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Revista sobre arquitetura, design e artes

Transcript of Revista SIM! 57

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D E S I G N A R T E S A N A L E I N D U S T R I A L

ARQUITETUR A E PA ISAGISMO INTEGR ADOS, COM ROBERTO MONTE ZUMA E LU IZ V IE IR A

COM ADÉLIA BORGES, PAUL A DIB E GUTO ÍNDIO DA COSTA

DECOR AÇÃO COM ALE X ANDRE MESQUITA , ANDRÉ CAVENDISH e MÁRCIA NEJA IM

TENDÊNCIA : RE VEST IMENTOS CAMALEÕES E SUSTENTÁV EIS

RESIDÊNCIAS ART ÍST ICAS COM RENATO VALLE

ARQUITETURA - DECORAÇÃO - DESIGN - ARTE - ESTILO

ANO VII I - Nº 57 - DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA

W W W . R E V I S T A S I M . C O M . B R

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Foto rotacionada de apartamento projetado por Alexandre Mesquita

Foto: Felipe Mendonça

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FIQUE POR DENTRO - 08As novidades e tendências do mercado de decoração.

DESIGN - 12Interação entre design e artesanato com depoimentos de Adélia Borges e o trabalho da designer Paula Dib com a tribo dos fulni-ôs.

DESIGN - 26Guto Índio da Costa, sistema Carrapixxo e o sucesso do design industrial brasileiro.

DECORAÇÃO - 36 Alexandre Mesquita, Adnré Cavendish e Márcia Nejaim mostram todo seu talento em projetos de salas.

ARQUITETURA E PAISAGISMO - 50Roberto Montezuma e Luiz Vieira mostram a interação entre arquitetura, paisagismo e urbanismo no projeto de um edifício no Recife.

REVESTIMENTOS - 58Camaleões ou sustentáveis? Conheça algumas das últimas tendências em revestimentos.

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Diretor Executivo Márcio Sena([email protected])

Coordenação Gráfica e EditorialPatrícia Marinho ([email protected])Felipe Mendonça([email protected])

REDAÇÃOAndré Clemente([email protected])

Germano Rabello([email protected])

Maria Leopoldina([email protected])

Paula Delgado([email protected])

RevisãoFabiana Barboza([email protected])

Consultoria EditorialRoberto Tavares

Arquiteto ColaboradorAlexandre Mesquita

Operações ComerciaisMárcio Sena([email protected])

ComercialEliane Guerra (81) 9282.7979([email protected])

Assessoria JurídicaAldemar Santos - O.A.B. 15.430

SIM! é uma publicação bimestral daMIRAIMÍDIA DESIGN E EDITORA LTDA

Redação R. Rio Real, 49 - Ipsep - Recife - PE CEP [email protected] / Fax: (81) 3471.3705

ComercialR. Bruno Veloso, 603 - Sl 101Boa Viagem - Recife - PECEP [email protected] / Fax: (81) 3327.3639

Os textos e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista.

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Cultura, identidade e competitividade. É com esses três conceitos que buscamos retratar a atual fase do design no Brasil. Com a breve passagem da jornalista e curadora Adélia Borges, tivemos a possibilidade de ver como o a arte popular e o artesanato vêm ganhando com a parceria do design na produção de objetos. Um ganho não apenas de qualidade material, mas também no fortalecimento de identidades regionais que, mesmo parecendo isoladas, sofrem com a invasão desordenada de culturas externas na produção de seus objetos, como no caso dos índios fulni-ô, em Pernambuco. Enfim, a união entre design e artesanato tem se mostrado tão importante para o país que A Casa — museu do objeto brasileiro —, em São Paulo, lançou o Prêmio Objeto Brasileiro para premiar o melhor da produção artesanal contemporânea do Brasil, levando em consideração essas parcerias do design rústico com o bem aprimorado.

Fugindo um pouco do Craft Design, em uma conversa com o designer Guto Índio da Costa, pudemos perceber que o design industrial no Brasil também ganhou muita força e mostra sua identidade fora do país com produtos que surpreendem, seja pela estética ou pela funcionalidade que os diferenciam dos produtos da concorrência, muitas vezes, importados. É a força do designer aliada a qualificação da indústria.

Na decoração, Alexandre Mesquita, André Cavendish e Márcia Nejaim mostram projetos de ambientação que reproduzem a identidade de seus clientes em salas que são verdadeiros convite a visitação. Na arquitetura, Roberto Montezuma e Luiz Vieira integram arquitetura predial, urbanismo e paisagismo num projeto no bairro de Boa Viagem, em Recife. Revestimentos mostram, por meio de camuflagens e materiais alternativos, que o mercado está de olho na sustentabilidade. E, por fim, mostramos alguns trabalhos de Renato Valle, artista que evolui na arte por meio de seu desenho, seja em grandes ou pequenos formatos.

Leia a SIM! - Felipe Mendonça - [email protected]

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Sanitários com controle remoto chegam ao Brasil. Importado da China a tecnologia chegou à parte mais íntima da casa com a proposta de propor-cionar conforto e higiene. Os sanitários inteligen-tes têm funções ativadas por controle remoto, dispensam o uso de papel higiênico e prometem a higiene íntima através de duchas internas. Com o acionamento de botões, o assento é aquecido, desodorizante é lançado, jato de água interno é acionado para a higiene do usuário e ainda ar quente para a secagem. Poligress Shop, Criciúma (SC) Fone: (48) 3433.0456

Morar Mais por MenosA mostra de arquitetura e decoração que já ganhou destaque em cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador acontece este ano também no Recife. A Morar Mais por Menos segue o conceito da sustentabilidade na criação de ambientes sofisticados e genuinamente brasileiros com preços acessíveis e ex-postos nos ambientes. Assim, os visitantes da mostra encontram peças já garimpadas , ou seja, que possuem o melhor custo benefício.Morar Mais por MenosAgosto a setembro de 2008 - Recife - PE | www.morarmais.com.br | Fone: (81) 3241.7647

Exportarte A Associação dos Produtores de Objetos de Arte e Artesanato de Pernambuco, Exportar-te, inaugurou um show room que reúne tra-balhos dos 18 artistas que integram a organi-zação. Instalado na Casa da Cultura, durante três meses, o espaço terá expostos móveis artesanais, luminárias, peças decorativas em fibras, madeira, cerâmica, ferro, tecelagem manual, objetos em vidro e confecções em renda renascença. “Todas as peças são feitas à mão e retratam o fino artesanato local para a decoração de ambientes”, garante a presi-dente da Associação, Mona Holanda. Showroom da Exportarte - Casa da Cultura Rua Floriano Peixoto, s/nº - Santo Antonio - Recife - PE | Fone: (81) 9976.2484

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Nova Casa CorA partir deste ano a Casa Cor passa a adotar uma nova linguagem e lança novas estra-tégias e eventos ligados à marca, que foi comprada pela sociedade entre o Grupo Doria Associados e o Grupo Abril S/A. Além da Casa Hotel e da Casa Boa Mesa, neste ano, serão somados ao calendário: Casa Cor Stars, com grandes nomes internacionais e nacionais da arquitetura, paisagismo e deco-ração; Casa Office, versão da Casa Cor para escritórios; Casa Cor Workshops e Casa Cor Seminários.

O novo posicionamento pretende um progra-ma de licenciamento da marca para produtos desde música até aromatizadores, passan-do por mobiliário, eletrodomésticos e cama, mesa & banho. A estratégia de desenvol-vimento de produtos também poderá ter profissionais do elenco Casa Cor desenvol-vendo e assinando peças exclusivas. A venda será em lojas na Casa Cor São Paulo, nas 12 franquias nacionais — entre elas a de Per-nambuco, que este ano tem início no dia 06 de setembro, com a abertura para o público — e nas três internacionais, além da vendas de produtos em lojas do varejo. www.casacor.com.br

Improbable ChairsO artista César Revoredo lança, no dia 29 de abril, na Florense em Natal, RN, a exposição Improbable Chairs. Serão 15 cadeiras produzidas a partir de sobras de consumo, matérias-primas inusitadas, como lâmpadas, argila, grama, roupa, além de materiais convencio-nais – madeira, ferro e plástico, dando-lhes uma nova roupagem. A idéia de César é mostrar cadeiras que não possuem a função específica de sentar. Improbable Chairs Florense - 29 de abril a 15 de maio de 2008 Av.Prudente de Morais, 1350 - Tirol - Natal - RN

Mesa GuiO mais recente lançamento da Novo Projeto tem a assinatura do arquiteto Guilherme Eustachio. As mesas Gui são feitas a partir do reaproveitamento de material ecologicamente correto e reciclado. Os modelos Mc Gui I e Mc Gui II são compostos por duas lâminas de vidro sobrepostas e pés de aço inoxidável.Novo Projeto | www.novo projeto.com.br | Fone: (81) 3466.2859

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Vistorias prediaisA Assembléia Legislativa de Pernambuco criou um Conselho Consultivo. O objetivo é estabelecer regras básicas para a realização obrigatória de vistorias e manutenções periciais em todos os imóveis públicos ou privados do Estado. Entre as ações previstas, está a criação de um laudo-modelo, que servirá de referência para as futuras vistorias realizadas pelos engenheiros em cumprimento das normas estabelecidas pela lei. Para fazer parte do grupo de especialistas que compõem o Conselho e que vai atuar na elaboração do laudo, o presidente da Adai nomeou o engenheiro civil Antônio Carlos de Albuquerque Melo, profissional com mais de 35 anos de experiência na elaboração de laudos em construções de todo o Estado. ADAI | Rua Antônio Vieira, 245, Madalena - Recife - PE | Fone: (81) 3228.1466

Iquine na webA Tintas Iquine acaba de lançar novo site onde, além de conhecer a indús-tria e seus produtos — com detalhes referentes às embalagens, rendimento, tempo de secagem, aplicação — é pos-sível encontrar dicas e truques sobre o uso das cores. O site também oferece orientações sobre como organizar uma casa/apartamento de acordo com o Feng Shui e o download gratuito o Ma-nual Técnico da Iquine.www.tintasiquine.com.br

FashionEm sua nova loja no Shopping tacaruna, a Club Fun, revendedora oficial das grifes de acessórios Melissa e Kipling, teve projeto assinado pelo arquiteto Josemar Costa Junior. Valorizando o lado feminino na escolha dos materiais, o projeto é repleto de espelhos e tons de rosa nas paredes e piso. Puffs em resina, na cor prata, acentuam a modernidade do espaço.

CenografiaUma das novidades no mercado de eventos no Recife é a Krebs Cenografia. Comanda pelo designer Marcelo Krebs, a empresa tem marcado presença nos eventos e festas da cidade com diferenciais como o uso de fios fluorescentes trançados à mão, pirâmides e luz negra. Informações: (81) 9966.7226.

Misancene O bairro do Espinheiro ganhou um espaço multimarcas que aposta numa mistura de moda, artesanato, decoração e gastronomia. Projetado pelo arquiteto Alexandre Mesquita, a Misancene tem um ar camaleônico, em que os objetos e as peças fazem parte da decoração, podendo constantemen-te serem alteradas. Investindo em cinco marcas exclusivas, Diva, Didi, Laundry, King55 e Nonsense, o local também abriga o Café Delataci, comandado pela chef Taciana Teti. Misancene | Rua da Hora, 645, Espinheiro - Recife - PEFone: (81) 3221.1043 | www.misancene.com.br

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Objeto brasileiroA cultura de um povo se expressa de diversas formas e o objeto brasileiro é um exemplo fundamental da expressão de sua cultura. Carregado de identidade, símbolos e significados, o objeto artesanal representa riqueza cultural, principalmente no que se refere à sua dimensão imaterial, que compõe a escolha dos materiais a serem utilizados, as técnicas de produção e o repasse do modo de fazer de uma geração para outra.

Foto: Felipe Mendonça

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Já imaginou lantejoula, anilina e gliter, produtos industrializados, entranhados numa aldeia indíge-na em pleno agreste pernambucano? Essa era a parte distorcida da realidade encontrada na tribo fulni-ô, em Pesqueira, há alguns meses. Paula Dib, designer carioca, saiu do Rio de Janeiro para Per-nambuco em busca de valorizar a raiz do trabalho indígena na região. Ela percebeu a importância do artesanato dentro da história fulni-ô e como isso estava se perdendo, se descaracterizando, uma vez que eles compravam sementes (sem signifi-cado) de outras tribos e inseriam esses elementos artificiais em sua arte, tão genuína.

A situação mudou um pouco, e tende melhorar ainda mais, com a volta às origens, depois de um trabalho árduo que a designer vem desempenhan-do no local. E, pelo visto, o tem feito com muita presteza. "Minha missão por lá foi, antes de mais nada, conviver, conhecer e entender a forma de vida e história daqueles índios", relata Dib.

A cultura de um povo se expressa de diversas for-mas e um exemplo fundamental é o objeto bra-sileiro. Carregado de identidade, símbolos e sig-nificados, o objeto artesanal representa riqueza cultural, principalmente em referência à sua di-mensão imaterial, que compõe a escolha dos ma-teriais a serem utilizados, as técnicas de produção e o repasse do modo de fazer de uma geração para outra. Levando em conta tudo isso, Paula Dib iniciou uma pesquisa para resgatar as técni-cas, os materiais utilizados por eles e seus signi-ficados. Na metodologia usada, muita troca de informações sobre a importância de manter viva a cultura artesanal e todos os símbolos e signos que ela contém.

O resultado foi uma coleção de produtos diver-sos: acessórios, instrumentos, utensílios, tapetes e bolsas. Houve uma recriação do que os avós dos índios de hoje produziam. A contribuição da designer trouxe novidades aos artesãos: soluções técnicas, funcionais, estéticas e ergonômicas aos objetos nunca antes pensadas.

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Para tornar o produto identificado com a região e o público específico, a atividade de Paula Dib também incluiu a criação de uma identidade visual própria. A idéia final, que ainda está em andamento, é desenvolver um canal de vendas virtual e alimentá-lo com novos resgates de produtos, valorizando e reconhecendo a importância da cultura. São os índios fulni-ôs se apresentando ao Brasil e ao mundo.

É a este tipo de trabalho que a jornalista e curadora mineira Adélia Borges também vem se dedicando. Ela vem desenvolvendo projetos por todo o Brasil com o intuito de orientar a interferência de profissionais visuais acadêmicos nos trabalhos artesanais. Tarefa que vem realizando desde os anos 70, quando percebeu, mais nitidamente, as mudanças que uma boa interferência pode trazer a um local ou a uma cidade depois de passar pelas mãos ou vistas de um profissional do design. Experiência que teve ainda quando se dedicava ao jornalismo e foi incumbida de elaborar uma série de reportagens sobre os centros urbanos do país. Depois de ter se dado conta do exemplo concreto em que se transformou a bela cidade de Curitiba, resultado de uma interferência urbana, Adélia tomou para si a tarefa de divulgar as qualidades do design brasileiro: "tão rico em sua originalidade de norte a sul do país", destaca. O gosto em valorizar a riqueza brasileira ultrapassou o além-mar e suas dissertações sobre o tema já conquistou países como os Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Austrália, entre outros.

Colares e bolsa

confeccionadas na tribo

indígeja fulni-ô, no agreste

pernambucano em projeto

da designer Paula Dib

Fotos: Divulgação

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Além de escrever sobre o tema ao longo dos anos, Adélia também se aprofundou em organi-zar exposições como curadora. Mas o tema das mostras e palestras para as quais é convida-da não é o design, simplesmente, pelo design. É a grande relação e parceria do design com o artesanato, atividades que, no Brasil, durante muito tempo, viveram em mundos distintos, e, porque não dizer, em realidades opostas.

Entretanto, dos anos 80 pra cá, o que se percebe é a boa convivência de designers e artesãos quando bem administrados. O "x" do versus (design x artesanato) tem dado lugar à conjunção aditiva "e" (Design e Artesanato). Trata-se de um casamento que, quando respeitados os cos-tumes peculiares de cada região, tem grande possibilidade de dar certo para os dois lados.

Este design apresenta-se de várias formas: no suporte gráfico, na embalagem, na moda, nos projetos de interiores. É o caso, por exemplo, do que os Irmãos Campana — Fernando e Humberto — fazem com a sandália Melissa quando se inspiram na fibra vegetal. Outro exemplo é o Design Tipográfico, que resgata nas letras parte da história do local.

Fato que vem causando uma certa mudança no cenário nacional: as pessoas têm olhado mais às pequenas coisas, os pequenos eventos, os pequenos artesãos. No Recife, o Museu do Homem do Nordeste desenvolve um projeto de Formação do Jovem Artesão, que esti-mula essas pequenas, mas ricas, produções. Trata-se um pouco da inclusão do centro na periferia e da periferia no centro.

Prato Trama, Maria

da Fé, MG, 2005

(Associação Gente

de Fibra + Domingos

Tótora )

Foto: Divulgação

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O grande risco é quando um dos dois lados quer sobrepor-se, na maioria das vezes o designer, não considerando as raízes de determinado trabalho ou região. Adélia detalha: quando o designer quer modernizar o produto a qualquer custo, sem contextualizar o produto de acordo com suas origens, muito provavelmente esse trabalho vai ter como conseqüência uma via de mão única e suas riquezas ficam sujeitas a ter uma vida útil muita curta. Enfim, aquelas tradições que deveriam ser passadas de pai para filho, acabam sendo esquecidas ao longo dos anos. Para Adélia, esse pensamento não é fruto de uma ideologia radical. Quando perguntada sobre a inserção de maquinário industrial num processo artesanal, ela não hesita em responder que essa inserção pode ser viável, desde que não atrapalhe, e sim, contribua para o trabalho dos artesãos. Resumindo: desde que as características da estética e funcionalidade sejam preservadas.

Luminária exposta no

espaço interferências,

coordenado por Janete

Costa duarante a

Fenneart 2007

Foto: Felipe Mendonça

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N Adélia gosta sempre de usar o exemplo de Chico Science, que fez uso de cruzamentos de influências musicais, que resultou num estilo revolucionário. Baseado neste cruzamento, é a produção o que vem sendo criada e reformulada pelo projeto Via Design, formado por uma equipe do Sebrae que tem Eduardo Maciel à frente, em relação aos logotipos de uma série chamada M. Bats, iconografia própria do movimento Mangue Beat, com ícones criados a partir de entrevistas e pesquisas sobre o assunto. Sempre mantendo a preocupação de que os vários níveis sociais possam compreendê-la.

Outro casamento bem-sucedido entre designers e artesãos e lembrado por Adélia é de Ouro Preto, Mi-nas Gerais. Eles conseguiram recuperar uma identidade local, até então esquecida e que faltava pouco para ser definitivamente perdida, a partir do trabalho de recuperação da pedra-sabão. Os artesãos conseguiram resgatar a textura rústica do produto e criar embalagens artesanais com folhas secas de Buriti. Exemplo que vem também do Nordeste do país, no Sertão do Ceará, em Inhamuns, onde as artesãs tiveram mais estímulo em trabalhar depois que uma equipe de designers as ensinou a valorizar o produto desenvolvido ao longo de tantas décadas.

Adélia tenta implantar no sul e sudeste do país uma ideologia que também tem sido foco do trabalho de Janete Costa no Norte e Nordeste. Dessa identifica-ção entre as duas, nasceu uma grande amizade. Até por ser mais nova, é em Janete que Adélia diz se inspirar. Lembrando que parti-cipar do documentário do alagoano Celso Brandão sobre a vida de Janete foi um dos motivos que trouxe Adélia ao Recife, em fevereiro. A própria Adélia também adianta que a pernambucana tem sido foco de um livro, de sua autoria, que encontra-se em produção. Trata-se de Janete como arquiteta, design, deco-radora, pesquisadora de arte popu-lar, curadora, enfim, Janete. “Ela se resume por si só”, afirma Adé-lia, que vai fazer questão de expor cerca de 80 fotos da amiga nesse trabalho.

Ícones da fonte M.Bats.

Projeto da Via Design,

coordenação de Eduardo Maciel

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O grande ponto de partida da metodologia de trabalho de Janete é o respeito com o trabalho do ou-tro, no caso, o artesão. "O máximo que eu consigo alcançar neste tipo de convivência é transformar o artesão num artista. Isso não está relacionado à padronização de uma arte, apenas em aperfeiçoar o fazer", comenta Janete. Janete ensinou Adélia a olhar, de forma mais crítica, para a arte popular e aumentou seu repertório de artistas populares, ampliando o horizonte para a esfera Brasil.

A especialidade de Janete, nascida em Garanhuns, interior pernambucano, tem sido o aprimoramento de uma arte rústica com base em dicas e sugestões ao artesão que resultem em peças melhor aca-badas, com capacidade de serem bem aceitas no mercado e produzidas em grande quantidade para serem inseridas nas leis do comércio; sem que, com isso, sejam descaracterizadas: pode-se falar numa interferência sem feridas.

O tipo de trabalho realizado por Janete e Adélia tem recebido incentivos. É o caso do concurso que A Casa — Museu do objeto brasileiro em São Paulo — realiza para premiar o melhor da produção ar-tesanal contemporânea do Brasil, levando em consideração essas parcerias do design rústico com o

Almofadas de Cheiro, Inhamuns, CE, 2005

Laboratório Piracema de Design + Sebrae-CE + Associação de artesãos de Tauá

Fotos: Divulgação

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bem aprimorado. A premiação estava dividida ente as seguintes categorias: Objeto de Produção Autoral, Objeto de Produção Coletiva, Ação Sócio-Ambiental e Novos Projetos - Estudantes e Jovens Profissionais. Os primeiros lugares de cada categoria receberão um prêmio no valor de R$ 5 mil e os segundos lugares R$ 2,5 mil, com a exceção da categoria Estudantes e Jovens Profissionais, em que o autor do melhor projeto receberá R$ 2 mil.

Antes de mais nada, o prêmio, que pretende ser realizado a cada dois anos, tem o caráter de contribuir para o reco-nhecimento, revalorização e revitalização do patrimônio cultural brasileiro. Os objetos premiados em cada categoria farão parte de uma exposição sobre a identidade da produção artesanal brasileira contemporânea.

Essa premiação, além de valorizar a produção, também desenvolve o tripé sobre o qual estão fundamentadas as teorias dessa atividade: questões econômicas, ambientais e sociais. Econômicas no que diz respeito a uma produ-ção que não seja em série, mas também não seja unitária; um número que justifique a produção de determinado produto, quando se leva em conta as leis do mercado. Ambientais respeitando todas as normas da natureza, sem agredir o meio ambiente, preservando, na medida do possível, e até reciclando sempre que possível. Sociais, prin-cipalmente, quando se fala em não impor tendências ou moda sem respeitar a cultura do local ou do grupo que se está trabalhando. Para atender a essas solicitações, o trabalho precisa estar caminhando em paralelo aos estudos de pesquisa, contextualizando a produção e ainda tentando sempre inovações referentes às leis do marketing.

Artesanato do Ouro Preto, MG, 1983

Prefeitura de Ouro Preto/ José Alberto Nemer + Heloísa Crocco + Porfírio Valladares + Marcelo Drummond + artesãos de Ouro Preto

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N Para estimular o número de inscrições, o Instituto Tomie Ohtake (SP) abrigou uma exposição de 20 pe-ças, reunidas sob a curadoria de Adélia Borges, que não podiam ter outra origem senão o casamento da produção artesanal brasileira com produtos de design contemporâneo. Tudo isso produzido nos últimos 20 anos. A comunidade da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, por exemplo, teve a idéia de usar se-mentes da Amazônia na confecção de luminárias. Em Maragogipinho, na Bahia, os vasos de cerâmica com pinturas decorativas buscam referências genuínas do local de origem. Na Amazônia, cercas com estampas que fazem relação com Piracema.

Esse tipo de concurso reforça a idéia de que o artesanal também pode fazer parte de uma coleção de objetos diferentes, ligados a um conceito industrial. O principal cuidado é não reduzir as característi-cas locais, não deixar que sejam “engolidas” pelas novidades da moda. De acordo com Adélia, o ideal é que as mudanças interfiram de forma espontânea no modo de fazer de determinada comunidade, mantendo o reconhecimento e a identificação do local.

Os profissionais que chegam para ajudar, se não forem bem orientados, podem cair no erro já citado de tentar impor seu jeito ao artesão como o certo. Como se existisse um certo... O importante é não que-rer mecanizar simplesmente usando a mão de obra local trazendo protótipos prontos. “Eu não acredito em fórmula mágica, receitas, consultorias episódicas ou salvadores externos. Deve haver sempre um envolvimento entre os profissionais da área, mesmo que no primeiro contato, design e artesão errem,

Série Transparências,

2007, Janmete Costa

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mas todo acerto vem depois de uma falha, já que o erro decorre da falta de acerto”, comenta Adélia. Se se tem dúvida quanto ao modo e à intensidade da interferência, é preferível não fazê-la a mexer e a comunidade sofrer resultados nocivos. Adélia ainda lembra que quanto mais distante da comunidade e antiga for a tradi-ção, mais cuidados devem ser tomados para respeitá-la, a fim de resgatar sua originalidade ao máximo. Tudo deve ser levado em consideração: ritmo de trabalho, signos que resistem aos anos, beleza torta dos objetos feitos à mão. Se numa comunidade dessa o designer quiser incutir o “feito à máquina”, a cultura pode perder toda a graça e o encanto.

Um fator que não pode ser discutido é a auto-estima do artesão. Essa troca mais intensa de experiências tem forte poder transformador nas pessoas mais pobres e humildes. O artesão ainda não tem a noção do poder que pode atingir. Pode-se dizer que o Brasil é o país do design, já que é visto lá fora como o país da criação, da inventividade. A equação entre tecnologia mais avançada e artesanato tem provado bons resultados. É o caso, citando mais uma vez o saudoso Chico Science, do símbolo da antena parabólica fincada no mangue, ou seja, a tecnologia convive bem com as raízes locais. Resta aos brasileiros aproveitar desse talento da cria-tividade que está a mil por hora.

Luminária exposta no

espaço interferências,

coordenado por Janete

Costa duarante a

Fenneart 2007

Foto: Felipe Mendonça

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Adélia Borges Jornalista e curadora especializada em design. É professora de História do De-sign (FAAP) e foi diretora do Museu da Casa Brasileira de 2003 a 2007.

Paula Dib Designer, consultora e sócia fundadora da empresa Trans.forma. Desde 2003, atua principalmente em comunidades de pro-dução artesanal no Brasil. Em 2006, foi vencedora do Prêmio Internacional Jovem Designer Empreendedor, em Londres, promovido pelo British Council.

Prêmio Objeto Brasileiro A Casa – museu do objeto brasileiroInscrições – 29 fev a 30 jun 2008Ficha de inscrição e regulamento no site: www.acasa.org.brInformações: (11) 3814.9711 [email protected]

Lã Pura, Pampa gaúcho, RS, 2006

Ministério de Desenvolvimento Agrário +

Sebrae RS + Renato Imbroisi (coordenação)

+ Liana Bloisi + Lui Lo Pumo + Tina

Azevedo Moura + Tramas e Fibras (artesãos

de Uruguaiana) + AGATECE – Associação

Gabrielense de Tecelagem + ARTSB –

Associação dos Artesãos de São Borja

+ Fios e Hilos da Fronteira (artesãos de

Santana do Livramento)

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Design industrialNo design, a estética está associada à solução de um problema. Muitas pessoas vêem o design como o verniz, quando na verdade ele é a base da criação de um produto

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Deixando um pouco de lado o design contemporâneo mesclado com a produção artesanal, outro tipo de design que também ganha força e representação no Brasil é o Design Industrial. Esse ramo do design está ligado à maturidade tecnológica em termos funcionais e à com-petitividade do mercado que exige diferencial para o produto passar a competir em alto nível comercial.

Uma das mais recentes empresas no ramo é a 3XDesign, empresa que acabou de lançar seu primeiro produto: o Sistema Carrapixxxo, que consiste em suportes para a fixação de móveis na parede. A empresa tem como sócios o premiado designer Guto Índio da Costa, Felipe Bicudo e Felipe Rangel e tanto cria como fabrica e comercia-liza seus produtos.

O toque especial do Carrapixxo, que faz toda a diferença, está nas inú-meras possibilidades de montagem de prateleiras, gaveteiros, mesas, armários. Uma novidade diante das estruturas extremamente rígidas encontradas habitualmente nas casas, mesmo as mais modernas. Até então, se o morador desejasse trocar algum móvel, era preciso que-brar tudo e refazer a obra. Agora, a criação é uma resposta a essa constante necessidade de mutação que o mundo vem passando.

Detalhe do Sistema Carrapixxxo e dois

exemplos de aplicação: como um closet e

uma estante para livros e objetos

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O diferencial do Carrapixxo está nos cabos e pequenas semi-esferas de alumínio, fixadas nas paredes como carrapi-chos (daí o nome), que servem de suporte para os mais diversos móveis da sala, do quarto ou gabinete. Ao utilizar esse sistema, tudo passa a ser possível diante da flexibilidade e praticidade oferecida: o que hoje é um armário, amanhã pode virar uma biblioteca, uma mesa de trabalho pode virar um console de jantar e por aí segue. A pro-posta é conviver, ao longo do tempo, com os mesmos módulos, porém sendo possível fazer combinações infinitas e dimensões variadas.

O projeto baseou-se na economia e o sistema prevê uma vida útil de cerca de 30 anos. Foi baseado também na variedade de produtos, tendo em vista que os cabos, as semi-esferas e os folheados de madeira resultam numa variedade de mais de 350 módulos, em 12 formatos e 11 tons diferentes de cores. O acabamento ainda pode ser acetinado, brilhante ou com microtextura. Embora a linha seja apresentada como produção em série, a parte em aço é toda feita a mão e não há possibilidade de encomendas em tamanhos diferentes dos oferecidos. Por mais que a produção seja em larga escala, há uma padronização que precisa ser seguida para acelerar essa produção. É o que distingue o Design Industrial do que Guto chama de Craft Design, este último relacionado ao artesanal, que pode fazer a quantidade e o produto que lhe for pedido, independente de um padrão.

Outra característica do Carrapixxxo é a sustentabilidade, já que a linha de móveis foi projetada para usar o mínimo possível de matéria-prima e recursos para sua execução. Procura-se sempre utilizar a estrutura da parede já existen-te para fixar os módulos e os móveis não precisam de pés ou bases. Pensando na preservação ambiental, a linha é confeccionada a partir de madeira reflorestada (MDF) e alumínio reciclável.

Diante dessa inovação, o Sistema recebeu o prêmio IF Design Award 2008, na categoria Home Furniture, na Ale-manha e nacionalmente, também ganhou o Prêmio Salão Design Casa Brasil. Sem falar que existe uma proposta muito próxima de levar o sistema Carrapixxo ao exterior, começando pela Itália.

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A participação de Guto Índio na sociedade da 3XDesign é também sua primeira inserção na linha mobiliária e a primeira vez que participa do controle desde a criação de um produto, da concepção de uma idéia, até o processo de fa-bricação e de venda. Mas isso não parou os trabalhos de seu escritório, o Índio da Costa De-sign, referência em design de produtos no Brasil e no exterior.

A maioria dos pedidos que o escritório rece-be tem como desafios, criar um produto que atraia o interesse do cliente num primeiro olhar e, depois, o conquiste de vez pela funcionalida-de. Uma produção com foco na necessidade do consumidor. Daí a quantidade de pesquisas que são feitas para entender cada vez mais os clien-tes. Faz-se um estudo do perfil do consumidor que enfrentará as ameaças e as oportunidades envolvidas no consumo do produto.

Como o ventilador Spirit. O produto que atin-giu várias classes sociais, inclusive a classe C, pelo preço que foi ofertado. Se fosse um ven-tilador como qualquer outro, seria difícil de ser percebido diante de tantas opções no mercado. Outro resultado do trabalho de criação do escri-tório é a banheira que pode ser programada por telefone, com acesso direto pela Internet. Um produto que além de originalidade, revoluciona o mercado pela sofisticação tecnológica e pelo design diferenciado.

A banheira que pode ser programada pela internet ou

por telefone celular é um dos produtos de destaque

internacional criados pelo Índio da Costa Design.

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De acordo com o arquiteto e professor da cadei-ra de Design da Universidade Federal de Pernam-buco, Lourival Costa, que esteve em contato com Guto Índio da Costa durante a apresentação do Sistema Carrapixxxo no Recife, todos esses produ-tos tiveram como base um conceito: necessidade do consumidor para, a partir daí, serem criados e caírem no gosto do público. “O design, a estética está associada à solução de um problema. Muitas pessoas vêem o design como o verniz, quando ele é a base da criação de um produto”, analisa Louri-val. E esse esforço em criar um design diferente e exclusivo tem sido aprimorado dia-a-dia, por causa do perfil do consumidor atual que tem se mostrado mais rigoroso e exigente. Uma mudança social que interfere também na estrutura da indústria.

Segundo Guto Índio, para o produto deslanchar no mercado é preciso que funcione bem, tenha fabri-cação viável em série e seja aprovado esteticamen-te pelo público-alvo, além de atender às exigências ecológicas. A maioria desses requisitos tem sido atendida na indústria nacional, o que faz o produto brasileiro ser cada vez mais aceito no exterior. As-sim, o design brasileiro tem competido no mesmo nível com o resto do mundo. Uma prova disso são os vários prêmios conquistados por brasileiros nos últimos anos.

Quando se fala em concorrência, não se pode es-quecer da China. Mas, no quesito design industrial, a China sai perdendo do Brasil. Embora seus pro-dutos sejam mais baratos, não traz nada de novo. O produto brasileiro chega ás prateleiras mais caro, porém diferenciado, criativo, único. É nesse ponto que a teoria do valor de uso entra em cena, ou seja, o cliente fica satisfeito por estar adquirindo um pro-duto exclusivo. Em alguns casos, o designer preci-sa dominar um pouco de assuntos diversos, como site, embalagens, desenhos e cores. Guto lembra que essa relação não é construída de um dia para o outro. Como Adélia Borges bem lembrou, na maté-ria anterior: trata-se de uma consultoria periódica e não esporádica, um parceiro de longo prazo, a fim de que designer e cliente consigam encontrar uma afinidade nos interesses.

Índio da Costa Designwww.indiodacostadesign.com.br

Na esteira com tecnologia de ponta o que chama mais

atenção, a primeira vista, é o design estético.

Noo tanquinho de lavar roupa, que atende a um público

mais popular, além da estética o diferencial aparece numa

solução de tecnologia simples e eficaz: uma área criada

para lavar peças mais delicadas como roupas íntimas.

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Bem-estar e bem receberEspaços sob medida para relaxar e receber a família e os amigos.Cada pessoa tem na sala um espaço de referência, um ambiente que mostra a personalidade de quem mora ali; seja para sentir tranquilidade após um dia de trabalho ou para confraternizar. Os três arquitetos desta matéria conseguiram projetar salas assim. E, melhor ainda, modelando muito bem o estilo de seus clientes.

Fotos: Felipe Mendonça

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A história deste projeto é especial para o arquiteto Alexandre Mesquita e tem grandes peculiaridades. A sala vem com mix entre elementos tecnológicos e ícones da cultura local. “Os proprietários do apartamento fazem parte de um grupo de maracatu. Ele toca na orquestra e ela participa da corte. Muito do que está lá faz referência a essa manifestação cultural”, diz o arquiteto.

Fugir dos costumes é o grande diferencial do projeto que remete, em muito, aos anos 70. Cada objeto ou móvel foi pensado para ratificar o dia-a-dia do casal e o conforto é essencial. Tudo tem um porquê e nada foi comprado apenas pela beleza ou modismo. O ambiente ainda conta com peças ecologicamente corretas.

Alexandre Mesquita

Fotos: Felipe Mendonça

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A brincadeira dos elementos nobres com outros despojados faz com que o resultado continue sofisticado. Na hora de sentar, futons que imprimem a personalidade desprendida de regras dos habitantes do local e seus convidados. As poltronas que complementam o espaço têm fios bordados e também remetem ao maracatu. O grande destaque do mobiliário fica por conta da poltrona Calunga, feita a partir de uma cadeira antiga do proprietário do imóvel e que, em setembro deste ano, vai concorrer ao prêmio Pernambuco Design.

A ambientação que foi feita em parceria com Roberta Correia tem iluminação da Light Design. A mesa foi desenhada pelo próprio Alexandre e executada pela Móveis Mosteiro. As cadeiras são da Casa Pronta.

Alexandre Mesquita - (81) 9972.3113

Fotos: Felipe Mendonça

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Quando foi convidado para repaginar esta sala, cujo projeto anterior datava de meados dos anos 80, André Cavendish procurou casar o novo projeto com uma característica fundamental: o piso em granito não seria removido. Para clarear o ambiente, todas as paredes foram pintadas com cor sóbria num tom palha. O gesso foi modificado e os adornos, tão em voga na época na concepção do primeiro projeto, ganharam linhas mais puras e neutras.

André Cavendish

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Fotos: Felipe Mendonça

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O piso da sala ganhou um tapete de 8 metros de comprimento, resultando na união dos ambientes e deixando o espaço mais integrado. Um grande painel de madeira possibilita a separação entre as salas de estar e jantar.

Como o cliente tem a leitura como hábito, foram criados vários “cantos” de leitura. Em virtude disso, na iluminação foram utilizadas peças de design internacional da Artemide e Dominici. Mesas laterias e poltronas confortáveis apoiam esse hobby.

André Cavendish e Arquitetos - www.andrecavendish.com.br - (81) 3326.0157

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Fotos: Felipe Mendonça

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Márcia Nejaim Esta sala, projetada por Márcia Nejaim, é toda cli-matizada e, como o casal tem o costume de rece-ber amigos com freqüência, os vários ambientes têm comunicação entre si. Em uma noite de petit comité, os amigos podem perfeitamente interagir entre terraço, home-theater, sala de estar, sala de jantar e espaço degustação. Esse último, feito com paredes forradas em madeira, lembra muito os pubs londrinos.

O projeto mistura clássico e contemporâneo com uma dose acentuada de sofisticação.

Márcia Nejaim e Arquitetos www.marcianejaim.com.br (81) 3326.6652

Fotos: Felipe Mendonça

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Arquitetura integrada em todos os aspectos“A arquitetura unida ao paisagismo é uma arte que se desfruta pelos cinco sentidos.

Além do visual forte, a audição é levada pelo balanço das folhas das árvores;

o olfato e paladar, inteiramente ligados, são contemplados com o sabor e aroma das

flores. O tato está na comunicação, no entrar em contato.”

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A Arquitetura, urbanismo e paisagismo! Esse é o tripé que desafia o arquiteto na hora de projetar uma obra em grande ou pequena escala. Para isso, muitos aspectos devem ser observados. Dentre eles, entender a localização é fator essencial para tirar proveito dela, observar o entorno do terreno, considerar os edifícios vizinhos é o primeiro passo! Segun-do o arquiteto paisagístico Luiz Vieira, não é só colocar verde onde não tem, como muita gente pensa.

Junto com Luiz Vieira, o arquiteto Roberto Montezuma projetou um edifício que vai retratar bem o trabalho integrado dessas duas categorias. Localizado no bairro de Boa Viagem, Recife, foi projetado em formato triangular, potencializando, desta forma, uma melhor ventilação nos apartamentos. No eixo, um espaço triangular vazio sem cobertura vai até o térreo e também preserva a iluminação natural. Luiz Viera projetou ainda uma vegetação em cada andar. “Além disso, do seu andar, os moradores podem visualizar o térreo, cujo ambiente está muito bem tratado”, afirma.

Cada lugar tem a sua melhor forma de iluminação, de ventilação, e isso deve ser projetado. Tem que existir diálogo com o local da obra para o resultado ser benéfico economicamen-te, respeitando os envolvidos. “Cada quadra, cada rua é diferente, e merece um estudo diferenciado, principalmente em uma cidade como Recife, mais especificamente, em um bairro tão cheio de concreto, como Boa Viagem. É arquitetar com ética urbana e respon-sabilidade”, destaca Montezuma.

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A arquitetura paisagística é responsável por toda a composição da área externa de uma obra e é uma exigência de mercado atual. O público quer empreendimentos de qualidade ambiental e paisagística, principalmente com a chegada de construtoras do Sul a Per-nambuco.

O ideal é não ter fórmula pronta ou ter um modelo para copiar. Segue-se referências, cla-ro, mas com identidade. Neste projeto, por exemplo, os incorporadores afirmam que em alguns ambientes foram colocados detalhes característicos de hotéis, com o espírito de cidades do exterior, mas nunca o modelo. “Tem que se valorizar o que é nosso, descobrir os nossos valores para agregá-los ao mercado”, afirma o arquiteto Geraldo Gomes.

Roberto Montezuma soma ao afirmar que mostrar regionalidade em uma obra não é o ponto de partida, e sim, o de chegada. “O sucesso da obra é dito por ela mesma. É não repetir coisas e cumprir a missão do arquiteto: construir qualidade”, completa.

Luiz Vieira descreve um detalhe: “A calçada, por exemplo, não é só um espaço que a pre-feitura delimita, é circulação. É o elo entre interno e externo, merece atenção. A obra traz benefícios para a rua, para o bairro. Uma calçada maior, com vegetação, boa iluminação, vai tornar essa rua um ambiente de mobilidade agradável. Nesse caso, é uma questão de acessibilidade! O edifício passa a ter um perfil sócio-ambiental”.

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No caso do Felicità Prince, os ambientes sociais foram bastante trabalhados. Os apartamentos estão suspensos por um tripé que deixam quatro pisos de áreas sociais, além de favorecer na ven-tilação das residências. Os espaços facilitam a relação humana, essa integração é uma ferramenta potente para esta vivência.

Tudo está integrado. A entrada tem muitas flores. No lazer, há vários níveis de jardins, hall, gaze-bo, que espelham o triângulo vazio. Referências a ele são feitas em toda a área comum, refletindo paisagismo e respeito ambiental. Houve, ainda, uma preocupação com a vegetação. Foi observada a textura da flora, o aroma, a cor, as folhagens de todas as estações, para manter os ambientes bonitos durante todo o ano.

Cada ambiente é um lugar sensível. O sentido não é consolidar projetos no particular e colocá-los onde couberem. O planejamento urbano deve visualizar os sistemas integrados, com um resultado positivo, aprazível.

Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo. “Esse tripé é uma arte, cuja aprovação não é dada no olhar, como uma arte visual, mas no estar. É a verdadeira arte da vivência. É o dia-a-dia que vai dizer se o projeto é realmente válido”, explica Roberto Montezuma.

Serviço:Roberto Montezuma, arquiteto - (81) 3326.3754 / 3465.4617Luiz Vieira, arquiteto paisagista - (81) 3466.5812Pernambuco Construtora - www.pernambucoconstrutora.com.br

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Como ficar mais próximo da natureza a quilômetros de distância dela? Este dilema é enfrentado por milhares de moradores em centros urbanos, envoltos por poluição, concreto e barulho, e cada vez menos perto da natureza. A busca por uma melhor qua-lidade de vida tem levado as pessoas a optarem por um contato maior com o natural. De acordo com a empresária Leila Calil, da Luthier Revestimentos, “levar um pouco da natureza para dentro de casa tem se apresentado como uma tendência mundial”.

O avanço tecnológico e a conseqüente melhora na qualidade dos produtos na área da construção civil, dá mais segurança ao con-sumidor na hora de investir no acabamento de sua casa para criar uma sensação menos acelerada de vida. Uma alternativa é pensar em como revestir a segunda pele de uma casa de modo que seus usuários se sintam bem, confortáveis.

Novas opções em revestimentos partem de conceitos ecológicos para revestir a segunda pele de uma casa sem perder o charme e o conforto.

Novos materiais

Porcelanato camaleão que imita a

aparência de mármore branco: maior durabilidade.

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O aumento do uso de porcelanatos “camaleões”, ou seja, aqueles que parecem aquilo que não são — peças com conceito de tecido, madeira, pedra, couro, ferrugem e metal — prova que a área está investindo em produtos ecoló-gicos e com maior tempo de sobrevida. “Os porcelanatos com conceito de madeira, por exemplo, são mais baratos do que os tacos produzidos com madeira original. Além de serem ecologicamente corretos, eles têm maior durabili-dade”, informa o empresário Sérgio Novaes, da Ultra Distribuidora, que funciona no bairro do Pina, Recife.

A degradação do meio-ambiente tem sido um forte argumento para a escolha de produtos na linha de revestimentos ecológicos. Seguindo essa tendência de mercado, a última edição da Revestir – Feira Internacional de Revestimentos —, em São Paulo, trouxe os últimos lançamentos na área. São produtos resultantes da utilziação de pastilhas de coco, podas de galhos de macieira, palha de arroz e babaçu entre outros.

O mercado traz inúmeras opções desse tipo: madeira, ardósia envelhecida, coco, couro e cortiça, produtos que têm sido plenamente usados como revestimentos ou pisos. Mas, ainda melhor do que a diversidade de produtos, são as opções de usos. De acordo com Leila Calil, esses materiais podem ser aplicados para revestir uma porta de entrada ou até mesmo quartos e móveis de um ambiente.

Para facilitar ainda mais para o cliente, alguns desses produtos, como, por exemplo, as fibras naturais, podem ser trabalhadas de forma personalizada em ambientes que variam da calçada de um prédio, passando pelo hall de entrada de um apartamento, até a sala de estar. Já quando se fala em porcelanato "fingindo" madeira, um bom exemplo pode ser apreciado na nova Pin-up Burgueria, no bairro do Pina. O revestimento foi aplicado pela Ultra e tem extraído elogios dos clientes e também do proprietário, que conseguiu obter um revestimento com conceito de madeira, mas com um custo bem mais baixo do que se usasse a madeira maciça. Outros benefícios é que esse tipo de produto não é inflamável, não mancha, não risca, não desbota ao Sol e é totalmente lavável.

Painel feito com revestimento sustentável

desenvolvido a partir de podas de troncos de

macieira que eram descartados nos pomares

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Já o porcelanato com conceito de tecido é indicado para uso tanto em pisos como em revestimento de áreas internas e externas. Trata-se de um material ainda mais sofisticado e normalmente transmite ao ambiente sensações de tranquilidade, suavidade, delicadeza e aconchego.

A semelhança com o couro também é encontrada em peças inspiradas em peles de animais. Os pro-dutos costumam ter relevos suaves e texturas agradáveis ao toque. “Sempre pensando na proximidade com a natureza”, destaca Sérgio Novaes.

As adequações desses produtos em ambientes completamente urbanos demonstram a preocupação em valorizar produtos genuinamente brasileiros, além de incentivar a sustentabilidade. No caso da Luthier, a empresa aproveita sobras da natureza que costumavam ser jogadas no lixo na elaboração de produtos completamente reformulados e que ganham outra vida. Leila lembra o caso das pastilhas de macieira: podas das árvores que eram inutilizadas agora, por meio da Seivarte, fábrica do Paraná, viram objetos de bom gosto. Assim como as pastilhas de coco e as palhas de arroz e babaçu viram ouro nas mãos de especialistas da Ekobe, em Maceió.

E por falar em coco, a Ultra disponibiliza no mercado um revestimento produzido com a casa do coco seco triturado, da Eliane. As pastilhas, essas mais rústicas, utilizam a parte externa da casca. Mas tem quem prefira ela mais sofisticada e opte pela parte interna da casca do coco, passando ainda por um processo de lixamento. Neste caso, são mais indicadas para ambientes internos, detalhes em pisos, paredes, móveis, ou pequenos objetos.

Porcelanato camaleão que imita a aparência

de couro: textura de texidos também no piso.

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Eis um grande benefício: resistência a produtos químicos, impactos e à umidade sem deixar marcar. Porém, diante dessa lista de prós, há, como toda regra, o contra: a necessidade de um cuidado es-pecial para manter a beleza e a eficácia por um maior tempo. A semelhança de um piso de plástico vegetal natural com a madeira impõe certos cuidados como o de ser constantemente encerado, mas sem dúvida alguma, tornam os ambientes muito mais versáteis.

É pensando nessa versatilidade que a Luthier buscou na Revestir as novidades como as linhas Craft, Retrô e Rock, da Solarium Revestimentos. A Linha Craft foi desenvolvida pela designer Heloísa Crocco. A Retrô vem assinada pela renomada designer Renata Rubim. Já a Rock foi desenvolvida pela própria presidente da Solarium Revestimentos, Ana Cristina de Souza Gomes.

A Linha Craft apresenta texturas inspiradas nos anéis de crescimento de árvores (topomorfose). Utili-zada em paredes, é ideal para painéis decorativos, fachadas de edifícios e revestimento de muros. Já Linha Retrô busca resgatar o charme e a sutileza de tempos passados aliados à inovação dos tempos modernos. De produção artesanal, pode ser utilizada tanto para pisos como para arremates de painéis e contornos de ambientes. E a Rock, apresenta-se em três texturas diferentes, todas remetendo à pe-dra natural caxambu. O produto é indicado para uso em pisos e paredes de áreas internas.

ServiçoLuthier Revestimentoswww.luthierrevestimentos.com.br | Fone: (81) 3241.6364 - 3091.1068

Ultra RevestimentosFone: (81) 3466.2420 - 3463.2122

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Linha Craft. Revestimentos assinados pela designer Heloísa Crocco.

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Renato Valle era o tipo de artista plástico recluso e que sempre trabalhava sozinho. Mas isso só até o ano de 2005, a partir de quando começou a desenvolver um projeto que podemos chamar de residências artísticas. Isso mudou pra sempre a sua maneira de fazer arte. Convidado a desenvolver trabalhos em di-ferentes instituições de arte, por opção, Renato se deixa influenciar pelo ambiente, o acervo e as pessoas de cada instituição.

Cada vez mais aberto, ele mesmo estimula a participação dos visitantes que já puderam inclusive adi-cionar seus traços em algumas obras. Quando passou a trabalhar com grandes dimensões começou a registrar tudo em vídeo e fotos, tornando público o seu processo de criação. Trabalhos assim foram feitos no IAC (Instituto de Arte Contemporânea), Mamam (Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães), Museu Murillo La Greca e Dumaresq. Em 2006, no Murilo La Greca, realizou “Livro de Memórias Regressivas” o que pode se considerar sua primeira performance: consistia em projetar sobre uma grande lona a corres-pondência entre o artista que dá nome à instituição e sua musa, Sílvia Decusati, sobrepor as cartas e ler os textos, copiando-os sobre a lona.

E novas possibilidades parecem ser especialidade de Renato, nos últimos tempos. Ele agora deixa a ti-midez de lado e trabalha pela primeira vez num atelier coletivo, o Atelier-Casa, junto com Bruno Vilela, Rodrigo Braga, Beth da Matta e Juliana Notari. Ele mesmo classifica essa mudança de ambiente como positiva e lá está também dando aulas de desenho. Mais uma etapa no seu envolvimento com a arte, tão intenso desde seus primeiros rabiscos em 1976. CARREIRAFoi em 1978, com vinte anos, que o recifense Renato Valle fez sua primeira exposição coletiva. Justo quando sua tia descobriu por acaso, numa visita, alguns trabalhos que ele já vinha fazendo desde os de-zoito, com nanquim bico-de-pena. Essa tia era a artista Creusa Pinto, que o provocou a mostrar sua arte levando quase vinte desenhos figurativos para a galeria em que ela também expunha. Aos poucos, Rena-to ia entrando num novo mundo e conhecendo artistas que lhe incentivavam, como Zuleno Pessoa, que escreveu o texto sobre essa primeira coletiva, e Gil Vicente, com quem havia estudado na escola. Nessa época, interessava menos a reprodução fiel da anatomia e mais a expressividade das formas.

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Acumulando residências artísticas

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Na página ao lado: Sala de Pequenos Formatos, IAC.

Ao lado e abaixo: Bruna, Betina, Nice e Manoel - Grafite sobre lona crua. 212 X 310 cm,

2007-2008, obra finalizada e interferências feitas antes do acabamento do desenho.

De Um a Nove - série Grades de Caminhões - Acrílica sobre papel - 112,5 X 112,5 - 2003

Oratório II - óleo sobre tela - 75 X 55 cm - 1986

Série Natureza Morta com Ex-votos III - óleo sobre tela - 1994

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"Era uma época difícil", relembra, "pois na cidade eram poucas as fontes de informação sobre arte". Se era complicado encontrar bons livros, especialmente sobre a produção moderna e contemporânea, isso dificultava o jovem artista de ter algo em que se espelhar. Mas, economicamente, a época era propícia à produção artística. O mercado era nitidamente mais forte do que hoje, graças a um maior poder aquisitivo da classe média e a existência de diversas galerias de peso. Foi na Galeria Officina, mantida pelos irmãos Bernardo e Elias Dimenstein, que Renato fez, em 1986, sua primeira individual. Era figurativa, desta vez, com pinturas. Faria também na galeria dos Dimenstein a sua segunda individual, em 1989. A próxima viria somente em 1996, na Galeria Vicente do Rego Monteiro, da Fundação Joaquim Nabuco.

Se Renato Valle nunca foi de expor muito, a carreira rendeu várias participações e prêmios em salões de arte pelo Brasil. E sempre pesquisando novas maneiras de se expressar. Por volta de 1996, conheceu Nadja Dumaresq que o convidou para trabalhar com sua galeria. Interessado em fazer litografias, passou a produzir na Oficina Guaianazes (UFPE) as gravuras que iria expor não só na galeria de Nadja, mas também no Núcleo de Arte Contemporânea, em João Pessoa.

Deu início em 2002 a uma série de mais de 600 fotografias enfocando grades de caminhões, num tra-balho proposto ao SIC (Sistema de Incentivo a Cultura) da Prefeitura do Recife. Algumas dessas fotos já foram expostas e premiadas por aí, e estão na origem de sua próxima exposição na Dumaresq. Sem data confirmada, a mostra “Grades de Caminhões” incorpora grafismos típicos dessas grades em composições de pinturas abstrata, combinadas com uma lógica muito precisa, matemática. São trabalhos que se valem de técnicas da análise combinatória, podendo se estender infinitamente nas suas possibilidades.

Em 2003 ganhou uma bolsa do Salão de Arte Contemporânea de Pernambuco para realizar cinco mil desenhos com 5 x 5 cm, na obra "Diário de Votos e Ex-votos".

Renato agora deixa a timidez de lado e trabalha, pela primeira vez, num ateliê coletivo, o Atelier-Casa, jun-to com Bruno Vilela, Rodrigo Braga, Beth da Matta e Juliana Notari. Classifica essa mudança de ambiente como positiva e lá também está dando aulas de desenho. Mais uma etapa no seu envolvimento com a arte tão intenso, desde aqueles primeiros desenhos em 1976.

Renato Valle - [email protected]

Bico de pena - 1977/78 Alguns Objetos de Adoração

óleo sobre tela - 94 x 230 cm - 1985

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