Revista SPECTRUM Nº 02
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Network Centric Warfare (NCW)
Materiais Absorvedores de Radiação Eletromagnética
Emprego da Aviação de Transporte na Amazônia
Manobra contra Mísseis Infravermelhos
Revista do Comando-Geral do Ar Nº 02 - Agosto 2000
Spectrum
3○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Ten.-Brig.-do-Ar Carlos de Almeida BaptistaComandante da Aeronáutica
Editorial
Écom prazer que registro, para a revista
Spectrum, produzida pelo Comando-Ge-
ral do Ar, a minha mensagem de primei-
ro semestre à frente do Comando da Aeronáu-
tica.
Tenho dito e repetido que me senti, após
cinco anos e meio de afastamento, como se
tivesse retornado de um curto período de férias
da Organização. Para isso, em muito contri-
buíram meus companheiros do Alto Comando,
imediatamente solidários com o novo Coman-
dante.
Considero necessário, no tempo que me res-
ta nesta que, certamente, será a última missão
devotada ao serviço público do meu País, es-
tabelecer e concretizar o que será a Força Aé-
rea Brasileira do novo milênio.
Estamos entregando a administração direta
da INFRAERO e da Aviação Civil ao Ministé-
rio da Defesa, orgulhosos dos chefes do passa-
do e do presente, além dos servidores que nes-
ses campos exerceram suas atribuições, arqui-
tetos e construtores de dois segmentos chaves
para a prosperidade do País, respeitados no
contexto internacional pela eficiência com que
prestam seus serviços ao imenso público que
deles se utiliza.
Lamentavelmente, encontramos a Força,
cuja atividade-fim é desenvolvida,
preponderadamente, pelo COMGAR, em difí-
cil situação operacional. É esse Comando, com
todas as suas Unidades Aéreas, que habita a
maior parte dos nossos pensamentos e conso-
mem a maior parte das nossas preocupações.
Sabemos que todos os esforços, para re-
equipá-lo e modernizá-lo, não trarão resulta-
dos a curto prazo. Não caberá a nós a colheita
dos frutos cujas sementes estão sendo planta-
das agora. As autoridades da República, cons-
cientes das dificuldades que temos para cum-
prir essa missão, nos colocaram prioritariamente
na alocação de recursos.
Nosso Ministro da Defesa tem em-
pregado o melhor dos seus esforços
para que a situação de degradação
da Força seja revertida, pois tem cons-
tatado o quanto depende de nós a vi-
gilância e o controle do espaço aé-
reo, a integração nacional, o socorro
às populações em situações de calamidade, a
indústria aeronáutica brasileira...
O Comandante Supremo está, igualmente,
comprometido com a recuperação da Força e
busca os meios necessários, em meio a um con-
texto econômico-financeiro que, aos poucos,
vai se tornando saudável.
Não lutamos por uma Força melhor que o
País, apenas tentamos demonstrar que ela não
deve descer a níveis de preparo e emprego ja-
mais observados desde os seus primórdios.
Continuo dizendo que a esperança é uma
bela companheira de viagem, o que me dá a
alento para pensar que em breve possamos ter
o futuro mais claramente definido.
Iniciativas como a desta publicação, que
trata de assuntos técnicos de alto nível, demons-
tram que, apesar das dificuldades, o gênio
inventivo de Santos-Dumont, a perseverança
de Eduardo Gomes e a liderança de Nero Moura,
encontraram terreno fértil nos nossos Guerrei-
ros do Século do Aço.
Concito os companheiros que integram o
Comando-Geral do Ar a empregarem suas
intel igências e seus esforços com o
profissionalismo e o amor dos que fazem do
seu trabalho e dos objetivos da Instituição o
grande elenco de idéias que, cada vez mais,
fortalecem nossa Força e ganham, no tem-
po e no espaço, o testemunho de
credibilidade da Nação a qual pertencemos,
a qual defendemos e a qual teremos sempre
que prestar contas.
Spectrum
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Expediente Índice
Comandante-Geral do ArTen.-Brig.-do Ar Henrique Marini e Souza
Conselho Editorial e RevisãoTen.-Cel.-Av. Narcelio Ramos RibeiroMaj.-Av. Ari Robinson TomaziniCap.-Av. Fábio Durante Pereira AlvesCap.-Av. Davi Rogério da Silva CastroCap.-Av. Carlos Alberto FernandesCap.-Av. Edson Fernando da Costa Guimarães
ColaboradoresSr. Carlos Lorch (Action Editora)Cap.-Av. Hélio Rodrigues Costa (1º/16º GAv)Centro de Comunicação Social da Aeronáutica(CECOMSAER)Adriana Beal (Vydia Tecnologia)
FotografiasRevista Força Aérea
Projeto Gráfico e FotolitosTachion Editora e Gráfica Ltda.Rua Santa Clara, 552 - Vila AdyannaTel/Fax: (12) 321-0121 / 322-4048 / 322-3374CEP 12243-630 � São José dos Campos-SPe-mail: [email protected]
ImpressãoGráfica ItamaratiSIG/Sul � Quadra 02 � lote 400tel: 61-343-1833 � fax: 61-343-1099CEP 70610-400 � Brasília-DF
Distribuição interna. Tiragem: 1.500 exemplares.
Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são deexclusiva responsabilidade de seus autores. Estão au-torizadas transcrições integrais ou parciais das matéri-as publicadas, desde que mencionados o autor e a fontee remetido um exemplar para o COMGAR.
Planejando a Guerra ....................................... pág 5
O Impacto das Concepções eTecnologias no Preparo e Empregoda Força Aérea Brasileira ............................... pág 7
Emprego da Aviação de Transporte naAmazônia ..................................................... pág 12
Network Centric Warfare (NCW) �Uma Revolução no Campo de Batalha ......... pág 14
Materiais Absorvedores deRadiação Eletromagnética ............................ pág 17
A Gestão do Conhecimento no Contextodas Organizações Militares .......................... pág 21
IFF : Perguntas e Respostas ........................... pág 23
Data Link nas Operações Aerotáticas .......... pág 27
Manobra Contra Mísseis Infravermelhos ....... pág 32
Bomba Guiada a Laser:Ter ou Não Ter, Eis a Questão ....................... pág 35
ECHELON: O Sistema está lá fora! .............. pág 37
Determinação da Altitude de Operaçãode uma Aeronave de AlarmeAéreo Antecipado ......................................... pág 39
A Necessidade de Pós-Graduação naÁrea Operacional ......................................... pág 44
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Planejando a GuerraBrig.-do-Ar Delano Teixeira MenezesComandante da Segunda Força Aérea
Brigadeiro-do-ArDelano Teixeira Menezes
Comandante da SegundaForça Aérea
Existe um ditado que diz que a moda éque faz a lei e não a lei que faz a moda.A Doutrina é mais ou menos isso: ela
nasce de baixo para cima, ela é ditada pelo
�modus faciendi� do campo de batalha des-
de o nível tático, passando pelo operacional
até o nível estratégico. É por isso que as dou-
trinas devem ser revistas a cada conflito, a
cada batalha que implique o emprego maci-
ço de recursos materiais e humanos na busca
dos objetivos estratégicos e políticos. E a Força
Aérea é o componente do Poder Militar mais
susceptível a essas mudanças porque está mais
próxima das transformações tecnológicas e
porque é a arma que reúne as característi-
cas que todo comandante militar gostaria
de ter: velocidade, poder de destruição, pre-cisão e alcance. Não é para menos, pois o
homem levou 5000 anos para passar da ve-
locidade de um pessoa andando para a de
90 Km/h, em condições favoráveis, num
campo de batalha; o navio levou séculos
para passar de 10/12 nós para 25/30 nós (e
olhe lá!), enquanto que o avião levou me-
nos de cinqüenta anos para pular de 50/100
nós para duas vezes e meia a velocidade
do som, podendo aumentar ainda mais esta
performance.
Naturalmente que a velocidade de assi-
milação das transformações que ocorrem na
doutrina está diretamente associada às ame-
aças e ao envolvimento em conflitos que
cada país vive e à inserção política do mes-
mo no cenário mundial.
Podemos depreender, assim, por quantas
transformações passaram as doutrinas mili-
tares desde a Primeira Guerra Mundial, e o
próprio conceito de guerra total depois da
Segunda Guerra Mundial e a subseqüente
Guerra Fria! Imaginemos o poder de barga-
nha política que ganhou um estado, ou co-
alizão, depois de serem alcançados os ní-
veis de precisão nos ataques realizados
durante a Guerra do Golfo!
Mas esta é uma visão tática do proble-
ma. O cenário mundial mudou. O balanço
de poder no mundo já não é o
mesmo desde o desmanche do
poder soviético. As hipóteses
de conflito podem ter até au-
mentado mas os espaços dimi-
nuíram e o controle da expan-
são dos mesmos aumentou.
Isto é, as guerras �permitidas�
hoje não podem extrapolar de-
terminados limites e devem ter
um desfecho em tempo limi-
tado. Além disso, as ameaças
são difusas, ou não se sabe �apriori� qual será o inimigo.
Diante desse novo cenário, a capacida-
de de uma resposta rápida e precisa vai de-
terminar a vantagem inicial em termos mi-
litares e a conseqüente iniciativa político-
diplomática para alcançar um desfecho fa-
vorável num prazo pequeno.
A atual Estrutura Militar de Guerra
(EMG) pode estar defasada para atender a
essas novas demandas. Mas enquanto ela
não for revista, cada Força Armada deverá
estar preparada para melhor atendê-las, no
mais curto espaço de tempo possível, sem
desfazer cada uma das estruturas existen-
tes que suportarão as necessidades das Uni-
dades envolvidas no conflito. E isso acon-
tecerá de uma maneira não muito diferente
do dia-a-dia atual.
O Comando-Geral do Ar como o com-
ponente da Força Aérea que primeiro será
engajado e principal provedor dos recursos
humanos e materiais devidamente adestra-
dos e preparados para o combate, deverá
ter uma organização interna tal que não
deixe que as suas atribuições de planeja-
mento e emprego operacional sejam per-
turbadas pelas atividades correntes que con-
tinuarão a existir.
As modificações estruturais necessárias
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para que isso seja possível não são muito
grandes, e são de fácil implementação, por-
que a atual organização operacional das
Grandes Unidades subordinadas ao
COMGAR já facilita as adaptações que se
fazem necessárias. Ou seja, cada uma das
Forças Aéreas existentes, com as suas ca-
racteríst icas de
�especializadas�, já são capa-
zes de atender às necessida-
des de uma força a ser empre-
gada em combate, com meios
inclusive para apoiá-las.
Por outro lado, as atuais For-
ças Aéreas estão de tal forma
envolvidas na apresentação de
um produto (o piloto
operacional), ao final de cada
ano, que não lhes sobra tem-
po para dedicar-se à elabora-
ção dos Planos necessários
para atender às diversas hipó-
teses de conflito. Tampouco o tem o Esta-
do-Maior do COMGAR, ainda envolvido
com os problemas dos COMAR. Como re-
sultado, existem hoje poucas pessoas
engajadas em Planejamento Militar real,
tanto no COMGAR como nas Forças Aéreas
subordinadas.
A ativação de uma Força Aérea sem mei-
os aéreos subordinados, com um Estado-Mai-
or constituído somente para planejar, seria
uma forma de se preencher essa falha. Ela
faria os Planos e Ordens
e empregaria os
meios que lhes
seriam alocados
na medida neces-
sária para a di-
mensão do con-
fli to. Assim, as
Forças Aéreas atu-
ais permaneceriam com os
encargos da formação, manutenção e ele-
vação operacional das equipagens.
A vantagem dessa Grande Unidade é que
ela estaria livre de uma série de encargos,
podendo debruçar-se sobre os documentos
operacionais para mantê-los permanente-
mente atualizados. Poderia testar a valida-
de desses documentos aplicando, em exer-
cícios periódicos, as Unidades Aéreas que
cada uma das Forças Aéreas (II, III e V)
aprontariam para o combate.
As atuais Forças Aéreas cumprem mui-
to bem o seu papel de adestrar as
equipagens de combate, cuidar da dispo-
nibilidade dos aviões e preparar a logística
de mobilidade das suas Unidades, abrigan-
do, cada uma, mesmas linhas de doutrina
operacional (Caça/Ataque e Reconheci-
mento em uma, Transporte/Reabastecimen-
to em outra e Patrulha, Asas Rotativas, Bus-
ca e Salvamento em outra). Esta organiza-
ção facilita a unidade doutrinária e a ad-
ministração da progressão operacional das
equipagens.
Com a ativação dessa nova Força Aérea,
alcançaríamos uma verdadeira capacidade
de pronta resposta, fosse qual fosse a arqui-
tetura da Estrutura Militar de Guerra.
�O homem levou 5000 anospara passar da velocidade deum pessoa andando para a de90 Km/h, em condições favo-ráveis, num campo de bata-lha; o navio levou séculospara passar de 10/12 nós para25/30 nós (e olhe lá!), en-quanto que o avião levou me-nos de cinqüenta anos parapular de 50/100 nós para duasvezes e meia a velocidade dosom, podendo aumentar ain-da mais esta performance.�
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Esse fenômeno tornou-se mais intenso
na última década do século XX, des-
pertando as atenções dos estudiosos mi-
litares, os quais reconhecem que está ocor-
rendo uma verdadeira revolução nas concep-
ções, acepções e tecnologias de guerra
(�Revolution in the Military Affairs� - RMA).
Tudo isso ocorre no �habitat� operacional,
possível palco de atuação da Força Aérea
Brasileira.
Tais fatos tornam-se mais importantes,
quando se considera também que as hipóte-
ses de engajamento pelas forças armadas bra-
sileiras são difusas, indefinidas no tempo, no
espaço e na origem.
Esse artigo propõe-se a analisar de ma-
neira sucinta e realística o impacto dessas
mudanças aceleradas no preparo e emprego
da FAB. Iniciará examinando a
interdependência entre as concepções de
emprego e as tecnologias do espaço de bata-
lha, mostrará em seguida a rápida evolução
de cada uma delas nos últimos cinqüenta
anos e, finalmente, fará um sumário sobre o
comportamento que vem sendo adotado e
outras providências a serem implementadas
pela Força Aérea Brasileira diante dessa rea-
lidade.
No entanto, há necessidade de, inicial-
mente, identificar os fatores que influem em
todas atividades de uma força aérea e defi-
nem sua capacidade operacional.
�Driving Forces� do Poder Aéreo
As teorias e princípios iniciais do poder
aéreo vieram, de pensamentos desenvolvidos,
primordialmente, por teóricos do poder ter-
O Impacto das Concepções e Tecnologias no Preparo e Emprego da ForçaAérea Brasileira
Narcelio Ramos Ribeiro, Ten.-Cel.-Av.CGEGAR
restre como Sun Tzu, Sir Basil
Liddell Hart e Carl Von
Clausewitz. Esse último definiu
a essência da guerra por meio
de �uma trindade que compre-
ende o povo (paixão), as Forças
Armadas (criatividade) e a po-
lítica (razão)� [2]. Recentemen-
te, o Tenente�Coronel David K.
Edmonds, da USAF, idealizou
�a trindade do poder aéreo ba-
seada na convergência tempo-
ral da teoria, tecnologia e prá-
tica� [3].
Tanto a trindade da guerra
de Clausewitz, quando aplica-
da ao poder aéreo, quanto as
idéias do Tenente-Coronel
Edmonds são dependentes de
dois fatores essenciais e presen-
tes na aplicação de uma força
aérea: Concepção de Emprego e Tecnologia.
As concepções de emprego são os méto-
dos utilizados para aplicação da força aérea,
os caminhos escolhidos para atingir os obje-
tivos. Independente de serem doutrinariamen-
te certos ou errados, atualizados ou não, são
fatores presentes em qualquer cenário. As
tecnologias são as plataformas, os sistemas
d�armas, os sensores, os �softwares�, as co-
municações, os dispositivos. Esses dois fato-
res estão sempre presentes e condicionam
todas as ações, atividades e até mesmo o re-
sultado no campo de batalha. Por isso eles
são considerados �driving forces�. Eles se
complementam, derivam da essência do po-
der aéreo, resultando numa dicotomia que
traduz a arte e a ciência da guerra dos �Ca-
�Nos últimos cinqüenta anos têm ocorrido evoluções cada vez maisaceleradas nas concepções de emprego e tecnologias destinadas aocampo de batalha, provocando mudanças significativas nos cenáriosoperacionais, no preparo e emprego das forças armadas� [1]
O Tenente Coronel Narcelio Ra-
mos Ribeiro é piloto de patru-
lha, concluiu o CFOAv em 1980
e exerce atualmente a função de
chefe do Centro de Guerra Ele-
trônica do COMGAR. Possui
curso de Guerra Eletrônica na In-
glaterra (�Electronic Warfare
Directors�) e pós-graduação em
Planejamento Estratégico e Qua-
lidade Total pela AEUDF
(Brasília). O Ten.- Cel. Narcelio
tem trabalhos publicados nas
revistas da UNIFA e O
Patrulheiro.
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valeiros do Século do Aço�.
A maior sinergia do poder aéreo no cam-
po de batalha ocorre quando há coincidência
temporal entre as concepções de emprego e
a tecnologia existente. Isso é um desafio que
só é superado pelas forças aéreas que com-
preendem a dimensão e a importância desses
�driving forces�.
Essa coincidência temporal,
aliada a uma flexibilidade doutriná-
ria, foi um dos fatores responsáveis
pelas seguidas vitórias de Israel con-
tra as nações árabes na Guerra dos Seis
Dias em 1967, Yom Kippur em 1973 e
Vale do Bekaa em 1982.
Em nenhum desses conflitos
Israel possuía vantagem numérica, mas
soube compreender e explorar melhor
os �driving forces� do poder aéreo. Note-se,
ainda, que na Guerra do Yom Kippur eram os
Árabes que possuíam a supremacia
tecnológica: o SA-6 (míssil superfície-ar) era
guiado pelo primeiro radar com tecnologia
Doppler, permitindo acompanhar e abater
aviões israelenses voando próximo ao solo; o
míssil SA-7 portátil era algo inusitado; e o
canhão ZSU-23-4 foi o primeiro de uma série
de �hard kill� que passaria a existir no campo
de batalha.
A despeito dessas desvantagens e de ter
sofrido pesadas baixas no início do conflito,
Israel mudou sua concepção de emprego em
pleno andamento da batalha, passou a utili-
zar-se de supressão de defesa aérea, adaptou
a tecnologia para superar as ameaças exis-
tentes, fez coincidir no tempo os �driving for-
ces� do poder aéreo.
O mesmo não ocorreu no lado árabe, que
tinha tecnologia mas pecava na concepção
de emprego, causando uma defasagem tem-
poral nos �driving forces�, minimizando o efei-
to letal das suas forças armadas. Essa falta de
sincronismo foi resultado da rigidez doutriná-
ria oriunda de escola soviética, e do pouco
conhecimento sobre poder aéreo, os quais não
possibilitaram o desenvolvimento de concep-
ção de emprego no mesmo compasso da evo-
lução da tecnologia.
Esse descompasso entre concepções de
emprego e tecnologias é melhor compreen-
dido fazendo-se uma analogia entre algumas
organizações nacionais que entraram na era
da computação: aquelas que buscaram uma
concepção de gestão, na qual foi incluida a
tecnologia da informação, tiveram diminui-
ção de custo e pessoal, ampliaram seus ne-
gócios e melhoraram sua capacidade de res-
posta e de competição nos cenários contem-
porâneos. Por outro lado, houve organizações
que limitaram-se a apostar na tecnologia, sem
se preocupar com novos métodos de gerên-
cia e utilizaram o computador como uma
�máquina de escrever de luxo� com resulta-
dos nada animadores.
Mas nem sempre as concepções de em-
prego do poder aéreo estiveram sincroniza-
das com a tecnologia. Ao contrário da teoria
de Clausewitz, de que �a natureza da guer-
ra é intemporal�, os �driving forces� (concep-
ção e tecnologia) não o são. Eles evoluem
com o tempo e são interdependentes.
A EvoluçãoNa Primeira Guerra Mundial o poder aé-
reo não foi um fator decisivo. É claro que
nessa época a teoria de Clausewitz ainda não
havia sido transportada para essa nova dimen-
são da guerra [4].
Como não havia teoria escrita do poder
aéreo, o desenvolvimento das concepções não
acompanhou a incipiente tecnologia da épo-
ca.
Durante os anos subsequentes, entusias-
tas do poder aéreo como Giuilio Douhet, Gen
Billy Mitchell, Sir Hugh Trinchard e Alexan-
dre P. Seversky usaram numerosas idéias de
guerra de Clausewitz (como a do centro de
gravidade) para desenvolverem concepções
A maior sinergia dopoder aéreo no campode batalha ocorrequando há coincidên-cia temporal entre asconcepções de empre-go e a tecnologia exis-tente.
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de emprego, que culminaram nos conceitos
de bombardeio estratégico, superioridade
aérea e predominância dessa nova dimensão
da guerra.
Esses conceitos foram tão avançados para
a época, que só houve tecnologia para torná-
los realidade na Guerra do Golfo, em 1991.
Esse foi um processo evolutivo que ocorreu a
partir da II Guerra Mundial, primeiro conflito
após a teoria pioneira acerca do poder aéreo.
Ainda nessa linha, o Cel John Warden da
USAF lançou os fundamentos de uma cam-
panha aérea no seu livro �Air Compaign:
Planning for Combat�1 .
Essa versão modificada e atualizada do
centro de gravidade de Clausewitz com seus
cinco anéis concêntricos tornou-se o foco cen-
tral da campanha aérea do Golfo.
Até essa época, as idéias para a aplica-
ção do poder aéreo estavam à frente da
tecnologia. Pode-se deduzir que na Guerra
do Golfo houve a coincidência temporal en-
tre concepção e tecnologia, permitindo a
concretização da predominância dessa di-
mensão da guerra.
O quadro a seguir sumariza as evoluções
das concepções de emprego e tecnologias do
campo de batalha.
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.serodarita
1 O Coronel Warden definiu o centro de gravidade doinimigo em cinco anéis concêntricos: (de fora paradentro) liderança, instalações de produção, infra-estrutura, população e forças militares.
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Nota-se que o desenvolvimento quase que
sicronizado e mais acelerado dos �driving
forces� do poder aéreo ocorreu com mais ên-
fase no final do Século XX.
Essas mudanças são relevantes para os in-
tegrantes da Aeronáutica por causa dos se-
guintes axiomas:
a) o negócio da FAB não é qualquer
negócio, é a guerra, a defesa da pá-
tria, a aplicação militar do Poder
Aeroespacial Brasileiro;
b) no espaço de batalha, a FAB con-
correrá com oponentes que utilizarão
os �driving forces� do poder aéreo; e
c) o preparo e emprego da FAB depen-
dem dos �driving forces� do poder aé-
reo.
Preparo e Emprego da FAB
Segundo a Estratégia Militar Brasilei-
ra, �o preparo das forças armadas deve ba-
sear-se em capacidade, pois as ameaças
são difusas�[5]. Pode-se deduzir, baseado
nessa afirmativa e no que foi exposto nos
parágrafos anteriores, que a preparação da
FAB requer a busca incessante de conhe-
cimentos e meios que possibilitem melhor
explorar as concepções e tecnologias uti-
lizadas nos cenários de crise, conflito ou
guerra, a fim de atingir os objetivos polí-
ticos do estado-nação brasileiro.
Essa capacidade requer uma postura
pró-ativa diante da evolução acelerada das
concepções e tecnologias dos cenários
contemporâneos. É, portanto, uma ques-
tão de cultura organizacional.
Essa cultura tem a função de criar va-
lores compartilhados, preparar os integran-
tes da organização para liderança intelec-
tual, capacitá-los para desenvolver teoria
ou visão de vitória, possibilitar a melhor
utilização das características de uma for-
ça aérea (velocidade, alcance e flexibili-
dade) [6], entender e explorar os concei-
tos de precisão, letalidade, conhecimen-
to situacional global e do teatro de ope-
rações, estabelecer estratégias e aplicar
o poder aéreo como instrumento de polí-
tica do estado-nação.
O desenvolvimento organizacional,
para atingir esse nível de cultura, depen-
de de três fatores: conhecimento profissi-
onal sobre os �driving forces� do poder
aéreo, cr ia t iv idade e recursos
técnológicos.
Dentro desse enfoque, torna-se de fun-
damental importância a parceria que está
sendo realizada entre COMGAR e DEPED/
CTA, no sentido de, juntos, criarem um
programa de busca de excelência na área
da guerra, que consta basicamente de
cursos de pós-graduação nos níveis de es-
pecialização, mestrado e doutorado, com
o objetivo de preparar oficiais e civis as-
semelhados para: resolver problemas
operacionais e técnicos dos cenários de
guerra, conflito ou crise; gerar novos co-
nhecimentos (�know-why�) que resultem
em conceitos de guerra, concepções de
emprego, métodos, procedimentos
operacionais, processos e tecnologias; me-
lhorar o ciclo de decisão nos vários ní-
veis da guerra e a utilização dos meios
existentes; e tirar melhor proveito das con-
cepções e tecnologias de forças oponen-
tes.
Outra resposta a essa realidade é o
constante incentivo que o Comandante-
Geral do Ar (Ten.-Brig.-do-Ar Henrique
Marini e Souza) está dando à utilização
da criatividade e do potencial dos recur-
sos humanos para solucionar problemas
operacionais, técnicos e, até, administra-
tivos. Nesse sentido, têm sido reconheci-
dos e destacados aqueles que ultrapassam
os limites das atividades rotineiras, para
implementar inovações ou mudanças que
O poder aéreo repre-s e n t a a d i m e n s ã omais privilegiada dep r o j e ç ã o d e f o r ç aque a área pol í t icat e n d e r á c a d a v e zmais a selecionar e aempregar.
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11○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
agregam valor à missão da força.
Quanto aos recursos tecnólogicos ne-
cessários ao preparo e emprego da FAB
dentro de uma �visão de vitória�, depen-
dem de aporte financeiro, cuja obtenção
requer a atuação de atores fora da esfera
da Aeronáutica.
O poder aéreo representa a dimensão
mais privilegiada de projeção de força
que a área política tenderá cada vez mais
a selecionar e a empregar, por ser a op-
ção de mais baixo risco em termos de
custo-benefício, a que melhor responde
aos multiformes e imprevisíveis cenários,
a que é capaz de reagir mais rapidamen-
te para projetar a força física onde e quan-
do necessário e a que obtém efeitos psi-
cológicos e estruturais a milhares de qui-
lômetros de suas bases de origem.
A sinergia que garante a utilização do
potencial máximo do poder aéreo ocorre
quando há sincronismo entre concepções
de emprego e tecnologias existentes no
cenário operacional. Esse ponto ótimo,
para ser atingido, depende da cultura
organizacional (conhecimento e
criatividade) e de recursos tecnológicos.
O aporte financeiro para o desenvol-
v imento ou aquis ição dos recursos
tecnológicos depende também de outras
áreas do governo, mas o saber e a cultura
organizacional são problemas exclusivos
da Aeronáutica, que, utilizando progra-
mas de busca de excelência e de incenti-
vo à criatividade, reage com vigor e pre-
para-se para concorrer nos cenários de
guerra, conflito ou crise contemporâneos.
Referências[1] F ITZSIMMONDS, James R. �The
coming Mi l i ta ry Revolut ion:
Opportunities and Risks�, Parameters,
Summer 1995
[2] CLAUSEWITZ, Carl Von. �Da Guerra�.
São Paulo: European, 1981.
[3] EDMONDS, David K. �Airpower
Journal, Edição Brasileira, Terceiro Trimes-
tre 1998.
[4] Ibid, 26
[5] BRASIL. Estado-Maior das Forças Ar-
madas. �Estratégia Militar Brasileira�.
Brasília, 1998 (FA-E-01).
[6] BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Es-
tado-Maior da Aeronáutica. �Doutrina Bá-
sica da FAB�. Brasília, 1997. (DMA 1-1).
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12 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O Emprego de Forças Terrestres naAmazônia
Aimensa região amazônica, com qua-
tro milhões de km2, é conhecida pela
sua densa floresta tropical, onde a
maioria de suas árvores atingem mais de trin-
ta metros de altura. Esta região, totalmente
envolvida por rios, córregos e igarapés, en-
globa a maior bacia de água doce do mundo.
Em razão destas características geográfi-
cas, o emprego de forças terrestres na Amazô-
nia, em uma situação de conflito, assume um
perfil muito diferente das guerras convencio-
nais, tornando evidente a utilização de técni-
cas conhecidas como resistência ou lassidão.
Serão empregadas, certamente, tropas pára-
quedistas em missões de Infiltração
Aeroterrestre, tais como: infiltração de coman-
dos e de forças especiais. Todavia, a realiza-
ção de um Assalto Aeroterrestre, para o em-
prego da Brigada Infantaria Pára-quedista, será
muito dificultado pela carência de Zonas de
Lançamentos (ZL) compatíveis na região.
Consequentemente, a maioria das forças ter-
restres empregadas serão as Brigadas de Infan-
taria de Selva, que necessitarão de total apoio
logístico a ser fornecido pela V Força Aérea.
Como será realizado o ressuprimento des-
sas tropas? As Bda. Inf. Selva irão abrir clarei-
ras ou ZL, a fim de permitir o lançamento de
material sobre o solo firme para o seu
ressuprimento?
A experiência de quem
opera na abertura de clarei-
ras informa que para construir
uma ZL de 400m x 200m, uti-
lizando dez homens treinados
e bem equipados, em regime
de urgência, são necessários
quatro dias de trabalho só na derrubada das
árvores, permanecendo o problema principal
a ser resolvido que é a retirada dos escom-
bros, visando o recebimento da carga.
Obviamente, em virtude das técnicas de
combates empregadas, a Força Terrestre não
terá condições de se
expor abrindo clarei-
ras (ZL). A solução
prática será o
Ressuprimento Aéreo
ocorrer sobre as
águas dos rios e la-
gos que pontilham
toda a região amazô-
nica.
A Amazônia pos-
sui lagos como o de
Tefé (40 x 7 km),
Piorini (50 x 5 km),
Mancapuru, Badajós,
Janaucá e muitos ou-
tros; possui os rios
Amazonas, Negro,
Solimões, Tapajós,
Madeira, Xingu,
Tocantins, Branco e
mais uma infinidade
de afluentes que po-
dem vir a ser utilizados como zonas aquáti-
cas de lançamento.
O material a ser lançadoÉ evidente que o material a ser lançado
estará ligado às necessidades das Unidades
Terrestres desdobradas. A título de exemplo,
pode-se imaginar: rações,
medicamentos, munições,
armamentos, fardamento,
equipamentos eletrônicos,
motores para embarcações
leves, combustível para he-
licópteros desdobrados em
profundidade na selva e
muitos outros.
A necessidade de material a ser ressuprido
às Bda. Inf. Selva é calculada por dia de ope-
ração em combate, sendo que a menor fra-
Emprego da Aviação de Transporte na AmazôniaRenato Cossatis Filho, Ten.-Cel.-Av
Comandante do 1o/9o GAV
O Ten.-Cel. Renato Cossatis
Filho é operacional em Trans-
porte Aéreo Logístico, Trans-
porte Aeroterrestre e Reabas-
tecimento em Vôo. Concluiu
o CFOV em 1980 e exerce
atualmente a função de co-
mandante do 1º/9º GAV. Pos-
sui 16 anos dedicados à Avi-
ação de Transporte, 6 em
C-115 Buffalo e 10 em
C/KC-130 Hércules.
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13○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
ção a ser empregada, por doutrina, será no
nível de batalhão. Para o cálculo da carga a
ser lançada, tem-se que considerar que um
batalhão é formado por pelo menos três com-
panhias e cada companhia tem no mínimo
três pelotões. De acordo com o Centro de
Instrução de Guerra na Selva (CIGS), a ne-
cessidade de material das tropas infiltradas
na floresta amazônica, a cada 5 dias de ope-
ração, será: pelotão � 600 kg; companhia �
2.400 kg; e batalhão � 25.000 kg.
A Plataforma de Lançamento AéreoNo ano de 1984, oficiais do 1o/9o GAV per-
ceberam esta problemática e desenvolve-
ram uma plataforma que tinha capacidade
de flutuabilidade de até 420 Kg de carga. Foi
realizado um lançamento sobre as águas do
Rio Negro, a 800 pés de altura, tendo a pla-
taforma sido recolhida por um bote a remo
guarnecido por dois militares. A experiência
colhida naquela ocasião demonstrou que tal
prática é totalmente viável, simples, econô-
mica e efetiva. No entanto, após o lança-
mento de teste bem sucedido nada mais foi
feito e tudo foi esquecido com o passar dos
anos, não sobrando vestígios da plataforma
que foi denominada hidropálete.
No ano de 1999, após a exposição do
1o/9o GAV no Simpósio da XIX
Reunião da Aviação de
Transporte,
por determinação do Comandante da V For-
ça Aérea, foi reiniciado o desenvolvimento
de novos hidropáletes, visando não só aten-
der às necessidades da Força Terrestre, mas
também permitir a realização da XX RAT na
região amazônica, nossa principal hipótese
de emprego.
Com duas folhas de compensado naval,
três fitas de pálete e uma camada de isopor
variável com o peso da carga (até 50 cm), o
1o/9o GAV desenvolveu uma nova plataforma
de baixíssimo custo e com uma capacidade
de flutuabilidade de até 1220 Kg. Estas plata-
formas foram aprovadas no teste de lança-
mento aéreo do C-115 (agosto de 1999) e do
C-130 (abril de 2000).
Além do hidropálete, o 1o/9o GAV em con-
junto com o CIGS estuda ainda a possibilida-
de de empregar técnicas de lançamento ra-
sante, que é de grande precisão, para lan-
chas de duralumínio com uma carga de 600
Kg. A praticabilidade e a aceitabilidade des-
te projeto serão exaustivamente analisadas
antes dos vôos de teste.
O que falta fazerA XX Reunião da Aviação de Transporte
na Base Aérea de Manaus, neste ano de 2000,
será um marco da elevação operacional das
equipagens de nossa Aviação no
cumprimento de missões de
Transporte Aeroterrestre
Continua na página 43
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14 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
�A Guerra é um produto de seu tempo. Asferramentas e táticas com as quais lutamostêm sempre evoluído com a tecnologia. De-vemos estar prontos para seguir esta tendên-cia.�[2]
Vivemos hoje o que muitos chamam
de Era da Informação. Não que a in-
formação não tivesse importância
antes, mas os métodos de obtenção, transmis-
são, processamento e arquivamento tornaram-
se tão eficientes que a Informação passou a
ser matéria prima, combustível e produto das
mudanças observadas nessa nova Era. A Era
da Informação mudou a forma como as ri-
quezas são geradas, alterou a distribuição do
poder e diminuiu as distâncias, comprimindo
o tempo e mudando o ritmo de nossas vidas.
A história tem mostrado que as táticas
e técnicas empregadas pelas forças mili-
tares evoluem em função da tecnologia
disponível, da mesma forma que forçam
a pesquisa e desenvolvimento de novas
tecnologias. Dessa forma, por diversos mo-
mentos da história, a tecnologia militar
foi pioneira na descoberta de novos con-
ceitos que, mais tarde, acabaram sendo
empregados fora do ambiente castrense,
seja na indústria, na medicina, nas tele-
comunicações ou nos transportes. Nas úl-
timas décadas, porém, com a rápida pro-
gressão da capacidade de processamento
dos computadores e do poder advindo da
conexão entre eles (redes), tem-se obser-
vado um desequilíbrio entre a velocidade
com que a iniciativa privada consegue in-
corporar essas novas tecnologias em com-
paração com as Forças Armadas. Empre-
sas de sucesso têm se ut i l izado da
tecnologia disponível para adquirir supe-
rioridade de informação, definida como
�um estado alcançado quando a vantagem
competitiva é derivada da habilidade de
explorar uma posição superior de informa-
Network Centric Warfare (NCW) � Uma Revolução no Campo deBatalha [1]
Edson Fernando da Costa Guimarães , Cap.-Av.CGEGAR
ção� [1].
Com o intuito de aplicar a tecnologia já
empregada com su-
cesso no setor priva-
do, pesquisadores mi-
litares de todo o mun-
do têm estudado a
adaptação desses
princípios às Forças
Armadas. Desses es-
tudos [1] surgiu o con-
ceito de Network
Centric Warfare
(NCW) que será o
principal enfoque
deste artigo. NCW �é
uma mudança funda-
mental do que antes
era chamado de
p la t fo rm-cen t r i c
warfare...�, também
considerada �a mai-
or Revolução nos As-
suntos Militares dos
últimos 200 anos.� [2]
Platform-Centric Warfare vs.Network Centric Warfare
Como dito anteriormente, NCW representa
uma mudança do que antes se empregava:
Platform-Centric Warfare. Nesta última, cada
arma tem seu próprio sistema de sensores, e se o
sensor não está co-localizado com a platafor-
ma, existe um sistema de comunicação ponto-
a-ponto para prover dados para o atirador. Agora
não é mais possível ter uma massa de platafor-
mas (navios, aviões) e um grande número de
sistemas de armas, e ainda assim, armas de pre-
cisão devem ser empregadas em local e horário
exatos, onde apenas um sensor pode não ser
suficiente para guiá-los, sendo necessários da-
dos integrados de vários sensores e bancos de
dados para alimentá-los. NCW é a habilidade
O Capitão Edson Fernando da
Costa Guimarães é piloto de trans-
porte, concluiu o CFOAv em 1990
e exerce atualmente a função de
adjunto à Seção de Desenvolvi-
mento de Recursos Humanos do
Centro de Guerra Eletrônica do
COMGAR (CGEGAR). Possui cur-
sos de Guerra Eletrônica no Brasil
e na França, pós-graduação em
análise e projeto de sistemas (GFI/
UNB � Brasília) e mestrado em En-
genharia de Sistemas de Guerra
Eletrônica na Naval Postgraduate
School (EUA).
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15○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
de forças dispersas geograficamente criarem um
alto nível de �consciência situacional� que pode
ser explorada para atingir os objetivos da guer-
ra. O conceito de consciência situacional (figu-
ra 1) implica um grande volume de informações
sobre �espaço de batalha�, termo que veio subs-
tituir a expressão �campo de batalha� para refor-
çar ainda mais a desvinculação com o aspecto
físico do terreno onde as batalhas eram vencidas.
Ele engloba conhecimento sobre a situação ami-
ga, a situação do inimigo e do cenário
operacional.
Figura 1 -�Consciência Situacional�
Para sua consecução, a NCW é estabelecida
sobre quatro pilares:
- Banda larga de radiofreqüência (Data Links):
provê a habilidade de transportar grande quanti-
dade de dados pelo espectro eletromagnético;
- Redes locais de banda larga: permitem o
processamento e a transmissão de dados local-
mente;
- Gerenciamento de informação: torna eficiente
o uso, o processamento e a aplicação da infor-
mação; e
- Plataformas preparadas: permitem o uso dos
serviços oferecidos pela rede.
Mas que mudanças ocorreram no cenário mi-
litar de modo a suscitar a necessidade de repen-
sar-se a maneira como seus meios são emprega-
dos? Atualmente, tem-se que confiar em uma
grande quantidade de informação, entregue opor-
tunamente e em local exato. A solução que se
apresenta é o uso de redes como multiplicadoras
de força. Na verdade, é necessário um conjunto
de redes (LAN - �local area networks�) com apli-
cações comuns, táticas e não-táticas. Essas re-
des precisam de largura de banda suficiente para
todos os usuários se beneficiarem do fluxo de
dados e das bases de dados. O problema, entre-
tanto, não é apenas conectar peças. São neces-
sários organização, doutrina e treinamento. Dessa
forma, a produtividade da rede poderá exceder
a soma da produtividade das partes.
Outro fator que força as Forças Armadas a
reverem seus métodos é a constante busca
de eficiência que lhe é exigida ao mesmo
tempo em que os recursos disponíveis são
constantemente reduzidos. A NCW propõe
então uma reinterpretação de alguns dos prin-
cípios da guerra, entre eles o princípio da
massa. Uma vez que, com a indisponibilidade
de recursos, fica comprometida a capacida-
de de mobilizar uma grande quantidade de
meios (Massa de Forças), torna-se essencial
que se possa causar o mesmo efeito (ou mai-
or) com os poucos recursos disponíveis (Mas-
sa de Efeitos).
Modelo Lógico da NCW
A Malha da NCW (figura 2) é composta
de três sub-malhas:
- malha da informação
- malha de sensores
- malha de atiradores
Figura 2 - Modelo Lógico para NCW
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16 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A Malha da Informação provê infra-estru-
tura para as comunicações e a computação.
Ela recebe, processa, transporta, guarda e pro-
tege as informações, provendo infra-estrutura
�plug-and-play� para sensores e atiradores, po-
dendo existir no espaço, no céu, em terra ou
no mar. É uma malha física e permanente. Um
aspecto importante que deve ser considerado
quanto à malha da informação é a segurança,
em seus três objetivos fundamentais [3]:
- Sigilo (proteção contra divulgação
indevida de informações � criptografia e con-
trole de acesso);
- Integridade (proteção contra a modifica-
ção não autorizada de informação � totais de
controle e assinatura digital);
- Disponibilidade (proteção contra a inter-
rupção do serviço � backup e duplicação de
sistemas);
A Malha de Sensores é composta de sensores
baseados em terra, mar, ar e no espaço. Podem
ser sensores isolados, baseados em plataformas
de sistemas de armas, transportados por tropa
ou sensores de situação logística. Tais sensores
provêem alto grau de consciência do espaço
de batalha, incluindo forças amigas, inimigas
ou neutras e cenários. É uma malha transiente
(existe apenas para uma determinada missão)
e é capaz de realizar alocação dinâmica de
sensores e fusão de dados
Finalmente, a Malha de Atiradores permi-
te que a guerra seja planejada e executada
de forma a se alcançar projeção de força em
tempo e local precisos, através do conheci-
mento do campo de batalha.
Por meio deste modelo, novas capacida-
des operacionais são conquistadas, tais como
o planejamento predictivo (habilidade de ser
pró-ativo no processo de planejamento, es-
tando preparado para reagir e explorar opor-
tunidades, moldando as ações de forma a fi-
car dentro do ciclo de decisão do inimigo e
mantendo-o de fora do nosso ciclo),
gerenciamento integrado da Força (capaci-
dade de atingir sincronismo de missões e re-
cursos provenientes de todos os componen-
tes da Força), operação sincronizada de For-
ças Distribuídas, execução de missões de
tempo crítico (habilidade de prover busca e
aquisição de alvos, seleção de alvos, coor-
denação da guerra), seleção de alvos e exe-
cução de ações de pronta resposta.
Mitos da NCWAlguns mitos existem em torno do con-
ceito de NCW. O primeiro deles é que a NCW
seria apenas uma guerra de redes. Tal argu-
mento é falso, pois NCW é na verdade o uso
da tecnologia de redes para aumentar o po-
der de combate das Forças. Outro mito diz
respeito à preocupação de que a NCW mu-
daria a natureza da guerra. Se olharmos os
princípios da guerra, apenas alguns princípi-
os deveriam ser reinterpretados, como o prin-
cípio de massa, passando a nos interessar a
massa de efeitos e não de forças.
Toda essa movimentação no sentido de me-
lhorar a eficiência do uso dos recursos disponí-
veis faz com que sejam geradas discussões e
debates em torno de melhores táticas e técni-
cas para aplicação militar. Toda essa �Revolu-
ção no Campo de Batalha� força a que se re-
pensem conceitos e doutrinas, livrando o con-
texto de paradigmas antigos e já não tão efici-
entes. Manter as concepções de emprego mili-
tar sincronizadas com a tecnologia disponível
é o desafio constante das Forças Armadas.
Bibliografia[1] Alberts, David S. et al. �Network Centric Warfare:Developing and Leveraging InformationSuperiority.� CCRP Publication Series, 1999.
[2] Cebrowski, Vadm Arthur K., USN and John J.Garstka. �Network Centric Warfare: Its Origin andFuture.� Proceedings of the Naval Institute 124:1, 1998.
[3] White, Gregory B. et al. �Computer System andNetwork Security�. CRC Press LLC, 1996.
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17○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Os materiais absorvedores de radia-
ção usam as propriedades de tro-
ca de energia da radiação eletro-
magnética por energia térmica, podendo-se
citar determinados tipos de materiais
carbonosos, óxidos cerâmicos (ferritas) e
polímeros condutores. Estes materiais quan-
do atingidos por uma onda eletromagnética
têm a estrutura molecular excitada e parte
da energia incidente é convertida em calor
(Figura 1).
Figura 1: Esquema da transformação da energia
eletromagnética em calor pelo MARE.
As características da tecnologia de baixa
detecção por ondas eletromagnéticas são atri-
buídas ao formato da estrutura da aeronave
e, também, aos materiais empregados na sua
construção e no seu revestimento, destacan-
do-se o uso de compósitos com fibras de car-
bono e revestimentos à base de ferritas [Lee,
1991]. Alguns materiais podem ser usados para
absorver uma parte da radiação incidente em
uma determinada faixa de freqüências ou para
atenuar uma alta porcentagem do sinal do
radar em banda larga de freqüências. Em sen-
do assim, a transparência e a refletividade
de uma estrutura ao radar são funções da ge-
ometria do alvo e das propriedades dielétricas
e magnéticas do material [Ufimtsev, 1996;
Sattar, 1996; Stonier,1991].
Os materiais absorvedores de radiação
podem ser divididos naqueles que absorvem
os campos magnético e elétrico e a combi-
nação de ambos, denominados materiais
absorvedores híbridos. A eficiência na ab-
sorção do sinal emitido por
uma determinada fonte é ava-
liada por medidas de
refletividade do material ou do
objeto em questão. Os
absorvedores dielétricos são
obtidos a partir da adição de
pequenas partículas de carbo-
no, grafite ou partículas de
metal pulverizadas em uma
matriz de resina. E, os
absorvedores magnéticos pela
incorporação de partículas
magnéticas, como ferritas, à
matriz polimérica [Hippel,
1954; Cho, Kang, OH,1996].
Os MARE encontram aplica-
ções nas faixas de freqüência de
30 MHz até 100 GHz, poden-
do-se citar: antenas de alto de-
sempenho, revestimentos de
câmara anecóica, proteção ele-
tromagnética de materiais
aeroembarcados, blindagem de
radiação danosa em aparelhos
celulares, sistemas de seguran-
ça interna de aeronaves;
cabeamento para controle de
geração de ruídos espúrios; con-
trole de interferência de sinais
de TV em edifícios; segurança
de fornos de microondas; produ-
ção de válvulas cardíacas com
proteção eletromagnética; na in-
dústria militar para a redução da
seção reta radar (Radar CrossSection - RCS) em navios e ae-
ronaves; na redução de ondas su-
perficiais na blindagem de com-
partimentos; em atenuadores e terminações
para guias de ondas e conexões; na otimização
de diagramas de irradiação de antenas; na re-
dução de reflexões indesejáveis de objetos e
dispositivos; entre outras.
Materiais Absorvedores de Radiação EletromagnéticaMirabel Cerqueira Rezende, Fábio Santos da Silva, Inácio Malmonge Martin
IAE/CTA
A Doutora Mirabel CerqueiraRezende é Bacharel em Químicapelo Instituto de Química deAraraquara/UNESP (1980), Mestreem Ciências pelo Instituto de Físicae Química da USP/São Carlos (1985)e Doutora em Engenharia pelo De-partamento de Engenharia Químicada USP/SP (1991). É pesquisadora daDivisão de Materiais(AMR)/IAE/CTAna área de materiais desde 1985 e,atualmente, Chefe da Subdivisão deCompósitos da AMR/IAE/CTA, sendoresponsável pelas atividades de P&Dem MARE no CTA
O Doutor Inácio Malmonge Martiné Bacharel em Física pelo Institutode Física de Rio Claro/UNESP(1967), Mestre em Ciências pelo Ins-tituto Tecnológico de Aeronáutica/CTA (1968), Doutor em Ciências pelaFaculdade de Ciências de Toulouse/Univ. de Toulouse, França (1971) eDoutor em Ciências pelo Centro deEstudos Espaciais e da Radiação,França, (1974). É Professor LivreDocente do Instituto de Física daUNICAMP e, atualmente, atua comopesquisador convidado da Subdivi-são de Compósitos da AMR/IAE/CTA
O Engenheiro Fábio Santos da Silvaé formado pelo Departamento deEngenharia Química da UFSC(1998)e Mestrando em Ciências pelo Insti-tuto Tecnológico de Aeronáutica ITA/CTA.
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História do Desenvolvimento dosMARE
Os avanços tecnológicos que os MARE
podem proporcionar às áreas da
eletroeletrônica, espacial e aeronáutica têm
impulsionado a realização de várias traba-
lhos de pesquisa e desenvolvimento na ob-
tenção desses materiais. Os primeiros estu-
dos nessa área ocorreram pouco antes da
Segunda Guerra Mundial, quando os ale-
mães reduziram o RCS de periscópios sub-
marinos. Dois tipos de materiais foram de-
senvolvidos para este propósito. O primeiro
obtido com borracha dopada magnetica-
mente, que atenuava a radiação incidente
em torno de 3 GHz. O segundo projeto foi
desenvolvido por Jauman que obteve um
material multicamadas de diferentes espes-
suras, relativamente espesso, com aproxi-
madamente três polegadas, sendo que as ca-
madas aumentavam gradativamente a
condutividade diminuindo, assim, a
resistividade. Esses absorvedores conseguem
uma boa atenuação (-20 decibéis - dB) em
uma banda larga de freqüências. Este tipo
de absorvedor, denominado absorvedor
Jauman, ainda hoje é comercializado
[Johnson,1992].
Os norte-americanos desenvolveram dois
absorvedores, o primeiro obtido no labora-
tório de radiação do Massachusetts Instituteof Technology � MIT, patenteado por Otto
Halpern, que recebeu o nome de HARPA
(Halpern Anti Radiation Paint ) . Este
absorvedor consistia de materiais conduto-
res como alumínio e cobre ou materiais
ferromagnéticos aditados em materiais não
condutores, como plásticos e borrachas. A
mistura resultante era obtida em finas ca-
madas posicionadas em estrutura sanduíche,
com orientações contrárias, em zero e no-
venta graus, de modo que a eficiência da
absorção da radiação não fosse afetada de
maneira significativa pela posição do
absorvedor. Este tipo de material foi utili-
zado para a redução de interferências ele-
tromagnéticas, não sendo aplicado para a
redução de RCS [Johnson, 1992]. O segun-
do material absorvedor desenvolvido, co-
nhecido como Salisbury, tem seu princípio
de funcionamento baseado na perda da ra-
diação pelo fenômeno das reflexões múlti-
plas da onda. Neste caso, um absorvedor
com valores de impedância próximos da do
ar (377 ohms por polegada quadrada) é
posicionado sobre o material (alvo) a ser
revestido, a uma distância previamente
calculada (Figura 2), de modo que as on-
das incidentes e aquelas refletidas no ma-
terial se cancelem, provocando uma ate-
nuação de 25 a 30 dB da radiação inciden-
te. O primeiro Salisbury patenteado era
formado por uma face frontal de lona
dopada com grafite, colada em uma placa
de madeira e abaixo desta uma base de alu-
mínio. Atualmente, esses absorvedores pos-
suem a face frontal em fibra de vidro com
impregnação de grafite e a espessura dese-
jada é obtida por uma espuma e um mate-
rial condutor como base final [Johnson,
1992].
Figura 2: Funcionamento de um absorvedor
ressonante, tipo Salisbury
A Inglaterra iniciou suas pesquisas no
Laboratório de Pesquisas de Plessey, em
1947, e o primeiro produto de sucesso foi
Spectrum
19○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
uma borracha natural aditada com carbo-
no, conhecido como DX1, utilizado no ra-
dar do bombardeiro Vulcan. Esse grupo de
pesquisas também desenvolveu
absorvedores para navios, com a principal
finalidade de reduzir falsos ecos. Os mate-
riais desenvolvidos eram absorvedores mag-
néticos ressonantes, formados de borracha
natural e elastômeros de neoprene e opera-
vam de 1 a 18 GHz. Quando colados a uma
estrutura metálica reduziam as reflexões de
20 a 30 dB. Em função do sucesso desta
linha de absorvedores, atualmente estes
materiais são usados em quase todos navi-
os britânicos [Knott, Schaeffer, Tuley, 1993].
O maior interesse na redução de RCS sur-
giu no final da década de 70, quando o go-
verno norte-americano iniciou trabalhos para
a produção de um bombardeiro de baixa
detecção por radar. Desde essa data, o inte-
resse na redução do RCS pela utilização de
MARE e por estruturas absorvedoras de radi-
ação (Radar Absorbing Structures � RAS) tem
aumentado de maneira significativa.
Hoje, os trabalhos mais inovadores na área
de processamento de MARE estão utilizando
como centros absorvedores da radiação ele-
tromagnética borrachas e tintas aditadas com
polímeros condutores. Tais absorvedores apre-
sentam como principais características valo-
res de atenuação comparáveis aos obtidos
com ferritas, baixos valores de densidade e
versatilidade no processamento, permitindo
a obtenção de MARE com característica res-
sonante ou de banda larga.
Tipos de Absorvedores
Os absorvedores de radiação estão di-
vididos em banda estreita ou ressonante,
tipo N (Narrow) e banda larga, tipo W
(Wide), de acordo com a faixa de freqüên-
cias absorvida. A Figura 3 ilustra curvas
de atenuação típicas, obtidas pelo uso des-
tes dois t ipos de absorvedores. Os
absorvedores tipo N possuem uma banda
característica de absorção,
sendo utilizados quando ape-
nas uma freqüência ou peque-
na faixa deve ser reduzida ou
eliminada. Aplicações típicas
deste tipo de absorvedor são
observadas na eliminação de
interferências em dispositivos
eletrônicos e na prevenção da
reflexão de sinais de TV em
paredes de edifícios. No Ja-
pão este tipo de aplicação já é uma práti-
ca.
Os absorvedores tipo W possuem uma ban-
da larga de absorção, devendo ser utilizados
quando se deseja atenuar várias freqüências,
possuindo um grande campo de aplicações,
destacando-se os absorvedores piramidais. Este
tipo de absorvedor tem como aplicação mais
significativa o revestimento de câmaras
anecóicas, sendo utilizados para freqüências
superiores a 30 MHz.
Figura 3: Exemplosde absorvedores (a)tipo N, atenuando aradiação na faixa de8-10 GHz e (b) tipo
W, atenuando aradiação de 4-18
GHz.
Os avanços tecnológicos queos MARE podem proporcionaràs áreas da eletroeletrônica,espacial e aeronáutica têmimpulsionado a realização devárias trabalhos de pesquisa edesenvolvimento na obtençãodesses materiais.
Spectrum
20 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Pesquisa & Desenvolvimento (P&D)de MARE no Centro Técnico
Aeroespacial
Devido à constante atual ização
tecnológica exigida no setor aeronáutico,
visando um maior desempenho das aero-
naves, maior segurança em vôo,
otimização de sistemas de comunicação e
o domínio no sistema de camuflagem, a
Divisão de Materiais, do Instituto de Aero-
náutica e Espaço, do CTA, vem se dedi-
cando à pesquisa e desenvolvimento de
materiais absorvedores de radiação à base
de ferr i tas, part ículas de carbono e
polímeros condutores em matr izes
poliméricas tipos epóxi, silicone, espumas
de poliuretano e colméias, contribuindo no
domínio tecnológico ao nível nacional de
MARE tipos ressonante e banda larga, na
faixa de 2 a 18 GHz. Dentre os benefícios
dessa área de atuação à indústria aeronáu-
tica do país e ao setor privado, em geral,
pode-se destacar: a inovação tecnológica
na área de preparação de MARE com pro-
priedades de absorção de comprimentos de
ondas previamente especificados em fun-
ção da formulação preparada; o domínio
na utilização de ferritas, polímeros condu-
tores e partículas de carbono na prepara-
ção de MARE tipos tintas, borrachas,
compósitos com fibras de carbono e
absorvedores híbridos, usados nos setores
aeronáuticos, de telecomunicações, entre
outros.
Referências Bibliográficas
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Spectrum
21○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Informação, conhecimento e tecnologia
são, atualmente, recursos estratégicos que
precisam ser administrados eficazmente
para que qualquer organização � seja ela
pública ou privada � consiga manter-se em
uma situação vantajosa e evolutiva no ambi-
ente em que opera.
Nas organizações militares, os desafios
para se alcançar o aproveitamento máximo
da informação disponível se revestem de ca-
racterísticas ainda mais complexas do que
os observados em outros ambientes, uma vez
que estão em jogo não apenas questões rela-
cionadas à condução das suas próprias ope-
rações, mas também temas mais amplos, li-
gados à segurança nacional.
Dessa forma, é exigido das Forças Arma-
das a execução de uma gama cada vez mai-
or de operações sofisticadas, que dependem
não apenas de tecnologias bastante avança-
das, como também de um grande volume de
informações estratégicas, como os conceitos
�consciência situacional�[4] e �comando e
controle�[1] podem ilustrar. Ao mesmo tem-
po em que se acumulam essas novas exigên-
cias, observa-se uma redução sistemática dos
recursos disponíveis no âmbito das organiza-
ções militares [4].
Nesse contexto, o processo de obter a in-
formação certa, colocá-la num formato
aproveitável, e fazê-la chegar onde ela é
necessária de modo eficiente, econômico e
eficaz assume um papel-chave, seja nas ope-
rações militares de alta tecnologia, seja na
gestão de todos os outros aspectos
organizacionais presentes nas Forças Arma-
das.
Os recentes avanços na tecnologia da in-
formação e nas redes de telecomunicação,
ao facilitar significativamente a coleta, a pro-
teção e o uso do conhecimento corporativo,
propiciaram o surgimento de novos softwares
e processos desenvolvidos para se integrar aos
sistemas de informação já existentes, e per-
A Gestão do Conhecimento no Contexto das Organizações MilitaresAdriana Beal
Vydia Tecnologia
mitir a disseminação mais efe-
tiva do conhecimento por toda
a organização. Essas novas
metodologias são conhecidas
em seu conjunto como �gestão
do conhecimento� [2].
A �gestão do conhecimen-
to� ou �gestão do capital inte-
lectual� abrange os processos
gerais de localização, organi-
zação, transferência e uso mais
eficiente da informação e da
especialização presentes em
uma organização. Apesar de
não ser um conceito novo - há
centenas de anos artesãos, co-
merciantes e trabalhadores já
repassavam o conhecimento
obtido no desempenho das suas
atividades profissionais para
aprendizes -, foi apenas no iní-
cio dos anos 90 que a gestão
do conhecimento passou a ser
adotada como uma prática
consciente pelos administrado-
res de empresas e gestores de
órgãos públicos.
Administrar o conhecimen-
to não é gerenciar documentos
eletrônicos, nem informações.
A gestão do conhecimento faz
a convergência de várias disciplinas, como o
gerenciamento eletrônico de documentos, o
gerenciamento de informações e os data
warehouses, entre outros, acrescentando-lhes
um elemento novo - o relacionamento.
Implementar um sistema completo de ges-
tão de conhecimento não é uma tarefa sim-
ples ou rápida; entretanto, os resultados po-
dem ser significativos e os riscos minimizados
adotando-se uma metodologia por etapas, que
assegure o aproveitamento dos recursos de
tecnologia da informação já disponíveis na
organização, e ofereça benefícios
Adriana Beal é graduada em
Engenharia Elétrica pela Uni-
versidade de Brasília, e espe-
cialista em auditoria de
Tecnologia da Informação. É
autora do livro "Manual de
Tecnologia da Informação
para Gerentes" e exerce atu-
almente a função de con-
sultora nas áreas de gestão
estratégica da T.I. e segu-
rança da informação na
Vydia Tecnologia. Minis-
trou, em 1999 no Rio de Ja-
neiro, o módulo "Análise e
Melhoria de Processos" do
curso de capacitação dos
gestores das Organizações
Mili tares Prestadoras de
Serviços (OMPS) da Mari-
nha do Brasil.
Spectrum
22 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
mensuráveis a cada fase concluída. O com-
prometimento da alta administração com o
processo, e a efetiva participação dos diri-
gentes na definição dos problemas-chave a
serem resolvidos e dos objetivos corporativos
a serem alcançados, são fatores essenciais
para que um projeto dessa natureza obtenha
sucesso.
A tecnologia possui um papel importante na
implantação de um sistema de gestão do co-
nhecimento, proporcionando metodologias e
processos necessários para a sua concretização.
Pacotes de aplicativos podem reduzir o traba-
lho de desenvolvimento do sistema, executan-
do tarefas básicas como a localização de espe-
cialistas na organização, recuperação rápida de
documentos e automatização de parte das fun-
ções de administração do conteúdo.
Não menos importante que as característi-
cas técnicas são as considerações humanas, de
motivação das pessoas que irão
documentar, gerenciar e compar-
tilhar o conhecimento. Ao longo
da vida de um projeto de gestão
do conhecimento, os dirigentes
precisam estar constantemente
enfatizando a qualidade e o va-
lor do conhecimento administra-
do, e incentivando os usuários e colaboradores
do sistema a manter e atualizar as informações
armazenadas.
Sendo a gestão do conhecimento um cam-
po ainda nas primeiras fases de desenvolvimen-
to, são raros os modelos bem-sucedidos que
podem servir como base para a definição de
um sistema eficiente e efetivo de gestão do
capital intelectual de uma organização, seja
ela civil ou militar. Por outro lado, a maioria
das organizações que investiram na implanta-
ção de um sistema de gestão do conhecimento
declaram ter obtido resultados tangíveis, como
aumento da eficiência, aprimoramento do pro-
cesso de tomada de decisões e maior dissemi-
nação de soluções [5].
Nas Forças Armadas, assim como em mui-
tas outras instituições públicas, tem sido cons-
tante a busca por uma maior eficiência
operacional, cada vez mais necessária para
fazer frente à sistemática redução dos recursos
disponíveis e às crescentes exigências em re-
lação ao nível do serviço prestado à socieda-
de. As novas tecnologias voltadas para a ges-
tão do conhecimento oferecem a promessa do
uso mais eficiente da informação e do produto
da inteligência coletiva, sem que sejam alte-
radas as ferramentas normalmente usadas para
criar e processar esse conhecimento. Com o
uso das tecnologias e metodologias voltadas
para esse fim, as organizações militares podem
estabelecer sistemas de gestão do conhecimento
que apoiem e otimizem a geração, coleta e
assimilação da informação, e facilitem o
compartilhamento da experiência, competên-
cia e habilidade encontrados em seus recursos
humanos. Iniciativas dessa natureza proporci-
onariam benefícios não somente para as ope-
rações militares de alta tecnologia, mas tam-
bém para a economia, eficiência e eficácia
dos demais aspectos organizacionais presen-
tes nas Forças Armadas.
[1] CASTRO, Davi R. S., "Data Link nas Opera-
ções Aerotáticas", Revista Spectrum, agosto
2000.
[2] DATAWARE Technologies. Knowledge
Management: Linking People to Knowledge for
Bottom Line for Bottom Line Results. Dataware
Technologies, 1998.
[3] DAVENPORT, Thomas e PRUSAK, Laurence.
Working Knowledge. Harvard Business School
Press, 1998.
[4] GUIMARÃES, Edson F. C., "Network Centric
Warfare", Revista Spectrum, agosto 2000.
[5] HANSEN, T. Morten et alli. What´s your
strategy for managing knowledge? In: Harvard
Business Review, p. 106-116, março/abril 1999.
A �gestão do conhecimento� ou
�gestão do capital intelectual�
abrange os processos gerais de
localização, organização, transfe-
rência e uso mais eficiente da in-
formação e da especialização pre-
sentes em uma organização.
Spectrum
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Os fratricídios, perdas em combate
causadas por tropas amigas, talvez
sejam o remédio mais amargo a
ser ingerido pelos militares em tempos de
guerra.(LUM, 1995, p. 35)
O problema aparece sempre que a confu-
são do combate se torna inevitável, especi-
almente quando o tamanho das forças e a
sua mobilidade dificultam o reconhecimen-
to de suas próprias posições e de seus alia-
dos, e quando a letalidade de seus armamen-
tos extrapola sua capacidade de reconhecer
o alvo.
A preocupação e a discussão do tema não
são recentes. Remontam ao tempo das bata-
lhas medievais, quando os brasões heráldi-
cos, bandeiras e uniformes faziam parte da
solução. No combate naval, bandeiras de si-
nalização e insígnias davam às embarcações
a capacidade de reconhecimento além do
alcance de seus canhões. No entanto, no
combate moderno, o emprego do vetor aéreo
e a crescente capacidade dos armamentos
por ele utilizados, num ambiente envolven-
do forças blindadas de deslocamento rápido,
não tem sido acompanhado por igual desen-
volvimento nos sistemas de identificação.
(CARROL,1995, p. 37)
O ápice do problema ocorreu na Guerra
do Golfo, onde as perdas causadas por
fratricídios nas forças americanas atingiram
o índice alarmante de 17% do total, contra
uma média de 15% se considerados todos os
conflitos envolvendo aquele País no século
XX. (LUM, 1995, p. 35)
No Iraque, os incidentes foram limitados
ao engajamento de alvos terrestres por plata-
formas aéreas e entre alvos terrestres. Mas
em 1994, quando dois helicópteros Blackhawkamericanos foram abatidos por caças F15 da
USAF, a vulnerabilidade no combate aéreo
também ficou aparente. (LUM, 1995, p. 35)
A Guerra das Falklands (Malvinas) também
deixou na memória dos militares argentinos
IFF : Perguntas e Respostas ...Eric Julius Wurts, Cap.-Art.
EsACosAAe (Exército Brasileiro)
dolorosas recordações: �...perde a vida o Cap.
Garcia Cuervo, que é abatido pela própria
artilharia antiaérea, ... como o
avião estava intacto, mas não
tinha combustível para chegar
ao Continente,... tentou pousar
em �Porto Argentino� ( trecho
extraído da entrevista do Maj
Puga da Força Aérea Argentina
concedida à Revista de Aero-
náutica). (PUGA apud COSTA,
1991, p. 19)
O Sistema IFFO sistema IFF (Identification
Friend or Foe), também dito
identificação em combate
(Combat Id), constitui-se de um
dispositivo de reconhecimento
no qual uma �pergunta� padrão
é emitida e uma �resposta� co-
dificada recebida. Caso a res-
posta esteja correta, o alvo é
reconhecido como amigo. Se o
alvo permanece �passivo�, não
é possível identificá-lo. É dife-
rente, portanto, do radar primá-
rio, pois não há simples refle-
xão de energia pelo alvo, e sim
uma �resposta� proveniente dele; pode-se di-
zer que o IFF complementa o emprego do
radar primário, sem dispensar seu uso. Por este
motivo, também é conhecido por �radar se-
cundário� . Apesar das diferenças, os disposi-
tivos normalmente trabalham associados fisi-
camente, sincronizados e com antenas soli-
dárias. (BRASIL, 1995, p. 7�8, 7-9)
O Mk I, primeiro sistema IFF efetivo em
uso, entrou em serviço em 1940. (CARROL,
1999, p. 40) Desde então, grandes progressos
foram realizados e a versão mais atualizada
da Organização do Tratado do Atlântico Nor-
te (OTAN) é o Mk XII, passando pelo Mk X
(BASIC), já obsoleto, porém em uso em al-
O Capitão de Artilharia Eric
Julius Wurts concluiu o Curso
de Formação de Oficiais de
Artilharia da Academia Mili-
tar das Agulhas Negras
(AMAN) em 1987 e exerce
atualmente a função de Ins-
trutor-chefe da Seção de Ra-
dares e Guerra Eletrônica da
Escola de Artilharia de Costa
e Antiaérea (EsACosAAe).
Possui o curso de Artilharia de
Costa e Antiaérea
(EsACosAAe), Estágio de
Guerra Eletrônica (CIGE) e o
Curso Básico de Guerra Ele-
trônica da FAB.
Spectrum
24 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
guns países, ainda que parcialmente.
Normalmente o IFF emprega duas freqüên-
cias fixas: uma para interrogação, 1030 MHz,
e outra para �resposta�, 1090 MHz.
A �pergunta� emitida pelo radar secundá-
rio é constituída de um �trem� de 03 pulsos,
P1, P2 e P3. O espaçamento em
microssegundos entre P1 e P3 define o �modo
de interrogação�; P2 destina-se à supressão
dos lóbulos secundários. Os modos de inter-
rogação estão explicitados na tabela a seguir.
As �respostas� dos transponders das aerona-
ves têm a mesma estrutura básica, constando
de dois pulsos (F1 e F2) separados por um tem-
po fixo em microssegundos. No espaçamento
temporal entre F1 e F2 encontram-se até 12
(doze) pulsos, cujas presenças ou ausências,
balha com os modos 1, 2 e 3; o Mk XA
complementou seu antecessor com o modo C e
melhorou a capacidade dos códigos no modo 1; o
Mk XII incorporou a capacidade de incluir adicio-
nalmente o modo 4, que trabalha com criptografia,
permitindo a utilização de um maior nível de se-
gurança para a salvaguarda da informação. Os
equipamentos Mk X ( SIF), Mk XA e Mk XII são
compatíveis entre si. Para incorporação do modo
4 necessita-se de equipamento extra para a
criptografia, como o do exemplo do IFF 4760 apre-
sentado nas figuras 1 e 2.
FIGURA 1 IFF 4760
FIGURA 2IFF 4760 com modo 4
O IFF Mk XV, teve sua previsão de entrada em
operação marcada para 1995, envolvendo projeto
conjunto do EUA com países europeus da OTAN.
Em 1991, menosprezado pelos EUA e, posterior-
mente, pelos desapontados países europeus em
virtude da atitude americana, o programa foi aban-
donado. (CARROL, 1999, p. 40,41)
A OTAN atualmente realiza estudos para me-
permitem obter as diferentes combinações, os
�códigos�.
Uma rápida viagem no tempo mostra os siste-
mas de IFF em uso na OTAN. Ao IFF Mk X (BASIC),
citado acima, anterior a 1969, seguiu-se o IFF MK
X ( SIF - Selective Identification Feature), que tra-
TABELA 1MODOS DE FUNCIONAMENTO DO IFF
Modos Modos UtilizaçãoMilitares Civis
1 - Controle e identificação de tráfego
aéreo militar
2 - Utilização militar em combate
3 A Controle e identificação de tráfego
aéreo civil e militar
(compartilhado)
B Controle e identificação de tráfego
aéreo civil
C Transmissão automática da altura
da aeronave
D Utilização civil
4 - Modo militar com criptografia
Spectrum
25○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
lhorar o Mk XII e, em 1999, a implementação de
um sistema com maior capacidade de encriptação,
o Mk XIIA ou modo 5, já se encontrava em fase de
concepção. (CARROL, 1999, p. 40-41)
Deficiências e AlternativasApesar de os sistemas de IFF terem atingido
avanços significativos, um problema básico per-
manece. Trata-se da lacuna causada pela falta da
�resposta� e a inerente dúvida se é um alvo inimi-
go ou um alvo amigo com o �transponder� desli-
gado. Como alternativa, programas de reconheci-
mento de �alvos não-cooperativos� têm sido estu-
dados. Um exemplo de tecnologia que vem sendo
explorada para alvos �não-cooperativos� é conhe-
cido como azimuth squint, usado em radares com
antenas phased array de alta resolução, obtida atra-
vés do acompanhamento angular do alvo e do uso
de células de transmissão controladas. (JANE´S,
1995-96, p.3) Associando tais características a um
processamento avançado de sinais, um padrão de
reflexão pode ser obtido para cada tipo de alvo e,
após comparado com uma biblioteca, tal padrão
identificará o alvo. Alguns sistemas com antenas
tradicionais, como o EL/M 2106 NG-40 da Israel
Aircraft Industries, conseguem executar tal tarefa
para aeronaves de asas rotativas, por intermédio
do processamento do desvio Doppler causado pela
velocidade das pás rotativas, uma vez que cada
velocidade de rotação e número de pás resulta em
um padrão diferente. Outros processos sofisticados
baseiam-se na identificação dos alvos por caracte-
rísticas, como formato, emissões infravermelha e
eletrônicas, entre outras, a dita data fusion. (JANE´S,
1995-96, FOREWORD)
Outra deficiência em combate dos sistemas
IFF é o estabelecimento de freqüências padrão
(1030 e 1090 MHz). O uso contínuo da mesma
freqüência facilita o bloqueio por parte do inimigo
e diminui a confiabilidade do sistema num ambi-
ente de intenso combate eletrônico. Sistemas de
Contramedidas Eletrônicas (CME) têm seu traba-
lho facilitado. O AN/MLQ-T6 JAMMER, por exem-
plo, num raio de alcance de aproximadamente 80
Km é capaz de bloquear simultaneamente 10 (dez)
diferentes sinais entre 960 e 1850 MHz, com uso
de potências de 1 KW para bloqueio em onda con-
tinua ou 2 KW para bloqueios pulsados. (JANE�S,
1995-96, p. 506) Como resposta a esta ameaça, a
tendência de identificação por data link, com as
vantagens inerentes das técnicas de espalhamento
espectral por salto de freqüência, salto temporal e
seqüência direta, cresce rapidamente e vem ocu-
pando cada vez mais espaço, dificultando sobre-
maneira o bloqueio.
O IFF não é capaz de localizar a plataforma,
apenas permite identificá-la. Durante a Guerra
do Golfo, esta situação poderia ser resolvida e
fratricídios evitados com o uso do GlobalPositioning System (GPS) ainda pouco difundido
(apenas um por batalhão era disponível); mães,
na tentativa de salvar seus entes, adquiriam uni-
dades de GPS disponíveis comercialmente e as
enviavam para seus filhos e filhas. (CARROL, 1999,
p. 38). Entretanto, apenas localizar-se em comba-
te não é o suficiente. Focalizando o conceito de
NCW (Network-Centric Warfare), verifica-se a im-
portância de uma �consciência situacional� para
sobrevivência em combate. Onde estou?; Ondeestão os inimigos?; e Onde estão os amigos? são
perguntas essenciais que o IFF ou o GPS sozinhos
não respondem. Além de se obter a desejada
�consciência situacional�, é preciso transmití-la.
Neste contexto, novamente um sistema de iden-
tificação baseado em data link, com maior capa-
cidade de conteúdo que o IFF tradicional, surge
como alternativa, pois permite a inclusão de in-
formações adicionais na transmissão de dados,
tais como o posicionamento dos alvos e o código
específico da plataforma em cheque.
Outra situação delicada é o envolvimento ne-
cessário de forças combinadas ou conjuntas em
teatros de operações. Muitas soluções abordam
aspectos inerentes a cada força específica sem
levar em consideração a integração com as de-
mais. Esse problema aumenta de tamanho com a
difusão do vetor aéreo nas forças terrestres e ma-
rítimas, e com o uso de plataformas aéreas de
Spectrum
26 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
múltiplo emprego. Soluções alternativas, neste
caso, passam necessariamente por uma revisão
na cultura organizacional das Forças Armadas com
o objetivo de otimizar normas e procedimentos
comuns que atendam às prerrogativas das forças
em questão; a associação de normas e procedi-
mentos aos sistemas IFF tradicionais pode melho-
rar sensivelmente seu desempenho.
Áreas específicas também apresentam ques-
tões próprias. O reconhecimento entre platafor-
mas terrestres é uma delas. Um exemplo de equi-
pamento de última geração para este caso é
o BCIS (Battlefield Combat Identification System)
da TRW/MAGNAVOX. O BCIS trabalha com um
sinal digital encriptado de 38 GHz com um feixe
estreito. Montado numa viatura blindada ou me-
canizada, o sistema de interrogação funciona ali-
nhado com o medidor de alcance laser do atira-
dor do armamento da plataforma. Se o
�transponder� da plataforma interrogada respon-
de ao sinal, um círculo vermelho aparece no visor
do atirador. Há projetos para integrá-lo com plata-
formas aéreas. (CARROL, 1999, p. 40; LUM, 1995,
p. 38;R.T.L.,1995, p. 14;. JANE´S, 1995-96,
FOREWORD)
ConclusãoA evolução da capacidade dos sistemas de
armas, aliada às características do combate mo-
derno, tem provocado fratricídios em combate.
Os sistemas de identificação , ao longo do
tempo, vêm procurando soluções para pôr termo
ao problema.
Deficiências dos sistemas IFF tradicionais em
face da existência de alvos �não-cooperativos�,
da utilização de freqüências padrão que facili-
tam as ações de CME e da impossibilidade da
transmissão de dados aumentaram a tendência
de uso de data link, posto que possibilita melhor
performance na segurança do sinal e na transmis-
são de dados adicionais; sua resistência em ambi-
entes de GE é mais forte.
Entretanto, a padronização de normas e pro-
cedimentos com a necessária integração das For-
ças Armadas, ao nível operacional, podem me-
lhorar o desempenho dos sistemas de IFF tradici-
onais. Seu uso não pode ser simplesmente des-
cartado.
Uma análise acurada dos sistemas disponí-
veis, verificando a viabilidade de incrementá-los
com o modo 4; da capacidade de mudança da
cultura institucional das Forças Armadas, para
melhor integrá-las; e da projeção de gastos dos
recursos orçamentários disponíveis, quando a mo-
dernização de meios é aplicada, é importante
fator para a decisão que ofereça a melhor rela-
ção custo-benefício, a fim de evitar um dos mais
amargos remédios em combate: o fratricídio.
Referências Bibliográficas
[1] BRASIL, Ministério da Defesa. Exército Brasi-
leiro, Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea,
Apostila de Princípios Básicos de Radar, p.7-8 �
7-14, mar.1995.
[2] CARROL, Sean. The mark of Cain: avoiding
fratricide, Journal Of Electronic Defense,
Alexandria, v. 22, n. 1, p.37-41, Jan.1999.
[3] COSTA, Álvaro Luiz Pinheiro. IFF � amigo ou
inimigo ? ZOOM, Fortaleza, ano XIII, n. 15, p.
19, dez. 1991.
[4] Jane�s Radar and Electronic Warfare Systems
1995-96. Radar Systems: Introduction, Foreword
(Identification), IFF Systems, AN/MLQ-T6, IFF
4700 SERIES TRANSPONDERS, Jun. 13, 1995.
[5] LUM, Zachary A. Friend? ... Foe? ... Fire!!!,
Journal of Eletronic Defense, Alexandria, v. 18,
n. 5, p. 35-38, May 1995.
[6] R.T.L. New electronic device developed to
prevent friendly fire incidents, DefenceElectronics, Nashville, v. 27, n. 3,.p. 14, Mar.
1995.
Spectrum
27○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Data Link nas Operações AerotáticasDavi Rogério da Silva Castro, Cap.-Av.
CGEGAR
As Comunicações se constituem em
um dos pilares das atividades de com
bate e sem elas não é possível exe-
cutar, com eficiência, as funções de planeja-
mento, direção, coordenação ou controle. É
certo que devam existir enlaces de comuni-
cações entre todos os níveis de Comando e
Controle, mas o termo �data link� é, geral-
mente, associado ao enlace de dados no ní-
vel tático. Tradicionalmente, as atividades de
Comando e Controle no campo de batalha
têm sido realizadas conforme o ciclo OODA
(Observar, Orientar, Decidir e Agir). As fases
principais desse ciclo podem ser explicadas
da seguinte forma [6]:
a) Observar: buscar ou coletar dados através
das diversas fontes. Consiste no levantamen-
to de informações sobre o inimigo, o estado
das forças amigas e, ainda, a meteorologia e
a geografia da área de operações;
b) Orientar: desenvolver opções baseadas na
análise das informações disponíveis;
c) Decidir: selecionar o curso das ações, pre-
parar e distribuir ordens; e
d) Agir: implementar e avaliar ações, promo-
vendo a realimentação do ciclo.
No nível tático, cada uma das fases
ocorre numa velocidade maior que nos
níveis estratégico e operacional. Essa ve-
locidade requer que as plataformas aé-
reas e as unidades de superfície sejam
capazes de acompanhar o cenário e atin-
jam um nível de consciência situacional
do ambiente à sua volta de maneira a
lhe permitir realizar o ciclo de Coman-
do e Controle mais rapidamente que o
inimigo complete o seu.
Qualquer que seja o tipo de opera-
ção, Aeroestratégica, Aerotática ou de
Defesa Aérea, é possível identificar os
processos envolvidos em cada uma das
fases do ciclo de Comando e Controle.
Por exemplo, o levantamento da situa-
ção atualizada na área de operações por
meio de sensores diversos e a análise
das forças inimigas quanto
a armamentos, plataformas,
recursos humanos e estrutu-
ra de Comando e Controle,
bem como o resultado da
identificação de um obje-
tivo e as ordens para exe-
cução de uma determinada
missão, tudo deve estar dis-
ponível àqueles que irão
resgatar, transportar, ata-
car, defender, patrulhar, fa-
zer reconhecimento etc.
Para apoiar todas essas
atividades, faz-se necessá-
ria a transferência de dados
entre plataformas e esta-
ções de controle, por meio
de enlaces de comunica-
ções confiáveis, rápidos e
seguros (resistentes às inter-
ferências naturais ou inten-
cionais � �jamming�). Es-
tes enlaces devem permitir
a troca tanto de informa-
ções sobre as atividades de
forças amigas (localização, planos, si-
tuação etc.) quanto das observações ge-
radas pelos diversos sensores, bem como
possibilitar o emprego eficaz dos meios
através da transmissão de ordens de co-
mando.
O avanço tecnológico, possibilitou
que todos e s ses dados fo s sem
digi tal izados, tornando mais fáci l a
implementação da c r ip togra f ia e o
processamento de informações geradas
por fontes diversas. O uso de redes di-
gitais de distribuição de informações tá-
ticas permite a transferência rápida e
acurada de elevados volumes de dados
entre diversas plataformas, proporcio-
O Capitão Davi Rogério da
Silva Castro é piloto de ata-
que, concluiu o CFOAv em
1987 e exerce atualmente a
função de Chefe da Seção
de Inteligência do Centro de
Guerra Eletrônica do
COMGAR (CGEGAR). É En-
genheiro Eletrônico pelo Ins-
tituto Tecnológico de Aero-
náutica (ITA), possui o Cur-
so Básico de Guerra Eletrô-
nica e está cursando
mestrado em Engenharia Elé-
trica na Universidade de
Brasília (UnB).
Spectrum
28 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
nando coordenação e eficiência na exe-
cução da missão, mesmo que para isso
seja necessária maior largura de banda
[veja o texto em destaque].
As justificativas para se adotar um
data link são inúmeras. A principal é que
o aumento do número de aeronaves
numa operação coloca o volume das in-
formações veiculadas entre elas em um
patamar que o enlace de voz não aten-
de. A codificação utilizada nas comu-
nicações �convencionais� é um recurso
que apresenta fragilidade, face ao ba-
rateamento e difusão de sistemas de
interceptação e escuta. Existe, ainda,
grande dificuldade de se estabelecer
uma autenticação confiável entre os
interlocutores, o que compromete ain-
da mais a comunicação. Um data link
possibilita automatização, com ganho
substancial na capacidade de Comando
e Controle. Assim, a situação aérea ob-
servada por uma determinada aeronave
poderá ser compartilhada com outras,
aumentando o raio de cobertura total.
Nos data links, informações digitais
são transferidas através da rede de co-
municações, processadas e apresenta-
das ao operador. No display, essas infor-
mações são combinadas provendo uma
representação padronizada para locali-
zação de fo rças amigas , ro ta s de
interceptação, designação de alvos e
objetivos, além de outras informações
de Comando e Controle, sem que haja
comunicação verbal entre os operado-
res.
Conceitualmente, um data link pode
ser estratificado em sete camadas (pa-
drão OSI), a saber: física, enlace, rede,
transporte, sessão, apresentação e apli-
cação. Entretanto, para simplificação do
estudo, pode-se adotar uma representa-
ção em apenas três camadas:
a) camada física: responsável pelo sis-
tema de transmissão e recepção de si-
nais, podendo incluir a digitalização de
voz, a codi f icação/decodi f icação, a
ci f ração/deci f ração e a modulação/
demodulação de sinais, a utilização de
protocolos de acesso múltiplo e outros
recursos;
figura 1: As três camadas de um data link
b) camada lógica: encarregada do
gerenciamento do enlace e formatação de
mensagens. Ou seja, por meio desta ca-
mada é possível organizar as informações
a serem transmitidas em �pacotes de bits�
adequados segundo as características da
camada física. Esses �pacotes� recebem o
nome de �mensagens� e contém os dados
de status da aeronave e do armamento,
aqueles gerados pelos sensores etc.;
c) camada de aplicação: responsável, ba-
sicamente, pela interface com o operador
e pelo processamento das informações dis-
poníveis, de forma a oferecer o máximo
de automatização aos processos de Coman-
do e Controle.
Assim, conclui-se que a simples exis-
tência de um transceptor seguro e eficien-
te não significa que se tem um data link. É
necessário, ainda, um sof tware de
Spectrum
29○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
gerenciamento de comunicação, que
formate os dados a serem transmitidos se-
gundo os requisitos do transceptor e, no ca-
minho inverso, reagrupe as mensagens que
chegam. Além disso, existe a necessidade
de um software aplicativo, com capacida-
de de cálculo e condições de fornecer ao
operador a visualização das informações e
escolha dos serviços a serem executados.
O JTIDS dos EUAOs links utilizados pelos EUA são ba-
seados em um programa de padronização
e desenvolvimento único do Departamen-
to de Defesa dos EUA (DoD), que vem
evoluindo ao longo dos anos, buscando
atender às necessidades operativas das
Forças Armadas dos EUA [1].
O �Tactical Digital Information Link�
(TADIL) padroniza formatos de mensagens
e as características de transmissão para
possibilitar a troca de dados entre esta-
ções, permitindo a evolução dos equipa-
mentos em torno de um padrão estabele-
cido. A padronização estabelecida pelo
TADIL, recentemente, foi modernizada
pela apl icação do � Joint Tact ical
Information Distribution System� (JTIDS),
cujos protocolos, características de trans-
missão, formatos de mensagens e conven-
ções tornaram possível o emprego de re-
des sem nós principais.
O JTIDS ou Link-16 é o mais moderno
entre os enlaces automáticos de dados em
operação na OTAN e foi concebido para
corrigir as deficiências apresentadas por
seus dois antecessores, não alterando os
conceitos básicos de troca de informações
por data link, mantidos por vários anos
pelos Link-4 e Link-11.
Ele apresenta uma alta performance,
possui capacidade de transmissão de da-
dos criptografados (�secure�), agilidade de
freqüência e capacidade de �relay�, que
possibilita a ampliação do alcance em
UHF até 300 milhas náuticas. Utiliza-se
da faixa entre 916-1215 MHz [2] para tro-
ca de dados e pode ser empregado por sis-
temas em estações marítimas, terrestres e
aerotransportadas. O Link-16 não utiliza
uma Estação Controladora da Rede (ECR),
sendo uma rede livre que não necessita
da transmissão contínua para estar ativa.
Ele possui três formatos de mensagem: um
fixo, tipo utilizado pelo Link-11; um com
texto livre; e um de formato variável.
O s is tema emprega o recurso de
TDMA para que todos os usuários com-
partilhem o mesmo canal. Toda informa-
ção de cada usuário é disponibilizada em
tempo real para qualquer um que neces-
site dos dados. No arranjo TDMA do JTIDS,
cada usuário possui um ou mais �time
slots� que se repetem a ciclos regulares
de 12,8 minutos, conforme se pode veri-
ficar na figura abaixo:
figura 2: Estrutura do ciclo TDMA no JTIDS"A aeronave sueca Grippen utiliza um data link para obter
consciência situacional."
Spectrum
30 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O Link-16 é usado em operações de
vigilância, guerra eletrônica, coorde-
nação de ações, armamento, controle
de aeronaves, combate aéreo, nave-
gação , comunicações c r ip to -voz e
identificação positiva de unidades (si-
milar a um IFF, só que atr ibuído ao
sis tema).
Em busca da ConsciênciaSituacional
Estratégias efetivas reconhecem que a
Consciência Situacional (�Situational
Awareness�) é crucial não só para ante-
cipar o que está para acontecer no futuro,
como também para definir o presente ime-
diato [5]. O ciclo de Comando e Controle
(detecção, processamento, decisão e
Bits e FourierNo começo do século XIX, o grande matemáti-
co francês Jean Fourier demonstrou que qualquer
função periódica g(t) pode ser construída soman-
do-se um número (possivelmente infinito) de senos
e cosenos. A decomposição da função g(t) em uma
freqüência fundamental f0 e suas componentes,
ou harmônicas, todas múltiplas de f0, é amplamente
utilizada nas comunicações digitais e permite a
compreensão de diversos fenômenos [4]. Na ilus-
tração a seguir vemos que uma onda quadrada
pode ser aproximada por várias representações
em série de Fourier:
a linha verde é a componente com freqüência fun-
damental somente, a amarela é a soma da funda-
mental com a 1a. harmônica e a azul acrescenta a
2a. harmônica ao resultado anterior, numa tendên-
cia de aproximação à onda quadrada original.
Portanto, podemos concluir que, se forem soma-
das todas as infinitas harmônicas, o sinal repre-
sentado pela linha vermelha deve ser perfeitamen-
te recuperado.
Nenhum recurso de transmissão consegue
enviar sinais sem perder alguma potência no pro-
cesso. Seja qual for o sistema de transmissão, as
componentes de Fourier não são igualmente trata-
das acarretando distorção no sinal resultante. Além
disso, os circuitos e o meio de transmissão ditam,
fisicamente, uma freqüência de corte, acima da qual
todas as harmônicas são fortemente atenuadas. É a
freqüência de corte do sistema de comunicação
que estabelece a chamada largura de banda dis-
ponível. A limitação, devida à distorção ou à fre-
qüência de corte, existe sempre, tornando impos-
sível a recuperação fiel do sinal original, caso essa
limitação não seja respeitada no projeto do siste-
ma.
A onda quadrada pode ser vista, genericamen-
te, como a variação de "zeros" e "uns" de uma trans-
missão digital, os bits. Também de forma genérica,
diz-se que a freqüência fundamental (em Hertz)
coincide com a taxa de transmissão (em bits/seg).
Se as harmônicas são múltiplas de f0, quanto maior
a taxa de transmissão, maior é a parcela do espec-
tro utilizada pelo sistema de comunicação, pois
mais espaçadas estarão as componentes de Fourier
do sinal.
Olhando o problema de outra forma, dizemos
que é necessário trabalhar com sistemas de maior
largura de banda, se desejamos altas velocidades
de transmissão de dados. Isso geralmente implica
também na busca pela utilização de freqüências
portadoras mais altas.
Spectrum
31○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
ação) ocorre continuamente durante a
missão e as tripulações devem dominar
todas as tendências para antecipar os
eventos futuros. Em outras palavras, a
busca da Consciência Situacional é um
processo dinâmico, que deve ser levado
a efeito até que a missão seja completa-
da. A tripulação precisa conhecer sua ori-
entação em relação a inúmeras variáveis
(amigos, inimigos, meteorologia, terreno,
condições do sistema de armas e qual-
quer outro elemento que contribua para o
Definições
Data Fusion � Fusão de dados. Processode integração de dados provenientes defontes (sensores) diferentes.
Network Centric Warfare � Guerracentrada em redes. Ver artigo na página 14desta revista.
OSI � �Open Systems Interconnection�.Modelo de referência desenvolvido pela�International Standards Organization�(ISO) para interconexão de sistemas aber-tos, isto é, sistemas que são abertos à co-municação com outros sistemas.
Situational Awareness � Consciênciasituacional. Compreende a observação doambiente e processamento dos dados paracomposição de uma visão da situação atu-al que oriente o processo decisório e a açãosobre este ambiente.
TDMA � �Time Division Multiple Access�ou Acesso Múltiplo por Divisão do Tem-po. Recurso que possibilita, numa rede decomunicações, a utilização do mesmo ca-nal por diferentes usuários sincronizados,transmitindo em intervalos de tempo fixos,pré-configurados.
sucesso da missão). Eles integram esta in-
formação com seus próprios planos de mis-
são, exploram opções e tomam decisões
baseados em táticas predefinidas e capa-
cidades de seus sistemas de armas.
A tripulação precisa ver, pensar, deci-
dir, comunicar e executar mais rápido que
o adversário. A única maneira de fazer
isso é obtendo a informação correta no
tempo certo para tomar a decisão mais
apropriada. Quando estas conexões são
feitas, a Consciência Situacional se tor-
na uma contribuição significativa ao su-
cesso em engajamentos táticos, daí a im-
portância de um data link eficiente.
Referências
[1] Silva, Júlio César Barreto Leite, Capitão-
de-Corveta, �Enlaces Automáticos de Da-
dos�, Revista Passadiço, Marinha do Brasil.
[2] Fenton, Sandra J., �Global Broadcast
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Digital Link J (S-TADIL J)�, Master´s Thesis,
Naval Postgraduate School, CA, USA,
September 1999.
[3] Schleher, D. Curtis, �Electronic Warfare
in the Information Age�, Artech House,
Boston, 1999
[4] Tanenbaum, Andrew S., �Redes de Com-
putadores�, Editora Campus, Rio de Janeiro,
1994
[5] Karen T. Garner and Thomas J.
Assenmacher, �Improving Airborne Tactical
Situational Awareness�, Journal of Electronic
Defense, Nov 1996.
[6] Comando da Aeronáutica, �MCA 500-3 -
Comando e Controle na Guerra�, 17 de mar-
ço de 2000.
Spectrum
32 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
�- Dois, break à direita,míssil às 6 horas, nível!�
Elá vai o piloto puxar �5G por 5 segun-
dos� para se defender da ameaça. Será
que essa manobra é realmente efetiva
contra o armamento lançado? Será que, pelo
menos, é a melhor alternativa a
ser tomada?
A evolução da doutrina na
Força Aérea toma alguns im-
pulsos quando há aquisição
de equipamentos novos ou
quando há in tercâmbios
operacionais com outros paí-
ses. Porém, algumas vezes, a
grande distância entre o ma-
terial que possuímos e o que
existe de mais moderno cau-
sa uma desmotivação na bus-
ca de atualização de proce-
dimentos a fim de obter a
melhor performance com os
meios atuais.
Quantas vezes já ouvimos
argumentos do tipo: �Isso não
é mais usado!� ou �O ameri-
cano não faz mais nada as-
sim!�, como se só tivéssemos
duas opções: incorporar toda
a tecnologia de última gera-
ção ou manter a doutrina sem
evolução. O fato de termos
acesso ao conheci-
mento sobre equipa-
mentos de
autoproteção como
MAWS (Miss i le
Approach Warning
Sys tems) , f lares ul t ra- rápidos e
�decoys� com diagrama de emitância
espectral semelhante ao dos gases de es-
capamento não significa que só podere-
mos combater quando possuirmos tal
Manobra Contra Mísseis InfravermelhosRodrigo Fernandes Santos, Cap-Av
1º Grupo de Aviação de Caça
tecnologia.
Nas nossas prováveis hipóteses de con-
flito, os inimigos possuem as mesmas de-
ficiências que sentimos, quando, então,
doutrina e treinamento farão muita dife-
rença. Às vezes, a acomodação com o
�status quo� é tanta que não aprimoramos
nossas táticas, mesmo com a aquisição de
novos equipamentos.
Com o fim do ciclo de vida operacional
dos mísseis AIM-9B, as Unidades Aéreas
congelaram as táticas de combate desen-
volvidas para o cenário com mísseis que
necessitam ser lançados no setor traseiro
da aeronave alvo. Dentre as técnicas con-
sagradas, o �break� de 5 G por 5 segun-
dos como forma de treinar uma curva de
máxima performance contra mísseis foi
massificado durante várias gerações de pi-
lotos e virou um condicionamento adqui-
rido como verdade absoluta. Com esta
manobra era possível provocar uma �es-
pirrada� do míssil pela sua incapacidade
de acompanhar um alto incremento na ve-
locidade angular do alvo.
Após a aquis ição de mísseis
infravermelhos de 3ª geração (Python 3 e
MAA-1), que possuem características de
lançamento �all aspect�, não houve estu-
dos para atualização das táticas, e mui-
tos argumentos foram assumidos como ver-
dadeiros, sem a devida comprovação.
A primeira consi-
deração a ser feita so-
bre a capacidade de
lançamento �al l
aspect� é a detecção.
Considerando a
transmissividade atmos-
férica, existem duas faixas onde
os sensores operam com maior eficiência,
que são de 3mm a 5mm e de 8mm a 12mm.
Ao contrário do que muitos acreditam,
os mísseis de 3ª geração não conseguem
O Capitão Rodrigo Fernan-
des Santos é piloto de caça,
concluiu o CFOAv em 1990
e exerce atualmente a fun-
ção de chefe da Seção de In-
teligência do1º Grupo de Avi-
ação de Caça. Possui cursos
de Inteligência Aérea de
Combate na Argentina e Bá-
sico de Guerra Eletrônica no
Grupo de Instrução Tática e
Especializada (GITE). O Ca-
pitão Rodrigo tem trabalho
publicado na revista Zoom
(1993).
Spectrum
33○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
detectar a emissão infravermelha produ-
zida pelo atrito aerodinâmico das partes
frontais das aeronaves.
É possível perceber a emissão infravermelha
numa apresentação frente a frente, graças ao
cone formado pela dispersão dos gases atrás do
escapamento. Nesta situação, é muita crítica a
utilização da pós-combustão, já que influi dire-
tamente no tamanho deste cone. A variação de
potência na �faixa militar�, apesar de causar al-
teração na temperatura dos gases, não altera tanto
a área possível de ser detectada pelo setor fron-
tal e torna-se menos significativa. Com isso, for-
ma-se um envelope infravermelho cardióide para
cada regime de motor, onde é possível detectar
a emissão de determinada aeronave. Estar den-
tro do envelope para lançamento é a primeira
condição que o míssil deve satisfazer para ser
eficaz contra o alvo.
A outra consideração na capacidade �all
aspect� é sobre o percurso do míssil entre o lan-
çamento e a detonação. Os mísseis de 3ª gera-
ção possuem navegação proporcional, dirigin-
do-se a um ponto à frente na trajetória do alvo,
graças a possibilidade do auto diretor acompa-
nhar a emissão sem necessidade de apontá-la. A
variação na velocidade angular torna-se menor
e a curva descrita pelo míssil é mais suave, com
qualquer manobra do alvo, diminuindo a possi-
bilidade de espirrada (não acompanhamento do
alvo). Além disso, a colocação de espoletas de
proximidade exime-o de impactar diretamente
no objetivo.
Estas características propiciam o acompanha-
mento em ângulos de aspecto até 180o ou com
grandes velocidades angulares. A restrição na
navegação passa a ser a capacidade de o míssil
alcançar o alvo, devido à limitação de empuxo
do motor foguete. Incluindo a altitude de lança-
mento e as velocidades da plataforma lançadora
e do alvo, forma-se o envelope cinemático onde
é possível para o míssil atingir o alvo.
Para ser eficaz, o míssil deve permanecer den-
tro dos envelopes cinemático e infravermelho
simultaneamente durante toda a trajetória de vôo.
Terá que manter a detecção que o guiará e, ain-
da, conseguir alcançar o alvo. O objetivo da
defesa é colocar o míssil fora de algum dos dois
envelopes. Vamos analisar um exemplo de
superposição dos envelopes:
No setor frontal do
alvo, o envelope
infravermelho é me-
nor que o cinemático,
com qualquer regime
de motor; logo, é a
capacidade de
detecção que limita-
rá o lançamento nes-
ta situação e a varia-
ção de potência é fa-
tor decisivo. Será que
é necessário reduzir o
motor para mínimo ou
somente retirar da fai-
xa de pós-combustão
é suficiente para ne-
gar a detecção?
Os mísseis não
apresentam gráficos
de envelope
infravermelho, porque
a sua composição de-
pende da emissão de
cada aeronave alvo.
Mesmo que sejam
mantidos os
parâmetros de altitude, composição atmosféri-
ca, temperatura do ar, etc., será a característica
de emissão termal do alvo que determinará o
envelope infravermelho de cada sensor. Somente
o treinamento prático contra aeronaves equipa-
das com motores de diversos tipos e em vários
regimes de potência propiciará conhecer esses
limites para cada míssil. A experiência em com-
bates simulados contra mísseis de 3ª geração
determinará qual regime mínimo de motor pos-
sibilita a detecção pelo setor frontal.
O comprimento de onda onde ocor-
re o pico de intensidade da emissão
infravermelha obedece a �Lei de Des-
locamento de Wien� [1], que é dada
por: lmax = 2898/T , onde lmax é o com-
primento de onda em que ocorre o pico
de radiação e T é a temperatura abso-
luta do corpo. O aquecimento nos pon-
tos de estagnação da aeronave
é calculado pela fórmula:
Ts = To (1 + 0,2 r M² ), onde: Ts é a
temperatura da superfície (K); To é a
temperatura do ar (K); r é o fator de
recobrimento e M é o número Mach.
Mesmo para uma aeronave voan-
do à baixa altura e com Mach 2, o
comprimento de onda em que ocorre-
ria a melhor detecção seria em torno
de 10mm e os mísseis de 3ª geração só
possuem detetores entre 3mm e 5mm,
captando a assinatura infravermelha do
calor dos motores que, com tempera-
turas entre 450ºC e 700ºC, produzem
picos de radiação com comprimento
de onda entre 3mm e 4mm.
Spectrum
34 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A detecção de uma aeronave sem pós-com-
bustão e motor turbo-fan pode ser obtida tão pró-
xima que impeça o lançamento do míssil, mes-
mo com 100% de potência. Nesse caso, uma
alternativa de defesa para a ameaça frontal se-
ria simplesmente forçar o engajamento frente a
frente. Se o míssil for lançado antes que se obte-
nha o alinhamento (a aeronave seria "vista" de
lado), reduzir a potência para diminuir o enve-
lope infravermelho seria o mais correto.
No setor traseiro, o envelope infravermelho
será tão maior que o cinemático, quanto menor
for a sobrevelocidade entre lançador e alvo e o
fator limitador para o míssil será a capacidade
de alcançar o objetivo. Mesmo reduzindo o motor
para mínimo, a distância de detecção permane-
cerá grande e a conseqüente diminuição da ve-
locidade irá aumentar o envelope cinemático,
facilitando o lançamento.
Quando o alvo executa uma curva, desloca
o seu envelope cinemático para o lado da cur-
va, significando que o míssil pode ser lançado
mais distante neste setor, já que descreverá uma
trajetória mais curta, usando a navegação pro-
porcional. Logicamente, no setor oposto ao da
curva, a distância máxima de lançamento tor-
na-se menor, pois o míssil percorrerá caminho
maior do que percorreria se a aeronave não cur-
vasse.
Quer dizer que devemos curvar para fora do
inimigo? Essa decisão depende da distância em
que se encontra a ameaça. Uma curva na dire-
ção do incursor para negar o envelope
infravermelho pode ser tentada, desde que haja
espaço de manobra para aproá-lo antes que o
míssil seja disparado. Quando o incursor está pró-
ximo à distância de lançamento pelo setor trasei-
ro, curvar para fora e �estender� é a única chance
de negar o envelope cinemático, já que, curvan-
do na direção do atacante, facilitaremos o enve-
lope cinemático sem tempo para negar o envelo-
pe infravermelho. A extensão com nariz para
baixo é importante, porque o alcance do míssil
torna-se menor com a diminuição da altitude.
Esse tipo de manobra, que ainda não consta
de nossa doutrina, foi utilizada pelos ingleses
com sucesso contra os mísseis argentinos, em
1982. Suas implicações no contexto tático d e-
vem ser estudadas para que atualizemos os exer-
cícios de combate a fim de que treinemos para
uma situação próxima a nossa realidade.
Conclusão
Os mísseis de 3ª geração são realidade na
Força Aérea. Enquanto nos mantemos informa-
dos do que existe no contexto sul-americano e
mundial, é nossa obrigação atualizar nossa dou-
trina, empregando os meios que possuímos da
melhor maneira. O sucesso do passado não ga-
rante a eficácia futura e, mesmo esperando por
novos equipamentos, muito pode ser aprimora-
do para que tenhamos a consciência tranqüila
do dever cumprido.
Referências Bibliográficas
[1] Comando da Aeronáutica, "Sistemas
Eletroópticos", Curso Básico de Guerra Eletrôni-
ca, COMGAR, maio 2000.
[2] Comando da Aeronáutica, "Apostila de Siste-
mas de Armamentos", Curso Básico de Guerra
Eletrônica, COMGAR, maio 2000.
Envelope de Lançamento [2]
Spectrum
35○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Aera capitalista gerou um consumismo
desenfreado até então nunca visto.
A sede pelo novo, avançado e arro-
jado parece ser simplesmente inesgotável. O
que hoje é chamado de moderno amanhã
poderá estar sendo qualificado como obsole-
to. O mais interessante é que as novas cria-
ções, de utilidade jamais imaginada pela
grande maioria dos consumidores, tornam-se,
num piscar de olhos, indispensáveis.
Entretanto, para manter-se constante-
mente atualizado, o cliente paga um preço
elevado, e o pior é que nem sempre fica
satisfeito, pois os equipamentos estão cada
vez mais complexos, de operação relativa-
mente simples, mas com uma manutenção
cada vez mais especializada, exigindo em
muitos casos a intervenção do próprio fa-
bricante. A satisfação plena só vem com o
domínio da tecnologia, pois só assim surge
a capacidade de manipular o conhecimen-
to a fim de superar os eventuais empeci-
lhos, que criam tanta dependência.
No campo militar as coisas não são di-
ferentes. A sofisticação dos modernos sis-
temas d�armas objetiva, acima de tudo, a
melhoria na precisão e a economia de mei-
os. As forças armadas dos países
tecnologicamente desenvolvidos dispõem
em seus arsenais desse tipo de armamento
e, toda vez que os empregam, fazem am-
pla publicidade a respeito da precisão ci-
rúrgica de seus bombardeios, alardeando
também que o número de baixas tornou-se
insignificante. Porém, devido ao custo ele-
vado dessa nova tecnologia, as bombas
convencionais continuam sendo utilizadas
e em muito maior escala do que as inteli-
gentes.
E não é apenas o preço um fator
limitante para o seu emprego. Assim como
um remédio antibiótico elimina determina-
dos males mas, ao mesmo tempo, suscita
efeitos colaterais nocivos à saúde humana,
Bomba Guiada a Laser: Ter ou Não Ter, Eis a QuestãoSteven Meier, 1º Ten.-Av.
GITE
os armamentos modernos, apesar das ma-
ravilhas tecnológicas incorporadas, geram
uma gama variada de restri-
ções, até então inexistentes.
Há um caso clássico que
exemplifica muito bem os fa-
tos acima e será descrito a
seguir. Trata-se da �Operação
Ópera� desenvolvida pela
Força Aérea Israelense, no
início da década de 80, com
o intuito de destruir o reator
nuclear iraquiano da Usina
de Osirak.[1]
Uma vez esgotadas todas
as tentativas de pressão diplo-
máticas para que a França
não vendesse um reator atô-
mico a Bagdá, tendo falhado
em seguida os atentados pla-
nejados pelo Mossad para ex-
plodir o carregamento ainda
em portos franceses, os israe-
lenses passaram a considerar
a hipótese de um ataque aé-
reo diretamente à usina. Para
isso, não dispunham de muito tempo, pois,
uma vez iniciada a produção de urânio en-
riquecido, esse ataque colocaria centenas
de milhares de pessoas em risco, já que a
Usina de Osirak situava-se a apenas 15 qui-
lômetros a oeste de Bagdá.
Corria o ano de 1980 e, devido a pro-
blemas fronteiriços, tem início a Guerra Irã-
Iraque que perduraria pelos próximos oito
anos. Um dos primeiros ataques iranianos
foi voltado justamente para Osirak. Com
bombas convencionais, foguetes e tiros de
canhão, não causaram grande estrago mas
fizeram com que os iraquianos reforças-
sem enormemente sua capacidade defen-
siva em torno da usina. Esse evento, veio a
atrapalhar os planos israelenses. Porém,
devido à escalada no esforço de guerra
O Tenente Steven Meier é
piloto de caça, concluiu o
CFOAv em 1994 e exerce
atualmente a função de che-
fe da Subseção de Pessoal
do Grupo de Instrução Táti-
ca e Especializada (GITE).
Possui os cursos de Planeja-
mento do Emprego do Arma-
mento Aéreo e o Básico de
Guerra Eletrônica, ambos
realizados no GITE.
Spectrum
36 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
iraquiano, seu projeto atômico foi refreado
e os israelenses ganharam tempo para se
preparar.
Escolhido o F-16 para realizar o ataque, por
ser o único avião capaz de vencer, voando a
baixa altura, os 1000 quilômetros de distância
que separavam os israelenses de Osirak, falta-
va definir o tipo de armamento a empregar. Is-
rael dispunha em seu arsenal, além das bom-
bas convencionais, das modernas GBU-12 de
1000 libras guiadas a laser. Em dúvida entre as
MK-84 de 2000 libras, consideradas bombas
burras, e as GBU-12, os israelenses passaram a
treinar com ambas.
Ao longo do treinamento, a
precisão alcançada com as MK-
84 foi crescente, uma vez que o
sistema de pontaria era bastante
eficiente e os pilotos estavam se
tornando cada vez mais peritos
neste tipo de missão. Além do
mais, a simplicidade das carac-
terísticas de operação de uma
MK-84 conferia-lhe um elevado
grau de confiabilidade.
O mesmo não ocorria com as GBU-12. As
bombas guiadas a laser (LGB) dependem de
um designador para iluminar o alvo, que, no
caso dos israelenses, estava instalado em outra
aeronave. Problemas relacionados à falta de
coordenação entre as aeronaves lançadora e
designadora comprometeram a eficiência de
diversas missões de treinamento. Levando-se
em consideração que o silêncio rádio era uma
condição primordial para o sucesso da missão,
pois os israelenses não possuíam superioridade
aérea na região, esse entrave praticamente
inviabilizava o uso das bombas guiadas a laser.
Além desse detalhe, há outros fatores a
serem considerados no lançamento de uma
LGB. Como a bomba não possui propulsão,
o ponto inicial do guiamento deve ser sufi-
cientemente alto para possibilitar o planeio
da mesma até o alvo, visto que ela aproará
o objetivo assim que receber o reflexo do
laser.[2] Ou seja, o feixe laser deve ter um
ângulo relativamente elevado, mas a bom-
ba não precisa necessariamente ser lançada
de grandes alturas. Ela apenas deve inter-
ceptar o feixe ao longo de sua propagação.
Isto implicava em, no caso israelense, a ae-
ronave designadora abandonar a formação
em vôo rasante e subir bem antes de alcan-
çar o objetivo para poder iluminá-lo, denun-
ciando antecipadamente sua presença e ex-
pondo-se perigosamente à artilharia antiaé-
rea inimiga.
Por fim, como se não bastassem as difi-
culdades de coordenação entre as aerona-
ves designadora e lançadora, ou a exposi-
ção prematura da aeronave designadora, a
bomba também poderia sofrer desvios se o
feixe laser fosse refletido pelo alvo para uma
posição próxima.[2] Como o objetivo esco-
lhido pelos estrategistas recaiu sobre a
redoma que envolve o reator, as chances de
haver uma reflexão não poderiam ser des-
cartadas.
Consideradas, então, as diversas restrições
apresentadas pela bomba guiada a laser, cha-
mada inteligente, os israelenses finalmente
optaram pelas �burras� MK-84.
Ao colocarem o plano em prática, os is-
raelenses utilizaram o dobro das bombas
necessárias ao cumprimento da missão, ten-
do em vista que o alvo era estratégico e,
portanto, de importância vital. Ao todo, fo-
ram empregados oito F-16 carregando duas
MK-84 cada. Das dezesseis bombas lançadas
sobre a cúpula do reator, quinze acertaram
em cheio, sendo que uma delas falhou. Ou-
tra, que errou o alvo, acabou destruindo a
câmara de guiagem de nêutrons.
O sonho iraquiano de dominar a energia
nuclear ainda não estava definitivamente
acabado, mas, por muito tempo, sepultado
debaixo dos escombros de Osirak.
Continua na pág 43
� O sonho iraquiano dedominar a energia nuclearainda não estava definiti-vamente acabado, mas,por muito tempo, sepulta-do debaixo dos escombrosde Osirak. �
Spectrum
37○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Oprojeto Echelon, realizado em con-
junto com o governo de vários pa-
íses, é uma rede gigantesca de
supercomputadores que visa integrar e man-
ter sob seu controle todas as informações, in-
dependentes da fonte, do sigilo ou qualquer
outro tipo de restrição, em âmbito mundial.
Diferentemente de muitos dos sistemas de
espionagem eletrônica desenvolvidos duran-
te a Guerra Fria, O Echelon foi idealizado
primariamente para alvos não-militares: go-
vernos, organizações,
empresas e indivíduos
em qualquer país. Ele
afeta potencialmente
qualquer pessoa se co-
municando internacio-
nal ou domesticamen-
te, em qualquer lugar
do planeta.
O Echelon pode,
virtualmente, capturar e analisar qualquer cha-
mada telefônica, e-mail ou transmissão de fax
e telex , independente do meio de transmissão
utilizado (satélite, microondas, celular, rádios
convencionais, inclusive walkies-talkies, etc.).
A rede do Echelon não foi projetada para
espionar a correspondência individual de nin-
guém. O sistema funciona interceptando
indiscriminadamente grandes quantidades de
comunicações, fazendo uso dos poderosos com-
putadores para identificar e extrair mensagens
de interesses para as agências de inteligência
participantes do consórcio, de acordo com pa-
lavras-chave pré-determinadas, com o auxílio
de tecnologias sofisticadas de reconhecimento
de voz e de reconhecimento óptico de
caracteres (OCR). Supondo-se, por exemplo, que
a Rússia fizesse parte do sistema, eles poderi-
am cadastrar a palavra Gorbachev e todas as
mensagens, de qualquer meio de comunicação,
que contivessem a referida palavra, seriam en-
viadas para a agência interessada. Uma cadeia
de instalações secretas de interceptação foi
ECHELON: O Sistema está lá fora!Gelson de Sousa Machado Junior, 3S BCO
CGEGAR
estabelecida ao redor do mundo para captar
tráfego entre os maiores componentes das re-
des internacionais de telecomu-
nicações. Algumas delas
monitoram redes de comunica-
ções baseadas em terra, outras es-
pionam comunicações entre sa-
télites, e uma outra vigia men-
sagens de rádio. O sistema
Echelon interliga todas essas ins-
talações secretas, suprindo os in-
tegrantes do grupo operador do
sistema com a capacidade de in-
terceptar grande parte das comu-
nicações do planeta.
Os computadores localizados
nas estações são conhecidos
como dicionários Echelon. Má-
quinas como estas, capazes de
analisar fluxos de transmissões
sugadas de redes de telecomuni-
cações, existem já há pelo me-
nos 30 anos, mas o sistema
Echelon foi projetado para
interconectar estes �monstros� e
permitir que eles funcionem
como um todo.
Além de espionar grupos terroristas e países
inimigos, há indícios que o Echelon vêm sen-
do utilizado, após o fim do �Império do Mal�,
para propósitos menos nobres, como espiona-
gem política, incluindo �bisbilhotar� as ativi-
dades da Anistia Internacional e Greenpace, e
industrial, visando favorecer empresas que aju-
daram a construir o próprio
Echelon.
Para que o Echelon pos-
sa desempenhar sua mis-
são a contento é preciso
que as mensagens inter-
ceptadas não sejam
criptografadas, ou o sejam
com chaves pequenas, da
ordem de 40 bits, já que
O 3º Sargento BCO Gelson
de Sousa Machado Junior é
operador radar, MAGE e foto
de patrulha, concluiu o CFS
em 1993 e exerce atualmen-
te a função de analista de in-
formações na Seção de Inte-
ligência do Centro de Guer-
ra Eletrônica do COMGAR
(CGEGAR). Possui cursos de
Guerra Eletrônica (FAB) e de
Monitoração em Guerra Ele-
trônica (EB).
Spectrum
38 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
estas podem ser decifradas em tempo real
pelos supercomputadores.
No início de dezembro de 98, representantes
de 33 países (dos quais o Brasil não fez parte)
reuniram-se em Viena para discutir os mecanis-
mos de controle de exportação de armas e de
tecnologias associadas (como a criptografia, é
claro), em mais uma rodada do Acordo de
Wassenaar. O principal objetivo desse acordo é
limitar a exportação para
os países não signatários
de tecnologias sensíveis,
que incluem não só arma-
mentos (mísseis, tanques,
explosivos, etc.) como
também tecnologias de
uso civil que também pos-
sam ser usadas para guerra ou terrorismo (conhe-
cidas como �dual-mode technologies�), com
destaque para a criptografia.
Embora o sigilo da correspondência e das
comunicações seja direito assegurado na nossa
Constituição (e na Declaração Universal dos
Direitos Humanos), acontecimentos recentes, no
Brasil e no mundo, mostraram a relativa facili-
dade com que pessoas ou instituições com a
devida (ou indevida) motivação � e com os re-
cursos financeiros e tecnológicos corresponden-
tes � podem �atropelar� aquele direito, sobre-
pondo-se à lei.
Nesse cenário, a criptografia é uma tecnologia
essencial para a proteção dos direitos do cida-
dão e, por extensão para a defesa da democra-
cia.
Nas palavras de Bruce Schneier, �há dois ti-
pos de criptografia: o que impede sua irmãzinha
de ler seus arquivos e aquele que impede os go-
vernos das grandes potências de fazerem o mes-
mo�.
Esse tipo de criptografia �tipo 2� é a chama-
da �criptografia forte�, que utiliza chaves com
128 bits ou mais.
Na reunião de Viena ficou acertado que os
países signatários deverão iniciar o controle da
exportação de hardware e software genéricos
que trabalhem com chaves simétricas maiores
que 56 bits e de produtos de mercado (�mass-
market�) que utilizem chaves maiores que 64
bits. Esse acordo não afeta, entretanto, software
de domínio público (como o PGP, o SSLeay e o
GNU Privacy Guard).
Do outro lado do ringue estão as ONGs ame-
ricanas que defendem o direito à privacidade
individual como a Electronic Frontier Foudation
(EFF), o Electronic Privacy Information Center
(EPIC) e a Americans for Computer Privacy.
Quem tem atacado fortemente os termos do
Acordo de Wassenaar é, no entanto, a australia-
na Electronic Frontiers Australia (EFA), que está
liderando uma campanha global, com lobbies
organizados em quase todos os 33 países para
pressionar os políticos locais por uma posição
em favor do não controle da exportação de
criptografia.
Na opinião da EFA, entretanto, nas próximas
rodadas do acordo de Wassenaar os �falcões�
deverão ganhar espaço e impor a adoção de
controles de exportação de criptografia mais rí-
gidos, colocando em cheque os direitos indivi-
duais num mundo cada vez mais digitalizado.
O Big Brother está vigiando você!
Referências:[1] Teixeira, Carlos A., �Caderno Informática
e etc�, Jornal o Globo (30/03/1998), Rio de
Janeiro, 1998.
[2] Revista Expresso (www.expresso.pt) , edi-
ção 1330, 1998.
[3} Hager, Nicky, �Secret Power�, Covert
Action Quaterly, 1997.
fotos: www.ifrance.com
Spectrum
39○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Aaltitude de operação de uma aero-
nave de alarme aéreo antecipado
vem sendo um importante fator de
análise para seu emprego e possui papel
determinante no sucesso da missão. Para tan-
to, consideram-se diversos fatores de nature-
za técnica e operacional, na determinação
da melhor altitude de vôo.
Os de natureza técnica são definidos
por limitações da plataforma, do radar e
de equipamentos auxiliares que, de al-
guma forma, limitem a operação.
Já os de natureza operacional são es-
tabelecidos em função da forma de utili-
zação da plataforma e dos equipamen-
tos que a compõe, estando diretamente
relacionados com a capacidade do ope-
rador (seleção, formação e treinamento).
Os fatores de natureza técnica, oriun-
dos do projeto do sistema como um todo
(aeronave, radar, fontes de força etc.),
não permitem a interferência do opera-
dor. Devem ser conhecidos e compreen-
didos, visando o correto emprego dentro
de suas limitações. São fatores conside-
rados, dentre outros, de natureza técni-
ca:
- altitude máxima de operação da pla-
taforma;
- altitude máxima de operação das an-
tenas do radar/radome; e
- altitude mínima de operação.
O segundo fator, as antenas do radar,
tem suas limitações oriundas da necessi-
dade de refrigeração e restrições estru-
turais do próprio radome. Tal limitação
poderia nos levar à seguinte pergunta:
�se tivéssemos um radome mais resisten-
te, poderíamos operar a altitudes maio-
res com algum ganho operacional?� Nem
sempre. O fator mais importante é estu-
dar se estaríamos acrescendo algo à ope-
ração, pois há uma altura ótima, que não
é necessário ultrapassar. O cálculo des-
sa altura ótima levará em conta o alcan-
ce máximo não ambíguo do radar, seu
alcance máximo teórico e o
horizonte radar [veja texto emdestaque], en t re ou t ros
parâmetros.
A altitude mínima esta-
belece o limite inferior e
também está relacionada
com o radar, em função da
segurança no solo contra as
emissões eletromagnéticas.
Partindo da faixa defini-
da por limitações técnicas,
deve-se buscar a altitude de
emprego que t raga mais
vantagens operacionais, uti-
lizando-se agora de �ferra-
mentas� mais subjet ivas,
oriundas do operador (e sua
capacidade).
Para tal devem ser consi-
derados, dentre outros fato-
res de natureza operacional:
- a l t i tude de melhor
performance da plataforma
(alcance e autonomia);
- alcance mínimo do radar;
- horizonte radar;
- alcance máximo não ambíguo do ra-
dar e
- alcance máximo teórico do radar.
A altitude de melhor performance ape-
nas inicia o estudo proposto, pois reve-
la-se como uma faixa onde se buscaria
um melhor aproveitamento da missão,
partindo-se da premissa de que a aerona-
ve AEW deve se deslocar para a área de
missão com o menor gasto de combustí-
vel e lá permanecer pelo maior tempo
possível.
Dessa premissa extraímos a próxima
questão: �porque não voar na maior alti-
tude tecnicamente permitida, com o
Determinação da Altitude de Operação de uma Aeronave deAlarme Aéreo Antecipado
Fernando Augusto Maschio de Siqueira, Cap.-Av.4º ETA
O Capitão Fernando Augusto
Maschio de Siqueira é piloto
de transporte, concluiu o
CFOAv em 1990 e exerce
atualmente a função de che-
fe da Seção de Inteligência
e Guerra Eletrônica do 4º Es-
quadrão de Transporte Aéreo.O Capitão Siqueira possui o
Curso de Especialização em
Análise de Ambiente Eletro-
magnético no Instituto
Tecnológico de Aeronáutica
(ITA).
Spectrum
40 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
consequente menor consumo de combus-
tível, obtendo ainda um aumento no ho-
rizonte radar e assim o maior alcance?�
Em primeiro lugar, o aumento do ho-
rizonte rádio pode não ser aproveitado,
se for tal que exceda o alcance máxi-
mo não ambíguo. Notemos a dificulda-
de de usar aqui o alcance máximo teó-
rico, advinda de não estabelecermos o
tamanho dos alvos. De qualquer forma,
mesmo para os alvos maiores, o alcan-
ce máx imo t eó r i co l im i t a rá a
performance do radar antes do alcance
máximo não ambíguo.
Adicionalmente, quando se aumenta
a altitude da aeronave tem-se um pro-
porcional aumento do cone de não
detecção, característica de Radar de
AEW. [2]
Delineando o que poderia ser a me-
lhor altitude, já se vê que ela deverá
ficar em uma faixa onde a plataforma
obtém uma boa performance, dentro do
limite técnico, e ainda, a uma altura tal
que o alcance do radar se aproxime da
distância máxima de linha de visada (ho-
rizonte radar).
Para tal, basta definirmos agora o
que seria a altitude �mais próxima do
horizonte radar�. Para cálculo do hori-
zonte rádio/radar utilizamos o modelo
em voga, que compensa os efeitos da
propagação atmosférica pela adoção
de um raio terrestre igual a 4/3 do raio
real:
(Eq. 1)
Onde Rhor é o horizonte radar em milhas
náuticas, H1 e H2 são as alturas do AEW e do
alvo, respectivamente, em pés. [3]
Alcance Radar
O alcance máximo não ambíguo,
também chamado de alcance máxi-
mo em primeira recorrência, é defi-
nido pelo tempo de escuta disponí-
vel entre a emissão de dois pulsos
consecutivos, constituindo-se, portan-
to, um limite absoluto para o alcan-
ce do radar, exceto em radares pul-
so-Doppler. O alcance máximo teó-
rico, por sua vez, é fruto de cálculo
para determinadas condições de po-
tência disponível, falso-alarme acei-
to , p robabi l idade de de tecção
requerida e tamanho do alvo, entre
muitas outras. Embora mais difícil de
estabelecer, por conter elementos de
natureza probabilística, este é o real
alcance máximo do radar. Normal-
mente, no projeto de um radar, pro-
cura-se fazer com que o alcance má-
ximo não ambíguo seja maior que o
teórico, de forma a não limitar a
performance possível.
Cone de não detecção
Spectrum
41○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Por meio de uma visualização gráfica (ver
figura), podemos avaliar as relações entre a
altura do AEW, a altura do alvo e o horizonte
radar resultante.
Observemos que de nada adianta aumen-
tar o horizonte radar (com o aumento da alti-
tude e suas conseqüências) além do alcance
máximo não ambíguo. Melhor ainda seria se
pudéssemos calcular com mais facilidade e
em tempo real o alcance efetivamente obti-
do pelo radar para as diversas condições at-
mosféricas, tamanho do alvo, etc. Em suma,
aumentar o horizonte radar através do aumen-
to da altitude do AEW somente será efetivoaté o limite do alcance máximo. Pela difi-
culdade de definir �alcance�, adotamos o
alcance máximo não ambíguo.
Supondo o alvo em uma situação bastan-
te desfavorável a 1000 Ft, teremos na Equa-
ção 2 a determinação da melhor (ou maior)
altitude de operação de uma aeronave AEW.
Partindo da equação 1:
Com o alvo a 1000 ft, ou seja H2 = 1000,
teremos:
(Eq. 2)
onde:
H1 - altura do AEW, em pés.
Runamb - alcance máximo não ambíguo ou al-
cance instrumentado, em milhas náuticas.
Tomando como exemplo um radar embar-
cado com 250 NM de alcance máximo não
ambíguo, a melhor altitude de operação des-
sa plataforma seria no máximo de 29.500 FT,
pois a partir dela a aumento da altitude só
estaria trazendo desvantagem à operação do
radar.
Altitude de operação de aeronave AEW
ConclusãoPerformance da plataforma, alcance mí-
nimo, alcance máximo não ambíguo, alcan-
ce radar teórico e horizonte radar são os prin-
cipais fatores a serem considerados para a
determinação da melhor altitude de opera-
Altitude do AEW vs. Alcance máximo da
aeronave alvo. [4]
Spectrum
42 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
ção, e devem ser analisados em conjunto com
os demais. Balizados pelos fatores de nature-
za técnica e computando os de natureza
operacional, podemos obter a forma correta
de operação.
Este cálculo é apriorístico, devendo ser-
vir de base para o início da operação. Não
consideramos aqui outros fatores, como a
existência de inversões térmicas na atmos-
fera, que poderiam causar o �aprisiona-
mento� da energia emitida pelo radar aci-
ma das interfaces entre camadas de ar.
Nesse e noutros casos, cabe ao operador
detectar o mot ivo da perda de
performance e adequar o perfil de vôo.
Finalmente, assumimos ao escrever
este trabalho que o radar é o sensor prin-
cipal a bordo de uma aeronave AEW, ha-
vendo outros sensores, para os quais o
perfil de vôo poderá ser substancialmente
diferente.
Referências
[1] EMBRAER. SA and RS Aircraft Systems -
Critical Design Review. São José dos Cam-
pos - SP. 1999.
[2] SIQUEIRA, Fernando A. M., Emprego do
Sistema ERIEYE da Aeronave AEW & C EMB-
145 SA (Surveillance Aircraft) do Sivam (R-
99 A) � Uma proposta de emprego pela Uni-
dade Aérea. Trabalho individual de conclu-
são de pós-graduação. ITA - Instituto
Tecnológico de Aeronáutica: 1999.
[3] SKOLNIK, Merrill I., Introduction to Ra-
dar System. United States of America:
McGraw-Hill, 1980.
[4] NAVAL AIR WARFARE CENTER, EW and
Radar Systems Engineering Handbook (http:/
/ewhdbks,mugu.navy.mil/).
Spectrum
43○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
na Amazônia. A realização de lançamentos
em ZL aquática simulará o ressuprimento dos
combatentes de selva em qualquer parte da
floresta. Contudo, é preciso pensar em como
realizar os lançamentos numa situação real,
onde o inimigo provavelmente seja superior
tecnologicamente.
Devido ao ambiente eletromagnético hos-
til, todas as missões de Ressuprimento Aéreo
deverão ser realizadas, primordialmente, no
período noturno, empregando-se técnicas de
navegação à �baixíssima� altura (low contour)
que buscam a sombra radar causada pelo
baixo relevo. Cabe lembrar que até a Força
Aérea dos Estados Unidos, com toda sua
parafernália eletrônica, priorizou a realiza-
ção de suas missões no período noturno nas
guerras do Iraque e da Iugoslávia.
As atuais metas da Aviação de Transporte
devem buscar a proficiência de suas
equipagens não só na execução do vôo mui-
to baixo e noturno sobre a floresta amazôni-
ca com equipamentos específicos para visão
noturna, como também do pouso à noite nos
pelotões de fronteira, utilizando balizamento
tático de película reflexiva, capaz de ilumi-
nar as laterais da pista com a reflexão da pró-
pria luz dos faróis da aeronave (lembrando
que o pouso noturno nessas condições é se-
melhante ao pouso noturno em porta-aviões).
Tudo isto visando atingir a pronta-resposta
necessária à região.
Emprego da Aviação de Transporte na AmazôniaContinuação da pág. 13
Examinando esse episódio, que se tor-
nou um clássico no atual contexto dos con-
flitos militares, descobre-se que a preci-
são nem sempre está relacionada com o
que há de melhor em avanços
tecnológicos. Entretanto, ficou patente,
desde o prelúdio da concepção até o
coroamento da operação com êxito total,
o elevado grau de adestramento e
profissionalismo de todas as pessoas envol-
vidas no planejamento e execução da mis-
são.
Que ensinamentos podem ser retirados
dessa análise? Inúmeros sem dúvida, po-
rém, o mais relevante deles é que uma
Força Aérea, mesmo tecnologicamente
defasada e com recursos financeiros limi-
tados, pode ser capaz de cumprir os fins a
que se destina, bastando para isso empe-
nho, dedicação e profissionalismo de seus
membros.
Referências bibliográficas:[1] MALCON, John. Bulls Eye � One
Reactor.1 ed. EUA, 1994.
[2] CATRE, Grupo de Instrução Tática e Es-
pecializada. Apostila de Guiamento de Ar-
mas. Curso Básico de Guerra Eletrônica
2000.
Bibliografia recomendada:GUNSTON, Bill. Smart Weapons. Ed.
Salamanders Books Ltd. Londres - UK,
1986.
LASER GUIDED BOMB MANUAL. Fighter
Weapon School. Langley Air Force Base.
April 1986.
MANGRICH, Ricardo, Maj.-Av. Armamento
Inteligente? Revista Zoom, 1º/4º GAv. For-
taleza, 1997.
Bomba Guiada a Laser: Ter ou Não Ter, Eis a Questão
Continuação da pág 36
Spectrum
44 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Acapacitação de pessoal em cur-
sos de pós-graduação é o princi-
pal pilar da sustentação do pro-
gresso das várias atividades humanas dos
dias atuais. A principal diferença entre a
graduação e a pós-graduação é que en-
quanto aquela prepara os recursos huma-
nos para desempenhar funções conforme
métodos e tecnologias existentes, esta ca-
pacita-os a desenvolver novos métodos e
tecnologias, pesquisar, buscar a inova-
ção, superar os obstáculos conhecidos e
os novos.
Métodos e tecnologias têm sido desen-
volvidos num ritmo cada vez mais ace-
lerado, com apoio acadêmico, permitin-
do superar barreiras nos vários campos do
conhecimento e forçando todos os usuá-
rios da tecnologia a uma evolução ace-
lerada e sem descanso.
As organizações cujos �negócios� es-
tão voltados para um mercado de forte
concorrência precisam investir em pós-
graduação para se manter entre as me-
lhores e não desaparecer. Se a atividade
em pauta é fortemente competitiva (e a
nossa o é, por essência), não é preciso
parar para ser ultrapassado: basta dimi-
nuir o ritmo.
A Necessidade de Pós-Graduação na Área OperacionalAri Robinson Tomazini, Maj.-Av.
CGEGAR
Na área militar, a pós-graduação per-
mite a uma Força Armada entender, de-
senvolver e explo-
rar com maior pro-
babilidade de su-
cesso os conceitos
de guerra, as con-
cepções de empre-
go e as
tecnologias uti l i-
zadas nos cenários
de crise, conflito
ou guerra.
A Pós-Graduação naAeronáuticaUm fa to in te -
ressante ocorreu na
área de fenômenos
atmosféricos. Há
alguns anos, a Ae-
ronáutica era a ins-
tituição brasileira
que liderava o co-
nhec imento em
meteorologia. Essa
posição, nos dias
atuais é ocupada pelo INPE. A inversão
de posição deve-se ao fato de que o INPE
fez a opção por um programa de
Mestrado e Doutorado, enquanto a Ae-
ronáut ica manteve a po l í t i ca de
capacitação de pessoal no nível de gra-
duação ou em cursos de pequena dura-
ção.
Nós militares não precisamos ser os
melhores em meteorologia. Apesar da
importância desse assunto em nosso dia-
a-dia, ele não é realmente nosso �negó-
c io� . A apl icação mi l i ta r do poder
aeroespacial brasileiro é �o negócio� da
Força Aérea.
Já possu ímos programas de
O Major Ari Robinson Tomazini
é piloto de patrulha, concluiu o
CFOAv em 1985 e exerce atual-
mente a função de chefe da Se-
ção de Recursos Humanos do
Centro de Guerra Eletrônica do
COMGAR (CGEGAR). Possui
cursos de Guerra Eletrônica no
Brasil e na Inglaterra, pós-gradu-
ação em análise e projeto de sis-
temas (GFI/UNB - Brasília) e pós-
graduação em Engenharia de
Sistemas Eletrônicos Militares na
Royal Military College of Science
(Inglaterra).
Spectrum
45○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
capacitação em áreas técnicas que têm
apresentado resultados de inquestionável
valor para o país. Esses programas foram
iniciados a partir da criação do ITA, ins-
tituto considerado pelo MEC como a
melhor instituição de ensino em enge-
nharia do país e que conta com um for-
midável corpo docente, uma infra-estru-
tura considerável, além de possuir a
melhor biblioteca da América Latina.
No entanto, os novos cenários de guer-
ra requerem que a Aeronáutica busque a
excelência em áreas vitais para a apli-
cação mili tar do Poder Aeroespacial
como, por exemplo, a guerra eletrônica.
Objetivo do Mestrado em GuerraEletrônica
A guerra eletrônica sistematizada e
tratada como objetivo organizacional
data de pouco tempo na Força Aérea Bra-
sileira. Pode-se inferir que
essa seja uma das prin-
cipais causas das di-
ficuldades encontra-
das pelos integrantes
da Aeronáutica para
conceber novos con-
ceitos de guerra, de-
senvolver concep-
ções de emprego,
entender e explorar
as tecnologias utili-
zadas nos cenários
de guerra.
Para obter efeito semelhante ao que
essa atividade provocou nas Forças Aé-
reas que venceram os conflitos dos últi-
mos sessenta anos, há que se ter um pro-
grama de busca de excelência, cujo prin-
cipal pilar é a capacitação de recursos
humanos a nível de mestrado e doutora-
do.
Esses cursos deverão preparar milita-
res e civis para:
a ) resolver problemas operacionais e téc-
nicos relativos à atividade militar;
b) gerar novos conhecimentos (Know-
Why) que resultem em conceitos, con-
cepções de emprego e tecnologias;
c ) desenvolver métodos, procedimentos,
processos e tecnologias para melhorar o
ciclo de decisão nos vários níveis da
guerra;
d) melhorar a utilização dos meios exis-
tentes na nossa Força; e
e ) tirar proveito das concepções e das ca-
racterísticas dos recursos técnicos do ini-
migo.
Essa proposta po-
derá fazer a diferen-
ça entre a vitória e a
derrota, o sucesso e o
fracasso num teatro
de guerra para a For-
ça Aérea Brasileira.
Numa área do
conhecimento onde a
competição é a tôni-
ca, a velocidade de
superação de barrei-
ras é o que faz a di-
ferença entre os ven-
cedores e os vencidos. Não faltam exem-
plos, antigos e recentes, de que no con-
flito entre as vontades nacionais, aquela
que melhor domina o conhecimento leva
enorme vantagem.
Spectrum
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Revista �SPECTRUM�Objetivos e Diretrizes para Publicação
ARevista �Spectrum� tem como fi-
nalidade contribuir para a divulga-
ção de trabalhos voltados exclusi-
vamente para o preparo e emprego da For-
ça. Pretende-se incentivar a apresentação de
temas que venham a despertar debates, moti-
var o início de estudos que possam ser apro-
veitados, hoje ou no futuro, com o objetivo
de conferir o devido realce ao aguerrido espí-
rito operacional da Força Aérea Brasileira.
Não se estabelece preferência de abor-
dagens: diferentes perspectivas teóricas e
metodológicas no tratamento de temas são
aceitáveis, desde que consistentes e signi-
ficativas para o desenvolvimento da área
operacional.
O público alvo é constituído dos profis-
sionais civis e militares das três Forças Ar-
madas e do Ministério da Defesa, Institutos
de Pesquisa, Universidades e de outras Or-
ganizações Públicas e Privadas interessadas
nos assuntos operacionais da Força Aérea.
Forma de apresentação dos artigosOs textos devem ser encaminhados de
acordo com os seguintes critérios e carac-
terísticas técnicas:
1) Formatação: papel A4 (29,7x21cm); mar-
gens: superior = 2,5cm, inferior= 2,5cm,
esquerda= 2,5cm e direita= 2cm; editor
de texto: Word for Windows 6.0 ou pos-
terior, utilizando caracteres Arial, tama-
nho 12pt e espaçamento 1,5 linhas. O
artigo não deverá exceder 5 páginas, in-
cluindo quadros, tabelas, gráficos, ilus-
trações, notas e referências bibliográfi-
cas. Deve-se observar a ortografia ofi-
cial e conter, na primeira lauda do ori-
ginal, o título do trabalho e o(s) nome(s)
completo(s) do(s) autor(es).
2) Apresentar em uma página separada: tí-
tulo do trabalho, nome(s) completo(s)
do(s) autor(es) acompanhado(s) de bre-
ve curriculum vitae em que se mencio-
ne titulação acadêmica, experiência
profissional e/ou acadêmica,
instituição(ões) de vinculação, cargo ou
função, endereços, e-mail, telefones e
fax. Se mais de um autor, ordenar de
acordo com a contribuição de cada um
ao trabalho.
3) Enviar resumo do texto, entre dez e quin-
ze linhas, em que constem objetivo, mé-
todo, resultado e conclusões, bem como
de três a cinco palavras-chaves.
4) As referências bibliográficas completas
do(s) autor(es) citados deverão ser apre-
sentadas em ordem alfabética no final
do texto, de acordo com as normas da
ABNT (NBR 6023). As referências a
autor(es) devem ser citadas no corpo do
texto com indicação numérica na lista
de bibliografia.
5) Notas referentes ao corpo do texto de-
vem ser indicadas com um número
sequencial, imediatamente depois da
frase a que diz respeito. As notas deve-
rão vir no rodapé do texto.
6) O artigo deverá ser enviado em disquete
de 3,5�, acompanhado de duas vias im-
pressas e foto(s) do(s) autor(es) � busto,
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Cronograma para a próxima edição:até 15 nov 2000: recebimento de artigos
dez 2000: revisão e editoração eletrônica
jan 2001: impressão e distribuição