Revista Intellectus - Setembro 2014
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intellectus
Ano 3 Número 19 setembro 2014 Trimestral Ciência e Tecnologia
rreennddiimmeennttoo bbáássiiccooiinnccoonnddiicciioonnaall
intellectus 2
Números
pág. 8
Tendências
pág. 4
Rendimento Básico Incondicional
pág. 17
Intel lectus nº 19. . .Índice. . .
3intellectus
Sugestões...
Intellectus: Ficha TécnicaDiretor: Tiago Carvalho. Redação/Colaboradores: Cristina Barreiro, João Carvalho, Magda Lomba, Flávio Távora, Vânia Costa, JoséFrancisco Alves, Samantha Alves, Ricardo Vieira, Ricardo Serrado, Rui Leandro Ferreira, Andreia Carmo, Josué Carvalho, Isabel Alentejeiro,Luís Carlos Matos, Miguel Barroso, Filipe Costa, Sérgio Fontinhas, Rogério Marques, Carla Vieira, Alzira Sousa, Dario Figueira. Paginação:João Carvalho, Tiago Carvalho. Proprietário: Cientificamente - Associação para a Divulgação da Ciência e Promoção do DesenvolvimentoIntelectual. Pessoa Coletiva: 510421814. Editor: Tiago Jorge Lima Carvalho. Redação e Administração: Rua Pereira da Cunha, 4940-542,Paredes de Coura, PORTUGAL. Telefone: 938524887. Email: [email protected]. Registo ERC: 126149.
intellectus 4
Humanos & Avançotecnológico
o que é o Reddit?
5intellectus
educação do futuro
Excesso de população
intellectus 6
2 tendênciascivilizacionais
Reflorestar +
intellectus 7
Seres tu mesmo
Nova série cosmos!!!
intellectus 9
faz melhor ...
intellectus 1 0
... Adivinha qual o país que melhor faz emfavor do planeta? ...
ierarquia de países das duas páginas
anteriores refere-se a um índice que avalia o
contributo de cada país, mediante critérios
específicos, para um planeta melhor e/ou
uma sociedade humana mais "saudável". O
nome, The Good Country Index (índice do
bom país) pretende eleger o país mais
benfeitor, num "universo" de - até agora -
125 países, que apresentam dados nacionais
passíveis de escrutínio independente. The
Good Country Index avalia o contributo
quantitativo e qualitativo – tanto quanto
possível – de cada um de 125 países para o
planeta. Anunciado numa conferência TED
em Berlim, em junho de 2014, o índice
apresenta alguns vencedores inesperados e
Haté derrotados surpreendentes. Povo irlandês,
alegrem-se! A vossa “terra verde” é o melhor
país do mundo. Pelo menos de acordo com
Simon Anholt (consultor político
independente), que passou os últimos dois
anos a compilar um índice para determinar
qual de 125 países mais contribui para o
bem comum global. "Eu queria saber o
porquê das pessoas admirarem o país A e
não o país B", diz Anholt. "Resumindo, o
que as pessoas mais apreciam é a perceção
de que um país é bom. Percebi que esta
perceção é muito mais importante do que a
perceção de riqueza, ou de beleza, ou de
poder, ou mesmo de modernidade. Então
decidi tentar saber quais os países que mais
contribuem para a humanidade". Boas
notícias, portanto, para a Irlanda. Menos boa
notícia para os Estados Unidos da América,
excluídos dos 20 primeiros, estando em 21º.
"Se as posições na lista assentassem na
contribuição total de cada país inteiro, em
vez de por dólar americano de PIB, é
by Simon Anholt
intellectus 1 1
provável que os E.U.A. subissem algumas
posições, pois a sua contribuição total é
enorme", reconhece Anholt. "Contudo,
igualmente, o seu débito total e danos seriam
maiores."
"Os países atingem um desempenho cada vez melhor, mas oplaneta e a humanidade, em geral, estão cada vez pior."
Linus Torvalds (2009)
A verdadeira resposta é que não há muita
escolha; simplesmente não há assim tão bons
dados disponíveis sobre cada país do mundo.
A coleta de dados fiáveis, como, por
exemplo, número de migrantes, é uma tarefa
gigantesca que exige centenas de pessoas e
milhares de horas de trabalho. Tentar fazer
isto em 200 países completamente diferentes
é realmente um enorme esforço. Os 35
conjuntos de dados que usei são,
provavelmente, metade dos dados fiáveis que
estão disponíveis, através de várias
organizações de todo o mundo. Atualmente,
há muita discussão sobre "big data" (grandes
dados / imensidão de informações), mas o
fundamental é muitas vezes esquecido:
confiar nos dados disponíveis. Eu sei, por
Como funciona oíndice?
Há 125 países classificados em sete
categorias, incluindo, por exemplo, ciência e
tecnologia, ordem mundial, prosperidade e
igualdade, saúde e bem-estar. Cada um
desses sete parâmetros tem cinco conjuntos
de dados. Tomemos como exemplo ordem
mundial. Isto inclui cinco conjuntos de dados
que representam coisas como: o quanto cada
país dá para caridade/solidariedade e
desenvolvimento internacional, o seu
crescimento populacional e o seu status
como signatários de tratados da ONU.
paisagem irlandesa
Como se determina quedados usar?
intellectus 1 2
investigação própria que às vezes vou
encontrar estatísticas e relatórios somente até
2009, por exemplo. Então, mesmo havendo
muitos dados, estes podem estar muito
desatualizados. Como se contorna isto? E
quão recentes são os dados deste índice?
Tentando solucionar isto despendi uma
enorme quantidade de tempo. Nunca
ninguém trouxe uma amplitude tão
diversificada de dados. Algum deste material
leva literalmente décadas a recolher. Por
exemplo, pode facilmente levar 15 anos entre
a assinatura dum tratado internacional da
ONU e a sua entrada em vigor. Assim,
acabamos no ano de 2010, sendo um pouco
dececionante para quem não sabe como este
tipo de coisas funcionam. A realidade
retratada no índice é de 2010, como
epicentro dum aglomerado, onde a maioria
dos dados recentes reside. Isto é bom, este é
o primeiro índice, portanto, em certo sentido,
é uma linha de base; este é o nosso retrato
do mundo nesta década. E uma enorme
quantidade de dados não muda de ano para
ano de qualquer maneira. Assim, apesar da
disparidade nas medidas dos diferentes
países, com diferentes prazos, foi possível
criar este índice. Poder-se-á encontrar
lacunas nesta abordagem? As objeções à
abordagem superam, sem dúvida, os fatores
de apoio. Tornei-me o maior especialista em
saber o porquê disto ser uma ideia de
porcaria. Contudo decidi fazê-lo de qualquer
modo. Pela simples razão de que eu não
pretendo ter a resposta final sobre tudo isto.
Esta foi uma pesquisa muito elaborada, mas
paisagem finlandesa
intellectus 1 3
"Os países continuam a agir como se não estivesseminterligados, avaliando os seus desempenhos voltando-se
para si próprios."
de modo algum é uma resposta final sobre os
países. Então, este índice é apenas um passo
na direção certa, acho eu.
A razão pela qual eu decidi executar esta
árdua tarefa, não é porque eu queria fazer
um índice, mas porque desejava que pessoas
comuns - e só não políticos – começassem a
pensar sobre se os países são bons ou maus.
Nos dias de hoje, tudo se resume a medidas,
ou opções que façam o país ser mais bem-
sucedido. Temos o hábito de medir o
desempenho dos países como se fossem
ilhas, como se não tivessem nenhuma relação
uns com os outros e como se não existisse
O que as pessoasobtêm deste índice?
paisagem suíça
influência duns países sobre outros. Mas é
óbvio que esta é a era da globalização, daí o
facto central da época em que vivemos é que
cada país, cada mercado, cada meio de
comunicação, todos os recursos naturais
estão totalmente interligados. Se uma galinha
fica engripada e espirra numa aldeia chinesa,
há 20 anos isto só teria sido uma má notícia
para o frango e sua família direta; hoje, isto
ameaça a sobrevivência da espécie humana
por causa da globalização. Dois bancos
pequenos entram em falência na América
rural, há 20 anos não seria problema, exceto
para eles e comunidades circundantes; hoje,
todo o sistema económico global seria
afetado.
intellectus 1 4
nossa indústria mais rapidamente. Os países
estão com desempenhos cada vez melhores,
mas o planeta e a humanidade, em geral,
estão cada vez pior. Todo o sistema
assemelha-se a um tumor de crescimento
rápido. Há uma ilusão de saúde por causa do
seu crescimento, no entanto é quase tão
grande quanto o corpo do hospedeiro.
Os países continuam a agir como se não
estivessem interligados, avaliando os seus
desempenhos voltando-se para si próprios. O
meu argumento é que não podemos culpar
apenas os governos, por isso, pois também é
culpa das populações que não exigem nada
de diferente deles. Os votantes dizem que
querem três por cento de crescimento ao ano,
ou então votarão noutro partido ou noutro
político. Temos de começar a perguntar de
onde vem o crescimento. Estamos a
prejudicar os países mais pobres para
podermos comprar produtos mais baratos,
estamos a destruir o meio ambiente para
produzir mais energia e para impulsionar a
paisagem holandesa
Os países não estão alegislar efetivamente
para a era global?
Como é que pensarglobalmente pode ajudar?É essencial para que as pessoas comuns,
juntamente com políticos e empresas e assim
por diante comecem a perguntar-se sobre as
implicações internacionais do que estão a
fazer. Isso representa o que quero dizer com
"bom" país. Não pretendo direcionar-me no
moralmente ou eticamente bom, mas o
intellectus 1 5
conceito dum país que considera o bem
comum, o bem planetário, tanto quanto
considera seus próprios cidadãos. No dia-a-
dia sou assessor de política, aconselhando
presidentes e primeiros-ministros de todo o
mundo – 53 deles nos últimos 20 anos – e
não vi um único exemplo duma questão
interna, ou política que não fosse muitíssimo
melhorada tendo em conta o contexto
internacional.
"O desempenhos dospaíses está cada vez
melhor, mas ahumanidade em geralestá cada vez pior."
Costumava haver uma relação automática e
universal de amor e confiança entre os
cidadãos e as suas cidades ou com os seus
estados, o equivalente ao país moderno. O
que acontece, hoje, é a substituição desta
relação por uma relação de prostituição. É
muito simples: dar-se dinheiro ao governo
como se eles fossem equipas de gestão
contratadas, dizendo-lhes para resolverem os
nossos problemas, caso contrário recebem
uma chamada de atenção se não gostarmos
da forma como o fazem. A meu ver esta
ideia é algo muito triste, algo que tem de
mudar.
Mas concorda que aspessoas comuns estão
muito desligadas dospolíticos, certo? Como
se poderá alertar apopulação para a
importância destasquestões e de comoelas podem ajudar a
fazer-se uma políticadiferente?
paisagem neozelandesa
desse momento, torna-se o seu bem mais
precioso. Farão de tudo para manter essa
reputação e desenvolvê-la ainda mais; as
empresas iniciam, assim, um processo de se
tornarem “boas”, tentando manter-se nesse
registo (ou melhorá-lo) perante a população.
Acredito que esta pequena brecha na
natureza humana é provavelmente o que nos
vai salvar a todos.
É interessante a suadescrição de governos
como gerentes de nívelmédio, basicamente, ralé, a
quem delegaram a tarefade governar o mundo. Asempresas desempenham
uma parte importantenisso, especialmente com a
globalização. Atualmente,algumas empresas são,indiscutivelmente, mais
poderosas do que algunspaíses. Como é que isso é
tido em conta no índice? Eo facto duma empresa tero dever de fazer o melhorque pode perante os seus
acionistas, poderiacontradizer o que de outra
forma vê como sendo"bom"?
intellectus 1 6
Assim como as empresas têm um dever
fiduciário para com os acionistas, também há
uma suposição tácita de que o primeiro dever
dum governo é servir os seus cidadãos. O
facto é que as empresas estão muito à frente
dos países nesse particular. Elas foram
submetidas a uma revolução, há 20 anos, de
responsabilidade social corporativa (RSC).
Na verdade, quando comecei a trabalhar em
consultoria política vinha com a ridícula
etiqueta de “Responsabilidade Governa-
mental e Social", porque é um equivalente
do que se passava nas empresas. Agora, as
pessoas zombam da RSC, pois veem isso
como pura hipocrisia das empresas. Porém,
no momento em que se começa a trabalhar
em RSC, geralmente, as coisas funcionam
muito bem e, desde logo, as empresas
passam a ser muito melhor vistas por parte
da opinião pública. A sua reputação, a partir
+ info
simonanholt.com
goodcountry.org
data.uis.unesco.org
intracen.org/marketanalysis
en.rsf.org
www.freedomhouse.org
footprintnetwork.org
doingbusiness.org
intellectus 1 7
Fica com astuas moedas
Eu queromudança!
Rendimento Básico Incondicional
s cidadãos europeus querem que a Comissão
Europeia considere um rendimento básico.
Uma iniciativa de cidadania europeia para
levar o Rendimento Básico Incondicional
(RBI) ao Parlamento Europeu terminou
oficialmente no 14 janeiro de 2014
(www.rendimentobasico.pt). A recolha foi de
285 041 declarações de apoio ao RBI dos
cidadãos da União Europeia (UE), dos vinte
e oito estados membros. Esta iniciativa não
foi bem-sucedida na recolha de pelo menos
um milhão de assinaturas exigidas pela
Comissão Europeia (CE) para se considerar a
discussão oficial sobre o RBI, como uma
nova forma de "bem-estar emancipatório".
"Gostaríamos de agradecer a cada um
daqueles que assinou e promoveu a esta
iniciativa", disse Klaus Sambor, organizador
geral do comité europeu que coordenou a
iniciativa. Durante as últimas semanas, houve
uma enorme onda de apoio. Na Bulgária, só
30 mil assinaturas foram realizadas nos
últimos cinco dias, graças a um
impressionante impulso de última hora do
líder do CITUB (um sindicato da Bulgária).
"O caso da Bulgária reflete uma
intensificação geral do interesse pelo
rendimento básico, levando a uma maior
cobertura por parte dos meios de
intellectus 1 8
comunicação social europeus", disse o
assessor de imprensa Martin Jordo.
Exemplos, como Le Monde, BBC, El
Mundo, Huffington Post, Al-Jazeera e a
televisão búlgara realizaram recentemente
reportagens sobre o rendimento básico
incondicional e da iniciativa em seu favor.
Embora o objetivo oficial não fosse atingido,
há muitas razões pelas quais os seus
defensores continuam empenhados num
sistema de segurança social mais justo e mais
simples. "Isto é apenas o começo dum
movimento europeu em prol do rendimento
básico a nível da UE", disse Sambor. Novos
grupos formaram-se em muitos países para
apoiar esta campanha e redes RBI saíram
reforçadas por esta iniciativa europeia. "O
impulso gerado vai continuar em 2014 para
promover o RBI", acrescentou Stanislas
Jourdan, organizador da campanha em
França. Uma nova rede pan-europeia já se
formou para perseguir o mesmo objetivo:
promover a simplicidade e benefícios da
implementação RBI em toda a Europa. De
seguida, entrevista a um dos promotores
holandeses (presidente da União Holandesa
para o Rendimento Básico) da iniciativa
europeia pela implementação do rendimento
básico incondicional.
A União Rendimento Básico usa a definição
formulada pela Basic Income Earth Network
O
Quando falamos derendimento básico,
estamos a falarpropriamente do quê e
como pode serqualificado?
(BIEN) – Rede de Rendimento Básico da
Terra –, ao qual somos filiados. A
rendimento básico é uma renda fixa mensal
que o Estado garante incondicionalmente a
cada cidadão, independentemente do seu
ordenado, ou outros rendimentos. É chamado
de uma rendimento básico, porque seria /
será um valor suficiente para sobreviver
dignamente. Qualquer indivíduo que quisesse
obter mais rendimento continuaria a poder
ter acesso a outras fontes, como a venda de
produtos e/ou serviços.
"Seria/Será um valorsuficiente parasobreviver
dignamente"
intellectus 1 9
A ideia dum rendimentobásico não é nova.
Poderia esclarecer-nossobre a sua história?
A ideia em si é de facto muito antiga.
Thomas More – século XVI – propôs no seu
livro “Utopia” que o roubo podia ser evitado
mediante o pagamento de uma renda fixa aos
ladrões, ao invés de puni-los. A segunda
figura histórica relevante foi o filósofo anglo-
americano Thomas Paine (1737-1809), que
afirmou o mesmo direito das pessoas no uso
da terra. Com objetivo de pôr fim à divisão
desigual das terras, ele propôs a criação dum
imposto sobre a propriedade, para depois ser
dado, a cada cidadão, parte dessas receitas.
No início do século XX, o conceito dum
rendimento básico foi realmente introduzida
na Holanda pelo economista Jan Tinbergen.
Após a Segunda Guerra Mundial, a ideia
começou a ganhar força, principalmente na
Dinamarca e na Holanda. Na década de 1980
o interesse da Holanda teve o seu ponto alto.
Em 1985, o organismo oficial de
investigação política do estado holandês,
estava ciente de que um rendimento básico
parcial podia ser introduzido. Uma ideia que,
infelizmente, não foi seguida pelo governo.
Em 1987, como consequência, a Fundação
para o Rendimento Básico foi criada pelas
principais centrais sindicais e um partido
político (precursor do partido Esquerda
Verde da Holanda). Em 1991, tornou-se a
União Rendimento Básico (URB).
intellectus 20
direcionado a união para uma intervenção
mais ativa, com total pendor ativista.
Estamos ativamente a procurar cooperar com
economistas e outros especialistas
interessados em ajudar-nos a desenvolver um
plano passo-a-passo de forma científica e
tecnicamente responsável. Ao fazê-lo, temos
sido bem-sucedidos, pois fizemos parte do
grupo de instituições que alavancaram a
Iniciativa de Cidadania Europeia para um
rendimento básico incondicional, registado
na Comissão Europeia. Esta iniciativa deu-
nos uma grande oportunidade de campanha
e experiência na implementação real do rbi.
Objetivo é promover a introdução dum
rendimento básico incondicional (rbi). É
extremamente importante salientar que nós
queremos ajudar a implementar um rbi,
porque outras associações definem "renda
básica" forma diferente. Originalmente, a
URB foi um clube de debates, onde a
discussão era animada, mas havia pouca
campanha. Nos últimos anos temos
Qual o propósito daURB?
"Isto é um planopasso-a-passocientífico eresponsável"
"Rbi seria um efetivocombate à pobreza eapoio à liberdade"
intellectus 21
Quais as vantagens queo rendimento básico
poderia oferecer?Existem muitas. Em primeiro lugar, através
da introdução dum rendimento básico
incondicional (rbi) simplificaria a
regulamentação, porque não haveria
necessidade de outros benefícios sociais, ou
de bem-estar, e daí eliminar-se toda a
burocracia que está relacionado com esses
variados apoios sociais. Além disso,
permitiria um combate efetivo à pobreza e
uma melhoria da segurança social em
sentido amplo. Em terceiro lugar, um rbi
concretiza uma liberdade individual, dando
poder sobre a sua própria vida. Desde a sua
juventude em diante, teria-se segurança
financeira e como consequência mais
liberdade para seguir os seus gostos.
Conquistar-se-ia uma melhor posição para
negociar com um possível empregador,
porque não se teria de aceitar qualquer
trabalho para sobreviver, erradicando,
praticamente, a exploração laboral.
Capacidade de exigir melhores condições de
trabalho. Não se seria totalmente, ou
parcialmente, financeiramente dependente do
seu parceiro(a). Outro argumento é a menor
necessidade de trabalhar, dando, assim, mais
oportunidades às pessoas que estão
desempregadas, renovando-se e
transformando-se o mercado de trabalho.
Um efeito secundário vantajoso é que menos
trabalho significa menos stress. Finalmente,
as pessoas poderiam prestar mais atenção à
sua existência num contexto amplo.
intellectus 22
FFaavveellaa nnaa CCoollôômmbbiiaa
Nos dias de hoje, já temos um rendimento
básico parcial, sob a forma dos benefícios
sociais existentes e por isso uma “montanha”
de órgãos responsáveis por essas instituições
desapareceria. De acordo com os cálculos do
nosso plano passo-a-passo, a fim de
introduzir o rbi, seria necessário encontrar
24 mil milhões de euros adicionais,
comparativamente aos valores utilizados,
atualmente na Holanda, em benefícios
sociais. O financiamento poderia advir duma
combinação de reduções nos gastos do(s)
Estado(s), uma taxa superior de imposto
sobre os rendimentos mais elevados,
Isto tudo soa muito bem,mas como seria
financiado o rbi?
elevando também a taxa ecológica, um
aumento do IVA e ainda a introdução dum
imposto sobre as transações financeiras. O
aumento do IVA que, afinal, significa que o
poder de compra do consumidores seria
reduzido, teria de ser compensada de alguma
outra maneira. Na implementação do
rendimento básico, o trabalho detalhado é
fundamental como forma de avaliar os prós e
contras.
Uma crítica habitual centra-se na desmotivação das
pessoas pelo trabalho casorecebam o rendimento
básico incondicional. Comoresponde a isto?
Não concordo. Há muitos exemplos que
contrariam essa versão. Os habitantes duma
pequena cidade belga, que se tornou
financeiramente independente quando,
coletivamente, venceram um enorme prémio
de lotaria, na sua maioria continuaram a
trabalhar. A introdução dum rendimento
básico incondicional também significaria que
pessoas dependentes de benefícios do estado,
não mais sofressem discriminação, porque
todos estariam na mesma situação de
beneficiários.
intellectus 23
"Pessoasdependentes do
Estado nãosofressem maisdiscriminação"
Há exemplos de países,onde tenha sido usado o
rendimento básicoincondicional?
particular, é um bom exemplo duma
experiência bem-sucedida. Em setembro de
2012, com a ajuda dum economista, co-
fundador da Rede de Rendimento Básico da
Terra (BIEN), Guy Standing, um projecto-
piloto foi iniciado, tendo sido concretizado
como um tipo de transferência de
rendimentos entre os envolvidos, o que é
comparável a um rendimento básico. Houve
lugar a este projeto-piloto devido ao
financiamento da UNESCO. O mesmo foi
objecto de estudo científico, revelando
melhorias significativas na saúde dos
envolvidos, demonstrando que mais crianças
passaram a ir à escola, que o número de
empresas aumentou e que as mulheres se
tornaram mais independentes dos homens. O
experimento foi um sucesso tal que o
governo indiano está agora a estudar como
poderia ser possível introduzir o rendimento
básico em todo o país. No Brasil, sob o
mandato de Lula da Silva, em 2003, o
rendimento básico, na verdade, tornou-se lei.
Sim, claro. Nos Estados Unidos e no Canadá
foram levadas a cabo ações experimentais,
mas o mesmo aconteceu em países como a
Namíbia, Uganda e Índia. A Índia, em
intellectus 24
(rede do rendimento básico da Terra)
O projeto é conhecido como o “Bolsa
Família”. Este rendimento básico é
condicional, pois as famílias só podem
recebê-lo se os seus filhos forem à escola e
se tiverem as vacinas em dia. Graças à Bolsa
Família, milhões de famílias brasileiras
ultrapassaram uma situação grave de pobreza
extrema. Este esquema de apoio social está
agora a difundir-se rapidamente em toda a
América do Sul.
A digitalização da nossa economia trará
consigo uma nova geração de ideologias
económicas das quais o Bitcoin (moeda
virtual criptográfica) é sem dúvida o
primeiro. Para aqueles com ativos,
conhecimento tecnológico e senso de
aventura, o estado e a banca convencional
são “inimigos” e uma moeda criptográfica é
uma solução. Mas para aqueles mais focados
no declínio das classes médias, o colapso do
mercado de trabalho e a ascensão da cultura
livre, o estado é um “aliado” e a solução
pode ser algo como um rendimento básico
incondicional. Antes de se explicar porque
este conceito vai “rastejando” no debate
Finalmente, o porquêdos partidos socialistas
não apoiarem orendimento básico
incondicional?Não consigo ver o porquê dos partidos de
esquerda – mais próximos do apoio social e
da igualdade – não apoiarem a
implementação do rendimento básico
incondicional, mas acho que virão a apoiar.
3 tendências queexigirão umrendimento
básicoincondicional
intellectus 25
político em todo o mundo desenvolvido,
percebamos como este sistema funcionaria:
1. Cada cidadão adulto recebe um
pagamento semanal do estado, que é o
suficiente para viver confortavelmente. A
única condição é a cidadania e/ou ser
legalmente residente; 2. Recebe-se o
rendimento básico incondicional quer esteja
empregado, ou não, ou seja, qualquer
emprego, ou outros rendimentos são
considerados adicionais; 3. A burocracia do
sistema social convencional é totalmente
desmantelada. Sem necessidade de
avaliações, sem assinaturas, nem tão pouco
jovens a preencher prateleiras gratuitamente
e ainda sem pensões/reformas em separado;
4. A lei laboral é completamente
liberalizada, pois os trabalhadores não
receiam o despedimento; 5. As pessoas
podem trabalhar em empregos disponíveis,
como forma de aumentar o seu rendimento;
6. Vastas áreas da economia são substituídas
por voluntariado, como continuação da
tendência atual; 7. O sistema é muito mais
difícil de enganar, quando há apenas uma
única categoria de requisição, sem subsídios
extraordinários. Tudo isto pode soar a algo
muito radical e impraticável, porém de
seguida menciona-se tendências que farão da
discussão sobre o rendimento básico
incondicional incontornável."A digitalização traránovas ideologiaseconómicas"
"Cada cidadão recebesem condicionantes"
Como Jaron Lanier salienta a Kodak em
determinada altura garantia 140 000
empregos de classe média e, incrivelmente,
das ruínas da falência desta empresa
gigantesca, verificamos que o Instagram tem
apenas 13 funcionários. É um exemplo
extremo, todavia na maioria dos casos, a
miséria económica atinge largamente os
jovens, sendo iniciantes no mercado de
trabalho e ficando presos num ciclo de
estágios, necessidade de educação contínua e,
muitas vezes, endividados. O resultado é que
os jovens não têm condições para crescer. Na
década de 1960 a idade média dum
comprador da primeira casa situava-se nos
intellectus 26
1ª A classe média estáem queda livre
"Kodac chegou aempregar 140 000pessoas, neste o
momento o Instagramemprega apenas 13"
24 anos, em 2002 era já de 28 e neste
momento é de 37 anos. O caminho para a
individualidade económica está a encurtar-se
pelas forças do mercado, pois são cada vez
mais pessoas a tentarem alcançar cada vez
menos postos de trabalho; e no seguimento
do status quo a situação tende a agravar-se.
Eliminando ineficiências e comercializando-
se produtos digitais muito baratos, a internet
destrói muitos empregos da classe média. A
crescente digitalização já descapitalizou
intellectus 27
fortemente a indústria do cinema, da música,
do jornalismo e também na área da
educação, para além muitos outros mais.
Mais indústrias vão sentir duramente os seus
efeitos, incluindo as profissões jurídicas,
imobiliário, seguros, contabilidade e função
pública, os quais assentam em ineficiência.
Assim sendo quantos postos de trabalho
serão extintos nos próximos anos? Ficando
claro, para aqueles em posições
estabelecidas, que não há empregos para os
seus filhos, eles vão pressionar em direção a
uma solução mais radical. Colocando isto em
termos mais rigorosos, o valor dos salários
tem vindo a decair e recentemente atingiu
um novo mínimo nos Estados Unidos.
Enquanto isso, as margens de lucro das
empresas atingiram valores recorde. Os
"Mais pessoas paracada vez menos
postos de trabalho"
últimos anos de turbulência económica
permitiram à indústria reduzir o número de
funcionários e as remunerações, sem no
entanto reduzir a sua capacidade. Se esta
tendência continuar, a criação de riqueza será
cada vez mais restrita àqueles com capital e,
assim, as coisas começam a seguir uma
lógica marxista. As classes médias (e os seus
representantes eleitos) não vai deixar isso
acontecer.
"A digitalização já'feriu' fortemente ocinema, música,jornalismo, etc."
intellectus 28
Imagine um momento futuro, quando os
robôs fizerem mais do que o nosso trabalho
físico, os computadores fizerem mais do que
o nosso trabalho mental e a nossa economia
digital e mecanizada for dez vezes mais
eficiente. Não precisamos dum consenso
sobre uma data, pois poderia ser em 2050,
ou 2500, todavia precisamos de concordar
relativamente às tendências atuais. No
entretanto, duas coisas podem acontecer: ou
fazemos 90% menos trabalho, ou exigimos
dez vezes mais bens e serviços, ou algo de
ambas. A primeira opção requer uma revisão
drástica em baixa em relação à quantidade de
trabalho feito pelas pessoas e a segunda
exige uma redistribuição drástica do poder
de compra por todos os consumidores. O
conceito de trabalho foi várias vezes
redefinido no passado, por isso não há razão
para não fazê-lo novamente. "Trabalho"
2ª A procura de trabalhohumano está em declínio
"O conceito detrabalho foi váriasvezes redefinido no
passado"
como algo que acontece fora de casa e por
conta de outrém é, em grande parte, uma
criação vitoriana. Mesmo depois deste ter
sido formalizado como uma obrigação numa
economia de mercado, sempre aceitamos que
certas pessoas não têm de trabalhar. Por
exemplo, não esperamos que crianças, idosos
ou pessoas com graves deficiência trabalhem
e isto é totalmente pacífico do ponto de vista
social. O facto de crianças trabalharem
dentro e/ou fora de casa tem registado um
declínio constante, desde a revolução
industrial, enquanto que a idade de
aposentadoria tem sido “empurrada” cada
vez para mais tarde, evitando-se uma crise
de sustentabilidade de pensões e mantendo
os mais velhos ligados ativamente à
intellectus 29intellectus
sociedade e aos seus papéis sociais
estabelecidos. Enquanto os homens foram
forçados a sair de casa para fazer o trabalho
remunerado, as mulheres foram mantidas na
casa da família para fazer um trabalho não
remunerado. Durante as guerras mundiais,
esperava-se que toda a gente trabalhasse.
Durante a final dum mundial de futebol, não
se espera que alguém (ou quase) trabalhe.
Regularmente mudou-se relativamente a
quem trabalha e como. Forçando os
desempregados, num mercado sem empregos
(cada vez menos empregos), sustentando a
ideia que "todos tem de trabalhar", ou
melhor “todos tem de ter um emprego” é
errado e na pior das hipóteses cruel.
Em 2012, na Coreia do Sul as 2226 horas de
trabalho por ano representam a média por
trabalhador e na Holanda foi 1381 horas, ou
seja, menos 38 %. Pode existir uma
economia rica e desenvolvida com
relativamente poucas horas de trabalho. Se
pararmos de estigmatizar os não-
empregados, teremos a capacidade de não
pressionar as pessoas a aceitarem empregos
que oferecem pouco benefício coletivo. Um
grande número de pessoas são forçadas a
procurar uma existência à margem da
economia, assumindo papéis económicos
marginais.
"Emprego para todos émiragem"
intellectus 30
Se observarmos bem, já temos uma
sociedade de voluntários e criadores, e isto é
algo muito bom. Wikipedia, vídeos que
vemos e retiramos da internet, partilha de
ficheiros, milhares de softwares livres e/ou
de código aberto – essenciais em toda a
economia – foram disponibilizados, na
grande maioria, gratuitamente. Todos
esperavam uma economia da informação e
em vez disso temos uma cultura de
informação. Quando pessoas estão fora do
mercado de trabalho, alguns podem ficar em
casa o dia todo no sofá, mas muitos vão sair
para a rua e para o mundo, produzindo bens
culturais que, em seguida, são
3ª A produção culturalestá a separar-se domercado de trabalho
"Já temos umasociedade de
voluntários criativos"disponibilizados de graça. Não aceito o mito
de que os desempregados são preguiçosos.
Eu vivi num país que teve um período de
"pleno emprego" e agora tem de um
desemprego de 14 % e não vejo como
alguém pode ser tão misantropo ao afirmar
que 14 % das pessoas ficaram mais
preguiçosos. Emprego não é apenas um
rendimento, mas também representa uma
identidade, status, confiança, um sentido de
missão e uma interação com os seus pares.
Quem puder obter isto irá certamente
trabalhar empenhadamente. Como Dan Pink
refere: “somos motivados pela autonomia,
intellectus 31intellectus
mestria no que fazemos e propósito, não por
dinheiro. Com as máquinas a assumir mais e
mais os nossos empregos, vamos ter de
encontrar outras maneiras de satisfazer essas
necessidades humanas. Forçá-los a enviar
500 currículos por semana não é um bom
começo.
reforço dos benefícios como cidadão, pois já
tem um ganho líquido para se sustentar. Este
sistema de distribuição do dinheiro também
renderia poupanças noutras áreas,
nomeadamente no setor público, através
duma redução da burocracia, havendo uma
importância crescente para voluntários e
instituições de caridade. Também estimularia
"Com as máquinas aassumir cada vezmais os nossos
empregos, teremosde encontrar outras
maneiras desatisfazer certasnecessidadeshumanas"
Como vamos pagar isto?Poderíamos começar por exigir que as
grandes corporações pagassem os seus
impostos. Como referido acima, as margens
de lucro dessas empresas atingem valores
recorde todos os anos. Desta forma o
dinheiro circularia muito mais rapidamente
se fosse colocado nas mãos dos
consumidores. Para trabalhadores
assalariados um rendimento básico seria um
O dinheiro é um dispositivo que usamos para
nos ajudar a alocar recursos, e é um símbolo
dum entendimento, aparentemente sólido, a
curto prazo, mas flexível e evolutivo a longo
prazo. Se queimares todas as notas que tens
na carteira agora mesmo, não fazes o mundo
mais pobre, simplesmente reduzes a tua
reivindicação pessoal aos recursos
disponíveis. Há sempre mais dinheiro. Como
se tem tornado claro, a austeridade não
funciona, nem devíamos ter esperado que
funcionasse. Um rendimento básico
incondicional seria a resposta keynesiana que
deveria ter sido lançado, logo que se tornou
claro que o sector financeiro tinha um núcleo
podre. Noutras palavras, seria uma ajuda real
para os consumidores.
intellectus 32
a atividade económica, como se demonstrou
no escândalo PPI na Grã-Bretanha, que
forçou a transferência de (£) 10 mil milhões
de libras dos bancos para os clientes, levando
a um impulso de crescimento do PIB de 0,1
% (porque os consumidores tinham mais
dinheiro para gastar e eram, também, mais
rápidos a gastá-lo). Francamente, numa
época em que as comunidades podem criar
suas próprias moedas, o capital pode
deslocar-se através das fronteiras digitais,
apesar de ser legalmente “congelado”, e com
a produção económica cada vez mais
descentralizada, encontrando maneiras de
gerar receitas para o bem público, tudo isto
serão as grandes questões do século,
independentemente de haver ou não um
rendimento básico incondicional. Sob o atual
conjunto de regras económicas, os países
mais desenvolvidos estão falidos. Porém,
como os resgates bancários provaram, as
regras podem ser reescritas a qualquer altura.
"O dinheiro é umdispositivo queusamos para nosajudar a alocar
recursos"
"Se queimares todasas notas que tens,não fazes o mundomais pobre, apenas
reduzes a tuareivindicação
pessoal aos recursosdisponíveis"
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