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Editorial
19/3-S1
UMA PUBLICAÇÃO DA Associação Médica de Minas
Gerais – AMMG • Conselho Regional de Medicina de Mi-
nas Gerais – CRM-MG • Cooperativa Editora e de Cultura
Médica Ltda. – Coopmed • Faculdade de Ciências Médi-
cas de Minas Gerais – FCMMG • Faculdade de Medicina
da UFMG – FM/UFMG • Faculdade da Saúde e Ecologia
Humana – FASEH • Federação Nacional das Cooperati-
vas Médicas – Fencom • Secretaria de Estado da Saúde
de Minas Gerais – SES/MG • Secretaria Municipal de Saú-
de de Belo Horizonte – SMSa/BH • Sindicato dos Médicos
do Estado de Minas Gerais – Sinmed-MG • Unimed-BH
Cooperativa de Trabalho Médico Ltda – Unimed-BH.
Diretoria Executiva do Conselho GestorFrancisco José Penna – Presidente •
Helton Freitas – Diretor Financeiro •
Marcelo Gouvea Teixeira – Diretor de Relações Institucionais •
Conselho GestorAmélia Maria Fernandes Pessôa (Sinmed-MG) •
Antônio Carlos Martins Guedes (Coopmed) • Assuero
Rodrigues da Silva (FASEH) • Ciro José Buldrini
Filogônio (Fencom) • Cláudio de Souza (CRM-MG) •
Francisco José Penna (FM/UFMG) • Helton Freitas
(UNIMED-BH) • Marcelo Gouvea Teixeira (SMSa-BH)
• José Côdo Albino Dias (AMMG) • Ludércio Rocha
de Oliveira (FCMMG) • Nery Cunha Vital (SES/MG) •
Editor AdministrativoMaria Piedade Fernandes Ribeiro Leite
Secretária Suzana Maria de Moraes Miranda
Normalização Bibliográfi caMaria Piedade Fernandes Ribeiro Leite
RevisãoMagda Barbosa Roquette Taranto
Projeto gráfi co: José Augusto Barros
Produção Editorial: Folium
Tiragem: 1000 exemplares
Indexada em: LILACS – Literatura Latino-Americana
em Ciências da Saúde; PERIODICA – Indice de Revistas
Latinoamericanas; LATINDEX – Sistema Regional de
Información en Linea para Revistas Científi cas de
América Latina, el Caribe y Portugal.
Versão online: http://rmmg.medicina.ufmg.br/
Início da Publicação: v.1, n.1, jul./set. 1991
Correspondências e artigos
Revista Médica de Minas Gerais
Faculdade de Medicina da UFMG
Av. Prof. Alfredo Balena, 190 – Sala 12
30130-100 – Belo Horizonte. MG.Brasil
Telefone: (31) 3409-9796
e-mail (artigos): [email protected]
e-mail (correspondências): [email protected]
Prezados leitores,
A Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais – SAMG informa com
grande alegria e entusiasmo que, em 2009, completamos o nono ano de
publicações de artigos de revisão em anestesiologia.
Neste ano, buscando ampliar a visibilidade e a qualidade das matérias
veiculadas por meio da indexação em base de dados bibliográficas, alcan-
çamos um marco importante, pois, conforme anunciado no editorial do ano
passado, iniciamos preciosa parceria com a Revista Médica de Minas Gerais
- RMMG, que passará doravante, de forma suplementar, a editar os trabalhos
de interesse da SAMG. Com tais alterações os trabalhos publicados passarão
a ser distribuídos, semestralmente, como suplemento da RMMG.
Assim, nossas publicações passam a ser indexadas na base de dados
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – LILACS
e disponibilizada na Internet, texto completo, no site da RMMG
< http://rmmg.medicina.ufmg.br.> e no site da SAMG < www.samg.org.br.>.
Ao concretizarmos esta parceria caminhamos firmes, em direção ao
nosso maior objetivo, para fomentar as publicações científicas aos nossos
leitores e associados, solidificando a publicação como um poderoso instru-
mento de educação médica continuada no âmbito da comunidade médica.
Mantivemos, em 2009, a base ideológica proposta nos últimos anos, tra-
zendo para debate artigos de revisão do seguinte tema central – ANESTESIA
EM OBSTETRÍCIA, uma subespecialidade da anestesiologia em constante
progresso da ciência médica e dos recursos disponíveis a esta especialida-
de que desafia até mesmo os anestesiologistas mais experientes.
Anelamos que esta edição possa ser um importante instrumento
para a reciclagem dos conhecimentos, a fim de ser utilizado na prá-
tica diária. Agradecemos, desde já, a todos que colaboraram para a
realização desta nova fase.
A Comissão Editorial
Conselho Editorial do Suplemento da Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais
Coordenadores: Dr. Emerson Seiberlich Rezende, Dr. Wagner Fernandes Júnior,
Membros: Dr. Adriano Bechara de Souza Hobaika, Dra. Eliane Cristina de
Souza Soares, Dr. Fabiano Souza Araújo, Dr. José Roberto de Rezende Costa, Dr.
Ziltomar Donizetti de Oliveira Borges,
Contatos:
Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais
Rua Eduardo Porto, 575 - B. Cidade Jardim
30.380-060- Belo Horizonte/MG
Telefone: (31) 3291-0901 - E-mail: [email protected]
Rev Med Minas Gerais 2008; 19(3 Supl 1): S1-S80
sumário
19/3-S1
3 • Analgesia de parto: bases
anatômicas e fisiológicas
Labor analgesia: anatomical and physiological bases
Magda Lourenço Fernandes, Flavia
Costa Junqueira de Andrade
7 • Analgesia de parto:
bloqueios locorregionais e
analgesia sistêmica
Labor analgesia: regional and sistemic analgesia
Juliana Faria de Freitas, Sofia Meinberg
15 • Fisiologia e farmacologia da
placenta: efeitos da anestesia
sobre o útero, placenta e feto
Placental physiology and pharma-cology: effects of anesthesiaon the uterus, placenta and fetus
Leandro Fellet Miranda Chaves, Ita-
gyba Martins Miranda Chaves, Hellen
Bedin Bonin, Tássia Veloso Gomes
24 • Condutas anestésicas
nas síndromes hemorrágicas
obstétricas
Anesthetic management in obstetrical hemorrhagic syndromes
Alcebíades Vitor Leal Filho, Marilene
Miranda Araújo, Carlos Alexandre de
Freitas Trindade, Vinícius Caldeira
Quintão
Artigos de Revisão 34 • Manejo anestésico na
gestante obesa mórbida
Anesthetic management for the mor-bidly obese pregnant woman
Dener Augusto Diniz, Izabela Fortes
Lima
52 • Cefaleia pós-punção da
dura-máter em obstetrícia
Post-spinal punction headache after obstetric anesthesia
Vinicius La Rocca Vieira; Carlos
Furtado Macedo, Elson José Martins
de Sousa Júnior
59 • Embolia por líquido
amniótico
Amniotic fluid embolism
Bruno Carvalho Cunha de Leão,
Yerkes Pereira e Silva
70 • Anestesia para cirurgia
não-obstétrica durante a
gravidez
Anesthesia for nonobstetric surgery during pregnancy
Walkíria Wingester Vilas Boas,
Michelle Reis de Lucena, Renata da
Cunha Ribeiro
80 • Normas de publicação
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S1-S80
Capa: Logomarca da Sociedade de
Anestesiologia de Minas Gerais
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S3-S6 3
ARTIGO DE REVISÃO
Instituição:Santa Casa de Belo Horizonte
Endereço para correspondência:Magda Lourenço Fernandes
Rua: Padre Marinho, 480/1206; Santa Efigênia
Belo Horizonte, MG
CEP: 30140-040
E-mail: [email protected]
1 Anestesiologista da Santa Casa de Belo Horizonte e do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Responsável pelo Centro de Ensino e Trei-
namento (CET) da Santa Casa de Belo Horizonte2 Anestesiologista da Santa Casa de Belo Horizonte e do
Biocor Instituto
RESUMO
Parto normal pode produzir significante dor, requerendo tratamento apropriado. A
dor do parto é um fenômeno complexo, influenciado por características anatômicas
e fisiológicas, além de fatores psicossociais e culturais. O conhecimento da natureza
multifatorial da dor é requisito básico para se realizar adequada analgesia de parto.
Analgesia de parto promove conforto e bem-estar da mãe e pode melhorar as condi-
ções do feto. Esta revisão faz uma abordagem dos aspectos anatômicos e fisiológicos
do parto normal e das particularidades da dor do parto, objetivando orientar a conduta
anestésica na analgesia de parto.
Palavras-Chave: Parto Normal; Trabalho de Parto/fisiologia; Dor de Parto; Analgesia
Obstétrica; Analgesia Epidural.
ABSTRACT
Labor can produce significant pain requiring appropriate management. Labor pain is influenced by anatomical, physiological, psychological and cultural characteristics. Knowledge of the nature of pain is essential to perform the adequate analgesia. Labor analgesia increases mother’s satisfaction and may improve fetal condition. This review aims to guide professionals in order to provide the best anesthetic management of labor pain considering its anatomical and physiological characteristics.
key words: Natural Childbirth; Labor Obstetric/physiology; Labor Pain; Analgesia, Ob-stetrical; Analgesia, Epidural.
INTRODUÇÃO
O parto normal tem características individuais, na dependência de fato-
res anatômicos e fisiológicos da mãe. A dor resultante desse processo é uma
resposta complexa, subjetiva e multidimensional a um estímulo sensorial ge-
neralizado.1 Fatores psicológicos, culturais e ambientais podem aumentar a
sensibilidade da paciente à dor e piorar seu desconforto durante o trabalho
de parto (TP). Uma eficaz analgesia de parto controla a dor e a ansiedade
materna, beneficiando o binômio mãe-feto.2 O objetivo desta revisão é dis-
cutir as bases anatômicas e fisiológicas do trabalho de parto e a origem mul-
tifatorial da dor de parto, cujo conhecimento é fundamental para se realizar
adequada analgesia.
Labor analgesia: anatomical and physiological bases
Magda Lourenço Fernandes1, Flavia Costa Junqueira de Andrade2
Analgesia de parto: bases anatômicas e fi siológicas
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S3-S64
Analgesia de parto: bases anatômicas e fi siológicas
medula espinhal nos segmentos T10 a L1. Essas fi-
bras passam pelo útero, pelo plexo cervical e pelo
plexo hipogástrio até atingir a medula. Quando a
dor do início do TP é de pouca intensidade, seus
impulsos são transmitidos pelos segmentos espi-
nhais T10 e T11, mas, quando se torna mais intensa,
atinge T12 a L1. 5
Segundo estágio
Compreende o intervalo entre a dilatação cervi-
cal total até a saída do feto. Durante o segundo es-
tágio surge o componente somático da dor devido à
distensão no assoalho pélvico, vagina e períneo. Es-
sas informações são transmitidas pelo nervo puden-
do, que é composto de fibras somáticas sacrais (S2 a
S4). Além da inervação sensitiva da vagina, vulva e
períneo, os nervos pudendos fazem a inervação mo-
tora a vários músculos da pelve e região perineal.
Outras estruturas vizinhas, como anexos, peritônio
parietal, bexiga e reto sofrem tração. Portanto, a dor
é intensa e possui componente visceral e somático,
com fibras que penetram na medula nos segmen-
tos T10 a S4.5 Quando se utiliza analgesia, essa fase
pode perdurar até duas horas nas pacientes multípa-
ras ou até três horas nas pacientes nulíparas.4
Terceiro estágio
Compreende o período entre a saída do feto até a
expulsão das membranas fetais e da placenta. Ocor-
re aumento do retorno venoso por descompressão
da veia cava e pela autotransfusão materna, resul-
tante da contração uterina. A maior complicação ob-
servada nesse período é a hemorragia, que merece
especial atenção do anestesiologista. Porém, as per-
das sanguíneas durante o parto vaginal raramente
são expressivas, limitando-se a um total de 500 mL,
devido à rápida contração do miométrio após a de-
quitação e ao estado de hipercoagulação materna.6
BASES FISIOLÓGICAS DO TRABALHO DE PARTO
A fisiologia do parto é complexa, o que dificulta
até mesmo o diagnóstico de início do TP. Altera-
ções no colo e na frequência das contrações uteri-
BASES ANATÔMICAS DO TRABALHO DE PARTO
Do ponto de vista anatômico, sabe-se que múlti-
plas estruturas estão envolvidas no TP. O miométrio,
o colo uterino, a placenta e o feto agem em conjunto
para assegurar o sucesso do parto. Esse sucesso de-
pende, ainda, das diferenças no formato e no tama-
nho da pelve. Assim sendo, embora a contratilidade
uterina seja importante, ela não é um fator isolado.3
A inervação uterina é complexa. A inervação
funcional é feita por nervos parassimpáticos prove-
nientes de S2 a S4 e nervos simpáticos provenien-
tes de T7 a T8, que inervam também a bexiga e a
porção superior da vagina. Já o períneo é inervado
pelo nervo pudendo, que entra na medula espinhal
no nível de S2 a S4. A inervação sensitiva do útero,
responsável pela percepção da dor do parto, se faz
através de fibras aferentes viscerais provenientes
do corpo uterino, que entram na medula espinhal
no nível de T11 e T12. O colo uterino, a vagina e o
períneo são inervados por nervos que entram na
medula no nível de S2 a S4. Como parte das fibras
nervosas uterinas atinge a medula espinhal em
nível alto, é fácil entender-se por que o bloqueio
sacral por si só não seria suficiente para promover
adequada analgesia e anestesia, particularmente
durante o primeiro estágio do TP. 4
Os impulsos dolorosos do TP são transmitidos
por fibras A delta e C.5 A dor assume características
e intensidade diferentes, de acordo com a progres-
são do parto. Didaticamente, o TP foi dividido em
estágios, nos quais se diferem essas estruturas ana-
tômicas que, controladas por estímulos nervosos,
vão atuar contribuindo para a expulsão do feto. O
conhecimento desses estágios é fundamental para
o planejamento da analgesia de parto.
ESTÁGIOS DO TRABALHO DE PARTO
Primeiro estágio
Compreende o intervalo entre o início do traba-
lho de parto e a completa dilatação cervical. A dor,
basicamente visceral, é causada pelas contrações
uterinas, pela dilatação do colo do útero e pela dis-
tensão do segmento inferior do útero.6 Os impul-
sos dolorosos são transmitidos por fibras viscerais
que acompanham as fibras simpáticas e entram na
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S3-S6 5
Analgesia de parto: bases anatômicas e fi siológicas
deve ser minimizada sempre que possível, sendo
indicado o posicionamento da gestante em decú-
bito lateral esquerdo durante e após a aplicação
da analgesia.2,6
A DOR DO PARTO E A ANALGESIA
A Associação Internacional para o Estudo da
Dor (IASP) conceitua dor como sendo uma experi-
ência sensorial e emocional desagradável associa-
da a dano tecidual atual ou potencial ou descrita
em termos daquele dano. A dor do parto se destaca
entre dores agudas ou crônicas porque, diferente-
mente destas, ela não está associada a uma doença,
mas sim à mais básica e fundamental das experiên-
cias de vida: o início de uma nova vida. O motivo
pelo qual esse processo fisiológico causa dor tem
sido objeto de debates religiosos e filosóficos.1
Embora dor aguda, como a do parto, tenha duas
dimensões, a sensorial e a afetiva, tanto na pesquisa
como na prática clínica o foco primário de avaliação
da dor do parto é frequentemente a transmissão física
do estímulo doloroso, e não a dor como uma experi-
ência sensorial e afetiva. Porém, o grau de sofrimento
que causa a dor é altamente variável de acordo com
as características do parto, perfil físico e psicossocial
da mulher, variações culturais, tipo de ambiente e de
cuidado dispensado à paciente nesse momento. O
entendimento de todos esses fatores que influenciam
a experiência da dor do parto é complexo e limitado,
até mesmo pela qualidade e quantidade de pesquisas
disponíveis. Entretanto, em relação à intensidade da
dor, estudos mostraram que a do parto tem escores
comparáveis às de outras condições clínicas como
câncer não-terminal, neuralgia pós-herpética, dor de
dente, artralgias e dor da amputação de um artelho.1
Dor não controlada durante o TP resulta au-
mento nas catecolaminas circulantes, o que pode
levar à diminuição do fluxo sanguíneo uterino
com alterações na frequência cardíaca fetal. As
consequências endócrino-metabólicas dessa dor
se assemelham à resposta ao trauma cirúrgico,
com aumento também na concentração plasmáti-
ca de endorfinas, lactato e ácidos graxos, gerando
acidose metabólica fetal e materna.5,8
Por outro lado, adequada analgesia de parto
pode beneficiar a mãe e, indiretamente, o feto. A
partir dela consegue-se controlar o exagerado au-
mento da frequência cardíaca, do débito cardíaco
nas são provavelmente os dois sinais clínicos mais
usados para avaliar o parto, embora este último
não reflita a força do parto. Controvérsias também
persistem sobre qual o melhor meio para se avaliar
e quantificar a contratilidade uterina. Na fase pre-
coce do TP, as contrações tipicamente têm pico de
intensidade entre 25 e 30 mmHg, chegando a 60 a
65 mmHg durante o segundo estágio. A avaliação
da performance uterina baseada somente na am-
plitude das contrações é falsa, já que a intensidade
destas varia com a fase do TP, o tratamento da dor
e a necessidade de recursos para contrair o útero.3
Durante a gestação ocorre aumento dos níveis
de progesterona na grávida, visando preparar seu
organismo para enfrentar o TP. Entre outras ações,
a progesterona promove mais sensibilidade dos
nervos aos anestésicos locais, fazendo com que
menores doses por dermátomos sejam eficazes,
tanto na analgesia peridural ou subaracnoidea.2,7
Essa reduzida necessidade de anestésicos
no neuroeixo tem sido também atribuída ao
ingurgitamento venoso peridural, comum após
a segunda metade da gravidez. O aumento da
pressão no espaço peridural promove disper-
são cefálica do anestésico, resultando em níveis
mais altos de bloqueio simpático. O ingurgita-
mento venoso ocorre devido à pressão do úte-
ro sobre a veia cava inferior, a aorta e os vasos
ilíacos. Consequentemente, o retorno venoso
ao coração passa a ser feito através de um com-
plexo sistema de anastomoses de tributárias da
veia cava inferior com as veias vertebrais.2,7,8
O ingurgitamento venoso peridural não só au-
menta a área de absorção do anestésico local
como facilita a punção acidental de vasos san-
guíneos. Ele também propicia a cateterização
desses vasos durante a realização da anestesia
peridural contínua, o que pode resultar graves
consequências. Desse modo, para a realização
de bloqueios do neuroeixo na gestante, a dose
e o volume do anestésico local devem ser redu-
zidos, independentemente se a administração
será peridural ou subaracnoidea. Além disso, a
injeção deve ser feita lentamente e no intervalo
entre contrações uterinas.5
A compressão aorto-cava é um aspecto de fun-
damental importância na fisiologia da gestante.
Sua relevância é ainda maior durante o TP, prin-
cipalmente se a paciente está em posição supina.
Para evitar prejuízos ao feto, essa compressão
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S3-S66
Analgesia de parto: bases anatômicas e fi siológicas
anatômicos, fisiológicos e psicossociais envolvidos
na origem da dor. A analgesia deve visar ao bene-
fício mútuo para mãe e feto. Realizá-la de forma
criteriosa e embasada no conhecimento científico
disponível é, portanto, mais que uma responsabili-
dade, um dever do médico anestesiologista.
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col. 2002; 186:S16-24.
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ing childbirth: A systematic review. Am J Obstet Gyne-
col. 2002; 186:S81-93.
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12. Abenhaim HA, Fraser WD. Impact of pain level on
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epidural analgesia: results from the PEOPLE study. Am
J Obstet Gynecol. 2008; 199:500.e1-e6.
e da pressão arterial maternas, resultantes de con-
trações uterinas dolorosas. Esse efeito se deve à
redução da secreção de catecolaminas maternas.2
A analgesia regional pode também beneficiar o
feto por cessar a hiperventilação materna em respos-
ta à dor. A hiperventilação promove aumento do vo-
lume minuto e do consumo de oxigênio na mãe. Isto
resulta em hipocarbia e alcalemia maternas, vaso-
constrição umbilical importante e redução do fluxo
sanguíneo umbilical e da tensão de oxigênio arterial
fetal. Pode ocorrer desvio para a esquerda na curva
de dissociação da hemoglobina, com aumento da afi-
nidade do oxigênio pela hemoglobina materna, difi-
cultando a sua transferência placentária para o feto.2,5
Embora seus benefícios sejam descritos e a
analgesia epidural seja amplamente aceita pelo
aumento do conforto materno, possíveis efeitos
indesejáveis ainda são motivo de controvérsia em
relação a essa técnica.9 Entre os riscos temidos
estão hipotensão arterial, prolongamento do TP,
aumento da prevalência de mau posicionamento
fetal,3 instrumentação do parto10 e necessidade de
ocitócitos.9 Recentes estudos avaliando a relação
causa-efeito sugerem que as associações citadas
são confundidas pela distocia, uma vez que esta
aumenta a dor e a necessidade de medicação adi-
cional. Portanto, a partir da revisão de vários estu-
dos, concluiu-se que o uso da anestesia epidural
não altera significativamente os resultados do TP
quando a ocitocina é usada.3 Quanto às condições
fetais, uma pesquisa que avaliou o peso e o índice
de Apgar do recém-nascido mostrou que técnicas
de analgesia peridural contínua e duplo bloqueio,
com baixas doses de anestésicos, não interferiram
nesses resultados.11 Outro estudo avaliou a influ-
ência da analgesia nos eventos obstétricos ocorri-
dos durante o parto e concluiu que uma analgesia
subótima está relacionada a índice mais alto de
intercorrências obstétricas como fórceps e cesa-
riana em relação à ótima analgesia.12 Isto reforça
a importância dos nossos esforços em otimizar a
técnica da analgesia de parto.
CONCLUSÃO
A realização de adequada analgesia de parto
requer conhecimentos acerca da natureza multifa-
torial da dor relacionada ao trabalho de parto. Nes-
te contexto, é importante considerar os aspectos
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S7-S14 7
ARTIGO DE REVISÃO
Instituição:CET/SBA Santa Casa de Belo Horizonte
Endereço para correspondência:Rua: Cláudio Manuel, 632/1103
Bairro: Funcionários
Belo Horizonte, MG
CEP: 30140-100
E-mail: [email protected]
1Anestesiologista. Título Superior de Anestesiologia pela
Sociedade Brasileira de Anestesiologia (TSA/SBA); Anes-
tesiologista da Maternidade Hilda Brandão; Instrutora do
CET da Santa Casa de Belo Horizonte; Médica Intensivista
do Hospital Municipal Odilon Behrens, 2Anestesiologista da Maternidade Hilda Brandão, Respon-
sável pela Clínica de Dor da Santa Casa de Belo Horizonte,
RESUMO
Está bem estabelecido que a analgesia de parto promove alívio eficaz, confiável e segu-
ro para as dores do trabalho de parto e do período expulsivo. O objetivo desta revisão
é discutir as opções disponíveis ao anestesiologista para realização desta técnica e,
portanto, contribuir na promoção do parto humanizado.
Palavras-chave: Parto Normal; Trabalho De Parto; Dor De Parto; Analgesia Obstétrica;
Analgesia Epidural; Raquianestesia.
ABSTRACT
It is well known that labor analgesia provides effective, reliable and safe pain relief dur-ing labor and delivery. The objective of this review is to discuss the alternatives available, which will, eventually, contribute to a more humanized delivery.
Key words: Natural Childbirth; Labor Obstetric; Labor Pain; Analgesia, Obstetrical; Analge-sia, Epidural; Anesthesia Spinal.
INTRODUÇÃO
O controle da dor durante o trabalho de parto tem longa história. Há relatos de uso
de opiáceos, bebidas alcoólicas e poções inaladas, ingeridas ou aplicadas na pele da
mulher em trabalho de parto na China antiga, Pérsia e na Europa da Idade Média.1 A
Rainha Vitória (1819-1901) é conhecida pelo reinado mais longo que o Reino Unido já
teve. Foram 64 anos como rainha, originando o termo “Era Vitoriana”. Incorporou a
Índia ao Império Britânico, testemunhou a Revolução Industrial e casou-se por amor.
Poderosa, ousada e humana, sucumbiu às dores do parto durante o nascimento do
oitavo filho. Pois também foi a primeira parturiente a receber alívio eficaz para seu
sofrimento por meio da analgesia de parto fornecida por um anestesiologista.2
Muito se evoluiu desde então: técnicas anestésicas, novas drogas, conhecimen-
tos sobre fisiopatologia de mãe e filho e sobre a dinâmica do trabalho de parto.
Hoje, o alívio da dor e do sofrimento, qualquer que seja sua natureza, tornou-se com-
promisso e obrigação do médico.3 A Organização Mundial da Saúde recomenda a
humanização da assistência ao parto e isso inclui o incentivo ao parto vaginal, ao
aleitamento materno, ao alojamento conjunto e à presença de acompanhante. Ao
promover o parto natural sem dor, o anestesiologista se torna parte fundamental do
processo de humanização do atendimento à gestante.4 A literatura é extensa e rica
sobre as opções de que se dispõe para aliviar o sofrimento da mãe sem, contudo,
trazer prejuízo para ela ou o filho. Faz-se aqui uma revisão das opções disponíveis
Labor analgesia: regional and sistemic analgesia
Juliana Faria de Freitas1, Sofia Meinberg2
Analgesia de parto: bloqueioslocorregionais e analgesia sistêmica
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S7-S148
Analgesia de parto: bloqueios locorregionais e analgesia sistêmica
3. Revisão do material de intubação, ventilação
e aspiração, além de drogas de apoio às possí-
veis complicações e situações de emergências.
4. Monitorização: a paciente deverá ser monito-
rizada durante a realização da analgesia com
medidas intermitentes de pressão arterial (a
cada cinco minutos nos primeiros 30 minutos e
a seguir a cada 30 minutos até o nascimento) e
monitorização contínua de oximetria de pulso,
cardioscopia, frequência cardíaca; a monitori-
zação dos batimentos cardiofetais não deve ser
negligenciada, podendo ser de forma contínua
ou intermitente.
5. Atenção especial deve ser dada ao deslocamen-
to do útero para a esquerda, com o objetivo de
promover descompressão aorto-cava e evitar am-
bos: a hipotensão materna e a má-perfusão fetal.
6. Vasopressores disponíveis (Tabela 2): devem
ser usados quando houver baixa da pressão ar-
terial materna a despeito do deslocamento do
útero para a esquerda.7
7. Punção venosa com cateter 20 ou 18 G. O volume
da hidratação intravenosa é outro ponto contro-
verso. Entretanto, a tendência atual tem sido a
diminuir essa hidratação, inclusive a expansão
volêmica, com cristaloides antes da realização
dos bloqueios espinhais, para que não ocorra al-
teração da dinâmica uterina por diminuição da
concentração plasmática da ocitocina endógena.
8. Deambulação é permitida somente após o exa-
me realizado pelo anestesiologista, constatan-
do ausência de bloqueio motor e estabilidade
hemodinâmica nas posições deitada, sentada
e em pé. Deve-se confirmar a ausência de con-
traindicação obstétrica para deambular e de
realização de monitorização fetal contínua. A
parturiente deve deambular por períodos de, no
máximo, 15 minutos, com acompanhante de um
lado e suporte de soro do outro lado. Em nenhu-
ma circunstância deve deambular sem acompa-
nhante. Deve-se delimitar a área disponível para
deambulação durante o trabalho de parto.
ao anestesiologista para realizar a analgesia de parto
de forma eficaz e segura. Ressalta-se, também, a im-
portância da educação, informação e esclarecimento
à sociedade, para que ocorra o resgate da participa-
ção ativa do casal durante o nascimento. O objetivo
final é reverter o despreparo psicológico e cultural,
minimizar o medo da dor e privilegiar o bem-estar
da gestante, parturiente, recém-nascido e puérpera.5
PREPARO PRÉ-ANALGESIA
1. Avaliação pré-anestésica cuidadosa e comple-
ta das gestantes (história clínica, exame físico,
pré-natal, evolução do trabalho de parto).
2. Quanto ao jejum, é permitida a ingestão de líqui-
dos claros como água, suco de frutas sem pol-
pa, chá claro, café preto, isotônicos. A literatura
não é clara se há limites no volume de ingestão,
mas sugere que seja oferecido em pequenas
quantidades. A preocupação com a aspiração
do conteúdo gástrico é real e séria, porém o ris-
co está quase totalmente associado ao uso da
anestesia geral (Tabela 1). Portanto, o grau de
risco está diretamente relacionado à frequência
com que a anestesia geral acompanha o parto,
e esse risco é muito baixo. Além disso, mesmo
o jejum prolongado na grávida não garante es-
vaziamento gástrico. Recomenda-se atenção e
cuidado adicional nos casos de obesidade mór-
bida, diabetes mellitus, via aérea difícil.6
Tabela 1 - Estratégias para minimizar o efeito da aspiração do conteúdo gástrico
Neutralização da acidez gástrica (antiácidos não particulados)
Citrato de sódio 0,3 M 15-30 ml VO antes da analgesia
Pró-cinéticoMetoclopramida 10mg EV 10 minutos antes da analgesia
Inibidor de secreção gástrica
Ranitidina 50 mg EV 30 minutos antes da analgesia
Tabela 2 - Vasopressores mais usados em anestesia obstétrica
Droga Apresentação Diluição Concentração Bolus EV
Efedrina 50 mg/1ml 9 ml SF0,9% 5 mg/ml 5-10 mg
Fenilefrina 10 mg/1ml 200 ml SF0,9% 50 mcg/ml 50 mcg
Metaraminol 10 mg/1ml 50 ml SF0,9% 200 mcg/ml 200 mcgEV: endovenoso
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S7-S14 9
Analgesia de parto: bloqueios locorregionais e analgesia sistêmica
provam sua superioridade frente a essa droga.
Não há registros de diminuição da contratilidade
uterina ou prolongamento de trabalho de parto,
porém, assim como os demais opioides, pode cau-
sar depressão respiratória e bradicardia no feto.
Ressalta-se que a administração repetida aumenta
a meia-vida de decaimento.
O alfentanil e sufentanil não apresentam vanta-
gens frente a este, são mais onerosos e, portanto,
pouco utilizados em analgesia sistêmica para tra-
balho de parto.
REMIFENTANIL
É um agonista μ puro, potente, de ação ultra-
curta, utilizado há mais de uma década em anes-
tesia. Em obstetrícia, inicialmente era indicado
em cesarianas de gestantes cardiopatas ou em
pré-eclâmpsia na anestesia geral ou associado à
peridural. Apresenta rápido início de ação e elimi-
nação por esterases plasmáticas em metabólitos
inativos, o que permite administrações prolonga-
das sem acúmulo. Essas características o tornam
uma droga bem indicada em analgesia de trabalho
de parto. O remifentanil cruza a barreira placentá-
ria com facilidade, porém apresenta grande volu-
me de distribuição e rápido metabolismo. Pode ser
administrado em bolus, infusão contínua ou em
associação, dos dois modos, sendo que o aumento
intermitente de bolus, conforme a necessidade, é
o método mais seguro e adequado, pois permite
ajuste de dose conforme a individualidade, evitan-
do-se os efeitos colaterais. O tempo entre o início
do bolus e o efeito é de aproximadamente dois mi-
nutos e o fim da contração coincide com o efeito
máximo. Uma série de casos relata a eficácia do
remifentanil, porém os achados são inconsistentes
em relação aos efeitos colaterais. Há referências a
diversos modos de administração e doses, varian-
do de 0,5 a 0,9 mcg/Kg em bolus, com intervalos de
dois a cinco minutos e infusão contínua de 0,05 a
0,1 mcg/Kg/min. Em baixas doses geralmente não
apresenta efeito clínico e em altas doses há mais
efeitos colaterais. Essa droga tem sido indicada
pela administração fácil e por sua farmacocinética
previsível quando está contraindicada analgesia
regional, mas certamente há a necessidade de in-
vestigação científica para a concretização de sua
indicação em analgesia obstétrica.9
ANALGESIA SISTÊMICA
A analgesia sistêmica é considerada método al-
ternativo, sendo indicada quando há contraindica-
ções aos bloqueios regionais ou na ausência de re-
cursos para a realização dos mesmos. Analgésicos
podem ser administrados por diversas vias, como
a intramuscular, inalatória e endovenosa, porém
a última possibilita rápido efeito terapêutico e,
consequentemente, titulação de doses. O desafio
é identificar o analgésico com as melhores carac-
terísticas farmacocinéticas, ou seja, rápido início e
declínio de ação, independentemente da via, que
permita flexibilidade na utilização, já que a efici-
ência da analgesia e o aparecimento de efeitos
colaterais, são dose-dependentes. Muito opioides
são utilizados, entretanto, é notório o fato de que
produzem analgesia incompleta e, dependendo do
tipo e quantidade utilizadas, podem trazer efeitos
colaterais para mãe e feto. Todos os medicamen-
tos dessa classe atravessam a barreira placentária.
Quanto maior a concentração plasmática na mãe,
maior será a transferência.8
MEPERIDINA
Largamente utilizada, principalmente por obs-
tetras, devido à familiaridade e baixo custo, porém
sua eficácia vem sendo questionada em relação
ao alívio parcial da dor, possibilidade de depres-
são respiratória, bradicardia fetal, redução da
contração uterina e prolongamento da fase ativa
do trabalho de parto. Os efeitos no recém-nascido
ocorrem entre uma e quatro horas após a admi-
nistração intramuscular, portanto, deve-se avaliar
o momento da realização da analgesia para evitar
depressão fetal ao nascimento, sendo que essa de-
pressão neurocomportamental pode persistir por
um a cinco dias, apesar do uso de baixas doses. A
meperidina tem como metabólito ativo a normepe-
ridina, que apresenta meia-vida longa, responsável
por efeitos colaterais, inclusive excitabilidade de
sistema nervoso central.7,9
OPIOIDES LIPOFÍLICOS
O fentanil é aproximadamente 800 vezes mais
potente que a meperidina e vários estudos com-
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S7-S1410
Analgesia de parto: bloqueios locorregionais e analgesia sistêmica
produzem boa analgesia, nenhuma amnésia e boa
cooperação da parturiente. Devido ao evidente risco
de aspiração da gestante, deve-se sempre manter o
contato verbal com a paciente e, quando necessário,
superficializar. A administração pode ser intermiten-
te, conforme a necessidade, e com ajuda em fase
avançada do trabalho de parto. O anestésico presen-
te na corrente sanguínea materna será transferido
pela placenta, porém seu efeito pode ser revertido
pela assistência respiratória adequada e consequente
eliminação pulmonar. Quanto mais longa a duração
da administração, mais possibilidade de efeitos no
recém-nascido. O óxido nitroso é utilizado na propor-
ção de 20-60% com oxigênio, sendo suficiente, isola-
damente, para a primeira fase de trabalho de parto
sem comprometer a atividade uterina e o feto.7
BLOQUEIO PARACERVICAL
Na década de 50 era técnica muito utilizada
para analgesia de primeiro estágio de trabalho
de parto, porém foi substituída pelos bloqueios
espinhais devido à incidência de depressão ne-
onatal.8 O bloqueio paracervical interrompe a
transmissão de estímulos de fibras aferentes de
T10-T12 envolvidos na primeira fase do trabalho
de parto, mas não produz analgesia no período
expulsivo, devendo ser complementado pelo blo-
queio do nervo pudendo, raquianestesia ou infil-
tração local. Esse bloqueio deve ser feito quando
a dilatação do colo encontra-se entre três e nove
centímetros, sob visualização direta com espéculo
vaginal, administrando-se na submucosa não mais
que a 3-5 mm de profundidade, nas posições 3 e 9
ou 4 e 8, 5-10 mL de solução anestésica. Antes da
injeção, deve-se proceder à aspiração cuidadosa
para evitar injeção vascular. Apresenta duração
de 45-120 min, podendo ser repetido. O bloqueio
paracervical produz analgesia sem afetar a ativida-
de uterina e não causa alterações hemodinâmicas
na mãe, mas a injeção intravascular ou miometrial
inadvertida leva à hipotonia uterina. Raramente há
comprometimento materno, mas há risco neonatal
e citam-se como complicações: punção de couro
cabeludo, de vasos uterinos, bradicardia fetal, aci-
dose e depressão neonatal. As complicações mais
importantes se devem a concentrações elevadas
de anestésicos locais e recomenda-se o uso de
soluções anestésicas mais diluídas. A bradicardia
ANALGESIA CONTROLADA PELO PACIENTE (PCA)
O PCA pode ser utilizado para analgesia de par-
to, tendo como vantagens melhor qualidade com
uso de menores doses, menos incidência de efei-
tos colaterais maternos e menor transferência pla-
centária, além de mais satisfação da parturiente.8
Há casos de uso de fentanil, meperidina e remifen-
tanil em bombas de PCA.
MORFINA
Não é utilizada para analgesia em trabalho de
parto devido à incidência de efeitos colaterais e
forte tendência à depressão respiratória neonatal.
CETAMINA
São utilizadas baixas doses, 0,25 a 0,5 mg/Kg, com
intervalos de dois a cinco minutos, no máximo de 100
mg em 30 minutos. Nestas doses a cetamina produz
analgesia sem afetar os parâmetros hemodinâmicos
maternos, a contratilidade uterina e o feto, podendo
ser utilizada para complementar anestesia local ou
bloqueio regional insuficiente. Há questionamentos a
respeito da qualidade da analgesia, da incidência de
efeitos indesejáveis e de depressão no recém-nascido.
OBSERVAÇÕES
Sedativos e tranquilizantes, além de apresenta-
rem risco de comprometimento fetal, não têm efei-
to analgésico, portanto, não devem ser utilizados.
A naloxona é o agente antagonista opioide utili-
zado em adultos em doses a partir de 0,02 a 0,04 mg
EV e em neonatos 0,01 mg/Kg. Tem efeitos aparentes
em minutos, com duração de uma a quatro horas.
ANALGESIA INALATÓRIA
Agentes inalatórios devem ser administrados em
doses subanestésicas para que ofereçam alívio da
dor, sem interferir na consciência e reflexos prote-
tores da laringe, além de não afetar a contratilidade
uterina pelo efeito tocolítico. Quando bem utilizados,
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S7-S14 11
Analgesia de parto: bloqueios locorregionais e analgesia sistêmica
demais funções maternas. Nenhuma droga isola-
da e nenhuma técnica alcança esse grau de se-
letividade, porém os bloqueios espinhais chegam
bem perto desse ideal. Os diferentes métodos de
analgesia espinhal (raquianestesia, peridural ou
combinada raque-peridural) constituem as técni-
cas mais efetivas para analgesia do trabalho de
parto de que se dispõe na prática clínica atual.
Eles estão indicados para a analgesia de todas
as fases do trabalho de parto. Além de promover
alívio da dor, a analgesia regional não produz de-
pressão materna e neonatal e permite que a mãe
permaneça desperta e participe ativamente do
trabalho de parto. São contraindicações absolutas
para sua realização: recusa da gestante, infecção
cutânea no local de punção, distúrbios francos da
coagulação, hipovolemia materna não corrigida e
pressão intracraniana aumentada. As contraindi-
cações relativas (por exemplo: deformidades da
coluna, infecção sistêmica, doença neurológica
prévia, distúrbios leves da coagulação) devem ser
avaliadas individualmente, considerando-se os
riscos e os benefícios de cada método disponível
para analgesia.10
RAQUIANESTESIA
Apresenta como vantagens: facilidade de apli-
cação, curto período de latência, mínimas concen-
trações fetais e maternas da solução anestésica.
Pode ser usada em dose única durante o período
expulsivo, o que permite a realização de fórceps,
episiotomia, manipulação e revisão do canal de
parto. A associação de 2,5 mg de bupivacaína hi-
perbárica a 0,5% a 15-20 μg de fentanil ou 2,5-5 μg
de sufentanil promove analgesia de excelente qua-
lidade, com mínimo bloqueio motor e simpático,
com duração em torno de 60 minutos.11-13
PERIDURAL CONTÍNUA
A injeção titulada da solução anestésica confe-
re muita flexibilidade para os diferentes estágios
do parto, permitindo, inclusive, a conversão para
parto por via abdominal. Após a dose inicial, o
bloqueio peridural para analgesia de parto pode
ser mantido de diferentes maneiras: bolus inter-
mitente, infusão contínua ou bolus mandatório e
fetal ocorre 2-10 minutos após a administração do
anestésico, pode durar até 30 minutos e tem sido
atribuída à vasoconstrição da artéria uterina, au-
mento do tônus uterino pelo anestésico e efeito
tóxico do anestésico, isoladamente ou em asso-
ciação. A frequência dessa complicação chegava
a 70%, mas com a diminuição de doses e concen-
trações utilizadas, a incidência encontra-se entre 2
e 10%, principalmente associada à lidocaína. Não
há diferença clínica na evolução após o nascimen-
to. O bloqueio paracervical é contraindicado em
pacientes com insuficiência placentária crônica
ou feto com doenças preexistentes.7,8 O uso desta
técnica em obstetrícia é controverso, mas há traba-
lhos recentes mostrando segurança para o feto.7,8
BLOQUEIO DO NERVO PUDENDO
Geralmente é realizado pelo obstetra, pou-
co antes do nascimento, em pacientes que não
receberam bloqueio de neuroeixo. O nervo pu-
dendo é formado por fibras somáticas S2-S3-S4
que transmitem estímulos do segundo estágio do
trabalho de parto por distensão da vagina, vulva,
períneo e reto. São descritas as vias transvaginal
e transperineal, sendo a primeira mais simples e
confortável quando realizada no início do perí-
odo expulsivo, exceto pela presença do feto no
canal vaginal. Administram-se 5-10 mL de lidocaí-
na 1% ou bupivacaína 0,25-0,5% sem vasoconstri-
tor, bilateralmente, atrás da espinha isquiática, o
que possibilita episiotomia e fórceps. A analgesia
pode durar 30 a 90 minutos. São raras as compli-
cações maternas e fetais. Há aumento da incidên-
cia de distocias de rotação e uso de fórceps, po-
rém em número mais baixo que no bloqueio de
neuroeixo.7 A principal complicação é a toxicida-
de por anestésicos locais. Esse tipo de bloqueio é
insuficiente para revisão do canal de parto e úte-
ro, está relacionado a alto índice de falhas, além
do uso de maior quantidade de anestésicos locais
quando comparado à raquianestesia.8
ANALGESIA REGIONAL
O anestésico ideal para o trabalho de parto e
período expulsivo é aquele que produz bloqueio
exclusivo das vias de dor, deixando intactas as
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S7-S1412
Analgesia de parto: bloqueios locorregionais e analgesia sistêmica
do colo uterino, abreviando o trabalho de parto, e
menor incidência de parto instrumental. Pode ser
realizado por meio de punção única com agulhas
próprias ou por dupla punção. A técnica combina-
da está associada a complicações menos graves
do que a peridural, mostrando ser técnica segura
e com muita satisfação para a parturiente. Uma
complicação possível, mas não frequente, é quan-
do, mesmo com as agulhas bem posicionadas, não
ocorre retorno de líquor pela agulha de raque. O
anestesiologista não deve, então, injetar a solução,
sendo a condução da analgesia realizada pela téc-
nica peridural exclusiva uma boa opção. Compa-
rada à analgesia peridural contínua, essa técnica
está relacionada a menos consumo de anestésico
local por hora. (Tabela 4)
COMPLICAÇÕES POSSÍVEIS DOS BLOQUEIOS ESPINHAIS
As complicações potenciais podem ser efeitos
colaterais dos medicamentos usados na analgesia
(opioides e/ou anestésicos locais) ou complica-
ções da técnica anestésica utilizada: raque, peri
ou a associação de ambas. São possíveis compli-
cações: prurido, náusea e/ou vômitos, hipotensão
arterial, retenção urinária, bloqueio motor, sono-
lência materna, depressão respiratória materna,
cefaleia pós-punção de dura-máter, ruptura e mi-
gração do cateter. O anestesiologista deve estar
preparado para acompanhar e, se preciso, tratar
qualquer uma destas possíveis complicações,
como em qualquer outra anestesia.17
infusão controlada pela paciente. Embora a bupi-
vacaína seja o anestésico local mais utilizado, há
tendência à administração de agentes menos tóxi-
cos, como a ropivacaína e levobupivacaína. A ro-
pivacaína está relacionada com menos incidência
de bloqueio motor; por ser menos potente que a
bupivacaína, e pode exigir complementação para
analgesia eficaz. Parada cardíaca por bupivacaína
em analgesia de parto via peridutal é excepcional,
justamente pela injeção fracionada do anestésico
local diluído. Atenção especial deve ser dada ao
risco aumentado de punção venosa acidental pelo
cateter peridural. A injeção de 5 mL de SF0,9% no
espaço peridural facilita a passagem do cateter e
diminui a incidência de cateterização venosa. A
dose-teste com lidocaína com epinefrina não deve
ser realizada, pelo risco de comprometer a dinâ-
mica do trabalho de parto e a deambulação das
pacientes, além de não ser fidedigna para revelar
punção venosa.13-17 (Tabela 3)
BLOQUEIO COMBINADO RAQUE-PERI
O bloqueio combinado raque-peridural (BCRP)
apresenta a característica de preservar as van-
tagens de cada método, procurando diminuir as
desvantagens. O uso de cateter peridural permite a
manutenção da analgesia e a conversão para anes-
tesia peridural, quando necessário. Oferece as van-
tagens: rápido início de ação, excelente analgesia,
possibilidade de administração nos estágios ini-
ciais de trabalho de parto, bloqueio motor mínimo
ou ausente, mais rapidez na dilatação completa
Tabela 3 - Analgesia de parto – bloqueio peridural contínuo
Paciente sentada e monitorizada
Antissepsia da região da punção com álcool 70%
Anestesia da pele e tecido subcutâneo com lidocaína 1% sem adrenalina
Punção peridural na linha mediana em L2-L3 ou L1-L2. Identificação do espaço pela técnica de perda da resistência ao ar (volume máximo 3 mL). Injetar 5 mL de SF0,9%. Passagem do cateter peridural em direção cefálica e aspirar, testando retorno de sangue. Se negativo, fixar o cateter
Injeção peridural de bolus de 10 mL de bupivacaína 0,125% com epinefrina1:800.000 + 10-20 μg sufentanil ou 50 μg de fentanil
Iniciar infusão contínua de solução de bupivacaína 0,0625% com epinefrina + sufentanil 0,2 μg/mL ou fentanil 2 μg/mL, na velocidade de 10 mL/h
Caso seja necessário aumentar a analgesia, administrar bolus de 5 mL de bupivacaína 0,125% ou 3 mL de bupivacaína 0,25% via peridural e reavaliar em 10-15 minutos
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S7-S14 13
Analgesia de parto: bloqueios locorregionais e analgesia sistêmica
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CONCLUSÃO
A participação do anestesiologista durante o
trabalho de parto alcança resultados que trans-
cendem o bem-estar da mãe e do recém-nascido.
O incentivo ao parto sem dor reduz a incidência
do número de cesarianas e suas complicações
(risco três a quatro vezes mais alto que o do par-
to vaginal). A rápida recuperação materna per-
mite o contato precoce desta com seu filho e o
incentivo ao aleitamento materno. O principal
objetivo do parto hospitalar humanizado é con-
tribuir para que este seja natural e que a mulher
possa se sentir segura no comando do processo.
O anestesiologista é um dos profissionais que
mais podem contribuir para isto, oferecendo o
alívio para a dor e tornando esse momento re-
almente prazeroso e único para o casal e o seu
recém-nascido. A solicitação materna é suficien-
te justificativa para alívio da dor no parto.18
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Tabela 4 - Analgesia de parto – bloqueio combinado raque-peridural (dupla punção)
Paciente sentada e monitorizada
Antissepsia da região da punção com álcool 70%
Anestesia da pele e tecido subcutâneo com lidocaína 1% sem adrenalina
Punção peridural na linha mediana em L2-L3 ou L1-L2. Identificação do espaço pela técnica de perda da resistência ao ar (volume máximo 3 mL). Injetar 5 mL SF0,9%. Passagem do cateter peridural em direção cefálica; aspirar testando retorno de sangue. Se negativo, fixar o cateter
Punção subaracnoide em L3-L4 com agulha 27G
Injeção de fentanil (12,5-20 μg) ou sufentanil (2,5-5 μg) + 2,5 mg de bupivacaína 0,5% pesada
Paciente permanece em decúbito lateral esquerdo
Iniciar infusão contínua de solução de bupivacaína 0,0625% + sufentanil 0,2 μg/mL ou fentanil 2 μg/mL, na velocidade de 10 mL/h
Caso seja necessário aumentar a analgesia, administrar bolus de 3-5 mL de bupivacaína 0,125% ou 3 mL de bupivacaína 0,25% via peridural e reavaliar em 10-15 minutos
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S7-S1414
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S15-S23 15
ARTIGO DE REVISÃO
Trabalho realizado no CET/SBA do Hospital Universitário
da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG.
Endereço para correspondência:Dr. Leandro Fellet Miranda Chaves
Avenida Independência, 1585/1403 – Centro.
Juiz de Fora – MG
E-mail: [email protected]
1Anestesiologista Título Superior em Anestesiologia pela
Sociedade Brasileira de Anestesiologia; Corresponsável
pelo CET/SBA do Hospital Universitário da UFJF; Chefe do
Serviço de Anestesiologia do Hospital Ascomcer; Aneste-
siologista do Hospital Albert Sabin, em Juiz de Fora - MG2Anestesiologista Título Superior em Anestesiologia pela
Sociedade Brasileira de Anestesiologia; Corresponsável
pelo CET/SBA do Hospital Universitário da UFJF; Professor
Aposentado da disciplina Anestesiologia da Faculdade de
Medicina da UFJF; Membro do Conselho Editorial da Revis-
ta Brasileira de Anestesiologia; Membro da equipe de trans-
plante renal do Hospital João Felício em Juiz de Fora - MG3Médica em Especialização do 3º ano em Anestesiologia
do CET/SBA do Hospital Universitário da UFJF em Juiz de
Fora - MG4Médica em Especialização do 1º ano em Anestesiologia
do CET/SBA do Hospital Universitário da UFJF em Juiz de
Fora - MG
RESUMO
Justificativa e objetivos: o objetivo desta revisão é proporcionar ao leitor informações
úteis para a condução adequada da anestesia obstétrica. Conteúdo: inicialmente,
discorre-se sobre a fisiologia e as funções da placenta e os principais determinantes
do fluxo útero-placentário. Os mecanismos de passagem transplacentária de fármacos
são elucidados com destaque para a difusão simples, que se fundamenta na lei de Fick.
A correlação de técnicas e drogas anestésicas com a segurança materna, circulação
útero-placentária e o bem-estar fetal é pormenorizada nos seguimentos da anestesia re-
gional, relacionada ao uso de anestésicos locais e opioides e da anestesia geral, com o
uso de anestésicos venosos, inalatórios e bloqueadores neuromusculares. Conclusão: o progresso e novos conhecimentos sobre as técnicas anestésicas em obstetrícia são de
suma importância para a segurança materno-fetal.
Palavras-chave: Placenta; Troca Materno-Fetal; Feto; Anestesia Geral; Anestesia Por
Condução; Anestesia Obstétrica.
ABSTRACT
Background and objectives: The objective of this review is to provide the reader with useful information for the proper conduct of obstetric anesthesia. Contents: Initially, the authors discuss about the physiology and functions of the placenta and the major determinants of utero-placental flow. The mechanisms of transplacental transfer of drugs are elucidated with emphasis on simple diffusion, which is based in the Fick’s law. The correlation of anesthetic drugs and techniques with maternal safety, uteroplacental circulation and fetal well-being is detailed in regional anesthesia, related to the use of local anesthetics and opioids, and in general anesthesia, related to the use of inhaled and intravenous anesthetics, and also neuromuscular blockers. Conclusion: Progress and new knowledge about anesthetic techniques in obstetrics are important to provide a good level of security to the mother and fetus.
Key words: Placenta; Maternal-Fetal Exchange; Fetus; Anesthesia, General; Anesthesia, Conduction; Anesthesia, Obstetrical.
CONSIDERAÇÕES ANATOMOFUNCIONAIS
A placenta humana é um órgão hemocorial, ou seja, os glóbulos vermelhos
entram em contato direto com o trofoblasto fetal. É responsável pela transferên-
cia de gases para o feto, papel desempenhado pelos pulmões ao nascimento.
Atua também de maneira semelhante aos rins, realizando a excreção, o balanço
hídrico e a manutenção fisiológica do pH fetal. Tem função endócrina, secretan-
Placental physiology and pharmacology: effects ofanesthesiaon the uterus, placenta and fetus
Leandro Fellet Miranda Chaves1, Itagyba Martins Miranda Chaves2, Hellen Bedin Bonin3, Tássia Veloso Gomes4
Fisiologia e farmacologia da placenta: efeitos da anestesia sobre o útero,placenta e feto
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S15-S2316
Fisiologia e farmacologia da placenta: efeitos da anestesia sobre o útero, placenta e feto
passagem de drogas através da membrana placen-
tária se faz pelos seguintes mecanismos:
Difusão simples
Processo mais comum, passivo, que depende
apenas de um gradiente de concentração e que
não envolve gasto de energia nem a presença de
carreadores. Por esse processo, atravessam a pla-
centa o O2, CO
2, sódio, cloreto, ácidos graxos e a
maioria das moléculas com peso molecular abai-
xo de 600 daltons. A passagem transplacentária
por difusão simples obedece à lei de Fick, repre-
sentada pela seguinte fórmula:3-5
Q/t = K A (Cm – Cf) / D, onde:
Q/t = velocidade de difusão
K = constante de difusão, que é diretamente
proporcional à lipossolubilidade da substância e
inversamente proporcional à ligação proteica, à
ionização e ao peso molecular da mesma.
A = área de superfície da membrana: propor-
cional à transferência transplacentária. Nos casos
de abruptio placentae (redução aguda), no infarto
placentário, na hipertensão (formação de fibrose)
e nos casos de infecção intrauterina, a área encon-
tra-se reduzida. No diabetes mellitus, a placenta
está aumentada, o que pode ser causa do maior
desenvolvimento do feto, por aumentar a transfe-
rência de nutrientes.
Cm = Concentração materna: além da dose ad-
ministrada, todos os fatores que aceleram a absor-
ção das drogas ou que reduzem seu metabolismo
ou excreção vão contribuir para que a concentra-
ção materna seja elevada e, consequentemente, o
gradiente materno-fetal se eleve.
Cf = Concentração fetal: o fato de que parte do
sangue que retorna pela veia umbilical passa pelo
ducto venoso sem passar pelo fígado reduz, mas não
elimina a possibilidade de metabolismo de primei-
ra passagem, aumentando a biodisponibilidade de
drogas. Além disso, o fígado fetal imaturo tem ainda
capacidade limitada de depuração. Esses dois fato-
res são importantes por facilitarem a elevação da
concentração sanguínea das drogas no feto e, con-
sequentemente, interferir no estabelecimento de um
gradiente materno-fetal. Outros fatores, como as alte-
rações de pH, podem também influir nesse processo.
do os hormônios proteicos como a gonadotrofina
coriônica (hCG) e esteroides como a progestero-
na, estradiol, estrona e estriol.1
O fluxo sanguíneo uterino origina-se das arté-
rias uterinas, com mais ou menos contribuição das
artérias ovarianas.1 Os principais fatores que regu-
lam o fluxo sanguíneo são:
■ pressão de perfusão: é o principal determi-
nante do fluxo sanguíneo uterino. Não se obser-
va no útero, ao contrário de outras circulações
(cerebral, coronariana), o fenômeno da autorre-
gulação nem a hiperemia reativa pós-isquêmi-
ca. O fluxo sanguíneo útero-placentário varia
linearmente de acordo com a pressão arterial
materna. Assim, no terceiro trimestre, uma que-
da de pressão arterial média de 90 mmHg para
60 mmHg diminuirá o fluxo uterino em aproxi-
madamente 33%;
■ resistência vascular intrínseca: um estímulo
endógeno (simpático) ou exógeno (drogas) que
aumenta a resistência vascular uterina, sem al-
terar a pressão arterial sistêmica, ocasionará
diminuição do fluxo sanguíneo uterino e das
trocas materno-fetais. Como regra geral, os es-
tímulos que causam vasoconstrição periférica
também causam vasoconstrição uterina, po-
rém predomina a resposta vascular uterina;
■ resistência vascular extrínseca: é representa-
da pelas contrações uterinas, que comprimem
os vasos que suprem a musculatura uterina.
Em resposta à compressão vascular extrínse-
ca, ocorre diminuição de perfusão uterina e
da circulação útero-placentária. Não há dúvida
em afirmar-se que as alterações na pressão de
perfusão são os principais determinantes do
fluxo placentário durante as contrações uteri-
nas, com evidentes reflexos no bem-estar do
concepto. A hipoperfusão e asfixia fetal aconte-
cerão sempre que houver hipotensão sistêmica
materna, elevação da resistência vascular uteri-
na ou elevação da tensão miometrial.2
TRANSFERÊNCIA TRANSPLACENTÁRIA DE DROGAS
Respeitados os princípios farmacocinéticos, o
que circula pela mãe passa para o feto.3 As trocas
materno-fetais se fazem entre as vilosidades pla-
centárias (feto) e os espaços intervilosos (mãe). A
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S15-S23 17
Fisiologia e farmacologia da placenta: efeitos da anestesia sobre o útero, placenta e feto
■ categoria B - Sem evidência de risco huma-no. Estudos em animais não indicam riscos,
mas não existem estudos em humanos ou es-
tudos animais evidenciaram riscos que não
foram confirmados em estudos humanos bem
controlados;
■ categoria C - O risco não pode ser afastado. Faltam estudos em humanos e os estudos em
animais ou são positivos ou igualmente faltam.
Entretanto, os benefícios potenciais podem jus-
tificar o possível risco;
■ categoria D - Evidência positiva de risco. Dados de investigação preliminar ou pós-co-
mercialização demonstraram risco para o feto.
Entretanto, os benefícios potenciais podem ser
mais significativos que o risco potencial;
■ categoria X - Contraindicada na gravidez. Estudos em animais ou humanos, investigação
preliminar ou pós-comercialização caracteri-
zam risco fetal que claramente se sobrepõe a
qualquer possível benefício para a paciente.6
Na Tabela 1, são relacionadas, utilizando essa
classificação, as drogas mais frequentemente utili-
zadas durante a anestesia.
EFEITOS DA ANESTESIA SOBRE O ÚTERO, PLACENTA E FETO
Quando se analisam os possíveis problemas que
podem advir da anestesia obstétrica, uma das preocu-
pações é o não-comprometimento da contratilidade
uterina, pois o prolongamento do trabalho de parto
pode resultar risco para o feto.2 Além disso, as drogas
utilizadas não devem induzir depressão no feto.
Anestésicos locais
A maioria das drogas utilizadas em anestesia
atravessa facilmente a placenta através de difusão
simples, porém, deve-se relembrar que, nesse pro-
cesso, o equilíbrio entre os compartimentos mater-
no e fetal faz-se apenas pela fração lipossolúvel,
livre (não-ionizada). Os anestésicos locais são ba-
ses fracas, com relativo baixo grau de ionização e
considerável lipossolubilidade.3 No caso dos ami-
noamidas, os valores de pKa (7.6 a 8,1) são sufi-
cientemente próximos do pH fisiológico, de forma
D = Espessura da membrana: a membrana
placentária é formada por camadas celulares e
tecido conjuntivo, o que a torna espessa. Essa
espessura tende a ir se reduzindo com o tempo,
sendo em torno de 25 μ no início da gestação
e 2 a 6 μ (média de 3,7 μ) na época do nasci-
mento. A passagem de drogas fica progressiva-
mente mais fácil à medida que a gravidez progri-
de, facilitando o atendimento das necessidades
crescentes de um organismo em intenso desen-
volvimento. Entretanto, a partir da 36ª semana,
começa a haver diminuição da permeabilidade,
indicando o início de um processo de envelhe-
cimento do órgão.
Difusão facilitada
Nesse processo não ocorre dispêndio de ener-
gia, entretanto, necessita de um carreador, que tor-
na a passagem mais eficiente. Esse é o mecanismo
pelo qual moléculas de glicose ou de ácido lático
atravessam a placenta.
Transporte ativo
O transporte ativo através da membrana cons-
titui um mecanismo menos frequente, porém
responsável pela passagem transplacentária de
substâncias como cálcio e ferro, aminoácidos e
vitaminas A e C.3-5 Esse tipo de transporte envol-
ve gasto de energia e independe de gradiente de
concentração.
EXPOSIÇÃO INTRAUTERINA A AGENTES QUÍMICOS
A FDA (Food and Drug Administration) propôs
uma classificação para as drogas utilizadas e exis-
tentes no mercado, relacionada ao risco de pro-
duzir alterações no desenvolvimento embriofetal.
Embora tenha sido proposto seu abandono, ela
ainda continua sendo fonte de informação extre-
mamente útil para uso clínico.5,6
■ categoria A - Estudos controlados mostram não haver risco. Estudos adequados, bem con-
trolados, em mulheres grávidas não mostraram
risco para o feto;
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Fisiologia e farmacologia da placenta: efeitos da anestesia sobre o útero, placenta e feto
de atravessar a barreira placentária de volta ao plas-
ma materno, com tendência a acúmulo e toxicidade
para o concepto (íon trapping).9 A diminuição de
pH fetal leva ao aumento absoluto de cerca de 30%
da quantidade de moléculas do anestésico local no
feto.3 Estudos demonstraram que a bupivacaína é
mais segura que a lidocaína nessas situações, já que
a transferência de drogas com alto grau de ligação
proteica materna como a bupivacaína é limitada.10
que alterações bioquímicas materno-fetais podem
alterar significantemente a proporção entre fra-
ções ionizadas e não-ionizadas dos mesmos.
A absorção de anestésicos locais do espaço peri-
dural ou mesmo a injeção intravascular inadvertida
leva à sua passagem transplacentária por difusão
simples para o plasma e tecidos fetais onde, em situ-
ações de acidose (hipóxia fetal), ocorre a ionização
da fração livre do anestésico, que terá dificuldade
Tabela 1 - Classifi cação de Drogas Utilizadas em Anestesia Segundo seu Risco Teratogênico7,8:
Grupo Farmacológico Categoria B Categoria C Categoria D Categoria X
AINES Cetoprofeno, diclof-enaco, naproxeno
Ác. mefenâmico,fenilbutazona
Analgésicos (ambos os tipos e seus an-tagonistas)
NaloxonaAspirina e salicilatos, opióides (codeína, fentanil e similares, morfina, naltrexona)
Anestésicos GeraisEnflurano, sevoflu-rano, desflurano, metohexital, propofol
Halotano, isoflurano, óxido nitroso, cetamina, etomidato, tiopental
Barbitúricos (exceto tiopental e metohexi-tal)
Anestésicos Locais Etidocaína, lidocaína, prilocaína, ropivacaína
Bupivacaína, cloroprocaína, propacaína, tetracaína
Antibióticos e Anti-parasitário
Metronidazol, penici-linas, cefalosporinas Gentamicina
Aminoglicosí-deos (exceto gentamicina), tetraciclinas
Anticolinérgico Ipatrópio Demais componentes do grupo
Antieméticos Metoclopramida,ondansetron
Benzodiazepí-nicos Alprazolam, loraz-epam, midazolam
Temazepam, triazolam
Beta-Bloqueadores Acebutol, pindolol, sotalol
Bisoprolol, esmolol, labetalol, metoprolol, nadolol, propran-olol, timolol
Atenolol
Broncodilata-dores Adrenér-gicos Terbutalina
Efedrina, epinefrina, nor-epinefrina, isoproterenol, salbutamol
DrogasCardiovasculares
Adenosina, bloqueadores do canal de cálcio, IECA (1º trimestre), nitroprussiato de sódio, quinidina
Amiodarona, IECA (2º e 3º trimestres)
Nitrito de amilo
Hemostáticos Ac. tranexâmico Protamina, fator VIII humano
Hormônios Corticosteróides vasopres-sina
Estrógenos conjugados e esterificados, ocitocina
Agentes Diversos
Albumina humana,bloqueadores neuromusculres, KCl, droperidol, furosemida, dopamina, fenilefrina, meta-raminol, nafazolina, xantinas
Ergotamina
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Fisiologia e farmacologia da placenta: efeitos da anestesia sobre o útero, placenta e feto
obstetrícia. Por outro lado, a margem de segurança
da mistura racêmica é menor do que a de outros
agentes. Em relação à estereoisomeria da bupiva-
caína na transferência transplacentária e, adicio-
nalmente, aos efeitos dessa passagem sobre o feto,
estudos realizados em ovelhas gestantes revelaram
a passagem dos enantiômeros R(+) e S(-) através da
placenta. As razões de concentrações plasmáticas
da bupivacaína, com administração de 75 mg via
peridural para cesariana em humanos, salienta-
ram relação entre o sangue do cordão umbilical e
o sangue materno de 0,33 versus 0,31 μg/mL para
os enantiômeros R(+) e S(-) da bupivacaína, sem
diferença estatisticamente significativa.11 Estudo
comparando a transferência placentária de bupi-
cavacaína racêmica com ropivacaína realçou que
ambas atravessam a barreira com taxas semelhan-
tes, apesar das diferenças em relação à lipossolu-
bilidade e estereoisomeria.13
Concentrações plasmáticas progressivamente
elevadas são encontradas após injeções peridurais
repetidas de anestésicos locais, especialmente os
do tipo aminoamidas, que apresentam meia-vida
de eliminação prolongada.9 O aminoéster 2-cloro-
procaína é rapidamente metabolizado pela pseu-
docolinesterase plasmática, de modo que, após
injeção peridural, a meia-vida de eliminação plas-
mática materna é de aproximadamente três minu-
tos. Em casos de reinjeções, a 2-cloroprocaína é
detectável no plasma por apenas cinco a 10 minu-
tos e não existe evidência de acúmulo desse fárma-
co. Além da segurança materna, praticamente só
aparece no sangue fetal o metabólito inativo ácido
cloroaminobenzoico da 2-cloroprocaína, uma am-
pla vantagem em relação aos aminoamidas, que
têm seu metabolismo diminuído pela imaturidade
hepática do concepto.14
A administração subaracnoidea de anestésicos
locais resulta em concentrações plasmáticas bai-
xas devido a pequenas doses e à relativa pouca
vascularização da área. Entretanto, a raquianeste-
sia ainda pode levar a concentrações significantes
de drogas no sangue venoso umbilical fetal.
Opioides espinhais
Os opioides lipofílicos melhoram a qualidade
do bloqueio sensitivo ao serem associados aos
anestésicos locais durante analgesia e anestesia
Trabalhos realizados com bloqueio perineal
com dose de 80 mg de lidocaína descreveram
concentração máxima (Cmax) de 0,64 μg/mL,
com concentração materna e fetal no momento
do parto de 0,54 e 0,42 μg/mL, respectivamente, e
relação feto/materna de 0,73. Utilizando 0,80 mg/
kg por via perineal, observaram concentrações
plasmáticas materna e fetal no momento do parto
de 0,14 e 0,06 μg/mL, respectivamente, com rela-
ção feto/materna de 0,45.11
Na administração de lidocaína pela via peridu-
ral, utilizando dose média de 420 mg de lidocaína
2% para realização de parto cesáreo, Cavalli et al. (2006) evidenciaram Cmax de 6,4 μg/mL e a rela-
ção feto/materna no momento do parto de 0,44.
Utilizando 400 mg da lidocaína 2% em anestesia
peridural de gestantes com ou sem pré-eclâmp-
sia, encontraram Cmax de 2,8 μg/mL no grupo-
controle e relação feto/materna de 0,73. Portanto,
demonstram que, em doses habituais, a lidocaína
apresenta taxa de transferência placentária em tor-
no de 50%. A lidocaína, na dose de 400 mg adminis-
trada por via perineal para bloqueio locorregional
em pacientes submetidas a parto via vaginal, apre-
sentou tempo para a concentração (Tmax) na cir-
culação sanguínea materna de 15 min com Cmax
de 3,22 μg/mL. O tempo de latência entre a admi-
nistração da droga por via perineal e a ocorrência
do parto foi de 11 minutos, com concentração ma-
terna e fetal de 2,7 e 1,3 μg/mL, respectivamente,
enfatizando taxa de transferência placentária em
torno de 46% no momento do nascimento.11
Na literatura são descritas concentrações plas-
máticas tóxicas da lidocaína em torno de 5 a 6 μg/
mL para indivíduos adultos, que podem apresentar
crises convulsivas, bradicardia e hipotensão quan-
do a droga atinge os níveis tóxicos.12 Em relação
ao feto, não se conhece o nível com potencial de
toxicidade, porém são descritas bradicardia fetal,
dificuldade para adaptação à vida extrauterina e
crise convulsiva nas primeiras 24 horas de vida nos
casos em que a mãe apresenta níveis elevados da
concentração plasmática. Os dados apresentados
sobre nível plasmático materno que atinge 3 a 4
μg/mL e a transferência placentária da lidocaína
na gestante em torno de 50% alertam para os cui-
dados necessários com o uso da lidocaína, mesmo
por diferentes vias de administração.11,12
A bupivacaína é provavelmente a droga anes-
tésica mais utilizada para anestesia peridural em
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Fisiologia e farmacologia da placenta: efeitos da anestesia sobre o útero, placenta e feto
intensidade das contrações e diminuindo o aporte
sanguíneo ao feto.3
Modernamente, o uso de opioides hidrofílicos
espinhais como a morfina em obstetrícia visa à
analgesia pós-operatória em cesarianas, com pou-
co espaço na analgesia de parto devido ao seu
risco-benefício. Por causa de seu caráter hidrosso-
lúvel e uso de pequenas doses, é pouco absorvida
pela circulação sistêmica e é praticamente destitu-
ída de efeitos diretos no feto.
Anestésicos inalatórios
O halotano, enflurano, isoflurano e sevoflu-
rano são potentes e equivalentes depressores
miometriais, existindo direta relação entre a sua
concentração e o grau de depressão uterina, com
risco de hipotonia uterina quando usados em
concentrações superiores a 0,5 a 1 CAM. Estudos
em animais de laboratório (ratos) mostram que a
ação depressiva da musculatura lisa seria devida
à alteração das concentrações intracelulares do
AMP-cíclico não mediada pelos receptores beta,
já que não é antagonizada pelos agentes bloquea-
dores beta-adrenérgicos. Ocorre também diminui-
ção da resposta à ocitocina, podendo resultar em
atonia uterina.2
O óxido nitroso não interfere diretamente no
fluxo útero-placentário, porém, na anestesia com
óxido nitroso em associação ao oxigênio a 50-70%
e na ausência de halogenados, diminui o fluxo
útero-placentário devido aos níveis elevados de
noradrenalina que ocorrem. Além disso, se o óxi-
do nitroso está sendo usado, há tempo para seu
acúmulo no recém-nascido, podendo provocar hi-
póxia por difusão.2
Anestésicos venosos
Os agentes venosos não parecem afetar dire-
tamente a contratilidade miometrial.16 O mais pro-
vável é que a redução no débito cardíaco, como
resultado dos efeitos gerais das drogas, leve à
redução no fluxo uterino, com consequente hi-
poperfusão placentária e inibição temporária das
contrações uterinas.
Os opioides têm amplo emprego em obstetrícia,
principalmente por via intramuscular e peridural,
de parto. O fentanil e o sufentanil têm sido os mais
comumente utilizados na prática obstétrica. O
mecanismo de ação dos opioides, administrados
por via peridural, é espinhal e supraespinhal, este
por absorção sistêmica. Apresentam curto tempo
para pico de ação, rápido término dos efeitos após
dose única e manutenção da estabilidade cardio-
vascular. Entretanto, quando utilizados em altas
doses ou com infusão contínua, essas drogas têm
efeitos mais duradouros. Altas doses maternas de
fentanil e sufentanil estão associadas à bradicar-
dia, diminuição do tônus e até mesmo depressão
respiratória fetal.11,15
Na literatura, há relatos de caso de depressão
respiratória fetal com doses repetidas em analge-
sia peridural para trabalho de parto, porém não se
conhece bem o nível de toxicidade para o feto. O
fentanil passa rapidamente do espaço peridural,
área de rica vascularização, para a corrente san-
guínea e apresenta curto intervalo de tempo para
equilíbrio entre esses setores. Este fato é eviden-
ciado pela detecção do fármaco no plasma já na
primeira coleta sanguínea (1 minuto) de gestantes
submetidas a parto cesáreo com anestesia peri-
dural utilizando fentanil na dose única de 100 μg.
Em relação à transferência placentária do fentanil,
foi encontrada relação feto/materna de 0,892, com
níveis de concentração plasmática fetal e materna
no momento do parto de 0,245 e 0,310 ng/mL, res-
pectivamente. Neste estudo não foram observadas
complicações perinatais secundárias ao uso do
fentanil por via peridural em dose única de 100 μg.
Os dados apresentados para uso do fentanil em
dose única por via peridural para cesariana aler-
tam para cuidados com o uso de doses repetidas
na analgesia peridural contínua durante o trabalho
de parto, devido à alta taxa de transferência pla-
centária desse fármaco e a possibilidade de doses
cumulativas para o feto.11
Em ensaio clínico comparando técnica raqui-
peridural combinadas com a meperidina venosa
para analgesia de parto, foi observada bradicardia
fetal profunda em algumas pacientes que recebe-
ram sufentanil intratecal em uma hora após a in-
jeção. Apesar destas e outras descrições de bradi-
cardia fetal após uso de opioide lipofílico tanto por
via subaracnoidea quanto peridural para analgesia
de parto, acredita-se que o principal fator envolvi-
do seja a queda súbita dos níveis de catecolami-
nas, que são tocolíticas, causando aumento da
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S15-S23 21
Fisiologia e farmacologia da placenta: efeitos da anestesia sobre o útero, placenta e feto
xona. Isso mostra que, apesar da rápida depuração
plasmática, o remifentanil atravessa a barreira pla-
centária e pode causar depressão respiratória no
feto. Entretanto, no grupo do remifentanil somente
com bolus inicial, não houve diferença nos índices
de Apgar e de oxigenação fetal em relação ao gru-
po-controle (sem remifentanil).18-20
Não existem estudos até o momento que indi-
quem o uso do propofol com segurança durante a
gestação. Seu uso em cesariana é corroborado por
amplas investigações comparativas com o tiopen-
tal, nos quais não foi observada diferença em rela-
ção ao Apgar do recém-nascido no caso de injeção
de propofol na indução anestésica.21 No que toca à
recuperação materna, esta foi mais rápida. O propo-
fol atravessa a barreira placentária, mas as concen-
trações medidas no sangue do cordão umbilical são
pequenas e não parecem ter significado clínico.22 O
uso de propofol como agente de manutenção em
anestesia geral para cesariana proporciona desper-
tar materno e índices de comportamento neonatal
comparados aos obtidos com o isoflurano.23
O tiopental sódico não afeta a contratilidade
uterina, mesmo em doses superiores a 500 mg,
mas tem sido observada redução do fluxo san-
guíneo uterino de aproximadamente 15% em ani-
mais de laboratório. Em humanos, foi detectada
redução do fluxo interviloso usando a técnica do
Xe 133. Atravessa também a membrana placentá-
ria, apresentando pico de concentração na veia
umbilical em menos de dois minutos e, na artéria
umbilical, três a quatro minutos após sua adminis-
tração. Depois disso, sua concentração na mãe e
no feto começa a diminuir.21,24 Boa parte do que
passa para o feto sofre metabolismo de primeira
passagem no fígado, tendo sido encontradas altas
concentrações de tiopental no fígado fetal. O tio-
pental deprime o feto somente se usado em doses
acima de 4 mg/kg.
O etomidato parece provocar alterações ácido-
básicas fetais de menos intensidade do que as vis-
tas com o tiopental sódico, o que provavelmente
está associado à estabilidade hemodinâmica, com
manutenção de fluxo sanguíneo mais adequado à
manutenção da circulação útero-placentária.2,3
A cetamina eleva o tônus basal e a atividade
miometrial proporcionalmente à dose injetada.
Doses acima de 2 mg/kg elevam-no em cerca de
40%, havendo, também, aumento do tônus pós-par-
to. Devido à elevação dos níveis de catecolaminas
para alívio da dor no trabalho de parto. Entretanto,
pela possibilidade de promover depressão respira-
tória materno-fetal, devem ser usados com cautela.
Estudos em ovelhas informaram que o fentanil, al-
fentanil e sufentanil venosos rapidamente cruzam
a placenta e podem ser detectados no sangue fetal
em aproximadamente um minuto.15 Ficou demons-
trado que doses venosas de 1 μg/kg de fentanil em
pacientes submetidas à cesariana não causam alte-
rações nos índices de Apgar, na gasometria arterial
ou na avaliação neurocomportamental dos recém-
nascidos, quando comparados com outro grupo
em que não foi utilizado o fentanil.15
Estudo realizado com 15 gestantes hígidas sub-
metidas à anestesia geral para cesariana com 10
μg/kg de fentanil resultou em um (6,25%) neona-
to com índice de Apgar 8 no quinto minuto, um
(6,25%) com índice 9 e os demais com índice 10
(87,5%), além de baixas concentrações fetais do
opioide.17 A extração hepática na primeira passa-
gem e a diluição que o fentanil sofre na circulação
fetal, após ter ultrapassado a placenta, poderiam
explicar a baixa concentração na artéria umbili-
cal e a não-ocorrência de depressão respiratória
nos recém-nascidos.17 Porém, relatos de casos de
anestesia geral para cesariana demonstraram de-
pressão respiratória fetal com fentanil em doses
menores que as utilizadas na citação anterior.
O remifentanil venoso pode ser utilizado para
analgesia de parto e anestesia geral para cesariana.
Na gestante, a depuração plasmática é o dobro do
adulto normal.18 Apesar dessa aparente segurança,
ainda não se conhece sua ação sobre a contratili-
dade e o fluxo sanguíneo uterino.19 Várias técnicas
de analgesia com remifentanil têm sido descritas
na literatura, com muito sucesso. Pode-se utilizar
a analgesia controlada pelo paciente (PCA) com
uma pequena infusão contínua basal (0,05 μg/kg/
min) associada a bolus de resgate (25mcg), quan-
do solicitado pelo paciente, ou apenas a técnica
de PCA com bolus intermitentes (0,2 a 0,5 μg/kg
em intervalos de um a cinco minutos). Comparado
com a meperidina venosa, o PCA de remifentanil
apresentou baixos escores de dor, mais satisfação
materna e menores incidências de hipoxemia ma-
terna e alterações na frequência cardíaca fetal.18,20
Em pesquisa acerca de cesarianas sob aneste-
sia geral, o uso do remifentanil em bolus, associa-
do ou não à infusão contínua, causou depressão
respiratória fetal prontamente revertida pela nalo-
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S15-S2322
Fisiologia e farmacologia da placenta: efeitos da anestesia sobre o útero, placenta e feto
Anestesia regional versus anestesia geral
A opção mais frequente de anestesia na pa-
ciente grávida, especialmente para a realização
do parto (seja ele vaginal ou cesariana), é a anes-
tesia regional. Nesta, os anestésicos locais atra-
vessam facilmente a placenta, porém, desde que
respeitadas as doses máximas recomendadas, sua
tolerância é boa, tanto pela mãe como pelo feto.
Considerando os anestésicos gerais, em condições
maternas e fetais normais, os resultados obtidos
são semelhantes aos da anestesia regional.3
Entretanto, se houver comprometimento fetal,
o benefício do uso da anestesia regional pode ser
significativo. De maneira geral, os índices de Ap-
gar, após anestesia geral, são piores ao nascimento,
mas, na ausência de hipóxia, hipotensão arterial,
compressão da aorta e/ou da veia cava e excessi-
va hiperventilação, o equilíbrio ácido-básico não é
alterado e o recém-nascido tem boa recuperação.
Os índices neurocomportamentais podem ser afe-
tados, mas por curto período. Costuma-se valori-
zar muito o tempo decorrido entre a indução da
anestesia geral e a retirada do feto. Se esse tempo
não excede oito a 10 minutos, o recém-nascido
fica bem, porque há pouco tempo para que fato-
res maternos induzam acidose fetal.2,3,11 Um fator,
entretanto, que parece mais importante é o tempo
decorrido entre a incisão uterina e a retirada do
feto, que não deve ultrapassar a três minutos, mes-
mo quando se trata de bloqueio.
CONCLUSÃO
O bem-estar fetal é fruto da harmonia entre o
feto, a placenta e a circulação útero-placentária.
Devido aos importantes progressos alcançados
nessa área de conhecimento em relação ao uso de
fármacos e técnicas anestésicas durante o período
de gestação, o anestesiologista dispõe de novas
drogas e novas informações que lhe permitem ofe-
recer bom nível de segurança ao binômio mãe-feto.
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plasmáticas, pode levar à vasoconstrição com re-
dução do fluxo sanguíneo uterino e hipóxia fetal.
Constitui boa opção para a indução da anestesia,
especialmente nas pacientes hipovolêmicas, não
comprometendo o feto, desde que não sejam utili-
zadas doses acima de 1,5 mg/kg.2,3
Quanto ao uso de benzodiazepínicos, o mida-
zolam, embora apresente meia-vida mais curta
que o tiopental e melhores resultados em relação
à mãe (mais estabilidade circulatória, melhor
hipnose), produz mais depressão fetal, especial-
mente nas duas primeiras horas de vida. Entre-
tanto, testes neurocomportamentais em neona-
tos realizados algumas horas após o nascimento
não indicaram diferenças significativas quanto
ao uso do tiopental e midazolam.2,3 O diazepam,
quando utilizado, é encontrado em concentra-
ções mais altas no feto do que na mãe, podendo
essa relação chegar até o dobro. Isto se deve ao
fato de que a ligação do diazepam às proteínas
se apresenta reduzida na grávida, fazendo com
que uma fração maior de droga livre passe para
o concepto, podendo resultar em depressão res-
piratória neonatal.11 Além disso, devido à sua alta
taxa de ligação com proteínas plasmáticas, ele
pode deslocar outras substâncias, como as bilir-
rubinas de seu sítio de ligação proteica no feto,
predispondo à icterícia neonatal. Seu uso não é
indicado em obstetrícia.
Bloqueadores neuromusculares
Os bloqueadores neuromusculares constituem,
entre as drogas utilizadas em anestesia, uma ex-
ceção importante em relação à passagem trans-
placentária, pois apresentam pesos moleculares
bastante altos e possuem, em sua estrutura, dois
grupamentos aminoquaternários, o que significa
elevado grau de ionização.2,3,11 Essas duas carac-
terísticas, importantes para impedir sua penetra-
ção no sistema nervoso central, fazem com que
a passagem transplacentária dos bloqueadores
neuromusculares seja mínima. Durante o primeiro
trimestre da gestação, a concentração das colines-
terases plasmáticas cai aproximadamente 25%,
permanecendo estável até o termo, sendo causa
de aumento da atividade de fármacos cujo meta-
bolismo depende dessas enzimas com a succinil-
colina e o mivacúrio.2,3,11
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S15-S23 23
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Rev Med de Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S24-S3324
ARTIGO DE REVISÃO
Endereço para correspondência:Dr. Alcebíades Vitor Leal Filho
Professor Estevão Pinto, 55, apto. 1601, Bairro Serra
CEP 30220-060. Belo Horizonte - MG
1Preceptor do Centro de Ensino e Treinamento em Aneste-
siologia do Hospital das Clínicas da UFMG. TSA- SBA2Anestesiologista do Hospital das Clínicas da UFMG
3Residente do segundo ano de Anestesiologia do CET
- Hospital das Clínicas da UFMG
RESUMO
Este artigo de revisão tem como objetivo abordar de maneira geral as síndromes
hemorrágicas obstétricas, especialmente as hemorragias pós-parto, com ênfase nas
condutas anestésicas recomendadas pela literatura atualizada por meio de artigos,
livros textos e medicina baseada em evidências.
Palavras-chave: Hemorragia; Gravidez; Anestesia; Hemorragia Pós-Parto.
ABSTRACT
This article reviews the hemorrhagic syndromes during pregnancy and pospartum, and current recommended anesthetic management of such conditions, through extensive analysis of updated review articles, text books and evidence-based medicine.
Key words: Hemorrhage; Pregnancy; Anesthesia; Postpartum Hemorrhage.
INTRODUÇÃO
As síndromes hemorrágicas obstétricas são causas importantes de morbi-
dade materna nos países desenvolvidos e de mortalidade nos países em de-
senvolvimento. Entre 10 e 15% das gestações apresentam hemorragias antes ou
após o parto. Podem ser complicações gestacionais ou agravos ginecológicos
concomitantes com o período gravídico.1 Nos Estados Unidos, a hemorragia é
a terceira causa de morte materna, ficando atrás do tromboembolismo e da
embolia de líquido amniótico.2
No Brasil, dados recentes concluídos pelo Departamento de Epidemiologia
da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, englobados no
“Estudo de mortalidade de mulheres de 10 a 49 anos”, revelam que 54,3% das
mortes maternas por 100.000 nascidos vivos (de média) são por distúrbios he-
morrágicos, sendo que na região Sul a mortalidade materna é de 42/100.000 nas-
cidos vivos e no Nordeste é de 73,2/100.000. A assistência pronta, oportuna e
adequada pode evitar a maioria dessas mortes.3
Neste artigo de revisão será abordado o tratamento das hemorragias
obstétricas, em especial as hemorragias pós-parto, com ênfase nas condu-
tas anestésicas.
Anesthetic management in obstetrical hemorrhagic syndromes
Alcebíades Vitor Leal Filho1, Marilene Miranda Araújo2, Carlos Alexandre de Freitas Trindade3, Vinícius Caldeira
Quintão3
Condutas anestésicas nas síndromes hemorrágicas obstétricas
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S24-S33 25
Condutas anestésicas nas síndromes hemorrágicas obstétricas
FISIOLOGIA
Para entender as causas e o tratamento da HPP,
é importante compreender os mecanismos que
previnem a perda sanguínea excessiva durante a
gestação normal. Fluxo sanguíneo para o útero
gravídico é em torno de 800 a 1.000 mL/minuto
e grande quantidade de sangue pode ser perdida
rapidamente. Sem mecanismos para minimizar a
perda sanguínea, poderá ocorrer exsanguinação
materna em poucos minutos. Após a dequitação
da placenta, o útero se contrai. Devido à disposi-
ção das fibras miométricas em diferentes direções,
a contração dessas fibras oclui os vasos sanguíne-
os, prevenindo a perda sanguínea. Essa contração,
mais do que a formação de coágulo ou a agrega-
ção plaquetária, é o principal mecanismo para he-
mostasia após o parto.12
ADAPTAÇÃO MATERNA DURANTE A GESTAÇÃO
O volume sanguíneo materno aumenta 40 a 50%
durante a gestação, resultando no aumento do vo-
lume plasmático e da massa de células vermelhas.
O aumento do volume sanguíneo protege a mãe
das consequências da hemorragia durante o traba-
lho de parto, podendo perder até 20% do volume
sanguíneo antes que sintomas clínicos apareçam.12
FATORES DE RISCO
Os fatores de risco para HPP são a hemorragia
pós-parto prévia, idade materna avançada, ges-
tação multifetal, parto prolongado, polidrâmnio,
parto instrumental, morte fetal, descolamento de
placenta, anticoagulação, multiparidade, uso pro-
longado de ocitocina, macrossomia, parto cesá-
reo, placenta prévia, acretismo placentário, corioa-
mnionite e anestesia geral.12
CAUSAS DE HPP
São causas primárias de HPP atonia uterina,
lacerações do trato genital, restos placentários,
placenta anômala, coagulopatias e anticoagu-
lação, inversão uterina e embolia do líquido
CLASSIFICAÇÃO DAS HEMORRAGIAS EM OBSTETRÍCIA
As hemorragias durante a gravidez são classifi-
cadas conforme o tempo de ocorrência do sangra-
mento em hemorragias pré-parto e pós-parto.
Hemorragia pré-parto
Tem como definição o sangramento que ocor-
re após a 20ª. semana de gestação, mas antes do
parto. É problema relativamente frequente, ocor-
rendo em 5 a 6% das mulheres grávidas. Muitos
casos originam de doenças benignas e não resul-
tarão em morbidade materna e fetal significativa,
mas placenta anormal, usualmente placenta prévia
e descolamento de placenta podem resultar sérias
complicações para mãe e filho.4-7 São causas de he-
morragia pré-parto a placenta prévia4, descolamen-
to prematuro de placenta e rotura uterina8, vasa
prévia4,9, distúrbio da coagulação10 e trauma.11
Hemorragia pós-parto (hpp)
A HPP é tradicionalmente definida como a he-
morragia que excede 500 mL no parto normal e
1.000 mL no parto cesáreo.12 Uma melhor definição
para HPP inclui perda sanguínea suficiente para cau-
sar hipotensão, queda de 10% no hematócrito após
o nascimento ou necessidade de hemotransfusão.13
Tal perda ocorre em 4% dos partos vaginais e 6% dos
partos cesáreas. A maioria dos casos de HPP aconte-
ce nas primeiras 24 horas após o parto e é chamada
de hemorragia HPP primária. A HPP secundária é ve-
rificada entre 24 horas e seis semanas após o parto.12
IMPLICAÇÕES CLÍNICAS
A HPP é associada com significativa morbidade
e mortalidade. De fato, é a principal causa de mor-
talidade materna no mundo e a segunda causa na
Europa e América do Norte. Choque hipovolêmi-
co, transfusões sanguíneas e suas complicações,
injúria cirúrgica, febre, falência renal e hepática,
insuficiência respiratória aguda, coagulação intra-
vascular disseminada e infertilidade são algumas
consequências da HPP.12
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S24-S3326
Condutas anestésicas nas síndromes hemorrágicas obstétricas
timado. Os anestesiologistas foram os que me-
lhor estimaram a perda sanguínea, com mar-
gem de erro de 4% abaixo do valor esperado.16
■ colher amostras para hemograma, coagulogra-
ma, tipagem sanguínea e prova cruzada;
■ ter disponível sangue tipo O Rh negativo em
casos de emergência (tipagem e prova cruza-
da podem demorar até 45 minutos). No preparo
para cirurgia com potencial para perda sanguí-
nea maciça, o número de unidades de concen-
trado de hemácias disponível na sala de cirur-
gia deve ser equivalente ao volume sanguíneo
da paciente (usualmente seis unidades). É reco-
mendada também a disponibilidade de quatro
unidades de plasma fresco congelado e de uma
aférese de plaquetas;17,18
■ aquecimento ativo da paciente com cobertores
e aquecimento das soluções para infusão intra-
venosa;
■ providenciar equipamentos para infusão rápi-
da de sangue e fluidos;
■ diagnosticar estado hemodinâmico da pacien-
te e iniciar reanimação apropriada.
Reanimação
A reanimação de uma paciente com HPP é con-
ceitualmente similar à reanimação de um trauma,
em que os objetivos são o rápido controle do san-
gramento e a manutenção do transporte de oxigê-
nio aos tecidos. A literatura define duas fases sobre
a reanimação no trauma: uma fase inicial imedia-
tamente após a injúria com sangramento ativo e
uma fase de manutenção após a estabilização. Os
protocolos modernos de reanimação no trauma
advogam uma administração sequencial dos com-
ponentes terapêuticos, iniciando com cristaloides-
coloides para repor a perda de volume intravascu-
lar. Secundariamente, a transfusão de concentrado
de hemácias é instituída para restaurar a capacida-
de de carreamento de oxigênio aos tecidos. Em ter-
ceiro lugar, fatores de coagulação e plaquetas são
usados na restauração da hemostasia fisiológica.18
Terapia com componentes sanguíneos
De acordo com a Força-Tarefa em transfusão
sanguínea da Sociedade Americana de Aneste-
amniótico. Restos placentários, infecção uteri-
na, subinvolução e anticoagulação são causas
secundárias.12 Atonia uterina, placenta retida e
lacerações cervical/vaginal respondem por 95%
de todas as causas de HPP.4
CONDUTAS NA HEMORRAGIA OBSTÉTRICA
O atendimento à paciente com síndrome hemor-
rágica requer preparo e diagnóstico precoce, pronto
atendimento e organização com estrutura mínima
para oferecer segurança.14 Sucesso no tratamento
requer equipe multidisciplinar (obstetras, aneste-
siologistas, equipe de enfermagem, hematologistas,
laboratório e banco de sangue, radiologistas) prepa-
rada.4 Para diminuir a mortalidade materna devido
à hemorragia, o Colégio Americano de Ginecologis-
tas e Obstetras (AGOC) recomenda que todas as uni-
dades obstétricas desenvolvam protocolos efetivos
para o controle da hemorragia obstétrica (Figura
1).13 É importante o estabelecimento de uma equi-
pe obstétrica com capacidade para rápida resposta,
com atribuições específicas, rotinas para identifica-
ção das pacientes com alto risco de sangramento,
melhora da comunicação entre diferentes níveis de
atendimento e o envolvimento de equipe de trauma
nos casos mais graves de hemorragia.
As medidas gerais incluem:15
■ dois acessos venosos periféricos calibrosos (ca-
teter 14G ou 16G);
■ monitorizar ECG contínuo, pressão sanguínea
não-invasiva e oximetria de pulso. Monitorizar
débito urinário de hora em hora. Considerar
monitorização hemodinâmica invasiva em pa-
cientes hemodinamicamente instáveis;
■ colher história médica e obstétrica detalhada,
examinar a paciente para estabelecer a causa e
sítio do sangramento;
■ examinar para excluir retenção de restos ovu-
lares ou lacerações do trato genital (anestesia
poderá ser necessária);
■ estimar perda sanguínea. Há evidências de que
obstetras frequentemente subestimam a perda
sanguínea durante o parto. Bose et al. recria-
ram 12 cenários mais comuns de hemorragias
obstétricas utilizando unidades vencidas de
concentrados de hemácias e acessaram a ca-
pacidade de estimar o volume sanguíneo das
equipes envolvidas. Nenhum caso foi superes-
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S24-S33 27
Condutas anestésicas nas síndromes hemorrágicas obstétricas
cado nas desordens hemorrágicas relacionadas
à deficiência ou ineficácia desses fatores. Reco-
mendações para administração incluem tempo
de protrombina maior que duas vezes o valor
normal ou tempo parcial de tromboplastina ati-
vada maior que 1,5 vez o valor normal.19,20 Com-
patibilidade ABO deve ser considerada quando
se administra PFC.20
Crioprecipitado é rico em fator VIII e fibri-
nogênio e é usado para tratar sangramento mi-
crovascular na vigência de deficiência destes.
Concentração de fibrinogênio acima de 150
mg/dL usualmente não requer crioprecipitado,
mas abaixo de 80 a 100 mg/dL indica a neces-
sidade de transfusão.19,20 Devido à pequena
quantidade de plasma, a compatibilidade ABO
não é necessária.
siologia (ASA), a transfusão de concentrado de
hemácias é raramente indicada, com nível de
hemoglobina superior a 10 g/dL e quase sempre
indicada com nível de hemoglobina abaixo de
6 g/dL19 Transfusão de plaquetas é raramente in-
dicada quando a contagem é superior a 100.000
células/μL, mas deve ser considerada quando
há sangramento excessivo com plaquetas abai-
xo de 50.000 células/μL.19,20 Embora seja possí-
vel transfusão de plaquetas ABO-incompatíveis,
essas células podem ter vida mais curta. Com-
patibilidade Rh deve ser considerada na popu-
lação obstétrica e imunoglobulina Rh deve ser
administrada se plaquetas Rh-positivo são ad-
ministradas a paciente Rh-negativo.20 O plasma
fresco congelado (PFC) contém todas as proteí-
nas plasmáticas e fatores da coagulação e é indi-
Figura 1 - RMP: remoção manual da placenta; MEU: exploração manual do útero; PFC: plasma fresco congelado; PVC: pressão venosa central; PIA: pressão arterial invasiva; rFVIIa: fator VII ati-vado recombinante.Fonte: Modificado de Mercier FJ, Van de Velde M. Major obstetric hemorrhage. Anesth Clin 2008; 26: 53-66.
Chamar ajuda
Prostaglandinas
Esvaziar BexigaOcitocina
Massagem útero
Ligar artérias
RMP e MEUExame Sutura
Tamponamento uterino
Embolização
2o acesso venosoLaboraório
Reservar Sangue
rFVIIa?
Histerectomia
Monitoração
OxigênioVolume
Vasopressor
Sonda vesicalDiurese/hAntibiótico
Aquecer paciente
Concentrado hemáciasManter Hb: 8-10 g/dL
PFC: alteração coagulação↓ fibrinogênio
Plaquetas se < 500000
Manter PAM60-80 mmHgVasopressor
NoradrenalinaPIA?PVC?
t0
t30
t60
(min)
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S24-S3328
Condutas anestésicas nas síndromes hemorrágicas obstétricas
A ocitocina é a droga mais usada para aumen-
tar a contração uterina e a primeira escolha para
tratamento e prevenção da hemorragia pós-parto.
Pode ser administrada IM ou IV. A dose varia de 10
a 20 UI. É bem tolerada e apresenta poucos efeitos
colaterais, mas a infusão rápida pode causar hipo-
tensão. Apresenta efeito antidiurético.4
Alcaloides do Ergot rapidamente induzem forte
contração tetânica do útero. Podem ser adminis-
trados por via parenteral ou oral. Nos casos de
hemorragia pós-parto, a via de escolha é a intra-
muscular. Podem causar aumento rápido e signifi-
cativo da pressão arterial, sendo contraindicados
em pacientes hipertensas ou com pré-eclâmpsia.
A via endovenosa deve ser evitada.4
A prostaglandina F2α é um potente uterotô-
nico, com longa duração de ação. Pode ser ad-
ministrada por via endovenosa, intramuscular
ou diretamente no miométrio. Essa prostaglan-
dina pode causar broncoconstrição e elevação
da pressão arterial e, por isto, é contraindicada
em pacientes asmáticas e hipertensas. Apresen-
ta, ainda, outros efeitos colaterais como diarreia,
náuseas, vômitos e febre.
O misoprostol é um análogo da prostaglandina
E1. É um potente uterotônico usado na prevenção
e tratamento da hemorragia pós-parto. Estudos re-
lataram que o misoprostol é altamente eficaz no
tratamento da hemorragia pós-parto causada por
atonia. Pode ser administrado por via oral, vaginal
ou retal. Efeitos colaterais incluem diarreia e febre.4
Transfusão maciça
Transfusão maciça é definida como administra-
ção de mais de 10 unidades de concentrado de he-
mácias. A paciente com sangramento maciço deve
ser reavaliada frequentemente para determinar a
eficácia do tratamento, assim como identificar
complicações corrigíveis. O tratamento da hemor-
ragia com transfusão de concentrado de hemácias
pode piorar a coagulopatia pela diluição das pla-
quetas e dos fatores de coagulação, assim como
pode contribuir para a hipotermia e acidose.20
Por esta razão, plaquetas e fatores de coagulação
devem ser administrados à paciente com sangra-
mento maciço. Recentes estudos em hemorragia
(não-obstétrica) maciça sugerem que a morbidade
e mortalidade são reduzidas quando a transfusão
é iniciada mais cedo e quando o PFC/concentrado
de hemácias é usado na proporção de 1:1.20-22
As principais indicações de transfusão de com-
ponentes sanguíneos em hemorragias obstétricas
estão resumidas na Tabela 1.
Medidas para interrupção do sangramento
Inicialmente e concomitantemente ao trata-
mento da hemorragia propriamente dita, utilizam-
se drogas para otimizar a contração uterina e com
isso comprimir os vasos intrauterinos, diminuindo
ou até mesmo controlando a hemorragia.
Tabela 1 - Principais indicações de transfusão de componentes sanguíneos em hemorragias obstétricas
Produto Conteúdo Indicações Comentários
Concentrado de hemácias HemáciasMelhorar transporte de oxigênio; Hemoglobina inferior a 6 g/dL
Realizar tipagem sanguínea e prova cruzada
Unidade de plaquetas Plaquetas Contagem de plaquetas inferior a 50.000/μL
Componente sanguíneo com o maior índice de contaminação bacteriana
Plasma fresco congelado Proteínas plasmáticas e fatores de coagulação
Sangramento devido à defi-ciência de fatores de coagu-lação; RNI maior 2 X normal; PTTa maior 1,5 X normal
Deve ser descongelado 20 a 30 minutos antes do uso
Crioprecipitado Fator VIII, XIII, von Wille-brand e fibrinogênio
Deficiência de fibrinogênio Fibrinogênio abaixo de 80-100 mg/dL
Pode ser usado para deficiências congênitas de fibrinogênio ou doença de von Willebrand
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S24-S33 29
Condutas anestésicas nas síndromes hemorrágicas obstétricas
ventivo de escolha quando sangramento grave
é suspeitado, como nas implantações anômalas
da placenta.4 A taxa de sucesso da embolização
da artéria uterina relatada na literatura é acima
de 90%. Na maioria das pacientes a fertilidade é
preservada e a menstruação normal retorna em
quase 100% dos casos.4 Complicações menores
como dor e inflamação transitória com febre são
raras (zero a 10%).4,25 Complicações graves, como
infecção pélvica, embolia pulmonar, necrose de
útero ou bexiga foram relatadas, mas são extre-
mamente raras.4,26,27
O tamponamento do útero pode ser efetivo
para diminuir a hemorragia secundária à atonia
uterina após parto vaginal, quando uterotônicos
falham em promover contração satisfatória.13 Uma
variedade de técnicas tem sido usada para tampo-
nar a cavidade uterina. Essas técnicas incluem en-
chimento uterino, balão Sengstaken-Blakemore e
diversos outros balões.12,28 Taxa de sucesso de 84%
foi relatada com o uso de balões, sendo o balão
esofageano Sengstaken-Blakemore mais frequen-
temente empregado.4,29
A sutura de B-Lynch é um procedimento novo
que promove a compressão do corpo uterino e di-
minui o sangramento excessivo causado pela ato-
nia uterina. Foi descrita em 1997 por Christopher
B-Lynch et al., que usaram a técnica numa série de
cinco casos.12,13,30 Um estudo referiu mais de 1.000
procedimentos com apenas cinco falhas.13,31 Publi-
cações iniciais sugeriram que o procedimento era
seguro e não associado à morbidade significativa.12
As drogas mais usadas no tratamento das hemor-
ragias obstétricas estão resumidas na Tabela 2.
Terapia invasiva
Várias opções invasivas são disponíveis para
controlar a HPP quando o tratamento farmacológi-
co é insuficiente para coibir o sangramento.12
A ligadura bilateral da artéria uterina é parti-
cularmente útil quando o sangramento excessivo
ocorre durante a cesárea, com eficácia em 75%
dos casos de HPP grave. Lesão ureteral, sangra-
mento e hematoma são complicações possíveis.9,23
A ligadura da artéria ilíaca interna (hipogástri-
ca) deverá ser realizada apenas por cirurgião ex-
periente que tenha familiaridade com a anatomia
pélvica. É mais complicado e requer mais tempo
do que a ligadura da artéria uterina; seu risco de
complicações é mais alto e, se não for efetivo, po-
derá atrasar a terapia definitiva. Entretanto, é efe-
tivo em 2/3 dos casos de mulheres que desejam
manter a fertilidade.12,13
A embolização da artéria uterina foi descrita
pela primeira vez em 1979, por Brown et al. para
controle de HPP.24 Desde então, vários relatos
têm demonstrado a segurança e a eficácia no tra-
tamento da hemorragia, assim como na preven-
ção.4,12 O procedimento, entretanto, é disponível
em apenas poucos centros terciários e requer
profissional capacitado e algum grau de estabili-
dade da paciente. É atualmente o tratamento pre-
Tabela 2 - Principais drogas usadas no controle de hemorragias obstétricas
Droga Dose e Via Intervalo Comentários
OcitocinaEV: 10 a 40 UI em SS NaCl 0,9% ou RLIM: 10 UI
Contínua Evitar infusão rápidaPode causar hipotensão
Metilergonovina IM: 0,2 mg 2 a 4 h Evitar em paciente hipertenso
DinoprostoneProstaglandina E2
SupositórioVaginal ou retal20 mg
2 h Evitar em paciente hipertensoPode ocorrer febre
MisoprostolProstaglandina E1
Vaginal ou retal800 a 1000 μg 2 h
Prostaglandina F2α IM: 0,25 mg15 a 90 minutosOito doses no máximo
Evitar em pacientes asmáticos, com cardiopatias, doença renal ou doença hepática. Pode ocorrer taquicardia, diarreia e febre
EV endovenosa; IM intramuscular; SS solução salina; RL ringer lactatoFonte: Modifi cado de Dildy GA, Clark SL. Pospartum hemorrhage. Contemp Ob/Gyn 1993; 28(8): 21-9.
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S24-S3330
Condutas anestésicas nas síndromes hemorrágicas obstétricas
cas. Nessa técnica, o sangue é coletado do campo
operatório, as hemácias são separadas e a seguir
transfundidas ao paciente.37
Embora essa conduta seja bem estabelecida
em outras especialidades, seu uso em obstetrícia
tem recebido resistência em decorrência do risco
de imunização pelo fator Rh e embolia pelo líqui-
do amniótico.38 Embolia pelo líquido amniótico,
hoje, é reconhecido como um fenômeno imunoló-
gico e não tem sido registrado em casos de uso de
cell savage.38 Hemoglobina fetal pode permanecer
depois do processamento do sangue, aumentando
o risco de aloimunização materna e alterações em
gestações subsequentes.20 Existem referências a
mais de 400 casos do uso do Cell salvage em obs-
tetrícia sem identificação de complicações.37
O uso de cell savage na hemorragia periparto
ainda é controverso, embora as sociedades de obs-
tetrícia aceitem essa conduta como uma alterna-
tiva à transfusão alogênica,4,36 principalmente em
pacientes com alto risco de sangramento como
placenta prévia, placenta acreta e pacientes com
tipos sanguíneos raros. Pode ser também usada
para tratamento de pacientes testemunhas de Jeo-
vá ou em regiões onde o suprimento de sangue
alogênico é diminuído.39,40 A limitação prática é
a necessidade de pessoal treinado disponível em
tempo integral para emergências.
Fator VII ativado recombinante (rFVIIa)
Uma nova alternativa à terapia com componen-
tes sanguíneos é o fator VII ativado recombinante.
Essa droga é idêntica em estrutura e função ao
fator VII humano e foi originalmente desenvolvida
para prevenir ou tratar sangramento em pacientes
com hemofilia A e B. Tem sido usada em outras si-
tuações como sangramento incontrolável, incluin-
do hemorragia obstétrica grave. O rFVIIa atua na
via extrínseca da coagulação ligando-se ao fator
tissular e ativando diretamente os fatores IX e X.
Sua atividade é reduzida durante a hipotermia e
acidose. Complicações documentadas incluem
trombose, CID e infarto do miocárdio. 41-45
Tem sido reconhecido o sucesso do rFVIIa em
interromper sangramento em vários casos de HPP,
cuja dose variou de 16,6 μg/kg a 120 μg/kg. Contu-
do, seu uso em hemorragia obstétrica ainda neces-
sita de mais estudos.
Subsequentemente, entretanto, foram rela-
tadas necrose uterina grave, infecção e outras
complicações12,30 e também gestação após a téc-
nica B-Lynch.12,31
Técnicas compressivas similares foram salien-
tadas por Ouahba et al.,32 Cho et al., 33 Hayman et al. 34 e Ghezzi et al.35
Histerectomia é requerida no tratamento da
HPP em aproximadamente um em 1.000 nas-
cimentos. O procedimento deve ser reservado
para os casos em que outras medidas falharam.
O Colégio Americano de Obstetras e Ginecolo-
gistas recomenda que se a histerectomia for rea-
lizada devido à atonia uterina, as outras terapias
usadas anteriormente devem ser documenta-
das.12,13 Na maioria dos casos de suspeita de pla-
centa acreta, entretanto, a histerectomia poderá
ser o tratamento primário, especialmente se a
mulher não deseja gestações futuras. As histe-
rectomias periparto são feitas durante a cesárea
em 75% das vezes e em 30% após parto vaginal.
As alterações vasculares e o edema tecidual
que se verificam durante a gestação tornam a
histerectomia periparto mais difícil, com mais
sangramento e considerável potencial para le-
sões de estruturas adjacentes, particularmente
ureter e bexiga.12
Transfusão autóloga e hemodiluição
normovolêmica aguda
Transfusão autóloga e hemodiluição normovo-
lêmica não são usadas rotineiramente em obste-
trícia, mas são opções viáveis para pacientes com
riscos de sangramento periparto, especialmente
aquelas com anticorpos raros, que terão dificulda-
de para transfusão homóloga compatível.13,20 Doa-
ção autóloga foi usada com sucesso, no passado,
sem comprometimento fisiológico para mãe e feto.
Tem limitado valor porque a maioria dos casos de
hemorragia obstétrica requer transfusão sanguí-
nea em quantidade maior do que pode ser coleta-
do no pré-operatório.36,37
Cell salvage em hemorragia obstétrica
Cell salvage foi descrita em 1970 e tem sido usa-
da em cirurgias cardíacas, vasculares e ortopédi-
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S24-S33 31
Condutas anestésicas nas síndromes hemorrágicas obstétricas
segura e a técnica combinada raqui-peridural tem
preferência devido a menos latência e mais dura-
ção do bloqueio. A anestesia geral fica reservada
para emergências, casos de instabilidade hemodi-
nâmica e coagulopatias. O tratamento farmacoló-
gico com ocitocina, prostaglandinas e alcaloides
do Ergot tem papel importante e deve ser consi-
derado no controle das hemorragias. A reposição
volêmica, manutenção do transporte de oxigênio
para os tecidos e tratamento da coagulopatia de-
vem ser os pilares do tratamento. A abordagem
pronta e imediata é de extrema importância, visto
que quanto mais rápido o início da intervenção,
mais altos os índices de sucesso do tratamento. A
terapia transfusional deve ser considerada quando
o risco de anemia supera o da transfusão. A trans-
fusão de hemácias é raramente necessária quando
a hemoglobina está acima de 10 g/dL. Transfusão
com plaquetas deve ser considerada quando estas
estiverem abaixo de 50.000 células/μΛ e houver
sangramento excessivo. Plasma fresco congelado
pode ser usado quando há coagulopatia ou defici-
ência de fatores que acompanham transfusão ma-
ciça. Crioprecipitado fica reservado para casos em
que o fibrinogênio se encontra abaixo de 100 mg/
dL. A morbimortalidade parece diminuir com o rá-
pido início da transfusão e quando a relação PFC/
concentrado de hemácias é usada na proporção
de 1:1. Alternativas ao sangue doado incluem doa-
ção autóloga, hemodiluição normovolêmica e Cell salvage intraoperatório. Elas poderão ser conside-
radas em pacientes que apresentam dificuldade de
compatibilidade e/ou que recusam a transfusão. O
fator VIIa recombinante é um novo adjuvante para
o tratamento da hemorragia maciça e deve ser
considerado, se disponível.
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TÉCNICA ANESTÉSICA
Evidências indicam que a anestesia regional é
segura e pode ser utilizada. Se for a técnica esco-
lhida, a raquianestesia-peridural combinada pode
ser preferida, pela menor latência e mais duração.
Em casos de emergência, instabilidade hemodi-
nâmica e preocupações sobre coagulopatia, a
anestesia geral é a técnica de escolha.15 Em casos
eletivos de placenta prévia, a literatura preconiza
que a escolha da técnica anestésica dependerá
do paciente e do anestesiologista.15 Já se compro-
vou que a anestesia regional é segura e pode ser
usada nessas situações.15 A anestesia geral pode
ser necessária e tudo deve estar preparado para a
conversão. Para casos de placenta acreta, alguns
centros adotam a anestesia regional, mas a anes-
tesia geral permite melhor controle hemodinâmi-
co. Em casos de anestesia geral, a via aérea em
gestantes pode ser de difícil acesso. Após indução
da anestesia em que ocorra dificuldade de intuba-
ção não reconhecida previamente, o algoritmo de
via aérea difícil da Força-Tarefa da ASA, publicado
na Anesthesiology em março de 2006, pode ser de
grande valia.
Em algumas circunstâncias, quando já foi rea-
lizada punção do espaço peridural e passagem do
cateter para analgesia, incremento cauteloso pelo
cateter pode ser apropriado.15
CONCLUSÃO
As hemorragias em obstetrícia são importan-
tes causas de morbimortalidade materna. Podem
acontecer antes e após o parto e são causadas por
diversas etiologias, incluindo anormalidades pla-
centárias, atonia uterina, distúrbios de coagulação.
A abordagem clínica e obstétrica é de extrema im-
portância e uma equipe multidisciplinar, incluindo
o anestesiologista, deve estar preparada para a
pronta resolução do quadro. A abordagem inicial
inclui história médica e obstétrica, identificação
da causa do sangramento, quantificação do risco
hemorrágico e monitorização do estado hemodi-
nâmico do paciente, incluindo ECG, oximetria de
pulso e pressão arterial não-invasiva. Em casos de
instabilidade hemodinâmica, considerar monitori-
zação invasiva, como pressão intra-arterial e pres-
são venosa central. A anestesia regional parece ser
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S24-S3332
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Rev Med de Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S5134
ARTIGO DE REVISÃO
Endereço para correspondência:Dr. Dener Augusto Diniz
Rua Odilon Braga, 485 / 1001 – Anchieta
30310.390 Belo Horizonte, MG
E-mail: [email protected]
1Anestesiologista do Hospital Vila da Serra e Life Center,
Belo Horizonte2ME-3 Hospital Universitário São José - Belo Horizonte
RESUMO
A prevalência da obesidade vem aumentando, apesar das estratégias de prevenção.
Obesidade e gestação estão associadas a um vasto espectro de problemas, incluindo o
risco aumentado de cesariana, diabetes, hipertensão e pré-eclâmpsia. Obesidade é um
fator de risco para mortalidade materna relacionada à anestesia, sendo que a gestante
obesa mórbida requer consulta pré-anestésica durante seu cuidado pré-parto. A utiliza-
ção mais ampla das técnicas de anestesia regional pode reduzir a mortalidade materna
ligada à anestesia na população obesa. A introdução profilática do cateter epidural na
gestante obesa em trabalho de parto, quando não contraindicado, diminui potencial-
mente as complicações perinatais e anestésicas associadas à realização de anestesia
geral ou regional em caráter de emergência.
Palavras-chave: Obesidade; Anestesia; Analgesia; Trabalho de parto; Cesárea.
ABSTRACT
The prevalence of obesity continues to increase despite preventive strategies. Obesity in the pregnant woman is associated with a broad spectrum of problems, including dramati-cally increased risk for cesarean delivery, diabetes, hypertension and pre-eclampsia. Obesity is a risk factor for anesthesia related maternal mortality and the morbidly obese pregnant deserve an anaesthetic consultation during their antenatal care. A more liberal-ized use of regional techniques may be a means to reduce anaesthetic – related maternal mortality in the obese population. Prophylactic placement of an epidural catheter when not contraindicated in labouring morbidly obese woman would potentially decrease anaesthetic and perinatal complications associated with attempts at emergency provision of regional or general anaesthesia.
Key words: Obesity; Anesthesia; Analgesia; Labor, Obstetric; Cesarean Section.
INTRODUÇÃO
Durante as duas últimas décadas, a obesidade tornou-se um problema de
saúde global, epidêmico, com maior prevalência entre as mulheres.1 Esse ex-
pressivo aumento na incidência de obesidade na população geral também
estende-se para as mulheres em idade reprodutiva. Um estudo que avaliou a
tendência de obesidade na gestante, realizado em nove estados americanos,
mostrou elevação na incidência de obesidade na gestante de 13% entre 1993 e
1994 para 22% entre 2002 e 2003.2 Pesquisa brasileira relatou prevalência de 5,5%
de obesidade na gestante.3
Anesthetic management for the morbidly obese pregnant woman
Dener Augusto Diniz1, Izabela Fortes Lima 2
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S51 35
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA
Devido à maior associação de comorbidades e
risco aumentado de parto prematuro, o ideal é que
a consulta com o anestesiologista seja realizada no
início do terceiro trimestre, embora a maioria des-
sas pacientes tenha o primeiro contato com o anes-
tesiologista já na sala de parto. Nessa situação, o
contato com esse profissional deve ser o mais pre-
coce possível, para que ele possa traçar um plano
de manejo anestésico com antecedência.22
Na gestante obesa mórbida, a história e o exa-
me físico no pré-anestésico devem ser focados na
via aérea, sistema respiratório e cardiovascular.
Muitos dos efeitos da obesidade e gravidez são
aditivos e levam a comprometimento funcional
significativo, com redução na reserva fisiológica.
O conhecimento da fisiopatologia é o melhor guia
na avaliação e manejo individual desses pacientes,
uma vez que a magnitude das anormalidades re-
sultantes da obesidade não pode ser baseada ape-
nas pelo peso isoladamente.
GRAVIDEZ, OBESIDADE E FISIOLOGIA
Obesidade e gravidez estão associadas a altera-
ções fisiológicas significativas, sendo que em mui-
tos órgãos os efeitos são aditivos e podem compro-
meter seriamente a reserva fisiológica da gestante
(Tabelas 1 e 2 ).
VIA AÉREA
Obesidade e gravidez aumentam a dificuldade
à intubação.18,19,23 Ambas as condições também
elevam a taxa metabólica, reduzem a capacidade
residual funcional e encurtam o período de tempo
disponível para laringoscopia direta e intubação
antes que ocorra hipoxemia. Gravidez aumenta
o edema da mucosa da nasofaringe, orofaringe e
laringe, particularmente em pacientes com hiper-
tensão induzida pela gravidez.
Uma avaliação cuidadosa da via aérea deve ser
realizada antes de qualquer procedimento anes-
tésico e deve incluir a medida da circunferência
cervical, escala de Mallampati, abertura de boca,
avaliação da dentição, distância tireomentoniana
e mobilidade cervical. Sintomas como estridor,
A obesidade complica o manejo obstétrico
e está associada a hipertensão gestacional, pré-
eclâmpsia, diabetes gestacional e maior incidên-
cia de cesariana.4-10 Macrossomia fetal também é
comum nesses pacientes.11 Nas pacientes subme-
tidas à cesariana, as complicações per e pós-ope-
ratórias incluem tempo cirúrgico mais prolongado,
mais perda sanguínea, maior incidência de infec-
ção na ferida operatória e endomiometrite e mais
tempo de internação hospitalar.12,14
O recém-nascido da parturiente obesa apresen-
ta risco aumentado de trauma cefálico, distocia de
ombro, lesões do plexo braquial e fratura de cla-
vícula.15 Obesidade materna também aumenta o
risco de malformações congênitas, especialmente
os defeitos do tubo neural, como a espinha bífida.16
Em relação ao manejo anestésico, o impacto da
obesidade associada à gestação ocorre de manei-
ra significativa. O tecido adiposo em excesso com-
promete as referências anatômicas, complicando
o acesso venoso e epidural nessas pacientes. Apro-
ximadamente 75% das gestantes obesas requerem
múltiplas tentativas na realização dos bloqueios do
neuroeixo17; falha na introdução do cateter epidu-
ral ocorre em quase 42% das gestantes acima de
130 kg comparados com 6% de falha nas pacientes
com peso normal.18
A incidência de via aérea difícil é maior nessas
pacientes. Em um estudo de caso, a incidência de
intubação difícil foi de 35% (12/36) entre as gestan-
tes com mais de 130 kg, comparados com 0% (0/8)
entre o grupo-controle.18 No paciente cirúrgico
obeso, não-gestante, a incidência de intubação di-
fícil foi de 22%; e de 7,6% nos pacientes cirúrgicos
não-obstétricos com peso normal.19
Obesidade materna, cirurgia de emergên-
cia e anestesia geral estão associados à morte
materna relacionada à anestesia.20 Um relató-
rio sobre mortalidade materna no Reino Unido
constatou que 35% das gestantes que faleceram
eram obesas.21 O risco anestésico aumentado
pode ser atribuído à maior incidência de comor-
bidades, complicações associadas à gestação
e aos procedimentos obstétricos em caráter de
urgência e emergência. Óbito materno pode ser
atribuído a um desastre no manejo da via aérea
durante a indução e emergência da anestesia,
pneumonite aspirativa e colapso hemodinâmi-
co, sendo que a reanimação é mais difícil nas
pacientes obesas.
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S5136
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
sistêmica e também com hipertensão pulmonar.
Essas pacientes têm, também, risco aumentado de
doença coronariana, acidente vascular cerebral e
arritmias cardíacas.24
A apneia obstrutiva do sono apresenta-se clini-
camente com sonolência diurna excessiva e ron-
cos ao dormir, sendo que os episódios de hipoxe-
mia materna que ocorrem durante os períodos de
apneia podem resultar em hipóxia fetal, compro-
metendo o crescimento do concepto.25
O reconhecimento da apneia obstrutiva do
sono precocemente durante a gestação pode pre-
venir um prognóstico materno fetal adverso. Pres-
são positiva contínua na via aérea (CPAP) é trata-
mento seguro, com efeito adverso mínimo e que
pode melhorar o prognóstico perinatal.25
rouquidão e dificuldade em respirar pelo nariz aju-
dam a identificar edema na via aérea na paciente
obstétrica. A combinação da escala de Mallampati
e distância tireomentoniana tem sensibilidade de
100% e valor preditivo positivo de 61,5% na previ-
são de intubação difícil.18
Independentemente do plano anestésico pri-
mário, é importante uma estratégia para o manejo
da via aérea, devendo constar também um plano
alternativo no caso de falência de ventilação ou
intubação. Na suspeita de via aérea difícil, a intu-
bação traqueal deve ser realizada com a paciente
acordada, sob laringoscopia direta ou com o auxí-
lio do fibrobroncoscópico.
Apneia obstrutiva do sono é comum na ges-
tante obesa e tem associação com hipertensão
Tabela 1 - Alterações respiratórias na gravidez, obesidade e associação gravidez e obesidade (adaptado por Saravanakumar e cols. Obesidade e anestesia obstétrica. Anaesthesia 2006; 61: 36–48)
Parâmetro Gravidez Obesidade Combinados
Nível de progesterona ↑ ↔ ↑
Sensibilidade ao CO2 ↑ ↓ ↑
Volume corrente ↑ ↓ ↑
Freqüência respiratória ↑ ↔ ou ↑ ↑
Volume minuto ↑ ↑ ou ↔ ↑
Capacidade inspiratória ↑ ↓ ↑
Volume de reserva inspiratória ↑ ↓ ↑
Volume de reserva expiratória ↓ ↓↓ ↓
Volume residual ↓ ↓ ou ↔ ↑
Capacidade residual funcional ↓↓ ↓↓↓ ↓↓
Capacidade vital ↔ ↓ ↓
FEV1 ↔ ↓ ou ↔ ↔
FEV1/VC ↔ ↔ ↔
Capacidade pulmonar total ↓ ↓↓ ↓
Complacência ↔ ↓↓ ↓
Trabalho respiratório ↑ ↑↑ ↑
Resistência ↓ ↑ ↓
V/Q distúrbio ↑ ↑↑ ↑↑
PaO2 ↓ ↓↓ ↓
PaCO2 ↓ ↑ ↓
↑, aumenta; ↓, diminui; ↔, sem alteraçãoCO2, dióxido de carbono; FEV1, volume expiratório forçado no 1º segundo; VC, capacidade vital; V/Q, razão ventilação e perfusão; PaO2, pressão parcial do oxigênio arterial; PaCO2, pressão parcial do dióxido de carbono arterial.
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S51 37
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
Gravidez e obesidade também elevam a de-
manda metabólica, o consumo de oxigênio e a
produção de CO2. Esses efeitos, combinados com a
diminuição da complacência torácica, aumentam
de maneira significativa o trabalho respiratório e
diminuem a reserva pulmonar na posição supina e
de trendelenburg. A CRF pode cair abaixo do volu-
me de fechamento pulmonar, levando ao colapso
de pequenas vias aéreas, atelectasias, distúrbio de
ventilação/perfusão e hipoxemia.27
Em alguns aspectos, a gravidez pode ter efei-
to protetor para a mulher obesa. A progesterona
aumenta a sensibilidade do centro respiratório ao
CO2, estimula diretamente a respiração e promove
dilatação das pequenas vias aéreas. Obesidade e
gravidez diminuem o volume de reserva expirató-
ria e a CRF, mas estes efeitos não são necessaria-
mente aditivos.28
Mulheres obesas estão mais propensas a ter
apneia obstrutiva do sono, sendo desconhecida
sua prevalência na gravidez. Distúrbio do sono e
fadiga diurna são comuns no final da gestação,
sendo que a apneia do sono pode não ser diagnos-
ticada. Mulher com IMC acima de 35 kg/m2, cir-
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Gravidez e obesidade alteram a mecânica pul-
monar, os volumes, a oxigenação, capacidade re-
sidual funcional (CRF) e a ventilação. De maneira
geral, esses efeitos são aditivos. A complacência
da parede torácica está reduzida significativamen-
te, em ambas as condições. Na paciente obesa, o
tecido adiposo sobre a parede torácica e abdome
diminuem a complacência do tórax e limitam o vo-
lume corrente, particularmente na posição supina
e de trendelenburg.
Na gestante, o útero gravídico comprime as
estruturas intra-abdominais contra o diafragma,
provocando o achatamento dos arcos costais e a
redução da complacência da parede torácica. O
enfraquecimento da musculatura da parede torá-
cica induzida pela anestesia do neuroeixo pode
exacerbar esses efeitos na mecânica pulmonar.
Mulheres obesas submetidas à anestesia espinhal
para cesariana apresentam comprometimento pro-
longado (> 3 h) e significativo na capacidade vital,
capacidade vital forçada e volume expiratório for-
çado no primeiro segundo.26
Tabela 2 - Alterações cardiovasculares na gravidez, obesidade e obesidade e gravidez e obesidade combina-dos (Obesity and obstetric anaesthesia. Anaesthesia 2006; 61: 36–48)
Parâmetro Gravidez Obesidade Combinados
Freqüência cardíaca ↑ ↑↑ ↑↑Volume sistólico ↑↑ ↑ ↑Débito cardíaco ↑↑ ↑↑ ↑↑↑Índice cardíaco ↑ ou ↔ ↔ ↔ ou ↓Hematócrito ↓↓ ↑ ou ↔ ↑Volume sanguíneo ↑↑ ↑ ↑Resistência vascular sistêmica ↓↓ ↑ ↑Pressão arterial média ↑ ↑ ↑Hipotensão supina Presente Presente ↑ ↑Morfologia ventricular esquerda Hipertrofia Hipertrofia e dilatação ↓↓Atividade simpática ↑ ↑↑ ↑Função sistólica ↔ ↔ �� ↓ ↔Função diastólica ↔ ↓ ↔Pressão venosa central ↔ ↑ ↓Pressão capilar pulmonar ↔ ↑↑ ↓Hipertensão pulmonar Ausente Pode estar presente Pode estar presente
Pré-eclâmpsia ↔ (N/A) ↑↑↑, aumenta; ↓, diminui; ↔, sem alteração; N/A, não aplicável.
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S5138
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
Apneia do sono e SHO podem levar à hiper-
tensão pulmonar e falência do ventrículo direito.
Há vários relatos de miocardiopatia periparto na
gestante obesa, mas não está claro se a obesidade
é um fator de risco para sua ocorrência.35,36 Inde-
pendentemente da etiologia da falência cardíaca,
sinais e sintomas na gravidez incluem dispneia pro-
gressiva, ortopneia, sibilos, tosse noturna, sopro de
regurgitação recente, crepitações pulmonares, dis-
tensão jugular, taquicardia inexplicada e ganho de
peso acima de 2,5 a 4,0 kg por semana.
A síndrome da hipotensão supina, que acon-
tece em decorrência da compressão dos gran-
des vasos intra-abdominais pelo útero gravídico,
também pode acometer a paciente obesa devido
à compressão dos vasos abdominais pelo tecido
adiposo, sendo que na gestante obesa esse efeito é
ainda mais pronunciado.
A anamnese e o exame físico bem feitos, as-
sociados ao eletrocardiograma e RX de tórax,
são de muita utilidade na avaliação inicial da
gestante com suspeita de cardiopatia associada.
A gestante obesa sintomática deve ser avaliada e
acompanhada por um cardiologista para que ela
possa ter sua função cardíaca otimizada antes do
início do parto.22
SISTEMA GASTROINTESTINAL
As alterações anatômicas e hormonais aumen-
tam a incidência e gravidade do refluxo gástrico
na gestante. A obesidade pode piorar as alterações
associadas à gravidez, diminuindo ainda mais o tô-
nus no esfíncter esofágico inferior, levando a alto
risco de aspiração do conteúdo gástrico. Roberts
e Shirley estudaram grávidas obesas e não-obesas
em trabalho de parto e concluíram que o volume
gástrico nas parturientes obesas era cinco vezes
maior do que nas não-obesas.37
SISTEMA ENDÓCRINO
Diabetes tipo II e diabetes gestacional estão
associados à obesidade. A combinação de dia-
betes e obesidade aumenta o risco de macrosso-
mia fetal e complicações obstétricas, incluindo
maior incidência de cesariana. O manejo ade-
quado do diabetes no período intraparto se faz
cunferência cervical acima de 55 cm, sintomas de
obstrução da via aérea durante o sono (incluindo
roncos, pausas respiratórias, despertar frequente
do sono) ou sonolência diurna importante deve
ser submetida à polissonografia para diagnóstico
da apneia do sono.
A síndrome de hipoventilação da obesidade
(SHO) compromete um subgrupo de pacientes
com apneia do sono. Em resposta à hipoventilação
crônica e hipoxemia, essas pacientes desenvolvem
policitemia, aumento no débito cardíaco, cardio-
megalia, hipertensão pulmonar e eventualmente
falência cardíaca direita, com aumento significati-
vo na morbimortalidade materno-fetal. A gasome-
tria arterial é útil nestes casos e pode apresentar
hipercarbia, hipoxemia e acidose. Na suspeita de
SHO, encaminhar a paciente ao cardiologista para
melhor avaliação da função cardíaca.22
SISTEMA CARDIOVASCULAR
As alterações patogênicas induzidas pela obesi-
dade possuem efeitos significativos na função cardí-
aca, endotelial e vascular. Ao contrário do sistema
respiratório em que a gravidez possui alguns efeitos
favoráveis na paciente obesa, a sobrecarga ao siste-
ma cardiovascular tem efeito aditivo. As alterações
inflamatórias e microvasculares associadas à obe-
sidade são potencializadas pela gravidez.30,32
A extensão das alterações patogênicas cardio-
vasculares secundárias à obesidade depende da
duração da obesidade e de sua gravidade.33 Para
cada 100 g de tecido gorduroso armazenado ocor-
re aumento de 30 a 50 mL/min. no débito cardíaco,
acompanhado pela elevação no volume sanguí-
neo. Inicialmente, ocorre hipertrofia do ventrículo
esquerdo devido à sobrecarga de volume. Subse-
quentemente, em decorrência da sobrecarga de
pressão, o miocárdio começa a dilatar-se. A sobre-
carga de pressão é verificada devido ao aumento
da atividade simpática, potencializada pela ação
de hormônios como a leptina, insulina e outros
mediadores inflamatórios. O aumento da frequên-
cia cardíaca, proporcional ao aumento do débito
cardíaco, leva à diminuição no intervalo diastólico
e no tempo de perfusão miocárdica, acarretan-
do disfunção diastólica. Se o depósito gorduroso
ocorrer no tecido miocárdico, a condução e con-
tratilidade poderão estar seriamente afetadas.33, 34
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S51 39
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
distocia de ombro, sendo cada uma dessas anor-
malidades um fator de risco para contrações ute-
rinas dolorosas e complicações durante o traba-
lho de parto.38 As técnicas contínuas de bloqueio
do neuroeixo são o método de escolha para anal-
gesia de parto na gestante obesa.
A obesidade aumenta o grau de dificuldade
técnica para a realização da anestesia regional e
é exatamente esse grupo que mais se privilegia
da sua utilização, de maneira que as dificuldades
técnicas encontradas não devem impedir a utili-
zação da analgesia epidural nas parturientes obe-
sas. A anestesia do neuroeixo, quando cuidadosa-
mente titulada, permite manter a gestante alerta,
alta qualidade no alívio da dor e mínimo impacto
sobre a função pulmonar, hemodinâmica e físi-
ca. Os métodos alternativos, tais como anestesia
inalatória com óxido nitroso ou opioide sistêmi-
co, podem levar a sonolência, obstrução de via
aérea e hipoxemia. O fato das gestantes obesas
terem risco aumentado de cesariana não plane-
jada; da sua via aérea ser de difícil manipulação;
e da existência de dificuldade na realização do
bloqueio, a utilização da anestesia regional com
implante de cateter representa um dispositivo de
segurança em caso de cirurgia em caráter de ur-
gência e emergência.39 A anestesia geral está as-
sociada a risco muito mais alto de mortalidade
materna quando comparada à anestesia regional,
como relatado por Hawkins et al.40,41 O estudo de
processos fechados realizado pela Sociedade
Americana de Anestesia (ASA Closed Claim Stu-dy) em 1991 revela que as mortes maternas foram
predominantemente relacionadas à anestesia
geral, especificamente devido à incapacidade
em estabelecer e manter uma via aérea paten-
te.42 Uma maneira de evitar essas complicações
é pela instalação precoce, durante o trabalho
de parto, de um cateter espinhal ou epidural em
toda parturiente obesa mórbida, desde que não
exista contraindicação para isto. O cateter pode
ser utilizado para extender o bloqueio nos casos
de uma cesariana de emergência, evitando-se, as-
sim, o uso da anestesia geral.
Outro fator que influencia a utilização da
anestesia regional é a constatação de que dados
disponíveis mostram que a taxa de cesariana
não aumenta com a analgesia epidural durante o
trabalho de parto,43 porém a obesidade por si só
aumenta a necessidade de parto cirúrgico.
a partir da infusão contínua de insulina, uma
vez que a necessidade desta pode aumentar no
transcorrer do parto e diminuir acentuadamente
no pós-parto.
TÉCNICA ANESTÉSICA
A técnica anestésica utilizada em pacientes
obesas segue os princípios da anestesia obstétrica
das gestantes não-obesas. No entanto, o grau de
obesidade aumenta exponencialmente os riscos
de complicações perinatais e cardiopulmonares. A
avaliação prévia da gestante obesa minimiza esses
riscos e amplia a segurança materna e fetal.
A monitorização correta deve ser realizada uti-
lizando-se, para a medida da pressão arterial, man-
guito de tamanho adequado, evitando-se superes-
timação da pressão arterial, mas se o braço for
excessivamente grande pode-se realizar a medida
no antebraço. Oximetria de pulso deve ser consi-
derada durante o trabalho de parto para orientar a
necessidade de oxigênio suplementar e é essencial
em qualquer procedimento anestésico. A punção
venosa pode ser de difícil acesso. Sempre tentar
obter dois acessos calibrosos e, se necessário, uti-
lizar acesso venoso central. A paciente obesa tem
risco mais alto de hemorragia intraoperatória, prin-
cipalmente se tiver cesariana prévia. Considerar
antecipadamente a possibilidade de utilização de
hemoderivados e expansores volêmicos.
Mesmo no início da gravidez, é necessário o
deslocamento uterino para descompressão aorto-
cava, seja por compressão uterina ou da própria
parede abdominal. A posição semissentada me-
lhora a mecânica pulmonar, evitando hipoxemia; e
quando o cateter estiver implantado no neuroeixo,
ensinar a paciente a protegê-lo. A obesa mórbida
em trabalho de parto exige planejamento quanto
ao seu transporte e ao manejo em caso de urgên-
cia ou emergência cirúrgica. Seu posicionamento
na mesa cirúrgica, a verificação da perviedade e o
correto posicionamento do cateter são essenciais.
ANALGESIA PARA TRABALHO DE PARTO
Obesidade prévia à gestação está associada à
maior incidência de macrossomia fetal e a anor-
malidades durante o trabalho de parto, como
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S5140
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
ral; as opções incluem agulhas de 12, 18 e 20 cm.
Porém, essas agulhas têm o potencial de causar
danos mais marcantes, de modo que a agulha nor-
matizada deve sempre ser utilizada em primeiro
lugar. A maioria dos estudos relata que apenas al-
guns pacientes têm o espaço peridural com mais
de 8 cm.49,51 Uma agulha longa deve ser utilizada
após a clara ideia da localização, direção e pro-
fundidade aproximada do ligamento amarelo e
espaço peridural.
Se as tentativas de punção peridural lombar
não forem bem-sucedidas, pode-se fazer uma pun-
ção torácica baixa com inserção de cateter ou,
ainda, pode-se utilizar o ultrassom para localiza-
ção do espaço intervertebral e da profundidade do
ligamento amarelo.53 Grau et al. sugeriram que a
qualidade das imagens obtidas com abordagem
longitudinal paramediana é superior às das obti-
das com transversal e longitudinal médio.54 Segun-
do Meike et al., a abordagem transversal é frequen-
temente mais fácil de realizar. Imagens obtidas
pela linha transversal permitem a identificação da
linha média pela visualização dos processos es-
pinhosos. A profundidade do espaço peridural é
previsível a partir da ultrassonografia de medição
de profundidade, pela visualização do ligamento
amarelo.55,56 Estudos ultrassonográficos têm con-
firmado que existem mudanças significativas na
anatomia da coluna vertebral na gravidez, sendo
encontrada medida da distância pele-peridural
maior nas gestantes. Eles também revelaram que
a distância de segurança entre a transfixação do
ligamento amarelo e punção inadvertida da dura-
máter é menor.57
Com o sucesso da punção lombar, o cateter
deve ser introduzido 4 a 5 cm em direção cefálica;
faz-se a dose-teste usual e, em caso de introdução
intravascular desse cateter, pode-se tentar uma se-
gunda punção em decúbito lateral com a cabeça
mais baixa em relação ao corpo, o que diminui
o ingurgitamento dos vasos epidurais, apesar de
aumentar a dificuldade técnica. A introdução in-
travascular parece ser mais comum em pacientes
obesas em relação às não-obesas. Porém, em caso
de punção inadvertida ou falha na tentativa de lo-
calizar o espaço peridural, uma punção dural in-
tencional e inserção de cateter subaracnoideo po-
dem ser bem sucedidas. O cateter deve ser inserido
2 a 3 cm no espaço subaracnoideo, aspirando-se o
líquor até preencher o cateter e todo o ar ser remo-
As dificuldades técnicas são amplas, porém o
objetivo é minimizá-las. A taxa de insucesso inicial
no posicionamento do cateter pode ser muito ele-
vada (42%) e é comum a necessidade de múltiplas
tentativas. Jordan et al. salientaram que 74,4% das
gestantes morbidamente obesas necessitaram de
mais de uma tentativa e 14% necessitaram de mais
de três tentativas para o implante com sucesso do
cateter epidural. Esse grupo de pacientes apresen-
ta, ainda, alta incidência de punção inadvertida da
dura-máter (4%), quando comparada a pacientes
não-obesos (0,5-2,5%).44,45,46,47
A punção pode ser feita em decúbito lateral
com a posição da cabeça declinada para baixo,
pois assim diminui-se a congestão venosa peridu-
ral, com menos chance de implante intravenoso
do cateter.48 Entretanto, a posição sentada facilita
a identificação da linha média, por meio da união
de uma linha imaginária entre o occipito ou a pro-
eminência de C-7 e a fenda glútea. Além disso, a
posição lateral pode alterar a distribuição da gor-
dura, obscurecendo a linha média. Hamza et al. constataram que o peso e o IMC foram positiva-
mente correlacionados com a distância da pele ao
espaço peridural e que essa distância era signifi-
cativamente menor quando a anestesia peridural
era realizada na posição assentada comparada
ao decúbito lateral.49 Esses achados são compro-
vados por um estudo tomográfico utilizado para
medir a profundidade do espaço peridural na pa-
ciente não-grávida, enfatizando correlação signifi-
cativa entre o IMC e a distância da pele ao espaço
peridural.50 Entretanto, Watts demonstrou que, em
pacientes obesos, o IMC é um fraco preditor da dis-
tância do espaço peridural comparado ao grupo
de não-obesos, podendo estar mais próximo da
pele do que o esperado para o peso do paciente.51
A própria paciente pode orientar a introdução da
agulha, informando se sente esta mais à direita ou
mais à esquerda da coluna. A inclinação da mesa
para o anestesista pode promover a abertura do
espaço interespinhoso, forçando a parturiente a
curvar-se para frente. A dificuldade de identifica-
ção da linha média exacerba a probabilidade de
projeção da agulha lateralmente, aumentando a
profundidade do espaço e o mau posicionamen-
to do cateter.52 A perda da resistência é a técnica
mais confiável para confirmar a localização do es-
paço peridural. Ocasionalmente são necessárias
agulhas longas para puncionar o espaço peridu-
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S51 41
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
bilidade e confiabilidade, com controle estrito do
nível anestésico e duração do bloqueio.
Uma possível complicação é a cefaleia pós-
punção da dura-máter, com incidência de 30 a
70% nos pacientes com punção acidental da du-
ra-máter, utilizando-se agulha 17 G de Tuohy. No
entanto, Faure et al. acentuaram que a chance de
diminuição da incidência de cefaleia pós-punção
inadvertida é significativa em parturientes obesas
mórbidas.67 O grande volume abdominal aumenta
a pressão intra-abdominal, reduzindo o grau de
vazamento do fluido espinhal através do local da
punção.67 A raque contínua também é um fator
que diminui a incidência de cefaleia pós-punção.
Em não-gestantes e pacientes não-obesos a anes-
tesia subaracnoidea contínua apresentou incidên-
cia de cefaleia pós-punção dural de 1%.68 Norris
e Leigthton deixaram cateter subaracnoideo por
duas horas em parturientes e não houve relato de
cefaleia.69 Posteriormente, Cohen et al. constata-
ram que após utilização prolongada (> 24 h) do
cateter subaracnoideo para analgesia pós-opera-
tória, nenhum paciente apresentou cefaleia.70 A
partir daí, Denny et al. observaram que o cateter
age como uma barreira ao vazamento do líquor,
provocando reação inflamatória no local da pun-
ção. Uma alternativa à anestesia regional é a utili-
zação da anestesia inalatória ou opioide venoso,
com os incovenientes tão temidos pelas pacientes
obstétricas, como sedação, amnésia e alto risco
de depressão respiratória.
ANALGESIA PARA CESARIANA
Obesidade e cesariana estão associadas, como
fatores de risco independentes, à morbidade e à
mortalidade maternas.71 A obesidade isoladamen-
te aumenta significativamente a incidência de ce-
sariana, além de complicações cirúrgicas, como
mais perda sanguínea, tempo cirúrgico aumenta-
do, alto risco de endometrite e infecção de ferida
operatória.72,73 Um estudo realizado por Weiss et al. informou taxa de cesariana em nulíparas de 20,7%
nas não-obesas quando comparados a 33,8% nas
obesas e 47,4% nas obesas mórbidas.72
Uma análise direta das mortes maternas devi-
do à anestesia, relatado em inquérito confidencial
realizado entre 1979-2002, referiu o predomínio de
mortes em anestesia geral quando comparada à
vido. Fazem-se bolus 1 mL de solução de bupiva-
caína isobárica 0,5% mais 2,5 mcg de sufentanil,
repetindo-se 2,5 mg de bupivacaína isobárica 0,5%
sem opioide, se necessário, para complementar a
analgesia. Toda a equipe deve estar atenta para os
cuidados com o cateter que está localizado no es-
paço subaracnoideo. Após a introdução do cateter,
o risco de deslocamento é aumentado no paciente
obeso. O deslizamento da pele ao longo do tecido
subcutâneo tem sido descrito como fator impor-
tante na migração do cateter.58 Iwama e Katayama
notaram 3 cm de deslizamento do cateter em algu-
mas pacientes e, para evitar o deslocamento deste,
sugerem introduzi-lo rotineiramente 7 cm no espa-
ço peridural nas pacientes obesas.59 Hamilton et al. demonstraram que os cateteres epidurais não-fixos
à pele podem ter movimentação de 1 a 2,5 cm para
dentro do espaço quando a posição é mudada de
assentada para o decúbito lateral. Assim, é pruden-
te colocar a paciente em decúbito lateral antes de
fixar o cateter na pele.60,61 Como a incidência de
intervenção cirúrgica é maior em paciente obesas,
deve-se testar a patência deste e, se não funcio-
nante, substituí-lo prontamente. Hodgkinson et al. realçaram que o IMC e o peso são os principais
determinantes na dispersão cefálica da anestesia
peridural.62,63 Já um estudo realizado por Milligan
et al. não mostrou diferença na dispersão entre
obesos e não-obesos, independentemente da po-
sição.64 A dose de anestésico deve ser avaliada de
acordo com a queixa da paciente, monitorização e
avaliação do nível sensorial. Embora alguns dados
sugiram que a gestante obesa tem mais sensibili-
dade à dor,65 a concentração necessária para se
conseguir analgesia eficaz é menor nessas pacien-
tes em comparação com gestantes não-obesas.66
Portanto, se uma gestante é obesa e o alívio da dor
não é o ideal, avaliar a possibilidade de desloca-
mento do cateter para substituí-lo precocemente.
Uma alternativa à analgesia epidural, devido
à sua falha relativamente elevada na população
obesa e pela importância de se utilizar um cateter
no caso de emergência, é a analgesia subaracnoi-
dea contínua. Jill M. Mhyre relata a utilização de
cateter subaracnoideo em casos de emergência na
gestante obesa. Quando ocorre a punção aciden-
tal do espaço subaracnoideo, deve-se considerar
a anestesia subaracnoidea contínua. Jill assegura
que essa é uma anestesia de considerada previsi-
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S5142
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
al. ressaltaram volume médio de líquor menor em
pacientes com IMC elevado, o que poderia explicar
a diminuição da exigência quanto à dose do anes-
tésico local, devido à menor diluição anestésica.84
Outro estudo associou a queda do volume de
líquor com a compressão do saco dural pelo ingur-
gitamento do plexo venoso peridural e aumento
da pressão peridural secundária à compressão
da veia cava inferior com a redistribuição do re-
torno venoso dos membros inferiores e pelve.85
Uma pesquisa confirmou, por meio da ressonân-
cia magnética, que há diminuição do volume do
líquor em parturientes obesas.86 Greene propôs
que a obesidade, por si só, não aumenta a disper-
são cefálica do anestésico, mas sim a posição de
tremdelemburg da coluna em relação às nádegas
de grande volume.87 Outros mecanismos relaciona-
dos com menos necessidade de anestésico local
na gestante obesa incluem as alterações na ação
de neurotransmissores em nível medular, poten-
cializando o efeito analgésico endógeno e aumen-
tando a permeabilidade da bainha neural, além de
outras alterações farmacocinéticas e farmacodi-
nâmicas.88 Independentemente do mecanismo, a
dose do anestésico local a ser administrado deve
ser titulada de forma a conseguir um bloqueio efi-
ciente, sem os inconvenientes de um bloqueio ex-
tenso, principalmente na presença de via aérea di-
fícil. Qualquer que seja a técnica regional utilizada,
uma avaliação minuciosa do sucesso do bloqueio
antes da incisão cirúrgica é ainda mais importan-
te em obesos mórbidos e anestesia obstétrica.89
A conversão dessa anestesia para uma anestesia
geral poder ter consequências catastróficas para
essa paciente.
ANESTESIA PERIDURAL
A peridural é a técnica de escolha se um cate-
ter funcional já se encontra instalado, se o tempo
cirúrgico for superior a 120 minutos, se a avalia-
ção da via aérea demonstrou possível dificuldade
de manipulação ou se a função pulmonar está
comprometida.
A peridural, quando comparada à anestesia su-
baracnoidea, oferece vantagens por ser facilmen-
te titulável quanto à dose e ao nível anestésico e
tem a possibilidade de estender o bloqueio anes-
tésico. As alterações hemodinâmicas se instalam
anestesia regional.74,75 Outro estudo realizado nos
EUA por Hawkins verificou que o número absoluto
de óbitos decorrentes da anestesia geral, embora
baixo, não decresceu ao longo do tempo.76 Con-
cluiu-se que a anestesia regional é a opção mais
segura para o binômio materno-fetal.
Toda paciente obesa, e principalmente obesa
mórbida, quando submetida à cesariana, deve estar
corretamente posicionada para a realização segura
do procedimento anestésico. Ela deve ser colocada
em posição de decúbito dorsal com o tronco semie-
levado (ramped position), com deslocamento uteri-
no para a esquerda, independentemente da técnica
anestésica primária, mesmo se há intenção de in-
duzir anestesia geral. Essa posição melhora a visão
sob laringoscopia em pacientes obesas mórbidas
submetidas à cirurgia bariátrica.77 O efeito pode ser
ainda mais importante em parturientes com gran-
des mamas, que é um fator dificultador da visualiza-
ção laringoscópica. Cobertores são dobrados sob o
tórax e cabeça, objetivando atingir o alinhamento
horizontal entre a orelha externa e manúbrio do
esterno, facilitando o trabalho respiratório dessa
paciente. Pacientes que sofrem de apneia do sono
e que estavam em uso de CPAP pré-operatório de-
vem ser mantidas em uso do mesmo no per e no
pós-operatório.78 Nas parturientes com apneia obs-
trutiva, deve ser iniciado CPAP com 10-15 cm H2O
ainda no pré-operatório.79, 80
Considerar profilaxia de tromboembolismo ve-
noso, pois a obesidade é um importante fator de ris-
co.81,82 Uma dificuldade frequentemente enfrentada
nesse grupo de pacientes, principalmente nas obe-
sas mórbidas, são a medida e o acompanhamento
da pressão arterial. Em caso de impossibilidade de
medições corretas e contínuas, especialmente em
pacientes com comorbidades, tais como hiperten-
são arterial crônica e pré-eclâmpsia, deve-se optar
por utilizar medição arterial contínua com cateter
intra-arterial em artéria radial, o que permite, ainda,
constante controle hemogasométrico, se indicado.
ANESTESIA REGIONAL
A anestesia regional na paciente obesa apre-
senta peculiaridades que devem ser de entendi-
mento do anestesiologista. Hodgkinson e Husain
descreveram aumento da propagação cefálica do
anestésico local em pacientes obesas.83 Hogan et
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S51 43
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
pode posteriormente ser ajustada na posição de
trendelemburg para otimizar a altura do bloqueio.
Atualmente, a anestesia combinada raque-pe-
ridural representa uma alternativa atraente para
a realização de procedimentos cirúrgicos, com
possibilidade de tempo operatório prolongado.91
Combina vantagens como início rápido e bloqueio
denso, com possibilidade de prolongar a sua uti-
lização no pós-operatório, allém da utilização de
doses menores e melhor titulação do anestésico,
sem os riscos de hipotensão arterial brusca por do-
ses elevadas de anestésico no espaço subaracnoi-
deo. O inconveniente é o desafio técnico encontra-
do nesse grupo de pacientes.
RAQUIANESTESIA CONTÍNUA
Embora a raquianestesia contínua represente a
melhor alternativa para anestesia de parturientes
obesas, o seu mérito ainda está em estudo. Pode
ser utilizada como opção em caso de punção inad-
vertida com agulha de peridural.
INFILTRAÇÃO ANESTÉSICA
Utilizada em raras circunstâncias, quando
ocorre falha do bloqueio e outras técnicas anesté-
sicas alternativas apresentam riscos inaceitáveis.
Há registro de infiltração anestésica em cesaria-
na de parturiente obesa mórbida (150 Kg) com
pré-eclampsia grave e em anasarca. Foi utilizada
lidocaína 1% com adrenalina (80 microgramas)
para incisar a pele e bainha do reto, sendo in-
filtrados 300 mg de lidocaína a 0,5% com adre-
nalina no peritônio, associado a óxido nitroso e
oxigênio (50:50).
ANESTESIA GERAL
Obesidade e gravidez provocam importantes
mudanças anatômicas e fisiológicas. Na vigência
de estômago cheio, independente do tempo de
jejum, é importante fazer prevenção de aspiração
do conteúdo gástrico em qualquer gestante, em es-
pecial na obesa. Pode-se utilizar citrato de sódio
antes do início do procedimento anestésico. Esse
agente diminui rapidamente a acidez do conteúdo
mais lentamente e são facilmente controladas. A
peridural apresenta bloqueio motor menos inten-
so, podendo ser utilizada para analgesia pós-ope-
ratória. A redução do volume do espaço peridural
contribui para a propagação excessiva de agentes
anestésicos em parturientes obesas. No entanto,
a injeção fracionada de anestésico local reduz o
efeito da obesidade na disseminação da anestesia
peridural. A extensão da analgesia epidural para
realização de cesariana requer a utilização de
anestésico em maiores concentrações, sendo que
a dose ótima permanece indeterminada.
RAQUIANESTESIA
Amplamente utilizada para cesariana eletiva,
essa técnica apresenta alguns riscos adicionais na
parturiente obesa, porém com a vantagem de pro-
mover anestesia de início rápido e bloqueio denso.
Nesse grupo de pacientes, a possibilidade de ocor-
rer dispersão cefálica de anestésico local aumenta
o risco de raquianestesia alta, podendo ser difícil
quantificar a dose ideal do anestésico necessá-
rio para produzir um nível suficiente de anestesia
para a cesariana. Além da dificuldade de quan-
tificação de dose, a raque produz anestesia por
um período limitado, sendo um inconveniente na
utilização dessa técnica, pois nessas pacientes o
tempo cirúrgico é geralmente prolongado, exigin-
do muitas vezes doses adicionais de anestesia.90 A
dificuldade técnica, o risco de bloqueio torácico
com comprometimento da dinâmica respiratória e
a incapacidade de prolongar o bloqueio são fato-
res limitantes desse recurso. Muitas vezes é mais
fácil localizar o espaço peridural com uma agulha
rígida, como a de peridural, do que com uma de
menor calibre e flexível, como a agulha espinhal.
Pode-se utilizar a agulha de Tuohy como introdu-
tor de uma agulha Whitacre em casos difíceis. Para
evitar bloqueios excessivamente elevados, a dose
de bupivacaína hipobárica deve ser reduzida. Uma
estratégia consiste em injetar uma dose padrão de
bupivacaína hiperbárica com a paciente em po-
sição sentada e, em seguida, rapidamente inserir
uma rampa atrás da paciente, com deslocamento
uterino esquerdo. Essa posição retifica a cervical
e torácica, evitando a elevação da coluna lombos-
sacra em mulheres com grandes nádegas, o que
dispersaria cefalicamente o anestésico. A cama
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S5144
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
de ventilação transtraqueal também devem estar
disponíveis.
A intubação acordada por laringoscopia direta
pode ser realizada, porém com risco aumentado
de liberação de catecolaminas e hipertensão arte-
rial, situações que afetam negativamente o fluxo
sanguíneo uterino. É uma técnica de difícil realiza-
ção em situações de urgência e emergência, como
hemorragia materna e sofrimento fetal agudo.104 A
via nasal não é recomendada, devido ao ingurgita-
mento da mucosa nasal durante a gravidez, com
mais risco de sangramento. Em caso de falha de
intubação, deve-se seguir o algoritmo de via aérea
difícil, mantendo-se a oxigenação adequada.105
À indução, a gestante deve ser pré-oxigenada
de forma efetiva devido ao risco aumentado de
dessaturação rápida. A literatura descreve três
técnicas diferentes de pré-oxigenação. O método
mais comum é oferecer O2 a 100% durante três a
cinco minutos. Hamilton e Eastwood destacaram
que a desnitrogenação de 95% é concluída em dois
a três minutos após a respiração normal, manten-
do-se um volume corrente com fluxo de 5 L/min.106
No entanto, em situações de emergência, pode
não haver tempo suficiente para a pré-oxigenação
com essa técnica. Gold et al. reportaram que qua-
tro inspirações profundas com O2 a 100%, durante
30 segundos, é tão eficaz quanto com cinco minu-
tos no aumento da PaO2 na paciente não-gestante
e não-obesa.107 Posteriormente, Norris e Dewan
verificaram que o mesmo ocorre em pacientes grá-
vidas.108 Um trabalho realizado mais recentemente
por Baraka et al. obteve que oito inspirações pro-
fundas dentro de 60 segundos com um fluxo de O2
a 10 L/min não só resultou em mais PaO2, mas tam-
bém em uma lenta dessaturação da hemoglobina
quando comparadas com as quatro inspirações
profundas.109 Utilizando os dados desses estudos
anteriores, foi feita uma comparação das técnicas
em gestantes e demonstrou-se que a respiração
por três minutos com FIO2 a 100% atingiu melhores
resultados que com quatro inspirações profundas.
E quando comparadas as oito inspirações profun-
das com a respiração de volume corrente por três
minutos, verificou-se que com oito inspirações
profundas a desnitrogenação foi alcançada mais
rapidamente, sendo essa técnica a mais adequa-
da para utilização em emergências obstétricas.110
O posicionamento é também de muita importân-
cia. Na posição de elevação do tronco em 25 graus
gástrico, minimizando as consequências drásticas
em caso de aspiração. Administrá-lo, se possível,
30 minutos antes do início da anestesia.92,93 Reco-
menda-se, em cesarianas eletivas, a administração
oral de antagonista H2 ou inibidor de bomba de
prótons na noite anterior e, na manhã da cirurgia,
60 a 90 minutos antes da indução anestésica.94 Uma
associação importante é a metoclopramida, com o
intuito de maximizar o efeito e aumentar a veloci-
dade de esvaziamento gástrico, sendo particular-
mente útil nas gestantes que se alimentaram pou-
co tempo antes do procedimento e nas diabéticas,
que possuem esvaziamento gástrico retardado.95,96
A obesa tem o risco aumentado de aspiração em
qualquer condição.97 A indicação obstétrica de ur-
gência deve ser equilibrada com o tempo necessá-
rio para se conseguir indução anestésica segura.
As gestantes, e principalmente as obesas, quan-
do submetidas à anestesia geral, apresentam maior
incidência de intubação traqueal difícil e dessatu-
ração rápida em períodos de apneia. Esses fatores
exigem anestesiologista experiente e com material
de via aérea difícil necessário em mãos. A incidên-
cia de via aérea difícil entre parturientes obesas
é muito maior que nas parturientes não-obesas,
especialmente nas que apresentam grande circun-
ferência do pescoço e/ou pontuação elevada de
Mallampati.98,99,100 Além disso, não há apenas o ris-
co de falha de intubação, há também a dificuldade
de adaptação da máscara para ventilação.99
Collins et al., avaliando o posicionamento da
paciente e a visão obtida pela laringoscopia em 60
obesas mórbidas, constataram que a posição em
rampa, ou seja, elevação do tronco e cabeça com
cobertores sob a paciente, alcançando alinhamento
horizontal entre o meato acústico externo e o manú-
brio esternal, claramente melhora a visão da laringe,
quando comparado com o posicionamento padrão.
Uma opção em cirurgias eletivas é a utiliza-
ção de broncofibroscópio ou laringoscópio de
Bullard®,101 porém essa não é uma técnica ideal
para emergências. A máscara laríngea não é indi-
cada em obstetrícia, pois não evita a aspiração de
conteúdo gástrico. Contudo, ela deve ser conside-
rada em casos de falha na intubação, pois pode
salvar a vida da paciente. Tanto a máscara laríngea
como o combitube têm sido usados para resgate
em pacientes com falha na intubação e ventila-
ção.102,103 Equipamento para cricotireiotomia e jato
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S51 45
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
ções de agentes voláteis. Depois do nascimento, a
maioria dos anestesiologistas diminui ou interrom-
pe a administração de agentes halogenados voláteis
para permitir melhor involução uterina, aumentan-
do a concentração do N2O. Porém, na paciente obe-
sa, o aumento da concentração de óxido nitroso é
limitado, pois estas necessitam de maior concentra-
ção inspirada de O2. O desflurano tem se mostrado
seguro ao complementar a mistura N2O/O
2 e melhor
saturação de oxigênio na sala de recuperação pós-
anestésica,117,118 porém é uma droga de difícil acesso
em nosso meio. O uso de sevoflurano ou isoflurano
a 0,5 CAM no final da cesariana produz amnésia re-
lativamente satisfatória.119,120
Pequenas doses de opioides e midazolam são
rotineiramente administradas, com o intuito de
reduzir o risco de consciência materna no intra-
operatório. Em pacientes obesas são necessárias
doses elevadas de midazolam para atingirem-se
concentrações plasmáticas adequadas, pelo fato
dessa droga ser altamente lipofílica e pelo maior
volume de distribuição, esperando-se prolongado
tempo de sedação.114
A capacidade residual funcional diminui em
pacientes sob anestesia geral, sendo influenciada
por fatores como a posição supina, uso de agentes
voláteis, uso de bloqueadores neuromusculares
e posicionamento cefálico do panículo adiposo
durante o procedimento cirúrgico. Esses fatores
promovem estreitamento precoce das pequenas
vias aéreas, agravando a hipoxemia. Técnicas para
manter a oxigenação adequada incluem:
■ aumento do volume corrente (12 a 15 mL/kg de
peso corporal ideal);
■ FiO2 > 50%;
■ elevação do tronco e da cabeça;
■ elevação do panículo adiposo. Manter a PEEP
melhora ligeiramente a PaO2, porém pode pio-
rar o débito cardíaco e a oferta de O2 para o
feto.121 O aumento da FiO2 parece ser a melhor
alternativa para maximizar a oxigenação em
obesos mórbidos.
Em pacientes com risco aumentado de aspi-
ração pulmonar, passa-se uma sonda orogástrica
para esvaziamento gástrico, podendo ser útil ad-
ministrar citrato de sódio antes da extubação. A
extubação traqueal deve ser feita com a paciente
gestante obesa totalmente acordada, com o blo-
queio neuromuscular revertido e de preferência
(head-up position) ou na posição assentada a
pré-oxigenação foi mais efetiva nos obesos mórbi-
dos.111,112 Salienta-se a necessidade de um assisten-
te experiente, se possível outro anestesista, para a
realização de forma segura da anestesia geral na
gestante obesa.113
A escolha do agente de indução venosa é relativa-
mente pouco importante se não existem doenças as-
sociadas. Como na obesa ocorre alteração na distri-
buição da resposta às drogas anestésicas, associadas
ao aumento do volume sanguíneo, débito cardíaco e
da massa muscular, pode ser necessária maior dose
inicial de tiopental à indução anestésica. Dewan su-
gere o uso de 4 mg/kg de tiopental, até dose máxima
de 500 mg, com o objetivo de evitar consciência pe-
rioperatória, hipertensão e diminuição do fluxo san-
guíneo uterino durante a anestesia.113
Para o propofol, não há diferença no volume de
distribuição inicial entre pacientes obesas e não-
obesas, recomendando-se dose de indução base-
ada no peso corporal magro.114 O etomidato (0,1 a
0,3 mg/kg) é preferido para pacientes com insufi-
ciência cardíaca; para pacientes com evidência de
perda sanguínea significativa, pode-se optar pelo
uso da cetamina (1 mg/kg).
A succinilcolina continua sendo o bloqueador
neuromuscular de escolha para intubação em ges-
tantes. Sua duração de ação é determinada pelo
nível de atividade da pseudocolinesterase plasmá-
tica e pelo volume do líquido extracelular, ambos
aumentados na obesidade.15,116 Como na gestante
ocorre menos atividade da pseudocolineterase
plasmática, a dose de 1 a 1,5 mg/kg, até dose má-
xima de 200 mg, é razoável.113 A intubação traqueal
deve ser confirmada pela onda de capnografia e a
intubação endobrônquica deve ser prontamente
diagnosticada, evitando-se complicações pulmo-
nares no per e pós-operatório. No evento de falha
à intubação, após indução em sequência rápida, é
imperativo instituir um plano de falência de intuba-
ção sem demora. Tentativas repetidas de intubação
e uma segunda dose de succinilcolina raramente
são benéficas e frequentemente trazem danos co-
laterais. O objetivo primário é garantir adequada
oxigenação materna, apesar da preocupação com
o bem-estar fetal e o risco de regurgitação materna.
Na paciente obesa mórbida, pode ser necessá-
ria uma concentração inspirada de O2 relativamente
maior quando comparada com os não-obesos, o
que reflete a necessidade de elevadas concentra-
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S5146
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
pulmonar, depressão respiratória e hipoxemia.67 A
antibioticoprofilaxia deve ser realizada após o clam-
peamento do cordão umbilical, pois reduz significa-
tivamente a incidência de infecção pós-cesariana.127
Parturientes obesas têm risco potencialmente
aumentado de hipoxemia, TVP e cardiomiopatia
pós-parto.67 Eichenberger et al. constataram que
a anestesia geral em obesas mórbidas gera muito
mais atelectasia que em pacientes não-obesas e o
alvéolo permanece atelectasiado por um período
de 24 horas, em média, muito superior ao com-
parado com pacientes não-obesas.128 O correto
posicionamento da paciente, a mobilização pre-
coce e o adequado controle da dor contribuem
para resolução mais rápida das atelectasias e da
função pulmonar. Curiosamente, Hood e Dewan
constataram que na gestante obesa mórbida todas
as complicações no pós-parto aconteceram naque-
las submetidas à cesariana e não nas que tiveram
parto vaginal.18 O uso de opioides no neuroeixo se
mostra mais eficaz que seu uso endovenoso, redu-
zindo, também, a incidência de atelectasia e com-
plicações pulmonares.129,130
Entretanto, os opioides devem ser utilizados
com cautela devido ao risco de depressão respira-
tória, especialmente nas pacientes com apneia do
sono. Monitorização pela equipe de enfermagem
para a presença de sinais de depressão respirató-
ria deve ser realizada de hora em hora nas primei-
ras 24 horas e, posteriormente, a cada duas horas
nas próximas 24 horas.
Episódios tromboembólicos é a principal causa
de morte materna no Reino Unido, sendo a obe-
sidade um fator de risco independente para TVP.
Estratégias farmacológicas e mecânicas são uti-
lizadas para tromboprofilaxia, sendo que a dose
ideal de heparina de baixo peso molecular ainda
não foi estabelecida na paciente obesa mórbida.
Sugere-se que a dose seja baseada no peso corpo-
ral atual.131 Quando a paciente está em uso de um
cateter epidural ou espinhal, é importante o co-
nhecimento do regime de anticoagulação utiliza-
do. De acordo com o protocolo europeu, quando
uma dose única diária de heparina de baixo peso
molecular é utilizada, o cateter pode ser removido
10-12 horas após a última dose e quatro horas antes
da próxima. Nos EUA utiliza-se mais frequentemen-
te o regime de duas vezes ao dia. De acordo com
protocolo da Sociedade Americana de Anestesia
Regional e Controle da Dor, os cateteres podem ser
com monitoramento do nível de bloqueio neuro-
muscular, devido à maior incidência de falha na
extubação nas pacientes obesas.49,50 A elevação do
tronco em 30º facilita a extubação, pois minimiza
a compressão diafragmática pelo conteúdo abdo-
minal, melhorando a oxigenação.122,123
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
Após a cesariana, o posicionamento com a ca-
beceira elevada maximiza a oxigenação, pelo au-
mento da CRF. Deve-se utilizar oximetria de pulso
contínua para orientar a administração de O2 su-
plementar. Pacientes com apneia do sono devem
ser mantidas com CPAP, com o intuito de preser-
var a perviedade das vias aéreas, minimizando-se
a atelectasia. O ECG de cinco derivações deve ser
utilizado para acompanhamento a pacientes com
doenças cardiovasculares ou diabéticas. A moni-
torização hemodinâmica deve ser vigilante devido
ao risco do sangramento intra-abdominal não ser
diagnosticado na parturiente obesa.
Uma analgesia pós-operatória eficaz é impor-
tante para melhorar a função pulmonar, evitando-
se complicações respiratórias e trombose venosa,
e para acelerar a recuperação funcional. A utili-
zação do opioide pode ser feita através da anal-
gesia venosa controlada pelo paciente, sendo que
a recuperação funcional e analgesia são melho-
res quando o opioide é administrado via cateter
epidural ou injeção intratecal.124 Em qualquer
técnica existe o risco de depressão respiratória,
particularmente nas pacientes obesas mórbidas
ou com apneia do sono.125,126 Monitores de apneia
e oximetria de pulso são prudentes nas primeiras
24 horas. Os pacientes com risco elevado de com-
plicações pulmonares pós-operatória podem ser
manuseados mais adequadamente com injeção
de soluções diluídas de anestésico local e opioi-
des lipofílicos via cateter epidural.
MORBIDADE PÓS-PARTO
O pós-parto de pacientes obesas é delicado e
requer atenção redobrada, pois estas possuem ris-
co significativamente aumentado de complicações
como hemorragia, endometrite, infecção de ferida
operatória, trombose venosa profunda, embolia
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S51 47
Manejo anestésico na gestante obesa mórbida
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deve ser feita 24 horas após a cirurgia.132
A cardiomiopatia periparto tem sido associada
à obesidade. Embora não tenha sido estabelecida
ainda uma associação direta entre elas, a obesi-
dade pode ser um fator potencial de risco.133 Com-
plicações na ferida operatória ocorrem mais fre-
quentemente na paciente obesa, principalmente
naquela submetida à incisão abdominal mediana,
levando a uma recuperação mais prolongada, mais
tempo de internação hospitalar e alto custo.134,135
CONCLUSÃO
A obesidade representa um problema de saú-
de epidêmico que vem acometendo cada vez
mais as mulheres em sua fase reprodutiva. As alte-
rações patogênicas e comorbidades associadas à
obesidade fazem da gestante uma paciente espe-
cial, representando um verdadeiro desafio para o
anestesiologista.
O ideal seria que a gestante obesa fosse avalia-
da pelo médico anestesiologista em uma consulta
pré-anestésica, com realização de uma anamnese
e exame físico detalhados, procurando identificar
doenças associadas como hipertensão, diabetes,
doença caronariana, entre outras; e que fosse feita
adequada avaliação da via aérea e da coluna verte-
bral, tendo em vista o risco aumentado de falha na
intubação traqueal e a maior dificuldade na reali-
zação do bloqueio do neuroeixo.
O risco de morte materna relacionado à aneste-
sia geral é muito mais alto quando comparado ao
bloqueio do neuroeixo, pela maior incidência de
via aérea difícil e maior risco de aspiração do con-
teúdo gástrico nas pacientes obesas, de maneira
que a introdução precoce do cateter epidural pode
evitar os riscos associados à anestesia geral e me-
lhorar o prognóstico materno-fetal.
A técnica espinhal contínua também é alterna-
tiva atrativa, permitindo um controle previsível e
confiável do nível de bloqueio, com duração prolon-
gada. Em situações de emergência, permite que o
bloqueio seja estendido rapidamente em nível cirúr-
gico. Essa abordagem multidisciplinar coordenada
envolvendo o paciente, anestesiologista, obstetra e
equipe de enfermagem é extremamente importante
para minimizar o risco anestésico e obstétrico e pro-
porcionar conforto e segurança ao paciente.
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S34-S5148
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ARTIGO DE REVISÃO
Trabalho realizado no CET do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Juiz de Fora-MG
Endereço para correspondência:Rua Pasteur, 164/1201 – Bloco beta
E-mail: [email protected]
1Anestesiologista Título Superior em Anestesiologia pela
Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Corresponsável
pelo CET/SBA do Hospital Universitário da UFJF e Aneste-
siologista do Hospital Monte Sinai, em Juiz de Fora-MG2Médico em especialização do 3º ano em Anestesiologia
do CET/SBA do Hospital Universitário da UFJF – Juiz de
Fora-MG3Médico em especialização do 2º ano em Anestesiologia
do CET/SBA do Hospital Universitário da UFJF – Juiz de
Fora-MG
RESUMO
Neste artigo os autores fazem uma síntese atualizada dos aspectos históricos,
fisiopatológicos, bem como da prevenção e tratamento da cefaleia pós-punção da
dura-máter em obstetrícia, abordando conceitos já estabelecidos e trazendo novas
perspectivas a fim de otimizar o seu manejo. Em virtude da maior incidência de
cefaleia pós-punção da dura-máter em pacientes obstétricas e da prevalência dos
bloqueios espinhais em obstetrícia, essa afecção torna-se extremamente importan-
te para os anestesiologistas.
Palavras-chave: Cefaleia pós-punção dural; Dura-máter; Anestesia obstétrica; Aneste-
sia epidural.
ABSTRACT
In this article autors made a short discussion about historic and phisyopathologic aspects of post dural headache. Prevention and treatment are also goals of these revision, particulary in obstetric patients. Tradicional concepts as new researches are presents in this paper in order to offer a better approach of these important anaesthe-sic complication.
Key words: Post-dural puncture headache; Dura mater; Anesthesia, Obstetrical; Anesthe-sia, Epidural.
INTRODUÇÃO E ASPECTOS HISTÓRICOS
A cefaleia pós-punção da dura-máter tem sido documentada desde a
introdução da anestesia espinhal, por Karl August Bier, em 1898. Naquele
tempo a incidência de cefaleia chegava a 66%.1 Especificamente em obste-
trícia, a anestesia espinhal foi introduzida em 1901 por uma obstetra suíça
que utilizou cocaína subaracnoidea para alívio da dor no segundo estágio
do trabalho de parto.2 Em 1951, Whitacre e Hart3 desenvolveram a agulha
ponta-de-lápis com base em observações de Greene4 em 1926.4 Desde en-
tão, o desenvolvimento de novas agulhas, mais finas e atraumáticas, tem
reduzido significativamente a incidência de cefaleia pós-punção da dura-
máter em obstetrícia.
Post-spinal punction headache after obstetric anesthesia
Vinicius La Rocca Vieira1, Carlos Furtado Macedo2, Elson José Martins de Sousa Júnior3
Cefaleia pós-punção da dura-máter em obstetrícia
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S52-S58 53
Cefaleia pós-punção da dura-máter em obstetrícia
produção, ocorre diminuição do volume e pres-
são do LCR, marcadamente quando o paciente
assume a posição ortostática. Em adultos, a pres-
são do LCR, que normalmente varia de 5 a 15
cm H2O, é reduzida para 4 cm H
2O ou menos. A
perfuração determina perda de LCR que varia de
0,084 a 4,5 mL/s (a produção de LCR é da ordem
de 0,35 mL/s), particularmente com a utilização
de agulhas mais grossas.7,8 Apesar do conceito
da perda de LCR e da diminuição da pressão su-
baracnoidea estar estabelecida, o mecanismo de
produção da cefaleia ainda não é claro. Há duas
explicações possíveis: primeiro, a diminuição da
pressão subaracnoidea causaria tração de estru-
turas intracranianas sensíveis à dor quando em
ortostatismo. Segundo, a perda de LCR produzi-
ria venodilatação compensatória e esta seria a
causa da cefaleia.9
Incidência
A incidência de cefaleia pós-punção da dura-
máter é sabidamente maior em pacientes obsté-
tricas, por serem mulheres jovens. Quando sub-
metidas à raquianestesia, a incidência de cefaleia
pós-punção da dura-máter em pacientes obstétri-
cas pode variar de 2,8 a 8,7%, dependendo do tipo
de agulha utilizada, sendo que menores incidên-
cias são encontradas com utilização de agulhas
mais finas e não-cortantes.10 Em pacientes subme-
tidas à anestesia peridural, a incidência de pun-
ção inadvertida da dura-máter está entre 0 e 2,6%.
Quando ocorre punção inadvertida com a agulha
de Tuohy 16G, a incidência de cefaleia chega a
mais de 70%.11
Fatores de risco
A população obstétrica apresenta risco eleva-
do de desenvolvimento de cefaleia pós-punção
da dura-máter, pela influência do sexo, idade e da
grande difusão da anestesia regional em obstetrí-
cia. Além dos fatores já mencionados, a história
prévia de cefaleia pós-punção, o tipo de agulha
utilizada, a orientação do bisel durante a punção,
o número de tentativas e a experiência profissio-
nal têm impacto na incidência de cefaleia pós-
punção da dura-máter.12
FISIOPATOLOGIA DA PUNÇÃO DA DURA-MÁTER
Anatomia da dura-máter
A dura-máter classicamente é descrita como
uma densa membrana composta de colágeno
e fibras elásticas dispostas longitudinalmente.
Baseado nessa disposição das fibras, encon-
trada em análises histológicas, estudos clínicos
têm recomendado que o bisel da agulha seja
introduzido paralelamente às fibras, produ-
zindo menor pertuito em relação à orientação
perpendicular do bisel.4 Entretanto, recentes es-
tudos avaliando a dura-máter de humanos sob
microscopia eletrônica têm contestado essa
clássica descrição longitudinal das fibras. Esses
estudos descreveram a dura-máter consistindo
de fibras colágenas arranjadas em diversas ca-
madas sem orientação específica.5 Além disso,
recentes avaliações demonstraram que a dura-
máter não apresenta espessura uniforme, po-
dendo um mesmo nível apresentar espessuras
distintas. Quanto maior a espessura da dura-
máter no local da punção, menor é a perda de
líquido cefalorraquidiano para o espaço epidu-
ral. Daí a imprevisibilidade das consequências
dessa perfuração.6
Líquido cefalorraquidiano
O líquido cefalorraquidiano (LCR) é produzi-
do no plexo coroide dos ventrículos cerebrais e
absorvido pelas vilosidades aracnoideas, pelos
vasos linfáticos perineurais e veias do parênquima
cérebro-espinhal. Em torno de 500 mL de LCR são
produzidos diariamente e somente 150 a 200 per-
manecem no espaço cérebro-espinhal. A cada 12
horas todo o LCR é renovado. A pressão do LCR
na região lombar em decúbito dorsal está entre 5
e 15 cm H2O. Ao assumir a posição ortostática, a
pressão aumenta para 40 cm H2O.
Consequências da perfuração da dura-máter
A perfuração da dura-máter, seja ela intencio-
nal ou inadvertida, determina a perda de LCR
para o espaço peridural. Se a perda excede a
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S52-S5854
Cefaleia pós-punção da dura-máter em obstetrícia
Entretanto, existem algumas desvantagens das
agulhas ponta-de-lápis e calibre mais fino. Além
do custo elevado, agulhas de fino calibre como a
Whitacre 29G estão associadas a mais dificuldade
de punção e número mais alto de tentativas.
Punção inadvertida da dura-máter durante
anestesia peridural
A anestesia peridural é técnica amplamente uti-
lizada em obstetrícia, marcadamente em analgesia
de trabalho de parto. Em parturientes submetidas
à anestesia peridural, a incidência de punção inad-
vertida da dura-máter está entre 0 e 2,5%. A inci-
dência é inversamente relacionada à experiência
do anestesiologista e é reduzida com a orientação
paralela do bisel durante a punção. Em relação à
técnica utilizada, a perda de resistência com a utili-
zação de ar confere mais risco de punção inadver-
tida em relação à técnica que utiliza fluidos como
a solução salina.14 Mais de 70% das parturientes re-
latam sintomas de cefaleia pós-punção inadvertida
da dura-máter com a agulha de Tuohy 16G.15
APRESENTAÇÃO CLÍNICA DA CEFALEIA PÓS-PUNÇÃO DA DURA-MÁTER
Sintomatologia
A cefaleia pós-punção da dura-máter instala-se,
em 90% dos casos, até o terceiro dia após a punção.
Em 66% dos casos, os sintomas iniciam-se nas pri-
meiras 48 horas. Raramente a cefaleia desenvolve-
se entre o quinto e o 14o. dia após o procedimento.
O desenvolvimento de sintomas de cefaleia ime-
diatamente após a punção é raro e deve alertar
o anestesiologista para outras causas. A cefaleia
Anestesia subaracnoidea e cefaleia
pós-punção da dura-máter
A anestesia subaracnoidea é, sem dúvida, uma
técnica extremamente utilizada em obstetrícia. A
cefaleia pós-punção da dura-máter em pacientes
obstétricas submetidas à anestesia subaracnoidea,
seja em analgesia de trabalho de parto ou cesaria-
na, está diretamente relacionada ao calibre e tipo
de agulhas utilizadas. Manoel et al. analisaram
prospectivamente a incidência de cefaleia e a ne-
cessidade de tampão sanguíneo epidural em 1.002
gestantes submetidas à anestesia subaracnoidea
para cesariana com cinco diferentes tipos de agu-
lhas: Atraucan 26G, Quincke 25G, Sprotte 24G, Ger-tie Marx (GM) 24G e Whitacre 25G (Figura 1). Eles
concluíram que as agulhas ponta-de-lápis (Sprotte
e Whitacre) determinam menores incidências de
cefaleia pós-punção da dura-máter e menos neces-
sidade de tampão sanguíneo epidural comparadas
às agulhas de bisel cortante (Quincke e Atraucan)13
(Tabela 1).
Figura 1 - Os diferentes tipos de agulha para anes-tesia espinhal. Da esquerda para direita: Atraucan, Quincke, Sprotte, Gertie, Marx,
Sprotte e Whitacre.
Fonte: ANESTH ANALG 2000; 91:916-20
Tabela 1 - Tipo de agulha, dados antropométricos, custo das agulhas e história de Cefaleia pós-punção de dura máter (CPPDM)
Agulha Idade (anos) Altura (cm) Peso (kg) Gestação (semanas) Custo ($) CPPDM (%)
26-gauge Atraucan (n=180) 31,7 ± 5,2 163,7 ± 7 82,4 ± 15 38,6 ± 2,0 6,45 1,9
25-gauge Quincke (n=172) 32,1 ± 5,0 163,3 ± 6 83,8 ± 17 38,7 ± 1,8 2,00 4,7
24-gauge Gertie Marx (n=201) 31,5 ± 4,5 164,3 ± 7 84,0 ± 19 39,0 ± 1,8 6,30 3,5
24-gauge Sprotte (n=211) 31,6 ± 4,8 162,5 ± 7 82,1 ± 15 38,5 ± 2,4 10,00 2,8
25-gauge Whitacre (n=201) 31,2 ± 5,3 162,9 ± 7,0 81,6 ± 17 38,6 ± 2,1 7,50 3,5
P value 0,425 0,058 0,492 0,113 0,714 0,432Fonte: vallejo et al. postdural puncture headache Anesth Analg 2000;91:916-20
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S52-S58 55
Cefaleia pós-punção da dura-máter em obstetrícia
medidas que variam de acordo com a intensidade
desse distúrbio, compreendendo tratamentos conser-
vadores até procedimentos mais invasivos. Repouso
em posição supina, hidratação, analgésicos e anti-in-
flamatórios não-esteroidais são medidas usualmente
empregadas, mas não provêm completo alívio.
Terapia farmacológica
Uma série de agentes farmacológicos tem sido usa-
da no controle da cefaleia pós-punção da dura-máter,
reduzindo a necessidade de terapias mais agressivas.
Cafeína
A cafeína é um estimulante do sistema nervo-
so central que produz vasoconstrição cerebral. Há
pouca evidência que suporta o tratamento efetivo da
cefaleia pós-punção da dura-máter pelo uso da cafe-
ína oral ou intravenosa.17 Entretanto, alguns estudos
mostram alívio dos sintomas com o uso de 300 mg
de cafeína uma a duas vezes ao dia. A cafeína não
é isenta de efeitos adversos e em doses terapêuticas
pode gerar toxicidade do SNC e fibrilação atrial.18
Agonistas de receptores 5-HT
Os agonistas serotoninérgicos agem de manei-
ra similar à cafeína, produzindo vasoconstrição
cerebral. Estudos prévios sugerem que o Sumatrip-
tan (agonista 5-HT1D
) é inefetivo para o tratamento
de cefaleia pós-punção grave. Um novo agonista
(5-HT1B/1D
), o Frovatriptan, que possui longa dura-
ção de ação e é bem tolerado, diminuiu a incidên-
cia de cefaleia pós-punção da dura-máter quando
usado profilaticamente por cinco dias em pacien-
tes submetidos à raquianestesia com agulhas de
grosso calibre.19 Porém, mais evidências são neces-
sárias antes do uso clínico dessa droga.
ACTH
O hormônio adrenocorticotrófico também tem
sido proposto como alternativa para o tratamento
da cefaleia pós-punção da dura-máter. Alívio dos
sintomas de cefaleia após infusão intravenosa de
distribui-se predominantemente nas regiões frontal
e/ou occiptal, podendo irradiar-se para o pescoço
e ombros. O grau de intensidade é extremamente
variável, sendo classificada como leve, moderada e
grave. A dor é exacerbada pelo movimento da ca-
beça e em ortostatismo e é aliviada pela adoção
de decúbito horizontal. O aumento da gravidade
da cefaleia em posição ortostática é condição sine qua non desse evento pós-punção da dura-máter.
Outros sintomas como náuseas, vômitos, distúrbios
auditivos (hipoacusia, zumbidos), distúrbios visu-
ais (fotofobia, diplopia) e até paralisia de nervos
cranianos podem acompanhar o quadro de cefa-
leia pós-punção.16 Em 72% dos casos os sintomas
de cefaleia regridem em sete dias e 87% têm resolu-
ção em seis meses. Em uma minoria de pacientes a
cefaleia pode persistir por mais tempo16 (Tabela 2).
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico de cefaleia pós-punção da dura-
máter é frequentemente claro pela história de pun-
ção e presença de cefaleia postural. Entretanto, é
importante considerar diagnósticos alternativos que
podem apresentar sintomas semelhantes aos da
cefaleia pós-punção da dura-máter. Entre os diag-
nósticos diferenciais, estão: tumores intracranianos,
hematoma intracraniano, apoplexia pituitária, trom-
bose venosa cerebral, migrânea, meningite química
ou infecciosa e cefaleia não-específica.
Tratamento
O tratamento da cefaleia pós-punção da dura-
máter em pacientes obstétricas envolve uma série de
Tabela 2 - Taxa estimada de recuperação espontânea de cefaleias pós-punção de dura-máter
Duração Porcentagem de recuperação
1-2 24
3-4 29
5-7 19
8-14 8
3-6 semanas 5
3-6 meses 2
7-12 meses 4Fonte: Turnbull D. K. Br J Anaesth 2003; 91: 718-29
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S52-S5856
Cefaleia pós-punção da dura-máter em obstetrícia
Nas parturientes, cuja incidência de cefaleia
pós-punção da dura-máter é alta, o uso profilático
do TSE após punção inadvertida é uma opção atra-
tiva,24 apesar da incidência de sucesso ser inferior
à obtida quando da injeção após 24 horas.
Alternativas ao tampão sanguíneo epidural
Solução salina e Dextran40® no espaço peridural
A injeção de solução salina no espaço peridural
exerceria o mesmo efeito do TSE, elevando a pressão
subaracnoidea e aliviando os sintomas de cefaleia.
No entanto, esse efeito não é sustentado.25 Não há
estudos que ressaltem que a solução salina epidural
acelere o fechamento da perfuração da dura-máter.
Esse mesmo efeito de alívio transitório ocorre com a
administração de Dextran 40® no espaço peridural.26
Opioides
Os opioides têm sido usados na tentativa de alí-
vio dos sintomas da cefaleia pós-punção da dura-
máter, porém, a maioria dos trabalhos são relatos
de caso e estudos inadequadamente controlados.
Alguns autores usam morfina epidural após o iní-
cio dos sintomas, outros a utilizam de maneira pro-
filática no espaço peridural ou subaracnoideo ou
em combinação com um cateter subaracnoideo.27
Cola de fibrina
Tem sido proposto o uso da cola de fibrina no
reparo das perfurações da dura-máter, que são
frequentemente reparadas com sucesso. No caso
da perfuração lombar, a cola de fibrina pode ser
utilizada através de injeção percutânea guiada por
TC.28 Todavia, há risco de desenvolvimento de me-
ningite asséptica com esse procedimento.29
Cateter subaracnoideo
Após perfuração acidental da dura-máter com
agulha de peridural, tem sido sugerida a instalação
1,5 UL/Kg de ACTH foi descrito por Foster.20 Mais
evidências são necessárias para determinar o real
valor do ACTH no tratamento da cefaleia pós-pun-
ção da dura-máter.
Hidrocortisona
O uso da hidrocortisona na dose de 100 mg três
vezes ao dia por 48 horas foi superior à terapia con-
vencional (repouso no leito e analgésicos) na diminui-
ção da intensidade da cefaleia pós-punção da dura-
máter,21 porém estudos mais amplos são necessários
para confirmação da efetividade desse fármaco.
TAMPÃO SANGUÍNEO EPIDURAL (TSE)
Quando o manejo conservador é insatisfatório
ou a cefaleia é grave e incapacitante, o TSE é o tra-
tamento de escolha. O mecanismo de ação seria a
oclusão da perfuração localizada na dura-máter
pelo sangue depositado no espaço peridural, impe-
dindo a perda de LCR. Com o paciente posicionado
em decúbito lateral, o espaço peridural é localizado
em nível da punção da dura-máter ou no espaço in-
tervertebral abaixo. Em torno de 20 mL de sangue
autólogo retirados do braço do paciente são injeta-
dos lentamente pela agulha de peridural. A manifes-
tação de dor lancinante à injeção deve interromper
o procedimento. As técnicas de coleta de sangue e
punção peridural devem obedecer à assepsia e an-
tissepsia rigorosas. Não há consenso sobre o volume
ideal de sangue a ser utilizado. O uso de 20 a 30 mL
normalmente garante o sucesso.22 A compressão do
espaço subaracnoideo e consequente aumento de
sua pressão explica o rápido alívio dos sintomas de
cefaleia, entretanto, a manutenção do efeito terapêu-
tico é devida à oclusão da perfuração da dura-máter.
Apesar de controverso, o melhor momento para a re-
alização do TSE para se obter sucesso no tratamento
da cefaleia parece ser 24 horas após a punção.23
A técnica tem sucesso em 70 a 98% das vezes se
realizada após 24 horas da punção da dura-máter.
Se o TSE falhar em aliviar a cefaleia, um segundo
tampão sanguíneo deve ser realizado 24 horas
após o primeiro. Na falha do segundo tampão, uma
terceira tentativa pode ser considerada, entretanto,
na vigência de cefaleia grave e persistente, causas
alternativas devem ser pesquisadas.
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S52-S58 57
Cefaleia pós-punção da dura-máter em obstetrícia
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de um cateter no espaço subaracnoideo. A presen-
ça do cateter provoca reação inflamatória, acele-
rando o processo de cicatrização e fechamento
do orifício na dura-máter. A evidência que sustenta
essa teoria é conflitante.30,31
CONCLUSÕES
A cefaleia pós-punção da dura-máter é uma
complicação que deve ser tratada agressivamen-
te, por representar causa primária de morbidade e
aumento da permanência hospitalar para pacien-
tes obstétricas. A terapia farmacológica, apesar
de amplamente utilizada, apresenta insuficientes
níveis de evidência que corroboram sua eficácia.
Recentes publicações têm confirmado o valor te-
rapêutico do tampão sanguíneo epidural em par-
turientes. O benefício do tampão sanguíneo profi-
lático não é claro, mas deve ser considerado nas
pacientes obstétricas submetidas à punção inad-
vertida da dura-máter em virtude do risco elevado
de desenvolvimento de cefaleia. Há ocasiões em
que o tampão sanguíneo não é eficaz. Nesta situa-
ção, outras causas devem ser consideradas antes
da aplicação de técnicas alternativas.
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ARTIGO DE REVISÃO
Endereço para correspondência:Bruno Carvalho Cunha de Leão
Av. do Contorno, 4747/19
B: Serra
Belo Horizonte, MG
CEP: 30110-090
E-mail: [email protected]
1 Anestesiologista. Título Superior de Anestesiologia pela
Sociedade Brasileira de Anestesiologia (TSA - SBA); Anes-
tesiologista do Hospital Life Center 2 Médico Pediatra, Mestre e Doutor em Pediatria pela Uni-
versidade Federal de Minas Gerais, Professor do Departa-
mento de Pediatria da UFMG; Médico Anestesiologista do
Hospital Life Center; Anestesiologista da ONG - Operation
Smile
RESUMO
A embolia por líquido amniótico (ELA) é uma entidade rara, porém associada a
elevados índices de mortalidade para o binômio materno-fetal e também à morbidade
devido às sequelas neurológicas de longo prazo. Em relação à mortalidade, ela vem
decrescendo nos últimos inquéritos, porém ainda permanece entre as causas mais
importantes de morte materna no mundo. A síndrome parece ser mais incidente do que
tem sido publicada, porém somente são catalogados casos clinicamente exuberantes.
No Brasil, o sub-registro das declarações de óbito dificulta ainda mais o real monitora-
mento dessa complicação. Algumas revisões já foram escritas sobre o tema e em todas
a dúvida quanto à etiopatogenia dessa entidade permanece no centro da discussão. A
ELA apresenta, ainda, fisiopatologia complexa que conduz a: hipertensão pulmonar,
falência cardíaca e coagulação intravascular disseminada. O diagnóstico é clínico e,
sobretudo, de exclusão, não havendo até o momento nenhum método isolado capaz de
confirmar a embolia por líquido amniótico. A conduta mediante a suspeita é a institui-
ção precoce e eficaz de medidas de suporte a vida e, como em mais de 60% dos casos
o feto está intraútero, sua extração imediata deve ser realizada, se houver maturidade
pulmonar para tal. Amplia-se aqui a discussão sobre uma hipótese: a dramaticidade
dos casos estaria relacionada não propriamente ao fenômeno embólico, mas sim às
alterações humorais provocadas por fatores contaminantes, como a presença de mecô-
nio no conteúdo embolizado.
Palavras-chave: Embolia do Líquido Amniótico; Mortalidade Materna; Hipertensão
Pulmonar; Insuficiência Cardíaca; Coagulação Intravascular Disseminada.
ABSTRACT
Amniotic Fluid Embolism (AFE) is rare, but associated with high mortality and as well morbidity rates for the binomial maternal-fetal , due to long-term neurological sequels. Al-though mortality due to Amniotic Fluid Embolism has decreased in recent surveys, it still remains among the most important causes of maternal death in the world. The syndrome seems to have a higher incidence than has been published because only the most exuber-ant clinical cases are reported. In Brazil, the underregistration of death declaration, ham-pers further the real monitoring of complications. Several revisions were written on the topic but the pathogenesis of the syndrome remains unclear. The AFE has still complex pathophysiology that leads to pulmonary hypertension, heart failure and disseminated intravascular coagulation. The diagnosis is based on clinical signs and symptoms after excluding other possibilities, because there is still not any laboratory or imaging method able to confirm the Amniotic fluid embolism. After initial suspicion, the treatment should be the institution of early and effective life suportive actions.In more than 60% of the cases, at the time of diagnosis, the fetus is still in maternal uterus, and its extraction must be done immediately, as long as allowed considering lung maturity . In this revision , we would like to make other considerations discussing the hypothesis that the great majority of the most severe cases are not only related to embolic phenomena, but to also humoral
Amniotic fluid embolism
Bruno Carvalho Cunha de Leão1, Yerkes Pereira e Silva2
Embolia por líquido amniótico
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S59-S6960
Embolia por líquido amniótico
parada cardiocirculatória em uma multípara de 21
anos. A indagação de uma possível embolia por
líquido amniótico surgiu em virtude do achado
post mortem de inúmeras células fetais na circula-
ção sanguínea materna.1 Porém, somente em 1942
é que Lushbaugh e Steiner2, dois patologistas da
Universidade de Chicago, delinearam solidamente
a entidade com uma série de oito casos bem docu-
mentados cujas parturientes tiveram choque inex-
plicável durante ou logo após o parto e nas quais a
autópsia confirmou a presença de células fetais e
mecônio na circulação pulmonar. Assim, concluiu-
se que os conteúdos sólidos de líquido amniótico
se tornam êmbolos ao penetrar na circulação ma-
terna através das veias uterinas.
A partir dos relatos de Lushbaugh e Steiner2, di-
versas teorias foram traçadas. Uma vez na circula-
ção, esse material estranho desencadeia uma “rea-
ção sistêmica grave”, à semelhança de uma reação
alérgica. Outra teoria é de que a hiperestimulação
uterina facilita a quebra da barreira sanguínea ma-
terno-fetal, propiciando a embolização do líquido
amniótico. Em 1969, Levam e Raz descreveram 14
casos de morte materna em que havia células epi-
teliais fetais na circulação pulmonar, rins, fígado e
encéfalo.3 Em 1979, Morgan4 revisou 272 casos e
observou que a ELA esteve associada à hiperesti-
mulação e à hipertonia uterina em 28% dos casos e
com o uso de ocitocina em apenas 22%. Tal estudo
enfraqueceu a teoria da hipertonia uterina como
facilitador da embolia.4
Os estudos mais recentes foram conduzidos por
Clark et al.6, visando compreender melhor a ELA.
Clark e seus colegas da Universidade de Medicina
de Utah criaram, em 1988, um banco de dados
nacional visando ao registro dessa complicação
obstétrica. Além disto, procederam a uma série de
experimentos em animais e seres humanos. Foi a
partir das investigações desse grupo que a etiopa-
togenia da ELA começou a ser questionada. Obser-
varam que em um elevado número de ocorrências
de ELA não havia elementos fetais e concluíram
que a embolização de vasos pulmonares por con-
teúdo sólido do líquido amniótico poderia contri-
buir e agravar a síndrome, mas não deveria ser a
base patogênica desse fenômeno. Curiosamente,
verificaram também que 41% das mulheres de seu
banco de dados informaram alguma história de
atopia. Tais achados, somados à similaridade, do
ponto de visto clínico, do quadro de choque ana-
changes caused by contaminant factors, such as the presence of meconium in embolized content.
Key words: Embolism, Amniotic Fluid; Maternal Mortal-ity; Hypertension, Pulmonary; Heart Failure; Dissemi-nated Intravascular Coagulation.
INTRODUÇÃO
Cenário
Maria, 33 anos, multigesta, 38a semana gesta-cional, é admitida em trabalho de parto. Após anestesia espinhal e extração de feto saudável, a alegria materna e de seu cônjugue presente na sala se concretiza. Após alguns minutos ao clampeamento do cordão, a paciente se queixa de dificuldade respiratória. Ela se agita! Taqui-cardia e queda da oximetria estão presentes. O anestesista realiza medida da pressão arterial e constata importante colapso circulatório; nesse momento, a paciente apresenta diminuição do nível de consciência. Medidas ressucitativas são iniciadas e, aflito, o cônjuge é retirado da sala. Apreensivo, questiona o obstetra: o que está acontecendo?
Desde o início do século passado, relatos como
este são publicados em diversas revistas médicas
em todo o mundo. Apesar de rara, a embolia por
líquido amniótico (ELA) é um evento catastrófico,
associada a altos índices de mortalidade para o
binômio materno-fetal e morbidade, em decorrên-
cia, principalmente, das sequelas neurológicas de
longo prazo.
É considerada uma causa comum de morte ma-
terna nos abortos, no parto, no pós-parto imediato
e também no puerpério. Em função da raridade
do quadro e complexa fisiopatologia, a maioria
dos anestesistas apresenta dificuldades quanto
ao diagnóstico e conduta diante da suspeita de
embolia amniótica. Visando contribuir para o en-
tendimento acerca dessa grave entidade é que se
justifica a presente revisão.
PERSPECTIVA HISTÓRICA
Em 1926, Ricardo Meyer, chefe do Laboratório
de Patologia da Faculdade de Medicina de São
Paulo, relatou um caso de hipotensão, dispneia e
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Embolia por líquido amniótico
do, com taxa de 30% na Austrália e 16% no Reino
Unido.7,9-13 Derek sugere que tal fato se deva prova-
velmente à melhoria e precocidade dos cuidados
intensivos e também ao diagnóstico de casos mais
leves, antes não catalogados.11
Em termos globais, para a atualidade a morta-
lidade materna está entre 11,2 por 100.000 nasci-
mentos na França; 5,5 na Finlândia; 7,0 no Reino
Unido; 7,1 na Alemanha e 14,5 na Hungria.
A última revisão epidemiológica sobre a ELA
foi publicada em 2008 por Stein et al.14, que ana-
lisaram o banco de dados nacional americano
com mais de 500 hospitais incluídos e catalogaram
12.000 casos em mais de 112 milhões de partos
(10,7/ 100.000 partos). Quanto aos resultados, ob-
servou-se maior incidência em partos cesarianos
(22:100.000 x parto normal 8/100.000) e em mulhe-
res entre 30-39 anos (17/100.000). Em relação aos
partos cesarianos, pode ocorrer o fenômeno de
causalidade reversa, ou seja, a maior incidência de
cesariana seria de cirurgias de urgência em virtu-
de das manifestações da ELA.14
No Brasil, dois fatores dificultam o real moni-
toramento dos níveis de mortalidade materna: a
subinformação e o sub-registro das declarações
de óbito.15 Assim, não se dispõe de estatística
confiável de ELA. Levantamento sobre a mor-
talidade materna, baseado em dados do censo
demográfico de 1980, relatou que as embolias
pulmonares obstétricas aparecem em oitavo lu-
gar, com 3,57% dos óbitos maternos. Uma vez,
porém, que os autores desse estudo optaram por
agrupar todas as causas de embolia (aérea, trom-
boembólica, líquido amniótico, etc.), a verdadei-
ra contribuição da ELA nessa percentagem não
pôde ser conhecida.16
Estudo retrospectivo em um hospital terciário
do Rio Grande do Sul analisou as mortes relaciona-
das à gestação e puerpério durante 19 anos. Entre
os 81 óbitos catalogados em 63.000 nascidos vivos,
apenas um foi em decorrência de ELA.17 Pesqui-
sadores da Universidade de São Paulo avaliaram
a mortalidade materna em 26 capitais brasileiras,
encontrando 239 mortes em 54.300 nascidos vivos.
Novamente a ELA esteve diluída nos grupos maio-
res e inespecíficos como doenças do aparelho
circulatório complicando a gravidez e outras do-
enças complicando a gravidez, parto e puerpério,
de forma que sua participação nesses domínios se
torna imensurável.18
filático que viera sustentar uma base imunológica
para a ELA, levou a entidade a ser denominada, na
ocasião, de síndrome anafilactoide da gestação.5,6
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
A embolia significativa por líquido amniótico é
rara, a incidência global varia de 1:8.000 a 1:80.000
partos. Essa grande variação se dá em função da
dificuldade de se confirmar clinicamente o diag-
nóstico e de que mais precisão somente é possível
mediante autópsia.7
Já em relação à morbimortalidade, não existe
dúvidas. A ELA sempre esteve associada a eleva-
dos índices de mortalidade maternidade e morbi-
dade. Aproximadamente 30 a 50% das pacientes
morrem no momento da embolia e outra metade
posteriormente. Nas sobreviventes, as sequelas
neurológicas podem atingir até 80%.8
Clark et al.6 registraram 69 casos entre 1983 e
1993, com mortalidade materna de 61%, sendo que
das sobreviventes apenas 15% permaneceram sem
sequelas neurológicas. O mesmo observador obte-
ve taxas de sobrevida neonatal de 79%, entretanto,
somente 50% destes sobreviveram sem compro-
metimento neurológico. Gilbert et al.7 conduziram
um estudo retrospectivo em banco de dados de
328 maternidades no estado da Califórnia. Foram
catalogados 53 casos de ELA ocorridos em 1994
e 1995, obtendo incidência bem menor do que as
sugeridas anteriormente (1:20.646). O coeficiente
de mortalidade materna foi de 26,4%.7
A ELA sempre esteve entre as mais importan-
tes causas de mortalidade materna no mundo. Em
inquérito norte-americano (1974-1978), esteve jun-
to à doença hipertensiva da gravidez como a prin-
cipal causa de morte materna. O Colégio Ameri-
cano de Obstetrícia e Ginecologia traçou o perfil
de mortalidade materna nos EUA para o período
de 1991 a 1997 e a ELA esteve entre as cinco pri-
meiras causas. Nos EUA e Austrália, é responsável
por 7,5 a 10% das mortes maternas. Na França e
no Reino Unido, o embolismo de líquido amnióti-
co é considerado a terceira e a quinta causa mais
frequente, respectivamente, de morte materna.
Em Singapura, estudos de necropsia salientaram
a ELA como responsável por 30% das mortes ma-
ternas diretas.11 Inquéritos mais recentes mostram
que, apesar de alta, a mortalidade vem decrescen-
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Embolia por líquido amniótico
Particularmente intrigante é o fato de que a
ELA parece ser significativamente mais comum
em gestantes cujos fetos são masculinos. A possí-
vel isoimunização destas fortalece a hipótese da
reação anafilática na patogênese da doença.6
ETIOPATOGENIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Conteúdos sólidos de líquido amniótico, mecô-
nio, descamação epitelial, mucina, tecido amorfo,
lipídios, pigmentos biliares e lanugem entram na
circulação materna, quer através dos sinusoides
venosos da circulação uteroplacentária, quer pe-
las veias endocervicais. Ao se alojar sobre as ar-
teríolas pulmonares, esse material não só obstrui
o fluxo sanguíneo, como propicia algum grau de
vasoconstricção pulmonar reflexa, levando a um
quadro de cor pulmonale agudo.25
Embora essa antiga explicação possa ser lógica
por se tratar de uma entidade embólica, já há al-
gum tempo as pesquisas sobre a etiopatogenia da
ELA se concentram em fatores imunológicos. Clark
et al.6 sugeriram que até mesmo pequena quantida-
de de líquido amniótico na circulação sanguínea
resulta na liberação de vários mediadores endóge-
nos (histamina, bradicinina, citocinas, prostaglan-
dinas, leucotrienos e tromboxano), ocasionando
quadro de vasoconstricção pulmonar e choque
distributivo muito semelhante ao observado nos
choques anafilático e séptico.6
Mais recentemente, a endotelina, peptídeo
presente no líquido amniótico, tem chamado a
atenção dos pesquisadores e postula-se que esse
mediador possa ser o principal responsável pela
fase aguda da ELA.26 A endotelina, mais especifica-
mente a ET-1, atua no desenvolvimento das células
mesenquimais placentárias e no controle do fluxo
sanguíneo placentário. Sua anormal elevação no
líquido amniótico comumente está associada à
presença de mecônio.27 Os receptores para endo-
telina se concentram na musculatura lisa vascu-
lar, com mais densidade nas correntes pulmonar
e coronariana, assim como no músculo cardíaco,
endotélio e córtex da suprarrenal. De acordo com
a localização dos receptores, a ET faz a mediação
dos diversos efeitos deletérios e clinicamente rele-
vantes que influenciam decisivamente a gênese da
hipertensão arterial pulmonar e da insuficiência
cardíaca. Em altas concentrações levará à vaso-
Relevante questionar por que nos países desen-
volvidos a ELA aparece sempre entre as 10 primei-
ras causas de mortalidade materna e nas estatísticas
nacionais não é citada ou apenas agregada a grupos
maiores inespecíficos. Segundo Andrade et al.19, no
Brasil o embolismo é pouco diagnosticado, prova-
velmente pelo baixo índice de necropsias no país.
As estatísticas de ELA são constituídas por
eventos de desfecho crítico ou fatal. Estudiosos do
tema acreditam que diversos casos dessa síndro-
me, por serem mais brandos e até terem resolução
espontânea, não são catalogados, contribuindo
para subnotificação e aumento da mortalidade por
essa entidade.
FATORES DE RISCO
Dos mais de 300 casos relatados na literatura,
cerca de 70% ocorreram durante o trabalho de
parto e somente 10% após o parto vaginal. Cirurgia
cesariana aparece em 19% dos casos. Uma mino-
ria dos eventos já foi descrita em outras ocasiões,
como aminiocentese, trauma, curetagem uterina e
até durante o abortamento.6,20-23
Zagelidou et al.24 descrevem como fatores de
risco: multiparidade, presença de mecônio, lacera-
ção cervical, feto morto, hipertonia uterina, rotura
uterina, corioamnionite, macrossomia (mãe diabé-
tica), feto do sexo masculino, história materna de
alergia (41%), polidrâmnio e placenta acreta. No en-
tanto, não foi observada correlação com trabalho
de parto prolongado e idade materna avançada. A
utilização de ocitocina permanece controversa.24
A hiperestimulação uterina persistiu por déca-
das como o principal fator predisponente, basean-
do-se no fato de que a hipertonia facilita o surgi-
mento dos focos de entrada do líquido amniótico
na circulação materna. Essa teoria foi questionada
pelos estudos de Clark et al.6 ao demonstrarem que,
embora a barreira entre a circulação sanguínea ma-
terna e fetal pudesse ser quebrada, o aumento na
frequência ou duração da contração uterina viria
a diminuir o tempo de fluxo sanguíneo, tornando
menos provável a transferência líquida entre essa
interface. Esse grupo postulou que a hipertonia ute-
rina, encontrada na maioria dos quadros de ELA,
seria, na verdade, uma consequência da instabilida-
de hemodinâmica e consequente hipóxia uterina, e
não um fator desencadeante da síndrome.6
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Embolia por líquido amniótico
pouco tempo se manifesta hipóxia e hipotensão
acentuadas. Embora estas duas manifestações se
destaquem em um cenário crítico de ELA, amplo es-
pectro de sinais e sintomas pode cortejar o quadro.
De acordo com o registro nacional americano,
entre os achados mais frequentes estão: hipoten-
são e sofrimento fetal agudo (100%), edema pul-
monar ou SARA (93%), parada cardiopulmonar
(87%) e cianose e coagulopatia (83%). Ainda se
encontraram: dispneia (49%), convulsão (48%),
atonia (23%), broncoespasmo (15%), hipertensão
transitória (11%), tosse e cefaleia (7%) e dor torá-
cica (2%). Vale ressaltar que em alguns casos a
paciente não pôde ser avaliada para alguns desses
porque houve óbito.6
O colapso circulatório ocorre em função da
hipertensão pulmonar e insuficiência ventricular
direita; a hipoxemia pelo aumento do espaço mor-
to que se segue à exposição inicial ao líquido am-
niótico.30 Essa fase dura cerca de 30 minutos e é
tão crítica que apenas 50% das parturientes sobre-
vivem e, destas, muitas terão sequelas neurológi-
cas.31 Nas sobreviventes, desenvolvem-se progres-
sivamente falência cardíaca esquerda e edema
agudo pulmonar, caracterizando-se a segunda
fase da doença.32
Os índices hemodinâmicos mais comumente
encontrados nos relatos e experimentos são: au-
mentos variáveis nas pressões de enchimento e na
pressão de artéria pulmonar, queda do índice cardí-
aco e, consequentemente, da oferta de oxigênio.29
Além da falência ventricular esquerda e da
angústia respiratória, 40 a 80% dos pacientes que
experimentam essa segunda fase desenvolveram
coagulação intravascular disseminada (CIVD) nas
próximas quatro horas. A CIVD ocorre em função
de um estado de hiperfibrinólise secundária à libe-
ração ou exacerbada exposição ao fator tecidual.
Não está esclarecido como o líquido amniótico de-
sencadeia essa coagulopatia. Acredita-se que ele
seja rico em tromboplastina ou que tenha a pro-
priedade de ativar diretamente o fator X.33-39 Como
resultado, a coagulação é exacerbada a ponto de
levar à formação de fibrina vários pontos da mi-
crovasculatura, consumindo plaquetas (trombo-
citopenia), fatores da coagulação (coagulopatia),
destruindo hemácias (anemia hemolítica microan-
giopática) e obstruindo pequenos vasos (gangrena
periférica). O consumo de fatores da coagulação e
de plaquetas não consegue ser compensado pelo
constrição pulmonar e coronária via receptor ETA
e vasodilatação sistêmica via receptor ETB presen-
te no endotélio vascular.26,28-33
Após experimento com infusão de líquido am-
niótico em coronárias de ratos, Richards et al.34
observaram que o líquido amniótico, de forma do-
se-dependente, é capaz de deprimir a função mio-
cárdica, sugerindo que a falência cardíaca obser-
vada na ELA pode ser explicada pela diminuição
do fluxo sanguíneo coronariano, provavelmente
pela intensa ação constritora da endotelina nes-
sa circulação.34 O mecanismo do choque da ELA
é tipicamente cardiogênico, porém, naquelas que
sobrevivem às fases iniciais, verifica-se o desenvol-
vimento de um choque tipicamente distributivo. O
componente hemorrágico pode estar presente em
qualquer fase da doença.33
Lee et al.28 demonstraram, em um experimen-
to in vitro, que o líquido amniótico é capaz de
aumentar substancialmente a produção de leu-
cotrienos pelos leucócitos sanguíneos e pulmo-
nares. A elevação desse mediador durante a ELA
pode explicar em parte as manifestações clínicas
da síndrome, assim como sua similaridade com a
reação anafilática.28
Amplo questionamento sobre a proposta de
uma síndrome anafilactoide da gestação se deve
ao fato de que a maioria das gestantes apresen-
ta componentes do líquido amniótico na circu-
lação sem apresentar quaisquer manifestações.
A utilização de líquido amniótico heterólogo em
modelos animais na ausência de gestação não
tem produzido resultados confiáveis, e por vezes
são contraditórios.
Hankins et al.29, em experimento com modelo
animal, compararam a infusão de líquido amnió-
tico homólogo sob as formas: puro, filtrado e com
mecônio. Observou-se que a depressão cardiovas-
cular, assim como o edema pulmonar, era signifi-
cativamente maior no grupo do líquido amniótico
contaminado com mecônio.29 Tais resultados su-
gerem que a etiopatogenia da ELA, ou a gravidade
desta, possa estar relacionada à constatação ou
não de excrementos fetais no líquido amniótico.
Isto também justifica a similaridade clínica da
ELA com a sepse.
Pode-se dividir clinicamente a ELA em duas
fases. A primeira fase, dita aguda, é precedida por
sintomas inespecíficos como: mal-estar, calafrios,
angústia, náuseas, dor torácica, tosse seca; mas em
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Embolia por líquido amniótico
rio oferece oportunidade para intensa exposição
da circulação materna ao líquido amniótico.6,36,38
Diversos autores já tentaram estabelecer algum
marcador visando confirmar a ELA, contudo, a
despeito dos esforços empenhados, pouco se evo-
luiu neste aspecto. Na década de 70, a constatação
de células fetais em amostra coletada através de
um cateter de artéria pulmonar foi precipitada-
mente considerada patognomônica da doença. Po-
rém, estudos subsequentes descreveram o mesmo
achado em uma série de parturientes hígidas.28,43-47
Tramoni et al. descreveram um caso de ELA no
qual o diagnóstico foi apoiado pela existência de
escamas fetais em lavado broncopulmonar.36
Em 2001, Farrar e Gherman48 encontraram ele-
vação da triptase (conhecido marcador para ana-
filaxia) em uma paciente com diagnóstico de ELA,
contudo, no mesmo ano, Benson et al.49 ressalta-
ram níveis normais de triptase sérica e histamina
urinária em sete mulheres com ELA. Nesse mesmo
estudo, observaram elevação dos níveis de antíge-
no fetal e grave depressão dos níveis de comple-
mento em todas as pacientes.49
Kobayashi et al. demonstraram que o anticor-
po monoclonal TKH-2, elemento característico do
mecônio e líquido amniótico, pode ser encontrado
por radioimunoensaio na circulação materna de
mulheres com ELA. Os autores enfatizam que esse
teste pode se mostrar um método simples, sensível
e indireto para o diagnóstico de ELA, no entanto,
mais estudos são necessários para determinar a
sua utilidade prática.50
O zinc coproporphyrin, conhecido marcador
bioquímico da presença de mecônio no líquido
amniótico, foi também encontrado em pacientes
com suspeita de ELA, passando também a ser re-
comendado como método diagnóstico.51
Em relação à CIVD aguda, os critérios que de-
finem o diagnóstico são: hipofibrinogenemia (fi-
brinogênio<70-100 mg/dL), aumento dos produtos
de degradação da fibrina (PDF > 40 μg/mL), alar-
gamento do PTTa, do TP e do TT, além, é claro, de
trombocitopenia. Anemia hemolítica com esqui-
zócitos pode estar presente. De todos os fatores, o
mais depletado é o fibrinogênio (fator I), que pode
chegar a valores indetectáveis. Entre os PDFs, o D-
dímero tem significado especial, pois só é liberado
pela degradação direta dos polímeros de fibrina, e
não dos monômeros ou do fibrinogênio. Ou seja,
aparece quando a fibrinólise é resultado da forma-
aumento da produção hepática e medular e, as-
sim, tem-se um distúrbio geral na hemostasia co-
mumente agravando o sangramento. Em conjunto
com a hemorragia, esses pacientes apresentam mi-
crotrombose difusa, levando à insuficiência renal
aguda, disfunção hepática, depressão do sensório
e gangrena de dígitos.
Alguns casos de ELA se manifestam tardiamen-
te, após o parto. Courtney et al.40 salientaram que,
após cesariana, o líquido amniótico fica estático
nas veias uterinas e, posteriormente, alcança a cir-
culação materna.40 Margarson41 realçou que o re-
torno do tônus simpático e da mobilidade median-
te a recuperação da anestesia regional contribui
para a liberação tardia do líquido amniótico.41
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da ELA é clínico e, sobretudo,
de exclusão.42 Importante enfatizar que, como
não existe conduta específica para essa compli-
cação, mais importante do que tentar estabelecer
seu diagnóstico é iniciar imediatamente o suporte
à vida e excluir causas mais comuns de colapso
circulatório (sepse, tromboembolismo pulmonar,
infarto do miocárdio, descompensação de cardio-
patia prévia, eclampsia), causas anestésicas (como
intoxicação por anestésicos locais e anafilaxia) e
também causas de choque hemorrágico (atonia
uterina, ruptura uterina e descolamento prematuro
de placenta - DPP).30
O sangramento uterino durante o trabalho de
parto sempre conduz ao diagnóstico diferencial
das hemorragias da segunda metade da gravidez.
A ELA pode se assemelhar ao DPP pela existên-
cia de hipertonia uterina e contexto materno-fetal
crítico passível de complicações, como choque,
CIVD e cor pulmonale agudo. Todavia, mediante
o quadro de dor abdominal forte e persistente, o
diagnóstico de DPP deve ser prioritariamente con-
siderado em função de sua preponderante incidên-
cia (0,5 a 1,5% das gravidezes e mais de 30% das
hemorragias do terceiro trimestre).
Na revisão de Clarck et al.6, a análise post mor-tem revelou que em seis dos 46 casos documenta-
dos de ELA havia DPP. Acredita-se que a coexistên-
cia dessas entidades não seja coincidência, mas
sim que elas compartilhem substrato fisiopatológi-
co comum, uma vez que o descolamento placentá-
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Embolia por líquido amniótico
plos componentes, a saber: falência ventricular di-
reita secundária à hipertensão pulmonar, falência
ventricular esquerda, possível comprometimento
do fluxo sanguíneo coronariano, além do variável
comprometimento da resistência vascular periféri-
ca. Segundo esses autores, o frequente fracasso na
tentativa de oferecer suporte hemodinâmico nas
primeiras fases da ELA se deve ao maior ou menor
grau de hipertensão arterial pulmonar.30
Baseando-se na bem-sucedida utilização do
óxido nítrico em outros tipos de embolia pulmo-
nar, Tanus-Santos e Moreno56 salientaram benefí-
cio na utilização desse agente no tratamento da
hipertensão pulmonar por ELA.57 Van Heerden58
relata o tratamento de uma paciente com ELA
com prostaciclina em aerossol, corrigindo a hi-
poxemia grave secundária à embolia; este agente
apresenta efeito vasodilatador pulmonar seletivo,
sem que ocorra a hipotensão desencadeada pelos
vasodilatadores sistêmicos.
Outras condutas intervencionistas foram rela-
tadas isoladamente. Stanten et al.59 optaram pela
instituição de circulação extracorpórea em um
caso grave de ELA refratário às medidas iniciais.
Em relato não menos grave, Hsiieh et al. instituíram
contrapulsão com balão intra-aórtico devido à in-
suficiência ventricular esquerda refratária.60
A plasmaferese, assim como a hemodiafiltra-
ção contínua, já foi utilizada em casos de ELA,
não como técnica de reanimação, mas para re-
moção de citocinas responsáveis pela falência
múltipla de órgãos, limitando, assim, a morbida-
de das sobreviventes.61
Conduta na CIVD
Em 1953, Reid e Weiner62 recomendaram a
administração de 50 a 70 mg de heparina endo-
venosa, visando neutralizar os efeitos do líquido
amniótico sobre o sistema de coagulação. Segun-
do eles, é improvável que tal dosagem produza
alguma alteração no componente trombínico do
mecanismo de coagulação. Se o sangue não co-
agular após heparinização, inicia-se a transfusão
de hemoderivados. À luz das evidências atuais, o
benefício do uso da heparina em baixas doses não
foi comprovado na CIVD aguda, talvez a depleção
da antitrombina III justifique a ineficácia dessa
abordagem. A heparinização somente é indicada
ção prévia de trombos. Na fibrinólise primária, os
PDFs estão elevados, mas o D-dímero está normal.
O PTTa e o TP podem estar normais em até 50%
dos casos, já os PDFs e o D-Dímero estão elevados
em 85 a 100% dos casos. Entretanto, esses dois
marcadores podem estar elevados em pós-ope-
ratório e até pós-parto normal. Logo, não podem
isoladamente caracterizar a CIVD.50,52,53
Na ausência de testes diagnósticos, Benson
propôs critérios diagnósticos para a ELA, dando
ênfase à presença de um colapso circulatório que
acontece durante a gravidez ou até 48 horas após
o parto associado à taquicardia persistente (por
mais de quatro horas), na ausência de outras con-
dições que justifiquem o quadro.49
Na atualidade, a associação de quadro clínico
pertinente a achados de autópsia compatíveis dão
suporte ao diagnóstico de ELA. Os achados são:
edema e hemorragia alveolar associados a esca-
mas fetais, gordura e mucina obstruindo arteríolas
com menos de 1 mm de diâmetro.8 Entretanto, re-
visão publicada pela Sociedade de Medicina-Legal
romena considera que as células fetais não só são
tecnicamente difíceis de serem isoladas como tam-
bém de serem diferenciadas de células maternas.52
CONDUTA
Não existe tratamento específico para a ELA.
Baseado em suas semelhanças com uma reação
alérgica, alguns autores sugeriram a administração
de corticoides, anti-histamínicos H1 e H2; mas não
existe qualquer benefício comprovado.54 A con-
duta mais pertinente mediante uma suspeita de
ELA é a instituição precoce e eficaz de medidas
de suporte do aparelho cardiovascular e respira-
tório. Como em mais de 60% dos casos o feto está
intraútero, a extração imediata deve se realizada,
se houver maturidade pulmonar.
Considerando que tanto na primeira como na
segunda fases clínicas a falência cardíaca está
presente, muitos autores entendem que drogas
inotrópicas devam fazer parte do suporte hemo-
dinâmico. Há relatos em que se utilizaram a dopa-
mina e a epinefrina, em função de sua ação beta-
adrenérgica.55
William et al.30 descreveram o tratamento do
choque associado à ELA como uma árdua tarefa,
uma vez que a fisiopatologia deste envolve múlti-
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S59-S6966
Embolia por líquido amniótico
Obviamente, tratando-se de uma doença em-
bólica, o fator quantitativo sempre teve relevância
na etiopatogenia, seja pelo componente mecâni-
co obstrutivo ou pela maior liberação de media-
dores. Entre 1941 e 1993, foram realizados 16 ex-
perimentos com infusão de líquido amniótico nos
mais diversos animais, porém estes foram pouco
conclusivos por não conseguirem reproduzir o
mesmo cenário crítico descrito nos relatos e pro-
duzirem resultados não extrapoláveis para os se-
res humanos.20 Um dos mais bem conduzidos des-
ses estudos foi o de Rogers et al.31, com ovelhas,
em circulação extracorpórea, com líquido amni-
ótico autólogo infundido em grande quantidade
(100 mL/Kg) na circulação sistêmica e também no
circuito pulmonar isoladamente. O líquido amnió-
tico era rigorosamente filtrado para remover pos-
sível presença de mecônio. Os resultados foram
surpreendentes ao não mostrarem mudanças na
função cardíaca e na pressão de artéria pulmonar
mediante infusão sistêmica. Entretanto, moderada
queda da resistência vascular periférica foi verifi-
cada. Elevação da resistência vascular pulmonar
somente foi constatada quando o líquido amnióti-
co era infundido diretamente sobre a vasculatura
pulmonar. Outro aspecto interessante foi que os
efeitos hemodinâmicos eram transitórios, retor-
nando aos valores normais poucos minutos após
interrupção da infusão.31
Vê-se com muita restrição e pouca validade ex-
terna a infusão do líquido amniótico em circuitos
vasculares isolados, como já executado em diver-
sos trabalhos.31,34 Embora tais experimentos pos-
sam ser úteis na caracterização das propriedades
de determinada substância, eles não reproduzem
sistemas biológicos reais, uma vez que anulam
componentes fundamentais da cinética de con-
centração, como distribuição e metabolização.
Considera-se bastante plausível a ideia de que o
líquido amniótico, normalmente estéril, quando ex-
posto a fatores contaminantes (amniorrexe prema-
tura, feto morto ou mecônio) sofra progressivas alte-
rações, mais especificamente elevação de citocinas,
refletindo a resposta imunológica macrocitária de de-
fesa fetal. Mais ainda, mecônio, ruptura das membra-
nas ou feto morto sempre estiveram presente nas revi-
sões sistemáticas como fator de risco para a ELA.2,6,55
Corroborando essa ideia, um trabalho recente
estudou 50 gestantes a termo, 30 delas com amnior-
rexe. Em ambos os grupos não havia evidências
na CIVD crônica para tratar os eventos macrotrom-
bóticos. Os antifibrinolíticos são contraindicados
em qualquer forma de CIVD, pois podem agravar
a microtrombose.63
O sangramento deve ser abordado com a reposi-
ção de plaquetas (se contagem <50.000/mm3), plas-
ma fresco congelado (PFC) e crioprecipitado, este
último visando manter os níveis plasmáticos de fibri-
nogênio acima de 100 mg/dL. Além de fibrinogênio,
o crioprecipitado também é rico em fibronectina,
FCVIII, FCXIII e FvWB. Rodgers correlaciona o su-
cesso no tratamento de seis casos CIVD-ELA à admi-
nistração de crioprecipitado. Segundo alguns traba-
lhos, o benefício se deve muito mais à reposição de
fibronectina do que do fibrinogênio. Essa glicopro-
teína, que tem seus níveis diminutos na ELA, presta
importante ajuda ao sistema retículo endotelial na
filtração de antígenos e toxinas.31,55 Conforme recen-
te protocolo, os hemoderivados: hemácias, PFC e
plaquetas devem ser ofertados, respectivamente, na
proporção de 6:4:1, assemelhando-se à composição
sanguínea.64 Novos estudos sugerem a utilização do
fator 7 recombinante na CIVD. Recentemente, foi re-
latado um caso de ELA com grave hemorragia, no
qual esse fator foi utilizado com sucesso.65,66
CONCLUSÃO
Diversas revisões já foram escritas sobre a ELA
e em todas elas a dúvida quanto à etiopatogenia
desta entidade permanece no centro da discussão.
Porém, é interessante enfatizarem-se alguns aspec-
tos: os casos catalogados são, em sua maioria, de
súbito colapso cardiovascular em que se excluí-
ram outros diagnósticos. Em função da raridade,
os critérios diagnósticos para registro em países
como Estados Unidos e Inglaterra são bastante es-
tritos, o que provavelmente orientou a seleção de
um subgrupo de mais gravidade.6,7,67
Vários autores acreditam que a embolização de
líquido amniótico seja bem mais frequente do que
a documentada, uma vez que seus componentes
podem ser habitualmente encontrados em partu-
rientes hígidas. Clark et al.6 também concordam
que a existência de escamas fetais, seja em cateter
de artéria pulmonar, seja em autópsias, não é sensí-
vel nem específico para o diagnóstico de ELA. En-
tão, qual seria a real incidência de ELA? O que jus-
tificaria a ELA ser clinicamente evidente ou não?
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S59-S69 67
Embolia por líquido amniótico
et al.30, em boa parte dos eventos a conduta deve
ser direcionada para o controle da hipertensão
pulmonar.30 A combinação de fluidos, inotrópicos
e vasopressores pode significar vão esforço se não
amenizados os níveis de pressão da artéria pulmo-
nar. Considera-se que, diante de casos refratários,
o melhor estudo do paciente com solicitação de
ecocardiograma e passagem de cateter de artéria
pulmonar é medida recomendável.
Finalizando, impõem-se dois questionamentos:
embolia por líquido amniótico ou embolia por lí-
quido amniótico meconial? Quanto uma melhor
elucidação dos aspectos etiopatogênicos poderia
influenciar a conduta terapêutica? O suporte à vida
nessas pacientes deve ser justo e precoce, indepen-
dentemente do fator causal. No entanto, conside-
rando-se a hipótese de toxemia grave por contami-
nação do líquido amniótico, outros aspectos mais
específicos, como antibioticoterapia, presente em
protocolos específicos, seriam muito relevantes.
Novas pesquisas são necessárias para o ama-
durecimento dessas hipóteses, a fim de melhor en-
tender a ELA e guiar sua terapia e prevenção.
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clínicas de coriomionite. O líquido amniótico foi
avaliado quanto à concentração de citocinas e sub-
metido à cultura para diversos patógenos. Os resul-
tados mostraram que 24 gestantes pertencentes ao
grupo da amniorrexe apresentavam corioamionite
subclínica. No líquido amniótico destas observou-
se substancial elevação das interleucinas (IL-1, IL6),
assim como do fator de necrose tumoral (TNFα) e
interferon gama. Ressaltou-se o fato de que nos ca-
sos de corioamionite e amiorrexe as interleucinas
também se elevaram no soro materno.68
Sabidamente, o TNFα é um importante marcador
de gravidade de contextos críticos, como na sepse,
assim como grande estimulante da fibrinólise.69 Nes-
se intento é que se acredita importante realçar o ex-
perimento de Hankins et al., que chama a atenção
ao obter resultados expressivos quando compara a
infusão de líquido amniótico com e sem mecônio29.
Diversos autores concordaram haver associação
dos casos em que o líquido amniótico estava tinto
em mecônio ou o feto estava morto com a gravidade
do evento, mais especificamente com a rapidez de
instalação da falência cardíaca, evolução desfavorá-
vel com CIVD e sequela neurológica.6,36
De acordo com Bick, a coagulopatia é mais grave
quando o líquido amniótico está tinto de mecônio.70
Tal evidência – somada à similaridade do quadro de
ELA com a sepse grave, assim como à má evolução
dos pacientes que sobrevivem à fase inicial, no que
tange à incidência de CIVD e falência múltipla de
órgãos – deveria necessariamente redirecionar a in-
vestigação etiopatogênica para alterações humorais
mais relacionadas à existência de patógenos do que
simplesmente uma reação de hipersensibilidade.
Grande parte dos relatos de ELA caracteriza-se
pelo abrupto colapso cardiovascular, o que não é
compatível com o habitual quadro de septicemia,
no qual as manifestações clínicas ocorrem de for-
ma mais paulatina. Entretanto, há de se considerar
que a súbita e intensa liberação de líquido amni-
ótico composto de mecônio e mediadores como
TNFα e endotelina na circulação materna justifica
a velocidade e gravidade do quadro, em função da
grave hipertensão pulmonar, assim como do rápi-
do desenvolvimento de CIVD.
O índice de mortalidade nas primeiras fases
da ELA é altíssimo; até dois terços dos casos. Esse
fato é comumente atribuído ao fracasso no suporte
hemodinâmico em virtude da complexa fisiopato-
logia do choque. Concordantemente com Willians
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trophic pulmonary vasoconstriction: diagnosis by tran-
Rev Med de Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S70-S7970
ARTIGO DE REVISÃO
Trabalho realizado no Hospital Municipal Odilon
Behrens.
Endereço para correspondência:Walkíria Wingester Vilas Boas
Rua Formiga, 50 - Bairro São Cristóvão
Belo Horizonte/MG
E-mail: [email protected]
1TSA/SBA. Mestrado e Doutorado em Fisiologia pela
UFMG. Responsável pelo CET do HC/UFMG. Anestesiolo-
gista do Hospital Lifecenter. Coordenadora do Serviço de
Anestesiologia do Hospital Municipal Odilon Behrens2Anestesiologista do Hospital SOCOR e Hospital Munici-
pal Odilon Behrens3Anestesiologista do HC/UFMG e Hospital Municipal
Odilon Behrens
RESUMO
Anestesiologistas em cada subespecialidade encontram, com variada regularidade,
pacientes se apresentando para cirurgias durante o curso de uma gravidez. Até 2% de
todas as mulheres grávidas são submetidas à cirurgia não-obstétrica durante a gravidez,
que pode ser indicada em qualquer idade gestacional. O estágio da gestação e o proce-
dimento cirúrgico indicado parecem ter influências prognósticas maternas e fetais. Em
geral, o segundo estágio é tido como o mais oportuno para aqueles procedimentos que
não podem esperar até depois do parto, porque a organogênese já está completa e o
risco de parto prematuro é mais baixo do que no terceiro trimestre. A escolha da anes-
tesia para a cirurgia não-obstétrica em grávidas possui características clínicas únicas,
já que envolve dois pacientes e a fisiologia específica da gravidez. O objetivo final é
promover uma anestesia segura para a mãe, enquanto simultaneamente minimiza-se o
risco de comprometimento fetal. Manutenção da perfusão útero-placentária e adequa-
da oxigenação materna preservam a oxigenação fetal e são de importância máxima
para qualquer anestesia durante a gravidez.
Palavras-chave: Procedimentos cirúrgicos operatórios; Cirurgia; Complicações na
gravidez; Gravidez; Anestesia.
ABSTRACT
Anesthesiologists in every subspecialty encounter, with varying regularity, patients presenting for surgery during the course of pregnancy. About 2% of pregnant women undergo nonobstetric surgery during pregnancy, which may be required at any gestational age. Timing and indications for the surgical procedure seem critical to the maternal and fetal outcome. In general, the second trimester is regarded as the most opportune for those procedures which cannot be delayed until after delivery, as organogenesis is complete and the risk of preterm labor is lower than in the third trimester. The choice of anesthesia for nonobstetric surgery in pregnancy have unique clinical concern, since involves two patients and physiology specific to pregnancy. The ultimate goal is to provide safe anesthesia to the mother while simultaneously minimizing the risks to the fetus. Maintenance of uterine perfusion and adequate maternal oxigenation preserves fetal oxygenation and are of utmost importance to any anesthesia during pregnancy.
Key words: Surgical procedures, Operative; Surgery; Pregnancy; Pregnancy complica-tions; Anesthesia.
INTRODUÇÃO
Anestesiologistas em cada subespecialidade encontram, com variada regulari-
dade, pacientes se apresentando para cirurgias durante o curso de uma gravidez.
Anesthesia for nonobstetric surgery during pregnancy
Walkíria Wingester Vilas Boas1, Michelle Reis de Lucena2, Renata da Cunha Ribeiro3
Anestesia para cirurgia não-obstétrica durante a gravidez
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S70-S79 71
Anestesia para cirurgia não-obstétrica durante a gravidez
provavelmente pouco influenciado pelo manejo
anestésico.1,3 Estudos prognósticos têm demons-
trado que gestantes submetidas a cirurgias não-
obstétricas terão o parto mais cedo e os bebês
serão menores.1,7,11 O Colégio Americano de
Obstetras e Ginecologistas (ACOG) recomenda,
sempre que possível, que um obstetra seja con-
sultado antes de um procedimento anestésico
cirúrgico não-obstétrico na gestante, com fins
de monitorar, conduzir e tratar a situação fetal e
um possível trabalho de parto prematuro duran-
te o perioperatório.3,8,12
MUDANÇAS FISIOLÓGICAS DA GRAVIDEZ E IMPLICAÇÕES ANESTÉSICAS
Na gestação, a fisiologia materna sofre profun-
das mudanças: aquelas que ocorrem sob a influên-
cia de hormônios gestacionais, que são essenciais
para assegurar suprimento de oxigênio e nutrien-
tes para o feto e preparar para o trabalho de parto,
e aquelas que resultam de efeitos mecânicos do
útero gravídico aumentado. As mais importantes
para a condução anestésica são as seguintes:
■ respiratórias: consumo de oxigênio aumenta-
do devido a demandas metabólicas aumenta-
das, redução da capacidade residual funcional,
suave alcalose respiratória crônica com PaCO2
entre 28 e 32 mmHg e alterações anatômicas
das vias aéreas superiores com edema e vascu-
larização aumentada. Tais alterações colocam a
paciente em risco de desenvolver hipoxemia e
rápida dessaturação quando apneicas, intuba-
ção traqueal difícil, sangramento de vias aéreas
e dificuldade para ventilação sob máscara;3,4,6
■ cardiovasculares e hematológicas: débito car-
díaco e volume sanguíneo aumentados, anemia
dilucional, compressão aortocava na posição
supina, resposta vascular reduzida – apesar
de resposta dos barorreceptores aumentada –,
leucocitose e estado hipercoagulável. Tais alte-
rações indicam deslocamento uterino quando
na posição supina a partir do segundo trimestre
e cuidados para se evitar tromboembolismo pe-
rioperatório;3,4,6
■ gastrointestinal: o tônus do esfíncter gastroe-
sofágico está reduzido a partir da 15ª semana
de gestação, aumentando o risco de aspiração
pulmonar;3,4,6
Até 2,0% de todas as gestantes são subme-
tidas à cirurgia não-obstétrica durante a gravi-
dez.1,2,3,4 Essa percentagem não inclui pacientes
que estão na fase inicial de uma gravidez ainda
não diagnosticada.1,4 Entretanto, testes labora-
toriais só seriam necessários se indicados pela
história da paciente.5,6 A incidência de condi-
ções cirúrgicas não-obstétricas encontradas em
pacientes grávidas é semelhante à da população
feminina em idade fértil: trauma, cistos ovaria-
nos, apendicite, colecistite e nódulos de mama.
Procedimentos maiores como craniotomia,
bypass cardiopulmonar e transplante hepáti-
co podem também ser necessários.3 A cirurgia
não-obstétrica pode ser indicada em qualquer
estágio da gravidez.7 O tempo de gestação pode
ter influências prognósticas.2 Em geral, o segun-
do trimestre é tido como o mais oportuno para
aqueles procedimentos que não podem esperar
até depois do parto, porque a organogênese já
está completa e o risco de parto prematuro é
mais baixo que no terceiro trimestre. Além dis-
so, o tamanho do útero interfere menos no pro-
cedimento cirúrgico.8
Embora a segurança da cirurgia e da anes-
tesia não-obstétrica durante a gravidez tenha
sido bem estabelecida para quase todos os
procedimentos cirúrgicos,2,9 a anestesia para
cirurgia não-obstétrica possui características
clínicas únicas, já que envolve dois pacientes e
a fisiologia específica da gravidez. A escolha da
anestesia é geralmente guiada por indicações
maternas, pelo local e natureza da cirurgia.2,9 O
objetivo final é promover anestesia segura para
a mãe, enquanto simultaneamente minimiza-se
o risco de trabalho de parto e parto prematuros,
comprometimento e perda fetal.4 Manutenção
da perfusão uterina e adequada oxigenação
materna preservam a oxigenação fetal e são de
importância máxima para qualquer anestesia
durante a gravidez.3,6 Efeitos teratogênicos ma-
croscópicos estruturais e funcionais dos anesté-
sicos rotineiramente usados são provavelmente
mínimos e ainda não foram conclusivamente
demonstrados em humanos.2,3,10 A prevenção e
o tratamento de parto prematuro são problemas
dos mais difíceis de se resolverem no periope-
ratorio e são a causa mais comum de perda fe-
tal3 relacionada principalmente com a doença
subjacente e o procedimento cirúrgico em si,
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Anestesia para cirurgia não-obstétrica durante a gravidez
foi muito pesquisada e debatida,15 mas as evidên-
cias parecem não comprovar essa relação16,17,18; e
em situação de estresse, uma dose única pode ter
mais benefícios que possíveis riscos.4 Outra droga
de uso controverso na gestação é o óxido nitroso,
que, por aumentar o tônus adrenérgico, pode con-
trair vasos uterinos e reduzir fluxo uterino, se não
combinado com halogenados3. E, por atravessar
a placenta, pode oxidar a vitamina B12 e inibir a
atividade da metionina sintase no feto, alterando,
entre outros, sua produção de DNA.14 Mas seu uso
é extenso, sem efeito adverso demonstrado duran-
te a gravidez humana e é liberado durante trabalho
de parto pela FDA.8
Até o momento, nenhum dos agentes anesté-
sicos rotineiramente utilizados foi definitivamen-
te identificado como um agente teratogênico.2,3,4
Os estudos de avaliação prognóstica em gestan-
tes que se submeteram à cirurgia não-obstétrica
preconizam apenas um aumento no risco de
abortos, restrição do crescimento e na frequência
de recém-nascidos pequenos para a idade gesta-
cional (PIG).1,7 Parece ser mais importante evitar
hipóxia, hipercarbia, hipocarbia, hipertonia ute-
rina e hipotensão materna durante cirurgia não-
obstétrica em grávidas do que se preocupar com
a teratatogenicidade das drogas anestésicas.6 Mas
não se pode assumir que algum potencial para te-
ratogênicidade das drogas não exista. É prudente,
portanto, atrasar procedimentos anestésicos ci-
rúrgicos maternos eletivos até depois do parto.2,9
Recentemente, trabalhos experimentais sobre blo-
queadores de receptor NMDA (ex: cetamina, oxido
nitroso) e facilitadores de receptor GABAA (ben-
zodiazepínicos, agentes de indução intravenosa,
agentes voláteis), mecanismo de ação da maioria
das drogas anestésicas, exceto opioides, demons-
traram que a exposição fetal e de recém-nascidos
animais aos agentes citados resultou em neurode-
generação apoptótica difusa e persistentes redu-
ções de memória e aprendizado.19,20 Uma vez que
os anestésicos atravessam facilmente a placenta,
o cérebro fetal em desenvolvimento seria exposto
sempre que a paciente grávida fosse submetida a
uma anestesia geral, com risco de neurotoxidade
e reduções de memória e aprendizado no futuro.
No momento ainda não existem informações sufi-
cientes para mudar essa prática clínica,3 mesmo
porque há trabalhos experimentais que não con-
firmam essas informações.21
■ sistema nervoso central e periférico: a neces-
sidade de anestésicos locais e a concentração
alveolar mínima (CAM) para agentes inalató-
rios estão ambas reduzidas em 25-40% durante
a gravidez.3,4,6
DROGAS ANESTÉSICAS E GRAVIDEZ
Teratogenicidade
Uma das maiores preocupações numa anes-
tesia durante a gravidez é qual será o efeito das
drogas anestésicas e coadjuvantes sobre o feto em
crescimento.13,14 Embora, a FDA tenha separado as
medicações em classes de risco (Tabelas 1 e 2), as
drogas são raramente testadas nas gestantes, com
os dados frequentemente baseados em estudos
animais; e sua aplicabilidade em humanos no con-
texto de doença e cirurgias é incerta.8
A teratogenicidade é definida como a observa-
ção de qualquer mudança significativa na função
ou forma de uma criança, secundária a tratamento
ou exposição pré-natal.4 Teoricamente, qualquer
agente pode ser teratogênico se ocorre exposição
suficiente em estágio sensível do desenvolvimen-
to.2,4,6 A maioria das anormalidades estruturais tem
resultado de exposição a drogas durante o perío-
do de organogênese (primeiro trimestre). Anor-
malidades funcionais são associadas à exposição
a drogas durante gravidez tardia.3,4,6 Associação
entre benzodiazepínico e defeitos crânio-faciais
Tabela 1 - Classes de risco do FDA em relação as medicações
Classe de risco Descrição
A Estudos humanos não mostram riscos
B Estudos animais mostram riscos, mas estu-dos humanos não mostram
CEstudos animais mostram risco, mas estudos humanos não foram realizados. OU nenhum estudo animal ou humano realizado
D Evidência de risco humano fetal
XEstudos têm demonstrado anormalidades animais e humanas, e os riscos suplantam qualquer possível benefício
Modifi cado de Craigo PA8.
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Anestesia para cirurgia não-obstétrica durante a gravidez
As consequências do volume de distribuição au-
mentado, da hipoalbuminemia fisiológica e do au-
mento do clearance são elevação da variabilidade
da fração livre das drogas durante os intervalos das
doses, com toxicidade no início e perda potencial
do efeito terapêutico no final.4,24 Em geral, a trans-
ferência das drogas através da placenta obedece
à lei de difusão de Fick.25 Alterações farmacociné-
ticas e farmacodinâmicas são, entretanto, individu-
ais, refletindo o resultado final da interação entre
as diferentes mudanças fisiológicas relacionadas à
gravidez e às propriedades fisicoquímicas de cada
droga. Bloqueadores neuromusculares ilustram a
complexidade dessas mudanças. Os níveis de coli-
nesterase plasmática estão reduzidos em torno de
25%, do início da gravidez ao sétimo dia de pós-
parto, mas bloqueio neuromuscular prolongado
com succinilcolina é incomum, porque o volume
de distribuição aumentado contrabalança o impac-
to da hidrólise reduzida.26 Vecurônio, nas doses de
0,2 mg/kg, mostra menos latência, mas duração
de ação mais prolongada na gravidez.27 A latência
do rocurônio, nas doses de 0,6 mg/kg, está inalte-
rada, mas também salienta mais duração de ação
quando comparada à de pacientes não-grávidas.28
A necessidade de exames de imagem durante a
gravidez é outra situação que gera dúvidas. O risco
de radiação é real, embora frequentemente superesti-
mado.8 Os riscos fetais de radiação ionizante incluem
teratogenicidade, restrição do crescimento e aborto.
Efeitos tardios podem incluir leucemia na infância.8
Embora o ACOG informe que o risco comece com uma
exposição de 1-2 rads (10-20 mGy),22 tanto ele quanto
o Colégio Americano de Radiologia consideram ser
seguro, para evitarem-se anomalias e perda fetal, uma
exposição de até 5 rads (50 mGy).23 A quantidade de
radiação liberada para o feto varia significativamente,
dependendo do número de filmes e técnicas especí-
ficas (Tabela 3). Ultrassom e ressonância magnética
não usam radiação ionizante e não são contraindica-
dos. O ACOG sugere que um exame de imagem bem
indicado (mesmo usando radiação ionizante) não
deve ser negado a uma mãe, se contribuirá para o seu
tratamento ou solução de um problema primário.22
Farmacologia na gravidez
A farmacocinética e farmacodinâmica das dro-
gas durante a gestação estão alteradas (Tabela 4).
Tabela 2 - Classifi cação de risco das drogas frequentemente usadas em anestesia (FDA)
Classe Droga Droga/Classificação FDA
Agente Inalatório Enflurano/B; Desflurano/B; Sevoflurano/B; Halotano/C; Isoflurano/C
Analgésicos Oxido Nitroso/*; Cetorolaco/C; Ibuprofen/D
Anestésicos Locais Lidocaína/B; Ropivacaína/B; Bupivacaína/C;
Antiarrítmicos Amiodarona/D
Antibióticos Ampicilina/B; Cefalotina/B
Anticoagulantes Enoxaparina/B; Heparina/C; Varfarina/X
Anticonvulsivante Magnésio/A
Antiemético Ondansetron/B; Prometazina/C; Droperidol/C; Escopolamina/C
AntihipertensivoNifedipina/C; Labetalol/C; Esmolol/C; Hidralazina/C; Nitroprussiato/C;
Captopril/C - 1º. Semestre e D 2º. Semestre
Estimulante Cafeína C
Hipnóticos Cetamina/?; Propofol/B; Tiopental/C; Etomidato/C; Midazolam/D; Lorazepam/D
OpióidesFentanil/C; Sufentanil/C; Alfentanil/C; Remifentanil/C; Morfina/C; Meperidina/C;
Codeína/C
Relaxantes MuscularesCisatracúrio/B; Atracúrio/C; Succinilcolina/C; Mivacúrio/C; Pancurônio/C;
Rocurônio/C; Vecurônio/C
Vasopressores Vasopressina/C; Epinefrina/C; Efedrina/C; Fenilefrina/C*Aprovado para trabalho de parto e parto. Modifi cado de Craigo PA8.
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Anestesia para cirurgia não-obstétrica durante a gravidez
(2,0 CAM) por tempo prolongado causa hipotensão
materna, redução do fluxo sanguíneo placentário e
efeitos deletérios sobre o feto.9
MANEJO ANESTÉSICO DA PACIENTE GRÁVIDA PARA CIRURGIA NÃO OBSTÉTRICA
Avaliação pré-anestésica
A avaliação pré-anestésica da gestante para
cirurgia não-obstétrica deverá incluir avaliação
Bloqueadores neuromusculares cuja eliminação é
órgão independente também têm farmacocinética al-
terada na gravidez, como o Cisatracúrio, que tem me-
nos latência e menos duração de ação.29 Em relação
aos agentes de indução anestésica, os mais usados
são proprofol, tiopental, cetamina e etomidato. Pro-
profol é bastante popular para anestesia geral obsté-
trica, é lipofílico, tem baixo peso molecular, atraves-
sa rapidamente a placenta, é rapidamente eliminado
da circulação neonatal e baixas concentrações são
detectadas no leite materno.30 O tiopental atravessa
rapidamente a placenta, porém, com doses inferio-
res a 4 mg/kg, o pico das concentrações no cérebro
fetal raramente excede o limiar para depressão.31 A
Cetamina também é um agente de indução muito
útil em pacientes obstétricas,31 tem rápido início de
ação e promove analgesia, hipnose e amnésia. Suas
propriedades simpaticomiméticas são vantajosas
em pacientes com asma ou hipovolemia leve. Altas
doses aumentam o tônus uterino, mas não dose de 1
mg/kg. O Etomidato é um agente de indução venosa
também usado com frequência na prática da anes-
tesia obstétrica. Ele pode causar supressão das con-
centrações séricas de cortisol fetal, embora ainda
não seja claro se o nível de supressão é clinicamente
significativo. Por causar mínimas alterações cardio-
vasculares, ele é uma boa indicação em pacientes
hemodinamicamente instáveis.13 Opioides e agentes
de indução reduzem a variabilidade da frequência
cardíaca fetal e produzem depressão fetal.13 Haloge-
nados em concentrações moderadas (0,75-1,0CAM)
têm mínimos efeitos colaterais maternos e fetais em
estudos animais. Já o uso de concentrações maiores
Tabela 3 - Exemplos de exames radiológicos comuns e a Exposição Fetal associada com cada um deles
Exame Dose em mGy Número de exames maternos que poderiam hipoteticamente ser realizados e ainda somar exposição <50mGy
Rx coluna cervical <0.001 50.000
Rx de tórax <0.001 50.000
Rx de abdome 1-3 16-50
Pielografia 6 8
CT de crânio 0 Muito grande
CT de tórax 0.2 250
CT coronárias 0.1 500
CT de abdome 4 12
CT de abdome e pelve 25 2
CT de aorta 34 1Modifi cado de Craigo PA8.
Tabela 4 - Impacto da gravidez na farmacocinética e farmacodinâmicas das drogas
Mudanças Fisiológicas da gravidez
Efeito na farmacocinética e farmacodinâmica
↑ Débito Cardíaco ↑ Volume de Distribuição
↑ Volume Sanguíneo
↑ Volume plasmático
↓ Albumina Altera taxa de droga ligada a proteína
↑ α1-glicoproteina ácida
↓ motilidade grastroin-testinal
Prolonga tempo de trânsi-to gastrointestinal
↑ Débito cardíaco ↑ Clearance
↑ Taxa de filtração glo-merular
↑ Fluxo sanguíneo renal e hepático
↑ Atividade enzimática hepáticaModifi cado de Craigo PA8.
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Anestesia para cirurgia não-obstétrica durante a gravidez
dos limites normalmente vistos durante a gravidez
(PaCO2=28-32mmHg).3,4 Hipercarbia materna li-
mita o gradiente de difusão de CO2 do feto para a
mãe, levando à acidose fetal e seus riscos. Durante
procedimentos prolongados, a glicemia materna
deve ser monitorada para evitar-se hipoglicemia.3
A partir da16-18ª semanas de gestação, a moni-
torização da frequência cardíaca fetal (FCF) torna-
se possível.4,6,8 Já a partir da 25-26ª semanas de ges-
tação, a variabilidade da FCF também passa a ser
disponível.4,6,8 Entretanto, o uso da monitorização
fetal durante a cirurgia é controverso, a literatura
ainda é incipiente para permitir recomendações
baseadas em evidências sobre o assunto e não há
confirmação mostrando que a monitorização in-
traoperatória da FCF melhora o prognóstico fetal.6
As últimas recomendações do CAOG para cirurgia
não-obstétrica em grávidas indicam uma consulta
obstétrica antes da cirurgia não-obstétrica, uma
abordagem multidisciplinar da grávida e uma de-
cisão caso a caso em relação à necessidade de
monitorização contínua fetal.3,8,12 Já a Sociedade
Americana de Anestesiologistas (ASA) não tem fei-
to recomendações oficiais sobre o cuidado de ges-
tantes durante cirurgias não-obstétricas, enquanto
os livros-textos de anestesiologia estimulam o uso
precoce (a partir da 16ª semana de gestação) da
monitorização da FCF intraoperatória.33,34 A técni-
ca pode ser limitada por interferência com o cam-
po cirúrgico (cirurgias abdominais), cirurgias de
urgência, obesidade materna, falta de experiência
com o método, alta frequência de padrões falso-
positivos, falta de estudos sobre a FCF durante ci-
rurgia e anestesia e possibilidade de distração do
foco principal.8 No entanto, a FCF é considerada
um monitor de perfusão útero-placentária, que
pode fornecer dados não oferecidos pelos moni-
tores maternos de rotina.35 Bradicardia e desace-
leração da FCF persistentes geralmente indicam
sofrimento fetal verdadeiro, devendo ser iniciadas
medidas de aumento da perfusão útero-placentá-
ria. Tais medidas incluem otimizar oxigenação e
débito cardíaco maternos e sua transmissão para
o leito placentário, aumentar o desvio do útero,
proceder à reanimação materna com líquidos e
sangue, assegurar equilíbrio ácido-básico respira-
tório, reposicionar instrumentos cirúrgicos, iniciar
relaxamento do útero (tocolíticos) e ajustar mano-
bras cirúrgicas que afetem a perfusão uterina (in-
suflação peritoneal, compressão de grandes vasos,
clínica, esclarecimento do risco anestésico (ou
falta dele) para o feto e para a mãe e informa-
ção sobre sinais e sintomas de trabalho de par-
to prematuro à paciente.
A administração de drogas pré-operatórias
para alívio de dor e ansiedade é apropriada, pois
nível de catecolamina materna elevado pode re-
duzir o fluxo sanguíneo uterino.2,3,4 Baixas doses
de midazolam (0,5-2,0 mg)3 e opioides (25-50 μg
de fentanil) também podem ser usadas.2 A partir
da 16ª semana de gestação,4 profilaxia para aspira-
ção pulmonar e pneumonia deve ser realizada.2,3,4
Geralmente é utilizada a combinação de antiácido
não particulado via oral, metoclopramida (10 mg)
e antagonista de receptor H2.
Durante a avaliação pré-anestésica, deve-se dis-
cutir terapêutica tocolítica com o obstetra da pa-
ciente. Indometacina (oral ou supositório) e sulfato
de magnésio são os tocolíticos mais comumente
utilizados no perioperatório.3 A Indometacina tem
poucas implicações anestésicas, mas o magnésio
potencializa bloqueadores neuromusculares e re-
duz a resposta vascular a vasopressores. Gestantes
são propensas a eventos tromboembólicos. Medi-
das profiláticas adequadas deveriam ser adotadas,
incluindo administração profilática de heparina de
baixo peso molecular.6
Posicionamento e monitorização materna
e fetal
A partir da 16ª semana de gestação4 existe
compressão aortocava na posição supina e desvio
lateral esquerdo de no mínimo 15-20°. Para facilitar
o deslocamento uterino, é necessário para evitar
hipotensão arterial. Mudanças bruscas na posição
materna podem ter efeitos hemodinâmicos profun-
dos e a posição de trendelemburg ou proclive deve
ser estabelecida de forma lenta. Circulação útero-
placentária não possui autorregulação de seu flu-
xo sanguíneo, sendo inteiramente dependente da
manutenção de uma pressão sanguínea sistêmica
materna adequada.4
Durante cirurgia não-obstétrica na gestante, a
monitorização regular materna padrão deverá in-
cluir ECG, pressão sanguínea, oxímetro de pulso,
capnografia e temperatura.3,4 Existe correlação li-
near entre a PaCO2 materna arterial e o ET-CO
2.32
Os níveis de ET-CO2 devem ser mantidos dentro
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S70-S7976
Anestesia para cirurgia não-obstétrica durante a gravidez
riabilidade da FCF é mantida. Hipotensão causa-
da por hipovolemia, drogas anestésicas, bloqueio
do neuroeixo ou compressão aortocava coloca
em risco o feto e deve ser tratada agressivamente.
Apesar da efedrina ter sido muito usada ao longo
dos anos, dados recentes sugerem que a fenilefrina
é igualmente eficaz para manter a pressão sanguí-
nea materna normal e produzir melhor equilíbrio
ácido-básico fetal.38
Pós-operatório
Monitorização pós-operatória da FCF e ativida-
de uterina devem continuar. Trabalho de parto pre-
maturo deve ser tratado precoce e agressivamente.
Promover analgesia adequada também é impor-
tante no pós-operatório, já que a dor aumenta o
risco de parto prematuro.4 Entretanto, analgesia
pós-operatória pode mascarar trabalho de parto
prematuro e atrasar a tocólise. Administração pro-
filática de tocolíticos é controversa e geralmente
limitada àquelas pacientes em que houve manipu-
lação do útero no intraoperatório.
SITUAÇÕES ESPECIAIS
Cirurgias laparoscópicas
Indicações mais comuns: apendicite aguda,
colelitíase, cisto ovariano persistente e torção ane-
xial.4,39 No passado, a gravidez foi considerada uma
contraindicação absoluta para a laparoscopia.4
Contudo, os últimos anos mostram extensa e boa
experiência com essa técnica durante toda a ges-
tação,40 apesar de alguns autores indicarem sua
realização, se possível, apenas no segundo trimes-
tre.39 Os benefícios da cirurgia laparoscópica sobre
a cirurgia convencional na gestante são semelhan-
tes àqueles da não-gestante e o prognóstico fetal é
semelhante entre laparotomia e laparoscopia.3 En-
tretanto, muitas questões maternas e fetais específi-
cas da laparoscopia ainda existem: risco de trauma
uterino e fetal, risco de acidose fetal por absorção
do CO2, redução do débito cardíaco e redução do
fluxo sanguíneo placentário secundário à pressão
intraperitoneal aumentada. Estudos animais mos-
tram que o pneumoperitônio com CO2 resulta em
grande gradiente entre PaCO2 e ETCO
2 e acidose
etc.).3,8 Já a variabilidade da FCF e acelerações são
sinais tranquilizadores do bem-estar fetal, mas po-
dem desaparecer, sem significar sofrimento fetal,
durante o sono fetal, sedação materna, anestesia
geral ou hipotermia.5,8
Anestesia geral e regional
Anestesia geral ou regional tem sido usada
com sucesso em gestantes.5 A anestesia regional
evita o risco potencial de falha de intubação e
aspiração pulmonar e reduz a exposição do feto
a teratógenos potenciais. Nenhuma pesquisa até
o momento mostrou superioridade de uma técni-
ca sobre a outra em relação ao prognóstico fetal.
Estudo recente sobre a mortalidade materna re-
lacionada com anestesia36,37 ameaça um dogma
da anestesia obstétrica: nenhuma morte materna
relacionada à anestesia durante o parto estava
associada à aspiração pulmonar ou falha de intu-
bação na indução anestésica. Essas mortes mater-
nas ocorreram no despertar e sala de recuperação
e se relacionaram à obstrução de vias aéreas ou
hipoventilação.36 A padronização e divulgação do
manejo de uma via aérea difícil também pode ter
contribuído para esses resultados.37
A anestesia geral deve incluir pré-oxigenação,
denitrogenação completa e indução em sequên-
cia rápida com pressão cricoide, evitando-se a
hipóxia. Embora intubação traqueal seja manda-
tória, em casos de falha a máscara laríngea tem
sido usada para ventilação em paciente na posi-
ção de proclive, por breves períodos, com suces-
so e segurança.4 A manutenção é geralmente feita
com anestésicos inalatórios.3,4 A administração de
agentes para reversão de bloqueadores neuromus-
culares deve ser lenta, para impedir aumentos agu-
dos de acetilcolina circulante, que poderia induzir
contrações uterinas.3 A ventilação com pressão
positiva deve ser usada com cuidado e ETCO2 deve
ser mantido dentro dos limites normalmente vistos
na gravidez.3,4,6 A aplicação de PEEP deve levar em
consideração as mudanças hemodinâmicas que
poderiam comprometer a perfusão placentária.4
As pacientes devem ser extubadas acordadas.4
Na anestesia regional, quantidade menor de
anestésicos locais é necessária para produção de
mesmo nível de anestesia em pacientes grávidas
que em não-grávidas.3,4,6 Se não há sedação, a va-
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S70-S79 77
Anestesia para cirurgia não-obstétrica durante a gravidez
■ manutenção da taxa de fluxo da bomba > 2,5
L.mim-1.m-2 e pressão de perfusão >70 mmHg;
■ manutenção de hematócrito > 28%;
■ usar perfusão normotêrmica, quando possível;
■ usar fluxo pulsátil;
■ usar manejo α-stat de pH.
A heparina pode ser usada com segurança nas
doses de anticoagulação sem risco para o feto.24 A
monitorização da FCF durante e após a cirurgia car-
díaca é uma decisão individualizada, mas, de manei-
ra geral, após 22 semanas é indicada se disponível.
A monitorização das contrações uterinas pode tam-
bém ser realizada. E tratamento tocolítico, se neces-
sário, deve contar com a orientação do obstetra.3,4,5,24
Neurocirurgia
Procedimentos neurocirúrgicos tais como cli-
pagem de aneurisma, reparo de malformações ar-
teriovenosas3 ou tumores cerebrais sintomáticos4
podem ser necessários durante a gravidez. Em ge-
ral, pressão sanguínea materna deve ser mantida
dentro de limites estreitos, próximos dos valores
de base. Se a pressão arterial materna se encon-
tra um pouco mais alta (pré-eclâmpsia), ela deve
ser controlada objetivando um nível próximo de
140/90 mmHg.47 Em procedimentos neurocirúrgi-
cos de urgência, no qual a pressão intracraniana
está elevada, reduzir a pressão arterial materna é
menos aconselhável.47 Embora a hiperventilação
controlada para reduzir aumentos agudos de pres-
são intracraniana permaneça como uma opção,
sugere-se que a PaCO2 seja mantida em torno de
30 mmHg.47 Normotermia é desejável. Monitoriza-
ção fetal pode ser de ajuda no caso de hipotensão,
grandes desvios de líquidos ou perda sanguínea.3
Diurese agressiva pode reduzir a perfusão uterina.
Em estudos animais, altas doses de manitol cau-
sam desidratação fetal, mas isto provavelmene não
é clinicamente relevante, já que há relatos de casos
individuais do uso do manitol, em doses de 0,5-
0,25mg/Kg, com segurança.48 O uso de corticoide
não é teratogênico, parece seguro e age para ace-
lerar a maturidade pulmonar.47 Tratamento endo-
vascular de aneurisma cerebral roto tem sido reali-
zado com sucesso durante a gravidez.3 Blindagem
fetal deveria ser usada durante procedimentos ra-
diológicos intervencionistas.3
fetal.41,42 Mas esses achados não foram confirmados
em estudos humanos.43,44 Baseado nessas observa-
ções, monitorização de gases sanguíneos arteriais
(gasometrias arteriais seriadas), como sugerido
inicialmente pela Sociedade de Cirurgiões Endos-
copistas Americanos, pode não ser necessária du-
rante cirurgias laparoscópicas em grávidas.40
O manejo anestésico geral para pacientes grávi-
das submetidas à laparoscopia não difere da anes-
tesia geral durante a gravidez para outros procedi-
mentos. Mas algumas precauções relacionadas ao
procedimento em si se aplicam:
■ ETCO2 deve ser mantido entre 32-34 mmHg;
■ pressão sanguínea materna deve ser mantida
dentro de ± 20% dos valores de base com va-
sopressores;
■ as mudanças de posição da mesa cirúrgica
devem ser graduais assim como a insuflação e
desinsuflação do pneumoperitônio;
■ não há necessidade de monitorização invasiva
ou monitorização fetal e uterina contínuas no
intraoperatório para casos de rotina;39,40
■ FCF deve ser avaliada no pré e pós-operatório;
■ a técnica de introdução do trocater deve ser
aberta;
■ a pressão de insuflação deve ficar entre 12-
15mmHg;
■ atividade uterina deve ser avaliada no pré e
pós-operatório;
■ tocólise iniciada se atividade uterina detectada;
■ se necessário colangiograma intraoperatório,
blindagem fetal deve ser realizada;
■ compressão pneumática intermitente dos mem-
bros inferiores deve ser realizada;
■ rotação lateral esquerda da mesa é benéfico.2,3,39,40
Cirurgia cardíaca
Cirurgia cardíaca com bypass cardiopulmonar
durante a gravidez tem se tornado um procedimen-
to relativamente seguro para a mãe, mas não para
o feto.3,45,46 A taxa de mortalidade fetal em cirurgias
cardíacas materna com circulação extracorpórea
permanece alta, chegando a 33%.3,24,45,46 Fatores
contribuindo para essas altas taxas de mortalida-
de fetal incluem a urgência e duração da cirurgia e
a resposta fetal e placentária ao bypass cardiopul-
monar.45 As estratégias atuais de proteção ao feto
durante o bypass materno incluem:
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S70-S7978
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21. Li Y, Liang G, Wang S, Meng Q, Wang Q, Wei H. Effects
of fetal exposure to isofl urane on postnatal memory
CONCLUSÕES
O objetivo final do cuidado anestésico a
pacientes grávidas durante cirurgias não-obs-
tétricas é promover anestesia segura para mãe
enquanto simultaneamente minimiza os riscos
potenciais para o feto, o que muitas vezes re-
quer modificações das abordagens cirúrgica e
anestésica nas várias especialidades. O objetivo
central, para o feto, durante o manejo anestésico
é a manutenção da perfusão útero-placentária,
seguida pela prevenção e tratamento do parto
prematuro. Para um bom prognóstico materno e
fetal, as considerações anestésicas para cirurgias
não-obstétricas durante a gravidez deveriam su-
mariamente incluir:
■ conhecimento das alterações anatômicas e fi-
siológicas da gravidez;
■ manutenção de fluxo sanguíneo útero-placen-
tário adequado;
■ evitar e tratar hipotensão materna;
■ evitar compressão aortocava;
■ selecionar drogas e técnicas anestésicas com
bom relato de segurança;
■ usar anestesia regional, se possível;
■ lembrar que nenhum agente anestésico foi pro-
vado ser teratogênico em humanos;
■ promover vigilância fetal a partir de monitoriza-
ção da FCF e tônus uterino, quando disponível
e possível;
■ fazer ajustes de condutas guiados pelos resul-
tados.
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1. Revista Médica de Minas Gerais (RMMG) destina se à publica-
ção de artigos originais, revisões, atualizações, resumo de teses,
relatos de casos ou notas técnicas inéditas de qualquer especia-
lidade médica.
2. A revista tem periodicidade trimestral (março, junho, setembro
e dezembro) com a seguinte estrutura: Editorial, Artigos Originais,
Educação Continuada (atualização/revisão), Atualização Terapêutica,
Relato de Caso, Educação Médica, História da Medicina, Cartas aos
Editores, Comunicados das Instituições Mantenedoras, Normas de
Publicação.
2.1. Para efei to de cate go ri za ção dos arti gos, con si de ra-se:
a) Artigo Original: trabalhos que desenvolvam crítica e criação sobre
a ciência, tecnologia e arte da medicina, biologia e matérias afins
que contribuam para a evolução do conhecimento humano sobre o
homem e a natureza.
b) Educação Continuada: trabalhos que apresentam síntese atuali-
zada do conhecimento disponível sobre medicina, biologia e matérias
afins, buscando esclarecer, organizar, normatizar, simplificar aborda-
gem dos vários problemas que afetam o conhecimento humano sobre
o homem e a natureza.
c) Atualização Terapêutica: trabalhos que apresentam síntese atu-
alizada do conhecimento disponível sobre a terapêutica em medicina,
biologia e matérias afins, buscando esclarecer, organizar, normatizar,
simplificar a abordagem sobre os vários processos utilizados na
recuperação do ser humano de situações que alteram suas relações
saúde doença.
d) Relato de Caso: trabalhos que apresentam a experiência médica,
biológica ou de matérias afins em função da discussão do raciocínio,
lógica, ética, abordagem, tática, estratégia, modo, alerta de proble-
mas usuais ou não, que ressaltam sua importância na atuação prática
e mostrem caminhos, conduta e comportamento para sua solução.
e) Educação Médica: trabalhos que apresentam avaliação, análise,
estudo, relato, inferência sobre a experiência didático-pedagógica e
filosófica, sobre os processos de educação em medicina, biologia e
matérias afins.
f) História da Medicina: trabalhos que revelam o estudo crítico,
filosófico, jornalístico, descritivo, comparativo ou não sobre o desen-
volvimento, ao longo do tempo, dos fatos que contribuíram para a
história humana relacionada à medicina, biologia e matérias afins.
g) Cartas aos Editores: correspondências de leitores comentando,
discutindo ou criticando artigos publicados na revista. Recomenda-se
o tamanho máximo de 1000 palavras, incluindo referências bibliográ-
ficas. Sempre que possível, uma resposta dos autores ou editores
será publicada junto com a carta.
3. Os trabalhos para publicação devem ter até 16 páginas de texto,
incluindo ilustrações e referências, exceto os artigos da seção
“Relato de Caso” que devem ter até 8 páginas. A RMMG reserva-se o
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4. Os trabalhos recebidos serão analisados pelo Corpo Científico
da RMMG ( Editor Geral, Editores Associados, Conselho Editorial e
Consultores Ad Hoc). Um trabalho submetido é primeiramente protoco-
lado e analisado quanto a sua apresentação e normas, estando estas
em conformidade, o trabalho é repassado aos Editores Associados que
indicarão dois revisores da especialidade correspondente. Os reviso-
res são sempre de instituições diferentes da instituição de origem do
artigo e são cegos quanto à identidade dos autores e local de origem
do trabalho. Após receber ambos os pareceres, os Editores Associados
os avalia e decide pela aceitação do artigo, pela recusa ou pela devo-
lução aos autores com as sugestões de modificações. Um manuscrito
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versão é sempre analisada pelo Editores Associados e/ou Editor Geral,
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sua aceitação ou recusa determinada.
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ra página deve conter: título do trabalho, título em inglês, nome(s)
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e a indicação da categoria do artigo, conforme item 2.1. A segunda
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de Ética em Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do
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te no texto e declarados na carta de submissão a ausência de qual-
quer interesse pessoal, comercial, acadêmico, político ou financeiro
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lidade, a não submissão a outras revistas, as responsabilidades
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do com o DECS Descritores em Ciências da Saúde da BIREME (http://
decs.bvs.br/); Summary (resumo em língua inglesa), consistindo na
correta versão do resumo para aquela língua; Key words (palavras-
chave em língua inglesa) de acordo com a lista Medical Subject
Headings (MeSH) do PUBMED) da National Library of Medicine
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=mesh);
c) Terceira página: TEXTO: Introdução, Material ou Casuística
e Método ou Descrição do Caso, Resultados, Discussão e/ou
Comentários (quando couber) e Conclusões;
d) Agradecimentos (opcional);
e) Referências como especificado no item 11 dessas normas;
*Nota: O resumo no formato semi-estruturado deverá ser adotado
para os artigos da categoria “artigos originais”, compreendendo,
obrigatoriamente, as seguintes partes, cada uma das quais devi-
damente indicada pelo subtítulo respectivo: Objetivos; Métodos;
Resultados; Conclusões.
10. As ilustrações devem ser colocadas imediatamente após a
referência a elas. Dentro de cada categoria deverão ser numeradas
seqüencialmente durante o texto. Exemplo: (Tabela 1, Figura 1).
Cada ilustração deve ter um título e a fonte de onde foi extraída.
Cabeçalhos e legendas devem ser suficientemente claros e com-
preensíveis sem necessidade de consulta ao texto. As referências
às ilustrações no texto deverão ser mencionadas entre parênteses,
indicando a categoria e o número da tabela ou figura. Ex: (Tab. 1,
Fig.1). As fotografias deverão ser enviadas em aquivos anexos, e não
devem ser incorporadas no editor de texto; podem ser em cores e
deverão estar no formato JPG, em alta resolução (300 dpi) e medir, no
mínimo, 10cm de largura (para uma coluna) e 20cm de largura (para
duas colunas). Devem ser nomeadas, possuir legendas e indicação de
sua localização no texto.
11. As referências são numeradas consecutivamente, na ordem em
que são mencionadas pela primeira vez no texto. Devem ser apresen-
tadas de acordo com as normas do Comitê Internacional de Editores
De Revistas Médicas, disponível em:< http://www.nlm.nih.gov/bsd/
uniform_requirements.html> Os títulos das revistas são abrevia-
dos de acordo com o “Journals Database” do PUBMED, disponível
em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=journals>. As
referências no texto devem ser citadas mediante número arábico
sobrescrito, após a pontuação, quando for o caso, correspondendo
às referências no final do artigo. Nas referências, citar como abaixo:
11.1.ARTIGOS DE PERIÓDICOS
a) Artigo padrão de revista científica
Incluir o nome de todos os autores (último sobrenome, em caixa
baixa, seguido da primeira letra dos demais nomes e sobrenomes,
quando são até seis. Mais de seis autores indicar os seis primeiros
seguidos de et al.
You CH, Lee HY, Chey RY, Menguy R. Electrogastrografic
study of patients with unexplained nausea, bloating and vomiting.
Gastroenterology. 1980; 79:3114.
Viana MB, Giugliani R, Leite VH, Barth ML, Lekhwani C, Slade
CM, et al. Very low levels of high density lipoprotein cholesterol in
four sibs of a family with non-neuropathic Niemann-Pick disease and
sea-blue histiocytosis. J Med Genet. 1990 Aug; 27(8):499-504.
b) Autor corporativo:
The Royal Marsden Hospital BoneMarrow Transplantation Team.
Failure os syngeneic bonemarrow graft in post hepatitis marrow apla-
sia. Lancet. 1977; 2:2424.
c) Sem autoria (entrar pelo título):
Coffee drinking and cancer of the pancreas (Editorial). BMJ.
1981; 283:6289.
d) Suplemento de revista:
Mastri AR. Neuropathy of diabetic neurogenic bladder. Ann
Intern Méd. 1980; 92 (2 pt 2): 3168.
Frumin AM, Nussabaum J, Esposito M. Functional asplenia:
demonstration of esplenic activity by bone marrow sean (resumem).
Blood. 1979; 54 (supl 1): 26.
11.2. LIVROS E OUTRAS MONOGRAFIAS
a) Autor(es) pessoa física:
Eisen HN. Immunology: an introduction to molecular and cellular
principles of the immune response. 5th ed. New York: Harper and
How; 1974.
b) Editor, compilador, coordenador como autor:
Dausset J, Colombanij D, editors. Histocompatibility testing
1972. Copenhague: Munksgaard; 1973.128p.
c) Autor(es) institucional:
Royal Adelaide Hospital; University of Adelaide, Department of
Clinical Nursing. Compendium of nursing research and practice deve-
lopment, 1999-2000. Adelaide (Australia): Adelaide University; 2001.
11.2.1. Capítulo de livro:
Weinstein L, Swartz MN. Pathogenic properties of inva-
ding microorganisms. In: Sodeman WA Jr, Sodeman WA, editors.
Pathologic physiology: mechanisms of diseases. Philadelphia: WB
Saunders; 1974. p.457-72.
11.2.2. Trabalhos apresentados em congressos, seminários, reuniões etc.:
Blank D, Grassi PR, Schlindwein RS, Mello JL, Eckert GE. The
growing threat of injury and violence against youths in southern
Brazil. Abstracts of the Second World Conference on Injury Control;
1993 May 2023; Atlanda, USA. Atlanda: CDC; 1993. p.1378.
11.3 DISSERTAÇÕES E TESES
Caims RB. Infrared spectroscopic studies of solid oxigens [Tesis].
Berkeley (Ca): University of California; 1965.
Borkowski MM. Infant sleep and feeding: a telephone survey
of Hispanic Americans [dissertation]. Mount Pleasant (MI): Central
Michigan University; 2002.
11.4. ARTIGO DE JORNAL (não científico)
Shaffer RA. Advances in chemistry are starting to unlock mustei-
ries of the brain: discoveries could help cure alcoholism and insom-
nia, explain mental illnes. How the messengers work. Wall Street
Journal, 1977; ago. 12:1 (col. 1). 10 (cl. 1).
11.5. ARTIGO DE REVISTA (não científica)
Roueche B. Annals of Medicine: the Santa Claus culture. The
New Yorker, 1971; sep. 4: 6681.
12. Agradecimentos devem constar de parágrafo à parte, colocado
antes das referências bibliográficas, após as key words.
13. As medidas de comprimento, altura, peso e volume devem ser
expressas em unidades do sistema métrico decimal (metro, quilo,
litro) ou seus múltiplos e submúltiplos. As temperaturas em graus
Celsius. Os valores de pressão arterial em milímetros de mercúrio.
Abreviaturas e símbolos devem obedecer padrões internacionais. Ao
empregar pela primeira vez uma abreviatura, esta deve ser precedida
do termo ou expressão completos, salvo se se tratar de uma unidade
de medida comum.
14. Lista de checagem: recomenda-se que os autores utilizem a lista
de checagem abaixo para certificarem-se de que toda a documenta-
ção está sendo enviada. Não é necessário enviar a lista.
• Carta de submissão assinada (assinatura digital) por todos os autores
• O manuscrito em arquivo .doc, contendo:
• Página de rosto com todas as informações solicitadas
• Resumo em português, com palavras chaves
• Texto contendo: introdução, métodos, resultados e discussão
• Resumo em inglês e palavras chave Summary/Keywords
• Referências no estilo Vancover numeradas por ordem de apareci-
mento das citações no texto
• Citações numeradas por ordem de aparecimento no texto com
algarismos arábicos
• Tabelas numeradas por ordem de aparecimento
• Gráficos numerados por ordem de aparecimento
• Legenda das figuras
15. Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Editorial.
16. O Conselho Editorial e RMMG não se responsabilizam pelas opi-
niões emitidas nos artigos.
17. Em casos de não aprovação de artigos, os autores serão comuni-
cados por escrito. Os artigos reprovados não serão devolvidos.
18. Os artigos devem ser enviados para:
Revista Médica de Minas Gerais
Av. Alfredo Balena, 190
Prédio da Faculdade de Medicina, sala 12
30130-100 • Belo Horizonte • MG
Fone/Fax: (31) 3409-9796
E-mail: [email protected]
Normas de Publicação
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(3 Supl 1): S80