Revista INGEPRO - Junho/2009

184
Junho de 2009, Vol. 1, No. 4 in Revista INOVAÇÃO GESTÃO PRODUÇÃO in Revista System Dynamics (SD) in Revista Redução de custos in Revista Pólo Coureiro-Calçadista in Revista Reposição de estoques in Revista Produção por encomenda in Revista Lean Construction in Revista Inteligência artificial in Revista Inovação Tecnológica in Revista Triagem de materiais in Revista Lógica Paraconsistente Anotada in Revista Estação de Tratamento de Água in Revista Arranjo Produtivo Local in Revista Uso da água in Revista Responsabilidade ambiental in Revista Organizações e sociedade

description

Revista Ingepro - Inovação, gestão e produção

Transcript of Revista INGEPRO - Junho/2009

Page 1: Revista INGEPRO - Junho/2009

Junho de 2009, Vol. 1, No. 4

inRevista

INOVAÇÃO GESTÃO PRODUÇÃO

inRevista

System Dynamics (SD)

inRevista

Redução de custos

inRevista

Pólo Coureiro-Calçadista

inRevista

Reposição de estoques

inRevista

Produção por encomenda

inRevista

Lean Construction

inRevista

Inteligência artificial

inRevista

Inovação Tecnológica

inRevista

Triagem de materiais

inRevista

Lógica Paraconsistente Anotada

inRevista

Estação de Tratamento de Água

inRevista

Arranjo Produtivo Local

inRevista

Uso da água

inRevista

Responsabilidade ambiental

inRevista

Organizações e sociedade

Page 2: Revista INGEPRO - Junho/2009
Page 3: Revista INGEPRO - Junho/2009

Revista INGEPRO # Ed. 04

Page 4: Revista INGEPRO - Junho/2009

Aplicação de sistemas inteligentes na reposição de estoques de medicamentos no setor público estadualFelipe Fonseca Tavares de Freitas, Guilherme Ernani Vieira

Gestão de custos em empresas de produção por encomenda: estudos de casos em gráficasAntônio Artur de Souza, Ludmila Teixeira Rodrigues, Ewerton Alex Avelar, Terence Machado Boina

Aplicação da filosofia Lean Construction para o gerenciamento de obras no município de Itaperuna-RJAndré Raeli Gomes, Silvio Figueiredo Gomes Júnior, Noelço Silva Dias Júnior

Contribuição da inteligência artificial para a viabilização da estratégia de manufatura: um estudo de caso na indústria de fundiçãoRaul Landmann, Evandro Bittencourt, Jerzy Wyrebski, Sheila Marcelino Behrend, Cristiano Silveira Bitencourt

Mapeamento do fomento a Inovação Tecnológica no BrasilErika Regina de Mattos Pacheco, Ilda Maria Paiva Almeida Spritzer

A evolução da aplicação da abordagem System Dynamics (SD) na Gestão da Produção: análise por meio de uma revisão de literaturaAlyne Andrade Guimarães, Moacir Godinho Filho

Redução de custos da movimentação de materiais em uma empresa automobilística: um estudo de casoPaulo Rogerio Camargo, Waldir Aguiar dos Santos, Edson Teixeira de Araujo, Arnulpho Alves de Souza Jr, Elvio Sakai

O Pólo Coureiro-Calçadista de Franca-SP: características econômicas e ambientaisVanessa Cintra Alves, Agnaldo Sousa Barbosa, Adilson Renofio

Análise do arranjo físico em uma unidade de triagem de materiais: um estudo de casoRodrigo Moreno Scardini Carlos, Caio Augusto Nunes Marques, Marcos Fernandes de Castro Rodrigues, Rodrigo Braga Souza

Avaliação da qualidade de produto de software utilizando Lógica Paraconsistente Anotada: estudo de caso com software ERPUanderson Celestino; Jair Minoro Abe

Análise dos processos de tratamento de uma Estação de Tratamento de Água (ETA): Um estudo de casoIdeval Pires Fernandes, Nayara Martins da Silva Lopes, Thiago Martins Santos

Arranjo Produtivo Local: além de Competitivo é Preciso ser SustentávelEgidio Luiz Furlanetto, Suênya Freire do Monte Santos

Uma proposta para a estruturação do problema da cobrança pelo uso da água do ambienteSérgio Brião Jardim, João Henrique Santos da Silva

Responsabilidade ambiental das empresas de papel e celulose brasileiras participantes do carbon disclosure projectMaria Fernanda Lima Santin, Augusto Mussi Alvim, Bernardo Fonseca Nunes

Organizações e sociedade: dinâmicas recíprocas orientando o percurso rumo ao desenvolvimento sustentávelDebora Nayar Hoff, Luciano Barin-Cruz, Eugênio Avila Pedrozo

...............005

...................................017

......................030

...............040

.....................................................................................052

...............064

...............076

............................................085

............................................097

.............110

.............117

......................................................................129

........................................142

...152

.............165

Cadastre-se no sistema da Revista INGEPRO: clique aqui
Page 5: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

5

Aplicação de sistemas inteligentes na reposição de estoques de

medicamentos no setor público estadual

Resumo: Diante da incipiência de medidas estratégicas realizadas pelo Governo do Estado

do Pará em relação à compra de bens de consumo, vislumbrou-se a realização de uma

análise comparativa entre técnicas de gestão de estoques, capaz de guiar a administração

pública estadual em busca da aquisição de produtos ao menor custo total viável e com o

maior nível de serviço possível. Esta pesquisa almeja identificar, por meio do estudo

comparativo planejado, a política de ressuprimento mais adequada à aquisição de

medicamentos pela esfera pública estadual, bem como revelar o desempenho superior de

sistemas inteligentes, quando aplicados a cenários de previsão de demanda e comparados a

outras técnicas analogamente viáveis. O estudo foca nos medicamentos, pois esses

representam os materiais de maior relevância quanto aos gastos em aquisições de bens de

consumo. Para se alcançar tais intuitos, utilizam-se técnicas de classificação de materiais,

métodos de reposição de estoques, além de algoritmos de previsão de demanda, com

destaque para as lógicas fuzzy e neuro-fuzzy. Como resultados da pesquisa, constatam-se a

superioridade de sistemas inteligentes em relação a técnicas de previsão de demanda

tradicionais, bem como a inadequação das políticas de aquisição de medicamentos

praticadas pelo Estado quando comparadas às alternativas dimensionadas neste artigo.

Palavras-chave: Compras públicas; Previsão de demanda; Sistemas inteligentes; Gestão de

estoques.

1. Introdução

O ciclo de compras de uma organização representa uma das mais importantes etapas

relacionadas ao seu desempenho logístico efetivo. Nesse sentido, planejar, executar,

monitorar e agir corretivamente são medidas que merecem atenção especial quando se discute

a elaboração de estratégias de compras. Os trabalhos de Pinto e PWC (apud FERNANDES,

2003) comprovam o crescente papel atribuído às atividades de compras em uma organização,

observando-se uma evolução nítida no modo como estas são tratadas em âmbito empresarial.

Assim como o processo de inovação e de sofisticação das atividades de compras

ocorreu na esfera privada, ele também pode ser observado no certame público, mas em ritmo

distinto e com características particulares a sua realidade. Tendo em vista as limitações ainda

existentes no tratamento das compras públicas sob uma perspectiva estratégica, vislumbrou-se

a aplicação de técnicas de gestão de estoques devidamente planejadas e validadas, com base

em princípios de administração de materiais e logística, voltada a um tipo de material

problemático nesse contexto: medicamentos.

Nesse sentido, analisou-se, como objeto de pesquisa deste projeto, a dinâmica de

compras de medicamentos do Governo do Estado do Pará (GEP). Tal escolha, no entanto, não

foi feita de modo aleatório. Avaliando-se os gastos do GEP com aquisição de bens de

consumo, de 2003 a 2006, pôde-se constatar que aproximadamente 43% desses valores estão

voltados à saúde pública, sendo que, desse total, 17% ficam a cargo dos medicamentos

(SEAD/SIMAS, 2007). Diante de tal problemática, quatro questões norteadoras foram

elaboradas, quais seriam:

a) Atualmente, a política de compras de medicamentos adotada pelo GEP encontra-se

efetivamente vinculada à real demanda registrada pelos estoques?

Felipe Fonseca Tavares de Freitas (PUC-PR) [email protected] Ernani Vieira (PUC-PR) [email protected]

Page 6: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

6

b) Como se dá a aplicação de sistemas inteligentes (fuzzy e neuro-fuzzy) em relação à previsão

de demanda dos medicamentos observados, quando comparados a outros métodos de previsão

de demanda já experimentados no mesmo contexto?

c) Os métodos de reposição de medicamentos sugeridos ao longo deste trabalho e orientados

pelos sistemas inteligentes apresentam desempenhos significativamente superiores quando

comparados à metodologia hoje observada junto à administração pública estadual,

especialmente em termos de economia de recursos financeiros e melhorias em nível de

serviço?

d) E quando confrontados com métodos de ressuprimento fundamentados em técnicas de

previsão de demanda distintas?

Diante do cenário apresentado e das questões supracitadas, este artigo pretende, com

base em dados e informações relacionados ao atual processo de aquisição de medicamentos

pelo GEP, caracterizar e avaliar a presente conjuntura em que são realizadas as compras do

Estado, principalmente no que diz respeito a custos e níveis de serviço. Além disso, objetiva-

se configurar e estudar comparativamente determinadas políticas de ressuprimento que,

devidamente fundamentadas em sistemas inteligentes de previsão de demanda e conciliadas

com as diretrizes legais que regem a conduta do poder público estadual, podem auxiliar

efetivamente a tomada de decisões pelos gestores públicos.

O restante deste artigo está organizado da seguinte forma: Seções 2 e 3 – introduzem

alguns conceitos e definições sobre compras públicas e gestão de estoques; Seção 4 – trata de

alguns aspectos teóricos vitais à abordagem de sistemas inteligentes; Seção 5 – descreve a

metodologia sugerida à implementação da pesquisa; Seção 6 – apresenta e discute os

resultados alcançados; e Seção 7 – ensaia as conclusões do artigo e algumas sugestões para

futuras pesquisas.

2. Função “Compras” na esfera pública

Sabe-se que os setores privado e público têm grandes diferenças entre si, uma vez que

os administradores públicos devem seguir os procedimentos e formalismos inerentes ao setor.

Para Viana (2002), esse maior grau de formalidade é a maior diferença entre as compras no

serviço público e na iniciativa privada, pois há a necessidade de favorecer a transparência e a

ética na utilização dos recursos públicos. Nos últimos anos, essas preocupações têm sido cada

vez mais requeridas na administração pública brasileira pela sociedade, pois esta passou a

exigir maior responsabilidade social.

Da necessidade de fixar regras para os processos licitatórios governamentais e do

movimento por maior ética no setor público, surgiu a Lei nº 8.666 de 21 de junho de 1993,

que resumiu e sistematizou uma série de normas gerais sobre licitações e contratos

administrativos realizados no âmbito do poder público federal, estadual e municipal. Dentre

os vários aspectos introduzidos por tal lei, destacam-se o Sistema de Registro de Preços (SRP)

e o Pregão, regulamentados pelo Decreto Federal nº 3.931 de 19 de setembro de 2001 e pela

Lei nº 10.520 de 17 de julho de 2002, respectivamente.

O SRP apresenta, entre suas principais características, a possibilidade de entrega e/ou

prestação parcelada dos bens e/ou serviços licitados sob um regime de preços flexível, durante

um período máximo de um ano (podendo este ser prorrogado sob determinadas condições

e/ou reajustes), além do compartilhamento dos preços registrados em um processo licitatório

pelos demais órgãos estaduais, por meio de adesão às “Atas de Registro de Preços” (vide

Tabela 1). O pregão, por sua vez, destaca-se, pois, além de ter sua utilização obrigatória para

aquisição de bens e serviços comuns (Decreto Federal nº 5.450, de 31 de maio de 2005),

Page 7: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

7

independentemente do valor praticado, também representa um conjunto de esforços do poder

público em prol de “uma maior concentração, flexibilização e desburocratização do

procedimento licitatório convencional.” (PEIXOTO, 2001), tornando os processos de compra

mais simples e céleres.

TABELA 1 - Vantagens do Sistema de Registro de Preços (SRP).

Vantagens para a Administração Vantagens para os Fornecedores

Desnecessidade de dotação orçamentária; Expectativa de fornecimentos em quantidades

flexíveis e variadas;

Atendimento de demandas imprevisíveis (em até 25%); Minimização de vários documentos de habilitação;

Redução do volume de estoques (média de 70%); Redução de vários representantes nas licitações;

Eliminação dos fracionamentos de despesas; Maior participação de pequenas e médias empresas.

Redução do número de licitações (estimada em 90%);

Tempos recordes de aquisição;

Atualidade dos preços de aquisição (sazonalidades,

ofertas e promoções);

Redução dos custos de licitações;

Melhor aproveitamento dos bens adquiridos;

Ampliação da competitividade.

Fonte: Adaptado de Jacoby (2006) e Fundação Prefeito Faria Lima (2007).

Tais entidades normativas tornam-se interessantes para o desenvolvimento deste

projeto não somente pelas vantagens que trazem à gestão pública em termos de redução e

controle de gastos com aquisição de materiais, mas também pelo fato de simplificarem

determinados procedimentos necessários à realização dessas atividades, assim como

alinharem-se adequadamente às políticas de ressuprimento sugeridas e aplicadas neste artigo,

facilitando, inclusive, a determinação de alguns parâmetros de cálculo, como se verá adiante.

3. Gestão de estoques

Antes de se pensar em previsões de demanda e políticas de estoque, torna-se

necessário conhecer o que são estoques. Segundo Ballou (2006), estoques são “acumulações

de matérias-primas, suprimentos, componentes, materiais em processo e produtos acabados

que surgem em numerosos pontos do canal de produção e logística das empresas”.

Uma vez compreendida a noção de estoques, pode-se fazer o seguinte questionamento:

por que manter estoques? Tal indagação, mesmo após longos anos de pesquisa, não apresenta

uma resposta definitiva, um pensamento final sobre o assunto. Não obstante, os próprios

autores reconhecem que, diante da atual conjuntura produtiva e comercial experimentada pela

sociedade moderna, “Estoques são necessários, mas a questão importante é quanto estoque

manter” (GAITHER e FRAZIER, 2005).

Quando se restringe o foco de estudo ao Brasil e, mais particularmente, à saúde,

verifica-se o quão presentes encontram-se muitas das problemáticas observadas em gestão de

estoques, sendo que estas convergem em gastos consideráveis com administração de materiais

médico-hospitalares e medicamentos, como revela Agapito (2007), “No Brasil, estes gastos,

em relação aos custos totais do hospital, representam um valor em torno de 5% a 20% dos

orçamentos dos hospitais”.

Em pesquisa realizada por Wanke (2004) junto a 117 hospitais dos Estados da

Page 8: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

8

Geórgia, do Alabama e da Flórida, todos localizados nos Estados Unidos, pôde-se identificar

quais serão, provavelmente, as tendências a serem perseguidas pela gestão de estoques na

saúde pública brasileira (considerando-se os EUA como parâmetro de comparação satisfatório

em termos de eficiência na prestação de serviços de saúde). Tal levantamento apontou como

as três técnicas de gestão de estoques mais adotadas o Ponto de Pedido - PP (92,9%); a

Classificação ABC (61,9%); e o Lote Econômico de Compras – LEC (54,8%).

Com base na conjuntura experimentada pela gestão de estoques a nível mundial, no

cenário pouco eficiente desta atividade na área da saúde pública brasileira e nas técnicas

apontadas como mais recorrentes em hospitais norte-americanos, decidiu-se por simular a

aplicação de quatro técnicas clássicas de gestão de estoques (Curva ABC, PP, LEC e Nível de

Reposição), assim como comparar seus resultados com modelos heurísticos mais sofisticados,

dinâmicos e específicos de políticas de ressuprimento.

3.1 Classificação ABC de materiais

O alicerce da Curva de Pareto (Curva ABC) consiste no fato de que nem todos os

produtos ou itens em estoque apresentam as mesmas características e/ou o mesmo grau de

relevância para uma organização. Tubino (2000) e Gaither e Frazier (2005) destacam que um

dos critérios mais aplicados na classificação ABC é a demanda valorizada ou valor do

estoque, que representa o investimento unitário de cada produto multiplicado pela sua

demanda. Em grande parte dos casos em que se adota a demanda valorizada como parâmetro

de classificação, observa-se que um pequeno percentual de materiais corresponde a um grande

percentual do volume em estoque.

Torna-se importante frisar que a Curva de Pareto não deve ter sua aplicação limitada

somente à classificação de itens em estoque. Pelo contrário, ela apresenta um grande potencial

em outras atividades organizacionais, tais como: estabelecimento de prioridades entre

problemas internos a serem resolvidos; eleição de ordens de execução de projetos; etc. É

exatamente nesse sentido que essa técnica será explorada neste projeto, para fins de

identificação daqueles medicamentos mais relevantes para a administração pública e mais

aptos a integrar as análises feitas por este artigo, segundo o(s) critério(s) considerado(s).

3.2 Dimensionamento de lotes de reposição

Uma questão fundamental à gestão de estoques é a determinação do tamanho dos lotes

de ressuprimento. Como solução, faz-se necessário escolher o método mais adequado para

sistematizar os ressuprimentos. A partir disso, são criados parâmetros de gestão à manutenção

do contínuo processo de reposição, visando o máximo desempenho da atividade (GASNIER,

2002).

Nesse contexto, destacam-se dois sistemas de reposição que operam sob a preservação

de conceitos clássicos da teoria de gestão de estoques: o Sistema de Reposição Contínua

(SRC) e o Sistema de Reposição Periódica (SRP). O SRC, também conhecido como controle

por ponto de pedido ou Sistema (LEC, PP), consiste em estabelecer um ponto no nível de

estoque disponível que, quando atingido, dá início ao processo de reposição do item em uma

quantidade fixa e determinada previamente (TUBINO, 2000). O ponto de pedido, por sua vez,

é dado em função da demanda diária e do tempo de resposta do pedido em dias. Para o caso

de tais elementos serem variáveis, aplica-se, para efeitos de cálculo, a média de ambos.

O SRP, também denominado Sistema de Nível de Reposição ou Sistema (NR, IR), em

contrapartida, consiste em avaliar os níveis de estoque em uma periodicidade constante para,

em seguida, estimar o tamanho do lote de reposição necessário para atingir o estoque máximo

ou nível de reposição, previamente calculado. Logo, a quantidade pedida deve ser a diferença

Page 9: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

9

entre o nível de reposição e a posição de estoque observada.

Estudiosos de várias áreas do conhecimento humano vêm comprovando que a

utilidade prática dos modelos tradicionais não corresponde proporcionalmente a sua

respectiva relevância teórica. Isto porque tais modelos são baseados em premissas pouco

verificadas na dialética de compras e armazenagem de empresas, tais como tempos de

resposta e valores de demanda estáveis e conhecidos ao longo de um determinado período.

Diante de tal realidade e dos resultados de um estudo comparativo e avaliativo

realizado e apresentado por Silver, Pyke e Peterson (1998), resolveu-se aplicar mais duas

técnicas de reposição de estoques, as quais operam segundo algoritmos heurísticos e

conceitualmente mais sofisticados, quais seriam: o algoritmo de Wagner-Whitin e a heurística

de Silver-Meal.

O algoritmo de Wagner-Whitin, desenvolvido por Wagner e Whitin em 1958, tem

como aspecto diferenciador sua capacidade de assegurar, em termos de minimização dos

custos totais de pedidos e armazenagem de materiais em estoque, a melhor solução no que se

refere ao cálculo dos lotes de compra. A heurística de Silver-Meal, por outro lado, revela-se

uma técnica que apresenta princípios teóricos semelhantes àqueles introduzidos por Wagner e

Whitin, porém cálculos numéricos mais objetivos e específicos. Isto ocorre porque, ao invés

de comparar individualmente cada possibilidade de compra entre períodos constituintes de um

horizonte de planejamento, o modelo estabelece uma lógica matemática capaz de restringir a

quantidade de períodos envolvidos nas iterações de custos, buscando-se não a minimização

dos custos totais, mas sim o menor custo total relevante por período, ou seja, para cada

unidade de tempo que compõe o horizonte de planejamento.

4. Sistemas inteligentes

4.1 Lógica Fuzzy

Os modelos de gestão de estoques tradicionais encontram-se baseados em premissas

pouco verificadas na dialética de compras e armazenagem de empresas, tais como tempos de

resposta e valores de demanda estáveis e conhecidos ao longo de um determinado período. No

entanto, a realidade experimentada pelas organizações, sejam elas de caráter público ou

privado, mostra-se bem diferente. Como indica Wanke (2003), “no mundo real (com

incerteza) a taxa de consumo dos produtos não é totalmente previsível, podendo variar

consideravelmente ao redor do consumo médio”.

Nesse sentido, a imperfeição da informação é caracterizada, basicamente, por dois

aspectos, sendo estes a imprecisão e a incerteza (SANDRI e CORREA, 1999). Ainda segundo

Sandri e Correa (1999), uma das teorias mais conhecidas aplicadas no tratamento de

imprecisão e incerteza de informações é a teoria dos conjuntos, mais especificamente dos

conjuntos nebulosos. Tais proposições, quando abordadas sob perspectiva lógica, como em

sistemas de previsão de demanda, são conhecidas por lógica nebulosa ou lógica fuzzy.

O cerne da lógica nebulosa consiste em sua “habilidade em inferir conclusões e gerar

respostas baseadas em informações vagas, ambíguas e qualitativamente incompletas e

imprecisas” (CORRÊA e BAÉSSA, 2007). Logo, pode-se dizer que a lógica fuzzy é capaz de

representar satisfatoriamente determinados aspectos do raciocínio lógico humano, sendo

possível enquadrar informações e expressões imperfeitas ou de natureza subjetiva em valores

ou índices numéricos (MENDONÇA et al., 2006). Conseqüentemente, entende-se que o

grande aspecto diferencial da lógica fuzzy é que a mesma encontra-se alicerçada,

fundamentalmente, na premissa de que fatos são relativos, não existindo apenas situações

extremas de “verdadeiro ou falso”, interpretação típica da lógica clássica (SIERAKOWSKI,

Page 10: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

10

2006; CORRÊA e BAÉSSA, 2007).

Partindo-se da relatividade dos fatos, a lógica nebulosa desenvolve a noção de “grau

de pertinência”, elemento vital que expressa, usualmente, uma função geradora de um número

real no intervalo [0,1], sendo este representado, geralmente, pela letra grega μ

(SIERAKOWSKI, 2006). Em se tratando da teoria de conjuntos fuzzy, berço teórico da lógica

nebulosa, diz-se que a pertinência dos elementos de um dado conjunto C, por exemplo, em

um determinado universo Z, é capaz de assumir infinitos valores distintos no intervalo [0,1],

sendo tal conjunto definido por um agrupamento de pares ordenados da seguinte ordem

(CORRÊA e BAÉSSA, 2007):

𝐶 = 𝜇𝐴(𝑥)/𝑥} , 𝑥 ∈ 𝑍

𝜇𝐴 𝑥 : 𝑍 → [0,1]

Onde,

μA(x) – função de pertinência de x em C, a partir do mapeamento de Z em [0,1].

No entanto, um sistema fuzzy destinado ao tratamento de séries temporais apresenta

peculiaridades em relação a outras aplicações da lógica nebulosa (VIGLIONI, 2007). Segundo

Mendel (1995), quando se analisa previsão de demanda com base em séries temporais, as

regras que norteiam as funções de pertinência são extraídas diretamente de valores numéricos,

ou seja, o “conhecimento” absorvido advêm de séries temporais, e não de um especialista

propriamente.

Como principais vantagens proporcionadas pela utilização de sistemas fuzzy,

destacam-se “as flexibilidades no tratamento de variáveis qualitativas e/ou quantitativas, a

facilidade de implementação computacional, e ainda, a minimização dos custos inerentes às

fases de modelagem e implantação de seus algoritmos” (MAIA et al., 2005).

4.2 Lógica Neuro-Fuzzy

Apesar das vantagens observadas em relação à dinâmica de sistemas fuzzy, os mesmos

apresentam certas dificuldades relacionadas à “aprendizagem” e conseqüente definição de

termos lingüísticos e de base de regras (SANDRI e CORREA, 1999). Nesse sentido,

destacam-se os sistemas neuro-fuzzy, que, em verdade, são sistemas inteligentes híbridos, uma

vez que “utilizam mais de uma técnica de identificação de sistemas para a solução de um

problema de modelagem” (VIGLIONI, 2007).

Combinando, de acordo com Viglioni (2007; apud MENDEL, 1995), “a capacidade de

aprendizado das redes neurais artificiais (RNAs) com o poder de interpretação lingüístico dos

sistemas de inferência fuzzy (SIFs)”, a lógica neuro-nebulosa é capaz de tratar situações e

responder a questionamentos que tanto redes neurais quanto sistemas fuzzy, isoladamente, não

conseguiriam o fazer. Como esclarece Sandri e Correa (1999), “ao contrário das redes neurais,

os sistemas neuro-fuzzy não são uma “caixa preta”, e, ao contrário dos sistemas nebulosos,

eles prescindem da necessidade de um especialista que lhes forneça as regras”.

5. Metodologia aplicada

5.1 Classificação do método de pesquisa

Utilizando-se dos critérios apresentados por Silva e Menezes (2005), pode-se

classificar a pesquisa como sendo: uma pesquisa aplicada, do ponto de vista de sua natureza,

pois está voltada ao debate e à discussão do conhecimento científico aplicado e dirigido à

solução de problemas específicos; sob o prisma da abordagem do problema, uma pesquisa

Page 11: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

11

quantitativa, pois gera e discute resultados baseados na exploração de cálculos numéricos e

técnicas estatísticas; quanto a sua finalidade, uma pesquisa exploratória, uma vez que,

coletando e analisando dados e informações de um determinado fenômeno, tenta compreendê-

lo de forma mais abalizada, construindo e testando hipóteses sobre o objeto de estudo; e, sob a

ótica tecnicista, um estudo de caso, considerando-se que todos os esforços acadêmicos

voltaram-se para um determinado problema, estudando-o e configurando-o de modo

específico e sensivelmente detalhado.

5.2 Pesquisa bibliográfica

Objetivando-se a formação de uma base teórica sólida e legítima, buscou-se levantar e

analisar um vasto material acadêmico, voltado especialmente para os seguintes temas:

Compras em Âmbito Público Estadual; Políticas de Compras de Medicamentos na Esfera

Pública; Administração de Demanda; Sistemas Inteligentes; e Gestão de Estoques

Hospitalares. Além da literatura científica, também foi revisado um vasto conteúdo

legislativo, abrangendo-se determinadas normas (leis, decretos e portarias) fundamentais à

identificação das diretrizes jurídicas que norteiam as atividades de compras em âmbito federal

e, especialmente, estadual.

5.3 Coleta e agregação de dados e informações

A etapa de coleta e agregação de dados e informações apresentou-se necessária ao

projeto, essencialmente, durante a classificação ABC dos medicamentos adquiridos pelo GEP,

e, complementarmente, à configuração dos métodos de reposição de medicamentos testados.

Para fins de classificação ABC e estudos de previsão de demanda, aproveitou-se o próprio

banco de dados gerenciado pelo GEP, denominado Sistema Integrado de Materiais e Serviços

(SIMAS).

Uma vez coletados os dados de demanda, observou-se que eram muitas séries

temporais passíveis de análise (aproximadamente 4.410 medicamentos com históricos de

consumo discriminados). Logo, decidiu-se por agrupar os medicamentos em famílias, sendo

que o critério utilizado para tal foi a natureza dos tratamentos médicos onde cada droga era

utilizada. Assim, foram identificadas 17 famílias de medicamentos sobre as quais se efetuou a

classificação ABC, tornando-se objetos de pesquisa somente as famílias “classe A”,

procedimento que reduziu consideravelmente a quantidade de análises a ser efetivada.

Os esforços experimentados para a elaboração da Curva ABC já serviram de base,

também, para a configuração das técnicas de previsão de demanda testadas, bem como à

determinação de certas variáveis de gestão de estoques (custos de aquisição de

medicamentos). Ainda assim, recorreu-se a estudos comparativos e pesquisas a outras

instituições do GEP, com destaque para a colaboração do Banco do Estado do Pará –

BANPARÁ, e para o levantamento apresentado pelo artigo “Processo e-compras: Governo do

Estado do Amazonas”, de Tridapalli e Ferrer (2006), dos quais foram obtidas,

respectivamente, as taxas de oportunidade e os custos de pedido a serem adotados no cálculo

dos custos totais de cada esquema de reposição de medicamentos.

5.4 Análise e tratamento de dados e informações coletados

Em termos de classificação ABC, foram realizadas duas rodadas: a primeira, no intuito

de conhecer de forma an passant a dinâmica de consumo dos medicamentos adquiridos pelo

GEP; e a segunda, para reduzir a quantidade de medicamentos a ser analisada, foi aplicada

sobre as famílias de medicamentos identificadas. Vale destacar que, em ambas as rodadas,

adotou-se como critério de classificação a demanda valorizada atendida pelos estoques do

GEP, ou seja, o custo de aquisição de cada medicamento multiplicado pela demanda

Page 12: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

12

solicitada junto aos centros de distribuição de medicamentos para todo o Estado.

Em se tratando de técnicas de previsão de demanda, a metodologia de aplicação das

mesmas seguiu os trabalhos consultados de Tubino (2000), Pelegrini e Fogliatto (2001),

Lemos (2006) e Werneck (2007). Assim, o estudo das técnicas que melhor adequaram-se à

dinâmica da demanda de medicamentos do Estado do Pará deu-se por meio das seguintes

etapas: definição do problema; coleta de informações; seleção do pacote computacional

(Crystal Ball - que simulou os métodos clássicos de previsão de demanda (média móvel

simples, média móvel dupla, suavização exponencial simples, suavização exponencial dupla,

aditivo sazonal, multiplicativo sazonal, aditivo de Holt-Winters e multiplicativo de Holt-

Winters); e Matlab R2006a - que, a partir de adaptações e ajustes no código de programação

desenvolvido por Roger Jang em 1993 e no código ANFIS, possibilitou a aplicação dos

sitemas fuzzy e neuro-fuzzy, respectivamente); análise preliminar, que extirpou eventuais

dados espúrios que pudessem comprometer a análise das técnicas clássicas trabalhadas neste

artigo; e escolha e validação dos modelos - vale frisar que o critério de escolha do melhor

método foi a raiz do erro médio quadrático (RMSE), uma vez que tal parâmetro expressa o

erro de uma determinada técnica em termos absolutos, facilitando a visualização dos erros

identificados e a comparação direta entre os valores indicados por cada método.

Pôde-se configurar, por fim, os sistemas de reposição contínua e periódica (LEC, PP e

NR, IR), além das heurísticas de Wagner-Whitin e Silver-Meal, técnicas também selecionadas

para o estudo comparativo. Para se alcançar tal fim, procedeu-se à execução de três etapas:

apuração de custos logísticos e demais variáveis relevantes; parametrização dos

procedimentos de cálculo (tamanho de Lote Econômico e Ponto de Pedido; Nível de

Reposição e Intervalos de Revisão Fixos; Algoritmo de Wagner-Whitin; e Heurística de

Silver-Meal); e projeção de desempenho.

6. Apresentação e avaliação dos resultados

Em relação à classificação ABC, constatou-se que, das 17 famílias de medicamentos

identificadas, somente duas enquadravam-se como “classe A”, de acordo com o critério

estabelecido nesta pesquisa, qual foi: uma determinada família de medicamentos seria

considerada “classe A” se, e somente se, ela estivesse presente como “classe A” ao longo de,

pelo menos, quatro dos cinco anos que compõem o horizonte de demanda verificado. No

entanto, almejando-se uma análise comparativa piloto entre as técnicas estudadas, optou-se

por avaliar apenas o fluxo de medicamentos de uma família de medicamentos, qual seria:

Sistema Nervoso.

No que se refere às técnicas de previsão de demanda, os resultados encontram-se

exibidos e discriminados, segundo cada valor de RMSE identificado, na Tabela 2. Para efeito

de cálculo, foram utilizados dados históricos de demanda de 2003 a 2006, comparando os

modelos gerados com a demanda registrada em 2007. Os resultados registrados na tabela 2

encontram-se dimensionados sob perspectiva mensal, por representar uma análise mais

sensível do comportamento da demanda estudada.

TABELA 2 - Resultados dos métodos de previsão de demanda aplicados aos dados de demanda de 2003 a 2006,

comparados à demanda de 2007.

Métodos de Previsão de Demanda Classificação RMSE

Lógica Neuro-Fuzzy 1 565,9

Lógica Fuzzy 2 599,2

Suavização Exponencial Dupla 3 1059,7

Page 13: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

13

Suavização Exponencial Simples 4 1105,0

Média Móvel Simples 5 1118,8

Média Móvel Dupla 6 1167,4

Sazonalidade Aditiva 7 1273,1

Holt-Winters' Aditivo 8 1273,9

Sazonalidade Multiplicativa 9 1310,4

Holt-Winters' Multiplicativo 10 1543,5

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com base nos resultados aferidos a partir dos modelos de previsão de demanda

desenvolvidos, verificou-se um desempenho sensivelmente superior dos métodos inteligentes

(lógica fuzzy e neuro-fuzzy), com precisão aproximadamente 44% maior do que as técnicas

clássicas experimentadas. Confrontando-se ambos os sistemas inteligentes, observou-se uma

sutil superioridade da lógica neuro-nebulosa, com um desempenho aproximadamente 6%

melhor que a lógica fuzzy, valores que corroboram as vantagens teóricas do método neuro-

fuzzy, abordadas preteritamente.

Confrontando-se o desempenho dos modelos de ressuprimento de material

fundamentados em sistemas inteligentes com aqueles observados a partir da adoção das

técnicas clássicas, pôde-se realizar uma análise comparativa crítica entre seus resultados.

Constatou-se, por meio da Tabela 3, a eficiência dos métodos estudados, segundo três

critérios básicos (nível de serviço, estoque médio e custo total), e de acordo com a classe de

métodos de previsão de demanda aplicada.

TABELA 3 – Indicadores de desempenho dos modelos de reposição estudados, com base em métodos de

previsão de demanda clássicos e inteligentes (nebuloso e neuro-nebuloso).

MÉTODOS CLÁSSICOS MÉTODOS INTELIGENTES

Política de

Ressuprimento

Nível de

Serviço

Estoque

Médio Custo Total

Nível de

Serviço

Estoque

Médio Custo Total

(LEC, PP) 97,55% 677 R$ 2.122.353,86 97,75% 719 R$ 2.140.756,33

(NR, IR) 100,00% 2.854 R$ 2.014.182,67 100,00% 2.904 R$ 2.014.348,31

Wagner-Whitin 59,35% 626 R$ 876.470,02 95,87% 2.048 R$ 1.449.832,25

Silver-Meal 59,35% 626 R$ 876.470,02 95,87% 2.048 R$ 1.449.832,25

Fonte: Elaborado pelos autores.

Contudo, ainda resta um cenário a ser averiguado, o qual seria a avaliação real de

como os modelos propostos comportam-se diante da conduta adotada, atualmente, pela

administração pública estadual em relação à compra e armazenagem de medicamentos. Nesse

cenário, comparar direta e explicitamente os resultados gerados pela aplicação de cada

modelo de reposição de materiais aos medicamentos analisados representa, na verdade, uma

ação extremamente informativa, mas pouco esclarecedora.

Isto ocorre devido, basicamente, a uma problemática: a existência de três indicadores

de desempenho dificulta a decisão por determinado método sugerido, uma vez que se torna

necessário algum outro mecanismo de auxílio à tomada de decisão, tal como um método de

priorização ou ponderação dos indicadores verificados. Nesse sentido, optou-se por adotar

uma escala de ponderação entre os indicadores, capaz de determinar qual dos modelos

apresenta mais benefícios relevantes à gestão de medicamentos do Estado do Pará. Levando-

se em consideração que os materiais estão vinculados ao setor público e, mais precisamente, à

Page 14: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

14

área da saúde pública, distribuíram-se pontuações ponderadas entre os indicadores, da forma

esquematizada na Tabela 4.

TABELA 4 – Relações de pontuação e ponderação entre indicadores de desempenho.

Indicador de Desempenho Intervalos de Pontuação Ponderação

Nível de Serviço

95% - 100% (10); 90% - 94,99% (9)

80% - 89,99% (8); 70% - 79,99% (7)

60% - 69,99% (6); abaixo de 60% (5)

50%

Estoque Médio

0 – 650 (10); 651 – 1000 (9)

1001 – 2000 (8); 2001 – 3500 (7)

3501 – 5000 (6); acima de 5000 (5)

15%

Custo Total

R$ 0,00 – R$ 1.500.000 (10)

R$ 1.500.001 – R$ 3.000.000 (9)

R$ 3.000.001 – R$ 4.000.000 (8)

R$ 4.000.001 – R$ 5.000.000 (7)

R$ 5.000.001 – R$ 6.000.000 (6)

Acima de R$ 6.000.000 (5)

35%

Fonte: Elaborado pelos autores.

Considerando a metodologia de avaliação formulada, observou-se uma transformação

interessante no comportamento dos modelos de gestão de estoques heurísticos, de acordo com

o método de previsão de demanda adotado, conforme revela a Tabela 5. Aplicando-se

sistemas fuzzy e neuro-fuzzy, os algoritmos de Wagner-Whitin e Silver-Meal apresentaram

melhorias em seus desempenhos, superando inclusive os sistemas (LEC, PP) e (NR, IR), mais

eficientes quando consideradas técnicas clássicas de previsão de demanda. Tal performance

deve-se, principalmente, ao fato de que tais modelos de gestão baseiam-se no princípio de

rápida resposta às variações de demanda. Quando o método de previsão adotado não absorve

satisfatoriamente as variações ocorridas, os modelos heurísticos perdem em eficiência.

Aplicando-se, em contrapartida, métodos de previsão mais sofisticados e capazes de

“aprender” mais veloz e adequadamente o comportamento da demanda, tais como os sistemas

inteligentes nebuloso e neuro-nebuloso, a eficiência dos algoritmos heurísticos é maximizada,

refletindo em melhorias consideráveis em seus desempenhos, neste caso, especialmente em

termos de nível de serviço (59,35% para 95,87%).

Focando-se especificamente o aspecto financeiro do estudo comparativo, valores

sensivelmente satisfatórios são observados. Considerando-se o desempenho das políticas de

ressuprimento baseadas na previsão de demanda obtida a partir dos sistemas fuzzy e neuro-

fuzzy, constataram-se economias mínima de aproximadamente 66,35% (com base no modelo

LEC, PP) e máxima de cerca de 77,21% (a partir dos modelos heurísticos) sobre o valor

monetário gasto atualmente pela administração pública estadual do GEP.

TABELA 5 – Classificação dos modelos de reposição de medicamentos, segundo os métodos de previsão de

demanda adotados.

MÉTODOS CLÁSSICOS MÉTODOS INTELIGENTES

Modelo de Ressuprimento Pontuação Modelo de Ressuprimento Pontuação

(LEC, PP) 9,5 (LEC, PP) 9,5

(NR, IR) 9,2 (NR, IR) 9,2

Wagner-Whitin e Silver-Meal 7,5 Wagner-Whitin e Silver-Meal 9,55

Modelo Atual 7 Modelo Atual 7

Fonte: Elaborado pelos autores.

Page 15: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

15

7. Considerações finais

Trabalhar de modo confiável com base em modelos de previsão de demanda e

reposição de materiais quase sempre consiste em realizar estudos minuciosos, específicos e

pontuados com certas resguardas, devido, principalmente, às incertezas que configuram

comportamentos de demanda. Nesse contexto, vale frisar que os esforços despendidos à

elaboração dos métodos de reposição sugeridos neste artigo não pretendem, de forma alguma,

apontar um caminho certo e definitivo ao planejamento das compras públicas estaduais de

medicamentos. Em verdade, o principal intuito é sinalizar prováveis rumos a serem adotados

pela administração pública em relação a compras de medicamentos, com base em

levantamentos de dados locais (Estado do Pará) e em pesquisas e avaliações cientificamente

conduzidas, e não em experiências puramente empíricas ou em ações fundamentalmente

intuitivas. Além disso, é importante valorizar a aplicação satisfatória de ferramentas técnicas

de engenharia de produção, comumente interpretadas como de uso exclusivo da esfera

privada, a situações e cenários característicos do certame público.

Pôde-se constatar a atuação vital dos sistemas fuzzy e neuro-fuzzy para a melhoria de

desempenho das políticas experimentadas, especialmente dos procedimentos heurísticos

(Wagner-Whitin e Silver-Meal) testados. Partindo-se da pesquisa desenvolvida neste artigo,

foi possível verificar nitidamente a potencialidade dos sistemas nebuloso e neuro-nebuloso,

especialmente ao tratar séries temporais de comportamento complexo e/ou irregular.

Logicamente, resultados melhores poderiam ser obtidos a partir de estudos mais específicos,

envolvendo maiores esforços de programação dos algoritmos tratados e até mesmo uma

análise mais detalhada do comportamento de demanda por essa classe de medicamentos.

Essencial é observar e constatar que, partindo-se dos princípios teóricos e funcionais que

permeiam as lógicas fuzzy e neuro-fuzzy, pôde-se desenvolver estudos de previsão de demanda

com satisfatória aproximação de valores, além de existir um amplo campo de pesquisa para

estudos futuros.

Por último, torna-se vital ratificar que, apesar dos nítidos e significativos benefícios e

vantagens de natureza econômico-financeira advindos da concretização dos modelos

sugeridos por este projeto, o maior ganho gerado não será monetário, mas sim social. Logo, o

verdadeiro espírito do projeto não é a redução pura e simples dos custos do Estado do Pará

com aquisição e armazenagem de medicamentos, mas sim a adequação da conduta de

aquisição de medicamentos da administração à demanda percebida, sem comprometer,

todavia, o nível de serviço almejado.

Referências

AGAPITO, N. Gerenciamento de Estoques em Farmácia Hospitalar. Grupo de Estudos Logísticos – GELOG.

Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em:

<www.gelog.ufsc.br/Publicacoes/20071/Gerenciamento%20de%20Estoques%20em%20Farmacia%20Hospitalar

.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2007.

BALLOU, R. H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial. Porto Alegre: Bookman,

2006. 616 p.

BANPARÁ. Rentabilidade da Carteira. [Belém], 2007. Disponível em:

<http://www.banparanet.com.br/investimentos/CartRentabilidade.asp?CodFnd=03>. Acesso em: 13 nov. 2007.

CORRÊA, M. V.; BAÉSSA, J. P. D. Identificação de Sistemas Dinâmicos Não-Lineares Utilizando a Lógica

Fuzzy. Principium Online: Iniciação Científica no Unileste – MG, Coronel Fabriciano, v. 1, n. 3, p.68-86, dez.

2007.

FERNANDES, C. C. C. Transformações na Gestão de Compras da Administração Pública Brasileira. In:

Congreso Internacional del Clad sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, 8., 2003, Panamá.

24 p.

Page 16: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

16

FUNDAÇÃO PREFEITO FARIA LIMA. Pregão. [S.l.: s.n., 2007]. 13 p. Disponível em:

<www.cepam.sp.gov.br/v11/arquivos/seminarios/pregao/ Pregão.pdf>. Acesso em: 16 out. 2007.

GAITHER, N.; FRAZIER, G. Administração da Produção e Operações. 8. ed. São Paulo: Pioneira Thomson

Learning, 2005. 598 p.

GASNIER, D. G. A Dinâmica dos Estoques. São Paulo: IMAM, 2002, 316 p.

JACOBY, J. U. Sistema de Registro de Preços e Pregão Presencial e Eletrônico. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum,

2006, 809 p.

LEMOS, F. O. Metodologia para Seleção de Métodos de Previsão de Demanda. 183 f. Dissertação (Mestrado

em Engenharia de Produção) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.

MAIA, A. D. G.; SILVA, V. L. da; PORTUGAL, L. da S.; SANTOS, M. P. dos. As Tecnologias no Sistema

Metroferroviário: Caracterização e avaliação através do Modelo Integral–Fuzzy. In: Simpósio de Engenharia de

Produção, 12, 2005, São Paulo. Anais do XII SIMPEP. São Paulo: Bauru, 2005.

MENDEL, J. M. Fuzzy Logic Systems for Engineering: A Tutorial. Proceedings of the IEEE, Vol. 83, nº 3, pp.

345-377, Março 1995.

MENDONÇA, F. M. de; SOARES, D. P. de M.; CARVALHO, M. L. M. de; VALLE, R. Método multicritério

fuzzy para avaliação de desempenho de redes de empresas produtoras de artesanato na região de Campo das

Vertentes em Minas Gerais. In: Simpósio de Engenharia de Produção, 13, 2006, São Paulo. Anais do XIII

SIMPEP. São Paulo: Bauru, 2006.

PEIXOTO, M. A. V. Modalidades de Licitação: da concorrência ao pregão. A inversão do procedimento de

habilitação e julgamento e a polêmica Medida Provisória nº 2026/00. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 52,

nov. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2363>. Acesso em: 16 out. 2007.

PELEGRINI, F. R.; FOGLIATTO, F. S. Passos para Implantação de Sistemas de Previsão de Demanda –

técnicas e estudo de caso. Rev. Produção, Rio de Janeiro, RJ, v. 11, n. 1, p. 43-64, 2001.

SANDRI, S.; CORREA, C. Lógica Nebulosa. V Escola de Redes Neurais, Promoção: Conselho Nacional de

Redes Neurais. São José dos Campos: ITA, pp. c073-c090, 1999.

SIERAKOWSKI, C. A. Inteligência Coletiva Aplicada a Problemas de Robótica Móvel. Dissertação (Mestrado)

– Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR. Curitiba: PUCPR, 2006, 138p.

SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. 4. ed. rev. atual.

Florianópolis: UFSC, 2005, 138 p.

SILVER, E. A.; PYKE, D. F.; PETERSON, R. Inventory Management and Production Planning and

Scheduling. 3ª Ed.. New York: John Wiley & Sons, 1998. 792 p.

TRIDAPALLI, J. P.; FERRER, F. Processo e-compras: governo do Estado do Amazonas. XI Congreso

Internacional del Clad sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Ciudad de Guatemala, 7 – 10

Nov. 2006. Disponível em: <http://www.clad.org.ve/fulltext/0055422.pdf>. Acesso em: 17 nov. 07.

TUBINO, D. F. Manual de Planejamento e Controle da Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 224 p.

VIANA, J. J. Administração de Materiais: um enfoque prático. São Paulo: Atlas, 2002. 448 p.

VIGLIONI, G. M. C. Metodologia para previsão de demanda ferroviária utilizando data mining. Dissertação

(Mestrado) – Instituto Militar de Engenharia – IME. Rio de Janeiro: IME, 2007, 241p.

WANKE, P. F. Gestão de Estoques na Cadeia de suprimento: decisões e modelos quantitativos. São Paulo:

Atlas, 2003. 176 p.

WANKE, P. F. Tendências da Gestão de Estoques em Organizações de Saúde. Revista Tecnologística. [S.l.:

s.n.], 2004. p. 74-80.

WERNECK, R. F. Análise e Previsão de Demanda numa Empresa de Distribuição de Medicamentos. [Juiz de

Fora: s.n.], 2007, 35 f.

Page 17: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

17

Gestão de custos em empresas de produção por encomenda: estudos de casos em gráficas

Antônio Artur de Souza (UFMG) [email protected] Ludmila Teixeira Rodrigues (UFMG) [email protected]

Ewerton Alex Avelar (UFMG) [email protected] Terence Machado Boina (UFMG) [email protected]

Resumo: Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa que objetivou estudar a

gestão de custos em gráficas a partir da identificação dos fatores qualitativos que

influenciam esse processo e da análise dos sistemas de informações utilizados pelos gestores

dessas empresas para auxiliar na gestão de custos. Esta pesquisa, de caráter exploratório e

qualitativo, compreendeu três estudos de casos realizados entre os anos de 2005 e 2008 em

empresas localizadas em Belo Horizonte (MG). Foram utilizadas três técnicas para coleta de

dados: entrevistas semi-estruturadas, observação não-participante e questionários. Os

gestores de duas das gráficas estudadas utilizam sistemas de informações que, com base em

uma metodologia de custeio específica, subsidiam a estimação de custos (um dos

componentes da gestão de custos), enquanto, na outra gráfica, utilizam-se planilhas de MS

Excel® para auxiliar nesse processo. Verificou-se que em nenhuma das empresas estudadas

há um controle efetivo dos custos durante a produção, limitando o feedback para aprimorar

processos decisórios futuros. Foram identificados alguns fatores qualitativos que influenciam

o processo de gestão de custos nas gráficas estudadas, sendo os principais: feeling e know-

how. Estudos futuros poderiam explorar com maior profundidade o tema abordado neste

trabalho, principalmente, com um aumento da amostra de empresas analisadas.

Palavras-chave: Gestão de custos; Empresas de produção por encomenda; Gráficas.

1. Introdução

Atualmente, tal como destacam Nachtamann e Needy (2001), a globalização, a desregulamentação dos mercados, as mudanças rápidas na tecnologia e os avanços da tecnologia da informação têm provocado profundos efeitos nos negócios ao redor do mundo. Nesse sentido, Bastos (2003) afirma que os níveis de dinamismo e incerteza do mercado, cada vez mais elevados, refletem uma hostilidade ambiental crescente, que ameaça a sobrevivência das empresas. Este ambiente empresarial traz como conseqüência o desenvolvimento e a incorporação de novas tecnologias e modelos de gestão (BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001).

Normalmente, diante desse ambiente instável, os gestores usualmente devem tomar decisões que adicionem valor à empresa. Muitas dessas decisões demandam informações referentes a custos. Para mensurar essas informações, Kaplan e Cooper (1998) afirmam que a gestão de custos habitualmente se torna fundamental para a sustentação da competitividade de muitas empresas. Diversas importantes decisões empresariais, que necessitam de uma adequada gestão de custos, podem ser destacadas: decisões de investimento, financiamento, planejamento, avaliação de desempenho e elaboração de orçamento (MAHER, 2001).

Nas empresas de produção por encomenda (EPEs), a gestão de custos é, normalmente, ainda mais relevante para o processo decisório dos gestores, pois as informações de custos, de maneira geral, dão suporte a decisões fundamentais para a competitividade dessas empresas (KINGSMAN; HENDRY, 2002; MEGLIORINI, 2003; CAMPOS, 2003). Nesse aspecto, o

Page 18: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

18

presente artigo, que objetivou estudar a gestão de custos de empresas, apresenta os resultados de uma pesquisa de caráter exploratório e qualitativo, que compreendeu três estudos de casos realizados em EPEs do setor gráfico localizadas na cidade de Belo Horizonte (MG) entre os anos de 2005 e 2008. Para tanto, identificou-se os fatores qualitativos que influenciam o processo de gestão de custos e analisaram-se os sistemas de informações (SI) utilizados pelos gestores dessas empresas para auxiliar em tal gestão.

Este artigo está dividido em 7 seções, contando com esta introdução. Na seção 2, são descritas as principais características operacionais das EPEs. Na seção 3, são apresentadas algumas considerações sobre a gestão de custos. Posteriormente, a metodologia de pesquisa é destacada (seção 4). Nas seções 5 e 6, são descritos e discutidos os resultados obtidos com a pesquisa. Por fim, na seção 7, as conclusões são apresentadas.

2. Empresas de produção por encomenda

Na fabricação por encomenda, a diversidade de produtos e o tamanho reduzido dos lotes fabricados motivam freqüentes variações nos equipamentos (ZACCARELLI, 1979). Desse modo, EPEs geralmente são empresas que possuem sistemas de produção flexíveis, pois atendem pedidos muito diferenciados, sendo cada um deles bastante especificados pelo cliente (PALOMINO, 2001; CAMPOS, 2003). Assim, pode-se dizer que a produção das EPEs não possui homogeneidade, em virtude de seus produtos serem altamente customizados (EIDT, 2006).

Destaca-se que empresas prestadoras de serviços também podem ser classificadas como EPEs. Hansen e Mowen (2006) citam, como exemplos de EPEs, as gráficas (foco deste estudo), as fábricas de móveis, as construtoras, as oficinas mecânicas e os salões de beleza. Como empresas de produção, Corrêa e Corrêa (2007) citam as indústrias químicas de especialidades, indústrias de embalagem, indústrias de alimentos, montadoras de veículos e estamparias.

Sendo a diferença entre os custos de cada serviço a principal características das EPEs, verifica-se a necessidade de um acompanhamento individual dos custos. (HANSEN; MOWEN, 2006). Outro fato importante é que, para conquistarem os clientes, as EPEs normalmente precisam oferecer preços mais competitivos do que os oferecidos pelos seus concorrentes, sendo que os custos usualmente são fundamentais para a formação dos preços (CAMPOS, 2003). Diante do exposto, pode-se dizer que as EPEs normalmente necessitam de uma boa gestão de custos para fornecer informações úteis aos tomadores de decisões.

3. Gestão de custos

De acordo com Eidt (2006), uma vez que existe uma constante demanda por componentes de custos nas empresas, necessita-se de métodos de custeio eficazes e eficientes para sua gestão e de controles durante os processos e as atividades da empresa. Nesse sentido, Hamilton (2004) enfoca a gestão de custos como uma atividade que procura estimar, controlar e analisar informações de custos, envolvendo três diferentes processos: estimação de custos (EC), análise de variância de custos (AVC) e uso do feedback das informações de custos.

Para Horngren et al. (2004), a EC é uma tentativa de mensurar a relação entre os custos passados e o respectivo nível de atividade. A comparação entre os custos estimados e os incorridos, pode ser útil para decisões futuras, ressaltando, assim, a importância da realização da AVC (MAHER, 2001). Para Atkinson et al. (2008) a AVC á a diferença entre o resultado planejado (neste caso, os custos estimados) e os resultados reais (custos incorridos). Desse modo, as informações de custos devem ser reempregadas em futuros processos decisórios com a finalidade de aperfeiçoá-los (HAMILTON, 2004). De acordo com Cooper e

Page 19: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

19

Slagmulder (2004), os sistemas de informações e os métodos de custeio, quando utilizados para gerenciar as informações supracitadas e fornecer suporte aos gestores, são fundamentais no processo de feedback.

Com relação aos métodos de custeio, pode-se dizer que esses estão relacionados à maneira pela qual os custos são atribuídos aos produtos e a outros objetos. Dentre os métodos de custeio, Heitger et al. (1992) destacam os mais comumente empregados nas empresas: (a) custeio por absorção; (b) custeio variável; e (c) custeio baseado em atividade (Activity Based

Costing – ABC). Ressalta-se que o primeiro método apresenta uma variação, tal como destacam Backes et al. (2007): o RKW.

Segundo Romão (2007), no custeio por absorção (também chamado de “custeio tradicional”), os custos diretos e indiretos, fixos e variáveis são apropriados aos produtos com base em algum direcionador simples, enquanto todas as despesas (vendas, administrativas, dentre outras) são consideradas gastos do período e, conseqüentemente, não fazem parte do custo do serviço ou do produto. Derivado do método de custeio por absorção, o Reichskuratorium für Wirtschaftlichtkeit, conhecido como RKW, é um método de custeio de origem alemã que aloca aos produtos todos os custos de produção e todas as despesas da empresa (gerais, administrativas, de vendas, dentre outras). De acordo com Bornia (1995), o RKW possui duas fases: (1) segregação da empresa em centros de custos; e (2) rateio de custos aos centros produtos e, em seguida, aos produtos.

No custeio variável, por sua vez, são apropriados apenas os custos variáveis (tais como matéria-prima e óleo, por exemplo) aos produtos ou serviços. Já os custos fixos (depreciação e supervisão, por exemplo), são tratados como despesas no período e, assim, afetam diretamente o resultado (BERTO, 2004).

Por fim, de acordo com Diehl e Souza (2007), no ABC considera-se que as atividades, ao serem realizadas, consomem recursos e, conseqüentemente, causam custos. Assim, esse método utiliza-se de direcionadores de custos para atribuir custos aos produtos (PEREZ JR et

al., 2003). Mishra e Vaysman (2001) enfocam o sistema ABC como um sistema de custeio que oferece suporte para a tomada de decisões, possuindo como vantagem o fornecimento de informações com alto grau de detalhamento acerca do processo de custeio, o que aumenta a capacidade de análise dos custos.

Souza et al. (2006) destacam que, além das dificuldades inerentes ao processo de gestão de custos e, em especial, ao componente EC das empresas, há vários fatores internos e externos que também o influenciam, dificultando-o continuamente. Esses autores citam, dentre os vários exemplos, o know how (interno) e a concorrência (externo). Entende-se, pois, que o processo decisório, durante o intricado processo de gestão de custos em EPEs, necessita de diversas informações para ser eficaz.

4. Metodologia

A pesquisa, cujos resultados são apresentados neste trabalho, teve um caráter exploratório e qualitativo. Consistiu de três estudos de casos realizados em gráficas localizadas em Belo Horizonte/MG. Tal como destacam Cassel e Symon (1994), a abordagem da pesquisa qualitativa e exploratória se refere à utilização de métodos geralmente associados ao levantamento e à análise de um texto escrito ou falado, ou uma observação direta de um comportamento pessoal. No que tange aos estudos de casos, Yin (2005) explica que se caracterizam pela observação direta dos acontecimentos contemporâneos, dentro do contexto da vida real, sendo amplamente relevante quando os limites entre o fenômeno (teoria) e o contexto prático (real) ainda não estão bem definidos (delimitados).

Page 20: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

20

Inicialmente, foram pesquisados, em anais de congressos, sites de busca de teses e dissertações acadêmicas, e portais de base de dados (EBSCO e portal de periódicos da CAPES), trabalhos que versavam sobre o tema estudado. Destaca-se que, durante a pesquisa, foram utilizadas três técnicas para a coleta de dados: entrevistas semi-estruturadas, observação não participante e questionários. Segundo Hair et al. (2005), as entrevistas semi-estruturadas têm um planejamento relativamente aberto, em contraposição à entrevista estruturada (padronizada) ou questionário, que possuem um planejamento fechado. Por sua vez, na observação não participante, o pesquisador está fisicamente presente e monitora pessoalmente o que ocorre (FLICK, 2004).

As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas com um dos principais gestores responsável pela gestão de custos das empresas estudadas. No total, foram realizadas cinco entrevistas semi-estruturadas. Essas entrevistas tiveram como objetivos principais apreender em detalhes como a gestão de custos das empresas é realizada e os SI que subsidiam essa gestão. Por meio da observação não-participante, por sua vez, foi possível identificar as principais atividades que influenciam e dificultam relevantemente a gestão de custos nas gráficas. Já os questionários foram aplicados no intuito de atualizar alguns dados.

Os dados coletados, por meio das entrevistas, foram analisados qualitativamente com base na análise de conteúdo. A análise de conteúdo, tal como destacado por Bardin (2002), abrange as iniciativas de explicitação, sistematização e expressão do conteúdo de mensagens, objetivando efetuar deduções lógicas e justificadas a respeito da origem das referidas mensagens – seu emissor, seu contexto, assim como os efeitos que se pretende causar por meio delas. Ressalta-se, por fim, que ainda foi realizada uma triangulação de dados, no intuito de melhorar a confiabilidade dos dados coletados por meio das técnicas supracitadas. Para Yin (2005), a triangulação de dados consiste em utilizar diversos dados distintos sobre um determinado fenômeno, no intuito de ratificar os resultados encontrados.

5. Análise dos dados

5.1 Caracterização das EPEs estudadas

Segundo Rohl e Correia (1993), a indústria gráfica, foco deste trabalho, é um segmento que abrange as atividades de reprodução de informações, seja no formato de textos ou imagens, em meios estáticos ou substratos, incluindo também todas as atividades que estão relacionadas à essa reprodução, ou seja, criação, pré-impressão e acabamento. Esses autores afirmam que a produção característica desse tipo de indústria é a produção sob encomenda com pequenos prazos de entrega, característica esta que é determinante para que o mercado de atuação seja local, excetuando-se no caso de revistas, livros e outros produtos que envolvam maiores valores específicos.

A entidade de classe que representa as empresas formadoras do parque gráfico brasileiro é a Associação Brasileira da Indústria Gráfica (ABIGRAF). De acordo com dados da ABIGRAF, a primeira gráfica brasileira foi fundada em 1808 e, atualmente, esse setor possui mais de 19 mil empresas. É responsável por cerca de 200 mil empregos diretos e representa cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e 3,3% do PIB industrial. Em Minas Gerais, o número de gráficas associadas à ABIGRAF–MG é de 862, correspondendo a aproximadamente 4,4% do total das gráficas brasileiras.

Em Belo Horizonte, são 284 as gráficas associadas à ABIGRAF–MG, das quais foram estudadas três (1,06%). Com o objetivo de manter a confidencialidade dos dados, são utilizados pseudônimos para as gráficas estudadas: “Gráfica Alfa”, “Gráfica Beta” e “Gráfica Gama”. O Quadro 1 apresenta uma síntese das informações básicas sobre as gráficas

Page 21: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

21

estudadas.

Gráfica Fundação Número de funcionários Área de atuação

Alfa 1978 50 Região Metropolitana de Belo Horizonte e alguns

atendimentos no interior de Minas Gerais

Beta 1995 18 Região Metropolitana de Belo Horizonte

Gama 1995 34 Minas Gerais, com alguns atendimentos fora do

Estado e, às vezes, fora do Brasil.

QUADRO 1 – Síntese das principais informações das gráficas estudadas. Fonte: Elaborado pelos autores.

5.2 Gráfica Alfa

Fundada em 1978, a Gráfica Alfa iniciou suas atividades com a produção de clichê e, em seguida, começou a produzir fotolito para gráficas e alguns consumidores finais. Atualmente, essa gráfica não possui um setor de criação e apresenta o seguinte processo de produção: recebe o arquivo do cliente, faz o fotolito, imprime e realiza o acabamento. Assim, essa empresa realiza quaisquer tipos de impressões em papel, com exceção de notas fiscais. Ademais, de maneira geral, a empresa, que possui aproximadamente 50 funcionários, presta serviços principalmente na Região Metropolitana de Belo Horizonte e, em menor escala, no interior de Minas Gerais. Atualmente, de acordo com o gestor, no que diz respeito ao faturamento, a gráfica é uma empresa de médio porte e a situação financeira é boa. Para esse mesmo gestor, a competitividade do mercado é alta e crescente, tornando a concorrência cada vez maior. Com o intuito de se tornar mais competitiva e expandir suas atividades, o gestor afirma que a gráfica adquiriu mais uma máquina quatro cores e uma alciadeira de acabamento. Para consolidar a posição no mercado, pretende-se, ainda, fazer mais investimentos em maquinário.

A contabilidade da Gráfica Alfa é feita externamente e possui algum vínculo com a gestão de custos da gráfica. Dessa forma, observa-se que a Contabilidade presta informações sobre alterações nas despesas, margem de lucro ideal, dentre outras. Apesar disso, destaca-se que a gestão de custos na empresa é realizada por meio da utilização de um SI denominado GW, composto por um conjunto de módulos – Orçamento, Estoque e Financeiro – e bastante utilizado no mercado gráfico de Belo Horizonte. A metodologia de custeio que dá base a esse sistema é o RKW, que possui critérios específicos de rateio (parâmetros). Identificou-se que o processo de EC nessa gráfica é iniciado a partir do pedido do cliente. Os gestores responsáveis por esse processo avaliam as informações com base em critérios subjetivos, que são mais bem descritos adiante e, em seguida, registram as informações do pedido no sistema, que, automaticamente, mensura e fornece o custo do serviço.

No que diz respeito à AVC, verificou-se que, nessa gráfica, há um acompanhamento, durante a produção, dos custos fixos bem como do tempo de produtividade. Quando esses custos variam substancialmente, o proprietário corrige-os no sistema. Destarte, como não há um acompanhamento dos custos estimados e dos que ocorrem realmente durante a produção, os gestores da Gráfica Alfa não realizam efetivamente uma AVC. Destaca-se que todos os orçamentos feitos para os clientes são arquivados no sistema GW. Esses orçamentos são utilizados para futuras consultas, servindo como paradigmas. Constatou-se, entretanto, que as informações relacionadas a custos constantes nos orçamentos não são utilizadas como feedback para aprimorar processos decisórios futuros. Sendo assim, esses arquivos são consultados apenas para comparar a evolução do preço no tempo, com relação a anos ou meses anteriores.

O gestor da Gráfica Alfa diz não haver fatores qualitativos internos e externos que

Page 22: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

22

influenciam o processo de gestão de custos dessa empresa. Esse gestor afirmou que o custo do serviço é fornecido automaticamente e exclusivamente pelo sistema GW e que, em nenhuma situação, o preço é alterado. Dessa forma, não há influência de situações internas ou externas à empresa, as quais não são inseridas no referido sistema para o cálculo dos preços. Entretanto, por meio das informações coletadas na entrevista, observou-se que há fatores qualitativos que influenciam a gestão de custos dessa gráfica. Foram identificados os seguintes fatores internos: feeling, know-how e complexidade do trabalho. No aspecto externo, potencialidade de futuros negócios com clientes e possibilidade de negociação com o cliente e com o fornecedor foram os fatores identificados. Não foi possível estabelecer quais são os fatores mais importantes, de modo que todos esses fatores internos e externos parecem influenciar a gestão de custos dessa gráfica com a mesma intensidade.

Segundo o gestor entrevistado, as informações relacionadas a custos fornecidas pelo sistema GW são consideradas confiáveis, não demandando revisões ou alterações. O gestor considera o sistema como primordial para a gráfica e ainda afirma que há outros sistemas relacionados à gestão de custos de gráficas no mercado, mas que não pretende substituir o atual. Tal fato indica que há bom nível de satisfação dos usuários do referido sistema.

5.3 Gráfica Beta

A Gráfica Beta é uma empresa familiar que iniciou suas atividades em 1995. O proprietário está há 40 anos nesse mercado, e todos os diretores têm mais de 15 anos no mesmo. Atualmente, a gráfica conta com, aproximadamente, 18 funcionários e está apta a realizar todas as etapas de produção existentes no ramo gráfico (com exceção de formulário contínuo), ou seja, desde a confecção do impresso, incluindo a arte final, até a impressão final. Com relação ao mercado, a área de atuação de tal gráfica, no momento, se limita apenas à Região Metropolitana de Belo Horizonte. Atualmente, segundo um gestor, a gráfica, com relação ao faturamento, é uma empresa de médio porte e a situação financeira é estável. A gráfica trabalha apenas com máquinas monocolores, mas, visando ao crescimento, os gestores pretendem investir em novo maquinário, com a aquisição de uma máquina bicolor e de outros equipamentos mais avançados. Outra justificativa para essa expansão é que, segundo os gestores, os clientes estão inovando diariamente, forçando a gráfica também a se inovar, acompanhando a tecnologia e o mercado. De acordo com tais gestores, o atual mercado gráfico é extremamente competitivo e, nesse sentido, a gráfica procura inovar e fidelizar clientes por meio, primeiramente, do preço e da qualidade da prestação do serviço.

A contabilidade da Gráfica Beta também é feita externamente, e suas informações não são utilizadas para auxiliar na gestão de custos. Os gestores utilizam um SI computadorizado, baseado na metodologia de custeio RKW, específico para o setor gráfico, para dar apoio na gestão de custos. Nessa gráfica, os módulos Orçamento e Financeiro do sistema são integrados, e o módulo Estoque, no momento, não é utilizado. O sistema RKW possui parâmetros previamente configurados e as despesas e os custos identificados são inseridos no mesmo pelos gestores. Assim, o sistema é alimentado da seguinte maneira: o gerente de produção e comercial é responsável pela inserção dos dados relacionados a custos de produção, e a diretoria, pelos dados administrativos. Dessa forma, o processo de EC de um determinado serviço se inicia com o pedido do cliente, que é analisado pelos responsáveis com base em suas experiências. Em seguida, as informações são lançadas no sistema RKW, que mensura e fornece o custo do trabalho. O custo obtido por meio do sistema é analisado pelos gestores com base em fatores subjetivos, tendo em vista a adequação do custo tanto para a empresa como para o cliente.

No que tange à AVC, essa não é realizada na Gráfica Beta. Logo, os gestores não

Page 23: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

23

mensuram os custos efetivos dos serviços individualmente e também não avaliam as variações entre os custos estimados e os incorridos ao longo da produção, pois consideram que os custos são reais. Constatou-se que os dados históricos referentes às estimativas de custos de pedidos anteriores não são arquivados no sistema, mas, sim, em um arquivo-morto para auxiliar futuras pesquisas. Essas informações de custos não são utilizadas como feedback das ações gerenciais. Os gestores apenas utilizam o histórico para que, no caso de um cliente solicitar um serviço parecido com um pedido anterior, seja possível resgatar a estimativa realizada no passado. Portanto, nessa gráfica, as informações de custos não são utilizadas para dar suporte em processos decisórios futuros.

Alguns fatores qualitativos internos e externos foram identificados como influenciadores do processo de gestão de custos na Gráfica Beta. Os fatores internos citados pelo gerente entrevistado foram: a complexidade do projeto, o know-how, o conhecimento e a rentabilidade do serviço prestado. Dentre esses fatores, o mais importante é o know-how dos gestores, que é utilizado para assimilar o que o cliente quer, para definir o grau de dificuldade do trabalho, dentre outros aspectos. O único fator externo identificado, considerado como maior dificultador do processo de gestão de custos pelo gestor entrevistado, foi a concorrência.

Com relação às informações fornecidas pelo sistema, elas não são consideradas totalmente confiáveis, pois, de acordo com o gestor, cada trabalho tem um grau de dificuldade diferente. Assim, as informações de custos fornecidas sempre são analisadas no intuito de verificar se o sistema está coerente com o desejado. Segundo o gestor entrevistado, esse sistema é de fundamental importância para a gráfica, sendo considerado a alternativa mais adequada para estimação dos custos. Ressalta-se ainda que os usuários desse SI estão bastante satisfeitos.

5.4 Gráfica Gama

A Gráfica Gama, fundada em 1995, tinha suas atividades voltadas para a editoração eletrônica. Aproximadamente dois anos depois, a empresa mudou seu segmento para a impressão digital. Atualmente, a Gráfica Gama possui aproximadamente 34 funcionários e fabrica uma gama de produtos. Trabalha-se exclusivamente com impressão em diversos tipos de extrato (papel, tecido, cortiça, vidro, aço escovado, madeira, dentre outros), ou seja, não se faz arte, apenas se reproduz o pedido do cliente. A empresa presta serviço, em sua maior parte, para todo o Estado de Minas Gerais, existindo alguns atendimentos para o resto do Brasil e para o exterior. De acordo com o gestor, essa gráfica, com relação ao faturamento, é uma empresa de médio porte e tem a situação financeira estável. O gestor também afirmou que a competitividade no mercado gráfico é forte e crescente, de modo que a gráfica busca novas tecnologias para crescer e evoluir, tendo procurado novos equipamentos de acordo com a demanda do mercado.

A contabilidade da Gráfica Gama é feita externamente, e as informações geradas pela contabilidade têm influenciado a gestão de custos dessa gráfica. São utilizadas, na gestão de custos, as demonstrações de resultado e as informações a respeito de tributos que são geradas pela contabilidade. O processo de EC na Gráfica Gama mostra-se bastante complexo e subjetivo. Os serviços da empresa são bastante personalizados, o que faz com que os pedidos sejam avaliados individualmente por um dos gerentes. O gerente entrevistado apresentou um bom entendimento de conceitos, tais como: custos indiretos de setup e custo de oportunidade. Entretanto, a análise para a EC baseia-se, normalmente, apenas em aspectos práticos e operacionais. Segundo o entrevistado, a teoria de custos é muito vaga e os aspectos pragmáticos influenciam relevantemente aspectos operacionais de caráter fundamental da

Page 24: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

24

empresa. Nesse sentido, a EC dos gestores é focada primordialmente nos custos da matéria-prima e de alguns insumos indexados em moeda estrangeira e é balanceada por alguns fatores qualitativos discutidos adiante. Há o uso de planilhas de MS-Excel® para acompanhar os custos das máquinas; entretanto, as mesmas não são utilizadas efetivamente durante a EC. Uma grande dificuldade durante a EC apresentada pelo entrevistado é o fato de o volume de produção variar ao longo do ano, dificultando a alocação dos custos fixos.

Com relação à AVC, percebe-se que, no período entre a estimativa e o aceite do cliente, há um acompanhamento dos custos. Destaca-se, entretanto, que, usualmente, não é mais possível renegociar preços com clientes. Constata-se, nesse sentido, que não é realizado um controle dos custos estimados e reais durante o processo de produção, e conclui-se que a Gráfica Gama não faz uma efetiva AVC. Como não é realizado um efetivo controle dos custos, os gestores não têm informações de custos para subsidiar processos decisórios futuros, tais como a EC. Não é realizado, ainda, um registro dos custos estimados, o que poderia auxiliar, apesar das restrições, uma análise dos custos a posteriori. Dessa forma, verificou-se que as informações de custos são usadas de forma incipiente e não permitem um feedback à gerência da Gráfica Gama, um relevante entrave ao aprimoramento.

Vale ressaltar que, atualmente, a gráfica está entrando em um processo de mudança da gestão de custos no intuito de apurar os custos de produção com maior precisão. Estão sendo implantados controles dos custos de aquisição e utilização dos materiais na produção e também controles dos custos fixos da empresa. Tal mudança está ocorrendo com o intuito de promover uma formalização e padronização da gestão de custos.

Nessa gráfica, foram identificados fatores qualitativos que influenciam a gestão de custos. Como fatores internos, citam-se: feeling, know-how, o risco de quebra de máquinas e a programação da produção. Todos parecem influenciar homogeneamente a gestão de custos da empresa. Como fatores externos, destacam-se: o tempo de entrega estabelecido pelo cliente e a taxa de câmbio. Esse último fator é de extrema relevância na gestão de custos, influenciando a lucratividade ou não de pedidos. Constatou-se que, nessa gráfica, tais fatores qualitativos exercem um papel crucial na gestão de custos, já que não há a utilização de nenhum método de custeio específico para auxiliar em tal gestão.

No que diz respeito ao SI, além da utilização do MS-Excel® na gestão de custos, tal como destacado anteriormente, outro SI é utilizado na Gráfica Gama. Entretanto, sua influência na gestão de custos é praticamente irrelevante, sendo que o gestor não entrou em detalhes acerca do mesmo. Não foi possível estabelecer o grau de confiança ou de satisfação dos gestores com relação a tais ferramentas, dada a pouca importância dessas para a gestão de custos. Visto que há uma lacuna na gestão de custos como um todo, o feeling e o know-how dos gestores têm um papel essencial, cobrindo tal lacuna existente.

6. Discussão dos resultados

Os gestores das gráficas estudadas consideram o mercado em que atuam bastante competitivo. Como resposta a esse ambiente hostil, eles pretendem aumentar as suas atuações por meio de estratégias similares. Percebeu-se que as empresas estudadas investem ou pretendem investir em novo maquinário. Particularmente os gestores da Gráfica Alfa pretendem adquirir uma nova máquina dentro de dois anos e os gestores da Gráfica Beta intentam adquirir uma máquina bicolor e equipamentos mais avançados, além de procurar fidelizar clientes principalmente através do preço e da qualidade do serviço. Por sua vez, os gestores da Gráfica Gama estão em busca de novas tecnologias.

Os gestores das gráficas Alfa e Beta utilizam SI computadorizados, que, com base na

Page 25: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

25

metodologia RKW, subsidiam com dados tais gestores na EC. Em ambas, esse processo se inicia com o pedido do cliente, que é analisado e cujos parâmetros são lançados nesse sistema, que, em seguida, gera o custo do serviço solicitado. O que difere entre essas gráficas é o modo como interpretam o custo gerado. Em Beta, os gestores avaliam o custo gerado considerando fatores qualitativos internos e externos. Em Alfa, diferentemente, os gestores confiam totalmente nos custos gerados pelo sistema. Já na Gráfica Gama, verificou-se um processo de EC distinto: não se utiliza nenhum método de custeio específico, sendo que os gestores avaliam apenas alguns custos diretos na tomada de decisão, levando-se em consideração principalmente fatores qualitativos.

A utilização do sistema RKW por duas gráficas apresenta resultados satisfatórios até o momento, segundo os gestores entrevistados. Contudo, esse sistema possui alguns pontos fracos: rateia de forma arbitrária os diversos custos indiretos da empresa, impedindo-a, de forma geral, de possuir custos competitivos. Dada a utilização da metodologia de custeio RKW, aplica-se, nesse sistema, quando da formação do preço, uma mesma porcentagem de lucro (mesma taxa). Assim, não se reconhece que cada produto ou serviço pode gerar diferentes lucros. Outro aspecto é que o RKW não considera a concorrência: dado que os gestores consideram o mercado gráfico muito competitivo, esse fator desconsiderado pelo método RKW parece ser crucial para uma boa gestão de custos nesse ramo. Entretanto, o fato de a utilização do sistema RKW ser intensiva no ramo gráfico parece colaborar para que os concorrentes de ambas as empresas apresentem preços similares. Esse fato pode, assim, ser visto não como uma ferramenta de diferenciação, mas como um dos requisitos para que essas gráficas se mantenham no mercado. Nesse sentido, a potencial utilização de outras ferramentas gerencias, tal como o ABC, poderia aumentar a competitividade dessas empresas. No caso dos gestores da Gráfica Gama, todavia, parece existir uma EC de forma bastante subjetiva e não formalizada, baseada em vagas referências técnicas. Tal fato faz com que esse processo nessa empresa seja algo bastante específico de um determinado estimador, impedindo a socialização do conhecimento.

Verificou-se que, em nenhuma das empresas estudadas, há um controle efetivo dos custos durante sua produção. Esse controle seria a avaliação entre as diferenças existentes entre os custos estimados e os custos reais (AVC). Os gestores das gráficas estudadas na pesquisa não acreditam que tal informação seja de fato relevante, tal como indicado na literatura, ou crêem que os custos de um controle desse tipo sejam bastante altos, não sendo compensados pelos benefícios da informação. Contudo, deve-se deixar claro que nenhum dos profissionais entrevistados tentou mensurar de alguma forma esses benefícios ou esses custos.

O fato de não controlarem seus custos durante o processo produtivo e de não registrarem e analisarem as variações entre os custos estimados e reais restringe, de forma significativa, o feedback das informações de custos. Cumpre salientar que, segundo Hamilton (2004), essa informação é bastante relevante: com base nas informações de custos advindas da produção, os gestores poderiam, por exemplo, elaborar modelos cada vez mais aprimorados de EC, possibilitando resultados possivelmente melhores para suas empresas. Em todas as gráficas estudadas, os gestores mantêm registros das informações de custos estimados, mas não utilizam tais informações para subsidiar processos decisórios futuros: empregam-nas apenas para acompanhamento da evolução do preço ou para consultar antigos orçamentos quando o pedido atual do cliente é semelhante com um passado. A falta da utilização de dados empíricos (mais especificamente, dos dados relacionados aos custos ocorridos) parece desacreditar grande parte das decisões dos gestores nas gráficas estudadas, pois, provavelmente, pode acontecer um enviesamento do processo decisório futuro.

Page 26: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

26

Nas gráficas estudadas, foram identificados alguns fatores qualitativos internos e externos que influenciam o processo de gestão de custos. Constatou-se que os fatores internos feeling e know-how estão presentes nas três gráficas. Com relação aos fatores internos particulares de cada gráfica, concluiu-se que Alfa apresentou complexidade do trabalho, Beta apresentou a complexidade do projeto e a rentabilidade do serviço prestado e Gama apresentou o risco de quebra de máquinas e a programação da produção. Dentre esses fatores, Beta diz ser o know-how o fator mais importante, sendo que, para Gama, todos os seus fatores são importantes. Já com relação à Alfa, não foi possível identificar prioridades de fatores.

Com relação aos fatores externos influenciadores do processo de gestão de custos, cada gráfica apresentou fatores particulares. Observou-se em Alfa a potencialidade de futuros negócios com clientes e a possibilidade de negociação com o cliente e com o fornecedor. Por outro lado, Beta destacou unicamente a concorrência, e Gama leva em consideração o tempo de entrega estabelecido pelo cliente e a taxa de câmbio, dando maior importância para o último. Destaca-se que os gestores de Alfa afirmaram não levar em consideração fatores qualitativos quando da gestão de custos. Entretanto, por meio da análise das informações disponibilizadas por esses gestores, percebeu-se que há, sim, fatores.

Para auxiliar na gestão de custos, as gráficas Alfa e Beta utilizam SI em seus processos decisórios. Os gestores da Gráfica Alfa consideram que as informações geradas pelo sistema utilizado são fidedignas e confiáveis, razão pela qual esses gestores não se utilizam de outras variáveis para a gestão de custos. Por outro lado, os tomadores de decisões da gráfica Beta não consideram que as informações geradas pelo sistema sejam confiáveis. Desse modo, esses gestores realizam uma avaliação das informações com base em fatores subjetivos.

Destaca-se que os gestores das gráficas Alfa e Beta estão satisfeitos com os sistemas empregados, não pretendendo substituí-los. Apesar disso, afirmaram que esses sistemas normalmente são utilizados pela maioria dos concorrentes. Nesse sentido, observa-se que essa utilização pode ser entendida como um requisito para a permanência dessas duas gráficas no mercado, e não como uma vantagem competitiva. A Gráfica Gama, por sua vez, utiliza-se de planilhas de MS-Excel® (unicamente para acompanhar os custos de seu maquinário) e um SI que praticamente não influencia sua gestão de custos. Percebe-se, por conseguinte, que ambas as ferramentas não são utilizadas para auxiliar a gestão dos custos de tal gráfica, o que explica a grande importância dos fatores qualitativos para cobrir a lacuna existente no que diz respeito à EC.

7. Conclusões

Este trabalho apresentou os resultados de uma pesquisa que objetivou (i) descrever e discutir a gestão de custos em três EPEs de médio porte do setor gráfico, além de (ii) identificar os fatores qualitativos que influenciam a gestão de custos e (iii) analisar os SI utilizados pelos gestores para auxiliar a tomada de decisão durante esse processo. Diversas constatações relevantes foram observadas neste estudo, as quais demonstram a utilidade de pesquisas que abordem a temática da gestão de custos em EPEs, notadamente em gráficas.

Por meio do estudo realizado, conclui-se que, mesmo estando em um ambiente altamente competitivo, as gráficas não realizam todos os três processos que envolvem a gestão de custos segundo Hamilton (2004), quais sejam: EC, AVC e feedback das informações de custos. Como essas gráficas realizam apenas o processo de EC, observa-se que elas não utilizam informações que poderiam possibilitar o aprimoramento dos processos decisórios futuros, uma vez que não realizam os outros dois processos – no caso, o acompanhamento dos custos estimados e incorridos (AVC) e um registro desses custos para

Page 27: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

27

serem utilizados como suporte em decisões gerenciais futuras (feedback).

Conclui-se, ainda, que há fatores qualitativos que influenciam o complexo processo de gestão de custos dessas gráficas. Assim, identificaram-se fatores externos que são pouco ou não são controlados pelos gestores e que influenciam fortemente o processo de gestão de custos, como a concorrência e a taxa de câmbio. Também foram identificados fatores internos que sofrem algum grau de controle por parte dos gestores, como o feeling e o know-how. Como os gestores da Gráfica Gama priorizam os fatores qualitativos em detrimento de uma metodologia específica de custeio, tais fatores parecem impedir inovações que objetivem aperfeiçoar o processo de gestão de custos nessa gráfica.

Além disso, pode-se concluir que duas das gráficas utilizam SI específicos para dar suporte ao processo de gestão de custos. O sistema utilizado para dar suporte, principalmente, ao processo de EC, é muito comum no setor gráfico, o que leva à conclusão de que a utilização de tal sistema é um pré-requisito para tais gráficas se manterem no mercado, e não uma ferramenta de diferenciação e vantagem competitiva. Os gestores estão satisfeitos com tal sistema, mesmo este se baseando na metodologia de custeio RKW, a qual tem apresentado algumas desvantagens que parecem ser cruciais para o ramo gráfico. Por conseguinte, a utilização de outras ferramentas gerencias em apoio às que são atualmente utilizadas pelas gráficas poderia proporcionar custos mais competitivos a essas empresas.

Destacam-se, por fim, as limitações da pesquisa ora apresentada, as quais comprometem, pelo menos em parte, a generalização de alguns resultados encontrados em uma abordagem indutiva. Primeiramente, o fato de serem estudadas apenas três gráficas de uma mesma região e mesmo porte. Além disso, o estudo realizado não levou em consideração a situação financeira das gráficas estudadas. Assim, estudos futuros poderiam explorar com maior profundidade o tema abordado neste trabalho, como exemplo, investigando gráficas com situações financeiras. Além disso, sugere-se o aumento da amostra de empresas estudadas para que se possa verificar se os resultados aqui apresentados se confirmam em outras empresas.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA GRÁFICA – Regional Minas Gerais (ABIGRAF – MG). Disponível em: <http://www2.abigrafmg.com.br>. Acesso em: 06 jun. 2008.

ATKINSON, A. A.; KAPLAN, R. S.; BANKER, R. D.; YOUNG, S. M. Contabilidade gerencial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

BACKES, R. G; KUHN, C. M. S; PERLEBERG, C. R; DALBEN, L. C; ALBERTI, J. A; WIEST, L. Aplicação do método de custeio RKW em uma cooperativa agrícola. Custos e @gronegócio on line, Recife, v. 3 – Edição Especial, Maio 2007. Disponível em: <http://www.custoseagronegocioonline.com.br/especialv3/RKW.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2008.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002.

BASTOS, J. S. Y. Inteligência competitiva: a necessidade de uma prática ética. In: KM BRASIL, 2003, São Paulo. Anais... Disponível em: <http://www.netic.com.br/docs/publicacoes/pub0001.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2008.

BERTO, A. R. Estimação de custos da atividade de importação: estudos de casos em empresas do Estado do

Paraná. 2004. 265 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2004.

BORNIA, A. C. Mensuração das perdas dos processos produtivos: uma abordagem metodológica de controle

interno. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção), Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis 1995.

BRANDÃO, H.P.; GUIMARÃES, T. A. Gestão de competências e gestão de desempenho: tecnologias distintas

Page 28: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

28

ou instrumentos de um mesmo construto? In: XII ENCONTRO NACIONAL DA ANPAD, 1999, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu, 1999. CD-ROM.

CAMPOS, R.L. O capital intelectual e o processo de estimação de custos e formação de preços em empresas de

produção por encomenda. 152 f. Dissertação (Mestrado Administração) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte, 2003.

CASSEL, C.; SYMON, G. Qualitative research in work contexts. In: CASSEL, C.; SYMON, G. Qualitative methods in organizational research: a practical guide. California: Sage Publications Inc., 1994. p. 3-5.

COOPER, R; SLAGMULDER, R. Achieving full-cycle cost management. MIT Sloam Management Review, v. 46, n. 1, p. 45-52, 2004.

CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de Produção e Operações – Manufatura e Serviços: uma abordagem estratégica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 690 p.

DIEHL, C. A.; SOUZA, M. A. Um Estudo sobre as publicações acerca do Custeio Baseado em Atividades (ABC) no Congresso Brasileiro de Custos – de 1997 à 2006. In: XIV CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 2007, João Pessoa. Anais... João Pessoa, 2007. CD-ROM.

EIDT, J. Gestão de custos em indústrias do setor moveleiro estabelecidas no Oeste de Santa Catarina: um estudo multicasos. 233 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, Universidade Regional de Blumenau – FURB, Blumenau, 2006.

FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2004.

HAIR JR, J. F.; BABIN, B.; MONEY, A. H.; SAMOUEL, P. Fundamentos de pesquisa em administração. Porto Alegre: Bookman, 2005.

HAMILTON, D. R. Cost management. AACE International Transactions. Morgantown, p. CSC12.1-12, 2004.

HANSEN, D. R.; MOWEN, M. M. Cost management. Mason, Ohio: Thomson/South-Western, 2006.

HEITGER, L.; OGAN, P.; MATULICH, S. Cost Accounting Cincinnati. South-Western Publishing Co, 1992.

HORNGREN, C. T.; FOSTER, G.; DATAR, S. M. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, c2004.

KAPLAN, R. S.; COOPER, R. Custo e desempenho: administre seus custos para ser mais competitivo. São Paulo: Futura, 1998.

KINGSMAN, B. G.; HENDRY, L. C. The relative contributions of input and output controls on the performance of a workload control system in make-to-order companies. Production Planinng and Control, v. 46, n. 7, p. 579-590, 2002.

MAHER, M. Contabilidade de custos: criando valor para a administração. São Paulo: Atlas, 2001.

MEGLIORINI, E. Análise crítica dos conceitos de mensuração utilizados por empresas brasileiras produtoras

de bens de capital sob encomenda. 213 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, 2003.

MISHRA, B.; VAYSMAN, I. Cost-system choice and incentives – traditional vs. activity-based costing. Journal

of Accounting Research, Chicago, v. 39, n. 3, p. 619-641, dez. 2001.

NACHTAMANN, H.; NEEDY, K.L. Fuzzy activity based costing: a methodology for handling uncertainty in activity based costing systems. The Engineering Economist, v. 46, n. 4, p. 245-273, 2001.

PALOMINO, R. Um modelo para o planejamento e a programação da produção em ambientes job shop

baseado em redes de Petri. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina. 2001.

PEREZ JR, J. H.; OLIVEIRA, L. M.; COSTA, R. G. Gestão estratégica de custos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

ROHL, P.; CORREIA, P. Estudo da competitividade da indústria brasileira. Competitividade da indústria

gráfica. Campinas: 1993, MCT/FINEP/PADCT. Disponível em: <htp://www.mct.gov.br/publi/compet/ntc_graf.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2008.

ROMÃO, J. D. Proposta de precificação de serviço público. 2007. 118 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo – USP, São Carlos, 2007.

SOUZA, A. A.; NOVELI, M.; MINELLO, I. F.; ENDRICI, J. O. M.; AVELAR, E. A. Análise de sistemas de

Page 29: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

informações utilizados como suporte para os processos de estimação de custos e formação de preços. ABCustos

Associação Brasileira de Custos, São Leopoldo, v. 1, n. 1, set./dez. 2006.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

ZACCARELLI, S. B. Programação e controle da produção. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1979.

Page 30: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

30

Aplicação da filosofia Lean Construction para o gerenciamento de obras no município de Itaperuna-RJ

André Raeli Gomes (FacRedentor) [email protected] Silvio Figueiredo Gomes Júnior (FacRedentor) [email protected]

Resumo: A construção civil no Brasil encontra-se hoje com um relativo atraso tecnológico

quando comparado a outros setores produtivos da país. Peculiaridades inerentes ao setor

fazem com que a modernização do mesmo seja um desafio para os acadêmicos e

responsáveis. Por se tratar de uma indústria muito tradicional e antiga, apresenta muita

resistência a mudanças. Mesmo suas técnicas tendo se mostrado ineficazes durante os anos

ainda encontra-se no ramo muita improvisação, quanto a planejamento e gerenciamento, o

que leva a uma situação de grande desperdício de materiais, de mão-de-obra, e baixa

produtividade. A Lean Construction (Construção Enxuta) pretende suprir as necessidades do

ramo, no que diz respeito à redução do desperdício, aumento da produtividade e da

qualidade das obras de engenharia. Este trabalho apresenta as atividades desenvolvidas em

uma empresa de construção civil no município de Itaperuna-RJ, bucando implementar a

filosofia Lean Construction, buscando melhorar seu processo produtivo.

Palavras-chave: Planejamento; Gerenciamento; Produtividade; Lean Construction.

1. Introdução

Na construção civil são precárias as condições para o gerenciamento de projetos e obras. É atribuído à falta de um gerenciamento adequado o atraso do ramo da construção civil em relação a outros segmentos do setor produtivo. Os pesquisadores encontram imensas dificuldades para apresentar as adaptações necessárias às teorias e para disseminar novos conceitos, de forma a prover o meio da construção civil com os instrumentos práticos para a implantação de uma nova filosofia de produção.

O gerenciamento de projetos é uma das áreas mais abandonadas na construção civil Poubel et. al. (2001) afirmam que a produtividade na construção civil pode ser melhorada através de um conjunto de modificações estruturais, tecnológicas, organizacionais, motivações psicológicas e das condições de trabalho. Desta forma, racionalizar a construção é um processo de produção, substituindo práticas rotineiras convencionais por processos sistematizados.

O planejamento de projetos de construção envolve o conceito de multiplicidade. O planejamento é muito mais do que um mero processo de tomada de decisões e deve ser visto como uma antecipação às ações de gerenciamento. O planejamento é um processo hierárquico, desenvolvido a partir de uma linha geral de objetivos que permitam viabilizar os meios e as obrigações necessários para a consecução e um roteiro detalhado de ações. Nelas estão incluídas partes ou toda a cadeia de atividades, compreendendo informações (busca e análise) e desenvolvimento, análise e avaliação de alternativas.

Para Faniran et. al. (1994), a Lean Production (Produção Enxuta) enfatiza a máxima efetividade de um processo de produção, ao mesmo tempo que procura a máxima eficiência do processo. Para atingir este patamar de eficácia e eficiência, devem-se usar ferramentas adequadas para o gerenciamento da construção. Uma ferramenta adequada deve satisfazer às necessidades do planejamento, ou seja, ser adequada ao tipo de projeto que pretende

Page 31: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

31

programar deve maximizar a utilização dos recursos e deve ser capaz de detectar as incertezas e apontar as causas dos problemas. Algumas aplicações desta metodologia podem ser encontradas em Klippel et, al. (2008), Mao e Zhang (2008), Sacks e Godin (2007) e Sacks et. al. (2007).

Embora tenha havido grande avanço no desenvolvimento de métodos de planejamento, ainda assim existe muita dificuldade em se alcançar a melhoria da eficiência do processo de construção (COHENCA et. al, 1989, FANIRAN et. al., 1997). Em vista disso, pesquisadores começaram a enfocar seus esforços de pesquisa no processo de planejamento de construções, em lugar de somente trabalhar em técnicas para melhorar a efetividade da execução. Estas pesquisas foram direcionadas principalmente para identificar meios de melhorar a eficiência do processo de planejamento da construção, de forma que os objetivos do cliente possam ser alcançados.

Um exemplo de ações nessa linha de pesquisa vem com adaptações dos conceitos de Lean Production para a área da construção. O gerenciamento efetivo do processo de produção deve se voltar para as atividades de conversão, pois são elas que efetivamente agregam valor ao produto, concentrando, no entanto, esforços na otimização dos fluxos, já que nessas atividades podem ocorrer perdas (KOSKELA, 1992).

Souza et. al. (1995) propõem o enfoque sistêmico em qualidade dentro das organizações. A qualidade no gerenciamento e execução de obras implica em ações formais no recebimento de materiais e equipamentos, na execução dos serviços por meio de planos de ataque, de suprimentos e físico-financeiros. O maior detalhamento dos procedimentos de execução e de inspeção é condição essencial para a qualidade dos processos de planejamento.

2. Planejamento e Controle da Produção (PCP)

2.1 Sistemática Last Planner

Last Planner é um método de gerenciamento de projetos desenvolvido para enfrentar as situações encontradas na execução e controle da construção civil e tem sido desenvolvido desde 1992. O método tem surgido de maneira indutiva através de uma série de experiências industriais (BALLARD e HOWELL, 1998; BALLARD, 2000, COSTA et. al., 2007).

2.2 PCP em empresas da construção civil

2.2.1 Planejamento de longo prazo

O planejamento de longo prazo consiste no primeiro planejamento a nível tático. Tem como principal produto o plano mestre (master plan). Neste nível são definidos os ritmos em que deverão ser executados os principais processos de produção. Em conjunto com os dados do orçamento, ritmo define um fluxo de despesas que deve ser compatível com o estudo de viabilidade, realizado ainda na fase do planejamento estratégico do empreendimento. (Formoso, 2000).

O processo de planejamento e controle da produção facilita a implamentação dos princípios de Lean Production, na medida em que se busca reduzir atividades de movimentação, inspeção e espera, bem como aquelas atividades que consomem tempo, mas não agragam valor ao cliente final.

As informações contidas no plano de longo prazo serão difundidas nos diversos departamentos envolvidos com a execução da obra, como a própria gerência da obra, os responsáveis também serve para orientar o planejamento de médio prazo e a programação de recursos de compra ou aluguel de equipamentos e contratação de funcionários.

Page 32: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

32

Os prazos que constam no plano de longo prazo são essenciais para a preparação do plano de médio prazo. Nesse nível as informações coletadas serão os percentuais de atividades atrasadas, no prazo e adiantadas.

Outra importante decisão, relacionada a esse nível de planejamento, trata da definição da estratégia de ataque à obra. Através deste estudo, é estabelecido o sequenciamento das atividades, eliminando-se possíveis interferência entre equipes e propiciando-se a melhoria dos fluxos de materiais e mão-de-obra dentro do canteiro. (KUREK, 2005).

2.2.2 Planejamento de médio prazo

O planejamento de méido prazo constitui-se num segundo nível de planejamento tático, que faz a vinculação entre o plano mestre e os planos operacionais. Neste nível, o planejamento tende a ser móvel, sendo, por esta razão, denominado de look ahead planning

(planejamento olhado para frente). Os serviços definidos no plano mestre são detalhados e segmentados nos lotes em que deverão ser executados, de acordo com o zoneamento estabelecido. (FORMOSO, 2000).

Seundo Ballard (1997), o plano de médio prazo pode servir a outros propósitos listados a seguir:

a) Modelar o fluxo de trabalho, na melhor sequência possível, de forma a facilitar o cumprimento dos objetivos do empreendimento;

b) Facilitar a identificação da carga de trabalho e dos recursos necessários, que atendam ao fluxo de trabalho estabelecido;

c) Ajustar os recursos disponíveis ao fluxo de trabalho definido;

d) Possibilitar que trabalhos interdependentes possam ser agrupados de forma que o método de trabalho seja planejado de maneira conjunta;

e) Auxiliar na identificação de operações que podem ser executadas de maneira conjunta entre as diferentes equipes de produção;

f) Identificar o estoque de pacotes de trabalho designados às equipes de produção.

O plano de médio prazo típico possui um horizonte de quatro semanas, contadas a partir da segunda semana, pois a primeira corresponde ao horizonte e compreendido pelo plano de curto prazo (BERNARDES, 2003).

Cada atividade desse plano será submetida a uma análise de restrições. A responsabilidade pela realização desse nível de planejamento é a gerência da obra, a partir da qual são produzidos os planos e a programaçao de recursos, da necessidade de verificação de estoques e análises de projetos.

2.2.3 Planejamento de curto prazo

O planejamento de curto prazo ou operacional tem o papel de orientar diretamente a execução da obra. Em geral, é realizado em ciclos semanais, sendo caracterizado pela atribuição de recursos físicos (mão-de-obra, equipamentos e ferramentas) às atividades programadas no plano de médio prazo, bem como o fracionamento dessas atividades em pacotes menores, denominados tarefas. Em obas muita rápidas ou nas quais existem muita incerteza associada ao processo de produção (por exemplo, reformas) o ciclo de planejamento de curto prazo pode ser diário. (FORMOSO, 2000).

Assim, o plano de curto prazo consiste nas metas da primeira semana do plano de médio prazo, após a devida análise. O horizonte de planejamento é de uma semana, e detalha

Page 33: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

33

diariamente as tarefas a serem executadas. Outra fonte de informação é o plano de curto prazo da última semana de trabalho, pois as parcelas de atividades, não executadas na semana anterior, deverão entrar no próximo plano de curto prazo. São avaliados os problemas ocorridos no período anterior e tomadas as medidas cabíbeis. Em seguida, é efetuado o dimensionamento das equipes, os últimos ajustes no sequenciamento das tarefas e a verificação da disponibilidade dos recursos.

A responsabilidade pela elaboração desse nível de planejamento é compartilhada entre a gerência da obra e os chefes de equipe de produção. A difusão da informação segue para a obra, para as equipes de produção e para os responsáveis pela compra e aquisição de materiais, de forma que haja tempo hábil para repor os estoques no prazo previsto. O campo de preenchimento mais importante dessa planilha é a causa dos problemas, quando não são executados os pacotes de trabalho. Essa informação possibilita ações preventivas para os próximos planos.

3. Metodologia do trabalho realizado

Este artigo descreve as atividades realizadas junto à obra de um edifício residencial multifamiliar com 17 (dezessete) pavimentos projetados sobre um terreno de 544,80 m², e cuja área total de construção é de 8.595,40 m² composto de portaria – garagem; mais 05 (cinco) pavimentos de garagem; 11 (onze) pavimento tipo, sendo 4 (quatro) apartamentos por andar, de uma empresa de construção civil na cidade de Itaperuna, Estado do Rio de Janeiro, para a introdução da filosofia Lean Construction ao seu processo produtivo.

Em um estágio inicial do trabalho, foram realizados estudos na empresa e na obra, buscando identificar sua estrutura administrativa e os processos produtivos utilizados. Em seguido, apresentação à empresa dos conceitos e das ferramentas sobre tema Lean

Construction e, finalmente, propor atividades e processos buscando a racionalização do processo construtivo, buscando implementar os princípios de Lean Construction, listados a seguir:

a) Estabilizar o fluxo de material e informação; b) Melhorar os processos construtivos; c) Produzir o necessário, quando necessário (just-in-time); e d) Otimização da mão-de-obra, reduzindo os tempos de ociosidade. Desta forma, o estudo seguiu as seguintes fases:

3.1 Fases I, II e III

O desenvolvimento da pesquisa segue os parâmetros do trabalho desenvolvido por Kurek (2005) o qual é dividido em três fases: - a Fase I, exploratória, com a identificação da empresa, para o estudo e observação direta no canteiro de obras e para a descrição de seus processos; - a Fase II, a apresentação dos princípios de Lean Construction, e análise in loco; - e a Fase III, implementação, a avaliação e discussão dos resultados e uma proposta de diagnóstico para empresas construtoras. 4. Apresentação dos princípios da construção enxuta à empresa e propostas

Koskela (1992) apresenta um conjunto de princípios para gestão de processos que visam benefícios ao sistema de produção através de modificações tecnológicas simples. Assim, os onze princípios da metodologia e sua devida aplicação são listados e descrita sua implantação, e foram apresentados à empresa em análise:

Page 34: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

34

4.1 Redução da parcela de atividades que não agregam valor

O canteiro de obras é o local no qual se dispõem todos os recursos de produção (mão-de-obra, materiais e equipamentos), organizados e distribuídos de forma a apoiar e a realizar os trabalhos de construção, observando os requisitos de gestão, racionalização, produtividade e segurança/conforto dos operários.

Através de observação direta percebeu-se na obra a necessidade de um melhor arranjo físico do canteiro, que minimize as distâncias entre os locais de descarga de materiais, almoxarifado e seu respectivo local de aplicação (figura 1).

Figura 1 – Almoxarifado da obra em estudo

Sendo assim, a solução proposta é introduzir uma logística interna, para minimizar as distâncias entre os materiais, equipamentos e o local de utilização, diminuindo assim as atividades de fluxo, que não agregam valor ao produto (Figura 2).

Figura 2 - Layout atual (canteiro de obras antes da identificação do princípio) e exemplo de layout para armazenamento e melhoria do fluxo de materiais. Fonte: Kurek (2005).

4.2 Aumentar o valor do produto através das considerações dos clientes

Considerando-se clientes internos os trabalhadores da empresa, principalmente os que realizarão a próxima tarefa respectivamente, e clientes externos as pessoas que adquirem os imóveis. Propõem-se a definição de tolerâncias de aceitação dos serviços, para que possam ser liberados para a próxima etapa, ou seja, o próximo cliente interno.

Quanto à consideração dos clientes externos a proposta é a realização de reuniões de planejamento da obra, a qual deve garantir a conclusão da obra no prazo previsto e acordado

Page 35: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

35

com o cliente como também a possibilidade do cliente definir acabamentos no imóvel (que já ocorre parcialmente atualmente). Em relação a estas reuniões, não houve tempo hábil, até agora, para sua realização.

4.3 Reduzir a variabilidade

Padronização dos processos de execução de serviços e recebimento de materiais, com inspeções no momento do recebimento.

Inspeção das variabilidades nas dimensões dos blocos cerâmicos, especificações da ferragem recebida, conservação dos sacos de cal e cimento, etc.

Neste momento, na obra em estudo, os materiais que chegam para a estocagem (figura 3) são checados pelo estagiário, sendo que o mesmo também faz a quantificação e posterior encomenda dos mesmos quando necessário.

Figura 3 – Estocagem de material na obra em estudo.

4.4 Redução do tempo de ciclo

Pretende-se reduzir o tempo envolvendo processamento, inspeção, espera e movimentação de uma atividade, reduzindo assim as atividades que não agregam valor num determinado ciclo. Utilizar informações do planejamento de longo prazo, possibilitando sincronizar as atividades e o planejamento de médio prazo para uma melhor visualização dos trabalhos para as equipes.

4.5 Simplificação pela minimização do número de passos e partes

Concentração de trabalhadores no mesmo posto de trabalho. Com o PCP, monitorar e controlar atividades de trabalho em uma mesma zona, por exemplo, pedreiros, que executam reboco, concentrando-se em um mesmo pavimento, reduz assim o número de trabalhadores serventes para auxiliá-los.

4.6 Aumento da flexibilidade na execução do produto

Esse conceito está vinculado ao processo de gerar valor ao produto, possibilitando mudanças rápidas no mesmo, para satisfazer as exigências do consumidor. Com a utilização de um sistema construtivo, utilizando laje plana, é possível a mudança de layout dos apartamentos, sem a preocupação com a localização de vigas, tornando o produto flexível a mudanças. Este princípio não pode ser aplicado para o caso da empresa em estudo neste trabalho, pois quando iniciado o estudo in loco a obra já estava em estágio de revestimento.

Page 36: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

36

4.7 Aumento da transparência

Para este caso propôs-se: Implantação do programa 5S, que é um método para organizar o espaço de trabalho, especialmente o espaço compartilhado (como a área de uma loja ou um escritório), mantendo-o organizado. Assim, deve-se dividir o canteiro em áreas e aplicar os cinco “sensos” (Utilização, Ordenação, Limpeza, Disciplina e Asseio), devido à carência na obra em questão de uma melhoria no ambiente de trabalho como mostra a figura 4.

Figura 4 – Ambientes distintos de trabalho na obra analisada

- Ainda, a criação de valor, tal como utilização do tapume, como gerador de imagem positiva da empresa, junto a consumidores e clientes em potencial, como apresentado na figura 5.

Figura 5 – Tapume da obra analisada e exemplo de tapume. Fonte: Kurek (2005).

Outras medidas citadas são:

- Implantação de dispositivos de visualização e comunicação no canteiro, como um mural, para divulgação de prazos, metas e a perspectiva da edificação.

- Tubo-fone para a comunicação entre o guincheiro e os trabalhadores dos pavimentos superiores. A comunicação com os pavimentos superiores é feita por rádio, porém o mesmo só se encontra no primeiro e no último pavimento, e em geral qualquer informação ou ordem que deva ser transmitida a funcionários em quaisquer pavimentos é dada pelo estagiário, que tem que ir de apartamento em apartamento se necessário.

- Identificação de local de armazenamento de matérias, com instruções sobre os empilhamentos máximos de sacos de cimento e cal.

Page 37: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

37

4.8 Focar o controle no processo global

Formação de parcerias com os fornecedores e avaliação dos mesmos. A identificação da cadeia de valor do produto da construção é um princípio da Lean Thinking (mentalidade enxuta), pois proporciona uma visão mais ampla do percurso do produto até chegar ao consumidor e possibilita a identificação de possíveis desperdícios que ocorrem, considerando a cadeia como um todo, como repetidas atividades de transporte, inspeções, estoques, retrabalho (PICCHI, 2001).

Nesse sentido, na solicitação de materiais para obra, será enviada a ordem de compra, com a especificação do material e com um campo para a empresa avaliar o fornecedor, com relação aos itens de conformidade da especificação do produto, quantidade, qualidade e prazo de entrega. Tais informações serão armazenadas em um banco de dados, através do qual os fornecedores serão avaliados e os que não atingirem um percentual de conformidade de, por exemplo, no mínimo de 80%, são desclassificados e não poderão mais fornecer para empresa.

Esta é uma forma de gerenciar, com base na melhoria contínua do processo como um todo. A integração entre os diversos horizontes de planejamento (longo, médio e curto prazo), é outra maneira de atender a esse princípio. Com o objetivo de que seja produzido apenas o necessário e na medida certa, sem a criação de superprodução (como tarefas adiantadas sem necessidade) e também sem comprometer a entrega da obra, como o atraso de tarefas. Essa forma de planejamento envolve o princípio de Lean Thinking de “puxar” a produção, apenas na medida necessária e no tempo certo.

Dessa maneira, as informações contidas no plano de longo prazo são transferidas ao plano de médio prazo. Nesse horizonte, as tarefas apresentam-se com maior grau de detalhamento e identificação das restrições para execução das tarefas.

Depois de eliminadas as restrições da atividade, esta atividade passa para o plano de curto prazo, que é o plano operacional. Analisando as informações de problemas coletados no curto prazo, pode-se retro-alimentar o planejamento e propiciar melhoras no sistema de execução da obra.

4.9 Equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões

Este princípio também não pode ser aplicado devido as suas melhorias terem maior eficácia na etapa de projetos, que já estavam finalizadas.

4.10 Estabelecimento de melhoria contínua ao processo

A introdução dos procedimentos de ação corretiva e preventiva possibilita a identificação de problemas, no processo, e suas prováveis causas. Esse procedimento é pertinente devido à intenção da empresa ingressar no PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat).

Propõe-se então a criação de modelo de relatório de não-conformidade a ser implantado pela empresa. Neste relatório de não-conformidade, deve-se apresentar as ações em desconformidade, suas descrições, motivos de não-conformidade e quais suas ações corretivas a serem tomadas.

Ainda, devido à essa intenção, propor-se-á a introdução da medição de indicadores para medir seus processos principais, os quais estão apresentados na figura 6 com as formas de medição.

Page 38: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

38

Figura 6 – Quadro de medição de indicadores para atendimento ao PBQP-H

4.11 Fazer Benchmarking

Consistem em um processo de aprendizado, a partir das práticas adotadas em outras empresas, tipicamente consideradas líderes, num determinado segmento ou aspectos específicos (Isatto et. al., 2000). Benchmarking é um processo contínuo e sistemático para avaliar produtos e processos de trabalho de organizações que são reconhecidas como representantes das melhores práticas, com a finalidade de melhoria organizacional.

5. Considerações finais

Para atender a este princípio de Lean Construction, é importante a empresa conhecer seus processos, para que estes possam ser melhorados, através do aprendizado de práticas de outras empresas. Como apresentado, diversos estudos vem sendo apresentados com este enfoque. No entanto, percebe-se a grande dificuldade de implementação desta técnica, devidos a diversos fatores mas, principalmente ao fator cultural, onde a dificuldade em mudar uma metodologia já consolidada é muito grande.Até a conclusão deste trabalho, haviam sido implementadas as Fases I e II deste trabalho, com boa aceitação por parte da empresa e seus funcionários. A fase seguinte é, como já descrito, a implementação das propostas desenvolvidas nas fases iniciais e avaliação dos resultados, que, devido à vontade de melhoria, por parte da empresa, de seu processo produtivo, acredita-se poderá ser desenvolvido sem grandes dificuldades.

Referências

BALLARD, G.; HOWELL, G. Shielding Production: An Excential in Production Control. Techinical Report, vol. 97 (1), Califórnia, 1997.

BALLARD, G.; HOWELL, G. Shielding Production: Excential Step in Production Control. Journal of

Construction Engineering and Management, vol. 124 (1), 11-17, 1998.

BALLARD, G. The Last Planne System of Production Control. A thesis submitted to the Faculty of Engineering of the University of Birmingham for the degree of Doctor of Philosophy. School of Civil Engineering. Faculty of Engineering. The University of Birmingham. 2000.

BERNARDES, M. M. S. Planejamento e controle da produção para empresas da construção civil. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003.

COHENCA, D.; LAUFER, A.; LEDBETTER, W. B. Factors affecting construction planning efforts. Journal of Construction and Management (ASCE), vol.115 (1), p.70-89, 1989.

Page 39: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

COSTA, A. C. F.; JUNGLES, A.E., OLIVEIRA, R. R. Diretrizes para o desenvolvimento da comunicação no

gerenciamento de projetos: uma abordagem da teoria da ação como perspectiva de linguagem. III Encontro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Construção Civil, Porto Alegre, 2007

FANIRAN, O. O.; OLUWOYE, J. O.; LENARD, D. Application of the lean production concept to improving

the construction planning process. In: 5th Annual Conference of the International Group for Lean Construction (IGLC-5) Proceedings p.39-52. Gold Coast, Queensland, Austrália, 1997.

FORMOSO, C. T. Lean Construction: Princípios Básicos e Exemplos. NORIE/UFRGS, 2000.

ISATTO, E. L.; HIROTA, E. H.; FORMOSO, C. T.; De CESARE, C. M.; ALVES, T. C. L. Lean construction:

diretrizes e ferramentas para o controle de perdas na construção civil SEBRAE-RS, Porto Alegre, 2000.

KLIPPEL, A. F.; PETTER, C. O.; ANTUNES, J. A. V. Lean management implementation im mining industries. Dyna-Colombia, vol. 75 (154) 81-89, 2008.

KOSKELA, L. Application of the new production philosophy to construction. University of Stanford, Technical Report nº 72. Stanford, 1992.

KUREK, J. Introdução dos princípios da Filosofia de Construção Enxuta no Processo de Produção em

uma Construtora em Passo Fundo-RS. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – UPF, Passo Fundo, 2005.

MAO, X.; ZHANG, X. Construction process reengineering by integrating lean principles and computer

simulation techniques. Journal of Construction Engineering and management – ASCE, vol. 134 (5), 371-38, 2008.

PICCHI, F. A. Lean Thinking (Mentalidade Enxuta): avaliação sistemática de potencial de aplicação do setor

da construção. Simpósio Brasileiro de Gestão da Qualidade e Organização do Trabalho no Ambiente Construído – SIBRAGEC, 2, Fortaleza, 2001.

POUBEL, M. F. G.; GUARDIA, L. E. T.; QUALHARINI, E. L. Gerenciamento de Custos no Sistema

Construtivo de Gesso Acartonado “DRYWALL”. Rio de Janeiro, 2001

SACKS, R.; ESQUENAZI, A.; GOLDIN, M. Simulation of lean construction of high-rise apartment buildings.

Journal of Construction Engineering and Management-ASCE, vol. 133 (7), 529-539, 2007.

SACKS, R.; GOLDIN, M. Lean management model for construction of high-rise apartment buildings. Journal

of Construction Engineering and Management-ASCE, vol. 133 (5), 374-384, 2007.

SOUZA, R. et. al. Sistema de gestão da qualidade para empresas construtoras. São Paulo: Pini, 247pp., 1995.

Page 40: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

40

Contribuição da inteligência artificial para a viabilização da estratégia de manufatura: um estudo de caso na indústria de fundição

Raul Landmann (UNIVILLE) [email protected]

Evandro Bittencourt (UNIVILLE) [email protected]

Jerzy Wyrebski (UNIVILLE) [email protected]

Sheila Marcelino Behrend (UNIVILLE) [email protected]

Cristiano Silveira Bitencourt (UNIVILLE) [email protected]

Resumo: Com a crescente preocupação nos detalhes operacionais da manufatura para

obtenção de vantagem competitiva, a utilização de técnicas de inteligência artificial está

adquirindo grande importância para viabilizar a estratégia de produção. A área operacional

é muito complexa, seu ambiente é dinâmico e instável, e é freqüente a ocorrência de desvios

significativos entre os programas de produção previstos e os realizados. Neste trabalho

descreve-se a aplicação da Lógica Fuzzy e do Algoritmo Genético na solução do problema da

programação da produção na indústria de fundição, relacionado à integração da

programação do forno com a da moldagem. Os resultados obtidos foram superiores aos

alcançados, de forma empírica, pelos profissionais da empresa, possibilitando um maior

alcance dos objetivos do empreendimento.

Palavras-chave: Planejamento Estratégico, Inteligência Artificial, Lógica Fuzzy, Algoritmo

Genético

1. Introdução

Oliveira (1994) conceitua o planejamento estratégico como um processo gerencial que possibilita a alta administração estabelecer o rumo a ser seguido pela empresa, objetivando otimizar a relação com o seu ambiente. O planejamento estratégico considera o todo da empresa, e o desdobramento de seus objetivos, estratégias e políticas, dá origem ao planejamento tático, que, por sua vez, alimenta o planejamento operacional. Uma das causas mais comuns de falhas no processo de implementação das estratégias empresariais é a não-interligação dos planos estratégicos com os planos operacionais. Se não houver uma integração de todos níveis de planejamento da empresa (estratégico, tático e operacional), as decisões estratégicas não serão operacionalizadas no dia-a-dia da empresa. Mintzberg et al. (2000) afirmam que é preciso permanentemente ligar a ação (operacionalização) ao pensamento (planejamento), para extrair as mensagens estratégicas dos detalhes do dia-a-dia e reformular as estratégias, se necessário.

Sayles (apud Mintzberg e Quinn, 2001) aponta que está ganhando destaque a importância de uma maior concentração nos detalhes operacionais para a obtenção de vantagem competitiva. A razão disto é que é mais difícil a concorrência copiar uma operação altamente eficiente e bem-afinada no dia-a-dia do que uma decisão estratégia como o design

de um produto ou uma campanha de marketing, por exemplo. A área de operações é muito difícil de ser dominada. Alguns motivos se destacam para tal: não há interfaces simples (a integração vertical e horizontal dentro da organização é muito complexa), as tarefas não podem ser determinadas com precisão (os profissionais executam seu trabalho em função do próprio conhecimento, hábitos e interesses), a mudança é uma constante (inúmeras variáveis instáveis presentes no processo) e dificuldade em seguir a coerência organizacional (falta de coordenação e integração entre os grupos internos de trabalho).

Page 41: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

41

Nas empresas industriais, uma sólida função de manufatura é a base do sucesso, salienta Slack (1993), por isto as empresas devem ter uma visão estratégica das suas operações de manufatura. O olhar estratégico sobre o lado operacional dos negócios demonstra que a organização administra a sua operação de manufatura com foco em vantagem competitiva sustentavel . O sucesso competitivo da empresa como um todo é uma resultante direta do desempenho superior de suas operações de manufatura em relação aos seus concorrentes.

Para Tubino (1997, p. 38), uma estratégia produtiva “consiste na definição de um conjunto de políticas, no âmbito da função produção, que dá sustento à posição competitiva da unidade de negócios da empresa”, cujo ponto de partida consiste no estabelecimento de quais critérios são relevantes para a empresa e que prioridades relativas devem ser dados a eles. Slack, Chambers e Johnston (2002) apresentam cinco objetivos que caracterizam as vantagens competitivas do empreendimento: qualidade, rapidez, confiabilidade (cumprimento dos compromissos assumidos com os consumidores), custo e flexibilidade (habilidade em mudar rapidamente a operação).

A partir deste ponto, o próximo passo consiste em desenvolver um plano de produção vinculado ao planejamento estratégico. Esta etapa é denominada de planejamento agregado por alguns autores como Heizer e Render (2001); Gaither e Frazier (2001) e Moreira (1993). Conforme Tubino (op. cit., p. 88), o planejamento-mestre da produção (PMP) faz a conexão, através da montagem do programa-mestre da produção, entre o planejamento de longo prazo (planejamento agregado) e as atividades operacionais da produção. Com base no PMP e nos registros de controle de estoques, a programação da produção calcula as necessidades de materiais, determina as datas intermediárias e faz o ajuste de prazos e capacidade. Como resultado da programação da produção, são emitidas ordens de compras para os itens comprados, ordens de fabricação para os itens fabricados internamente, e ordens de montagem para submontagens intermediárias e montagem final dos produtos definidos no PMP.

Tubino (op. cit) pondera que, apesar de teoricamente os recursos necessários para a execução dos planos de produção terem sido planejados e programados pelo Planejamento e Controle da Produção (PCP), na prática, infelizmente, a ocorrência de desvios entre o programa de produção liberado e o executado é a situação mais comum.

A partir do início dos anos 80 vêm sendo introduzidos novas técnicas de modelagem e de solução de problemas, por meio de abordagens por inteligência artificial, para suportar a solução de problemas práticos de seqüenciamento e programação da produção (Sauer, 1997). Essas técnicas são, como coloca Tubino (1997, p. 156), “heurísticas complexas, que procuram simular as decisões dos especialistas compondo técnicas de inteligência artificial, algoritmos genéticos e simulação”.

Este trabalho demonstra como a aplicação de duas técnicas de inteligência artificial, a lógica nebuloza (fuzzy) e o algoritmto genético, na resolução de problemas de programação da produção na indústria de fundição pode minimizar o gap entre o planejamento e a execução, através de uma adequada programação da produção, que, além de flexível e proporcionar melhores resultados, viabiliza, pela sistematização do conhecimento, a concretização do objetivo proposto por Senge (1990) para as organizações de aprendizagem, que é criar aspirações coletivas e conseguir que as pessoas aprendam em grupo, de forma contínua.

2. O desafio da programação da produção na indústria de fundição

A programação da produção numa fundição tem dois momentos importantes e interligados: a programação do forno (definição da liga a ser produzida em cada período) e a

Page 42: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

42

programação das máquinas de moldagem (definição dos moldes a serem produzidos). Este aspecto, salientado por Southall e Law (1980), é corroborado por Vianna e Arenales (1995). Araújo e Clark (2001) igualmente observam que existem duas decisões importantes e interligadas para o dimensionamento de lotes e programação da produção numa fundição: a programação do forno (operação de fusão), quando se deve decidir o tipo de liga a ser produzido em cada período de tempo, e a programação das máquinas de moldagem, que especifica quais e quantos itens serão produzidos a cada período.

No adequado balanceamento dos recursos e na geração de um programa de produção que proporcione um atendimento satisfatório da clientela, com elevado índice de aproveitamento da capacidade disponível, reside o ponto-chave para a obtenção de níveis de produção, produtividade, qualidade e custos adequados. Um dos insumos de maior custo em fundições, por exemplo, é a energia, cujo consumo é tremendamente afetado pela configuração do programa de produção em curso.

A grande quantidade de variáveis envolvida num processo de fundição requer um balanceamento rigoroso do uso dos recursos produtivos, de forma sincronizada, através de um programa de produção que considera esses fatores, além das quantidades e prazos de entrega compromissados com a clientela. Variações no mix de produtos e ausência de política de mercado estável, muito freqüentes em fundições de mercado, geralmente provocam alterações substanciais na carga dos recursos. Isso pode gerar estrangulamentos simultâneos em pontos diversos, requerendo soluções de otimização muito complexas.

Na programação conjunta do forno e a moldagem, objetivando um balanceamento sincronizado entre estas duas etapas de produção, e, conseqüentemente um equilíbrio constante entre a geração e o consumo de metal líquido, reside uma das maiores complexidades na programação da produção de uma fundição . Esta questão é particularmente crítica quando a fusão é o gargalo principal (o que ocorre na maioria das vezes) e quando há períodos de restrição de energia (horário de ponta) em fundições que utilizam equipamentos elétricos. A falta de sincronia entre o forno e a moldagem provoca a interrupção no transporte de metal líquido, por falta de metal ou espera pela moldagem, ocasionando perdas de produção, desperdício de energia e predispõe ao incremento de defeitos de fundição.

Na grande maioria dos casos, este problema é resolvido pelos programadores e supervisores de produção, de forma empírica, através de procedimentos práticos determinados a partir do conhecimento acumulado pela experiência desenvolvida ao longo do tempo. Não se tem notícia da existência de sistemas de gestão da produção para utilização em fundições. Na prática, prevalece a adoção de soluções ad hoc baseadas no empirismo, geralmente mal sistematizadas e apoiadas essencialmente no conhecimento dos profissionais da empresa, muitas vezes intuitivo. Este aspecto, também identificado por Moccellin e Belhot (1998), é particularmente crítico para as organizações, uma vez que o conhecimento, sem sistematização, não é compartilhado e nem passível de ser usado para a aprendizagem organizacional. A transferência de tecnologia para uma ferramenta gerencial propiciará a empresa aprender com seus erros e acertos e, assim, aprimorar seu desempenho.

Na Figura 1, pode-se observar um desenho esquemático do processo produtivo envolvendo linhas de moldagens e a fusão. No caso apresentado, há três linhas de moldagem, mas este número pode ser superior, dependendo das características da fundição.

Como se observa na Figura 1, as linhas de moldagem, que podem ser totalmente automatizadas, trabalham de forma independente, mas paralela, fornecendo, com diferentes velocidades, os moldes para serem vazados. Existe uma programação de moldes diferentes em

Page 43: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

43

cada linha de moldagem, cada tipo necessitando de uma determinada quantidade de metal.

FIGURA 1 – Desenho esquemático do sistema produtivo envolvendo moldagem e vazamento. Fonte: Landmann et al. (2006).

Com a chegada dos moldes para vazamento, é preciso cuidar para que a soma das quantidades de metal dos diversos moldes a serem vazados ao mesmo tempo não ultrapasse a capacidade de fusão, e também não fique abaixo desta. Em outras palavras, não deveria haver somente peças pesadas ou somente peças leves sendo vazados simultaneamente.

Desta maneira, a programação de produção dos moldes nas linhas de moldagem deve ser tal que ocupe a capacidade de fusão, não a ultrapassando e nem ficando aquém dela.

Landmann (2005), a partir de uma pesquisa realizada em fundições de mercado, detectou que o sistema PCP das fundições analisadas apresenta como lógica básica o cálculo de recursos, o atendimento aos clientes como prioridade principal, a administração de restrições múltiplas (uso eficiente dos gargalos, com antecipação de ordens) e a utilização de procedimentos heurísticos para a programação a curto prazo, que podem ser assim sintetizados:

Passo 1: sequenciar os itens na moldagem priorizando o atendimento das datas de entrega na expedição;

Passo 2: programar as trocas de liga observando a matriz de set-ups;

Passo 3: reprogramar a moldagem com antecipação de ordens para permitir utilizar ao máximo os recursos críticos, garantindo o abastecimento de fundidos para os gargalos pós-fusão/moldagem, porém respeitando as limitações da macharia (pré-moldagem) e da própria moldagem;

Passo 4: programar peças leves no horário de ponta (restrição de energia) nas linhas de moldagem atendidas pela fusão;

Passo 5: programar uma combinação adequada de peças leves, peças médias e peças pesadas nas linhas de moldagem fora do horário de ponta, de forma a obter uma demanda de metal líquido a mais constante possível.

Com base nesta pesquisa, que permitiu identificar as regras utilizadas pelos programadores de fundição, foi utilizada a heurística da Lógica Fuzzy (difusa, nebulosa) para a programação do conjunta da fusão com a moldagem (passos 4 e 5), e a partir destes resultados obtidos por Landmann (2005), utilizou-se o Algoritmo Genético (Landmann et al., 2006) para gerar a programação das linhas de moldagem, e procedeu-se a uma análise comparativa dos resultados.

Linha de moldagem 1

Linha de moldagem 2

Linha de moldagem 3

Fusão

Page 44: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

44

3. Lógica Fuzzy

3.1.Conceitos

A lógica difusa, explicam Heizer e Render (op.cit.), permite trabalhar com valores aproximados, influências e dados incompletos ou ambíguos para tomar decisões. A capacidade de classificar de modo impreciso as variáveis de um problema, em termos de conceitos qualitativos, em vez de quantitativos, traduz a idéia de uma variável lingüística, asseveram Almeida e Evsukoff (2003). Uma variável lingüística é definida como uma entidade utilizada para representar de modo impreciso e, portanto, lingüístico, um conceito ou uma variável de um determinado problema, admitindo como valores apenas expressões lingüísticas, como “frio”, “muito grande”, “aproximadamente alto” etc. O processo de representação fuzzy de conhecimento depende fundamentalmente deste conceito.

O’Brien (2001) observa que os sistemas de lógica difusa conseguem resolver problemas não estruturados com conhecimento incompleto mediante o desenvolvimento de inferências e respostas aproximadas, como fazem os seres humanos. Estes autores afirmam ainda que o formalismo matemático da lógica difusa permite a representação de algumas características do raciocínio humano sendo, portanto, aplicada no desenvolvimento de sistemas especialistas, e utilizada, por exemplo, na busca de um melhor planejamento de produção em ambientes industriais.

Nobre (op. cit.) expõe que o projeto e desenvolvimento de um sistema com a lógica difusa pode ser resumido em três etapas. O primeiro passo consiste em descrever o sistema por um conjunto de regras lingüísticas ou frases de declarações do tipo se – então acrescentados dos conectivos lógicos and e or. As variáveis do sistema são definidos como variáveis lingüísticas e assumem valores lingüísticos ou palavras, não se restringindo a um valor numérico. Este tipo de declaração, conforme Almeida e Evsukoff (2003) foi proposto na década de 70 por Mamdani, sendo conhecido como modelo de Mamdami, também chamado de inferência Max-Min. Após utilizar o conhecimento de especialistas para definir o conjunto de regras que irá compor a base do sistema, inicia-se o segundo passo, que consiste em definir as funções de pertinência que devem caracterizar quantitativamente os valores das variáveis lingüísticas. O terceiro e último passo consiste em definir o mecanismo de inferência para manipulação das regras e para a tomada de decisões, requerendo-se também a definição das interfaces de entrada e saída do sistema que utiliza a lógica fuzzy.

3.2. Aplicação

O modelo heurístico foi implantado em uma planilha Excel e, com utilização de linguagem de macro Visual Basic (VBA), foi criada uma programação para executar as funções requeridas pela estrutura do modelo e replicar tarefas repetitivas (Landmann, 2005). A função deste modelo é sistematizar os procedimentos heurísticos utilizados pelas fundições para a programação da produção a curtíssimo prazo, identificados na coleta de dados dos casos estudados, e que se referem a:

programar peças leves no horário de ponta (quando há restrição de energia) nas linhas de moldagem atendidas pela fusão;

programar uma combinação adequada de peças leves, peças de peso médio e peças pesadas nas linhas de moldagem fora do horário de ponta, de forma a obter uma demanda de metal líquido a mais constante possível ao longo de uma jornada de trabalho.

Desta forma, as ordens de produção (itens e quantidades programadas) do programa diário da fundição gerado pelo PCP, serão sequenciadas de forma a proporcionar uma solução

Page 45: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

45

conjunta para a fusão e a moldagem.

A modelagem foi feita com os dados reais de uma fundição, cujas características básicas são as seguintes:

- três linhas de moldagem;

- uma única liga metálica;

- não há restrições de energia elétrica no horário de ponta;

- a fusão é recurso restritivo (gargalo);

- necessidade de combinação adequada de peças leves, peças de peso médio e peças pesadas simultâneamente em produção, para aproveitar o máximo da capacidade da fusão e da moldagem durante uma jornada de trabalho.

A construção do modelo heurístico segundo a logica fuzzy compreendeu as seguintes etapas:

a) descrição da base de regras lingüísticas para peças simultâneamente em produção nas três linhas de moldagem, determinada pelas alternativas de combinações utilizadas pelo programador de produção (especialista humano), e por este informada:

- se houver uma peça leve e uma média então a terceira poderá ser pesada;

ou

- se houver uma peça leve e uma média, então a terceira poderá ser média também;

ou

- se houver uma peça leve e mais uma leve, então a terceira poderá ser pesada;

ou

- se houver uma peça leve e uma pesada, então a terceira poderá ser pesada também;

ou

- se houver uma peça média e mais uma média, então a terceira poderá ser média também;

ou

-se houver uma peça média e uma pesada, então a terceira poderá ser média também.

b) definição dos limites máximos e mínimos (Max-Min) dos conjuntos fuzzy para cada uma das três linhas de moldagem:

Os itens de cada linha foram divididos em três classes, de forma que cada conjunto ficou com a mesma quantidade de itens. O critério para dividir o universo de itens de uma linha em três conjuntos com o mesmo número de itens foi completamente aleatório, uma vez que os critérios utilizados pelo especialista humano eram demasiadamente subjetivos para caracterizar o que é peça leve, peça média e peça pesada.

Os itens de cada linha foram ordenados de acordo com o peso da árvore (do menor para o maior e classificados em leves , que correspondem portanto a 1/3 dos itens, médias, que correspondem também a 1/3 dos itens, e pesadas, que correspondem igualmente a 1/3 dos itens de cada linha. É importante salientar que cada conjunto de itens é especifico para determinada linha, portanto, as linhas são focadas. Assim, os itens leves de uma linha não são os itens leves de outra linha, ocorrendo o mesmo com os itens de peso médio e os itens pesados.

Page 46: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

46

Foram mapeadas as informações numéricas do ambiente para serem inseridas no sistema fuzzy do modelo heurístico (interface de entrada), constituídas por valores caracterizados pelas funções de pertinência, isto é, dentro dos limites Max-Min de cada conjunto nebuloso L (leve); M (média), P (pesada). Com isso, ocorreu a transformação de informações quantitativas em qualitativas (fuzzycation).

A interface de saída faz o mapeamento inverso à entrada (defuzzycation), e apresenta as informações qualitativas transformadas em qualitativas (combinação resultante de peças leves (L), médias (M), e pesadas (P), bem como informações quantitativas (pêso demandado de metal pelas linhas de moldagem, em kg/hora). O resultado é apresentado em planilha, com intervalos de 15 minutos para um dia de 24 horas (o intervalo de 15 minutos foi determinado aleatoriamente, por ter sido julgado adequado para identificar as variações ao longo do dia). As condições de rejeição não resolvidas são destacadas com atribuição de diferentes cores na planilha.

4. Algoritmo Genético

4.1. Conceitos

O Algoritmo Genético se refere a um modelo introduzido e investigado por John H. Holland e os alunos de Holland (DEJONG, 1975).

De acordo com Haupt e Haupt (1998), o Algoritmo Genético é um processo para otimizar funções altamente complexas baseado nos mecanismos de evolução natural e na genética. A partir de uma população inicial, chamados de cromossomos, que caracterizam as variáveis independentes, se seleciona através de uma função objetivo os melhores indivíduos, representando uma seleção natural. Então, os melhores indivíduos são combinados formando uma nova população numa representação do cruzamento genético. Essa nova população, ainda poderá sofrer algum tipo de transformação, representando mutações genéticas. Assim, os melhores indivíduos serão cada vez mais aptos em termo da função objetivo, enquanto o processo evolutivo continua. Zhow, Feng e Han (2001) salientam que o Algoritmo Genético possibilita identificar os indivíduos que tem maior aptidão para sobreviver, eliminar da população aqueles com menor aptidão, e combinar os sobreviventes com uma informação estruturada, mas randômica, para gerar novos indivíduos e renovar a população.

O processo de otimização via Algoritmo Genético vem sendo utilizado em diversas áreas de conhecimento, sendo que já existe um grande número de aplicações dentro da Engenharia de Produção.

Os Algoritmos Genéticos binários representam os cromossomos na forma de números binários. Um fluxograma do Algoritmo Genético binário pode ser visualizado na Figura 2.

Page 47: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

47

FIGURA 2 - Fluxograma de um Algoritmo Genético binário. Fonte: adaptado de Haupt e Haupt (1998).

4.2. Aplicação

Foi desenvolvido um programa em VBA (Visual Basic Aplication) no Microsoft Excel e utilizado como protótipo de sistema para programação da produção (Landmann et al, 2006).

A codificação dos cromossomos foi feita usando o código dos moldes para uma linha de moldagem. Exemplificando temos o seguinte cromossomo: 218-219-250-251-253, que representa a seqüência dos moldes 218, 219, 250, 251, e 253 de uma determinada linha de moldagem.

Os parâmetros utilizados no algorimo genético foram:

Tamanho da população: 100;

Cruzamento: Crossover;

Taxa de mutação: 2%;

Taxa de eletismo: 2%.

A avaliação da função objetivo é feita considerando a seqüência dos moldes nas diversas linhas de moldagem. Quanto menor o desvio padrão da soma das necessidades de metal por hora para as linhas de moldagem programadas ao longo de um dia, melhor é a avaliação do indivíduo, considerando intervalos de tempo de 15 minutos.

O cruzamento é feito utilizando o processo de crossover com dois pontos de cortes escolhidos aleatoriamente, assim dois cromossomos pais vão gerar dois filhos (Figura 3).

Criação da população inicial

Avaliação da função objetivo

Seleção

Reprodução (Cruzamento)

Mutação

Teste de convergência

Fim do processo

Definições: Parâmetros e função objetivo

Representação binária dos parâmetros

Page 48: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

48

P2- 253 251 | 250 218 | 219

F1- 253 218 | 250 251 | 219 F2- 219 251 | 250 218 | 253

FIGURA 3 – Exemplo de cruzamento entre cromossomo P1 e P2 gerando F1 e F2 através de crossover. Fonte: Primária (2008).

Como se pode observar pela Figura 3 o F1 recebe material genético do P1 entre os pontos de corte e é preenchido com o material genético do P2 fora dos cortes não repetindo os moldes já programados. O mesmo relacionamento entre filhos e pais acontece com o F2.

Após a reprodução é aplicada a mutação (2% da população), com a simples troca de posição entre dois moldes num filho numa posição escolhida aleatoriamente. Exemplificando a possível mutação para o F1 (Figura 4).

F2- 219 218 250 251 253

FIGURA 4 – Exemplo de mutação no F2 com a troca de posição entre o molde 218 e 251. Fonte: Primária (2008).

Os indivíduos mais aptos (2% da população) são reproduzidos sem cruzamento e sem mutação como forma de elitismo.

O teste de convergência foi substituído por um número fixo de 500 iterações que se mostrou satisfatório nos exemplos efetuados com o sistema.

5.Resultados obtidos com a aplicação das técnicas de inteligência artificial na programação da fundição: lógica fuzzy e algoritmos genéticos

A partir dos dados apresentados por Landmann (2005) como um caso prático, foi elaborada a programação também utilizando o processo baseado em algoritmo genético, comparando assim os resultados com aqueles apresentados por Landmann, obtidos através da lógica fuzzy.

Na Tabela 1 pode-se visualizar a capacidade de produção de moldes por hora de cada linha de moldagem, bem como o código de cada molde com a sua quantidade programada para um determinado dia. Neste exemplo temos três linhas de moldagem totalmente automatizadas, a capacidade de moldagem para as três linhas é de 300, 270 e 250 moldes por hora respectivamente.

Para cada molde tem-se o peso necessário da demanda de metal por hora para o vazamento (Tabela 2). Exemplificando o molde 126 da linha de moldagem 1 exige 7234 kg/hora de metal líquido para o seu preenchimento.

P1- 218 219 | 250 251 | 253

Page 49: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

49

Linha 1 Linha 2 Linha 3 Capac. (mol/h) 300 Capac. (mol/h) 270 Capac. (mol/h) 250

Código Quant. (mol.) Código Quant. (mol.) Código Quant. (mol.)126 4000 218 1300 310 820 128 1000 219 1300 312 1200 170 1000 250 2000 313 700 186 1300 251 400 329 2000

253 1000 332 600 351 1000

Fonte: Landmann (2005)

A capacidade produtiva na geração de metal líquido é de 23.000 kg/hora, que não pode ser ultrapassada, mas por outro lado também não deve ser sub-utilizada, já que é um recurso com restrição de capacidade.

TABELA 2 - Peso necessário de metal para cada molde

Linha 1 Linha 2 Linha 3 Código Peso (kg/h) Código Peso (kg/h) Código Peso (kg/h)

126 7234 218 6380 310 3865 128 6683 219 6380 312 7392 170 9288 250 5484 313 4750 186 6831 251 10957 329 8578

253 7804 332 8708 351 6918

Fonte: Landmann (2005)

Como indicador de desempenho foi adotado o desvio-padrão da demanda de metal em relação à média. Quanto menor o desvio-padrão, melhor o seqüenciamento dos moldes no sentido de proporcionar uma demanda mais homogênea de metal. A programação elaborada através do Algoritmo Genético resultou num desvio padrão no consumo de metal ao longo do dia de 593 kg/hora, contra um desvio padrão de 1.319 kg/hora obtido com utilização da lógica fuzzy. Ambas técnicas apresentaram resultado melhor do que a programação elaborada pelo especialista de fundição, cujo desvio padrão foi de 2.144 kg/hora. Desta maneira a programação usando Algoritmo Genético permitiu um nivelamento melhor em termos da necessidade de metal líquido, mostrando-se, nesse caso, mais adequado para o seqüenciamento dos moldes.

Estes resultados se mantiveram ao longo das programações realizadas durante alguns dias, podendo-se afirmar que a técnica da lógica fuzzy conseguiu apreender bem as regras e os processos de raciocínio dos especialistas. Pois, em nenhum momento o programa gerado apresentou resultados inferiores aos do programa gerado pelo especialista, no entanto os melhores resultados foram obtidos com o uso da técnica do Algoritmo Genético.

A geração de um programa de produção com um seqüenciamento tal que permita, além de atender aos pedidos nos prazos previstos, aproveitar bem a capacidade existente, atende perfeitamente as necessidades de qualidade e produtividade de uma fundição.

Percebe-se também que, dependendo das características do programa diário, diferentes alternativas podem gerar os resultados mais satisfatórios. Isso significa que, para cada dia, é conveniente simular os resultados de todas as alternativas de seqüenciamento, e selecionar aquela que melhor se adapte às necessidades momentâneas. As simulações são executadas com muita rapidez e seus resultados podem ser analisados praticamente em tempo real. Este aspecto proporciona ao modelo um benefício adicional, no que se refere à análise de reprogramações que podem vir a ocorrer a qualquer momento do dia, em função de problemas

TABELA 1 - Programa dos moldes do dia com sequenciamento em ordem de código

Page 50: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

50

diversos.

6. Considerações Finais

A programação da produção em empresas de fundição é muito importante principalmente em se tratando dos setores de moldagem e fusão/vazamento, devido a que na maioria das vezes a capacidade de fusão de metal ser um limitador da capacidade geral da empresa.

O equilíbrio na programação conjunta da fusão e da moldagem propicia uma operação contínua da fundição, melhorando a qualidade, minimizando as perdas de processo, os refugos de fundição, e proporcionando uma substancial racionalização na utilização de energia, já que o processo de fusão é um consumidor energético por excelência.

A otimização do seqüenciamento usando Algoritmo Genético (Landmann et al, 2006) mostrou-se adequado frente aos resultados apresentados por Landmann (2005) utilizando a Lógica Fuzzy, tanto em termos de equilibrar a utilização da capacidade de fusão ao longo do dia quanto de não ultrapassar esta capacidade. A Lógica Fuzzy, por sua vez, já obteve resultados superiores aos métodos empíricos utilizados pelos profissionais das empresas.

O grau de competição cada vez mais intenso nos negócios, bem como as ameaças à sobrevivência provocadas pela concorrência e pelas exigências crescentes do mercado, têm tornado imperiosos os esforços desencadeados pelas organizações em geral, no sentido de buscar e obter desempenhos cada vez melhores. Percebe-se facilmente a grande contribuição da inteligência artificial na manufatura, ao nível de operação, como alternativa para ir de encontro aos objetivos estratégicos do empreendimento, proporcionar soluções para as dificuldades existentes na programação da produção em ambientes industriais complexos, como é o caso da fundição.

A possibilidade de transferência do conhecimento especializado para uma ferramenta gerencial é também um aspecto muito importante a ser ressaltado com a utilização de técnicas de inteligência artificial, pois propicia meios para o compartilhamento de informações e a aprendizagem organizacional.

Referências

ALMEIDA, P. E. M. de e EVSUKOFF, A. G. Sistemas fuzzy. In: REZENDE, Solange O. (org.). Sistemas

inteligentes – fundamentos e aplicações. São Paulo: Manole, 2003.

ARAÚJO, S. A. de; CLARK, A. R. Um problema de programação da produção numa fundição. In: XXXIII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PESQUISA OPERACIONAL - SOBRAPO. Anais... Campos do Jordão, 2001.

DEJONG, K. A. An analysis of the behavior of a class of genetic adaptive systems. PhD Dissertation. Dept. of Computer and Communication Sciences, Univ. de Michigan, Ann Arbor, 1975.

GAITHER, N. e FRAZIER, G. Administração da produção e operações. 8. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2001.

HAUPT, R. L. & HAUPT, S. E. Practical Genetic Algorithm. New York: John Wiley & Sons, 1998.

HEIZER, J. e RENDER, B. Administração de operações. 5. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2001.

LANDMANN, R. Um modelo heurístico para a programação da produção em fundições com utilização da

Lógica Fuzzy. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.

LANDMANN, R.; BITTENCOURT, E.; DEMÉTRIO, A.J; STEUERNAGEL, A.L. Programação da produção

em empresas metalúrgicas com utilização de algoritmo genético. In:XXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 2006. ABEPRO, Anais. Fortaleza, 2006.

MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B., LAMPEL, J. Safári de estratégia. Safári de estratégia. Porto Alegre:

Page 51: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

51

Bookman, 2000.

MINTZBERG, H. e QUINN, J.B. O processo de estatégia. 3ª. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

MOCCELLIN, J. V. e BELHOT, R. V. Reducing the gap between production scheduling theory and practice by using expert systems. In:XVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 1998. ABEPRO, Niterói. Anais....Niterói, 1998.

MOREIRA, D. A. Administração da produção e operações. São Paulo: Pioneira, 1993.

NOBRE, F. S. M. Fuzzy logic: aplicações. s.l. Revista Integração, Ano VI, n. 23, p. 264-267, nov. 2000.

O’BRIEN, J. A. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era da internet. São Paulo: Saraiva, 2001.

OLIVEIRA, D. de P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 8ª. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

SAUER, J. Ablaufplanung (scheduling) (1997). Disponível em: <http://www-is.informatik.uni-oldenburg.de > Acesso em 15 fev. 2004.

SENGE, P.M. A quinta disciplina. 11ª ed. São Paulo. Best Seller. 1990.

SLACK, N. Vantagem compeititiva em manufatura: atingindo competitividade nas operaçõe industriais. São Paulo: Atlas, 1993,

SLACK, N.; CHAMBERS, S. e JOHNSTON, R. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

SOUTHALL, J.T.; LAW, T.D. Approaches to improved job scheduling in foundries. The British Foundrymen, p. 287-291, October 1980.

TUBINO, D.F. Manual de planejamento e controle da produção. São Paulo: Atlas, 1997.

ZHOW, H.; FENG, Y. e HAN, L. The hybrid heuristic genetic algorithm for job shop scheduling. Computers & Industrial Engineering, v. 40, p.191-200, 2001.

Page 52: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

52

Mapeamento do fomento a Inovação Tecnológica no Brasil

Erika Regina de Mattos Pacheco (CEFET-RJ) [email protected] Ilda Maria de Paiva Almeida Spritzer (CEFET-RJ) [email protected]

Resumo: A inovação se beneficia da aliança com o capital empreendedor não só do ponto de

vista de fluxos financeiros, mas da conjunção das experiências em negócios e pesquisa, do

alinhamento das questões econômico-financeiras e tecnológicas. A conseqüência é um foco

mais sintonizado com a dinâmica de inovação e a competitividade. O presente artigo tem por

objetivo mapear as fontes de recursos financeiros que incentivam a Pesquisa e

Desenvolvimento em Inovação e Tecnologia no Brasil, através de fontes públicas e privadas

de financiamentos e fundos de investimentos em capital de risco. As principais estruturas

são o Venture Capital (VC) e o Private Equity (PE), os quais são uma das formas de

alavancagem empresarial com a utilização do mecanismo de capitalização. A metodologia

utiliza uma pesquisa exploratoria que realiza um mapeamento das entidades públicas e

privadas, com seus programas e políticas que disponibilizam os aportes financeiros para

investimento em inovação através do capital de risco no país, em referência com a

importância deste setor para o fomento da inovação no mundo.

Palavras-chave: Capital de risco, Pesquisa e Desenvolvimento em Inovação e Tecnologia.

1. Introdução

A importância da inovação para o desenvolvimento econômico de um país vem sendo primordial no mundo globalizado onde a concorrência capitalista se encontra ainda mais forte, uma vez que esta concorrência acelerou a implementação e a disseminação de novas tecnologias nos mais variados setores de produção. Em conjunto com o rápido avanço do conhecimento, essa mesma concorrência capitalista modifica as formas de interpretação e de intercâmbio nos campos da ciência, tecnologia e inovação, onde também amplia a própria complexidade do processo de inovação. Uma das condições principais para o processo de inovação é o seu financiamento. Este financiamento é amplo e complexo, pois envolve diversas formas e atores, em diferentes momentos. É influenciado pela organização do mercado financeiro, pelas organizações de fomento, pelas políticas públicas específicas para o setor, pela organização da indústria de capital de risco, dentre outros fatores.

Tornar-se uma empresa inovadora não é uma questão de sorte: é necessário que a empresa adote a inovação como parte de sua estratégia, e como qualquer outra diretriz estratégica, deve contar com total apoio da alta gestão para que se torne uma realidade. É muito comum encontrar empresas que se dizem inovadoras, porém somente incluem a palavra inovação na sua missão e campanhas publicitárias. Muitas empresas não se comprometem de fato em tornar a inovação uma realidade e tantas outras nem mesmo sabem como, ou têm dificuldade em fazê-lo.

A verdade é que as decisões necessárias ao processo inovativo são difíceis de serem tomadas e aceitas principalmente por grandes empresas. Os incentivos de curto prazo, a falta de apetite ao risco, o desconhecimento e dificuldade de se avaliar o potencial de uma nova tecnologia, são alguns fatores que compõem o famoso “Dilema da Inovação”, caracterizado e detalhado por Christensen (2003).

É notório que nos últimos dez anos, sob a inspiração da experiência internacional, o

Page 53: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

53

Brasil avançou muito na criação de um aparato institucional mais adequado ao estímulo da inovação. Quando se comparam os instrumentos existentes no país com os dos países mais desenvolvidos, ainda permanecem lacunas de necessidades de aperfeiçoamento, porém no arcabouço legal nada parece faltar. Dispõe-se hoje de uma grande variedade de novos instrumentos, criados segundo boas práticas internacionais, e de um volume de recursos bastante expressivo para apoiar de várias formas e em diferentes estágios os projetos de Pesquisa e Desenvolvimento em Inovação e Tecnologia das empresas.

2. Referencial Teórico

2.1 Inovação tecnológica para o desenvolvimento econômico

Atualmente países que possuem uma economia com sistema nacional de inovação capaz de gerar números significativos de novos produtos ou processo para o mercado mundial, desfrutam de vantagens competitivas excepcionais, entretanto este processo de inovação não é tão simples assim, pois depende de uma forte interação entre instituições públicas e privadas de modo a promover e difundir novas tecnologias. O conteúdo tecnológico e as atividades voltadas para a inovação são armas importantes de competitividade para as empresas. De acordo com o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2005) na indústria brasileira, a proporção de empresas com mais de dez empregados que realizam algum esforço de inovação é de 31,5%. Embora não seja desprezível, esse índice - chamado de taxa de inovação – é muito baixo se comparado com o que se verifica em países mais avançados.

Isso fica evidente nos dados apresentados no gráfico 1: em comparação com os países europeus, entre os anos de 1998 e 2000, a indústria brasileira apresenta uma taxa de inovação (31%) superior apenas à Grécia (26%) e muito menor do que a dos países líderes – Alemanha, Bélgica, Holanda e Dinamarca, cujas taxas variam entre 49 e 60%.

Gráfico 1 – Percentual de empresas industriais que implementaram e não implementaram inovações de 1998 a 2000, para países selecionados

60 59 51 49 44 43 42 40 40 38 37 31 26

40 41 49 51 56 57 58 60 60 62 63 69 74

0

20

40

60

80

100

Aleman

ha

Bélgica

Holand

a

Dinam

arca

Ástria

Filand

ia

Portu

gal

Franç

a

Suécia Itá

lia

Espan

haBra

sil

Grecia

Po

rce

nta

ge

m %

Implementam inovação Não implementam inovação

Fonte: Eurostat (2004°) e IBGE (2004). Elaboração Viotti, Baessa e Koeller (2005) (apud estudo IPEA 2005 p. 63)

A qualidade de inovação praticada pelas empresas brasileiras também está muito aquém do exigido para o desenvolvimento do país. A inovação de qualidade, isto é, aquela que gera maiores condições de competitividade em razão de criar novos produtos ou novos processos de produzir, sob a ótica do mercado, é muito pequena. Das empresas que inovam

Page 54: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

54

para o mercado, apenas 4,1% inovam em produto, e menos ainda 2,8%, inovam em processo, de acordo com a tabela 1.

Tabela 1 – Taxa de inovação segundo as estratégias competitivas das firmas (1998-2000)

Categoria

Inovadoras de produto Inoadores de processo

Total Novo para

mercado

Novo para

empresa Total

Novo para

mercado

Novo para

empresa

(A) Inovam e diferenciam produtos 100,0 100,0 28,4 70,6 35,7 48,5 (B) Especializadas em produtos padronizados 26,2 4,5 23,1 35,6 5,7 31,6 (C) Não diferenciam e têm produtividade menor 13,4 1,9 11,7 21,4 1,3 20,4

Total 17,6 4,1 14,4 25,2 2,8 23,3 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria. Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração: Ipea/Diset, a partir de transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MEDIC, CBE/BACEN, ComprasNet/MPOG e Rais/MTE ( apud estudo IPEA 2005, p. 65)

A introdução de produtos tecnologicamente novos ou processos novos, tanto para a

empresa quanto para o mercado podem ser consideradas, portanto, de qualidade muito superior àquelas que são novidade apenas para as empresas. As inovações pioneiras apenas para a empresa estão bem mais próximas do conceito de difusão (ou absorção) de inovações do que do conceito de inovação propriamente dita. O gráfico 2 mostra a desvantagem da empresa brasileira nesse aspecto.

Gráfico 2 – Empresas que inovaram para o mercado como percentual do total de empresas que

inovaram em produto, 1998-2000, para paises selecionados

82%

57% 56% 53% 53% 52% 49% 48%45%

23%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

Itália

Dinam

arca

Gréc

ia

Holand

a

Áustri

a

Franç

a

Espan

ha

Alem

anha

Bélgica

Brasil

Fonte Eusostat (2004a); e IBGE (2004). Elaboração: Viotti, Baessa e Koeller (2005) (apud estudo IPEA 2005 p.64)

É claramente notável a desvantagem do Brasil, cuja taxa de inovação em produto para

o mercado é a mais baixa entre os países pesquisados. Essa desvantagem ainda é ressaltada quando se leva em conta que a pesquisa européia considera inovação aquela que é pioneira para o mercado no qual atua a empresa, que pode ser tanto o próprio país quanto o mercado

Page 55: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

55

internacional, enquanto a pesquisa brasileira considera inovação aquela que é pioneira apenas para o mercado nacional .

Quando refere-se a financiamento e investimento em inovação no Brasil, nota-se um foco maior voltado para modernização produtiva e ativos tangíveis com fontes estáveis de financiamento, e uma carência maior de investimentos em inovação e ativos intangíveis, cujas fontes de financiamento possuem um risco mais elevado (Melo, 2007).

Mediante dados tão fracos do Brasil, mostra-se grande a necessidade de fontes de recursos mais acessíveis às empresas, de modo a incentivar o fomento ao desenvolvimento de inovação tecnológica no país. O governo brasileiro pretende liberar R$ 42 bilhões até 2010 para financiamento de Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação no país através do Plano Nacional de Ciência e Tecnologia, o chamado PAC Tecnológico, de acordo com a reportagem do Jornal “Valor Econômico” de 26/11/2007. Essa liberação será feita através de suas principais instituções de fomento: BNDES e FINEP. Na seção 4 deste artigo serão abordados os programas de disponibilização desses recursos.

3. Recurso para financiamento da inovação tecnológica

3.1 Definição de capital de risco

O capital de risco tem uma característica diferente dos investimentos padrões por se envolver muito além do recurso financeiro propriamente dito. O investidor que opta por esta modalidade de investimento acima de tudo deve ser um empreendedor parceiro que se preocupa com os problemas internos da empresa, que trará para a empresa suas experiências e competências de modo a suprir lacunas vazias existentes. Este deverá trazer insumos necessários para que a empresa cresça e se desenvolva alinhando-se sempre com os objetivos e princípios da mesma. Tudo isso é decorrente da ausência de garantia que esse tipo de investimento possui. Os investidores oferecem o financiamento em etapas, para garantir que o valor da opção seja maximizado. Essas características do capital de risco deixam claro que os arranjos contratuais neste tipo de investimento são muito mais complexos do que normalmente acontece. Em geral eles apresentam características semelhantes às do investimento de patrimônio, com ambos os lados recebendo parte do potencial retorno do projeto.

Segundo Engel (2002), o capital de risco possibilita as empresas jovens, inovadoras e de rápido crescimento – normalmente com necessidade de recursos, patrimônio líquido reduzido e opções de empréstimos limitadas – a obtenção de um financiamento que as permita alcançar uma posição de mercado variável. O capital de risco assume, portanto, as incertezas e os riscos destas empresas e contribui, ao menos em tese, para o desenvolvimento de empresas mais competitivas por meio de seleção daquelas empresas com maiores chances de serem bem sucedidas. Não apenas empresas jovens, mas também aquelas com alto potencial de geração de fluxo de caixa são possíveis alvos de aquisições por parte de fundos de capital de risco.

3.2 Breve histórico do surgimento do capital de risco

Segundo Allen e Percival apud Day et all (2003) o capital de risco nos Estados Unidos tem sido usado por mais de 50 anos e somente nos últimos 20 anos que se tornou em uma fonte significativa de fundos para novas empresas. Inicialmente os fundos de capital de risco foram bem restritos em seu sucesso, somente após mudanças na legislação americana no final dos anos 1970 que a indústria de capital de risco começou a crescer consideravelmente. Após uma interpretação do Labor Department houve uma maior permissão para investimentos em capital de risco, dentre outras medidas houve também a redução nas alíquotas de impostos sobre o ganho máximo com capital de 49,5% para 28% em 1978 e para 20% em 1981. Todo

Page 56: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

56

esse incentivo tributário propiciou uma maior adesão dos investidores em capital de risco.

Hoje o país em que o capital de risco vem sendo aplicado com maior intensidade é nos Estados Unidos, este tipo de investimento corresponde a dois terços do financiamento externo de capital próprio do setor privado das empresas de tecnologia e inovação (Allen e Percival apud Day et all 2003). Várias e importantes empresas americanas receberam recursos em suas fases iniciais de crescimento e inovaram em produtos, serviços e processos, tornando-se líderes de mercado em seus seguimentos, como por exemplo: Oracle, Yahoo, Intel Co, Hot Mail, Lycos, Federal Express, Microsoft, AOL e Apple.

Tabela 2- Valores investidos e número de empresas que receberam capital de risco nos EUA

Valor investido

(US$ bilhão) Número de empresas

1980 0,61 504 1985 2,68 1377 1989 3,26 1355 1995 5,94 1346 2000 104,05 5606 2001(até setembro) 31,02 2653

Fonte: Adaptado - Pavani (2003)

Devido ao grande sucesso alcançado pelas empresas norte americanas com este

modelo de investimento, outros países passaram a adotar modelos semelhantes como Israel, Reino Unido, Índia, Chile, Japão, Cingapura, Coréia do Sul, Austrália, Irlanda, França, Brasil (Pavani, 2003). Embora nestes países a utilização deste fundo de investimento seja bem mais recente, o seu crescimento tem sido bastante rápido, principalmente a partir de meados dos anos 80, destacando-se o Reino Unido e a França, ativamente sustentados pelos poderes públicos nacionais e pelas instâncias européias. Ainda assim, o capital de risco é um mercado que só atingiu o apogeu nos anos 90, quando chegou a atrair um volume mundial próximo a US$ 100 bilhões de investimentos, notadamente com a entrada das empresas “ponto com”. Entretanto, com o estouro da bolha dessas empresas, houve crescentes desinvestimentos, movimento que ganhou força com as crises econômicas globais que se seguiram.

No Brasil, os investimentos em capital de risco tornaram-se relevantes com a constituição da BNDESPAR em 1982 que permitiu a aquisição e venda de valores mobiliários no mercado secundário e com isso fez com que investidores privados direcionassem sua atenção para esse mercado. Em 1991 o BNDESPAR criou o Programa CONTEC, voltado para o financiamento de pequenas e médias empresas de base tecnológica, por meio de investimentos baseados em participação acionária direta, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição.

Outro marco importante ocorreu em 1994 com a promulgação da instrução CVM 209, que permitiu a constituição de Fundos Mútuos de Investimento em Empresas Emergentes, permitindo assim a participação dos Fundos de Pensão no mercado de capital de risco.

Em 2003 foi promulgada a instrução normativa CVM 391/03, que estimulou a formação dos fundos de venture capital. Desde então, houve uma especialização crescente de gestores independentes e a redução da participação de corporações, surgiram fundos focados na competência do próprio gestor e a segmentação em fundos menores direcionados para gestores independentes.

Page 57: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

57

O Governo Federal brasileiro para incentivar a inovação tecnológica criou em dezembro de 2004 a Lei nº 10.973, que ficou conhecida como Lei de Inovação, que mais tarde foi regulamentada pelo Decreto nº 5.563, em outubro de 2005. A nova Lei foi organizada em torno de três eixos: a constituição de um ambiente propício à construção de parcerias entre as universidades, institutos tecnológicos e empresas; o estímulo à participação de institutos de ciência e tecnologia no processo de inovação; e o estímulo direto à inovação na empresa. A Lei de Inovação previa o envio ao Congresso Nacional, no prazo de 120 dias, de projeto de lei da União concedendo incentivos fiscais para a inovação nas empresas. Entretanto, isso não ocorreu. Os novos incentivos foram incluídos na Lei n. 11.196, sancionada em novembro de 2005. Esta reservou um capítulo específico (capítulo III) para a consolidação dos incentivos fiscais destinados à inovação tecnológica. Nessa consolidação foram preservados incentivos fiscais contidos na legislação do imposto de renda, na Lei nº 8.661 de 1993 e na Lei nº 10.637 de 2002, e adicionados outros mais atrativos. Cabe destacar que, pela nova Lei, a concessão dos incentivos fiscais passa a ser automática. Ou seja, as empresas ficam dispensadas de submeter previamente seus projetos ao governo para ter acesso aos incentivos fiscais previstos na Lei, sujeitando-se a fiscalização posterior. Com isso, o governo atendeu a uma antiga reivindicação dos empresários, que reclamavam da burocracia e da morosidade nos procedimentos de concessão dos benefícios.

4. Entidades e seus programas de fomento

4.1 BNDES

Através do BNDES, foram coletadas informações sobre as Políticas Operacionais, que orientam e normatizam as operações de financiamento, e estabelecem como prioridade o apoio aos investimentos que promovam a inovação tecnológica. No apoio à exploração de novas oportunidades, a aceleração, por toda parte, das mudanças tecnológicas, e a ela associada, a agilização da competição, impõem à economia brasileira rápidos avanços no que concerne à geração e difusão de inovações. Essas oportunidades conformam uma nova fronteira de crescimento, centrada na inovação, e, portanto, plenamente sintonizada com a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior - PITCE do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio - MDIC.

O apoio à Inovação, além de não ficar restrito a segmentos tecnologicamente sofisticados da indústria, passa a constar entre as prioridades máximas do BNDES. O objetivo do Banco é apoiar investimentos em projetos que visem transformar pesquisa em valor econômico, através de um processo melhor, ou em um produto melhor. E a motivação é clara, pois a empresa que não investir em inovação poderá cair na obsolescência e perder mercado.

Com base nessa nova percepção de competitividade, o BNDES ampliou seu conceito de inovação. Até 2005, as linhas para pesquisa e desenvolvimento estavam restritas a programas específicos, como o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde - PROFARMA e o Programa para o Desenvolvimento da Indústria de Software e Serviços de Tecnologia da Informação - PROSOFT. Agora, o Banco quer estimular a idéia de que a inovação precisa estar presente em toda cadeia produtiva, em qualquer segmento industrial.

Na prática, o conceito de inovação resultou na reativação do Fundo Tecnológico - FUNTEC que libera recursos não reembolsáveis, e na criação de duas novas linhas de financiamento à Inovação – Pesquisa e Desenvolvimento e Produção, contempladas com os mais baixos custos cobrados pelo BNDES.

A linha de apoio a Inovação em Pesquisa e Desenvolvimento e Produção, beneficia as

Page 58: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

58

sociedades que exercem atividades produtivas e instituições especializadas em desenvolvimento tecnológico aplicado a atividades produtivas, e tem por finalidade, apoiar projetos diretamente relacionados a substanciais esforços de pesquisa em desenvolvimento tecnológico e inovação, voltados para novos produtos e processos, visando ao alcance de melhores posicionamentos competitivos.

Tabela 3 – Especificação da linha de apoio Inovação em P,D & I

Forma de Apoio

Direta.

Taxa de Juros

Custo Financeiro 4,5% ao ano. Taxa de Risco de Crédito

De até 1,8% a.a. (independente da classificação de risco do beneficiário).

Prazo até 12 anos. Nível de Participação:

até 100%.

Fonte: BNDES

Já a linha de Inovação em Produção beneficia as sociedades que exercem atividade produtiva e instituições especializadas em desenvolvimento tecnológico aplicado a atividades produtivas, e tem por finalidade financiar projetos de investimento em:

• inovações incrementais em desenvolvimento de produtos e processos.

• investimentos complementares diretamente associados à formação de capacitações e de ambientes inovadores e/ou

• criação, expansão e adequação da capacidade para produção e comercialização dos resultados do processo de inovação.

Tabela 4 – Especificação da linha de apoio Inovação em Produção

Forma de Apoio Direta e Indireta não automática. Taxa de juros para o apoio direto

Custo Financeiro Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP. Taxa de risco de crédito

De até 1,8% a.a. (independente da classificação de risco do beneficiário).

Taxa de juros para o apoio indireto

Custo Financeiro Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP. Taxa de intermediação financeira

0,8% a.a. Obs.: As operações com micro, pequenas e médias empresas estarão isentas da taxa de intermediação financeira.

Remuneração da Instituição Financeira Credenciada

até 3% a.a. (negociada entre a instituição financeira credenciada e o cliente)

Prazo até 10 anos. Nível de Participação:

até 100%.

Obs.: Na modalidade direta o valor mínimo para financiamento é de R$ 400 mil.

Fonte: BNDES (2007)

As empresas nascentes (start-up), adicionalmente aos pleitos de ambas as linhas de inovação, poderão ser apoiadas pelas linhas de renda variável, através da subscrição de valores mobiliários, diretamente ou através dos fundos de investimento do BNDES.

Page 59: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

59

Fica dispensada a constituição de garantias reais em operações de financiamento de valor inferior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), devendo, nesse caso, ser constituídas garantias pessoais.

Para solicitar o apoio financeiro ao BNDES, a empresa por ela mesma ou por intermédio da instituição financeira credenciada de sua preferência, deve encaminhar sua requisição por meio de Carta-Consulta - preenchida segundo as orientações do Roteiro de Informações para Consulta Prévia - Apoio à Inovação , à área de Planejamento do BNDES em sua própria sede na cidade do Rio de Janeiro.

4.2 FINEP

A FINEP Financiadora de Estudos e Projetos, agência de inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia, possui atualmente o projeto Chamado “Inovar II” que trata-se da continuação do programa de apoio ao mercado de venture capital promovido pela empresa desde 2000. O novo contrato, o qual foi renovado a parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, destina US$ 5 milhões para a realização de ações de estímulo ao setor, como rodadas de negócios, seminários e campanhas de divulgação. Metade dos recursos serão aportados pela FINEP e metade pelo BID. É importante ressaltar que não estão incluídos nesse montante os investimentos destinados aos fundos de venture capital, operações que demandam valores bem maiores e são tratadas de forma independente pelas instituições. Com o Inovar II, a FINEP pretende preencher uma lacuna existente no apoio ao empreendedorismo nacional. Atualmente, investimentos públicos e privados atendem majoritariamente a empresas em crescimento e expansão. Há um vazio no apoio a projetos ainda incipientes. Por isso, a FINEP cada vez mais concentrará esforços na indústria de capital semente, modalidade de investimento voltada para empreendimentos nascentes, muitas vezes ainda dentro de incubadoras e universidades.

Em 2007, a Financiadora investiu em três novos fundos de seed capital, que juntos aplicarão R$ 60 milhões em cerca de 40 empresas. Do total de recursos, aproximadamente 40% virão da FINEP. Em 2008, o objetivo está sendo apoiar mais quatro fundos, com patrimônios que somados devem alcançar R$ 80 milhões. Com isso, mais 60 empresas nascentes serão apoiadas. O investimento médio da FINEP deve ficar em torno de R$ 8 milhões por fundo. Algumas das empresas que já foram beneficiadas pelo fundo são: Neovia, Pollux, Link ware Integração de Soluções, Disec Digital Security, Bioexton, Teikon, Ecosorb Tecnologia de Proteção Ambiental.

Para Susana Garcia-Robles, representante do BID, o Projeto Inovar precisa servir de referência para a estruturação do mercado de venture capital em outras regiões da América Latina. Países como Colômbia, Peru e Chile já estão em contato com a FINEP e devem fechar em breve contratos de transferência de metodologias.

Também está entre as prioridades do Inovar II atrair para o setor os investidores pessoa física, conhecidos como “anjos”. Além de aplicar recursos financeiros, esse profissional oferece experiência e competência às empresas nas quais investe. Segundo Eduardo Costa, Diretor de Inovação da FINEP, apesar do dinheiro ser importante, na maioria das vezes as pequenas empresas precisam é do chamado “capital humano”, que inclui importantes ativos intangíveis, como conhecimento técnico, experiência profissional, competência em gestão e rede de relacionamentos.

Dentre os programas de fomento da FINEP podemos destacar a Incubadora Inovar, criada em 2001, que consiste em um consórcio de investidores institucionais que selecionam e aportam recursos em fundos de capital semente, venture capital e private equity. Nessas

Page 60: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

60

modalidades, os investidores tornam-se sócios das empresas através da compra de participações, o que significa dividir lucros e perdas.

Em seis anos (2001 a 2007), a Incubadora comprometeu R$ 600 milhões em 13 fundos, que já beneficiaram 50 empreendimentos inovadores. Além da FINEP, são membros da iniciativa: o Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento - FUMIN/BID, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, o Banco do Brasil Investimentos - BB - BI, a Bolsa de Valores de São Paulo - BOVESPA e os Fundos de Pensão dos funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - Fapes, do Banco do Brasil - Previ, da Petrobras - PETROS e da Caixa Econômica Federal - FUNCEF.

Hoje na FINEP apesar do foco ser capital semente, o setor de venture capital não foi deixado de lado. Dos 10 fundos inscritos na 8ª Chamada Inovar, sete foram selecionados. Serão R$ 720 milhões dirigidos a aproximadamente 60 empresas. A expectativa dos fundos é captar R$ 460 milhões junto aos parceiros da Incubadora Inovar.

O venture capital beneficia empreendimentos que, embora ainda pequenos, já possuem um ciclo comercial completo. Ou seja, têm produto, canal de distribuição e clientes. Algo entre o capital semente e o private equity, esse último voltado a empresas de médio porte que ainda não estão prontas para abrir capital na bolsa de valores. Nessa modalidade, três fundos foram selecionados entre os cinco inscritos. Ao todo, vão investir R$ 1,1 bilhão em 20 empresas, dos quais R$ 590 milhões seriam aplicados pelos parceiros Inovar.

4.3 Setor Privado

De acordo com um estudo feito pela GVCEP-ENDEAVOR em 2007 com todas as gestoras de private equity e de venture capital no Brasil, evidencia-se a ebulição do setor com o comprometimento de US$ 16,72 bilhões em recursos para aplicação nos mais variados empreendimentos. Há dois anos e meio, esse total era de US$ 5,58 bilhões. Outros indicadores dão a dimensão do vigor do private equity e venture capital. O número das organizações voltadas para a atividade aumentou nesse período, de 71 para 89, o dos escritórios no Brasil passou de 101 para 117, o de veículos de investimento, como fundos, foi de 101 para 153, e o de empresas em portifólio saltou de 306 para 404. Das 89 organizações gestoras no Brasil, uma grande maioria, 72, é de independentes, ou seja, não estão vinculadas a instituições financeiras. Outras 13 são ligadas a instituições financeiras, 2 a grupos industriais e 2 ao setor público. Um número relativamente alto de 33 empresas, iniciou as operações nos últimos dois anos e meio. Mas também já há um grupo razoável de veteranas na área: 20 acumulam dez anos de experiência, o que significa pelo menos um ciclo completo de investimento. Outra constatação do levantamento é a elevada concentração em poucos gestores. As dez maiores organizações administram US$ 10,26 bilhões, ou 61,4% do total – ou mais de 1 bilhão em média cada uma. De acordo ainda com a pesquisa a maioria das gestoras (78,7%) é nacional.

Tabela 5 – Números gerais dos bancos comerciais e múltilos no Brasil – em R$ milhões 2004 2007

Organizações gestoras 71 89 Profissionais 498 984 Escritórios no Brasil 101 117 Veículos de investimento* 101 153

Empresas em protifólio 306 404 * Limited partnership (LP), holdings, fundos regidos pro instruções da CVM ou divisões de empresas não financeiras.

Page 61: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

61

Fonte: Guia GVCEPE-ENDEAVOR com os principais gestores do Brasil

Os fundos de private equity circulam no limiar do mercado de capitais: entram em companhias já relativamente estabelecidas, com perspectiva de listagem em bolsas a médio prazo. As ofertas iniciais de ações – IPO (abertura de capital na bolsa) e as ofertas posteriores dão saída a esses investidores. Agora, a nova fronteira em investimento em projetos no Brasil migrou para o campo do venture capital. Espécie de irmão caçula do private equity, o venture

capital atua num estágio anterior ao desses fundos. Seu foco é em empreendimentos de menor porte, nos quais há mais risco, mas que embutem potenciais de ganhos maiores. Nesse terreno, a criatividade impera nos dois lados. Os projetos escolhidos geralmente têm um foco inovador, e as modalidades de investimento podem incluir vários perfis de investidores.

Tabela 6 – Empresas selecionadas que receberam investimento em PE/VC e fizeram oferta pública de ações (IPO) na Bovespa de 2004 a 2007

Ano Empresa

Volume captado no IPO (R$ milhões)

Gestora de PE/VC que investiu na empresa antes do IPO Setor/Subsetor

2007 Cia Providência 469 AIG Private Equity, BES Private Equity e Governança e Gestão Investimentos Indústria química

Cremer 552 Merrill Lynch Global Private Equity Medicina e Estética Fertilizantes

Heringer 350 AIG Private Equity

Agronegócios BR Malls 657 GP Investments Construção

Civil/Imóveis Anhanguera 512 Pátria Investimentos Educação 2006 Dufry 880 Advent International Varejo Santos Brasil 933 Angra Partners Consultoria Empresarial e

Participações e Darby Overseas Investments Logística/Distribuição Datasul 317 Baring Latin America Partners e BPE

Investimentos Eletrônica e Informática Lupatech 453 Axxon Group, BNDESPar, CRP Companhia

de participações, GP Investments e Grupo Santander Banespa Indústrias Diversas

BrasilAgro 583 Tarpon Investment Group Agronegócios Equatorial 540 GP Investments e UBS Pactual Energia Gafisa 927 GP Investments Construção

Civil/Imóveis 2005 UOL 625 Alothon Group, Blackstone, Credit Suisse

First Boston Private Equity, Ham Brecht & Quist, Latin Tech Capital Participações Ltda. MorganStanley Dean Witter & Co. e Providence Equity Partners Eletrônica e Informática

TAM 548 Credit Suisse First Boston Private Equity e Bassini, Playfair & Wright Transporte Aéreo

2004 CPFL Energia 821 Bradespar S.A. Energia Gol 878 AIG Private Equity Transporte Aéreo Natura 768 BNDESPar Medicina e Estética

Fonte: Adaptado - Guia GVCEPE-ENDEAVOR com os principais gestores do Brasil

A tabela 6 mostra algumas empresas brasieliras que receberam investimentos de

private equity e venture capital e que obtiveram sucesso ao lançar suas IPOs no mercado, como valorização da marca, aumento de capital, e consequente aumento da produção. A

Page 62: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

62

expanção do mercado no cenário globalizado tem levado as empresas que querem ser atrativas a investimentos a se modernizar, a criar um ambiente em concordância com aquelas das economias mais avançadas. Essa é uma realidade que chegou em definitivo e que deve modificar para melhor o cenário brasileiro de negócios.

5. Conclusão

Após uma visão geral do panorama atual do Brasil destaca-se a importância do financiamento de inovação tecnológica para o crescimento e desenvolvimento econômico e social em um país. Neste estudo, atarvés dos gráficos 1 e 2, conclui-se que ainda nos dias de hoje há uma grande divergência entre os processos que estão ocorrendo no plano internacional e no Brasil, em relação ao desenvolvimento de inovações tecnológicas e às estratégias nacionais de acumulação de conhecimento. O setor empresarial brasileiro mostra-se pouco ativo no que diz respeito aos investimentos em atividades inovadoras. Estes limitam-se em grande parte à aquisição de máquinas e equipamentos destinadas a melhorar a eficiência do processo produtivo apenas. Não faz parte da cultura e da postura da maioria das empresas localizadas no país o investimento na geração de conhecimentos com o objetivo de aumentar competitividade nos mercados em que atuam, tanto interno quanto externo principalmente.

O governo brasileiro, com a lei da inovação vem fazendo um esforço no sentido de reconstruir a sua capacitação em planejamento e na definição de prioridades. Observam-se ainda algumas dificuldades na execução das ações públicas, e na área de ciência, tecnologia e inovação. Os recursos financeiros disponíveis ainda são insuficientes para mudança estrutural necessária, apesar de aumentarem gradativamente conforme observado na tabela 5. O predomínio da política macroeconômica, com restrição fiscal, também atingiu os recursos para a área. Se com a instituição dos fundos setoriais, houve uma ampliação do montante global de recursos destinados a Ciência e Tecnologia, aos poucos esses recursos estão substituindo em grande parte os recursos orçamentários das instituições vinculadas à Ciência e Tecnologia. Na realidade houve aumento dos recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia, mas não equivalente ao crescimento dos fundos setoriais.

O Brasil precisa de forma efetiva, se inspirar nas experiências bem sucedidas dos países desenvolvidos e de alguns emergentes, onde a inovação é considerada estratégica para a competitividade dos grandes grupos privados e de suas cadeias produtivas, nos quais o governo atua incentivando a geração do conhecimento e sua aplicação no sistema produtivo.

Referências

BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. Disponível em: http://www.bndes.gov.br. Acesso em: Dezembro 2007.

CHRISTENSEN, C. M. The Innovator‘s dilemma. Collins, 2003.

DAY, G. S.; SCHOEMAKER, P.J.H.; GUNTHER R.E.; Tecnologias Emergentes: a visão da Wharton School. Porto Alegre: Bookman, 2003.

ENGEL. D., 2002, The Impact of Venture Capital on Firm Growth: An Empirical Investigation, Centre for European Economic Research, Discution Paper nº 02-02.

FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS. Disponível em: http://www.finep.gov.br.Acesso em: Junho 2008.

GUIA GVCEPE-ENDEAVOR com os principais gestores do Brasil. São Paulo: Fundação Getulio Vargas- Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital e Instituto Empreendedor Endeavor, 2007.

IBGE. Pesquisa Industrial - Inovação Tecnológica 2003. Rio de Janeiro, IBGE, 2005.

Page 63: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

63

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Brasil: O estado de uma nação. Brasília, IPEA, 2005.

MELO, L.M. Inovação e financiamento no Brasil: uma análise do sistema de financiamento à inovação no

Brasil. Rio de Janeiro, UFRJ, 2007.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Disponível em: http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/6054.html Acesso em Julho de 2008.

PAVANI, C. O Capital de Risco no Brasil. Conceito Evolução Perspectivas. Rio de Janeiro: E-papers, 2003

SANTOS,C. BNDES e FINEP têm pressa em liberar recursos para inovação. Valor Econômico, Rio de Janeiro, p. A6, 26 nov. 2007.

Page 64: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

64

A evolução da aplicação da abordagem System Dynamics (SD) na Gestão da Produção: análise por meio de uma revisão de literatura

Alyne Andrade Guimarães (UFScar) [email protected]

Moacir Godinho Filho (UFScar) [email protected]

Resumo: Este trabalho foca na aplicação da abordagem de System Dynamics (SD) na Gestão

da Produção e tem como objetivo mostrar a evolução da sua aplicabilidade no período de

1990 a 2007 . Uma pesquisa é feita a partir de um estudo realizado anteriormente e de

consulta a bases de dados. A evolução do uso de System Dynamics é mostrada ao longo de

três períodos de tempo, cada um correspondente a um intervalo de 6 anos. Em cada um

desses períodos os trabalhos encontrados são divididos em 4 áreas da Gestão da Produção, a

saber: sistemas de produção/planejamento e controle da produção; gestão em

desenvolvimento do produto/processo; logística/gestão da cadeia de suprimentos e gestão da

qualidade. A partir desse sistema de classificação uma análise dos resultados mostra um

aumento na utilização de System Dynamics em todas as 4 áreas estudadas. O artigo também

mostra que mesmo com essa evolução ao longo dos anos o uso dessa técnica na Gestão da

Produção ainda é pequeno e representa, portanto uma oportunidade para pesquisas na área.

Palavras-chave: System Dynamics; Gestão da Produção; Revisão de Literatura.

1. Introdução

O presente trabalho trata da aplicação da abordagem System Dynamics (SD), também denominada Dinâmica de Sistemas na literatura nacional, no ambiente da produção. Jay W. Forrester, professor e pesquisador da Sloan School do MIT (Massachusetts Institute of

Technology) desenvolveu, na década de 50, uma metodologia de modelagem e simulação ao longo do tempo de sistemas complexos, como meio de avaliar negócios e outros contextos organizacionais e sociais que chamou de SD. O livro Industrial Dynamics de Forrester (1962) representou o marco conceitual desta área de pesquisa.

Em sistemas complexos (tal como um sistema de manufatura) objetos interagem e a mudança em uma variável afeta as outras variáveis dinamicamente; esta mudança por sua vez retroalimenta (feedback) a variável original e assim por diante (TESFAMARIAM E LINDBERG, 2005). A esse conjunto de relacionamento entre as variáveis é dado o nome de comportamento do sistema. Os modelos de SD capturam as relações causais e os feedbacks existentes em um sistema. SD é um método para aumentar o aprendizado sobre um sistema complexo (STERMAN, 2000).

Wolstenholme (1990) considera que SD existe em duas formas: qualitativa e quantitativa. A forma qualitativa consiste em diagramas (influências ou loops causais), os quais representam o sistema em estudo por meio de recursos que fluem através de vários estágios a partir de taxas. O recurso pode ser físico (pessoas, dinheiro, etc.) ou não-físico (conhecimento, motivação, etc.). O estado do sistema é definido como qualquer acumulação de recursos que é de relevante importância. Os recursos fluem através do sistema como resultado de uma atividade guia que converge o recurso de um estado para outro. Essa atividade-guia é representada por uma taxa que aumenta ou diminui o nível de recursos (BAINES E HARRISON, 1999). A forma quantitativa utiliza diagramas de estoque-fluxo para estudar a evolução de um sistema dentro de um período de interesse. A partir desses

Page 65: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

65

diagramas é possível descrever matematicamente os sistemas naturais e artificiais em quatro elementos: estoques, fluxos, conectores e conversores (FERNANDES, 2003).

Segundo Forrester (1962), SD apresenta uma aplicabilidade universal em qualquer situação a qual possa ser modelada como um sistema, que combine pessoas e/ou máquinas. Os modelos de SD têm sido aplicados em uma vasta gama de áreas para entendimento e resolução de problemas, tais como manufatura (FORRESTER, 1962); economia (LUZZI E SUSSMAN, 1976); agricultura (MATTHEWS E HUNT, 1994); biologia (FOSTER, 1970), entre outras.

O presente artigo foca a aplicação da abordagem de SD na área de Gestão da Produção. A Gestão da Produção é o projeto, a operação e a melhoria de sistemas que criam e distribuem os bens da empresa (CHASE et al., 2006). Segundo Shingo (1996) produção é uma rede de processos e operações, sendo que um processo é visto como o fluxo de materiais no tempo e no espaço e as operações podem ser visualizadas como o trabalho realizado para efetivar essa transformação.

Dentro desse contexto esse trabalho tem como objetivo fazer uma revisão de literatura sobre a aplicação de SD na Gestão da Produção e sua evolução no período de 1990 até 2007. Muitas são as áreas da Gestão da Produção, tais como ergonomia, gestão do conhecimento organizacional, gestão econômica, etc. Nesse artigo trabalhamos com quatro áreas da Gestão da Produção as quais são mais passiveis de aplicação de modelos SD: Sistemas de Produção/PCP (Planejamento e Controle da Produção); Gestão da Qualidade; Gestão do Desenvolvimento do Produto/Processos; Logística/Gestão da Cadeia de Suprimentos.

A evolução da aplicação de SD será mostrada em três etapas, cada etapa abrangendo um período correspondente a seis anos, ou seja, a primeira etapa corresponde aos anos de 1990-1995, a segunda etapa aos anos de 1996-2001 e a terceira etapa engloba os anos de 2002-2007. A primeira etapa foi obtida por meio de uma revisão de literatura anterior de Baines e Harrison (1999), os quais tentaram encontrar por meio dessa análise razões para a lacuna existente da aplicação de SD na área da manufatura.

O artigo está estruturado da seguinte forma: na seção 2 é apresentado o método de pesquisa; na seção 3 são mostrados os trabalhos encontrados no período de 1990-1995; na seção 4 os trabalhos encontrados no período de 1996-2001; na seção 5 são apresentados os trabalhos da terceira etapa, (períodos de 2002-2007); na seção 6 é feita uma análise dos resultados encontrados e na seção 7 são feitas as considerações finais.

2. Método de pesquisa

Esse trabalho faz uma revisão bibliográfica sobre a aplicação de SD na Gestão da Produção. Segundo Rowley e Slack (2004) uma revisão de literatura sumariza o estado da arte do assunto em questão, apoiando a identificação do tópico de pesquisa, questão ou hipótese. Além disso, uma revisão de literatura contribui para contextualização de uma pesquisa dentro de um universo de trabalhos já existentes na área, construindo e entendendo conceitos teóricos e terminologias.

Primeiramente, foi feita uma análise dos trabalhos sobre SD aplicada a operações da produção no período entre 1990-1995 a partir da pesquisa realizada por Baines e Harrison (1999). A seguir realizou-se uma pesquisa sobre SD e suas aplicações utilizando bases de dados (COMPENDEX, etc.). Com base nos trabalhos encontrados nas bases de dados e na análise realizada sobre a pesquisa de Baines e Harrison (1999) foi desenvolvida uma classificação em quatro áreas da Gestão da Produção: Sistemas de Produção/PCP; Gestão da Qualidade; Gestão do Desenvolvimento do Produto/Processos; Logística/Gestão da Cadeia de

Page 66: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

66

Suprimentos. Ao mesmo tempo em que a classificação foi realizada, os trabalhos encontrados foram divididos em três seções (seção 3,4 e 5), cada uma representando um período de tempo de seis anos para facilitar a análise evolutiva da aplicação da ferramenta SD. Na seção 3 são mostrados os trabalhos encontrados do período de 1990-1995 com base na revisão bibliográfica feita por Baines e Harrison (1999). Na seção 4, os trabalhos correspondentes ao período de 1996-2001 e na seção 5, os trabalhos de 2001-2007. As seções 3, 4 e 5 são divididas em 5 tópicos, 4 equivalentes às 4 áreas da Gestão da Produção focadas e 1 final relacionada a trabalhos que se encaixam em mais de uma área. Na seção 6 é feita uma análise comparativa dos resultados encontrados. A estrutura desenvolvida nesse trabalho é mostrada na figura 1 e contém os passos realizados nessa pesquisa.

Figura 1 – Passos realizados na elaboração do trabalho

3. Trabalhos de SD no período de 1990-1995

3.1 Trabalhos com foco em Sistemas da Produção/ PCP

Jessen (1991) propõe o uso de um modelo SD para auxiliar os gerentes na tomada de decisões referentes à realização de um projeto. Ravishankar (1993) desenvolve alguns modelos SD para entender os efeitos de políticas de gestão na linha de produção de um semicondutor e constrói um modelo de alocação de recursos dentro da organização para ilustrar como políticas de decisões na produção impactam no desempenho das máquinas e na produtividade da fábrica.

3.2 Trabalhos com foco em Gestão em Desenvolvimento do Produto/ Processo

Tucci et al. (1991) estudam, via SD, um simulador do processo de manufatura de motores de indução, o qual fornece um feedback na programação da produção durante a o projeto do processo. A simulação fornece informação que auxilia no estágio de projeto do motor via software. Abdel- Hamid (1993) demonstra, por meio de SD, como as diversas fases de um projeto interagem entre si e influenciam o resultado final do desenvolvimento de um produto ou processo como um todo. Essa pesquisa foi desenvolvida com base em estudos de 5 organizações.

3.3 Trabalhos com foco em Logística/ Gestão da Cadeia de Suprimentos

Wikner et al. (1991) simulam uma cadeia de suprimentos, a qual oferece detalhes organizacionais e mudanças necessárias para melhorias. Através da modelagem e simulação em SD são oferecidas cinco diferentes abordagens para melhoria da dinâmica da cadeia de suprimentos, tais como a redução de sistemas que causam atrasos e mudança nas regras de decisão nos elos da cadeia. Towill (1992) revisa o estado de desenvolvimento do tema cadeia de suprimentos. Através da simulação com SD, este autor ressalta a importância do fluxo de

Análise dos trabalhos

sobre SD em operações da

produção entre 1990-

1995

Pesquisa sobre aplicação de SD

na gestão da produção usando bases de dados

Classificação em quatro áreas da

gestão da produção e divisão dos

trabalhos em três períodos de 6

anos cada

Análise dos resultados

Considerações finais

Page 67: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

67

bens e de informação e propõe um quadro conceitual que possibilita melhorias em toda a cadeia. Towill e Del Vecchio (1994) propõem o uso da teoria do filtro e da simulação SD para minimizar o estoque total da cadeia de suprimentos diante das flutuações da demanda ao longo de três elos da cadeia.

3.4 Trabalhos com foco em Gestão da Qualidade

Não foram encontrados trabalhos com foco em gestão da qualidade nesse período.

3.5 Trabalhos com foco em mais de uma área

Byrne e Roberts (1994) investigam como o uso de SD pode melhorar o desempenho de um sistema completo de produção principalmente os níveis de inventário e a programação da produção de máquinas consideradas críticas. O estudo também investiga como a ligação entre o fornecedor e a manufatura é realizada e propõem melhorias que atingem todo o sistema.

4. Trabalhos de SD no período de 1996-2001

4.1 Trabalhos com foco em Sistemas da Produção/PCP

No trabalho de Ghrabi e Kenne (1997) trabalha-se com um problema cujo objetivo é encontrar o número ótimo de máquinas que minimize o custo médio total incluindo inventários e custos com reparos de máquinas. Utilizando SD o custo foi determinado para diferentes configurações do sistema e daí o melhor número de máquinas pode ser encontrado. O trabalho de Lin et al. (1998) propõe e detalha um modelo genérico de SD que fornece uma modelagem fácil em um nível agregado para sistemas de manufatura. Já Reid e Koljonem (1999) aplicam princípios da Teoria das Restrições em modelos de SD para estabelecer novos quadros conceituais, guiando os gerentes através de processos de melhoria contínua para identificar políticas e paradigmas de restrições em sistemas de produção. Williford e Chang (1999) descrevem o desenvolvimento de um modelo de SD que auxilia no treinamento, assessoria e a infra-estrutura em um período de cinco anos para a divisão de tecnologia de informação da FedEx.

4.2 Trabalhos com foco em Gestão em Desenvolvimento do Produto/ Processo

Madachy (1996) foca em um modelo que apóia o processo de avaliação quantitativo do processo de ciclo de vida do produto. SD é usada para modelar o fluxo de tarefas, erros e pessoal nas diferentes fases do desenvolvimento do produto e calibrar dados industriais. Ford e Sterman (1998) também desenvolvem seu trabalho preocupando-se em entender a seqüência de tarefas no desenvolvimento do produto, seus efeitos e interações com os recursos, escopo do projeto e objetivos. O modelo criado explora a interação entre quatro atividades do processo de desenvolvimento do produto e usa o projeto de um chip semicondutor para validá-lo. O trabalho de Sycamore e Collofello (1999) incorpora um modelo de SD em um software de gerenciamento especializado em desenvolvimento de processos concorrentes, o qual permite o planejamento em termos de programação, horas de retrabalho e qualidade.

4.3 Trabalhos com foco em Logística/ Gestão da Cadeia de Suprimentos

Minegishi e Thiel (2000) têm como objetivo mostrar como SD contribui para melhorar o conhecimento do comportamento complexo da logística em uma indústria de alimentos e como essa ferramenta pode fornecer importantes idéias para os gerentes. O trabalho de Akkermans (2001) usa um modelo de simulação com 100 atores distribuídos em três elos da cadeia. Uma análise do modelo mostra que a estabilidade em uma rede complexa emerge espontaneamente com preferências que se fixam ao longo do tempo.

Page 68: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

68

4.4 Trabalhos com foco em Gestão da Qualidade

Não foram encontrados trabalhos com foco em gestão da qualidade nesse período.

4.5 Trabalhos com foco em mais de uma área

Não foram encontrados trabalhos com foco em mais de uma área nesse período.

5. Trabalhos de SD no período de 2002-2007

5.1 Trabalhos com foco em Sistemas da Produção/PCP

Marquez e Blanchar (2004) propõem um modelo de SD para acompanhar a variabilidade da demanda e lead times, utilizando técnicas de otimização para medir trade-offs entre estruturas de escolha alternativas. Em seu trabalho, Tesfamariam e Lindberg (2005) propõem um modelo para tomadas de decisões estratégicas em sistemas de produção, o qual captura os principais relacionamentos e interdependência entre diferentes fatores. Akkermans e Van Oorschot (2005) descrevem um estudo de caso em que a modelagem e simulação SD foi usada no desenvolvimento do Balanced Scorecard (BSC). Já o trabalho de Helal e Rabelo (2006) desenvolve uma simulação híbrida discreto-contínua de um sistema de manufatura, a qual representa uma ferramenta simples e econômica para diferentes escopos e níveis de planejamento. Zhang et al. (2006) construíram um loop causal mostrando as relações entre a capacidade da instalação, nível de estoque, lead time, preço do produto, parcela do mercado, entre outros. Os resultados da simulação mostraram que o modelo é perfeitamente capaz de simular os padrões de comportamento dinâmico de capacidade da instalação. Adamides e Voutsina (2006) baseados na perspectiva de gerenciamento estratégico apresentam um estudo da co-evolução da manufatura e das estratégias de marketing. Através de um modelo SD e baseado em um estudo de caso longitudinal é fornecido um quadro conceitual da co-evolução das duas estratégias. Luo et al. (2007) descrevem a dinâmica dos relacionamentos entre os objetos de controle e as capacidades dos recursos em empresas de manufatura de aviões. O modelo proposto descreve três tipos de situações, as quais fornecem uma visão holística e apóiam a tomada de decisões. Grossler (2006) demonstra a utilidade de uma análise dinâmica para o desenvolvimento e gerenciamento de capacidades e recursos na manufatura. O trabalho de Zhou (2007) considera em seu modelo os relacionamentos dependentes o desempenho de diferentes recursos da manufatura e estabelece a sua validade e eficácia via aplicação de um caso real. Jia e Cheng (2007) utilizam um método de reengenharia de sistemas de produção baseado em SD e na Teoria das Restrições e usam o conceito de gerenciamento total das restrições com o objetivo de assegurar a eficácia e eficiência dos sistemas de produção pelo estabelecimento de um mecanismo de supervisão, previsão e gestão das restrições. Storck (2007) tem como objetivo mostrar como o lead time da fundição de um rotor pode ser melhorado por mudanças na função programação. Um modelo para melhorar os parâmetros que definem a configuração dessa programação, resultando em menores estoques em processo, aumento da eficiência da energia e menos oscilação do sistema é proposto. O trabalho de Pfahl et al. (2007) foca na análise de planos de projeto relacionando diversos fatores tais quais produtividade, volume de trabalho e grau de dependência entres as tarefas.

5.2 Trabalhos com foco em Gestão em Desenvolvimento do Produto/ Processo

Stamboulis et al. (2002) estudam o impacto de alternativas de tempo e examinam estratégias de aprendizado, assumindo específicas estruturas de custo através da elaboração de um modelo SD. Esse estudo mostra que em certas condições de maturidade tecnológica o processo de desenvolvimento de produtos é uma parte crítica e indica que determinados efeitos de não linearidade podem não ser vistos se toda a dinâmica do sistema não for considerada. O trabalho de D’Avino et al. (2005) analisa a dinâmica do comportamento do

Page 69: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

69

processo de desenvolvimento de um processo relacionado a um sub-sistema de um novo modelo de carro. A análise é apoiada pelo feedback dos gerentes técnicos e engenheiros envolvidos no projeto. Byrnes (2005) usa SD para descrever a síntese de um modelo de aeronave com o objetivo de expandir a habilidade de integração dentro do projeto. Ou seja, não atribui apenas o tamanho do veículo e lista suas características físicas, mas liga a síntese do modelo a uma visão mais ampla do sistema.

5.3 Trabalhos com foco em Logística/ Gestão da Cadeia de Suprimentos

Georgiadis et al. (2005), através de SD desenvolvem estratégias para modelar múltiplos elos e elos únicos de uma cadeia de suprimentos de alimentos. Viswanadham et al. (2005) desenvolvem modelos SD para estudar o comportamento de uma rede e investigar o efeito chicote que surge na cadeia. O trabalho mostra também como a integração e a colaboração em todos os elos da rede assegura a lucratividade e minimiza o efeito chicote. O trabalho de Sachan et al. (2006) estuda a cadeia de fornecedores de grãos e analisa a eficácia de vários tipos de integração entres os participantes da cadeia. O modelo construído foi usado para validar nove cenários possíveis com base em três tipos de integração e suas probabilidades de ocorrências. Sun et al.(2006) comparam o uso de SD e Arena no estudo da cadeia de suprimentos, controlam as entradas do modelo e avaliam como essas interferem no desempenho do sistema. Ashayeri e Lemmes (2006) fornecem um modelo que permite aos gestores da cadeia de suprimentos examinarem como melhorias na confiabilidade da demanda impactam em toda cadeia a jusante e o validam através de um caso real. Schawninger e Vrhovec (2006) fazem uma contribuição para um gerenciamento eficaz da cadeia de suprimentos e redes propondo dois métodos sistemáticos para operar em altos níveis de agregação, os quais se complementam: SD para modelar e simular a cadeia de suprimentos e o controle cibernético que aplica conceitos teóricos e lógica recursiva para distribuição. Sun e Shuai (2007) estudam o desenvolvimento da logística na indústria chinesa e diversos fatores que afetam o seu comportamento através de loops causais. O trabalho de Yu e Du (2007) considera a influência do ambiente na cadeia de suprimentos; através da modelagem SD as operações do sistema são analisadas e uma investigação numérica do modelo é realizada ajudando a simular diferentes cenários. Speller et al. (2007) consideram um novo tipo de cadeia de valores que inclui produção e capacidade das linhas de produção existente e incorpora novos produtos e desenvolvimento de serviços. O modelo SD desenvolvido usa equações diferenciais para expressar as relações entre as diversas variáveis e utiliza o caso de uma indústria de aviação para validar o modelo. O estudo de Huang et al.(2007) apresenta uma análise alternativa do CONWIP (Constant Work in Process) em um nível agregado . O CONWIP é um método híbrido de sistemas puxados e empurrados, que oferece uma abordagem para a gestão da cadeia de suprimentos, onde o controle de inventário é um dos elementos mais importantes. O trabalho de Kumar e Yamaoka (2007) através de simulação SD, fornece uma ferramenta que pode ser usada para prever o relacionamento entre diversas variáveis que impactam em tomada de decisões sobre a indústria de carro japonesa.

5.4 Trabalhos com foco em Gestão da Qualidade

Mandal et al. (2002), baseados relações causais, modelam questões de qualidade no ambiente da manufatura. Esse modelo pode ser usado para identificar as conseqüências de se escolher determinadas políticas de qualidade e o desempenho dos sistemas de manufatura. Wankade e Dabade (2006) fornecem uma estrutura que tenta entender a percepção sobre qualidade e investigar a mudança dos viabilizadores de mercado.

Page 70: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

70

5.5 Trabalhos com foco em mais de uma área

O trabalho de Lai et al. (2003) usa SD para oferecer uma visão alternativa do JIT e do kanban fornecendo um novo paradigma para analisar políticas de logística da companhia, entender as interações entre clientes e fornecedores ao longo tempo. Nesse modelo as estratégias e os passos de ação foram identificados e adotados para melhorar o controle de inventário, qualidade e produtividade no chão de fábrica. Scholz-Reiter (2005) também direciona seu estudo para as áreas de sistema de produção/PCP e logística. São utilizadas duas abordagens diferentes para descrever um mesmo cenário de chão de fábrica: um modelo discreto é comparado com um modelo dinâmico de SD. A eficácia e robustez são investigadas pelo comportamento dinâmico e a logística do desempenho em casos de flutuações da carga de trabalho e distúrbios inesperados. Vlachos et al. (2007) focam no desenvolvimento de um planejamento de capacidade eficaz para instalações de remanufatura na cadeia de suprimentos reversa, considerando não apenas questões econômicas mas também questões ambientais.

6. Análise dos Resultados

No presente estudo 48 trabalhos de SD foram encontrados no período em estudo (1990-2007) com foco na Gestão da Produção. A evolução desses trabalhos ao longo do tempo é mostrada na figura 2.

0

5

10

15

20

25

30

35

1990-1995

1996-2001

2002-2007

Período

Núm

ero

de tr

abal

hos

Figura 2. Evolução ao longo do tempo dos trabalhos de SD aplicados a Gestão da Produção

No período de 1990-1995 foram encontrados com base na revisão de literatura realizada por Baynes e Harrison (1999) 8 trabalhos com foco nas quatro áreas da Gestão da Produção incluídas nesse estudo. No segundo período (1996-2001) foram encontrados 9 trabalhos e o no período referente aos anos de 2002 a 2007 foram encontrados 31 trabalhos. Isso mostra que uma evolução bastante grande aconteceu no último período, revelando um aumento de quase quatro vezes em relação aos anos de 1990-1995, que representam o primeiro período. Os anos de 1996 a 2001 mantêm praticamente o mesmo número de trabalhos do primeiro período de tempo analisado. Segundo Baynes e Harrison (1999) a pouca utilização de SD na Gestão da Produção deve-se ao pensamento de que essa técnica é mais apropriada a um horizonte de planejamento maior e não a um nível operacional dentro da manufatura. Outro motivo levantado pelos mesmos autores é que os engenheiros prefeririam utilizar técnicas de simulação de eventos discretos. Pelo crescente uso de SD na gestão de produção revelada pelo crescente aumento de trabalhos encontrados nessa área supõe-se que possivelmente essa mentalidade esteja em processo de mudança.

Na figura 3 é mostrado o número total de trabalhos em cada uma das quatro áreas da Gestão da Produção focadas no período total de anos ao qual essa revisão abrange. Durante os

Page 71: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

71

anos abrangidos por esse estudo foram encontrados no total 22 trabalhos da área de sistemas de produção/PCP, 8 de gestão em desenvolvimento do produto/processo, 2 referentes a gestão da qualidade e 20 relacionados a área de logística/gestão da cadeia de suprimento. O total de trabalhos por área é superior aos 48 trabalhos encontrados nesse estudo; isso acontece já que há 4 trabalhos que pertencem a mais de uma área. A figura 3 revela que há uma maior aplicação de SD na área de sistemas de produção/PCP e na área de logística/gestão da cadeia de suprimentos. Esse resultado já era esperado, uma vez que os trabalhos iniciais de Forrester (1962) dentro da Gestão da Produção visavam exatamente aplicações nestas áreas.

0

5

10

15

20

25

Sistemas deProdução/PCP

Gestão emDesenvolvimento do

Produto/Processo

Logística/Gestão daCadeia de

Suprimentos

Gestão da Qualidade

Área da Gestão da Produção

Núm

ero

de tr

abal

hos

Figura 3. Número total de trabalhos por área da Gestão de Produção

A figura 4 mostra a evolução ao longo do tempo em cada uma das áreas da Gestão da Produção focadas.

0

5

10

15

20

1990-1995 1996-2001 2002-2007

Período

Núm

ero

de tr

abal

hos

Sistemas deProdução/PCP

Gestão emDesenvolvimento doProduto/ProcessoLogística/Gestão daCadeia de Suprimentos

Gestão da Qualidade

Figura 4. Evolução ao longo do tempo das 4 áreas de Gestão da Produção

A figura 4 mostra que todas as áreas apresentaram crescimento no período de tempo desse estudo, destacando-se as áreas de sistemas de produção/PCP e logística/gestão da cadeia de suprimentos. A área de logística/gestão da cadeia de suprimentos tem uma queda no período de 1996-2001 e volta a crescer no período seguinte.

Analisando-se qualitativamente os estudos encontrados nas 4 áreas de Gestão da Produção, temos:

Page 72: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

72

a) Na área de sistemas de produção/PCP observa-se predominantemente a utilização de SD para auxiliar na tomada de decisões, avaliar a escolha de alternativas e capturar o relacionamento existente entre variáveis do chão de fábrica, tais como capacidade, recursos, lead times e estoques. Dois trabalhos (Reid e Koljonem, 1999; Jia e Cheng, 2007) nessa área também associam SD aos princípios da Teoria das Restrições, a fim de ajudar na identificação e gestão das restrições, assegurando assim um desempenho eficiente dos sistemas de produção.

b) Na área de gestão em desenvolvimento do produto/processo, 3 dos 8 trabalhos encontrados são direcionados a entender como as diversas atividades/fases do desenvolvimento do produto/processo interagem entre si e afetam o projeto como um todo.

c) Os dois estudos referentes à gestão da qualidade se preocupam em entender como determinadas ações na área de qualidade ocorrem e determinar suas conseqüências globais para as organizações.

d) A maioria dos trabalhos na área de logística/gestão da cadeia de suprimentos se focam no estudo da integração entre os elos da cadeia, na tentativa de minimizar o estoque total da rede e evitar o efeito chicote.

7. Considerações finais

O presente trabalho teve como objetivo fazer uma revisão de literatura sobre a aplicação de SD na Gestão da Produção e sua evolução no período de 1990 até 2007 a partir do estudo feito por Baynes e Harrison (1999) e de pesquisa realizada em bases de dados. Uma classificação para os trabalhos de SD encontrados foi realizada, focando-se em quatro áreas da Gestão da Produção. A partir disso uma análise comparativa foi feita com base nesses resultados. Uma revisão dessa natureza é capaz de auxiliar em pesquisas futuras por considerar trabalhos anteriores em um contexto estruturado, além de trazer maior conhecimento sobre a situação atual do tema em questão.

Apesar dos dados encontrados revelarem um considerável aumento do uso de SD na Gestão da Produção, ela é ainda uma técnica pouco aplicada quando comparada com a simulação de eventos dicretos, por exemplo, e tendo-se em consideração que foi desenvolvida no início dos anos 60. Com cerca de cinco décadas, SD é uma ferramenta madura e que possui diversos pacotes computacionais competentes, além de ser versátil, podendo ser aplicado em diversas situações. Mesmo assim, os números encontrados mostram que o uso de SD ainda é uma oportunidade a ser explorada nas áreas da Gestão da Produção. A pesquisa também mostra que há espaço para estudos envolvendo SD nas 4 áreas da Gestão da Produção focadas, até mesmo nas áreas de gestão em desenvolvimento do produto/processo e gestão da qualidade, as quais a princípio poderiam parecer não tão adequadas a sua aplicação.

8. Referências Bibliográficas

ABDEL-HAMID, T.K. A multiproject perspective of single-project dynamics. Journal of Systems & Softwares, [S.I.],v.22, n.3,p.151-165,1993.

ADAMIDES, E.D.;VOUTSINA, M. The double-helix model of manufacturing and marketing strategies. International Journal of Production Economics, [S.I.], v.104, n.1, p.3-18, 2006.

AKKERMANS, H. Emergent Supply Networks: System Dynamics Simulation of Adaptive Supply Agents.In: Hawaii International Conference on System Sciences, 34., 2001, Maui. Anais…Washington:IEEE Computer Society, 2001, 11.p.

AKKERMANS,H.;VAN OORSCHOT,K.E. Relevance assumed: A case study of balanced scorecard development using system dynamics. Journal Operational Research Society, [S.I.], v.56, n.8, p.931-941,2005.

Page 73: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

73

ASHAYERI,J.;LEMMES,L. Economic value added of supply chain demand planning: A system dynamics simulation. Robotics and Computer-Integrated Manufacturing, [S.I.], v.22,n.5-6,p.550-556,2006.

BAINES, T. S.; HARRISON, D. K. An opportunity for system dynamics in manufacturing system modeling. Production Planning and Control, [S.I.], v. 10, n. 6, p. 542-552,1999.

BYRNE, S.J.; ROBERTS, L. Efficient parts supply: influence of information flows. In: International System

Dynamics Conference, 12. , 1994, Stirling. Anais… [S.I.: s.n], 1994, p.11-19.

BYRNES,J.M. Conceptual vehicle synthesis by a system dynamics simulation approach. In: Air Systems

Technology Conference and Balloon Systems Conference, 16.,2005,Arlington. Anais…[S.I.]:American Inst. Aeronautics and Austronautics Inc., 2005,p.62-68.

CHASE, R.B.; JACOBS, F. R.; AQUILANO, N.J. Administração da Produção para a Vantagem Competitiva. 10. ed São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

D’AVINO,G.;DONDO,P.;LO STORTO,C.; ZEZZA,V. Reducing ambiguity and uncertainty during new product development: A system dynamics based approach. In: Portland International Conference on Management of

Engineering and Technology,5.,2005, Portland. Anais…Portland:Portland State University,2005,p.538-549.

FERNANDES, A. C. Scorecard Dinâmico: Integrando a Dinâmica de Sistemas com o Balanced Scorecard. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 23., 2003, Ouro preto.Anais...Ouro Preto:ABEPRO ,2003.

FORRESTER, J. W. Industrial Dynamics. Cambridge: MIT Press, 1962.

FOSTER, R. O. The Dynamics of Blood Sugar Regulation. Massachusetts, 1970. Dissertação de mestrado. Massachusetts Institute of Technology, Dept. of Sciences, 1970.

FORD, D.N.; STERMAN, J.D. Dynamic modeling of product development processes. System Dynamics Review, [S.I.], v. 14, n. 1, p. 31-68, 1998.

GEORGIADIS,P.;VLACHOS,D.;IAKOVOU.E. A system dynamics modeling framework for the strategic supply chain management of food chains. Journal of Food Engineering, [S.I.],v.70,n.3,p.351-364,2005.

GHARBI,A.; KENNE, J.P. Production rate control and design problem in a failure prone manufacturing system. In: Industrial Engineering Research Conference, 6., 1997, Miami. Anais…[S.I.]:IEE, 1997, p. 813-818.

GROSSLER, A. A dynamic view on strategic resources and capabilities applied to an example from the manufacturing strategy literature. Journal of Manufacturing Technology Management, [S.I.], v.18, n.3, p.250-266, 2007.

HELAL, M.; RABELO, L. Interactions of the three management levels in the manufacturing enterprise. In: Annual Conference and Exposition, 2006. Orlando. Anais…[S.I.]:IEE, 2006, 6p.

HUANG,M.;IP,W.H.;YUNG,K.L.;WANG,X.;WANG,D. Simulation study using system dynamics for a CONWIP-controlled lamp supply chain. International Journal of Advanced Manufacturing Technology, London, v.32,n.1-2,p.184-193,2007.

JESSEN,S.A. A project management simulation model: how to the motivation of project managers can be studied by model simulation based on the principle of system dynamics. Norwegian School of Management

Research Report, Oslo, 1991.

JIA,G.Z.; CHENG,Y . Reengineering method of production system based on theory of constraint and system dynamics. Computer Integrated Manufacturing Systems, [S.I.], v.13, n.4, p.683-691, 2007.

KUMAR,S.; YAMAOKA,T. System dynamics study of the Japanese automotive industry closed loop supply chain. Journal of Manufacturing Technology Management, [S.I.],v.18,n.2,p.115-138,2007.

LAI, C.L.; LEE,W.B.;IP,W.H. A study of system dynamics in just-in-time logistics. Journal of Material Processing Technology, [S.I.], v.138, n1-3, p.265-269, 2003.

LIN, C.; BAINES, T.S.; O'KANE, J.; LINK, D. A generic methodology that aids the application of system dynamics to manufacturing system modeling. In: International Conference on Simulation, 1998, York. Anais…York: IEE, 1998 p.344-349.

LUO, C.; JIA, S.L.; ZANG, C.; WANG, H.W. Dynamics of technology projects management in aviation manufacturing. Journal of System Simulation, [S.I.], v.19, n.24, p.5715-5721, 2007.

Page 74: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

74

LUZZI, A.R.; SUSSMAN, J. M. A systems dynamics model of the U.S. railroad industry. Massachusetts, 1976. Dissertação de mestrado. Massachusetts Institute of Technology. Dept. of Civil Engineering, 1976.

MADACHY, R.J. System dynamics modeling of an inspection-based process. In: International Conference on

Software Engineering, 18., 1996, Berlin. Anais…Washington: IEEE Computer Society, 1996, p. 376 – 386.

MANDAL,P.;LOVE,P.E.D.;GUNASEKARAN,A. Towards a system dynamics modeling framework for quality in manufacturing. International Journal of Manufacturing Technology and Management, [S.I.], v.4,n.3-4,p.333-343, 2002.

MARQUEZ,A.C.; BLANCHAR,C. The procurement of strategic parts. Analysis of a portfolio of contracts with suppliers using a system dynamics simulation model. International Journal of Production Economics, [S.I.], v.88, n.1,p.29-49,2004.

MATTHEWS, R.B.; HUNT, L.A. GUMCAS: a model describing the growth of cassava (Manihot esculenta L.

Crantz). Field Crops Research, Amsterdam, v.36, p.69-84, 1994.

MINEGISHI, S.; THIEL, D. System dynamics modeling and simulation of a particular food supply chain. In: Simulation-Practice and Theory, [S.I.],v.8, n.5, p. 321-339, 2000.

PFAHL,D.; AL-EMRAN, A.; RUHE,G. A system dynamics simulation model for analyzing the stability of software release plans. Software Process Improvement and Practice, [S.I.], v.12,n.5, p.475-490, 2007.

RAVISHANKAR, G. Role of System Dynamics in Semiconductor Fabrication. In:IEEE/SEMI Advanced

Semiconductor Manufacturing Conference, 4. , 1993, Piscataway. Anais…Piscataway: IEEE Computer Society, 1993, p.40-44.

REID, R.A.; KOLJONEN, E.L. Validating a manufacturing paradigm: a system dynamics modeling approach. In: Winter Simulation Conference, 31, Phoenix. Anais… New York: ACM, 1999, p. 759-765.

ROWLEY, J.; SLACK, F. Conducting a literature review. Management Research News, [S.I.], v. 27, n. 6, p. 31-39, 2004.

SACHAN,A.;SAHAY,B.S.;MOHAN,R. Assesssing benefits of supply chain integration using system dynamics methodology. International Journal of Services Technology and Management, [S.I.], v.7,n.5-6,p.582-601,2006.

SCHOLZ-REITER, B.; FREITAG, M.; DE BEER, C.; JAGALSKI, T. Modelling Dynamics of Autonomous Logistic Processes: Discrete-event versus Continuous Approaches. In: International Seminar on Manufacturing

Systems, 38. 2005, Florianópolis. Anais... [S.I.]: Hallwag Publishing Ltd, 2005, p. 413-416.

SCHWANINGER, M.; VRHOVEC,P. Supply system dynamics: Distributed control in supply chains and networks. Cybernetics and Systems, [S.I.], v.37,n.5,p.375-415,2006.

SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produção do ponto de vista da Engenharia de Produção. Porto Alegre: Bookman, 1996.

SPELLER,T.; RABELO,L.;JONES,A. Value chain modeling using system dynamics. International Journal of

Manufacturing Technology and Management, [S.I.],v.11,n.2,p.135-156,2007.

STAMBOULIS,Y.; ADAMIDES,E.; MALAKIS,T. A system-dynamics study of resource-based approach to process development strategy. In: IEEE International Engineering Management Conference,2002, Cambridge. Anais…[S.I.]:IEEE Computer Society,2002,p.419-424.

STERMAN, J. D. Business Dynamics: Systems Thinking and Modeling for a Complex World. New York: McGraw-Hill, 2000.

STORCK,J.; LINDBERG, B. Assessment of best scheduling practice in continuous casting and hot rolling of stainless steel strip by system dynamics simulation. In: International Conference of Sheet Metal, 12., 2007, [S.I.]. Anais…[S.I.]:Trans Tech Publications Ltd., 2007, p.897-904.

SUN,B.F.;LI,X.;LI,J.H.;HOU,J.N. Application of arena and system dynamics in the field of supply chain simulation. Journal of Jillin University, Jillin,v.36,n.5,p.829-834,2006.

SUN,C.; SHUAI,B. System dynamics model on the relation between Chinas’s logistics industry and its exterior service circumstance. In: International Conference on Service Systems and Service Management,2007, Troyes. Anais…[S.I.]: IEEE Computer Society, 2007,p.526-529.

Page 75: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

75

SYCAMORE, D.M.; COLLOFELO, J.S. Using system dynamics modeling to manage projects. In: International

Computer Software and Applications Conference, 23., 1999, Phoenix. Anais… Washington: IEEE Computer Society, 1999, p.213-217.

TESFAMARIAN, D.; LINDEBERG.B. Aggregate analysis of manufacturing systems using system dynamics and ANP. Computers & Industrial Engineering, [S.I.], v. 49, n.1, p. 98-117, 2005.

TOWILL, D.R., Supply Chain Dynamics: the change engineering challenge of the mid 1990s. In: International Mechanical Engineering, 1., 1992, Chicago. Anais… [S.I.: s.n], 1992, p. 233-245.

TOWILL, D.R.; DEL VECCHIO, A. The application of filter theory to the study of supply chain dynamics. Production Planning & Control, [S.I.], v. 5, n.1, p.82-96, 1994.

TUCCI, C.L.; LANG, J.H.; TABORS, R.D.; KIRTLEY, J.L. A simulator of the manufacturing of induction motors.In: IEEE Industry Application Society Annual Meeting, 1991, Dearborn. Anais…,[S.I.]:IEEE,1991 p.1353-1359.

VISWANADHAM,N.;DESAI,V.;GAONKAR,R. Bullwhip effect in integrated manufacturing and service networks. In: IEEE International Conference on Robotics and Automation,2005,Barcelona.Anais…[S.I.]:IEEE Computer Society,2005,p.2994-2999.

VLACHOS,D.; GEORGIADIS,P.;IAKOVOU,E. A system dynamics model for dynamic capacity planning of remanufacturing in closed-loop supply chains. Computers and Operations Research, [S.I.], v.34, n.2, p.367-394, 2007.

WANKADE,L.; DABADE,B.M. TQM with quality perception: A system dynamics approach, TQM Magazine, [S.I.], v.18, n.4, p.341-357,2006.

WILLIFORD, J.; CHANG, A. Modeling FedEx’s IT division: A system dynamics approach to strategic IT planning. Journal of Systems and Software, v. 46, n.2, p. 203–211, 1999.

WIKNER, J.; TOWILL, D.R.; NAIM, M. Smoothing supply chain dynamics. International Journal of

Production Economics, [S.I.], v.22, n.3, p.231-248, 1991.

WOLSTENHOLME, E.F. System Enquiry— A System Dynamics Approach. New York: Wiley, 1990.

YU,Y.; DU.W. Green supply chain management of manufacturing based on system dynamics. In:International

Conference on Transportation Engineering, 2007, Chengdu. Anais…[S.I.]:American Society of Civil Engineers,2007,p.2500-2505.

ZHANG,L.B.; HAN, Y.Q.; CHEN,J.; YU,Z.;MA,Y.Z. System dynamics in plant capacity enlargement. Journal of System Simulation, [S.I.], v.18, n.5, p.1327-1330, 2006.

ZHOU,J.;LI,Q.;BROWNE,J.;WANG,Q.;FOLAN,P.;XIAO,T. Performance-based Bayesian learning for resource collaboration optimization in manufacturing grid. In: International Conference on Adaptive and Natural

Computing Algorithms, 8., 2007, Warsaw. Anais…[S.I.]:Springer Verlag, 2007, p.498-507.

Page 76: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

76

Redução de custos da movimentação de materiais em uma empresa automobilística: um estudo de caso

Paulo Rogerio Camargo (UNITAU) [email protected]

Waldir Aguiar dos Santos (UNITAU) [email protected]

Edson Teixeira de Araujo (UNITAU) [email protected]

Arnulpho Alves de Souza Jr (UNITAU) [email protected]

Elvio Sakai (UNITAU) [email protected] Resumo: O presente artigo apresenta um estudo sobre o fluxo de uma peça, produzida para

exportação, em uma empresa automobilística, desde sua produção e embalagem em

equipamento metálico, executado no departamento de Carroceria, o transbordo e

acondicionamento em embalagem específica, para atender destinatário final, no

departamento de CKD, até o produto ser entregue na área de despacho da empresa. Ao

analisar o fluxo do cofre, peça também conhecida como capô, e objeto de estudo deste artigo,

observou-se que a distância entre o ponto de fabricação, até local de embalamento final, no

departamento de CKD, poderia ser eliminada, com a transferência da operação de

embalagem especifica para exportação, para ser realizada diretamente na área de

Carroceria, proporcionando eliminação do transporte, que marcava a distância de tais

pontos, redução de mão de obra, custos operacionais, de prazo de entrega, entre outros. A

partir daí, foi proposta uma mudança no fluxo da peça, partindo do local onde ocorria a

produção no departamento de Carroceria, para a área de despacho, onde se obteve ganhos

previstos para disponibilizar áreas utilizadas antes da mudança para eventuais necessidades

de melhorias, novos projetos dentro da empresa e os demais ganhos significativos serão

apresentados nos resultados deste trabalho.

Palavras-chave: Fluxo de Materiais; Desperdícios; Custos; Resultados.

1. Introdução

A competitividade e a necessidade de atingir as metas e objetivos dentro de uma empresa, faz com que estudos de melhorias sejam cada vez mais bem aceitos, e a eliminação de desperdícios é a principal atividade que contribui para alcançar tais resultados, pois além de proporcionar a redução no custo total de fabricação de peças e dos serviços prestados, elimina também, atividades que não agregam valor ao produto, atividades estas, que os consumidores não estão dispostos a pagar.

Tais melhorias, há tempo foram exploradas pelo grupo Toyota, que é referência em redução de desperdícios, e uma das alternativas para as empresas que almejam despontar em seu mercado, está na análise do fluxo de cada peça fabricada.

Rother e Shook (1998), relatam que a técnica mais apropriada para a análise do fluxo de cada peça, está no mapeamento do fluxo de valor (Value Stream Mapping), que ajuda a empresa a visualizar o fluxo da peça como um todo, apresenta os desperdícios e demonstra a relação entre o fluxo de informação com o fluxo do material, para tomada de decisões.

Os autores ressaltam ainda, que a meta para eliminação de desperdícios está na construção de uma representação da cadeia de produção, onde os processos individuais estejam ligados aos seus clientes, por meio de um fluxo contínuo ou pela produção puxada.

1.2 Problema

Page 77: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

77

A distância entre o ponto de fabricação das peças e de transbordo antes do embarque para o destinatário final, está sendo muito longa, desnecessária e pode aumentar o custo de fabricação de um produto?

1.3 Objetivo

O objetivo principal deste trabalho constitui na apresentação de como a análise do fluxo de peças e da implementação de pequenas mudanças de melhoria, pode contribuir de forma positiva para a redução de custo do produto fabricado, colaborando desta forma para a obtenção dos resultados de uma empresa.

1.3 Delimitação do Estudo

Este artigo apresenta o fluxo de peças dentro de uma das linhas de produção, em uma empresa automobilística, visando uma melhorias no processos de fabricação e almejando ainda, a redução de desperdícios de transporte, dentro do processo produtivo até o local de embalagem . Não será objeto de estudo deste artigo, as demais áreas da empresa, pois o nosso foco se dará apenas na melhoria de fluxo de uma das peças produzidas ficando as demais como potencial de ganhos em estudos futuros.

1.4 Relevância do Estudo

O estudo do desperdício se faz necessário em função do custo que uma empresa pode estar suportando, devido aos processos que, anteriormente, poderiam ser considerados necessários, porém ao longo do tempo, mudanças tanto no layout da empresa, quanto a distribuição de novos projetos, podem ter mostrado o contrario. Conhecer as perdas, dentro de um processo, tornou-se um fator diferencial para as empresas que tem seu planejamento executado ao longo de um período, visando garantir uma participação efetiva no mercado com o objetivo de ser, talvez, a melhor dentro do segmento adotado.

Desta forma, o trabalho através da análise do fluxo de transporte de uma peça dentro da empresa, conseguiu mostrar um desperdício que poderia ser contido através de algumas alterações no fluxo, onde os ganhos poderão ser vistos adiante.

2. Fundamentação teórica

A implementação de programas visando minimizar custos dentro das empresas vem aumentando devido a forte tendência de competitividade do mercado em geral. Os programas de redução de desperdícios ou a mentalidade enxuta nas empresas são cada vez mais utilizados seguindo o exemplo da Toyota, referência no assunto, com expectativas otimistas em termos de busca da excelência nos processos produtivos, já que a eficiência, na indústria moderna e nas empresas em geral, significa redução de custos (Ohno, 1997).

O sistema de manufatura enxuta ou “lean manufacturing” é um conjunto de atividades que tem como meta o aumento de capacidade de resposta a mudanças e a minimização dos desperdícios na produção, se constituindo num verdadeiro empreendimento de gestão inovadora (LINDGREN, 2001).

2.1 Principais conceitos da produção enxuta

Segundo Reis (2004), indiferente ao tipo de empreendimento industrial, a possibilidade da utilização da conceituação desenvolvida para dar forma à produção enxuta poder-se-á constituir no diferencial competitivo.

Para Lindgren (2001), o pensamento enxuto é uma forma de especificar valor, alinhar na melhor sequência as ações que criam valor [...].

Page 78: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

78

“Especificar o valor com precisão é o primeiro passo essencial no pensamento enxuto. Oferecer o bem ou o serviço errado de forma certa é desperdício.” (JONES, 2001 e WOMACK 1996 apud Reis, 2004, p. 44).

2.1.1 Desperdícios

Os desperdícios, que devem ser largamente estudados e analisados visando a busca da máxima eficiência com o objetivo de extrair do processo produtivo o que não agrega valor ao produto. Womack e Jones (1996, p.12) ressaltam que sete tipos de desperdícios foram identificados por Shigeo Shingo para o Sistema Toyota de Produção, como descrito abaixo:

• Superprodução: Produzir excessivamente ou cedo demais, resultando em um fluxo pobre de peças e informações, ou excesso de inventário;

• Espera: Longos períodos de ociosidade de pessoas, peças e informação, resultando em um fluxo pobre, bem como em lead times longos;

• Transporte excessivo: Movimento excessivo de pessoas, informação ou peças resultando em dispêndio desnecessário de capital, tempo e energia;

• Processos Inadequados: Utilização do jogo errado de ferramentas, sistemas ou procedimentos, geralmente quando uma aproximação mais simples pode ser mais efetiva;

• Inventário desnecessário: Armazenamento excessivo e falta de informação ou produtos, resultando em custos excessivos e baixa performance do serviço prestado ao cliente;

• Movimentação desnecessária: Desorganização do ambiente de trabalho, resultando baixa performance dos aspectos ergonômicos e perda freqüente de itens;

• Produtos Defeituosos: Problemas frequentes nas cartas de processo, problemas de qualidade do produto, ou baixo desempenho na entrega.

Liker (2005, p.47) incluiu em sua literatura o que ele chama de oitavo desperdício nas empresas, o qual foi denominado de “desperdício da criatividade dos funcionários”, que se baseia na perda de tempo, idéias, habilidades e oportunidades de aprendizagem por não envolver ou ouvir os funcionários.

Analisar e eliminar os vários potenciais de perdas dentro do processo é a forma de obter resultados favoráveis ao desempenho e conquistar melhor desempenho.

Para tanto, o Mapeamento do Fluxo de Valor é uma ferramenta que nos auxilia na redução contínua dos desperdícios e auxilia a empresa a visualizar claramente os processos de manufatura e alguns de seus desperdícios, bem como diretrizes eficazes de análise que auxiliem no projeto de otimização do fluxo e eliminação destes desperdícios.

Lindgren (2001) ressalta que em um fluxo de produção, o movimento do material dentro da fábrica faz parte da logística e que é comumente e deve ser lembrado em primeiro lugar.

Ching (1999, apud Cervi 2002) define logística como sendo: ”a ciência de se fazer chegar o produto certo, na quantidade, no lugar e no tempo certos, nas condições estabelecidas e com o mínimo de custo”.

3 Metodologia

Page 79: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

79

3.1 Tipo de Pesquisa

Camargo (2006, p. 48 apud Vergara 2000, p. 46) propõe dois critérios básicos para informar ao leitor o tipo de pesquisa realizada, sendo eles: quanto aos fins e quanto aos meios de investigação.

Quanto aos fins, à estratégia adotada para este trabalho foi à pesquisa exploratória, pois proporcionou maior familiaridade com o problema, tornando-o mais explicito e possibilitando construção de hipóteses para estudos posteriores.

Quanto aos meios, a pesquisa foi realizada por meio do estudo bibliográfico, o qual foi desenvolvido durante toda a pesquisa, e o estudo de caso.

Mazzotti e Gewandsznajder (2001, p. 159) relatam que o “estudo bibliográfico apresenta subsídios para preencher as lacunas ou as inconsistências que a pesquisa se propõe a esclarecer”.

Thiollent (1994, p. 46, apud Rapoport, 2005, p.1) destaca que:

o estudo de caso não é uma escolha metodológica, mas uma escolha de objeto a ser estudado - o caso, que pode ser analisado de forma qualitativa, quantitativa ou de ambas. Um caso pode ser simples ou complexo, podendo ser um sujeito, um grupo, uma instituição, dentre outros, e pode-se desenvolver simultaneamente mais do que um caso, mas cada um deles é um inquérito concentrado em um único caso.

Camargo (2006, p. 48 apud Goldenberg 2000, p. 33) acrescenta que o estudo de caso é um método de investigação que reúne o maior número de informações detalhadas do caso e permiti que o pesquisador possa aprender a totalidade da situação e descrever a complexidade de um caso concreto.

4 Estudo de Caso

A peça em estudo é o cofre, também chamado de capô, que é um componente produzido na área de carroceria, de uma empresa automobilística localizada na região do Vale do Paraíba – SP, para montagem em série dos veículos, assim como, para os postos de revendas e CKD “Completely Knocked Down”, que são peças fabricadas para exportação e vendidas “completamente desmontadas”.

A importância do processo de eliminação de desperdícios fez com que novas idéias fossem sugeridas, principalmente nos sistemas de deslocamento de peças de um departamento ao outro.

Dentro deste contexto, o presente artigo irá abordar a atividade enxuta de transporte de peças para exportação, produzidas e embaladas em equipamentos metálicos nas células do departamento de Carrocerias, transportadas para o departamento de CKD para reembalagem, e por fim, a sua entrega na área de despacho, para posteriormente ser transportada por meio de navio, para o destinatário final, conforme fluxograma apresentado na Figura 1.

Page 80: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

80

Figura 1 – Fluxo do processo de produção e armazenagem do cofre. Fonte: Elaborada pelo autor.

A Figura 1 demonstra que o fluxo de fabricação do cofre, que está dividido em doze etapas, conforme descrição das atividades com seus respectivos tempos, apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Descrição do fluxo do cofre (situação anterior à melhoria)

O tempo de cada total das onze primeiras etapas do processo de transporte interno do cofre, para 31embalagens contendo o cofre (objetivo de entrega diário), de 4817 minutos (aproximadamente 80:28 horas).

Page 81: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

EMBALAGEMmMNS

ROTATIVIDADE VALOR VALOR ROTATIVIDADE

A 737 3,37 2483,69

B 10 8,96 89,6

C 334 7,9 2638,6

D 110 15,6 1716

E 91 16,54 1505,14

F 31 46,36 1437,16

SUBTOTAL 1313

vezes

9870,19

A análise das atividades de transporte de peças dentro do processo produtivo, da empresa em estudo, se apresentou como um fator crucial redução de custo e de tempo de entrega, das mesmas aos clientes.

Reduzir o fluxo de transporte de materiais, muitas vezes, é sinônimo de redução da quantidade de equipamentos de transporte que circulam pelo processo, colaborando desta forma, não só para o custo relativo a quantidade de equipamentos de transporte disponíveis, como, para o custo ligado a qualidade das peças, levando em consideração o desgaste natural destes equipamentos.

A Tabela 2 apresenta o custo diário de cada embalagem transportada, entre os processos de produção, no departamento de Carroceria e, de reembalagem no departamento de CKD, juntamente com a sua rotatividade por dia, o valor unitário de cada rotatividade, e o valor total por dia, conforme a embalagem (equipamento) a ser utilizada.

Tabela 2 - Custo das embalagens no processo

A embalagem que possui o código F (demarcada na cor vermelha), na Tabela 2, refere-se ao equipamento metálico que transporta o cofre do setor de Carroceria para o setor de CKD, para transbordo em caixas de madeira e, sua rotatividade diária é de 31 vezes, com custo de R$ 46,36 por giro, com custo total diário de R$ 1.437,16.

5 Resultados

Analisando o fluxo do cofre, desde o ponto de fabricação, para a atividade de reembalagem no CKD e o envio da embalagem para a área de despacho, observava-se que a distância gasta era de 1.800 metros como mostra a figura 2.

Page 82: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

82

Figura 2 – Fluxo de movimentação anterior do material: produção, embalagem e despacho.

Visando eliminar desperdício e, por conseqüência diminuir o custo estrutural da empresa objeto deste estudo, foi realizado o mapeamento do fluxo de valor do cofre, onde chegou-se a conclusão, que a distância de 1800 metros, poderia ser diminuída para 700 metros, com a transferência da atividade de reembalagem, executada no processo do CKD, para ser realizada diretamente no ponto de fabricação, ou seja, no próprio departamento de Carroceria.

A figura 3 apresenta como ficou o fluxo da peça após implementação da proposta de melhoria:

Figura 3 – Fluxo de movimentação atual do material: da produção para a área de despacho.

Após implantação do novo fluxo do material, apresentado na Figura 3, as etapas do processo de fabricação e embalagem do cofre foram reduzidas de doze para nove, conforme Tabela 3.

Page 83: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

83

Tabela 3 - Descrição do fluxo do cofre (após a melhoria)

Analisando o novo fluxo de transporte interno do cofre, podem-se observar os seguintes ganhos, descritos abaixo:

• Para a demanda diária de 31 caixas por dia, o tempo de produção e de transporte interno da peça e equipamentos, foi reduzido de 80:28 horas para 65:20 horas;

• Redução do capital imobilizado, pois deixou de ser estocado equipamentos metálicos no armazém do CKD, para posterior reembalamento das peças em caixa de madeira para exportação;

• Redução dos custos operacional, devido a eliminação da reembalagem no departamento de CKD;

• Eliminação do desperdício de movimentação de materiais e de pessoas;

• Menor tempo de resposta ao mercado externo com a redução do lead time em 15:08 horas;

• Qualidade do produto (redução de danos pelo por manuseio);

• Potencial de redução de acidentes, por meio da diminuição do fluxo de transporte de veículos de manuseio de materiais;

• Eliminação da área de armazenamento temporário no departamento de CKD;

• Redução de gastos com GLP (gás liqüefeito de petróleo) e de manutenções com as empilhadeiras.

Outros resultados puderam ser mensurados, os quais estão listados abaixo:

• Ganho de um funcionário para execução de novas atividades: R$ 56.773,20 / ano;

• Eliminação do custo diário de transporte interno do cofre: R$ 1.437,16 / dia;

Page 84: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

84

• Eliminação da utilização de uma bobina de plático polietileno/dia, para proteger os cofres que eram estocados no departamento de CKD:

R$ 75,00 / dia;

A partir dos custos apresentados acima, concluí-se que a empresa obteve uma redução de custo mensal de R$ 37.998,62 e anual de R$ 455.983,44.

6 Considerações Finais

Os resultados do presente trabalho, demonstrou que uma simples modificação em um fluxo de peças, dentro de uma determinada área da empresa, pode trazer ganhos significativos, diminuindo, assim, o seu custo de fabricação.

Desta forma, trabalhos de redução de desperdício dentro das empresas, estarão cada vez mais presentes e freqüentes, com o objetivo de tornar as empresas cada vez mais competitivas, para poder concorrer de igual para igual, com as mais conceituadas empresas dentro de cada ramo de atividades.

O trabalho apresenta ainda, que independente do tipo de atividade de cada empresa, deve-se analisar todos os possíveis desperdícios, e implementar programas voltado a eliminação dos mesmos, para garantia de maior lucratividade e sobrevivencia, pois este é o fator de competitividade das grandes, pequenas e médias empresas.

Referências

CAMARGO, P. R. Implantação de um planejamento estratégico para solução de problemas operacionais. 2006. Monografia (MBA em Gerência de Produção e Tecnologia) – Universidade de Taubaté, UNITAU, Taubaté – SP.

LINDGREN, P. C. C. Implementação do sistema de manufatura enxuta (Lean Manufacturing) na Embraer. 2001. Monografia (MBA em Gerência de Produção e Tecnologia) – Universidade de Taubaté, UNITAU, Taubaté – SP.

LIKER, J. O modelo Toyota – 14 Princípios de gestão da maior fabricante do mundo. Porto Alegre – RS: Bookman, 2005.

MAZZOTTI, A. J.A.; GEWANDSZNAJDER, F. O Método nas Ciências Naturais e Sociais: Pesquisa Quantitativa e Qualitativa 2. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2001.

OHNO, T. O sistema Toyota de produção: Além da produção em larga escala. Porto Alegre - RS: Bookman, 1997.

REIS, J.P. Implementação da manufatura enxuta na General Motors do Brasil: Avaliação do desdobramento do plano de negócios na planta S-10. 2004. Dissertação de Mestrado – Departamento de Economia, Contabilidade e Administração. UNITAU, Taubaté – SP.

ROTHER, M.; SHOOK, J. Aprendendo a Enxergar. Lean Institute Brasil, 2000.

WOMACK, J. P.; JONES, D. T. A mentalidade enxuta nas empresas. 2. ed. Rio de Janeiro – RJ: Campus, 2004.

THIOLENT, M. Metodologia da Pesquisa-ação. 7. ed. São Paulo: Cortez Autores Associados, 1994.

Page 85: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

85

O Pólo Coureiro-Calçadista de Franca-SP: características econômicas e ambientais

Vanessa Cintra Alves (FEB) [email protected]

Agnaldo Sousa Barbosa (UNIFRAN) [email protected]

Adilson Renofio (FEB) [email protected]

Resumo: O setor coureiro-calçadista de Franca-SP, destaca-se por ser um cluster industrial

que possui praticamente todos os elos da cadeia produtiva do couro e do calçado. Sabendo-

se das tendências de que, a cada dia mais, os consumidores optam por produtos que utilizam

em seu processo produtivo ações de responsabilidade sócio-ambiental, é fundamental que as

empresas passem a buscar adequação à esse novo paradigma para manter-se no mercado.

Essa necessidade é mais contundente no setor coureiro, uma vez que abrange indústrias com

alto poder de degradação ambiental. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é fazer uma

caracterização do setor coureiro-calçadista de Franca, abordando seus principais aspectos,

como produção, geração de resíduos, problemas e questões ambientais enfrentados pelo

setor bem como fazer um breve histórico sobre o surgimento da atividade na cidade. A

metodologia de estudo adotada é a pesquisa bibliográfica. A elaboração deste trabalho

justifica-se por reunir os principais aspectos do setor coureiro-calçadista da cidade de

Franca, informações relevantes para a implementação de futuras ações de gestão ambiental,

de minimização dos resíduos gerados e busca de novas tecnologias visando uma maior

competitividade do setor frente ao mercado consumidor, tanto interno quanto externo.

Palavras-chave: Setor coureiro-calçadista; Problemas sócio-ambientais; Cluster industrial

de Franca-SP.

1. Introdução

O setor coureiro do Brasil está inserido na cadeia produtiva dos calçados, e é considerado o terceiro maior produtor e exportador de couros do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Européia, com produção anual de cerca de 45 milhões de couros. Franca contribuiu em 2008 comercializando um total de U$ 58 milhões em exportações de couros.

O setor calçadista brasileiro foi responsável, em 2008, pela produção de 808 milhões de pares de calçados e é formado por mais de 7.830 indústrias (Resenha Abicalçados, 2008).

A produção do couro, principal matéria-prima para a confecção dos calçados, caracteriza-se por gerar grandes quantidades de resíduos que, muitas vezes, são dispostos de forma inadequada contribuindo para a deterioração rápida dos recursos naturais e do meio ambiente.

Com o aparecimento dos clientes “verdes” que exigem uma postura ética de seus fornecedores e a necessidade urgente de racionalizar a utilização dos recursos, cada vez mais escassos, as empresas e indústrias viram-se pressionadas a adotar posturas de responsabilidade social e ambiental para manter sua vantagem competitiva e perpetuar-se no mercado. Em alguns casos, estas ações visam melhorias no meio ambiente e, conseqüentemente, trazem melhorias à qualidade de vida da população. Em outros, a criação de legislações que regulamentam as atividades produtivas foi o grande motivador para a adequação visando a proteção sócio-ambiental.

Page 86: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

86

Pode-se afirmar que é real a necessidade de se buscar formas que contribuam para o desenvolvimento econômico, sem que a indústria seja responsável pela deterioração do meio ambiente, pois para Tachizawa (2002), não há conflito entre a lucratividade e a questão ambiental. O desenvolvimento deve ocorrer de forma que atenda às necessidades do presente e possibilite as gerações futuras atenderem às suas necessidades.

Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo fazer uma caracterização do setor coureiro-calçadista de Franca, que é um importante pólo produtivo brasileiro, abordando seus principais aspectos, como produção, geração de resíduos, problemas e questões ambientais enfrentados pelo setor bem como fazer um breve histórico sobre o surgimento da atividade na cidade. A metodologia de estudo adotada é a pesquisa bibliográfica.

A elaboração deste trabalho justifica-se por reunir os principais aspectos do setor coureiro-calçadista da cidade de Franca, que é um importante cluster industrial da cadeia produtiva do couro. Tais informações são relevantes para o conhecimento do setor na cidade, fator necessário para a implementação de futuras ações de gestão ambiental, de minimização dos resíduos gerados e busca de novas tecnologias visando uma maior competitividade do setor frente ao mercado consumidor, tanto interno quanto externo. Sendo assim, este estudo constitui-se em um recorte do trabalho de dissertação proposto para obter o título de mestre em Engenharia de Produção.

2. Características e estrutura organizacional da cidade de Franca-SP: a perpetuação do setor coureiro-calçadista no município

2.1 Breve histórico da cidade de Franca e dos curtumes francanos

Franca está compreendida na região entre os rios Pardo e Grande e foi descoberta no início do século XVIII por bandeirantes paulistas. Franca faz parte da 14º Região Administrativai do estado. A cidade tem cerca de 328.176 habitantesii e está situada na Região Nordeste do Estado, há aproximadamente 400 km da capital São Paulo. Possui uma área total de 609 Km2, situando-se na Bacia Hidrográfica do Sapucaí Mirim/Grande UGRHI 08, constituída pelos: Rio das Canoas, Rio Pouso Alegre, Rio São João e Ribeirão Salgado (CULTRI, 2008).

A cidade de Franca apresenta um arranjo produtivo local especializado na produção de calçados masculinos de couro, o que estimulou o surgimento de empresas correlatas. De acordo com Suzigan et al (apud BARBOSA, 2007) e Suzigan et al (2003) Franca constitui um exemplo perfeito de cluster

iii industrial, pois concentra praticamente todo o elo produtivo

da manufatura do calçado, reunindo desde o curtimento do couro (principal matéria-prima na confecção dos calçados), produção de insumos (adesivos e selantes), componentes (solados e outros) e acessórios para calçados em geral, inclusive para a fabricação de tênis e calçados de outros materiais, além do couro. Encontram-se também instaladas importantes fábricas produtoras de máquinas e equipamentos para a fabricação de calçados, que surgiram pela necessidade de atendimento dos produtores locais, e hoje fornecem seus produtos para outras regiões do país e também para o exterior. Segundo Suzigan et al (2003) a aglomeração de produtores de calçados, insumos e componentes espalhou-se por diversos pequenos municípios localizados próximos à Franca, como Restinga, Patrocínio Paulista, Pedregulho, dentre outros. No entanto, Franca possui uma estrutura mais completa.

Para a compreensão da importância do cluster coureiro-calçadista na cidade de Franca, será traçado um breve histórico sobre a indústria, sob o prisma de Tosi (1998), que fez uma extensa pesquisa sobre a história econômica da cidade, que permitiu o surgimento e perpetuação do setor industrial do couro e calçado.

Page 87: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

87

Barbosa (2006, p. 40) salienta que o surgimento dos curtumes na cidade se deu por alguns fatores, tais como o intenso fluxo de couros que transitavam pela “Estrada dos Goiasesiv” o que proporcionava uma facilidade para obtê-losv, “a existência de água em abundância em virtude dos diversos rios e córregos que circundam a região e a forte presença de madeiras ricas em tanino”. Isto porque o curtimento do couro realizado inicialmente em Franca, utilizava madeiras ricas em tanino, neste caso o barbatimão, que possui em sua casca significativa quantidade desta substância química. Esta árvore era nativa da flora original do Planalto de Franca e passou a ser largamente explorada por conta da instalação de ferrovias na cidade. Para a construção dos tanques de curtimento, era utilizada a pedra tapiocangavi, rica em óxidos de ferro e que atuava como catalisador na solução de curtimento. O curtimento utilizou-se de abundante quantidade de água, usada na solução de curtimento, lavagem dos couros e como fonte energética. A utilização do couro nesta época era ampla, sendo aplicadas em estruturas compostas de couro, madeira e argila, transportes arcaicos, mobília, vestuário, dentre outras.

Segundo Oliveira (2003, p. 29) o primeiro registro de industrialização da atividade curtumeira “em Franca é de 1886, quando o Pe. Alonso Ferreira de Carvalho montou um curtume às margens do córrego Cubatão, com o objetivo de aproveitar o couro vindo com tropeiros de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso”.

Em Franca, em 1907, há notícias da instalação de pelo menos 3 curtumes em processo de mecanização, o que segundo Barbosa (2007) indica uma tradição do setor na cidade. Profissões relacionadas à atividade coureira em Franca, é uma constante desde muito tempo atrás. No entanto, as atividades de seleiro, sapateiro e lojas especializadas em selaria e sapataria organizadas na forma de empresas só apareceram nos últimos anos do século XIX. Assim, passou-se do artesanato (apesar deste não ter se extinguido por completo) à implantação de indústrias, importantes no processo de perpetuação da atividade.

Atividades ligadas à cadeia produtiva do couro (como calçados, arreios, curtumes, sapateiros, sapatarias, seleiros, selarias) estavam presentes desde 1872 na cidade, quando a principal atividade era o comércio de sal. Em 1901 havia um mercadovii especializado na venda de produtos utilizados na confecção de calçados, arreios e selas. Nesta época, a atividade de couro e calçado em Franca “comparava-se ao trabalho de alfaiates e costureiras modistas [...], cujas atividades indicavam serem eles trabalhadores independentes” (TOSI, 1998, p. 129-130).

Em 1911 a produção de calçados de Franca era expressiva, estando assim disposta: 149 botas, 25.696 botinas, 44 sapatos, 11.331 chinelos. De acordo com o “Almanach de Franca” (apud TOSI, 1998) a cidade experimentava um progresso na indústria de couros, com a instalação de fábricas de calçados e indústria deste gênero. Após o ano de 1910 a produção de selas e calçados ultrapassa as fronteiras da cidade, sendo embarcadas na forma de encomendas para outras cidades, constituindo assim um mercado próprio.

O aumento dos embarques de couro foram impulsionados pelo processo de industrialização do setor. Até 1904 o curtimento era realizado utilizando-se lascas de barbatimão, cortadas manualmente, no entanto a produção aumentou com o uso de máquinas de triturar.

Page 88: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

88

FIGURA 1 – Vendas de couros em Franca. Fonte: Tosi (1998, p. 156).

No entanto, com a escassez de matéria-prima para o curtimento (no caso o barbatimão, que estava se extinguindo juntamente com outras espécies de madeiras nobres da região) não houve crescimento da quantidade de couros curtidos. Fato que motivou Major Elias da Mota, em 1912, a viajar para o sul e investigar as condições de curtimento com cromo, bem como investigar o maquinário necessário para sua realização.

Em 1913 foi instalado pelo Major Elias Mota “o primeiro curtume dotado de maquinário importado diretamente da Alemanha. [...] na época, no Estado de São Paulo o único curtume mecanizado era o da Água Branca na capital, e o segundo era o de Franca” (RINALDI apud TOSI, 1998, p. 159). Assim, a Prefeitura proporcionou à indústria a isenção de impostos e taxas por dez anos. Este fato permitiu a consolidação da indústria coureira na cidade, aliando-se à disponibilidade de capitais para a instalação de indústrias.

Em 1920 há registros de três curtumes em Franca: “Macedo Marx e Cia.” ou Curtume Progresso, “Pedro Pucci & Sobrinho”, com 18 operários, e “Elias Motta” ou Curtume Cubatão, que neste ano possuía 81 operários.

Em 1921 foi criada a primeira fábrica de calçados de Franca, a Fábrica de Calçados Jaguar. A empresa possuía maquinário que permitia a produção diária de 150 pares, empregando 90 operários, sendo 65 trabalhando na confecção dos calçados, 25 na selaria, 5 no balcão e 3 no escritório.

Na década de 1940, Franca tinha como principal indústria a de transformação de couros, e em segundo lugar, a indústria de calçados e selas. Os curtumes no ano de 1939 tinham uma produção de aproximadamente 1.464 peles por semana, com forte tendência de aumento, principalmente destinados à exportação, tendo recebido pedidos para a Europa. A principal aplicação do couro exportado era na fabricação de calçado militar (RIBEIRO apud

TOSI, 1998).

Page 89: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

89

Após 1945, fábricas correlatas à fabricação do calçado foram surgindo em Franca, como insumos – saltos, solados vulcanizados em borracha, máquinas, solidificando assim o cluster coureiro-calçadista na cidade.

Até a década de 1970, os curtumes da região de Franca executavam todo o processo produtivo, no entanto, com a intensificação da fiscalização e o surgimento de legislações ambientais mais severas, como não haviam disponíveis conhecimentos técnicos necessários ao atendimento destas legislações, os empresários ficaram com a impressão de que os custos inviabilizariam o setor. Com a maior fiscalização nas regiões Sul e Sudeste, os empresários, com o intuito de se manter dentro da legislação, preferiram trabalhar apenas com o acabamento dos couros, pois a maior carga poluente encontra-se na fase wet blue. Assim, eles compram a matéria já curtida e fazem apenas o acabamento na região (PALERMO, 2001). Vale ressaltar que o acabamento do couro concentra o maior valor agregado do couro.

A partir de 1984 em Franca, os curtumes foram transferidos para o DINFRA (Distrito Industrial de Franca), onde foi disponibilizada toda uma infra-estrutura que permitisse a sua instalação, bem como a construção de uma estação de tratamento secundário dos efluentes provenientes dos curtumes, a chamada AMCOA (Associação dos Manufaturadores de Couro do Distrito Industrial).

2.2 Problemas sócio-ambientais dos curtumes de Franca

A existência deste importante pólo industrial despertou para a questão da poluição na região Administrativa de Franca, visto que a maior parte das indústrias coureiras encontra-se instalada em áreas urbanas e que a cidade faz parte da bacia hidrográfica UGRHI 08 – Sapucaí/Grande, que possui 4 grandes rios e sete sub-bacias delimitadas de acordo com os principais afluentes da região (CULTRI, 2008).

Segundo Cultri (2008) a contaminação da água por resíduos industriais é percebida em toda a bacia hidrográfica. O recebimento de efluentes sem nenhum tratamento leva a poluição ao Rio Sapucaí, que por sua vez deságua no Rio Grande, prejudicando desta forma toda a região norte-nordeste do Estado de São Paulo.

A tabela 6 apresenta as principais atividades econômicas passíveis de controle da poluição da bacia hidrográfica UGRHI 08 – Sapucaí/Grande, com destaque para o setor de couros e peles, que mantinha em 2006, 6 instalações consideradas de alto potencial poluidor.

TABELA 1 – Atividades prioritárias para controle da poluição ambiental na UGRHI 08 – Sapucaí/Grande

Grupo de atividades (1) Número de instalações (2) Potencial Poluidor

Produtos alimentares, bebidas e fumo 11 Médio

Metalúrgica 6 Alto

Couros e peles 6 Alto

Agroindústria de cítricos e açúcar e álcool 5 Médio

Química 2 Alto

Produtos de borracha e plástico 1 Pequeno

(1) Lei Federal nº 10.165 de 27/12/00 – Relação de atividades e potencial poluidor; (2) Cetesb – Diretoria de Controle de Poluição Ambiental

Page 90: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

90

Fonte: Relatório de Qualidade Ambiental do Estado de São Paulo (apud CULTRI, 2008)

Neste sentido, observa-se que o setor coureiro de Franca é considerado tradicional com relação a problemas ambientais. Buscando registros nos jornais da cidade, é possível observar que a cidade, ao longo de todos estes anos de fabricação de couros e calçados, tem enfrentado diversos problemas. Tais como: poluição dos córregos, ocasionando a extinção de peixes e tornando a água imprópria para o consumo; o abandono de antigos curtumes localizados em áreas urbanas; alto consumo de água observado na cidade; o despejo de águas contaminadas nos córregos da cidade; a morte de dois trabalhadores que faziam a limpeza de tanques de um curtume desativado em Patrocínio Paulista, que são retratados na sequência.

O artigo “Calçados e segredos” traz uma informação neste sentido. Um dos primeiros curtumes de Franca o Curtume Progresso, criado por Padre Alonso Ferreira de Carvalho, poluiu os córregos, acabando com peixes e tornando a água do chafariz imprópria para o consumo. Este fato é ressaltado pela informação disponível na homepage da USP que aponta que em 1990 as águas dos córregos que cortam a cidade de Franca e região encontravam-se entre as mais poluídas do estado de São Paulo. A poluição era visível, e a água exalava um odor e carregava diversos detritos. Segundo a CETESB no ano de 1990, o Córrego dos Bagres qualificava-se como imprópria, apresentando um índice de 0 a 19% de agentes poluidores, sendo que este é o mais alto grau de poluição das águas. A principal causa da poluição é o despejo de produtos químicos pelos curtumes existentes na cidade. Estes fatos sustentam a necessidade do tratamento dos resíduos e efluentes dos curtumes, que são gerados em grande quantidade.

Na reportagem intitulada “Curtumes abandonados” outro problema enfrentado na cidade: o abandono de antigos curtumes, em plena área urbana, trazendo mal cheiro, virando reduto de lixo e servindo de abrigo para andarilhos e usuários de drogas. A situação incomoda os francanos, sendo que os curtumes abandonados são apontados como o 6ª pior problema de Franca.

Outro evento que tem relação direta com os curtumes da cidade é que o alto consumo de água observado em Franca é reflexo da grande concentração de indústrias coureiras instaladas na cidade, segundo Felippe (2006), visto que o processo produtivo do couro utiliza grande quantidade de água.

A ocorrência do despejo de uma água verde e malcheirosa próxima ao Distrito Industrial (local onde estão localizadas a maioria dos curtumes de Franca) é outro fato que chama a atenção. De acordo com o artigo “Verde e Malcheirosa, água é despejada próximo ao Distrito” (em 07 de fevereiro de 2007, portanto após a adequação dos curtumes à nova legislação) esta água continha cheiro de resíduos de curtume e foi despejada no Córrego dos Bagres, que deságua no Rio Sapucaí. De acordo com o técnico da Cetesb (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental) Davi Faleiros, todos os curtumes estão trabalhando de acordo com as normas, e são feitas pela Cetesb análises semanais no ponto de lançamento dos curtumes. Não foi confirmado pela Cetesb que a água é proveniente dos curtumes, no entanto, foi aberta investigação para apurar tal informação. Após isso, não foram encontrados mais registros.

Uma fatalidade, não muito divulgada por sua gravidade, confirma a utilização de insumos tóxicos e prejudiciais à saúde humana na fabricação do couro. Em setembro de 2005, dois trabalhadores morreram asfixiados quando limpavam um tanque de um curtume desativado em Patrocínio Paulista (cidade próxima a Franca). Outros dois trabalhadores ficaram internados por vários dias na Santa Casa de Franca. Laudos da Cetesb apontaram que havia cromo e sulfeto nos tanques, material com alto poder de poluição. Isto comprova que os

Page 91: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

91

curtumes utilizam produtos perigosos e que podem causar a morte de pessoas dependendo de sua utilização (Informação disponível no artigo “Tanque de curtume tinha produtos tóxicos”).

Os curtumes de Franca, apenas em 2006, se adequaram às normas exigidas pelo Ministério Público do Meio Ambiente. Fato relatado pelo artigo “Contas de adequação de curtumes são apresentadas”. A realização de inspeções nas lagoas de tratamento pôde atestar que as normas ambientais estão sendo obedecidas pelos estabelecimentos. Os donos dos maiores curtumes investiram cerca de U$ 5 milhões a U$ 10 milhões para se adequarem e em parceria com a Amcoa (Associação de Manufaturados de Couros e Afins), foi construído um segundo local para o tratamento dos resíduos. Foi apontado 70% de redução do odor provocado pelos curtumes com esta adequação às normas, no entanto, no artigo “Curtumes se ajustam?” (CORDEIRO, 2006) o advogado Theo Maia disse que nos bairros vizinhos ao distrito, ainda pode ser sentido o mau cheiro dos curtumes. Os moradores disseram que dependendo da direção e intensidade dos ventos, o mau cheiro piora. Sendo assim, apesar de todos os investimentos e da publicidade feita pela adequação às normas ambientais, ainda há o que se fazer para melhorar a qualidade de vida das pessoas que convivem próximo aos curtumes.

A AMCOA, que faz o tratamento secundário dos efluentes das indústrias coureiras do Distrito Industrial de Franca, faz o controle das emissões de efluentes, visando atender aos parâmetros da CETESB. No entanto, em um estudo realizado em 2001 por Matsumoto e Martin-Morales (apud PALERMO, 2001) as águas coletadas no local de recebimento do efluente tratado pela AMCOA no córrego dos Bagres em Franca e do rio Sapucaizinho em Patrocínio Paulista, apresentaram condições toxicológicas de efeitos sub-letais. Sendo assim, conclui-se que o tratamento dos efluentes realizado em 2001 era insuficiente para retirar os poluentes das águas utilizadas no processo de curtimento.

Com relação à geração de resíduos sólidos, que são o maior problema ambiental enfrentado pelos curtumes e que trazem conseqüências tanto sociais quanto ambientais, são apresentados alguns dados sobre os curtumes de Franca.

Os resíduos sólidos são definidos como todo ou qualquer material sólido que provém das atividades diárias de um homem em sociedade, cujo produtor ou proprietário não o considere com importância suficiente para ser conservado (CETESB apud RENOFIO, 2002).

De acordo com Sousa (2006), Franca, que é um importante pólo industrial, gera diariamente cerca de 160 toneladas de resíduos sólidos de classe 1 proveniente de curtumes, fábricas e artefatos.

Os resíduos sólidos são os que apresentam a maior geração. Podem ser agrupados em duas categorias:

• Resíduos sólidos não curtidos: provenientes da pele bruta e do descarne e divisão, são as aparas caleadas e não caleadas, carnaça, e demais resíduos gerados na operação de ribeira. Estes resíduos são classificados como não perigosos e são ricos em colágeno e gorduras. Podem ser transformados em cola, gelatina, chiclete, dentre outros.

• Resíduos sólidos curtidos: são provenientes da estação de tratamento dos efluentes (lodo contaminado com cromo), da etapa de acabamento molhado, quando o couro passa por fases físico-mecânicas de descanso, rebaixamento e recorte (compreendem: rebarbas, serragem cromada, farelos, raspas e aparas de couro curtido) e lixamento (pó de lixadeira). Estes resíduos são classificados como materiais perigosos (resíduos de classe 1) e são ricos em cromo trivalente e hexavalente (que pode causar câncer e mutações no ser

Page 92: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

92

humano). Para cada couro curtido, gera-se de 2 a 3 kg de serragem cromada. No Brasil são geradas aproximadamente 375 toneladas de serragem diariamente. Em Franca, este valor é de 15 toneladas/dia. O lodo com cromo é o pior resíduo gerado por um curtume, pois além de ser um material de difícil aplicação econômica, são gerados grandes volumesviii diariamente que demandam áreas especiais para sua disposição. Para cada tonelada de cromo processado nos curtumes, há uma geração de 300 a 400 Kg de lodo com cromo. No Brasil, diariamente são geradas 121 toneladas de lodo com cromo. Em Franca, esta quantidade está em torno de 5 toneladas por dia. Com relação ao lodo de recurtimento, que pode apresentar grandes quantidades de cromo, são gerados diariamente no Brasil cerca de 54 toneladas e em Franca esta geração gira em torno de 2 toneladas por dia. (SOUSA, 2006).

Geração de Resíduos perigosos

121

375

54

5 15 20

50

100

150

200

250

300

350

400

Lodo com cromo Serragem cromada Lodo do

recurtimento (com

cromo)

Tipo de resíduos

Qu

an

tid

ad

e (

em

to

nela

das)

Brasil

Franca

c

Gráfico 1 – Comparação da geração de resíduos no Brasil e em Franca. Fonte: Elaborado pela autora com base em Sousa (2006).

Analisando-se o gráfico acima, é possível concluir que Franca tem expressiva representatividade na geração de resíduos perigosos no cenário curtumeiro do Brasil. A cidade é responsável pela geração de 4% do total de resíduos no país. Este valor torna-se significativo pelo fato de que a cidade não é a maior produtora de couros do Brasil, contudo, gera o equivalente a 4% de todo o resíduo do setor coureiro no país. Com relação à geração dos resíduos de Classe 1, provenientes tanto dos curtumes, fábricas de calçados e artefatos, este valor é ainda mais preocupante, visto que a cidade é responsável por mais de 11% do total de resíduos gerados em todo o país.

O processamento de 1000 Kg de pele salgada gera somente 200 a 250 Kg de couros acabados, o que equivale a 22,5% de rendimento médio do processo, gerando cerca de 600 Kg de resíduos sólidos, o que demonstra um potencial poluidor significativo da geração de resíduos sólidos na produção de couros (PACHECO, 2005).

Dessa forma, observa-se que é grande a geração de resíduos pelo setor e que podem acarretar em impactos ambientais expressivos. É fundamental que o setor invista em cuidados e tratamentos específicos, na busca de minimizar estes impactos no meio ambiente. Daí a importância singular de se implantar sistemas efetivos de gestão de resíduos, ou até de prevenção desses.

Page 93: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

93

2.3 O setor coureiro-calçadista de Franca no contexto atual

O setor coureiro-calçadista da cidade de Franca é considerado tradicional com relação a problemas ambientais. Segundo Barbosa (2007) o parque industrial de Franca teve origem no pequeno capital, isto é, a maior parte das indústrias foi criada por artesãos e ex-operáriosix. Sendo assim, pequenos fabricantes ascenderam à condição de empresários, levando consigo a cultura de trabalhadores manuais. O empresariado, em geral, possui formação cultural restrita sendo, portanto, desprovido de conhecimentos sobre novos modelos de gestão e possuindo assim dificuldades para incorporar novos paradigmas.

Um fato interessante salientado por Barbosa (2006, p. 66) é que a indústria calçadista se difere de todas as outras indústrias correlatas (curtumes, produção de componentes para calçados como solados de borracha, palmilha, fôrmas e produtos químicos) no que se refere ao nível tecnológico e estruturação produtiva. A indústria calçadista “teve como característica fundamental a evolução gradativa da fase artesanal, passando à manufatureira, para depois de quase meio século alcançar o estágio de grande indústria”, visto que os capitais das indústrias calçadistas “eram insuficientes para obtenção do equipamento necessário a uma produção minimamente mecanizada” (BARBOSA, 2006, p. 75) sendo portanto, caracterizada pelo baixo nível tecnológico, fato que corrobora para o intenso processo de ascensão de empregados à condição de empresários. .

Em contrapartida, de acordo com Palermo (2001) alguns curtumes instalados na região de Franca possuem modernos parques industriais, com estações primárias e secundárias de tratamento de efluentes, que apresentam variados graus de eficácia, “seja por localização das instalações, pelo dimensionamento dessas plantas ou mesmo devido aos processos usados e insuficiência de conhecimento tecnológico” (PALERMO, 2001, p. 8). Diferentemente da indústria calçadista, a indústria coureira demanda mais tecnologia para funcionar, visto que necessita de estações de tratamento de efluentes e maquinário para produzir. E esta mecanização remonta ao início do século XX, quando Elias Mota fundou o segundo curtume mecanizado do estado de São Paulo (BARBOSA, 2006).

Considera-se também a importância que o cluster coureiro-calçadista possui para a cidade de Franca, no contexto da estrutura do setor em nível estadual e nacional e o significativo impacto sócio-ambiental causado pela produção do couro.

Franca é o principal pólo calçadista do país no segmento masculino, e considerado o segundo maior no contexto geral. Em 2008, a cidade foi responsável pela produção de 25,3 milhões de pares de calçados, representando cerca de 4% da produção nacional, dos quais, 20,8 milhões foram destinados ao mercado interno (4% do total nacional) e 4,5 milhões foram vendidos ao mercado externo (3,28% do total nacional). O faturamento com as exportações alcançou US$ 127,7 milhões no ano de 2008, representando cerca de 6,5% do total faturado pelo Brasil nas exportações. Outro fato interessante é que cerca de 6% da mão-de-obra empregada neste setor trabalha nas fábricas de Francax.

Com relação aos curtumes, o arranjo produtivo local possui 32xi empresas que empregam 1639 pessoas (RAIS-MTE, 2007). De acordo com o artigo “Couro é o destaque do crescimento de Franca”, publicado na homepage da AICSUL (Associação das Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul), o setor coureiro de Franca em 2007 foi responsável por 91% dos componentes de calçados comercializados no exterior e por 28,95% do total exportado pela cidade, em todos os segmentos. O total das vendas foi de US$ 54,61 milhões. O volume exportado foi de 5,9 milhões de quilos. No ano de 2008 Franca, apesar da retração em muitos setores, experimentou um incremento das exportações de couro, alcançando a

Page 94: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

94

marca de US$ 58 milhões (BUFONI, 2009a). As maiores alterações e quedas nas exportações ocorreram a partir de setembro, visto que em janeiro de 2009 o resultado não foi positivo, apresentando queda de US$ 4,7 milhões para US$ 2,4 milhões em relação a janeiro de 2008 (BUFONI, 2009b). No entanto, normalmente a cidade enfrenta resultados menores neste período do ano.

3. Considerações Finais

A pesquisa realizada permite verificar a grande influência e importância da cidade de Franca na cadeia produtiva do couro e do calçado brasileiro. A instalação de curtumes na cidade remonta a fins do século XIX, e permitiu a evolução econômica da cidade e a perpetuação no mercado como principal produtor de calçados masculinos do Brasil. Proporcionou à cidade evolução para que esta pudesse tornar-se um cluster industrial, que aglomerasse praticamente todos os elos da cadeia produtiva do calçado, desde a manufatura do couro, até a fabricação de insumos e máquinas. A pesquisa também proporcionou observar, que mesmo com toda a evolução conferida à cidade, esta não a isentou de problemas advindos da instalação dos curtumes na cidade, que são grandes geradores de impactos sociais e ambientais. No entanto, todas estas informações, são necessárias para o conhecimento profundo do setor coureiro da cidade de Franca, o que proporcionará subsídios para a proposição e futura implementação de ações de minimização dos impactos sociais e ambientais, bem como dos resíduos gerados, que demandam grandes áreas para serem dispostos, agravando os problemas ambientais quando esta disposição ocorre de forma inadequada. Sendo assim, este trabalho pretende subsidiar a futura proposição e implementação de ações que permitam minimizar os impactos ambientais causados pela indústria.

Referências

BARBOSA, Agnaldo de Sousa. Novos empreendedores na indústria do calçado: formação social e ação empresarial (Franca, 1990-2005). Relatório de Pesquisa. Franca: FAPESP – Unifran - NEIC, 2007.

______. Empresariado fabril e desenvolvimento econômico: empreendedores, ideologia e capital na indústria do calçado (Franca 1920-1990). São Paulo: Hucitec; Fapesp, 2006.

BUFONI, Fernanda. Exportações rendem US$ 200 mi a Franca. Jornal Comércio da Franca, Franca, 06 de fev. 2009. Disponível em: <http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=39971>. Acesso em 04 mar. 2009a.

______. Exportações despencam mais de 37% em janeiro. Jornal Comércio da Franca, Franca, 19 de fev. 2009. Disponível em: <http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=40490>. Acesso em 03 mar. 2009b.

CALÇADOS e segredos. Jornal Comércio da Franca, Franca, 07 dez. 2006. Disponível em: <http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=11245>. Acesso em 21 mai. 2008.

CONTAS de adequação de curtumes são apresentadas. Jornal Comércio da Franca, Franca, 17 nov. 2006. Disponível em: <http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=10611>. Acesso em 21 mai. 2008.

CORDEIRO, José Carlos Théo Maia. Curtumes se ajustam? Jornal Comércio da Franca, Franca, 21 nov. 2006. Disponível em: <http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=10764>. Acesso em: 21 mai. 2008.

COURO é o destaque do crescimento de Franca. AICSul. Associação das Indústria de Curtumes do Rio Grande

do Sul . Disponível em: <http://www.aicsul.com.br/index.php?acao=noticias&id=1377&PHPSESSID=d2e5266fa>. Acesso em: 01 fev. 2008.

CULTRI, Camila do Nascimento. Ações ambientais articuladas na sustentabilidade: estudos de múltiplos casos na indústria calçadista. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). UNESP, Bauru, 2008.

CURTUMES abandonados. Jornal Comércio da Franca, Franca, 07 dez. 2006. Disponível em: <http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=11368>. Acesso em 21 mai. 2008.

Page 95: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

95

FELIPPE, Marco. Desperdício puro. Jornal Comércio da Franca, Franca, 22 mar. 2006. Disponível em: <http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=1777>. Acesso em 21 mai. 2008.

GORINI, Ana Paula Fontenelle et al. A indústria calçadista de Franca, 2000. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/relato/rs_7_ao1.pdf>. Acesso em: 20 set. 2007

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/>. Acesso em 19 fev. 2009.

OLIVEIRA, Carlos Magno Bretas. O modelo GECON na indústria coureiro-calçadista do pólo de Franca:

análise de sua aplicabilidade em curtumes de médio porte. Dissertação (Mestrado em Administração). FACEF, Franca, 2003.

PACHECO, José Wagner Faria. Curtumes. São Paulo: Cetesb, 2005.

PALERMO, Helil Ferreira. Avaliação econômica e ambiental das atividades curtidoras e acabadoras de couros

na região de Franca – Estado de São Paulo. Tese (Doutorado em Geociências). Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2001.

PREFEITURA MUNICIPAL DE FRANCA. Disponível em: <http://www.franca.sp.gov.br/>. Acesso em: 19 fev. 2009.

RAIS-MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/PDET/Acesso/RaisOnLine.asp>. Acesso em: 10 jan. 2008.

RENOFIO, Adilson. Aproveitamento do resíduo “serragem cromada” na produção de placas para uso na construção civil. Tese (Doutorado em Agronomia). Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2002.

RESENHA ESTATÍSTICA ABICALÇADOS, 2008.

RESENHA ESTATÍSTICA SINDIFRANCA, 2008.

SOUSA, Joana D´arc Félix de. Reaproveitamento de resíduos sólidos classe 1 de curtumes, fábricas de calçados

e artefatos. Projeto de Pesquisa. Franca, 2006.

SUZIGAN, Wilson et al. Coeficientes de Gini locacionais – GL: aplicação à indústria de calçados do Estado de São Paulo. Nova Economia, Belo Horizonte, p. 39-60, jul-dez 2003.

TACHIZAWA, Takeshy. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa: estratégias de negócios focadas na realidade brasileira. São Paulo: Atlas, 2002.

TANQUE de curtume tinha produtos tóxicos. Jornal Comércio da Franca, Franca, 8 fev. 2006. Disponível em: <http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=348>. Acesso em 21 mai. 2008.

TOSI, Pedro Geraldo. Capitais no interior: Franca e a história da indústria coureiro-calçadista (1860 – 1945). Tese (Doutorado em Economia) – Programa de Pós-graduação em Economia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998.

USP – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/biologia/prociencias/cp/Franca/impact.htm>. Acesso em 12 ago. 2008.

VERDE e malcheirosa, água é despejada próximo ao Distrito. Jornal Comércio da Franca, Franca, 07 fev. 2007. Disponível em: <http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=13539>. Acesso em 21 mai. 2008.

i A 14º Região Administrativa do Estado é composta pelos municípios: Aramina, Batatais, Buritizal, Cristais Paulista, Franca, Guará, Igarapava, Ipuã, Itirapuã, Ituverava, Jeriquara, Miguelópolis, Morro Agudo, Nuporanga, Orlândia, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Restinga, Ribeirão Corrente, Rifaina, Sales Oliveira, São Joaquim da Barra e São José da Bela Vista. Fonte: Homepage da Prefeitura de Franca. Disponível em: <http://www.franca.sp.gov.br/>. Acesso em: 19 fev. 2009. ii Dados de 2008, fonte IBGE – Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/>. Acesso em 19 fev. 2009. iii Clusters são concentrações geográficas de companhias e instituições interrelacionadas num setor específico. Os clusters englobam uma gama de empresas e outras entidades importantes para a competição, incluindo, por exemplo, fornecedores de insumos sofisticados, tais como, componentes, maquinário, serviços e fornecedores de infraestrutura especializadas (GORINI et al, 2000, p. 1).

Page 96: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

iv Para Barbosa (2006) esta estrada era uma importante rota de comércio que ligava a capital da província de São Paulo aos sertões de Goiás e Mato Grosso e Franca era um dos principais pontos desta rota. “Por esta estrada levava-se gado, couros salgados e cereais para o sul as fim de serem trocados, sobretudo, por sal e artigos manufaturados” (BARBOSA, 2006, p. 37). v “Dos couros utilizados nos curtumes de Franca, 49,71% provinham do próprio município e de cidades próximas como, Barretos, Orlândia, Cravinhos, Pedregulho, Ituverava, Igarapava e São Joaquim da Barra; os outros 48,02% provinham de Minas Gerais (sobretudo de Uberaba e Uberlândia, no Triângulo Mineiro) e de Goiás” (NASCIMENTO e MOREIRA apud BARBOSA, 2006, p. 41). vi Segundo Tosi (1998) a tapiocanga não é uma rocha, mas sim um aglomerado de óxidos presentes em alguns solos que decorrem de processos geológicos ligados ao clima. Este material é encontrado logo abaixo da superfície da terra e por ser úmida e não muito rígida, permitia que fosse transformada em blocos, que, em contato com a atmosfera, endureciam, tornando-se um tipo de pedra. Estes blocos por sua vez, eram utilizados na construção de alicerces das casas, muros e demais estruturas. vii O mercado possuía o nome de Carlos Pacheco & Cia (TOSI, 1998). viii De acordo com Sousa (2006) são gerados aproximadamente 4,94 m3 de lodo sedimentado por tonelada de pele processada. ix Este fato é revelado também por Tosi (1998), quando menciona que empresas foram constituídas de 1927-1928 por ex-empregados da antiga fábrica Jaguar. Homens que foram operários e tornaram-se empreendedores. Outra característica marcante é o fato de as fábricas empregarem membros da mesma família. x Os efeitos da crise também se refletem no pólo calçadista de Franca, visto que em 2005, a produção anual ficou em torno de 27,9 milhões de pares de calçados, representando cerca de 4% do total nacional, dos quais, 8,5 milhões foram destinado à exportação (cerca de 4,5% do total nacional). O faturamento com as exportações chegou a US$ 163,4 milhões, representando cerca de 8,7% do total faturado pelo país nas exportações de calçados. A mão-de-obra também sofreu uma queda, pois em Franca este segmento representava 9,4% do total nacional. Estes números são baseados na Resenha Estatística da ABICALÇADOS (Associação Brasileira da Indústria de Calçados) e na Resenha Estatística SindiFranca (Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca). xi A informação sobre o número de curtumes instalados em Franca apresenta divergências quando são buscadas diferentes fontes. De acordo com o Sindicato dos Curtumeiros, em visita realizada pela autora em novembro de 2007, Franca tinha instalados 15 curtumes, que empregavam cerca de 1600 pessoas. No Relatório de Qualidade Ambiental do Estado de São Paulo (apud CULTRI 2008) há menção da instalação de 6 curtumes na Bacia Hidrográfica do Sapucaí Mirim/Grande UGRHI 08, da qual Franca faz parte, juntamente com outras cidades da região. Sendo assim, decidiu-se utilizar os dados disponibilizados pela RAIS-MTE por serem informações oficiais utilizadas pelo Ministério do Trabalho.

Page 97: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

97

Análise do arranjo físico em uma unidade de triagem de materiais: um estudo de caso

Rodrigo Moreno Scardini Carlos (UFV) [email protected] Caio Augusto Nunes Marques (UFV) [email protected]

Marcos Fernandes de Castro Rodrigues (UFV) [email protected]

Rodrigo Braga Souza (UFV) [email protected] Resumo: Este trabalho tem por objetivo fazer um diagnóstico da situação atual do setor

produtivo de uma usina de triagem de materiais recicláveis em uma instituição de ensino

superior e fazer a proposta para um novo arranjo físico. Para tanto, foram coletados dados

no local de trabalho e em consulta aos arquivos de venda dos materiais, tendo em vista

estabelecer os atuais fluxos de produção dos materiais processados. De posse de tais

informações foi possível conceber os fluxogramas e os mapofluxogramas dos produtos e

propor um layout para uma nova unidade a ser implantada. A posteriori foi utilizado o

método de carga-distância para fazer uma comparação entre o arranjo físico atual e o

proposto. Por fim foi realizada a análise do novo layout constatando-se a diminuição dos

fluxos cruzados, do transporte de materiais e a melhoria das condições de trabalho e o ganho

de eficiência com a nova configuração.

Palavras chaves: Arranjo físico; Fluxograma; Mapofluxograma; Método carga-distância.

1. Introdução

Com o advento de processos produtivos cada vez mais complexos e elaborados, aliado às mudanças recentes no âmbito econômico, social e ambiental, percebeu-se a necessidade do desenvolvimento de ferramentas auxiliares às reestruturações organizacionais e estruturais do ambiente de trabalho. A globalização e suas transformações exigem flexibilidade, qualidade e custos baixos das organizações que queiram se manter competitivas. Surgiu então o conceito de arranjo físico, que abrange fatores referentes ao posicionamento de máquinas, estações de trabalho, áreas de atendimento aos clientes, áreas de armazenagem de materiais, corredores, banheiros, refeitórios, bebedouros, divisórias internas, escritórios, e ainda, padrões de fluxo de materiais e de pessoas que circulam dentro das instalações.

Dentro do âmbito da qualidade total, um arranjo físico deve propiciar:

a) aos clientes - produtos e serviços com qualidade, um ambiente saudável;

b) aos funcionários - conforto, bem-estar, satisfação e segurança no trabalho;

c) ao espaço físico - aproveitamento do espaço da melhor maneira possível, flexibilidade na disposição dos equipamentos de produção e áreas físicas e possibilidade de ampliação destas áreas;

d) às operações - fluxo de trabalho racional, menor tempo de produção, diminuição do fluxo de recursos materiais, humanos e da linha de produtos, aumento dos níveis de eficiência administrativa e operacional;

e) à empresa como um todo - integração de todos os processos e todos os elementos envolvidos em sua execução, cujos resultados serão: aumento dos níveis de qualidade, produtividade e eliminação dos desperdícios.

Page 98: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

98

Um arranjo físico condizente com os fatores supracitados não é exclusividade apenas de grandes empresas. Pequenas e médias organizações podem e devem se adequar a estas conformidades, tendo em vista a melhoria contínua e a competitividade no setor em que atua.

O trabalho tem por objetivo descrever e analisar o arranjo físico de uma unidade de triagem de materiais recicláveis, localizada em uma instituição de ensino superior, partindo da observação de conceitos básicos acerca do Arranjo Físico e dos gráficos representativos do fluxo, com base na literatura e em outros trabalhos do gênero, bem como em metodologias referentes às reestruturações de arranjo físico. Além disso, serão propostas alterações que se traduzam em um melhor fluxo na área de produção e será analisado, por meio da aplicação do método carga-distância, o ganho de eficiência que se obteve com esse novo arranjo físico.

2. Revisão de Literatura

2.1 Definição

Uma vez escolhido o tipo de processo e definidas as prioridades competitivas da organização, o próximo passo para o planejamento de sistemas produtivos é o arranjo físico (layout) - que se preocupa com a localização e a organização física dos recursos de transformação. Para Harman e Peterson (1991), o layout e o fluxo em todas as fabricas são imperfeitos. Como essas imperfeições não costumam ser pequenas, aperfeiçoamentos no layout e no fluxo de matérias nas plantas produtivas podem aumentar consideravelmente a produtividade.

Segundo Slack, Chambers e Johnston (2002), o arranjo físico de uma operação produtiva preocupa-se com o posicionamento dos recursos de transformação e como os materiais e pessoas fluem em determinado local. Ou seja, é definir o posicionamento das instalações, máquinas, equipamentos e funcionários com o intuito de aumentar a produtividade e alcançar melhores condições de segurança para o posto de trabalho.

De acordo com Cury (2000), o arranjo físico corresponde ao arranjo dos diversos postos de trabalho nos espaços existentes na organização, envolvendo além da preocupação de melhor adaptar as pessoas ao ambiente de trabalho, segundo a natureza da atividade desempenhada, a arrumação dos móveis, máquinas, equipamentos e matérias primas.

Villar (2004) lista alguns objetivos do layout: aumentar o moral e satisfação no trabalho; incrementar a produção; reduzir as demoras; economizar o espaço; reduzir o manuseio; aumentar a utilização do equipamento, mão-de-obra e serviços; reduzir o material em processo; reduzir o tempo de manufatura e reduzir os custos indiretos. Além dos objetivos, o Arranjo Físico contempla alguns princípios fundamentais, tais como o da integração; da mínima distância; obediência ao fluxo de operações, evitando retrocessos, interrupções e cruzamentos na seqüência do fluxo produtivo; uso das três dimensões; satisfação e segurança e o princípio da flexibilidade.

2.2. Tipos de Arranjo Físico

Segundo Slack (2002) a maioria dos arranjos físicos, na prática, deriva de apenas quatro tipos básicos de arranjo físico: posicional, por processo, celular e por produto.

2.2.1 Arranjo Físico por Processo

Page 99: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

99

O arranjo físico por processo é utilizado em organizações que trabalham com volume de produção reduzido e grande variedade de produto, onde este agrupa estações de trabalho ou departamentos de acordo com a função, preenche essa finalidade. O arranjo físico por processo é mais usual quando a mesma operação precisa produzir, de modo intermitente, muitos produtos diferentes ou atender a muitos clientes (KRAJEWISKI e RITZMAN, 2004).

Segundo Stevenson (2001) “os arranjos físicos por processo são projetados para processar itens ou fornecer serviços que envolvam uma variedade de requisitos de processamento. Este tipo de arranjo físico resulta em departamentos ou outros agrupamentos funcionais nos quais são executadas espécies de atividade semelhantes”.

2.2.2 Arranjo Físico por Produto

Segundo CURY (2000), o tipo de layout pelo produto é utilizado quando o processo de produção é contínuo, os equipamentos para manuseio e movimentação dos materiais integram as unidades de processamento e as máquinas necessárias são dispostas numa seqüência lógica com base no produto.

Em processos em linha ou contínuos o gerente de produção direciona recursos para os produtos ou tarefas individuais, onde as estações de trabalho ou os departamentos estão dispostos linearmente (Figura 1). No arranjo físico por produto, os recursos são dispostos em torno do percurso do produto em vez de ser partilhados entre muitos produtos (KRAJEWISKI e RITZMAN, 2004).

Figura 1. Layout por produto. (CURY, 2000)

2.2.3 Arranjo Físico Posicional

O Arranjo físico por posição fixa é aquele em que o material permanece parado em uma posição fixa e as máquinas se movimentam ao seu redor executando as operações necessárias (MARTINS e LAUGENI, 2006). Dessa forma não há fluxo de produtos, que permanecem fixos ou quase fixos, aglutinando em torno de si as pessoas, ferramentas e materiais necessários, que são os elementos que se deslocam de acordo com a necessidade. Essa imobilidade relativa deriva em geral de fatores como peso, tamanho e formato (MOREIRA, 2002).

É usado geralmente quando a produção é pequena e o custo para movimentação do produto é muito alto, e por o produto ser muito grande ou delicado à movimentação (SLACK, CHAMBERS e JOHNSTON, 2002).

2.3.4 Arranjo Físico Celular

Page 100: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

100

Para Corrêa e Corrêa (2006), o arranjo celular busca aumentar a eficiência do arranjo funcional, sem perder muito de sua característica mais importante que é a flexibilidade. Os autores afirmam ainda que esse tipo de arranjo físico seja baseado em um conceito conhecido como tecnologia de grupo em que recursos não similares são agrupados para processar um grupo de produtos que tem etapas similares de processamento.

Segundo Dalmas (2004), no arranjo físico celular, os recursos transformados que entram na operação, são pré-selecionados para se movimentarem para uma parte específica da operação denominada célula, na qual todos os recursos transformadores necessários a atender a suas necessidades imediatas de processamento se encontram.

2.4. Representação gráfica do processo

2.4.1 Fluxograma

De acordo com Camarotto (2005) o fluxograma do processo tem o objetivo de representar esquematicamente o processo de produção por meio das seqüências de atividades de transformação, exame, manipulação, movimento e estocagem por que passam os fluxos de produção. O modelo registra exclusivamente seqüências fixas e constantes de um trabalho. As atividades distintas são representadas no modelo por símbolos gráficos e o fluxo de itens entre as atividades sucessivas por segmentos que usem os símbolos correspondentes. Este modelo esquemático permite um entendimento global e compacto do processo de produção, ao destacar e identificar as etapas constituintes e a sua ordem de execução.

A simbologia utilizada nos fluxogramas de processo é padronizada pela ASME (Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos) representada na Tabela 1:

Quadro 1 – Simbologia para representação do fluxograma

Fonte: Camarotto (2005).

A função da representação esquemática do fluxograma de processo, é possibilitar ao projetista formular o problema, resolvê-lo e apresentar e instalar a solução.

2.4.2 Mapofluxograma

Ainda para Camarotto (2005) o mapofluxograma representa a movimentação física de um item através dos centros de processamento dispostos no arranjo físico de uma instalação produtiva, seguindo uma seqüência ou rotina fixa. A trajetória ou rota física do item, que pode

Page 101: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

101

ser produto, material, formulário ou pessoa, é desenhada, por meio de linhas gráficas com indicação de sentido de movimento sobre a planta baixa em escala da instalação envolvida.

2.5. Método Carga-Distância

O método carga-distância auxilia na comparação quantitativa entre arranjos físicos para que se possa escolher o mais conveniente. Para Krajewski e Ritzman (2005), o método carga-distância é um modelo matemático empregado para avaliar localizações em fatores de proximidade. O objetivo consiste em selecionar uma localização que minimize os pesos ponderados totais que entram e saem das instalações. O método consiste basicamente em multiplicar a carga, que de acordo com Krajewski e Ritzman (2005) pode consistir os embarques de fornecedores, entre fábricas, ou para clientes ou pode consistir nos clientes ou funcionários percorrendo a distância para chegar ou sair das instalações, pelas distâncias percorridas pelas mesmas. Pode-se usar a medida de distância euclidiana ou a retilínea. A distância euclidiana é a distância em linha reta, ou o menor caminho possível entre dois pontos, onde a distância entre dois pontos, por exemplo A e B, é dado pela formula:

dAB = [(xA - xB) + (yA - yB)]1/2

onde:

dAB = distância entre os pontos A e B

xA = Coordenada x do ponto A

xB = Coordenada x do ponto B

yA = Coordenada y do ponto A

yB = Coordenada y do ponto B

Já a distância retilínea mede a distância entre dois pontos com uma série de giros de 90°. A distância percorrida na direção do eixo x é o valor absoluto da diferença nas coordenadas x. Somando-se esse resultado ao valor absoluto da diferença nas coordenadas y

obtêm-se:

dAB = |xA - xB| + | yA - yB|

3. Metodologia

A concepção do presente trabalho teve início com a realização de visitas ao local que procederam ao longo de seis meses. Tais visitas objetivavam o conhecimento e análise da rotina de atividades dos funcionários, os processos produtivos realizados na unidade de triagem, bem como a constatação da atual configuração do layout e dos fluxos de produção dos materiais ali processados.

Para tanto, além das visitas in loco foram realizadas entrevistas informais com os funcionários e procederam-se conversas com a equipe responsável pela unidade. Também foi possível a consulta aos registros de vendas de materiais e do volume de produção.

Posteriormente, foi produzida com auxílio dos softwares AUTOCAD® e MICROSOFT VISIO,® a planta baixa do local. Tendo em mãos a planta e o conhecimento dos fluxos de produção foi possível a produção dos fluxogramas e dos mapofluxogramas correspondentes à situação atual. Por fim, utilizando os softwares supracitados pode-se propor uma nova planta baixa, tendo em vista a diminuição dos fluxos cruzados, a ampliação do estoque de fardos

Page 102: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

102

prontos que atualmente é insuficiente e proporcionar um ambiente de trabalho mais agradável. Utilizando-se o método carga-distância pode-se medir o ganho de eficiência com o novo layout, apesar da área requerida pela nova planta ser superior a da atual.

4. Estudo de Caso

4.1 A empresa

A unidade de triagem em questão está localizada em uma instituição de ensino superior e não pode ser tratada enquanto empresa. A referida unidade atende ao campus dessa instituição e a alguns pontos de coleta voluntária nas suas proximidades.

A construção dessa unidade de triagem e enfardamento de materiais recicláveis aconteceu em meados da década de 1990, com vistas a atender o crescimento da coleta de tais materiais graças, sobretudo, à criação de um projeto de coleta seletiva na instituição.

O projeto tem, enquanto foco principal, a vertente educativa e acabou por dar auxílio à instituição na ampliação da coleta seletiva, visto que a Universidade tem como responsabilidade o gerenciamento dos resíduos que produz.

Neste trabalho foram analisados os fluxos do papelão, do papel tipo misto e do jornal. A escolha foi baseada no fato da produção de fardos dos dois primeiros materiais apresentarem fluxos distintos de produção, sendo que o papelão é separado dos demais na área de pré-triagem e o papel misto passa pela área de triagem. No caso do jornal, este não chega a ser prensado antes da venda. O trabalho é realizado por três funcionários, que ficam responsáveis por todo o processo produtivo, sendo que dois permanecem constantemente na unidade de triagem ao passo que o terceiro também busca materiais em pontos menores de coleta nos quais não vai o caminhão do projeto.

4.2 O Layout atual

Devido à simplicidade do processo produtivo e ao baixo número de produtos enfardados, optou-se em analisar todos os materiais que ali são processados. Considerando as características citadas no referencial teórico, o arranjo físico atual pode ser classificado como por processo.

Para melhor visualização dos processos e fluxos produtivos a Figura 2 apresenta o fluxograma e o mapofluxograma.

No processo do papelão ele passa por uma pré-triagem no recebimento dos materiais, pois o mesmo apresenta um maior volume e não vem misturado com os demais materiais, sendo então armazenado em uma baia até se atingir uma quantidade mínima capaz de produzir um fardo.

Ao se atingir essa quantidade o material é prensado, pesado e segue para o estoque final, onde aguarda a quantidade mínima para a venda ser viável.

A grande diferença entre o processo produtivo do papelão e do papel misto, é que este vem misturado com outros materiais e necessita passar pela mesa de triagem, no mais os dois apresentam as mesmas etapas.

Page 103: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

103

Figura 2 – Fluxograma dos processos produtivos dos fardos de papelão e do papel misto

Outros materiais possuem um fluxo diferente dos apresentados na Figura 2, sendo um deles o jornal, como pode ser visto na Figura 3.

Figura 3 – Fluxograma do jornal

Page 104: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

104

Neste caso o material vem separado em sacos plásticos e são armazenados na baia. Quando se tem uma quantidade considerável estes são pesados e vendidos.

Para uma melhor visualização e compreensão optou-se em apresentar por meio do mapofluxograma três produtos que se distinguem em seus fluxos produtivos como pode ser observado na Figura 4.

Nesta figura, em vermelho tem-se o fluxo a que o papelão é submetido, em azul o fluxo do papel misto, em verde o do jornal e em amarelo as etapas que são comuns a mais de uma mercadoria.

Figura 4 – Mapofluxograma do layout atual

No atual layout, observado pela Figura 4, tem-se um elevado fluxo cruzado nos processos, além disso existem áreas que são mal utilizadas.

4.3 Proposta de um novo arranjo físico

Com base no fluxo de materiais e observações diretas, é sugerido na Figura 5 um arranjo físico para uma nova unidade de triagem de materiais. Deste modo, o cruzamento de fluxos seria minimizado e o processo otimizado.

Page 105: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

105

Figura 5 – Mapofluxograma do layout proposto

A Figura 5 mostra o novo layout juntamente com o novo fluxo de produção. Foi necessária a ampliação da área da unidade, tendo em vista que o estoque atual é insuficiente. A área proposta seria de 272 m2, representando um aumento de 27% em relação à área anterior, que é de 213 m2.

4.4 Análise da melhoria

No que tange ao papelão houve uma melhoria substancial no que diz respeito ao caminho que o material percorre até sua estocagem para posterior carregamento do caminhão comprador. Com o novo layout, seria possível evitar o fluxo cruzado que se tem devido ao fato do estoque de fardos de papelão ser do lado de fora da unidade, ao lado da entrada de materiais. Na nova configuração o estoque dos fardos de papelão ficaria ao lado da balança em virtude do papelão ser o material que chega com volume maior. Isto também possibilitaria um ganho de produtividade, afinal gastar-se-ia um tempo menor ao movimentar os fardos até o estoque que contaria com um portão para descarregamento de fardos acabados.

A respeito do papel misto, a quantidade de fluxo cruzado que se poderia eliminar com a implantação da nova planta seria apreciável. Ao contrário do confuso fluxo atual que segue o material, na nova configuração a quantidade de transporte seria diminuída, o que se mostra importante visto que é o tipo de papel que mais chega à unidade. Com a alteração, o papel triado seria dirigido para a baia até atingir volume suficiente para ser enfardado, quando iria

Page 106: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

106

para prensa, depois balança e posterior estocagem do fardo no depósito que agora ficaria junto ao de papelão.

No caso do jornal é possível observar a diminuição do transporte caso o novo layout seja implantado. Isso se daria visto que com a nova configuração, o jornal chegaria e sairia pela porta ao lado do estoque intermediário de latas, já que o mesmo não necessita passar pelo processo de prensagem. Com relação a sua pesagem não haveria maiores problemas afinal a balança é móvel.

Com relação às condições de trabalho, observa-se a melhor disposição que se deu ao escritório e ao banheiro, que antes ficavam em um local de intenso fluxo de material. Teve-se também a adição de uma pequena cozinha, tornando o trabalho mais humano.

Por meio do método carga-distância avaliou-se quantitativamente de que forma o novo layout modificou a produtividade como pode ser observado na Tabela 2:

Quadro 2 – Aplicação do método carga-distância

Page 107: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

107

Para a aplicação deste método utilizou-se a distância percorrida pelo material na unidade durante seu processo produtivo. Com a aplicação do método carga-distância constatou-se uma redução aproximada de 8%, o que pode ser considerada baixa, entretanto houve um aumento de 27% na área. Isso leva a crer que o ganho de eficiência é razoável.

5. Conclusão Os problemas observados durante o estudo motivaram a realização deste estudo, sejam eles: transporte desnecessário de materiais pesados ou de pessoas, fluxo cruzado de materiais, utilização indevida de certos espaços ou baixa produtividade. Todos esses decorrentes, em grande parte, do arranjo físico do local.

A raiz desses problemas está nos erros cometidos no projeto da unidade de triagem, durante o qual não se analisou corretamente qual seria a gama de materiais a ser reciclada, bem como o fluxo que estes deveriam obedecer e o volume crescente de resíduos sólidos recicláveis na instituição de ensino.

Levando-se em consideração o incremento que a coleta de materiais recicláveis vem tendo nos últimos tempos e a perspectiva de haver aumento ainda mais significativo dado que a instituição de ensino passa por um processo de expansão será necessária uma unidade de triagem mais eficiente.

O layout proposto pelo presente trabalho serviria à instituição na construção de sua nova unidade de triagem, visto que o atual deverá deixar o local que ocupa devido ao fato do terreno em que se encontra ser área nobre para a expansão física da mesma.

Baseando-se na planta proposta e analisando-se a possibilidade de se trabalhar com novos materiais poder-se-ia construir a nova unidade, com vistas a atender o crescente volume de material a ser reciclado, evitar os fluxos cruzados e transportes desnecessários. Para tanto o trabalho poderia servir como base também para um estudo de tempos e movimentos a fim de obter-se um incremento à produtividade no trabalho realizado na unidade de triagem.

6. Referência

CAMAROTTO, João Alberto. Engenharia do trabalho (Métodos, Tempos, Projeto de Trabalho), São Carlos, 2005.

CORRÊA, H.L.; CORRÊA, C.A. Administração da Produção e Operações: Manufatura e Serviços. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006. 690p.

CURY, A. Organização e Métodos. São Paulo: Atlas, 2000.

DALMAS, V. Avaliação de um Layout Celular Implementado: um Estudo de Caso em uma Indústria de

Autopeças. Dissertação de Mestrado. Engenharia de Produção e Transportes. UFRGS. Porto Alegre, 2004.

GAITHER, N. ; FRAZIER, G. (2002). Administração da Produção e Operações. São Paulo, Pioneira.

KRAJEWSKI, L. J.; RITZTMAN, L. P. Administração da Produção e Operações. Pearson Education: São Paulo, 2004. 431p.

MARTINS, P.G.; LAUGENI, F.P. Administração da Produção. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 562 p. 11

MONKS, J.G. (1987) - Administração da produção. São Paulo: McGraw-Hill.

MOREIRA, D. A. (2002) - Administração da Produção e Operações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.

PORTO, Elisângela Silva. Análise do fluxo produtivo como base para diagnóstico do Arranjo Físico – Um

estudo de caso. Campina Grande, 2006

SLACK, N. ; CHAMBERS . S. ; JOHNSTON, R. Administração da Produção. São Paulo, Atlas. 2002.

STEVENSON, W. J. Administração das Operações de Produção. Rio de Janeiro: LTC, 2001.

Page 108: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected]

Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria

Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia

CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

108

VILLAR, Antônio de Melo. N”BREGA JR, Claudino Lins. Planejamento das Instalações Industriais. João Pessoa: Manufatura, 2004.

Page 109: Revista INGEPRO - Junho/2009

PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com

Page 110: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

110

Avaliação da qualidade de produto de software utilizando Lógica Paraconsistente Anotada: estudo de caso com software ERP

Resumo: No advento da mudança tecnológica e organizacional no ambiente corporativo,

destaca-se um novo paradigma: a Governança de TI. Isso acarreta a busca por qualidade em

software, visando garantir a integridade da informação, aumentar a produtividade do

pessoal envolvido, aumentar a disponibilidade dos serviços oferecidos e minimizar a

ocorrência de falhas. Este artigo apresenta uma aplicação da Lógica Paraconsistente

Anotada Evidencial Eτ na avaliação da qualidade de software ERP (Enterprise Resource

Planning). Um estudo de caso foi realizado com parâmetros obtidos da Norma ISO 9126-1

que trata a qualidade de produto de software. Pretende-se desta forma apontar as

características que estão em conformidade com as expectativas dos usuários e as que

necessitam de ajustes para se adequarem.

Palavras-chave: Lógica Paraconsistente Anotada; Qualidade de Software; Norma ISO 9126.

1. Introdução

A competitividade gerada por um mercado mundial globalizado cria uma enorme demanda por sistemas de software com qualidade.

Percebe-se uma crescente utilização de Software ERP, como ferramenta adequada e viável na padronização, integração e conseqüente redução do número de aplicativos operacionais dentro das organizações. Este trabalho pretende contribuir com outras abordagens relacionadas com este assunto e propõe uma avaliação detalhada a respeito da qualidade de software.

Para Pressman (1995), “A qualidade de software é uma combinação complexa de fatores que variarão de acordo com diferentes aplicações e clientes que as solicitam”. Não há dúvida que a qualidade de um software esta ligada à capacidade do sistema aplicativo atender as necessidades de quem o utiliza.

2. Motivação

A motivação para análise e avaliação de produtos de software surge da necessidade de minimizar possíveis falhas decorrentes da aquisição de um produto não adequado à demanda inicialmente proposta pela empresa e garantir o desempenho produtivo dos profissionais que trabalham com o sistema.

3. Objetivo

Este artigo propõe um método de avaliação da qualidade de software pela visão do usuário de TI (Tecnologia da Informação), entendendo que usuário e todo aquele que se utiliza do sistema para realizar algum tipo atividade.

Avaliações e testes da usabilidade podem auxiliar efetivamente no desenvolvimento de software, buscando um maior grau de satisfação dos usuários, conforme reportado por Medeiros (1999).

O presente trabalho mostra uma ferramenta para a avaliação da qualidade de software baseada na Lógica Paraconsistente Evidencial Ετ, visto que os diversos grupos de fatores

Uanderson Celestino (UNIP) [email protected] Minoro Abe (UNIP) [email protected]

Page 111: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

111

estudados podem comportar dados imprecisos, conflitantes e paracompletos.

Pode-se categorizar em dois grupos os fatores que afetam a qualidade de software: (1) aqueles fatores que podem ser medidos de maneira direta, fatores quantitativos e (2) são os fatores que podem ser medidos somente de forma indireta (PRESSMAN, 1995). Pelo escopo proposto neste trabalho será analisado o segundo grupo de fatores.

4.Software ERP

Os sistemas ERP Enterprise Resource Planning (Planejamento de Recursos Empresariais) integram informações e processos entre as diversas áreas funcionais da organização, proporcionando recursos e procedimentos aos usuários, para um gerenciamento eficiente das informações. De modo geral, estes sistemas fornecem suporte às atividades administrativas (finanças, recursos humanos, contabilidade e tributário), comerciais (pedidos, faturamento, logística e distribuição) e produtivas (projeto manufatura, controle de estoques e custos).

ERP é uma estrutura de software que objetiva facilitar e agilizar o fluxo de informações e processos entre departamentos de uma organização. Como meta do sistema ERP pode-se citar a eliminação do uso de interfaces manuais, redução de custos e eliminação da redundância de atividades.

Neste tipo de sistema encontramos um banco de dados único que opera em uma plataforma comum interagindo com um conjunto de aplicações, consolidando todas as operações do negócio em apenas um ambiente computacional.

ERP tem raízes no MRP (Material Requeriment Planning) que surgiu com a necessidade de um planejamento efetivo de materiais e insumos para atender a demanda por ordens de produção e de compra. O MRP era um software para atender departamentos específicos, sem que houvesse uma integração total entre os demais departamentos da empresa.

O sistema ERP pode ser dividido em 4 blocos de características principais (AZEVEDO et al. 2006):

• Estrutura: banco de dados único e vários aplicativos.

• Generalista: robustez e flexibilidade.

• Arquitetura Cliente / Servidor: sistema centralizado.

• Referência nas Melhores Práticas: sua funcionalidade tem base nas melhores práticas de negócio existentes no mercado.

5. Norma ISO/IEC 9126

A Norma ISO 9126 define a Qualidade de Software como: “A totalidade de características de um produto de software que lhe confere a capacidade de satisfazer necessidades explícitas e implícitas”.

Ao se fazer a escolha pela Norma ISO/IEC 9126 como referência para levantamento dos aspectos de qualidade, buscou-se uma profunda análise abrangendo toda a qualidade do produto e das aplicações de software.

A Norma ISO/IEC 9126-1 identifica 6 principais características da qualidade de software e 21 subcaracterísticas abrangendo partes internas e externas de produto de software, permitindo uma avaliação do software pela visão do usuário.

Page 112: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Características analisadas para a avaliação (FERNANDES, 2008):

• Funcionalidade: As funções satisfazem as suas necessidades?

• Confiabilidade: O software e capaz de lidar com erros?

• Usabilidade: O software é de fácil de ser usado?

• Eficiência: Os recursos e os tempos são compatíveis com o desempenho requerido?

• Manutenibilidade: É fácil fazer alterações, atualizações e correções no software?

• Portabilidade: É possível usar o software em outras plataformas?

Segundo Chua, B.B. & Dyson, L.E. (2004) a Norma ISO/IEC 9126 poderia promover um ponto de referência para avaliação da qualidade de software nos protótipos de produtos é eventualmente conduzir para o aumento da satisfação do usuário.

6. Lógica Paraconsistente Anotada

Como citado por Abe (1992) e Abe & Da Costa (2000), a discordância entre especialistas em um determinado domínio é comum e pode ser significativa. Por exemplo, uma situação onde se busca chegar a um determinado local, mesmo tendo-se o endereço, mas não se conhecendo o caminho. Neste caso, é natural colhermos informações com outras pessoas. Se as opiniões são divergentes sobre como chegar ao local em questão, será muito mais produtivo analisar melhor a situação, talvez buscando o auxílio de um mapa. Assim, tais inconsistências são melhor acomodadas em uma lógica paraconsistente, do que a clássica. Por exemplo, a Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial Eτ constitui uma lógica não-clássica que aceita e trata contradições e admitem outros estados lógicos entre os extremos da falsidade de da verdade, de modo não-trivial em seu interior.

Ela vale-se de uma constante de anotação composta por dois valores (µ, λ) agregados à uma proposição p: o primeiro que representa a evidencia favorável à proposição p ou grau de crença, representado por µ, e o segundo que representa a evidência contrária à proposição p ou grau de descrença, representado por λ.

A análise paraconsistente dos graus de crença e descrença é feita com relação à representação do reticulado em um Quadro Unitário no Plano Cartesiano (QUPC) (para maiores detalhes, consultar Abe (1992)).

A seguir, as considerações são feitas com 0 ≤ µ, λ, ≤ 1. No Quadrado Unitário do Plano Cartesiano podemos calcular o Grau de contradição Gct pela equação: Gct (µ, λ) = (µ + λ) - 1. O grau de contradição varia de -1 a +1 e seu valor é correspondente à distância do ponto de interpolação entre os graus de evidência favorável e de grau de evidência contrária à reta que liga o ponto D = (1, 0) - Verdadeiro ao ponto B = (0, 1) - Falso.

No Quadrado Unitário do Plano Cartesiano podemos calcular o Grau de certeza Gc pela equação: Gc = µ - λ. O grau de certeza varia de -1 a +1 e seu valor corresponde à distância do ponto de interpolação entre os graus de evidência favorável e grau de evidência contrária à reta que liga o ponto A = (0, 0) - Indeterminado ao ponto B = (1, 1) Inconsistente.

O valor -1, que corresponde ao ponto B = (0, 1) significa intuitivamente que temos uma certeza máxima na negação da Proposição e o valor +1 que corresponde ao ponto D = (1, 0) significa intuitivamente que temos uma certeza máxima na afirmação da proposição.

Page 113: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

FIGURA 1 – Reticulado representado por um QUPC. Fonte: ABE (1992)

Na análise valendo da lógica Eτ, o objetivo principal é saber com que medida ou "grau de certeza" pode-se afirmar que uma proposição é Falsa ou Verdadeira. Portanto, é considerado como resultado da análise apenas o valor do grau de certeza Gc. O valor do grau de contradição Gct é um indicativo que informa a medida da inconsistência. Se houver um baixo valor de certeza ou muita inconsistência o resultado é uma indefinição.

Dois valores limites externos e arbitrários (Vscc = Valor superior de controle de certeza e Vicc= Valor inferior de controle de certeza) determinam quando o grau de Certeza resultante é alto o suficiente para que a Proposição analisada seja considerada de totalmente Verdadeira ou de totalmente Falsa. Da mesma forma dois valores limites externos e arbitrários (Vscct = Valor superior de controle contradição e Vicct = Valor inferior de controle contradição) determinam quando o valor do grau de Contradição resultante da análise é tão alto que se pode considerar a Proposição totalmente inconsistente, conforme os valores de controle ajustados externamente são limites que vão servir como referência na análise.

7. Avaliação do Software ERP

As técnicas usadas em Controle da Qualidade Total e Análise do Valor foram desenvolvidas na busca de oferecer às organizações maior competitividade, aumentando a qualidade de seus produtos tornando-o mais atrativo para o mercado (DA COSTA 1998).

Estes processos administrativos que foram desenvolvidos de forma empírica e que não apresentam resultados matemáticos estão baseados principalmente, em ciências comportamentais e usam a criatividade como uma de suas ferramentas-chave (DA COSTA 1998).

7.1 O Método

Como parâmetro da avaliação é considerado o grau de satisfação e insatisfação dos usuários de software, com relação a fatores referentes à funcionalidade, confiabilidade, usabilidade, eficiência, manutenibilidade e portabilidade.

Um questionário foi utilizado como ferramenta para coleta das opiniões dos usuários, as questões foram baseadas na Norma ISO 9126-1, que trata da qualidade de produto de software, como critério adotado, cada proposição pode contendo apenas uma característica de qualidade e deve possuir um texto objetivo.

As notas atribuídas a cada proposição podem variar entre 0 e 10, sendo que a nota 0 expressa uma baixa conformidade entre a expectativa do usuário e a característica por ele

113

Page 114: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

analisada logo, a nota 10 expressa uma alta conformidade entre a expectativa do usuário e a característica por ele analisada.

Para facilitar os cálculos no Para-Analisador, as notas atribuídas foram divididas por 10, deste modo dentro do Para-Analisador teremos valores variando entre 0 e 1.

Foram formados dois grupos de especialistas (FIGURA 2) A e B cada grupo composto por 2 especialistas. Os especialistas atribuíram notas para cada item avaliado, sua opinião representa o grau de evidência favorável, ou o grau de crença. O grau de evidência desfavorável ou grau de descrença foi calculado pela formula: λ = 1 - µ.

Objetivando uma melhor averiguação das opiniões dos usuários, utilizando o mesmo modelo aplicado em Carvalho (2002) com as técnicas de maximização (OR) e de minimização (AND), para avaliar cada proposição.

Entende-se como sendo o parecer de cada especialista envolvido na pesquisa os valores atribuídos ao grau de evidência favorável e desfavorável.

O parecer do especialista 1 (E1) e confrontado com o parecer do especialista 2 (E2) através do conectivo OR formando assim a opinião do grupo A.

O parecer do especialista 3 (E3) é confrontado com o parecer do especialista 4 (E4) através do conectivo OR formando assim a opinião do grupo B.

Por fim temos a opinião do grupo A confrontada com a opinião do grupo B pelo conectivo de minimização AND deste modo temos A AND B, do resultado desta equação obtém-se as variáveis de entrada µ e λ, que alimentam o Para-Analisador.

FIGURA 2 – Diagrama dos operadores OR e AND. Fonte: Adaptado de CARVALHO (2002)

7.2 Regras de Decisão

A avaliação considera a proposição “Esta característica está em conformidade com as necessidades do usuário”. Esta pergunta deve ser respondida para cada uma das 6 característica da qualidade de software. Todos os especialistas designados para a avaliação devem contar com a sua experiência profissional para atribuir valores ao grau de evidencia favorável e evidencia contraria. A Tabela 1 mostra os limites usados para conclusão do resultado apresentado.

114

Page 115: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

TABELA 1 - Regra de decisão.

REGRA AÇÃO

Gct ≥ 0,5 Conformidade

Gct ≤ -0,5 Não Conformidade

-0,5 < Gct < 0,5 Inconclusivo

Para que a proposição possa ser considerada verdadeira o valor do grau de certeza deverá ser maior ou igual a 0,5, caso o grau de certeza seja menor ou igual a -0,5 considere a proposição como falsa. Estando o grau de certeza situado entre -0,5 e 0,5 a proposição se mostra inconclusiva.

Ao final da analise paraconsistente, caso o grau de certeza de um ou mais fatores analisados, apresente valores situados na região inconclusiva, torna-se necessário realizar a avaliação com outros grupos de especialistas.

7.3 Resultados

A Tabela 2 mostra os dados coletados dos grupos de especialistas, cabe aqui ressaltar que o grau de descrença ou evidencia desfavorável foi obtido através do complemento do grau de crença, ou seja, grau de descrença = 1 – grau de crença.

TABELA 2 - Base de dados formada pelos graus de evidência favorável e contrária.

TABELA 3 - Resultado da avaliação.

Com base nas informações colhidas foi possível avaliar qual característica está em desacordo com as expectativas dos usuários (Tabela 3), a característica usabilidade pela análise mostrada, apresenta-se inconclusiva, merecendo uma verificação dos grupos de avaliadores, o mais indicado seria buscar novos avaliadores para realizar outra averiguação.

Uma das vantagens da análise paraconsistente é a utilização de uma pequena amostra para que se possa inferir em um resultado final. No estudo de caso apresentado contamos com a opinião de 4 especialistas que utilizam o sistema ERP em questão, com as considerações feitas sobre o parecer de cada especialista pode-se avaliar o desempenho do sistema.

115

Page 116: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

O fator Usabilidade apresentou inconclusivo como resultado, isto porque esta característica, na avaliação dos especialistas, resultou em um estado Paracompleto (TABELA 3). O fator Portabilidade foi o único que apresentou não conformidade como resultado, provavelmente pelo fato dos usuários questionados não utilizarem essa funcionalidade do sistema, ou então, porque essa característica do software ERP avaliado necessita melhorias.

8. Considerações Finais

A partir dos experimentos realizados, e de toda a parte teórica apresentada, foi possível elaborar um método de avaliação da qualidade software pela visão do usuário de software.

Com a avaliação dos resultados alcançados, constatou-se, que a Lógica Paraconsistente Anotada surge como uma importante ferramenta no desenvolvimento e avaliação de software.

Motivado pelos resultados obtidos com este trabalho, pretende-se então, aplicar esse método na avaliação de outros sistemas de software em trabalhos futuros. Cabe aqui deixar registrado o interesse em prosseguir nas pesquisas de novas aplicações para o uso da Lógica Paraconsistente Anotada.

Referências

ABE, J. M. Fundamentos da Lógica Anotada. Tese ( Doutorado) - Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 1992.

AZEVEDO, R. C. et al. O uso de ERP e CRM no suporte à gestão de demanda em ambientes de produção Make-to-Stok. Gestão & Produção, vol. 13, nº 2, p.179-366, mai-ago, 2006.

CARVALHO, F. R. Lógica Paraconsistente aplicada em tomada de decisão: uma abordagem para

administração de universidades, São Paulo: Aleph, 2002.

CHUA, B.B. & DYSON, L.E. Applying the ISO9126 model to the evaluation of an elearning system. In R. Atkinson, C. McBeath, D. Jonas-Dwyer & R. Phillips (Eds), Beyond the comfort zone: Proceedings of the 21st

ASCILITE Conference (pp. 184-190). Perth, 5-8 December, 2004.

DA COSTA, N. C. A. et al. Lógica Paraconsistente aplicada. São Paulo: Atlas, 1999.

DA COSTA, N. C. A; ABE, J. M. Paraconsistência em informática e Inteligência Artificial. Estudos Avançados 14 (39) Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

DA SILVA FILHO, J. I.; ABE, J. M. Fundamentos das redes neurais artificiais paraconsistentes: destacando

aplicações em neurocomputação. São Paulo: Arte & Ciência, 2000.

DOMINGUES, M. A; BRUNSTEIN, I; ABE, J. M. Proposta de Uso da Lógica Paraconsistente Anotada na Análise do Poder de Competição: O Estudo do Fator “Dificuldade á entrada de Concorrentes”.XXIV ENEGEP Florianópolis, SC,2004.

FERNANDES, A. A; DE ABREU, V. Implantando a Governança de TI: da Estratégia à Gestão dos Processos e Serviços. 2 ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2008.

ISO 9126 - ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR 13596 - Tecnologia da Informação. Avaliação de Produto de Software. Características de qualidade e diretrizes para seu uso. Rio de Janeiro, ABNT, 1996.

MEDEIROS, M.A. ISO 9241: Uma proposta de utilização da norma para avaliação do grau de satisfação de

usuários de software. Dissertação(Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1999.

PRESSMAN, R. S. Engenharia de software. Tradução José Carlos Barbosa dos Santos 4. ed. São Paulo: Makron Books, 1995.

116

Page 117: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Análise dos processos de uma estação de tratamento de água (ETA): Um estudo de caso

Ideval Pires Fernandes (UESC) [email protected] Nayara Martins da Silva Lopes (UESC) [email protected]

Thiago Martins Santos (UESC) [email protected]

Resumo: Este trabalho tem como objetivo geral analisar criticamente os processos de tratamento de água para abastecimento público da cidade de Itabuna, estado da Bahia, através de pesquisa de campo, realizada na estação de tratamento local. A coleta de dados foi realizada através de entrevista, com aplicação de dois questionários, um objetivo e outro subjetivo. Após uma breve introdução, será explicitada a revisão de literatura realizada que teve como objetivo levantar informações gerais sobre a água, sobre a legislação de tratamento de água no Brasil e sobre as técnicas de tratamento convencionais. Em seguida, os resultados do estudo de caso serão discutidos, analisados e criticados, buscando-se relacionar o que foi encontrado na prática com a respectiva teoria, o que permitirá a compreensão das considerações finais, onde há uma proposta de melhoria. Palavras-chave: Tratamento de água; Água; Abastecimento de água.

1. Introdução

A água torna-se, cada vez mais, um fator limitante para o desenvolvimento agrícola, industrial e urbano. Mesmo em regiões onde os recursos hídricos sempre foram abundantes, constata-se uma preocupação com a disponibilidade em longo prazo, visto que os impactos ambientais nos meios hídricos já podem ser considerados problemas globais.

O tratamento de água assume, assim, importância fundamental para diversos fins, sejam eles industriais, principalmente em indústrias alimentícias, e/ou domésticos, buscando garantir que a água captada do meio-ambiente atenda às necessidades humanas isenta de qualquer tipo de poluição e/ou contaminação.

Nas indústrias, o tratamento, além de garantir que os parâmetros de qualidade sejam atendidos, ainda pode propiciar a reutilização da água como uma alternativa para minimizar os impactos ambientais e a conseqüente a minimização de custos de produção com a redução da demanda de água dos sistemas públicos de distribuição.

Muitas organizações, governamentais ou não, dedicam parte do seu tempo para desenvolver propostas e/ou normas que têm o objetivo de fomentar a importância da reutilização de água nas indústrias. A Agenda 21 (1994), documento consensual para o qual contribuíram governos e instituições da sociedade civil de 179 países num processo preparatório que durou dois anos e culminou com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, no Rio de Janeiro, também conhecida como ECO-92, por exemplo, dedicou importância especial ao reuso da água, recomendando a implementação de políticas de gestão voltadas para a utilização e reciclagem de efluentes (HESPANHOL, 2003).

No capítulo 21 da Agenda 21 (1994) – “Gestão ambientalmente adequada de resíduos líquidos e sólidos”, Área Problemática B – “Maximizando o reuso e a reciclagem ambientalmente adequadas”, ficou estabelecido como objetivos principais: “vitalizar e ampliar os sistemas nacionais de reuso e reciclagem de resíduos”, e “tornar disponível

117

Page 118: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

informações, tecnologia e instrumentos de gestão apropriados para encorajar e tornar operacional, sistemas de reciclagem e uso de águas residuárias”.

Com relação ao tratamento de água para fins domésticos, a principal preocupação está em fazer com que a água apresente características sanitárias e toxicológicas adequadas, tais como estar isenta de organismos patogênicos e de substâncias tóxicas, para a prevenção de danos à saúde e ao bem-estar do homem (BRAGA et al, 2005).

De acordo com FERREIRA FILHO e ALEM SOBRINHO (1998), o tratamento de água para abastecimento público teve origem na Escócia, com a construção do primeiro filtro lento. A filtração rápida iniciou-se no Brasil, em 1980, com a instalação pioneira no mundo, na cidade de Campos, Rio de Janeiro.

O órgão responsável por estabelecer os padrões mínimos de potabilidade da água é a Organização Mundial de Saúde (OMS). Baseados nesses padrões, os países determinam as suas normas de tratamento. Normalmente, essas normas são mais rígidas que os padrões internacionais da OMS e buscam adequar as formas de tratamento à qualidade das águas dos mananciais.

No Brasil, o responsável pelo controle e pela vigilância da qualidade da água para consumo humano e o seu Padrão de Potabilidade é o Ministério da Saúde, através da Portaria nº 518 de 25 de março de 2004. Segundo ela, o Padrão de Potabilidade é o conjunto de valores máximos permissíveis das características de qualidade da água destinada ao consumo humano.

Em ambos os casos, nas indústrias e no abastecimento público, é importante considerar que a estação de tratamento também gera resíduos. Por isso, é necessário que haja uma preocupação com o destino dos resíduos provenientes da estação de tratamento, para que não sejam simplesmente despejados no meio-ambiente.

Este trabalho tem como objetivo geral analisar criticamente os processos de tratamento de água para abastecimento público na cidade de Itabuna, estado da Bahia, através de pesquisa de campo, realizada na estação de tratamento local.

1.1 Objetivos específicos

• Realizar uma revisão de literatura acerca da água, da legislação brasileira para o tratamento de água e das técnicas de tratamento de água mais comuns;

• Comparar a técnica de tratamento observada na pesquisa de campo com as técnicas descritas na revisão de literatura;

• Verificar qual o destino dos resíduos da estação de tratamento estudada;

• Propor sugestões de melhoria para o processo de tratamento utilizado na empresa estudada.

2. Metodologia

O presente trabalho apóia-se em três etapas principais: a revisão de literatura, o estudo de caso e a análise dos resultados.

A revisão de literatura foi realizada a partir do estudo de artigos científicos, teses, livros, leis e manuais, buscando-se descrever o estado da arte sobre as técnicas de tratamento de água e a legislação vigente no Brasil.

O estudo de caso foi desenvolvido na estação de tratamento de água da organização

118

Page 119: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

responsável pelo abastecimento da cidade de Itabuna, no estado da Bahia. As visitas tiveram como foco o levantamento de informações acerca das técnicas utilizadas na estação de tratamento de água, bem como da disposição dos resíduos. Para tanto, foram utilizados dois questionários aplicados em entrevista.

Um dos questionários continha perguntas objetivas para respostas do tipo sim ou não; e o outro era formado por questões subjetivas que solicitavam informações mais detalhadas sobre as técnicas de tratamento de água. A entrevista foi realizada nas instalações da ETA com um engenheiro químico responsável pelo controle de processo.

De acordo com Mattar (1996), apud Carnevalli e Miguel (2001), a entrevista é um método que se caracteriza pela presença de um entrevistado e de um entrevistador que faz as perguntas e anota as respostas. Segundo esses autores, o questionário não precisa ser aplicado em entrevista, mas ambos os métodos podem ser realizados concomitantemente.

A análise dos resultados partiu da organização das informações levantadas nas fases anteriores. Para tanto, foram utilizadas as ferramentas Microsoft Office Word 2003 e Microsoft Office Excel 2003 para a textualização dos resultados e a criação de tabelas, respectivamente.

3. Revisão de literatura

3.1 A água

A água cobre quase quatro quintos da superfície terrestre, mas somente 3% desse total correspondem às águas doces. Desses 3%, 2,7% são formadas por geleiras, lençóis existentes em grandes profundidades (mais de 800 metros) e vapores d’água e apenas 0,3% do volume total de água do planeta pode ser aproveitado para o consumo humano, sendo 0,01% encontrada em fontes de superfície (rios, lagos) e 0,29%, em fontes subterrâneas (poços e nascentes) (FUNASA, 2006).

Para utilização dessa pequena fração de água do planeta, é preciso considerar diversos fatores. Segundo Braga et al (2005), não existe água pura na natureza, a não ser as moléculas de água presentes na atmosfera na forma de vapor. Como resultado, são necessários indicadores físicos, químicos e biológicos para caracterizar a qualidade da água, que é diferente dependendo das características do local em que ela se encontra.

Os indicadores físicos incluem a cor, a turbidez, o sabor e o odor. A cor é derivada da existência de substâncias em solução, na maioria, de natureza orgânica. A turbidez é decorrente da presença de materiais em suspensão, chamados de partículas coloidais, que desviam os raios luminosos. E o sabor e odor estão associados à existência de poluentes industriais ou de outras substâncias indesejadas, como matérias orgânicas em decomposição, algas, etc (BRAGA et al, 2005).

As características químicas ocorrem em função da presença de substâncias dissolvidas na água, geralmente mensuráveis por meios analíticos. Os principais indicadores são: salinidade, dureza, alcalinidade, corrosividade, ferro e manganês, impurezas orgânicas, nitrogênio e cloretos, compostos tóxicos, fenóis, detergentes, agrotóxicos e radioatividade (BRAGA et al, 2005).

De todos os indicadores químicos, os que merecem ser destacados são a salinidade, a dureza e a alcalinidade. A salinidade é decorrente da presença de sais como bicarbonatos, cloretos e sulfatos. A dureza é conferida à água pela presença de íons metálicos, principalmente os de cálcio (Ca++) e magnésio (Mg++). A dureza é expressa em termos de miligramas por litro de CaCO3. A alcalinidade é devida à presença de bicarbonatos (HCO3-),

119

Page 120: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

carbonatos (CO3=) ou hidróxidos (OH-). É uma das determinações mais importantes, pois influencia em todas as etapas do processo de tratamento da água (NETTO e RICHTER, 1991).

Com relação às características biológicas da água, de acordo com Braga et al (2005), podemos citar dois indicadores mais importantes: algas e microorganismos patogênicos. As algas, apesar de serem importantes para a manutenção do equilíbrio natural, podem também gerar alguns problemas. Entre eles, a concentração de grande massa orgânica, levando à formação de lodo e à liberação de compostos orgânicos; e a possibilidade de dificultar o processo de tratamento, entupindo os filtros, por exemplo.

Os microorganismos patogênicos, por outro lado, são introduzidos na água pelo despejo de esgotos sanitários, principalmente pela matéria fecal existente. São três os tipos de microorganismos que podem ser encontrados: bactérias, vírus e protozoários. A variedade desses microorganismos dificulta a determinação da quantidade individualizada. Por isso, foi determinado como indicador dos microorganismos patogênicos a quantidade das bactérias do grupo dos coliformes fecais. O índice de poluição pelos coliformes fecais foi escolhido por quatro razões principais: a) eles existem em grande número na matéria fecal e não existem em nenhum outro tipo de matéria orgânica; b) eles não se reproduzem na água, o que garante uma aferição precisa; c) são resistentes ao meio; e d) a quantificação e análise são feitas com métodos simples de pesquisa (BRAGA et al, 2005).

Todos os indicadores mencionados são muito importantes para a determinação dos processos de tratamento que serão utilizados para que a água atenda aos padrões mínimos de aceitação para o consumo humano determinados pela OMS e reformulados pelo Ministério da Saúde no Brasil. A seguir, será explicitado como a legislação brasileira aborda o tratamento de água.

3.2 Legislação

A legislação brasileira acerca do uso da água começou a se desenvolver na década de 30, com a edição em 1934 do Código de Águas. Embora seja considerado avançado para a época em que foi criado, o Código de Águas, ainda em vigor, necessita de atualizações em conformidade com a Carta Magna de 1988 e a Lei 9.433/97, que estabelece a Política Nacional de Recursos Hídricos através de princípios e normas e padrões da gestão da água.

A Lei de Recursos Hídricos prevê os fundamentos e objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos e as diretrizes gerais de ação para sua implementação. O art. 3º da Lei elenca essas diretrizes e, em seu inciso I, trata da gestão sistemática dos recursos hídricos, sem a dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade.

No art. 32 da lei supracitada estão dispostos os objetivos e a composição do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos criado pela mesma lei. Dentro os objetivos, o mais importante para a gestão adequada da água é o previsto pelo inciso IV, que trata do planejamento, regulamentação e controle do uso, preservação e recuperação dos recursos hídricos.

A lei estabelece também os campos de ação do poder público, sendo necessário ressaltar a disposição do art. 31 sobre a responsabilidade dos Poderes Executivos do Distrito Federal e Municípios em promover a integração das políticas locais de saneamento básico, de uso, ocupação e conservação do solo e de meio ambiente com as políticas federais e estaduais de recursos hídricos. Ou seja, cabe ao Poder Executivo, em geral, agir conjuntamente com as esferas estaduais e municipais para garantir a eficácia da Política Nacional de Recursos Hídricos e o beneficiamento da água para uso da população brasileira de acordo com os

120

Page 121: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

padrões mínimos de saúde exigidos pelo Ministério da Saúde.

As exigências mínimas do Ministério da Saúde, estabelecidos a partir de recomendações da Organização Mundial de Saúde, estão dispostas na Portaria 518 de 25 de março de 2004. Mais precisamente, esta Portaria estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

A norma de qualidade da água para consumo humano é um documento anexo a Portaria e por ela aprovado, que trata, por exemplo, dos deveres e responsabilidades, a nível federal, estadual e municipal no controle de qualidade da água. Aventa também sobre o padrão de potabilidade da água, que define as exigências mínimas de qualidade da água. A norma possui várias tabelas que tem por base os requisitos mínimos dos indicadores físicos, químicos e biológicos da água. Elas não serão mostradas nesse artigo, pois são muito extensas e não contribuiriam para o alcance do objetivo geral do trabalho.

A seguir, tratar-se-á da descrição dos sistemas de abastecimento e das técnicas de tratamento de água convencionais que tem o objetivo de atender à norma da Portaria 518 (2004).

3.3 Sistema de abastecimento e técnicas de tratamento de água

Segundo Melo Baptista (1998), os sistemas de abastecimento de água (SBAs) têm por objetivo a prestação de um serviço público fundamental para a saúde e o bem estar das populações, que consiste em satisfazer as necessidades das comunidades em termos de fornecimento de água.

Para tanto, os SBAs devem ser constituídos de instalações e equipamentos que possibilitem a captação, elevação, adução, armazenamento, tratamento e a distribuição de água (MELO BAPTISTA, 1998; BRAGA ET AL, 2005). A Funasa (2006) acrescenta ainda o manancial abastecedor e explica cada uma das atividades.

O manancial abastecedor é a fonte de água da estação de tratamento (ETA). É importante considerar que as características físicas, químicas e biológicas da água do manancial devem ser adequadas ao tratamento, pois quanto mais poluída e/ou contaminada a água, mais difícil e caro é o tratamento. Além disso, é importante que se estude a demanda atual de água, bem como a previsão de crescimento da demanda na comunidade que será abastecida. A partir da escolha do manancial, as instalações e equipamentos para a captação dessa água devem ser planejados (FUNASA, 2006).

O sistema de elevação, de acordo com Melo Baptista (1998), tem como objetivo transmitir energia suficiente à água para que ela consiga circular nas tubulações com a pressão conveniente. Já a adução, segundo a Funasa (2006), é o conjunto das tubulações e peças especiais dispostas entre a captação e a ETA, a captação e o reservatório de distribuição, a captação e a rede de distribuição, a ETA e o reservatório de distribuição e a ETA e a rede de distribuição.

O armazenamento tem como função armazenar a água por períodos variáveis, tanto para regularização do processo de tratamento quanto para garantir reservas de incêndio e de avaria. O armazenamento pode ocorrer antes ou depois do tratamento, dependendo da necessidade. A água armazenada segue para o sistema de distribuição que é o responsável pela distribuição da água nas zonas a abastecer. É a última etapa do SBA e abrange também a atividade de coleta de amostras em determinados pontos para a análise da qualidade da água mesmo fora da ETA (MELO BAPTISTA, 1998).

121

Page 122: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Dentre todos os sistemas do SBA, o processo de tratamento da água merece atenção especial. É nessa etapa que os padrões mínimos de potabilidade devem ser alcançados para que o consumo seja seguro e saudável. A seguir, explicitaremos os métodos de tratamento mais comuns.

3.3.1 Técnicas de tratamento de água

De acordo com FUNASA (2006), os métodos de tratamento de água mais comuns são: fervura, sedimentação simples, filtração lenta, aeração, correção da dureza, remoção de ferro, remoção de odor e sabor desagradáveis e desinfecção.

Os métodos possuem diversas finalidades e podem ser utilizados individual ou coletivamente. Porém, no tratamento de água para o consumo humano várias dessas técnicas devem ser utilizadas conjuntamente. Apresentaremos a seguir o modelo de tratamento mais comum para os sistemas de Abastecimento público.

A Figura 1 abaixo mostra a seqüência convencional de um processo de tratamento para abastecimento público.

FIGURA 1 – Seqüencia convencional de um tratamento de água para abastecimento público. Fonte: FUNASA (2006).

Percebe-se que são necessárias cinco etapas principais: a coagulação, a floculação, a sedimentação, a filtração e a desinfecção.

O processo de coagulação é o tratamento que consiste na estabilização de cargas da água com a adição, normalmente, de sulfato de alumínio [Al2(SO3)4]. Segundo a FUNASA (2006), o sulfato de alumínio é o produto mais utilizado tanto pelas suas propriedades como pelo seu menor custo. O resultado desse processo é a aglomeração das partículas em suspensão, formando coágulos, o que facilitará o processo de sedimentação. A água, então, sai do coagulador e entra no floculador.

A floculação tem por função aumentar o tamanho dos coágulos, formando os flocos. Isso ocorre porque os coágulos formados anteriormente apresentam cargas elétricas residuais. Isso fará com que cargas contrárias se atraiam e formem os flocos (RICHTER E NETTO, 1991). Para que o processo seja corretamente executado, é necessário que a água se movimente continuamente no floculador. O floculador aumenta a velocidade do processo de sedimentação.

A sedimentação ou decantação é o processo no qual os flocos em suspensão são removidos da água. Consiste na utilização de forças gravitacionais para separar partículas de densidade superior à da água, depositando-as em uma superfície ou zona de armazenamento (RICHTER E NETTO, 1991). Destacaremos dois tipos principais de decantadores: os de fluxo horizontal e os de fluxo ascendente. Os primeiros são caracterizados pela simplicidade e eficiência. Como o próprio nome já diz, a corrente da água é horizontal e os flocos se

122

Page 123: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

depositam nas paredes e no fundo dos decantadores. Os segundos permitem o aumento da região de contato da água com a superfície dos decantadores. A corrente da água circula de baixo para cima e os flocos ficam depositados no fundo. Os decantadores de fluxo ascendente são mais eficientes que os de fluxo horizontal, porém, mais caros. A água segue, então, para o processo de filtração.

De acordo com Richter e Netto (1991), as partículas que não são removidas no processo de sedimentação, seja por seus pequenos tamanhos ou por terem uma densidade muito próxima a da água, deverão ser removidas na filtração. É na filtração que todas as partículas em suspensão são removidas para que a água atenda aos padrões de potabilidade. O processo consiste, segundo a FUNASA (2006), em fazer com que a água passe através de um meio granular para remoção das impurezas físicas, químicas e biológicas. O filtro mais utilizado é o filtro de areia, por causa, principalmente, do baixo custo. Este tipo de filtro possui uma camada de areia através da qual a água atravessa e deixa as impurezas. A quantidade de filtros de uma ETA é determinada pela demanda de água e pelos fatores econômicos (RICHTER E NETTO, 1991).

A galeria de manobra controla a passagem da água dos filtros para os tanques de desinfecção. Muitas ETAs fazem análises da água após o processo de filtração e só permitem a passagem para a etapa seguinte se os padrões de qualidade foram atendidos. A partir da etapa de desinfecção, a água já não tem mais contato com o ambiente externo.

A desinfecção é um dos processos mais antigos de tratamento de água. Indícios mostram que o uso da água fervida já era recomendado em 500 a.C. Essa etapa tem como objetivo a destruição ou inativação de organismos patogênicos, capazes de produzir doenças, ou de outros organismos indesejáveis (MEYER, 1994). A fervura é um método bastante eficaz nesse sentido, porém, quando tratamos de grandes volumes, não é viável. O método mais utilizado é o da cloração, ou seja, adição de cloro. O cloro é capaz de desinfectar a água, pois é um forte oxidante e consegue reagir com várias substâncias orgânicas e inorgânicas. O composto de cloro mais comum utilizado é o ácido hipocloroso (HOCl) e a sua dissociação depende do pH da água, daí a importância da etapa de correção desse índice.

Segundo Meyer (1994) a reatividade do cloro diminui com o aumento do pH. As águas para abastecimento público apresentam, geralmente, valores de pH entre 5 e 10. Nessa faixa, a forma predominante do cloro é o ácido hipocloroso, definido como cloro residual livre (CRL), e o íon hipoclorito. A presença do CRL é importante pois garante a qualidade bacteriológica da água em todas as etapas seguintes dos SBAs (SILVA et al, 2007). A reação de hidrólise que ocorre quando o cloro é adicionado na água está representada a seguir:

Geralmente, a água a ser tratada, coletada dos mananciais, apresenta amônia, oriunda de diversas fontes de poluição. Nesse caso, a adição de cloro ocorre até que toda a amônia reaja e seja eliminada. A partir desse momento, surge o CRL. O método é denominado de “cloração ao break-point” (RICHTER E NETTO, 1991), ou seja, a cloração tem como referência para a geração de CRL o ponto em que a amônia foi totalmente eliminada. A desinfecção e a correção do pH, normalmente, são as penúltimas etapas das ETAs e ocorrem ao mesmo tempo. A última é a distribuição.

Todas as etapas explicadas, se realizadas corretamente, garantem que os padrões de potabilidade exigidos pela Portaria 518 (2004) sejam atendidos. Porém, é importante realizar uma ressalva, o processo de tratamento de água também gera resíduos e esses resíduos não

123

Page 124: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

podem simplesmente ser despejados no meio-ambiente. O tópico a seguir fará um breve estudo do que pode ser feito para minimizar esse problema.

3.3.1.1 Resíduos da estação de tratamento

Segundo Ferreira Filho e Além Sobrinho (1998), no processo convencional de tratamento de água são gerados basicamente dois tipos de despejos: os gerados nos decantadores e os gerados na operação de lavagem dos filtros. Andreoli et al (2001) explica que embora a grande maioria dos países desenvolvidos já tenha adequado seus sistemas para gerenciar os resíduos produzidos no processo de tratamento, um grande número de estações de tratamento de água ainda lança esse material diretamente nos cursos d’água, principalmente nos países em desenvolvimento.

Mais de 90% dos resíduos gerados no mundo tem o seu destino por meio de três processos: incineração, disposição em aterros e uso agrícola (ANDREOLI et al, 2001). Ferreira Filho e Além Sobrinho (1998) ainda citam o adensamento e a desidratação dos resíduos para a reutilização da água. A Figura 2 mostra um modelo de tratamento de resíduos proposto por eles e que consideraremos um processo adequado e viável para as ETAs do Brasil.

Figura 2 – Tratamento de despejos convencional de uma ETA. Fonte: Adaptado de Ferreira Filho e Além Sobrinho (1998).

Na Figura 2, percebe-se que a água do despejo é reaproveitada e os resíduos sólidos são encaminhados para aterros sanitários e usos agrícolas. Com referência à água de lavagem dos filtros, é possível que se faça em um tanque separado o processo de sedimentação para facilitar a desidratação.

O processo de tratamento das ETAs convencionais não é tão complexo, mas exige uma gestão adequada para que todas as etapas sejam perfeitamente executadas. A falha em alguma delas pode causar muitos problemas para as populações, o que é inadmissível. A

Água de Lavagem

Condicionamento

Lodo

Coagulação Floculação Processo de Separação

sol./líq. Filtração

Desinfecção e correção

de pH

Água de Lavagem

Adensamento

Desidratação

Disposição Final

Água Bruta Água Final

Lodo Adensado

Lodo Condicionado

Lodo Desidratado

Fase Líquida

Fase Líquida

Lodo

124

Page 125: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

seguir, explicitaremos as informações obtidas na pesquisa de campo e realizaremos uma análise crítica dos procedimentos utilizados no tratamento.

4 Estudo de caso

As respostas às perguntas do questionário objetivo estão dispostas no Quadro 1 a seguir.

Quadro 1 – Respostas às questões objetivas.

Perguntas Sim Não Há mais de um manancial? X São realizadas análises prévias das águas dos mananciais? X Existe na empresa mais de um método para o tratamento da água? X Houve alguma modificação no projeto de tratamento ao longo desses anos? X Embora não faça parte do tratamento da água, a empresa realiza a adição de flúor?

X

A empresa dispõe de laboratórios próprios? X Todas as análises são realizadas nos laboratórios da empresa? X Os resíduos oriundos do processo são tratados e/ou reutilizados para algum outro fim?

X

Existe algum projeto futuro para o tratamento e/ou reutilização desses resíduos?

X

Há adição de uma porcentagem residual de cloro após a desinfecção? X A empresa possui pontos de coleta para análise da água na rede de distribuição?

X

Para esclarecimento das respostas objetivas, foi realizado uma entrevista com o encarregado da área. As informações obtidas dizem respeito ao processo de tratamento da ETA estudada. Todas as informações que serão explanadas a seguir são baseadas nas respostas obtidas na entrenvista.

Após a captação de água, que ocorre no Rio Almada, amostras são submetidas a análises biológicas e físico-químicas. Esse é um procedimento padrão e deve ser realizado diariamente.

Com relação à técnica de tratamento utilizada, observou-se que consiste na realização de cinco etapas principais e uma última referente a adição de flúor. O fluxograma da Figura 3 esquematiza o processo adotado.

125

Page 126: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Figura 3 – Processo de tratamento adotado pela empresa pesquisada.

A primeira etapa consiste na coagulação. A água, ao chegar na empresa, é escoada em um tanque no qual é adicionado o sulfato de alumínio através de uma canaleta perfurada. Esse tanque possui uma geometria capaz de aumentar o movimento da água, facilitando a mistura da substância. Em seguida ocorre a floculação. Inicialmente não existia essa etapa no projeto da empresa, ela foi adicionada com a finalidade de aumentar a velocidade de sedimentação no decantador. A empresa possui dois tipos de floculadores, mecânicos e hidráulicos. Os floculadores hidráulicos possuem um custo mais elevado que os mecânicos, porém propiciam flocos de maiores tamanhos.

Posteriormente à floculação, a água é escoada para os decantadores, no qual ocorrerá a decantação dos flocos. A água proveniente dos floculadores mecânicos é direcionada para os decantadores de fluxo horizontal, com este processo é possível tratar de 0,8 a 1 m³ de água por metro quadrado do decantador. Enquanto que a água proveniente dos floculadores hidráulicos é direcionada para os decantadores de fluxo ascendente, este processo tem a capacidade de tratar até 5m³ de água por metro quadrado do decantador.

Após ambos os processos de decantação, a água é filtrada em filtros de areia e, após essa etapa, não terá mais contato com a atmosfera, passando, então, para o processo de desinfecção. A empresa utiliza o cloro na forma de HOCl2 devido ao menor custo e ao menor perigo no seu manuseio. A cloração da água é feita em um pH entre 6 e 7. Nessa faixa a reatividade do cloro é alta e, portanto, o processo de desinfecção ocorre mais rapidamente. Por isso, é importante que seja feita a correção do pH. A adição de cloro ocorre até que a concentração de CRL apresente valores entre 0,2 e 2,0 mg/L, sendo recomendando o valor de 0,5 mg/L como ideal. O método de cloração empregado é o da “cloração ao break-point” já explicado.

O passo seguinte é o da fluoretação. Embora não faça parte do tratamento da água, a legislação exige que as ETAs incluam um teor de flúor. Dessa maneira é possível proporcionar à população uma maior resistência às cáries nos dentes. Em climas mais quentes, a quantidade de flúor é menor devido ao maior consumo de água, para que não haja danos à saúde.

Todo o processo de tratamento é executado a uma velocidade de aproximadamente 600L/s. O lead time é de aproximadamente 1 hora.

Uma das perguntas do questionário era com relação ao despejo dos resíduos. Até o presente momento, os resíduos oriundos do processo de tratamento são despejados no rio Almada. O volume e a freqüência dos despejos foram questionados, mas não foram

COAGULAÇÃO

FLOCULADORES MECÂNICOS

FLOCULADORES HIDRÁULICOS

DECANTADORES HORIZONTAIS

DECANTADORES ASCENDENTES

FILTROS DE ARÉIA

DESINFECÇÃO OU CLORAÇÃO FLUORETAÇÃO DISTRIBUIÇÃO

CAPTAÇÃO ANÁLISE

ANÁLISE

126

Page 127: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

informados. O que foi dito é que há um projeto de tratamento e reutilização dos resíduos em planejamento.

A seguir, todas as informações obtidas serão analisadas criticamente com base na comparação do que foi encontrado na ETA estudada com a teoria.

4.1 Análise crítica

Com relação ao processo de tratamento utilizado pela ETA em análise, observou-se que a seqüência de etapas é bem parecida com o processo convencional mostrado no item 3.3. A execução e o controle das atividades observadas na visita permitem afirmar que os padrões mínimos de potabilidade exigidos pela Portaria 518 (2004) são alcançados. Porém, há que se considerar dois pontos importantes.

O primeiro diz respeito à falta de flexibilidade caso haja um problema no tratamento ou na rede de distribuição. Não foi constatado na visita a presença de reservatórios auxiliares para regularização do processo, portanto, seria muito difícil atender à demanda da cidade caso algum imprevisto acontecesse no processo de tratamento.

O segundo e, talvez, o mais importante, é com relação ao despejo descontrolado dos resíduos. Verificou-se que a empresa, atualmente, não realiza nenhum tipo de tratamento nos resíduos da ETA e os despeja novamente no Rio Almada. Obviamente, o resultado é o aumento da poluição do rio e o conseqüente prejuízo para as populações ribeirinhas e para o ecossistema.

De acordo com Andreoli et al (2001), para a legislação de diversos países, e mesmo a brasileira, os impactos ambientais causados pelo destino inadequado de resíduos é sempre dos produtores do resíduo, que podem ser enquadrados na própria lei de crimes ambientais.

Portanto, fica a necessidade da urgente implantação do projeto que terá como objetivo tratar e reutilizar os resíduos da ETA.

5. Considerações finais

Pelo estudo de caso, é possível concluir que o processo de tratamento da ETA da cidade de Itabuna-BA é adequado para garantir que os padrões mínimos de potabilidade sejam atendidos para o consumo humano. As etapas do tratamento são coerentes com o que foi encontrado na literatura.

O principal problema identificado foi o destino inadeqüado dos resíduos gerados durante o processo. Para solucionar esse problema, propomos o modelo apresentado no tópico 3.3.1.1. Utilizando esse modelo, todos os resíduos seriam tratados e/ ou reutilizados.

Destarte, consideramos que o objetivo geral, bem como os específicos, foram alcançados. Concluimos o trabalho ressaltando a oportunidade que existe no desenvolvimento de inovações para o tratamento e/ ou reutilização de resíduos das ETAs. A Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) poderia contribuir nesse sentido com a aplicação de investimentos em projetos de extensão em parceria com a estação de tratamento da cidade de Itabuna-BA.

Referências

ANDREOLI, C. V. et al. Resíduos sólidos do saneamento: processamento, reciclagem e disposição final. Curitiba: Abes, 2001.

BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável. 2 ed. Revisada. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

BRASIL. Decreto Federal n.º 24.643, de 10 de julho de 1934.

127

Page 128: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997.

CARNEVALLI, J.A. MIGUEL, P. A. C. Desenvolvimento da pesquisa e campo, amostra e questionário para a realização de um estudo tipo survey sobre a aplicação do QFD no Brasil. In: XXI Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador, 2001.

FERREIRA FILHO, S. S.; ALÉM SOBRINHO, P. Considerações sobre o tratamento de despejos líquidos gerados em estações de tratamento de água. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental. v.3, n.5, p.128 – 136. Rio de Janeiro, 1998.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE (FUNASA). Manual de Saneamento. 3 ed. revisada. Brasília: Funasa, 2006.

HESPANHOL, I. Potencial de reuso de água no Brasil: agricultura, indústria, municípios, recarga de aqüíferos. Bahia Análise e Dados, v. 13, n. especial, p. 411-437. Salvador, 2003.

MEDEIROS, J. B. Redação Científica. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MELO BAPTISTA, J. Como melhorar a qualidade em sistemas de abastecimento de água. In: IV Congresso da Água. Lisboa, 1998.

MEYER, S. T. O uso de cloro na desinfecção de águas, a formação de trihalometanos e os riscos potenciais à saúde pública. Cad. Saúde Pública. n. 10, p. 99-110, jan-mar, 1994.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 518, de 25 de março de 2004.

NETTO, J. M.; RICHTER, C. Tratamento de água: tecnologia atualizada. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2001.

SILVA, L. M. et al. Monitoramento sistemático de cloro residual livre na rede de abastecimento de água do município de Vitória-ES: sistema de vigilância para prevenção de danos à saúde. In: Sigas. Santo Amaro: São Paulo, 2007.

TOCCHETTO, M. R. L.; PEREIRA, L. C.. Reuso de água em atividades industriais de alto impacto ambiental e a conservação de recursos naturais. Revista Brasileira de Agroecologia. v.2, n.1. Porto Alegre, 2007.

UNITED NATIONS CONFERENCE ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Agenda 21. 1994.

128

Page 129: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Arranjo Produtivo Local: além de Competitivo é Preciso ser Sustentável

Egidio Luiz Furlanetto (UFCG ) [email protected] Suênya Freire do Monte Santos (UFCG) [email protected]

Resumo: O presente artigo parte do pressuposto de que ao tratar-se da competitividade de um determinado aglomerado industrial as questões relacionadas à sustentabilidade, tanto dos locais nos quais as empresas encontram-se inseridas, como delas próprias, devem ser incluídas. Para tal, e levando em consideração a importância do mesmo para a economia local, analisa o Arranjo Produtivo Local de Calçados de Campina Grande, questionando como este pode ser avaliado a partir dos indicadores de sustentabilidade, bem como das questões ambientais e sociais e de que forma isso pode influenciar na competitividade dessas empresas. Com base nos resultados da pesquisa foi possível caracterizar o APL como de baixo nível de competitividade, bem como identificar que as práticas de Responsabilidade Social e Ambiental ainda não se fazem presente no cotidiano das empresas, o que poderá, no médio ou longo prazo, comprometer o sucesso das mesmas. As informações obtidas na pesquisa apontam para a necessidade de uma mudança de postura dos empresários, com estes passando a considerar a sustentabilidade como uma estratégia competitiva. Palavras-chave: Competitividade; Sustentabilidade; Arranjo Produtivo Local.

1. Introdução

As transformações sócio-econômicas dos últimos 20 anos afetaram profundamente o comportamento de empresas até então acostumadas à exclusiva maximização dos lucos, chamando a atenção para novas configurações do mercado e a importância de se trabalhar com as questões sociais e ambientais.

Esse movimento, que ao surgir pregava por responsabilidade social, expandiu-se e se tornou no movimento pela responsabilidade social e ambiental - a Responsabilidade Social Empresarial, com a sociedade sinalizando que priorizará ações consideradas “sustentáveis”, isto é, que não comprometam o futuro da própria sociedade. É possível afirmar-se, portanto, que as organizações e, consequentemente os arranjos produtivos, objeto do presente estudo, devem buscar a sustentabilidade, isto é, devem promover, de forma equilibrada e harmônica, crescimento econômico e qualidade de vida sem dissociarem-se das responsabilidades com o meio ambiente e a sociedade.

Portanto, é possível afirmar-se que essa nova realidade exige que, ao tratar-se da competitividade de uma determinada empresa, ou de um determinado aglomerado industrial as questões relacionadas à sustentabilidade, tanto dos locais nos quais as empresas encontram-se inseridas, como delas próprias, devem ser incluídas. Ou seja, ao analisar-se uma empresa ou um determinado arranjo produtivo local, não basta levantar os indicadores econômicos, mas também todos os chamados indicadores de sustentabilidade. Isto é, parte-se do pressuposto de que não basta somente que as empresas sejam competitivas, mas também sustentáveis, assim como os locais onde elas estão instaladas, do contrário esta “suposta” competitividade pode durar pouco.

129

Page 130: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Assim sendo, o presente trabalho questiona como o Arranjo Produtivo Local de Calçados de Campina Grande/PB pode ser avaliado a partir dos indicadores de sustentabilidade, bem como das questões ambientais e sociais e de que forma isso pode influenciar na competitividade dessas empresas?

Desta forma, o objetivo do presente trabalho consiste em analisar o Arranjo Produtivo Local de Calçados de Campina Grande através da avaliação de sua competitividade e da mensuração dos indicadores de sustentabilidade do município, sob a ótica do desenvolvimento sustentável, bem como os indicadores de responsabilidade social e ambiental das empresas. Ou seja, embora a avaliação da Responsabilidade Social das empresas já inclui as questões ambientais, optou-se por aprofundar mais a questão e isto se deu em função do forte impacto ambiental próprio da atividade do APL: couros e calçados. Com isso, decidiu-se, num primeiro momento separá-las e avaliá-las separadamente para, posteriormente, fazer uma avaliação em conjunto.

Para atingir seus objetivos o artigo está constituído, além desta introdução, das seguintes partes: o referencial teórico, onde são tratados os temas centrais do artigo, ou seja, aglomerados industriais, competitividade e desenvolvimento sustentável; a metodologia; a apresentação e análise dos resultados e; finalmente traça algumas considerações finais.

2. Referencial Teórico

2.1 Arranjos produtivos locais

Em muitos países, e especialmente no Brasil, ressurge, sobretudo no limiar do século XXI, com toda força e quase como uma inovação, o interesse pelos aglomerados industriais, sob diferentes formatos e conceitos, como locus privilegiado para estimular o desenvolvimento de regiões e locais específicos.

Embora tenham surgidos diferentes conceitos e enfoques para tratar dos aglomerados, destacando-se os distritos industriais e os clusters, no Brasil, segundo estudo do IPEA (SUZIGAN, 2006), o termo mais utilizado para expressar o fenômeno de aglomerações geográficas e setoriais de agentes econômicos, e os benefícios associados a essa aglomeração de agentes, é o de Arranjo Produtivo Local, ou simplesmente APL.

Ainda de acordo com o estudo do IPEA, o APL constitui-se num sistema localizado de agentes econômicos políticos e sociais ligados a um mesmo setor ou atividade econômica, que possuem vínculos produtivos e institucionais entre si, de modo a proporcionar aos produtores um conjunto de benefícios relacionados a essa aglomeração de empresas, sendo este, também, o conceito adotado no presente estudo, o qual pretende lançar um olhar sobre as empresas que compõem o arranjo com as lentes da competitividade e da sustentabilidade, temas tratados na sequência.

2.2 Competitividade

Competitividade ou livre concorrência é um dos princípios da economia liberal e teve como principais defensores Adam Smith e David Ricardo. Segundo Smith, as empresas passam a buscar estratégias mais competitivas a fim de atender aos seus objetivos de lucro e liderança de mercado. Mas a busca dessa competitividade, segundo Zenone (2006) também vem forçando a mudança de atitude das empresas, sendo o que tem levado os consumidores a se tornarem mais conscientes de seus direitos e deveres, além de lhes proporcionar um maior poder de escolha, permitindo-lhes determinar as empresas com as quais irão se relacionar.

2.2.1 Competitividade segundo Porter

130

Page 131: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Porter (1999, p. 179) fixa quatro determinantes da vantagem competitiva em nível nacional e que são aplicáveis em outras dimensões espaciais: Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas; Condições dos fatores; Condições da demanda e; Setores correlatos e de apoio.

O autor trata, ainda, de outra dimensão da competitividade: a de aglomerados, sugerindo, a partir daí, novas agendas para empresas, governos e instituições. Enfatiza a revitalização da influência da localização e, nela, a dos espaços em que ocorrem aglomerados de empresas e instituições, as quais, além de competirem, cooperam entre si. Introduz apreciações novas sobre a natureza da competição e o papel da localização na construção de vantagens competitivas.

Salienta-se que a teoria de Porter (1999, p. 239) sobre aglomerados procura avaliar os efeitos, na competitividade, decorrentes da justaposição de empresas e instituições economicamente interligadas numa determinada localização geográfica.

2.2.2 Modelo de competitividade de Meyer-Stamer

Meyer-Stamer (2001) introduz uma abordagem mais abrangente da competitividade nos planos local e regional, de natureza sistêmica, destacando: 1. No nível meta, o “status” social dos empreendedores e a disposição para mudar e aprender, a estrutura competitiva da economia, a capacidade para formulação de visões e de estratégias, a memória coletiva e a coesão social; 2. No nível macro, o ambiente econômico e legal estável, as políticas cambial, monetária, orçamentária, fiscal, de comércio exterior, de proteção ao consumidor e de antitruste; 3. No nível meso, as políticas específicas para a criação de vantagens competitivas, tais como as de promoção das exportações, da política regional e de promoção econômica; a política de infra-estrutura; a política industrial, a política ambiental, política de educação e a política tecnológica, e 4. No nível micro, as atividades dentro das empresas para que sejam criadas vantagem competitiva e a cooperação formal e informal, as alianças, e a aprendizagem conjunta.

Para a maioria dos autores que tratam da questão, os aglomerados e suas diferentes manifestações, são vistos como um recorte em nível meso-econômico, entretanto, na proposta de Meyer-Stamer (2001, p. 19-20) os aglomerados são enquadrados no nível de competitividade micro.

Meyer-Stamer (2001, p. 21) também apresenta um interessante quadro, tendo num dos vetores os níveis de competitividade e, noutro os espaços, desde o local ao supra-nacional. Em nível micro, realça as cadeias de suprimento globais e as empresas transnacionais, passando pelas redes dispersas e as empresas de grande e médio porte (nacional), as micro e pequenas empresas e os clusters regionais (regional) e os clusters locais (distritos industriais) até os contatos locais com fornecedores (local).

2.2.3 Modelo de Competitividade Proposto por Coutinho e Ferraz e Ferraz, Kupfer e Haguenauer

Modelo desenvolvido a partir do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira (ECIB) e permitiu explorar a multiplicidade de fatores que influenciam o desempenho competitivo de empresas, setores industriais e países.

O conceito de competitividade que orientou esses estudos coloca a competitividade como a “capacidade da empresa formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” (FERRAZ et al, 1997, p. 4).

131

Page 132: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Percebe a competitividade a partir de uma perspectiva dinâmica, onde o desempenho no mercado (competitividade revelada) e a eficiência produtiva (capacidade potencial) decorrem da capacitação acumulada pelas empresas, refletindo nas estratégias competitivas adotadas em relação ao processo concorrencial e ao meio ambiente econômico onde estão inseridas. Dessa forma, a competitividade surge como uma característica extrínseca relacionada ao padrão de concorrência vigente, entendido como um conjunto de fatores críticos de sucesso em um mercado específico.

O elemento básico de análise é a empresa, focados em quatro áreas de competências: gestão, inovação, produção, recursos humanos. Cada empresa em determinado tempo, apresenta nível de capacitação e certo desempenho competitivo que é determinado pelas capacitações, que são mutáveis. Enquanto a relação funcional entre a capacitação e estratégia apresenta-se de forma interdependentes, ou seja, ao escolher determinadas estratégias, as empresas buscam aquelas que permitam ampliar suas capacitações, enquanto a capacitação acumulada atua como restrição a adoção das estratégias, uma vez que as mesmas devem estar alinhadas com as competências da empresa. Assim, as interações ocorridas entre desempenho, capacitação e estratégia competitiva apresentam-se da seguinte forma: o desempenho de uma empresa é determinado pelas capacitações que reúne, enquanto as estratégias visam modificar as capacitações, de modo a adequá-las às metas de desempenho da empresa, sendo por elas eliminadas em um processo de interação dinâmica.

Nessa perspectiva, a análise da competitividade deve levar em conta de forma simultânea os processos internos à empresa e à indústria e as condições econômicas gerais do ambiente, considerando o setor econômico no qual a empresa está inserida. Sendo assim, o modelo de competitividade apresentado é composto por fatores de sucesso da competitividade divididos em níveis: 1) Fatores empresariais (nível da empresa): referentes aos aspectos intraorganizacionais os quais a empresa detém poder de decisão e podem ser controlados ou modificados através das condutas ativas assumidas, sendo eles: gestão competitiva, capacidade inovativa, capacidade produtiva e recursos humanos; 2) Fatores Estruturais (nível da indústria e do mercado): relacionados a diversas formas de competição e colaboração nas cadeias produtivas, envolvendo aspectos relacionados ao mercado, configuração da indústria, e regime de incentivos e regulamentação da concorrência; 3) Fatores Sistêmicos (nível do sistema produtivo como um todo): relacionados aos aspectos interorganizacionais ressaltando a importância das externalidades, tais como: aspectos macroeconômicos, político-institucionais, legais-regulatórios, infra-estruturais, sociais e internacionais.

2.3 A Responsabilidade Social Empresarial e o Meio Ambiente

As transformações sócio-econômicas dos últimos 20 anos afetaram profundamente o comportamento de empresas até então acostumadas à exclusiva maximização dos lucros, chamando a atenção para novas configurações do mercado e a importância de se trabalhar com as questões sociais e ambientais.

A idéia de responsabilidade social incorporada aos negócios é, portanto, relativamente recente. Com o surgimento de novas demandas e maior pressão por transparência nos negócios, empresas se vêem forçadas a adotar uma postura mais responsável em suas ações.

A responsabilidade social em questões ambientais tem sido representada apartir de ações de práticas que extrapolam os deveres básicos tanto do cidadão quanto das organizações. Segundo Dias (2006) representam em sua maioria ações voluntárias que implicam em comprometimento maior que a simples adesão formal em virtude de obrigações

132

Page 133: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

advindas da legislação, constituindo-se ações efetivas por parte das empresas junto à sociedade e ao meio ambiente.

Infelizmente, muitos ainda confundem o conceito com filantropia, mas as razões por trás desse paradigma não interessam somente ao bem estar social, mas também envolvem melhor desempenho nos negócios e, conseqüentemente, maior lucratividade.

Desse modo, conforme Dias (2006) a concepção de Responsabilidade Social e Ambiental implica novo papel da empresa dentro da sociedade, extrapolando o âmbito do mercado, e como agente autônomo no seu interior, imbuído de direitos e deveres que fogem ao âmbito exclusivamente econômico. A empresa é vista cada vez mais como um sistema social organizado em que se desenvolvem relações diversas, além das estritamente econômicas.

Na nova concepção de empresa, esta compreende que a atividade econômica não deve orientar-se somente por uma lógica de resultados, mas também pelo significado que esta adquire na sociedade como um todo. Cada vez mais a empresa é compreendida menos como uma unidade de produção, e mais como uma organização. E, como tal, é um sistema social, formado por um conjunto de pessoas que para ela convergem para alcançar determinados fins. Nesta perspectiva, o grupo social que constitui a organização deverá ter uma liderança que deve estabelecer e firmar objetivos éticos para orientar suas atividades.

Assim, os empresários estão se conscientizando de que a empresa não é somente uma unidade de produção e distribuição de bens e serviços que atendem a determinadas necessidades da sociedade, mas que deve andar de acordo com uma responsabilidade social que se concretiza no respeito aos direitos humanos, na melhoria da qualidade de vida da comunidade e da sociedade mais geral e na preservação do meio ambiente natural. A responsabilidade social passa a ser algo que precisa ser abraçado pela empresa como um todo, passando a refletir um consenso e devendo ser adotada como cultura de gestão, engajando todas as atividades da organização, bem como todos que fazem parte dela.

De acordo com Zenone (2006, p.12) o foco passa a ser, então, os direitos humanos, sociais, políticos, culturais e econômicos envolvendo todos os públicos que estão em contato com a empresa. Assim, acionistas, consumidores, clientes, empregados, comunidade, fornecedores, intermediários e governo, terão o seu papel nesta responsabilidade social empresarial. Segundo Daft (1999, p.88), “a responsabilidade social de uma empresa deve considerar também os relacionamentos com todas as partes interessadas ligadas à organização e ao ambiente ao qual pertence”.

As discussões sobre a Responsabilidade Social tomaram um novo rumo com o lançamento do Pacto Global pelas Nações Unidas em 1999, quando o Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, apelou para que as empresas do mundo todo assumissem uma globalização mais humanitária. Contudo, nem todas as empresas estão no mesmo estágio de desenvolvimento e conscientização social. Dependendo da característica do mercado onde atuam e da “pressão” imposta por este, existem formas diferentes de aproximação das questões sociais.

Segundo Montana e Charnov (1998), a aproximação das empresas das questões sociais podem se dar por meio de três abordagens: abordagem de obrigação social, abordagem de reação social e abordagem de sensibilidade social.

Na prática, uma empresa pode estar situada em qualquer posição dentro dos limites indicados, podendo assim variar a sua posição e consequentemente o grau de responsabilidade social do empreendimento. As diferentes formas de aproximação sugerem que o geralmente

133

Page 134: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

aceito como responsabilidade social varia em diferentes sociedades em função de suas características culturais e econômicas, e também se altera no decorrer do tempo, mostrando a necessidade da constante revisão de valores e políticas adotadas pelas empresas, bem como a busca de um desenvolvimento sustentável para os empreendimentos empresariais.

3. Aspectos Metodológicos

A pesquisa que deu origem ao presente trabalho tratou-se de uma pesquisa com enfoque exploratório e descritivo. Exploratório no sentido de que busca maior familiaridade em relação a um fato ou fenômeno e descritiva por analisar uma realidade.

Quanto aos meios utilizados na coleta de dados, a pesquisa é bibliográfica, documental e de campo. Bibliográfica por ser o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral. Documental por necessitar de informações de documentos comprovados para construção dos Índices de Desenvolvimento Sustentável. A pesquisa é de campo por coletar dados primários para a analise da competitividade, bem como da responsabilidade social e ambiental das empresas calçadistas, através da aplicação de um formulário estruturado in loco para análise, qualitativa e quantitativa, objetivando uma melhor compreensão dos aspectos da situação em estudo.

O estudo foi realizado em 22 empresas dum total de 37 empresas calçadistas que compõem o APL de Campina Grande (FIEP, 2006). Desta forma, e segundo o cadastro industrial da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba - FIEP (2006), a amostra da pesquisa foi de 60%, com os sujeitos da pesquisa sendo constituídos pelos administradores das empresas de calçados. A partir dos dados obtidos no Banco de Dados da Federação da Indústria e Comércio da Paraíba – FIEP efetuou-se o primeiro contato, por telefone, para, na seqüência, efetivar-se a visita in loco, com o objetivo de preencher o formulário estruturado, contendo 172 questões relacionadas aos construtos competitividade e responsabilidade social e ambiental.

3.1 Dimensões e Variáveis da Sustentabilidade

Para a definição das dimensões e variáveis tomou-se como referência a metodologia de Martins (2008), que tem como base a proposta de Waquil et al (2005) no sentido de utilizar o conjunto de 6 dimensões e variáveis definidas buscando caracterizar os espaços geográficos de forma multidimensional, através da percepção das distinções e identidades próprias. Além disso, a publicação “Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil 2004” foi um guia para a elaboração do conjunto de variáveis que permitisse uma avaliação mais completa da sustentabilidade, considerando as peculiaridades e características da realidade brasileira.

3.2 Dimensões e Variáveis da Competitividade

O instrumento utilizado na pesquisa para medir a competitividade consistiu-se de um formulário estruturado com base no modelo de competitividade sistêmica de Coutinho & Ferraz (1995) e Ferraz et al (1997). A partir dessa orientação conceitual, o instrumento de pesquisa foi elaborado para atender as características do APL de Calçados de Campina Grande, tendo a preocupação de ser claro e compreensível, de modo que permitisse maior expressão da opinião dos entrevistados. O instrumento foi estruturado com o auxílio do software de pesquisa SPHINK.

3.4 Variáveis da Responsabilidade Social e Ambiental

134

Page 135: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Para a definição das variáveis relacionadas à Responsabilidade Social, bem como para a elaboração do instrumento de pesquisa, adotou-se as recomendações do Instituto Ethos (ETHOS, 2008), mais especificamente no tocante às diretrizes definidas pelo Instituto, as quais acabam definindo a Responsabilidade Social das empresas em: Valores e Transparência, Público Interno, Meio Ambiente, Fornecedores, Consumidores e Clientes, Comunidade, Governo e Sociedade.

Já a definição das variáveis relativas à responsabilidade ambiental das empresas foi toda fundamentada nos conceitos e princípios de eco-eficiência, aqui entendida como uma filosofia administrativa que auxilia o desenvolvimento sustentável (WBCSD, 2008). Neste sentido, foram utilizados os sete elementos fundamentais da ecoeficiência: 1) reduzir a intensidade de materiais; 2) reduzir a intensidade de energia; 3) reduzir a dispersão de substâncias tóxicas; 4) aumentar a reciclagem; 5) maximizar o uso de recursos renováveis; 6) aumentar a durabilidade dos produtos e; 7) intensificar o aumento dos serviços.

4. Apresentação e Análise dos Resultados

4.1 Indicadores de Sustentabilidade do município de Campina Grande

Os resultados obtidos com a realização da pesquisa apontam o nível de sustentabilidade identificado em Campina Grande, a partir da análise das médias das dimensões utilizadas, calculadas pela média aritmética total dos índices.

A partir das dimensões explicitadas, foram escolhidos indicadores a fim de realizar o cálculo de seus respectivos índices, que foram necessários para o cálculo final do Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS) da cidade, os quais podem ser observados na Tabela 1.

TABELA 1. Índice Médio das Dimensões e IDS Médio do Município de Campina Grande

DIMENSÃO ÍNDICE MÉDIO GRAU DE SUSTENTABILIDADE

Social 0,689135265 Bom

Demográfica 0,457128913 Ruim

Político-Institucional 0,510245994 Médio

Econômica 0,600117876 Médio

Ambiental 0,620760676 Médio

Cultural 0,542380952 Médio

IDS 0,569961613 Médio

Analisando os índices apresentados por cada dimensão, observa-se que a cidade de Campina Grande apresenta melhor índice de desenvolvimento sustentável na dimensão social, a qual diz respeito a melhorias na qualidade de vida e objetivos ligados a satisfação das necessidades humanas.

Em contrapartida, o pior índice está localizado na dimensão demográfica, a qual trata do crescimento populacional, taxa de urbanização e densidade demográfica.

Utilizando-se o recurso matemático de aproximação decimal, pode-se calcular o IDS de Campina Grande que é de 0,57. Com o intuito de facilitar o entendimento e uma melhor visualização das dimensões da sustentabilidade e tomando por base os índices das seis dimensões calculadas, foi possível a elaboração do biograma, apresentado na Figura 1,

135

Page 136: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

ressaltando que o valor máximo de referência é 1 (um), ou seja, quanto mais próximo de 1 (um) melhor será o índice.

FIGURA 1. Biograma de Campina Grande

4.2 Análise da Competitividade do APL

4.2.1 Fatores Sistêmicos

Os fatores de competitividade sistêmicos apresentaram os seguintes resultados:

Quanto aos determinantes estruturais o APL apresenta características compatíveis com as do segmento de calçados, sendo elas: produção divisível, intensiva mão-de-obra e existência de cadeia de subcontratação, o que evidencia todo um potencial para uma melhor atuação para inserção competitiva;

Quanto aos determinantes internacionais, foi verificado que o APL de Campina Grande não apresenta condições para atender às oscilações de demandas internacionais, pois essas demandas mudam constantemente de acordo com os lançamentos contínuo de novas coleções; bem como, não atende a necessidade de relacionamentos exigidos entre as empresas ao longo da cadeia, devido à cooperação praticamente inexistente no APL;

Quanto aos determinantes políticos-institucionais foi verificado que a falta de apoio governamental, a carga tributária e encargos sociais existentes afetam a competitividade do APL, enfraquecendo as bases para a produção e comercialização dos produtos no mercado.

4.2.2 Fatores Estruturais

Os fatores de competitividade estruturais apresentaram os seguintes resultados:

Quanto à caracterização foi verificado que o APL apresenta características favoráveis em relação a sua origem e desenvolvimento, tempo de atuação, origem do capital, quantidade de funcionários próprios, e flexibilidade no processo produtivo, somando um percentual de 50% de aspectos favoráveis. Revelou também aspectos desfavoráveis, como a não utilização de toda a capacidade produtiva, sistema produção arcaico, linha de produtos, formas de produção e equipamentos obsoletos, somando 50% de aspectos competitivos desfavoráveis;

Quanto à configuração, verificaram-se fatores competitivos favoráveis na organização do APL em relação à existência de empresas correlatas e de apoio, empresas de comercialização, instituições de apoio e articulação na cadeia através do fluxo de informação, somando 57,14% dos fatores. Já em relação aos fatores competitivos desfavoráveis, apresentou os indicadores relativos ao desempenho e capacitação, presença de facções e

136

Page 137: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

terceirização, articulação com as instituições de apoio e articulação na cadeia através da cooperação, somando 42,86% desfavoráveis;

Quanto ao regime de incentivos e regulação da concorrência verificou-se apenas um fator competitivo favorável em relação à localização, somando 10% de fatores favoráveis; enquanto os fatores desfavoráveis foram financiamentos; informalidade; mão-de-obra qualificada e de treinamento; incentivos das instituições de apoio, sindicatos e governos; inexistência de mecanismos de cooperação entre as pequenas empresas; falta de atualização tecnológica e políticas para reestruturação do setor, somando 90% de fatores competitivos desfavoráveis;

Quanto ao mercado, foram identificados apenas dois fatores competitivos favoráveis, sendo eles: área de influência; e valorização do produto local; somando 40% de aspectos favoráveis; sendo concorrência interna, marcas consolidadas e acesso a mercados internacionais os fatores desfavoráveis, equivalendo a 60%.

4.2.3 Fatores Empresariais

Os fatores de competitividade empresarias apresentaram os seguintes resultados:

Quanto à gestão competitiva verificou-se apenas um fator competitivo favorável, o relacionado à estratégia mercadológica, enquanto como fatores negativos foram identificados os fatores relacionados ao Planejamento e Gerenciamento, Controle financeiro e Práticas gerenciais cooperativas, somando, portanto, 75% de fatores competitivos desfavoráveis e somente 25% favoráveis;

Quanto à gestão competitiva inovação verificou-se que todos os aspectos competitivos eram desfavoráveis (inovação na gestão, no processo, no produto e inovações tecnológicas), somando 100% de fatores desfavoráveis.;

Quanto à produção, verificou-se que os aspectos competitivos são todos desfavoráveis (Atualização do sistema de produção, Desempenho produtivo e Métodos de produção), somando 100% os fatores competitivos desfavoráveis;

Em relação aos recursos humanos, foi verificado que os aspectos competitivos favoráveis são flexibilidade, comprometimento e estímulo à produtividade, somando 50%; enquanto foi verificado que a qualificação e a capacitação constituem fatores desfavoráveis, somando 50%.

4.2.4 Caracterização do APL segundo seu nível de competitividade

Portanto, com base nos resultados referentes aos fatores sistêmicos, estruturais e empresariais da competitividade do APL de calçados de Campina Grande foi possível caracterizar o APL como baixo nível de competitividade, tendo em vista que a média encontrada em relação aos fatores competitivos foi de 69,55% de determinantes desfavoráveis e apenas 30,45% de determinantes favoráveis, e os dados apresentados na Tabela 2 reforçam esta conclusão.

TABELA 2. Determinantes da Competitividade do APL Calçadista de Campina Grande.

Determinantes da Competitividade Favorável Desfavorável

Fatores sistêmicos 33,33 66,66

Fatores estruturais 39,285 60,715

Fatores empresariais 18,375 81,25

Resultados: Favorável: 30,45% Desfavorável: 69,55%

137

Page 138: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Fonte: Pesquisa direta, 2008.

4.3 Análise da Responsabilidade Social e Ambiental

4.3.1 Responsabilidade Social

Os fatores de responsabilidade social apresentaram os seguintes resultados:

Quanto à relação com a comunidade local, verifica-se que as empresas não possuem um gerenciamento do impacto que causa na comunidade adjacente, nem apresentam relações com as organizações locais, que poderiam trazer benefícios para a comunidade gerando ações de valorização, do ambiente e da cultura local; Quanto à ação social verifica-se que as empresas ainda precisam de uma maior conscientização, para investirem em financiamentos da ação social local e envolver-se com as atividades de ação social, impulsionando o desenvolvimento sustentável de sua localidade, preservando os seus valores e possibilitando uma melhor qualidade de vida, para os seus funcionários e familiares que compõem a comunidade local; Quanto à transparência, verifica-se que as empresas do APL de Calçados de Campina Grande, ainda estão arraigadas a procedimentos burocráticos, manifestando-se apenas nas exigências legais, sem levar em conta a sua participação na formação da cidadania e o seu papel de ator social para a construção de uma sociedade mais consciente e mais transparente; Quanto à liderança social verifica-se que as empresas já despertaram para a importância do seu papel frente à sociedade e a influencia que podem despertar nas comunidades, modificando assim os seus procedimentos, mas ainda não consideram de relevância a participação em projetos sociais propostos pelos governantes

È prudente ressaltar, que as empresas despertaram para a importância da sua influencia e liderança local, por possuírem interesses nas vantagens que podem obter explorando e persuadindo algumas vezes a comunidade local, mas ainda não exercitam a sua contrapartida, que é o investimento na comunidade. A Tabela 3 apresenta uma síntese do comportamento das variáveis relativas à responsabilidade social das empresas do APL de Calçados de Campina Grande.

TABELA 3. Fatores Determinantes da Responsabilidade Social do APL.

DETERMINANTES DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

DIMENSÕES VARIÁVEIS AVALIAÇÃO %

Relações com a comunidade Local

Gerenciamento do impacto da empresa na comunidade adjacente.

-

Desfavorável

100% Relações com organizações locais -

Ação social

Financiamento da ação social

-

Desfavorável

100% Envolvimento da empresa com a ação social

-

Transparência

Construção da cidadania pelas empresas

- Desfavorável

100%

Liderança Social

Liderança e influencia social

-

Favorável

50%

Desfavorável Participação em projetos sociais governamentais

+

138

Page 139: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

50%

Resultados: Favorável: 14,29 % Desfavorável: 85,72%

Legenda: Avaliação + corresponde a um indicador positivo, e - corresponde a um negativo.

Fonte: Pesquisa direta, 2008.

4.3.2 Responsabilidade Ambiental

Os fatores determinantes da responsabilidade ambiental apresentam os seguintes resultados:

Quanto a responsabilidade frente às gerações futuras verificou-se que o comprometimento da empresa com a melhoria da qualidade ambiental é insatisfatória, não havendo assim a utilização de práticas de preservação ambiental, nem um programa de educação e conscientização ambiental, para os funcionários nem para a comunidade local;

Quanto ao gerenciamento do impacto ambiental, percebe-se que algumas empresas já identificam direcionamentos para melhorar a vida útil do seu produto, bem como estão procurando dar encaminhamento aos resíduos que podem ser reciclados, ou reutilizados em processos diversos, diminuindo o impacto ambiental e gerando uma nova fonte de receita para o empreendimento. Por outro lado, não existe uma conscientização da importância da minimização de entradas e saídas de materiais para o meio ambiente, pois a preocupação das empresas é muito mais no sentido de buscar aumentar os seus lucros a partir de novas relações comercias.

A Tabela 4 apresenta a síntese do comportamento das variáveis relativas à responsabilidade ambiental das empresas que compõem o APL de Calçados de Campina Grande.

TABELA 4. Fatores Determinantes da Responsabilidade Ambiental do APL.

DETERMINANTES DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

DIMENSÕES VARIÁVEIS AVALIAÇÃO %

Responsabilidade frente às Gerações

Futuras

Comprometimento da empresa com a melhoria da

qualidade ambiental

-

Desfavorável

100% Educação e conscientização

ambiental

-

Gerenciamento do Impacto Ambiental

Gerenciamento do impacto no meio ambiente e do ciclo

de vida de produtos e serviços

-

Favorável

50%

Desfavorável

50%

Minimização de entradas e saídas de materiais

+

Resultados: Favorável: 25 % Desfavorável: 75 %

Legenda: Avaliação + corresponde a um indicador positivo, e - corresponde a um negativo.

Fonte: Pesquisa direta, 2008.

5. Considerações Finais

139

Page 140: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

A partir das referencias e dos conceitos utilizados no estudo, ou seja, Competitividade e Desenvolvimento Sustentável, constata-se que o APL de Calçados de Campina Grande não se apresenta competitivo, embora consiga sobreviver competindo localmente, com baixa qualidade e preço baixo, o que de certa forma acaba obrigando a competição interna, não se apresentando como melhor estratégia em se tratando de arranjos produtivos, pois isso dificulta a cooperação entre as empresas que fazem parte dos mesmos. Como agravante, o APL apresenta fortes restrições relacionadas à Responsabilidade Social e Ambiental, o que poderá comprometer o desempenho das mesmas, no curto e longo prazo.

Por outro lado, foi possível perceber que algumas práticas voltadas à preservação do meio ambiente já estão aflorando. Mas faz-se necessário, também, destacar que esse processo vem ocorrendo de forma muito tímida e muito mais por motivos econômicos que de conscientização dos empresários.

Desta forma, os dados obtidos na pesquisa permitem concluir-se que o Arranjo Produtivo Local de Calçados de Campina Grande não é sustentável e estão apontando para a necessidade de uma mudança de postura dos empresários, com estes passando a considerar a sustentabilidade como uma estratégia competitiva.

Referências

CASSIOLATO, J. E.; LASTRES, H.M.M.; SZAPIRO, M. Proposição de políticas para promoção de sistemas produtivo locais de micro, pequenas e médias empresas.UFRJ-IE. Rio de Janeiro, 2002.

COUTINHO, L.; FERRAZ, J. C. Estudo da competitividade da indústria brasileira. São Paulo: Papirus, 1995.

DAFT, R. L. Administração. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1999.

DIAS, G. F. Educação e Gestão Ambiental. São Paulo: Editora Gaia, 2006.

ETHOS - INSTITUTO ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL. Disponível em: <http://www.ethos.org.br/Uniethos/Documents/responsabilidade_micro_empresas_paso.pdf>.Acesso em: 14 de abril de 2008.

FIEP - FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DA PARAÍBA. Cadastro Industrial. Campina Grande: FIEP, 2006.

FERRAZ, J.C.; KUPFER, D. & HAGUENAUER, L. Made In Brazil: desafios competitivos para a indústria. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável: Brasil 2004. Rio de Janeiro: IBGE, 195 p. 2004, CD-ROM.

MARTINS, F. M. A Influência dos Índices de Desenvolvimento Sustentável na Competitividade Sistêmica: um estudo exploratório no arranjo produtivo local de confecções em Campina Grande-PB, Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Paraíba, 2008.

MEYER-STAMER, Yörg; SEIBEL, Silene Competitividade sistêmica da indústria catarinense. Doc. 2. IAD – Instituto Alemão de Desenvolvimento – IAD e Instituto Euvaldo Lodi – IEL/SC. Florianópolis, 1997. Santa Catarina – Competitividade das Aglomerações Produtivas. Forumcat. Florianópolis, fev. 2001.

MONTANA, P.J.; CHARNOV, B.H. Administração. São Paulo: Saraiva, 1998.

PORTER, M. Competição e estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

SUZIGAN, W. Identificação, Mapeamento e Caracterização Estrutural de Arranjos Produtivos Locais no Brasil. Relatório Consolidado. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicadas – IPEA – Diretoria de Estudos Setoriais – DISET, outubro de 2006, 56 p.

WAQUIL, P. D.; SCHNEIDER, S.; FILIPPI, E. E.; CONTERATO, M.A.; SPECHT, S. Avaliação de Desenvolvimento Territorial em quatro territórios rurais no Brasil. SDT/MDA, 2005.

140

Page 141: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

WBCSD- WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT. Eco-Efficiency and Cleaner Production: Charting the Course to Sustainability. Disponível em <http://www.wbcsd.org/DocRoot/aFQps2TRHhw5tFsl5oZP/eecleanerprod.pdf>. acessado em 15 de abril de 2008.

ZENONE, Luiz Cláudio. Marketing Social. São Paulo: Editora Thomson Learning, 2006.

141

Page 142: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Uma proposta para a estruturação do problema da cobrança pelo uso da água do ambiente

Sérgio Brião Jardim (PUCRS) [email protected] João Henrique Santos da Silva (PUCRS) [email protected]

Resumo: A Lei Federal 9433/97 referente à Política e o Sistema Nacional de Recursos

Hídricos no Brasil prescreve a cobrança pelo uso da água do ambiente como um dos

instrumentos de gestão. Sendo este recurso natural um bem público não sujeito às leis de

mercado, o iminente recurso à cobrança em tela é uma questão complexa, cuja solução não

passa pela visão equivocada da simples aplicação dos conceitos da Economia Clássica e nem

pelo pressuposto de que o problema já está estruturado, faltando apenas a formulação

matemática. Neste sentido, o presente artigo contém uma proposta de estruturação do

problema da cobrança pelo uso da água do ambiente através dos Mapas Cognitivos - uma

forma de representar, com ordenamento e consistência, o consenso das preferências dos

decisores - para o contexto decisório dos Comitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica.

Uma Hierarquia de Objetivos materializa esta estruturação, apontando um conjunto de

critérios independentes de avaliação visando, em fase posterior, à operacionalização da

possível cobrança, através da modelagem multicriterial que pode ser utilizada para a fixação

das contribuições financeiras. A sistemática de estruturação proposta é aplicada a uma

situação real na região da bacia hidrográfica do rio Santa Maria, no Estado do Rio Grande

do Sul, Brasil.

Palavras-chave: Mapas Cognitivos; Estruturação de Problemas.

1. Introdução

O atual modelo brasileiro de gestão dos recursos hídricos define a água como um recurso natural escasso e com valor econômico, pelo que está disposto na Lei Federal nº 9.433/97 (art.5).

O referido preceito legal, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, também estabelece que a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e com ampla participação, em um contexto decisório onde a comunidade, os usuários e o poder público devem definir os problemas e escolher as soluções para os mesmo, sendo a bacia hidrográfica a unidade de planejamento.

O modelo de gestão, que tem como pressuposto o entendimento do problema por parte dos atores do processo decisório, deve ser suportado por uma consistente base comum de dados e possibilitar um efetivo processo de negociação entre as partes envolvidas.

Por outro lado, a necessidade de um tratamento justo, proporcional e eqüitativo a ser dispensado aos usuários da água, considerados seus conflitos de interesses, diferenças de poder, valores, crenças e cultura, além da influência da conjuntura político-econômica vigente e do momento em que o processo decorre, têm gerado muita controvérsia em termos de como implementar a referida cobrança, como instrumento de gestão.

Sendo assim, pode-se depreender que os problemas que ocorrem na gestão dos recursos hídricos, especialmente no âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica, podem ser caracterizados como de grande complexidade. Essa realidade freqüentemente tem

142

Page 143: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

sido evidenciada na constatação de problemas mal ou parcialmente estruturados com conseqüentes decisões de baixa qualidade, incompletas, ineficazes e intempestivas.

Há que se entender, de outra parte, que o atual nível de degradação e uso não racional dos recursos hídricos não decorre somente por carência ou inadequação do conhecimento científico e dos meios tecnológicos de prevenção e controle, mas, principalmente, pela falta de articulação institucional e de decisão política na utilização dos meios necessários ao equacionamento e solução dos problemas. Também cabe afirmar que a tão desejada gestão efetiva dos recursos hídricos ainda não alcançada não se deve à incompetência de administradores, técnicos, juristas e legisladores, mas, isto sim, à inadequação, em termos de concepção e formas de implementação, dos modelos de gestão até agora adotados.

Esse contexto impõe a necessidade de uma visão plurianual, supra-partidária, em termos políticos, considerada a forte mutabilidade da sociedade. Esse conjunto de ações deve ocorrer em um processo contínuo de julgamentos e decisões, fortemente caracterizado pelo aprendizado para que possa atender, de forma efetiva, às novas situações em um futuro sabidamente incerto.

2. A importância de pensar e agir estrategicamente

Originada do grego “strategos”, estratégia é um termo que define a arte de planejar e combinar um conjunto amplo de ações, com habilidade e astúcia, visando à garantia permanente de meios efetivos de alcance de objetivos estratégicos bem definidos, em qualquer época.

A gestão dos recursos hídricos, atividade reconhecidamente complexa e que tem a bacia hidrográfica como unidade de planejamento - um enfoque discutível - impõe uma abordagem sistemática a ser sustentada por uma estrutura estratégica de trabalho que leve em conta, permanentemente, os valores dos decisores, as ações e as informações possíveis do contexto de decisão, considerado o momento em que o processo se desenvolve.

Afirmam Eden e Ackermann (1998, p. 3) que “é importante desenvolver a capacidade de flexibilidade decisional a longo prazo e o oportunismo estratégico, ao invés de planos de longo alcance” e que “para quem não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve”.

O pensar e agir estrategicamente é um processo que trata de pessoas criando resultados através da negociação e não, simplesmente, de resultados. Que faz com que surja e se desenvolva o pensamento criativo, o caminho mais eficaz para que os decisores tenham novas percepções sobre os seus problemas e passem a estruturá-los e resolvê-los com outras visões, que não apenas aquelas desde há muito arraigadas.

Esquematicamente, a Figura 1 representa a dinâmica do que foi definido como estrutura estratégica de trabalho, diante de problemas complexos.

143

Page 144: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Figura 1 - Estrutura estratégica de trabalho Fonte: Interpretação do autor, com base em Keeney (1992, p. 37-48), Eden e Ackermann (1998, p. 284-302) e Montibeller Neto (1996, p. 34-37)

A estrutura estratégica de trabalho pode ser, ao mesmo tempo, uma referência e guia que possibilita uma sólida estruturação do problema a ser resolvido, considerados os valores dos decisores, as ações e as informações possíveis do contexto de decisão.

Os objetivos fundamentais são as especificações qualitativas dos valores mais importantes dos decisores. São a base do processo de decisão e essenciais para a orientação às ações, através dos objetivos-meio que os especificam, para o desenvolvimento dos modelos que possibilitam a avaliação das ditas ações no atendimento dos objetivos estratégicos, também definidos no processo de decisão.

Os objetivos estratégicos são os valores mais elevados estabelecidos pelos decisores e que exigem interpretação para poderem ser operacionalizados. Esses objetivos deveriam guiar permanentemente o processo decisório, em quaisquer cenários e momentos.

Segundo Ensslin et al. (1998, p. I-3), “as ações referem-se àqueles objetos, decisões, candidatos, alternativas, que serão explorados durante o processo decisório”. Nesses termos, as ações reais são aquelas originadas de um projeto completamente desenvolvido, que pode ser executado e as ações potenciais, aquelas que têm sua implementação razoavelmente prevista sendo que, fundamentalmente, é sobre o conjunto dessas ações potenciais que o processo de apoio à decisão ocorre.

3. O Uso de mapas cognitivos para a estruturação do problema da cobrança

O processo cognitivo, através da construção dos Mapas Cognitivos, é uma ferramenta usada para a definição, formulação e estruturação de problemas complexos. Tem por fundamento a cognição humana, um conceito geral que alcança todas as formas de conhecimento, incluídos a percepção, o raciocínio e o juízo de valor (Chaplin, 1985). Os mapas cognitivos são a representação gráfica do resultado da interpretação mental que o analista (facilitador) faz a partir da representação discursiva feita pelo decisor sobre um problema. Trata-se de um processo discursivo-reflexivo-recursivo.

Essencialmente, segundo Keeney (1992, p. 40), “o conjunto dos objetivos fundamentais e o contexto decisório fornecem a estrutura do processo decisório”.

144

Page 145: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Tomando o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do rio Santa Maria/RS como o cenário onde se desenvolve o processo decisório, considere-se, como contexto

decisório local, o conjunto de circunstâncias representado pela Política Estadual de Recursos Hídricos, a preocupante e crescente escassez da água no ambiente, a crescente demanda de água para irrigação das lavouras e a indissociável questão da eqüidade social.

A Figura 2 mostra a localização da bacia hidrográfica pesquisada, que compreende uma área de 1.573.900 ha, representando 5,6% da área total do Rio Grande do Sul (SOPS, 1997, p. 2), englobando os municípios de Cacequi, Dom Pedrito, Lavras do Sul, Rosário do Sul, Santana do Livramento e São Gabriel.

No período de estiagem – novembro a fevereiro – a demanda de águas superficiais, a partir da captação direta nos cursos de água é da ordem de 0,134 m3/s para o abastecimento público e de 27,11 a 33,80 m3/s para a irrigação das lavouras, prioritariamente (SOPS, 1997, p. 83). Na realidade, são consumidos 132,00 m3/s para a irrigação (safra 96/97) sendo que 80% desta demanda é suprida pelo armazenamento em represas. Isto no período de irrigação das lavouras, que vai de novembro a fevereiro (100 dias). Os conflitos de uso da água ocorrem no período de verão, tanto entre os orizicultores e as autarquias de abastecimento público de água, como entre os próprios arrozeiros.

Em termos de disponibilidade crítica, a vazão mínima por sete dias consecutivos, com tempo de retorno de dez anos, a Q7,10, é de 13,88 m3/s na referida bacia hidrográfica, sendo a média das vazões mínimas, para o mesmo período de novembro a fevereiro, de 69,23 m3/s (SOPS, 1997, p. 85).

Vê-se que não há garantia de disponibilidade de água sequer para a demanda atual e muito menos para qualquer intenção de expansão da atividade econômica regional mais importante. Também é importante frisar que já ocorre uma certa pressão sobre a reserva estratégica de água, representada pelos mananciais subterrâneos profundos, principalmente porque o abastecimento público dos municípios de Santana do Livramento e Cacequi são feitos a partir dessas fontes, com uma demanda atual da ordem de 0,308 m3/s (SOPS, 1997, p. 83). Outras captações subterrâneas são utilizadas para abastecimento de sedes de fazendas e postos de gasolina, mas com vazões insignificantes, comparativamente.

Nessa região, a quase totalidade dos usuários da água, os orizicultores, podem ser admitidos como ações reais, as alternativas de solução, entendidas como meios de alcance conjunto e simultâneo dos objetivos fundamentais definidos na fase de estruturação do problema. Podem ser admitidos como objetivos fundamentais, por exemplo, a minimização da

captação de água diretamente no rio na estiagem e a maximização do volume de

armazenamento de água na entre-safra.

Como objetivos-meio, podem ser considerados, exemplificando, a sistematização da

lavoura e a construção de açudes, como formas de atendimento conjunto e simultâneo dos objetivos fundamentais estabelecidos.

As medidas de desempenho das alternativas de solução (os usuários-orizicultores), em termos de atendimento dos objetivos fundamentais, podem ser obtidas através da fixação de variáveis, os critérios de avaliação. Para avaliação do nível de atendimento do primeiro dos objetivos fundamentais, poderia ser utilizado o critério de avaliação porcentagem de área

sistematizada na lavoura e, para o segundo, vazão captada em represas.

145

Page 146: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Figura 2 - Situação e localização da bacia hidrográfica do rio Santa Maria – RS. Estudo de caso Fonte: Balarine (2000, n.p.)

Voltando ao objeto dessa parte e, segundo Montibeller Neto (1996, p. 69) “Os mapas cognitivos não representam um modelo de descrição do pensamento do ator, não devendo ser feita qualquer correspondência direta entre o mapa e os pensamentos daquele ou o objeto do seu discurso”. A interação pensamento-articulação, através da qual é construído o mapa cognitivo, é uma operação dinâmica, carregada de subjetividade, descompassada no tempo, recursiva e caracterizada pela reflexão e aprendizado. O processo cognitivo pode ser representado pela estrutura montada na Figura 3.

146

Page 147: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Figura 3 - Processo cognitivo de articulação e pensamento Fonte: Adaptado de Ensslin et al. (1998, p. III-2)

Na abordagem cognitiva, estabelece-se um processo de negociação de uma situação problemática em que o facilitador e os atores se comprometem a construir a definição do problema, aceitando a intersubjetividade e o pressuposto da aprendizagem. Os mapas cognitivos podem, por esse meio, servir como instrumentos de negociação.

Quando a intenção é estruturar problemas complexos e fixar diretrizes e ações estratégicas que envolvam questões do tipo o que conhecemos, o que vamos fazer e como vamos fazê-lo, a utilização eficiente dos mapas cognitivos depende, essencialmente, de três fatores: o tipo particular de problema a ser estruturado, a natureza e características do contexto decisório e os objetivos dos decisores.

Diante de problemas complexos que envolvam diversos decisores, com diferentes relações de poder, cada um deles com diferentes valores, percepções e objetivos, a “função do facilitador, na prática do apoio à decisão, é buscar definir a compreensão e interpretação que cada um dos decisores tem do problema” (Montibeller Neto, 1996, p. 54).

Na abordagem de problemas complexos também devem ser consideradas a falta (ou excesso) de informações, a influência do ambiente externo ao contexto decisório e o conflito de interesses.

A partir da dinâmica descrita, foram construídos sete mapas cognitivos individuais para o caso estudado, a partir dos quais se obteve um sistema de valores enriquecido, representando a estrutura cognitiva do grupo qualificado, na forma do mapa cognitivo congregado.

147

Page 148: Revista INGEPRO - Junho/2009

Figura 4 - Mapa cognitivo congregado e o sistema de valores dos decisores Região da bacia hidrográfica do rio Santa Maria/RS Fonte: Elaborado pelo autor

reduzir o assoreamento ... não reduzir (25)

entender as conseqüências da escassez ... não esclarecer (2)

elevar a qualificação ... não elevar (4)

estimular o desenvolvimento tecnológico ... manter estagnado (16)

reduzir a carga poluidora ... não reduzir (26)

abrir caminho para a inovação/atualização ... não inovar/atualizar (9) entender as causas da

escassez ... não esclarecer (3)

ordenar os usos por tipo ... não discriminar (14)

consumir apenas o necessário ... manter hábitos antigos (15)

explicitar os conflitos de interesses ... não explicitar (7)

mudar o comportamento na região da bacia ... não mudar (8) aceitar a água como um bem

econômico ... bem livre (12)

valorizar a subjetividade ... manter a visão pragmática (11)

construir um novo olhar para a água ... não atentar (6)

possibilitar a abordagem multidimensional ... continuar com a abordagem segmentada (21)

valorizar a Economia Ambiental ... manter a visão ortodoxa (20)

minimizar o uso de áreas não apropriadas ... não controlar (30)

classificar os usuários da água ... não classificar (18)

sinalizar para a reorientação das atividades ... manter as tendências arraigadas (29)

premiar os usuários eficientes ... não diferenciar (30)

ampliar o uso do solo para a comunidade ... não abrir novas oportunidades (32)

possibilitar a expansão para outros usos ... manter usos exclusivos (31)

buscar a eqüidade ... tratar igualmente (40)

incentivar o uso compartilhado do solo ... não incentivar (33)

reduzir as taxas de demanda ... não reduzir (22)

aumentar os investimentos em melhoria de processos ... não aumentar (23)

estimular à sistematização da lavoura ... não estimular (17)

racionalizar o uso da água ... não racionalizar (24)

possibilitar a negociação social efetiva ... manter a sistemática atual (42)

alcançar o bem estar social (45)

obter a decisão coletiva conseqüente (44)

acelerar o processo decisório com fundamento sólido ... manter critérios atuais (43)

conservar as águas subterrâneas ... não conservar (23)

preservar a qualidade da água ... não preservar (28)

possibilitar os usos futuros ... não prever (39)

incentivar o armazenamento ... não incentivar (33)

disponibilizar os excedentes ... não disponibilizar (34)

incentivar o plantio do arroz do sequeiro ... não incentivar (35)

aumentar a oferta de água ... não aumentar (36)

possibilitar os não usos ... desconsiderar (38)

garantir um conjunto mínimo de usos consistentes ... não garantir (37)

garantir a disponibilidade de água ... não garantir (41)

reduzir a pulverização na lavoura ... não reduzir (5)

minimizar a contaminação difusa ... não minimizar (19)

incentivar o tratamento de efluentes ... não incentivar (18)

melhorar a Educação Ambiental e a escolaridade ... não melhorar (1)

reduzir as taxas de agrotóxicos ... não reduzir (10)

Page 149: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

É importante ressaltar que, em contextos decisórios complexos como o presente e através da análise do mapa cognitivo congregado, podem ser identificadas as áreas de interesse, ou estratégias, e as linhas de argumentação dessas áreas de interesse, ou táticas, contextualizadas na hierarquia de objetivos.

A partir da análise avançada do mapa cognitivo congregado, chegou-se ao objetivo estratégico garantir a disponibilidade de água e, como estratégias a adotar, emergiram racionalização, oferta e preservação.

Como objetivos fundamentais, foram elencados racionalizar o uso, aumentar a oferta e preservar a qualidade, cuja operacionalização pode ser implementada, pela ordem, pelos os objetivos-meio reduzir as taxas de demanda e estimular a sistematização das lavouras, para o primeiro, disponibilizar excedentes e incentivar o plantio de arroz do sequeiro, para o segundo e incentivar o tratamento de efluentes, reduzir as taxas de defensivos e conservar as águas

subterrâneas, para o terceiro.

Essa rede de objetivos, que reflete os valores dos decisores, foi estruturada na forma de uma árvore de valor, materializada pela Hierarquia de Objetivos.

4. A hierarquia de objetivos

A representação hierarquizada da estrutura constituída pelos objetivos fundamentais e seus explicativos objetivos-meio, a partir do resultado da análise avançada do mapa cognitivo congregado, visa ao aumento do grau de compreensão sobre os aspectos a serem avaliados no conjunto de alternativas de solução do problema, como descrito em Keeney (1992, p. 55-95).

Comparando a abordagem desenvolvida e aqui apresentada para a estruturação do problema da cobrança pelo uso da água através da utilização dos mapas cognitivos com a apresentada por Keeney (1992, p. 69), como rede de objetivos meios-fins, conclui-se que ambas possuem os mesmos fundamentos e características, tendo, segundo o que se entende, a mesma finalidade. Sendo assim, e visando à construção futura de um modelo multicritério de avaliação, adotou-se a linha metodológica proposta pelo referido autor, sob a designação hierarquia dos

objetivos fundamentais, na forma de uma arborescência, segundo uma lógica de decomposição.

De outra parte, segundo Ackermann e Belton (1994, p. 166), a tarefa de transição do mapa cognitivo para a árvore (hierarquia) dos objetivos “é mais uma arte do que uma ciência”. Na construção da hierarquia dos objetivos, cada objetivo em um nível inferior é parte de um objetivo de nível imediatamente superior. Cada objetivo é definido pelos objetivos de nível imediatamente abaixo. Esses objetivos de nível inferior devem ser mutuamente exclusivos e, em conjunto, devem possibilitar uma exaustiva caracterização do objetivo imediatamente superior.

Para o caso estudado, observadas as circunstâncias vigentes e para o grupo decisor no momento do processo, essa hierarquia de objetivos pode significar uma forma de estruturar o problema da cobrança pela garantia de disponibilidade e pelo uso da água do ambiente na região da bacia hidrográfica do rio Santa Maria/RS.

149

Page 150: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Figura 5 - Hierarquia de Objetivos Contexto decisório da região da bacia hidrográfica do rio Santa Maria/RS Fonte: Elaborado pelo autor

Desconsiderou-se a outra área de interesse que claramente aparece no mapa cognitivo

congregado e que aponta para a estratégia buscar a eqüidade porque foge do objeto da presente pesquisa. Isto porque os usuários da água deixam de ser agentes no processo e se tornam objetos da ação.

Por outro lado, reconheça-se que o desenvolvimento desta abordagem pode representar interessante tema para uma outra pesquisa.

5. A Operacionalização dos Objetivos Fundamentais

A partir da Hierarquia de Objetivos, foram definidas as variáveis – os critérios de avaliação – para fins de operacionalização dos objetivos fundamentais estabelecidos por consenso pelo grupo decisor. Essas variáveis são essenciais e indispensáveis para o processo posterior de avaliação da eficiência dos usuários da água, através da modelagem multicriterial –como descrito em Cohon e Marks (1975) e Keeney e Raiffa (1976) – e foram submetidas a testes de verificação de algumas propriedades, sendo a mais importante dessas a isolabilidade, verificada através do teste da independência preferencial mútua, segundo Keeney (1992, p. 112).

Complementarmente, para a definição da importância de cada variável com relação a todas as demais – necessária para aplicação do modelo multicriterial de avaliação, em uma fase posterior – compatibilizou-se a estrutura de ponderação (os pesos relativos estabelecidos pelos decisores) com os intervalos das escalas de variação das medidas das variáveis, através de funções de valor e de taxas de substituição. Esse procedimento é indispensável para que se alcance uma consistente avaliação global da eficiência de cada usuário da água, a partir das eficiências locais sob cada um dos critérios de avaliação. Não ter esse cuidado é o “erro mais comum” no uso da modelagem multicriterial, segundo Keeney (1992, p. 363).

Isto posto e por interpretação das preferências manifestadas pelo grupo decisor, materializadas nos objetivos-meio da Hierarquia de Objetivos, para concluir a fase de estruturação, foram fixados os critérios de avaliação.

Para o uso-captação, as variáveis escolhidas foram vazão de captação no curso de

água, vazão de captação em represa, taxa de irrigação, vazão disponibilizada e porcentagem

da área de cultivo com arroz do sequeiro, com relação à área total de cultivo de arroz.

Por outro lado, para o uso-poluição, restaram definidas as variáveis carga orgânica

unitária média lançada nos mananciais, taxa de defensivos aplicada na lavoura e vazão de

captação de águas subterrâneas.

garantir a disponibilidade de água Objetivo estratégico

Objetivos fundamentais

Objetivos meio

racionalizar o uso

aumentar a oferta

preservar a qualidade

reduzir as taxas da demanda

estimular à sistematização

da lavoura

disponibilizar os excedentes

incentivar o plantio do arroz

do sequeiro

conservar as águas

subterâneas

incentivar o tratamento de efluentes

reduzir as as taxas

defensivos

150

Page 151: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

6. Conclusão

Pode-se concluir que uma Hierarquia de Objetivos, obtida por meio de mapas cognitivos de decisores qualificados, pode bem representar a estrutura do problema da cobrança pela garantia de ter e pelo uso da água disponível no ambiente da região de uma bacia hidrográfica.

Uma limitação constatada é que a diversidade das circunstâncias do momento do processo, especificidades de cada região e, principalmente, as peculiaridades de cada grupo decisor, não permitem generalizações para a aplicação em outros contextos decisórios sem as devidas adequações.

Agradecimentos

O autor agradece a Ana Cecília Perroni, Eugenio Miguel Cánepa, João Francisco Giuliani, Luiz Antônio Timm Grassi, Percy Baptista Soares Neto, Paulo Renato Paim e a Rogério Dewes por terem possibilitado incorporar à pesquisa – através dos mapas cognitivos - o profundo saber que possuem sobre o tema e as visões de larga vivência na questão dos recursos hídricos.

Referências

ACKERMANN, F.; BELTON, V. Managing corporate knowledge experiences with SODA and VISA. British

Journal of Management, Chichester, v. 5, n. 3, p. 163-176, Sept. 1994.

BALARINE, O. F. O. (Org.). Projeto rio Santa Maria: a cobrança como instrumento de gestão das águas. Porto Alegre: Edipucrs, 2000.

CHAPLIN, J. P. Dictionary of psychology. New York: Dell, 1985.

COHON, J. L.; MARKS, D. H. A review and evaluation of multiobjective programming techniques. Water

Resources Research, Washington, v. 11, n. 2, p. 208-220, Apr. 1975.

EDEN, C.; ACKERMANN, F. Making strategy. London: SAGE, 1998.

ENSSLIN, L. et al. Metodologias multicritério em apoio à decisão. Florianópolis: LabMCDA/UFSC, 1998.

JARDIM, S. B. Aplicabilidade de algumas técnicas de análise multiobjetivo ao contexto decisório dos comitês de bacia hidrográfica. 1999. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental)–Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999.

JARDIM, S. B. A cobrança eficiente pela garantia e pelo uso da água do ambiente: proposta de um modelo de gestão. 2003. Tese (Doutorado em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental)–Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.

KEENEY, R. L. Value-focused thinking: a path creative decision making. Cambridge: Harvard University, 1992.

KEENEY, R. L.; RAIFFA, H. Decision with multiple objectives: preferences and value trade-offs. New York: John Wiley & Sons, 1976.

MONTIBELLER NETO, G. N. Mapas cognitivos: uma ferramenta de apoio à estruturação de problemas. 1996. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção)–Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996.

SOPS. (Secretaria de Obras Públicas e Saneamento do Rio Grande do Sul). Programa de recuperação e

desenvolvimento da bacia hidrográfica do rio Santa Maria - RS. Porto Alegre: Secretaria de Obras Públicas, Saneamento e Habitação, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 1997.

151

Page 152: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Responsabilidade ambiental das empresas de papel e celulose brasileiras participantes do carbon disclosure project

Maria Fernanda Lima Santin (UFRGS) [email protected]

Augusto Mussi Alvim (PUC-RS) [email protected]

Bernardo Fonseca Nunes (UFRGS) [email protected]

Resumo: O objetivo principal deste artigo é analisar as empresas brasileiras do setor papeleiro-celulósico e criar uma classificação, por ordem de maior responsabilidade sócio-ambiental e conforme a administração do risco climático sobre suas atividades, a fim de que fundos de investimentos possam optar por firmas ambientalmente sustentáveis. Para tanto, são analisadas as empresas florestais que fizeram parte do Carbon Disclosure Project, 2007, considerando seus posicionamentos quanto aos riscos percebidos da mudança climática, a contabilização e a gestão das emissões de gases causadores de efeito estufa e a governança climática. Na análise, também são incluídos indicadores como a classificação da empresa no Índice Dow Jones de Sustentabilidade no Índice de Sustentabilidade da Bovespa e a sua participação no mercado de crédito de carbono, na Chicago Climate Exchange. Ainda são pontuadas a qualidade e a abrangência das iniciativas ambientais das empresas. A partir do mapeamento destes indicadores, as empresas são classificadas em um ranking de sustentabilidade, elaborado a partir da ferramenta denominada Barômetro da Sustentabilidade. Palavras-chaves: Carbon Disclosure Project; Sustentabilidade; Papel e celulose.

1. Introdução

O aquecimento terrestre é um dos temas de maior atenção, quando se refere ao desenvolvimento ambientalmente sustentável. Existem muitas controvérsias acerca das causas do aumento da temperatura média global, motivadas, principalmente, pelo fato de que o Planeta possui ciclos naturais de aquecimento e resfriamento. No entanto, pesquisas recentes vêm contribuindo para a formação de um consenso em torno do fato de que a atividade humana está afetando o clima terrestre de forma significativa.

É possível observar que a velocidade e a intensidade do aumento da temperatura ocorridos no último século são incompatíveis com o tempo necessário à adaptação natural dos ecossistemas. Em função disto, surge uma maior preocupação com o ritmo acelerado do crescimento dos gases do efeito estufa1, considerado o principal fator explicativo para o aquecimento global. O CO2 é considerado o gás de efeito estufa padrão, de forma que todos os outros gases têm seus potenciais de aquecimento global expressos em equivalência (Pinheiro, 2005).

1 O efeito estufa é um fenômeno natural pelo qual a atmosfera se mantém em temperatura constante, possibilitando, com isso, a existência de vida no planeta. Para alcançar o equilíbrio térmico, a Terra emite para o espaço parte da energia que recebe de radiação solar. A radiação incidente atravessa as diversas camadas da atmosfera e seu retorno ocorre na forma de radiações térmicas, que são absorvidas pelo dióxido de carbono, CO2. Somando-se ao processo natural, as atividades antrópicas resultam em contribuições adicionais de gases de efeito estufa, acentuando a concentração dos mesmos na atmosfera e, conseqüentemente, ampliando a capacidade de absorção de energia que naturalmente já possuem (BNDES, 1999).

152

Page 153: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Dentre as conseqüências do aumento da temperatura global pode-se citar a redução de áreas agricultáveis, a mudança do regime de chuvas, o aumento de doenças tropicais e a elevação dos níveis médios dos oceanos, entre outros. Estes fenômenos, de acordo com modelos climáticos, exercerão impactos sobre a produção de alimentos, a saúde humana, a disposição das atividades econômicas no espaço físico e o aumento da condição de pobreza (Stern, 2006; Huybrechts e Wolde, 1999; e Gregory e Huybrechts, 2006). No Brasil, o aumento da temperatura está relacionado com períodos de secas intensas e de inundações mais severas. A economia brasileira estará sujeita a enfrentar transformações estruturais, haja vista que as atividades agroindustriais serão fortemente afetadas (INPE, 2006).

Frente às mudanças climáticas que possam vir a ocorrer nos próximos anos, Labatt e White (2007) consideram o risco climático como um fator significativo para a dinâmica competitiva de muitas corporações. Existem três tipos de riscos climáticos que podem impactar nas instituições: dois deles impactam em todas as empresas de um mesmo setor: o risco regulatório e o risco físico, que abarca os fenômenos metereológicos. Porém, o terceiro, o risco do negócio, é de responsabilidade da própria companhia administrar. Nele inclui-se a reputação, o risco legal e a manutenção da competitividade frente às mudanças climáticas. Desta forma, aquelas que administrarem adequadamente seus riscos de negócio se sobressairão de forma positiva diante as demais.

É neste cenário de riscos e oportunidades que muitas empresas já divulgam relatórios com as suas estratégias para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Esta estratégia estimula a decisão do investidor. Ao se tratar de investidores institucionais, algumas iniciativas no sentido de apontar investimentos em empresas que administram e reduzem seus riscos ambientais já começam a surgir. Um exemplo pertinente é o relatório Carbon Disclosure Project, cujo principal objetivo é apontar os esforços para a sustentabilidade sócio-ambiental de empresas de capital aberto (Labatt e White, 2007).

O Carbon Disclosure Project é uma iniciativa de 315 investidores institucionais globais, responsáveis pela gestão de US$ 41 trilhões e que procuram, preferencialmente, investir em empresas responsáveis e que compartilhem seus valores. No Brasil, os fundos de pensão são os maiores investidores institucionais e estão associados à idéia do longo prazo, o que reforça a necessidade de investimentos em empresas que estão conectadas aos seus valores. De acordo com o Carbon Disclosure Project (2007), os fundos vêm crescentemente se valendo de condição de fontes de recursos estáveis de longo prazo para influenciar as companhias nas quais investem no sentido de torná-las mais responsáveis social e ambientalmente. Em 2007, estes fundos de pensão atingiram um patrimônio de R$ 408 bilhões, valor que poderá subir para mais de R$ 1,8 trilhão em 2020.

O posicionamento dos investidores institucionais remete ao conceito de desenvolvimento sustentável proposto por Bossel (1999), que emprega grande importância a questão temporal. Segundo o autor, a sustentabilidade de um sistema só pode ser observada a partir da perspectiva futura, de ameaças e oportunidades. As ameaças para a viabilidade da sustentabilidade derivam de fatores tais como a tecnologia utilizada, a estrutura da economia e o nível de conscientização da população. Todos eles refletem na evolução do ritmo da transformação ambiental e para que sejam identificadas as ameaças à sustentabilidade, há a necessidade de se desenvolver indicadores que forneçam informações quanto à direção tomada (Bossel, 1999).

Bossel (1999) ainda argumenta que o termo ‘sustentar’ não tem muito significado para a sociedade humana, pois esta não pode ser mantida em um mesmo estado. A sociedade humana é um sistema complexo, adaptativo, incluso em outro sistema complexo, maior, que é

153

Page 154: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

o meio ambiente. Desta forma, a conclusão a que se chega é que a evolução da sociedade, tanto no aspecto econômico, quanto social e tecnológico, deve ser garantida, desde que seja viável, em termos de sustentabilidade dos sistemas.

Neste contexto, o uso de indicadores para medir a sustentabilidade, seja de um país, de uma atividade produtiva ou de uma empresa, é uma ferramenta importante para informar sobre o progresso em direção a uma determinada meta, como por exemplo, o desenvolvimento sustentável. Também é uma ferramenta útil para ressaltar uma tendência ou fenômeno que não seja imediatamente detectável (Hammond et al., 1995). Na visão de Gallopin apud Van Bellen (2005), os indicadores mais desejados são aqueles que resumam e simplifiquem as informações relevantes, facilitando a percepção de fenômenos que ocorrem na realidade.

Isso posto, o objetivo principal deste artigo é analisar as empresas brasileiras do setor papeleiro-celulósico que fizeram parte do Carbon Disclosure Project - 2007, através de seus posicionamentos quanto aos riscos percebidos da mudança climática, a contabilização e a gestão das emissões de gases causadores de efeito estufa e a governança climática, bem como outros indicadores de sustentabilidade divulgados pelas empresas. A partir do mapeamento destes indicadores, as empresas são classificadas em um ranking de sustentabilidade. A ferramenta utilizada para tanto é o Barômetro da Sustentabilidade, que permitirá apresentar uma definição gráfica para elencar as empresas, por ordem de maior responsabilidade sócio-ambiental.

Para atingir o objetivo proposto, este artigo foi dividido em quatro seções: na primeira seção é apresentado o Carbon Disclosure Project.. Em seguida, é apresentada a metodologia para aplicar o Barômetro da Sustentabilidade. Por fim, são apresentados e discutidos os resultados e as conclusões.

2. Carbon Disclosure Project

Esta seção é baseada no Carbon Disclosure Project (2007). Tem por fim caracterizar os principais aspectos deste documento, considerando suas principais conclusões e demais informações pertinentes a este trabalho. Conforme a definição anteriormente apresentada, o Carbon Disclosure Project tem por objetivo indicar as empresas que possuem políticas de redução de emissões dos gases do efeito-estufa, a fim de que fundos de investimentos possam optar por firmas ambientalmente sustentáveis.

O Carbon Disclosure Project, em 2007, alcançou sua quinta edição, na qual 82% das empresas brasileiras elencadas preencheram o questionário encaminhado pelos investidores locais. O Brasil apresentou um índice de atenção pelo projeto superior ao de países industrializados com metas de redução de emissões estipuladas no escopo do Protocolo de Quioto. Este resultado aponta para a evolução do movimento empresarial a favor da sustentabilidade e o fortalecimento da posição brasileira no mercado de carbono, com um número crescente de iniciativas de redução das emissões.

O questionário aplicado em 2007 tentou refletir a expansão do entendimento mundial a respeito das alterações climáticas, seus riscos e oportunidades. Com o objetivo de analisar as tendências dos riscos e oportunidades decorrentes das mudanças climáticas e sua mitigação, as informações requeridas se concentraram em quatro áreas básicas: riscos da Mudança Climática; Oportunidades e Estratégia; Contabilização das Emissões de Gases Causadores de Efeito Estufa; Gestão das Emissões de Gases Causadores de Efeito Estufa; e Governança Climática.

154

Page 155: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Os questionários foram enviados para 60 empresas brasileiras, das quais 47 retornaram as informações requeridas. Como síntese do resultado geral, 100% das empresas entrevistadas considerou que a mudança climática representa riscos comerciais mas também oferece oportunidades comerciais: 59% das entrevistadas divulgaram dados sobre a emissão dos gases causadores do efeito estufa e outras 59% responderam que as responsabilidades relacionadas às mudanças climáticas foram alocadas em nível de Conselho ou Administração Sênior. Este indicador mede a governança climática2. Ainda, dos totais de questionários respondidos, 61% indicaram a oportunidade de comercializar certificados de redução de emissões e 52% responderam que implementaram programas de redução de emissões com metas.

Figura 1 - Setores representados no Carbon Disclosure Project, 2007

As empresas entrevistadas foram divididas em segmentos econômicos, de acordo com

a figura 1. Observa-se que os setores com as maiores representatividades são: o setor de energia elétrica, o siderúrgico, o papeleiro-celulósico e o bancário. É oportuno destacar que as empresas foram escolhidas com base no índice IBrX da BOVESPA, que mede o retorno de uma carteira teórica composta por 100 ações selecionadas entre as mais negociadas na BOVESPA. A lista de setores foi estabelecida a partir dos segmentos da classificação setorial da BOVESPA.

Devido às características do mercado brasileiro de capitais, muitos setores continuam sendo representados apenas por uma única empresa, tornando impossível a comparação de respostas dentro desses setores, bem como agrupar as respostas em clusters de análise. Por este motivo, neste artigo, se optou por analisar apenas empresas de um mesmo grupo, de forma a não perder as peculiaridades que possam vir a interferir no seu posicionamento diante às questões consideradas. A escolha pelo setor papeleiro-celulósico também foi influenciada pelo elevado impacto que as mudanças climáticas podem exercer sobre o mesmo.

2 Inclusão da variável climática na gestão estratégica do negócio.

155

Page 156: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

No Brasil, segundo Santin (2007), a atividade florestal possui um grande potencial econômico, tanto na geração de renda quanto de empregos. A produtividade da celulose por hectare plantado é a maior do mundo. Anualmente, produz-se um milhão de toneladas por 100.000 hectares plantados. Os custos de produção também são reduzidos, frente aos dos demais países produtores. A geração de caixa do setor, medida pelo EBITDA3, é de aproximadamente 50%, uma margem relativamente alta. Desta forma, a atual vocação florestal do Brasil é inegável frente ao clima propício, às extensões de terras disponíveis, à oferta de mão-de-obra abundante e às pesquisas de desenvolvimento da atividade, tornando-se uma boa alternativa de investimento. No longo prazo, a administração dos riscos de negócio será determinante para a atratividade do setor.

Neste contexto, as empresas selecionadas para a análise proposta foram a Aracruz, a Duratex, a Klabin, a Suzano e a Votorantin Celulose e Papel. As respostas ao questionário do Carbon Disclosure Project, 2007 estão resumidas na tabela 1. Em seguida, o posicionamento de cada empresa é analisado em suas particularidades.

Tabela 1 - Respostas das empresas ao questionário da Carbon Disclosure Project, 2007

Empresas

As mudanças climáticas

representam riscos/ oportunidades

comerciais

Divulgação de dados

sobre gases poluentes

Desenvolveu produtos em resposta às mudanças climáticas

Alocou a responsabilidade

pelo tema em nível de Conselho ou

alta administração

Considera oportunidades de comércio de emissões

Implementou programas de redução das

emissões com metas definidas

Aracruz Sim Sim Não Sim Sim Sim Duratex Sim Sim Não Não Sim Não Klabin Sim Sim Não Sim Sim Sim Suzano Sim Sim Não Sim Sim Sim VCP Sim Não Não Sim Sim Sim

Fonte: Questionários das empresas enviadas ao Carbon Disclosure Project, 2007.

Na avaliação da Aracruz, a exposição ao risco climático representa uma ferramenta de gestão importante para a companhia, que possui investimentos em desenvolvimento de cenários e em pesquisas para modelos de prognóstico, capazes de simular o impacto de variáveis climáticas futuras sobre sua produção de eucaliptos e produtividade dos plantios. A empresa considera que os eventos de mudança climática poderão ter um claro impacto direto sobre os negócios da Aracruz, já que sua produção de eucalipto poderá ser afetada, prejudicando o fornecimento de celulose. Dentro da visão de futuro da empresa, destacam-se os programas de cobertura de seguro, relacionados aos eventos climáticos, extensivo aos produtores que integram a cadeia produtiva.

Nos últimos dez anos, a empresa investiu em estudos relacionados a fatores de crescimento do eucalipto e impacto das plantações no meio ambiente. Esses estudos têm permitido o desenvolvimento e a adaptação de uma série de modelos com capacidade para simular os prognósticos de efeito do clima sobre o crescimento das plantações, a perda de solo causada pela erosão, drenagem de água superficial e perda de nutrientes.

A Aracruz desenvolveu um projeto de geração de créditos de carbono que considera o seqüestro de carbono em suas florestas, em áreas comprovadamente desmatadas e que atualmente têm cobertura florestal. Em 2005, a empresa começou a negociar certificados de redução de emissões na Chicago Climate Exchange (CCX), sendo a primeira empresa latino-americana que se comprometeu, voluntariamente, com metas de redução das emissões dos gases do efeito estufa fixadas, dentro do contexto do próprio CCX, em 1%, no ano de 2003,

3 EBITDA=Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). O indicador mostra o potencial de geração de caixa do negócio.

156

Page 157: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

2% em 2004, 3% em 2005 e 4% em 2006, sobre a linha de base estabelecida. A companhia está buscando um processo internacional de verificação externa, depois de ter obtido a aprovação do Comitê Florestal do CCX, sobre sua metodologia de quantificação dos estoques de carbono em plantios de eucalipto.

A empresa reduziu em 8% a intensidade de suas emissões, por tonelada de produto, entre 2005 e 2006, através de um incremento da eficiência energética, e conduziu uma análise sobre a intensidade de emissões (IE) com 56% das empresas de papel e celulose, ao redor do mundo. A pesquisa possibilitou a criação de benchmarking para o setor e conduzirá a busca pela redução da IE. Sua conclusão foi que a maioria das companhias do setor, 39,0%, apresentou um volume de emissões entre 0,1 e 0,2 toneladas de CO2 equivalente, por tonelada de produto. Os resultados da pesquisa são apresentados na figura 2.

5%

39%

19%

12%

0%

5%

2%

7%

0% 10% 20% 30% 40% 50%

0,0<IE0,05

0,1<IE<0,2

0,2<IE<0,4

0,4<IE<0,6

0,6<IE<0,8

0,8<IE<1,0

1,0<IE<1,2

IE<1,2

Figura 2 - Intensidade de emissões das empresas de papel e celulose A Duratex relatou a identificação de riscos comerciais advindos das mudanças regulatórias e das eventuais dificuldades de abastecimento hídrico. Ambos poderiam ensejar a necessidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. As mudanças do clima poderão alterar os padrões de produtividade de madeira, causando perdas. A linha de negócio relacionada à fabricação de louças e metais sanitários também poderá sofrer com o impacto, caso ocorra uma mudança drástica nas condições climáticas. A empresa já utiliza a biomassa como importante fonte de energia, com mais de dois terços da matriz energética de sua divisão madeireira já baseada em fontes renováveis.

Em termos estratégicos, a empresa reconhece possuir ativos relacionados à captura de dióxido de carbono e está iniciando o processo de desenvolvimento de metodologia de mensuração. O objetivo é estimar seu potencial de remoção de CO2, com vistas a uma possível participação no CCX ou ainda, se futuramente for implementado qualquer regulamento que obrigue as empresas a reduzir as emissões, a Duratex poderá se beneficiar dessa situação, inclusive negociando direitos de captura de CO2 com setores de maior emissão. Até este momento, a empresa não estabeleceu metas de redução de suas emissões dos gases do efeito estufa, apesar de investir em outras iniciativas, que visam ultrapassar os requisitos mínimos legais, na matéria ambiental, dentro de uma estratégia maior de sustentabilidade.

A Klabin destaca a possibilidade de utilização de matéria-prima de origem celulósica, para a produção de etanol, visando substituir os combustíveis fósseis e minimizar as emissões de gases de efeito estufa, como um potencial novo negócio. As estratégias climáticas apontadas pela empresa incluem: a) redução significativa na utilização de combustível fóssil, até 2015, através da instalação de novas caldeiras de biomassa e mediante a modernização e

157

Page 158: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

expansão das plantas localizadas no Estado de Santa Catarina; b) diminuição da compra de energia nos próximos dez anos, incrementando a eficiência da cogeração; c) desenvolvimento de estudos de viabilidade técnica e econômica para realizar operações livres do uso de combustível fóssil; d) iniciativas de redução no consumo de água.

A contabilização das emissões da Klabin está também baseada nas diretrizes fornecidas pelo GHG Protocol4, abrangendo emissões diretas e indiretas, com particular referência à inclusão da logística do transporte rodoviário no Brasil e no Mercosul. A empresa detém participação, na qualidade de membro pleno, do CCX, providenciando as informações anuais sobre emissões exigidas nesse regime, com vistas ao cumprimento das metas de redução assumidas, dentro das regras de funcionamento desse mercado.

A empresa considera que o desenvolvimento de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo – MDL, é uma das oportunidades mais importantes, capaz de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, que impacta negativamente os custos variáveis da companhia, elevando seu índice de emissão de gases do efeito estufa.

A Suzano apontou como riscos potenciais: a) os marcos regulatórios decorrentes de decisões governamentais; b) possíveis riscos físicos relacionados ao aumento da temperatura; c) e conseqüências de futuros processos de expansão da consciência dos consumidores, sobre os processos produtivos, suas características e implicações socioambientais.

O mercado de carbono é visto como a mais relevante oportunidade, que engendra, em nível estratégico, o desenvolvimento de novas tecnologias e a pesquisa industrial voltada ao aumento da produtividade. A Suzano integra a CCX e está elaborando um inventário baseado na metodologia do GHG Protocol, com incorporação também das ferramentas e diretrizes fornecidas pela International Council of Forest and Paper Associations (ICFPA).

As reduções das emissões da Suzano, ao longo dos anos, são atribuídas ao uso crescente dos combustíveis de biomassa e à implementação de políticas de eficiência energética nos processos industriais. Nessa ótica, por exemplo, uma atenção específica foi dedicada à disposição de resíduos, no intuito de reduzir a quantidade alocada em aterros e reutilizar a maior parte possível de resíduos como fonte de energia.

Do ponto de vista da estrutura de governança, a Suzano possui um Departamento Ambiental e um Comitê de Sustentabilidade, que se reportam diretamente à Diretoria, que é responsável pelos temas relacionados às mudanças climáticas. Até o momento, não é previsto nenhum mecanismo de incentivo formal para o desempenho individual, dentro da empresa, em relação às metas e aos objetivos de cunho climático.

A empresa Votorantin Celulose e Papel integra a CCX e se comprometeu com as metas estipuladas, porém destaca a intenção de estender as metas de redução até 2010. Após a preparação do inventário de emissões, a companhia pretende estabelecer um programa de gerenciamento das emissões poluentes, com objetivos de reduzi-las. Será implementado o acompanhamento do desempenho através dos Indicadores de Desempenho Ambiental, que já são utilizados para monitorar as metas de qualidade, prevenção e controle da companhia, na área ambiental. Os indicadores são utilizados para a determinação da parcela variável de remuneração de todos os funcionários da VCP, fato que amplia a adesão e o comprometimento dos trabalhadores com o processo. Dessa forma, a previsão foi de que as

4 Ferramenta internacional amplamente utilizada para estabelecer metodologias apropriadas para a mensuração e o controle das emissões de gases de efeito estufa. Maiores informações, ver: http://www.ghgprotocol.org/.

158

Page 159: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

metas de redução dos gases do efeito estufa deveriam se enquadrar nas métricas previstas pelos indicadores ambientais já a partir de 2007.

Os assuntos relacionados ao aquecimento global e às mudanças climáticas são conduzidos, dentro da empresa, em nível de conselho executivo, com a participação integrada do Grupo de Trabalho sobre Meio Ambiente, que reúne competências de outros departamentos, tais como engenharia, comunicação, jurídico, pesquisa e desenvolvimento, comercial e de produção. As partes do questionário referentes à visão da empresa sobre riscos, oportunidades e estratégia não foram respondidas.

3. Metodologia

A ferramenta utilizada para classificar as empresas elencadas é o Barômetro da Sustentabilidade, desenvolvido com o objetivo de mensurar a sustentabilidade em vários escopos (Prescott-Allen, 1997). Uma característica importante é a sua capacidade de combinar indicadores, fato que permite apontar conclusões a partir de muitos dados considerados, por vezes, contraditórios. Esta combinação é feita através de escalas de performance que mescla diferentes indicadores. Prescott-Allen (1999) afirma que uma escala de performance fornece uma medida de quão boa é uma variável em relação a outras do mesmo tipo. Bom ou ótimo são definidos como um extremo da escala e ruim ou péssimo como o outro, assim as posições dos indicadores podem ser esboçadas dentro destes dois pontos. Uma escala de performance permite que se utilize a medida mais apropriada para cada um dos indicadores. O resultado é um grupo de medidas de desempenho, todas utilizando a mesma escala geral, possibilitando, assim, a combinação e a utilização conjunta dos indicadores.

Os indicadores são apresentados através de uma representação gráfica, procurando facilitar a compreensão. Cabe mencionar que um indicador isolado não fornece um retrato da situação como um todo e, apenas, através da combinação de vários outros é possível se obter uma visão geral do estado de sustentabilidade da empresa.

Originalmente, o Barômetro da Sustentabilidade avalia o progresso em direção à sustentabilidade através da integração de indicadores de bem-estar social e da ecosfera. O índice de bem-estar do ecossistema identifica tendências da função ecológica no tempo. É uma função da água, terra, ar, biodiversidade e utilização dos recursos. O índice de bem-estar humano representa o nível geral de bem-estar da sociedade e é uma função do bem-estar individual, saúde, educação, desemprego, pobreza, rendimentos, crime, bem como negócios e atividades humanas. Na figura 3 é apresentada a representação gráfica proposta.

159

Page 160: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Figura 3 - Representação gráfica do Barômetro da Sustentabilidade

Para alcançar os objetivos deste artigo, algumas modificações foram implementadas, na tentativa de captar a realidade das empresas. Segundo Prescott-Allen (1997), ao utilizar o Barômetro da Sustentabilidade, as ferramentas para avaliação da sustentabilidade devem ser adaptadas às circunstâncias locais, considerando a totalidade do sistema.

Neste contexto, os indicadores analisados serão aqueles presentes nos questionários da Carbon Disclosure Project: a) oportunidades comerciais frente às mudanças climáticas; b) divulgação de dados e evolução das emissões de gases poluentes; c) desenvolvimento de produtos em resposta às mudanças climáticas; d) responsabilidade pelo tema alocada na alta diretoria; e) comércio de Certificações de Reduções de Emissões; f) implementação de programas das emissões com metas definidas.

Incluir-se-á também outras variáveis tais como: a) a classificação da empresa no Índice Dow Jones de Sustentabilidade; b) no Índice de Sustentabilidade da Bovespa; c) sua participação no mercado de crédito de carbono, através da Chicago Climate Exchange; d) a inclusão da empresa no programa de Responsabilidade Sócio-ambiental da Bovespa; e) a qualidade e abrangência das iniciativas ambientais considerando a sua pró-atividade. Estes últimos serão analisados a partir dos projetos de responsabilidade socioambiental das empresas listadas na BOVESPA (2008).

Utilizando a mesma escala proposta por Prescott-Allen (1997), a classificação vai de zero a 100, indicando intervalos avaliados, como péssimo, fraco, médio, bom e ótimo. A área demarcada na figura 3 representa a posição ideal para uma empresa ambientalmente sustentável. Os índices calculados para cada uma das dimensões do sistema são plotados no gráfico a partir de seus respectivos eixos. O ponto de intersecção entre estes índices, representados dentro do gráfico, fornece um retrato acerca da sustentabilidade do sistema. As tendências podem representar o progresso, ou não, de uma determinada empresa.

4. Análise dos resultados

As respostas das empresas do setor papeleiro-celulósico ao Carbon Disclosure Project – 2007 apresentaram algumas semelhanças de conteúdos (ver tabela 2), especialmente no que se refere à alocação da responsabilidade pelos assuntos de mudanças climáticas na alta diretoria e também na implementação de programas das emissões com metas definidas. Este último está diretamente relacionado à participação da empresa na Chicago Climate Exchange.

160

Page 161: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

De uma forma geral, as empresas mostraram bom entendimento dos principais desafios acarretados pelas mudanças climáticas, tendo desenvolvido estudos e estratégias de gerenciamento dos riscos físicos para suas atividades. Entretanto, o nível de maturação de algumas questões cruciais denuncia certo atraso de algumas companhias, no que se refere às melhores práticas e estratégias ambientais.

Tabela 2 - Indicadores utilizados no Barômetro da Sustentabilidade Empresas Aracruz Duratex Klabin Suzano VCP

Indi

cado

res

do C

arbo

n D

iscl

osur

e P

roje

ct.

Oportunidades comerciais frente às mudanças climáticas.

80 60 40 20 0

Dados e evolução das emissões de gases poluentes

100 80 70 70 20

Desenvolvimento de produtos em resposta às mudanças climáticas

70 20 20 40 0

Responsabilidade pelo tema alocada na alta diretoria

100 0 100 100 100

Comércio de Certificações de Reduções de Emissões

80 0 70 70 70

Implementação de programas das emissões com metas definidas

90 0 90 90 90

Resultado Parcial (média) 87 27 65 65 47

Dem

ais

Indi

cado

res

Índice Dow Jones de Sustentabilidade

100 0 0 0 0

Índice de Sustentabilidade da Bovespa

100 0 0 100 100

Participação na Bolsa de Chicago - CCX

100 0 100 100 100

Participação no programa de Responsabilidade Sócio-ambiental - Bovespa

100 100 0 100 100

Qualidade e pró-atividades das iniciativas ambientais

80 30 50 40 70

Abrangência das iniciativas ambientais

70 20 40 30 60

Resultado Final (média) 92 25 32 62 72 Fonte: Questionários das empresas enviadas ao Carbon Disclosure Project, 2007.

Uma crítica apontada no Carbon Disclosure Project (2007) remete ao fato de que as empresas utilizam amplamente o conceito de intensidade de emissões, por tonelada de produto, mas não explicitam suas reflexões sobre os dilemas do crescimento: como equacionar a relação entre a redução progressiva da intensidade de emissão de seus produtos, diante do possível aumento dos volumes totais de vendas, e conseqüentemente das emissões de CO2, oriundos de seus processos de internacionalização e expansão.

No que tange aos demais indicadores analisados, apenas a Aracruz participa do Índice Dow Jones de Sustentabilidade, que agrega apenas sete empresas brasileiras. Este índice é atribuído a um grupo de companhias composto pelas 10% mais capacitadas no mundo em cada um dos setores definidos para a classificação. A empresa também participa do Índice de Sustentabilidade da Bovespa, juntamente com a Suzano e a Votorantin. Quando observados a qualidade e pró-atividade das iniciativas ambientais, as empresas ainda estão em patamares diminutos. A divulgação de políticas obrigatórias pelos órgãos de controle ambiental como práticas de responsabilidade ambientais aparecem com freqüência. Neste caso, as atitudes não são consideradas como fator de diferenciação entre as empresas, por se tratar de projetos reativos. A abrangência das práticas sócio-ambientais também é limitada, bem como a

161

Page 162: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

extensão da área de cobertura dos projetos ambientais. Os escopos são estritamente reduzidos às práticas de manejo sustentável e educação ambiental.

Assim, a leitura dos indicadores permite estabelecer, com certa clareza, uma ordem decrescente de liderança, na qual se percebe a diferença entre a consistência das fronteiras os inventários de emissões dos gases do efeito estufa, o estado de implementação de estratégias de mudanças climáticas e a sua integração no modelo de gestão das companhias, bem como a implementação dos programas ambientais relevantes. Quanto pontuados e plotados no Barômetro da Sustentabilidade observa-se o posicionamento das empresas. A seguir, é apresentado o posicionamento das empresas (figura 4).

A Aracruz foi a que recebeu melhor pontuação, se localizando na área demarcada da figura. Conforme referido anteriormente esta é a posição ideal para uma empresa ambientalmente sustentável. A análise dos dois grupos de indicadores resulta em pontuações que garantem sua classificação como uma empresa ótima, do ponto de vista de sustentabilidade ambiental. É válido ressaltar que apenas a Aracruz se destacou nesta classificação.

Figura 4 - Posicionamento das empresas do setor papeleiro-celulósico no Barômetro da Sustentabilidade

Em níveis similares de pontuação, a Votorantin e a Suzano alcançaram um resultado bom. A primeira recebeu notas inferiores no questionário, porém compensou com sua pontuação nos demais indicadores. No caso da Suzano, o inverso é verdadeiro. A empresa fez uma boa pontuação no questionário e apresentou um resultado inferior nos demais indicadores. As demais empresas, Klabin e Duratex registram os piores desempenhos, com destaque negativo para a segunda, sendo classificado com um desempenho fraco no ranking da sustentabilidade ambiental.

5. Considerações finais

162

Page 163: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

De uma forma geral, as analises das respostas das empresas participantes do Carbon Disclosure Project (2007) indicou um progresso considerável quanto ao entendimento e a divulgação de suas posições, em relação aos riscos e oportunidades associados às mudanças do clima. Isso fica claro quando se examina as estratégias e a capacidade de gestão que as empresas têm desenvolvido nos últimos anos, para reduzir potencialmente as implicações financeiras negativas e melhorar posições competitivas no que se refere as alterações climáticas.

Do ponto de vista das empresas papeleiras-celulósicas uma percepção interessante é a de que o setor considera a mudança climática como uma oportunidade de maiores ganhos financeiros, tanto no desenvolvimento de novas pesquisas quanto na comercialização de Certificados de Reduções de Emissões. É oportuno salientar que o setor possui taxas de rentabilidade relativamente elevada e que há um apelo em relação a questões de sustentabilidade, principalmente no mercado internacional. O Brasil se beneficia desta percepção. Estes fatos fazem da atividade florestal uma boa alternativa de investimento.

Contudo, ainda há muito a ser feito na busca pela sustentabilidade ambiental do negócio. Algumas companhias ainda apresentam certo atraso, principalmente no que se refere às melhores práticas e estratégias comunicadas, incluindo a pouca abrangência e efetividade de suas políticas ambientais. Outra questão relevante no que diz respeito ao patrimônio de ativos intangíveis das empresas são as alterações do comportamento dos consumidores e dos investidores, incluindo o impacto da postura das empresas frente ao tema das mudanças climáticas.

Este fato é o que mais motiva a adoção de uma atitude proativa, voltada à redução das emissões de gases do efeito estufa, além de emprestar maior competitividade à empresa que melhor se posicionar frente ao desafio de reduzir os riscos do negócio. É neste quesito que a Aracruz Celulose se destaca das demais neste estudo específico. Tem que considerar que é um resultado estático. No entanto, futuros trabalhos poderão mostrar a evolução dos indicadores das empresas e acompanhar se haverá melhora nas práticas ambientais das demais. A iniciativa de se fazer investimentos em empresas que apresentam bons desempenhos financeiros, aliados à preocupação com o futuro ambiental do Planeta motivará a melhora das práticas aqui analisadas.

Por fim, é oportuno registrar que a metodologia aqui utilizada pode ser replicada e estendida a diversos outros setores e segmentos econômicos, com o objetivo de indicar e valorizar as iniciativas relacionadas às oportunidades e ao controle dos riscos que as mudanças climáticas podem resultar. O método também é adequado para o acompanhamento da posição das companhias, no que se refere à sustentabilidade ambiental.

Referências

BOSSEL, H. 1999. Indicators for sustainable development: theory, method, applications; a report to the Balaton Group. International Institute for Sustainable Development, Canada. Disponível em http://www.iisd.org/pdf/balatonreport.pdf. Acesso: maio de 2008

BOSSEL, H. 2001. Assessing viability and sustainability: a systems-based approach for deriving comprehensive indicator sets. Conservation Ecology, Canada. Disponível em : http://www.consecol.org. Acesso: maio de 2008.

BOVESPA. Projetos de responsabilidade socioambiental. Disponível em: http://www.bovespa.com.br. Acesso: maio de 2008.

CARBON DISCLOSURE PROJECT, 2007. Disponível em: www.cdproject.net. Acesso em 10/04/2008.

GREGORY, J., HUYBRECHTS, P. Ice-sheet contributions to future sea-level change, Philosophical Transactions of the Royal Society of London, 2006. Disponível em http://homepages.vub.ac.be/~phuybrec/pdf/Gregory_RSTA_2006.pdf

163

Page 164: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

HUYBRECHTS, P., WOLDE, J. (1999). The dynamic response of the Greenland and Antarctic ice sheets to multiple-century climatic warming. Journal of Climate, London, 1999. Disponível em: http://homepages.vub.ac.be/~phuybrec/pdf/JClim.Huyb.1999.pdf.

INPE. Uso de Cenários de Mudanças Climáticas Regionais em Estudos de Vulnerabilidade e Adaptação no Brasil e na América do Sul (GOF-UK-CPTEC). Boletim do Projeto: Outubro de 2006. Disponível em: http://www6.cptec.inpe.br/mudancas_climaticas/pdfs/Newsletter3_Port.pdf

LABATT, S. WHITE, Rodney. Carbon Finance: The Financial Implications of Climate Chance. Jonh Wiley & Sons, Inc., EUA, 2007.

PRESCOTT-ALLEN, R. Assessing Progress Toward Sustainability: The System Assessment Method illustrated by The Wellbeing of Nations. The World Conservation Union – IUCN, 1997.

PRESCOTT-ALLEN, R. Barómetro de la sostenibilidad: medición y comunicación del bienestar y el desarrollo sostenible. UICN, 1999.

SANTIN, M. F. C. L. . A silvicultura como veículo de desenvolvimento social, econômico e ambientalmente sustentável. VII Encontro de Economia Ecológica, Recife, 2007.

STERN, Nicholas. Stern Review Report on the Economics of Climate Change. 2006. Diponível em : http://www.hm-treasury.gov.uk. Acesso em fev. 2007

VAN BELLEN, Hans Michael. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de Janeiro: FGV, 2005.

Page 165: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

Organizações e sociedade: dinâmicas recíprocas orientando o percurso rumo ao desenvolvimento sustentável

Debora Nayar Hoff (UNIPAMPA) [email protected] Luciano Barin-Cruz (UNIFOR) [email protected]

Eugênio Avila Pedrozo (UFRGS) [email protected]

Resumo: A segunda metade do século XX apresenta uma geração de movimentos e

documentos que apontam a degradação do meio ambiente e a exploração de sociedades

menos desenvolvidas como problemas merecedores de atenção. Embora as discussões sobre

desenvolvimento sustentável tenham sua importância ampliada, poucos estudos se

interessaram pela influência de diferentes tipos de racionalidade adotados por organizações

e sociedade na construção deste. A compreensão destas relações, bem como as mudanças

paradigmáticas contemporâneas, é que motiva este estudo, cujo objetivo é a elaboração de

uma framework e de um conjunto de proposições que expresse a compreensão das relações

evolutivas entre indivíduos, organizações e sociedade. Para tanto foram abordadas: a) as

mudanças paradigmáticas e questões sobre o desenvolvimento sustentável; b)

responsabilidade social corporativa: performance social, stakeholders e valores individuais e

coletivos; e c) racionalidade substantiva e racionalidade instrumental. Sugere-se que não é

mais suficiente, para a organização, entregar à sociedade novos produtos e serviços,

pautados no paradigma centrado na sustentabilidade. Torna-se necessário orientar-se por

objetivos que incorporam na cultura organizacional parte dos valores desenvolvidos pela

sociedade. A principal contribuição deste estudo está na proposição da framework e de um

conjunto de proposições que possibilita a observação das relações da organização com seus

stakeholders.

Palavras-Chave: desenvolvimento sustentável; responsabilidade social corporativa; gestão

de stakeholders; racionalidade substantiva; racionalidade instrumental

1. Introdução

A evolução do desenvolvimento econômico global representa, ao longo do tempo, o uso de recursos naturais como matérias-primas e insumos produtivos. Este uso nem sempre feito de forma a preservar o meio ambiente, ou garantir que, no caso dos recursos renováveis, a natureza tenha tempo de recompor os recursos utilizados. Por outro lado, as empresas e o próprio processo de desenvolvimento representam impactos sociais importantes nas sociedades em que se inserem. Estes impactos podem ser positivos, quando contribuem para a melhoria da qualidade de vida das populações, ou negativos, quando representam a exploração dos recursos humanos, a anulação de aspectos ambientais e culturais de determinadas comunidades, ou a geração e manutenção da dependência econômica e social de países inteiros, da economia e tecnologia de países mais desenvolvidos (HOFF, 2008).

A percepção da inter-relação existente entre estes processos faz com que a segunda metade do século XX apresente uma ampla geração de movimentos e documentos, tais como os livros Silent Spring de Rachel Carson, 1962, Small is Beautiful, de Schumacher, de 1976 e o Relatório Brundtland, elaborado pela World Comission on Environment and Development - WCED, em 1987, a Avaliação do Milênio, iniciada em 2001, ou ainda as Conferências das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Tanto os documentos quanto os movimentos apontam a degradação do meio ambiente e a exploração de sociedades menos

165

Page 166: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

desenvolvidas como problemas merecedores da atenção da humanidade. Além disso, é deste contexto que emerge o primeiro conceito de desenvolvimento sustentável mundialmente conhecido.

Os alertas oriundos destes processos vão conduzindo sociedade, organizações governamentais e não-governamentais no envolvimento com as preocupações ambientais e com a observação das conseqüências da degradação ambiental sobre as diversas espécies, inclusive a espécie humana. O envolvimento reflete-se também no aprofundamento da pesquisa sobre as relações existentes entre o agravamento da degradação ambiental, a intensificação de algumas mudanças climáticas, o surgimento ou ampliação de catástrofes naturais, a limitação de recursos naturais para prover determinados setores produtivos e o reflexo de tudo isso sobre as condições de bem estar atual e futuro da humanidade (MARTINET e REYNAUD, 2004).

Em vários momentos, o entendimento de que a mudança de valores pessoais, coletivos e organizacionais, são elementos determinantes para que se possa construir processos sustentáveis nos vários âmbitos em que ele é necessário, permeiam a idéia de desenvolvimento sustentável. Assim, a observação das relações que ocorrem ao longo do tempo, buscando esta construção, parece ser uma questão a ser considerada quando se estudam organizações, suas interações com seus stakeholders e o desenvolvimento sustentável.

Este aspecto fica ainda mais interessante quando tomados os estudos acerca da racionalidade que envolve as atividades organizacionais e a sociedade. Autores como Guerreiro Ramos (1989) e Serva (1993; 1996; 1997; 1997a), enfatizam que a racionalidade substantiva e instrumental seriam elementos guia das atividades dos indivíduos e da organização. No estudo proposto neste artigo, argumenta-se que é na interação destes dois tipos de racionalidade que pode estar a base da formação da relação capaz de orientar as atividades organizacionais para resultados desejados pela sociedade, como o desenvolvimento sustentável.

Embora as discussões sobre desenvolvimento sustentável tornem-se cada vez mais importantes contemporaneamente, seja para explicar as relações sociais (GLADWIN, KENNELY e KRAUSE, 1995; STEURER et al., 2005), seja na sua aplicação na estratégia empresarial através do conceito de Responsabilidade Social Corporativa (MACKEY, MACKEY e BARNEY, 2007; AGUILERA et al., 2007; BARNETT, 2007; BARIN-CRUZ, 2007; BANSAL, 2005; MATTEN e MOON, 2008; BASU e PALAZZO, 2008), poucos estudos se interessaram pela influência de diferentes tipos de racionalidade adotados por organizações e sociedade na construção do desenvolvimento sustentável.

A compreensão destas relações, dentro deste enfoque, bem como as mudanças paradigmáticas contemporâneas, que envolvem a sociedade e as organizações, ao longo do tempo, fazendo com que estas últimas orientem-se por preceitos do desenvolvimento sustentável é que motiva este estudo, cujo objetivo é a elaboração de uma framework e de proposições que expressem a compreensão destas complexas relações evolutivas entre indivíduos, organizações e sociedade.

Para tanto foi feito um estudo bibliográfico e documental, no qual são enfatizadas questões como as mudanças paradigmáticas que geram a busca pelo desenvolvimento sustentável, bem como os conceitos que envolvem este tipo de desenvolvimento (seção 2), o entendimento sobre performance social corporativa, incluindo a gestão dos stakeholders, responsabilidade social, princípios, valores, ética e moral (seção 3). Estes elementos são então observados à luz das idéias de racionalidade substantiva e instrumental (seção 4), buscando construir as relações mencionadas. A quinta seção apresenta as relações identificadas entre

166

Page 167: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

organização e sociedade, ao longo do tempo, já no formato de uma framework. A sexta seção é reservada para algumas considerações finais.

2. Mudanças paradigmáticas e desenvolvimento sustentável

A ampliação das discussões acerca das relações entre o desenvolvimento das nações e a preservação do meio ambiente e das relações entre as fontes de recursos naturais renováveis e não renováveis com a sustentabilidade dos processos produtivos e manutenção da existência da humanidade reflete-se na sociedade de diversas formas, inclusive na produção científica que toca nestas temáticas. Nas várias áreas do conhecimento que tangenciam o assunto, observam-se tendências distintas quanto à abordagem do mesmo, algumas com maior nível de radicalismo quanto à preservação dos recursos e outras buscando um equilíbrio entre o uso dos recursos e a preservação, com vistas à ampliação dos processos de desenvolvimento das nações. Dentro deste contexto, pode-se dizer que as mudanças paradigmáticas que vão orientando as atividades humanas e a evolução do entendimento conceitual acerca do desenvolvimento sustentável são questões que estão imbricadas.

Aprofundando esta idéia, as tratativas apontam um paradigma estabelecido, centrado no ser humano (antropocêntrico ou tecnocêntrico), não desejável se for praticado de forma estrita, antagônico a um paradigma centrado no meio ambiente (ecocêntrico), que seria ideal nas relações entre os humanos e a natureza, mas que talvez seja utópico. Entre os dois, Egri e Pinfield (2001) e Gladwin, Kennelly e Krause (1995) enfatizam a existência de um terceiro paradigma, o qual sintetiza os demais e se coloca como uma situação intermediária ou de transição entre as visões mais radicais, o paradigma centrado na sustentabilidade ou sustaincentrism. Já Shrivastava (1995 e 1995a), Hopwood, Mellor e O’Brien (2005) e Purser, Park e Montuori (1995) não enfatizam a existência de um terceiro paradigma, mas apontam possibilidades de situações intermediárias entre as visões extremadas representadas pelo antropocentrismo e pelo ecocentrismo.

Concomitante ao estabelecimento de novos indicativos paradigmático ocorre a construção de um conceito para desenvolvimento sustentável, que possa ser mundialmente aceito. Para Mebratu (1998) a Conference on Human Environment, ocorrida em Estocolmo em 1972 representa um importante passo em direção a esta construção. Mesmo que as ligações entre meio ambiente e as iniciativas desenvolvimentistas ainda não apareçam fortemente durante a conferência e de não restarem dela documentos ou relatórios contundentes, durante todo o evento surgiram fortes indicativos de que a forma com que o desenvolvimento econômico estava sendo feito ou buscado precisava mudar.

Quando da construção do relatório Brudtland, a WCED busca elementos do evento de Estocolmo, adicionando a eles a questão tempo. Este relatório, quando constrói o conceito de que “desenvolvimento sustentável é assegurar a satisfação das necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades” (WCED, 1987, p. 43), abre espaço para a difusão desta idéia, para o avanço do novo paradigma e de novas construções conceituais (MEBRATU, 1998).

Robinson (2004) aponta que a década de 1990 é um período onde dois grandes movimentos marcam as discussões sobre desenvolvimento sustentável, um preocupado com a mensuração deste desenvolvimento e o outro com a identificação dos limites do crescimento econômico, na busca pelo desenvolvimento sustentável. Estas duas dinâmicas buscam aproximar idéias acerca do desenvolvimento sustentável em questões aplicáveis, ou seja, como transformar o conceito lançado na década de 1980 em ações pró-desenvolvimento sustentável. Destes movimentos e de toda a discussão feita na UNCED (United Nations Conference on Environment and Development) vai se solidificando um conceito mais prático de desenvolvimento, o qual tem por base três pilares: econômico, social e ambiental.

167

Page 168: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

De acordo com OECD (2001): a) Sustentabilidade Econômica cobre as expectativas por um crescimento econômico forte e durável, que preserve a estabilidade financeira, em um ambiente no qual a inflação seja baixa e estável e que crie condições para investir e inovar; b) Sustentabilidade Ambiental foca na manutenção da integridade, produtividade e plasticidade dos ambientes biológicos e físicos, bem como na preservação do acesso a um meio ambiente saudável; e c) Sustentabilidade Social enfatiza a importância de altos níveis de emprego, de redes de segurança capazes de adaptar grandes mudanças demográficas e estruturais, de equidade e de participação democrática nos processos de decisão.

Iyer-Raniga e Treloar (2000, p. 358), com base na abordagem de pilares, enfatizam que se o desenvolvimento sustentável pode ser realmente alcançado, ele precisará ser observado no contexto de ecossistemas naturais e de sistemas humanos. Estas afirmativas são consistentes com as expectativas de Robinson (2004) e das afirmativas constantes no texto do Relatório Brundtland (WCDE, 1987), de que as soluções para o desenvolvimento sustentável precisam auto-relacionar as soluções econômicas, sociais e ambientais, de forma que se auto-suportem.

Essas idéias remetem novamente para algumas informações apresentadas no documento gerado pela OECD (2001). Neste destaca-se que sinergias entre os três pilares da sustentabilidade podem gerar soluções do tipo “ganha-ganha” as quais contribuem para que se alcancem objetivos múltiplos. Assim, na busca por um desenvolvimento sustentável, a sociedade precisa encontrar boas soluções para lidar com trade-offs inevitáveis, ou seja, em alguns momentos ganhos em uma das áreas significam prejuízos em outras e são vários os determinantes das escolhas, dentre eles, questões de mercado, valores individuais e organizacionais e limites tecnológicos.

Apesar de existir atualmente o reconhecimento de um papel progressivamente mais importante da organização na vida em sociedade, gerando, por exemplo, a discussão Business Society Relationship (STEURER et al., 2005), nem sempre esta postura e respectivamente o reconhecimento, estiveram presentes na relação entre organização e sociedade. Tomando-se uma evolução histórica deste processo, nas primeiras fases do desenvolvimento industrial, estando o processo produtivo e gerencial orientado exclusivamente pelo paradigma antropocêntrico, os objetivos organizacionais eram orientados pelas preocupações econômicas, financeiras, de produtividade e eficácia (GLADWIN, KENNELY e KRAUSE, 1995).

O progresso da indústria e o respectivo incremento dos impactos negativos sobre o meio ambiente humano geraram pressões sociais que obrigaram a mudanças organizacionais, geralmente por meio institucional (WECD, 1987; HOFFMANN, 2001; CARSON, 1962). Esse contexto vai evoluir, conforme discutido por Hoffmann (2001), para a incorporação das questões ambientais no contexto da firma (ambientalismo corporativo). Paralelo a este contexto, evolui outro aspecto da relação organização-sociedade, que passam a ser vistas como entidades interconectadas (WOOD, 1991). Carrol (1999) enfatiza ainda que as relações da empresa com a comunidade é um produto do século XX, sendo neste contexto, conforme Clarkson (1995), que ocorre o incremento da importância da sociedade e do indivíduo para o desempenho da organização.

Corroborando com esta idéia, Swanson (1999, p. 507) indica que existe um conjunto de responsabilidades pressionando as organizações, as quais podem ser resumidas em responsabilidades econômicas, legais, éticas e discricionárias. Sobre estas responsabilidades estão estabelecidas expectativas da própria sociedade, que é afetada pelos resultados das atividades organizacionais. Assim a principal obrigação econômica da firma é atenuada principalmente pelas leis e regulações que compõem a categoria legal. As obrigações

168

Page 169: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

econômicas são incrementadas pelas responsabilidades éticas, pelas expectativas sociais e pelas normas que ainda não foram codificadas dentro das leis. São justamente estas restrições legais e éticas que se constituem no controle social dos negócios e que vão compor as bases para um comportamento organizacional socialmente responsável.

Todo este movimento tem impacto direto nas organizações, pois a sociedade pressiona para que estas se adequem às tendências contemporâneas, como já mencionado. Sendo a construção do desenvolvimento sustentável um processo, é de se esperar que a adoção das novas tendências seja feita de forma paulatina pelas organizações, adaptando características do novo paradigma à realidade organizacional. Conceitos como Responsabilidade Social e Ambiental e Gerenciamento dos Stakeholders são frutos deste processo e tendem a contribuir para que a organização se aproxime do paradigma centrado na sustentabilidade. Por este motivo o próximo item irá tratar do entendimento que envolve estes conceitos.

É possível extrair destas ponderações três proposições:

P1 – O desenvolvimento sustentável é resultado de um processo de síntese entre paradigmas antagônicos, que influencia e é influenciada pela relação indivíduo-organizações-sociedade;

P2 – Existe uma inter-relação entre sociedade e organizações que ocorre ao longo do tempo e que pode levar a construção do desenvolvimento sustentável;

P3 – As mudanças no comportamento individual e coletivo fazem com que se modifiquem as exigências sobre as organizações, fazendo com que se aproximem de características desejáveis para a construção do desenvolvimento sustentável.

3. Responsabilidade social corporativa: performance social, stakeholders e valores individuais e coletivos

3.1 Gerenciamento dos Stakeholders

Donaldson e Preston (1995), Mitchel, Agle e Wood (1997) e Rowley (1997) indicam que um dos conceitos seminais sobre os stakeholders surge com o trabalho de Freeman (1984). Este conceito aponta que stakeholders são qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou ser afetado pela conquista dos objetivos organizacionais.

Com base em trabalhos elaborados por vários autores e situando o histórico de desenvolvimento da idéia, Freeman e McVea (2001, p. 8) revisitam o conceito de stakeholder. Para os autores “as idéias de stakeholders, ou gerenciamento dos stakeholders, ou abordagem dos stakeholders para o gerenciamento estratégico, sugerem que os gerentes devem formular e implementar processos que satisfaçam todos aqueles grupos que tem um interesse nos negócios”. Afirmam ainda que a “questão central no processo é gerenciar e integrar os relacionamentos e interesses de acionistas, empregados, consumidores, fornecedores, comunidade e outros grupos de forma que se assegure sucesso de longo prazo para a firma”. Neste sentido, Freeman e McVea (2001, p.8) indicam que “a abordagem dos stakeholders enfatiza gerenciamento ativo do meio negocial, relacionamentos e a promoção do compartilhamento de interesses”.

De acordo com Steurer et al., (2005, p. 265), o gerenciamento das relações com os stakeholders deve ser tratado como um mecanismo de transmissão, de importância crescente, que pode ser hábil em transmitir o desenvolvimento sustentável de grupos sociais para o mundo dos negócios. Os autores trabalham sobre a identificação das relações entre conceitos ligados a idéia de sustentabilidade e a forma como se relacionam com diferentes níveis do sistema econômico. De forma resumida, enquanto o desenvolvimento sustentável é percebido como um modelo guia da sociedade, dentro do qual são tratadas uma série de questões ligadas à qualidade de vida no longo prazo, a sustentabilidade corporativa seria o modelo guia da

169

Page 170: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

corporação, tratando da performance da corporação em âmbito econômico, social e ambiental, no curto e no longo prazo.

Haigh e Jones (2006, p. 245), ao estudarem os condutores da responsabilidade corporativa, indicam que existem seis conjuntos de influências que podem promover ações de responsabilidade social dentro das organizações: pressões internas sobre os gerentes de negócios, pressões advindas dos competidores, investidores e consumidores dos negócios e pressões vindas de organizações governamentais e não governamentais. A administração da firma requer um balanço entre as pressões e os objetivos organizacionais em qualquer dos conjuntos analisados. Os autores indicam que existem zonas de resultado do tipo “ganha-ganha” no balanço de interesses entre a organização e seus stakeholders, visto que em alguns momentos é necessário administrar-se trade-offs entre objetivos múltiplos. Estes resultados são possíveis quando existe uma convergência entre os objetivos, de forma que as ações voltadas para a responsabilidade social corporativa gerem oportunidades de resultados positivos também para os demais objetivos da organização.

Para Steurer et al., (2005), se os gerentes pensam em responsabilidade social, eles focam sobre os stakeholders e seus desejos. Assim, quanto mais sério e comprometido for o suporte de stakeholders chave a conceitos como desenvolvimento sustentável e responsabilidade social corporativa, mais estes conceitos chegam às atividades chave da corporação – notavelmente através do gerenciamento da relação com os stakeholders. Isto implica que as oportunidades do tipo “ganha-ganha” não existem simplesmente, mas elas são criadas e definidas em um contexto social.

P4 – O gerenciamento dos stakeholders ratifica a idéia de influência da sociedade sobre as organizações, podendo ser uma das formas pelas quais a organização passa a assumir posturas sócio-ambientais mais amigáveis e se aproxime das características desejáveis para a construção do desenvolvimento sustentável.

3.2 Responsabilidade Social

Partindo-se do entendimento de Wartick e Cochran (1985) sobre responsabilidade social, pode-se dizer que esta tem duas premissas básicas: a) os negócios existem para o prazer da sociedade, o que faz com que sua conduta e métodos de operação sejam, em grande parte, orientados por diretrizes definidas pela própria sociedade; b) as ações negociais são como agentes morais dentro da sociedade, tal como as igrejas e o estado, as corporações refletem e reforçam valores. Assim, os autores indicam que a responsabilidade social tem por base um contrato social e uma agência moral (moral agency).

Neste contexto, para Wartick e Cochran (1985), a responsabilidade social da organização é determinada pela sociedade, e os compromissos da firma são: a) identificar e analisar as mudanças nas expectativas da sociedade sobre a responsabilidade social; b) determinar como se tornar responsivo (responder) às mudanças nas demandas da sociedade; e c) implementar respostas apropriadas às questões sociais relevantes. Este conjunto de atividades, na visão dos autores, comporia a performance social corporativa.

McWilliams e Siegel (2001) definem a responsabilidade social corporativa como sendo as ações que aparentemente geram algum bem social, além dos interesses da firma e que são requeridas através da lei. Porém, em alguns exemplos de responsabilidade social corporativa, percebe-se que a organização vai além daquele mínimo que a lei exige. Esta extrapolação da obrigação legal pode ser motivada por pressões do próprio mercado, pela identificação de possibilidades de retornos advindos do investimento social, ou por características relacionadas a valores e princípios individuais dos gestores (WARTICK e COCHRAN, 1985; McWILLIAMS e SIEGEL, 2001; HAIGH e JONES, 2006; WOOD, 1991;

170

Page 171: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

HELLSTEN e MALLIN, 2006; WEAVER, TREVIÑO e COCHRAN; 1999).

Outro conceito sobre responsabilidade social corporativa seria o apresentado por Wood (1991, p. 695): “negócios e sociedade são muito mais entidades interconectadas do que entidades distintas e a sociedade têm certas expectativas sobre a adequada conduta e resultados dos negócios corporativos”. Swanson (1999) complementa esta idéia afirmando que a responsabilidade social corporativa não deixa de ser uma forma de controle social das atividades organizacionais.

O estudo de Steurer et al., (2005) contribui para entender onde a responsabilidade social corporativa encaixa-se no processo de desenvolvimento sustentável. Para os autores a idéia de desenvolvimento sustentável teria uma abrangência macro, sendo um conceito que envolve a sociedade como um todo. A partir da idéia macro, desenvolvem-se entendimentos de âmbito organizacional, os quais conectam as atividades organizacionais com o desenvolvimento sustentável, contribuindo para que valores calcados no conceito macro se estabeleçam entre os valores organizacionais. A sustentabilidade corporativa é um elemento que se enquadra nesta condição.

Para Steurer et al., (2005, p.274) a sustentabilidade corporativa está ligada diretamente a concepção de desenvolvimento sustentável, só que tem uma abrangência corporativa. De acordo com os autores, “enquanto desenvolvimento sustentável é comumente percebido como um modelo guia social, que envolve uma ampla gama de questões de qualidade de vida ao longo do tempo, a sustentabilidade corporativa é o modelo guia corporativo, que orienta a performance econômica social e ambiental da corporação no longo e no curto prazos”.

A responsabilidade social corporativa, por sua vez, é mais específica e depende mais fortemente das exigências dos stakeholders do que o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade corporativa. Para Steurer et al., (2005) enquanto que o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade corporativa são modelos guias que dependem amplamente da interpretação da sociedade, a responsabilidade social corporativa é uma abordagem de gerenciamento voluntário, na qual os stakeholders organizacionais têm uma função muito importante.

Alguns autores têm se preocupado com a questão dos valores, princípios, ética e moral como fundamentos presentes no conceito de responsabilidade corporativa, gerando um conjunto interessante de estudos e argumentos, os quais levam a compreensão de que valores e princípios individuais tendem a contribuir para que a corporação tenha um comportamento realmente comprometido com a sociedade. Para Hellsten e Mallin (2006) o que usualmente se entende por ética é um elenco de valores que acaba gerando diretrizes morais para um grupo de pessoas. Por isso que os autores definem ética como sendo um conjunto de valores e princípios aceitos por uma pessoa ou um grupo. A ética pessoal e social guia a conduta e atitudes de um grupo e também informa sobre a conduta e ordem social apropriada (conceito de justiça, leis, sistema político e econômico, tradições) para aquele grupo. Para os autores, a responsabilidade social está relacionada à conduta ética e à agência moral, derivando disso a afirmativa de que cada um é responsável por suas ações.

McGuire, Dow e Argheyd (2003) identificam que as decisões das firmas em tornarem-se “organizações cidadãs exemplares” é menos objeto de pressões financeiras ou de governança corporativa do que da pressão da sociedade. Já Barros e Tenório (2006, p. 14) trabalham dentro de uma perspectiva um pouco diferente dos autores anteriores, focando na capacidade que a organização socialmente responsável tem de influenciar as atividades individuais, fazendo com que as pessoas ligadas à organização passem a ter um comportamento mais ético e socialmente responsável.

171

Page 172: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

P5 – Em última instância é a sociedade que delimita direta ou indiretamente, os parâmetros para a responsabilidade social das organizações, contribuindo para que esta adote características necessárias para a construção do desenvolvimento sustentável;

P6 – Os resultados de performance social corporativa das organizações são percebidos pela sociedade que reage a estes e muda de postura ou passar a exigir mudanças de postura das organizações, ambas posturas necessariamente mais próximas daquelas desejáveis para a construção do desenvolvimento sustentável.

Pode-se depreender disso que o conjunto de valores individuais vai influenciar de forma importante o comportamento da organização e que há momentos nos quais o ambiente organizacional torna-se capaz de influenciar o comportamento individual. Em ambos os casos, o elenco de valores, princípios, ética e moral, servem como condutores da ação socialmente responsável, seja ela individual ou organizacional. Estas constatações levam a pensar-se sobre elementos ligados à racionalidade que orienta indivíduos, sociedade e organizações e se, de alguma forma, a dinâmica percebida, relaciona-se a estas racionalidades e sua permeância. O próximo item foi elaborado para abordar estas questões, contribuindo para ampliar a compreensão sobre o objeto de estudo em ênfase.

4. Racionalidade substantiva e racionalidade instrumental

Para Barreto (1993, p. 36), o significado semântico do termo razão seria: deriva do latim ratione o que remete às coisas do raciocínio, é a “capacidade que se supõe exclusiva dos seres humanos, utilizada para ponderar, julgar, estabelecer relações lógicas e praticar o bom senso”. Para o autor, quando se busca o significado do termo na área das ciências humanas e do comportamento e das ciências sociais em geral, “o termo razão está ligado a ações humanas adequadas ou corretas”. Partindo-se deste entendimento, racionalidade substantiva e instrumental seriam tipos de razão que podem existir de forma independente ou coexistir, as quais têm funções específicas no contexto social.

De acordo com Weber (1999, p. 52) chama-se de “racionalidade formal de uma gestão econômica o grau de cálculo tecnicamente possível e que ela realmente aplica”, por outro lado, Weber (1999) continua, chama-se de “racionalidade material o grau em que o abastecimento de bens de determinados grupos de pessoas (como quer que se definam), mediante uma ação social economicamente orientada, ocorra conforme determinados postulados valorativos (qualquer que seja sua natureza) que constituem o ponto de referência pelo qual este abastecimento é, foi ou poderá ser julgado.”

Pode-se derivar desta idéia que a racionalidade material determina os parâmetros dentro dos quais o atendimento das necessidades das pessoas deverá ocorrer. O grau de satisfação do consumo de bens e serviços se dá pela aproximação do real à idéia criada pelas pessoas. Assim a racionalidade formal indicada por Weber (1999) equivaleria ao processo real de transformação de insumos e produtos e posterior comercialização, visando o atendimento das necessidades das pessoas. As expressões racionalidade substantiva e instrumental vão surgir em trabalhos posteriores de Weber, conforme mencionado por Swanson (1999).

Segundo Swanson (1999, p. 510) “(...) Max Weber sustenta que organizações podem ser ferramentas para a racionalidade instrumental sendo a base empírica da seleção dos meios para os objetivos declarados. Estes objetivos poderiam, idealmente, ser definidos por propósitos humanos substantivos ou afirmativos.”

No trabalho de Serva (1993, p. 41) racionalidade ou razão instrumental é a “(...) razão baseada no cálculo utilitário de conseqüências dos atos humanos, impregnando-os de um pensamento que conduz a um agir onde todos os meios são subordinados a determinados fins

172

Page 173: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

eticamente inquestionados, desvalorizando também a ação efetiva”, já a racionalidade substantiva é a “(...) racionalidade que habilita o indivíduo a ordenar a sua vida eticamente, gerando ações que buscam concretizar um equilíbrio dinâmico entre a satisfação pessoal e a satisfação social, como também da auto-realização pela plena concretização de suas potencialidades humanas”.

Estes conceitos parecem demasiado filosóficos ou complexos a primeira vista, mas acabam tornando-se mais fáceis de entender quando se busca um trabalho posterior do autor. Serva (1997, p. 19) afirma que a “(...) racionalidade substantiva seria um atributo natural do ser humano que reside na psique. Por meio dela, os indivíduos poderiam conduzir a sua vida pessoal na direção da auto-realização, contrabalançando essa busca de emancipação e auto-realização com o alcance da satisfação social, ou seja, levando em conta também o direito dos outros indivíduos de fazê-lo”. O autor vai além quando afirma que “as chaves para esse balanceamento seriam o debate racional e o julgamento ético-valorativo das ações”. Já a razão instrumental “(...) apresenta a busca do sucesso individual desprendido da ética, apenas pautado no cálculo utilitário e no êxito econômico (...)”. Ou seja, enquanto o primeiro conceito fica no campo das idéias, é subjetivo, pauta-se na ética, no coletivo, o segundo estabelece-se na realidade, é objetivo e individual.

Coerente com este tipo de relação, é possível encontrar, no trabalho de Serva (1997), um conjunto de elementos que compõem cada tipo de racionalidade. Enquanto a racionalidade substantiva está relacionada a idéias de auto-realização, entendimento, julgamento ético, autenticidade, valores emancipatórios e autonomia, a racionalidade substantiva relaciona-se a idéias como cálculo, fins, maximização dos recursos, resultados, desempenho, utilidade, rentabilidade e estratégia interpessoal. Serva (1996, p. 111) afirma que “a racionalidade substantiva habilita o indivíduo a ordenar a sua vida eticamente, gerando ações, através do debate racional, que buscam concretizar um equilíbrio dinâmico entre a satisfação pessoal e satisfação social, como também atingir a autorealização pela concretização de suas potencialidades humanas”.

Campos (2000) e Vasconcelos (1993) afirmam que a razão substantiva refere-se a “saber o quê”, enquanto a razão instrumental é o “saber como”. Enquanto a primeira define os parâmetros, os objetivos, as características, a segunda tem a responsabilidade de alcançá-los. Ainda para Vasconcelos (1993, p. 10-12), a racionalidade instrumental, é complexa e “ocorre precisamente dentro de uma moldura conceitual de adequação meios-fins” e “a racionalidade substantiva é um processo voltado para a elaboração do quadro de referências que serve de base para a ação adaptativa dos processos de racionalidade instrumental”. Para o autor, “na prática, a instrumentalidade e a substantividade são dois lados da mesma moeda. Toda ação racional pressupõe uma ética, ou seja, um conjunto de valores que orientam a escolha de alternativas de ação”.

Uma das bases conceituais, fortemente usada por Serva (1993; 1996; 1997; 1997a), para discutir a racionalidade substantiva é o trabalho de Guerreiro Ramos (1989). Para Guerreiro Ramos (1989, p. 2), tanto quanto a teoria organizacional, “a ciência social estabelecida também se fundamenta numa racionalidade instrumental, particularmente característica do sistema de mercado”.

Outro aspecto a ser considerado nesta abordagem é a sua ligação com as questões de desenvolvimento sustentável. No trabalho de Purser, Park e Montuori (1995) é possível encontrar argumentações que relacionam as questões de racionalidade com as de mudanças paradigmáticas que orientam o processo de construção do desenvolvimento sustentável. De acordo com os autores (1995, p. 1061), a presença da racionalidade substantiva e instrumental pode ser observada no conflito entre a busca pela preservação do meio ambiente e a

173

Page 174: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

ampliação dos processos de produção e crescimento econômico. Para os autores, “o apelo para considerar natureza pelo seu valor intrínseco seria como atribuir a ela um sentimento meramente subjetivo que não teria uma função no mundo real, dominado pela racionalidade instrumental”.

A mudança paradigmática necessária para que as organizações migrem de uma situação egocêntrica, para uma situação ecocêntrica esbarra na necessidade de se mudar o foco dos objetivos organizacionais daqueles pautados pela eficiência técnica, rentabilidade, maximização do uso de recursos, resultados finais positivos, para outros pautados na ética e na obrigação moral com os ecossistemas. Este tipo de problema “sugere que os membros das organizações ecocêntricas precisam dirigir muito mais importância para as considerações éticas do que vem sendo feito, justamente porque os gerentes ambientais têm se preocupado, prioritariamente, com a eficiência técnica” (PURSER, PARK e MONTUORI, 1995, p. 1075).

É com esta orientação também que pode ser analisado um conjunto de informações disponibilizado por Gladwin, Kennely e Krause (1995, p. 883) quando caracterizam os paradigmas ambientais. Para os autores a lógica ou razão que orienta o paradigma que identificam como “tecnocentrismo” ou “antropocentrismo” é a egoísta ou racional, coerente com a idéia de racionalismo instrumental. Por outro lado, a lógica que orienta os paradigmas ecocêntrico e centrado na sustentabilidade, tendem à idéia da racionalidade substantiva, uma vez que focam a idéia do holismo e espiritualismo (paradigma ecocêntrico) e da visão em rede (no paradigma centrado na sustentabilidade). Em ambos a lógica tende para a coletividade, para a preocupação com o conjunto, com o todo.

A relação entre estas características reforça a idéia de que as racionalidades que orientam sociedade e organização tendem a ser diferentes, uma substantiva e outra instrumental. Reforçam ainda a percepção de que no processo de construção do desenvolvimento sustentável, a organização vem mudando num estágio posterior à sociedade, contando ainda com características pautadas no paradigma antropocêntrico, quando a sociedade, já apresenta características do paradigma centrado na sustentabilidade e do paradigma ecocêntrico. Pode-se destacar ainda a heterogeneidade do processo de mudança. Não há um alinhamento que determine em que estágio cada indivíduo ou organização está dentro deste processo. Assim tanto em um meio, quanto no outro, poderão ser encontrados exemplos com características das mais diversas possíveis, mesmo assim, as tendências acima podem ser utilizadas como referência, desde que salvaguardada a heterogeneidade possível de ser encontrada.

Se entendido que a racionalidade substantiva define o conjunto de valores que irão orientar as ações da racionalidade instrumental, as pressões sociais irão ocorrer sobre as organizações quando houver um desalinhamento entre os valores da sociedade e aqueles que orientam as atividades organizacionais. Sendo a organização um instrumento para atender às necessidades e expectativas da sociedade, é de se esperar que a sociedade apresente-se como mais suscetível às mudanças de valores, sendo sua ação o ponto de partida para as mudanças nos processos produtivos das organizações, como argumenta Hoffmann (2001).

Pensando-se que a racionalidade substantiva seria capaz de definir padrões e valores sócio ambientais mais adequados, a organização precisaria ser influenciada por esta para não sucumbir à tendência de executar suas atividades exclusivamente pautada pela racionalidade instrumental, o que faria com que não só a maximização dos recursos e dos resultados orientasse seus objetivos, mas também questões sociais e ambientais.

Há que se ponderar que, estando inserida num ambiente complexo, onde enfrenta pressões competitivas, tanto quanto pressões por posturas sócio-ambientalmente mais amigáveis, é inevitável que a organização passe a trabalhar com múltiplos objetivos e que

174

Page 175: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

tenha que administrar trade offs entre eles a fim de garantir sua sobrevivência no longo prazo.

Além disso, um conflito que tende a ser percebido nas organizações é aquele existente entre os valores sociais ou coletivos e os valores individuais, os quais estão presentes na estruturação das ações organizacionais. Enquanto os primeiros devem transparecer as tendências pautadas pela racionalidade substantiva, os valores individuais tendem a transparecer tendências da racionalidade instrumental.

P7 – É preciso que a sociedade assuma uma racionalidade substantiva ‘o que deve ser feito’ e as organizações uma racionalidade instrumental ‘como fazer’ para a construção do desenvolvimento sustentável;

P8 – É preciso que a racionalidade substantiva da sociedade influencie constantemente a racionalidade instrumental das organizações para que se construa o desenvolvimento sustentável.

Ainda, apesar desta aparente dicotomia supostamente existente entre as duas racionalidades, estas são complementares, interagindo entre si para gerar as ações e avanços de sociedade e organização. Vasconcelos (1993) aponta para isso quando afirma que racionalidade substantiva e instrumental são dois lados da mesma moeda. Pode-se ponderar que mais que coexistirem, nesta interação as racionalidades influenciam mudanças uma na outra, sem perderem sua essência, mas criando algo novo, diferente do que existia antes da interação. Com base nestas ponderações é possível pensar-se numa forma de relação recíproca existente entre sociedade e organização, que ocorre ao longo do tempo e que vai alinhando estes valores, em princípio antagônicos, rumo a novos padrões de comportamento tanto da organização quanto da própria sociedade.

5. A relação existente entre sociedade e organização

Retomando alguns pontos já trabalhados, foi considerado que há uma mudança paradigmática em curso, a qual gera uma nova visão, derivada do paradigma antropocêntrico e do ecocêntrico e que tende a ser um percurso intermediário entre as várias características que formam os paradigmas extremos que lhe dão origem. Foram apontados também elementos que compõem a idéia de desenvolvimento sustentável, enfatizando o fato de que é necessário um equilíbrio entre questões econômicas, sociais e ambientais para que se tenha um desenvolvimento deste tipo e que este é um processo, portanto está em construção contínua. Além destes pontos, foram apresentados os conceitos derivados destas idéias e que estão voltados para as organizações, no caso stakeholders e performance social corporativa, numa tentativa de entender de que forma a mudança paradigmática e a construção do desenvolvimento sustentável afetam a organização, sendo possível ponderar que também a organização afeta estes movimentos.

Com base nestes pontos, chama atenção o fato de que há uma dinâmica ocorrendo entre sociedade e organização, pautada em grande parte por todo este movimento em prol da construção de um espaço sócio-ambientalmente mais justo, ecologicamente preservado, com equilíbrios de desenvolvimento intra e entre gerações. Foi esta percepção que levou a construção do entendimento sobre racionalidade substantiva e instrumental, a fim de buscar elementos que pudessem contribuir para o entendimento da forma como estes movimentos, inicialmente vistos como distintos, interagem para formar um novo comportamento social e organizacional. Assim, considerando o que foi apontado até este momento, é possível construir o esquema apresentado na figura 1.

Ressalta-se que sociedade e organização podem mudar de papel em relação às racionalidades. Percebe-se que em alguns momentos a cultura organizacional avança mais rapidamente para posturas sócio-ambientalmente mais adequadas, colocando no mercado

175

Page 176: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

produtos e serviços que vão além do que a sociedade está exigindo, ou ainda modificando práticas junto aos seus colaboradores, que acabam difundindo-se na sociedade, através destes. Desta forma, através da organização, pode ocorrer uma mudança na sociedade, fazendo com que a primeira assuma a racionalidade substantiva, enquanto a segunda assuma a racionalidade instrumental. O esquema apresentado na figura 1 coloca a sociedade como responsável pela racionalidade substantiva em função da lógica com a qual foi desenvolvida a idéia. Além disso, o acionamento do processo de mudança poderia acontecer em qualquer ponto da framework.

PASSADO - P

aradigma

Antrop

ocêntrico

MOMENTO ATUAL - T

ransição Paradigm

ática

MOMENTO FUTURO - P

aradigm

a

Centrad

o na Sustentabilidade

Trade-offs entre objetivos

econômicos, sociais e ambientais

Sociedade Necessidades

Organizações

Produtos e

Serviços

Processos

Recursos

Impactos Econômicos Sociais e Ambientais

Sociedade

Novas necessidades

Sustentabilidade Econômica, Social e

Ambiental

Organizações

Produtos e

Serviços Processos

Recursos

Múltiplos Objetivos

Organizações

Produtos e

Serviços Processos

Recursos

Racionalidade Substantiva

Racionalidade Substantiva

1

Mudança paradigmática

Desenvolvimento Sustentável

Antropocêntrico Ecocêntrico

Centrado na Sustentabilidade

5

Racionalidade Instrumental

6

Sociedade

Racionalidade Instrumental

2

Objetivos Econômicos

Sem trade-offs? Sem impactos?

3

Novas necessidades

2 Racionalidade Substantiva

Gerenciamento dos Stakeholders

P1

P7 P8

P7 P8

P7 P8

P7 P8

P7 P8

P5 P6

P5 P6 P4

P2

P2

P2

Racionalidade Instrumental

P7 P8

Impactos Econômicos, Sociais e Ambientais

4

P8

P8

Influenciadas por cultura, valores, conhecimento e expectativas individuais e coletivas. Atendidas por Produtos e serviços.

Consciência dos problemas sócio ambientais. Mudança nos valores pessoais e coletivos.

Pressões geram impacto sobre as organizações que passam a preocupar-se com a performance social corporativa, buscando minimizar impactos socio-ambientais negativos e maximizar os positivos.

Filtrados por ações de responsabilidade social corporativa.

Influenciados por cultura, valores e expectativas individuais e coletivas. Construídos nas relações da Organização com seus stakeholders.

Dispõem de recursos necessários para modificar os modos produtivos, aproximando seus resultados das expectativas da sociedade.

Figura 1 – Relação Existente entre Sociedade e Organizações que Induz ao o Desenvolvimento Sustentável Fonte: Elaborado pelos autores.

1

2

3

4

5

6

P3

P3 P6

P6

P3 P4 P5 P6 P7

P6 P7

P6

176

Page 177: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

6. Considerações finais

A principal contribuição deste estudo está na proposição da framework e de um conjunto de proposições que possibilita a observação das relações da organização com seus stakeholders.

A partir das referências utilizadas, é possível propor que a sociedade tem um conjunto de necessidades, que são influenciadas pela sua cultura, valores, conhecimento e expectativas tanto individuais quanto coletivas. Estas necessidades, de modo geral, são percebidas pelas organizações que, através de vários tipos de processos produtivos e tecnologias disponíveis, irão transformar diversos recursos em produtos e serviços, a fim de atender às necessidades da sociedade. Ao conjunto cultura, valores, conhecimento e expectativas da sociedade pode-se relacionar a idéia de racionalidade substantiva, pois são estes elementos que irão dar parâmetros e características para as organizações elaborarem seus processos, produtos e serviços. Já às atividades produtivas da organização, pode-se relacionar a idéia de racionalidade instrumental, pois é a organização que tem a capacidade de transformar recursos dos mais variados tipos em produtos e serviços, dentro de padrões estabelecidos e a partir de tecnologias desenvolvidas e disponíveis.

Neste processo a organização gera diversos tipos de impactos econômicos, sociais e ambientais que serão sentidos pela sociedade como um todo. A satisfação sentida em relação ao atendimento das necessidades, bem como a percepção sobre este conjunto de impactos, irá gerar um novo conjunto de necessidades, gerando um novo ciclo também para a organização. Considerando a continuidade deste processo, ao longo do tempo, pode-se dizer que a sociedade, em função, principalmente, da tomada de consciência acerca dos problemas sócio-ambientais, sofre mudança nos seus valores pessoais e coletivos. Estas mudanças não ocorrem de forma generalizada, mas por desencadearem um processo, vão, aos poucos, permeando várias áreas e atividades da sociedade, refletindo-se na ciência, na tecnologia, nas questões institucionais, chegando até as formas de obterem-se os recursos produtivos, elaborar-se os processos de produção, produtos e serviços. A ampliação das mudanças vai criando o que se chama de mudança paradigmática.

A pressão para mudança originou-se de idéias antagônicas ao paradigma vigente (ecocentrismo se opondo ao antropocentrismo) e a falta de soluções para os problemas percebidos, impulsiona a busca de uma terceira via, qual seja o paradigma centrado na sustentabilidade, o qual irá pautar as discussões sobre o desenvolvimento sustentável, bem como as tentativas de tornar a idéia algo aplicável. Por permear as várias áreas do sistema econômico e social, a sustentabilidade vai sendo buscada nas várias etapas do processo produtivo, assim como passa a orientar as ações de parte da própria sociedade, que irá refletir isso nos seus padrões de consumo, no estilo de vida, cultura, valores e expectativas. Ou seja, há uma dinâmica recíproca entre sociedade e organização, que ao longo do tempo, constrói o desenvolvimento de todo o sistema, com a forma substantiva influenciando a forma instrumental e as conseqüências desta influenciando a forma substantiva a novas mudanças.

Neste contexto, para responder às novas expectativas, não é suficiente, para a organização, entregar à sociedade novos produtos e serviços, pautados em novas formas de acesso a recurso, novas tecnologias produtivas e menores impactos sócio-ambientais negativos. A organização começa a orientar-se por objetivos que vão além dos econômico-finaceiros e incorpora na sua cultura organizacional parte dos valores desenvolvidos pela sociedade. Neste processo desenvolve meios para alcançar os múltiplos objetivos com que se confronta, o que transparece na busca por melhorias na sua performance social corporativa, na inclusão dos stakeholders como elementos importantes para orientar o gerenciamento de suas atividades, na execução de atividades que visam materializar a preocupação da organização

177

Page 178: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

com seu entorno, com a sociedade. Pode-se dizer que estas mudanças seriam o reflexo da influência da racionalidade substantiva sobre a racionalidade instrumental, que, ao longo do tempo, vão aproximando todo o sistema de um objetivo maior, qual seja, ter um desenvolvimento mais sustentável, que permita o atendimento das necessidades das gerações contemporâneas, sem comprometer a habilidade das gerações futuras em atenderem às suas próprias necessidades.

A framework, assim como o conjunto de proposições, podem ser usados para a formulação de hipóteses e para testes em futuros estudos empíricos, visando não só o desenvolvimento de procedimento metodológico e analítico adequado, mas também o teste da sua coerência prática. Um estudo empírico requer a elaboração de uma metodologia de estudo específica a fim de abarcar o maior rol possível dos elementos imbricados no processo descrito, ficando este aspecto como a proposição de novos estudos nesta linha.

REFERÊNCIAS ALKER, Sandra; MCDONALD, Adrian. Incorporating sustainable development into redevelopment. Sustainable Development. n.11, p.171–182, 2003.

ANDRADE, Thales de. Inovação tecnológica e meio ambiente: a construção de novos enfoques. Ambiente & Sociedade. Campinas: UNICAMP/ANPPAS, 25 de abril de 2004.

ARBIX, Glauco; ZILBOVICIUS, Mauro. Por uma estratégia de civilização. In: ARBIX, Glauco; ZILBOVICIUS, Mauro; ABRAMOVAY, Ricardo. Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: Editora UNESP/EDUSP, 2001.

BANERJEE, Subhabrata Bobby. Managerial perceptions of corporate environmentalism: interpretations from industry and strategic implications for organizations. Journal of Management Studies. v.38, n.4, june, 2001.

BANSAL, Pratima. ROTH, Kendall. Why companies go green: a model of ecological responsiveness. Academy of Management Journal. v.43, n.4, aug, 2000.

BARQUERO, Antonio Vázquez. Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística, 2001.

BARROS, R. P. M.; TENÓRIO, F. G. Responsabilidade social: valor corporativo ou individual? O caso do consórcio de alumínio do Maranhão. 30º Encontro da ANPAD. 23 a 27 de setembro de 2006. Salvador, Bahia. ANPAD.

BUYSSE, Kristel; VERBEKE, Alain. Proactive environmental strategies: a stakeholder management perspective. Strategic Management Journal. v.24, n. 5, p.453-472, 2003.

CAMPOS, R. O. Planejamento e razão instrumental: uma análise da produção teórica sobre planejamento estratégico em saúde, nos anos noventa, no Brasil. Cadernos de Saúde Pública. v.16, n.3, 723-731, jul-set, 2000.

CHEN, C. CHEN, X.P.; MEINDL, J. R. How can cooperation be fostered? The cultural effects of individualism-collectivism. Academy of Management Review. v.23, n.2, apr.,1998.

CLARKSON, M. B. E. A stakeholder framework for analyzing and evaluating corporate social performance. Academy of Management Review. v.20, n.1, 1995.

DESAI, Nitin. Johannesburg and beyond making sustainable development a global reality. In: UNITED NATIONS. Global challenge global opportunity: trends in sustainable development. Disponível em <http://www.un.org>. Acesso em 14 dez. 2005.

DONALDSON, T.; PRESTON, L. E. The stakeholder theory of the corporation: concepts, evidence, and implications. The Academy of Management Review. v.20, n.1, Jan., 1995.

DOWBOR, Ladislau. Gestão social e transformação da sociedade. In: ARBIX, Glauco; ZILBOVICIUS, Mauro; ABRAMOVAY, Ricardo. Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: Editora UNESP/EDUSP, 2001.

DRISCOLL, Cathy; STARIK, Mark. The primordial stakeholder: advancing the conceptual consideration of stakeholder status for the natural environment. Journal of Business Ethics. v.49, 2004.

EGRI, Carolyn P.; PINFIELD, Lawrence T. Ecologia e meio ambiente. In: CLEGG, S.T.; NORD, W.R.; HARDY, C. Handbook de estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 2001.

178

Page 179: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

FREEMAN, R. E. Divergent stakeholder theory. The Academy of Management Review. v.24, n.2, Apr., 1999.

FREEMAN, R. E.; McVEA, J. A stakeholder approach to strategic management. Working Paper n.01-02. Social Science Research Network Paper Collection. University of Vírginia, 2001.

FROOMAN, J. Stakeholder influence strategies. The Academy of Management Review. v.24, n.2, Apr., 1999.

FSM – Fórum Social Mundial. O que é o Fórum Social Mundial? Disponível em http://www.forumsocialmundial.org.br/main.php?id_menu=19&cd_language=1. Acesso em 30 junho, 2007.

GLADWIN, Thomas N.; KENNELY, James J.; KRAUSE, Tara-Shelomith. Shifting paradigms for sustainable development: implications for management theory and research. The Academy of Management Review. v. 20, n. 4, 874-907, 1995.

GUERREIRO RAMOS, A. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. 2.ed. Rio de Janeiro: FGV, 1989.

HAIGH, M.; JONES, M.T. The drivers of corporate social responsibility: a critical review. The Business Review. v.5, n.2, 2006.

HARRISON, J. S.; FREEMAN, R. E. Stakeholders, social responsibility, and performance: empirical evidence and theoretical perspectives. Academy of Management Journal. v.42, n.5, Oct., 1999.

HART, Stuart L. A natural resource based view of the firm. The Academy of Management Review. v. 20, n. 4, 986-1014, 1995.

HELLSTEN, S.; MALLIN, C. Are ethical or socially responsible investments socially responsible? Journal of Business Ethics. v.66, 2006.

HILLMAN, A.J.; KEIM, G. D. Shareholder value, stakeholder management, and social issues: what’s de bottom line? Strategic Management Journal. v.22, n.2, Feb., 2001.

Hoff, D.N. A construção do desenvolvimento sustentável através das relações entre as organizações e seus stakeholders : a proposição de uma estrutura analítica. 2008. 426 f. Tese (Doutorado em Agronegócios) – Programa de Pós-Graduação em Agronegócios, Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

HOFFMANN, Andrew J. From heresy to dogma: an institutional history of corporate environmentalism. Stanford: Stanford University Press, 2001.

HOPWOOD, Bill; MELLOR, Mary; O’BRIEN, Geoff. Sustainable development: mapping different approaches. Sustainable Development. v.13, n.1, 38-52, 2005.

IYER-RANIGA, Usha; TRELOAR, Graham. A context for participation in sustainable development. Environmental Management. v. 26, n. 4, 2000, p. 349–361.

JAWAHAR, I. M.; MCLAUGHLIN, G. L. Toward a descriptive stakeholder theory: an organizational life cycle approach. The Academy of Management Review. v.26, n.3, Jul., 2001.

JENNINGS, P. Devereaux.; ZANDBERGEN, Paul. A. Ecolocigally sustainable organizations: an institucional approach. The Academy of Management Review. v. 20, n. 4, 1015-1052, 1995.

JONES, T. M.; WICKS, A. C. Convergent stakeholder theory. The Academy of Management Review. v.24, n.2, Apr., 1999.

LAZONICK, William. The political economy of sustainable development. In: FORRANT, Robert; PYLE, Jean; LAZONICK, William; LEVENSTEIN, Charles. Approaches to sustainable development. Massachusetts: University of Massachusetts Press, 2001.

MARTINET, Alain-Charles et REYNAUD, Emmanuelle. Stratégies d’Entreprise et Écologie. Paris: Econômica, 2004, 165p.

McGUIRE, J.; DOW, S.; ARGHEYD, K. CEO incentives and corporate social performance. Journal of Business Ethics. v.45, 2003.

McWILLIAMS, A.; SIEGEL, D. Corporate social responsibility: a theory of the firm perspective. Academy of Management Review. v.26, n.1, 2001.

MEBRATU, Desta. Sustainability and sustainable development: historical and conceptual review. Environ Impact Asses Rev. n.18, p.493–520, 1998.

179

Page 180: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

MITCHELL, R.K.; AGLE, B.R.; WOOD, D.J. Toward a theory of stakeholder identification and salience: definingo the principle of who e what really counts. The Academy of Management Review. v.22, n.4, Oct., 1997.

MUNASINGHE, Mohan. The sustainomics trans-disciplinary meta-framework for making development more sustainable: applications to energy issues. Journal of Sustainable Development. v.5, n.1/2, 2002.

OECD – Organization for Economic Co-operation and Development. Sustainable development: critical issues. Paris: OECD Publications, 2001.

ONU. Ecossistemas e o bem-estar humano: estrutura para uma avaliação. Washington: World Resources Institute, 2003.

PURSER, Ronald E.; PARK, Changkil; MONTUORI, Alfonso. Limits to anthropocentrism: toward an ecocentric organization paradigm? The Academy of Management Review. v. 20, n. 4, 1053-1089, 1995.

ROBINSON, John. Squaring the circle? Some thoughts on the idea of sustainable development. Ecological Economics. n.48, p. 369– 384, 2004.

ROWLEY, T. J. Moving beyond dyadic ties: a network theory of stakeholder influences. The Academy of Management Review. v.22, n.4, Oct., 1997.

SACHS, Ignacy. Repensando o crescimento econômico e o progresso social: o âmbito da política. In: ARBIX, Glauco; ZILBOVICIUS, Mauro; ABRAMOVAY, Ricardo. Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: Editora UNESP / EDUSP, 2001.

SCOTT, S.G.; LANE, V.R. A stakeholder approach to organizational identity. The Academy of Management Review. v.25, n.1, Apr., 2000.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SERVA, M. O fenômeno das organizações substantivas. Revista de Administração de Empresas – RAE. v.33, n.2, p.36-43, mar-abr, 1993.

SERVA, M. Racionalidade e organizações: o fenômeno das organizações substantivas. 1996. 316 f. Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas, Escola de Administração de Empresas, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1996.

SERVA, M. A racionalidade substantiva demonstrada na prática administrativa. Revista de Administração de Empresas – RAE. v.37, n.2, p.18-30, abr-jun, 1997.

SERVA, M. Abordagem substantiva e ação comunicativa: uma complementaridade proveitosa para a teoria das organizações. Revista de Administração Púbica – RAP. v.31, n.2, p.108-134, mar-abr, 1997a.

SHARMA, Sanjay; VREDENBURG, Harrie. Proactive corporate environmental strategy and the development of competitively valuable organizational capabilities. Strategic Management Journal. v.19, n.8, 729-753, 1998.

SHRIVASTAVA, P. Industrial / environmental crises and corporate social responsibility. The Journal of Socio-Economics. v.24, n.1, 1995.

SHRIVASTAVA, Paul. Ecocentric management for a risk society. The Academy of Management Review. v. 20, n. 4, 118-137, 1995a.

STARIK, Mark; RANDS, Gordon. Weaving an integrated web: multilevel and multisystem perspectives of ecologically sustainable organizations. The Academy of Management Review. v. 20, n. 4, 908-935, 1995.

STEURER, R.; LANGER, M.E.; KONRAD, A.. MARTINUZZI, A. Corporations, stakeholders and sustainable development I : a theoretical exploration of business-society relations. Journal of Business Ethics. n.61, p.263-281, 2005.

SUNKEL, Osvaldo. A sustentabilidade do desenvolvimento atual na América Latina. In: ARBIX, Glauco; ZILBOVICIUS, Mauro; ABRAMOVAY, Ricardo. Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: Editora UNESP/EDUSP, 2001.

SWANSON, D. L. Toward an integrative theory of business and society: a research strategy for corporate social performance. Academy of Management Review. v.24, n.3, 1999.

WARTICK, S.L.; COCHRAN, P. L. The evolution of the corporate social performance model. Academy of Management Review. v.10, n.4, 1985.

WCED – World Commission on Environment and Development. Our common future. Oxford: Oxford

180

Page 181: Revista INGEPRO - Junho/2009

Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS

University Press, 1987.

WDR – World Development Report 2003: sustainable development in a dynamic world: transforming institutions, growth, and quality of life (overview). Washington: World Bank, 2003.

WEAVER, G. R.; TREVIÑO, L. K.; COCHRAN, P. L. Integrated and decoupled corporate social performance: management commitments, external pressures, and corporate ethics practices. Academy of Management Journal. v.42, n.5, 1999.

WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. 4.ed. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999.

WEF – World Economic Forum. History and achievements. Disponível em http://www.weforum.org/en/about/History%20and%20Achievements/index.htm. Acesso em 30 junho, 2007.

WOOD, D.J. Corporate social performance revisited. Academy of Management Review. v.16, n.4, 1991.

181

Page 182: Revista INGEPRO - Junho/2009
Page 183: Revista INGEPRO - Junho/2009
Page 184: Revista INGEPRO - Junho/2009