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  • 8/2/2019 Rimbaud e Burroughs

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    RIMBAUD CUT-UP BURROUGHSMauricio S. Vasconcelos

    UFMG

    RESUMO: o objetivo deste ensaio o de explorar a relao entrea poesia de Rimbaude as experincias de William Burroughscom os cut-ups. A influncia de Rimbaud sobre o trabalhode Burroughs se estende, contudo, para alm dos cut-ups,envolvendo sua escrita ficcional.

    PAlAVRA5{HAVE'Poesia Moderna, Fico Contempornea, Influncia,Experimentao,t

    Ao estabelecerem seu importante estudo, The poeticsofindeterminacy:Rimbaud to Cage, uma possvel rede de influncia da poesia de Rimbaud sobrea literatura americana, Marjorie Perloff faz meno aos escritos de Burroughs eGregory Corso intitulados "Two cut-ups", publicados em 1961 na revista Locussolus, criados com os versos/frases de " une raison", O contato de Burroughscom o poeta no terminar por a. Embora, como se ver, a aproximao douniverso de Rimbaud com o do autor de Naked lunch possa ser observada jneste segundo romance do escritor, publicado em Paris no ano de 1959, apenasa partir da realizao dos cut-ups, datada deste mesmo ano, como se l em suabiografia- El hombre invisible (A portrait), de Barry Miles - , que Burroughstornar explcito seu interesse pela obra do poeta francs.

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    " Quando expe o mtodo criativo oferecido pelos cut-ups, que tmorigem nas pesquisas plsticas do artista Brion Gyson, o escritor utiliza-se dostextos de Rimbaud, ao lado dos de Shakespeare, como exemplos bsicos de suademonstrao:

    o mtodo simples. Eis um caminho para pratic-lo. Pegue umafolha de papel. Como esta pgina. Agora corte-a ao meio. Corte nomeio das duas partes. Voc tem quatro pedaos: 1 2 3 4... um dois trsqutro. Agora rearranje as partes colocando a parte quatro com a parteum e a parte dois com a trs. E voc tem uma nova pgina. Algumasvezes isso acaba dizendo a mesma coisa. Outras vezes, algo muitodiferente - o recorte de falas polticas um exerccio interessante - emqualquer caso voc acabar por considerar que isso diz alguma coisa ealguma coisa bem definida. Pegue algum poeta ou escritor de suaadmirao. Poemas que voc tenha lido muitas vezes. As palavrasacabaram perdendo significao e vida atravs de anos de repetio.Agora pegue o poema e digite alguns trechos selecionados. Encha umpapel com esses excertos. Agora corte a pgina. Voc tem um novopoema. Como acontece com muitos poemas de Shakespeare Rimbaud,se voc os aprecia. Tristan Tzara disse: "A poesia para todos". EAndr Brton chamou-o de policial, expulsando-o do movimento. Digade novo: "A poesia para todos". A poesia um lugar, e livre paratodos os cut-ups Rimbaud e voc est no lugar de Rimbaud. Aqui estum Rimbaud poema cut-up.

    Visita de memrias. Somente sua dana e sua casa de voz. Naatmosfera suburbana improvveis deseres...todo harmnico pinheiroa guerrear.

    Os grandes cus esto abertos. Candura de vapor e tenda praguejand osangue riso e penitncia bbada.

    Caminhada de perfume de vinho abre a lenta garrafa.Os grandes cus esto abertos. Clarim supremo incendiando carne

    de crianas na neblina. lMais do que um exerCcio, um jogo com o aleatrio, o mtodo dos

    cut-ups representa um avano nos planos da leitura e da escrlt, pois seu objetivo, , .' .

    1. BURROUGHS, 1978. p. 29-31 .

    produzir um pensamento efetivado por imagens, por processos analgicos, eno mais pe lo circuito lgico-sinttico imposto como primeira instncia reflexivapela linguagem. Embora se origine das colagens de Tristan Tzara, o cut-up deBrion Gyson e W. Burroughs expande e sistematiza o gesto iconoclasta eprovisrio do desconstrutor/destruidor cultural do incio do sculo.

    Os cut-ups estabelecem novas relaes entre imagens, e o nossocampo de viso conseqentemente se expande (...) os cut-ups tomamexplcito um processo psico-sensorial que est acontecendo o tempotodo de qualquer jeito. (...) Eu estava sentado numa lanchonete em NovaYork tomando meu caf com roscas. Estava pensando que a genterealmente se sente um pouco encaixotado em Nova York, como quevivendo numa srie de caixas. Olhei pela janela e l estava um grandecaminho de mudanas. Isso um cut-up - uma justaposio do queest acontecendo fora com o que voc est pensando. Fao disso umaprtica quando ando pela rua. Digo: Quando cheguei aqui vi aquelaplaca, eu estava pensando nisso, e quando volto para casa datilografotudo isso. Uma parte desse material eu uso e outra no. Tenholiteralmente milhares de pginas com anotaes aqui, cruas, e mantenhoum dirio tambm. Num certo sentido isso viajar no tempo.2Toma-se potencializada pela prtica dos cut-ups uma sensibilidade

    que opera por conexes, aproximando todos os nveis possveis de informao- dos mais imediatos aos mais recuados no tempo e no espao - , passando tudoa possuir significao e um sentido ativo de presentificao.

    A maioria das pessoas no v o que est acontecendo sua volta.Esta a minha principal mensagem para os escritores. Pelo amor deDeus, mantenham seus ollis abertos. Percebam o que est acontecendo sua volta. 3Burroughs no trabalha apenas com recortes, colagens, fazendo a

    tesoura desempenhar uma verdadeira e substancial funo de corte sobre a mesade montagem do escritor, mas tambm com o gravador, a mquina fotogrfica,

    2. BURROUGHS, 1988. p. 142-143.3. Idem. p. 43.

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    a still camera..., podendo a partir da outras possibilidades tcnicas e tecnolgicasser acrescentadas.

    o mtodo cut-up traz aos escritores a colagem, que tem sido usadapelos pintores h quarenta anos. E usada pela cmera de filmar e pelastill. De fato todas as tomadas de rua feitas por filmadoras e pela stillso guiadas por fatores ligados aos transeuntes e a justaposies cutups. Os fotgrafos diro a voc o mesmo. O melhor escrito parece tersido feito quase por acidente at que o mtodo cut-up tenha se tomadoexplcito - toda escrita so na verdade cut-upS. 4A tcnica de escrita desnvolvida por Burroughs de modo mais

    demonstrativo na trilogia de romances (The softmachineffhe ticket that exploded/Nova express) publicada nos anos 60, busca explorar todo o campo daconscincia, abrangendo as zonas de indeterminao no cobertas pelalinguagem. A escrita cut-up abre-se tambm para o acaso de relaes noestabelecidas com outros planos culturais, e outros de ordem cotidiana, vivencial,que impregnam a feitura e o resultado final do texto. No se trata de uma filosofiada composio - como a de Poe - , na qual o controle da conscincia do criadorsobre o escrito pretende-se completo at o abarcamento do "inomevel". Omtodo de Burroughs funda-se, ao contrrio, sobre um dilogo sistemtico comos processos no-conscientes, o que no deixa de soar como uma ampliao da"filosofia" composicional de Poe, sendo mesmo possvel ler a produo doscut-ups como uma espcie de sntese entre a atividade prtica e analtica doautor de Gordon Pym e a "A1chimie du Verbe", de Rimbaud. Nota-se, contudo,que a tcnica desenvolvida por Burroughs vai provocar o rompimento com aidia de autoria absoluta, pela forma com que, entendendo a rede ilimitada deinformao na qual se estabelece a atividade criadora, considerado impossvela qualquer texto ganhar espao no mundo, se no produz o seu corte/recortesobre o j existente. Neste sentido, a literatura (como j disse ele em entrevistas)deve ser compreendida como um grande intertexto, ou melhor dizendo, umgrande cut-up.

    Os escritores supem que liberam palavras - no para encade-lasem frases. Quem disse que eles so poetas, tal como o supem? Poetasquerem dizer cantar e fazer cantar palavras. Poetas no tm palavras

    4. BURROUGHS, 1978. p. 29.

    "de sua propriedade". Escritores no tm suas prprias palavras. Desdequando palavras pertencem a algum? "Suas palavras prprias", de fato!E quem voc?5o escritor faz uma reescrita de Rimbaud, que como deve ser

    entendida hoje uma leitura produtiva do poeta. Como se nota em Illuminations,a forma fragmentria e o dado combinatrio comparecem, linha por linha,reforando a funo da imagem em sua poesia como prtica desembaraada deum simples cdigo lingustico, incorporando gestos, msica e movimentossempre presentificados, que contm j a descentralizao e a amplitudecaractersticas dos cut-ups. Isso para no se falar do "decalque pardico", dadescontextualizao, com respeito ao legado romntico e parnasiano, trabalhadosdesde "Les trennes des orphelins" at a folia intertextual do Cercle Zutique.

    Shakespeare Rimbaud vivem atravs de suas palavras. Corte linhasde palavras e voc ouvir suas vozes. Os cut-ups vm muitas vezesatravs de mensagens codificadas com significados especiais para aqueleque recorta (the cutter) (...) Toda escrita , na verdade, feita por cutups. Uma colagem de palavras lidas, ouvidas, reouvidas. O que mais?O uso da tesoura toma este processo explcito e sujeito extenso e variao. A prosa clara clssica pode ser composta inteiramente de cutups rearranjados. O corte e o rearranjo de uma pgina de palavras escritasintroduz uma nova dimenso escrita habilitando o escritor a modularimagens numa variao flmica. Imagens projetam sentido sob o corteda tesoura imagens de odor da viso ao som do som cinesttica. Poresta dimenso que foi Rimbaud com a sua cor das vogais. E seu"sistemtico desregramento dos sentidos".'"Derangement/arrangement", a capacidade de s er a escrita uma arte

    de operar conexes, a contar com o descentramento do autor em seu sempresurpreendente encontro com a rede analgica das imagens do mundo, mostra agrande afinidade de Burroughs com o "no-mtodo" encampado por Rimbaudem "Alchimie du verbe", e aplicado integralmente em Illuminations. EmRimbaud, mostra-se visceral esta disponibilidade combinatria, pela qual ele

    5. Idem. p. 34.6. Idem. p. 32.

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    extrai imagens de outras imagens, assim como cores e atributos no-determinadosde tomos verbais/sonoros como as vogais. O que chamou de "hallucinationssimples" j contm os germes dos cut-ups em sua lgica relacional feita depalavras/imagens justapostas, que Rimbaud recolhe do repertrio cotidiano,assim como daquele arsenal entendido como "vieillerie potique" (ibid.),celebridades "de la peinture et de la posie moderne".l

    L-se na "Alquimia" a ecloso auto-referencial da cultura, por forada utilizao feita pelo autor do prprio material potico includo no corpoexperimental do poema-prosa. Para ele a onipresena autoral j passa a sofrerseus primeiros deslocamentos na busca do "lugar e dafrmula" ("Vagabonds")de um verbo potico "acessvel a todos os sentidos"("Alchimie du Verbe").Entretanto, no s na "Alquimia do Verbo" Rimbaud revela esta disposiointrnseca aos choques/contatos de vrias fontes de informao e pontos-devista. Como se observa em Illuminatons, o papel que a informao Gornalstica,turstica, topogrfica, arquitetnica, urbanstica....) atua sobre os textos significativo. J em "Bateau ivre," Augusto MeyerB fazia notar como o MagasinPittoresque, espcie de National Geographic da poca, era apropriado pelaaventura nutica do poeta. J existe da parte de Rimbaud a sensibilidadeinformacional, que vai nortear o trabalho de Burroughs no sentido da estocagem(em suas reflexes sobre a escrita e os cut-ups ele esclarece sobre o uso dearquivos de textos, imagens e tapes) e da circulao de dados criativamentecombinados.

    Como afirma Burroughs, a feitura dos cut-ups no atendesimplesmente a j ustaposies ocasionais de palavras, mas intervm na ordemda percepo e tambm da imaginao. O escritor torna-se mais prximo de seumeio de expresso, pondo-se em uma comunicao viva, ttil, e no mais indireta,como aquela oferecida pela linguagem em suas abstraes, sua "priso" depalavras. Estas passa m a se apresentar c omo substncia manuseve1, trabalhadaspara alm da mera organizao mtrica/sinttica de um raciocnio verbal,integrando-se de forma atuante a um campo mais vasto do conhecimento.

    A habilidade do pintor em tocar e vivenciar seu meio de expresso oorientou para as tcnicas de montagem h sessenta anos atrs. Aguardase que a extenso das tcnicas dos cut-ups conduzam a experimentosverbais mais precisos, na proximidade do vcuo de sentido, dando ao

    7. RIMBAUD, 1991. p. 429.B. AlEVEi, 1986. p. 40.

    vazio uma nova dimenso de escrita (...) Toda essa experimentaopode levar a uma cincia precisa das palavras, mostrando como certascombinaes de palavras produzem certos efeitos...'Extenso dos cut-ups, o the fold-in method, que consiste em dobrar

    um texto no outro - justaposio e no mais recorte - , tal como praticado emNova express e The ticket that exploded, permite a Burroughs o que chama deviagem no tempo e no espao:

    Em minha escrita ajo como um construtor de mapas, um exploradorde reas fsicas (...) como um cosmonauta do espao interior, e novejo nenhum interesse em explorar reas que j tenham sidocompletamente avaliadas - Um cientista russo disse: "No viajamossomente no espao mas no tempo tambm" - Se os escritores estocapacitados a viajar no espao-tempo e a explorar reas abertas pelaera espacial, penso que devem desenvolver tcnicas to novas quantodefinidas como tcnicas de viagem no espao fsico. Certamente se aescrita tem futuro deve, no mnimo, desvencilhar-se do passado eaprender a usar tcnicas j usadas h muito tempo atrs na pintura, namsica e no cinema.O que leva o escritor a no escolher, a no editar e a no rearranjaro material sua disposio? O mtodofold-nd ao escritor literalmenteum infinito campo de opo - Tome, por exemplo, uma pgna deRimbaud anexada, dobrada a uma outra de Saint-John Perse (os doispoetas tm muito em comum) - Dessas duas pginas um nmero infinitode combinaes e imagens mostra-se possvel- O mtodo poder levara uma colaborao entre escritores em uma escala sem precedentes demodo a produzir trabalhos que so um esforo comp6sito de um nmerode escritores vivos e mortos - Isso ocorre, de fato, to logo qualquerescritor comece'a usar o mtodo fold-in. oEm The ticket that exploded, William Burroughs d continuidade aos

    projetos da walk-writinglescrita de caminhada praticada por Rmbaud ao longode sua obra, e disposta na abertura de "Alchimie du verbe" como o sonho das

    9. BURROUGHS, 1978. p. 2728.10. Idem. p. 9596

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    "'\cruzadas, "viagens de descobertas (... ) deslocamentos de raas e decontinentes"ll, mas j no espao, atravs do recorte criativo das narrativas descience-fiction. As viagens projetadas pela carta de previses e encantamentosque a "Alchimie", efetivam-se agora com o americano Burroughs no espaotempo de uma epopia anti-modelar, mas viabilizada em total afinao com oque o escritor identifica como "space age,m. Nesse romance, publicado em1962 tambm em Paris, onde passou a residir depois de vrios acidentesrelacionados fase junky mais pesada, a narrativa interrompida, ou, melhordizendo, dimensionada, com um captulo dedicado writing machine. A mquinade escrever aparece dilatada e retorcida como um daqueles objetos vivos-animaissiderais construdos por David Cronemberg, recriador de Naked lunch no cinema,superdimensionada pelo uso dos cut-ups e pela elaborao de uma sci-fi.Materializa-se como aparelho dotado de alta frequncia sonora-visual-escriturai,por meio do qual so possveis de se contemplar "vast mobile sculpters ofMusiclvastas esculturas mveis de Msica "13

    Tal como ocorre em "Fleurs" e "Scenes". o captulo "Writingmachine" integra um espetculo, definido como A Exibio.

    A Exibio estendeu-se por muitas salas e corredores - Barracasforam destrudas em um jardim hbrido submerso e com terrao Piscinas e canais refletiam flores flutuantes (arranjos inextricavelmentemixados com pinturas de flores e jardins).

    Em uma sala de muros metlicos magnticos mbiles sobfosforescente luz azul e odor de oznio - juventudes de metal conectadasem dana sob um chuveiro de jatos azuis, rodopiando juntamente emorgasmos trmulos de metal - pedaos de papel caligrafias magnticasdesenhadas e coloridas limalhas de ferro cadas em nuvens de cor, indode padres pulsantes msica metlica, fora e dentro, fora e dentro.

    Peas no palco com sees permutveis moveram-se umas das outrasShakespeare, Grego antigo, bal. Filmes so mixados em uma telametade uma metade outra - peas de frente para a tela de cinemasincronizadas de forma que cavalos se encaminham dentro e fora de

    l1.RIMBAUO, 1991. p. 429.12. BURROUGHS opud SKERLe LYOENBERG, 1991. p. 265-26813. BURROUGHS, 196B. p. 64.

    velhos Westerns (...) Conversas gravadas de filmes realizadas durante aexibio aparecem na tela at que todos os espectadores estejamenvolvidos - situaes permutveis e em movimento - ... 1 ~ Em "Fleurs", Antonio Candido havia considerado ser "perfeito o

    encontro do universofactcio (cuja lei a ordenao arbitrria de componentesconvencionais) com o universo natural, porque a comparao que gera asimagens feita como se o termo metafrico tivesse uma vida independente dotermo metaforizado. Ou, por outra, como se a imagem se tornasse objetoconvencional do mundo novo "IS. Tal poder de autonomia, deprojeo, adquiridopela imagem mostra-se mais intenso quando Burroughs revivifica as vises dopoeta, ao inseri-las em um universo como o da fico-cientfica, marcado pelocarter de sondagem e de antecipao, que toma estreitos os laos entre arte ecincia. Em Burroughs, a tecnologia acaba por conceder ao "universo factcio",de que fala A. Candido, seu lugar de natureza.

    As imagens utilizadas de "Fleurs" . referncias a um terrao de floresaquticas; um jardim exposto em toda sua magnificncia natural e "construda"como exibio aos olhares dos leitores/espectadores -, de Illuminations, tomadascomo um todo - "Pratos antiquados tombam como neve luminosa suavementecaindo cabelo escuro cabelo de luz clicado mais fundo mais fundo no silncioazul"16 - , reforam o estatuto codificador de uma nova sensibilidade, que semdvida um Mundo Novo - como Cnddo percebe no poema original -,admirvel e tambm abissal, onde pulsa a "vida independente do termometaforizado". The ticket that exploded redimensiona prticas de Rimbaud coma matria literria e cultural de seu sculo, uma prtica de escrita, no ver deJacques Ranciere:

    ... no se trata de ler mas de escrever. Rimbaud no leu as teorias dosculo, ele escreve o sculo que as une (...) Marca as coordenadas eestabelece todas as ligaes possveis entre elas no mesmo espao. Torna-o evidente e, ao mesmo tempo, ilegvel. Mas ele faz isso acreditando,querendo fazer alguma coisa diferente. O que ele quer, com efeito, passar frente do sculo. Pretende dar a ele o que falta para terminar oprojeto do novo corpo glorioso, uma lngua: a lngua do futuro, a do

    14. Idem. p. 62-6415.CANOIOO, 1991. p.I-2.16. BURROUGHS, 1964. p. 63.

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    "corpo integral, da comunidade das energias reunidas ("As vozesreconstitudas; o despertar fraterno de todas as energias corais eorquestrais e suas aplicaes instanttlneas")YEsta postura escrituraI encontra equivalncia em Burroughs na

    contemporaneidade, quando ele cultiva a linha mxima da imaginao,desentranhada de discursos e textos progressivos, cientficos: conquistasespaciais para o escritor que faz da pgina o revs iluminado e a vertigem,tambm, do cosmos. E na pulsao de um tempo, que no o da imagem defuturo estandartizada pela fico cientfica.

    Pode-se dizer que a literatura de Burroughs j viaja na velocidade daluz. No entanto, em acordo com a viso de Rimbaud nos poemas da srie "Villes","H", "Matine d'ivresse" e "Promontoire" (e de outros pertencentes aIlluminations), no se nega lugar explicitao do artifcio - drogas, o imagismocivilizatrio - e do controle contidos nas fosforescncias ultra-modernas datecnologia, onde a science-cut-up-fiction vislumbra traos no-utpicos. "AU/S POSS/BLE BECAUSE /SN'T TRUE", diz Burroughs em sua leitura/cano"Apocalypse", gravada no disco Dead city radio.

    ...um odor de dilvio e coragem para deix-lo ir - Ao ar livre umgaroto est esperando - Sorrisos alcanam algum caminhando - Asperguntas se afundam vagarosamente fora de um velho sonho - ventoda montanha tomado na porta - o odor de sis afogados toma a trilha dosuor na roupa de linho no instante do ltimo macaco da histria - Damaneira como eu gostaria de indagar sobre as alteraes exceto o cuazul sobre nosso tquete, que explodiu - ...

    Escrita na porta pura informao - Coisa grande conversa policialem uma baixa condio, identidade se dissolvendo - luz giratria tudo - faca de po no corao tomba sobre o escuro amotinado corposem sombra - Cinco minutos de poeira foi tudo o que fizemos - Rplicasno do abrigo - marca de poeira - E aqueles ces nada sabiam Circunstncias na crueza que a noite te oferece? - ponha fogo na trilha- com esse cabelo de um sonhador sem cor - um arrumadinho bateu naporta com violncia - solido na manh lavada de neon - os mortos da

    17. RANClERE, 1995. p.148-152.

    batalha deixaram uma mistura de amanhecer e sonho - dirigindo umboa noite sob ondas de silncio flutuando dixido de carbono - 18Da mesma forma que ele cria, a partir das "Fleurs" rimbaudianas,

    uma linguagem do encantamento para montar um jardim de delcias sexuais,vividas de modo pblico e desreprimido em um ambiente de alta-tecnologia,ele pode desestabilizar o organizao da linguagem dentro do corpo, juntamentecom seus sistemas psico-motores-sensoriais, em um gesto mais regressivo queprogressivo, por meio do qual a origem e os limites do homo-sapiens se chocamdo modo mais orgnico, mais brutal. Penso no seguinte relato, j tomado clebrepelo filme de Cronemberg, contado pelo Dr.Benway em Naked lunch:

    Benway: ...Eu j te contei alguma vez a respeito de um homem queensinou o cu dele a falar? A barriga inteira mexia para cima e parabaixo, entende, peidando as palavras. Era algo diferente de tudo que euj ouvira.

    Esse papo do cu tinha uma espcie de freqncia visceral. Batiadireto l embaixo como voc tem que ir. Sabe quando o velho clon ted uma cutucada e voc sente um friozinho por dentro e sabe que tudoo que tem que fazer se afrouxar? Bem, esse papo te batia exato aliembaixo, um som embolhado grosso estagnante, um som que voc podiacheirar.Esse cara trabalhava num circo, entende, e para comear era umanovidade como nmero de ventloquo. Realmente engraado, nocomeo. Ele fazia um nmero chamado "O Melhor Buraco" que erauma doideira, vou te contar. Eu me esqueo da maior parte, mas eramuito inteligente. Algo como,

    'Oh, voc ainda est a embaixo, coisa velha?''Nah! Eu tive que ir me aliviar.'Depois de algum tempo o cu comeou a falar por conta prpria. Ele

    entrava em cena sem nada preparado e o cu improvisava, respondia aspiadas com outras o tempo todo.

    A o cu desenvolveu uma espcie de ganchinhos curvados e speros, maneira de dentes, e comeou a comer. Ele achou isso engraadinhono incio e bolou um nmero em tomo da coisa, mas o cu abria um

    18. BURROUGH5, 1964. p. 65-66.REVISTA DE mUDOS DE LITERATURABelo Horizonte, v. 4, p. 241 - 257, oul. 96

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    caminho atravs das calas e comeou a falar na rua, berrando quequeria igualdade de direitos. Tomava porres e tinha crises de choro queningum me ama, que queria ser beijado como qualquer boca. No finalo neg6cio falava o tempo todo, dia e noite, voc podia ouvi-lo porquarteires berrando que o cu se calasse e batendo nele com o punho, eenfiando velas nele mas coisa nenhuma adiantava e o cu disse para ele:' voc que vai se calar no fim. No eu. Porque n6s no precisamosmais de voc por a. Eu posso falar e comer e cagar.'Depois disso ele comeou a acordar de manh com uma geliatransparente com um rabo de girino, por cima de toda a boca. Essagelia era o que os cientistas chamam T.in-D, Tecido Indiferenciado,que pode crescer em qualquer tipo de carne do corpo humano. Ele aarrancava da boca e os pedaos se prendiam em suas mos como gasolinagelatinosa queimando e crescendo l, crescendo em qualquer lugar emque um pedao caa. E finalmente sua boca se fechou, e a cabea inteiraseria amputada espontaneamente - (voc sabe que existe uma condioque ocorre em partes da frica e s6 entre negros, em que o dedo mnimodo p se amputa espontaneamente?) - exceto pelos olhos, entende. Uma

    coisa que o cu no podia fazer era ver. Precisava dos olhos. Mas asligaes nervosas foram bloqueadas, infiltradas e atrofiadas para que ocrebro no pudesse dar mais ordens. Ficou preso no crnio, exilado.Por um momento voc podia ver o sofrimento silencioso e indefeso docrebro por trs dos olhos, at que finalmente ele deve ter morrido,porque os olhos se apagaram, e no havia mais sentimento neles queno olho de um caranguejo preso ponta de uma haste. 19Nesta guerra entre boca e nus - guerra dos rgos, como defineLaymert Garcia dos Santos, com base em Artaud, a "experincia da agonia"deflagrada para alcance de uma linguagem "que ao do corpo, dos rgos e

    dos sentidos"20 -, o corpo logocntrico violentamente alterado. A linguagem,que por efeito de uma hierarquizao, assumia o controle da mente, acaba pormostra que o homem nada sob o seu comando, ao sofrer a sublevao docorpo. A parbola cruel montada pelo escritor traz ecos de "Remembrences du

    19. BURROUGHS, 1984. p. 123124.20. SANTOS, 1989. p. 23.

    vieillard idiot", no que o poema rimbaudiano revela sobre uma corporeidadeinvoluntria e desregrada, da qual o sujeito desconhece o funcionamento, cadavez mais exilado de um organismo que o exaure at a idiotia. Com tintas aindamais corrosivas, Burroughs bem um cirurgio - ele volta e meia interpreta asfalas e os gestos do Dr. Benway em leituras, filmes e performances - a bloquearos centros nervosos da linguagem, instaurando a presena fsica das palavras,desgarradas, ento, de um sistema limitadamente binrio em suas clssicasoposies entre mente/corpo, dentro/fora, consciente/inconsciente.Ao romper com a diferenciao entre boca e nus, entre ato e baixo atribuies que no so apenas de uma ordem fsica, mas tambm de valor - , eleinstala a partir do corpo o contato com o que chamou Robin Lydenberg de"descorporificada, parastica maquinaria do poder"2!. Sendo compreendida alinguagem como presena imaterial, parasitria no corpo humano, Burroughs

    passa a expor "as annimas e invisveis foras que manipulam a vidaindividual",22 Quando lembramos a famosa assero de Foucault de que nofalamos mas somos falados, ler a novelstica de Burroughs como penetrar naventriloquia em que se constituem a linguagem e o pensamento humanos, parabem dentro dos circuitos de vozes desencorpadas e mquinas de controle abstrato,como aquelas possveis de se personificarem como "Death Dwarfs"I"Anes daMorte" em Nova expressoConhecemos pela fico cientfica do autor o embate, tal como descritopor Laymert, entre a voz imensa, cultural, e a voz mnima, gradativamenteautonomizada por obra de uma guerra orgnica movida contra a linguagem, vrus, como definiu o autor de Naked lunch - sistema imposto de fora, masalojado de forma interiorizada dentro de cada um. Combate"morte em vida,m ,como expressa Laymert, a partir de dentro, ao que incapaz de manifestar aatividade fisiolgica, a voz afirmativa do corpo. Robin Lydenberg notou apresena do "dreglement de tous les sens... " em The ticket that exploded comopassagem irrecusvel para uma maior convivncia, um maior entendimento como corpo, do qual advm a conquista de uma dico individualizada. Burroughspassa peladistopia, pela fala apocalptica descerrada das novas polcias montadasno espao, abrindo sempre um intervalo no interior da linguagem, "porquesempre existe um espao entre canes populares e filmes B ..."24

    21. lYDENBERG, 1987. p. 138.22. Idem.23. SANTOS, 1989. p. 13.24. 8URROUGHS, 1968. p. 133.

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    Juntando o que no se juntava, cria-se uma terceira possibilidade Third mind, eis o ttulo da obra escrita em parceria com Brion Gyson, na qualrefletem sobre os cut-ups e outros mtodos - , produto de um vcuo/intervalo dalinguagem e do pensamento, nascido de uma relao ntima com o acaso, com oindetermiando. Como diz Burroughs no livro de entrevistas The job, ossignificados revelados pelo uso dos cut-ups podem se referir a acontecimentosfuturos, estendendo a escrita ao plano da antecipao, ao ingresso nos nveisanalgicos mais sutis de manifestao simblica, favorecendo uma maior entradano campo das imagens, e com isto uma atuao mais eficaz na existncia.

    Fica claro, entretanto, para o autor que esta atividade extrada da"barragem absoluta de imagens s quais somos submetidos de modo a nostomarmosembotados( ...) se vocs so absolutamente bombardeados por imagensde caminhes em trnsito e carros e televises e jornais vocs se tomamembotados e isso cria uma nvoa permanente em frente dos olhos, de forma ano se poder ver mais nada"25. O aspecto visionrio propiciado pela tcnica doscut-ups no elide, pois, a barragem, os pontos cegos, redundantes, em que semovem as imagens contemporneas, diante das quais a identidade se espatifa amerc do consumo e do controle. Lembro, porm, que tanto para Burroughsquanto para Rimbaud o mundo dado como imagem e tambm comodesrepresentao.

    Assim como o poeta destilou a "velharia" das "celebridades modernas",o autor de Ticket that exploded abeirou-se da fico do desastre e do apocalipse(assim como do manancial mass-media) para efetivar o trabalho alqumicocientfico da linguagem, por meio do qual despontam novas formaes poticase suas conjugaes plticas-erticas-csmicas. Entre Rimbaud e Burroughs hum vcuo de pocas e nacionalidades, entre o despontar e a agonia do moderno,mas estes extremos de espao/tempo s se intensificam por ordem dos nveismais sofisticados de imaterialidade e velocidade com que se produzem as imagensd mundo. Pois a intuio do autor francs a respeito da criao de um novocorpo, em sintonia com a busca de um verbo potico potencializdo em todassuas dimenses relacionadotas e reveladoras, encontra eco no narradoramericano.

    Burroughs aproxima-se da linguagem com uma vigilante e cientficaimparcialidade. Tomando controle da palavra de modo a realizar umaespcie de dissecao cirrgica de suas funes, ele tenta revelar e

    25. BURROUGHS, 1989. p. 34.

    transcender os mecanismos de controle constitudos no interior de nossosistema de linguagem (...) Suas intermitentes e utpicas fagulhas deliberao so baseadas nas remotas possibilidades de escapar do "corpoe da palavra" (...) gerando um corpo novo e liberado da manipulaodas formas tradicionais de palavra, texto e carne.2!A promessa de um "novo corpo amoroso", nascido de "blessures

    calartes et noires... "I"feridas escarlates e negras" ("Being Beauteous"),podemos ver reavivada nos romances americanos com toda sorte de violncia "L'lgance, lascience, la violence!", diz "Matine d'ivresse" -, tanto voluntriaquanto instituda: Carne Negra traficada pela Polcia do Sonho em Naked lunch.Atravs da incurso pelo inferno psicotrpico, pelos subterrneos da mente, docorpo e da palavra, a escrita de Burroughs alcana o estado de uma linguagem!msica executada em dimenses sempre surpreendentes do espao-tempo. Poisencontra-se conectada com o presente e com o sentido aguado de cruzamentocom as imagens - signos e sinais multivariados - do mundo. Est em sincronia,enfim, com o poder de revelar, e no apenas o de narrar, as foras, os embatesvivos, que se realizam e desrealizam na extenso entre arte e cincia, imaginaoe pensamento, ao compasso da atuao do "construtor de mapas ... exploradorde reas fsicas ... cosmonauta do espao interior".Marcada pelo conflito, pela contundncia, prprios expulso do vrusque parasitou o corpo criativo da linguagem, es ta literatura experimenta tcnicase tecnologias de som (seu trabalho com tapes e leituras de texto compem todoum captulo parte) e imagem, revelando seu autor como presena viva,performativa e essencial, como uma espcie de xam high-tech da culturaamericana. Em um raio de ao que vai da gravao de CDs, onde a leitura deseus textos passa por toda srie de registro e experincia - como em Spare AssAnnie and other tales (1993), um disco feito a partir de sua voz, sob a "batida"rap do grupo Disposable Reroes ofHiphoprisy, ou em The "priest" they calledhim, gravao realizada, nas mesmas bases, com Kurt Cobain, guitarrista e liderdo Nirvana, pouco antes de sua morte e da extino da banda - , at longametragens que contam com sua participao como ator (Drugstore cowboy deGus Van Sant), e um video-clip do grupo Ministry, no qual comparece como elemesmo, realizando Shotgun Paintings (experincias plsticas envolvendo o usode armas). Sem se falar que W.S.B. a grande referncia de William Gibson,ficcionista em torno de quem se move a cyberculture, bastante presente na vida

    211YDElIBUG, 1987. p. 138.

    REVISTA DE 'ESTUDOS DE U l ' E l ~ r a R A Belo Horizonte, v. 4, p. 241 -57,out. 96

    Disponvel em http://www.letras.ufmg.br/poslit

  • 8/2/2019 Rimbaud e Burroughs

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    americana de hoje. ABSTRACT:Em The place ofdead roads (1983), romance escrito vinte anos depois

    da trilogia cut-up, Burroughs toma um caminho inverso ao da science-fiction,realizando um farwest. No corpo de uma narrativa mais inteiria, menosfragmentada pelas entradas drsticas, puramente experimentais, dos cut-ups, oescritor no fica sem exercitar "hallucinations simples", captando na paisagemdo Velho Oeste as fraturas modernas que fundamentam sua viagem pelo tempo. ao poeta-caminhante de outro continente, de outro sculo, que ele se reporta, sondagem de um lugar de origem (a Amrica pioneira, mtica) ou de destinao- como ele empreende aqui, envolvido com o debate sobre a imortalidade/o fimda vida: The place ofdead roads, passagem pelas fronteiras modernas/eternas.Um no-lugar estratgico - "the landscape of someforgotten planet" - favorecidopelo deslocamento de sua mquina de escrita e de imagens:

    Kim acampou no declive, ao sul, tenda escondida pelas rvores. Elepreparou sua isca com uma grande minhoca prpura e lanou-a em umdos estreitos e silenciosos crregos, flash amarelo do peixe dentro dagua escura.Ele segurou a casca crocrante do peixe frito pela cabea e pela cauda,comendo a carne embebida em limonada, sem a espinha.No crepsculo, o salto do peixe, uma sinfonia de sapos. Kim viu umimenso sapo conduzindo a orquestra e pensou em "Tarde Histrica", de ,imbaud - "A mo de um maestro desperta o clavecino dos prados ...esto jogando cartas no fundo do lago..."A erva dourada, a sinistra gua negra apareciam como a paisagem dealgum planeta esquecido. Ele poderia se ver comendo truta ali parasempre, pilhas de ossos com mato crescendo por cima,u

    The purpose of this essay is to explore the relationshipbetween Rimbaud's poetry and William Burroughs'experiments with cut-ups. Rimbaud' s influence onBurroughs' work, however, extends beyond the cut-ups,encompassing his fictional writing.

    lEY WDRDS: Modem Poetry, Contemporary Fiction, lnfluency,Experiment.

    REfERENGAS BIBLIOGRFICAS:BURROUGHS, Williom S. lhe ticket that exp/aded. Novo York: Grave P,e$!>, 1968.

    . lhe third mind. Novo York: Viking, 197B.--o he place of lhe deod roads. Novo Yorl Holl Rineheilrt, 1983.--o Almao nu. Trod. Flovio Moreira do Costo eMouro S Rego. So Poulo: Brosiliense, 1984.--o Os esaitDres: as hist6rkas entrevislrJs do Paris Review. Trod. Alberto A1exondre Martins. So Poulo: Componhia das LeITas,- 1988.p.131-158.__ ohe job. Novo Yorl Penguin, 1989.__ o My purpose is ta write Ior space age. In: Wi//iam S. Bunooghs ot lhe Front Criticai Receptian, 1959-1989. Editodo porJennie Sbrl eRobin Lytlenb8lg.lIIinois: Soutbern lIIinois University, 1991.CANDIDO, Antonio. Rimboud -Tronsfuses.FoIho de S60 Paula, "leITOS", p. 1-2, novo 1991.LYDENBERG, Robin. Ward cultures Radical thecrt and practice in Wl1Iiam S. Bunooghs' fiction.lllinois: University 01 lIIinois Press,1987.MEYER, Augusto. le boleou ivre: onlise e ntelJlretoo. In: . Textos aflicas (org. Joo A18X11ndre Barboso). Sa Poulw8rosmo: P e ~ v o / I n s f i M o Naonol do Uvro, Tffb."MIUS,80rry. Wil/iam Bunooghs -fi hambre invisible. Novo Yark: Hyperion, 1993.PERLOFF, MariPfie. Paetics of indeterminacy -Rimbaud to Cage. New Jersey: Princenton University Pr6$S, 1981.R A N C I ~ R E , Jocques. As vozes eos calJlos. In: . PaHticas da esaitD. Trad. Roque! Ramolhete eoulTos. So Paulo: 34, 1995.RIMBAUD, Arthur. 0e1Mf"V'1lI. Edia da centenria estobelecido por A10in 80rer eAndre Montgre. Poris: Arlo, 1991.SANTOS, Loymert Garo dos. Aexperincia da ogonio. In:__ o Tempo de ensaio. Sa Poulo: Companhia dos leITos, 1189.

    27. BURROUGHS, 1983. p. 15.REVISTA DE ESTUDOS DE LITERATURA8elo Horizonte, Y. 4, p. 241 -257, out. 96

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