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Revista Inbox | Centro Universitário Metodista IPA Ano 9 | #09 | 2014.1 50 anos do golpe página 3 O Brasil acordou. Mas parou para pensar? página 7 Crack: a droga que devasta a sociedade brasileira página 11 Foto: Félix Zucco

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# Ano 9, edição 9, julho de 2014. A Revista Inbox é fruto do trabalho desenvolvido pelos alunos das disciplinas Projeto Experimental II e Planejamento e Produção Gráfica e Editorial II, do 2º semestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista, do IPA. Durante quatro meses, conforme as propostas das disciplinas, os estudantes tiveram de pensar em como seria a revista, a que público se destinaria, as pautas, entre tantos outros aspectos necessários para a viabilização do projeto. A partir das inúmeras tomadas de decisão a que foram expostos, passaram a produzir, redigir e diagramar as matérias e reportagens elencadas para fazer parte da primeira edição desta publicação. O resultado pode ser conferido nas páginas a seguir. Boa leitura

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Revista Inbox | Centro Universitário Metodista IPA Ano 9 | #09 | 2014.1

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O Brasil acordou.Mas parou para pensar? página 7

Crack: a droga que devastaa sociedade brasileira

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IPA - INSTITUTO PORTOALEGRE DA IGREJA METODISTA

Conselho Superior de Administração - Consad

presidente

Stanley da Silva Moraes

vice-presidente

Nelson Custódio Fér

secretário

Nelson Custódio Fér

vogais

Paulo Roberto Lima Bruhn, Augusto Campos de Rezende, Aureo Lidio Moreira Ribeiro, Kátia Santos, Marcos Sptizer, Ademir Aires Clavel e Oscar Francisco Alves

suplentes

Regina Magna Araujo e Valdecir Barreros

diretor superintendente do cogeime

Wilson Zuccherato

Centro Universitário Metodista IPA

reitor

Roberto Pontes da Fonseca

Revista elaborada pelos estudantes do2º semestre do curso de Jornalismo IPA

coordenador de curso

Fábio Berti

professsores(as)Letícia Carlan Maria Lúcia Melão

diagramação

Turma do 2º semestre noturno do curso de Jornalismo IPA

revisão

Letícia Carlan Maria Lúcia Melão

criação de capa

Carlos Tiburski

AJor - Agência Experimental de Jornalismo IPA

supervisora da ajor

Profa. Lisete Ghiggi

arte-final

Carlos Tiburski

contato

Rua Dr. Lauro de Oliveira, 71 - Rio Branco - POA/RS51 3316.1269 | [email protected]

impressão

Gráfica Odisséia (1.000 exemplares)

Esta revista foi impressa em papel Reciclato como parte do programa de consumo consciente dos recursos naturais e colabora, assim, com a redução dos danos ambientais.

SumárioPOLÍTICA | 50 anos do golpe ................................................................................................................................................. 3

MATÉRIA ESPECIAL | Gigante pela própria natureza? .................................................... 6

MATÉRIA ESPECIAL | O Brasil acordou. Mas parou para pensar? ............ 7

MUNDO | Conflito na Crimeia ................................................................................................................................................. 8

ECONOMIA | Boom imobiliário ...................................................................................................................................... 10

EDUCAÇÃO | Crack: a droga que devasta a sociedade brasileira .......... 11

QUALIDADE DE VIDA | Acessibilidade acima de tudo ................................................ 12

ESPORTE | A história de um esporte que cresce cada vez mais no Brasil: o stand up paddle ................................................................. 13

CULTURA | Outro palco, outra rua .......................................................................................................................... 14

Editorial

A Revista Inbox é fruto do trabalho de-senvolvido pelos alunos das disciplinas

Projeto Experimental II e Planejamento e Produção Gráfica e Editorial II, do 2º se-mestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista, do IPA. Durante quatro meses, conforme as propostas das disciplinas, os estudantes tiveram de pensar em como seria a revista, a que público se destinaria, as pautas, entre tantos outros aspectos necessários para a viabilização do projeto. A partir das inúmeras tomadas de decisão a que foram expostos, passaram a produzir, redigir e diagramar as matérias e reportagens elencadas para fazer parte da primeira edição desta publicação. O re-sultado pode ser conferido nas páginas a seguir. Em 50 Anos do Golpe, Filipe Chagas, Mariane Soares e Rafael Brito falam sobre esse fato histórico. Na matéria especial, os legados da Copa de 2014 são abordados em Gigante pela própria natureza?, de Carol

Vanzella, Laura Blessmann e Tatiane Mou-ra, e O gigante acordou. Mas parou para pensar?, de Wendell Ferreira e Taffarel Ma-rinho. Na editoria Mundo, Lucas Marsiglia e João Vicente Linck falam sobre O conflito na Crimeia. Everton Calbar Júnior e Roberto Nunes analisam, na editoria de economia, o Boom Imobiliário. A difícil recuperação dos dependentes de crack é o tema de A droga que devasta a sociedade, de Cindy Calistro e Suellen Santos. Luigi Bitencourt e Graziella Silva destacam a qualidade de vida, em especial da 3ª idade, em Acessibili-dade acima de tudo. Na editoria de esporte, Álvaro Oliveira e Willian Baldon abordam A história de um esporte que cresce cada vez mais no Brasil: o stand up paddle. Em As Manifestações culturais de rua, Roberto Salatino e Rubem Rocha Leal destacam o trabalho de artistas que têm como palco as vias públicas.

Boa leitura!

Letícia CarlanMaria Lúcia Melão

Porto Alegre, julho de 2014

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Em 2014, completa-se mais um ano de um episódio determinante da história recente do país. Mesmo passados 50 anos do fato, muitas informações e documentos são descobertos e o registro desse episódio continua a ser escrito. Há uma ampla discussão sobre quem orquestrou e motivou o golpe: apenas um golpe militar, golpe civil-militar, empresarial-militar, mídia-militar, entre outros. É bem verdade que todos os historiadores não excluem a sociedade, mas há uma indefinição sobre o tamanho de sua participação. O que não se pode esconder é a contribuição efetiva de três fatores cruciais para o golpe de 64: o fator político, a perspectiva econômica e a influência da mídia.

50anos dogolpeCercear a liberdade do Brasil

FILIPE CHAGAS, MARIANE SOARESRAFAEL BRITO

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O ano era 1961 e João Goulart assu-mia como vice-presidente de Jânio

Quadros. No passado político, Jango ha-via sido ministro do trabalho no governo de Getúlio Vargas. O político dialogava com sindicalistas e assumia compromis-sos com a porção trabalhadora da socie-dade. As ações dele naquele governo não seriam esquecidas pelos conservadores que o depuseram posteriormente.

O Congresso Nacional inicia a primei-ra ação contra Jango, ao tentar impedi-lo de assumir a presidência da República, como previa a Constituição, após a re-núncia de Jânio. Entretanto, Jango tinha aliados. Leonel Brizola defendeu com unhas e dentes a posse do seu cunhado. O então governador do Rio Grande do Sul desencadeou a Campanha da Legalidade para defender o cumprimento da Cons-tituição. As ações do movimento, soma-do ao apoio popular, fizeram com que o Congresso mudasse de posicionamento.

Assim, os congressistas decidem que Jango vai assumir, mas com menos po-deres. Para que isso acontecesse, mudam o regime político brasileiro, que passa a ser parlamentarista, isto é, existe um primeiro-ministro que governa de fato. João Goulart assume a presidência no dia sete de setembro de 1961 e fica co-mo coadjuvante por dois anos, até que um plebiscito decide pelo retorno do presidencialismo, o que fez com que ele

realmente comandasse o país.Em seu governo, Jango lutava pelas

reformas de bases, entre elas a reforma agrária e a inclusão social dos menos fa-vorecidos. Seu discurso inflamado a favor da classe trabalhista deixava as mais di-versas camadas da sociedade, incluindo lideranças militares, preocupadas com o futuro do Brasil. Mas de onde vinha esse medo paranóico? O mundo fervia com a Guerra Fria. Os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS) disputavam a hegemonia política mundial. Revoluções aconteciam. E com o exemplo de Cuba, em 1953, os EUA temiam uma invasão comunista no Brasil. Isso porque o pre-sidente Jango parecia simpatizar com o movimento, pois era tolerante com as greves trabalhistas e estava promoven-do reformas. Foi a partir desse temor que os americanos estreitaram relações com os militares. Além disso, a classe média começava a construir uma desconfiança quanto às ideologias do presidente.

A campanha contra o governo iniciou com as propagandas anticomunistas, como filmes, folhetos e programas de rádio, que começaram a circular e que contavam com o apoio do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPÊN) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrá-tica (ABAD). Tanto que, dias depois do famoso discurso do presidente no comí-cio da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, no qual compareceram 200 mil pessoas, as lideranças conservadoras e católicas organizaram um movimento de oposição. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade reuniu um grande número de pessoas e o apoio popular re-acendeu as expectativas militares.

Com o clima de conspiração e des-confiança instalada desde o governo anterior, Jango necessitava de prudência política, mas escolheu o caminho inver-so, ao discursar na festa dos sargentos, em 1964, no Automóvel Club do Rio de Janeiro. O jornalista Flávio Tavares, no livro 1964 O Golpe, lembra fragmentos da fala de Jango, que acusava a “minoria de privilegiados” pela crise no país. Além disso, ressaltava que a democracia era necessária para a integração de brasilei-ros que estariam, até então, na “penúria e ignorância”, concluindo que as forças que “causaram o suicídio do grande e imor-tal presidente Vargas” seriam as mesmas que “se unem contra as reformas exigidas pelo povo”.

Naquele momento, diversas lideran-

ças já anunciavam publicamente apoio à intervenção. Enquanto as tropas do ge-neral Olympio Mourão Filho saíam de-terminadas de Minas Gerais e os Estados Unidos deixavam à disposição um apara-to de guerra para enviar ao Brasil, caso necessário, Jango viajava para Brasília, onde ficou sabendo que havia perdido o suporte do comandante do II Exército, general Amaury Kruel. Descobriu que só estaria em território seguro no Rio Gran-de do Sul, pois ainda contava com o apoio do III Exército. Viajou para Porto Alegre em 1º de abril de 1964, mesmo dia em que Auro de Moura, presidente do sena-do na época, declara vaga a presidência da República. Iniciava, assim, um perío-do obscuro no país, que durou 21 anos.

A mídia sempre ao lado do mais forte

Salvar o país do comunismo e garan-tir a democracia. Essa é a visão militar para o golpe e é nesse contexto, como forte aliada, que entra a mídia. A partir disso, procura-se explicar qual foi o seu papel no episódio e o grau de participa-ção efetiva dos veículos de comunicação nessa cicatriz da história do Brasil.

Moderadores defendem a neutrali-dade da mídia com um comportamento conservador e papel único de contar a história dos fatos. Em outro ponto, per-cebemos a participação ativa de grandes jornais em um apoio ao golpe. Diversos veículos de imprensa marcaram em seus editoriais, em 64, publicações a favor do golpe: “Salvos da comunização que ce-

A mídia comemorou a “fuga” de Jango

João Goulart, durante discurso em cena do documentário O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares

João Goulart recebido em Washington por John Kennedy - Abril 1963

Fotos: Divulgação

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leremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos. Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores cons-cientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais”. O Globo, 2 de abril de 1964.

Para alguns jornalistas e veículos, o apoio ao golpe foi uma forma de arran-car o Brasil de um atraso imenso perante os países desenvolvidos. Porém, a partir de informações documentadas, nota-se uma ativa participação da mídia na der-rubada do presidente João Gourlat: “Fu-giu Goulart e a democracia está sendo restaurada” O Globo, 2 de abril de 1964. Além disso, dito como potencial ditador comunista, João Goulart era associado pela mídia à palavra golpe e ações anti--jango foram ministradas com maestria. A mídia, em seu tocante, veiculou por to-do território nacional seus impropérios contra o então presidente brasileiro e, após algumas semanas, obtive sucesso e o apoio da população. A deposição do presidente encontrou eco entre intelec-tuais, artistas e movimentos e não foi diferente na mídia. Assim, a imprensa tornou-se um dos pilares civis do golpe e apoiou a intervenção em suas editorias.

Um passo fundamental para a ins-tauração do processo ditatorial no Brasil foi uma campanha ideológica produzida pelo GOP. Formado por importantes jor-nalistas e publicitários, publicaram todo tipo de informação a serviço do golpe em diferentes jornais. A fim de exempli-ficar essa participação, René A. Dreifuss* aponta com autoridade veículos que ti-veram um relacionamento com a instau-ração do golpe, entre outros cita: Correio do Povo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Globo, Record, Tribuna de Imprensa. (*Tese de doutorado René A. Dreifuss defendida no Institute of Latin American Studies da University of Glas-gow, na Escócia, em 1980 e publicada pela Editora Vozes sob o título “1964: A Conquista do Estado” - 7ª. edição, 2008)

Em alguns casos, existe uma defi-nição pouco debatida sobre o papel da mídia, mas muitos convergem quando apontam sua participação sempre do lado mais forte. Como uma criança que precisa ser aceita em um grupo: apoia--se em quem está ganhando, mas pode trocar de lado quando percebe que seu grupo está perdendo.

O golpe não é uma atitude isolada dos militares. Enquanto alguns discutem e corroboram sobre a participação do governo americano, e ainda especulam sobre os motivos de um lúdico interes-se comercial, o que se pode afirmar sem receios é participação de empresários e da mídia no pontapé inicial da ditadura.

Entretanto, a postura favorável ao golpe, e que acreditou por longo tem-po no regime militar como melhor opção, não perduraria até o fim. A maioria da imprensa reviu sua posição, percebeu que o regime havia se tornado ditatorial e que acabou cerceando a liberdade de expressão. Principalmente a partir de de-zembro de 68, quando foi promulgado o Ato Inconstitucional nº 5 (AI-5), momento quando a censura, a perseguição política e a tortura atingiram o auge no Brasil.

O modelo econômico na ditadura militar

Ao assumir a presidência do Brasil, em 7 de setembro de 1961, João Gou-lart se viu no meio de uma grande cri-se política e de um quadro econômico desgastado, com índices inflacionários crescentes. O desafio, então, seria a im-plantação de medidas energéticas para combater esses problemas. Foram reali-zados investimentos em programas vol-tados à telecomunicação, à construção de estradas, à ampliação do sistema de geração e distribuição de energia elétri-ca, além do incentivo a investimentos estrangeiros, sendo os Estados Unidos o maior parceiro.

Apesar de todos os programas e pro-

postas para reerguer a economia, a infla-ção continuou crescendo, passando de 34,7%, em 1961, para 50,1%, em 1962, sendo que chegou a um índice muito alto em 1963: 78,4%. Durante esse caos da economia, acontece o Golpe de 1964. O general Humberto Castelo Branco, que assumiu a presidência da república, pro-move a implementação do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), para tentar conter a inflação. Os índices co-meçaram a cair, chegando a 19,31% em 1970. Até 1973, o crescimento econômico foi visível, com o Produto Interno Bruto, PIB, elevado. Foi um período conhecido com a Era do Milagre Econômico.

O “Milagre Econômico” e suas consequências

A era do Milagre Econômico teve vida curta, pois a dívida externa começou a pesar, tornando-se a maior vilã. Para fi-nanciar o crescimento acelerado dos anos anteriores, o governo militar havia feito empréstimos no mercado internacional, fazendo com que a dívida explodisse. Em 6 anos, ela simplesmente quadruplicou - de US$ 3,7 bilhões, em 1968, passou a US$ 12,5 bilhões, em 1973. Estava ins-taurada uma crise econômica por conta dessa dívida, que acabou refletindo nas conquistas obtidas nos anos anteriores: o crédito farto secou e a inflação disparou, chegando perto dos 100% ao ano no final da década de 1970.

Outro problema da época do Milagre Econômico foi o crescimento do êxodo rural, consequência da má distribuição de terras e também pelas oportunidades de trabalho que, aparentemente, surgi-ram nas grandes cidades. Só que a reali-dade era outra, pois não havia vaga para todos os migrantes, uma vez que os gran-des beneficiados pelo milagre foram os que detinham maior poder econômico. Assim, o Milagre Econômico promoveu o aumento da desigualdade, proporcio-nou o crescimento do número de favelas e dos problemas de saneamento básico.

No início dos anos 1980, a inflação voltou a crescer – chegou a 235,11% em 1985 - e a dívida externa atingiu US$ 100 bilhões. Foi uma época de economia de-sorganizada, com os preços sendo remar-cados dia a dia, com o desemprego em alta, com estagnação do crescimento. O crescimento cada dia maior dos proble-mas econômicos no país ajudaram para o fim da Ditadura Militar.

Slogan criado durante o mandato Médici, explorando o que seria o sucesso econômico durante a Ditadura, com seu “Milagre Econômico“

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Uma das questões mais discutidas sobre a Copa do Mundo é o legado que o even-

to deixa aos brasileiros. A expectativa inicial, prevista pelo Governo Federal, envolve me-lhorias em hospitais, transportes públicos e privados e na economia em geral. O Brasil teve sete anos para se preparar e a pergunta, desde o início, sempre foi a mesma: o que realmente fica como legado?

Ao passar os olhos por hospitais das ci-dades–sede, o legado não aparece. As estru-turas hospitalares não foram preparadas para receber os turistas, ccontinuando a falta de leitos, medicamentos e profissionais.

No âmbito do transporte, público e priva-do, as sedes iniciaram as obras para a melhoria do trânsito - e só iniciaram. Esse é um dos maiores legados, mas boa parte das propostas não foi conclu-ída a tempo. A Secretaria Municipal de Obras Viárias de Porto Alegre (Smov), por exemplo, anunciou que, das 14 obras pre-vistas, apenas duas foram finalizadas para o Mundial. No entan-to, todas saíram do pa-pel, tornando a vida da população um caos e transformando a

cidade em um canteiro de obras - inacaba-das. A promessa de melhoria do tráfego, assim que as mudanças estiverem prontas, deixa a população aliviada.

É a visita de milhares de estrangeiros que traz o maior legado. Com base nos dados da página oficial do Governo do Estado do Pa-raná, a expectativa é que o Brasil receba em torno de 600 mil a 1 milhão de visitantes e cerca de 3 milhões de turistas brasileiros que viajam entre as sedes, aumentando o consu-mo do comércio e elevando os números da economia. Isso aconteceu - nas proporções da época - na Copa de 1950, quando Porto Alegre recebeu dois jogos do campeonato mundial, no Estádio dos Eucaliptos.

Claudio Dienstmann, jornalista especialis-ta em Copas, lembra que o even-

to trouxe muitos turistas para a cidade naquela época.

- Se, com dois jo-gos na Copa de 1950 já tivemos um bom

número de turistas, em 2014, com cinco

jogos, a expectativa é que possamos receber

um grande número de visitantes, afirma o espe-

cialista.Dienstmann

faz uma comparação entre as duas copas e enfatiza que, de parecido, só os atrasos na en-trega dos estádios, que, apesar de já serem a marca desta Copa, também aconteceram em 1950. Outro ponto a destacar é a proporção entre as duas, sobre isso, o jornalista sintetiza:

- A Copa de 2014 é muito maior que a primeira. Em 1950, a Copa não era nem de longe o megaevento que é hoje. O número de cidades-sede, por exemplo, foi limitado a seis: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. Em 2014, os estádios brasileiros são palco para 64 jogos, de 32 seleções, divididas em 8 grupos. Em 1950, os números eram todos menores: 22 jogos, 13 seleções, 4 grupos.

A expectativa é que esse evento deixe muitas conquistas. Mas o que realmente fica é a troca de cultura entre os povos, a vivência, as diferentes visões de mundo, a troca de expe-riências. O jeito diferente de viver e conviver dos povos faz com que a Copa do Mundo seja fascinante. As culturas se misturam e fi-ca para o povo brasileiro o aprendizado da valorização do país. A Copa do Mundo é a aglomeração de pessoas de diferentes tribos se unindo por uma única paixão, ver a bola rolando. Nenhum legado é maior do que as lições humanas, o aprendizado de saber con-viver com o outro, resgatando a valorização da sociedade.

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As culturas se misturam e fica

para o povo brasileiro o

aprendizado da valorização

do país”

Gigante pela própria natureza?Em ano de COPA, de obras e eleições, o LEGADO é a preocupação do BRASIL CAROLINE VANZELLALAURA BLESSMANNTATIANE MOURA

Foto: Caroline Vanzella

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O Brasil acordou.Mas parou para pensar?O país ganha com o MUNDIAL, mas os VALORES poderiam ser maiores

O estádio Beira-Rio recebe cinco jogos da Copa do Mundo no Brasil

WENDELL FERREIRATAFFAREL MARINHO

Calcula-se quantas escolas, hospitais, cre-ches e melhorias poderiam ser tocadas

com o dinheiro investido para sediar a Copa do Mundo. Mas a realização do Mundial traz uma expectativa diferente: os valores gerados por conta da realização do torneio em territó-rio brasileiro superam os gastos previstos na Matriz de Responsabilidades , o documento que lista as obras realizadas para permitir a organização da Copa. Os benefícios, a médio e a longo prazos, só não são maiores por conta da impressão ruim que os próprios brasileiros passaram do país, na visão de Rafael Freitas Barbosa, coordenador do curso de Adminis-tração de Empresas do IPA. Em vez de atin-gir um crescimento nos investimentos em necessidades básicas, os protestos - tardios, pois os gastos já estavam feitos - espantaram turistas e os seus dólares e euros do Brasil.

- O país teria condições de fazer uma boa Copa, mas não soube fazer, politizou todas as discussões. Houve um uso populista da orga-

nização. A Copa aconteceu e os benefícios seriam a longo prazo, mas não se percebeu isso, analisa Barbosa.

Pela projeção da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), serão injetados R$ 30 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, valor superior aos R$ 25,6 bilhões investidos. O número não se concentra ape-nas nas 12 cidades-sede. Com base na análi-se feita sobre a Copa das Confederações, de 2013, 58% do valor arrecadado ficaram nos municípios que receberam jogos, mas o res-tante acaba distribuído pelo resto do Brasil.

Se tivesse sido feita uma articulação, os ganhos seriam maiores. Mas muitos turistas deixaram de vir ao Brasil, porque o país não soube vender a própria imagem. Não soube-ram trabalhar o envolvimento das pessoas com a Copa - completa Rafael.

O custo da construção dos estádios, ava-liado em R$ 8,9 bilhões, partiu de arrecadação suficiente para equilibrar as contas antes mes-mo da Copa do Mundo. Na Copa das Con-federações, o país teve um incremento de R$ 9,7 bilhões na economia, valor que cobre

os custos das obras nos palcos dos 64 jogos.No Rio Grande do Sul, no entanto, os nú-

meros não são tão atraentes. O investimento chegou a R$ 569,9 milhões, contra um cres-cimento esperado em R$ 503,6 milhões no PIB estadual. São Paulo e Rio de Janeiro ficam com os maiores ganhos e as grandes opor-tunidades de geração de emprego. Ao Rio Grande restaram 7,5 mil oportunidades de trabalho direto e 4,9 mil indireto, muitos deles temporários e terminam junto com o apito final da última partida na cidade.

O principal questionamento sobre a eco-nomia da Copa não está exatamente no que o Brasil arrecadou, mas no que deixou de em-bolsar. A Fifa exige do país isenção total de impostos para realizar um Mundial. Baseada na Suíça, também tem poucos compromissos tributários na Europa. Com isso, vê no lucro bruto uma liquidez que salta aos olhos. E a arrecadação prevista pela entidade chega a R$ 10 bilhões no Mundial do Brasil , muito mais do que conseguiu nos torneios passados, na Alemanha (R$ 5,07 bilhões) e África do Sul (R$ 7,93 bilhões).

Foto: João Link/ Divulgação Internacional

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Após a desanexação dos países da União Soviética, a região do leste europeu tem passado por diversos conflitos locais. Além de estar no “olho do furacão”, a região divide Rússia e Oriente do Ocidente e União Europeia. Um desses entraves ganhou grandes proporções e holofotes no começo deste ano: o conflito na Crimeia.

Interesses políticos de grandes potências ge-raram o estopim de uma barbárie. O cenário

atual começou a saltar aos olhos quando o então presidente da Ucrânia, Victor Yanukovi-ch, recusou-se a assinar um acordo de apro-ximação com a União Europeia (UE), dando preferência à uma aproximação com a Rússia, pois o governo de Putin oferecera um aporte financeiro de 15 bilhões de dólares ao país, além da redução do preço do gás natural. A atitude de Yanukovich, de fortes laços com a

Rússia, provocou a ira de manifestantes pró--ocidente. Prédios públicos foram dominados e um acampamento montado no centro de Kiev, capital da Ucrânia. Uma mera amostra do que estava por vir.

Mesmo com o governo ucraniano re-cebendo o apoio do Kremlin, que entoava um discurso de tentativa de golpe por parte dos pró-ocidentais, a retaliação não poderia ter sido pior. Em meio à tentativa de frear as manifestações, cenas de uma verdadeira batalha campal ganharam o mundo. O ápi-ce do conflito foram os atiradores de elite atingindo civis no centro de Kiev. O saldo: cerca de 100 mortos, a fuga de Yanukovich durante a madrugada e um governo interi-no de inclinação com o ocidente, que rege o país desde então.

Entrave ideológico

Não é de hoje que o local vive sob tensão.

Desde a independência da União Soviética, em 1991, parte da Ucrânia começou a vis-lumbrar uma nova direção. Os exemplos de países como Polônia e Hungria, bem como antigos estados da velha potência, contribu-íram para um movimento de desapego ao Oriente e, assim, uma chance de aproximação com o Ocidente. Mas não há uma unanimi-dade no país quanto a essa ideia. Existe um verdadeiro cabo de guerra ideológico entre culturas que divergem, veementemente, em dois lados do país.

De um lado está a parte mais jovem, que vive principalmente no oeste e de onde partiu este movimento de aproximação com a União Europeia. De outro, a parte sul e oriental, mais próxima da Rússia, onde, inclusive, o idioma predominante é o russo, não o ucraniano. Re-gião na qual fica a Crimeia e onde qualquer morador com mais de 60 anos tem certidão de nascimento russa, fala russo, e foi criado como tal.

Conflito na CrimeiaGetty Images

LUCAS MARSIGLIAJOÃO VICENTE LINCK

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Crédito infográfico: UOL

É pouco provável que se desencadeie uma briga maior, envolvendo Rússia e Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que represen-taria as potências ocidentais. Segundo a diploma-ta Helena Lobato da Jornada, o mais provável é observarmos o aumento de movimentos naciona-listas e de ações terroristas na região. Os países estão cientes das graves consequências de embar-car em um conflito aberto e farão de tudo para defender suas posições, abstendo-se do uso con-

vencional da força. A principal mudança deve acontecer nas finanças.

As tensões entre Rússia e EUA causaram im-pactos diversos na economia, como oscilações no mercado financeiro e nos preços de energia. Os im-pactos econômicos entre Rússia e UE, no entanto, podem ter consequências graves, especialmente no que tange ao mercado de combustíveis, uma vez que a Rússia é grande fornecedora de gás para os países europeus. Isso pode levar a uma busca

europeia por novas fontes energéticas e alterando a geopolítica da região.

Com o referendo da Crimeia, que resultou no controle absoluto desse território por seus cidadãos. As autoridades da Crimeia estão ten-tando proteger a produção de petróleo e gás nos mares negros e azov, do governo da ucrâ-nia. O parlamento da península gostaria que companhias russas do setor, como a Gazprom, explorassem os recursos naturais da região.

Região estratégica

Não por acaso, a Crimeia está localizada na costa norte do Mar Negro e é sede de uma das mais importantes frotas da marinha Rus-sa. A península vem sendo alvo da investida de diferentes reinos, impérios e etnias desde 700 AC. Gregos, Romanos, Bizantinos, Turcos

Otomanos e Nazistas, por algum espaço de tempo, já dominaram a pequena região. Por volta de 1954, a região foi cedida para a Ucrâ-nia por Nikita Krushev, sucessor do ditador Stalin. Desde a desanexação dos países da União Soviética, a Rússia busca reafirmar sua influência naquela área, que poderia ficar en-fraquecida com uma maior aproximação da

Ucrânia com a União Europeia. - A Rússia também deixou claro que não

assistirá inerte à expansão da União Euro-peia para o leste e que ainda é capaz de mobilizar pessoal e força para atingir seus objetivos políticos, afirma Helena Lobato da Jornada, diplomata brasileira servindo em Viena, na Áustria.

Impacto na economia

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Aumento de preco dos imóveis impulsionou asconstrutoras a explorarem o mercado imobiliário

Roberto Nunes

EVETON CALBAR JUNIORROBERTO NUNES

Crise financeira norte-americana de 2008 reflete e muda o ritmo da atividade imobiliária do Brasil, com elevação dos preços.

Há seis anos, as principais economias mun-diais tremiam, causando uma situação

adversa que não acontecia desde a Grande Depressão, em 1929, nos Estados Unidos. Em 15 de setembro de 2008, veio a falência do tradicional banco de investimentos Lehman Brothers, através da recusa do Federal Reserve (Fed, Banco Central Americano) em socorrer a instituição. O impacto causado pela falência do banco foi grande. Houve um congelamen-to radical de liquidez no mercado bancário mundial, uma vez que a inadimplência dos empréstimos imobiliários Ninja (crédito con-cedido a pessoas que não podem comprovar a renda, nem o emprego e nem a proprie-dade de ativos) já vinha ocorrendo antes do evento do Lehman, e acabou refletindo no público que recebeu subprime (crédito de risco) de forma abundante. O resultado foi a perda dos imóveis adquiridos por essas pes-soas, pois não possuíam recursos para quitar as suas dívidas.

Uma explosão global é como pode ser descrito o colapso da bolha especulativa do mercado imobiliário americano. A crise, como uma epidemia, se espelhou pelo mundo em poucos meses. O impacto sofrido pelos países desenvolvidos foi grande, principalmente no que diz respeito à produção industrial, que teve uma perda significativa, apresentando, em alguns casos, uma queda de dez pontos base (0,10 pontos percentuais) em relação ao último trimestre de 2007.

Boom mobiliário

Os países em desenvolvimento, que não possuíam problemas em seus sistemas financeiros, como no caso do Brasil, também não ficaram imunes à crise. Registraram uma forte queda na sua produção industrial e no Produto Interno Bruto (PIB). Com o impacto que a crise causou, os preços dos imóveis no Brasil acabaram subindo de forma acentua-da. Alguns analistas econômicos chegaram a decretar que o país seguiria o mesmo ca-minho dos norte-americanos em questão de pouco tempo.

Uma pesquisa realizada pelo índice Fi-peZAP registrou que os imóveis mais que dobraram os preços no Rio de Janeiro e em São Paulo nos últimos seis anos, conseguin-do uma estabilização nos preços somente no início de 2014.

Com exceção apenas do caso peculiar do Rio de Janeiro (Copa do Mundo, Olimpíadas), não há evidências que apontem para uma queda acentuada futura do preço dos imóveis

no Brasil. Aliás, o que já está ocorrendo em São Paulo e Porto Alegre, por exemplo, é uma estabilização de preços, afirma Antônio Ernani Lima, superintendente de planejamento do Badesul e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Porto Alegre, de fato, foi uma das ci-dades onde os preços dos imóveis mais oscilaram durante o período de alta e ins-tabilidade, até atingir uma estabilização. Tanto é que um estudo feito pelo índice FipeZap, em abril, mostrou que houve uma queda no valor do m² dos imóveis na ca-pital gaúcha. A cidade registrou, inclusive, o maior baque na Região Sul do país, com um índice de -1,35%.

- O impulso inicial dado pelo crédito imo-biliário e pelo aumento da renda perdeu força e deu lugar à preponderância da demanda normal e vegetativa de novos imóveis resi-denciais, de acordo com o crescimento da população, explica Antônio Lima.

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CINDY CALISTROSUELLEN SANTOS

Uma epidemia que assola a sociedade e, diariamente, ataca todas as classes sociais vem gerando um impacto incomum às famílias brasileiras. O crack tem conquistado, cada vez mais, usuários, que, segundo pesquisa da FioCruz de 2013, chegam a cerca de 370 mil nas capitais brasileiras.

Definido como uma droga de alta concen-tração e toxidade, o crack é uma mistura

de cocaína, bicarbonato de sódio e outras substâncias perigosas à saúde humana. Seu aspecto é em forma de cristais de coloração branca e, para o consumo, normalmente, é utilizada uma espécie de cachimbo improvi-sado. O principal foco da droga são as classes de baixa renda, mas, devido ao rápido efei-to alucinógeno após o consumo e ao baixo preço, tem se tornado a droga preferida de usuários de qualquer condição financeira.

Para quem consome crack, qualquer si-tuação é um pretexto para usar a droga, que provoca apenas uma sensação momentânea.

- Quando eu tinha dinheiro, quando eu estava frustrado, em todas as situações, pois a droga é ilusória com o prazer que ela causa, diz L.N., 22 anos, usuário de crack por 5 anos.

L.O., de 28 anos, tem uma história um pouco diferente. Além de ser dependente, também foi traficante.

- Eu era traficante e, um dia, resolvi ex-perimentar por curiosidade. Depois, passei a vender e a consumir o produto junto com meu irmão. Não tendo mais lucros, passei a roubar carros e me envolver em roubos me-nores para manter o vício, relembra.

A necessidade de consumir faz com que o dependente encontre desculpas para bus-car a droga.

- Muitas vezes, eu inventava desculpas para poder ir atrás da droga, como que a comi-da estava salgada. Assim eu brigava em casa e saía para me drogar na esquina da minha casa, explica L.O., 28 anos.

A família também pode ter um papel importante no processo. Tanto pode ajudar

a largar o vício, como incentivar o consumo. - Eu via meu tio usando a droga e resolvi

experimentar, pois já havia usado álcool, ma-conha, lança-perfume, cocaína e tantas outras drogas, mas não estavam mais fazendo efeito e o crack tem efeito imediato, explica L.N., 22 anos.

Procurando saída

Muitos usuários procuram ajuda para lar-gar o vício. Foi por conta dessa demanda que surgiram locais especializadas em tratar vicia-dos. Um exemplo é a Pacto, uma instituição que luta para reabilitar os usuários de crack. Além de sua sede em Porto Alegre, tem um Centro de Tratamento, em Viamão, chamado Fazenda Senhor Jesus. Lá, os internos ficam durante 9 meses.

Procurar o tratamento, no entanto, nem sempre é a solução imediata para dependen-tes químicos, pois acham que conseguem largar o vício sozinhos. Só resolvem buscar ajuda quando percebem que não têm mais nada a perder.

- Com 17 anos eu larguei os estudos, perdi meu emprego, minha família e fui morar na

rua. Eu não me via morando na rua e resolvi aceitar o tratamento, conta L.N., 22 anos.

- Fui usuário de drogas, em geral, por 22 anos e 7 deles apenas usei crack. E eu me vi obrigado a largar, porque a droga destruiu minha vida, inclusive, cheguei a morar na rua. Além disso, cumpri pena por assalto a mão armada, desabafa Cléber da Silva, coordena-dor da Fazenda bSenhor Jesus.

No período de tratamento é preciso tam-bém pensar na família. É por isso que a Pacto, por exemplo, promove encontros semanais com pessoas ligadas ao dependente. São reu-niões chamadas de Amor Exigente, onde fami-liares têm contato com internos da Fazenda.

- Devemos recuperar o usuário junto com a família, que, muitas vezes, facilita a compra da droga, comenta Tupi Brown da Silva, co-ordenador dessas reuniões.

Mesmo com todo o acompanhamento e reuniões, a recuperação não é fácil. Segundo Tupi, apenas entre 5% e 10% dos dependentes conseguem se recuperar completamente do vício. O mais comum, explica ele, é que haja recaídas, voltando várias vezes à instituição em busca de ajuda.

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Crack: a droga quedevasta a sociedade brasileira

Reunião Amor Exigente, realizada pela Pacto, às terças-feiras, na Igreja Sagrada Família, em Porto Alegre

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LUIGI BITENCOURTGRAZIELLA SILVA

Envelhecer é um processo natural, indiscutí-vel e inevitável para qualquer ser humano.

Nessa fase, ocorrem mudanças biológicas, fi-siológicas, psicológicas, psicossociais e eco-nômicas. Todas essas alterações na vida de uma pessoa exigem adaptações no entorno e na vida de cada uma. Todos os elementos adotados para isso resultam no bem-estar do idoso, que ganha, através da elaboração e/ou concretização de projetos de acessibilidade e também do desenvolvimento de produtos especiais, um aumento da autoestima e, con-sequentemente, na melhoria da qualidade de vida.

Atualmente, existem produtos espe-ciais de acessibilidade que ajudam os ido-sos a terem maior autonomia, como an-dadores, muletas, almofadas com gel. Há também uma grande variedade de equipa-mentos para adaptações residenciais que garantem a segurança nessa fase da vida.

Deslocamento com ajuda

Vera Regina mora no Asilo Padre Cacique há dois anos. A mudança para o local aconte-ceu depois de ter sofrido dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral), aos 63 anos, e de quebrar a bacia logo depois. A escolha ocorreu porque o Asilo é equipado com tudo que precisa, como cadeira de rodas, muletas, barras de apoio, rampas, entre outros equipamentos, que a ajudam a se deslocar pelo prédio e, assim, conquistar certa independência, que não é total, porque ainda sente dificuldade em se deslocar fora do Asilo.

- Sair sem o andador é quase impossível, pois o piso é muito irregular e, às vezes, quase caio, afirma Vera, que hoje tem 68 anos.

Vera ainda não conseguiu comprar o an-dador, porque esbarra em um problema sério: a falta de recursos. Acontece que os equipa-mentos especiais que ajudam na autonomia e independência são caros. Os andadores, por exemplo, custam, em média, R$ 300,00 e as barras de apoio, que têm vários tamanhos, variam entre R$ 90,00 e R$ 350,00.

Dicas de profissionais

Mas não são apenas os equipamentos que podem ajudar os idosos. O geriatra Irajá Carneiro Heckmann diz que gestos simples

Acessibilidade acima de tudo

As muletas ajudam Vera Regina a ter mais autonomia e liberdade de locomoção

Graziella Silva

podem dar um pouco mais de segurança aos idosos, especialmente dentro das residências.

- A questão de tirar os tapetes é funda-mental. Casas com muito objetos decorativos acabam atrapalhando a circulação. Às vezes, os idosos não pensam nessas questões que são tão práticas, como, por exemplo, tirar as mesinhas de centro que são bonitinhas, mas atrapalham na circulação do idoso, completa o geriatra.

A adaptação das casas também é uma medida que ajuda, e muito, a vida dos idosos, conforme destaca a arquiteta Daniela Giffoni,

- É importante, quando comprar um apartamento na planta, já ver as possiveis mudanças que podem ser feitas antes, já ver as mudanças que serão possíveis ser feitas antes da entrega do imóvel, já tentando ter um diálogo com a construtora pra ver se eles podem alargar as portas, fazer uma altura de pia mais baixa, um vaso que seja mais alto, espaço para colocar as barras de segurança,

porque, às vezes não tem onde colocar estas barras e a maior parte de acidentes domés-ticos ocorre no trajeto mais perigoso, que é do quarto para o banheiro, conclui Daniela.

Através dos métodos de acessibilidade, a qualidade de vida dos idosos vem melho-rando, deixando-os com uma certa indepen-dência. Cada vez mais estão sendo feitos in-vestimentos na área de equipamentos que facilitam a vida dos idosos, além de já existir uma preocupação quanto a construções adaptadas, de acordo com as necessidades das pessoas que hoje estão com 60 anos ou mais de idade. E essa preocupação deve cres-cer daqui para frente, uma vez que, de acordo com a Un Population Fund, uma organização dos Estados Unidos que pesquisa dados sobre população, em todo o mundo existirão, até 2050, 2 bilhões de idosos, o que significa que o planeta terá muito mais pessoas da terceira idade do que jovens.

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ÁLVARO OLIVEIRAWILLIAN BALDON

Nos anos 1960, no Havaí, instrutores de surfe remavam em pé sobre enormes pranchas de madeira para acompanhar seus alunos durante as aulas. Esse foi o início de um novo esporte, o stand up paddle. Mas os adeptos do SUP, como é chamado pelos praticantes, acreditam que ele é muito mais que um esporte: é um estilo de vida a ser seguido. É uma mistura de lazer com qualidade de vida e, principalmente, uma maneira de estar em contato com a natureza. E não importa a estação do ano, basta ter vontade e os equipamentos adequados.

No Brasil, o SUP chegou em meados de 2005 e invadiu grande parte das praias

do litoral, como uma big rider (onda gigante). Segundo a Confederação Brasileira de Stand Up Paddle (CBSUP), por aqui já existem mais de 14 mil praticantes, sendo São Paulo o es-tado com o maior número de adeptos, apro-ximadamente 6 mil. No Rio Grande do Sul, já passa dos 2,5 mil. As estimativas apontam que até o verão de 2015 mais de 30 mil pessoas terão o seu primeiro contato com as pranchas do stand up paddle.

- É muito acessível para quem quer pra-ticar. Seja nos litorais, lagos ou até mesmo lagoas, sempre tem professores que alugam pranchas com preço acessível, por isso é uma atividade esportiva que cresce cada vez mais no país. Crianças, adultos, idosos, homens e mulheres, o esporte é para todos, sem limi-tações de idade ou gênero, afirma Maurício Molina, fisioterapeuta e praticante do stand up paddle há cinco anos.

A história de um esporte que cresce cada vez mais no Brasil:o stand up paddle

Um dos grandes nomes do SUP brasileiro é Luís Saraiva, campeão brasileiro e gaúcho na modalidade Wave, (surfe em

ondas). Saraiva é natural de Passos de Torres, no Rio Grande do Sul, e descobriu o esporte em uma viagem ao Taiti, em 2008.

- Comecei no esporte graças ao Rodrigo Koxa, que me apresentou o stand up paddle, no Taiti. Acabeigostando e

praticando direto, não parando mais, diz Saraiva.

Álvaro Oliveira

A particularidade do stand up é que também pode ser praticado em locais de água parada ou lisas, como rios, lagos, lagoas e lagunas. Tudo depende do que o praticante procura, a tranquilidade de um passeio sereno ou a adrenalina de pegar uma onda, assim como o surf tradicional.Mas prepare o bolso! Se você tem o interesse em praticar essa modalidade, um equipamento completo (prancha e remo) custa de R$ 3 mil a R$ 7 mil. Porém, já é possível encontrar equipamentos usados com valores inferiores. Por isso, antes de investir alto em equipamento, é importante experimentar o esporte. Isso também vai facilitar, mais tarde, na escolha daquele ideal para o que pretende com o esporte.

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Outro palco: manifestaçõesculturais voltam às raízes

Na vanguarda de manifestações culturais urbanas, surgiu, em Porto Alegre, no final de década de 70, um grupo de teatro criativo e engajado: Ói Nóis Aqui Traveiz. Mesmo durante o regime militar que assolou o país por duas décadas, desenvolveu uma estética subversiva e contestadora.

O espetáculo Teatro Com Pedra nas Veias, apresentado pela primeira vez em 31 de

março de 1978, data de aniversário do golpe militar, tornou o Ói Nóis conhecido na cidade e também chamou a atenção dos militares, que interditaram o local das performances. Foi o início de um período difícil para o grupo, que passou por dificuldades financeiras e en-frentou problemas com a repressão, com di-versos atores presos. Nada disso fez com que desistissem da ideia de trabalhar na criação de peças, sempre de forma coletiva. Surgia a Tribo de Atuadores, que abraçava o pen-samento de uma sociedade mais tolerante.

Em meados da década oitenta, o Ói Nóis inicia uma nova etapa. Deixa a sede da Ramiro

Barcelos e vai para a Cidade Baixa, onde abre o espaço cultural Terreira da Tribo. Também co-meça a atuar nas ruas da capital gaúcha, pro-movendo um contato direto entre os atores e os espectadores, não existindo a distância proporcionada pelo palco. A peça O Amargo Santo da Purificação, que conta a história de vida de Carlos Marighella, assassinado pelo regime militar, é um exemplo dessa proposta de trabalho. Paulo Flores, um dos fundadores do grupo e que ainda hoje está à frente da Tribo de Atuadores, acredita que o teatro de rua é uma forma de utilizar a arte como ins-trumento de inserção social.

- O que hoje a gente chama de teatro de vivência, o espectador não assiste, ele vivencia a encenação, aguçando todos os sentidos. Pra nós isso é um teatro que gera uma ação reflexiva, ressalta Paulo Flores.

Outra arte

A rua também é palco para músicos de todos os gêneros. Um dos ícones do cenário do rock gaúcho, a produtora Cida Pimentel, é responsável pelo Conjunto Bluegrass Porto--alegrense, que há cinco anos se apresenta

pelas ruas da Capital. Para ela, entre os grandes baratos de um show apresentado ao ar livre está o contato direto com o público.

O nome do conjunto – Bluegrass – vem da música tradicional de uma região muito pobre do sudeste dos Estados Unidos. Esse gênero musical tradicional seria apenas pa-ra especialistas escutarem e poucos teriam oportunidade de ter contato com o segui-mento. Porém, quando a banda se expõe para qualquer um que passa pela rua, as barreiras sociais e culturais deixam de existir. A partir do momento em que proporciona o acesso fácil à cultura, o artista de rua desempenha um importante papel de inclusão.

Além disso, as apresentações que a ban-da faz abrem a possibilidade de venda do trabalho do grupo.

- Tu não imagina a quantidade de moeda de mendigo que eu já ganhei. A quantidade de papeleiro que está ali ouvindo a música e, daqui a pouco, dá um real. Tu leva a arte para quem não tem a possibilidade de en-trar em um teatro. Na rua todo mundo pode ver, comenta Cida Pimentel, que literalmente passa o chapéu durante as apresentações da banda.

Roberto Salatino

ROBERTO SALATINORUBENS LEAL

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