Revista subversa v 2 n 12 2015
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1
SUBVERSA
DAVID COUTINHO VALCIÃN CALIXTO LUCIENE
BERNARDES ANA CRISTINA TIETZMANN SUSANA VIEIRA
DANILO AUGUSTO GLAUBER COSTA FERNANDES
HEITOR DE LIMA CRISTIANO JESUS MARIANA BASÍLIO
SAMUEL H. DIAS ANDRÉA MASCARENHAS SOUZA DE
MELO
ISSN 2359 – 5817 Vol. 2 | n.º 12 | Julho de 2015
2
Subversa | literatura luso-brasileira |
V. 2 | n.º 12
© originalmente publicado em 01 de julho de 2015 sob o título de
Subversa ©
Edição e Revisão:
Morgana Rech e Tânia Ardito
IMAGENS
Marilia Moser | Guilherme Wendt | Karolina Whoo | Déb Dorneles |
Daniel Drumond | A. Mimura | Juliê Caroline | Francisco Bem |
Caroline Aguiar | Pedro Fernandes | Luciana Belinazo | Sílvia Carreira
Os colaboradores preservam seu direito de serem identificados e citados
como autores desta obra.
Esta é uma obra de criação coletiva. Os personagens e situações citados nos
textos ficcionais são fruto da livre criação artística e não se comprometem
com a realidade
WWW.FACEBOOK.COM/CANALSUBVERSA
@CANALSUBVERSA
3
DAVID COUTINHO | © EXÍLIO | 6
VALCIÃN CALIXTO | © NOTÍCIA |8
LUCIENE BERNARDES| © O BALÃO | 9
ANA CRISTINA TIETZMANN| © QUEDA LIVRE | 12
SUSANA VIEIRA| © O HOMEM | 13
DANILO AUGUSTO |© OS SEM FILHOS | 19
GLAUBER COSTA FERNANDES|© OLHOS SELVAGENS | 22
HEITOR DE LIMA| © ELEGIA VEGETAL | 26
CRISTIANO JESUS| © LAREIRA | 29
MARIANA BASÍLIO| © O XXVII | 31
SAMUEL H. DIAS|© SINCEREMANTE CONFORTO | 33
ANDRÉA MASCARENHAS |© PREZADA DESARMONIA | 35
SOUZA DE MELO| © TRAUMA| 38
SUBVERSA
4
EDITORIAL
Eis o último número do volume 2. Chegamos ao final de mais um
ciclo que mudou definitivamente os rumos da revista. Muitos
colaboradores novos, um acervo lindíssimo de imagens e o primeiro
volume impresso, que tem conquistado os leitores por onde passa. Não
foi fácil, mas ninguém disse que seria fácil e nós aprendemos a encarar
as dificuldades como um excelente combustível.
A partir de agora, iniciaremos o planejamento e a expectativa em
comemorar o primeiro ano da Subversa e em traçar os novos moldes do
Volume 3. Para este número, foram reservados textos tão intensos e
carregados de emoção que traduzem o que para nós foram estes
últimos seis meses, em que desafiamos não só as fronteiras literárias luso-
brasileiras, mas as fronteiras intelectuais e criativas de duas jovens
editoras que aprendem diariamente com o andamento da própria
revista. A partir de agosto, a revista entra numa nova fase, seguindo a
permanente consolidação e busca em defender os nossos ideais e
princípios do labor literário e artístico.
Fica registrada aqui a nossa homenagem a todos os fotógrafos,
pintores e ilustradores que gentilmente cederam as suas imagens que
conversaram lindamente com os textos dos colaboradores da Subversa.
O nosso próximo encontro será na edição de aniversário, para a
qual estamos preparando algo muito especial. Obrigada.
Boa leitura e até breve.
As editoras.
5
SUBVERSA # 1 – Versão Impressa | Volume 1 (2014)
Adquira já a sua, leia um excelente material e participe do
crescimento da revista.
6
DAVID COUTINHO | Rio de Janeiro, RJ.
Num exílio escarnecido chegou ao mar. De pé, sobre a linha das
ondas na areia, contemplou a paisagem enegrecida. O limite entre céu
e as águas, delimitado pela lua alta no infinito, se desfazia nos borrões
azuis dos seus olhos, trazido por lágrimas atônitas de alguém que
reconhece a verdade. Seu coração era pequeno, e ainda assim trazia
a plenitude e os mistérios daquele oceano. Quantos não içaram velas,
levantaram âncora e se atiraram no obscuro da incerteza, das idas sem
porto, sem retorno? Ah, seu peito era um cemitério de naus enrugadas,
envoltas em algas e musgos, que cortou montes, mundos e partiu
corações. Sim, uma fotografia, uma poesia, uma miragem, pois deveria
conceber alguma beleza em todo aquele peso que queimava os
músculos de suas pernas; assim como o mar que é belo na superfície,
EXÍLIO
7
reluzindo a luz da lua, das estrelas e das cidades. Sorria da própria ideia
de si e do que sentia ali, tão estática, no limite da terra e da água. O
limiar da vida a empurrava para onde o Sol se punha, e porque não
descobrir a queda vertical que engole o Sol, a qual tanto temia
Colombo e os grandes navegadores? Ícaro desejava voar, mas talvez
devesse ter navegado para leste, a todo pano. Era para lá que guinava
seu coração, por mais que os pés estivessem embebidos de água, sal e
areia. Se lhe batessem a porta, de agora em diante, deixaria entrar.
Acomodaria em seu lar, naquela velha cadeira, de velho estofado,
dado por seu velho avô, qualquer faminto que precisasse. Perguntaria,
para descontrair “entende alguma coisa de alma?”, “e de coração?”,
“é possível que entendas de barcos...”, e cairia no riso que há tempos
não ria.
DAVID BARRETO COUTINHO é professor e pesquisador por ofício, escritor
por prazer. É formado em História e possui mestrado em História Política,
tendo assim alguns artigos publicados em revistas especializadas nesse
meio. Atualmente, dedica-se à pesquisas na área de Ciência da
Informação e a divulgação de seus textos literários.
8
VALCIÃN CALIXTO |
Teresina, PI.
à Weslayne Sales
Bibica, 19 anos,
Havia começado a usar
drogas.
Todo o Memorare já sabia.
Até que a mulher de um policial foi assaltada,
Isso em plena luz do dia.
Bibica foi morto no início da noite.
Disseram que nem foi ele.
Depois ninguém nem quis mais saber,
Ainda tentou pular o muro...
VALCIÃN CALIXTO é autor de Reminiscências do caseiro Genival (Ed.
Kazuá, 2015), guitarrista/compositor na banda Doce de Sal, integrante
do coletivo Geração TrisTherezina do Piauí e formando em
Comunicação Social pela UESPI.
NOTÍCIA
9
LUCIENE BERNARDES | Belo Horizonte, MG.
No parque era apenas um em uma multidão de balões. Ficavam
amarrados todos juntos, próximo ao vendedor, admirados com o vento
que soprava suavemente movimentado as nuvens no azul do céu.
Quando uma criança se aproximava apontando para eles, ficavam
todos eufóricos se empurrando para ver quem se destacava mais a
ponto de ser o novo brinquedo escolhido por algum menino ou menina.
Então o balão vestido da personagem cor de rosa-choque foi
escolhido pela criança que também trajava rosa-choque. A mãe deu
uma moeda para o vendedor que separou e desamarrou o balão
entregando-o para a menina. Então o balão se sentiu feliz e se despediu
dos velhos companheiros. Saltitante seguiu junto com a menina rua
O BALÃO
10
afora enquanto que os outros balões ficaram de longe se balançando
debaixo do Sol.
O balão chegou na casa da menina que logo se deitou no sofá
deixando-o solto pela sala. Ele ficou ali parado e surpreso por estar em
um lugar tão diferente de tudo o que vira até então. Mas o que
realmente o intrigou foi o branco duro parado em cima de sua cabeça,
o que o fazia tentar entender para onde teria ido todo o azul do céu.
A moça das pernas finas que passava pela sala se assustou com o
objeto parado sob o teto e disse que aquilo era a coisa mais feia que já
havia visto. O balão também ficou assustado e se perguntando como
ele poderia ser feio se ainda a pouco era a luz dos olhos de uma
criança. Então os dias se passaram e o balão ficou preso na maçaneta
da porta do quarto da menina. Às vezes ficava solto no quarto, às vezes
passeava pelo corredor, outras vezes parava na sala assustando sempre
a moça das pernas finas, que resmungava e maldizia o balão.
O balão cada dia mais sozinho e entristecido pelos cantos
começou a murchar. Um dia a mãe da menina vendo o balão caído
pela casa o pegou pela cordinha e o levou para fora. O balão deu um
suspiro profundo e arregalou os olhos surpreso ao ver a luz do sol.
Quando a mãe o soltou sob o teto da varanda retornando para o
interior da casa, o balão começou a arfar o peito e foi se enchendo por
dentro com vontade de ver e chegar mais perto do azul do céu. Ele
não desistiu de lutar em nenhum momento contra o teto branco e
quando a mãe da menina se deu conta já era tarde demais. Ele
começou a subir devagarzinho pelo céu enquanto a mãe corria e
gritava pelo balão.
A moça das pernas finas foi a primeira a chegar para ver o que
havia acontecido e não segurou a imensa gargalhada pela situação. O
balão ficou enganchado nos fios de iluminação da rua e quase chegou
a zombar da situação. A velha saiu de casa enxugando as mãos no
avental e rindo virou criança. Por último chegou a menina que até
11
então não sabia de nada. Ela começou a chorar e a mãe a consolar
dizendo que compraria outro balão. Preso na iluminação o balão via a
todos assustado com muita comoção. Então soprou um vento mais forte
que o desvencilhou e ele subiu mais alto cheio de frescor. Já era um
pontinho rosa-choque rindo e assoviando deitado nas nuvens macias
no azul do céu quando ainda avistou o velho saindo da casa que para
disfarçar acendeu um cigarro enquanto procurava a razão de toda
aquela confusão.
LUCIENE BERNARDES é belo-horizontina, escritora independente e autora
do blog O véu de Isis ´quando brotam as palavras´. Escreve porque se
sente encurralada, porque as imagens pululam ao seu redor querendo
existir aos olhos do mundo.
12
ANA CRISTINA TIETZMANN |
Porto Alegre, RS, Brasil
pulo no azul
o corpo paira em busca de sentido
e vislumbro o inevitável chão
suspiro
sossego adiado
preciso aprender a voar
ANA CRISTINA TIETZMANN é médica psiquiatra e psicoterapeuta. Para
desenvolver-se como poeta, participa dos grupos de criação literária
da Professora Léa Masina. Vive em Porto Alegre, RS.
QUEDA LIVRE
13
SUSANA VIEIRA | Lisboa, Portugal
O HOMEM
14
(Primeiro o Homem, o Homem é sempre o primeiro; as coisas
vieram depois e, com as coisas, surgiu a vontade e a ação, ou - posto
de outro modo – a vontade de agir. Se a vontade já veio com o
Homem, antes de estar nas coisas, isso já é um outro assunto: polémico –
que coloca a Discórdia no centro de tudo: são as coisas que criam as
necessidades ou é o Homem, em si mesmo, a necessidade?)
Então, como ele não sabia ser outra coisa senão isso – um homem
-, fechou os olhos e rendeu-se, silenciosamente, a essa condição; ele
pensou que tinha feito tudo o que esperavam de si: tudo o que se
espera de um homem bom e honesto. Invariavelmente levantava-se
cedo, saía de casa quando a mulher e os filhos ainda dormiam,
chegava ao escritório antes de toda a gente e começava a trabalhar
sem que alguém lhe indicasse os objetivos a cumprir nesse dia.
Almoçava em quinze minutos e raramente, em mais de dez horas de
trabalho, se levantava para beber um copo de água ou ir à casa de
banho. Saía depois de todos os seus colegas e chegava a casa quando
a mulher acabava de lavar o chão da cozinha e os filhos já se tinham
deitado. Ainda se lembrava de como tinha sido o início de tudo. Tudo
começara com a afirmação
Tu és um homem, que, na altura, poderia ter-lhe soado a uma
provocação ruidosa e dura que o agredisse, de algum modo, em
alguma parte de si. No entanto, continuava intacto; nada em si
indiciava que alguma parte se tivesse quebrado; e, como a altura
podia medir-se em unidade de tempo e de espaço, a intensidade com
que a recebeu foi a mesma com que passaria a receber, daí em diante
e - à medida que crescia - em graus diferentes, os primeiros momentos
de todas as coisas recém-descobertas – depois do poder impactante
inicial que o feriria sempre, entenderia cada afirmação como um
momento forte. Em meio de uma vida tão pobre de sensações,
agradeceria a grandiosidade da oferta que lhe caberia – precisamente
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a si, escolhido, no meio de tanta gente, para receber o que lhe
pudesse, em algum momento, transformar a perspetiva dos
acontecimentos. Medindo a altura em unidade de tempo, entendia-se
a época em que a afirmação fora proferida e rapidamente
interiorizada para, numa idade posterior, vir a ser lembrada – a infância
principiava, logo, ele ainda era um menino. Quanto ao resultado da sua
medida em unidade de espaço, a altura era vencedora na matéria,
porque estendia-se para cima. Estendia-se, sim – ele não se enganara;
ela não se erguia, assim, tão simplesmente; para além de subir, a altura
– que, com grande dificuldade, o menino obstinado tentava
acompanhar – também se alargava. Ela era mais do que uma linha
esticada e comprida no espaço: a altura ocupava uma área mais
avantajada nessa dimensão onde o menino era um ponto difícil de se
imaginar.
Para conseguir reter todo o conteúdo da afirmação - que, na sua
grandeza, lhe parecia cheia como um fruto maduro - o menino tinha de
se fixar atentamente nos lábios grossos que a sentenciavam; então, era-
lhe inegável que não virasse para trás, num ângulo quase inadmissível, o
pequeno pescocinho e que não esticasse o queixo na direção de
quem estava acima de si. Desse modo, ele sentia o poder que explodia
da afirmação fremente nos lábios grossos e que retumbava
vibrantemente nos seus incautos ouvidos de menino.
O poder da sentença pronunciada, ao contrário da altura
mensurável, não tinha medida: ela articulava-se individualmente e era
indiferente a quem a transmitisse; não obstante exigindo obediência,
dependia impiedosamente de quem cabia recebê-la – e era a ele,
menino, que pediam que respeitasse as alíneas subliminares da
afirmação, na tentativa futura de as decifrar. Dessa compreensão e da
elaborada execução da sentença dependia a continuação da ordem
do mundo, ou seja, a gravitação que garante a sobrevivência do seu
lugar no escuro. Ele, o menino, recebia duplamente o importante poder
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de um efeito – o de restabelecer a ordem do mundo – e de uma causa
- realizando plenamente a função que a afirmação lhe dava. Enquanto
menino, tudo tinha um tamanho maior do que o crescimento do
mundo. Ao realizar essa função, ele passava também a fazer parte do
crescimento do mundo – cresceria com ele e tornar-se-ia seu eterno
aliado.
O que o deixava mais perplexo, e incomodamente orgulhoso,
em toda aquela estranha situação era que a afirmação precipitava um
futuro aparentemente remoto, forçando-o a acontecer de facto e mais
cedo. Tu és um homem destinava-se a elucidá-lo que no seu mimoso
presente ele já era um homem e, portanto, não teria de esperar por
nenhum fundamento para o vir a ser. Mas já tinha fundamentos para
deixar a infância apodrecer na terra, sem regar as suas raízes e sem
deixar que ela se levantasse e fizesse o seu caminho. Nesse momento
fosforescente ele ascendia precipitadamente à adulta classe dos
humanos que cruza os dados e os mistura, de tal forma suspeita, até um
se submeter fracamente a outro que passa a assumir o peso de o
aceitar, terminando, assim, os dois por desaparecerem.
Depois da força do primeiro momento, foram muitos anos a
instruir-se na grande tarefa; se agora lhe dissessem que ele era outra
coisa – ele não saberia reagir a esse novo desafio: lembrou-se, mais
uma vez, que tinham sido muitos anos. Homem! A palavra furiosa do
início tinha amadurecido e dado lugar a uma palavra amansada. Tudo
na sua vida, desde menino, havia sido criteriosamente decidido para o
conduzir a um único e concreto fim: o de desempenhar com dignidade
e fidelidade a função de ser um homem.
Contudo, nessa manhã – ou porque o sol forte conseguira
atravessar os buracos dos estores, ou porque se esquecera do que
significava ser um homem -, ele não se levantou. Em vez disso, deixou
17
que as ondas do sol lhe entontecessem os pensamentos que, como um
girassol, se abriam e se fechavam e deixou-se envolver pela vontade de
escutar o mundo sussurrante que submergia lentamente.
A mulher, sentindo o volume ao seu lado, sobressaltou-se e gritou
como se o mundo sofresse um terrível abalo que invertesse toda a
ordem conhecida das coisas. As crianças assustaram-se e saltaram da
cama. Mas aquele que havia sido instruído para ser um homem
permaneceu no seu mutismo. Todos se entreolharam sem nada
perceberem: a mulher desviava os olhos do marido para as crianças e
encolhia os ombros estreitos; o filho mais crescido olhava o pai e depois
a mãe e, não conseguindo encontrar nenhuma salvação em nenhum
dos dois, deixava que o olhar recaísse sobre o irmão; o filho mais
pequenino olhava o pai e sorria, porque era o único que conseguia
entender a alegria de, pela primeira vez, encontrar o pai pela manhã e
dar-lhe um beijo antes de sair para a escola; quanto a si, o homem
permitia que a vontade dos seus pensamentos de se fecharem e
abrirem dominasse toda a situação. A mulher e as crianças recolheram
o seu mutismo e, sendo-lhes fiéis, nada disseram, também.
Depois de perceber que nada havia a entender, a família tentou
normalizar a nova situação, parametrizando um novo modelo para um
melhor e mais harmonioso convívio possível. A cada dia, a família,
tentando que a vida retomasse uma rotina normal, amparava-lhe o
mutismo e, antes e depois dos afazeres diários de cada um, rodeava-o
como a um pequeno altar onde se fazem as oferendas em troca de
favorecimentos maiores. O filho mais crescido fazia os trabalhos da
escola junto do pai e sentia-se satisfeito por o pai não exigir mais de si. A
mulher limpava o quarto à sua volta e, sentada a seu lado, telefonava
às amigas a gabar-se das delícias da vida conjugal, porque tinha um
marido que não a maçava em nada. O filho mais pequenino fazia-lhe
desenhos em bocados de papel que as suas mãozitas desajeitadas
conseguiam, a muito custo, rasgar. Por vezes, só conseguia rasgar um fio
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de papel – era o suficiente para o lápis deslizar num risco torto: ele,
embora pequeno, já conseguia adivinhar que o simples gesto de um
risco torto pode conter toda a precisão do mundo e tudo o que é
importante conhecer. Ele, no princípio, ficava horas a olhar o pai e fazia
igual – ficava calado. Nessas horas de ensinamento aprendeu o que
era o silêncio e dedicou-se a aperfeiçoar a nova aprendizagem.
Quando pensava que já sabia tudo sobre o silêncio, percebeu uma
coisa nova. Um dia, seguiu a linha do silêncio do pai e, numa outra
dimensão, muito atrás do mundo, muito atrás das asas negras e
pesadas dos pássaros, muito atrás das regras da mãe, muito atrás das
ordens do irmão crescido, muito atrás das vogais aborrecidas da
professora, havia o que descobriu ser o seu mundo, que se abria e se
fechava conforme bem entendesse. O menino deitou-se junto do pai e
aconchegou-se no seu peito.
Mais tarde, o filho crescido chamou a mãe e, ambos, abraçaram
os outros dois elementos com o mesmo carinho com que o seu abraço
fora recebido. No seu mutismo, a família procurou, na linha do silêncio –
nessa clara direção -, o seu mundo perfeito. Tudo à volta desse
pequeno tubo se enevoou.
SUSANA VIEIRA é licenciada em língua e cultura portuguesas pela
Faculdade de Letras de Lisboa. É redatora e revisora editorial.
19
DANILO AUGUSTO | Salvador, BA.
poetas críticos
outrora malditos
artistas docentes
revolucionaríssimos
do amor justíssimo
a terceiros de terceiros
suas estantes são árvores
genealógicas
seus corpos são velas
sobre a mesa
porém onde encontrar
OS SEM FILHOS
20
entre os livros de filosofia
um filosofo que o conforte
quando passado o dia
restar um corpo interrompido
em um quarto de hotel
em um país estrangeiro?
e quando pensar nos filhos
como não sabê-lo
nos dos seus amigos
aquele não tido
por ganas de expansão?
mas por fim abreviado
restar neste quarto
o inacessível
de um fruto amadurecido?
e nesta já comum
vigília da velhice
sentir por não colhido
dentro do próprio peito
o desconhecido
de um segundo corpo que se desfaz?
DANILO AUGUSTO é poeta baiano, ensaísta, tradutor e professor.
Publicou os livros Poemas (2014, edição do autor), Zumbi (2014, Coisa
Edições) e Sonhos e outros Sonos (2005, Luripress). Teve seus poemas
traduzidos para o inglês, espanhol e italiano e colabora rotineiramente
com revistas e espaços como Escamando, Modo de Usar, Pessoa, Musa
Rara, Mallamargens e Jornal Relevo. Em 2015 publicará Estar na Grama,
poemas contra a terra devastada, a incompletude, a desesperança e o
lugar nenhum.
21
GLAUBER COSTA FERNANDES | Ubatã, BA.
Fechando o portão, apressado, para voltar ao computador,
percebeu a presença, na rua, das borboletas. Elas passavam de um
lado para o outro, mesmo quando passavam carros. E circulavam, uma
solitária ali, outra voando mais alto, por entre as pessoas, as motos, as
bicicletas e os outros animais. O que faziam? O que será que fazem as
borboletas? Pensou. Enquanto a vida humana se ansiava, elas estavam
tão perto. Procurariam algo? Algum tesouro esquecido? Algo debaixo
da terra, que não dá mais para cavar?
OLHOS SELVAGENS
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Recordou que à noite passavam sempre uns morcegos. Refletiu se
os bichos de asas não seriam menos perceptíveis. Pela manhã, havia os
passarinhos no quintal. O que faziam ali, naquela cidade tão
entediante, aqueles bichos com asas? Por que não voavam para longe,
para outros lugares maiores, alguma floresta, um jardim? Mas não,
ficavam ali. Filosofou. E subitamente sentiu-se acompanhado. Depois,
suspirou tranquilo, como se anjos estivessem pousados para fazer
companhia a ele. Como se eles estivessem tecendo, pacientemente, o
tempo para ele, e para todos os que moram ali, um dia poderem voar.
Chegou, enfim, de volta ao computador e logo viu na tela inicial
uma paisagem campestre. A tela estava assim já fazia dias, muitos dias,
e ele não tinha percebido nada de especial. As paisagens e as asas
estavam camufladas, constatou. E nem era uma cidade grande,
acinzentada. Era um interior dentro da mata mesmo. Árvores para todo
lado. Mas ele não havia notado. Será que era pela abundância?
Existiria, então, um mundo por baixo do outro, que ele só estava vendo
agora, assim, de repente, na pressa de fechar o portão? Aquela mente
teria enlouquecido de fechar portões e guardar-se na sala, no quarto,
na própria intimidade?
Olhou, nos olhos, o gato da casa, mas seus olhos não diziam nada
do que ele queria saber. Aqueles olhos reptilianos e frios. Que tipo de
sentimentos existiria neles? Existiria culpa? Ou culpa, talvez, seja uma
invenção humana? Ficou sem resposta, aflito, procurando alguma coisa
naqueles olhos amarelos. Eles estavam vivos, assim como ele também
está vivo. Pensou: Serei eu o que o meu corpo é? É dos meus olhos
negros, então, que brota toda essa agonia? Olhou ao redor para as
paredes e espantou-se de ver o mundo dividido em dois: o das paredes
e o das pedras sobre pedras.
Levantou-se. Caminhou até o portão, novamente. Olhou a rua e
viu as pedras, os paralelepípedos, o vegetal entre eles. Sentiu que sua
23
casa esmagava alguma coisa viva, com a ajuda do seu peso dentro
dela. Saiu.
A rua estava vazia. O céu imenso. A tarde terminava. Andou.
Começou uma caminhada. Por vários minutos não pensou em nada.
Calou-se. Ficou mudo pelo que via. Era tudo muito frágil e vivo. Dos
insetos aos urubus. Foi andando tanto que o seu corpo começou a suar.
Aí sentiu mais o corpo, ou melhor, flagrou-se sentindo, com consciência.
Estava pulsante. A mente esgotou-se. Consumiu-se em uma vertigem de
cansaço. A noite já estava esfriando. E isso lhe causou um calafrio. A lua
estava cheia. Iluminava a sua face quente, os seus olhos selvagens.
Sentiu que o sangue circulava. Tocou mentalmente cada ponto do seu
corpo, usou o pensamento. Raciocinou aquele mistério.
Onde estava mesmo? Dois mundos se dividiam, como águas que
se desencontram. Sua cabeça se repartia. Ele sabia que era impossível
existir dois mundos assim, sem que ninguém notasse. Impossível, dois
mundos. Resistia. Foi ao fim da cidade. Olhou o céu, encarou a lua,
ouviu os grilos. Era já outro mundo, longe do portão. Era também uma
outra vida? Estancou. Estagnou, pensativo, hipnotizado.
Ouviu um barulho de rio. Depois, de mato. Havia algo no mato.
Seus olhos estavam firmes, como os do gato. Seguiu os rastros sonoros.
Entrou no mato escuro, iluminado pelo céu da noite, e viu. Viu um
menino magro, assustado como um cego, girando para todo lado,
procurando algo para se encostar, com as mãos para trás. Quem seria
ele, não pensou. Avançou. O menino ficou mais agressivo, defensivo.
Fez gestos bruscos para afastar o invisível. Então, ele tocou o ombro do
menino. Um pulo. Um salto para trás e os dois ajeitavam os corpos para
a briga. Encararam-se. O menino via. Desfez-se o susto. Fez-se um riso.
Conhecia-o. Você veio, o menino disse. Você chegou. Eu, que estava
cego, agora posso enxergar. Todos nós ganhamos olhos a ver mais,
algum dia. Venha, vamos ao fundo. Tens que quebrar o meu esqueleto.
Foste sequestrado pelas borboletas. Faça-o e minha pele será tuas asas.
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O homem assustou-se, ofegante. Um susto, um delírio, uma
urgência. Onde ele havia ido parar? Sentiu-se um intruso. Não sabia o
que fazer. Esperou. Aguardou que aquilo se desfizesse. Mas o menino
continuava ali, parado, também no aguardo. Estou perdido, pensou. E
o menino escutou. Sim, estás. O besouro daqui é mais letal. Tudo aqui
vai ser visto por ti como quem é olhado por um enfermo. Aqui é o
mundo dentro do mundo. Aqui é o perto e o longe. Por isso, estás
perdido. Mas é assim perdido que se encontra o jardim, disso o menino,
quase sorrindo.
Quebra-me, salva-se, é a lei. E prossiga. Ele ouvia e não entendia.
Quis voltar, mas algo o paralisava. Nem olhar para trás ele conseguia. O
coração estava ligeiro, ele ouvia. E aquele som se confundia com um
tambor distante, que parecia que vinha, que se aproximava. O menino
fez um gesto de quem ouvia. Está ouvindo? O teu coração é quente,
cai bem para o estômago de um faminto. Quebra-me.
Sentiu-se preso. Aprisionado. A noite inteira era uma prisão.
Desapareceu a ideia do amanhecer. Era o mundo uma grande noite, e
ele precisava reagir. Deu um passo para trás. Pisou uma folha
barulhenta. O menino silenciou. Parecia algo esperar. Não aconteceu
nada. Deu outro passo para trás. As folhas eram o próprio chão. O
menino gritou. Um grito horripilante. Um salto de medo levou o homem
para trás de uma vez. Caiu. Quando levantou, o menino já estava
caído. Olhou ao redor. Nada. Ventava mais frio. Era um vento frio, muito
frio. Sentiu a sua pele fria. Foi até o menino jazido.
Morto. Ele estava morto, meu Deus! O que faria? Olhou
novamente ao redor. Aquilo tinha que ser um pesadelo. Tocou. Estava
tudo frio. Chegou o medo. Quis fugir. Por impulso, correu. Se algo havia
matado o menino, poderia matá-lo também. Correu. Correu o mais
rápido que pôde. Sentiu o coração bater. Correu até sentir calor
novamente. E sentiu. Encontrou, sem procurar, a cidade outra vez. Saiu
de um beco. Parou, respirou ofegante. Ninguém. Alta madrugada.
25
Voltou para casa. Perplexo. Fechou o portão. Dormiu cansado. E sem
sonhar.
No dia seguinte, quando saiu para trabalhar, e uns poucos carros
passavam para lá e para cá, viu que, no meio deles, uma borboleta
girava no vento. Parou e ficou na calçada a olhá-la. O que ela fazia?
Viu um cachorro passar. Imaginou o corpo dele como algo quente e
alerta. Voltou o olhar novamente para a borboleta, que já não estava.
Suspirou, com medo, ao restar apenas o próprio corpo para a sua
atenção. Estremeceu ao se imaginar quebrando o esqueleto do
menino. Um arrepio.
Que mundo era aquele que podia se camuflar ou se revelar em
um segundo de distração? O que criaturas aladas estariam
aguardando, assim, tão perto e aqui? Distraiu-se. Seus olhos estavam
fisgados por dois mundos simultâneos. Que isso se espalhasse para os
braços e, depois, para as mãos, o frio, de algum jeito, o alcançaria; e
ele precisaria sempre de ter asas, sentenciado por um invisível quente,
lutando para ser quente. Sentia. Era o que agora pulsava em sua
mente, no escritório, em frente à tela bucólica do computador. E do
mesmo modo que nada dizia, não sabia o que fazer. Não sabia agora e
sentia bem forte que nunca saberia.
GLAUBER COSTA publicou as crônicas “No longe, no dentro” e
“Gênese”, ambas pela Coletânea Eldorado, da Celeiro de Escritores.
Publicou o conto “Meu velho” na Revista Subversa, texto que faz parte
do primeiro volume impresso. Teve o conto “A locomotiva” aceito para
publicação pela Editora Editus. Escreve no blog http://glauber-
manuscritos.blogspot.com.br/
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HEITOR DE LIMA | Fortaleza, CE.
ELEGIA VEGETAL
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Rogo a ti, linda flor, sobre o jardim de agosto
erguido nesta relva de rubi entre colunas de sono
onde a calma se esvai como teu corpo,
pisoteada pelo halo das rochas.
Desperta deste verde decrescente
Entre colinas de aurora e sangue.
Vê neste cansaço de estátua o riso
que te perdeu nas veredas de ar.
Vê teu riso que te perdeu
no vento que se estica no horizonte
como um músculo de cera
envolto em rosas de chumbo.
O tempo se esvai como teu corpo.
Preso nesta argila de antes
à beira da loucura mais serena
Na tarde amarga sem sinônimo.
Eu que não me ouço nem contemplo,
Escuto tua voz de fogo quebrada
Sobre este lago espesso e reticente
e a brasa escorre de um ouvido.
Os homens sobre tua sombra ressecada
colhem frutos de silêncio. As mãos desentendidas
levam o sumo à boca e tudo assenta mudo.
A Pedra mordisca teu anel de pó
A tarde arranca teus pelos de ouro sobre o marulho do espaço
e leva esta música oculta que exala das ancas do lago.
Desperta deste verde
hálito baço entre oceanos de lírios.
Pequenas folhas de areia
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caem sobre teus olhos que choram Círculos de anil
encerrados em teias de cobre crepuscular;
No outono de árvore salina, raízes débeis procuram
um pedaço de angústia, um sepulcro de pássaros,
guardados no desperdício da paisagem.
Rogo a ti, linda flor, sobre o jardim de agosto,
sobre teu choro ensimesmado e grave,
verbos que façam o medo desatar
num pano aquoso onde a súplica
de desvanecer não seja ouvida.
Ouve-me,
Que a forma tua concreta,
como o cheiro da carne já medrosa
relembra a costura
do ano em vultos de poemas.
Rogo a ti, linda flor,
sobre o negro suspenso:
Ouve-me, que te amo em susto,
olhado de forma inesperada
sobre o jardim de agosto em sonho.
HEITOR DE LIMA rabisca em versos desde os 9 anos de idade, espera que
o mundo escolha a poesia, mesmo que inconsciente. Vive a
heterogeneidade de ser quem é.
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CRISTIANO JESUS
Paredes do Bairro, Aveiro,
Portugal
Sentei-me à lareira como quem esperava a morte
E bebi a amargura com que me ardia a alma por ter falhado em tudo.
Fechei os olhos porque fui sempre senhor enquanto sonhei,
Mas a gravata que me compunha desfez-se
E não houve nó que soubesse dar.
Sonhei ser o perfume que toda a gente quisesse cheirar,
Sonhei ser a filosofia que qualquer filósofo desejasse escrever,
Sonhei ser D. Sebastião e salvar a pátria,
Mas não houve mais ninguém na história
Que tivesse tantos exércitos derrotados como eu.
E o regresso nunca existiu,
Estive sempre no mesmo sítio,
Debaixo da carroça do que era.
LAREIRA
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Fui ingénuo para a vida e ela não me perdoou.
Lançou-me com violência
Contra as coisas que desconhecia
E perdi-me na brutalidade do mundo.
A tempestade que se formou à minha volta
Incomodou-me tanto que saí por aí correndo
À espera que de uma porta aberta numa parede que nem sequer
porta tinha.
Fiquei molhado pelos meus problemas e sequei-os na lareira que estava
apagada.
Se hoje fosse ontem,
Quereria apenas ter existido,
Como a lenha que ardeu e restou-lhe apenas ser se não cinzas.
CRISTIANO ANTÓNIO MARQUES DE JESUS nasceu em Coimbra, freguesia
de Sé Nova. Entre 2011 e 2014, frequentou o curso de Artes Visuais na
Escola Secundária de Anadia e, paralelamente ao liceu, aprendeu
música no Conservatório Artes e Comunicação, em Oliveira do Bairro e
na Escola Artes da Bairrada, no Troviscal, onde tirou o sexto grau de
conservatório, como clarinetista. Atualmente, estuda Som e Imagem, na
Escola Superior de Artes e Design, nas Caldas da Rainha.
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MARIANA BASÍLIO | São Carlos, SP.
O réquiem nasceu-me dos sangues.
O réquiem morreu-me em instantes.
-Suave é a noite que o réquiem canta!
Em costelas, cantou-me em serenos:
“Não te ponhas a questionar
o porquê eclipses solares.
Não te abras a questionar
o porquê lágrimas incolores.
Não te firas a questionar
o porquê veias azuladas. ”
De nossas falas, há nossas falhas.
De nossos pés, há nossas patas.
XXVII
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O réquiem subiu-me as veias vermelhas,
traçando reluzentes granizos, e soprou
soprou aos montes de bronzes, réquiem.
Em D menor, réquiem. Em D menor.
Disse eu, morta de amores, disse eu.
Apertando os cravos que voavam
borboletas aos meus sentimentos, cravos.
Por safiras, em elipse sufocou-me os ares.
Com bordas feito pedras-lipses, dizia ele:
“E não te ponhas mais a reclamar das
veias postas às esferas periespirituais.
Tu aceitas o silenciar dos dentes e eles
te aceitam em litúrgicas róseas rosas.”
A nascer de prantos. A morrer de frutos. Eu parti.
Inteira como cachos de melancia rasteiras.
Inteira como seitas em vinícolas de água.
A nascer das dores. A morrer de sedas. Eu parti.
E se tiveres as veias cheias de sangue
se tiveres os caramujos em estômago
se tiveres unhas e dedos desbotados
se estiveres a cumprimentar querubins,
-Suave é a noite que o réquiem canta!
MARIANA BASÍLIO é autora de Nepente (Giostri Editora, 2015), reunião
de seus primeiros poemas. Atualmente, se dedica à escrita do segundo
livro, sombras & luzes. Seus versos são inspirados em poetas como William
Blake, Percy Shelley, Walt Whitman, Herberto Helder, Ruy Belo, Luiza Neto
Jorge e Hilda Hilst.
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SINCERAMENTE CONFORTO
SAMUEL H. DIAS
Muzambinho, MG, Brasil
As fadas voam perto de mim.
Colocam suas mãos sobre meu rosto.
Uma nova visão surge e repetidamente eu ouço uma bela voz.
A figura pálida em minha frente é meu futuro eu.
Podemos amarrar essas figuras podres e conseguir formar um único
pensamento.
A gaiola que antes te prendia...
As unhas quebradas estão no chão.
Jovem donzela Se recomponha.
Sorrindo e se levantando vagarosamente.
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A oferenda a uma personificação.
Metade do corpo para o sul a outra metade para o norte.
A tarântula em sua doce boca.
Esvazia sua mente.
Sacrifício, Sacrifício e Sacrifício.
Tendo ouvido repetidamente.
Até a sua suposta felicidade me enoja.
Isto é o suficiente para nos tornarmos ricos.
O louco aqui é um manto vermelho de pequenos espaços entre os nós.
Volta e Meia.
Tottem.
SAMUEL H DIAS é colaborador frequente da Subversa e dispensa
biografia.
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ANDRÉA MASCARENHAS | Salvador,
BA.
[prezada desarmonia]
36
I
venho por meio deste
por meio
d'isto
pensar
um monet de rua
enfim um monet desavisado
desqualificado
com pincéis
de flores
com sprays
de animação
logo
tópicas
mal'amadas
de pouco
a mais
barrado
no sarau
do desespero
II
um monet
de quinta
essência
(des)guarida
apaixonado
por efêmeros
e
fuga.cidades
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III
para os devidos fins
de esquerda
pelas cores.suportes
e pintura
de teto.céu
deixo estatuído
em epígrafes de chão pisado
que a beleza
pode ser
gratuita
fluida
fru.ida
e flutuante
em meio a sexta e sétima avenidas
inclusive
a que pede esmolas
em chapéu
puído
à beira da instabilidade
de um meio
fio
<Registre-se e cumpra-se>
ANDRÉA DO NASCIMENTO MASCARENHAS SILVA é docente da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), da área de Literatura. Doutora
em Comunicação e Semiótica - PUC-SP. Edita o Blog literário ..Arquivos..
impertinentes. Publicou textos poéticos na Revista Cultural Artpoesia
(2012) e na Revista Subversa (2015 / edições 10, 11 e 12). Pela Pastelaria
Studio (Portugal) participou de três antologias (2015). Pela Editora
Pragmatha (Brasil) participou do Caderno Literário n. 66 e da Antologia
'Sou Poeta Com Orgulho 2' (2015).
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SOUZA DE MELO | Belo Horizonte, MG.
TRAUMA
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O sangue secando
Na ponta do nariz
Escurece
E perde
O gosto
Cristaliza
Quase protegendo a carne
Da lembrança do murro.
SOUZA DE MELO nasceu em um vilarejo português, em agosto de 1991.
No entanto, vive em Belo Horizonte desde os seis anos de idade. Ao
longo da infância, foi descobrindo seu gosto pela literatura e pela
música, seus principais vícios criativos. Atualmente cursa Letras na UFMG
e estuda música por conta própria.
40
PARCEIROS:
41
Edição e Revisão:
Morgana Rech e Tânia Ardito
Recepção de originais: