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Atrasado é quem não leu! Edição nº 18 PET-Filosofia da UFSJ Ano X 1º/2012 Coordenação da Prof.Dra.Glória Ribeiro Laboratório de Estética Ártemis E então parar e puxar conversa com gente chamada baixa e ignorante! Como é gostoso! Fique sabendo duma coisa, se não sabe ainda: é com essa gente que se aprende a sentir e não com a inteligência e erudição livrescaMário de Andrade Patrimonio Imaterial Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários

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Atrasado é quem não leu!

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Ano X

1º/2012

Coordenação da

Prof.Dra.Glória

Ribeiro

Laboratório deEstética Ártemis

“E então parar e puxar conversa com gente chamada baixa e ignorante! Como é gostoso!

Fique sabendo duma coisa, se não sabe ainda: é com essa gente que se aprende a sentir e

não com a inteligência e erudição livresca”

Mário de Andrade

Patrimonio

Imaterial

Pró-Reitoria deExtensão eAssuntos

Comunitários

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2Tutora e Editora:Coordenação, diagramação e revisão:Ilustração e arte final:Edição de Textos:

Prof.Dra.Glória Maria Ferreira RibeiroDanilo Henrique, Mariane Carla Fonseca.

Isabela Kristina Mesquita.Adelino Ferreira, Alison Oliveira, Bruna Dutra, Bruno Constâncio, Carlos Arthur Pereira,

Danilo Henrique,

A totalidade do projeto é resultado de trabalho conjunto e coordenado. Trata-se de uma junção de ideiascriteriosamente discutidas, reconstruídas e aplicadas durante reuniões semanais no segundo semestre de 2011.

Prof. Dra.Glória Maria Ferreira Ribeiro e

Prof. Dra.Glória Maria Ferreira Ribeiro, Helaine Borges, Kátia Cristina, Lilian Rodrigues,MateusAlmeida, Sabrina Gava, Shênia Giarola, Thamara Custódio, Valéria Nascimento.

Daniela Diniz, Débora Resende, Etienny Trindade, Geralda Campos Isaac José da Silva,Isabela Oliveira Prof. Dr.José Antônio Oliveira de Resende, José Omar Junqueira, José Raimundo da Silva eNilson Lemos.

Colaboradores: ,,

Olá pessoal!Hoje eu, o Grande Hermes

mensageiro dos Deuses, gostaria deoferecer um presente aos mortais.Trata-se de um guia que intitulei de“ G u i a P r á t i c o p a r a o sDesorientados de Plantão”. Nãoque eu, um dos deuses do PanteãoOlímpico (um dos mais charmosos,é verdade!), ainda estivessecirculando por aí , quandodeterminados tipos de festassurgiram sobre a face deGeia. Mas como um deusdemocrático, eu, ogrande Hermesn ã o p o s s od e i x a rp e r d i d o saqueles qued e s e j a macompanhar aspr inc ipa is fes tasreligiosas de São JoãoDel Rei, por isso tracei oseguinte guia:

:-06- Festa da Folia de Reis-20 -Festa de São Sebastião.

:-Via Sacra e Irmandade de SenhorBom Jesus dos Passos nas 1°, 2° e3° Sextas-feiras da Quaresma-Carnaval (data móvel).

:-Procissão do Deposito de N. S. dasDores, na 4° sexta feira.-Quaresma e Semana Santa (datamóvel.-Procissão do Encontro no 4°Domingo.

:-14 - Comemorações da Tomada deMontes.

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

-21- Tiradentes.

:-Festa e Folias do DivinoEspírito Santo (data móvel)-Missa festiva com a coroaçãodo Imperador do Espírito Santoe em seguida procissão doEspírito Santo com a presençadas Folias do Divino.

:-13 - Santo Antônio Missa eProcissão.

-Procissão de São GonçaloG a r c i a , n o u l t i m o

Domingo.

:- 1 6 - N o s s aSenhora do Carmo

:-14- Nossa Senhora da Boa

Morte-17- Dia do Pa t r imônioHistórico

:- 01- Bom Jesus do Monte.-15 a 24- Nossa Senhora dasMercês.

:- 04- São Francisco deAssis

:- 02- Finados- 22 dia de Santa Cecilia.

:- 0 8 - N o s s a S e n h o r a d aConceição e aniversário dacidade- Semana de Bárbara Heliodora eda Jornada de Patrimônio (datamóvel).

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Agosto

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Isabela OliveiraBolsista PROEX - UFSJ

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Mensageiro dos deuses, preside os tratados tanto públicos quantoprivados, fomenta o comércio, protege as estradas contra os ladrões eampara os viajantes do mundo todo.

Débora ResendeBolsista PROEX - UFSJ

produção de material didático eno oferecimento de oficinas deEducação Patrimonial aosp r o f e s s o r e s d o E n s i n oFundamental de São João del-Rei. Aproveitamos a ocasião paramostrar a vocês um pouco deste

f a s c i n a n t eu n i v e r s o .Nesta edição,apresentaremos o músicoE l o m a r, oselo Kuarup eo f i l m e

Traremos àb a i l a ap o l ê m i c aproibição dou s o d ep a n e l a s eutensílios decobre, alémd e o u t r o st e x t o s

referentes às tradições da nossaregião.

Lembramos que a PROEX,Pró-Reitoria de Extensão eAssuntos Comunitários da UFSJfinancia em 2011, outros projetose programas relacionados a essemesmo tema. Podemos citar osprogramas: Teatro, Memória ePatrimônio Cultural, coordenadopela professora Ana Dias;História e Cultura Africana eAfro-brasileira, coordenado peloprofessor Jauará; e Inventário dopatrimônio cultural do municípiode São João del-Rei, coordenadopelo professor Marcos ViniciusGuimarães.

Quanto valeo u é p o rq u i l o ?

Olá pessoal!O tema desta 18ªedição do Jornal Epimeteu é oPatrimônio Imaterial. A execuçãodeste número coube ao programade extensão “Embornal deCausos - a imagem e o som, aescrita e o universo virtual comov e í c u l o s d epreservação dop a t r i m ô n i oimaterial” emparceria com og r u p o P E TFilosofia.

Mas o que éP a t r i m ô n i oI m a t e r i a l ?S e g u n d o aUNESCO esset i p o d epat r imônio ér e p r e s e n t a d opelas “práticas,representações,e x p r e s s õ e s ,conhecimentos etécnicas - juntoc o m o sinstrumentos, objetos, artefatos elugares culturais que lhes sãoassociados - que as comunidades,os grupos e, em alguns casos, osindivíduos reconhecem comop a r t e i n t e g r a n t e d e s e up a t r i m ô n i o c u l t u r a l "(http://www.unesco.org/new/pt/br a s i l i a / c u l t u r e / w o r l d -heri tage/cultural-heri tage/ .Acesso em 22 de novembro de2011.). Esta forma de patrimôniotem como característica principala mutabilidade, daí a dificuldadeem se lidar com ele: comopreservar algo que está emconstante transformação?

O programa Embornal deCausos tem se concentrado na

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seres humanos. Há três décadaspesquisadores do mundo todo vemlevantando algumas questões sobreestes utensí l ios cul inários .“Algumas das doenças causadaspela grande ingestão do alumíniosão Alzheimer (esclerose mentalprecoce) e o mau de Parkinson. Isso

o c o r r ep o r q u e om e t a ldeposita-seno cérebro,além disso, oa l u m í n i oe x p u l s a ocálcio doso s s o sc a u s a n d oosteoporose,

com isso ele migra para outrasregiões do corpo causando aindaoutras doenças como a bursite,tártaro nos dentes, bico depapagaio, cálculos renais. Muitasvezes vai para dentro das suasartérias, estimulando a pressão altae possibilidade de isquemiascardíacas (infarto), cerebrais(trombose) e genitais (frigidez eimpotência).

Outro problema vivenciado emmuitos lugares é que o alumínio semostra como um grande vilão,principalmente para crianças, quepodem apresentar intoxicação,h ipe ra t iv idade e anemia” .( A c e s s a d o e m 0 3 d eNovembro,http://www.uai.com.br/htmls/app/noticia173/2010/08/17/noticia_minas)

São diversas as panelas que

Etienny TrindadeGraduanda em Arquitetura pela UFSJP

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ÁgoraÁgoraÁgoraÁgoraÁgoraÁgoraÁgora

Praça principal; assembléia do povo na praça pública; mercado; fórum (na antiga Grécia).

“Uma tradição de mais de 100anos, de fazer o verde vivo do figoem calda, a liga cremosa do doce deleite, a goiabada na consistênciaperfeita e a rapa de tudo isso nofundo de um tacho de cobre, estápor um fio em Minas Gerais. Avigilância Sanitária Estadual comb a s e n aresolução de2 0 0 7 d aA g ê n c i aNacional deVig i lânc iaS a n i t á r i a(ANVISA)proibiu o usode utensíliosde cobre nap r o d u ç ã oalimentícia, sob argumento de que aabsorção excessiva do metalprovoca desordens neurológicas epsiquiátricas, danos ao fígado, rins,nervos e ossos, além da perda deglóbulos vermelhos. Essa decisãopode significar o fim dos docesfeitos no popular tacho, representaaflição para doceiras e admiradoresd a c u l i n á r i a t r a d i c i o n a l ” .(Acessado em 03 de Novembro,http://jorgeroriz.wordpress.com/pan e l a s - d e - a l u m i n i o - s a o -prejudiciais-a-saude)

Esta proibição causa muitapolêmica além de tristeza a todapopulação mineira. A panela dealumínio também não causadoenças? Porque não proibi-latambém? Essas panelas geralmentesão as mais acessíveis, e as quemais propiciam problemas aos

m e s c l a m a s h e r a n ç a sgastronômicas e culturais debrancos, negros, índios, mulatos ecaboclos, como muitos e diferentessão os modos de se habitar emMinas Gerais.

C o m e s t e s p r o b l e m a srelacionados com a saúde sendoatribuídos ao uso de determinadostipos de panelas, as pessoas ficamreceosas em relação a estaferramenta tão importante nacozinha, não só mineira, mas domundo todo. Contudo, algumaspanelas tradicionais na cozinhamineira não fazem nenhum mau àsaúde, como por exemplo, aspanelas de ferro e pedra. A panelade Ferro é ideal para grelhados epeito de frango, além de seremmuito tradicionais no estado essaspanelas ajudam significativamenteno tratamento de anemia, mulheresem idade fértil, crianças e

vegetarianos. Outra panela que émuito antiga na culinária mineira éa panela de Pedra-Sabão, com suanatureza antiaderente e suacapacidade de reter calor por muitotempo é muito conhecida há muitosanos, além disso, esse utensíliolibera quantidades expressivas deelementos nutr icionalmentei m p o r t a n t e s c o m o c á l c i o ,magnésio, ferro e manganês.

T u d o b e m , s e j a m o s“politicamente corretos” no uso doferro, da pedra e do barro nas nossaspanelas. Mas como ser mineiro semdoces em calda? Sem as quitandascom café no fim da tarde? Sem obrilho do tacho de cobre que,lavado é posto para secar ao sol?Como ficará a alma do mineiro se oseu corpo não puder degustar ogosto do cobre, mesclado no figo eno doce de leite? Fala-se muito docorpo, mas e a nossa alma?

Http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2010/08/proibicao-de-tachos-de-cobre-pode-mudar-doces-tradicionais-de-minas.html

Http://www.artesanatodaslareiras.com.br/detalhes.php?id_prod=209

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“Toda a existência humanadecorre do binômio Estômagoe Sexo. A Fome e o Amorgovernam o mundo” . Esta éuma máxima do filósofoFriedrich Schiller citada pelofolclorista Luís da CâmaraCascudo em sua obra

.Porém, acrescenta Cascudo, oestômago é muito maisimperioso que o sexo. A fome éinadiável, é dominadora.Apesar disso, o homem não se

alimenta daquilo que encontracom maior facilidade nemdaquilo que sabe ser maisnutritivo. A alimentaçãoédeterminada culturalmente,forjada lentamente pelasinterações entre os gruposhumanos.

A cozinha mineira é umaverdadeira colcha de retalhosde influências indígenas,africanas e portuguesas. Am a n d i o c a , o m i l h o , oamendoim, a abóbora, o feijãosão heranças indígenas. Oarroz, a pimenta malagueta, o

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Históriada Alimentação no Brasil

quiabo foram trazidos pelosafricanos. O trigo, a cana deaçúcar, as criações deanimais para consumo dacarne, os doces e os queijosv i e r a m c o m o scolonizadores. Os modos dep r e p a r o q u e h o j ec o n h e c e m o s , t ê mcontribuições de todos eles.

Ingrediente que vem deum lado, tempero que vem deoutro e modo de fazer deoutro. Novas misturas foram

formando o quehoje se conhecep o r c u l i n á r i amineira: pão dequeijo, broa defubá, pernil deporco assado, bifed e b o i , a n g u ,couve, doces. E asc o m b i n a ç õ e s !Arroz com feijão,q u e i j o c o mg o i a b a d a - ofamoso Romeu eJulieta-, café comleite, frango comquiabo, pão com

manteiga, canjiquinha comcostel inha, carne comf a r i n h a , p i n g a c o mtorresmo...

E já que falei de pinga,neurótico que sou, louco poruma caninha, não poderiadeixar de apresentar a vocêsumas boas cachaças dealambique, produzidasnessas bandas de Minas: aJacuba e a Século XVIII, deCoronel Xavier Chaves, aTabaroa, de Bichinho e aBotiqueira de São Tiago.Aprecie com moderação!

Débora ResendeBolsista PROEX - UFSJ

Prof.Dr.José Antônio Oliveira de ResendeProfessor do Departamento de Letras, Artes e Cultura da UFSJ

A coluna é uma homenagem ao caráter claudicante de Hefestos, umdos motivos do riso dos deuses. Claudicar (do latim ): nãoter firmeza nos pés; manquejar; capengar.

claudicareReferência a Nereu, deus marinho conhecido por suas virtudes desabedoria. Era capaz de realizar profecias e mudar de forma quandoconveniente. Esta coluna também promete ser mutante.

Misturando e Degustando

1 C A S C U D O , L u í s d a C â m a r a . H i s t ó r i a d a A l i m e n t a ç ã o n o B r a s i l . 3 e d . S ã o P a u l o : G l o b a l , 2 0 0 4 , p 1 7 .

Fecho os olhos e abro osouvidos sob um lampião. Naparede do casarão, sombrasbruxuleantes traçam desenhosincertos, imitando contornos dehomens e mulheres, cenários ebecos... Aperto os olhos, tentoprecisar a visão. As linhas vãoganhando vida e deixam de sertraços. Homens e mulheresaparecem à minha frente,trajando roupas de outrostempos, com lágrimas e sanguenas histórias, algumas outrastemperadas de sobrenatural...Lendas e mistérios que teimamem soprar emoções em meusouvidos apesar de eu ser de umagora tão diferente. Mas escutoo que têm a dizer. E choro, e memancho de sangue, e fico commedo, e até consigo rirtambém. Minha alma recolhe orecado disso tudo e guarda nofundo do peito.

E lá vou eu. Lá vou, de almalavada. Carrego dentro de mimum patrimônio de séculos.Guardo tudo em meu peitosecular. Prefiro não mexer noque minha alma guardou. Achoque assim eu preservo o meutesouro sem baú.

Caminho carregado, pulo demomento para momento,f a z e n d o p o n t e s e n t r ee x p e r i ê n c i a s t ã odesencontradas . . . e ternocaminhão de mudança que nãose desfaz da carga. Circulopelas vias do tempo, paro noabrigo da crônica, um textoembarca nas minhas trilhas evou seguindo meu rumo.

De vez em quando, ascoisas do presente sechocam com o meupatrimônio tombado. Aí,e u p a s s o a a n d a rtrombado. Mas passa.E s s a s c o i s a s q u eentranham nas vísceras daalma nem terapia tira.

Drummond disse um diaque carregava todos os seusmortos dentro do peito. Talvezpor isso ele andasse meio delado. Comigo a coisa éparecida. Carrego dentro demim todo um patrimônioartístico e cultural... talvez porisso eu ande meio tombado.

Fui criado e cresci em meioàs tradições de São João del-Rei. De repente, virei ciceronepor osmose. Sei de detalhes queimpressionariam qualquerturista. Conheço histórias quedeixariam Hollywood um tantoconstrangida com a mesmicesimplista de seus roteiros.Achoaté que ganharia algunstrocados contando o que seipara quem não sabe.

Mas não. Prefiro cultivarcomigo esse patrimônio. Aslendas viram cimalhas evolutas em cada esquina domeu texto. Isso exige engenho,pois a arte o patrimônio já tem.Engenhando sílabas e tiradasprosaicas, tento convencer amim mesmo de que tenhoengenho.

Ando pela calçada com aalma descalça, que nem fielp a g a n d o p r o m e s s a e mprocissão. Cortejo de eu só,sem andor e ladainha. Olhopara as torres e os sinos medizem segredos de bronze.Minha alma recolhe o recadodas torres e guarda no fundo dopeito.

Paro no botequim e umacachaça inspirada me beija oslábios e atiça o meu coração.Meu apetite se embriaga naorgia destilada de um gosto decomida que só se vê por aqui.São doces, quitutes, salgados epratos, caldos e quitandas, tudonuma mistura vertiginosa echeirando a prazer. Minha almarecolhe o recado disso tudo eguarda no fundo do peito.

Meu Patrimônio Imaterial

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Lugar de bagunça. Depósito de coisas velhas. Lugar de tumulto ou de desordem, confusão, miscelânea, mistifório.

Amy Winehouse(1983-2011)

CharadasO senhor José Omar Junqueira é um verdadeirocharadista: aprende, memoriza e inventa charadas! Eleexplica que para desvendar uma charada, você devebuscar sinônimos das primeiras expressões da charada ejuntá-los, formando assim uma terceira palavra que seráo sinônimo da última expressão da charada. Veja esseexemplo: “Atravessa e encosta na ponte.” A resposta é“passarela”, Veja por quê: Atravessa: passa; encosta:rela; passa + rela = passarela, que é sinônimo de ponte.Lembrando que quando aparece um homem, uma mulherou alguma profissão, você deve buscar nomes.Será que você é capaz de desvendar essas outrascharadas que o Sr. Omar nos ensinou? Para facilitar, vai adica do número de letras de cada resposta.

1- O médico e a enfermeira fizeram uma operação.R: __ __ __ A __ __ __ __ __

2- Prepara a terra para plantar a fruta e encontra umabela cidade.R: __ __ A __ __ __ __

3- A nota musical no anzol faz o fogo.R: __ __ I __ __ __

4- O homem é um ente que deixa a fortuna para serpadre.R: __ __ __ E __ __ __ __ __

5- Boa tarde, majestade, já fiz a sua oração.R: __ __ __ __ __ - __ __ __ __ __ A

6- A mulher do padre tem perna fina.R: __ __ __ A __ __ __ __

7- O verbo e o veículo é um estado do Brasil.R: __ __ __ __ I __ __

8- Aqui na divisa encontrei um animal.R: __ __ __ __ __ O

9- O pássaro coloca a roupa para clarear, e constróiuma cidade.R: __ __ __ __ A __ __ __ __ __

10- A primeira pessoa aqui estudei o cigarro e fiz amadeira.R: __ __ __ __ __ __ __ __ O

PALAVRAS CRUZADAS

1- Espécie de panela larga ótima para fazer doces; 2-Ente sobrenatural que causa medo, muito presente noscausos mineiros; 3- Manifestação cultural e religiosa deinfluência africana. 4- Sigla do Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional, primeiro órgãogovernamental de salvaguarda do patrimônio cultural; 5-Brincadeira infantil em que se desenham números nochão e se brinca pulando em um pé só; 6- Modo deprodução manual de utensílios, brinquedos, objetos dedecoração, etc; 7- Nome dado à arte de cozinhar; 8-Sinônimo de fé; 9- Instrumento de preservação dasformas de patrimônio cultural de natureza material, taiscomo casas, cachoeiras e objetos arqueológicos; 10-Condimento utilizado na culinária mineira; 11- Alimentoque tem por base o leite e é um dos mais tradicionais deMinas Gerais; 12- Espécie de bolsa muito utilizada nazona rural, para carregar marmitas, merendas ouferramentas; 13- Doce feito com cana de açúcar; 14-Bebida alcoólica produzida em alambique, cuja matériaprima é a cana de açúcar; 15- Folia de _ _ _ _,man i fes tação popu la r re l ig iosa l igada àscomemorações do Natal; 16- Principal ingrediente deum bolinho muito consumido em São João del Rei; 17-Animal que aparece muito nos causos mineiros; 18- Abebida mais consumida no mundo e que é consumidapela maioria dos mineiros, principalmente pela manhã;19- O principal ingrediente da broa, alimento muitoconsumido em Minas Gerais.

Respostas na página 08

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Q u a n d o o a s s u n t o épatrimônio imaterial, não se podede ixar de c i t a r o can tor ,compositor e violeiroElomar Figueira Melo.Em suas canções é possívelperceber a alma de umhistoriador que tentapreservar, por meio damúsica, a identidadecultural de um povo.

Elomar nasceu em21 de dezembro de 1937em Vitória da Conquista(Bahia) e acompanhoudesde a infância, osc a n t o s d e f e s t a sreligiosas, as músicas doscantadores sertanejos.Estudou arquitetura em ú s i c a e mS a l v a d o r . N am e s m a c i d a d ec o s t u m a v afreqüentar as feirasp a r a v e r o sc a n t a d o r e s , o scatingueiros, quenão eram bemvistos por nãou s a r e m op o r t u g u ê scorretamente. Foi entãoque, levandoe m c o n t a acultura sertaneja,Elomar decide dedicarsuas composições ao universorural, preservando a escritanaquela variação linguística. Aotérmino dos estudos, o músicoretorna a Vitória da Conquista.

Faz opção por viver na regiãodo semi-árido, no sudeste daBahia, onde divide seu tempoentre cuidar de suas pequenasfazendas, e dedicar-se a criaçãomusical, fazendo apresentaçõesesporádicas em palcos urbanos

de várias cidades do Brasil.Mas, deixemos que o

próprio Elomar nos fale, atravésda faixa 2 do disco Cantoria 3Elomar Canto e Solo. A canção empauta é Canto de GuerreiroMongoió, que traz um apelo aoshabitantes de uma terra queparecia melhor de se vivernoutros tempos:

“ . . . N os t e rmos daVirgem Imaculada não

vejo mais crianças ao luarPor estas me bato

em retirada vou indocantá em outro lugar

C a n t á p r a n ã ochorar...”

A canção relata arevolta de um sertanejoq u e , t e n d o s eausentado da terra,agora volta e sofrepor não encontrarno lugar em que

nasceu e foi criado, oscostumes e a natureza

bela que um dia ali haviadeixado.

M a g o a d o , o s e r t a n e j opromete deixar a terra, maspromete também voltar se caso,um dia fizerem guerra contra ela.

Neste caso, promete o sertanejolutar até a morte se preciso for, emdefesa do berço no qual nascera.Bela melodia, bela letra e mais belaainda, a voz de Elomar.

Portanto, meu caro leitor, secomo este cantador sertanejo, aausência de interesse pelapreservação da identidade culturaldo nosso povo, lhe causa certoi n c ô m o d o , n ã o p e r c a aoportunidade de conhecer otrabalho de Elomar. Afinal, a almahumana sempre (ou quasesempre) se eleva ao ouvir uma boamúsica, se abrindo a dimensõesmais delicadas da criação artística ecultural de nosso povo.

Dentre os diversos discosgravados, o músico Elomar gravouao vivo em 1984, juntamente comGeraldo Azevedo, Vital Farias,Xangai, entre outros músicos, o

Daniela DinizGraduanda em Filosofia pela UFSJ

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* Dicas de músicas, sites, filmes.

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disco Cantoria 1. Após este,também foram gravados Cantoria 2e 3, sendo que o volume 3 recebe onome Cantoria 3 Elomar Canto eSolo gravado em 1995.

Os três volumes do álbumreceberam o selo da KuarupDiscos, que foi fundada em 1977,no Rio de Janeiro pelo produtorMário de Aratanha e AirtonBarbosa, tendo em seguida aadesão da co-diretora, a francesaJanine Houard.

A Kuarup é hoje uma dasp r i n c i p a i s g r a v a d o r a sindependentes do Brasil, e contacom cerca de 200 títulos em seuacervo, variando entre o repertóriode músicas nordestinas, caipira,s e r t ane j a , MPB, samba einstrumental, entre outros gêneros,sempre visando preservar aintegridade cultural.

O cantador

Brasileirada Cultura

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institutos, universidades. Ademanda de ONGs quec u m p r e m o p a p e l d eintermediários entre a verbapública e diferentes setores esegmentos da sociedade, é muitogrande e muitas vezes vemosn o t i c i á r i o s d e n u n c i a n d oirregularidades nos projetosdesenvolvidos por elas.

N o e n t a n t o d e v e m o ssalientar que há gente sériaenvolvida em projetos sérios,com o intuito de desenvolvermudanças em nossa sociedade.Embora não seja uma práticamuito comum do brasileiro, édever nosso fiscalizar como estásendo gasto esse dinheiro, afinalele é o nosso dinheiro, dinheirocom que pagamos os nossosimpostos.

Essa é a nossa dica de filmedessa edição “Quanto vale ou épor quilo?” é uma ferramentainteressantíssima para abrirdiscussões sobre temas comocorrupção, racismo, políticaspúblicas, entre outros. Leve paraas salas de aula, grupos deestudos ou aí mesmo com asua galera que se interessapor política.

Então, aproveite ereflita.

R e f e r ê n c i a : ( T r e c h oRetirado dos créditos dofilme “Quanto vale ou é porquilo” de Eduardo Benaim.Coprodução “ Quanta eTeleimagem, 2005.

Nilson LemosGraduando em Filosofia pela UFSJ

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desigualdade emerge, no filme,como uma opor tun idadec o m e r c i a l , u m t i p o d e“modalidade econômica”, ous e j a , “ o m e r c a d o d asolidariedade”, que tem comomáxima (várias vezes é citada nofilme) “ajudar a quem precisa emovimentar a economia dopaís”. Empresas, ONGs, epolíticos, fazem do slogan dasolidariedade sua bandeira, ec o m i s s o c r e s c e mvertiginosamente seus lucrose c o n ô m i c o s e ,concomitantemente, dá-se apromoção da sua imagem junto àsociedade.

A proposta do filme nosremete a um problemagravíssimo em nosso país, agestão de dinheiro público.Milhões de reais saem todos osanos dos cofres públicos,destinados àmelhoria daqualidadede vida dapopulaçã

o brasileira.Em diversasáreas

como saúde, educação, culturae esportes, entre outras, sãoabertos editais de todos os tipos,mas como a edição deste mês édedicada ao patrimônio culturalde nossa região, ficaremosrestritos a eles.

Os dos grupos ligados àcultura popular (como os gruposde Congado, Folia de Reis ePastorinhas) enfrentam umagrande dificuldade em conseguirêxito na captação deste tipo deverba e grande parte dessessegmentos culturais sequer sabeque pode pleitear esse tipo derecurso.

Alguns desses editais nãopedem nenhum pré-requisitoa c a d ê m i c o p a r a s e r e mrespondidos, mas para ter acessoaos recursos oferecidos énecessário saber desenvolver umprojeto , além de saber

algumas “manhas” dotrâmite burocrático -c o i s a s q u e n e msempre são acessíveisaos grupos, aos quais

esse tipo de verbase destinaria.

E s s am e d i a ç ã oe n t r e od i n h e i r opúblico e a

s o c i e d a d e ,acaba sendo

feita porONGs

,

* Comentário sobre produções artísticas e midiáticas.

Quanto vale ou é por quilo?É uma reflexão sobre osproblemas sociais de nosso país ea corrupção presente em todas ascamadas de nossa sociedade.Com direção e roteiro de SérgioBianchi (em parceria comEduardo Benaim), é uma “livreadaptação do conto O pai contraa mãe de Machado de Assis e dascrônicas Do Rio Colonial porNireu Cavalcanti, extraídas doarquivo nacional do Rio deJ a n e i r o ” . C o n t a c o m ap a r t i c i p a ç ã o d e a t o r e srenomados como Herson Capri,Caco Ciocler, Lázaro Ramos,Zezé Motta, Antônio Abujamra eCaio Blat.

O filme tem como alvocentral de sua crítica as ONGsque atuam em nosso país comocaptadoras de recursos de fundosgovernamentais e têm, em suamaioria, a missão de destinaresses recursos para a sociedadeem forma de trabalhos sociais.

Além dessa temática o filmenos faz lembrar que as nossasmazelas, oriundas da falta deh o n e s t i d a d e n e s t e p a í s ,remontam aos tempos coloniais.O rac i smo, o sonho dapromoção social vendida pelagrande mídia e o crime comomeio de a l cançá - l a , s ãor e s u l t a d o s ( t o d o s e l e sinterligados) da falta de políticasp ú b l i c a s , h i s t o r i c a m e n t eenra i zadas na soc iedadebrasileira.

O grand e ab i smo d a

Quanto Vale

É por QuiloOU

Comercializando Solidariedade

Page 8: Ribeiro Patrimonio - ufsj.edu.br · Atrasado é quem não leu! Edição nº 18-Filosofia da UFSJ 1º/2012Ano X Coordenação da Prof.Dra.Glória Ribeiro Laboratório de Estética

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FS

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Receitas1-Omédico:César.Aenfermeira:Ana.Aoperação:CESARIANA.2-Preparaaterra:ara.Afruta:caju.Umabelacidade:ARACAJU.3-Anotamusical:FA.Noanzol:isca.Fazofogo:FAÍSCA.4-Ohomem:Sá.Oente:ser.Asfortunas:dote.Padre:SACERDOTE.5-Boatarde:salve.Majestade:rainha.Oração:SALVERAINHA.6-Amulher:Sara.Opadre:cura.Tempernafina:SARACURA.7-Overbo:ser.Oveículo:Jeep.UmestadodoBrasil:SERGIPE.8-Aqui:cá.Divisa:Valo.Oanimal:CAVALO.9-Opássaro:arara.Colocaaroupaparaclarear:quara.Acidade:ARARAQUARA.10-Aprimeirapessoa:Eu.Aqui:cá.Estudei:li.Ocigarro:pito.Amadeira:EUCALIPTO.

DOCE de LEITE PASTOSO

Ingredientes

Modo de Preparo

5 litros de leite1kg de açúcar2,5g de bicarbonato de sódio2 pedacinhos de canela em pau(opcional)

Em um tacho (preferencialmente de cobre)coloque o leite e o bicarbonato de sódio, emexa até a mistura tornar-se homogênea.Em seguida adicione o açúcar e leve aofogo baixo. Deve-se mexer o doce durantetodo o processo (aproximadamente 3h).Quando o doce estiver encorpado eborbulhando, pegue uma pequenaquantidade e coloque em um copo comágua fria. Verifique o ponto, se a gota for aofundo do copo sem se dissolver, o doce jáestará no ponto ideal. Retire-o do fogo edeixe esfriar.

Receita cedida por Geralda Campose por José Raimundo da Silva

BROA de ANGÚ

Ingredientes

Modo de Preparo

3 xícaras de leite;1/2 xícara de gordura ou banha1 e 1/2 xícara de açúcar1 e 1/2 xícara de fubá de canjica1 e 1/2 xícara de farinha de trigo1 pitada de sal1 colher de sopa de fermento em pó6 a 8 ovos caipira (obs.: os ovos devemser necessariamente caipiras)

Em uma panela (de preferência de ferro)coloque o leite, a gordura, o açúcar, o sal edeixe ferver. Assim que levantar fervuraadicione o fubá e a farinha de trigo e mexa oangú (por aproximadamente 5 minutos.).Logo após, coloque a massa em umavasilha e deixe esfriar. Quando a massaestiver fria, vá adicionando os ovos até oponto de enrolar. Para enrolar polvilhe comfarinha de trigo um coité (cuia pequena),coloque uma porção da massa dentro docoité, balance para dar forma à massa edespeje em uma assadeira untada comgordura.Asse em forno temperado.

Receita cedida por Geralda Campos

Dica:

para evitar que

o leite ferva e

entorne, coloque

um pires no fundo do

tacho, até que a mistura

se torne mais concentrada

(apos isso deve-se retirar o

pires).

Ed

içã

o n

º 1

8

Respostas

Isaac José da SilvaGraduando em Filosofia pela UFSJ

1-TACHO2-ASSOMBRAÇÃO3- CONGADO4- IPHAN5-AMARELINHA6-ARTESANATO7- CULINÁRIA8- CRENÇA9-TOMBAMENTO10- PIMENTA

11- QUEIJO12- EMBORNAL13- RAPADURA14- CACHAÇA15- REIS16- FEIJÃO17- ONÇA18- CAFÉ19- FUBÁ.