Revista Universidade | n° 02

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1 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Maio/Ago 2013 Competência em PETRÓLEO Revista da Universidade Federal do Espírito Santo UFES Maio/Ago 2013 • Ano 1 • Nº 2 Ufes abriga, no campus de Goiabeiras, em Vitória, um dos maiores centros de pesquisa na área do mundo UNIVERSIDADE

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Revista de Jornalismo Científico, Cultura, Variedades produzida pela Superintendênica de Cultura e Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo

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1UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Maio/Ago 2013

Competência em PETRÓLEO

Revista da Universidade Federal do Espírito Santo • UFESMaio/Ago 2013 • Ano 1 • Nº 2

Ufes abriga, no campus de Goiabeiras, em Vitória, um dos maiores centros de pesquisa na área do mundo

Universidade

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2 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Maio/Ago 2013

Há 30 anos a Biblioteca Central fincou raízes no campus de Goiabeiras, em Vitória, num edifício de estilo moderno, projetado pelo arquiteto José Galbinski, com 5.300 m². Criada em julho de 1963, a Biblioteca Central da Ufes lidera o Sistemas de Bibliotecas da Ufes (SIB/Ufes), que conta com sete unidades setoriais: bibliotecas Tecnológica, de Ciências da Saúde, do Ceunes, de Ciências Agrárias, de Educação, do Nedtec e de Artes. O conjunto abriga o maior acervo de livros, periódicos, teses e multimeios do Espírito Santo, com 145.278 títulos e 451.272 exemplares, mantido em constante processo de atualização para atender às necessidades das atividades da Ufes e de toda a comunidade externa. A Biblioteca Central da Ufes recebe o nome do professor Fernando Castro de Moraes, em homenagem ao professor, médico e ex-subreitor Acadêmico da Ufes.

Horários de funcionamento:Períodos letivos – das 7 às 21 horas, de segunda a sexta-feira, e das 8 às 13 horas, aos sábadosPeríodos de recesso – de segunda a sexta-feira, das 7 às 19 horas

30 anos30 anosBIBLIOTECA CENTRAL

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3UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Maio/Ago 2013

Há 30 anos a Biblioteca Central fincou raízes no campus de Goiabeiras, em Vitória, num edifício de estilo moderno, projetado pelo arquiteto José Galbinski, com 5.300 m². Criada em julho de 1963, a Biblioteca Central da Ufes lidera o Sistemas de Bibliotecas da Ufes (SIB/Ufes), que conta com sete unidades setoriais: bibliotecas Tecnológica, de Ciências da Saúde, do Ceunes, de Ciências Agrárias, de Educação, do Nedtec e de Artes. O conjunto abriga o maior acervo de livros, periódicos, teses e multimeios do Espírito Santo, com 145.278 títulos e 451.272 exemplares, mantido em constante processo de atualização para atender às necessidades das atividades da Ufes e de toda a comunidade externa. A Biblioteca Central da Ufes recebe o nome do professor Fernando Castro de Moraes, em homenagem ao professor, médico e ex-subreitor Acadêmico da Ufes.

Horários de funcionamento:Períodos letivos – das 7 às 21 horas, de segunda a sexta-feira, e das 8 às 13 horas, aos sábadosPeríodos de recesso – de segunda a sexta-feira, das 7 às 19 horas

30 anos30 anosBIBLIOTECA CENTRAL

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A p r e s e n t A ç ã o

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A Universidade Federal do Espírito Santo lança este segundo número da revista Uni-versidade, cujo principal objetivo é a divulgação da produção de conhecimento da nossa Instituição. Desenvolvida pela Superintendência de Cultura e Comunicação (Supecc), esta publicação traz uma seleção de temas originados de projetos de pesquisas, ensino e extensão que estão sendo desenvolvidos pela Ufes em diferentes áreas. O desempenho obtido pelos professores, técnicos educacionais e estudantes no ambiente da ciência, da tecnologia e da inovação demonstra a forte inserção da Instituição no avanço dos proces-sos econômicos e sociais do Espírito Santo.

Nesta edição, a matéria de capa apresenta a parceria da Ufes com a Petrobras, o que evidencia a capacidade técnica e científica da Universidade para a sua inserção na área de petróleo e gás, consagrando como marca desta relação o binômio pesquisa e desenvolvimen-to. Com gestão compartilhada da parceria, as soluções para as grandes demandas oriundas do setor são pesquisadas nos nossos laboratórios para aplicação tecnológica pela Petrobras e demais concessionárias, gerando inovação, patentes, artigos científicos e formação qualifi-cada de recursos humanos. Nessa área, inclusive, a Ufes tornou-se referência internacional.

Vale registrar que o petróleo não é apenas uma fonte de energia para abastecer o País e dotá-lo de mais autonomia para o seu crescimento. É, também, um importante indutor de processos de desenvolvimento sustentado por tecnologias de ponta e por uma rede de ser-viços que vêm transformando os arranjos produtivos regionais. Nota-se que os impactos da indústria do petróleo e gás na economia capixaba produzem uma capilaridade com efeito nos municípios, atraindo novos investimentos para o Estado no setor de serviços, manutenção, fornecedores, equipamentos, além de potencializar atividades estabelecidas na infraestrutura de transportes, plataformas logísticas, o complexo portuário, entre outros.

Particularmente, o fator petróleo e gás também repercute positivamente na Univer-sidade. O Centro de Competências em Óleos Pesados (Copes), uma iniciativa pioneira no País, instalado no campus de Goiabeiras, é que estabelece a ponte entre a Ufes e a Pe-trobras, a partir de projetos analisados e definidos pela instituição de ensino e a estatal. Assim, a graduação é favoravelmente impactada em diferentes cursos, que passam a se inserir nessa área como o curso de Engenharia do Petróleo, em São Mateus; Geologia, em Alegre; e diversos em Vitória: as Engenharias, Química, Física, Oceanografia, e mesmo cur-sos das ciências econômicas e humanas. A iniciação científica na graduação é igualmente envolvida em inúmeros projetos nessa área, e a pós-graduação também se fortalece, com a participação de programas em diferentes centros de ensino em Vitória e no interior.

Essa mobilização acadêmica em torno do petróleo e gás faz aumentar a nossa pro-dução de modo multidisciplinar, estabelecendo um modal de intensa interação entre os entes do governo e da sociedade, em que se inclui a nossa Universidade, para gerar refle-xões e ações qualitativas. Este momento se traduz no crescimento institucional da Ufes, com investimentos em infraestrutura e em recursos humanos, aprimoramento dos cursos de graduação e de pós-graduação, apoio e sustentação ao ensino, à pesquisa e à exten-são, de modo que possamos dar respostas objetivas às demandas da sociedade, tanto nos conteúdos da formação acadêmica, quanto na ampliação e diversificação da geração do conhecimento, mantendo a busca permanente da eficiência na prestação de serviços à comunidade.

Reinaldo CentoducatteReitor

Conhecimento para o desenvolvimento

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Universidade Federal do Espírito Santo • Ufes

ReitorReinaldo CentoducatteVice-ReitoraMaria Aparecida Correa BarretoPró-Reitor de AdministraçãoAmarílio Ferreira NetoPró-Reitor de ExtensãoAparecido José CirilloPró-Reitora de GraduaçãoMaria Auxiliadora de Carvalho CorassaPró-Reitora de Gestão de Pessoas e Assistência EstudantilMaria Lucia CasatePró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento InstitucionalMaximilian Serguei MesquitaPró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoNeyval Costa Reis JuniorSuperintendente de Cultura e ComunicaçãoRuth Reis

UNIVERSIDADERevista de Jornalismo Científico • Cultura • Variedades produzida pela Superintendência de Cultura e Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo

Secretária de Comunicação Thereza MarinhoCoordenadora do Núcleo de Divulgação Científica Emília ManenteCoordenador do Núcleo de Comunicação InstitucionalLuiz Vital

Conselho editorial Maria Aparecida Correa Barreto • José Gerado Mill • Alberto Ferreira De Souza • Alberto Fernandes • José Antonio Martinuzzo • Ruth Reis • Emília Manente

Coordenação geralRuth ReisEditoraEmília Manente ReportagemEmília Manente • Jorge Lellis • Luiz Vital • Maíra Mendonça BolsistaMaíra MendonçaFotografiaDavid Protti • Fernanda Bayer • Jorge Lellis • Arquivo Supecc DesignJuliana Braga • Eliza Gobira • Mayara FerreiraRevisãoMárcia RochaFoto da CapaDavid Protti

Distribuição • gratuitaImpressão • Gráfica UniversitáriaTiragem • 6.000 exemplares

Universidade Federal do Espírito SantoSuperintendência de Cultura e Comunicação - SupeccAv. Fernando Ferrari, nº 514, Campus de GoiabeirasPrédio da Reitoria, 1º andar, CEP: 29075-910,Vitória/ES - BrasilTelefone: (27) 4009-7835E-mail: [email protected]

O conteúdo desta revista pode ser reproduzido para fins didáticos, desde que citada a fonte.

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34 Petróleo, pesquisa e desenvolvimento

Ufes abriga um dos laboratórios mais bem

equipados do mundo

SumárioPrezado leitor, o segundo número da Revista Universi-

dade traz em destaque uma matéria sobre o Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Análises de Petróleos, o LabPetro, um dos maiores centros de pes-quisa do mundo na área de petróleo. O la-boratório, localizado no campus de Goiabei-ras, em Vitória, produz estudos de ponta e não sem razão: o Espírito Santo é o segundo maior produtor de óleo e gás do País.

Levando em conta a nossa opção pela multidisciplinaridade, evidenciamos tam-bém a importância do Núcleo de Conserva-ção e Restauração da Ufes que, em um tra-balho permanente, impede que a cultura e a identidade do povo capixaba, manifestadas em suas obras de arte, se percam. No Núcleo, profissionais da área de Artes trabalham com diferentes formas de restauro para que a memória esteja sempre viva.

E por falar em memória, a Ufes instituiu no início deste ano a sua Comissão da Verda-de. Uma das suas funções é não deixar que a história do regime militar se apague de nos-sas lembranças. Para resgatar essa época, entrevistamos o presidente da Comissão e professor do Departamento de Arquivologia, Pedro Ernesto Fagundes. Segundo ele, a Ufes foi a instituição do Estado que mais sofreu interferências naquele período. É preciso re-velar para não esquecer.

Esta edição publiciza várias outras pesquisas e projetos de extensão da Uni-versidade, bem como o investimento da Instituição em assistência estudantil. En-tendemos que esta é uma forma de a Ufes prestar contas à sociedade. Visando ampliar o diálogo entre a revista e os lei-tores, estamos disponibilizando um e- mail, o [email protected], para que possamos receber sugestões de pautas, críticas e, por que não, elogios?

Emília ManenteEditora

Ruth Reis Superintendente de Cultura e Comunicação

24 Educar para preservar

Núcleo tem como objeto de pesquisa a educação ambiental

Memória viva

Com muito humor

Uma chance para recomeçar

Tecnologia patenteada

O Direito para além das fronteiras

Novos caminhos para o conhecimento

Entrevista: Comissão da Verdade

Império Romano

De olho na mídia

Tecnologias da informação

Música, a trilha sonora do mundo

Comunicação entre roedores

Artigo: O Papa e os desafios éticos

Ideia premiada

Buscando sempre mais

Com aroma e sabor de café

Ler o mundo com outros olhos

Ufes investe em assistência estudantil

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Para que a memória esteja

SEMPRE VIVANúcleo do Centro de Artes desenvolve há mais de 30 anos projetos e pesquisas em conservação e restauração

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Maíra Mendonça

Foto: Karoline Marques Stelzer

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À medida que avançam a ciência e a tec-nologia e se instauram novos valores e paradigmas no meio social, o passado se torna cada vez mais distante. Garan-

tir que a memória de outros tempos não se perca é uma forma de preservar a identidade de um povo e, portanto, função de toda a sociedade. Na Ufes, um grupo formado por alunos e professores do curso de Artes empenha-se para que o patrimônio artístico e cultural do Espírito Santo esteja sempre resguardado. Trata-se do Núcleo de Conservação e Restauração da Universidade, que há mais de 30 anos desenvolve projetos e pesquisas na área de conservação e restauração de pinturas e escultu-ras de museus, igrejas e outras instituições públi-cas e particulares do Estado.

Instalado no Centro de Artes, no campus de Goiabeiras, em Vitória, o espaço do Núcleo guar-da obras que carregam consigo um valor simbó-lico incalculável. Para a coordenadora do Núcleo, professora Gilca Flores de Medeiros, é justamente nisso que reside a importância dos processos de restauração e conservação: os valores que são projetados nesses objetos. “Hoje se entende que a maior importância que o objeto tem são as rela-ções que ele pode estabelecer com a comunidade. Quando restauramos, trabalhamos com a matéria, mas o objetivo não é a matéria. É contribuir para que aquele objeto possa provocar mais relações, sejam elas afetivas, culturais, religiosas, turísticas e outras mais”, explica. Gilca esclarece também que muitas pessoas se confundem ao acharem que patrimônio é aquilo que é tombado. “Ao contrário, uma obra é tombada porque é um patrimônio, por-que a sociedade acredita que ela é importante”, diz.

O embrião do que mais tarde se consolidou como o Núcleo de Conservação e Restauração foi criado pela ex-professora do Curso de Artes da Ufes Rachel Diniz Ferreira, ainda em 1980. Ao retornar de um curso de especialização do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raquel montou um ateliê no terreno do Museu Solar Monjardim, no bairro Jucutuqua-ra, na Capital. Em 1990, o ateliê foi transferido para a Ufes, já como um núcleo, sob a direção do professor Attilio Colnago Filho e passou por algumas mudanças, como a ampliação de seu espaço físico, até se tornar o que é hoje.

Atualmente o Núcleo é formado por 14 pes-soas, incluindo os coordenadores Gilca Flores e

Attilio Colnago; as técnicas de restauração Raquel Pimentel e Albanize Monteiro; cinco estudantes de graduação; quatro ex-estudantes, que são contrata-dos pelas instituições para as quais o Núcleo presta serviços, e a secretária, Marlene Silva Ferreira. Na área de escultura, os restauradores-conservadores se dedicam principalmente à arte imaginária-sacra. Por isso, desde 1990 o Núcleo realiza um trabalho junto ao Conselho de Arte Sacra da Arquidiocese de Vitória, que atua na restauração de esculturas em madeira de igrejas de todo o Estado.

Outro importante projeto de extensão desen-volvido pelo Núcleo foi o mapeamento, a catalo-gação e a análise do estado de conservação das mais de 200 imagens do acervo do Museu Solar Monjardim, que se estendeu de 1995 a 2012. O objetivo é que o museu seja reativado - que fun-cionava na Capela de Santa Luzia, no Centro de Vitória, e em 1960 foi desativado e transferido para o terreno do Solar Monjardim, em Jucutu-quara. Este é o único museu de grande porte do Estado no que se refere à arte sacra.

Já na parte de restauro de pinturas, um dos grandes projetos do Núcleo foi a restauração do acervo do Palácio Anchieta, sede do governo do Estado, que possui mais de 40 obras e cuja temá-tica central é a paisagem. O trabalho iniciado em 2005 foi concluído em 2012 e resultou também na realização do seminário Paisagem: do panora-ma ao pertencimento, além da publicação do livro O Acervo de Pinturas do Palácio Anchieta – Histó-ria e Restauração, que conta a história do Museu Anchieta e detalha todo o processo de restaura-ção das pinturas feito pelo Núcleo.

MissãoO professor Attilio Colnago, um dos coordena-

dores do Núcleo, explica que a preocupação do es-paço vai muito além da prestação de serviços. Por isso, seus integrantes buscam desenvolver também atividades de pesquisa e extensão, conferências, cursos, jornadas e seminários. “Somos o único nú-cleo de conservação e restauração de bens cultu-rais do Espírito Santo. Então há essa preocupação de não funcionarmos apenas como uma oficina de reparos, mas de trabalharmos com pesquisa e ex-tensão, além da capacitação dos alunos, como pos-sibilidade de ajudar na formação de novos profis-sionais. Essa é nossa principal missão”, afirma.

Outro cuidado do Núcleo é fazer com que as comunidades conservem seu patrimônio. Para isso, os pesquisadores fazem visitas técnicas às

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comunidades, nas quais apresentam o trabalho realizado pelo Núcleo aos moradores e destacam a importância da preservação de bens artísticos e culturais. Após a entrega das obras, é feita uma análise do processo de restauração que justifique os custos arcados pela comunidade, além de um treinamento específico com pessoas que lidam co-tidianamente com as peças. “Quanto mais se am-plia o conhecimento sobre a peça, mais o olhar das pessoas se torna diferenciado e a salvaguarda da obra de arte é muito maior”, pontua Colnago.

Restauração de papelAlém da pintura e da escultura, o Núcleo se

prepara para ampliar sua área de atuação, crian-do um ateliê de conservação e restauração de papel, destinado a recuperar documentos, livros e obras de arte, como gravuras, desenhos e pin-turas. A proposta é a de que o ateliê fique pronto até o final de 2013.

Para dar início a essa nova fase, professores e alunos já vêm desenvolvendo estudos desde 2010. O pioneiro foi o projeto de conclusão de curso de Franquilândia Gonçalves, no qual a gra-duanda fez o levantamento do estado de conser-vação das quase 200 peças que compõem o acervo

de gravuras em metal e xilogravuras do Centro de Artes da Ufes. O trabalho resultou em um projeto de conservação dessas gravuras, financiado pela Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo (Secult). Por meio desse projeto, surgiu também a oportunidade da realização de cursos de capaci-tação para restauração de papel, ministrados pela restauradora Blanche Thaís Porto de Matos, de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Outros importantes passos para a implantação do ateliê foram o projeto Conservação de Obras Ra-ras (2011), no qual 188 exemplares do Acervo de Obras Raras da Coleção Mário Freire da Biblioteca Central da Ufes passaram por processos de higieni-zação e acondicionamento; e o Projeto de Conser-vação do Acervo de Fotografia de imagens antigas do Espírito Santo, também pertencentes à Coleção Mário Freire. O trabalho, coordenado pelo profes-sor de Fotografia do Centro de Artes da Ufes Pau-lo de Barros, foi concluído em 2012. Cerca de 500 imagens passaram por processos de higienização, acondicionamento, recuperação e digitalização.

No início deste ano, foi concluída a restauração do Livro de Tombo da comunidade de Todos os San-tos, situada na zona rural de Guarapari. O livro de 80 páginas registra os principais fatos históricos da co-

Fotos: David Protti

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munidade e da paróquia local. A aluna do mestrado em Artes da Ufes Karoline Marques Stelzer foi a res-ponsável pela restauração do livro. Ela acredita que o ateliê de papel suprirá uma necessidade do Espírito Santo, que quase não possui mão de obra na área.

“Existe no Estado um acervo muito grande de papéis que precisam ser restaurados, como os documentos do Arquivo Público e da Biblioteca Estadual e da pró-pria Biblioteca Central da Ufes, além de outros luga-res que nós ainda desconhecemos”, ressalta ela.

Uma vez por semana, os integrantes do Núcleo de Conservação e Restauração se reúnem em um grupo de estudos para discutir temas da área. O assunto mais discutido recentemente é a arte contemporânea, com a qual o grupo também se prepara para trabalhar. A expectativa é de que a partir de 2014, através de um projeto de extensão, o Núcleo inicie trabalhos de res-tauração e conservação do acervo da Galeria Espaço Universitário, da Ufes, que possui quase três mil obras.

A arte contemporânea impõe uma série de de-safios aos conservadores-restauradores, como a ne-cessidade de aprender a lidar com diferentes combi-nações de materiais. Muitas obras também possuem caráter efêmero e, portanto, o processo de conser-

vação torna-se incompatível tanto com o material do qual elas são feitas, quanto com a proposta do artista. Nesse caso, surgem novas formas de se pre-servar a memória dessas obras, como a documen-tação técnica e fotográfica das peças, produção de vídeos, entrevistas com os artistas etc. “Aí muda com-pletamente todo o pensamento sobre conservação e restauração. O que vai ficar não é a obra em si, é uma lembrança dela. E ela gera um outro acervo que precisa ser mantido. Há a necessidade de se pensar nisso, pois agora, cada vez mais, esse tipo de mani-festação artística se amplia. O restaurador, querendo ou não, tem que se preparar ou se especializar nesse tipo de documento”, argumenta o professor Colnago.

Arte Contemporânea

Equipe do Núcleo coordenado pelos professores Attilio Colnago e Gilca Flores trabalha em diferentes formatos de restauro

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Irônico, sagaz, simples, refinado, revelador de um estado de espírito e de modos de ser e de estar no mundo. Seja intencional ou não, o humor se mani-festa de inúmeras formas, com diversos fins. Pensan-do nisso, desde 2009 o Grupo de Estudos em Textos Humorísticos (Gethu), do Departamento de Línguas e Letras da Ufes, faz do humor seu objeto de pesquisa. Desde a criação do grupo foram publicados cerca de 20 trabalhos (entre capítulos de livro, artigos em pe-riódicos e em anais de congressos), além de 14 proje-tos concluídos – duas dissertações de mestrado, seis trabalhos de Iniciação Científica e seis Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC).

O Gethu, formado por 13 pesquisadores, inves-tiga as técnicas de construção do humor vincula-das à linguagem a partir das teorias do Texto e do Discurso, como Linguística Textual, Pragmática, Análise do Discurso e Retórica. São investigadas as técnicas linguísticas que explicam a construção do humor em textos orais e escritos pertencentes a diferentes gêneros e domínios discursivos, como o cotidiano, o literário, o jornalístico e o publici-tário. O objetivo final do grupo é consolidar um amplo material de pesquisa, a fim de subsidiar o ensino da produção de textos humorísticos, área

que ainda não é explorada pela escola básica. Segundo a coordenadora do Gethu, professora

Ana Cristina Carmelino (de blusa amarela na foto ao lado), as pesquisas sobre humor se intensificaram a partir da década de 1980, mas ainda há poucos estudiosos da área no Brasil. Um dos motivos é o fato de o tema ainda não ser reconhecido como ob-jeto de estudo relevante por alguns pesquisadores. “Há uma crença (talvez inconsciente) de que o que é agradável e divertido não pode ser assunto res-peitável para o campo acadêmico. Estudar humor é coisa séria. O texto humorístico suscita revelações interessantes: livre de determinados procedimen-tos de controle, ele retoma discursos profundamen-te arraigados e proibidos, que se infiltram nas téc-nicas linguísticas”, reforça a professora.

Ana Cristina explica que os textos humorísticos são capazes de evidenciar, de forma agradável, fatos importantes acerca dos discursos e dos recursos da língua. Por meio dele, pode-se criticar ou denunciar. “O humor também funciona como um recurso argu-mentativo eficiente: além de incitar o interlocutor a posicionar-se diante de uma questão polêmica, pode levá-lo a refletir sobre práticas sociais e culturais, so-bre as fragilidades do mundo. De extrema relevân-cia, o humor não só desperta interesse, mas, também, prolonga a atenção, excita ou acalma as emoções, orienta o pensamento e guia ações”, enumera ela.

Uma das principais questões que giram em torno do tema refere-se aos limites da produção humorís-tica, visto que a interpretação do que é engraçado ou não é subjetiva, proveniente das experiências, da formação e do meio social em que vivem as pessoas. Portanto, uma simples piada ou um comentário es-tão sujeitos a reações tanto positivas quanto negati-vas dos interlocutores. “O humor desperta emoções eufóricas e disfóricas. Depende da interpretação de cada um”, afirma Ana Cristina.

Com muito HUMOR

Grupo de estudos tem o humor como objeto de pesquisa. O tema já rendeu vários trabalhos publicados em anais de congresso, dissertação de mestrado, artigos de iniciação científica e TCCs

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O humor em jingles publicitários •Franciely Freitas, 8º período do curso de Letras “ Eu analisei a campanha da marca Tigre (Grupo Tigre – Tubos e Conexões), produzida em 2009 e veiculada até 2011. O principal objetivo era analisar os jingles separados da peça publicitária, pois eles também são veiculados separadamente. Percebe-se que o humor é mais utilizado na peça do que nos jingles em si. Os recursos mais utilizados na produção do humor foram inferência e sugestão. Outro recurso observado em menor escala foi a ambiguidade – atribuição de duplo sentido às palavras. O humor, que pode ser usado como uma alternativa para denegrir a imagem de algo ou de alguém, nesse caso foi usado como estratégia de venda de produtos.”

O humor nas fábulas de Millôr Fernandes • Dayana Vicente, 8° período do curso de Letras

“Trabalhamos com a obra “Fábulas Fabulosas” (1964), de Millôr Fernandes. A fábula não é um gênero humorístico, mas, no caso de Millôr, percebemos que o autor usava uma linguagem que levava à situação humorística. O humor presente nas fábulas não leva à gargalhada, ao riso audível. Ao lê-las, rimos de forma contida. Elas, como todas as outras, têm como objetivo o ensino de como o homem deve se comportar. E para chegar a isso, Millôr trabalha com um recurso peculiar: comentários feitos ao final de seus textos, cheios de ironia e sugestão, técnicas que promovem o humor.”

Uma análise das paródias de filmes publicadas na revista MAD •Stephanie Matos, 3° período do curso de Letras

“Quando lemos uma piada ou uma história não percebemos por que rimos. E eu vi isso como uma oportunidade de pesquisa: descobrir o que há no texto, no âmbito da linguagem, que nos faz rir. Foram selecionadas cinco paródias de filmes da revista MAD, das edições de 2010 e 2011. Pude perceber que, para o leitor compreendê-las, deve acionar o recurso do conhecimento prévio, qaém de que as paródias vêm sob o formato de histórias em quadrinhos.”

O humor nos contos de Chico Anysio •Luana Ferraz, 8º período do curso de Letras

“Descobri no texto humorístico uma diversidade de recursos, um potencial argumentativo e um valor de construção textual que não imaginava. Chico Anysio é consagrado como um dos melhores humoristas do País, mas a sua literatura não é explorada. A análise foi de seu primeiro livro, “O batizado da Vaca”, de 1972. Através de diversas técnicas de construção de humor, ele consegue fazer referências a coisas conhecidas do público e, ao mesmo tempo, se colocar em posição de expressar opiniões e convencer as pessoas sobre determinado assunto”.

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Uma chance para

Professores do Centro de Ciências da Saúde, localizado em Maruípe, Vitória, realizam ações e atendimento interdisciplinar a pacientes com dependência de álcool e outras drogas

P restar assessoria e planejamento em de-pendência química. Essa é a principal missão do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e Outras Drogas (Cepad) que,

localizado no Centro de Ciências da Saúde da Ufes (CCS), em Maruípe, Vitória, proporciona desde 1996 um ambiente específico para o desenvolvimento de estudos e o atendimento a dependentes de substân-cias psicoativas sob uma ótica interdisciplinar. Der-rubar as barreiras impostas pela dependência, dando aos doentes uma chance para recomeçar suas vidas, é a luta cotidiana dos integrantes do Cepad.

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Marluce Miguel de Siqueira (ao centro, na foto ao lado) é professora do Departamento de Enfermagem da Ufes e atua como coordenadora de pesquisa do Cepad desde a sua implantação. Para a professora, a necessidade de promover projetos e estudos em parceria com diversos setores e instituições, reunindo assim diferentes áreas do conhecimento, explica-se pelo fato de a dependência química ser um fenôme-no multifacetado, que passa por diversas instâncias sociais ao longo de seu desenvolvimento. Combatê--la, portanto, depende da realização de intervenções de modo integrado, abrangendo os aspectos físicos, psicológicos e sociais, na busca pela prevenção da doença e pela reinserção dos doentes na sociedade.

Formado por uma equipe de cerca de 20 par-ticipantes, entre professores, especialistas, gradu-andos e pós-graduandos em Medicina, Enferma-gem, Psicologia, Educação e Farmácia, atualmente o Cepad desenvolve estudos multicêntricos junto a universidades de todo o País, coordenados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR-GS). Já no eixo ensino-assistência, o Centro oferece serviços à comunidade para o tratamento e a pre-venção da dependência química, como o Programa de Atenção ao Alcoolista (PAA) e o Programa de Atenção ao Tabagista (PAT).

O primeiro deles foi criado antes mesmo da fundação do Cepad, ainda em 1985. Funcionando de segunda a sexta-feira no Ambulatório de Clíni-ca Médica do Hucam (casa 3), a meta do programa é fornecer as condições necessárias para a recupe-ração de alcoolistas, um processo de acompanha-

mento que dura em média dois anos. Sobre isso, o professor do Departamento de Clínica Médica da Ufes e coordenador do Cepad, Vitor Buaiz, ex-plica que, devido ao excessivo consumo de álcool, muitos pacientes desenvolvem doenças hepáticas, como hepatites e, por último, a cirrose, resultado de anos de agressão ao fígado. Nesse estágio, é necessário haver, primeiramente, a sua internação.

O percentual de recuperação dos dependentes gira em torno de 45% a 55% dos casos. O pro-fessor Buaiz acredita que um dos grandes pro-blemas em combater o alcoolismo, assim como outros tipos de dependência, está na dificuldade dos pacientes de enxergar e de aceitar o seu vício, sendo que, em muitos casos, é a própria família que pede a sua internação. Outro fator agravante é o estímulo ao consumo dessas substâncias por parte de amigos e de pessoas próximas, e que leva à regressão do tratamento. “Uma vez um paciente me disse: doutor, parar de beber é fácil, difícil é

Desde 2007, o Centro de Estudos e Pes-quisas sobre Álcool e Outras Drogas (Cepad) realiza ações educativas em datas específicas, como o Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio); o Dia Nacional de Combate às Drogas (26 de Junho); o Dia Nacional de Combate ao Fumo (29 de agosto) e o Dia Nacional de Comba-te ao Câncer (27 de novembro). São ações educativas voltadas para o público interno e externo da Ufes como panfletagens, apresen-tações de teatro e distribuição de materiais e pesquisas produzidas pelo Centro.

Além disso, entre os dias 19 e 26 junho, aconteceu a Semana Estadual sobre Dro-gas, que envolveu todos os participantes do Conselho Estadual Sobre Drogas (Coesad), incluindo o Cepad. O Centro também está organizando o lançamento de um novo livro, que reunirá os estudos desenvolvidos pelos pesquisadores. A previsão é de que a publica-ção fique pronta no final de 2013.

Ações educativas

Integrantes do Cepad realizam atendimento interdisciplinar a pessoas que procuram ajuda no Centro

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controlar o bêbado que está aqui na minha cabe-ça”, lembra ele. E Buaiz alerta: “Por mais que diga que sim, o dependente não para de beber quando quer. O conselho que nós damos é que as pessoas não comecem a beber. Melhor não correr o risco”.

Já o segundo, o Programa de Atenção ao Ta-bagista, segue a metodologia de trabalho criada pelo Instituto Nacional de Combate ao Câncer. Trata-se de uma intervenção mais imediata, com durabilidade de quatro semanas. Nesse período são realizados encontros com os dependentes do tabaco, em que se procura desconstruir conceitos equivocados que existem em relação à doença, ex-plicar as diferenças entre o abuso e a dependência de substâncias e seus impactos sobre o organismo humano, além de buscar tentativas que visem à reinserção social dos pacientes.

O estímulo ao consumo: álcool e tabaco como escadas para o acesso a outras drogas

De acordo com a Organização Mundial da Saú-de (OMS), cerca de 2,5 milhões de pessoas mor-rem por ano devido a doenças relacionadas ao consumo de álcool e outras 5 milhões morrem em função de doenças associadas ao cigarro. No Brasil, dados do Instituto Nacional de Geografia e

Estatística (IBGE) informam que 8,7% dos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental já consumiram drogas ilícitas, enquanto 71,4% deles já ingeriram bebidas alcoólicas. Tais informações evidenciam um consumo muito alto de drogas lícitas em com-paração ao uso de drogas ilícitas.

Para a professora Marluce Siqueira, as informa-ções veiculadas, por exemplo, nos meios de comu-nicação levam a população a crer que o grande problema do País é o consumo do crack, ao mesmo tempo em que o consumo de drogas lícitas é cada vez mais estimulado. Ela salienta que, embora a questão do crack seja muito importante, o princi-pal desafio a ser vencido e sobre o qual o Cepad tem se empenhado é mostrar que álcool e tabaco são tão prejudiciais à saúde humana quanto as demais substâncias, sendo porta de entrada para as demais substâncias. “Sem sombra de dúvida, a dependência do crack se instala mais rápido. Mas, se continuarmos ignorando as consequências cau-sados pelo álcool e pelo tabaco, é provável que os problemas sejam os mesmos”, compara ela.

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Pesquisadores do Cepad fazem reuniões em busca de novas formas

de intervenções a dependentes de substâncias psicoativas sob uma

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Bioengenharia é utilizada por pesquisadores da Ufes no desenvolvimento de soluções para o tratamento de esgoto e monitoramento ambiental

I ntegrando pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, pesquisadores do Núcleo de Bioengenharia Aplicada ao Saneamento da Ufes desenvolvem soluções tecnológicas para

o tratamento de esgotos e monitoramento ambien-tal. Entre os resultados, está a criação de um sistema de tratamento de esgotos de baixo custo e com ge-ração de efluentes de maior qualidade, que já é uma patente da Universidade, além da possibilidade de geração de energia a partir dos resíduos oriundos do próprio tratamento da água suja.

As pesquisas nessa área foram iniciadas na Ufes em 1996 através do Programa de Pesquisa em Sa-neamento Básico (Prosab), financiado pela Financia-dora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Mi-nistério da Ciência e Tecnologia. Assim foram cons-truídos, no campus de Goiabeiras, o Laboratório de Saneamento e o Parque Experimental de Tratamen-to de Esgoto, ambos voltados para fins de pesquisa.

Em 2001, foi formalizado o Núcleo de Bioenge-nharia Aplicada ao Saneamento, hoje composto por 63 pesquisadores de diferentes áreas, como Engenha-ria Ambiental, Química e Civil, Biologia, Agronomia e Farmácia. Participam do Núcleo alunos de Iniciação Científica (15), graduandos (6), mestrandos (25) e doutorandos (6), além dos professores Sérvio Túlio Cassini e Ricardo Franci (coordenadores), Regina Kel-ler, Edumar Coelho, Renato Simon, Laura Pinotti, Jair

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Maíra Mendonça

Foto: David Protti

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Casagrande, Aureliano Nogueira da Costa, Cristina En-gel, Rosana Hein de Campos e Sérgio Leite Lopes.

O coordenador do Núcleo, professor Sérvio Túlio Alves Cassini, explica que o próprio tratamento de es-goto gera impactos ambientais. O primeiro deles é o lodo, material sólido produzido a partir da sedimenta-ção da matéria orgânica e da biomassa que, se lançado ao meio ambiente, pode contribuir para a dissemina-ção de epidemias. Outro impacto refere-se ao lança-mento da água. Caso o esgoto não seja bem tratado, ele é lançado no ambiente contendo nitrogênio e fós-foro, gerando nutrientes para o crescimento de micro-algas, que deixam a água verde e produzem toxinas.

A complexidade do processo de tratamento de esgoto faz com que o Núcleo desenvolva estudos em cinco linhas de pesquisa: tratamento de esgoto; água de reuso; biocombustíveis; estudos de qualida-de de água potável e ambiental; e odores em esta-ções de tratamento de esgoto, linha criada a fim de reduzir os odores causados pelo tratamento da água.

Com a utilização integrada desses estudos, o Par-que Experimental de Tratamento de Esgoto aperfei-çoou-se e hoje conta com um moderno sistema que, a partir da combinação de micro-organismos aeró-bicos e anaeróbicos, permite um tratamento eficien-te e mais barato do esgoto, com baixa produção de

Seguindo a linha de estudos em água po-tável e ambiental, foi defendida, em abril de 2013, a tese Otimização e Desenvolvimento de Sistemas de Detecção de Microcistinas em Amostras de Água, de Paulo Wagnner Pereira Antunes, sob a orientação do professor Sérvio Túlio Cassini. Na pesquisa, foi avaliado o fenô-meno da eutrofização (causado pelo excesso de nutrientes na água, que provocam o aumen-to excessivo de algas) e a floração de cianobac-térias, que produzem as microcistinas, toxinas que não podem ser removidas da água através dos tratamentos de esgoto convencionais e que apresentam riscos à saúde pública.

Paulo Wagnner explica que as técnicas existentes para a detecção dessas toxinas são muito caras e trabalhosas, sendo que poucos laboratórios no Brasil possuem es-trutura para realizar esse tipo de análise. Por isso, o objetivo de sua tese foi otimizar e pa-dronizar uma técnica de referência na detec-ção e quantificação de microcistinas no La-boratório de Saneamento Ambiental da Ufes, desenvolvendo um sistema de baixo custo e alta praticidade e eficiência.

“Nosso sistema, por ser qualitativo, é capaz de realizar pré-análises nas amostras de água, promovendo uma triagem entre as amostras com presença e com ausência de microcisti-nas. Amostras com ausência comprovada tem o seu uso liberado, já amostras com presença de microscistinas são destinadas às técnicas de referência para a quantificação dos níveis de toxinas presentes. Como a maioria das amostras são negativas para presença de mi-crocistinas, a utilização do nosso sistema im-pede que esta amostra seja submetida a uma análise quantitativa de alto custo, sem que haja real necessidade”, explica Paulo Wagnner.

Tese de doutorado defendida em 2013

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lodo. O modelo já é utilizado em pequenas e médias cidades do Brasil e foi aplicado, também, na Costa Rica e nos Emirados Árabes Unidos. Em 2004, foi desenvolvida uma tecnologia para a reutilização de efluentes em prédios inteligentes, como por exem-plo, em descargas de vasos sanitários. Esse projeto também é uma patente da Universidade. Atualmen-te, são desenvolvidas tecnologias visando ao apro-veitamento da água das chuvas e dos banhos.

Geração de EnergiaPara tornar o sistema de tratamento de esgo-

to mais eficiente, os pesquisadores do Núcleo de Bioengenharia estudam formas de extrair energia do próprio processo de tratamento, que pode ser utilizada dentro das estações.

Entre os projetos desenvolvidos nesse âmbito estão a geração de biodiesel por meio de resíduos oleosos, utilizando micro-organismos adaptados; a elaboração de um sistema que visa eliminar o excesso de microalgas a partir de sua retirada da água e conversão em bioenergia (biogás ou bio-diesel) e, por último, a geração de biogás em siste-mas de tratamento de esgoto, que pode ser quei-mado ou transformado em energia elétrica.

O professor Sérvio fala também sobre o início

de um novo projeto. Trata-se da reestruturação e do aproveitamento de resíduos de frigoríficos para a produção de energia. O primeiro trabalho nessa área será realizado em parceria com a empresa Fri-sa, de Colatina, e visa utilizar a energia produzida pelo tratamento dos resíduos no próprio sistema de produção do frigorífico. “Nós fizemos os cálculos e vimos que cerca de 40% a 50% da demanda de pro-dução da Frisa pode ser gerada a partir dos resíduos. Mostramos que eles podem ganhar dinheiro e man-ter o sistema limpo”, frisa Sérvio.

Prestando serviços à comunidade

Além das pesquisas, o Laboratório de Sane-amento também atua prestando serviços à co-munidade. Pessoas ou empresas interessadas em analisar a qualidade da água de suas casas ou de outros locais podem coletar amostras e levá-las ao laboratório. O valor cobrado pelas análises – em torno de R$ 20,00 – refere-se so-mente aos gastos com materiais.

Pesquisadores realizam estudos no leito de secagem de lodos. Na foto abaixo está o aparelho Fotobiorreator, utilizado para promover o crescimento das algas

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O processo de globalização, caracterizado pela li-berdade de circulação de mercadorias, serviços e pes-soas em nível mundial, rompe cada vez mais com as barreiras do espaço geográfico, exigindo que os países dialoguem uns com os outros, inclusive nos âmbitos jurídico e processual. Pensando nessas transforma-ções e em seus impactos, os integrantes do grupo Pro-cesso Civil Internacional Sob o Viés da Cooperação e Jurisdição, do curso de Direito da Ufes, desenvolvem pesquisas na área de regulamentação internacional. Os estudos concentram-se na jurisdição e cooperação entre os países, temáticas presentes na discussão em torno do Direito Internacional Privado e que se rela-cionam diretamente com o Processo Civil.

Para compreender a relação entre os temas é preciso entender a função de cada um. O direito internacional privado é o conjunto de normas ju-rídicas criado pelos países, que busca promover a segurança jurídica das relações privadas que en-volvam mais de um país, como por exemplo, as compras de mercadorias estrangeiras. Já o processo civil internacional define, principalmente, questões relacionadas à competência internacional, ou seja, o tribunal de que país é competente para decidir

sobre litígios entre as partes, além de definir os requisitos para o reconhecimento e a execução de decisões judiciais estrangeiras.

O grupo composto por cinco estudantes de Inicia-ção Científica e dois alunos do mestrado em Direito, desenvolve pesquisas desde 2008. A professora e coordenadora do projeto, Valesca Raizer Borges Mos-chen, afirma que as investigações são fundamentais para que alunos e professores se mantenham atuali-zados em relação ao tema. “Nós sempre temos a per-cepção de que passamos por um processo enorme de abertura econômica e participação internacional, tanto do Brasil exteriorizando, quanto interiorizando investimentos, mas o nosso sistema jurídico é ain-da muito engessado. E a forma de desengessar esse sistema não é outra senão pelo conhecimento. E o conhecimento é aqui”, pontua ela.

Os temas explorados pelos pesquisadores se complementam. A estudante de Direito Agatha Brandão de Oliveira, que já está em sua terceira Iniciação Científica, concentra-se em uma linha de estudos sobre contratos internacionais e sua apli-cabilidade, além de acompanhar as atualizações dos princípios que regem o Direito Internacional Privado. Para tanto, ela desenvolve estudos sobre as Conferências de Haia, realizadas na Holanda com o objetivo de harmonizar o Direito em todo o mun-do, discutindo questões que vão desde relações co-merciais ao sequestro de menores.

Já a estudante Mariana Mendes Lomeu pes-quisa a norma processual brasileira, que trata da competência internacional do Brasil, referente aos casos em que o País permite que questões sejam

O Direito para além das

fronteirasProfessores do curso de Direito da Ufes desenvolvem pesquisas sobre regulamentação internacional

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julgadas por outros países ou quando ele se coloca como único competente a julgar determinado pro-cesso. Mariana diz que esse tipo de questão está muito próxima da realidade dos brasileiros. “Quan-do falamos de competência internacional brasileira, estamos tratando de assuntos muito próximos do nosso cotidiano, como matrimônios entre pessoas de países diferentes, criação de filhos, entre outros”, destaca. Neviton de Souza, recém-graduado em Di-reito, também participa do grupo. Sua pesquisa ex-plora os modos como decisões judiciais proferidas em outros países podem ter eficácia no Brasil, ou seja, como é possível fazer valer o direito adquirido no exterior em território nacional.

A professora Valesca salienta que está sendo formado um núcleo introdutório de estudos sobre direito internacional privado, cuja meta é atrair no-vos pesquisadores para o projeto.

ArbitragemUm dos primeiros temas de interesse do grupo

foi a arbitragem, método extrajudicial de solução de conflitos na linha comercial em que, ao invés das partes envolvidas recorrerem ao Judiciário, forma- se uma Câmara Arbitral, apta a solucionar tais con-flitos. As pesquisas se desdobraram em um projeto de extensão: o Núcleo de Estudos em Arbitragem e Processo Internacional (Neapi), coordenado pelo

professor Bruno Silveira, através do qual os alunos participam de competições realizadas entre univer-sidades de todo o País. “Hoje, o Brasil é o quarto no mundo e o primeiro da América Latina a utilizar a arbitragem. A estimativa é que pelo menos 97% dos contratos internacionais possuam pelo menos uma cláusula arbitral”, diz Valesca.

I Semana Científica de DireitoEm Dezembro de 2012, aconteceu a I Sema-

na Científica de Direito da Ufes, durante a qual os estudantes participaram de palestras e expo-sições de pesquisas realizadas dentro do curso e por pesquisadores de outras universidades. A professora Valesca, organizadora do evento, afirma que o objetivo de projetos como esse é criar uma cultura de intercâmbio das pesquisas em Direito, que começam a se desenvolver. “Para outros cursos esses seminários são comuns, mas para nós são uma novidade. E é preciso incenti-var isso, porque não existe uma graduação sem pesquisa”, frisa a professora.

A professora Valesca Raizer B. Moschen coordena grupo que estuda regulamentação internacional

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O entrelaçamento de áreas aparentemente díspares é encontrado no LabPC, um laboratório de pesquisa que une Psicologia e Computação

Qual a relação entre Computação e Psicologia? Apesar de, em um primeiro momento, essas duas ciências parecerem caminhar em direções opostas, os pesquisadores do Laboratório de Psicologia da Computação (LabPC), do Departamento de Desenho Industrial da Ufes, provam que seus caminhos po-dem se cruzar e, juntos, traçarem novos rumos para a educação, a inclusão digital e a cidadania no País.

O LabPC surgiu no início de 2012 como uma se-gunda fase do Núcleo de Interfaces Computacionais (NIC), criado em 2009 e cuja proposta era atrair alu-

Novos caminhos para o

CONHECIMENTO

nos para o desenvolvimento de pesquisas e projetos na área de Design Digital. Seguindo a linha de pes-quisa Pensamento Computacional, o LabPC investi-ga aspectos psicológicos da computação, buscando compreender quais dispositivos cognitivos – ligados ao processo de aquisição de conhecimento – permi-tem às pessoas entenderem como o computador fun-ciona e quais as suas possibilidades de uso.

Segundo o coordenador do laboratório, o profes-sor Hugo Cristo Sant’Ana, o computador é inspirado na forma como o homem computa as informações.

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Por isso, muitos pesquisadores estudam o cérebro humano para criar novos programas. No caso do La-bPC, os estudos são feitos a partir de uma perspectiva diferente: aprender como as funções do computador podem ser usadas de modo criativo pelos usuários. “Isso é estudado, pois é o que permite que as pessoas criem novas formas de uso e não somente utilizem aquilo que já existe. É um modo de fazer com que elas dominem as tecnologias, tornando-se mais inde-pendentes e, inclusive, dando-lhes novas possibilida-des de formação”, reforça Hugo.

Da Ufes para a sociedadeAs pesquisas do LabPC se voltam também para

fora da Universidade. Em 2011, os pesquisadores iniciaram o projeto Trabalho, Emancipação e Ren-da pela Ação do Design (Ter Design). Nele, alunos e professores realizavam oficinas na Casa Brasil - um dos Centros de Inclusão Digital implantados pelo Governo Federal -, situada no Morro do Itararé, em Vitória. As oficinas eram oferecidas aos artesãos de associações ou cooperativas que trabalham com a Economia Solidária, ensinando-os formas de lidar com programas de desenho, escanear e tratar ima-gens no computador.

Já o projeto Computação 1:1 no Espírito Santo é desenvolvido em escolas municipais e estadu-ais contempladas com o programa Um Computa-dor por Aluno (UCA) do Governo Federal, que visa promover a inclusão digital de crianças e adoles-centes em todo o País. Trata-se de um processo de troca: ao mesmo tempo que os pesquisadores do laboratório fornecem cursos para que os pro-fessores aprendam diferentes formas de uso da tecnologia, são levantadas informações acerca dos processos de aprendizagem das crianças e quais mudanças ocorreram no ambiente escolar após a chegada dos computadores.

Já as informações adquiridas pelos pesquisado-res durante suas vivências são utilizadas na pesquisa intitulada Teoria do Design Computacional que, den-tre outros objetivos, procura criar um novo material didático digital, de acordo com as características e necessidades das escolas brasileiras.

Vinícius Bispo é aluno do curso de Desenho In-dustrial da Ufes e desde 2009 participa do LabPC. Devido à sua participação no projeto Ter Design, ele foi convidado a trabalhar na Prefeitura de Vitória, elaborando uma plataforma on-line para os cursos oferecidos pelos Telecentros do município. “No meu caso, eu já havia decidido que queria trabalhar na área digital e o núcleo serviu como um aprofun-

damento das questões que envolvem esse tipo de conhecimento”, observa o estudante.

Enquanto EsperoOutra importante pesquisa do LabPC é o En-

quanto Espero: Sistema de Vizualização de Dados Sobre o Transporte Público na Cidade de Vitória, coordenado pelo professor Mauro Pinheiro. O ob-jetivo desse estudo é fugir do convencional e criar suportes de informação a partir de componentes computacionais que facilitem a interação entre pessoas e objetos do cotidiano.

O primeiro projeto consiste em disponibilizar o horário dos ônibus nos pontos de Vitória. “A proposta do grupo é pensar em novas interfaces, que facilitem o acesso e a compreensão das pessoas em relação à informação”, diz ele.

Saiba maisOs cursos oferecidos aos professores baseiam- se no Scratch, uma linguagem gráfica de pro-gramação desenvolvida no Massachusetts Insti-tute of Technology (MIT) que, dentre outras coi-sas, possibilita a criação de histórias interativas, animações, jogos e músicas, além de partilhar essas criações na internet. O Scratch pode ser utilizado pelos professores como um material didático, oferecendo aos alunos novas formas de adquirir conhecimento, ao mesmo tempo que aprendem a dominar as tecnologias. Só em 2012, 96 educadores fizeram o curso. A pers-pectiva é de que esse número dobre em 2013.

A estudante Joyce Cavalcanti do Carmo, integrante do LabPC, ministrando uma das oficinas

do projeto Ter Design, em outubro de 2011

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EDUCANDOPARA PRESERVAR

Educação muito além da sala de aula. Esse é o princípio que norteia o Nipeea, um núcleo de pesquisa e estudos em educação

ambiental abrigado pelo Centro de Educação da Universidade

E m um momento em que se ouve falar tanto sobre sustentabilidade – termo usado para definir atividades que visam suprir as ne-cessidades dos seres humanos e ao mesmo

tempo garantir a manutenção de recursos naturais para as futuras gerações – torna-se importante a compreensão de outro conceito: o de Educação Am-biental, uma vez que é a relação da sociedade com o meio ambiente, além de sua percepção e partici-pação nos processos de sustentabilidade locais que definirão os rumos do futuro da humanidade. A partir dessa reflexão, foi criado em 2005, no Centro de Edu-cação da Ufes, o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos em Educação Ambiental (Nipeea), cujo obje-tivo é investigar, a partir da relação cultura-natureza, como as produções narrativas e culturais interferem nos comportamentos, nas atitudes e nos valores das pessoas em relação ao meio em que vivem.

Atualmente, 12 pesquisas estão sendo desen-volvidas pelo Nipeea, que já reúne 21dissertações

de mestrado e duas teses de doutorado em Edu-cação Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE). O Núcleo, composto por dois professores, sete doutorandos e cinco mestrandos, surgiu da necessidade de integrar projetos e pes-quisas em educação ambiental que já existiam e ampliar as possibilidades de estudo. De acordo com a coordenadora do Nipeea, a professora Mar-tha Tristão, a Educação Ambiental é uma aborda-gem educativa ambientalmente comprometida, que deve estar presente em todas as disciplinas do Ensino Fundamental e Médio, a fim de fazer com que os alunos entendam a complexidade am-biental. “A proposta do Nipeea é fomentar debates sobre o tema dentro da Universidade tanto para a formação inicial, quanto para a formação continu-ada de professores. Se tivermos professores com-prometidos com a questão ambiental, obviamente teremos, dentro das escolas, a Educação Ambien-tal”, explica a professora.

Maíra Mendonça

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Uma das propostas iniciais para a criação do Ni-peea, e que funciona hoje como um projeto de ex-tensão permanente do Núcleo, é o fortalecimento da Rede Capixaba de Educação Ambiental (Recea), que foi rearticulada em 2003, após um período de retração iniciado em 1993. A partir desse projeto foi elaborado, em 2006, o Diagnóstico do Estado da Arte da Educação Ambiental do Estado do Es-pírito Santo. Um de seus objetivos foi identificar o perfil das instituições, especialistas, pesquisadores, educadores e atividades de Educação Ambiental existentes no Estado. O objetivo era promover uma maior reflexão sobre o tema e a integração entre educadores para a difusão e o desenvolvimento de teorias, metodologias e práticas na área, além de contribuir para a elaboração de diretrizes para a Po-lítica Estadual de Educação Ambiental.

Outro projeto de destaque desenvolvido pelos pesquisadores no Nipeea é o Sala Verde, um centro de referência e documentação em meio ambiente, montado a partir de materiais cedidos pelo Minis-tério do Meio Ambiente, que ficam à disposição para empréstimos e consultas de alunos e profes-sores. A necessidade de trocar experiências faz com que o Nipeea realize intercâmbios com núcleos de pesquisa de outras universidades, como o Sobre a Natureza, da PUC do Rio Grande do Sul, e o Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunica-ção e Arte (Gpea), da Universidade Federal de Mato Grosso. Esses grupos participam de encontros na área em que atuam, como os promovidos pela As-sociação Nacional de Pesquisadores em Educação Ambiental, a Anped.

Já o projeto Saberes da Mata foi desenvolvido de 2005 a 2008 em parceria com o Instituto de Pesquisa da Mata Atlântica (Ipema) e traz estudos em cinco áreas prioritárias: Serra das Torres, abar-cando os municípios de Muqui, Atílio Vivácqua e Mimoso do Sul; Santa Lúcia, no município de San-ta Teresa; Foz do Rio Doce, em Linhares; Alto Mis-terioso, em São Roque do Canaã; e também em Itaguaçu, Itarana e Baixo Guandu, além da região de Santa Leopoldina. O projeto envolveu os estu-dos dos meios bióticos, abióticos e da socioecono-mia das regiões, além de atividades de educação ambiental em escolas e comunidades, dando iní-cio à formação de Fóruns Gestores Locais.

A partir dos estudos do Saberes da Mata e de um acordo com o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), foi criada, em junho de 2010, a Unidade de Conservação de Serra das Torres, com o intuito de proteger as bacias hidrográficas dos

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rios Itapemirim e Itabapoana e os picos e aflores-tamentos rochosos da região. Além disso, os resul-tados obtidos nas investigações levaram ao lança-mento do livro Projeto Saberes da Mata: um jeito participativo de cuidar da Mata Atlântica.

Formação e PesquisasPor meio de uma parceria entre o Nipeea e

grupos de outras sete universidades brasileiras – Universidade Federal da Bahia (UFBA); Universi-dade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp); Universidade Federal Fluminense (UFF); Univer-sidade Federal do Mato Grosso (UFMT); Univer-sidade Federal do Paraná (UFPR); Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Univer-sidade Federal de São João Del Rey (UFSJ) – que compõem uma rede de formação para a diversida-de, foi criado o Processo Formador em Educação Ambiental, um curso de atualização de 180 horas voltado para a formação continuada de educado-res, que passou a ser oferecido em 2009. Para que o curso fosse possível, os representantes dessas universidades elaboraram materiais didáticos em nível nacional e outro em nível local. A reoferta do

curso foi realizada em junho deste ano e há uma proposta para que ela ocorra anualmente.

Entre as pesquisas desenvolvidas pelo Nipe-ea, sob a orientação da professora Martha Tristão, destacam-se os Estudos Culturais em Educação Ambiental: Os Usos e Consumos dos Produtos Cul-turais em Espaços Na/Da Biorregião do Caparaó Ca-pixaba. A pesquisa é desenvolvida pela doutoranda Flávia Nascimento Ribeiro e realizada com mora-dores das localidades do entorno do Parque Nacio-nal do Caparaó, situado na fronteira entre Espírito Santo e Minas Gerais, e busca compreender de que forma os produtos culturais em Educação Ambien-tal são transformados em produções de narrativas e formação de identidades a partir de processos so-ciais, políticos e das relações de poder. Já a pesquisa Sustentabilidade e Educação Ambiental: Processos Culturais em Comunidade, da mestranda Fernanda Freitas Rezende, é feita na comunidade das Panelei-ras da Ilha das Caieiras e em Centros de Educação Infantil da Prefeitura Municipal de Vitória e anali-sa como os saberes sustentáveis são produzidos e mantidos pelas comunidades, além de como essas questões são observadas na escola.

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Ações desenvolvidas pelo Nipeea nas comunidades atingem crianças que aprendem sobre a interação cultura-natureza

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O Diagnóstico do Estado da Arte da Educação Ambiental do Estado do Espírito Santo, finalizado em 2006, foi realizado a partir da coleta de dados institucionais e de entrevistas grupais, além da aplicação de 368 questionários aos participantes de seis encontros realizados nos municípios de São Mateus, Nova Venécia, Santa Teresa, Guaçuí e Cariacica, incluindo educadores, pesquisadores e representantes de instituições que trabalham com Educação Ambiental no Estado.

Como resultado concluiu-se que, apesar de ter havido uma evolução nos espaços escolares quan-to a aspectos importantes como a identificação de problemas locais, a divulgação de projetos na co-munidade e o estímulo a cidadania, muitas esco-las não lidam com a Educação Ambiental de forma transversal, ou seja, de modo que ela esteja pre-sente em todas as disciplinas curriculares. Assim, ainda predominam atividades pontuais feitas, por exemplo, em datas comemorativas ou promoções de concursos escolares. Fatores como a rotativida-de de professores, carências na formação inicial e continuada de professores, o acúmulo de ativida-des e a falta de infraestrutura contribuem para a manutenção desse quadro.

Quanto aos professores, o diagnóstico concluiu que os mais engajados com questões ambientais estão no sul do Estado, atuando em municípios da região do Caparaó e no noroeste, em Colati-na. A maioria deles trabalha nas áreas de Ciên-cias, Geografia e Biologia, além de outras como Português. Dentre os motivos que estimulam es-ses participantes a se envolverem com a Educação Ambiental foram citados a formação acadêmica, a atuação profissional, a história pessoal de vida de cada educador e um desejo de mudança na rela-ção entre sociedade e natureza.

Outros projetos e campanhas educativas são desenvolvidos pelas Secretarias Municipais de Meio Ambiente e de Educação dos municípios de Vitória, Serra, Cariacica, Viana e Vila Velha e apresentam temáticas diversificadas com foco na preservação e conservação ambiental, como o consumo sustentável, a Mata Atlântica, ecossiste-mas, recursos hídricos, lixo e até mesmo a criação de uma cultura de paz. Observam-se a inserção de uma dimensão social nessas propostas e a utiliza-ção de recursos lúdicos – feiras de meio ambiente, passeios, visitas monitoradas – como estratégias

metodológicas marcantes nessas ações.Entretanto, os resultados apontam que uma

das maiores dificuldades encontradas é fazer com que a sociedade participe efetivamente des-ses projetos. Segundo a professora Martha, isso acontece, porque em grande parte das vezes, os projetos chegam às escolas prontos para serem executados, e os professores acabam exercendo funções de simples tarefeiros. Assim, uma solução possível para o problema é fazer com que tudo o que se proponha em relação à Educação Ambien-tal nas instituições tenha a participação de todos os envolvidos.

Diagnóstico e ResultadosFotos Arquivo Nipeea

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Comissão da

VERDADE

Não existe um único modelo de Comis-são da Verdade. Não há um país no mundo que seguiu o modelo do outro, pois são

casos muito específicos. Essa é uma das etapas da chamada Justiça de Transição, criada a partir do início da década de 1990, quando havia se encerrado as ditaduras na América Latina, o regime do Apartheid, na África do Sul, e os regimes do antigo bloco soviético, no leste europeu. A ideia era fazer uma transição para a democracia.

E essa transição tem várias etapas. Primeiro, a criação das Comissões da Verdade ou de con-ciliação nacional, para que sejam reconhecidos e

divulgados os crimes chamados “crimes de lesa- humanidade”. O que são esses crimes? O terroris-mo de Estado, no Cone Sul; 10 mil pessoas mortas na Argentina; 30 mil no Chile; mais uma grande quantidade de pessoas mortas por conta da segre-gação racial na África do Sul. O primeiro passo da justiça de transição é a reconciliação através das Comissões da Verdade. Você vai externar e tornar público o que aconteceu, quem foram os perpetra-dores, quem cometeu os crimes.

Depois há a segunda etapa: a punição dos cul-pados. Você vai identificá-los a partir das Comis-sões da Verdade e elas indicarão quem foram os

Revelar para não esquecer

Desde o final de 2012, o Ministério da Educação recomendou que as universidades federais criassem suas ‘Comissões da Verdade’ com o objetivo de fazer um levantamento acerca de tudo o que foi produzido durante o regime militar por uma Divisão de Segurança e

Informação (DSI), ligada diretamente ao Ministério. À DSI cabia autorizar (ou não) compra de livros para bibliotecas, viagens de professores e estudantes, entre outros. A Comissão da Verdade da Ufes foi oficialmente instalada em março de 2013, tem 10 membros, e é

coordenada pelo professor do Departamento de Arquivologia Pedro Ernesto Fagundes, que tem vasta experiência em pesquisa na área. Seu doutorado na Universidade Federal do Rio

de Janeiro (UFRJ) teve como objeto de pesquisa os arquivos do Dops daquele estado. É sobre as Comissões da Verdade instaladas no País e na Ufes e sobre a importância de se lembrar desses episódios para que não os esqueçamos que o professor falou à revista Universidade.

Os principais trechos da entrevista podem ser conferidos a seguir.

Emília Manente

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culpados. E, por fim, caso seja preciso a anistia. Nessa visão de Justiça de Transição, a anistia é o último passo. Ao contrário do Brasil, que anistiou, em 1979, ainda durante o governo do presidente João Figueiredo (período ditatorial), os dois lados: os que foram vítimas, que sofreram graves viola-ções dos Direitos Humanos, e os torturadores.

Segundo a jurisprudência do Direito Internacio-nal, tortura e desaparecimento de pessoas de ma-neira forçada são crimes imprescritíveis. A qualquer momento, em qualquer situação, o acusado de um crime desses pode ser preso, julgado e condenado. É o que acontece quando se encontra ex-líderes do Partido Nazista perdidos pelo mundo.

Cada país vai tentar fazer as etapas dessa Jus-tiça de Transição de uma forma. O Brasil começou com quase 30 anos de atraso. Pois quando o Brasil anistiou, ele vedou, fechou, impediu a possibilida-de de uma pessoa ser julgada e condenada.

O acesso aos documentos da Ditadura no BrasilOnde estão os arquivos do aparato repressivo?

Do que tratam esses documentos? Em 1997 há uma nova tentativa de estabelecer uma lei, que não atin-girá seu objetivo. Em 2002, Fernando Henrique Car-doso, em seu último dia de governo, sanciona uma lei que modifica novamente o acesso aos documentos. Em 2005, Lula vai criar uma nova lei, que estabelece novos prazos, mas que também não vai abrir de ma-neira irrestrita os arquivos considerados sensíveis, es-ses do aparato repressivo do Estado. Mesmo assim o Governo Federal toma algumas iniciativas. Por exem-plo, em 2008, cria o programa Memórias Reveladas, coordenado pela então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A ideia era fazer uma rede formada pelos arquivos públicos estaduais, sob a coordenação do Arquivo Público Nacional, para tentar buscar toda a documentação dos antigos Dops, dos antigos órgãos repressivos da Ditadura Militar.

Finalmente, em novembro de 2011, é aprovada pelo Congresso Nacional a Lei de Informação (Lei 15.227). Nesse mesmo dia, é aprovada a lei que cria a Comissão da Verdade (15.228). Essas duas leis só foram sancionadas em maio de 2012. É aí que foi instalada a Comissão Nacional da Verdade no Brasil. Essa discussão sobre ter acesso irrestrito a essa documentação começou há pouco tempo e ainda não é uma realidade, pois alguns órgãos do Governo Federal ainda não abriram seus arqui-vos. Por exemplo, o Exército, que contava com um órgão chamado Centro de Inteligência do Exérci-to (CIE), até hoje não liberou essa documentação.

Foto: Maíra Cabral

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e n t r e V I s t A

Nós não temos acesso, por exemplo, à documen-tação dos Destacamentos de Operações de Infor-mações-Centros de Operações de Defesa Interna (DOI-CODIs) que funcionavam no Brasil. Ninguém sabe onde ela está.

DSI/Ufes Por conta da Comissão Nacional da Verdade

e da Lei de Acesso à Informação, em setembro do ano passado, o Ministério da Educação (MEC) enviou uma circular para todas as universidades brasileiras pedindo que elas procurassem em seus arquivos documentos relativos a esses órgãos de repressão, como a Divisão de Segurança e Infor-mação (DSI), do MEC. Todos os ministérios do País, mesmo os civis, tinham DSIs, divisões que contro-lavam essa espionagem: o que eles iriam comprar, as pessoas que seriam contratadas, as pessoas que assumiriam cargos de chefia, tudo. Entre esses mi-nistérios, a maior foi a DSI do MEC, que controlava todas as universidades. Ela foi criada em 1967 e até hoje o Arquivo Nacional e a Comissão Nacional da Verdade não sabem onde essa documentação foi parar. Em princípio a DSI do MEC funcionava em nível nacional, monitorando todas as univer-sidades. Entretanto, com o aumento das mobiliza-ções, principalmente dos estudantes, em 1968, a política de repressão no Estado ditatorial vai se ampliar. O SNI vai virar um monstro com tentá-culos em todas as estruturas do Estado Brasileiro. Entre 1971 e 1983 funcionaram 36 Assessorias Especiais de Segurança e Informação (Aesi), que ficavam dentro de cada uma das universidades fe-derais e de mais algumas estaduais.

A Aesi na UniversidadeO modelo vai depender muito de universidade

para universidade. Aqui na Ufes, por exemplo, o do-cumento mais antigo que encontramos é o ofício 002, de 17 de agosto de 1971, durante a adminis-tração do reitor Máximo Borgo. Podemos chegar à conclusão de que a Aesi/Ufes foi criada em agosto de 1971. A lei que cria as Aesis em nível nacional é de 1971. Esse ofício solicita informações - e isso é algo recorrente durante o período de atuação da Aesi - sobre livros que foram comprados, livros que circulavam no Centro de Artes, quem eram os auto-res desses livros, se existia alguma publicação que havia sido enviada pela União Soviética e quais os livros existentes no Diretório Acadêmico de Artes. Eles tinham uma grande preocupação com as ideias

que circulavam na universidade, pois ela reunia dois dos elementos considerados mais perigosos para o aparato repressivo: primeiro, os intelectuais e, segundo, os estudantes.

Os intelectuais porque podiam difundir infor-mações e ideias e incitar o debate, a reflexão crí-tica, algo inaceitável pela ditadura brasileira, que impunha a censura e limitava a discussão. E os estudantes, pois eles tinham uma capacidade de mobilização muito grande. Iam para as ruas, pro-testavam, pediam a democracia. E também porque existia a possibilidade de eles serem influencia-dos por ideias moralmente desagregadoras, como o uso de drogas e o sexo livre.

A Comissão da Verdade da Ufes Em setembro de 2012, um ofício do MEC reco-

menda a criação das Comissões da Verdade no âm-bito das universidades, e a Reitoria procura o Depar-tamento de Arquivologia e pede que façamos um levantamento preliminar. Com esse levantamento, descobrimos cerca de 300 documentos da Aesi no Centro de Artes da Ufes. E a Reitoria resolve criar uma Comissão da Verdade, que possui 10 membros.

Essa comissão está trabalhando desde no-vembro de 2012. O reitor convidou as pessoas a compor a Comissão da Verdade da Ufes em feve-reiro e ela foi nomeada em março de 2013, com representantes do Diretório Central de Estudan-tes (DCE), da Associação dos Docentes da Ufes (Adufes), do Sindicato dos Trabalhadores da Ufes (Sintufes), entre outros.

Seguindo mais ou menos o exemplo da Comis-são Nacional da Verdade, nós dividimos o trabalho em duas comissões. A de acervos, que se ocupa em procurar a documentação da Aesi e do período ante-rior a ela; e outra que faz entrevistas com ex-alunos, ex-professores e ex-funcionários que estavam na Ufes naquele período. Também estabelecemos um regimento interno para a Comissão da Verdade. Até agora já entrevistamos cinco pessoas, entre elas o professor Vitor Buaiz, que foi aluno e é professor da Ufes; o professor Jaime Lana Marinho, do curso de Odontologia; o professor de Medicina Carlos Salla Pissinali que também é ex-aluno da Universidade e Marcelo Paes Barreto, filho do ex-reitor Manoel Xavier Paes Barreto Filho, que foi cassado em 1964.

Repressão Com o levantamento preliminar e as pesquisas

que venho realizando há quase três anos sobre os

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órgãos de repressão que atuaram no Espírito Santo, posso afirmar que a Ufes foi o espaço mais vigiado durante o período da Ditadura Militar no Estado.

A Ufes sofreu quatro grandes ondas repressivas durante a ditadura. A primeira, em 1964, quando foram instalados inquéritos administrativos em todos os seus centros, que ouviram dezenas de estudantes, professores e funcionários. Nessa pri-meira onda, o fato mais marcante foi a destituição por motivos políticos do reitor Manoel Xavier Paes Barreto Filho, em abril de 1964. Manoel era ligado a João Goulart e foi indicado para assumir a rei-toria por ele em 1962. Quando houve o Golpe de Estado em 1964, ele foi exonerado.

A segunda onda repressiva na Ufes aconteceu em 1968 e 1969, período marcante na história mundial por conta das mobilizações dos estu-dantes em vários países do mundo, como França, Japão, México e Brasil. No Espírito Santo também ocorreram várias passeatas, manifestações em 1968. Tudo isso resultou no Ato Institucional nú-mero 05, em 13 de dezembro daquele ano. Logo depois, em janeiro de 1969, a sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE) foi invadida e ficou fechada até 1978.

A terceira onda repressiva se deu no auge dos chamados ‘anos de chumbo’, durante o governo de Emílio Garrastazu Médici, entre 1972 e 1973. Aconteceu uma série de prisões no Espírito Santo de militantes do Partido Comunista do Brasil. Fo-ram presas e indiciadas pelo inquérito aberto no 38º BI - na época 3º Batalhão de Caçadores - 33 pessoas. Dessas 33, 18 eram da Ufes: um professor, o Vitor Buaiz, e 17 estudantes, sendo oito de Me-dicina. Entre os presos também estavam Iran Cae-tano, Angela Milanez e Míriam Leitão. Todos foram levados para o 3º Batalhão, interrogados e alguns foram torturados.

Já a quarta onda repressiva tem início em 1976, quando o Movimento Estudantil começa a se rearticular através dos Diretórios Acadêmi-cos do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), do Centro Tecnológico (CT) e do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Essa onda repressiva vai de 1976 a 1979. Por incrível que pareça, o maior volume documental que nós temos foi produzido exatamente nesse período. Relatórios, memoran-dos, pedidos de informação, pedidos de buscas, apreensão de panfletos, de cartazes, de jornais estudantis. Foi um período de profunda repres-são, vigilância e monitoramento da Universidade.

Importância da ComissãoA pesquisa da Comissão da Verdade tem vá-

rios significados. O primeiro é para as pessoas entenderem que a repressão política não atuou apenas sobre os que aderiram à luta armada, como os militantes que foram para o Araguaia, que se juntaram a Carlos Marighella ou a Carlos Lamarca. A repressão política se deu em todas as estruturas da sociedade. O estado ditatorial brasileiro criou um amplo e diversificado aparato repressivo, que atuou em todas as instâncias da sociedade brasileira.

A sociedade brasileira sofreu muito mais inter-ferências do que imagina, seja no âmbito da cul-tura, dos costumes, da educação, da ciência e da tecnologia. E a repressão política não foi executa-da apenas pelos militares. Nós imaginamos que a sociedade foi vítima de alguns militares malvados que agiram como psicopatas, como sádicos. Não. Existiram muitos civis que colaboraram com a repressão política. O caso da universidade é um exemplo. O caso de empresas como a Telest, a Es-celsa, a Companhia Vale do Rio Doce, todos esses órgãos e autarquias contavam com civis que atua-vam e colaboravam com a ditadura.

Por ser um tempo distante de sua realidade, os jovens tendem a imaginar que quem foi pre-so foi quem fez coisa errada. Mas isso não é ver-dade. O Espírito Santo foi monitorado em todas essas instâncias. As gerações de hoje têm que entender que, por pior que possa parecer o regi-me em que vivemos, não há nada melhor do que a democracia. A democracia não é só você falar mal do governo. É você ter a liberdade de ir e vir, a liberdade de escolha. Algo que não existiu durante a ditadura no Brasil, pois havia órgãos tanto civis, quanto militares atuando no sentido de censurar, de impedir, de impor barreiras para que as pessoas não pudessem atuar livremente, seja na universidade, no trabalho, na igreja, no partido político.

A pesquisa da Comissão da Verdade já pode afirmar que a Ufes foi a instituição mais vigiada durante a ditadura no Espírito Santo. Foi nela que se organizou o núcleo do PCdoB, o núcleo do PCB. O PT se formou graças a muitos militantes que eram alunos e professores da Ufes. Esse era um espaço que convergia todas as ideias e por isso essa preocupação tão grande em mo-nitorar e cercear os espaços de atua-ção dentro na Universidade.

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IMPÉRIO ROMANO

Grandioso por sua dimensão, marcado por lutas políticas, agitação social, guerras, corrupção, traições, assassinatos, crimes, atrocidades e conflitos religio-sos, o conturbado Império Romano fascina historia-dores e pesquisadores do mundo inteiro. Estudar esse período, que também ficou conhecido pelos san-grentos combates de gladiadores e pela escravidão, é conhecer um pouco mais da história da humanidade e da civilização. Com esse objetivo, pesquisadores de várias universidades criaram em 2005 o Laboratório de Estudos do Império Romano (Leir).

O professor Gilvan Ventura, do Departamento de História da Ufes, é doutor em História Econômica, mestre em História Antiga e Medieval, coordenador do Leir na Universidade e um dos mais respeitados estudiosos sobre o Império Romano no País.

O professor esclarece que, do ponto de vista ter-ritorial, a criação do Império Romano é um acon-tecimento conectado com a Primeira e a Segunda Guerras Púnicas, entre 264 e 201 a.C., quando Roma, que já controlava a Península Itálica, começa a adquirir propriedades no ultramar. A Sicília foi a

ainda fascina pesquisadores

Professores de várias universidades brasileiras têm no Império Romano sua fonte de investigação. Desde 2005, a Ufes conta com um laboratório de estudos na área

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Jorge Lellis Medina

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primeira província criada por Roma, depois vieram as outras. Isso ocorreu sob o regime da República (509 a 27 a.C.). Do ponto de vista político, segundo o professor Gilvan, o Império Romano seria a mo-narquia controlada pelo imperador (um título repu-blicano), e se firma a partir de 27 a.C., mediante a atuação de Augusto, sobrinho e herdeiro de Júlio César; e como entidade política, o Império se sub-divide em duas fases: o Principado (do início, com Augusto, até meados do século III) e o Dominato, fundado por Diocleciano em 284 e que se prolonga até 476, quando há a deposição de Rômulo Augus-to, o último imperador do Ocidente, por Odoacro, chefe do povo hérulo.

Outro aspecto impressionante desse Império foi a sua área territorial. Foi um período em que Roma acumulou o máximo de seu poder e con-quistou a maior quantidade de terras de sua his-tória, algo em torno de 6 milhões e meio de quilô-metros quadrados, com uma população estimada em 100 milhões de habitantes, o que represen-tava um sexto da população total do mundo na época. No seu apogeu, era formado por parte da Europa, pelo norte da África, pelos países mediter-râneos e por grande parte da Ásia, Roma (Itália), Alexandria (Egito) e Antioquia (Turquia) como suas maiores cidades. O Império Romano deu origem a 46 novos países.

Os imperadores Ancorado na figura do imperador, que concen-

trava poder, liderança e prestígio, os imperadores tinham a função de manter o equilíbrio e a harmo-nia entre os povos. Controlavam também todas as instituições, acumulando os cargos administra-tivos, religiosos e sociais. Os imperadores eram os representantes de Deus na Terra.

O coordenador do Leir reforça que o imperador romano era o titular absoluto da autoridade públi-ca. Era assessorado por um conselho de comitês, de companheiros, e quase sempre contava com o apoio do Senado de Roma e das cúrias (conselhos) das cidades provinciais. “É interessante ressaltar que toda a imagética imperial foi reapropriada ao longo da Idade Média até a Idade Contemporâ-nea, de modo que muitos governantes europeus de todas as épocas buscaram emular o imperador romano, a exemplo de Carlos Magno, Napoleão, Mussolini e mesmo Hitler. Além disso, muito da simbologia que até hoje cerca o papado tem suas origens no culto à figura do imperador romano”, enfatiza o pesquisador.

Leir - O Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (Leir) resulta de uma iniciati-va de sete docentes: Norberto Luiz Guarinello e Carlos Augusto Ribeiro Machado (Universi-dade de São Paulo), Fábio Faversani e Fábio Duarte Joly (Universidade Federal de Outro Preto/MG), Ana Teresa Marques Gonçalves (Universidade Federal de Goiás), Margarida Maria de Carvalho (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho /Franca) e Gilvan Ventura da Silva (Ufes). A coordenação nacional é do professor Guarinello, um dos pioneiros na formação de recursos humanos especializados em História Antiga no Brasil.

O Leir foi criado em 2005 para dar con-sistência, integração e visibilidade às pesqui-sas em história de Roma realizadas no Brasil, bem como para fomentar o intercâmbio com pesquisadores de outros países. O Leir da Ufes é coordenado pelo professor Gilvan, vin-culado aos Programas de Pós-Graduação em História e em Letras, e tendo como associa-dos, os professores Sérgio Alberto Feldman e Leni Ribeiro Leite. O Leir Ufes realiza diversos eventos, como os encontros nacionais dos pesquisadores do Laboratório, ciclos de pa-lestras, conferências, além de promover, junto com o Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL), a Jornada de Estudos Clássicos da Ufes. Entre os dias 22 e 24 de outubro deste ano, por exemplo, acontece o V Colóquio In-ternacional do Leir, com a presença da equipe nacional do Laboratório e de pesquisadores do Chile e da Espanha.

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PETRÓLEO,

O Espírito Santo, segundo maior produtor de óleo e gás do País, consolida uma rede em que a Ufes se destaca com di-ferentes frentes de pesquisa e produção

de ciência, tecnologia e inovação, além da elevada formação de recursos humanos qualificados para responder a tamanhas demandas regionais e na-cionais. Após mais de meio século de atividades exploratórias em seus mananciais petrolíferos no mar e em terra, hoje o Estado possui reservas equi-valentes a 2,92 bilhões de barris de óleo, e a sua produção alcança a média de 329,4 mil barris/dia, além de 12,5 milhões de m³/dia de gás natural, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O litoral capixaba, particularmente, revela mag-níficas jazidas de petróleo e gás, com promissoras potencialidades que se projetam a partir da desco-berta e exploração de camadas do pré-sal. Com sig-nificativa presença do setor petrolífero na sua eco-nomia, surgem novos desafios para o Espírito Santo

O Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Análises de Petróleos (LabPetro) da Ufes está localizado no campus de Goiabeiras, em Vitória, e é um dos mais importantes centros de pesquisa química em óleo, gás e derivados do mundo

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

e o País, como a necessidade de acelerar e inserir a produção científica e tecnológica nesse processo. A Ufes, por meio de ações e parcerias institucionais, e da crescente produção de seus pesquisadores nessa área, atua fortemente nesse ambiente caracterizado por aliar pesquisa e desenvolvimento.

Neste cenário propício à pesquisa e à transfe-rência de tecnologia, a Ufes forma pessoal capaci-tado para atuar nesse setor, com destaque também para a inovação tecnológica, com potencial para se tornar uma referência acadêmica internacional. O desenvolvimento da indústria do petróleo no

Luiz Vital

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Castro, pesquisador e coordenador do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Análises de Petróleos (LabPetro) da Ufes. Se-gundo ele, investimentos novos advindos desta “era do petróleo” estão sendo direcionados para o ensino e a pesquisa, consolidando o aumento de oportu-nidades na formação de mão de obra qualificada para atuação no setor de óleo e gás. Com o desen-volvimento da pesquisa no ambiente do LabPetro, vinculado ao Centro de Ciências Exatas (CCE), este novo circuito do petróleo passa a agregar diferentes linhas de pesquisa em outras áreas da Universidade.

Estado incrementa diferentes e importantes vo-cações econômicas, como a atividade portuária, o agronegócio, a siderurgia, a celulose, a mineração, o comércio exterior, entre outras que seguem no mesmo rastro, como a indústria naval, terminais offshore e usinas termelétricas, além de uma con-sistente e diversificada rede de fornecedores e de manutenção da indústria e serviços.

A pesquisa científica e tecnológica na Ufes se-gue atenta e acompanha este intenso e produtivo movimento instalado no Espírito Santo, segundo aponta o professor Eustáquio Vinícius Ribeiro de

Foto: David Protti

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Quatro patentes e três prêmiosÉ no campus de Goiabeiras, em Vitória, que está

instalado o Laboratório de Pesquisa e Desenvolvi-mento de Metodologias para Análises de Petróleos (LabPetro) da Ufes, um dos mais importantes centros de pesquisa química em óleo e gás e derivados do mundo. O laboratório possui quatro patentes deposi-tadas, sendo três premiadas, e quatro em andamento. Por meio do laboratório já foram apresentadas mais de 40 dissertações em nível de mestrado e publica-das dezenas de artigos científicos em revistas espe-cializadas nacionais e internacionais, e mais de 200 graduandos já desenvolveram projetos de iniciação científica. Essa efervescência acadêmica produzida na Ufes em torno do petróleo e gás circunda o La-bPetro, com os seus 20 laboratórios que, por meio de ensaios físico-químicos, investiga e define os perfis dos óleos produzidos no Espírito Santo.

“A Ufes possui hoje um centro de pesquisa de padrão internacional”, comemora o professor e coor-denador do LabPetro, Eustáquio Vinícius Ribeiro de Castro, que atua em cinco grupos e nove linhas de pesquisa. Ele destaca alguns dos diversos aspectos que fomentam a pesquisa científica e tecnológica na Ufes, como a criação de cursos com ênfase em petró-

leo, o surgimento de diversas linhas de pesquisa no âmbito da graduação e pós-graduação, o desenvolvi-mento de novas tecnologias e serviços para o setor, a propriedade intelectual e a transferência de tecnolo-gia, e os estudos aplicados à preservação ambiental e à sustentabilidade.

Na órbita do LabPetro, estão o Núcleo de Com-petências em Química do Petróleo (NCQP) e o Laboratório de Prestação de Serviços (LabServ). Pouco mais de 60 pessoas atuam no NCQP, entre pesquisadores, técnicos e estudantes de graduação e pós-graduação. “O núcleo desenvolve métodos analíticos laboratoriais para suporte a projetos de pesquisa na área de caracterização, avaliação e processamento primário de petróleos pesados e extrapesados”, explica Eustáquio Castro. O LabServ, por sua vez, capta recursos com a prestação de ser-viços de análises químicas, em que uma parte é di-recionada para os projetos de pesquisa – iniciação científica, mestrado e outros – e outra para suporte ao Departamento de Química do CCE/Ufes, o que assegura a autossustentabilidade do projeto. “Reali-zamos pesquisas e serviços, mas entre os objetivos fundamentais de nossos projetos e da Ufes está a formação de quadros altamente capacitados para

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Fotos: David Protti

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atuação no setor”, ressalta o professor.O LabPetro/Ufes iniciou as suas operações nos

anos 2004/2005 com a sua participação em cha-madas públicas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), visando à aplicação de projetos em parceria com o Centro de Pesquisas e Desenvolvi-mento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras, com sede no Rio de Janeiro. O LabPe-tro iniciou as suas atividades de pesquisa com dois projetos: implantação de metodologias para a carac-terização de óleos pesados e extrapesados e implan-tação de sistema de destilação atmosférica e alto vácuo de petróleos.

Em 2006 captou novos projetos, como a im-plantação do laboratório de Ressonância Magnética Nuclear – parceria da Ufes com o Cenpes/Petrobras e a multinacional Schlumberger –, e adequação de metodologia para obtenção de curvas PEV (ponto de ebulição verdadeiro) para óleos pesados e extrape-sados. No ano seguinte, novos projetos: implemen-tação e desenvolvimento de metodologias para a determinação de metais e compostos de enxofre em óleos e derivados e efeito de óleos ácidos nos po-límeros dos dutos flexíveis. O considerável avanço

da Ufes em pesquisas na área de petróleo e gás re-sultou na inauguração, em 2012, do novo prédio do NCQP no campus universitário de Goiabeiras, em Vi-tória, abrigando um complexo com 20 laboratórios, auditório para 110 pessoas, biblioteca, sala de reu-niões, central de processamento de dados, 14 salas de professores, duas de treinamento e cinco de apoio técnico, totalizando 3,6 mil m² de área construída.

A Petrobras, principal parceira do LabPetro/Ufes no desenvolvimento de pesquisas, é responsável pela maior carteira de projetos, por meio de recursos as-segurados em legislação federal, a partir de tributo anual da ordem de 1% sobre o faturamento da em-presa em grandes campos de produção de petróleo. “São valores destinados aos institutos de pesquisa sob a orientação e fiscalização da ANP, que define a sua aplicação”, salienta Eustáquio Castro. A Ufes também estabeleceu parcerias de serviços com outras empre-sas do setor via LabPetro, como a British Petroleum (BP), Schlumberger, Partex Oil and Gas, SGS e UTC. Castro destaca que a Ufes atua em diversas frentes de pesquisa com projetos multidisciplinares envolvendo diferentes áreas como Química, Física, Oceanografia, Biologia, as engenharias e as ciências humanas. De acordo com o coordenador do LabPetro, essa presen-

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ça diversificada de mais pesquisadores no ambiente do petróleo cria uma curva ascendente nos investi-mentos do setor em projetos de pesquisa e desenvol-vimento, que são direcionados para instituições téc-nico-científicas. “Este ambiente de elevada produção tende a se renovar permanentemente e a se estender por diferentes áreas da Ufes”, ressalta o pesquisador.

Copes mapeia competênciasO Centro de Competências em Óleos Pesados

(Copes) é uma parceria entre a Ufes e a Petrobras, com o objetivo de desenvolver projetos de pesquisa e desenvolvimento, bem como a prestação de servi-ços tecnológicos no setor de petróleo e gás no Es-pírito Santo, a partir de um formato de colaboração tecnológica entre a estatal e universidades e insti-tuições de pesquisa. O modelo inclui redes temáti-cas e núcleos regionais de competência. No Espírito Santo, o Copes é o núcleo regional e está instalado no campus da Ufes em Goiabeiras, em Vitória.

Assim, os investimentos em projetos de pesquisa e infraestrutura na Ufes são definidos pelo Copes, se-gundo explica o professor Eustáquio Castro. No Co-pes, de acordo com Castro, a Ufes possui três assen-tos no comitê gestor e a estatal, outros três. “O Copes

mapeia as competências; ou seja, quais os grupos, projetos de pesquisa ou de serviços são compatíveis e adequados às demandas”, observa o professor. “É um modelo pioneiro e único no Brasil”, acrescenta.

A parceria Ufes e Petrobras, por meio do Copes, possibilita a concretização de projetos multidisci-plinares de pesquisa e desenvolvimento, em que a empresa recorre ao conhecimento e ao potencial humano e material da Universidade para a busca de soluções na exploração e produção de óleo, gás natural e energia.

“Essa integração do setor produtivo com o ambiente acadêmico contribui fortemente para o desenvolvimento da pesquisa científica, tecnoló-gica e a inovação no Espírito Santo”, argumenta o professor. As atividades do Copes são orientadas pelo Cenpes, pela Petrobras, pela ANP e demais concessionárias. Na esteira dessa parceria, segun-do o pesquisador, o LabPetro/Ufes também está consolidando convênios internacionais importan-tes com o Sintef Petroleum – instituto de pesqui-sa norueguês – e empresas de produtos químicos como Dorf Ketal Chemicals e Baker Petrolite.

O Copes estabelece com a Ufes várias redes temá-ticas de pesquisa, como o Centro de Tecnologia em Dutos (abastecimento e refino); Óleos Pesados (pro-dução); Revitalização de Campos Maduros (produção); Monitoramento Ambiental Marinho; e Gás, Energia e Desenvolvimento Sustentável, entre outras.

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Pesquisadores utilizando o aparelho denominado de Expectômetro de Massas, no Laboratório de Petroleômica e Química Forense

Foto: David Protti

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Qual a importância da pesquisa em petróleo e gás para o Espírito Santo?

Sendo o Estado o segundo maior produtor de petróleo e gás do País, e por ser o setor mais im-portante para a economia capixaba, a detenção da tecnologia é fundamental. Entretanto, o que mais se deve destacar é a formação de mão de obra qua-lificada local, com pesquisadores e técnicos de alto nível. Este é um fator fundamental para o Estado e a sociedade capixaba, porque quebra um paradig-ma, uma tradição, a cultura que se estabeleceu em outros setores da economia capixaba e que provo-cou distorções e atrasos nos processos históricos de desenvolvimento socioeconômico do Estado.

O LabPetro é uma referência internacional em pesquisa do petróleo?

Sim. O elevado número de trabalhos publicados em periódicos científicos de abrangência internacio-nal, a participação em congressos e outros eventos, as parcerias e aproximações com empresas, institutos e órgãos públicos internacionais tornaram o LabPe-tro/Ufes reconhecido mundialmente. A demonstração disso é a existência de projetos de pesquisa e serviços em parceria com empresas como a francesa Schlum-berger, a norueguesa Sintef, e o atendimento a outras como a inglesa BP e as americanas Baker e SGS. São parcerias que têm como objetivo o desenvolvimento de trabalhos de conteúdo científico e tecnológico e a formação de recursos humanos.

Qual a evolução dos investimentos do setor de pe-tróleo em instituições técnico-científicas?

Com a regulamentação dos dispositivos da Lei 9.478/97, a Lei do Petróleo, que tratam da obriga-toriedade de investimentos em ciência e tecnologia, o volume de recursos aumentou significativamente, tendo em vista o crescimento igualmente relevante da produção de petróleo no Brasil. Calcula-se que, atualmente, só de participações especiais, os investi-mentos anuais em instituições brasileiras de ciência e tecnologia sejam de aproximadamente R$ 600 mi-

lhões/ano, sendo a Petrobras a concessionária com a maior carteira de investimentos.

Qual é a produção acadêmica do LabPetro nes-te contexto?

São mais de 40 dissertações defendidas e ou-tras que estão em andamento, além de três douto-rados em parceria com outras universidades. Foram publicados 20 artigos em periódicos qualificados pela Capes. Temos parcerias consolidadas por meio de 20 projetos com a Petrobras, cinco com a Finep, além de trabalhos com outras empresas nacionais e estrangeiras. Já foram apresentados mais de 300 trabalhos em congressos nacionais e internacionais e mais de 100 trabalhos de iniciação científica, es-tágio e de conclusão de curso.

E quanto às patentes?Já foram depositadas quatro patentes, além

de outras quatro em desenvolvimento. Três foram agraciadas com o prêmio “Petrobras Inventor” e tra-tam, essencialmente, de métodos e equipamentos para o processamento de óleos para análises labo-ratoriais. As patentes são as seguintes: Equipamen-to e métodos para preparação e para fracionamento de amostras de compostos complexos por adsorção seletiva; Processo e sistema de extração de sais de petróleos leves e pesados; Processo de extração de sais em óleos leves; e Desenvolvimento de unidade dessalgadora manual de petróleos.

O Copes exerce uma função estratégica no desen-volvimento de pesquisas na Ufes?

Sim. O Copes é resultado de uma parceria entre a Ufes e a Petrobras criada em 2005. Seu objetivo principal é facilitar o entendimento entre as compe-tências da Ufes e as demandas da Petrobras. Além de facilitador, o Copes cumpre também o papel de gestor dos projetos desenvolvidos pela parceria. Conta com um coordenador membro da Petrobras, equipe de su-porte técnico e pesquisadores representantes da Ufes que auxiliam nos trâmites internos da Universidade.

EUSTÁQUIO VINICIUS

RIBEIRO DE CASTRO

“Mão de obra local

qualificada é fundamental”

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Observatório da Mídia analisa a publicização de temas relacionados aos direitos humanos, políticas e sistemas, interligando diferentes

instituições e áreas do conhecimento

P assam-se anos, décadas, e uma ques-tão está sempre presente: como garantir a todos o respeito ao exercício pleno de seus direitos civis, políticos, sociais, cul-

turais, econômicos e ambientais, que juntos dão origem à conhecida expressão “direitos humanos”, fundamentais para a existência e a dignidade do homem? Um dos temas que permeiam essa discus-são refere-se ao papel dos meios de comunicação diante de tais direitos, já que estes são os princi-pais espaços de circulação de informação na socie-dade, tornando-se referenciais para a formação de valores e de opiniões. Para analisar essas questões surgiu, em 2006, o Observatório da Mídia: Direitos Humanos, Políticas e Sistemas. Até agora, foram pu-blicados cerca de 50 artigos vinculados a projetos de iniciação científica, graduação e pós-graduação, além de nove dissertações de mestrado e uma tese de doutorado que englobam temas como violência, representação de minorias e publicidade em jornais,

canais de televisão e rádios. Além disso, o grupo foi um dos fundadores da Red de Observatorios de Medios y Defensores de las Audiencias de Nuestra América, criada em 2011, que reúne Observatórios de Mídia da América Latina e dos Estados Unidos.

O Observatório foi criado na Universidade Fe-deral de Pernambuco quando o seu coordenador, o professor do Departamento de Comunicação da Ufes Edgard Rebouças trabalhava na instituição. Segundo ele, o grupo surgiu a partir de uma demanda da pró-pria sociedade, como um suporte acadêmico para a campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Ci-dadania, promovida pela Comissão de Direitos Hu-manos da Câmara dos Deputados e entidades que se ocupam do tema. Em 2009, quando Edgard passou a dar aulas na Ufes, a sede do grupo se estabeleceu na Universidade, contando com a colaboração de es-tudantes e pesquisadores de Pernambuco, São Paulo, Brasília (Distrito Federal) e Rio de Janeiro, para a pro-dução de pesquisas de amplitude nacional.

MÍDIADe olho na

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41UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Maio/Ago 2013

Inicialmente com o propósito de desenvolver pesquisas regionais, o Observatório começou a rea-lizar estudos sobre a violação dos direitos humanos na mídia, focando temas como a violência contra mulheres, o desrespeito a homossexuais e a ridi-cularização de pessoas em programas de rádio e televisão do Nordeste. Mas, com a ampliação das demandas, os pesquisadores começaram a elaborar trabalhos que vão além dos conteúdos de Jornalis-mo, como entretenimento e publicidade de alimen-tos e medicamentos para crianças .

Os estudos sobre publicidade destacam-se en-tre as frentes de pesquisa do grupo. Entre 2007 e 2009, os pesquisadores iniciaram investigações sobre publicidades voltadas para o público infantil devido a uma discussão na Câmara dos Deputados e no Senado sobre a regulamentação do setor. A partir disso, foi feita a pesquisa Regulamentação da Publicidade na TV Para Crianças e Adolescen-tes - Estado da Arte: Regulamentação Internacional, para avaliar o modo como a questão é tratada em países de todo o mundo.

Outra grande pesquisa nessa área começou a ser feita em 2011 como resultado de uma parceria entre a Ufes e o Instituto Alana, organização sem fins lu-crativos, que busca promover o bem-estar das crian-ças a partir da garantia de uma vivência plena da infância. O projeto Monitoramento da Publicidade de Produtos e Serviços Destinada a Crianças é um estu-

do longitudinal – que será feito até 2014 – no qual o Observatório monitora as publicidades destinadas às crianças em programações de 15 canais, durante as semanas que antecedem datas comemorativas. Já a pesquisa Cartografia dos Grupos de Mídia no ES é feita há três anos. Nela são mapeados e analisados conteúdos informativos e publicitários de rádios, TVs, jornais, revistas e veículos de comunicação on-line, buscando investigar relações econômicas, políticas e culturais entre eles. Com os seminários Observações, o grupo busca emitir suas opiniões e interpretações sobre diversos temas, discutindo-as com estudantes e profissionais de diferentes áreas.

Sobre a relevância de iniciativas como as do Obser-vatório da Mídia, o professor e pesquisador do grupo Victor Gentilli afirma que “a incidência de problemas de desrespeito aos direitos humanos na mídia é muito alta. Como prestadores de serviço público, as empre-sas midiáticas, pelo contrário, deveriam estar atentas não apenas ao seu cumprimento como, em especial no caso do jornalismo, no apontar os descumprimen-tos. Instituições como o Observatório cumprem o pa-pel de acompanhar de perto estas situações”.

A estudante de jornalismo da Ufes Esther Rada-elli participa do Observatório desde junho de 2012 e diz que a importância de projetos de pesquisa e ex-

Familiares e crianças participam da Feira de Troca de Brinquedos, realizada pelo Observatório da Mídia em

outubro de 2012, na Praça dos Namorados, em Vitória

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tensão como este está no aprendizado que os alunos adquirem para além da sala de aula. “O Observatório trabalha com questões fundamentais para a forma-ção de um comunicador social, além de possibilitar uma compreensão mais ampla sobre a Comunicação. A Universidade possui vários espaços, os grupos de pesquisa e extensão são alguns, que nos proporcio-nam vivências únicas. É muito importante que apro-veitemos ao máximo todos eles”, ressalta.

Englobando diferentes áreas do conhecimentoEm um primeiro momento, pode-se pensar que

um grupo que investiga a relação entre a mídia e os direitos humanos é restrito à participação de alunos dos cursos de Comunicação Social. Entretanto, não é isso o que acontece no Observatório da Mídia. É justamente por lidar com temas complexos que os pesquisadores do grupo se voltam para a discussão de questões como obesidade, violência e segurança a partir de uma conexão entre os estudos midiáticos e outras áreas do conhecimento, que vão além do Jornalismo e da Publicidade. Para tanto, o grupo pos-sui parcerias com alunos e professores de Direito (da Faculdade de Direito de Vitória - FDV), Serviço Social, Nutrição, Educação e Psicologia da Ufes, além dos Conselhos Regional e Federal de Psicologia, do Mi-nistério da Saúde, Ministério da Justiça, Anvisa, Orga-nização Pan-americana de Saúde, Ministério Público Federal e do Conselho Federal de Nutrição.

Aline Cavaca, que hoje cursa o doutorado em

Odontologia na Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Ja-neiro, realizou sua pesquisa de Mestrado em Saúde Coletiva em parceria com o Observatório. Após o mestrado, ela decidiu continuar os estudos na área com a pesquisa Doenças Midiaticamente Negligen-ciadas (DMN). “A partir da experiência do mestrado, na qual estive mergulhada na leitura dos periódicos locais, fiquei intrigada com o descompasso da valo-rização midiática da saúde em relação ao contexto de saúde estadual. Assim, incitou-me o desejo de ir além da perspectiva da saúde bucal e avançar na pesquisa em Comunicação e Saúde,” diz Aline.

Democratização da Comunicação: um mundo em que muitos falam para muitosOutra questão defendida pelo Observatório da

Mídia é a democratização da comunicação, que só é possível com a plena garantia de liberdade de ex-pressão aos indivíduos. O professor Edgard Rebouças afirma que democratizar não implica somente garan-tir o acesso das pessoas à mídia, mas é também dar mecanismos para que a própria sociedade produza conteúdos midiáticos. “Uma crítica que nós sempre recebemos é que nós não gostamos de televisão, não gostamos de jornal. Não, pelo contrário, nós gosta-mos muito. Todos os observatórios fazem esse traba-lho porque gostam muito da mídia e por isso desejam uma mídia melhor. E para ela ser melhor, é preciso que haja uma maior participação da sociedade, mais discussão e mais debates”, explica ele.

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Evento do Observatório da Mídia realizado no plenário da Assembleia Legislativa do Espírito Santo

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Desse modo, caracterizando-se como um grupo de pesquisa e ação, o Observatório da Mídia tam-bém promove eventos fora do campus, com o ob-jetivo de conscientizar as pessoas em relação aos seus direitos. Uma forma, segundo o professor Ed-gard, de fazer com que a universidade retribua os investimentos que recebe da sociedade através de seus programas de pesquisa e extensão. Exemplos dessas ações são as Oficinas de Leitura Crítica da Mídia, ministradas pelos membros do grupo para crianças, adolescentes e idosos em escolas estadu-ais e municipais da Grande Vitória.

Além disso, o Observatório promoveu dois even-tos em parceria com a Comissão de Educação e Co-municação da Assembleia Legislativa, intitulados: A TVE e Rádio Espírito Santo que queremos (2011) e Plano Nacional de Banda Larga: implantação e desenvolvimento no Espirito Santo (2012).

Junto ao Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e o Coletivo Intervozes, o grupo realizou, em junho de 2012, o seminário Qual o Seu Papel na Democratização da Mídia? e em março do mesmo ano organizou, em parceria com o Instituto Estadual de Proteção e Defesa ao Consumidor (Procon/ES), a I Feira do Consumidor Cidadão, realizada no Centro Esportivo Tancredo de Almeida Neves, o Tancredão, cujo objetivo foi esti-mular o consumo consciente entre crianças.

Foi com esse mesmo objetivo que o Observató-rio realizou, em outubro de 2012, a Feira de Troca

Em 2013, o projeto Capacitação de Jor-nalistas para a Promoção e o Respeito dos Direitos Humanos, do Observatório da Mí-dia, foi aprovado em primeiro lugar pelo Programa de Extensão Universitária (Pro-ext/Mec) na área de Direitos Humanos. O novo trabalho é uma parceria entre o Obser-vatório da Mídia, a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Espírito Santo (SEADH) e o Sindicato dos Jornalistas, para a realização de oficinas de capacitação dire-cionadas a jornalistas, estudantes e militan-tes de direitos humanos no Espírito Santo. O projeto entra em vigor no início de 2014 e será um piloto para que em 2015 ações semelhantes possam ser propostas em âm-bito nacional. As reuniões do Observatório acontecem todas as quintas-feiras, às 14h, no Cemuni I, campus de Goiabeiras, e são abertas a quem desejar participar.

de Brinquedos na Praça dos Namorados, em Vitó-ria, uma iniciativa para que as crianças, ao invés de comprar brinquedos, os trocassem entre si. O mais recente seminário promovido pelos Observadores, intitulado Os rumos e o papel da comunicação pú-blica, ocorreu em junho de 2013.

Primeiro Lugar

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O Telessaúde é um programa nacional desenvol-vido pelo Ministério da Saúde, que visa melhorar a qualidade da saúde e do atendimento na atenção bá-sica a partir do desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação que permitam uma maior integração entre as equipes de Saúde da Família do Estado e profissionais especialistas. Oferecer um melhor atendimento aos pacientes e garantir o aper-feiçoamento de profissionais, como médicos, enfer-meiros, psicólogos, dentistas, farmacêuticos e agen-tes de saúde, são alguns dos objetivos do programa. Implantado há um ano, o Telessaúde-ES já está pre-sente em 50 municípios do interior do Espírito Santo e conta com 209 profissionais cadastrados. A meta é que até o fim do projeto, previsto para agosto deste ano , cerca de 70 municípios sejam atendidos.

No Espírito Santo, o Telessaúde é o resultado de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), que atua como um elo entre o projeto e o Mi-nistério da Saúde; o Ifes, responsável pelo desenvol-vimento de softwares para a comunicação, e o Hos-pital Cassiano Antonio Moraes (Hucam), da Ufes, que disponibiliza os especialistas em saúde para atuarem no projeto. Monta-se uma estrutura para que o pro-fissional que está mais afastado da Capital e, muitas vezes, tem dificuldades de fazer cursos e se manter atualizado, possa solicitar informações e receber au-xílio de outros profissionais.

O gerente do Telessaúde, Marcelo Queiroz Schimi-dt, explica que, quando os profissionais têm a opor-tunidade de trocar informações com outras pessoas de sua área, eles deixam de se sentir isolados e se tornam mais seguros, potencializando seu trabalho. Algumas das principais vantagens do programa são a maior agilidade nos processos de diagnósticos e a redução de deslocamento dos pacientes para outros hospitais, visto que na maioria das vezes os problemas são solucionados nos próprios municí-pios. Além disso, é possível reduzir os gastos com

a serviço da saúde no Espírito Santo

Tecnologias de Informação

O Telessaúde tem o objetivo de aproximar pacientes e profissionais da saúde, não

importando a distância, para garantir atendimento de qualidade

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exames desnecessários e poupar os pacientes de maiores desgastes físicos e psicológicos.

Como funcionaTodas as perguntas são enviadas para um am-

biente virtual (dentro do site do Telessaúde) e enca-minhadas diretamente ao médico regulador. É ele quem avaliará se é capaz de responder as questões ou se é preciso encaminhá-las para especialistas.Caso seja necessário, as questões são reencami-nhadas ao ambiente virtual e são automaticamen-te direcionadas ao especialista. Todo o processo é confidencial e feito com autorização prévia dos pa-cientes. As perguntas são respondidas em, no má-ximo, 72 horas. Atualmente, o programa conta com um médico regulador, 22 médicos especialistas e 10 profissionais de outras categorias.

Thiago Sarti é professor da Ufes e médico regu-lador do Telessaúde. Ele explica que em sistemas de saúde avançados, como o de Cuba, da Inglaterra e do Canadá, o primeiro contato das pessoas com um serviço de saúde é feito em uma unidade de atenção primária (no Brasil, conhecemos essas uni-dades como Unidades de Saúde). O médico de Saú-de da Família e da comunidade busca analisar os problemas de forma ampla, incluindo a promoção da saúde e a prevenção de doenças.

“Vários estudos mostram que as pessoas fi-cam mais satisfeitas e os resultados são melho-res quando elas acessam uma atenção primária qualificada. Contudo, alguns pacientes precisarão de um atendimento especializado. É aí que entra a função de filtro do médico generalista: primei-ro, resolvendo a grande maioria dos problemas de saúde das pessoas, encaminham-se apenas aqueles que realmente vão ter necessidade de um acompanhamento em um serviço especializado; segundo, conhecendo bem o problema da pessoa, encaminha-se o indivíduo para o especialista mais adequado”, ressalta Sarti.

Para facilitar a inserção dos municípios no progra-ma, o Telessaúde oferece às Unidades de Saúde um kit de materiais completo, contendo computador, moni-tor, mouse, teclado, fone de ouvido e microfone, caixas de som, webcam e máquina fotográfica. O kit deve fi-car disponível a todos os profissionais cadastrados no Telessaúde para que eles tenham a possibilidade de se comunicar quando acharem necessário.

ServiçosCaso as questões enviadas para o médico regu-

lador ou para o especialista sejam mais complexas

Como participar

Os municípios do interior do Estado foram os primeiros beneficiados com o programa Teles-saúde justamente por serem regiões afastadas dos maiores centros urbanos. Para se ter uma ideia, existem lugares em que só há um profis-sional de saúde para cada área. Mas, a partir de 2013, o programa também está sendo oferecido aos municípios da Grande Vitória. Para participar do projeto, o único pré-requisito é que os muni-cípios tenham acesso à internet.

As secretarias de Saúde municipais interes-sadas devem fazer um pré-cadastro no site do Telessaúde-ES e em seguida confirmar seu ca-dastro por e-mail ou telefone. Cabe a elas de-cidir em qual Unidade de Saúde o sistema será implantado. A terceira etapa consiste no agen-damento de testes para a implantação dos sof-twares, que são feitos on-line entre um técnico de informática do município e um técnico do Telessaúde. Depois, são entregues os kits e ini-cia-se a fase de treinamento dos profissionais.

Site: http://telessaude.ifes.edu.br/

ou relevantes para outros profissionais que podem se beneficiar do conhecimento produzido a partir das dúvidas que surgem, é elaborada a Segunda Opinião Formativa. Esta é uma resposta sistemati-zada, construída com base em revisões bibliográ-ficas, evidências científicas e clínicas e no papel ordenador da atenção básica à saúde, que visa responder às perguntas originadas das teleconsul-torias. As pesquisas geradas através da Segunda Opinião Formativa são armazenadas em uma base de dados que, por sua vez, compõe uma Biblioteca Virtual, cujo acesso é permitido a qualquer profis-sional cadastrado.

No serviço de Teleconsultoria, um ou mais clí-nicos se reúnem por meio de uma videoconferên-cia para discutir a situação de um paciente. Já nas webconferências são realizadas reuniões, pales-tras e treinamentos para os profissionais. Porém, caso achem necessário, os clínicos podem agendar webconferências particulares.

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p e s Q U I s A

Seja vista como a arte de manifestar diversos afetos da alma mediante o som, como pensava o maestro Paschoal Bona, seja como um conjunto de sons e silêncios organizados no tempo, independen-temente de suas definições. Como dizia o poeta e

Professores do Departamento de Teoria da Arte e Música criam grupo para pesquisar a interface entre a música e outras vertentes da linguagem

Músicaa trilha sonora do mundo

dramaturgo Victor Hugo, “a música está em tudo. Do mundo sai um hino”. Ela se manifesta de diferentes formas no cotidiano, afirmando-se como uma das mais antigas formas de expressão da humanidade. É com o objetivo de pensar a música inserida no mun-do que os pesquisadores do Grupo Linguagens e Música investigam o diálogo entre a linguagem mu-sical e outras vertentes, como Filosofia, Psicanálise, Cinema, Teatro e Educação. Um dos resultados do projeto é a revista eletrônica Música e Linguagem, lançada em julho de 2012, que reúne artigos sobre o assunto, estimulando o debate em torno do tema.

Atualmente, o Linguagens e Música é compos-

Os professores Ernesto Frederico Hartmann Sobrinho (abaixo) e José Eduardo Costa Silva (ao lado) coordenam o grupo de pesquisa Linguagens e Música

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to por cinco alunos de iniciação científica e pelos professores do Departamento de Teoria da Arte e Música da Ufes Ernesto Frederico Hartmann Sobri-nho, José Eduardo Costa Silva, Marcus Neves, Darcy Alcântara e Marcos Ribeiro de Moraes. O grupo foi criado em 2007, na Universidade Federal do Esta-do do Rio de Janeiro (Unirio), quando os professores Ernesto e José Eduardo cursavam o doutorado em Música naquela instituição. Em 2011, após ambos já trabalharem na Ufes, o grupo foi transferido para a Universidade com o objetivo de englobar todas as pesquisas desenvolvidas pelos alunos para que elas contribuam para a elaboração de uma linha de pes-quisa mestra do curso de Pós-Graduação em Música.

A música é vista historicamente a partir de dois pontos divergentes: como produtora de significa-ção, sentimentos e emoções dentro da linguagem, ou como uma manifestação dela. A música não é capaz de definir objetos com precisão, mas dá aos indivíduos a possibilidade de conhecê-los de ou-tras formas, a partir do pensamento metafórico. A questão que permanece é se é a própria música quem proporciona esse novo olhar ou se tais im-pressões são criadas a partir do que conhecemos da língua. “É justamente nessa tensão entre a lingua-gem como estrutura e a linguagem como símbolo da música que nós trabalhamos, pesquisando essas

interações e o que resulta disso”, completa Ernesto. O objeto de estudo dos pesquisadores não se

limita à musica popular – caracterizada pela união entre a palavra e o som, que dão origem a outro sig-nificante – ou à música instrumental. Trata-se da mú-sica enquanto fenômeno artístico, resultado de um intenso processo de elaboração. “O mais importante é que embora a gente goste da música e a respeitemos como ela é, estamos discutindo uma forma de ela es-tar inserida no mundo. A música não deve ser vista como um mero entretenimento. Ela é arte e pensa-mento”, afirma o professor José Eduardo.

Pesquisas e Produção ArtísticaUm dos maiores trabalhos realizados pelos pes-

quisadores do grupo, em parceria com doutorandos em Psicanálise da Universidade Veiga de Almeida, do Rio de Janeiro, foi a produção de trilhas sono-ras para as peças Variações Freudianas (2010) e Abram-se os Histéricos! (2012), da Companhia In-consciente em Cena. Na primeira peça, os sintomas da histeria são levados ao palco através da música e da dança. Já a segunda centra-se nas aulas públi-cas do cientista Jean-Martin Charcot, no século XIX, além de retratar o surgimento da Psicanálise, com a formulação da Teoria do Inconsciente de Freud.

Outra linha de pesquisa explorada pelo grupo é a de Paisagem Sonora, que discute questões li-gadas à escuta, à música e à ecologia, buscando entender como um determinado ambiente sonoro é permeado por sons, incluindo suas possibilida-des de poluição sonora.

Um dos projetos ligados ao Linguagens e Música é o Musivamentando. Ele é um programa ligado à Pró-Reitoria de Extensão da Ufes e tem a função de englobar projetos de extensão do curso de Música, como o Papo de Compositor. Neste evento, que foi realizado de 2009 a 2011 na Ufes, compositores ca-pixabas eram convidados a fazer apresentações mu-sicais; o Rec It All, evento de recitais produzidos pelos alunos do curso, que se apresentam na Universidade e o Música na Ufes, projeto também desenvolvido dentro da Ufes, que trabalha com a alta performan-ce musical e consiste na apresentação de concertos mensais dos professores do curso de Música.

Musivamentando

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p e s Q U I s A

Com o objetivo de explorar as potencialidades da bioacústica, linha que investiga as ondas sonoras emitidas por animais, o grupo de pesquisa Comunica-ção em Mamíferos Neotropicais se dedica a estudar a comunicação entre mamíferos roedores da América do Sul, como porquinhos-da-índia, preás, capivaras, tuco-tucos, catetos e queixadas, a fim de analisar o comportamento social desses animais e sua relação com o ambiente. Entre os projetos desenvolvidos pelo grupo destaca-se a montagem de um banco de dados contendo as emissões vocais dos mamíferos, que poderá ser utilizado por cientistas de todo o mundo para o reconhecimento de espécies.

Apesar de existir desde 2003, o grupo foi formali-zado em 2010 e, atualmente, envolve pesquisadores dos núcleos de Biologia e Psicologia de cinco univer-sidades: Rosana Suemi Tokumaru, da Ufes; Selene Nogueira, da Universidade Estadual de Santa Cata-rina (UESC); Patrícia Ferreira Monticelli e Elisabeth

Spinelli de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP); Carlos Ramón Ruiz, da Universidade Estadu-al do Norte Fluminense (UENF); e Gabriel Henrique Francescoli Gilardini, da Universidad De La Republica Oriental Del Uruguay.

Os mamíferos neotropicais vivem na região composta pela América Central, sul da Flórida (EUA), ilhas do Caribe e América do Sul. A profes-sora do Departamento de Psicologia da Ufes Rosa-na Suemi explica que o interesse de criar o grupo surgiu pois, embora a bioacústica seja uma linha de pesquisa utilizada desde a década de 1970, os pesquisadores focam seus interesses na análise de sons de aves e de primatas, excluindo outros ani-mais. Ao mesmo tempo, os estudos com roedores

A professora Rosana Suemi Tokumaru integra a equipe de pesquisadores de várias universidades que investigam a comunicação entre mamíferos neotropicais

Comunicação entre roedores

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centram-se em suas características olfativas, fazen-do com que sua vocalização seja pouco explorada.

Quanto ao fato de as pesquisas relacionadas à bioacústica serem objeto de interesse não só de biólogos, mas também de psicólogos, como é o caso das professoras Suemi e Patrícia, a professo-ra Suemi afirma que o estudo do comportamento animal serve como auxílio para que sejam enten-didos aspectos do comportamento humano, foco da Psicologia. “A partir de homologias e analogias com o comportamento animal é possível entender, por exemplo, a própria linguagem humana, que é um tema complexo”, exemplifica ela.

Por se tratar de um trabalho de observação do comportamento animal, as análises são feitas tanto em campo quanto em cativeiro por meio de recursos como a observação direta, câmeras filmadoras, mi-crofones e gravadores. A segunda etapa do trabalho consiste em estudos laboratoriais dos sons captados, feitos por programas de computador específicos.

Em 2013, o grupo se prepara para a apresenta-

ção dos simpósios Comunicação vocal em roedo-res: avanços recentes, e Como a bioacústica pode melhorar a avaliação do bem-estar animal: meca-nismos e design experimental, que acontecerão em setembro, durante o XXIV Congresso Interna-cional de Bioacústica, em Goiás.

A professora Suemi destaca que o fato de o grupo ser formado por várias universidades estimula a tro-ca de experiências entre pesquisadores. “O que tem sido interessante para nós é o contato que podemos ter uns com os outros e a possibilidade de comparti-lharmos a formação de nossos alunos”, salienta.

Pesquisas

Na Ufes, as primeiras pesquisas referentes à bioacústica na área de Psicologia começaram em 2003, quando a professora Suemi passou a inte-grar o corpo docente da Universidade. Mas, para a professora, o trabalho com mamíferos roedores começou desde 1993 quando, ao longo de seu mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP), ela investigou as vocalizações emiti-das entre filhotes de porquinhos-da -índia e suas mães. As conclusões apontaram que, apesar de não reconhecer individualmente o filhote, a mãe atende ao seu chamado e o procura.

Os próximos animais estudados foram as capivaras, que constituem um grupo social mais complexo, em que os membros interagem a todo o tempo entre si. A análise laboratorial permitiu a identificação de sete diferentes vocalizações e os contextos em que elas ocorrem, como por exemplo, em situações de agressão, alimenta-ção, relações entre pais e filhotes ou reprodu-ção. Além disso, foram identificados grupos de capivaras que possuíam vocalizações distintas. O próximo passo da pesquisa consiste em sa-ber se essas capivaras reconhecem ou não tais

distinções de som. “As espécies que estudamos são espécies sociais. E o comportamento social delas inclui a vocalização, que não só medeia as relações como regula os comportamentos. Um filhote que se perde da mãe, por exemplo, quan-do emite sons está de alguma forma provocando a aproximação da fêmea e com isso está regu-lando as interações entre eles”, ressalta Suemi.

Outro projeto desenvolvido pelo Grupo Co-municação em Mamíferos Neotropicais é o le-vantamento da filogenia dos animais, ou seja, o estudo do grau de parentesco entre os membros de diferentes espécies, feito através da bioa-cústica e da análise de seu comportamento de forma geral. “Através deste estudo pretendemos associar as afinidades vocais entre as espécies e compará-las a métodos mais tradicionais de classificação animal, tais como os morfológicos e os biomoleculares. Se conseguirmos validar tal método, haverá um benefício do ponto de vista financeiro para a classificação das espécies, pois os métodos acústicos são mais rápidos e mais baratos que os demais”, afirma Selene Nogueira, responsável pela pesquisa.

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A r t I g o

PAPAEdebrande Cavalieri*

Tomando por motivação a perspectiva do filóso-fo J. Habermas de que a luta entre os extremismos do laicismo e do fundamentalismo religioso deve existir uma terceira via, mais significativa para a hu-manidade e que mantenha a presença pública das religiões mundiais da humanidade, que garanta a convivência frutífera entre diversas religiões, cultu-ras e pertencimentos. Entre o laicismo e o funda-mentalismo religioso que cresce e se apresenta de maneira destemida sem precedentes na história pa-rece não haver nenhuma outra alternativa. Ao mes-mo tempo, observa-se que a “reserva de sentido” do discurso religioso não está esgotada.

Jacques Lacan na obra O triunfo da religião afir-ma que a mesma triunfará inclusive sobre a psica-nálise. Impossível pensar quão poderosa ela é. A ciência não resolverá todas as questões e a religião terá a função de apaziguar os corações. Ela possui recursos que nem se suspeita que possua.

Para Habermas também há uma reserva de senti-do, mostrando não apenas como o religioso persiste de maneira vigorosa, mas que exige uma coexistência nem sempre pacífica com outras esferas de sentido. Deixamos para trás aquela ideia bem positivista de que a religião deveria ser um estágio a ser supera-do na história da cultura humana e passamos a re-conhecer uma grande sensibilidade do fator religioso presente na sociedade, bem como a necessidade de um conhecimento cada vez mais rigoroso com as fer-ramentas que a própria ciência moderna nos legou.

Com essas duas motivações introdutórias, que-remos mostrar que “falar da eleição de um Papa” em um meio universitário tem sentido na medida em que, enquanto pesquisadores, nos debrucemos sobre o que uma figura religiosa central na história do ocidente pode representar para a humanidade inteira. Não me compete e nem me interessa entrar em disputas apologéticas ou doutrinárias funda-

mentando o poder pontifício. Deve interessar-nos, acima de tudo, a perspectiva ética da chamada “re-serva de sentido”. Desta forma, o diálogo com a aca-demia se torna mais produtivo e positivo.

De pronto podemos perguntar: que importân-cia tem para toda a sociedade e para a Igreja Cató-lica a eleição do Arcebispo de Buenos Aires Jorge Mário Bergoglio?

A sua eleição pelo Colégio dos Cardeais é decor-rente da renúncia do Papa Bento XVI. Desde o século XV tal fato não acontecia. Neste ponto, Ratzinger dei-xou um grande legado em termos políticos e eclesiais. O exercício do poder pontifício não se submete à vi-taliciedade de modo absoluto. O mundo atual e seus enormes desafios carecem muito mais do que uma figura simbólica de um papa moribundo. Bento XVI, sempre muito cioso das tradições eclesiais, recupera uma possibilidade política extremamente significativa.

Os primeiros gestos do novo Papa são muito sig-nificativos. Ao aparecer na janela do Vaticano, e antes de qualquer ação perante o povo, pede a este mesmo povo que reze por ele. Reconhece assim a missão fun-dante da Igreja - ser ação, servir, submeter-se às neces-sidades do povo. Não se trata de um cargo ou exercí-cio de poder. Este gesto se completa com a escolha do nome Francisco. Este nome remete a uma das figuras mais emblemáticas do Cristianismo, Francisco de As-sis, que viveu num momento em que via o desmoro-namento da Igreja medieval. Com um pequeno grupo de irmãos lança-se na ação pelos pobres, o amor à natureza, e a reconstrução da Igreja a partir de ações efetivas, e não de discursos teológicos abstratos, como aqueles então produzidos pela Escolástica.

A origem geográfica do novo Papa também é algo que aparece de imediato. Trata-se de uma grande mudança na própria Igreja Católica que entendia a competência de governar a Igreja a partir do eixo eu-ropeu e, principalmente, italiano. A Argentina é um

e os desafios éticos

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dos poucos Estados em que o Catolicismo é religião oficial, com o governo assumindo despesas dos ecle-siásticos. Neste ponto, o novo Papa tem o desafio de garantir a existência do estado laico, que cuida do bem comum de toda a população. Há no mundo atual a perspectiva de alguns grupos religiosos assumirem o poder do Estado e governarem segundo os interes-ses de suas agremiações religiosas.

É o primeiro papa latino-americano, terra fértil da Teologia da Libertação. Esta área teológica tem carac-terísticas diferentes do que quase sempre se produziu na academia. Não nasce a partir dos gabinetes dos pesquisadores, mas da escuta do grito dos pobres, do índio, da mulher. As Comunidades Eclesiais de Base não foram vencidas. Sua metodologia de ação im-pregnou não apenas a Igreja, mas a própria sociedade. Foi da sua escuta permanente e atenta aos clamores do povo que se estabelece o conceito de exclusão so-cial já arraigado nas análises acadêmicas e políticas presentes no mundo. Daí nascem o “Grito dos Opri-midos” e o “Grito da Terra”, que mostram a correlação profunda entre a destruição da natureza e a exclusão social ou produção da pobreza.

A questão fundamental não é saber se o Cardeal Bergoglio é da Teologia da Libertação. Esta é uma reflexão a posteriori. Em primeiríssimo lugar vem a atitude diante dos pobres e oprimidos. Assim, as di-vergências com os Kirchers levam em consideração o avanço da pobreza na Argentina passando de 4% em 1990 para 30% nos dias atuais. Esta é a per-cepção do Arcebispo, agora Papa, de Buenos Aires: o empobrecimento do povo argentino e o aumento da miséria de uma parte e a concentração de rique-za cada vez maior nas mãos de poucos. A atitude de acolhimento às mães solteiras de Buenos Aires que solicitavam o batismo de seus filhos foi motivo de enfrentamento contra alguns párocos que recusa-vam o batismo aos recém-nascidos.

As questões internas da Igreja Católica pare-cem ser as mais desafiadoras de serem enfrenta-das imediatamente. Não é possível tolerância ou encobrimento dos escândalos relativos à pedofilia de muitos eclesiásticos e dos desvios presentes em alguns setores da Cúria Romana, principalmente no Banco do Vaticano. Nesse caminho de recuperação da conduta ética e moral da Igreja, o Papa neces-sita de um conjunto de forças e apoios dentro do próprio episcopado. O mundo atual requer essas transformações. Muitos desvios de conduta não são compatíveis com o Evangelho pregado em todas as celebrações. É preciso ter muita força e coragem.

Algumas questões de cunho disciplinar devem ser

postas em pautas reservadas e também públicas no exercício do pontificado. Uma delas com certeza re-fere-se ao tema do Celibato dos padres. A expectativa dentro de alguns segmentos católicos vem desde a época do Concílio Vaticano II na década de 1960. Ou-tra mais desafiadora se refere à possibilidade de or-denação das mulheres como diaconisas e presbíteras. A presença das mulheres nas comunidades eclesiais é muito grande. Os novos tempos parecem questionar a Igreja sobre a impossibilidade de sua ordenação.

Em termos mundiais, os desafios são cada vez maiores. Não é mais possível uma posição de indi-ferença perante os graves problemas de convivên-cia entre Estados, entre Grupos Étnicos, entre Eixos Econômicos, entre a presença cada vez maior de minorias e os grupos dominantes em cada socie-dade. Este trabalho de interlocução entre os vários Estados tem sido uma exigência cada vez maior. A autoridade moral do Papa pode contribuir para a solução e superação de muitos conflitos, muitas in-justiças, muitas mortes.

Por fim, para nós brasileiros, tivemos a oportuni-dade de ter sua primeira visita ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude realizada em julho.Para a juventude, a Igreja só será motivo de esperan-ça à medida que suas ações forem sempre pautadas pela coerência ética e transparência moral. A juven-tude não pode perder a esperança. E, neste ponto, não tenho como finalizar este escrito sem pensar na situação de uma juventude que não espera mais por nada a não ser o momento de sua morte antes de completar trinta anos. O envolvimento em drogas e nos diversos tipos de crimes faz desta juventude o maior território mis-sionário da Igreja. E vemos entre nós crescer a postura imediata da penali-zação desta juventude antes dos de-zoito anos. O Grito da Terra é hoje o Grito dos Jovens. De que adianta ser o país mais cristão, mais católico, se não damos aos nossos jovens a possibilida-de de viverem dignamente com todos os direitos garantidos?

* Professor do Departamento de Filosofia e Doutor em Ciências da Religião

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I D e I A p r e M I A D A

Um trabalho

Ler edições diárias de mais de 20 anos de jornais e revistas, para traçar um panorama das exposições e eventos artísticos realizados em Vitória. Foi deste, entre outros esforços, que surgiu o livro Artes Plásti-cas no Espírito Santo 1940/1969: ensino, produção, instituições e crítica, lançado em dezembro de 2012 pela Editora da Ufes (Edufes). É isso o que conta sua autora, a professora do Departamento de Teoria da Arte e Música da Ufes Almerinda Lopes, ganhadora do Prêmio Sérgio Milliet, da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), como melhor autora por pesquisa publicada. Em termos de publicação, o tra-balho é a primeira iniciativa de registrar a história da arte no Espírito Santo no período estudado.

O livro é uma continuação das pesquisas inicia-das por Almerinda desde a década de 1990 quan-do ela, que morava em São Paulo, foi aprovada em concurso para dar aulas na Ufes. Ao chegar a Vitória, Almerinda percebeu que as únicas pesquisas histó-ricas sobre arte no Estado eram restritas à arqui-tetura, não havendo nenhuma publicação referente à pintura, escultura e fotografia. Foi assim que ela

começou a visitar acervos públicos e particulares, onde encontrou também obras do século XIX.

Com o tempo, seu objetivo passou a ser não só conhecer o acervo, mas descobrir os artistas que atuavam no Estado e as políticas culturais de outros tempos. A falta de materiais para a reali-zação das pesquisas – uma vez que na época não eram feitos catálogos das exposições e não havia sequer o registro de compra das obras nos acer-vos públicos e museus – fez com que a professora encontrasse um novo método de estudo: a análise de jornais e de microfilmes da época do Arquivo Público e da Biblioteca Estadual. Dessa primeira fase nasceu, em 1997, o livro Arte no Espírito San-to: do século XIX à Primeira República, ganhador do prêmio Almeida Cousin, do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.

Quinze anos depois, a publicação Artes Plásticas no Espírito Santo: ensino, produção, instituições e crítica traz abordagens que vão desde a criação da primeira Escola de Belas Artes até a constituição dos acervos do Estado a partir dos discursos da crítica.

ARTES PLÁSTICAS NO ESPÍRITO SANTO: ensino, produção, instituições e crítica é o título do livro da professora Almerinda Lopes que ganhou prêmio nacional

minucioso

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Além de fornecer um panorama das artes plásticas em Vitória de 1940 a 1969, o livro busca juntar, em suas 473 páginas, as peças do mosaico que é o siste-ma artístico, composto por instituições, artistas, cole-cionadores e outros agentes culturais, na tentativa de compreender a configuração da arte no Estado e sua influência sobre o pensamento acadêmico de arte.

A professora explica que, apesar de seu livro já conter referências de como o moderno chegou ao Espírito Santo – principalmente a partir da federa-lização da Ufes (1961) e da vinda de professores de outros estados, como Rio de Janeiro e São Paulo, para o Centro de Artes –, a pesquisa é finalizada em 1969, pois, a partir da década de 1970 começam a surgir movimentos de arte contemporânea no Estado, pela iniciativa individual de alguns jovens, como Atílio Gomes Ferreira, o Nenna, e após a cria-ção da Galeria Homero Massena e de outras gale-rias ligadas a Ufes, fato que se configura como um novo momento histórico-artístico da região.

Essa foi a terceira vez que Almerinda concorreu ao prêmio da ABCA –uma por seu primeiro livro so-bre a história da arte capixaba e a segunda por sua trajetória como crítica de arte. A professora acredita que, além de um reconhecimento pelo trabalho dos pesquisadores, o prêmio é uma forma de dar visibi-lidade e ampliar as pesquisas.

Outro ponto positivo é a possibilidade de re-lembrar os artistas e valorizar suas obras, que se (re) significam à medida que são estudadas. “O tra-balho de pesquisa é um trabalho de formiga. Fi-camos embaixo da terra, lá nos arquivos, atuando no subterrâneo para trazer à tona essas coisas que vão se perdendo. E o que eu digo sempre aos meus alunos é que enquanto nós não pesquisarmos, não escrevermos sobre o que é nosso, não esperemos que os outros façam isso”, pontua.

Outras publicaçõesApós a publicação do livro Arte no Espírito San-

to do Século XIX a Primeira República, a professo-ra Almerinda percebeu que ainda havia inúmeros temas de natureza artística a serem pesquisados, como a fotografia. Desse interesse surgiram mais dois livros: Albert Richard Dietze: um artista fotó-grafo do Brasil no século XIX (2004), que conta a história do alemão que inaugurou o primeiro es-túdio fotográfico de Vitória, e Memória Aprisiona-da: a visualidade fotográfica capixaba 1850-1950, publicado pela Edufes em 2007 e que reúne vários fotógrafos que passaram pelo Estado ou estabele-ceram seus empreendimentos na Capital e no inte-rior ao longo de 100 anos de história.

Aula de pintura oferecida por Homero Massena, em 1952, atraía inúmeros alunos

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Buscando

Criado em 1979, o curso de Psicologia da Ufes vem se desenvolvendo e ampliando suas potenciali-dades nos âmbitos de graduação, mestrado e doutora-do com o objetivo de oferecer aos graduandos e pós--graduandos uma formação mais abrangente. Segun-do a coordenadora do curso, professora Célia Regina Rangel do Nascimento, entre os cursos vinculados ao Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), o cur-so de Psicologia, atualmente composto por 43 profes-sores, é um dos que mais recebem bolsas de estudos para projetos de Iniciação Científica, tendo recebido no último programa ofertado um total de 29 bolsas.

A professora Célia explica que o curso de Psi-cologia tem o objetivo de formar um profissional apto a lidar com as diferentes frentes de trabalho exigidas por sua profissão, tais como a área clínica, a social, do desenvolvimento, da saúde e a educacio-nal. Assim, a integração entre ensino, pesquisa e ex-tensão, aos quais os alunos têm acesso, visa ampliar ainda mais os seus conhecimentos.

Stéfane Stolze cursa o oitavo período de Psico-logia na Ufes e há quase um ano participa de uma pesquisa em que busca entender quais as dificuldades enfrentadas por trabalhadores de transportes terres-tres, como caminhoneiros, motoboys e motoristas de ônibus, e o que os motiva a seguir em sua profissão, a fim de contribuir para uma melhor organização desse trabalho e para a qualidade de vida das pessoas. Além da pesquisa, a estudante atua em outros projetos, en-tre eles a Rede de Estudos e Pesquisas em Psicologia Social (Redepso) – que visa contribuir para a forma-ção em pesquisa de graduandos e pós-graduandos em Psicologia – e o Programa de Educação Tutorial, o PET-Saúde, parceria entre a Ufes e o Ministério da

Saúde que reúne estudantes de diferentes cursos para trabalhar em Unidades de Saúde do Estado.

“Por que e para que participar? Para vivenciar a prática psicológica ainda enquanto estudante; para poder experimentar os espaços e possibilidades que a Ufes disponibiliza; para ter cada vez mais convicção de que é isso que eu quero e para agregar mais expe-riência ao meu currículo também. Você se apropria de um conhecimento que é seu e não mais de livros ou professores. É seu porque você vivencia aquilo, você sente medo, excitação, tudo”, descreve Stéfane.

Em 1993, vinculado ao Departamento de Psico-logia Social e do Desenvolvimento (DPSD), foi cria-do o primeiro mestrado em Psicologia da Ufes. Em 2000, a nova proposta do departamento, dessa vez para o doutorado, também foi aprovada. Seguindo as linhas de pesquisa em Processos Psicossociais, Processos de Desenvolvimento e Psicologia Social e Saúde, até maio de 2013 foram contabilizadas 230 dissertações e 63 teses ligadas ao DPSD. Já o Mes-trado em Psicologia Institucional, do Departamen-to de Psicologia Institucional (DPSI), foi criado em 2005. Com foco na análise teórica e metodológica da Psicologia Institucional, até maio de 2013 o cur-so apresentou a produção de 66 dissertações.

Mudando para melhorAtualmente o curso de Psicologia passa por um

processo de implantação do novo Projeto Pedagógico do Curso (PPC), que visa atualizar e modernizar o cur-so, adequando-o às diretrizes do Ministério da Educa-ção (MEC). Entre as mudanças previstas está a divisão do curso em dois momentos: o primeiro, que se esten-de até o sétimo período, prevê a aplicação de discipli-nas voltadas para a formação inicial dos estudantes. Já no segundo momento, que vai do oitavo ao décimo período, os alunos têm a opção de escolher disciplinas e estágios obrigatórios de acordo com duas Ênfases Curriculares – a ênfase em Investigação e Intervenção em Saúde, Processos Clínicos e Educacionais, do DPSI, e a ênfase em Investigação e Intervenção em Psicolo-gia Social e do Desenvolvimento, do DPSD.

Para a professora Célia, a atualização do currí-culo traz pontos positivos, como o aumento do nú-mero de disciplinas optativas (de oito para 16), que dinamizam o curso; a antecipação do contato dos estudantes com o campo de trabalho por meio dos estágios básicos, que têm início no quinto período, e a redução do tempo de integralização do curso, que passa de nove para sete anos e meio, acelerando o processo de abertura de vagas.

sempre mais

g r A D U A ç ã o

O curso de Psicologia é um dos que mais recebem bolsas de estudo para projetos de Iniciação Científica na Universidade

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p A t e n t e

Com aroma

Segundo dados do Ministério da Agricultura, em 2012 a produção de café no Brasil atingiu o mon-tante de 50,8 milhões de sacas de 60 quilos, repre-sentando 6,7% de todas as exportações do agrone-gócio brasileiro. Nesse cenário, conforme as infor-mações do Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café (Cetcaf), o Espírito Santo é o segundo maior produtor do País, tendo colhido 13,5 milhões de sa-cas em 2012. Visando a um melhor aproveitamento dessa produção, pesquisadores da Ufes desenvol-veram uma bebida fermentada à base da polpa do café, que tem como vantagens a redução de danos ambientais e o benefício econômico dos cafeiculto-res, que podem ter uma nova fonte de renda. O pro-duto já está em processo de patenteamento.

A bebida de cor marrom, com sabor e aroma que lembram o café, é resultado das pesquisas do mes-trado em Biotecnologia do professor Filipe Dalla Ber-nardina, realizado de 2007 a 2009, na Ufes. Sob a orientação da professora do Núcleo de Biotecnologia Ana Cristina do Nascimento Chiaradia, Filipe buscou agregar valor à polpa do café, que muitas vezes é des-perdiçada. Isso porque o pó de café consumido pela população é obtido a partir do grão do café torrado e moído. Por não ter um significativo valor de mercado,

essa polpa normalmente é descartada pelos produ-tores, podendo gerar desequilíbrios ambientais caso seja lançada no ambiente de forma inadequada. Fili-pe lembra ainda que a proporção entre a produção do grão e a produção da polpa é de um para um, o que significa um desperdício anual de polpas muito grande. “A proposta foi dar um destino adequado a esse produto, aumentar o seu valor agregado e pro-mover uma nova fonte de renda para os cafeicultores. O café que eles colhem agora pode ser aproveitado de forma muito mais integral”, reforça.

Por ser fermentada, a bebida possui teor alcoó-lico (4,7%), mas não pode ser considerada um ener-gético, já que não possui quantidade suficiente de cafeína. Em uma produção em pequena escala, seu tempo de fabricação pode variar de 13 a 15 dias.

Após a despolpa úmida, primeira etapa de pro-dução da bebida, a polpa do café é desidratada e armazenada. Em seguida, ela é processada junto à água e passa por uma filtragem. Nesse estágio, são utilizadas leveduras para fermentar o extrato aquo-so, convertendo o carboidrato em álcool. Após cerca de 10 dias de fermentação, é feita a pasteurização da bebida (processo utilizado para destruir micro- organismos causadores de doenças) e, por último, o seu engarrafamento.

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e X t e n s ã o

outros olhosChega mais perto e contempla as palavras. / Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra / e te pergunta, sem interesse pela resposta, / pobre ou terrível, que lhe deres:/ Trouxeste a chave?

É com o verso Trouxeste a chave? do poema Pro-cura da poesia de Carlos Drummond de Andrade que o professor do Departamento de Línguas e Letras da Ufes Santinho Ferreira de Souza revela a importân-cia da leitura: “com ela, você tem a chave no bolso, a chave para ver o mundo”. O professor é coordenador da Rede de Experiências em Leitura – RELer&fazer –, criada em 1997 para a realização de ações de es-tímulo à formação de novos leitores, além de buscar uma maior integração entre a Ufes e a escola básica.

A RELer&fazer nasceu como forma de contribuir com o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), desenvolvido em todo o Brasil desde 1992 e vinculado à Fundação Biblioteca Nacional e ao Mi-nistério da Cultura. Em 2007, o projeto foi instituído

Ler o mundo com

como programa de extensão da Universidade. A Reler é assessorada por um grupo “observador”, composto pelos professores Maria José Campos Rodrigues e Júlio Francelino Ferreira Filho, ambos do Centro de Educação da Ufes (CE); Alzinete Maria Ronccon, do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE); Aucione das Dores Smarsaro, do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), e Lúcia Helena Maroto – representante da comunidade externa.

É importante lembrar o sentido amplo com que a Reler concebe a leitura. Seja verbal ou visual, a lei-tura é traduzida como capacidade do ser humano de se situar no mundo, atribuindo sentido aos fatos e à sua própria vida. “A interdisciplinaridade se processa como resultado do próprio conceito ampliado de lei-

Um dos projetos da Rede é o A leitura vai ao cinema que utiliza o Cine Metrópolis para a realização de rodas de conversas com alunos após a exibição de filmes cuja temática seja a leitura

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tura, que não se restringe à escrita. Sempre que se pensa em leitura, pensa-se em literatura ou poema. E, na verdade, a leitura refere-se a tudo, como a circula-ção de pessoas nas ruas, a arquitetura das cidades, a produção nas artes”, esclarece Santinho.

El-Buainin Vieira Machado Nunes participa da RELer&fazer desde 2009. No programa, ele encon-trou uma forma de levar seus estudos para além da comunidade acadêmica, o que o motiva a continuar na Reler mesmo após se graduar em Letras-Portu-guês. “A leitura é, no meu entendimento, o objeto a ser estudado mais relevante para a educação na-cional. Nós brasileiros lemos pouquíssimo. Estou pensando leitura em sentido amplo: leitura como produção de sentidos, leitura crítica, e não leitura como simples decodificação, que é uma prática co-mum na escola brasileira há muito tempo”, critica.

AçõesAtualmente a RELer&fazer desenvolve cinco

projetos de extensão: • RadioLeitura: programa de rádio veiculado pela

Rádio Universitária 104,7 Fm aos domingos, das 9h às 10h. Tem como meta fazer do exercício da leitura uma prática reflexiva a partir de diferentes linhas de ação.

• Observatório de leitura: sessões de leitura re-alizadas no Planetário de Vitória. A proposta é ler textos literários associados à astronomia.

• A leitura vai ao cinema: rodas de conversa feitas

no Cine Metrópolis estudantes de escolas públicas do Estado – em especial os de Ensino Médio e Educa-ção para Jovens e Adultos (EJA) –, após a exibição de filmes que tenham a leitura como tema ou que pos-suam personagens leitores.

• A leitura entra na roda: rodas de leitura e dis-cussão de textos que são abertas ao público e acon-tecem em diferentes espaços da Ufes.

• RELer&fazer em fotografia: projeto que visa montar uma galeria de leitura com as fotografias dos eventos promovidos pelo programa de extensão.

Integrando Pesquisa e ExtensãoEm 2012, foi criado o Núcleo de Pesquisa em Lei-

tura, cuja meta é fazer com que os alunos se envolvam paralelamente em projetos de pesquisa e extensão, de modo que ambos se desenvolvam mutuamente.

Uma das propostas do Núcleo é envolver estudan-tes da graduação em Letras e do mestrado em Linguís-tica com os estudos da linha de pesquisa Recortes de Leitura, cuja finalidade é avaliar a argumentação dos personagens leitores tanto da literatura quanto do ci-nema, além de textos críticos sobre leitura. “Sabemos que há dificuldade não de as pessoas compreenderem que a leitura é importante, mas de entenderem que é preciso ler para saber mais. O livro é importante, mas o essencial é a leitura em processo. Se você deixa se levar não pelo livro, mas pela leitura, aí sim você se constitui leitor”, enfatiza Santinho.

A professora russa Marina Sheveleva concede entrevista ao coordenador da Rede, professor Santinho Ferreira de Souza, nos estúdios da Rádio Universitária

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I n s t I t U c I o n A l

Ufes investe 10 vezes mais em

A Universidade avança e consolida a sua política de inclusão social, com diversos projetos que contribuem para o bom desempenho e a permanência dos estudantes em seus cursos. Os investimentos em programas de assistência estudantil na Instituição saltaram de R$ 1,4 milhão, em 2008, para R$ 14 milhões em 2012

A política de assistência estudantil desen-volvida pela Ufes já representa investi-mentos anuais da ordem de R$ 14 mi-lhões, aplicados em 18 programas per-

manentes direcionados aos estudantes de todos os cursos e dos quatro campi universitários. Cerca de 3 mil alunos de graduação da Ufes são benefi-ciados, atualmente, com os projetos de assistência, sob a coordenação da Divisão de Assistência Estu-dantil (Daes), vinculada à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas e Assistência Estudantil (Progepaes), criada na atual gestão universitária para atuar no suporte aos estudantes. Os investimentos são pro-venientes de recursos próprios da Ufes e do Pro-grama Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) do Ministério da Educação.

Para desenvolver esse amplo programa de assis-tência estudantil, a Progepaes conta com uma com-plexa estrutura com o objetivo principal de oferecer condições adequadas para que os alunos se mante-nham na Universidade até a conclusão de seus cur-

assistência estudantilFotos: David Protti

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sos, segundo afirma a administradora Lucia Casate, pró-reitora de Gestão de Pessoas e Assistência Estu-dantil. “Essa ação propositiva da Administração vai resultar em impactos positivos, como a queda na eva-são e a melhoria do desempenho acadêmico, além de oportunizar mais acesso à Universidade”, ressalta.

Os programas oferecidos aos estudantes fazem parte de um modelo integrado que reúne diferentes unidades, incluindo os campi de Alegre e São Mateus, no interior do Estado, de acordo com a assistente so-cial Ludimila Rodrigues Nunes, diretora da Daes. Ela explica que há uma integração entre a Daes, o Depar-tamento de Atenção à Saúde (DAS) e o Departamento de Gestão de Restaurantes (DGR) – todos vinculados à Progepaes – além de parcerias com a Biblioteca Cen-tral e o Centro de Línguas. A Daes gerencia o cadastro que é aberto anualmente a todos os estudantes, e realizado on-line no portal da assistência estudantil. O critério básico, porém, é que o aluno tenha renda familiar per capita equivalente a 1,5 salário mínimo.

AuxílioLudimila Nunes informa que existem ainda ou-

tros critérios para que os estudantes cadastrados sejam inseridos nos diferentes programas, como cumprir carga horária semestral de 240 horas, não ter reprovação por faltas e possuir 75% de apro-vação ou coeficiente mínimo de 3,5. “Todo início de semestre, lançamos os editais dos programas, com datas, prazos e a documentação exigida, sen-do que a cada ano o aluno beneficiado deve, obri-gatoriamente, se recadastrar e atualizar as suas informações”, observa a diretora da Daes.

Recebem auxílio de R$ 200,00 os estudantes ca-dastrados nos programas de auxílio-moradia. O estu-dante pode ainda receber o auxílio-transporte, equi-valente a R$ 50,00, quando residir a mais de três qui-lômetros do campus universitário onde estuda. Outro auxílio é o de material de consumo, de R$ 59,00, para todos os cadastrados. Para o auxílio-alimentação nos restaurantes universitários são oferecidos descontos de 50% ou isenção total, dependendo de cada caso.

Os programas de auxílio mais concedidos são os de transporte, com cerca de 1,8 mil cadastrados, e moradia, com 1,5 mil, aproximadamente. “Somente para os auxílios de natureza pecuniária o custo men-sal da Ufes é da ordem de R$ 500 mil”, assinala a diretora da Daes. Entre os outros programas está o de empréstimo estendido de livros. Nesse caso, ao invés do prazo normal de até 15 dias, a Biblioteca Central estende este prazo para até dois meses.

Juntamente com o DAS, são oferecidos os pro-gramas de atenção psicossocial, o projeto Sorriso, de atendimento odontológico; e o Saúde da Mulher. Também é oferecido auxílio aos cadastrados para estudos de língua estrangeira no Centro de Línguas para a Comunidade da Ufes. A Universidade oferece ainda subsídios para os estudantes que, comprova-damente, forem apresentar trabalhos acadêmicos em eventos fora do Espírito Santo. Este depende de apro-vação dos respectivos centros de ensino. Ludimila Nunes também adianta que a Ufes aderiu ao progra-ma do MEC para a oferta de bolsa permanência para estudantes de baixa renda.

“Temos meios eficazes de suporte ao estudante”A pró-reitora de Gestão de Pessoas e Assistên-

cia Estudantil, Lucia Casate, diz que a Administra-ção Central da Ufes está empenhada na consolida-ção do Sistema de Inclusão Social. Ela observa que a atual gestão criou a Progepaes visando estrutu-rar diversos programas para serem desenvolvidos com recursos próprios da Universidade e em par-ceria com o MEC, por meio do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes).

Segundo ela, com o foco na assistência estudantil, a Progepaes trabalha para a ampliação e democrati-zação das condições de acesso e permanência dos es-tudantes na Universidade. As atividades da Progepaes nesta área, segundo a pró-reitora, objetiva assistir to-dos os estudantes, de todos os cursos, notadamente os de baixa renda e os ingressantes pelo sistema de reserva de vagas. “Para consolidar o modelo de inclu-são social na Ufes, temos, atualmente, meios eficazes de suporte ao estudante, por meio de diversos pro-gramas, para que obtenham bom desempenho aca-dêmico e permaneçam na Instituição”, assinala. “Mas a meta da Ufes é o aprimoramento do sistema”, destaca.

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I n s t I t U c I o n A l

• Auxílio-moradia – Apoio financeiro para aten-der nas despesas com moradia, e concedido a es-tudantes cuja família resida fora da Grande Vitória.

• Auxílio-transporte – Concessão de auxílio finan-ceiro para a compra de passe escolar para desloca-mento do estudante até a Universidade.

• Auxílio-alimentação – Concessão de descon-tos de 50% ou 100% no valor da refeição do Res-taurante Universitário aos estudantes cadastrados.

• Auxílio-material de consumo – Oferece apoio financeiro ao estudante para aquisição de material de uso didático.

• Língua estrangeira – Oferece bolsas de es-tudos de língua estrangeira no Centro de Línguas para a Comunidade (CLC/Ufes) por um período de até seis semestres.

• Recepção ao calouro – No início de cada semes-tre, são realizados seminários informativos com os calouros, em que são apresentados os projetos e as ações desenvolvidas, e divulgados os critérios para inserção no Programa de Assistência Estudantil.

• Reforço e acompanhamento escolar – O pro-

jeto objetiva contribuir para a melhoria do desem-penho acadêmico dos estudantes matriculados em disciplinas da área das ciências exatas, por meio de aulas de monitoria realizadas em horários alterna-tivos. Atualmente são ofertadas turmas de Álgebra Linear, Cálculo I e Matemática Básica.

• Inclusão de pessoa com deficiência – Garan-tir ao estudante com deficiência condições espe-cíficas que permitam o acompanhamento das ati-vidades de ensino, pesquisa e extensão. Além dos projetos desenvolvidos pela DAE, outras ações são desenvolvidas em parceria com diferentes se-tores da Ufes.

• Empréstimo estendido de livros – Garantir ao estudante cadastrado no Programa de Assis-tência Estudantil o empréstimo de até três livros nas bibliotecas da Ufes por um período estendido de até dois meses.

• Saúde da mulher – Objetiva promover ações

educativas, oferecer consultas ginecológicas e rea-lizar exames que propiciem a prevenção e/ou des-coberta de doenças pertinentes à saúde da mulher.

• Projeto Sorriso (Odontologia) – Objetiva me-lhorar a saúde bucal dos estudantes por meio de ações educativas e atendimento odontológico no que se refere à profilaxia. Para participar, o estu-dante deve se inscrever em ações educativas no Portal do Aluno.

Programas de assistência

Fotos: David Protti

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• Atenção psicossocial – Atendimento psicológi-co e social aos estudantes, mediante agendamento na DAE e no DAS.

• Plantão psicológico – Tem por objetivo ser um atendimento pontual, que atenda servidores e es-tudantes da Ufes no momento em que estiverem necessitando, sendo um espaço de escuta e en-caminhamentos. Para participar, não é necessário agendamento, e o atendimento ocorre por ordem de chegada, nos seguintes dias e horários: terças e quintas-feiras, das 8h às 16h, no prédio do DAS/Progepaes – antiga SAC.

• Serviço médico – Atendimento médico aos estudantes em casos de intercorrência que exige procedimentos simples. Em casos mais complexos, o Samu é acionado. Atendimento psiquiátrico por meio de agendamento.

• Acolhida aos calouros – Consiste na realiza-ção de palestras sobre diversos assuntos para os

estudantes calouros no Programa de Assistência Estudantil (Proaes), promovendo discussões sobre a realidade da Universidade e do mundo, por meio de debates e atividades culturais.

• Atividade física – Este projeto objetiva garan-tir ao estudante vagas gratuitas na academia vincu-lada ao Centro de Educação Física e Desportos para a prática de exercícios físicos.

• Participação em eventos – Destinado aos es-

tudantes que necessitarem de apoio para partici-par de atividades/eventos de caráter técnico-cien-tífico, didático-pedagógico (acadêmico), esportivo e cultural.

• NaUfes – O Núcleo de Acessibilidade da Ufes (NaUfes) visa desenvolver ações permanentes de extensão, projetos de pesquisa, estudos, inter-câmbios, cooperações técnico-científicas voltadas para a melhoria das condições das pessoas com deficiência no espaço universitário.

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62 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Maio/Ago 2013

Edufes

conhecimento nas pontas dos dedos

na linha do conhecimento

no caminho do conhecimento

Marca de conhecimento

Para saber mais, entre em contato pelos telefones: 27 4009 7852 I 27 4009 7685Ou pelo e-mail: [email protected]

Desde 1995, a Edufes imprime sua marca na difusão do conhecimento acadêmico

e na valorização da produção literária. Agora, traz também em versão digital parte

do seu catálogo de livros.

Confira em http://repositorio.ufes.br

Conheça os últimos lançamentos da Edufes

Page 63: Revista Universidade | n° 02

63UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Maio/Ago 2013

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64 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Maio/Ago 2013

Raphael Samú - Matéria de Sonho III - Mista s/ papel 1977, de 69,5 x 41,5 cm. Nº de tombamento 205.I.198

Acervo da Universidade Federal do Espírito Santo na Galeria de Arte Espaço Universitário