Oficial? Ah, no, no, Zeus est por a, fazendo... algo ele sorriu maliciosamente. Muitoprovavelmente algum. Outra garota mortal, certamente. S as Moiras sabem. Realmente, eu noposso adivinhar o que ele v nas mulheres mortais, quando qualquer deus normal sacrificaria umaparte privada imortal, ou duas, pela chance de passar pela cinta de Hera.

    A mensagem disse Atena. Sua desculpa para invadir minha cmara?

  • Ah, existe uma mensagem.

    Ele materializou seu caduceu e o acenou para ela.

    Mesmo. V? Eu tenho a varinha.

    Sua beleza lhe empresta a impresso de charme. Seu comportamento a dissipa.

    Oh, eu suponho que isso tenha sido um chiste. Foi, no foi? Eu pergunto, cara virgem da guerra,pois de outra forma no o poderia decifrar.

    Ento me permita responder com um questionamento meu. Essa mensagem que traz de tantaimportncia que eu no deveria mat-lo por me agravar?

    V, por favor. A palavra de nosso pai probe qualquer deus de assassinar outro... sua voz searrastou como se achasse algo inteiramente desconfortvel no olhar frio e cinzento da deusa.

    Atena, minha cara irm, voc sabe, sou perfeitamente inofensivo, mesmo.

    Isso o que venho me dizendo. At agora.

    S estava tentando me divertir um pouco. Um montante bem pequenino. Uma provocaozinhacom minha irm favorita. Anime-se, que tal? Distraia-se de... bem, voc sabe.

    Sim, bem sei. E voc no deveria esquecer tampouco.

    Ela vislumbrou atrs de Hermes uma penteadeira, onde jazia um ornamento de ouro, encrustadocom pedras preciosas. Mais um badulaque feito por um arteso ambicioso da cidade como umaoferenda de sacrifcio a ela. Era benfeito, para o trabalho de um mortal. Ela achava que poderia atresponder s preces dele, se se incomodasse de lembrar qual era seu nome. Sua preocupao com Aresa roubou dos seus pensamentos para com os mortais que confiavam nela, mesmo em suas mortes. Issodeveria mudar logo, para reparar mais do que construes desintegradas.

    E, bem, eu realmente peo desculpas por espionar. De todas as deusas do Olimpo, voc averdadeiramente mais bela. Sua postura era elegante no, perfeita, com o arco curvado e a cordatensa. Era uma viso de se contemplar. Qualquer adversrio estremeceria, assim como qualquer aliadose mobilizaria sua causa.

    Hermes ergueu-se do sof, alongando seus msculos de modo calculado, enfatizando seu fsicoesbelto e jovial.

    Mas deve admitir: entre os deuses, eu sou o mais bonito.

    Se voc fosse metade do homem que pensa ser, voc poderia, deveras, exceder o sol em brilho.

    V? Nenhum se compara a mim.

    Gostaria de ouvi-lo falar assim na frente de Apolo.

  • Hermes balanou a cabea arrogantemente.

    Ah, claro, ele bonito o suficiente, mas um tanto entediante!

    melhor que as prximas palavras de seus lbios digam respeito a sua mensagem.

    Ela se inclinou e cutucou Hermes levemente, no peito, com a ponta de sua espada.

    Voc viu recentemente, acredito, as consequncias de me deixar irritada.

    O Mensageiro dos Deuses olhou para baixo, para a lmina contra as suas costelas, e depois de voltapara os olhos cinzentos e resolutos da Deusa da Guerra. Ele ergueu-se, adequou-se, ajustando suaclmide com exagerada dignidade, e disse em uma voz de clarim:

    seu mortal de estimao.

    Kratos? ela franziu a testa.

    Zeus havia dito que ele mesmo cuidaria de Kratos at depois do memorial.

    O que h com ele?

    Bem, achei que gostaria de saber, em vista de toda a assistncia que lhe deu e do zelo queocasionalmente sente por ele...

    Hermes.

    Ele se encolheu levemente.

    Sim, sim. Aqui: testemunhe.

    Ele ergueu seu caduceu e o apontou. No ar entre eles, a imagem de uma montanha se amoldou, altaalm da imaginao, e um penhasco, impossivelmente absoluto, impossivelmente alto acima daexploso aqutica do Egeu. margem desse penhasco, Kratos parou e pareceu falar, ainda que nohouvesse ningum para escutar.

    Seu bicho de estimao escolheu um perigoso caminho para trilhar. Esse o levar ao Hades.

    Atena sentiu tornar-se plida.

    Ele quer tirar sua prpria vida?

    o que parece.

    Ele no pode!

    Que mortal desobediente! E onde estava Zeus? No tomando conta de Kratos, obviamente ou eledisse, agora ela ponderava, que estaria observando de longe o espartano? O que seria algo totalmente

  • diferente.

    Enquanto sua mente corria, ordenando todas as possibilidades e improbabilidades, o Kratos daimagem inclinou-se para frente e levantou o p do penhasco para o ar vazio... e caiu. Simplesmentecaiu.

    Sem esforo. Sem grito. Sem pedido de ajuda. Ele mergulhou de cabea para a morte nas rochasabaixo, seu rosto era s calmaria.

    Voc no previu nada disso? Hermes sorriu com desdm. No voc a suposta Deusa doPrenncio?

    Quando ela voltou seu olhar para ele, ele abafou o sorriso com uma tosse.

    Da prxima vez que nos encontrarmos ela disse, baixa e mortalmente , veremos qual ser meupressgio para voc.

    Eu, ahn... estava apenas brincando ele engoliu seco. S brincando...

    E por isso que ainda no achei necessrio machuc-lo. Ainda.

    Sua espada cortou o ar defronte ao nariz de Hermes. A seu crdito, ele no se encolheu. Muito.

    Ela se recomps e, com um espasmo de vontade, irrompeu da sua cmara, deixando Hermesboquiaberto atrs dela. Na velocidade do pensamento, Atena desceu do Monte Olimpo para openhasco. Ela apareceu enquanto Kratos se arremessava pelas nuvens maltrapilhas abaixo.

    O Mensageiro estava certo. Contudo, ela no tinha ideia de que esse seria o final da histria deKratos. Como ela pde ter sido to cega? Como Zeus pde deixar isso acontecer? Mais importante:como Kratos pde ser to desobediente?

    O Tmulo dos Navios, ela pensou. Foi onde a queda de Kratos realmente comeou. Tinha de ser.O Tmulo dos Navios no mar Egeu...

  • OUm

    navio inteiro rangeu e tremeu, balanando com as rajadas de vento invernal, como se tivesse atingidoum baixio no mais profundo alcance do Egeu. Kratos levou os braos em torno da esttua de Atena naproa do seu navio golpeado, os lbios descascando por conta do grunhido animal dos seus dentes.Acima, no mastro principal, a ltima de suas velas quadrangulares partiu com o vendaval como emuma detonao de um raio prximo. Um grande bando de criaturas imundas e macilentas, comomulheres asquerosas com asas de morcego, pairou sobre o mastro, gritando com raiva e sede dosangue dos homens.

    Harpias Kratos grunhiu. Ele odiava harpias.

    Um par de monstros alados guinchava mais alto que o uivo do vento, enquanto avanava para cortara vela com suas presas manchadas de sangue. A vela ribombou mais uma vez e finalmente sedespedaou, caindo sobre o convs e estapeando algumas das harpias no ar. Uma delas desapareceu natempestade; outra conseguiu se safar, emaranhando suas garras afiadas violentamente no cabelo de umremador. Ela arrastou o desafortunado marinheiro, que gritava e se debatia pelos cus, retorcendo-separa cravar suas presas no pescoo dele e banqueteando-se com seu sangue, que foi derramado emuma ducha violenta.

    A harpia percebeu que Kratos a observava e gritou sua eterna fria. Ela arrancou a cabea domarinheiro e atirou-a contra Kratos; quando ele afastou o pavoroso mssil com um golpe desdenhoso,ela lanou o corpo do remador com fora suficiente para matar um homem comum.

    Seu alvo, contudo, no era nada que assemelhasse o ordinrio.

    Kratos deslizou para o lado e agarrou o cinto de corda do marinheiro enquanto o cadvermergulhava. Um selvagem arranque estalou o cordo e enviou o corpo sobre a murada para o marrevolto. Kratos calculou o mergulho da harpia, que investia contra ele como um falco, com as garrasafiadas estendidas para arrancar seus olhos.

    Kratos lanou as mos instintivamente atrs de seus ombros, procurando as enormes gmeas,impiamente curvas e sobrenaturalmente afiadas, as espadas que se aninhavam em suas costas. Suasarmas smbolo, as Lminas do Caos, forjadas pelo deus ferreiro Hefesto nas fornalhas do prprioHades. As correntes enroladas em seus punhos e queimadas em sua carne at se fundirem com cadaum de seus ossos mas, no ltimo instante, ele deixou as gmeas onde estavam.

    Uma harpia no era digna de que elas fossem sacadas.

    Ele rompeu o cinto do marinheiro assassinado como um chicote. Este rodopiou para encontrar omergulho da harpia e lanar-se ao pescoo do monstro. Kratos pulou da esttua para o convs abaixo,seu peso sbito arrancando a criatura dos cus. Ele a imobilizou no convs com uma sandlia,enquanto puxava a corda para cima com uma frao de sua fora. Aquela frao foi o suficiente: acabea da harpia rasgou-se do corpo e deslizou no ar.

  • Ele agarrou a cabea com sua mo livre, balanou-a prximo ao timo, o rebanho de harpiasguinchando, e rugiu:

    Desam at aqui. Vejam o que acontece!

    Ele pontuou seu desafio atirando a cabea decepada na harpia mais prxima, com preciso mortal efora inacreditvel. Acertou-a diretamente no rosto, cortando seu grito como o golpe de um machado.Ela deu cambalhotas enquanto despencava do cu, chocando-se com a tempestade, trs palmos abombordo.

    Kratos apenas olhou fixamente. Matar aquelas criaturas vis no era nem divertido.

    Sem desafio.

    O olhar de Kratos se assentuou quando o temporal lhe apontou um vislumbre do navio mercante queele perseguia. A grande embarcao tinha duas velas iadas e estava se afastando, correndo a favor dovento. Um outro instante lhe mostrou por que seu navio ficou para trs. Seus remadores acuaram commedo das harpias, se encolhendo em qualquer canto que pudessem encontrar, abaixo dos seus bancosou protegidos pelo emaranhado dos remos. Com um rosnado, Kratos segurou um remador que estavaem pnico pela nuca e, com apenas uma das mos, levantou o homem acima de sua cabea.

    O nico monstro que voc deveria temer sou eu!

    Um movimento rpido de seu pulso lanou o covarde s ondas sem esforo.

    Agora remem!

    A tripulao sobrevivente aplicou-se aos remos com energia frentica. A nica coisa que Kratosodiava mais do que harpias era um covarde.

    E voc! ele sacudiu seu punho massivo para o timoneiro. Se eu tiver que voltar aqui paradirigir, eu fao com que voc vire comida de harpia! Voc tem o navio vista?

    Seu rugido gutural fez com que o timoneiro se encolhesse.

    Voc tem?

    Um quarto de lgua a estibordo disse o timoneiro. Mas ele ainda tem suas velas! Ns nuncairemos alcan-lo!

    Ns vamos alcan-lo.

    Kratos vinha perseguindo a embarcao mercante fazia dias. O outro capito era astuto e ummarinheiro hbil. Ele havia tentado todos os truques que Kratos conhecia, e mesmo uns novos, mas, acada dia, a gal elegante de Kratos direcionava o navio mercante inelutavelmente para um perigo aoqual nenhum barco poderia sobreviver: o Tmulo dos Navios.

    Kratos sabia que sua presa iria ceder. Entrar naquele estreito maldito era o ltimo erro que qualquer

  • capito cometeria.

    frente, como rochas pontiagudas em meio ao estreito, adormeciam pedaos destroados deembarcaes que, por infortnio ou erro de clculo, encontraram seu caminho para a sepultura. Noera possvel saber quantos poderia haver centenas, talvez, ou milhares, elencados nas mars e suascorrentes traioeiras, triturando seus cascos, uns contra os outros, at que finalmente se partissem emdestroos lascados, ou enchessem de gua suficiente para afundar. Mas mesmo isso no marcava ofinal do perigo. Muitas das runas dos navios descansavam abaixo, no fundo do mar, e permaneciamprximas superfcie do Egeu como recifes artificiais, espreitando para arrancar o casco de um naviodesavisado acima. Esses recifes nunca puderam ser mapeados, pois nenhum barco que entrou noTmulo jamais o deixou. Tantos marinheiros morreram ali que o prprio mar havia assumido umcheiro ftido de carne podre.

    Kratos assentiu consigo quando o navio mercante baixou suas velas e reverteu seus remos para avirada. A fuga estava prxima, ou teria estado, em qualquer outra regio do Egeu. Mas a embarcaoestava muito perto do Tmulo dos Navios. Mesmo quando o navio mercante comeou a reverter ocurso, uma cabea colossal levantou-se das profundezas e desabou no convs do navio; e seu vigorosopescoo enrolou-se no mastro, tentando quebr-lo.

    Sempre que o vento se acalmava por um momento, Kratos escutava claramente os gritos e brados deguerra da tripulao do navio mercante, que freneticamente cortava o pescoo da Hidra com espadascurtas e machados. Mais cabeas despontavam das profundezas do mar. Kratos sinalizou ao timoneiropara seguir em frente, indo ao encontro deles. No havia por que esperar que eles se libertassem;estavam muito ocupados na luta com a Hidra para notar que estavam sendo puxados para dentro doTmulo.

    Ao redor, flutuavam os abandonados e destrudos pedaos de embarcaes, que ou no contaramcom a proteo dos deuses, ou portavam um destino de condenao. O barco mais prximo pelo qualpassaram claramente no chegara muito antes de Kratos e sua caa. Uma dzia de marinheirosestavam presos ao mastro empalados por uma nica e imensa lana. As harpias haviam pungido oscorpos. A maioria da tripulao era mero pedao de carne, pendurados em esqueletos sangrentos, maso mais prximo ao mastro ainda estava vivo. O marinheiro avistou Kratos e comeou a chutardebilmente, estendendo suas mos em um apelo silencioso por misericrdia.

    Kratos estava mais interessado na imensa lana que o empalava sua presena sugeria que umciclope poderia estar por perto. Ele bloqueou a viso do timoneiro, para que no visse o navio damorte.

    Preste ateno em seu curso.

    O senhor Ares se ope a ns o marinheiro disse com a voz embargada. As harpias a Hidra essas so suas prprias criaturas! Todas elas. Voc desafiaria o Deus da Guerra?

    Kratos estapeou o timoneiro forte o suficiente para lan-lo ao convs.

    O mercador tem gua fresca. Precisamos peg-lo antes que afunde, ou vamos todos morrer

  • engolindo o mar. Esquea Ares. Preocupe-se com Poseidon.

    Ele levantou o homem de volta aos seus ps e o postou no leme.

    E se Poseidon no o preocupa, lembre-se de mim.

    Por dois dias eles estiveram sem gua. Sua boca estava mais seca do que o Deserto das AlmasPerdidas, e sua lngua havia inchado. Kratos teria negociado a gua de bom grado, mas, antes de oacordo ser realizado, o capito do barco mercante teve um vislumbre dele e decidiu que o caminhomais sbio era o de fugir como se todos os ces do Hades ladrassem em seus calcanhares. Kratosensinaria a esse capito as consequncias de tal sabedoria.

    Ele cofiou sua barba curta e pontuda, removendo cogulos espessos de sangue humano ou deharpias, ele no sabia, nem se importava. Ele verificou seu corpo em busca de ferimentos; no calor dabatalha, um guerreiro pode ser mortalmente ferido e nem perceber. Sem achar nenhum, seus dedosinconscientemente traaram a tatuagem vermelha que percorria seu rosto e sua cabea raspada, antesde descer ao longo das costas. O vermelho contrastava nitidamente com o tom branco sseo de suapele.

    Sangue e morte. Aquelas eram as mercadorias de Kratos. Ningum que j o tivesse visto em umaluta, ningum que tivesse escutado os contos de suas faanhas lendrias, poderia confundi-lo comqualquer outro homem.

    Outro impacto fez com que Kratos colidisse com seu timoneiro. O navio estremeceu e guinchou, e osom agudo do choque ecoou. O marinheiro caiu no convs, e Kratos agarrou o leme mas estebalanou livremente na sua mo.

    O leme! o timoneiro engasgou. O leme foi despedaado.

    Kratos soltou o leme intil e espreitou por cima da popa. Uma das carcaas abandonadas dos recifesartificiais lanara-se em sua gal como em um peixe uma lana to grossa quanto seu corpo foilevada atravs do casco e dilacerou o leme inteiro, quando penetrou a popa de dentro para baixo.

    Remos a estibordo! Recuar! Kratos bramiu. Remos a bombordo! Puxem por suas vidas inteis!

    Com um grito que poderia triturar os dentes, a gal conseguiu escapar de vergar. Enquanto seu arcobalanou em direo do mercador que se debatia, Kratos ordenou que o barco virasse a estibordo atoda velocidade. Ele girou e rosnou ao timoneiro:

    Marque a cadncia! Rpido!

    Mas... mas estamos afundando!

    Marque! Kratos voltou-se para os remadores. O primeiro verme covarde que tirar suas mosdo remo vai morrer onde estiver sentado!

    A tripulao olhava para ele como se tivesse sido levado loucura pelos deuses.

  • Agora! Puxem!

    Mesmo que a popa afundasse mais e mais dentro dgua, a gal emergia frente. O barco mercanteestava a apenas duzentos passos de distncia, e cento e cinquenta, e ento...

    Um gigantesco volume de gua, impulsionado pelas contracorrentes traioeiras do Tmulo dosNavios, saltou sobre metade da embarcao e, em vez de se corrigir, desabou em cima de um cascopodre, que foi perfurado rapidamente. Seu navio no tinha nenhum lugar para ir, exceto para baixo.

    Quem puder, siga-me Kratos disse sua tripulao.

    Se no pudessem, no valiam o trabalho de serem salvos.

    Ele arqueou-se sobre o parapeito e aterrizou como um gato em uma tbua cheia de limo. Elederrapou ao longo dela, movimentando os braos para se equilibrar. O mar espumou entre as tbuasirregulares deriva, e cada onda jogava cascos abandonados uns contra os outros como moinhos demadeira. Cair nessas guas seria morte certa.

    Cinquenta metros frente oscilava outro navio. Seu mastro havia sido decepado e, pela maneira queas cracas incrustadas e as algas negras adornavam seu casco, o barco fora prisioneiro no Tmulo dosNavios por muitos anos. Qualquer coisa que ainda flutuava era melhor do que sua gal, que se rendiaao mar com um vasto som de suco e com o coro de gritos dos marinheiros, lentos demais parasaltar.

    Um momento depois, os nicos sons eram o das ondas se acidentando e o assobio fino doabrandamento do vendaval. Andando rapidamente entre os restos quebrados dos navios quepereceram, Kratos alcanou uma carcaa abandonada. A curva alta do casco viscoso pareciaimpossvel de ser escalada, mesmo para ele.

    Fez uma pausa e olhou para trs para ver se algum de sua tripulao o havia seguido. Apenas umpunhado evitou ser sugado com a gal uma cabea de Hidra emergiu das profundezas e atacoubrutalmente, assassinando mais marinheiros, cortando-os em metades sangrentas. Em silncio, Kratosassistiu enquanto eles morriam.

    Ele estava acostumado a ficar sozinho.

    A viga em que se equilibrava inesperadamente rolou por baixo dele. Sem hesitar, ele pulou, os dedosarranhando a carcaa incrustada da corrente da ncora. Mariscos rasgavam seus dedos, mas ele apenasresmungou e apertou os dedos ainda mais. Seus ps encontraram a curva do casco, e ele subiu comcuidado, puxando-se pela corrente. Ele saltou para cima do convs.

    Essa embarcao fora abandonada h anos. O mastro havia-se quebrado, deixando lascas irregulares,agora cegas pela tempestade e pelas ondas. Ele se virou e olhou de volta para onde seu navio haviaestado. Ele no encontrou nada alm de um ao acinzentado e uma espuma quase to branca quanto otom cinzento de sua pele.

    O fedor sombrio de decomposio foi o seu primeiro aviso. O segundo foi uma incandescncia

  • sbita das correntes fundidas com os ossos de seus pulsos. Ares havia sido um mestre cruel; Kratosodiava at mesmo pensar nele, exceto por um nico ato. Ares havia unido seus braos s Lminas doCaos.

    Os grilhes incorporados queimavam agora, como se estivessem pendurados em uma fogueira.Chamas pingavam das lminas em suas costas, mas mais uma vez ele no se preocupou em empunh-las. Ele se virou e assumiu uma postura de combate, com as mos largas prontas para agarrar e rasgar.O cheiro ptrido ganhou fora quando sua origem apareceu vista.

    A fonte eram trs dos soldados de Ares cadveres em decomposio de legionrios mortos-vivos.Esses eram os nicos soldados que o Deus da Guerra podia agora comandar. Seus olhos ardiam em umfogo verde e frio. Carnes em decomposio pendiam de seus ossos como trapos. Sem emitir um nicosom, eles investiram contra Kratos.

    Apesar de serem mortos-vivos, eles se moviam com uma velocidade sobrenatural. Um empurrouuma lana em direo sua cabea, a fim de for-lo a esquivar-se, enquanto outro balanava umacorrente em direo s suas pernas.

    Kratos arrebatou a lana com ambas as mos, dirigindo-a para baixo, para enredar a corrente, entoarremessou a lana e levou a mo s entranhas lodosas do legionrio mais prximo, seus dedosrasgando a carne putrefata para encontrar o osso ilaco em seu interior. Kratos apertou com forasobre-humana; quebrou o quadril do legionrio, e a criatura caiu. Kratos se adiantou, sem olhar paratrs.

    Quando o legionrio com as correntes girou-as novamente, Kratos deixou que elas se envolvessemem torno de seus braos. Ele no estava preocupado, ele tinha seus prprios grilhes.

    Assim que o morto-vivo saltou contra ele, Kratos passou uma lmina da corrente em torno de seupescoo. A contrao de seus braos enormes arrancou a cabea do legionrio de seus ombros. Eledespachou o terceiro com um simples golpe com o punho, esmagando seu crnio.

    Ele procurou por mais criaturas para destruir, mas no viu nada. Sabia que no deveriasimplesmente acreditar que todos os monstros haviam desaparecido.

    Kratos sabiamente usou o tempo livre para encontrar um caminho entre os barcos naufragados quepoderia lev-lo aos ltimos cinquenta passos que o separavam do mercador.

    Uma esttua de madeira flutuando a certa distncia chamou sua ateno.

    Atena! Ele havia disposto sua esttua a bordo de seu navio, na proa, como um tributo aostrabalhos que ele desempenhou para os deuses nos ltimos dez anos. Ele no tinha certeza se foraauxiliado pelos deuses nas misses interminveis ou se havia apenas sorte envolvida. M sorte. Boasorte. No importava. Ele tinha as lminas.

    A esttua no era mais do que um pedao estpido de madeira entalhada, no mais significativa doque qualquer outro destroo ao longo do Tmulo dos Navios. Ou assim ele pensava. Agora, a Atena demadeira boiava, pairando sobre as ondas, para cima e para baixo, e havia subido mais da metade do

  • caminho pela gua e se inclinou na direo de um emaranhado de vigas flutuantes.

    Um fragmento acidentado atrs de Kratos advertiu-o de que mais que a esttua de Atena havia selivrado da sepultura de gua. Ele saltou, mal conseguindo agarrar uma viga. Ele usou suas unhas parase firmar pelo caminho algo frio e liso deslizou por sua perna. Ele resmungou e puxou a viga commais fora, raspando sua barriga sobre a madeira spera. Ele levantou seus ps assim que a mo de ummorto-vivo espremeu seu tornozelo e puxou-o com violncia.

    Ele bateu na viga e usou o aperto do morto-vivo em sua perna como impulso, enquanto mudava decurso e girava na viga, ento mergulhou as mos no mar. Os grilhes ferventes transformaram a guaem vapor e queimaram o legionrio, de modo que ele se debateu violentamente e bateu em retirada,sem puxar Kratos para a morte.

    Kratos colocou-se de p novamente. A pouco menos de dez metros de distncia, a esttua de Atenaainda balanava sobre as ondas. A esttua de madeira levantou-se quase livre da gua e virou-se cominconfundvel urgncia, inclinando-se como um m atrado pelo navio mercante.

    Ele no precisou de outra dica. Saltou, atou-se, equilibrou-se, escorregou e deslizou em meio aoemaranhado de destroos flutuantes em direo a uma embarcao naufragada que parecia estarrelativamente intacta. Alguns dos tripulantes do navio mercante deviam ter procurado refgio l,fugindo do ataque da Hidra; tbuas de embarque, apoiadas na rampa do barco mercante, mediampequeno intervalo entre os navios. Se ele pudesse alcanar o barco afundado, poderia embarcar nonavio mercante com facilidade contudo, antes que pudesse chegar tbua, o mar explodiu diantedele.

    Das profundezas invisveis ergueu-se uma enorme cabea reptiliana, de olhos como escudos de fogoe espadas reluzentes como dentes. Suas mandbulas poderiam morder pedaos inteiros do maispoderoso navio no mar Egeu, seus ouvidos espinhosos balanaram de forma mais ampla do que asvelas de um navio; suas narinas derramavam uma fumaa glida sufocante. A cabea ignorou osnavios atrs dela, olhando, em vez disso, para Kratos. Seu imenso pescoo arqueou, e seus olhosbrilharam, e urrou sobre o Fantasma de Esparta com um som demasiado poderoso para ser chamadode rudo. O grito de trovo deixou Kratos de joelhos. Brevemente. Kratos ergueu-se. Enfim: algo quevalia a pena matar. Harpias haviam morrido pelas suas mos nesse dia. A Hidra seria a prxima. Comuma satisfao sombria, ele levou as mos s costas e sacou as Lminas do Caos.

  • Z

    Dois

    eus, meu senhor...

    Atena levantou os olhos para o grande Pai dos Cus sentado em seu trono de alabastro. O Reidos Deuses descansava em seu vasto assento de autoridade, rgio e vontade com o poder que elecomandava desse trono elevado.

    Zeus, meu amado pai ela emendou.

    Ela escolheu suas palavras para lembr-lo de maneira sutil de que ela era sua favorita.

    Pouco importa o que Ares pensa de mim. Mas agredir deliberadamente meu animal humano voc proibiu pessoalmente esse tipo de comportamento em Troia.

    E Ares no levou esse decreto muito a srio mesmo ento. Se eu bem me lembro, nem voc.

    Atena no poderia ser to facilmente distrada.

    Voc vai permitir que o Deus da Matana desafie a sua expressa vontade?

    Minha vontade?

    O riso de Zeus ecoou por toda a cmara de audincia e por todo o Monte Olimpo.

    Eu acho que voc desenvolveu uma ternura pessoal por esse seu mortal. Qual seu nome? Ah,sim. Kratos. Poderia voc ter... concebido uma simpatia por ele? Um mortal?

    Atena no mordeu a isca to facilmente.

    Eu ouo as splicas dos meus adoradores. Kratos no diferente.

    Mas voc se importa mais com ele do que com os outros. Eu vejo em seus olhos.

    Ele ... entretenimento. Nada mais.

    Eu tambm apreciei suas faanhas. Especialmente quando ele ainda era uma ferramenta de Ares conquistar toda a Grcia? Suas faanhas foram material de lendas. Ento, ele tinha que estragar tudocom os acontecimentos na sua pequena aldeia, no seu templo...

    Ns no temos que enfatizar esse crime particular, temos, pai?

    Zeus coou sua longa barba de nuvens tranadas.

    Eu considerei parar Kratos eu mesmo, mais de uma vez, mas eu... sua estrondosa voz cessouenquanto ele olhava para alguma distncia invisvel, perdido em contemplao. Nunca parecia ser ahora certa.

  • Ele no o nico que precisa ser parado, pai. E voc sabe disso.

    Como filha favorita de Zeus, Atena se atrevia a falar com uma irreverncia que poderia ter auferidoexlio a outro deus do Olimpo e uma queda dolorosa terra, para evitar os raios de Zeus por um sculoou dois. Mas, at mesmo para a sua favorita, a tolerncia do Pai dos Cus era limitada.

    Um pequeno franzir de testa escureceu seu rosto e trouxe uma cor cinza violeta s nuvens de suabarba e de seu cabelo. Um trovo distante crepitava sobre o Olimpo.

    No presuma que pode dar lies a seus superiores, criana.

    Atena assistiu cena sem mostrar nenhuma hesitao.

    O senhor esmagaria uma marionete porque sua dana o ofende?

    Isso depende da marionete.

    Um pequeno sorriso carinhoso tocou a boca do Pai dos Cus, e Atena sabia que o perigo haviapassado.

    E, com certeza, do titereiro.

    Kratos no proporcionou uma consistente e agradvel diverso sob a minha mo?

    Atena agora estava em terreno mais seguro. O tdio era uma aflio mais temvel para os deuses doque a praga para os mortais abaixo.

    As suas lutas j no o entretm mais?

    No, ele notvel, filha. Realmente.

    Ento por que, pai, voc permite que o meu irmo Ares o atormente tanto? Ares est tentandomat-lo, voc sabe.

    Sim, sim respondeu Zeus. Mas ele no teve muito sucesso, teve? Kratos tem se provado...agradavelmente durvel.

    As Lminas do Caos concedem-lhe poder acima dos seus considerveis dons naturais. Mas, aindaassim, voc acha conveniente que seu prprio filho se encarregue da destruio do seu mortalfavorito?

    O meu favorito? Zeus novamente coou a barba de nuvem tempestuosa, meditando. Bem, eusuponho que ele seja. Na verdade, Kratos pode ser til para mim. Em meu nome, envie-o em umamisso em Creta, para cuidar daquela coisa desagradvel. Ele perfeito para corrigir o que estescangalhado. Sim, Kratos pode ficar a meu servio imediatamente. Fique tranquila, Atena. Vou falarcom o Senhor das Batalhas na prxima vez que ele se apresentar diante de meu trono, e orient-lo acessar essa perseguio. Isso ir satisfazer a minha filha mais querida?

  • Atena abaixou a cabea recatadamente, para melhor ocultar um sorriso discreto.

    tudo o que posso pedir, senhor meu pai. Estou certa de que Ares no vai arriscar desagrad-lo.

    Est certa?

    Zeus sentou mais ereto no trono, trazendo ambas as mos para os joelhos enquanto se inclinava nadireo dela.

    H algo que voc no est me dizendo, minha pequena deusa astuta. Algum projeto que deveprogredir para sua satisfao. Eu j vi esse olhar antes, como quando voc me fez aceitar a destruiode Troia, se eles falhassem em proteger a sua esttua... e da voc fez aquele truque sujo com Odisseue Diomedes.

    O Rei dos Deuses deu um suspiro com um matiz de melancolia.

    Eu amava Troia. Vrios de meus filhos os seus prprios irmos meio mortais morreramtentando salvar aquela cidade. Eu no vou ser enganado novamente, criana.

    Engan-lo, meu senhor? Como eu poderia engan-lo, meu senhor? E como eu poderia pensarnisso?

    E por que eu precisaria?, pensou, a verdade ser suficiente.

    Eu no sou a Deusa da Justia, bem como da Sabedoria? E a justia que eu procuro aqui emfrente ao seu trono, pai amado. Kratos j sofreu muito nas mos do meu irmo.

    Justia Zeus murmurou. A justia uma corrente inventada pelo fraco...

    ... para algemar o forte Atena terminou a frase com ele. Eu ouvi o senhor dizer isso antes. Mil vezes, ela pensou, mas manteve esse comentrio desrespeitoso para si mesma.

    No Kratos quem pede. Ele no apela para a ajuda dos deuses desde aquele dia em que imploroua Ares para salv-lo em face horda de brbaros. Eu que peo, pai. Qualquer instante pode ser seultimo Atena disse.

    Ela abriu a mo em direo fonte de ouro que borbulhava ao lado do trono de Zeus.

    Observe.

    As gotculas da fonte se transformaram na imagem de uma tempestade lanada sobre o Egeu, cheiade destroos de incontveis navios. No corao da imagem, chama e relmpago explodiram do aofaiscante enquanto Kratos usava as Lminas do Caos como arpes para cortar o pescoo do poderosorptil, que ele havia escalado implacavelmente, desferindo cortes enquanto subia.

    Essa a Hidra? Zeus disse com uma leve careta de perplexidade. Hrcules no estrangulouessa besta anos atrs? E ela sempre foi to enorme?

  • Essa uma Hidra nova, recm-nascida, meu pai e senhor. Essa Hidra a semente de Tifo eEquidna, os mesmos grandiosos Tits que voc derrotou e aprisionou no submundo mais profundo daterra, mais profundo que o prprio Trtaro. Eles so os ancestrais de toda a perverso repugnante danatureza que o meu irmo inflige a Kratos.

    A expresso de perplexidade de Zeus escureceu e se tornou uma carranca de desagrado.

    Soltar essa criatura em Kratos sem minha permisso cheira a obstinao por parte de seu irmo,mas h pouco que eu posso fazer para ajud-lo. O mar o reino de meu irmo, Poseidon. At mesmogolpear a criatura morta com meu raio seria um insulto sua soberania e Poseidon sensvel arespeito de sua dignidade, estou certo de que voc se recorda.

    Eu me lembro, pai. acredite, eu me recordo. Mas no auxlio, nesta crise particular, que euprocuro. Kratos pode lidar com essa criatura sem a sua ajuda.

    Zeus levantou uma sobrancelha.

    Voc coloca f considervel em suas habilidades.

    Senhor meu pai, eu acredito que ele seja quase indestrutvel. Mas eu tenho meus prprios planospara ele, planos que ele no poder cumprir se tiver de lutar constantemente contra as legiesmonstruosas de meu irmo. Peo apenas que voc proba Ares de quaisquer futuros ataques.

    Zeus se sentou ereto no trono, reunindo sobre si o manto radiante da realeza. Ele se virou em direo fonte.

    Onde est Ares agora?

    Um arco-ris na nvoa rodopiou para mostrar Ares caminhando atravs de um deserto, como umvulco que acaba de renascer. Seu cabelo e sua barba irradiavam com a sua sempre ardente chama, e onegro de sua armadura escurecia o sol. A cada um de seus passos, homens eram esmagados sob suassandlias encharcadas de sangue, como formigas so esmagadas por mortais.

    Onde ele est? Zeus disse. O que ele est fazendo naquele desolado deserto egpcio?

    Espalhando terror e destruio.

    Sem dvida disse Zeus, com uma risada apreciativa. uma pena interromper o seudivertimento.

    O Rei do Olimpo levantou seu punho forte e respirou to profundamente que alterou o padro detempestades em todo o Mediterrneo, em seguida, soltou uma nica palavra:

    Ares.

    A imagem do Deus da Guerra se contraiu de forma visvel e, em seguida, lanou um olhar sombriopara trs, sobre um dos ombros, sem responder. Ele deliberadamente retornou ao esmagamento de

  • seres humanos.

    Como ele ousa me ignorar?

    Zeus puxou outro flego, e esse causou a formao de uma geada, e nuvens apedrejaram a terra comgranizo.

    Meu filho, sua presena requisitada no Olimpo.

    Novamente, o Deus da Guerra se contraiu, mas apenas abaixou a cabea com tristeza, como se nopudesse ouvir.

    Voc deve parar o ataque da sua Hidra imediatamente. Eu tenho usos para o mortal Kratos. Ares?Ares! Eu no serei ignorado enquanto comandar voc.

    As sobrancelhas de Zeus franziram, e as nuvens de sua barba e juba ficaram sombrias e escurascomo uma tempestade de inverno. Atena deu um passo para o lado. Ela havia antecipado essemomento com tanta certeza como um orculo que prev o futuro escondido de seus poderes divinos, eela no queria ficar no caminho.

    Zeus ergueu a mo, palma para cima, e uma pequena lana de energia cintilante se formou. Com umestalido de sua mo, como se ele no fizesse nada mais do que espantar uma mosca, soltou o raio. Elebrilhou perto de Atena e piscou longe no cu. Um instante depois, um raio atingiu o deserto daimagem, to perto de Ares que o deus recuou da exploso feita de rocha derretida e areia fundida.

    O Deus da Guerra levantou o rosto para o cu, suas feies torcidas com ressentimento amargo;Atena podia sentir a raiva do deus por toda a retorcida e devastada terra.

    Por que meu pai me perturba enquanto trabalho?

    No sua funo perguntar trovejou o Rei dos Deuses. Sua funo obedecer. Venha para oOlimpo e se ajoelhe diante do trono para pedir perdo.

    Eu no irei, no enquanto a traioeira, mentirosa, frgida cadela porca que voc chamou de minhairm estiver perto do local. O cheiro de sua corrupo repele todos os deuses honestos.

    Zeus ficou de p. Relmpagos brincaram em suas sobrancelhas.

    Voc ousa me desafiar?

    Seu raio me pegou de surpresa. Eu no me assustarei facilmente mais uma vez.

    Ares descansou seus punhos poderosos em seus quadris. Cada movimento seu fazia suas armascolidirem com o som da batalha.

    Voc bem-vindo a deixar o trono estofado em seu palcio com aroma de mel e aparecer nomundo real para me pegar.

  • Cuidado, Ares. Meu raio pode atingir at mesmo voc.

    Ares jogou seus cabelos de fogo com desdm.

    Voc acha que vai me assustar com luzes e barulho? Eu? O Deus da Guerra? Sou eu uma virgemcovarde, cinza e fria, suplicando diante do seu trono, falando mentiras e perfdias? Eu sou Ares. Sevoc acha que pode induzir a guerra contra mim, pai, recorde que a guerra o meu reino!

    Voc v? Atena disse suavemente. Ele como eu lhe disse. Sua loucura germina a cada dia quepassa. Se ele se atreve a desafiar seu comando, a que ele no se atrever? Pai, pode tornar-senecessrio...

    No Zeus disse severamente. No, Ares no tolo a ponto de me desafiar.

    Atena percebeu que o Pai dos Cus falou uma coisa, mas pensou outra. Fazer com que Zeuscolocasse Kratos sob sua proteo, mesmo que por um curto espao de tempo, havia lhe dado umagrande oportunidade.

    No a morte a pena por rebeldia?

    Eu j decretei que os deuses no podero guerrear uns contra os outros. Nenhum deus pode matarum deus. Essa lei absoluta e se aplica at mesmo a mim. Meus irmos e eu destrumos os Tits porconta de suas lutas constantes entre si; sua amargura sobre seus antigos e nunca esquecidos feudosdividiu-os at que fosse tarde de mais. Os Olimpianos no sofrero o destino dos Tits. Se Ares deveser... aniquilado, no acontecer pelas minhas mos. Nem pelas suas, Atena.

    Ela baixou a cabea, novamente para esconder o nascimento de um sorriso.

    Como meu pai comanda. Eu no tenho sede do sangue de meu irmo.

    Eu no acredito que ele diria o mesmo sobre voc.

    Ela abriu as mos, impotente.

    Ele no pode aceitar que Kratos e todos os exrcitos da humanidade esto agora sob meucomando, enquanto entre as suas legies esto numerados apenas os mortos-vivos e as crias sombriasde Tifo e Equidna. Mas ele no foi enganado, nem mesmo tratado injustamente. Voc estava l, pai.Voc viu a disputa, e voc testemunhou que Ares concordou livremente com a minha barganha.

    Sim. E eu vi naquele momento o mesmo brilho que voc tem em seus olhos agora. Ele noconsiderou o que a barganha queria dizer e voc bem sabia que ele viria a se arrepender desseacordo.

    Meu irmo impulsivo e obstinado. Sou eu a culpada de que seu desejo por sangue domina suarazo? Mesmo que eu lhe houvesse oferecido o dom da minha previso, voc acha que ele teriaaceitado?

  • Zeus balanou a cabea, sorrindo com carinho, apesar do assunto terrvel da conversa.

    Nem mesmo o Rei do Olimpo pode ganhar uma discusso contra a deusa dos estratagemas. O quevoc prope?

    Se ele no pode ser morto Atena disse cuidadosamente , ele ainda pode ser humilhado.

    Uma lio de humildade pode muito bem ser justificada, j que ele no pode ser autorizado aignorar meus comandos dessa forma arrogante Zeus murmurou, pensativo. Como voc pretendeensin-lo?

    Eu no sou a mentora de que Ares precisa Atena disse, ainda falando nada menos do que a puraverdade. Se meu pai e senhor pudesse conversar com seu irmo Poseidon e pedir que o Rei doOceano me receba e oua a minha palavra, a lio vai ensinar-se por si mesma.

    mesmo?

    O lampejo do relmpago voltou testa de Zeus, e seus olhos se estreitaram em suspeita.

    Isso, tambm, voc planejou, no ? Parece um estratagema excessivamente complexo para umarecompensa to pequena.

    Envergonhar o meu irmo nunca foi meu objetivo Atena disse.

    E isso tambm era verdade, absoluta e inconfundvel. O plano de Atena nunca foi humilhar seuirmo. Desde o incidente de Kratos em seu templo na aldeia, ela havia entendido outra verdade, que oresto do Olimpo apenas comeara a vislumbrar: Ares era mais do que teimoso e desobediente, muitomais do que brutalmente ambicioso e sanguinrio.

    O Deus da Guerra era insano.

    * * *

    DO OLIMPO DESCEU a Deusa da Sabedoria e da Guerra. Cada passo causava um novo canto dospssaros. Logo as melodias doces das aves tornaram-se uma torrente de gua batendo contra asmargens rochosas. A gua marinha enevoava seu rosto e formava gotculas em seu cabelo, comoconstelaes de diamantes estrelados. Sua armadura de bronze brilhava no cintilante sol dos trpicos.

    Quando ela finalmente parou, postou-se em uma linha certeira que se esticava para os lados, maislonge do que mesmo um deus poderia enxergar. O mar sem fim sua frente ergueu-se no horizontedistante.

    poderoso Senhor das Profundezas, a Deusa da Guerra gostaria de falar com voc disse ela. Preste ateno ao pedido de meu pai e oua a minha palavra.

    Atena esperou. Seria um insulto deliberado? Poseidon ainda estaria chateado com ela por conta dadestruio de Troia? Ou era o fruto de um rancor anterior? Ela nunca se dara particularmente bem com

  • o Rei do Oceano, desde que rivalizaram pela nomeao do que era hoje a cidade de Atenas.

    Talvez ela devesse ter trazido um presente.

    Finalmente, o oceano comeou a borbulhar no horizonte distante. A formao de espuma correu emdireo costa onde Atena estava e, um instante depois, um vasto jato de gua rugiu para encontrar omar no cu infinito. Equilibrado no meio da coluna montanhosa de gua estava Poseidon, os braosmusculosos cruzados sobre o peito espesso. Sua coroa era coberta de crustceos, e de seu tridentepingavam sangue e entranhas.

    Eu trago os cumprimentos do Olimpo, Senhor Poseidon disse ela, curvando-se profundamente.

    Eu no tenho tempo para voc, Atena.

    O Senhor do Mar fez um gesto brusco por cima do ombro, com o tridente.

    Meus negcios me levam muito alm dos Pilares de Hrcules.1

    Atena assentiu com simpatia.

    Atlntida de novo?

    Aquelas pessoas so um problema sem fim Poseidon murmurou.

    Sua pacincia com eles admirvel.

    Admirvel, talvez, mas a irritao uma lmina que talha minha pacincia perigosamente curta.Meu irmo pediu que escutasse a sua petio. Por respeito a ele, eu ouo.

    O deus do mar se inclinou em direo a ela.

    Brevemente.

    Atena levantou uma mo aberta.

    Que no haja sangue ruim entre ns, meu tio. A nossa contenda deveria ser diminuda pelo tempo,no deveria? No era to significativa para que suas feridas ficassem inflamadas at hoje.

    Poseidon levantou-se a uma altura ainda maior e empunhou o tridente na direo de Atena.

    Aquela cidade deveria ser minha! Eu quebrei a rocha sobre a qual a Acrpole se assenta e

    E uma nascente irrompeu, de fato, mas de gua salgada Atena disse simpaticamente. Devo serculpada pelo povo da cidade preferir minha oliveira sua fonte de gua salgada?

    O deus do mar falou carrancudo:

    Atenas um nome terrvel para uma cidade.

  • Poseidia seria mais melodioso ela admitiu. Se o meu tio amado puder ser apaziguado por umgesto mais substancial, gostaria de lembr-lo de que os atenienses graas patronagem do meugeneroso senhor e tio so os maiores velejadores em todo o mundo conhecido. Sua fora est em suamarinha, e eles fazem honras ao Senhor do Oceano todos os dias.

    Bem... Poseidon resmungou, o som das ondas quebrando contra um penhasco desprotegido. Suponho que seja verdade. Vamos deixar nossas divergncias para trs, minha sobrinha. Que transaotraz voc neste dia ao meu litoral sem fim?

    Meu tio e senhor, vim pedir desculpas pelo insulto mortal de meu irmo sua soberania.

    O qu? as sobrancelhas de espumas do mar de Poseidon se juntaram, e o cho debaixo dos ps deAtena deu um aviso barulhento. Qual irmo?

    Ares, claro. Que outro deus seria atrevido o suficiente para incitar a sua raiva?

    Alm de voc mesma?

    Eu sei que ultimamente voc tem se preocupado com Atlntida o que a nica explicaoconveniente para permitir que os monstros de Ares enxameiem seus mares sem contestao.

    Enxameiem meus...

    Seu olhar foi para um local distante, e o que sua viso defica encontrou levou-o a arfar como umabaleia.

    Uma Hidra? No meu Tmulo dos Navios! O descaramento. Eu disse a Zeus, mais de uma vez, ele muito tolerante com seus filhos! Ares deveria ter passado uma era inteira do mundo ao lado deSsifo! Eu no sou to indulgente como meu irmo. Eu vou esmag-lo! Onde est ele? Onde?

    Longe de seu reino, meu senhor e tio a salvo em um distante deserto.

    Poseidon rugiu, ergueu os punhos, e todo o mundo tremeu.

    Eu sou chamado Tremedor de Terras por nada?

    Meu senhor e tio, por favor! Atena gritou. No deixe seu furor recair sobre ele diretamente!No h vergonha em ser superado pelo grande Poseidon, imperador de dois teros de tudo o que existe.Nenhum deus menor pode enfrentar qualquer um dos reis irmos. Se voc realmente deseja punirAres, voc deve ferir seu orgulho.

    Os tremores desapareceram.

    H verdade nisso admitiu Poseidon. Mas qual a melhor forma de faz-lo?

    Mostre a todos os deuses que at mesmo um mero mortal pode superar os planos de Ares ederrotar seus desejos Atena disse com casualidade estudada.

  • Sim, isso sim Poseidon disse. Mas que mortal? Hrcules? Ele no est ocupado em algumlugar de Creta? Pirtoo est no Hades, Teseu velho, e Perseu... quem sabe o que ele tem feito? Eu noacho que ele seja confivel.

    H outro disse Atena, obrigando-se a no mostrar qualquer sinal de emoo. O senhor meu tioouviu falar de um mortal em particular, chamado pelos homens de Fantasma de Esparta? Seu nome Kratos.

    O grande Poseidon inclinou-se na direo dela, interessado.

    O Punho de Ares?

    No mais. Agora o Fantasma de Esparta me serve. Voc no participou do Desafio dos Deuses daGuerra?

    Ele assentiu lentamente, lembrando.

    Sim, sim, claro. Tinha apagado de minha mente o destino dos exrcitos da terra significa poucopara o mar.

    Kratos havia renegado o servio a Ares mesmo antes de eu t-lo ganhado no desafio, assim como oresto dos exrcitos da humanidade.

    Oh, sim, eu me lembro, agora que voc mencionou tem algo a ver com aquela pequena vila e oseu templo, que Kratos saqueou, no foi?

    Sim, tio. E, para Kratos, foi um horror alm da imaginao. Isso o persegue at hoje.

    Ento, esse Kratos o mortal que voc tem em mente?

    Sua percepo justamente lendria, meu tio e senhor. Ares odeia Kratos com tal paixo quemesmo os deuses mal podem compreender, e apenas um sonho distante de vingana contra o Deus doMorticnio mantm Kratos lutando. No poderia haver maior vergonha para Ares do que ser frustradopor Kratos.

    Como um mero mortal pode ter esperana de subjugar as legies de Ares?

    Somente as Moiras saberiam Atena disse, um cintilar iluminando seus olhos acinzentados , eutenho uma ideia...

    1 No livro e no game os autores optaram por usar o nome Hrcules, a verso romana da alcunha do semideus grego Hracles. (N. E.)

  • PTrs

    or horas, Kratos lutou atravs do Tmulo dos Navios.

    As Lminas do Caos inflamadas em constante movimento, subindo e descendo, flagelandoextenses extremas com suas inquebrveis correntes, cortando a carne podre e os ossos quebradios eamarelados dos legionrios mortos-vivos, destruindo as escamas das cabeas da Hidra, perfurandoglobos oculares, decepando lnguas e rasgando gargantas. Elas partiam e retalhavam, apunhalavam eperfuravam, e todo o tempo elas queimavam com uma chama sobrenatural, como se os fogos infernaisda forja do Hades se libertassem de suas bordas para carbonizar as vidas de todos que tocassem.

    Kratos queimava com o mesmo fogo. Cada pedao de vida de qualquer criatura que as Lminasretalhavam corria de volta para as correntes fundidas com os ossos de seus pulsos. As vidas roubadascarregavam o seu corpo e inundavam a sua mente com inesgotvel fria. Se ele no estava matando,era s porque estava procurando por mais vtimas. Ele nunca parou.

    Ele sequer se abrandou.

    As lminas no podiam ser quebradas, no podiam ser cortadas ou embotadas. Mesmo o sanguepreto e a carne putrefata que poderiam ter coagulado e se encrostado nas lminas e nas suas correntessimplesmente desapareciam, consumidos pelo fogo sobrenatural. Kratos correu de navio a navio,equilibrando-se pelas vigas flutuantes sobre o mar turbulento com o frenesi de tubares abaixo, quelutavam por migalhas das suas vtimas. Os barcos turvaram-se em um pesadelo sem fim de labirintosde plataformas e mastros, velas e redes de carga, e sempre havia o fluxo interminvel de mortos-vivosestpidos atacando com a mesma sede manaca de sangue, e mais harpias arremetendo e mergulhandoe se lanando sobre ele com suas garras sujas de excrementos.

    Ele j no sabia se estava se movendo em direo ao navio mercante que havia seguido at esseinferno aquoso ou se corria para o lado oposto. Ele no se importava. Ele no pensava sobre isso, ousobre qualquer outra coisa. Ele se atirou em seu trabalho com o abandono alegre de uma bacante eperdeu-se na pureza do abate incontrolvel.

    Ele matava. Ele estava contente.

    Ele continuou lutando at que o seu caminho foi novamente bloqueado por outra cabea emersa deHidra. Cada uma que ele enfrentava era ainda maior do que a anterior. Quando essa grande besta abriusua mandbula larga para urrar, Kratos poderia ter sido tragado para um tnel escuro e mido desaliva. Tudo o que ele podia ver era a boca enorme, escancarada e duas vezes maior do que seu corpo,e seus dentes amarelados e afiados em sua frente. Ele levou as mos atrs de seus ombros e agarrou ospunhos das Lminas do Caos.

    A Hidra avanou, em uma onda sinuosa de seu aparentemente interminvel pescoo. Kratos seesquivou, driblou os dentes afiados, e chicoteou as correntes que prenderam as Lminas do Caos emtorno do pescoo grosso. Msculos saltados com o esforo, ele apertou seu controle da arma, torcendoos laos cada vez mais estreitos, estrangulando a criatura com suas correntes. O monstro urrou em

  • fria e o chicote rasgou seu pescoo, para ento solt-lo, ainda sacudindo. As correntes derraparam, eas escamas da besta rasparam seus braos, que se transformaram em um pntano sangrento.

    Kratos chutou forte, se contorceu e virou-se, usando suas correntes como um cinto de alpinista paraforar seu caminho de volta at o pescoo. Mas seu prximo passo veio no instante errado. Como omonstro teve um novo espasmo, a fora de seu prprio pontap fez Kratos ser lanado para longe,girando livre das correntes e a Hidra o abocanhou no ar como um sapo capturaria uma moscadescuidada.

    As mandbulas da Hidra o seguraram, os dentes como espadas cortando os antebraos de Kratos. Umoutro heri teria tido ambas as mos decepadas, mas as correntes fundidas com seus ossos nopoderiam ser quebradas seria pelo prprio Deus da Guerra. Cerrar a mandbula em uma mordida maisapertada s lascou os dentes da criatura, mas a Hidra no deu sinal de que iria relaxar.

    Enquanto lutava, Kratos percebeu que esse monstro podia envi-lo para o abrao do Senhor Hades.Esforando-se, ele tentou livrar os braos do esmagamento das mandbulas da Hidra; em seguida,parou e olhou freneticamente para o redemoinho do mar. Tubares mordiam-se uns aos outros e aosps de Kratos. A dor aguda de ser mordido nas pernas por um enorme tubaro obrigou-o a lutar emduas frentes.

    Decidir qual era a ameaa mais imediata fez com que um n se formasse em sua barriga. A morteacenava atravs dos tubares sedentos de sangue e da Hidra.

    Incapaz de libertar seus braos, Kratos levantou as pernas, deixando-as longe do alcance dos vorazestubares, e tentou encontrar um apoio para alavancar-se. A dor irradiava ao longo de seus braos, ondeas mandbulas da Hidra apertavam com fora o bastante para quebrar os seus ossos at os ombros.Grunhindo com o empenho, ele tentou extrair os dentes mas conseguiu apenas afund-los maisprofundamente em sua carne.

    Quando a Hidra comeou a revirar a cabea, balanando Kratos como um rato preso nas mandbulasde um co de caa, ele viu sua oportunidade. Um chute de Kratos poderia balanar um navio de guerrapara longe de sua doca. Ele se dobrou, trazendo os joelhos sob seus braos imobilizados. Quando suasgrevas e sandlias comearam a rasgar a face da Hidra, a criatura s pde rosnar de dor e raiva.

    Kratos chutou mais forte, mais rpido. O desespero o conduzia agora. Seus braos se tornaram frios,insensveis, sem sangue. Ambos os ps trabalhando como se ele estivesse golpeando a besta com ospunhos. Um chute oportuno atingiu o olho da Hidra, fazendo com que o bramido da criatura setornasse um urro de dor, que liberou os braos de Kratos e o jogou para cima, alto no ar. EnquantoKratos atingia o topo de seu arco, a Hidra tensionou-se em direo a ele, abrindo sua bocarra largapara peg-lo como uma guloseima casualmente atirada.

    Em um nico instante, Kratos tanto temeu quanto exultou.

    Enquanto caa, ele retornou as Lminas do Caos com um suave movimento, repousando-as nas suascostas. Ele se enrolou como uma bola apertada e permitiu que a boca da criatura se fechasse em tornodele mas, antes que ela pudesse engoli-lo, plantou os ps contra a mandbula da Hidra, apoiando as

  • costas contra os sulcos viscosos do vasto palato duro, e empurrou.

    O maxilar da criatura comeou a se abrir. Kratos estendeu-se como Hrcules, quando este levantou ocu dos ombros de Atlas. A Hidra empenhou-se com toda a sua fora monstruosa para morder denovo, mas, quando o Fantasma de Esparta estava empenhado, no havia poder na terra que pudesseesmag-lo.

    Forando as pernas mxima extenso, Kratos comprimiu suas mos acima de seus ombros econtinuou a forar a abertura da boca da Hidra somente com a fora dos seus braos poderosos. Umestalo como da quebra de um mastro principal veio da dobradia do maxilar do monstro, mas Kratosno cedeu. O medo se foi, substitudo por um triunfo frio. Com um grande impulso, ele esticou osbraos acima da cabea, e agora o som no era de um estalo, mas de um esmagar, um rugido e um r-r-rasgar de couro molhado quando a mandbula da Hidra se despedaou e suas bochechas racharam empedaos.

    A Hidra estremeceu e Kratos chutou para a liberdade, pulando no convs do navio mais prximo. Ointerminvel pescoo e a gigante e destruda cabea deslizaram de volta para baixo das guas escurasdo mar Egeu, que agora se agitava e borbulhava ainda mais, enquanto os tubares vorazes quecirculavam experimentavam o gosto do sangue da Hidra. Da ltima vez que Kratos olhou, os tubareslanavam-se como corvos na boca da Hidra, arrancando pedaos sangrentos de sua lngua oscilante.Para eles, no importava se a carne que jantavam era humana ou de um monstro. Vorazmente, elesrasgaram o rosto da Hidra, arrastando-o abaixo da turva superfcie.

    No entanto, mesmo a cabea imensa no era suficiente para todos os tubares. Centenas milhares! circulavam sem parar, batendo o mar com suas caudas, cada um esperando a sua refeio.

    Kratos ficaria feliz em prover comida para seus aliados involuntrios. Aos seus ps, seu sanguecoloria a gua que escorria de suas pernas. Capturar um tubaro ou dois sobre as rebarbas das Lminasdo Caos roubaria vida o suficiente para fechar esses cortes menores. Ele agarrou o parapeito e selevantou no remanescente deque inclinado mas quando ele puxou as lminas, os tubares seapressaram. Eles descobriram um novo banquete.

    Literalmente.

    Onde quer que olhasse, tubares flutuavam, seus olhos negros fixos, encarando. Alguns comeavama inchar e outros tiveram suas tripas estouradas, e os tubares que enxameavam os mortos para atacara carne envenenada logo foram mostrando as suas prprias barrigas para o cu.

    Comer uma Hidra era to fatal como ser comido por uma.

    Ele levou um momento para examinar o casco de navio estilhaado em que estava, buscando por umbarril, um balde, qualquer coisa que pudesse ser impermevel. Mesmo uma cesta virada poderia tercapturado gua da chuva suficiente para saciar sua sede ardente, mas no havia nenhuma gota a serencontrada, nem no convs nem na cabine mais baixa que ele podia alcanar. Ento ele viu o barrilperto do leme, com gua para o timoneiro. Kratos caminhou at ele e meteu a cabea na gua parabeber profundamente.

  • Ele deu um solavanco para trs e cuspiu, a bile subindo em sua garganta. A gua salgada queimousua boca. Ele cuspiu novamente, desta vez adicionando uma maldio.

    Que os oceanos virem p! Eles no poderiam ter um gosto pior do que esse!

    Mas, enquanto essas palavras deixavam os seus lbios, uma luz sobrenatural brilhou dasprofundezas invisveis do poro afogado no qual ele estava. Onde antes s havia um anteparomanchado e apodrecido, agora havia um arco de alabastro e prola, maior que o dobro da altura deKratos e mais largo do que ele poderia medir com os braos. Esse arco emoldurava um rosto grande,brilhante como o sol refletido em um mar calmo, o rosto de um homem cuja barba era feita de espumado mar e cujo cabelo era um tranado de brilhantes algas pretas.

    Voc tem to pouca considerao com o meu domnio, Kratos? a voz brandamente repreensivaretumbou como mar quebrando em uma caverna crivada no penhasco. H dez anos voc navegameus mares em suas buscas, sem naufrgio ou tempestade isso no evidncia de minhaconsiderao por voc?

    Senhor Poseidon o tom de Kratos era respeitoso, mas ele no abaixou a cabea. Como possoservir o Rei do Oceano?

    Essa Hidra que assola meu lindo Egeu uma criatura de seu antigo mestre, Ares. Sua existncia um insulto. Eu gostaria que voc a destrusse.

    o que eu planejo.

    Saiba que, at agora, voc apenas arranhou essa monstruosidade suas cabeas secundrias, taiscomo aquelas que voc destruiu, so numerosas. A Hidra mal percebe a sua perda.

    Ento, como posso mat-la?

    Voc deve destruir a cabea-mestra aquela que detm o crebro da criatura. A cabea-mestra dez vezes o tamanho das outras, e seu poder quase ilimitado.

    Kratos no se preocupou com seu poder.

    Como fao para encontr-la?

    Eu vou lev-lo at l. E para ajud-lo em sua tarefa, vou lhe emprestar uma pequena frao domeu prprio poder.

    Kratos tinha a sensao de que o deus do mar no veria uma recusa com bons olhos.

    Que tipo de poder?

    Voc sabe como minha raiva faz com que a terra trema, e minha fria gera tempestades em quenenhum navio pode sobreviver. Passe pelo arco onde voc v a imagem do meu rosto, e eu vou lheconceder um poder alm de qualquer outro que voc j conheceu, voc vai comandar um fragmento da

  • minha clera.

    Seja qual for a Clera de Poseidon, no poderia ferir mais do que as correntes das Lminas do Caosqueimadas em seus braos.

    Tudo bem disse ele. Vamos matar essa besta.

    * * *

    ENTRAR NO ARCO TROUXE um claro ofuscante e a sensao de seus ossos estarem queimando, dedentro para fora. Sair pelo outro lado deixou Kratos em uma penumbra mida que cheirava a suor eurina. O lento rolar do cho lhe avisou que ele ainda estava a bordo de um navio. Quando seus olhos seajustaram escurido, ele pde visualizar as formas do que parecia ser uma carga sendo amarrada emambos os lados da embarcao. frente, ele ouviu uma voz soluante um homem, chorando comouma criana, pedindo para ser posto em liberdade.

    Kratos se moveu em direo entrada do corredor em que um batalho se agachava. Gritos vinhamde cima, e ele suspeitava que o deus do mar havia mantido a sua palavra. Luzes se reuniam em umarco frente, e, quando ele se aproximou, descobriu que o que, na escurido, parecia ser carga eram,na verdade, pessoas pessoas doentes ou famintas ou sedentas demais para at mesmo se mover.

    Na nova luz, Kratos viu o brilho esverdeado dos grilhes de bronze que estavam nos tornozelosdessas pessoas e reavaliou sua prpria avaliao. Essas pessoas eram a carga.

    Era um navio de escravos.

    Kratos assentiu consigo mesmo. A existncia dos escravos significava definitivamente que haveriagua doce nas proximidades escravos eram demasiado valiosos para ser autorizados a morrer desede. Alguns deles conseguiram se levantar o suficiente para pedir-lhe misericrdia enquanto elepassava. Kratos os ignorou. Perto do arco, um escravo estava atado a algum tipo de posio punitiva seus pulsos estavam algemados e pendurados em uma corrente curta afixada no teto. A corrente eralonga o suficiente apenas para que seus dedos roassem no convs, enquanto o navio balanava. Elesoluou com voz fraca e entrecortada:

    Por favor... por favor, no me deixe aqui... por favor...

    Enquanto Kratos se movia em direo a ele, o soluar do escravo se transformou em gritos.

    Por todos os deuses, eu imploro... por favor!

    Kratos parou ao lado dele.

    Se eu ajudar, voc vai ficar quieto?

    Oh, abenoado seja... que todos os deuses abenoem esse homem bom e gentil...

    A voz do escravo foi sumindo, quando ele finalmente conseguiu focalizar os olhos em seu

  • presumido salvador.

    Voc! sua voz estava engasgada de de medo. O Fantasma de Esparta... eu sei quem voc ! Eusei o que voc fez! Eu prefiro morrer aqui do que ser salvo por voc!

    Kratos empunhou uma das Lminas do Caos e, com um metdico movimento do pulso, cortou acabea do escravo.

    Suas preces foram atendidas.

    O escravo j estava to perto da morte que a lmina s canalizou a menor centelha de vida. Kratosolhou para trs, para o poro de escravos, pesando a possibilidade de ganhar mais fora e se curar porabater todos mas eles estavam to fracos que os matar daria mais trabalho do que suas vidasvaleriam a pena.

    Kratos seguiu em frente. Para alm da cmara com os escravos estendia-se uma ampla escada deescotilha revestida com portas. Os gritos de cima foram se esvaindo, e um coro de urrosensurdecedores que fizeram todo o navio tremer advertiam que havia mais do que uma Hidra l emcima. Quem quer que estivesse lutando contra parecia estar perdendo. Kratos olhou em volta paratentar encontrar algum para matar em seu caminho; ele precisava de toda a energia que pudesseobter.

    O par de portas perto do fim da escada eram diferentes das outras. A madeira macia e reforadascom ferro preto, elas pareciam fortes o suficiente para que at Kratos tivesse dificuldade de romp-las enquanto ele considerava isso, as correntes da lmina comearam a aquecer, produzindo fagulhascom picadas desagradveis. Ele sacou uma das lminas e empurrou-a contra a porta a sua frente. Umachuva brilhante de energia espirrou por cima dela, e a lmina no atingiu as madeiras. A energiapiscou por mais tempo em torno de uma ranhura profunda da madeira um bloqueio. Um bloqueiomgico.

    Kratos assentiu consigo mesmo. Ento: um par de portas no s fortes como uma fortaleza, masseladas com ligaes mgicas e fechaduras msticas e sabe-se l mais o qu. Que tipo de tesourospode um comandante de navio de escravos manter dentro de tal cofre? Algo alm de ouroespalhafatoso deve estar protegido por trs dessa porta. O que quer que fosse, poderia ser til.

    * * *

    O CONVS PRINCIPAL PARECIA um matadouro, onde o extermnio ainda estava acontecendo. Para ondequer que Kratos olhasse, marinheiros lutavam com legionrios mortos-vivos ou tentavam afastar ascabeas da Hidra com longas lanas. Toda madeira a bordo do navio estava escorregadia de sangue, ouuntada com carne podre de mortos-vivos, ou ambos. Esse abatedouro fedorento de gritos, pnico edesespero levou Kratos de volta aos seus dias de juventude, para os ataques em que ele comandou seuscompanheiros espartanos, em um tempo muito distante, antes que ele jurasse seu servio a Ares.

    Claro, no havia tantos soldados mortos-vivos naquela poca. E a Hidra era apenas uma histria deninar espartana porque mesmo que Hrcules fosse, por conta de um acidente de nascimento, apenasum tebano, ele tambm fez-se um heri de Esparta, restaurando o poder ao seu legtimo rei, Tndaro.

  • Kratos dirigiu-se ao convs, as Lminas do Caos em prontido. Os mortos-vivos, ele simplesmenteignorou; os marinheiros ou lidariam com eles ou proporcionariam diverso suficiente para mant-losocupados. Kratos s tinha olhos para as trs cabeas da Hidra que atacavam o navio como um time.

    As cabeas menores de ambos os lados eram ainda maiores, com o dobro tamanho de qualquer umaque ele tivesse enfrentado at ento e elas eram ans perto da inconcebvel majestade da cabea-mestra. Erguendo-se sobre um pescoo sinuoso, maior que o mastro principal, a cabea-mestra eralarga o suficiente para engolir todo o navio em um nico gole, e seus olhos queimavam com umalgubre luz amarela interior. As cabeas secundrias tranavam e golpeavam como vboras, mantendoos marinheiros armados com lanas na baa.

    Voc um deus? a voz veio de trs dele. Voc parece um bocado com um deus. Ns podamosusar um deus.

    Kratos se virou. Agachado atrs de uma roda enrolada nas correntes de uma ncora, um marinheiroo espreitava atravs de seu olho bom; seu outro era um soquete vazio dividido ao meio com umacicatriz que lembrava a da sobrancelha de Kratos. O olho remanescente do marinheiro balanava comoa mar, como se ele no pudesse decidir para onde olhar.

    Seu capito Kratos disse. Onde ele est?

    O que c quer com ele?

    Sua rendio.

    Kratos lanou um olhar desdenhoso para o massacre no convs.

    Esta a minha embarcao agora. Como vocs a chamam?

    Lamento dos Deuses veio a resposta. Voc acha que pode tom-la?

    Eu j a tenho disse Kratos. Ela ser chamada Vingana, e minha.

    Que os deuses sorriam para isso, se no acabarem contigo por arrogncia!

    Kratos estreitou os olhos para o marinheiro. O homem era louco? Quem se atreveria a questionar oFantasma de Esparta em sua frente? Ento ele tomou a tnica imunda do marinheiro e o odremanchado de vinho do convs e percebeu que o homem estava bbado demais para realmente v-lo.

    Seu capito Kratos repetiu. Eu no vou perguntar de novo.

    O marinheiro bbado acenou com a mo trmula.

    L. No mastro. O cara com a chavona em volta do pescoo. T vendo?

    O que est de joelhos?

    Um-hum. De joelhos. ele.

  • Os lbios de Kratos frisaram-se em desprezo.

    Implorando por misericrdia?

    Rrrrrezando o marinheiro o corrigiu. Rezando pra Poseidon... pra salvar o navio da Hidra...

    Sua orao foi respondida.

    O marinheiro arregalou os olhos para ele.

    C vai salvar a gente?

    No, eu vou salvar o navio.

    Kratos virou-se para a luta, a vasta cabea-mestra mergulhava em direo base do mastro principale fechou-se sobre o capito ajoelhado. Em um instante, o capito se foi engolido vivo , e sua chavecom ele. A cabea-mestra levantou-se, soltando um rugido de triunfo que reduziu as velas do navio atrapos.

    Kratos estava impvido. Com uma garganta longa como a da Hidra, a deglutio poderia tomar umperodo de tempo considervel.

    As trs cabeas estavam muito prximas umas das outras para ele atac-las individualmente. Se elefosse direto para a cabea-mestra, ele teria de se defender dos ataques das cabeas secundrias. Ir atrsde uma das cabeas secundrias exporia sua retaguarda para as mandbulas titnicas da mestra. Se eleno podia extermin-las uma por vez, ele mataria todas de uma vez.

    Ele lanou-se pelo convs como se tivesse sido atirado de uma catapulta.

    A cabea mais prxima avanou contra ele como se para expuls-lo para fora do convs. Kratossaltou sobre o pescoo do monstro, cortando-o de cima para baixo com uma das lminas. Ela talhou oosso e encravou-se na juno entre o crnio e um chifre; a corrente agarrou apertado como um cabo dereboque e puxou Kratos lateralmente, em um giro. Ele deixou a cabea balanar at que a correnteenvolvesse toda a volta do seu pescoo, deixando-o em p no topo do crnio. Mais rpida do que opensamento, a outra lmina encontrou sua mo; ento, juntos, eles furavam profundamente os olhosdo monstro. Cortes precisos pintaram as lminas com a massa gosmenta do humor vtreo e deixaram acabea cambaleando s cegas.

    Uma sombra ameaadora reuniu uma negra escurido ao seu redor. A cabea-mestra atirou-se parabaixo como um falco do tamanho de uma casa. Kratos levantou-se e esperou. As enormes mandbulasda cabea-mestra ficaram abertas demais para arranc-lo da cabea secundria com alguma preciso especialmente porque a cabea secundria ainda estava chicoteando de lado a lado, cada vez maisrpido, tentando tirar Kratos dela e assim a cabea-mestra fez exatamente o que Kratos haviaantecipado.

    Aquelas gigantescas mandbulas se fecharam por completo em torno da cabea secundria, e osdentes cravaram-se como uma gal de guerra, cortando as escamas blindadas do pescoo, tentando

  • deslocar a cabea secundria e engoli-la e a Kratos por inteiro.

    Mas Kratos sabia muito bem o quo dura a pele escamosa da Hidra era. Houve tempo suficiente paraele escorregar entre os grandes dentes enquanto a cabea-mestra comeava a morder e sacudir a outracabea, como um lobo que arranca as ancas de um cervo. Kratos cravou uma das lminas na gengivainferior da mestra e usou a corrente para balanar-se sob o queixo da criatura. L, ele investiu contraas escamas com a segunda lmina, enquanto rasgava a carne com a primeira, para solt-la. A cabea-mestra rugiu em uma dor sbita, deixando a cabea secundria mastigada cair no mar.

    Kratos comeou a cortar o pescoo sob o queixo, onde a criatura no podia alcan-lo. A cabeasecundria restante serpenteava para tentar chegar s costas de Kratos mas, ao receber uma dasLminas do Caos no nariz, optou por repensar essa estratgia. Com a lmina dentada firmementealojada na cavidade sinusal, pux-la fez com que a criatura soltasse um grito de dor inteiramentediferente de tudo que Kratos j ouvira. Com isso, a cabea-mestra, em vez de tentar rasgar Kratos aomeio com os dentes, bateu o pescoo contra o mastro principal, esmagando Kratos entre as suasescamas e a vara gigantesca.

    A viso de Kratos escureceu. A cabea-mestra segurou-o l, inclinando-se para ele. O mastro rangeude forma alarmante, assim como a coluna vertebral de Kratos contudo, o mastro cedeu primeiro,rasgando-se e estilhaando-se com um bramido.

    A cabea-mestra levantou-se novamente, e a cabea secundria tentou desesperadamente se afastar,mas a lmina no nariz estava alojada como um anzol as tentativas de se afastar apenas faziam comque a lmina penetrasse mais profundamente. A outra lmina estava igualmente ajustada na gargantada cabea-mestra. As lminas no se soltariam e no podiam ser quebradas assim como as correntes,nenhuma vinculadas aos braos de Kratos no podiam ser violadas por qualquer fora terrena. Assim,quando a cabea-mestra puxou para um lado e a cabea secundria puxou para o outro, s havia umacoisa que ligava as duas que poderia ser quebrada.

    Kratos.

    Ele gritava em agonia, enquanto permanecia suspenso entre as duas cabeas que tentavam cort-loao meio. Msculos amontoavam-se em seus macios ombros, mas mesmo a sua fora sobrenatural noera preo para o poder titnico da Hidra. Em qualquer outro dia, Kratos teria morrido ali mas a Hidraera uma criatura de Ares. E a perspectiva de ser morto por um servo de seu inimigo alimentava a irade Kratos. Mais do que raiva. Mais do que fria.

    Isso o encheu com a clera de um deus.

    E, tal como quando entrou no arco onde se encontrou com Poseidon, ele sentiu como se seus ossosestivessem em chamas, queimando-o de dentro para fora. Relmpagos brilharam em volta dele,fazendo o mundo desvanecer-se em uma imagem turva de um azul-escuro desbotado, e explodiram aolongo das correntes e para as lminas. A carne em torno da lmina incorporada ao pescoo da cabea-mestra explodiu como uma panela de presso deixada no fogo por muito tempo, espalhando talhosimensos de restos queimados.

  • A lmina alojada na cavidade nasal da cabea secundria teve um efeito ainda mais espetacular:quando as membranas internas detonaram, explodiram cacos de osso para fora dos olhos da Hidra, oque estourou os olhos cindidos da criatura. Fragmentos penetraram no que quer que a cabeasecundria usasse como crebro; o pescoo entrou em colapso, e Kratos caiu para a plataforma lembaixo.

    Quando ele caiu, refletiu que a Clera de Poseidon era mais til do que havia imaginado. Ele caiu aolado do estilhao destrudo do mastro principal. Um movimento leve com o pulso enviou uma lminapara cortar o mastro, apanh-lo e reverter sua direo em um impulso muito suave. A grande bestapercebeu sua chegada e arqueou o pescoo, abrindo uma boca que poderia partir o navio ao meio.

    Tendo determinado, para sua prpria satisfao, que a gigante cabea-mestra no era preenchidacom um crebro igualmente gigante, Kratos rotacionou para o que era agora o topo do mastroprincipal uma ponta inclinada cheia de lascas afiadas, como um ourio , ento girou as lminas emtorno de sua cabea para capturar a ateno do monstro.

    Ele esperou at que a cabea-mestra atacasse em sua direo como uma lua em queda, engolfando-ojunto com vrios metros de mastro. Mesmo antes de ser danificada, a madeira do mastro principal noera de modo algum to dura como o pescoo da cabea secundria da Hidra. Kratos sabia que a Hidrapoderia cort-la em uma rpida abocanhada. Ento, mais uma vez no interior cavernoso cheio degotejamento e lodoso da boca do monstro, Kratos liberou novamente a fornalha de fria que queimavadentro dele.

    A cabea-mestra convulsionou quando a Clera de Poseidon explodiu a parte posterior de sua bocaem pedaos sangrentos. Kratos lanou uma lmina para cima, para o fundo da cavidade nasal daHidra; ento lanou-se atravs de um volume incalculvel de limo salgado, at alcanar a parte debaixo do crnio do monstro. Antes de a criatura parar de se debater, Kratos havia aberto o seu caminhopara dentro do crnio. Trs ou quatro hbeis chicotadas com as lminas partiram o crebro da Hidraem um mingau malcheiroso.

    Ele voltou para dentro da garganta da Hidra. Ela ainda se retorcia e convulsionava um pouco,conforme o resto do vasto corpo que recebia gradualmente a mensagem de que seu crebro estavamorto. Kratos abriu caminho para baixo ao longo dos sulcos de cartilagem, at que a luz que emanavada boca aberta do animal comeou a desvanecer e ele ouviu uma voz fina, soluando de modo fraco.

    Por favor... por favor, algum... Poseidon, por favor...

    Kratos cravou uma das lminas em um feixe longo e estriado de msculo e usou a corrente paradescer na obscuridade escorregadia. L, bem abaixo da ltima das luzes, Kratos enxergou uma formaescura. Ele empunhou a outra lmina e a girou para acender um pouco de seu fogo, e luz da lminaele viu o capito.

    Oh, Deus o abenoe! Poseidon abenoe voc e todas as suas jornadas o capito engasgou. Quetodos os deuses do Olimpo sorriam para voc para sempre...

    O capito se agarrou desesperadamente a um anel de cartilagem. Seus ps pendiam sobre o que

  • parecia ser uma queda abismal para o estmago da Hidra. E a tira fina de couro em volta do pescoocontinha uma chave de ouro reluzente.

    Kratos soltou um pouco mais a corrente, esticando-se para baixo com sua mo enorme. As lgrimasescorriam dos olhos do capito.

    Abenoado seja voc ele repetia. Abenoado seja por voltar para me resgatar!

    A mo de Kratos fechou-se na tira de couro.

    Eu no voltei por voc disse ele, e deu um puxo rpido na tira de couro, que se partiu em duas erompeu a aderncia do capito cartilagem. Seus gritos, quando ele escorregou, terminaramabruptamente, no momento em que ele caiu no estmago agitado da Hidra.

    Quando Kratos voltou com a chave na mo para fora da boca da Hidra morta, ainda podia ouvir ocapito sendo digerido. Kratos pausou pela base do mastro em que a cabea-mestra fora empalada;algumas pancadas das Lminas do Caos quebraram o mastro em sua raiz, e a grande besta deslizoupara o mar e afundou para sempre da vista dos homens.

    Kratos pesou a chave em sua mo. Esse havia sido um trabalho rduo para apenas abrir uma porta.Era bom que a luta tenha valido a recompensa.

  • V

    Quatro

    oc deu a Kratos um pedao de sua prpria clera!

    O punho de Ares agarrou o punho de sua espada. Os msculos se retesaram em seu antebraoenquanto ele lutava para controlar sua raiva elevada.

    Para ajudar um mortal, contra sua prpria famlia?

    Se uma outra vez voc pensar em sujar meu reino com qualquer um dos seus monstros gerados porTifo, eles sero destrudos.

    A voz de Poseidon era to fria e escura como as profundezas de seus mares mais remotos.

    E voc, meu sobrinho, no imune minha retribuio. Meu irmo probe o assassinato entre osdeuses, sim mas no tente minha raiva, ou ir desejar ter sido assassinado por mim. Voc entendeu?

    Ares afrouxou a lmina em sua bainha.

    As palavras no so armadura contra a lmina de uma espada.

    Lembre-se disso, Deus da Guerra: eu sou o soberano dos mares. Qualquer um que entrar no meudomnio deve prestar honras a mim. At mesmo os deuses.

    Os dois deuses se encaravam com raiva acima da costa mediterrnea do Egito. Invisvel aos olhosmortais, ambos estavam em altura suficiente para usarem o Farol dos Faras como se fosse umabengala.

    Ares finalmente quebrou a silenciosa batalha de vontades.

    Ns no precisamos deste tipo de contenda.

    Sua Hidra...

    Minha Hidra, sim disse Ares. Mas perturbando os seus mares? Eu no enviei a Hidra para oseu reino.

    Poseidon piscou.

    essa a verdade?

    Diga-me, meu tio e senhor. Quem trouxe notcias dessa Hidra a voc? Intrigas daquela cadelaAtena, eu aposto.

    Bem... sim Poseidon admitiu. Mas...

    E voc sabia da presena da Hidra antes que ela corresse at aqui para induzi-lo a dar o seu poder

  • para seu animal de estimao?

    Induzir-me...

    Voc sabe que eu no frequento mais o Olimpo, no enquanto o meu pai continuar a ceder a cadafantasia mesquinha de minha irm. Estando to longe, eu s vezes no posso contestar suas mentirasantes que caiam em ouvidos crdulos.

    O Deus da Guerra se inclinou para seu tio, to perto que as chamas do seu cabelo extraiam vapor dabarba do deus do mar.

    Pergunte a si mesmo, meu tio e senhor, pergunte a si mesmo somente isso. Por qu?

    O deus do mar no respondeu, mas uma nuvem pensativa se reuniu em sua testa.

    Por que eu iria ofender a sua soberania? Por que eu iria sujar seus mares? O que eu poderia ganharcom isso?

    Para matar esse Kratos. Isso foi o que disse Atena.

    E se eu houvesse ordenado essa Hidra para fazer isso, por que eu a direcionaria para se esconderfurtivamente no Tmulo dos Navios? Teria eu mera esperana de que Kratos encontrasse seu caminhopara l? Ares bufou. Eu no preciso convocar uma Hidra para eliminar Kratos. Ele menos do queum verme. Quando eu quiser Kratos morto, eu vou esmag-lo to facilmente quanto um mortal podeapagar uma vela. Ele ainda vive apenas porque seu sofrimento me diverte.

    Mas... se no foi voc, quem infligiu a Hidra no meu reino...

    Eu no pretendo acusar disse Ares. Mas quem ganhou com esse encontro? Quem fez voc virarseu rosto majestoso de mim? Quem o defraudou de poder simplesmente para bajular algum vermemortal?

    Poseidon recuou um pouco e olhou para seu sobrinho blico.

    Eu no posso tomar de volta a clera dada a Kratos.

    Isso eu sei muito bem disse o Deus da Guerra. Um deus com senso de honra nunca tiraria o quefoi dado. Mas eu no estou pedindo. Eu estou aqui, meu tio e senhor, s por respeito a voc. Eu sei quevoc ainda tem uma certa... afeio pela cidade de Atenas.

    Aquele lugar o deus do mar bufou.

    Zeus probe a batalha direta entre os deuses mas, como voc to recentemente preveniu-me, houtras formas de retribuio. Meus exrcitos marcham em direo a Atenas neste exato momento.

    Por que vem a mim?

    Como cortesia, tio. Eu sei que uma vez voc pensou ter essa cidade como sua. Caso seja sua

  • vontade, vou deixar Atenas em p, sem sequer um arranho. Se, de fato, voc decidir que Atena falousomente verdade, e eu somente mentira, eu no protestarei. Eu no sou, como todos os Olimpianossabem, nem de longe to bom mentiroso como a minha irm.

    Poseidon respirou fundo, to profundamente que mudou as correntes do Mediterrneo para o norteat Creta. Finalmente, ele disse:

    Eu no sei qual de vocs est me enganando ou se ambos esto. Mas... aquela cidade no problema meu. Queime-a at o cho e salgue a terra, eu no me importo.

    E com o rugido de um vendaval, ele se foi.

    Os lbios cruis de Ares se retorceram para formar um sorriso por trs de sua barba de chamas.

    Eu irei, tio. Farei exatamente isso disse o Deus da Guerra, e seguiu os ventos em direo aAtenas.

    * * *

    EM SEUS APOSENTOS SOBRE o Olimpo distante, Atena tracejava a mo na piscina de vidncia que usavapara espionar seu irmo. Ela deu um tapa no lquido tingido de ambrosia como se pudesse alcanaratravs dele e atacar Ares e Poseidon. E quando ela parou e fez uma pausa para ouvir, ela podiaescutar os gritos fracos de seus a