Revista Mundo Fiat

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EDUCAÇÃO 6 MUNDOFIAT C omo diria o poeta Mário Quin- tana, “os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês.” E tanto os poemas quanto os pássaros encheram os olhos de quem esteve presente na 7ª edição do Atentado Poético, promovido em março pela Fundação Torino na Praça da Liber- dade, em Belo Horizonte. Inspirados em poetas como Fer- nando Pessoa, Antônio Machado e também em compositores como Arnaldo Antunes e Chico Buarque, Lendo e aprendendo Atentado Poético, evento promovido pela Fundação Torino, homenageia a poesia e mostra a importância do hábito da leitura. A iniciativa, que envolveu alunos e população com muita poesia e cultura, mostrou que ações como essa fazem toda a diferença. POR LILIAN LOBATO alunos – entre 11 e 19 anos – e pro- fessores da instituição, com muita criatividade e empenho, produziram diversas intervenções “poético-mu- sicais” que embalaram a manhã de sábado do público presente. Neste ano, o projeto foi uma ho- menagem ao Dia Mundial da Poesia e, com teatro, música e recitais de poemas, levou as pessoas a mergu- lharem em um universo inspirador, fosse para falar de amor, da vida, da felicidade ou da tristeza. Sem dis- tinções, o Atentado Poético atingiu Fotos Ignácio Costa Estudantes da Fundação Torino espalham por Belo Horizonte teatro, música, recitais e livros

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Matéria publicada na edição 102 - Jun/Jul 2010.

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Mundo Fiat: Quem é Angela Gutierrez?Angela Gutierrez: Mulher brasileira, minei-ra, apaixonada pela minha terra e entusias-mada com tudo que se refere à nossa história. Às vezes, alguém me diz que eu sou mineira demais e eu digo: “Graças a Deus”.

MF: Quando começou a colecionar?AG: Desde menina eu coleciono. É como se fos-se um vírus (risos). O colecionador tem uma curiosidade natural e está sempre pronto a buscar o seu objeto de desejo. Encontrei peças tanto no exterior quanto em feiras de rua, nos rincões do país, muitas esqueci-das nas fazendas. Encon-trei em um ferro-velho a balança de escravos do século XVIII, que con-sidero emblemática no MAO.

MF: Abrir mão de uma coleção é dolo-roso?AG: Há um momento na vida do coleciona-dor em que ele sente que a coleção é maior que ele, que é preciso compartilhar para que ou-tras pessoas usufruam a emoção e o significado de uma obra de arte. Não é uma decisão fácil. É preciso se desa-pegar lentamente e passar a olhar a coleção em uma dimensão coletiva. Quando concluí o Museu do Oratório, em 1998, confesso que senti um vazio imenso. Mas depois que vi a reação das pessoas que visitavam o museu, o encantamento das crianças, eu me senti re-compensada.

MF: Se você fosse guia do Museu de Ar-tes e Ofícios, como é que você atrairia a atenção das pessoas para visitá-lo?AG: O grande motivo que justifica a visita é a possibilidade de conhecer os primeiros ofícios esquecidos pela história, que foram modifi-cados e tem como foco a fase pré-industrial. Procuraria estimular as pessoas a entender o caminho do trabalho em nosso país e a co-

nhecer, por exemplo, como era a vida de um ferreiro, a dificuldade de se trabalhar, compa-rando a moderna siderurgia que temos hoje com toda a tecnologia que veio de uma ativi-dade como a ferraria.

MF: Neste momento, você está colecio-nando alguma coisa que possa virar um museu?AG: Eu tenho mais uma coleção que pretendo doar para o patrimônio público, que é a de imagens de Santana. É uma coleção também

única, especial, que te-nho vontade de insta-lar no prédio da anti-ga Cadeia Pública de Tiradentes. O ofício de fazer museus não me abandona. O primeiro foi o do Oratório, inau-gurado há mais de 11 anos e que já

foi visitado por 700 mil pessoas.

Foi com ele que descobri que o meu ofício é esse. Minha vida de colecionado-

ra adquiriu um novo sentido, porque ele me abriu esse caminho maravilhoso que é o de criar museus.

MF: Quais são as dificuldades desse ofí-cio?AG: É um trabalho muito gratificante para mim e minha equipe, pois sempre vale a pena trabalhar pela cultura brasileira. Pes-soa preparada para trabalhar não é um problema, é só treiná-la. O grande problema é a manutenção. Hoje, as leis de incentivo nos permitem captar recursos que possibili-tam a gestão dos museus com uma entrada simbólica de R$ 2. Mas administrar, manter e receber com dignidade as pessoas custa caro e, por isso, a gente vê com apreensão as mudanças na Lei Rouanet, propostas pelo Ministério da Cultura. Sei que muitas delas são necessárias, mas é preciso olhar com carinho para os nossos museus.

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Como diria o poeta Mário Quin-tana, “os poemas são pássaros que chegam não se sabe de

onde e pousam no livro que lês.” E tanto os poemas quanto os pássaros encheram os olhos de quem esteve presente na 7ª edição do Atentado Poético, promovido em março pela Fundação Torino na Praça da Liber-dade, em Belo Horizonte.

Inspirados em poetas como Fer-nando Pessoa, Antônio Machado e também em compositores como Arnaldo Antunes e Chico Buarque,

Lendo e aprendendoAtentado poético, evento promovido pela Fundação Torino, homenageia a poesia e mostra a importância do hábito da leitura. A iniciativa, que envolveu alunos e população com muita poesia e cultura, mostrou que ações como essa fazem toda a diferença.

por liliAn loBATo

alunos – entre 11 e 19 anos – e pro-fessores da instituição, com muita criatividade e empenho, produziram diversas intervenções “poético-mu-sicais” que embalaram a manhã de sábado do público presente.

Neste ano, o projeto foi uma ho-menagem ao Dia Mundial da Poesia e, com teatro, música e recitais de poemas, levou as pessoas a mergu-lharem em um universo inspirador, fosse para falar de amor, da vida, da felicidade ou da tristeza. Sem dis-tinções, o Atentado Poético atingiu

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AçÃO todos os gostos, encantou os fami-

liares dos alunos e envolveu a co-munidade, no sentido de que ler é o melhor remédio.

De passagem pela praça, a pro-fessora de inglês Danielle Rioga não resistiu ao escutar uma das crian-ças declamando um poema e parou para ver a apresentação. Ela, que já escreveu poesias na infância, é uma admiradora desse gênero e lembra autores importantes, como Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade. “É fundamental que as pessoas tenham o hábito de ler, in-dependentemente da profissão que venham a escolher. Leitura é sinô-nimo de conhecimento e faz toda a diferença, tanto para o crescimento pessoal quanto para o profissional. A iniciativa do evento traz todo o incentivo”, afirma.

A coordenadora e idealizadora do projeto, Daniela Guimarães Men-des, tem a mesma opinião. Segundo ela, o Atentado já passou por dife-rentes formatos, divulgou a prática do bookcrossing (troca de livros),

distribuiu coletâneas com trabalhos de alunos e já distribuiu mais de 3,5 mil livros de literatura na cidade de Belo Horizonte. Indiferente à forma, a proposta do evento é trabalhar a recepção e produção dos textos em várias línguas, divulgando e incen-tivando a prática da leitura. “Ma-noel Barros dizia que a importância das coisas está relacionada com o encantamento que elas provocam em nós. É isso o que buscamos no Atentado Poético: levar o encanta-mento da literatura para além dos muros da escola”, explica.

Segundo Daniela, um dos dife-renciais deste ano está no amadu-recimento do projeto. Os alunos se envolveram muito na preparação do Atentado, encararam com serie-dade todas as etapas da produção do evento e deram muitas ideias. “Foram eles que indicaram e tra-duziram, para português, italiano, inglês e espanhol, as poesias que entregamos às pessoas. A iniciativa possibilitou que os alunos pudes-sem intervir, positivamente, na vida

cultural da cidade. Eles se mostra-ram bastante empolgados com a oportunidade”, revela.

A aluna do II Liceo Raquel Batista, de 17 anos, foi uma delas. “Divulga-mos nossa intenção cultural, incenti-vando a comunidade a ler e conhecer os grandes poetas”, conta a admira-dora do poeta português Fernando Pessoa. Já Amanda Bruno de Mello, de 18 anos, participa desde a primei-ra edição do Atentado Poético e se mostrou uma apaixonada pela leitu-ra e pelas diversas formas de se fazer cultura. “Esse foi um dos melhores anos. As pessoas se mostraram mais animadas e com uma receptividade muito maior nas apresentações”, ob-serva a estudante do IV Liceo.

Encantada com o evento, Danie-la Pierfo, mãe da aluna Bruna Pier-fo, de 13 anos, mostrou-se inteira-mente satisfeita. É a primeira vez que a filha participa do Atentado Poético. “Sempre incentivei a Bruna a ler e, hoje, percebo que ela gosta e aprende com o hábito, o que é muito importante”, afirma.

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Alunos traduziram para

o português, italiano, inglês

e espanhol as poesias

distribuídas ao público