Revista SPECTRUM Nº 02

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Network Centric Warfare (NCW) Materiais Absorvedores de Radiaçªo EletromagnØtica Emprego da Aviaçªo de Transporte na Amazônia Manobra contra Mísseis Infravermelhos Revista do Comando-Geral do Ar N” 02 - Agosto 2000

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Manobra contra Mísseis Infravermelhos Emprego da Aviação de Transporte na Amazônia Materiais Absorvedores de Radiação Eletromagnética Revista do Comando-Geral do Ar Nº 02 - Agosto 2000 Spectrum Ten.-Brig.-do-Ar Carlos de Almeida Baptista Comandante da Aeronáutica 3 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Network Centric Warfare (NCW)

Materiais Absorvedores de Radiação Eletromagnética

Emprego da Aviação de Transporte na Amazônia

Manobra contra Mísseis Infravermelhos

Revista do Comando-Geral do Ar Nº 02 - Agosto 2000

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3○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Ten.-Brig.-do-Ar Carlos de Almeida BaptistaComandante da Aeronáutica

Editorial

Écom prazer que registro, para a revista

Spectrum, produzida pelo Comando-Ge-

ral do Ar, a minha mensagem de primei-

ro semestre à frente do Comando da Aeronáu-

tica.

Tenho dito e repetido que me senti, após

cinco anos e meio de afastamento, como se

tivesse retornado de um curto período de férias

da Organização. Para isso, em muito contri-

buíram meus companheiros do Alto Comando,

imediatamente solidários com o novo Coman-

dante.

Considero necessário, no tempo que me res-

ta nesta que, certamente, será a última missão

devotada ao serviço público do meu País, es-

tabelecer e concretizar o que será a Força Aé-

rea Brasileira do novo milênio.

Estamos entregando a administração direta

da INFRAERO e da Aviação Civil ao Ministé-

rio da Defesa, orgulhosos dos chefes do passa-

do e do presente, além dos servidores que nes-

ses campos exerceram suas atribuições, arqui-

tetos e construtores de dois segmentos chaves

para a prosperidade do País, respeitados no

contexto internacional pela eficiência com que

prestam seus serviços ao imenso público que

deles se utiliza.

Lamentavelmente, encontramos a Força,

cuja atividade-fim é desenvolvida,

preponderadamente, pelo COMGAR, em difí-

cil situação operacional. É esse Comando, com

todas as suas Unidades Aéreas, que habita a

maior parte dos nossos pensamentos e conso-

mem a maior parte das nossas preocupações.

Sabemos que todos os esforços, para re-

equipá-lo e modernizá-lo, não trarão resulta-

dos a curto prazo. Não caberá a nós a colheita

dos frutos cujas sementes estão sendo planta-

das agora. As autoridades da República, cons-

cientes das dificuldades que temos para cum-

prir essa missão, nos colocaram prioritariamente

na alocação de recursos.

Nosso Ministro da Defesa tem em-

pregado o melhor dos seus esforços

para que a situação de degradação

da Força seja revertida, pois tem cons-

tatado o quanto depende de nós a vi-

gilância e o controle do espaço aé-

reo, a integração nacional, o socorro

às populações em situações de calamidade, a

indústria aeronáutica brasileira...

O Comandante Supremo está, igualmente,

comprometido com a recuperação da Força e

busca os meios necessários, em meio a um con-

texto econômico-financeiro que, aos poucos,

vai se tornando saudável.

Não lutamos por uma Força melhor que o

País, apenas tentamos demonstrar que ela não

deve descer a níveis de preparo e emprego ja-

mais observados desde os seus primórdios.

Continuo dizendo que a esperança é uma

bela companheira de viagem, o que me dá a

alento para pensar que em breve possamos ter

o futuro mais claramente definido.

Iniciativas como a desta publicação, que

trata de assuntos técnicos de alto nível, demons-

tram que, apesar das dificuldades, o gênio

inventivo de Santos-Dumont, a perseverança

de Eduardo Gomes e a liderança de Nero Moura,

encontraram terreno fértil nos nossos Guerrei-

ros do Século do Aço.

Concito os companheiros que integram o

Comando-Geral do Ar a empregarem suas

intel igências e seus esforços com o

profissionalismo e o amor dos que fazem do

seu trabalho e dos objetivos da Instituição o

grande elenco de idéias que, cada vez mais,

fortalecem nossa Força e ganham, no tem-

po e no espaço, o testemunho de

credibilidade da Nação a qual pertencemos,

a qual defendemos e a qual teremos sempre

que prestar contas.

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Expediente Índice

Comandante-Geral do ArTen.-Brig.-do Ar Henrique Marini e Souza

Conselho Editorial e RevisãoTen.-Cel.-Av. Narcelio Ramos RibeiroMaj.-Av. Ari Robinson TomaziniCap.-Av. Fábio Durante Pereira AlvesCap.-Av. Davi Rogério da Silva CastroCap.-Av. Carlos Alberto FernandesCap.-Av. Edson Fernando da Costa Guimarães

ColaboradoresSr. Carlos Lorch (Action Editora)Cap.-Av. Hélio Rodrigues Costa (1º/16º GAv)Centro de Comunicação Social da Aeronáutica(CECOMSAER)Adriana Beal (Vydia Tecnologia)

FotografiasRevista Força Aérea

Projeto Gráfico e FotolitosTachion Editora e Gráfica Ltda.Rua Santa Clara, 552 - Vila AdyannaTel/Fax: (12) 321-0121 / 322-4048 / 322-3374CEP 12243-630 � São José dos Campos-SPe-mail: [email protected]

ImpressãoGráfica ItamaratiSIG/Sul � Quadra 02 � lote 400tel: 61-343-1833 � fax: 61-343-1099CEP 70610-400 � Brasília-DF

Distribuição interna. Tiragem: 1.500 exemplares.

Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são deexclusiva responsabilidade de seus autores. Estão au-torizadas transcrições integrais ou parciais das matéri-as publicadas, desde que mencionados o autor e a fontee remetido um exemplar para o COMGAR.

[email protected]

Planejando a Guerra ....................................... pág 5

O Impacto das Concepções eTecnologias no Preparo e Empregoda Força Aérea Brasileira ............................... pág 7

Emprego da Aviação de Transporte naAmazônia ..................................................... pág 12

Network Centric Warfare (NCW) �Uma Revolução no Campo de Batalha ......... pág 14

Materiais Absorvedores deRadiação Eletromagnética ............................ pág 17

A Gestão do Conhecimento no Contextodas Organizações Militares .......................... pág 21

IFF : Perguntas e Respostas ........................... pág 23

Data Link nas Operações Aerotáticas .......... pág 27

Manobra Contra Mísseis Infravermelhos ....... pág 32

Bomba Guiada a Laser:Ter ou Não Ter, Eis a Questão ....................... pág 35

ECHELON: O Sistema está lá fora! .............. pág 37

Determinação da Altitude de Operaçãode uma Aeronave de AlarmeAéreo Antecipado ......................................... pág 39

A Necessidade de Pós-Graduação naÁrea Operacional ......................................... pág 44

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Planejando a GuerraBrig.-do-Ar Delano Teixeira MenezesComandante da Segunda Força Aérea

Brigadeiro-do-ArDelano Teixeira Menezes

Comandante da SegundaForça Aérea

Existe um ditado que diz que a moda éque faz a lei e não a lei que faz a moda.A Doutrina é mais ou menos isso: ela

nasce de baixo para cima, ela é ditada pelo

�modus faciendi� do campo de batalha des-

de o nível tático, passando pelo operacional

até o nível estratégico. É por isso que as dou-

trinas devem ser revistas a cada conflito, a

cada batalha que implique o emprego maci-

ço de recursos materiais e humanos na busca

dos objetivos estratégicos e políticos. E a Força

Aérea é o componente do Poder Militar mais

susceptível a essas mudanças porque está mais

próxima das transformações tecnológicas e

porque é a arma que reúne as característi-

cas que todo comandante militar gostaria

de ter: velocidade, poder de destruição, pre-cisão e alcance. Não é para menos, pois o

homem levou 5000 anos para passar da ve-

locidade de um pessoa andando para a de

90 Km/h, em condições favoráveis, num

campo de batalha; o navio levou séculos

para passar de 10/12 nós para 25/30 nós (e

olhe lá!), enquanto que o avião levou me-

nos de cinqüenta anos para pular de 50/100

nós para duas vezes e meia a velocidade

do som, podendo aumentar ainda mais esta

performance.

Naturalmente que a velocidade de assi-

milação das transformações que ocorrem na

doutrina está diretamente associada às ame-

aças e ao envolvimento em conflitos que

cada país vive e à inserção política do mes-

mo no cenário mundial.

Podemos depreender, assim, por quantas

transformações passaram as doutrinas mili-

tares desde a Primeira Guerra Mundial, e o

próprio conceito de guerra total depois da

Segunda Guerra Mundial e a subseqüente

Guerra Fria! Imaginemos o poder de barga-

nha política que ganhou um estado, ou co-

alizão, depois de serem alcançados os ní-

veis de precisão nos ataques realizados

durante a Guerra do Golfo!

Mas esta é uma visão tática do proble-

ma. O cenário mundial mudou. O balanço

de poder no mundo já não é o

mesmo desde o desmanche do

poder soviético. As hipóteses

de conflito podem ter até au-

mentado mas os espaços dimi-

nuíram e o controle da expan-

são dos mesmos aumentou.

Isto é, as guerras �permitidas�

hoje não podem extrapolar de-

terminados limites e devem ter

um desfecho em tempo limi-

tado. Além disso, as ameaças

são difusas, ou não se sabe �apriori� qual será o inimigo.

Diante desse novo cenário, a capacida-

de de uma resposta rápida e precisa vai de-

terminar a vantagem inicial em termos mi-

litares e a conseqüente iniciativa político-

diplomática para alcançar um desfecho fa-

vorável num prazo pequeno.

A atual Estrutura Militar de Guerra

(EMG) pode estar defasada para atender a

essas novas demandas. Mas enquanto ela

não for revista, cada Força Armada deverá

estar preparada para melhor atendê-las, no

mais curto espaço de tempo possível, sem

desfazer cada uma das estruturas existen-

tes que suportarão as necessidades das Uni-

dades envolvidas no conflito. E isso acon-

tecerá de uma maneira não muito diferente

do dia-a-dia atual.

O Comando-Geral do Ar como o com-

ponente da Força Aérea que primeiro será

engajado e principal provedor dos recursos

humanos e materiais devidamente adestra-

dos e preparados para o combate, deverá

ter uma organização interna tal que não

deixe que as suas atribuições de planeja-

mento e emprego operacional sejam per-

turbadas pelas atividades correntes que con-

tinuarão a existir.

As modificações estruturais necessárias

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para que isso seja possível não são muito

grandes, e são de fácil implementação, por-

que a atual organização operacional das

Grandes Unidades subordinadas ao

COMGAR já facilita as adaptações que se

fazem necessárias. Ou seja, cada uma das

Forças Aéreas existentes, com as suas ca-

racteríst icas de

�especializadas�, já são capa-

zes de atender às necessida-

des de uma força a ser empre-

gada em combate, com meios

inclusive para apoiá-las.

Por outro lado, as atuais For-

ças Aéreas estão de tal forma

envolvidas na apresentação de

um produto (o piloto

operacional), ao final de cada

ano, que não lhes sobra tem-

po para dedicar-se à elabora-

ção dos Planos necessários

para atender às diversas hipó-

teses de conflito. Tampouco o tem o Esta-

do-Maior do COMGAR, ainda envolvido

com os problemas dos COMAR. Como re-

sultado, existem hoje poucas pessoas

engajadas em Planejamento Militar real,

tanto no COMGAR como nas Forças Aéreas

subordinadas.

A ativação de uma Força Aérea sem mei-

os aéreos subordinados, com um Estado-Mai-

or constituído somente para planejar, seria

uma forma de se preencher essa falha. Ela

faria os Planos e Ordens

e empregaria os

meios que lhes

seriam alocados

na medida neces-

sária para a di-

mensão do con-

fli to. Assim, as

Forças Aéreas atu-

ais permaneceriam com os

encargos da formação, manutenção e ele-

vação operacional das equipagens.

A vantagem dessa Grande Unidade é que

ela estaria livre de uma série de encargos,

podendo debruçar-se sobre os documentos

operacionais para mantê-los permanente-

mente atualizados. Poderia testar a valida-

de desses documentos aplicando, em exer-

cícios periódicos, as Unidades Aéreas que

cada uma das Forças Aéreas (II, III e V)

aprontariam para o combate.

As atuais Forças Aéreas cumprem mui-

to bem o seu papel de adestrar as

equipagens de combate, cuidar da dispo-

nibilidade dos aviões e preparar a logística

de mobilidade das suas Unidades, abrigan-

do, cada uma, mesmas linhas de doutrina

operacional (Caça/Ataque e Reconheci-

mento em uma, Transporte/Reabastecimen-

to em outra e Patrulha, Asas Rotativas, Bus-

ca e Salvamento em outra). Esta organiza-

ção facilita a unidade doutrinária e a ad-

ministração da progressão operacional das

equipagens.

Com a ativação dessa nova Força Aérea,

alcançaríamos uma verdadeira capacidade

de pronta resposta, fosse qual fosse a arqui-

tetura da Estrutura Militar de Guerra.

�O homem levou 5000 anospara passar da velocidade deum pessoa andando para a de90 Km/h, em condições favo-ráveis, num campo de bata-lha; o navio levou séculospara passar de 10/12 nós para25/30 nós (e olhe lá!), en-quanto que o avião levou me-nos de cinqüenta anos parapular de 50/100 nós para duasvezes e meia a velocidade dosom, podendo aumentar ain-da mais esta performance.�

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7○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Esse fenômeno tornou-se mais intenso

na última década do século XX, des-

pertando as atenções dos estudiosos mi-

litares, os quais reconhecem que está ocor-

rendo uma verdadeira revolução nas concep-

ções, acepções e tecnologias de guerra

(�Revolution in the Military Affairs� - RMA).

Tudo isso ocorre no �habitat� operacional,

possível palco de atuação da Força Aérea

Brasileira.

Tais fatos tornam-se mais importantes,

quando se considera também que as hipóte-

ses de engajamento pelas forças armadas bra-

sileiras são difusas, indefinidas no tempo, no

espaço e na origem.

Esse artigo propõe-se a analisar de ma-

neira sucinta e realística o impacto dessas

mudanças aceleradas no preparo e emprego

da FAB. Iniciará examinando a

interdependência entre as concepções de

emprego e as tecnologias do espaço de bata-

lha, mostrará em seguida a rápida evolução

de cada uma delas nos últimos cinqüenta

anos e, finalmente, fará um sumário sobre o

comportamento que vem sendo adotado e

outras providências a serem implementadas

pela Força Aérea Brasileira diante dessa rea-

lidade.

No entanto, há necessidade de, inicial-

mente, identificar os fatores que influem em

todas atividades de uma força aérea e defi-

nem sua capacidade operacional.

�Driving Forces� do Poder Aéreo

As teorias e princípios iniciais do poder

aéreo vieram, de pensamentos desenvolvidos,

primordialmente, por teóricos do poder ter-

O Impacto das Concepções e Tecnologias no Preparo e Emprego da ForçaAérea Brasileira

Narcelio Ramos Ribeiro, Ten.-Cel.-Av.CGEGAR

restre como Sun Tzu, Sir Basil

Liddell Hart e Carl Von

Clausewitz. Esse último definiu

a essência da guerra por meio

de �uma trindade que compre-

ende o povo (paixão), as Forças

Armadas (criatividade) e a po-

lítica (razão)� [2]. Recentemen-

te, o Tenente�Coronel David K.

Edmonds, da USAF, idealizou

�a trindade do poder aéreo ba-

seada na convergência tempo-

ral da teoria, tecnologia e prá-

tica� [3].

Tanto a trindade da guerra

de Clausewitz, quando aplica-

da ao poder aéreo, quanto as

idéias do Tenente-Coronel

Edmonds são dependentes de

dois fatores essenciais e presen-

tes na aplicação de uma força

aérea: Concepção de Emprego e Tecnologia.

As concepções de emprego são os méto-

dos utilizados para aplicação da força aérea,

os caminhos escolhidos para atingir os obje-

tivos. Independente de serem doutrinariamen-

te certos ou errados, atualizados ou não, são

fatores presentes em qualquer cenário. As

tecnologias são as plataformas, os sistemas

d�armas, os sensores, os �softwares�, as co-

municações, os dispositivos. Esses dois fato-

res estão sempre presentes e condicionam

todas as ações, atividades e até mesmo o re-

sultado no campo de batalha. Por isso eles

são considerados �driving forces�. Eles se

complementam, derivam da essência do po-

der aéreo, resultando numa dicotomia que

traduz a arte e a ciência da guerra dos �Ca-

�Nos últimos cinqüenta anos têm ocorrido evoluções cada vez maisaceleradas nas concepções de emprego e tecnologias destinadas aocampo de batalha, provocando mudanças significativas nos cenáriosoperacionais, no preparo e emprego das forças armadas� [1]

O Tenente Coronel Narcelio Ra-

mos Ribeiro é piloto de patru-

lha, concluiu o CFOAv em 1980

e exerce atualmente a função de

chefe do Centro de Guerra Ele-

trônica do COMGAR. Possui

curso de Guerra Eletrônica na In-

glaterra (�Electronic Warfare

Directors�) e pós-graduação em

Planejamento Estratégico e Qua-

lidade Total pela AEUDF

(Brasília). O Ten.- Cel. Narcelio

tem trabalhos publicados nas

revistas da UNIFA e O

Patrulheiro.

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valeiros do Século do Aço�.

A maior sinergia do poder aéreo no cam-

po de batalha ocorre quando há coincidência

temporal entre as concepções de emprego e

a tecnologia existente. Isso é um desafio que

só é superado pelas forças aéreas que com-

preendem a dimensão e a importância desses

�driving forces�.

Essa coincidência temporal,

aliada a uma flexibilidade doutriná-

ria, foi um dos fatores responsáveis

pelas seguidas vitórias de Israel con-

tra as nações árabes na Guerra dos Seis

Dias em 1967, Yom Kippur em 1973 e

Vale do Bekaa em 1982.

Em nenhum desses conflitos

Israel possuía vantagem numérica, mas

soube compreender e explorar melhor

os �driving forces� do poder aéreo. Note-se,

ainda, que na Guerra do Yom Kippur eram os

Árabes que possuíam a supremacia

tecnológica: o SA-6 (míssil superfície-ar) era

guiado pelo primeiro radar com tecnologia

Doppler, permitindo acompanhar e abater

aviões israelenses voando próximo ao solo; o

míssil SA-7 portátil era algo inusitado; e o

canhão ZSU-23-4 foi o primeiro de uma série

de �hard kill� que passaria a existir no campo

de batalha.

A despeito dessas desvantagens e de ter

sofrido pesadas baixas no início do conflito,

Israel mudou sua concepção de emprego em

pleno andamento da batalha, passou a utili-

zar-se de supressão de defesa aérea, adaptou

a tecnologia para superar as ameaças exis-

tentes, fez coincidir no tempo os �driving for-

ces� do poder aéreo.

O mesmo não ocorreu no lado árabe, que

tinha tecnologia mas pecava na concepção

de emprego, causando uma defasagem tem-

poral nos �driving forces�, minimizando o efei-

to letal das suas forças armadas. Essa falta de

sincronismo foi resultado da rigidez doutriná-

ria oriunda de escola soviética, e do pouco

conhecimento sobre poder aéreo, os quais não

possibilitaram o desenvolvimento de concep-

ção de emprego no mesmo compasso da evo-

lução da tecnologia.

Esse descompasso entre concepções de

emprego e tecnologias é melhor compreen-

dido fazendo-se uma analogia entre algumas

organizações nacionais que entraram na era

da computação: aquelas que buscaram uma

concepção de gestão, na qual foi incluida a

tecnologia da informação, tiveram diminui-

ção de custo e pessoal, ampliaram seus ne-

gócios e melhoraram sua capacidade de res-

posta e de competição nos cenários contem-

porâneos. Por outro lado, houve organizações

que limitaram-se a apostar na tecnologia, sem

se preocupar com novos métodos de gerên-

cia e utilizaram o computador como uma

�máquina de escrever de luxo� com resulta-

dos nada animadores.

Mas nem sempre as concepções de em-

prego do poder aéreo estiveram sincroniza-

das com a tecnologia. Ao contrário da teoria

de Clausewitz, de que �a natureza da guer-

ra é intemporal�, os �driving forces� (concep-

ção e tecnologia) não o são. Eles evoluem

com o tempo e são interdependentes.

A EvoluçãoNa Primeira Guerra Mundial o poder aé-

reo não foi um fator decisivo. É claro que

nessa época a teoria de Clausewitz ainda não

havia sido transportada para essa nova dimen-

são da guerra [4].

Como não havia teoria escrita do poder

aéreo, o desenvolvimento das concepções não

acompanhou a incipiente tecnologia da épo-

ca.

Durante os anos subsequentes, entusias-

tas do poder aéreo como Giuilio Douhet, Gen

Billy Mitchell, Sir Hugh Trinchard e Alexan-

dre P. Seversky usaram numerosas idéias de

guerra de Clausewitz (como a do centro de

gravidade) para desenvolverem concepções

A maior sinergia dopoder aéreo no campode batalha ocorrequando há coincidên-cia temporal entre asconcepções de empre-go e a tecnologia exis-tente.

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de emprego, que culminaram nos conceitos

de bombardeio estratégico, superioridade

aérea e predominância dessa nova dimensão

da guerra.

Esses conceitos foram tão avançados para

a época, que só houve tecnologia para torná-

los realidade na Guerra do Golfo, em 1991.

Esse foi um processo evolutivo que ocorreu a

partir da II Guerra Mundial, primeiro conflito

após a teoria pioneira acerca do poder aéreo.

Ainda nessa linha, o Cel John Warden da

USAF lançou os fundamentos de uma cam-

panha aérea no seu livro �Air Compaign:

Planning for Combat�1 .

Essa versão modificada e atualizada do

centro de gravidade de Clausewitz com seus

cinco anéis concêntricos tornou-se o foco cen-

tral da campanha aérea do Golfo.

Até essa época, as idéias para a aplica-

ção do poder aéreo estavam à frente da

tecnologia. Pode-se deduzir que na Guerra

do Golfo houve a coincidência temporal en-

tre concepção e tecnologia, permitindo a

concretização da predominância dessa di-

mensão da guerra.

O quadro a seguir sumariza as evoluções

das concepções de emprego e tecnologias do

campo de batalha.

ODOÍREP OÃÇPECNOC AIGOLONCET

0491a

0591

esedadicaocigétartseoriedrabmoB,acinôrtelearreug,sovitejboedoxelpmocarreugedsotnemelesoriemirp

.acigólocisp

,lanoicnevnocabmob,eciléhaseõivAsariemirp,aifargotpirc,acimôtaabmob

.otajasevanorea

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.assammeoãçiurtsedeocigétartse.etilétasropotnemaegami,seõçacinumoC

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,)lesaeWdliW(aeréAasefeDadoãsserpuSarreugeacigólocisparreugadoãçamrifa

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lissím,seõçacinumocedetilétaS.oãçaidar-itnalissím,ra-eicífrepus

0791a

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asefedadoãsserpusadovisnetniosUseõçareposaneuqofneroiam,aeréaonarreugedsaiédisariemirp,sacitát

.elortnoceodnamoc

osu,eicífrepus-rasiessím,�sodadedkniL��TNIGIS�edetilétase�WEA�edovisnetni�TNIMI�e)sianiSedaicnêgiletnI(

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odoãçarolpxe,oãçamrofniadaigolonceT.RESAL

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0002

,)aicamerpus(oeréaredopodonelposUortneco(elortnoceodnamoconarreugeodnamocedolcicoéedadivargedarreugedovisnetniosu,)elortnoc,adanibmocoãçarepo,acigólocispedsianissoriemirp,�erafraWnoitamrofnI�oãçiutitsbus(�erafraWcirtneCkrowteN�,)otiefeedassamropaçrofedassamed,hcaeRlabolG�edotiecnocoegrus

.�rewoPlabolG

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,laicifitraaicnêgiletni,edadicolevrepihededer,serosnesedseder,sodadedoãsuf

.serodarita

1 O Coronel Warden definiu o centro de gravidade doinimigo em cinco anéis concêntricos: (de fora paradentro) liderança, instalações de produção, infra-estrutura, população e forças militares.

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Nota-se que o desenvolvimento quase que

sicronizado e mais acelerado dos �driving

forces� do poder aéreo ocorreu com mais ên-

fase no final do Século XX.

Essas mudanças são relevantes para os in-

tegrantes da Aeronáutica por causa dos se-

guintes axiomas:

a) o negócio da FAB não é qualquer

negócio, é a guerra, a defesa da pá-

tria, a aplicação militar do Poder

Aeroespacial Brasileiro;

b) no espaço de batalha, a FAB con-

correrá com oponentes que utilizarão

os �driving forces� do poder aéreo; e

c) o preparo e emprego da FAB depen-

dem dos �driving forces� do poder aé-

reo.

Preparo e Emprego da FAB

Segundo a Estratégia Militar Brasilei-

ra, �o preparo das forças armadas deve ba-

sear-se em capacidade, pois as ameaças

são difusas�[5]. Pode-se deduzir, baseado

nessa afirmativa e no que foi exposto nos

parágrafos anteriores, que a preparação da

FAB requer a busca incessante de conhe-

cimentos e meios que possibilitem melhor

explorar as concepções e tecnologias uti-

lizadas nos cenários de crise, conflito ou

guerra, a fim de atingir os objetivos polí-

ticos do estado-nação brasileiro.

Essa capacidade requer uma postura

pró-ativa diante da evolução acelerada das

concepções e tecnologias dos cenários

contemporâneos. É, portanto, uma ques-

tão de cultura organizacional.

Essa cultura tem a função de criar va-

lores compartilhados, preparar os integran-

tes da organização para liderança intelec-

tual, capacitá-los para desenvolver teoria

ou visão de vitória, possibilitar a melhor

utilização das características de uma for-

ça aérea (velocidade, alcance e flexibili-

dade) [6], entender e explorar os concei-

tos de precisão, letalidade, conhecimen-

to situacional global e do teatro de ope-

rações, estabelecer estratégias e aplicar

o poder aéreo como instrumento de polí-

tica do estado-nação.

O desenvolvimento organizacional,

para atingir esse nível de cultura, depen-

de de três fatores: conhecimento profissi-

onal sobre os �driving forces� do poder

aéreo, cr ia t iv idade e recursos

técnológicos.

Dentro desse enfoque, torna-se de fun-

damental importância a parceria que está

sendo realizada entre COMGAR e DEPED/

CTA, no sentido de, juntos, criarem um

programa de busca de excelência na área

da guerra, que consta basicamente de

cursos de pós-graduação nos níveis de es-

pecialização, mestrado e doutorado, com

o objetivo de preparar oficiais e civis as-

semelhados para: resolver problemas

operacionais e técnicos dos cenários de

guerra, conflito ou crise; gerar novos co-

nhecimentos (�know-why�) que resultem

em conceitos de guerra, concepções de

emprego, métodos, procedimentos

operacionais, processos e tecnologias; me-

lhorar o ciclo de decisão nos vários ní-

veis da guerra e a utilização dos meios

existentes; e tirar melhor proveito das con-

cepções e tecnologias de forças oponen-

tes.

Outra resposta a essa realidade é o

constante incentivo que o Comandante-

Geral do Ar (Ten.-Brig.-do-Ar Henrique

Marini e Souza) está dando à utilização

da criatividade e do potencial dos recur-

sos humanos para solucionar problemas

operacionais, técnicos e, até, administra-

tivos. Nesse sentido, têm sido reconheci-

dos e destacados aqueles que ultrapassam

os limites das atividades rotineiras, para

implementar inovações ou mudanças que

O poder aéreo repre-s e n t a a d i m e n s ã omais privilegiada dep r o j e ç ã o d e f o r ç aque a área pol í t icat e n d e r á c a d a v e zmais a selecionar e aempregar.

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11○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

agregam valor à missão da força.

Quanto aos recursos tecnólogicos ne-

cessários ao preparo e emprego da FAB

dentro de uma �visão de vitória�, depen-

dem de aporte financeiro, cuja obtenção

requer a atuação de atores fora da esfera

da Aeronáutica.

O poder aéreo representa a dimensão

mais privilegiada de projeção de força

que a área política tenderá cada vez mais

a selecionar e a empregar, por ser a op-

ção de mais baixo risco em termos de

custo-benefício, a que melhor responde

aos multiformes e imprevisíveis cenários,

a que é capaz de reagir mais rapidamen-

te para projetar a força física onde e quan-

do necessário e a que obtém efeitos psi-

cológicos e estruturais a milhares de qui-

lômetros de suas bases de origem.

A sinergia que garante a utilização do

potencial máximo do poder aéreo ocorre

quando há sincronismo entre concepções

de emprego e tecnologias existentes no

cenário operacional. Esse ponto ótimo,

para ser atingido, depende da cultura

organizacional (conhecimento e

criatividade) e de recursos tecnológicos.

O aporte financeiro para o desenvol-

v imento ou aquis ição dos recursos

tecnológicos depende também de outras

áreas do governo, mas o saber e a cultura

organizacional são problemas exclusivos

da Aeronáutica, que, utilizando progra-

mas de busca de excelência e de incenti-

vo à criatividade, reage com vigor e pre-

para-se para concorrer nos cenários de

guerra, conflito ou crise contemporâneos.

Referências[1] F ITZSIMMONDS, James R. �The

coming Mi l i ta ry Revolut ion:

Opportunities and Risks�, Parameters,

Summer 1995

[2] CLAUSEWITZ, Carl Von. �Da Guerra�.

São Paulo: European, 1981.

[3] EDMONDS, David K. �Airpower

Journal, Edição Brasileira, Terceiro Trimes-

tre 1998.

[4] Ibid, 26

[5] BRASIL. Estado-Maior das Forças Ar-

madas. �Estratégia Militar Brasileira�.

Brasília, 1998 (FA-E-01).

[6] BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Es-

tado-Maior da Aeronáutica. �Doutrina Bá-

sica da FAB�. Brasília, 1997. (DMA 1-1).

Page 11: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

12 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Emprego de Forças Terrestres naAmazônia

Aimensa região amazônica, com qua-

tro milhões de km2, é conhecida pela

sua densa floresta tropical, onde a

maioria de suas árvores atingem mais de trin-

ta metros de altura. Esta região, totalmente

envolvida por rios, córregos e igarapés, en-

globa a maior bacia de água doce do mundo.

Em razão destas características geográfi-

cas, o emprego de forças terrestres na Amazô-

nia, em uma situação de conflito, assume um

perfil muito diferente das guerras convencio-

nais, tornando evidente a utilização de técni-

cas conhecidas como resistência ou lassidão.

Serão empregadas, certamente, tropas pára-

quedistas em missões de Infiltração

Aeroterrestre, tais como: infiltração de coman-

dos e de forças especiais. Todavia, a realiza-

ção de um Assalto Aeroterrestre, para o em-

prego da Brigada Infantaria Pára-quedista, será

muito dificultado pela carência de Zonas de

Lançamentos (ZL) compatíveis na região.

Consequentemente, a maioria das forças ter-

restres empregadas serão as Brigadas de Infan-

taria de Selva, que necessitarão de total apoio

logístico a ser fornecido pela V Força Aérea.

Como será realizado o ressuprimento des-

sas tropas? As Bda. Inf. Selva irão abrir clarei-

ras ou ZL, a fim de permitir o lançamento de

material sobre o solo firme para o seu

ressuprimento?

A experiência de quem

opera na abertura de clarei-

ras informa que para construir

uma ZL de 400m x 200m, uti-

lizando dez homens treinados

e bem equipados, em regime

de urgência, são necessários

quatro dias de trabalho só na derrubada das

árvores, permanecendo o problema principal

a ser resolvido que é a retirada dos escom-

bros, visando o recebimento da carga.

Obviamente, em virtude das técnicas de

combates empregadas, a Força Terrestre não

terá condições de se

expor abrindo clarei-

ras (ZL). A solução

prática será o

Ressuprimento Aéreo

ocorrer sobre as

águas dos rios e la-

gos que pontilham

toda a região amazô-

nica.

A Amazônia pos-

sui lagos como o de

Tefé (40 x 7 km),

Piorini (50 x 5 km),

Mancapuru, Badajós,

Janaucá e muitos ou-

tros; possui os rios

Amazonas, Negro,

Solimões, Tapajós,

Madeira, Xingu,

Tocantins, Branco e

mais uma infinidade

de afluentes que po-

dem vir a ser utilizados como zonas aquáti-

cas de lançamento.

O material a ser lançadoÉ evidente que o material a ser lançado

estará ligado às necessidades das Unidades

Terrestres desdobradas. A título de exemplo,

pode-se imaginar: rações,

medicamentos, munições,

armamentos, fardamento,

equipamentos eletrônicos,

motores para embarcações

leves, combustível para he-

licópteros desdobrados em

profundidade na selva e

muitos outros.

A necessidade de material a ser ressuprido

às Bda. Inf. Selva é calculada por dia de ope-

ração em combate, sendo que a menor fra-

Emprego da Aviação de Transporte na AmazôniaRenato Cossatis Filho, Ten.-Cel.-Av

Comandante do 1o/9o GAV

O Ten.-Cel. Renato Cossatis

Filho é operacional em Trans-

porte Aéreo Logístico, Trans-

porte Aeroterrestre e Reabas-

tecimento em Vôo. Concluiu

o CFOV em 1980 e exerce

atualmente a função de co-

mandante do 1º/9º GAV. Pos-

sui 16 anos dedicados à Avi-

ação de Transporte, 6 em

C-115 Buffalo e 10 em

C/KC-130 Hércules.

Page 12: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

13○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ção a ser empregada, por doutrina, será no

nível de batalhão. Para o cálculo da carga a

ser lançada, tem-se que considerar que um

batalhão é formado por pelo menos três com-

panhias e cada companhia tem no mínimo

três pelotões. De acordo com o Centro de

Instrução de Guerra na Selva (CIGS), a ne-

cessidade de material das tropas infiltradas

na floresta amazônica, a cada 5 dias de ope-

ração, será: pelotão � 600 kg; companhia �

2.400 kg; e batalhão � 25.000 kg.

A Plataforma de Lançamento AéreoNo ano de 1984, oficiais do 1o/9o GAV per-

ceberam esta problemática e desenvolve-

ram uma plataforma que tinha capacidade

de flutuabilidade de até 420 Kg de carga. Foi

realizado um lançamento sobre as águas do

Rio Negro, a 800 pés de altura, tendo a pla-

taforma sido recolhida por um bote a remo

guarnecido por dois militares. A experiência

colhida naquela ocasião demonstrou que tal

prática é totalmente viável, simples, econô-

mica e efetiva. No entanto, após o lança-

mento de teste bem sucedido nada mais foi

feito e tudo foi esquecido com o passar dos

anos, não sobrando vestígios da plataforma

que foi denominada hidropálete.

No ano de 1999, após a exposição do

1o/9o GAV no Simpósio da XIX

Reunião da Aviação de

Transporte,

por determinação do Comandante da V For-

ça Aérea, foi reiniciado o desenvolvimento

de novos hidropáletes, visando não só aten-

der às necessidades da Força Terrestre, mas

também permitir a realização da XX RAT na

região amazônica, nossa principal hipótese

de emprego.

Com duas folhas de compensado naval,

três fitas de pálete e uma camada de isopor

variável com o peso da carga (até 50 cm), o

1o/9o GAV desenvolveu uma nova plataforma

de baixíssimo custo e com uma capacidade

de flutuabilidade de até 1220 Kg. Estas plata-

formas foram aprovadas no teste de lança-

mento aéreo do C-115 (agosto de 1999) e do

C-130 (abril de 2000).

Além do hidropálete, o 1o/9o GAV em con-

junto com o CIGS estuda ainda a possibilida-

de de empregar técnicas de lançamento ra-

sante, que é de grande precisão, para lan-

chas de duralumínio com uma carga de 600

Kg. A praticabilidade e a aceitabilidade des-

te projeto serão exaustivamente analisadas

antes dos vôos de teste.

O que falta fazerA XX Reunião da Aviação de Transporte

na Base Aérea de Manaus, neste ano de 2000,

será um marco da elevação operacional das

equipagens de nossa Aviação no

cumprimento de missões de

Transporte Aeroterrestre

Continua na página 43

Page 13: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

14 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

�A Guerra é um produto de seu tempo. Asferramentas e táticas com as quais lutamostêm sempre evoluído com a tecnologia. De-vemos estar prontos para seguir esta tendên-cia.�[2]

Vivemos hoje o que muitos chamam

de Era da Informação. Não que a in-

formação não tivesse importância

antes, mas os métodos de obtenção, transmis-

são, processamento e arquivamento tornaram-

se tão eficientes que a Informação passou a

ser matéria prima, combustível e produto das

mudanças observadas nessa nova Era. A Era

da Informação mudou a forma como as ri-

quezas são geradas, alterou a distribuição do

poder e diminuiu as distâncias, comprimindo

o tempo e mudando o ritmo de nossas vidas.

A história tem mostrado que as táticas

e técnicas empregadas pelas forças mili-

tares evoluem em função da tecnologia

disponível, da mesma forma que forçam

a pesquisa e desenvolvimento de novas

tecnologias. Dessa forma, por diversos mo-

mentos da história, a tecnologia militar

foi pioneira na descoberta de novos con-

ceitos que, mais tarde, acabaram sendo

empregados fora do ambiente castrense,

seja na indústria, na medicina, nas tele-

comunicações ou nos transportes. Nas úl-

timas décadas, porém, com a rápida pro-

gressão da capacidade de processamento

dos computadores e do poder advindo da

conexão entre eles (redes), tem-se obser-

vado um desequilíbrio entre a velocidade

com que a iniciativa privada consegue in-

corporar essas novas tecnologias em com-

paração com as Forças Armadas. Empre-

sas de sucesso têm se ut i l izado da

tecnologia disponível para adquirir supe-

rioridade de informação, definida como

�um estado alcançado quando a vantagem

competitiva é derivada da habilidade de

explorar uma posição superior de informa-

Network Centric Warfare (NCW) � Uma Revolução no Campo deBatalha [1]

Edson Fernando da Costa Guimarães , Cap.-Av.CGEGAR

ção� [1].

Com o intuito de aplicar a tecnologia já

empregada com su-

cesso no setor priva-

do, pesquisadores mi-

litares de todo o mun-

do têm estudado a

adaptação desses

princípios às Forças

Armadas. Desses es-

tudos [1] surgiu o con-

ceito de Network

Centric Warfare

(NCW) que será o

principal enfoque

deste artigo. NCW �é

uma mudança funda-

mental do que antes

era chamado de

p la t fo rm-cen t r i c

warfare...�, também

considerada �a mai-

or Revolução nos As-

suntos Militares dos

últimos 200 anos.� [2]

Platform-Centric Warfare vs.Network Centric Warfare

Como dito anteriormente, NCW representa

uma mudança do que antes se empregava:

Platform-Centric Warfare. Nesta última, cada

arma tem seu próprio sistema de sensores, e se o

sensor não está co-localizado com a platafor-

ma, existe um sistema de comunicação ponto-

a-ponto para prover dados para o atirador. Agora

não é mais possível ter uma massa de platafor-

mas (navios, aviões) e um grande número de

sistemas de armas, e ainda assim, armas de pre-

cisão devem ser empregadas em local e horário

exatos, onde apenas um sensor pode não ser

suficiente para guiá-los, sendo necessários da-

dos integrados de vários sensores e bancos de

dados para alimentá-los. NCW é a habilidade

O Capitão Edson Fernando da

Costa Guimarães é piloto de trans-

porte, concluiu o CFOAv em 1990

e exerce atualmente a função de

adjunto à Seção de Desenvolvi-

mento de Recursos Humanos do

Centro de Guerra Eletrônica do

COMGAR (CGEGAR). Possui cur-

sos de Guerra Eletrônica no Brasil

e na França, pós-graduação em

análise e projeto de sistemas (GFI/

UNB � Brasília) e mestrado em En-

genharia de Sistemas de Guerra

Eletrônica na Naval Postgraduate

School (EUA).

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Spectrum

15○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

de forças dispersas geograficamente criarem um

alto nível de �consciência situacional� que pode

ser explorada para atingir os objetivos da guer-

ra. O conceito de consciência situacional (figu-

ra 1) implica um grande volume de informações

sobre �espaço de batalha�, termo que veio subs-

tituir a expressão �campo de batalha� para refor-

çar ainda mais a desvinculação com o aspecto

físico do terreno onde as batalhas eram vencidas.

Ele engloba conhecimento sobre a situação ami-

ga, a situação do inimigo e do cenário

operacional.

Figura 1 -�Consciência Situacional�

Para sua consecução, a NCW é estabelecida

sobre quatro pilares:

- Banda larga de radiofreqüência (Data Links):

provê a habilidade de transportar grande quanti-

dade de dados pelo espectro eletromagnético;

- Redes locais de banda larga: permitem o

processamento e a transmissão de dados local-

mente;

- Gerenciamento de informação: torna eficiente

o uso, o processamento e a aplicação da infor-

mação; e

- Plataformas preparadas: permitem o uso dos

serviços oferecidos pela rede.

Mas que mudanças ocorreram no cenário mi-

litar de modo a suscitar a necessidade de repen-

sar-se a maneira como seus meios são emprega-

dos? Atualmente, tem-se que confiar em uma

grande quantidade de informação, entregue opor-

tunamente e em local exato. A solução que se

apresenta é o uso de redes como multiplicadoras

de força. Na verdade, é necessário um conjunto

de redes (LAN - �local area networks�) com apli-

cações comuns, táticas e não-táticas. Essas re-

des precisam de largura de banda suficiente para

todos os usuários se beneficiarem do fluxo de

dados e das bases de dados. O problema, entre-

tanto, não é apenas conectar peças. São neces-

sários organização, doutrina e treinamento. Dessa

forma, a produtividade da rede poderá exceder

a soma da produtividade das partes.

Outro fator que força as Forças Armadas a

reverem seus métodos é a constante busca

de eficiência que lhe é exigida ao mesmo

tempo em que os recursos disponíveis são

constantemente reduzidos. A NCW propõe

então uma reinterpretação de alguns dos prin-

cípios da guerra, entre eles o princípio da

massa. Uma vez que, com a indisponibilidade

de recursos, fica comprometida a capacida-

de de mobilizar uma grande quantidade de

meios (Massa de Forças), torna-se essencial

que se possa causar o mesmo efeito (ou mai-

or) com os poucos recursos disponíveis (Mas-

sa de Efeitos).

Modelo Lógico da NCW

A Malha da NCW (figura 2) é composta

de três sub-malhas:

- malha da informação

- malha de sensores

- malha de atiradores

Figura 2 - Modelo Lógico para NCW

Page 15: Revista SPECTRUM Nº 02

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16 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A Malha da Informação provê infra-estru-

tura para as comunicações e a computação.

Ela recebe, processa, transporta, guarda e pro-

tege as informações, provendo infra-estrutura

�plug-and-play� para sensores e atiradores, po-

dendo existir no espaço, no céu, em terra ou

no mar. É uma malha física e permanente. Um

aspecto importante que deve ser considerado

quanto à malha da informação é a segurança,

em seus três objetivos fundamentais [3]:

- Sigilo (proteção contra divulgação

indevida de informações � criptografia e con-

trole de acesso);

- Integridade (proteção contra a modifica-

ção não autorizada de informação � totais de

controle e assinatura digital);

- Disponibilidade (proteção contra a inter-

rupção do serviço � backup e duplicação de

sistemas);

A Malha de Sensores é composta de sensores

baseados em terra, mar, ar e no espaço. Podem

ser sensores isolados, baseados em plataformas

de sistemas de armas, transportados por tropa

ou sensores de situação logística. Tais sensores

provêem alto grau de consciência do espaço

de batalha, incluindo forças amigas, inimigas

ou neutras e cenários. É uma malha transiente

(existe apenas para uma determinada missão)

e é capaz de realizar alocação dinâmica de

sensores e fusão de dados

Finalmente, a Malha de Atiradores permi-

te que a guerra seja planejada e executada

de forma a se alcançar projeção de força em

tempo e local precisos, através do conheci-

mento do campo de batalha.

Por meio deste modelo, novas capacida-

des operacionais são conquistadas, tais como

o planejamento predictivo (habilidade de ser

pró-ativo no processo de planejamento, es-

tando preparado para reagir e explorar opor-

tunidades, moldando as ações de forma a fi-

car dentro do ciclo de decisão do inimigo e

mantendo-o de fora do nosso ciclo),

gerenciamento integrado da Força (capaci-

dade de atingir sincronismo de missões e re-

cursos provenientes de todos os componen-

tes da Força), operação sincronizada de For-

ças Distribuídas, execução de missões de

tempo crítico (habilidade de prover busca e

aquisição de alvos, seleção de alvos, coor-

denação da guerra), seleção de alvos e exe-

cução de ações de pronta resposta.

Mitos da NCWAlguns mitos existem em torno do con-

ceito de NCW. O primeiro deles é que a NCW

seria apenas uma guerra de redes. Tal argu-

mento é falso, pois NCW é na verdade o uso

da tecnologia de redes para aumentar o po-

der de combate das Forças. Outro mito diz

respeito à preocupação de que a NCW mu-

daria a natureza da guerra. Se olharmos os

princípios da guerra, apenas alguns princípi-

os deveriam ser reinterpretados, como o prin-

cípio de massa, passando a nos interessar a

massa de efeitos e não de forças.

Toda essa movimentação no sentido de me-

lhorar a eficiência do uso dos recursos disponí-

veis faz com que sejam geradas discussões e

debates em torno de melhores táticas e técni-

cas para aplicação militar. Toda essa �Revolu-

ção no Campo de Batalha� força a que se re-

pensem conceitos e doutrinas, livrando o con-

texto de paradigmas antigos e já não tão efici-

entes. Manter as concepções de emprego mili-

tar sincronizadas com a tecnologia disponível

é o desafio constante das Forças Armadas.

Bibliografia[1] Alberts, David S. et al. �Network Centric Warfare:Developing and Leveraging InformationSuperiority.� CCRP Publication Series, 1999.

[2] Cebrowski, Vadm Arthur K., USN and John J.Garstka. �Network Centric Warfare: Its Origin andFuture.� Proceedings of the Naval Institute 124:1, 1998.

[3] White, Gregory B. et al. �Computer System andNetwork Security�. CRC Press LLC, 1996.

Page 16: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

17○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Os materiais absorvedores de radia-

ção usam as propriedades de tro-

ca de energia da radiação eletro-

magnética por energia térmica, podendo-se

citar determinados tipos de materiais

carbonosos, óxidos cerâmicos (ferritas) e

polímeros condutores. Estes materiais quan-

do atingidos por uma onda eletromagnética

têm a estrutura molecular excitada e parte

da energia incidente é convertida em calor

(Figura 1).

Figura 1: Esquema da transformação da energia

eletromagnética em calor pelo MARE.

As características da tecnologia de baixa

detecção por ondas eletromagnéticas são atri-

buídas ao formato da estrutura da aeronave

e, também, aos materiais empregados na sua

construção e no seu revestimento, destacan-

do-se o uso de compósitos com fibras de car-

bono e revestimentos à base de ferritas [Lee,

1991]. Alguns materiais podem ser usados para

absorver uma parte da radiação incidente em

uma determinada faixa de freqüências ou para

atenuar uma alta porcentagem do sinal do

radar em banda larga de freqüências. Em sen-

do assim, a transparência e a refletividade

de uma estrutura ao radar são funções da ge-

ometria do alvo e das propriedades dielétricas

e magnéticas do material [Ufimtsev, 1996;

Sattar, 1996; Stonier,1991].

Os materiais absorvedores de radiação

podem ser divididos naqueles que absorvem

os campos magnético e elétrico e a combi-

nação de ambos, denominados materiais

absorvedores híbridos. A eficiência na ab-

sorção do sinal emitido por

uma determinada fonte é ava-

liada por medidas de

refletividade do material ou do

objeto em questão. Os

absorvedores dielétricos são

obtidos a partir da adição de

pequenas partículas de carbo-

no, grafite ou partículas de

metal pulverizadas em uma

matriz de resina. E, os

absorvedores magnéticos pela

incorporação de partículas

magnéticas, como ferritas, à

matriz polimérica [Hippel,

1954; Cho, Kang, OH,1996].

Os MARE encontram aplica-

ções nas faixas de freqüência de

30 MHz até 100 GHz, poden-

do-se citar: antenas de alto de-

sempenho, revestimentos de

câmara anecóica, proteção ele-

tromagnética de materiais

aeroembarcados, blindagem de

radiação danosa em aparelhos

celulares, sistemas de seguran-

ça interna de aeronaves;

cabeamento para controle de

geração de ruídos espúrios; con-

trole de interferência de sinais

de TV em edifícios; segurança

de fornos de microondas; produ-

ção de válvulas cardíacas com

proteção eletromagnética; na in-

dústria militar para a redução da

seção reta radar (Radar CrossSection - RCS) em navios e ae-

ronaves; na redução de ondas su-

perficiais na blindagem de com-

partimentos; em atenuadores e terminações

para guias de ondas e conexões; na otimização

de diagramas de irradiação de antenas; na re-

dução de reflexões indesejáveis de objetos e

dispositivos; entre outras.

Materiais Absorvedores de Radiação EletromagnéticaMirabel Cerqueira Rezende, Fábio Santos da Silva, Inácio Malmonge Martin

IAE/CTA

A Doutora Mirabel CerqueiraRezende é Bacharel em Químicapelo Instituto de Química deAraraquara/UNESP (1980), Mestreem Ciências pelo Instituto de Físicae Química da USP/São Carlos (1985)e Doutora em Engenharia pelo De-partamento de Engenharia Químicada USP/SP (1991). É pesquisadora daDivisão de Materiais(AMR)/IAE/CTAna área de materiais desde 1985 e,atualmente, Chefe da Subdivisão deCompósitos da AMR/IAE/CTA, sendoresponsável pelas atividades de P&Dem MARE no CTA

O Doutor Inácio Malmonge Martiné Bacharel em Física pelo Institutode Física de Rio Claro/UNESP(1967), Mestre em Ciências pelo Ins-tituto Tecnológico de Aeronáutica/CTA (1968), Doutor em Ciências pelaFaculdade de Ciências de Toulouse/Univ. de Toulouse, França (1971) eDoutor em Ciências pelo Centro deEstudos Espaciais e da Radiação,França, (1974). É Professor LivreDocente do Instituto de Física daUNICAMP e, atualmente, atua comopesquisador convidado da Subdivi-são de Compósitos da AMR/IAE/CTA

O Engenheiro Fábio Santos da Silvaé formado pelo Departamento deEngenharia Química da UFSC(1998)e Mestrando em Ciências pelo Insti-tuto Tecnológico de Aeronáutica ITA/CTA.

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18 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

História do Desenvolvimento dosMARE

Os avanços tecnológicos que os MARE

podem proporcionar às áreas da

eletroeletrônica, espacial e aeronáutica têm

impulsionado a realização de várias traba-

lhos de pesquisa e desenvolvimento na ob-

tenção desses materiais. Os primeiros estu-

dos nessa área ocorreram pouco antes da

Segunda Guerra Mundial, quando os ale-

mães reduziram o RCS de periscópios sub-

marinos. Dois tipos de materiais foram de-

senvolvidos para este propósito. O primeiro

obtido com borracha dopada magnetica-

mente, que atenuava a radiação incidente

em torno de 3 GHz. O segundo projeto foi

desenvolvido por Jauman que obteve um

material multicamadas de diferentes espes-

suras, relativamente espesso, com aproxi-

madamente três polegadas, sendo que as ca-

madas aumentavam gradativamente a

condutividade diminuindo, assim, a

resistividade. Esses absorvedores conseguem

uma boa atenuação (-20 decibéis - dB) em

uma banda larga de freqüências. Este tipo

de absorvedor, denominado absorvedor

Jauman, ainda hoje é comercializado

[Johnson,1992].

Os norte-americanos desenvolveram dois

absorvedores, o primeiro obtido no labora-

tório de radiação do Massachusetts Instituteof Technology � MIT, patenteado por Otto

Halpern, que recebeu o nome de HARPA

(Halpern Anti Radiation Paint ) . Este

absorvedor consistia de materiais conduto-

res como alumínio e cobre ou materiais

ferromagnéticos aditados em materiais não

condutores, como plásticos e borrachas. A

mistura resultante era obtida em finas ca-

madas posicionadas em estrutura sanduíche,

com orientações contrárias, em zero e no-

venta graus, de modo que a eficiência da

absorção da radiação não fosse afetada de

maneira significativa pela posição do

absorvedor. Este tipo de material foi utili-

zado para a redução de interferências ele-

tromagnéticas, não sendo aplicado para a

redução de RCS [Johnson, 1992]. O segun-

do material absorvedor desenvolvido, co-

nhecido como Salisbury, tem seu princípio

de funcionamento baseado na perda da ra-

diação pelo fenômeno das reflexões múlti-

plas da onda. Neste caso, um absorvedor

com valores de impedância próximos da do

ar (377 ohms por polegada quadrada) é

posicionado sobre o material (alvo) a ser

revestido, a uma distância previamente

calculada (Figura 2), de modo que as on-

das incidentes e aquelas refletidas no ma-

terial se cancelem, provocando uma ate-

nuação de 25 a 30 dB da radiação inciden-

te. O primeiro Salisbury patenteado era

formado por uma face frontal de lona

dopada com grafite, colada em uma placa

de madeira e abaixo desta uma base de alu-

mínio. Atualmente, esses absorvedores pos-

suem a face frontal em fibra de vidro com

impregnação de grafite e a espessura dese-

jada é obtida por uma espuma e um mate-

rial condutor como base final [Johnson,

1992].

Figura 2: Funcionamento de um absorvedor

ressonante, tipo Salisbury

A Inglaterra iniciou suas pesquisas no

Laboratório de Pesquisas de Plessey, em

1947, e o primeiro produto de sucesso foi

Page 18: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

19○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

uma borracha natural aditada com carbo-

no, conhecido como DX1, utilizado no ra-

dar do bombardeiro Vulcan. Esse grupo de

pesquisas também desenvolveu

absorvedores para navios, com a principal

finalidade de reduzir falsos ecos. Os mate-

riais desenvolvidos eram absorvedores mag-

néticos ressonantes, formados de borracha

natural e elastômeros de neoprene e opera-

vam de 1 a 18 GHz. Quando colados a uma

estrutura metálica reduziam as reflexões de

20 a 30 dB. Em função do sucesso desta

linha de absorvedores, atualmente estes

materiais são usados em quase todos navi-

os britânicos [Knott, Schaeffer, Tuley, 1993].

O maior interesse na redução de RCS sur-

giu no final da década de 70, quando o go-

verno norte-americano iniciou trabalhos para

a produção de um bombardeiro de baixa

detecção por radar. Desde essa data, o inte-

resse na redução do RCS pela utilização de

MARE e por estruturas absorvedoras de radi-

ação (Radar Absorbing Structures � RAS) tem

aumentado de maneira significativa.

Hoje, os trabalhos mais inovadores na área

de processamento de MARE estão utilizando

como centros absorvedores da radiação ele-

tromagnética borrachas e tintas aditadas com

polímeros condutores. Tais absorvedores apre-

sentam como principais características valo-

res de atenuação comparáveis aos obtidos

com ferritas, baixos valores de densidade e

versatilidade no processamento, permitindo

a obtenção de MARE com característica res-

sonante ou de banda larga.

Tipos de Absorvedores

Os absorvedores de radiação estão di-

vididos em banda estreita ou ressonante,

tipo N (Narrow) e banda larga, tipo W

(Wide), de acordo com a faixa de freqüên-

cias absorvida. A Figura 3 ilustra curvas

de atenuação típicas, obtidas pelo uso des-

tes dois t ipos de absorvedores. Os

absorvedores tipo N possuem uma banda

característica de absorção,

sendo utilizados quando ape-

nas uma freqüência ou peque-

na faixa deve ser reduzida ou

eliminada. Aplicações típicas

deste tipo de absorvedor são

observadas na eliminação de

interferências em dispositivos

eletrônicos e na prevenção da

reflexão de sinais de TV em

paredes de edifícios. No Ja-

pão este tipo de aplicação já é uma práti-

ca.

Os absorvedores tipo W possuem uma ban-

da larga de absorção, devendo ser utilizados

quando se deseja atenuar várias freqüências,

possuindo um grande campo de aplicações,

destacando-se os absorvedores piramidais. Este

tipo de absorvedor tem como aplicação mais

significativa o revestimento de câmaras

anecóicas, sendo utilizados para freqüências

superiores a 30 MHz.

Figura 3: Exemplosde absorvedores (a)tipo N, atenuando aradiação na faixa de8-10 GHz e (b) tipo

W, atenuando aradiação de 4-18

GHz.

Os avanços tecnológicos queos MARE podem proporcionaràs áreas da eletroeletrônica,espacial e aeronáutica têmimpulsionado a realização devárias trabalhos de pesquisa edesenvolvimento na obtençãodesses materiais.

Page 19: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

20 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Pesquisa & Desenvolvimento (P&D)de MARE no Centro Técnico

Aeroespacial

Devido à constante atual ização

tecnológica exigida no setor aeronáutico,

visando um maior desempenho das aero-

naves, maior segurança em vôo,

otimização de sistemas de comunicação e

o domínio no sistema de camuflagem, a

Divisão de Materiais, do Instituto de Aero-

náutica e Espaço, do CTA, vem se dedi-

cando à pesquisa e desenvolvimento de

materiais absorvedores de radiação à base

de ferr i tas, part ículas de carbono e

polímeros condutores em matr izes

poliméricas tipos epóxi, silicone, espumas

de poliuretano e colméias, contribuindo no

domínio tecnológico ao nível nacional de

MARE tipos ressonante e banda larga, na

faixa de 2 a 18 GHz. Dentre os benefícios

dessa área de atuação à indústria aeronáu-

tica do país e ao setor privado, em geral,

pode-se destacar: a inovação tecnológica

na área de preparação de MARE com pro-

priedades de absorção de comprimentos de

ondas previamente especificados em fun-

ção da formulação preparada; o domínio

na utilização de ferritas, polímeros condu-

tores e partículas de carbono na prepara-

ção de MARE tipos tintas, borrachas,

compósitos com fibras de carbono e

absorvedores híbridos, usados nos setores

aeronáuticos, de telecomunicações, entre

outros.

Referências Bibliográficas

CHO, S.B.; KANG, D.H.; OH, J.H.Journalof Materials Science, 31, 4719-4722,1996.

HIPPEL, ARTHUR R. VON ; �DieletricMaterials and Applications�, John Wiley,

New York, 1954.

JOHNSON, R.N.; �Radar Absorbing Ma-ter ial ; A passive role in an Act iveScenario�, International Coutermeasures

Handbook, 11th ed., E.W.

Communications, Palo Alto, CA., 1992.

KNOTT, E. F.; SCHAEFFER, J. F.; TULEY,

M. T.; �Radar Cross Section�, 2ª Ed., Artech

House, Inc., 1993.

LEE, S. M. �International Encyclopedia ofComposites�, vol. 6, VHC Publishers, New

York, 1991.

SATTAR, A.A. Journal of Materials ScienceLetters, 15, 1090-1092, 1996.

STONIER, R.A. SAMPE Journal, 27(4), 9-

17, 1991.

UFIMTSEV, P.Y. Proceedings of the IEEE,

84(12) 1828-1851, 1996.

Page 20: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

21○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Informação, conhecimento e tecnologia

são, atualmente, recursos estratégicos que

precisam ser administrados eficazmente

para que qualquer organização � seja ela

pública ou privada � consiga manter-se em

uma situação vantajosa e evolutiva no ambi-

ente em que opera.

Nas organizações militares, os desafios

para se alcançar o aproveitamento máximo

da informação disponível se revestem de ca-

racterísticas ainda mais complexas do que

os observados em outros ambientes, uma vez

que estão em jogo não apenas questões rela-

cionadas à condução das suas próprias ope-

rações, mas também temas mais amplos, li-

gados à segurança nacional.

Dessa forma, é exigido das Forças Arma-

das a execução de uma gama cada vez mai-

or de operações sofisticadas, que dependem

não apenas de tecnologias bastante avança-

das, como também de um grande volume de

informações estratégicas, como os conceitos

�consciência situacional�[4] e �comando e

controle�[1] podem ilustrar. Ao mesmo tem-

po em que se acumulam essas novas exigên-

cias, observa-se uma redução sistemática dos

recursos disponíveis no âmbito das organiza-

ções militares [4].

Nesse contexto, o processo de obter a in-

formação certa, colocá-la num formato

aproveitável, e fazê-la chegar onde ela é

necessária de modo eficiente, econômico e

eficaz assume um papel-chave, seja nas ope-

rações militares de alta tecnologia, seja na

gestão de todos os outros aspectos

organizacionais presentes nas Forças Arma-

das.

Os recentes avanços na tecnologia da in-

formação e nas redes de telecomunicação,

ao facilitar significativamente a coleta, a pro-

teção e o uso do conhecimento corporativo,

propiciaram o surgimento de novos softwares

e processos desenvolvidos para se integrar aos

sistemas de informação já existentes, e per-

A Gestão do Conhecimento no Contexto das Organizações MilitaresAdriana Beal

Vydia Tecnologia

mitir a disseminação mais efe-

tiva do conhecimento por toda

a organização. Essas novas

metodologias são conhecidas

em seu conjunto como �gestão

do conhecimento� [2].

A �gestão do conhecimen-

to� ou �gestão do capital inte-

lectual� abrange os processos

gerais de localização, organi-

zação, transferência e uso mais

eficiente da informação e da

especialização presentes em

uma organização. Apesar de

não ser um conceito novo - há

centenas de anos artesãos, co-

merciantes e trabalhadores já

repassavam o conhecimento

obtido no desempenho das suas

atividades profissionais para

aprendizes -, foi apenas no iní-

cio dos anos 90 que a gestão

do conhecimento passou a ser

adotada como uma prática

consciente pelos administrado-

res de empresas e gestores de

órgãos públicos.

Administrar o conhecimen-

to não é gerenciar documentos

eletrônicos, nem informações.

A gestão do conhecimento faz

a convergência de várias disciplinas, como o

gerenciamento eletrônico de documentos, o

gerenciamento de informações e os data

warehouses, entre outros, acrescentando-lhes

um elemento novo - o relacionamento.

Implementar um sistema completo de ges-

tão de conhecimento não é uma tarefa sim-

ples ou rápida; entretanto, os resultados po-

dem ser significativos e os riscos minimizados

adotando-se uma metodologia por etapas, que

assegure o aproveitamento dos recursos de

tecnologia da informação já disponíveis na

organização, e ofereça benefícios

Adriana Beal é graduada em

Engenharia Elétrica pela Uni-

versidade de Brasília, e espe-

cialista em auditoria de

Tecnologia da Informação. É

autora do livro "Manual de

Tecnologia da Informação

para Gerentes" e exerce atu-

almente a função de con-

sultora nas áreas de gestão

estratégica da T.I. e segu-

rança da informação na

Vydia Tecnologia. Minis-

trou, em 1999 no Rio de Ja-

neiro, o módulo "Análise e

Melhoria de Processos" do

curso de capacitação dos

gestores das Organizações

Mili tares Prestadoras de

Serviços (OMPS) da Mari-

nha do Brasil.

Page 21: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

22 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

mensuráveis a cada fase concluída. O com-

prometimento da alta administração com o

processo, e a efetiva participação dos diri-

gentes na definição dos problemas-chave a

serem resolvidos e dos objetivos corporativos

a serem alcançados, são fatores essenciais

para que um projeto dessa natureza obtenha

sucesso.

A tecnologia possui um papel importante na

implantação de um sistema de gestão do co-

nhecimento, proporcionando metodologias e

processos necessários para a sua concretização.

Pacotes de aplicativos podem reduzir o traba-

lho de desenvolvimento do sistema, executan-

do tarefas básicas como a localização de espe-

cialistas na organização, recuperação rápida de

documentos e automatização de parte das fun-

ções de administração do conteúdo.

Não menos importante que as característi-

cas técnicas são as considerações humanas, de

motivação das pessoas que irão

documentar, gerenciar e compar-

tilhar o conhecimento. Ao longo

da vida de um projeto de gestão

do conhecimento, os dirigentes

precisam estar constantemente

enfatizando a qualidade e o va-

lor do conhecimento administra-

do, e incentivando os usuários e colaboradores

do sistema a manter e atualizar as informações

armazenadas.

Sendo a gestão do conhecimento um cam-

po ainda nas primeiras fases de desenvolvimen-

to, são raros os modelos bem-sucedidos que

podem servir como base para a definição de

um sistema eficiente e efetivo de gestão do

capital intelectual de uma organização, seja

ela civil ou militar. Por outro lado, a maioria

das organizações que investiram na implanta-

ção de um sistema de gestão do conhecimento

declaram ter obtido resultados tangíveis, como

aumento da eficiência, aprimoramento do pro-

cesso de tomada de decisões e maior dissemi-

nação de soluções [5].

Nas Forças Armadas, assim como em mui-

tas outras instituições públicas, tem sido cons-

tante a busca por uma maior eficiência

operacional, cada vez mais necessária para

fazer frente à sistemática redução dos recursos

disponíveis e às crescentes exigências em re-

lação ao nível do serviço prestado à socieda-

de. As novas tecnologias voltadas para a ges-

tão do conhecimento oferecem a promessa do

uso mais eficiente da informação e do produto

da inteligência coletiva, sem que sejam alte-

radas as ferramentas normalmente usadas para

criar e processar esse conhecimento. Com o

uso das tecnologias e metodologias voltadas

para esse fim, as organizações militares podem

estabelecer sistemas de gestão do conhecimento

que apoiem e otimizem a geração, coleta e

assimilação da informação, e facilitem o

compartilhamento da experiência, competên-

cia e habilidade encontrados em seus recursos

humanos. Iniciativas dessa natureza proporci-

onariam benefícios não somente para as ope-

rações militares de alta tecnologia, mas tam-

bém para a economia, eficiência e eficácia

dos demais aspectos organizacionais presen-

tes nas Forças Armadas.

[1] CASTRO, Davi R. S., "Data Link nas Opera-

ções Aerotáticas", Revista Spectrum, agosto

2000.

[2] DATAWARE Technologies. Knowledge

Management: Linking People to Knowledge for

Bottom Line for Bottom Line Results. Dataware

Technologies, 1998.

[3] DAVENPORT, Thomas e PRUSAK, Laurence.

Working Knowledge. Harvard Business School

Press, 1998.

[4] GUIMARÃES, Edson F. C., "Network Centric

Warfare", Revista Spectrum, agosto 2000.

[5] HANSEN, T. Morten et alli. What´s your

strategy for managing knowledge? In: Harvard

Business Review, p. 106-116, março/abril 1999.

A �gestão do conhecimento� ou

�gestão do capital intelectual�

abrange os processos gerais de

localização, organização, transfe-

rência e uso mais eficiente da in-

formação e da especialização pre-

sentes em uma organização.

Page 22: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

23○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Os fratricídios, perdas em combate

causadas por tropas amigas, talvez

sejam o remédio mais amargo a

ser ingerido pelos militares em tempos de

guerra.(LUM, 1995, p. 35)

O problema aparece sempre que a confu-

são do combate se torna inevitável, especi-

almente quando o tamanho das forças e a

sua mobilidade dificultam o reconhecimen-

to de suas próprias posições e de seus alia-

dos, e quando a letalidade de seus armamen-

tos extrapola sua capacidade de reconhecer

o alvo.

A preocupação e a discussão do tema não

são recentes. Remontam ao tempo das bata-

lhas medievais, quando os brasões heráldi-

cos, bandeiras e uniformes faziam parte da

solução. No combate naval, bandeiras de si-

nalização e insígnias davam às embarcações

a capacidade de reconhecimento além do

alcance de seus canhões. No entanto, no

combate moderno, o emprego do vetor aéreo

e a crescente capacidade dos armamentos

por ele utilizados, num ambiente envolven-

do forças blindadas de deslocamento rápido,

não tem sido acompanhado por igual desen-

volvimento nos sistemas de identificação.

(CARROL,1995, p. 37)

O ápice do problema ocorreu na Guerra

do Golfo, onde as perdas causadas por

fratricídios nas forças americanas atingiram

o índice alarmante de 17% do total, contra

uma média de 15% se considerados todos os

conflitos envolvendo aquele País no século

XX. (LUM, 1995, p. 35)

No Iraque, os incidentes foram limitados

ao engajamento de alvos terrestres por plata-

formas aéreas e entre alvos terrestres. Mas

em 1994, quando dois helicópteros Blackhawkamericanos foram abatidos por caças F15 da

USAF, a vulnerabilidade no combate aéreo

também ficou aparente. (LUM, 1995, p. 35)

A Guerra das Falklands (Malvinas) também

deixou na memória dos militares argentinos

IFF : Perguntas e Respostas ...Eric Julius Wurts, Cap.-Art.

EsACosAAe (Exército Brasileiro)

dolorosas recordações: �...perde a vida o Cap.

Garcia Cuervo, que é abatido pela própria

artilharia antiaérea, ... como o

avião estava intacto, mas não

tinha combustível para chegar

ao Continente,... tentou pousar

em �Porto Argentino� ( trecho

extraído da entrevista do Maj

Puga da Força Aérea Argentina

concedida à Revista de Aero-

náutica). (PUGA apud COSTA,

1991, p. 19)

O Sistema IFFO sistema IFF (Identification

Friend or Foe), também dito

identificação em combate

(Combat Id), constitui-se de um

dispositivo de reconhecimento

no qual uma �pergunta� padrão

é emitida e uma �resposta� co-

dificada recebida. Caso a res-

posta esteja correta, o alvo é

reconhecido como amigo. Se o

alvo permanece �passivo�, não

é possível identificá-lo. É dife-

rente, portanto, do radar primá-

rio, pois não há simples refle-

xão de energia pelo alvo, e sim

uma �resposta� proveniente dele; pode-se di-

zer que o IFF complementa o emprego do

radar primário, sem dispensar seu uso. Por este

motivo, também é conhecido por �radar se-

cundário� . Apesar das diferenças, os disposi-

tivos normalmente trabalham associados fisi-

camente, sincronizados e com antenas soli-

dárias. (BRASIL, 1995, p. 7�8, 7-9)

O Mk I, primeiro sistema IFF efetivo em

uso, entrou em serviço em 1940. (CARROL,

1999, p. 40) Desde então, grandes progressos

foram realizados e a versão mais atualizada

da Organização do Tratado do Atlântico Nor-

te (OTAN) é o Mk XII, passando pelo Mk X

(BASIC), já obsoleto, porém em uso em al-

O Capitão de Artilharia Eric

Julius Wurts concluiu o Curso

de Formação de Oficiais de

Artilharia da Academia Mili-

tar das Agulhas Negras

(AMAN) em 1987 e exerce

atualmente a função de Ins-

trutor-chefe da Seção de Ra-

dares e Guerra Eletrônica da

Escola de Artilharia de Costa

e Antiaérea (EsACosAAe).

Possui o curso de Artilharia de

Costa e Antiaérea

(EsACosAAe), Estágio de

Guerra Eletrônica (CIGE) e o

Curso Básico de Guerra Ele-

trônica da FAB.

Page 23: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

24 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

guns países, ainda que parcialmente.

Normalmente o IFF emprega duas freqüên-

cias fixas: uma para interrogação, 1030 MHz,

e outra para �resposta�, 1090 MHz.

A �pergunta� emitida pelo radar secundá-

rio é constituída de um �trem� de 03 pulsos,

P1, P2 e P3. O espaçamento em

microssegundos entre P1 e P3 define o �modo

de interrogação�; P2 destina-se à supressão

dos lóbulos secundários. Os modos de inter-

rogação estão explicitados na tabela a seguir.

As �respostas� dos transponders das aerona-

ves têm a mesma estrutura básica, constando

de dois pulsos (F1 e F2) separados por um tem-

po fixo em microssegundos. No espaçamento

temporal entre F1 e F2 encontram-se até 12

(doze) pulsos, cujas presenças ou ausências,

balha com os modos 1, 2 e 3; o Mk XA

complementou seu antecessor com o modo C e

melhorou a capacidade dos códigos no modo 1; o

Mk XII incorporou a capacidade de incluir adicio-

nalmente o modo 4, que trabalha com criptografia,

permitindo a utilização de um maior nível de se-

gurança para a salvaguarda da informação. Os

equipamentos Mk X ( SIF), Mk XA e Mk XII são

compatíveis entre si. Para incorporação do modo

4 necessita-se de equipamento extra para a

criptografia, como o do exemplo do IFF 4760 apre-

sentado nas figuras 1 e 2.

FIGURA 1 IFF 4760

FIGURA 2IFF 4760 com modo 4

O IFF Mk XV, teve sua previsão de entrada em

operação marcada para 1995, envolvendo projeto

conjunto do EUA com países europeus da OTAN.

Em 1991, menosprezado pelos EUA e, posterior-

mente, pelos desapontados países europeus em

virtude da atitude americana, o programa foi aban-

donado. (CARROL, 1999, p. 40,41)

A OTAN atualmente realiza estudos para me-

permitem obter as diferentes combinações, os

�códigos�.

Uma rápida viagem no tempo mostra os siste-

mas de IFF em uso na OTAN. Ao IFF Mk X (BASIC),

citado acima, anterior a 1969, seguiu-se o IFF MK

X ( SIF - Selective Identification Feature), que tra-

TABELA 1MODOS DE FUNCIONAMENTO DO IFF

Modos Modos UtilizaçãoMilitares Civis

1 - Controle e identificação de tráfego

aéreo militar

2 - Utilização militar em combate

3 A Controle e identificação de tráfego

aéreo civil e militar

(compartilhado)

B Controle e identificação de tráfego

aéreo civil

C Transmissão automática da altura

da aeronave

D Utilização civil

4 - Modo militar com criptografia

Page 24: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

25○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

lhorar o Mk XII e, em 1999, a implementação de

um sistema com maior capacidade de encriptação,

o Mk XIIA ou modo 5, já se encontrava em fase de

concepção. (CARROL, 1999, p. 40-41)

Deficiências e AlternativasApesar de os sistemas de IFF terem atingido

avanços significativos, um problema básico per-

manece. Trata-se da lacuna causada pela falta da

�resposta� e a inerente dúvida se é um alvo inimi-

go ou um alvo amigo com o �transponder� desli-

gado. Como alternativa, programas de reconheci-

mento de �alvos não-cooperativos� têm sido estu-

dados. Um exemplo de tecnologia que vem sendo

explorada para alvos �não-cooperativos� é conhe-

cido como azimuth squint, usado em radares com

antenas phased array de alta resolução, obtida atra-

vés do acompanhamento angular do alvo e do uso

de células de transmissão controladas. (JANE´S,

1995-96, p.3) Associando tais características a um

processamento avançado de sinais, um padrão de

reflexão pode ser obtido para cada tipo de alvo e,

após comparado com uma biblioteca, tal padrão

identificará o alvo. Alguns sistemas com antenas

tradicionais, como o EL/M 2106 NG-40 da Israel

Aircraft Industries, conseguem executar tal tarefa

para aeronaves de asas rotativas, por intermédio

do processamento do desvio Doppler causado pela

velocidade das pás rotativas, uma vez que cada

velocidade de rotação e número de pás resulta em

um padrão diferente. Outros processos sofisticados

baseiam-se na identificação dos alvos por caracte-

rísticas, como formato, emissões infravermelha e

eletrônicas, entre outras, a dita data fusion. (JANE´S,

1995-96, FOREWORD)

Outra deficiência em combate dos sistemas

IFF é o estabelecimento de freqüências padrão

(1030 e 1090 MHz). O uso contínuo da mesma

freqüência facilita o bloqueio por parte do inimigo

e diminui a confiabilidade do sistema num ambi-

ente de intenso combate eletrônico. Sistemas de

Contramedidas Eletrônicas (CME) têm seu traba-

lho facilitado. O AN/MLQ-T6 JAMMER, por exem-

plo, num raio de alcance de aproximadamente 80

Km é capaz de bloquear simultaneamente 10 (dez)

diferentes sinais entre 960 e 1850 MHz, com uso

de potências de 1 KW para bloqueio em onda con-

tinua ou 2 KW para bloqueios pulsados. (JANE�S,

1995-96, p. 506) Como resposta a esta ameaça, a

tendência de identificação por data link, com as

vantagens inerentes das técnicas de espalhamento

espectral por salto de freqüência, salto temporal e

seqüência direta, cresce rapidamente e vem ocu-

pando cada vez mais espaço, dificultando sobre-

maneira o bloqueio.

O IFF não é capaz de localizar a plataforma,

apenas permite identificá-la. Durante a Guerra

do Golfo, esta situação poderia ser resolvida e

fratricídios evitados com o uso do GlobalPositioning System (GPS) ainda pouco difundido

(apenas um por batalhão era disponível); mães,

na tentativa de salvar seus entes, adquiriam uni-

dades de GPS disponíveis comercialmente e as

enviavam para seus filhos e filhas. (CARROL, 1999,

p. 38). Entretanto, apenas localizar-se em comba-

te não é o suficiente. Focalizando o conceito de

NCW (Network-Centric Warfare), verifica-se a im-

portância de uma �consciência situacional� para

sobrevivência em combate. Onde estou?; Ondeestão os inimigos?; e Onde estão os amigos? são

perguntas essenciais que o IFF ou o GPS sozinhos

não respondem. Além de se obter a desejada

�consciência situacional�, é preciso transmití-la.

Neste contexto, novamente um sistema de iden-

tificação baseado em data link, com maior capa-

cidade de conteúdo que o IFF tradicional, surge

como alternativa, pois permite a inclusão de in-

formações adicionais na transmissão de dados,

tais como o posicionamento dos alvos e o código

específico da plataforma em cheque.

Outra situação delicada é o envolvimento ne-

cessário de forças combinadas ou conjuntas em

teatros de operações. Muitas soluções abordam

aspectos inerentes a cada força específica sem

levar em consideração a integração com as de-

mais. Esse problema aumenta de tamanho com a

difusão do vetor aéreo nas forças terrestres e ma-

rítimas, e com o uso de plataformas aéreas de

Page 25: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

26 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

múltiplo emprego. Soluções alternativas, neste

caso, passam necessariamente por uma revisão

na cultura organizacional das Forças Armadas com

o objetivo de otimizar normas e procedimentos

comuns que atendam às prerrogativas das forças

em questão; a associação de normas e procedi-

mentos aos sistemas IFF tradicionais pode melho-

rar sensivelmente seu desempenho.

Áreas específicas também apresentam ques-

tões próprias. O reconhecimento entre platafor-

mas terrestres é uma delas. Um exemplo de equi-

pamento de última geração para este caso é

o BCIS (Battlefield Combat Identification System)

da TRW/MAGNAVOX. O BCIS trabalha com um

sinal digital encriptado de 38 GHz com um feixe

estreito. Montado numa viatura blindada ou me-

canizada, o sistema de interrogação funciona ali-

nhado com o medidor de alcance laser do atira-

dor do armamento da plataforma. Se o

�transponder� da plataforma interrogada respon-

de ao sinal, um círculo vermelho aparece no visor

do atirador. Há projetos para integrá-lo com plata-

formas aéreas. (CARROL, 1999, p. 40; LUM, 1995,

p. 38;R.T.L.,1995, p. 14;. JANE´S, 1995-96,

FOREWORD)

ConclusãoA evolução da capacidade dos sistemas de

armas, aliada às características do combate mo-

derno, tem provocado fratricídios em combate.

Os sistemas de identificação , ao longo do

tempo, vêm procurando soluções para pôr termo

ao problema.

Deficiências dos sistemas IFF tradicionais em

face da existência de alvos �não-cooperativos�,

da utilização de freqüências padrão que facili-

tam as ações de CME e da impossibilidade da

transmissão de dados aumentaram a tendência

de uso de data link, posto que possibilita melhor

performance na segurança do sinal e na transmis-

são de dados adicionais; sua resistência em ambi-

entes de GE é mais forte.

Entretanto, a padronização de normas e pro-

cedimentos com a necessária integração das For-

ças Armadas, ao nível operacional, podem me-

lhorar o desempenho dos sistemas de IFF tradici-

onais. Seu uso não pode ser simplesmente des-

cartado.

Uma análise acurada dos sistemas disponí-

veis, verificando a viabilidade de incrementá-los

com o modo 4; da capacidade de mudança da

cultura institucional das Forças Armadas, para

melhor integrá-las; e da projeção de gastos dos

recursos orçamentários disponíveis, quando a mo-

dernização de meios é aplicada, é importante

fator para a decisão que ofereça a melhor rela-

ção custo-benefício, a fim de evitar um dos mais

amargos remédios em combate: o fratricídio.

Referências Bibliográficas

[1] BRASIL, Ministério da Defesa. Exército Brasi-

leiro, Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea,

Apostila de Princípios Básicos de Radar, p.7-8 �

7-14, mar.1995.

[2] CARROL, Sean. The mark of Cain: avoiding

fratricide, Journal Of Electronic Defense,

Alexandria, v. 22, n. 1, p.37-41, Jan.1999.

[3] COSTA, Álvaro Luiz Pinheiro. IFF � amigo ou

inimigo ? ZOOM, Fortaleza, ano XIII, n. 15, p.

19, dez. 1991.

[4] Jane�s Radar and Electronic Warfare Systems

1995-96. Radar Systems: Introduction, Foreword

(Identification), IFF Systems, AN/MLQ-T6, IFF

4700 SERIES TRANSPONDERS, Jun. 13, 1995.

[5] LUM, Zachary A. Friend? ... Foe? ... Fire!!!,

Journal of Eletronic Defense, Alexandria, v. 18,

n. 5, p. 35-38, May 1995.

[6] R.T.L. New electronic device developed to

prevent friendly fire incidents, DefenceElectronics, Nashville, v. 27, n. 3,.p. 14, Mar.

1995.

Page 26: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

27○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Data Link nas Operações AerotáticasDavi Rogério da Silva Castro, Cap.-Av.

CGEGAR

As Comunicações se constituem em

um dos pilares das atividades de com

bate e sem elas não é possível exe-

cutar, com eficiência, as funções de planeja-

mento, direção, coordenação ou controle. É

certo que devam existir enlaces de comuni-

cações entre todos os níveis de Comando e

Controle, mas o termo �data link� é, geral-

mente, associado ao enlace de dados no ní-

vel tático. Tradicionalmente, as atividades de

Comando e Controle no campo de batalha

têm sido realizadas conforme o ciclo OODA

(Observar, Orientar, Decidir e Agir). As fases

principais desse ciclo podem ser explicadas

da seguinte forma [6]:

a) Observar: buscar ou coletar dados através

das diversas fontes. Consiste no levantamen-

to de informações sobre o inimigo, o estado

das forças amigas e, ainda, a meteorologia e

a geografia da área de operações;

b) Orientar: desenvolver opções baseadas na

análise das informações disponíveis;

c) Decidir: selecionar o curso das ações, pre-

parar e distribuir ordens; e

d) Agir: implementar e avaliar ações, promo-

vendo a realimentação do ciclo.

No nível tático, cada uma das fases

ocorre numa velocidade maior que nos

níveis estratégico e operacional. Essa ve-

locidade requer que as plataformas aé-

reas e as unidades de superfície sejam

capazes de acompanhar o cenário e atin-

jam um nível de consciência situacional

do ambiente à sua volta de maneira a

lhe permitir realizar o ciclo de Coman-

do e Controle mais rapidamente que o

inimigo complete o seu.

Qualquer que seja o tipo de opera-

ção, Aeroestratégica, Aerotática ou de

Defesa Aérea, é possível identificar os

processos envolvidos em cada uma das

fases do ciclo de Comando e Controle.

Por exemplo, o levantamento da situa-

ção atualizada na área de operações por

meio de sensores diversos e a análise

das forças inimigas quanto

a armamentos, plataformas,

recursos humanos e estrutu-

ra de Comando e Controle,

bem como o resultado da

identificação de um obje-

tivo e as ordens para exe-

cução de uma determinada

missão, tudo deve estar dis-

ponível àqueles que irão

resgatar, transportar, ata-

car, defender, patrulhar, fa-

zer reconhecimento etc.

Para apoiar todas essas

atividades, faz-se necessá-

ria a transferência de dados

entre plataformas e esta-

ções de controle, por meio

de enlaces de comunica-

ções confiáveis, rápidos e

seguros (resistentes às inter-

ferências naturais ou inten-

cionais � �jamming�). Es-

tes enlaces devem permitir

a troca tanto de informa-

ções sobre as atividades de

forças amigas (localização, planos, si-

tuação etc.) quanto das observações ge-

radas pelos diversos sensores, bem como

possibilitar o emprego eficaz dos meios

através da transmissão de ordens de co-

mando.

O avanço tecnológico, possibilitou

que todos e s ses dados fo s sem

digi tal izados, tornando mais fáci l a

implementação da c r ip togra f ia e o

processamento de informações geradas

por fontes diversas. O uso de redes di-

gitais de distribuição de informações tá-

ticas permite a transferência rápida e

acurada de elevados volumes de dados

entre diversas plataformas, proporcio-

O Capitão Davi Rogério da

Silva Castro é piloto de ata-

que, concluiu o CFOAv em

1987 e exerce atualmente a

função de Chefe da Seção

de Inteligência do Centro de

Guerra Eletrônica do

COMGAR (CGEGAR). É En-

genheiro Eletrônico pelo Ins-

tituto Tecnológico de Aero-

náutica (ITA), possui o Cur-

so Básico de Guerra Eletrô-

nica e está cursando

mestrado em Engenharia Elé-

trica na Universidade de

Brasília (UnB).

Page 27: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

28 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

nando coordenação e eficiência na exe-

cução da missão, mesmo que para isso

seja necessária maior largura de banda

[veja o texto em destaque].

As justificativas para se adotar um

data link são inúmeras. A principal é que

o aumento do número de aeronaves

numa operação coloca o volume das in-

formações veiculadas entre elas em um

patamar que o enlace de voz não aten-

de. A codificação utilizada nas comu-

nicações �convencionais� é um recurso

que apresenta fragilidade, face ao ba-

rateamento e difusão de sistemas de

interceptação e escuta. Existe, ainda,

grande dificuldade de se estabelecer

uma autenticação confiável entre os

interlocutores, o que compromete ain-

da mais a comunicação. Um data link

possibilita automatização, com ganho

substancial na capacidade de Comando

e Controle. Assim, a situação aérea ob-

servada por uma determinada aeronave

poderá ser compartilhada com outras,

aumentando o raio de cobertura total.

Nos data links, informações digitais

são transferidas através da rede de co-

municações, processadas e apresenta-

das ao operador. No display, essas infor-

mações são combinadas provendo uma

representação padronizada para locali-

zação de fo rças amigas , ro ta s de

interceptação, designação de alvos e

objetivos, além de outras informações

de Comando e Controle, sem que haja

comunicação verbal entre os operado-

res.

Conceitualmente, um data link pode

ser estratificado em sete camadas (pa-

drão OSI), a saber: física, enlace, rede,

transporte, sessão, apresentação e apli-

cação. Entretanto, para simplificação do

estudo, pode-se adotar uma representa-

ção em apenas três camadas:

a) camada física: responsável pelo sis-

tema de transmissão e recepção de si-

nais, podendo incluir a digitalização de

voz, a codi f icação/decodi f icação, a

ci f ração/deci f ração e a modulação/

demodulação de sinais, a utilização de

protocolos de acesso múltiplo e outros

recursos;

figura 1: As três camadas de um data link

b) camada lógica: encarregada do

gerenciamento do enlace e formatação de

mensagens. Ou seja, por meio desta ca-

mada é possível organizar as informações

a serem transmitidas em �pacotes de bits�

adequados segundo as características da

camada física. Esses �pacotes� recebem o

nome de �mensagens� e contém os dados

de status da aeronave e do armamento,

aqueles gerados pelos sensores etc.;

c) camada de aplicação: responsável, ba-

sicamente, pela interface com o operador

e pelo processamento das informações dis-

poníveis, de forma a oferecer o máximo

de automatização aos processos de Coman-

do e Controle.

Assim, conclui-se que a simples exis-

tência de um transceptor seguro e eficien-

te não significa que se tem um data link. É

necessário, ainda, um sof tware de

Page 28: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

29○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

gerenciamento de comunicação, que

formate os dados a serem transmitidos se-

gundo os requisitos do transceptor e, no ca-

minho inverso, reagrupe as mensagens que

chegam. Além disso, existe a necessidade

de um software aplicativo, com capacida-

de de cálculo e condições de fornecer ao

operador a visualização das informações e

escolha dos serviços a serem executados.

O JTIDS dos EUAOs links utilizados pelos EUA são ba-

seados em um programa de padronização

e desenvolvimento único do Departamen-

to de Defesa dos EUA (DoD), que vem

evoluindo ao longo dos anos, buscando

atender às necessidades operativas das

Forças Armadas dos EUA [1].

O �Tactical Digital Information Link�

(TADIL) padroniza formatos de mensagens

e as características de transmissão para

possibilitar a troca de dados entre esta-

ções, permitindo a evolução dos equipa-

mentos em torno de um padrão estabele-

cido. A padronização estabelecida pelo

TADIL, recentemente, foi modernizada

pela apl icação do � Joint Tact ical

Information Distribution System� (JTIDS),

cujos protocolos, características de trans-

missão, formatos de mensagens e conven-

ções tornaram possível o emprego de re-

des sem nós principais.

O JTIDS ou Link-16 é o mais moderno

entre os enlaces automáticos de dados em

operação na OTAN e foi concebido para

corrigir as deficiências apresentadas por

seus dois antecessores, não alterando os

conceitos básicos de troca de informações

por data link, mantidos por vários anos

pelos Link-4 e Link-11.

Ele apresenta uma alta performance,

possui capacidade de transmissão de da-

dos criptografados (�secure�), agilidade de

freqüência e capacidade de �relay�, que

possibilita a ampliação do alcance em

UHF até 300 milhas náuticas. Utiliza-se

da faixa entre 916-1215 MHz [2] para tro-

ca de dados e pode ser empregado por sis-

temas em estações marítimas, terrestres e

aerotransportadas. O Link-16 não utiliza

uma Estação Controladora da Rede (ECR),

sendo uma rede livre que não necessita

da transmissão contínua para estar ativa.

Ele possui três formatos de mensagem: um

fixo, tipo utilizado pelo Link-11; um com

texto livre; e um de formato variável.

O s is tema emprega o recurso de

TDMA para que todos os usuários com-

partilhem o mesmo canal. Toda informa-

ção de cada usuário é disponibilizada em

tempo real para qualquer um que neces-

site dos dados. No arranjo TDMA do JTIDS,

cada usuário possui um ou mais �time

slots� que se repetem a ciclos regulares

de 12,8 minutos, conforme se pode veri-

ficar na figura abaixo:

figura 2: Estrutura do ciclo TDMA no JTIDS"A aeronave sueca Grippen utiliza um data link para obter

consciência situacional."

Page 29: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

30 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Link-16 é usado em operações de

vigilância, guerra eletrônica, coorde-

nação de ações, armamento, controle

de aeronaves, combate aéreo, nave-

gação , comunicações c r ip to -voz e

identificação positiva de unidades (si-

milar a um IFF, só que atr ibuído ao

sis tema).

Em busca da ConsciênciaSituacional

Estratégias efetivas reconhecem que a

Consciência Situacional (�Situational

Awareness�) é crucial não só para ante-

cipar o que está para acontecer no futuro,

como também para definir o presente ime-

diato [5]. O ciclo de Comando e Controle

(detecção, processamento, decisão e

Bits e FourierNo começo do século XIX, o grande matemáti-

co francês Jean Fourier demonstrou que qualquer

função periódica g(t) pode ser construída soman-

do-se um número (possivelmente infinito) de senos

e cosenos. A decomposição da função g(t) em uma

freqüência fundamental f0 e suas componentes,

ou harmônicas, todas múltiplas de f0, é amplamente

utilizada nas comunicações digitais e permite a

compreensão de diversos fenômenos [4]. Na ilus-

tração a seguir vemos que uma onda quadrada

pode ser aproximada por várias representações

em série de Fourier:

a linha verde é a componente com freqüência fun-

damental somente, a amarela é a soma da funda-

mental com a 1a. harmônica e a azul acrescenta a

2a. harmônica ao resultado anterior, numa tendên-

cia de aproximação à onda quadrada original.

Portanto, podemos concluir que, se forem soma-

das todas as infinitas harmônicas, o sinal repre-

sentado pela linha vermelha deve ser perfeitamen-

te recuperado.

Nenhum recurso de transmissão consegue

enviar sinais sem perder alguma potência no pro-

cesso. Seja qual for o sistema de transmissão, as

componentes de Fourier não são igualmente trata-

das acarretando distorção no sinal resultante. Além

disso, os circuitos e o meio de transmissão ditam,

fisicamente, uma freqüência de corte, acima da qual

todas as harmônicas são fortemente atenuadas. É a

freqüência de corte do sistema de comunicação

que estabelece a chamada largura de banda dis-

ponível. A limitação, devida à distorção ou à fre-

qüência de corte, existe sempre, tornando impos-

sível a recuperação fiel do sinal original, caso essa

limitação não seja respeitada no projeto do siste-

ma.

A onda quadrada pode ser vista, genericamen-

te, como a variação de "zeros" e "uns" de uma trans-

missão digital, os bits. Também de forma genérica,

diz-se que a freqüência fundamental (em Hertz)

coincide com a taxa de transmissão (em bits/seg).

Se as harmônicas são múltiplas de f0, quanto maior

a taxa de transmissão, maior é a parcela do espec-

tro utilizada pelo sistema de comunicação, pois

mais espaçadas estarão as componentes de Fourier

do sinal.

Olhando o problema de outra forma, dizemos

que é necessário trabalhar com sistemas de maior

largura de banda, se desejamos altas velocidades

de transmissão de dados. Isso geralmente implica

também na busca pela utilização de freqüências

portadoras mais altas.

Page 30: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

31○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ação) ocorre continuamente durante a

missão e as tripulações devem dominar

todas as tendências para antecipar os

eventos futuros. Em outras palavras, a

busca da Consciência Situacional é um

processo dinâmico, que deve ser levado

a efeito até que a missão seja completa-

da. A tripulação precisa conhecer sua ori-

entação em relação a inúmeras variáveis

(amigos, inimigos, meteorologia, terreno,

condições do sistema de armas e qual-

quer outro elemento que contribua para o

Definições

Data Fusion � Fusão de dados. Processode integração de dados provenientes defontes (sensores) diferentes.

Network Centric Warfare � Guerracentrada em redes. Ver artigo na página 14desta revista.

OSI � �Open Systems Interconnection�.Modelo de referência desenvolvido pela�International Standards Organization�(ISO) para interconexão de sistemas aber-tos, isto é, sistemas que são abertos à co-municação com outros sistemas.

Situational Awareness � Consciênciasituacional. Compreende a observação doambiente e processamento dos dados paracomposição de uma visão da situação atu-al que oriente o processo decisório e a açãosobre este ambiente.

TDMA � �Time Division Multiple Access�ou Acesso Múltiplo por Divisão do Tem-po. Recurso que possibilita, numa rede decomunicações, a utilização do mesmo ca-nal por diferentes usuários sincronizados,transmitindo em intervalos de tempo fixos,pré-configurados.

sucesso da missão). Eles integram esta in-

formação com seus próprios planos de mis-

são, exploram opções e tomam decisões

baseados em táticas predefinidas e capa-

cidades de seus sistemas de armas.

A tripulação precisa ver, pensar, deci-

dir, comunicar e executar mais rápido que

o adversário. A única maneira de fazer

isso é obtendo a informação correta no

tempo certo para tomar a decisão mais

apropriada. Quando estas conexões são

feitas, a Consciência Situacional se tor-

na uma contribuição significativa ao su-

cesso em engajamentos táticos, daí a im-

portância de um data link eficiente.

Referências

[1] Silva, Júlio César Barreto Leite, Capitão-

de-Corveta, �Enlaces Automáticos de Da-

dos�, Revista Passadiço, Marinha do Brasil.

[2] Fenton, Sandra J., �Global Broadcast

Service Reach Back Via Satellite Tactical

Digital Link J (S-TADIL J)�, Master´s Thesis,

Naval Postgraduate School, CA, USA,

September 1999.

[3] Schleher, D. Curtis, �Electronic Warfare

in the Information Age�, Artech House,

Boston, 1999

[4] Tanenbaum, Andrew S., �Redes de Com-

putadores�, Editora Campus, Rio de Janeiro,

1994

[5] Karen T. Garner and Thomas J.

Assenmacher, �Improving Airborne Tactical

Situational Awareness�, Journal of Electronic

Defense, Nov 1996.

[6] Comando da Aeronáutica, �MCA 500-3 -

Comando e Controle na Guerra�, 17 de mar-

ço de 2000.

Page 31: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

32 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

�- Dois, break à direita,míssil às 6 horas, nível!�

Elá vai o piloto puxar �5G por 5 segun-

dos� para se defender da ameaça. Será

que essa manobra é realmente efetiva

contra o armamento lançado? Será que, pelo

menos, é a melhor alternativa a

ser tomada?

A evolução da doutrina na

Força Aérea toma alguns im-

pulsos quando há aquisição

de equipamentos novos ou

quando há in tercâmbios

operacionais com outros paí-

ses. Porém, algumas vezes, a

grande distância entre o ma-

terial que possuímos e o que

existe de mais moderno cau-

sa uma desmotivação na bus-

ca de atualização de proce-

dimentos a fim de obter a

melhor performance com os

meios atuais.

Quantas vezes já ouvimos

argumentos do tipo: �Isso não

é mais usado!� ou �O ameri-

cano não faz mais nada as-

sim!�, como se só tivéssemos

duas opções: incorporar toda

a tecnologia de última gera-

ção ou manter a doutrina sem

evolução. O fato de termos

acesso ao conheci-

mento sobre equipa-

mentos de

autoproteção como

MAWS (Miss i le

Approach Warning

Sys tems) , f lares ul t ra- rápidos e

�decoys� com diagrama de emitância

espectral semelhante ao dos gases de es-

capamento não significa que só podere-

mos combater quando possuirmos tal

Manobra Contra Mísseis InfravermelhosRodrigo Fernandes Santos, Cap-Av

1º Grupo de Aviação de Caça

tecnologia.

Nas nossas prováveis hipóteses de con-

flito, os inimigos possuem as mesmas de-

ficiências que sentimos, quando, então,

doutrina e treinamento farão muita dife-

rença. Às vezes, a acomodação com o

�status quo� é tanta que não aprimoramos

nossas táticas, mesmo com a aquisição de

novos equipamentos.

Com o fim do ciclo de vida operacional

dos mísseis AIM-9B, as Unidades Aéreas

congelaram as táticas de combate desen-

volvidas para o cenário com mísseis que

necessitam ser lançados no setor traseiro

da aeronave alvo. Dentre as técnicas con-

sagradas, o �break� de 5 G por 5 segun-

dos como forma de treinar uma curva de

máxima performance contra mísseis foi

massificado durante várias gerações de pi-

lotos e virou um condicionamento adqui-

rido como verdade absoluta. Com esta

manobra era possível provocar uma �es-

pirrada� do míssil pela sua incapacidade

de acompanhar um alto incremento na ve-

locidade angular do alvo.

Após a aquis ição de mísseis

infravermelhos de 3ª geração (Python 3 e

MAA-1), que possuem características de

lançamento �all aspect�, não houve estu-

dos para atualização das táticas, e mui-

tos argumentos foram assumidos como ver-

dadeiros, sem a devida comprovação.

A primeira consi-

deração a ser feita so-

bre a capacidade de

lançamento �al l

aspect� é a detecção.

Considerando a

transmissividade atmos-

férica, existem duas faixas onde

os sensores operam com maior eficiência,

que são de 3mm a 5mm e de 8mm a 12mm.

Ao contrário do que muitos acreditam,

os mísseis de 3ª geração não conseguem

O Capitão Rodrigo Fernan-

des Santos é piloto de caça,

concluiu o CFOAv em 1990

e exerce atualmente a fun-

ção de chefe da Seção de In-

teligência do1º Grupo de Avi-

ação de Caça. Possui cursos

de Inteligência Aérea de

Combate na Argentina e Bá-

sico de Guerra Eletrônica no

Grupo de Instrução Tática e

Especializada (GITE). O Ca-

pitão Rodrigo tem trabalho

publicado na revista Zoom

(1993).

Page 32: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

33○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

detectar a emissão infravermelha produ-

zida pelo atrito aerodinâmico das partes

frontais das aeronaves.

É possível perceber a emissão infravermelha

numa apresentação frente a frente, graças ao

cone formado pela dispersão dos gases atrás do

escapamento. Nesta situação, é muita crítica a

utilização da pós-combustão, já que influi dire-

tamente no tamanho deste cone. A variação de

potência na �faixa militar�, apesar de causar al-

teração na temperatura dos gases, não altera tanto

a área possível de ser detectada pelo setor fron-

tal e torna-se menos significativa. Com isso, for-

ma-se um envelope infravermelho cardióide para

cada regime de motor, onde é possível detectar

a emissão de determinada aeronave. Estar den-

tro do envelope para lançamento é a primeira

condição que o míssil deve satisfazer para ser

eficaz contra o alvo.

A outra consideração na capacidade �all

aspect� é sobre o percurso do míssil entre o lan-

çamento e a detonação. Os mísseis de 3ª gera-

ção possuem navegação proporcional, dirigin-

do-se a um ponto à frente na trajetória do alvo,

graças a possibilidade do auto diretor acompa-

nhar a emissão sem necessidade de apontá-la. A

variação na velocidade angular torna-se menor

e a curva descrita pelo míssil é mais suave, com

qualquer manobra do alvo, diminuindo a possi-

bilidade de espirrada (não acompanhamento do

alvo). Além disso, a colocação de espoletas de

proximidade exime-o de impactar diretamente

no objetivo.

Estas características propiciam o acompanha-

mento em ângulos de aspecto até 180o ou com

grandes velocidades angulares. A restrição na

navegação passa a ser a capacidade de o míssil

alcançar o alvo, devido à limitação de empuxo

do motor foguete. Incluindo a altitude de lança-

mento e as velocidades da plataforma lançadora

e do alvo, forma-se o envelope cinemático onde

é possível para o míssil atingir o alvo.

Para ser eficaz, o míssil deve permanecer den-

tro dos envelopes cinemático e infravermelho

simultaneamente durante toda a trajetória de vôo.

Terá que manter a detecção que o guiará e, ain-

da, conseguir alcançar o alvo. O objetivo da

defesa é colocar o míssil fora de algum dos dois

envelopes. Vamos analisar um exemplo de

superposição dos envelopes:

No setor frontal do

alvo, o envelope

infravermelho é me-

nor que o cinemático,

com qualquer regime

de motor; logo, é a

capacidade de

detecção que limita-

rá o lançamento nes-

ta situação e a varia-

ção de potência é fa-

tor decisivo. Será que

é necessário reduzir o

motor para mínimo ou

somente retirar da fai-

xa de pós-combustão

é suficiente para ne-

gar a detecção?

Os mísseis não

apresentam gráficos

de envelope

infravermelho, porque

a sua composição de-

pende da emissão de

cada aeronave alvo.

Mesmo que sejam

mantidos os

parâmetros de altitude, composição atmosféri-

ca, temperatura do ar, etc., será a característica

de emissão termal do alvo que determinará o

envelope infravermelho de cada sensor. Somente

o treinamento prático contra aeronaves equipa-

das com motores de diversos tipos e em vários

regimes de potência propiciará conhecer esses

limites para cada míssil. A experiência em com-

bates simulados contra mísseis de 3ª geração

determinará qual regime mínimo de motor pos-

sibilita a detecção pelo setor frontal.

O comprimento de onda onde ocor-

re o pico de intensidade da emissão

infravermelha obedece a �Lei de Des-

locamento de Wien� [1], que é dada

por: lmax = 2898/T , onde lmax é o com-

primento de onda em que ocorre o pico

de radiação e T é a temperatura abso-

luta do corpo. O aquecimento nos pon-

tos de estagnação da aeronave

é calculado pela fórmula:

Ts = To (1 + 0,2 r M² ), onde: Ts é a

temperatura da superfície (K); To é a

temperatura do ar (K); r é o fator de

recobrimento e M é o número Mach.

Mesmo para uma aeronave voan-

do à baixa altura e com Mach 2, o

comprimento de onda em que ocorre-

ria a melhor detecção seria em torno

de 10mm e os mísseis de 3ª geração só

possuem detetores entre 3mm e 5mm,

captando a assinatura infravermelha do

calor dos motores que, com tempera-

turas entre 450ºC e 700ºC, produzem

picos de radiação com comprimento

de onda entre 3mm e 4mm.

Page 33: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

34 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A detecção de uma aeronave sem pós-com-

bustão e motor turbo-fan pode ser obtida tão pró-

xima que impeça o lançamento do míssil, mes-

mo com 100% de potência. Nesse caso, uma

alternativa de defesa para a ameaça frontal se-

ria simplesmente forçar o engajamento frente a

frente. Se o míssil for lançado antes que se obte-

nha o alinhamento (a aeronave seria "vista" de

lado), reduzir a potência para diminuir o enve-

lope infravermelho seria o mais correto.

No setor traseiro, o envelope infravermelho

será tão maior que o cinemático, quanto menor

for a sobrevelocidade entre lançador e alvo e o

fator limitador para o míssil será a capacidade

de alcançar o objetivo. Mesmo reduzindo o motor

para mínimo, a distância de detecção permane-

cerá grande e a conseqüente diminuição da ve-

locidade irá aumentar o envelope cinemático,

facilitando o lançamento.

Quando o alvo executa uma curva, desloca

o seu envelope cinemático para o lado da cur-

va, significando que o míssil pode ser lançado

mais distante neste setor, já que descreverá uma

trajetória mais curta, usando a navegação pro-

porcional. Logicamente, no setor oposto ao da

curva, a distância máxima de lançamento tor-

na-se menor, pois o míssil percorrerá caminho

maior do que percorreria se a aeronave não cur-

vasse.

Quer dizer que devemos curvar para fora do

inimigo? Essa decisão depende da distância em

que se encontra a ameaça. Uma curva na dire-

ção do incursor para negar o envelope

infravermelho pode ser tentada, desde que haja

espaço de manobra para aproá-lo antes que o

míssil seja disparado. Quando o incursor está pró-

ximo à distância de lançamento pelo setor trasei-

ro, curvar para fora e �estender� é a única chance

de negar o envelope cinemático, já que, curvan-

do na direção do atacante, facilitaremos o enve-

lope cinemático sem tempo para negar o envelo-

pe infravermelho. A extensão com nariz para

baixo é importante, porque o alcance do míssil

torna-se menor com a diminuição da altitude.

Esse tipo de manobra, que ainda não consta

de nossa doutrina, foi utilizada pelos ingleses

com sucesso contra os mísseis argentinos, em

1982. Suas implicações no contexto tático d e-

vem ser estudadas para que atualizemos os exer-

cícios de combate a fim de que treinemos para

uma situação próxima a nossa realidade.

Conclusão

Os mísseis de 3ª geração são realidade na

Força Aérea. Enquanto nos mantemos informa-

dos do que existe no contexto sul-americano e

mundial, é nossa obrigação atualizar nossa dou-

trina, empregando os meios que possuímos da

melhor maneira. O sucesso do passado não ga-

rante a eficácia futura e, mesmo esperando por

novos equipamentos, muito pode ser aprimora-

do para que tenhamos a consciência tranqüila

do dever cumprido.

Referências Bibliográficas

[1] Comando da Aeronáutica, "Sistemas

Eletroópticos", Curso Básico de Guerra Eletrôni-

ca, COMGAR, maio 2000.

[2] Comando da Aeronáutica, "Apostila de Siste-

mas de Armamentos", Curso Básico de Guerra

Eletrônica, COMGAR, maio 2000.

Envelope de Lançamento [2]

Page 34: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

35○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Aera capitalista gerou um consumismo

desenfreado até então nunca visto.

A sede pelo novo, avançado e arro-

jado parece ser simplesmente inesgotável. O

que hoje é chamado de moderno amanhã

poderá estar sendo qualificado como obsole-

to. O mais interessante é que as novas cria-

ções, de utilidade jamais imaginada pela

grande maioria dos consumidores, tornam-se,

num piscar de olhos, indispensáveis.

Entretanto, para manter-se constante-

mente atualizado, o cliente paga um preço

elevado, e o pior é que nem sempre fica

satisfeito, pois os equipamentos estão cada

vez mais complexos, de operação relativa-

mente simples, mas com uma manutenção

cada vez mais especializada, exigindo em

muitos casos a intervenção do próprio fa-

bricante. A satisfação plena só vem com o

domínio da tecnologia, pois só assim surge

a capacidade de manipular o conhecimen-

to a fim de superar os eventuais empeci-

lhos, que criam tanta dependência.

No campo militar as coisas não são di-

ferentes. A sofisticação dos modernos sis-

temas d�armas objetiva, acima de tudo, a

melhoria na precisão e a economia de mei-

os. As forças armadas dos países

tecnologicamente desenvolvidos dispõem

em seus arsenais desse tipo de armamento

e, toda vez que os empregam, fazem am-

pla publicidade a respeito da precisão ci-

rúrgica de seus bombardeios, alardeando

também que o número de baixas tornou-se

insignificante. Porém, devido ao custo ele-

vado dessa nova tecnologia, as bombas

convencionais continuam sendo utilizadas

e em muito maior escala do que as inteli-

gentes.

E não é apenas o preço um fator

limitante para o seu emprego. Assim como

um remédio antibiótico elimina determina-

dos males mas, ao mesmo tempo, suscita

efeitos colaterais nocivos à saúde humana,

Bomba Guiada a Laser: Ter ou Não Ter, Eis a QuestãoSteven Meier, 1º Ten.-Av.

GITE

os armamentos modernos, apesar das ma-

ravilhas tecnológicas incorporadas, geram

uma gama variada de restri-

ções, até então inexistentes.

Há um caso clássico que

exemplifica muito bem os fa-

tos acima e será descrito a

seguir. Trata-se da �Operação

Ópera� desenvolvida pela

Força Aérea Israelense, no

início da década de 80, com

o intuito de destruir o reator

nuclear iraquiano da Usina

de Osirak.[1]

Uma vez esgotadas todas

as tentativas de pressão diplo-

máticas para que a França

não vendesse um reator atô-

mico a Bagdá, tendo falhado

em seguida os atentados pla-

nejados pelo Mossad para ex-

plodir o carregamento ainda

em portos franceses, os israe-

lenses passaram a considerar

a hipótese de um ataque aé-

reo diretamente à usina. Para

isso, não dispunham de muito tempo, pois,

uma vez iniciada a produção de urânio en-

riquecido, esse ataque colocaria centenas

de milhares de pessoas em risco, já que a

Usina de Osirak situava-se a apenas 15 qui-

lômetros a oeste de Bagdá.

Corria o ano de 1980 e, devido a pro-

blemas fronteiriços, tem início a Guerra Irã-

Iraque que perduraria pelos próximos oito

anos. Um dos primeiros ataques iranianos

foi voltado justamente para Osirak. Com

bombas convencionais, foguetes e tiros de

canhão, não causaram grande estrago mas

fizeram com que os iraquianos reforças-

sem enormemente sua capacidade defen-

siva em torno da usina. Esse evento, veio a

atrapalhar os planos israelenses. Porém,

devido à escalada no esforço de guerra

O Tenente Steven Meier é

piloto de caça, concluiu o

CFOAv em 1994 e exerce

atualmente a função de che-

fe da Subseção de Pessoal

do Grupo de Instrução Táti-

ca e Especializada (GITE).

Possui os cursos de Planeja-

mento do Emprego do Arma-

mento Aéreo e o Básico de

Guerra Eletrônica, ambos

realizados no GITE.

Page 35: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

36 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

iraquiano, seu projeto atômico foi refreado

e os israelenses ganharam tempo para se

preparar.

Escolhido o F-16 para realizar o ataque, por

ser o único avião capaz de vencer, voando a

baixa altura, os 1000 quilômetros de distância

que separavam os israelenses de Osirak, falta-

va definir o tipo de armamento a empregar. Is-

rael dispunha em seu arsenal, além das bom-

bas convencionais, das modernas GBU-12 de

1000 libras guiadas a laser. Em dúvida entre as

MK-84 de 2000 libras, consideradas bombas

burras, e as GBU-12, os israelenses passaram a

treinar com ambas.

Ao longo do treinamento, a

precisão alcançada com as MK-

84 foi crescente, uma vez que o

sistema de pontaria era bastante

eficiente e os pilotos estavam se

tornando cada vez mais peritos

neste tipo de missão. Além do

mais, a simplicidade das carac-

terísticas de operação de uma

MK-84 conferia-lhe um elevado

grau de confiabilidade.

O mesmo não ocorria com as GBU-12. As

bombas guiadas a laser (LGB) dependem de

um designador para iluminar o alvo, que, no

caso dos israelenses, estava instalado em outra

aeronave. Problemas relacionados à falta de

coordenação entre as aeronaves lançadora e

designadora comprometeram a eficiência de

diversas missões de treinamento. Levando-se

em consideração que o silêncio rádio era uma

condição primordial para o sucesso da missão,

pois os israelenses não possuíam superioridade

aérea na região, esse entrave praticamente

inviabilizava o uso das bombas guiadas a laser.

Além desse detalhe, há outros fatores a

serem considerados no lançamento de uma

LGB. Como a bomba não possui propulsão,

o ponto inicial do guiamento deve ser sufi-

cientemente alto para possibilitar o planeio

da mesma até o alvo, visto que ela aproará

o objetivo assim que receber o reflexo do

laser.[2] Ou seja, o feixe laser deve ter um

ângulo relativamente elevado, mas a bom-

ba não precisa necessariamente ser lançada

de grandes alturas. Ela apenas deve inter-

ceptar o feixe ao longo de sua propagação.

Isto implicava em, no caso israelense, a ae-

ronave designadora abandonar a formação

em vôo rasante e subir bem antes de alcan-

çar o objetivo para poder iluminá-lo, denun-

ciando antecipadamente sua presença e ex-

pondo-se perigosamente à artilharia antiaé-

rea inimiga.

Por fim, como se não bastassem as difi-

culdades de coordenação entre as aerona-

ves designadora e lançadora, ou a exposi-

ção prematura da aeronave designadora, a

bomba também poderia sofrer desvios se o

feixe laser fosse refletido pelo alvo para uma

posição próxima.[2] Como o objetivo esco-

lhido pelos estrategistas recaiu sobre a

redoma que envolve o reator, as chances de

haver uma reflexão não poderiam ser des-

cartadas.

Consideradas, então, as diversas restrições

apresentadas pela bomba guiada a laser, cha-

mada inteligente, os israelenses finalmente

optaram pelas �burras� MK-84.

Ao colocarem o plano em prática, os is-

raelenses utilizaram o dobro das bombas

necessárias ao cumprimento da missão, ten-

do em vista que o alvo era estratégico e,

portanto, de importância vital. Ao todo, fo-

ram empregados oito F-16 carregando duas

MK-84 cada. Das dezesseis bombas lançadas

sobre a cúpula do reator, quinze acertaram

em cheio, sendo que uma delas falhou. Ou-

tra, que errou o alvo, acabou destruindo a

câmara de guiagem de nêutrons.

O sonho iraquiano de dominar a energia

nuclear ainda não estava definitivamente

acabado, mas, por muito tempo, sepultado

debaixo dos escombros de Osirak.

Continua na pág 43

� O sonho iraquiano dedominar a energia nuclearainda não estava definiti-vamente acabado, mas,por muito tempo, sepulta-do debaixo dos escombrosde Osirak. �

Page 36: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

37○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Oprojeto Echelon, realizado em con-

junto com o governo de vários pa-

íses, é uma rede gigantesca de

supercomputadores que visa integrar e man-

ter sob seu controle todas as informações, in-

dependentes da fonte, do sigilo ou qualquer

outro tipo de restrição, em âmbito mundial.

Diferentemente de muitos dos sistemas de

espionagem eletrônica desenvolvidos duran-

te a Guerra Fria, O Echelon foi idealizado

primariamente para alvos não-militares: go-

vernos, organizações,

empresas e indivíduos

em qualquer país. Ele

afeta potencialmente

qualquer pessoa se co-

municando internacio-

nal ou domesticamen-

te, em qualquer lugar

do planeta.

O Echelon pode,

virtualmente, capturar e analisar qualquer cha-

mada telefônica, e-mail ou transmissão de fax

e telex , independente do meio de transmissão

utilizado (satélite, microondas, celular, rádios

convencionais, inclusive walkies-talkies, etc.).

A rede do Echelon não foi projetada para

espionar a correspondência individual de nin-

guém. O sistema funciona interceptando

indiscriminadamente grandes quantidades de

comunicações, fazendo uso dos poderosos com-

putadores para identificar e extrair mensagens

de interesses para as agências de inteligência

participantes do consórcio, de acordo com pa-

lavras-chave pré-determinadas, com o auxílio

de tecnologias sofisticadas de reconhecimento

de voz e de reconhecimento óptico de

caracteres (OCR). Supondo-se, por exemplo, que

a Rússia fizesse parte do sistema, eles poderi-

am cadastrar a palavra Gorbachev e todas as

mensagens, de qualquer meio de comunicação,

que contivessem a referida palavra, seriam en-

viadas para a agência interessada. Uma cadeia

de instalações secretas de interceptação foi

ECHELON: O Sistema está lá fora!Gelson de Sousa Machado Junior, 3S BCO

CGEGAR

estabelecida ao redor do mundo para captar

tráfego entre os maiores componentes das re-

des internacionais de telecomu-

nicações. Algumas delas

monitoram redes de comunica-

ções baseadas em terra, outras es-

pionam comunicações entre sa-

télites, e uma outra vigia men-

sagens de rádio. O sistema

Echelon interliga todas essas ins-

talações secretas, suprindo os in-

tegrantes do grupo operador do

sistema com a capacidade de in-

terceptar grande parte das comu-

nicações do planeta.

Os computadores localizados

nas estações são conhecidos

como dicionários Echelon. Má-

quinas como estas, capazes de

analisar fluxos de transmissões

sugadas de redes de telecomuni-

cações, existem já há pelo me-

nos 30 anos, mas o sistema

Echelon foi projetado para

interconectar estes �monstros� e

permitir que eles funcionem

como um todo.

Além de espionar grupos terroristas e países

inimigos, há indícios que o Echelon vêm sen-

do utilizado, após o fim do �Império do Mal�,

para propósitos menos nobres, como espiona-

gem política, incluindo �bisbilhotar� as ativi-

dades da Anistia Internacional e Greenpace, e

industrial, visando favorecer empresas que aju-

daram a construir o próprio

Echelon.

Para que o Echelon pos-

sa desempenhar sua mis-

são a contento é preciso

que as mensagens inter-

ceptadas não sejam

criptografadas, ou o sejam

com chaves pequenas, da

ordem de 40 bits, já que

O 3º Sargento BCO Gelson

de Sousa Machado Junior é

operador radar, MAGE e foto

de patrulha, concluiu o CFS

em 1993 e exerce atualmen-

te a função de analista de in-

formações na Seção de Inte-

ligência do Centro de Guer-

ra Eletrônica do COMGAR

(CGEGAR). Possui cursos de

Guerra Eletrônica (FAB) e de

Monitoração em Guerra Ele-

trônica (EB).

Page 37: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

38 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

estas podem ser decifradas em tempo real

pelos supercomputadores.

No início de dezembro de 98, representantes

de 33 países (dos quais o Brasil não fez parte)

reuniram-se em Viena para discutir os mecanis-

mos de controle de exportação de armas e de

tecnologias associadas (como a criptografia, é

claro), em mais uma rodada do Acordo de

Wassenaar. O principal objetivo desse acordo é

limitar a exportação para

os países não signatários

de tecnologias sensíveis,

que incluem não só arma-

mentos (mísseis, tanques,

explosivos, etc.) como

também tecnologias de

uso civil que também pos-

sam ser usadas para guerra ou terrorismo (conhe-

cidas como �dual-mode technologies�), com

destaque para a criptografia.

Embora o sigilo da correspondência e das

comunicações seja direito assegurado na nossa

Constituição (e na Declaração Universal dos

Direitos Humanos), acontecimentos recentes, no

Brasil e no mundo, mostraram a relativa facili-

dade com que pessoas ou instituições com a

devida (ou indevida) motivação � e com os re-

cursos financeiros e tecnológicos corresponden-

tes � podem �atropelar� aquele direito, sobre-

pondo-se à lei.

Nesse cenário, a criptografia é uma tecnologia

essencial para a proteção dos direitos do cida-

dão e, por extensão para a defesa da democra-

cia.

Nas palavras de Bruce Schneier, �há dois ti-

pos de criptografia: o que impede sua irmãzinha

de ler seus arquivos e aquele que impede os go-

vernos das grandes potências de fazerem o mes-

mo�.

Esse tipo de criptografia �tipo 2� é a chama-

da �criptografia forte�, que utiliza chaves com

128 bits ou mais.

Na reunião de Viena ficou acertado que os

países signatários deverão iniciar o controle da

exportação de hardware e software genéricos

que trabalhem com chaves simétricas maiores

que 56 bits e de produtos de mercado (�mass-

market�) que utilizem chaves maiores que 64

bits. Esse acordo não afeta, entretanto, software

de domínio público (como o PGP, o SSLeay e o

GNU Privacy Guard).

Do outro lado do ringue estão as ONGs ame-

ricanas que defendem o direito à privacidade

individual como a Electronic Frontier Foudation

(EFF), o Electronic Privacy Information Center

(EPIC) e a Americans for Computer Privacy.

Quem tem atacado fortemente os termos do

Acordo de Wassenaar é, no entanto, a australia-

na Electronic Frontiers Australia (EFA), que está

liderando uma campanha global, com lobbies

organizados em quase todos os 33 países para

pressionar os políticos locais por uma posição

em favor do não controle da exportação de

criptografia.

Na opinião da EFA, entretanto, nas próximas

rodadas do acordo de Wassenaar os �falcões�

deverão ganhar espaço e impor a adoção de

controles de exportação de criptografia mais rí-

gidos, colocando em cheque os direitos indivi-

duais num mundo cada vez mais digitalizado.

O Big Brother está vigiando você!

Referências:[1] Teixeira, Carlos A., �Caderno Informática

e etc�, Jornal o Globo (30/03/1998), Rio de

Janeiro, 1998.

[2] Revista Expresso (www.expresso.pt) , edi-

ção 1330, 1998.

[3} Hager, Nicky, �Secret Power�, Covert

Action Quaterly, 1997.

fotos: www.ifrance.com

Page 38: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

39○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Aaltitude de operação de uma aero-

nave de alarme aéreo antecipado

vem sendo um importante fator de

análise para seu emprego e possui papel

determinante no sucesso da missão. Para tan-

to, consideram-se diversos fatores de nature-

za técnica e operacional, na determinação

da melhor altitude de vôo.

Os de natureza técnica são definidos

por limitações da plataforma, do radar e

de equipamentos auxiliares que, de al-

guma forma, limitem a operação.

Já os de natureza operacional são es-

tabelecidos em função da forma de utili-

zação da plataforma e dos equipamen-

tos que a compõe, estando diretamente

relacionados com a capacidade do ope-

rador (seleção, formação e treinamento).

Os fatores de natureza técnica, oriun-

dos do projeto do sistema como um todo

(aeronave, radar, fontes de força etc.),

não permitem a interferência do opera-

dor. Devem ser conhecidos e compreen-

didos, visando o correto emprego dentro

de suas limitações. São fatores conside-

rados, dentre outros, de natureza técni-

ca:

- altitude máxima de operação da pla-

taforma;

- altitude máxima de operação das an-

tenas do radar/radome; e

- altitude mínima de operação.

O segundo fator, as antenas do radar,

tem suas limitações oriundas da necessi-

dade de refrigeração e restrições estru-

turais do próprio radome. Tal limitação

poderia nos levar à seguinte pergunta:

�se tivéssemos um radome mais resisten-

te, poderíamos operar a altitudes maio-

res com algum ganho operacional?� Nem

sempre. O fator mais importante é estu-

dar se estaríamos acrescendo algo à ope-

ração, pois há uma altura ótima, que não

é necessário ultrapassar. O cálculo des-

sa altura ótima levará em conta o alcan-

ce máximo não ambíguo do radar, seu

alcance máximo teórico e o

horizonte radar [veja texto emdestaque], en t re ou t ros

parâmetros.

A altitude mínima esta-

belece o limite inferior e

também está relacionada

com o radar, em função da

segurança no solo contra as

emissões eletromagnéticas.

Partindo da faixa defini-

da por limitações técnicas,

deve-se buscar a altitude de

emprego que t raga mais

vantagens operacionais, uti-

lizando-se agora de �ferra-

mentas� mais subjet ivas,

oriundas do operador (e sua

capacidade).

Para tal devem ser consi-

derados, dentre outros fato-

res de natureza operacional:

- a l t i tude de melhor

performance da plataforma

(alcance e autonomia);

- alcance mínimo do radar;

- horizonte radar;

- alcance máximo não ambíguo do ra-

dar e

- alcance máximo teórico do radar.

A altitude de melhor performance ape-

nas inicia o estudo proposto, pois reve-

la-se como uma faixa onde se buscaria

um melhor aproveitamento da missão,

partindo-se da premissa de que a aerona-

ve AEW deve se deslocar para a área de

missão com o menor gasto de combustí-

vel e lá permanecer pelo maior tempo

possível.

Dessa premissa extraímos a próxima

questão: �porque não voar na maior alti-

tude tecnicamente permitida, com o

Determinação da Altitude de Operação de uma Aeronave deAlarme Aéreo Antecipado

Fernando Augusto Maschio de Siqueira, Cap.-Av.4º ETA

O Capitão Fernando Augusto

Maschio de Siqueira é piloto

de transporte, concluiu o

CFOAv em 1990 e exerce

atualmente a função de che-

fe da Seção de Inteligência

e Guerra Eletrônica do 4º Es-

quadrão de Transporte Aéreo.O Capitão Siqueira possui o

Curso de Especialização em

Análise de Ambiente Eletro-

magnético no Instituto

Tecnológico de Aeronáutica

(ITA).

Page 39: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

40 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

consequente menor consumo de combus-

tível, obtendo ainda um aumento no ho-

rizonte radar e assim o maior alcance?�

Em primeiro lugar, o aumento do ho-

rizonte rádio pode não ser aproveitado,

se for tal que exceda o alcance máxi-

mo não ambíguo. Notemos a dificulda-

de de usar aqui o alcance máximo teó-

rico, advinda de não estabelecermos o

tamanho dos alvos. De qualquer forma,

mesmo para os alvos maiores, o alcan-

ce máx imo t eó r i co l im i t a rá a

performance do radar antes do alcance

máximo não ambíguo.

Adicionalmente, quando se aumenta

a altitude da aeronave tem-se um pro-

porcional aumento do cone de não

detecção, característica de Radar de

AEW. [2]

Delineando o que poderia ser a me-

lhor altitude, já se vê que ela deverá

ficar em uma faixa onde a plataforma

obtém uma boa performance, dentro do

limite técnico, e ainda, a uma altura tal

que o alcance do radar se aproxime da

distância máxima de linha de visada (ho-

rizonte radar).

Para tal, basta definirmos agora o

que seria a altitude �mais próxima do

horizonte radar�. Para cálculo do hori-

zonte rádio/radar utilizamos o modelo

em voga, que compensa os efeitos da

propagação atmosférica pela adoção

de um raio terrestre igual a 4/3 do raio

real:

(Eq. 1)

Onde Rhor é o horizonte radar em milhas

náuticas, H1 e H2 são as alturas do AEW e do

alvo, respectivamente, em pés. [3]

Alcance Radar

O alcance máximo não ambíguo,

também chamado de alcance máxi-

mo em primeira recorrência, é defi-

nido pelo tempo de escuta disponí-

vel entre a emissão de dois pulsos

consecutivos, constituindo-se, portan-

to, um limite absoluto para o alcan-

ce do radar, exceto em radares pul-

so-Doppler. O alcance máximo teó-

rico, por sua vez, é fruto de cálculo

para determinadas condições de po-

tência disponível, falso-alarme acei-

to , p robabi l idade de de tecção

requerida e tamanho do alvo, entre

muitas outras. Embora mais difícil de

estabelecer, por conter elementos de

natureza probabilística, este é o real

alcance máximo do radar. Normal-

mente, no projeto de um radar, pro-

cura-se fazer com que o alcance má-

ximo não ambíguo seja maior que o

teórico, de forma a não limitar a

performance possível.

Cone de não detecção

Page 40: Revista SPECTRUM Nº 02

Spectrum

41○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Por meio de uma visualização gráfica (ver

figura), podemos avaliar as relações entre a

altura do AEW, a altura do alvo e o horizonte

radar resultante.

Observemos que de nada adianta aumen-

tar o horizonte radar (com o aumento da alti-

tude e suas conseqüências) além do alcance

máximo não ambíguo. Melhor ainda seria se

pudéssemos calcular com mais facilidade e

em tempo real o alcance efetivamente obti-

do pelo radar para as diversas condições at-

mosféricas, tamanho do alvo, etc. Em suma,

aumentar o horizonte radar através do aumen-

to da altitude do AEW somente será efetivoaté o limite do alcance máximo. Pela difi-

culdade de definir �alcance�, adotamos o

alcance máximo não ambíguo.

Supondo o alvo em uma situação bastan-

te desfavorável a 1000 Ft, teremos na Equa-

ção 2 a determinação da melhor (ou maior)

altitude de operação de uma aeronave AEW.

Partindo da equação 1:

Com o alvo a 1000 ft, ou seja H2 = 1000,

teremos:

(Eq. 2)

onde:

H1 - altura do AEW, em pés.

Runamb - alcance máximo não ambíguo ou al-

cance instrumentado, em milhas náuticas.

Tomando como exemplo um radar embar-

cado com 250 NM de alcance máximo não

ambíguo, a melhor altitude de operação des-

sa plataforma seria no máximo de 29.500 FT,

pois a partir dela a aumento da altitude só

estaria trazendo desvantagem à operação do

radar.

Altitude de operação de aeronave AEW

ConclusãoPerformance da plataforma, alcance mí-

nimo, alcance máximo não ambíguo, alcan-

ce radar teórico e horizonte radar são os prin-

cipais fatores a serem considerados para a

determinação da melhor altitude de opera-

Altitude do AEW vs. Alcance máximo da

aeronave alvo. [4]

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ção, e devem ser analisados em conjunto com

os demais. Balizados pelos fatores de nature-

za técnica e computando os de natureza

operacional, podemos obter a forma correta

de operação.

Este cálculo é apriorístico, devendo ser-

vir de base para o início da operação. Não

consideramos aqui outros fatores, como a

existência de inversões térmicas na atmos-

fera, que poderiam causar o �aprisiona-

mento� da energia emitida pelo radar aci-

ma das interfaces entre camadas de ar.

Nesse e noutros casos, cabe ao operador

detectar o mot ivo da perda de

performance e adequar o perfil de vôo.

Finalmente, assumimos ao escrever

este trabalho que o radar é o sensor prin-

cipal a bordo de uma aeronave AEW, ha-

vendo outros sensores, para os quais o

perfil de vôo poderá ser substancialmente

diferente.

Referências

[1] EMBRAER. SA and RS Aircraft Systems -

Critical Design Review. São José dos Cam-

pos - SP. 1999.

[2] SIQUEIRA, Fernando A. M., Emprego do

Sistema ERIEYE da Aeronave AEW & C EMB-

145 SA (Surveillance Aircraft) do Sivam (R-

99 A) � Uma proposta de emprego pela Uni-

dade Aérea. Trabalho individual de conclu-

são de pós-graduação. ITA - Instituto

Tecnológico de Aeronáutica: 1999.

[3] SKOLNIK, Merrill I., Introduction to Ra-

dar System. United States of America:

McGraw-Hill, 1980.

[4] NAVAL AIR WARFARE CENTER, EW and

Radar Systems Engineering Handbook (http:/

/ewhdbks,mugu.navy.mil/).

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43○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

na Amazônia. A realização de lançamentos

em ZL aquática simulará o ressuprimento dos

combatentes de selva em qualquer parte da

floresta. Contudo, é preciso pensar em como

realizar os lançamentos numa situação real,

onde o inimigo provavelmente seja superior

tecnologicamente.

Devido ao ambiente eletromagnético hos-

til, todas as missões de Ressuprimento Aéreo

deverão ser realizadas, primordialmente, no

período noturno, empregando-se técnicas de

navegação à �baixíssima� altura (low contour)

que buscam a sombra radar causada pelo

baixo relevo. Cabe lembrar que até a Força

Aérea dos Estados Unidos, com toda sua

parafernália eletrônica, priorizou a realiza-

ção de suas missões no período noturno nas

guerras do Iraque e da Iugoslávia.

As atuais metas da Aviação de Transporte

devem buscar a proficiência de suas

equipagens não só na execução do vôo mui-

to baixo e noturno sobre a floresta amazôni-

ca com equipamentos específicos para visão

noturna, como também do pouso à noite nos

pelotões de fronteira, utilizando balizamento

tático de película reflexiva, capaz de ilumi-

nar as laterais da pista com a reflexão da pró-

pria luz dos faróis da aeronave (lembrando

que o pouso noturno nessas condições é se-

melhante ao pouso noturno em porta-aviões).

Tudo isto visando atingir a pronta-resposta

necessária à região.

Emprego da Aviação de Transporte na AmazôniaContinuação da pág. 13

Examinando esse episódio, que se tor-

nou um clássico no atual contexto dos con-

flitos militares, descobre-se que a preci-

são nem sempre está relacionada com o

que há de melhor em avanços

tecnológicos. Entretanto, ficou patente,

desde o prelúdio da concepção até o

coroamento da operação com êxito total,

o elevado grau de adestramento e

profissionalismo de todas as pessoas envol-

vidas no planejamento e execução da mis-

são.

Que ensinamentos podem ser retirados

dessa análise? Inúmeros sem dúvida, po-

rém, o mais relevante deles é que uma

Força Aérea, mesmo tecnologicamente

defasada e com recursos financeiros limi-

tados, pode ser capaz de cumprir os fins a

que se destina, bastando para isso empe-

nho, dedicação e profissionalismo de seus

membros.

Referências bibliográficas:[1] MALCON, John. Bulls Eye � One

Reactor.1 ed. EUA, 1994.

[2] CATRE, Grupo de Instrução Tática e Es-

pecializada. Apostila de Guiamento de Ar-

mas. Curso Básico de Guerra Eletrônica

2000.

Bibliografia recomendada:GUNSTON, Bill. Smart Weapons. Ed.

Salamanders Books Ltd. Londres - UK,

1986.

LASER GUIDED BOMB MANUAL. Fighter

Weapon School. Langley Air Force Base.

April 1986.

MANGRICH, Ricardo, Maj.-Av. Armamento

Inteligente? Revista Zoom, 1º/4º GAv. For-

taleza, 1997.

Bomba Guiada a Laser: Ter ou Não Ter, Eis a Questão

Continuação da pág 36

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44 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Acapacitação de pessoal em cur-

sos de pós-graduação é o princi-

pal pilar da sustentação do pro-

gresso das várias atividades humanas dos

dias atuais. A principal diferença entre a

graduação e a pós-graduação é que en-

quanto aquela prepara os recursos huma-

nos para desempenhar funções conforme

métodos e tecnologias existentes, esta ca-

pacita-os a desenvolver novos métodos e

tecnologias, pesquisar, buscar a inova-

ção, superar os obstáculos conhecidos e

os novos.

Métodos e tecnologias têm sido desen-

volvidos num ritmo cada vez mais ace-

lerado, com apoio acadêmico, permitin-

do superar barreiras nos vários campos do

conhecimento e forçando todos os usuá-

rios da tecnologia a uma evolução ace-

lerada e sem descanso.

As organizações cujos �negócios� es-

tão voltados para um mercado de forte

concorrência precisam investir em pós-

graduação para se manter entre as me-

lhores e não desaparecer. Se a atividade

em pauta é fortemente competitiva (e a

nossa o é, por essência), não é preciso

parar para ser ultrapassado: basta dimi-

nuir o ritmo.

A Necessidade de Pós-Graduação na Área OperacionalAri Robinson Tomazini, Maj.-Av.

CGEGAR

Na área militar, a pós-graduação per-

mite a uma Força Armada entender, de-

senvolver e explo-

rar com maior pro-

babilidade de su-

cesso os conceitos

de guerra, as con-

cepções de empre-

go e as

tecnologias uti l i-

zadas nos cenários

de crise, conflito

ou guerra.

A Pós-Graduação naAeronáuticaUm fa to in te -

ressante ocorreu na

área de fenômenos

atmosféricos. Há

alguns anos, a Ae-

ronáutica era a ins-

tituição brasileira

que liderava o co-

nhec imento em

meteorologia. Essa

posição, nos dias

atuais é ocupada pelo INPE. A inversão

de posição deve-se ao fato de que o INPE

fez a opção por um programa de

Mestrado e Doutorado, enquanto a Ae-

ronáut ica manteve a po l í t i ca de

capacitação de pessoal no nível de gra-

duação ou em cursos de pequena dura-

ção.

Nós militares não precisamos ser os

melhores em meteorologia. Apesar da

importância desse assunto em nosso dia-

a-dia, ele não é realmente nosso �negó-

c io� . A apl icação mi l i ta r do poder

aeroespacial brasileiro é �o negócio� da

Força Aérea.

Já possu ímos programas de

O Major Ari Robinson Tomazini

é piloto de patrulha, concluiu o

CFOAv em 1985 e exerce atual-

mente a função de chefe da Se-

ção de Recursos Humanos do

Centro de Guerra Eletrônica do

COMGAR (CGEGAR). Possui

cursos de Guerra Eletrônica no

Brasil e na Inglaterra, pós-gradu-

ação em análise e projeto de sis-

temas (GFI/UNB - Brasília) e pós-

graduação em Engenharia de

Sistemas Eletrônicos Militares na

Royal Military College of Science

(Inglaterra).

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capacitação em áreas técnicas que têm

apresentado resultados de inquestionável

valor para o país. Esses programas foram

iniciados a partir da criação do ITA, ins-

tituto considerado pelo MEC como a

melhor instituição de ensino em enge-

nharia do país e que conta com um for-

midável corpo docente, uma infra-estru-

tura considerável, além de possuir a

melhor biblioteca da América Latina.

No entanto, os novos cenários de guer-

ra requerem que a Aeronáutica busque a

excelência em áreas vitais para a apli-

cação mili tar do Poder Aeroespacial

como, por exemplo, a guerra eletrônica.

Objetivo do Mestrado em GuerraEletrônica

A guerra eletrônica sistematizada e

tratada como objetivo organizacional

data de pouco tempo na Força Aérea Bra-

sileira. Pode-se inferir que

essa seja uma das prin-

cipais causas das di-

ficuldades encontra-

das pelos integrantes

da Aeronáutica para

conceber novos con-

ceitos de guerra, de-

senvolver concep-

ções de emprego,

entender e explorar

as tecnologias utili-

zadas nos cenários

de guerra.

Para obter efeito semelhante ao que

essa atividade provocou nas Forças Aé-

reas que venceram os conflitos dos últi-

mos sessenta anos, há que se ter um pro-

grama de busca de excelência, cujo prin-

cipal pilar é a capacitação de recursos

humanos a nível de mestrado e doutora-

do.

Esses cursos deverão preparar milita-

res e civis para:

a ) resolver problemas operacionais e téc-

nicos relativos à atividade militar;

b) gerar novos conhecimentos (Know-

Why) que resultem em conceitos, con-

cepções de emprego e tecnologias;

c ) desenvolver métodos, procedimentos,

processos e tecnologias para melhorar o

ciclo de decisão nos vários níveis da

guerra;

d) melhorar a utilização dos meios exis-

tentes na nossa Força; e

e ) tirar proveito das concepções e das ca-

racterísticas dos recursos técnicos do ini-

migo.

Essa proposta po-

derá fazer a diferen-

ça entre a vitória e a

derrota, o sucesso e o

fracasso num teatro

de guerra para a For-

ça Aérea Brasileira.

Numa área do

conhecimento onde a

competição é a tôni-

ca, a velocidade de

superação de barrei-

ras é o que faz a di-

ferença entre os ven-

cedores e os vencidos. Não faltam exem-

plos, antigos e recentes, de que no con-

flito entre as vontades nacionais, aquela

que melhor domina o conhecimento leva

enorme vantagem.

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Revista �SPECTRUM�Objetivos e Diretrizes para Publicação

ARevista �Spectrum� tem como fi-

nalidade contribuir para a divulga-

ção de trabalhos voltados exclusi-

vamente para o preparo e emprego da For-

ça. Pretende-se incentivar a apresentação de

temas que venham a despertar debates, moti-

var o início de estudos que possam ser apro-

veitados, hoje ou no futuro, com o objetivo

de conferir o devido realce ao aguerrido espí-

rito operacional da Força Aérea Brasileira.

Não se estabelece preferência de abor-

dagens: diferentes perspectivas teóricas e

metodológicas no tratamento de temas são

aceitáveis, desde que consistentes e signi-

ficativas para o desenvolvimento da área

operacional.

O público alvo é constituído dos profis-

sionais civis e militares das três Forças Ar-

madas e do Ministério da Defesa, Institutos

de Pesquisa, Universidades e de outras Or-

ganizações Públicas e Privadas interessadas

nos assuntos operacionais da Força Aérea.

Forma de apresentação dos artigosOs textos devem ser encaminhados de

acordo com os seguintes critérios e carac-

terísticas técnicas:

1) Formatação: papel A4 (29,7x21cm); mar-

gens: superior = 2,5cm, inferior= 2,5cm,

esquerda= 2,5cm e direita= 2cm; editor

de texto: Word for Windows 6.0 ou pos-

terior, utilizando caracteres Arial, tama-

nho 12pt e espaçamento 1,5 linhas. O

artigo não deverá exceder 5 páginas, in-

cluindo quadros, tabelas, gráficos, ilus-

trações, notas e referências bibliográfi-

cas. Deve-se observar a ortografia ofi-

cial e conter, na primeira lauda do ori-

ginal, o título do trabalho e o(s) nome(s)

completo(s) do(s) autor(es).

2) Apresentar em uma página separada: tí-

tulo do trabalho, nome(s) completo(s)

do(s) autor(es) acompanhado(s) de bre-

ve curriculum vitae em que se mencio-

ne titulação acadêmica, experiência

profissional e/ou acadêmica,

instituição(ões) de vinculação, cargo ou

função, endereços, e-mail, telefones e

fax. Se mais de um autor, ordenar de

acordo com a contribuição de cada um

ao trabalho.

3) Enviar resumo do texto, entre dez e quin-

ze linhas, em que constem objetivo, mé-

todo, resultado e conclusões, bem como

de três a cinco palavras-chaves.

4) As referências bibliográficas completas

do(s) autor(es) citados deverão ser apre-

sentadas em ordem alfabética no final

do texto, de acordo com as normas da

ABNT (NBR 6023). As referências a

autor(es) devem ser citadas no corpo do

texto com indicação numérica na lista

de bibliografia.

5) Notas referentes ao corpo do texto de-

vem ser indicadas com um número

sequencial, imediatamente depois da

frase a que diz respeito. As notas deve-

rão vir no rodapé do texto.

6) O artigo deverá ser enviado em disquete

de 3,5�, acompanhado de duas vias im-

pressas e foto(s) do(s) autor(es) � busto,

frontal, sem data.

Enviar artigos para:Revista �Spectrum�

Centro de Guerra Eletrônica do COMGAR

Esplanada dos Ministérios,

Bloco �M� � anexo � 2º andar

CEP 70045-900 - Brasília-DF

Tel.: (61) 313-2528

Fax.: (61) 224-1840

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Cronograma para a próxima edição:até 15 nov 2000: recebimento de artigos

dez 2000: revisão e editoração eletrônica

jan 2001: impressão e distribuição