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REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA ULBRA 2008

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Reitor Marcos Fernando Ziemer Vice-Reitor Valter Kuchenbecker Pró-Reitor de Administração Ricardo Müller Pró-Reitor de Graduação Ricardo Prates Macedo Pró-Reitor Adjunto de Graduação Pedro Antonio Gonzalez Hernandez Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Erwin Francisco Tochtrop Júnior Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Ricardo Willy Rieth Capelão geral Gerhard Grasel

DIRETORIA DE PESQUISANádia T. Schröder (Dir.)Ana Maria Pujol Vieira dos SantosJuliana da Silva LemosDanielle Feijó de Sousa

COMISSÃO EDITORIALAna Maria Pujol Vieira dos SantosMarilena França Sarmento BarataNádia T. Schröder

INDEXADORLATINDEX

EDITORA DA ULBRADiretorAstomiro RomaisCapaJuliano Dall’AgnolProjeto GráficoIsabel KubaskiEditoraçãoHumberto Gustavo SchwertCoordenação de Impressão GráficaEdison Wolf

Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 29 - Sala 202 - Bairro São José CEP: 92425-900 - Canoas/RSFone: (51) 3477.9118 - Fax: (51) 3477.9115www.editoradaulbra.com.brE-mail: [email protected]

Imagem da capa: Calcosferitos - 20µmAutoria: Centro de Microscopia Eletrônica e Microanálise da ULBRA

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Índice

APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................................7

CIÊNCIAS AGRÁRIASAvaliação hematológica e bioquímica de filhotes de arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) no Pantanal-MS ..........................................................................................................................................11Tatiane Chao Furtado, Neiva Maria Robaldo Guedes, Daniel Thompsen Passos, Tania de Azevedo Weimer, Fabiana Silveira,

Mariangela da Costa Allgayer

Cultivo de Arcobacter spp a partir de diferentes graus de lesões de úlcera gástrica em suínos .........................21Felipe Inácio Vogt, Roberto Tesi Bernardi, Vanessa Daniele Mottin, Daniel Thompsen Passos, Vagner Ricardo Lunge, Sérgio J. de Oliveira

Detecção de fatores de virulência de Escherichia coli através da PCR em tempo real .....................................27Fabrício Alves Cerveira, Joana Bittencourt Mathias, Yara Silva Casanova, Beatriz Machado Terra Lopes, Fernanda Kieling Moreira Josiane Faganello, Ana Paula Wobeto, Priscilla Karina Vitor Koerich, Edmundo Kanan Marques, Andre Salvador Kazantzi Fonseca, Vagner Ricardo Lunge, Nilo Ikuta

CIÊNCIAS BIOLÓGICASA influência da origem geográfica de amostras de acerola (Malpighia glabra L.) em relação ao seu potencial genotóxico e antigenotóxico ..........................................................................................................................37Vivian Francília Silva Kahl, Merielen da Silva Sarmento, Roberta da Silva Nunes, Marc François Richter, Alexandre de Barros Falcão Ferraz, Juliana da Silva

Caracterização de redes de interação protéica associadas ao desenvolvimento do melanoma ...........................47Miriam Santos Borba, Kelly Cristina Leite da Gama, José Luiz Rybarczyk Filho, Mauro Antônio Alves Castro

Estudo de associação do polimorfismo –308G>A no Gene do fator de necrose tumoral-alfa (TNF-alfa) com a presença de retinopatia diabética ..................................................................................................................53Mariane Hanke Gonçalves, Jéssica Boaventura dos Santos, Luís Fernando Castagnino Sesti, Daisy Crispim, Kátia Gonçalves dos Santos

Estudo do polimorfismo -31C/T do gene da interleucina 1-beta em pacientes dispépticos funcionais ................61Tássia Flores Rech, Marília Correa Osório, Luciano Basso da Silva, Guilherme Becker Sander, Carlos Fernando Francesconi,

Luiz Edmundo Mazzoleni, Daniel Simon

Identificação de remanescentes de roedores de um abrigo sob rocha do Nordeste do RS: implicações paleoambientais .........................................................................................................................71Paulo Ricardo de Oliveira Roth, Diego Marques Henriques Jung, Alexandre Uarth Christoff

CIÊNCIAS DA SAÚDEEvidência de que os ácidos β-hidroxibutirato e acetoacetato não causam estresse oxidativo em córtex cerebral de ratos jovens in vitro ......................................................................................................................................85Carolina Gonçalves Fernandes, Estela Natacha Brandt Busanello, Alana Pimentel Moura, Ana Paula Beskow, Lucila de Bortoli da Silva,

Moacir Wajner

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Ligadura de ducto biliar como modelo de cirrose biliar secundária: Efeito da S-Nitroso-N-Acetilcistena (SNAC) ................................................................................................97Bruna Borba Valiatti, Rafael Vercelino, Juliana Tieppo, Graziella Rodrigues, Cíntia de David, Gabriela Freitas de Souza,

Marcelo Ganzarolli de Oliveira, Norma Possa Marroni, Cláudio Augusto Marroni

Papel da melatoninano estresse oxidativo do fígado e sangue de ratos cirróticos ............................................109Darlan Pase da Rosa, Silvia Bona, Norma Anair Possa Marroni

Protocolo experimental de indução de proliferação neointimal vascular em modelo de artérias coronárias suínas .......................................................................................................................123Juliana G. Ferst, Diovana Dallarosa, Themis Theisen, Fernanda Bakkar, José L. Guimarães, Cristina Dreyer, Alexandre C. Zago,Alcides J. Zago, Paulo R. Centeno Rodrigues, Beatriz G. Kosachenco,José Casco Raudales

Relação entre a aptidão física e o equilíbrio com a capacidade funcional em um grupo de idosas ...................135Diego Colvara, Raquel Dalagna, Fátima de Almeida Lobo, Cíntia De La Rocha Freitas, Paulo Tadeu Campos Lopes,

Andréa Krüger Gonçalves, Adriane Ribeiro Teixeira, Ana Maria Pujol Vieira dos Santos

CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRAAnálise e reconhecimento de padrões usando processamento de imagens e inteligência artificial ....................145Álisson Bohnert Krug, Adriane Parraga, Fabiana Lorenzi, Mariano Nicolao, Analucia Schiaffino Morales

CIÊNCIAS HUMANAS“A Casa tá cheia!”: alguns significados da Praça Dona Mocinha .................................................................157Luiz Alberto dos Santos Ferreira, Alexandre Kunsler, José Geraldo Soares Damico

A tecnologia da guerra nos relevos Neo-Assírios ..........................................................................................169Ricardo Silva Serres, Sandro Teixeira de Oliveira, Simone Silva da Silva, Jéssica Santos de Lima, Katia Maria Paim Pozzer

Análises comparativas dos acervos de dois sítios arqueológicos históricos e urbanos(Guaíba e Porto Alegre/RS) ........................................................................................................................181Simone Ribeiro Boulhosa, Gislene Monticelli, Ângela Maria Cappelletti, Priscila Pedroso Dias, Lisiane da Motta, Isabel Cristina Gomes, Jocyane Ricelly Baretta

Educação de Jovens e Adultos: investigação sobre os processos de fatoração numérica e algébrica .................189Luiz Eduardo Cornelio, Ocsana Sônia Danyluk, Carmen Hessel Peixoto Gomes, Magda Inês Moreira

Personalidade criminal: do ato de matar ao requinte de crueldade ................................................................197Paula Canani, Áurea Adiles Machado dos Santos, Andrea Bernardes Lopes, Sheila Coitinho de Andrade,

Carmem Aristimunha de Oliveira

CIÊNCIAS SOCIAISCapital social e desempenho institucional na América Latina: Brasil, Uruguai e Chile ................................211Cíntia Viviane Ventura da Silva, Everton Santos

ENGENHARIASEstudo da viabilidade da utilização de carepa de aço na produção de concreto..............................................221Gisele Lopes Pereira, Rafael Jesus Cossa, Fernanda Macedo Pereira

Sistema de monitoramento de sinais vitais para testes físicos com transmissão de dados sem fios ..................231Cristian Teixeira Daniel, João D. Klein, Valner J. Brusamarello

Índice de Autores ......................................................................................................................................241

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Apresentação

A Revista de Iniciação Científica da ULBRA que apresentamos, revela o crescimento qualitativo dos trabalhos de iniciação científica selecionados no XIV Salão de Iniciação Científica da ULBRA de 2008 que se constitui num espaço de convergência e irradiação do saber.

A iniciação científica é um instrumento básico de formação de recursos humanos qualificados que possibilita introduzir os alunos de graduação em contato direto com a atividade científica e tecnológica e engajá-los na pesquisa. Nesta perspectiva, esta atividade caracteriza-se como instrumento de apoio teórico e metodológico à execução de uma pesquisa. Também garante, aos estudantes, uma maior visão do mundo permitindo com que imprevistos possam ser solucionados. Nesta atividade de pesquisa há estímulo para o desenvolvimento do espírito crítico e da criatividade.

O Programa de Iniciação Científica e Tecnológica (PROICT/ULBRA) foi aprovado com o objetivo de efetivar este processo consistente de capacitação de recursos humanos visando estabelecer mecanismos adequados de auxílio para a formação de uma nova mentalidade no aluno, desenvolvendo nele a atitude científica, tornando-o um indivíduo preparado para ser o profissional diferenciado no mercado de trabalho. Além do programa institucional próprio contamos com o auxílio do CNPq por meio do PIBIC que tem por finalidade o despertar da vocação científica e incentivar talentos potenciais entre estudantes de graduação universitária, mediante participação em projeto de pesquisa, orientados por pesquisador qualificado.

O Salão de Iniciação Científica da ULBRA, mais do que a difusão de conhecimentos é a ampliação das relações da Universidade com a comunidade em que está inserida e aberta a outras Instituições de Ensino Superior, constituindo-se numa oportunidade única para que o estudante possa perceber o sentido do fazer científico dentro da Universidade. Além disso, é uma oportunidade para estudantes participarem de eventos onde há trocas de experiências, de informações entre os participantes e avanço do conhecimento com a exposição dos resultados das pesquisas desenvolvidas por estes alunos.

Dr. Erwin Francisco Tochtrop JúniorPró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

Dra. Nádia SchröderDiretora de Pesquisa

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Ciências Agrárias

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Avaliação hematológica e bioquímica de filhotes de arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus)

no Pantanal-MS

TATIANE CHAO FURTADO1

NEIVA MARIA ROBALDO GUEDES2

DANIEL THOMPSEN PASSOS3

TANIA DE AZEVEDO WEIMER3

FABIANA SILVEIRA4

MARIANGELA DA COSTA ALLGAYER5

RESUMO

Dados sobre a sanidade de espécies ameaçadas pode ser uma importante contribuição para os programas de conservação. Este estudo avaliou a sanidade e estabeleceu os parâmetros hematológicos e bioquímicos séricos de filhotes de vida livre da arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) do Pantanal – MS, durante quatro anos consecutivos (2003 a 2006). O exame clínico evidenciou que os filhotes se apresentavam clinicamente normais. Foram observadas diferenças significativas no diferencial leucocitário, glicose, proteína total, triglicerídeos e fósforo nas fêmeas. Aumentos no colesterol e hematócrito foram observados nas fêmeas mais velhas, e a contagem de leucócitos totais e heterófilos foram mais elevadas nos filhotes mais jovens. Nos machos, os valores de ácido úrico foram mais elevados nos indivíduos mais velhos. O conhecimento dos níveis sanguíneos em filhotes clinicamente normais é essencial para verificar as condições fisiológicas e patológicas das araras de vida livre, auxiliando na

1 Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária ULBRA - Bolsista PROICT/ULBRA

2 Professor do Curso de Biologia/UNIDERP; Presidente do Instituto Arara Azul

3 Professor(a) do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA

4 Acadêmica do Curso de Biomedicina/ULBRA5 Professora-Orientadora do Curso de Medicina Veterinária/

ULBRA ([email protected])

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avaliação dos efeitos das mudanças ambientais em sua saúde e contribuindo para as estratégias de conservação em espécies ameaçadas.

Palavras-chave: arara-azul, Anodorhynchus hyacinthinus, filhotes, parâmetros hematológicos e bioquí-micos, estratégias de conservação, sanidade.

ABSTRACT

Knowledge of the health status of endangered species can make an important contribution to preservation programs. This study evaluated the health status and established hematological and serum biochemical parameters for free-living nestlings of the Hyacinth macaw (Anodorhynchus hyacinthinus) from the Brazilian Pantanal, for four consecutive years (2003 - 2006). Physical examinations indicated that all the birds were in good health. Significantly higher levels of total and differential white blood cells, glucose, total protein, triglycerides, and phos-phorus were observed in females. In females, higher cholesterol levels and packed-cell volumes were observed in older birds, and total white blood cell and heterophil counts were higher in young animals. In males, uric-acid levels were higher in older individuals. Therefore, knowledge of blood levels in normal individuals is essential in order to assess the physiological and pathological condition of wild macaws, to assess the effects of environmental changes on their health, and to contribute to conservation strategies of this endangered species.

Key words: Anodorhynchus hyacinthinus, nestlings, biochemical and hematological parameters, conser-vation strategies, health status.

INTRODUÇÃO

A arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) é a maior espécie de psitacídeo, e atualmente está na lista das aves ameaçadas de extinção, devido ao rápido declínio de sua população como resultado do tráfico de animais silvestres e deterioração ou perda de seu habitat (GALLETI et al., 2002).

A maior população de vida livre da arara-azul se encontra no Pantanal do Mato Grosso do Sul (GUEDES, 2004), região que tem sofrido intensos processos de modificação ou destruição devido à pressão da população humana, criação de gado e desmatamentos (GUEDES e HARPER, 1995). Esta degradação ambiental tem contribuído para a implantação de programas que visam à conservação

e manejo das espécies selvagens do Pantanal (SEI-XAS e MOURÃO, 2002). Desde 1990, o Projeto Arara Azul tem contribuído para o conhecimento sobre manejo e conservação desta espécie descre-vendo os aspectos básicos da biologia como: nutri-ção, reprodução, habitat, comportamento, condi-ções dos filhotes e ameaças que estão reduzindo a população da arara-azul no Pantanal (GUEDES et al., 2006; PIZO et al., 2008). Contudo, ainda são poucos os conhecimentos sobre o estado sanitário da arara-azul no seu ambiente natural.

Parâmetros hematológicos e bioquímicos são ferramentas complementares para o diagnóstico de doenças e monitoramento das condições sanitárias dos animais (KARESH et al., 1997; LANZAROT et al., 2001). Tabelas com referências destes parâmetros

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para aves de vida livre são raros devido à dificuldade de obtenção de amostras (MASELLO e QUILLFELDT, 2004). Na literatura encontram-se valores hemato-lógicos e bioquímicos para psitacídeos mantidos em cativeiro (ROSENTHAL et al., 2005; VALLE et al., 2008), sendo escassos em psitacídeos de vida livre (MASELLO e QUILLFELDT, 2004; DEEM et al., 2005), e nenhuma informação para a arara-azul de vida livre foi realizada. O presente trabalho estabe-lece valores hematológicos e bioquímicos séricos em filhotes de arara-azul em ambiente natural.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi realizado no Pantanal sub-região de Miranda (19º51’-19º58’S; 56º17’-56º24’W), no Mato grosso do Sul. Foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Luterana do Brasil.

Noventa e um filhotes de arara-azul de vida livre foram examinados no mês de dezembro, durante qua-tro estações reprodutivas (2003 a 2006). Os ninhos nas árvores foram acessados utilizando equipamento para rapel, e as aves foram retiradas do ninho. Cada ave foi clinicamente examinada conforme descrito por Samour (2000). Após, os filhotes foram pesados e a amostra de sangue (5 mL) foi colhida da veia da asa. Os procedimentos foram realizados pelo mesmo veterinário (M. C. Allgayer), para garantir o controle da qualidade das amostras (BOWERMAN et al., 2000). Logo após a colheita, 2 mL de sangue foram transferidos para um tubo com anticoagulante (BD Vacutainer® K3. EDTA 7,5% Solution, 0,068 mL, 5,1 mg), e 3 mL foram colocados em tubos sem anticoagulante. Dois esfregaços de sangue de cada filhote foram confeccionados e secos ao ar.

Depois da colheita todos os filhotes foram identificados com anilha de aço inox aberta e uma

identificação eletrônica foi implantada no músculo peitoral. Os filhotes foram devolvidos cuidadosa-mente ao ninho, e monitorados semanalmente até abandonarem o ninho.

O processamento das amostras de sangue foi inicialmente realizado no laboratório da sede do Instituto Arara Azul. As análises hematológicas foram processadas até 6 horas após a colheita. O volume globular (VG) foi determinado por centri-fugação em microcentrífuga (5 minutos; 10.000 G). Os leucócitos totais foram contados em câmara de Neubauer (NATT e HERRICK, 1952). Esfregaços de sangue foram fixados em metanol 99% e cora-dos com Giemsa, sendo posteriormente enviados para o laboratório de Patologia Clínica do Hospi-tal Veterinário da ULBRA. Os esfregaços foram examinados em microscópio óptico (aumento 1000 x) para a realização do diferencial leucocitário (FUDGE, 2000a).

Alíquotas de soro foram armazenadas por 30 dias em temperatura de -20°C antes da análise. Após descongelamento do soro, foram realizados os seguintes parâmetros bioquímicos: creatina kinase (CK), aspartato aminotransferase (AST), gamma glutamyltransferase (GGT), amilase, lipa-se, fosfatase alcalina (FA), lactato desidrogenase (LDH), colesterol, triglicerídeos, proteína total (PT), glicose, ácido úrico, uréia, magnésio e fósforo. Todos os bioquímicos realizados estão de acordo com os recomendados por Clubb et al. (1991) para avaliação da sanidade das aves.

Para análise estatística foi utilizado o programa SPSS 10.0.5 (SPSS Inc., Chicago, Illinois, USA). Comparação entre machos e fêmeas e entre idade dos grupos (25 a 80 e 81 a 107 dias de idade) foram realizadas usando teste t de Student. Os intervalos de idade foram baseados na informação de que os pesos máximos dos filhotes são obtidos em torno de

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80 dias de idade. Depois disto, os filhotes perdem 20% do seu peso antes de voarem, este é um evento fisiológico crítico que pode influenciar os parâme-tros hematológicos e bioquímicos (LANZAROT et al., 2005). O peso dos filhotes nas diferentes idades foi comparado estatisticamente pelo teste ANOVA com tabelas disponíveis na literatura. As amostras foram checadas para distribuição normal. Diferenças foram consideradas significativas quan-do P<0.05.

RESULTADOS

O exame físico evidenciou que todas as aves estavam em boas condições de saúde. Anormali-dades não foram detectadas durante o período de observação (eclosão – vôo) em torno de 110 dias (GUEDES e HARPER, 1995). Após este período todos os filhotes voaram com sucesso. A sexagem por DNA identificou 37 machos e 54 fêmeas. A idade dos filhotes estudados variou de 25 a 107 dias, sendo estimadas de acordo com o período do aban-dono do ninho. O peso obtido dos filhotes variou de 734 a 1561g, com uma média de 1275,6g. Não foram observadas diferenças entre machos e fêmeas, e este resultado estão de acordo com os dados de crescimento publicados por Abramson (1995).

Os parâmetros hematológicos (média ± DP) dos filhotes estão listados na Tabela 1. Níveis sig-nificativamente mais elevados de leucócitos totais (P=0.01) e heterófilos (P=0.01) foram observados em fêmeas. Os leucócitos totais (P=0.04) e hete-rófilos (P=0.02) foram também significativamente superiores em fêmeas jovens, e valores de VG (P=0.04) mais elevados foram observados em fêmeas mais velhas. Não foram observadas diferen-ças nos parâmetros hematológicos em machos de diferentes idades. Basófilos não foram identificados

nos esfregaços sanguíneos em ambos os sexos. Dis-cretas anisocitose e policromasia foram observadas na morfologia dos eritrócitos.

Os valores dos parâmetros bioquímicos es-tão descritos na Tabela 2. Os valores de glicose (P=0.04), triglicerídeos (P=0.02), proteína total (P=0.02), e fósforo (P=0.01) foram significati-vamente mais elevados em fêmeas. Os valores da enzima amilase (P=0.02) foram mais elevados nas fêmeas jovens e níveis mais elevados de co-lesterol (P=0.02) foram observados em filhotes mais velhos. Nos machos os níveis de ácido úrico (P=0.03) foram significativamente mais altos nos filhotes mais velhos.

DISCUSSÃO

O conhecimento do estado sanitário de espé-cies ameaçadas é importante no estabelecimento de estratégias nos programas de conservação. Informações sobre os parâmetros hematológicos da A. hyacinthinus em ambiente natural não estão disponíveis na literatura, sendo este o primeiro estudo sobre patologia clínica em filhotes de arara-azul de vida livre. Os valores de referências devem ser baseados em animais clinicamente saudáveis, entretanto, Weber et al. (2002) relatam dificuldade de determinar as condições de saúde em animais de vida livre, todas as aves aqui coletadas voaram com sucesso no período esperado, entre 105-110 dias de idade, (GUEDES e HARPER, 1995) sugerindo seu estado saudável. Este período foi estimado pelo Projeto Arara- Azul, através da observação anual de filhotes, desde ovo até o abandono do ninho, nos últimos 19 anos.

Segundo Bounous et al. (2000), determinações hematológicas em espécies de vida livre podem

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ser influenciadas pelo estresse fisiológico durante a captura e contenção. Neste estudo, os filhotes foram manejados cuidadosamente para reduzir o tempo de contenção, entretanto embora com todos os cuidados, não podemos excluir a possibilidade da influência do estresse nos presentes resultados.

O valor médio do VG obtido foi similar aos va-lores relatados para araras jovens do gênero Ara sp. mantidas em cativeiro (CLUBB et al., 1991) e de vida livre (KARESH et al., 1997). Segundo Lanzarot et al. (2005), valores de VG são baixos em aves jo-vens, este achado pode ser devido a adaptação para o vôo, onde a necessidade de oxigênio é intensamente aumentada. Neste estudo, o valor de VG foi menor nas fêmeas jovens, mas diferenças não foram obser-vadas nos machos em relação à idade.

Variabilidade no tamanho e cor é normal nos eritrócitos periféricos em aves. Discreta alteração foi observada na morfologia eritrocitária dos filhotes de arara-azul neste estudo. Fudge (2000a) relata que discretas policromasia e anisocitose são achados normais em aves.

A contagem dos leucócitos totais foi maior nas fêmeas do que nos machos, e mais elevada nas fêmeas mais jovens. Achados similares não foram relatados em outras aves, podendo ser uma característica desta espécie. Segundo Padilla et al. (2003), a contagem total e diferencial de leucócitos varia muito entre as espécies de aves selvagens, provavelmente refletindo uma variabilidade entre espécies e diferenças nos métodos de captura, contenção e de colheita de san-gue. Um número elevado de leucócitos totais pode ser devido: aos altos níveis de estresse, interações sociais, captura, taxa de crescimento nos animais jovens (MARCO et al., 1997).

Heterófilos foram os leucócitos em maior percen-tual nestas araras, isto já foi previamente descrito em

Amazona aestiva de vida livre (DEEM et al., 2005), e em Amazona guildingii (DEEM et al., 2008) e Ara sp. (HARR et al., 2005) em cativeiro. Os valores de heterófilos e eosinófilos foram similares aos já relatados em araras jovens e adultas (CLUBB et al., 1991; HARR et al., 2005). O número de linfócitos, observado neste estudo, não diferiram dos publica-dos para Ara sp. (HARR et al., 2005), mas foram inferiores aos previamente descritos para Ara macao (KARESH et al., 1997). Estas diferenças podem ser atribuídas a idade, estresse, estimulação imunológica ou particularidades da espécie (FUDGE, 2000b).

Montali (1988) relata que a exata função dos basófilos em aves é ainda desconhecida, mas eles participam na fase inicial da resposta inflamatória aguda. Neste estudo, nenhum basófilo foi identificado, sugerindo a ausência de doenças inflamatórias agudas, confirmando a higidez dos filhotes. Os monócitos en-contrados não diferiram dos valores já descritos para psitacídeos (HARR et al., 2005; FOLDENAUER et al., 2007), mas foram inferiores a os publicados por Karesh et al. (1997) para araras jovens.

A bioquímica sérica tem sido utilizada em aves para investigar mudanças no estado nutricional (ALONSO-ALVAREZ e FERRER, 2001), perío-do reprodutivo (MERINO e BARBOSA, 1997), condições: corporal (MASELLO e QUILLFELDT, 2004), física (VILLEGAS et al., 2002) e sanitária em filhotes (KARESH et al., 1997).

A PT em aves possui equivale aproximadamente a metade das concentrações descritas em mamíferos. Neste estudo os valores de PT foram inferiores aos descritos para psitacídeos mais velhos (FUDGE, 2000b). Karesch et al. (1997) analisando soro de Ara macao também observou que os valores de PT foram inferiores em aves jovens quando comparados com sub-adultos. Esta diferença pode ocorrer devido ao rápido crescimento e aumento da massa muscular

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do filhote, ou devido à deficiência protéica da dieta durante esta fase. Joyner et al. (1992) observaram um aumento nos níveis séricos de PT relacionados com a idade em psitacídeos de vida livre, Lanzarot et al. (2005) relatam que o aumento está relacionado com as concentrações de anticorpos.

Os valores de glicose observados em filhotes de arara-azul foram menores do que os obtidos em psita-cídeos (KARESH et al., 1997; FUDGE, 2000b). Esta diferença pode ser atribuída como sendo característica desta espécie ou devido diferenças na metodologia utilizada para mensuração deste bioquímico.

Os níveis séricos de colesterol foram similares aos descritos para espécies de psitacídeos (FUDGE, 2000b). Concentrações de triglicerídeos foram superiores em fêmeas, como já relatado em filhotes de Ciconia nigra de vida livre (LANZAROT et al., 2005). Harr (2002) relata que as concentrações de triglicerídeos variam com o clima, influencia hormonal, idade e dieta.

As concentrações de ácido úrico nos filhotes de arara-azul foram semelhantes às descritas em outras espécies de psitacídeos, mas a concentração de uréia foi mais elevada do que os valores descritos para várias espécies de psitacídeos (ALTMAN et al., 1997; VALLE et al., 2008). Em nosso estudo, o ácido úrico foi mais elevado nos ma-chos mais velhos. Estes resultados podem ser associados com a proteína da dieta, quantidade de alimento e água consumidos, requerimento de aminoácidos para síntese protéica e excreção renal (COSTA et al., 1993). A uréia normalmente tem baixos níveis séricos em aves, aumen-tando nos animais desidratados. A avaliação conjunta de uréia e ácido úrico é utilizada para diferenciar entre desidratação e doença renal (HARR, 2002).

O nível do fósforo sérico ficou dentro dos in-tervalos relatados em filhotes de Ara macao, mas as concentrações de magnésio foram inferiores aos observados nesta espécie (KARESH et al., 1997).

Estas diferenças podem ser atribuídas à conservação das amostras e/ou variações nas metodologias labo-ratoriais utilizadas (BOUNOUS et al., 2000).

A atividade de CK e LDH nos filhotes de arara-azul ficou entre os intervalos publicados por Polo et al. (1998) e Fudge (2000b). Entretanto, os níveis de AST e GGT foram inferiores e superiores conco-mitantemente, do que os descritos por Clubb et al. (1991) em araras jovens. A GGT é provavelmente uma enzima específica do epitélio renal e biliar das aves, mas sua utilização no diagnóstico clínico ainda não foi adequadamente avaliada (HARR, 2002). A atividade da AST é considerada muito sensível, mas não específica para indicar doença hepatocelular, sendo freqüentemente solicitada pareada com a enzima CK, músculo específica, para diferenciar entre lesão hepática e muscular. Como todas as aves analisadas apresentaram-se clinicamente saudáveis, os baixos níveis de atividade sérica da AST são provavelmente devido às diferenças na metodologia ou normais para esta espécie.

Os níveis FA neste estudo foram mais elevados do que os descritos em aves adultas de outras espé-cies (VALLE et al., 2008). A FA está presente em vários tecidos, em particular no fígado e ossos, e está associado com processos osteoblásticos (LUMEIJ, 1997). O aumento sérico da FA observado nos filhotes de arara-azul está associado com o aumento da atividade osteoblástica nas aves jovens.

Os valores para as enzimas amilase e lipase são similares aos descritos para psitacídeos (ALTMAN et al., 1997; FUDGE, 2000b). A razão para altos níveis de amilase observadas em fêmeas jovens é desconhecida, sendo que nenhuma indicação de pa-tologia foi observada. Nos mamíferos, aumento nos valores séricos de amilase está associado com doença pancreática, entretanto, estudos sobre esta enzima são limitados nas aves (DEEM et al., 2005).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação dos parâmetros hematológicos e bio-químicos nos filhotes de arara-azul em seu ambiente natural gerou informações que poderão ser usadas

para a interpretação de resultados laboratoriais em futuros estudos para a conservação desta espécie ameaçada, para avaliar a ocorrência de alterações na saúde desta população em ambientes contami-nados com diferentes agentes xenobióticos.

Tabela 1 - Parâmetros hematológicos (média ± DP) em filhotes de arara-azul de vida livre de acordo com sexo e idade.

PARÂMETROS

MACHOS FÊMEAS

25- 80DIAS DE IDADE

81- 107DIAS DE IDADE

TOTAL25- 80

DIAS DE IDADE 81- 107

DIAS DE IDADE TOTAL

VG (%) 35,2 ± 3,9 (5) 36,2 ± 7,2 (4) 35,6 ± 5,2 (9) 26,7 ± 5,8 (4)C36,6 ± 2,8 (5)D 33,2 ± 6,6 (9)

LEUCÓCITOS TOTAIS (X109/L) 10,8 ± 4,5 (11) 8,6 ± 4,7 (12) 9,5 ± 4,6 (23)A 20,0 ± 8,8 (10)C 10,3 ± 2,9 (10)D 15,2 ± 8,1 (20)B

HETERÓFILOS (X109/L) 7,8 ± 3,4 (11) 6,1 ± 4,1 (12) 6,8 ± 3,7 (23)A 15,6 ± 6,5 (10)C 7,4 ± 2,7 (10)D 11,7 ± 6,5 (20)B

HETERÓFILOS (%) 70,8 ± 8,1 (15) 69,6 ± 9,9 (14) 70,1 ± 8,7 (29) 74,7 ± 9,0 (19) 65,4 ± 13,7 (12) 71,5 ± 11,7 (31)

LINFÓCITOS (X109/L) 2,8 ± 1,4 (11) 2,7 ± 1,4 (12) 2,7 ±1,3 (23) 4,2 ± 2,4 (10) 3,1 ± 0,8 (10) 3,7 ± 1,9 (20)

LINFÓCITOS (%) 28,0 ± 7,5 (15) 29,9 ± 10,0 (14) 29,1 ± 8,5 (29) 24,6 ± 9,4 (19) 34,3 ± 13,9 (12) 28,0 ± 11,9 (31)

MONÓCITOS (X109/L) 0,1 ± 0,02 (11) 2,0 ± 1,4 (12) 0,1 ± 0,03 (23) 0,5 ± 0,02 (10) 0,2 ± 0,04 (10) 0,3 ± 0,2 (20)

MONÓCITOS (%) 1,4 ± 0,5 (15) 2,0 ± 1,4 (14) 1,6 ± 0,8 (29) 1,4 ± 0,5 (19) 1,3 ± 0,5 (12) 1,3 ± 0,5 (31)

EOSINÓFILOS (X109/L) 0,1 ± 0,03 (11) 0,4 ± 0,1 (12) 0,2 ± 0,2 (23) 0,2 ± 0,0 (10) 0,1 ± 0,0 (10) 0,16 ± 0,09 (20)

EOSINÓFILOS (%) 1,0 ± 0,0 (15) 1,3 ± 0,5 (14) 1,3 ± 0,6 (29) 1,0 ± 0,0 (19) 1,0 ± 0,0 (12) 1,0 ± 0,0 (31)

Número entre parênteses corresponde ao tamanho da amostra; A e B: diferenças signifi cativas entre sexos; C e D: diferenças signifi cativas entre idades.

Tabela 2 - Parâmetros bioquímicos séricos (média ± DP) em filhotes de arara-azul de vida livre de acordo com sexo e idade.

PARÂMETROS

MACHOS FÊMEAS

25- 80DIAS DE IDADE

81- 107DIAS DE IDADE

25- 80DIAS DE IDADE

81- 107DIAS DE IDADE

TOTAL

CK (U/L) 217,5±201,7 (11) 214,8±173,2 (14) 221,9±183,6 (25) 147,6±172,0 (21) 229,9±160,6 (11) 175,9±170,2 (32)

AST (U/L) 34,5±20,5 (11) 39,7±24,2 (13) 37,4±22,7 (24) 32,0±15,3 (19) 34,1±21,6 (12) 32,8±17,7 (31)

FA (U/L) 554,1±164,5 (12) 525,8±157,5 (13) 525,3±144,8 (25) 416,7±127,9 (21) 499,7±267,2 (15) 451,3±199,1 (36)

GGT (U/L) 8,2± 3,3 (07) 5,6±3,4 (10) 6,7±3,6 (17) 7,8±4,8 (15) 6,4±4,4 (08) 7,2±4,6 (23)

COLESTEROL (MMOL/L) 3,1±0,9 (15) 3,0±1,2 (09) 3,0±1,0 (24) 2,8±0,5 (19)C 3,6±1,0 (13)D 3,1±0,9 (32)

MAGNÉSIO (MMOL/L) 1,0± 0,3 (06) 1,3± 0,5 (06) 1,1±0,4 (12) 1,0±0,1 (03) 1,0± 0,3 (09) 1,0±0,3 (12)

ÁCIDO ÚRICO (MMOL/L) 0,1±0,1 (12)C 0,3±1,1 (12)D 0,2±0,1 (24) 0,2±0,1 (21) 0,2±0,1 (15) 0,2±0,1 (36)

URÉIA (MMOL/L) 3,9±1,2 (17) 3,7±0,9 (14) 3,9±1,0 (31) 4,3±1,3 (28) 4,0±1,2 (17) 4,2±1,2 (45)

GLICOSE (MMOL/L) 9,9±1,6 (12) 9,4±1,3 (10) 9,7±1,2 (22)A 11,4±2,6 (15) 10,3±1,6 (11) 10,9±2,3 (26)B

AMILASE (U/L) 364,9±70,3 (13) 368,1±87,3 (11) 363,7±78,2 (24) 429,7±139,4 (18)C 334,8±61,6 (13)D 389,9±121,6 (31)

PROTEÍNA TOTAL (G/L) 21,4±2,5 (08) 18,6±5,0 (12) 19,8±4,4 (20)A 22,5±5,3 (13) 24,9±6,6 (12) 23,6±6,0 (25)B

TRIGLICERÍDEOS (ΜMOL/L) 1,1±0,2 (13) 0,9±0,3 (08) 1,0±0,3 (21)A 1,3±0,3 (19) 1,1±0,4 (13) 1,2±0,4 (32)B

LIPASE (U/L) 35,3±31,6 (05) 46,7±45,4 (02) 35,6±31,0 (07) 27,8±12,9 (10) 36,4±24,5 (08) 31,6±18,8 (18)LDH (U/L) 209,7±79,6 (05) 183,5±57,5 (06) 195,4±66,1 (11) 139,9±56,1 (09) 225,7±123,9 (04) 166,3±87,4 (13)FÓSFORO (MMOL/L) 1,4±0,5 (07) 1,8±0,9 (09) 1,7±0,8 (16)A 2,9±1,2 (08) 2,6±1,5 (10) 2,7±1,4 (18)B

Número entre parênteses corresponde ao tamanho da amostra; A e B: diferenças signifi cativas entre sexos; C e D: diferenças signifi cativas entre idades.

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18 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

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21Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

Cultivo de Arcobacter spp a partir de Diferentes Graus de Lesões de

Úlcera Gástrica em Suínos

FELIPE INÁCIO VOGT 1 ROBERTO TESI BERNARDI 2

VANESSA DANIELE MOTTIN 3

DANIEL THOMPSEN PASSOS 4 VAGNER RICARDO LUNGE 4

SÉRGIO J. DE OLIVEIRA 5

RESUMO

Foram examinados 20.792 estômagos de suínos abatidos em frigorífico no Rio Grande do Sul. Lesões na região esofágica foram classificadas, desde as mais leves, de grau 1 até as mais graves, úlceras gástricas de grau 4, obtendo-se 18.657 (89,7 %) estômagos com algum grau de lesão, sendo 12.148 (58,4%) de grau 1, 5.145 (24,7%) de grau 2, 1.004 (4,8%) de grau 3 e 368 (1,8%) de grau 4, comprovando a freqüência com que ocorrem úlceras gástricas em suínos. Foram realizados exames bacteriológicos para cultivo de Arcobacter spp em amostras aleatórias de 148 estômagos, sendo 31 de cada grau de lesão e 24 amostras de estômagos sem lesão. Obteve-se isolamento de 124 amostras de Arcobacter spp, classificadas por PCR como Arcobacter cryaerophilus , 98 (79,03%) e Arcobacter butzleri, 26 (20, 97%). Estes foram os primeiros cultivos de Arcobacter spp de estômagos de suínos no Brasil.

Palavras-chave: Arcobacter spp, estômagos de suínos, úlceras gástricas

1 Aluno do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA. Bosista PROICT/ ULBRA Canoas, RS

2 Aluno do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA, graduado 2008/1

3 Medica Veterinária MSc, Residente do Laboratório de Bac-

teriologia do Hospital Veterinário/ULBRA4 Professor do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA5 Professor- Orientador do Curso de Medicina Veterinária/

ULBRA ([email protected])

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22 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

ABSTRACT

Stomachs of slaughtered pigs (20,792) were examined at an abattoir in Rio Grande do Sul State, Brazil. Lesions in the pars oesophagea were selected and scored from 1 to 4, respectively from cases of paracheratosis to gastric ulcers, resulting 18,657 (89.7%) of stomachs presenting some degree of lesions, being 12,148 (58.4%) score 1, 5,145 (24.7%) score 2, 1.004 (4.8%) score 3 and 368 (1.8%) score 4, showing the great importance of gastric ulcers in pigs. Bacte-riological examination for isolation of Arcobacter spp were performed on 148 random samples, 31 from each score of lesions and more 24 stomach samples without lesions. Arcobacter spp were isolated from 124 samples and typed by genotypic tests as Arcobacter cryaerophilus , 98 (79.03%) and Arcobacter butzleri, 26 (20.97%). This is the first report of the detection of Arcobacter spp in stomachs of pigs in Brazil.

Key words: Arcobacter spp, stomachs of pigs, gastric ulcers

INTRODUÇÃO

As úlceras gástricas em suínos afetam prin-cipalmente a região denominada pars oesophagia (quadrilátero esofágico) a qual não possui glându-las secretórias e apresenta maior sensibilidade do que a região glandular. As lesões no estômago são classificadas em vários graus (SOBESTIANSKY, MATOS e SOUZA, 2001): grau 1, quando ocorre paraqueratose, grau 2 paraqueratose e ulceração leve, grau 3 paraqueratose e ulceração até 66% e grau 4 quando há ulceração acima de 66% da região (Figuras 1-4). Os graus 3 e 4 são capazes de provocar morte súbita em suínos nas granjas, enquanto lesões mais leves (1 e 2) provocam perdas no ganho de peso e refugagem. A úlcera gástrica (UG) é mais freqüente em suínos criados intensivamente em confinamen-to e é uma das principais causas de morte súbita e exporádica de reprodutores (SOBESTIANSKY e BARCELLOS, 2007). As causas das lesões estoma-cais são múltiplas, ligadas a fatores ambientais, de manejo, nutricionais e estressantes, entre outras, conforme revisão de Almeida et al., (2006). Suínos que consomem ração com granulometria fina (abaixo de 500 µm) estão mais propensos a apresentar lesões na pars oesophagea. Por outro lado, a interrupção da alimentação (o jejum) tem sido causa de lesões

ulcerativas (FRIENDSHIP, 1999). Fatores genéti-cos também predispõem para ulceração na região esofágica do estômago em suínos (SOBESTIANSKY et al., 1999). Em seres humanos, foi comprovado que infecção por Helicobacter pylori está relacionada com a ocorrência de úlcera gástrica (QUEIROZ, RO-CHA e MENDES 1996), no entanto H. pylori até o momento não foi apontado como agente etiológico de úlceras gástricas em suínos, o mesmo ocorrendo com outras bactérias. Ainda não está definido se o circovirus suínos (PCV2) tem ação direta na for-mação de úlceras gástricas, embora muitos animais com sinais de definhamento apresentam também úlcera gastro-esofágica (SOBESTIANSKY e BAR-CELLOS, 2007)

Através desta pesquisa procurou-se verificar os graus de lesões observadas em suínos abatidos em frigorífico e detectar a presença de bactérias do gênero Arcobacter. Estas bactérias foram iso-ladas de fetos suínos abortados no Rio Grande do Sul (OLIVEIRA et al. 1997)), de carne de frangos e de suínos (OLIVEIRA et al.2001; 2003), e provocam enterite em seres humanos (LAUWERS, BREYNAERT, VAN ETTERIJK, 1996; FERNANDEZ, KRAUSE e VILLANUEVA, 2004; VANDENBERG et al., 2004). Arcobacter

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23Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

spp foram detectadas por PCR apenas em uma pesquisa nos Estados Unidos, em estômagos de suínos (SUAREZ, WESLEY e LARSON 1997).

Figura 1 - Lesões de grau 1 em estômago de Suíno (paraqueratose).

Figura 2 - Lesões de grau 2 (paraqueratose e Sulcos na região esofagiana).

Figura 3 - Lesões de grau 3 (diminui a área amarelada e aumentam os sulcos).

Figura 4 - Úlcera gástrica com hemorragia (grau 4).

MATERIAL E MÉTODOS

Foi examinada a pars esophagea de estômagos de suínos abatidos em um frigorífico no Rio Grande do Sul, classificando lesões nos diferentes graus, desde zero (sem lesão) a 4 (paraqueratose e ulceração acima de 66%). Em torno de 600 estômagos eram examinados diáriamente, anotando-se graus para as lesões. Era colhido aleatóriamente um fragmento de lesão respectivamente de grau 1, grau 2, grau 3 e grau 4, no total de 4 amostras de estômagos por dia, durante 40 dias, para processamento visando cultivo e realização de testes moleculares. Além de estômagos com lesões, foram colhidas também amostras da região esofágica de estômagos sem le-são. Teve-se o cuidado de trocar de luvas e lâminas de bisturis para a colheita de cada amostra.

As amostras foram inoculadas em meio de cultura líquido de EMJH em tubos, conforme Oliveira et al. (2003), ainda no Frigorífico, e os tubos foram transportados no período de uma hora, ao laboratório. No laboratório os tubos eram

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24 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

incubados a 25oC até 5 dias e as culturas eram examinadas em microscópio em campo escuro para que fossem observados microorganismos com a forma e motilidade de Arcobacter spp. Os cultivos em meio líquido foram então filtrados através de membrana de celulose acetato de 0,45 µm sobre a superfície de meio sólido de Agar Sangue pelo método de Steele e MCDermott, (1984), sendo então incubados 25 - 30oC em aerobiose por 48 horas, para obtenção de cultivo puro. Colônias foram repicadas para tubos com meio de cultura líquido de BHI (Difco) e também incubadas como para as placas. Após a confirmação da presença de bactérias com morfologia típica de Arcobacter em cultivo puro através do exame microscópico em campo escuro, foram colhidas alíquotas em tubos Eppendorf e congeladas, aguardando a realização de testes moleculares.

Para a realização de testes moleculares o DNA foi extraído de acordo com o protocolo de Boom, Sol e Salimans (1990), como segue: 100 µL de cultura foram lisados em 900 µL de buffer (solução tampão) GuSCN, o ácido nuclêico foi aderido a partículas de sílica e lavado duas vezes com o buffer uma vez com solução de etanol a 70% e uma com acetona. O ácido nucléico foi então liberado das partículas de sílica em 50 µL de água, sendo mantido a –20oC. Foi amplificado um fragmento de 470 pares de bases (pb) do gene 16S do RNA ribossomal do genoma de bactérias do gênero Arco-

bacter, utilizando-se a técnica de PCR com primers ARC3F e ARC4R, após a extração do DNA pela técnica de sílica descrita por Boom, Sol e Salimans (1990). A diferenciação entre as espécies Arcobacter cryaerophilus e Arcobacter butzleri foi realizada pela clivagem do fragmento amplificado, utilizando-se a enzima de restrição Ssp1, procurando-se obter a for-mação dos fragmentos 420 e 50 pb para A. butzleri e a presença do fragmento intacto de 470 pb para A. cryaerophilus. Os produtos da amplificação foram vi-sualizados por eletroforese em gel de poliacrilamida e corados com nitrato de prata (SANGUINETTI, DIAS-NETO e SIMPSON, 1994).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram examinados macroscopicamente 20.792 estômagos de suínos, de 80 lotes, classificando-se as lesões de úlcera gástrica como 12.148 grau 1 (58,4%), 5.145 grau 2 (24,7%), 1.004 grau 3 (4,8%) e 368 grau 4 (1,8%), sendo 2.135 sem lesões (10,3%). Portanto, 18.657 (89,7%) apresentaram algum grau de lesão. Entre 148 amostras de estô-magos, foram obtidos isolamentos de Arcobacter de 124 materiais, perfazendo 83,72%. Não houve diferença entre isolamento de Arcobacter spp de amostras com lesões em relação às amostras sem lesão. Os resultados encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1 - Resultados dos exames bacteriológicos e moleculares realizados em amostras de estômagos de suínosGRAUS DE LESÕES MATERIAIS EXAMINADOS CULTIVO DE Arcobacter PCR Arcobacter PCR A.cryaerophilus PCR A. butzleri

0* 24 21 (87,5%) 21 18 (85,70%) 3 (14,30%)

1 31 26 (83,87%) 26 21 (80,76%) 5 (19,24%)

2 31 27 (87,10%) 27 19 (70,37%) 8 (29,63%)

3 31 26 (83,87%) 26 21 (80,76%) 5 (19,24%)

4 31 24 (77,42%) 24 19 (79,16%) 5 (20,84%)

TOTAIS 148 124 (83,72%) 124 98 (79.03%) 26 (20,97%)

* Estômagos sem lesão

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No presente trabalho, encontrou-se 89,7% de amostras de estômagos com diferentes graus de lesão na região esofágica e apenas 10,3% sem lesão. A quantidade de estômagos examinados foi acima do que consta em relatos de outros autores (MELNICHOUK, 2002; ALMEIDA et al., 2006), tanto nacionais quanto estrangeiros, havendo predominância de lesões menos graves do tipo 1 e 2, respectivamente 12.148 (58,4%) e 5.145 (24,7%) como seria esperado, pois os animais chegaram aparentemente sadios ao aba-te. Suínos com lesões de grau 4 apresentariam sintomas de úlcera gástrica nas granjas e não teriam sido enviados ao matadouro. Através desta pesquisa foi detectado Arcobacter spp nos diversos graus de lesão e também em estômagos sem lesão. Estas constatações não são suficientes para deduzir sobre a importância das bactérias em casos de úlcera gástrica, mas constituem-se no primeiro relato em nosso país sobre a presença de Arcobacter spp em estômagos de suínos. Até o momento, apenas Suarez, Wesley e Larson (1997) nos Estados Unidos haviam investigado sobre a presença das bactérias em estômagos de suínos. Estes autores detectaram por PCR o predomínio de A. butzleri em 77% dos materiais. No presente trabalho verificou-se maior porcentagem de A. cryaerophilus (79,03%) em suínos abatidos no Brasil.

Em suínos, ao contrário do que ocorre em seres humanos, as úlceras esofagogástricas não têm sido atribuídas a causas infecciosas (MELNICHOUK, 2002). A presença de Arcobacter spp na mucosa do estômago de suínos é sugestiva de que devem ser investigados os possíveis efeitos no mecanismo das úlceras gástricas, talvez pela realização de exames histopatológicos e determinação do local em que estejam alojados os microorganismos.

CONCLUSÕES

Foi observada elevada porcentagem de es-tômagos com lesões, incluindo os quatro graus com formação de úlcera gástrica, em suínos de diferentes lotes com idade de abate, demons-trando a importância desta patologia. Através do presente trabalho conclui-se que Arcobacter spp estavam presentes em elevada porcenta-gem de estômagos de suínos abatidos em um frigorífico, com e sem lesões de úlcera gástri-ca. Houve maior porcentagem de Arcobacter cryaerophillus através de cultivo e identificação por PCR. Estas são as primeiras observações so-bre a presença de Arcobacter spp em estômagos de suínos no Brasil.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Jane Mendez Brasil e Diego Hepp, respectivamente do Laboratório de Bacteriologia do Hospital Veterinário e do Labora-tório de Biotecnologia, da ULBRA, pelos serviços laboratoriais.

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27Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

Detecção de fatores de virulência de Escherichia

coli através da PCR em tempo real

FABRÍCIO ALVES CERVEIRA1

JOANA BITTENCOURT MATHIAS2

YARA SILVA CASANOVA3

BEATRIZ MACHADO TERRA LOPES4

FERNANDA KIELING MOREIRA5

JOSIANE FAGANELLO4

ANA PAULA WOBETO4

PRISCILLA KARINA VITOR KOERICH6

EDMUNDO KANAN MARQUES7

ANDRE SALVADOR KAZANTZI FONSECA4

VAGNER RICARDO LUNGE8

NILO IKUTA9

RESUMO

A Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC) é um patógeno diretamente relacionado ao desenvolvimento da colibacilose dos suínos. A diferenciação de cepas patogênicas de comensais é confirmada pela detecção de fatores de virulência (FVs) como fímbrias (F4, F5, F6, F18, F41) e toxinas (STb, STaP, STx2e, LT). Este trabalho descreve

1 Aluna do Curso de Biologia/ULBRA - Bolsista PROICT/ULBRA

2 Aluna do Curso de Biologia/ULBRA - Aluna voluntária PRO-ICT/ULBRA

3 Aluna do Curso de Biomedicina/ULBRA - Bolsista PROICT/ULBRA

4 SIMBIOS Biotecnologia 5 Bióloga - Laboratório sequenciamento da ULBRA

6 Perdigão Agroindustrial S/A - Videiro SC

7 Professor do PPG Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA

8 Professor do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA e PPG

Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA

9 Professor-Orientador do Curso de Biologia e do PPG Diag-

nóstico Genético e Molecular/ULBRA ([email protected])

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sobre a caracterização de 63 isolados de E. coli provenientes de granjas da região Sul do Brasil, pela técnica de PCR em tempo real (qPCR). Somente 25 isolados (39,7%) apresentaram os genes de fímbrias e/ou toxinas pesquisados. No Paraná (PR) e Santa Catarina (SC) foram detectadas as fímbrias F18 e F4, e no Rio Grande do Sul (RS) F5, F6 e F41. Nos Estados do PR e SC as 4 toxinas investigadas foram detectadas, e no RS as toxinas STb, STx2e e StaP. Entre os isolados com FVs, o perfil (Stb, F-) foi o mais frequente e comum aos 3 Estados (24%), seguido por 12% de (STx2e, F-) presente no PR e RS, e 12% de (STaP, F-) em amostras de SC e PR. A PCR em tempo real demonstrou ser um método rápido e fácil para detectar os fatores de virulência em Escherichia coli e recomendado como teste confimatório ao isolamento bacteriano para identificação de ETECs.

Palavras-chave: Escherichia coli, ETEC, PCR tempo real, colibacilose, fatores de virulência.

ABSTRACT

Enterotoxigenic Escherichia coli (ETEC) is related with swine colibacillosis and differentiation from com-mensal strains could be confirmed by virulence factors detection as fimbriae (F4, F5, F6, F18, F41) and toxins (STb, STaP, STx2e, LT). This study describes about characterization of 63 E. coli isolates from Southern Brazil farms by real time PCR assay (qPCR). The investigated fimbriae and/or toxin genes were detected only in 25 isolates (39,7%). F18 and F4 fimbriae were detected in Paraná (PR) and Santa Catarina (SC) states and F5, F6 e F41 in Rio Grande do Sul. The 4 investigated toxins were detected in PR and SC states, and STb, STx2e e StaP toxins in RS. Among the isolates with FVs, the (Stb, F-) profile was the most prevalent (24%) and found in all studied states, followed by (STx2e, F-) (12%) in PR and RS and (STaP, F-) in SC and PR (12%). The real time PCR showed to be a fast and and easy method for E. coli virulence factors detection and recommended as confirmatory test for ETECs identification.

Key words: Escherichia coli, ETEC, real time PCR, colibacillosis, virulence factors

INTRODUÇÃO

A suinocultura industrial brasileira destaca-se como grande produtor internacional (KATAYA-MA, 2007). A região Sul, forte polo das agroindús-trias, é responsável por 61% da produção do país e considerada a mais tecnificada da América do Sul. (ABIPECS, 2008). Fatores ligados ao manejo, am-biente e nutrição são as grandes preocupações na produção, e entre as patologias mais importantes se destacam as doenças entéricas como a colibaci-lose (SMITH e LINGOOD, 1971; MOON, 1978;

ALEXANDER, 1994; BERBEROV et al., 2004; Zhang et al., 2006).

A Escherichia coli (E. coli) é uma bactéria ana-eróbia facultativa predominante na microbiota normal de animais homeotérmicos. Algumas ce-pas denominadas ETEC (Enterotoxigenic E. coli) possuem fatores de virulência (fímbrias e toxinas) capazes de causar doenças entéricas como a coli-bacilose (NATARO e KAPER, 1998). As fímbrias F4, F5, F6, F18 e F41 permitem que as bactérias se liguem às vilosidades intestinais (WILSON

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e FRANCIS, 1986; NAGY e FEKETE, 1999), e as toxinas termolábeis (LT) e termoestáveis (STa, STb) estimulam o enterócito a bombear líquido no lúmen, aumentando a motilidade in-testinal (MOON et al., 1986; NAGY e FEKETE, 1999; CHOI et al., 2001), induzindo a diarreia (SALDARRIAGA et al., 2000).

Durante a produção de suínos, é frequente a separação dos animais nas fases pré-desmame (ma-ternidade) e pós-desmame (creche, crescimento-terminação) o que auxilia a minimizar os riscos de infecções respiratórias, sistêmicas e entéricas (SMITH e LINGOOD, 1971; MOON, 1978; ALEXANDER, 1994; BERBEROV et al., 2004; ZHANG et al., 2006). Sabe-se que as porcas podem ser portadoras assintomáticas de cepas patogênicas de E. coli em seu intestino, o que propicia leitões na etapa pré-desmame se contaminarem através do contato com suas fezes e do meio ambiente.

O diagnóstico da colibacilose é baseado em sinais clínicos, no isolamento bacteriano a partir de amostras de fezes com diarreia e na atividade he-molítica da bactéria em ágar sangue (BARCELLOS et al., 1980; BRITO et al., 1999; KUHNERT et al., 2000; MACÊDO et al., 2007). Nestes casos, o isolamento da E. coli em altas concentrações é utilizado como um forte indicativo de que estes estejam relacionados com ETEC (LUDWIG e GOEBEL, 1997; BRITO et al., 1999; KUHNERT et al., 2000). Métodos de diagnóstico fenotípicos e moleculares têm sido utilizados como testes defi-nitivos para diferenciar cepas de E.coli patogênicas das comensais, sendo que a detecção dos fatores de virulência é fundamental para que seja estabelecido o tratamento adequado da colibacilose.

Já são amplamente descritos na literatura artigos com a utilização da reação em cadeia da polimerase (PCR) para detecção de ETEC

(FRANKLIN et al., 1996; BOSWORTH e CA-SEY, 1997; KWON et al., 1999; OSEK, 2002; VI-DAL et al., 2004; OLASZ et al., 2005; WEST et al., 2007; MACÊDO et al., 2007, OJENIYI et al., 1994; STACY-PHIPPS et al., 1995; BLANCO et al., 1997; OSEK et al. 1999). A PCR em tempo real (qPCR) tem sido amplamente utilizada no diagnóstico molecular de doenças infecciosas, que permite a redução do tempo para obter os resultados, possibilita um diagnóstico mais sen-sível, específico e redução significativa do risco de contaminação, pois não se faz necessária a manipulação do produto pós-PCR (MACKAY, 2004). Recentemente foi descrita a utilização da qPCR na detecção de ETEC (WEST et al., 2007), e o presente trabalho teve como objetivo através desta técnica caracterizar isolados de E. coli, provenientes dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

MATERIAL E MÉTODOS

Cepas de Referência

As cepas enterotoxigênicas de referência E.coli 2568 (F18, STb, STaP e STx2e), 2569 (F4, STb e LT), 2570 (F6 e STaP) e 2571(F5, F41 e STaP) foram gentilmente cedidas pela empresa Perdigão, e utilizadas neste trabalho como controles de am-plificação das fímbrias e toxinas.

Isolados de Campo

Neste trabalho foram utilizados 63 isolados de E. coli obtidos de amostras clínicas de suínos coletadas em granjas comerciais localizadas nos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina - região Sul do Brasil.

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Extração de DNA

O DNA foi extraído a partir de uma suspensão bacteriana, através da utilização do kit NewGene Prep® e posteriormente transferido para uma sus-pensão de sílica. O sedimento passou por diversas lavagens utilizando-se o kit NewGene PreAmp® (tiocianato de guanidina + Tris-HCl, etanol 80% e etanol 96%).

Amplificação de FV através de PCR Multiplex em Tempo Real

A detecção dos fatores de virulência F4, F5, F6, F18, LT, e STaP foi realizada através da PCR em tempo real com iniciadores e sondas descritos por West, et al. (2007) e Frydenthal et al. (2001). Iniciadores e sondas específicos para os genes F41, STx2e e STb foram desenhados neste trabalho utilizando-se o software Primer Express (ABI). O DNA das cepas de referência foi analisado simul-taneamente com as amostras clínicas em cada set

de qPCR multiplex, sendo constituídos por três pares de iniciadores distintos e três sondas marcadas com 3 agentes fluorescentes distintos (FAM, VIC e ROX).

RESULTADOS E DISCUSSÃOEste trabalho descreve a aplicação do PCR mul-

tiplex em tempo real para caracterização de fatores de virulência (FV), presentes em isolados de Esche-richia coli. Numa primeira etapa, foram realizadas as otimizações de 3 reações multiplex PCR: qPCR1 (F4, STx2e e STb), qPCR2 (F5, F18, LT) e qPCR3 (F6, F41 e STaP). A técnica se demonstrou eficiente, confirmando a presença das toxinas e fímbrias nas 4 cepas de referência. A Figura 1 apresenta um exemplo dos resultados obtidos com a amplificação do qPCR2, detectando respectivamente, os alvos das cepas de referência 2569 (alvo LT), 2571 (alvo F5) e 2568 (alvo F18).

Threshold cycle

LT F5

F18

Figura 1 - Multiplex qPCR2 - gráfico de amplificação dos alvos LT, F5 e F18 detectados, respectivamente, nas cepas de referência 2569, 2571 e 2568.

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Posteriormente, foram analisadas 63 E. coli isoladas de animais com diarreia provenientes dos 3 Estados da região Sul do Brasil. No nosso trabalho 39,7% (25/63) dos isolados apresenta-ram as fímbrias e/ou toxinas pesquisadas, o que corrobora os resultados prévios encontrados por nosso grupo (Moreira et al. 2007), com amostras clínicas da mesmas regiões do país. Macêdo et al. (2007) analisando amostras do Estado de Minas Gerais, encontraram uma frequência mais redu-zida (29%), o que demonstra que a incidência pode variar dependendo da região analisada. Estes dados indicam que o diagnóstico da colibacilose baseado unicamente no isolamento de E. coli em animais com diarreia apresenta grande índice de resultados falsos positivos, já que a incidência de isolados sem FV é elevada. Frequentemente este tipo de diagnóstico é utilizada em nosso país (Baccaro et al., 1999; Baccaro et al., 2000; Calde-raro et al., 2001) o que acarreta na utilização de antibióticos em situações desnecessárias.

Na análise dos 25 isolados com FV, foram de-tectadas todas as 5 fímbrias e 4 toxinas pesquisadas (Tabela 1), sendo que 40% das amostras positivas foram encontradas no PR, 32% no RS e 28% em SC. Foram caracterizados isolados com uma (36%) ou duas (16%) fímbrias, e bactérias com uma (48,3%), duas (16%) e três (4%) toxinas (Tabela 2).

Tabela 1 - Distribuição de fímbrias e toxinas detectadas pela qPCR em cepas de E. coli provenien-tes do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

FÍMBRIAS TOXINAS

ESTADO F4 F5 F6 F18 F41 LT STB STX2E STAP

PR 2 0 0 3 0 1 5 2 3

RS 0 2 4 0 2 0 1 1 6

SC 1 0 0 3 0 1 2 3 5

TOTAL 3 2 4 6 2 2 8 6 14

A frequência das cepas patogênicas investigadas nos três Estados da Região Sul apresentou uma distribuição heterogênea em relação às fímbrias. No Paraná (PR) e Santa Catarina (SC) foram de-tectadas apenas F18 e F4, e no Rio Grande do Sul (RS) foram encontrados as fímbrias F5, F6 e F41. Nos Estados de SC e PR foram encontradas as 4 toxinas investigadas e no RS foram detectadas as toxinas STb, STx2e e STaP (Tabela 1).

Tabela 2 - Perfis dos fatores de virulência encontrados em E. coli isoladas de fezes com diarreia de suínos da região Sul do Brasil. (*ausência de fímbria/toxina)

TOXINAS

FÍMBRIAS STb STx2e STaPSTb, LT

STx2e, STaP

STb, LT,

STaP*T- ESTADO

F4 1 SCF6 4 RS

F18 1 3 PR e SCF4, F18 1 1 PRF5, F41 2 RS

*F - 6 3 3 PR, SC e RS

Os perfis dos fatores de virulência apresentaram-se de forma diversificada (Tabela 2), e chamou-nos a atenção a grande incidência de isolados com toxinas e ausência das fimbrias pesquisadas (48%). Nos três Estados foram detectados bactérias com perfil (Stb, F-) representando 24% dos isolados com FV. No PR e RS 12% dos isolados com FV apresentaram o perfil (STx2e, F-), e no PR e SC 12% com o perfil (STaP, F-). Uma hipótese para a ausência de fímbrias seria a atuação de outras não investigadas neste estudo, como F17 descrita por West el. al. (2007). Pode-se levantar como outra hipótese, a ocorrência de mutações nas regiões de ane-lamento nas fímbrias investigadas que impossibilitem a detecção pela multiplex PCR. Entretanto não devemos atribuir uma menor patogenicidade a estes isolados, pois a ocorrência de infecções concomitantes por outros agentes causadores de diarreia podem acentuar

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a patogenicidade de isolados de ETEC (NAKAMINE et al., 1998). Outros perfis foram encontrados neste trabalho (Tabela 2), podendo-se destacar 16% dos isolados foram encontrados no RS com o perfil (STaP, F6) e 12% (STx2e, STaP, F18) em SC.

Estes achados demonstraram que através de uma análise retrospectiva de isolados de fezes de suínos com diarreia e sintomas de colibacilose, obtidos de granjas do Sul do Brasil, apenas uma parte dos isolados (39,7%) apresentaram os genes que codificam os fatores de virulência de ETEC investigados. A utilização da PCR em tempo real apresentou-se de forma eficiente como teste com-plementar para detecção de fímbrias e toxinas, sendo o diagnóstico da colibacilose baseado apenas no isolamento bacteriano pouco fidedigno e com alto índice de resultados falso-positivos para os principais fatores de virulência de ETEC descritos na literatura. Espera-se que com a utilização de métodos moleculares seja possível contribuir para o melhor manejo da colibacilose em nosso país.

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Ciências Biológicas

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A influência da origem geográfica de amostras de acerola (Malpighia glabra L.) em relação

ao seu potencial genotóxico e antigenotóxico

VIVIAN FRANCÍLIA SILVA KAHL1,6

MERIELEN DA SILVA SARMENTO2,6

ROBERTA DA SILVA NUNES3,6

MARC FRANÇOIS RICHTER4,6

ALEXANDRE DE BARROS FALCÃO FERRAZ4,6

JULIANA DA SILVA5,6

RESUMO

A acerola (Malpighia glabra L.) é uma planta usada popularmente para vários fins, e com alto teor de vitamina C. Para avaliar a atividade genotóxica e antigenotóxica da acerola, foi realizado o Ensaio Cometa in vitro em amostras de sangue de Mus musculus. As amostras de acerola eram provenientes do Rio Grande do Sul (RS) e São Paulo (SP), sendo utilizadas em três concentrações: C1 (2mg/ml), C2 (1mg/ml) e C3 (0,5mg/ml). A C1/RS apresentou efeito genotóxico. As demais concentrações da amostra do RS, e todas as concentrações de SP, não apresentaram indução a genotoxicidade. Quanto à antigenotoxicidade em relação ao H2O2, a amostra do RS não apresentou efeito protetor, ao contrário da amostra de SP, que apresentou em

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA, Bolsista PIBIC/CNPq2 Acadêmica do curso de Biologia/ULBRA, Bolsista PROICT/

ULBRA3 Doutoranda do PPG em Genética e Toxicologia Aplicada/

ULBRA

4 Professor do Curso de Farmácia e do PPG em Genética e Toxicologia Aplicada/ULBRA

5 Professora-Orientadora do Curso de Biologia e do PPG em Gené-tica e Toxicologia Aplicada/ULBRA ([email protected])

6 Laboratório de Genética Toxicológica

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todas as concentrações. Análises quanto à constituição de cada amostra estão sendo realizadas para elucidar estes resultados.

Palavras-chave: Malpighia glabra L., acerola, genotoxicidade, antigenotoxicidade, vitamina C.

ABSTRACT

Acerola (Malpighia glabra L.) is a popularly used plant for various purposes, which has a high content of vitamin C. The aim of this study was to evaluate the genotoxicity and antigenotoxicity of acerola, through of comet assay in vitro on blood samples of Mus musculus. The samples of acerola were from Rio Grande do Sul (RS) and São Paulo (SP), and were studied on three concentrations: C1 (2mg/ml), C2 (1mg/ml) e C3 (0.5mg/ml). The concentration C1/RS showed genotoxic effect. The others concentrations of RS samples and all concentrations of SP, did not showed induction to genotoxicity. As to antigenotoxicity, the RS sample hasn’t showed protector effect, unlike SP sample, which showed it in all concentrations. Analysis as to constitution from every sample is being taken to elucidate these results.

Key words: Malpighia glabra L., acerola, genotoxicity, antigenotoxicity, vitamin C.

INTRODUÇÃO

A utilização de plantas com fins medicinais, para tratamento, cura e prevenção de doenças, é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade. No início da década de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou que 65-80% da população dos países em desenvol-vimento dependiam das plantas medicinais como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde (VEIGA JR. et al., 2005).

Apesar do uso indiscriminado das mesmas, até hoje são escassos os estudos sobre as suas constitui-ções químicas e atividades biológicas. A literatura descreve inúmeras atividades biológicas relacionadas com os compostos encontrados, principalmente os fenólicos (MONTOURO et al., 2005). O estudo da constituição química das plantas tem contribuído para que alguns fármacos potentes tenham sido descobertos (SANNOMIYA et al., 2004). Extra-

tos vegetais e seus constituintes isolados podem ser usados na fabricação de produtos terapêuticos industrializados (MARQUES, 2002). Relatos reve-lam que cerca de 80% da população mundial utiliza plantas com finalidade terapêutica (FETROW e AVILA, 2000).

Em grande parte, os efeitos gerados pelos consti-tuintes de uma planta no organismo vivo são verifi-cados baseando-se nos conhecimentos populares de uso repetitivo e tradicional. Sabe-se que os vegetais e frutas possuem classes de agentes fitoquímicos com diversas ações terapêuticas, como efeitos an-tioxidante, antimutagênico e até anticarcinogênico (KUSAMRAN et al., 1998; NAKAMURA et al., 1998; NOGUEIRA et al., 2005). Enfim, os extratos de muitas plantas podem ser usados no tratamento de várias doenças humanas (YEN et al., 2001).

Apesar de muitas ações benéficas das plan-tas, é importante considerar que alguns de seus

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constituintes podem ser tóxicos ao organismo, e o metabolismo vegetal pode gerar metabólitos com esta mesma atividade. Segundo Ames (1983) e Franke et al. (2003), elementos da dieta humana presentes em vegetais, podem ter uso tanto medicinal como podem apresentar substâncias nocivas para o organismo.

Malpighia glabra L., popularmente chamada de “acerola” ou “cereja-das-antilhas”, é uma espécie nativa encontrada na América Tropical. É muito utilizada popularmente pela sua ação adstringente, vitamínica, antianêmica, nutritiva e antifúngica. A acerola, pelo seu inegável potencial como fonte natural de vitamina C, flavonóides, carotenóides e antocianinas e sua grande capacidade de apro-veitamento industrial, tem atraído o interesse dos fruticultores e passou a ter importância econômi-ca em várias regiões do Brasil (NOGUEIRA et al.,2005).

A composição química, inclusive a distribuição de componentes do aroma da fruta, é dependente das espécies, condições ambientais e, também, do estágio de maturação da fruta (VENDRAMINI e TRUGO, 2000). Segundo Araújo (1994), a acerola sofre alterações na cor, aroma, sabor e textura logo após a colheita. Este fato pode ser explicado por condições de armazenamento, temperatura, entre outros, podendo levar a uma possível degradação dos compostos ativos.

A composição nutricional de acerolas in natura e do suco de acerola não processado conforme USDA (2004) demonstra ser estes excelentes fontes de vitamina C, carotenóides precursores da vitamina A, licopeno, além de conter quantidades consideráveis de tiamina, riboflavina, niacina, ácido pantotênico, cálcio, ferro e magnésio. Uma porção de 100 gramas da fruta in natura fornece 2796% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) de vitamina C e 28,76% da IDR de vitamina A

necessária para um adulto. O alto teor de ácido ascórbico e a presença de antocianinas destacam este fruto no campo dos funcionais pela habilidade desses compostos em capturar radicais livres no organismo humano. A vitamina C, o β-caroteno e outros carotenóides agem como antioxidantes no organismo humano (SIZER e WHITNEY, 2003; MESQUITA e VIGOA, 2000).

O teor de vitamina C e outras características atribuídas à qualidade da acerola, tais como colo-ração, peso e tamanho dos frutos, teor de sólidos solúveis e pH do suco, além de serem afetadas pela desuniformidade genética dos pomares, sofrem in-fluência de vários outros fatores, como precipitações pluviais, temperatura, altitude, adubação, irrigação e a ocorrência de pragas e doenças (NOGUEIRA et al., 2005). O alto teor de vitamina C e a fragilidade apresentada por este fruto têm motivado diversos pesquisadores, em diferentes partes do mundo, a trabalhar com sua caracterização química e seus possíveis efeitos benéficos ao organismo humano.

Os antioxidantes vegetais são de natureza muito variada, mas, indubitavelmente, os flavonóides constituem o grupo mais representativo (RICE-EVANS et al., 1995). Secundando os flavonóides, a variedade de quase mil tipos diferentes de caro-tenóides descritos em plantas também chama a atenção (HARBORNE, 1988). O termo flavonói-de engloba um grupo de compostos polifenólicos complexos que apresenta uma estrutura comum caracterizada por dois anéis aromáticos e um hete-rociclo oxigenado. A família dos flavonóides inclui os subgrupos flavanóis (catequina, epicatequina, etc.), flavanonas (naringina, taxifolina), antocia-nidinas (malvidina, cianidina), flavonas e flavonóis (quercitina, luteolina, rutina, etc.) (HARBORNE, 1988), estando presente em uma grande variedade de alimentos de origem vegetal como frutas, vege-tais, sementes, flores e folhas, e fazem parte integral

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da dieta humana (HERMMAN, 1976; Hertog et al., 1992, HERTOG et al 1993a).

Nos últimos anos, muitos estudos têm sido realizados sobre o papel das espécies reativas de oxigênio na etiologia de várias doenças (HALLIWELL, 1987). As propriedades antioxi-dantes dos flavonóides têm, assim, atraído a aten-ção para a nutrição preventiva, pois constituintes alimentares protegem contra o dano oxidativo, podendo também contribuir para a prevenção de importantes patologias, como doenças cardiovas-culares, envelhecimento e câncer.

Considerando a importância do uso popular e a cultura pronunciada de acerola no Brasil, este trabalho se propôs a avaliar as atividades geno-tóxica e antigenotóxica do extrato liofilizado de acerola proveniente de duas diferentes regiões do Brasil: São Paulo e Rio Grande do Sul. Para isso, foi utilizado o Ensaio Cometa (EC) na sua versão in vitro em sangue de camundongos.

MATERIAL E MÉTODOS

Para obtenção das concentrações de acerola utilizadas, o extrato da polpa do fruto maduro da acerola foi liofilizado em água. A partir do liofilizado, foram obtidas três concentrações: C1 (2mg/ml), C2 (1mg/ml) e C3 (0,5mg/ml).

Quatro camundongos Mus musculus - CF-1 - machos foram sacrificados por guilhotinamento e o sangue foi coletado em microtubos com 30µl de heparina. Foram preparadas quatro alíquotas de 100µl de sangue de cada animal, sendo cada uma exposta a uma das três concentrações por duas horas, a 37ºC, em estufa, protegidas da luz.

A C2 foi exposta também por quatro horas, a fim de se avaliar se a diferença de tempo de exposição poderia apresentar influência. Uma das amostras de sangue de cada animal foi utilizado como con-trole negativo (CN) não sendo exposto a nenhuma concentração. O Ensaio Cometa (EC) in vitro foi realizado conforme descrito por SZETO (2002), com algumas modificações.

As lâminas (quatro por dose e indivíduo) foram preparadas com 7,5µl de sangue de cada amostra diluídos em 95µl de agarose e posteriormente submersas em solução de lise durante 48 horas, a 4ºC. Para avaliação de antigenotoxicidade, lâmi-nas em duplicata foram mergulhadas em solução de peróxido de hidrogênio (H2O2) durante cinco minutos antes de serem expostas à solução de lise. Foi realizado o EC de versão alcalina para detecção de quebras de fita única e dupla, danos álcali-lábeis e crosslinks, através da incubação das lâminas em tampão pH>13 por vinte minutos. Em seguida realizou-se uma eletroforese a 300mA e 25V duran-te quinze minutos. Esta corrente, havendo danos no DNA, faz com que os fragmentos do mesmo migrem, fazendo com que se tenha uma imagem de célula “cometa” (célula com cauda). As lâminas foram então neutralizadas, fixadas e coradas com nitrato de prata.

A análise das lâminas foi feita com microscó-pio óptico 100x e foram analisadas 100 células/indivíduo/tratamento (50/lâmina). Os núcleos contendo o DNA intacto são redondos (sem danos – classe 0), enquanto as células lesadas são classificadas de acordo com a cauda (de pouco dano-1 até danos máximos– classe 4 ) (Figura 1). Os resultados foram expressos em índices de danos (ID), conforme a classificação visual das classes de danos. Ou seja, para cada grupo, o ID pode ir do

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zero (100X0; 100 células observadas sem danos) a 400 (100X4; 100 células observadas com dano máximo). Ainda expressaram-se os resultados em freqüência de dano (FD; %), cujo cálculo é a por-centagem de células com danos, e que pode variar de zero a 100. Os resultados foram submetidos à análise de variância ANOVA de uma via e, em seguida, ao teste de Tukey.

Figura 1 - Classes de danos no Ensaio Cometa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na avaliação da atividade genotóxica, a C1, concentração mais alta, da amostra de acerola proveniente do RS apresentou efeito genotóxico (P<0,05). As demais concentrações dessa mesma amostra não apresentaram efeito genotóxico, não induzindo danos, quando comparadas ao CN (Fi-gura 2), tanto para ID quanto para FD. O controle negativo, amostra de sangue não exposta a acerola, quando em exposição ao peróxido de hidrogênio (controle positivo) demonstra aumento significa-tivo de lesões.

Figura 2 - Índice (A) e freqüência (B) de danos da ava-liação da atividade genotóxica em camun-dongos tratados com acerola proveniente do estado do Rio Grande do Sul. CN= controle negativo; C+= controle positivo; C1= 2mg/ml; C2= 1mg/ml; C3= 0,5mg/ml; C2-4h= amostra exposta por 4h (demais 2h). *** P<0,001 em relação ao CN.

Na mesma avaliação, tanto no ID quanto na FD, a amostra de SP não apresentou efeito genotóxico em nenhuma das concentrações utilizadas, em relação ao CN (P>0,05) (Figura 3).

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Figura 3 - Índice (A) e freqüência (B) de danos da avalia-ção da atividade genotóxica de camundongos tratados com acerola proveniente do estado de São Paulo. CN= controle negativo; C+= controle positivo; C1= 2mg/ml; C2= 1mg/ml; C3= 0,5mg/ml; C2-4h= amostra exposta por 4h (demais 2h). *** P<0,001 em relação ao CN.

Na avaliação da atividade antigenotóxica, a amostra de acerola proveniente do RS não apre-sentou efeito antigenotóxico em nenhuma das con-centrações tratadas com H2O2 (P>0,05), quando comparadas com o grupo de controle positivo, que recebeu apenas H2O2 (Figura 4).

Figura 4 - Índice (A) e freqüência (B) de danos da ativida-de antigenotóxica da acerola proveniente do Estado do Rio Grande do Sul. CN= controle negativo; C+= controle positivo; C1= 2mg/ml; C2= 1mg/ml; C3= 0,5mg/ml; C2-4h= amostra exposta por 4h (demais 2h). *** P<0,001 em relação ao CN.

A amostra de SP apresentou redução signifi-cativa de danos (P<0,001) para ID e FD quando avaliou-se a atividade antigenotóxica da mesma. Ou seja, todos os tratamentos aliados ao peróxido de hidrogênio diminuíram o ID quando comparados com o controle positivo (Figura 5).

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Figura 5 - Índice (A) e freqüência (B) de danos da ativi-dade antigenotóxica da acerola proveniente do Estado de São Paulo. CN= controle negativo; C+= controle positivo; C1= 2mg/ml; C2= 1mg/ml; C3= 0,5mg/ml; C2-4h= amostra exposta por 4h (demais 2h). *** P<0,001 em relação ao CN; #P<0,05 e ##P<0,01 em relação ao C+.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ambas as amostras são da mesma espécie de acerola (Malpighia glabra L.) do mesmo período de maturação, ou seja, tanto a amostra de São Paulo quanto a do Rio Grande do Sul são de frutos maduros. Mesmo assim, apresentaram diferenças significativas quanto ao seu potencial genotóxico e antigenotóxico, as quais devem estar vinculadas às diferenças de constituição dessas amostras.

Os resultados analisados mostram que a amos-tra de SP não causou dano genotóxico ao sangue dos camundongos tratados in vitro com extrato de acerola. Ao contrário, em todas as concentrações, essa amostra protegeu o DNA dos danos cau-sados pelo H2O2. A amostra proveniente do RS demonstrou um resultado oposto: tanto não prote-geu o DNA dos danos causados pelo H2O2, quanto induziu genotoxicidade de forma significativa na concentração mais alta, a C1 (2mg/kg).

Dessa forma algumas possibilidades são infe-ridas. Dentro da mesma espécie, podem existir diferentes variedades da planta, sendo que cada variedade pode apresentar constituição diferente da outra. Assim, a quantidade de vitamina C presente em cada variedade também pode ser diferente, al-terando, portanto, seu efeito no organismo: como pró-oxidante, sendo prejudicial; ou como antioxi-dante, sendo benéfico.

Além disso, a diferença geográfica da origem das amostras pode influenciar na composição da planta em função das diferenças de solo, clima, altura e radiação solar. Em relação à radiação solar, alguns constituintes, como carotenóides e flavonóides, tendem a sofrer modificações depen-dendo da radiação solar recebida. Carotenóides e flavonóides são pigmentos de fotoproteção que os vegetais produzem quando expostos a radiação. Em ambientes diferentes, a produção deles pode variar, aumentando ou diminuindo, o que demonstra que a diferença geográfica pode, portanto, variar a produção de pigmentação. Esses constituintes apresentam forte relação com a saúde humana, a partir do momento em que, dependendo da quantidade à qual o organismo está exposto, eles podem agir de forma benéfica ou prejudicial.

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Para a elucidação desses resultados, análises quanto à constituição dessas amostras estão sendo realizadas.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho teve o apoio financeiro da Univer-sidade Luterana do Brasil – ULBRA, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-lógico – CNPq, Brasil.

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Caracterização de redes de interação protéica associadas ao desenvolvimento do melanoma

MIRIAM SANTOS BORBA1

KELLY CRISTINA LEITE DA GAMA2

JOSÉ LUIZ RYBARCZYK FILHO3

MAURO ANTÔNIO ALVES CASTRO4

RESUMO

O melanoma é uma grave neoplasia maligna de pele, apresenta alta capacidade metastática e predomínio em populações caucasianas, tendo como principal fator de risco a exposição solar. Assim como a maioria das neoplasias sólidas, o melanoma é altamente heterogêneo, possivelmente um reflexo da alta diversidade celular e molecular. Embora não exista nenhum marcador molecular validado para o estadiamento do melanoma, quatro genes são descritos como causalmente associados ao seu desenvolvimento: NRAS, BRAF, ATF1 e CDKN2A. Neste trabalho, utilizando ferramentas de bioinformática, apresentamos um modelo rede de interação protéica capaz de descrever a extensão funcional destes quatro genes, o que pode servir de plataforma de estudo para a identificação de novos genes envolvimento nesta neoplasia.

Palavras-chave: Melanoma, câncer de pele, bioinformática, interação protéica.

ABSTRACT

Melanoma is a severe skin malignancy, presents high metastatic potential and very poor prognosis. It is more prevalent in Caucasian populations and the main risk factor is associated to sunlight exposure due to ultraviolet

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista PROICT/ULBRA

2 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Voluntária – PRO-ICT/ULBRA

3 Aluno de Pós-graduação do Instituto de Física/UFRGS4 Professor-Orientador do Curso de Biologia/ULBRA

([email protected])

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radiation related damages. Like most solid tumors, the melanoma is highly heterogeneous, possibly reflecting its cellular and molecular diversity. Although there is no validated molecular marker for staging melanoma, four genes are described as causally related to its development: NRAS, BRAF, ATF1 and CDKN2A. In this work, using bioinformatics tools, we present a network-based model of protein-protein interactions in order to describe the functional extent of these four genes. We anticipate that this network model will serve as searching platform for identifying new genes involved in this cancer.

Key words: Melanoma, skin cancer, bioinformatics, protein interaction.

sociados à formação do melanoma: NRAS, BRAF, ATF1 CDKN2A (FUTREAL et al., 2004). Des-tes, o oncogene BRAF aparece mais comumente alterado, entre 50% e 70% dos casos, seguido do gene supressor tumoral CDKN2A (30-70%), do oncogene NRAS (15-30%) e do fator de transcri-ção ATF1 (alterado em raros casos de melanoma de partes moles) (GRAY-SCHOPFER et al., 2007; ALBERT et al., 2006).

Neste trabalho estudamos as propriedades sistê-micas destes quatro genes. Utilizando ferramentas de bioinformática, desenvolvemos um modelo rede de interação protéica com o objetivo de mapear as interações moleculares e quantificar a extensão funcional dos genes causalmente associados ao melanoma em relação aos demais genes do genoma humano.

MATERIAL E MÉTODOS

Para identificação dos genes de melanoma utilizamos o banco de dados do projeto genoma do câncer do Instituto Sanger (FUTREAL, 2009). Este banco de dados compila mutações causalmente associadas ao desenvolvimento de neoplasias malig-nas e disponibiliza essa informação na forma de um censo de genes de câncer. A nomenclatura genética foi curada usando ferramentas de bioinformática

INTRODUÇÃO

O melanoma tem origem nos melanócitos, predomínio em pessoas caucasianas de olhos claros, principalmente em indivíduos acima de 40 anos. Comparado a outros tumores de pele (basocelula-res e de células escamosas), o melanoma é menos freqüente, representando 4% das neoplasias neste sítio (RIES et al., 2009). No entanto, sua letali-dade é mais elevada devido à alta probabilidade de metástases (GRAY-SCHOPFER et al., 2007). Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), ocorrem anualmente mais de 130 mil novos casos de melanoma no mundo.

Amplas evidências apontam para a radiação ultravioleta (UV) como um dos principais fatores indutores do câncer de pele (BESARATINIA e PFEIFER, 2008). O risco depende do tipo de raio UV, da intensidade de exposição e da quantidade de melanina na pele (COTRAN et al., 2000). A radiação UV exerce diversos efeitos sobre as células, incluindo inibição da divisão celular, inativação de enzimas, indução de mutações somáticas e, em doses suficientes, morte celular (MARROT e MEUNIER, 2008).

Como o câncer é um distúrbio essencialmente celular, sua causa mais provável está associada à ocorrência de mutações somáticas em genes alvo. Quatro genes são descritos como causalmente as-

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disponíveis no Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL) (www.embl.org) e no banco de dados HGNC (http://www.genenames.org/), excluindo assim possíveis inconsistências.

Para a reconstituição da rede de interação protéica usamos o software Medusa (HOOPER e BORK, 2005), o qual constrói - através das interações funcionais entre os genes (ou produtos gênicos) - o grafo de rede apresentado na Figura 1. Para a análise estatística da rede de interação protéica desenvolvemos o software GNATT (Gene Network Analysis Tools for Tracing Interactome orde-ring) em linguagem de programação FORTRAN. Esta ferreamente de bioinformática possibilita o cálculo da conectividade k (que estima o número de vizinhos) e do coeficiente de clusterização C (que estima grau de agrupamento dos vizinhos). Além disso, este software permite uma abordagem inferencial buscando camadas de vizinhos funcio-nalmente associados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ponto de partida do trabalho foi a identi-ficamos dos principais genes causalmente asso-ciados ao melanoma, genes estes validados pelo Censo de Genes de Câncer (FUTREAL, 2009). Neste sentido, somente quatro genes entraram nos critérios de inclusão do censo: NRAS, BRAF, ATF1 CDKN2A. Utilizamos esses genes como “sementes” para buscar novos genes possivelmen-te associados ao desenvolvimento do melanoma. Nesta estratégia usamos meios inferenciais para varrer todo o genoma em busca de genes que in-

teragem funcionalmente com a semente. Isso foi conduzido utilizando informações depositadas no banco de dados STRING (http://string.embl.de/), o qual fornece um sistema de busca de interações protéicas descritas experimentalmente. A otimi-zação desta estratégia foi feita com uso do software GNATT para reconstituir as camadas de interação. O resultado está apresentado na Figura 1. Como podemos observar na Figura 1, vários genes foram identificados a partir desta busca.

Em uma nova comparação com o censo de ge-nes de câncer, observamos também que um grande número de componentes dessa rede apresenta relação causal com o desenvolvimento de outras neoplasias. Os resultados demonstram que 25% dos genes mapeados no modelo de rede de genes de melanoma estão envolvidos com a formação de pelo menos um tipo de câncer. Comparado a trabalhos prévios (CASTRO et al., 2007), isso corresponde a uma alta densidade de genes considerados alvos para mutações com potencial neoplásico.

CONCLUSÕES

O modelo de rede resultante pode servir de plataforma de estudo para a caracterização de transcriptomas de melanoma. As perspectivas deste trabalho envolvem o estudo mais aprofundado no âmbito funcional de cada gene, bem como as inte-rações funcionais entre seus produtos. Além disso, estas ferramentas estatísticas serão disponibiliza-das via internet, o que deve aprimorar o software GNATT e permitir a troca de informação entre potenciais usuários.

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Figura 1 - Redes de interação protéica de genes causalmente associados ao desenvolvimento de melanoma. Os genes de câncer (CAN genes) correspondem aos genes causalmente associados ao desenvolvi-mento do melanoma segundo o Censo de Genes de Câncer do Instituto Sanger (FUTREAL, 2009). As interações proteína-proteína foram mapeadas com informações depositadas no banco de dados STRING (http://string.embl.de/) e os demais genes foram identificados com uso do software GNATT (ferreamente de bioinformática desenvolvida no compilador Intel FORTRAN).

AGRADECIMENTOS

Auxílio: PROICT/ULBRA, CNPq e CAPES

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REFERÊNCIAS

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Estudo de associação do polimorfismo –308G>A no Gene do fator de necrose tumoral-alfa (TNF-alfa) com a presença de retinopatia diabética

MARIANE HANKE GONÇALVES1

JÉSSICA BOAVENTURA DOS SANTOS2

LUÍS FERNANDO CASTAGNINO SESTI3

DAISY CRISPIM4

KÁTIA GONÇALVES DOS SANTOS5

RESUMO

A retinopatia diabética (RD) é uma grave complicação do diabetes mellitus tipo 2 (DM2) que pode levar à cegueira. O polimorfismo funcional –308G>A no gene do fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) tem sido relacionado com as complicações crônicas do DM2 em alguns estudos, mas não em outros. Neste estudo, analisamos a relação do polimorfismo –308G>A no gene do TNF-α com a presença de RD em 232 pacientes com DM2. O polimorfismo foi identificado pela técnica de PCR-RFLP. As freqüências genotípicas e alélicas obtidas nos pa-cientes com RD não diferiram significativamente daquelas observadas nos pacientes sem esta complicação (p > 0,05 para ambas as comparações). Assim, os dados indicam que o polimorfismo –308G>A não está associado com a presença da RD em pacientes com DM2.

Palavras-chave: Diabetes mellitus tipo 2, retinopatia diabética, TNF-α, polimorfismo.

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista PROICT/ULBRA

2 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista FAPERGS

3 Aluno de Pós-Graduação do PPG Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA

4 Bióloga do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Clíni-cas de Porto Alegre (HCPA) e Professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Endocrinologia/UFRGS

5 Professora – Orientadora do Curso de Biologia/ULBRA e do PPG Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA ([email protected])

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ABSTRACT

Diabetic retinopathy (DR) is a severe chronic complication of type 2 diabetes mellitus (DM2) that can lead to blindness. The functional –308G>A polymorphism in the tumor necrosis factor-alpha (TNF-α) gene has been related to chronic complications of DM2 in some studies, but not in others. In this study, we analyzed the relationship of the –308G>A polymorphism in the TNF-α gene with the presence of DR in 232 patients with DM2. The polymorphism was identified by the technique of PCR-RFLP. The genotype and allele frequencies obtained in patients with DR did not differ significantly from those observed in patients without this complication (p > 0.05 for both comparisons). Thus, the data indicate that the –308G>A polymorphism is not associated with the presence of DR in patients with DM2.

Key words: Type 2 diabetes mellitus, diabetic retinopathy, TNF-α, polymorphism.

INTRODUÇÃO

A retinopatia diabética (RD) é uma complica-ção vascular crônica do diabetes, que ocorre em mais de 50% dos pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2), e se constitui na principal causa não-traumática de novos casos de cegueira em adultos. A RD se caracteriza por alterações gradualmente progressivas na microvasculatura da retina que, ao atingirem sua forma mais grave, podem resultar na perda irreversível da visão (FONG et al., 2004; ESTEVES et al., 2008). Embora a hiperglicemia sustentada e o longo tempo de DM sejam os prin-cipais determinantes da RD, estudos populacionais e familiares têm sugerido que o desenvolvimento e/ou o agravamento desta complicação dependem da interação de vários fatores genéticos e ambientais (ESTEVES et al., 2008; PATEL et al., 2008).

Além de contribuir para o desenvolvimento do DM2, a expressão de citocinas pró-inflamatórias e outras moléculas que atuam no processo infla-matório parece desempenhar um papel crítico no desenvolvimento das complicações crônicas do DM (ADAMIS e BERMAN, 2008; KING, 2008). Vários estudos têm observado que os pacientes com RD apresentam níveis séricos (DOGANAY et al.,

2002) e vítreos (DEMIRCAN et al., 2006) de fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) elevados.

O TNF-α é uma citocina pró-inflamatória que atua na regulação da proliferação celular, diferen-ciação e apoptose (ZHANG et al., 2009). Entre os vários polimorfismos descritos no gene do TNF-α, a variante –308G>A localizada na região promotora (WILSON et al., 1992) se destaca por afetar a ex-pressão deste gene. A presença do alelo A no nucleo-tídeo –308 aumenta a transcrição do gene do TNF-α em aproxidamente duas vezes, elevando a produção desta citocina (ABRAHAM e KROEGER, 1999). Porém, os poucos estudos que investigaram a relação do polimorfismo –308G>A com a RD não encon-traram qualquer evidência de associação entre estes dois fatores em japoneses (YOSHIOKA et al., 2006), suíços (KRAYENBUEHL et al., 2007) e escandina-vos (LINDHOLM et al., 2008) com DM2.

Considerando a importância do TNF-α na pa-togênese do DM2 e suas complicações e a ausência de estudos sobre a relação de polimorfismos do gene do TNF-α com as complicações do DM no Brasil, o objetivo deste estudo é analisar a associação do polimorfismo –308G>A no gene do TNF-α com a presença de RD, em pacientes com DM2.

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MATERIAL E MÉTODOS

População de Estudo

Para este estudo de caso-controle foram selecio-nados 232 pacientes com DM2, participantes de um estudo multicêntrico que teve início em 2002 e tem por objetivo investigar os fatores de risco genéticos associados com a predisposição ao DM e suas com-plicações crônicas (SANTOS et al., 2006; ERRERA et al., 2007). Todos os pacientes são caucasóides descendentes de europeus (principalmente de portu-gueses, espanhóis, italianos e alemães) e são atendidos regularmente nos ambulatórios dos Serviços de En-docrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e do Grupo Hospitalar Conceição (Porto Alegre/RS). Os pacientes foram classificados como casos (n = 170) ou controles (n = 62), de acordo com a presença ou ausência de RD, respectivamente. Além disso, os controles deveriam ter, no mínimo, 10 anos de DM para serem incluídos no estudo.

Avaliação Clínica dos Pacientes

O DM2 foi diagnosticado de acordo com os cri-térios preconizados pela Associação Americana de Diabetes (1997) e todos os pacientes avaliados neste estudo responderam a um questionário padronizado (incluindo questões sobre o tempo de duração do DM, história de tabagismo, uso de medicamentos e estilo de vida) e realizaram uma avaliação clínica e laboratorial, após a assinatura do termo de consenti-mento informado, cujo protocolo foi aprovado pelos comitês de ética das instituições participantes.

A pressão arterial foi medida duas vezes com intervalo de 10 min. na posição sentada, com esfigmomanômetro de coluna de mercúrio. A presença de hipertensão foi considerada positiva

quando a pressão arterial fosse ≥ 140/90 mmHg e/ou se o paciente estava em uso de drogas anti-hipertensivas. A presença de RD foi avaliada por meio da fundoscopia direta após dilatação pupilar e foi classificada como: (1) ausente; (2) RD não-proliferativa (microaneurismas, hemorragia, exsu-datos duros); ou (3) RD proliferativa (presença de neovasos e/ou tecido fibroso na cavidade vítrea). O diagnóstico de nefropatia diabética (ND) foi definido pelo aumento na excreção urinária de albumina (EUA) na ausência de infecção urinária ou outras anormalidades renais. A ND foi classi-ficada em nefropatia incipiente (EUA 20-199 µg/min ou 17-174 mg/L) ou ND clínica. A ND clínica foi definida pela presença de macroalbuminúria (EUA ≥ 200 µg/min ou > 174 mg/L) ou pela presença de insuficiência renal crônica tratada com diálise quando outras causas de proteinúria ou doença renal foram afastadas. O diagnóstico de cardiopatia isquêmica foi baseado na presença de angina ou possível infarto segundo o questionário cardiovascular da Organização Mundial da Saúde, e/ou presença de alterações eletrocardiográficas e/ou presença de anormalidades perfusionais no exame de cintilografia miocárdica.

Avaliação Laboratorial

A EUA foi quantificada por meio da técnica de imunoturbidimetria em amostras de urina de 24h com tempo marcado (três amostras por paciente com 15 dias de intervalo). A presença de micro- ou macroalbuminúria foi confirmada por pelo menos duas medidas com intervalo de três a seis meses. Os níveis de glicose foram determinados pelo método da glicose oxidase, a creatinina pela reação de Jaffé, a glico-hemoglobina pela técnica de HPLC – troca iônica (valores de referência: 4,7 – 6,0%), os triglicerídeos e os níveis de colesterol por métodos enzimáticos.

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Análises Moleculares

As amostras de DNA foram encaminhadas ao Laboratório de Genética Molecular Humana do Centro de Pesquisas em Ciências Médicas da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), para a realização das análises moleculares. Para a genotipa-gem do polimorfismo –308G>A no gene do TNF-α, as amostras de DNA foram amplificadas por PCR, utilizando-se “primers” e condições de amplificação específicos, como descrito na literatura (WILSON et al., 1992). Após a confirmação da amplificação, os produtos de PCR foram submetidos à digestão com a enzima de restrição NcoI, segundo as instruções do fabricante (New England Biolabs Inc., Beverly, EUA). Os produtos da digestão foram separados por eletroforese em gel de poliacrilamida 8%, corados com nitrato de prata e diretamente visualizados. Na presença do alelo G o fragmento amplificado de 107 pb permanece intacto, ao passo que na presença do alelo A o produto amplificado é clivado em dois fragmentos menores (87 pb e 20 pb).

Análise EstatísticaAs comparações entre os casos e controles foram

realizadas utilizando-se o teste t de Student, para as variáveis normalmente distribuídas, ou teste de Mann-Whitney U, para as variáveis sem distribuição normal, usando o pacote estatístico SPSS (SPSS para Windows, versão 10.0). As freqüências alélicas foram determinadas pela contagem direta dos alelos e o equilíbrio de Hardy-Weinberg foi verificado por meio do teste de qui-quadrado. As distribuições gênicas e genotípicas entre os casos e controles foram avaliadas por meio do teste de qui-quadrado e do teste exato de Fisher. O teste de qui-quadrado também foi utilizado para a comparação das variáveis qualitativas entre os grupos de indivíduos. Um valor de p < 0,05 foi considerado como estatisticamente significativo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 apresenta um resumo das caracte-rísticas clínicas e laboratoriais dos pacientes com DM2, de acordo com a presença ou ausência de RD. Os pacientes com RD não diferiram dos indivíduos sem esta complicação em relação à idade, ao sexo e ao tempo de duração do DM. Porém, os pacientes com RD tinham uma prevalência maior de uso de insulina, nefropatia diabética e cardiopatia isquêmi-ca, assim como apresentaram níveis mais elevados de creatinina e níveis mais reduzidos de colesterol HDL do que os pacientes sem RD.

Tabela 1 - Caracterização clínica dos pacientes com DM2 de acordo com a presença de RD.

Controles Casos

(n = 62) (n = 170) p

Idade (anos) 61,5 ± 8,3 60,0 ± 9,2 0,267

Homens (%) 41,9 54,7 0,116

Duração do DM2 (anos) 16,2 ± 5,5 14,9 ± 8,6 0,069

Hipertensão (%) 67,7 76,0 0,271

História de tabagismo (%) 52,5 45,2 0,413

Glico-hemoglobina (%) 6,2 ± 1,6 6,6 ± 1,8 0,090

Uso de insulina (%) 25,8 51,2 0,001*

Creatinina sérica (mg/dL) 0,8 (0,5-3,0) 0,9 (0,6-8,5) 0,005*

Colesterol total (mg/dL) 210 ± 38 216 ± 47 0,388

Colesterol HDL (mg/dL) 45 ± 12 41 ± 11 0,028*

Triglicerídeos (mg/dL) 145 (59-462) 158 (43-747) 0,480

Nefropatia diabética (%) 32,3 61,0 < 0,001*

Cardiopatia isquêmica (%) 36,2 53,7 0,042*

Os dados estão demonstrados como média ± D.P., mediana (amplitude), ou percentual. Os valores de p foram calculados utilizando-se os testes t de Student, Mann-Whitney U ou χ². n = número de indivíduos. A história de tabagismo foi considerada positiva para fumantes atuais e ex-fumantes. * p < 0,05 para a comparação entre casos e controles.

As freqüências genotípicas obtidas para o po-limorfismo –308G>A nos pacientes com RD não diferiram significativamente daquelas observadas nos pacientes sem esta complicação (Tabela 2), e

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estavam de acordo com as esperadas pelo Equilíbrio de Hardy-Weinberg em ambos os grupos de pacien-tes. Da mesma forma, a freqüência do alelo –308A foi similar entre os pacientes com ou sem RD (Ta-bela 2) e não diferiu da freqüência encontrada em outras populações de origem caucasóide (LEE et al., 2005; KRAYENBUEHL et al., 2007; VISEN-TAINER et al., 2008). A ausência de associação do polimorfismo –308G>A no gene do TNF-α com a presença de RD observada no presente trabalho está de acordo com os resultados obtidos em japoneses (YOSHIOKA et al., 2006), suíços (KRAYENBUEHL et al., 2007) e escandinavos (LINDHOLM et al., 2008) com DM2.

Tabela 2 - Freqüências genotípicas e alélicas obtidas para o polimorfismo –308G>A nos pacien-tes com DM2, de acordo com a presença de RD.

Controles (n = 62) Casos (n = 170) p Genótipos, n (%)

Alelos

GG

GA

AA

G

A

50 (80,7)

11 (17,7)

1 (1,6)

0,90

0,10

129 (75,9)

35 (20,6)

6 (3,5)

0,86

0,14

0,647

0,428

As comparações entre os casos e os controles foram feitas utilizando-se os testes de χ² ou exato de Fisher. n = número de indivíduos.

Desde que os estudos funcionais demonstraram que o polimorfismo –308G>A modula a expressão do gene do TNF-α (ABRAHAM e KROEGER, 1999), e que o aumento na expressão desta citocina contribui para o desenvolvimento da resistência à insulina (KING, 2008) e da disfunção endotelial característica das complicações crônicas do DM2 (KERN, 2007; ADAMIS e BERMAN, 2008; KING, 2008), vários autores passaram a investigar a possível relação entre o polimorfismo –308G>A e o desenvolvimento de nefropatia diabética, com resultados bastante contraditórios (BURA-CZYNSKA et al., 2004; LEE et al., 2005; WANG et al., 2005; BABEL et al., 2006; KRAYENBUEHL

et al., 2007; PRASAD et al., 2007; LINDHOLM et al., 2008). Por outro lado, os poucos estudos que analisaram o papel deste polimorfismo na RD obti-veram resultados consensuais, apontando a ausên-cia de associação entre o polimorfismo –308G>A e a presença desta complicação em pacientes com DM2 (YOSHIOKA et al., 2006; KRAYENBUEHL et al., 2007; LINDHOLM et al., 2008).

Uma possível explicação é que, talvez, o TNF-α não apresente um grande efeito na cascata de even-tos que levam à disfunção endotelial que ocorre na RD, como outros mediadores inflamatórios, como a proteína C reativa e a interleucina-6 (KING, 2008). Além disso, com exceção do estudo de Lindholm et al. (2008) em escandinavos, os dois outros estudos prévios realizados com o intuito de investigar a asso-ciação entre o polimorfismo –308G>A e a RD foi constituído por apenas 76 (KRAYENBUEHL et al., 2007) e 251 (YOSHIOKA et al., 2006) pacientes com DM2. Considerando que este polimorfismo possa ter um efeito pequeno (mas significativo) no desenvolvimento da RD e que o alelo –308A apresenta uma baixa freqüência na população, é plausível supor que os estudos realizados até o momento, incluindo o presente trabalho, careçam de poder estatístico suficiente para demonstrar tal relação. Por exemplo, o presente estudo apresentou um poder de aproximadamente 76% de detectar uma associação entre o alelo –308A e a RD com uma razão de chances (RC) de 2,5, mas apenas 49% de observar uma associação com RC = 2,0.

CONCLUSÃO

Os dados obtidos não corroboram a hipótese de que o polimorfismo –308G>A no gene do TNF-α esteja relacionado com a presença da RD em pacientes com DM2. Porém, considerando o

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tamanho amostral estudado até o momento, ainda não é possível avaliar adequadamente o papel deste polimorfismo na patogênese da RD.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a todas as pessoas que participaram direta ou indiretamente deste estudo e ao CNPq, pelo auxílio financeiro.

REFERÊNCIAS

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Estudo do polimorfismo -31C/T do gene da interleucina 1-beta em pacientes

dispépticos funcionais

TÁSSIA FLORES RECH1

MARÍLIA CORREA OSÓRIO2

LUCIANO BASSO DA SILVA3

GUILHERME BECKER SANDER4

CARLOS FERNANDO FRANCESCONI4

LUIZ EDMUNDO MAZZOLENI4

DANIEL SIMON5

RESUMO

O papel de fatores genéticos na suscetibilidade à dispepsia funcional (DF) ainda não está esclarecido. A in-terleucina 1-beta (IL-1β) é uma citocina que induz e amplifica a resposta inflamatória, sendo que a inflamação na mucosa gástrica pode estar envolvida com os sintomas dispépticos. O objetivo do presente estudo foi analisar a associação entre o polimorfismo -31C/T do gene da IL-1β e a DF. Foram analisados 73 pacientes dispépticos, positivos para a infecção pelo Helicobacter pylori. Os resultados preliminares indicam que o polimorfismo pode estar associado ao sucesso da terapia de erradicação do H. pylori.

Palavras-chave: Dispepsia funcional, interleucina 1-beta, polimorfismo genético, sintomas dispépticos, Helicobacter pylori.

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA2 Mestranda do PPG Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA3 Professor do Centro Universitário FEEVALE

4 Médico Gastroenterologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre5 Professor-Orientador do Curso de Biologia/ULBRA e do PPG

Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA ([email protected])

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ABSTRACT

The role of genetic factors in susceptibility to functional dyspepsia (FD) remains unknown. The interleukin-1 beta (IL-1β) is a cytokine which induces and amplifies the inflammatory response. Inflammation of the gastric mucosa may be related to dyspeptic symptoms. The aim of the present study was to ascertain if the polymorphism -31C/T in the promoter of the IL-1B gene is associated with FD. Seventy three dyspeptic patients, positive for Helicobacter pylori infection, were analyzed. Preliminary results indicate that the polymorphism may be asso-ciated with the success of the therapy for eradication of H. pylori.

Key words: Functional dyspepsia, interleukin 1-beta, genetic polymorphism, dyspeptic symptoms, Helico-bacter pylori.

INTRODUÇÃO

A dispepsia funcional é definida como a presen-ça de sintomas que têm origem na região gastroduo-denal, na ausência de qualquer doença orgânica, sistêmica ou metabólica, que os justifique. Os pacientes dispépticos apresentam pelo menos um desses sintomas: plenitude pós-prandial, saciedade precoce, queimação ou dor epigástrica. Os sintomas devem estar presentes nos últimos três meses e com o aparecimento dos sintomas seis meses antes do diagnóstico (TACK et al., 2006).

Estudos confirmam a heretogeneidade da dis-pepsia funcional, através da observação da asso-ciação entre distúrbios fisiopatológicos específicos e sintomas dispépticos (TACK e LEE, 2005). A fisiopatologia da dispepsia funcional não é total-mente conhecida, envolvendo um grande número de mecanismos, que podem incluir o esvaziamento gástrico atrasado, hipersensibilidade visceral, capa-cidade gástrica diminuída, anormalidade motora, infecção pelo Helicobacter pylori e disfunções do sistema nervoso central (BAKER, FRASER e YOUNG, 2006).

A infecção pelo H. pylori e a sua relação com a dispepsia funcional ainda é contraditória (TACK e

LEE, 2005). Existem algumas evidências de que a estimulação da secreção de ácido pela bactéria pode causar sintomas dispépticos. Pacientes positivos para a infecção pelo H. pylori têm a estimulação da secreção de ácido aumentada em duas vezes e meia quando comparados com indivíduos controle que não têm infecção pela bactéria (O’MORAIN, 2006).

A prevalência da dispepsia funcional varia con-sideravelmente entre as diferentes populações. O uso de diferentes definições de dispepsia funcional também pode contribuir para essa discrepância. Estudos populacionais utilizando o Consenso Roma II observam uma prevalência de dispepsia funcio-nal variando entre 11% e 29% (MAHADEVA e GOH, 2006).

Há poucos dados relativos à epidemiologia da dispepsia funcional no Brasil. Estudo transversal realizado por Oliveira et al. (2006) com 3.934 indi-víduos moradores da cidade de Pelotas-RS, entre os anos de 1999 e 2000, demonstrou que a prevalência da dispepsia funcional foi de 44% e de dispepsia freqüente 27%. Um estudo de base populacional de abrangência nacional avaliou a prevalência de dispepsia não investigada no Brasil (SANDER, FRANCESCONI e MAZZOLENI, 2007). Nessa pesquisa foram entrevistados, por telefone, 1.510

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indivíduos em todo o Brasil, através de aplicação de questionário de sintomas dispépticos. Através de amostras foram avaliados indivíduos de 223 cidades brasileiras, que representaram 83,5 milhões de habi-tantes, ou aproximadamente 51% da população de todo o país. A idade média da população avaliada foi de 37,6 anos e a prevalência de sintomas dispép-ticos foi de 40,9%. A prevalência em homens foi de 33,2% e nas mulheres de 45,6%. Indivíduos mais jovens, do sexo feminino e com menor escolaridade apresentaram maiores prevalências de dispepsia.

Existem moléculas responsáveis pela indução e amplificação da resposta imune e inflamatória, chamadas de citocinas, que são produzidas pelas células do sistema imune adquirido (linfócitos) e também pelas células do sistema imune inato (ma-crófagos, mastócistos, monócitos) (GORCZYNSKI e STANLEY, 2001). Duas citocinas de vertebrados são especialmente importantes na indução de res-postas inflamatórias – o fator de necrose tumoral-α (TNF-α) e a interleucina-1 (IL-1) (ALBERTS et al., 2004).

O agrupamento gênico da IL-1 está localizado no cromossomo 2q e contém três genes: IL-1 alfa (IL-1A), IL-1 beta (IL-1B) e IL-RN, que codificam, respectivamente, as citocinas pró-inflamatórias IL-1α, IL-1β e o seu receptor antagonista endógeno, IL-1ra (EL-OMAR et al., 2000). A IL-1β é uma das mais importantes citocinas pró-inflamatórias e tem como principal função mediar a resposta imune e inflamatória do hospedeiro na imunidade inata, sendo produzida principalmente pelos macrófagos (ABBAS, LICHTMANN e POBER, 2000).

Estudos associaram os polimorfismos -511T/C e -31C/T, localizados na região promotora do gene da IL-1β, com o aumento de risco de desenvolver gastrite, úlcera péptica, câncer gástrico, outros cânceres na região não cárdia e infecção pelo H.

pylori (EL-OMAR et al., 2000; MACHADO et al., 2001; HWANG et al., 2002; FURUTA et al., 2004; KAMANGAR et al., 2006). Não existem estudos que associam esses polimorfismos com os sintomas dispépticos.

A IL-1β possui um papel muito importante na indução e amplificação da resposta inflamatória. A inflamação na mucosa gástrica pode estar envolvida na geração dos sintomas dispépticos. O alelo C do polimorfismo -31 C/T do gene IL-1B foi associado com o aumento da expressão da IL-1β, podendo ter como conseqüência o aumento da resposta inflamatória (EL-OMAR et al., 2000). O objetivo do presente estudo foi analisar se existe associação entre o polimorfismo -31 C/T do gene IL-1B e os sintomas dispépticos, bem como correlacionar os genótipos do polimorfismo com o sucesso da tera-pia de erradicação do H. pylori em pacientes com dispepsia funcional.

MATERIAL E MÉTODOS

Pacientes

Foram analisados pacientes com dispepsia fun-cional participantes do estudo clínico “Evolução dos sintomas da dispepsia funcional após a erradicação do Helicobacter pylori em pacientes com diferentes achados endoscópicos: ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado com placebo, com 12 me-ses de seguimento HEROES Trial (Helicobacter Erradication Relief Of Dyspetic Symptoms)” do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Este estudo clínico possui como autores os médicos Luis Edmundo Mazzoleni, Carlos Fernando Francesconi e Guilherme Becker Sander. Os pacientes do estudo foram avaliados no momento de inclusão (basal), 4, 8 e 12 meses após término dos medicamentos

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da pesquisa. A avaliação basal já foi realizada em todos os pacientes, sendo que as reconsultas estão em andamento.

Delineamento do estudo e randomização

Foram estudados dois extratos de pacientes, que foram divididos pelos achados endoscópicos e uso de medicações:

Extrato A – pacientes dispépticos funcionais H. pylori positivos que apresentavam exames endoscópicos normais ou com apenas gastrites ou duodenites enantematosas, e que não eram usuários de AINES/AAS

Extrato B – pacientes dispépticos funcionais H. pylori positivos que apresentavam exames endoscó-picos com gastrites/duodenites erosivas e/ou que eram considerados usuários de AINES/AAS.

Os pacientes dos dois extratos (A e B) que preen-chiam os critérios de seleção foram randomizados em blocos de dez em proporção de 1:1 para cada um dos extratos de pacientes, de acordo com lista de compu-tador, para receberem um dos seguintes esquemas:

EXTRATO A dividido em:

GRUPO A1 (Grupo Antibiótico): omeprazol 30mg, amoxicilina 1000mg, claritromicina 500mg (Omepramix)

GRUPO A2 (Grupo Controle): omeprazol 30mg e placebos dos antibióticos.

EXTRATO B dividido em:

GRUPO B1- (Grupo Antibiótico): omeprazol 30mg, amoxicilina 1000mg, claritromicina 500mg (Omepramix)

GRUPO B2 (Grupo Controle): omeprazol 30mg e placebos dos antibióticos.

Análise genética

Amostras de sangue total foram coletadas dos pacientes com dispepsia funcional e utilizadas para extração de DNA conforme descrito por Lahiri e Nurnberger (1991).

A genotipagem do polimorfismo -31 C/T da IL-1β foi realizada através da reação em cadeia de polimerase (PCR, do inglês, Polymerase Chain Reaction), utilizando os ‘primers’ 5’-AGAAGCT-TCCACCAATACTC-3’ e 5’-AGCACCTAGT-TGTAAGGAAG-3’, conforme descrito por Yang et al. (2004). As condições de amplificação da PCR consistiram na desnaturação inicial da dupla fita de DNA a 94ºC por 3 minutos, seguido de 35 ciclos de 94°C por 10 segundos, 55ºC por 30 segundos e 72°C por 30 segundos e uma extensão final à 72ºC por 5 minutos. As concentrações utilizadas nas reações foram MgCl2 1,5mM, ‘primers’ 0,5 uM, dNTPs 0,17 mM e Taq DNA polimerase 1U.

Após a PCR, as amostras foram clivadas com a enzima AluI. O tamanho dos fragmentos gerados após a clivagem foram de 234 e 5 pares de bases (pb) para o genótipo CC, 137, 97 e 5 pb para o genótipo TT e 234, 137, 97 e 5 pb para genótipo CT. Os frag-mentos foram separados em gel de poliacrilamida 10%, corado com nitrato de prata.

Aspectos éticos

Este projeto foi submetido à avaliação ético-legal e de mérito dos Comitês de Ética e Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e

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da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). O estudo clínico foi aprovado pelo Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação do HCPA (protocolo número 05-422). Os estudos moleculares foram aprovados pelo Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação do HCPA (protocolo número 07-590) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da ULBRA (protocolo número 2007-376H).

Análises estatísticas

Variáveis contínuas foram expressas como médias e desvios padrão. Variáveis qualitativas foram expressas como percentagens e comparações realizadas usando o teste exato de Fisher ou o teste de qui-quadrado, conforme indicação. Todos os testes foram bi-caudais. P<0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esse trabalho apresenta resultados parciais das análises moleculares dos 407 pacientes participan-tes do ensaio clínico HEROES. Até o momento 73 pacientes foram genotipados para o polimorfismo -31C/T do gene IL-1B. O ensaio clínico encontra-se em andamento e será finalizado no mês de maio de 2009, com a revelação do tratamento prescrito a cada paciente. As análises moleculares serão realizadas para todos os pacientes e a partir do seu encerramento serão realizadas correlações com os dados clínicos. Na Tabela 1 são apresentados os dados clínicos e demográficos dos 73 pacientes analisados até o momento.

Tabela 1 - Características clínicas e demográficas da população estudada.

PACIENTES DISPÉPTICOS FUNCIONAIS

IDADE, MÉDIA ± DESVIO PADRÃO 49 ± 13 ANOS

SEXO, N (%) MASCULINO 17 (23,3)FEMININO 56 (76,7)

ESCOLARIDADE, N (%) FUNDAMENTAL 26 (36,1)MÉDIO 24 (33,3)SUPERIOR COMPLETO 22 (30,6)

TABAGISMO, N (%) NUNCA FUMOU 43 (59,7)FUMA ATUALMENTE 9 (12,5)EX-FUMANTE 20 (27,8)

BEBIDAS ALCOÓLICAS, N (%) NUNCA BEBEU 66 (91,7)BEBE ATUALMENTE 0 (0)BEBIA 6 (8,3)

PADYQ, MÉDIA ± DESVIO PADRÃO 10,7 ± 8,2

TIPO DE DISPEPSIA, N (%) SÍNDROME DO DESCONFORTO PÓS-PRANDIAL 30 (41,7)SÍNDROME DE DOR EPIGÁSTRICA 36 (50)OUTROS 6 (8,3)

PRINCIPAL SINTOMA, N (%) DOR 36 (50)NÁUSEAS 4 (5,5)VÔMITO 1 (1,4)DISTENSÃO 29 (40,3)SACIEDADE PRECOCE 1 (1,4)OUTROS 1 (1,4)

Os sintomas dispépticos foram analisados através do questionário PADYQ (do inglês, Porto Alegre Dyspeptic Symptoms Questionnaire) que avalia os sintomas de dor no abdômen superior, inchaço no abdômen superior e náusea quanto à intensidade, duração e freqüência (SANDER et al., 2004). Sintomas como vômito e saciedade precoce foram avaliados quanto à freqüência. O índice do PADYQ foi comparado entre os pacientes com genótipos CC + CT versus pacientes com genótipo TT. A média e desvio padrão obtida entre os ge-nótipos CC + CT foi de 11,2 ± 9,0, não diferindo significativamente dos pacientes com o genótipo TT (10,0 ± 11,0; p>0,05).

Com relação aos achados endoscópicos observou-se que nos pacientes analisados 27 (37%) apresen-

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tavam gastrite enantematosa, 17 (23,3%) gastrite erosiva plana, 13 (17,8%) gastrite erosiva elevada, 2 (2,7%) duodenite enantematosa, 4 (5,5%) duodenite erosiva, 1 (1,4%) úlcera gástrica e 22 (30,1%) apre-sentavam outras alterações. Nenhum dos pacientes apresentou alterações como gastrite hemorrágica, gastrite atrófica, pregas hiperplásicas e úlcera duode-nal. Na Tabela 2 são apresentados os dados clínicos de 47 pacientes avaliados quanto o grau de inflamação, atividade inflamatória, atrofia, infecção pelo H. pylori e metaplasia intestinal. Foram analisadas 3 biópsias do antro, 2 da incisura angular e 3 do corpo gástrico. O número amostral de 47 pacientes avaliados quanto à inflamação está relacionado ao fato de que os dados aqui apresentados são aqueles relativos à avaliação realizada 4 meses após o início do tratamento (segunda consulta), e alguns pacientes ainda não tiveram todos os dados clínicos desta consulta analisados.

Tabela 2 - Características clínicas observadas nas endoscopias digestivas dos pacientes dis-pépticos funcionais estudados (n=47).

INFLAMAÇÃO ATIVIDADE INFLAMATÓRIA

ATROFIA DENSIDADE DE

H. PYLORI

METAPLASIA

ANTRO

AUSENTE

LEVE MO-DERADA

SEVERA

1217162

2511101

30161-

281054

AUSENTE

5PRESENTE

42

CORPO AUSENTE

LEVE MO-DERADA

SEVERA

1324100

291341

434--

261641

AUSENTE

47PRESENTE

-

INCISURA ANGULAR AUSENTE

LEVE MODERADA SEVERA

919172

2512100

3611--

281261

AUSENTE

42PRESENTE

5

As freqüências alélicas e genotípicas do polimor-fismo -31C/T do gene IL-1B analisadas na amostra estão representadas na Tabela 3. A população encontra-se em equilíbrio de Hardy-Weinberg e as freqüências alélicas e genotípicas encontradas

são semelhantes às freqüências encontradas em estudos em populações caucasóides (KAMANGAR et al., 2006).

Tabela 3 - Freqüências alélicas e genotípicas do poli-morfismo -31C/T do gene IL-1B nos 73 pa-cientes dispépticos funcionais estudados.

FREQÜÊNCIAS ALÉLICAS N %

C 43 36

T 59 64

FREQÜÊNCIAS GENOTÍPICAS N %

CC 14 19

CT 29 40

TT 41

A proporção de pacientes que eliminou o H. pylori e apresentou os genótipos CC e CT foi de 65,1% enquanto 40,0% dos pacientes que apre-sentaram o genótipo TT também eliminaram a bactéria. Esta diferença foi tangencial ao limite de significância (P=0,055; OR=2,8; 95% CI 0,97-8,21), indicando que o polimorfismo parece estar associado ao sucesso da terapia de erradicação da bactéria. Estudo realizado por Wang et al. (1999) demonstrou que antes do terapia para a erradicação do H. pylori foi observada uma relação significativa positiva entre a quantidade de RNA mensageiro da IL-1β na mucosa gástrica dos pacientes que tinham a infecção pela bactéria. Após o tratamento, reduções significativas na quantidade de RNAm da IL-1β foram observados nos pacientes que erradi-caram o H. pylori, enquanto não foram observadas mudanças significativas nos pacientes sem erradica-ção. Outro estudo sobre a erradicação do H. pylori demonstrou que o polimorfismo -511T/C no gene da IL-1B está associado com o sucesso da terapia (FURUTA et al., 2004). Estudos prévios mostram que os polimorfismos -511T/C e -31C/T estão em completo desequilíbrio de ligação de uma forma reversa, ou seja, o alelo -511T sempre é encontrado associado ao alelo -31C e o alelo -511C sempre é observado na presença do alelo -31T (EL-OMAR

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et al., 2000; HAMAJIMA et al., 2001; HWANG et al., 2002). Desta forma, a análise de apenas um polimorfismo é suficiente para determinar os genótipos de ambos os polimorfismos.

Estudos reportam a existência de predisposição genética na geração dos sintomas dispépticos. O principal gene estudado é o gene GNB3, que codi-fica a subunidade β3 da proteína-G heterotrimérica (composta de três subunidades - β, α, e γ). Este gene apresenta o polimorfismo C825T, localizado no éxon 10, no qual o alelo T foi associado com o splicing alternativo e aumento da transdução de sinal intracelular, o que intensifica a ativação da proteína-G e aumenta a resposta celular e fisiológica (BAUMGART et al., 1999). Os indi-víduos homozigotos 825C são caracterizados pela diminuição da resposta de transdução de sinal celular, o que pode levar a anormalidades como alterações na função sensorial e motora, observadas em pacientes com dispepsia não investigada ou síndrome do intestino irritável (HOLTMANN et al., 2000). Outros genes estudados foram os genes da cicloxigenase (COX-1), do receptor CD14, da colecistoquinina (CCK) e da subunidade A do receptor 5-HT3 de serotonina (NIESLER et al., 2001; CAMILLERI et al., 2006; ARISAWA et al., 2008; LELYVELD et al., 2008; TAHARA et al., 2008). O pequeno número de estudos realizados indica a necessidade de maiores esforços visando a determinação das bases genéticas da dispepsia funcional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do presente estudo indicam que o polimorfismo -31C/T do gene IL-1B pode estar associado ao sucesso da terapia de erradicação do Helicobacter pylori em pacientes com dispepsia fun-

cional. O estudo encontra-se em andamento e será finalizado com a revelação do tratamento feito por cada paciente incluído no ensaio clínico. Correlações dos genótipos do polimorfismo com sintomas dispép-ticos e outras variáveis clínicas serão realizadas após o encerramento do ensaio clínico.

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WANG, M. et al. Relation between interleukin-1beta messenger RNA in gastric fundic mucosa and gastric juice pH in patients infected with Helicobacter pylori. Journal of Gastroenterol-ogy, v.11, p.10-17, 1999.

YANG, J. et. al. Interleukin-1B gene promoter variants are associated with an increased risk of gastric cancer in a Chinese population. Cancer Letters, v.215, p.191-198, 2004.

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Identificação de remanescentes de roedores de um abrigo sob rocha do Nordeste do RS:

implicações paleoambientais

PAULO RICARDO DE OLIVEIRA ROTH1 DIEGO MARQUES HENRIQUES JUNG2

ALEXANDRE UARTH CHRISTOFF3

RESUMO

Quase a totalidade dos vestígios de fauna do nosso Estado são encontrados por intermédio de pesquisas arqueológicas. Nestas amostras têm sido representativa a quantidade de ossos e dentes de pequenos animais, principalmente de micro mamíferos tais como: roedores, marsupiais e morcegos. Daremos destaque aos primeiros por sua freqüência de ocorrência. O estudo deste tipo de fauna tem se mostrado importante não só para o levan-tamento da riqueza pretérita de roedores, mas também para reconstruções paleoambientais. Apresentamos aqui os resultados prévios obtidos através da análise de uma amostra osteológica crânio-dentária resgatada do abrigo sob rocha, sítio arqueológico RS-S-395: Deobaldino Marques em Santo Antônio da Patrulha, Brasil.

Palavras-chave: Zooarqueologia, Holoceno, Echimyidae, Dicolpomys, Umbú.

ABSTRACT

Almost all the traces of wildlife in our state are found through archaeological research. In these samples the amount of bones and teeth of small animals has been representative, mainly of little mammals such as: rodents,

1 Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas/ULBRA – Bol-sista PROICT/ULBRA

2 Professor do Curso de Ciências Biológicas/ ULBRA

3 Professor - Orientador do Curso de Ciências Biológicas/ ULBRA ([email protected])

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marsupials and bats. We will give importance to the first ones for its frequency of occurrence. The study of this type of fauna has shown importance not only for the knowledge of the diversity of rodents species on the past but to make inferences about paleoenvironmental reconstruction. We provide our previous results here from a skull-dental osteologic sample from shelter under rock, at archaeological site RS-S-395: Deobaldino Marques in Santo Antonio da Patrulha, Brazil.

Key words: zooarcheology, Holoceno, Echimyidae, Dicolpomys, Umbu.

INTRODUÇÃO

A ordem Rodentia agrupa 42% das espécies de mamíferos, correspondendo a 2277 espécies dentre os 5416 mamíferos conhecidos (WILSON e REE-DER, 2005). Os roedores estão presentes em quase todos os tipos de habitat do globo. Esta diversidade taxonômica reflete-se em sua adaptação a nichos ecológicos bem definidos, e através disto pode-se obter informações paleoecológicas (MORENO-GARCIA et al., 2003). Andrews (1990) entende que a análise de remanescentes ósseos configura-se num método importante para interpretar a ecologia ou habitats existentes no tempo em que aqueles foram incorporados ao sedimento. Desta forma, partindo de exemplos bem documentados que mostram a relação entre as espécies atuais e seus habitats ou zonas climáticas, torna-se possível inferir a paisagem ou estrutura do habitat onde um táxon existiu. Exigências ecológicas de cada animal se refletem na presença de caracteres adaptativos, relacionados ao seu habitat. O estudo do conjun-to dos caracteres crânio-dentários é a principal metodologia para a identificação taxonômica de mamíferos, incluindo roedores, quando não se dispõe partes moles preservadas. A abordagem multidisciplinar, incluindo diferentes tipos de evi-dências é a melhor forma de estudo do paleoam-biente (QUATTROCCHIO et al. 2008). Portanto, estudos da paleofauna de pequenos mamíferos quando aliados aos resultados de outros campos

de pesquisa, tais como palinologia, antracologia e sedimentologia, contribuem para compor o cenário paleoambiental de um período, assim como um modelo de mudança climática recente. O conhe-cimento dos habitats dos animais se faz importante para o reconhecimento da vegetação, e sendo esta o espelho do clima (RAMBO, 1956), possibilita inferências a cerca das mudanças do clima até presente.

Os frágeis vestígios orgânicos de pequenos ver-tebrados pré-históricos são raros, uma vez que uma série de fatores que privilegiem a conservação tem de ocorrer, enquanto fatores negativos a sua conserva-ção precisam inexistir ou ser minimizados. O interior de cavernas, grutas e abrigos sob rocha são, talvez, o principal ambiente que contribui na formação deste tipo de registro, pois oferece proteção contra agentes tafonômicos destrutivos, tais como, umidade ou calor excessivo, transporte e pisoteio por outros animais (ANDREWS, 1997). As regiões de encosta do planalto riograndense apresentam inúmeros locais que representariam sítios de conservação em poten-cial. Dentro de uma área de 216 Km² nesta formação geológica, Dias (2003) contabilizou 50 abrigos sob rocha na região do Alto Rio dos Sinos.

Dentre os trabalhos com enfoque paleoecológico realizados através da análise vestígios de pequenos mamíferos destacamos o de Vigne (1996) que conseguiu caracterizar a comunidade e demonstrar alterações na fauna ocorrida durante boa parte dos

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aproximadamente 2500 anos na parte norte da Cór-sega, fazendo a associação destas mudanças com a introdução de espécies exóticas, desflorestamento e atividades agrícolas dos colonizadores. Na América do Sul, Voglino e Pardiñas (2005) apresentam evi-dências de mudanças climáticas paulatinas e detalhes das mudanças ambientais da Província de Buenos Aires através da presença de espécies de roedores com associação à ambientes diferentes dos atuais. Vucetich et al. (2005) especulam que a migração sulina de táxons de roedores brasileiros talvez tenha sido possibilitada por pulsos quentes ocorridos onde hoje se encontra o Pampa. Estes pulsos quentes vol-tam a ser tema para Quattrocchio et al. (2008) que identificam a ocorrência deste fenômeno climático para o sul da América do Sul durante o Pleistoceno final, o que explica a ocorrência de fragmentos de um roedor octodontídeo e um tayassuídeo no sudoeste argentino. Reunindo as informações obtidas no es-tudo dos restos faunístico com dados de palinologia e sedimentologia, Quattrocchio et al. (2008) obtive-ram elementos para descrever o sudoeste argentino como uma área de ecótone, bastante sensível a oscilações climáticas. Esta teria passado por períodos de aridez durante o Pleistoceno tardio, aumento da umidade e aquecimento durante a transição Pleistoceno-Holoceno e instabilidade climática no Holoceno médio, mostrando curtos períodos semi-áridos e episódios quentes e úmidos.

No Brasil, estudos desta natureza parecem estar apenas iniciando. Contudo, Hadler et al. (2008) e Rodrigues (2008) interpretam a fauna de mamí-feros do Rio Grande do Sul como uma mescla da fauna pampeana com táxons de característicos de outros biomas brasileiros, havendo momentos em que táxons de um dos grupos prevalecem sobre outros. Colocam ainda que as mudanças climá-ticas Holocênicas no nordeste do Estado foram graduais, onde os pulsos climáticos relatados para

a Argentina talvez não tivessem ocorrido ou foram de curta duração, possibilitando um período longo de coexistênia entre a floresta ombrófila, áreas de campo e matas de galeria, formando um cenário florístico em mosaico.

Neste estudo apresentamos resultados parciais do material analisado procedente do abrigo sob rocha em Santo Antônio da Patrulha/RS – sítio arqueológico RS-S-395: Deobaldino Marques. Os elementos crânio-dentários de pequenos roedores encontrados nessa amostra foram identificados a categoria taxonômica mais específica possível, o que permitiu registrar a ocorrência de quatro táxons: Phyllomys sp., Euryzygomatomys sp., Dicolpomys aff fossor e Holochilus sp.

MATERIAL E MÉTODOS

O sítio arqueológico Deobaldino Marques localiza-se em Santo Antônio da Patrulha (UTM: 22J 549/750 - 6707/650), RS, na localidade de Bom Retiro (Figura 1A), com característica de “abrigo” por se tratar de abertura ocasionada por processos erosivos em uma meia encosta rochosa de arenito da formação Botucatu. Situa-se a aproximadamen-te 50 metros acima do nível do mar em uma ele-vação de 150 metros, cercado por extensa planície aluvial dos tributários do Rio dos Sinos. Dentre eles se destacam os arroios Grande e Pinheiros que confluem a aproximadamente 1,5 Km da elevação em questão (DIAS, 2003).

O abrigo sob rocha apresenta uma abertura de 46 metros com orientação de 310° Norte, portanto, na vertente noroeste do morro. Possui em média 8,5 m de altura e profundidade máxima de 17 m (DIAS, 2003). A área de estudo está incluída no domínio da Floresta Ombrófila Densa da encosta Atlântica e

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atualmente é composta por um mosaico de resquícios de Mata Atlântica, campos, matas primárias e áreas modificadas por culturas de arroz nas áreas mais baixas. O clima é caracterizado como subtropical

com temperatura média anual de 20°C. É cortado por duas bacias hidrográficas: A primeira é a do rio dos Sinos e a segunda situa-se na área plana do norte do município e é alimentada pelo rio Gravataí.

Figura 1 - A) localização de Santo Antônio da Patrulha/ RS. B) reprodução parcial da carta da área da bacia do Alto Rio dos Sinos. Sítios arqueológicos: 1 – RS-S-327: Sangão; 2 – RS-S-337: Monjolo; 3 – RS-S-395: Deobaldino Marques. (Modificado de Dias, 2003).

Para inferir uma idade relativa do sítio Deo-baldino Marques foi feita uma aproximação com informações de dois sítios próximos, com data-ções disponíveis: os abrigos sob rocha RS-S-337 “Monjolo” e RS-S-327 “Sangão” (Figura 1B). Ambos apresentam contexto habitacional e tipos de artefatos líticos semelhantes, característicos da tradição indígena mais antiga conhecida no Estado e a mesma identificada como freqüen-tadora do sítio em estudo: a tradição Umbú. O abrigo sob rocha RS-S-337: Monjolo, dista a aproximadamente 4 Km do sítio Deobaldino Marques. Sua datação, a partir de amostra de carvão retirada de 90 cm de profundidade,

apresentou 7330 AP como data mais antiga, com calibração de 2 sigmas, gerando 8160 AP e 7960 AP. Distante a cerca de 8 Km do sítio Deobaldino Marques, o abrigo sob rocha Sangão apresentou datação entre 8800 AP e 3730 AP (DIAS, 2003).

Os umbús provavelmente viviam em pequenos grupos familiares, migravam ciclicamente entre um grande número de abrigos, e andavam pela região do Alto Vale do Rio dos Sinos na busca de recursos alimentares e matérias-primas (DIAS, 2003). A contemporaneidade da habitação humana com a deposição do material faunístico estudado fica

A

B

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evidente visto que as escavações mostraram ao longo de toda a estratigrafia a associação entre os materiais arqueológicos e os remanescentes animais. Além disso, dentre estes remanescentes, descobriram-se alguns ossos de pequenos roedores com marcas de queima, indicando contempora-neidade entre a presença humana no local e a formação do depósito no interior do abrigo.

A coleta do material ocorreu no período de 18/02/2000 à 21/02/2000, ficando este armazenado no Museu de Arqueologia do Rio Grande do Sul – MARSUL, em Taquara/ RS, desde as escavações até o inicio deste trabalho. A amostra utilizada neste estudo compreende restos de roedores (766 hemimandíbulas e 375 fragmentos de sincrânio) não fossilizados inseridos dentro do pacote amostral de 6058 remanescentes ósseos que reúne elemen-tos anatômicos de micro mamíferos não voadores, encontrados em distintos estágios de conservação. O pacote amostral provém de dois poços-testes

(quadrículas) escavados no interior do abrigo em níveis artificiais de controle de 10 cm (Figura 2):

- C3: Posicionada junto a parede leste do abri-go. Apresenta dimensões de 1 x 1 metro com profundidade máxima de 70 cm. Sedimenta-ção arenosa homogênea com coloração mar-rom. Apresentou fragmentos de lascamento de basalto (DIAS, 2003). Resgatou-se 270 remanescentes de roedores e marsupiais.

- C7/D7: Distam 2 metros da parede leste. Apresenta dimensões de 1 x 2 metros com profundidade máxima entre 80 cm e 1 metro . Apresentou sedimentação semelhante a C3, com grande teor de umidade. O material arqueológico ocorreu em baixa densidade por toda a estratigrafia. Resgataram-se duas pontas de projétil que caracterizam a tradição Umbú (DIAS, 2003). Foram recuperados 5788 rema-nescentes de roedores e marsupiais.

Figura 2 - Croqui do sítio arqueológico RS-S-395, mostrando o posicionamento dos dois poços-testes escavados: C3 e C7/D7. (Modificado de Dias, 2003).

Cada camada de solo de 10 cm foi retirada e peneirada e, ainda em campo, os ossos encontra-

dos foram previamente separados e etiquetados de acordo com a estrutura anatômica, quadrícula e

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nível. Estas informações foram obtidas a partir da ficha de registro do sítio arqueológico (DIAS, 2003; André Jacobus com. pess.).

As estruturas anatômicas pertencentes à micro mamíferos foram destacadas do total re-colhido do sítio, que apresentava remanescentes de outros grupos de vertebrados. Estas foram organizadas em grupos de acordo com a estrutura anatômica e o nível da quadrícula a que perten-cem. O material foi limpo com pincel, sendo retiradas todas as concreções, com finalidade de identificar possíveis marcas de corte (antrópicas) ou de predadores (BERWICK, 1975; REITZ e WING, 1999).

Os elementos osteológicos foram registrados em fichas (BERWICK, 1975), onde foram ano-tadas informações como nível e quadrícula de procedência, morfogrupo a que foi incorporada, lateralidade, presença de molariformes e incisivos, marcas tafonômicas e elementos ausentes devido a quebra.

O processo de identificação dos remanescentes tem se dado pela comparação de características ósseas e dentárias com descrições anatômicas das espécies de roedores e exemplares depositados na coleção de mamíferos do Museu de Ciências Naturais da ULBRA – MCNU em Canoas/ RS. Desta forma tem sido possível selecionar os taxa com representação na amostra analisada. Após a identificação do grupo taxonômico representado, buscou-se informações sobre habitat atual dos animais em pesquisa bibliográfica.

A descrição da face de oclusão dos dentes de roedores Hystricomorpha (Echimyidae), seguiu Leite (2003) e Vucetich e Verzi (1991) e de roedores Myomorpha (Cricetidae: Sigmodontinae) seguiu Percequillo (2006).

Designa-se molar superior como “M” e inferior, “m” e numerados de 1 à 3. Enquanto, designa-se o quarto pré-molar superior “PM4” e inferiores “pm4”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Relatamos a seguir os grupos taxômicos identi-ficados, apontando as características diagnósticas. Assim como, informações a respeito de seus hábitos, importância ecológica e do tipo de habitat que ocupam no presente.

Sub-ordem HYSTRICOMORPHA Brandt, 1855

Família ECHIMYIDAE Gray, 1825

Phyllomys Lund, 1839

Phyllomys sp.

Foram encontrados nos respectivos níveis da quadrícula C7/D7:

00 a 10 cm – 3 fragmentos de hemimandíbula esquerda com pelo menos pm4 e m1 não havendo m2 em uma das peças apenas; 1 fragmento de hemimandíbula esquerda com pm4, m1 e m2; 3 fragmentos edêntulos de hemimandíbula direita. Nenhuma possuía incisivos.

10 a 20 cm – 1 fragmento da maxila direita com processo zigomático e PM4, M1 e M2; 1 peça com maxilas direita e esquerda unidas através dos proces-sos palatinos apresentando PM4 e M1 em ambos os lados e parte do M2 esquerdo; 3 fragmentos de he-mimandíbula direita com pelo menos pm4 e m1 não havendo m2 na peça que apresentou parte do incisivo; 3 fragmentos de hemimandíbulas sem molariformes, 2 direitas edêntulas e 1 direita com incisivo.

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20 a 30 cm – 2 fragmentos, um esquerdo e outro direito da maxila com processos zigomáticos, PM4 e M1; 2 fragmentos de hemimandíbula direita apresentando pm4, uma delas com incisivo e m1; 1 fragmento de hemimandíbula esquerda com in-cisivo, pm4 e m1; 2 fragmentos de hemimandíbula esquerda com apenas incisivos.

30 a 40 cm – 2 fragmentos de hemimandíbula direita com apenas m1; 3 fragmentos de hemi-mandíbula esquerda, uma com parte do incisivo, pm4, m1 e m2, outra com apenas o m1 e outra com apenas pm4. 1 fragmento de hemimandíbula direita edêntula.

40 a 50 cm – 3 fragmentos de hemimandíbula es-querda (uma com pm4 e m1, outra com incisivo, m1 e m2 e outra com m1 e m2); 1 fragmento de hemi-mandíbula direita com pm4; 2 molares dissociados; 4 fragmentos de hemimandíbulas direitas edêntulas (3 edêntulas e 1 com parte do incisivo); 1 fragmento de hemimandíbula esquerda com incisivo.

50 a 60 cm – 1 fragmento da maxila esquerda com seu processo zigomático e com PM4 e M1; 3 fragmentos de hemimandíbula direita (2 com pm4, m1 e m2 e uma com apenas m1); 1 molar disso-ciado; 1 fragmento de hemimandíbula esquerda edêntula.

90 a 100 cm – 1 fragmento da maxila direita com processo zigomático, PM4 e M1;

Diagnose: Molares superiores retangulares, com-postos por quatro lâminas transversais separadas por três flexos labiais (para-, meso- e metaflexo). Em indivíduos jovens e adultos, o esmalte de uma lâmina se conecta com as outras, mas em animais

velhos, duas ou mais lâminas coalescem no lado labial e/ou no lado lingual, formando um lofo trans-versal em forma de “U”. O padrão de coalescência apresenta variação individual, mas normalmente os dois lofos posteriores unem-se labialmente com o desgaste, enquanto que os lofos anteriores unem-se lingualmente.

Na dentição inferior, o hipoflexido é profundo e voltado para frente, conectando-se ao mesoflexido no m1, entretanto um murídeo inconspícuo pode se formar entre os dois flexídeos com a idade. Um fino murídeo é normalmente presente no m2 e m3, separando hipoflexido e mesoflexido, dando-lhe a forma de “3”. Este murídeo é normalmente mais desenvolvido no m2 e, especialmente, m3. O pm4 é pentalofodonte e os dois primeiros lofídeos coa-lescem cedo formando um triângulo com uma ilha circular de esmalte no seu interior. O metaflexido corta o dente apenas em indivíduos jovens, mas o mesoflexido liga-se ao hipoflexido até mesmo em adultos.

Em Phyllomys, os dentes superiores são constitu-ídos por quatro lâminas transversais independentes, como em Diplomys. Nos molares superiores de Echimys e Makalata, no entanto, o anterolofo e protolofo estão conectados, bem como o mesolofo e o metalofo, cada par formando uma transversal em forma de “U”. Os lofídeos podem ser ligados na dentição inferior de Phyllomys formando a forma do numeral “3” e semelhante à Echimys e Maka-lata, mas o hipoflexido é sempre mais profundo e fortemente angular em Phyllomys. Em Diplomys, os lofídeos formam 3 lâminas independentes próximas e paralelas (LEITE, 2003 e LEITE et al., 2008) (Figura 3).

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Figura 3 - Diagramas comparando morfologia dentária

de echimyine: A - M1 superiores: parafl exo

não atravessa o dente em Echimys e Makalata

(à esquerda), parafl exo corta dente em ambos,

Phyllomys (meio) e Diplomys (direita). B - M1

inferior: mesofl exido não liga hipofl exido e me-

tafl exido não corta dente em Echimys e Makalata

(à esquerda), mesofl exido conecta hipofl exido em

Phyllomys (meio), mesofl exido liga hipofl exido

e metafl exido corta dente em Diplomys (direita)

(LEITE, 2003).

Em algumas hemimandíbulas edêntulas contu-do, a morfologia óssea foi bastante semelhante aos caracteres do gênero, sendo estas peças considera-das como cf. Phyllomys.

Comentários: Phyllomys são equimídeos (ratos de espinho) arborícolas encontrados no leste do Brasil. São noturnos, arborícolas, folívoros, com pelagem macia e com alguns pêlos modificados em espinhos. Possuem pés pequenos, grandes olhos, nariz quadrado, orelhas redondas e peque-nas e, longas vibrissas. As espécies de Phyllomys são de interesse especial para conservação, pois são pouco conhecidas, possuem distribuição geo-gráfica restrita e são endêmicas à Mata Atlântica (LEITE et al., 2008).

Sub-ordem HYSTRICOMORPHA Brandt, 1855

Família ECHIMYIDAE Gray, 1825

Euryzygomatomys Goeldi, 1901

Euryzygomatomys sp.

Foi encontrado na quadrícula C7/D7, no nível de 20 a 30 cm, 1 fragmento de hemimandíbula direita com incisivo, pm4 e m1.

Diagnose: Não há uma descrição detalhada dos caracteres morfológicos para este gênero. Utilizamos a descrição original Goeldi (1901) e Hadler et al (2008). Estes últimos comparam uma espécie extinta, E.mordax com a existente em nosso Estado, E.spinosus. Relatam comparações acerca da profundidade da fossa massetérica, da protuberância formada pelo fundo do incisivo inferior, da proximidade do forame mandibular ao côndilo, etc. Contudo, a semelhança do padrão dentário foi mais evidente quando com-parado a nossa amostra com as depositas no MCNU e com as imagens usadas por Hadler et al (2008). Os molariformes inferiores tem formato quadrangular em vista oclusal, exceto o dp4 que é mais retangular. O hipoflexido é profundo e orientado posteriormente. Os hipoflexidos linguais são profundos e reentrantes e, com desgaste, formam fossetídeos alongados. O mesofossetídeo é orientado anteriormente, enquanto o metafossetídeo é transversal.

Comentários: Pouco sabe-se a respeito da eco-logia das espécies deste gênero, cabendo portanto, uma revisão mais detalhada deste táxon. Supõe-se apenas que tem hábitos fossoriais e sociáveis. São herbívoros, noturnos e habitam a vegetação ripária e interior de florestas densas. Popularmente conhe-cidos por “sauiás”, atualmente também têm causado danos a silvicultura de Pinus taeda em Cambará do Sul/ RS (GONÇALVES, 2007)

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Subfamily OCTODONTOIDEA Waterhouse, 1839

Dicolpomys Winge, 1887

Dicolpomys aff fossor

Foram encontrados nos respectivos níveis da quadrícula C7/D7:

10 a 20 cm – 2 fragmentos de hemimandíbula direita com incisivos e m1 sendo que uma delas possui também o pm4; 3 fragmentos de hemimandíbula esquerda (to-das possuem pm4, m1 e m2, duas possuem também o m3 e uma apresenta além destes, o incisivo).

20 a 30 cm – 1 fragmento de hemimandíbula direita com incisivo, pm4, m1, m2 e m3; 1 fragmento de hemimandíbula esquerda com incisivo e m1.

30 a 40 cm – 3 fragmentos de hemimandíbula esquerda, sendo uma m2 eclodindo, uma com m1 e outra com incisivo e pm4.

40 a 50 cm – 1 fragmento de hemimandíbula esquerda com todos os dentes.

50 a 60 cm – 4 fragmentos de hemimandíbula esquerda sendo uma com pm4, uma com incisivo, pm4 e m1, uma com pm4 e m1 e a última com pm4, m1, m2 e m3; 2 fragmentos de hemimandíbula direita com incisivo, pm4 e m1.

60 a 70 cm – 1 fragmento de hemimandíbula direita com incisivo, pm4 e m1.

70 a 80 cm – 1 fragmento de hemimandíbula esquerda com m1.

Diagnose: A mandíbula de Dicolpomys é se-melhante ao de Clyomys, mas mais delicada. A fossa massetérica é profunda. A crista massetérica está pouco desenvolvida quando comparado com Clyomys e Euryzygomatomys. A protuberância for-mada pelos alvéolos da raiz do incisivo inferior está

bem evidente. O forâmen mandibular está situado próximo ao côndilo. Os dentes têm um padrão de “8” em vista oclusal, com flexo (-ídeo) lingual e labial simples e persistentes definindo dois lobos. Ambos os lobos do PM4-M3 e do m1-3 são geralmente iguais. O hipoflexo se interioriza um pouco mais do que em Clyomys riograndensis, mas menos do que em Eu-ryzygomatomys mordax. O dp4 de juvenis tem dois flexídeos linguais e três lofídeos, mas com o aumento do desgaste o flexídeo anterior se fecha formando um fossetídeo anterior. Nos espécimes mais velhos, todos flexídeos pode tornar-se fossetídeos. O m1 apresenta um vestígio da mesofossetídeo em alguns juvenis. A forma dos lobos do m1-2 é variável, podem ser de igual tamanho, ou o lobo anterior pode ser menor e mais fino (geralmente em m1), ou até mesmo o lobo posterior pode ser menor e mais largo (geralmente em m2). O m3 é claramente menor do que m1-2, e especialmente o seu lobo posterior é muito reduzido. Em alguns indivíduos o m3 não tem lobos distintos (HADLER et al., 2008).

Comentários: Trata-se de um grupo extinto, portanto, apenas podemos inferir quanto aos seus hábitos e habitat através das suas características ós-seas e dentárias. Hadler et al. (2008) menciona que provavelmente estes animais tinham hábitos fossoriais devido a morfologia e a implantação dos incisivos.

Sub-ordem MYOMORPHA Brandt, 1855

Família CRICETIDAE Fischer, 1817

Holochilus Brandt, 1835

Holochilus sp.

Foram encontrados nos respectivos níveis da quadrícula C7/D7:

10 a 20 cm: 1 fragmento de hemimandíbula direita com m1, m2 e m3; 1 fragmento de hemi-mandíbula esquerda com incisivo e m1 e m2.

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40 a 50 cm: 1 fragmento de hemimandíbula direita com incisivo e m1.

Diagnose: Incisivos superiores bem desenvolvidos, opistodontes ou quase ortodontes, sem ranhuras. Molares com coroas moderadamente altas, com superfície de oclusão plana ou terraceada. Cúspides ovais ou sub-triangulares. Mesolofo mais ou menos desenvolvido presente no M3 de juvenis ou subadul-tos. Dobras principal e primária do M3 opostas e em contato nos adultos e quase confluentes em juvenis. Segunda dobra secundária (posterior ao cíngulo) dos molares superiores presentes em juvenis e desgasta-dos em adultos; Dobras menores presentes em todos os molares inferiores. Primeira dobra secundária pre-sente pelo menos em molares inferiores de juvenis; Dobra interna anterior presente pelo menos em m1 de juvenis; segunda dobra primária do m2 tem dois terços ou mais do comprimento da primeira dobra primária (HERSHKOVITZ, 1955).

Comentários: Habitam margens de ambientes aquáticos como banhados e riachos cercados por pastagens em altitudes de até 2000 m. Vive entre gramíneas e juncos que crescem a margem destes ambientes, de onde saem a noite para se alimen-tarem. Constroem ninhos ovais em setembro, podendo ter até 40 cm de diâmetro ficando presos entre os juncais a uma altura de 30 a 40 cm da su-perfície da água. O ninho é uma câmara seca com uma porta lateral construído com palhetas sendo o chão mais duro do que a metade superior devido à compactação das palhetas. Alimenta-se de plantas e moluscos (HERSHKOVITZ, 1955).

CONCLUSÃO

Apesar de estar inserida num contexto arqueo-lógico, a deposição da fauna de pequenos mamíferos

estudada não parece estar relacionada à alimentação ou demais atividades humanas e sim a predação por ave de rapina, possivelmente Strigidae e Tytonidae (WORTHY, 2001 e ANDREWS, 1990). Obser-vamos: a) a análise tafonômica realizada mostrou que apenas 0,92% da amostra óssea apresentou evidências de queima, valor considerado baixo para fundamentar uma hipótese de preparo para consumo e que pode ser explicada pela elaboração das foguei-ras próximas ou sobre os ossos já presentes no chão do abrigo; b) O abrigo apresenta patamares e tocas ocasionados por erosão, proporcionando habitat de repouso propício a aves predadoras (corujas); c) Comparando o volume de sedimentos retirado, obtivemos da quadrícula C7/D7 (1800000 cm³) uma quantidade aproximadamente oito vezes maior de material ósseo do que aquele retirado da quadricula C3 (700000 cm³). Possivelmente a maior quantidade de material ósseo deva-se a localização da quadricula C7/D7 localizar-se logo abaixo de abrigo junto a um grande patamar de arenito. Local que poderia abrigar aves que eliminariam suas egagrópilas. Esta condição não se verifica em C3.

Mesmo com esta descrição preliminar – quatro táxons identificados – pode-se sugerir a presença de pelo menos 3 ambientes distintos dentro da área de atividade do predador responsável pelo depósito: a) Mata Atlântica: Ambiente representado pela presen-ça de Phyllomys sp. e Euryzygomatomys sp.; b) Campo aberto: Ambiente representado por Dicolpomys aff fossor, relacionado a um clima mais frio e seco remanescente do Último Máximo Glacial (UMG) ocorrido no Pleistoceno final (RODRIGUES, 2008). Apesar de extinto desde aproximadamente 3700 anos no RS, vestígios destes animais foram encontra-dos associados a ambientes secos com predomínio de gramíneas desde Lagoa Santa (MG) entre o final do Pleistoceno e o início Holoceno até o centro argenti-no durante o Pleistoceno (HADLER et al, 2008); C)

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Banhado em campo aberto: Formação representada por Holochilus sp. que habita suas margens em meio a juncais. Espécie que ocorre atualmente em latitudes temperadas, nas terras baixas do pampa uruguaio e brasileiro (HERSHKOVITZ, 1955; VOSS & CAR-LETON, 1993).

O ambiente em mosaico, com a presença de flores-tas e campos, referido por Rodrigues (2008) e Hadler et al (2008) parece ser a melhor explicação para as informações geradas em nossos estudo. Podemos agregar a esta informação a presença de banhados e cursos d’água devido a ocorrência de Holochilus.

A ocorrência de quatro táxons: Phyllomys sp., Euryzygomatomys sp., Dicolpomys aff fossor e Holochilus sp. com exigências ecológicas distintas atesta em favor de uma paisagem heterogênea tal qual a prevista por Rodrigues (2008). Uma questão encontra-se em aber-to: Qual fenômeno levou a extinção de Dicolpomys aff fossor? Possivelmente, alteração climática? Nosso registro, próximo ao de Rodrigues (2008), amplia a distribuição deste gênero. Se considerarmos que as amostras de Dicolpomys do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais pertencem a mesma espécies como afirma Hadler et al. (2008) presume-se a extinção de inúmeras populações ao longo de uma extensa área.

Nossos resultados contribuem na ampliação de uma área de estudo incipiente no Brasil. Mui-tas questões surgiram no contexto de explicar a diversidade de roedores no passado recente nesta área geográfica, visto que ainda temos uma grande amostra a ser estudada, e a existência de fragmentos que sugerem a ocorrência de novos táxons.

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Ciências da Saúde

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Evidência de que os ácidos β-hidroxibutirato e acetoacetato não causam estresse oxidativo em

córtex cerebral de ratos jovens in vitro

CAROLINA GONÇALVES FERNANDES 1

ESTELA NATACHA BRANDT BUSANELLO 2

ALANA PIMENTEL MOURA 3

ANA PAULA BESKOW 4

LUCILA DE BORTOLI DA SILVA 4

MOACIR WAJNER 5

RESUMO

O acúmulo dos corpos cetônicos (CC) acetoacetato (AcAc) e β-hidroxibutirato (BHB) ocorre durante o jejum e durante episódios de descompensação metabólica em desordens neurometabólicas hereditárias. O presente estudo investigou o efeito in vitro do AcAc e do BHB sobre vários parâmetros de estresse oxidativo em córtex cerebral de ratos jovens. Nossos resultados demonstraram que o AcAc e o BHB não foram capazes de alterar os parâmetros testados. Concluindo, estes dados sugerem que o AcAc e o BHB não possuem propriedades anti-oxidantes ou pró-oxidantes em córtex cerebral de ratos jovens.

Palavras-chave: Corpos cetônicos, acetoacetato, β-hidroxibutirato, ratos, in vitro.

1 Acadêmico do Curso de Biomedicina/ULBRA – Bolsista CNPq-PIBIC/ULBRA

2 Acadêmico do Curso de Biomedicina/ULBRA3 Acadêmico do Curso de Biomedicina/ULBRA – Bolsista

PROICT/ULBRA

4 Acadêmico do PPG Genética e Toxicologia Aplicada/ULBRA

5 Professor – Orientador do PPG Genética e Toxicologia Apli-cada/ULBRA ([email protected])

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ABSTRACT

The ketone bodies (CC) acetoacetate (AcAc) and β-hydroxybutyrate (BHB) accumulation occurs during fasting and during metabolic decompensation in inherited neurometabolic disorders. The present study investigated the in vitro effect of AcAc and BHB on several oxidative stress parameters in cerebral cortex of young rats. Our results show that AcAc and BHB did not alter the parameters analysed. Concludingly, the data sugest that CC do not act as pro-oxidant nor antioxidant effects in cerebral cortex of young rats.

Key words: Ketone bodies, acetoacetate, β-hidroxibutirate, rats, in vitro.

INTRODUÇÃO

Os corpos cetônicos (CC) são conhecidos como uma grande fonte de energia utilizada no jejum (OWEN et al. 1967). Os CC, β-hidroxibutirato (BHB), acetoacetato (AcAc) e acetona, são produ-zidos pela degradação de ácidos graxos no fígado e liberados na circulação para serem incorporados por vários tecidos extra-hepáticos incluindo o cérebro para fornecer energia (MITCHELL et al. 1995). Concen-trações plasmáticas elevadas de CC são devido a um aumento de produção, a uma diminuição do consumo ou a uma alteração de algum processo específico re-gulatório em seu metabolismo. Os CC também estão caracteristicamente elevados em condições patoló-gicas como diabetes durante descompensação meta-bólica (aumento na produção) e defeitos cetolíticos (diminuição no uso) como nas deficiências da acetoa-cetil-CoA tiolase (T2) e da succinil CoA: 3-oxoacido CoA transferase (SCOT), nas quais as concentrações sanguíneas dessas substâncias (cetose) podem atingir níveis tão elevados quanto 25 mM (ADROGUE et al. 1982; LAFFEL 1999; NIEZEN-KONING et al. 1997; MITCHELL e FUKAO 2001; FUKAO et al. 2004). Pacientes afetados pelas deficiências de T2 e SCOT normalmente apresentam sintomas neurológicos (MITCHELL e FUKAO 2001).

Apesar de apresentarem efeitos benéficos como excelentes substratos para formação de energia,

ações deletérias vem sendo demonstradas para os CC, como por exemplo gerar espécies reativas de oxigênio (ROS), induzir lipoperoxidação e níveis diminuídos de glutationa reduzida (GSH) em eritró-citos, células endoteliais e monócitos de pacientes diabéticos, e em culturas de células hepáticas in vitro (JAIN et al. 1998, 1999; JAIN e MCVIE 1999; LEE et al. 2002; SQUIRES et al. 2003; ABDELMEGGED et al. 2004; BROOKES et al. 2004; Jain et al. 2006). Também vem sendo demonstrado que ocorre estresse oxidativo em diabéticos hipercetonêmicos, mas não em normocetonêmicos em comparação com indiví-duos normais (JAIN et al. 2006).

A maioria destes estudos associam hipercetone-mia, especialmente com altos níveis de AcAc, com indução de peroxidação lipídica e normocetonemia com redução do dano oxidativo a lipídeos (JAIN et al. 1998, 1999; JAIN e MCVIE 1999). No entanto, a ativação de rotas de sinalização celular envolvida com o estresse oxidativo por corpos cetônicos ainda não foi estabelecida e o papel dos CC induzir estresse oxida-tivo até agora foi baseado em resultados obtidos com somente alguns parâmetros e em tecidos periféricos.

Por outro lado, trabalhos prévios tem demons-trado que uma dieta cetogênica é neuroprotetora contra várias doenças agudas e crônicas (GILBERT et al. 2000; KASHIWAYA et al. 2000). Além disso, foi verificado que o BHB e o AcAc protegem neu-

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rônios hipocampais expostos a MPP+, um inibidor da NADH desidrogenase e reduzem o dano cerebral de roedores submetidos à inibição da glicólise ou isquemia generalizada in vivo e in vitro (SUZUKI et al. 2001, 2002; MASSIEU et al. 2003).

No presente estudo tivemos como objetivo avaliar os efeitos de BHB e AcAc, nas concentra-ções encontradas em pacientes diabéticos durante crises de cetoacidose e em indivíduos afetados pelas deficiências da SCOT e da T2 sobre um amplo espectro de parâmetros de estresse oxidativo, tais como quimiluminescência e substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) (peroxidação lipídica), formação de carbonilas e oxidação de grupamentos sulfidrila (dano oxidativo a proteínas), reatividade antioxidante total (TAR) e níveis de GSH (defesas antioxidantes não-enzimáticas) em cérebro de ratos jovens.

MATERIAL E MÉTODOS

Animais de experimentação: Foram utilizados ratos Wistar de 30 dias de idade, de ambos os sexos, fornecidos pelo Biotério do Departamento de Bioquí-mica, ICBS, UFRGS. Os ratos foram mantidos em ci-clos de claro-escuro de ±12 horas a uma temperatura de 24±1°C. Os animais tinham livre acesso à água e ao alimento (ração Supra ou Purina, São Leopoldo, RS). A utilização dos animais seguiu um protocolo experimental aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e os Princípios de Cuidados de Animais de Laboratório (Principles of Laboratory Animal Care, Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos da América, NIH, publicação número 80-23, revisada em 1996).

Reagentes: foram utilizados reagentes químicos das marcas Sigma e Merck.

Preparação das amostras para análise dos parâmetros bioquímicos de estresse oxidativo

Os animais foram sacrificados por decapitação com guilhotina e sem anestesia, a caixa craniana foi aberta e o seu conteúdo retirado e, a partir de então, mantido sobre uma placa de vidro a aproximadamente 0 ºC. O cérebro foi limpo, sendo retirado o excesso de sangue dos vasos externos. Posteriormente, o bulbo olfatório, o tronco cerebral e o cerebelo foram desartados, e o córtex cerebral dissecado, pesado e homogeneizado em tampão fosfato de sódio 20 mM, pH 7,4, contendo KCl 140 mM, na proporção de 1:10 (peso/volume). Finalmente, foram retiradas alíquotas para a realização de uma pré-incubação de 60 min a 37º C na ausência dos metabólitos a serem testados (grupo controle) ou na presença dos mesmos (grupos teste).

Parâmetros de Estresse oxidativo (oxidações biológicas)

Medida dos níveis das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS): foi realizada baseando-se na reação do malondialdeído formado na amostra durante a incubação com o ácido tiobarbitúrico (ESTERBAUER e CHEESEMAN, 1990).

Medida da quimiluminescência espontânea: foi realizada através da medida da quimiluminescência emitida pelos radicais livres formados no processo de lipoperoxidação em homogeneizado de córtex cerebral (GONZALEZ-FLECHA et al., 1991).

Medida do conteúdo de sulfidrilas totais: foi realiza-da através da redução do ácido ditionitrobenzóico (DTNB) pelos grupamentos tióis não-oxidados das proteínas contidas na amostra (AKSENOV e MARKESBERY, 2001).

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Medida do conteúdo de grupos carbonila: foi reali-zada de acordo com o método de Reznick e Packer (1994), em que os grupos carbonila presentes em proteínas oxidadas contidas na amostra reagem com dinitrofenil-hidrazina (DNPH).

Determinação das concentrações de glutationa reduzida (GSH): foram determinadas através do método descrito por Browne e Armstrong (1998), em que GSH reage com o fluoróforo o-ftaldialdeído.

Reatividade Antioxidante Total (TAR): foi determinada pelo método descrito por Lissi et al. (1995), através da medida da intensidade de quimiluminescência do luminol induzida pelo 2, 2’-azo-bis-(2-amidinopropano) (ABAP) à tempe-ratura ambiente.

Análise Estatística

Os resultados foram analisados usando o pro-grama SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 16.0 em um computador PC compatível. Para os experimentos, utilizou-se aná-lise de variância de uma via (ANOVA) seguida do teste de Duncan, quando o valor de F foi signi-ficativo. Utilizou-se também o teste t de Student para amostras pareadas. Um valor de P <0,05 foi considerado significante.

Medida de Proteínas

O conteúdo protéico em todas as técnicas em-pregadas foi determinado pelo método de Lowry et al. (1951), usando albumina bovina sérica como padrão.

RESULTADOS

A peroxidação lipídica foi inicialmente inves-tigada através dos níveis de TBA-RS e quimilu-minescência em cérebro de ratos. As Figuras 1 e 2, respectivamente, mostram que sob condições basais AcAc [F(3,12)=2,440; P=0,115] e BHB [F(3,12)= 1,043; P=0,409] não alteraram os valo-res de TBA-RS em doses tão altas quanto 25mM. Similarmente, AcAc [F(3,16)=0,183; P=0,906] (Figura 3) e BHB [F(3,16)=0,360; P=0,782] (Figura 4) não alteraram os valores de quimilu-minescência em sobrenadante cortical de ratos. Isso também pode ser visto nas Figuras 5 e 6 onde tanto o AcAc [F(3,16)=29,854; P<0,001] como o BHB [F(3,16)=42,048; P<0,001], respectivamen-te, também não alteraram o aumento dos níveis de TBA-RS causado pelo sistema gerador de ra-dicais hidroxila. Sendo assim, podemos concluir que o BHB e o AcAc não provocam peroxidação lípidica em córtex cerebral de ratos.

O dano oxidativo protéico foi avaliado pela medida dos conteúdos de sulfidrilas e carbonilas. O AcAc [F(3,12)=0,622; P=0,614] (Figura 7) e o BHB [F(3,12)=0,777; P=0,529] (Figura 8) não alteraram a oxidação das sulfidrilas e tampouco o conteúdo de carbonilas [Figura 9 – AcAc: F(3,20)=1,757; P=0,188], [Figura 10 – BHB: F(3,15)=0,847; P=0,489], nas concentrações de 1 a 25 mM, indicando que estes metabólitos não causam dano oxidativo protéico em córtex cerebral.

As defesas antioxidantes não-enzimáticas foram também investigadas através da medida do TAR e dos níveis de GSH. Nossos resultados de-monstram que o AcAc [F(3,8)=0,304; P=0,822] (Figura 11) bem como o BHB [F(3,8)=0,422; P=0,743] (Figura 12) não modificaram o valor

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do TAR. Da mesma maneira, ambos os meta-bólitos não alteraram os níveis de GSH [AcAc: F(3,12)=0,744; P=0,530] (Figura 13), [BHB: F(3,12)=2,069; P=0,158] (Figura 14). Além disso, AcAc e BHB, na concentração de 25mM, também não foram capazes de oxidar uma solução comercial de GSH na concentração de 200 µM, enquanto 150 µM de N-etilmaleimida (controle positivo) promoveu a oxidação de 75% de uma solução de 200 µM de GSH [F(3,4)=16,123; P<0,001] (resultados não demonstrados).

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Controle 1 10 25AcAc (mM)

Figura 1 - Efeito in vitro do ácido acetoacético (AcAc) sobre as substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em homogeneizados de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=4) e foram expressos em percentual dos controles (4,15 ± 0,15 mmol/mg de proteina). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

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Controle 1 10 25BHB (mM)

Figura 2 - Efeito in vitro do ácido β-hidroxibutírico (BHB) sobre as substâncias reativas ao ácido tiobarbitú-rico (TBA-RS) em homogeneizados de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=5) e foram expressos em percentual dos controles (4,15 ± 0,15 mmol/mg de proteina). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

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Controle 1 10 25AcAc (mM)

Figura 3 - Efeito in vitro do ácido acetoacético (AcAc) sobre a quimiluminescência em homogeneizado de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=5) e foram expressos em percentual do controle (3632 ± 706 cpm/min). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao con-

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Controle 1 10 25BHB (mM)

Figura 4 - Efeito in vitro do ácido β-hidroxibutírico (BHB) sobre a quimiluminescência em homogeneizado de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=5) e foram expressos em percentual do controle (3632 ± 706 cpm/min). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

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Controle

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Figura 5 - Efeito in vitro do ácido acetoacético (AcAc) sobre os níveis de TBA-RS na presença de um sistema gerador de radicais hidroxila em homogeneizados de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=5) e foram expressos em percentual dos controles (3,74 ± 0,40 mmol/mg de proteina). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA), seguindo-se do teste de Duncan (*P<0,05, *** P <0,001, comparado ao controle).

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Controle BHB Sistema BHB + Sistema

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Figura 6 - Efeito in vitro do ácido β-hidroxibutírico (BHB) sobre os níveis de TBA-RS na presença de um sistema gerador de radicais hidroxila em homogeneizados de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=5) e foram expressos em percentual dos controles (3,74 ± 0,40 mmol/mg de proteina). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA), seguindo-se do teste de Duncan (*P<0,05, *** P <0,001, comparado ao controle).

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AcAc (mM)

Figura 7 - Efeito in vitro do ácido acetoacético (AcAc) sobre a medida de grupos sulfidrila em homogeneizado de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores repre-sentam média ± desvio padrão (n=5) e foram ex-pressos em percentual do controle (15,0261 ± 9,47 nmol de sulfidrila/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

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Controle 1 10 25

BHB (mM)

Figura 8 - Efeito in vitro do ácido β-hidroxibutírico (BHB) sobre a medida de grupos sulfidrila em homogeneizado de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=4) e foram expressos em percentual do controle (15,0261 ± 9,47 nmol de sulfidrila/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

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Controle 1 10 25AcAc (mM)

Figura 9 - Efeito in vitro do ácido acetoacético (AcAc) sobre a formação de carbonilas em homogeneizado de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores repre-sentam média ± desvio padrão (n=6) e os resultados expressos em percentual do controle (0,74 ± 0,11 nmol de carbonila/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma dife-rença significativa em relação ao controle.

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Controle 1 10 25BHB (mM)

Figura 10 - Efeito in vitro do ácido β-hidroxibutírico (BHB) sobre a formação de carbonilas em homogeneizado de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores repre-sentam média ± desvio padrão (n=7) e foram ex-pressos em percentual do controle (0,86 ± 0,17nmol de carbonila/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

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Controle 1 10 25AcAc (mM)

Figura 11 - Efeito in vitro do ácido acetoacético (AcAc) sobre a reatividade antioxidante total (TAR) em homogeneiza-do de córtex de cérebros de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=3) e estão expressos em percentual do controle (66,73±6,30 nmol de Trolox / mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

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Controle 1 10 25

BHB (mM)

Figura 12 - Efeito in vitro do ácido β-hidroxibutírico (BHB) sobre a reatividade antioxidante total (TAR) em homogeneiza-do de córtex de cérebros de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=3) e estão expressos em percentual do controle (66,73±6,30 nmol de Trolox / mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

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AcAc (mM)Controle

Figura 13 - Efeito in vitro do ácido acetoacético (AcAc) sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em homogeneizado de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=4) e foram expressos em percentual do controle (8,78 ± 0,94 mmol/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

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Controle 1 10 25BHB (mM)

Figura 14 - Efeito in vitro do ácido β-hidroxibutírico (BHB) sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em homogeneizado de córtex de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± desvio padrão (n=4) e foram expressos em percentual do controle (8,78 ± 0,94 mmol/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle.

DISCUSSÃOExistem relatos controversos na literatura sobre

atividades pró-oxidantes e antioxidantes dos CC que estão normalmente aumentados em pacientes durante descompensação metabólica (produção elevada) e em indivíduos afetados pelas deficiên-cias de SCOT e T2 (diminuição da degradação). Estudos prévios revelaram que AcAc, mas não o BHB, parece induzir geração de espécies reativas em células periféricas (JAIN et al. 1998, 1999; JAIN e MCVIE 1999; ABDELMEGGED et al. 2004; JAIN et al. 2006). Além disso, algumas evidências tem revelado que o BHB possui atividades neuro-protetoras in vivo e in vitro provavelmente através de suas propriedades antioxidantes (GILBERT et al. 2000; KASHIWAYA et al. 2000; SUZUKI et al. 2001, 2002; MASSIEU et al. 2003). Outros

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estudos demonstram que esses CC, com ênfase particular ao BHB, reduzem o dano oxidativo no tecido cardíaco (Veech et al. 2001). Entretanto, em geral estes trabalhos utilizam poucos parâmetros de estresse oxidativo, particularmente a peroxidação lipídica e os níveis teciduais de GSH.

No presente estudo investigamos os efeitos in vitro do BHB e AcAc, nas concentrações normal-mente encontradas no sangue de pacientes diabé-ticos com severa descompensação metabólica e de pacientes afetados pelas deficiências de SCOT e T2, sobre um largo espectro de parâmetros de estresse oxidativo em córtex cerebral de ratos jovens.

Observamos que a peroxidação lipídica (qui-miluminescência e níveis de TBA-RS), o dano oxidativo protéico (oxidação de sulfidrilas e for-mação de carbonilas) e as defesas antioxidantes não enzimáticas (TAR e GSH) não foram alteradas por doses de BHB e AcAc tão elevadas quanto 25 mM no tecido cerebral. Também observamos que os CC não afetaram o aumento de produção de ERO induzida por um sistema gerador de radical hidroxila. Portanto, sob condições basais com uma alta produção de radicais livres, o AcAc e o BHB não foram capazes de reduzir ou aumentar os pa-râmetros de estresse oxidativo no cérebro. Além disso, BHB e AcAc não oxidaram os grupamentos sulfidrila de uma solução comercial de GSH.

Nossos resultados, em conjunto, não sustentam a hipótese de queo BHB e o AcAc atuam in vitro como potentes agentes pró ou antioxidantes diretos ou indiretos no sistema nervoso central. Esta conclu-são está de acordo com o fato de que diabéticos com freqüentes e severos episódios cetóticos não sofrem danos neurológicos e psicomotores aparentes. Além disso, o desenvolvimento físico e mental é normal nos pacientes afetados pelas deficiências de SCOT e T2 com cetose e cetonúria persistentes, refletindo

um desenvolvimento normal do SNC, bem como das funções cerebrais (NIEZEN-KONING et al. 1997), como poderia ser esperado no caso em que AcAc e BHB provocassem estresse oxidativo já que o cérebro é especialmente vulnerável ao ataque de radicais livres (JAIN et al. 1998, 1999; JAIN e MCVIE 1999; ABDELMEGGED et al. 2004; JAIN et al. 2006).

Por outro lado, não podemos excluir a possibi-lidade de que os corpos cetônicos, especialmente o AcAc, pudessem atuar como pró-oxidantes em tecidos periféricos bem como vem sendo demonstrado em monócitos, eritrócitos e células endoteliais principalmente em pacientes diabéti-cos com alto nível de cetonas no sangue (JAIN et al. 1998, 1999; JAIN e MCVIE 1999; LEE et al. 2002; SQUIRES et al. 2003; ABDELMEGGED et al. 2004; JAIN et al. 2006). Neste particular, atividades pró-oxidantes, pelos quais os mecanis-mos ainda não estão bem estabelecidos, tem sido particularmente atribuídas ao AcAc em células periféricas (JAIN e MCVIE 1999) e em um sistema livre de células (JAIN et al. 2006). Além disso, não podemos até o presente momento estabelecer o papel dos CC no estresse oxidativo característicos em diabéticos já que a hiperglicemia é também capaz de induzir estresse oxidativo, bem como em monócitos e na disfunção endotelial (JAIN 1989; RAJESWARI et al. 1991; TESFAMARIAM e COHEN 1992; NISCHIKAWA et al. 2000; NATARAJAN et al. 2002).

Outros resultados revelaram propriedades neuroprotetoras para estas substâncias in vitro e in vivo e especialmente para o BHB em isquemia, epi-lepsia, inibição da glicólise, doenças de Parkinson e Alzheimer (GILBERT et al. 2000; KASHIWAYA et al. 2000; SUSUKI et al. 2001, 2002; MASSIEU et al. 2003; Malouf et al. 2007). Pode-se presumir que a indução neuroprotetora do BHB pode ocorrer via mecanismo indireto como, por exemplo, pela

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reposição energética tecidual devido ao aumento da respiração celular e produção de ATP nestas situações caracterizadas por déficit de energia, ao invés das atividades antioxidantes diretas (SUZUKI et al. 2001; VEECH et al. 2001). Neste contexto, está bem estabelecido que os corpos cetônicos são excelentes substratos para geração de energia no cérebro (MORRIS 2005). Alternativamente, dietas cetogênicas podem ser neuroprotetoras pelo aumento do nível de proteínas desaclopadas no hi-pocampo, conduzindo indiretamente a diminuição da produção de espécies reativas e excitabilidade neuronal (SULLIVAN et al. 2004).

Concluindo, o presente estudo demonstrou que o AcAc e o BHB per se não promovem ou previnem o estresse oxidativo in vitro no cérebro de ratos em desenvolvimento. Vários parâmetros de estresse oxidativo foram testados, distintamen-te de outros estudos descritos na literatura que basicamente testaram os efeitos dos CC sobre a peroxidação lipídica e os níveis de GSH. Presu-mimos que os efeitos neuroprotetores observados pelo AcAc e particularmente BHB em várias situa-ções patológicas in vivo e em culturas de células hipocampais são, ao menos em parte, indiretos e provavelmente devidos a restauração dos substra-tos energéticos necessários para a sobrevivência e atividade neuronal. Não podemos também excluir que os estudos contraditórios de estudos prévios e do presente trabalho em relação aos efeitos pró ou antioxidantes dos CC provavelmente refletem diferenças de metodologia ou teciduais específicas. Neste contexto, demonstramos no presente estudo que estes compostos não alteram os parâmetros de estresse oxidativo no cérebro, enquanto que quase todos os estudos descritos anteriormente demonstram os efeitos desses corpos cetônicos em tecidos periféricos.

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97Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

Ligadura de ducto biliar como modelo de cirrose biliar secundária: Efeito da S-Nitroso-N-Acetilcistena (SNAC)

BRUNA BORBA VALIATTI1

RAFAEL VERCELINO2

JULIANA TIEPPO2

GRAZIELLA RODRIGUES3

CÍNTIA DE DAVID4

GABRIELA FREITAS DE SOUZA5

MARCELO GANZAROLLI DE OLIVEIRA6

NORMA POSSA MARRONI7

CLÁUDIO AUGUSTO MARRONI8

RESUMO

A Síndrome Hepatopulmonar é uma complicação da cirrose hepática que gera prejuízo na difusão de gases. Avaliamos o efeito da SNAC na difusão de gases e na lipoperoxidação (LPO) pulmonar e hepática em ratos com ligadura de ducto biliar comum (LDBC). Utilizamos 20 ratos Wistar, divididos em: 1-Sham Operated (SO); 2-LDBC; 3-SO+SNAC; 4-LDBC+SNAC. A SNAC foi administrada 14 dias após a LDBC, por 14 dias. Na histologia, o grupo 2 apresentou infiltrado inflamatório e aumento no diâmetro dos vasos. Houve diminuição

1 Acadêmica do Curso Medicina/UFCSPA – Bolsista FAPERGS2 Fisioterapeuta, Mestre em Fisiologia/UFRGS3 Bióloga/ULBRA, Mestranda do PPG Medicina: Ciências Médicas

do HCPA/UFRGS4 Farmacêutica, Doutoranda do PPG Ciências biológicas:

Fisiologia/UFRGS5 Química, Doutoranda do Programa de Química da UNICAMP

6 Professor Associado do Departamento de Físico-Química da UNICAMP

7 Professora do Curso de Biologia e do PPG Genética e Toxi-cologia Aplicada/ULBRA, Coordenadora do Laboratório de Estresse Oxidativo e Antioxidantes

8 Professor - Orientador do Curso de Medicina/UFCSPA

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significativa da PO2 e SatO2/Hb no grupo 2. Houve aumento significativo das provas de função hepática e da LPO do tecido pulmonar e hepático no grupo 2. Concluímos que a SNAC reduziu o dano hepático, a hipoxemia e a LPO pulmonar em ratos com LDBC, possivelmente por seus efeitos antioxidantes.

Palavras-chave: Ligadura de ducto biliar comum, estresse oxidativo, SNAC.

ABSTRACT

The Hepatopulmonary Syndrome is a complication of cirrhosis that affects gas diffusion. We evaluated SNAC´s effect on gas diffusion and lipoperoxidation (LPO) in lung and liver of rats with common bile duct ligation (LDBC). We used 20 Wistar rats, divided into: 1 Sham-operated (SO) 2-LDBC, 3-SO + SNAC, 4-LDBC + SNAC. SNAC was administered 14 days after LDBC, for 14 days. In histological analysis, group 2 showed inflammatory infiltrate and increase in vessels diameter. There was a significant decrease of PO2 and SatO2/Hb in group 2. There was significant increase in liver integrity markers and of LPO at lung and liver in group 2. We conclude that SNAC reduced the liver damage, the hypoxemia and pulmonary LPO in rats with LDBC, possibly by its antioxidant effects.

Key words: Common bile duct ligation, oxidative stress, SNAC

INTRODUÇÃO

Alterações na função respiratória são eventos comuns em pacientes que apresentam doença hepática crônica. As estimativas são tão altas que 50-70% dos pacientes se queixam de dispnéia (ROBERTS, ARGUEDAS e FALLON, 2007). Nos últimos anos, as anormalidades vasculares pulmonares foram reconhecidas cada vez mais como as entidades clínicas importantes que influen-ciam a sobrevivência do candidato ao transplante hepático. A anormalidade vascular mais comum é a síndrome hepatopulmonar (SHP), que ocor-re quando há dilatação vascular intrapulmonar que prejudica a oxigenação arterial (FALLON e ABRAMS, 2000).

A SHP é classicamente definida como um desequilíbrio no gradiente alvéolo-arterial (Aa-PO2) em ar ambiente (>15 mmHg) com ou sem

o hipoxemia, resultante da vasodilatação intra-pulmonar na presença do disfunção hepática e/ou hipertensão portal (RODRIGUEZ-ROISIN et al., 2004). Recentemente a SHP pode ser observada em pacientes com hipertensão portal na ausência de cirrose (trombose da veia porta, hiperplasia regenerativa nodular, fibrose hepática congê-nita) e também tem sido relatada em pacientes que apresentam hepatite crônica na ausência de hipertensão portal (GUPTA et al., 2001; REGEV et al., 2001).

Estudos prévios demonstraram que a indução de cirrose biliar secundária, através da ligadura de ducto biliar comum (LDBC) (TIEPPO et al., 2005; VERCELINO et al., 2008) simula a doença humana pelas alterações provenientes da reação inflamatória causada pelo refluxo biliar e a conse-qüente desorganização da arquitetura natural do parênquima, com áreas inflamatórias e de deposição

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99Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

de colágeno e formação de fibrose (KOUNTOU-RAS, BILLING e SCHEUER, 1984).

Experimentalmente, o modelo de ligadura de ducto biliar é o único modelo que identifica as ca-racterísticas da síndrome hepatopulmonar. Fallon e colaboradores demonstraram que a ligadura de ducto biliar é um modelo para o estudo da SHP, com os animais cirróticos a partir de 4 semanas, quando já apresentam hipoxemia e vasodilata-ção intrapulmonar. O gradiente alvéolo-capilar apresenta diferença superior a 100% e é acompa-nhado de hipoxemia, com valores inferiores à 85 mmHg, quando comparados ao grupo controle. Esses achados foram associados à vasodilatação intrapulmonar (FALLON et al., 1997; TIEPPO et al., 2005).

A S-Nitroso-N-Acetilcisteína (SNAC) é um S-nitrosotiol (RSNOs) e atua como doador de óxido nítrico e tem potentes aplicações biomédi-cas. Os RSNOs são moléculas carregadoras de NO que, além de permitirem a liberação de NO, têm ações diretas e ainda realizam S-transnitrosação e S-tiolação, o que as torna diferentes de outros doadores de NO. A S-nitroso-N-acetilcisteína (SNAC) constitui um exemplo de RSNO que pose ser empregado como fonte exógena de NO. Os RSNOs são considerados agentes terapêuticos em uma variedade de doenças no qual o NO pode estar envolvido. O principal papel intracelular dos RSNOs pode estar relacionado à redução do estresse oxidativo (HOGG, 2002).

O presente trabalho tem como objetivo avaliar os efeitos da SNAC na difusão de gases e na lipo-peroxidação (LPO) pulmonar e hepática em ratos com LDBC, como modelo de SHP.

MATERIAL E MÉTODOS

Procedimento Experimental

Foram utilizados 10 ratos machos Wistar para cada grupo experimental (n=10 baseado em cálculo amostral), com peso médio de 250 gramas, prove-nientes da FEPPS. Os animais foram mantidos du-rante o experimento na Unidade de Experimentação Animal do Centro de Pesquisas do Hospital de Clíni-cas de Porto Alegre, em caixas plásticas individuais, de 47x34x18cm, forradas com maravalha, em ciclo de doze horas claro/escuro (luz das 7 às 19 horas) e temperatura de 22 ±± 2°C. A água e a ração foram administradas livremente e os animais foram tratados diariamente com água e ração Nutripal (Moinhos Purina, Porto Alegre, RS/Brasil).

Os procedimentos com os animais serão de acordo com o preconizado pela Comissão de Pes-quisa e Ética em Saúde do Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação de Clínicas de Porto Alegre.

Grupos Experimentais

O modelo utilizado foi de cirrose biliar secundária através de ligadura de ducto biliar comum (LDBC), e os animais foram divididos em 4 grupos:

1. Sham Operated (SO) - Grupo submetido à simu-lação da cirurgia, sem a LDBC e administração de Veículo (NaCl);

2. LDBC (LDBC) - Grupo submetido à cirurgia de LDBC;

3. Sham Operated + SNAC (SO + SNAC) - Grupo submetido à simulação da cirurgia de LDBC e tratamento com SNAC;

4. LDBC + SNAC (LDBC + SNAC) - Grupo submeti-do à cirurgia de LDBC e tratamento com SNAC.

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100 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

Desenvolvimento do Modelo de Síndrome Hepatopulmonar pela Indução de Cirrose Biliar Secundária

O processo iniciou com a anestesia do animal mediante a administração de fármacos anestésicos e posicionamento do mesmo para cirurgia. Foi utilizada uma mistura de Cloridrato de Xilazina 2% 50mg/Kg de peso corporal, e Cloridrato de Cetamina, 100mg/Kg de peso corporal intraperitonialmente. A intervenção cirúrgica iniciou com a realização de tricotomia e desinfecção da região abdominal, seguida de laparo-tomia ventral média, e de dissecação do ducto biliar comum na altura da desembocadura dos ductos pan-creáticos, ligados por meio de dois nós para posterior secção entre eles. A cavidade abdominal foi fechada com pontos individuais em “U” no plano cutâneo, e o peritônio e a camada muscular abdominal foram fechados com pontos contínuos. Os animais se recu-peraram da anestesia em caixas individuais forradas com maravalha em incubadora para recém-nascidos (FANEM - SP), antes de serem devolvidos a condição padrão da Unidade de Experimentação.

Os animais dos grupos SO não foram submetidos a LDBC, sendo realizada somente a manipulação do ducto simulando o estresse cirúrgico. Após 28 dias, da LDBC, os animais foram sacrificados.

Administração do Veículo e da SNAC

O tratamento com SNAC iniciou-se a partir do 14º dia do procedimento cirúrgico, diariamente, por via intraperitoneal, na dose 1,15 mg/Kg. Os animais SO receberam solução fisiológica (NaCl 0,9%) no vo-lume de 1mL/ Kg de peso corporal, pela mesma via.

Morte dos Animais e Obtenção das Amostras de Tecido e Sangue

Transcorridos os 28 dias do desenvolvimento do modelo e 14 dias de administração da SNAC ou NaCl, conforme o grupo, os animais foram nova-mente pesados e anestesiados com uma mistura de cloridrato de cetamina (100 mg/kg) e cloridrato de xilasina (10 mg/kg), intraperitonealmente. Primei-ramente, foi coletado sangue pela técnica da punção de plexo venoso retro-orbital com tubo capilar de vidro, utilizado para avaliar integridade hepática por meio das análises das aminotransferases aspartato-aminotransferase (AST) e alanina-aminotransferase (ALT), e da fosfatase alcalina (FA).

Posteriormente, realizou-se tricotomia e desin-fecção da região abdominal, seguida da intervenção cirúrgica, que iniciou com laparotomia ventral mé-dia, exposição das alças intestinais para visualização da aorta abdominal, da qual foi coletado sangue para realização de gasometria arterial, feita através do analisador ABL 700 (RADIOMETER COPE-NHAGEN), pelo método de eletroiontoforese.

As dosagens sanguíneas (Enzimas Hepáticas e Gasometria Arterial) foram realizadas no Labora-tório do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Dando continuidade, foram retirados o fígado e os pulmões, separados em 2 porções:

1º) A porção anterior do lobo inferior do pulmão direito foi emergida em formol 10% para posterior análise histológica;

2º) O fígado e o restante do pulmão foram pe-sados e congelados a –80ºC para posteriores análises.

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Avaliações Bioquímicas

Preparação do Homogeneizado

Para homogeneizar o fígado e o pulmão, foram colocados 9 mL de tampão fosfato (KCL 140 mM, fosfato 20 mM; pH 7,4) por grama de tecido. A homogeneização foi realizada em um aparelho Ultra-Turrax (IKA-WERK) durante 40 segundos, à temperatura de 0 a 4º C. Posteriormente, o ho-mogeneizado foi centrifugado em uma centrífuga refrigerada (SORVALL RC-5B Refrigerated Su-perspeed Centrifuge) por 10 min a 3000 rpm (1110 x g). O precipitado foi desprezado, e o sobrenadante retirado e congelado em freezer à temperatura de –80 ºC para posteriores dosagens.

Determinação da Lipoperoxidação

Determinação das Substâncias que Reagem ao Ácido Tiobarbitúrico (TBARS)

Foi determinada a lipoperoxidação através do método de substâncias reativas ao ácido tiobarbi-túrico (TBA-RS). A técnica de TBA-RS consiste no aquecimento do material homogeneizado na presença de ácido tiobarbitúrico e conseqüente for-mação de um produto de coloração rósea, medido em espectrofotômetro a 535nm. O aparecimento de coloração ocorre devido à presença do malon-dialdeído e outras substâncias provenientes da peroxidação lipídica no material biológico.

Foram colocados em tubo de ensaio, nesta ordem de adição, 0,5 mL de ácido tiobarbitúrico (TBA) 0,67%, 0,25mL de água destilada, 0,75mL de ácido tricloroacético (TCA) 10% e 0,25mL do homogeneizado. O TBA reagiu com produtos

da lipoperoxidação formando uma base de Schiff, e o TCA teve função de desnaturar as proteínas presentes, além de acidificar o meio de reação. A seguir, agitou-se cada tubo, os quais foram aquecidos à temperatura de 100º C durante 15 minutos. Após, os tubos foram resfriados, e acrescentou-se 1,5 mL de álcool n-butílico, para extrair o pigmento formado. Os tubos foram colocados em agitador (Biomatic) por 45 segundos e centrifugados por 10 minutos a 3000 rpm (1110 x g). Por último, o produto corado foi retirado e realizada a leitura em espectrofotôme-tro (CARY 3E – UV – Visible Spectrophotometer Varian) com comprimento de onda de 535nm. A concentração de TBA-RS foi expressa em nmoles/mg de proteína (BUEGE e AUST 1978).

Quimiluminescência

O método consiste em adicionar um hidroperóxido orgânico de origem sintética (hidroperóxido de tert-butila) ao homogeneizado de tecido em estudo. Avalia-se a capacidade de resposta mediante a determinação de quimilumi-nescência (QL) produzida pela amostra.

A QL foi medida em um contador com o circuito de coincidência desconectado e utilizando o canal de trítio (Liquid Scintilation Corenter, 1209 RACKBETA, LKB Wallar) operando como um luminômetro. Adiciona-se 3,5 mL de tampão fosfato em viais de vidro de 25 mm de diâmetro por 50 mm de altura. Para evitar a fosforescência dos viais ativada pela luz fluorescente, eles foram protegidos da luz até o momento do uso e as determinações feitas em sala escura. Primeiramente se realiza apenas a leitura dos viais com tampão (QL Basal). Após, adicionar 0,5 mL de homogeneizado de tecido e faz-se a leitura, que corresponde a QL espon-tânea. Em seguida, foi adicionado o hidroperóxido de tert-butila que aumenta a QL (QL Máxima). A reação

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total consiste de uma solução reguladora de tampão fosfato e de t-BOOH 3 mM.

Para cálculo de QL, iniciada por t-BOOH, foi con-siderada a emissão máxima (QL Máxima), descontada a emissão da QL espontânea (a QL do vial contendo o tampão e a amostra). Os resultados foram expressos em contagem por segundo (cps) por mg de proteína (GONZALEZ-FLECHA et al., 1991).

Avaliação Anatomopatológica dos Tecidos

O teste anatomopatológico foi realizado no Laboratório de Patologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Após obtenção dos tecidos, as peças foram fixadas em blocos de parafina, a partir do qual fo-ram realizados cortes com 3 micra em Micrótomo (Leitz®1512). Na fase de coloração, as lâminas fo-ram mergulhadas nos corantes hematoxilina-eosina durante 5 minutos cada uma, intermediadas por um banho de água corrente. Na fase de desidratação, as estruturas passaram por três recipientes com álcool absoluto e por dois de xilol. Colocou-se a lamínula sobre a lâmina, finalizando o processo de prepara-ção. As lâminas foram analisadas em microscópio binocular Nikon Labophot.

Análise Estatística

A partir dos dados coletados, as médias e os erros padrões das médias de cada grupo foram cal-culadas, utilizando para análise estatística o sof-tware SPSS, versão 13.0, para Windows XP2000. Foi realizada análise de variância (ANOVA) seguida de teste de Student-Newman-Keuls, sendo o nível de significância adotado de 5% (P<0,05).

RESULTADOS

A análise histológica do tecido pulmonar dos animais dos grupos controle (SO e SO+SNAC) demonstrou tecido pulmonar no padrão da nor-malidade e vasos com diâmetro usual (Figura 1A). Os animais do grupo LDBC apresentaram importante infiltrado inflamatório e aumento significativo no diâmetro dos vasos pulmonares (Figura 1B). O tratamento com a SNAC não reduziu o infiltrado inflamatório pulmonar nos animais do grupo LDBC+SNAC (Figura 1C), no entanto, os vasos apresentaram diâmetro usual, demonstrando que o tratamento com SNAC reduziu o diâmetro dos vasos nos animais trata-dos de forma a deixá-los de tamanho similar aos animais controles.

Figura 1 - Corte Histológico de tecido Pulmonar (HE). Aumento de 200x. (a) Animal controle: parênquima pulmonar normal. (b) Animal com ligadura de ducto biliar comum: vasos de diâmetro aumentado e parênquima pulmonar com in-filtrado inflamatório. (c) Animal com ligadura de ducto biliar parênquima pulmonar, os vasos apresentam diâmetro semelhante ao do comum tratado com SNAC: apesar de mantido o infiltrado inflamatório no animal controle.

A B C

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Os animais do grupo com ligadura de ducto biliar comum e sem tratamento apresentaram aumento significativo das provas de integridade hepática AST, ALT e FA (Tabela 1), em com-paração com os demais grupos, demonstrando a efetividade do modelo em gerar dano hepático. O tratamento com SNAC em animais com LDBC reduziu significativamente os valores das provas de integridade hepática, entretanto ALT e FA se mantiveram elevados quando comparados aos grupos controle.

Tabela 1 - Provas de Integridade Hepática.AST ALT FA

SHAM OPERATED 111,86(±59,7) 42,7(±5,83) 110,43(±6,16)

SHAM OPERATED+SNAC 107,88(±9,7) 43,6 (±6,15) 125,13 (±27,66)

LDBC 386,3 (±8,49)* 159,2(±75,31)* 352,4(±132,89)*

LDBC+SNAC 280,78(±58,55) 83,6(±34,81)** 264,67(±82,5)**

Dados apresentados em média ± desvio padrão. (*) Diferença significativa em comparação com os demais grupos. (**) Diferença significativa em relação aos grupos Sham operated e Sham operated+SNAC.

Na avaliação da gasometria arterial, a pressão parcial de oxigênio (PaO2), que demonstra a eficá-cia das trocas de oxigênio entre os alvéolos e os ca-pilares pulmonares, se mostrou significativamente reduzida nos animais com ligadura de ducto biliar comum não tratados (Tabela 2), enquanto o tra-tamento com a SNAC manteve os níveis de PaO2 do grupo LDBC+SNAC sem diferença significativa quando comparado aos grupos controle. Da mesma forma, a saturação de oxigênio da hemoglobina (SatO2/Hb) que se apresentou significativamente diminuida nos animais do grupo LDBC (Tabela 2), teve níveis comparáveis aos controles nos animais do grupo SO+SNAC, demonstrando a efetividade dessa droga em melhorar a difusão de gases.

Tabela 2 - Avaliação da Gasometria Arterial.PAO

2 SATO

2/HB (%)

SHAM OPERATED 94,4(±1,7) 96,2(±1,8)

SHAM OPERATED+SNAC 98,4(±10,7) 97,4(±1,4)

LDBC 72,1(±14,1)* 83,9(±3,6)*

LDBC+SNAC 90,9(±11,1) 95,2(±2,9)

PaO2 – pressão parcial de oxigênio (mmHg) e saturação de oxigênio da hemo-globina (%) . Dados apresentados em média ± desvio padrão. (*) Diferença significativa em comparação com os demais grupos.

A lipoperoxidação demonstrou-se aumentada de forma significativa nos animais com ligadura de ducto biliar comum por ambas as técnicas utilizadas – TBARS e QL – no tecido pulmonar (Tabela 3) e no tecido hepático (Tabela 4). Não houve diferença na lipoperoxidação entre os demais grupos, evidenciando a capacidade do tratamento com a SNAC de gerar redução do dano causado por radicais livres.

Tabela 3 - Lipoperoxidação – Tecido Pulmonar.TBARS QL

SHAM OPERATED 0,475(±0,12) 907,65(±142,43)

SHAM OPERATED+SNAC 0,468(±0,10) 903,94(±170,32)

LDBC 0,947(±0,17)* 1289,34(±220,18)*

LDBC+SNAC 0,550(±0,22) 923,45(±208,86)

TBARS (mmol.mg de proteína) e Quimiluminescência (cps.mg de proteína). Dados apresentados em média ± desvio padrão. (*) Diferença significativa em comparação com os demais grupos.

Tabela 4 - Lipoperoxidação – Tecido Hepático.TBARS QL

SHAM OPERATED 0,346(±0,02) 502,97(±58,87)

SHAM OPERATED+SNAC 0,328(±0,04) 480,34(±79,27)

LDBC 0,624(±0,17)* 818,2(±86,89)*

LDBC+SNAC 0,452(±0,10) 554,40(277,34)

TBARS (mmol.mg de proteína) e Quimiluminescência (cps.mg de proteína). Dados apresentados em média ± desvio padrão. (*) Diferença significativa em comparação com os demais grupos.

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DISCUSSÃO

A LDBC comum é um modelo estabelecido de dano hepático, assemelhando-se à atresia biliar, que se caracteriza por apoptose de hepatócitos, necrose, infiltrado linfocítico e, posteriormente por fibrose hepática (LEE et al., 2008). A obstrução do ducto biliar produz dano hepatocelular e resposta inflama-tória. O acúmulo de sais biliares tóxicos no fígado gera apoptose e necrose de hepatócitos. O processo de regeneração celular determina a formação de tecido cicatricial, fibrose e cirrose (SCHMUCKER et al., 1990). A cirrose, que é o estágio mais avançado da fibrose hepática, leva a uma distorção do parên-quima hepático associada com formação de septos e nódulos, alteração do fluxo sangüíneo e risco de insuficiência hepática (FRIEDMAN, 2008).

O modelo de LDBC, que determina cirrose biliar secundária é o único modelo de cirrose hepática que gera a síndrome hepatopumonar, caracterizada por dilatações vasculares intrapulmonares que alteram a difusão arterial de gases (FALLON, et al., 1997; TIEPPO, et al., 2003; RODRÍGUEZ-ROISIN, et al,. 2004; LEE et al., 2004). Nesse estudo, o modelo de ligadura de ducto biliar comum foi utilizado para a avaliação dos efeitos da administração da S-nitro-so-N-acetilcisteina (SNAC) sobre o dano hepático e sobre a difusão de gases nesses animais.

A análise histológica demonstrou aumento do diâmetro dos vasos pulmonares nos animais com LDBC. Tal achado confirma a efetividade do modelo em gerar a síndrome hepatopulmonar, com hipoxemia e vasodilatação intrapulmonar (FALLON, et al., 1997; TIEPPO, et al., 2003; RODRÍGUEZ-ROISIN, et al,. 2004; LEE et al., 2004) que são geradas, nesse modelo, pelo aumen-to da produção de substâncias vasodilatadoras, principalmente o óxido nítrico (NO) (FALLON et al., 1997; ZHANG et al., 2003). O tratamento

com a SNAC foi capaz de reduzir o diâmetro dos vasos pulmonares, assim como melhorar a difusão de gases nos animais tratados.

Na avaliação das provas de integridade hepática pela quantificação das enzimas séricas, houve aumen-to significativo das transaminases AST (aspastato aminotransferase) e ALT (alanino aminotransferase) nos animais ligados, evidenciando a lesão e necrose celular no tecido rico nessas enzimas (BRANDÃO e MARRONI, 2001). A FA (fosfatase alcalina) também se apresentou significativamente elevada nos animais ligados, o aumento desproporcional da FA é sugestivo de colestase, indicando compro-metimento hepatobiliar nos animais (BRANDÃO e MARRONI, 2001). Tais dados são compatíveis com outros trabalhos que utilizam o modelo de LDBC, indicando a afetividade do modelo em gerar comprometimento hepático (FALLON et al., 1997; MONTERO et al.,2005; VERCELINO et al., 2008, ZHANG et al., 2003).

Os animais cirróticos que receberam tratamento com SNAC apresentaram diminuição das provas de integridade hepática, mostrando o efeito hepatopro-tetor dessa droga. Não há publicações utilizando a SNAC no modelo de LDBC. Entretanto, a SNAC foi utilizada na prevenção da esteato-hepatite não alcoólica (NASH), em animais com dieta pobre em colina e, apesar da eficácia na prevenção de NASH, não houve alteração nas provas de integridade hepática em nenhum dos grupos (OLIVEIRA et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2008). Outra droga com poder antioxidante, a N-acetilcisteína também foi efetiva na redução das provas de integridade hepática em animais com LDBC (VERCELINO et al., 2008)..

Na avaliação da gasometria arterial, houve re-dução significativa da pressão parcial de oxigênio (PaO2) e da saturação da hemoglobina (SatO2/O2)

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nos animais cirróticos não tratados,demonstrando a redução da efetividade das trocas gasosas e da afinidade de hemoglobina pelo oxigênio nesses animais. Tal fato ratifica os achados de diversos autores que utilizam o modelo de LDBC para avaliar as alterações pulmonares da cirrose hepá-tica (FALLON et al., 1997; TIEPPO et al., 2003; RODRÍGUEZ-ROISIN et al. 2004; LEE et al., 2004). O tratamento com a SNAC foi capaz de melhorar a difusão de gases nos animais tratados.

A lipoperoxidação, avaliada pelas técnicas das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) e por Quimiluminescência (QL), mostrou-se aumentada no tecido hepático dos animais cirróticos. O aumento da lipoperoxidação pode estar associado ao aumento do estresse oxi-dativo, podendo ser explicado pela endotoxemia (gerada pelo aumento da translocação bacteriana no intestino do animal cirrótico) e pelo aumento dos ácidos biliares, que desequilibram a atividade da cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria hepática, favorecendo a produção de espécies ativas de oxigênio (PASTOR et al.,1997).

Os animais tratados com SNAC apresentaram ní-veis de lipoperoxidação no tecido hepático semelhantes aos dos grupos controle, evidenciando o potencial an-tioxidante da droga. Em modelo de cirrose biliar secun-dária outras drogas com poder antioxidante também foram efetivas na redução da lipoperoxidação, como a quercetina e a melatonina (PASTOR et al., 1997; ESREFLOGLU et al., 2005). A SNAC mostrou-se igualmente efetiva na redução da lipoperoxidaçao pul-monar em modelo de NASH (OLIVEIRA et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2008).

Na avaliação da lipoperoxidação pulmonar houve aumento significativo no grupo cirrótico em relação aos demais, o que pode ser justificado pela endotoxemia, característica da cirrose, que estimula

o acúmulo de macrófagos na microcirculação pul-monar, estimulando a produção de óxido nítrico (FALLON et al., 1997; ZHANG et al., 2003).

O tratamento com SNAC protegeu o tecido pulmonar dos animais contra o aumento da lipo-peroxidação, provavelmente por atenuar o dano hepático e assim reduzir a formação de mediadores que determinam a complicação pulmonar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Síndrome Hepatopulmonar é uma com-plicação pulmonar, mas não apresenta nenhuma modificação no parênquima desse órgão, sendo a al-teração puramente vascular e gerada por mediadores produzidos pelo fígado cirrótico. Ou seja, qualquer tratamento para a SHP direcionado para o pulmão seria somente sintomático e o prejuízo na difusão de gases não seria totalmente corrigido. A administra-ção da SNAC por via intragástrica permite que ela seja absorvida diretamente para a circulação porta, gerando efeito primariamente sobre o fígado doente. Ao atenuar a doença hepática, a produção de me-diadores que induzam a complicação pulmonar será progressivamente reduzida, melhorando a difusão de gases e conseqüentemente a oxigenação sanguínea. A SNAC parece ser uma droga promissora para o tratamento da Síndrome Hepatopulmonar.

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Papel da melatoninano estresse oxidativo dofígado e sangue de ratos cirróticos

DARLAN PASE DA ROSA1

SILVIA BONA²NORMA ANAIR POSSA MARRONI³

RESUMO

A cirrose é uma hepatopatia crônica e progressiva que constitui um estágio irreversível de disfunção hepática. Este trabalho teve como objetivo avaliar o estresse oxidativo no fígado e sangue de ratos cirróticos e tratados com antioxidante Melatonina (MEL). A cirrose foi induzida através da inalação de tetracloreto de carbono (CCl4) em ratos machos Wistar. Observou-se redução nas provas de integridade hepática nos animais tratados com MEL, aumento da lipoperoxidação nos ratos cirróticos, e redução das mesmas medidas nos animais tratados com MEL, em fígado e eritrócitos, diminuição da atividade das enzimas SOD e GPx nos cirróticos e aumento da SOD nos animais tratados com MEL, aumento dos metabólitos do óxido nítrico e da deposição de colágeno nos fígados dos cirróticos e uma diminuição do colágeno nos ratos que receberam MEL. Podemos concluir que a Melatonina pode ser considerada hepatoprotetora e sugerimos que a análise do estresse oxidativo sistêmico pode ser um indicador de dano oxidativo.

Palavras-chaves : Estresse oxidativo, cirrose hepática, eritrócitos, tetracloreto de carbono e melatonina.

¹ Acadêmico do Curso de Biomedicina/ULBRA - Bolsista FAPERGS

² Aluna Pós-Graduação em Ciências Médicas/UFRGS

³ Orientadora - Professora do Curso de Biologia/ULBRA e PPG Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA e Genética e Toxicologia/ULBRA ([email protected])

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ABSTRACT

Cirrhosis is a progressive chronic hapatopathy which constitutes an irreversible stage of liver dysfunction. This work was designed to evaluate the oxidative stress in the blood of cirrhotic rats treated with the antioxidant melatonin (MEL). Cirrhosis was induced through inhalation of carbon tetrachloride (CCl4.). A significant impairment in the Liver Integrity of MEL-treated animals as compared to cirrhotic animals was observed. In rat erythrocytes and liver, lipoperoxidation was significantly increased in the cirrhotic rats as compared to controls and significantly decreased in MEL-treated animals as compared to cirrhotic ones. In blood, a decrease in SOD and GPx enzymes was detected in the cirrhotic group as compared to the control group, with increased SOD activity when MEL was administered. As for hepatic collagen, we found a significant increase in the CCl4 group as compared to the controls and a regression of these values in the treated group. In histology, the rats in the CCl4 group showed fibrosis and formation of fibrotic nodules, characterizing liver cirrhosis; there was reduction of nodules and fibrosis in the MEL treated group. The data allow us to suggest that the observed oxidative stress is related to the damages caused by CCl4 and that the use of MEL can minimize these damages.

Key words: Oxidative stress, liver cirrhosis, erythrocytes, carbon tetrachloride, melatonin.

INTRODUÇÃO

O fígado tem uma função importante no meta-bolismo, incluindo a síntese e o armazenamento do glicogênio, gliconeogênese e o metabolismo de lipí-dios e proteínas. O fígado é também responsável pela produção de bile, da síntese de proteínas do plasma, e de detoxicação de drogas. Certamente o fígado tem interações importantes com cada sistema do organis-mo (HUFFMYER E NEMERGUT, 2007).

A cirrose hepática é uma doença crônica que, em sua história natural, determina inúmeras com-plicações com elevada morbidade e mortalidade, sendo portanto, um problema de saúde mundial. Como doença crônica progressiva, apresenta um estagio inicial de disfunção hepática, lenta e irreversível, e caracteriza-se pela formação de nó-dulos hepáticos em conseqüência da fibrose. Tais alterações estruturais constituem-se nas principais respostas do tecido hepático às inúmeras agressões de natureza inflamatória, viral, tóxica, metabólica ou congestiva (BERTELLI e CONCI, 1997).

Os três maiores mecanismos envolvidos na geração de cirrose são: morte celular, grande de-posição de matriz extracelular no fígado (fibrose), e reorganização celular. O acúmulo de matriz ex-tracelular é observada na fibrose e cirrose devido à ativação de fibroblastos, adquirindo a forma de miofibroblastos. Essas células estão ausentes em fígado normal. Elas são produzidas pela ativação de precursores celulares, como as células estreladas hepáticas (LOTERSZTAJN et al., 2005; GUYOT et al., 2006).

O Tetracloreto de Carbono (CCl4) é um co-nhecido hepatotoxina muito usado na indução de lesão hepática tóxica em animais de laboratório (BUTLER, 1961; LEE et al., 2007; PAVANATO et al., 2007; PEREIRA-FILHO et al., 2008). Sua hepatotoxicidade acredita-se ser oriundo de duas fases. A fase inicial que envolve o metabolismo do CCl4 pelo Citocromo P-450 à radical triclorometil (-CCl3

∙•), parte do radical triclorometil gera o ra-

dical triclorometil-peroxil (OOCCl3•), que conduz

a peroxidação lipídica (BUTLER, 1961; POYER et

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al., 1980; EDWARDS et al., 1993; PAVANATO et al., 2007). A segunda fase envolve a ativação das células de Kupfer, que é acompanhada pela produ-ção de mediadores pró-inflamatórios (NAKAHIRA et al., 2003). O modelo experimental de indução de cirrose por CCl4 inalatório é o modelo clássico que mimetiza as alterações encontradas em pa-cientes cirróticos (JIMENEZ e CLARIÁ, 1992; CREMONESE et al., 2001; PEREIRA-FILHO et al., 2008).

Na cirrose, têm sido descrita alterações nos mecanismos oxidantes/antioxidantes, que se en-contram em desequilíbrio e contribuem em grande parte para a necrose hepática (CREMONESE et al., 2001; PEREIRA-FILHO et al., 2008; VIERA, 2008). Recentemente, o estresse oxidativo tem sido sugerido como uma das principais causas de lesão tecidual em diversas doenças (CESARATTO et al., 2004; PADHY et al., 2007).

A produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) é considerado o principal mecanismo pato-gênico no dano hepático alcoólico (HAGYMASI et al., 2001). Diversos ERO são formadas no hepa-tócito, através da ativação das células de Kupffer e células inflamatórias (MCCLAIN et al., 1999).

A cirrose é associada a alterações na circulação sistêmica. As hemácias são expostas ao estresse oxidativo durante suas funções aeróbicas normais. Em pessoas saudáveis, esse estresse é equilibrado por um poderoso sistema antioxidante enzimático e não enzimático, o que não acontece com pacientes cirróticos, em cujas hemácias há um aumento do estresse oxidativo (GEETHA et al., 2007).

Níveis de antioxidantes no plasma ou eritróci-tos são parâmetros atrativos e de fácil acesso para obtenção de informação sobre reparo de dano hepático oxidativo (ROCCHI et al., 1991; LEO

et al., 1993; LECOMTE et al., 1994; HAGYMASI et al., 2001).

O uso de antioxidante pode auxiliar a minimizar o estresse oxidativo, contribuindo com a interven-ção terapêutica de fígados cirróticos (MURIEL et al., 1994; PERES et al., 2000; PAVANATO et al., 2003; PAVANATO et al., 2007; TIEPPO et al., 2007; VIERA, 2008). Entre os vários an-tioxidantes, a MEL (N-acetil-metoxitriptamina), uma indolamina derivada do triptofano é citada por diversos autores como “varredor” de radicais livres de oxigênio (REITER et al., 1997; MUNOZ-CASTANEDA et al., 2008).

A MEL é produzida pela glândula pineal, como um hormônio, mas atualmente foi detectada em outros tecidos. Sabe-se que esse hormônio, além da sua ação contra os radicais livres, também regula o ritmo circadiano, a atividade do sistema imune e do sono (KUCUKAKIN et al., 2008). Após a sua administração, ela passa livremente através das membranas e distribui-se pelos compartimentos de todo o corpo. A MEL em muitos estudos tem se mostrado mais eficaz do que alguns antioxidantes “clássicos” (exemplo: vitamina E e C) na proteção contra estresse oxidativo/nitrosativo (PIERI et al., 1994; TAN et al., 1998; GITTO et al., 2001; BAYDAS et al., 2002; MARTINEZ-CRUZ et al., 2002).

Com isso, realizamos a indução de cirrose he-pática através do modelo experimental induzida pelo CCl4 inalatório para avaliar o fígado através das enzimas séricas, colágeno e histologia e os eritrócitos, para procurar relacionar esses danos do tecido hepático com a expressão de danos oxi-dativos séricos.

Este trabalho tem como objetivo geral avaliar o efeito do tratamento com antioxidante Melato-

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nina em ratos cirróticos através de marcadores de estresse oxidativo no fígado e no sangue.

MATERIAL E MÉTODOS

Animais

Os procedimentos experimentais observaram as normas estabelecidas pela “Pesquisa em Saúde e Direito dos Animais”, de acordo com a Comissão de Pesquisa e Ética em Saúde do Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (GOLDIN, 1997).

Foram utilizados quinze ratos Wistar machos, pesando em média de 250g, provenientes do bio-tério do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS (CREAL). Os animais foram mantidos na Unidade de Experimentação Animal do Centro de Pesquisas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre durante o experimento, em caixas plásticas de 47x34x18cm forradas com maravalha, em ciclo de 12 horas claro/escuro (luz das 7 às 19 horas) e

temperatura de 22 ± 4°C. Os ratos recebiam 16g por animal/dia de ração (Purina-Nutripal, Porto Alegre, RS, Brasil) e a água era administrada “ad libidum”.

Grupos e tratamentos

Os animais foram divididos em três grupos expe-rimentais: I-Controle; II-Cirrótico; III-Cirrótico + MEL. O grupo Controle + MEL não foi realizado porque em trabalhos anteriores, constatamos não haver diferença significativa com os ratos controles.

A MEL (Sigma®) foi injetada intraperitone-almente na dose de 20mg/Kg de peso do animal,

diluída em 1mL de solução fisiológica (NaCl 0,9%) e etanol a 8%. Ela foi administrada diariamente a partir da 10° semana de inalação de CCl4, momen-to em que histologicamente temos fibrose e dano hepático nesses animais, não sendo interrompido a inalação, até a 16° semana.

Indução da cirrose

Para diminuir o tempo de desenvolvimento de cirrose, foi administrado Fenobarbital na água de beber, para todos os ratos, como um indutor enzimá-tico, para aumentar a metabolização do CCl4 à seus metabolitos ativos como o triclorometil. Iniciou-se a administração uma semana antes da primeira inalação e perpetuou-se até o fim do experimento, na concentração de 0,3g/L. O grupo cirrótico foi exposto ao CCl4 duas vezes por semana (segundas-feiras e sextas-feiras) em uma câmara de inalação padrão de 65x26x21cm. O CCl4 era colocado em um recipiente de vidro (umidificador), ligado a um compressor de ar com vazão de 1L/min, durante todo o experimento, de acordo com Jimenez e Clariá (1992).

Nas três primeiras sessões, o tempo de exposição ao gás foi de meio minuto, permanecendo os ratos no interior da câmara por mais meio minuto, com o compressor desligado. Nas próximas três sessões, o tempo de gaseamento aumentava para um minu-to, seguido de outro um minuto com compressor desligado. Posteriormente, a exposição ao gás e o subseqüente período de permanência na câmara aumentavam de meio minuto a cada três sessões, alcançando-se o tempo máximo de cinco minutos de gaseamento com CCl4 e cinco minutos com o compressor desligado. Este procedimento de induzir cirrose tem um tempo total de dezesseis semanas (JIMENEZ e CLARIÁ, 1992; CREMONESE et al., 2001; PEREIRA-FILHO et al., 2008)..

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Análises Bioquímicas

Na décima sexta semana foi feita a morte dos animais, primeiro anestesiava-se com cloridato de cetamina (100mg/kg) e cloridrato de xilasina (50mg/kg) ip. Com o auxilio de um capilar heparinizado o sangue era coletado através do plexo retro-obrital (HALPERN e PACAUD, 1951), a qual era dividi-da em três frações: para a realização das provas de integridade hepática (PIH), para a análise da medi-das que reagem ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) e para as análises das enzimas antioxidantes. A seguir realizava-se a tricotomia seguida de uma laparatomia média, e retirava-se o fígado desses animais. Esse fígado foi dividido em duas partes: para a realização dos blocos de parafina e posteriormente a montagem das laminas histológicas e outra parte foi congelada -80°C para as posteriores análises.

Homogeneizado

Os fígados foram cortados com tesoura e pe-sados, adicionou-se 9mL de tampão fosfato (KCL 140mM, fosfato 20mM e pH 7,4) por grama de tecido e homogeneizou-se em Ultra Turrax (IKA-WERK) por quarenta segundos a temperatura de 4°C. A seguir foi centrifugado em centrifuga refrige-rada por dez minutos a quatro mil rpm (SORVALL RC-5B Refrigerated Superspeed Centrifuged). O sobrenadante foi pipetado em “eppendorfs” e o precipitado foi desprezado. As amostras foram acondicionadas novamente à temperatura de -80°C para posteriores análises.

Proteína

Foi utilizado o método de solução de albumina bo-vina (SIGMA) na concentração de 1mg/mL, de acordo com Lowry et al.(1951). As amostras eram medidas

espectrofotometricamente a 625nm, sendo expressos valores em mg/mL , utilizado para calcular TBARS no fígado e valores das enzimas antioxidantes.

Lipoperoxidação no fígado

A quantidade de produtos de aldeídos gerados pela peroxidação lipídica é quantificada pela reação do ácido tiobarbitúrico usando 3mg de proteínas por amostra. Resultado referente a TBARS. As amos-tras foram incubadas a 90°C por trinta minutos, após foi adicionado 500µL de ácido tiobarbitúrico 0,37% no ácido tricloroacético 15% e centrifugado a 4°C por 2000 x g por quinze minutos. Sendo deter-minada a absorvancia, espectrofotometricamente a 535nm (BUEGE e AUST, 1978).

Lipoperoxidação nos eritrócitos

O sangue foi coletado com heparina e centri-fugado a três mil rpm por cinco minutos a 4°C. Foi descartado o plasma e, os eritrócitos foram lavados três vezes com igual volume de solução salina (NaCl 0,9%), sendo descartado o sobrenadante a cada la-vagem e reservado os glóbulos. Pipetou-se 10µL dos glóbulos lavados para a dosagem da hemoglobina através da técnica de Drabkin e Austin (1932). Pipetou-se outros 100 µL dos glóbulos lavados para a determinação de produtos gerados pela peroxi-dação lipídica através da técnica de TBARS, que foi medida espectrofotometricamente a 535nm, de acordo com Yagi (1984).

Análises das enzimas antioxidantes

Para armazenagem da amostra para as análise das enzimas antioxidantes, 150 µL dos glóbulos

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lavados foram diluídos em 1,5mL de ácido acético 1mM e MgSO4 4mM e posteriormente congelados em freezer -80°C.

Para a avaliação da atividade das enzimas an-tioxidantes, essas misturas foram descongeladas e centrifugadas a 1200 rpm durante trinta segundos, e foi utilizado o sobrenadante.

A análise das atividades das superóxido dismu-tase (SOD) em eritrócitos é baseada na inibição da reação do radical superóxido com a adrenalina, sendo de acordo com Misra e Fridovich (1972). A análise da atividade da enzima Catalase (CAT) em eritrócitos é baseada em medir a diminuição de pe-róxido de hidrogênio, de acordo com Aebi (1984). E a atividade da enzima Glutationa peroxidase (GPx) é baseada no consumo de NADPH na reação de redução da Glutationa oxidada e reduzida, de acordo com Flohé e Guntzler (1984).

A medida do Óxido nítrico, no fígado, foi realizada através das medidas de nitritos e nitratos, consistin-do na transformação de nitratos e nitritos por meio da nitrato redutase e lido posteriormente a 550nm (GRANGER, 1999). A concentração de colágeno foi determinada através da medida da hidroxiprolina contida na digestão ácida do fígado, que foi lida es-pectrofotometricamente em 560nm e os resultados expressos em µg/mg de proteína (ROJKIND, 1974).

Para avaliar o material histológico, uma parte do fígado foi deixado em formol 10% durante vinte e quatro horas e após foi feito bloco de parafina com esse material, que após, com auxilio de microme-tro, foi cortado em fatias de 6µm. A técnica de picrossirius consiste de uma coloração que destaca a presença de colágeno na amostra.

Os resultados são expressos em valor da média ± erro padrão. Foi utilizado ANOVA para análise

de variância e o teste de Studen-Newmann-Keuls para comparação entre grupos, sendo adotado o percentual de significância de 5% (p<0,05).

RESULTADOS

Análises Bioquímicas

As análises das enzimas hepáticas transferases (AST e ALT), marcadores de dano hepático, mostraram que o grupo cirrótico apresentaram níveis significativamente aumentados (p<0,05), já nos do grupo cirrótico mais tratamento com Melatonina houve uma diminuição significativa desse mesmo parâmetro em comparação com os cirróticos (p<0,05) (Tabela 1).

Tabela 1 - Valores das enzimas de integridade hepática AST e ALT.

CO CCL4

CCL4 + MEL

AST (U/L)

132,4±15,44 530,4±64,1A 381,8±66,6B

ALT (U/L)

37,4±2,8 304,2±33,7A 173,0±27,4C

a – p<0,001 vs CO; b – p<0,01 vs CCl4; c – p<0,001 vs CCl4

CO – grupo controle; CCl4 – grupo cirrótico; CCl4+MEL – grupo cirrótico tratado com Melatonina

AST – aspartato aminotransferase; ALT – Alanina aminotrasnferase.

Lipoperoxidação

Os resultados obtidos através do método de TBARS, no sangue e fígado, mostram que ocorreu aumento da lipoperoxidação no grupo cirrótico, quando comparado com o controle (>180%), já no grupo tratado com MEL esses valores retornam para próximo dos valores do controle, tanto no tecido hepático como nos eritrócitos (Figura 1 e 2).

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Figura 1 - Efeito do tetracloreto de carbono inalatório e da administração de Melatonina na lipopero-xida ção, analisada pelo método de TBARS nos fígados.

Média ± erro padrão (n=5). a - p<0,01 vs CO; b - p<0,05 vs CCl4. CO – grupo controle; CCl4 – grupo cirrótico; CCl4+MEL – grupo

cirrótico tratado com Melatonina.

TBARS

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

CO CCl4 CCl4+MEL

b,c

a

TB

AR

S -

eri

tró

cito

sn

mo

l/mg

Hb

Figura 2 - Efeito do tetracloreto de carbono inalatório e

da administração de Melatonina na lipopero-xidação, analisada pelo método de TBARS nos eritrócitos.

Média ± erro padrão (n=5). a - p<0,001 vs CO; b - p<0,001 vs CCl4; c - p<0,01 vs CO; CO – grupo controle; CCl4 – grupo cirrótico; CCl4+MEL – grupo

cirrótico tratado com Melatonina

Enzimas antioxidantes

A atividade das enzimas antioxidantes Supe-róxido Dismutase (SOD) e Glutationa Peroxidase (GPx), nos eritrócitos, do grupo cirrótico estão diminuídos em comparação aos do grupo controle. No grupo que recebeu MEL, a atividade da GPx não houve diferença com o grupo CCl4, já na atividade da SOD houve aumento significativo nos ratos que receberam MEL em comparação aos cirróticos. Na avaliação da atividade da Catalase (CAT), não mostrou diferença significativa em nenhum dos grupos (Tabela 2).

Tabela 2 - Avaliação da atividade das enzimas SOD, GPx e CAT.

CO CCL4

CCL4 + MEL

SOD (USOD/MG PROT)

31,15±2,88 12,65±2,33A 22,11±1,58B,C

GPX (MMOLES/MIN/MG PROT)

1,46±0,34 0,72±0,03B 0,67±0,03B

CAT (PMOLES/MG DE PROT)

0,011±0,002 0,008±0,001 0,007±0,001

a – p<0,01 vs CCl4; b – p<0,05 vs CO; c – p<0,05 vs CCl4;Média ± erro padrão (n=5).CO – grupo controle; CCl4 – grupo cirrótico; CCl4+MEL – grupo cirrótico tratado com Melatonina

Óxido nítrico

Na medida do óxido nítrico (NO) no fígado, observamos uma diminuição significativa dos meta-bólitos no NO nos ratos cirróticos em comparação aos controles , e a MEL não foi capaz de reverter essa situação (Tabela 3).

Tabela 3 - Avaliação do NO no tecido através da medida dos metabólitos Nitritos e Nitratos totais.

CO CCL4

CCL4 + MEL

NITRITOS (UMOL/L)

6,14±0,94 2,60±0,23A 3,29±0,52A

NITRATOS TOTAIS (UMOL/L)

0,274±0,012 0,130±0,010B 0,100±0,009B

a - p<0,01 vs CO; b - p<0,001 vs CO;Média ± erro padrão (n=5).CO – grupo controle; CCl4 – grupo cirrótico; CCl4+MEL – grupo cirrótico tratado com Melatonina

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Colágeno

Na medida da concentração de colágeno, ob-servamos um aumento significativo nos animais do grupo cirrótico em comparação aos do grupo controle, já nos do grupo tratado com MEL, ob-servamos uma diminuição desses valores quando comparado aos cirróticos (Figura 3).

Figura 3 - Efeito do CCl4 inalatório e da administração de Melatonina na concentração de colágeno no fígado.

Média ± erro padrão (n=5). a - p<0,001 vs CO; b - p<0,001 vs CCl4; c - p<0,05 vs CO; CO – grupo controle; CCl4 – grupo cirrótico; CCl4+MEL – grupo

cirrótico tratado com Melatonina

Histologia

A histologia dos animais CCl4 na décima semana apresentou presença de fibrose nodular (Figura 4B), quando comparado com controle ( Figura 4A). Na décima sexta semana, os ratos desse mesmo grupo apresentavam cirrose severa, com grande concentração de fibrose nodular e colágeno (Figura 4C), já nos animais tratado com Melatonina mostraram uma regressão nesse quadro, com moderada fibrose (Figura 4D).

Figura 4 - Fotomicrografia de fígado de ratos. A. fígado de rato controle; B. fígado de rato cirrótico na décima semana de inalação; C. fígado de rato cirrótico na décima sexta semana de inalação; D. fígado de rato cirrótico tratado com MEL. Coloração de picrossírius (40x).

DISCUSSÃO

A indução de cirrose hepática através da inala-ção de tetracloreto de carbono é um efetivo modelo experimental para se avaliar as lesões oxidativas causadas pela formação de radicais livres (CRE-MONESE, 2001; PEREIRA-FILHO, 2008).

Tem-se reconhecido que os radicais livres triclo-rometil (CCl3

•) e triclorometilperoxil (OOCCl3•),

formados após a metabolização do CCl4 pelo citocromo p-450, desestruturam os hepatócito (BOVERIS, 1983), provocam alterações morfológicas envolvendo o retí-culo endoplasmático, complexo de golgi, a membrana plasmática e a mitocôndria destas células (CAMERON, 1936). Estas alterações lesam a célula, provocando sua morte/regeneração e conseqüentemente fibrose tecidual, que organizada em nódulos, caracterizará a cirrose hepática (RECKNAGEL, 1989).

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As provas de integridade hepática (PIH) mostra-ram lesão tecidual nos ratos do grupo cirrótico, com o aumento de pelo menos 400 vezes, e apresentaram níveis diminuídos de lesão nos animais do grupo tra-tado com o antioxidante Melatonina, assim como foi observado em outros trabalhos com a administração de diferentes antioxidantes, como a N-acetilcisteina (PEREIRA-FILHO, 2008), e a quercetina (PAVA-NATO, 2007; VIERA, 2008), evidenciando a pro-teção ao dano hepático nesses animais.

A lipoperoxidação é um marcador de dano na membrana celular, e a medida de malondialdeido, que é um produto desse dano, é realizada através da técnica de TBARS. Nesse trabalho avaliamos a lipoperoxidação no tecido hepático e, também, nos eritrócitos. Obtivemos como resultado, um aumen-to importante e significativo desse marcador em ambas as amostras dos animais do grupo cirrótico em comparação aos controles e um decréscimo nos animais que receberam a MEL comparando-os com os CCl4 . Esses dados mostram que há o dano oxida-tivo sobre os lipídios das membranas dessas células, e que a Melatonina diminui esse dano (GEETHA, 2007; PEREIRA-FILHO, 2008; PAVANATO, 2007; WU, 2007; VIERA, 2008).

As enzimas antioxidantes endógenas são os principais responsáveis pela defesa do organismo frente a esses agentes oxidativos, sendo constituídos principalmente pelas enzimas Catalase (CAT), Su-peróxido dismutase (SOD) e Glutationa peroxidase (GPx). No presente trabalho, não foi encontrado diferença significativa de CAT, nos eritrócitos, entre os grupos, podendo ser justificada pela diminuição da SOD e consequentemente da GPx no grupo cirrótico, não alterando a atividade da CAT. Visto que o radical livre é primeiramente reduzido pela SOD, que formará o H2O2 que por sua vez será reduzido pela GPx ou pela CAT. Na avaliação

da GPx, houve uma redução significativa da sua atividade em animais cirrótico em comparação aos cirróticos. Na avaliação da atividade da SOD, podemos observar que houve uma diminuição de 40 % em comparação ao controle, já nos animais tratados com MEL, houve uma melhora nesses resultados, aumentando 57% em comparação aos cirróticos, podendo ser decorrente da ação indireta da MEL, a qual estimula a síntese de SOD.

As reduções das enzimas antioxidantes endóge-nas nos animais cirróticos, juntamente com os re-sultados de lipoperoxidação, classifica esses animais em um quadro de estresse oxidativo (OSMAN, 2007), já nos animais tratados com o antioxidante Melatonina reduziram a lipoperoxidação e aumen-taram a atividade da enzima SOD, demonstrando uma melhora significativa do estresse oxidativo nesses animais e posteriormente tratados com MEL, possivelmente por sua ação varredora de radicais livres.

O óxido nítrico é um importante vasodilatador no sistema vascular. Na avaliação do óxido nítrico, através da medida dos metabólitos nitritos e nitratos totais, podemos observar que os ratos cirróticos apresentaram uma diminuição significativa em comparação aos do controle, mostrando um dese-quilíbrio no sistema vasodilatador/vasoconstritor intra-hepático (VIERA, 2008). Porém a Mela-tonina na dose que foi utilizada não foi capaz de restaurar esses níveis.

O colágeno é sintetizado através da ativação das células estreladas hepáticas, em uma medida fisiológica de regeneração tecidual. Na quantifi-cação de colágeno nos fígados dos animais cirró-ticos, constatamos um aumento de 381 vezes em comparação ao controle, e uma redução, de 198 vezes, dos tratados comparando-os com animais cirróticos, assim como Pereira-Filho et al. observa-

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ram com o tratamento com outro antioxidante, a N-acetilcisteína (2008).

A análise histológica mostrou através da técnica de coloração de picrossírius a presença de colágeno e formação de micro e macro nódulos fibróticos, caracterizando cirrose hepática e diminuição desses danos nos fígados dos animais tratados com a MEL, como observado em trabalhos com uso da NAC e quercetina em animais cirróticos (PEREIRA-FILHO, 2008; PAVANATO, 2007; TIEPPO, 2007; VIERA, 2008).

Esses dados nos fazem sugerir que a Melatonina diminui o estresse oxidativo, por sua ação de “sca-venger” de radicais livres e proteção antioxidante de biomoléculas. A Melatonina reduz significati-vamente os níveis de lipoperoxidação no fígado e eritrócitos, diminui significativamente o colágeno no fígado e aumenta a atividade da enzima antio-xidante SOD nos eritrócitos.

Os resultados encontrados no presente trabalho em sangue e tecido hepático são semelhantes aos encontrados por nosso grupo em outras avaliações no tecido hepático, utilizando outros modelos de cirrose e avaliando outros antioxidantes, como a N-acetilcisteina (NAC), e a quercetina (PEREIRA-FILHO, 2008; PAVANATO, 2007; VIERA, 2008), sugerindo desta forma a eficácia nas dosagens reali-zadas através de eritrócitos de ratos, para avaliação de estresse oxidativo sistêmico.

CONCLUSÃO

A administração de Melatonina reduziu o dano hepático, a lipoperoxidação e elevou a atividade da enzima antioxidante SOD, demonstrando-se proteção hepática frente a esse agente agressor.

A dosagem do estresse oxidativo em sangue periférico parece ser eficaz para a análise de cirrose hepática, reproduzindo os danos oxidativos vistos no tecido hepático.

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Protocolo experimental de indução de proliferação neointimal vascular em

modelo de arterias coronárias suínas

JULIANA G. FERST1

DIOVANA DALLAROSA1

THEMIS THEISEN2

FERNANDA BAKKAR2

JOSÉ L. GUIMARÃES2 CRISTINA DREYER3

ALEXANDRE C. ZAGO4

ALCIDES J. ZAGO4

PAULO R. CENTENO RODRIGUES5

BEATRIZ G. KOSACHENCO5

JOSÉ CASCO RAUDALES4,6

RESUMO

O objetivo foi desenvolver e implementar modelo experimental de indução de hiperproliferação neointimal em suínos (lesões vasculares simuladoras de reestenose). De Ago/2006 a Set/2008, 55 suínos da raça Large White foram submetidos a cateterismo cardíaco seguido de lesão vascular e, observados durante 28, 56 ou 84 dias. Após estes períodos, foram realizados cateterismo cardíaco e IVUS e ACTP com droga experimental ou IVUS e

1 Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA - Bol-sista PROICT/ULBRA

2 Acadêmico do Curso de Medicina/ULBRA - Bolsista PROICT/ULBRA

3 Residente do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA, médico veterinário

4 Professor do Curso de Medicina/ULBRA5 Professor do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA6 Professor -Orientador e coordenador do Centro de Pesquisa

Cardiovascular (CPC) da ULBRA ([email protected])

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análise histológica da artéria coronária. Foram realizados 86 implantes de stents, 82 IVUS, 51 ACTP e 43 testes de drogas, totalizando 262 procedimentos (média de 4,8 procedimentos/animal). A taxa de reestenose binária foi de 89,0% (65/73 implantes), o que significa que o modelo foi implantado de forma satisfatória.

Palavras-chaves: Angioplastia coronária, modelo experimental suíno, neoíntima, reestenose, stent.

ABSTRACT

The study aim was to develop and apply an experimental protocol of vascular neointimal proliferation induc-tion in swine (vascular injury producing restenosis-like lesions). From Aug/06 to Sept/08, 55 Large White swine were used; after completed both cardiac catheterization and vascular injury protocol, animals received postopera-tive care for 28, 56, and 84-day periods. After that, new catheterization and IVUS evaluation were done; the swine underwent PTCA and experimental drugs or IVUS evaluation followed by histological assessment of the coronary artery. PCI’s procedures included 86 stent deployment, 82 IVUS evaluation, 51 PTCA and 43 drug tests performed, totalizing 262 procedures (average 4.8 per animal). The binary restenosis index achieved was 89.0% which means that swine model was successfully applied.

Key words: Coronary angioplasty, swine bio-experimental model, neointima, restenosis, stent

INTRODUÇÃO

Dos múltiplos modelos experimentais em animais, canino, murino, ovino, leporino e su-íno, o modelo suíno apresenta características anátomo-morfo-funcionais mais correlatas com as características humanas. Assim, inúmeros estudos bioexperimentais têm demonstrado que a resposta hiperproliferativa caracterizada pela formação de neoíntima decorrente de lesão do endotélio vas-cular em suínos é histologicamente similar àquela observada na reestenose intravascular humana (SCHWARTZ et al., 1990; BONAN, PAIEMENT e LEUNG, 1996; GALLO et al., 1998; BIENVENU et al.,2001; SCHWARTZ, KANTOR e HOLMES, 2001; LOWE et al., 2003).

O modelo suíno foi descrito originalmente por Schwartz et al. (1990) utilizando balões de angioplas-tia para produzir lesão na íntima vascular nas artérias

coronárias sadias de porcos jovens; posteriormente foram utilizados stents metálicos sobre-dimensio-nados com o mesmo objetivo (SCHWARTZ et al., 1992; ECKHARD et al., 2000; SCHWARTZ, KANTOR e HOLMES, 2001). Do ponto de vista anatômico, as artérias coronárias suínas são bastan-tes semelhantes às coronárias humanas, no entanto apresentam menos circulação colateral (LOWE et al., 2003). O tronco da coronária esquerda bifurca, originando as artérias descendente anterior esquerda e circunflexa, esses vasos têm diâmetro similar às co-ronárias humanas (2 – 4 mm). A artéria circunflexa dá origem a até 3 ramos marginais enquanto que a descendente anterior irriga o septo através de 4 a 6 ramos septais. A artéria coronária direita é tão cali-brosa quanto a humana, porém menos dominante (LOWE et al., 2003).

A justificativa deste modelo está baseada no fato que os testes de novos dispositivos cardiovasculares

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intervencionistas, tais como os stents, precisam de um modelo animal adequado para avaliar a segurança, em termos de biocompatibilidade assim como as incidências de insucesso do procedimento e de eventos cardíacos adversos, e a eficácia quanto à incidência de reestenose binária angiográfica a curto prazo dos protótipos. De fato, a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos tem proposto diretrizes que exigem a avaliação dos dispositivos de angioplastia coronária em modelo animal prévio à aprovação para pesquisa clínica (USA FDA, 1994).

O objetivo principal do trabalho foi desenvolver e implementar protocolo de modelo experimental de indução de hiperproliferação neointimal em suínos visando a criação de técnicas de lesão vascular simuladores de reestenose. Os objetivos secundários foram 1) Desenvolver métodos e/ou técnicas para tratar, prevenir ou até mesmo impedir essa complicação; 2) Avaliar o impacto das endopróteses intra-coronárias na interfase endotélio/superfície biocompatível, e 3) Avaliar o efeito de novas drogas inibidoras da reestenose ou então daquelas de uso comum, porém aplicadas com diferente metodologia.

MATERIAL E MÉTODOS

Amostra: Foram utilizados suínos jovens da raça Large White, com peso inicial aproximado de 45 a 50 kg. Após aplicar o protocolo de lesão vascular, os animais foram observados durante 04 semanas (28 dias), tempo suficiente para o desenvolvimento da neoíntima no local da injuria vascular. No período de recuperação, os animais foram mantidos em local apropriado e alimentados normalmente. Diariamente foram revisados os locais de acesso seguida da aplicação profilática de

antibióticos. Devido ao fato de implantar próteses dentro do leito vascular, se faz necessário o uso de drogas antiplaquetárias e antitrombóticas: acido acetilsalisílico (AAS, 100 mg/dia indefinidamente) e clopidogrel na dosagem inicial de 37,5 mg/dia (LOWE et al., 2003), o qual foi aumentado para 75 mg/dia conforme o ganho ponderal aproximava-se dos 70 kg, e mantido durante pelo menos 3 meses). Em todos os procedimentos foram respeitadas as normas gerais de assepsia e anti-sepsia e guiados pelos protocolos de pesquisa animal conforme estabelecido pela Comissão de Ensino do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA, s/d) e pelo Conselho Federal de Medicina Veteri-nária (CFMV, 2002). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana e Animal da instituição.

Local: O projeto foi realizado no Laboratório de Hemodinâmica Experimental, localizado dentro do bloco cirúrgico do Hospital Veterinário da ULBRA e conta com a mesma estrutura de uma unidade similar para uso humano. A equipe de pesquisa é multidisciplinar contando com a participação de médicos, veterinários, enfermeiras, farmacêuticos, engenheiros, alunos do programa de iniciação científica e técnicos de várias áreas.

Anestesia: A medicação pré-anestésica foi rea-lizada com atropina 0,044 mg/kg IM, acepromazina 0,1 mg/kg IM, midazolan 0,5 mg/kg IM e azaperone 2 mg/kg IM. Em estado semi-inconsciente o suíno era completamente higienizado com água morna e sabonete líquido. Na sala de pré-anestesia foi realiza-da venóclise na veia marginal da orelha e instituída fluidoterapia com solução de Ringer com lactato de sódio na dosagem de 5 a 10 ml/kg/hora. A indução anestésica foi realizada com uma associação comer-cial de tiletamina + zolazepam 4 mg/kg IV, seguida de intubação endotraqueal e ventilação espontânea

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com O2 a 100% na dose de 20 ml/kg/minuto. A ma-nutenção da anestesia foi realizada com isoflurano ao efeito, utilizando um vaporizador universal. A partir deste momento, o paciente foi monitorado através da contagem da freqüência cardíaca e respiratória, ECG de superfície, oximetria de pulso e controle de temperatura corporal. Após o posicionamento defini-tivo do paciente na mesa cirúrgica, era administrado tetraciclina 5 mg/kg IM como profilaxia antibiótica. No pós-operatório imediato foi utilizado cetoprofeno 3 mg/kg IV, tilosina 10 mg/kg IM e oxitetraciclina em veículo longa ação 20 mg/kg IM.

Abordagem vascular e trans-operatório: A abordagem vascular foi realizada através incisão cirúrgica por planos na região inguinal (eventual-mente na região cervical ventral), seguida de dis-secção vascular das artérias femorais (entre as duas porções do músculo sartório) ou carótidas externas, direita ou esquerda. Uma vez exposta a artéria, após adaptação de dois reparos com fita cardíaca, esta foi puncionada pela técnica de Seldinger modificada, seguida da colocação de uma bainha arterial 7F (Figura 1). Conseguido o acesso vascular, procedeu-se à administração sistêmica de heparina, na dosa-gem de 100 UI/kg IV (GALLO et al., 1999), com doses de reforço a cada 30 minutos se necessário (dependendo da duração da ICP). Foi adotado o uso profilático do antiarrítmico amiodarona 3 - 6 mg/kg IV ou 150 mg IV em dose única, e do vasodilatador coronário mononitrato de isossorbida 10 mg intra-coronário. Terminado o procedimento, a artéria foi suturada em padrão continuo simples com fio de polipropileno 6-0; os planos anatômicos foram fechados com fio de poliglactina 2-0 e a dermorrafia foi realizada com sutura intra-dérmica. A medicação utilizada no pós-operatório foi cetoprofeno 3 mg/kg VO Sid por 3 dias, oxitetraciclina 25 mg/kg VO Sid por 8 dias e tiamulin 8,8 mg/kg VO Sid por 8 dias; isto porque as baias dos suínos, apesar dos esforços

de higienização freqüente, são consideradas conta-minadas e potencialmente infectantes.

Figura 1 - Laboratório de Hemodinâmica Experimen-tal localizado dentro do bloco cirúrgico do Hospital Veterinário da ULBRA. Observa-se o momento em que um stent metálico está sendo preparado para ser implantado den-tro da artéria coronária suína.

Em geral, quando a abordagem planejada foi pela artéria femoral, foram utilizados cateteres com curvas especiais como AR1, HS, MP e SR, sendo este último o cateter de escolha na maioria dos procedimentos, em função das características anatômicas particulares do arco aórtico dos suínos (GHOSHAL, 1986). Para realizar as angiografias coronárias, os implantes de stents e as angioplastia, bem como a colocação dos cateteres de ultra-som, foi utilizado um aparelho de cineangiografia modelo Angio Diagnost 5 (Figura 2) e, as imagens foram digitalizadas utilizando o sistema Digital Cardiac Imaging (DCI) sendo posteriormente gravadas e armazenadas em discos compactos (CDM 3300 recorder; todos os aparelhos da marca Philips). Os procedimentos diagnósticos e intervencionistas (angiografias coronárias, ACTP, implante de stents, IVUS, testes de drogas, etc.) foram realizados utili-

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zando as mesmas técnicas de cardiologia interven-cionista em seres humanos (ROUBIN et al., 1994; RAUDALES e ZAGO, 2000).

No cateterismo de controle, os suínos foram estudados por IVUS 28 dias após do implante da prótese intra-coronária, utilizando para tais fins o aparelho Oracle In-Vision Imaging System V 3.3.1 (EndoSonics Co., USA) (Figura 2) e os cateteres Avanar® F/X (Volcano Therapeutics Inc., USA). Nesta nova intervenção também foi realizada angioplastia convencional (para tratamento da reestenose) e aplicada droga experimental. Após outros 28 dias foi realizado novo cateterismo seguido de IVUS e análise histológica da artéria coronária em estudo.

Protocolo de lesão vascular: Para induzir a hi-perproliferação neointimal foi utilizada a técnica de implante de um stent com dimensão superestimada (superdimensionado) para lesar a parede arterial (SCHWARTZ et al., 1990; BONAN, PAIE-MENT e LEUNG, 1996; ECKHARD et al., 2000; SCHWARTZ, KANTOR e HOLMES, 2001), ou seja, foi implantado um stent com diâmetro final 1,4 ou 1,5 maior (SCHWARTZ et al, 2001; HUCKLE et al., 2001) em relação ao diâmetro de referência do vaso e com comprimento total de 16 a 18 mm. Foram realizadas duas insuflações de 35 segundos de duração cada uma, a uma pressão de 16 até 25 atm com intervalos de 30 segundos entre as insuflações.

Eutanásia, microscopia eletrônica e histopato-logia: Caso a eutanásia fosse indicada ou necessária para os fins da bioexperimentação, esta foi realizada com o suíno ainda sob os efeitos da anestesia geral, através da colocação do cateter guia dentro do ven-trículo esquerdo, seguida da injeção intracavitária de 03 ampolas de cloreto de potássio (KCl) 10% ocasionando fibrilação ventricular seguida de parada

cardiorrespiratória (Resolução Nº 714 do CFMV, 2002). Uma vez completados os tempos e prazos do protocolo, alguns dos animais foram sacrificados e realizados estudos de microscopia eletrônica e histopatologia; aqui foram analisados os efeitos das próteses sobre o endotélio e tecidos subjacentes, a fim de determinar o grau de biocompatibilidade dos dispositivos (avaliado indiretamente pelo grau de hiperplasia neointimal desencadeado pelo stent). Foram realizados algumas avaliações In vitro dos stents, por microscopia eletrônica de varredura, para o cálculo de suas dimensões e para análise da sua superfície.

Figura 2 - Console e monitor do aparelho de ultra-som intravascular (IVUS); mesa, tubo e intensificador de imagem do aparelho de hemodinâmica.

RESULTADOS

Desde a implementação do Laboratório de He-modinâmica Experimental em Agosto de 2006 até Setembro de 2008, 55 suínos foram submetidos a ICP’s nos quais foram implantados 86 stents (sobre-

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dimensionados e protótipos), realizados 82 ultra-sons intra-coronários (IVUS), 51 angioplastias (ACTP s/stents) e 43 testes de drogas totalizando 262 proce-dimentos (média de 4,8 procedimentos por animal, Tabela 1). A taxa de sucesso dos implantes foi de 97,7%, havendo dois casos de migração próximal do stent. Das endopróteses implantadas, 73 eram stents sobre-dimensionados cuja finalidade era causar le-são vascular e gerar uma resposta hiperproliferativa significativa (objetivo da pesquisa). No entanto, no decorrer do projeto, alguns protótipos de stents ou de novas ligas metálicas (13 unidades, 15,1%) foram implantados para avaliar a sua segurança em termos de biocompatibilidade (outro objetivo da pesquisa). Como esses stents foram implantados mantendo uma relação 1:1 entre os diâmetros do vaso e da prótese, eles foram utilizados como grupo controle.

Tabela 1 - Resultados do modelo com implante de stent sobre-dimensionado.

Evento Nº Observações

Suínos Large White 55 Peso médio 45 – 50 kg (na 1ª. intervenção)

Anestesia geral 108

PROCEDIMENTOS (ICP)

STENTS IMPLANTADOS:

- SOBRE-DIMENSIONADOS

- PROTÓTIPOS

- SUCESSO

86

73

13

97,7%

Total de stents implantados

Para induzir reestenose

Testes de biocompatibilidade

02 casos de migração do stent

IVUS* REALIZADOS 82 Sucesso 100%

ACTP** S/STENT 51 Sucesso 100%

TESTE DE DROGAS 43 Sucesso 79,1%

TOTAL DE PROCEDIMENTOS 262

MÉDIA DE PROCEDIMENTOS 4,8

REESTENOSE BINÁRIA

(⇓ DL > 50%)ƒ

89,0% 65 em 73 stents, calculada pelo QCA* e

pelo IVUS*

*QCA e IVUS denotam angiografia coronária quantitativa e ultra-som intra-vascular respectivamente**ACTP denota angioplastia coronária transluminal percutâneaƒ DL denota diâmetro luminal no local do implante

A mortalidade dos animais foi dividida em dois tipos: inicial e tardia. A incidência de mortalidade inicial (24 – 72 h) foi de 17,6% (seis animais), a qual aconteceu no começo do projeto. As principais causas de óbito

foram: quatro casos de septicemia, 01 caso de parada cardiorrespiratória e um caso de hipertermia maligna (Tabela 2). As mortes por septicemia aconteceram no pós-operatório imediato e os casos de parada cardíaca e hipertermia ocorreram uma no trans-operatório e outra na indução da anestesia. A incidência de mortalidade tardia (28 a 56 dias após 1ª intervenção) foi de 5,9% (dois casos), os óbitos aconteceram durante os testes farmacológicos e foram associados à oclusão aguda da coronária estudada seguida de fibrilação ventricular e parada cardíaca sem resposta às manobras usuais de ressuscitação cardiopulmonar.

Tabela 2 - Mortalidade e suas causas.

Evento Nº (%) Observações

Suínos Large White 55 (100%) Peso médio 45 – 50 kg (na 1ª. intervenção)

MORTALIDADE INICIAL (CAUSA) 6 (10,9%) 0 – 72 h

- SEPTICEMIA 4 (7,3%) Animais previamente doentes

- PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA 1 (1,8%) Durante a indução anestésica

- HIPERTERMIA MALIGNA 1 (1,8%) Durante a indução anestésica

MORTALIDADE TARDIA (CAUSA) 4 (7,3%) 28 – 56 dias

- PARADA CARDÍACA 2 (3,6%) Dissecção e oclusão da coronária seguida de fi brilação ventricular

- INFECÇÃO NO LOCAL 1 (1,8%) CELULITE NA FERIDA OPERATÓRIA

- POLITRAUMATISMO 1 (1,8%) BRIGA NO CURRAL

A reestenose, isto é, a obstrução significativa > 50% do diâmetro luminal no local previamente tratado com implante de stent (e calculada tanto pelo QCA quanto pelo IVUS), foi observada em 65 dos 73 implantes de stent sobre-dimensionados, por tanto a incidência de reestenose binária foi de 89,0% (Tabela 3). Os stents utilizados como grupo controle, apresentaram reestenose binária de apenas 23,1% (P < 0,0001) (Tabela 3). Os resultados das ACTP e dos testes com as drogas antiproliferativas utilizadas para o tratamento da reestenose observada ainda estão na fase de análises (microscopia eletrônica e histologia) e serão motivo de outras publicações.

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Tabela 3 - Taxa de reestenose binária (⇓ DL > 50%)ƒ .

Stent Nº absoluto % P

Dimensão superestimada 65/73 89,0 < 0,0001

DIMENSÃO 1:1 (CONTROLE) 3/13 23,1

Dados calculados pelo QCA e USICƒ DL significa diâmetro luminal no local do implante

DISCUSSÃO

Para gerar quantidades significativas de placa (hiperplasia neointimal) nos tecidos suínos sadios, se faz necessária a sobre-distensão vascular em torno de 30% a 50% (ECKHARD et al., 2000). Por esse motivo, o protocolo de lesão vascular exigiu o uso de um stent maior que o diâmetro de referencia do vaso, isto significa uma relação 1,4:1 ou 1,5:1 entre o dispositivo e o vaso.

Em termos gerais, a resposta celular à lesão vascular não-aterosclerótica iatrogênica (balão ou stent) é carac-terizada por ser tempo-dependente, ocorrendo:

1) Retração elástica e remodelamento geométrico vascular negativo do vaso, fenômenos comumente observados com o uso de balão de angioplastia de forma isolada (vide abaixo), porem inexistentes com o implante de stents; 2) Trombose mural focal induzida pelo stent, já evidente nas primeiras 24 h; 3) Presença de um infiltrado celular inflamatório (com pico aos 7 dias, mas ainda evidente aos 28 dias): liberação de endotelinas pelas células endo-teliais; geração de trombina; ativação e migração de plaquetas, que além de produzir vasoconstrição também são responsáveis pela formação do trombo organizado de fibrina e da liberação de fatores de crescimento (growth factors), que por sua vez favore-cem a migração e proliferação de células musculares lisas (SMC’s), neutrófilos e macrófagos, e a produção de matriz extracelular, contribuindo para a formação de neoíntima que já é evidente nesta fase (GALLO et al.,1998; GERTZ et al.,1998 ; MCKENNA et al.,

1998 ; RAUDALES e ZAGO, 2000; BIENVENU et al.,2001). A fase proliferativa, é formada basicamente por SMC’s, monócitos e macrófagos e, 4) Redução do diâmetro luminal intra-stent (focal ou difusa) quando comparado com o diâmetro de referência do vaso (Figura 3A).

Quando a redução no diâmetro luminal (no local previamente tratado com ACTP ou implante de stent) é superior a 50%, quando comparado com o diâmetro de referência do vaso (usualmente o segmen-to proximal da artéria), temos o fenômeno chamado de reestenose (ROUBIN et al., 1994; RAUDALES e ZAGO, 2000). A reestenose na sua forma mais simples não é mais que a resposta à cicatrização que se segue após a injuria vascular ocasionada pela ICP (SCHWARTZ, KANTOR e HOLMES, 2001), e suas características histológicas principais são a retração elástica, o remodelamento geométrico negativo e a formação de neoíntima (ou hiperproliferação neoin-timal) (RAUDALES e ZAGO, 2000); no caso dos stents, os dois primeiros eventos não existem em fun-ção do suporte luminal gerado pela grande força radial que o stent exerce sobre a parede vascular, havendo fundamentalmente hiperplasia neointimal como mecanismo principal de reestenose (FRIMERMAN et al., 1999; RAUDALES e ZAGO, 2000; SUZUKI et al., 2001) (Figura 3B). A severidade e extensão da reestenose neste trabalho foram avaliadas tanto pelo QCA quanto pelo IVUS, como na maioria dos casos em seres humanos e classificadas de acordo ao padrão angiográfico observado (focal ou difusa) conforme descrito por Mehran et al. (1999). Esta classificação fornece importantes informações tanto de prognóstico quanto de orientação terapêutica.

Do ponto de vista histopatológico, as lesões obstrutivas de origem aterosclerótica (ou atero-mas) da DAC são bastante diferentes das lesões obstrutivas decorrentes da reestenose. Os ateromas são espessamentos assimétricos focais da camada

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mais interna do vaso, a íntima; estas placas estão constituídas por células sangüíneas, por elementos do tecido conjuntivo, acumulo de LDL-C oxidado, detritos, endotélio e por células musculares lisas (RAUDALES et al., 2006). No centro do ateroma, células espumosas e gotículas de lipídios extracelu-lares formam a região central, a qual é circunscrita por uma capa de células musculares lisas e uma matriz rica em colágeno. Linfócitos T, macrófagos e mastócitos infiltram a lesão e são particularmente abundantes nas bordas do ateroma. A estabilidade das placas ateroscleróticas é proporcionada por uma matriz extracelular e por uma capa fibrosa espessa composta predominantemente de colágeno (tipos I e III) e elastina (RAUDALES et al., 2006).

As lesões reestenóticas, por outro lado, são cons-tituídas fundamentalmente de uma matriz origina-da a partir de SMC’s com apenas 11% de elementos celulares (Fig. 3B). Outra característica distintiva entre ambas formas de obstrução é que a reestenó-tica acontece em períodos consideravelmente mais curtos do que a aterosclerótica (seis meses versus 40 anos em média, respectivamente).

Figura 3. A. Segmento isolado de artéria coronária mostrando as hastes metálicas do stent (setas pretas) e a importante proliferação neointimal invadindo a luz do vaso ocasio-nando obstrução significativa. B. Microfo-tografia mostrando: 1. As camadas íntima e muscular da artéria; 2.Haste do stent, e 3. Proliferação neointimal significativa oca-sionando obstrução luminal.

Como estabelecido inicialmente, um dos obje-tivos deste trabalho foi desenvolver e implementar protocolo de modelo experimental de indução de hiperproliferação neointimal em suínos. Assim, após aplicado o protocolo, obstrução significativa (> 50%) foi observada em 65 casos, por tanto a incidência de reestenose binária foi de 89,0% calcu-lada em base às 73 endopróteses implantadas Tabela 1. No modelo clássico de reestenose de Schwartz et al. (1990) obtida através de ACTP com balão modificado e sobredimensionado, a incidência de reestenose binária foi de 90,9% (10/11 coroná-rias). Modelos posteriores de reestenose utilizando stents sobredimensionados mostraram resultados semelhantes (SCHWARTZ et al., 2001; MCKEN-NA et al., 1998; CHRISTEN et al., 2001).

Evidências a partir de estudos em artérias femorais de coelhos mostram que os stents sobre-dimensionados constituem um poderoso e prolon-gado estimulo que favorece os processos de mitose na íntima vascular. É evidente também, que o stent metálico não produz uma reação de corpo estranho, já que muitos trabalhos tem demonstrado a ausência ou apenas uma mínima resposta celular inflamatória crônica (i.e. ausência de células gigan-tes) no local da injuria (SCHWARTZ, KANTOR e HOLMES, 2001).

Uma causa para essa grande hiperproliferação neointimal produzida pelo stent sobre-dimensiona-do é que cinco ou mais locais de injuria resultam numa região localizada ao redor da circunferência do vaso, cada um com a capacidade de gerar neo-íntima. Este tipo de padrão de injuria é bastante diferente daquele observado com o uso do mo-delo de balão sobre-dimensionado, aonde apenas um único ponto de dissecção é a resposta típica (SCHWARTZ, KANTOR e HOLMES, 2001). Dois pontos que favorecem a utilização do stent

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sobre-dimensionado como modelo para a criação de lesão vascular são: 1) o dano vascular pode ser classificado de acordo a um escore (SCHWARTZ et al., 1992) e, 2) tanto o tamanho quanto a extensão exata da injuria podem ser mensurados e compara-dos diretamente com a resposta hiperproliferativa, utilizando métodos de regressão como sugerido por Bonan et al. (1996).

Os suínos utilizados em nosso modelo experimental não receberam nenhum tipo de dieta rica em gorduras (aterogênica). A produção de achados histológicos parecidos com os da morfologia reestenótica proli-ferativa, na ausência de hiperlipemia concomitante, apóiam o conceito que a reestenose é um processo independente da aterosclerose (SCHWARTZ et al., 1990). De fato, talvez uma dieta aterogênica, com 20% de gordura e 2 – 4% de colesterol como a sugerida por Carter (2001), poderia intensificar a resposta hiperproliferativa; uma possibilidade que será estudada futuramente para avaliar os efeitos dos stents eluidores de drogas (ou DES) (LOWE et al., 2003) ou para testar os efeitos biológicos das novas drogas com propriedades antiproliferativas (GALLO et al., 1999; LOWE et al., 2003).

CONCLUSÕES

Tanto o laboratório de hemodinâmica como o modelo experimental de indução de proliferação neointimal vascular em suínos foram implantados de forma satisfatória, adequando-os aos objetivos almejados. Este modelo é de vital importância para avaliar não só a segurança e eficácia dos novos dispositivos, senão que também permite testar a infusão local de novos fármacos com propriedades antiproliferativas e avaliar a biocompatibilidade na interfase endotélio-superfície dos stents metálicos e os stents eluidores de drogas. O modelo é útil

para elucidar e entender melhor os mecanismos da reestenose, principalmente a reestenose intra-stent. Futuramente, o modelo poderia ser utilizado também para o treinamento das novas gerações de intervencionistas e para realizar testes com terapias genéticas ou com células-tronco.

REFERÊNCIAS

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Lista de abreviaturas

ACTP ANGIOPLASTIA CORONÁRIA TRANSLUMINAL PERCUTÂNEA

COBEA COLÉGIO BRASILEIRO DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

DAC DOENÇA ARTERIAL CORONÁRIA

DES DRUG ELUTING STENTS (STENTS ELUIDORES DE DROGAS)

FDA FOOD AND DRUG ADMINISTRATION (ÓRGÃO REGULATÓRIO AMERICANO)

ICP INTERVENÇÃO CORONÁRIA PERCUTÂNEA

IVUS INTRAVASCULAR ULTRASOUND (ULTRA-SOM INTRAVASCULAR)

LDL-C LOW DENSITY LYPOPROTEIN– CHOLESTEROL (MAU COLESTEROL)

PCI PERCUTANEOUS CORONARY INTERVENTION

PTCA PERCUTANEOUS TRANSLUMINAL CORONARY ANGIOPLASTY

QCA QUANTITATIVE CORONARY ANGIOGRAPHY (ANGIOGRAFIA CORONÁRIA QUANTI-

TATIVA)RIS REESTENOSE INTRA-STENT

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Relação entre a aptidão física e o equilíbrio com a capacidade funcional em um grupo de idosas

DIEGO COLVARA1

RAQUEL DALAGNA1

FÁTIMA DE ALMEIDA LOBO1

CÍNTIA DE LA ROCHA FREITAS2

PAULO TADEU CAMPOS LOPES2

ANDRÉA KRÜGER GONÇALVES2

ADRIANE RIBEIRO TEIXEIRA3

ANA MARIA PUJOL VIEIRA DOS SANTOS4

RESUMO

Este estudo teve como objetivo avaliar a força muscular e o equilíbrio de um grupo de idosas e verificar se estas variáveis estão relacionadas com a capacidade funcional (habilidade para realização de atividades de vida diária-AVD’s. Fizeram parte da amostra 17 mulheres, na faixa etária acima de 60 anos, iniciantes do programa de hidroginástica do Centro de Atividade Física e Envelhecimento da Universidade Luterana do Brasil (CEAFE/ULBRA), na cidade de Canoas-RS. Para avaliar a força de membros superiores foi utilizado o teste de flexão de cotovelos e para a força de membros inferiores foi usado o teste de “levantar e sentar”, ambos de Rikli e Jones (2001). Para avaliação do equilíbrio funcional foi utilizado o teste do alcance funcional de Duncan et al. (1990). Testes de Matsudo (2003) avaliaram a capacidade funcional, incluindo flexibilidade de membros superiores (alcançar atrás das costas), flexibilidade de membros inferiores (sentar e alcançar), habilidades manuais, calçar meias, marchar e subir escadas. Os resultados dos testes de força e equilíbrio funcional foram classificados de acordo com as tabelas normativas. Foram testadas a correlação entre a força e o equilíbrio com as capacidades funcionais,

1 Acadêmico (a) do Curso de Educação Física/ULBRA – Bol-sista PROICT/ULBRA

2 Professor (a) do Curso de Educação Física/ULBRA

3 Fonoaudióloga4 Professora-Orientadora do Curso de Educação Física/ULBRA

([email protected])

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através do coeficiente de Pearson. Os resultados mostraram que metade da amostra apresentou valores de força, tanto de membros superiores quanto de membros inferiores, acima dos valores normativos e, a outra metade, abaixo dos valores normativos. Os resultados do teste de equilíbrio apontaram que apenas uma idosa apresentou risco elevado de queda, cinco idosas mostraram moderado risco de queda e onze idosas mostraram baixo risco de queda. Foi encontrada uma correlação regular positiva entre o equilíbrio funcional das idosas e a habilidade da marcha (r=0,345 e p=0,05) e uma correlação regular negativa entre o equilíbrio funcional e a habilidade de subir escadas (r=-0,452 e p=0,008). Esses dados sugerem que no grupo de idosas avaliadas, quanto melhor o equilíbrio funcional, melhor a habilidade da marcha e menor o tempo para subir as escadas, e que estas idosas apresentam maior independência nas suas atividades de vida diária relacionadas com a locomoção.

Palavras-chave: Aptidão física, capacidade funcional, atividades de vida diária, idosos.

ABSTRACT

This study aims to evaluate muscle strength and balance in an elderly group and to verify if these variables are related with functional capacity (ability of developing daily life activities). The sample was composed by 17 women above 60 years old, beginners of a hydro gymnastics program of Physical Activity and Aging Center of Lutheran University of Brazil (CEAFE/ULBRA), in Canoas-RS. Elbow flexion test was used to evaluate upper limb strength and “get up and sit test” was used to evaluate lower limb strength, both tests from Rikli and Jones (2001). Functional reach test (Duncan et al., 1990) was used to evaluate functional balance. Functional capacity was measured through the following Matsudo’s (2003) tests: upper limb flexibility (to reach on the back), lower limb flexibility (seat and reach), manual abilities, wearing socks, gaiting and climbing stairs. Force and balance results were classified according normative values. Correlation among strength and balance and functional capacities were tested by Pearson’s coefficient. The results showed that half of the sample had strength values (upper and lower limbs) above the normative values, and the other half of the sample showed values below the normative ones. Balance test results showed that only one subject presented high risk of falls, five presented middle risk and eleven, low risk. There was a positive correlation between functional balance and gait ability (r= 0,345 e p=0,05) and a regular negative correlation between functional balance and ability of climbing the stairs (r= -0,452 e p=0,008). These data indicate that in these evaluated elderly, as better the functional bal-ance better is the gait ability and lower is the time for climbing the stairs. These results suggest that these elderly may present more independence in their daily life activities related to locomotion.

Key words: Physical fitness, functional capacity, daily life activities, elderly.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo cujas altera-ções determinam mudanças estruturais e funcionais

no corpo humano, tais como a perda gradativa da massa muscular, da força, da flexibilidade, do equilíbrio, entre outras. Em função dessas altera-ções, os idosos tendem a apresentar uma redução

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na capacidade de realização das atividades de vida diária (AVD’s) de forma independente. A aptidão física tem sido associada ao bem-estar, à saúde e à qualidade de vida das pessoas em todas as faixas etárias, principalmente na meia-idade e na velhice, quando os riscos potenciais da inatividade se mate-rializam (TERRA e DORNELLES, 2002).

Segundo Andreotti e Okuma (1999), um dos elementos que determinam a expectativa de vida ativa ou saudável é a independência para realização de AVD’s. Na velhice, a capacidade de realizar as AVD’s pode sofrer alterações (ANIANSSON, RUNDGREN e SPERLING, 1980; GALLAHUE, 1995; MENDES DE LEON et al., 1996; SEEMAN, BRUCE e MCAVAY, 1996). É notável uma forte tendência à diminuição da atuação do indivíduo no meio em que vive. Tanto nas ações motoras mais específicas, como nas mais genéricas, pode-se observar um especial comprometimento no com-portamento de parte da população idosa.

No que se refere à força muscular e, especi-ficamente à força de preensão das mãos, Fleck e Kraemer (1999) descreveram uma regressão de 3% ao ano em homens e 5% ao ano em mulheres, após um estudo longitudinal com duração de quatro anos. Em relação à flexibilidade, a “elasticidade” dos tendões, ligamentos e cápsulas articulares diminuem com a idade devido à deficiência de colágeno, determinando que durante a vida ativa, adultos percam algo como 8–10 cm de flexibilidade na região lombar e no quadril, quando medido por meio do teste sit and reach (SHEPHARD, 1998). A restrição na amplitude de movimento das grandes articulações torna-se maior no período da aposentadoria e, eventualmente, a independência é ameaçada porque o indivíduo não consegue utilizar um carro ou um banheiro sem adaptações, subir uma pequena escada ou mesmo combinar os movimentos de vestir-se e pentear os cabelos.

Entre as perdas apresentadas pelo idoso, destaca-se também a redução do equilíbrio, que ocorre devido às alterações do sistema sensorial e motor, levando a uma maior tendência a quedas (GUIMARÃES et al., 2006).

O objetivo do presente estudo foi analisar a força muscular e o equilíbrio de um grupo de ido-sas e verificar se estas variáveis estão relacionadas com sua capacidade funcional (habilidade para realização de AVD’s).

MATERIAL E MÉTODOS

AMOSTRA

A amostra foi composta por 17 mulheres, na faixa etária acima de 60 anos, iniciantes do programa de hidroginástica do Centro de Atividade Física e Envelhe-cimento da Universidade Luterana do Brasil (CEAFE/ULBRA), na cidade de Canoas-RS. As avaliações foram feitas antes da aula de hidroginástica no mês de abril de 2008. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da ULBRA (CEP-ULBRA 2008-073).

INSTRUMENTOS

Para avaliar a aptidão física foram utilizados os seguintes testes seguindo o protocolo proposto por Rikli e Jones (2001):

- força de membros superiores: flexão do co-tovelo

- força de membros inferiores: levantar e sentar

O equilíbrio funcional foi avaliado através do teste do alcance funcional (DUNCAN et al., 1990).

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Para avaliar a capacidade funcional foram sele-cionados os seguintes testes de Matsudo (2003):

- flexibilidade de membros superiores: alcan-çar atrás das costas

- flexibilidade de membros inferiores: sentar e alcançar

- habilidades manuais

- calçar meias

- marcha

- subir escadas

Os resultados do teste de força de membros su-periores e inferiores e o teste de equilíbrio funcional foram classificados de acordo as tabelas normativas (RIKLI e JONES, 2001 e DUNCAN et al., 1990).

Para análise de correlação foi utilizado o co-eficiente de Pearson para verificar o quanto as variáveis relativas à aptidão física (força e equilí-brio) estão relacionadas às capacidades funcionais (flexibilidade de membros superiores e inferiores, habilidades manuais, calçar meias, marcha e subir escadas).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este estudo teve como objetivo analisar a força muscular (membros inferiores e superiores) e o equilíbrio de um grupo de idosos, e verificar se estas variáveis estão relacionadas com sua capacidade funcional (habilidade para realização de AVD’s).

O resultado do teste de força de membros infe-riores indicou que nove idosas apresentaram resul-

tados abaixo dos valores normativos (RIKLI e JO-NES, 2001) e oito apresentaram valores superiores (Figura 1). Já para membros superiores, observou-se que oito idosas apresentaram resultados abaixo dos valores normativos e nove apresentaram valores superiores (Figura 2).

Figura 1 - Resultados do teste de força de membros inferiores - levantar e sentar, segundo pro-tocolo de Rikli e Jones (2001).

FORÇA MS

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Abaixo Acima

Valores normativos

mer

od

esu

jeit

os

(n)

Figura 2 - Resultados do teste de força de membros superiores - flexão do cotovelo, segundo protocolo de Rikli e Jones (2001).

Este grupo de idosas apresentou resultados se-melhantes quanto aos dois testes de força utilizados (membros inferiores e membros superiores). Apro-ximadamente metade da amostra obteve resultados

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inferiores aos valores normativos e a outra metade, resultados superiores.

De acordo com a pontuação obtida no teste de equilíbrio funcional (DUNCAN et al., 1990), os sujeitos podem ser classificados conforme seu risco de quedas. Os resultados do teste de equilíbrio apontaram que apenas uma idosa apresentou risco elevado de queda, cinco idosas mostraram mode-rado risco de queda e onze idosas mostraram baixo risco de queda (Figura 3). Em relação ao equilíbrio, a maior parte das mulheres avaliadas apresentou de baixo a moderado risco de quedas.

EQUILÍBRIO FUNCIONAL

0

2

4

6

8

10

12

Elevado risco Moderado risco Baixo risco

Quedas

mer

od

esu

jeit

os

(n)

Figura 3- Resultados do teste de equilíbrio funcional avaliado através do teste do alcance fun-cional (DUNCAN et al., 1990).

Foi testada a relação entre os resultados dos testes de força e dos testes de equilíbrio com os testes de capa-cidade funcional, através do coeficiente de Pearson. Os resultados apontaram uma correlação regular positiva e significativa entre o equilíbrio funcional das idosas e a habilidade da marcha (r=0,345 e p=0,05). Foi também observada uma correlação regular negativa e significativa entre o equilíbrio funcional e a habilidade de subir escadas (r=-0,452 e p=0,008).

Esses dados indicam que no grupo de idosas avaliadas, quanto melhor o equilíbrio funcional, melhor a habilidade da marcha e menor o tempo

para subir as escadas, sugerindo que estas idosas apresentam maior independência nas suas AVD’s relacionadas com a locomoção.

Alguns estudos apresentam relação direta da incidência de quedas e a realização das AVD’s. A história de queda relatada por idosos residentes em Ribeirão Preto-SP, que haviam sido atendidos em duas unidades de um hospital público, foi investi-gada por Fabrício et al. (2004). Foram consultados prontuários e realizadas visitas domiciliares para aplicação de um questionário estruturado. Os da-dos obtidos mostraram que a maioria das quedas ocorreu em idosos do sexo feminino (66%), com média de 76 anos, no próprio lar do idoso. As causas foram principalmente relacionadas ao ambiente físico (54%), acarretando sérias conseqüências aos idosos, sendo as fraturas as mais freqüentes (64%). A queda teve grande impacto na vida do idoso no que se refere às AVD’s e provocou maior depen-dência para atividades como deitar/ levantar-se, caminhar em superfície plana, cortar unhas dos pés, tomar banho, caminhar fora de casa, cuidar das finanças, fazer compras, usar transporte coletivo e subir escadas.

A propensão a quedas foi avaliada através de um teste de equilíbrio funcional (timed up and go test) em um grupo de 20 idosos praticantes de atividade física regular e um grupo de 20 idosos sedentários da cidade de Lavras-MG. Os resultados apontaram que os idosos praticantes de atividade física levaram menor tempo para a realização do teste quando comparados aos idosos sedentários, apresentando assim menores chances de sofrerem quedas (GUIMARÃES et al. ,2004).

Os resultados do presente estudo indicam que mesmo que essas idosas da amostra estejam re-cém iniciando a prática da hidroginástica, elas já apresentam, na média, um nível razoável de força

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muscular de membros inferiores e superiores, além de um baixo risco de quedas. Acredita-se que estes dados obtidos sejam resultado destas mulheres serem pessoas ativas, que caminham e/ou realizam as tarefas domésticas diariamente.

Diferente do que se esperava, a força muscular, tanto de membros inferiores, quanto de membros superiores, não apresentou relação com nenhuma das capacidades funcionais testadas. Entretanto, o equilíbrio funcional apresentou relação com a habilidade de marcha e com a habilidade de subir escadas. Estes dados confirmam os achados da li-teratura (MACIEL e GUERRA, 2005), tendo em vista que a manutenção do equilíbrio influencia diretamente a realização das AVD’s, e este fato pode estar diretamente relacionado com a inde-pendência dos idosos.

De acordo com Matsudo (2006), indivíduos idosos que mantêm um ritmo de vida ativa regular podem diminuir a velocidade de declínio de mobili-dade independente da presença de doença crônica. O American College of Sports Medicine (1998) afirma que, atualmente, está comprovado que quanto mais ativa é uma pessoa, menos limitações físicas ela tem. Desta forma, estimula-se e recomenda-se que os idosos sejam inseridos em programas de atividade física regular e orientada.

REFERÊNCIAS

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Ciências Exatas e da Terra

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Análise e reconhecimento de padrões usando processamento

de imagens e inteligência artificial

ÁLISSON BOHNERT KRUG1

ADRIANE PARRAGA2

FABIANA LORENZI3

MARIANO NICOLAO3

ANALUCIA SCHIAFFINO MORALES4

RESUMO

O presente trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema para reconhecimento de padrões, onde os processos de identificação e de classificação serão obtidos através de técnicas de processamento de imagens e do uso de redes neurais artificiais. Esses padrões serão obtidos através da irisdiagnose com base na classificação dos sinais na íris. Este método permite identificar anomalias através de sinais presentes na íris dos indivíduos.

Palavras-chaves: Íris, iridologia, reconhecimento de padrão, processamento de imagens, redes neurais artificiais.

1 Acadêmico do Curso de Ciência da Computação – Bolsista PROICT/ULBRA

2 Professora/co-orientadora do Curso de Ciência da Compu-tação/ULBRA

3 Professor(a) do Curso de Ciência da Computação/ULBRA4 Professora-Orientadora do Curso de Ciência da Computação/

ULBRA ([email protected])

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ABSTRACT

This work presents the proposal of the development to the pattern recognition system to identification and classification are through the image process and artificial neural networks techniques. These standards are given by to the iris diagnose with base in classification of the signal in iris.

Key words: Iris, iris diagnose, pattern recognition, image processing, artificial neural networks.

INTRODUÇÃO

Com a globalização novos métodos de medicina alternativa estão sendo conhecidos, e a iridologia é um método, que através de suas referências existe há pelo menos dois mil anos tanto na China quanto no Tibet, mas que há pouco tempo é conhecido no Bra-sil (HATADA, 2004). Em 1947, teve sua primeira publicação sobre o assunto, pela obra “A Máquina Humana e o Naturalismo” por Voislav Todorovic, e após esta, muitos outros trabalhos foram publicados para difundir em âmbito nacional.

A iridologia é a ciência que busca conhecer as causas dos desequilíbrios do corpo ou potenciais desequilíbrios através da análise da íris. Estes desequilíbrios podem ser indicativos de possíveis doenças. A iridologia usa os sinais refletidos na íris do ser humano como meio de análise, sendo possível observar as mudanças das estruturas das fibras e da pigmentação (SALLES e SILVA, 2008). Isso é possível por ser formada pelo mesmo tecido do cérebro, e o cérebro estar ligado ao tálamo que é responsável por enviar e receber informações do hipotálamo que por fim coordena todo o sistema nervoso autônomo, simpático e parassimpático (KHALSA, 2006).

Existem diversos tipos de sinais que podem estar refletidos na íris, porém este trabalho limita-se a encontrar as psoras, ou manchas psóricas, que são classificadas em quatro níveis: agudo, subagudo,

crônico, e degenerativo. Inicialmente, as psoras aparecem como mudanças de coloração do epitélio anterior, mas com o agravamento será visível uma ruptura e atingirá outras camadas mais profundas da íris, seguindo a ordem: epitélio anterior, estroma (cor dos olhos), camada limitante muscular, epité-lio posterior (KRIEGE, 1997; KHALSA, 2006). Logo, à medida que as psoras forem regredindo, será possível observar a regeneração dos tecidos celulares e o fortalecimento das estruturas orgânicas envolvidas.

O presente trabalho tem como objetivo de-senvolver um sistema para identificar e classificar os sinais presentes na íris através de técnicas de processamento de imagens e redes neurais artifi-ciais (RNAs). Em um primeiro momento, foram empregadas algumas técnicas de processamento de imagens para delimitar a área de interesse e extrair as características presentes na imagem. As técnicas de processamento de imagens testadas no presente trabalho foram: detecção de borda, filtros direcionais, filtros passa-baixa, limiarização por histograma, operações de morfologia matemática como fechamento e abertura (CORREA e THO-MAZ, 2007). Após a extração das características, o sistema alimentará a entrada de uma RNAs que serão treinadas para realizar a classificação dos padrões nos possíveis desequilíbrios do corpo humano. As RNAs que serão utilizadas possuem características dinâmicas e que possam auxiliar no reconhecimento de padrões.

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O trabalho apresenta os materiais e métodos empregados na pesquisa para o reconhecimento de padrões, tanto para a área de processamento de imagens digitais quanto para a de inteligência arti-ficial. São ainda descritos os resultados preliminares obtidos até o momento. Finalizando com a devida conclusão e as referências bibliográficas.

MATERIAL E MÉTODOS

Reconhecimento de Padrões

O ser humano possui a capacidade única de reconhecer padrões, quando enxerga algo faz a coleta de informações para identificar, isolar, associar e reconhecer formas sons ou conceitos (CERA, 2005). A importância do reconhecimento de padrões está ligada a busca por métodos infor-matizados e automatizados para tarefas humanas repetitivas, exaustivas e muito sujeitas a falhas (SPÍNOLA, 2004).

Neste trabalho, o reconhecimento de padrões é empregado na separação de padrões de entrada em grupos ou classes. Para desenvolver o sistema é neces-sário extrair as características dos objetos, selecionar as características discriminatórias e depois realizar a classificação em padrões distintos. As aplicações mais comuns de reconhecimento de padrões estão nas áreas de reconhecimento de fala, da escrita, de faces e classificação de documentos. Existem diversos trabalhos na área de reconhecimento de padrões para medicina, como exames de raios-X, tomografia, ultra-sonografia, entre outros descritos na literatura (FELIPE e TRAINA, 2002).

Existem, basicamente, duas importantes etapas no desenvolvimento de sistemas de reconheci-mento de padrões, que podem ser observadas

através da Figura 1. A primeira etapa é a extração das características, ou seleção, que tem como principal objetivo selecionar um grupo pequeno de padrões que representa os dados de entrada essenciais para a solução do problema. No caso, em questão, esta etapa estará sendo realizada através do uso de técnicas de processamento digitais da imagem.

Extração de Informações

Identificação das Características

Classificação dos Padrões

Processamento de Imagens Redes Neurais

Reconhecimento de Padrões

Figura 1 - Etapas do Reconhecimento de padrões

A segunda é a classificação dos padrões, onde as características selecionadas serão atribuídas às classes individualmente. As quatro abordagens mais conhecidas para reconhecimento de padrão são casamento de modelo, classificação estatística, casamento sintático ou estrutural e RNAs. Estes modelos não são necessariamente independentes e às vezes o mesmo método de reconhecimento de padrão existe com diferentes interpretações (MARIN, 2003). Neste trabalho, a etapa para a classificação será realizada através do uso de RNAs. No entanto, ainda não foi definida a to-pologia que será empregada em definitivo, pois é necessário realizar a extração das informações para posteriormente aplicar a modelagem da rede neural que será empregada. Através de alguns estudos e pesquisas preliminares já pode ser percebido que o modelo de rede a ser utilizado será de Mapas Auto-Organizáveis (aqui cabe uma bibliografia para identificar mapas auto-organizáveis).

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Processamento de Imagens Digitais

O processamento de imagens será usado para reduzir a área de interesse, neste caso de busca das psoras. Devido à complexidade das imagens de olho, extrair e isolar regiões de interesse não é uma tarefa trivial. A estratégia escolhida para iniciar o processamento é a localização da pupila, que auxiliará na localização da borda externa da íris, para então isolar a região de interesse na imagem original. Posteriormente, serão utilizados filtros digitais e morfologia matemática para a detecção de bordas.

As imagens digitais coloridas possuem três ca-nais chamados de RGB, que vem da sigla do inglês das cores vermelho, verde e azul (Red, Green e Blue). Através da união dos três canais é possível obter todas as cores visíveis pelo olho humano, conforme a variação da intensidade de cada canal, formando assim uma cor. A Figura 2 apresenta uma imagem original de uma íris e cada um dos canais RGB separadamente.

Figura 2 - Imagem da íris e sua decomposição nos canais RGB

Para encontrar a pupila, a imagem passará por um processo de segmentação que procura isolar a pupila das outras partes do olho. A operação de segmentação que será usada é a limiarização por histograma (thresholding) ou binarização. Este método será utilizado como um pré-processamento para auxiliar na localização exata da íris e foi es-colhido devido ao contraste presente nas imagens

de olho. O princípio da limiarização mais simples consiste em separar as regiões de uma imagem em duas classes (o fundo e o objeto), ou seja, as outras regiões são classificadas como não relevantes para este trabalho. Para que a limiarização seja efetiva, é necessário que haja contraste suficiente entre o objeto e o fundo, e que se conheçam os níveis de intensidade tanto dos objetos quando do fundo (SPÍNOLA, 2004). A limiarização consiste em converter imagens em tons de cinza para imagens binárias a partir de um limiar, ou seja, os pixels com valor menor que um limiar T recebem o valor zero (que corresponde ao preto) e os pixels com valor maior ou igual um limiar T recebem o valor um (que corresponde ao branco), conforme apresentado na Figura 3.

Onde:T = valor do limiarf (x,y) = imagem de entradag (x,y) = imagem limiarizada

Figura 3 - Histograma bimodal e um limiar T parti-cionando o histograma (a esquerda) e a equação de limiarização (a direita).

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É possível ver o efeito da limiarização, em que se aplicou uma limiarização em cada imagem exibida na Figura 2. Como resultado as imagens originais foram binarizadas conforme Figura 4.

Figura 4 - Imagem da íris em canais RGB após a bina-rização.

Após a limiarização, o próximo passo para en-contrar a pupila é reduzir os ruídos que a imagem possui, aplicando-se neste contexto técnicas da morfologia matemática digital. A morfologia mate-mática é a simplificação de uma imagem através da transformação da estrutura geométrica desconheci-da num elemento estruturante conhecido (DA SIL-VA e STATELLA, 2007). A idéia da morfologia é que uma imagem consiste de um conjunto de pixels que são reunidos em grupos tendo uma estrutura bidimensional. Algumas operações matemáticas em conjuntos de pixels podem ser usadas para ressaltar aspectos específicos das formas permitindo que sejam contadas ou reconhecidas.

As técnicas de abertura e fechamento consistem em outras duas técnicas de morfologia matemática, que são a dilatação e a erosão. Tanto a dilatação quanto a erosão representam o que o próprio nome diz, ou seja, a dilatação aumenta os objetos de uma imagem enquanto que a erosão diminui (LEONARDI et al., 2006).

A abertura consiste em aplicar uma erosão segui-da de uma dilatação, utilizando o mesmo elemento estruturante, e tem como objetivo separar objetos próximos ou criar espaços entre objetos e eliminar ruídos (LEONARDI et al., 2006). Nas imagens da

Figura 4 foi executado o processo de abertura e o resultado é demonstrado na Figura 5.

Figura 5 - Imagem da íris binarizada e seus canais RGB após o processo de abertura.

Já o fechamento consiste em aplicar o inverso da abertura, ou seja, uma dilatação seguida de uma erosão, com o mesmo elemento estruturante, e tem como objetivo eliminar espaço entre objetos, eliminar falhas dentro dos objetos, e suavizar as bordas (LEONARDI et al., 2006). Na figura 6 é representado o processo de fechamento que foi aplicado na Figura 4.

Figura 6 - Imagem da íris em canais RGB após o pro-cesso de fechamento.

A maior parte da imagem é composta por componentes de baixa freqüência. As compo-nentes de alta freqüência em uma imagem são os detalhes como bordas, linhas, curvas, manchas e outras transições abruptas dos níveis de cinza (SPÍNOLA, 2004). Baseando-se nisso, os filtros passa-baixa têm um efeito visual de suavização e redução de níveis de cinza, pois ocorre uma perda de detalhes que são os componentes de alta freqü-ência. Assim, o resultado de uma imagem filtrada por um filtro passa-baixa terá um nível de ruído inferior ao apresentado pela imagem original. Como exemplo de filtros passa-baixa tem-se os filtros de

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Média, Gaussiano, Mediana, Ordem e de Moda, e Média dos k vizinhos selecionados. Já os filtros de passa-alta, também chamados de realce de borda, são o inverso dos filtros de passa-baixa, ou seja, os componentes de alta frequência não são alterados e os de baixa frequência são removidos, realçando assim as diferenças bruscas entre os alvos. Como exemplo de modelo de filtros passa-alta tem-se os filtros Gradiente ou derivada de imagens, Sobel, Roberts, Prewitt, Laplaciano, LoG ou Laplaciano do Gaussiano, e Canny.

A borda pode ser definida como uma mudança repentina de intensidade de pixel. Assim, a detec-ção de borda é o processo de localização e realce dos pixels de borda, que permite a separação dos objetos em uma imagem. Porém, a detecção pode ser prejudicada por ruídos presente na imagem que sejam identificados como borda. Para fazer a detecção da borda é aconselhável que antes seja utilizado algum filtro para redução dos ruídos. No parágrafo anterior foi apresentado exemplos de filtros de passa-baixa que serão usados para a re-dução de ruídos e após os filtros de passa-alta para a detecção da borda.

Redes Neurais Artificiais

As RNAs são técnicas de inteligência artificial inspiradas na estrutura do cérebro humano, e que adquirem conhecimento através do treinamento, chamado de aprendizado. Normalmente, uma RNA é composta por várias unidades de processa-mento (neurônios), que são conectadas por canais de comunicação e associadas a um peso. Essas unidades de processamento trabalham apenas com as informações recebidas por suas conexões (BENZECRY et al., 2005). As RNAs são aplica-das no desenvolvimento de soluções de sistemas

complexos, tais como datilógrafo fonético (BRA-GA, DE CARVALHO e LUDERMIR, 2007), reconhecimento de imagens, de voz, de caracteres (SOUSA, 2002), de faces (CASTELANO, 2006), além de outras aplicações.

As RNAs têm inspiração nos neurônios bio-lógicos, que são formados por um corpo celular chamado Soma, possuem ramificações conhecidas como Dendritos que transmitem os sinais das extremidades até o corpo celular (terminais de entrada), e os Axônios que transmitem sinais do corpo celular até as extremidades (terminais de saída). A comunicação entre os neurônios é dada através das sinapses que é a região de contato entre os neurônios, assim transmitindo impulsos nervo-sos entre eles quando atingido um limiar de ação (BARRETO, 2002).

No neurônio artificial, que é baseado no neurônio biológico, troca-se os Dendritos por Entradas, cuja ligação com o corpo celular ar-tificial é dada por elementos chamados de Peso que simulam as sinapses. Os sinais captados pelas entradas são processados pela função Soma, e o limiar de ação do neurônio foi substituído pela transferência. A figura 7 representa a estrutura de um neurônio artificial, que pode ser encontrado em algumas das topologias de RNAs (BARRE-TO, 2002).

Figura 7 - Neurônio artificial Fonte: Barreto, 2002).

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Como já mencionado, o aprendizado das RNAs é realizado através de treinamento. O aprendizado pode ser supervisionado ou não supervisionado. O primeiro é quando existe um mentor, pessoa ou professor, capaz de fornecer à RNA uma resposta desejada (Figura 8a). Enquanto o aprendizado não supervisionado, é quando não há presença de um supervisor no processo de aprendizagem, neste caso é fornecido condições para realizar uma medida independen-te da tarefa da qualidade da representação cuja rede deve aprender (Figura 8b).

Figura 8 - (a) Modelo de treinamento supervisionado da RNA (b) Modelo de treinamento não supervisionado da RNA

A Figura 9 apresenta a localização dos sinais dentro da Íris, destaca-se que este trabalho limita-se a um único tipo de sinal que é a psora. A classifica-ção será feita conforme a localização da psora que se refere ao órgão descrito. Observa-se que existe diferença no olho direito e no olho esquerdo.

Figura 9 - Mapa dos órgãos conforme olho analisado, onde R refere-se ao olho direito e L ao olho esquerdo. Fonte: Khalsa, 2006.

O estudo inicial aponta que o treinamento da rede para a classificação dos padrões deverá ser supervisionado, no entanto poderão ser investi-gados se os outros tipos de treinamentos também poderão ser adequados. Existem diversos atributos que podem ser utilizados a partir do resultado do processamento de imagens, podendo usar os níveis de cinza ou as cores para classificar, ou usando a transformada Wavelet que descreve ocorrências nas imagens como ranhuras ou bordas, ou outra opção ainda poderia ser a forma, ou parâmetros como mé-dia e desvio do tamanho da região de interesse.

Após ser analisado os vários tipos de entradas possíveis para a RNA, serão escolhidas duas topologias de RNAs, que são Mapas Auto-Organizáveis (Self-Organizing Maps - SOM) e Quantificação Vetorial Adaptativa (Learning Vector Quantization, LVQ). A rede LVQ é uma extensão do SOM, porém com aprendiza-gem supervisionada, ou seja, o SOM é de aprendizagem não supervisionada (HAYKIN, 2001).

A topologia SOM possui uma diferença das demais topologias, pois sua estrutura divide-se em entrada e processamento, onde se forma o mapa. A matriz formada pelos neurônios, que ficam co-nectados apenas em seus vizinhos imediatos, fica na camada de processamento. Outra característica

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é a forma da aprendizagem, onde somente um neurônio de saída dá uma resposta ativa ao sinal de entrada, ou seja, a aprendizagem é competitiva. O nível de ativação indica a similaridade entre o vetor de dados de entrada e o vetor de pesos do neurônio (GONÇALVES, JÚNIOR e NETTO, 1996). A modificação dos pesos sinápticos é dada quando há um neurônio vencedor, assim seu peso é ajustado, porém não somente o vencedor tem o peso ajustado, mas os seus vizinhos também sofrem ajustes. Após a aprendizagem, cada neurônio ou grupo de neurônios vizinhos será um padrão dos padrões dados como entrada a rede (GONÇAL-VES, JÚNIOR e NETTO, 1996).

Já a topologia LVQ tem por objetivo principal dividir o espaço amostral de entrada em diversas classes separadas, sendo que cada um dos vetores de entrada deve pertencer somente a uma dessas classes associadas ao problema considerado. Isso é feito através de um processo competitivo, onde a modificação dos pesos sinápticos é dada conforme a proximidade da posição em relação ao vetor de en-trada, onde o valor vencedor é recompensado com uma posição mais próxima do vetor de entrada, e o perdedor é punido com uma posição mais afastada do vetor de entrada (BRASIL, DE AZEVEDO e DE OLIVEIRA, 2000). Após o treinamento da rede, ela pode ser utilizada para classificar outros padrões de entrada entre as várias classes do sistema.

Todos os métodos LVQ são os mesmos, o que os difere é o processo de classificação. Sendo a diferença entre o LVQ-1 e LVQ-2 é de o LVQ-2 atualizar duas células simultaneamente em cada iteração do processo de treino, e no LVQ-1 somente uma célula é atualizada. Já o LVQ-3 é a união dos seus dois antecessores, da combinação da melhor fronteira de LVQ-2 com a estabilidade de LVQ-1 (POLLI, 2005).

RESULTADOS

Até o presente momento, foram investigadas e testadas as técnicas de processamento de imagens, necessárias para aquisição das características para o reconhecimento de padrões. Os testes foram realizados com o auxílio da ferramenta Matlab (bibliografia), visto que esta possibilita uma im-plementação rápida e simples facilitando a etapa de testes.

É possível ver a evolução do trabalho na Figura 11, que apresenta as mesmas imagens da Figura 2, porém com a pupila já localizada e extraída.

Figura 11 - Imagem da íris em canais RGB após a extração da pupila.

Neste momento, estão sendo investigadas as formas de armazenamento das informações e como serão selecionadas as bordas para a identificação das psoras. Assim que estas etapas forem concluídas, será realizada a modelagem da RNA, o devido treinamento e os testes sobre o funcionamento do protótipo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho aqui proposto tem por objetivo apli-car métodos de processamento de imagens e redes neurais para fazer o reconhecimento e classificação de padrões. A escolha de redes neurais para a classificação dos sinais se deve ao fato das imagens coloridas usadas na irisdiagnose serem complexas e a apresentarem certo grau de aleatoriedade.

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O sistema deverá reconhecer os sinais apresen-tados na íris classificando-os, de forma a obter como resultado uma lista dos desequilíbrios apresentados pela pessoa.

Este sistema tem como objetivo auxiliar o diag-nóstico dos desequilíbrios do corpo ou potenciais desequilíbrios através da análise da íris , e não tem como foco suprir o conhecimento de um iridólogo ou naturopata, além disso possuirá algumas restrições no desenvolvimento por não ser necessário o desen-volvimento completo para comprovar a eficácia do método. As limitações do trabalho estão relacionadas ao tipo de sinal analisado, que diz respeito apenas as psoras, pelo lado da íris (direita ou esquerda), e a área de interesse que será reduzida. É importante salientar que o presente trabalho busca o reconhecimento automático destes sinais na íris. Em trabalhos futuros, pretende-se agregar ao sistema características que tangem um sistema de recomendação. Onde, iden-tificado os potenciais desequilíbrios o sistema poderá sugerir possíveis tratamentos para estas patologias.

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Ciências Humanas

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“A Casa tá cheia!”: alguns significados da Praça Dona Mocinha

LUIZ ALBERTO DOS SANTOS FERREIRA1 ALEXANDRE KUNSLER2

JOSÉ GERALDO SOARES DAMICO3

RESUMO

A praça pública tem destaque em bairros populares, onde a comunidade carece de alternativas de lazer, compreendendo a praça como um lugar potencial para o desenvolvimento das atividades esportivas, das festas do bairro e da formação de redes de sociabilidade. O presente trabalho tem por objetivo analisar como se estabelece algumas formas de utilização da Praça Dona Mocinha, bairro Niterói em Canoas/RS e quais significações deste lugar são atribuídas pelos/as freqüentadores/as. Na pesquisa de campo utilizamos o método etnográfico. Percebemos que a praça reflete a dinâmica da cidade como território de conflitos e de sociabilidades.

Palavras-chave: Etnografia, espaço público, sociabilidade, reciprocidade, honra.

ABSTRACT

The public square has prominence in popular quarters, where the community lacks of leisure alternatives, understanding the square as a potential place for the development of the sports activities, of the parties of the quarter and the formation of sociability nets. The present work has for objective to analyze as if it establishes some

1 Acadêmico do Curso de Educação Física/ULBRA – Bolsista Rede Cedes

2 Acadêmico do Curso de Educação Física/ULBRA – Bolsista Rede Cedes

3 Professor – Orientador do Curso de Educação Física/ULBRA ([email protected])

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forms of use of the Square Dona Mocinha, Niterói quarter in Canoas/RS and which significances users of this place are attributed. In the field research we use the method. We perceive that the square reflects the dynamics of the city as territory of conflicts and sociability’s.

Key words: Ethnographical research, public space, sociability, reciprocity, honor.

INTRODUÇÃO

A discussão em torno da importância dos espaços públicos de lazer em grandes cidades e principalmente em zonas de periferia urbana tem levado uma série de estudos a investigar esta te-mática. Este tipo de espaço, a praça pública, tem seu destaque potencializado em bairros populares, onde a comunidade carece de alternativas de lazer, vendo então a praça como um lugar em potencial para o desenvolvimento das atividades esportivas, das festas do bairro e, além disso, como terreno fértil para construção de redes de sociabilidade.

No entanto, alguns discursos da mídia destacam o caráter marginal da praça pública, caracterizan-do-a como espaço livre para o consumo e venda de drogas, para prática de assaltos e como ponto freqüente de prostituição, projetando um olhar estigmatizado e contribuindo desta forma para a adoção de políticas de “cercamento” dos espaços, acreditando reduzir assim a depredação e a crimi-nalidade. Entendemos que estes discursos correntes não colaboram para uma compreensão das relações complexas que se estabelecem nestes locais. É neste sentido, que o olhar deste estudo se dirige para captar a visão dos usuários cotidianos da praça e a partir daí, buscar entender qual o significado dela para a comunidade.

Conforme Almeida e Tracy (2003), o debate a respeito da espacialidade tornou-se estratégico para a compreensão das questões centrais das Ciências Sociais contemporâneas.

Segundo as autoras:

Surgiu, assim, na última década, uma nova “geografia cultural”, estruturada em torno de diferentes parâmetros teóricos, sendo que, as noções de lugar e espaço não envolvem séries de relações fora da sociedade, mas estão impli-cadas na própria produção das relações sociais e são, em si mesmas, socialmente produzidas. (ALMEIDA e TRACY, 2003, p.25).

Do ponto de vista conceitual, De Certeau (1994), estabelece a diferenciação entre lugar e espaço, para este autor, lugar é a ordem segundo a qual, diferentes elementos, que compõem mate-rialmente a realidade organizam-se uns em relação aos outros, segundo eixos precisos (ordenadas e coordenadas), abarcando “uma configuração instantânea de posições” e “implicando uma indi-cação de estabilidade”. Por outro lado, o espaço não possui unicidade e estabilidade apontadas anterior-mente, ao contrario, “existe espaço sempre que se tomam em conta vetores de direção, quantidades de velocidade e a variável no tempo”. O espaço é construído pelo cruzamento de móveis, sejam eles corpos ou fragmentos e é “animado pelo con-junto dos movimentos que ai se desdobram” (DE CERTEAU,1994).

Considerando o processo de apropriação encontra-do em nosso campo de estudo, a Praça Dona Mocinha, localizada no bairro Niterói em Canoas/RS, a ênfase do trabalho não está na praça como lugar, mas como um espaço vivido. (DE CERTEAU, 1994).

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Neste sentido, o objetivo deste artigo se apre-senta como um desafio, descrever o cotidiano da Praça Dona Mocinha, numa perspectiva de inser-ção no ambiente de estudo, compreendendo-o por dentro e a partir disto, entender qual significado os usuários atribuem ao espaço e quais as relações que estabelecem nele, isto dentro dos grupos sociais regulares e também nas negociações com outros grupos e usuários.

METODOLOGIA

A pesquisa não surge do acaso, ela é um recorte de um projeto mais amplo intitulado Espaços Es-portivos de Lazer e Sociabilidade Cotidiana: Um Estudo Etnográfico, desenvolvido em parceria pela UNISINOS, ULBRA e UFSM, que tem como obje-tivo principal verificar de que maneira estes espaços públicos estão sendo apropriados e utilizados pela população nas cidades de São Leopoldo, Canoas e Santa Maria.

A escolha metodológica recai na Etnografia Interpretativa, que na tradição das Ciências Sociais, especialmente na Antropologia, possui o intuito de romper com o paradigma Positivista, principalmen-te na busca de uma visão objetiva da realidade.

Nesta perspectiva, Geertz (1978) aponta para Max Weber:

Acreditando que o homem é um animal amarrado a teias de significado que ele mesmo teceu, assumindo a cultura como sendo essas teias e a sua analise; portanto não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como ciência interpre-tativa, à procura de significado. (GEERTZ, 1978, p.15)

O autor define a etnografia como um tipo de esforço intelectual com o objetivo de elaborar uma “descrição densa”. O antropólogo afirma que:

O que o etnógrafo enfrenta, (...) é uma multiplicidade de estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas ás outras, que são simulta-neamente estranhas, irregulares e inexplíci-tas, e que ele tem que, de alguma forma, primeiro apreender e depois apresentar. (GEERTZ,1978, p.20).

Este método qualitativo de pesquisa científica utiliza-se de duas ferramentas fundamentais para captação do material empírico, o diário de campo e a observação participante.

Segundo Fonseca (1999, p.63), “é no intuito de descobrir a relação sistêmica entre diferentes elementos da vida social que os etnógrafos abraçam a observação participante – para tentar dar conta da totalidade do sistema”. Desta forma, o pesquisador se insere na cultura do “nativo”, porém, optamos na construção textual, por substituir o termo objeto de pesquisa por sujeito, na medida em que nossos informantes não são materiais manipuláveis (ou pelo menos não deveriam ser) são pessoas de carne e osso, inseridas num determinado contexto, onde as influencias sociais vem de todos os lados. A abordagem etnográfica exige uma atenção especial a outras linguagens que algumas técnicas têm mais dificuldade em alcançar.

Ao cruzar discursos de sujeitos sobre a mesma realidade, constrói-se a tessitura da vida social em que todo o valor, emoção ou atitude que está inscrita. (FONSECA, 1999). É fundamental neste sentido, estabelecer um olhar sutil sobre os acontecimentos do cotidiano da praça, a primeira vista insignificantes como os jogos das crianças,

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as “lutinhas” dos jovens e as brincadeiras ditas de mau gosto, tornando-se extremamente importantes e passiveis de interpretação, podendo revelar algo sobre os valores do grupo. (FONSECA, 1999). Quanto ao diário de campo, Geertz (1978) diz que o etnógrafo “inscreve” o discurso social: ele o anota. Ao fazê-lo ele o transforma de acontecimento pas-sado, que existe em seu próprio momento de ocor-rência, em um relato, que existe em sua inscrição e que pode ser consultado novamente.

Mesmo depois da discussão metodológica uma pergunta permanece, porque a escolha do campo de estudo nos levou até a Praça Dona Mocinha? Neste momento a intenção do grupo era de escolher espa-ços que tivessem características diferentes em bairros diferentes dentro da cidade de Canoas/RS, demons-trando as diversas apropriações e manifestações que se desenvolvem nestes “espaços vividos”. Eis que a Praça Dona Mocinha surge preenchendo estes requisitos, caracterizando-se como um dos epicentros do bairro Niterói, o espaço é a única praça pública do bairro e uma das poucas opções para o lazer gratuito num dos bairros mais antigos e populosos da cidade de Canoas. As primeiras visitas ao campo foram no mês de março de 2008, onde houve uma primeira aproximação para o reconhecimento do espaço e se estenderam até dezembro de 2008, somando um total de 20 visitas ao espaço, sendo que uma foi filmada.

A inserção no campo tinha um objetivo inicial, olhar o cotidiano da praça e buscar regularidades quanto aos tipos de apropriações que os grupos de usuários constroem no espaço. Um dos aspectos que mais chamou a atenção neste período inicial de pesquisa foi perceber o intenso trânsito de pes-soas que circulavam pelo ambiente, algumas delas apenas passando em direção a estação do trem que fica bem próxima, outras se reuniam em grupos e sentavam nos bancos espalhados pelo local, identi-

fico uma grande quantidade de jovens organizados em pequenos círculos e um outro grupo de senhoras que se localiza próximo ao banheiro da praça, além de constantes encontros de vizinhos, amigos e pa-rentes, estes primeiros contatos se caracterizam por uma intensa negociação quanto a minha presença em relação aos “nativos” da região.

No movimento de aprofundar o olhar nos arredores do espaço percebo a presença de alguns poderes devidamente representados, relato da seguinte forma no diário de campo “Reforço à idéia da importância do local onde a praça foi construída, de um lado temos a Escola Augusto Severo, do lado oposto a Delegacia da Polícia Civil e uma série de comércios e nas duas laterais, de um lado a Igreja Católica de São Paulo e do outro uma sede da Igreja Universal do Reino de Deus, isto sem esquecer a casa de um dos candidatos a prefeito da cidade (que veio a ser eleito) e em meio a isto tudo a Praça Dona Mocinha” (Diário de Campo 09/05/08). Sendo assim, a praça encontra-se numa posição estratégica, no centro do bairro, proporcio-nando uma série de encontros, fazendo com que a praça permaneça ocupada por quase todo o dia.

As palavras de Jacobs destacam a importância de se pensar no lugar onde os parques e praças são construídos, “(...) um parque de bairro genérico, que esteja preso a qualquer inércia funcional em seu entorno, fica inexoravelmente vazio por boa parte do dia (...) a agonia é enfadonha, repele a vida” (JACOBS, 1995, p.108).

A experiência no campo, não permite enten-der a Praça Dona Mocinha nesta lógica, podemos estabelecer uma outra perspectiva sobre o espaço:

Quanto mais à cidade conseguir mesclar a di-versidade de usos e usuários do dia-a-dia nas ruas, mais a população conseguirá animar e sustentar com sucesso e naturalidade os

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parques bem localizados, que assim poderão dar em troca à vizinhança prazer e alegria, em vez de sensação de vazio (JACOBS, 1995, p.121).

Desta forma, após diversas visitas, pude identifi-car dois grupos de sociabilidade regular, “As Senhoras do Banheiro” e o “Bonde dos Arroganth’s”, estes dois núcleos de interação tornam-se a partir de então o foco do olhar sobre as sociabilidades da praça.

Segundo Simmel (1983) a própria sociedade em geral se refere à interação entre indivíduos:

(...) historicamente as pessoas se relacionam com interesses, de comércio, conflitos, por impulsos religiosos, porém quando reti-ramos o conteúdo destas relações elas, as formas, tornam-se autônomas, ganham vida própria, com a finalidade e com a matéria de sua própria existência. O “impulso de sociabilidade” extrai das realidades da vida social o puro processo da sociação como um valor apreciado, e através disso constitui a sociabilidade no sentido estrito da palavra (SIMMEL, 1983, p. 165).

Estes encontros desenvolvem um sentimento entre os membros e como tal é um valor, sem atritos com a realidade, de riqueza simbólica e lúdica, pelo sucesso do momento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Relações de Reciprocidade

Os encontros dos grupos da praça de alguma for-ma ilustram esta dinâmica, como segue neste trecho de um diário de campo “Foi interessante observar que

mais uma vez quando cheguei à praça uma concen-tração de mulheres se localizava ao redor do banheiro onde trabalha a zeladora, esta conversa se estende a ponto de as mulheres entrarem na salinha da zeladora” (Diário de Campo, 30/04/08). Ao perceber em espe-cial aquela apropriação do território em frente ao banheiro da praça, caracterizado pelo movimento regular de senhoras que se reuniam conversavam durante longos períodos das tardes, que começou a chamar a minha atenção. Acabei por batizar o grupo com o nome de “Senhoras do Banheiro”, pode parecer estranho, porém foi o que fez mais sentido naquele momento. Com o passar dos dias, pude visualizar com mais nitidez e reconhecer algumas das senhoras que compunham aquele grupo, o que me motivou a tentar finalmente minha inserção nele.

Dias depois, tomo a iniciativa e me apresento para uma das figuras mais representativas da praça, realmente uma protagonista daquela realidade, “Segundo Dona Iolanda, funcionária pública há 34 anos, iniciou seu trabalho na Praça Dona Mocinha em 1977, ou seja, seu vínculo com o espaço tem 31 anos, neste momento fiquei tão surpreendido, que me faltaram palavras para tecer um comentário, simplesmente fiquei pasmo e mudo (Diário de Campo, 09/05/08).

A partir deste dia, tive a feliz oportunidade de partilhar algumas tardes ensolaradas na presença de Dona Iolanda e das outras senhoras que compõem o grupo, fato este, que me exigiu por diversas vezes jogo de cintura e uma intensa capacidade de negociação, principalmente naqueles momentos em que a con-versa não fluía. Como no dia em que “percebo que a tarefa não será fácil, visto que por vezes o diálogo com ela se estabelece de forma confusa. Ao me aproximar de Dona Iolanda, minha primeira atitude é cumprimentá-la, “Olá Dona Iolanda! Tudo Bem?”, ela tricotando de cabeça baixa apenas me dá um sorriso sem graça, parece que nem me reconheceu, confesso que fiquei com uma sensação estranha, sentindo um quase desprezo, porém

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percebo que para entrar no conceito de alguém de esta á mais de 30 anos num determinado espaço estas poucas aproximações ainda são insuficientes (Diário de Campo, 03/07/08). E a situação naquele dia ainda ficou mais crítica, “Vou falar com meu chefe que tu ta fazendo uma pesquisa aqui, derrepente eu falo alguma besteira...” (Diário de Campo, 03/07/08).

Passados alguns encontros, o dia 09/07/08 teve o significado de servir para mim como senha de entrada no universo daquelas senhoras, que ainda se constituíam em um dilema para o aprendiz a pesquisador, e por outro lado me apresentou um pouco do significado daquele espaço nas vidas das senhoras da Praça Dona Mocinha. Descubro então que a fiel companheira de Dona Iolanda chama-se Isabel, ela destaca a importância da praça, pois “Todo mundo vai pra lá”, ainda completou dizendo que “É o melhor lugar do bairro”, ela em uma outra oportunidade já havia me contado que sua relação com a praça é de longa data, “a praça é como uma casa para mim...”, na medida em que sempre trouxe as crianças da família para brincar naquele local, antes o filho, depois a sobrinha e agora a filha pe-quena (Diário de Campo, 03/07/08).

Conheço também desta vez uma senhora negra com um casal de filhos, neste dia, Dona Iolanda reforça uma frase já dita por ela em outra oportunidade, “gosto de trabalhar perto de casa, não tenho inimigos” e pelo jeito não tem mesmo (Diário de Campo, 09/07/08).

O assunto estava interessantíssimo naquela tarde, em alguns momentos eu mesmo conduzi a conversa “puxando os papos” e elas entravam na minha “onda”. Para minha surpresa as visitas con-tinuavam a chegar, eram elas, a cunhada de Isabel, que falava bastante era bem espontânea, e mais uma senhora que vendo o amontoado de pessoas também chegou para conversar. Ao me dar conta da situação, vejo-me rodeado de cinco senhoras e

três crianças na porta de um banheiro conversando diferentes assuntos, achei o máximo e acreditei que as coisas andavam muito bem naquele momento.

Foi durante esta discussão que me aproximei de um dos sentidos da praça, “Foi engraçada uma situação que se sucedeu por algumas vezes na entra-da do banheiro feminino, as freqüentadoras da praça que queriam utilizá-lo formavam uma fila atrás das senhoras que conversavam acreditando que aquela era a fila de espera para poder utilizar os sanitários. Depois de alguns segundos, perguntavam “Esta é a fila para entrar no banheiro” e então alguém dizia, “Não...pode passa direto!”. Ilustrando esta situação, no alto de seus 31 anos de praça, Dona Iolanda lança uma frase que para mim é emblemática, ela diz “Vamos ter que aumentar a sala!“, “A casa tá cheia!” (Diário de Campo, 09/07/08). Acredito que estas palavras, juntamente com as de Isabel num momento anterior, carregam um simbo-logismo de tornar aquele momento e espaço dotados de um significado todo especial, afinal consideraram um banheiro e uma salinha como uma extensão da casa.

No relato de Dona Iolanda e de Dona Isabel é possível fazer uma aproximação com o Antropólo-go Da Matta em seu estudo “A Casa e a Rua”, no sentido de que cada espaço possui visões de mundo e significações particulares, que constituem a pró-pria realidade moralizando o comportamento (DA MATTA, 1984, p.53). Nesta perspectiva, a Casa, se configura como o espaço conservador, familiar, pessoal, ou seja, exatamente o contrário da rua, es-paço da individualização, da luta, da malandragem, do “cada um por si”.

Da Matta (1984) segue, quando sugere Weber (1958) chamando a atenção para as “Éticas Dúpli-ces” , sendo assim, esses espaços contém visões de mundo particulares. Nesses sistemas, pode-se dizer

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que o espaço não existe como uma dimensão social independente e individualizada, estando sempre misturado, interligado ou “embebido“ em outros valores que servem para a orientação em geral (DA MATTA, 1984). Chama a atenção para o movi-mento percebido, a partir do discurso das senhoras, quando a Rua, ou melhor, a Praça, se transforma em Casa, dependendo do tipo de apropriação e significado que se estabelece no local.

Um outro acontecimento que apresentou um pouco das relações que se constroem dentro do grupo e que passam pela praça, construindo a história do lugar e das pessoas, foi o caso da rifa e a construção dos laços de reciprocidade, “nosso ponto de encontro serviu naquela tarde para uma prestação de contas referente a uma rifa promovida pelo grupo de amigas. Quando chegou à praça a cunhada de Isabel trazia a mão um saco plástico contendo os números vendidos e o dinheiro arrecadado, ela fez questão de contabilizar o dinheiro na frente de Isabel e de identificar quais vizinhos tinham comprado pelo menos um número “os de fé...” e os que não servem nem para ajudar neste momento, dizia ela “Aquela senhora da casa de frente comprou duas, já aquela da cada de trás não comprou nenhuma, acredita?!”, ao observar a “auditoria” realizada na praça pergunto se posso ajudar comprando um número, mas a resposta que recebo de Isabel é de que o sorteio tinha ocorrido no dia anterior, impossibilitando minha compra, pergunto então “qual é o prêmio?”, elas respondem que é um aparelho de DVD e que promoveram esta “Ação entre Amigos” para arrecadar fundos e ajudar Isabel, pois sua casa sofreu um incêndio, ela acabou perdendo tudo o que tinha e esta passando por muitas necessidades” (Diário de Campo, 09/07/08). Devo confessar que achei este acontecimento de uma riqueza incrível, pelo fato das amigas se unirem em solidariedade a situação que Isabel enfrentava e também pelo motivo do encontro e da prestação de contas não ser realizada na casa de nenhuma delas e sim na praça.

A partir obra clássica de Mauss (1924), Ensaio Sobre a Dádiva, podemos refletir um pouco sobre o fenômeno da rifa, este livro vai fundar na visão da teoria antropológica, a chamada “teoria da troca” ou “a idéia fundamental da reciprocidade”. Desta forma, foi visto nas tribos do noroeste americano, na Melanésia, na Polinésia, que os sistemas de trocas e contratos fazem-se sob a forma de presentes, em teoria voluntários, na realidade obrigatoriamente dados e retribuídos (MAUSS, 1924). Sendo as-sim, ninguém tem a obrigação de adquirir a rifa, é voluntária, porém quem não compra, deixando de ajudar uma vizinha fica numa posição desconfortá-vel, “marcada” e provavelmente não poderá contar com a ajuda da vizinhança.

Nas palavras de Mauss (1924), o mais impor-tante nesses mecanismos, é evidentemente aquele que obriga a retribuir o presente oferecido, neste caso quem foi favorecido pela rifa fica na obrigação de retribuir a dádiva concebida, ou seja, adquirir uma rifa que favoreça quem o ajudou antes ou podendo certamente manifestar esta reciprocidade de outra forma.

O autor destaca ainda “(...) que a prestação total não implica somente a obrigação de retribuir os presentes recebidos; supõem outros dois igual-mente importantes: obrigação de os dar, por uma lado, obrigação de os receber, por outro (MAUSS, 1924, p.68 )”.

Podemos resumir a situação da seguinte forma, a cunhada de Isabel organizou a ação e entregou a ela a Dádiva, agora Isabel tem a obrigação de aceitar, e após a obrigação de retribuir a Dádiva, não fazendo isto pode colocar em jogo sua reputação perante o grupo e terá que assumir a dívida, deixando de formar alianças e comprometendo o equilíbrio da ordem social.

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Jorge Villela (2000) nos diz que:

(...) embora não seja calculista, a economia da dádiva, na recusa ao capital econômico, visa à acumulação de um capital que pode ser traduzido em riquezas de aliados, serviços, credores, enfim, do reconhecimento. Nesse sentido o capital simbólico é um crédito (VILLELA , 2000, p.198).

Não estamos aqui querendo reproduzir na forma exata a teoria de Mauss, mas mostrar como alguns elementos servem para concretizar as relações dessas senhoras, construindo laços ou redes de reciprocidade para além da praça.

Ô ...chega aí!

O segundo núcleo de sociabilidade, não menos importante, e assim como o outro repleto de sig-nificados é um grupo de jovens conhecidos como “Bonde dos Arroganth’s”, o meu conhecimento des-tes jovens se deu na primeira visita à praça, ouvindo o grito de um garoto, “ô... chega ai! Eles disseram que vão bater nos arrogantes”, “quem?” perguntou um jovem, “aqueles pia”, fazendo alusão aos jovens que estavam com ele, que iriam brigar com algum grupo do colégio. Todos eles aparentemente com menos de 15 anos” (Diário de Campo, 14/04/08). Neste dia nada ficou claro, mas percebi que com o passar do tempo os acontecimentos se tornavam mais visíveis. Foi conhecendo Binho, um outro personagem da praça que me aproximei do Bonde, “Após uma breve observação das brincadeiras entre pai e filho percebo que o pai estava fumando um baseado, sem a preocupação de esconder do filho pequeno, o menino realmente não devia saber o que era aquilo, entretanto foi uma cena que me chamou a atenção. Um aspecto que me

encorajou a ir falar com o pai foi o fato de estar com a camisa do Grêmio, pensei que poderia me aproximar comentando um pouco sobre nosso time, com o objetivo de quebrar o “gelo”, e foi justamente o que fiz” (Diário de Campo, 08/05/08).

Aparentemente, Binho não faz parte do Bonde, porém, sempre está com a galera na praça, “Em vários momentos, falava que era vagabundo, mas não aquele tipo de vagabundo, (neste momento é difícil saber a definição utilizada), pois ele esta sempre na correria e sabe que a vida é difícil, a partir daí come-cei a compreender o sentido por ele utilizado, não se referindo ao vagabundo que não faz nada e nem o vagabundo ladrão, fala daquele sujeito que está na luta sempre fazendo uma correria e se virando para viver, pelo menos foi esta a sensação que tive” (Diário de Campo, 08/05/08).

Ao elaborar suas pesquisas com grupos popu-lares de Porto Alegre, Fonseca (2004) demonstra como o emprego assalariado costuma ser despre-zado por homens e mulheres moradoras de vilas e comunidades carentes, neste sentido:

O desprezo pode ser interpretado como au-todefesa, já que muitos, talvez a maioria dos moradores da vila, tenham sido, em algum momento, rechaçados com brutalidade por parte de um patrão em potencial. Para os “bons” empregos, três quartos das pessoas não têm a “boa aparência”, se chegam a ter roupas decentes, ficam-lhes as marcas indeléveis da cor da pele ou da maneira de falar (FONSECA, 2004, p.14).

Nosso informante é um jovem negro com cerca de 25 anos, ostenta um estilo típico de Rapper, pos-sui um filho pequeno e atualmente não reside com a mãe da criança, revela sua malandragem falando que não perdeu tempo e já está com outra mulher,

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ficando direto na casa dela, “Contou sobre um rapaz que foi até a casa da mina dele vender uma TV de 20 polegadas, pedindo 100 reais pelo aparelho, pois estava na fissura (acredito que ele tenha se referido ao crack), após a negociação Binho conseguiu tirar por “50 conto” e concluiu que a partir de então e principalmente no inverno tem passado mais tempo em casa” (Diário de Campo, 08/05/08). E desta maneira ele vai se vi-rando, na medida em que não possui emprego com carteira, tem que se desdobrar realizando negócios e pequenos bicos para ganhar o dia, o que lhe exige passar diversas vezes voando pela praça:

“Viver dez horas por dia na evocação constante de sua inferioridade em nada contribui para enaltecer a própria imagem, e o salário, realmente irrisório, não com-pensa a falta de satisfação pessoal. A resposta coletiva a essa situação é de denegrir os empregos denegridores e valorizar qualquer ganha-pão, desde que não apóie a hierarquia social convencional subordinado às classes dominantes” (FONSECA, 2004, p.14).

Senti facilidade de conversar com Binho, pois foi muito receptivo, “além de dizer que eu deveria me entrosar com a gurizada para conhecer bem o local. Perguntei algumas coisas sobre a praça e ele destacou que a galera da zona sempre chega ali para fumar um baseado e tomar uma “bira”, geralmente na noite e que sempre tem umas minas e pá! (realmente ele não perdia a oportunidade de mexer com as “minas“ que passavam por ali). Disse também que a gurizada se “junta” para fazer um esporte, futebol ou basquete, durante as ma-drugadas.” (Diário de Campo, 08/05/08).

Nesse encontro, Binho tinha prometido me apresentar para a galera da praça, semanas depois o encontro aconteceu “os guris estavam sentados em um banco, Binho me apresentou, sentei e comecei a ouvir as conversas, até que perguntei,” Para que serve

a praça?”, eles responderam, ”para fumar e para ver as minas” e em seguida, “para as crianças, para fazer esporte também...” (Diário de Campo, 15/07/08). Em outro momento, um dos jovens apelidado de Dudu, comentou sobre a briga que tinha acontecido na praça contra os jovens do bairro Rio Branco, situado do outro lado da linha do trem, segundo ele, “os caras entraram na praça de madrugada, eu (Dudu) estava com outro cara... eles vieram correndo nos pegar e deram uma tijolada que acertou o telhado do banheiro, eu não pude brigar porque estava com a perna machucada, tive que fugir mancando...” (Diário de Campo, 15/07/08).

Esta história foi suficiente para o resto do grupo começar a ironizar a sua atitude, dizendo que ele fugiu da briga, ou melhor, “arregou” o jovem se viu obrigado então a recuperar a honra, lembrando que em outro dia, fizeram um guri do bairro Rio Branco correr até pular a linha do trem.

Desvendando um pouco este acontecimento, podemos perceber nos discursos, o sentido de pertencimento e de valorização do espaço, pois a praça aparece como o terreno onde por vezes esses encontros acontecem.

Um outro jovem continua destacando os confli-tos, “os Rio Branco não colam muito aqui, é por causa do bonde, se eles vem para cá pode dar tumulto, mas é com qualquer galera de longe, porque aqui todo mundo anda junto. Eles podem vir, mas acaba dando atrito...” (Diário de Campo, 20/08/08). Enquanto isto, um rapaz porta-dor de uma tatuagem, aparece mostrando o desenho em seu braço, enquanto que os outros fazem alguns comentários sobre o significado, “OBL é quente, quem sabe, sabe... é uma família, não é facção... é só pra quem é, não é pra quem quer ser... é segredo que nem Deus sabe, mas não é briga, a gente pega as minas dos outros é já era, paz e amor...hahaha” (Diário de Campo, 20/08/08). Desta forma vão se construindo diferentes grupos,

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com diferentes siglas, onde os significados e as condu-tas são reconhecidos apenas pelos jovens que fazem parte do bonde. Nesta discussão, Fonseca (2004) nos mostra, “que a tática dos jovens para projetar uma imagem pública de prestígio apoiasse na bravura, na virilidade. Bravura significa a coragem necessária para matar um adversário à sua altura, para ajudar os camaradas em perigo, para resistir às torturas da polícia. A virilidade manifesta-se pela conquista sexual das mulheres” (FONSECA, 2004, p.19). A violência entre os bondes, se constitui como arma mais ou menos aceita (ou pelo menos esperada) para a resolução dos conflitos e, nesse sentido, podemos dizer que a força física é um elemento importante na organização de alguns jovens.

Existe ali um código de honra que em alguns pontos nos aproxima dos “aguantes”, torcedores de futebol argentinos, que em estudos realizados por Alabarces , Garriga Zucal e Moreira (2008):

(...) constituye un complejo sistema de honor y prestigio que valora positivamente la va-lentía, el coraje, la bravura y el arrojo en un enfrentamiento físico(...) las acciones violen-tas, lejos de ser rechazadas y penalizadas, son acciones legítimas, deseadas y buscadas que funcionan como signos de reconocimiento y distinción. (ALABARCES, GARRIGA ZUCAL e MOREIRA, 2008, p.113).

Desta forma, no sistema de valores do grupo, a honra se caracteriza como um elemento fundamen-tal no enfrentamento com outros bondes, quem apanha em um confronto, ou pior ainda, quem foge de uma briga fica taxado de covarde, sendo posicionado na base de uma escala de hierarquias. Nesta lógica, as façanhas e a coragem desempe-nham um papel fundamental, “Aqui é nossa área, na última festa, até roubaram o boné do Jean Paul!, hahaha” (Diário de Campo, 20/08/08).

No que diz respeito à honra, Pitt-Rivers men-ciona (1980):

Em cada sociedade, em cada momento dado, a honra toma aspectos distintos em relação às formas de vida e o sistema intelectual de cada cultura, que permite expressar a aprovação e a desaprovação de condutas e formas de pensar (PITT-RIVERS,1980, p. 101).

Longe de enquadrar estes grupos juvenis na pers-pectiva da delinqüência, é possível perceber um código moral que organiza as condutas dos jovens com a va-lorização das aventuras e dos confrontos conta outros bondes. Assim, as posições e os papéis são negociados cotidianamente nos encontros realizados na praça, prin-cipalmente após os dias de correria, quando acontecem os conflitos. Não se trata de aprovar a violência, trata-se de reconhecê-la e saber lidar com ela.

Além do confronto físico, existe também uma rede de significados que destaca uma espécie de violência simbólica caracterizada pela pichação, ela aparece marcando as zonas de atuação de cada bonde.

Estamos diante de limites territoriais simbólicos:

(...) nas rixas entre grupos (bondes), ocorre uma demarcação territorial que impacta de forma importante a mobilidade dos jovens na região. Essa demarcação é como se fosse uma maneira de fortalecer o poder local, e ao mesmo tempo essas relações de poder acabam limitando o acesso a espaços de lazer de modo que é “proibido” invadir o espaço do outro (ROSA, 2007, p 21).

Neste contexto, um desafio se constrói, invadir o espaço dos “outros” e deixar uma marca, ou seja,

uma pichação na praça. Podemos constatar isto nas paredes do banheiro da Praça Dona Mocinha,

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repleta de símbolos de “outras galeras” que invadem o Niterói pela noite para deixar seu marca. Segue o trecho do discurso de um jovem, ”Arroganth’s é uma família unida, picha ai ARGTS... vocês vão me ver ai mais além... ARGTS de Canoas, Niterói” (Diário de Campo, 20/08/08).

Analisando o discurso dos jovens na compre-ensão do significado da praça, avançamos neste sentido em Magnani (1984), destacando o pedaço como aquele espaço intermediário entre o privado (a casa) e o público, onde se desenvolve uma socia-bilidade básica, mais ampla do que a fundada nos laços familiares, porém mais densa, significativa e estável do que as relações formais e individualizadas impostas pela sociedade.

O Pedaço remete a um território que funciona como ponto de referência e, no caso da vida no bairro, evoca a permanência de laços de família, vizinhança, origem e outros (MAGNANI, 1984).

Entendemos que a violência na praça, a presença do Bonde e os limites simbólicos, são fenômenos oriundos de um processo sócio-histórico e cultural. Estas manifestações se mostravam no bairro e na praça na década de 50, já nesta época Niterói come-çou a perder a confiança característica dos pequenos lugares, e seu perfil de bairro operário estigmatizava-se pela fama de local violento (PENNA, 1995). Como também destaca uma antiga moradora “hoje nem temos mais espaços para acolher esses jovens. Isso precisaria existir. Parece que não existindo esse tipo de grupo surgem outros que estão sendo batizados com o nome de gangues da praça” (PENNA, 1995).

A praça segue então a dinâmica da cidade e as contradições da nossa sociedade, um espaço de disputas e significados, de enfrentamentos e lutas, mas também de soluções e solidariedade. Destaca-mos a importância da Praça Dona Mocinha para a

comunidade do bairro Niterói, entendemos que ela faz parte da história da cidade e principalmente das pessoas, dotada dos mais diversos significados.

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A tecnologia da guerra nos relevos Neo-Assírios

RICARDO SILVA SERRES1

SANDRO TEIXEIRA DE OLIVEIRA2

SIMONE SILVA DA SILVA3

JÉSSICA SANTOS DE LIMA4

KATIA MARIA PAIM POZZER5

RESUMO

O presente artigo se propõe analisar a representação da guerra nos relevos parietais assírios. Neste estudo o foco está nos aspectos tecnológicos de guerra, tais como, armas e carros de batalhas, além de táticas e estratégias, que foram imortalizadas na arte de esculpir relevos na Assíria do I milênio a.C. Tais obras transmitem men-sagens veiculadas por intermédio das cenas bélicas, onde o simbolismo, presente nos relevos, servia como uma linha reguladora e normativa da ideologia assíria, frisando o aspecto guerreiro que caracterizou um dos maiores impérios do Antigo Oriente Próximo.

Palavras-chave: Guerra, assíria, representação, tecnologia, mesopotâmia.

1 Pós-Graduando do Curso de Patrimônio Cultural e Identi-dades/ULBRA, Bolsista AT/CNPq

2 Acadêmico do Curso de História – Bolsista Voluntário PROICT/ULBRA

3 Acadêmica do Curso de História/ULBRA – Bolsista IC/FAPERGS

4 Acadêmica do Curso de História – Bolsista PROICT/ULBRA5 Professora - Orientadora do Curso de História/ULBRA. Co-

ordenadora do Laboratório de Pesquisa do Mundo Antigo ([email protected])

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ABSTRACT

This article aims to analyze the representation of war in the parietal Assyrian reliefs. In this study the focus is on technological aspects of war such as guns and cars of battles, besides the tactics and strategies, which were glorified in the art of sculpting Assyrian reliefs in the I millennium BC These works represent messages through scenes of war where the present symbolism in reliefs served as a regulatory and normative line of Assyrian ideology, emphasizing the warrior aspect that characterized one of the greatest empires of the Ancient Near East.

Key words: War, assyria, representation, technology, Mesopotamia.

INTRODUÇÃO

A guerra tem sido ao longo das gerações um tema muito pertinente dentro da historiografia. Evento que perpassa todos os períodos da história, ela se caracte-riza conforme a conjuntura ideológica e a herança cultural de cada sociedade numa determinada época. O exército neo-assírio ficou conhecido no I milênio a.C. como um referencial de poder e indestrutível força militar. Eventos belicosos, batalhas violentas, cercos e táticas de guerra se fazem presentes em vários documentos históricos deste império, peculiaridade que o destacou por constituir um exército de exímios guerreiros no Antigo Oriente Próximo. No caso desta pesquisa o foco volta-se para os documentos de teor iconográficos do I milênio a.C. (Figura 1).

Figura 1 - Mapa da Mesopotâmia.

A organização de uma poderosa força militar tem suas características presentes na formação tática dos chefes guerreiros, mas, também, na intenção de vários soberanos em constituir uma instituição belicosa, capaz de dar uma resposta armada ao inimigo em qualquer ocasião. A formação de um exército poderoso não ocorreu em um período determinado no império neo-assírio, mas sim, ao longo de um processo de vários períodos e reinados da história, como no de Sargão (721-705 a.C.) e seus sucessores: Se-naqueribe (704-681 a.C.), Assarddon (680-669 a.C.). Porém, foi no reinado de Assurbanipal (669-630 a.C.), que tal formação tomou maiores proporções (VILLARD, 1991, p.42).

É relevante entender como o império se utilizou de determinadas táticas para, de certa forma, viabilizar economicamente este desen-volvimento bélico. Uma destas táticas foi o da pilhagem, ou seja, o saque praticado por tropas militares quando ocupavam uma cidade inimiga (VILLARD, 1991, p.44).

Neste contexto, pode-se dizer que a organização militar assíria, para ter êxito, necessitava adquirir meios econômicos para custear as campanhas armadas e, também, o recurso de recrutamento

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existente no império, o que responde, em parte, o potencial militar deste povo. O quadro funcional dos batalhões de guerra à disposição do exército estava relacionado ao grande número de pessoas da população sujeita a figura imponente do soberano da Assíria. Além de uma guarnição de soldados preparados para o exercício da vida militar, o exér-cito poderia contar, também, com uma parcela da sociedade que incluía o serviço militar obrigatório. Tais indivíduos recebiam a denominação de zab šarri1, e poderiam desempenhar as funções milita-res como forma de pagamento do ilku2. Os homens que desempenhavam este papel poderiam realizar serviços em troca de concessões, geralmente de terras. Eles ficavam ordenados, aos milhares, em aldeias espalhadas sob a responsabilidade dos ofi-ciais, o que facilitava a proteção das fronteiras do império e, ao mesmo tempo, uma manobra militar de ataque. Muitos destes homens poderiam ser mantidos constantemente sob a mira de armas (VILLARD, 1991, p.46).

A cultura assíria de esculpir relevos parietais, monumentais documentos históricos, dispostos nas salas dos palácios, servia muito mais do que a mera atividade artística para decoração. Eles funcionavam como um instrumento propagan-dístico da ideologia assíria, vinculada a figura do rei. As cenas de guerra, de soldados empunhando armas, cercando uma cidade inimiga, mutilando, prendendo, deportando, empalando ou cortando as cabeças dos inimigos, serviam como uma reco-mendação àqueles que circulavam pelo palácio, fossem nativos ou estrangeiros, da potência de guerra assíria e do que poderia ocorrer a todo aquele que desafiasse a ordem estabelecida. Eles poderiam, também, retratar a proteção divina, por

1 zab šarri significa, literalmente, pessoas do rei.2 ilku era um imposto que deveria ser pago em prestação de

serviços ao Estado.

meio da imagem de divindades que eram levadas para os campos de guerra e que insinuavam a le-gitimidade das campanhas militares, uma vez que, teriam a permissão dos deuses. Portanto, os relevos tinham uma função política que estava vinculada a três perspectivas distintas: a utilização de recursos violentos, protagonizados nas batalhas sangrentas; o uso de uma construção ideológica repleta de simbolismos, que podem ser encontradas tanto na produção textual quanto na visual, dada a grande quantidade de relevos parietais descobertas ao longo dos anos e, por fim, a associação da idéia de poder extremo vinculada à imagem do soberano (BACHELOT, 1991, p. 109).

MATERIAL E MÉTODOS

Pela análise da iconografia identificaremos cada símbolo existente nas imagens dos relevos. Esta análi-se prevê a identificação das características tipológicas dos personagens e dos elementos significativos das vestimentas, penteados, paisagem, armas e objetos associados. Realiza-se a descrição destas característi-cas segundo categorias distintas: as figuras humanas, a paisagem, os objetos e armamentos e os símbolos religiosos a fim de obter uma tipologização destes elementos, respeitando a ordem de leitura que se impõe nos relevos mesopotâmicos da época assíria, cuja sobreposição de planos buscava reproduzir a perspectiva. As convenções, as estilizações e os símbolos caracterizam o conjunto da obra pictórica e a tornam reconhecível como representação mesopo-tâmica. Por meio de uma versão visual, comunica-se uma realidade social que é real, reconhecível e que a ideologia dos impérios torna-a efetivamente ver-dadeira. Ao mesmo tempo, o uso de certas imagens padronizadas tem uma longa história de representa-ção na arte do Antigo Oriente Próximo, pois, serve

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para eternizar e naturalizar a legitimidade do rei e do Estado, pela via da sugestão de unidade com o passado (MARCUS, 2000, p.2487).

Foram selecionados e utilizados documentos iconográficos do império neo-assírio, por meio de uma seleção de imagens de livros e sítios de impor-tantes instituições museológicas tais como o Museu do Louvre, Museu Britânico, Museu do Pérgamo, em Berlim, o Instituto Oriental de Chicago e o Museu Nacional do Iraque.

Para este trabalho foram selecionadas três séries de documentos iconográficos, para análise em conjunto, segundo a metodologia baseada na obra de Erwin Panofsky, historiador da arte e crítico alemão, cujo postulado divide o processo de análise visual em iconografia e iconologia se direcionando para três perspectivas distintas, nesta ordem: descrição pré-iconográfica; análise iconográfica e interpretação iconológica. Pano-fsky, em seus estudos, definiu iconografia como o estudo do tema ou assunto e iconologia o estudo do significado do objeto. A iconografia é o tema e o significado das obras de arte em contraposição a sua forma e iconologia é o estudo de ícones ou de simbolismo na representação visual (PANOFSKY, 2007, p. 52).

As imagens para análise estão identificadas por Figura 2: Cerco à Lakish (BRITISH MUSEUM, 2008); Figura 3: Ataque a uma Cidade Inimiga (CURTIS e READE, 1995) e Figura 4: Cena de Batalha do Palácio de Assurnasirpal II (MESO-POTAMIA, 2009).

Figura 2 - O relevo acima foi encontrado no Palácio de Senaqueribe, em Nínive, Nordeste do Iraque, datado de aproxidamente 700 a 681 a.C. A imagem é uma representação do cerco a cidade de Lakish, confeccionada em alabastro, com dimensões de 1,67 m de comprimento por 1,90 m de altura. Encontra-se, atualmente, no Museu Britânico, tendo como referência: WA 124905-7.

Figura 3 - Este relevo foi encontrado no palácio central de Tiglath – Pileser III, em Nimrud, datado entre 730 a 727 a. C., aproximadamente. Trata-se de uma representação de um ata-que a uma cidade inimiga, provavelmente Upa, na Turquia, confeccionada em alabas-tro. Encontra-se no Museu Britânico, tendo como referencia: WA 115634 + 118903.

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Figura 4A - Relevo de Assurnasirpal II.

Figura 4B - Relevo de Assurnasirpal II.

Figura 4C - Relevo de Assurnasirpal II.

Figura 4 - O relevo acima, dividido em três partes para melhor visualização, foi encontrado no palá-cio de Assurnasirpal II, em Nimrud, datado de 865 a. C., aproximadamente. Trata-se de uma representação do ataque a uma cidade inimiga com o rei Assurnasirpal II empu-nhando um arco de flecha, confeccionado em alabastro, com dimensões de 92 cm. Encontra-se, atualmente, no Museu Britâ-nico, tendo com referência: WA 124554.

RESULTADOS PARCIAIS

Os dados apresentados neste artigo referem-se aos resultados preliminares do projeto de pesquisa em curso “A Representação da Guerra na Iconogra-fia Neo-assíria”, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – Brasil), da Fundação de Amparo à Pesqui-sa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).

Descrição Iconográfica

Os relevos parietais selecionados para o presente artigo estão acima discriminados por Figura 2: Cerco à Lakish; Figura 3: Ataque a uma Cidade Inimiga, provavelmente a cidade de Upa; Figura 4: Cena de Batalha do Palácio de Assurnasirpal II. Estes foram analisados na ordem seqüencial das figuras.

Na descrição pré-iconográfica é possível identi-ficar diferentes vestimentas usadas pelos guerreiros assírios. As vestes dos soldados são caracterizadas por elmos pontiagudos, com ou sem penachos, visíveis nos relevos 2, 3 e 4. Alguns soldados foram retratados vestindo longas túnicas, enquanto que outros vestiam curtos saiotes na altura dos joelhos. O riscado, muito peculiar na parte superior do corpo de alguns soldados, ou seja, na altura do tórax até a cintura, é visível em boa parte das três imagens. São pequenos quadrados seguidos de listras transpassadas na horizontal e na vertical salientado, em forma de colete, na parte superior do corpo. Esta imagem está muito clara no arqueiro do relevo 3.

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Dos artefatos de guerra e postos de batalhas foi possível verificar arqueiros (portando arcos e flechas) e escudeiros (com longas lanças), protegi-dos por escudos de vários formatos, retangulares, pequenos, longos e circulares. Um tipo retangular é retratado com algumas listras na vertical. Outros são mostrados com figuras triangulares em suas extremidades, dando uma noção de serem pontia-gudos. Estes vários formatos podem ser vistos no relevo 4, inclusive um dos arqueiros portando um escudo adornado com uma pequena escultura de cabeça de um leão3 na frente. É possível verificar ainda, escudos longos e grandes, que alcançam uma altura que cobre acima das cabeças dos soldados e se estende até o chão, notado no relevo 4B.

É possível perceber a presença de carros de guer-ra nos relevos 2, 3 e 4 pois, alguns foram retratados com rodas, a exemplo dos relevos 2 e 3. No relevo 4B é possível ver também aros sustentando as rodas. Geralmente os carros aparecem com um formato quadrado, como se fossem grandes caixotes com uma parte mais alta na extremidade dianteira de onde saem duas pontas dando a noção de aríetes4 e tubos expelindo água do seu interior.

Um item muito peculiar, detectado nas lajes analisadas, é a presença de estruturas íngremes em forma de rampas próximas as muralhas, sobretudo nas imagens de relevos 2 e 3.

Os arqueiros são retratados em duplas nos três relevos, sempre resguardados, ou seja, na retaguarda dos carros de combate que são representados como se estando a frente do batalhão. É possível ver al-javas5 carregadas de flechas com alguns arqueiros.

3 Leão – Animal símbolo de força e resistência, muito retratado em relevos, sobretudo em exibições de caçadas reais.

4 Aríete – Antiga máquina de guerra, formada de uma trave que terminava por uma peça de bronze à feição de cabeça de carneiro e que servia para derrubar as portas e muralhas.

5 Aljavas – Coldre ou estojo onde se colocavam as setas de

É possível ver alguns soldados cavando túneis e posicionados em trincheiras, nos relevos 2, 3 e 4. O uso de escadas também aparece nas três lajes, bem como o uso de tochas de fogo, na laje 2. O fogo representado na laje 4 aparece próximo ao carro de batalha.

Nas lajes 2 e 3 foram constatadas três figuras humanas esculpidas em um ângulo acima do solo, presas a objetos pontiagudos no formato de estacas, dando a noção de empalamento, prática comum dos guerreiros assírios.

Nos três relevos se observam imagens ao fundo com linhas mais longas, tanto na horizontal quanto na vertical, com algumas partes mais altas que formam as paredes de fortalezas e as torres. Nestas três imagens são retratadas muralhas, com soldados inimigos no topo, enquanto os soldados assírios são mostrados do lado de fora. Também é possível distinguir amplas aberturas, formadas por linhas retas, circulares e pequenos quadrados que compõem a fachada destas muralhas, intercaladas por longas torres. Algumas janelas aparecem com o formato superior arredon-dado, conforme o relevo 4. No alto dos muros que circundam a cidade sitiada aparecem formas que forjam, no topo destas muralhas, estruturas salientes, triangulares ou quadradas que se caracterizam como ameias6 pontiagudas. A impressão é de se tratar de altas muralhas em locais também muito altos, pois há, sobretudo nas imagens 2 e 3, a representação destas cidades em locais mais altos do que o solo.

Os derrotados eram aprisionados e levados, bem como os seus objetos pessoais, em um procedimento de pilhagem7. Os animais, como os cavalos e o gado

flechas e que se trazia pendente no ombro.6 Ameias – Cada um dos pequenos parapeitos dentados que

guarneciam o alto das fortificações ou dos castelos, e que protegiam os atiradores.

7 Pilhagem – Era o saque praticado pelos exércitos que toma-vam uma cidade após vencê-la em batalha.

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em geral, eram somados aos espólios de guerra e serviriam, posteriormente, para o transporte de carga e, também, de alimento para os soldados. Nos três relevos aparecem alguns corpos caindo das muralhas.

A representação física é um detalhe evidenciado nas diferenças tipológicas dos corpos: olhos, barba, cabelos longos, boca, braços e pernas. No relevo 4 há a presença de três mulheres com os braços levantados, a primeira, da esquerda para a direita, com os dois braços e as mãos postas na cabeça, a segunda, com a mão direita sobre a cabeça e a mão esquerda sobre a cabeça de uma criança. A tercei-ra figura feminina está com a mão direita sobre a cabeça, mas, com o braço direito em direção ao chão. As três aparecem sendo escoltadas por um soldado assírio.

Análise Iconográfica

A arte neo-assíria de esculpir relevos parietais tinha um compromisso em materializar todas as ações deste império, desde momentos de lazer, caça-das, cerimônias religiosas, mas, sobretudo a guerra, característica deste povo e foco deste estudo. Um exemplo desta ação são as várias lajes que ilustraram os palácios e retrataram os soldados em batalhas. Em uma das três lajes, no relevo 4A, é possível ver até a presença do rei Assurnasirpal II (884-859 a.C.) e do então príncipe Salmanasser, (que reinaria como Salmanesser III 859-824 a.C.), em campanha. O rei, apontando o seu arco é retratado em uma comitiva, com um escudeiro e dois funcionários mais atrás, um está portando uma aljava carregada de flechas enquanto o outro segura um parasol. As aljavas eram feitas de couro de animais e o parasol tinha uma estrutura de madeira recoberta por pele de animais para resguardar o rei, possibilitando

sombra nos dias de sol e proteção nos dias de chuva (MESOPOTAMIA, 2009).

Os três relevos mostram táticas de guerra e de sítio a uma cidade inimiga, cercada por altas mu-ralhas com janelas e ameias em seu topo por onde os inimigos dos assírios se protegiam das flechas e lanças arremessadas.

Os carros de combates foram, certamente, um prenuncio do que seriam os modernos tanques de guerra. Feitos em madeira e recobertos com uma grossa camada de couro. No seu interior havia uma espécie de depósito com pipas de água que jorravam para fora do carro, em tubos para combater possíveis focos de incêndio, pois, uma prática muito comum era o arremesso de tochas e flechas incendiárias, conforme a imagem do relevo 2. As máquinas eram, presumivelmente, movidas pelos homens, pois um animal poderia entrar em pânico no momento da batalha. Nos relevos 2 e 4, os carros de guerra são representados jorrando água de seu interior (CUR-TIS e READE, 1995, p. 60).

Rampas íngremes, visíveis nos relevos 2 e 3, eram construídas pelos soldados para aproximá-los dos muros da cidade inimiga e possibilitar o acesso dos carros de guerra. Também formavam trincheiras para que os soldados se protegessem dos ataques de flechas e de pedras que também poderiam ser arremessadas.

Os arqueiros formavam uma categoria a parte. Eles eram oficiais e foram esculpidos sempre atrás dos carros de combate. Esta se caracterizava por uma estratégia de guerra: primeiramente os car-ros, seguidos de duplas de soldados na retaguarda. Percebe-se que estas duplas eram compostas de um escudeiro que fazia a proteção do oficial arqueiro. Havia várias formas de escudos, dentre eles, arre-dondados, curtos, retangulares, confeccionados

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em metal, bronze, ferro, e alguns, ainda poderiam receber uma cobertura de vime em seu exterior. Havia também, escudos repletos de pontas que tinham uma dupla função, ou seja, de proteger o soldado assírio e de ferir o inimigo. Os escudos pon-tiagudos poderiam ser também, ornamentados com uma cabeça de leão na sua face dianteira como, por exemplo, no relevo 4 (MESOPOTAMIA, 2009).

Os arcos de flechas eram confeccionados a partir da combinação de diferentes materiais, sobretudo de uma madeira maleável, fácil de obter curvatura e de manuseá-la.

As armaduras protegiam o tórax e compunham o vestuário de um soldado assírio. O terno de armadura era confeccionado com pequenas placas de bronze e costurado com tiras de couro ou tendão. Este artefato servia de blindagem para alguns soldados contra as flechas, arco e pedras atiradas pelos inimigos.

As espadas que poderiam ser de ferro tinham longas bainhas decoradas. As adagas eram feitas de bronze ou ferro. Algumas poderiam ser decoradas apresentando motivos com embutidos (entalhados) de madeira, osso ou marfim.

As lanças também tinham um papel importante no armamento do exército assírio. Confeccionadas em madeira possuíam, em uma das duas extremi-dades, uma folha de bronze ou ferro em forma de triangulo. Elas poderiam, também, serem ornamen-tadas com borlas8 anexadas na outra extremidade (MESOPOTAMIA, 2009).

Na imagem 4 é possível ver o uso de alavancas confeccionadas de bronze ou ferro com formato de pás que serviam para escavar túneis por baixo das muralhas e assim, possibilitar um acesso subterrâ-

8 Borlas – Bola decorativa com franjas ou tufo redondo com-posto por fios no topo dos mastros.

neo a cidade sitiada. Também era possível, com esta prática, retirarem os tijolos dos muros e torná-los frágeis a ponto de ruir a estrutura ou parte dela.

Outra tática utilizada nos cercos as cidades era o uso das escadas que tinham como matéria prima o choupo9, uma espécie de árvore alta e reta. Todavia, não se descarta a utilização de outro tipo de madei-ra. Uma vez que as hordas de guerreiros tivessem alcançado os muros da cidade as escadas serviriam para introduzí-los no interior da fortaleza.

Os três relevos mostram ainda, a disposição dos soldados fora dos muros da cidade sitiada. Eles foram representados por todos os ângulos do relevo. Isto demonstra a tática de cercar e impedir a saída dos inimigos para fora das muralhas. As batalhas poderiam durar meses, visto que, se construíam rampas para ultrapassar as muralhas. Tal prática necessitava de um grande projeto de arquitetura que poderia durar várias semanas para tomar forma. A mobilização de soldados, funcionários e obreiros nos arredores das cidades, para preparar o ataque e a invasão à cidade inimiga, também, servia para reforçar o estado de sítio dos adversários, uma vez que, por não poderem sair ou comercializar, com o passar do tempo, levaria a escasses de alimentos, algo previsível e que levaria à morte de centenas de pessoas vitimadas pela fome ou desnutrição.

Interpretação Iconológica

Os gestos, motivos e expressões deixadas ao longo da criação artística dos artesãos reais não eram meras esculturas. Eles estão carregados de significados, de pensamentos e de ideais. Há um reconhecimento da supremacia militar assíria. Tal supremacia era endossada pela idéia da proteção divina nos combates. Exemplo disto é a presença 9 Choupo – Árvore da família das Salicáceas.

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de alguns símbolos religiosos como o detectado no relevo 4. Trata-se de uma pequena figura do deus Aššur10, acoplada ao carro de batalha. Tais imagens eram feitas de metal e levadas para as batalhas. Este ato significava que os deuses estavam do lado dos guerreiros assírios.

Outro item importante é a representação de hierarquia presente nas vestes dos soldados. Alguns soldados usam curtos saiotes na altura dos joelhos, enquanto que as túnicas longas eram peculiares dos oficiais ou dos altos funcionários assírios. Já o rei assírio Assurnasirpal, retratado no relevo 4, aparece vestindo uma longa túnica decorada com nítidos bordados. Estas eram, provavelmente, confecciona-das em lã ou linho colorido, amarradas na cintura com um largo cinto e representavam em sua beleza e riqueza de detalhes e cores, a magnificência da figura do rei, que é representado sempre em formato maior, destacando-se do restante dos personagens de uma determinada cena. Esta representação de dimensões maiores é perceptível e corresponde ao significado de Lugal11 dado ao soberano. Esta grandeza está relacionada à importância do rei, e por isso, reconhecido, inclusive na arte assíria como um homem maior que todos os outros seres, ou seja, mais forte, corajoso e poderoso.

A imagem dos derrotados também é muito marcante. Eles geralmente são retratados em fi-leiras, segurando sacos nas costas que indicam o carregamento de pertences, como no relevo 2, por exemplo. Em algumas imagens eles foram retratados com as mãos na altura da cabeça, como no relevo 4, indicando a típica “mãos ao alto” dos submetidos à força das armas. Estas imagens indicam, ainda, o

10 Aššur – Denominação de uma divindade suprema do panteão assírio, relacionada com a vegetação. O prefixo Aššur foi utilizado no nome de muitos reis da Assíria.

11 Lugal – Na língua suméria LUGAL significa, literalmente, o homem grande, isto é, o rei.

sofrimento e a tristeza dos cativos pelas conseqüên-cias da derrota, fosse pela perda de seus objetos ou da liberdade, quanto pelos castigos que poderiam receber (MESOPOTAMIA, 2009).

Os abutres que aparecem no relevo 4 significam a carnificina que, de uma forma ou de outra, sempre ocorreu nos confrontos militares. Ávidos por carni-ça estes animais devoravam os soldados mortos ou os agonizantes estirados pelo território da batalha e certamente lavados em sangue.

Muitas figuras humanas foram esculpidas sem os membros, sobretudo as cabeças. Esta era uma forma peculiar e cruel dos assírios de contabilizar o número de inimigos mortos. A relevância de cenas como estas, de teor sanguinário, serem retratadas nos relevos, está relacionada às estratégias políticas e ideológicas de transmitir, aos possíveis adversários, a mensagem de que o exército assírio é capaz de abater seus inimigos. Tal procedimento funcionava como uma espécie de propaganda da “máquina de guerra” assíria. O ato de empalar também signifi-cava uma forma de intimidação aos prisioneiros sobreviventes.

No relevo 2, a noção de altitude da fortaleza é representada pelo plano inclinado da imagem. Já na imagem 3, a possível elevação das muralhas está caracterizada por uma linha ondulada na qual o carro de guerra é retratado em direção aos altos muros. Também houve uma preocupação com a profundidade na imagem das muralhas e que foram esculpidas num nível mais elevado do painel. Esta profundidade dá a idéia de perspectiva de altitude.

As expressões físicas das imagens falam por si só. Os soldados assírios aparecem fortes e robustos. A musculatura dos soldados é minuciosamente escul-pida no dorso das pernas e braços, como no exemplo

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nítido dos relevos 3 e 4. Os rostos são representados com semblantes sérios e compenetrados no momen-to da batalha ou enquanto conduzem os cativos deportados, como nos relevos 3 e 4. Os prisioneiros também eram retratados com feições de seriedade ou tristeza pela incerteza de seus destinos.

No relevo 4 esta perspectiva é muito forte na imagem de mulheres cativas com as mãos na cabeça e levando uma criança consigo, tendo sua cabeça afagada por uma das mulheres. Crianças eram retratadas apenas na presença de mulheres. Por sua vez, mulheres apareciam muito pouco em relevos assírios. Nas deportadas há traços mais delicados enquanto no soldado que as escoltam percebe-se o uso da barba, item muito comum na maioria dos homens e, também, muito evidente nos soldados, como nos relevos 3 e 4, com exceção dos eunucos.

A arte de esculpir relevos no império neo-assírio, ao mostrar os eventos relacionados com a guerra, retrata, entre outras coisas, a capacidade deste povo em mobilizar recursos econômicos e humanos, como o ilku, por exemplo, para as cam-panhas militares. A mobilização de tais recursos explicaria, parcialmente, como este império tornou-se um dos mais poderosos e belicosos da antiguidade (VILLARD, 1991, p. 42).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desta aproximação as imagens se pres-tam a reflexões sobre o potencial do imaginário coletivo. Os relevos, em sua maioria, situavam-se nas salas dos palácios, local de circulação restrita, freqüentadas somente pela corte, pelo rei, altos funcionários e embaixadores estrangeiros. A re-presentação das batalhas, em uma demonstração

de poder hegemônico, era absorvida pelo imagi-nário daqueles que conviviam com o soberano e tinham a intenção de transmitir, para além das fronteiras geográficas do reino, o poderio bélico, com desenvolvimento técnico e tático de guerra, capaz de aprisionar, mutilar, sitiar e destruir todo aquele que subestimasse o exército imperialista assírio. Neste contexto é pertinente salientar a função política e ideológica dos relevos parietais como um instrumento propagandístico da força e, consequentemente, da destacada autoridade, autenticidade e respeito com a qual o “outro” deveria ver o império neo-assírio. A representação do “outro” poderia estar ligada tanto ao inimigo, estrangeiro ou autóctone, como aos funcionários de altos escalões dotados de grande poder e in-fluência.

A capacidade de mobilizar recursos bélicos para a formação de uma potência armada estava ligada à extraordinária administração disseminada pelas províncias do império. As armas surgem no século IX a.C. Neste período os cavaleiros ainda combatiam em duplas, enquanto um guiava as rédeas dos cavalos, o outro manipulava o arco de flecha. O condutor do carro e a função de arqueiro eram posições de prestí-gio, ou seja, armas nobres por excelência, tanto que, o soberano, quando era representado em relevos de batalhas, aparecia sempre em alguma destas frentes.

REFERÊNCIAS

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Análises comparativas dos acervos de dois sítios arqueológicos históricos e urbanos

(Guaíba e Porto Alegre/RS)

SIMONE RIBEIRO BOULHOSA1

GISLENE MONTICELLI2

ÂNGELA MARIA CAPPELLETTI3

PRISCILA PEDROSO DIAS4

LISIANE DA MOTTA5

ISABEL CRISTINA GOMES6

JOCYANE RICELLY BARETTA7

RESUMO

O presente trabalho consiste em analisar e comparar as diversas evidências materiais encontradas durante a realização das intervenções arqueológicas que ocorreram em dois locais: no restauro arquitetônico da Casa Gomes Jardim, em Guaíba, e nas obras do Conduto Forçado Álvaro Chaves Goethe, em Porto Alegre, e na apresentação dos resultados parciais da análise das louças.

Palavras-chave: Análise comparativa, acervos, sítios arqueológicos, históricos e urbanos.

1 Licenciada em História (ULBRA, 2008), Bolsista PROICT/ULBRA

2 Professora - Orientadora do Curso de História/ULBRA e Coordenadora do Laboratório de Arqueologia e Etnologia (LAE) do Museu de Ciências Naturais (MCN), ULBRA

3 Arqueóloga do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA)

4 Licenciada em História (ULBRA, 2007), Pesquisadora do LAE/

MCN-ULBRA5 Especialista em Memória Social e Identidades (ULBRA, 2007),

Pesquisadora do LAE/MCN-ULBRA6 Acadêmica do Curso de História /ULBRA, Estagiária do LAE/

MCN – ULBRA7 Acadêmica do Curso de História/ULBRA, Estagiária do LAE/

MCN – ULBRA

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ABSTRACT

This paper is to analyze and compare the various material evidence found during the implantation of in-terventions that occurred at two archaeological sites: the architectural restoration of the Casa Gomes Jardim in Guaiba, and the works of Conduct Forced Álvaro Chaves Goethe, in Porto Alegre, and the presentation of partial results of the analysis of pottery.

Key word: Comparative analysis, collections, archaeological sites, historical and urban.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho consiste em apresentar resultados parciais sobre a análise dos artefatos obtidos nas pesquisas arqueológicas realizadas em duas obras. Uma refere-se ao monitoramento arqueológico do Conduto Forçado Álvaro Chaves – Goethe (Porto Alegre) e a outra a obras do restauro arquitetônico da Casa Gomes Jardim (Guaíba).

As pesquisas permitiram a obtenção de um grande número de evidências materiais como fragmentos de louças importadas e nacionais, fragmentos de vidros, cerâmicas indígenas, couro, carvão, material construtivo e outros.

Este trabalho consiste em analisar e comparar as diversas evidências encontradas durante a realiza-ção dessas obras. Ambas encontram–se encerradas. Apenas a Casa Gomes Jardim ainda funciona como um sítio escola, aberto a visitação, onde alunos do curso de Graduação e Pós-Graduação em História da Ulbra podem vivenciar a rotina da pesquisa em campo.

A casa está situada na região central do mu-nicípio de Guaíba (Figura 1). Ela foi construída em 1790, pelo sesmeiro Antônio Ferreira Leitão, para servir de sede para sua estância. Mais tarde, a partir de 1800, a casa torna - se a residência de

Isabel Leonor Ferreira Leitão e de Gomes Jardim, que se casou com a filha de Antônio e passa assim a administrar a fazenda. A residência ficava localizada no Distrito de Pedras Brancas, pertencente a Porto Alegre até 1926 (hoje município de Guaíba) e foi a partir dela que a região começou a ser colonizada.

Existem registros de sítios arqueológicos de grupos caçadores – coletores e ocupações de índios ceramistas Guarani, encontrados no município de Guaíba. Soma–se a isto, o fato de que o local onde se encontra a casa está no alto do morro e próximo ao Lago Guaíba, ou seja, em posição privilegiada. Então, se imagina que o lugar tenha servido como habitação, passagem ou acampamento para popu-lações indígenas em tempos pré–históricos (DIAS, 2007, p. 2 apud PROJETO, 2006).

A área serviu de escola e armazém de secos e mo-lhados. Na década de 1930, a antiga sede, com a casa e parte do terreno inicial, passou a pertencer à família Leão. Hoje a casa é dividida em duas partes: uma de propriedade do Sr. Gastão Leão, e a outra pertencen-te a Sra. Tais Leão, sua filha. Durante o século XX, acompanhando o processo de urbanização, o prédio sofreu algumas alterações em sua fachada, sendo apli-cada, por exemplo, uma platibanda, de acordo com o estilo eclético clássico, e instaladas calhas, atendendo a legislação municipal (PROJETO, 2006).

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Figuras 1 - Fachada da Casa Gomes Jardim antes e depois das obras do restauro.

Gomes Jardim viveu entre 1783 a 1854, era con-siderado médico prático, sem formação acadêmica, mas usava de seus conhecimentos homeopáticos para tratar os doentes. Foi um personagem de des-taque da Revolução Farroupilha (1835-1845) e o primeiro presidente da República Rio-Grandense. Ele assumiu o lugar de Bento Gonçalves, quando o líder esteve preso na Bahia, e organizou a primeira tropa de soldados para invadir Porto Alegre.

Através da iniciativa e dos esforços da família, a casa foi tombada em 1994 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado/RS (IPHAE), que reconheceu seu valor histórico para cidade e estado. A casa é uma das mais antigas construções do município e em seu entorno se encontram outros lugares que fazem parte do seu contexto como os restos mortais de Gomes Jardim (que ficam na Praça com seu nome), a Praça e a Igreja Nossa Senhora do Livramento que foi a primeira capela na região.

Assim juntamente com o restauro da casa, foi realizado um acompanhamento arqueológico com o objetivo de resgatar as evidências materiais de antigas ocupações humanas que ali poderiam ser

encontradas e poder avaliar as diferentes ocupações que naquele lugar estiveram. O responsável pelo trabalho em campo foi o arqueólogo Junior Mar-ques Domiks, juntamente com alunos voluntários do Curso de Historia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA/Canoas).

O monitoramento arqueológico no Conduto Forçado Álvaro Chaves – Goethe (Porto Alegre) foi implantado pelo Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), como um sistema de proteção contra as enchentes e é a maior obra de drenagem urbana executada na cidade nos últimos 30 anos. No passado a cidade sofreu uma série de graves enchentes, tendo sido a principal em 1941, quan-do o centro ficou submerso aproximadamente por 30 dias.

Houve um monitoramento arqueológico em todas as escavações executadas pela equipe da obra, o que totalizou 26 ruas localizadas em quatro bairros divididos em três lotes (Figura 2). O trabalho consistia em realizar o acompa-nhamento em cada abertura de sondagem de vala e efetuar o registro e a coleta dos vestígios arqueológicos evidenciados. Esse monitora-

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mento está vinculado ao Programa de Arque-ologia Urbana de Porto Alegre, do Museu Joaquim José Felizardo – órgão da Secretaria Municipal da Cultura, que possui autorização do Instituto do Pa-trimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para as intervenções arqueológicas na cidade e está sob a coordenação da Arqueóloga Fernanda Bordin Tocchetto. Desta forma, a guarda e a curadoria do acervo ficarão. Ao final da pesquisa, sob os cuidados do referido Museu.

Todo o material encontrado durante a realização do monitorameto foi devidamente identificado e acondicionado, e o trabalho de limpeza, quantifi-cação, catalogação e análise estão sendo realizados no Laboratório de Arqueologia e Etnologia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em Canoas, através de um acordo entre a Prefeitura e o Departamento de História da Universidade. A responsável pelo trabalho de monitoramento nas obras foi a Arqueóloga Ângela Maria Cappelletti.

Figuras 2 - Monitoramento arqueológico das obras do Conduto Forçado.

O objetivo deste trabalho consiste em analisar e comparar as diversas evidências encontradas du-rante a realização das intervenções que ocorreram nos dois locais e na apresentação dos resultados parciais da análise das louças. Essas evidências ma-teriais permitem identificar os diferentes hábitos e costumes da população que viveu em Porto Alegre, durante os séculos XIX e XX.

MATERIAL E MÉTODOS

Praticamente todo o material já está limpo e organizado, e neste momento os fragmentos de

louças e vidros passam por análises individuais. O material arqueológico da Casa Gomes Jardim se encontra analisado no que diz respeito às louças. Já quanto ao material do Conduto Forçado, as louças e vidros ainda estão passando por esse processo. Cabe ressaltar que a louça já examinada do Conduto Forçado diz respeito a apenas a Rua Santa Rita, que por vez apresentou diferentes categorias de deposição de material arqueológico, algumas clas-sificadas como Áreas de Ocorrência Arqueológica, outra como sítio arqueológico, devendo assim ser analisada separadamente.

A análise foi individual, ou seja, trabalhou-se com cada área de ocorrência arqueológica,

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identificada nessa rua, separada da parte que foi considerada sítio histórico. As peças de louça fo-ram classificadas primeiramente pelo tipo de pasta (faiança fina, porcelana, etc.) depois se observou

a possibilidade de colar os fragmentos que faziam parte de uma mesma peça, na seqüência o mate-rial foi dividido pelo tipo de esmalte e pelo tipo de decoração.

Figuras 3 - Análise dos fragmentos de louças.

Posteriormente foram elaboradas fichas de iden-tificação para as peças, nas quais deveriam constar todas as informações, além do tipo de peça que se formava, tais como malga, xícara, pires, prato, etc. Através dessas análises, foi possível identificar suas decorações, períodos de fabricação e até mesmo as marcas dos fabricantes e país de origem.

Com relação às louças encontradas na Casa Go-mes Jardim, a maneira de se trabalhar foi diferente, pois a escavação ocorreu através de quadrículas. Assim tivemos a oportunidade de analisar o mate-rial arqueológico de forma unificada. Deste modo, vários fragmentos puderam ser reunidos, enquanto outros não foram identificados.

O objetivo era tentar reunir e identificar o maior número de fragmentos que fizessem parte de uma mesma peça. Após o exame de ambos os materiais, foram preenchidas as fichas de análise para a con-tagem e identificação desse material.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante as análises e comparações realizadas, foram encontrados vários tipos de louças com téc-nicas e decorações semelhantes nos dois trabalhos. Em ambos os acervos as decorações com o Padrão Trigal, o Transfer Printing e o Decalco estavam pre-sentes (Figura 4). Com relação ao Padrão Trigal, du-rante as pesquisas foram identificadas tanto marcas nacionais quanto marcas importadas. Além disso, destacam-se algumas marcas, como as inglesas W & E. Corn, produzida entre 1890 e 1903 (KOVEL, 1996) e Johnson & Bros, cuja datação do carimbo da marca ainda não foi encontrada.

No momento os trabalhos estão concentrados na investigação da origem da técnica decorativa com a utilização do Estêncil. Esta técnica consiste na pintura das superfícies das louças – tanto interna quanto externamente – utilizando-se um molde vazado.

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Considera-se que esta técnica de decoração para louças de mesa tenha sido uma criação das fábricas nacionais do século XX. Em diferentes pesquisas não se verificou, até o presente momento, a ocorrência de louças com marcas de fábricas estrangeiras com essa técnica decorativa. Pelo contrário, as marcas de fabricantes, quando aparecem, são sempre nacionais (BOULHOSA et al, 2008).

Sabemos que no início da produção nacional de louças de mesa, imitavam-se as técnicas decorati-vas, os padrões e motivos, sobretudo, das fábricas européias, como o Transfer Printing, o Decalco e o Trigal, entre outros.

Esta investigação ainda está em fase inicial. A informação já obtida indica que os motivos deco-

rativos apresentados nessas louças (na maioria dos casos, florais, mas também geométricos) tiveram inspiração em revistas de época, como foi relatado em estudo sobre a fábrica Rio Branco, da cidade de Campo Largo, Paraná, segundo pesquisa realizada por Carviquiolo e Kistmann (2007).

A presença da técnica de decoração Estêncil, do século XX, é uma evidência comum entre os dois acervos. Além disso, podemos destacar outros tipos de materiais também encontrados como as pastas Ironstone, Porcelana, e a louça com pasta vermelha e utilizada em piquenique (SCHÁVEL-ZON), não muito comum devido ao número de peças encontradas em ambos os acervos, além da faiança portuguesa, louça encontrada apenas na Casa Gomes Jardim.

Figuras 4 - Detalhe das técnicas Transfer Printing e Estêncil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises das louças da Casa Gomes Jardim já foram concluídas. Ainda é necessário a finali-zação das análises das louças do Conduto Forçado Álvaro Chaves, além disso, devemos ressaltar que as louças são apenas uma parte do projeto a ser realizado. Faltam ainda ser realizadas às análises

dos demais materiais como o vidro, os metais, ossos, entre outros.

Podemos dizer que essa análise nos forneceu uma pequena parte de algumas informações sobre o modo de vida e de consumo da população na época, em ambas as margens do lago Guaíba nos séculos XIX e XX, e que ainda serão complementadas no final das análises.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a PROICT/ULBRA pela bolsa de Iniciação Científica; a professora Gislene Monticelli, pela orientação e oportunidade de iniciação na pesquisa, pelo incentivo e pela li-berdade de trabalho; a arqueóloga Ângela Maria Cappelletti, pela paciência, pela disposição de dividir seus conhecimentos, por todo o apoio; as minhas amigas Priscila Pedroso Dias, Isabel Cristina Gomes, Lisiane da Motta e Jocyane Ricelly Baretta, pela grande colaboração e auxílio durante as pesquisas e, finalmente, aos colegas do Curso de História, que passaram pelo LAE durante esse ano de 2008 e que apóiam o trabalho que realizamos.

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Educação de Jovens e Adultos: investigação sobre os processos

de fatoração numérica e algébrica

LUIZ EDUARDO CORNELIO1

OCSANA SÔNIA DANYLUK2

CARMEN HESSEL PEIXOTO GOMES3 MAGDA INÊS MOREIRA4

RESUMO

Na educação de Jovens e Adultos (EJA) do Ensino Médio, geralmente os estudantes encontram dificuldades na decomposição de um número em fatores, impedindo-os de identificar os múltiplos e de divisores de um número. O método de Fermat para fatorar números usando a diferença entre dois quadrados nos motivou a investigar os processos de fatoração em classes de EJA. O objetivo desta pesquisa é analisar a compreensão dos estudantes sobre fatoração numérica usando o ábaco, e sobre fatoração algébrica usando o método de Fermat. A pesquisa é de cunho essencialmente qualitativo e o método utilizado é o fenomenológico-hermenêutico. Os sujeitos da pesquisa têm idade entre 18 e 43 anos, sendo que os resultados parciais mostram que os estudantes da classe pesquisada desconheciam o significado de fatores. Entretanto, constata-se que os mais jovens conseguiram, sem dificuldades, realizar a decomposição de um número em fatores.

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos, métodos de ensino, processos de fatoração, método sistemático de Fermat, ábaco.

1 Acadêmico do Curso de Matemática - Licenciatura Plena/ UPF2 Professora do Curso de Matemática - Licenciatura Plena/ UPF

3 Professora do Curso de Matemática - Licenciatura Plena/ UPF4 Professora do Curso de Matemática - Licenciatura Plena/ UPF

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ABSTRACT

In the education of Youth and Adults (EJA) of high school, students often encounter difficulties in the de-composition of a number of factors, preventing them from identifying and dividing multiples of a number. The method for factors of Fermat numbers using the difference between two squares in motivated to investigate the process of factorization in classes of EJA. The objective of this research is to analyze the students’ understanding of numerical factorization using the abacus and on algebraic factorization using the method of Fermat. The research is mainly qualitative in nature and the method is the phenomenological-hermeneutic. The research subjects are aged between 18 and 43 years, and the partial results show that students know the class investigated the signifi-cance of factors. However, it appears that younger people have, without difficulty, perform the decomposition of a number of factors.

Key words: Adult and youth education, teaching methods, processes factorization, systematic method of Fermat; Abacus.

estudante a importância dos termos da operação realizada; ou seja, não é ressaltada a linguagem matemática, ficando assim os termos multiplicando, multiplicador ou fatores sem sentido e significado para o estudante.

Desse modo, a linguagem matemática, bem como a compreensão do tema ficam relegados ao esquecimento. Por outro lado, o modo como muitas vezes é ensinado ao estudante também faz com que este não relacione o ensinamento a outro que virá mais tarde na construção da matemática. Por isso, entendemos que os jovens e os adultos, os sujeitos de nossa pesquisa, tiveram dificuldade em responder o que é fator, não compreendendo que fatorar um número é encontrar uma multiplicação de números da qual resulte o número a ser fatorado. Para nós professores de matemática é simples: 50 = 25 x 2; 144 = 12 x 6 x 2 ou então, que 144 é o mesmo que:

a)122 ou seja 12 x 12

Ou ainda:

b)2 x 2 x 2 x 2 x3 x 3 = 24 x 32

INTRODUÇÃO

Quando se fala em fatoração numérica ao estudante da 5a série do ensino fundamental, normalmente não conseguimos remetê-lo à si-tuação de quando ele aprendeu a operação de multiplicação. Desse modo, para muitos deles o significado de fatoração parece desconhecido e, por conseqüência, o significado da palavra fator lhes é estranho e, ainda, que os números primos causam confusão. Caso essas relações não sejam realizadas fica a impressão de que aquilo que aprenderam no passado não importa. No entanto, essa discussão é necessária, pois, do contrário, muitos conceitos são abandonados e esquecidos, causando assim grandes prejuízos à aprendizagem matemática.

Nas primeiras séries do ensino de matemática os estudantes aprendem o que é fator. Quando apren-dem a “tabuada”, que continua sendo “tabuada na cabeça dos estudantes de muitas classes escolares”, os termos da operação são multiplicados, ou seja, o multiplicando e o multiplicador, são denominados fatores. Na maioria das vezes, no entanto, não é levado em conta nem pelo professor e nem pelo

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Em “b” temos fatores primos que mostram a decomposição multiplicativa de 144.

Para Rodrigues Neto (2009, p.1), “a fatoração é um recurso usado para auxiliar e estudar melhor os números com o objetivo de aperfeiçoar o cálculo”. Dessa forma, ao invés de termos um conteúdo onde os estudantes não vêem sentidos e nem significado, podemos transformar em nossas salas de aula a fa-toração num conhecimento fácil e divertido, sendo apreendido com significado e tendo aplicações em vários outros assuntos matemáticos. Estes são elos necessários para que os estudantes percebam o significado dos conteúdos que estão aprendendo.

Ao fatorar um número qualquer, geralmente, o estudante não chega a perceber que está realizando o exercício de transformar um número diferente de zero, em uma operação de multiplicação, com pelo menos dois fatores. Em palavras simples, o estudante poderia lembrar a fatoração, que vem da multiplicação e vem de transformação de números em fatores.

Quando bem compreendido pode ser um exce-lente recurso mental, ou de jogo de cálculo mental. Segundo Rodrigues Neto (2009, p.1): ”se os núme-ros não forem primos poderão ser transformados em multiplicação de outros dois números, permitindo a construção de um jogo de cálculo mental”.

Diante do que estamos expondo ficam as indagações: Porque nossos estudantes, desde a segunda série do ensino infantil e após na sexta e sétima séries do ensino fundamental e, ainda, no ensino médio e na educação de jovens e adultos, não conseguem lembrar, ou melhor, construir esse conhecimento? Por que não identificam que fatorar é transformar números em multiplicação? Por que esquecem que fatorar um número é escrevê-lo na forma de multiplicação ou potenciação, na condi-

ção de que os fatores ou as bases sejam números primos?

Dessa forma, esse método nos motivou a in-vestigar os processos de fatoração em classes de EJA, e assim nossa questão norteadora inicial foi: estudantes da EJA conseguem compreender a fatoração de números ímpares usando o ábaco e o método sistemático de Fermat?

A motivação inicial da pesquisa originou-se de uma proposta de trabalho realizada na disciplina de Metodologia do Ensino da Matemática, na qual os alunos foram instigados a buscar diferentes meto-dologias para a prática de ensino. Os resultados da proposta em sala de aula foram positivos, levando-nos à criação deste projeto de pesquisa.

A pesquisa, portanto, tem por objetivo analisar a compreensão dos estudantes de EJA sobre fato-ração numérica usando o ábaco, e sobre fatoração algébrica usando o Teorema de Fermat.

Sabe-se que na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Ensino Fundamental e Médio os estu-dantes geralmente encontram dificuldades na decomposição de um número em fatores, talvez por não compreenderem tanto o significado da palavra “fatorar” quanto os algoritmos usados para o processo de fatoração. Disto decorre a não iden-tificação de múltiplos e divisores de um número e, conseqüentemente, dificuldades para operar com a multiplicação. As dificuldades são ainda maiores à medida que avançam nas séries e começam os estudos da álgebra, onde é muito forte a presença da linguagem matemática que, sendo simbólica, se torna subjetiva.

É comum a apresentação inadequada da lingua-gem matemática em sala de aula, quando o profes-sor usa, essencialmente, o uso de símbolos e termos

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técnicos específicos da área sem preocupar-se em trabalhar a compreensão dos mesmos. Deixando de clarear os seus significados, consegue um efeito contrário: dificulta o processo de aprendizagem em matemática. Assim, não é fácil compreender os processos de fatoração de expressões algébricas.

Na Educação de Jovens e Adultos, mais do que em outras modalidades de ensino, os conheci-mentos já trazidos pelos estudantes costumam ser diversificados e, em alguns casos, encarados, por equivoco, como obstáculos à aprendizagem. Toma-se com isso que, o ponto inicial para a construção dos novos conhecimentos matemáticos parte dos conhecimentos já adquiridos pelos estudantes.

A CURIOSIDADE DE FERMAT E OS NÚMEROS PRIMOS

Fermat, por volta de 1637, criou uma equação semelhante ao Teorema de Pitágoras, que por sua vez não tinha solução. No lugar de considerar a

equação de Pitágoras 222 zyx =+ , Fermat mo-

dificava as potências da equação, não obtendo uma solução para qualquer número inteiro. Assim, ele alterou ainda mais a equação, trocando as potências para números maiores que três, constatando que em parte alguma do infinito universo dos números existia um trio de números que se encaixassem perfeitamente em sua equação:

nnn zyx =+ , onde n representa números in-teiros positivos maiores ou iguais a três.

Fermat, que afirmava ter a demonstração para este resultado, acabou morrendo sem divulgar sua solução. Este problema ficou conhecido como “O

Ultimo Teorema de Fermat”, ficando em aberto por mais de 350 anos. Ao longo destes anos, muitos matemáticos dedicaram suas carreiras à tentativa de provar este teorema, sendo que o matemático Andrew Wiles conseguiu prová-lo em 1995.

Estudando a história do Ultimo Teorema de Fer-mat, encontramos um método sistemático baseado na procura de números x e y tais que:

) )(( yxyxyxN −+=−= 22 , sendo N o nú-

mero a ser fatorado.

Todos os números primos podem ser encaixados em duas categorias: aquelas que são iguais a 4n+1 e aqueles que são iguais a 4n-1, onde n é igual algum número. Para Fermat isso era mais uma de suas demonstrações secretas, sendo que Euler, um dos maiores matemáticos do século XVIII, foi desafiado a reconstruir essa demonstração. Após sete anos de trabalho, em 1749, quase um século após a morte de Fermat, Euler obteve sucesso provando o teorema de Fermat para os números primos. Podemos consi-derar que, a partir da curiosidade de Fermat, outros matemáticos tiveram despertada a necessidade de gerar a construção dos números primos.

Pierre de Fermat nasceu em 20 de agosto de 1601 na cidade de Beceumont de Lamagne na França. Seu pai era um rico mercador de peles e desse modo Fermat pode receber uma educação pri-vilegiada no monastério franciscano de Grandselve, graduando-se, posteriormente, em Direito pela Universidadede Toulouse (Singh, 2005, p.55). É curioso afirmar que enquanto jovem e mesmo após adulto Fermat não foi um matemático, o fato é que ele gostava de resolver exercícios matemáticos. Não há registro algum de que, quando jovem, mostrasse qualquer talento para a matemática.

A profissão de Fermat, na verdade, foi de ser-

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vidor público, sendo que em 1631 foi nomeado conselheiro na Câmera de Requerimentos, na qual prestaria serviços ao juiz, desenvolvendo todas as suas atribuições de modo eficiente. Com o fato de chamar a atenção para si mesmo, pois não tinha grandes ambições políticas, evitou disputas no parlamento. Dedicava todas as suas energias, nas horas vagas, à matemática, que era seu hobby.

No século em que Fermat tinha como profissão a função pública e amadoria pela matemática, os mate-máticos não eram respeitados e não tinha prestígio. A única instituição que encorajava o estudo de ma-temática na Europa era a Universidade de Oxford. Galileu buscou um professor particular. Já Pascal, Beamgrand e o padre Marin Mersenne formavam um grupo que conseguiu estudar, sendo esse último o responsável por avanços nessa ciência.

Quando o padre Mersenne chegou a Paris lu-tou contra a questão do sigilo na matemática, ou seja, tentou encorajar os matemáticos a trocarem idéias uns com os outros. Apesar dos esforços do padre Mersenne, Fermat se recusava a revelar suas demonstrações e Descartes acabou a amizade com o padre. Porém isso não fez com que o padre desistisse de continuar divulgando as últimas descobertas pelo exterior.

Apesar dos esforços do padre Mersenne, a publicação e o reconhecimento público nada sig-nificaram para Fermat. No decorrer da história é possível verificar que:

O gênio tímido e retraído tinha um toque travesso, o qual, combinado com o sigi-lo, levava-o a comunicar-se com outros matemáticos unicamente para ganhar deles. Fermat escrevia contas enunciando seu mais recente teorema, sem fornecer a demonstra-ção (SINGH, 2005, p.58)

Sendo assim, muitos matemáticos viam Fermat como amador, brincalhão, Descartes o chamou de “fanfarrão” e John Walluis se referia a ele como “aquele maldito francês”. Fermat parecia se divertir com a matemática e com os matemáticos.

Fermat dedicou-se à aritmética devido o contato com livros sobre a teoria dos números. Um deles apresentava cerca de mil problemas e soluções; conhecimentos obtidos por Pitágoras e Euclides.

Relata Sing (2005, p76) que Fermat, ao resolver os problemas de Diofante:

[...] limitava-se a escrever o que achava necessário para convencer a si mesmo de que tinha uma solução [...] não se impor-tava em registrar o resto da demonstração. Frequentemente atirava suas anotações no lixo e passava para o problema seguinte.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa tem cunho essencialmente qua-litativo e o método escolhido é o fenomenológico-hermenêutico. Percebemos que esse aporte meto-dológico fornece elementos substanciosos para um pensar rigoroso que interage com a subjetividade humana presente no processo de educação. Pereira (2002, p.34) descreve que:

O pesquisador põe-se frente ao fenômeno com um olhar hermenêutico, um olhar que busca não se ater a uma interpretação da estrutura textual do discurso emitido por aquele ser, o qual vivenciou ou vivencia o fenômeno, mas avança na tentativa de en-contrar o significado do discurso no próprio universo de onde este surgiu, confrontando esse significado com suas próprias vivências,

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à luz do que também é seu real vivido, tra-zendo, para isso elementos de sua história e tradição.

Dessa forma, elegemos a abordagem fenomeno-lógica-hermenêutica para esta pesquisa, partindo daquilo que os estudantes sabem e de como eles compreendem os conteúdos, para levá-los ao co-nhecimento formal. A observação do fenômeno foi feita em uma escola de ensino fundamental de EJA, onde estudantes e professores estavam em atividades de ensino e aprendizagem. Os encontros foram gravados e, posteriormente foram transcritos, na íntegra, servindo de material de análise. Desta atividade surgiram as unidades de significado e as categorias abertas que nos levaram às considerações finais da pesquisa.

Para a coleta dos dados utilizamos materiais elaborados pelo grupo de pesquisadores como as fichas de trabalho, o ábaco e argolas de plástico para fazer a representação dos números a serem fatorados, além dos materiais de uso diário que se encontram na sala de aula. Os sujeitos da pesquisa tinham idade que variavam entre 18 e 43 anos. Foram realizados quatro encontros semanais no Instituto Estadual de Educação Cardeal Arco-verde, em Passo Fundo (RS), numa turma de EJA do primeiro ano do Ensino Médio, no 2º semestre de 2008. Registramos todos os encontros, com reflexões diárias, e as descrições e escritas dos estudantes servirão para análise e interpretação da pesquisa.

Procedimentos:

- Fatorar um número impar não primo usando argolas e o ábaco.

Ex: Vamos encontrar os fatores do número 33. Para fatorar este número é preciso distribuir as argolas da esquerda para direita começando com uma argola no primeiro lugar, adicionando duas a mais nos lugares posteriores assim como mostra a Figura 1, que elaboramos para o projeto:

Figura 1 - Demonstração do método de fatoração no ábaco.

- Podemos observar na Figura 1 que o sexto lugar do ábaco deveria conter onze argolas ao invés de oito, por isso devemos completá-lo, remanejando as três primeiras argolas do primeiro e segundo lugar, como podemos ver na Figura 2.

Figura 2 - Demonstração do método de fatoração no ábaco (Passo 7).

- Agora retiramos as argolas dos três primeiros lu-gares seguindo a mesma idéia de antes (Figura 3).

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Figura 3 - Demonstração do método de fatoração no ábaco (Passo 8).

- Logo encontramos uma configuração onde a quantidade de argolas no lugar central do ábaco corresponde a um dos fatores e o número de luga-res com argolas sendo o outro fator. Dessa forma temos: 11 argolas no elemento central, e 3 lugares contendo argolas. Portanto 33 = 11x3

Esses procedimentos foram realizados com números de, no máximo 2 algarismos. Para fatorar números com mais de dois algarismos os alunos utilizarão o método sistemático de Fermat.

A idéia central do método de Fermat é começar com x igual ao menor inteiro maior ou igual a N e calcular Nx −2 . Se o resultado for um quadrado perfeito, o problema está resolvido. Caso contrário repete-se o processo, sucessivamente, para os nú-meros x+1, x+2,..., até encontrar um quadrado perfeito, conforme o exemplo da Tabela 1.

Tabela 1 - Demonstração do método de Fermat para o número 407.

x x² - N

21 441 – 407 = 34 (não é quadrado perfeito)22 484 – 407 = 77 (não é quadrado perfeito)23 529 – 407 = 122 (não é quadrado perfeito)24 576 – 407 = 169 = 13²

Então, 407 = 24² - 13² = (24 +13).(24 -13) = 37.11

RESULTADOS

Percebemos, inicialmente, que os estudantes do 1º ano do Ensino Médio de EJA desconheciam o significado de fatores. Usavam os termos “divisão”, “separação”, “multiplicação” e até “aperfeiçoa-mento”. Os mais jovens, no entanto, conseguiram realizar as tarefas sem dificuldades. A maioria dos estudantes decompõe os números tanto no ábaco quanto na escrita, sem anotar as regras do processo de fatoração numérica.

Ao trabalhar com o ábaco e as argolas para decompor os números sugeridos, como o 15, o 21, e o 33 em fatores, os estudantes realizaram as tarefas com facilidade, o que os instigou a realizar a fatoração de números com mais de três ordens, sendo que no ábaco isso seria inviável. Partindo dessa questão levantada pelos estudantes, po-demos afirmar a existência de um método siste-mático de fatoração de números ímpares, sendo este método utilizado por Fermat para fatorar o número 100895598169, desafio proposto pelo matemático Mersenne, em 1643. A fatoração a partir deste método sistemático será trabalhada no próximo semestre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fermat não foi um matemático, o que ocorreu é que ele gostava de resolver exercícios matemáticos. De certo modo, podemos conjecturar que ele, o grande admirador dos números, realmente poderia ter contribuído muito mais com a matemática e com os matemáticos. Podemos também pensar que a ele não importava registrar suas descobertas e deixá-las para outras gerações ou matemáticos,

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pois talvez ele apenas se divertisse como se estivesse fazendo “palavras cruzadas”.

A investigação mostrou que o método de fatoração a partir do ábaco pode contribuir para a compreensão do significado de “fatoração” e que, em classes de EJA, é importante a utilização de estratégias metodológicas mais dinâmicas que propiciem a construção de significados.

Ao consideramos as dimensões curriculares para uma formação matemática na Educação de Jovens e Adultos, não se pode pensar em um processo de ensino-aprendizagem da matemática fora do contexto cultural, declarando-a como absoluta, abstrata e universal. Essa visão seria a principal razão para a alienação e os fracassos da maioria dos estudantes nessa disciplina, considerando-se jovens e adultos que já abandonaram a escola muitas vezes, por haverem nela fracassado.

Na continuidade do trabalho, investigaremos as compreensões que os estudantes conseguirão obter a respeito das expressões algébricas usando o método sistemático de Fermat.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Cardeal Arcoverde, em

especial, aos alunos da turma de EJA no qual foi aplicado o projeto; e à equipe diretiva da escola, que possibilitou tal experiência.

REFERÊNCIAS

CRUSIUS, M. F.; DANYLUK, O.; GOMES, C.H.P. Sistema de numeração e operação em diversas bases. Passo Fundo: Gráfica Editora UPF, [s.d.].

DANYLUK, O.S. (Org.). Educação de adultos: ampliando horizontes de conhecimento. Porto Alegre: Editora Sulina, 2001.

PEREIRA, L.H.F. Teorema de Pitágoras: lem-branças e desencontros na matemática. Passo Fundo: Editora UPF, 2002.

RODRIGUES NETO, A. Fatoração: trans-formando os números em multiplicação. Disponível em: <http:://educação.uol.com.br/matemática/fatoração.jhtm> Acesso em fevereiro de 2009.

SAMPAIO, F.A. Revista do Professor de Matemática. São Paulo: Sociedade Brasileira de Matemática, 2004.

SINGH, S. O Último Teorema de Fermat. 11.ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.

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Personalidade criminal:do ato de matar ao requinte de crueldade

PAULA CANANI1

ÁUREA ADILES MACHADO DOS SANTOS2

ANDREA BERNARDES LOPES3

SHEILA COITINHO DE ANDRADE4

CARMEM ARISTIMUNHA DE OLIVEIRA5

RESUMO

O presente estudo objetivou identificar as características semelhantes de personalidade em homicidas simples e qualificados. Realizou-se uma pesquisa de cunho quantitativo descritivo, com 9 sujeitos do sexo masculino condenados por homicídio simples, e 10 sujeitos do sexo masculino condenados por homicídio qualificado e cumprindo pena no Presídio Central de Porto Alegre, utilizando-se um questionário sociodemográfico e o CPS – Escalas de Personalidade de ComRey (2003). A personalidade dos homicidas simples e qualificados diferiu de maneira estatisticamente significante na Escala O: Ordem versus Falta de Compulsão, e a análise revelou que os homicidas simples são indivíduos cuidadosos, meticulosos, ordeiros e muito organizados, que se preocupam com limpeza e apreciam a rotina.

Palavras-chave: Personalidade; homicidas simples; homicidas qualificados.

1 Acadêmica do Curso de Psicologia – Bolsista PROICT/ULBRA2 Acadêmica do Curso de Psicologia – pesquisadora voluntária3 Acadêmica do Curso de Psicologia – pesquisadora voluntária

4 Acadêmica do Curso de Psicologia – pesquisadora voluntária5 Professora - Orientadora do Curso de Psicologia/ULBRA

([email protected])

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ABSTRACT

The present study has as its purpose to identify similar characteristics of personality between murderers simple and qualified. A research of qualitative descriptive cue, with 9 subjects of the masculine sex condemned for simple homicide, and 10 subjects of the masculine sex condemned for qualified homicide and serving time at the Central Penitentiary of Porto Alegre, being utilized a social and demographic quiz and the CPS – Comrey Personality Scales (2003). The personality of the simple and qualified murderers differed in statistics considerably on Scale O: Order versus Lack of Compulsion, and analysis revealed that the simple murderers are careful, meticulous, and very organized individuals, worried about cleanness and very fond of routine.

Key words: Personality; simple murderers; qualified murderers.

INTRODUÇÃO

Atualmente, um dos problemas sociais mais graves, no Brasil, é o aumento da violência. Dia-riamente, um número considerável de cidadãos brasileiros se vê diante da incerteza de que voltarão para seus lares no final da jornada de trabalho. De um lado, o perigo iminente do criminoso nas ruas, ou à espreita para um “seqüestro relâmpago”, e, de outro lado, o perigo velado do trânsito, do motorista embriagado que vitima crianças na calçada, ou do imprudente que se mata e leva com ele dois ou três inocentes. Nesse contexto, não é exagero afirmar que os crimes hediondos povoam não apenas as mentes, mas enchem os olhos dos brasileiros de horror diante do noticiário diário da televisão ou das páginas dos jornais.

Neste contexto, é fácil entender porque a Constituição Federal de 1988 definiu como ina-fiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia os crimes considerados hediondos. Embora os Estados Unidos sejam, tradicionalmente, formadores de personalidades perturbadas, capazes de cometer crimes inomináveis, principalmente os praticados por crianças, o Brasil não fica atrás nesse ranking mundial de violência.

Teixeira (2004) refere que na década de 1990 os homicídios assumiram o primeiro lugar entre as mortes resultantes de causas externas (quase 40%). Entre 1990 e 2000, os homicídios foram responsá-veis por 401.090 óbitos. Já em 2001 registrou-se 46.685 homicídios, a maior parte causada pelo uso de armas de fogo (71,5%).

Embora a letra da lei seja clara no sentido de punir com rigor delitos desta natureza, há quem acredite na possibilidade de ressocialização desses indivíduos e defenda o retorno deles à sociedade.

No entanto, uma disciplina puramente norma-tiva e sistemática como o Direito Penal necessita de complementação de outras disciplinas, como a Psicologia, que identifique as causas do problema e atue preventivamente. Entre as ferramentas disponíveis, acredita-se que a determinação das características de personalidade do criminoso que é capaz de cometer crimes cruéis possa servir para o implemento de programas de prevenção à crimi-nalidade e para a própria Criminologia.

É nesta perspectiva que o presente trabalho se inscreve, objetivando verificar a existência de características semelhantes de personalidade en-tre sujeitos que cometeram crimes com requinte

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de crueldade, ou seja, homicídio qualificado, que é elencado como crime hediondo, e sujeitos que cometeram homicídio simples.

Dentre os crimes contra a vida, o Código Penal brasileiro (CP) tipifica homicídio no artigo 121 como “matar alguém”, qualificando-o em três di-mensões: privilegiado, quando cometido por motivo de relevante valor moral ou social, ou sob domínio de violenta emoção após injusta provocação da vítima; culposo, quando o indivíduo realiza ação imprópria que cria certa margem de risco e perigo aos interesses de outrem (negligência, imprudência, imperícia); e qualificado, quando o êxito letal da vítima é desejado por motivos particulares (merce-nário, torpe ou fútil), com a utilização de meios e modos de execução para tal. Neste último tipo de homicídio, agregam-se circunstâncias que elevam e intensificam a reprovabilidade do crime e evi-denciam a ação intencional do autor, ou seja, que o agente quis o resultado morte ou assumiu o risco de produzi-lo (DEL PINO e WERLANG, 2008).

O comportamento violento e criminal tem persistido como um significativo problema de saú-de pública em nível internacional e nacional. Os resultados da violência auto-infligida, interpessoal e coletiva em níveis mundiais representaram uma taxa de mortalidade no ano de 2000 de 28,8 por 100.000 habitantes (DEL PINO e WERLANG, 2006). Krug, Dahlberg e Lozano (2003) informam que cerca de 520.000 destas mortes foram por homicídio.

No Brasil, as taxas de violência fatal, em especial homicídio, foram as que apresentaram maior cres-cimento (109%) nas décadas de 1980 e 1990. Na região sul do país, os índices de homicídio atingiram 21,8% em 1998, como constataram Souza, Reis e Minayo (2002). Del Pino e Werlang (2006) afirmam que, em Porto Alegre e na região metropolitana, a

porcentagem de mortes por causas violentas vem avançando gradualmente nos últimos anos. Os números de óbitos por homicídio em 2002 foram de 950 pessoas, e destas, 429 aconteceram na capital (DIPLANCO, 2003).

Existe um consenso generalizado em considerar que a prevenção do delito constitui um objetivo im-portante do sistema penal. Afirma-se com freqüência que é melhor prevenir o crime do que reprimi-lo. De forma mais concreta, quase todos os especialistas na matéria estimam que a prevenção do delito repre-senta se não a principal função, pelo menos uma das funções mais importantes e tradicionais da polícia (CAFEZEIRO JÚNIOR, 2007).

Para Aguiar (2008), no Brasil, os condenados por qualquer crime são vistos pelo Estado da mes-ma forma que um passageiro de avião vê a floresta abaixo, ou seja, de modo absolutamente homogêneo. O princípio da individualização da pena é freqüente-mente esquecido nas penitenciárias, sendo comum o tratamento igualitário de pessoas com personalidade e condutas absolutamente díspares.

Outro problema grave da política criminal vem de nossos intelectuais, que, embebidos na doutrina de Rousseau do bom selvagem, acreditam piamente que não há ninguém bom ou mau; há simplesmente pessoas que foram “contaminadas pela sociedade”. Não há, de acordo com esse ponto de vista, nada inato à pessoa, nem nada que seja de sua responsa-bilidade. Existe apenas uma culpa difusa de algo que não existe de fato: a sociedade. A culpa dos crimes torna-se tão diluída que, na prática, ninguém é, de fato, culpado (AGUIAR, 2008).

Sidou (1996) refere crime como ato ou efeito de criminar, ou incriminar, como infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, isolada, alternativa ou com pena de multa.

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Feu Rosa (1995, p. 35) apresenta definição de homicídio – que ele chama de “moderna” – como sendo “a destruição culpável e antijurídica da vida de um homem por outro homem”.

Já o homicídio, como refere Albergaria (1988), é um crime cometido por agressividade e por reação primitiva, ou seja, como expressão de um estado crônico de tensão ou excitação, como vingança ou ódio acumulado. Esse autor considera a agressão no comportamento homicida a partir do agente agressor, para depois examinar o agente agredido e, finalmente, obter uma visão, a partir de um ob-servador, ou de um terceiro.

O fenômeno homicida contribuiu para revelar características da conduta humana, quando fatores biológicos, psicológicos e sociais influenciam todo o processo.

“O crime de homicídio simples ou qualificado é caracterizado pela censurabilidade ou perver-sidade do agente, o que traduz a crueldade do comportamento” (OLIVEIRA e GONÇALVES, 2007, p. 2).

Homicídio qualificado consiste em matar al-guém “mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe”, “por motivo fútil”, “com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo algum”, “cometido à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação de outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”, ou “para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime” (MONTEIRO, 1999, p. 54).

Neste ponto entende-se ser importante focali-zar-se as idéias relacionadas à personalidade homi-cida, apresentadas pelos autores revisitados.

Personalidade é um conceito complexo que se completa no indivíduo adulto em sintonia com a norma cultural, social e étnica em que vive (CÂ-MARA, 2001).

Para Svrakic e Cloninger, (2005), a personalidade se desenvolve por meio de interações de predisposi-ções hereditárias e de influências ambientais.

Todos os indivíduos possuem um conjunto de pressupostos individuais e de valores, um repertório pessoal de emoções, com formas típicas de lidar com elas, e modos característicos de comportamento, especialmente nas relações pessoais (KIPPER, 2007).

Oliveira e Gonçalves (2007) referem que não é possível afirmar que exista uma personalidade homicida, porém é inquestionável que os homici-das apresentam características psicológicas e/ou de atuações comuns.

Salienta-se que os atos delituosos estariam rela-cionados com os processos da personalidade ao nível da construção de significados e de valores da reali-dade, além das opções de relacionamento da pessoa com essa realidade (MASSONI et al., 2005).

Historicamente, já no clássico Cesare Lombroso (1983, p. 189) encontra-se o interesse pelo estudo de características comuns aos criminosos, preocupa-do com o comportamento do homem considerado delinqüente, através da análise de suas ações. Em sua obra “L’uomu Delinqüente”, o autor frisa que “o estudo antropológico sobre o homem criminoso deve necessariamente basear-se nas suas características anatômicas”.

Lombroso encontrou no criminoso, em sentido natural-científico, uma variedade especial de homo sapiens caracterizada por sinais (stigmata) físicos-

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psíquicos. Constatou nas formas cranianas os estigmas que caracterizariam o criminoso nato, e, assim, pôde enumerar: a sensibilidade dolorosa diminuída, crueldade, leviandade; aversão ao traba-lho, instabilidade, vaidade, tendência a superstições e precocidade sexual. Encontrou, na relação entre a epilepsia e a chamada “moral insanity”, as carac-terísticas para distinguir os pseudo criminosos, os ocasionais e passivos (FERNANDES, 1995).

Nas conclusões de sua doutrina, de muito inte-resse para a Política Criminal, a sociedade teria o direito de proteger-se do tipo criminoso, condenan-do-o à prisão perpétua e, como “medida de seleção”, à morte. Assim, classificou os criminosos em nato; falso delinqüente, ou pseudo delinqüente, ou delin-qüente ocasional; e criminalóide, classificação ou conceito exclusivamente lombrosiano, que se refere à existência do “meio delinqüente”, assemelhado “ao meio louco”, chamado de fronteiriço.

Ainda, Almeida (1999), mesmo com a subsis-tência de críticas e limitações, dividiu os homicidas em nove grupos, de acordo com a avaliação de suas características de personalidade, que incluem: o au-tocontrole, a impulsividade, a ligação com o meio, os antecedentes criminais e prisionais, o contexto de passagem ao ato, bem como a carga emocional, a premeditação, o consumo de substâncias e a doença mental. Propôs esta divisão na intenção de melhor percepção e compreensão das características de quem comete homicídio.

Em termos de apresentação social dos crimino-sos homicidas, Bezerra (2008) coloca que muitas vezes são criminosos que aparentemente convivem satisfatoriamente em sociedade, e nunca comete-ram nada que os desabonem ou os coloquem como suspeito de possuírem uma personalidade cruel e dissimulada.

Palomba (1996, p. 223) complementa referindo que “geralmente apresentam deformidade na falta de senso moral, na afetividade subdesenvolvida, na insensibilidade e no egoísmo, podem apresentar uma mente organizada, serem loucos ou fronteiriços difícil de diagnosticar”.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo é de cunho quantitativo do tipo transversal, tendo, em um primeiro momento, um enfoque descritivo e, posteriormente, fazendo uma comparação entre variáveis. Os participantes são indivíduos que cumprem pena por homicídio simples ou qualificado no Presídio Central na Cidade de Porto Alegre. A amostra localizada por conveniência ficou constituída por 10 sujeitos que cumprem pena por homicídio simples e 10 sujeitos por homicídio qualificado do gênero masculino, in-dependente de raça e nível socioeconômico. Entre os 20 sujeitos avaliados, um teve seu instrumento invalidado, pelas Escalas de Tendenciosidade (T) ou Validade (V) do CPS – Escalas de Personalida-de de ComRey (2003), sendo excluído do estudo. A amostra ficou composta, então, por 9 sujeitos condenados por homicídio simples e 10 sujeitos por homicídio qualificado. Para obtenção de dados que caracterizam os participantes do estudo foi utilizada uma Ficha de Dados Sociodemográficos. Para a identificação das características de perso-nalidade foi aplicado de forma individual o CPS – Escalas de Personalidade de ComRey (2003), que corresponde a um inventário de personalidade baseado no método de autodescrição para identi-ficação dos principais fatores de constituição do indivíduo, permitindo avaliar qualitativa e quan-titativamente diferentes fatores de personalidade através de escalas específicas. Suas subescalas são:

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Escala T: confiança versus atitude defensiva; Escala O: ordem versus falta de compulsão; Escala C: conformidade versus rebeldia; Escala A: ativida-de versus falta de energia; Escala S: estabilidade emocional versus instabilidade emocional; Escala E: extroversão versus introversão; Escala M: mas-culinidade versus feminilidade; e Escala P: empatia versus egocentrismo.

As informações coletadas a partir do instru-mento CPS foram organizadas em banco de dados no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) for Windows, versão 2.0, e posteriormente realizada análise standardizada.

O projeto que deu origem ao estudo foi aprova-do pelo Comitê de Ética em Pesquisa da ULBRA, e os participantes assinaram um termo de consenti-mento informado, conforme prevê a legislação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados do teste CPS – Escalas de Personali-dade ComRey foram analisados seguindo manual próprio, levantando as características predomi-nantes de personalidade de acordo com as escalas avaliadas pelo teste. Posteriormente, organizou-se um banco de dados no programa estatístico “SPSS for Windows”, versão 2.0 e realizada análise stan-dardizada.

Foram participantes dessa pesquisa 19 sujeitos do sexo masculino, que se encontram cumprindo pena no PC da cidade de Porto Alegre. Dos 9 su-jeitos que cumprem pena por homicídio simples, 6 (66,7%) são solteiros e 3 (33,3%) são casados, 4 (44,4%) têm entre 20 e 29 anos, 4 (44,4%) têm entre 30 e 39 anos e apenas 1 (11,2%) tem mais

de 40 anos. Dos 10 sujeitos que cumprem pena por homicídio qualificado, 2 (20,0%) são casados, 1 (10,0%) é divorciado, 5 (50,0%) são solteiros e 2 (20,0%) são viúvos, e 4 (40,0%) têm entre 20 e 29 anos, 3 (30,0%) têm entre 30 e 39 anos, 2 (20,0%) têm entre 40 e 49 anos, e somente 1 (10,0%) tem entre 50 e 59 anos.

Dos resultados do CPS – Escalas de Personalida-de ComRey, apresenta-se na Tabela 1, a Escala O: ordem versus falta de compulsão/tipo de homicídio, que apresentou maior significância.

Tabela 1 - Ordem X falta de compulsão/tipo de homicídio.

TIPO DE HOMICÍDIOTOTAL

SIMPLES QUALIFICADO

EXTREMA

N

%

STANDARD RESIDUAL

2

33,3%

-,5

4

66,7%

,5

6

100,0%

-

ACENTUADA

N

%

STANDARD RESIDUAL

2

100,0%

1,1

0

,0%

-1,0

2

100,0%

-

ELEVADA

N

%

STANDARD RESIDUAL

3

100,0%

1,3

0

,0%

-1,3

3

100,0%

-

REGULAR

N

%

STANDARD RESIDUAL

0

,0%

-1,4

4

100,0%

1,3

4

100,0%

-

MÉDIA

N

%

STANDARD RESIDUAL

2

50,0%

,1

2

50,0%

-,1

4

100,0%

-

TOTAL

N

%

9

47,4%

10

52,6%

19

100,0%

Considerando-se os resultados obtidos, a per-sonalidade dos homicidas simples e qualificados diferiu de maneira estatisticamente significante (p=0,047) basicamente em uma subescala, na qual os homicidas simples apresentam elevado índice

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nesta escala enquanto os homicidas qualificados apresentam índice regular. Desta forma, a análise revelou que os homicidas simples são indivíduos cuidadosos, meticulosos, ordeiros e muito organi-zados. Esses indivíduos tendem a se preocuparem com limpeza e apreciam a rotina (Escala O: Ordem X Falta de Compulsão).

Tais achados levam a inferir que estes indivídu-os, pelo fato de estarem privados de liberdade, tendo de viver conforme as normas carcerárias, e estando fadados a passar boa parte de sua vida dentro do sistema, podem estar tentando a adaptação.

Evidencia-se que o criminoso tem uma repre-sentação da realidade diferente das demais pessoas, com ordem de valores e significados diferentes, na qual o crime tem um determinado sentido e se forma num dado momento de sua história de vida. Deve-se considerar que o fenômeno homicida contribui para revelar as características da conduta humana, já que os fatores biológicos, psicológicos e sociais influenciam todo o processo (KIPPER, 2007; OLIVEIRA e GONÇALVES 2007).

Na medida em que se conhecem os determi-nantes sociais e pessoais da criminalidade, Taborda (2004) afirma que melhor se pode entender a complexa articulação de fatores contextuais (ex-trapsíquicos) e psicopatológicos (intrapsíquicos) e a verdadeira responsabilidade de cada um pela conduta delituosa tomada.

Observa-se que o ambiente é de suma importân-cia na constituição de qualquer personalidade. Ma-ranhão (1995) refere que, no ambiente deficitário em que muitas pessoas vivem, acabam incorporando maus valores, e que, em reação a algum abandono, estas pessoas tornam-se adversas à estrutura social. Entretanto, alguns indivíduos possuem uma capa-cidade de aproveitar ou incorporar a experiência

vivida, e se saem caracteres malformados, tudo se deve a uma inconveniente estrutura cultural. São malformados porque não tiveram oportunidade de serem bem formados.

O mesmo autor refere ainda que exista outro grupo de indivíduos que se mostram incapazes de aprender pela experiência, de integrar grupos, estando, conseqüentemente, impossibilitados de efetivar um plano de vida. Tudo faz crer que já nas-cem com um defeito impediente do aproveitamento da experiência vivida. Não são malformados: são mal constituídos.

Acredita-se que, mediante as características apresentadas por ambos os grupos (homicidas sim-ples e qualificados), possam ser inseridos nos con-ceitos apresentados por Hare (1995), que definiu a personalidade psicopática como TG (transtorno global da personalidade), e TP (transtorno parcial da personalidade), como uma forma mais atenuada de Transtorno de Personalidade Anti-Social, com preservação da integridade de alguns aspectos da ressonância emocional. É importante salientar que nosso estudo foi direcionado a investigar as semelhanças nas características de personalida-de, não tendo como objetivos a classificação e o diagnóstico.

Esses pacientes freqüentemente enganam ou manipulam os outros, com a intenção de obter vantagens pessoais ou prazer, podem mentir repe-tidamente, usar nomes falsos, ludibriar ou fingir. As decisões são tomadas ao sabor do momento, de maneira impensada e sem considerar as conseqüên-cias para si mesmo ou para outros, o que pode levar a mudanças súbitas de empregos, de residência ou de relacionamentos (BALLONE, 2004).

Considerando essa premissa, Morana (1999) refere que a população carcerária possui índices bas-

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tante avantajados de Transtorno de Personalidade anti-social. Da mesma forma, Kaplan (2004) salien-ta que nas populações carcerárias a prevalência da personalidade anti-social pode chegar a 75%.

No contexto dos homicidas, inserem-se os nú-cleos familiares e sua dinâmica de funcionamento, sendo que eles estão intrinsecamente relacionados na construção da identidade física e psíquica dos indivíduos. Diversos estudos apresentados na publi-cação de Krug et al. (2003) apontam alguns fatores intrafamiliares que contribuem para determinar a violência: vínculos afetivos deficientes, falta de outros apoios sociais, castigos e abuso físico/sexual severo e prolongado, e negligência no cuidado com os filhos.

A falta de afeição, a auto-imagem deteriorada, a di-ficuldade de relações familiares e a orientação voltada para a violência são consideradas variáveis centrais na discussão dos comportamentos de riscos. A dinâmica da violência, repleta de desvalorização, conduz a uma diminuição da confiança nas próprias percepções (ASSIS, AVANCI e MALAQUIAS, 2004).

Dessa forma complexa, salienta-se ser esse estu-do de notória importância social, podendo subsidiar e fundamentar formas de intervenção e entendi-mento, nos casos que tratam de homicídio simples e homicídio qualificado – considerada a faceta mais severa e incompreensível da violência.

Por tal gravidade, a realização desse estudo e os dados encontrados em nossos sujeitos foram proeminentes no sentido de melhor conhecer a po-pulação carcerária e as personalidades criminosas, especialmente homicidas.

Não há milagre que possa ser feito com todo este déficit do sistema penitenciário e de outros setores. No entanto, existe uma gama de intervenções que

podem ser utilizadas pelo profissional da área da saúde inserido neste contexto e até mesmo pela própria sociedade. É preciso conhecer este indiví-duo antes mesmo de julgá-lo, para que possam ser criadas estruturas que impeçam que ele busque no-vamente no crime estes limites e este apossamento (MATTOS, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crime é tão antigo quanto a própria sociedade. Historiadores sociais e antropólogos têm referido que inexistem culturas que tenham vivido na total ausência de violência, pois, como se sabe, a agres-sividade e conseqüentemente a violência também constituem o acervo de emoções que permeiam a vida de todos nós. Com isso, observa-se que uma dose de agressividade é indispensável a fim de preservar a própria existência, mas, em que mo-mento isso se torna desmedido e desproporcional ameaçando a integridade do sujeito e a sociedade da qual faz parte?

Assim, a busca pela etiologia da violência cami-nha pelos diversos estágios da história da evolução humana, culminando em estudos voltados para aspectos clínicos, epidemiológicos e etiológicos do comportamento violento.

Com a leitura e a exploração do referencial teórico, infere-se que os números relacionados à violência – e entre suas facetas, a de maior morbi-dez, o homicídio – só fazem crescer a cada ano.

Tais fatores evidenciam o caráter agudo de tal fenômeno e a complexidade da busca do enten-dimento, resolução e prevenção da criminalidade e comprova a necessidade da integração das mais diversas áreas da ciência ao tema relacionadas, na

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busca de um desdobramento melhor para o caos social ameaçador imposto pela alta criminalidade e que torna a todos vulneráveis.

Ressalta-se o aspecto da escolha pela atitude mais acertada quando se tem a responsabilidade jurídica, pericial ou terapêutica de um criminoso desse porte. Atualmente, a discussão é ampla, questionando-se dever dispensar a esses sujeitos castigo ou tratamento, e mesmo no caso do cum-primento de medida de segurança, em instituição forense para recuperação, inevitáveis são as vezes em que novas barbáries se cumprem devido ao com-portamento manipulador e insensível perpetuado por tais sujeitos.

Considerando os altos índices anuais de ho-micídios mundiais e nacionais, aliados ao fato de que estudos científicos em Psicologia e Psiquiatria Forense são escassos, e em contraste com a imensa preocupação jurídica, sociológica e popular com o tema, destaca-se a necessidade de uma maior apropriação de conhecimentos e estudos advindos da área da saúde, para que possam ser desenvolvidas efetivamente formas de prevenção, recuperação e contenção desses casos que rotineiramente barbarizam e expõem nossa sociedade, evitando progressões de regime inadequadas e indicativos altíssimos de recidivas criminais que devolvem ao meio e à convivência social, diariamente, centenas de criminosos da mais alta periculosidade.

Por fim, é importante atentar para as limi-tações do presente estudo. Sendo uma amostra pequena e com a utilização de um instrumento específico, não permitiu maiores conclusões sobre a existência de transtorno de personalidade nesta população em específico. De qualquer maneira, não invalida os resultados apresentados, pois reforça o que está divulgado na literatura e que é pouco valorizado no momento em que se avaliam

indivíduos que cometeram homicídio simples e qualificado.

Concluindo, os resultados analisados permitem afirmar que existem características semelhantes de personalidade em sujeitos que cometeram homicí-dio simples e qualificado.

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Ciências Sociais

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Capital social e desempenho institucional na América Latina: Brasil, Uruguai e Chile

CÍNTIA VIVIANE VENTURA DA SILVA1

EVERTON SANTOS2

RESUMO

Este artigo tem como objetivo principal testar a hipótese de Putnam (1996) de que o capital social (CS) impacta positivamente no desempenho institucional, levando a uma maior eficiência do Estado nas áreas da saúde, da educação, segurança, realização de obras e lazer. Em outras palavras, de que os níveis de solidariedade e confiança interpessoais estão positivamente relacionados à capacidade dos governos em atender e realizar as demandas da população de maneira mais satisfatória. A hipótese é testada utilizando os dados de três capitais sul americanas: Porto Alegre (Brasil), Montevidéu (Uruguai) e Santiago do Chile (Chile), a partir de três surveys aplicados nestes países.

Palavras-chaves: Capital social, instituições, desempenho institucional, cultura política.

ABSTRACT

This article has as main objective to build a preliminary theoretical model to make possible to understand the reasons determining the institutional performance, in other words, the mechanisms allowing the governments to accomplish their purposes, such as to build highways, to educate the children and to promote development. For

1 Acadêmica do Curso de Psicologia. Bolsista de iniciação científica

2 Professor - Orientador do Curso de Ciência Política/ULBRA e dos PPG em Direito e Ondontologia. Professor no Centro Universitário Feevale ([email protected])

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that, the starting point is the theoretical presumption that the possibilities of the institutional performance are connected not only to the effectiveness of the formal political institutions (neo-institutionalism), but, above all, to the patterns of values (political culture) which support them (“the endogenous circuits of mutual determination”). In that way, the concept of Social Capital (CS), which is constituted of cultural practices which favor relation-ships based on trust, not only interpersonal (in the horizontal plan) but also institutional (in the government), constitutes the center of reference for this article, social capital which, allied with the institutions, can favor the governments’ performance.

Key words: Social capital, institutions, institutional performance, political culture.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas com o processo de redemo-cratização na América latina, assistimos a um avanço político institucional inegável no continente. De uma maneira geral, as eleições tornaram-se rotineiras e as liberdades políticas de organização e participação têm adquirido uma importância central nestas socie-dades. Todavia, nem sempre estes avanços políticos institucionais significaram uma melhora efetiva das condições de vida destas populações da região. Convivendo majoritariamente com os partidos, o parlamento, as eleições, os governantes da América Latina têm-se deparado com uma demanda crescen-te da sociedade sobre as instituições do Estado e de suas políticas públicas. Este é um fenômeno típico de sociedades democráticas, em que as “comportas” que represavam a pressão social sobre o Estado durante os tempos pretéritos do autoritarismo foram abertas.

Desta forma, uma das grandes questões colocadas ao Estado neste início de século é exatamente sobre sua eficiência e capacidade em atender as demandas provenientes da sociedade. Isto nos remete a questio-narmos quais são as variáveis que podem determinar um desempenho satisfatório das instituições do Estado e de suas frações, como estados, prefeituras? Sob que condições políticas institucionais ou mesmo societais podemos ter um bom desempenho dos governos?

Buscando responder a este questionamento, o objetivo deste artigo é mostrar que o desempenho do Estado, materializado nos mecanismos que permitem aos governos realizar seus propósitos, como educar as crianças, promover a saúde, a segurança e o desenvolvimento, é proporcional à existência de capital social existente em determi-nada sociedade.

Nossa hipótese de trabalho é de que o acúmulo de capital social (CS) em uma determinada socie-dade implica positivamente no bom desempenho institucional, ou seja, de que ele impacta posi-tivamente nestas últimas, levando a uma maior eficiência das instituições políticas. Em outras pa-lavras, de que os níveis de solidariedade e confiança interpessoais estão positivamente relacionados à capacidade dos governos em atender e realizar as demandas da população, razão pela qual às políti-cas públicas devem ser arquitetadas no sentido de estimular o acúmulo de CS.

METODOLOGIA

Essa pesquisa foi realizada através do método quantitativo tipo survey em três cidades da América Latina: Porto Alegre, Montevidéu e Santiago. Fo-ram aplicados cerca de 500 questionários em cada capital, entre maio e julho de 2005, observando um

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intervalo de confiança de 95% e um erro amostral de 4%. Utilizamos o banco de dados da pesquisa “Desenvolvimento Sustentável e Capital Social na Promoção da Cidadania e Qualidade de Vida na América Latina” do Núcleo de Pesquisas Sobre a América Latina - NUPESAL/UFRGS.

Cultura Política e Capital Social

Em seu trabalho, “Comunidade e Democracia”, Putnam (1996) estava preocupado em compreender como os governos democráticos podem funcionar de maneira satisfatória, uma vez que na contem-poraneidade, as democracias liberais “vitoriosas” com o fim do socialismo real e a queda do muro de Berlim, não estão satisfazendo adequadamente as demandas dos cidadãos. Então, o autor investigou o que era necessário para o bom funcionamento dos governos democráticos, quais eram os pressupostos indispensáveis para que a democracia respondesse aos desafios contemporâneos. Assim, uma das questões centrais que o autor investigou foi porque alguns governos democráticos tem um bom desem-penho institucional e outros não? O que determina o bom desempenho das instituições políticas? As instituições podem mudar a prática dos governos? O desempenho dos governos depende da cultura política1 de seus cidadãos?

Perseguindo esta questão, o autor vai analisar vinte anos da história política da Itália, demons-trando que este país apresenta uma grande di-ferença regional tanto ao Norte em Seveso, por exemplo, quanto ao Sul do país em Pietraportesa. De uma localidade a outra se vai da modernidade

1 Influenciados por Verba e Almond (1989) a “cultura política” é entendida aqui como um conjunto de atitudes e comporta-mentos que os cidadãos têm em relação ao sistema político e social e que são indispensáveis para a sustentação das instituições estatais.

capitalista industrial em alguns casos pós-industrial ao sul tradicional agrícola. Estas diferenças entre estes dois extremos necessitaram da ajuda de re-formas políticas para resolver seus problemas de administração pública, posto que na década de 70 criaram-se diversos governos regionais procurando descentralizar a administração política italiana.

Foram criadas 20 regiões idênticas quanto aos seus poderes, entretanto, os desempenhos destas regiões foram muito diferentes. Como explicar esta diferença? O autor procura testar sua hipótese de que a cultura política, em outras palavras, as tra-dições cívicas que determinam o desenvolvimento sócio-econômico de uma região e nela o CS. Este conceito está ligado à idéia de um bem comunitário (PUTNAM, 1996; FUKUYAMA, 1996). Para Putnam (1996), CS são práticas sociais, normas e relações de confiança que existem entre cidadãos numa determinada sociedade, bem como, sistemas de participação e associação que estimulam a coo-peração. Nesta conceituação, quanto maior for a capacidade dos cidadãos confiarem uns nos outros, para além de seus familiares, ou seja superando o “familismo”, assim como maior e mais rica for o nú-mero de possibilidades associativas numa sociedade, maior será o volume de CS. Assim, a confiança é a expectativa que nasce no meio de uma comunidade de comportamento estável e cooperativo, baseado em normas compartilhadas por estes mesmos mem-bros (FUKUYAMA, 1996). A questão central para Putnam (1996) é que a confiança, a cooperação e os espaços de participação social entre o Estado e a Sociedade são elementos positivos e essenciais para o bom funcionamento das instituições políticas2. Ou seja, ele toma a cultura política, a variável civismo,

2 Não somente para as instituições democráticas, mas também econômicas. Fukuyama (1996), demonstrou que a existência de CS numa dada sociedade é fator explicativo do tamanho da estrutura industrial ali existente, bem como, do desem-penho econômico conseqüentemente.

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como uma variável independente e o desenvolvi-mento econômico e o desempenho institucional como uma variável dependente. Isto é novo no de-bate posto em tela, pois haveria uma forte tendência em acharmos, contrariamente do que o exposto, de que a situação sócio-econômica das regiões na Itália é que levaram ao civismo, colocando o civismo como uma variável dependente. Entretanto, o autor demonstra, em favor de sua tese, de que as regiões mais cívicas da Itália (o norte), não começaram sendo mais ricas e nem sempre foram mais ricas, mas pelo contrário, permaneceram mais cívicas desde o século XI. E precisamente foi este civismo que levou ao desenvolvimento econômico e não o contrário. Há uma correlação muito forte entre civismo e de-senvolvimento para Putnam (1996).

O exemplo da região da Emília-Romagna no norte e da Calábria no sul italiano ilustra bem sua tese. No início do século XX, argumenta o autor, as cidades do norte eram menos industrializadas (20% na indústria e 65% no campo) contra as do sul ligeiramente mais industrializadas (26% na indústria e 63% no campo). No entanto, o norte era mais cívico do que o sul. Oitenta anos depois o norte mais cívico estava mais industrializado do que o sul, menos cívico.

Ou seja, “As possibilidades de desenvolvimento sócio-econômico de uma região neste século depen-deram menos de seu potencial sócio-econômico inicial do que de seu potencial cívico” (PUTNAM 1996, p.166). Mas, como a comunidade cívica (por meio de que mecanismos) pode contribuir para a prosperidade econômica? Ela pode contribuir, por exemplo, pela cooperação horizontal entre empre-sas nos distritos industriais na Itália, demonstra Putnam (1996). Isto se reflete na cooperação nos serviços administrativos, na aquisição de matérias-primas, no financiamento e na pesquisa (PUTNAM,

1996). Ou mesmo subcontratando os concorrentes temporariamente. Elas competem sim, na inovação de produtos e na eficiência. Todavia, são as normas de reciprocidade e os sistemas de participação cívica que estão na base do sucesso dos distritos industriais. Pelo lado da demanda, os cidadãos das comunidades cívicas querem um bom governo e “Eles exigem serviços públicos mais eficazes e estão dispostos a agir coletivamente para alcançar seus objetivos comuns. Já os cidadãos das regiões menos cívicas costumam assumir o papel de suplicantes cínicos e alienados” (PUTNAM, 1996, p.191). Pelo lado da oferta de serviços do setor público, o governo é favorecido pela infra-estrutura social das comunidades cívicas que acabam colaborando e cooperando com o governo visando os interesses comuns (PUTNAM, 1996).

Assim, o autor, argumenta que se formaram dois sistemas sociais equilibrados na Itália, no norte, de comunidade cívica, um equilíbrio virtuoso, ou seja, cooperação, confiança e reciprocidade. No sul, não cívico, um equilíbrio vicioso deserção, desconfian-ça, omissão, exploração. Desta forma, estes equilí-brios estão “subordinados a trajetória”. Em outras palavras, que o lugar de onde você veio determina o lugar para onde você pode chegar (PUTNAM, 1996). É por esta razão que o autor conclui que tan-to os Estados Unidos quanto os países da América Latina coincidem no fato de receberem heranças culturais significativas, no entanto, distingue-se pois os norte-americanos foram beneficiados pelas tradições inglesas de descentralização, enquanto os latino-americanos foram prejudicados pelo autori-tarismo centralizado, o familismo e o clientelismo que haviam herdado da Espanha e de Portugal medievais. Os latino-americanos herdaram tra-dições de dependência vertical, ao passo que os americanos herdaram tradições cívicas horizontais e isto fez toda a diferença.

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RESULTADOS

A pesquisa realizada em Porto Alegre (Brasil), Montevidéo (Uruguai) e Santiago (Chile) mostra que existe uma correlação significativa entre o estoque de capital social, mensurado pela vari-ável “confiança interpessoal”, e o desempenho institucional, avaliado pela variável “satisfação do cidação com o serviço ou instituição pública”. As variáveis são alimentadas com pesquisa quan-titativa de opinião, que revela a impressão dos cidadãos a respeitos dos serviços públicos e suas instituições responsáveis.

Encontramos em Montevidéu o maior índice de confiança interpessoal. Quando perguntamos: Em termos gerais, o senhor (a) diria que se pode ou não se pode confiar nas pessoas? Cerca da metade dos uruguaios (50,2%) responderam que se pode confiar nas pessoas como se pode verificar na Figura 1. O percentual cai em Porto Alegre e Santiago do Chile com 32,9% e 23,7% respectivamente.

Figura 1 - Confiança interpessoal. Fonte: Pesquisa Desenvolvimento Sustentável

e Capital Social na Promoção da Cidadania e Qualidade de Vida na América Latina – NEM/NUPESAL/UFRGS/CNPQ – 2005.

Na Figura 2 apresentamos os resultados da questão sobre os serviços públicos nos setores da educação, saúde, obras, segurança pública e es-porte/lazer/cultura. A população de Montevidéu apresentou os maiores índices de avaliação boa em todos os setores se comparados com Porto Alegre e Santiago do Chile, com exceção de esporte/lazer/cultura em que o maior índice de avaliação boa foi em Porto Alegre com 38,6% de avaliação boa, seguida de Montevidéu com 30,7% e Santiago do Chile com 24,4%.

Figura 2 - Avaliação dos serviços públicos. Fonte: Pesquisa Desenvolvimento Sustentável e

Capital Social na Promoção da Cidadania e Quali-dade de Vida na América Latina – NEM/NUPESAL/UFRGS/CNPQ – 2005.

Onde o índice de confiança pessoal foi maior, encontramos também melhores avaliações do de-sempenho de suas instituições políticas. Por outro lado, onde o índice de confiança foi menor as ava-liações também tiveram menor escore. Na Figura 3 mostramos que Santiago do Chile obteve um índice de 76,3% de pessoas que responderam que não se pode confiar nas pessoas e em Porto Alegre este nú-mero foi de 67,1%. Nestas cidades com um nível de confiança interpessoal menor, observamos maiores índices de avaliação ruim nos serviços públicos.

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Figura 3 - Avaliação dos serviços públicos Fonte: Pesquisa Desenvolvimento Sustentável e

Capital Social na Promoção da Cidadania e Quali-dade de Vida na América Latina – NEM/NUPESAL/UFRGS/CNPQ – 2005.

Em relação à educação, evidencia-se uma significativa similaridade nos três países pois, con-forme observa-se na Figura 4, quando não existe confiança interpessoal, ocorre um significativo au-mento da insatisfação dos cidadãos com a educação, consideram-na “ruim”.

Figura 4 - Relação entre a confiança interpessoal e a satisfação com educação

Fonte: Pesquisa Desenvolvimento Sustentável e Capital Social na Promoção da Cidadania e Quali-dade de Vida na América Latina – NEM/NUPESAL/UFRGS/CNPQ – 2005.

Interessante destacar que o maior percentual de cidadão que consideram-se medianamente

satisfeitos com a educação são os chilenos. Uma possível explicação é o fato do Chile ter sido o país onde as políticas neoliberais foram precocemente experimentadas, desde o início da década de 1980. Um dos primeiros setores a serem regulamentados e repassados à iniciativa privada, na sua quase totalidade foi o do ensino superior.

A segurança é um tema que tem destaque sig-nificativo no período contemporâneo. Isto ocorre em razão da emergência ou ebulição da violência e do crime organizados: terrorista, mafioso ou nar-cotraficante e, de outro lado, em razão do processo crescente de empobrecimento e exclusão social. Não obstante, é notória a pouca capacidade do Estado contemporâneo de construir mecanismos que reprimam e, muito menos, previnam a ocor-rência da violência. Isto pode ser observado nos resultados do survey que mostram a pouca satis-fação dos cidadãos em relação à segurança nos países analisados, cuja informação seguramente não difere nos demais países da América Latina. O survey mostra que os cidadãos que estão satis-feitos com a segurança (definindo-a como boa) não ultrapassam 7%, e os que estão instatisfeitos não baixam de 42%, mostrando uma insatisfação geral na região.

No entanto, quando estabelece-se a relação entre confiança interpessoal e segurança, observa-se situação similar à segurança nos três países, conforme mostra a Figura 5.

Quando não existe confiança interpessoal, é sig-nificativo o aumento da insatisfação dos cidadãos. O cidadão que não confia nos pares, sente-se mais insatisfeito em relação à segurança em comparação com aqueles que confiam.

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Figura 5 - Relação entre confiança interpessoal e satisfação com segurança

Fonte: Pesquisa Desenvolvimento Sustentável e Capital Social na Promoção da Cidadania e Quali-dade de Vida na América Latina – NEM/NUPESAL/UFRGS/CNPQ – 2005.

É relevante destacar que os cidadãos que con-sideram a segurança pior são os brasileiros que não confiam. Essa informação pode ser explicada pelo processo histórico de industrialização e urbanização rápida e desordenada que no final do século XX produziu um crescimento significativo da exclusão e da pobreza, ao mesmo tempo em que cresceu o consumo e o comércio de drogas e armas nas peri-ferias das grandes cidades.

A variável satisfação com o transporte segue a mesma trajetória das variáveis educação e segu-rança, ou seja, os cidadãos que não confiam são mais insatisfeitas que os que confiam. A excessão ocorre no Uruguai, onde a diferença é sutil (de 1%), muito embora seguindo a mesma lógica, conforme mostra a Figura 6.

Figura 6 - Relação entre confiança interpessoal e satisfação com transporte

Fonte: Pesquisa Desenvolvimento Sustentável e Capital Social na Promoção da Cidadania e Quali-dade de Vida na América Latina – NEM/NUPESAL/UFRGS/CNPQ – 2005.

O alto índice de satisfação com o transporte no Brasil (de 52 a 73,90%) ocorre em razão do survey ter sido aplicado em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, que possui um dos melhores sistemas de trasporte coletivo do país. No entanto, isto não invalida a correlação que pode ser estabelecida que quando os cidadãos não confiam uns nos outros, sentem-se mais insatisfeitos com o transporte que quando confiam.

As informações apresentadas nos gráficos anteriores permitem observar uma clara relação entre a confiança interpessoal e a satisfação em relação aos serviços pú-blicos. A esta altura é possível inferir a veracidade da nossa hipótese de trabalho, ou seja, os dados mostram que existe uma relação de mutua determinação e refor-çamento entre o capital social, verificado pela confiança

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interpessoal, e o desempenho institucional, avaliado pela satisfação com os serviços públicos.

A satisfação com os serviços públicos é utilizada como indicador de desempenho institucional pois, as sociedades que possuem capital social crêem que as instituições e organizações públicas estão empre-endendo os esforços possíveis para cumprirem suas missões. Além disso, empreendem iniciativas no âmbito da sociedade civil com o objetivo de con-tribuir com a solução de problemas sociais o que, seguramente, contribui para o desenvolvimento enquanto um processo de crescento aumento de capacidades individuais e sociais (SEN, 2000).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo esboçou primeiramente um referencial teórico que nos possibilitasse compreender as razões que determinam o desempenho satisfatório das insti-tuições políticas. Num segundo momento, com base na empiria recolhida nas três capitais latino america-nas, corroborar a tese de Putnam (1996) da associação entre capital social e desempenho institucional.

Desta forma, este trabalho procurou oportuna-mente chamar a atenção para um dos grandes desafios colocados ao Estado neopatrimonialista latino neste início de século. Ou seja, o desafio de ser eficiente e capaz de atender as demandas provenientes da socie-dade, promover a segurança, criar empregos, construir escolas, atender estas populações locais. Isto nos reme-te a pensarmos nas possibilidades de tornarmos este Estado mais eficiente, o que pode ser impulsionado através da reforma das instituições e pela melhora das dotações de CS, para seguirmos coerentemente o que os dados aqui nos revelam. Estes dois movimentos podem colaborar para a diminuição das desigualdades sociais na região. Melhorando a distribuição de servi-

ços e recursos públicos aos setores mais subalternizados da sociedade latino-americana mas também ativando, importantes setores da comunidade, caracterizando um círculo virtuoso desejável e necessário na dinâmica relação entre Estado e sociedade.

AGRADECIMENTOS

Prestamos o nosso agradecimento ao professor doutor Hemerson Luiz Pase que nos auxiliou na constituição deste trabalho e ao Núcleo de Pesqui-sas Sobre a América Latina - NUPESAL/UFRGS pela parceria.

REFERÊNCIAS

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VERBA, S.; ALMOND, G. The Civic cul-ture. Political attitudes and democracy in five nations. Newbury Park: Sage, 1989.

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Engenharias

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Estudo da viabilidade da utilização de carepa de aço na produção de concreto

GISELE LOPES PEREIRA1

RAFAEL JESUS COSSA2

FERNANDA MACEDO PEREIRA3

RESUMO

A carepa de aço é um resíduo sólido gerado na fabricação do aço, normalmente depositado ao ar livre no pátio de siderúrgicas. O presente trabalho visa avaliar a possibilidade de incorporação da carepa de aço em concretos de cimento Portland, como substituição à areia natural quartzosa. Foram produzidos concretos com traços 1:3,5; 1:5,0 e 1:6,5, com diferentes teores do resíduo (0%, 10%, 25% e 40%) e abatimento de 110±10mm, para determinação da resistência à compressão absorção de água. Os concretos com carepa de aço exigiram maior quantidade de água para manutenção da trabalhabilidade fixada. A análise dos resultados indicou para concretos com relações água/cimento 0,55 e 0,65 redução da resistência à compressão e maior absorção de água à medida que o teor de carepa de aço aumenta.

Palavras-chave: Carepa de aço, concreto, resistência à compressão, absorção de água.

ABSTRACT

Mill scale is a solid waste formed on steel surface during steel manufacture, usually deposited outdoor at steel-making industries. This work aims to evaluate the use of mill scale in cement Portland concrete, as a replacement

1 Acadêmico do Curso de Engenharia Civil/ULBRA – Bolsista PROICT/ULBRA

2 Acadêmico do Curso de Engenharia Civil/ULBRA – Bolsista BIC/FAPERGS

3 Professora-Orientadora do Curso de Engenharia Civil/ULBRA e do PPG Engenharia: Energia, Ambiente e Materiais/ULBRA ([email protected])

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for natural fine aggregate. Concretes with mix proportioning 1:3,5, 1:5,0 and 1:6,5 were produced varying the mill scale content from 0% to 40%, with a given slump 110±10mm, for determination of compressive strength and water absorption. Concrete with mill scale has demanded greater water content to maintain the workability. The results indicated that concretes with water/cement ratio 0,55 and 0,65 have a reduction in the compressive strength and greater water absorption as the mill scale content increases.

Key words: Mill scale, concrete, compressive strength, water absorption.

INTRODUÇÃO

A preocupação com a preservação do meio am-biente e aspectos vinculados à gestão ambiental é crescente nos últimos anos, apresentando-se como uma constante nos diversos segmentos industriais (LEVY, 2001).

Exigências sociais e governamentais, bem como instâncias legais, incentivam cada vez mais a adoção de práticas ecoeficientes pelas indústrias, com investimentos em atualizações tecnológicas que possibilitem otimizar a utilização de recursos naturais e o desenvolvimento de alternativas para a disposição adequada de subprodutos industriais.

O problema dos rejeitos industriais não termina com a sua captação, visto que a disposição ina-dequada dos resíduos, com deposição de grandes quantidades em locais impróprios, ocasiona efeitos deletérios ao meio ambiente, gerando riscos de con-taminação do solo, atmosfera e fontes de água.

Conseqüência direta desse fato são os recentes avanços no desenvolvimento de novos materiais e aproveitamento de resíduos de diversos setores produtivos como subproduto de valor agregado, visando assegurar a integração e o equilíbrio entre o desenvolvimento industrial e a proteção ambiental. Além disso, em diversos setores da indústria, esfor-ços tecnológicos têm sido concentrados em ações que levem à utilização de tecnologias de produção mais limpas que possibilitem a redução dos resíduos

ou incorporação destes dentro do próprio processo produtivo que os gerou ou ainda como insumo em outros processos produtivos.

A carepa de aço é um resíduo sólido gerado na fabricação do aço, produzida na oxidação da superfície do aço quando este se encontra a elevada temperatura. O metal a alta temperatura reage com o oxigênio formando um óxido de ferro com baixa aderência. A carepa deve ser removida para evitar inclusões que diminuem a qualidade do aço durante sua conformação mecânica por laminação ou outro processo de deformação plástica.

A quantidade de carepa gerada na fabricação do aço é significativa, sendo normalmente depositada ao ar livre no pátio de siderúrgicas. Dados apresen-tados por Oliveira (2004) revelam que, em usinas integradas, a produção de 1 tonelada de aço produz 10 kg de carepa. A disposição da carepa de aço em pátios deve ser realizada seguindo-se as normas ambientais pertinentes, visto que este resíduo pode ser classificado como classe I, resíduos perigosos, segundo a NBR 10004 (2004).

A indústria da construção civil, por ser grande consumidora de recursos naturais, constitui-se em potencial consumidora de subprodutos e resíduos provenientes de outras indústrias, tais como as siderúrgicas (JONHN, 2000).

De acordo com Sjöström, citado por Pagnussat (2004), a construção civil consome entre 14% a 50%

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dos recursos naturais extraídos no planeta. Conside-rando que no Brasil são produzidas aproximadamente 35 milhões de toneladas de cimento por ano e que, na produção de concreto, o cimento é misturado com agregados, em média, a partir de um traço 1:5 (cimeto:agregados), em massa, é possível estimar uma consumo anual de aproximadamente 200 milhões de toneladas de agregados, sem levar em conta o volume de agregados utilizados em pavimentação.

Alguns resíduos provenientes de operações de siderurgia e metalurgia já possuem uso consagrado e disseminado no setor da construção civil, como, por exemplo, as escórias granuladas de alto-forno provenientes da produção do ferro-gusa, utilizadas na fabricação de cimentos Portland (MOURA, 2000).

Alternativas para a utilização de subprodutos decorrentes da fabricação do aço, como a escória de aciaria (MASUERO, 2001) e a carepa de aço, vêm sendo desenvolvidas, podendo vir a viabilizar a redução do consumo de matérias-primas naturais e os impactos decorrentes da sua extração no meio ambiente.

Estudos realizados pela Gerdau (2003) verifica-ram a viabilidade de reciclagem da carepa de aço em artefatos de cimento para calçamento, através da substituição da areia e brita por carepa. Os resul-tados obtidos apontaram possibilidade da obtenção de produtos com custo significativamente inferior aos existentes no mercado.

Cunha et al. (2006) estudaram o beneficiamen-to e a reciclagem de carepas geradas no processo siderúrgico através de caracterizações físicas e quí-micas que permitiram investigar suas propriedades e potencialidades industriais.

Martins (2006) em seu trabalho de mestrado realizou a caracterização química e mineralógica de

diversos resíduos industriais, incluindo a carepa de laminação, a fim de contribuir para a incorporação dos resíduos como matéria-prima em aplicações in-dustriais, de modo a minimizar impactos ambientais e reduzir custos.

A utilização da carepa de aço como insumo na construção civil pode proporcionar resultado amplamente positivo em relação a tendências atuais de gestão ambiental, como o conceito de “resíduo zero”, onde um resíduo de uma produção industrial é matéria-prima para outro processo industrial. Além disso, a reciclagem de resíduos contribui significativamente para a redução do consumo de recursos naturais, além de minimizar a deposição inadequada e, conse-qüentemente, reduzir os impactos deletérios ao meio ambiente.

A consagração de um processo de reciclagem e incorporação de resíduos representa um paradigma de desenvolvimento sustentável à sociedade, com eliminação ou minimização de riscos para o meio ambiente.

Dentro deste contexto, a utilização da carepa de aço pode apresentar-se como alternativa relevante na produção de concretos de cimento Portland, sendo imperativo, no entanto, o desenvolvimento de novos estudos que permitam verificar a viabi-lidade técnica e potencialidade do emprego desse material.

O presente trabalho apresenta com objetivo avaliar a viabilidade de incorporação da carepa de aço em concretos de cimento Portland, como substituição de areia natural quartzosa normal-mente utilizada na sua produção, analisando-se a resistência à compressão e a absorção de água de concretos com diferentes teores do resíduo.

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MATERIAL E MÉTODOS

Para o estudo experimental foi utilizado cimento do tipo CP IV-32, por ser amplamente utilizado no Estado do Rio Grande do Sul, com características de acordo com as especificações da ABNT NBR 5736 (1991). Como agregados foram utilizados areia natural quartzosa proveniente do leito do rio Jacuí, comercialmente denominada areia re-gular, e brita de origem basáltica com dimensão máxima característica 19 mm. A carepa de aço foi

proveniente da Siderúrgica Gerdau Riograndense, localizada em Sapucaia do Sul/RS. Na produção dos concretos foi utilizada água proveniente da rede de abastecimento local da ULBRA Canoas.

A Tabela 1 apresenta a composição granulomé-trica dos agregados e da carepa de aço, determinada de acordo com a ABNT NBR NM 248 (2003). Na Tabela 2 é apresentada a massa específica dos agregados e da carepa de aço, determinadas pelo método do picnômetro.

Tabela 1 - Composição granulométrica dos agregados.

PENEIRASMASSA RETIDA (KG)

% EM MASSA

RETIDA ACUMULADA

AREIA BRITA CAREPA AREIA BRITA CAREPA AREIA BRITA CAREPA

19MM - 0,052 - - 5 - - 5 -

12,5MM - 0,378 - - 38 - - 43 -

9,5MM - 0,320 - - 32 - - 75 -

6,3MM - 0,222 - - 22 - - 97 -

4,75MM 0,008 0,019 0,004 1 2 1 1 99 1

2,36MM 0,031 0,007 0,016 3 1 3 4 100 4

1,18MM 0,048 0,000 0,035 5 0 7 9 100 11

600µM 0,121 - 0,066 12 - 13 21 100 24

300µM 0,433 - 0,069 43 - 14 64 100 38

150µM 0,320 - 0,116 32 - 23 96 100 61

<150µM 0,039 0,002 0,194 4 0 39 100 100 100-

TOTAL 1 1,000 0,500 100 100 100 195 679 139

Módulo de fi nura 1,95 6,79 1,39

Dimensão máxima característica (mm) 2,36 19 2,36

Tabela 2 - Massa específica dos agregados.Agregado MASSA ESPECÍFICA (KG/DM3)

AREIA NATURAL 2,63

Brita 2,92

Carepa de aço 4,28

Foram realizadas dosagens de concreto pelo método IPT/EPUSP apresentado por Helene e Terzian (1992), com traços de concreto de 1:3,5; 1:5,0 e 1:6,5, com teores de carepa de 0%, 10%, 25% e 40% e abatimento pelo tronco de cone fixado

na faixa de 110 ±10mm, para determinação da resistência à compressão aos 7 e 28 dias de idade e da absorção de água.

A carepa de aço foi utilizada como agregado miúdo, nos teores determinados, em substituição à areia natural. Tendo em vista a diferença das massas específicas da areia natural e da carepa de aço, foi realizada a correção da massa de agregado miúdo, de modo a manter-se constante para cada

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combinação traço/teor de carepa o consumo de cimento por metro cúbico de concreto.

Para a realização dos ensaios propostos foram utilizados corpos-de-prova cilíndricos (10 x 20 cm), moldados segundo a ABNT NBR 5738 (2003),

sendo dois corpos-de-prova para o ensaio de resis-tência à compressão para cada idade e três corpos-de-prova para o ensaio de absorção de água, para cada combinação de traço e porcentual de carepa por idade, conforme mostra a Tabela 3, num total de 84 corpos-de-prova.

Tabela 3 - Corpos-de-prova para a realização dos ensaios propostos.Traço/Carepa 0% 10% 25% 40%

1:3,5

1:5,0

1:6,5

= resistência à compressão 7 dias

= resistência à compressão 28 dias

= absorção de água 28 dias

As Figuras 1 e 2 ilustram, respectivamente, a produção do concreto e a moldagem dos corpos-de-prova.

Figura 1 - Produção do concreto.

Figura 2 - Moldagem dos corpos-de-prova.

O ensaio de abatimento pelo tronco de cone foi realizado segundo a ABNT NBR NM 67 (1998), conforme mostra a Figura 3.

Os ensaios de resistência à compressão foram realizados conforme os procedimentos estabelecidos na ABNT NBR 5739 (2007), aos 7 e 28 dias de ida-

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de, com capeamento à base de enxofre e os ensaios de absorção de água conforme as recomendações da ABNT NBR 9778 (2006). A Figura 4 mostra a determinação da resistência à compressão, em prensa eletro hidráulica com capacidade de 150 toneladas.

Figura 3 - Ensaio de abatimento pelo tronco de cone.

Figura 4 - Determinação da resistência à compressão.

A partir das curvas de comportamento obtidas (diagramas de dosagem) foram calculados os parâme-tros de resposta para as relações a/c 0,55 e 0,65.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos na produ-ção dos concretos e a Tabela 5 os resultados dos ensaios de resistência à compressão e absorção de água.

Tabela 4 - Parâmetros de moldagem dos concretos produzidos.

TraçoTeor de

carepa (%)Abatimento (mm) H (%)

Relação

água/cimento

1:3,5

0

110 10,03 0,51

1:5,0 110 9,58 0,63

1:6,5 110 9,58 0,80

1:3,5

10

105 10,79 0,49

1:5,0 105 9,81 0,60

1:6,5 100 9,78 0,75

1:3,5

25

115 11,20 0,53

1:5,0 105 10,60 0,67

1:6,5 110 10,60 0,84

1:3,5

40

110 11,40 0,55

1:5,0 105 10,45 0,68

1:6,5 120 10,87 0,90

Tabela 5 - Resistência à compressão e absorção de água dos concretos produzidos.

TraçoTeor de

carepa (%)

Resistência à compressão (MPa) * Absorção

de água (%)7 dias 28 dias

1:3,5

0

24,8 33,5 4,01

1:5,0 16,6 24,1 4,67

1:6,5 10,2 15,2 6,34

1:3,5

10

19,9 29,2 7,34

1:5,0 14,9 22,5 7,91

1:6,5 9,1 13,6 8,03

1:3,5

25

16,0 25,9 7,31

1:5,0 10,4 16,8 8,84

1:6,5 5,6 9,4 8,95

1:3,5

40

17,7 22,7 4,50

1:5,0 12,0 15,2 5,69

1:6,5 7,2 8,3 7,33

* Resultados potenciais (maior valor do par de corpos-de-prova).

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Nas Figuras 5 a 8 são apresentados os diagra-mas de dosagem obtidos a partir da produção dos concretos e realização dos ensaios de resistência à compressão.

Figura 5 - Diagrama de dosagem – 0% de carepa de aço.

Figura 6 - Diagrama de dosagem – 10% de carepa de aço.

Figura 7 - Diagrama de dosagem – 25% de carepa de aço.

Figura 8 - Diagrama de dosagem – 40% de carepa de aço.

A Figura 9 apresenta os resultados de resistência à compressão, determinados a partir dos diagramas de dosagem, para as relações água/cimento 0,55 e 0,65, pré-estabelecidas para comparação do desem-penho dos concretos com os diferentes teores de carepa de aço analisados.

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Figura 9 - Resistência à compressão – relações água/cimento 0,55 e 0,65.

Na Figura 10 são apresentados os resultados da absorção de água para as relações água/cimento 0,55 e 0,65, determinados a partir das curvas de comportamento apresentadas na Tabela 6.

Tabela 6 - Relação entre a absorção de água e a rela-ção água/cimento.

TEOR DE CAREPA RELAÇÃO ABSORÇÃO X RELAÇÃO A/C

0% ABS = 1,753*EXP(1,5942*A/C)

10% ABS = 6,3287*EXP(0,3312*A/C)

25% ABS = 5,4194*EXP(0,6325*A/C)

40% ABS = 2,167*EXP(1,384*A/C)

Figura 10 - Absorção de água – relações água/cimento 0,55 e 0,65.

A partir dos resultados obtidos foi identificado que a utilização de carepa de aço aumentou o teor de água (H%) para a manutenção de um mesmo abatimento.

A análise dos resultados, realizada a partir das curvas de comportamento obtidas para cada traço estudado, indicou para concretos com relações

água/cimento 0,55 e 0,65 redução da resistência à compressão e uma maior absorção de água quando é utilizada a carepa de aço em substituição à areia natural.

Para concretos com relação água/cimento 0,55, com os teores de carepa 10%, 25% e 40% a resistên-cia à compressão diminuiu, respectivamente, 17%, 18% e 24%, em relação ao concreto de referência (redução média de 20%). A absorção de água aumentou, respectivamente, 80%, 82% e 10% em relação ao concreto de referência.

Concretos com relação água/cimento 0,65 apresentaram com a substituição de 10%, 25% e 40% resistência à compressão, respectivamente, 19%, 23% e 26% menor em relação ao concreto de referência (redução média de 23%). Para esta mesma relação água/cimento a substituição de 10%, 25% e 40% de areia natural por carepa de aço aumentou a absorção de água, respectivamente, em 59%, 66% e 8%.

Uma hipótese considerada para a redução da resistência à compressão é a presença de óleos e graxas na carepa de aço, oriundos da laminação e lingotamento contínuo, que podem influenciar nas reações de hidratação do cimento Portland. Ensaios para determinação dos teores desses elementos estão sendo realizados.

Já Goergen (2006), ao estudar o emprego de carepa de aço em concretos para confecção de peças pré-moldadas de pavimentação, con-cluiu que o resíduo melhorou o desempenho dos concretos estudados quanto à resistência à compressão em relação ao concreto con-vencional, com um incremento de aproxima-damente 10%. O autor ainda comenta que o aspecto visual e a trabalhabilidade do concreto não apresentaram modificações relevantes.

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Salienta-se, no entanto, que os traços utilizados pelo autor, com e sem a carepa de aço, apresen-tam proporcionamentos de materiais distintos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No desenvolvimento desta pesquisa foi inves-tigado o efeito da substituição de areia natural quartzosa, usualmente empregada para a produção de concretos, pela carepa de aço resultante da fabricação do aço, no desempenho de concretos de cimento Portland. De acordo com os resultados obtidos é possível concluir que:

O emprego da carepa de aço aumentou a de-manda de água para a manutenção da trabalhabi-lidade requerida;

Concretos, tanto com relação a/c igual a 0,55, como com relação a/c igual a 0,65 apresentaram uma redução média na resistência à compressão de 20% e 23%, respectivamente, em relação ao concreto de referência;

A absorção de água para concretos com relações a/c 0,55 e 0,65 apresentou um aumento médio de 57% e 44%, respectivamente, em relação ao con-creto de referência.

AGRADECIMENTOS

À ULBRA, pela bolsa de Iniciação Científica, à Gerdau Riograndense, pela doação da carepa de aço; à Engemix S.A., pela realização dos ensaios de resistência à compressão e à Fundação de Ciência e Tecnologia – CIENTEC, pelos ensaios de massa específica dos agregados e da carepa de aço.

REFERÊNCIAS

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230 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

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231Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

Sistema de monitoramento de sinais vitais para testes físicos com transmissão de dados sem fios

CRISTIAN TEIXEIRA DANIEL1

JOÃO D. KLEIN1

VALNER J. BRUSAMARELLO2

RESUMO

Este projeto desenvolve o sistema de medição e monitoramento dos sinais vitais, para ser aplicado na realização de testes físicos ergométricos, que determinam os níveis adequados de exercícios para quem deseja iniciar atividades físicas regulares. Estes testes podem ser realizados em campo ou em laboratório. Realizando a aquisição dos sinais de eletrocardiograma (ECG), temperatura corporal (TC) e estimativa da pressão arterial (PA), utilizando transmissão de dados sem fios.

Palavras-chave: ECG, PA, sem fios.

ABSTRACT

This project has the objective to develop a measurement system and checking for the vital signals, to be applied in the accomplishment of ergometric physical tests, which determine adequate levels of exercises activities. These tests can be carried set through both field and laboratory. Signals of the electrocardiogram signals (ECG), body temperature (TC) and estimate of the arterial pressure (PA), were acquired and transmitted though wireless. A Texas MSP430F133 microcontroller was used for the signal.

Key words: ECG, PA, without contact.

1 Aluno do Curso de Engenharia Elétrica/ULBRA - Bolsista

PROICT/ULBRA

3 Professor - Orientador do Curso de Engenharia Elétrica/ULBRA ([email protected])

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232 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

INTRODUÇÃO

O bem estar físico e mental atua significati-vamente na estrutura orgânica do ser humano, distúrbios físicos causados por modificações no ambiente, são constantemente notados nas pessoas e nos seres vivos em geral. Na troca de um ambiente familiar para um estranho, involuntariamente a freqüência cardíaca sobe, a percepção aumenta e o corpo fica em estado de alerta. Neste contexto em 1990, um grupo de pesquisadores norte-americanos desenvolveu um estudo científico, coletando 300 amostras de casos onde pacientes foram avaliados em suas próprias residências, com que diz respei-to à pressão arterial (PA) (ROURKE; KELLY; AVOLIO, 1992), e a freqüência cardíaca, (FC), (MARCONDES, 1998). Verificou-se uma varia-ção considerável na PA e FC, comparadas com as medições das mesmas pessoas, nos mesmos horários e com a mesma preparação, feitas no consultório médico. Concluiu-se que a presença do médico e o local não familiar alteravam as condições normais dos pacientes; e que o bem estar do paciente, no momento de uma análise clínica, será refletido na coerência dos resultados obtidos.

O teste consiste em o paciente sofrer um au-mento gradual da carga física, que na esteira é aumento da velocidade e inclinação, e na bicicleta as marchas são alteradas para variar os esforços feitos pelo paciente. Os testes prosseguem até uma freqüência cardíaca alvo, ou a menos que o paciente sofra algum mal estar.

Para que o paciente possa realizar o teste con-fortavelmente sem a utilização de cabos ligando os sensores ao monitor, foi desenvolvido neste projeto um sistema micro-processado que faz a aquisição dos sinais vitais e o transmite via radio ao computa-dor, que a partir de um software dedicado gerencia estas informações.

MATERIAL E MÉTODOS

Este sistema tem a propriedade de monitorar o eletrocardiograma, temperatura superficial da pele e pressão arterial, a partir de um sistema criado com prioridade na utilização de componentes de alta tecnologia, no que diz respeito à confiabilidade, consumo de energia e capacidade de identificar situações específicas, da condição física do paciente durante o monitoramento.

O funcionamento do sistema é dividido em três importantes etapas, o diagrama da Figura 1, mostra essas etapas simplificadas:

Figura 1 - diagrama de etapas do projeto.

Sinais

O ECG será medido continuamente para que as condições gerais do paciente possam ser moni-toradas durante o teste, a temperatura pode ser adquirida em um espaço de tempo mais longo pois sua taxa de variação é baixa. A pressão arterial de maneira periódica será coletada a cada período definido a critério do profissional de saúde, que estará aplicando exame.

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Temperatura.

A temperatura do paciente será adquirida através de um sensor semicondutor, neste caso o LM35, do fabricante National Semiconductor®, que estará preso ao corpo junto aos eletrodos de ECG.

A variação em tensão para medida de tempera-tura durante o teste varia de 340mV a 410mV. Isto foi verificado em uma amostragem feita em dois in-divíduos em teste feito numa bicicleta ergométrica. A temperatura corporal tem uma elevação de 3ºC em um período de 5 minutos.

Visto as características de resposta deste com-ponente ele é acoplado ao µC no pino 60, entrada A1 referente ao canal analógico 1.

Eletrocardiograma (Cooper, 1986)

Para aquisição do sinal de ECG três eletrodos fixados ao tórax (Figura 2) captam a diferença de potencial gerado pela atividade elétrica dos mús-culos cardíacos, amplificados por um amplificador de instrumentação para serem tratados no micro-controlador.

Figura 2 - Posição dos eletrodos em função do micro-controlador.

Cada eletrodo é fixado sobre a pele, logo após estar limpa, e conectados ao amplificador de ins-trumentação, esquema na Figura 3.

O amplificador de instrumentação (AI), tem a característica de eliminar a tensão de modo comum existente no sinal, que no caso da ECG fica em torno de 1,5V, e amplificar o sinal que sai dos eletrodos com um valor de 0,5mV a 30mV. Condicionando assim o sinal a uma tensão em torno de 500mV a 3V, adequando assim ao valor característico do µC. A Figura 4 mostra as tensões típicas de um teste vistas no osciloscópio logo após serem amplificadas.

Figura 3 - Amplificador de instrumentação com LMC6084.

Figura 4 - Valores de tensão do ECG na saída do AI.

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Com estes níveis de tensão o ADC12 do µC tra-balha com uma boa folga. E com a freqüência do sinal variando de 0,5Hz a 100Hz, a taxa de amostragem fica referenciada ao oscilador de 5MHz, pré-fixado pelo fabricante do µC, podendo ser alterado em tempo de excussão para ajuste da amostragem.

O amplificador de instrumentação LMC6084 foi calculado, mantendo todos os resistores R iguais (Figura 5) somente com RG para variar o ganho, utilizando as seguintes fórmulas:

Sendo Av o ganho de tensão R = 10kΩ.

Figura 5 - Ligação da saída do amplificador de instru-mentação.

Pressão Arterial

A pressão arterial adquirida através de um mé-

todo não invasivo, traduz apenas uma estimativa

da pressão real no interior das artérias. O principal

objetivo é registrar a variação da pressão com

referência ao antes, durante e depois da carga de

exercícios do teste ergométrico.

Nesta medida será utilizado o sensor piezo

elétrico, que capta a variação da pressão atra-

vés de uma câmara de ar, que envolve o pulso

do paciente, é inflada a partir de um sistema

automático, (aparelho comercial da empresa

MARK of FITNESS, modelo MF-81, Figura

6) até que atinja um valor de pressão ligeira-

mente acima da pressão arterial comum, cerca

de 200mmHg.

Este sensor, localizado no interior do MF-

81, está acoplado à câmara de ar que alimenta

o sistema, e gera uma saída em onda quadrada

com freqüência de 15,78kHz fixa, variando

conforme a diferença de pressão a sua largura

de pulso (Figura 7). Os componentes internos

mostrados na Figura 8, têm seu controle au-

tomático necessitando apenas que o paciente

ligue o aparelho.

Figura 6 - local do sensor no MF-81.

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Figura 7 - Sinal do sensor do monitor MF-81

Figura 8 - Componentes internos do MF-81.

Ao ser ligado, o MF-81 leva três segundos e inicia a bomba de ar para encher o compartimento. Neste momento aguarda uma resposta do sensor que se ativa logo após 3mmHg em sua entrada, na Figura 8 a tubulação que sai da bomba alimenta também o sensor. O MF-81 enche a câmara de ar até 185mmHg e esvazia a uma taxa de 2mmHg/s, o sensor capta qualquer variação de pressão na câmara devido à expansão e contração das artérias, então a partir do método oscilométrico é convertida a oscilação em mmHg e mostrada na tela.

A Figura 7 detalha o sinal originado do sensor. O canal 1 do osciloscópio, mostra uma tensão negativa de 2,4V, anulando assim a possibilidade de ligação direta no µC. Neste caso foi utilizado um circuito com um FET utilizado como chave, gerando um valor que pode ser lido pelo MSP430, o esquema elétrico está na Figura 9.

Figura 9 - Circuito condicionamento para o sensor do MF-81.

Com este circuito, o µC fica encarregado de processar a variação da largura de pulso. Para isso o sinal vindo do sensor é conectado no pino TA0 e TB1 com a função de interrupção timer.

Verificando na Figura 10, a largura de pulso é reduzida até que a pressão sistólica seja percebida pelo sensor. Daí para frente ela é incrementada, a cada pulsação, até que uma variação seja menor que a percebida pelo ouvido humano, com referência ao método de Riva –Rossi (VARDAN, 1983).

Figura 10 - 1= procura sistólica. 2 = procura diastó-lica.

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236 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

ZigBee

Logo após a aquisição e tratamento dos sinais pelo MSP430, eles são transmitidos via radio ao software supervisório pelo modulo ZigBee, que está ligado diretamente a porta serial do MSP430. O ZigBee trabalha em uma freqüência de 2GHz e permanece no modo dormindo (sleep) que destaca seu baixo consumo e é ativado automaticamente no instante de uma transmissão ou recepção.

Para a efetivação da transmissão são necessários dois módulos, um coordenador e outro fim de rede. O coordenador estabelece uma comunicação USB com o PC, enquanto que o módulo fim de rede fica conectado ao RX e TX do microcontrolador. Esta transmissão pode chegar a 100m em campo aberto. A Figura 11 mostra os módulos.

Figura 11 - Módulo de comunicação ZigBee.

Dentre as configurações mínimas, para uma comunicação serial RS-232, estão a velocidade de comunicação (BD Baud Rate), paridade (NB Parity) e bit de finalização (Stop Bit). Como os módulos ZigBee tem uma grande capacidade de comunicação entre módulos, chegando a 65535 nós

diferentes em uma rede, é necessário a identifica-ção do nó, que vai estabelecer comunicação com o coordenador, basta especificar em Networking, o nome do nó fim de rede a comunicar (www.maxstream.net).

MSP430F133

Com o microcontrolador MSP430F133 serão adquiridos os três sinais, ECG, temperatura e pressão arterial, ligando a saída do amplificador do ECG em uma entrada ADC12-A0 mais especifica-mente, o LM35 na entrada ADC12-A1 e o sensor do aparelho de pressão ao pino de interrupção do timer A e o ZigBee nos pinos da comunicação serial. A Figura 12 mostra as ligações do MSP430 sensores e serial.

Figura 12 - Esquema simplificado de ligação dos sen-sores ao microcontrolador.

O IAR (IAR Embedded Workbench IDE), foi escolhido entre algumas alternativas para compila-ção do programa para este projeto. No site (www.iar.com), está disponível a versão free, deste montador limitado em 2kbytes de programa.

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Para estabelecer comunicação com o MSP430F133 está disponível no site (www.olimex.com), o circuito de comunicação entre o PC e o MSP430, que neste projeto foi integrado na mesma placa da aplicação.

Assim, para essa aplicação, alguns periféricos são destacados na Figura 13. As portas P1 a P6, ADC12 o Timer A e a USART, encarregada da comunicação serial.

Figura 13 - Periféricos do MSP430 utilizados neste projeto.

Das portas, são utilizadas a P1.1, interrupção Timer A, entrada do sensor de pressão, P3.4 e P3.5 comunicação serial, P6.0 entrada do ECG e P6.1 sensor de temperatura.

Um esquemático simplificado da placa de controle está na Figura 14.

Figura 14 - Esquema simplificado da placa de aquisição.

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Software SISULBRA ElipseSCADA

O ElipseScada com suas flexibilidades e de relativamente facilidade de configuração, na comunicação com outros dispositivos, foi aplica-do para fazer o gerenciamento das informações necessárias para realizar o monitoramento dos testes físicos.

O aplicativo para o Elipse foi projetado para disponibilizar uma tela inicial, (Figura 15), que serve para cadastrar o paciente que realizará o teste, para fins de histórico e relatório do exame.

Figura 15 - Tela inicial do SISULBRA software de ge-renciamento.

Para iniciar o monitoramento, basta clicar no botão iniciar exame, no entanto é possível cadastrar o paciente antes de iniciar o processo, é só clicar em novo paciente e a tela de cadastro aparecerá.

Logo após, basta voltar para a tela principal e clicar em iniciar exame, para que a tela de trabalho inicie, como na Figura 16.

Figura 16 - Tela de trabalho.

Nesta tela estão disponíveis os botões para iniciar o monitoramento do ECG e temperatura, bem como a pressão arterial. Também são indicados sinais de emergência para avisar caso alguma variá-vel esteja fora do valor pré-determinado.

CONCLUSÕES

O SISULBRA contempla testes físicos realiza-dos em esteira ou bicicleta ergométrica, e também em pista atlética, este sistema foi concebido para dar ao paciente mais conforto na hora de um exame de condicionamento físico, onde o médico avalia a evolução dos sinais vitais do paciente durante o esforço físico.

A tecnologia wireless disponível, neste caso o ZigBee, teve também o propósito de disponibilizar ao profissional que avalia um condicionamento físico, a possibilidade de agregar ao teste situações reais, sendo possível, pelo fato de o ZigBee comunicar-se simultane-

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amente com até 65535 dispositivos diferentes. Que viabilizaria, por exemplo, o teste de uma equipe esportiva, a fim de avaliar qual o atleta mais preparado fisicamente para uma competi-ção. O fato de “libertar” o paciente dos cabos, que em um teste convencional o prende ao aparelho monitor, mantendo o mesmo tipo de exame, agregando outros parâmetros, como a temperatura, abre condições para ampliar este projeto, agregando outras tecnologias como o envio deste teste on-line, para um consultório médico remoto.

Este projeto tem como principal objetivo futu-ro, a implementação da medida de pressão, pelo tempo de trânsito de cada pulsação sanguínea, a fim de correlacionar, estimar a pressão sanguínea continuamente evitando que, como neste projeto o paciente ter que parar o exercício, até que a pressão seja medida.

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240 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

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Índice de Autores

ALLGAYER, Mariângela da Costa ............................................................................................................................11ANDRADE, Sheila Coitinho de ...............................................................................................................................197BAKKAR, Fernanda Cristina ...................................................................................................................................123BARETTA, Jocyane Ricelly ......................................................................................................................................181BERNARDI, Roberto Tesi...........................................................................................................................................21BESKOW, Ana Paula .................................................................................................................................................85BONA, Silvia ...........................................................................................................................................................109BORBA, Miriam Santos .............................................................................................................................................47BOULHOSA, Simone Aparecida Ribeiro .................................................................................................................181BRUSAMARELLO, Valner João ..............................................................................................................................231BUSANELLO, Estela Natacha Brandt ......................................................................................................................85

CANANI, Paula ......................................................................................................................................................197CAPPELLETTI, Ângela Maria ...............................................................................................................................181CASANOVA, Yara Silva ...........................................................................................................................................27CASTRO, Mauro Antônio Alves ................................................................................................................................47CERVEIRA, Fabricia Alves ........................................................................................................................................27CHRISTOFF, Alexandre Uarth ..................................................................................................................................71COLVARA, Diego ....................................................................................................................................................135CORNELIO, Luiz Eduardo ......................................................................................................................................189COSSA, Rafael Jesus ................................................................................................................................................221CRISPIM, Daisy .........................................................................................................................................................53

DALAGNA, Raquel ................................................................................................................................................135DALLAROSA, Diovana Maria ................................................................................................................................123DAMICO, José Geraldo Soares ................................................................................................................................157DANIEL, Cristian Teixeira .......................................................................................................................................231DANYLUK, Ocsana Sônia .......................................................................................................................................189DAVID, Cíntia de .......................................................................................................................................................97DIAS, Priscila Pedroso ...............................................................................................................................................181DREYER, Cristina ....................................................................................................................................................123FAGANELLO, Josiane ..............................................................................................................................................27

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242 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

FERNANDES, Carolina Gonçalves ...........................................................................................................................85FERRAZ, Alexandre de Barros Falcão ........................................................................................................................37FERREIRA, Luiz Alberto dos Santos ........................................................................................................................157FERST, Juliana Germano ..........................................................................................................................................123FONSECA, André Salvador Kazantzi ........................................................................................................................27FRANCESCONI, Carlos Fernando ...........................................................................................................................61FREITAS, Cintia de la Rocha ...................................................................................................................................135FURTADO, Tatiane Chao .........................................................................................................................................11

GAMA, Kelly Cristina Leite da...................................................................................................................................47GOMES, Carmen Hessel Peixoto ..............................................................................................................................189GOMES, Isabel Cristina ..........................................................................................................................................181GONÇALVES, Andréa Krüger................................................................................................................................135GONÇALVES, Mariane Hanke ................................................................................................................................53GUEDES, Neiva Maria Robaldo ................................................................................................................................11GUIMARÃES, José Luiz ..........................................................................................................................................123

IKUTA, Nilo ..............................................................................................................................................................27

JUNG, Diego Marques Henriques ...............................................................................................................................71

KAHL, Vivian Francília Silva ......................................................................................................................................37KLEIN, João Daniel de Oliveira ................................................................................................................................231KOERICH, Priscilla Karina Vitor ...............................................................................................................................27KOSACHENCO, Beatriz Guilhembernard ..............................................................................................................123KRUG, Álisson Bohnert ............................................................................................................................................145KUNSLER, Alexandre Bosquetti ..............................................................................................................................157

LIMA, Jéssica Santos de ............................................................................................................................................169LOBO, Fátima de Almeida ......................................................................................................................................135LOPES, Andrea Bernardes .......................................................................................................................................197LOPES, Beatriz MachadoTerra ...................................................................................................................................27LOPES, Paulo Tadeu Campos ...................................................................................................................................135LORENZI, Fabiana ..................................................................................................................................................145LUNGE, Vagner Ricardo .....................................................................................................................................21, 27

MARQUES, Edmundo Kanan ...................................................................................................................................27MARRONI, Cláudio Augusto ....................................................................................................................................97MARRONI, Norma Anair Possa ........................................................................................................................97, 109MATHIAS, Joana Bittencourt ....................................................................................................................................27MAZZOLENI, Luiz Edmundo ...................................................................................................................................61MONTICELLI, Gislene ...........................................................................................................................................181MORALES, Analúcia Schiaffino ..............................................................................................................................145MOREIRA, Fernanda Kieling .....................................................................................................................................27

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243Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

MOREIRA, Magda Inês ...........................................................................................................................................189MOTTA, Lisiane da .................................................................................................................................................181MOTTIN, Vanessa Daniele ........................................................................................................................................21MOURA, Alana Pimentel ..........................................................................................................................................85

NICOLAO, Mariano ...............................................................................................................................................145NUNES, Roberta da Silva ..........................................................................................................................................37

OLIVEIRA, Carmem Aristimunha de ......................................................................................................................197OLIVEIRA, Marcelo Ganzarolli de ............................................................................................................................97OLIVEIRA, Sandro Teixeira de .................................................................................................................................169OLIVEIRA, Sérgio José de ..........................................................................................................................................21OSÓRIO, Marília Correa ...........................................................................................................................................61

PARRAGA, Adriane ................................................................................................................................................145PASSOS, Daniel Thompsen ..................................................................................................................................11, 21PEREIRA, Fernanda Macedo ...................................................................................................................................221PEREIRA, Gisele Lopes ............................................................................................................................................221POZZER, Katia Maria Paim .....................................................................................................................................169

RAUDALES, José Jesus Casco .................................................................................................................................123RECH, Tássia Flores ..................................................................................................................................................61RICHTER, Marc François .........................................................................................................................................37RODRIGUES, Graziella ............................................................................................................................................97RODRIGUES, Paulo Ricardo Centeno .....................................................................................................................123ROSA, Darlan Pase da .............................................................................................................................................109ROTH, Paulo Ricardo de Oliveira ...............................................................................................................................71RYBARCZYK FILHO, José Luiz ................................................................................................................................47

SANDER, Guilherme Becker ......................................................................................................................................61SANTOS, Ana Maria Pujol Vieira ...........................................................................................................................135SANTOS, Áurea Adiles Machado dos ......................................................................................................................197SANTOS, Éverton Rodrigo .......................................................................................................................................211SANTOS, Jéssica Boaventura dos ...............................................................................................................................53SANTOS, Kátia Gonçalves dos ..................................................................................................................................53SARMENTO, Merielen da Silva ................................................................................................................................37SERRES, Ricardo Silva ............................................................................................................................................169SESTI, Luís Fernando Castagnino ...............................................................................................................................53SILVA, Cíntia Viviane Ventura da .............................................................................................................................211SILVA, Juliana da .......................................................................................................................................................37SILVA, Luciano Basso da ............................................................................................................................................61SILVA, Lucila de Bortoli da .........................................................................................................................................85SILVA, Simone Silva da ............................................................................................................................................169SILVEIRA, Fabiana ....................................................................................................................................................11

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244 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - 2008

SIMON, Daniel ..........................................................................................................................................................61SOUZA, Gabriela Freitas de .......................................................................................................................................97

TEIXEIRA, Adriane Ribeiro .....................................................................................................................................135THEISEN, Themis Medeiros ....................................................................................................................................123TIEPPO, Juliana .........................................................................................................................................................97

VALIATTI, Bruna Borba ...........................................................................................................................................97VERCELINO, Rafael .................................................................................................................................................97VOGT, Felipe Inácio ...................................................................................................................................................21

WAJNER, Moacir ......................................................................................................................................................85WEIMER, Tania de Azevedo ......................................................................................................................................11WOBETO, Ana Paula ...............................................................................................................................................27

ZAGO, Alcides José ..................................................................................................................................................123ZAGO, Alexandre do Canto .....................................................................................................................................123